caraterização e valorização da área de intervenção específica de

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caraterização e valorização da área de intervenção específica de
CLUSTER DA PEDRA NATURAL
CARATERIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA
ÁREA DE INTERVENÇÃO ESPECÍFICA DE
CABEÇA VEADA
CLUSTER DA PEDRA NATURAL
Projeto Âncora 2
Sustentabilidade Ambiental da Indústria Extrativa
Atividade 1
Exploração Sustentável de Recursos no MCE
Subatividade 1.2
Caraterização e Valorização das Áreas de Intervenção Específica do
PNSAC
CARATERIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DA
ÁREA DE INTERVENÇÃO ESPECÍFICA DE
CABEÇA VEADA
Jorge M. F. Carvalho, José Sampaio, Susana Machado, Carla Midões,
Cátia Prazeres e Rui Sardinha
Fevereiro 2014
Índice
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................................................................................................... 5
EQUIPA TÉCNICA ........................................................................................................................................................................................ 7
1.
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................................................. 9
2.
INDICADORES DE REALIZAÇÃO..............................................................................................................................................13
3.
ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO E GEOMORFOLÓGICO ................................................................................................15
3.1.
O Maciço Calcário Estremenho ........................................................................................................................16
3.1.1.
Geomorfologia ...........................................................................................................................................16
3.1.2.
Geologia ....................................................................................................................................................18
3.1.3.
Tectónica ...................................................................................................................................................20
3.2.
Enquadramento da AIE de Cabeça Veada no MCE ............................................................................................21
4.
ESTUDOS ANTERIORES .............................................................................................................................................................25
5.
ESTUDO GEOLÓGICO ..................................................................................................................................................................29
5.1.
Metodologia....................................................................................................................................................29
5.2.
Litostratigrafia Temática ..................................................................................................................................31
5.2.1.
Vidraços da Base ........................................................................................................................................33
5.2.2.
Calcários Ornamentais ...............................................................................................................................35
5.2.3.
Vidraços do Topo .......................................................................................................................................36
5.2.4.
Vidraços Escuros ........................................................................................................................................37
5.3.
Estrutura Geológica .........................................................................................................................................38
5.3.1.
Falhas ........................................................................................................................................................39
5.3.2.
5.3.2.1.
5.3.2.2.
5.3.2.3.
Fraturação .................................................................................................................................................41
Metodologia ..............................................................................................................................................41
Resultados .................................................................................................................................................42
O problema do Espaçamento da fraturação ................................................................................................44
5.4.
Sondagens.......................................................................................................................................................45
5.5.
Cortes Geológicos............................................................................................................................................46
6.
ÁREAS DE APTIDÃO PARA CALCÁRIOS ORNAMENTAIS E AVALIAÇÃO DE RECURSOS......................................47
6.1.
Delimitação de áreas de aptidão para a exploração de calcários ornamentais ..................................................47
6.2.
Cálculo de Recursos em calcários para bloco ....................................................................................................48
7.
HIDROGEOLOGIA .........................................................................................................................................................................51
7.1.
Introdução ......................................................................................................................................................51
7.2.
Metodologia....................................................................................................................................................51
7.3.
Caraterização Hidrogeológica ..........................................................................................................................53
3
7.3.1.
Enquadramento geológico local .................................................................................................................53
7.3.2.
7.3.2.1.
7.3.2.2.
7.3.2.3.
7.3.2.4.
Hidrogeologia local ....................................................................................................................................53
Aptidão hidrogeológica ..............................................................................................................................53
Produtividade aquífera...............................................................................................................................54
Modelo hidrodinâmico ...............................................................................................................................55
Qualidade da água subterrânea ..................................................................................................................56
7.3.3.
7.3.3.1.
7.3.3.2.
7.3.3.2.1.
Vulnerabilidade à poluição .........................................................................................................................62
Introdução .................................................................................................................................................62
Metodologia EPIK .......................................................................................................................................63
Avaliação da vulnerabilidade na AIE de Cabeça Veada (método EPIK) .........................................................68
7.3.4.
Sensibilidade ambiental .............................................................................................................................72
7.4.
Conclusões e Recomendações .........................................................................................................................73
8.
PATRIMÓNIO GEOLÓGICO ........................................................................................................................................................77
8.1.
Introdução ......................................................................................................................................................77
8.2.
Metodologia....................................................................................................................................................77
8.3.
Resultados.......................................................................................................................................................79
9.
CONCLUSÕES .................................................................................................................................................................................81
10.
BIBLIOGRAFIA...............................................................................................................................................................................83
ANEXOS.........................................................................................................................................................................................................87
ANEXO 1- MAPA LITOSTRATIGRÁFICO DA AIE CABEÇA VEADA; ESCALA 1/2000 ...........................................................89
ANEXO 2- CORTES GEOLÓGICOS .................................................................................................................................91
ANEXO 3- ESTUDO PETROGRÁFICO DE LÂMINAS DELGADAS .......................................................................................93
ANEXO 4- LOGS DE SONDAGENS............................................................................................................................... 101
ANEXO 5- MAPA DE APTIDÃO PARA A PRODUÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS; ESCALA 1/2000 ............................... 107
ANEXOS EM FORMATO DIGITAL ............................................................................................................................... 109
Ortofotomapas, Levantamento Topográfico, Shapefiles ............................................................................................ 109
APÊNDICE – CLASSIFICAÇÃO DE CALCÁRIOS .............................................................................................................................. 111
4
Índice de Figuras
Figura 1- Enquadramento no território nacional do PNSAC e do MCE (tracejado a preto). ............................................ 9
Figura 2- Enquadramento das Áreas de Intervenção Específica definidas no POPNSAC para a indústria extrativa. .......10
Figura 3- Enquadramento geográfico e tectónico do MCE no contexto da BL (in Carvalho, 2013 com esquema tectónico
da BL adaptado de Kullberg et al., 2013 e respetivos setores de Ribeiro et al., 1996). ..................................................15
Figura 4- Modelo digital de terreno do MCE, sistema de coordenadas retangulares Hayford-Gauss, Datum 73............16
Figura 5- Vales Suspensos na encosta ocidental da Serra dos Candeeiros. ...................................................................17
Figura 6- Principais nascentes na periferia do MCE. a) Olhos de Água do Almonda, b) Nascentes de Chiqueda, c)
Nascente do Lena, d) Nascente do Liz, e) Olhos de Água do Alviela. ............................................................................17
Figura 7- Mapa geológico cronostratigráfico simplificado do MCE. ..............................................................................19
Figura 8- Imagem Google Earth
TM
do núcleo de pedreiras de Cabeça Veada, com representação da AIE. .....................22
Figura 9- Vista da parte sul do núcleo de pedreiras de Cabeça Veada. .........................................................................22
Figura 10- Vista de norte para sul no interior do núcleo de pedreiras de Cabeça Veada. ..............................................22
Figura 11- Enquadramento litostratigráfico da AIE de Cabeça Veada na Depressão da Mendiga, MCE (adaptado de
Mapa Litostratigráfico do MCE, Carvalho, 2013, a partir da cartografia 1/50000 editada pelo LNEG). ..........................23
Figura 12- Formalização da litostratigrafia do Jurássico Inferior e Médio do MCE (retirado de Azerêdo, 2007). ............25
Figura 13- Armazenamento de sondagens na litoteca do LNEG em Alfragide. ..............................................................26
Figura 14- Esquema ilustrativo da afetação dos padrões de afloramento devido à artificialização do relevo por
pedreiras (A, B, C e D correspondem a 4 diferentes unidades geológicas, estando as 3 primeiras intersetadas por uma
frente de exploração). ................................................................................................................................................30
Figura 15- Mapa Geológico simplificado da área de Cabeça Veada. .............................................................................32
Figura 16- Corte geológico representativo da AIE de Cabeça Veada, redimensionados para o tamanho de página. ......33
Figura 17- Amostra de wackstone oncolítico de cor creme escura, caraterístico dos Vidraços da Base. ........................34
Figura 18- Modo caraterístico de afloramento dos Vidraços da Base em bancadas decimétricas, imediatamente a leste
das pedreiras da AIE de Cabeça Veada. .......................................................................................................................34
Figura 19- Microfotografia de amostra de dolomito intercalado nos Vidraços da Base (luz polarizada, nicóis paralelos).
..................................................................................................................................................................................34
Figura 20- Amostra de grainstone biolitoclástico e oolítico correspondente ao Semi Rijo de Cabeça Veada (corte "a
favor"). ......................................................................................................................................................................35
Figura 21- Microfotografias de Semi Rijo de Cabeça Veada. a) oosparite de granularidade média (luz polarizada, nicóis
paralelos); b) oo-biosparite mal calibrada, de grão médio a grosseiro (luz polarizada, nicóis cruzados). .......................36
Figura 22- Amostra de mudstone de cor castanha da unidade Vidraços do Topo. ........................................................37
Figura 23- Microfotografias caraterísticas dos Vidraços Escuros. a) Biomicrite (luz polarizada, nicóis cruzados); b)
Micrite (luz polarizada, nicóis paralelos). ....................................................................................................................37
Figura 24- Feixes de laminações sedimentares inclinados para leste (vista de norte para sul). .....................................38
Figura 25- Vista parcial para sul do núcleo de Cabeça Veada: frentes de exploração verticais, realçando-se o forte
pendor para leste por parte dos Calcários Ornamentais. .............................................................................................39
Figura 26- Expressão morfológica da Falha de Valverde. .............................................................................................40
5
Figura 27- Fina fratura com auréola de cor negra como resultado de metassomatismo. ..............................................40
Figura 28- Modelo utilizado para a correção e normalização dos dados de frequência de diaclases. Para bancadas com
espessura superior a 1,5 m apenas se normalizou ao comprimento unitário (Carvalho, 2013). ....................................42
Figura 29- Mapa geológico simplificado da região de Cabeça Veada com representação das fraturas fotointerpretadas
numa área alargada envolvente da AIE em estudo. Diagramas de rosa mostram os resultados respeitantes às fraturas
em afloramentos nas estações de levantamento 1 e 2 indicadas no mapa. .................................................................43
Figura 30- Diaclasamento segundo WSW - ENE nas frentes das pedreiras do núcleo de Cabeça Veada. .......................44
Figura 31- Mapa de aptidão para a produção de calcários ornamentais na AIE de Cabeça Veada. ................................48
Figura 32- Localização dos pontos de água com informação de produtividade e piezometria e com amostragem para
caraterização qualitativa das águas subterrâneas da AIE de Cabeça Veada (implantação sobre extrato da Folha 328 do
IGeoE na escala 1:25000)............................................................................................................................................55
Figura 33- Modelo digital de terreno da área compreendida entre a AIE de Cabeça Veada e a nascente temporária
Olho da Mata do Rei (Sistema de Coordenadas: PT-TM06/ETRS89). ............................................................................57
Figura 34- Representação esquemática do funcionamento de um aquífero cársico (adaptado de Doerfliger & Zwahlen,
1998). ........................................................................................................................................................................63
Figura 35- Representação esquemática do funcionamento do epicarso (adaptado de Doerfliger & Zwahlen, 1998, após
Smart & Friedrich, 1986; Jeannin, 1996). ....................................................................................................................64
Figura 36- Epicarso coberto e sem cobertura. Armazenamento sub-superficial de água com escoamento lateral do
fluxo em direcção a áreas com elevada condutividade hidráulica, contribuindo para o desenvolvimento de uma dolina
de dissolução (adaptado de Doerfliger & Zwahlen, 1998 após Williams, 1983) ............................................................65
Figura 37- Pedreira na AIE de Cabeça Veada onde se observa a alternância entre zonas da rocha com baixa
permeabilidade e zonas de infiltração concentrada. ...................................................................................................65
Figura 38- Evidência de solo incipiente na AIE de Cabeça Veada. .................................................................................66
Figura 39- Modelo Digital de Terreno (MDT) de Cabeça Veada e área envolvente. ......................................................69
Figura 40- Mapas parciais de cada um dos parâmetros E, P, I e K na AIE de Cabeça Veada e sua envolvente. ...............70
Figura 41- Representação do Índice EPIK na AIE de Cabeça Veada e sua envolvente (Sistema de Coordenadas: PTTM06/ETRS89) ...........................................................................................................................................................71
Figura 42- Ocupação do solo e Índice EPIK na AIE de Cabeça Veada (Sist. Coordenadas: PT-TM06/ETRS89). ................72
Figura 43- Áreas de maior sensibilidade hidrogeológica na AIE de Cabeça Veada (Sistema Coord.: PT-TM06/ETRS89)..74
Figura 44- Diagrama representativo do processo de valoração qualitativa do património geológico em função da
atividade extrativa. ....................................................................................................................................................78
6
EQUIPA TÉCNICA
LNEG
Carla Midões
Cátia Prazeres
Cristina Isabel Carvalho
Jorge M. F. Carvalho
José Sampaio
Rui Sardinha
Susana Machado
Vítor Lisboa
CEVALOR
Ana Machuco
Filomena Cavaco
Natália Saúde
Nuno Bonito
COLABORAÇÃO NA TEMÁTICA PATRIMÓNIO GEOLÓGICO
ICNF
Lia Morais Mergulhão (Parque Natural de Sintra-Cascais)
Olímpio Martins (Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros)
7
8
1.
INTRODUÇÃO
O Maciço Calcário Estremenho (MCE), cujos limites aproximados estão representados na Figura 1, está
enquadrado pelas cidades de Leiria, Ourém, Tomar, Torres Novas, Rio Maior e Alcobaça. Corresponde a
uma unidade morfostrutural do território português que se individualiza das regiões circundantes pelas
suas peculiaridades geológicas e geomorfológicas. Peculiaridades geológicas pelo fato de se apresentar
constituído essencialmente por rochas calcárias, as quais se apresentam sobrelevadas tectonicamente,
donde a peculiaridade geomorfológica.
Figura 1- Enquadramento no território nacional do PNSAC e do MCE (tracejado a preto).
Grande parte da área do MCE está sujeita a um regime de proteção da natureza por intermédio do Parque
Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), o qual integra o Departamento de Conservação da
Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
O PNSAC foi implementado em 1979 pelo Decreto-Lei nº 118 de 4 de maio. Na respetiva área integram-se 5
núcleos principais de pedreiras onde, desde há décadas, se desenvolve uma importante atividade extrativa
de blocos de calcário que se destinam ao setor de transformação de rochas ornamentais: os núcleos de Pé
da Pedreira, Codaçal, Moleanos, Cabeça Veada e Portela das Salgueiras. O Plano de Ordenamento do
PNSAC (POPNSAC), publicado pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 57/2010, de 12 de Agosto,
9
define a área ocupada por esses núcleos como Áreas de Intervenção Específica (AIE), de acordo com a sua
representação na Figura 2. O POPNSAC preconiza que as AIEs sejam alvo de Planos Municipais de
Ordenamento do Território que visem a implementação de medidas de compatibilização entre a gestão
racional dos recursos e a conservação dos valores ambientais, salvaguardando que essas AIEs poderão ser
abrangidas por projetos integrados de exploração (artº 24, RCM 57/2010).
Figura 2- Enquadramento das Áreas de Intervenção Específica definidas no POPNSAC para a indústria extrativa.
No âmbito do Programa Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE) do Quadro de Referência
Estratégico Nacional 2007 – 2013 (QREN), foi formalmente reconhecido o Cluster da Pedra Natural por
despacho conjunto do Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional e
do Ministro da Economia e Inovação em 15 de Julho de 2009. Este Cluster, através da Atividade 1 –
Exploração Sustentável de Recursos no MCE, do seu Projeto Âncora 2 - Sustentabilidade Ambiental da
Indústria Extrativa, propôs-se a realizar as ações preconizadas para as AIEs do PNSAC no respetivo Plano de
Ordenamento, através de subatividades para as quais foram lançados concursos públicos por parte da
ASSIMAGRA – Associação Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e Ramos Afins,
nomeadamente:
‐
‐
‐
‐
‐
Subatividade 1.1 - Caracterização da Situação de Referência do MCE;
Subatividade 1.2 - Caracterização e Valorização das Áreas de Intervenção Específica do PNSAC;
Subatividade 1.3 - Desenvolvimento do Modelo de Gestão de Resíduos;
Subatividade 1.4 - Proposta de Ordenamento e Gestão Territorial dos Núcleos Extrativos;
Subatividade 1.5 - Comunicação e Sensibilização.
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A Subactividade 1.2 - Caracterização e Valorização das Áreas de Intervenção Específica do PNSAC foi
adjudicada em 12 de Setembro de 2009 a uma parceria estabelecida entre o LNEG - Laboratório Nacional
de Energia e Geologia, IP e o CEVALOR – Centro Tecnológico para a Valorização das Rochas Ornamentais e
Industriais através de um Acordo de Cooperação celebrado em 20 de Dezembro de 2011.
O presente relatório pretende dar conta dos trabalhos realizados no âmbito da parceria LNEG - CEVALOR
para a caraterização e valorização da Área de Intervenção Específica de Cabeça Veada cuja área é de 29
hectares. Esses trabalhos compreendem estudos geológicos, estudos hidrogeológicos e estudos sobre o
património geológico. Os dados e resultados obtidos constituem suporte ao desenvolvimento dos trabalhos
inerentes às subactividade 1.3 e 1.4 mencionadas anteriormente, as quais foram adjudicadas pela
ASSIMAGRA à empresa Visa Consultores, SA., e que integram a execução de:
‐ Desenvolvimento de um modelo de gestão dos resíduos das explorações articulado com as restrições de
natureza ambiental existentes;
‐ Proposta de Ordenamento e Gestão Territorial dos Núcleos Extrativos que inclui os Planos de
Intervenção em Espaço Rural e respetiva Avaliação Ambiental Estratégica e os Projetos Integrados e
respetiva Avaliação de Impacte Ambiental.
A execução de ambas as subactividades decorreu de modo paralelo, em estreita colaboração, pelo que aqui
se integram alguns dos resultados da Subatividade 1.4, nomeadamente os respeitantes à definição de áreas
de aptidão geológica e mineira e cálculo de reservas para a AIE de Cabeça Veada.
Os estudos geológicos realizados envolveram cartografia geológica à escala 1/2000, caraterização dos
litotipos aflorantes, sondagens e levantamento da fraturação do maciço rochoso da área de Cabeça Veada,
tendo em vista a caraterização dos respetivos recursos minerais em rochas ornamentais e a delimitação das
áreas de aptidão mais favoráveis à sua exploração.
Os estudos hidrogeológicos visaram caraterizar e modelar os recursos hídricos subterrâneos na área de
Cabeça Veada, com particular destaque no que respeita à avaliação da sua vulnerabilidade.
Os estudos patrimoniais visaram inventariar, caraterizar e valorizar os eventuais sítios com interesse
patrimonial de âmbito geológico, mineiro e geomorfológico existentes na AIE de Cabeça Veada. Foram
realizados com a colaboração ativa por parte do PNSAC. Os resultados obtidos, para além de suporte às
subactividades 1.3 e 1.4, visam integrar uma Carta Geológica Simplificada do PNSAC que, por seu lado, está
integrada na Subatividade 1.1 e suporta a Subatividade 1.5.
11
12
2.
