CENTRO DE ENSINO FACULDADE SÃO LUCAS Yuri Vasconcelos
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CENTRO DE ENSINO FACULDADE SÃO LUCAS Yuri Vasconcelos
CENTRO DE ENSINO FACULDADE SÃO LUCAS Yuri Vasconcelos Andrade APLICAÇÕES DE NANOCORPOS DE CAMELÍDEOS NA TERAPÊUTICA E DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA Porto Velho - RO 2015 YURI VASCONCELOS ANDRADE APLICAÇÕES DE NANOCORPOS DE CAMELÍDEOS NA TERAPÊUTICA E DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Biomedicina da Faculdade São Lucas, para obtenção do grau de Bacharelado da Faculdade São Lucas. Orientador: Dr.a Soraya dos Santos Pereira. Porto Velho - RO 2015 YURI VASCONCELOS ANDRADE APLICAÇÕES DE NANOCORPOS DE CAMELÍDEOS NA TERAPÊUTICA E DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Biomedicina da Faculdade São Lucas, para obtenção do grau de Bacharelado da Faculdade São Lucas. Orientador: Dr.a Soraya dos Santos Pereira. Aprovado (a): _________________________________ Dr.a Soraya dos Santos Pereira Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz Rondônia (Presidente) ___________________________ Nome – Local de origem (Membro) _______________________________ Nome – local de origem (Membro) ___________________________ Nome – Local de origem (Membro) Porto Velho – RO 2015 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus pela ajuda concebida e por me proporcionar mais uma oportunidade de crescer. A meus pais, pelos ensinamentos e exemplo de vida, pelo incentivo ao estudo e direcionamento a caminhos excelentes. Agradeço também a minha orientadora Dr.a Soraya dos Santos pela paciência, ajuda, ensinamentos, oportunidades e por ter acreditado em mim. A Dr.a Carla Freire Celedônio Fernandes pela oportunidade dada. A FIOCRUZ – RO e aos integrantes do Laboratório de Engenharia de Anticorpos, Marcos Barros, Luciana, Antonieta Lelo, Michelle Suelen, Nauanny Lima, Erika e em especial ao M.e Naan Rodrigues pela enorme ajuda, sempre se dispondo quando precisei, pelos conselhos, paciência e principalmente pela AMIZADE. A meus Amigos ADILA TAI, JULIANA MAGALHÃES, GUILHERME ÁVILA, por estarem sempre do meu lado em momentos alegres e difíceis, paciência, conselhos... A todos os meus professores pelo aprendizado. Ó Israel, confia no SENHOR; Ele é Tua ajuda e Teu escudo. Casa de Arão, confiai no SENHOR; Ele é Sua ajuda e Seu escudo. Os que temeis ao SENHOR, confiai no SENHOR; Ele é Sua ajuda e Seu escudo. Salmos: 115: 9-11. RESUMO Introdução: Os anticorpos são moléculas produzidas pelo sistema imunológico em resposta a organismos estranhos com a finalidade de eliminá-los do organismo. Produzidos pela tecnologia do hibridoma, os anticorpos monoclonais, são utilizados como importantes ferramentas aplicáveis no tratamento e diagnóstico de doenças, constituindo uma das maiores classes de biofármacos desenvolvidos. No entanto, devido as características funcionais e estruturais desses anticorpos, suas aplicações apresentam certas limitações. Através de técnicas moleculares foram desenvolvidas variadas formatações de anticorpos monoclonais, como moléculas quimeras, recombinantes, além dos fragmentos de anticorpos Fab e scFv. Alternativamente, outros fragmentos vêm se destacando por apresentarem características bioquímicas e biofísicas favoráveis para fins de aplicações biomédicas, os referidos nanocorpos ou VHHs, que compreendem os domínios únicos de reconhecimento antigênico, derivados de anticorpos de cadeia pesada de camelídeos. Nesta perspectiva, este trabalho foi desenvolvido para demonstrar a diversidade da utilização dos nanocorpos em variados campos da saúde. Objetivo: Levantar as principais aplicações dos nanocorpos de camelídeos na terapêutica e diagnóstico de doenças que acomentem o homem. Metodologia: Foi realizado um levantamento bibliográfico, através de consultas em livros, banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e artigos indexados nos bancos de dados disponíveis on line. Resultados: Os anticorpos monoclonais constituem insumos potenciais, entretanto, as dificuldades farmacocinéticas, relacionadas a penetração tecidual e alto custo de produção, além do desenvovimento de respostas imunológicas anti-murino e intoxicações, acabam por limitar a utilização clínica desses anticorpos. Apesar das vantagens advindas pelo uso dos fragmentos de anticorpos, a saber, redução da imunogenicidade, maior capacidade de penetração tecidual e melhor farmacodinâmica, esses não superaram as dificuldades de baixa estabilidade e afinidade, além de não desencadearem respostas efetoras. Com isso, a proposta da utilização dos nanocorpos têm se mostrado eficiente para fins de produção dos imunobiológicos. Pois estes demonstram ter afinidade e especificidade iguais ou superiores às apresentadas pelos anticorpos monoclonais, tais como, elevada solubilidade, alta estabilidade quando submetidos a variações de temperatura e pH, além da boa capacidade de penetração tecidual e baixo custo de produção em larga escala, apresentando-se como ferramentas promissoras para aplicações na terapia e diagnóstico de doenças neurodegenerativas, virais, inflamatórias, câncer, dentre outras. Conclusão: Devido as características físicoquímicas, atreladas ao baixo custo de produção, os nanocorpos são ferramentas farmacológicas potenciais para aplicações clínicas e no desenvolvimento de dispositivos diagnósticos voltados a diversos tipos de doenças, podendo compor novas classes de imunobiológicos aplicáveis nos diversos campos da ciência. Palavras-chaves: Anticorpos. Anticorpos monoclonais. Terapêutica. Diagnóstico. Nanocorpos ou VHH. ABSTRACT Introduction: Antibodies are molecules produced by the immune system in response to foreign organisms for the purpose of eliminating them from the organism. Produced by hybridoma technology, monoclonal antibodies are used as important tools in the treatment and diagnosis of diseases, constituting one of the largest classes of biopharmaceuticals developed. However, because of the functional characteristics and structure of these antibodies, their application has certain limitations. Using molecular techniques various formats of monoclonal antibodies have been developed, such as chimeras molecules, recombinant, in addition to Fab and scFv antibody fragments. Alternatively, other fragments have been highlighted for being favorable biochemical and biophysical characteristics for purposes of biomedical applications, such nanobodies or VHHs, comprising the single domains of antigen recognition, derived from the heavy chain antibodies of camels. In this perspective, this study was designed to demonstrate the diversity of the use of nanobodies in several fields of health. Objective: This study aimed to identify the main applications of camelid nanobodies in the treatment and diagnosis of diseases that acomentem man. Methods: A bibliographical survey was conducted through consults on books, theses and dissertations database of Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) and papers available on line. Results: Monoclonal antibodies are potential inputs, however, the pharmacokinetic difficulties related to tissue penetration, the high cost of production and the development of anti-murine immune response and poisoning, limit the clinical use of these antibodies. Despite the advantages from the use of antibody fragments, namely, reduced immunogenicity, increased tissue penetration and better pharmacodynamics, these have not overcome the problems of poor stability and affinity, and does not triggering effector responses. Thus, the proposed use of nanobodies have proven effective for the biopharmaceuticals production purposes. Once these demonstrate an affinity and specifity equal or greater than those presented by the monoclonal antibodies, such as high solubility, high stability when subjected to variations in temperature and pH, in addition to good capacity for tissue penetration and low-cost in large-scale production, they are presented as promising tools for application in therapy and diagnosis of neurodegenerative, viral and inflammatory diseases, cancer, among others. Conclusion: Due the physicochemical characteristics, linked to low production cost, the nanobodies are potential pharmacological tools to clinical application and development of diagnostic devices of diseases, being part of a new class of biopharmaceuticals applicable in the several fields of science. Key words: Nanobodies. Monoclonal antibodies. Therapy. Diagnosis. Nanobody or VHH. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 68 Ga - Radionucleotídeo gálio-68 99 TC - Radioisótopo Tecnécio-99m ADCC - Citotoxicidade Celular Dependente de Anticorpo Ags - Antígenos AM - Androctonus mauretanicus Arg - Arginina AVC - Acidente vascular cerebral BoNT - Neurotoxina botulínica CDR - Regiões Determinantes de Complementaridade CEA - Antígeno Carcinoembrionário CH - Constante Pesada CL - Constante Leve c-Met - Receptor do fator de crescimento de hepatócitos CXCR7 - Receptor de quimiocinas DF-Bz-NCS - p-isothiocyanatobenzyl-desferrioxamine E.coli -Escherichia coli EGFR - Receptor do Fator de Crescimento Epidérmico Humano ELISA - Ensaio Imunoenzimático EUA - Estados Unidos da América Fab - Fragmento de ligação ao antígeno Fc - Fragmento cristalizável FDA - Food And Drug Administration FRs - Frameworks Glu - Glutamato Gly - Glicina HAMA - Anticorpos Humanos Anti-murinos HCAbs - Anticorpos de cadeia pesadas HCV - Vírus da hepatite C HER2 - Fator de Crescimento Epidérmico Humano HGF - Fator de crescimento de hepatócitos HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana HPV - Papilomavírus Humano IgA - Imunoglobulina A IgD - Imunoglobulina D IgE - Imunoglobulina E IgG - Imunoglobulina G IgM - Imunoglobulina M Igs - Imunoglobulinas kDa - Quilodalton Leu - Leucina LNH - Linfomas não-Hodgkin mAbs - Anticorpos Monoclonais MMR - Receptor de Manose dos Macrófagos MUC-1 - Glicoproteína mucina 1 OPMD - Distrofia muscular oculofaríngea PABPN1 - Proteína de ligação nuclear pb - Pares de bases PCR - Reação em Cadeia da Polimerase PEG - Polietileno Glicol PEN - Peptídeo penetrante celular PET - Cromatografia por emissão de pósitrons Phe - Fenilalanina RA - Artrite Reumatóide rDNA - Tecnologia do DNA Recombinante RNA - Ácido ribonucléico ROS - Espécies Reativas de Oxigênio RSV - Vírus Sincicial Respiratório scFv - Fragmento variável de cadeia única SPECT - Tomografia computadorizada por emissão de fóton único STEC - Escherichia coli Produtora da Toxina Shiga STX 1 e 2 - Toxinas Shiga TNF - Fator de Necrose Tecidual TRAIL - TNF-related apoptosis-inducing ligand Trp - Triptofano TSST-1 - Toxina 1 da Síndrome do Choque Tóxico Val - Valina VCAM1 - Molécula de adesão da célula vascular 1 VGFR2 - Fator de Crescimento do Endotélio Vascular VH – Domínio Variável Pesada VHH – Domínio Variável da Cadeia Pesada VL - Domínio Variável Leve LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Estrutura da imunoglobulina G (IgG) 19 Figura 2 - Demonstração esquemática da estrutura da IgG1 com seus fragmentos 22 Figura 3 - Fragmentos de anticorpos obtidos a partir da Tecnologia do DNA Recombinante 23 Figura 4 - Anticorpos presentes no soro de camelídeos 26 Figura 5 - Diferenças na organização estrutural do VH de anticorpos convencionais e de VHHs 27 Figura 6 - Formatações com Nanocorpos 28 Quadro 1 - Os principais alvos utilizados contra doenças neoplásicas 30 Quadro 2 - Aplicações dos nanocorpos na neutralização de toxinas animais 32 Quadro 3 - Aplicações dos nanocorpos em doenças neurodegenerativas 34 Quadro 4 - Demonstração da aplicação de nanocorpos em doença inflamatória 35 Quadro 5 - Aplicações dos nanocorpos em doenças virais 37 Quadro 6 - Aplicações dos nanocorpos em diagnósticos 39 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 13 2 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 15 2.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 15 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................... 15 3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 16 4 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................................... 17 4.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ANTICORPOS .................................................... 17 4.2 ENGENHARIA DE ANTICORPOS ................................................................................ 19 4.2.1 Anticorpos Monoclonais .............................................................................................. 19 4.2.1.1 Aplicações dos Anticorpos Monoclonais..................................................................... 20 4.2.2 Fragmentos de Anticorpos .......................................................................................... 21 5 ANTICORPOS DE CAMELÍDEOS ................................................................................ 25 5.1 NANOCORPOS DE CAMELÍDEOS .............................................................................. 26 5.1.1 Aplicações potenciais dos nanocorpos ........................................................................ 28 5.1.1.1 Câncer ......................................................................................................................... 29 5.1.1.2 Toxinas ........................................................................................................................ 30 5.1.1.3 Doenças Neurodegenerativas ...................................................................................... 32 5.1.1.4 Inflamatórias ............................................................................................................... 34 5.1.1.5 Virais ........................................................................................................................... 35 5.1.1.6 Diagnóstico ................................................................................................................. 37 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 40 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 41 13 1 INTRODUÇÃO Os anticorpos são proteínas plasmáticas que, além de promoverem proteção contra antígenos, são utilizados como ferramentas para aplicações terapêuticas e diagnósticas (ABBAS et al, 2008). Constituem o maior grupo de moléculas utilizadas como biofármacos, com um potencial de aplicação em doenças neoplásicas, inflamatórias e infecciosas (MCCARRON et al., 2005; CORDEIRO et al., 2014). Essas moléculas representam ferramentas com ampla aplicabilidade em laboratórios voltados à diagnóstico e pesquisa em múltiplas áreas do conhecimento. A produção dos anticorpos monoclonais descritos por George Köhler e Milstein Cesar em 1975, através da tecnologia de hibridoma, representou o avanço biotecnológico (ABBAS et al, 2008; ROQUE et al., 2004). Apesar do sucesso da técnica, as aplicações dos anticorpos monoclonais, obtidos de murinos, apresentam limitações para aplicações clínicas relacionadas com o desenvolvimento de resposta imune pelo organismo humano contra esses anticorpos, apresentam baixa capacidade de penetração tecidual e alto custo de produção (AHMAD et al., 2012; DOS SANTOS et al., 2006; KIJANKA et al., 2015). Os principais desafios relacionados à produção de imunobiológicos terapêuticos compreendem, não somente na qualidade e eficácia do anticorpo, mas também no desenvolvimento de técnicas que gerem menos custos de produção (ROQUE et al., 2004). Desta forma, novos formatos de anticorpos vêm sendo desenvolvidos. A partir de ferramentas biotecnológicas e biologia molecular, é possível a manipulação e construção de fragmentos de anticorpos com menor imunogenicidade (CARNEIRO et al., 2012). Os fragmentos de anticorpos nos formatos Fab, Fv e scFv apresentam, além de baixa imunogenicidade, maior capacidade de penetração tecidual e melhor farmacodinâmica (NELSON, 2010; AHMAD et al., 2012). No entanto, as utilizações de fragmentação dos anticorpos apresentam limitações, como por exemplo, uma menor estabilidade molecular, levando a agregação dos fragmentos, um menor tempo de circulação no paciente e baixa afinidade, além das dificuldades encontradas para produção em larga escala (SIONTOUROU et al., 2013). Em busca de novas ferramentas que superem os problemas apresentados pelos fragmentos de anticorpos, os nanocorpos ou VHHs, derivados de anticorpos de cadeia pesada de camelídeos têm apresentado grande potencial para aplicações medicamentosas devido as suas características biofísicas (KOLKMAN; LAW, 2010), podendo ser produzidos a custos 14 relativamente baixos por técnicas de expressão em microrganismos (HARMSEN; HAARD, 2007). Os nanocorpos apresentam pequeno tamanho molecular de aproximadamente 15 kDa, elevada especificidade e afinidade, e resistência a condições desnaturantes (DE GENST et al., 2006; DUMOULIN et al., 2002). Outra característica que eles apresentam é a possibilidade de serem multimerizados para construção de moléculas bivalentes e biespecíficas (MUYLDERMANS et al., 2009), resultando em maior ligação e inibição de alvos específicos. Por todas essas características os nanocorpos têm sido atrativos para diversos estudos com fins terapêuticos e diagnósticos em diferentes doenças, como as neoplásicas, neurodegenerativas, virais, inflamatórias, autoimunes e infecciosas (MORAIS et al., 2014). A potencialidade dos nanocorpos vem sendo explorada em pesquisas acadêmicas e para fins de produção comercial, como exemplo a empresa Ablynx®, que desenvolve em colaboração com indústrias farmacêuticas, nanocorpos endereçados a um número variado de alvos, voltados para doenças agudas e crônicas com finalidade terapêutica. Atualmente, a empresa possui seis nanocorpos em desenvolvimento em diferentes fases de estudo, voltados para doenças inflamatórias, hematológicas, neutralização de infecção viral por vírus sincicial respiratório (RSV), doenças autoimunes e oncológicas. Visando a importância do conhecimento sobre novos insumos biotecnológicos empregados nas ciências da saúde, este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico, sobre a aplicabilidade terapêutica e diagnóstica dos nanocorpos às doenças de importância médica que acometem o homem, demonstrando sua capacidade de interagir contra diversos alvos antigênicos. 