Revista - Congregação MSCS
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Revista - Congregação MSCS
Esperança Revista Ano III – nº 5 – 1º semestre de 2011 Trabalho: Expressão do Amor Criador e Redentor Bolivianos em São Paulo. Resposta de serviço aos migrantes O importante é nunca parar de sonhar Sumário Capa: Mulheres bolivianas – Pastoral dos Migrantes © Arquivo PNSA Revista Esperança Publicação semestral das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas Província Nossa Senhora Aparecida Abril de 2011 Diretora Ir. Neusa de Fátima Mariano, mscs Superiora Provincial Coordenação Geral Ir. Sandra Maria Pinheiro, mscs Conselheira e Secretária Provincial Direção de redação Ir. Elizangela Chaves Dias, mscs Ir. Rosa Maria Martins Silva, mscs Marina Ferraz Colaboradoras Ir. Elizangela Chaves Dias, mscs Ir. Erta Lemos, mscs Ir. Inês Facioli, mscs Ir. Janete Aparecida Ferreira, mscs Ir. Lídia Mara Silva de Souza, mscs Ir. Ligia Ruiz Gamba, mscs Ir. Maria Lélis da Silva, mscs Ir. Neuza Botelho dos Santos, mscs Ir. Renilda Teixeira Pereira, mscs Ir. Rosa Maria Martins Silva, mscs Ir. Sonia Delforno, mscs Jornalistas responsáveis Ir. Maria Lélis da Silva, mscs Marina Ferraz Revisão Geral Ir. Sandra Maria Pinheiro, mscs Marina Ferraz Diagramação e arte Inês Ruivo – HI Design Impressão e acabamento Edições Loyola rua 1822, nº 347 04216-000, São Paulo, sp Tel 55 11 3385-8500 Tiragem 1000 exemplares Contato Província Nossa Senhora Aparecida Praça Nami Jafet, 96 04205-050 – Ipiranga São Paulo – SP – Brasil Tel (11) 2066-2900 www.mscs.org.br e-mail: [email protected] EspiritualidadE Trabalho: expressão do amor criador e redentor......................................... 2 dEcifrando as Escrituras Espalhando as sementes do verbo – O trabalho na perspectiva bíblica.................................................................... 4 eclesiologia A vocação ao desenvolvimento pleno.............................................................. 6 forMação O trabalho humano: caminho para a autorrealização................................ 8 Cuidando da vida do Migrante...................................................................... 10 ação Missionária O importante é nunca parar de sonhar....................................................... 12 Bolivianos em São Paulo................................................................................. 14 Uma resposta, a serviço dos migrantes........................................................ 16 El bote salvavidas del Ecuador....................................................................... 18 La emigracion colombiana............................................................................. 20 O sonho americano.......................................................................................... 22 Educação Fuga de cérebros: uma face da migração..................................................... 26 Migração e os meios de comunicação.......................................................... 28 história dE vida Irmã Marilde: um testemunho de serviço e pertença............................... 30 Abra a porta........................................................................................................ 31 Caros Leitores C olocamos mais uma vez em suas mãos a Revista Esperança, publicação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo, Scalabrinianas, da Província Nossa Senhora Aparecida – São Paulo. Esta edição tem como tema central: Migrações e Trabalho. Sem sombra de dúvidas, trata-se de uma temática de grande atualidade, bem como de grande abrangência, e nos coloca diante de um desafio certamente não fácil, devido ao seu vínculo com a esfera econômica, social e política. E, por outro lado, não podemos permanecer alheios a este problema que afeta a nossa sociedade, especialmente, aos migrantes. O tema das migrações é associado, com frequência, à questão do trabalho, sobretudo no que diz respeito às motivações do ato migratório e suas implicações. Acredita-se, comumente, que o desempregado migra em busca de emprego, o trabalhador à procura de salários mais justos, o profissional qualificado em busca de melhores oportunidades de trabalho na sua área de formação. De fato, as migrações por razões laborais são uma das dimensões mais visíveis da globalização. Excluindo as guerras e as epidemias, a fuga da pobreza e de inseguranças, pode-se dizer que a procura de um melhor emprego é um dos fatores que mais levam as pessoas a procurarem outros países e a aceitarem, muitas vezes, qualquer trabalho, independentemente das respectivas condições. É nesta perspectiva que os artigos, relatos, entrevistas e testemunhos contidos nesta revista, a partir dos vários enfoques, oferecerem valiosos elementos de reflexão e oportunas indicações sobre o tema em questão. Ao mesmo tempo, estes querem ser uma provocação e motivação para a necessidade de incidir nos processos conjunturais e nas instâncias institucionais eclesiais e civis. Instituições que estabelecem leis, estratégias e políticas que atingem os migrantes, em particular, diante das atrozes formas de exploração e violação da dignidade humana, do trabalho escravo e degradante, do abuso e do engano, visando uma política migratória que leve em consideração os direitos das pessoas em mobilidade, na promoção e aspiração a uma sociedade mais justa e a uma convivência cidadã com bem estar e em paz. Enfim, “louvamos a Deus porque na beleza da criação, que é obra de suas mãos, resplandece o sentido do trabalho como participação na sua tarefa criadora e como serviço aos irmãos e irmãs... O trabalho garante a dignidade e a liberdade do homem e da mulher, e é provavelmente “a chave essencial de toda a questão social” (DA 120). A todos(as), uma boa leitura! Ir. Neusa de Fátima Mariano, mscs Superiora Provincial Trabalho: expressão do amor criador e redentor O primeiro livro da Bíblia, Gênesis, inicia sua narrativa com um “hino à criação do universo”. Mostra que a existência do mesmo é fruto de um longo trabalho, “seis dias”. Não espaço de 24 horas, mas longos períodos, nos quais todo o universo e, nele, o ser humano, aparecem como resultado de uma ação contínua de Deus Criador. E, concluindo cada período, o autor sagrado diz: “E Deus viu que era bom” (cfr Gn 1, 4. 10. 12. 18. 21. 25. 31). Porém, a ação de Deus não se limitou apenas ao início da criação, mas se perpetua no tempo como no-lo revelou o mesmo Jesus Cristo, respondendo aos judeus que o interrogavam porque havia realizado uma cura em dia de sábado: “Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho” (Jo 5,17). Ao entregar a obra da criação ao ser humano, “criado à Sua imagem e semelhança” (cfr Gn 1,26), Deus tudo confia em suas mãos. Porém, com uma tarefa e uma responsabilidade. A “missão de submeter a si a terra e tudo o que ela contém, de governar o mundo na justiça e na santidade e, reconhecendo Deus como o Criador de todas as coisas, de se orientar a si e ao universo todo para Ele, de maneira que, estando tudo subordinado ao homem, o nome de Deus seja glorificado em toda a terra” (GS, 34). 2 No desempenho de tal responsabilidade, o ser humano não é um concorrente com Deus, mas um parceiro e colaborador através da atividade que realiza por meio do seu trabalho. Desta forma, para os que reconhecem a Deus como o Senhor e Criador de todas as coisas, o trabalho é um valor, porque é realização do desejo de Deus mesmo. Migração e trabalho Parecem dois elementos inseparáveis. Embora o fenômeno migratório não seja um fato novo na história da humanidade, na atualidade o vemos mais intenso e complexo. Na fala informal dos migrantes, quando perguntados sobre o porquê migrou, é comum ouvir como resposta: a falta de trabalho em seu lugar de origem. É um indicador a nos apontar como causas da migração: pobreza, violência, falta de trabalho estável e bem remunerado. Motivos que levam a pessoa à busca de melhores condições de vida, de trabalho, oportunidade de estudo, emprego, etc. Se de um lado a necessidade de trabalho compele o ser humano a iniciar um processo migratório, é bom lembrar que ele não é apenas alguém necessitado, mas uma pessoa portadora de valores, cultura, dons, capacidades, iniciativas e que muito pode enriquecer o ambiente que Espiritualidade © arquivo PNSA o acolhe. E, sobretudo, é uma pessoa de esperança. Só se Trabalhar é participar do projeto de Deus coloca a caminho quem tem uma meta e sabe que leva Pe. José e Madre Assunta Marchetti, desde a infância, consigo grande potencial para intercambiar e alcançar o dedicaram-se ao trabalho no seio da família e entregaram objetivo a que se propõe. suas vidas a Deus e ao serviço dos irmãos mais necessiEmbora sendo também uma resposta às necessidades tados no mundo da Migração. Sempre consideraram o pessoais de sobrevivência, o trabalho é sempre participatrabalho como um dom do Pai que quer associar toda ção na obra da construção da sociedade humana e tem pessoa humana, também as que lhe são consagradas, à em vista o progresso material e cultural dos povos. PorSua obra criadora e redentora. O mesmo Pai quer contar tanto, o migrante não é apenas força com cada um de seus filhos para realizar de trabalho, é também alguém que coa transformação do mundo. Se existe a É através do labora na obra criadora e redentora do necessidade de um trabalho, ela protrabalho que a Plano de Deus e abre para o comprovém do amor do Pai pela humanidade. pessoa encontra misso do amor e da justiça para com a A Providência do Pai (devoção muito Comunidade Humana. especial de ambos) é soberana, mas não sentido para sua Aliás, já o bem-aventurado Scalabrini quer agir sozinha. Por isso, a realização vida e a forma de considerava o trabalho como algo que de um trabalho não é um peso, mas uma colaborar com confere “nova dignidade ao ser humaforma de serviço aos demais que dignio bem comum no”. Afirmava que o “mal que aflige a fica e realiza o ser humano. É através do sociedade não é apenas o econômico, trabalho que a pessoa encontra sentido mas, sobretudo, moral e não consiste unicamente na para sua vida e a forma de colaborar com o bem comum. organização social, senão também e muito mais nos Em carta ao bem-aventurado Scalabrini, as primeiras indivíduos”. Por isso, a salvação da sociedade está na Irmãs MSCS se