INDICADORES DE REALIZAÇÃO
Os estudos levados a cabo na AIE de Cabeça Veada integram-se no Projeto Âncora 2 do Cluster da Pedra
Natural formalizado junto do COMPETE, designadamente nas Estratégias de Eficiência Coletiva, a quem
interessa a especificação dos indicadores de realização das atividades preconizadas. Assim, dos estudos
geológicos da AIE de Cabeça Veada resultam os seguintes Indicadores de Realização:
‐
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‐
Área total cartografada: 74,5 hectares; área da AIE: 29 hectares;
1 mapa geológico à escala 1/2000 (Anexo 1);
4 cortes geológicos elucidativos do modelo geológico tridimensional (Anexo 2);
6 estudos petrológicos em lâmina delgada (Anexo 3);
1 mapa de aptidão para a produção de rochas ornamentais à escala 1/2000 (Anexo 5);
1 mapa de vulnerabilidade à poluição (Figura 41);
1 mapa de sensibilidade hidrogeológica (Figura 43).
13
14
3.
ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO E GEOMORFOLÓGICO
O MCE é parte integrante da região central da Bacia Lusitaniana (Figura 3), a qual corresponde a uma bacia
intracratónica, no bordo Oeste da microplaca Ibérica. Estruturalmente a Bacia Lusitaniana (BL) corresponde
a um graben alongado segundo NNE-SSW no qual se depositaram sedimentos mesozoicos cuja espessura
máxima ronda os 4 a 5 km (Ribeiro et al., 1979; Wilson, 1988).
A origem da BL está associada aos episódios distensivos que levaram à abertura do Oceano Atlântico
durante o Mesozoico. Está limitada por acidentes longitudinais herdados da orogenia varisca e apresentase compartimentada transversalmente por acidentes orientados NE-SW e W-E, também eles de herança
varisca e cuja atuação se reflete ao nível da distribuição e espessura das fácies sedimentares (Kullberg et
al., 2013).
Após esse período distensivo a BL ficou sujeita a um regime tectónico compressivo, desde o final do
Cretácico até à atualidade, por efeito da colisão entre a microplaca ibérica com as placas africana e
euroasiática. Conduziu à inversão das principais estruturas tectónicas e à exposição subaérea da sequência
de rochas carbonatadas mesozoicas, tendo-se depositado sobre estas uma sequência descontínua de
sedimentos maioritariamente siliciclásticos (Kullberg et al., 2013).
Figura 3- Enquadramento geográfico e tectónico do MCE no contexto da BL (in Carvalho, 2013 com esquema tectónico da BL
adaptado de Kullberg et al., 2013 e respetivos setores de Ribeiro et al., 1996).
15
3.1. O Maciço Calcário Estremenho
3.1.1. Geomorfologia
O MCE foi definido enquanto unidade geomorfológica constituída essencialmente por rochas calcárias que
se elevam acima da Bacia Terciária do Tejo, da Plataforma Litoral e da Bacia de Ourém, por A. Fernando
Martins na sua Tese de Doutoramento (Martins, 1949). Esta constitui, ainda, um trabalho de referência
atual sobre a geomorfologia deste maciço. Trabalhos mais recentes incidiram, sobretudo, em áreas
específicas do MCE ou abordaram aspetos particulares da sua evolução geomorfológica, nomeadamente
Ferreira et al., 1988; Rodrigues, 1991; Crispim, 1995; Rodrigues, 1998.
Figura 4- Modelo digital de terreno do MCE, sistema de coordenadas retangulares Hayford-Gauss, Datum 73.
A morfologia do MCE está condicionada pela natureza calcária das rochas que o compõem, refletindo o
desenvolvimento de uma morfologia cársica bem característica. De acordo com Rodrigues, 1998, a sua
arquitetura é resultado, fundamentalmente, da movimentação tectónica das diversas falhas que o afetam.
Essa arquitetura assenta em 3 regiões elevadas distintas separadas por duas depressões alongadas (Figura
4):
‐
‐
A ocidente, a Serra dos Candeeiros, orientada NNE-SSW, encontra-se separada do Planalto de Santo
António, a oriente, pela Depressão da Mendiga. Esta também se apresenta orientada segundo NNESSW e está associada à Falha da Mendiga. Ao longo da Serra dos Candeeiros, truncando o seu bordo
oriental, distingue-se o alinhamento tectónico diapírico de Rio Maior – Porto de Mós – Batalha.
O Planalto de Sto. António está separado do Planalto de S. Mamede e Serra de Aire por um
alinhamento NW-SE denunciado pelas depressões de Alvados e Minde, as quais estão condicionadas
16
pelo sistema de falhas escalonadas com o mesmo nome (Carvalho, 2013). A Serra de Aire apresenta
uma orientação NE-SW e constitui a região mais elevada de todo o MCE.
Dada a natureza carbonatada do maciço, a morfologia cársica caracteriza-o de modo marcante, com uma
grande diversidade de estruturas. As formas de exocarso mais frequentes e notórias são as depressões
fechadas de tipo dolina ou uvala, os poljes, dos quais o de Minde é o mais representativo, os vales secos e
os extensos campos de lapiás. De realçar, também, formas que testemunham paleorelevos resultantes de
períodos de erosão normal no MCE, como sejam os Vales Suspensos da Serra dos Candeeiros (Martins,
1949), conforme a fotografia da Figura 5 ilustra.
Figura 5- Vales Suspensos na encosta ocidental da Serra dos Candeeiros.
Figura 6- Principais nascentes na periferia do MCE. a) Olhos de Água do Almonda, b) Nascentes de Chiqueda, c) Nascente do Lena,
d) Nascente do Liz, e) Olhos de Água do Alviela.
A rede de drenagem superficial é praticamente inexistente, pois predomina a drenagem subterrânea. Esta
realiza-se por uma também grande diversidade de formas, desde pequenas fissuras a largas galerias
subterrâneas. As conhecidas grutas que ocorrem neste maciço são o testemunho de antigas galerias de
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escoamento. Atualmente, esse escoamento subterrâneo dá lugar a um reduzido número de principais
nascentes na periferia do MCE, das quais se destaca os Olhos de Água do Alviela e do Almonda, as
nascentes dos rios Lena e Liz e ainda as nascentes de Chiqueda (Figura 6).
3.1.2. Geologia
O MCE compreende rochas datadas desde o Jurássico Inferior (Hetangiano) ao Pliocénico. Porém, a grande
maioria é do Jurássico Médio e Superior. A sua distribuição espacial está representada no mapa
cronostratigráfico simplificado que se apresenta na Figura 7, o qual resulta de adaptação, por simplificação,
da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000, nomeadamente das folhas que abrangem o Maciço (Folha
27 A – Vila Nova de Ourém e Folha 27 C – Torres Novas).
Ao Hetangiano correspondem depósitos de natureza evaporítica constituídos por argilas, margas, salgema
e gesso. Afloram de modo descontínuo e condicionado por falhas ao longo duma estreita faixa NNE-SSW
entre Rio Maior e Porto de Mós. Esta estrutura corresponde a uma "parede de sal" (Ribeiro et al., 1996;
Kullberg, 2000), ou seja, acidente tectónico ao longo do qual se deu a ascensão dos depósitos evaporíticos.
Junto às cidades mencionadas verifica-se o alargamento dessa estrutura.
O Jurássico Médio-Inferior ocupa a maior parte da área do MCE e aflora nas unidades morfoestruturais
soerguidas tectonicamente. Esses afloramentos datam, sobretudo, do Jurássico Médio, pois os do Jurássico
Inferior afloram unicamente numa estreita faixa limitada pelo Sistema de Falhas de Alvados – Minde a sul
de Porto de Mós, razão pela qual no mapa geológico da Figura 7 não se procedeu à sua individualização. É
constituído por rochas dolomíticas, calcárias e margosas. Quanto ao Jurássico Médio, é constituído por
calcários de natureza diversa, desde mudstones a rudstones bastante grosseiros, mas que no conjunto
partilham o fato de apresentarem cores bastante claras, traduzindo um elevado grau de pureza em termos
de conteúdo em óxido de cálcio.
Quanto ao Jurássico Superior, genericamente aflora nas regiões deprimidas que separam as regiões
elevadas, onde aflora o Jurássico Médio. Aflora ainda na depressão de Alcobaça que se desenvolve para
ocidente da Serra dos Candeeiros e na parte oriental do Planalto de S. Mamede, na região de Fátima. Esta
série integra sobretudo margas e calcários de diversa natureza que apresentam cores acastanhadas e
acinzentadas. Porém, na Depressão de Alcobaça, os afloramentos correspondem maioritariamente a
depósitos arenoargilosos.
No que respeita aos depósitos pós-Jurássicos representados no mapa da Figura 7, eles integram
maioritariamente rochas de natureza siliciclástica que datam, descontinuamente, do Cretácico Inferior ao
Pliocénico e ainda aluviões e depósitos de terraços quaternários. Afloram marginalmente ao MCE, com
particular destaque na Bacia Terciária do Tejo, entre Rio Maior e Torres Novas, e nas chamadas bacias de
Alpedriz e Ourém.
18
Figura 7- Mapa geológico cronostratigráfico simplificado do MCE.
No MCE ocorrem também rochas ígneas. São pouco abundantes e estão dispersas por todo o Maciço, à
exceção da Serra de Aire e Planalto de São Mamede. Podem-se subdividir em três grupos principais,
consoante o tipo de estruturas a que se encontram associados (Carvalho, 2013):
-
Corpos instalados em falhas de orientação NW – SE a WNW – ESE;
Corpos associados às estruturas diapíricas;
Corpos isolados com correspondência a aparelhos vulcânicos
Os correspondentes ao primeiro grupo afetam todo o Jurássico. As datações radiométricas disponíveis
(Ferreira & Macedo, 1983; 1987; Willis, 1988) apontam idades para a sua instalação que variam entre os
154 Ma e os 93 Ma.
Os corpos ígneos associados às estruturas diapíricas são pequenas intrusões dispersas que ocorrem no
interior do Diapiro das Caldas da Rainha (já fora do MCE), afetando o Hetangiano, e os que afloram ao
longo do acidente de Rio Maior – Porto de Mós, cortando as formações jurássicas. As datações disponíveis
(Ferreira & Macedo, 1983; Willis, 1988) variam entre os 136 Ma e os 103 Ma. Neste grupo destaca-se o
extenso filão-camada de Teira, a Norte de Rio Maior (Figura 7).
Nos aparelhos vulcânicos incluem-se a brecha vulcânica de Abrã (a leste de Alcanede, Figura 7) que afeta
rochas do Cretácico e o corpo de Alqueidão da Serra (a sudeste da Batalha) que afeta o Jurássico Superior e
19
que parece associado a um acidente de orientação NW-SE. A instalação deste último terá ocorrido aos 140
Ma (Ferreira & Macedo, 1983) ou aos 136 Ma (Willis, 1988).
Quanto à sua natureza, estas rochas ígneas compreendem doleritos e gabro-dioritos alcalinos e
subalcalinos que integram um ciclo de natureza transicional da BL (Martins, 1991; Martins et al., 2010).
Pese embora alguma diversidade de idades radiométricas, elas têm sido genericamente apontadas como
representativas de um episódio de magmatismo na passagem do Jurássico ao Cretácico (Terrinha et al.,
1995; Kullberg, 2000; Kullberg et al., 2013).
3.1.3. Tectónica
O estilo tectónico patenteado pelo MCE é, em grande parte, herdado das estruturas originadas no decorrer
da Orogenia Varisca que afetou o território nacional durante o Paleozoico. Está muito influenciado pelo
facto de, no decorrer do Hetangiano, se ter depositado uma espessa sequência de depósitos evaporíticos
(Formação de Dagorda) que funcionou como base de descolamento entre as rochas do soco e as
mesozoicas durante os episódios extensivos da deformação Alpina. Assim, nos locais onde esses depósitos
evaporíticos apresentavam espessura reduzida, a reativação dos acidentes variscos levou-os a cortar toda a
sequência mesozoica como falhas normais. Nos locais em que esses depósitos apresentavam espessura
elevada, os acidentes variscos não se prolongaram para a superfície. Antes surgiram novas falhas normais
acima da sequência evaporítica, a mimetizar as subjacentes. Portanto e como referido por Kullberg et al.,
2013, verifica-se a conjugação de tectónica de soco com tectónica pelicular (thick and thin skin tectonics).
Durante os episódios de compressão Alpina as estruturas terão voltado a movimentar-se, mas agora de
modo inverso e desligante, conduzindo à inversão geral da BL.
Os principais acidentes tectónicos que dominam o MCE correspondem a falhas orientadas segundo três
direções principais: NNE-SSW, NW-SE e NE-SW.
Os acidentes NNE-SSW são os mais frequentes e integram 4 grandes falhas (Figura 7): a Falha dos
Candeeiros que limita, a Oeste, a Serra com o mesmo nome, a Falha de Rio Maior – Porto de Mós que
trunca essa serra do lado oriental, e o sistema constituído pela Falha da Mendiga (no bordo ocidental do
Planalto de Sto. António) e pela Falha de Reguengo do Fetal (no bordo ocidental do Planalto de São
Mamede). Estes acidentes terão funcionado como falhas normais durante as fases extensionais mesozoicas
e, pelo menos algumas delas, terão sofrido inversão durante o Cenozoico.
No que respeita aos acidentes NW-SE, eles estão fundamentalmente representados pelo sistema de falhas
escalonadas de Alvados e Minde as quais estão interligadas na região de Alvados, limitando uma zona
deprimida. À semelhança das anteriores, terão funcionado como falhas normais durante o período
distensivo Mesozoico. Conforme o mapa da Figura 7 elucida, este sistema terá sido reativado
posteriormente como rampa lateral dextrogira do Cavalgamento do Arrife, durante o período de inversão
(Manuppella et al., 2000; Carvalho, 2013).
A direção NW-SE está ainda representada por acidentes que compartimentam transversalmente o MCE.
Excetuando os que afetam o Planalto de S. Mamede, muitos dos restantes apresentam-se intruídos
parcialmente por rochas ígneas de natureza dolerítica. Estes acidentes, a par com outros de grandes
dimensões que afetam sobretudo a Depressão de Alcobaça e se prolongam para a Bacia Terciária do Tejo,
20
constituem um dos traços distintivos do MCE. Wilson et al., 1989, associam-nos às fases distensivas
mesozoicas. Contudo, Carvalho, 2013, associa-os a episódio compressivo precoce na passagem do Jurássico
para o Cretácico.
Quanto à direção NE-SW, ela está sobretudo representada pela Falha do Arrife, a qual limita o MCE a
sudeste. Durante as fases de compressão Alpina foi reativada como cavalgamento vergente para sudeste.
Quanto à disposição estrutural dos estratos das diferentes unidades litostratigráficas do MCE, eles
apresentam-se sub-horizontais, embora, no geral, associados a dobramentos de grande raio de curvatura.
De entre eles destaca-se a estruturação anticlinal do Planalto de S. Mamede, a qual tem correspondência
com um roll-over a teto do sistema de Falhas de Alvados-Minde e a estruturação anticlinal do Jurássico
Superior da Depressão de Alqueidão, truncada por depósitos cretácicos (Carvalho, 2013). Também a Serra
dos Candeeiros e a Serra de Aire correspondem a estruturas anticlinais, mas estas provavelmente induzidas
por movimentações ascensionais de depósitos salíferos (Kullberg, 2000; Carvalho, 2013; Kullberg et al.,
2013).
De modo localizado ocorrem, também, dobramentos apertados que acompanham algumas das principais
falhas, sendo indicativos da sua reativação sob efeito de campo tectónico compressivo. É o caso particular
dos dobramentos na Depressão da Mendiga, entre a falha com o mesmo nome e a Falha de Rio Maior –
Porto de Mós, e os que ocorrem nas imediações do Cavalgamento do Arrife, paralelamente a esse acidente.
3.2. Enquadramento da AIE de Cabeça Veada no MCE
A AIE de Cabeça Veada localiza-se imediatamente a ocidente da povoação com o mesmo nome, na
freguesia da Mendiga, concelho de Porto de Mós e distrito de Leiria (Figura 8). A razão subjacente à
implementação da AIE de Cabeça Veada no POPNSAC prende-se com a intensa atividade extrativa de
calcários ornamentais que aí ocorre.
As pedreiras desenvolveram-se inicialmente em flanco de encosta (Figura 9), na vertente oriental da Serra
da Lua, a qual corresponde a relevo de dureza mas também de natureza tectónica, como mais à frente se
abordará. Atualmente, pelo grande desenvolvimento que as pedreiras tiveram em profundidade,
alcançando os 60 m, a sua forma é em poço (Figura 10). O acesso principal faz-se por caminho que parte da
EN362 na povoação de Cabeça Veada (Figura 8).
Em termos de enquadramento geológico, a AIE de Cabeça Veada localiza-se na Depressão da Mendiga do
Maciço Calcário Estremenho. Esta é uma depressão de origem tectónica onde afloram rochas do Jurássico
Superior que contatam com rochas do Jurássico Médio por intermédio de duas falhas principais orientadas
NNE - SSW (Figura 7): a ocidente a Falha de Rio Maior – Porto de Mós e a oriente a Falha da Mendiga. Estas
falhas terão tido uma movimentação normal durante as fases distensivas mesozoicas. Posteriormente,
durante o Cenozoico, foram reativadas em desligamento esquerdo.
A Figura 11 corresponde a um extrato do mapa litostratigráfico simplificado do MCE, centrado na
Depressão da Mendiga e onde está representada a AIE de Cabeça Veada. Verifica-se que os afloramentos
do Jurássico Superior nesta depressão correspondem a afloramentos das formações de Cabaços e
Montejunto indiferenciados. Estes afloramentos apresentam-se com atitudes diversas como resultado de
21
basculamentos e dobramentos induzidos pela movimentação das falhas mencionadas, particularmente
durante as fases de compressão alpinas.
Figura 8- Imagem Google EarthTM do núcleo de pedreiras de Cabeça Veada, com representação da AIE.
Figura 9- Vista da parte sul do núcleo de pedreiras de Cabeça
Veada.
Figura 10- Vista de norte para sul no interior do núcleo de
pedreiras de Cabeça Veada.
A AIE de Cabeça Veada localiza num estreito afloramento de calcários do Jurássico Médio com uma
orientação subparalela a essas falhas. A oeste contata com os afloramentos do Jurássico Superior por
intermédio de uma falha com a mesma orientação, conhecida por Falha de Valverde e cuja movimentação
mais recente terá sido em desligamento esquerdo com componente inversa. Conduziu a cavalgamento do
Jurássico Médio sobre o Superior o que, associado ao fato dos calcários do Jurássico Médio serem mais
duros que os do Superior, explica que a faixa de afloramentos referida se apresente sobrelevada na
depressão da Mendiga. A leste o contato com as rochas do Jurássico Superior corresponde a uma
desconformidade de âmbito regional: as rochas do Oxfordiano médio – superior (Figura 11) assentam
diretamente sobre as rochas do Batoniano (calcários micríticos da Formação de Serra de Aire), verificandose a ausência das rochas do Caloviano (Membro de Moleanos da Formação de Sto. António – Candeeiros).
22
Para além das falhas principais referidas, estes calcários estão também afetados por rochas filonianas de
natureza dolerítica que se apresentam orientadas transversalmente, ou seja segundo WNW – ESE,
subverticais.
Figura 11- Enquadramento litostratigráfico da AIE de Cabeça Veada na Depressão da Mendiga, MCE (adaptado de Mapa
Litostratigráfico do MCE, Carvalho, 2013, a partir da cartografia 1/50000 editada pelo LNEG).
Os afloramentos do Jurássico Médio onde se localiza a AIE de Cabeça Veada abrangem a Formação de Serra
de Aire e o Membro de Pé da Pedreira da Formação de Sto. António – Candeeiros. Estas unidades
apresentam-se basculadas cerca de 400 para leste.
