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Boletim Evoliano
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Editorial
A superação do Fascismo
Se no primeiro número do nosso Boletim (número 0) nos limitamos a apresentar de maneira sumária Julius Evola aos nossos leitores, recolhendo o trabalho que outros tinham já iniciado, neste
segundo número (número 1) decidimos começar a explorar de forma substancial o seu pensamento, apresentando aos nossos leitores textos até agora (tanto quanto sabemos) indisponíveis em português («O Fascismo e a Ideia Política Tradicional» e «Autodefesa»).
Apresentado frequentemente como um fanático nazi-fascista
pelos adversários (que nunca leram uma linha do que escreveu), e
como antifascista por “defensores” tíbios (especialistas em citações
truncadas e selectivas), a verdade, como quase sempre, é um
“pouco” mais complexa do que isso e desafia alguns preconceitos e
categorias ideológicas muito convenientes quando se trata de demonizar alguém, mas com muito pouca utilidade explicativa.
Não pretendemos ser nós a responder à questão sobre o fascismo (ou antifascismo) de Evola, e, de maneira mais geral, sobre a
relação entre a Tradição (ver o artigo “O que é a Tradição?”, na pág.
4) e o Fascismo. Pretendemos, isso sim, deixá-lo falar na primeira
pessoa e sem intermediários, apresentando por isso dois textos fundamentais para a compreensão do seu pensamento em relação ao
Fascismo: «O Fascismo e a Ideia Política Tradicional» e «Autodefesa».
Evola foi um tradicionalista, um intérprete da Tradição, e fascista
apenas na medida em que o Fascismo assumiu aspectos tradicionais. Ouçamo-lo: “Sejamos bastante claros a este respeito: contra os
detractores, os que mudam de opinião e as medíocres figuras
morais dos nossos tempos, nós não repudiamos o passado, antes
reconhecemos todo o valor que o período Fascista teve na história
italiana, bem como aquele que o período Nacional-Socialista teve na
da Alemanha. (…) Quem quer que, como nós, apoiando uma ordem
de ideias coincidente apenas em parte com o Fascismo (e o Nacional-Socialismo), tenha colaborado com estes movimentos apesar da
consciência precisa dos seus aspectos incompletos ou desviados, fêlo contando precisamente com a possibilidade de desenvolvimentos
futuros que esperançosamente os teriam eliminado. (…) Para lá do
“mito”, para lá da nostalgia, para lá do luto pelo grande homem, o
Fascismo pode ser usado como uma base apenas na medida em
que foi uma manifestação e re-assumpção da grande tradição política europeia, daquilo que agiu de maneira formativa no plano espiritual, político e social antes da Revolução Francesa” («O Fascismo e a
Ideia Política Tradicional», pág. 7).
Mais do que fascista ou antifascista, Evola foi “supra-fascista” e
grande parte dos seus esforços doutrinários foram precisamente no
sentido de proporcionar aos Homens que se mantêm de pé entre as
ruínas a possibilidade de superação do Fascismo.
ÍNDICE
Editorial
2
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3
Evola e o pós-fascismo
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O que é a Tradição?
4
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O Fascismo e a Ideia
Política Tradicional
7
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Os Fascismos e a
Tradição Primordial
16
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Autodefesa
19
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Ungern-Sternberg
25
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Tradição em rede
27
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FICHA TÉCNICA
Número 1
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2º quadrimestre 2007
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Publicação quadrimestral
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Internet:
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Contacto:
[email protected]
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Boletim Evoliano
Opinião
Evola e o pós-fascismo
Marcos Ghio
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Em concordância com o processo de globalização que hoje rege o
planeta, o prefixo pós tem sido o
termo utilizado para referir as distintas correntes de pensamento
próprias de tal etapa. Assim, se a
pós-modernidade significa viver
plenamente o moderno nos seus
efeitos, libertando-o de qualquer
estéril idealismo que interfira com
a sua expansão, as correntes pós
no plano do pensamento político
tentaram aplicar tais consequências no seu âmbito próprio.
Tal aconteceu especialmente
com as suas duas expressões antitéticas de esquerda e direita.
Assim, o pós-comunismo representa uma postura que renunciou para
sempre a teses conflituosas tais
como a luta de classes, a ditadura
do proletariado, etc., para se reduzir a um fenómeno light, gramsciano, limitado a meras reivindicações
sociais ou culturais que não são
outra coisa que uma via reformista
de adaptação ao “curso irreversível” do processo histórico e moderno. O mesmo é dizer, esvaziar tal
ideologia de todo o espírito revolucionário e anti-burguês que pudesse ter tido em algum momento.
Faltava que também o Fascismo vivesse a sua experiência pós,
isto é, que manifestasse plenamente aqueles veios modernos também presentes na sua doutrina, já
denunciados no seu tempo por
Julius Evola, nos seus escritos da
revista La Torre nos quais contrastava os dois espíritos que combatiam no seu seio, o burguês e o
legionário. O primeiro era apenas
uma simples adaptação ao sistema moderno vigente; em vez de o
corrigir ou rectificar, tentava tornarse parte do mesmo. Tal espírito
burguês e conformista foi o que se
viveu especialmente durante o primeiro Fascismo, conhecido como o
do Ventennio.
A guerra permitiu que esta primeira vertente abandonasse rapidamente o barco, passando-se
abertamente para o lado do inimigo e que, por contraste, o espírito
legionário se plasmasse na República Social Italiana, cujo significado é o da resistência heróica ante o
imparável avanço das forças do
caos soviético-americanas.
Mas o pós-fascismo, surgido
logo a seguir à queda do Muro de
Berlim e à “morte das ideologias”,
consiste hoje em repudiar esta última etapa e regressar de forma
aumentada ao espírito burguês
antes mencionado. Gianfranco Fini,
ex-líder do fascismo italiano no
século passado, hoje confesso aderente à ideologia pós, mostrou até
que limites pode chegar tal trabalho de esvaziamento doutrinário.
Logo depois de ter visitado
Israel, denunciado o Holocausto,
repudiado Mussolini e usado a
kipá, conseguiu alcançar o cargo
de Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Berlusconi. Um
dos seus primeiros actos de governo foi justamente viajar até ao país
a que devia o reconhecimento pelo
seu arrependimento e adesão à
ideologia pós. Ali teve a honra de
ser recebido por Sharon em pessoa. Grande foi a sua surpresa
perante as indicações recebidas
desta vez. Muito solto de corpo, o
Primeiro-Ministro indicou-lhe de forma peremptória que, se quiser continuar a ter o seu “apoio”, deve
impedir a difusão das doutrinas de
Julius Evola.
O chefe do sionismo compreendeu muito bem, seguramente devido à leitura incessante dos nossos
comunicados, que não existe pensamento mais contrastante com o
sistema hoje vigente no mundo do
que o formulado à luz de tal corpo
doutrinário. Talvez o seu compreensível medo se deva à possibilidade
de que, da mesma maneira que o
moderno só pode ser negado pelo
que lhe é superior e não pela sua
consequência mais sombria — o
fenómeno pós —, também o fascismo possa ser negado nas suas
facetas burguesas e conformistas
que o transformaram num fenómeno escasso e insuficiente. Tal como
disse Evola, somos supra-fascistas
e não pós-fascistas. Somos antimodernos e não pós-modernos.
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Doutrina
O que é a Tradição?
Julius Evola
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(tradução e notas de César Ranquetat Jr. —
[email protected])*
Há duas razões pelo qual hoje é
oportuno precisar o conceito de
Tradição em sua acepção particular, pelo qual se converteu muito
corrente usar tal termo com letra
maiúscula.
A primeira razão é o interesse
crescente que a ideia de Tradição
como ponto de referência suscitou
e continua suscitando nos ambientes de cultura e contestação de
direita, em especial entre os pertencentes à nova geração.
A segunda razão se refere ao
facto que, ao mesmo tempo, e se
pode dizer que justamente por
haver se constatado tal interesse,
se formularam intentos de sustentar uma interpretação caduca e
tíbia do conceito de Tradição, quase para suplantar o originário e
integral e substituí-lo com um conteúdo menos comprometido e
mais acomodado, de modo tal de
permitir a continuidade das routines de uma mentalidade em grande medida conformista. Se poderia
falar, a tal respeito, usando um termo francês, de uma escamotage.
E é assim como aconteceu, por
exemplo, o distanciamento de certas pessoas, que atraídas em um
primeiro momento pelo conceito
de Tradição, terminarão aderindo a
um “tradicionalismo católico”(1).
Acerca do sentido interno de tal
distanciamento são bastante significativas as palavras expressadas
por um escritor expoente desta
direcção, em uma entrevista concedida por ele a Gianfranco de Turris.
O escritor em questão reconheceu
que da mesma maneira que outros
de sua geração e das sucessivas,
em um primeiro momento se interessou pela ideia tradicional, especialmente pelas suas aplicações
políticas, mas logo distanciou-se
sentindo que as coisas aconteciam
como em uma “sã cura de helioterapia”, havia que “retirar-se do sol
antes de ser queimado”.
Evidentemente este não é senão um modo elegante para dizer
que não se suportava a força de
certas ideias formuladas sem atenuações, daí então o distanciamento e a adesão ao “tradicionalismo
católico”. Um caso importante é o
constituído por um livro, editado
por Bompinani que se intitula: “O
que é a Tradição?” Aparte do facto
de que não se trata de uma exposição sistemática, senão de um grupo de ensaios que muitas vezes
tem pouco que ver com o tema, o
autor dá novamente uma versão
tíbia da Tradição, com visíveis preocupações de carácter religioso e
moralizante, o alarde expressado
através de citações múltiplas de
uma cultura variada vale mais para
confundir que para esclarecer,
dada a falta de um rigoroso quadro
sistemático. É bastante visível que
este livro foi justamente escrito em
relação ao mencionado crescente
interesse pela ideia de Tradição. Há
um aspecto que merece ser assinalado, o autor do livro em questão,
que pretende dizer o que é ou que
seria a Tradição, por certo não
sonhou jamais de aproximar-se a
tal ordem de ideias até não faz
muito tempo quando andava junto
com Moravia e com outros expoentes da intelectualidade esquerdista
italiana. Ele ignora que o conceito
integral de Tradição havia sido já
formulado nos anos 20 por René
Guénon(2) e seu grupo, e depois em
nossa obra Revolta contra o Mundo
Moderno, editada em 1934 na Itália e em 1935 na Alemanha, a primeira parte desta obra se intitula
justamente “O mundo da Tradição”. O autor aludido cita apenas
um par de vezes a contribuição da
corrente guenoniana, entretanto
ignora sistematicamente a nossa.
Lamentavelmente ele dispõe de
um círculo bastante vasto de leitores, pelo qual sua tíbia apresentação do que seria a Tradição resulta
sumamente perniciosa.
