Ergonomia na Pintura.. - DEMEC

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Ergonomia na Pintura.. - DEMEC
FELIPE MALDONADO GARCIA
ERGONOMIA NA PINTURA AUTOMOBILÍSTICA
Monografia apresentada ao Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como
parte dos requisitos para obtenção do
diploma de Engenheiro Mecânico.
Orientadores: Prof. Dr. Joyson Luiz Pacheco
Porto Alegre
2004
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Escola de Engenharia
Departamento de Engenharia Mecânica
ERGONOMIA NA PINTURA AUTOMOBILÍSTICA
FELIPE MALDONADO GARCIA
ESTA MONOGRAFIA FOI JULGADA ADEQUADA COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO DIPLOMA DE
ENGENHEIRO MECÂNICO
APROVADA EM SUA FORMA FINAL PELA BANCA EXAMINADORA DO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA
Prof. Dr. Flávio José Lorini
Coordenador do Curso de Engenharia Mecânica
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Guido Gabellini
UFRGS / DEMEC
Prof. José Antônio Esmerio Mazzaferro
UFRGS / DEMEC
Prof. Vilson João Batista
UFRGS / DEMEC
Porto Alegre
2004
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a General Motors do Brasil Ltda, por me permitir a utilização de
suas instalações e recursos no desenvolvimento deste trabalho, principalmente na condução
do estudo de caso no setor de pintura.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Joyson Luiz Pacheco, por toda a atenção prestada neste estudo e
motivação para a orientação e condução do trabalho.
Ao meu pai, Gilberto Nordin Garcia, que com seu amor e afeto sempre transmitiu muita força, orgulho e confiança, sem nunca medir esforços para me permitir chegar onde estou hoje.
E por fim à minha namorada e fisioterapeuta Cláudia Lucas Pederiva, pelo seu apoio técnico
e pessoal na realização deste trabalho, bem como pelo incentivo na continuação da faculdade
nos momentos de desânimo.
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“O homem não é valorizado pelas grandes
coisas que faz, mas pelo somatório
das pequenas coisas que
faz com amor”
Autor Desconhecido
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GARCIA, F. M. Ergonomia na Pintura Automobilística. 2004. 28f. Monografia (Trabalho
de Conclusão do Curso de Engenharia Mecânica) – Departamento de Engenharia Mecânica,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.
RESUMO
Este trabalho apresenta uma revisão de ergonomia e uma metodologia de análise ergonômica
de postos de trabalho, a qual é aplicada por meio de um estudo de caso, realizado no processo
de manufatura enxuta do setor de pintura automobilística da fábrica da General Motors do
Brasil Ltda, na cidade de Gravataí, RS. O estudo de caso é realizado na operação de calafetação manual do assoalho externo, a partir da metodologia proposta. Esta operação foi escolhida
em função do alto índice de dores musculares e desconforto por parte dos empregados, comparativamente superiores às outras operações deste setor da empresa. Determina-se a condição
inicial da operação e propõem-se modificações, de forma a otimizar a ergonomia da mesma.
A partir das modificações, observa-se uma melhor condição ergonômica na operação, o que é
evidenciado por melhores impressões dos empregados a respeito do seu ambiente de trabalho.
Adicionalmente, obtém-se uma melhoria na qualidade do produto, com menor índice de retrabalhos gerados por problemas operacionais na realização da operação analisada, contribuindo
para a redução de custos da empresa. Estes resultados acabam por validar a metodologia de
análise ergonômica proposta neste trabalho.
PALAVRAS-CHAVE: Ergonomia, Pintura automobilística, Qualidade, Metodologia
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GARCIA, F. M. Ergonomics in the Automobile Painting. 2004. 28f. Monografia (Trabalho
de Conclusão do Curso de Engenharia Mecânica) – Departamento de Engenharia Mecânica,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.
ABSTRACT
This work presents a revision of ergonomics and a methodology of ergonomic analysis of
workstations, which is applied by means of a case study, carried through in the lean manufacturing process of the automobile painting area of General Motors do Brasil Ltda facility, located in the city of Gravataí, RS. The case study is developed in the external underbody manual sealing operation, from the proposed methodology. This operation was chosen in function
of the high index of muscular pains and discomfort on the part of the employees,
comparativily higher than other operations of this sector of the company. The initial condition
of the operation is determined, and modifications are proposed in order to optimize its ergonomics. From the modifications, one better ergonomic condition in the operation is observed,
what it is evidenced by better impressions of the employees regarding its environment of
work. Additionally, an improvement in the product quality is gotten, with lesser index of
reworks generated for operational problems in the accomplishment of the analyzed operation,
contributing for the company’s cost reduction. These results finish for validating the
methodology of ergonomic analysis proposed in this work.
KEYWORDS: Ergonomics, Automobile painting, Quality, Methodology
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SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................................5
ABSTRACT ..............................................................................................................................6
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................8
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................8
2.1 HISTÓRICO DA ERGONOMIA E DESENVOLVIMENTO ATUAL ..........................8
2.2 DEFINIÇÕES DE ERGONOMIA ...................................................................................9
2.3 TIPOS DE ERGONOMIA .............................................................................................10
2.4 ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO .............................................................10
2.4.1 Ergonomia no trabalho fisicamente pesado............................................................10
2.4.2 Ergonomia no trabalho em altas temperaturas.......................................................11
2.4.3 Biomecânica ............................................................................................................11
2.4.4 Ergonomia no método e na organização do trabalho.............................................11
2.4.5 Melhoria da confiabilidade humana .......................................................................11
2.4.6 Prevenção da fadiga no trabalho ............................................................................11
2.5 TIPOS DE SOLUÇÕES ERGONÔMICAS...................................................................12
2.6 PRINCÍPIOS DE BIOMECÂNICA...............................................................................13
2.6.1. A postura em pé ......................................................................................................14
2.7 PRINCÍPIOS DE ANTROPOMETRIA.........................................................................14
2.8 REVISÃO DE DORT.....................................................................................................15
2.9 FERRAMENTAS AUXILIARES DE ANÁLISE ERGONÔMICA .............................15
3. ESTUDO DE CASO ...........................................................................................................16
3.1 DESCRIÇÃO GERAL DA OPERAÇÃO ANALISADA..............................................17
3.2 CONDIÇÃO ERGONÔMICA INICIAL DA OPERAÇÃO..........................................18
3.2.1. Pincelamento da caixa de roda dianteira...............................................................18
3.2.2. Montagem de tubetes de papelão ...........................................................................19
3.2.3. Pincelamento da caixa de roda traseira e torre do gargalo ..................................19
3.2.4. Pincelamento das junções do painel traseiro.........................................................20
3.3 FATORES COMPLEMENTARES................................................................................20
3.4 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR ........................................21
3.5 INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS E MECANISMOS DE REGULAÇÃO.............21
4. DISCUSSÃO DE RESULTADOS.....................................................................................22
5. CONCLUSÕES...................................................................................................................23
6. REFERÊNCIAS..................................................................................................................24
ANEXOS..................................................................................................................................25
ANEXO A – Checklist de Couto (2002) ..............................................................................25
ANEXO B – Critério Semiquantitativo de Moore & Garg ..................................................26
APÊNDICE – Fluxograma de Medotodogia de Análise Ergonômica ....................................28
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1. INTRODUÇÃO
Condições ergonômicas inadequadas de postos de trabalho são fatores que acabam por
gerar diversas conseqüências negativas no processo de manufatura de uma indústria como um
todo. A indústria automobilística, com a produção seriada em linhas de montagem, caracterizada comumente pelo trabalho repetitivo e padronização das operações e métodos de trabalho,
apresenta-se suscetível, por exemplo, a um número elevado de doenças ocupacionais, tais
como os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), com destaque para os
distúrbios da coluna vertebral que se constituem no principal acometimento relacionado ao
trabalho em todo o mundo (IIDA, 1990).
Em muitos casos os DORT acabam por induzir erros humanos no processo de manufatura. Estes erros muitas vezes são evidenciados por meio de problemas de qualidade e necessidade de retrabalhos no produto final, o que acaba por onerar a empresa em custos desnecessários. A redução de condições ergonômicas inadequadas dos postos de trabalho tende a minimizar as doenças ocupacionais e problemas de qualidade.