A Formação de Serra de Aire (Azerêdo, 2007), ou Calcários Micríticos de Serra de Aire (Manupella et al.,
1999) é de idade Batoniano e tem uma espessura na ordem dos 350 m a 400 m. É constituída sobretudo
por calcários micríticos de cores claras que integram mudstones, wackstones e floatstones mais ou menos
pelóidicos, bioclásticos e oncolíticos, em bancadas de espessura centimétrica a decimétrica, raramente
métrica.
23
Os calcários explorados na AIE de Cabeça Veada, estão referenciados por Calcários de Pé da Pedreira na
Folha 27-C da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000 (Manupella et al., 1999). Formalização recente
da litostratigrafia do Maciço Calcário Estremenho (Azerêdo, 2007) considera que estes calcários constituem
o Membro de Pé da Pedreira de uma unidade maior: A Formação de Santo António – Candeeiros. Esta é
equivalente lateral da Formação de Serra de Aire mas cuja idade abrange não só o Batoniano mas também
o Caloviano.
Os calcários do Membro de Pé da Pedreira têm idade Batoniano superior. São calcários calciclásticos
sparíticos diversos, de cor creme claro e granulometria grosseira que integram grainstones e rudstones em
corpos lenticulares maciços com espessura bastante elevada, em que raramente se distinguem
descontinuidades correspondentes a superfícies de estratificação. Distinguem-se, sim, macro feixes de
laminações sedimentares diversas, em geral paralelas ou oblíquas, com espessura na ordem de 2 a 3
metros. É também comum a ocorrência de biostromas ricos em organismos coraliários que se intercalam e
interdigitam com as restantes litofácies A espessura total do Membro de Pé da Pedreira é variável
consoante a região de afloramento. Na faixa de afloramentos onde se integra a AIE de Cabeça Veada
alcança os 130 m de espessura.
Tendo em atenção o mapa da Figura 11, é notório que os calcários deste Membro de Pé da Pedreira se
encontram intercalados nos da Formação de Serra de Aire, comprovando a já mencionada equivalência
lateral de fácies. Ambas as unidades estão truncadas a ocidente, a sul e a norte pela também já
mencionada Falha de Valverde.
24
4.
ESTUDOS ANTERIORES
Nos estudos geológicos que têm abarcado a região de Cabeça Veada há a considerar os decorrentes de
trabalhos de geologia regional da área abrangida pelo MCE e outros, menos abrangentes, de temática
vocacionada para o apoio à indústria, todos eles realizados pelas entidades percursoras do LNEG que
desempenharam a função de serviço geológico nacional.
Entre os primeiros há sobretudo que ter em atenção a cartografia geológica regional à escala 1/25000 que
conduziu à elaboração da Folha 27-C (Torres Novas) à escala 1/50000, na suas primeira e segunda edições
(Zbyszewski et al., 1969 e Manupella et al., 1999, respetivamente). Entre a publicação desses dois mapas e
suas Notícias Explicativas, foi publicado em 1985 um outro trabalho de geologia regional de âmbito
particular para o MCE com o título Calcários e Dolomitos do Maciço Calcário Estremenho, o qual inclui um
primeiro mapa litostratigráfico do MCE (Manuppella et al., 1985). A revisão dessa litostratigrafia durante a
década de 90 do século passado, a par com trabalhos geológicos de pormenor sobre os locais de
exploração de rochas ornamentais (Carvalho, 1996; 1997; 1998; Quartau, 1998; 2000), constituiu o suporte
para a elaboração da 2ª edição da Folha 27-C que se encontra em vigor. Nesta, pela primeira vez, os
calcários caraterísticos da área de Cabeça Veada são individualizados, integrando uma unidade que se
denominou Calcários de Pé da Pedreira (cf. Figura 11; Membro de Pé da Pedreira).
Figura 12- Formalização da litostratigrafia do Jurássico Inferior e Médio do MCE (retirado de Azerêdo, 2007).
Ainda numa perspetiva regional merece referência a Tese de Doutoramento apresentada por Cristina
Azerêdo à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em 1993. Essa tese (Azerêdo, 1993) centra-se
no estudo sedimentológico e paleogeográfico dos calcários do Jurássico Médio do MCE, abarcando,
portanto, também os que afloram na região de Cabeça Veada. Da mesma autora importa referir a
formalização mais recente das unidades litostratigráficas do Jurássico Inferior e Médio do Maciço Calcário
Estremenho (Azerêdo, 2007). Neste trabalho, a unidade Calcários de Pé da Pedreira (Manupella et al.,
25
1999; 2006) passou a ser considerada um membro (Membro de Pé da Pedreira) da Formação de Santo
António – Candeeiros (Figura 12).
No que respeita aos trabalhos vocacionados para o apoio à indústria extrativa há a registar a obra publicada
em 1988 sob o título Calcários Ornamentais do Maciço Calcário Estremenho (Costa et al., 1988) que dá
conta de uma campanha de sondagens realizadas especificamente para avaliação deste tipo de recursos.
Os diversos núcleos de produção de calcários ornamentais do MCE, incluindo o de Cabeça Veada, são
apresentados por intermédio de uma abordagem muito sumária aos litotipos explorados e sistema de
fraturas que os afeta.
Figura 13- Armazenamento de sondagens na litoteca do LNEG em Alfragide.
No decorrer do ano de 1998 realizou-se o primeiro estudo geológico de detalhe sobre o núcleo de Cabeça
Veada, tendo como objetivo a caraterização e avaliação dos recursos em rochas ornamentais: Calcários
Ornamentais do Maciço Calcário Estremenho - A variedade Semi-Rijo de Cabeça Veada (Quartau, 1998).
Este trabalho centra-se na cartografia geológica, à escala 1/2000, das litofácies presentes, bem como na
caraterização genérica das principais direções de fraturação. É também apresentada a primeira estimativa
de recursos disponíveis em calcários para blocos: 4,5 milhões de metros cúbicos, tendo em conta um fator
de precisão de 80% e um rendimento de exploração de 50%.
Os trabalhos realizados por Quartau, 1998, serviram de suporte aos que agora são apresentados neste
relatório.
Conhecimento específico sobre as litologias que ocorrem em Cabeça Veada foi também obtido através da
realização de sondagens, nomeadamente as que foram mencionadas anteriormente, cujos dados são de
26
domínio público e os respetivos testemunhos físicos estão disponíveis para consulta na Litoteca do LNEG
em Alfragide (Figura 13).
Relativamente a estudos anteriores importa ainda registar os estudos petrográficos e de caraterização
tecnológica realizados sobre a variedade Semi Rijo de Cabeça Veada no âmbito do Catálogo das Rochas
Ornamentais Portuguesas editado pelo LNEG.
27
28
5.
ESTUDO GEOLÓGICO
5.1. Metodologia
A metodologia adotada para o estudo geológico realizado visou suportar o planeamento da lavra mineira
através de um projeto integrado e o planeamento do uso do território em função da aptidão do substrato
geológico para a produção blocos de calcários ornamentais na AIE de Cabeça Veada. Seguiram-se as linhas
gerais propostas por Carvalho et al., 2008 que aponta a homogeneidade litológica, a dimensão e a
fraturação que afeta o maciço rochoso como os critérios decisivos para o estabelecimento da aptidão
ornamental desse maciço e que esses critérios podem ser devidamente determinados por intermédio de
cartografia geológica detalhada e levantamento da fraturação.
Porém, perante os condicionalismos impostos ao estudo da fraturação que afeta as litologias exploradas
nesta AIE e que mais à frente serão devidamente apontados (cf. 5.3.2.3), a metodologia seguida assentou,
sobretudo, na execução de cartografia geológica detalhada à escala 1/2000, prestando especial atenção
aos seguintes aspetos:
‐
‐
‐
‐
Distinção das litofácies presentes em função da sua aptidão ornamental, tendo presente a sua
caraterização nos aspetos que influenciam a sua homogeneidade textural e cromática.
Verificação da disposição espacial e da dimensão das bancadas sedimentares.
Atribuição de nomenclatura às litofácies identificadas de acordo com a terminologia comum no meio
industrial dos calcários ornamentais da região.
Integração das litofácies identificadas em unidades litostratigráficas com representatividade, pelo
menos, ao nível da área em estudo e sua denominação também de acordo com a terminologia em uso
na região.
Para apoio à caraterização das litofácies da AIE de Cabeça Veada foram realizados estudos petrográficos em
lâmina delgada, os quais são apresentados em anexo.
A cartografia teve como ponto de partida a anteriormente executada por Quartau, 1998 e foi realizada
sobre cartas topográficas, também à escala 1/2000. Estas foram elaboradas especificamente para este
objetivo a partir de levantamento aerofotogramétrico efetuado em Agosto de 2011. Como apoio à
orientação no terreno, foram utilizados também ortofotomapas resultantes do mesmo levantamento.
A elaboração da base topográfica teve em atenção as particularidades da região no que respeita aos
aspetos mineiros, nomeadamente a distinção de escarpados artificiais como correspondentes a frentes de
exploração de pedreiras, e a distinção de locais de acumulação de resíduos dessas explorações
(escombreiras). Durante o processo de cartografia geológica foram atualizados alguns dos limites dessas
pedreiras e escombreiras.
Dadas as especificidades do relevo nas AIEs, designadamente o fato de se apresentar artificializado pela
existência de pedreiras, a cartografia geológica realizada apresenta alguns aspetos particulares que
merecem ser aqui abordados, pois têm consequências ao nível da interpretação.
29
Assim, em primeiro lugar, há a considerar que no mapa topográfico utilizado a representação dos
diferentes pisos das pedreiras é feita por intermédio de dois tipos de linhas: “limite superior de escarpado
artificial” e “limite inferior de escarpado artificial”. Correspondem, respetivamente, ao limite superior e
inferior de cada piso de desmonte. Como norma, apenas se considerou a linha correspondente ao limite
superior de cada um dos pisos.
Em segundo lugar, correspondendo essas linhas à interseção das frentes de desmonte com a superfície, há
a considerar que elas acabam por interromper as linhas representativas dos limites geológicos. Esses limites
geológicos deixam de ter representação no mapa pois, sendo apenas observáveis nas frentes de
exploração, coincidem com a linha limite dessas mesmas frentes. Noutros casos, como as linhas
representativas das pedreiras correspondem a escarpados verticais, em projeção planar elas estabelecem
contatos artificiais entre unidades litológicas que não estão em contato real. A Figura 14 pretende elucidar
de modo esquemático estas situações.
Figura 14- Esquema ilustrativo da afetação dos padrões de afloramento devido à artificialização do relevo por pedreiras (A, B, C e D
correspondem a 4 diferentes unidades geológicas, estando as 3 primeiras intersetadas por uma frente de exploração).
Ainda como resultado da artificialização do relevo por pedreiras, ocorrem situações em que as frentes de
desmonte intersetam mais do que uma unidade litológica. Para esses casos resulta a impossibilidade de
avaliar variações de espessura nessas unidades por leitura direta do mapa. Para obviar esse
constrangimento procedeu-se sistematicamente à realização de logs sintéticos das frentes de exploração,
representando-os nos mapas geológicos por um código composto por um número (altura em metros) e um
conjunto de letras (abreviatura da unidade litológica a que respeita a altura intersetada na frente de
exploração). Na Figura 14 está também representada uma exemplificação deste método.
A cartografia geológica não se limitou ao espaço territorial correspondente à AIE de Cabeça Veada, ou seja,
29 hectares. Com efeito, tendo como objetivo uma adequada interpretação geológica, foi necessário
proceder a um alargamento substancial da área total cartografada para fora dos limites da AIE. Essa área
cartografada geologicamente foi de 74,5 hectares, ou seja, quase 2.5 vezes superior à da AIE e apresenta-se
no Anexo 1 à escala 1/2000.
A interpretação geológica, com estabelecimento de correlações entre as diferentes unidades
litostratigráficas, foi auxiliada pela realização de 4 cortes geológicos (Anexo 2). Perante as particularidades
antes apontadas, no que concerne à existência de escarpados verticais (frentes de desmonte das pedreiras)
e seus efeitos na cartografia geológica, para a realização dos cortes geológicos houve necessidade de
recorrer, durante a execução dessa cartografia, à elaboração de colunas litológicas sintéticas em pontoschave de muitas das frentes de desmonte.
30
O modelo geológico tridimensional idealizado para a AIE e traduzido pelos cortes geológicos foi corrigido e
validado por intermédio do estudo dos testemunhos das sondagens mecânicas realizadas em campanhas
de prospeção anteriores. Não foi necessário recorrer à execução de novas sondagens. Os logs das 3
sondagens estudadas são apresentados no Anexo 4.
No que respeita à fraturação que afeta o maciço rochoso, foi realizado um estudo de fotointerpretação
sobre fotografias aéreas à escala aproximada 1/26000 datadas de 1958. A opção por fotografias tão antigas
prende-se com a possibilidade de poder observar as estruturas existentes na área de Cabeça Veada que
hoje se encontram mascaradas por efeito da atividade extrativa. Tendo por objetivo a validação dos
resultados da fotointerpretação e o conhecimento da natureza das fraturas presentes, foi realizado um
levantamento de campo de fraturas nas frentes de pedreira. Contudo e como anteriormente referido, para
além dos condicionalismos que se apontam no subcapítulo 5.3.2, esse levantamento foi também
condicionado pela reduzida acessibilidade à maioria das frentes de exploração.
5.2. Litostratigrafia Temática
Decorrente dos aspetos mencionados anteriormente, no que respeita aos critérios que presidiram à
caraterização das litofácies presentes na área de Cabeça Veada e à definição das diferentes unidades
litológicas, resulta que a cartografia geológica realizada foi de âmbito litostratigráfico mas com uma
temática apropriada à indústria extrativa de calcários ornamentais.
Assim, na AIE de Cabeça Veada afloram as seguintes unidades litostratigráficas temáticas, da base para o
topo:
‐
‐
‐
‐
Vidraços da Base
Calcários Ornamentais
Vidraços do Topo
Vidraços Escuros
Como se verá mais à frente, estas unidades temáticas integram unidades litostratigráficas formais do
Jurássico Médio. Os Vidraços da Base e os Vidraços do Topo integram uma mesma unidade litostratigráfica
formal conhecida por Formação de Serra de Aire. Os Calcários Ornamentais correspondem ao Membro de
Pé da Pedreira da Formação de Santo António – Candeeiros. Tal como referido anteriormente, esta é
equivalente lateral da Formação de Serra de Aire. Assim se compreende que o Membro de Pé da Pedreira
surja intercalado nos calcários micríticos da Formação de Serra de Aire, tal como ilustrado na Figura 12. No
interior dos Vidraços da Base surgem intercalações de calcários dolomíticos mais ou menos espessas.
Sobre estas unidades afloram ainda rochas do Jurássico Superior às quais foi atribuída a designação de
Vidraços Escuros.
31
Figura 15- Mapa Geológico simplificado da área de Cabeça Veada.
32
Apresenta-se, de seguida, a caraterização das diferentes unidades, sua correlação com as unidades
litostratigráficas regionais que se encontram definidas para o MCE e sua distribuição espacial. Para o efeito,
apresenta-se na Figura 15 o mapa geológico de Cabeça Veada simplificado a partir da versão à escala
1/2000 que se encontra no Anexo 1. Na Figura 16 apresenta-se o corte geológico E-F representativo do
modelo geológico da AIE, redimensionado a partir do que consta no Anexo 2.
Figura 16- Corte geológico representativo da AIE de Cabeça Veada, redimensionados para o tamanho de página.
5.2.1. Vidraços da Base
Esta unidade integra a Formação de Serra de Aire de idade Jurássico Médio, mais concretamente do
Batoniano. Está referenciada na Folha 27-C (Torres Novas) e na respetiva Notícia Explicativa por Calcários
Micríticos de Serra de Aire (Manupella et al., 1999 e Manupella et al., 2006, respetivamente). A designação
local de Vidraços deriva do fato de muitos dos calcários que constituem esta unidade tenderem a estilhaçar
como vidro quando percutidos.
Conforme observável no mapa da Figura 15, os Vidraços da Base afloram unicamente na região sudoeste da
área cartografada, estando apenas parcialmente abrangidos pela AIE de Cabeça Veada. Contatam a
ocidente com os calcários do Jurássico Superior por intermédio de uma falha orientada NNE-SSW e, a leste,
contatam com os Calcários Ornamentais que se lhe sobrepõem.
Os Vidraços da base são constituídos por calcários micríticos (mudstones, wackstones e floatstones) mais
ou menos pelóidicos, bioclásticos e oncolíticos, de cor creme e cinzenta, de tons claros a escuros (Figura
17). As bancadas têm espessura centimétrica a decimétrica (Figura 18), sendo que a possança total desta
unidade é bastante elevada, na ordem dos 350 m a 400 m (Manupella et al., 2006 e Azerêdo, 2007).
Contudo, como referido, estão truncados por uma falha, pelo que a espessura total não é apreciável nesta
região.
33
Nesta unidade diferenciaram-se também níveis lenticulares de calcários mais ou menos dolomitizados. Por
se encontrarem nas imediações de vários acidentes que recortam a região, deverão ser o resultado da
circulação de fluídos ricos em magnésio ao longo de calcários mais suscetíveis a este tipo de alteração. A
espessura de alguns destes níveis de calcários dolomitizados poderá alcançar os 20 m. Observações
microscópicas em lâmina delgada de amostra destes calcários dolomitizados revelam uma textura em
mosaico representativa da substituição total da calcite por dolomite (Figura 19).
Figura 17- Amostra de wackstone oncolítico de cor creme escura, caraterístico dos Vidraços da Base.
Figura 18- Modo caraterístico de afloramento dos Vidraços da Base em bancadas decimétricas, imediatamente a leste das pedreiras
da AIE de Cabeça Veada.
Figura 19- Microfotografia de amostra de dolomito intercalado nos Vidraços da Base (luz polarizada, nicóis paralelos).
34
5.2.2. Calcários Ornamentais
Esta unidade tem correspondência com o Membro de Pé da Pedreira da Formação de Santo António –
Candeeiros, como anteriormente referido, sendo a mesma que vem designada por Calcários de Pé da
Pedreira na Folha 27-C (Torres Novas).
Esta unidade está limitada a oeste pelos Vidraços da Base subjacentes e pela falha já anteriormente
mencionada que os coloca em contato direto com os calcários do Jurássico Superior. A sul também contata
com o Jurássico Superior por intermédio de uma nova falha, esta orientada WNW – ESE. A leste contata
com os Vidraços do Topo suprajacentes.
Os Calcários Ornamentais são calcários biolitoclásticos pelóidicos, mais ou menos oolíticos, de
granularidade fina a grosseira (grainstones e rudstones). Apresentam cor creme de tom mais ou menos
claro e textura marcada por laminações paralelas e oblíquas, mais ou menos evidentes e organizadas em
feixes de espessura decimétrica a métrica.
A variedade comercial proveniente desta AIE toma o nome de Semi Rijo de Cabeça Veada (Figura 20). O seu
corte final é normalmente realizado “a favor”, ou seja, paralelamente à laminação sedimentar porque esta
mostra-se pouco regular, quer em termos das próprias laminações, quer em termos da espessura dos feixes
em que se organiza.
A espessura das bancadas é de difícil apreciação pela dificuldade de destrinçar, em paredes verticais a que
não se tem acesso, superfícies de descontinuidade correspondentes a superfícies de estratificação. Na
realidade, os Calcários Ornamentais não parecem estar estruturados em camadas sedimentares, mas sim
em corpos lenticulares maciços com possanças superiores a 20 m. Em termos económicos, são os feixes de
laminações sedimentares de dimensão métrica que condicionam a dimensão dos blocos. A possança total
da unidade ronda os 130 m, conforme apreciável no corte geológico da Figura 16.
