2_Historico_RBCE_2014
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HISTÓRICO A Rede Brasileira de Cooperação em Emergências - RBCE surgiu da necessidade de integralizar e desfragmentar as políticas de saúde no Brasil, com ênfase no tema da atenção as urgências e dar possibilidade de continuidade de elaboração e implementação de propostas transformadoras, mesmo quando há descontinuidade administrativa ou política das gestões de saúde nos Municípios, nos Estados ou na União, através da manutenção de um espaço de intercâmbio de experiências e desenvolvimento de capacidades entre os membros da RBCE. Podemos dividir as atividades e produtos da RBCE, até o presente momento, em três períodos com diferentes características: I PERÍODO: FORMULAÇÃO DAS BASES DA POLÍTICA NACIONAL DE URGÊNCIAS E A LUTA POR SUA INSTITUCIONALIZAÇÃO NORMATIVA 1995 - 2003 O trabalho da RBCE foi estruturado através da elaboração coletiva de novos conceitos e da sua operação, por meio de apoio a projetos e à implantação de experiências estruturantes da atenção às urgências no País, entendendo as urgências como um tema abrangente e de forte impacto na organização e viabilidade do SUS, na medida em que os serviços de urgência se constituem em porta de entrada do Sistema e necessitam portas de saídas articuladas em relação a todos os outros componentes do mesmo. O processo de elaboração da plataforma de ação da RBCE teve como marcos a realização de algumas atividades científicas como o intercâmbio com a França, seu Congresso de fundação, que aconteceu em Porto Alegre, em 1995, o II Congresso que se realizou em Fortaleza, em 1996, o III Congresso que teve lugar na cidade de Campinas, em 1997 e o I Seminário Nacional de Capitais e Pólos Regionais de Atenção às Urgências, organizado em conjunto com o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde – CONASEMS, na cidade de Maceió/Alagoas, em fevereiro de 1999, além dos seminários nacionais de elaboração de políticas públicas de atenção as urgências que ocorreram em Porto Alegre em 1997 e 1998 e em Curitiba em 1998. Depois do terceiro congresso, o escopo da RBCE se modifica e se constitui em sua amplitude atual, indo além da discussão original de sistemas préhospitalares de atenção às urgências e sua regulação médica, pleiteando a organização geral do sistema de atenção às urgências como componente essencial para a consolidação do SUS no País e ao mesmo tempo formulando o conceito de complexos reguladores (médicos e não-médicos) do acesso à atenção como um todo e não apenas às urgências. 3 Assim sendo, a formulação da RBCE desde 1998, se organizou em torno a quatro grandes eixos estratégicos: 1- A organização de sistemas regionais de atenção às urgências - entendidas em toda a sua magnitude e complexidade - clínicas e cirúrgicas, traumáticas e não-traumáticas, psiquiátricas, de adultos e crianças, individuais e coletivas, pacientes agudos e agudizados, críticos e não-críticos e as urgências sociais. Esses sistemas seriam operados a partir da definição de uma hierarquia resolutiva organizada a partir da leitura sistemática e dinâmica das necessidades sociais em saúde, com responsabilidades sociais e sanitárias definidas para cada hierarquia abarcando desde a atenção primária até as terapias intensivas e unidades de reabilitação e com fluxos ordenados conforme a necessidade do paciente, sempre com a idéia de acolhimento e proteção em qualquer nível do sistema, operando o conceito de porta de entrada e portas de saída articuladas; 2- A regulação médica das urgências, como parte constitutiva dos complexos reguladores do SUS, juntamente com a regulação médica de internações, de consultas e exames especializados e da regulação não - médica de agendas de atenção primária, assistência social, transporte social e de saúde e defesa civil. O conceito de regulação médica de urgências opera com uma perspectiva de defesa das necessidades dos pacientes, combinando a melhor resposta possível e necessária para cada caso, buscando a economia do sistema em nome da equidade sustentada das respostas. Assim nasceram as centrais de regulação de Porto Alegre, Campinas, Vale do Ribeira, Ribeirão Preto, Fortaleza, Belém e Natal, que contaram com a crítica e suporte da RBCE em seu desenvolvimento e aprimoramento, bem como com a cooperação técnica gerida pela Rede com a França e com o Chile, para a formação e aperfeiçoamento dos médicos reguladores e telefonistas auxiliares de regulação médica. Por iniciativa de uma demanda apresentada pela RBCE ao Conselho Federal de Medicina – CFM no seminário nacional realizado em Porto Alegre em setembro de 1997, se constitui grupo de trabalho do CFM com participação da RBCE, que elaborou a Resolução 1529 de 1998, publicada na forma de Portaria Ministerial da Saúde Nº 824 de 1999, estabelecendo o reconhecimento e as bases de exercício da regulação médica das urgências e do funcionamento da atenção pré-hospitalar em todo o Brasil. 3- A promoção da saúde e da qualidade de vida como estratégia de enfrentamento das urgências, em uma perspectiva integrada de respostas articuladas intersetoriais e que incidam sobre o processo de determinação e, exposições sociais, agravos e doenças que configuram as urgências. A referência metodológica deste trabalho é aquela desenvolvida a partir da criação e fortalecimento de redes de proteção social que envolve parceiros públicos e 4 privados e a própria cidadania, para a implantação e desenvolvimento sustentado de iniciativas denominadas de comunidades protetoras da vida. Tal iniciativa envolve a definição e implantação de sistemas de informação para as urgências, a constituição de observatórios de saúde nas urgências e a construção de agendas sociais de decisão para a adoção de medidas e processos que evitem as urgências, através da estratégia de promoção da equidade em qualidade de vida e saúde das populações. 4- A educação dos trabalhadores de saúde e de outras áreas que atuam nas urgências e da população em geral, para melhorar a capacidade de prevenção, educação, proteção, acolhimento, diagnóstico, tratamento imediato e recuperação plena dos cidadãos, assim como a formulação e gestão de políticas, sistemas e serviços de urgências, orientados para a resposta universal, equitativa e integral às necessidades sociais em saúde que se expressam nas urgências. A linha de desenvolvimento do projeto pedagógico da RBCE está centrada na problematização da realidade, na busca de uma orientação de métodos e conteúdos educacionais que não apenas capacitem os trabalhadores e cidadãos individualmente, mas os vinculem a um processo de formulação e implantação de políticas públicas, de reorganização e qualificação dos serviços, para a geração de melhores indicadores de saúde da população. Assim sendo, a RBCE tem se oposto com muita energia à mera compra de pacotes de cursos de capacitação em urgências, afirmando a necessidade de criar respostas locais e regionais para um esforço de educação permanente na área das urgências. A RBCE tem centrado seus esforços no apoio à constituição de Centros Regionais de Educação em Urgências, através da capacitação de instrutores, e no estímulo à adoção da metodologia da problematização como base para a construção de planos educacionais correspondentes às necessidades sociais expressas nas urgências em cada região. Durante o IV Congresso Internacional da RBCE (Goiânia, 2000), foram debatidas e propostas as “Bases para a Formulação de Políticas Públicas de Atenção Integral às Urgências”. (Doc.1) Tais bases foram discutidas junto ao Ministério da Saúde e foi produzida uma proposta de atuação conjunta MS/RBCE para a implantação de uma “Política Nacional de Atenção às Urgências”, conforme texto do documento 2. Infelizmente, porém, não logramos naquele momento e até os dias atuais, desenvolver o trabalho de campo proposto de forma organizada e linear. Mas como resultado desse período de trabalho da RBCE junto ao MS, logramos publicar a Portaria MS/GM 2048, em 5 de novembro de 2002, que editou o Regulamento Técnico da Atenção às Urgências, com diretrizes organizacionais e técnicas para a atenção às urgências nos vários âmbitos de atenção do SUS. No período de 2001 – 2002, a RCBE apoiou diretamente a organização do SAMU de Recife em Pernambuco, o que foi importante para colocar na agenda do futuro Ministro da Saúde Humberto Costa, o tema das urgências como parte das prioridades de sua gestão. 5 Neste mesmo período, em 2002 se realizou o apoio direto da RBCE, através de um contrato de assessoria técnica à Secretaria Municipal de Saúde de Natal/RN, com o objetivo de capacitar as equipes profissionais para implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192. (Doc.3) O SAMU Natal foi implantado com sucesso em setembro de 2002 e habilitado como componente da Rede Nacional SAMU 192 em 2004. Após as eleições presidenciais de 2002, tendo a RBCE apresentado plataforma de ação nas urgências para o novo governo federal, este escolheu a atenção às urgências como uma de suas prioridades de intervenção e criou no organograma da Secretaria de Atenção à Saúde – SAS, dentro do Departamento de Atenção Especializada - DAE, a Coordenação Geral de Urgência e Emergência – CGUE. Além de criar a CGUE, no início de 2003, o governo federal determinou ainda que o “atendimento pré-hospitalar móvel” fosse o primeiro componente da atenção às urgências a ser estruturado. A partir desse momento, vários técnicos vinculados à RBCE trabalharam intensamente junto à CGUE, elaborando as Portarias GM/MS 1863 e 1864, publicadas em setembro de 2003, que instituíram respectivamente a “Política Nacional de Atenção às Urgências” e o seu componente pré-hospitalar móvel através do serviço de Atendimento Móvel de Urgências – SAMU 192. A publicação dessas três Portarias marcou o firme avanço obtido por trabalhadores e gestores em torno à organização da atenção integral às urgências, já há alguns anos reivindicada e defendida através da RBCE. II PERÍODO: APOIO A IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL ÀS URGÊNCIAS E O QUESTIONAMENTO DOS LIMITES DE SEU AVANÇO 2003 - 2007 Durante os anos de 2003 e 2004, muitos de nós, técnicos vinculados a RBCE engajados nas atividades da CGUE e logramos implantar um grande número de SAMUs em todo o país, o que se constitui num avanço inquestionável. A RBCE foi impulsora do critério de organização dos comitês gestores da atenção as urgências em todas as esferas do SUS e foi incorporada como membro pleno do Comitê Gestor Nacional da Atenção as Urgências desde a sua criação em 2005. 6 Apesar desses ganhos, porém, já em 2004 tínhamos a percepção de que, se era verdade que o eixo da regulação médica das urgências estava se expandindo muito rapidamente, através das centrais de regulação dos SAMUs, não se via, porém, o mesmo avanço na organização dos complexos reguladores da atenção do SUS, o que acabaria por comprometer a qualidade e o sucesso da regulação das urgências. Questionávamos e questionamos, portanto a não-implantação dos outros componentes do sistema regional de atenção as urgências, tais como a atenção primária e as unidades de pronto atendimento, e também as portas hospitalares de atenção as urgências. O eixo da Educação dos Trabalhadores das Urgências caminhou pouco no cenário nacional, sendo desenvolvidas ações isoladas em alguns locais onde se instalaram SAMUs e, na verdade, as propostas de Educação Permanente do MS passaram por diversas modificações e sua execução acabou bastante prejudicada e, os Núcleos de Educação em Urgências acabaram não se constituindo. Da mesma forma, os eixos da Organização Regional de Sistemas de Atenção às Urgências e da Promoção da Qualidade de Vida e Saúde não caminhavam satisfatoriamente, apesar de serem pilares da própria Política Nacional de Urgências publicada como Portaria pelo Ministério da Saúde. A organização de sistemas regionais de atenção às urgências esbarra nas dificuldades de regionalização do próprio SUS, que ainda não encontrou nos gestores municipais e estaduais a necessária maturidade apara compreender e executar essa proposta tremendamente inovadora, especialmente em um cenário federativo, como o de nosso país. A idéia ainda dominante do “cada um por si” faz com que a atenção mais complexa e especializada chegue aos municípios menores de forma inadequada e insuficiente, contrariando os princípios da integralidade da atenção e equidade de acesso da Carta Constitucional de 1988. No eixo da Promoção da Qualidade de Vida e da Saúde, como estratégia de enfrentamento das urgências, foi escolhida pela RBCE a implantação de comunidades protetoras da vida. Esta forma de enfrentar as urgência, especialmente as traumáticas, desde uma abordagem dos seus determinantes e exposições, incidindo sobre elas a partir de uma aliança transetorial dos agentes públicos e das comunidades, construindo ambientes protetores da vida, tem uma inspiração na rede mundial de cidades e comunidades seguras liderada pelo Departamento de Medicina Social do Instituto Karolinska na Suécia, e que desde 2000 encontrou na RBCE o parceiro para o desenvolvimento desta proposta no Brasil, resultando inclusive na criação pela RBCE, da Rede Brasileira de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida e na realização do I Congresso Brasileiro de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida em 2005, em Porto Alegre, além de seminários e oficinas em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. (Doc.4). 7 Os trabalhos realizados no Rio de Janeiro tiveram como produto a proposta de formação de jovens agentes de comunidades protetoras, em desenvolvimento junto ao Instituto Vital Brasil, (Doc. 5) e no Rio Grande do Sul comunidades já estão em vias de ser reconhecidas como Comunidades Seguras pela Rede Internacional antes mencionada, que reconhece cerca de 130 cidades em todo o Mundo. Para debater e propor estratégias de enfrentamento do insuficiente desenvolvimento dos vários componentes da Política Nacional de Atenção às Urgências acima apontados e mesmo algumas fragilidades na implementação da Rede Nacional SAMU-192, a RBCE realizou em Brasília, em 2005, seu V Congresso, em cujo relatório final foram tecidas inúmeras recomendações que foram encaminhadas ao MS, ao CONASS, CONASEMS, CNS e outras instâncias gestoras e decisórias do SUS. (Doc. 6). Em março de 2006, durante a realização pelo Ministério da Saúde do Congresso Nacional da Rede SAMU 192, em Brasília, a RBCE reunida em plenária apontou três linhas de desenvolvimento estratégico para a Rede Brasileira, buscando fortalecer seu protagonismo social: 1- mobilizar-se pela garantia do direito à atenção suficiente e qualificada às urgências, apostando na organização e manutenção de um Observatório Nacional de Atenção às Urgências no Brasil, alimentando as lutas sociais e políticas para a conquista desta política com universalidade, integralidade e equidade no âmbito do SUS e na Seguridade Social; 2- apoiar a organização dos trabalhadores para a conquista das condições de trabalho, carreira e remuneração nas urgências e para sua profissionalização – apostando no estudo da condição desses trabalhadores e liderando processos de qualificação profissional e qualificação da gestão do trabalho: 3- para desenvolver o conhecimento nos vários campos conexos da política de urgências, decidimos apostar na criação de um Centro de Educação e Pesquisas em Políticas e Sistemas de Atenção às Urgências - CEPPURG, dedicado a desenvolver os processos de educação e de investigação que dão suporte aos dois objetivos anteriores e para aprimorar os campos de analise de necessidades sociais nas urgências, de gestão, planejamento, programação e avaliação de sistemas, redes, linhas e hierarquias na atenção às urgências, além do desenvolvimento das capacidades dos trabalhadores do setor e das estratégias para a capacitação e desenvolvimento permanentes. Estes eixos se refletiram na orientação de muitas das atividades desenvolvidas desde então. 8 III PERÍODO: MOBILIZAÇÃO EM DEFESA DA POLITICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL ÀS URGÊNCIAS - 2007 - 2011 QUALIDADE E FINANCIAMENTO CAMPANHA PELOS DIREITOS HUMANOS NAS URGÊNCIAS APOIO A INSTALAÇÃO DOS SISTEMAS REGIONAIS Apenas em 2008, conseguimos que a antiga reivindicação de correção dos valores de financiamento concedido pelo MS às Centrais de Regulação das Urgências fosse atendida, através da Portaria GM/MS 2970, em 08 de dezembro. Nesse mesmo mês foi publicada também a Portaria GM/MS 2972, em 9 de dezembro, que orienta a destinação de recursos do Programa de Qualificação da Atenção Hospitalar de Urgência no Sistema Único de Saúde – QualiSUS, prioritariamente à organização e qualificação de redes loco-regionais de atenção integral às urgências e, finalmente, em 13 de maio de 2009, a Portaria GM/MS 1020, que substitui a Portaria 2922 de 03 de dezembro de 2008, que estabelece diretrizes para a implantação de novas unidades não hospitalares de atendimento às urgências e salas de estabilização, destinando recursos de investimento para construção e aquisição de equipamentos para essas unidades, além de recursos a título de contrapartida mensal de custeio do MS para sua manutenção. Essas novas diretrizes técnicas e recursos têm enorme potencialidade na organização e qualificação da atenção às urgências, mas para tal, é essencial que a RBCE, através de seus técnicos e representantes, promova debates qualificados junto aos governos municipais e estaduais, para que não haja pulverização de esforços de recursos. Esta III Etapa de trabalho da RBCE tem como elemento estruturante a luta pela plena implementação da Política Nacional de Urgências, onde ganha enorme importância a Campanha Nacional pelos Direitos Humanos nas Urgências, aprovada na Plenária Final do VII Congresso da RBCE realizado em Natal em outubro de 2007 e pelo Plenário do Conselho Nacional de Saúde em maio de 2009. (Doc. 7). Com parte do esforço pela qualificação da atenção, a RBCE assinou convênio de cooperação técnica com a Sociedade Espanhola de Medicina de Emergências – SEMES, no inicio de 2008. Deste convênio resultou a adaptação da metodologia da SEMES para a certificação de qualidade dos serviços hospitalares de atenção as urgências, com aplicação do método e certificação do Hospital de Pronto Socorro de Canoas/RS em dezembro de 2008. Este método agora validado para uso no Brasil, será aplicado em outros hospitais durante o ano de 2009, sempre sob demanda das instituições hospitalares, em um procedimento de acreditação RBCE-SEMES. (Doc. 8). 9 Sobre o tema da qualidade e financiamento da atenção as urgências, realizamos Seminário Nacional no Hospital de Pronto Socorro de Canoas/RS, com transmissão on line pela internet, no mês de agosto de 2008. Deste seminário surgiu a proposta de buscar um financiamento para as urgências com base na projeção da responsabilidade hierarquizada sobre populações em territórios, dos sistemas municipais e regionais e não mais apenas pela produção de atendimentos, buscando um piso de atenção as urgências similar ao método do PAB – Piso de Atenção Básica. O CEPPURG – Centro de Educação e Pesquisas em Políticas e Sistemas de Atenção às Urgências da RBCE se tornou a estrutura de suporte técnico e científico para sustentar os trabalhos de assessoria da Rede, congregando técnicos de todo o Brasil, em torno às atividades de responsabilidade da RBCE. (Doc. 9). 10 DOCUMENTO 1 DIRETRIZES GERAIS DA REDE BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO EM EMERGÊNCIAS - RBCE BASES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO INTEGRAL AS URGÊNCIA Texto desenvolvido a partir de conceitos elaborados em Seminários e Reuniões promovidos pela RBCE - Rede Brasileira de Cooperação em Emergências.* Novembro/2000 Autores: Dr. Armando De Negri Filho Dra. Zilda Barbosa (membros da Executiva da RBCE) 11 DIRETRIZES GERAIS DA REDE BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO EM EMERGÊNCIAS – RBCE I - BASES PARA A FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO INTEGRAL ÀS URGÊNCIAS Entre todas as fragilidades encontradas na implantação do SUS, em relação à efetivação de suas principais diretrizes, o setor das urgências é, seguramente, o que apresenta menor nível de descentralização e hierarquização, mantendo a mesma estrutura hospitalocêntrica implantada desde o final da década de 60 até os anos 80. Além disso, sendo a assistência ainda muito centralizada, a desigualdade de acesso é marcante. Desta forma, esta estrutura arcaica acaba atuando como fator perpetuador das tradicionais distorções da assistência, dando cobertura a muitas de suas falhas, acolhendo a clientela não atendida na rede básica de serviços e em outros níveis de assistência do sistema. A implementação de uma Política Nacional de Assistência às Urgências impõe a incorporação de novos elementos conceituais, além da revisão e retomada de outros já bastante difundidos: a) A Promoção da Qualidade de Vida como estratégia de enfrentamento das causas das urgências, valorizando a prevenção dos agravos e a proteção da vida: tratase de uma mudança de perspectiva, transformando nosso olhar centrado nas conseqüências dos agravos que geram as urgências, para uma abordagem totalizante, buscando gerar autonomia para indivíduos e coletividades. Dessa forma englobamos na estratégia promocional a proteção da vida, a educação para a saúde, a prevenção de agravos e doenças, e damos novo significado à assistência e à reabilitação. As urgências por causas externas são as mais sensíveis a este enfoque, conforme a experiência internacional, mas não exclusivamente. Também as urgências clínicas de todas ordens se beneficiam desta estratégia (basta observarmos o efeito do controle populacional da hipertensão na incidência de infartos e doenças cerebro-vasculares). Portanto, devemos incentivar a análise econômica e a formação de profissionais para sustentarmos a estratégia promocional. b) A leitura sistemática das necessidades sociais em saúde e o respeito ao imperativo das necessidades humanas nas urgências: parece óbvio afirmar que a atenção às urgências deva se dar a partir das necessidades da população, mas, na verdade, temos ainda como modelo hegemônico o planejamento da assistência a partir da disponibilidade financeira do sistema e das séries históricas de oferta dos serviços existentes. O diagnóstico destas necessidades deve ser feito a partir da observação das áreas geográficas e da relação população/território, da avaliação de necessidades dos diferentes grupos humanos, da utilização de dados de morbidade e mortalidade disponíveis, da observação das doenças emergentes, bem como da valorização de todas as informações que possam ser obtidas no sentido de pormenorizar tais necessidades. Deve-se também compor um quadro detalhado dos recursos existentes, levando-se em consideração sua quantidade, localização, complexidade, capacidade operacional e técnica. Do confronto das necessidades diagnosticadas com as ofertas existentes, poderemos visualizar as carências e projetar suas correções. 12 A adoção do conceito de imperativo da necessidade humana, é o que determina o acolhimento como tônica da organização das portas de entrada do sistema, mormente nos serviços de urgência, onde o acolhimento é seguido de atendimento e organização do fluxo subseqüente dos pacientes, com garantia da continuidade de atendimento (integralidade como atributo do sistema). c) A estruturação de Sistemas de Atenção Integral às Urgências: no modelo vigente, a assistência às urgências se dá nos “serviços” que funcionam exclusivamente para esse fim, os nossos tão conhecidos pronto socorros. Com portas abertas nas 24 horas, eles acabam atraindo clientelas desgarradas da atenção primária e especializada, que tratam de conservá-los permanentemente cheios, comprometendo a qualidade do atendimento prestado à população. Assim, é imperativo estruturar um Sistema de Atenção às Urgências, que envolva toda a rede assistencial, que numa conceituação mais ampla, passamos a estratificar em rede pré-hospitalar, hospitalar e pós hospitalar. A rede pré hospitalar é formada pelo conjunto das unidades básicas de saúde, unidades do programa de saúde da família (PSF), programa de agentes comunitários de saúde (PACS), ambulatórios especializados, serviços de diagnóstico e terapias, unidades de pronto atendimento (PAs), pronto socorros não ligados a hospitais (PSs) e pelos serviços de atendimento pré-hospitalar móvel (SAMU, Resgate e outros). A rede hospitalar, é composta pelo conjunto de todos os hospitais ligados ao SUS, públicos, filantrópicos ou privados, em todos os seus níveis de complexidade, desde uma simples unidade mista de saúde, até hospitais gerais ou especializados, de alta complexidade e seus respectivos pronto socorros. A rede pós hospitalar é formada por serviços de internação domiciliar e outros de suporte a pacientes com patologias crônicas ou incapacitantes, e tem por funções primordiais a humanização do atendimento prestado a estes pacientes, sua deshospitalização, reabilitação e reintegração em suas famílias. Além disto, promove a desobstrução da rede hospitalar, ao devolver o paciente à sua comunidade, com a maior autonomia possível. Cada um desses níveis assistenciais deve ser capacitado e responsabilizado pela atenção à uma determinada parcela da demanda de urgência, respeitando os limites de sua complexidade e capacidade de resolução, criando, assim, uma hierarquia resolutiva com responsabilidade sanitária. Na verdade, temos que organizar o sistema para que ele possa acolher a clientela acometida por quadros agudos, de maior ou menor gravidade, a fim de que esta demanda deixe de dirigir-se sistematicamente aos pronto socorros, gerando filas e longos períodos de espera, como acontece hoje em dia. d) A Regionalização do Sistema: sabemos que os municípios de pequeno e médio porte não têm autonomia para prestar atenção integral à saúde de seus munícipes. Assim, é fundamental que se tenha claro que a Regionalização do atendimento é elemento indispensável para que se promova a universalidade de acesso, eqüidade na alocação de recursos e integralidade na atenção, apagando-se as fronteiras de Municípios e Estados, que são artefatos administrativos, e desenhando-se uma “figura regional”, baseada na distribuição, localização e complexidade dos recursos existentes e observando-se a expressão dos fluxos já delineados, para as diferentes especialidades. Há que se introduzir o sistema de “contratos externos e internos” para disciplinar a relação interinstitucional regional, buscando condicionar um sistema de orçamentos ancorados em produtividade e alcance de objetivos de saúde populacional (base para uma política pública de saúde, orientada pela cobertura das necessidades 13 sociais, pela universalidade de acesso, pela integralidade da assistência e pela equidade na alocação de recursos e ações). Conceitos que sustentam as bases da proposta de política pública nacional: A REGULAÇÃO MÉDICA DAS URGÊNCIAS A discussão sobre regulação médica das urgências começou no Brasil, no início da década de 90, com o estabelecimento de uma cooperação entre o Brasil e o SAMU da França, e resultou na estruturação de alguns Serviços de Atendimento Médico de Urgências (SAMU’s), principalmente em capitais e grandes cidades do país. O atendimento pré hospitalar móvel, sob a denominação de SAMU ou qualquer outra, é um serviço da área da saúde que se destina ao atendimento de pessoas acometidas por agravos urgentes de caráter clínico, sejam pacientes pediátricos ou adultos, traumato-cirúrgico, sejam pacientes acometidos por causas externas, patologias cirúrgicas ou da gestação, ou ainda os agravos urgentes à saúde mental, de forma precoce e no local da ocorrência. A Central de Regulação Médica de Urgências, além do usuário, deve atender também a profissionais de unidades de saúde do sistema, que após prestarem o primeiro atendimento ao paciente, necessitem remanejá-lo para outra unidade assistencial, geralmente de maior complexidade, para a continuidade do tratamento, de acordo com a grade assistencial regional. Esta grade assistencial regionalizada e hierarquizada, deve ser previa e amplamente discutida com os atores sociais envolvidos na área, pactuada com gestores e prestadores de serviço, que se responsabilizam por acolher e tratar adequadamente a clientela que a eles seja encaminhada pelos médicos reguladores das Centrais de Regulação Médica de Urgências. O médico regulador deve ser formalmente reconhecido, através de legislação específica, como autoridade sanitária, podendo determinar o remanejamento de recursos e até de pacientes e acionar múltiplos meios necessários ao adequado atendimento às necessidades da população. A ESTRUTURAÇÃO DO COMPLEXO REGULADOR DO SUS Se entendermos as necessidades imediatas da população, ou necessidades agudas ou de urgência, como pontos de pressão por respostas rápidas e tendo em vista seu potencial desorganizador sobre o funcionamento geral do sistema, dando visibilidade a suas insuficiências, poderemos romper com uma certa preponderância do que é eletivo, equacionando uma oferta resolutiva para as urgências, que determine a progressiva normalização da oferta programável. Então, as portas de urgência do sistema, sua real porta de entrada, passariam a acolher a clientela, prestando-lhe atendimento e redirecionando-a para os locais adequados à continuidade do tratamento, transformando estas portas que hoje 14 funcionam como verdadeiros “para raios” do sistema em “placas distribuidoras” do mesmo, através do trabalho integrado das centrais de regulação médica de urgências com outras centrais de regulação e de vagas do sistema, como a central de leitos hospitalares, procedimentos de alta complexidade, exames complementares, internações e atendimentos domiciliares, consultas especializadas, consultas na rede básica de saúde, assistência social, transporte sanitário não urgente, informações e outros serviços, como por exemplo, a defesa civil. Estas centrais obrigatoriamente interligadas entre si, constituem um verdadeiro complexo regulador do sistema, ordenador dos fluxos gerais de necessidade/resposta, que permite ao usuário do SUS relacionar-se com um Sistema capaz da multiplicidade de respostas coerentes e ordenadas necessárias à satisfação de suas necessidades. Assim, o complexo regulador deve ser composto de várias unidades de trabalho gerais ou centrais. Tais centrais procurarão ser polivalentes no uso de seus recursos, prevendo no seu interior a organização das informações e fluxos em unidades de trabalho especializadas, como oncologia, obstetrícia, neonatologia, recursos de alta complexidade e outras, organizadas através de protocolos de operação e da gestão inteligente de recursos, feita por profissional médico orientado e capacitado para tal. A estrutura necessária para a instalação deste complexo dependerá do porte do território/população a ser coberto, podendo-se constituir desde várias unidades de trabalho interligadas nas grandes áreas metropolitanas, até uma única central, acumulando as funções de todas as unidades de trabalho gerais, para as regiões do interior. Dentro da idéia de complexo regulador, é fundamental salientar a importância da regulação médica em algumas áreas estratégicas, já que uma central de vagas atende seus clientes por ordem de chegada, enquanto a central de regulação garante o atendimento por ordem de necessidade, a partir do julgamento da natureza da demanda e a decisão sobre qual o recurso mais adequado para seu atendimento. O médico regulador deve fazer a “advocacy” do paciente, buscando a melhor resposta às suas necessidades, combinando universalidade e eqüidade, ou seja, acolhimento universal e respostas conforme hierarquia de necessidades, documentando as ofertas não disponíveis, na perspectiva de afirmá-las como objetivos estratégicos. Assim, os espaços de regulação se constituem em observatórios privilegiados do funcionamento do sistema e das condições de saúde da população, instrumentalizando o planejamento ascendente e dinâmico, não só da resposta imediata às necessidades dos cidadãos e dos serviços, como de respostas estratégicas e sustentadas do Sistema. É importante salientar que a estruturação dos Complexos Reguladores isoladamente não resolverá a situação dramática hoje vista nos pronto socorros. Temos que, simultaneamente à estruturação dos serviços de pré hospitalar móvel e suas respectivas centrais de regulação, mudar o perfil assistencial da rede de atenção básica à saúde, dos serviços de pronto atendimento, dos hospitais e, até, dos próprios pronto socorros, responsabilizando, equipando e capacitando os recursos humanos de cada um destes níveis para o acolhimento e atendimento qualificado de uma determinada parcela das urgências, compatível com sua capacidade e complexidade. 