referem à vida de trabalho como forma regeneração religiosa e moral dos indivíduos. Entendia de realização pessoal e da própria missão: “Em quase seis ser necessário robustecer as mentes e os corações com anos de vida, [...] nenhuma de nós deu motivo que nos fias grandes verdades zesse desmerecer a estima dos nossos superiores, ou, por do Evangelho. um só instante, abandonar o campo de trabalho para nós sempre tão agradável, porque o assumimos como compromisso...” (Carta a D. Scalabrini, 28/12/1900). Assim, não é o trabalho que faz com que uma pessoa seja importante, mas, o trabalho se torna importante por causa da pessoa que o faz e mais ainda, pelo motivo pelo qual o faz. É da relação pessoal e íntima com o Deus da vida e o desejo de através do próprio trabalho colaborar na construção do Reino de Deus, na justiça, amor, solidariedade que o torna sempre mais importante e indispensável. É o espírito e a interioridade da pessoa que permite descobrir no trabalho o novo significado que este contém, pois, é o Espírito do Senhor, presente em nossas vidas, quem “faz novas todas as coisas” (Ap 21,5). Ir. Sônia Delforno, mscs Jundiaí – SP Esperança | 1º semestre de 2011 3 Espalhando as sementes do verbo O trabalho na perspectiva bíblica A bordar a questão do trabalho a partir da visão modo, decide criar o homem para encarregá-lo do trababíblica e na perspectiva da migração é um tema lho dos deuses. Ea (também chamado de Enki), deus das sugestivo. Poderia partir de um silogismo: ‘o águas, deu este conselho: homem trabalha, o migrante é homem, logo, o migrante “... que se degolasse um deus e todos os demais deuses se pué trabalhador’. Isso não é somente para dizer o que é óbrificassem no banho de seu sangue. E que a sua carne e o vio, o fato é que o trabalho é uma realidade significativa seu sangue, Nintu, a deusa-mãe, misturasse um pouco de da vida humana. argila, de maneira que deus e o homem estivessem mistuAntes de analisar o tema nas Sagradas Escrituras, seria rados, constituindo assim uma só carne e um só espírito.” interessante apresentar uma visão panorâmica das culOs deuses presentes concordaram e degolaram Wé, turas que influenciaram o seu ambiente histórico cultuque era desconhecido. Ea e a deusa-mãe chamaram enral, bem como sua interpretação ao longo dos séculos. tão as sete genitoras, que se puseram a trabalhar a argila. Com referência ao ambiente histórico cultural, tem-se A deusa-mãe cortou então 14 pedaços de argila – sete à conhecimento da chamada Epopéia esquerda e sete à direita – e as deusas de Atrahasis, poema épico da mitoloderam à luz sete varões e sete mulheres O trabalho é fonte gia suméria sobre a criação e o dilúvio que, imediatamente, foram juntos, aos de bênçãos e não universal. O poema inicia com a narrapares, e a raça humana recebeu as leis de maldições ou tiva do trabalho dos deuses. Anu, pai do trabalho. castigo pelo pecado, dos deuses, impõe o trabalho somente Observa-se algumas semelhanças o trabalho já existia aos deuses menores, chamados Igigi, os entre a teologia e antropologia babilôantes da queda quais se rebelam. A solução do problenica com a narrativa bíblica da criação ma do trabalho representa a primeira do homem: o mito de Atrahasis tametapa da ordem do mundo. Segundo a narrativa, os deubém destaca a total participação do elemento divino na ses estavam reunidos em um conselho. Anu admite que formação do composto humano. Mas, esse mito deixa os rebeldes tinham motivos para suas queixas e, deste claro que a criação do homem tem a finalidade de so4 Decifrando as escrituras lucionar o problema do trabalho dos deuses e que, por natureza, o homem é a mistura de elementos divinos e humanos. Dando um salto no tempo e no contexto histórico-cultural no que se refere ao trabalho e a migração, o pensamento grego também oferece uma significativa contribuição a esta reflexão. Em Atenas, o trabalho manual e o comércio eram verdadeiramente desprezados. Como tal, os ofícios manuais eram exercidos, sobretudo, por escravos ou estrangeiros, sendo que os cidadãos só recorriam a eles quando pressionados pela necessidade. Raramente um cidadão aceitaria um trabalho como pedreiro – ou outro qualquer – que o obrigasse a estar sujeito às ordens e ao pagamento de outros. O cidadão trabalhava, mas tentava ser o mais livre possível. O homem verdadeiramente livre deveria ser dono de si mesmo. Quem dependesse do salário de outro não era livre, sendo a pior das condições humana a do operário agrícola, que tinha que alugar o serviço de seus braços. Diversamente, nas Sagradas Escrituras o trabalho é uma realidade importante na vida humana, bem como característica da vida divina. As narrativas bíblicas deixam transparecer um Deus trabalhador, que atua na criação como um oleiro (Gn 2,4b-24). Ele mesmo modela e plasma o homem com as suas mãos. Seu trabalho não termina, Ele continua atuando na providência, no sustento e na conservação do mundo. Em João 5,15, Jesus afirma: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho”. O ser humano foi criado para trabalhar. No entanto, não como vimos no mito anteriormente, como escravo dos deuses ou substituição da mão de obra de deuses menores, pois o trabalho não tem um fim em si mesmo. Em Genêsis (1,28), o homem recebe a ordem divina de sujeitar a terra e dominar os animais, mostrando que tudo está colocado por Deus, sob o cuidado e a serviço do homem. E Genêsis (2,15) diz que a tarefa do ser humano é cultivar e guardar o jardim. O trabalho é fonte de bênçãos e não de maldições ou castigo pelo pecado, o trabalho já existia antes da queda. O castigo que decorre do pecado não é o trabalho, mas seu caráter penoso e afadigador (Gn 3,17-19). Nas Sagradas Escrituras, temos uma visão positiva do trabalho que, como vimos, contrasta com outras culturas. Na cosmovisão bíblica, todo trabalho é valorizado, seja intelectual ou manual, pois, todos são necessários, assim como testemunha Jesus (o carpinteiro, filho de carpinteiro), Paulo (o fazedor de tendas) e Pedro (o pescador). A recomendação de Jesus sobre o não andar ansioso com o que comer, beber ou vestir (Mt 6,25-44) certamente não é um estímulo à preguiça, nem implica o não trabalhar ou deixar de ser previdente. Pelo contrário, é um convite a ter o trabalho não como fim em si. Deste modo, vale lembrar a exortação de Paulo em 2Ts 3,6-12: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos afasteis de todo irmão que leve vida desordenada. Não vivemos de maneira desordenada em vosso meio, nem recebemos de graça o pão que comemos; antes, no esforço e na fadiga, de noite e de dia, trabalhamos para não sermos pesados a nenhum de vós. Quando estávamos entre vós, já vos demos esta ordem: quem não quer trabalhar, também não há de comer. Ora, ouvimos dizer que alguns entre vós, levam vida à toa, muito atarefados sem nada fazer. A estas pessoas ordenamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que trabalhem na tranquilidade, para ganhar o pão com o próprio esforço.” Seguindo a tradição do pensamento bíblico cristão, o Beato João Batista Scalabrini, defendendo o direito à vida, se coloca ao lado daqueles que precisam migrar para encontrar trabalho e salário digno. Diferente do pensamento grego, que tira do estrangeiro o direito de ser cidadão, Scalabrini afirma que “para o migrante, a pátria é a terra que lhe dá o pão”. São Paulo foi migrante por causa de Cristo e se fez trabalhador para poder sustentar sua missão. Tantos outros exemplos poderiam ser tomados das Sagradas Escrituras para demonstrar a importância do trabalho na vida dos cristãos. A migração, por causa de trabalho não deve ser vista como problema, mas como oportunidade de espalhar as sementes do Verbo. Ir. Elizangela Chaves Dias, mscs São Paulo – SP Esperança | 1º semestre de 2011 5 A vocação ao desenvolvimento pleno A reflexão da Igreja sobre a dignidade da pessoa humana é antiga e sempre nova, pois continuamente se dedica ao aprofundamento das verdades que alimentam a vocação humana à realização plena neste mundo, aspirando à transcendência. Nossa reflexão é bastante elementar, porém, rica de luzes. A dignidade transcendente Iniciamos com a encíclica Rerum novarum, de Leão XIII, que é uma resposta moral às questões trabalhistas do seu tempo e, de modo especial, à luta de classes. É uma escola sobre a dignidade da pessoa humana que, pela inteligência, capacidade de produção, de gerenciar a própria vida e aspiração ao transcendente, é capaz de buscar a realização plena de sua existência no aqui e agora da história e na eternidade depois. Neste trabalho, Leão XIII desenvolveu como tema principal a proclamação das condições fundamentais da justiça na conjuntura econômica e social daquele momento histórico, momento que é também extremamente atual. 