Figura 20- Amostra de grainstone biolitoclástico e oolítico correspondente ao Semi Rijo de Cabeça Veada (corte "a favor").
Quartau, 1998, diferenciou no interior desta unidade um nível biostromático (“Sardão”) de granularidade
bastante grosseira, com espessura constante próxima de 1 m. Neste trabalho optou-se por não proceder à
35
sua delimitação, por não constituir um fator condicionador da exploração e porque, dado o grande
desenvolvimento que entretanto as pedreiras tiveram, só localmente é possível proceder à sua cartografia.
Observações em lâmina delgada de amostras desta unidade (Figura 21) confirmam a sua heterogeneidade
granulométrica. Mostram que são calcários de cimento sparítico com uma matriz oolítica, mais ou menos
pelóidica. Dessa matriz sobressaem elementos mais ou menos grosseiros e em maior ou menor abundância
e que correspondem a litoclastos e a bioclastos.
Figura 21- Microfotografias de Semi Rijo de Cabeça Veada. a) oosparite de granularidade média (luz polarizada, nicóis paralelos); b)
oo-biosparite mal calibrada, de grão médio a grosseiro (luz polarizada, nicóis cruzados).
5.2.3. Vidraços do Topo
Os Vidraços do Topo são idênticos aos Vidraços da Base, fazendo parte, do ponto de vista regional, da
mesma unidade litostratigráfica: a Formação de Serra de Aire. Distinguem-se aqui tematicamente por se
apresentarem suprajacentes à unidade ornamental.
Devido à disposição estrutural dos estratos nesta AIE, com orientação NNE-SSW e inclinando cerca de 400
para leste, os Vidraços do Topo afloram em toda a área cartografada para leste dos Calcários Ornamentais.
Na Figura 22 apresenta-se uma fotografia de uma amostra colhida nesta unidade que corresponde a um
calcário micríticos, mudstone, de cor castanha. O fato de tanto os Vidraços da Base, como os do Topo,
apresentarem nesta região cores cremes de tons comummente escuros, ao contrário do que se verifica
noutras regiões do MCE, poderá estar relacionado com metassomatismo associado à presença de
estruturas filonianas nas proximidades.
36
Figura 22- Amostra de mudstone de cor castanha da unidade Vidraços do Topo.
5.2.4. Vidraços Escuros
Os Vidraços Escuros integram uma unidade litostratigráfica formal conhecida por Formação de Montejunto
datada do Oxfordiano Médio. Na Folha 27-C da Carta Geológica de Portugal à escala 1/50000 (Manupella et
al., 1999) vem referenciada por Camadas de Montejunto. Contudo, na Figura 11 estes calcários estão
representados como integrando as formações de Cabaços e Montejunto indiferenciadas. Tal deve-se ao
fato de que estas formações não foram diferenciadas na Folha 27-A, imediatamente a norte.
Conforme se pode observar pelo mapa geológico da AIE de Cabeça Veada (Figura 15), os Vidraços Escuros
afloram nas regiões oeste e sul da área cartografada, contatando com os Calcários Ornamentais e com os
Vidraços da Base por intermédio de acidentes tectónicos. Correspondem a calcários micríticos mais ou
menos margosos e mais ou menos bioclásticos e calciclásticos (mudstones a packstones) de cor cinzenta
tendencialmente escura. Ocorrem em bancadas de espessura centimétrica a decimétrica.
Figura 23- Microfotografias caraterísticas dos Vidraços Escuros. a) Biomicrite (luz polarizada, nicóis cruzados); b) Micrite (luz
polarizada, nicóis paralelos).
37
5.3. Estrutura Geológica
Estruturalmente a AIE de Cabeça Veada pode-se considerar dividida em duas regiões separadas pela falha
NNE – SSW que coloca em contato os calcários do Jurássico Superior (Vidraços Escuros) com os calcários do
Jurássico Médio (Vidraços da Base, do Topo e Calcários Ornamentais). Essa falha é conhecida
regionalmente por Falha de Valverde.
Assim, para ocidente da Falha de Valverde (Figura 15), os Vidraços Escuros apresentam-se tendencialmente
orientados segundo NNW – SSE com inclinações na ordem dos 250 para ENE. Porém, junto à referida falha,
apresentam-se paralelos a ela e com inclinações até 700 para WNW, o que certamente tem
correspondência com dobramentos de arraste pela movimentação da falha.
Para leste da Falha de Valverde os calcários do Jurássico Médio apresentam-se regularmente orientados
segundo NNE – SSW, paralelamente à falha, com inclinações na ordem dos 400 para ESE. Estas atitudes são
verificáveis sobretudo nos Vidraços da Base e nos Vidraços do Topo. Contudo, nos Calcários Ornamentais,
verifica-se esta mesma disposição estrutural para a maioria dos feixes de laminações sedimentares (Figura
24).
O corte geológico que se apresenta na Figura 16 é elucidativo desta disposição em monoclinal basculado
cerca de 400 para leste por parte dos Calcários Ornamentais, a qual tem grande influência no rendimento
da sua exploração. Com efeito, embora os Calcários Ornamentais apresentem essas inclinações, a
metodologia de exploração não acompanha tal andamento, fazendo-se regularmente por pisos direitos,
conforme ilustrado na Figura 25.
Tendo ainda presente o corte geológico da Figura 16, a exploração dos Calcários Ornamentais está limitada
a ocidente pelos Vidraços da Base ou pela Falha de Valverde que os coloca em contato com os Vidraços
Escuros. Os Vidraços da Base também limitam a sua exploração em profundidade. A oriente os Calcários
Ornamentais estão limitados, superficialmente, pelos Vidraços do Topo.
Figura 24- Feixes de laminações sedimentares inclinados para leste (vista de norte para sul).
A norte verifica-se uma diminuição sucessiva da espessura disponível de Calcários Ornamentais devido ao
truncamento pela Falha de Valverde.
38
Figura 25- Vista parcial para sul do núcleo de Cabeça Veada: frentes de exploração verticais, realçando-se o forte pendor para leste
por parte dos Calcários Ornamentais.
5.3.1. Falhas
A Falha de Valverde é o principal acidente tectónico na AIE de Cabeça Veada, atravessando-a
longitudinalmente e colocando em contato os calcários do Jurássico Superior com os do Jurássico Médio,
como tem vindo a ser referido. A sua expressão no terreno é pouco evidente, limitando-se a pequena crista
em que os calcários se apresentam endurecidos e bastante mineralizados por veios de calcite (Figura 26).
A sua cinemática é de difícil apreciação. Pela sua orientação admite-se que corresponda a uma falha normal
associada aos episódios distensivos Jurássicos. Porém, dados indiretos, como sejam planos de estratificação
cinemáticos em que se observam estrias denunciadoras de movimentação em desligamento esquerdo, bem
como o fato de se apresentar cortada por estruturas filonianas fora da AIE que se julgam do início do
Cretácico (Carvalho, 2013), levam a admitir que esta falha se tenha movimentado posteriormente em
função de tensões compressivas no final do Jurássico. Outros dados indiretos, como sejam os já
mencionados dobramentos de arraste nos calcários do Jurássico Superior, apontam que essa
movimentação teve uma componente de cavalgamento do Jurássico Médio sobre o Superior, conforme
ilustrado na Figura 16.
Não existem evidências quanto à movimentação desta falha durante as fases compressivas da orogenia
Alpina. Com efeito, esta falha encontra-se cortada por outros acidentes que se presume estarem
associados a episódio compressivo precoce na passagem do Jurássico ao Cretácico e que se apresentam
orientados segundo WNW – ESE, como é o caso da falha que na AIE de Cabeça Veada limita a sul os
calcários ornamentais (Carvalho, 2013) e que apresenta uma movimentação aparente em desligamento
esquerdo. Na zona norte da área cartografada, uma outra falha WNW – ESE rejeita a Falha de Valverde do
mesmo modo. Contudo, esta pequena falha perde-se no interior dos Calcários Ornamentais dando origem,
provavelmente, a ligeira flexura, conforme denunciado pela modificação no andamento do contato com os
Vidraços do Topo.
A estes acidentes é usual estarem associados estruturas filonianas. É também o que se passa na AIE de
Cabeça Veada onde, imediatamente a norte da falha WNW – ESE mencionada, está cartografado um filão.
39
Porém, na realidade, a estrutura no terreno não corresponde a um filão. Corresponde sim a um corredor
em que os calcários se apresentam fraturados, em maior ou menor grau, chegando mesmo a apresentar-se
brechificados e que caracteristicamente apresentam cor negra. Não correspondendo diretamente a um
filão, o fato dos calcários se apresentarem negros é o resultado de metassomatismo que deverá ter
correspondência com estrutura filoniana em profundidade. Para simplificação, continua a denominar-se a
estrutura em causa por filão.
Figura 26- Expressão morfológica da Falha de Valverde.
Evidências semelhantes referem-se ao fato de muitas das fraturas que afetam os Calcários Ornamentais
apresentarem uma auréola com alguns centímetros de espessura de cor negra (Figura 27). Portanto,
representam também evidências de circulação de fluídos hidrotermais.
Figura 27- Fina fratura com auréola de cor negra como resultado de metassomatismo.
40
5.3.2. Fraturação
5.3.2.1.
Metodologia
O estudo da fraturação que afeta os calcários aflorantes na AIE De Cabeça Veada foi executado a pequena e
grande escala, respetivamente por intermédio de fotointerpretação de fotografias aéreas e por
levantamento sistemático de fraturas em afloramentos. Os pormenores das metodologias de trabalho
aplicadas a ambos os tipos de estudo constituem capítulos específicos de trabalho de maior envergadura
desenvolvido paralelamente (Carvalho, 2013), interessando aqui sublinhar apenas alguns aspetos mais
relevantes.
Assim, relativamente à fotointerpretação, ela foi realizada para toda a região do MCE e foram utilizadas
fotografias aéreas à escala aproximada de 1/26000, as quais foram obtidas durante um voo realizado pela
USAF em 1958. A pertinência da opção por fotografias tão antigas prendeu-se com a necessidade de
observar os afloramentos rochosos em fase anterior à instalação da indústria extrativa que os veio a
destruir.
Embora em fotogeologia seja norma que as estruturas observadas sejam interpretadas genericamente
como lineamentos, no presente caso foi possível a interpretação da grande maioria como sendo fraturas.
Esta possibilidade decorre da existência de grandes áreas desprovidas de solos de cobertura e,
consequentemente, desprovidas de vegetação. Estando as bancadas sedimentares a descoberto foi
possível a identificação direta das fraturas que as afetam. É importante ter em atenção que a existência de
locais nos quais não foram identificadas fraturas por este método não é sinónimo da sua inexistência.
Podem corresponder a locais em que existe solo e vegetação densa, impossibilitando a sua deteção ou,
ainda, a locais tão intensamente fraturados que a resolução do método não permite o discernimento
individual das fraturas.
Em relação ao levantamento de fraturas em afloramentos, este realizou-se pelo chamado método da
scanline: linha materializada nos afloramentos por uma fita métrica ao longo da qual se medem todas as
fraturas intersetadas principalmente no que respeita à sua distância à origem, atitude e natureza. O
levantamento realizado foi também de âmbito regional, ou seja abrangendo todo o MCE, mas com
particular incidência nos locais onde se desenvolve a indústria extrativa, não só pelos objetivos concretos
de determinar como essa fraturação afeta a explorabilidade dos calcários para fins ornamentais, mas
também porque as frentes e pisos de pedreiras constituem locais de excelência para obtenção deste tipo
de dados.
O estudo estatístico dos dados das diaclases medidas em afloramentos teve como base uma série de
procedimentos sobre esses dados com dois objetivos. Um refere-se ao estabelecimento de correlações
entre resultados obtidos em diferentes locais, ou seja, sobre diferentes suportes de amostragem, pelo que
se procedeu à normalização dos dados a um suporte comum, quer em termos de comprimento da scanline,
quer em termos de espessura da bancada em que foi realizada. Outro refere-se à correção do
enviesamento das orientações (orientation bias), tendo-se para o efeito aplicado a chamada Correção de
Terzaghi (Terzaghi, 1965; Hudson & Priest, 1983). A Figura 28, mostra o modelo utilizado para a sequência
de procedimentos de correção e normalização mencionados.
41
Figura 28- Modelo utilizado para a correção e normalização dos dados de frequência de diaclases. Para bancadas com espessura
superior a 1,5 m apenas se normalizou ao comprimento unitário (Carvalho, 2013).
5.3.2.2.
Resultados
Quanto à natureza das fraturas, os dados obtidos em afloramento permitiram discernir que a maioria,
concretamente 80%, correspondem a diaclases subverticais, pelo que o subsequente estudo estatístico da
fraturação se centrou neste tipo de estruturas. Sob esta designação incluem-se diaclases, diaclases
mineralizadas (veios de calcite) e diaclases reativadas em cisalhamento. Permitiram também discernir que
as fraturas fotointerpretadas correspondem a diaclases cuja grande abertura e comprimento são resultado
de episódios de reativação tectónica e dos processos de alteração química próprios da fenomenologia
cársica.
Os dados obtidos para a AIE de Cabeça Veada, quer resultantes da fotointerpretação, quer do
levantamento em afloramentos, estão expressos graficamente no mapa simplificado da AIE de Cabeça
Veada que se apresenta na Figura 29. Nas rosetas que mostram a distribuição estatística das orientações
das fraturas medidas nos afloramentos não consta o número de dados respetivo, o que decorre por efeito
dos procedimentos de normalização mencionados anteriormente.
Relativamente às fraturas fotointerpretadas é notório que prevalece uma orientação de fraturas
decamétricas a hectométricas segundo WSW – ENE nos Calcários Ornamentais e nos Vidraços do Topo que
se lhes sobrepõem. Nos Vidraços Escuros também prevalece essa orientação mas surge uma outra
orientada WNW – ESE, paralela à falha com a mesma orientação na região sul da área e subparalela à
estrutura filoneana.
Quanto às fraturas medidas em afloramentos importa referir que geneticamente é possível distinguir
diaclases anteriores e posteriores ao basculamento das bancadas do Jurássico Médio para leste. Contudo,
tendo em atenção o objetivo do presente estudo, apenas interessa a sua disposição final.
Os dados obtidos na Estação 1 (Figura 29) referem-se a diversas scanlines realizadas nas frentes de
exploração dos Calcários Ornamentais ao longo de grande parte da sua área de ocorrência. Verifica-se um
forte predomínio de fraturas orientadas segundo WSW – ENE, concordantemente com o observado em
fotografia aérea. Conforme se pode observar na fotografia da Figura 30, estas fraturas inclinam cerca de
700 para SSE, sendo elas que condicionam em primeira ordem a exploração dos Calcários Ornamentais na
AIE de Cabeça Veada.
42
Figura 29- Mapa geológico simplificado da região de Cabeça Veada com representação das fraturas fotointerpretadas numa área
alargada envolvente da AIE em estudo. Diagramas de rosa mostram os resultados respeitantes às fraturas em afloramentos nas
estações de levantamento 1 e 2 indicadas no mapa.
Quanto aos dados da Estação 2 (Figura 29), eles foram obtidos em duas scanlines nos afloramentos dos
Vidraços do Topo. Embora em número reduzido por falta de condições propícias à medição de fraturas,
esses dados mostram uma prevalência de fraturas orientadas NW – SE, subparalelamente às falhas e filões
anteriormente mencionados.
Em suma, quanto à orientação da fraturação na AIE de Cabeça Veada, os dados de campo confirmam as
observações registadas em fotografia aérea. Mostram que a principal direção de fraturação é segundo
WSW – ENE e que existe uma direção secundária a afetar sobretudo os Vidraços do Topo segundo NW – SE.
43
Figura 30- Diaclasamento segundo WSW - ENE nas frentes das pedreiras do núcleo de Cabeça Veada.
5.3.2.3.
O problema do Espaçamento da fraturação
A lavra de calcários ornamentais não depende apenas do número de famílias de fraturas e da sua
orientação mas, sobretudo, depende do espaçamento caraterístico de cada uma das famílias, sendo que o
Espaçamento é a distância medida na perpendicular entre duas fraturas consecutivas da mesma família
sistemática.
Para efeitos de considerações geodinâmicas teóricas, uma família sistemática é constituída por diaclases
planares que numa extensa área se apresentam paralelas entre si, com espaçamento regular e que
resultam de um episódio de deformação tectónica preciso. Outras caraterísticas das diaclases, como a
abertura e o tipo de preenchimento, são auxiliares quanto à distinção de famílias sistemáticas que
partilham a mesma orientação. No caso concreto do MCE, tais situações verificam-se, ou seja, existem
conjuntos de diaclases com a mesma orientação que albergam mais do que uma família sistemática, o que
é resultado da sobreposição de episódios tectónicos de deformação. É o que se verifica para as famílias que
caraterizam a região de Cabeça Veada que albergam diferentes tipos de diaclases. Portanto, não podem ser
consideradas famílias sistemáticas com um espaçamento próprio regular, mas antes devem ser apenas
consideradas como famílias direcionais sem espaçamento caraterístico.
Serviram estas considerações para afirmar que para efeitos de aplicação prática à indústria extrativa de
rochas ornamentais é necessário subdividir essas famílias direcionais nas famílias sistemáticas que as
constituem e, então, determinar os respetivos espaçamentos. Porém, para o caso concreto da AIE de
Cabeça Veada, tal não foi possível pelas razões que de seguida se expõem.
44
Em primeiro lugar, razões que revertem nos conceitos teóricos sobre os processos mecânicos que regem a
instalação de diaclases em rochas sedimentares e de como esses processos condicionam o seu
espaçamento. Importa sobretudo reter que o espaçamento duma família sistemática é diretamente
proporcional à espessura de cada um dos estratos sedimentares em que se instala e que essa
proporcionalidade se verifica para estratos com espessura inferior ao valor empírico de 1,5 m. Para estratos
sedimentares mais espessos que 1,5 m, como é nitidamente o caso dos Calcários Ornamentais de Cabeça
Veada, perde-se essa proporcionalidade e as bancadas apresentam-se intensamente fraturadas. Embora
esta grande intensidade de fraturação não seja percetível numa primeira abordagem, pois é comum
observar diaclases com espaçamentos na ordem dos 3 metros ou bastante mais nas frentes de exploração,
na realidade esses valores correspondem, em termos de análise teórica, a grande intensidade de
fraturação. Com efeito, se tomarmos como exemplo uma bancada sedimentar com 10 m de espessura
afetada por diaclases espaçadas de 2 m, essa bancada está muito mais intensamente fraturada que uma
outra com apenas 0,2 m de espessura em que as diaclases se apresentem espaçadas 0,4 m. A manter-se a
regra da proporcionalidade e normalizando para a espessura unitária, à situação da bancada espessa
corresponde um espaçamento de 0,2 m (5 fraturas por metro), ao passo que para a bancada estreita
corresponderá um espaçamento de 2 m (0,5 fraturas por metro).
Os mecanismos que regem o espaçamento das famílias sistemáticas de diaclases instaladas em estratos
sedimentares de elevada espessura ainda não são conhecidos, o que impossibilita o estabelecimento de
modelos de diaclasamento para esse tipo de estratos e, portanto, também impossibilita previsões
quanto à frequência de ocorrência de diaclases duma determinada família sistemática.