15 A REGULAÇÃO SOCIAL DO SUS O complexo regulador do Sistema Único de Saúde é ferramenta fundamental para a regulação social do Sistema, que deve primar pela melhor resposta possível às necessidades dos cidadãos, dentro do marco do direito universal à saúde, orientada pelo princípio da eqüidade, ou seja, priorizar a oferta de cuidados com o objetivo de alcançar uma distribuição mais eqüitativa da saúde entre os indivíduos. O diagnóstico da realidade e a constatação das deficiências assistenciais permitem estabelecer prioridades de intervenção segundo o peso e a transcendência das necessidades não satisfeitas, as quais se apresentarão sistematicamente como obstáculos à regulação do sistema e cuja cronicidade deve ser alvo da intervenção sustentada das políticas públicas. As tentativas de administrar a escassez de leitos onde é crônica a desproporção entre demanda e oferta, levam o sistema a um esgotamento pela persistência da improvisação e pela banalização do caos, gerando uma imagem altamente desgastada do SUS. Enfim, trata-se de compor uma visão de totalidade – políticas de saúde (que se expressem na melhoria do estado de saúde da população), em detrimento de ações fragmentadas – políticas de serviços (que se expressem na quantidade de serviços produzidos). Tais políticas de saúde só podem ser delineadas e concretizadas através da concertação entre todos os atores sociais envolvidos – gestores, gerentes, trabalhadores, usuários e prestadores de serviços. Esse processo de concertação necessita de uma instância formal de exercício, como os comitês ou conselhos gestores, submetidos às instâncias deliberativas do SUS. AS URGÊNCIAS COMO OBSERVATÓRIOS DE SAÚDE Os serviços de urgência representam um “locus” privilegiado de observação do estado de saúde da população, de seu comportamento na busca de resolução para seus problemas e da organização da atenção no que diz respeito, principalmente, à resolubilidade da rede de serviços. As urgências se constituem, assim, na representação de uma realidade social, tanto em relação às necessidades da população, quanto ao grau de resposta organizada da sociedade e dos governos, para atender a estas necessidades. Nesta perspectiva, tem-se de reconhecer o potencial dos serviços de urgência para promover a saúde, considerando a promoção como um “guarda-chuva” conceitual que engloba a prevenção, a educação e a proteção, assim como a assistência curativa e a reabilitação, com suas ações dirigidas à busca de possibilidades de manutenção e aumento da autonomia dos indivíduos. Esta conceituação ampliada de promoção remete à necessidade da responsabilização sanitária, entendida como a definição de ações e atividades em um determinado território, conhecimento das realidades locais, entendimento dos fatores determinantes das condições de saúde e busca de soluções para as causas dos problemas, que não se restrinjam à situação sanitária, mas à existência de condições que assegurem meios favoráveis à saúde e que exijam uma ação coordenada de todos os atores envolvidos, isto é, uma ação intersetorial. 16 As ações potencialmente redutoras dos problemas de saúde estão distribuídas nos vários setores organizados da sociedade e no comportamento dos indivíduos. É necessário frisar que a Promoção da Saúde, contribui efetivamente para a melhoria das condições de vida e saúde da população, desde que sua compreensão, planejamento e execução sejam aderentes ao conceito de eqüidade social. As mudanças nos quadros epidemiológicos da saúde colocam em evidência a necessidade da adoção de estratégias de promoção, socialmente aceitáveis, tecnicamente disponíveis e economicamente viáveis, que possam garantir acesso universal aos serviços de atenção, implementar a modificação dos fatores determinantes dos agravos à saúde, estimular mudanças de valores, crenças, atitudes e relações, de forma a modificar favoravelmente tais quadros. A promoção da saúde se apoia na compreensão das necessidades fundamentais do ser humano, quer materiais, quer espirituais, traduzidas em qualidade de vida. O êxito de ações de promoção passa pelo entendimento e apropriação pelos atores envolvidos, da necessidade de se combinar enfoques diversos, complementares, nos quais se incluem legislação, medidas fiscais, sistema tributário e mudanças organizacionais e de atitudes. II - PRINCÍPIOS GERAIS A SEREM IMPLEMENTADOS Para a efetiva implantação de Sistemas Regionais de Atenção integral às Urgências, alguns pontos estratégicos terão que ser implementados: a) Regionalização: por ser o SUS ainda muito jovem e também pela grande ênfase dada à municipalização dos sistemas e serviços de saúde na primeira fase de sua implantação, as experiências em agrupamentos de municípios para fins de planejamento, gerenciamento e financiamento compartilhado ainda são muitos escassas. Atualmente, temos os Consórcios Municipais como instrumentos legais que possibilitam tais associações. Mas, para além das dificuldades burocráticas para esses agrupamentos, acreditamos ser fundamental estimular, através de uma ação direta e sustentada das três esferas de governo, junto ao Ministério e às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, o debate e a definição de “Figuras Regionais”, compostas a partir da identificação dos fluxos existentes de busca de atenção nas diferentes especialidades, delineando as regiões a serem reguladas, que nem sempre correspondem às divisões administrativas estabelecidas pelas fronteiras. Tais figuras regionais deverão ser preenchidas com a leitura das necessidades sociais em saúde, distribuídas por territórios, grupos etários, gênero e problemas emergentes em saúde pública. Deve-se observar também a natureza e volume das demandas que acorrem aos serviços de urgência, identificando pacientes com quadros agudos e não agudos, agudos graves e não graves, demandas de apoio social, identificando seus fluxos e a resolubilidade do sistema frente a cada caso. b) Hierarquização: para operar adequadamente o Sistema, temos que atribuir para cada serviço uma determinada cobertura (território/população), definindo sua responsabilidade sanitária, a partir de uma estratégia promocional, avaliando a efetividade desta cobertura, segundo o alcance de objetivos previamente 17 estabelecidos e pactuados (contratualização externa). Para cada nível assistencial deve-se definir um conjunto de capacidades materiais e humanas que possibilitem o acolhimento de um determinado padrão de patologias a serem tratadas e o encaminhamento de outras para o nível correspondente, efetivandose, assim, uma “hierarquização resolutiva” de toda a rede assistencial. A identificação do papel de cada serviço nesta hierarquia envolve a responsabilização das equipes e a informação das populações sobre o que elas podem esperar e cobrar de cada unidade. A hierarquização resolutiva deve-se estabelecer dentro do princípio da regionalização, em uma dimensão freqüentemente intermunicipal, englobando toda a capacidade instalada do SUS. Assim, são igualmente responsáveis pelo acolhimento de urgências as equipes de PSF e da rede básica em geral, os serviços de atendimento 24 horas (com capacidade de reanimação, resolubilidade em exames complementares essenciais e com leitos de observação), os serviços de atenção pré hospitalar móvel (estabelecendo o papel complementar dos serviços de resgate em relação ao SUS e rompendo com a idéia que restringe a atenção às urgências àquelas provocadas por causas externas), os serviços hospitalares, as portas de urgência não hospitalares, as unidades de terapia intensiva, enfim, todos os níveis componentes do Sistema de Saúde. Deve ser estabelecida, em cada unidade, uma “contratualização interna” que ordene o esforço das equipes em torno aos compromissos assistenciais assumidos por sua unidade na contratualização externa. Enfim, a hierarquização permite o ordenamento das unidades de um Sistema, tornando viável a regulação do mesmo, com vistas à cobertura das necessidades dos pacientes. c) Regulação Médica das Urgências: A estruturação de centrais reguladoras da atenção às urgências, de abrangência municipal/regional, devidamente articuladas com as demais centrais existentes no sistema de saúde loco-regional, deve prever o acesso a duas categorias de clientela: cidadãos e profissionais de saúde. O usuário aciona a Central de Regulação Médica de Urgências via telefone, através de um número exclusivo da saúde, de acesso fácil e gratuito (192 ou qualquer outro). O médico regulador irá julgar a gravidade do caso e determinar qual o recurso necessário ao atendimento, que pode ser desde um aconselhamento médico até o envio de uma ambulância UTI ao local em que se deu o agravo, definindo também para que unidade o paciente deve ser transportado para o tratamento subseqüente, sempre que necessário. Qualquer pedido de socorro de urgência que envolva risco para a saúde do cidadão e dê entrada através de outras centrais de atendimento, como o 190 da Polícia Militar, o 193 do Corpo de Bombeiros e outros, deverá ser imediatamente retransmitido, através de sistema de comunicação adequado, para a Central de Regulação Médica de Urgências. Este procedimento deverá ser respaldado por protocolos técnicos de atuação conjunta, devidamente pactuados e divulgados. O julgamento da gravidade e urgência de cada caso é prerrogativa exclusiva do médico regulador e nenhum juízo de valor deverá ser feito por outro profissional antes da retransmissão do caso. O acesso aos profissionais dos serviços de saúde do município sede da central ou de outros municípios da região, que necessitam transferir pacientes para serviços de referência, pode ser feito a partir deste mesmo número, sendo as ligações distribuídas internamente em ramais, ou pode ser feito através de uma linha telefônica específica, de conhecimento apenas dos estabelecimentos de saúde e mediante protocolos previamente estabelecidos. Estas Centrais de regulação devem possuir médicos reguladores e intervencionistas, equipe de enfermagem com enfermeiros, técnicos e 18 auxiliares de enfermagem, telefonista – auxiliar de regulação, motoristas para as ambulâncias, operador de frota, equipe de apoio administrativo e de serviços gerais. As centrais devem possuir ainda um frota de viaturas, que deve ser composta de veículos para transporte sanitário, ambulâncias de suporte básico, ambulâncias de suporte avançado (UTI’s) e ainda contar com viaturas de resgate, serviço tradicionalmente prestado pelo corpo de bombeiros em algumas localidades do país. Para o dimensionamento adequado da frota de viaturas e do restante do serviço, deve-se levar em consideração a base populacional fixa e em trânsito a ser atendida, sua distribuição territorial urbana e rural, as vias de acesso e fluxo, considerando-se a existência, extensão e distribuição de estradas, bem como da rede de serviços de saúde e os dados de morbimortalidade do município/região, definindo-se quantos veículos, com suas respectivas equipes, devem ser disponibilizados e onde devem estar localizados, a fim de garantir um “tempo resposta” tecnicamente aceitável para um atendimento de emergência. d) Instalação dos Complexos Reguladores: onde existem centrais de regulação médica de urgências, com seus respectivos serviços de atenção pré hospitalar móvel já instalados, observamos que para um impacto mais efetivo na qualidade da assistência às urgências, é fundamental que todos os níveis de complexidade do sistema estejam estruturados e qualificados para tal, funcionando sob a égide da regulação pública do SUS. Assim, se a atenção básica estiver mal estruturada e pouco resolutiva, acolherá inadequadamente a clientela, que buscará o atendimento desejado nos serviços de pronto atendimento. Por sua vez, serviços de pronto atendimento mal estruturados e pouco resolutivos, geram demanda consecutiva aos pronto socorros, abarrotando-os, perpetuando uma cascata sem fim de idas e vindas para a clientela, na busca da satisfação de suas necessidades de saúde. Neste sentido, as instâncias gestoras do SUS devem estimular a estruturação das centrais reguladoras de urgências e das demais unidades de trabalho do complexo regulador, necessárias ao bom funcionamento do Sistema de Saúde, gerando fluxos coerentes, resolutivos e regulados, que garantam a qualidade do atendimento prestado. e) Profissionalização e Qualificação dos profissionais da área: é claro que a missão de ordenar em rede assistencial hierarquizada resolutiva e responsável todos os serviços de saúde de uma determinada região não pode prescindir de intervir sobre todos os recursos humanos que atendem às urgências. Considerando o largo contingente de trabalhadores que já atuam no setor e a relativa desprofissionalização dos mesmos, é obrigatório que se dê ênfase especial à educação continuada, através de estruturas que possam intervir efetivamente neste processo, em larga escala. Pensamos na constituição de Centros de Educação em Socorros de Urgência (CESU’s), de caráter regional, com composição pluri-institucional e sob gerenciamento do gestor do SUS. Estes núcleos devem combinar conhecimentos e meios que permitam uma intervenção qualificada no âmbito da atenção integral às urgências, dentro de uma perspectiva promocional da saúde e abarcando toda a gama de situações de urgência em nosso meio: a violência interpessoal e auto infligida, os diversos tipos de acidentes, além da grande diversidade de urgências clínicas como as cardio-vasculares e respiratórias em geral, pediátricas, perinatais e mentais. Esta deve ser uma área prioritária de investimento para os gestores do SUS, nos níveis Federal, Estadual e Municipal de governo. 19 f) Promoção da saúde: a idéia de promoção da saúde deve permear todo o processo de estruturação dos sistemas regionais de atenção integral às urgências, dentro da ótica da promoção como forma de manter e aumentar a autonomia dos indivíduos, verdadeiro anteparo conceitual sob o qual se situam as ações de prevenção, educação e proteção, assim como as de recuperação e reabilitação da saúde. O SUS deve tomar a iniciativa de estimular ações intersetoriais que permitam a transformação paulatina dos quadros de morbidade e mortalidade atuais, bem como de mudança gradual na utilização dos recursos da saúde, hoje dispendidos, em grande monta, com tratamentos de alta complexidade para patologias evitáveis, como as terapias renais substitutivas, os tratamentos em unidades de terapia intensiva para pacientes acometidos por patologias circulatórias ou respiratórias crônicas, as grandes cirurgias neurológicas e ortopédicas para as vítimas de graves acidentes de trânsito ou o tratamento de grandes queimados. Assim, considerando-se o custo/benefício destas intervenções, acreditamos ser possível operar uma transição para um equilíbrio entre esforços preventivos e curativos, que deve prever sustentação técnica e financeira para tal, apoiadas em decisão política e mobilização social. g) Orientação pela Eqüidade: a estruturação da atenção às urgências deve atingir com maior intensidade os que mais necessitam, buscando não gerar mais ineqüidade pela oferta de ações e serviços que terminam por aumentar a distância entre ricos e pobres, em termos de qualidade de vida e exposição a situações de urgência. III - ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO a) Garantia de financiamento: como forma de garantir o processo de reorganização da Assistência às Urgências no território nacional, julgamos ser fundamental implementar formas de custeio partilhadas para esta área, com recursos oriundos dos níveis Federal, Estadual e Municipal de governo. Talvez a criação de um valor “per capita”, nos moldes dos recursos do PAB, para o qual seria fundamental estudarmos e indicarmos um montante por habitante/mês (Piso de Atenção às Emergências – PAE). Estes recursos seriam repassados apenas aos Municípios/Estados que se comprometam formalmente com a contrapartida no financiamento e com a estruturação de seus sistemas regionais de atenção às urgências, com as centrais de regulação médica de urgências e seus respectivos serviços de atendimento pré hospitalar móvel (atrelados ao SUS), com projeto de implantação progressiva dos complexos reguladores, com a hierarquização resolutiva de toda a rede de atenção às urgências, dentro dos moldes definidos pelas portarias que regulamentam a questão e sob avaliação e supervisão dos gestores loco-regionais, além da estruturação dos centros de educação em socorros de urgência regionais. A partir da estruturação e funcionamento destas centrais de regulação e dos sistemas de informação dos serviços de urgência (Observatórios de Saúde), teremos informações vivas sobre o funcionamento da atenção básica à saúde, das unidades de pronto atendimento, rede hospitalar e outros componentes da rede assistencial, o que nos permitirá avaliações mais dinâmicas e concretas do SUS, com direcionamento mais adequado das ações corretivas, visando a melhoria do “status” de saúde das populações. Além da criação do PAE, temos que insistir na captura de recursos extra-setoriais, mas diretamente relacionados às urgências, como é o caso dos seguros obrigatórios de veículos e pedágios, que possuem, embutidos em seus valores, recursos 20 relacionados à atenção de acidentados, os quais deveriam ser utilizados de forma mais ampla, beneficiando a constituição e manutenção dos sistemas regionais. b) Integração das Urgências à Atenção Básica – Rede de Atenção Primária: claro está que a ampliação da rede pré hospitalar móvel, embora tenha enorme impacto na morbi-mortalidade das urgências, não contribui, isoladamente, para a resolução das dramáticas filas dos pronto socorros. Assim, propomos que simultaneamente, se implemente a adequação tecnológica e a qualificação dos recursos humanos que atuam na atenção básica, aqui incluídas as unidades que atuam no Programa de Saúde da Família, as quais passariam a exercer também a sua função de portas de urgência de baixa e média complexidades. Junto a estas áreas, definiríamos regiões de atuação, a nível experimental (piloto), que seriam utilizadas para a composição dos parâmetros para a hierarquização resolutiva (protocolos de atuação, adequação tecnológica e capacitação de recursos humanos), testando-os em algumas regiões com diferentes complexidades em suas redes assistenciais, como uma região metropolitana onde a estrutura assistencial seja bastante complexa (capitais, em geral), outra onde esta estrutura seja de complexidade intermediária (municípios de médio porte) e, finalmente, localidades onde os recursos sejam bastante limitados e a atenção básica assuma papel primordial na assistência à saúde dos cidadãos (grande maioria dos municípios do país). c) Implementação dos serviços 24 horas, como Policlínicas de Atenção Secundária: junto ao estabelecimento da hierarquia resolutiva para a rede básica, bem como seus princípios de acolhimento, referência e contra referência, a alteridade das regiões em relação à distribuição dos recursos assistenciais nos leva a ponderar sobre a importância dos serviços 24 horas ou unidades de pronto atendimento não hospitalares, como parte de Policlínicas de Atenção Secundária ou Ambulatórios de Alta Resolutividade, para os quais também devem ser estabelecidos padrões de cobertura e resolubilidade, de acordo com as características demográficas, epidemiológicas e assistenciais de cada região. Estes serviços são estruturas potentes para o acolhimento qualificado de pequenas e médias urgências, devendo abrigar salas de reanimação e estabilização, bem como serviços auxiliares de diagnóstico laboratorial, ECG e de imagens e leitos de observação, além de recursos para estabelecerem conexão para uso de recursos de tele-medicina. São unidades de complexidade intermediária entre a rede básica e os hospitais, que adequadamente estruturadas e reguladas têm papel de grande importância no equacionamento da atenção às urgências e na atenção especializada e de exames complementares. O modelo de atenção em Cuba, utiliza, com grande sucesso, as policlínicas como recurso qualificador da resolubilidade da rede básica, permitindo a retaguarda a exames, interconsultas e salas de reanimação e observação. A comunicação telefônica ou por rádio e a existência de transporte sanitário organizado por territórios, permite operar este potencial das policlínicas. Em regiões peri-urbanas ou rurais de difícil acesso e/ou de população esparsa, a função de serviços 24 horas pode ser assumida por uma unidade de PSF ou de atenção primária, com médico e sistema de telemedicina que o integre ao centro regulador regional para interconsulta e transmissão de exames (ECG e/ou imagens por exemplo), com linha de transporte de urgência, terrestre ou aéreo, organizados. 21 d) Reorganização das portas de Urgências Hospitalares: outro setor de vital importância na reorganização da atenção às urgências é a área hospitalar. Os instrumentos de cadastro de serviços hoje existentes não contemplam a oferta real para as urgências, gerando com isto um descompromisso dos prestadores de serviços hospitalares em acolherem determinadas demandas, em determinados dias ou horários. O “velho” modelo de plantões à distância, faz com que os profissionais resistam a comparecer aos hospitais para o atendimento de urgências, mesmo quando tais especialidades estão formalmente cadastradas junto ao SUS. Além disso, a postura não humanizada nestes serviços, faz com que atendimentos de emergência sejam atrelados à existência de leitos até de terapia intensiva, como freqüentemente se observa em neurocirurgia ou, até, na obstetrícia de alto risco que envolve terapia intensiva neonatal. Levando-se em consideração as deficiências existentes nestes setores, grande número de pacientes, cotidianamente, deixa de ser acolhido em serviços terciários e secundários, sendo inadequadamente assistidos em hospitais de menor complexidade, ou ficando “estacionados” em macas, em pronto socorros que estão, apenas físicamente localizados em tais serviços, mas não verdadeiramente integrados a eles, devido à enorme marginalidade em que ainda se encontra a área de urgências. Assim, em relação aos pronto socorros hospitalares, temos o desafio de provocar a mudança em sua organização interna: - horizontalizando o trabalho dos serviços de urgências, fazendo com que os trabalhadores tenham um contato mais sustentado e resolutivo com os pacientes e evitando o “burn out” dos trabalhadores, através de um trabalho diversificado e com apropriação dos seus resultados; - implantando triagens classificatórias que gerem, após o atendimento do paciente, fluxos diferenciados para urgências, pronto atendimentos ou redirecionamento da clientela, através do complexo regulador, para as demais unidades da rede assistencial; - promovendo a reorganização de seu espaço físico, adequando salas de reanimação, consultórios e leitos de observação, de acordo com as necessidades sociais diagnosticadas; - agilizando o acesso ao diagnóstico complementar por imagens e laboratório clínico; - dando ao médico da urgência a necessária autoridade para acessar os leitos disponíveis na unidade; - indiferenciando leitos clínicos e cirúrgicos, sempre que se fizer necessário; - adequando o quadro de profissionais disponíveis ao volume médio da demanda; - inserindo um maior número de enfermeiros na assistência; - estimulando e supervisionando o registro sintético e sistemático de informações epidemiológicas e de gestão. Propomos, ainda, uma intervenção maciça no SUS, no sentido de capacitar os profissionais dos pronto socorros, não só técnica e política, como eticamente, para nele trabalharem, num processo de convencimento sobre o direito inquestionável de acesso aos serviços onde estejam os “recursos” técnicos ou humanos que necessitem os pacientes acometidos por agravos urgentes à sua saúde, independentemente da existência de leito disponível para tal: “vaga zero”. Claro que, simultaneamente, medidas corretivas da oferta de serviços da rede hospitalar terão que ser implementadas, a partir da realidade observada na atenção e regulação das urgências, verdadeiros observatórios da saúde, com vistas a sanar as deficiências cronicamente observadas no setor, sobre as quais 22 temos hoje apenas impressões e não uma quantificação precisa, que nos permita racionalizar e otimizar os investimentos na área. e) Estruturação e implementação de Centros de Educação em Socorros de Urgência (CESU’s), de caráter regional: como já mencionado acima, consideramos que a capacitação política, técnica, gerencial, ética e humana dos recursos humanos na área de urgências é medida de caráter prioritário par um impacto positivo no setor. Assim, propomos que a RBCE seja formatado um conteúdo mínimo inicial de capacitação, que seja oferecido aos Estados e Municípios/Regiões, que tenha como objetivo fundamental, capacitar multiplicadores que possam reproduzi-lo, em larga escala, para os profissionais que atuam na área de urgências, rompendo com a lógica atual de contratação de cursos isolados, que não têm impacto sobre o conjunto dos trabalhadores e seu compromisso com o SUS. Para tal ação inicial sugerimos os seguintes conteúdos: Gestão de Sistemas/Serviços de Urgências, Acolhimento e Recepção de Urgências, Manejo de Urgências nas Portas de Entrada do Sistema: atenção básica, unidades de pronto atendimento e pronto socorros, Atenção Pré Hospitalar Móvel, Centrais de Regulação Médica de Urgências, Manejo Interinstitucional de Situações com Múltiplas Vítimas, Promoção de Comunidades Seguras, Capacitação Pedagógica e Didática para os Multiplicadores. Então, a partir da constituição dos CESU’s, que são espaços interinstitucionais de atuação, integrando as secretarias de saúde, hospitais, Universidades e outros setores ligados à assistência às urgências, seriam desenvolvidas, fundamentalmente, as seguintes ações: estruturar e oferecer aos profissionais da área programas de formação e educação continuada, de acordo com o perfil de morbi-mortalidade de cada região; definir tais programas de acordo com a realidade dos serviços, respeitando suas particularidades e necessidades de capacitação; adotar como modelo pedagógico a problematização de situações, respeitando a vivência, experiências e conhecimento acumulado pelos profissionais envolvidos; provocar a mudança no modelo assistencial, através da elaboração de protocolos de atuação, superando o “individualismo e improvisação” que assistimos na área. 23 DOCUMENTO 2 ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS – PROPOSTA DE ATUAÇÃO Proposta de trabalho desenvolvida pela RBCE em conjunto com a SAS-MS, com o intuito de implementar uma “Política Nacional de Atenção às Urgências”, a partir das “Diretrizes Gerais” proposta pela RBCE Novembro/2000 PROGRAMA DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS Dr. Armando De Negri Filho Dra. Zilda Barbosa Dra. Irani Ribeiro De Moura ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS - PROPOSTA DE ATUAÇÃO 24 SUMÁRIO I – ORGANIZAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS: a) O imperativo da necessidade humana b) A estruturação de Sistemas de Atenção Integral às Urgências c) A Regionalização do Sistema A REGULAÇÃO MÉDICA