6 Com a Rerum novarum, o Papa oferece ao mundo uma fonte de unidade e paz frente aos conflitos que surgem no setor socioeconômico, com a possibilidade de viver novas situações sem degradar a dignidade transcendente da pessoa humana. Dignidade do trabalho e do trabalhador A pessoa é dona de sua força ativa, é senhora do seu desenvolvimento e dos benefícios advindos de sua doação. O trabalho pertence à vocação de todos aqueles que se expressam e realizam mediante atividade laboral. Ainda com a Rerum Novarum, “pode-se afirmar com verdade que o trabalho dos operários é o que produz a riqueza dos Estados”. Por isso, não é demais exigir a limitação das horas de trabalho e o legítimo descanso. Existem leis internas e convenções internacionais que obrigam as empresas a pagarem um salário suficiente para o sustento do operário e de sua família. Porém, isso não se faz realidade na maioria dos países. O Papa declara imorais os casos de contratos de trabalho que igno- eclesiologia ram a justiça em matéria de trabalho, crianças e mulheres, horários, higiene, salubridade e legítima retribuição. Ainda ratifica a necessidade do descanso festivo para que o trabalhador eleve seu pensamento aos bens de cima, e renda o culto devido à majestade divina. de bem-estar alcançados, graças a deA pessoa é dona cênios de crescimento econômico. Na maioria dos casos, entretanto, os imide sua força ativa, grados respondem a uma demanda é senhora do seu de trabalho que, do contrário, ficaria desenvolvimento insatisfeita, em setores e em territórios e dos benefícios nos quais a mão de obra local é insufiadvindos de sua ciente ou não está disposta a fornecer doação. O trabalho Trabalhadores migrantes o próprio contributo em trabalho em pertence à vocação determinadas áreas (DSI, 297). A Doutrina Social da Igreja Católica de todos aqueles E mais: as instituições dos países ané eloquente quando diz: a imigração que se expressam e fitriões devem vigiar cuidadosamente pode ser antes um recurso que um realizam mediante para que não se difunda a tentação de obstáculo para o desenvolvimento. No explorar a mão de obra estrangeira, mundo atual – em que se agrava o deatividade laboral privando-a dos direitos garantidos aos sequilíbrio entre países ricos e pobres trabalhadores nacionais, que devem e onde o progresso das comunicações ser assegurados a todos sem discriminação. A regulareduz rapidamente as distâncias –, crescem as migrações mentação dos fluxos migratórios, segundo critérios de de pessoas em busca de melhores condições de vida. equidade e de equilíbrio, é uma das condições indispenElas são provenientes das zonas menos favorecidas da sáveis para conseguir que as inserções sejam feitas com terra e sua chegada aos países desenvolvidos é geralmenas garantias exigidas pela dignidade do ser humano. Os te percebida como uma ameaça para os elevados níveis imigrantes devem ser acolhidos e ajudados, junto com as suas famílias, a integrar-se na vida social. Em tal perspectiva, deve ser respeitado e promovido o direito a ver reunida a família. Ao mesmo tempo, devem ser favorecidas as condições que consentem o aumento das possibilidades de trabalho nas próprias regiões de origem (DSI, 298). O Papa João Paulo II, na encíclica Laborem exercens, disse: “O cristão que está em atitude de escuta da palavra do Deus vivo, unindo o trabalho à oração, conhece não só o lugar que seu trabalho ocupa no desenvolvimento terreno, como também no desenvolvimento do Reino de Deus, ao qual todos somos chamados pela força do Espírito Santo e pela palavra do Evangelho”. Sabemos que o mundo desenvolvido do norte está sendo reevangelizado pelos migrantes, especialmente filipinos e latino-americanos. Por isso, nosso trabalho junto a eles é voltado para a animação, formação e atenção sócio-pastoral. Isso, para que sejam incentivados na esperança, animados na caridade e fortificados na fé. Queremos que os migrantes jamais se deixem vencer pela terrível tentação de ganhar muito dinheiro em pouco tempo, em detrimento de sua saúde física, moral, social e espiritual. Ir. Erta Lemos, mscs Bruxelas – Bélgica Esperança | 1º semestre de 2011 7 O trabalho humano: caminho para a autorrealização O que determinou a criação da cultura do homem, bem como sua felicidade e busca pelo sucesso, foi a repercussão que o trabalho teve no desenvolvimento do ser humano, desde as primeiras civilizações. Usando da inteligência e criatividade, própria do ser humano, aprendeu a controlar o fogo e construir habitações. Aprendeu também a se comunicar através do trabalho de lascar pedras e pintar as paredes das cavernas. E foi nesse conjunto de atividades que ele pôde utilizar e favorecer a proteção da terra. O grande valor do trabalho humano está no fato de que, ao modificar o mundo ao redor para o seu bemestar e o bem comum, o homem transforma o mundo interior e se revela a si mesmo e aos outros. Desta forma, lascar pedras para escrever algo o ajuda a aprimorar a escrita, tanto quanto a pedra que ele lascou. Ao pintar para se comunicar, dá outro aspecto à parede agora pintada e 8 se descobre um ser movido por um mistério-Outro que dinamiza seu mundo interno e lhe dá possibilidade de ser coautor, cocriador à imagem D’aquele que trabalha sempre e lhe dá “anima”, com o objetivo único de comunicar o Amor. Ou seja, ao transformar a natureza, o homem se reconhece no seu produto e se realiza com sua obra. Ao transformar a madeira em lápis, se reconhece no que faz e se sente “humano”, porque é capaz de colaborar com o bem comum. Neste sentido, o trabalho dignifica o homem. No decorrer da história, as sociedades fizeram do trabalho o fim último do homem, tornando-o objeto executor de tarefas, em vista do benefício de poucos, a serviço do poder. O surgimento da propriedade privada levou ao aumento das famílias nobres, o que gerou o necessário acúmulo de terras e mão de obra para cultivá-la. Esse quadro foi causa de muitos problemas que se buscavam Formação ra tão automatizada que, quando a linha de montagem resolver com guerras de conquista entre os povos vizipara, ele continua o movimento. Leva-se em consideranhos e os nobres que repartiam as terras conquistadas. ção que o chefe os monitora através de um aparelho fiOs vencidos se tornavam escravos e propriedade do estaxado em seu escritório e ainda contava com a máquina do que os repassavam aos nobres. de alimentação automática, que visava eliminar o tempo No feudalismo, o processo não foi muito diferente. perdido do almoço. Os escravos se tornaram servos, manipulados e escraviConsequência: o personagem surta e é levado para zados, pois deviam permanecer presos e obedientes aos uma instituição de saúde mental. Ao seus senhores, os quais lhes deixavam recuperar-se, volta às ruas e ainda é permanentemente na terra por eles do“Mais do que preso, pois foi confundido pela políada. Por sua vez, os senhores de escramáquinas, cia. Conclusão: o sujeito em questão vos se tornaram senhores feudais. precisamos de não passou de um mero dente de uma Já no capitalismo, o trabalhador engrenagem, humanamente devorado não tem mais nada de seu, nem as ferhumanidade; mais do pela máquina. ramentas, nem o produto final. Tem que de inteligência, Sabemos que o que dá sentido ao apenas a sua força de trabalho para precisamos de trabalho é o prazer pessoal em fazer o vender como mercadoria em troca de afeição e doçura!” que se faz, é a necessidade de criar relaum salário. Um dos sintomas desse sisções fraternas no ambiente em que se tema laboral foi a “Grande Depressão trabalha, é o prazer de parar para sentir-se cansado por Econômica” de 1929, nos Estados Unidos, que abalou ter feito tudo o que deveria ter feito, contemplar os seus o mundo. Os países que sofreram menos foram aqueles resultados e ter-se sentido útil em benefício dos outros. que, como a União Soviética, estavam econômica e poliSão Thomás de Aquino, ao tratar do tema da autorreticamente fechados ao sistema capitalista. alização, “refere-se a um processo levado a cabo, de maO cinema de Charles Chaplin retratou as consequênneira livre e responsavelmente e que incide sobre o nível cias desse sistema, fazendo críticas do trabalho realizado mais fundamental, o do ser homem” (Lauand, 1993, p. em detrimento da pessoa: “O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, 40). Isto quer significar que o homem torna-se realizaporém, desviamo-nos dele. A cobiça envenenou a alma do ou desenvolve sua realização no percurso da vida, dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio e num movimento contínuo e dinâmico que o leva a extem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e perimentar sua existência como um “já e ainda não”. Essa os morticínios. Criamos a época da produção veloz, mas forma de pensar ajuda o homem a entender-se como nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que um ser inacabado, um produz em grande escala, tem provocado a escassez. Nostornar-se, um vir-a-ser, sos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, o que o coloca sempre a empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos caminho, na descoberta bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humae na busca da realização. nidade; mais do que de inteligência, precisamos de afeição Neste sentido, o fee doçura! Sem essas virtudes, a vida será de violência e nômeno migratório se tudo estará perdido.” (Charles Chaplin) torna um direito, na Foi dessa e de outras maneiras inteligentes que Chamedida em que o ser huplin expressou sua indignação aos rumos que o trabalho mano livremente busca humano estava conduzindo o homem, no decorrer da melhores condições de Depressão nos Estados Unidos. As suas indagações no trabalho para favorecer filme Tempos modernos nos ajuda a refletir sobre a finalia sua realização plena. dade do trabalho do homem e da mulher. Ir. Rosa Maria Chaplin interpreta no filme o personagem que executa Martins Silva a tarefa única e repetitiva de apertar parafusos de maneiBrasília – DF Esperança | 1º semestre de 2011 9 E trabalho deprimentes às quais muitos desses migrantes sta tarde, folheando uma revista, me deparei submetem-se a fim de garantir a própria sobrevivência e com uma imagem muito interessante: pezinhos a de suas famílias, “as outras vidas” apontadas no texto frágeis e delicados de uma criança apoiados sodo anúncio. bre os pés de um adulto. A imagem vistosa e atraente Diante desta realidade, me perguntava: como as emocupava quase toda a página. No centro, emergia uma presas que oferecem trabalho hoje aos migrantes, copequena frase, simples e despretensiosa: “Por trás de uma laboram para cuidar de sua saúde? vida existem muitas outras”. Estudos realizados nos últimos anos Segui lendo para ver do que se traUm pai relatou que, destacam aspectos do universo laboral tava. Era o anúncio de uma empresa no retorno ao país que afetam a sanidade física e mental que, em poucas linhas, traçava sua vido trabalhador migrante. Tomo aqui são e missão, destacando o compromisde origem, o filho alguns exemplos que servem para ilusso com a humanidade e sublinhando não o reconheceu trar a nossa reflexão sobre o tema. a atenção com a pessoa dos seus coe o rejeitou, A pesquisadora Maria A. Moraes laboradores. As palavras que seguiam suscitando nele Silva (2006) relaciona o sofrimento e eram incisivas, bem elaboradas e forcerto desconforto a morte dos migrantes canavieiros ao tes o suficiente para impactar olhos e psicológico processo global de racionalização ecoouvidos do leitor. O texto remeteu-me nômica. Ela recorda que os trabalhaimediatamente aos trabalhadores e trabalhadoras migrantes, talvez por conhecer um pouco dores são submetidos a situações de exploração e degrada situação de muitos deles, que padecem grandes sofridação que produz várias formas de sofrimento. Como mentos e dificuldades