O autor em questão se perde
em uma discussão quase teológico-escolástica quando afirma que a
“tradição por excelência é a transmissão do conhecimento do objecto óptimo e máximo, o conhecimento do ser perfeitíssimo”. Isto
poderá valer no campo contemplativo-religioso, e só com referência
ao mesmo se pode dizer que a Tradição “se concreta em um conjunto
de meios: sacramentos, símbolos,
ritos, definições discursivas cujo
* O texto a seguir escrito por Julius Evola, compõe um capítulo de uma de suas últimas obras “O Arco e a Clava” (1968). O
pensador italiano procura explicar a ideia de Tradição desvinculando esta de qualquer forma de tradicionalismo. Para Evola,
a Tradição possui um conteúdo meta-histórico e supra-temporal. O autor analisa ainda o chamado método tradicional e o
papel das elites na transmissão do conhecimento tradicional.
1. Para Evola a ideia de Tradição é algo mais vasto e universal que o catolicismo. Em sua obra “Os homens e as ruínas” afirma: “Deve, pois permanecer firma a ideia de que ser tradicional e ser católico não é a mesma coisa. Não só isto, por mais
que possa parecer paradoxal a alguns, quem é tradicional sendo só católico em sentido corrente e confessional, não é tradicional senão pela metade do caminho. Repetimos: o verdadeiro espírito tradicional é uma categoria muito mais vasta que
todo que é simplesmente católico.”
2. Para Guénon, tudo o que é de ordem tradicional tem uma relação com algo que é de origem supra-humana. A Tradição
possui uma origem divina e não se confunde com mero costume ou hábito.
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fim é o de desenvolver no homem
aquela parte, faculdade, potência
ou vocação, que lhe coloca em contacto com o máximo do ser que lhe
seja consentido, colocando-o por
cima de suas constituições corpórea ou psíquica, o espírito ou intuição intelectual”. Se nestes termos
é reconhecida a definição de uma
hierarquia “entre os seres relativos
e históricos, fundada em seu grau
de distanciamento a respeito da
ideia do puro ser”, é evidente que
aqui se fixa em esfera abstracta, e
isso se confirma pelo fato que o
autor em tela alimenta uma
espécie de rechaço pelas formas de realidade política,
por tanto também por
tudo o que é Estado, hierarquia política e imperium, em conformidade
com certas concepções
espiritualistas cristãs (co
mo aparece claro também no “tradicionalista”
Leopold Ziegler). É um
facto que a Tradição se
manifesta em sua plena
potência formativa e animadora justamente no domínio
da organização político-social,
para conferir à mesma um significado e uma legitimação superior.
Como um exemplo importante que
persistiu até à época moderna se
pode indicar o Japão(3).
Podem-se distinguir dois aspectos da Tradição, um referido à metafísica da história e a uma morfologia das civilizações, o segundo a
uma interpretação “esotérica”, ou
seja, de acordo com a dimensão
em profundidade do diferente material tradicional.
Sabe-se que o termo tradição
vem do latim tradere, ou seja,
transmitir. Assim o mesmo tem um
conteúdo indeterminado, pelo qual
se observa seu uso nos contextos
mais variados e profanos. “Tradicionalismo” pode significar conformismo, e acerca disso Cherterton disse
que a tradição é a “democracia dos
mortos”, assim como na democracia a maioria se conforma à opinião de uma maioria de contemporâneos, do mesmo modo acontece
no tradicionalismo conformista o
qual segue a da maioria daqueles
que viveram antes de nós. Quiçá
poucos saibam que o termo Kabbala tem literalmente o sentido de
tradição, mas aqui é em relação
com a transmissão de um conheci-
mento
metafísico e da interpretação “esotérica”
da correspondente tradição, pelo
qual nos aproximamos acerca daquilo do que é a Tradição.
No que se refere ao domínio histórico, a Tradição vincula-se àquilo
que poderia denominar-se como
uma transcendência imanente. Trata-se de uma ideia recorrente de
que uma força do alto actuou em
uma ou outra área ou em um ou
outro ciclo histórico, de modo que
valores espirituais e supraindividuais constituíram o eixo e o supremo ponto de referência para a
organização geral, a formação e a
justificação de toda realidade e
actividade subordinada e simplesmente humana. Esta força do alto
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é uma presença que se transmite,
e esta transmissão de dita força,
que se encontra por cima das
meras contingências históricas,
constituía justamente a Tradição.
Normalmente a Tradição tomada
neste sentido é levada por quem se
encontra no vértice das correspondentes hierarquias, ou por uma elite, e em suas formas mais originárias e completas não há um separação entre o poder temporal e
autoridade espiritual(4), sendo a
segunda, em matéria de princípios,
o fundamento, a legitimação e o
crisma da primeira. Como
exemplo característico se
pode citar a concepção
extremo-oriental do soberano como “terceira força
entre o céu e a terra”,
concepção que se reencontra na realeza nipónica cuja tradição persiste
até hoje.
No aspecto aqui indicado
de uma “transcendência
imanente”, o tradere, a
transmissão se refere não a
algo abstracto e contemplativo, mas a uma energia que por
ser invisível não é menos real.
Aos chefes e a uma elite cabe a
tarefa de transmissão dentro de
determinados marcos institucionais, variáveis, mas homologáveis
em sua finalidade. É bastante evidente que a mesma está mais
garantida se pode ser paralela a
uma continuidade de estirpe ou
sangue tutelada por normas rigorosas. De facto, quando a cadeia de
transmissão se interrompe, é
sumamente difícil restabelecê-la.
Nesta perspectiva a Tradição é a
antítese de tudo o que é democracia, igualitarismo, primazia da
sociedade sobre o Estado, poder
que vem de baixo e coisas similares.
Para o segundo aspecto da Tradição, é necessário remeter-se ao
plano doutrinário, e aqui o ponto de
referência e o que pode denomi-
3. Para o pensador italiano o Japão era até à II Guerra Mundial um exemplo claro de harmonia entre desenvolvimento técnico e manutenção do espírito tradicional.
4. Segundo Evola, em tempos primordiais, na “Idade de Ouro” não havia a distinção entre poder temporal e autoridade espiritual. O detentor do poder político era também uma autoridade espiritual, a figura da realeza sacerdotal exprime esta ideia.
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nar-se a unidade transcendente e
oculta das diferenças tradições(5).
Pode tratar-se de tradições de tipo
religioso, mas também de outro
género, tais como sapiênciais ou
de mistérios. Aquilo que foi chamado de “método tradicional” consiste
em descobrir uma unidade ou correspondência essencial de símbolos, de formas, de mitos, de dogmas, de disciplinas, mais além das
expressões múltiplas que os correspondentes conteúdos de significado podem assumir nas diferentes
tradições históricas. Tal unidade
pode resultar a partir de uma penetração em profundidade do diferente material tradicional: indagação
— isto deve ser destacado — que
deve ser distinta das investigações
da denominada ciência comparada
das religiões universais, a qual se
atém à superfície e tem um carácter empírico e não metafísico. A
faculdade requerida, é aquela que
se pode denominar como “intuição
intelectual ou espiritual”, intuitio
intellectualis(6). Só a possessão
desta rara capacidade intelectual
pode dar o sentido da medida e
prevenir o que se poderia denominar a “superstição da Tradição”.
Com efeito, há pessoas que se
entregam à fantasia e que descobrem em tudo conteúdos tradicionais, ainda quando os mesmos são
imaginários ou se trata de contextos espúrios e primitivos. É o análogo do chamado “delírio interpretativo” dos freudianos, os quais querem ver em tudo a acção dos complexos sexuais.
A origem das formas tradicionais é um problema complexo. No
que diz respeito ao primeiro dos
aspectos aqui aludido, ou seja, o
aspecto histórico é muitas vezes
formulada a ideia de uma tradição
primordial, da qual derivaram as
sucessivas e particulares tradições.
Mas se permanecemos no plano
histórico, este conceito deve ser
articulado. A hipótese de uma tradição primordial hiperbórea e nórdico-ocidental no que se refere ao
grupo de civilizações tradicionais
da área indo-europeia, não se pode
fazer demasiado uso no que concerne, por exemplo, às formas tradicionais extremo-orientais, as
quais devem remeter-se a um diferente tronco de origem. Mas aqui
pode impor-se o ponto de vista a
seguir para o segundo aspecto do
problema, que é a explicação de
concordâncias e de correspondências essenciais de conteúdos tradi-
“
A introdução da ideia
de tradição vale para
libertar toda tradição
particular de seu isolamento, remetendo o princípio gerador da mesma e de
seus conteúdos essenciais a
um contexto mais vasto, em
termos que são de uma efectiva integração.”
cionais. É simplista e em parte
supersticiosa a ideia de personagens “iniciados” e similares, que
nos vários casos operaram conscientemente na origem de toda tradição. Ainda se a ideia quiçá não
pode ser aceita por todos sem dificuldade, igualmente muitas vezes
se deve pensar em influências(7)
por assim dizer, que intervêm na
história e nos desenvolvimentos
das tradições por detrás dos bastidores, sem que os representantes
das mesmas se dêem conta.
Há casos também de um “voltar
a brotar” de uma única influência
com notáveis distâncias de espaço
e tempo, portanto, sem uma transmissão materialmente relevante,
quase como um redemoinho que
desaparece em um determinado
ponto da corrente de um rio para
voltar a formar-se em outro ponto.
É o que se deve pensar em muitos
casos de correspondências tradicionais, em elementos particulares,
mas também nas estruturas de
conjunto de determinadas civilizações, as linhas de vinculação com
a superfície são inexistentes, algo
imponderável entra em jogo servindo-se ao máximo de elementos de
sustentação. Por exemplo, a génese da antiga romanidade, em tudo
aquilo onde esta reproduz formas
variadas da tradição primordial
indo-europeia, pode ser visto sob
este aspecto. Enfim, se deve considerar o caso de que a influência
em questão actue sucessivamente,
ou seja, no desenvolvimento posterior como tradição de uma matéria
originária, transformando-a, enriquecendo-a e também a rectificando. Em certa medida, isto parece
ter acontecido na formação da tradição católica a partir da matéria
proporcionada pelo cristianismo
primitivo.
A introdução da ideia de tradição vale para libertar toda tradição
particular de seu isolamento, remetendo o princípio gerador da mesma e de seus conteúdos essenciais
a um contexto mais vasto, em termos que são de uma efectiva integração. Para desdenhá-la se encontram tão só eventuais pretensões
de exclusivismo sectário(8) e de privilégio. Reconhecemos que isto
pode molestar e criar certa desorientação em quem se sentia muito
seguro em uma determinada área
restringida. Entretanto, para outros,
a concepção tradicional abrirá horizontes, infundindo uma superior
segurança, com a condição de não
confundir o jogo, como no caso
daqueles “tradicionalistas” que
colocaram a mão na Tradição só
por uma espécie de condimento
para a própria tradição particular
reafirmada em todas suas limitações e em todo seu exclusivismo.
