projeto político pedagógico do iii encontro

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projeto político pedagógico do iii encontro
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DO III ENCONTRO NACIONAL DA ARTICULAÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS (AMERI) De 23 a 25 de setembro, na UFABC ­ campus de São Bernardo do Campo (SP) Tema: Relações Internacionais e o Povo Negro: luta e resistência Introdução A Articulação do Movimento Estudantil de Relações Internacionais (AMERI) nasce no intuito de construir coletivamente uma entidade nacional que agrega estudantes, graduandos e pós­graduandos em Relações Internacionais, de universidades públicas e particulares que se articulam em nível nacional em torno de alguns debates e bandeiras de luta. O primeiro encontro da AMERI ocorreu na UFU ( Universidade Federal de Uberlândia) no ano de 2013, no qual elencamos tarefas para serem realizadas durante o ano de 2014, servindo de preparatório para o segundo encontro. Ter diretrizes de atuação definidas fez com que essa nova entidade seguisse atuando de forma coesa e viabilizasse sua existência. Em 2014, realizamos o II Encontro Nacional da AMERI, que nos mostra, acima de tudo, que a Articulação é um projeto exitoso. Uma vez consolidada a entidade, ela pode se configurar como um polo real de resistência às Relações Internacionais tradicionais, que precisam ser repensadas. Por isso, “resistência” foi o tema geral do II Encontro, que ocorreu de 7 a 10 de novembro, na Universidade de São Paulo, campus Butantã. A que resistimos, como e por quê? E o restante do povo brasileiro, como resiste? Questões como essas foram abordadas ao longo do encontro, em que cada estudante pôde ser protagonista desse momento crucial para a história da AMERI. No primeiro dia, introduzimos nossa entidade e iniciamos pelo compartilhamento dessa história com as/os estudantes que estavam começando a se organizar na Articulação. No sábado tivemos duas mesas, intituladas “conflitos e resistências no Brasil em 2014: uma análise da conjuntura do país” e “formas atuais de resistência ao neoliberalismo”. No dia seguinte, tivemos grupos simultâneos de discussão, que abordaram questões como estrutura curricular dos cursos de RI, Política Externa e Direitos Humanos e feminismo nas Relações Internacionais. Em seguida, tivemos a plenária final, em que foram reunidos e sistematizados os acúmulos políticos do encontro; também foi eleita a nova coordenação nacional, para o mandato do ano de 2015. Desde a organização do encontro até as falas de convidados e convidadas do evento, fizeram­se evidentes a pluralidade de opiniões, os contextos sociais e as diferentes bagagens culturais que a AMERI conseguiu reunir. Podemos, então, afirmar que um dos objetivos da nossa entidade tem sido alcançado: diversificar o sujeito das Relações Internacionais. Além disso, a estrutura do evento foi pensada para que toda essa diversidade pudesse ser expressa. Nas mesas, primeiro contamos com uma breve exposição dos convidados/as, depois dividimos as/os estudantes em grupos de discussão de no máximo dez pessoas, para que todos/as tivessem oportunidade de falar. Os resultados das discussões foram relatados, de modo a constarem nos debates da plenária final. Finalizadas as discussões nos grupos, voltamos para o formato original, para a conversa final com os convidados/as. No II Encontro contamos com a presença de cerca de 150 estudantes, do Nordeste, Centro­Oeste, Sudeste e Sul. Ficamos com a missão de abarcar a região Norte, o que esperamos conseguir a partir do próximo Encontro. Ainda assim, consideramos que o evento foi muito exitoso, visto que tivemos mais que o dobro de participantes em relação ao I Encontro. Ademais, contamos com a presença de membros de movimentos sociais, partidos políticos, grupos de estudos, coletivos de combate às opressões, coletivos de extensão popular e organizações não­governamentais, que contribuíram para a diversidade de visões e enriqueceram o evento com suas vivências e experiências. Objetivos A Coordenação Nacional da AMERI decidiu que na Universidade Federal do ABC, entre os dias 23, 24 e 25 de setembro de 2016, será discutida a importância da Década Internacional de Afrodescendentes e os impactos para a promoção de políticas públicas que fortaleçam a luta do povo negro no Brasil. O objetivo do encontro é a promoção de debates, seminários, grupos de discussão e ações culturais que permitam aos participantes refletirem sobre este tema para que na Plenária Final seja produzida uma carta com o acúmulo de tudo o que foi discutido, indicando o posicionamento da AMERI e ações que devam ser executadas para publicizar a luta