DAS URGÊNCIAS A ESTRUTURAÇÃO DO COMPLEXO REGULADOR DO SUS AS URGÊNCIAS COMO OBSERVATÓRIOS DE SAÚDE A REGULAÇÃO SOCIAL DO SUS II – PRINCÍPIOS GERAIS A SEREM IMPLEMENTADOS: a) b) c) d) e) f) Regionalização Hierarquização Regulação Médica das Urgências Instalação dos Complexos Reguladores Qualificação dos Profissionais da Área Promoção da Saúde III – ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO: 1. DEFININDO PRIORIDADES E FORMAS DE ATUAÇÃO a) Criação do PAIU b) Integração das Urgências à Atenção Básica c) Implementação dos Serviços 24 Horas d) Integração da Área de Urgências com a Gestão Hospitalar e) Estruturação e Implementação dos Núcleos Regionais de Educação em Urgências 2.TRABALHO JUNTO AOS ESTADOS 3. OUTRAS ATIVIDADES 25 I – ORGANIZAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ÀS URGÊNCIAS POLÍTICA NACIONAL DE Entre todas as fragilidades encontradas na implantação do SUS, em relação à efetivação de suas principais diretrizes, o setor das urgências é, seguramente, o que apresenta menor nível de descentralização e hierarquização, mantendo a mesma estrutura hospitalocêntrica implantada desde o final da década de 60 até os anos 80. Além disso, sendo a assistência ainda muito centralizada, a desigualdade de acesso é marcante. Desta forma, esta estrutura arcaica acaba atuando como fator perpetuador das tradicionais distorções da assistência, dando cobertura a muitas de suas falhas, acolhendo a clientela não atendida na rede básica de serviços e em outros níveis de assistência do sistema. A implementação de uma Política Nacional de Assistência às Urgências impõe a incorporação de alguns novos elementos conceituais, além da revisão e retomada de outros já bastante difundidos: a) O Imperativo da Necessidade Humana: parece óbvio afirmar que a atenção às urgências deva se dar a partir das necessidades da população, mas, na verdade, temos ainda como modelo hegemônico o planejamento da assistência a partir da disponibilidade financeira do sistema e da oferta dos serviços existentes. O diagnóstico destas necessidades deve ser feito a partir da observação das áreas geográficas e da relação população/território, da avaliação de necessidades dos diferentes grupos humanos, da utilização de dados de morbidade e mortalidade disponíveis, da observação das doenças emergentes, bem como da valorização de todas as informações que possam ser obtidas no sentido de pormenorizar tais necessidades. Deve-se também compor um quadro detalhado dos recursos existentes, levando-se em consideração sua quantidade, localização, complexidade, capacidade operacional e técnica. Do confronto das necessidades diagnosticadas com as ofertas existentes, poderemos visualizar as carências e projetar suas correções. b) A estruturação de Sistemas de Atenção Integral às Urgências: no modelo vigente, a assistência às urgências se dá nos “serviços” que funcionam exclusivamente para esse fim, os nossos tão conhecidos pronto socorros. Com portas abertas nas 24 horas, eles acabam atraindo clientelas desgarradas da atenção primária e especializada, que tratam de conservá-los permanentemente 26 cheios, comprometendo a qualidade do atendimento prestado à população. Assim, é imperativo estruturar um Sistema de Atenção às Urgências, que envolva toda a rede assistencial, que numa conceituação mais ampla, passamos a estratificar em rede pré-hospitalar, hospitalar e pós-hospitalar. A rede préhospitalar é formada pelo conjunto das unidades básicas de saúde, unidades do programa de saúde da família (PSF), programa de agentes comunitários de saúde (PACS), ambulatórios especializados, serviços de diagnóstico e terapias, unidades de pronto atendimento (PA), pronto socorros (PS) e pelos serviços de atendimento pré-hospitalar móvel (SAMU, Resgate e outros). A rede hospitalar é composta pelo conjunto de todos os hospitais ligados ao SUS, públicos, filantrópicos ou privados, em todos os seus níveis de complexidade, desde uma simples unidade mista de saúde, até hospitais gerais ou especializados, de alta complexidade. A rede pós-hospitalar é formada por serviços de internação domiciliar e outros de suporte a pacientes com patologias crônicas ou incapacitantes, e tem por funções primordiais a humanização do atendimento prestado a estes pacientes, sua desospitalização, reabilitação e reintegração em suas famílias. Além disto, promove a desobstrução da rede hospitalar, ao devolver o paciente à sua comunidade, com a maior autonomia possível. Cada um desses níveis assistenciais deve ser capacitado e responsabilizado pela atenção a uma determinada parcela da demanda de urgência, respeitando os limites de sua complexidade e capacidade de resolução, criando, assim, uma hierarquia resolutiva com responsabilidade sanitária. Na verdade, temos que organizar o sistema para que ele possa acolher a clientela acometida por quadros agudos, de maior ou menor gravidade, a fim de que esta demanda deixe de dirigir-se sistematicamente aos pronto socorros, gerando filas e longos períodos de espera, como acontece hoje em dia. c) A Regionalização do Sistema: sabemos que os municípios de pequeno e médio porte não têm autonomia para prestar atenção integral à saúde de seus munícipes. Assim, é fundamental que se tenha claro que a Regionalização do atendimento é elemento indispensável para que se promova a universalidade de acesso, eqüidade na alocação de recursos e integralidade na atenção, apagando-se as fronteiras de Municípios e Estados, que são artefatos administrativos, e desenhando-se uma “figura regional”, baseada na distribuição, 27 localização e complexidade dos recursos existentes e observando-se a expressão dos fluxos já delineados, para as diferentes especialidades. A REGULAÇÃO MÉDICA DAS URGÊNCIAS A discussão sobre regulação médica das urgências começou no Brasil, no início da década de 90, com o estabelecimento de uma cooperação entre o Brasil e o SAMU da França, e resultou na estruturação de alguns Serviços de Atendimento Médico de Urgências (SAMU’s), principalmente em capitais e grandes cidades do país. O atendimento pré-hospitalar móvel, sob a denominação de SAMU ou qualquer outra, é um serviço da área da saúde que se destina ao atendimento de pessoas acometidas por agravos urgentes de caráter clínico, sejam pacientes pediátricos ou adultos, traumato-cirúrgico, sejam pacientes acometidos por causas externas, patologias cirúrgicas ou da gestação, ou ainda os agravos urgentes à saúde mental, de forma precoce e no local da ocorrência. A Central de Regulação Médica de Urgências, além do usuário, deve atender também a profissionais de unidades de saúde do sistema, que após prestarem o primeiro atendimento ao paciente, necessitem remanejá-lo para outra unidade assistencial, geralmente de maior complexidade, para a continuidade do tratamento, de acordo com a grade assistencial regional. Esta grade assistencial regionalizada e hierarquizada deve ser prévia e amplamente discutida com os atores sociais envolvidos na área, pactuada com gestores e prestadores de serviço, que se responsabilizam por acolher e tratar adequadamente a clientela que a eles seja encaminhada pelos médicos reguladores das Centrais de Regulação Médicas de Urgências. O médico regulador deve ser formalmente reconhecido, através de legislação específica, como autoridade sanitária, podendo determinar o remanejamento de recursos e até de pacientes e acionar múltiplos meios necessários ao adequado atendimento às necessidades da população. A ESTRUTURAÇÃO DO COMPLEXO REGULADOR DO SUS Se entendermos as necessidades imediatas da população, ou necessidades agudas ou de urgência, como pontos de pressão por respostas rápidas e tendo em vista seu potencial desorganizador sobre o funcionamento geral do sistema, dando 28 visibilidade a suas insuficiências, poderemos romper com certa preponderância do que é eletivo, equacionando uma oferta resolutiva para as urgências, que determine a progressiva normalização da oferta programável. Então, as portas de urgência do sistema, sua real porta de entrada, passariam a acolher a clientela, prestando-lhe atendimento e redirecionando-a para os locais adequados à continuidade do tratamento, transformando estas portas que hoje funcionam como verdadeiros “para raios” do sistema em “placas distribuidoras” do mesmo, através do trabalho integrado das centrais de regulação médica de urgências com outras centrais de regulação e de vagas do sistema, como a central de leitos hospitalares, procedimentos de alta complexidade, exames complementares, internações e atendimentos domiciliares, consultas especializadas, consultas na rede básica de saúde, assistência social, transporte sanitário não urgente, informações e outros serviços, como por exemplo, a defesa civil. Estas centrais obrigatoriamente interligadas entre si constituem um verdadeiro complexo regulador do sistema, ordenador dos fluxos gerais de necessidade/resposta, que permite ao usuário do SUS relacionar-se com um Sistema capaz da multiplicidade de respostas coerentes e ordenadas necessárias à satisfação de suas necessidades. Assim, o complexo regulador deve ser composto de várias unidades de trabalho ou centrais. Tais centrais procurarão ser polivalentes no uso de seus recursos, prevendo no seu interior as divisões em unidades de trabalho especializadas, como urgências, oncologia, obstetrícia, neonatologia, recursos de alta complexidade e outras, organizadas através de protocolos de operação e da gestão inteligente de recursos, feita por profissional médico orientado e capacitado para tal. A estrutura necessária para a instalação deste complexo dependerá do porte do território/população a ser coberto, podendo-se constituir desde várias unidades de trabalho interligadas nas grandes áreas metropolitanas, até uma única central, acumulando as funções de todas as unidades de trabalho, para as regiões do interior. Dentro da idéia de complexo regulador, é fundamental salientar a importância da regulação médica em algumas áreas estratégicas, já que uma central de vagas atende seus clientes por ordem de chegada, enquanto a central de regulação garante o atendimento por ordem de necessidade, a partir do julgamento da natureza da demanda e a decisão sobre qual o recurso mais adequado para seu atendimento. 29 O médico regulador deve fazer a “advocacy” do paciente, buscando a melhor resposta às suas necessidades, combinando universalidade e eqüidade, ou seja, acolhimento universal e respostas conforme hierarquia de necessidades, documentando as ofertas não disponíveis, na perspectiva de afirmá-las como objetivos estratégicos. Assim, os espaços de regulação se constituem em observatórios privilegiados do funcionamento do sistema e das condições de saúde da população, instrumentalizando o planejamento ascendente e dinâmico, não só da resposta imediata às necessidades dos cidadãos e dos serviços, como de respostas estratégicas e sustentadas do Sistema. É importante salientar que a estruturação dos Complexos Reguladores isoladamente não resolverá a situação dramática hoje vista nos pronto socorros. Temos que, simultaneamente à estruturação dos serviços de pré- hospitalar móvel e suas respectivas centrais de regulação, mudar o perfil assistencial da rede atenção básica à saúde, dos serviços de pronto atendimento, dos hospitais e, até, dos próprios pronto socorros, responsabilizando, equipando e capacitando os recursos humanos de cada um destes níveis para o acolhimento e atendimento qualificado de uma determinada parcela das urgências, compatível com sua capacidade e complexidade. AS URGÊNCIAS COMO OBSERVATÓRIOS DE SAÚDE Os serviços de urgência representam um “locus” privilegiado de observação do estado de saúde da população, de seu comportamento na busca de resolução para seus problemas e da organização da atenção no que diz respeito, principalmente, à resolubilidade da rede de serviços. As urgências se constituem, assim, na representação de uma realidade social, tanto em relação às necessidades da população, quanto ao grau de resposta organizada da sociedade e dos governos, para atender a estas necessidades. Nesta perspectiva, tem-se de reconhecer o potencial dos serviços de urgência para promover a saúde, considerando a promoção como um “guarda-chuva” conceitual que engloba a prevenção, a educação e a proteção, assim como a assistência curativa e a reabilitação, com suas ações dirigidas à busca de possibilidades de manutenção e aumento da autonomia dos indivíduos. Esta conceituação ampliada de promoção remete à necessidade da responsabilização sanitária, entendida como a definição de ações e atividades em um determinado 30 território, conhecimento das realidades locais, entendimento dos fatores determinantes das condições de saúde e busca de soluções para as causas dos problemas, que não se restrinjam à situação sanitária, mas à existência de condições que assegurem meios favoráveis à saúde e que exijam uma ação coordenada de todos os atores envolvidos, isto é, uma ação intersetorial. As ações potencialmente redutoras dos problemas de saúde estão distribuídas nos vários setores organizados da sociedade e no comportamento dos indivíduos. É necessário frisar que a Promoção da Saúde, contribui efetivamente para a melhoria das condições de vida e saúde da população, desde que sua compreensão, planejamento e execução sejam aderentes ao conceito de equidade social. As mudanças nos quadros epidemiológicos da saúde colocam em evidência a necessidade da adoção de estratégias de promoção, socialmente aceitáveis, tecnicamente disponíveis e economicamente viáveis, que possam garantir acesso universal aos serviços de atenção, implementar a modificação dos fatores determinantes dos agravos à saúde, estimular mudanças de valores, crenças, atitudes e relações, de forma a modificar favoravelmente tais quadros. A promoção da saúde se apoia na compreensão das necessidades fundamentais do ser humano, quer materiais, quer espirituais, traduzidas em qualidade de vida. O êxito de ações de promoção passa pelo entendimento e apropriação pelos atores envolvidos, da necessidade de se combinar enfoques diversos, complementares, nos quais se incluem legislação, medidas fiscais, sistema tributário e mudanças organizacionais e de atitudes. A REGULAÇÃO SOCIAL DO SUS O complexo regulador do Sistema Único de Saúde, enfim, é ferramenta fundamental para a regulação social do Sistema, que deve primar pela melhor resposta possível às necessidades dos cidadãos, dentro do marco do direito universal à saúde, orientada pelo princípio da eqüidade, ou seja, priorizar a oferta de cuidados com o objetivo de alcançar uma distribuição mais eqüitativa da saúde entre os indivíduos. O diagnóstico da realidade e a constatação das deficiências assistenciais permitem estabelecer prioridades de intervenção segundo o peso e a transcendência das necessidades não satisfeitas, as quais se apresentarão 31 sistematicamente como obstáculos à regulação do sistema e cuja cronicidade deve ser alvo da intervenção sustentada das políticas públicas. As tentativas de administrar a escassez de leitos onde é crônica a desproporção entre demanda e oferta levam o sistema a um esgotamento pela persistência da improvisação e pela banalização do caos, gerando uma imagem altamente desgastada do SUS. Enfim, trata-se de compor uma visão de totalidade – políticas de saúde (que se expressem na melhoria do estado de saúde da população), em detrimento de ações fragmentadas – políticas de serviços (que se expressem na quantidade de serviços produzidos). Tais políticas de saúde só podem ser delineadas e concretizadas através da concertação entre todos os atores sociais envolvidos – gestores, usuários e prestadores de serviços. Esse processo de concertação necessita de uma instância formal de exercício, como os comitês ou conselhos gestores, submetidos às instâncias deliberativas do SUS. II - PRINCÍPIOS GERAIS A SEREM IMPLEMENTADOS Para a efetiva implantação de Sistemas Regionais de Atenção integral às Urgências, alguns pontos estratégicos terão que ser implementados: h) Regionalização: por ser o SUS ainda muito jovem e também pela grande ênfase dada à municipalização dos sistemas e serviços de saúde na primeira fase de sua implantação, as experiências em agrupamentos de municípios para fins de planejamento, gerenciamento e financiamento compartilhado ainda são muitos escassas. Atualmente, temos os Consórcios Municipais como instrumentos legais que possibilitam tais associações. Mas, para além das dificuldades burocráticas para esses agrupamentos, acreditamos ser fundamental estimular, através de uma ação direta e sustentada da SAS-MS junto às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, o debate e a definição de “Figuras Regionais”, compostas a partir da identificação dos fluxos existentes de busca de atenção nas diferentes especialidades, delineando as regiões a serem reguladas, que nem sempre correspondem às divisões administrativas estabelecidas pelas fronteiras. Tais figuras regionais deverão ser preenchidas com a leitura das necessidades sociais em saúde, distribuídas por territórios, grupos etários, gênero e problemas 32 emergentes em saúde pública. Deve-se observar também a natureza e volume das demandas que acorrem aos serviços de urgência, identificando pacientes com quadros agudos e não agudos, agudos graves e não graves, demandas de apoio social, identificando seus fluxos e a resolubilidade do sistema frente a cada caso. i) Hierarquização: para operar adequadamente o Sistema, temos que atribuir para cada serviço uma determinada cobertura (território/população), definindo sua responsabilidade sanitária, a partir de uma estratégia promocional, avaliando a efetividade desta cobertura, segundo o alcance de objetivos previamente estabelecidos e pactuados (contratualização externa). Para cada nível assistencial deve-se definir um conjunto de capacidades materiais e humanas que possibilitem o acolhimento de um determinado padrão de patologias a serem tratadas e o encaminhamento de outras para o nível correspondente, efetivandose, assim, uma “hierarquização resolutiva” de toda a rede assistencial. A identificação do papel de cada serviço nesta hierarquia envolve a responsabilização das equipes e a informação das populações sobre o que elas podem esperar e cobrar de cada unidade. A hierarquização resolutiva deve-se estabelecer dentro do princípio da regionalização, em uma dimensão freqüentemente intermunicipal, englobando toda a capacidade instalada do SUS. Assim, são igualmente responsáveis pelo acolhimento de urgências as equipes de PSF e da rede básica em geral, os serviços de atendimento 24 horas (com capacidade de reanimação, resolubilidade em exames complementares essenciais e com leitos de observação), os serviços de atenção pré-hospitalar móvel (estabelecendo o papel complementar dos serviços de resgate em relação ao SUS e rompendo com a idéia que restringe a atenção às urgências àquelas provocadas por causas externas), os serviços hospitalares, as portas de urgência não hospitalares, as unidades de terapia intensiva, enfim, todos os níveis componentes do Sistema de Saúde. Deve ser estabelecida, em cada unidade, uma “contratualização interna” que ordene o esforço das equipes em torno aos compromissos assistenciais assumidos por sua unidade na contratualização externa. Enfim, a hierarquização permite o ordenamento das unidades de um Sistema, tornando viável a regulação do mesmo, com vistas à cobertura das necessidades dos pacientes. 33 j) Regulação Médica das Urgências: A estruturação de centrais reguladoras da atenção às urgências, de abrangência municipal/regional, devidamente articuladas com as demais centrais existentes no sistema de saúde loco-regional, deve prever o acesso a duas categorias de clientela: cidadãos e profissionais de saúde. O usuário aciona a Central de Regulação Médica de Urgências via telefone, através de um número exclusivo da saúde, de acesso fácil e gratuito (192 ou qualquer outro). O médico regulador irá julgar a gravidade do caso e determinar qual o recurso necessário ao atendimento, que pode ser desde um aconselhamento médico até o envio de uma ambulância UTI ao local em que se deu o agravo, definindo também para que unidade o paciente deve ser transportado para o tratamento subseqüente, sempre que necessário. Qualquer pedido de socorro de urgência que envolva risco para a saúde do cidadão e dê entrada através de outras centrais de atendimento, como o 190 da Polícia Militar, o 193 do Corpo de Bombeiros e outros, deverá ser imediatamente retransmitido, através de sistema de comunicação adequado, para a Central de Regulação Médica de Urgências. Este procedimento deverá ser respaldado por protocolos técnicos de atuação conjunta, devidamente pactuados e divulgados. O julgamento da gravidade e urgência de cada caso é prerrogativa exclusiva do médico regulador e nenhum juízo de valor deverá ser feito por outro profissional antes da retransmissão do caso. O acesso aos profissionais dos serviços de saúde do município sede da central ou de outros municípios da região, que necessitam transferir pacientes para serviços de referência, pode ser feito a partir deste mesmo número, sendo as ligações distribuídas internamente em ramais, ou pode ser feito através de uma linha telefônica específica, de conhecimento apenas dos estabelecimentos de saúde e mediante protocolos previamente estabelecidos. Estas Centrais de regulação devem possuir médicos reguladores e intervencionistas, equipe de enfermagem com enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, telefonista – auxiliar de regulação, motoristas para as ambulâncias, operador de frota, equipe de apoio administrativo e de serviços gerais. As centrais devem possuir ainda uma frota de ambulâncias, que deve ser composta de veículos para transporte sanitário, ambulâncias de suporte básico, ambulâncias de suporte avançado (UTI’s) e ainda contar com viaturas de resgate, serviço tradicionalmente prestado pelo corpo de bombeiros em algumas localidades do país. Para o dimensionamento adequado da frota de ambulâncias e do restante do serviço, deve-se levar em consideração a base populacional fixa 34 e em trânsito a ser atendida, sua distribuição territorial urbana e rural, as vias de acesso e fluxo, considerando-se a existência, extensão e distribuição de estradas, bem como da rede de serviços de saúde e os dados de morbimortalidade do município/região, definindo-se quantos veículos, com suas respectivas equipes, devem ser disponibilizados e onde devem estar localizados, a fim de garantir um “tempo resposta” tecnicamente aceitável para um atendimento de urgência. k) Instalação dos Complexos Reguladores: onde existem centrais de regulação médica de urgências, com seus respectivos serviços de atenção pré-hospitalar móvel já instalados, observamos que para um impacto mais efetivo na qualidade da assistência às urgências, é fundamental que todos os níveis de complexidade do sistema estejam estruturados e qualificados para tal, funcionando sob a égide da regulação pública do SUS. Assim, se a atenção básica estiver mal estruturada e pouco resolutiva, acolherá inadequadamente a clientela, que buscará o atendimento desejado nos serviços de pronto atendimento. Por sua vez, serviços de pronto atendimento mal estruturados e pouco resolutivos, geram demanda consecutiva aos pronto socorros, abarrotando-os, perpetuando uma cascata sem fim de idas e vindas para a clientela, na busca da satisfação de suas necessidades de saúde. Neste sentido, a SAS-MS deve estimular a estruturação das centrais reguladoras de urgências e das demais unidades de trabalho do complexo regulador, necessárias ao bom funcionamento do Sistema de Saúde, gerando fluxos coerentes, resolutivos e regulados, que garantam a qualidade do atendimento prestado. l) Qualificação dos profissionais da área: é claro que a missão de ordenar em rede assistencial hierarquizada resolutiva e responsável todos os serviços de saúde de uma determinada região não pode prescindir de intervir sobre todos os recursos humanos que atendem às urgências. Considerando o largo contingente de trabalhadores que já atuam no setor e a relativa desprofissionalização dos mesmos, é obrigatório que se dê ênfase especial à educação continuada, através de estruturas que possam intervir efetivamente neste processo, em larga escala. Pensamos na constituição de Núcleos Regionais de Educação em Urgências, com composição pluriinstitucional e sob gerenciamento do gestor do SUS. Estes núcleos devem combinar conhecimentos e meios que permitam uma intervenção 35 qualificada no âmbito da atenção integral às urgências, dentro de uma perspectiva promocional da saúde e abarcando toda a gama de situações de urgência em nosso meio: a violência interpessoal e auto infligida, os diversos tipos de acidentes, além da grande diversidade de urgências clínicas como as cardiovasculares e respiratórias em geral, pediátricas, perinatais e mentais. Esta deve ser uma área prioritária de investimento para o MS. m) Promoção da saúde: a idéia de promoção da saúde deve permear todo o processo de estruturação dos sistemas regionais de atenção integral às urgências, dentro da ótica da promoção como forma de manter e aumentar a autonomia dos indivíduos, verdadeiro anteparo conceitual sob o qual se situam as ações de prevenção, educação e proteção, assim como as de recuperação e reabilitação da saúde. O MS deve tomar a iniciativa de estimular ações intersetoriais que permitam a transformação paulatina dos quadros de morbidade e mortalidade atuais, bem como de mudança gradual na utilização dos recursos da saúde, hoje despendidos, em grande monta, com tratamentos de alta complexidade para patologias evitáveis, como as terapias renais substitutivas, os tratamentos em unidades de terapia intensiva para pacientes acometidos por patologias circulatórias ou respiratórias crônicas, as grandes cirurgias neurológicas e ortopédicas para as vítimas de graves acidentes de trânsito ou o tratamento de grandes queimados. Assim, considerando-se o custo/benefício destas intervenções, acreditamos ser possível operar uma transição para um equilíbrio entre esforços preventivos e curativos, que deve prever sustentação técnica e financeira para tal, apoiadas em decisão política e mobilização social. III - ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO 1- DEFININDO PRIORIDADES E FORMAS DE INTERVENÇÃO: f) Criação do Piso de Atenção Integral as Urgências - PAIU: estrategicamente, como forma de disparar o processo de reorganização da Assistência às Urgências no território nacional, propomos que simultaneamente à reedição da Portaria MS 824/99, que delineia as bases para a implantação de uma Política Nacional de Atenção Integral às Urgências, orientando a implantação de 36 Sistemas Regionais de Atenção às Urgências, sob regulação médica efetivada dentro de unidades de trabalho dos Complexos Reguladores da Assistência prestada pelo SUS à população – as Centrais de Regulação Médica das Urgências, normatizando os serviços de pré hospitalar móvel em todo o território nacional e deliberando sobre os Núcleos Regionais de Educação, seja implementada a idéia de custeio tripartite desta estrutura, com recursos oriundos dos níveis Federal, Estadual e Municipal de governo. Propomos como contrapartida do MS para este custeio, a criação de um valor “per capita” mensal, nos moldes dos recursos do PAB, para o qual indicamos o montante de R$ 0,35 por habitante/mês (Piso de Atenção Integral às Urgências – PAIU). Estes recursos seriam repassados apenas aos Municípios/Estados que estruturem suas centrais de regulação médica de urgências, com seus respectivos serviços de atendimento pré-hospitalar móvel e projeto de implantação progressiva dos Complexos Regulatórios, dentro dos moldes definidos pelas portarias que regulamentam a questão e sob avaliação dos gestores loco-regionais, com supervisão pela SAS-MS. A partir destas Centrais de Regulação já instaladas, teremos informações vivas sobre o funcionamento da atenção básica à saúde, das unidades de pronto atendimento, rede hospitalar e outros componentes da rede assistencial, o que nos permitirá avaliações maisdinâmicas e concretas do SUS, com direcionamento mais adequado das ações corretivas. g) Integração das Urgências à Atenção Básica: claro está que a ampliação da rede pré hospitalar móvel, embora tenha enorme impacto na morbi-mortalidade das urgências, não contribui, isoladamente, para a resolução das dramáticas filas dos pronto socorros. Assim, propomos que simultaneamente, se programe a adequação tecnológica e a qualificação dos recursos humanos que atuam na atenção básica, utilizando-se como núcleo estratégico para implementação destas ações, com vistas a mudar todo o perfil da rede básica, as unidades que atuam no Programa de Saúde da Família. Junto à coordenação do programa de Atenção Básica, definiríamos áreas de atuação conjunta, a nível experimental (piloto), nas quais se comporiam os parâmetros para a hierarquização resolutiva (adequação tecnológica e capacitação de recursos humanos), testando-os nestes locais. Seria aconselhável escolher algumas regiões com diferentes complexidades em suas redes assistenciais, como uma região metropolitana onde a estrutura assistencial seja bastante complexa, outra onde esta estrutura 37 seja de complexidade intermediária e, finalmente, uma localidade onde os recursos sejam bastante limitados e a atenção básica assume papel primordial na assistência à saúde dos cidadãos. Acreditamos que seja possível, além disto, utilizar a experiência adquirida com a implantação dos Pólos de Capacitação do PSF, bem como suas estruturas, para implementar a capacitação dos recursos humanos das urgências. Na verdade, não julgamos ser coerente criar “pólos” de capacitação para cada área de atuação. Ao invés disto, preferimos imaginar Pólos de Capacitação de Recursos Humanos da Saúde, que contenham os vários núcleos de atuação, trabalhando de forma integrada, otimizando a utilização dos recursos. h) Implementação