o pensamento integralista no contexto brasileiro

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o pensamento integralista no contexto brasileiro
O PENSAMENTO INTEGRALISTA NO CONTEXTO BRASILEIRO:
ORIGEM E CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS
Ana Medeiros de Lima (Departamento de Pedagogia – UNICENTRO)
[email protected], Michelle Fernandes Lima (Orientadora)
[email protected]
Palavras-chave: fascismo, nazismo, integralismo, Plínio Salgado.
Resumo:
O presente trabalho é parte integrante de uma monografia intitulada O
Pensamento Integralista e a Concepção de Educação em Plínio Salgado e
aborda sinteticamente a origem do Integralismo, ideologia e principais
fundamentos do Movimento, nas décadas de 1920 e 1930. A fundamentação
teórica embasada em autores como: Salgado (1937), Coelho (2003), Silva
(2005), Araújo (1988) e Laclau (1978), Bertonha (2001), entre outros.
Introdução
Para esta pesquisa, buscamos um conhecimento mais aprofundado do
pensamento integralista. Pois é um tema que muito nos motiva e que, além
disso, faz parte da história do Brasil, particularmente, nas décadas de 20,
quando esse pensamento era ainda, um projeto ideológico de seu então
fundador Plínio Salgado.
Tratamos neste primeiro momento de investigar a origem e as
características do pensamento Integralista no Brasil, a partir do fascismo e
das suas concepções, estudadas e conhecidas por Plínio Salgado, antes da
instituição da Ação Integralista Brasileira.
Buscaremos, também, elementos para a compreensão das bases
teóricas e políticas do Integralismo, a partir de pesquisa bibliográfica em
obras do próprio Salgado (1937), Coelho (2003), Silva (2005), Araújo (1988)
e Laclau (1978), entre outros.
Nesse enfoque, num primeiro momento, buscaremos compreender a
origem do fascismo, na Europa e particularmente na Itália, enquanto
inspirador das idéias integralistas, para Plínio Salgado. E, em seguida,
buscaremos analisar as bases teóricas e políticas do Integralismo, no Brasil.
Materiais e Métodos
Para alcançar os objetivos propostos, a metodologia abrange pesquisa
bibliográfica que embasou este trabalho com alguns conceitos, ideologias
sobre o fascismo na Europa, a partir de sua origem na Itália, com Mussolini e
na Alemanha, com Hitler. Também, a ideologia, fundamentos e concepções
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dos ideólogos brasileiros, que inspiraram o maior líder e fundador do
Movimento Integralista no Brasil, Plínio Salgado.
Tal pesquisa está embasada em teóricos do tema, como o próprio
Salgado (1937), Silva (2005), Araújo (1988, Trindade (1974), Vasconcelos
(1979), Vizentini (1983) e Laclau (1978), entre outros.
Resultados e Discussões
Iniciamos este estudo, a partir de questionamentos a respeito da origem do
Movimento Integralista e seus conceitos e ideologias serem ou não
originários do fascismo. Essa questão torna-se a mola propulsora para a
presente pesquisa tornar-se realidade. Para tal, iniciamos por pesquisar o
que é o Fascismo, sua origem no continente Europeu e seus principais
fundamentos, para então confrontá-los com a ideologia Integralista e as
principais concepções e ideologias de seu fundador, Plínio Salgado.
Inicialmente, buscamos saber o que foi realmente o fascismo,
quando surgiu na Europa e Alemanha; sua grandiosidade, enquanto
movimento político de massas e a sua importância enquanto inspirador para
Plínio Salgado, maior líder do Integralismo brasileiro.
Silva (2005) define “fascismo” como sendo o conjunto de
movimentos e regimes de extrema direita, que dominou um grande número
de países europeus, desde o início dos anos 1920 até 1945.
À luz dos estudos de Silva (2005), o termo fascismo deriva de uma
antiga expressão latina, fascio, que denominava o feixe de varas carregado
pelos litores, na antiga Roma e com os quais se aplicava a justiça. Durante a
Revolução Francesa (1789), na Itália, tal símbolo foi utilizado, pelos
jacobinos1, como representação de liberdade e no Risorgimento, no século
XIX, como unidade nacional. Ao longo do século XX, na Itália, assumiu o
caráter de símbolo de ação política, valorizando a justiça e a igualdade. Foi
assim, por exemplo, com seu uso pelo movimento dos trabalhadores
sicilianos, entre 1893-94, ou com os intervencionistas de esquerda,
interessados na entrada da Itália, na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Neste século, é o símbolo de um movimento de extrema direita e foi
assumido pelo poeta Filippo Marinetti2 já em 1917, com um claro sentido
nacionalista e autoritário.
Conforme Silva (2005. p.117), o fascismo, para muitos, ficou
circunscrito ao nazismo (a variante alemã) e associado – o que é correto –
exclusivamente – o que não é correto – à história da Alemanha.
Percebemos em Trindade (1974) que a Ação Integralista Brasileira
(AIB) é um movimento político que se desenvolveu no Brasil durante a
1
Os jacobinos faziam parte de uma organização política, criada em 1789 na França durante
o processo da Revolução Francesa.
2
Escritor, poeta, editor, ideólogo, jornalista e ativista político italiano, iniciador do movimento
futurista
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década de 30. Fundada, oficialmente em 1932. Movimento este, que se
estendeu por todo o território brasileiro. Considerado um movimento de
classe média. Seu lema era: Deus, Pátria e Família, pela valorização que o
Movimento dava à nação, à religião e à família. A AIB considerava a
educação uma prioridade, posto que se criaram, na época, as escolas de
período integral, conforme ideais de Plínio Salgado, político, escritor e
ideólogo brasileiro, grande líder e fundador desse movimento, no Brasil.