15 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Demonstrar a diversidade de aplicações dos nanocorpos de camelídeos como ferramentas alternativas empregadas na terapêutica e diagnóstico de doenças de importância médica. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Descrever as características gerais e funções atribuídas aos anticorpos convencionais; Demonstrar as diferentes formatações de anticorpos empregados no campo da ciência; Levantar as principais utilizações dos anticorpos monoclonais, fragmentos de anticorpos e nanocorpos de camelídeos; Demonstrar a aplicabilidade dos nanocorpos na terapêutica e diagnóstico de doenças de importância médica que acometem o homem. 16 3 METODOLOGIA Este estudo trata-se de uma revisão de literatura especializada, onde a busca foi realizada no período de junho a novembro de 2015, caracterizando-se uma pesquisa qualitativa para procedimento monográfico. Foram realizadas consultas bibliográficas em livros de nível superior, banco de dissertações, teses e periódicos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), assim como artigos indexados disponíveis em endereços eletrônicos. Para isso, foram realizadas pesquisas na Biblioteca Dom João Batista Costa e consultados os seguintes banco de dados: PubMed, NCBI – National Center for Biotechnology Information, BVS (Biblioteca Virtual em saúde). Como estratégias de busca foram utilizadas as palavras- chave: anticorpo, diagnósticos e tratamento, nanocorpo (VHH) e anticorpo monoclonal. Como critérios para inclusão foram utilizados artigos bibliográficos e livros voltados para os eixos temáticos, incluindo tanto os escritos na língua portuguesa quanto inglesa, publicados entre o período de 1993 a 2015. Foram adotados como critérios de exclusão, o período de publicação, e os trabalhos que não se enquadraram na abrangência da temática. 17 4 REVISÃO DA LITERATURA 4.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS ANTICORPOS Um dos mecanismos de defesa do sistema imunológico dos mamíferos frente a substâncias estranhas denominadas de antígenos (Ags) é através da produção de anticorpos. Essas moléculas são proteínas plasmáticas efetoras constituídas por polipeptídios e carboidratos, também denominados de imunoglobulinas (HYDE, 2002). Os anticorpos são produzidos por linfócitos B, podendo ser encontrados em sua superfície conferindo especificidade antigênica e desencadeando a expansão clonal (KUBY, 2007) ou podem ser secretados no sangue, tecidos e mucosas, com capacidade de distinguir diferentes moléculas se ligando fortemente aos patógenos e neutralizando diversas toxinas. Desencadeiam diferentes mecanismos da resposta imune através da ativação do sistema complemento, citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC) e processos de hipersensibilidade imediata, dentre outros (ABBAS et al., 2008). Com características estruturais semelhantes, os anticorpos são formados basicamente por duas cadeias polipeptídicas leves (L, Light chains) e duas cadeias pesadas (H, Heavy chains) (Figura 1A). A cadeia leve com aproximadamente 24 kDa, é composta por uma região variável (VL, Variable light) e uma região constante (CL, Constant light) unidas por pontes dissulfeto. A cadeia pesada com peso molecular de 50 a 70 kDa, é constituída por quatro domínios, sendo um variável (VH) e três constantes (CH1, CH2, CH3) ligadas entre si, além de uma dobradiça presente entre os domínios CH1 e CH2 que confere ao anticorpo flexibilidade (ABBAS et al., 2008; CALICH, 2001). As cadeias L e H possuem uma região aminoterminal variável (VL, Variable Light e VH, Variable Heavy), estruturalmente reconhecida como Fab (antigen binding fragment), responsável por reconhecer os antígenos. Cada região variável das cadeias leves e pesadas possui três regiões hipervariáveis, também denominadas de regiões determinantes de complementaridade (CDRs, Complementarity determining regions), determinadas a partir da porção aminoterminal, de CDR1, CDR2 e CDR3, responsável pela especificidade, diversidade e afinidade do anticorpo, sendo o local específico de ligação dos antígenos (ABBAS et al., 2008; SIONTOROU, 2013). Na região constante esta localizado o fragmento Fc (cristalizable fragment) com funções atribuídas às respostas efetoras, como a eliminação de antígenos através da ativação de células de defesa do sistema imunológico e ativação do sistema complemento (ABBAS et al., 2008; MARQUES, 2005). 18 Nos vertebrados existem cinco classes ou isotipos de imunoglobulinas denominadas de IgD, IgA, IgE, IgM e IgG que se diferem pelas sequências de aminoácidos na porção Cterminal de cada cadeia pesada, peso molecular e cargas elétricas (ABBAS et al., 2008; NELSON; COX, 2006; MORAIS et al., 2014). O isotipo IgM apresenta cerca de 180 kDa, e representa a primeira molécula a ser produzida quando o corpo entra em contato com o antígeno (JANEWAY et al., 2002). Esta molécula representa cerca de 5 a 10% das Igs séricas, podendo ser expressas na membrana das células B e secretadas no soro como um pentâmero, apresentando 10 sítios de ligações ao antígeno, o que possibilita uma ligação com alta avidez de até cinco moléculas simultaneamente (KUBY, 2007). A classe IgD, pode ser encontrada na superfície das células B atuando como um receptor de antígenos. Apresenta peso molecular de 150 kDa e compreende cerca de 0,1% (0,03 mg/ml) da concentração total das Igs no plasma. Não existem muitos dados sobre a funcionalidade desta imunoglobulina, porém alguns estudos relatam sua relação com a diferenciação de células B (TURNER, 2003; PARSLOW et al., 2004). O isotipo IgA possui de 150 a 600 kDa, está presente principalmente nas secreções externas como leite materno, salivas, lágrimas, no muco produzido pelo trato geniturinário, digestivo e brônquico, porém está presente em baixa concentração no soro, correspondendo cerca de 10 a 15% das Igs séricas (KUBY, 2007). A IgE é uma imunoglobulina monomérica que apresenta um peso molecular de cerca de 180 kDa e sua vida plasmática é curta, porém é prolongada quando está associada a mastócitos no tecido conjuntivo desenvolvendo reações de hipersensibilidade imediata (JANEWAY, 2002). O isotipo IgG com peso molecular de 150 kDa, é o mais abundante no soro, correspondendo a cerca de 80% das Igs séricas (KUBY, 2007). É capaz de atravessar a barreira placentária e mucosas, ativar o sistema complemento, neutralizar toxinas, além de realizar os processos de opsonização, aglutinação e bloqueio de antígenos (FORTE, 2004). Nos seres humanos, além de isotipos, são encontrados subtipos ou subclasses de IgA (IgA1 e IgA2) diferenciadas pelas sequências de aminoácidos da região constante da cadeia pesada, e subtipos de IgG (IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4) (ABBAS et al., 2008) diferenciadas segundo a quantidade presente no soro humano (MURPHY et al., 2010), número de pontes dissulfeto e comprimento da região de dobradiça (GONÇALVES, 2015). 19 Figura 1. Estrutura da imunoglobulina G (IgG): Na porção aminoterminal, demonstradas a região Fab (antigen binding fragment) as cadeias Variáveis leves (VL) e pesadas (VH) e regiões Constantes leves (CL) e pesadas (CH) e os seus respectivos sítios de ligação ao antígeno e regiões de dobradiça, com formação de pontes dissulfeto estão sendo demonstradas. Na porção carboxiterminal é ilustrada a porção Fc (cristalizable fragment) contendo as regiões conservadas da cadeia pesada. Fonte: Adaptado de Nelson; Cox, 2013. 