5. Conceito criado por Frithjof Schuon.
6. Termo usado pela escolástica medieval. A intuição intelectual não se confunde com a intuição sensível e com a razão.
7. Esta ideia de Evola concorda com sua concepção tridimensional da história. Para este autor além das dimensões de
superfície, que compreendem as causas, os factos e os dirigentes visíveis, o devir histórico possui também uma dimensão
profunda, subterrânea em que agem forças e influências decisivas de origem não humana e que actuam de forma subtil.
8. Característico de todas as formas de tradicionalismos e fundamentalismos.
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Doutrina
O Fascismo e a Ideia
Política Tradicional
Julius Evola*
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É bem sabido que “neofascista” é a palavra agora utilizada, tanto pelos meios democráticos como comunistas, para designar aqueles que, em Itália e
noutros locais, se mantêm
de pé e no combate por
uma ideia política mais
elevada. Além disso, e
de certa maneira,
esta designação foi
aceite por estes
próprios
grupos.
Foi assim criada
uma situação não
desprovida
de
equívocos e perigos que frequentemente joga a favor
do adversário. Daí,
entre outras coisas, o facto de se falar, de maneira
obviamente pejorativa, de “nostalgias”.
De facto, o papel desempenhado, entre
as forças que acabamos de mencionar,
pelo que se pode chamar de mitologização é óbvio: o Fascismo e Mussolini foram transformados num mito, e aquilo
que é focado, de maneira geral, é uma
realidade historicamente condicionada
bem como o homem que foi o seu centro, ao invés de uma ideia que pode ser
válida em si e por si, independentemente destes condicionalismos, uma ideia,
portanto, que não pode ser confinada ao
passado como objecto de “nostalgia”
mais ou menos néscia, mas que pelo
contrário continua hoje bem definida e
retém todo o seu significado.
Sejamos bastante claros a este respeito: contra os detractores, os que mudam de opinião e as medíocres figuras
morais dos nossos tempos, nós não repu-
diamos o passado, antes reconhecemos
todo o valor que o período Fascista teve
na história italiana, bem como aquele
que o período Nacional-Socialista teve na
da Alemanha. No entanto, Mussolini não
pode ser ressuscitado, nem podem ser
restauradas as premissas gerais que tornaram possível o advento do Fascismo
histórico e o seu desenvolvimento. Temos de tornar claro que não nos podemos contentar com este penoso reconhecimento, e que meras nostalgias e mitologizações não nos servirão no cumprimento das tarefas que somos hoje chamados a assumir.
Como dissemos, é necessário não dar
armas aos adversários. O que caracteriza
sempre a “mitologização” é a “idealização”, ou seja, a acentuação do positivo e
a eliminação do negativo relativamente
ao objecto. Quem quer que, ao contrário
dos “neofascistas” da nova geração,
tenha vivido durante o Fascismo e, portanto, tenha tido experiência directa dos
homens e do sistema, sabe que nem
tudo foi ideal. Enquanto o Fascismo existiu, e uma vez que era um movimento de
reconstrução em marcha e com possibilidades ainda não esgotadas, não era correcto criticá-lo para além de um determinado ponto. Quem quer que, como nós,
apoiando uma ordem de ideias coincidente apenas em parte com o Fascismo
(e o Nacional-Socialismo), tenha colaborado com estes movimentos apesar da
consciência precisa dos seus aspectos
incompletos ou desviados, fê-lo contando
precisamente com a possibilidade de
desenvolvimentos futuros que esperançosamente os teriam eliminado.
Mas agora que o Fascismo se encontra ultrapassado enquanto realidade histórica, a nossa atitude já não pode ser a
mesma. Em vez da “idealização” própria
do “mito”, torna-se necessário um traba-
* Este texto foi traduzido a partir de uma versão em inglês. O editor tem consciência dos riscos inerentes a uma tradução em
“segunda-mão”, mas, entre uma tradução em “segunda-mão” e tradução nenhuma, a escolha torna-se óbvia. Qualquer
imprecisão ou atabalhoamento do texto fica a dever-se ao tradutor e nunca ao autor do texto.
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lho de diferenciação: para distinguir o positivo do negativo, para
reassumir, para desenvolver adequadamente e afirmar apenas o
positivo.
Por outro lado, portanto, os epítetos “fascista” e “neofascista” não
devem ser adoptados indiscriminadamente. Devemos apoiar e identificar-nos apenas com o que o Fascismo teve de positivo, e não com
aquilo que o não foi. Só desta
maneira poderemos evitar ser facilmente manobrados pelos adversários, que consideram naturalmente
conveniente, por meio de um processo oposto ao da “idealização”,
construir um mito oposto do Fascismo, sublinhado apenas os seus
aspectos problemáticos de forma a
denegrir e lançar o opróbrio sobre a
sua totalidade. Este processo, notemos de passagem, porque não nos
preocupa aqui directamente, foi
aplicado ainda com maior sucesso
na Alemanha do que na Itália: é incrível como a jovem geração alemã
tem seguido da forma mais passiva aqueles que lhe apresentam a
totalidade do Nacional-Socialismo
como um conjunto de horrores e
aberrações, dando a tudo o mesmo
valor, visto que, no caso alemão, a
mencionada diferenciação, devido
às relações do nazismo com uma
tradição política que lhe era superior e anterior, deveria ter sido muito mais fácil do que em Itália.
Além disso, e para lá dos seus
atributos negativos e positivos claramente identificáveis, e devido ao
seu carácter de movimentos de
restauração ou reconstrução ainda
em marcha que acabamos de mencionar, estas correntes nacionais
continham várias possibilidades e
tendências pouco diferenciadas, e
apenas o futuro poderia mostrar
quais teriam prevalecido, se a
catástrofe militar e o enfraquecimento dos povos não tivesse travado este processo. A unidade geral
em Itália e na Alemanha não excluiu tensões de alguma importância no seio dos seus sistemas. Isto
demonstra a ilegitimidade da “mitologização” e a necessidade de
selectividade: o Fascismo não pode
ser aceite indiferentemente, como
um todo. Temos de saber claramente de que é que nos estamos a
declarar partidários, de entre as
várias possibilidades que o Fascismo, como qualquer movimento
análogo do passado, continha duma maneira ainda indiferenciada.
Além disso, se pensarmos nos dois
Fascismos, no do Ventennio e no
da República Social, unidos, certamente, por uma continuidade de fé
e combattentismo(1), mas muito
diferentes em termos de doutrina
política devido à força fatal das circunstâncias, a necessidade de escolha tornar-se-á ainda mais óbvia,
bem como o facto de que o “mito”
apenas leva a mal-entendidos e
perigosas confusões.
Uma última consideração, mais
importante de que todas as que
acabamos de expor: aqueles que
pretendem hoje travar a boa luta
não devem dar a impressão de que
são como os que tendo nascido
depois dos eventos que idealizam,
e portanto sem experiência directa
deles, consideram que apenas o
passado contém a verdade absoluta. Aqui, tanto o perigo do “mito”
como os equívocos dos que falam
de ânimo leve do “fascismo” e não
têm qualquer problema em ser
chamados pura e simplesmente
“fascistas” torna-se claro. Existe,
basicamente, uma diferença fundamental entre aqueles que têm o
Fascismo (ou o Nacional-Socialismo no caso alemão, ou movimentos semelhantes como a Falange
Espanhola ou o Rexismo belga)
como o seu único ponto de referência, fazendo o seu horizonte político e doutrinal começar e acabar
nele, e os que, pelo contrário, consideram esses movimentos como
formas particulares nas quais
ideias e princípios de uma tradição
prévia se re-manifestaram e actuaram. Estes últimos aceitam estes
movimentos não como bases em si
mesmos e por si mesmos ou meramente em termos do que tiveram
de original e “revolucionário” em
sentido estrito, mas pelo contrário
na medida em que encarnaram
estas ideias e estes princípios à
sua própria maneira específica,
mais ou menos imperfeitamente,
adaptando-os a circunstâncias diferentes. Assumir esta segunda atitude significa, obviamente, não só
reconhecer ainda mais a necessidade da supracitada diferenciação,
mas também declarar-se a favor
da direcção precisa em que ela
deve ser feita. Isto poderia consti-
1. Espírito de irmandade e solidariedade que ligava os ex-combatentes italianos após a tragédia da I Guerra Mundial
(“combattentistico” é o adjectivo de “combattentismo”). [N. do T.]
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tuir o teste fundamental de vocações. Um grande espírito do século
passado, o estadista católico e
espanhol Donoso Cortès, falou dos
tempos que se aproximavam da
Europa como tempos “das negações absolutas e das asserções
soberanas”. Esses tempos chegaram.
Um radicalismo de direita
tem de se opor ao radicalismo
de esquerda. Mas, mais do
que isso, não pode haver hesitações sobre o sentido da diferenciação que mencionamos:
para lá do “mito”, para lá da
nostalgia, para lá do luto pelo
grande homem, o Fascismo
pode ser usado como uma base apenas na medida em que
foi uma manifestação e reassumpção da grande tradição
política europeia, daquilo que
agiu de maneira formativa no
plano espiritual, político e social antes da Revolução Francesa, antes do advento do Terceiro Estado e do mundo das
massas, antes da burguesia e
a Revolução Industrial e todas
as suas consequências e o
conjunto de acções e reacções
congruentes que levaram a Europa
à sua actual prostração, a tudo o
que ameaça a destruição definitiva
do pouco que ainda resta da civilização europeia e da raça branca.
A tarefa histórica dos homens
competentes actualmente seria
assumir como ponto de partida os
elementos dessa herança que se
manifestaram de novo no Fascismo, e completá-los de maneira a
libertá-los das inflexões desviantes
ou mesmo pervertidas que se associaram a eles e que eram em alguma medida os efeitos do mal que
combatiam. Infelizmente, no entanto, não vimos ainda sequer o início
deste processo. Se, entre aqueles
que se mantêm de pé, existe uma
certa unanimidade sobre o que deve ser negado e combatido, a contraparte positiva é fraca e efémera,
e o radicalismo de uma ideia correctamente formulada e consistentemente desenvolvida é ainda inexistente. Durante todos estes anos
do pós-guerra, exceptuando as ma-
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Boletim Evoliano
problema, seria frívolo fingirmos
que o podemos resolver, neste plano, com o que é possível num curto
ensaio. O que se segue deve ser
portanto considerado como um
simples esboço, limitado a uns
poucos pontos essenciais, necessitando, portanto, de ser completado
por uma muito mais vasta,
mais detalhada e documentada exposição(3). Aqui, apresentamos um mero excursus, destinado a fixar algumas ideias
fundamentais presentes no
Fascismo que podem ser
melhoradas de um ponto de
vista superior, tradicional, e
que, uma vez separadas do
resto e desenvolvidas, podem
ser usadas como o fundamento de um verdadeiro radicalismo de direita(4).