para inserir-se numa nova cultura exemplo, temos o karoshi, que mata os trabalhadores da e conseguir trabalho. Lembrei ainda das condições de indústria automobilística no Japão; a birôla, que mata 10 © arquivo PNSA Cuidando da vida do Migrante Ação Missionária Formação Brasil também foi mencionado. Dentre os exemplos, cônjuges trabalhando em turnos distintos não conseguiram conviver em harmonia, optando pela separação, o que desencadeou depressão e outros transtornos mentais. O texto toca um elemento que está presente nas falas e projetos da sociedade atual: “O cuidado com a vida”. Nunca se falou tanto na importância de cuidar da vida em todos os sentidos como se fala hoje: o cuidado da vida das pessoas, da natureza, dos animais, enfim, da vida do planeta. Parece que esta consciência realmente está crescendo, já não se pode simplesmente ignorar esta necessidade. Uma atitude prática que expressa “o cuidado” da vida da pessoa que trabalha é o investimento em saúde física, psicológica, social e espiritual, segurança e treinamento para que todos trabalhem seguros e bem dispostos. O beato João Batista Scalabrini dizia: no migrante eu vejo o rosto do Senhor. O cenário da estação de Milão, onde os migrantes italianos esperavam o trem para seguir para o porto de Genova, de onde partiriam para as Américas, tocou profundamente o coração de Scalabrini, que a partir de então não pôde deixar de envolver-se com a causa dos migrantes. A partir deste fato, o Estado, a Igreja, as autoridades migratórias de outras nações todos foram convocados a se unirem para atender as necessidades de um povo a caminho. Iniciou-se assim uma nova página em sua vida, tornando-se assim um grande “cuidador da vida”, especialmente da vida dos migrantes. Irmã Neuza Botelho dos Santos, mscs São Paulo – SP © arquivo PNSA os canavieiros de exaustão e overdose de trabalho nas usinas do sudeste do Brasil. Karoshi, segundo a autora, é uma patologia do trabalho que resulta da tolerância pelo trabalhador de práticas psicologicamente nocivas e acúmulo de fadiga crônica do corpo, derivada do excesso de trabalho, que termina com o esgotamento e a morte. Ela diz ainda que Karoshi e birôla são termos equivalentes para designar a patologia de uma nova doença relacionada com a produção e o trabalho. Um estudo realizado por Percy Galimbertti (O Caminho que o Dekassegui Sonhou, 2002), com os migrantes brasileiros que retornaram do Japão, observa que após a volta ao Brasil houve um desencadeamento de sofrimento emocional muito intenso nestas pessoas, traduzido como manifestações somáticas, ansiedades, transtornos de humor, insônia, angústias, depressões, isolamento, irritação, agressividade, alcoolismo, uso de drogas e distúrbios de percepção (como falsas percepções e ideias delirantes, especialmente de caráter persecutório). Tais sintomas, em muitos deles, ultrapassaram os limites do suportável, requerendo assistência médica. Nos relatos dos migrantes, percebeu-se que as motivações que os conduziram ao trabalho no Japão, sejam objetivas ou subjetivas, são apontadas como mais fortes que suas condições psicológicas, o que tem levado um número muito grande desses trabalhadores a sofrer desconfortos emocionais durante sua estadia no Japão e/ou seu retorno ao Brasil, com comprometimentos, muitas vezes, graves. Em alguns casos, foi relatada a desestruturação do ambiente familiar. Alguns se separaram da família, deixando cônjuges e filhos pequenos no Brasil. Um pai relatou que, no retorno ao país de origem, o filho não o reconheceu e o rejeitou, suscitando nele certo desconforto psicológico. Quanto às questões comportamentais, há indícios de isolamento do convívio social, descrito como “muitos acumulam silenciosos sofrimentos que fragilizam seus egos, comprometem seu emocional, sua capacidade psíquica, comprometem sua capacidade laborativa e de inter-relacionamento com a sociedade. Perdendo sua capacidade laborativa ou reduzindo sua produtividade, tornam-se, então, descartáveis, ficando sem atenção para seus sofrimentos”. O compromisso de economizar dinheiro e trabalhar arduamente para o retorno antecipado ao Esperança | 1º semestre de 2011 11 “A cada minuto de trabalho, um cortador de E o que dizem os cortadores de cana? cana realiza 17 flexões de tronco e aplica 54 No final da safra de 2010, numa roda de conversa entre golpes de facão. Tudo isso com o joelho semigrantes cortadores de cana que residiam em Guariba – miflexionado e a cervical estendida, o que o faz perder SP, não foram revelados dados técnicos e nem números. oito litros de água ao final de cada jornada. Em média, Eles falaram de seu corpo e emocional, das percepções e são cortadas e carregadas 12 toneladas de cana num perconstatações que afetam diretamente suas vidas. curso de quase nove quilômetros”. “A gente trabalha até o limite das condições físicas e, Esse é o resultado de um estudo divulgado em janeino final da tarde, o corpo fica esquisito, parece que não ro de 2011 pela Secretaria de Saúde de São Paulo, em é o da gente, o olhar chega a ficar turvo. Quando o tradiversos jornais do país. Em nota, o estudo indica que balho vai ficando pesado demais “o setor sucroalcooleiro apresenta grandes alguns gritam, outros cantam, contrastes em sua cadeia produtiva. Apesar “Se a gente for levar xingam, sai muito palavrão e de ser uma indústria altamente lucrativa, as em conta as dores alguns choram escondido. Se a condições de trabalho ainda são, geralmente, que aparecem no gente for levar em conta as dores de qualidade ruim, colocando em risco a saúque aparecem no corpo, a gente de dos trabalhadores”. O governo estadual corpo, a gente se se encolhe e não faz mais nada. prometeu regulamentar o setor em 2011 para encolhe e não faz Quando o fiscal pede pra termimelhorar as condições de trabalho dos cortamais nada” nar o trabalho após o horário, é dores de cana. 12 © arquivo PNSA O importante é nunca parar de sonhar Ação Missionária Sonhos e conquistas “A gente sai em busca de muitos sonhos: casa, estudos para os filhos, tratamento da saúde, ter uma moto, fazer algum curso, enfim, melhorar as condições de vida. E já na primeira viagem aparecem as dificuldades; saí do Maranhão com apenas 10 reais no bolso, comia nas paradas porque os outros me davam. Eu vim sem dinheiro, mas não quero voltar sem ele. A primeira vez que a gente vai para um lugar diferente é mais difícil. Para conseguir a casa que quero vou bater como doido no pé da cana. Nós, jovens, queremos estruturar o futuro, há sonhos que demoram para serem alcançados. Nem tudo sai como a gente planeja, depende da safra e de nossa saúde. O importante é nunca parar de sonhar, buscando uma conquista atrás da outra. Com a migração e o trabalho estou adquirindo muitos conhecimentos e novas amizades, meu mundo ficou maior”. Dificuldades e confiança “A maior dificuldade é levantar às três horas da madrugada para fazer comida e, quando volto da roça, estar super cansado, enfadado, e ainda ter que fazer a janta. Sinto muita falta de minha família, e muitas vezes lá da roça ligo para minha esposa. Aqui dói, mas no Maranhão dói mais ainda. O conselho da maioria das mães é pra gente não viajar, não ficar distante da família, porque vai perdendo o amor pelos filhos e pela esposa. Na saúde percebo que tive uma recaída, muitas dores no corpo, câimbras, fraqueza e estou envelhecendo mais rápido. Há muitos jovens com rugas no rosto. Aqui a gente fica preso no trabalho e quando a gente volta pra nossa terra, dá vontade de andar sem parar. Tenho 15 anos de trecho, e o que estou passando não quero para meus filhos. Aqui dói, mas no Maranhão dói mais ainda. Sinto Deus sempre ao meu lado, converso direto com Ele. É Deus que me controla nesse jogo, ele tem paixão por mim. O rio que ele me deu para atravessar é um rio pesado, mas Ele não me abandona”. Memória Desde 2004, a Pastoral do Migrante em Guariba – SP recebe informações sobre mortes envolvendo trabalhadores migrantes empregados no corte da cana no interior paulista. Os dados mostram que pelo menos 21 cortadores de cana morreram entre 2004 e 2009. Alguns morreram supostamente por exaustão, devido ao trabalho árduo no corte. Outros podem ter sido vítimas da falta de cuidado com a saúde. José Pereira Martins, 51 anos, reclamou da “dureza” do seu trabalho um dia antes de morrer num canavial de Guariba, em março de 2008. Ele disse ao jornalista: “canavieiro é o pior serviço que existe, estou nessa porque é o último recurso”. (O Estado de São Paulo, 31/03/2007). Ir. Inês Facioli, mscs Guariba – SP © arquivo PNSA duro demais! Chego quase morto em casa quando corto 360 metros de cana; também, quando chove, fica difícil trabalhar na roça. Pra dizer a verdade verdadeira, o trabalho na roça só é bom por causa das conversas e amizade com os colegas. Entre nós, usamos algumas palavras que são próprias do nosso trabalho: ‘goela’ é quando o cara é bom de facão; ‘borracheiro’ quando o outro é pior que a gente no corte de cana; ‘ficar borrado’ é passar mal, perder os sentidos e cair no chão. Sofremos muitas injustiças, e não temos o controle do que produzimos sobre o que vamos ganhar”. Esperança | 1º semestre de 2011 13 E m setembro de 2010, um boliviano foi preso em São Paulo, acusado de manter seis compatriotas em regime de escravidão. Um fato que atraiu a atenção da mídia e indignou a população. No entanto, casos como esse acontecem todos os dias envolvendo bolivianos que vem à capital em busca de melhores condições de vida. Alguns dias antes da prisão, as Irmãs Scalabrinianas realizaram o seminário “Imigração Latina no Brasil: o caso dos bolivianos em São Paulo”. Apesar de São Paulo ser a cidade brasileira que mais concentra imigrantes vindos da Bolívia, ao longo dos dois dias do evento nenhum deles apareceu. O motivo? Medo de serem descobertos em situação irregular e terem que deixar o país. O medo faz com que bolivianos que não possuem documentos para permanecer legalmente no Brasil não procurem hospitais quando estão doentes, não prestem queixas quando são roubados, não matriculem os filhos na escola, entre outras situações que são cotidianas a qualquer brasileiro. Esse é o caso de grande parte dos que aqui vivem. 