4.2 ENGENHARIA DE ANTICORPOS 4.2.1 Anticorpos Monoclonais Os pesquisadores George Köhler e Milstein Cesar, desenvolverem em 1975 a tecnologia do hibridoma, que consiste em uma técnica muito eficaz para a produção de anticorpos monoclonais murinos (mAbs). A tecnologia compreende na fusão de um linfócito B retirado do baço de camundongos previamente imunizados, com células mielômicas, originando os hibridomas, que são células secretoras de anticorpos com poder de replicação indefinido (CORDEIRO et al., 2014; ABBAS et al., 2008). Apesar do sucesso da técnica, os mAbs murinos apresentam dificuldades em sua utilização clínica pelo fato que o sistema imunológico dos seres humanos reconhecerem os anticorpos de camundogos como antígenos, produzindo anticorpos humanos anti-murinos (human anti-murine antibodies – HAMA) ocasionando a diminuição da meia vida plasmática 20 dos mAbs, desestimulando seu uso repetitivo na terapêutica de doenças (DOS SANTOS et al., 2006; CARNEIRO et al., 2012). As dificuldades na utilização clínica, terapêutica e diagnóstica dos mAbs puderam ser superadas pelo avanço da engenharia genética, que tornou possível a produção de anticorpos menos imunogênicos (DOS SANTOS et al., 2006; CARNEIRO et al., 2012). A tecnologia do DNA recombinante possibilitou o desenvolvimento de novos formatos de anticorpos, tais como os anticorpos monoclonais quiméricos, obtidos através da fusão de genes humanos e murinos (MARQUES, 2005). Tais anticorpos possuem a região variável de camundongos, que é específica para um determinado antígeno, e as regiões constantes de anticorpos humanos, reduzindo da produção de HAMA, todavia, não o suficiente para a completa eliminação (QI ZHANG et al., 2007; MARQUES, 2005). Alternativamente, anticorpos humanizados podem ser produzidos por meio da recombinação das CDRs murinas com os domínios variáveis das cadeias leves e pesadas da imunoglobulina humana, mantendo o anticorpo com sua atividade biológica e quase irreconhecível ao sistema imunológico do paciente (MARQUES, 2005; MARANHÃO; BRÍGIDO, 2001). Assim como é possível produzir anticorpos monoclonais completamente humanos a partir da Tecnologia do DNA Recombinante (rDNA) (CARNEIRO et al., 2012). 4.2.1.1 Aplicações dos Anticorpos Monoclonais Os anticorpos mAbs, são reconhecidos pelo FDA (Food and Drug Administration) dos EUA e disponibilizados à venda com ampla abrangência de aplicações, podendo ser administrados no tratamento de neoplasias, doenças virais, inflamatórias, auto-imunes e cardiovasculares (KIJANKA et al., 2015). Atuam inibindo antígenos e moléculas envolvidas com o desenvolvimento da doença, produzem citotoxicidade mediada por células ou conjugados a fármacos, podem agir como um sistema de entrega direcionado de drogas (Drug delivery) (DOS SANTOS et al., 2006; SIONTOROU, 2013). O primeiro anticorpo mAb aprovado pelo FDA foi o Muromonab-CD3 (Orthoclone OKT3) com função de reverter rejeições após transplantes de órgãos. Outros mAbs já foram aprovados pela FDA e estão disponíveis para aplicações na inibição à rejeição de transplantes, como por exemplo o Daclizumab (Zenapax®) e o Basiliximab (Simulect®) (MARQUES, 2005; REICHERT, 2008; CORDEIRO et al., 2014). Voltados para emprego como anti-neoplásicos, o anticorpo mAb quimérico Rituximab (Rituxan®) tornou-se em 2002 umas das principais drogas anti-tumorais em muitos países. Atua especificamente sobre o antígeno transmembrana CD20, presente em células B 21 de linfomas não-Hodgkin (LNH) ocasionando a lise destas células através da ADCC e ativação do complemento. O anticorpo mAb Alemtuzumab é dirigido contra uma glicoproteína de membrana CD52 presentes em pacientes com leucemia linfocítica crônica de células B. Tratando de anticorpos mAb humanizados, o Gemtuzimab, específico para o antígeno CD33 atua conjugado a citotoxinas, que são endereçadas a células cancerosas, em pacientes com leucemia mielóide aguda. O anticorpo mAb Trastuzumabe (Herceptin®) é aplicado contra um fator de crescimento epidérmico humano (HER2), com capacidade de parar o desenvolvimento das células tumorais em pacientes com câncer de mama (DOS SANTOS et al., 2006; CORDEIRO et al., 2014). Relacionadas às variadas aplicações dos mAbs, estão o Synagis Palivizumab elaborados contra doenças infecciosas, direcionados ao Vírus Sincicial Respiratório (RSV), doenças auto-imunes como o Remicade Infliximab, e o Humira Adalimumab para artrite reumatóide (MARQUES, 2005). Apesar das múltiplas aplicações, de modo geral os mAbs apresentam características que limitam seu uso, como por exemplo, o alto custo de produção, elevada imunogenicidade, o tempo para produção e a baixa afinidade, pois os anticorpos dos camundongos nem sempre respondem com afinidade elevada a determinados antígenos (AHMAD et al, 2012). Quando relacionados aos sistemas de entrega de drogas demonstram uma lenta distribuição e uma baixa penetração no tecido tumoral por apresentarem um tamanho molecular de ~ 150 kDa (SIONTOROU, 2013). Apresentam citotoxidade quando utilizados por tempos prolongados podendo gerar lesões renais, e produção de resposta HAMA. Visando superar essas dificuldades, uma ferramenta para vencer essas limitações está na produção de fragmentos de anticorpos, resultando em uma maior penetração tecidual e uma rápida distribuição (MARANHÃO; BRIGÍDO, 2001). 4.2.2 Fragmentos de Anticorpos A produção de fragmentos de anticorpos se tornou possível quando Rodney Porter observou em seus experimentos que misturando a enzima papaína com IgGs de coelho purificadas era possível separar o anticorpo em três fragmentos, sendo dois fragmentos Fab e um fragmento Fc (Figura 2B) (ABBAS et al., 2008). Nisonoff e colaboradores em 1960, demonstraram que utilizando a enzima pepsina, obtinha-se a digestão da porção Fc, gerando um fragmento bivalente com peso molecular de 100 kDa que mantinha sua capacidade de precipitação com o antígeno chamado de F(ab’)2 22 (Figura 2B). Ao misturar o F(ab’)2 com mercaptoetanol se obtinham mais dois fragmentos monovalentes chamados de Fab’(CALICH, 2001). Figura 2. Demonstração esquemática da estrutura da IgG1 com seus fragmentos: A. IgG1 convencional; B. Os fragmentos Fab e Fc são gerados pela clivagem da enzima papaína; C. O fragmento F(ab’)2 desenvolvidos, a partir de digestão enzimática da pepsina; D. O fragmento Fab’ oriundo da redução por mercaptoetanol. Fonte: Adaptado de NELSON e COX, 2013; SIONTOROU 2013. Através da tecnologia de DNA recombinante, os fragmentos de anticorpos podem ser produzidos em bactérias, leveduras, células de mamíferos, insetos e plantas, obtendo-se altos rendimentos de fragmentos purificados (MARANHÃO; BRÍGIDO, 2001). Os fragmentos geralmente produzidos são o Fab (Fragmento de ligação ao antígeno), Fv (Fragmento 23 variável) e scFv (Fragmento variável de cadeia única) (Figura 3) (AHMAD et al., 2012; MARANHÃO; BRÍGIDO, 2001). Buscando aumentar a capacidade de reconhecimento a determinados alvos, são formatados fragmentos bivalentes (Minibody) a partir da união de dois fragmentos anticorpos específicos para o mesmo antígeno e anticorpos biespecíficos (Diabody) formados pela união de dois fragmentos de anticorpos com especificidades diferentes (AHMAD et al., 2012; MARANHÃO; BRÍGIDO, 2001). Figura 3. Fragmentos de anticorpos obtidos a partir da Tecnologia do DNA Recombinante: A. Fragmento variável de cadeia única (scFv); B. Fragmento Fab; C. Fragmento biespecífico (Diabody); D. Fragmento bivalente (Minibody). Fonte: Adaptado de McCarron et al., 2005. As utilizações clínicas dos fragmentos de anticorpos apresentam vantagens quando comparados com anticorpos inteiros, visto que apresentam maior capacidade de penetração tumoral, diminuição da imunogenicidade, eliminação mais rápida pelo organismo (KIJANKA, 2015; SIONTOROU, 2013; NELSON, 2010). Entretanto, apesar do pequeno tamanho e da capacidade de conseguirem penetrar em tecidos tumorais, os fragmentos possuem como desvantagens a tendência a agregação devido 24 à baixa estabilidade, apresentam menor afinidade com o antígeno e não conseguem promover as funções efetoras devido à falta do domínio Fc (KINJANKA, 2015; SIONTOROU, 2013; NELSON, 2010). Na busca de novas ferramentas para aplicações multiméricas mais eficazes e que possam superar as limitações apresentadas pelos fragmentos de anticorpos convencionais, têm sido descrito na literatura os referidos domínios nanocorpos ou VHHs, provenientes de anticorpos de cadeias pesadas de camelídeos. Devido os mesmos apresentarem características biofísicas e bioquímicas particulares que os tornam candidatos atrativos para aplicações terapêuticas e no diagnóstico de doenças (KOLKMAN; LAW, 2010). 