Ideia do Estado
nifestações lealistas ou nostálgicas
e as actividades de vagos partidos
políticos oposicionistas que demonstram muito fraca unidade
interna — em Itália, o MSI(2) é tão
fragmentado como os partidos
monarquistas — nenhum livro —
nem um! — foi publicado que, deixando de lado os mitos do homem
e do sistema, se tenha preocupado
em dar, em termos de uma doutrina política clara e de uma doutrina
geral do Estado anti-democrático e
anti-socialista, sãos pontos de referência. É este o vacuum ainda hoje
existente do lado dos grupos “nacionais”, não importa quão bem
intencionados.
Tendo explicado a gravidade do
A origem do Fascismo encontra-se numa reacção, alimentada principalmente pelo elemento combattentista, contra
a crise que era essencialmente a crise da própria ideia de
Estado — da autoridade e do
Imperium. A Itália encontrava-se
então sob a influência das infelizes
ideologias do período do Risorgimento. Apresentava-se como um
Estado secular, onde a influência
maçónica era poderosa, com um
governo liberal medíocre e uma
Monarquia enfraquecida, isto é,
parlamentar e constitucional; como
um Estado que, no todo, era desprovido de um “mito” no sentido
positivo, ou seja no sentido de ideia
superior orientadora e organizadora. Que uma nação em tais condições não se encontrava em posição de enfrentar os problemas que
as forças colocadas em acção pela
guerra e pelo período do pós-guerra
lhe colocavam, nem para se opor
2. Movimento Sociale Italiano, partido considerado “neofascista”. [N. do T.]
3. O que Evola veio a fazer, com a publicação do livro “O Fascismo vista da Direita e Notas sobre o III Reich”. [N. do T.]
4. Conhecemos bem as objecções, em certa medida legítimas, levantadas por algumas pessoas contra o uso da palavra
“direita”, tanto pelo que se entende hoje em dia por esta palavra em Itália e, mais geralmente, por causa das referências
partidistas — “direita” e “esquerda” — dentro de um sistema tal como o parlamentarista democrático, que deve ser rejeitado
na totalidade. É portanto apropriado clarificar que usamos a palavra “direita” num sentido especial, especificamente como
uma designação da orientação que, no interregno representado pelo regime dos partidos, melhor reflecte o que é superior
aos partidos e refere-se à ideia transcendente de Estado.
Boletim Evoliano
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às ideologias e às sugestões sociais da eminente revolução do Quarto Estado, tornava-se a cada dia
mais óbvio. O mérito do Fascismo
foi acima de tudo ter rectificado,
em Itália, a ideia de Estado, ter estabelecido a base para um governo
forte, afirmando o puro princípio da
autoridade e da soberania política.
Em princípio, na doutrina Fascista, ideologias tais como a romântica, a da sociedade de nações e a
democrática são superadas, sendo
atribuída a proeminência ao Estado
— a dignidade de um poder por virtude do qual a Nação tem uma
consciência, uma forma, e uma
vontade e toma parte numa ordem
supra-natural. O trinómio do Fascismo do Ventennio, “Autoridade, Ordem, Justiça” retoma inegavelmente a tradição política que criou todos os grandes Estados europeus.
Mais, o Fascismo invocou de novo
a ideia romana como uma integração superior do “mito” do novo
organismo político, e como o ideal
para a asserção do novo tipo de italiano que deveria ter o poder nas
suas mãos. Tudo isto é positivo no
Fascismo, e a sua mensagem, se
um movimento de reconstrução
fosse de novo possível para nós ou
para a Europa, não necessitaria de
ser mudada. Precisamos apenas
de eliminar os desvios do sistema.
Totalitarismo e o
“Estado Ético”
O primeiro destes desvios é o
totalitarismo. O princípio de uma
autoridade central indiscutível degenera quando se afirma num sistema que controla tudo e intervém
em tudo, de acordo com a fórmula
“Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. Tal fórmula pode ser proclamada no seio
de um totalitarismo estatista soviético, dadas as suas premissas materialistas, mecanicistas e colectivistas, não no seio de um sistema
tradicional, que se baseia em valores espirituais. O Estado Tradicional
é orgânico, mas não totalitário. É
diferenciado e articulado, admite
zonas de autonomia parcial. Coordena e subordina a uma unidade
superior forças cuja liberdade, no
entanto, respeita. É precisamente
por ser forte que não necessita de
uma centralização mecânica. Segundo uma fórmula afortunada, é
omnia potens, não omnia facens
(W. Heinrich), o que equivale a
dizer que possui um poder absoluto
no seu centro, que pode e deve utilizar quando necessário — mas não
interfere em todo o lado, não se
substitui a tudo, não pretende um
recrutamento ao estilo de caserna
nem um convencionalismo nivelador, mas o livre reconhecimento e
a lealdade, não procedendo a intervenções impertinentes e obtusas
do público no privado. O quadro tradicional é o de uma gravitação natural das partes, ou unidades parciais, em torno de um centro que
comanda sem compelir, actua através do prestígio e da autoridade
que pode, certamente, recorrer à
força, mas se abstém dela tanto
quanto possível.
Quem quer que tenha vivido durante o período Fascista conhece a
distância que infelizmente existiu
entre a praxis do regime e este
“
ideal do verdadeiro Estado. O que
deve então ser considerado uma
aberração do sistema é a concepção do chamado “Estado Ético”,
pela qual a atmosfera do Estado é
equiparada à de um educador ou
reformador e o ideal do líder é o de
um pedagogo insuportável e invasivo. As relações existentes entre o
líder e os seus seguidores num plano viril e combattentistico, baseando-se na livre adesão e respeito
mútuo e na não interferência no
que é estritamente pessoal e irrelevante para o propósito da acção
comum ilustra a direcção oposta,
que é a direcção positiva.
Assim, tudo o que no Fascismo
tinha o carácter de pedagogismo
estatal e de pressão não no plano
político objectivo, mas no da vida
moral pessoal, deve ser rejeitado.
Um exemplo típico entre muitos: o
da chamada “campanha demográfica” fascista, odiosa mesmo que
não se tivesse baseado no princípio
absurdo segundo o qual “quantidade é poder”, um princípio contrariado por toda a história conhecida,
tendo a “quantidade” sido sempre
O princípio de uma autoridade central indiscutível
degenera quando se afirma num sistema que controla
tudo e intervém em tudo, de acordo com a fórmula
“Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o
Estado”. Tal fórmula pode ser proclamada no seio de um totalitarismo estatista soviético, dadas as suas premissas materialistas, mecanicistas e colectivistas, não no seio de um sistema
tradicional, que se baseia em valores espirituais. O Estado
Tradicional é orgânico, mas não totalitário. É diferenciado e
articulado, admite zonas de autonomia parcial. Coordena e
subordina a uma unidade superior forças cuja liberdade, no
entanto, respeita. É precisamente por ser forte que não necessita de uma centralização mecânica. Segundo uma fórmula
afortunada, é omnia potens, não omnia facens (W. Heinrich), o
que equivale a dizer que possui um poder absoluto no seu centro, que pode e deve utilizar quando necessário — mas não
interfere em todo o lado, não se substitui a tudo, não pretende
um recrutamento ao estilo de caserna nem um convencionalismo nivelador, mas o livre reconhecimento e a lealdade; não
procede a intervenções impertinentes e obtusas do público no
privado.”
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Boletim Evoliano
submetida por pequenos grupos de
povos dominadores, impérios tendo sido fundados por estes grupos
e não pelo desbordo demográfico
de massas de párias e desprivilegiados transbordando para as terras dos mais ricos e não tendo
nenhum outro direito do que a sua
pobreza e a sua incontinência reprodutiva.
Um oficial, um dos bravos defensores de Giarabub(5) não obteve
a promoção que esperava, porque,
não seguindo o imperativo da
“campanha demográfica”, não se
casou. Outro, com toda a razão,
considerou abandonar o exército(6).
Nem a ideia “totalitária”, nem a do
“Estado Ético”, nem o controlo da
vida estritamente pessoal, deve ser
reassumido pelos herdeiros do Fascismo.
Estado e Nação
Já apontamos que o princípio
tradicional da preeminência do
Estado sobre o que é meramente
povo e nação se manifestou de
novo na doutrina do Fascismo. Esta
ideia deve ser reassumida e desenvolvida no sentido de uma precisa
oposição ideal entre o Estado e a
“sociedade”, reunindo na palavra
“sociedade” todos os valores, interesses e disposições que dizem respeito ao lado físico e vegetativo de
uma comunidade e que estão ligados ao mero viver pacífico e não
estão organizados segundo uma
ideia superior. A antítese entre sistemas políticos que gravitam em
torno da ideia de Estado e os que
gravitam pelo contrário em torno
da ideia de “sociedade” é fundamental. Estes últimos compreendem todas as variedades de democracia burguesa, de direito natural
e por aí adiante até ao socialismo,
sendo o horizonte do socialismo
também limitado a valores físicos
e colectivistas pela simples razão
de que ele tem como sua única
base o mundo e os seus processos
económicos.
No entanto, uma ideia de nacionalismo igualmente degenerada
não tem sido claramente criticada
e evitada pelos fascistas — um
nacionalismo apelando aos meros
sentimentos de pátria e povo e
associado a um “tradicionalismo”
que em Itália, devido ao próprio
carácter da história anterior desta
nação, não podia ter nada em comum a tradição entendida num
sentido superior, limitando-se a um
medíocre conservadorismo de tipo
burguês, pudico, catolizado e convencionalista. A agregação do grupo nacionalista ao Partido Fascista,
uma vez o Poder conquistado, contribuiu para esta limitação da ideia
Fascista revolucionária. Além disso,
havia as razões tácticas que levaram a jogar com os sentimentos
fáceis de despertar na luta contra
as correntes de esquerda. Agora,
temos de ir além disto, conscientes
do carácter naturalista e em certo
sentido pré-político que o sentimento de pátria e nação tem, carácter pré-político não inteiramente
distinto do mero sentimento de
família.
Temos de discernir o que é que,
em contraste, une uma nação na
base de uma ideia e de um símbolo de soberania. É tão mais adequado considerar isto quando notamos quão fácil é abusar do apelo
da “pátria” e da “nação” através de
uma retórica vazia e desonesta —
isto pode ser visto hoje em dia, no
ostensivo patriotismo empregue
com fins tácticos e eleitorais mesmo por partidos que na sua essência tendem não só a ser antiEstado mas também a negar o possível conteúdo superior que pode
ser reunido por um nacionalismo
purificado.
5. Durante a II Guerra Mundial Giarabub foi um posto militar italiano localizado num oásis no deserto líbio, cercado pelos britânicos e defendido heroicamente pelos soldados italianos, apesar da sua situação desesperada. [N. do T.]
6. Seguindo a mesma orientação, no Fascismo, a preocupação com a “pequena moralidade” em vez da “grande moralidade”, especialmente em relação à sexualidade, com as correspondentes medidas de censura e interdição estatal. A este respeito, é bom que as pessoas, especialmente os jovens, saibam hoje em dia que o Fascismo não foi muito diferente do actual
regime de tipo puritano demo-cristão mas diferia bastante do que era peculiar ao Nacional-Socialismo alemão.