Da mesma forma, os DORT causam absenteísmo, que por sua vez faz com que os empregados que continuam trabalhando sejam sobrecarregados na compensação da ausência dos
empregados afastados, tornando-se passíveis de apresentarem, também estes, doenças ocupacionais. Estas podem gerar incapacidades não só no ambiente de trabalho, mas também nas
atividades de vida diária dos indivíduos.
Dentro deste contexto, percebe-se uma crescente preocupação das empresas em adotar a
ergonomia como filosofia gerencial da empresa que faz o que julga ser correto e que procura
o lucro, mas o quer legitimado socialmente. Também a preocupação recente com a qualidade
de vida no trabalho, nesses tipos de empresas, tem sido um dos fatores decisivos na adoção
dos conceitos de ergonomia, conforme afirma Couto (2002).
Neste trabalho propõe-se uma metodologia de análise ergonômica de postos de trabalho,
a qual é aplicada praticamente na área de pintura automobilística, por meio de um estudo de
caso na operação de calafetação manual do assoalho externo. Escolheu-se esta operação em
função de apresentar índices de DORT, por parte dos empregados, comparativamente superiores aos verificados nas demais operações deste setor da empresa. Os distúrbios constituem-se
basicamente em dores e desconforto na execução das atividades, principalmente em membros
superiores e região da coluna vertebral.
No estudo de caso é realizada uma diagnose ergonômica inicial da operação e, a partir
destes dados, são propostas intervenções que visam uma melhor adaptação do ambiente de
trabalho aos empregados e, com isso, uma melhoria na qualidade do produto e a redução dos
custos da empresa com retrabalhos.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 HISTÓRICO DA ERGONOMIA E DESENVOLVIMENTO ATUAL
Desde civilizações antigas, o homem sempre buscou melhorar as ferramentas e os utensílios da sua vida cotidiana. Existem exemplos de empunhaduras de foices, datadas de séculos
atrás, que demonstram a preocupação em adequar a forma da pega às características da mão
humana, propiciando mais conforto durante sua utilização (MORAES; MONT’ALVÃO,
1998, COUTO, 2002).
Com a Revolução Industrial, a partir do final do século XVIII, o problema de adaptação
do trabalho ao homem tornou-se mais evidente e relevante. Máquinas foram criadas, e deu-se
origem às primeiras fábricas, que de muito diferem das modernas fábricas hoje existentes;
eram barulhentas, escuras e com jornadas de trabalho excessivamente longas, sem paradas
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para descanso, verificando-se um grande movimento migratório dos trabalhadores do campo
para as cidades, em busca de oportunidades de trabalho nas fábricas que começavam a surgir
(IIDA, 1990, COUTO, 2002). Este contexto social-trabalhista foi o pano de fundo para o Manifesto Socialista, de Marx e Engels, no final do século XVIV (COUTO, 1995). Já no início
do século XX, Fayol, Taylor e Ford introduziram os princípios da Administração Científica,
gerando um aumento significativo de produtividade das empresas.
Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial surgiram aviões cada vez mais velozes e radares
para detectar aviões inimigos, além de submarinos, tanques e sonares, que colocavam o homem em situações de extrema pressão ambiental, física e psicológica. Entretanto, muitos destes equipamentos não estavam adaptados às características perceptivas daqueles que os operavam, provocando erros, acidentes e mortes. O projeto de engenharia era eficaz, mas o desempenho do sistema era ineficiente. Era mais simples afirmar que a falha era do homem, o chamado erro humano ou falha humana, que propiciava perdas materiais e humanas, fazendo-se
necessário um esforço no sentido de priorizar as pesquisas voltadas para a adaptação dos instrumentos bélicos às características e capacidades do militar, sob o ponto de vista físico, cognitivo e psíquico, visando reduzir as perdas humanas e materiais. Nascia assim a ergonomia
(MORAES; MONT’ALVÃO, 1998, PEDERIVA, 2002).
Como subproduto desse esforço de guerra, em julho de 1949, em Oxford, Inglaterra,
criava-se a sociedade para o estudo dos seres humanos no seu ambiente de trabalho – a Ergonomic Research Society (ERS), congregando psicólogos, fisiologistas e engenheiros, interessados nas questões relacionadas à adaptação do trabalho ao homem (MORAES;
MONT’ALVÃO, 1998, IIDA, 1990).
O termo ergonomia era utilizado pela primeira vez pelo psicólogo inglês K. F. Hywell
Murrel, membro da ERS. O neologismo ergonomia compreende os termos gregos ergo (trabalho) e nomos (regras, leis naturais). O termo ergonomia passou a ser adotado nos principais
países europeus, onde se fundou a Associação Internacional de Ergonomia (AIE). Nos Estados Unidos, foi criada a Human Factors Society em 1957, e até hoje o termo mais usual naquele país e no Canadá continua sendo human factors, embora ergonomia já seja aceito como
sinônimo (MORAES; MONT’ALVÃO, 1998, IIDA, 1990).
O projeto da célula espacial norte-americana (1960) foi o grande evento disseminador
da ergonomia mundialmente além da área militar, com os astronautas norte-americanos com
força suficiente perante a opinião pública para exigir melhores condições no interior da célula
espacial. Isso abriu os olhos dos trabalhadores e empresários de outras áreas, que passaram a
considerar a ergonomia uma ciência importante (COUTO, 2002, GUIMARÃES, 2000).
Segundo Couto (2002), um grande motivo do rápido desenvolvimento da ergonomia no
mundo foram as lesões do sistema osteomuscular, que costumam ser dolorosas e incapacitantes, gerando absenteísmo e originando processos trabalhistas de indenização pelo dano. Assim, um dos motivos da alta difusão da ergonomia foi o custo da não ergonomia.
Deve-se ressaltar que muitas empresas adotam a ergonomia porque julgam ser o correto,
dentro de uma filosofia gerencial. Além disso, a preocupação recente com a qualidade de vida
no trabalho, nestes tipos de empresas, tem sido um dos fatores a incentivar as ações ergonômicas, conforme afirmado por Couto (2002).
2.2 DEFINIÇÕES DE ERGONOMIA
Muitas definições podem ser empregadas para ergonomia. São apresentadas aqui as
definições que se apresentam mais adequadas ao contexto do trabalho. Assim, a ergonomia
pode ser definida como o trabalho interprofissional que, baseado num conjunto de ciências e
tecnologias, procura o ajuste mútuo entre o ser humano e seu ambiente de trabalho, de forma
confortável e produtiva, basicamente procurando a adaptação do trabalho às pessoas (COU-
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TO, 2002). Pode ser definida ainda como o conjunto de conhecimentos científicos relativos ao
homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser
utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficácia (WISNER, 1987). Em agosto de
2000, a Associação Internacional de Ergonomia adotou a definição apresentada a seguir: “a
ergonomia (ou fatores humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das
interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias,
princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho
global do sistema” (ABERGO, 2003).
A ergonomia preocupa-se primordialmente com a adaptação do trabalho ao homem. Isso significa que a ergonomia parte do conhecimento do homem para fazer o projeto do trabalho, ajustando-o às capacidades e limitações humanas. Aqui, quando se fala em trabalho entende-se pelo seu sentido mais amplo, incluindo, além das máquinas e equipamentos normalmente utilizados na transformação de materiais, também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e seu trabalho, seja este relacionamento pelos aspectos físicos ou
organizacionais do trabalho (IIDA, 1990).
Pode-se considerar que a ergonomia é uma ciência humana aplicada, que objetiva transformar a tecnologia para adaptá-la ao ser humano. Disciplinas como ciências biológicas, psicologia e as ciências da engenharia convergiram para que a ergonomia pudesse conceber produtos e sistemas dentro da capacidade física e intelectual dos seres humanos, tornando o sistema homem-máquina mais seguro, confiável e eficaz. Assim, a ergonomia constitui-se numa
parte da arte do engenheiro, à medida que seu resultado se traduz no dispositivo técnico
(GUIMARÃES, 2000, WISNER, 1987).
2.3 TIPOS DE ERGONOMIA
Cinco formas básicas de ergonomia são propostas por Wisner (1987), sendo elas:
- Ergonomia do produto: voltada para a concepção de produtos ergonomicamente adequados à
utilização pelos usuários finais dos mesmos.
- Ergonomia de produção: aplicada ao processo produtivo propriamente dito, em especial às
atividades industriais, em função da extensão do modo industrial de produção.
- Ergonomia de correção: visa a correção de inadequações ergonômicas existentes nos meios e
processos de trabalho, que se refletem em anomalias ou insuficiência da produção, sob o ponto de vista quantitativo ou qualitativo.