25 5 ANTICORPOS DE CAMELÍDEOS A descoberta de anticorpos desprovidos de cadeias leves tem revolucionado a engenharia de anticorpos. Descobertos por Hamers-Carsterman e colaboradores na década de 1990, os anticorpos de cadeias pesadas (HCAbs) apresentando cerca de 90 kDa podem ser encontrados no soro dos membros da família dos Camelídeos (camelos, dromedários, alpacas e lhamas) e em peixes cartilaginosos (tubarões, raias e skates) (HAMERS-CARSTERMAN et al, 1993; KIJANKA et al., 2015). A presença de anticorpos funcionais desprovidos de cadeia leve, presentes nesses animais com características evolutivas tão distintas (camelídeos e peixes cartilaginosos) não são facilmente explicáveis. Acredita-se que o surgimento dos HCAbs tanto em camelídeos quanto em tubarões foram adaptações do sistema imunológico desses animais frente a situações de estresses semelhantes, levando ao aumento da imunidade nessas espécies (FLAJNIK et al., 2011). Os camelídeos apresentam tanto anticorpos convencionais classificados como IgG1 quanto anticorpos compostos exclusivamente por cadeias pesadas, IgG2 e IgG3. A quantidade desses anticorpos dentre os membros desta espécie é variável. Os níveis séricos dos HCAbs em camelos variam entre 50-80%, já em lhamas e vicunhas podem chegar de 10-25%. Tais valores demonstram que esses anticorpos são de grande relevância na proteção imune destes animais (MUYLDERMANS, 2013; LUIZ, 2014). Estruturalmente os HCAbs de camelídeos são constituídos unicamente pelos domínios da cadeia pesada formados por VHH, CH2, CH3, e dobradiça. Uma diferença estrutural que distingue os HCAbs IgG2 e IgG3, está na região de dobradiça, onde as IgG2 apresentam uma dobradiça prolongada e a IgG3 uma dobradiça curta (Figura 4) (MUYLDERMANS, 2013). Os membros da família dos camelídeos apresentam supressão do domínio CH1 que é dada por uma mutação genética (ROCHA, 2012). Mesmo na a ausência dessas regiões, os HCAbs são totalmente funcionais, apresentando uma região de dobradiça alongada, que permite ao anticorpo um maior ângulo de ligação com os antígenos (HAMERSCARSTERMAN et al., 1993). O domínio hipervariável da cadeia pesada, denominado como VHH, também chamado de nanocorpo é o responsável pelo reconhecimento e ligação ao antígeno (MUYLDERMANS, 2013). 26 Figura 4. Anticorpos presentes no soro de camelídeos: A. IgG1 (Anticorpo convencional) constituído de cadeias leves e pesadas; B. IgG2 e IgG3 (HCAbs) formados por um homodímero de cadeias pesadas constituídas pelos domínios CH3, CH2 e VHH ou nanocorpo, e região de dobradiça. Os HCAbs são desprovidos de cadeia leve e não apresentam o domínio CH1, a região de dobradiça do anticorpo IgG2 é mais prolongada diferenciando da IgG3; C. O nanocorpo (Nb) é o menor fragmento de ligação ao antígeno expresso naturalmente e tem um tamanho de ~15 kDa. Fonte: Adaptado de Muyldermans 2013. 5.1 NANOCORPOS DE CAMELÍDEOS Os domínios VHHs ou nanocorpos, possuem características que os tornam ferramentas potenciais aplicáveis à pesquisa, tais como seu pequeno tamanho, estabilidade a variações de pH e temperatura, elevada solubilidade, rápida distribuição e eliminação do organismo, além do baixo custo de produção. São essas vantagens que favorecem a utilização dos nanocorpos, quando comparados aos fragmentos de anticorpos convencionais aplicados em áreas biotecnológicas, no diagnóstico e tratamento de doenças (DE GENST et al., 2006; DUMOULIN et al., 2002; MORAIS et al., 2014; ROCHA, 2012). Com um tamanho de aproximadamente 15 kDa, o nanocorpo é o menor fragmento de ligação ao antígeno, derivado de um anticorpo produzido naturalmente (MUYLDERMANS et al., 1994). Os fragmentos VHHs apresentam características semelhantes à região VH dos anticorpos convencionais. Eles são formados por 3 CDRs separadas por 4 regiões Frameworks (FRs) (Figura 5). A similaridade apresentada pelas FRs dos VHHs com VHs dos 27 anticorpos convencionais é de aproximadamente 80%, tornando os nanocorpos menos imunogênicos quando comparados com fragmento de anticorpos de murinos (CONRATH et al., 2003; MUYLDERMANS, 2013; LUIZ, 2014; ROCHA, 2012). Apesar da similaridade apresentada entre os fragmentos VHHs e o VHs de anticorpos convencionais, a FRs 2 dos VHHs apresentam modificações pontuais com a ocorrência de substituições de aminoácidos hidrofóbicos encontrados no VH convencional (importantes na ligação com a VL) por aminoácidos hidrofílicos (Val37Phe, Gly44Glu, Leu45Arg, Trp47Gly) (Figura 5) resultando em maior solubilidade dos nanocorpos. Para suprir a ausência da VL presente nos anticorpos convencionais, as alças das CDRs 1 e 3 dos VHHs se apresentam de forma mais alongada, aumentando o sítio de interação com o antígeno o que possibilita a interação com regiões inacessíveis a anticorpos convencionais (MUYLDERMANS, 2013; KOLKMAN et al., 2010; LUIS, 2014; ROCHA, 2012). Figura 5. Diferenças na organização estrutural do VH de anticorpos convencionais e de VHHs: A. Substituição de aminoácidos hidrofóbicos por hidrofílicos nos VHHs (indicado de roxo), prolongamento das CDR3 (vermelho), e a formação de pontes dissulfeto adicionais entre a CDRs(representada em amarelo). B. estrutura de VH e VHH dobradas. Fonte: Adaptado de Muyldermans et al., 2009. Os nanocorpos apresentam resistência química, enzimática e térmica, visto que após serem submetidos a desnaturação por produtos químicos, e expostos a altas temperaturas (superiores a 80 ºC), mantém a capacidade de interação ao antígeno. Tais características se devem a estabilidade da molécula, devido capacidade de renovelamento, atribuídas a presença constante de resíduos de cisteína nas CDR1 e 3, formando uma ponte dissulfeto adicional entre as FR2 e CDR3 aumentando a estabilidade estrutural do nanocorpo (DUMOULIN et al., 2002; MUYLDERMANS et al., 1994; ROCHA et al., 2014; LUIS, 2014; PEREIRA, 2013). Estruturalmente os nanocorpos possibilitam a construção de formatações multiméricas, bivalentes ou biespecíficos, a partir da fusão gênica, devido o fato de se apresentarem como monômeros, com gene de aproximadamente 350pb e por suas características físico-químicas (MUYLDERMANS et al., 2009; KOLKMAN et al., 2010). 28 Devido a possibilidade de elaborações em diferentes formatações, os nanocorpos apresentam grande interesse na área médica, possibilitando o desenvolvimento de estratégias para aumentar o tempo de meia vida em soros, inibir atividade viral e mediar citotóxicidade, por meio de células em tecidos tumorais, aumentando a avidez ao antígeno em até 4000 vezes quando formulados nas formulas multiméricas (KOLKMAN et al., 2010). Figura 6. Formatações com Nanocorpos: A. Monomérico. B. Bivalente. C. Biespecífico. D. Conjugado a enzima. E. Conjugado a toxina. F. Conjugado a micelas carregando fármacos. Fonte: Adaptado de Smolarek et al., 2012; Kijanka et al., 2015. 5.1.1 Aplicações potenciais dos nanocorpos Por apresentarem características únicas como um tamanho reduzido, alta estabilidade, elevada afinidade e especificidade, os nanocorpos podem ser aplicados amplamente no diagnóstico e terapêutica (GONÇALVES, 2015) de doenças autoimunes, infecciosas (ROCHA, 2012), inflamatórias, neoplásicas, neurodegenerativas, virais, neutralização de toxinas animais, entre outras (MORAIS et al. 2014). 29 5.1.1.1 Câncer Os nanocorpos são vistos como uma ferramenta potencial para aplicações terapêuticas e diagnósticas em neoplasias (PRUSZYNSKI et al., 2014). Estão disponíveis três plataformas definidas para utilização dos nanocorpos no tratamento do câncer. A primeira compreende na utilização de nanocorpos livres, a segunda esta relaciona a utilização de nanocorpos fusionados com domínios efetores, tais como domínio Fc, TRAIL solúvel, exotoxina A de Pseudomonas, radionuclídeos terapêuticos, enzimas, dentre outros, e a terceira plataforma é baseada no uso de nanocorpos associados a nanopartículas como os lipossomos, micelas, poliplexos e albuminas que carregam em seu interior drogas citotóxicas (Figura 6) (KIJANKA et al., 2015). Esses domínios podem ser produzidos contra alvos extracelulares que induzem a proliferação celular cancerígena. Dentre esses alvos estão quimiocinas e receptores de membranas que são expressos ou superexpressos quando há presença de neoplasias. Os receptores de membrana (fatores de crescimento) que foram observados são: EGFR1 (HER1), EGF2 (HER2), VGFR2, c-Met, CXCR7, MUC-1 e CEA (antígeno carcinoembrionário). (KIJANKA et al., 2015). Em trabalho realizado in vivo por Roovers e colaboradores (2014) utilizando nanocorpos biparatópicos anti-EGFR, produzidos contra a proteína EGFR, um fator de crescimento epidérmico encontrado em neoplasias do colón, mama, cabeça, pescoço e cérebro, foi demonstrado à inibição da proliferação celular tumoral em camundongos (ROOVERS et al., 2014). Cortez-Rotamozo e colaboradores (2004) utilizaram nanocorpos acoplados a enzima lactamase, responsável por ativar um pró-fármaco contra o antígeno carcinoembrionário (CEA), que é produzido em grande quantidade em tumores epiteliais do pulmão, colo, reto, mama e ovários. Os nanocorpos mantiveram se estáveis a altas temperaturas, obtiveram boa penetração, homogeneização e eliminação, resultando na cura do tumor sem efeitos citotóxicos no organismo de camundongos (CORTEZ-ROTAMOZO et al., 2004). Os pesquisadores Heukers e coloboradores realizaram estudos com o receptor c-Met (Receptor do fator de crescimento de hepatócitos) que esta envolvido no desenvolvimento, progressão e metástase de neoplasias hematológicas, cólon, mama e ovário. Observaram que os nanocorpos anti c-Met, ligados a albumina foram internalizados, resultando na degradação na célula tumoral, demonstrando a eficácia dos VHHs para atuação em sistema de entrega de drogas (KINJANKA et al., 2015; HEUKERS et al., 2014). 