File - Dado Almeida

Transcrição

File - Dado Almeida
Como eu Estudo - por Johannes Helgeson
Estudando o magnífico Sargent. Na esquerda o original e na direita o meu estudo.
Um Estudo de Sargent: como Eu faço.
Para futura referência e, porque coisas desse tipo me ajudaram muito quando comecei a praticar
pintura de forma séria lá atrás em 2006.
A comunidade no Conceptart.org era demais tempos atrás. Pessoas como Tom Scholes e Patri
Balanovsky me ajudaram um bocado nessa época e por isso acho que é quase uma Obrigação
retribuir à essa Arte-Comunidade.
Além disso, ao escrever tenho de confrontar minha própria ignorância e erros.
É um ‘Processo-de-Destruição-de-Ego’ que me faz lembrar do quão pouco Eu sei e de quanto ainda
tenho para aprender. Isso me motiva a praticar mais e melhor. Pra mim é um desafio, e Eu gosto
de desafios...
1. Blocando os Planos (no Inglês, Shape)
Primeiro passo. Definindo Planos usando o Brush com 100% de opacidade.
Quando olho para uma Obra-Prima como essa Eu entro em pânico! Há tanta coisa importante
acontecendo ao mesmo tempo: a direção das pinceladas, o controle das bordas (edges), luzes
refletidas (bouncing lights), materiais, etc. Por onde começar? Para mim, faz mais sentido tentar
decifrar primeiro os Planos Principais.
O Plano (Shape) é uma área chapada de Valor ou Cor; não devemos confundir com Volumes/
Sólidos (Form).
Quadrados, círculos, retângulos, triângulos são Planos, enquanto cubos, esferas, pirâmides e
cilindros são Volumes.
Nessa primeira etapa Eu tento reduzir a complexidade dos planos para a forma mais simples
possível, acrescentando detalhes de forma progressiva.
Dentro dos Planos (Shapes) uso Linhas (geralmente retas), indicando os pontos de referência
mais evidentes. Isso facilita o meu trabalho ao medir a relação entre as diferentes partes.
Partes como a base do queixo, vincos no vestido, por exemplo, são marcações que identificam
facilmente o começo e o fim de cada plano.
Algumas medições são feitas no “olhômetro”, mas em certos momentos Eu alinho as duas
imagens no Photoshop e traço linhas horizontais para checar o alinhamento das partes. Eu sei
que sou um pessoa horrível por trapaçear dessa forma, mas não faria isso se a intenção fosse
praticar Desenho. Nesse caso meu interesse é somente praticar Pintura.
O que Eu NÃO ESTOU FAZENDO nessa etapa é construindo Volumes/Sólidos tridimensionais,
como nos métodos ensinados por Glenn Vilppu, por exemplo. Esse tipo de prática é muito útil
e é a que estudei para aprender a Desenhar. Mas agora o método usado se parece mais com o
acadêmico.
A Construção de Volumes/Sólidos é muito boa para Animação, mas toma muito tempo e é mais
indicada para prática de Desenho somente.
O que Eu também NÃO estou tentando fazer é um desenho bonito. Acho que é importante saber o
que você está tentando praticar e focar nisso.
Saiba o que você está fazendo e se entregue à isso de forma completa.
“Quando estou caminhando, Eu caminho; Quando Estou comendo, Eu como..." (provérbio Zen)
Para pintar, uso somente um Brush com 100% de opacidade, assim não preciso pensar na dureza
das bordas (edges), suavidade das transições, gradientes, etc. Isso vêm depois.
Uso o Píncel e a Borracha ao mesmo tempo, adicionando e removendo partes dos Planos até
conseguir o resultado que busco.
Lembre-se que você não precisa pensar somente nos Planos Positivos (Convexos). Os Planos
Negativos (Côncavos) também oferecem dicas úteis para que tudo se encaixe no devido lugar.
As bordas da tela (imagem) também são poderosas aliadas para ajudar na posição das partes.
Se na referência o Artista usa o Sfumato (borrar a tinta, esfumaçar) e Lost Edges (suavizar as
bordas) em algumas partes, é seu trabalho imaginar onde os Planos terminam e acabam.
Essa etapa é MUITO IMPORTANTE, pois ela define a fundação para todo o resto. Por isso ela
requer PACIÊNCIA.
Seja cuidadoso. Essa parte pode demorar HORAS. O resultado não é tão bonito, mas é importante
continuar trabalhando para colher a recompensa mais tarde.
Têr controle e entender o desenho dos Planos (Shapes) são poderosas ferramentas nas mãos de
um Concept Artist. Se você não conhece conceitos como: Retas vs. Curvas, Afunilamento, Variação
de Tamanho, Figuras Primárias, Secudárias e Terciárias, a psicologia das figuras quadras,
circulares, triangualres e assimétrias; talvez você queira dedicar algum tempo estudando esses
assuntos :) Eu mesmo tenho MUITO o que aprender.
Para saber mais sobre esses tópicos Planos, Forma e Pintura, procure pelos vídeos-tutoriais do
Shaddy Safadi.
Na minha opinião é uma das contribuições mais generosas para o melhoramento do ramo de
Concept Art nos últimos anos.
2. Pintando com os olhos desfocados (squinting)
Se Eu apertar os olhos, tipo o Clint Eastwood, o meu estudo já se parece com a Referência (exceto pela cabeça
que deixei para mais tarde).
Defina as cores com pinceladas grandes, focando em todas as partes da imagem ao mesmo
tempo.
Nessa etapa tento manter tudo num mesmo nível (10%) de finalização.