dos serviços 24 horas: junto ao estabelecimento da hierarquia resolutiva para a rede básica, bem como seus princípios de acolhimento, referência e contra referência, a alteridade das regiões em relação à distribuição dos recursos assistenciais nos leva a ponderar sobre a importância dos serviços 24 horas ou unidades de pronto atendimento não hospitalares, para os quais também devem ser estabelecidos padrões de cobertura e resolubilidade, de acordo com as características demográficas, epidemiológicas e assistenciais de cada região. Estes serviços são estruturas potentes para o acolhimento qualificado de pequenas e médias urgências, devendo abrigar salas de reanimação e estabilização, bem como serviços auxiliares de diagnóstico laboratorial, ECG e de imagens e leitos de observação. São unidades de complexidade intermediária entre a rede básica e os hospitais, que adequadamente estruturadas e reguladas têm papel de grande importância no equacionamento da atenção às urgências. i) Reorganização das portas de Urgências Hospitalares: outro setor de vital importância na reorganização da atenção às urgências é a área hospitalar. Os instrumentos de cadastro de serviços hoje existentes não contemplam a oferta real para as urgências, gerando com isto um descompromisso dos prestadores de serviços hospitalares em acolherem determinadas demandas, em determinados dias ou horários. O “velho” modelo de plantões à distância, faz com que os profissionais resistam a comparecer aos hospitais para o atendimento de urgências, mesmo quando tais especialidades estão formalmente cadastradas junto ao SUS. Além disso, a postura não humanizada nestes serviços, faz com que atendimentos de emergência sejam atrelados à existência de leitos até de 38 terapia intensiva, como freqüentemente se observa em neurocirurgia ou, até, na obstetrícia de alto risco que envolve terapia intensiva neonatal. Levando-se em consideração as deficiências existentes nestes setores, grande número de pacientes, cotidianamente, deixa de ser acolhido em serviços terciários e secundários, sendo inadequadamente assistidos em hospitais de menor complexidade, ou ficando “estacionados” em macas, em pronto socorros que estão, apenas geograficamente localizados em tais serviços, mas não verdadeiramente integrados a eles, devido à enorme marginalidade em que ainda se encontra a área de urgências. Assim, em relação aos pronto socorros hospitalares, temos o desfio de provocar a mudança em sua organização interna, implantando triagens classificatórias que gerem, após o atendimento do paciente, fluxos diferenciados para urgências, pronto atendimentos ou redirecionamento da clientela, através do complexo regulador, para as demais unidades da rede assistencial; promovendo a reorganização de seu espaço físico, adequando salas de reanimação, consultórios e leitos de observação, de acordo com as necessidades diagnosticadas; agilizando o acesso ao diagnóstico complementar; dando ao médico da urgência a necessária autoridade para acessar os leitos disponíveis na unidade, indiferenciando leitos clínicos e cirúrgicos, sempre que se fizer necessário; adequando o quadro de profissionais disponíveis ao volume médio da demanda e inserindo um maior número de enfermeiros na assistência e estimulando e supervisionando o registro sintético e sistemático de informações epidemiológicas e de gestão. Propomos, ainda, uma intervenção maciça da SAS-MS, no sentido de capacitar os profissionais dos pronto socorros, não só técnica como eticamente, num trabalho de convencimento sobre o direito inquestionável de acesso aos serviços onde estejam os “recursos” técnicos ou humanos que necessitem os pacientes acometidos por agravos urgentes à sua saúde, independentemente da existência de leito disponível para tal: “vaga zero”. Claro que, simultaneamente, medidas corretivas da oferta de serviços da rede hospitalar terão que ser implementadas, a partir da realidade observada na atenção e regulação das urgências, verdadeiros observatórios da saúde, com vistas a sanar as deficiências cronicamente observadas no setor, sobre as quais temos hoje apenas impressões e não uma quantificação precisa, que nos permita racionalizar e aperfeiçoar os investimentos na área. 39 j) Estruturação e implementação dos Núcleos Regionais de Educação em Urgências: como já mencionado acima, consideramos que a capacitação política, técnica, gerencial, ética e humana dos recursos humanos na área de urgências é medida de caráter prioritário par um impacto positivo no setor. Assim, propomos que seja formatado um conteúdo mínimo inicial de capacitação, que seja oferecido pela SAS-MS aos Estados e Municípios/Regiões, que tenha como objetivo fundamental, capacitar multiplicadores que possam reproduzi-lo, em larga escala, para os profissionais que atuam na área de urgências, rompendo com a lógica atual de contratação de cursos isolados, que não têm impacto sobre o conjunto dos trabalhadores e seu compromisso com o SUS. Para tal ação inicial sugerimos os seguintes conteúdos: Gestão de Sistemas/Serviços de Urgências, Acolhimento e Recepção de Urgências, Manejo de Urgências nas Portas de Entrada do Sistema: atenção básica, unidades de pronto atendimento e pronto socorros, Atenção Pré Hospitalar Móvel, Centrais de Regulação Médica de Urgências, Manejo Interinstitucional de Situações com Múltiplas Vítimas, Promoção de Comunidades Seguras, Capacitação Pedagógica e Didática para os Multiplicadores. Então, a partir da constituição dos Núcleos de Capacitação, que são espaços interinstitucionais de atuação, integrando as secretarias de saúde, hospitais, Universidades e outros setores ligados à assistência às urgências, seriam desenvolvidas, fundamentalmente, as seguintes ações: estruturar e oferecer aos profissionais da área programas de formação e educação continuada, de acordo com o perfil de morbi-mortalidade de cada região; definir tais programas de acordo com a realidade dos serviços, respeitando suas particularidades e necessidades de capacitação; adotar como modelo pedagógico a problematização de situações, respeitando a vivência, experiências e conhecimento acumulado pelos profissionais envolvidos; provocar a mudança no modelo assistencial, através da elaboração de protocolos de atuação, superando o “individualismo e improvisação” que assistimos na área. 2- TRABALHO JUNTO AOS ESTADOS Através do trabalho de técnicos da área, a SAS-MS deve realizar um processo sustentado de organização nos Estados, através de grupos de trabalho compostos por gestores estaduais e municipais, onde se construa o domínio de 40 conceitos e métodos que permitam levar a termo as propostas acima, criando governabilidade e projetando a iniciativa do Ministério como gestor nacional do SUS. Assim, propomos um processo composto de quatro visitas por estado, sendo a primeira uma reunião de organização para a estruturação de três seminários subsequentes, nos quais serão construídos o diagnóstico das deficiências assistenciais regionais, a pactuação da hierarquia e dos fluxos da assistência, delineando as figuras regionais de atenção às urgências, o projeto de implantação de sua regulação e a estruturação dos núcleos de educação dos profissionais envolvidos, implementando todas estas ações, dando, assim, corpo a um processo de formulação de políticas públicas, que serão a linha de ordenamento dos investimentos e custeio a serem pactuados e partilhados pelos três níveis de gestão do SUS, a fim de implementar e manter estas ações. Tais visitas ou missões seguirão as seguintes etapas: Primeira missão aos Estados: Objetivos: 1. Realizar a introdução aos gestores municipais e estadual de conceitos e elementos operacionais relacionados à organização de sistemas de saúde, destacando a regionalização, a hierarquização de serviços e a regulação social dos sistemas, através de um complexo regulador composto por várias unidades de trabalho. Igualmente se introduzem os elementos de diagnóstico necessários para a identificação de necessidades sociais em saúde, a avaliação das ofertas existentes e o dimensionamento dos déficits assistenciais observados. Apresentação de noções de um planejamento ascendente orientado para uma estratégia de promoção da saúde. 2. Constituição de um espaço inicial de interlocução, formando um grupo de trabalho composto pelo gestor estadual (dois membros) e por representantes dos municípios (direção do COSEMS, capital, cidades pólo regionais e representantes de cidades sem serviços de referência). Este grupo de trabalho será o espaço de articulação do projeto no Estado, e será acompanhado por uma dupla de consultores do Ministério. O grupo deverá 41 reportar sistematicamente os processos em curso e os consultores monitorarão o trabalho e darão o apoio e a orientação necessários. 3. A primeira tarefa dos grupos constituídos nos estados será a organização de um seminário a ser desenvolvido na segunda missão, objetivando o aprofundamento de conceitos e o desenvolvimento de um processo de planejamento que busque construir um projeto de implantação de sistemas regulados regionais e estadual, tomando as urgências como ponto nodal, acompanhada do acesso a leitos, consultas e exames especializados, atenção básica, assistência social e manejo de desastres, explorando a operação dos conceitos de promoção da qualidade de vida, territorialização e responsabilidade sanitária. 4. Visitas aos hospitais, serviços pré-hospitalares e centros de regulação que tenham sido beneficiados por recursos oriundos das portarias de urgências e emergências ou gestação de alto risco. Produtos esperados da primeira missão: 1. Grupo de trabalho Estado/Municípios/Ministério constituído (definir roteiro para a primeira etapa do grupo de trabalho, que terá que apresentar um quadro diagnóstico inicial do Estado quando do seminário da segunda missão); 2. Definição do grau de sensibilidade dos gestores para o desenvolvimento do projeto almejado e classificação inicial do processo no estado como de alto, médio ou baixo potencial, a exigir intervenções mais ou menos enérgicas do grupo tarefa; 3. Informe técnico sobre a situação encontrada, incluindo informe sobre o uso dos recursos já repassados, as condições para a postulação dos novos recursos e uma impressão geral do funcionamento do sistema, além de um informe sumário das posições externadas ao longo das interlocuções e debates. Registrar as posições, identificando os atores sociais que os proferiram. 42 Segunda missão aos Estados: O intervalo entre a primeira e a segunda missão será de quinze dias. Objetivo: Desenvolver seminário que aprofunde os conceitos e oriente os elementos do projeto a serem desenvolvidos na próxima etapa, além de discutir o processo de pactuação de políticas públicas e de regionalização de sistemas e serviços. O seminário se inicia com a apresentação de um quadro de situação elaborado e pactuado pelo grupo de trabalho constituído por gestores estaduais e municipais, preparado a partir da primeira missão. Após a segunda missão, o grupo estadual terá cinco semanas para elaborar e pactuar um produto/projeto de sistemas regionais regulados, englobando o ordenamento de todos os componentes de unidades de regulação já referidos. Terceira Missão aos Estados: Objetivo: Apresentar e fazer a pactuação final dos dados do Projeto, estabelecendo os elementos operacionais necessários para detalhamento a seguir, inclusive orçamentação e cronogramas com responsabilidades estabelecidas. Serão utilizadas três semanas para esta etapa. Quarta Missão aos Estados: Objetivo: Adoção da forma final do Projeto e início do processo de implantação, com apoio técnico do Grupo Tarefa do MS. 43 3- OUTRAS ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS: Além das visitas aos Estados, o grupo técnico deverá desenvolver ainda as seguintes atividades: a) Revisão imediata do texto da Portaria 824, em trabalho conjunto do MS, RBCE, CFM e COFEN, encaminhando uma proposta de minuta para sua republicação. Após a publicação da nova versão da Portaria 824, organização de “Seminário Nacional” dos referido órgãos com o Corpo de Bombeiros, a fim de pactuar as estratégias de implementação da mesma. b) Fazer reuniões internas com vários setores do MS que têm interface com a proposta de Sistemas Regionais de Atenção Integral às Urgências, como: Secretaria de Políticas: Atenção Básica, Programa de Saúde da Família, Programa de Agentes Comunitários de Saúde, Saúde da Mulher e Saúde da Criança. Assessorias Técnicas: Saúde Mental, Trabalhador, Idosos e Saúde do Deficiente. Recursos Humanos (capacitação). Regionalização. Gestão Hospitalar Controle e Avaliação Outros. Tais reuniões terão por objetivo apresentar as diretrizes de trabalho da área de Urgências, como a estruturação dos complexos reguladores e a proposta de capacitação de recursos humanos, estabelecendo a integração destas áreas e elaborando propostas de normatização e implementação da “Hierarquia Resolutiva” para as urgências. c) Seminário com as várias sociedades de especialidades como a SBC, SBOT, SBP, FEBRASGO, PNEUMOLOGIA, NEUROLOGIA, QUEIMADOS e outras, afimde discutir propostas pontuais para propor e trabalhar a adoção, em cada uma delas, de Protocolos Nacionais. 44 d) Seminário para definição da Estratégia de Promoção, envolvendo a SBP, UNICEF e OPAS. e) Estruturar Sistema de Monitoramento das Urgências, em cada Estado, através da atuação de Comitês Técnicos Estaduais de Urgências. f) Criar, no nível do SIA e SIH, procedimentos que permitam o registro adequado e individualizado dos procedimentos de Urgência, para que possamos constituir bancos de dados na área, que irá subsidiar a implementação de todas as ações na área. g) Organizar banco de dados de morbi-mortalidade e cadastros do SIA e SIH, por Estado. h) Participar, junto à área de Avaliação e Controle, da adequação da FCES para a área de Urgências. i) Compor metodologia de análise de necessidades, ofertas da rede de serviços de urgência e déficits assistenciais, inferidos a partir da comparação das necessidades com as ofertas. j) Compor projeto de Observatórios de Saúde nas Urgências, como ferramenta de retro alimentação das estratégias promocionais. k) Organizar discussão sobre a relação custo/benefício da Tecnologia em Urgências. l) Organizar discussão sobre recursos financeiros provenientes de outras áreas, como por exemplo, os seguros obrigatórios de automóveis, e que devem ser destinados ao setor saúde. 45 DOCUMENTO 3 CONTRATO Nº045/2002 SMS – NATAL/RBCE 46 47 48 49 50 51 DOCUMENTO 4 CIDADES E COMUNIDADES PROTETORAS DA VIDA Uma abordagem comunitária da promoção da saúde e da segurança Porto Alegre, 18 de março de 2007 Gerci Salete Rodrigues Coordenadora da Rede e relatora do evento Armando De Negri Filho Cesar Braga de Macedo Membros da Executiva da RBCCPV 52 CIDADES E COMUNIDADES PROTETORAS DA VIDA, uma abordagem comunitária da promoção da saúde e da segurança 1. INTRODUÇÃO O custo humano em sofrimento e dor ocasionando pelos acidentes e violências é, evidentemente, incalculável. De fato, ele é no essencial, invisível. A tecnologia dos satélites permite aos telespectadores, todos os dias, serem testemunhas de certos tipos de violência – terrorismo, guerras, motins, gangues do narcotráfico, distúrbios civis – mas, muita violência se produz longe dos olhares, nos lares, nos locais de trabalho, até mesmo dentro de estabelecimentos de saúde e instituições sociais criadas para cuidar das pessoas. Grande número de vítimas são muito jovens, muito frágeis ou muito doentes para se proteger. Outros se calam diante do peso das convenções ou das pressões sociais”. (Raport Mondiale Sur la Violence et la Santé – OMS). No Brasil, as causas externas, ocupam o segundo lugar entre as causas de mortalidade no período de 1998 a 2000. Em 2003, representou 12,6% dos óbitos e 7,8% das internações hospitalares. Foram 21.936 óbitos em crianças e adolescentes (0 a 19 anos), sendo as maiores causas, as agressões, seguidos dos acidentes de trânsito, afogamentos, suicídios e eventos indeterminados (BRASIL, 2000). A concentração das injúrias intencionais e não intencionais é mais evidente em áreas urbanas, onde aproximadamente 75% do total de mortes acontece por causas violentas. A dimensão e a gravidade desse problema, para além dos números e estatísticas, se revela na vida diária das comunidades tornando-as cada vez mais reféns do medo. Por conta disso seus hábitos são alterados, suas esperanças e liberdades cada vez mais tolhidas. As conseqüências disso, sobretudo sobre as novas gerações, são incalculáveis. Além da mortalidade e das incapacidades, os traumatismos e a violência têm muitas outras conseqüências para a saúde: depressão, alcoolismo, consumo de drogas, tabagismo, distúrbios da alimentação ou do sono, gravidez involuntária, SIDA e outras doenças sexualmente transmissíveis. 2. CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA 53 O primeiro conceito que precisamos abordar é o da estratégia promocional pois tem estado presente nos discursos de uma forma banalizada e, muitas vezes, como sinônimo de ações preventivas. A aproximação conceitual se faz necessária no momento que estamos adotando-a como base filosófica e ética. Na I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em 1996 Ottawa / Canadá estratégia promocional foi definida como: um processo que visa aumentar a capacidade dos indivíduos e das comunidades para controlarem a sua saúde, no sentido de a melhorar. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, o indivíduo ou o grupo devem estar aptos a identificar e realizar as suas aspirações, a satisfazer as suas necessidades e a modificar ou adaptar-se ao meio. Assim, a saúde é entendida como um recurso para a vida e não como uma finalidade de vida (CARTA DE OTAWA, 1986). Nessa perspectiva, a construção da autonomia individual e comunitária é a principal ferramenta que precisamos desenvolver para alterar o cenário anteriormente descrito. A legislação brasileira, adota a estratégia promocional, com a Portaria n.º 2048/GM de 5 de novembro de 2002, a qual refere que: “O Sistema [...] de Urgência e Emergência deve ser implementado dentro de uma estratégia de “Promoção da Qualidade de Vida” como forma de enfrentamento das causas das urgências. Deve valorizar a prevenção dos agravos e a proteção da vida, gerando uma mudança de perspectiva assistencial – de uma visão centrada nas conseqüências dos agravos que geram as urgências, para uma visão integral e integrada , com uma abordagem totalizante e que busque gerar autonomia para indivíduos e coletividades. Assim, deve ser englobada na estratégia promocional a proteção da vida, a educação para a saúde e a prevenção de agravos e doenças, além de se dar novo significado à assistência e à reabilitação” (BRASIL, 2002, p.). Nesse sentido, o Ato Portaria nº 1863/GM de 29 de setembro de 2003 aponta as comunidades protetoras da vida como forma de materializar este caminho, ao estabelecer que: a Política Nacional de Atenção às Urgências composta pelos sistemas de atenção às urgências estaduais, regionais e municipais, deve ser organizada de forma que permita: [...] desenvolver estratégias promocionais da qualidade de vida e saúde capazes de prevenir agravos, proteger a vida, educar para a defesa da saúde e recuperar a saúde, protegendo e desenvolvendo a autonomia e a eqüidade de indivíduos e coletividades” (BRASIL, 2003, p.) 54 Portanto, trata-se de melhor compreender essa estratégia para que possamos dar densidade ao que já está previsto na legislação impregnando as iniciativas desse olhar. De outra parte, o Manifesto pelas Comunidades Protetoras da Vida realizado na I Conferencia Mundial de Promoção da Segurança refere que “todo ser humano tem um igual direito à saúde e à segurança” (Estocolmo, 1991, p.). Pela primeira vez se declara o fato de que segurança é um direito básico do ser humano, igual a qualquer outro estado descrito na Declaração Universal dos Diretos Humanos e, portanto, vale a pena promover e proteger, explicitado francamente por um comitê internacional de especialistas; pela primeira vez um documento foi preparado para justificar a necessidade de implementar projetos no campo da prevenção de lesões e promoção da segurança, e ainda mais, urge que os governos de todo o mundo o realizem. O manifesto, dá ênfase à eqüidade (“a segurança para todos pode ser alcançada por redução do risco de lesões e por redução das diferenças na taxas de acidentes e lesões entre grupos sócio – econômicos), a participação comunitária (“as pessoas tem o direito, e alguns dirão o dever, de participar do planejamento e da implementação de seus programas de comunidades protetoras da vida” ) e a participação nacional e internacional ( como parte de seu plano nacional de saúde, cada governo formularia uma política nacional e um plano de ação para criar e sustentar comunidades protetoras da vida). A segurança diz respeito a todo mundo. Toda a comunidade, incluindo os indivíduos, os financiadores, as agências e grupos comunitários devem mobilizados para fortalecer a segurança da população. A segurança é aqui entendida como um estado em que riscos e condições que levam ao sofrimento físico, psicológico e material são controlados a fim de preservar a saúde e o bem estar do indivíduo e da comunidade. É um recurso essencial para a vida diária, necessitada pelos indivíduos e a comunidade para realizar suas aspirações (...). A segurança é considerada como um estado que resulta do equilíbrio dinâmico estabelecido entre os diferentes componentes de um dado cenário. Resulta de um complexo processo onde os seres humanos interagem com seu ambiente. Por meio ambiente, compreendemos não somente o físico, mas também o social, cultural, tecnológico, político, econômico e organizacional. Essas definições claras se fazem necessárias em um momento histórico em que os meios de divulgação de massa colocam cotidianamente segurança como sinônimo de policiamento, de 55 equipamentos sofisticados de “segurança”, gerando freqüentemente uma visão distorcida da realidade. Colocando as comunidades somente na perspectiva de vítimas impotentes diante de uma realidade incontrolável. Assim sendo retiram do imaginário social qualquer possibilidade de raciocínio crítico tornando comunidades inteiras no papel de expectadores desse triste espetáculo. Essa visão que encara a segurança como um produto e não como um processo, despotencializa a autonomia e o papel transformador das comunidades. Além disso, obscurecem muitas vezes a visão dos próprios formuladores de políticas públicas que, via de regra, optam por iniciativas fracionadas e, freqüentemente focadas na coerção, no controle de fatos consumados, isto é, nas conseqüências. Essas medidas, não raras vezes, agravam ainda mais a situação das comunidades, especialmente as mais vulneráveis social e economicamente, tornando-as alvo da violência policial ou vítimas casuais dos “efeitos colaterais aceitáveis” como “balas-perdidas”, prisões indevidas ou até execuções e chacinas. ser Existem dois componentes ou dimensões da segurança: um é objetivo e avaliado por parâmetros objetivos, ambientais e comportamentais, e o outro é subjetivo e apreciado de acordo com a sensação de segurança (ou insegurança) da população. Para muitas pessoas, uma sensação de insegurança surge mais pela preocupação com a vida diária do que pelo medo de um cataclismo mundial. Trabalho seguro, salário seguro, saúde segura, segurança ambiental, segurança contra crimes – estes são os interesses de segurança humana em todo o mundo. Ambas a dimensões podem influenciar uma a outra seja positiva ou negativamente. sensação de pânico entre alguns cidadãos) . Em contrapartida, a melhoraria da sensação de segurança pode levar a deterioração da dimensão objetiva (e.g. adquirir uma arma de fogo para se sentir mais protegido de ataques, aumenta o risco de um acidente doméstico). Esta dinâmica entre as dimensões subjetivas e objetivas de segurança é algumas vezes usada para prevenir alguns problemas por indução da sensação de insegurança a fim de encorajar comportamentos seguros que beneficiariam a todos (e.g. reduzindo a largura das ruas para o fluxo de veículos, reduzindo a velocidade em zonas escolares). Para melhorar a segurança das populações, é necessário considerar estas duas dimensões pelas seguintes razões: 56 - Muito do que a população referência como um problema de segurança é bem fundado, ainda que não seja demonstrável com parâmetros objetivos; - programas de promoção da segurança precisam ser adaptados a cada comunidade, a vida real expressando o julgamento subjetivo sobre as situações que mais afetam as pessoas; - a dinâmica entre, dimensões subjetivas e objetivas, deve ser mais bem considerada quando avaliamos os problemas e planejamos as intervenções. Os traumatismos intencionais e não intencionais não são a única manifestação de insegurança no mundo. Quantas pessoas em nossa cidade evitam determinados bairros ou até mesmo quarteirões e ruas com medo de serem agredidas? Quantos são os que têm equipado seus condomínios, prédios ou casas com sistemas de proteção acreditando estar protegidos contra a violência ? Quantas pessoas idosas limitam seus deslocamentos porque as calçadas estão ausentes ou estão mal conservadas? Quantas vítimas não saberão jamais retomar uma vida normal após terem sofrido algum constrangimento ou experiência aterrorizante com ou sem traumatismo físico? Para promover a segurança, é necessário, pois, não unicamente dirigir nossos esforços para os traumatismos, mas também nos interessarmos pelas dimensões subjetivas como o medo, o isolamento e a perda de autonomia, devemos igualmente nos preocupar com as desigualdades sócio-econômicas e o não respeito aos direitos e liberdades que são a base de tensões importantes tanto entre indivíduos, quanto entre os grupos sociais. Iniqüidades são diferenças de riscos ou agravos para a saúde entre grupos populacionais ou ao longo do tempo, que são injustas, evitáveis e não escolhidas, e para as quais um agente responsável pode ser identificado (BAMBAS, 2002). Nesse sentido, e equidade é a correção de injustiças representadas pelas iniqüidades ou condições inadequadas de saúde entre os que estão em desvantagem (GWATKIN, 2000). Equidade também é vista “como forma superior de justiça” (VIDAL, 2001, p.). Visualizar e localizar as iniqüidades no mundo, em nosso país, em nossa cidade e/ou comunidade, portanto, se faz necessário para compreendermos a expressão e, sobretudo, o impacto das causas externas na vida das pessoas. Iniquidades essas que podem ser tanto fatores condicionantes ou determinantes na ocorrência dos agravos como fatores de vulnerabilidades. Os referenciais para a sustentação conceitual de vulnerabilidade adotada neste caso, repousa em aproximações quantitativas populacionais e qualitativas no 57 sentido de considerar indivíduos e contextos na constituição desses eventos. Esses, por sua vez, são necessariamente pensados no contexto de uma situação, num dado momento e dentro de uma dada sociedade (FRANCE LERT, 1996). Assim sendo, as situações de risco que utilizamos para compor essa noção constituem-se a partir do conjunto de fatores que, sob o ponto de vista da saúde pública, configuram os fatos e as relações sociais predisponentes a morbi-mortalidade (LOPES IN SANT’ANNA, 2000). Nesta perspectiva, considera-se situação predisponente a morbidade por Causas Externas nesse contexto. Adota-se também para essas reflexões a vulnerabilidade como risco social para o adoecimento e morte por essas causas (RODRIGUES, LOPES, 2007). Vulnerabilidade ou vulnerabilidades são as variantes que se constituem das dimensões individuais e coletivas que definem uma situação de risco. Entende-se que a vulnerabilidade individual deve ser situada em referência a uma situação, a um momento dado dentro de uma sociedade (LERT, 1996). Uma das características dos agravos por acidentes e violências é de que ele são evitáveis. Segundo Negri (2004), para atingir um ótimo nível de segurança individual, comunitária, governamental e outras requerem criar e manter as seguintes condições seja qual for o cenário considerado: - um clima de coesão social e paz, tanto quanto de equidade, proteção dos direitos humanos e liberdade no nível familiar, local, nacional e internacional; - a prevenção e controle de lesões e suas conseqüências ou danos causados por acidentes; - o respeito aos valores e a integridade física, material e psicológica dos indivíduos; - a provisão de medidas efetivas de prevenção, controle e reabilitação para assegurar a presença das três condições prévias. Estas condições básicas de segurança devem estar presentes em todos os cenários. O cenário é considerado um sistema tendo uma ou mais finalidades. Cada cenário cumpre uma função específica e é constituído por alguns componentes, tais como: cultural, social, individual, material, econômico e elementos técnicos. Estes componentes influenciam um ao outro de acordo com papéis nem sempre bem conhecidos. A família, o local de trabalho, a escola, um bairro, uma cidade ou um 58 país pode ser olhado como um cenário. Um componente essencial da estratégia promocional é a transetorialidade. Significa gerar agendas políticas de governo e agendas políticas da sociedade em seu conjunto, para enfrentar os desafios de responder às necessidades. A organização das redes solidárias constróem novos espaços de poder cidadão pautado por um compromisso voltado a atender às necessidades sociais para as quais já temos conhecimentos, meios e vontades para satisfazê-las. O objetivo final é desbanalizar o sofrimento humano e ampliar o horizonte de governabilidade cidadã. O nascimento de uma Comunidade Protetora O primeiro projeto para a prevenção de acidentes foi desenvolvido no município de Falköping (Suécia), em 1974. Um grupo de cientistas da Universidade de Lund chegou ao condado de Skaraborg, na Suécia, com a tarefa de desenvolver um programa de prevenção de traumatismos e lesões para uma população de ¼ de milhão de habitantes. A municipalidade de fundamento o Falköping foi escolhida para o projeto piloto tendo como processo de orientação diagnóstica de base comunitária, que contemplasse ainda os seguintes critérios. ● Estrutura e organização de serviços de saúde bem desenvolvida; ● Estrutura comercial e industrial bem diferenciada; ● Uma área similar disponível que atuasse como controle (Lidköping). Esta serviria como lugar de teste para uma pesquisa de prevenção de traumatismos não-intencionais e a estruturação posterior de intervenções. O grupo do projeto estabeleceu certas hipóteses para seu trabalho: 1. Os acidentes afligem o indivíduo, o grupo primário e a comunidade. O acidente causa no indivíduo sofrimento mental, físico, social e financeiro. O grupo primário - na maior parte dos casos a família - sofrimento mental, social e financeiro, completamente por força do acidente. O acidente acarreta pesados custos para a comunidade, devido ao absenteísmo ao trabalho além da redução da capacidade para trabalhar. 