- Ergonomia de concepção: atuação diretamente na concepção de produtos e processos de
trabalho, visando a concepção de acordo com os conhecimentos ergonômicos existentes.
- Ergonomia de mudança: permite freqüentemente reunir as vantagens das outras modalidades
de intervenção sem seus inconvenientes, fazendo-se mudanças que podem ser ocasião para
uma mudança das condições de trabalho.
2.4 ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO
A ergonomia está presente em todas as atividades humanas, mas é no trabalho que se
encontra sua maior aplicação prática. A classificação das áreas da ergonomia aplicada ao trabalho pode variar segundo diversos autores, sendo aqui apresentada a classificação proposta
por Couto (2002).
2.4.1 Ergonomia no trabalho fisicamente pesado
Em gradativa diminuição na sociedade atual, principalmente em função da mecanização
do trabalho, uma vez que meios mecânicos são muito mais produtivos que o ser humano em
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atividades deste tipo. Consiste em definir se o trabalhador tem ou não condições de executar
atividades prolongadas com grandes grupos musculares, como por exemplo, motosserristas,
carregadores de sacas e trabalhadores rurais em atividades não mecanizadas.
2.4.2 Ergonomia no trabalho em altas temperaturas
Com o território brasileiro situado em grande parte na região tropical do planeta, percebe-se ainda diversos problemas ergonômicos nessa área, principalmente nos processos de
transformação de metais. Neste tipo de situação, o organismo é obrigado a suar, a fim de manter a temperatura interna do corpo constante. A sudorese excessiva causa a desidratação, que
por sua vez diminui a capacidade de trabalho do empregado.
2.4.3 Biomecânica
Nesta área estuda-se os esforços realizados pelo trabalhador, o uso da coluna vertebral,
o manuseio, levantamento e transporte de cargas, conforto em automóveis, o uso dos membros superiores como ferramentas de trabalho, e mais modernamente os postos de trabalho
com computadores. Constitui-se na área de maior aplicação prática nas empresas, principalmente em função da incidência de lesões e distúrbios que afastam o trabalhador de suas atividades e geram prejuízos diversos às empresas.
2.4.4 Ergonomia no método e na organização do trabalho
Em métodos, estudam-se sob o ponto de vista ergonômico as ferramentas, dispositivos e
posturas do corpo para realizar o trabalho. Em organização do trabalho, estudam-se as formas
de obtenção dos resultados prescritos, especialmente a tecnologia, as máquinas, a matériaprima, o material, a mão-de-obra, a manutenção e o meio-ambiente. Um problema em qualquer uma destas citadas pode trazer sobrecarga ao trabalhador, com possibilidade de aparecimento de distúrbios e lesões. Esta área relaciona-se com as demais áreas da ergonomia aplicada ao trabalho de forma muito direta e, por exemplo, um problema de biomecânica pode ser
agravado por problemas de organização do trabalho. Pode-se citar como exemplo o caso de
ausência de pessoal, que faz com que os outros trabalhadores tenham que controlar processos
extras, o que pode ocasionar erro humano na atividade.
2.4.5 Melhoria da confiabilidade humana
A ergonomia é uma ferramenta fundamental nos processos de qualidade total e no sucesso dos programas de prevenção de acidentes de trabalho. Na construção de aeronaves, por
exemplo, a ergonomia é fundamental no sentido de possibilitar condições que impeçam os
pilotos de errarem.
2.4.6 Prevenção da fadiga no trabalho
Um dos grandes objetivos da ergonomia é a prevenção da fadiga excessiva, seja ela física,
mental ou psíquica, interagindo inclusive com as políticas de gestão de pessoas das empresas
neste processo preventivo.
Alguns conhecimentos de ergonomia foram convertidos em normas oficiais, com o objetivo de estimular a aplicação dos mesmos. No Brasil, existe a Norma Regulamentadora NR
17 – Ergonomia, estabelecida pela Portaria nº 3.214, de 8.6.1978 do Ministério do Trabalho e
Emprego, modificada pela Portaria nº 3.751 de 23.11.1990 do Ministério do Trabalho e Em-
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prego, a qual é aplicada em certas empresas e setores industriais (DUL; WEERDMEESTER,
1998).
Segundo Couto (1995, 2002), a implantação da ergonomia nas empresas pode ser dividida em diversos níveis, implementando-se a ergonomia do nível mais baixo ao mais alto. Os
diversos níveis são assim definidos:
- Condições primitivas: Muitas empresas ainda apresentam condições de trabalho muito primitivas, que causam dor e desconforto ao trabalhador durante sua jornada de trabalho.
- Postos de trabalho: Com as condições primitivas já modificadas, tem-se o que se pode chamar de postos de trabalho, sendo ainda um nível fundamental de atuação.
- Ambientes de trabalho: preocupação com as características climáticas, de conforto auditivo e
de iluminação para o trabalho.
- Métodos de trabalho: Preocupação com a racionalização e redução dos esforços dos trabalhadores, de forma a obter maior conforto e produtividade para o trabalhador.
- Organização do trabalho: Preocupação com os impactos sobre as pessoas de falhas na organização do trabalho, planejando-se os meios para a obtenção dos resultados planejados.
- Ergonomia da concepção: Análise prévia do impacto das futuras condições de trabalho sobre
o trabalhador, com a adoção de medidas preventivas que corrijam os projetos inadequados do
ponto de vista ergonômico. Sem custos para a empresa, pois exige apenas conhecimento de
ergonomia por parte do projetista.
2.5 TIPOS DE SOLUÇÕES ERGONÔMICAS
Com os problemas ergonômicos de uma empresa ou posto de trabalho específico devidamente diagnosticado, intervenções ergonômicas devem ser feitas de forma a solucionar a
inadequação ergonômica existente. Como afirmam Pereira (2001) e Couto (1995, 2002), para
que isto seja feito de maneira correta, com a melhor relação custo/benefício possível, deve-se
conhecer os diversos tipos de soluções ergonômicas e quando utilizar cada um. Os principais
tipos de soluções ergonômicas são descritos a seguir:
- Eliminação da postura ou movimento crítico: deve-se procurar uma forma alternativa de
realizar a operação. Nem sempre é possível eliminar o esforço crítico, mas muitas vezes é
possível reduzir a freqüência dos movimentos críticos ao longo da jornada de trabalho.
- Pequenas melhorias: estima-se que 50% dos problemas ergonômicos existentes em uma empresa podem ser resolvidos com pequenas melhorias, as quais incluem, mas não se limitam à
mudança de altura de máquinas e bancadas de trabalho, mudanças no braço de alavanca de
determinado esforço, etc.
- Equipamentos e soluções conhecidos: a utilização de equipamentos desenvolvidos no sentido de facilitar a vida do trabalhador deve ser feita, incluindo equipamentos como talhas elétricas e ventosas para manuseio de cargas e balancins para suporte e redução de peso de ferramentas e dispositivos durante sua operação.
- Rodízio nas tarefas: funciona como uma forma de reduzir a sobrecarga existente nas diversas operações, não causando sobrecarga a um grupo muscular ou parte do corpo. Operações
biomecanicamente críticas sem o rodízio costumam gerar lesões aos trabalhadores, enquanto
que com a utilização de rodízio, as lesões tendem a ser reduzidas. Adicionalmente, o rodízio
propicia versatilidade no gerenciamento de pessoal, uma vez que com este sistema o treinamento dos trabalhadores deve ser sólido e bem feito, de forma a manter o padrão de qualidade
do produto da empresa.
- Melhoria na organização do trabalho: se diagnosticados problemas ergonômicos causados
por falhas na organização do trabalho, deve-se solucionar estas falhas de forma a melhorar a
condição ergonômica da atividade. Equivale a reduzir horas-extras desnecessárias e administrar melhor o sistema produtivo.
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- Condicionamento físico para o trabalho e distensionamento: muitas operações industriais
exigem padrões de movimentos musculares específicos, ou são realizadas em posições forçadas, que exigem ginásticas compensatórias, e há outras tantas em que se percebe um alto
componente de esforço muscular estático, exigindo distensionamento. Nestes casos, a condição física das pessoas adota papel fundamental, podendo-se exemplificar neste contexto alguns programas normalmente utilizados pelas empresas, como ginástica laboral, programas de
prevenção e combate à obesidade, programas de redução do consumo de cigarro, incentivos à
ginástica regular de manutenção da capacidade aeróbica, entre outros.