Boletim Evoliano
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“Diarquia”
O grande problema que, hoje
em dia, dado que as condições
gerais se encontram modificadas
de forma fundamental, é extremamente difícil de resolver de forma
prática, diz respeito ao sistema institucional no qual o princípio da
pura autoridade política e espiritual
tem de ser positivado.
Várias críticas foram dirigidas, a
partir de vários pontos de vista,
contra a “diarquia”, isto é, contra a
coexistência da Monarquia e de um
tipo de ditadura no período Fascista. Alguns pensaram vislumbrar na
aceitação Fascista da instituição
monárquica um mal-entendido ou
uma falha da força revolucionária
do movimento mussoliniano. A verdade é que, se uma verdadeira
Monarquia existisse em Itália —
uma Monarquia enquanto poder e
não como mero símbolo — o Fascismo nunca teria surgido, a “revolução” não teria sido necessária ou,
melhor, teria tido a forma de “revolução de cima”, a única aceitável
num regime tradicional, sendo o
sistema de “pesos e contrapesos”
institucionais abolido. Como no
entanto a realidade não era esta,
outros métodos tiveram de ser
empregues.
Virando-nos do plano da história
recente para o da pura doutrina,
não se deve pensar que a “diarquia” é uma cedência ou um híbrido; pelo contrário, pode ter o seu
crisma tradicional. Uma “ditadura”
não pode adquirir um carácter institucional permanente. A Roma Antiga admitia-a em casos de necessidade e enquanto essa necessidade
durasse, como um recurso que não
era revolucionário, mas era visto
com perfeita equanimidade como
parte da legítima ordem existente.
Encontramos também noutras
constituições tradicionais dualidades equivalentes à do rex e do dux,
do rex e do heretigo ou imperator
(no sentido militar), sendo que o
primeiro encarna o puro, intangível
e sagrado princípio da soberania, e
o segundo aparecendo como aquele que, em períodos tempestuosos
ou em vista de exigências particulares, executava deveres excepcio-
nais numa posição arriscada que,
devido à própria natureza da sua
função, não podia aproveitar ao
rex. Requeria-se dele que, ao contrário do rex, possuísse as qualidades de indivíduo excepcional e particularmente dotado, já que ele não
derivaria a sua autoridade de uma
função não-actuante puramente
simbólica e, de certo modo, “olímpica”. Além do mais, em tempos
menos remotos, certas figuras como Richelieu, Bismarck, Metternich
e, até certo ponto, mesmo Cavour,
em alguma medida desempenharam este papel em relação aos respectivos Soberanos.
Falo aqui num plano abstracto,
o plano dos princípios puros. O que
aconteceu em Itália no contexto do
Fascismo e das suas crises não pode ser julgado simplesmente nestes termos. O que pode ser dito
doutrinariamente no entanto é que
quer Mussolini tivesse conseguido
libertar-se ou não da sua principal
função, análoga à dos grandes
chanceleres lealistas, que começou
com a criação do império não em
seu benefício mas como um serviço ao Rei de Itália, a hibridez do
sistema Fascista seria ainda assim
evidente no seu populismo, na sua
aquisição de prestígio que se aproximava da de um Bonaparte ou de
um Tribuno, a sua proeminência
enquanto personalidade, e a sua
inclinação democrática, senão demagógica, de ir “ao encontro do povo” e não desdenhar a adulação do
público (cuja recompensa recebeu
1945).
Um ponto é muito importante
para a tarefa de diferenciação em
que estamos presentemente envolvidos: quase não se sente hoje em
dia, mas existe uma insuperável
diferença entre a autoridade “sagrada” de um governante genuíno
e a autoridade baseada no poder
informal, nas capacidades, e nos
dotes de um indivíduo excepcional,
desde o “Príncipe” de Maquiavel
até às figuras “cesaristas” concebidas por Spengler no final obscuro
de qualquer “civilização”, para excitar as forças emocionais e irracionais das massas. No mundo tradi-
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do de consideração apropriado
àqueles que vêem a conquista do
Estado como a possibilidade de um
futuro próximo. Portanto o que dissemos neste parágrafo sobre a
diarquia e o restante deve ser considerado apenas como doutrina,
abstraindo qualquer consideração
sobre a situação presente, homens
e coisas. Porque, para olhar a realidade, teríamos de repetir o que um
grande representante da ideia contra-revolucionária disse logo em
1849: “Não existem hoje reis que
se atrevam a intitular-se como tal
que não pela vontade do povo, e,
se existissem, ninguém lhes obedeceria”, e, a partir desta observação
teríamos de concluir que apenas
soluções empíricas e anormais podem ser consideradas para um
período que, no sentido Romano,
podemos chamar de interregno,
um período cujo fim é ainda impossível prever.
O partido único
cional as pessoas obedecem e são
subordinados ou súbditos na base
de um “pathos de distância” (Nietzsche), porque sentem que estão na
presença de alguém que é quase
de outra natureza. No mundo de
hoje, com a transformação do povo
em plebe e em massa, eles sabem
no máximo como obedecer na
base de um “pathos de proximidade”, isto é, de igualdade: apenas
suportam um líder que, na essência, é “um de nós”, “popular”, interpreta a “vontade do povo”. O Ducismo num sentido inferior, tal como
afirmado especialmente no Hitlerismo, corresponde a esta segunda
orientação moderna e anti-tradicional.
Hoje, as forças que resistem
estão muito longe de atingir o esta-
A ideia do partido único e da
função que lhe é peculiar representou, no Fascismo, algo híbrido; o
aspecto positivo contido nele tem
de ser isolado do resto e correctamente implementado. O verdadeiro
Estado, quase não o precisamos de
dizer, não conhece a partidocracia
do regime democrático e parlamentar. Mas a ideia do partido único é um disparate, porque dizer
partido significa parte, e implica
portanto uma multiplicidade; então
o partido único seria a parte que
pretende tornar-se o todo, ou por
outras palavras, uma facção que
elimina as outras sem se elevar a
um plano superior, precisamente
porque se continua a considerar
como um partido.
O Partido Fascista na Itália de
ontem representava uma espécie
de Estado dentro do Estado, um
empecilho a um sistema realmente
13
Boletim Evoliano
orgânico e monolítico. Na fase da
conquista do poder pode ter tido
uma importância vital como centro
de um movimento nacional. Após
esta fase, no entanto, a sua existência continuada não fazia sentido. Isto não deve ser considerado
um argumento a favor da “normalização”, num sentido inferior,
com o correlacionado decréscimo
de tensão política e espiritual. As
forças válidas de um partido que se
afirmou devem permanecer no
Poder noutra forma, tornando-se
parte das hierarquias normais e
essenciais do próprio Estado, ocupando as suas posições chave e
constituindo uma espécie de guarda armada do Estado, uma elite
portadora, em alto grau, da Ideia.
Então, mais do que um partido,
precisaremos de falar de uma espécie de “Ordem”. É a mesma função que, noutros tempos, a nobreza teve enquanto classe política —
até ao período dos impérios europeus centrais. Como forma muito
aproximada, temos a Casa dos Lordes na sua concepção original. O
Fascismo manteve pelo contrário a
concepção do “partido” e houve um
tipo de duplicação do Estado e articulações políticas (Milícia ao lado
do Exército, Federais ao lado dos
Perfeitos, Grande Conselho ao lado
do Parlamento, e por aí adiante),
em vez de uma síntese orgânica e
uma simbiose. Isto não pode ser
considerado um elemento válido
da herança do Fascismo(7).
Finalmente, a própria concepção do Partido Fascista ressentiuse dos efeitos das suas origens, por
falta de critério qualitativo: era a de
um partido de massas. Ao invés de
fazer a militância no partido um
difícil privilégio, o regime impô-la a
quase toda a gente. Há por aí alguém que, na altura, não tivesse o
“cartão”? Quem se podia dar ao
luxo de o não ter? Daí a consequência fatal de militância externa, con-
7. A presença de homens do partido em muitas posições governamentais durante o regime teve frequentemente efeitos
negativos, devido à confusão de planos. Os méritos indiscutíveis que este ou aquele Fascista possa ter tido, enquanto esquadrista ou activista da primeira hora não eram suficientes, por si sós, para a atribuição de funções de ordem puramente política, económica ou cultural, para as quais a competência, a experiência, e a formação, que não se podiam esperar dele, eram
necessárias. Destas interferências derivaram várias fraquezas do regime, e ocorreram muitos casos de forças válidas que se
encontraram obstruídas pelo bloco constituído pelos homens do partido, que tinham muito poucos méritos para além dos
que já mencionamos.
Boletim Evoliano
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vencionalista e oportunista — com
efeitos que surgiram precisamente
no momento da crise. Originalmente, no comunismo e no próprio nacional-socialismo, a concepção do
partido tinha pelo contrário um
carácter muito mais exclusivo. Para
nós, o ponto de referência positivo,
a contraparte positiva ao conceito
de partido único, tem de ser o de
Ordem, servindo como a coluna do
Estado e participando, até certo
ponto, da pura autoridade e dignidade que se reúne no topo do Estado.
Corporativismo e Autarcia
No plano dos princípios, o valor
do Fascismo reside essencialmente
no seu aspecto político, e apenas
secundariamente nos seus aspectos socio-económicos, porque, de
acordo com a concepção tradicional, os problemas socio-económicos num sentido restrito não podem ser absolutizados para lá do
lugar que lhes pertence no esquema de uma hierarquia mais vasta
de valores e interesses.
No entanto, neste plano, o que
permanece válido é o imperativo
Fascista de combater, em primeiro
lugar, o sistema de incompetência
peculiar à democracia, de substituílo por um princípio de solidariedade, energia e unidade num mundo
que sentia e sente os efeitos das
influências deletérias da consciência de classe, do partidismo, do
regime de influentes e incompetentes trapaceiros políticos, para além
dos antagonismos entre os capitalistas monopolistas, os mercados e
as forças do trabalho no sistema
de inspiração liberal.