30 Em outro estudo envolvendo o receptor c-Met, nanocorpos foram produzidos com o intuito de competir com uma proteína ativadora do receptor, denominada de HGF (fator de crescimento de hepatócitos). No estudo, os nanocorpos promoveram a inativação do receptor, diminuindo a proliferação celular e a metástase em teste in vitro (SLORDAHL et al., 2013; KINJANKA et al., 2015). Behdani e colaboradores (2011) conseguiram desenvolver um nanocorpo (3VGR19) que tinha como alvo o Receptor de Fator de Crescimento Endotelial Vascular (VEGFR2), importante no crescimento de tubos capilares em processos de metástase. Como resultado, o nanocorpo bloqueou o receptor VEGFR2 e conseguiu inibir em testes in vitro o crescimento de tubos endoteliais. Anos depois o mesmo nanocorpo foi conjugado com exotoxinas A de Pseudomonas, conseguindo inibir em testes in vitro a proliferação de células tumorais que expressão o receptor VEGFR2 (BEHDANI et al., 2011; 2013). Em outro teste, nanocorpos foram conjugados com PEI (Polietileneimina) ligados por PEG (POLIETILENO GLICOL) tendo como alvo o antígeno MUC1, super-expresso em câncer de mama e cólon. Como resultado os poliplexos conseguiram induzir a morte celular das células que super-expressavam o antígeno MUC1 (SADEQZADEH et al., 2011). Quadro 1. Os principais alvos utilizados contra doenças neoplásicas: São indicados as Regiões e órgãos acometidos, as respectivas plataformas de produção de nanocorpos e as referências. Nanocorpos aplicados ao câncer Alvos Regiões Acometidas Plataformas Referências EGFR Colón, mama, cabeça, pescoço e cérebro A ROOVERS et al., 2014. CEA Pulmão, cólon, reto, ovário e mama B CORTEZ-ROTAMOZO et al., 2004. c-Met Hematológicas, cólon, mama e ovário AeC HEUKERS et al., 2014; SLORDAHL et al., 2013. VEGFR2 Pulmão e cólon AeB MUC-1 Mama e cólon C BEHDANI et al., 2011; 2013. SADEQZADEH et al., 2011. 5.1.1.2 Toxinas O veneno de cobras, escorpiões e aranhas são constituídos por substâncias neurotóxicas que têm como função a imobilização de suas presas. Cobras e aranhas ainda contêm em seu veneno um conjunto de proteínas (fosfolipases e proteinases) que causam degradação muscular e hemólise nos pacientes (RONCOLATO et al., 2015). 31 O tratamento utilizado em pacientes envenenados por toxinas animais é feito por meio da administração de imunoterápicos derivados de cavalos (RONCOLATO et al., 2015) e ovelhas hiperimunizados. Entretanto, o elevado custo de produção, baixa estabilidade, pequena capacidade de neutralizar toxinas em tecidos profundos associados à possibilidade de gerar reações adversas dificultam a utilização destes soroterápicos (LUIZ, 2014; HMILA et al., 2008). Visando buscar alternativas para otimizar a imunoterapia, estudos vêm sendo desenvolvidos com base em nanocorpos. A baixa imunogenicidade aliados com a possibilidade de formação de fragmentos multivalentes ou multiespecíficos, fazem dos nanocorpos insumos potenciais para aplicações na imunoterapia para envenenamento com toxinas (HMILA et al., 2008). Em estudo realizado por Hmila e colaboradores (2008), construções bivalentes de nanocorpos foram testadas em camundongos contra a toxina AahI presente no veneno do escorpião Androctonus australis Hector. Os nanocorpos de camelídeos demonstraram uma maior capacidade de neutralização da toxina quando comparados com fragmentos scFv testados (HMILA et al., 2008; RONCOLATO et al., 2015). Chgoury e colaboradores (2015) analisaram a capacidade de neutralização do nanocorpo F12-10, específicos contra a proteína AahI e AahII, de uma fração da toxina F3 presente no veneno de escorpião Androctonus mauretanicus (AM). Nos testes realizados in vitro foi possível observar a capacidade de redução dos danos teciduais e nos ensaios realizados em in vivo, os nanocorpos apresentaram capacidade de neutralização do efeito letal evitando a morte de 50% dos camundongos envenenados (CHGOURY et al., 2015). No trabalho realizado por Luiz (2014) foi possível a seleção e caracterização de nanocorpos ativos contra crotoxina, uma neurotoxina presente no veneno de serpente Crotalus durissus terrificus. O autor sugere o uso dos nanocorpos como uma ferramenta potencial para aplicações na terapêutica dos acidentes envolvendo envenenamento crotálico, em associação com os soroterápicos disponíveis (LUIZ, 2014). Perspectivamente os nanocorpos podem ser em um futuro próximo utilizado para tratar o envenenamento de serpentes e escorpiões (LUIZ, 2015; HMILA et al., 2008), pois apresentam um baixo custo de produção e não causam respostas no organismo (HASSANZADEH-GHASSABEH et al., 2013), além de poderem ser utilizados como insumos para o desenvolvimento de kits para diagnósticos (GONÇALVES, 2015). Na vertente de aplicações de nanocorpos para toxinas animais, em um estudo realizado por Brummelhuis e colaboradores (2010), nanocorpos tinham como alvo uma toxina 32 produzida por estafilococos, a TSST-1 (Toxina 1 da síndrome do choque tóxico) causadora da síndrome do choque tóxico. Neste estudo, o VHH anti-TSST-1 demonstrou ser muito eficiente na remoção da toxina in vitro, porém não apresentou bons resultados quando aplicados em testes in vivo (BRUMMELHUIS et al., 2010). Outro estudo atesta a capacidade de neutralização e eliminação das toxinas Shiga (Stx1 e Stx2) produzidas pela Escherichia coli (STEC – Escherichia coli produtora da toxina Shiga). Os nanocorpos produzidos apresentaram uma enorme capacidade de neutralização da toxina quando associados com o anticorpo monoclonal antitag, obtendo capacidade de eliminação e neutralização da toxina, promovendo uma maior proteção aos camundongos (TREMBLAY et al., 2013). Dong e colaboradores (2010) conseguiram, a partir de bibliotecas de anticorpos lhamas não imunizadas, isolar nanocorpos inibidores da neurotoxina botulínica BoNT produzida pela bactéria, Clostridium botulinun, utilizando para expressão dos nanocorpos a levedura Shaccharomyces cerevisiae. Como resultado, além de apresentarem os nanocorpos como potencias inibidores da toxina botulínica, este estudo validou a capacidade de bibliotecas de VHH não-imunes serem utilizadas e definiram o α-exosítio como alvo para o desenvolvimento de fármacos para o tratamento da toxina butolínica (DONG et al., 2010). Quadro 2. Aplicações dos nanocorpos na neutralização de toxinas animais: Demonstração dos alvos de estudo, origem animal , os danos gerados e referências. Nanocorpos contra toxinas animais Alvos (toxinas) Origem Doença ou dano Referências AahI e AahII Escorpião Neuromuscular HMILA et al., 2008; CHGOURY et al., 2015. Crotoxina Serpentes Neuromuscular LUIZ, 2014. TSST-1 Bactérias Síndrome do choque tóxico BRUMMELHUIS et al., 2010. Shiga (Stx1 e Stx2) Bactérias Diarréia sanguinolenta, cólica abdominal e HUS (Síndrome Urémica Hemolitica) TREMBLAY et al., 2013. BoNT – Neurotoxina Botulínica Bactérias Paralisia muscular flácida. (anticorpo – VHH Aa1) DONG et al., 2010. 