Em segundo lugar há a considerar razões que se prendem com a metodologia de trabalho adotada para o
levantamento das diaclases. Como referido, esse levantamento foi realizado nos locais de melhor
exposição, ou seja, nas frentes de desmonte das pedreiras. Mais concretamente, como em muitas
situações as frentes de desmonte apresentavam raras fraturas, a fim de obter o maior número de dados
para tornar relevante a sua análise estatística, a amostragem foi executada essencialmente nos locais
dessas pedreiras que se apresentavam mais fraturados. Por essa razão a amostragem sofre de um
enviesamento: os valores de espaçamento a obter para cada uma das famílias estarão subvalorizados.
Porém, mesmo nessas condições de amostragem, a quantidade de dados obtidos não se mostrou relevante
a nível estatístico, de tal modo que não foi possível a destrinça precisa de famílias sistemáticas de
diaclasamento; apenas se tendo distinguido famílias direcionais (Cf. Carvalho, 2013).
Assim, tanto pela impossibilidade de estabelecimento de modelos de espaçamento de diaclases adaptados
a estratos sedimentares muito espessos, como pelas dificuldades na destrinça de famílias sistemáticas de
diaclases, a definição das áreas de melhor aptidão para a produção de calcários ornamentais na AIE de
Cabeça Veada que se abordará no Capítulo 6 não se teve em conta o critério Fraturação.
5.4. Sondagens
Na região de Cabeça Veada foram realizadas sondagens em campanhas de prospeção anteriores reportadas
em Costa et al., 1988 e em Quartau, 1998. Três dessas sondagens localizam-se na AIE de Cabeça Veada,
nomeadamente as referenciadas como MCE-50, MCE-51 e CVeada1. Após observação dos respetivos
45
testemunhos os dados obtidos mostraram-se suficientes para a compreensão da geologia da área, razão
pela qual não se procedeu à execução de novas sondagens de reconhecimento.
As sondagens referidas iniciaram-se sobre a unidade dos Calcários Ornamentais. A MCE-50 e a MCE-51
terminaram ainda dentro desta unidade, tendo intersetado diferentes fácies com maior ou menor aptidão
ornamental. A sondagem CVeada1 foi realizada no fundo de uma das pedreiras com uma inclinação de 45 0
para oeste. Após intersetar cerca de 47 m de calcários ornamentais, também com maior ou menor aptidão,
alcançou os Vidraços da Base. Esta interseção permitiu determinar que a espessura total da unidade
Calcários Ornamentais nesta região é de 130 m.
Os logs respeitantes a estas sondagens constam no Anexo 4. Os testemunhos físicos encontram-se
arquivados na litoteca do LNEG em Alfragide.
5.5. Cortes Geológicos
Tal como referido anteriormente, tendo em vista o estabelecimento de um modelo geológico
tridimensional foram realizados 4 cortes geológicos transversais à estrutura (Anexo 2). A sua elaboração
teve em conta a cartografia geológica e os dados obtidos pela observação dos testemunhos das sondagens.
Os principais resultados obtidos, para além da respetiva visualização gráfica, estão integrados nos
anteriores capítulos 5.2 e 5.3.
46
6.
ÁREAS DE APTIDÃO PARA CALCÁRIOS ORNAMENTAIS E AVALIAÇÃO
DE RECURSOS
6.1. Delimitação de áreas de aptidão para a exploração de calcários
ornamentais
Tendo em atenção o que foi exposto anteriormente nos capítulos 5.1 e 5.3.2.3, a metodologia seguida para
a determinação das áreas de melhor aptidão para calcários ornamentais na AIE de Cabeça Veada assentou
na avaliação das caraterísticas respeitantes à sua homogeneidade litológica, à sua dimensão e à sua
disposição espacial. A avaliação destas caraterísticas resultou da observação dos afloramentos, em
particular das extensas superfícies a que correspondem as frentes de exploração existentes. Os resultados
obtidos pela observação dos testemunhos das sondagens também contribuíram para essa avaliação,
sobretudo pelas conclusões que permitiram obter quanto à confirmação do modelo estrutural da AIE e
quanto à espessura da unidade Calcários Ornamentais.
Perante as observações realizadas, optou-se por considerar com aptidão ornamental a totalidade da
unidade Calcários Ornamentais. Não se atribuiu importância a locais restritos em que os afloramentos não
evidenciam aptidão ornamental pois é grande a variabilidade lateral e vertical de fácies nos Calcários
Ornamentais. Essa aptidão depende sobretudo da homogeneidade textural, da cor e da espessura dos
feixes de laminações sedimentares cuja continuidade lateral é, por vezes bastante restrita. Só uma malha
extremamente apertada de sondagens permitirá avaliar com precisão a extensão desses locais. Também
não se consideraram locais restritos em que os afloramentos se apresentam bastante fraturados pela
impossibilidade de implementação de metodologia adequada à modelação da fraturação.
Tendo em conta os objetivos de ordenamento territorial a que se propõem os trabalhos realizados, a
delimitação de áreas centrou-se no espaço territorial da AIE mas alargou-se ligeiramente para sul para
espaço de imediata expansão natural da atividade. Essas áreas apresentam-se no mapa constante do Anexo
5 à escala 1/2000. São também apresentadas na Figura 31 em sobre mapa geológico simplificado e
redimensionado. Assim:
‐
‐
‐
‐
Os Vidraços da Base foram considerados litotipos sem aptidão ornamental pois apresentam grande
variabilidade textural de bancada para bancada, sendo que a espessura destas é, maioritariamente,
inferior a 1 m, rondando frequentemente os 0,4 m. Para além disso, nesta região tendem a apresentar
tons acastanhados.
A unidade Calcários Ornamentais é a que apresenta aptidão ornamental elevada, razão que presidiu à
designação que lhes foi atribuída. Tal aptidão deriva da elevada espessura da maioria dos feixes de
laminações sedimentares que se apresentam homogéneos em termos texturais e cromáticos, bem
como da elevada espessura da unidade, a rondar os 130 m.
Os Vidraços do Topo também não apresentam aptidão ornamental pelas mesmas razões que se
apresentaram relativamente aos Vidraços da Base. Contudo, até certo ponto é viável a sua extração a
fim de alcançar os Calcários Ornamentais subjacente, razão pela qual se definiu uma área de aptidão
designada por “Área com recurso para blocos sob carga”.
Os Vidraços Escuros não apresentam aptidão ornamental pelas mesmas razões apontadas para os da
Base e para os do Topo.
47
Figura 31- Mapa de aptidão para a produção de calcários ornamentais na AIE de Cabeça Veada.
6.2. Cálculo de Recursos em calcários para bloco
Como referido no capítulo introdutório, a delimitação das áreas de aptidão para calcários ornamentais,
bem como a estimação dos recursos disponíveis para exploração, constituíram tarefas elaboradas em
48
colaboração com a empresa Visa Consultores, SA. Essa estimativa teve como suporte a base topográfica, a
cartografia geológica, os cortes geológicos e as áreas de aptidão apresentadas nos capítulos anteriores.
Para o efeito, foi elaborado um modelo tridimensional da AIE numa aplicação informática específica para o
efeito (Surpac 6.5.1). Esta aplicação permitiu o cálculo automático de um volume de 22,1 milhões de
metros cúbicos em calcário com aptidão ornamental para blocos. Para a exploração deste volume deverão
ser tidas em conta as condicionantes mineiras, geológicas e ambientais. Particularmente associado às
condicionantes mineiras está o rendimento expetável da exploração que, na AIE de Cabeça Veada se
admitiu como 45 %. Ou seja, menos de metade do volume estimado apresentará valor comercial.
O volume referido integra parte dos Calcários Ornamentais subjacentes aos Vidraços do Topo. Para avaliar
a viabilidade económica da sua exploração foi realizada uma análise económica que permitiu concluir que
essa viabilidade se verifica sempre que a espessura dos Vidraços de Topo for igual ou inferior a 1,9 vezes a
espessura da formação com aptidão ornamental. Essa análise teve em conta a espessura média dessa
“carga” de Vidraços de Topo, os custos associados à sua remoção e o valor comercial médio do calcário
ornamental.
49
50
7.
HIDROGEOLOGIA
7.1. Introdução
O presente capítulo pretende dar conta dos trabalhos hidrogeológicos realizados na AIE de Cabeça Veada
no que respeita à caracterização qualitativa e quantitativa das águas subterrâneas, incluindo uma avaliação
da aptidão hidrogeológica, a conceptualização de um modelo hidrodinâmico, a avaliação da vulnerabilidade
à poluição e da sensibilidade hidrogeológica.
7.2. Metodologia
Após uma recolha prévia de informação bibliográfica sobre o Sistema Aquífero Maciço Calcário
Estremenho, procedeu-se a uma análise, com o pormenor possível, dos aspectos hidrogeológicos da AIE de
Cabeça Veada, visando a respectiva caracterização ambiental.
Os trabalhos desenvolvidos envolveram as seguintes acções gerais:
-
-
-
Recolha de informação hidrogeológica junto de várias entidades com competências na área do
Maciço Calcário Estremenho (MCE), nomeadamente, o Parque Natural da Serra de Aires e
Candeeiros (PNSAC) e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA, IP);
Integração da informação constante na base de dados hidrogeológicos do LNEG, IP;
Reconhecimento da área de estudo, incluindo a validação dos pontos de água provenientes das
diversas fontes de informação;
Verificação in situ, sempre que possível, das condições de captação de água subterrânea,
nomeadamente no que se refere, à profundidade do nível de água, posição da bomba de extracção,
regime de exploração e outras informações úteis;
Selecção de pontos de água com vista à definição da rede de amostragem da qualidade da AIE ou
sua envolvência.
Na caracterização hidrogeológica da AIE de Cabeça Veada foram considerados os seguintes itens:
-
Enquadramento geológico local;
Aptidão hidrogeológica;
Produtividade aquífera;
Modelo hidrodinâmico;
Qualidade da água subterrânea;
Vulnerabilidade à poluição;
Sensibilidade ambiental.
O enquadramento geológico local teve em consideração dados bibliográficos (Crispim, 1995; Manupella et
al., 2006; Azerêdo, 2007), bem como o relatório da caracterização do substrato geológico da AIE de Cabeça
Veada que consta dos capítulos anteriores.
51
A aptidão hidrogeológica e a produtividade aquífera foram definidas considerando dados bibliográficos
(Crispim, 1995; Almeida et al., 2000a; Almeida et al., 2000b; Sampaio, 2006), relatórios de furos de
captação de água e dados de monitorização do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos
(http://snirh.pt).
O modelo hidrodinâmico foi consubstanciado em dados bibliográficos (Crispim, 1995; Almeida et al.,
2000b) e em dados piezométricos de relatórios de furos de captação de água e da rede de monitorização
do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (http://snirh.pt).
A caracterização da qualidade das águas subterrâneas da AIE de Cabeça Veada baseou-se em análises de
três furos de captação de água, amostrados numa época correspondente a “águas baixas” (513/Novembro/2012) e numa época de “águas altas” (Março/2013). Trata-se de dois furos situados no
interior da AIE (Furo Cabeça Veada SC e Furo Cabeça Veada CP) e do furo situado a jusante e a sul da
mesma AIE (Furo de Valverde). A caracterização em apreço teve como orientação, sempre que se
considerou conveniente ou aplicável, os valores paramétricos (ou os valores máximos admissíveis)
respeitantes a águas para consumo humano, estabelecidos pela legislação vigente (Decreto-Lei nº 236/98,
de 1 de Agosto e Decreto-Lei nº 306/2007, de 27 de Agosto). Na Tabela 1 indicam-se os tipos de análises, os
parâmetros determinados, bem como os laboratórios onde foram realizadas as análises.
Tabela 1- Relação das análises laboratoriais realizadas
Tipo de análise
Parâmetros analisados
 Parâmetros globais – pH, condutividade eléctrica,
alcalinidade, dureza total, sílica e resíduo seco;
 Composição maioritária – catiões (Na+, K+, Mg2+,
Ca2+, NH4-) e aniões (F-, Cl-, HCO3-, S042-, H2P04-, NO3-,
Análises físicoNO2-);
químicas
 Composição vestigiária – 36 elementos (Li, Be, B, Al,
completas.
V, Cr, Fe, Mn, Co, Ni, Cu, Zn, 71Ga, 72Ge, As, Se, Rb,
Sr, Y, Zr, Nb, Mo, Ag, Cd, Sn, Sb, Te, Cs, Ba, Ta, W,
Hg, Tl, Pb, Bi, U).
Laboratório
Unidade de Ciência e
Tecnologia Mineral do
LNEG, IP.
(1)
Análise
de 
substâncias

perigosas.

(1)
Óleos e gorduras;
(1)
Hidrocarbonetos totais;
(2)
Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs)*.
 Coliformes fecais;
Análises
 Coliformes totais;
microbiológicas.
 Escherichia coli.
Laboratório do Instituto
Superior Técnico.
(2)
Laboratório da Agência
Portuguesa do Ambiente,
IP.
Laboratório da Agência
Portuguesa do Ambiente,
IP.
* NOTA: Análises realizadas apenas em “águas altas” nos pontos de água cujas amostras em “águas baixas” apresentaram hidrocarbonetos totais.
A vulnerabilidade à poluição foi avaliada tendo em consideração o método EPIK (Doerfliger & Zwahlen,
1997), aplicável a sistemas aquíferos cársicos e preconizado pela legislação em vigor [Declaração de
Rectificação nº 71/2012, de 30 de Novembro, Anexo da Resolução de Conselho de Ministros nº 81/2012, de
3 de Outubro, sobre as orientações estratégicas de âmbito nacional e regional para delimitação das áreas
integradas na Reserva Ecológica Nacional (REN)].
52
A sensibilidade ambiental, do ponto de vista hidrogeológico, foi analisada através da conjugação da
vulnerabilidade intrínseca ao meio com o risco inerente à actividade antrópica desenvolvida na AIE.
7.3. Caraterização Hidrogeológica
7.3.1. Enquadramento geológico local
A AIE de Cabeça Veada tem uma área aproximada de 0,29 km 2. Localiza-se no Maciço Calcário Estremenho,
entre o Planalto de Santo António e as Serras da Lua e de Candeeiros, num estreito relevo estrutural
alongado segundo N-S que integra a denominada Depressão da Mendiga.
As litologias aflorantes da AIE que se encontram ladeadas pelos Calcários do Jurássico Superior da
Depressão da Mendiga correspondem a calcários do Jurássico Médio dispostos em bancadas com
orientação NNE-SSW e inclinações na ordem de 40o para leste. Conforme Manupella et al., 2006, do topo
para a base há a considerar, sucessivamente, as formações do Jurássico Médio (Calcários de Pé da Pedreira,
Calcários de Serra de Aire, Calcários de Chão de Pias e Margas e calcários margosos de Zambujal), os
Calcários margosos e margas da Fórnea (transição Jurássico Médio/Inferior) e os litótipos do Jurássico
Inferior (dolomitos das Camadas de Coimbra, Dolomitos em plaquetas e Margas de Dagorda).
No que diz respeito à tectónica e conforme abordado em capítulo anterior, são de referir: i) a falha de
Valverde com desenvolvimento regional de direcção NNE-SSW e que, localmente, a ocidente, coloca os
calcários do Jurássico Médio a cavalgar sobre os calcários do Jurássico Superior; ii) falhas transversais (à
Falha de Valverde) com desenvolvimento local, de direcção NW-SE a WNW-ESE e subsequentes indícios de
estruturas filoneanas nelas instaladas; iv) a fracturação que está representada por duas famílias principais
de fraturas, uma de orientação WSW-ENE e outra NNE-SSW.
7.3.2. Hidrogeologia local
7.3.2.1.
Aptidão hidrogeológica
A aptidão hidrogeológica da AIE de Cabeça Veada e sua envolvente é condicionada pela litostratigrafia
local, sendo de perspetivar, do topo para a base, as seguintes considerações contextualizadas no Sistema
Aquífero do Maciço Calcário Estremenho (cf. Almeida et al., 2000a):
-
-
Os termos do Jurássico Superior respeitantes às Camadas de Alcobaça, pelo seu carácter
predominantemente margoso e argiloso, não têm interesse hidrogeológico;
Os termos inferiores do Jurássico Superior, isto é, as Camadas de Montejunto (calcários, calcários
argilosos e argilas calcárias) e as Camadas de Cabaços (calcários, calcários argilosos e argilas e
conglomerados), apresentando algum grau de carsificação, têm interesse hidrogeológico;
As rochas do Jurássico Médio (Calcários de Pé da Pereira, Calcários micríticos de Serra de Aire,
Calcários de Chão de Pias e Margas e os termos superiores das Margas e calcários margosos de
Zambujal) são as de maior importância hidrogeológica, suportando, localmente, as unidades
aquíferas;
53
-
-
-
Os termos inferiores das Margas e calcários margosos de Zambujal e os termos superiores dos
Calcários margosos e margas da Fórnea (transição Jurássico Médio/Inferior) apresentam interesse
hidrogeológico reduzido;
Os termos inferiores dos Calcários margosos e margas da Fórnea e os dolomitos que constituem as
Camadas de Coimbra, embora pouco expressivos, apresentam-se carsificados, podendo constituir
um aquífero confinado entre as formações suprajacentes e as formações subjacentes do
Hetangiano (Dolomitos em plaquetas e Margas de Dagorda);
As Margas de Dagorda (complexo pelítico-carbonatado-evaporítico) constituem o substrato tido
como impermeável, podendo ser responsáveis por elevados valores de mineralização das águas em
virtude da elevada solubilidade dos evaporitos (salgema e gesso).
7.3.2.2.
Produtividade aquífera
Face aos dados disponíveis, a produtividade aquífera na envolvência da AIE de Cabeça Veada é
caracterizada tendo em consideração três furos de captação que se assinalam na Figura 32.
Atendendo à Tabela 2, os furos são de elevada profundidade (na ordem de 400 m) e proporcionam caudais
a variar entre 0,4 e 2,8 L/s. No caso dos dois furos de Cabeça Veada (situados no interior da AIE), os caudais
de 0,4 e 2,2 L/s implicam, respetivamente, rebaixamentos de 140 e 60 m, pelo que os caudais específicos
são muito reduzidos (0,003 e 0,037 L/s.m).
Tabela 2- Características geométricas e produtividade de furos.
Coordenadas
Furos
Datum 73
Hayford Gauss IPCC
Cota do
terreno
Prof. do
furo
X (m)
Y (m)
(m)
(m)
Cabeça
Veada
SC
-63105
-20443
410
422
Cabeça
Veada
CP
-63240
-20930
431
Valverde
-63001
-21902
295
Totalidade e
posição dos
drenos
(m)
Prof. do
NHE
Prof. do
Caudal
NHD−NHE Caudal
NHD
específico
(m)
(m)
(m)
(L/s)
(L/s.m)
120
entre 104 e 422
220
360
140
0,4
0,003
440
40
entre 314 e 434
240
300
60
2,2
0,037
390
36
entre 276 e 366
?
?
?
2,8
?
Na AIE, atendendo à sua altimetria (cotas compreendidas entre os 370 e 440 m), aos níveis piezométricos
posicionados à cota aproximada de 190 m (cf. Figura 32) e aos elevados rebaixamentos necessários para a
obtenção de caudais ainda assim reduzidos, é expectável que a captação de água apenas seja possível
através de furos com profundidades superiores a 400 m. Além da apreciável profundidade dos furos,
acresce salientar o elevado grau de incerteza, característico dos meios cársicos, na intersecção de condutas
de água e subsequente obtenção daqueles caudais.