- Orientação ao trabalhador e cobrança de atitudes corretas: Em muitas situações o risco ergonômico existente é dependente do comportamento humano, sendo a solução para tanto a postura adequada do trabalhador no seu posto de trabalho, ou o uso adequado de um recurso ergonômico existente no posto de trabalho, podendo ser ainda a orientação a cerca da técnica
correta para execução de um determinado. É importante neste tipo de solução explicar ao trabalhador o porquê de executar o esforço da forma correta.
- Pausas de recuperação: Devem ser adotadas quando não se consegue a neutralização dos
riscos ergonômicos com os demais tipos de soluções apresentados acima. As pausas devem
ser instituídas de forma inteligente, incidindo somente quando houver um número alto de repetitividade e não existirem mecanismos de regulação no próprio trabalho.
Conforme afirmam Pereira (2001) e Couto (1995, 2002), as soluções ergonômicas, para
serem consideradas adequadas, devem reduzir as queixas de dor, desconforto, fadiga e dificuldade na realização do trabalho, gerando menor cansaço na realização do mesmo. Nestas
soluções, é possível, via de regra, demonstrar que o corpo humano está trabalhando em posição biomecanicamente mais confortável.
2.6 PRINCÍPIOS DE BIOMECÂNICA
A biomecânica estuda as leis físicas da mecânica aplicadas ao corpo humano, o qual
pode, segundo Couto (2002); Dul e Weerdmeester (1998), em muitos aspectos ser comparado
a uma máquina, podendo-se estimar as tensões que ocorrem nos músculos e articulações durante uma postura ou movimento. Engenheiros mecânicos têm desenvolvido estudos analisando as características mecânicas desta máquina, o que tem permitido a dedução de diversos
conceitos na adaptação do trabalho ao homem. A análise das exigências de trabalho permite
que se determine precisamente as dimensões da totalidade dos elementos do posto de trabalho
(LAVILLE, 1977). Os princípios importantes da biomecânica para a ergonomia, enunciados
por Dul e Weerdmeester (1998) e Guimarães (2001) são apresentados a seguir:
- As articulações devem ser mantidas, tanto quanto possível, em posição neutra, pois o centro
de gravidade das partes do corpo envolvidas na execução da atividade está alinhado verticalmente, passando o mais próximo possível dos eixos de giro gerados pelas articulações. Isto
gera menor momento e, portanto, menos esforço.
- Conservar pesos próximos ao corpo, pois quanto mais afastados estiverem do corpo, mais os
braços serão tensionados e o tronco penderá para frente, sobrecarregando as articulações e
aumentando as tensões sobre as mesmas e seus respectivos músculos envolvidos.
- Evitar curvar-se para frente, inclinar a cabeça e torcer o tronco, pois: a) quando o tronco
pende para a frente, há contração dos músculos e ligamentos das costas para manter esta postura, aumentando a tensão na parte inferior do tronco; b) quando a cabeça inclina-se mais de
30° para a frente, os músculos do pescoço são tensionados de forma a manter esta postura,
provocando dores na nuca e nos ombros, c) quando se torce o tronco causam-se tensões indesejadas nas vértebras, tensionando os discos intervertebrais e submetendo as articulações e
músculos a cargas assimétricas.
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- Deve-se evitar movimentos bruscos, pois ocasionam tensões de grande amplitude e baixo
período, em conseqüência da aceleração do movimento.
- Alternar posturas e movimentos, pois qualquer postura é mal tolerada se for mantida por
períodos de tempo prolongados. A alternância de posturas deve ser sempre privilegiada, pois
permite que os músculos recebam nutrientes e não fiquem fatigados (MTE, 2003). A melhor
postura para trabalhar é aquela em que o corpo alterna entre as diversas posições (sentado, em
pé, andando). Também devem ser concedidas pausas de curta duração, mas com freqüência
que permita relaxamento muscular e alívio da fadiga (COUTO, 2002, GUIMARÃES, 2001).
- Limitar a duração do esforço muscular contínuo, distribuindo-se o tempo de pausa total dentro da jornada de trabalho.
- Evitar o trabalho estático, pois o trabalho dinâmico permite contrações e relaxamentos alternados dos músculos. A postura estática exige níveis baixos, mas constantes de tensão muscular. Este estado prolongado de contração muscular provoca compressão dos vasos sangüíneos,
reduzindo o fluxo sanguíneo e o fornecimento de oxigênio e nutrientes aos músculos. Com
isto os resíduos metabólicos não são retirados, acumulam-se e levam ao desconforto e à dor,
além de gerar fadiga de forma mais rápida que a postura dinâmica. A manutenção de posturas
estáticas prolongadas também pode induzir ao desgaste das articulações, discos intervertebrais
e tendões (RIO; PIRES, 1999, MTE, 2003).
Dentro da biomecânica pode-se fazer referência também a alguns termos próprios utilizados pela fisiologia para designar os movimentos musculares. Movimentos de membros que
tendem a se afastar do corpo ou de suas posições normais de descanso chamam-se abdução,
enquanto o movimento oposto chama-se adução. O movimento do braço acima da horizontal
é elevação. O movimento do braço para a frente é flexão, enquanto o movimento inverso,
trazendo o braço de volta para perto do tronco é extensão. No movimento de rotação da mão
chama-se pronação quando o polegar gira para dentro do corpo, e supinação quando gira para
fora. Quando a perna é esticada tem-se a extensão, e quando a mesma é dobrada tem-se a flexão (IIDA, 1990).
2.6.1. A postura em pé
A escolha da postura em pé para utilização nos postos de trabalho tem sido justificada
por considerar que, nesta posição, as curvaturas da coluna estejam em alinhamento correto e
que, desta forma, as pressões sobre o disco intervertebral são menores que na posição sentada.
Os músculos que sustentam o tronco contra a força gravitacional não são muito adequados
para manter a postura em pé. Desta forma, tende-se a utilizar alternadamente as pernas como
apoio, de forma a facilitar a circulação sanguínea ou reduzir as compressões sobre as articulações (MTE, 2003).
A postura em pé apresenta diversas desvantagens, tais como acumulação de sangue nas
pernas (favorece surgimento de varizes), penosidade para manutenção de posturas inadequadas dos braços (acima dos ombros), e dores nas articulações que suportam peso. Em função
disto, deve-se adotar a postura em pé somente em situações especiais como, por exemplo,
operações freqüentes em locais fisicamente separados e operações que exijam alcances amplos e freqüentes, em posições diversas (MTE, 2003).
2.7 PRINCÍPIOS DE ANTROPOMETRIA
A antropometria trata de medidas físicas do corpo humano, através de uma leitura de
parte ou de toda a população de um determinado local (IIDA, 1990). Para um trabalho eficiente, é imprescindível a adaptação física do local de trabalho às medidas do corpo humano
(GRANDJEAN, 1998).
15
As mais importantes diferenças entre as medidas do corpo em diferentes indivíduos são
dadas por diferenças entre sexo, idade, cultura e etnia. A título de exemplo, pode-se citar que
quanto maior a idade de um indivíduo, menores os comprimentos dos seus segmentos corporais e maior o seu peso e circunferência corporal (GRANDJEAN, 1998).
Segundo Iida (1990), o primeiro passo a ser adotado é a definição de onde ou porque
serão utilizadas as medidas antropométricas. A partir desta definição, recorre a aplicação da
antropometria estática, dinâmica ou funcional, as variáveis a serem medidas e os detalhamentos ou exatidões necessários a estas medidas, do ponto de vista dimensional.
A antropometria estática é aquela em que as medidas referem-se ao corpo parado ou
com poucos movimentos, enquanto que a dinâmica mede os alcances dos movimentos. Na
antropometria dinâmica, os movimentos de cada parte do corpo são medidos mantendo-se o
restante do corpo estático. Já na antropometria funcional considera-se as medidas relacionadas
com a execução de tarefas específicas, uma vez que cada parte do corpo não se move isoladamente, mas mediante uma conjugação de diversos movimentos (IIDA, 1990).
A definição das medidas envolve descrição de dois pontos, entre os quais serão realizadas as medidas. Cada medida a ser efetuada deve especificar claramente a sua localização no
corpo humano a partir de uma referência (piso, assento, etc), direção (horizontal, vertical, etc)
e postura adotada pelo indivíduo durante a medição (sentado, em pé, etc) (GRANDJEAN,
1998, IIDA, 1990).