14 A Bolívia não integra o Mercosul (Mercado Comum do Sul). Portanto, para entrarem no Brasil, os bolivianos precisam de visto. Boa parte vem com documentos de permanência por determinado período ou de turista. Quando vence, ficam irregulares. Outros não possuem nenhum tipo de documento. Essas pessoas não têm direito a se matricularem em cursos, abrirem conta em banco ou arrumarem trabalho regulamentado. O que eles buscam quando decidem mudar para o Brasil é melhorar a vida, ganhar dinheiro para ajudar a família e, posteriormente, abrir um negócio próprio. Mais uma barreira imposta pela condição de irregulares. Os bolivianos vêm com a promessa de um bom emprego, moradia e alimentação. O sonho fica para trás quando percebem que a vida no Brasil não é bem como esperavam. Na realidade, trabalham em jornadas que regularmente ultrapassam 15 horas, moram em porões, se alimentam mal e são obrigados a viver de maneira reclusa – por ordem do empregador e pelo medo de serem presos e deportados. Vivem em condições análogas à escravidão em um país livre. © arquivo PNSA BOLIVIANOS EM SÃO PAULO Ação Missionária www.sxc.hu Uma parte desses imigrantes acerta com o empregador acordo, em 2005, para a regularização dos indocumenantes de sair da Bolívia. O contratante dá um empréstitados. Calcula-se que havia 60 mil bolivianos vivendo de mo para pagar a viagem fazendo com que o contratado maneira irregular no estado. No entanto, apenas 10 mil já chegue ao Brasil com dívida. Uma vez no país, devem entraram com o processo para obtenção do documento. pagar uma quantia mensal pelo aluguel do quarto e aliPor outro lado, nem todos os bolivianos de São Paumentação. Como o salário desses tralo vivem em regimes análogos ao de balhadores é baixo, a dívida se acumula escravidão: existem oficinas com me… trabalham em a cada mês. lhores condições e que possibilitam ao Um estudo realizado por Sidney trabalhador uma vida social e familiar. jornadas que Antonio da Silva e apresentado no arEles participam de feiras, missas, festas, regularmente tigo “Bolivianos em São Paulo, entre jogos de futebol e outras atividades. ultrapassam o sonho e a realidade” mostra que o E é contribuindo para a superação 15 horas, moram imigrante boliviano é, em sua maioria, destes problemas, a defesa dos direiem porões, se jovem, solteiro e de escolaridade média. tos humanos e maior dignidade dos alimentam mal e Instala-se principalmente na região migrantes que as Irmãs Missionárias são obrigados a viver central, em bairros como o Brás, Bom Scalabrinianas realizam ações bem de maneira reclusa Retiro e Pari. concretas a favor desta população de Trabalham no seguimento de costumigrantes, na região do bairro “Alto ra, um setor que não exige qualificação do Pari”. Ali elas mantêm o CESPROM profissional nem idade mínima. Em geral, um membro (Centro de Promoção do Migrante): um centro que ofeda família vem primeiro – para conhecer o local e comerece formação e cursos profissionalizantes, apoio social çar a trabalhar. Depois, os outros seguem seus passos e e religioso, com o objetivo de promover e formar aos mise mudam para o Brasil. grantes bolivianos e paraguaios, bem como, aos migranAssim, o número de bolivianos em situação irregular tes internos provenientes das várias regiões do interior na cidade de São Paulo é maior a cada ano. Tentando do Brasil, que vem participando deste espaço de formaamenizar o problema, o governo brasileiro assinou um ção e recreação. Marina Ferraz São Paulo – SP Esperança | 1º semestre de 2011 15 Irmã Elizangela Chaves Dias é natural de Brasília/DF. Mora atualmente no bairro do Pari, em São Paulo/SP – na comunidade do antigo Colégio Santa Teresinha, local que sempre manteve especial atenção à educação dos filhos de imigrantes. G ostaria de usar esse espaço para falar de pessoas, histórias vivas que se encontram nos caminhos da migração e experiência pastoral vivida por mim. Também eu vivi a vida de imigrante, quando morei na Itália por três anos, durante meus estudos de teologia. Neste período, durante as férias de verão, tive a oportunidade de fazer uma experiência missionária com imigrantes em Reggio Calábria, sul da Itália. Eram africanos que desembarcavam na ilha de Lampedusa e imigrantes provenientes de diversos países do leste europeu (Geórgia, Albânia, Romênia). Chegavam ao nosso Centro de Escuta em busca de orientação, emprego, defesa dos direitos. Mas, também nos buscavam na esperança de 16 serem vistos como seres humanos. Queriam conversar, contar suas dores e sonhos, encontrar um albergue, receber alimentos e agasalhos. O que me impressionava era o rosto desfigurado com que chegavam a nós. Muitas vezes, a comunicação era difícil, pois falavam a língua nativa. Podíamos, porém, compreender que buscavam a última chance de sobrevivência. Depois de três ou quatro meses, retornavam alegres e agradecidos, não mais com a face desfigurada, mas sim transfigurada. Ao retornar deste estágio do sul da Itália, estando em Roma, me dispus como voluntária a colaborar no serviço em uma Casa de Refugiadas, chamada Casa di Giorgia. Ali, todos os sábados, ao longo de dois anos, cozinhei © arquivo PNSA Uma resposta, a serviço dos migrantes Ação Missionária Quando uma pessoa está na condição de estrangeiro, sobretudo em uma situação irregular (sem documento) e sem saber a língua, sente-se limitada na possibilidade de estabelecer laços sociais. É como estar sem lugar no mundo. Por isso, o CESPROM-SP empenha suas forças e recursos para a promoção humana do migrante e a integração do mesmo na comunidade em que se encontra. Através do contato e do estabelecimento de laços, os migrantes deixam de serem “eles”, “os estrangeiros”, e passam a ser “João, Maria, Javier...”. Hoje, em nossa comunidade, temos uma vez por mês a missa em espanhol, nesta conquista os migrantes foram e são os principais sujeitos e protagonistas. Os desafios são muitos, essa é uma pastoral que está sempre começando. São poucos os agentes pastorais sensibilizados para essa causa: acolher a proposta missionária de ir além dos muros de nossos templos e abraçar o desafio de não se deter no que tantas vezes nosso Cardeal Dom Odillo nos tem chamado a atenção, ou seja, a pastoral de manutenção, voltada unicamente para a conservação da fé e assistência restrita da Comunidade (DA, 370). A presença dos migrantes e imigrantes é um clamor que provoca nossas pastorais e nossas Igrejas de São Paulo a dar uma resposta evangélica e missionária, no sentido de ir ao encontro das ovelhas que estão dispersas, em nosso redil. Ir. Elizangela Chaves Dias, mscs São Paulo – SP © arquivo PNSA juntamente com um norte africano naturalizado italiano. As moradoras eram mulheres refugiadas, entre 35 e 50 anos, vindas de diversos países da África e também algumas filipinas, mexicanas, colombianas, etc. Certo dia, um pedido me surpreendeu: “Irmã, antes de ir, reze conosco, permaneça mais um pouco. Seu olhar e seu jeito nos confortam!” A única coisa que eu fazia era acolher, deixava tudo para estar ali, ouvir suas histórias. Quando voltei ao Brasil, fui enviada à comunidade Santa Teresinha, no bairro do Pari. Esta região é notoriamente marcada pela presença de migrantes e imigrantes. Partindo da experiência das visitas e do atendimento aos migrantes no CESPROM-SP (Centro Scalabriniano de Promoção do Migrante), ao menos com os que temos contatos, é possível perceber que, em sua maioria, são cristãos e na … africanos que terra de origem eram praticantes. desembarcavam na Junto com as demais Irmãs da Comunidade, encontramos alilha de Lampedusa… guns que eram líderes, animadochegavam ao nosso res de pastorais, ex-seminaristas, Centro de Escuta em etc. Ao chegarem aqui, acabam busca de orientação, por se distanciar do credo e da emprego, defesa prática religiosa. Pode ser pelas dos direitos distâncias culturais, dificuldades psíquico-sociais ou as exigências para corresponder com o objetivo de um trabalho novo. Por isso, procuramos nos fazer presentes junto aos recém-chegados, acolhê-los e integrá-los dentro de nossa perspectiva pastoral. Digo pastoral e ressalto este aspecto, porque, de fato, os muitos que visitamos diariamente não têm solicitado de nós somente assistência material, mas sim presença, amizade, diálogo, momentos de encontro, oração, e reflexão. Esperança | 1º semestre de 2011 17 www.sxc.hu El bote salvavidas del Ecuador H ace 11 años el Ecuador atravesó una grave crimenzaron a captar personal de manera no oficial para sis económica que provocó que el Sucre sufrierealizar trabajos pesados. Por lo tanto, pese a representar ra una híper devaluación, llegando a niveles muchos esfuerzos e inclusive ingresar como irregulares nunca antes presentados, ocasionando su desaparición a otros países y ser víctimas de los traficantes de persoy que el País entrara en el fenómeno de la dolarización y nas, muchos ecuatorianos se endeudaron para viajar y adoptara como moneda oficial al dólar. arriesgaron lo poco que tenían con la Esta medida afectó directamente a finalidad de alcanzar mejores ingresos la clase más desposeída de la sociedad, económicos, sobre todo con el afán de …gran parte de los incrementando los niveles de pobreza y obtener una remuneración más digna ecuatorianos, al no de indigencia en el país, disminuyendo y mejorar su nivel de vida y el de sus tener un ingreso fijo a niveles mínimos su poder adquisitivo. familias en el país de origen. que les permitiera Presentándose además, una serie de feDe este hecho ha dado como resulsatisfacer sus nómenos económicos que contrajeron tado que muchos ecuatorianos/as necesidades básicas, la economía a nivel nacional, incremensean explotados y tratados de manera optaron por ofertar tando el desempleo en el país y ocasioinfrahumana, sufriendo abusos, pero su fuerza laboral en nando que el ingreso familiar no lograsobre todo afrontando la soledad y la el extranjero ra cubrir ni la canasta básica. separación de su familia, cónyuges, hiBajo este panorama desalentador, jos e hijas. gran parte de los ecuatorianos, al no teLa migración ecuatoriana en estos ner un ingreso fijo que les permitiera satisfacer sus neceúltimos años se ha convertido en el bote salvavidas del sidades básicas, optaron por ofertar su fuerza laboral en Ecuador. Según información del Banco Central, los emiel extranjero, puesto que en ciertos países se alcanzaban grantes aportaron con aproximadamente 550 millones niveles de remuneración sensiblemente más elevados. de dólares en el segundo trimestre del año 2010, conPor esta causa, varios países de Europa y los EEUU covirtiéndose en el segundo aporte económico más impor- 18 Ação Missionária © Mauricio Alvarado tante después del petróleo. Estos ingresos han permitido la circulación de dinero, lo cual hace que la economía ecuatoriana no termine por hundirse. En los últimos diez años, tres millones de ecuatorianos han emigrado en busca de trabajo, de los cuales más o menos un millón y medio viven en los Estados Unidos, casi un millón en España, seguido de otros países como Italia, Bélgica. Los que migran al exterior no son los más pobres, por las obvias barreras de costo, migra la gente con cierto ingreso, experiencia laboral y calificación. Entonces más allá de una estrategia de supervivencia, la migración es también una estrategia familiar de movilidad. Lo que buscan son nuevas oportunidades, un mejor futuro. Un rasgo interesante acerca de la migración ecuatoriana a España, es que los migrantes lograron encajarse dentro de una economía que continúa demandando mano de obra de bajos salarios, semicalificados, y con preferencia, en el caso de los hombres para trabajos agrícolas y de las mujeres para el servicio doméstico. España parecería ser entonces, un destino lógico para los emigrantes ecuatorianos, dadas las similitudes culturales y de idioma. A finales de los años 70 y comienzos de los 80, cuando la economía española entra en auge, muchos jornaleros agrícolas españoles pudieron encontrar mejores trabajos, creando así un vacío en la oferta de empleo. La mayoría de los ecuatorianos llega a España sin un permiso de trabajo e inmediatamente contacta a amigos y familiares y/o un patrocinador que pueda hacer una oferta de contrato formal. Los migrantes usan lugares de reunión públicos, como los parques de El Retiro y El Oeste en Madrid, para socializarse y enterarse de las oportunidades de empleo. Aquellos con suficiente suerte para obtener un permiso de trabajo, están usualmente restringidos a un empleo de corto plazo y con sueldos relativamente bajos. La emigración ecuatoriana se asemeja, en varios aspectos, a muchos otros flujos de la migración internacional: el rol fundamental de las familias en las decisiones y organización del proyecto migratorio, la gran capacidad y flexibilidad de las redes para sostener las experiencias migratorias, la existencia de jerarquías y desigualdades de género en su interior, entre otros. Dos elementos resaltan en estas explicaciones: la importancia de las mujeres liderando las redes de emigración, y la presencia de redes basadas en la pertenencia étnica y/o comunitaria, en el caso indígena. La feminización de las redes también ha sido señalada en el caso italiano. Son las mujeres que han llegado primero, se han insertado en el mercado laboral y han formado las primeras redes sociales. Son ellas también las que han promovido la reunificación familiar. El Ecuador es un país de emigrantes, inmigrantes internos y externos, refugiados y de tránsito. Tiene un carácter complejo y multidimensional y plantea una serie de retos, desafíos y oportunidades, que pueden ser potenciados con una visión de proceso y asumiendo un abordaje integral que articule sus diversas expresiones. Tanto en la emigración como en la inmigración se evidencian problemas comunes: irregularidad, procesos de restricción y persecución, implementación de políticas de control, afectación individual, familiar y social. Finalmente, se evidencia un contexto mundial y regional de recrudecimiento de las políticas migratorias de restricción, hecho que va a determinar nuevos desafíos para trabajar por los derechos de los migrantes, las sociedades de acogida, tránsito y recepción. Hna Janete Aparecida Ferreira, mscs Quito – Ecuador Esperança | 1º semestre de 2011 19 © arquivo PNSA www.sxc.hu La emigracion colombiana L penetrado también en algunas estructuras políticas del os Colombianos en el exterior variaron de 1,5 Estado, generando un alto índice de refugiados, asilados millón en 1985 a más de 4 millones en el 2008, en y desplazamientos forzados. situación regular e irregular. El 35% reside en los Los colombianos son la 7º población más grande de Estados Unidos de América y el 23% en España, de acuerorigen hispano que vive en los EUA. Hay grande concendo al censo del 2005 del Departamento Administrativo tración en la Florida, en Nueva York y Nacional de Estadística – DANE. Nueva Jersey. Más del 50% son mujeEn general, los que toman la decisión Debido al idioma, res y la destinación más constante de de emigrar son el padre o la madre de los que van a EUA, esa emigración es la España. La mayor familia, seguido por los hermanos y concentración de esta población se da por hijos del jefe de hogar. El nivel edues normal que en Madrid y Barcelona. Actualmencativo es en el orden del bachillerato tengan un nivel de te se ha incrementado la emigración completo o incompleto al nivel univereducación superior regular-laboral-temporal (MLTC) por sitario. Debido al idioma, los que van que los que se los acuerdos entre los dos gobiernos, a EUA, es normal que tengan un nivel dirigen a España destinada a favorecer el trabajo en los de educación superior que los que se sectores agrícola, hotelero, peluquero, dirigen a España. Según la I Encuesta Nacional sobre Migraciones Internacionales y Remesas, atención a niños y ancianos, bien como también en el campo de la salud. Parte de la población femenina está 2008-2009 (ENMIR), los motivos que llevaron los coconformada por mujeres cabeza de familia y algunas de lombianos al exterior, a partir del 2005, son: económico ellas han sido o son víctimas de Trata de Personas. laboral, matrimonio, reunificación familiar, estudio, coEl “amor en efectivo” como en algunos países se le dice nocer y aventurar, seguridad y otros. Es de recordar que a las remesas familiares son también indicadores visibles Colombia continua viviendo en un contexto de conflicto del creciente flujo de colombianos hacia el extranjero. armado interno donde confluyen grupos armados de izPara el 2000, se registraron 1,5 millones de dólares y en quierda y de derecha, bien como, el narcotráfico, que han 20 Ação Missionária © arquivo PNSA vida en el lugar de residencia. Dicho programa ha conel 2007, 4,5 millones de dólares – siendo el 1.9% y el 3.3% cebido la Política Integral Migratoria – PIM, que está en si comparado con el Producto Interno Bruto – PIB resla primera etapa de diseño, y será ejecutada por un Vice pectivamente. Como receptores se destacan las mujeres Ministerio de Migración creado al interior del Ministey los jefes del hogar. rio de Relaciones Exteriores, pero los analistas advierten: En los dos países hay dificultades para los colombiaquizá no continúe siendo mera teoría y nos, siendo las más recurrentes en EUA distante de la práctica. debido a la situación de irregularidad En los dos países Tanto en España como en EUA, la de muchos de ellos, por lo que piden hay dificultades para mayoría de los colombianos contial gobierno colombiano que los visibilos colombianos, núan practicando la religión cristialice y que se trabaje para conseguir el na católica. Por su parte, la Iglesia de Temporary Protected Status (TPS), – estasiendo las más Colombia en las últimas dos décadas tus temporal de protección – conferido a recurrentes en EUA ha demostrado su preocupación con inmigrantes que no pueden regresar a debido a la situación los emigrantes. Es de destacar que ha su país a causa de un conflicto armado, de irregularidad de desastres ambientales, u otras condidespertado la emigración hacia EUA muchos de ellos ciones extraordinarias o temporales. también con el motivo de acompañaEs un consenso que, hasta el momenmiento pastoral a la población hispato, en materia de migración internacional en Colombia, na. Como ejemplo, puedo citar la diócesis de Garagoa, departamento de Boyacá – Colombia, donde soy oriunsólo se han adoptado políticas públicas de gobierno de da. Conozco a más de 12 misioneros, entre sacerdotes carácter aislado, siendo necesaria una visión integral, diocesanos y religiosos que han sido y son puente de con coordinación estratégica y de arraigo entre la misunidad entre nuestras comunidades católicas, varios de ma población emigrante. Algo a destacar es el programa ellos en coordinación con las misiones Scalabrinianas, de gobierno “Colombia nos Une”, que entre los objetilos cuales tratan de apoyar los connacionales en su desvos están el de identificar intereses y necesidades de los tino y susténtalos en la fe en que nacieron, crecieron y colombianos en el exterior, fortalecer la participación fueron bautizados. política desde el exterior en temas de interés nacional y Hna Lígia Ruiz Gamba Bogotá – Colombia gestionar mecanismos para mejorar sus condiciones de Esperança | 1º semestre de 2011 21 H destruição deixada pelo furacão Mitch, em 1988. Fala-se onduras, um dos países da América Central, de uma perda de 60% da infraestrutura de transporte possui uma população aproximada de oito e mais de 70% das plantações. O presidente da época, milhões de habitantes. Apesar da grande riCarlos Flores, declarou que a destruição correspondia a queza natural, é um dos países mais pobres da região e 50 anos de retrocesso para o país. Hoje, é evidente que de toda América Latina. o Mitch foi uma das primeiras causas A América Central é constituída pelos do aumento da migração forçada nos países do Panamá, Costa Rica, NicaráSegundo últimos anos. gua, Honduras, El Salvador Guatemala estatísticas oficiais, Honduras tem uma estrutura polítie Belize. Destes, com exceção de Costa a cada hora ca-economica-socio-cultural que conspira Rica, todos têm sido palco de grandes saem do país 17 contra os pobres e sustenta a fortuna conflitos políticos, econômicos e sode alguns poucos e bem sucedidos no ciais, e sofreram inúmeras catástrofes hondurenhos. país. É certo que gramaticalmente não naturais. São países que estão marcaSão mais de é correto escrever ‘política-economicados pela violência, corrupção, destrui100 mil por ano -socio-cultural’ tudo junto, mas, no caso ção e por uma conjuntura que perpetua de Honduras, necessariamente é asum sistema de pobreza e de miséria. sim. Ao longo da história, desenvolveu-se uma cultura Considerando tudo isso, muitos veem como única alde silêncio e submissão que favoreceu o crescimento de ternativa para a sobrevivência, migrar para os Estados Unidos, na tentativa de obter um melhor nível de vida: uma sociedade classicista. Aqui existem apenas alguns esse é o sonho americano. Em Honduras, o grande flupoucos ricos e muitos pobres, e não é possível identificar xo migratório aos Estados Unidos começou a partir da uma classe média. Uma sociedade com traços de machis- 22 © arquivo PNSA O SONHO AMERICANO Ação Missionária © arquivo PNSA © arquivo PN SA mo, violência e corrupção. Essa estrutura de divisão de classes prejudica a maioria da população que se encontra em situação bastante difícil, e em alguns casos, até mesmo subumana. Por isso, depois de mais de 20 anos do furacão Mitch, ainda são muitos os hondurenhos que se sentem obrigados a migrar a outros países. Segundo estatísticas oficiais, a cada hora saem do país 17 hondurenhos. São mais de 100 mil por ano. Desses, somente 17% permanecem nos Estados Unidos, sendo que 7% são documentados e outros 10% de forma irregular; 1% passa a viver no México ou na Guatemala e os demais são deportados. Os dados do Centro de Atenção ao Migrante Retornado – CAMR confirmam que, em 2010, foram deportados, via aérea e terrestre, mais de 40 mil hondurenhos. Antes da lei Arizona SB 1070, que atualmente criminaliza a migração irregular, várias fábricas empregavam a esta categoria de migrantes. Em sua grande maioria, os migrantes hondurenhos nos Estados Unidos trabalham servindo em bares e restaurantes, serviços de jardinagem, construção civil, agricultura e como empregados domésticos. Esses trabalhadores sofrem discriminações, humilhações e, para poder enviar algo para suas famílias, vivem de forma muito simples, chegando, às vezes, a passar fome. São vítimas de todo tipo de violência e, muitas vezes, por xenofobia, são assassinados. Na rota migratória, os migrantes enfrentam todo tipo de violação de seus direitos: extorsão, roubos, violência física, sequestros, violação sexual, trabalho escravo, fome, enfermidades, morte e milhares estão desaparecidos. Muitos são os migrantes, homens e mulheres, que regressam mutilados, com fraturas celebrais ou na coluna em consequência de caídas do trem. Seis de cada cem mulheres que saem em busca do sonho americano sofrem algum tipo de violência. Por que não No massacre de diminui o número São Fernando de Tade hondurenhos maulipas, em agosto que saem de seu país de 2010, dos 72 miem busca do sonho grantes assassinados americano? pelo grupo criminal Zeta, 22 eram hondurenhos. Dos migrantes sequestrados em México, 67% são hondurenhos. As autoridades civis e religiosas confirmam que os hondurenhos são os mais vulneráveis na rota migratória. Então podemos nos perguntar: por que não diminui o número de hondurenhos que saem de seu país em busca do sonho americano? Simplesmente porque o sistema econômico e político não satisfazem as necessidades básicas de alimentação, saúde, moradia, educação e emprego, fazendo de Honduras um país difícil para a sobrevivência dos pobres, impelindo-os a saírem em busca de uma vida mais digna. Ir. Lídia Mara Silva de Souza, mscs Tegucigalpa – Honduras Esperança | 1º semestre de 2011 23 , pre a r b t a i l a h a P u sem e M Centro Vocacional São Carlos Rua Vereador Oswaldo Elache, 71 • Aparecida • SP • 12570-000 Tels: (12) 3105-1008 e 3105-7441 E-mail: [email protected] • www.mscs.org.br ) 15,17 (Jo o! h l a b a r t e eu também Migrantes com os Migrantes Venha trabalhar conosco! A lguns dias atrás, lendo uma entrevista sobre Convido você que me acompanha nesse espaço da educação e pesquisa, me deparei com a seguinRevista Esperança a pensar por alguns instantes no quate frase: quem gosta de estudar não é admirado dro da educação no Brasil, bem como, nos incentivos e no Brasil. Quis seguir adiante na minha investimentos que são aplicados nessa leitura, mas confesso que essa frase me área. Se lançarmos um olhar sobre a causou um forte impacto. Isso porque trajetória do ensino e aprendizagem, Sem motivação e é uma afirmação que não morre em si procurando perceber como se dá esse apoio, fica difícil mesma, mas gera outras reflexões. Paprocesso, desde as bases até alcançar para aqueles rei ali e comecei a pensar sobre aquele o nível superior, nos damos conta de que desejam jogo de palavras diretas e ao mesmo que não existe no Brasil uma cultura qualificar-se e tempo preocupantes que me lançavam que valorize o conhecimento. Constaque valorizam o de encontro a uma realidade vivida tamos a falta de iniciativa por parte do pelos brasileiros. E você? Já tinha pengoverno em um investimento a longo estudo e a pesquisa sado em algo semelhante? Mencionei prazo que favoreça a capacitação de permanecerem bons profissionais na área da pesquisa esse fato porque acredito que ele tem no país e da técnica. a ver com o tema que vamos discutir. 26 www.sxc.hu Fuga de cérebros: uma face da migração Educação O sistema educacional brasileiro é marcado por lacunas, o que compromete a seriedade de todo um processo que visa o desenvolvimento do Brasil. Afinal, um país que leva a sério a educação, se encontra em ascensão. Entre os principais entraves para atrair potenciais cientistas ao meio acadêmico estão os baixos valores das bolsas de estudos e o futuro incerto da carreira. Sem motivação e apoio, fica difícil para aqueles que desejam qualificar-se e que valorizam o estudo e a pesquisa permanecerem no país. Tudo isso torna crescente a chamada fuga de cérebros, que atinge estudantes em várias instâncias, sobretudo pesquisadores, mestrandos e doutorandos. Destaca-se também o fato de que, muitas vezes, o Brasil não sabe aproveitar os bons profissionais que, atraídos pela escassez de oportunidades de trabalho para mão de obra qualificada, migram para outros países. Aqueles que decidem permanecer aqui, o fazem por opção e não por receberem algum tipo de estímulo. Além do mais, existe uma visão distorcida sobre pessoas que se dedicam à pesquisa, as quais são tidas como estudantes por um longo tempo e não como profissionais. Dentro dessa lógica, podemos dizer que a fuga de cérebros é um tipo de migração forçada. Podemos pensar: fuga por quê? Fugimos daquilo que nos amedronta, que tira as nossas possibilidades, que fecha os nossos horizontes. Fugimos porque queremos algo melhor e que dê consistência às nossas vidas, aos nossos projetos, sonhos e empreendimentos. A partir do momento em que o país não favorece esse espaço – ao estudante ou ao profissional –, consequentemente estará perdendo a oportunidade de acelerar o processo de desenvolvimento interno. Ao mesmo tempo, força a migração, assumindo uma postura de omissão. Sabemos que a migração deve ser um direito de todos, porém não podemos permanecer passivos diante de um quadro que, analisando as possibilidades somente se encontre uma opção: migrar. Ir e vir, alargar os horizontes do conhecimento, compartilhar experiências. Tudo isso é um grande tesouro para a humanidade, sobretudo no campo do conhecimento. Porém, que seja um ato livre e espontâneo. Enquanto a mídia se preocupa em destacar que só se admira quem participou do Big Brother, tem dinheiro, é modelo, tem fama, etc., a nossa consciência como educadores e cidadãos deve buscar formar crianças, adolescentes, jovens e adultos para uma cultura do conhecimento. Conhecimento é possibilidade, é emancipação, é vislumbrar à nossa frente novos horizontes. Essa é uma urgência necessária para o bem do nosso povo e da nossa nação. É preciso exigir das nossas autoridades governamentais compromisso sério com a educação para que a migração ou fuga de cérebros, não seja por uma falta de opção e perspectivas geradas pelo nosso solo nativo. Eu defendo essa causa. E você? Ir. Renilda Teixeira Pereira São Paulo – SP Esperança | 1º semestre de 2011 27 “Q não era nenhuma daquelas citadas. Padre Alfredo havia uero ir para o Brasil e necessito que me enviado uma carta de Padre Gelmino contando as difiajudes a fazer o visto”, disse Erik. “Não culdades enfrentadas pelos haitianos em Manaus e nas quero ir irregular como uns haitianos fronteiras Colômbia, Peru e Brasil. Neste momento, se que estão lá”, explicou. Perguntado sobre qual o moperguntou ao Erik se o nome da cidade era Manaus e ele tivo de ir ao Brasil, que tipo de visto queria e em que confirmou. cidade desejava viver, ele respondeu que queria ir para Erik não sabia nem o nome da cidade e nem o nome uma cidade que estava distante de São Paulo três noidos amigos de seus amigos. Ele se aferrava na informates e três dias de ônibus. Não sabia o nome da cidade ção de que em Manaus havia trabalho para as pessoas nem tinha parentes no Brasil. Inicialmente, dizia que de outras nacionalidades, informação entraria no seminário com os salesiaesta recebida por telefone e confirmada nos e foi orientado que, neste caso, os Os meios de sacerdotes deviam pedir um visto de através de consultas feitas na internet. comunicação… estudante para ele na embaixada. Por Eram os meios de comunicação que fim, Erik confessou que desejava ir ao haviam facilitado a divulgação da noexercem sobre as Brasil trabalhar. Que nesta cidade, cujo tícia e motivado a Erik, como a muitos pessoas uma força nome não se lembrava, estavam uns cohaitianos, a sair do Equador, onde recede atração e um nhecidos de seus amigos que, por teleberam um visto especial por ocasião do desejo ingênuo de terremoto em Haiti, para aventurar-se, fone, haviam dito que estavam bem e migrar para sair uns de forma regular, outros de forma trabalhando. irregular, a ingressar na região norte O problema era saber a que cidade se da pobreza e das do Brasil e de modo especial no Amareferia. Tentou-se dizer o nome de todificuldades zonas, como porta de ingresso ao país. das as maiores cidades do Brasil e nada, 28 www.sxc.hu Migração e os meios de comunicação Assim como o telefone, a internet, a televisão e outros meios de comunicação são os veículos através dos quais os migrantes motivam de forma direta ou indireta a seus familiares, amigos ou amigos dos amigos a tomar o caminho da migração regular e, muitas vezes, irregular em direção a países vizinhos ou a outros continentes. Em um encontro de Cáritas