Ronco e apnéia do sono: como preveni

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Ronco e apnéia do sono: como preveni
Ronco e apnéia do sono: como preveni-los na infância.
Autor: Brian Palmer, DDS.
A apnéia obstrutiva do sono é um sério problema de saúde em nossa sociedade moderna. As conseqüências
médicas são importantes, os custos dos cuidados médicos são altos e as opções de tratamento são limitadas. O
melhor tratamento é a prevenção. O presente artigo trata desta última questão.
A informação que se encontra neste artigo não será
de ajuda para os que já apresentam a apnéia
obstrutiva do sono (AOS), mas ela poderá auxiliar
na prevenção desta condição nas futuras gerações.
(Fig. 1). Esta estreita proximidade pode ser a razão
das crianças serem menos propensas a morrer de
Síndrome da Morte Súbita durante o primeiro mês
de vida.
Qualquer pessoa que possua um índice de massa
corporal elevado (sobrepeso) e um pescoço largo
corre o risco de ter AOS. Outros fatores de riscos
pouco conhecidos incluem palato alto, arco dental
estreito e queixo retraído [1]. Estas características
associadas à cavidade oral não eram muito comuns
nos tempos pré-históricos e, por esta razão, a
população pré-histórica não apresentava uma
freqüência elevada de apnéia do sono como nos dias
atuais [2]. Qual é a diferença entre estas duas Eras
que poderia explicar o por quê deste maior risco da
AOS na sociedade atual? Uma diferença crucial
poderia ser que, nos tempos pré-históricos, o
aleitamento materno era a única opção para
alimentar e nutrir os recém-nascidos. Hoje, a
mamadeira é uma forma muito comumente utilizada
para alimentar os nossos recém-nascidos e lactentes.
O uso de chupetas também é uma prática muito
comum. Na atualidade, o uso das mamadeiras e das
chupetas poderia estar contribuindo para as
maloclusões de tal modo que colocariam os
humanos em risco de AOS? A resposta é: sim!
Fig. 1: Dissecação de cadáver fetal demonstrando a
estreita proximidade da epiglote e do palato mole.
Também se nota que a língua encontra-se em
posição avançada sobre o rebordo gengival inferior
e está completamente localizada dentro da cavidade
oral. Este relacionamento ajuda a prevenir que a
língua recue e obstrua as vias aéreas.
Antes de a epiglote iniciar naturalmente a descida
para a posição do adulto [6], o sistema neurológico
do recém-nascido tem tempo para desenvolver e
aprender como deglutir e respirar apropriadamente.
O inato movimento da língua durante a deglutição,
como uma onda peristáltica no sentido Anteroposterior, enquanto o recém-nascido está mamando
ao seio, forma o padrão peculiar da deglutição do
adulto (Fig. 2).
Os recém-nascidos são extraordinariamente
desenhados com a capacidade de respirar e engolir
imediatamente após o nascimento sem ter que
passar por um período de aprendizagem. A língua
do recém-nascido é mais avançada e a epiglote é
mais alta do que as suas contrapartes adultas [3,4,5].
A posição avançada da língua está desenhada para
que o bebê possa sugar ao seio imediatamente após
o nascimento. Esta estreita proximidade da epiglote
e do palato mole ajuda a separar as vias aéreas da
língua e, com isto, auxilia a prevenir que a língua
recue para o interior da via aérea e cause obstrução
Durante o aleitamento materno, a ação da língua
pode ajudar a influenciar a forma do palato,
tornando-o arredondado e plano. Durante a
alimentação por mamadeira, o uso de chupetas ou a
1
sucção digital, a língua não consegue alcançar o
palato. A altura e a largura do palato são
influenciadas pelo objeto que está colocado entre
este e a língua (Fig 3).
seres terrestres respiradores de ar [3]. Entretanto, a
descida da epiglote torna a respiração mais
complicada e potencialmente perigosa. Agora, o
terço posterior da língua converte-se na parede
anterior da orofaringe, o que permite que a língua
recue e obstrua as vias respiratórias.(Fig 4)
Fig. 2: Ilustra o movimento da língua em forma de
onda, no sentido antero-posterior, que ocorre
durante uma deglutição correta de um adulto.