2. Todo acidente tem uma ou mais causas. Se pudermos encontrar as causas dos acidentes, seremos também capazes de encontrar caminhos efetivos para prevení-los. 59 3. A maior parte das pessoas está consciente de situações de riscos de acidentes em sua vizinhança imediata, mas não sabem a quem se dirigir para discutir ou como eliminar o risco e prevenir o acidente. 4. Todo indivíduo cidadão deveria estar envolvido na prevenção de acidentes, tanto quanto possível, assim então alcançaríamos resultados em longo prazo. 5. Acidentes são usualmente descritos como eventos que causaram danos pessoais e/ou danos a propriedade e que são colocados em diferentes categorias dependendo da hora e lugar do acidente, a parte do corpo lesada etc. Os conhecimentos necessários, a experiência e os recursos para um programa compreensivo de prevenção de acidentes, cobrindo todo tipo de acidentes são insuficientes, até o momento. Além disso, as medidas preventivas têm diferentes alcances e estágios de desenvolvimento em diferentes partes do panorama do acidente. 6. Um programa de prevenção de acidentes deve, entretanto responder a categorias específicas de acidentes. 7. Em um projeto deste tipo, o mais sério acidente, isto é. aquele que leva a severas lesões e óbito, e o tipo de acidente mais freqüente devem ter prioridade. O objetivo prático do projeto de Falköping não foi unicamente iniciar atividades junto com os moradores a fim de reduzir o índice de acidentes em diferentes setores e analisar as medidas preventivas mais efetivas. Visava também habilitar o grupo de pesquisadores a ter um quadro mais preciso das atitudes das pessoas, frente aos acidentes e aos problemas relacionados aos acidentes. Em 1978, Falköping iniciou seu programa de registro de lesões, seguido de um programa de prevenção de lesões em 1979. Com dois anos de trabalho, foi possível observar bons resultados. De 113 por 1000 em 1978, a incidência caiu para 98 por 1000 em 1981, 95 por 1000 em 1983 e 94 por 1000 em 1985. Isto corresponde a uma redução de 27% de acidentes domésticos, 28% de acidentes de trabalho e 28% de acidentes de estrada. No “controle”, a municipalidade de Lidköping, que foi deixada sem medidas de prevenção de lesões, a incidência de acidentes ficou no mesmo nível, ou seja não decresceu. Um dos componentes, que fez com que o projeto de Falköping fosse um 60 sucesso, foi o fato de que o principal eixo condutor do projeto foi desenvolvido pela comunidade. Cidade ou comunidade protetora da vida – fundamentos O conceito de comunidade protetora iniciou sua existência formal por ocasião da 1ª Conferência Mundial para a Prevenção de Acidentes e Lesões, em Estocolmo em 1991. O Manifesto pelas Comunidades Protetoras e as resoluções da conferência estabeleceram que: “Todo ser humano tem igual direito à saúde e segurança”. Este é o aspecto fundamental da “Estratégia de Saúde para Todos” e do “Programa Global de Prevenção de Acidentes e Controle de Lesões” da OMS. Esta premissa tem desencadeado um mecanismo de ação comunitária através do mundo; ação que busca construir comunidades protetoras da vida. A comunidade que estabelecer um contexto válido para construir relações e parcerias públicas-estatais e privadas, organizando a intervenção comunitária em busca de resultados está dando o primeiro passo para tornar-se uma Comunidade Protetora da Vida. Além disso, a Conferência de Estocolmo identificou quatro áreas de ação das comunidades protetoras da vida. As recomendações para a ação são: 1. Formular políticas públicas para segurança; 2. Criar ambientes saudáveis, protetores e sustentáveis; 3. Fortalecer a ação comunitária; 4. Ampliar os serviços públicos. Os participantes da Primeira Conferência Mundial de Prevenção de Acidentes e Lesões clamam por urgente e efetiva ação nacional e internacional para o desenvolvimento e implementação de Comunidades Protetoras da Vida, através do mundo. Incitam, governos, OMS, outras organizações internacionais, agências multilaterais e bilaterais, organizações não governamentais, trabalhadores da saúde e da segurança, agências de fundos, e todas as comunidades do mundo para sustentação do compromisso nacional e internacional com as comunidades protetoras da vida. Os participantes da conferência incitam todas as partes a prover o crescimento do suporte técnico e financeiro para este propósito. Os países em desenvolvimento, em particular, precisam de tal suporte. Os participantes ajudarão a disseminar e implementar as recomendações deste manifesto. 61 Programas de promoção da segurança e prevenção de lesões, baseados na comunidade, são capazes de responder as necessidades particulares dos cidadãos, por utilizarem estruturas potenciais existentes nos locais, alcançarem uma alta densidade de comunicação com relativamente poucos recursos e serem capazes de desenvolver redes sociais solidárias, muito rapidamente, o que é determinante no processo de evolução para um alto padrão de promoção da segurança. Métodos criativos de educação e mudanças ambientais associadas com legislação apropriada são um importante começo para a segurança de uma comunidade. Nenhuma abordagem única é suficiente para mudar padrões comportamentais existentes, o que é necessário é uma forte abordagem transetorial, ordenada em torno a problemas reconhecidos e analisados de forma convergente pelo conjunto dos atores envolvidos. Após esta experiência, a idéia desta nova abordagem de base comunitária, em todos os momentos do projeto, tornou-se um dos princípios fundamentais para o sucesso de projetos de prevenção e controle de lesões. A iniciativa das Comunidades Protetoras difere se compararmos com outros programas tradicionais de prevenção de lesões. O papel de liderança principal é desenvolvido pela comunidade e não há um foco pontual e vertical, mas sim uma articulação em rede de iniciativas que se enlaçam e protegem o conjunto da população com equidade e enfrentando os problemas na diversidade de ambientes e de agentes causadores de lesões e traumatismos. A ocupação dos territórios sociais pela ação articulada de redes sociais é o que garante o sucesso da estratégia. O termo Comunidade Protetora, implica que a comunidade aspire segurança em uma abordagem estruturada, não que a comunidade seja perfeitamente segura. Métodos criativos de educação e mudanças ambientais, com legislação apropriada e sanções, são um importante começo para a segurança da comunidade. Nenhuma abordagem simples é suficiente para alcançar mudanças de padrões comportamentais. A mídia pode ser, por exemplo, uma importante ferramenta para conscientizar o público, mas não é suficiente caso não existam redes sociais articuladoras em torno aos temas. A promoção da segurança tem se constituído em uma nova dimensão da saúde pública, tendo sido crucial para o seu sucesso desenvolver estratégias baseadas em evidências, para se ter uma visão clara sobre como a segurança afeta 62 a saúde e para trabalhar com o conceito de promoção da segurança. A metodologia de abordagem comunitária em seus territórios sociais consiste no desenvolvimento participativo de “mapas de exposições sociais e de risco nos ambientes” e a organização de “narrativas” e dados que permitam às comunidades fazerem a representação dos seus problemas percebidos, em um exercício de causalidades organizado, resultando em um grupo de prioridades de intervenção, seguido da identificação de medidas ou soluções necessárias e dos atores sociais capazes e/ou habilitados a desenvolver cada uma das medidas ou soluções propostas, finalmente a comunidade estabelece o seu plano ou planos de ação e seus seguimentos, com a constituição de um comitê comunitário e transetorial que coordenará o movimento local (De Negri Filho, 2002) Nesta abordagem relacionamos pessoas expostas, com ambientes e agentes de exposição (Matriz de Haddon). A composição de uma agenda para a cidade ou comunidade, integrando governo e sociedade em processos integrados de decisão e ação com todas as instituições e movimentos sociais relacionados ou interessados nos temas propostos. O que inclui a organização de um sistema de informações que permitirá a todos os cidadãos monitorar as condições protetoras da vida da cidade, conforme os objetivos estabelecidos na agenda da cidade e na agenda das comunidades; em torno de objetivos de “visão zero” e de projetos que viabilizem seu alcance. Os critérios para designação de uma Cidade ou Comunidade Protetora da Vida (OMS) 1. Possuir uma infra-estrutura baseada em parcerias e colaborações administrada por um grupo intersetorial que é responsável pela promoção da segurança na comunidade 2. Possuir programas sustentáveis a longo prazo, cobrindo ambos os gêneros e todas as idades, ambientes e situações 3. Possuir programas que objetivem alcançar grupos e ambientes de alto risco além de programas que promovam a segurança de grupos vulneráveis 4. Possuir programas que documentem a freqüência e as causas das lesões 5. Possuir instrumentos de medida para avaliar seus programas processos e efeitos da mudança; 6. Participar permanente na rede nacional e internacional de Comunidades Protetoras da Vida. 63 Documentação e avaliação Funcionário público comunitário deve ser habilitado para documentar a freqüência de lesões e padrões de causalidade. A avaliação deve ser realizada, utilizando indicadores que demonstrem os efeitos do programa e munido de informações sobre quanto de mudança está sendo efetuada. Organizações comunitárias devem ser analisadas quanto `a oportunidade de tomar parte na promoção da segurança. Todos os Programas das Comunidades Protetoras da Vida devem ser acompanhados por procedimentos de avaliação acreditados que convençam os participantes, os tomadores de decisão e a comunidade que os programas são essenciais e desejáveis. Estas avaliações são necessárias para monitorar o progresso do programa e para monitorar o marco de desenvolvimento e empreendimento. Enquanto eventos estatísticos são os mais facilmente disponíveis e são freqüentemente usados como resultados medidos, esforços devem ser feitos para compreender também o padrão de morbidade. Uma das forças do programa é a abordagem compreensiva. Em promoção da segurança e prevenção de lesões existe freqüentemente pressão para fazer alguma coisa. Qualquer coisa. A rede A Comunidade deve disseminar sua experiência nacional e internacionalmente e estar preparada para contribuir para uma forte Rede de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida. Estes são os últimos, e para muitas das comunidades não designadas, o critério mais difícil de cumprir. Fazendo parte da rede, não é suficiente estar em um pequeno canto do mundo, a comunidade é solicitada a contribuir para a promoção da segurança e para a rede. O caminho para realizar estas tarefas depende dos meios e tamanho da comunidade. Muitas delas tem sediado uma Conferência de Comunidades Protetoras (Safe Communities Conferences) ou cursos de treinamento como Seminários Itinerantes. Estes cursos e conferencias são procedimentos com novos desafios relacionados ao programa e como se encontram; servem como uma troca 64 de experiências e para atrair novas comunidades e grupos interessados no movimento. Existem mais muitas cidades ou comunidades designadas como Protetoras da Vida e outras em fase de preparação como podemos ver abaixo: Community Country Designated Inhabitants 1. Lidköping Sweden 1989, 2003 37,000 4. Motala Sweden 1990, 2004 43,000 5. Falköping Sweden 1991, 2004 32,000 10. Shire of Bulla, changed to Hume City Australia 1994 1996,2006 45,000 106,000 11. Harstad Norway 1994, 2003 22,500 12. Fort McMurray 1995 (New name: Wood Buffalo 2005) Canada 1995, 2005 36,000 13. Falun Sweden 1995 55,000 14. Noarlunga Australia 1996, 2003 94,300 15. La Trobe Australia 1996, 2006 73,000 17. Krokom Sweden 1996 14,800 18. Skövde Sweden 1996, 2007 50,000 19. Dallas United States 1996 1,988,000 20. Arjeplog Sweden 1997 3,650 65 21. Eldorado Park South Africa 1997 85,000 22. Vorarlberg changed to State of Vorarlberg Austria 1998 2002 65,000 367,800 36. Rotterdam The Netherlands 1998 600,000 37. Tidaholm Sweden 1998 13,000 38. Uddevalla Sweden 1998 49,500 39. Borås Sweden 1998 96,000 40. Anchorage USA 1998 260,000 41-44. SHOROC Australia 1998, 2006 251, 000 45. Ryde Australia 1999 93,000 46. Waitakere New Zealand 1999 167,400 47. Waimakariri New Zealand 1999, 2006 35,000 48. Mariestad Sweden 1999 24,000 49. Denmark Australia 2000 4,500 50. Melbourne Australia 2000, 2006 45,000 51. Katrineholm Sweden 2000 32,500 52. Rakkestad Norway 2000 7,000 53. Ludvika Sweden 2000 27,000 54. Årdal Norway 2000 5,850 55. Nacka Sweden 2000 75,000 56. Os Norway 2000 2,150 57. Stovner Norway 2001 20,908 58. Brockville Canada 2001 22,000 59. Vejle Denmark 2001 345,000 60. Fyn Denmark 2001 500,000 61. Viborg Denmark 2001 233,700 62. Alvdal Norway 2001 2,415 63. Suwon Korea 2002 974,866 66 65. Rainy River Canada 2002 8,315 66. Larvik Norway 2002 40,681 67. Fredrikstad Norway 2002 68,500 68. Spydeberg Norway 2002 4,600 69. Ski Norway 2002 26,672 70. Klepp Norway 2002 14,000 71. Høyanger Norway 2002 4,671 72. Tuen Mun China 2003 490,000 73. Kwai Tsing China 2003 480,000 74. Calgary Canadá 2003 905,000 75. Horsens Denmark 2003 58,000 76. Nordborg Denmark 2003 14,078 77. Sault Ste. Marie Canada 2003 75,000 78. Kromeriz Czech Republic 2003 30,000 79. Hyvinkää Finland 2003 43,000 80. Vågå Norway 2004 3,800 81-82 Mackay/Whitsunday Australia 2004 91,000 83. Rapla Estonia 2004 37,300 84. Bergen Norway 2005 237, 430 85. Kvam Norway 2005 8,400 86. Konjic Bosnia and Herzegovina 2005 32,820 87. Trondheim Norway 2005 154,351 88. Raanana Israel 2005 75,000 89. http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/raanana.htmSogn and Fjordane Norway 2005 107,000 90. http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/raanana.htmhttp://ww w.phs.ki.se/csp/safecom/so gn_och_fjordarna.htmTai China 2005 320,000 67 Po 91. http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/raanana.htmhttp://ww w.phs.ki.se/csp/safecom/so gn_och_fjordarna.htmFong bin http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/Alishan_taiwan.htm China (Province of Taiwan) 2005 5,929 92. http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/raanana.htmhttp://ww w.phs.ki.se/csp/safecom/so gn_och_fjordarna.htmDung shr China (Province of Taiwan) 2005 56,452 93. http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/raanana.htmhttp://ww w.phs.ki.se/csp/safecom/so gn_och_fjordarna.htmAlish an China (Province of Taiwan) 2005 1,536 94. http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/raanana.htmhttp://ww w.phs.ki.se/csp/safecom/so gn_och_fjordarna.htmNeihu http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/Alishan_taiwan.htm China (Province of Taiwan) 2005 261,000 95. New Plymouth New Zealand 2005 66,600 96. http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/raanana.htmhttp://ww w.phs.ki.se/csp/safecom/so gn_och_fjordarna.htmhttp:// www.phs.ki.se/csp/safecom /Neihu_taiwan.htmTörebod a Sweden 2005 9,400 97. http://www.phs.ki.se/csp/saf ecom/raanana.htmhttp://ww w.phs.ki.se/csp/safecom/so gn_och_fjordarna.htmhttp:// www.phs.ki.se/csp/safecom /Neihu_taiwan.htmhttp://ww w.phs.ki.se/csp/safecom/tor eboda.htmYouth Park Community Jinan, China 2006 20,760 98. Whangarei New Zealand 2006 68,091 99. Nomzamo- Broadlands Park South Africa 2006 68 100. Wellington New Zealand 2006 163,824 101 Tsuen Wan China 2006 290,500 102 Smedjebacken Sweden 2006 11,598 103 Townsville Thuringowa Australia 2006 155,371 104 Lang Co Vietnam 2006 11,868 105 Loc Sonh Vietnam 2006 7,650 106 Da Trach Vietnam 2006 5,188 107 Dong Tien Vietnam 2006 6,000 108 Xuan Dinh Vietnam 2006 23,124 109 Sham Shui Po, Hong Kong China 2006 372,000 110 Tung Chung, Hong Kong China 2006 100,000 111 Northcott Australia 2006 1,000 112 Peñaflor Chile 2007 78,000 Fonte: Site das comunidades internacionais: www.phs.ki.se/csp/ Em 26 de março de 2007, Os chamados Centros Colaboradores da Organização Mundial da Saúde para a Promoção da Segurança que, além de disseminar as idéias são responsáveis por dar suporte e avaliar as cidades e comunidades que desenvolvem o programa. Conforme podemos verificar abaixo, não existe nenhum desses centros na América Latina, mas estamos tomando iniciativas no sentido de criar uma referência nesse continente. 69 No Brasil, Sob denominação de REDE BRASILEIRA DE CIDADES E COMUNIDADES PROTETORAS DA VIDA, foi constituída uma associação civil, não econômica, que se regerá pelo presente estatuto e pela legislação específica. A sede da associação será a Rua São Manoel, 898/301, na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul, Brasil. A associação terá como finalidade apoiar e promover estudos, seminários, pesquisa, consultoria técnica, formação de profissionais, formulação de políticas publicas e desenvolvimento institucional, com foco nas seguintes atividades: Criação de infra-estrutura baseada em parcerias e colaborações intersetoriais com objetivos de promover a segurança na comunidade; Criação e manutenção de programas de proteção, sustentáveis a longo prazo, cobrindo ambos os gêneros e todas as idades, ambientes e situações. Criação e manutenção de programas que objetivem alcançar grupos e ambientes de alto risco além de programas que promovam a segurança de grupos vulneráveis Criação e manutenção de programas que documentem a freqüência e as causas das lesões Criação e manutenção de instrumentos de medida para avaliar seus programas, processos e efeitos da mudança; Iniciativas de participação permanente na rede Nacional e Internacional de Comunidades Protetoras da Vida. Poderão ingressar na associação todos aqueles que, sem impedimentos legais e mediante preenchimento de formulário próprio e pagamento de taxa de filiação, sejam aprovados pela diretoria da associação e que concordem com as disposições deste estatuto. Essa ONG, não obstante todas suas limitações, tem apoiado iniciativas de cidades e comunidades promovendo eventos de sensibilização, cursos para gestores e profissionais interessados, atividades de prevenção de acidentes e violências diretamente em comunidades e escolas. Além disso mantém assessoria técnica permanente a um observatório comunitário de Causas Externas em uma região de Porto Alegre e participa do Grupo de Estudos em Saúde Comunitária (GESC), da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Realizou em 2005 a I Conferência Brasileira de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida I FORUM BRASILEIRO DE ESTRATÉGIAS PROMOCIONAIS PARA A 70 PREVENCAO E CONTROLE DOS ACIDENTES, VIOLÊNCIAS E SUICÍDIOS, em Porto Alegre e em 2006, II FORUM BRASILEIRO DE ESTRATÉGIAS PROMOCIONAIS PARA A PREVENCAO E CONTROLE DOS ACIDENTES, VIOLÊNCIAS E SUICÍDIOS, em Niterói-RJ, conforme relatado abaixo: II FORUM BRASILEIRO DE ESTRATÉGIAS PROMOCIONAIS PARA A PREVENCAO E CONTROLE DOS ACIDENTES, VIOLÊNCIAS E SUICÍDIOS. Acidentes, Suicídios e Violências – Construindo Políticas Públicas para o Desenvolvimento de Cidades, Comunidades e Ambientes Protetores da Vida. 29 de novembro de 2006 Rio de Janeiro – Brasil Organizadores: Rede Brasileira de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida - RBCCPV Rede Brasileira de Cooperação em Emergências – RCBE CEDAPS Público Alvo: Cidadãos e cidadãs em geral, interessados em proteger os seus ambientes de trabalho, as suas escolas, as suas ruas, as suas comunidades e suas cidades através de uma estratégia participativa, tornando-os espaços protetores da vida. Objetivos: Desenvolver o enfoque estratégico promocional para o enfrentamento das causas externas no contexto brasileiro e latino-americano; Conhecer e discutir os critérios a serem perseguidos por cidades e comunidades, visando se tornarem aptas à designação, pela Organização Mundial da Saúde, como Cidades e Comunidades Protetoras da Vida. Conhecer iniciativas existentes com vistas a estimular novas Conhecer as atividades de pesquisa, assim como as atividades docentes orientadas pelos conceitos e estratégias promocionais no enfrentamento das causas externas, visando aprimorá-las e incentivá-las; Vitalizar a RBCCPV, possibilitando aos participantes integrarem-se na rede nacional. 8:30 Abertura 71 9 às 10 – Conferência: Cidades e Comunidades Protetoras da Vida Responsável: Gerci Salete Rodrigues coordenadora da RBCCPV Dimensionamento dos traumas intencionais e não-intencionais como um problema social e de saúde publica. Comportamentos e ambientes de risco – desenvolvendo a percepção de mapas de risco social para acidentes, violências e suicídios. Determinação social dos acidentes e violências; Iniqüidades e assimetrias sociais como fontes de risco para acidentes e violências. Caracterização dos grupos humanos mais vulneráveis para acidentes e violências: crianças, adolescentes, mulheres, trabalhadores (polícia, motoristas, da construção civil, profissionais da saúde), idosos Ambientes vulneráveis para acidentes e violências: trânsito, escolas, locais de lazer e esportes, águas naturais e artificiais, etc.locais de trabalho (trabalho formal e informal, no contexto de precarização das relações de trabalho, ambientes domésticos e peri-domésticos; Alternativas para o envolvimento e o estabelecimento das responsabilidades dos diferentes atores sociais, em torno ao desenvolvimento de uma estratégia promocional que resulte na prevenção e controle das injurias / traumatismos intencionais ou não: Cidades e Comunidades Protetoras da vida. 10:30 às 12 h – Painel: Violência contra a mulher: Profª Sandra Maria Cezar Leal – RBCCPV Porto Alegre Iniciativas de nove cidades na prevenção de violências contra adolescentes Profª Kathie Nadje FIOCRUZ/CLAVES RJ 14 h –17h Mesa de Diálogos sobre Experiências em andamento: Experiência de Americana: Vivo em duas rodas: Uma idéia para ficar na cabeça apresentada por João Batista Biagioni Secretário Municipal de Transportes e Sistema Viário Experiência de parceria para Pesquisa por Sandra Maria Cezar Leal (EENFUFRGS) Rede de Cidades Saudáveis – CEDAPS por Daniel Becker Experiência local em Porto Alegre por Gerci Salete Rodrigues 72 Formulação de uma agenda de ações futuras da RBCCPV “Carta de Niterói” Realizarmos o II Fórum Nacional das Cidades e Comunidades Protetoras da Vida visa estimular novas iniciativas e aprofundar e consolidar as já existentes. Transformamos este momento coletivo em um primeiro passo para a definição e execução de políticas e ações protetoras em nossas comunidades, unindo Governo e Sociedade em torno ao direito à VIDA. Todos os momentos que estivemos juntos foram muito ricos em trocas de conhecimentos e experiências e, sobretudo, de aproximações progressivas dos conceitos que fundamentam a estratégia das Cidades e Comunidades Protetoras da Vida. A tônica que prevaleceu foi de grande entusiasmo e de uma grande necessidade de entender “por onde começar”. Diante disso gerou-se uma agenda de trabalho que norteará as ações dos membros no próximo período, conforme segue: 1. Serão tomadas iniciativas no sentido de candidatar ao reconhecimento como cidades e comunidades protetoras junto à OMS. Nessa tarefa se empenharão sobretudo, as cidades de Americana, Guarulhos, Petrolina, Goiânia, Itumbiara/GO, Porto Alegre, comunidade de Magé/RJ, estando aberta a novos candidatos. Para tanto basta se apropriar dos fundamentos e dos passos da organização e “mãos-à-obra”. 2. Passaremos a utilizar a marca e o nome da rede para criarmos uma identidade nacional. A idéia é potencializar e tornar conhecida a articulação. 3. Desenvolveremos materiais didáticos com vistas a disseminar a estratégia e orientar o fazer diário dos agentes protetores da vida e socializaremos no sita para que todos possam utilizar, fazendo as adaptações necessárias às realidades locais; 4. Identificaremos nossos parceiros tanto a nível local como Estadual, Nacional e Internacional (estreitando laços com cidades já reconhecidas). Consideramos o Ministério da Saúde e o Ministério das Cidades como parceiros estratégicos no âmbito nacional. 73 5. Criaremos e sustentaremos observatórios de morbidade por causas externas com vistas a orientar as ações nas cidades e comunidades e possibilitar a avaliação do impacto dessas ações. Faremos uma aproximação com os centros 6. formadores locais e nacionais com duplo interesse: Possibilitar a sistematização e divulgação de resultados das iniciativas e disseminar a estratégia junto aos professores, pesquisadores e alunos; 1. Realizaremos o III FÓRUM DA REDE BRASILEIRA DE CIDADES E COMUNIDADES PROTETORAS DA VIDA no segundo semestre de 2007, em Goiânia e o IV FÓRUM, em 2008, em Petrolina/PE. O principal objetivo em 2007 será avaliar as caminhadas e disseminar, socializar e aprofundar o conhecimento acerca da estratégia. Poderia ser algo como “Cidades e comunidades Protetoras: reflexões sobre uma caminhada” ou “Cidades e Comunidades Protetoras da Vida: o desafio de sua implantação” ou... (só idéias para inspirar ....) Bibliografia Consultada: Brasil, 2002, ATO Portaria n.º 2048/GM, DOU Em 5 de novembro de 2002 ) (BRASIL, 2000). IBGE BRASIL, 2003. ATO PORTARIA Nº 1863/GM Em 29 de setembro de 2003). CARTA DE OTTAWA PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde Ottawa, Canadá, 17-21 Novembro de 1986 74 DOCUMENTO 5 PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM ESTRATÉGIAS PROTETORAS DA VIDA DO INSTITUTO VITAL BRASIL Dr. César Roberto Braga Macedo Membro da Executiva da RBCE Julho/2008 75 Vital Brazil - Proteção da Vida Instituto Vital Brazil LAPEV - Laboratório de Tecnologia Social e Proteção da Vida PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM ESTRATÉGIAS PROTETORAS DA VIDA DO INSTITUTO VITAL BRAZIL Plano de Estágio para Nível Médio Coordenação: César Roberto Braga Macedo O Direito à Segurança e AS Cidades e Comunidades Protetoras da Vida INTRODUÇÃO A inserção de estudantes de Ensino Médio em ambientes de pesquisa tem sido uma das formas de operacionalizar os programas de iniciação científica (I.C.) que vêm se institucionalizando nos laboratórios do Instituto Vital Brazil. Com forte indução ocorrida, a partir, da experiência adquirida e do excelente aproveitamento dos alunos, no programa Escola de Fábrica (descrito abaixo) esses Programas são balizados pela crença de que a relação pesquisador – aluno contribui de modo significativo para o desenvolvimento pessoal e profissional do jovem. O Laboratório de Tecnologia Social e Proteção da Vida tem buscado promover a iniciação científica de modo a contribuir para a melhoria da qualidade da formação de estudantes do ensino fundamental e do ensino médio. Atualmente, o LAPEV organiza e coordena programas e projetos educativos que visam o desenvolvimento de ações integradas e estratégicas em educação em ciências, tecnologia e saúde. Temos procurado gerar, absorver e difundir conhecimentos na área da educação não-formal, ao mesmo tempo em que buscamos encontrar caminhos pedagógicos para fortalecer as relações entre processo formativo de jovens e práticas profissionais que estruturam o ensino e a pesquisa científica e tecnológica no Instituto Vital Brazil. Entre os objetivos do LAPEV, destaca-se a proposta de estimular jovens a seguirem carreiras profissionais ligadas à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico e a 76 busca permanente da inovação metodológica em educação e ciências, consoante com uma prática educativa que atenda às demandas da sociedade brasileira, especialmente no que se refere à preparação de jovens para enfrentar os desafios atuais do mundo do trabalho e do exercício da cidadania. APRESENTAÇÃO O Instituto Vital Brazil, empresa pública do Estado do Rio de Janeiro, foi criado em julho de 1919, pelo médico Vital Brazil Mineiro da Campanha. Ocupa uma área de 100 mil m2 e edificação de 20 mil m2, no bairro de Santa Rosa, na cidade de Niterói, RJ. É um órgão da Administração Indireta do Estado do Rio de Janeiro vinculado à Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil, com importante atuação no ensino, na pesquisa e desenvolvimento tecnológico, além de atuar fortemente na produção de imunobiológicos (soros antipeçonhentos – serpentes, aranhas e escorpiões -anti-rábico e antitetânico), que são totalmente voltados para atender o Sistema Único de Saúde (SUS) com aquisição e distribuição realizadas pelo Ministério da Saúde, vem desenvolvendo um conjunto de iniciativas que buscam o inserir no contexto das empresas públicas modernas com incorporação em sua missão, a mobilização, sensibilização e a gestão de suas atividades de forma socialmente responsável, buscando construir as parcerias necessárias ao desenvolvimento de uma sociedade sustentável e justa. Consciente da oportunidade criada para o aprofundamento destas parcerias com instituições dos Municípios da Região, o Instituto Vital Brazil vem adotando o conceito do desenvolvimento de “Redes de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida”, que possibilitam iniciativas articuladoras, das práticas de responsabilidade social da empresa com políticas públicas dos governos federal, estadual e municipal de erradicação da pobreza, da iniqüidade social, do combate à fome, combate a violência e desenvolvimento ambiental. A PROTEÇÃO DA VIDA COMO ESTRATÉGIA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL A política atual de Responsabilidade Social do Instituto Vital Brazil começou a ser delineada à partir da Oficina realizada no mês de novembro de 2007, numa parceria com a Rede Brasileira de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida (RBCCPV), e já trazia a intenção explícita de trabalharmos na construção do "Observatório Social de Prevenção Lesões por Acidentes e Violências", utilizando o eixo de proteção da vida como um marco conceitual capaz de definir um conjunto de linhas de trabalho coerentes 77 com os princípios norteadores do IVB. A parceria com a Rede foi fundamental neste processo, pois possibilitou neste evento, o encontro de profissionais do corpo funcional do IVB, com os Serviços de Saúde com atuação na Região – Policlínica Sérgio Arouca e Médicos de Família, as Associações de Moradores das Comunidades do Vital Brazil, Cavalão, Souza Soares, Viradouro em torno à compreensão do conceito de proteção da vida e da estratégia das cidades e comunidades protetoras da vida. O conceito de comunidade protetora da vida iniciou sua existência formal por ocasião da 1ª Conferência Mundial para a Prevenção de Acidentes e Lesões sediada em Estocolmo, Suécia, em Setembro de 1989. O Manifesto pelas Comunidades Protetoras e as resoluções da conferência estabeleceram que: “Todo ser humano tem igual direito à saúde e segurança”. Este é o aspecto fundamental da “Estratégia de Saúde para Todos” e do “Programa Global de Prevenção de Acidentes e Controle de Lesões” da OMS. Esta premissa tem desencadeado um mecanismo de ação comunitária através do mundo; ação que busca construir comunidades protetoras da vida. Além disso, a Conferência de Estocolmo identificou quatro áreas de ação das comunidades protetoras da vida, com as seguintes recomendações: Formular políticas públicas para segurança Criar ambientes sustentáveis Fortalecer a ação comunitária Ampliar os serviços públicos Métodos criativos de educação e mudanças ambientais associados com legislação apropriada são um importante começo para a segurança de uma comunidade. Atingir um ótimo nível de segurança individual, comunitária, governamental e outras requerem criar e manter as seguintes condições seja qual for o cenário considerado: 1. Um clima de coesão social e paz, tanto quanto de equidade, proteção dos direitos humanos e liberdade no nível familiar, local, nacional e internacional. 