Caprinovinocultura no Estado do Rio Grande do Norte no periodo
Transcrição
Caprinovinocultura no Estado do Rio Grande do Norte no periodo
1 CAPRINOVINOCULTURA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, ENTRE 2004 E 2009: ALGUNS ASPECTOS SOBRE PRODUÇÃO E MERCADO. Vamberto Torres de Almeida1 Fernando Viana Nobre2 INTRODUÇÃO O Rio Grande do Norte se destaca como um dos Estados nordestinos, que possui grande potencial para o desenvolvimento da caprinovinocultura em função das condições ambientais. Observa-se neste Estado, que raras criações de caprinos e ovinos são desenvovidas em núcleos de criadores modernos e mais integrados aos mercados consumidores. Por outro lado, sua grande maioria, é formada por criatórios, que não potencializam, em seu conjunto, requerimentos e possibilidades, que maximizem a eficiência dos agentes econômicos envolvidos e o desenvolvimento da cadeia produtiva. O efetivo mundial do rebanho caprino e ovino teve pouco aumento nas últimas décadas em relação às necessidades do consumo humano. Um rebanho, aproximadamente, de 1.060 milhões de ovinos e 725 milhões de caprinos. Desta população mundial total, segundo dados pesquisados, (FAO, 2000), aproximadamente 53% do rebanho ovino e 94,3% do rebanho caprino encontram-se nos países em desenvolvimento, onde representam uma parte importante da economia agropecuária por meio de produtos diversos, como carne e derivados, leite, lã e peles, gerando desta forma, renda e emprego para a sociedade. No mundo, o efetivo do rebanho caprino está localizado na China (21,7%), Índia (16,7%), Paquistão (6,9%), Sudão (5,4%), Bangladesh (4,6%), Nigéria (3,6%), Irã (3,5%), Somália (1,7%), Indonésia (1,7%), Tanzânia (1,6%) e Brasil (1,3%). Estes países possuem juntos, 68,6% do rebanho mundial de caprinos. Quanto ao efetivo do rebanho ovinos e sua participação no rebanho mundial, destacam-se a China (13,3%), Austrália (10,9%), Índia (5,7%), Sudão (4,6%), Nova Zelândia (4,2%), Reino Unido (3,5%), África do Sul (2,8%), Turquia (2,6%) e Paquistão (2,4%). Estes maiores rebanhos representam ao redor de 55% do rebanho ovino mundial (FAO, 2003). 1 2 Professor do Departamento de Economia da UERN e Analista Técnico do SEBRAE/RN. Engenheiro Agrônomo, M. Sc, COOPAGRO, Consultor do SEBRAE/RN 2 O Brasil possui um rebanho de, aproximadamente, 16,8 milhões de cabeças de ovinos e 9,1 milhões de caprinos. Considerando a dimensão territorial do País, estes valores são considerados baixos, apesar de possuir condições ambientais semelhantes ou até superiores às dos países maiores criadores dessas espécies (IBGE, 2009). Deste efetivo, o rebanho ovino encontra-se mais concentrado nas Regiões Nordeste e Sul, com a participação de 57,0% e 28,6%, respectivamente, do rebanho nacional. Quanto ao rebanho caprino, este é mais concentrado na Região Nordeste, com a participação de 90,7% do rebanho nacional. A Região Nordeste do Brasil possui um efetivo de rebanho ovino e caprino de aproximadamente 9,5 e 8,3 milhões de cabeças, respectivamente, e concentra a quase totalidade do rebanho caprino nacional; predominando raças com aptidão para produção de carne e pele (IBGE, 2009). Na Região Nordeste destaca-se os Estados da Bahia (31,7%), Ceará (21,7%) e Piauí (14,6%) como maiores criadores de ovinos, que totalizam 68,0% desse rebanho. Com relação ao rebanho caprino, destacam-se os Estados da Bahia (33,4%), Pernambuco (19,8), e Piauí (16,8%), que, juntamente com Ceará (12,3%), Paraíba (7,6%) e Rio Grande do Norte (4,9%), representam 94,8% do total. (IBGE, 2009) 1. O REBANHO CAPRINO NO RIO GRANDE DO NORTE O rebanho caprino do Estado, indistintamente de sua finalidade produtiva, atingiu o efetivo de 398.678 cabeças (IBGE, 2009), distribuído, segundo classificação deste mesmo órgão, em quatro Mesorregiões do Estado. Observa-se uma pequena queda no crescimento, (Tabela 1), quando comparadas as duas séries de dados da mesma fonte (IBGE, 2004). Vale ressaltar que estudo realizado pelo (SEBRAE /SINTEC, 2001) constatou uma evolução no rebanho caprino, no