Internacional, em Senegal, na África, muitas mães partilharam sobre jovens que arriscam suas vidas, cruzando o oceano em barcos inseguros e sobrecarregados para chegar à Espanha ou Itália. Tudo no intuito de realizar seus sonhos e conseguir um bom trabalho para enviar dinheiro às suas mães e irmãos. São, em geral, motivados pelos meios de comunicação, familiares e amigos que estão na Europa. Alguns meios de comunicação oficiais, divulgando imagens chocantes, tentam desmotivar aos jovens a empreender esta travessia, mas a comunicação com seus compatriotas é mais forte e tem o poder de atrair os migrantes. Quando os meios de comunicação divulgam a realidade dos migrantes que estão bem nos países de destino, também exercem sobre as pessoas uma força de atração e um desejo ingênuo de migrar para sair da pobreza e das dificuldades. Os meios de comunicação não contam as histórias de tantos migrantes que estão passando dificuldades nos países de destino. Muitos deles tiveram uma migração fracassada e não realizaram seus sonhos. Divulgam quase sempre as situações que deram certo, cuja porcentagem é bem menor, sem contar que muitos outros tiveram seus sonhos e ilusões ofuscadas pela realidade que encontram nos países de destino. Ir. Maria Lélis da Silva, mscs Quito – Equador www.sxc.hu Educação Verdade, anúncio e autenticidade de vida na era digital No mundo digital, transmitir informações significa com frequência sempre maior inseri-las numa rede social, onde o conhecimento é partilhado no âmbito de intercâmbios pessoais. A distinção clara entre o produtor e o consumidor da informação aparece relativizada, pretendendo a comunicação ser não só uma troca de dados, mas também e cada vez mais uma partilha. Esta dinâmica contribuiu para uma renovada avaliação da comunicação, considerada primariamente como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações positivas. Por outro lado, isto colide com alguns limites típicos da comunicação digital: a parcialidade da interação, a tendência a comunicar só algumas partes do próprio mundo interior, o risco de cair numa espécie de construção da autoimagem que pode favorecer o narcisismo. Trecho do pronunciamento do Papa Bento XVI em ocasião do 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Vaticano, 24 de janeiro de 2011 Esperança | 1º semestre de 2011 29 Quem não a conhece na Província Nossa Senhora Aparecida? Irmã Marilde traz como umas das marcas fortes da sua personalidade o empenho na vida de oração e no trabalho, na missão que lhe é confiada. Ela é aquela Irmã de estatura baixa, franzina, de pernas e pensamentos ágeis, motivados pelo grande sentido de pertença à Congregação. Irmã Marilde, já com os seus 81 anos, é uma religiosa incansável, trabalhadora, de uma disponibilidade incrível. Não mede esforços para sair a pé ou de ônibus, se preciso for, para resolver os negócios da Província, porque veio para doar-se. “Eu dei mesmo a minha vida pela Congregação, não reservei nada para mim. Não preciso pensar em mim. Ele pensa por mim. No meu trabalho cotidiano, sempre gosto de oferecer os meus passos pela conversão dos pecadores”. 30 Esperança: Irmã Marilde, como nasceu a sua vocação? Irmã Marilde: Eu sempre quis ser Irmã e numa viagem a Guaporé com meus pais, conheci as Irmãs Scalabrinianas que trabalhavam no hospital e me apaixonei pelo trabalho delas. Chamava-me a atenção a doação delas aos doentes. Entrei para fazer experiência e ali no hospital também comecei a doar a minha vida e nunca tive dúvida da minha vocação. Minha vocação é Jesus e o seu Reino. Esperança: Como foi essa experiência ali no hospital junto às Irmãs? Irmã Marilde: Era uma vida de doação muito bonita. Nós levantávamos às quatro da manhã para cuidar dos doentes e trabalhávamos o dia inteiro. Às vezes, até depois do jantar. Tínhamos que cuidar da preparação da alimentação dos doentes, da rouparia da enfermaria e centro cirúrgico, e cuidar do bom andamento de todos os serviços do hospital. Foi uma experiência gratificante, pois, sentia que podia servir aos mais frágeis e necessitados. © arquivo PNSA Irmã Marilde: um testemunho de serviço e pertença História de vida © arquivo PNSA Esperança: Além do trabalho missionário em hospitais, Esperança: Que mensagem quer deixar para aqueles que a senhora tem dedicado mais de 35 anos em trabalhos puleem a Revista Esperança e, de modo especial, às Irmãs ramente administrativos. O que a motiva e sustenta neste mais jovens? tempo de trabalho? Irmã Marilde: Amem sempre a Jesus. Estejam sempre Irmã Marilde: É verdade. São mais de 35 anos que estou na presença Dele. Isso é fundamental para a nossa vocacolaborando no setor administrativo da Província, enção. Peçam sempre a Jesus as melhores palavras e a hora carregando-me entre outros da documentação de seguro certa de dizê-las. Ele mesmo disse que iria para junto do social e aposentadorias das Irmãs. Vejo que é importante Pai, mas que o seu Espírito intercederia por nós, como “cuidar dos cuidadores”. Se tantas Irmãs estão na missão nosso advogado. Ele nos orienta, nas coisas mais simples direta com os migrantes mais necessitados, doando todo dia-a-dia. Já estou com 81 anos e a cabeça, às vezes, talmente suas vidas, é justo que alguém não ajuda mais... Às vezes, estou no trase encarregue de pensar, organizar e lebalho e não sei onde coloquei um de“Amem sempre var em dia toda a papelada deste exérterminado documento, venho aqui na a Jesus. Estejam cito de trabalhadoras do Reino, para Capela, peço a Maria para que o seu Esque num futuro elas possam gozar de poso, o Espírito Santo me mostre, pois sempre na uma merecida pensão, e tranquilidade não posso julgar ninguém e quando represença Dele” na velhice. torno, encontro o que eu precisava. Ele nos orienta e nos esclarece tudo! Esperança: Irmã Marilde, onde a senhora busca força para trabalhar tanto, aos 81 anos? A fala de Irmã Marilde parece nos ajudar a entender Irmã Marilde: Basicamente na oração. Reconheço mipor onde passa a espiritualidade do trabalho: é necesnhas fragilidades, mas sei que Deus é misericordioso e sário dar uma dimensão espiritual a tudo que fazemos, vem ao meu encontro. Há momentos de fraqueza que sentindo-nos cocriadoras com Deus, através de suas a gente fica meio nervosa, reconheço a minha fraqueza, obras. A espiritualidade do trabalho é dar essas pincemas não guardo rancor ou raiva de ninguém. Se me sinladas de espiritualidade às pequenas coisas que fazemos to ofendida por alguém, rezo por aquela pescomo bem testemunhou Irmã Marilde. Em tudo, se persoa e sinto muita paz interior. Ao passo cebemos bem, e de maneira silenciosa e sem alarde, ela que a gente reza para o outro, tudo dá um espaço para Deus, seja dando uma fugidinha para passa. Quando estou desolada, gosto rezar na capela, seja no caminho do trabalho, oferecendo de rezar o salmo 141. Rezo outros a caminhada como sacrifício para os outros, seja no resalmos, como o 15 e o 90. Mas a conhecimento ou na oferta de suas fraquezas ao Senhor. frase bíblica que ilumina a minha Com certeza, vida é aquela expressão de Jesus: Irmã Marilde “permanecei em mim”. Ele pede que é mais um panão nos afastemos Dele. trimônio vivo da nossa Congregação. Deo Gratias! Ir. Rosa Maria Martins Silva Brasília – DF Esperança | 1º semestre de 2011 31 ABRA A PORTA São pés aos milhares pisando firmes a estrada, País das dores e esperanças de minha gente cansada. São olhos aos pares, fixos em algum horizonte, jovens irmãos forjando um amanhã diferente. São mãos de muitos calos, porém de ternura e carinho; mãos de todo um povo que da história abre caminho Corpos famintos, almas sedentas em busca de pão e algo mais; famílias inteiras ao relento; na cidade e no campo, quantos ais. Abra a porta meu irmão, há alguém do lado de fora; solidário estenda a mão, abra a porta sem demora. Abra também o coração, rompa muros e preconceitos; o amor supera toda lei, eis o novo e o maior preceito. Todo homem tem direitos: terra, trabalho, vida, toda família quer casa, pra verdadeira cidadania. Pe. Alfredo José Gonçalves, cs 32 curiosidade Você sabia? Que os trabalhadores noturnos perdem cinco anos de vida para cada 15 dias de jornada de trabalho? É o que mostra um estudo divulgado pela Unidade do Sonho do Instituto Dexeus de Barcelona, juntamente ao Serviço de Neurofisiologia do Hospital da Paz de Madri, ambos na Espanha. Que estima-se que existam hoje no Brasil cerca de 30 mil trabalhadores submetidos a condições de trabalho escravo? segundo a Organização InternaQue, cional do Trabalho, a violência física e psicológica no local de trabalho está aumentando em todo o mundo e atingiu “níveis epidêmicos” em muitos países industrializados? O estudo diz que a violência no trabalho, incluindo prepotência, assédio sexual e agressão física, pode custar entre 0,5% e 3,5% do Produto Interno Bruto dos países, através do absenteísmo, das licenças médicas e menor produtividade. Destes, 70% estariam concentrados no Estado do Pará, o que confere ao nosso estado o triste título de “campeão nacional de trabalho escravo”. Que o Brasil é responsável por 60% da produção mundial de cana-de-açúcar? No Brasil, há 500 mil cortadores, sendo que 70% são migrantes temporários. Grande parte se concentra no Estado de São Paulo, que é responsável pela produção de 75% do etanol brasileiro e 25% da produção mundial. Que os migrantes devem ser tratados como iguais aos nacionais do país de acolhimento em matéria de remuneração e condições de trabalho? É o que diz o Que além do Pará, Maranhão e Tocantins, a “Lista Suja” de estados brasileiros com trabalho escravo conta ainda com os estados do: Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina, Bahia, Rondônia e Piauí? © SPM documento da Convenção Internacional de Imigração. Os trabalhadores também têm direito às liberdades básicas como a de mobilização, de expressão de pensamento, consciência e prática da religião. © arquivo PNSA “Somos chamados a empreender um itinerário de comunhão que implique na aceitação das legítimas diversidades. A defesa dos valores cristãos passa, evidentemente, pela não discriminação dos imigrantes, pelo diálogo fraterno e o respeito recíproco. O testemunho de amor e de acolhida dos cristãos constitui em si mesmo a primeira e indispensável forma de evangelização”. (EMCC, 99)