Versão para Impressão

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MÓDULO III - GÊNERO E SEXUALIDADE
AULA 01: MASCULINIDADES E FEMINILIDADES
TÓPICO 02: EXPECTATIVAS DE GÊNERO NA SALA DE AULA
VERSÃO TEXTUAL
Você consegue identificar, como educador, diferenças no
comportamento de meninos e meninas? Você já parou para pensar que
na maior parte das turmas as meninas são mais quietinhas e
estudiosas, sentam mais próximo a você enquanto que os rapazes
costuma escolher o fundo da sala, são mais bagunceiros e tiram notas
mais baixas? Claro que não se trata de generalizar esse tipo de
observação, mas sim de provocá-los a refletir sobre o cotidiano escolar
e sobre os fatores aos quais que você costuma atribuir essas diferenças.
REFLEXÃO
Fonte [2]
(HTTP://PORTALDOPROFESSOR.MEC.GOV.BR/STORAGE/DISCOVIRTUAL/AULAS/9891/IMAGENS/GE
NERO.JPG)
De que modo características tradicionalmente associadas ao feminino e ao
masculino servem de base para a construção da noção de disciplina e
orientam a sua prática no espaço escolar? Mais do que isso, queremos
propor uma reflexão sobre a legitimação do ambiente escolar da
masculinidade e da feminilidade como expressões opostas e
hierarquizadas. Em que medida os professores reiteram esse tipo de
oposição repreendendo e punindo os meninos e ao mesmo tempo
buscando a colaboração das meninas para manter o silêncio e a ordem na
sala de aula? Ao mesmo tempo, entendemos que o cotidiano escolar é um
terreno fértil em termos de oportunidades para construção de relações de
gênero mais simétricas em termos valorativos.
Iniciemos com as nossas crenças sobre disciplina e manutenção da ordem na
sala de aula. Considerando as discussões apresentadas acima, podemos
compreender que a socialização dos meninos e das meninas a partir de
princípios opostos faz com que eles tenham atitudes distintas no ambiente
escolar. Desde a cor das roupas com que as crianças são vestidas, os tipos de
brinquedos a que tem acesso, e mesmo o modo como interagimos e o que
estimulamos as crianças a fazer correspondem ao que consideramos
adequado conforme o gênero. Os meninos, desde muito cedo aprendem
como os seus pares a manifestar algum tipo de recusa à autoridade dos pais,
dos meninos mais velhos e também do professor.
VERSÃO TEXTUAL
Desafiar o outro, especialmente alguém que está numa posição
hierárquica superior é uma das formas mais tradicionais de se provar a
masculinidade.
Ainda que isso cause certo incômodo, de um modo geral, os professores já
esperam que isso aconteça e consideram esse tipo de atitude relativamente
normal para os meninos. Apesar disso, os problemas de disciplina que esse
tipo de postura acarreta e a fama de bagunceiros se soma a um rendimento
mais baixo do que poderiam ter. Ao contrário, as meninas tendem a ter um
rendimento melhor além de serem consideradas alunas mais obedientes,
comprometidas com a aula, dispostas a ajudar os colegas e cooperar com as
atividades propostas.
Num artigo intitulado “Mau aluno, boa aluna?” a professora Marília Pinto de
Carvalho discute a diferença nas estatísticas de desempenho educacional
entre meninos e meninas, no ensino fundamental e médio. Ainda que a
autora argumente que tais estatísticas se relacionam de forma apenas
indireta com a realidade da aprendizagem, elas indicam que os meninos
obtêm mais conceitos negativos e notas baixas do que as meninas. A autora
mostra, através de outras pesquisas, que os professores nem sempre
reconhecem esse descompasso e em geral acreditam que propiciam uma
formação baseada da “neutralidade” e na recusa das diferenças entre os
sexos. Na análise dos depoimentos das professoras sobre os alunos, além do
argumento já mencionado em relação aos estímulos diferenciados em
relação ao ideal de comportamento, a autora problematiza a concepção de
disciplina que orienta a aprovação e a reprovação dos alunos no regime de
ciclos.
Ela alerta para o fato de que as expectativas em torno do “bom
comportamento” acabam muitas vezes se sobrepondo à avaliação estrita em
relação ao conteúdo e à capacidade intelectual do aluno.