2. A prevenção e controle de lesões e suas conseqüências ou danos causados por acidentes; 3. O respeito aos valores e a integridade física, material e psicológica dos indivíduos; 4. A provisão de medidas efetivas de prevenção, controle e reabilitação para assegurar a presença das três condições prévias. 78 Tal conceitualização apontou a necessidade de criação de uma estrutura na empresa, que desse corpo a nossas iniciativas e potencia a nossas ações, compatível com os desafios e propostas que estavam se delineando. Neste sentido, o amadurecimento de nossas reflexões, evidenciou em curto espaço de tempo, a necessidade de implantação do Laboratório de Tecnologia Social e Proteção da Vida. O Laboratório de Tecnologia Social e Proteção da Vida Constituído como núcleo ligado ao gabinete da presidência, o laboratório vem sendo desenvolvido com o objetivo de formular e aplicar política de responsabilidade social compatível com o momento de transformações porque passa o IVB, fortalecendo a missão de promover a geração, o desenvolvimento e o aproveitamento de tecnologias voltadas para o interesse social e reunir condições de mobilização do conhecimento, a fim de que se atendam as demandas da população e de possibilitar, neste campo, o acesso ao sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Nos marcos da “Estratégia Promocional da Qualidade de Vida e Saúde”, (considerada como um “processo que amplia a capacidade de indivíduos e comunidades de controlar os fatores determinantes de sua saúde e, portanto, conquistar uma saúde melhor”), ao assumir o conceito de “Proteção da Vida” demos um importante passo para o desenvolvimento de pesquisas, projetos e a construção de sinergias necessárias a articulação e integração entre atores – públicos e privados, governamentais e nãogovernamentais. No entendimento de que a ausência de soluções integradas (concertadas entre atores e continuadas, concatenadas no tempo) anula esforços, desperdiçando-se grande parte dos recursos investidos, temos trabalhado no fortalecimento dos laços do IVB com as comunidades do entorno e com a cidade, já historicamente ligadas ao Instituto, o que nos impõe a necessidade e o compromisso no desenvolvimento de Tecnologias Sociais que tenham como propósito promover o desenvolvimento sustentável, aqui compreendidas como produtos, técnicas ou metodologias, reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e apropriadas por elas e que representem efetivas soluções para inclusão social e melhorias das condições de vida. Principais projetos: 79 Projeto IVB: Uma Empresa Protetora da Vida - conceitual e operacionalmente mais eficaz e avançado do que os tradicionais programas de prevenção de acidentes, posto que, tal metodologia se propõe a um diálogo permanente com os diversos processos internos da linha de produção e demais processos do Instituto, na busca de "exposição Zero" a riscos objetivos e circunstâncias potencialmente geradoras de perigos para a vida. Projeto de Adoção da Praça Vital Brazil – projeto de ocupação social cujo mérito está na possibilidade de construção e pelo estabelecimento do diálogo entre a população e este espaço público, tão importante para a expressão de vida em comunidade, além obviamente na comunicação mais coletiva entre moradores e poder público, a partir de reuniões, assembléias e ampliação dos espaços de vocalização. Projeto de Proteção Ambiental e Reflorestamento do Morro do Vital Brazil, que fortalece uma das áreas de grande importância ligada à missão do IVB: a responsabilidade ambiental. Enfrentamento da degradação ambiental à partir de ações que vem sendo desenvolvidas em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e as Associações de Moradores da Região. Projeto Arquiteto de Família, que prevê a mobilização da comunidade em torno a construção coletiva da sede da associação de moradores do Morro do Vital Brazil e desenvolvimento de projetos de melhorias habitacionais, a princípio em 100 unidades nesta comunidade, mas com previsão de extensão do projeto às demais comunidades do entorno. Visa a construção de Espaços Protetores da Vida, a partir da articulação dos diversos setores da sociedade na construção coletiva de propostas de requalificação urbana e ambiental, pela promoção da qualidade de vida, saúde e segurança, em ações que conduzam para mudanças de atitude frente às situações que a colocam a vida em risco. Núcleo de Estudos da Violência e Desenvolvimento de Comunidades Protetoras da Vida (parceria entre o IVB – Médicos de Família – Policlínica Sérgio Arouca – Secretaria de Defesa Civil e Integração Comunitária – Associação de Moradores do Morro do Vital Brazil e outras) objetiva o desenvolvimento de uma Rede de 80 Observatórios Sociais de Proteção à Vida nas comunidades, buscando inserir Niterói na Rede de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida – Prevenção de Violências e Lesões - Programa de promoção da segurança e prevenção de lesões da OMS, baseado na comunidade, capaz de responder as necessidades particulares dos cidadãos, por utilizar estruturas potenciais existentes nos locais, alcança uma alta densidade de comunicação com relativamente poucos recursos e é capaz de desenvolver redes sociais solidárias, muito rapidamente, o que é determinante no processo de evolução para um alto padrão de promoção da segurança. 1. estudar e compreender mais profundamente a questão das lesões e violências na comunidade 2. trabalhar na construção de um acervo documental sobre o tema, possibilitando acesso e difusão via rede. 3. buscar estabelecer parcerias com instituições interessadas no tema, acadêmicas e/ ou da sociedade civil, 4. buscar parcerias para financiamento das iniciativas de proteção da vida 5. produzir de imediato um conjunto de oficinas de formação e capacitação para monitores, profissionais e/ou profissionais em formação, e observadores sociais de proteção da vida, membros das comunidades.6. Aprofundar a metodologia das cidades e comunidades protetoras na organização de "Observatórios Sociais de Proteção a Vida" - estes observatórios deverão estar sediados na Policlínica Sergio Arouca, ou nos módulos dos médicos de família, ou na sede de associação de moradores 7. A idéia é que os monitores formados participem do processo de formação/ capacitação de membros da comunidade, que seriam os "Observadores de Proteção da Vida", de sua comunidade. 8. em cada comunidade do entorno desenvolveríamos um "observatório social", (M. Vital Brasil, M. Cavalão, M. Souza Soares, Beltrão e Viradouro), para avançarmos na configuração da rede regional de comunidades protetoras da vida. Projeto de pesquisa: Atitudes e Normas Culturais Frente à Violência na Comunidade do Morro do Vital Brazil – analisar e comparar entre as comunidades de Niterói, o papel dos processos de aprendizagem social nas formas diferenciais que assumem as intenções e reações de violência física em diferentes âmbitos, identificando os fatores ambientais, sócio econômicos e familiares associados com as intenções e reações violentas. Programa Escola de Fábrica – IVB/ CEFET Químico/ MEC - incluir socialmente jovens por meio da iniciação científica e formação profissional, neste primeiro 81 módulo através dos cursos: Curso de Construtores de Espaços Protetores da Vida, Curso de Técnico de Biotério e Curso de Observador Social de Proteção da Vida. Os cursos são divididos em três eixos principais: básico, transversal e profissional, e os alunos estudarão simultaneamente matérias do ensino médio (português, matemática, história, geografia etc.), conceitos de ciências sociais (cidadania, ética, direitos humanos, relação do trabalho etc.) e noções específicas da profissão escolhida. A implantação do Programa Escola de Fábrica do Ministério da Educação no Instituto Vital Brazil ocorreu em parceria com o CEFET Químico. Dos cursos que o IVB tem evidente expertise, em função de suas atividades enquanto Centro de Pesquisa e Produtor de Imunobiológicos, no ano de 2008 oferecemos três turmas para alunos regulares da Rede Pública que foram concluídas com sucesso, dos 60 alunos, 56 se formaram com bom e ótimo desempenho. Projeto Observatório de Acidentes de Transportes e Proteção à Vida no Trânsito (Sistema Interativo de Informações de Saúde e Proteção da Vida). Desenvolvido como proposta do IVB a NITTRANS (Empresa de Transportes da cidade de Niterói), o projeto propõe uma estratégia de ação articulada visando a implantação do Observatório de Acidentes de Transportes de Niterói, articulado a uma Rede Social de Proteção da Vida, com o funcionamento de um núcleo de morbidade e de mortalidade. Esta estratégia deve contribuir para a definição e desenvolvimento da uma política de enfrentamento dos acidentes de transportes em nossa cidade para um maior conhecimento da situação, permitindo não só uma atuação mais consistente, como a integração e o monitoramento dessa ação e de seu efeito sobre as manifestações do fenômeno. O objetivo geral visa articular a informação de produção de serviços das instituições que lidam com acidentes de transportes no Município de Niterói, produzindo e difundindo análises integradas de modo a permitir maior visibilidade e melhor compreensão das expressões dos acidentes de transportes, favorecendo o enfrentamento desse problema, tanto na perspectiva da ação dos organismos de Estado como a participação da população e no controle social sobre as ações desenvolvidas, e deste modo contribuir para o estudo e caracterização da violência em nossa cidade e região, de maneira cientificamente validada, de tal modo que, sirva para a tomada de decisões das autoridades municipais e organismos interessados. Proporcionar às autoridades e a comunidade informação oportuna e útil para a 82 tomada de decisão. Introduzir mudanças substantivas na orientação de sistemas e serviços, assim como na ação comunitária e social, afirmando a Proteção da Vida. Iniciar processo de reconhecimento pela Organização Mundial da Saúde, de Niterói como Cidade Protetora da Vida “Safe City”. Programa de Iniciação Científica e capacitação em estratégias protetoras da Vida - promover a iniciação científica e contribuir para a melhoria da qualidade da formação de estudantes do ensino fundamental e do ensino médio - a partir de programas e projetos educativos que visam ao desenvolvimento de ações integradas e estratégicas em educação em ciências, tecnologia e saúde. A ênfase inicial será dada pela participação dos estagiários nos projetos desenvolvidos pelo Laboratório de Tecnologia Social e Proteção da Vida. Estratégias e parcerias Já em 2007 tomamos a iniciativa de procurar a Rede Brasileira das Cidades e Comunidades Protetoras da Vida, uma organização da sociedade civil, articuladora no Brasil do “Research group on Safety Promotion and Injury Prevention” - Karolinska Institut (WHO Collaborating Centre on Community Safety Promotion) que vem trabalhando no processo de construção de políticas públicas de promoção da qualidade e proteção da vida, se constituindo enquanto um espaço para intercâmbio de idéias, experiências e para formação de parcerias com a finalidade de apoiar e promover estudos, seminários, pesquisa, consultoria técnica, formação de profissionais, formulação de políticas publicas e desenvolvimento institucional, com foco no desenvolvimento de infra-estrutura baseada em parcerias e colaborações intersetoriais com objetivos de promover a segurança na comunidade; a manutenção de programas de proteção, sustentáveis a longo prazo, cobrindo ambos os gêneros e todas as idades, ambientes e situações. A criação e manutenção de programas que objetivem alcançar grupos e ambientes de alto risco além de programas que promovam a segurança de grupos vulneráveis, que documentem a freqüência e as causas das lesões. Criação e manutenção de instrumentos de medida para avaliar seus programas, processos e efeitos da mudança; além de iniciativas de participação permanente na rede Nacional e Internacional de Comunidades Protetoras da Vida. A parceria com a Rede foi fundamental neste processo, pois possibilitou na oficina realizada em novembro de 2007, o encontro de profissionais do corpo funcional do IVB, a Secretaria Regional de Santa Rosa, a Secretaria Municipal de Defesa Civil e 83 Integração Comunitária, os Serviços de Saúde com atuação na Região – Policlínica Sérgio Arouca e Médicos de Família, as Associações de Moradores das Comunidades do Vital Brazil, Cavalão, Souza Soares e Viradouro em torno à compreensão do conceito de proteção da vida e da estratégia das cidades e comunidades protetoras da vida, o que foi fundamental para o delineamento da estratégia de atuação da responsabilidade social do IVB. Em junho de 2008 uma parceria significativa entre o Instituto Vital Brazil e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis/RJ - CEFET Química – Instituição pública de ensino (médio/técnico e superior), pesquisa e extensão – colocou em prática o Programa Escola de Fábrica, vinculado à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação - SETEC/MEC. A proposta uniu setores produtivos e processos educacionais visando a inclusão social e iniciação científica de jovens de 16 a 24 anos, alunos de nível médio das Escolas Públicas. Sessenta jovens tiveram a oportunidade de passar por uma iniciação profissional em um dos três cursos oferecidos, cada curso com duração de 600 horas de aulas, com duração de seis meses cada. Os cursos oferecidos corresponderam às atividades vinculadas a uma das principais áreas da atividade produtiva e de pesquisa do IVB (biotério) e o setor de responsabilidade social da instituição: Curso de Construtores de Espaços Protetores da Vida, Curso de Técnico de Biotério e Curso de Observador Social de Proteção da Vida. Com a capacitação destes alunos um novo campo se abriu e com ele novas necessidades, possibilidades e desafios. Com o objetivo de aprofundar sua formação, vislumbramos a possibilidade de inserção dos alunos como estagiários pesquisadores locais, no contexto dos projetos de pesquisa e atividades do Laboratório de Tecnologia Social e Proteção da Vida. Em finais de 2008 um Acordo de Cooperação Técnico-Científica foi firmado entre a ONG Soluções Urbanas e o Instituto Vital Brazil com o objetivo de pôr em prática ações de intervenção espacial e melhoria da qualidade do ambiente em áreas circunjacentes à própria sede da instituição, como forma de dar materialidade ao conceito e Proteção da Vida, na Comunidade do Morro do Vital Brazil. “A ONG Soluções Urbanas é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, composta por profissionais de formações diversas, com experiência em projetos de planejamento urbano, habitação e desenvolvimento social. Em seu estatuto a Soluções Urbanas – Urbanismo, Cultura e Cidadania – estabelece como objetivos: Constituir-se em um espaço de ação, reflexão e 84 discussão, visando a melhoria da qualidade de vida no ambiente urbano e; Atuar em programas de promoção da melhoria da qualidade de vida no ambiente urbano”. A partir deste Acordo, iniciou-se o projeto Arquiteto de Família - Comunidade do Morro Vital Brazil que, com recursos do próprio IVB e do Fundo Nacional para Habitação de Interesse Social – FNHIS, oferece Assessoria Técnica em Mobilização e Organização Comunitária e Assistência Técnica Individual á Habitação de Interesse Social. A estratégia de mobilização e organização comunitária utilizada pelo projeto Arquiteto de Família pressupõe o envolvimento dos moradores em torno de um ou mais projetos de interesse comum, como Fóruns para o debate e aplicação de conceitos e idéias, troca de experiências, etc. O que pretende o surgimento de uma nova cultura sobre a ocupação dos espaços, com reflexos na concepção das reformas das casas - desde o levantamento de necessidades, passando pela elaboração dos projetos até o planejamento das obras. Um dos objetos de mobilização será a sede da Associação de Moradores do Morro Vital Brazil - AMOVIBRA e, em seguida, será promovida a Assistência Técnica Individual com o desenvolvimento de projetos arquitetônicos para melhoria de 100 unidades habitacionais. Programa de Iniciação Científica e capacitação em estratégias protetoras da Vida Estruturando-se em torno de atividades educacionais diversificadas e abrangentes, o Laboratório tem assimilado a atribuição de desenvolver e coordenar programa de iniciação científica com base na estratégia promocional de qualidade de vida e saúde. Um dos objetivos é incentivar uma maior participação dos pesquisadores do IVB, em atividades da área de formação científica, pretendemos aprofundar nossa participação no campo da iniciação científica no ensino médio. Entre os objetivos do programa, destaca-se a proposta de estimular os jovens a seguirem carreiras profissionais ligadas à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico e a busca permanente da inovação metodológica em educação e ciências, consoante com uma prática educativa que atenda às demandas da sociedade brasileira, especialmente no que se refere à preparação de jovens para enfrentar os desafios atuais do mundo do trabalho e do exercício da cidadania. Coordenado pelos profissionais do Laboratório de Proteção da Vida, da Diretoria Científica, do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento (CEA), da Assessoria Especial de Recursos Humanos, e dos Biotérios Especializados, o Programa de Iniciação Científica 85 do Instituto Vital Brazil tem como objetivo principal proporcionar aos alunos de ensino médio a vivência de ambientes de pesquisa e desenvolvimento de projetos tecnológicos, propiciando-lhes a experiência de aprender ciência fazendo ciência. Por meio da orientação acadêmica, o aluno inicia sua formação em pesquisa em C&T nos laboratórios, setores, serviços ou grupos de pesquisa ligados às suas diversas unidades. A educação em ciências é o eixo articulador dessa integração entre instituições científicas e de ensino, destacando-se de maneira especial a relação que se estabelece entre o aluno e o orientador-pesquisador no contexto do trabalho acadêmico. Dessa forma, busca-se estabelecer inter-relações entre o ensino regular e a formação desses jovens em espaços tradicionalmente reservados aos estudantes de graduação e de pósgraduação. Ao mesmo tempo em que visa integrar-se às ações de ensino das escolas parceiras, o programa propõe aos estudantes uma ampla discussão sobre a produção de conhecimentos em nossa sociedade e sua relação com o pleno exercício da cidadania. A compreensão das práticas técnico-científicas que permeiam o processo de construção desses conhecimentos é o elemento central e estruturante desse projeto que tem como finalidade principal promover a iniciação científica de alunos do ensino médio que tenham interesse pelas atividades de pesquisa nas áreas das ciências biológicas, da saúde e sociais e humanas em saúde. Atividades dos Estagiários: Atuarem como observadores locais, realizando o mapeamento de risco territorialambiental (Projeto Arquiteto de Família – Educação ambiental – Observatório Social de Proteção da Vida). Pesquisador entrevistador (Projeto Arquiteto de Família – Observatório Social de Proteção da Vida) Mapeamento das lesões e violências, a realização de ações locais de pesquisa sobre segurança social e proteção de vida. Emprego de técnicas relacionadas à observação, pesquisa, mapeamento, diagnóstico e elaboração de projetos e criação de sistema e de instrumentos de coleta e análise de dados, bem como a montagem de um banco de dados. 86 Participar da elaboração de planos de ação, voltados para as comunidades, na perspectiva do desenvolvimento de relações intersetoriais, tendo como referência ações quantitativas e qualitativas a fim de potencializar a Rede de Proteção à Vida. Participar da Construção do Observatório Social de Proteção da Vida no Morro do Vital Brazil – construir a prática local de Registro de Acidentes e Violências; Participar do Projeto de Criação, Manutenção e Alimentação do Blog do Laboratório de Tecnologia Social e Proteção da Vida, mantendo uma estrutura de informação e comunicação crítica e atuante. Elaboração e desenvolvimento de Oficinas de Terapia Comunitária; oficinas de educação ambiental; Disseminação de estratégias de promoção da saúde; Disseminação na Prevenção de DST/AIDS a adolescentes nas escolas; Participar do Estudo para aplicação da pesquisa sobre: Atitudes e Normas Culturais frente a Violência na Comunidade Vital Brasil; Avaliação Apresentação de relatório de estágio com a descrição crítica das atividades desenvolvidas, bem como reflexão sobre os projetos desenvolvidos pelo Laboratório. (sistematização das atividades e das experiências vivenciadas durante o processo); Participação como colaboradores nos Trabalhos científicos produzidos pelo Laboratório de Proteção da Vida. Avaliação final do orientador (Ficha de avaliação de desempenho do aluno). 87 DOCUMENTO 6 RESOLUÇÕES DO V CONGRESSO DA RBCE 88 VV CCO ON NG GRREESSSSO OD DAA RREED DEE BBRRAASSIILLEEIIRRAA D DEE CCO OO OPPEERRAAÇÇÃÃO O EEM M EEM MEERRG GÊÊN NCCIIAASS D DAA D DEEFFIIN NIIÇÇÃÃO OD DEE PPO OLLÍÍTTIICCAASS ÀÀ PPRRÁÁTTIICCAA:: DDEESSAAFFIIO OSS AATTUUAAIISS PPAARRAA AA IIM MPPLLAANNTTAAÇÇÃÃO O DDAA AATTEENNÇÇÃÃO O IINNTTEEG GRRAALL ÀS URGÊNCIAS NO SISTEMA ÚNICO DE SAUDE DO BRASIL Conclusões e Recomendações ORGANIZAÇÃO E RELATORÍA Dr. Armando De Negri Filho Dra. Zilda Barbosa Dr. César Roberto Braga Macedo Dra. Rosane Mortari Ciconet Dr. Ewerton Breyer Dra. Selma Santiago Brasília setembro de 2005 Apoio V CONGRESSO DA REDE BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO EM EMERGÊNCIAS 89 DA DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS À PRÁTICA: DESAFIOS ATUAIS PARA A IMPLANTAÇÃO DA ATENÇÃO INTEGRAL ÀS URGÊNCIAS NO SISTEMA ÚNICO DE SAUDE DO BRASIL MEMBROS DA DIRETORIA DA RBCE Congresso de Brasília – 2005 - 2007 Executiva: César Roberto Braga Macedo (Coordenador Geral)- Niterói-RJ; Rosane Mortari Ciconet - Porto Alegre –RS; Ewerton Breyer – Porto Alegre – RS; Selma Santiago – Natal – RN; Isabel Venâncio – Juiz de Fora – MG. MEMBROS DA DIRETORIA DA RBCE CONGRESSO DE GOIÂNIA - 2000 Executiva: Armando De Negri Filho (Coordenador Geral), Zilda Barbosa, Helvécio Magalhães Filho, Itajaí Oliveira de Albuquerque, Roberto Queiroz Gurgel. Núcleos Temáticos e Regionais: Lígia Soares (SP); Rosane Ciconet (PoA); César Macedo (Niterói-RJ); Adebal Andrade Filho (MG); Flávio Adolpho Siqueira (RJ); Sérgio (SP); Edison Valle (PR); Margareth de Matos Cardoso (SP);Joselita Nunes (BA); Arine Campos Assis(SP);César Nitschke (SC); Marcelo Prates (SC); Paulo de Tarso(SP); Luciano Wagner Ribeiro(MG);Hélio de Freitas Moraes (GO); Margarete K. Mendonça (MS) Gunther P. Pimenta(Mato Grosso); Osvaldo (Tocantins); Izabel (BA); Marta Prado (SE) Garibaldi D. Gurgel (PE) Selma Santiago (RN); Aldrovando Aguiar (CE). Contatos: César Roberto Braga Macedo - cé[email protected] Rosane Mortari Ciconet - [email protected] Armando De Negri - [email protected] - Fone : 0xx 21 99863755 - Fone : 0xx 51 99193569 - Fone : 0xx 51 99960562 Os dez anos da Rede Brasileira de Cooperação em Emergências 1. Antecedentes históricos A Rede Brasileira de Cooperação em Emergências -RBCE foi criada em 14 de novembro de 1995, em Porto Alegre, data de inauguração do SAMU daquela cidade e no marco de um Simpósio Internacional dedicado a discutir a Atenção Pré-Hospitalar Móvel e a Regulação Médica das Urgências e Emergências, por isso a RBCE foi batizada inicialmente como Rede 192. Na mesma 90 ocasião, foi criada a Rede EMERSUR, que já não mais opera, e que tinha como finalidade envolver no mesmo processo de discussões os países do Mercosul: Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai. Com o objetivo de integrar os profissionais comprometidos com a atenção às urgências no SUS e envolver as comunidades visando diminuir a ocorrência de situações de urgência, organizar as respostas quando as urgências ocorrem, propusemos utilizar os espaços da RBCE para manter e aprofundar as formulações e experiências muitas vezes descontinuadas quando da troca de gestões governamentais. Constituímos um espaço cidadão, onde pudemos debater de forma livre as questões das urgências e, em última instância, o aprofundamento da organização do SUS. O capítulo das urgências da Reforma Sanitária Brasileira. A atuação da Rede tem sido marcada por buscar influenciar os espaços de decisão, notadamente do Governo Federal, mas também dos Estados e Municípios nos processos de pactuação do SUS, em torno à idéia de construirmos um conjunto de respostas ordenadas às situações de urgência, de forma universal, integral e produzindo eqüidade social, evitando descontinuidades na política publica. As urgências, embora sejam, um espelho do sistema de saúde, ainda não estão devidamente consideradas como pontos chave da atenção no SUS. Uma das questões que nos assaltam cotidianamente é se já conseguimos fazer com que as urgências passassem a ter um espaço importante na agenda do SUS. Igualmente nos perguntamos se já conseguimos fazer com que o tema Saúde tenha passado a ocupar um espaço importante na agenda política do país, para além das manchetes em momentos de crise. Em que pese o capítulo do direito à saúde e à seguridade social da Constituição Brasileira, e os demais textos regulamentadores do mesmo, nos parece que ainda não alcançamos esses objetivos e isto justifica nossa persistência. O SUS é quiçá a principal política publica nacional de caráter universal, com impacto social e referencia internacional no combate às privatizações e à banalização das questões referentes à atenção à saúde. Área que reflete dramaticamente a fragilidade econômica e social da Nação. As urgências foram e ainda têm sido área de muitos debates técnicos isolados, mas necessitamos debater as urgências como espelho do sistema e porta de entrada do SUS, reflexo da própria organização da sociedade. A trajetória da Rede Brasileira de Cooperação em Emergências, dentro da lógica do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, permitiu interação suprapartidária de trabalhadores e técnicos. Sua trajetória histórica pode ser dividida em dois blocos: 91 O primeiro qüinqüênio (1995-2000), com muitos eventos, encontros e cursos, onde coletivamente foram elaborados os 4 eixos de base da Política Nacional de Atenção às Urgências, hoje consagrados nos termos das Portarias que regulamentam o setor. Em 1998 foi debatida e formulada em conjunto com o CFM, a regulamentação da Regulação Médica das Urgências e da Atenção Pré-Hospitalar Móvel, publicada a seguir como portaria em 1999, revisada em 2001 e novamente publicada em 2002, agregada a outras normatizações técnicas do sistema de atenção às urgências. Por uma deficiência nossa, interagimos pouco com o Conselho Nacional de Saúde, tendo somente agora neste V Congresso contado com a presença do CNS e o delineamento de uma colaboração estratégica para o futuro. Em 98 e 99 interagimos intensamente com o CONASEMS em função do rechaço as Portarias 2923 e 2924, o que nos gerou um conflito e afastamento do dialogo com o MS, até o ano de 2000, quando de nosso IV Congresso em Goiânia. Fizemos em fevereiro de 1999, em parceria com o CONASEMS, um Seminário Nacional em Maceió, que discutiu a atenção às urgências nas regiões metropolitanas. Essas atividades, junto ao CONASEMS, necessitam ser retomadas. Com o CONASS tivemos relações muito pontuais e não desenvolvemos uma construção duradoura junto aos governos estaduais. A RBCE também foi a responsável pela manutenção do intercâmbio e missões junto ao SAMU da França, durante cinco anos (1995-1999), pois não havia na ocasião, contraparte interessada no governo brasileiro para o aprofundamento desta relação. Os nascentes SAMU brasileiros foram irmanados aos SAMU franceses. Não somos cópias dos franceses, e do ponto de vista da gestão do Sistema de Saúde já superamos a organização e importância do SAMU Francês. A partir de 1997 a RBCE iniciou uma profícua relação com a OPAS, através da colaboração com o Dr. Eduardo Guerrero, Consultor para a área de Sistemas e Serviços da Organização, hoje substituído pelo Dr. Julio Suarez. Após o IV Congresso da RBCE em Goiânia, no ano de 2000, a Dra Irani Moura, membro destacado da organização daquele Congresso, foi convidada a discutir e representar a área das urgências junto à SAS, espaço que nos permitiu progredir na elaboração do que hoje está publicado como Política Nacional de Atenção às Urgências. A partir daí, nos últimos anos, os membros da RBCE passaram a atuar ativamente junto ao MS, mergulhando nessa construção institucional da Política de Urgências, alcançando um crescimento extraordinário da legislação, entendimento e desenvolvimento da área em todo o Pais. 92 Por que começamos a implantação da política nacional de urgências pelo pré-hospitalar móvel? Pela importância estratégica da regulação das urgências, que mobiliza e desestabiliza a atenção, rompendo rapidamente com a banalização do caos, evidenciando com clareza os vazios assistenciais e apontando de maneira sistemática a necessidade de um sistema universal, integral e equânime. Portanto, temos que seguir na organização das redes de atenção integral às urgências, sob pena de ter o SAMU desestruturado devido ao seu isolamento. Urge o debate sobre a atenção hospitalar: regulação da relação das necessidades x ofertas, qualificação da atenção. Temos que ter clareza da importância da continuidade da implantação da Política, a qual possui importantes opositores, os quais hoje se beneficiam da desordem para não cumprir seus deveres ou levar vantagens. Este congresso marca o inicio de uma nova etapa, onde precisamos seguir atuando na institucionalidade, mas devemos nos voltar, como nos primeiros cinco anos de atuação da RBCE, aos gestores locais e com as redes de serviços e trabalhadores das urgências, construindo alianças especialmente fortes com o controle social, para que possamos impulsionar as questões ainda pendentes, na garantia da saúde como um direito e na defesa dos princípios que nortearam, desde sua origem, a Reforma Sanitária Brasileira. Como vamos organizar nosso sistema de atenção às urgências? Como vamos ordenar o SUS respondendo de forma imperativa às necessidades das pessoas como sujeitos de direitos? Queremos conversar profundamente com o CONASS, junto aos gestores estaduais, os quais têm tido uma postura bastante retraída na articulação da atenção às urgências, não somente do ponto de vista financeiro, mas também gestor. Os componentes da Rede de Atenção também precisam ser discutidos: o complexo da atenção primária, numa releitura que resgate os termos postos em “Alma Ata”, deve adotar um enfoque renovado da Atenção Primária, essencial para afrontar os determinantes sociais da saúde e da iniqüidade e reconhecer a saúde como um direito. A redefinição da atenção hospitalar e o aprofundamento e qualificação da regulação médica das urgências são temas estratégicos que precisam ser discutidos e aprofundados. A Estratégia Promocional precisa avançar, ainda continuamos com uma ação campanhista, desarticulada, com gestos e propostas isoladas. Queremos dar impulso ao conceito de Cidades Protetoras da Vida e tornar a promoção da qualidade de vida e saúde uma estratégia central no combate às urgências de qualquer natureza. 