período de 1997 a 2004, em torno de 89,3%, ou seja, o rebanho evolui de 226.241 para 428.278 cabeças. Tabela 1 – Comportamento do rebanho caprino do Rio Grande do Norte Efetivos Participação - % 2004 2009 Comportamento 2004 – 2009 (%) Leste Potiguar 12.988 13.775 +6,06 3,10 3,50 Agreste Potiguar 58.539 56.581 -3,34 13,70 14,10 Central Potiguar 117.481 111.386 -5,19 27,40 28,00 Oeste Potiguar 239.270 216.937 -14,52 55,80 54,40 TOTAL 428.278 398.679 -6,91 100 100 Mesorregiões Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal, 2004/2009 2004 2009 3 Com base nos dados da Tabela 1, pode-se constatar: • Houve um pequeno decréscimo do rebanho caprino estadual (6,91%), em cinco anos, em todas as Mesorregiões; • As Mesorregiões Oeste Potiguar e Central Potiguar, apesar da queda no crescimento em seus efetivos, respondem atualmente por 82,40% do rebanho caprino do Estado; • Apenas a Mesorregião Leste Potiguar teve acréscimo em seu rebanho, na ordem de 6,06 %; • A Mesorregião Oeste Potiguar, apesar da perda da participação relativa no Estado, responde por mais da metade, ou seja, 54,40% do rebanho total. O decréscimo de 6,91% (Tabela 1) é interpretado como a resultante de duas tendências: a substituição de caprinos por ovinos para atender o mercado de corte e a substituição de cabras de menor valor genético por cabras de maior valor genético para atender o mercado do leite. Somadas a essas tendências, constatou-se que, nos anos de 2007 a 2009, no Banco do Nordeste, principal agência de investimento do Estado, houve uma redução no número de operações financiadas e do valor de investimento e custeio destinado para o setor da caprinovinocultura. Tabela 2 – Produtores de caprinos atendidos por ano com financiamento no BNB Ano Agência Apodi Quantidade de 2007 Clientes Valor do Financiamento Quantidade de 2008 Clientes Valor do Financiamento Quantidade de 2009 Clientes Valor do Financiamento TOTAL Quantidade de Clientes Valor do Financiamento 587 973.164,79 147 199.444,74 192 863.183,42 926 2.093.794,93 Agência Pau dos Ferros Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento 388 329.461,14 181 92.565,00 75 390.101.26 644 812.127,40 Agência Mossoró Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento 162 678.615,05 65 300.756,14 96 301.576,64 323 1.380.947,83 Total Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento Quantidade de Clientes Valor do Financiamento 1.137 1.981.240,98 393 592.765,88 363 1.554.863,32 1.893 4.128.870,18 4 Podemos observar, na Tabela acima, de 2007 a 2009 nas Agências do Banco do Nordeste, em Apodi, Pau dos Ferros e Mossoró houve no triênio uma contratação de 1.893 operações de crédito destinado a investimento e custeio totalizando um financiamento no valor de R$ 4.128.870,18. No entanto, comparando as duas series de dados em análise, houve uma redução 1.137 para 363 nas operações de financiamento. Com relação ao valor do investimento e custeio houve uma redução no volume de financiamento de R$ 1.981.240,98, em 2007, para R$ 1.554.863,32, em 2009. 1.1. CAPRINOS LEITEIROS As fontes oficiais de pesquisas estatísticas (IBGE, IDEMA) não fazem diferenciação entre os efetivos de caprinos, em termos de função produtiva. Qualquer estimativa a ser feita em termos de quantificação dos dois rebanhos, necessariamente, tem que se utilizar de informações de diversas entidades públicas e ou privadas, produtores e, de modo particular, das usinas beneficiadoras e ou processadoras do leite caprino. Paralelamente, é necessário considerar o expressivo número de criadores de caprinos de corte (sobretudo de mestiços com pequena produtividade leiteira), que vem buscando o melhoramento do seu rebanho, no sentido de aumentar a disponibilidade de leite para as crias e o excedente para o mercado. Isto, embora, recomendável, dificulta mais, ainda, a estimativa do efetivo leiteiro. Estima-se que o atual rebanho, do qual se obtém leite com finalidade comercial, gire em torno de 10 % do total, isto é, cerca de 40.000 cabeças, em todo o Estado. O número médio de matrizes (em lactação e secas) totalizaria, aproximadamente, 16.000 animais. 1.2. SISTEMAS DE PRODUÇÃO Como é natural, a criação de caprinos leiteiros tende, obrigatoriamente, para que seja adotado um manejo que possibilite uma regular e frequente aproximação dos animais com a sede do estabelecimento rural. Em razão disto, é que há uma tendência muito grande à adoção do regime intensivo, o que, não raras vezes, inviabiliza a exploração porque onera muito os custos de produção. Estudo sobre sistema de produção de caprinos leiteiro (SEBRAE / SINTEC, 2001) constatou que 15,8% dos criadores entrevistados adotavam o regime intensivo, 24,6% o extensivo e 59,6% o semi-extensivo ou misto. 5 Reduziu-se muito a adoção do sistema intensivo, em favor do semi-extensivo, na busca de redução dos custos de produção do leite. O próprio direcionamento do manejo genético no sentido da produção de mestiços (mais resistentes e com úbere mais alto) possibilita que os animais utilizem as pastagens e recebam, quando necessário, suplementação alimentar volumosa e ou concentrada. Na tentativa de reduzir custos de produção, expressivo número de criadores (não raras vezes, fazendo uma única ordenha) mantém as matrizes lactantes no campo, durante quase todo o dia. Isto é freqüente em áreas com abundantes forrageiras nativas, como na Chapada do Apodi; onde vêm sendo formados rebanhos de dupla aptidão com média produtividade leiteira, a partir de fêmeas mestiças Anglo-Nubianas e reprodutores da raça Saanen e Parda Alpina. 1.3. O LEITE CAPRINO: PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO Com uma produção comercial em torno de onze mil litros / dia (excetuando-se o de consumo familiar), o Rio Grande do Norte, um dos maiores produtores de leite pasteurizado do Brasil, é um exemplo para todo o Nordeste. Pesquisa Direta realizada pelo SEBRAE em por cinco usinas de beneficiamento e ou processamento, em maio de 2008, constatou-se a produção de leite caprino com as seguintes procedências e volumes: Tabela 3 – Processamento do leite caprino no Rio Grande do Norte Usina Local Volume Diário (l) Produtores (nº) Média/diária (l/produtor) Município produtores Modelo de Gestão COOPASA Angicos 5.015 326 15,38 28 Cooperativa LACOL São José do Seridó 2.080 70 40,0 13 Privado ILA Apodi 1.150 30 38,33 6 Privado Leite Sertão Mossoró 1.500 50 30,00 2 Privado CERSEL Currais Novos 300 8 37,50 1 Cooperativa Totais Médios - 10.765 484 22,24 50 - Fonte: SEBRAE/Sertão Verdadeiro Consultoria – 2008 Com base nos dados da Tabela 3, pode concluir-se que: • A APASA, localizada no Município de Angicos, com um volume diário médio de 5.015 litros, procedente de 326 produtores, respondeu por quase 50% do leite processado no Estado uma média de 15,38 l / produtor/ dia. O leite foi coletado em 28 Municípios de oito 6 Microrregiões: Angicos, Vale do Açu, Serra de Santana, Borborema Potiguar, Agreste Potiguar, Macaíba, Baixa Verde e Natal; • A LACOL localizada em São José de Seridó processou um volume diário médio de 2.080 litros, procedente de 70 produtores – média de 40 l / produtor / dia. O leite foi oriundo de quatro Microrregiões: Seridó Oriental, Seridó Ocidental, Serra de Santana e Vale do Açu; • O Leite ILA, localizado no Município de Apodi, processou um volume diário médio de 1.150 litros, adquirido de 30 produtores – média de 44,6 l / produtor. O leite foi oriundo de duas Microrregiões: Chapada do Apodi e Pau dos Ferros; • LEITE DO SERTÃO, localizado em Mossoró, processou um volume diário médio de 1500 litros/dia, procedente de 30 produtores – média de 30,0 l / produtor / dia. O leite foi oriundo de duas Microrregiões: Angicos e Mossoró; • CERSEL, localizada em Currais Novos recebeu uma média de 300 litros/dia, procedente de 8 produtores, destinados à produção de queijos. O leite foi oriundo da Microrregião do Seridó Oriental - apenas do Município de Currais Novos. Nem todo o leite caprino industrializado no Rio Grande do Norte é submetido à pasteurização, que beneficia cerca de 90% do produzido. O restante é utilizado por pequenas unidades artesanais, em todo o Estado, na produção de doces, sorvetes, rapaduras, molhos, queijos e sabonetes. 2. O REBANHO OVINO O rebanho ovino do Estado do Rio Grande do Norte, segundo dados oficiais (IBGE, 2009), atingiu o efetivo de 570.302 cabeças, distribuídas em todas as Mesorregiões. De acordo com a Tabela 4, observa-se o crescimento do rebanho, nos últimos anos, quando comparadas as duas séries de dados da mesma fonte. Vale ressaltar que estudo realizado pelo (SEBRAE/SINTEC, 2001) constatou uma evolução no rebanho ovino no período de 1997 a 2004 em torno de 25,3%, - 391.089 para 489.862 cabeças. Tabela 4 – Comportamento do rebanho ovino do Rio Grande do Norte Efetivos Participação - % 2004 2009 Comportamento% 2004 - 2009 Leste Potiguar 21.173 32.606 53,99 4,40 5,80 Agreste Potiguar 110.568 113.997 3,10 22,60 19,90 Central Potiguar 161.955 178.529 10,23 33,00 31,40 Mesorregiões 2004 2009 7 Oeste Potiguar 196.166 245.174 24,98 40,00 42,90 TOTAL 489.862 570.302 16,42 100 100 Fonte: IBGE - Pesquisa Pecuária Municipal, 2004/2009 Com base nos dados da Tabela 4, pode concluir-se que: • Houve um crescimento de 16,42% do rebanho ovino estadual, em cinco anos, em todas as Mesorregiões; • A Mesorregião Leste Potiguar, embora possua o menor efetivo do rebanho ovino, foi relativamente a que mais cresceu, no período em consideração; tendo uma evolução de 53,99%; • A Mesorregião Agreste Potiguar foi a que demonstrou o menor crescimento (3,10%), no período. Mesmo assim, continuou com um rebanho significativo com 19,9% do total do rebanho estadual; • A Mesorregião Leste Potiguar foi a que teve o maior crescimento (53,99%) do rebanho, seguida da Mesorregião Oeste, com 24,98%; • A Mesorregião Oeste Potiguar possui o maior efetivo do rebanho ovino, seguida da Mesorregião Central Potiguar, com respectivamente, 42,9% e 31,40% do efetivo estadual, em 2009. 2.1 – SISTEMAS DE CRIAÇÃO DE CAPRINOS E OVINOS A criação de caprinos e ovinos, ambos para corte, tende, freqüentemente, para a adoção de sistemas menos intensivos, utilizando as pastagens nativas e ou exóticas, como principal suporte alimentar. O confinamento é utilizado muito mais para engorda intensiva de ovinos e caprinos jovens; prática que vem sendo iniciada, no Estado, tendo como objetivo atender à demanda de um mercado diferenciado, que paga melhor por um produto superior. Nesta categoria, se enquadra um número reduzido de produtores que, no entanto, tende a crescer. No ano de 2000, quando da realização do estudo antes referido ( SEBRAE-RN / SINTEC,2001),era esta a situação, em termos de sistemas de criação: • caprino de corte – extensivo (58,6%); misto (40%) e intensivo (1,4%) • ovino – extensivo (52%) ; misto (46,6%) e intensivo (1,4%) 8 Atualmente, com a tendência de melhoria das explorações caprinovinas, o percentual de criações extensivas vem, gradativamente, sendo reduzido, em favor das mistas (semiextensivas), em todas Regiões do Estado. Isto assegura melhores índices zootécnicos e maior competitividade às explorações de caprinos e ovinos. Algumas mudanças, em termos de manejos, ocorreram entre 2000 e 2009: • Com a expansão e melhoramento das áreas forrageiras de pisoteio (inclusive nativas), reduziu-se o uso da suplementação volumosa; • É crescente o número de produtores, que busca produzir feno, silagem e grãos, na tentativa da redução dos níveis de uso das misturas concentradas comerciais. Convém destacar que, englobando todos os criadores de caprino e ovino, a produção de feno e de silagem era praticada (no ano de 2000) por, apenas, 13,9 % e 13,8 % respectivamente. A adoção das duas tecnologias é, hoje, maior e vem crescendo, embora lentamente; • A suplementação concentrada, exceto para categorias especiais (sobretudo em criações de animais puros), também vem sendo reduzida, com o uso de volumosos; • As misturas múltiplas têm tido boa aceitação e vêm sendo adotadas por maior número de produtores, substituindo as misturas convencionais, sobretudo no estio; • Práticas de vacinações, vermifugações e controle de parasitas externos vêm sendo adotadas por um número maior de criadores, embora ainda haja muito o que corrigir; • A monta controlada vem crescendo, com relativa velocidade, notadamente entre os criadores de maiores rebanhos. Alguns vêm adotando a estação de monta, como instrumento de melhorar a exploração, econômica e geneticamente. Embora tenha havido algum progresso, no entanto é muito elevado o percentual de criadores que não faz, corretamente, a higienização das instalações. A inexistência ou escassez de laboratórios tem contribuído para que, apenas, uma minoria de criadores faça diversos exames, especialmente o de OPG; 9 Convém registrar que o nível de conhecimentos tecnológicos de muitos produtores tem melhorado, nos últimos anos, em virtude de sua participação em eventos educativos promovidos pela, SAPE (notadamente pela ação do Projeto APRISCO), EMATER, EMPARN, SEBRAE e SENAR, entre outras Instituições. Nesta tarefa, merece elogios a participação integradora de associações de criadores – ANCOC, ACOSC, APASA, ACAVUJ, ASCOM, ASFOCO e ASPROC, entre outras, que congregam e mobilizam seus filiados para os referidos eventos. È necessário que esta atitude se amplie e seja praticada, permanentemente. 2.3 - MERCADO DAS CARNES DE CAPRINOS E OVINOS. Tradicionalmente, todo o interior do Nordeste sempre foi o grande consumidor de carnes de caprinos e ovinos, em decorrência do hábito alimentar de suas populações ( rural e urbana), notadamente de baixa renda. Nos últimos anos, com os avanços da cozinha nas grandes cidades, as carnes de caprinos e ovinos, particularmente jovens, se tornaram valiosas no preparo de pratos sofisticados. Além do expressivo consumo na Grande Natal, o Rio Grande do Norte exporta para outros centros consumidores, como Recife e Fortaleza, carnes oriundas de empresas de maior porte, produtoras de caprinos e ovinos, abatidos precocemente, entre quatro e seis meses de idade. Por outro lado, esses avanços, inspirados na capacidade empreendedora de segmentos empresariais, não correspondem às situações vivenciadas no grande território de produção e consumo do Estado. Aqui, as limitações se fazem presentes em todas as atividades da cadeia produtiva; denunciando, em extensão e profundidade, um “modus vivendi”, que necessita de grandes transformações de natureza tecnológica, gerencial e sócio-ambiental, que, colocandose, proativamente, assegure um posicionamento no complexo mercado de carnes, cada vez mais competitivo, diferenciado e globalizado.” ( LIMA et al., 2006). Diversos estudos revelam uma demanda reprimida para consumo de carne caprina e ovina no País. O Nordeste, em particular, apresenta um déficit de carne dessas espécies em torno de 13 mil toneladas / ano. Em decorrência disto, é expressivo o volume de carnes caprina e ovina, que chega a Natal, oriundas de todo o Estado, inclusive de outras áreas, como Paraíba e Bahia; além de carne ovina, especificamente, vinda do Sudeste e Sul, assim como importada do Uruguai. 10 Basta lembrar que, em 2000 ( SEBRAE-RN / SINTEC, 2001), “o consumo médio de carne caprina e ovina era de 0,897 kg / pessoa / ano ( consumo per capita / ano) – 0,467 kg carne caprina e 0,430 kg de carne ovina. Naquele ano, o consumo estimado ( com base em pesquisa realizada em Natal) foi de 635 toneladas – uma média de 53 toneladas / mês. A população, naquele ano, girava em torno de 710 mil pessoas. Atualmente, com cerca de 800 mil pessoas, o consumo anual estimado é de, pelo menos, 720 t / ano, o equivalente a 60 t / mês, em Natal.” Atuando em todo o Estado, há doze anos, a COOPAGRO tem constatado, rotineiramente, grandes deficiências sanitárias, em termos de estabelecimentos rurais e comerciais desses produtos. A situação é muito grave, na maioria das vezes, em termos de abate, preparo, transporte e comercialização da carne e seus derivados (sobretudo oriundos de abatedouros clandestinos), açougues e feiras livres. Esta dura e inadmissível realidade vem, cada vez mais, reforçar o exposto (por LIMA et al., 2006), a respeito do Rio Grande do Norte : “ as instituições públicas e privadas precisam ampliar programas e projetos de apoio e fiscalização dos empreendimentos - organizando bancos de dados; elaborando e disponibilizando estatísticas para subsidiar as atividades de planejamento do setor; implementando ações focadas na melhoria dos serviços e no crescimento da oferta qualificada dos produtos”. 2.4 – MERCADO DAS PELES DE CAPRINOS E OVINOS. É reconhecido, no mercado nacional e internacional, o valor das peles de ovinos e caprinos do Nordeste brasileiro, face à sua maior elasticidade, resistência e textura - qualidades indispensáveis para inúmeros produtos de calçados e vestiários. O reconhecimento dessas qualidades, entretanto, não esconde na comercialização as depreciações das peles, devido aos altos índices de defeitos decorrentes de condições inadequadas dos sistemas de criação, bem como de práticas incorretas, em uma ou mais de suas etapas – retirada (esfola), conservação e armazenagem. Todos esses fatores são determinantes dos baixos preços pagos ao produtor por intermediários, que as vendem para curtumes. O Nordeste brasileiro é um tradicional fornecedor do mercado internacional de peles beneficiadas (curtidas) de caprinos e ovinos.. Os principais países importadores são Itália, Espanha, Inglaterra, Portugal e Estados Unidos. As peles industrializadas no Nordeste são exportadas, preferencialmente, na forma de “wet blue”, que corresponde ao couro curtido. 11 Algumas indústrias realizam o processo de acabamento, sendo produzidos vários e importantes tipos de couros, tais como: marroquins, camurças, pergaminhos, algumas napas e pelica, utilizados na produção de calçados e vestiários, entre outros. Há transferências de empresas oriundas do Sudeste brasileiro e atraídas pelos incentivos fiscais concedidos por Estados nordestinos, especialmente, o Ceará e a Bahia. Ao lado do complexo industrial de peles, situam-se pequenos curtumes, ditos tradicionais, apresentando-se como alternativa para o aproveitamento de peles descartáveis pela indústria, na produção do couro atanado, que é obtido pelo processo de curtimento vegetal, à base de tanino. “Trata-se de um produto de larga aceitação do mercado interiorano nordestino” (LIMA et al., 2006). Particularizando-se o Rio Grande do Norte, praticamente toda produção de peles é vendida “in natura” para vários Estados da Região: Ceará, Paraíba e Pernambuco, entre outros. Duas grandes unidades beneficiadoras, INPELE (São Gonçalo do Amarante) e Curtume J. MOTA (Natal) paralisaram suas atividades, há mais de oito anos. Uma terceira, SOCABRITO (Angicos), não passou da fase de experimental. Encontra-se paralisada, também, a igual período. O argumento mais freqüente é que o volume de peles adquirido corresponde a cerca de, apenas, 10% de suas capacidades instaladas. Nestas circunstâncias, pode concluir-se que, dificilmente voltarão a funcionar. Talvez uma, apenas, fosse possível operar, com grande parte das peles produzidas, em todo o Estado – cerca de 460 mil unidades / ano, admitindo-se uma taxa mínima anual de desfrute ( dos dois rebanhos) de 50%. Outras pequenas unidades ( artesanais ), identificadas em 2000 ( SEBRAE-RN / SINTEC, 2001), estão paralisadas ou funcionando precariamente. Estão a exigir apoio tecnológico e financeiro, além de orientação de mercado. 3 – AÇÕES DE INCENTIVO À CAPRINOVINOCULTURA Nos últimos dez anos, têm ocorrido nítidas melhorias em termos da atuação de diversas entidades, públicas e privadas, na tentativa de consolidar a exploração de caprinos e ovinos, no Estado. Neste sentido, diferentes medidas foram e vêm sendo implementadas: Diferentes entidades públicas e privadas desenvolvem, em parceria ou isoladamente, ações que buscam apoiar esse agronegócio. É necessário, no entanto, repensar e aprimorar essas atividades que, em maior ou menor intensidade, são vinculadas à inúmeras entidades – Associações de Criadores, SAPE, SEARA, EMATER, EMPARN, SEBRAE, SENAR,UFRN, 12 UFERSA, INCRA, MAPA, ADENE, EMBRAPA, CNPq, Banco do Nordeste, Banco do Brasil, Programa de Desenvolvimento Solidário e algumas Prefeituras Municipais, entre outras. Apoiados pelas entidades antes citadas, vários programas e projetos foram ou estão em execução, no Estado, voltados para a caprinovinocultura: • Projeto APRISCO NORDESTE – SEBRAE, EMBRAPA; • Projeto APRISCO no Oeste e Sertão do Cabugi – SEBRAE e Parceiros; • Projeto APRISCO nas Regiões do Seridó e Trairí – SEBRAE e Parceiros; • Projetos SEBRAETEC – SEBRAE e Parceiros (Prefeituras Municipais, Empresas Privadas e Associações de Criadores, entre outros); • PCPR - Programa de Combate à Pobreza Rural – Banco Mundial e Governo do Estado (SETHAS), através do Programa de Desenvolvimento Solidário; • PROGRAMA BIOMA DA CAATINGA – Fundação Banco do Brasil e SEBRAE; • Projeto “Orientação e Acompanhamento Técnico ao Processamento de Leite de Cabra em Derivados – Queijos e Sorvetes”. Parceria SEBRAE / ACOSC / UFRN; • Projeto de Pesquisa da UFRN (Departamento de Engenharia de Alimentos) – estuda o processamento do leite caprino, em pó, pelo método “ leito em jorro”, que, além de conservar suas qualidades nutricionais, poderia ser posto em prática, em menor escala, pelos próprios produtores rurais; • Rede de Inovação da Caprinocultura e Ovinocultura do Nordeste – RICO – EMBRAPA, EMPARN, EMEPA e IPA; • Projeto Disseminação Tecnológica de Ração de Caju para Produção de Leite e Carne Caprina – SEBRAE, EMPARN Estas e outras ações demonstram que a exploração de caprinos e ovinos tem sido, nos últimos anos, uma atividade de grande interesse econômico e social, no Estado; por tudo o que representa e, notadamente, pelas suas imensas potencialidades. 13 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Com um rebanho de, apenas, 968 mil cabeças – 398 mil caprinos e 570 mil ovinos, o quarto menor da Região, o Rio Grande do Norte é o segundo maior produtor de leite caprino pasteurizado do Brasil. Isto demonstra quanto a caprinocultura leiteira significa para os atuais produtores (cerca de 500 são fornecedores para cinco usinas), com um volume diário em torno de 10.000 litros. Observe-se que a produção leiteira foi maior (quase 12.000 l / dia), tendo sofrido decréscimo nos últimos dois anos, em virtude dos elevados custos de produção e das incertezas do mercado institucional – “Programa do Leite”. Convém considerar centenas de pequenos criadores, em mais de 40 Municípios, produzindo um alimento nobre, gerando renda e assegurando a manutenção de alguns milhares de pessoas, no campo e na cidade. Acrescente-se a isto os benefícios indiretos, nos demais elos de sua cadeia produtiva agroindustrial. A caprinocultura leiteira e, também, a caprinovinocultura de corte (que envolvem mais de 10 mil criadores de diferentes portes, em todos os 167 municípios do Estado), embora enfrentando várias limitações, se caracterizam como das mais promissoras atividades econômicas do agronegócio estadual. “Por tudo isto, a caprinovinocultura está a exigir do poder público e da empresa privada uma ação permanente de modernização, que lhe assegure sustentabilidade econômica e crescente conotação social”. (LIMA et al., 2006). Como forma de assegurar a consolidação do agronegócio da caprinovinocultura, no Estado, ressalta-se a urgente necessidade das entidades públicas e privadas juntamente com criadores, no sentido de fazer análise aprofundada dos desafios, assim como, buscarem soluções para tirarem proveito econômico e social das possibilidades e oportunidades dessa atividade rural. Desta forma, as ações de incentivo à caprinovinocultura devem ter, com nota marcante, o respeito às peculiaridades ambientais e sócio – econômicas regionais. E mais, exigem adequados planejamento, execução e avaliação, que possibilitem minimizar os erros e maximizar os resultados, em favor do produtor rural e da população, como um todo. No que se refere, especificamente, a mercados (para os diversos produtos da caprinovinocultura), o presente estudo possibilitou fazer-se as seguintes observações