A este respeito, o sistema corporativo, se julgado na base da sua
orientação e do seu requisito fundamental, representa indubitavelmente outro aspecto positivo do
Fascismo. Esta orientação pode ser
definida como a de uma reconstrução orgânica da economia através
da re-assumpção, numa escala gigantesca adequada às dimensões
da economia moderna, do espírito
que, tudo considerado, era já a força motriz das antigas corporações
e, em geral, das empresas antes
“A ideia do partido único é
um disparate, porque dizer
partido significa parte, e
implica portanto uma multiplicidade (…) Para nós, o
ponto de referência positivo,
a contraparte positiva ao
conceito de partido único,
tem de ser o de Ordem, servindo como a coluna do
Estado e participando, até
certo ponto, da pura autoridade e dignidade que se reúne no topo do Estado.”
delas serem comprometidas por
um lado pelos desvios e abusos de
poder do capitalismo tardio, e por
outro lado pela intoxicação marxista que se espalhou entre as massas trabalhadoras. Mas um requerimento deste tipo na praxis do regime foi apenas levada a meio. No
corporativismo fascista existiam
ainda réstias da consciência de
classe porque — mais uma vez
devido às origens do movimento, e
mesmo devido aos precedentes
pessoais de Mussolini — não houve
a coragem de assumir uma posição claramente anti-sindicalista; o
sistema até decretou legislativamente a dupla formação dos empregadores e dos trabalhadores,
uma dualidade que não foi superada onde deveria ter sido, ou seja,
nas próprias empresas, através de
formas orgânicas originais, mas
pelo contrário através de ineficientes e frequentemente parasitas
superstruturas estatais, moldadas
por um pesado centralismo burocrático. Quase não é necessário
acrescentar que o corporativismo
do Ventennio e as posições do “segundo Fascismo”, a “socialização”,
o confirmado e alargado reconhecimento do sindicato representaram
um passo atrás e não um passo
em frente. Se houve um passo em
frente e um exemplo a manter
mais do que qualquer outro, foi,
em princípio, a legislação laboral
Nacional-Socialista, que excluía o
sindicalismo e mostrou como, nesta base, era possível chegar a uma
orgânica e eficiente reconstrução
da economia, com a adequada satisfação da necessidade de “justiça
social” que foi correctamente compreendida, e não de acordo com
uma demagogia legalizada (como
actualmente em Itália).
Podemos então recolher do corporativismo fascista, por um lado,
o princípio de uma solidariedade
anti-classista na ordem produtiva,
superando tanto o liberalismo como o socialismo numa concepção
orgânica, de outro lado o princípio
de um regime funcional, tendo
também um conteúdo político através da Câmara Corporativa em
substituição do parlamento democrático dos partidos.
O que algumas pessoas consideraram como uma falha, e quase
como um travar da “revolução social” do Fascismo neste campo, deve
ser considerado pelo contrário um
dos seus méritos. O Fascismo opôsse ao chamado “pan-corporativismo”, ou seja, à redução do poder
estatal nas corporações, e promoveu o aumento do poder estatal na
economia. O primado do princípio
político sobre a economia, que deveria ser mantida na sua condição
normal de mera ordem de meios,
foi reconhecido e afirmado, e isto
deve ser considerado como a sua
mensagem positiva. Se a absurda
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fórmula de “Estado do Trabalho”
aparece aqui e ali, e se alguém,
levado por um infeliz conjunto de
circunstâncias a uma posição de
certa autoridade no Fascismo, não
estava satisfeito com ter avançado
a corrupta fórmula do “Estado Ético”, mas produziu, para além dela,
a ainda mais deplorável fórmula do
“humanismo do trabalho”, tudo isto
pode ser remetido ao desperdício,
à parte evanescente do Fascismo,
não à sua parte essencial e válida.
Isto deve ser hoje afirmado mais
resolutamente do que nunca.
Viremo-nos agora para um outro
assunto, que não diz respeito apenas à economia nacional. Os mais
variados círculos contemporâneos
costumam condenar o princípio
Fascista da autarcia. Não nos podemos associar de modo algum a
esta condenação. À escala das nações não menos do que à da pessoa, não há bem maior do que a
liberdade. É bem sabido que o conceito de autarcia tem origem na
Antiguidade clássica, nas escolas
estóicas, onde era considerada como um imperativo da ética de independência e auto-soberania; para
defender estes valores o preceito
era, se necessário, abstine et substine.
O princípio Fascista da autarcia
é um tipo de extensão desta ética
ao plano da economia nacional.
Manter o nível geral de vida relati-
vamente baixo se necessário, para
que se possa ser tão livre quanto
possível das ataduras do capital e
de economias estrangeiras, é uma
ideia sã e viril. No que toca a uma
nação com limitados recursos naturais, como a Itália, um sistema de
autarcia e austeridade no contexto
de uma economia de consumo
equilibrada ao invés de uma de
produção forçada e do supérfluo
deve ser contraposto ao que assistimos hoje: uma aparente prosperidade geral e uma vida quotidiana
descontraída, e, para além das condições próprias, um atroz saldo da
dívida da balança estatal, uma
extrema instabilidade, uma inflação progressiva e a invasão de
capital estrangeiro — invasão que
hoje em dia tem o encantador mas
hipócrita rótulo de “apoio ao desenvolvimento de áreas subdesenvolvidas”.
Rússia e América
Já que com estas últimas observações nos deslocamos da doutrina interior do Estado para as relações internacionais, quase não precisamos de dizer que uma coisa
que deve ser pura e simplesmente
reassumida do Fascismo, como
uma clara palavra de ordem, é a
oposição tanto à Rússia como à
América, ao “Leste” como ao “Ocidente”, segundo a terminologia
que se tornou popular. Mesmo que
de formas diferentes, estas duas
“sociedades” de nações, que pretendem ser, e, infelizmente são-no
hoje em dia, em grande medida, as
nações líderes, representam no
mesmo grau a anti-tradição e a
negação dos valores superiores do
legado europeu. Infelizmente, hoje,
não podemos pensar em mais do
que uma defesa interior, espiritual,
por falta da necessária base para
um terceiro bloco económico e
militar capaz de se opor de algum
modo a ambos os perigos no plano
da política mundial. Defesa interior, no entanto, do americanismo
como do comunismo, teria já um
grande significado.
*
*
*
15
Boletim Evoliano
Para lá disto, tudo é ainda indefinido. Permanece até indefinido,
em geral, o que pode ser feito fora
do plano da orientação doutrinária,
depois de se ter determinado o que
pode ser usado no legado Fascista
por um puro radicalismo de direita.
Como notamos, é ao Fascismo
do Ventennio que nos referimos até
aqui. Basicamente, discutimos exclusivamente questões doutrinárias, e o segundo Fascismo, o de
Salò, para nós, pode ser reassumido quase exclusivamente de acordo com este critério. Demasiados
factores contingentes e infelizes,
no entanto, afectaram o que quer
que tenha possuído de tosco esboço de doutrina político-social; faltou-lhe completamente um período
de maturação.
O valor do segundo Fascismo
reside pelo contrário no seu aspecto combattentistico e legionário.
Como já foi justamente dito, reside
no facto de, com ele, talvez pela
primeira vez na nossa história, um
impressionante número de italianos ter escolhido decididamente a
via do sacrifício, da derrota e da
impopularidade em nome do princípio de lealdade a um líder e da
honra militar. O seu valor reside, de
forma geral, na pura vontade heróica de lutar mesmo por posições
perdidas.
Neste plano — portanto, um plano existencial e não político — a
continuidade entre o primeiro e o
segundo Fascismo deve ser reconhecida, e as instruções ideais deste podem ser reassumidas. De facto, dada a atmosfera e as forças
que prevaleciam tanto na Itália
como no mundo, ter a coragem das
“afirmações soberanas”, termo-nos
declarado por um longo período de
tempo pelas ideias que isolamos
como potencial conteúdo tradicional do Fascismo pode apenas significar hoje testemunhar a vocação
dos combatentes do norte: defender um ideal e manter as posições,
mesmo tratando-se de posições
que se vão perder, ou melhor, mesmo que seja duvidoso que os que
se vão manter acordados durante a
noite possam encontrar os que
aparecerão na manhã.
Boletim Evoliano
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Opinião
Os Fascismos e a Tradição Primordial
Eduard Alcántara
————————————————
Em primeiro lugar devemos
aclarar que se no título deste artigo
escrevemos “Tradição Primordial”
em vez de “Tradicionalismo”, o
fazemos exclusivamente para evitar, desde o princípio, mal-entendidos que pudessem fazer crer a
alguns que iríamos falar sobre o
“tradicionalismo” — com minúscula. De facto, não pretendemos de
modo nenhum falar desta corrente
que por exemplo em Espanha,
enquanto doutrina política, social e
económica se encontra, desde há
quase dois séculos, indissociavelmente ligada ao Carlismo. Do que
queremos tratar é de uma forma
de entender e viver o mundo e a
existência que impulsionou o Homem, em determinados momentos
da sua história, a encaminhar
todas as suas tarefas quotidianas
em direcção a fins Elevados, Suprasensíveis, Metafísicos, e o levou,
em consequência, a configurar tecidos sociais, culturais, económicos
e políticos guiados e impregnados
até à medula por ditos valores
Superiores e dirigidos à aspiração
da consecução de um Fim Supremo e Transcendente. A isto chamamos Tradicionalismo — com maiúscula —, tendência que tem como
modelo a Tradição Primordial que
conformou a vida do Homem das
origens; isto é, a vida do Homem
da Idade do Ouro descrita por Hesiodo, ou do Satya-yuga definido
pela tradição indo-ariana.
Feita esta aclaração diremos
que mais do que tratar o tema do
Tradicionalismo, o principal objectivo do presente escrito é o de desarmar aqueles que pretenderam e
pretendem enfrentar, incompatibilizar e justapor o Fascismo, como
movimento genérico, ao Tradicionalismo.
A primeira coisa que pediremos
a estes criadores de discórdias é
José António e Codreanu, talvez os
dois líderes fascistas que melhor
encarnaram os valores tradicionais.
que analisem quais foram as principais metas a que aspiraram os
fascismos históricos. Se o fizerem
não terão outro remédio que reconhecer que ditas metas se enquadram dentro da definição que
sobre o Tradicionalismo acabamos
de fazer. A saber:
- Formação, antes de tudo, de
um “Homem Novo”, portador de
uma concepção espiritual da vida;
tal como pretendia um Corneliu Z.
Codreanu;
- Constituição de um tecido político-económico-social no qual o
eixo seria o “homem enquanto portador de valores eternos”, “o homem metade monge, metade soldado” como tão bem expressou
José António Primo de Rivera;
- Renascimento do espírito, da
estatura, da ética e da cosmovisão
da Antiga Roma, socorrendo-se
inclusivamente do apoio de muita
da sua simbologia e ritualismo.
Árdua tarefa que, a partir de certo
período do seu governo, Mussolini
empreendeu em Itália;
- Configuração de um tipo
humano que adoptasse como arquétipo os heróis dos antigos mitos
e sagas germânicas; ao que se
aspirou durante o III Reich.
Seguidamente pediríamos a estes defensores da negação do
óbvio que deitassem uma vista de
olhos a algumas das estruturas sociais realizadas naquela época histórica e às interioridades de determinadas organizações chave no
seio dos regimes políticos que são
objecto da nossa análise. Para o
demonstrar temos umas SS que
foram, paulatinamente, configurando a elite do regime surgido na Alemanha após o 30 de Janeiro de
1933. Foram, pouco a pouco, adoptando o papel de primeira casta
dentro da comunidade, primeiramente alemã e, ao longo da II
Guerra Mundial, inclusivamente
pretendendo tornar-se em reitoras
da Europa. Casta em que se combinava o guerreiro e uma forte formação ideológico-espiritual. Estamento ascético-guerreiro encabeçado por uma direcção que tinha o
seu enclave supremo de reunião e
decisão no Castelo de Wewelsburg,
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ao redor de uma mesa redonda balizada por doze assentos ocupados,
mais um décimo terceiro, o assento perigoso; seguindo, pois, o modelo Tradicional do ciclo artúrico.