Fig. 4: Dissecação de cadáver adulto. Notar que a
epiglote é bem separada do palato mole. O terço
distal (posterior) da língua torna-se, neste
momento, a parede anterior (frontal) da orofaringe.
Esta separação permite os humanos produzirem
maior variedade de sons do que todas os outros
seres terrestres respiradores de ar.
A mamadeira, o uso de chupetas e os hábitos orais
deletérios, tal como chupar o dedo, podem interferir
e alterar o correto movimento da língua durante a
deglutição e causar o que comumente se conhece
como protrusão da língua (deglutição atípica) (Fig
5).
Fig. 3: Ilustra como qualquer objeto diferente do
seio, ao ser colocado entre a língua e o céu da boca
(palato) e, sugado excessivamente, pode modificar
a forma do palato.
Existe também uma razão anatômica específica para
a posição elevada da epiglote. Esta posição elevada
ajuda a manter a língua fora da via aérea (Fig.1).
Durante os primeiros meses de desenvolvimento, a
língua se retrai para dentro da boca e a epiglote
torna-se mais baixa. A separação da epiglote e do
palato mole é o que permite os seres humanos
produzirem uma maior variedade de sons que outros
2
A mamadeira, o uso de chupetas, os hábitos orais
deletérios e a protrusão lingual podem, de fato, ter
um efeito negativo sobre a estrutura da cavidade
oral e impor forças anormais sobre os ossos e dentes
dentro desta (Fig 6). As maloclusões formadas
raramente desaparecerão por si mesmas.
Geralmente necessitam de tratamento ortodôntico e
reeducação da língua para deglutir adequadamente.
a língua para trás [10], possivelmente poderiam
causar uma separação prematura entre a epiglote e o
palato mole, reduzindo a função protetora da vias
aérea desta relação e aumentando o risco da
Síndrome da Morte Súbita Infantil. As Chupetas,
mamadeiras e hábitos deletérios podem alterar
definitivamente o padrão de deglutição, o qual pode
causar as maloclusões que exporiam os indivíduos
ao risco de desenvolvimento do ronco e da apnéia
obstrutiva do sono. A AOS tem conseqüências
médicas e comportamentais importantes, tanto para
os jovens como para os velhos, podendo ser fatal
como nos casos de ataques cardíacos e derrames.
A maioria dos consultores em aleitamento materno
sabem muito pouco a respeito da ASO e a maioria
dos especialistas em sono sabem muito pouco sobre
a importância do aleitamento materno. Espera-se
que este artigo possa auxiliar a ambas
especialidades a entenderem a importância de suas
respectivas áreas e que os pesquisadores comecem a
trabalhar conjuntamente para ajudar a entender e a
prevenir esta condição médica tão séria que é a
AOS. A prevenção é a melhor forma de tratamento.
O aleitamento materno dos nossos recém-nascidos e
a manutenção das chupetas fora da boca dos
lactentes são as melhores formas de prevenção.
Fig. 6: As várias forças anormais que podem ser
criadas durante a alimentação por mamadeira, uso
de chupetas, sucção digital excessiva ou outros
hábitos deletérios. Estas forças podem alterar a
forma da boca, dentes e arcos dentais
permanentemente.
Para aquelas crianças que não possam usufruir os
benefícios do aleitamento materno, é importante
monitorá-las atentamente e tratá-las precocemente
caso elas apresentem palatos altos, arcos estreitos
ou queixos / mandíbulas retraídos.
Estas forças criam palatos altos, arcos dentais
estreitos e queixo retraído, colocando os indivíduos
em risco de ter ronco e apnéia do sono. O maior
aumento do desenvolvimento crânio-facial ocorre
dentro dos primeiros quatro anos de vida e está 90%
completo aos doze anos de idade [9]. Por isso, o
tratamento e a prevenção são importantes durante os
primeiros anos de vida. A razão pela qual essas
características são fatores de risco para a AOS é que
elas invadem o espaço lingual e forçam a língua
para trás, para dentro da região da garganta, devido
à falta de espaço.