93 A capacitação, habilitação e certificação urgem serem implementadas como determina a Portaria 2048, atingindo o conjunto dos trabalhadores das urgências, implantando os Núcleos de Educação em Urgências e definindo um novo perfil de qualidade nos serviços e nos resultados da atenção. No Ministério da Saúde urge elevar a Coordenação Geral de Urgências e Emergências a condição de Departamento de Atenção Integral às Urgências, com o mesmo status da Atenção Básica e da Atenção Especializada. Este pedido, a RBCE está encaminhando ao Ministro da Saúde e à Presidência da Republica. A RBCE é o exemplo de construção de políticas publicas a partir de um espaço formulador da sociedade civil e espera poder neste caminho construir mais e melhores respostas às necessidades da população brasileira, fazendo valer seus direitos e construindo cidadania. Todos os interessados em construir uma Política Publica Nacional de Atenção integral às Urgências são bem vindos e bem vindas à Rede Brasileira de Cooperação em Emergências - RBCE. Juntem-se a nós! César Roberto Braga Macedo Coordenador Geral 2005 – 2007 Armando Antônio De Negri Filho Coordenador Geral 1995 – 2005 94 DESAFIOS ATUAIS PARA A IMPLANTAÇÃO DA ATENÇÃO INTEGRAL ÀS URGÊNCIAS NO SISTEMA ÚNICO DE SAUDE DO BRASIL 2. Introdução Realizado na Sede da OPAS em Brasília, entre os dias 27 a 29 de setembro de 2005, o V Congresso da Rede Brasileira de Cooperação em Emergências – RBCE marca uma outra etapa, onde ficou clara a necessidade de retomarmos, como nos primeiros cinco anos de atuação da RBCE, o processo de construção de fortes alianças com o controle social, para que possamos realmente impulsionar as questões ainda pendentes, na garantia da saúde como um direito e na defesa dos princípios que nortearam, em sua origem, a Reforma Sanitária Brasileira. Neste V Congresso, onde podemos contar com a participação de representantes das varias direções do Ministério da Saúde, apostamos nas qualidades dos participantes de 13 estados e no seu envolvimento com os dilemas e dificuldades na implantação da Política de Urgências, mas também em sua capacidade de encontrar soluções no marco do SUS e da Constituição Federal, sem descuidar dos desafios no campo técnico e científico da promoção da saúde / segurança, como campo de articulação do controle, prevenção e atenção integral às urgências. O objetivo deste documento é o de apresentar as principais conclusões de nosso V Congresso, estabelecendo recomendações e propostas para a continuidade da colaboração entre o Ministério da Saúde e a RBCE. A Rede Brasileira de Cooperação em Emergências – RBCE foi fundada em novembro de 1995, com o intuito de integrar os profissionais comprometidos com a atenção às urgências no SUS e envolver as comunidades visando diminuir a ocorrência de situações de urgência, organizar as respostas quando as urgências ocorrem, utilizando os espaços da RBCE para manter e aprofundar as formulações e experiências muitas vezes descontinuadas quando da troca de gestões governamentais. O objetivo da atuação da Rede foi e é influenciar os espaços de decisão, notadamente do Governo Federal, mas também dos Estados e Municípios nos processos de pactuação do SUS, em torno à idéia de construirmos um conjunto de respostas ordenadas às situações de urgência, de forma universal, integral e produzindo eqüidade social. Se observarmos as propostas construídas nos espaços da RBCE ao longo dos anos e o que vem sendo aplicado em matéria de política de atenção às urgências no País, nos damos conta que a RBCE tem cumprido a sua intenção original de influenciar a formulação e aplicação de políticas públicas, através da organização dos seus membros, indivíduos que atuam em diferentes espaços e esferas de governo e sociedade civil, e que têm construído na prática cotidiana, o que formulamos e compartimos no âmbito de nossos congressos e seminários. A RBCE se constituiu, portanto, como um espaço de construção e intercâmbio de saberes e práticas visando fortalecer a esfera pública em seu labor de responder às necessidades sociais no campo das urgências. No IV Congresso da RBCE em Goiânia, em abril de 2000, com mais de 1000 participantes, estávamos em um momento de luta pela afirmação de bases 95 conceituais / doutrinárias para uma política nacional de atenção integral às urgências no Brasil. Aquele Congresso afirmou os conteúdos estratégicos e adotou uma direção para o debate nacional através da interlocução da RBCE junto ao Ministério da Saúde e a várias Secretarias Estaduais e Municipais, resultando em um processo articulador de pessoas e instituições que produziu a aprovação, em 2002, da Portaria GM 2048/02 que regulamenta o conjunto dos componentes da Política Nacional de Atenção às Urgências. Na atual gestão do Governo Federal alcançamos a constituição da Coordenação Nacional de Urgência e Emergência - CGUE e o lançamento pelo Presidente da República, em março de 2003, da Política Nacional de Atenção às Urgências e do SAMU (regulação médica e atenção pré-hospitalar móvel), como o primeiro componente do Sistema Nacional de Atenção às Urgências e que hoje já atende cerca de 70 milhões de habitantes. Além disso, observamos movimentos positivos em torno à qualificação das portas hospitalares de urgência via QUALISUS, o esforço de estabelecer a humanização dos serviços, o avanço na oferta de terapia intensiva, na organização de respostas a eventos complexos e a instalação do Comitê Gestor Nacional das Urgências e, proximamente, a qualificação dos Pronto Atendimentos em todo o País. Preocupamo-nos cotidianamente, porém, com a implementação da Política Nacional de Atenção às Urgências, pois o avanço importante, da Política Pública, nas Urgências, obtido até o presente momento, revelou diversas fragilidades da atual etapa de implementação do SUS e, portanto, indicou a necessidade de aprofundarmos as estratégias de implantação da Política de Urgências no marco de construção do Sistema Único, sob pena de aprofundarmos sua fragmentação e não explorarmos em profundidade o potencial ordenador e articulador dessa Política de Urgências. A etapa atual de sua implementação revela as insuficiências e iniqüidades do SUS, as quais se apresentam de forma crua nas portas de urgência, exigindo respostas estruturais, de funcionamento e gestão do Sistema Único em seu conjunto e do subsistema de urgências neste contexto social. Pela transcendência do momento de afirmação da Política Nacional de Atenção às Urgências e pela necessidade de um amplo diálogo sobre o tema com o Governo Federal, em particular com o Ministério da Saúde, mas também envolvendo os demais Ministérios membros do Comitê Gestor 96 Nacional das Urgências, CONASS, CONASEMS, OPAS e membros do Conselho Nacional de Saúde, lhes apresentamos as principais conclusões e recomendações do V Congresso da RBCE, com os conseqüentes compromissos da Rede em torno ao desenvolvimento da implementação da Política de Urgências no País. Armando Antônio De Negri Filho (Coordenador Geral 1995 – 2005) Zilda Barbosa César Roberto Braga Macedo (Coordenador Geral 2005 – 2007) Rosane Mortari Ciconet Ewerton Breyer Selma Santiago 3. Conclusões e Recomendações: 1. Reafirmamos os conceitos da Política Nacional de Atenção às urgências, o direito a saúde e a resposta ao imperativo da necessidade humana nas urgências. Estabelecendo respostas suficientes em quantidade, qualidade efetiva e humanização.Para tanto insistimos em considerar e valorizar os serviços de urgências médicas como portas de entrada do SUS, juntamente com as portas de entrada da Atenção Básica – que seguem sendo as preferenciais, inclusive frente aos quadros agudos e, portanto se inserem no sistema de atenção integral às urgências (como preconizado na portaria 2048/02). 2. Destacamos a necessidade de implantar a política em sua totalidade, como sistema – a política de atenção às urgências não é apenas o SAMU (que é o seu componente de atenção pré-hospitalar móvel). A Coordenação Geral da Política de Urgências não pode ficar restrita ao tema do SAMU, necessitando potencia e mandato para dialogar e organizar o conjunto dos componentes, o que se reflete também na composição e pautas / dinâmica do Comitê Gestor Nacional e na elaboração urgente de um Plano Nacional de Atenção Integral às Urgências concertado no âmbito deste Comitê Gestor – onde estão todas as esferas gestoras e os segmentos do Ministério da Saúde, além do Conselho Nacional de Saúde, para logo ser debatido e aprovado pela Tripartite, pelo CNS e homologado pelo Ministro. Acreditamos que a dissociação do discurso político e programático da implantação dos SAMU e das Centrais de Regulação de Urgências do corpo da Política Nacional de Atenção às Urgências como elemento de totalidade, provoca perda de potencia política e operativa do sistema de atenção às urgências e do próprio processo de afirmação do SUS como patrimônio público. 97 3. Reafirmamos a necessidade de implantar de forma articulada e integral todos os componentes do sistema nacional de atenção às urgências. Organizados de forma regionalizada e hierarquizada, com destaque de prioridade para os chamados pronto-atendimento (serviços de urgência 24 horas não hospitalares) e as portas hospitalares, articulados por um complexo de regulação que articulando urgências / hospitalizações / acesso às consultas e exames especializados criem fluxo de entrada e saída dos serviços de urgência médica. 4. Reivindicamos nesta perspectiva a criação do Departamento de Atenção Integral às Urgências, em status equivalente ao Departamento de Atenção Básica e ao Departamento de Atenção Especializada. Proposta esta amparada na própria dimensão de conceito e operação da Política Nacional de Atenção às Urgências e também como uma forma de dotar de estrutura física e de pessoal a atividade extremamente exigente que a CGUE e a Dra. Irani Moura em particular vem desenvolvendo, sem ter a correspondente infra-estrutura e pessoal para fazê-lo. Lembrando ainda que esta política de urgências e sua expressão na forma de SAMU – centrais reguladoras – sistemas de atenção às urgências – são uma prioridade de política nacional, expressa pelo próprio Presidente da Republica. 5. Propomos no que diz respeito à Atenção Primária e as Urgências que se defina uma orientação conjunta DAB/CGUE para a atenção dos casos agudos na atenção básica. Incluindo as capacitações, materiais permanentes e insumos a serem incorporados, assim como as facilidades de comunicação que podem vincular as unidades de atenção básica aos centros reguladores de urgências médicas, inclusive em distancias maiores na modalidade de telemedicina. Apontamos ainda a necessidade de entender a relação fundamental dos serviços de urgências 24 horas não-hospitalares – UNHAU (conhecidos como pronto atendimento), conformando em sua relação com as unidades de atenção básica o Complexo de Atenção Primária às Urgências com uma capacidade resolutiva muito alta se forem seguidos os parâmetros técnicos da Portaria 2048/02. Propomos que os investimentos e o custeio a serem definidos para as UNHAU estejam condicionados a esta composição de complexos de atenção primária às urgências, para o qual é fundamental a orientação, pela política de urgências, dos recursos do QUALISUS. 6. Propomos a elaboração de um caderno de orientação técnica para a atenção às urgências na atenção básica. 98 A ser construído em conjunto pelo DAB / CGUE / RBCE para consolidar o componente de atenção aos casos agudos na atenção básica e a integração desta ao sistema nacional de atenção às urgências. 7. Recomendamos no que tange ao componente hospitalar que se desenvolva um debate em torno à tese da RBCE de analisar e definir as grades de oferta de atenção às urgências no marco de um enfoque de redes (de Atenção Primária, Urgências, Hospitalizações e Atenção Ambulatorial Especializada) e linhas de atenção por especialidades médicas. Definidas em hierarquias, de forma a detalhar em contratos as responsabilidades pelas quais os serviços serão remunerados e quais os objetivos em saúde que este contrato / orçamento os obriga. Consideramos este enfoque fundamental para podermos exercer as funções do complexo regulador de forma plena e organizar os fluxos de entrada e saída dos serviços de urgência hospitalares. 8. Propomos o debate da classificação dos serviços hospitalares conforme a sua vocação e função efetiva em – serviços para pacientes agudos, para eletivos e para crônicos. Definindo instituições com perfis específicos ou pelo menos com fluxos separados dentro de cada instituição, de forma a otimizar as capacidades de cada qual e dar maior efetividade aos trabalhos em cada hospital. Este debate de tipologia hospitalar se inscreve em um debate de uma Reforma Hospitalar para o SUS e poderia definir diferentes formas contratuais e de remuneração segundo o fluxo considerado e os resultados de saúde obtidos. A contratualização externa – dos hospitais no sistema, e interna – de cada setor do hospital em torno aos seus compromissos regionais de sistema, poderia assim ser materializada. Ademais estas definições contratuais dariam vida aos planos estaduais, regionais e municipais de atenção às urgências. Como conseqüência de um debate nesses termos, solicitamos a imediata revisão do Capitulo da Portaria 2048/02 referente aos hospitais e as urgências, por considerar este capitulo anacrônico frente à realidade e frente ao espírito das portarias que definem a Política e o Sistema, o que gera persistentes dificuldades na execução do trabalho dos complexos de regulação.A RBCE se propõe a participar ativamente de todos esses debates cruciais para o desenvolvimento da atenção às urgências no País. 9. Manifestamos nossa preocupação com a persistente separação entre os processo e recursos do QUALISUS e a Política de Atenção às Urgências. Tal fato se manifesta nas reclamações dos próprios serviços e gestores, que recebem orientações, freqüentemente, dissociadas senão divergentes, e observada na definição de prioridades de investimento nem sempre convergentes com os diagnósticos e planos de atenção às urgências. 99 Reivindicamos sobre este tema que o QUALISUS seja integrado à Política de Urgências e abasteça de recursos financeiros e humanos o esforço de implementação desta Política. 10. Manifestamos nossa preocupação frente às condições em que se estão implantando as centrais de regulação medica das urgências. Considerando que o financiamento de custeio restrito que recebem as centrais – R$ 19.000,00 independente de seu porte ou numero de reguladores e auxiliares – faz com que muitas vezes o numero de reguladores e auxiliares seja inferior às demandas sociais projetadas – o que significa a possibilidade de filas e descrédito deste tipo de regulação. Frente a esta situação reivindicamos: A publicação da Portaria, que define o número de reguladores e auxiliares de regulação, por base populacional a ser atendida, estabelecendo quais os parâmetros mínimos de resposta a serem garantidos; A remuneração das centrais como ferramentas estratégicas de gestão do SUS, com valores proporcionais ao porte da Central em valores a serem pactuados tomando em conta os custos encontrados e alcançando o mínimo de 50% do valor total de operação, sem prejuízo para as centrais menores que hoje cobrem seus gastos com o valor de R$ 19.000,00. Garantir que a avaliação feita pela CGUE e pela Vigilância de Serviços de Saúde de Estados e Municípios não permita que as centrais de regulação médica de urgências tenham na função de regulação medica outros profissionais, tais como enfermeiros, pois isto rompe toda lógica da legislação vigente, onde a regulação médica se coloca justamente para poder tomar decisões médicas e prescrever o necessário em recursos do sistema e na orientação dos profissionais não-médicos e médicos no terreno. Reivindicamos a edição de Portaria Nacional que explicite a função de autoridade publica dos médicos reguladores com prerrogativas sobre o sistema de saúde no âmbito de suas funções e que esta Portaria instigue ou obrigue os governos estaduais e municipais a fazerem o mesmo, publicando neste caso nominalmente os médicos reguladores do sistema. Em prazo irrecorrível todas as medidas deverão ser seguidas pelos centros reguladores, sob pena de deshabilitação dos centros reguladores e sistemas pré-hospitalares, pois todos os parâmetros indicados já estão nos textos das Portarias vigentes. 100 Apontamos ainda a necessidade de um esforço de recapacitação e re-certificação dos médicos reguladores em atividade, pois frente à precarização de contratos e alta rotatividade que marca o inicio deste tipo de serviço, já temos um numero importante de médicos reguladores de urgências não capacitados e não certificados pelos cursos do Ministério da Saúde. Sobre o tema do complexo de regulação da atenção à saúde, vemos que este conceito ainda não evoluiu o suficiente no Sistema e, portanto esperamos com ansiedade a publicação da Portaria anunciada pelo DERAC sobre a regulamentação e financiamento (em moldes similares ao investimento e custeio dos SAMU/Regulação de Urgência) dos complexos de regulação. Considerando a luta desigual que temos na implantação da regulação de urgências sem o fluxo completo de um complexo regulador, acreditamos ser fundamental esta nova iniciativa do Ministério da Saúde. Gostaríamos de poder compartilhar nossa experiência, e debate acumulado no assunto, participando do grupo de trabalho a ser constituído ou já constituído pelo DERAC. Gostaríamos ainda de manifestar nossa preocupação com a situação do SAMU da Cidade do Rio de Janeiro, onde a coexistência de um sistema flagrantemente contrário aos princípios do SAMU nacional, utilizando o numero 192 para uma assistência domiciliar fora do contexto de urgências é uma violação direta do disposto no conjunto das Portarias Nacionais, gerando um precedente perigoso para a unicidade da Política Nacional e abrindo precedente para que outros gestores procedam desta maneira. A RBCE está estudando as medidas legais que cabem na situação do Rio de Janeiro, pois o uso do numero 192 – numero nacional exclusivo de urgências médicas – não pode ser permitido para outros fins e com um serviço móvel totalmente fora do preconizado na legislação federal. 11. Chamamos a atenção para a necessidade de implantação do disposto na Portaria 2048/02 no que se refere à profissionalização dos trabalhadores de saúde nas urgências e a constituição efetiva de núcleos de educação em urgências em cada jurisdição dos sistemas de urgência – área de cobertura dos centros de regulação de urgências ou seu agrupamento. Este tema foi muito maltratado até este momento, pois se definiu um NEU por Estado o que contrariou a idéia de aproximarmos a educação permanente e a capacitação dos serviços, gerando a problematização da realidade / qualidade da atenção às urgências e alem disso perdeu a idéia de um espaço interinstitucional que combinasse os serviços com a Academia e com os gestores e a cidadania (envolvendo inclusive a capacitação das comunidades para os primeiros socorros e a prevenção das urgências). Alem disso a submissão dos NEU aos Pólos de Educação Permanente burocratizou e paralisou o desenvolvimento dos NEU, mesmo existindo recursos inicialmente disponíveis da CGUE para o seu funcionamento. Neste cenário 101 reivindicamos a imediata instalação de um NEU na área de abrangência de cada centro regulador, com um plano de implantação das exigências curriculares mínimas previstas na Portaria 2048/02, produzindo assim um processo de profissionalização de todo o pessoal que trabalha nos serviços de urgência, através de certificação pública, a ser renovada a cada dois anos, em um sistema de créditos que aponte em seu desenvolvimento o aperfeiçoamento do pessoal naqueles conteúdos e práticas onde o seu desempenho não seja o ideal. Este sistema público de certificação de habilitações compulsoriamente renovadas dará o ritmo e a dimensão necessária aos NEU e demandará uma definição de financiamento correspondente, evitando a mercantilização e a fábrica de cursos que temos observado em todo o País. Propomos ainda: a criação de uma agenda da RBCE com a SGTES para a configuração de parcerias para a capacitação de multiplicadores e da primeira geração de trabalhadores dos serviços, já que a Rede tem acúmulo e pessoas especializadas em atendimento pré-hospitalar móvel, regulação e gestão de serviços e sistemas de urgência; debater a formação de especialistas na área de urgências, prospectando a necessidade e possibilidade de formação de um perfil profissional para o futuro; expandir através da SGTES a experiência de capacitação de Gestores de Serviços e Sistemas de Urgência (curso de 80 horas), realizada no Pólo da Região Leste Paulista, com integração da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP; buscar agenda junto ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) para discutir os currículos das escolas médicas, integrando a área da atenção às urgências, introduzindo em especial o pré-hospitalar móvel e a regulação médica – hoje inexistentes na formação profissional, nas grades da graduação; iniciar de forma imediata através da CGUE, ações de capacitação e qualificação dos trabalhadores das urgências com base em alguns eixos de atuação: o Sensibilização de gestores e trabalhadores; o Formação de Gestores; o Imersão Técnica inicial; o Acompanhamento e Supervisão do trabalho; o Formação e habilitação de multiplicadores; o Estruturação dos NEU com equipamentos e recursos de custeio; fazer com que os planos estaduais, regionais e municipais de urgência contemplem a educação permanente dos trabalhadores; 102 desenvolver através de convenio RBCE/MS/OPAS um estudo sobre o perfil dos trabalhadores das urgências nas regiões onde estamos implantando o Sistema, de maneira a compor um painel que oriente os esforços de profissionalização e organização dos processos de educação permanente. 12. Apontamos a necessidade urgente da realização de um processo de avaliação da implantação da política nacional de urgências em todo o Pais. Destacando a avaliação da efetividade dos centros de regulação de urgências, do desempenho da atenção pré-hospitalar móvel e da implantação dos mecanismos e instancias de gestão previstos nas Portarias e normativas publicadas pelo MS. Aspectos destacados para avaliação: i. Grau de adesão aos componentes da política nacional de atenção integral às urgências; ii. Qualidade e vigência dos planos de atenção integral às urgências –planos estaduais, regionais e municipais, avaliando seu poder de desenvolvimento estratégico e seu ordenamento do existente no momento; iii. Efetividade da grade de serviços vinculados à organização das urgências, avaliação da cobertura de redes, linhas e hierarquias; iv. Grau de operação das unidades móveis em relação ao contratado na habilitação; v. Efetividade da regulação em termos médicos – suficiência de médicos e auxiliares em relação à população de abrangência e avaliação do desempenho da regulação em termos de avaliação da performance para o tratamento dos chamados, acurácia das decisões do regulador e o critério de medicalização, tempo resposta pós-chamado; vi. Formalização da autoridade do médico regulador e a efetividade do princípio da “vaga zero”; vii. Performance da atenção pré-hospitalar móvel – efetividade da resposta pré-hospitalar, e seus tempos; viii. Implantação e efetividade do funcionamento das coordenações de urgência e dos comitês gestores; ix. Instalação dos observatórios das urgências e do sistema de informações correspondente; x. Desempenho do serviço e seu impacto na condição de saúde da população; xi. Desenvolvimento do enfoque estratégico promocional no enfrentamento das urgências e suas causalidades; 103 xii. Uso efetivo dos recursos repassados pelo governo federal e estadual para uso no financiamento dos respectivos componentes do sistema de urgências, incluindo a depreciação de equipamentos, sua manutenção e suficiência de abastecimento de insumos; xiii. Prestação de contas para os conselhos de saúde; xiv. Situação contratual dos trabalhadores dos serviços relacionados às urgências. Conforme mencionado anteriormente a RBCE se propõe, em um trabalho associado a ENSP/CICT, realizar uma avaliação da implantação da Política de Urgências em parceria com o MS/OPAS, viabilizada através de convenio que proporcione condições logísticas para que os membros da RBCE possam cumprir esta tarefa, que hoje o Ministério não tem condições de pessoal para executar. Destacamos a fragilidade do processo de regionalização com o qual lidamos na instalação dos centros reguladores. A ausência de um marco de regionalização efetivo tornou sumamente difícil a instalação de sistemas regionais de atenção às urgências, portanto urge apontarmos formas de efetivar a regionalização para poder avançar na política de urgências e ao mesmo tempo utilizar o fórum privilegiado da política de urgências e seu componente regulador e de complexo regulador para auxiliar no avanço da regionalização. Este tema é chave para se desenvolver, no desenho dos planos de atenção às urgências, e nos seus sistemas correspondentes. Acreditamos que o centro do processo de programação regional não é a mera reorganização da oferta pré-existente, mas sim a resposta às necessidades da população gerando a reestruturação e redimensionamento da oferta correspondente com universalidade, integralidade e equidade. Reconhecer os fluxos de atenção já existentes nas regiões e potencializá-los é uma forma de ir respondendo às necessidades e progressivamente tornando as respostas mais acessíveis e mais resolutivas. A RBCE se propõe particularmente a colaborar na capacitação para elaboração dos planos e, portanto no avanço dos processos de regionalização, tanto nos ambientes metropolitanos como nas regiões do interior do País. 13. O tema do financiamento do sistema de urgências tem que evoluir para um sistema de orçamentação anual que pague duodécimos em torno a evolução do cumprimento de metas de serviço combinadas com metas de saúde da população, na perspectiva do pacto de gestão que vem sendo construído pelo MS/CONASS/CONASEMS. Entendemos que este tipo de financiamento sustentado que permita o funcionamento adequado dos serviços e que ademais inclua a evolução dos gastos correntes juntamente com a amortização dos materiais permanentes seria o ideal, porem gostaríamos de discutir em particular como os componentes da urgência entram neste tipo de construção orçamentária. Temos uma preocupação imediata com o financiamento das centrais de regulação e com a previsão da reposição dos veículos e equipamentos que se amortizam em torno de três anos após o inicio das operações. 