Hierarquicamente abaixo da conhecida como Ordem Negra, encontraríamos na escala social todos
aqueles que centravam a sua vida
laboral em actividades de ordem
económica.
Os diferentes agentes da produção não se enquadravam em grandes organizações coordenadas por
organismos do governo — tal como
sucedeu na Itália Fascista. Pelo
contrário todos eles faziam parte,
sem distinções, da Frente Alemã
do Trabalho, para que ficasse bem
claro que a autêntica hierarquia
não é a que diferencia empresários, técnicos e operários, mas sim
a que, sempre segundo os parâmetros da Tradição, se dá entre os
“milites” ascetas, por um lado, e os
produtores, por outro.
Num dos momentos de maior
dissolução dos valores e estruturas
Tradicionais, numa das fases mais
avançadas da decadente Idade de
Ferro descrita pelas sagas grecoromanas, da Idade do Lobo dos
mitos germânicos, ou do Kali-yuga
anunciado nos Vedas, em plena
época de corrosão e subversão, e
em tão-só uns poucos anos, estavase a conseguir subjugar o “demonio da economia” e a recolocar, no
que temos de considerar uma autêntica convulsão revolucionária –
de “re-volvere” – cada estamento
no escalão de que nunca deveria
ter saído.
De seguida, recomendaríamos
aos que se obstinam em negar a
essência Tradicional dos fascismos
históricos que deitassem uma vista
de olhos à sua simbologia e aos
seus rituais; inclusivamente aos de
natureza léxica. Assim, se para eles
a honradez representa um valor,
deveriam emudecer ante:
- O símbolo solar e hiperbóreo
da suástica;
- As também solares águias;
- As cinco flechas falangistas
que, além do seu evidente carácter
guerreiro, também simbolizam os
raios do Sol;
- A garra hispânica solar das
17
Boletim Evoliano
Castelo de Wewelsburg
JONS;
- O cisne do sindicato estudantil
falangista, SEU; o animal, solar por
excelência, que transporta o ferido
Artur até à hiperbórea Avalon;
- A cruz flechada do Movimento
Hungarista de Szalasi; símbolo que
demonstra também espiritualidade
e milícia;
- O mesmo raio rodeado por
uma circunferência, da União Britânica de Fascistas de Oswald Mosley; outro símbolo solar usado por
uma organização política que sentia palpitar a chamada da Restauração dos Valores Eternos, ainda
que não tenha tido tempo de tomar
plena consciência desta necessidade;
- Canções que falam de “estrelas” e do tipo de existência que
neles se deve dar: “fazendo guarda”, para não se deter no processo
de superação interior iniciado na
existência precedente; nada, pois,
que ver com outras consabidas
imagens de paraísos celestiais onde prima um tipo de “felicidade”,
nuns casos, indolente e relaxada e,
noutros casos, quase sensual;
- Canções, como a anterior, que
com um título como o de “Cara ao
Sol” reflectem, bem às claras, um
tipo de espiritualidade que ultrapassa formas religiosas lunares e
devocionais configurando, pelo
contrário, uma sacralidade olímpica, viril e heróica e, definitivamente, solar. Olha-se o Sol, como sím-
bolo de espiritualidade pura, de
cara, frente a frente, como o faria
quem aspirasse a afastar-se de formas submissas de entender a
Transcendência, com o objectivo de
avivar a lânguida chama do Absoluto que vive no nosso interior para
alcançar a meta do Conhecimento
Suprasensível;
- Termos utilizados para se referir à Transcendência como por
exemplo o de “a Providência”, utilizado por Adolfo Hitler, que denota
esse impulso, mais ou menos consciente, de superar, tal e como expusemos no parágrafo anterior, a
simples religiosidade que outorga
formas, sejam antropomórficas ou
de qualquer outro tipo, ao que, na
realidade, se encontra acima de
ditas formas ou, simplesmente,
não as tem devido à sua natureza
incondicionada: o Princípio Supremo;
- Fórmulas rituais da linguagem
que consideram como “presentes”
os caídos em combate. Ditas fórmulas são o claro reflexo de uma
concepção existencial que não se
ancora na vereda da vida terrena,
mas que, como deixamos bem patente nas linhas precedentes, entende estados do Ser que ultrapassam a caducidade da existência
terrestre e finita;
- Celebração de rituais sacros de
carácter solar, comos os solstícios
de Inverno e de Verão.
Aos semeadores das sementes
Boletim Evoliano
18
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da discórdia não lhes faria mal reflectir igualmente sobre as seguintes notas:
- A perseguição, tanto doutrinal
por parte dos diferentes fascismos,
como legal nos países nos quais
conseguiram alcandorar-se ao poder, a que foram submetidas seitas
contra-iniciáticas e, por tanto, antiTradicionais, como a maçonaria
liberal-especulativa ou como a teosofia e as suas múltiplas variantes
e ramificações; tal qual sucedeu
com estas últimas no III Reich;
- Que ante um mundo hostil
seguramente não era muito aconselhável desdenhar nenhuma arma
ao alcance para consolidar ou
aumentar a força e/ou o poder
político e social, pelo que os actos
de massas para atrair ou afiançar a
adesão do povo são de todo compreensíveis e justificáveis e não
constituem, de modo algum, um
sintoma da essência autêntica e
profunda da corrente política e
ideológica que estamos a analisar;
- Que certos aspectos totalitários dos fascismos históricos não
obedecem a um sentir nivelador e
inorgânico da comunidade, mas
respondem à mesma necessidade,
que já mencionamos, de conseguir
escorar o poder político face à
inflamada aversão e animadversão
que contra eles exalavam os múltiplos e poderosos aríetes do dissoluto Mundo Moderno;
- Que os espectaculares avanços
científicos e técnicos que se conseguiram, especialmente na Alemanha nacional-socialista, não são
sinal de um cientismo sem freio
nem limites que antepusesse o progresso material ao desenvolvimento espiritual mas sim que, por um
lado, o progresso técnico-científico
estava submetido, a todo o momento, aos ditames da ética, como
fica bem claro com a proibição de
se fazer experiências em animais
vivos. E que, por outro lado, estes
avanços eram vitais para a sobrevivência no meio desse mundo tão
hostil, ao qual já fizemos alusão,
que arrasaria, irremediavelmente,
qualquer tentativa de Reconstrução Tradicional a não ser que se
lhe antepusesse um sofisticado
material bélico, fruto de uma inten-
sa investigação científica e de um
complexo e desenvolvido aparato
técnico.
Finalmente, impeliríamos todos
estes negadores do óbvio a meditar sobre o porquê de um dos maiores intérpretes da Tradição, como
Julius Evola, ter visto os seus postulados vertidos na sua “Síntese da
Doutrina da Raça” transformados
na postura oficial, sobre o tema, do
regime fascista de Mussolini. Ou
sobre o porquê do êxito que algumas das suas obras, como “Revolta contra o Mundo Moderno”, tiveram na Alemanha nacional-socialista. Ou sobre as suas múltiplas
conferências em solo teutão durante dita época. Ou, aparte certas críticas que verteu sobre determinados aspectos que cremos ter justificado nos parágrafos anteriores,
que meditassem sobre a análise
positiva que fez de tendências e
organizações do fascismo italiano
e do nacional-socialismo alemão,
também esboçados por nós no presente artigo. Como é sabido por
qualquer Tradicionalista que se
preze, Evola não encontrou em
nenhum outro movimento político
ou ideológico, salvo talvez a Revolução Conservadora alemã, um só
ponto louvável desde uma perspectiva Tradicional, tendo muito pelo
contrário considerado todos eles
como inteiramente embebidos do
cariz corrosivo da Idade do Ferro.
Seria também bom que meditassem sobre os elogios que dedicou à
figura do romeno Codreanu, ou
sobre a sua estreita colaboração
com a secção esotérica da SS — a
Anhenerbe — com a qual trabalhava em Viena estudando arquivos e
documentos da maçonaria quando,
após um bombardeamento aliado,
ficou paralítico para toda a vida.
Nada nos agradaria mais, definitivamente, que estes porta-estandartes do manipulador distanciamento se maravilhassem, connosco, com a forma como em plena
fase decadente do Kali-yuga se
pôde Restaurar tanto, tão a contracorrente e em tão pouco tempo.
Até onde se poderia ter chegado
caso se prolongasse, nem que fosse apenas mais uma década, o
cavalgar dos fascismos históricos?
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19
Boletim Evoliano
Doutrina
Autodefesa
Julius Evola*
————————————————
Cavalheiros do Tribunal:
A acusação original que serviu
de base à minha prisão referia-se
ao Artigo 1º da Lei nº 1546 de
1947, ou seja, acusam-me de, em
conjunto com outros, promover a
reconstituição do Partido Fascista,
sob a forma de várias organizações, especialmente uma, por trás
da qual se encontra um grupo de
jovens que se intitula “Imperium”.
Não vale a pena dizer mais do que
umas poucas palavras sobre esta
acusação, que não tem qualquer
fundamento.
Nada, de facto, foi produzido à
minha acusação que pudesse levar
alguém a pensar que as minhas
relações com estes grupos se
tenham desenvolvido de alguma
forma além do plano puramente
intelectual e doutrinário, no relativo
à doutrina do Estado, à ética e à
visão da vida. E quanto a estas relações, enfatizadas tendenciosa e
arbitrariamente pela Questura, devo dizer que não foram mais significativas do que as que mantive com
vários outros grupos: monárquicos,
independentes, ou nacionalistas,
como por exemplo o grupo de E. M.
Gray Il Nazionale, ou o Meridiano
d’Italia [ligado ao MSI]. Certamente
que me senti especialmente atraído para estes jovens do “Imperium” por duas razões: primeira, porque eles insistem na necessidade
de uma revolução espiritual interior
do indivíduo como pressuposto da
luta política — e [Enzo] Erra, dirigente do “Imperium”, indicou isto de
forma clara durante o seu interrogatório — e em segundo, porque
entre todas as correntes do MSI,
este grupo defendia posições de
direita ligadas a valores espirituais
e hierárquicos contra a tendência
socialistoide vastamente representada nesse partido.
Sou completamente alheio a iniciativas organizacionais clandestinas, nem nunca ninguém me falou
sobre elas. Quanto a um certo activismo, exortei frequentemente contra o fornecimento de armas ao
adversário de tal forma, já que
nenhuma pessoa séria pensa que
existam hoje em Itália, dada a
situação internacional, bases para
uma verdadeira revolução ou um
golpe de Estado antidemocrático.
Escrevi isto não só numa carta que
a Questura confiscou, mas que não
se deu ao trabalho de apresentar,
mas também — por exemplo —
num artigo publicado no Il Nazionale intitulado “Trarre partito dall’ostacolo” [Tirar partido do obstáculo],
no qual disse que a severidade
acrescida da repressão antifascista
pretendida pela nova redacção da
lei Scelba deveria encorajar a salutar renúncia a formas externas e
relativamente anacrónicas de expressão e activismo, em favor da
concentração numa preparação
doutrinária séria.