Quando eu aperto os olhos (desfocando a imagem), o que faço bastante, Eu procuro fazer com
que meu estudo esteja quase idêntico ao original. Eu me controlo para não começar a finalizar as
partes, especialmente os Pontos Focais. Não sou muito bom com rostos bonitos, e é por isso que
nessa parte tento manter a disciplina.
Por agora você já precisa saber quais serão seus Pontos Focais. Um dos erros que cometia era
finalizar tudo num mesmo nível. Isso toma muito tempo, é ineficiente e torna as coisas chatas.
Acredito que existam pessoas que gostem desse resultado (tudo detalhado), mas não sou um
desses.
Eu geralmente trabalho primeiro nas áreas maiores, como o fundo (background) e de forma
gradual vou pintando até chegar as áreas menores.
Conforme vou pintando, Eu ‘travo’ a transparência do Layer (Layer Transparency), assim as
pinceladas não vazam para fora dos Planos que estabeleci nos passos anteriores. Em alguns
momentos Eu também posso pintar em um novo Layer, também confinado (Clipping) ao original.
Se noto que a silhueta está errada, 'destravo’ a transparência do Layer principal e conserto o
desenho do Plano.
Eu acho que a coisa fica mais fácil se considerar cada pincelada como um Plano. Como disse
antes, nossa tarefa é somente posicionar Planos em relação correta com os demais.
Também evito usar pínceis pequenos.
Para pegar as Cores/Tons corretos, Eu uso bastante o ColorPicking (Conta-Gotas).
Isso provavelmente é algo NÂO INDICADO por aí, mas Eu tenho meus momentos de preguiça.
Estou mais preocupado nos resultados e no aprendizado, então que se dane. No meu
caso acredito que já entendo o porquê de cada Cor na cena. Acho que é uma boa idéia ter
conhecimento de Teoria da Cor se você optar por usar o Conta-Gotas.
Sobre esse assunto (Teoria da Cor) sugiro as seguintes referências:
http://itchy-animation.co.uk/tutorials.html
http://androidarts.com/art_tut.htm
http://www.huevaluechroma.com/ (this is heavy, but the most in-depth I've read)
(Book) James Gurney's "Color & Light"
(DVD) http://www.thegnomonworkshop.com/store/product/981/Efficient-Cinematic-Lighting
http://theartcenter.blogspot.se/2010/03/sam-nielson-painting-process.html
http://theartcenter.blogspot.se/2010/03/sam-nielson-painting-process-part-2.html
O Artista Jaime Jones demonstrou em um de seus passo-a-passo de Pintura como ele alterna
entre os Pincéis para evitar um visual “tudo igual”. Bem. Eu achei a idéia bem legal, então a
roubei.
Enquanto pinto troco bastante os pincéis, mas de fato tenho um favorito (com aspecto de cerdas)
que usei bastante nas áreas de pele. Tento evitar pínceis do tipo Airbrush/Suave, pois isso deixa
a pintura com cara de “Feita no Photoshop”, eliminando um monte de texturas interessantes que
aparecem sem querer. Mais tarde, quando quisermos realmente modelar e esculpir a forma, usar
o Airbrush em conjunto com Seleções é fenomenal. Mas não por agora.
3. Pintura Final
Refinando os Planos e Pinceladas, aproximando mais a imagem e adicionando detalhes...
Yah Yah. Bom!..
Agora sim podemos colocar detalhes! Apenas relaxe e pinte usando diferentes Pincéis, Seleções e
o Smudge-Tool.
Um erro que cometi no começo da minha carreira foi colocar limitações nas ferramentas que
usava. Hoje em dia Eu simplesmente deixo o Photoshop ser o Photoshop, e vou usar qualquer
método ou ferramenta para completar a tarefa em questão. Overlays, Layers Screen, Liquify,
Dodge, Pínceis modificados, Layers de Ajuste, vale tudo.
Quando quero trabalhar em uma área com detalhes, Eu recorto uma parte da imagem original e
posiciono lado-a-lado com a minha pintura - se tivesse dois monitores colocaria a referência na
minha outra tela - mas por aqui faço tudo no meu macbook pro de 17polegadas (que Eu uso no
colo junto com a Wacom).
Finalmente hora de cuidar do Rosto! Minha parte favorita, mas achei apropriado deixar por último. Isso pode
demorar um bocado. Depois que o rosto está finalizado, tenho a tendência de finalizar todo o resto de forma
demasiada, pois estou comparando com o rosto finalizado.
Nessa etapa pode ser legal tomar um cuidado extra com as bordas (edges), para que tudo não
tenha o mesmo visual: as pinceladas duras e opacas dos passos iniciais.
Eu mantenho os principais elementos da composição em Layers separados e através de Máscaras
(Layer Masks) consigo alternar as bordas das formas sem risco de estragar a pintura.
Sinto que ao fazer esses estudos somos presenteados com grandes oportunidades para testar
novas ferramentas e Píncéis. Já que o principal propósito dos estudos é nos educar, e certamente
essas pinturas não vão para o portifólio, não há pressão alguma. O que nos deixa livres para
experimentar. Depois que comecei esses estudos Eu refiz completamente toda a minha coleção
de Pincéis, tudo isso num período de 3 meses.
O resultado final da minha pintura. Aprendendo bastante sobre Bordas (Edges), nível de detalhamento e
finalização.
Enfim. Qual o Por que de tudo isso?
Bem, pra mim tudo se resume à Aprender a Pintar. Entender, com os Mestres, o quanto de
detalhe é o bastante para uma imagem e a aprender a manipular as pinceladas.
Johannes Helgeson
Post publicado em 17 de Julho de 2014
http://helgesonart.blogspot.com.br/
Traduzido para o Português por Dado Almeida