do povo negro no ensino de Relações Internacionais no Brasil. O Encontro visa envolver e movimentar os e as estudantes de RI que têm o interesse na dimensão política e social das Relações Internacionais. O evento pretende invitar os e as estudantes para pensar e articular de forma crítica durante as discussões do Encontro, também pretende­se impulsionar projetos, atividades e mobilização que possam incidir­se e ampliar o debate sobre os Afrodescendentes, e a Perpetuação da Colonialidade e Preconceitos Institucionalizados no Brasil, dentre outros temas que não estão inseridos na realidade do curso de RI. Toda a programação do evento é estruturada a partir da democratização do campo das Relações Internacionais, jogando luz em temas que são pouco debatidos pelos cursos de Relações Internacionais do país. É a partir da constatação de que as RI são dominadas pelas ideias euro e estadocêntricas que o III Encontro Nacional da AMERI procura desconstruir este modus operandi hegemônico através de atividades que permitam os participantes a repensar as RI de maneira mais emancipatória, inserindo no debate a importância das pautas dos Subalternos e os movimentos de reconhecimento e resistência. É neste espírito que o Encontro também opera como um importante espaço de discussão sobre a própria grade curricular do curso de Relações Internacionais a partir das experiências de cada participante em suas universidades. Acreditamos que o ensino de RI no Brasil deva ser orientado, antes de tudo, por contribuir com soluções para as questões nacionais e, para isso, é fundamental considerar e incluir a temática da luta do povo negro enquanto objeto de estudo e de ação para seguirmos aprimorando o nosso curso e democratizando o ensino superior no país. Justificativa A AMERI surge em um contexto de tentativas de mudanças da estratificação social e racial das universidades. Com a aprovação da Lei nº 12 711 de 2012, que regulamentou a adoção de cotas raciais e sociais em diversas instituições federais de ensino superior do Brasil, vimos uma expansão do acesso da população pobre e negra às principais universidades públicas brasileiras. No entanto, a universalização dessa política só ocorreu em instituições federais, havendo resistência de universidades estaduais em adotar cotas raciais. Para além disso, questiona­se o que tem sido feito para possibilitar a permanência dessas pessoas na universidade. Os recentes cortes do governo federal e de governos estaduais na área de Educação recaem sobretudo nas políticas de assistência estudantil, tais como bolsas permanência, moradia estudantil e creches universitárias. Desse modo, apesar da expansão das possibilidades de ingresso de jovens negros e periféricos em universidades públicas nos últimos anos, são esses os mais afetados pela política de cortes na Educação, dificultando, assim, sua real inclusão no ensino superior brasileiro. A realidade da composição social e racial das universidades públicas do país reflete diretamente no tipo de conhecimento produzido na academia. Hoje, nos cursos de Relações Internacionais do Brasil, vemos o predomínio do pensamento eurocêntrico e da valorização das teorias mainstream de RI, as quais não fornecem interpretações para nossa realidade enquanto país latino­americano, que passou por um processo de escravidão e que até hoje assiste ao genocídio da juventude pobre e negra. Além disso, não há representatividade no corpo docente, não só nos cursos de Relações Internacionais, mas também nas Universidades como um todo, sendo composto em sua maioria por uma “elite” intelectual branca. É nesse cenário que chegamos ao 3º Encontro Nacional da AMERI. Com o tema “Relações Internacionais e o Povo Negro: luta e resistência”, pretendemos discutir as principais dificuldades enfrentadas pela negritude no país e no mundo e como podemos intervir nessa realidade a partir do que vivenciamos e estudamos nos cursos de Relações Internacionais. O ponto de partida para essa discussão será a Década Internacional dos Afrodescendentes (resolução 68 ­ 237), proclamada pela Assembleia Geral da ONU para o período de 2015 a 2024. Trata­se de uma iniciativa de promoção de “reconhecimento, justiça e desenvolvimento” para os povos afrodescendentes, a partir da formulação de políticas públicas de combate ao racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância enfrentados pela população negra no mundo. Esperamos que as discussões e as formulações resultantes do 3º Encontro Nacional da AMERI contribuam para a produção de medidas concretas que sirvam à reparação das injustiças sociais cometidas contra as e os afrodescendentes. Plano Político Pedagógico A proposta de estrutura do III Encontro Nacional da AMERI é de três dias de discussões, divididos em períodos matutinos, vespertinos e noturnos, e abarcando dinâmicas de mesas de exposições e discussões, aulas sobre temáticas específicas, grupos de discussão, oficinas, culturais e uma plenária final. Para a sexta­feira, dia 23 de setembro, no período da tarde, haverá uma mesa de abertura com o tema “Reconhecimento e resistência do povo negro”. Contextualizar­se­á a conjuntura atual do Brasil e do mundo no que diz respeito às lutas de resistência, em especial a negra e a conquista da Década Internacional de Afrodescendentes da ONU. Neste formato, será organizada uma mesa com expositores convidadas e convidados e, posteriormente, ocorrerá um período de discussão com as e os ouvintes. Após essa mesa, haverá um espaço de apresentação da AMERI, que terá como objetivo apresentar a própria AMERI. Na noite de sexta­feira, nos dividiremos em torno dos Grupos de Discussão (GDs), divididos em temáticas específicas que ocorrerão paralelamente durante o mesmo horário. As temáticas serão: 1) “Feminismo Negro Periférico e as RIs: a importância da Interseccionalidade nas Lutas Sociais”; 2) “As Lutas por Emancipação e Resistência”; 3) “Apropriação Cultural e a Convencionalidade na Auto­Declaração Negra”; 4) “Genocídio da Juventude Negra”; 5) “O acesso de Negros a Afrodescendentes à Universidade e ao curso de RI: a questão das cotas raciais e as políticas de permanência”. A primeira temática terá como objetivo contextualizar as demandas do feminismo negro e periférico e a importância da interseccionalidade nas pautas feministas; e ter como pano de fundo a necessidade das pautas feministas negras e periféricas nas RI, enquanto disciplina, e nas relações internacionais de uma forma ampla. Com o objetivo de debater a interseccionalidade das lutas sociais, ou seja, a intersecção entre classe, raça e gênero, o GD sobre Feminismo Negro e Periférico nas Relações Internacionais vai trabalhar a conjuntura nacional e a necessidade de lentes que evidenciam essas opressões para que elas possam ser combatidas. O segundo GD “As Lutas por Emancipação e Resistência” pretenderá abarcar o histórico dos principais movimentos negros no mundo e, principalmente, no Brasil e terá como facilitadores de discussão movimentos sociais negros da atualidade, convidados para compor o espaço. Pretender­se­á elucidar de que forma as pautas de lutas negras se desenvolveram e quais são as atuais no contexto de crise econômica, política e social no mundo e no Brasil. O terceiro GD vai discutir a apropriação cultural a partir da sua definição e das situações em que isso ocorre ­ apesar de serem silenciadas e naturalizadas ­ e a convencionalidade na auto­declaração negra, no contexto de cotas raciais e da banalização da auto­declaração por pessoas brancas ­ que consequentemente ocupam vagas que são um direito conquistado pelas pessoas negras como modo de promover justiça social para esse grupo histórica e tradicionalmente subalternizado. O quarto grupo buscará trazer reflexões sobre o genocídio da juventude negra e sua relação com temáticas como o racismo institucionalizado, a guerra às drogas e a desmilitarização da polícia. A morte quase que indiscriminada de negros e negras apenas pelo estigma que foi construído em torno dessa população em específico tem gerado reações em diversos cantos do Brasil e do mundo, como com o recente Black Lives Matter (“A Vida dos Negros Importa”, em tradução livre) nos Estados Unidos. No quinto grupo, será abordada a discussão sobre acesso e permanência de negros e negras nas instituições de ensino superior do país. Apesar da expasão do acesso de jovens negros às universidades, através da adoção de cotas raciais e de políticas como o PROUNI, muito se questiona sobre a ausência de políticas de permanência nas instituições, tais como bolsas de auxíliio, creches universitárias e cursos de idiomas. Este GD visará discutir as questões de acesso e permanência que afetam principalmente as e os estudantes de Relações Internacionais do país, procurando tirar diretrizes comuns para a luta desses e dessas estudantes nas universidades. No sábado pela manhã, dia 24 de setembro, serão ministradas aulas ­ com carga horária de 4 horas ­ com quatro temáticas específicas diferentes e paralelas, durante o mesmo horário. Uma delas terá como tema “Introdução às teorias pós­coloniais em RI”, tendo como objetivo introduzir as vertentes pós­coloniais na disciplina de RI, elucidando como essas teorias são utilizadas na pesquisa acadêmica e nas análises de temas das áreas de relações internacionais. A AMERI acredita na demanda que existe por essa discussão vinda das e dos estudantes de RI, visto que grande parte das grades curriculares dos cursos no Brasil não abordam essa perspectiva. Outra temática de aula será “Migrações e Refúgios” e dar­se­á atenção aos processos de migrações e refúgios de populações negras nas atuais conjunturas políticas e econômicas de países da África e Haiti. Essa aula também terá como objetivo discutir os fluxos de migrações e refúgios de pessoas originalmente pertencentes a países com a maior parte da população negra e convidar pessoas em situação de refúgio e imigrantes para dividirem experiência e conhecimentos. Pensando a Década Internacional dos Afrodescendentes e a quase inexistência de disciplinas que tratem de África na grande maioria das grades curriculares de RI no Brasil, faremos uma aula com a temática Relações Brasil­África. Por último, teremos ainda uma aula sobre Movimentos Sociais e Relações Internacionais, em que pesa entender a relevância de nos apropriarmos de um conhecimento que não seja Estadocêntrico e que veja nos indivíduos uma capacidade transformadora do mundo. A tarde do sábado será dividida em dois momentos: no primeiro discutiremos a AMERI enquanto organização e no segundo realizaremos oficinas. O primeiro espaço tem o objetivo de ser também um local de troca de experiências, em que compartilharemos mais a respeito dos cursos de Relações Internacionais nas diferentes universidades buscando elaborar um panorama do ensino da disciplina no Brasil. A partir desse acúmulo de debate passaremos então a nos (re)pensar, buscando refletir criticamente sobre como nos organizamos hoje e assim como sobre mudanças organizativas que podem gerar saltos qualitativos para a articulação e nossa inserção política no país. As oficinas do Encontro são uma forma de aprendizado coletivo e contato com intervenções políticas urbanas, podendo também dar voz a grupos silenciados para expressarem suas práticas de resistência. Pensando nisso, organizaremos oficinas de turbantes auto­organizada de mulheres negras, hip hop, stencil, grafite e batucada, trabalhando, também, a estética do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, enquanto movimento artístico na luta por emancipação na relação opressor ­ oprimido, [...]que assim como os GDs ocorrerão paralelamente durante o mesmo horário À noite, haverá um espaço de discussão com o tema “As grades alternativas para o curso de RI no Brasil”, em que teremos como ponto de debate principal as grades do curso de RI no pais. Assim, este espaço tem como objetivo construir coletivamente a base curricular que nossos cursos devem ter para que estes sejam mais contextualizadores, democráticos e menos excludentes. Em seguida, realizaremos um sarau, no qual pretendemos abordar a temática do Encontro a partir de apresentações artísticas das e dos estudantes e de outros convidados. Desse modo, além de ser um momento de integração das e dos participantes do Encontro, será também um espaço em que as e os estudantes poderão trazer reflexões sobre a luta do povo negro através da música e da poesia, por exemplo, trazendo o debate para além de espaços tradicionais, como aulões e grupos de discussão. No domingo (25/09) pela manhã ocorrerá o debate Resistir para Existir, em que abordaremos questões de opressões em suas diferentes faces com vistas a realizar um espaço de formação política do tema. A partir do debate elaboraremos diretrizes da articulação a respeito de como lidaremos com casos de opressão, seja advinda de membros da AMERI ou de estudantes das universidades em que temos núcleos inseridos. Durante o período vespertino, irá ocorrer, como forma de encerramento e um espaço horizontal para elaboração de propostas do movimento estudantil, a plenária final, onde serão discutidos entre as e os estudantes de RI do Brasil os próximos passos para a AMERI e os objetivos do coletivo para o próximo ano de militância estudantil nas RI. Estrutura O III Encontro Nacional da AMERI será realizado na Universidade Federal do ABC (UFABC), no campus de São Bernardo do Campo, entre os dias 23 e 25 de setembro de 2016. Os espaços serão nas salas de aula e anfiteatros da UFABC. Além disso, a organização do evento irá garantir alojamento e alimentação para as e os participantes do Encontro. Orçamento Segue abaixo o orçamento aproximado do evento, levando em consideração a estimativa de 150 pessoas: Alimentação R$ 4.200,00 Sarau (equipamentos de som, bandas e outros R$ 1.500,00 gastos) Limpeza dos espaços R$ 100,00 Material gráfico para as oficinas e dinâmicas R$ 500,00 Total R$ 6.300,00 Realizadores O Encontro está sendo organizado pela Coordenação Nacional da AMERI, pelo Centro Acadêmico de Relações Internacionais da UFABC e pelo coletivo Vozes.