54
Figura 32- Localização dos pontos de água com informação de produtividade e piezometria e com amostragem para caraterização
qualitativa das águas subterrâneas da AIE de Cabeça Veada (implantação sobre extrato da Folha 328 do IGeoE na escala 1:25000).
7.3.2.3.
Modelo hidrodinâmico
Atendendo à Figura 32, na AIE de Cabeça Veada apenas se conhecem dois furos de captação de água cujos
níveis hidrostáticos, à data da sua construção, se posicionavam numa cota próxima de +190 m.
55
Não obstante a escassez de pontos de água com dados piezométricos que permitam definir uma rede local
de fluxos subterrâneos, a localização da AIE, numa zona topograficamente elevada e inserida na Depressão
da Mendiga (Figura 33), bem como a ocorrência de nascentes temporárias a sul e a jusante, e.g., a nascente
cársica de Olho da Mata do Rei (cota +150 m), afigura-se como plausível que o escoamento subterrâneo
natural, isto é, sem interferências provocadas por rebaixamentos piezométricos resultantes da exploração
de furos, se processe de norte para sul. Nesta perspectiva, e ainda que sem perder de vista a complexidade
tectónica, estrutural e cársica da região que certamente condicionará a circulação subterrânea, a AIE
deverá integrar parte da área de recarga daquelas nascentes situadas numa zona tectonicamente
conturbada, a sul do afloramento do Jurássico Médio, junto ao contacto com formações do Jurássico
Superior menos permeáveis.
De entre as vicissitudes e constrangimentos que impedem a definição realística de uma rede de fluxo
subterrâneo, salientam-se:
-
-
A imprevisibilidade da circulação subterrânea intrínseca do meio cársico;
A compartimentação estrutural, geológica e geomorfológica da generalidade do Maciço Calcário
Estremenho e, em particular, da AIE de Cabeça Veada que é intersectada por falhas injectadas com
filões de direcção WNW-ESE;
A escassez de informação acerca de pontos de água (furos);
A dificuldade ou impossibilidade técnica de se efectuar nos furos existentes medições
piezométricas com uma sonda de níveis.
7.3.2.4.
Qualidade da água subterrânea
Na Figura 32 assinalam-se os pontos de água utilizados para a caracterização da qualidade das águas
subterrâneas da AIE de Cabeça Veada e sua envolvência. Para o efeito, analisaram-se amostras de água
colhidas em três furos (Cabeça Veada SC, Cabeça Veada CP e Valverde). As colheitas decorreram de 5 a 13
de Novembro de 2012 no final de uma época de estio (“águas baixas”) e de 5 a 21 de Março de 2013 em
época de chuvas avançada (“águas altas”). Na Tabela 3, Tabela 4, Tabela 5, Tabela 6 e Tabela 7 apresentamse, respetivamente, resultados analíticos referentes a parâmetros físico-químicos globais, à composição
iónica maioritária, à composição vestigiária, aos hidrocarbonetos, óleos e gorduras e à componente
microbiológica.
Conforme a Tabela 3 e Tabela 4, as águas amostradas apresentam as espectáveis características de
circulação em meio carbonatado, isto é, têm carácter alcalino (7,18 ≤ pH ≤ 7,91), são águas duras (159 ≤
dureza total ≤ 328 mg/L CaCO3) e evidenciam fácies bicarbonatada-cálcica. Os valores de condutividade
eléctrica compreendidos entre 287 e 591 µS/cm reflectem valores de mineralização total a variar de 265 a
541 mg/L. Os valores de pH, condutividade eléctrica e dureza total observados nas amostras dos três furos,
nas duas épocas de amostragem, são inferiores ou balizados pelos respectivos valores paramétricos
preconizados pelo Decreto-Lei nº 306/2007, de 27 de Agosto, no que diz respeito a águas para consumo
humano.
56
Figura 33- Modelo digital de terreno da área compreendida entre a AIE de Cabeça Veada e a nascente temporária Olho da Mata
do Rei (Sistema de Coordenadas: PT-TM06/ETRS89).
57
Tabela 3- Parâmetros físico-químicos de caracterização global.
Características globais
Época de
Amostragem
Furo
Cabeça Veada
SC
Furo
Cabeça Veada
CP
Furo
Valverde
Valor
paramétrico *
pH
AB
AA
7,55
7,91
7,57
7,57
7,18
7,20
[6,5-9,0]
Condutividade eléctrica a
o
20,0 C (µS/cm)
AB
AA
320
287
350
348
591
585
2500
Mineralização total
(mg/L)
AB
AA
294
265
319
315
539
541
−−
Sílica (SiO2)
(mg/L)
AB
AA
2,8
2,9
2,8
2,9
5,0
5,5
−−
Dureza total
(mg/L CaCO3)
AB
AA
177
159
202
209
298
328
[150-500]
AB: Águas Baixas (Novembro/2012); AA: Águas Altas (Março/2013).
* cf. DL nº 306/2007, de 27 Agosto.
As amostras de água do furo Valverde situado a sul e a jusante da AIE apresentam valores de mineralização
significativamente superiores aos valores de cada um dos furos do interior da AIE, sendo as concentrações
dos iões HCO3-, Cl-, SO42-, NO3- e Na+ as que mais contribuem para essa diferença na mineralização. É
também no furo de Valverde que se observam as variações mais significativas, entre amostras de “águas
baixas” e de “águas altas”, destacando-se, a diminuição das concentrações de NO3-, Na+ e Cl- em
consequência do efeito de diluição na época das chuvas.
As concentrações do ião nitrato são muito pequenas ou praticamente nulas (0,95 > NO3- ≤ 2,3 mg/L) nas
amostras dos furos situados no interior da AIE. No entanto, no furo de Valverde observam-se valores de
35,9 mg/L e de 11,5 mg/L, respectivamente nas “águas baixas” e nas “águas altas”. Considerando que as
concentrações naturais do ião nitrato raramente atingem os 8-10 mg/L, no furo de Valverde constata-se,
ainda que sem se atingir o valor paramétrico máximo admissível de 50 mg/L, alguma contaminação por
compostos de azoto de origem antrópica, possivelmente relacionada com a aplicação de fertilizantes nos
terrenos agricultados adjacentes e/ou com efluentes domésticos, bem como com as características
construtivas da cabeça do furo, a qual, posicionada no fundo de uma caixa, abaixo da cota do terreno,
permite a entrada de águas de escorrência superficial.
No furo de Valverde, constata-se que ambas as amostras evidenciam concentrações de ião Ca2+ superiores
ao valor limite aconselhável (100 mg/L).
58
Tabela 4- Resultados analíticos da componente iónica maioritária.
Época de
Amostragem
Furo
Cabeça Veada
SC
Furo
Cabeça Veada
CP
Furo
Valverde
Valor
paramétrico *
AB
AA
10,0
8,7
9,3
8,9
20,9
16,7
250
AB
AA
204
182
217
219
301
343
−−
Sulfato (SO4 )
AB
AA
4,9
6,5
15,3
14,8
33,2
31,6
250
Nitrato (NO3-)
AB
AA
1,7
2,3
< 1,00
< 0,95
35,9
11,5
50
Nitrito (NO2 )
AB
AA
< 0,01
< 0,01
< 0,01
< 0,01
< 0,01
< 0,01
0,5
Fosfato (H2PO4-)
AB
AA
< 1,45
< 1,20
< 1,45
< 1,20
< 1,45
< 1,20
−−
Fluoreto (F-)
AB
AA
< 0,55
< 0,50
< 0,55
< 0,50
< 0,55
< 0,50
1,5
Sódio (Na+)
AB
AA
4,9
5,0
5,1
5,1
17,7
9,1
200
Potássio (K+)
AB
AA
0,25
0,29
0,39
0,36
2,4
1,4
−−
Magnésio (Mg2+)
AB
AA
7,0
12,8
13,8
13,3
2,9
2,8
50
Cálcio (Ca2+)
AB
AA
58,9
44,1
55,3
50,6
119
119
100
Amónio (NH4+)
AB
AA
< 0,10
< 0,10
< 0,10
< 0,10
< 0,10
< 0,10
0,5
Iões predominantes
AB
AA
HCO3- > Ca2+
HCO3- > Ca2+
Ca2+ > HCO3-
Composição Iónica
Cloreto (Cl-)
-
Bicarbonato (HCO3 )
Catiões (mg/L)
Aniões (mg/L)
2-
-
AB: Águas Baixas (Novembro/2012); AA: Águas Altas (Março/2013).
* cf. DL nº 306/2007, de 27 Agosto.
Os valores apresentados como "< XXX" são Quantidades Analíticas Mínimas Doseáveis (QAMD), obtidas através da expressão:
QAMD = Limite de Quantificação x Factor de Diluição Praticado.
Nos elementos vestigiários, atendendo à Tabela 5, sobressaem, comummente aos três furos, as
concentrações de Estrôncio (70 ≤ Sr ≤ 130 µg/L) e de Bário (8,0 ≤ Ba ≤ 128 µg/L). No caso do Sr a sua
ocorrência está associada à substituição do ião Ca2+ característico das águas com circulação em meios
carbonatados. No furo Cabeça Veada SC, é de salientar a concentração de Alumínio (Al: 229 µg/L) superior
ao respectivo valor paramétrico legal (200 µg/L), bem como a concentração de Ferro nas “águas baixas”
(Fe: 191 µg/L), ligeiramente inferior ao seu valor paramétrico (também de 200 µg/L).
No que diz respeito aos óleos e gorduras, hidrocarbonetos totais e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
(HAPs), atendendo à Tabela 6, é de referir:
i)
Nas “águas baixas”, a amostra do furo Cabeça Veada SC evidenciou a presença de óleos e gorduras (32
µg/L) e de hidrocarbonetos totais (16 µg/L), sendo neste último parâmetro o valor máximo admissível
de 10 µg/L;
59
ii)
Nas “águas altas” todas as amostras evidenciaram valores de hidrocarbonetos totais < 10 µg/L; o
despiste de HAPs na água do furo Cabeça Veada SC revelou a presença de naftaleno; relativamente
aos óleos e gorduras constata-se um aumento na amostra do furo de Valverde e uma diminuição na
amostra do furo Cabeça Veada SC.
Tabela 5- Resultados analíticos de componentes vestigiários.
Composição
vestigiária
(µg/L)
Época de
Amostragem
Furo
Cabeça Veada
SC
Furo
Cabeça Veada
CP
Furo
Valverde
Valor
paramétrico *
Alumínio (Al)
AB
AA
n.d.
229
2,5
< 16,7
16,8
< 16,7
200
Antimónio (Sb)
AB
AA
0,09
< 0,04
0,06
< 0,04
< 0,03
< 0,04
5
Arsénio (As)
AB
AA
< 0,38
< 3,2
0,42
< 3,2
0,42
< 3,2
10
Boro (B)
AB
AA
6,9
< 19,4
7,2
< 19,4
21,0
< 19,4
1000
Cádmio (Cd)
AB
AA
< 0,04
< 0,10
< 0,04
< 0,10
< 0,04
1,2
5
Crómio (Cr)
AB
AA
1,0
< 1,2
0,83
< 1,2
0,4
< 1,2
50
Cobre (Cu)
AB
AA
1,9
< 1,3
1,5
< 1,3
2,0
< 1,3
2000
Chumbo (Pb)
AB
AA
0,43
0,16
0,03
< 0,05
0,08
0,12
25
Ferro (Fe)
AB
AA
191
101
< 77,8
< 79,0
< 77,8
< 79,0
200
Manganês (Mn)
AB
AA
5,7
2,2
0,51
< 1,4
0,34
1,6
50
Mercúrio (Hg)
AB
AA
< 0,02
< 0,10
< 0,02
< 0,10
< 0,02
< 0,10
1
Níquel (Ni)
AB
AA
< 0,83
< 21,9
0,83
< 21,9
< 0,83
< 21,9
20
Selénio (Se)
AB
AA
< 0,59
< 3,0
< 0,59
< 3,0
0,67
< 3,0
10
Zinco (Zn)
AB
AA
3,5
< 2,5
2,7
3,1
13,4
4,9
−−
Bário (Ba)
AB
AA
10,3
8,0
128
117
13,5
69,8
−−
Estrôncio (Sr)
AB
AA
88,5
80
86,1
70
130
113
−−
AB: Águas Baixas (Novembro/2012); AA: Águas Altas (Março/2013).
* cf. DL nº 306/2007, de 27 Agosto.
n.d. - Parâmetro não determinado.
Os valores apresentados como "< XXX" são Quantidades Analíticas Mínimas Doseáveis (QAMD),
obtidas através da expressão: QAMD = Limite de Quantificação x Factor de Diluição Praticado.
60
Tabela 6- Resultados analíticos de óleos e gorduras, hidrocarbonetos totais e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos.
Época de
Amostragem
Furo
Cabeça Veada
SC
Furo
Cabeça Veada
CP
Furo
Valverde
(µg/L)
AB
AA
32
< 10
< 10
< 10
< 10
17
−−
Hidrocarbonetos
totais (µg/L)
AB
AA
16
< 10
< 10
< 10
< 10
< 10
10 *
AA
Naftaleno: 15
Acenaftlineno: < 5
Acenafteno: < 5
Fluoreno: < 5
Fenantreno: < 5
Antraceno: < 5
Fluoranteno: < 5
Pireno: < 5
Benzo(a)antraceno: < 5
Criseno: < 5
Benzo(b)fluoranteno: < 5
Benzo(k)fluoranteno: < 5
Benzo(a)pireno: < 5
Dibenzo(a,h)antraceno: < 5
Benzo(g,h,i)perileno: < 5
Indeno(1,2,3-c,d)pireno: < 5
−−
−−
0,1 **
Óleos e Gorduras
Hidrocarbonetos
Aromáticos
Policíclicos
(ng/L)
[1 ng/L = 0,001 µg/L]
Valor
paramétrico
(µg/L)
AB: Águas Baixas (Novembro/2012); AA: Águas Altas (Março/2013).
* cf. DL nº 236/1998, de 1 Agosto.
** cf. DL nº 306/2007, de 27 de Agosto [soma das concentrações dos compostos indicados nas alíneas a), b), c) e d)].
Do ponto de vista microbiológico, conforme a Tabela 7, é de referir:
i)
Nas “águas baixas”, além do destaque da contaminação patente nas amostras do furo de Valverde
relativamente aos três parâmetros analisados, constata-se ainda alguma contaminação por coliformes
totais na amostra do furo Cabeça Veada SC, sendo ultrapassado o valor de referência 0 (zero)
UFC/100mL vigente para o consumo humano.
ii)
Nas “águas altas” constata-se uma apreciável diminuição da contaminação detectada no furo de
Valverde na época de “águas baixas”, bem como, em oposição a esta melhoria, um caso de
contaminação por Escherichia coli na amostra do furo Cabeça Veada SC.
Tabela 7- Resultados da componente microbiológica analisada.
Coliformes totais
(UFC/100mL)
Coliformes fecais
(UFC/100mL)
Escherichia coli
(UFC/100mL)
Época de
Amostragem
Furo
Cabeça Veada
SC
Furo
Cabeça Veada
CP
Furo
Valverde
AB
AA
4
2
0
0
230
80
0
AB
AA
0
2
0
0
50
8
0
AB
AA
0
2
0
0
50
8
0
AB: Águas Baixas (Novembro/2012); AA: Águas Altas (Março/2013).
* cf. DL nº 236/1998, de 1 Agosto.
61
Valor
paramétrico *
(UFC/100mL)
7.3.3. Vulnerabilidade à poluição
7.3.3.1.
Introdução
A avaliação da vulnerabilidade à poluição das águas subterrâneas na AIE em estudo representa um
contributo para uma gestão ambiental mais sustentada do respetivo plano de exploração.
Simplificadamente, entende-se por “vulnerabilidade”, a maior ou menor capacidade que as camadas
superiores de um aquífero têm para atenuar a passagem de contaminantes. Trata-se, portanto, de uma
propriedade intrínseca ao meio.
Os sistemas aquíferos cársicos, tal como o do Maciço Calcário Estremenho, são muito sensíveis aos
impactes antropogénicos, pelo que são geralmente considerados como vulneráveis. Esta vulnerabilidade
deve-se a dois fatores principais:
-
-
A heterogeneidade dos sistemas cársicos, que proporciona processos de recarga que tanto podem
ser difusos (através de camadas ou blocos de rocha) ou concentrados (através das estruturas
cársicas importantes);
A permeabilidade que é muito variável: de muito elevada, como acontece no caso das condutas
cársicas subterrâneas, a muito baixa, como se verifica nos blocos de rocha mais compacta.
Na Figura 34 representa-se esquematicamente um modelo conceptual de um aquífero cársico,
evidenciando-se os processos de circulação subterrânea que nele ocorrem.
Nos modelos cársicos, para efeito da avaliação da vulnerabilidade, importa atender às diferenças do seu
funcionamento hidráulico, nomeadamente nas épocas de estio e de chuva.
Nas épocas de chuva (“águas altas”), quando ocorrem episódios de pluviosidade intensa, as condutas
epicársicas como sumidouros e dolinas concentram grande parte da infiltração e conduzem rapidamente a
água até à zona saturada, alimentando nascentes temporárias e incrementando fortemente os caudais das
nascentes permanentes. Nestas condições, a vulnerabilidade é muito elevada pois a capacidade de
depuração do meio é muito baixa, podendo as cargas poluentes atingir rapidamente a zona saturada do
aquífero.
Nas épocas de estio (período de “águas baixas”), uma vez esgotada a circulação através das condutas
cársicas, a água circula muito lentamente através dos blocos e camadas com alguma permeabilidade
intersticial, sendo os períodos de residência no aquífero, suficientemente longos para sustentar os caudais
de estio das principais nascentes. Nestas épocas, sendo a circulação epicársica irrelevante, o aumento do
tempo de chegada da carga poluente à zona saturada confere ao aquífero uma vulnerabilidade menor.
Pelo exposto, a vulnerabilidade, podendo variar sazonalmente, depende das condições de infiltração, da
variação espacial da condutividade hidráulica e do coeficiente de armazenamento do aquífero.
A representação da vulnerabilidade dos aquíferos é relativamente complexa, não sendo fácil apresentar
num único mapa, sobretudo se a uma pequena escala, todas as variáveis do meio que exercem controlo
sobre o comportamento dos diversos contaminantes em diferentes cenários. Efetivamente, cada tipo de
contaminante é afetado de diferente forma, por diversos fatores, e.g., espessura de solo, litologia,
espessura da zona não saturada, velocidade de recarga, etc.
62
Recarga difusa e
concentrada
Escoamento rápido
Escoamento lento
Dolina
Dolina
Solo
Lapiás
Sumidouro
Epicarso
Zona
não saturada
Nascente
cársica
Zona
saturada
Formação
"impermeável"
Figura 34- Representação esquemática do funcionamento de um aquífero cársico (adaptado de Doerfliger & Zwahlen, 1998).
Um dos métodos para avaliar a vulnerabilidade consiste na utilização de índices que sintetizam, num único
valor, a influência de vários fatores, sendo depois este índice representado cartograficamente, permitindo
a identificação de áreas com diferentes graus de vulnerabilidade (Ribeiro, 2001).
Atenta a legislação nacional vigente, em conformidade com a Declaração de Retificação nº 71/2012, de 30
de Novembro, Anexo da Resolução de Conselho de Ministros nº 81/2012, de 3 de Outubro, sobre as
orientações estratégicas de âmbito nacional e regional para delimitação das áreas integradas na Reserva
Ecológica Nacional (REN), no que diz respeito à avaliação das áreas vulneráveis à poluição, aplicou-se, com
a subsequente representação cartográfica recorrendo a SIG, o método considerado para sistemas cársicos,
isto é, o método EPIK (Doerfliger & Zwahlen, 1997), que a seguir se descreve.
7.3.3.2.
Metodologia EPIK
O método EPIK baseia-se na geologia cársica dos aquíferos, na geomorfologia e nas características
hidrogeológicas, sendo os índices de vulnerabilidade definidos a partir de quatro parâmetros:
-
Epicarso (E);
Cobertura de protecção (P);
Condições de infiltração (I);
Grau de desenvolvimento da rede cársica (K).
63
A construção do índice é feita atribuindo-se um valor a cada parâmetro segundo uma classificação que tem
em conta o impacte potencial da poluição (cf. Tabela 8, Tabela 9, Tabela 10 e Tabela 11).
Epicarso (E)
Conforme a Tabela 8, o parâmetro E é avaliado por três indicadores (E1, E2 e E3), cujos valores respetivos
(1, 3 e 4) correspondem, sucessivamente pela mesma ordem, ao decréscimo da vulnerabilidade.
Epicarso
Aspectos da geomorfologia cársica
Classificação
E1
Sumidouros, dolinas, afloramentos muito fraturados.
1
E2
Zonas intermédias no alinhamento de dolinas, vales secos,
afloramentos com fracturação média.
3
E3
Ausência.
4
Vulnerabilidade
decrescente
Tabela 8- Parâmetro E.
A caracterização do epicarso baseia-se principalmente no estudo das formas cársicas de superfície, ou seja,
nos aspetos da geomorfologia cársica. A análise deste parâmetro é complexa e deve atender ao
desenvolvimento e grau de ligação à rede cársica.
O epicarso pode encontrar-se coberto ou à vista e ter maior ou menor continuidade lateral, sendo tanto
mais difícil a sua caracterização quando existe solo de cobertura (Figura 36). Tendencialmente, existe
acumulação e circulação de água na zona de passagem entre o nível de epicarso muito fraturado e os
blocos de rocha com fraturas afastadas (Figura 35).
Solo
Epicarso
(permeabilidade elevada)
Zona saturada
do epicarso
Bloco de rocha pouco
permeável em
zona não saturada
Zona saturada do aquífero
cársico com conduta de
escoamento rápido
Escoamento rápido
Escoamento lento
Figura 35- Representação esquemática do funcionamento do epicarso (adaptado de Doerfliger & Zwahlen, 1998, após Smart &
Friedrich, 1986; Jeannin, 1996).
64
Carso coberto
Solo
Infiltração rápida através
de fissuras abertas
Zona de acumulação
de água
Barreira capilar atenuante
da percolação rápida
Diminuição da permeabilidade
com a profundidade
Carso sem cobertura
Infiltração condicionada pela
presença ou ausência de solo
Superfície piezométrica
sub-superficial
Percolação lenta nas
fissuras estreitas
Percolação rápida
nas fissuras alargadas
Escoamento rápido
Escoamento lento
Figura 36- Epicarso coberto e sem cobertura. Armazenamento sub-superficial de água com escoamento lateral do fluxo em
direcção a áreas com elevada condutividade hidráulica, contribuindo para o desenvolvimento de uma dolina de dissolução
(adaptado de Doerfliger & Zwahlen, 1998 após Williams, 1983)
Figura 37- Pedreira na AIE de Cabeça Veada onde se observa a alternância entre zonas da rocha com baixa permeabilidade e
zonas de infiltração concentrada.
Na Figura 37 pode-se observar a alternância entre zonas da rocha com baixa permeabilidade e zonas de
infiltração mais concentrada.
65
Cobertura de protecção (P)
Conforme a Tabela 9, o parâmetro P é avaliado por quatro indicadores (P1, P2, P3 e P4), cujos valores
respectivos (1, 2, 3 e 4) correspondem, sucessivamente pela mesma ordem, ao decréscimo da
vulnerabilidade.
Cobertura de
protecção
Espessura de solo acima do aquífero cársico
Classificação
P1
0 - 20 cm
1
P2
20 - 100 cm
2
P3
1-8m
3
P4
>8m
4
Vulnerabilidade
decrescente
Tabela 9- Parâmetro P.
A cobertura de proteção do aquífero cársico pode corresponder a solo ou a material de alteração da
formação carbonatada, ou ainda a formações detríticas que se depositaram sobre os calcários. As
características destes materiais, nomeadamente a textura/granulometria, e a concentração de matéria
orgânica, sendo espacialmente variáveis, conferem-lhes diferentes condutividades hidráulicas e, por
conseguinte, diferentes graus de proteção ao aquífero cársico subjacente.
Dada a grande dificuldade em incluir todas as características dos materiais de cobertura neste tipo de
metodologias, o parâmetro P apenas reflete a espessura de solo existente.
No caso em estudo, a espessura de cobertura de proteção (solo) é de um modo geral reduzida e
corresponde a solos de alteração das formações carbonatadas jurássicas (Figura 38).
Figura 38- Evidência de solo incipiente na AIE de Cabeça Veada.
66
Condições de infiltração (I)
Conforme a Tabela 10, o parâmetro I é avaliado por quatro indicadores (I1, I2, I3 e I4), cujos valores
respetivos (1, 2, 3 e 4) correspondem, sucessivamente pela mesma ordem, ao decréscimo da
vulnerabilidade.
Condições de
infiltração
Tipo
Classificação
I1
Cursos de água de carácter permanente ou temporário
que alimentam sumidouros ou dolinas.
1
I2
Áreas em bacias hidrográficas com inclinação > 10 % em
áreas cultivadas e > 25 % em prados e pastagens.
2
I3
Áreas em bacias hidrográficas com inclinação < 10 % em
áreas cultivadas e < 25 % em prados e pastagens.
3
I4
A restante área da bacia hidrográfica.
4
Vulnerabilidade decrescente
Tabela 10- Parâmetro I.
A avaliação das condições de infiltração é feita através da identificação das zonas de infiltração
concentrada (e.g., linhas de água influentes, sumidouros, dolinas) e das zonas de infiltração difusa.
No caso das zonas de infiltração difusa, as condições de infiltração são inferidas pelo coeficiente de
escoamento que depende da inclinação do terreno e da ocupação do solo (florestas, pastagens e campos
de cultivo). A delimitação das áreas é feita a partir da informação topográfica, sendo esta operação
simplificada pela utilização de um modelo digital de terreno obtido num sistema de informação geográfica.
O modelo digital de terreno da área de Cabeça Veada é apresentado na Figura 39.
Rede cársica (K)
Conforme a Tabela 11, o parâmetro K é avaliado por três indicadores (K1, K2 e K3), cujos valores respetivos
(1, 2 e 3) corresponde, sucessivamente pela mesma ordem, ao decréscimo da vulnerabilidade.
Rede cársica
Grau de desenvolvimento
Classificação
K1
Moderado a muito desenvolvido
1
K2
Fraco
2
K3
Aquífero sem carsificação
3
Vulnerabilidade
decrescente
Tabela 11- Parâmetro K.
O parâmetro K é avaliado com base na presença ou ausência de uma rede cársica e do seu grau de
desenvolvimento.
Para avaliar a importância da rede cársica em relação ao volume da rocha pouco permeável circundante
(fissurada ou não), devem ser considerados indicadores, tais como a presença de grutas, poços verticais e
espeleologia ativa. Caso não seja possível observar estes aspetos da geomorfologia cársica, poder-se-á
recorrer a métodos indiretos como os ensaios de traçadores, hidrogramas de cheia, análise da variabilidade
67
do quimismo da água subterrânea. O número de nascentes e o seu carácter permanente ou temporário são
indicadores de grande importância na suposição da existência de uma hierarquia num sistema cársico
(Mangin, 1975 in Doerfliger & Zwahlen, 1998): por regra, uma única nascente ou um número reduzido de
nascentes principais de carácter permanente indica uma rede cársica bem desenvolvida, enquanto um
número elevado de nascentes caracteriza uma rede pouco desenvolvida.
Após a classificação dos quatro parâmetros (E, P, I, K), passa-se à construção do índice que é dado pelo
valor do fator de proteção F. Para tal, recorre-se à utilização de um sistema de informação geográfica que
processa e cruza todos os dados tendo em conta a expressão seguinte:
F = αEi + βPj + ϒIk + δKi
O valor de F resulta portanto de uma soma ponderada onde os coeficientes de ponderação atribuídos a
cada parâmetro são:
α = 3; β = 1; ϒ = 3
δ=2
Os coeficientes de ponderação considerados pretendem refletir a importância que os autores do método
quiseram dar a cada parâmetro na definição da vulnerabilidade do meio. Sendo assim, os parâmetros E e I
são considerados os mais importantes, o parâmetro P é o que menos condiciona o fator de proteção e o K
corresponde ao parâmetro com um peso intermédio.
Da expressão que determina o valor de F (índice EPIK) resulta que este pode assumir valores entre 9 e 34,
correspondendo os valores menores às áreas mais vulneráveis à poluição.
9 ≤ F (Índice EPIK) ≤ 34
Por fim, conforme a Tabela 12, os valores de F são agrupados em três classes às quais se fazem
corresponder as áreas com vulnerabilidades “muito alta”, “alta” ou “moderada a baixa”. De acordo a
legislação vigente, para efeitos de delimitação da REN consideram-se as áreas mais vulneráveis à poluição
dos aquíferos cársicos, aquelas cujos valores de EPIK correspondem às classes de vulnerabilidade “muito
alta” a “alta”.
Tabela 12- Classificação da Vulnerabilidade.
7.3.3.2.1.
Índice EPIK
(F )
Vulnerabilidade
≤ 19
Muito alta
19 < F < 25
Alta
≥ 25
Moderada a baixa
Avaliação da vulnerabilidade na AIE de Cabeça Veada (método EPIK)
O cálculo do índice EPIK apoiou-se em informação obtida no âmbito do projecto, designadamente o Mapa
Geológico à escala 1:2 000 (Anexo 1; Figura 15) e respetivos elementos topográficos. Estes dados foram
complementados com observações de campo, tais como observação da variação do caudal e parâmetros
hidroquímicos das nascentes principais em períodos de estio e após períodos de chuva intensa e
68
persistente. Paralelamente, foram observadas estruturas da geomorfologia cársica com interesse
hidrogeológico.
Estas observações foram efetuadas na superfície do terreno e nos cortes das pedreiras que permitem
amiúde a observação da dinâmica cársica da região e da relação entre as águas subterrâneas e superficiais.
Os parâmetros E, P, e K foram obtidos a partir da classificação das diferentes litologias presentes na
cartografia geológica, sendo posteriormente representados em mapas parciais (Figura 40).
A representação espacial do parâmetro I (Figura 40) foi obtida a partir da informação altimétrica (pontos
cotados e curvas de nível) que permitiu a elaboração do modelo digital de terreno (Figura 39) e
subsequente cálculo do declive. Posteriormente, os declives foram agrupados em duas classes tendo em
conta os critérios do EPIK que melhor refletem a área em estudo. No caso presente, independentemente
da ocupação de solo, considerou-se que na AIE de Cabeça Veada existem duas situações: i) inclinações do
terreno superiores a 25% (I2) e ii) inclinações do terreno inferiores a 25% (I3).
Figura 39- Modelo Digital de Terreno (MDT) de Cabeça Veada e área envolvente.
69
Figura 40- Mapas parciais de cada um dos parâmetros E, P, I e K na AIE de Cabeça Veada e sua envolvente.
Do cruzamento dos quatro mapas parciais referentes a cada um dos parâmetros E, P, I e K resulta o mapa
final do Índice de Vulnerabilidade que se apresenta na Figura 41.
No interior da AIE de Cabeça Veada, os índices obtidos distribuem-se pelas classes de vulnerabilidade
“muito alta” e “alta”, em percentagens de área de 62% e 38 %, respetivamente.
As áreas com vulnerabilidade “muito alta” distribuem-se por toda a AIE e abrangem todas a formações
descritas na cartografia geológica de pormenor, cujas idades vão desde o Jurássico Médio ao Jurássico
Superior.
70
A mancha de vulnerabilidade “alta” localiza-se na zona central da AIE. Litologicamente, está associada aos
Calcários de Pé da Pedreira, classificados do ponto de vista da cartografia geológica de pormenor (escala
1:2 000) como “Calcários Ornamentais”. Refira-se que estes calcários integram as formações do Jurássico
Médio com elevado interesse hidrogeológico.
Figura 41- Representação do Índice EPIK na AIE de Cabeça Veada e sua envolvente (Sistema de Coordenadas: PT-TM06/ETRS89)
Para finalizar, salienta-se que a metodologia utilizada apresenta um certo grau de incerteza, seja por
alguma subjetividade na valorização de cada um dos parâmetros (EPIK), seja pela imprevisibilidade
resultante da elevada heterogeneidade própria do meio cársico.
71
7.3.4. Sensibilidade ambiental
Para além das questões intrínsecas ao sistema aquífero que condicionam a vulnerabilidade à
contaminação, a análise de fatores externos que se relacionam com a ocupação do solo e com as atividades
antrópicas, assume importância na gestão e preservação dos recursos hídricos subterrâneos e, por
conseguinte na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas deles dependentes.
Dependendo do tipo de ocupação do solo e do modo de intervenção dos vários intervenientes na gestão
territorial da área em estudo e sua envolvente, as atividades antrópicas que aí se desenvolvem podem
gerar impactes ambientais importantes. Os maiores ou menores impactos negativos associados a essas
atividades e à vulnerabilidade intrínseca de um aquífero, traduzem de modo simplificado o conceito de
“sensibilidade ambiental hidrogeológica”.
Atendendo às actividades dominantes no interior da AIE de Cabeça Veada, a avaliação da sensibilidade
fundamentou-se, conforme a Figura 42, na projecção das áreas de pedreiras e escombreiras sobre o mapa
de Vulnerabilidade obtido pelo método EPIK atrás descrito.
Figura 42- Ocupação do solo e Índice EPIK na AIE de Cabeça Veada (Sist. Coordenadas: PT-TM06/ETRS89).
As áreas ocupadas pelas pedreiras e pelas escombreiras correspondem, respetivamente, a 25% e a 26% da
área total da AIE. A restante área encontra-se preenchida por vegetação predominantemente rasteira,
como é apreciável nas imagens presentes na Figura 8, na Figura 18 ou, ainda, na Figura 37.
Da atividade de exploração de pedreiras de blocos (calcários ornamentais) na AIE de Cabeça Veada poderão
resultar impactes negativos sobre a quantidade e qualidade dos recursos hídricos subterrâneos.
72
Relativamente aos possíveis impactes sobre a quantidade das águas subterrâneas, destaca-se:
A interferência na recarga do aquífero e na circulação subterrânea por destruição do epicarso e de outras
estruturas cársicas (dolinas, algares, grutas, condutas, etc.), em particular aquelas que tenham
continuidade lateral relativamente às áreas de exploração e conexão à zona saturada.
No que respeita aos riscos e possíveis impactes sobre a qualidade das águas subterrâneas, salienta-se:
-
A diminuição da filtração e da capacidade de atenuação natural do meio por remoção do solo de
cobertura, ainda que este tenha espessuras reduzidas;
O acréscimo das partículas em suspensão nas águas subterrâneas através da infiltração de
águas/lamas com pó de serragem de blocos de rocha ornamental;
A eventual contaminação do aquífero por substâncias (lubrificantes, óleos e combustíveis)
relacionadas com a maquinaria de extração, corte e transporte de blocos de rocha.
Atendendo ao exposto, considera-se que na AIE de Cabeça Veada, as áreas de implantação das pedreiras
serão aquelas que apresentam um maior grau de sensibilidade hidrogeológica (Figura 43).
Conforme referido em subcapítulo anterior, foram efetuadas colheitas de água em furos associados ao
núcleo de extração, para avaliar a presença de algum vestígio de contaminação diretamente associada à
atividade extrativa. Foram pesquisadas substâncias tóxicas e indesejáveis, tendo-se verificado na
amostragem de água de um furos, a presença de contaminação microbiológica, óleos, gorduras e
hidrocarbonetos. Perante estes resultados e as observações efetuadas, considera-se plausível que a
contaminação verificada possa estar associada à falta de cuidado no manuseamento de substâncias tóxicas
e ao sistema de saneamento das instalações locais. Estas ilações carecem no entanto de confirmação, dado
que a contaminação pode ter origem em locais exteriores ao perímetro da AIE em estudo.
7.4. Conclusões e Recomendações
A informação relacionada com a hidrogeologia local permite estabelecer o diagnóstico respeitante aos
impactes da AIE sobre os recursos hídricos subterrâneos, que se passa a detalhar.
Vulnerabilidade
Segundo o método EPIK, utilizado na avaliação da vulnerabilidade à poluição, a AIE de Cabeça Veada
apresenta vulnerabilidade “muito alta” e “alta”, em percentagens de área de 62% e 38 %, respetivamente.
Conjugando a vulnerabilidade intrínseca do meio e o risco inerente à atividade antrópica aí desenvolvida, as
áreas de implantação das pedreiras serão aquelas que apresentam um maior grau de sensibilidade
hidrogeológica.
73
Figura 43- Áreas de maior sensibilidade hidrogeológica na AIE de Cabeça Veada (Sistema Coord.: PT-TM06/ETRS89).
Impactes
Do ponto de vista da afetação quantitativa das águas subterrâneas é de referir o seguinte:
-
Não se prevê que as profundidades de desmonte das pedreiras intersectem a superfície
piezométrica estimada;
-
A exploração dos dois furos de captação conhecidos e diretamente relacionados com a atividade
extrativa da AIE, apesar dos rebaixamentos de nível compreendidos entre 60 e 140 m necessários à
obtenção de caudais diminutos, respetivamente de cerca de 2 e 0,5 L/s, não deverá, apenas per si,
causar interferência significativa nas reservas hídricas subterrâneas e na produtividade de outras
captações, em particular das nascentes temporárias situadas a jusante;
-
Haverá sempre alguma interferência na recarga do aquífero e na circulação subterrânea por
destruição do epicarso e de eventuais estruturas cársicas com conexão à zona saturado do
aquífero.
74
Do ponto de vista da afetação qualitativa das águas subterrâneas, salienta-se:
-
As amostras colhidas nos furos de captação situados no interior da AIE, além das características
físico-químicas típicas de circulação em meio carbonatado, evidenciaram, no caso do furo SC,
alguma contaminação por óleos e gorduras, bem como por hidrocarbonetos totais e ainda por
colónias microbiológicas (Coliformes totais e Escherichia coli). A amostra relativa a “águas altas” do
mesmo furo (Cabeça Veada SC) evidencia ainda uma concentração de Alumínio (Al) superior ao
valor paramétrico legal;
-
Os casos de contaminação (óleos e gorduras, hidrocarbonetos totais e colónias microbiológicas)
resultam, muito plausivelmente, de práticas ou descuidos relacionados com atividade extrativa ou
com a construção/manutenção do furo e respetivo equipamento e tubagem. A concentração
“anómala” de Al acompanhado de uma concentração de Ferro (Fe) relativamente elevada poderá
ser devida a alguma influência das tubagens e equipamento do furo;
-
Em caso de derrame acidental de quantidades apreciáveis de substâncias poluentes no interior da
AIE que atinjam o meio hídrico subterrâneo, a propagação da contaminação deverá ocorrer
segundo as tendências do sentido de escoamento subterrâneo, isto é, plausivelmente de N para S,
não obstante outras direções preferenciais decorrentes de condicionalismos do meio cársico e
estruturais;
- A diminuição da filtração e da capacidade de atenuação natural do meio de episódios de
contaminação em consequência da remoção do solo de cobertura, ainda que este tenha espessuras
reduzidas;
De um modo geral, é sempre possível que possa ocorrer:
- O acréscimo das partículas em suspensão nas águas subterrâneas através da infiltração de
águas/lamas com pó de serragem de blocos de rocha ornamental;
- A contaminação do aquífero por substâncias (lubrificantes, óleos e combustíveis) relacionadas com
a maquinaria de extração, corte e transporte de blocos de rocha, além de contaminação
microbiológica resultante do saneamento das instalações locais.
Medidas de Mitigação
No âmbito das medidas de mitigação de potenciais impactes negativos sobre a qualidade das águas
subterrâneas, considerando as classes de vulnerabilidade à poluição do sistema cársico “muito alta” a
“alta”, afigura-se necessária a implementação de planos de gestão dos resíduos, integrados nos planos de
pedreira, que garantam o cumprimento generalizado das boas práticas respeitantes ao manuseamento e
armazenamento de resíduos e efluentes produzidos, nomeadamente óleos e combustíveis, resíduos sólidos
e águas residuais, através da sua recolha e condução a destinos finais apropriados. De entre outras
medidas, destacam-se:
-
Não efetuar qualquer tipo de manutenção de equipamentos que implique a produção de resíduos
no interior das pedreiras;
75
-
Os locais de armazenamento temporário de resíduos devem ser cobertos e impermeabilizados;
-
As operações de abastecimento e de reposição de níveis de óleo da maquinaria afeta à exploração
devem ser sempre efetuadas sobre tabuleiros metálicos de modo a evitar qualquer derrame;
-
Aquando da interceção de estruturas cársicas ou respeitantes a planos de fratura durante o avanço
da exploração, dever-se-ão implementar as seguintes medidas específicas: i) garantir que
substâncias tóxicas como os hidrocarbonetos e os óleos (novos ou usados) se encontrem
devidamente armazenados, em locais distantes de tais estruturas; ii) garantir a proteção física do
acesso às estruturas cársicas, impedindo a introdução de resíduos ou objetos estranhos no seu
interior; iii) desviar as águas industriais com elevado teor de sólidos em suspensão resultantes do
corte de blocos de calcário, impedindo a sua infiltração através daquelas estruturas;
-
Garantir que os efluentes de infraestruturas, tais como balneários e WCs, não atinjam quaisquer
zonas ou estruturas de infiltração preferencial.
No que respeita à mitigação do impacte negativo sobre a quantidade dos recursos hídricos disponíveis, e
atendendo à grande variação sazonal da produtividade dos aquíferos cársicos, os planos de gestão das
pedreiras deverão contemplar a seguinte medida:
-
Reutilizar, sempre que possível, a água necessária aos diferentes processos de extração e corte de
blocos de calcário, de modo a minimizar os impactes sobre os volumes de água a captar e
subsequentes rebaixamentos piezométricos.
Plano de Monitorização
No que respeita à necessidade de implementar um plano de monitorização é de referir que, idealmente,
seria desejável a construção de dois furos destinados exclusivamente à monitorização quantitativa e
qualitativa dos recursos hídricos subterrâneos, isto é, que servissem de piezómetros e de pontos de
amostragem com vista ao controlo sistemático, com periodicidade semestral (“águas baixas” e “águas
altas”), da variação dos níveis piezométricos e dos parâmetros de qualidade da água.
Numa primeira análise e considerando o modelo de fluxos conceptualizado no subcapítulo 7.3.2.3, um dos
furos de monitorização deveria localizar-se junto do limite norte e o outro junto ao limite sul da AIE.
76
8.
PATRIMÓNIO GEOLÓGICO
8.1. Introdução
A singularidade do património natural e da paisagem do MCE resultam da conjugação da natureza calcária
da maioria das rochas que o constituem com a sua sobrelevação e posição geográfica na Bacia Lusitaniana.
Neste Maciço encontram-se séries sedimentares completas de vários períodos do Jurássico e acidentes
tectónicos que testemunham sobretudo as fases distensivas da abertura da Bacia Lusitaniana, associadas
ao processo global de abertura do Oceano Atlântico. Porém, séries sedimentares incompletas do Cenozoico
e a reativação dos antigos acidentes tectónicos, constituem testemunhos dos episódios compressivos
associados à orogenia alpina que tiveram lugar a partir do final do Cretácico.
Graças às excelentes condições de exposição originadas pela sobrelevação tectónica e ausência de
cobertura vegetal densa, esta por ausência de escorrência superficial, é grande a diversidade de fenómenos
geológicos exibidos em numerosos locais de fácil acessibilidade que merecem ser alvo de valorização como
património geológico.
Os locais com interesse geológico patrimonial (ou geossítios) só assumem esse interesse se devidamente
caraterizados e avaliados. Assim, no presente capítulo apresentam-se os resultados dos trabalhos
realizados na AIE de Cabeça Veada acerca do património geológico. Tiveram como objetivos específicos a
sua inventariação, caraterização e avaliação à luz dos objetivos gerais da Estratégia Nacional de
Conservação da Natureza e da Biodiversidade, designadamente no que respeita à conservação e promoção
da utilização sustentável dos valores naturais. Ainda à luz dessa Estratégia, mas dos seus objetivos
estratégicos, os trabalhos realizados visaram a integração dos resultados obtidos nos instrumentos de
ordenamento do território em curso para a presente a AIE.
8.2. Metodologia
A inventariação realizada na AIE de Cabeça Veada visou não só o património geológico no seu sentido
restrito, mas também o geomorfológico e o geomineiro. Teve como base informação dispersa em diversas
publicações e relatórios de âmbito mais lato e a recolha de informação oral junto dos técnicos do PNSAC.
Relativamente à informação escrita destaca-se a produzida por Martins, 1949; Rodrigues, 1991; 1998;
Azerêdo & Crispim, 1999; 2000; Coelho, 2003; Rodrigues & Fonseca, 2010 e a constante do Anexo I do
Plano de Ordenamento do PNSAC (RCM .º 57/2010, de 12 de agosto). A esta recolha de informação seguiuse uma etapa de reconhecimento no terreno, acompanhada da pesquisa de eventuais novos sítios com
interesse geomorfológico, geológico ou geomineiro.
A caraterização e avaliação dos geossítios inventariados tiveram por base Fichas Tipo especificamente
elaboradas para aplicação ao PNSAC no âmbito do presente projeto. Reproduzem o atual estado de
conhecimentos respeitantes à caraterização e avaliação de património geológico. Neste âmbito destacamse os trabalhos de Brilha, 2005; 2006; Brilha & al., 2010.
77
A Ficha de caraterização é de caráter descritivo. Nela registam-se os diversos aspetos que caraterizam o
geossítio, desde a sua localização, enquadramento e especificidades geológicas, até à sua documentação
fotográfica.
Quanto à avaliação dos geossítios, pretendeu-se uma abordagem baseada em critérios claros e
fundamentados e daí a elaboração de uma Ficha Tipo de avaliação quantitativa onde cada geossítio é
avaliado em função da quantificação dos seguintes Valores: Valor Científico, Vulnerabilidade e Uso
Potencial. Essa quantificação é o resultado duma avaliação também quantitativa, mas também ponderada,
de um conjunto de critérios específicos a cada um dos Valores considerados.
Assim, esta metodologia conduz à obtenção de resultados quantitativos, permitindo a sistematização dos
geossítios inventariados. Por sua vez, essa sistematização constitui a base para a seleção dos que merecem
medidas de preservação, seja pela sua importância científica, seja pela sua vulnerabilidade.
Figura 44- Diagrama representativo do processo de valoração qualitativa do património geológico em função da atividade extrativa.
Tendo em conta que os resultados a alcançar por este tipo de metodologia se destinam a ser incorporados
no processo de ordenamento territorial em curso para a AIE de Cabeça Veada, numa perspetiva de
compatibilização da atividade económica de extração de rochas ornamentais com a conservação dos
valores naturais, a seleção dos geossítios foi alvo de um novo processo metodológico. Este assentou no
relacionamento do valor patrimonial atribuído a cada geossítio com a presença de pedreiras licenciadas e
com a aptidão económica dos recursos minerais, de acordo com o diagrama que se apresenta na Figura 44,
no qual se sistematiza o património geológico em 3 classes de valor qualitativo: valor excecional, alto e
médio/baixo.
78
8.3. Resultados
A consulta realizada às fontes de informação referidas anteriormente não forneceu dados relativos à
existência de elementos geológicos, geomorfológicos ou geomineiros com valor patrimonial. Do mesmo
modo, pelos trabalhos de reconhecimento de campo efetuados nesta AIE verificou-se não existir
património geológico com valor assinalável. Excetuam-se elementos de caráter sedimentológico
observáveis nas frentes de exploração das pedreiras de rocha ornamental. Contudo, estando essas frentes
de exploração em constante desenvolvimento e não se podendo considerar esses elementos como
detentores de caráter excecional e único, não foram considerados.
79
80
9.
CONCLUSÕES
A cartografia geológica de detalhe realizada na região de Cabeça Veada permitiu destrinçar e cartografar 4
unidades litostratigráfica temáticas que, da base para o topo, se denominaram Vidraços da Base, Calcários
Ornamentais, Vidraços do Topo e Vidraços Escuros.
Os Vidraços da Base e os do Topo são calcários essencialmente micríticos que texturalmente se apresentam
como mudstones e wackstones. Em termos litostratigráficos formais integram a Formação de Serra de Aire
datada do Jurássico Médio, mais concretamente, do Batoniano.
Essa Formação é, parcialmente, equivalente lateral de uma outra datada do Batoniano ao Caloviano e que
se designa por Formação de Santo António – Candeeiros, a qual é composta por vários membros. Os
Calcários Ornamentais de Cabeça Veada correspondem a um desses membros, nomeadamente o Membro
de Pé da Pedreira que está datado do Batoniano superior.
Assim, se em termos regionais os Calcários Ornamentais são equivalentes laterais dos Vidraços da Base e
dos do Topo, em termos locais estão intercalados entre essas duas unidades.
Na AIE de Cabeça Veada estas unidades litológicas apresentam-se orientadas segundo NNE - SSW e
inclinadas 400 para leste. Estão truncadas a oeste por falha com a mesma orientação, a qual as coloca em
contato tectónico com uma outra unidade que estratigraficamente se situa acima, designadamente os
Vidraços Escuros. Estes fazem parte da unidade formal conhecida por Formação de Montejunto que está
datada do Oxfordiano médio. Correspondem, na Cabeça Veada, a calcários micríticos mais ou menos
margosos e mais ou menos bioclásticos e calciclásticos (mudstones a packstones) de cor cinzenta escura,
em bancadas de espessura centimétrica a decimétrica. Estes calcários estão orientados NNW – SSE com
inclinações na ordem dos 250 para ENE.
Na região sul da área cartografada os Calcários Ornamentais, bem como os Vidraços da Base e os do Topo,
encontram-se também truncados por uma outra falha, esta com orientação WNW – ESE.
A cartografia realizada centrou-se no estabelecimento dos limites dos Calcários Ornamentais e na sua
caraterização. Trata-se de uma unidade constituída por calcários biolitoclásticos pelóidicos, mais ou menos
oolíticos, de granularidade fina a grosseira (grainstones e rudstones) e cimento sparítico. Apresentam cor
creme.
Não estão organizados em estratos tabulares mas sim em corpos maciços lenticulares marcados por
laminações paralelas e oblíquas, mais ou menos evidentes e organizadas em feixes de espessura
decimétrica a métrica. A espessura total dos Calcários Ornamentais é de 130 m.
A variedade comercial proveniente desta AIE toma o nome de Semi Rijo de Cabeça Veada. O seu corte final
é normalmente realizado “a favor”, ou seja, paralelamente à laminação sedimentar. A elevada aptidão
ornamental destes calcários, para além da elevada espessura total, deriva da sua homogeneidade textural e
cromática quando cortados “a favor”. Não o será tanto se cortados ao contra, devido a variações texturais e
cromáticas induzidas pelas laminações sedimentares.
81
Em termos de disponibilidade de recursos em Calcários Ornamentais na AIE de Cabeça Veada, estimaramse 22,1 milhões de metros cúbicos. As reservas a calcular deverão ter em conta as condicionantes mineiras
e ambientais de cada uma das pedreiras, bem como a espessura da carga estéril correspondente aos
Vidraços do Topo. O rendimento médio expectável para a AIE de Cabeça Veada é de 45%.
Quanto aos estudos hidrogeológicos realizados, eles permitiram determinar a produtividade aquífera da
AIE, o respetivo sentido de fluxo das águas subterrâneas e a caraterização química dessas águas, tendo em
vista a avaliação da sua qualidade.
No que respeita à produtividade, os dados obtidos por medições nos furos disponíveis mostram que ela é
reduzida, com valores de caudais específicos diminutos (de 0,003 a 0,037 L/s.m). Atendendo à altimetria da
AIE, é expectável que a captação de água apenas seja possível através de furos com profundidades
superiores a 400 m, a que acresce o elevado grau de incerteza, característico dos meios cársicos, na
intersecção de condutas de água.
Os dados para a caraterização do hidrodinamismo subterrâneo são escassos. Porém, apresenta-se a
hipótese de que o sentido de fluxo subterrâneo ocorra de norte para sul.
Quimicamente as águas subterrâneas na AIE Cabeça Veada são águas duras, alcalinas, evidenciando fácies
bicarbonatada-cálcica. Apresentam mineralização que varia de. 265 a 541 mg/L.
Em termos de contaminação por substâncias como óleos e gorduras, hidrocarbonetos totais e
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), os valores registados em época de ´”aguas baixas”
mostram a presença de hidrocarbonetos em valores superiores ao valor máximo admissível (10 µg/L). Em
“águas altas” não se regista contaminação superior ao valor máximo admissível. Já do ponto de vista
microbiológico constata-se a existência de alguma contaminação por coliformes fecais.
Por aplicação da metodologia EPIK avaliou-se a vulnerabilidade das águas subterrâneas à poluição na AIE de
Cabeça Veada. Concluiu-se que essa vulnerabilidade é “muito alta” e “alta” em percentagens de área de
62% e 38 %, respetivamente. As manchas correspondentes à vulnerabilidade “muito alta” distribuem-se
por toda a AIE, ao passo que as correspondentes a vulnerabilidade “alta” localizam-se na zona central,
estando associadas às caraterísticas dos Calcários Ornamentais (Membro de Pé da Pedreira).
A vulnerabilidade à contaminação por parte das águas subterrâneas depende diretamente das
caraterísticas do sistema aquífero. Da conjugação dos resultados obtidos quanto à vulnerabilidade com o
modo de ocupação do território e atividades nele desenvolvidas, concluiu-se que as áreas de implantação
das pedreiras são aquelas que apresentam um maior grau de sensibilidade hidrogeológica. Perante a
contaminação revelada pela água dos furos que foram estudados, é plausível considerar ela resulte da falta
de cuidado no manuseamento de substâncias tóxicas e das caraterísticas do sistema de saneamento das
instalações locais.
Relativamente aos trabalhos de inventariação de património geológico na AIE de Cabeça Veada verificou-se
não existirem elementos geológicos, geomorfológicos ou geomineiros com valor patrimonial.
82
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85
86
ANEXOS
87
88
ANEXO 1- MAPA LITOSTRATIGRÁFICO DA AIE CABEÇA VEADA; ESCALA
1/2000
(Anexo de grande formato; junta-se em separado)
89
90
ANEXO 2- CORTES GEOLÓGICOS
(Anexo de grande formato; junta-se em separado)
91
92
ANEXO 3- ESTUDO PETROGRÁFICO DE LÂMINAS DELGADAS
93
94
UNIDADE:
REFª AMOSTRA
CARATERIZAÇÃO:
CLASSIFICAÇÃO
DUNHAM
FOLK
Calcários Ornamentais (Membro de Pé da Pedreira, Formação de Santo António –
Candeeiros)
CV1
Calcário constituído essencialmente por oóides, ligeiramente pelóidico e
bioclástico, em cimento sparítico. Os oóides apresentam diâmetro médio de 0,6
mm Localmente existe uma matriz de pelóides muito finos (0,1 mm de diâmetro).
Grainstone
Oosparite
Luz
polarizada,
nicóis //
95
UNIDADE:
REFª AMOSTRA:
CARATERIZAÇÃO:
CLASSIFICAÇÃO
DUNHAM
FOLK
Vidraços Escuros (Formação de Montejunto)
CV2
Calcário essencialmente constituído por micrite onde ocorrem de modo disperso
fina microfauna
Mudstone - wackstone
biomicrite
Luz
polarizada,
nicóis //
Luz
polarizada,
nicóis X
96
UNIDADE:
REFª AMOSTRA:
CARATERIZAÇÃO:
CLASSIFICAÇÃO
DUNHAM
FOLK
Vidraços Escuros (Formação de Montejunto)
CV3
Calcário essencialmente constituído por micrite onde ocorrem de modo disperso e
pouco frequente bioclastos grosseiros
Mudstone
Micrite
Luz
polarizada,
nicóis //
Luz
polarizada,
nicóis X
97
UNIDADE:
REFª AMOSTRA:
CARATERIZAÇÃO:
Calcários dolomíticos; Vidraços da Base (Formação de Serra de Aire)
CV4
Mosaico de cristais anédricos de dolomite representativo de substituição total da
calcite. Elevada porosidade, conforme observável em nicóis cruzados.
CLASSIFICAÇÃO
Dolomito
Luz
polarizada,
nicóis //
Luz
polarizada,
nicóis X
98
UNIDADE:
REFª AMOSTRA
CARATERIZAÇÃO:
CLASSIFICAÇÃO
DUNHAM
FOLK
Calcários Ornamentais (Membro de Pé da Pedreira, Formação de Santo António –
Candeeiros)
CV5
Oóides bem calibrados em cimento sparítico. Bioclastos bastante grosseiros
dispersos.
Grainstone
Oobiosparite
Luz
polarizada,
nicóis X
99
UNIDADE:
REFª AMOSTRA:
CARATERIZAÇÃO:
CLASSIFICAÇÃO
DUNHAM
FOLK
Calcários Ornamentais (Membro de Pé da Pedreira, Formação de Santo António –
Candeeiros) – Amostra refere-se a variedade de cor “Azul”
CV7
Calcário constituído essencialmente por uma matriz pelóidica muito fina em
cimento sparítico onde sobressaem intraclastos, bioclastos e oóides de maior
dimensão. Laminação sedimentar denunciada por maior ou menor abundância de
cimento sparítico. Porosidade intergranular relativamente frequente.
Grainstone
Pelintrabiosparite
Luz
polarizada,
nicóis //
Luz
polarizada,
nicóis X
100
ANEXO 4- LOGS DE SONDAGENS
101
102
103
104
105
106
ANEXO 5- MAPA DE APTIDÃO PARA A PRODUÇÃO DE ROCHAS
ORNAMENTAIS; ESCALA 1/2000
(Anexo de grande formato; junta-se em separado)
107
108
ANEXOS EM FORMATO DIGITAL
Ortofotomapas, Levantamento Topográfico, Shapefiles
109
110
APÊNDICE – Classificação de Calcários
BASE DE CLASSIFICAÇÃO MACROSCÓPICA
BASE DE CLASSIFICAÇÃO MICROSCÓPICA
111

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