2.8 REVISÃO DE DORT
O conjunto de doenças que são inflamações não infecciosas, provocadas por atividades
profissionais que exigem do trabalhador movimentos manuais repetitivos, continuados, rápidos, podendo ser vigorosos e combinados a um ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado, recebeu a designação de DORT, conforme justificado no Diário Oficial da União de
11 de julho de 1997 (ARIOSI, 2003, PRZYSIEZNY, 2000).
Vários autores explicam a disseminação da prevalência de DORT pelo aumento da carga de trabalho contínuo, privilegiando a alta produtividade e a qualidade do produto. Isto é
resultante do uso inadequado de sistemas mecanizados e de esteiras, aumento do trabalho manual que requer movimento contínuo dos dedos, movimentos repetitivos dos membros superiores, inadequação de equipamentos e mobiliários e diminuição de pausas e tempos livres.
Também fatores psicossociais como trabalho monótono e pesado, pressão por produtividade,
baixo suporte social e fatores psicológicos individuais, influenciam no surgimento destes distúrbios (IIDA, 1990, ARIOSI, 2003, PRZYSIEZNY, 2000).
Como lesões mais comuns destacam-se as mialgias, tendinites, tenossinovites, epicondilites, dedo em gatilho, síndrome do túnel do carpo, síndrome do desfiladeiro torácico, e lesões
de coluna, tais como lombalgias, dorsalgias e cervicalgias (ARIOSI, 2003).
2.9 FERRAMENTAS AUXILIARES DE ANÁLISE ERGONÔMICA
Através da análise ergonômica de um posto de trabalho pode-se obter um diagnóstico
ergonômico inicial do mesmo e, a partir destes dados, propor-se intervenções ergonômicas
que visem adequar o posto de trabalho ao trabalhador, conforme já discutido em itens anteriores, respeitando-se sempre a legislação vigente.
Neste trabalho propõe-se uma metodologia de análise ergonômica de postos de trabalho,
apresentada no Apêndice por meio de um fluxograma, a qual sugere uma seqüência de ações a
serem tomadas no sentido de realizar-se a análise ergonômica completa em postos de trabalho, desde a diagnose inicial até a verificação de eficácia das ações tomadas. Esta metodologia
utiliza algumas ferramentas auxiliares de desenvolvimento, comentadas abaixo.
16
No Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego normaliza, por meio das Normas Regulamentadoras (NR) de número 15 e 17, as atividades em condições insalubres e a aplicação da
ergonomia no ambiente de trabalho, respectivamente. Deve-se considerar também as normas
NBR 5413 e 10152, sendo estas todas constituintes da legislação vigente pertinente básica.
Usualmente a análise ergonômica de um posto de trabalho é motivada por fatores externos, como índices de absenteísmo e casos de DORT (DUL; WEERDMEESTER, 1998). Segundo Iida (1990), o enfoque ergonômico baseia-se principalmente na análise biomecânica
das posturas adotadas no posto de trabalho.
Conforme Guimarães (2001), os instrumentos de análise mais comuns dividem-se em
checklists, critérios semiquantitativos e critérios quantitativos. Ferramentas adicionais podem
ser utilizadas, incluindo-se, por exemplo, a eletromiografia de superfície e a dinamometria
eletrônica. A primeira trata da medição do potencial elétrico na superfície do corpo, resultante
dos esforços, enquanto a segunda trata da medição da força utilizada em determinado esforço.
Os checklists compreendem perguntas e dados que são interpretados como riscos em
uma escala. Nesta categoria encontra-se o checklist de Couto (2003). Os critérios semiquantitativos, como o critério de Moore & Garg, baseiam-se em observação direta ou indireta, com
os dados selecionados com base em perguntas e convertidos em escalas, tabelas ou diagramas.
Já os critérios quantitativos propõem fórmulas, como é o caso do equacionamento para levantamento de cargas proposto pelo National Institute of Occupational Safety and Health (NIOSH), nos EUA (GUIMARÃES, 2001).
Como afirma Guimarães (2001), no checklist de Couto (2003), apresentado no Anexo
A, a soma dos pontos permite uma avaliação simplificada do fator biomecânico de risco de
DORT nos membros superiores. Já o instrumento de Moore & Garg, desenvolvido por um
médico e um engenheiro nos EUA em 1995 e apresentado no Anexo B, é um aprimoramento
do método de Rodgers, sugerindo a avaliação de seis fatores, os quais são multiplicados entre
si, considerando-se além da força exercida pelo trabalhador, também a sua duração e repetitividade. O resultado da multiplicação relaciona-se com o risco biomecânico do posto de trabalho analisado, permitindo uma rápida visualização da intensidade deste risco. O critério de
Moore & Garg aplica-se bem a atividades que seguem uma rotina, mesmo que não repetitivas,
mas é limitado para atividades esporádicas, conforme afirma Couto (2002).
3. ESTUDO DE CASO
O estudo de caso apresentado neste trabalho desenvolveu-se no setor de pintura de uma
indústria automobilística. A análise ergonômica foi realizada considerando-se a operação propriamente dita, mas também o ambiente onde a mesma é desenvolvida. Analisaram-se as condições ergonômicas no processo de manufatura deste setor, utilizando-se para o desenvolvimento deste estudo de caso especificamente a operação de calafetação manual do assoalho
externo das unidades fabricadas nesta indústria.
Esta operação foi escolhida em função de apresentar os maiores índices de DORT dentre todas as 38 operações deste setor da empresa, com 19% do total de casos do setor. Os distúrbios constituem-se basicamente em dores musculares e desconforto na execução das atividades, principalmente em membros superiores e região da coluna vertebral.
A calafetação de um veículo é um processo de grande importância no que tange à durabilidade do produto e satisfação do cliente. Isto se justifica por ser este o processo responsável
pela estanqueidade da carroceria, impedindo a infiltração de água e poeira no interior da
mesma, o que caso ocorra pode vir a causar corrosão em médio prazo. A calafetação se dá
através da vedação das junções de chapas da carroceria. Esta vedação é feita pela aplicação de
polímero do tipo plastisol, a base de PVC, que polimeriza-se e enrijece-se ao ser exposto a
uma temperatura entre 150°C e 170°C, por aproximadamente 30min. A estanqueidade pro-
17
movida pelo plastisol polimerizado é verificada em 100% dos veículos produzidos, em uma
cabine específica para tal fim, equipada com uma série de jatos d’água circundantes do veículo, forçando a infiltração de água em caso de falhas na calafetação. O veículo passa nesta cabine após todo o processo de montagem, antes de sua liberação para o cliente, durante as
chamadas “verificações de pátio”, com o objetivo de simular situações severas de exposição
do veículo à água. A cabine utilizada para tal fim é apresentada na figura 1.
Figura 1 – Cabine de verificação de infiltrações em veículos
3.1 DESCRIÇÃO GERAL DA OPERAÇÃO ANALISADA
A operação de calafetação manual do assoalho externo situa-se exatamente posterior a
uma célula de robôs, do tipo antropomorfo, os quais são responsáveis pela aplicação automática do plastisol nas junções de chapas do assoalho externo da carroceria, como pode ser visto
na figura 2. Entretanto, mesmo com o processo de aplicação automática, faz-se necessário o
pincelamento manual do material aplicado pelo robô, de forma a garantir a perfeita vedação
das junções de chapas do assoalho da carroceria, sendo este o escopo principal da operação.
Na calafetação do assoalho externo, tanto a aplicação automática de plastisol como o
seu pincelamento manual, por limitações físicas de acesso a região, a operação é desenvolvida
com a carroceria disposta em um transportador aéreo, como também pode ser observado na
figura 2. Com isso permite-se que os robôs e empregados fiquem sob a carroceria e tenham
um melhor acesso e visualização à região. A verificação da qualidade do trabalho desenvolvido na operação de calafetação manual é executada pelo próprio operador, sem verificações
posteriores nos pontos específicos de verificação de qualidade, já que são poucas as operações, no processo de pintura, em que a carroceria está disposta no transportador aéreo, sendo
que nenhuma destas constitui-se em estação de verificação de qualidade.
Figura 2 – Célula de robôs com carroceria disposta em transportador aéreo
18
A operação analisada neste estudo de caso pode ser dividida em elementos, e cada elemento pode ser detalhado de forma a apresentar um melhor entendimento de cada um. Para
cada elemento mede-se o tempo que o empregado necessita para a realização da atividade do
elemento. A medição de tempo é realizada cinco vezes para cada elemento e utiliza-se a média aritmética simples dos tempos como tempo de elemento. Com a soma dos tempos de todos
os elementos da operação, chega-se ao tempo de ciclo da operação. Este deve ser inferior ao
tempo padrão calculado (takt time) da operação, o qual é o tempo calculado e designado como
disponível para a execução da operação.