Comparando a descrição que as professoras de ensino fundamental fazem
dos bons alunos e daqueles que são excelentes, o rendimento conforme o
gênero demonstra algumas nuances. Então, muitas vezes, a maior parte das
alunas é considerada boa, apesar de lhe faltarem alguns requisitos como a
iniciativa, a participação crítica e a posição questionadora:
Assim, quem efetivamente se encaixava no perfil de “excelente aluno”,
participativo, crítico e ao mesmo tempo cumpridor das tarefas, rápido na
aprendizagem e organizado, era um pequeno número de meninas
“questionadoras” e, especialmente, um grupo significativo de meninos, quase
todos vistos como brancos ou brancas pelas professoras. Sobre um desses
meninos, Célia disse: “Aquela criança compenetrada, equilibrada, todo
certinho, mas de um jeito legal” (ênfase minha). Assim, enquanto os meninos
bons alunos eram descritos como “bem humorado”, “uma liderança
positiva”, “engraçado”, “curioso”, “danado fora da sala de aula”, muitas
meninas eram apontadas como boas alunas, apesar de serem caladas,
obedientes, não questionadoras. (CARVALHO, 2001:561).
A reflexão da autora aponta para dois problemas práticos em relação à
coincidência:
• entre a definição de disciplina utilizada pelos professores como critério
para aprovação e,
• a noção de passividade, tradicionalmente associada ao comportamento
feminino.
O primeiro deles é que o desempenho dos meninos tende a ser avaliado em
relação à falta de disciplina e percebido como uma espécie de não realização
de sua potencialidade. Ao mesmo tempo, o que aparentemente significaria
uma vantagem, resulta num impacto igualmente negativo para as meninas.
Estas, quando fogem desse padrão cooperativo e obediente tendem a ser
duplamente punidas.
EXEMPLO
Por exemplo, quando uma garota se envolve numa briga, quando
desentendimento na sala de aula ou simplesmente quando responde ao
professor, manifestando alguma discordância, ela será advertida tanto
pela perturbação da ordem como pela conduta pouco adequada para uma
menina.
Além disso, por considerar que não combinam com o feminino, não raras
vezes as meninas deixam de ser estimuladas à construção de um pensamento
e de uma prática autônomas, bem como a buscar a sua independência e a
questionar aquilo que lhes é imposto como adequado.
As expectativas opostas em relação ao comportamento de meninos e
meninas se expressam de forma mais evidente em algumas matérias.
EXEMPLO
Nas aulas de educação física, por exemplo, as expectativas contraditórias
se expressam de forma bem evidente. Quem nunca acompanhou uma aula
em que os meninos usam a quadra para jogar futebol enquanto que as
meninas ficam do lado de fora fazendo exercícios aeróbicos. Ainda que a
transmissão das regras do jogo seja feita tanto para uns como para outros,
o tempo dedicado à prática tende a ser bastante diferenciado. Isso sem
falar no estímulo aos treinamentos e a formação de equipes para
participação nas competições escolares.
É no cotidiano escolar que a repressão aos comportamentos atípicos de
gênero se torna mais intenso. Nesse contexto, a coerção para adequação das
preferências ao padrão masculino e feminino tradicional, é exercida tanto
pelas figuras de autoridade quando pelos próprios pares. Qualquer
identificação com interesses associados ao sexo oposto é rapidamente
transformada em presunção de homossexualidade.
EXEMPLO
Fonte [4]
(http://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/5/57/BillyElliot.jpg)
No filme Billy Eliot, (O filme inglês foi produzido em 2000, sob a direção
de Stephen Daldry.) por exemplo, o protagonista que é oriundo de uma
família operária, abandona as aulas de boxe para se dedicar a dança,
tornando-se bailarino. A opção pelas aulas de dança é objeto de forte
resistência tanto na escola quanto por parte da família do menino. Na
comunidade em que ele vive a possibilidade de um jovem se afirmar como
homem passa justamente pelo reconhecimento da sua força física. Ao
optar pelo balé clássico, Billy se encaminha para a direção contrária, ou
seja, ele desperta a atenção de todos pelo seu comportamento desviante,
sendo rapidamente definido como homossexual.
FONTES DAS IMAGENS
1.
2.
3.
4.
http://www.adobe.com/go/getflashplayer
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/9891/imagens/genero
http://www.adobe.com/go/getflashplayer
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/5/57/BillyElliot.jpg
Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual