Caprinovinocultura no Estado do Rio Grande do Norte no periodo

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Caprinovinocultura no Estado do Rio Grande do Norte no periodo
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CAPRINOVINOCULTURA NO ESTADO DO RIO GRANDE
DO NORTE, ENTRE 2004 E 2009:
ALGUNS ASPECTOS SOBRE PRODUÇÃO E MERCADO.
Vamberto Torres de Almeida1
Fernando Viana Nobre2
INTRODUÇÃO
O Rio Grande do Norte se destaca como um dos Estados nordestinos, que possui grande
potencial para o desenvolvimento da caprinovinocultura em função das condições ambientais.
Observa-se neste Estado, que raras criações de caprinos e ovinos são desenvovidas em núcleos
de criadores modernos e mais integrados aos mercados consumidores. Por outro lado, sua
grande maioria, é formada por criatórios, que não potencializam, em seu conjunto, requerimentos
e possibilidades, que maximizem a eficiência dos agentes econômicos envolvidos e o
desenvolvimento da cadeia produtiva.
O efetivo mundial do rebanho caprino e ovino teve pouco aumento nas últimas décadas em
relação às necessidades do consumo humano. Um rebanho, aproximadamente, de 1.060
milhões de ovinos e 725 milhões de caprinos. Desta população mundial total, segundo dados
pesquisados, (FAO, 2000), aproximadamente 53% do rebanho ovino e 94,3% do rebanho
caprino encontram-se nos países em desenvolvimento, onde representam uma parte importante
da economia agropecuária por meio de produtos diversos, como carne e derivados, leite, lã e
peles, gerando desta forma, renda e emprego para a sociedade.
No mundo, o efetivo do rebanho caprino está localizado na China (21,7%), Índia (16,7%),
Paquistão (6,9%), Sudão (5,4%), Bangladesh (4,6%), Nigéria (3,6%), Irã (3,5%), Somália (1,7%),
Indonésia (1,7%), Tanzânia (1,6%) e Brasil (1,3%). Estes países possuem juntos, 68,6% do
rebanho mundial de caprinos. Quanto ao efetivo do rebanho ovinos e sua participação no
rebanho mundial, destacam-se a China (13,3%), Austrália (10,9%), Índia (5,7%), Sudão (4,6%),
Nova Zelândia (4,2%), Reino Unido (3,5%), África do Sul (2,8%), Turquia (2,6%) e Paquistão
(2,4%). Estes maiores rebanhos representam ao redor de 55% do rebanho ovino mundial (FAO,
2003).
1
2
Professor do Departamento de Economia da UERN e Analista Técnico do SEBRAE/RN.
Engenheiro Agrônomo, M. Sc, COOPAGRO, Consultor do SEBRAE/RN
2
O Brasil possui um rebanho de, aproximadamente, 16,8 milhões de cabeças de ovinos e 9,1
milhões de caprinos. Considerando a dimensão territorial do País, estes valores são
considerados baixos, apesar de possuir condições ambientais semelhantes ou até superiores às
dos países maiores criadores dessas espécies (IBGE, 2009). Deste efetivo, o rebanho ovino
encontra-se mais concentrado nas Regiões Nordeste e Sul, com a participação de 57,0% e
28,6%, respectivamente, do rebanho nacional. Quanto ao rebanho caprino, este é mais
concentrado na Região Nordeste, com a participação de 90,7% do rebanho nacional.
A Região Nordeste do Brasil possui um efetivo de rebanho ovino e caprino de aproximadamente
9,5 e 8,3 milhões de cabeças, respectivamente, e concentra a quase totalidade do rebanho
caprino nacional; predominando raças com aptidão para produção de carne e pele (IBGE, 2009).
Na Região Nordeste destaca-se os Estados da Bahia (31,7%), Ceará (21,7%) e Piauí (14,6%)
como maiores criadores de ovinos, que totalizam 68,0% desse rebanho. Com relação ao
rebanho caprino, destacam-se os Estados da Bahia (33,4%), Pernambuco (19,8), e Piauí
(16,8%), que, juntamente com Ceará (12,3%), Paraíba (7,6%) e Rio Grande do Norte (4,9%),
representam 94,8% do total. (IBGE, 2009)
1. O REBANHO CAPRINO NO RIO GRANDE DO NORTE
O rebanho caprino do Estado, indistintamente de sua finalidade produtiva, atingiu o efetivo de
398.678 cabeças (IBGE, 2009), distribuído, segundo classificação deste mesmo órgão, em
quatro Mesorregiões do Estado. Observa-se uma pequena queda no crescimento, (Tabela 1),
quando comparadas as duas séries de dados da mesma fonte (IBGE, 2004). Vale ressaltar que
estudo realizado pelo (SEBRAE /SINTEC, 2001) constatou uma evolução no rebanho caprino,
no período de 1997 a 2004, em torno de 89,3%, ou seja, o rebanho evolui de 226.241 para
428.278 cabeças.
Tabela 1 – Comportamento do rebanho caprino do Rio Grande do Norte
Efetivos
Participação - %
2004
2009
Comportamento
2004 – 2009 (%)
Leste Potiguar
12.988
13.775
+6,06
3,10
3,50
Agreste Potiguar
58.539
56.581
-3,34
13,70
14,10
Central Potiguar
117.481
111.386
-5,19
27,40
28,00
Oeste Potiguar
239.270
216.937
-14,52
55,80
54,40
TOTAL
428.278
398.679
-6,91
100
100
Mesorregiões
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal, 2004/2009
2004
2009
3
Com base nos dados da Tabela 1, pode-se constatar:
•
Houve um pequeno decréscimo do rebanho caprino estadual (6,91%), em cinco anos,
em todas as Mesorregiões;
•
As Mesorregiões Oeste Potiguar e Central Potiguar, apesar da queda no crescimento
em seus efetivos, respondem atualmente por 82,40% do rebanho caprino do Estado;
•
Apenas a Mesorregião Leste Potiguar teve acréscimo em seu rebanho, na ordem de
6,06 %;
•
A Mesorregião Oeste Potiguar, apesar da perda da participação relativa no Estado,
responde por mais da metade, ou seja, 54,40% do rebanho total.
O decréscimo de 6,91% (Tabela 1) é interpretado como a resultante de duas tendências: a
substituição de caprinos por ovinos para atender o mercado de corte e a substituição de cabras
de menor valor genético por cabras de maior valor genético para atender o mercado do leite.
Somadas a essas tendências, constatou-se que, nos anos de 2007 a 2009, no Banco do
Nordeste, principal agência de investimento do Estado, houve uma redução no número de
operações financiadas e do valor de investimento e custeio destinado para o setor da
caprinovinocultura.
Tabela 2 – Produtores de caprinos atendidos por ano com financiamento no BNB
Ano
Agência Apodi
Quantidade de
2007
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
2008
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
2009
Clientes
Valor do
Financiamento
TOTAL
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
587
973.164,79
147
199.444,74
192
863.183,42
926
2.093.794,93
Agência Pau dos
Ferros
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
388
329.461,14
181
92.565,00
75
390.101.26
644
812.127,40
Agência Mossoró
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
162
678.615,05
65
300.756,14
96
301.576,64
323
1.380.947,83
Total
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
Quantidade de
Clientes
Valor do
Financiamento
1.137
1.981.240,98
393
592.765,88
363
1.554.863,32
1.893
4.128.870,18
4
Podemos observar, na Tabela acima, de 2007 a 2009 nas Agências do Banco do Nordeste, em
Apodi, Pau dos Ferros e Mossoró houve no triênio uma contratação de 1.893 operações de
crédito destinado a investimento e custeio totalizando um financiamento no valor de R$
4.128.870,18. No entanto, comparando as duas series de dados em análise, houve uma redução
1.137 para 363 nas operações de financiamento. Com relação ao valor do investimento e custeio
houve uma redução no volume de financiamento de R$ 1.981.240,98, em 2007, para R$
1.554.863,32, em 2009.
1.1. CAPRINOS LEITEIROS
As fontes oficiais de pesquisas estatísticas (IBGE, IDEMA) não fazem diferenciação entre
os efetivos de caprinos, em termos de função produtiva. Qualquer estimativa a ser feita em termos
de quantificação dos dois rebanhos, necessariamente, tem que se utilizar de informações de
diversas entidades públicas e ou privadas, produtores e, de modo particular, das usinas
beneficiadoras e ou processadoras do leite caprino.
Paralelamente, é necessário considerar o expressivo número de criadores de caprinos de
corte (sobretudo de mestiços com pequena produtividade leiteira), que vem buscando o
melhoramento do seu rebanho, no sentido de aumentar a disponibilidade de leite para as crias e o
excedente para o mercado. Isto, embora, recomendável, dificulta mais, ainda, a estimativa do efetivo
leiteiro.
Estima-se que o atual rebanho, do qual se obtém leite com finalidade comercial, gire em
torno de 10 % do total, isto é, cerca de 40.000 cabeças, em todo o Estado. O número médio de
matrizes (em lactação e secas) totalizaria, aproximadamente, 16.000 animais.
1.2. SISTEMAS DE PRODUÇÃO
Como é natural, a criação de caprinos leiteiros tende, obrigatoriamente, para que seja
adotado um manejo que possibilite uma regular e frequente aproximação dos animais com a sede do
estabelecimento rural. Em razão disto, é que há uma tendência muito grande à adoção do regime
intensivo, o que, não raras vezes, inviabiliza a exploração porque onera muito os custos de
produção.
Estudo sobre sistema de produção de caprinos leiteiro (SEBRAE / SINTEC, 2001) constatou
que 15,8% dos criadores entrevistados adotavam o regime intensivo, 24,6% o extensivo e 59,6% o
semi-extensivo ou misto.
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Reduziu-se muito a adoção do sistema intensivo, em favor do semi-extensivo, na busca de
redução dos custos de produção do leite. O próprio direcionamento do manejo genético no sentido
da produção de mestiços (mais resistentes e com úbere mais alto) possibilita que os animais utilizem
as pastagens e recebam, quando necessário, suplementação alimentar volumosa e ou concentrada.
Na tentativa de reduzir custos de produção, expressivo número de criadores (não raras
vezes, fazendo uma única ordenha) mantém as matrizes lactantes no campo, durante quase todo o
dia. Isto é freqüente em áreas com abundantes forrageiras nativas, como na Chapada do Apodi;
onde vêm sendo formados rebanhos de dupla aptidão com média produtividade leiteira, a partir de
fêmeas mestiças Anglo-Nubianas e reprodutores da raça Saanen e Parda Alpina.
1.3. O LEITE CAPRINO: PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO
Com uma produção comercial em torno de onze mil litros / dia (excetuando-se o de consumo
familiar), o Rio Grande do Norte, um dos maiores produtores de leite pasteurizado do Brasil, é um
exemplo para todo o Nordeste.
Pesquisa Direta realizada pelo SEBRAE em por cinco usinas de beneficiamento e ou
processamento, em maio de 2008, constatou-se a produção de leite caprino com as seguintes
procedências e volumes:
Tabela 3 – Processamento do leite caprino no Rio Grande do Norte
Usina
Local
Volume
Diário (l)
Produtores
(nº)
Média/diária
(l/produtor)
Município
produtores
Modelo de
Gestão
COOPASA
Angicos
5.015
326
15,38
28
Cooperativa
LACOL
São José do
Seridó
2.080
70
40,0
13
Privado
ILA
Apodi
1.150
30
38,33
6
Privado
Leite Sertão
Mossoró
1.500
50
30,00
2
Privado
CERSEL
Currais Novos
300
8
37,50
1
Cooperativa
Totais
Médios
-
10.765
484
22,24
50
-
Fonte: SEBRAE/Sertão Verdadeiro Consultoria – 2008
Com base nos dados da Tabela 3, pode concluir-se que:
•
A APASA, localizada no Município de Angicos, com um volume diário médio de 5.015 litros,
procedente de 326 produtores, respondeu por quase 50% do leite processado no Estado uma média de 15,38 l / produtor/ dia. O leite foi coletado em 28 Municípios de oito
6
Microrregiões: Angicos, Vale do Açu, Serra de Santana, Borborema Potiguar, Agreste
Potiguar, Macaíba, Baixa Verde e Natal;
•
A LACOL localizada em São José de Seridó processou um volume diário médio de 2.080
litros, procedente de 70 produtores – média de 40 l / produtor / dia. O leite foi oriundo de
quatro Microrregiões: Seridó Oriental, Seridó Ocidental, Serra de Santana e Vale do Açu;
•
O Leite ILA, localizado no Município de Apodi, processou um volume diário médio de 1.150
litros, adquirido de 30 produtores – média de 44,6 l / produtor. O leite foi oriundo de duas
Microrregiões: Chapada do Apodi e Pau dos Ferros;
•
LEITE DO SERTÃO, localizado em Mossoró, processou um volume diário médio de 1500
litros/dia, procedente de 30 produtores – média de 30,0 l / produtor / dia. O leite foi oriundo
de duas Microrregiões: Angicos e Mossoró;
•
CERSEL, localizada em Currais Novos recebeu uma média de 300 litros/dia, procedente de
8 produtores, destinados à produção de queijos. O leite foi oriundo da Microrregião do Seridó
Oriental - apenas do Município de Currais Novos.
Nem todo o leite caprino industrializado no Rio Grande do Norte é submetido à pasteurização, que
beneficia cerca de 90% do produzido. O restante é utilizado por pequenas unidades artesanais, em
todo o Estado, na produção de doces, sorvetes, rapaduras, molhos, queijos e sabonetes.
2. O REBANHO OVINO
O rebanho ovino do Estado do Rio Grande do Norte, segundo dados oficiais (IBGE, 2009),
atingiu o efetivo de 570.302 cabeças, distribuídas em todas as Mesorregiões. De acordo com a
Tabela 4, observa-se o crescimento do rebanho, nos últimos anos, quando comparadas as duas
séries de dados da mesma fonte.
Vale ressaltar que estudo realizado pelo (SEBRAE/SINTEC, 2001) constatou uma evolução no
rebanho ovino no período de 1997 a 2004 em torno de 25,3%, - 391.089 para 489.862 cabeças.
Tabela 4 – Comportamento do rebanho ovino do Rio Grande do Norte
Efetivos
Participação - %
2004
2009
Comportamento%
2004 - 2009
Leste Potiguar
21.173
32.606
53,99
4,40
5,80
Agreste Potiguar
110.568
113.997
3,10
22,60
19,90
Central Potiguar
161.955
178.529
10,23
33,00
31,40
Mesorregiões
2004
2009
7
Oeste Potiguar
196.166
245.174
24,98
40,00
42,90
TOTAL
489.862
570.302
16,42
100
100
Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal, 2004/2009
Com base nos dados da Tabela 4, pode concluir-se que:
•
Houve um crescimento de 16,42% do rebanho ovino estadual, em cinco anos,
em todas as Mesorregiões;
•
A Mesorregião Leste Potiguar, embora possua o menor efetivo do rebanho
ovino, foi relativamente a que mais cresceu, no período em consideração;
tendo uma evolução de 53,99%;
•
A Mesorregião Agreste Potiguar foi a que demonstrou o menor crescimento
(3,10%), no período. Mesmo assim, continuou com um rebanho significativo
com 19,9% do total do rebanho estadual;
•
A Mesorregião Leste Potiguar foi a que teve o maior crescimento (53,99%) do
rebanho, seguida da Mesorregião Oeste, com 24,98%;
•
A Mesorregião Oeste Potiguar possui o maior efetivo do rebanho ovino,
seguida da Mesorregião Central Potiguar, com respectivamente, 42,9% e
31,40% do efetivo estadual, em 2009.
2.1 – SISTEMAS DE CRIAÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS
A criação de caprinos e ovinos, ambos para corte, tende, freqüentemente, para a adoção
de sistemas menos intensivos, utilizando as pastagens nativas e ou exóticas, como principal
suporte alimentar. O confinamento é utilizado muito mais para engorda intensiva de ovinos e
caprinos jovens; prática que vem sendo iniciada, no Estado, tendo como objetivo atender à
demanda de um mercado diferenciado, que paga melhor por um produto superior. Nesta
categoria, se enquadra um número reduzido de produtores que, no entanto, tende a crescer.
No ano de 2000, quando da realização do estudo antes referido ( SEBRAE-RN /
SINTEC,2001),era esta a situação, em termos de sistemas de criação:
•
caprino de corte – extensivo (58,6%); misto (40%) e intensivo (1,4%)
•
ovino – extensivo (52%) ; misto (46,6%) e intensivo (1,4%)
8
Atualmente, com a tendência de melhoria das explorações caprinovinas, o percentual de
criações extensivas vem, gradativamente, sendo reduzido, em favor das mistas (semiextensivas), em todas Regiões do Estado. Isto assegura melhores índices zootécnicos e maior
competitividade às explorações de caprinos e ovinos.
Algumas mudanças, em termos de manejos, ocorreram entre 2000 e 2009:
•
Com a expansão e melhoramento das áreas forrageiras de pisoteio (inclusive
nativas), reduziu-se o uso da suplementação volumosa;
•
É crescente o número de produtores, que busca produzir feno, silagem e grãos,
na tentativa da redução dos níveis de uso das misturas concentradas
comerciais. Convém destacar que, englobando todos os criadores de caprino e
ovino, a produção de feno e de silagem era praticada (no ano de 2000) por,
apenas, 13,9 % e 13,8 % respectivamente. A adoção das duas tecnologias é,
hoje, maior e vem crescendo, embora lentamente;
•
A suplementação concentrada, exceto para categorias especiais (sobretudo em
criações de animais puros), também vem sendo reduzida, com o uso de
volumosos;
•
As misturas múltiplas têm tido boa aceitação e vêm sendo adotadas por maior
número de produtores, substituindo as misturas convencionais, sobretudo no
estio;
•
Práticas de vacinações, vermifugações e controle de parasitas externos vêm
sendo adotadas por um número maior de criadores, embora ainda haja muito o
que corrigir;
•
A monta controlada vem crescendo, com relativa velocidade, notadamente entre
os criadores de maiores rebanhos. Alguns vêm adotando a estação de monta,
como instrumento de melhorar a exploração, econômica e geneticamente.
Embora tenha havido algum progresso, no entanto é muito elevado o percentual de
criadores que não faz, corretamente, a higienização das instalações. A inexistência ou escassez
de laboratórios tem contribuído para que, apenas, uma minoria de criadores faça diversos
exames, especialmente o de OPG;
9
Convém registrar que o nível de conhecimentos tecnológicos de muitos produtores tem
melhorado, nos últimos anos, em virtude de sua participação em eventos educativos promovidos
pela, SAPE (notadamente pela ação do Projeto APRISCO), EMATER, EMPARN, SEBRAE e
SENAR, entre outras Instituições. Nesta tarefa, merece elogios a participação integradora de
associações de criadores – ANCOC, ACOSC, APASA, ACAVUJ, ASCOM, ASFOCO e ASPROC,
entre outras, que congregam e mobilizam seus filiados para os referidos eventos. È necessário
que esta atitude se amplie e seja praticada, permanentemente.
2.3 - MERCADO DAS CARNES DE CAPRINOS E OVINOS.
Tradicionalmente, todo o interior do Nordeste sempre foi o grande consumidor de carnes
de caprinos e ovinos, em decorrência do hábito alimentar de suas populações ( rural e urbana),
notadamente de baixa renda.
Nos últimos anos, com os avanços da cozinha nas grandes cidades, as carnes de
caprinos e ovinos, particularmente jovens, se tornaram valiosas no preparo de pratos
sofisticados.
Além do expressivo consumo na Grande Natal, o Rio Grande do Norte exporta para
outros centros consumidores, como Recife e Fortaleza, carnes oriundas de empresas de maior
porte, produtoras de caprinos e ovinos, abatidos precocemente, entre quatro e seis meses de
idade.
Por outro lado, esses avanços, inspirados na capacidade empreendedora de segmentos
empresariais, não correspondem às situações vivenciadas no grande território de produção e
consumo do Estado. Aqui, as limitações se fazem presentes em todas as atividades da cadeia
produtiva; denunciando, em extensão e profundidade, um “modus vivendi”, que necessita de
grandes transformações de natureza tecnológica, gerencial e sócio-ambiental, que, colocandose, proativamente, assegure um posicionamento no complexo mercado de carnes, cada vez
mais competitivo, diferenciado e globalizado.” ( LIMA et al., 2006).
Diversos estudos revelam uma demanda reprimida para consumo de carne caprina e
ovina no País. O Nordeste, em particular, apresenta um déficit de carne dessas espécies em
torno de 13 mil toneladas / ano.
Em decorrência disto, é expressivo o volume de carnes caprina e ovina, que chega a
Natal, oriundas de todo o Estado, inclusive de outras áreas, como Paraíba e Bahia; além de
carne ovina, especificamente, vinda do Sudeste e Sul, assim como importada do Uruguai.
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Basta lembrar que, em 2000 ( SEBRAE-RN / SINTEC, 2001), “o consumo médio de
carne caprina e ovina era de 0,897 kg / pessoa / ano ( consumo per capita / ano) – 0,467 kg
carne caprina e 0,430 kg de carne ovina. Naquele ano, o consumo estimado ( com base em
pesquisa realizada em Natal) foi de 635 toneladas – uma média de 53 toneladas / mês. A
população, naquele ano, girava em torno de 710 mil pessoas. Atualmente, com cerca de 800 mil
pessoas, o consumo anual estimado é de, pelo menos, 720 t / ano, o equivalente a 60 t / mês,
em Natal.”
Atuando em todo o Estado, há doze anos, a COOPAGRO tem constatado,
rotineiramente, grandes deficiências sanitárias, em termos de estabelecimentos rurais e
comerciais desses produtos. A situação é muito grave, na maioria das vezes, em termos de
abate, preparo, transporte e comercialização da carne e seus derivados (sobretudo oriundos de
abatedouros clandestinos), açougues e feiras livres.
Esta dura e inadmissível realidade vem, cada vez mais, reforçar o exposto (por LIMA et
al., 2006), a respeito do Rio Grande do Norte : “ as instituições públicas e privadas precisam
ampliar programas e projetos de apoio e fiscalização dos empreendimentos - organizando
bancos de dados; elaborando e disponibilizando estatísticas para subsidiar as atividades de
planejamento do setor; implementando ações focadas na melhoria dos serviços e no
crescimento da oferta qualificada dos produtos”.
2.4 – MERCADO DAS PELES DE CAPRINOS E OVINOS.
É reconhecido, no mercado nacional e internacional, o valor das peles de ovinos e
caprinos do Nordeste brasileiro, face à sua maior elasticidade, resistência e textura - qualidades
indispensáveis para inúmeros produtos de calçados e vestiários.
O reconhecimento dessas qualidades, entretanto, não esconde na comercialização as
depreciações das peles, devido aos altos índices de defeitos decorrentes de condições
inadequadas dos sistemas de criação, bem como de práticas incorretas, em uma ou mais de
suas etapas – retirada (esfola), conservação e armazenagem. Todos esses fatores são
determinantes dos baixos preços pagos ao produtor por intermediários, que as vendem para
curtumes. O Nordeste brasileiro é um tradicional fornecedor do mercado internacional de peles
beneficiadas (curtidas) de caprinos e ovinos.. Os principais países importadores são Itália,
Espanha, Inglaterra, Portugal e Estados Unidos. As peles industrializadas no Nordeste são
exportadas, preferencialmente, na forma de “wet blue”, que corresponde ao couro curtido.
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Algumas indústrias realizam o processo de acabamento, sendo produzidos vários e importantes
tipos de couros, tais como: marroquins, camurças, pergaminhos, algumas napas e pelica,
utilizados na produção de calçados e vestiários, entre outros.
Há transferências de empresas oriundas do Sudeste brasileiro e atraídas pelos
incentivos fiscais concedidos por Estados nordestinos, especialmente, o Ceará e a Bahia. Ao
lado do complexo industrial de peles, situam-se pequenos curtumes, ditos tradicionais,
apresentando-se como alternativa para o aproveitamento de peles descartáveis pela indústria,
na produção do couro atanado, que é obtido pelo processo de curtimento vegetal, à base de
tanino. “Trata-se de um produto de larga aceitação do mercado interiorano nordestino” (LIMA et
al., 2006).
Particularizando-se o Rio Grande do Norte, praticamente toda produção de peles é
vendida “in natura” para vários Estados da Região: Ceará, Paraíba e Pernambuco, entre outros.
Duas grandes unidades beneficiadoras, INPELE (São Gonçalo do Amarante) e Curtume
J. MOTA (Natal) paralisaram suas atividades, há mais de oito anos. Uma terceira, SOCABRITO
(Angicos), não passou da fase de experimental. Encontra-se paralisada, também, a igual
período. O argumento mais freqüente é que o volume de peles adquirido corresponde a cerca
de, apenas, 10% de suas capacidades instaladas. Nestas circunstâncias, pode concluir-se que,
dificilmente voltarão a funcionar. Talvez uma, apenas, fosse possível operar, com grande parte
das peles produzidas, em todo o Estado – cerca de 460 mil unidades / ano, admitindo-se uma
taxa mínima anual de desfrute ( dos dois rebanhos) de 50%.
Outras pequenas unidades ( artesanais ), identificadas em 2000 ( SEBRAE-RN /
SINTEC, 2001), estão paralisadas ou funcionando precariamente. Estão a exigir apoio
tecnológico e financeiro, além de orientação de mercado.
3 – AÇÕES DE INCENTIVO À CAPRINOVINOCULTURA
Nos últimos dez anos, têm ocorrido nítidas melhorias em termos da atuação de diversas
entidades, públicas e privadas, na tentativa de consolidar a exploração de caprinos e ovinos, no
Estado. Neste sentido, diferentes medidas foram e vêm sendo implementadas:
Diferentes entidades públicas e privadas desenvolvem, em parceria ou isoladamente,
ações que buscam apoiar esse agronegócio. É necessário, no entanto, repensar e aprimorar
essas atividades que, em maior ou menor intensidade, são vinculadas à inúmeras entidades –
Associações de Criadores, SAPE, SEARA, EMATER, EMPARN, SEBRAE, SENAR,UFRN,
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UFERSA, INCRA, MAPA, ADENE, EMBRAPA, CNPq, Banco do Nordeste, Banco do Brasil,
Programa de Desenvolvimento Solidário e algumas Prefeituras Municipais, entre outras.
Apoiados pelas entidades antes citadas, vários programas e projetos foram ou estão em
execução, no Estado, voltados para a caprinovinocultura:
• Projeto APRISCO NORDESTE – SEBRAE, EMBRAPA;
• Projeto APRISCO no Oeste e Sertão do Cabugi – SEBRAE e Parceiros;
• Projeto APRISCO nas Regiões do Seridó e Trairí – SEBRAE e Parceiros;
• Projetos SEBRAETEC – SEBRAE e Parceiros (Prefeituras Municipais,
Empresas Privadas e Associações de Criadores, entre outros);
• PCPR - Programa de Combate à Pobreza Rural – Banco Mundial e Governo do
Estado (SETHAS), através do Programa de Desenvolvimento Solidário;
• PROGRAMA BIOMA DA CAATINGA – Fundação Banco do Brasil e SEBRAE;
• Projeto “Orientação e Acompanhamento Técnico ao Processamento de Leite de
Cabra em Derivados – Queijos e Sorvetes”. Parceria SEBRAE / ACOSC /
UFRN;
• Projeto de Pesquisa da UFRN (Departamento de Engenharia de Alimentos) –
estuda o processamento do leite caprino, em pó, pelo método “ leito em jorro”,
que, além de conservar suas qualidades nutricionais, poderia ser posto em
prática, em menor escala, pelos próprios produtores rurais;
• Rede de Inovação da Caprinocultura e Ovinocultura do Nordeste – RICO –
EMBRAPA, EMPARN, EMEPA e IPA;
• Projeto Disseminação Tecnológica de Ração de Caju para Produção de Leite e
Carne Caprina – SEBRAE, EMPARN
Estas e outras ações demonstram que a exploração de caprinos e ovinos tem sido, nos
últimos anos, uma atividade de grande interesse econômico e social, no Estado; por tudo o que
representa e, notadamente, pelas suas imensas potencialidades.
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4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com um rebanho de, apenas, 968 mil cabeças – 398 mil caprinos e 570 mil ovinos, o
quarto menor da Região, o Rio Grande do Norte é o segundo maior produtor de leite caprino
pasteurizado do Brasil. Isto demonstra quanto a caprinocultura leiteira significa para os atuais
produtores (cerca de 500 são fornecedores para cinco usinas), com um volume diário em torno de
10.000 litros. Observe-se que a produção leiteira foi maior (quase 12.000 l / dia), tendo sofrido
decréscimo nos últimos dois anos, em virtude dos elevados custos de produção e das incertezas
do mercado institucional – “Programa do Leite”. Convém considerar centenas de pequenos
criadores, em mais de 40 Municípios, produzindo um alimento nobre, gerando renda e
assegurando a manutenção de alguns milhares de pessoas, no campo e na cidade. Acrescente-se
a isto os benefícios indiretos, nos demais elos de sua cadeia produtiva agroindustrial. A
caprinocultura leiteira e, também, a caprinovinocultura de corte (que envolvem mais de 10 mil
criadores de diferentes portes, em todos os 167 municípios do Estado), embora enfrentando várias
limitações, se caracterizam como das mais promissoras atividades econômicas do agronegócio
estadual. “Por tudo isto, a caprinovinocultura está a exigir do poder público e da empresa privada
uma ação permanente de modernização, que lhe assegure sustentabilidade econômica e
crescente conotação social”. (LIMA et al., 2006).