3.2 CONDIÇÃO ERGONÔMICA INICIAL DA OPERAÇÃO
Na determinação da condição ergonômica inicial da operação questionou-se os empregados a respeito dos fatores que lhes causavam dor, desconforto, dificuldades de movimentos
ou fadiga excessiva. A partir dos relatos, fez-se a análise ergonômica, inicialmente por meio
de observação de cada elemento da operação, determinando-se as situações ergonomicamente
inadequadas, a gravidade das mesmas e as partes do corpo afetadas.
Nos relatos observaram-se como principais aspectos de dificuldades os seguintes fatores:
- Membros superiores suspensos sem apoio por muito tempo.
- Esforço estático do pescoço e região cervical.
- Torção e flexão da coluna vertebral e membros inferiores.
Os subitens a seguir apresentam a análise ergonômica inicial da operação, dividida nos
principais elementos que a constituem.
3.2.1. Pincelamento da caixa de roda dianteira
Foram identificadas neste elemento as seguintes situações ergonomicamente inadequadas: extensão e flexão do braço pelo empregado acima da altura do ombro para alcançar a
região do pincelamento; o empregado faz esforço estático na região cervical para melhor visualizar a região de pincelamento; utilização de pega do tipo pinça pulpar para segurar o pincel com firmeza, além da existência de abdução do ombro para a realização da operação. Estas situações podem ser ilustradas pela figura 3.
Na execução das atividades deste elemento observaram-se como partes do corpo afetadas: coluna vertebral, ombro, braço, cotovelo, antebraço, punho e mão.
Consideram-se as situações acima relatadas como de gravidade alta em termos de risco
ergonômico apresentado.
Figura 3 – Pincelamento da caixa de roda dianteira
19
3.2.2. Montagem de tubetes de papelão
A atividade realizada neste elemento é basicamente a montagem de tubetes de papelão
em quatro parafusos prisioneiros existentes na carroceria, onde é fixada a caixa de direção do
veículo no setor de montagem geral, evitando a deposição de tinta nos mesmos.
Neste elemento foram identificadas as seguintes situações ergonomicamente inadequadas: deslocamento do empregado até o ponto de coleta dos tubetes (2m); extensão e flexão do
braço pelo empregado acima da altura do ombro para alcançar a região de montagem dos tubetes; o empregado faz esforço estático na região cervical para visualizar a região de montagem dos tubetes; utilização de pega do tipo pinça pulpar para segurar os tubetes, além da existência de abdução do ombro para a realização da operação. Estas situações podem ser ilustradas pelas figuras 4 e 5.
Na execução das atividades deste elemento observaram-se como partes do corpo afetadas: braço, antebraço, ombro, pescoço, cotovelo e punho.
Consideram-se as situações acima relatadas como de gravidade média em termos de risco ergonômico, pois mesmo apresentando basicamente as mesmas situações inadequadas da
operação anterior, a amplitude e duração dos movimentos são sensivelmente menores.
Figura 4 – Ponto de coleta dos tubetes
Figura 5 – Montagem dos tubetes
3.2.3. Pincelamento da caixa de roda traseira e torre do gargalo
Este elemento apresenta, em relação ao pincelamento da caixa de roda dianteira, o agravante do pincelamento da região da torre do gargalo, que se localiza em altura maior e acesso
mais difícil, expondo o empregado a situações ergonômicas inadequadas adicionais.
Assim, foram identificadas neste elemento as seguintes situações ergonomicamente inadequadas: extensão e flexão do braço pelo empregado acima da altura do ombro para alcançar
a região do pincelamento; o empregado realiza esforço estático e flexão da região cervical,
bem como extensão da coluna vertebral, para melhor visualizar e alcançar a região de pincelamento, que se apresenta em altura muito elevada; utilização de pega do tipo pinça pulpar
para segurar o pincel com firmeza, além de necessidade de mudança do eixo de equilíbrio do
corpo e apoio na carroceria, em função da altura da região, o que obriga o empregado a extender-se na ponta dos pés para executar a operação adequadamente. Tais situações são ilustradas
pelas figuras 6 e 7.
Na execução das atividades deste elemento observou-se como partes do corpo afetadas:
braço, antebraço, ombro, pescoço, cotovelo, punho, coluna vertebral, tornozelos e poplíteo.
Consideram-se as situações acima relatadas como de gravidade alta em termos de risco
ergonômico apresentado.
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Figura 6 – Pincelamento da caixa de roda traseira e torre do gargalo
Figura 7 – Extensão na ponta dos pés
3.2.4. Pincelamento das junções do painel traseiro
Este elemento apresenta-se, do ponto de vista ergonômico, idêntico ao pincelamento da
caixa de roda dianteira, não sendo aqui novamente descrito. A figura 8 ilustra este elemento.
Figura 8 – Pincelamento das junções do painel traseiro
3.3 FATORES COMPLEMENTARES
Os seguintes fatores complementares foram observados na condição inicial de realização da operação analisada neste estudo de caso, segundo a metodologia proposta:
- Postura para trabalhar: postura em pé como única postura nesta operação.
- Diferença de método: as operações realizadas pelos empregados nos dois lados da carroceria
são bastante semelhantes; a operação é realizada de forma padronizada nos dois turnos de
produção, o que é garantido e documentado por meio de folhas de trabalho padronizado, elaboradas conjuntamente por equipes dos dois turnos de produção. Trabalham na operação dois
operadores por turno.
- Tempo de ciclo da operação: ciclo de operação com duração de 90s, sendo 80s de elementos
e 10s de deslocamentos.
-Takt time da operação: linha de produção com velocidade de 36 veículos por hora, resultando
em takt time de 100s.
- Taxa de ocupação do tempo: 90%, dado pela razão entre tempo de ciclo e takt time.
21
- Ritmo e nível de percepção de tensão: percebe-se nível de tensão elevado; os empregados
devem certificar a qualidade do seu trabalho, pois não há estações de verificação de qualidade
posteriores à sua operação.
- Carga horária de trabalho: dois turnos de 9h10min cada, com 1h de parada para refeição e
dois intervalos de 12min para descanso.
- Freqüência: operação realizada em todas as carrocerias (média de 270 carrocerias por turno).
Adicionalmente a estes fatores, outros especificamente relacionados ao ambiente de trabalho podem ser observados, conforme a seguir:
- Nível de iluminamento: nível médio de 385lux.
- Nível de ruído: 83,3 dB.
- IBUTG (Índice de bulbo úmido - Termômetro de Globo): 25,5°C; este índice relaciona a
temperatura de bulbo seco, de bulbo úmido e de globo, esta última medida com termômetro
de globo. A relação é definida pela NR15 do MTE, já comentada neste trabalho.
Sabe-se, mesmo antes das intervenções ergonômicas, que alguns destes fatores são de
difícil modificação e que, portanto deve-se lançar mão de mecanismos reguladores que minimizem seus possíveis efeitos negativos sobre os empregados.
3.4 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR
Neste estudo de caso, a partir da metodologia de análise ergonômica proposta, foram
utilizados dois instrumentos de avaliação complementar, os quais foram o checklist de Couto
(2003) e o critério semiquantitativo de Moore e Garg.
O primeiro apresentou como resultado o índice 11, o que significa a existência de um
fator biomecânico significativo; o segundo apresentou como resultado o índice 27, que significa um alto risco ergonômico, sendo este tão maior quanto maior for o índice do resultado
deste instrumento de avaliação.
Não foi utilizado o equacionamento proposto pelo NIOSH em virtude da operação analisada não apresentar levantamento manual de cargas.
3.5 INTERVENÇÕES ERGONÔMICAS E MECANISMOS DE REGULAÇÃO
A partir do diagnóstico da situação ergonômica inicial da operação de calafetação manual do assoalho externo e dos resultados dos instrumentos de avaliação complementar, podese sugerir e implementar intervenções ergonômicas que melhor adaptassem o ambiente de
trabalho aos empregados, reduzindo o risco ergonômico ao qual os mesmos estavam expostos.
Os fatores relacionados ao ambiente de trabalho não foram modificados em virtude de
apresentarem-se em conformidade com os limites estabelecidos na NR15.
Desta forma, foram implementadas as seguintes intervenções ergonômicas e/ou mecanismos de regulação:
- Elevação do piso da cabine, de forma a melhorar a biomecânica da operação de maneira
geral. Nas áreas de trabalho da cabine, excetuando-se a região de pincelamento central do
assoalho, o piso foi elevado em 30cm, e nas áreas de pincelamento das caixas de roda traseira
e junções do painel traseiro, foram instaladas plataformas adicionais, sobre o piso já elevado,
por estas serem as regiões de difícil acesso (maior altura), melhorando o acesso a estas áreas.
- Incremento do nível de iluminamento, com iluminação localizada nas regiões de mais difícil
acesso, aumentando o nível médio para 500lux, melhorando assim a visualização da operação
e diminuindo a pressão psicológica sobre o empregado durante a verificação de sua operação.
- Implementação de sistema de rodízio de mão-de-obra a cada meio turno de trabalho, proporcionando a adoção de posturas diferentes ao longo do turno que diminuem a sobrecarga em
22
posturas biomecanicamente críticas. Proporcionado também desenvolvimento técnico da mãode-obra, que foi treinada em outras operações para a devida realização do rodízio.
- Otimização da aplicação de plastisol, com redução da área com necessidade de pincelamento
manual de plastisol. Isto foi feito mediante uma revisão criteriosa dos pontos de real necessidade de pincelamento, que teve como base testes práticos e histórico de problemas de infiltração relatados por clientes. Como resultado desta ação, também foi reduzida a área de aplicação automática pelo robô e a conseqüente necessidade de pincelamento de alguns destes pontos, até então aplicados pelo robô. Assim, diminuiu-se o tempo de ciclo da operação, diminuindo a taxa de ocupação da mesma, além de diminuir o tempo de exposição dos empregados
às posturas biomecanicamente inadequadas.
- Modificação do ponto de coleta dos tubetes de papelão, aproximando-s do ponto de uso,
com eliminação do deslocamento dos empregados.
A figura 9, abaixo, apresenta a cabine com algumas das intervenções ergonômicas realizadas, conforme indicado na própria figura.
Plataformas
adicionais
Piso elevado nas
áreas de trabalho
Novo ponto de
coleta de tubetes
Figura 9 – Cabine com elevação de piso e plataformas adicionais
Além das intervenções ergonômicas e mecanismos de regulação implementados, podem
ser propostas ações adicionais não implementadas durante a realização deste trabalho, as quais
ficam como sugestão de implementação futura, conforme segue abaixo:
- Instalação de plataformas de altura regulável, com acionamento pneumático, que permitam
adequação da altura de trabalho às alturas dos diferentes empregados que trabalham na estação, conforme estabelecido pelo sistema de rodízio de mão-de-obra.
- Implementação de programa de ginástica laboral, buscando-se um melhor condicionamento
físico e distensionamento dos empregados na utilização repetitiva dos grupos musculares.
4. DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Percebeu-se, após a implementação das intervenções ergonômicas e mecanismos de
regulação descritos anteriormente neste trabalho, uma redução do índice de veículos que apresentam infiltração d’água, o qual verifica-se ser inferior a 2%. A redução obtida sobre este
percentual foi de aproximadamente 20%, conforme análise realizada em 100% das unidades
na cabine de testes de infiltração.
Esta evolução do índice é significativa, considerando-se que o índice de unidades que
apresentam infiltração d’água é muito pequeno, sendo inferior a 2%, de forma que reduções
23
percentuais sobre este item refletem, objetivamente, um menor volume de veículos que necessitam de retrabalhos em função de infiltração.
Entretanto, não se pode atribuir a evolução mencionada exclusivamente às intervenções
e mecanismos implementados, uma vez que, paralelamente a este trabalho, foram tomadas
ações no sentido de otimizar o material utilizado (plastisol) em características como viscosidade e temperatura de aplicação do mesmo. Estas variáveis influenciam diretamente nas características de vedação do material e na necessidade de pincelamento manual das junções de
chapa. Como o escopo deste trabalho baseia-se nas intervenções ergonômicas e mecanismos
de regulação utilizados, as características e ações sobre o material não são amplamente discutidas, sendo somente brevemente apresentadas. De qualquer maneira, acredita-se que as ações
tomadas foram fundamentais para a obtenção da evolução comentada.
Adicionalmente, percebeu-se um menor índice de queixas de dores e desconforto dos
empregados da operação modificada, os quais consideram a condição modificada da operação
melhor que a condição inicial apresentada neste estudo de caso. Esta avaliação é subjetiva, já
que se parte da impressão dos empregados, mas é de grande importância, pois a impressão dos
empregados serve de indicador de probabilidade de existência de DORT na realização de determinada atividade (IIDA, 1990).
Desta forma, com os resultados de ganhos de qualidade do produto e redução de custos
com retrabalho, verifica-se uma validação da metodologia de análise ergonômica proposta
neste trabalho, a qual pode ser aplicada em outras operações, setores e empresas, respeitandose sempre as características e limitações de cada situação. Na realização de novas análises
ergonômicas, sugere-se a preparação de um cronograma que contemple tempo suficiente para
a implementação plena das ações sugeridas, de forma que todos os resultados possam ser mais
precisamente avaliados.
5. CONCLUSÕES
Pode-se afirmar que os principais objetivos do trabalho foram atingidos, os quais foram
a melhoria da qualidade do produto e redução de custos com retrabalhos, denotados pela redução do índice de veículos com infiltração d’água, e a melhor adaptação do ambiente de trabalho aos empregados da operação analisada, denotada pela observação de melhores posturas
biomecânicas e diminuição do número de queixas de dores e desconforto por parte dos empregados. Com estes resultados, o objetivo maior do trabalho também se mostra atingido, o
qual era a validação da metodologia de análise ergonômica de postos de trabalho proposta.
O trabalho aqui apresentado restringiu-se à análise de uma única operação do processo
de pintura, onde foram realizadas algumas intervenções ergonômicas e implementados alguns
mecanismos de regulação. Entretanto, não houve tempo disponível durante a realização deste
trabalho para a implementação de todas as ações propostas. Desta forma, fica como sugestão à
empresa onde se realizou o estudo de caso , a implementação das ações sugeridas mas ainda
não implementadas e a extensão deste trabalho a outras operações e setores.
Novos trabalhos podem dar continuidade a este, no que se pode sugerir a utilização de
outras ferramentas de análise complementar, tais como a eletromiografia de superfície e a
dinamometria eletrônica, a fim de verificar-se experimentalmente, por meio de medições mecânicas, os esforços musculares e forças exercidas pelos empregados na realização de suas
atividades, comparando-se os resultados com as impressões dos empregados.
Assim, pode-se concluir com este trabalho que mesmo simples intervenções ergonômicas, como as realizadas, trazem melhoras ergonômicas aos empregados, promovendo a otimização do seu bem-estar e do desempenho geral do sistema, até mesmo do ponto de vista de
qualidade do produto final da empresa, respeitando assim o conceito de ergonomia apresentado pela ABERGO (2003).
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6. REFERÊNCIAS
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acesso em 19 de dezembro de 2003.
ARIOSI, J., disponível em: http://www.safetyguide.com.br, acesso em dezembro de 2003.
COUTO, H. de A., “Ergonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana”, v.1, Belo Horizonte: ERGO Ltda, 1995.
COUTO, H. de A., “Ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lições”, Belo Horizonte: ERGO Ltda, 2002.
COUTO, H. de A., “Checklist de Couto”, disponível em http://www.ergoltda.com.br, acesso
em 02 de dezembro de 2003.
DUL, J.; WEERDMEESTER, B., “Ergonomia prática”, São Paulo: Edgard Blücher Ltda,
1998.
GRANDJEAN, E., “Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem”, 4.ed. Porto
Alegre: Artes Médicas Ltda, 1998.
GUIMARÃES, L. B. M., “Ergonomia de Processo”, v.1, 3.ed. Porto Alegre: UFRGS/EE/PGEP, 2000.
GUIMARÃES, L. B. M., “Ergonomia de Produto”, v.1, 3.ed. Porto Alegre:
ENG/UFRGS/EE/PGEP, 2001.
FE-
IIDA, I., “Ergonomia: projeto e produção”, São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1990.
LAVILLE, A., “Ergonomia”, São Paulo: Pedagógica e Universitária Ltda, 1977.