Percebemos em Bertonha (2001), que a viagem de Salgado à Europa
deu-lhe oportunidade de meditar sobre a sua obra, sobre a política brasileira
e de ler boa parte da literatura política que circulava no continente, naquele
momento. Mais importante, porém, foi a sua passagem pela Itália, onde
conheceu de perto o fascismo, que o maravilhou e o estimulou a tentar criar
algo semelhante, no Brasil. Em 1932, finalmente, fundou a Sociedade de
Estudos Políticos, que foi um grupo de estudos sobre os problemas gerais
da nação.
Conforme Araújo (1988), desta associação, surgiu a Ação Integralista
Brasileira (AIB), fundada, oficialmente em 7 de outubro de 1932. A partir de
então, firmou-se como uma extensão do movimento constitucionalista. Entre
1932 e 1934 a AIB se organizou e se transformou em uma organização
semimilitar, com milícia armada, dirigida por Gustavo Barroso, em que
congressos e encontros se sucederam, com o intuito de divulgar o
movimento. O sucesso foi grande. O integralismo angariou centenas de
milhares de adeptos e se tornou o primeiro movimento político de massas,
no Brasil. O amor pela família e o culto pela Pátria e pelos intelectuais,
podemos encontrar no próprio Salgado:
Desde a escola primária e, posteriormente, nas férias do ginásio,
habituei-me, todas as noites, a sentar-me numa cadeira, com
perguntas engatilhadas, e a ouvir-lhe as respostas, que ele [o pai]
me dava passeando de um lado para outro da sala. Ouvi de seus
lábios as descrições das batalhas da guerra do Paraguai e do
Prata. Aos meus olhos perpassavam as figuras de Tamandaré e
de Barroso, de Caxias, de Osório, de Argolo, Falava-me dos
grandes vultos do Império: Paranhos, Cotegipe, Zacarias, Nabuco,
e tantos outros. (…) À minha mãe, mais versada em literatura do
que ele deixava as lições sobre os poetas e escritores. Ela trazia
de cor os versos de Gonçalves Dias, de Castro Alves, de
Fagundes Varela e de Casimiro, e não se limitava a recitá-los, pois
também me contava as biografias de tão ilustres brasileiros.
(SALGADO, 1934)
Nesse enfoque, Salgado racionalizava sua tarefa de chefe, em
função de sua personalidade de doutrinador, cumprindo esse duplo critério
que assegurava seu comando no plano doutrinário, mas que lhe tirava
poderes de decisão no plano da ação. Isso evidencia que o seu comando
era legitimado pela sua trajetória de intelectual, de homem de idéias.
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Segundo Trindade (1974), a imagem, de homem capaz de guiar as
massas rumo à revolução integralista, e estimulada pela propaganda da AIB,
transformou Salgado em verdadeiro herói dentro do movimento. Contudo,
apesar dessa imagem de herói, de salvador da pátria que os integralistas
edificaram de sua personalidade, ele insistia que a alavanca do movimento
deveria ser dada pela constituição de uma nação brasileira. O nacionalismo,
segundo o líder dos integralistas, era a verdadeira força que o Brasil
necessitava.
Conclusões
Sendo este trabalho parte de uma pesquisa monográfica, o trabalho
continua. Até aqui percebemos características comuns entre o fascismo e o
Integralismo, embora o próprio fundador, Plínio Salgado negasse o
fascismo,
afirmando, ser a AIB, apenas uma co-irmã do movimento europeu.
Percebemos em Salgado uma valorização aos intelectuais e à Pátria,
valorização essa que foi um dos marcos do movimento, cujo lema era Deus,
Pátria e Família.
Notamos, também, que o Movimento Integralista Brasileiro,
inicialmente AIB, nasceu da insatisfação do povo brasileiro com a situação
vivida no país, após República Velha. Plínio Salgado personificou seus
ideais num movimento semelhante ao fascismo de Mussolini, porém com
características próprias, conforme idéias dele e de alguns intelectuais que
fizeram parte do Movimento, do qual se tornou um herói. Essa carreira que o
fundador construiu, baseada mais em sua caminhada literária, visto que na
política, o mesmo não teve sucesso antes da instauração da AIB.
Referências
ARAÚJO, Ricardo Benzaquen de. IN: ZAHAR, Jorge. Totalitarismo e
Revolução. Rio de Janeiro, 1988.
BERTONHA, João Fábio. Observando o littorio do outro lado do Atlântico: a
opinião brasileira e o fascismo italiano, 1922-1943. Tempo – revista de
História, n. 9. p. 155 – O fascismo e os imigrantes italianos no Brasil. Porto
Alegre: Ed. da PUCRS, 2001.
SALGADO, Plínio. Sentimentais. In: Obras Completas, Editora das
Américas, 1954. Volume XX. p. 304-305.
SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Os fascismos. IN: REIS, Filho Daniel
Aarão; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O século XX: o tempo das
crises. Revoluções, fascismo e guerra. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira.
(cap. Os fascismos, p. 111 a 162).
TRINDADE, Hélgio. Integralismo. O fascismo brasileiro da década de 30.
Porto Alegre: DIFEL/UFRGS, 1974.
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