104 14. Propomos realizar seminários e oficinas para apoiar a elaboração, seguimento, orçamentação e avaliação dos planos de atenção integral às urgências. Inclusive nos municípios e regiões onde ainda não existem SAMU. Pensamos que a elaboração dos Planos, onde o Plano Estadual é obrigatoriamente o primeiro, poderia empoderar os estados na construção de uma perspectiva regional intermunicipal, o que será fundamental para equacionar os problemas metropolitanos e também os das regiões não-metropolitanas a que correspondem à maioria dos municípios brasileiros. Esta iniciativa evitaria a fragmentação decorrente da relação direta dos municípios com a União e garantiria a unidade do SUS como Sistema Nacional. 15. Recomendamos ao MS que organize campanhas de informação e educação sobre a existência e uso dos SAMU e dos demais componentes dos sistemas de atenção às urgências. 16. Recomendamos de forma enfática o fortalecimento dos Comitês Gestores de Urgência nas diferentes esferas de governo, a começar pelo Comitê Gestor Nacional. Garantindo a regularidade de suas reuniões e agendas com o seguimento de um Plano de Trabalho Anual que sirva de modelo para os Conselhos Gestores das outras esferas de governo. Solicitamos a imediata convocatória do Comitê Gestor Nacional para efetivarmos a sua reativação. 17. Entendemos também ser fundamental a criação e operação em todos os municípios brasileiros das coordenações de atenção às urgências e as correspondentes coordenações regionais e estaduais. Observamos que esta dinâmica ainda não se incorporou no cotidiano da gestão em saúde, inclusive naquelas unidades da federação onde já existem SAMU. 18. Propomos envolver as Vigilâncias Sanitárias de estados e municípios na supervisão dos SAMU (ambulâncias, centrais de regulação e equipes de intervenção e regulação) e de todos os serviços de transporte e atenção móvel de urgências públicas e privadas, observando as normas da Portaria MS GM 2048/02. Igualmente utilizar o definido na Portaria 2048 para vigiar as exigências para todos os outros componentes do sistema de urgências. Colocar esta vigilância na agenda da ANVISA e das vigilâncias estaduais e municipais é algo que gostaríamos de propor e realizar com o apoio do Ministério da Saúde, através de uma oficina de trabalho no início de 2006. 105 19. Identificamos a persistência de conflitos de algumas corporações de Bombeiros com os SAMU estabelecidos no País. Para dirimir estes conflitos sugerimos um diálogo do MS com os Governadores, como autoridades capazes de ordenar a relação da área de segurança com a área da saúde no marco da Política Nacional de Urgências. Um encontro que integre a segurança publica com a saúde em torno ao manejo das urgências medicas seria o espaço adequado para esta concertação. 20. Propomos a constituição de um processo de adoção ou apadrinhamento entre os SAMU existentes no País, com os serviços mais estruturados e experientes apoiando os serviços novos ou em implantação. Esta seria uma forma de valorização dos serviços mais organizados e uma estratégia de expansão da colaboração técnica horizontal entre serviços. 21. Apontamos a necessidade de dinamizar a função dos serviços de urgência e dos centros reguladores como espaços privilegiados de observação da dinâmica do adoecer de nossas populações e como um espelho das políticas públicas e em particular da suficiência ou não dos demais serviços de saúde. Este lócus privilegiado de observação deve combinar captação de dados epidemiológicos e de gestão com o desenvolvimento de enfoques compreensivos capazes de gerar interpretação das causalidades sociais que se apresentam nas urgências. Neste sentido a RBCE vem desenvolvendo desde 2001 uma reflexão que se transformou em uma proposta de projeto em parceria com a OPAS e o MS e que infelizmente não se materializou até o momento, sendo que gostaríamos de pautar este projeto em uma mesa de trabalho com o Ministério da Saúde e seus setores afins ao tema. 22. Sugerimos também a forma de materializar o enfrentamento promocional das urgências, como uma estratégia capaz de enfrentar as causalidades sociais em suas complexidades. Apontando como primeiro foco, deste tipo de enfoque, as causas externas ou traumatismos – intencionais ou não-intencionais, orientados por uma estratégia de envolvimento das comunidades e planejamento transetorial de ações em torno ao direito à segurança. Experiências locais já apontam sucesso neste tipo de enfoque, e um conjunto de experiências internacionais está agrupado como Rede de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida (Safe Communities) da OMS. A intenção da RBCE é a de termos 300 cidades ou comunidades protetoras da vida reconhecidas pela OMS nos próximos 10 anos e para isto organizamos uma Primeira Conferencia Brasileira de Cidades e Comunidades Protetoras da Vida em Porto Alegre em maio de 2005, estando a II Conferencia prevista para Recife em maio de 2006. Solicitamos um debate em profundidade desta alternativa no marco das políticas publicas do Ministério da 106 Saúde e no conjunto do Governo Federal, com a intenção de envolver governos estaduais e municipais alem da sociedade civil neste esforço. 23. Devemos melhorar nossa articulação política para que consigamos colocar definitivamente as urgências na agenda política do SUS, e a Saúde na agenda política do País. A Saúde como Direito. Esse congresso marca uma outra etapa, onde precisamos atuar na institucionalidade, mas devemos nos voltar, como nos primeiros cinco anos de atuação da RBCE, retornando às origens da discussão junto aos gestores locais e, acima de tudo, construindo fortes alianças com o controle social, para que possamos realmente impulsionar as questões ainda pendentes, na garantia da saúde como um direito e na defesa dos princípios que nortearam, em sua origem, a Reforma Sanitária Brasileira. Articular fortemente com o CONASS, CONASEMS e CNS propondo a criação de comissões de urgência nos Conselhos. 24. Utilizar as necessidades sociais como ponto de partida para a elaboração de planos de atenção às urgências. Como vamos interagir com as necessidades das pessoas para organizarmos nosso sistema? A necessidade entendida como um processo determinante da vida, cuja realização se constitui desta maneira como um direito humano inalienável, ao que deve acordar –se sob uma distribuição eqüitativa e segura, por parte de todos os membros da sociedade, que deve construir – se solidariamente para o máximo bem comum. 25. Reafirmamos o motivo de existência da RBCE – A construção e efetivação da política publica nacional de urgências. Nos sentimos comprometidos com a execução desta política que ajudamos de forma decisiva a construir. Por esta razão nos propomos a desenvolver os pontos de agenda dispostos acima, destacando a intenção de propiciar através de convenio da RBCE com o MS via OPAS, um conjunto de esforços que entendemos que o Ministério da Saúde isoladamente não teria condições de realizar – educação permanente dos trabalhadores e da população, apoio à elaboração dos planos de urgência, avaliação da implantação da política e dos sistemas de atenção às urgências, desenvolvimento dos observatórios sociais nas urgências e desenvolvimento de uma estratégia promocional para o enfrentamento das urgências. 107 V CONGRESSO DA REDE BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO EM EMERGÊNCIAS AUDITÓRIO DA ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DA SAÚDE – OPAS Setor de Embaixadas Norte, Lote 19. Programação Brasília – DF 1º DIA – 27 de Setembro de 2005: 08h30 – 10h00: Mesa de Abertura Oficial do Congresso: RBCE, MS, CNS, CONASS, CONASEMS. Apresentação de objetivos e dinâmicas de trabalho a serem utilizadas. Apresentação do Panorama dos desafios para a implantação da Política Nacional de Atenção às Urgências neste momento de construção do SUS na visão da RBCE – Dr. Armando De Negri Filho – Coordenador Geral da RBCE. 10h30 – 11h30: Palestra: Demandas x Ofertas nas Urgências; Organização da grade de ofertas nas urgências – redes, linhas de atenção (corredores por patologia) e hierarquias e ordenamento dos componentes de um sistema – Dr. Armando De Negri Filho (RBCE – Porto Alegre). 11h30 – 13h00: Mesa Redonda: A Atenção Básica e as Urgências – Dr. César Macedo (RBCE - Niterói), Dr. Berardo Augusto Nunan (Departamento de Atenção Básica – DAB do Ministério da Saúde), Dra. Flavia Kessler (RBCE – Porto Alegre) Debatedor: Dr. Ewerton Breyer (RBCE - Porto Alegre), 14h30 – 16h00: Mesa Redonda: A importância da estruturação das Unidades de Pronto Atendimento na configuração da rede de Atenção Integral às Urgências – Dra. Flavia Kessler (RBCE – Porto Alegre), Dr. Jose Renato Brito Machado (RBCE RN) e Dra. Irani Ribeiro de Moura (Coordenação Geral de Urgência e Emergência – CGUE do Ministério da Saúde). Debatedor: Dra. Zilda Barbosa (RBCE - Campinas). 108 16h30 – 18h00: Mesa Redonda: A Atenção às Urgências e a Rede Hospitalar: Hospitais Gerais? Hospitais de Urgência? Hospitais de Crônicos e Agudos? A Qualificação e a Humanização das portas de urgência hospitalares; Os pronto socorros e sua relação com a regulação médica das urgências e o restante do hospital – Dr. José Sebastião dos Santos (RBCE - Ribeirão Preto), Dr. Armando De Negri Filho (RBCE - Porto Alegre), Dra. Ericka França (QualiSUS – Secretaria de Atenção à Saúde – SAS do Ministério da Saúde). 2º DIA – 28 de setembro de 2005: 08h30 – 11h00: Mesa Redonda: Avanços e desafios na regulação das “Portas de Entrada” e “Portas de Saída” para a implementação de uma efetiva Atenção Integral às Urgências: A Regulação Médica das Urgências; O Complexo Regulador do acesso aos serviços do Sistema Único de Saúde e a Organização de Sistemas Regionais de Regulação – Dr. José Sebastião dos Santos (RBCE - Ribeirão Preto), Dra. Zilda Barbosa (RBCE - Campinas) Dr. Armando De Negri Filho (RBCE - Porto Alegre). 11h30 – 13h00: Mesa Redonda: O Financiamento da Atenção às Urgências. A visão dos gestores federal, estaduais e municipais – Dra. Zilda Barbosa (RBCE - Campinas), Dr. Francisco Monteiro (Conselho Nacional de Saúde – CNS) Dra. Márcia Uçullak (Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde - CONASS), Dr. Sílvio Fernandes da Silva (Presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde CONASEMS). Debatedora: Dra. Irani Ribeiro de Moura (Coordenação Geral de Urgência e Emergência – CGUE do Ministério da Saúde). 14h30 – 17h00: Mesa Redonda: SAMU, os desafios do momento e as recomendações para a implantação e qualificação da Atenção Pré-Hospitalar Móvel no Brasil. A visão dos serviços, da RBCE e do MS – Dr. Carlos Figueiredo (RBCE - Recife), Enf. Rosane Ciconet (RBCE - Porto Alegre), Dra. Irani Ribeiro de Moura (Coordenação Geral de Urgência e Emergência – CGUE do Ministério da Saúde). 17h30 – 19h30: Assembléia da RBCE para eleição de sua nova equipe de Coordenação e definição das Diretrizes Gerais de atuação da Rede para os próximos dois anos. 3º DIA – 29 de Setembro de 2005: 08h30 – 10h00: Mesa Redonda: A Gestão das Redes de Atenção Integral às Urgências, de seus Sistemas Regionais e o Gerenciamento de sua Qualidade – Dra. Iaracy Soares de Melo - SES Pernambuco, Dr. Jose Renato Brito Machado – RBCE Rio Grande do Norte. Debatedor: Dr. César Macedo (RBCE - Niterói). 10h30 – 12h00: Mesa Redonda: Gestão e Capacitação dos Trabalhadores das Urgências – Enf. Rosane Ciconet (RBCE - Porto Alegre), Dra. Selma Santiago (RBCE - RN), Representante da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde - SGTES do Ministério da Saúde. 13h30 – 15h00: 109 Mesa Redonda: Promoção da Qualidade de Vida e Saúde para o Enfrentamento das Urgências – As Cidades Protetoras da Vida e a Promoção da Segurança – Expositor: Dr. Armando De Negri Filho (RBCE – Porto Alegre). Comentaristas: Dr. Miguel Malo (Organização Pan Americana da Saúde - OPAS), Representante da Secretaria de Vigilância à Saúde – SVS do Ministério da Saúde. 15h30 – 18h00: Debate Final e Conclusão das Análises e Recomendações da RBCE. 18h00: Encerramento do Congresso. Dr. Julio Suarez (OPAS – Brasília) Dra. Irani Moura (MS – CGUE) Dr. Armando De Negri Filho e Dr. César Macedo RBCE PARTICIPANTES NO V CONGRESSO DA RBCE Brasília, 27 a 29 de setembro de 2005 – Auditório da OPAS Comissão Organizadora: Armando Antônio De Negri (Coordenador Geral) Zilda Barbosa César Roberto Braga Macedo Rosane Mortari Ciconet Ewerton Breyer Selma Santiago Membros: Sonia Lúcia dos Reis Alves Ministério das Cidades - Assessoria técnica José Mauro da Silva Rodrigues Secretaria Estadual de saúde – São Paulo - Coordenação de Urgência/ Emergência Olga Messias Alves de Oliveira SES-DF – HRAS - Médica César Augusto Soares Nitschke SES Santa Catarina - Coordenador estadual do SAMU Sandra de Lourdes Gomes Mendes Pinto Secretaria de Saúde do DF - Enfermeira 110 Yolanda Rufina Condorimay Tacsi Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - Enfermeira Adalgisa Borges Nogueira Nomura SES São Paulo - Coordenadora de Urgência e Emergência de São Paulo Gildenês Vilar da Silva Secretaria de Estado de Saúde de Alagoas - Enfermeira Daniela Moiana de Toledo Secretaria de Saúde do Distrito Federal - Chefe do Núcleo / DIESF Adauri Mendes Nunes Secretaria de Saúde do Distrito Federal - Diretor do SAMU 192 DF Gisele O’Dwyer de Oliveira Fundação Oswaldo Cruz - Médica - pesquisadora Clementina Corah Lucas Prado SES – DF - Coordenadora Geral de Gestão da regulação das Redes Assistenciais Juliana Ramos Mercon. SES – DF - Gerente de regulação Sérgio Parente Costa SAMU – Recife - Coordenação Epidemiologia Carlos Alberto Figueiredo SAMU – Recife - Diretor Médico Tânia Regina Motta Pessoa Camilo SMS – Itabira - Secretária Municipal Ronei Melo Barbosa Ministério da Saúde - Consultor Técnico CGUE José Fábio de Andrade Mendes Júnior Secretaria de Saúde DF – Hospital Regional Planaltina - Coordenador da Emergência Lauda Baptista B. Bezerra de Melo Ministério da saúde – SAS - Consultora Técnica Solange Gonçalves Belchior Conselho Nacional de Saúde / Conselheira Tutelar Mônica Mulatinho de Almeida SES – DF - Médica – Assessora Séc. Adjunta. Sérgio Antônio Schiefferdecker Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre Coordenador da Urgência/ Emergência - Diretor Adjunto do Hospital Pronto Socorro Ericka França Qualisus – Ministério da Saúde - Assessora da Coordenação do Qualisus Irani Ribeiro de Moura Ministério da Saúde - Coordenadora Geral de Urgência e Emergência Mário Sérgio Nunes Secretaria da Saúde do DF - Secretário Adjunto da Saúde 111 José Sebastião dos Santos FMRP-USP/HCFMRP-USP / SMS Ribeirão Preto - Secretário Municipal da Saúde / Docente FMRP - USP Berardo Augusto Nunan Ministério da Saúde - Assessor Técnico DAB / SAS Francisco das Chagas Dias Monteiro Conselho Nacional de Saúde - Conselheiro Mércia Gomes Oliveira de Carvalho Ministério da Saúde - Consultora - Qualisus Mércia Maria Santos Coutinho Secretaria Municipal de Saúde - Diretora de Regulação Paulo Henrique Ferreira Hospital de Pronto Socorro Mozart Geraldo Teixeira – Prefeitura Juiz de Fora Médico – Diretor Clínico e Técnico Roberta Abath Targino SAMU 192 – João Pessoa - Coordenação geral do SAMU Armando Antonio De Negri Filho IEP – Hospital Moinhos de Vento – Porto Alegre – Coordenação de Estratégias Promocionais Márcio Barreto SAMU Aracajú - Coordenador do SAMU Aracajú Zilda Barbosa SES SP, Ministério da Saúde - Médica sanitarista Ewerton Luiz Breyer Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre - Médico Rosane Mortari Ciconet SAMU 192 de Porto Alegre - Enfermeira Bárbara da Silva Cabral Furnas Centrais Elétricas - Assessora técnica de saúde – Enfermeira do trabalho João Batista de Moura Xavier de Moraes Júnior SAMU Recife - Médico Honório Justino Júnior Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco - Gerente Geral de Desenvolvimento Regional Carlos Alberto Lagos Secretaria de Saúde de Maringá – PR - Gerente de Atenção às Urgências e Emergências Iaracy Soares de Melo Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco - Coordenadora Estadual do SAMU Flávia Kessler Borges Hospital Moinhos de Vento – Porto Alegre - Médica Selma Santiago Nunes Secretaria Estadual de Saúde Pública - RN José Renato Brito Machado Secretaria Estadual de Saúde Pública – RN - Coordenador de Hospitais e Unidades de Referência 112 Clóvis Rodrigues França SAMU 192 Aracajú - Médico - Coordenador de Regulação Médica Isabel Cristina Venâncio Prefeitura de Juiz de Fora - Médico – Chefe de Departamento Internação Hospitalar / Coordenadora Geral do SAMU 192 Agenor Barbosa Lawall Prefeitura de Juiz de Fora -Secretaria Saúde, Saneamento e Desenvolvimento Ambiental - Secretário Saúde César Roberto Braga Macedo Fundo Municipal de Saúde de Niterói - Médico Sanitarista Sandra de Lourdes Gomes Mendes Pinto SES – DF - Enfermeira/ Conselho de Saúde DF 113 DOCUMENTO 7 CAMPANHA NACIONAL PELOS DIREITOS HUMANOS NA ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS Armando De Negri Setembro/2008 114 CAMPANHA NACIONAL PELOS DIREITOS HUMANOS NA ATENCAO AS URGENCIAS Agosto 2009 – Agosto 2010 • A RBCE – Rede Brasileira de Cooperação em Emergências, foi constituída em novembro de 1995 com o objetivo explicito de permitir que os trabalhadores das urgências médicas públicas do País pudessem manter um esforço articulado, capaz de influenciar a formulação nacional das políticas de atenção `as urgências médicas, acumulando e socializando conhecimentos e iniciativas e mantendo um espaço autônomo de formulação de propostas de políticas independente das alternâncias de espaços de governo, construindo portanto um espaço democrático e autônomo. • Este exercício participativo da RBCE conseguiu construir políticas publicas ao participar diretamente da formulação e implementação da política nacional de urgências medicas expressa nas Portarias Ministeriais da Saúde 2048/02 e 1863/03. • Entendemos que os serviços de urgências são o espelho do desempenho da complexidade do SUS e a sua sobrecarga, falta de qualidade ou humanização refletem problemas estruturais do SUS e da própria organização das urgências neste contexto e como tal devem ser tratados, exigindo uma resposta sustentada e adequada `a complexidade do problema. • Nesta perspectiva, a Plenária Final do VII Congresso Nacional da RBCE no dia 25 de outubro de 2007, em Natal – RN, deliberou pela organização de uma Campanha Nacional pelos Direitos Humanos na Atenção `as Urgências no País, apontando quatro eixos de luta: 1. pela desbanalização do sofrimento da população nos serviços de saúde, especialmente nas urgências, lutando pela constituição de respostas suficientes em quantidade e qualidade para todos e todas, observando as necessidades de forma integral e com equidade, pela eliminação das mortes evitáveis e seqüelas, sobre-morbidade e exposição a enfermidades e traumatismos, hoje negligenciados pelas políticas de Estado e por muitas gestões de saúde 2. pela profissionalização da gestão e da atenção `as urgências através de formação e habilitação, certificação profissional para a gestão e atenção `as urgências e a conquista de adequadas condições de trabalho, com 115 financiamento adequado e remuneração, carreira, com o objetivo de alcançar as condições ótimas de atendimento da população. 3. pela responsabilização dos gestores nas três esferas de governo e nos próprios serviços de urgências, pela naturalização das condições freqüentemente inaceitáveis de atenção aos pacientes nas urgências, a inexistência ou inoperância de uma regulação operacional do sistema que garanta resposta oportuna e suficiente (em atenção móvel, leitos e consultas / exames necessários) contra a recorrência de uma crise que deveria ser enfrentada de forma estrutural com medidas e resultados de curto e mediano prazo – estabelecimento de tipologias de serviços com a correspondente sustentação financeira - definir e financiar adequadamente os serviços de atenção de urgências. 4. pela instalação e atuação de comitês gestores participativos nos serviços de urgências com a participação paritária entre usuários e não-usuários e ouvidorias ativas / responsáveis de gestão clínica – SAMU, Pronto Atendimentos e Serviços de Urgência Hospitalares. A etapa até o lançamento corresponde ao esforço de construir alianças e acumular elementos de debate e propostas para alcançar os desafios que a própria campanha ira apontar, este processo preparatório inclui seminários e reuniões em vários estados e a instalação de um observatório nacional dos direitos humanos e a atenção `as urgências médicas, assim como de um processo nacional de certificação de qualidade dos serviços de urgências. Ao propormos esta iniciativa, desejamos que esta Campanha componha o marco central da presença do Brasil na Campanha Mundial pelo Direito `a Saúde e `a Atenção `a Saúde organizada e liderada pelo Movimento pela Saúde dos Povos – PHM e apoiada pelo Fórum Social Mundial da Saúde, conforme deliberação do II Fórum Social Mundial da Saúde em Nairobi janeiro de 2007. Como a Campanha Mundial procura construir-se a partir de agendas nacionais e sua projeção internacional, pensamos que esta luta não é apenas relevante para o avanço do SUS mas também ‘e uma forma de colocar em evidencia este tema negligenciado na agenda internacional pelo direito `a saúde. É fundamental que o controle social do SUS, que os usuários dos serviços de urgência e os profissionais das urgências, assumam uma postura reivindicativa sobre a implementação plena da Política Nacional de Atenção `as Urgências, desbanalizando o sofrimento dos cidadãos e cidadãs. Sobre as etapas desta Campanha de três anos: I Etapa • De setembro de 2008 a julho de 2009 - construção das alianças que desenvolverão a Campanha, consolidação do Centro de Estudos em Urgências, do Portal da Campanha, da Revista de Urgências e Saúde Publica e desenho de pesquisas que amparem as linhas de desenvolvimento da 116 mobilização. Reuniões nos Estados promoverão a busca de alianças com os conselhos de saúde e as associações de trabalhadores. • A etapa conclui com uma reunião plenária das organizações que se somem ao processo em agosto de 2009 com o lançamento do inicio do processo de mobilizações, de educação emancipadora e de iniciativas de advocacia em todas as regiões do Pais. II Etapa • De setembro de 2009 a dezembro de 2010 – se desenvolverão os processos de mobilização, educação e advocacia pelos direitos humanos nas urgências e a plena aplicação da Política Nacional de Atenção Integral as Urgências. III Etapa • A partir de janeiro de 2011 ate agosto de 2011 - reuniões estaduais e uma reunião nacional avaliarão os avanços obtidos e definirão as agendas estratégicas a seguir. 117 DOCUMENTO 8 TERMO DE COOPERAÇÃO ENTRE A RBCE E A SEMES Natal, 24 de octubre de 2007 Dr. Armando De Negri Filho Coordinador General de la RBCE 2007/2009 118 Dr. Luiz López-Andújar Aguiriano Responsable de la Secretaria de Acreditación, Calidad y Gestión Clínica de SEMES TÉRMINO DE COOPERACIÓN ENTRE LA RBCE Y SEMES La Red Brasilera de Cooperación en Emergencias – RBCE, representada por su Coordinador General 2007 – 2009, Dr. Armando De Negri Filho y la Sociedad Española de Medicina de Urgencias y Emergencias – SEMES, representada por el responsable de su Secretaria de Acreditación, Calidad y Gestión Clínica, Dr. Luiz López-Andújar Aguiriano, firman el presente termino de cooperación alrededor del tema de “Desarrollo e Implementación de la Calidad en la Atención a las Urgencias “. Objetos de Cooperación e Intercambio Técnico -el desarrollo de estándares de calidad aplicados a la atención a las urgencias; -el desarrollo y aplicación de indicadores de calidad; -la gestión clínica aplicada a las urgencias y emergencias; -la gestión de la calidad aplicada a las urgencias y emergencias; -el desarrollo de un sistema de acreditación, con métodos y procesos de acreditación para servicios de urgencias y emergencias, incluyendo: -la capacitación para evaluadores, para formar una cartera de evaluadores; -elaboración de manuales de acreditación. Modalidades de Cooperación e Intercambio -colaboración vía Internet, con intercambio de documentos de trabajo y bibliografía, desarrollo de teleconferencias; -actividades presénciales en Brasil y España, donde la modalidad de financiamiento hará con que los que se desplazan cubran sus gastos de transporte internacional y los anfitriones cubran los gastos de hospedaje y alimentación. 119 Planes de Trabajo -este convenio tiene tiempo indeterminado, pero será regido por planes anuales de trabajo flexibles, aprobados en común acuerdo entre los directivos de ambas organizaciones. Natal, 24 de octubre de 2007 Dr. Armando De Negri Filho Coordinador General de la RBCE 2007/2009 Dr. Luiz López-Andújar Aguiriano Responsable de la Secretaria de Acreditación, Calidad y Gestión Clínica de SEMES 120 DOCUMENTO 9 PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO CENTRO DE EDUCAÇÃO E PESQUISAS EM POLÍTICAS E SISTEMAS DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS – CEPPURG/RBCE Proposta de trabalho apresentada pela Plenária da RBCE Março/2006 121 PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO CENTRO DE EDUCAÇÃO E PESQUISAS EM POLÍTICAS E SISTEMAS DE ATENÇÃO `AS URGÊNCIAS - CEPPURG DA REDE BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO EM EMERGÊNCIAS – RBCE Durante a realização do Congresso Nacional da Rede SAMU 192 em marco de 2006, em Brasília, a RBCE reunida em plenária apontou três linhas de desenvolvimento estratégico para a Rede Brasileira, buscando fortalecer seu protagonismo social: 1. mobilizar-se pela garantia do direito `a atenção suficiente e qualificada `as urgências no Brasil, apostando em um Observatório Nacional da Atenção `as Urgências no Brasil, alimentando as lutas sociais e políticas para a conquista de esta política com universalidade, integralidade e equidade no âmbito do SUS e na SS; 2. apoiar a organização dos trabalhadores das urgências para a conquista das condições de trabalho, carreira e remuneração nas urgências e para sua profissionalização – apostando no estudo da condição desses trabalhadores e liderando processos de qualificação profissional e qualificação da gestão do trabalho; 3. para dar suporte e desenvolver o conhecimento nos vários campos conexos da política de urgências, decidimos ainda apostar na criação de um Centro de Educação e Pesquisas em Políticas e Sistemas de Atenção `as Urgências – CEPPURG, dedicado a desenvolver os processos de educação e de investigação que dão suporte aos dois objetivos anteriores e para aprimorar os campos analise de necessidades sociais nas urgências, de gestão, planejamento, programação e avaliação de sistemas, redes, linhas de atenção e hierarquias na atenção `as urgências, além do desenvolvimento das capacidades dos trabalhadores do setor e das estratégias para sua capacitação e desenvolvimento permanentes. Como conseqüência desta decisão de março, decidimos buscar parceiros, identificando um conjunto de membros da RBCE que desde espaços acadêmicos e de serviços se interessam em desenvolver o esforço de construção do CEPPURG . Nesta perspectiva nos aproximamos da Escola Nacional de Saúde Publica como uma parceria estratégica na qual vislumbramos a possibilidade de construir um curso de gestão de sistemas e serviços de urgência como parte dos cursos da Escola de Governo da ENSP/FIOCRUZ, começando com um curso presencial no Rio de Janeiro e depois multiplicando `a distancia em escala nacional o conteúdo, 122 combinando momentos presenciais em núcleos que montaríamos em cada região em aliança com instituições ou grupos associados ao CEPPURG. Este esforço pressuporia uma capacidade de ordenar e elaborar conceitos e métodos que ainda temos dispersos e o desenvolvimento de instrumentos que apoiariam os seguintes esforços de pesquisa: - - - - diagnostico da força de trabalho e condições de trabalho nas urgências – situação atual e perspectivas frente `as exigências da política; efetividade da capacitação e habilitação / certificação previstas na 2048, monitorando o perfil de qualidade da resposta aos usuários; diagnostico da situação de atenção `as urgências – implantação da política nacional em todos seus componentes usando como parâmetros de pesquisa avaliativa aqueles da 2048 e sucedâneos; estabelecimento da metodologia de monitoramento dos indicadores da atenção `as urgências para uso na rede de observatórios e no observatório nacional; avaliação da efetividade da regulação medica das urgências e da regulação dos outros componentes do complexo regulador, em particular verificar o tema da medicalização na APHM e a delegação de atos não médicos, efetividade da regulação, alem do tempo resposta e seus componentes; avaliação funcional da cobertura de PHM e sua performance no marco das relações com as portas hospitalares. Alem dessas linhas de pesquisa propostas inicialmente, esperamos que os fóruns deste dia 29/11 aportem temas para uma agenda de pesquisas e capacitações. Nesta reunião desejamos verificar ao interesse de membros da RBCE com espaços acadêmicos ou de serviço que possam contribuir a esta constituição em rede do CEPPURG, alem de constituir um grupo promotor do Centro e sua Direção. Finalmente a constituição do CEPPURG também almeja a edição de uma Revista Eletrônica dedicado ao tema das “Urgências e Saúde Publica” buscando construir a referencia das urgências no âmbito acadêmico e político da saúde. A constituição do Comitê Editorial da Revista também é tarefa desta reunião. 123