Como forma de assegurar a consolidação do agronegócio da caprinovinocultura, no
Estado, ressalta-se a urgente necessidade das entidades públicas e privadas juntamente com
criadores, no sentido de fazer análise aprofundada dos desafios, assim como, buscarem soluções
para tirarem proveito econômico e social das possibilidades e oportunidades dessa atividade rural.
Desta forma, as ações de incentivo à caprinovinocultura devem ter, com nota marcante, o
respeito às peculiaridades ambientais e sócio – econômicas regionais. E mais, exigem adequados
planejamento, execução e avaliação, que possibilitem minimizar os erros e maximizar os
resultados, em favor do produtor rural e da população, como um todo.
No que se refere, especificamente, a mercados (para os diversos produtos da
caprinovinocultura), o presente estudo possibilitou fazer-se as seguintes observações e
recomendações:
•
É generalizada a ausência do leite caprino e seus derivados (oriundos do Estado),
em todos os postos de venda pesquisados, na Grande Natal;
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•
Há uma grande demanda pelas carnes e vísceras de caprinos e ovinos. A maioria
dos revendedores afirma que revenderia bem mais se houvesse maior volume e
melhor qualidade dos produtos, associados à regularidade na oferta;
•
Não deve ser descartada, no Estado, a possibilidade de fabricação de leite em pó,
diversos queijos e outros derivados do leite caprino a preços competitivos com os
de produtos importados;
•
É patente a necessidade da adoção das práticas de “cortes especiais” e “gestão
de qualidade” desses produtos, no sentido de sua valorização e da segurança no
atendimento a consumidores, cada vez mais exigentes;
•
Os preços praticados, na Grande Natal, em termos de carnes e vísceras, são
considerados pela população como elevados; bem superiores aos das carnes
bovina e suína, que têm “maior rendimento na cozinha”. Certamente, o aumento
da oferta desses produtos, com mais qualidade, contribuirá para o equilíbrio de
seus preços;
•
A inspeção sanitária precisa de fato ocorrer, notadamente nas feiras livres e
açougues; onde é generalizada a falta de higiene no manejo dos produtos obtidos,
em larga escala, de abatedouros clandestinos;
•
Ênfase especial em ações de marketing, na busca da melhoria dos produtos; de
sua mais ampla adoção e de avanços reais na comercialização.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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13.09.2006
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industriais”. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987
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Janeiro,1997.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da Pecuária Municipal. 2009. Rio
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ZOOTECNIA, 2006, Recife. Anais... Recife, 2006.
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capacidade inovativa em contexto crescentemente globalizado. Relatório do projeto de pesquisa
apoiado pela Diretoria de Políticas Públicas do IPEA, IE/UFRJ. 1998. Rio de Janeiro.
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MAIA, M. da S.; MACIEL, F.C.; LIMA, G.F. da C. Criação de caprinos e ovinos: recomendações
básicas de manejo. SEBRAE-RN / EMPARN. Natal, 1997.
MOURA, K. L. O. de. Análise econômica da exploração do caprino leiteiro macho para o abate,
em função de idade, padrão racial e sistema de criação. Natal. 48f. Monografia (Graduação em
Zootecnia)- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2006.
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do Rio Grande do Norte: comportamento analítico dos sistemas de produção de caprinos e ovinos.
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do Rio Grande do Norte: comportamento analítico dos sistemas de produção de caprinos e ovinos.
Natal, 2001. Vol. II.
SEBRAE-RN / SINTEC. Diagnóstico da cadeia produtiva agroindustrial da caprinovinocultura
do Rio Grande do Norte: comportamento analítico dos segmentos de distribuição, de intermediação,
de beneficiamento e de consumo de produtos caprinovinos. Natal, 2001. Vol. III.

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