5.1.1.3 Doenças Neurodegenerativas A distrofia muscular oculofaríngea (OPMD) é uma doença que causa o enfraquecimento do músculo palpebral, gerada pelo acumulo da proteína nuclear de ligação (PABPN1) podendo levar a apoptose. A OPMD é classificada como uma doença de 33 agregação de proteína, assim como as doenças neurodegenerativas (Parkinson, doença de Huntington, Alzheimer e demência) (CHARTIER et al., 2009). Os nanocorpos gerados intracelularmente (intrabody, intracorpos) contra a proteína PABPN1, apresentaram em testes in vivo a restauração genética muscular após a inibição da agregação do PABPN1. Dessa forma, intracorpos podem ser produzidos com o intuito de serem utilizados na terapêutica das doenças como Alzheimer, Parkinson e doença de Huntington (CHARTIER et al., 2009). Estudos indicam que a doença de Parkinson, Alzheimer e acidente vascular cerebral têm como mecanismo patológico a morte celular induzida por estresse oxidativo. Quando as mitocôndrias produzem uma quantidade exagerada de espécies reativas de oxigênio (ROS), este excesso resulta na ativação de uma proteína denominada de Bax levando uma alteração da permeabilidade da membrana mitocondrial, permitindo a saída de agentes pró-apopitóticos como o citocromo C e caspase-9 (GUEORGUIEVA et al., 2006). Com o intuito de promover uma proteção contra estresse oxidativo, nanocorpos de lhama anti-Bax apresentaram capacidade de inibição da apoptose em células de mamíferos. Estes resultados demonstram que os nanocorpos podem ser propostos a ampliação de estudos envolvendo a proteína Bax em processos apoptóticos induzidos por estresse oxidativo e como uma nova terapia para doenças como o Alzheimer, Parkinson e acidente vascular cerebral (AVC) (GUEORGUIEVA et al., 2006). Em trabalho realizado por Lafaye e colaboradores (2009) foram produzidos nanocorpos capazes de reconhecer seletivamente as formas oligoméricas do peptídeo βamilóide (Aβ) intraneuronal, que constituem marcadores biológicos utilizados para o diagnóstico clínico da doença de Alzheimer, devido seu acúmulo nas placas senis, que constituem indicadores patológicos da doença. Neste estudo, o nanocorpo V31-1 conseguiu inibir a toxicidade causada pelos oligômeros e, além disso, interrompeu a formação de emaranhados neurofibrilares dentro dos neurônios, ocasionados pela fosforilação da proteína tau. Esses resultados demonstram que os nanocorpos podem ser utilizados para fins de imunodiagnóstico, alem de prevenir a neurotoxidade induzida por Aβ e inibir formações fibrilares (LAFAYE et al., 2009). Na vertente, de nanocorpos intracelulares foram produzidos contra a enzima Caspase 3, uma enzima envolvida em quase todos os processos de apoptose celular. Neste estudo dois nanocorpos foram produzidos contra a Caspase 3 (VhhCasp31 e VhhCasp32). O VhhCasp31 (antagonista) foi capaz de promover a proteção contra a apoptose gerada por estresse oxidativo, enquanto que o VhhCasp32 (agonista) aumentou a capacidade apoptótica da 34 Caspase 3. Ambos os anticorpos demonstram ter grande potencial para serem utilizados na terapêutica de doenças, podendo o VhhCasp31 ser aplicado em doenças neurodegenerativas e o VhhCasp32 aplicado em neoplasias induzindo apoptose (MCGONIGAL et al., 2009). Quadro 3. Aplicações dos nanocorpos em doenças neurodegenerativas: demonstração dos alvos envolvidos na doença, assim como a patologia envolvida e os nomes dos nanocorpos. Nanocorpos contra doenças neurodegenerativas: Alvo Doença Nanocorpo Referências PABPN1 Distrofia Muscular oculofaríngea Intrabody 3F5 CHARTIER et al., 2009. Bax Alzheimer, Parkinson e AVC Anti-Bax GUEORGUIEVA et al., 2006. Caspase 3 Alzheimer, Parkinson, AVC e câncer VhhCasp31 e VhhCasp32 MCGONIGAL et al., 2009. β-amilóide (Aβ) Alzheimer V31-1 LAFAYE et al., 2009. 5.1.1.4 Inflamatórias O TNF (Fator de Necrose Tecidual) é uma citocina que tem como uma de suas várias funções a proteção do organismo contra microrganismos através da indução de processos inflamatórios. As células secretam TNF após estímulos, desencadeados por microrganismos, mediadores lipídicos, células tumorais, citocinas e quando há formação de imuno-complexos para tentar gerar a eliminação do patógeno (HÉLIO, 2008). Entretanto, quando produzido sem controle, o TNF esta associado com uma série de doenças graves, como a artrite reumatóide, esclerose múltipla, doenças inflamatórias intestinais, alergias, rejeição de enxertos e choque séptico (HÉLIO, 2008). O tratamento da artrite reumatóide (RA), assim como em outras doenças inflamatórias, pode ser feito por meio do bloqueio de TNF por via de drogas, apresentando ótimos resultados (COPPIETERS et al, 2006). Nesta perspectiva, nanocorpos monovalentes e bivalentes foram projetados para atuarem de forma antagônica contra o TNF em testes in vivo. Como resultado, obtiveram melhor potência do que os anticorpos monoclonais (infliximab e adalimumab) utilizados no tratamento da AR. Esse estudo demonstrou que os nanocorpos têm grande possibilidade de serem utilizados no tratamento de doenças inflamatórias e apresentam um baixo custo na produção (COPPIETERS et al., 2006). 35 Quadro 4. Demonstração da aplicação de nanocorpos em doença inflamatória Nanocorpo contra alvos ligados à inflamação Alvo Doença Nanocorpo Referências TNF Artrite Reumatóide VHH anti-TNF - antagonista COPPIETERS et al., 2006. 5.1.1.5 Virais Anticorpos neutralizantes quando aplicados para o tratamento viral, interferem na disseminação do vírus no organismo hospedeiro, impedindo a entrada dele na célula por meio da anulação da fixação nas células, também pode afetar a penetração na membrana, o desencapsulamento e a transcrição do RNA viral (MINAEIAN et al., 2012). Em estudo realizado por ZHU e colaboradores (2014), quatro nanocorpos de camelídeos foram produzidos e selecionados tendo como alvo o vírus H3N2. Estes nanocorpos expressos em E. coli apresentaram elevada especificidade e afinidade, possibilitando a formação de Kits diagnósticos rápido e com um custo mais acessível, utilizando para isso a conjugação de VHHs anti-H3N2 com esférulas magnéticas. Os autores deste método, afirmam que o estudo pode viabilizar o diagnóstico de outros subtipos de vírus da gripe (ZHU et al., 2014). Em busca de promover a proteção e o diagnóstico contra o grupo A de rotavírus em crianças menores de 5 anos e de recém nascidos de algumas espécies animais, Garaicoechea e colaboradores (2008) produziram VHHs específicos contra uma proteína VP6 presente em todos os subtipos de vírus do grupo A. Os resultados obtidos nesse estudo demonstrou que 4 nanocorpos se ligaram especificamente a proteína do vírus e dentre esses nanocorpos, 3 conseguiram neutralizar o vírus in vitro, e cerca de 60% de proteção contra a diarréia causada pelo vírus em teste in vivo. Com isso os autores afirmam que os nanocorpos são bons candidatos para o tratamento do rotavírus (grupo A) e reconhecimento em testes de ELISA, podendo ser utilizados também no desenvolvimento de kits para diagnóstico (GARAICOECHEA et al., 2008). Hultberg e colaboradores demonstraram em construções de nanocorpos multivalentes e biespecíficos contra o vírus Sincicial Respiratório (RSV), Raiva e Influenza H5N1 uma maior capacidade de neutralização quando comparado com anticorpos monoclonais (HULTBERG et al., 2011). Na busca de um melhor tratamento para o HIV, Koh e colaboradores (2010) construíram nanocorpos específicos contra a glicoproteína (gp120) do envelope do vírus HIV- 36 1, uma proteína importante no processo de entrada na célula hospedeira. Foram selecionados por meio de bibliotecas específicas de VHH 49 nanocorpos e 31 foram sequenciados para análise dos aminoácidos que interagem reconhecendo e neutralizando o vírus HIV-1, possibilitando no futuro uma nova geração de vacinas (KOH et al., 2010; ROCHA, 2012). Já no estudo realizado por Jähnichen e colaboradores (2010), nanocorpos antagonistas foram criados para se ligarem a um receptor de quimiocinas (CXCR4), que é um importante receptor de entrada do vírus HIV, além disso, atua na migração de células estaminais, organogênese, reparação de tecidos, inflamação e processos de metástases. A construção de nanocorpos CXCR4 foram capazes de impedir a quimiotaxia e a ligação do HIV nas células (JÄHNICHEN et al., 2010). O mais recente estudo de aplicação dos nanocorpos, publicada por Jittavisutthikul e colaboradoes (2015), têm em vista o vírus da hepatite C (HCV). Por serem capazes de se ligarem a sítios inalcançáveis por anticorpos convencionais e inibirem atividade enzimática, VHHs humanizados foram direcionados a protease NS3/4A (importante no processo de replicação viral e proteção contra as células do hospedeiro). Os VHHs foram fusionados a um peptídeo penetrante celular (PEN) e apresentaram um grande potencial na inibição da replicação viral, e aumentaram a atividade inata do sistema imunológico do hospedeiro, que tinha sido reduzida anteriormente pelo vírus (JITTAVISUTTHIKUL et al.,2015). 37 Quadro 5. Aplicações dos nanocorpos em doenças virais: quais os alvos envolvidos, vírus e o nome do nanocorpo. Nanocorpos contra doenças virais: Alvo Vírus Nanocorpo Referências Influenza A H3N2 Influenza A H3N2 NB3 MIN ZHU et al., 2014. VP6 Rotavírus (Grupo A) GARAICOECHEA et al., 2008. Proteína de fusão – F, Proteína G e Hemaglutinina 5 Sincicial Respiratório RSV, Raiva e Influenza H5N1 2KD1, 3A6, 3B2 e 2KA4 RSV-D3, RSVD3/E4(9GS); Rab-E8, Rab-H7; Infl-C8, Infl-B12 Glicoproteína gp120 HIV-1 A12 e D7 KOH et al., 2010. Receptor de quimiocinas CXCR4 HIV 238D2 e 238D4 JÄHNICHEN et al., 2010. Protease NS3/4A Hepatite C – HCV PEN-VHH 24 e VHH 24 JITTAVISUTTHIKUL et al.,2015. HULTBERG et al., 2011. 5.1.1.6 Diagnóstico Os nanocorpos vêm sendo empregado em algumas técnicas de imagem, como por exemplo, a imagem óptica, ultrassom, cromatografia por emissão de pósitrons (PET) e tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT). As técnicas de imagem por PET e SPECT utilizam radionucleotídeos e apresentam uma sensibilidade elevada permitindo a visualização dos alvos (CHAKRAVARTY et al., 2014). Os estudos baseados em nanocorpos como insumos para o desenvolvimento de diagnóstico têm sido direcionado para as neoplasias, doenças cardiovasculares (aterosclerose) (MORAIS et al., 2014), artrite reumatóide, entre outras (Quadro 6) (CHAKRAVARTY et al., 2014). Em estudos com o fator de crescimento epidérmico (EGFR), nanocorpos foram conjugados com o quelante DF-Bz-NCS e marcados com um emissor de positrões de curta duração 68 Ga (radionucleotídeo). Os testes feitos com o nanocorpo 68 Ga-DF-Bz-NCS-7D12 demonstraram que eles obtiveram uma acumulação rápida em xenoinxertos A431 em camundongos, pois cerca de 1 hora após a aplicação do anticorpo, já se tinham imagens de alto contraste. Estes resultados demonstrando uma rápida biodistribuição e acumulação indica que o uso de nanocorpos para a detecção de EGRF é muito promissor (VOSJAN et al., 2011). Comparando dois nanocorpos Anti-EGFR 7C12 e 7D12 (produzidos pela empresa Ablynx NV) radiomarcados com 99 mTc, Gainkam e colaboradores (2008) avaliaram a capacidade de penetração tecidual, afinidade e depuração renal de ambos os nanocorpos com 38 fins de diagnóstico. Como resultado, os nanocorpos demonstraram ter boa eficácia na ligação com o receptor, boa depuração renal e baixo acúmulo hepático gerando imagens com alto contraste após 1 hora da aplicação em camundongos (GAINKAM et al., 2008). Em outro estudo Cortez-Retamozo e colaboradores (2008) testaram a capacidade de ligação do nanocorpo 99 mTc-His6-CEA1 à proteína CEA em camundongos. Os resultados demonstraram uma depuração hepática e renal, com absorção média, apresentando ter um bom contraste no tecido tumoral (CORTEZ-RETAMOZO et al., 2008). Para um diagnóstico não invasivo de placas de ateroma, nanocorpos radiomarcados foram criados para se ligarem a uma molécula de adesão celular e vascular (VCAM-1) presente na superfície dos leucócitos, importantes no desenvolvimento do processo inflamatório relacionado a lesões de placas de ateroma. Os VHHs foram capazes de detectar a expressão de VCAM1 e obtiveram atividade cruzada em humanos e camundongos in vitro (BROISAT et al., 2012). Para a artrite reumatoide (RA), nanocorpos foram conjugados a um emissor de fóton único (99TC) para serem detectados por meio de SPECT. O alvo visado foi um receptor de manose dos macrófagos (MMR) presentes no fluído sinovial das articulações inflamadas. Os osteoclastos (linhagem de macrófagos) destroem o tecido ósseo na presença de RA, quando esta é provocada por meio do colágeno em camundongos. Nesse estudo, a tecnologia de nanocorpos para geração de imagens foi utilizada para um melhor controle e quantificação da inflamação (PUT et al., 2013). No estudo realizado por Kijanka e colaboradores (2013), nanocorpos anti-HER2 foram conjugados com NIR fluorophore IRDye 800CW (IR) para o monitoramento de cirurgias por meio de imagens. Como resultado, o nanocorpo 11A4-IR apresentou acumulo no tecido tumoral cerca de 20 vezes mais rápido e com melhor contraste, quando comparado com o anticorpo monoclonal Trastuzumab-IR, permitindo o monitoramento através de imagens na cirurgia do xenoenxerto, validando o uso deles como sondas para a geração de imagens (KIJANKA et al., 2013). Em trabalho realizado por Pereira e colaboradores (2014) são propostos nanocorpos oriundos de Lama glama como insumos alternativos para o desenvolvimento de dispositivos diagnóstico para detecção do Hantavírus. Os achados demonstram que os nanocorpos selecionados contra a proteína recombinante do Nucleocapsídeo viral, são capazes de reconhecer o vírus em soro de roedores, os reservatórios naturais dos hantavírus, apontando seu uso para o desenvolvimento de dispositivos para o diagnóstico viral. 39 Dirigidos contra uma proteína importante do capsídeo do Papilomavírus Humano (HPV) denominada de L1, nanocorpos foram obtidos por meio de bibliotecas de fagos. Os resultados obtidos por ELISA demonstraram a especificidade dos nanocorpos contra a proteína L1. Com isso, novas propostas surgirão propondo um melhor diagnóstico e uma maior proteção contra a infecção do vírus HPV (16), como por exemplo, a utilização de géis e soluções de lavagem vaginal (MINAEIAN et al., 2012). Quadro 6. Aplicações dos nanocorpos em diagnósticos: demonstrando quais os alvos e as doenças envolvidas, e o nome do nanocorpo. Diagnóstico: Alvo Doença Nanocorpo Referências EGFR Câncer do colón, mama, cabeça, pescoço, cérebro e próstata 7D12 VOSJAN et al., 2011. EGFR Câncer do colón, mama, cabeça, pescoço, cérebro e próstata CEA Adenocarcinoma de cólon humano CEA1 VCAM-1 Aterosclerose cabVCAM1-5 Receptor de manose dos macrófagos – MMR Artrite reumatoide Α-MMR PUT et al., 2013. HER2 Câncer de mama, cólon e ovário 11A4-IR KIJANKA et al., 2013 rNΔ85 Hantavírus KC329708 PEREIRA et al., 2014. Proteína L1 Papiloma Vírus Humano – HPV SM5 e SM8 MINAEIAN et al., 2012. 99m Tc-7C12 e Tc-7D12 99m GAINKAM et al., 2008. CORTEZRETAMOZO et al., 2008. BROISAT et al., 2012. 40 CONCLUSÃO Os anticorpos monoclonais e os fragmentos de anticorpos são importantes ferramentas utilizadas no tratamento e diagnóstico de doenças humanas, apesar de apresentarem limitações clínicas, farmacológicas e de produção. Dentre os fatores limitantes para utilização de anticorpos como imunobiológicos, estão relacionados a sua eficácia, qualidade e custo benefício. Estes, são importantes critérios exigidos para a utilização de uma nova geração de anticorpos como insumos para aplicações terapêuticas. Como proposta de novos imunoterápicos que superem os obstáculos apresentados pelos mAbs e pelos fragmentos de anticorpos, os nanocorpos ou VHHs contêm características que se adéquam as exigências propostas para as utilizações clínicas e diagnósticas de anticorpos. Dentre essas estão incluídas, a baixa imunogenicidade, devido a semelhanças estruturais com os anticorpos humanos. Capacidade de penetração tecidual e rápida eliminação do organismo por possuírem um tamanho de aproximadamente 15 kDa. Maior solubilidade que os anticorpos convencionais, devido às substituições de aminoácidos hidrofóbicos por hidrofílicos na FR2. São estáveis a variações de temperatura e pH, devido a presença de pontes dissulfeto adicionais, o que também favorece uma boa capacidade de remodelamento. Maior capacidade de interação e alcance de sítios inacessíveis a outros anticorpos, por possuirem a região CDR3 mais prolongada. Capacidade de conjugação a nanopartículas, podendo atuar como sistemas de entrega de drogas ou como moduladores de imagem, auxiliando na imaginologia. São facilmente clonados e produzidos em larga escala por meio de expressão em microorganismos e podem ser formatados em construções multivalentes ou multiespecificas. Diversos estudos vêm demonstrando o potencial de aplicação dos nanocorpos para o tratamento e diagnóstico de diversas doenças, dentre elas estão, as neoplásicas, autoimunes, neurodegenerativas, virais, envenenamento por escorpiões, serpentes e toxinas animais, e da possibilidade da aplicação em diagnóstico por imagem. Alem da existência de inúmeras pesquisas acadêmicas em desenvolvimento, tratando sobre a utilização dos nanocorpos nos diversos campos da ciência, estão sendo produzidos, pela empresa belga ABLYNX (http://www.ablynx.com), em estudos e testes de fase-clínica nanocorpos para fins de liberação no mercado farmacêutico. Enfim, de acordo com que foi levantado, os trabalhos evidenciam os nanocorpos, como potencias insumos imunobiotecnológicos, podendo ser utilizados em um futuro próximo para diversos fins diagnósticos e terapêuticos. 41 REFERÊNCIAS ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H; PILLAI, S. Imunológia Celular e Molecular. 6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 75 – 96, cap. 4, Anticorpos e antígenos. ABLYNX. Disponível em <http://www.ablynx.com/rd-portfolio/overview/> Acesso em: 30 nov. 15. AHMAD, Z. A. et al. scFv Antibody: Principles and Clinical Application. Clinical and Developmental Immunology, p. 1-15, 2012. BEHDANI, M. et al. 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