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), “Nota Técnica 060/2001”, disponível em:
http://www.mte.gov.br, acesso em 19 de dezembro de 2003.
MORAES, A. de; MONT’ALVÃO, C., “Ergonomia: Conceitos e Aplicações”, Rio de Janeiro: 2AB, 1998.
PEDERIVA, C. L., “Intervenções ergonômicas visando reduzir o estresse do trabalho”,
Trabalho de Conclusão de Curso, curso de Fisioterapia, Instituto Porto Alegre da Rede Metodista de Educação, Porto Alegre, 2002.
PEREIRA, E. R., “Fundamentos de ergonomia e fisioterapia do trabalho”, Rio de Janeiro:
Taba Cultural, 2001.
PRZYSIEZNY, W. L., “Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho: um enfoque ergonômico”, Revista Tecno-Científica, v. 08, n. 31, Blumenau: Dynamis, 2000.
RIO, R. P. do; PIRES, L., Ergonomia: fundamentos da prática ergonômica”, 2.ed. Belo
Horizonte: Health, 1999.
WISNER, A., “Por dentro do trabalho: ergonomia: método & técnica”, São Paulo: FTD,
1987.
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ANEXOS
ANEXO A – CHECKLIST DE COUTO (2003)
1. Sobrecarga Física
1.1- Há contato da mão/punho ou tecidos moles com quina viva de objetos ou ferramentas?
Sim (0)
Não (1)
1.2- O trabalho exige o uso de ferramentas vibratórias?
Sim (0)
Não (1)
1.3- O trabalho é feito em condições ambientais de frio excessivo?
Sim (0)
Não (1)
1.4- Há necessidade do uso de luvas?
Sim (0)
Não (1)
1.5- Entre um ciclo e outro há a possibilidade de um pequeno descanso? Ou há pausa bem
definida de cerca de 5 a 10 minutos por hora?
Não (0)
Sim (1)
2. Força com as Mãos
2.1- Aparentemente as mãos têm que fazer muita força?
Sim (0)
Não (1)
2.2- A posição de pinça (pulpar, lateral ou palmar) é utilizada para fazer força?
Sim (0)
Não (1)
2.3- Quando usados para apertar botões, teclas ou componentes, para montar ou inserir, ou
para exercer compressão digital, a força de compressão exercida pelos dedos ou pela mão
é grande?
Sim (0)
Não ou não se aplica (1)
2.4- O esforço manual detectado é feito durante mais que 10% do ciclo ou é repetido mais que
8 vezes por minuto?
Sim (0)
Não (1)
3. Postura no Trabalho
3.1-Há algum esforço estático da mão ou do antebraço como rotina na realização do trabalho?
Sim (0)
Não (1)
3.2-Há algum esforço estático do braço ou do pescoço como rotina na realização do trabalho?
Sim (0)
Não (1)
3.3-O trabalho pode ser feito sem extensão ou flexão forçadas do punho?
Não (0)
Sim (1)
3.4-O trabalho pode ser feito sem desvio lateral forçado do punho?
Não (0)
Sim (1)
3.5-Há abdução do braço acima de 45 graus ou elevação dos braços acima do nível dos ombros como rotina na execução da tarefa?
Sim (0)
Não (1)
3.6-Existem outras posturas forçadas dos membros superiores?
Sim (0)
Não (1)
3.7- O trabalhador tem flexibilidade na sua postura durante a jornada?
Não (0)
Sim (1)
26
4. Posto de Trabalho
4.1- O posto de trabalho permite flexibilidade no posicionamento das ferramentas, dispositivos e componentes, incluindo inclinação dos objetos quando isto for necessário?
Não (0)
Sim (1)
Desnecessária a flexibilidade (1)
4.2- A altura do posto de trabalho é regulável?
Não (0)
Sim (1)
Desnecessária a regulagem (1)
5. Repetitividade e Organização do Trabalho
5.1- O ciclo de trabalho é maior que 30 segundos?
Não (0)
Sim (1)
Não há ciclos (1)
5.2- No caso de ciclo maior que 30 segundos, há diferentes padrões de movimentos (de forma
que nenhum elemento da tarefa ocupe mais que 50% do ciclo?)
Não (0)
Sim (1)
Ciclo <30 segundos (0)
Não há ciclos (1)
5.3- Há rodízio (revezamento) nas tarefas?
Não (0)
Sim (1)
5.4- Percebe-se sinais de estar o trabalhador com o tempo apertado para realizar sua tarefa?
Sim (0)
Não (1)
5.5- A mesma tarefa é feita por um mesmo trabalhador durante mais que 4 horas por dia?
Sim (0)
Não (1)
6. Ferramenta de Trabalho
6.1- Para esforços em preensão, com esforços em pinça:
O cabo não é muito fino nem muito grosso e permite boa estabilidade da pega?
Não (0)
Sim (1)
Não há ferramenta (1)
6.2- A ferramenta pesa menos de 1 kg ou, no caso de pesar mais de 1 kg, encontra-se suspensa
por dispositivo capaz de reduzir o esforço humano?
Não (0)
Sim (1)
Não há ferramenta (1)
- Resultado: total de 11 pontos, o que representa um fator biomecânico significativo.
ANEXO B – CRITÉRIO SEMIQUANTITATIVO DE MOORE & GARG
Fator Intensidade do Esforço (FIE)
Classificação
Leve
Algo pesado
Pesado
Muito pesado
Próximo ao máximo
Caracterização
Tranqüilo
Percebe-se algum esforço
Esforço nítido, sem mudança de expressão facial
Esforço nítido, com mudança de expressão facial
Usa troco e ombros, além de grupos auxiliares
Multiplicador
1
3
6
9
13
27
Fator Duração do Esforço (FDE) – A classificação é feita pela relação entre o tempo com
realização de esforço no ciclo, e o tempo de ciclo da operação.
Classificação
≤ 9%
10–29%
30-49%
50-79%
≥ 79%
Multiplicador
0,5
1,0
1,5
2,0
3,0
Fator Freqüência do Esforço (FFE) – Considerar as diversas ações técnicas, e freqüência
máxima quando o esforço for estático.
Classificação
≤ 3/min
4-8/min
9-14/min
15-19/min
≥ 20/min
Multiplicador
0,5
1,0
1,5
2,0
3,0
Fator Postura da Mão, Punho, Ombro e Coluna (FPMPOC)
Classificação
Muito boa
Boa
Razoável
Ruim
Muito ruim
Caracterização
Multiplicador
0,5
1,0
1,5
2,0
3,0
Neutro
Próximo ao neutro
Não neutro
Desvio nítido
Desvio próximo dos extremos
Fator Ritmo de Trabalho (FRT)
Classificação
Muito lento
Lento
Razoável
Rápido
Muito rápido
Caracterização
≤ 80%
81–90%
91-100%
101-116% - apertado, mas ainda consegue acompanhar
≥ 116% - apertado e não consegue acompanhar
Multiplicador
0,5
1,0
1,5
2,0
3,0
Fator Duração do Trabalho (FDT)
Classificação
≤ 1h
1-2h
2-4h
4-8h
≥ 8h
Multiplicador
0,25
0,5
0,75
1,0
1,5
Interpretação: multiplicam-se os fatores, seguindo-se o critério abaixo, resultando em 27.
<3,0 – baixo risco de lesão biomecânica
3-7,0 – duvidoso
>7,0 – alto risco de lesão biomecânica
28
APÊNDICE - Fluxograma de Medotologia de Análise Ergonômica
INÍCIO
Definição do posto de
trabalho a ser analisado
Detalhamento e análise do
contexto da operação
Medição das condições ambientais
(ruído, iluminamento, IBUTG)
NÃO
Resultados de acordo
com a legislação?
Possível
correção?
SIM
SIM
Corrigir as
discrepâncias
NÃO
Avaliação dos métodos e
organização do trabalho
(rodízio, pausas, repetibilidade,
carga-horária, ritmo, etc)
São necessárias
mudanças?
Utilizar medidas de
controle e regulação
SIM
Fazer as correções possíveis
ou utilizar medidas de
controle e regulação
SIM
Utilizar o equacionamento
para levantamento de cargas
(NIOSH)
NÃO
Há levantamento
manual de cargas?
NÃO
Utilização do
Checklist de Couto
Utilização do Critério de
Moore & Garg
Análise de resultados
Definição das melhorias
ergonômicas
Implementação das
melhorias ergonômicas
Verificação de resultados
FIM

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