Como a mamadeira e a chupeta (ambas são bicos
artificiais de forma e tamanho similares) empurram
Conclusão: O aleitamento materno reduz o risco de
maloclusões (relações de mordida) que podem
expor um indivíduo ao risco de roncar e de AOS.
Como a AOS pode conduzir a vários problemas de
saúde, pode-se concluir que o aleitamento materno é
fundamental para a saúde futura de nossas crianças.
Referências:
1 - Kushida CA, Efron B, Guilleminault C. A predictive morphometric model for the obstructive sleep apnea
syndrome, Annals of Internal Medicine, Oct 15, 1997; 127(8):581-87.
3
2 – Palmer B. Sleep Apnea from an Anatomical, Anthropologic and Developmental Perspective. On Dr.
Palmer’s website at: http://www.brianpalmerdds.com/adsm.htm
3 - Crelin ES. Development of the Upper Respiratory System, Clinical Symposia 1976; Vol. 28, No 3. CIBA
Pharmaceutical Co, Summit, NJ.
4 - Crelin ES. The Human Vocal Tract: Anatomy, Function, Development, and Evolution 1987. Vantage Press
Inc., New York.
5 – Arens R, Marcus CL. Pathophysiology of Upper Airway Obstruction: a Developmental Perspective. Sleep
2004;27( 5) 997-1019.
6 - Sasaki CT, Levine PA, Laitman MP, Crelin ES. Postnatal Descent of the epiglottis in man, Arch Otolaryngol
March 1977; Vol.103:169-171.
7 - Palmer, B.The Significance of the Delivery System During Infant Feeding and Nurturing, ALCA News
April 1996; 7(1):26-29.
8 - Palmer, B. The Influence of Breastfeeding on the Development of the Oral Cavity:
A Commentary, J Human Lactation 1998; 14(2):93-98.
9 - Shepard, J. et al. Evaluation of the Upper Airway in Patients with OSA. Sleep 1991; 14(4):361-71.
10 - Gomes CF, et al. Surface electromyography of facial muscles during natural and artificial feeding of
infants. J Pediatr (Rio J) 2006 March-Apr;82(2):103-9.
Nota: Este tópico encontra-se mais aprofundado na apresentação do Dr. Palmer em seu website:
www.brianpalmerdds.com. Os artigos de autoria do Dr. Palmer também estão disponíveis e podem ser
baixados de sua website, na seção intitulada “Articles”. A website está disponível a qualquer pessoa do mundo
e a informação pode ser baixada gratuitamente sempre que for utilizada com propósitos educacionais.
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Dr. Brian Palmer é um cirurgião-dentista de Kansas City que tem realizado extensas
pesquisas sobre o desenvolvimento da cavidade oral e das vias aéreas, assim como a
importância do aleitamento materno e sua relação com a saúde plena. Mais informações
sobre suas pesquisas podem ser encontradas em seu website: www.brianpalmerdds.com
Referência deste artigo em Inglês:
Palmer B, Snoring and sleep apnea: how it can be prevented in childhood. das schlafmagazin
(www.dasschlafmagazin.de); issue no. 3 (Aug), 2005, p. 22-23.
Referência deste artigo em Alemão:
Palmer B. Schnarchen und Schlafapnoe: Vorbeugung im Kindesalter. das schlafmagazin
(www.dasschlafmagazin.de); Heft Nr.3, 2005, S.22-23.
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Permissão para reimprimir: O editor da “das schlafmagazin“ tem dado permissão para reimprimir o artigo
com a seguinte condição:
Deve-se declarar que o artigo foi originalmente publicado na Alemanha na “das schlafmagazin“ com o seguinte
título: Schnarchen und Schlafapnoe: Vorbeugung im Kindesalter.
Este artigo foi traduzido por: Manoel Antonio da Silva Ribeiro, MS. Pediatra - Neonatologista.
Nilza Margarete Eder Ribeiro, DDS. Odontopediatra.
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