e recomendações: • É generalizada a ausência do leite caprino e seus derivados (oriundos do Estado), em todos os postos de venda pesquisados, na Grande Natal; 14 • Há uma grande demanda pelas carnes e vísceras de caprinos e ovinos. A maioria dos revendedores afirma que revenderia bem mais se houvesse maior volume e melhor qualidade dos produtos, associados à regularidade na oferta; • Não deve ser descartada, no Estado, a possibilidade de fabricação de leite em pó, diversos queijos e outros derivados do leite caprino a preços competitivos com os de produtos importados; • É patente a necessidade da adoção das práticas de “cortes especiais” e “gestão de qualidade” desses produtos, no sentido de sua valorização e da segurança no atendimento a consumidores, cada vez mais exigentes; • Os preços praticados, na Grande Natal, em termos de carnes e vísceras, são considerados pela população como elevados; bem superiores aos das carnes bovina e suína, que têm “maior rendimento na cozinha”. Certamente, o aumento da oferta desses produtos, com mais qualidade, contribuirá para o equilíbrio de seus preços; • A inspeção sanitária precisa de fato ocorrer, notadamente nas feiras livres e açougues; onde é generalizada a falta de higiene no manejo dos produtos obtidos, em larga escala, de abatedouros clandestinos; • Ênfase especial em ações de marketing, na busca da melhoria dos produtos; de sua mais ampla adoção e de avanços reais na comercialização. 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GUIMARÃES FILHO, C. Caprinocultura, produtos e mercados. Disponível em 11.ago.2006 <www.agroline.com.br/inc/imprimirpagina.php?sessão=artigos&id=143&ação=1> Acesso em 13.09.2006 GUIMARÃES, E. A. “Acumulação e Crescimento da Firma: Um Estudo das organizações industriais”. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987 IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário, 2006. Rio de Janeiro,1997. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da Pecuária Municipal. 2009. Rio de Janeiro, 2004. LIMA, G. F. da C. et ali. Criação familiar de caprinos e ovinos no Rio Grande do Norte: orientações para viabilização do negócio rural. EMATER –RN / EMPARN / EMBRAPA Caprinos. Natal,2006. LIMA, P.O.; DUARTE, L.S.; MARTINS, J.C. et al. Perfil dos produtores rurais do Município de Quixeramobim no Estado do Ceará. In: XVI CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA, 2006, Recife. Anais... Recife, 2006. LASTRES H.; CASSIOLATO, J. ; LEMOS C.; MALDONADO, J. ; VARGAS, M. Arranjos locais e capacidade inovativa em contexto crescentemente globalizado. Relatório do projeto de pesquisa apoiado pela Diretoria de Políticas Públicas do IPEA, IE/UFRJ. 1998. Rio de Janeiro. MACHADO, J.C.A. Sistema agroindustrial da caprinocultura leiteira do Estado do Ceará. UFPB/USP, 1998. Campina Grande-PB. MAIA, M. da S.; MACIEL, F.C.; LIMA, G.F. da C. Criação de caprinos e ovinos: recomendações básicas de manejo. SEBRAE-RN / EMPARN. Natal, 1997. MOURA, K. L. O. de. Análise econômica da exploração do caprino leiteiro macho para o abate, em função de idade, padrão racial e sistema de criação. Natal. 48f. Monografia (Graduação em Zootecnia)- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2006. NOGUEIRA FILHO, A. Potencialidades da caprino-ovinocultura na Região Nordeste do Brasil. Fortaleza: Banco do Nordeste/ETENE, 2002. SEBRAE-RN / SINTEC. Diagnóstico da cadeia produtiva agroindustrial da caprinovinocultura do Rio Grande do Norte: comportamento analítico dos sistemas de produção de caprinos e ovinos. Natal, 2001. Vol. I. SEBRAE-RN / SINTEC. Diagnóstico da cadeia produtiva agroindustrial da caprinovinocultura do Rio Grande do Norte: comportamento analítico dos sistemas de produção de caprinos e ovinos. Natal, 2001. Vol. II. SEBRAE-RN / SINTEC. Diagnóstico da cadeia produtiva agroindustrial da caprinovinocultura do Rio Grande do Norte: comportamento analítico dos segmentos de distribuição, de intermediação, de beneficiamento e de consumo de produtos caprinovinos. Natal, 2001. Vol. III.