Em geral — e uma vez que se
falou em “acessório ideológico” —
não há em nenhum dos meus escritos qualquer tipo de incitamento,
mesmo indirecto ou involuntário, a
acções terroristas ou clandestinas.
A acusação da Questura tentou
estabelecer uma relação absurda
entre a constituição da “Legione
Nera” e um ponto do meu opúsculo
Orientações, onde se diz que o
carácter trágico dos nossos tempos
requer um tipo de “Legionarismo”.
Mas eu especifico exactamente o
que isso significa: legionarismo não
como organização, mas como espírito, como atitude interior. Aqui
estão as palavras exactas: “É a atitude de quem sabe escolher a via
mais dura, de quem sabe combater
mesmo não ignorando que a batalha está materialmente perdida, de
quem sabe convalidar as palavras
da antiga saga «a fidelidade é mais
forte que o fogo»” (Orientações, p.
6)(1). O mesmo significado é expresso mais à frente (p. 24), falando do
“homem de pé entre as ruínas”. Diz
* Em Abril de 1951, Julius Evola foi detido na sua residência de Corso Vittorio Emmanuele, em Roma, por homens do Ufficio
Politico della Questura (Secção Política do Ministério Público), acusado de ser o “mestre” e o “inspirador”, através das suas
“teorias nebulosas”, de um grupo de jovens que, por sua vez, eram acusados da criação de organizações clandestinas — os
Fasci d’Azione Rivoluzionaria e a Legione Nera —, de inspiração neofascista. Por este motivo foram acusados de “apologia do
Fascismo” e de “tentativa de reconstituição do dissolvido Partido Fascista”. Evola aguardou o julgamento, que se concluiu no
dia 20 de Novembro de 1951, na prisão de Regina Coeli, tendo sido finalmente absolvido. O texto que agora apresentamos
corresponde ao texto de autodefesa pronunciado por Evola perante o Tribunal.
1. Todas as citações do opúsculo Orientações são extraídas da versão portuguesa editada pelas «Edições Falcata». (N. do T.)
Boletim Evoliano
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respeito a nada mais do que uma
atitude ética, heróica e espiritual.
Não é possível haver equívocos, e
onde os houve, não posso ser responsabilizado por eles.
Nunca encorajei a formação de
partidos — nego o próprio conceito
de partido — ou de movimentos
subversivos. Indiquei do seguinte
modo aquilo que deve ser feito (p.
6): “é uma revolução silenciosa, em
profundidade, que deve realizar-se,
para que sejam criadas, primeiro
interiormente e no indivíduo singular, as premissas daquela ordem
que depois deverá afirmar-se também no exterior, suplantando fulminantemente no momento justo as
formas e as forças de um mundo de decadência e de subversão.” Permitam-me que
cite duas outras passagens. Na p. 5: “reerguerse, ressurgir interiormente, tomar forma, criar em
nós mesmos
ordem
e
aprumo”, em
vez de “pactuar
com a demagogia
e com
o materialismo das massas”, tomando uma posição — digo exactamente isso — “contra aquele falso
«realismo político» que pensa apenas em termos de programas, de
problemas de organização partidária, de receitas sociais e económicas.” Na p. 7: “Perante um mundo
de cobardia cujo princípio é: «Quem
te mandou fazer isso?» ou «primeiro o estômago, a pele (a malapartiana pele!) e depois a moral»
ou ainda «nestes tempos, não
podemos dar-nos ao luxo de ter carácter» ou, finalmente, «tenho família», é preciso saber opor um claro
e firme «não podemos agir de outro
modo, este é o nosso caminho, este é o nosso ser». O que de positivo
poderá ser atingido hoje ou amanhã, não será por meio de habilidades de agitadores ou de politicantes, antes por meio do prestígio
natural reconhecido a homens que,
seja de ontem, seja mais ainda da
nova geração, tenham capacidade
para tal e assim dêem garantias à
Ideia.” Após ter exortado os jovens
a manterem este elevado nível de
tensão ética apesar deste mundo
em ruínas, acusam-me de ser —
nas palavras exactas da Questura
— “um personagem
maléfico e dúbio”, instigador da juventude
fanática!
Avanço agora para a
segunda acusação: a de
que “glorifiquei ideias
próprias do Fascismo”
em artigos publicados em
vários números das revistas
La Sfida, Imperium, e em
Orientações, como “várias acções consecutivas de um único plano criminoso”.
A este respeito tenho de
em primeiro lugar apresentar um dado muito
importante.
O crime foi-me imputado apenas numa
segunda fase: não
fazia parte da acusação que me foi apresentada pelo Procurador Público quando
este me interrogou.
Obviamente tratase de um expe-
diente, uma “conversão estratégica”, de modo a garantir um “prémio de consolação” no caso provável da primeira e principal acusação falhar. Basta olhar para as
datas dos escritos incriminatórios
para se convencer que assim é:
datam de seis meses a dois anos
antes da minha prisão.
Orientações tem a data de
1950, e apareceu cerca de um ano
antes disso. Não só isso, mas também é um compêndio de artigos já
publicados noutros locais e reorganizados a pedido de um grupo que
não é o mesmo que o “Imperium”,
e que apenas serviu como rede de
distribuição para a revista com o
mesmo nome. Como é possível que
estas “várias acções consecutivas
de um único plano criminoso” tenham passado desapercebidas por
um período de tempo tão improvavelmente longo? Existem apenas
duas possibilidades. Ou devemos
concluir que a vigilância política da
imprensa tem um ritmo e uma
prontidão muito peculiares, ou então — a única outra hipótese razoável — estes escritos foram seleccionados a partir de uma quantidade
de outros escritos meus no mesmo
espírito, incluindo alguns mais
recentes, que apareceram em páginas bem vigiadas, tais como Meridiano d’Italia, Rivolta Ideale, Lotta
Politica — seleccionados não pelos
seus conteúdos intrínsecos, mas
pelo único facto de terem aparecido nas páginas do grupo “Imperium”, estabelecendo assim a minha não existente implicação na
presumível actividade ilegal que é
imputada a este grupo. Tal artifício
é com certeza transparente para
qualquer tribunal objectivo.
Mas há mais. O relatório original
da Questura quase não se refere ao
suposto crime de “apologia” que
supostamente cometi através destes meus escritos. Arrogando-se a
competência, a autoridade, e a função de julgar em matérias de alta
cultura, de filosofia, de doutrina
racial, e dedicando-se mesmo aos
méritos do que eu tenho a dizer
sobre o darwinismo, a psicanálise e
o existencialismo, o relatório do
Gabinete Político da Questura procura ao invés denegrir o meu esta-
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tuto como escritor, apresentandome como um diletante conhecido
apenas por pequenos grupos de
esoteristas — e é cómico ver quão
ignorante o compilador deste relatório é sobre o significado do “esoterismo”! — e que iludiu estes jovens neofascistas com as suas teorias filosóficas, mágicas e mórbidas (vai mesmo ao ponto de falar
de insania mentis!), e que só pode
ser o responsável das suas acções
irreflectidas.
Assim desviam-se para um
campo completamente estranho
ao material da acusação (do qual
veja-se o Artigo 7º). E embora seja
extremamente desagradável ter de
falar sobre si próprio, sinto-me obrigado a fazer uma pequena rectificação de tal caricatura distorcida
de mim.
Se eu fosse apenas um diletante e um fanático, desconhecido
fora dos círculos em questão, porque é que editores de primeira
ordem como Laterza (editor de Croce), Bocca e Hoepli teriam publicado alguma vez vários dos meus trabalhos, alguns deles sobre o racismo? Mais do que um destes trabalhos foi reeditado, e vários foram
traduzidos para várias línguas estrangeiras. Posso também perguntar como pude ser convidado para
ciclos de conferências em universidades italianas (Milão, Florença) e
estrangeiras (Halle, Hamburgo),
além de ter sido orador convidado
de sociedades estrangeiras abertas
apenas aos principais expoentes do
pensamento aristocrático e tradicional europeu, tais como o Herrenklub de Berlim, a Associação
Cultural de Budapeste da Condessa
Zichy, e o Kulturbund do Príncipe
Rohan em Viena?
Aquilo que foi descrito como
teorias desequilibradas, tenebrosas
e “mágicas” consiste na realidade
em estudos sistemáticos sobre metafísica, orientalismo, ascese, ciência dos mitos e símbolos — estudos, uma vez mais, que são também apreciados no estrangeiro. A
este respeito mencionarei apenas
que ainda este ano, o editor Luzac
de Londres, o mais distinto da Europa nesta área, publicou um dos
meus livros sobre o budismo, A
21
Boletim Evoliano
“
O tipo de racismo por mim defendido, longe de ser um
“extremismo”, pertence aos esforços que empreendi,
também noutros campos, para rectificar as ideias que
se desenvolviam de forma desviante no Fascismo, tal
como no Nacional-Socialismo. Assim, opus ao racismo meramente materialista e vulgarmente anti-semita um racismo
espiritual, introduzindo o conceito de “raça do espírito” e
desenvolvendo uma doutrina original sobre essa base. Além
disso, opus ao ideal ariano-germânico defendido pelo nazismo
o ideal ariano-romano; certamente ataquei a ideia confusa de
latinidade, não a favor da ideia germânica mas para exaltar
o conceito da pura romanidade, concebida como uma força
mais augusta e original do que tudo o que é genericamente
latino.”
Doutrina do Despertar.
A acusação da Questura exige
rectificação sobre um outro ponto
referente ao racismo. Tentando
sempre colocar-me sob uma luz
comprometedora,
apresenta-me
como um fanático nazi-fascista,
que nas suas palestras no estrangeiro atacou a latinidade e denegriu a italianidade a favor da ideia
ariano-germânica, causando alarme até entre a hierarquia Fascista,
no seguimento de avisos consulares. Tudo isto é um equívoco derivado da incompetência e de deficiente informação.
Deve-se perceber que nos modernos estudos raciais, “ariano” e
mesmo “nórdico” não significam
alemão; o termo é sinónimo de
“indo-europeu” e é correctamente
aplicado a uma raça primordial
pré-histórica, da qual derivaram os
primeiros criadores das civilizações
hindu, persa, grega e romana, e da
qual os alemães são apenas os últimos ramos adventícios. Tudo isto é
demonstrado da forma mais clara
possível nos meus trabalhos Revolta contra o Mundo Moderno e Síntese de Doutrina da Raça. O tipo de
racismo por mim defendido, longe
de ser um “extremismo”, pertence
aos esforços que empreendi, também noutros campos, para rectificar as ideias que se desenvolviam
de forma desviante no Fascismo,
tal como no Nacional-Socialismo.
Assim, opus ao racismo meramente materialista e vulgarmente antisemita um racismo espiritual, introduzindo o conceito de “raça do
espírito” e desenvolvendo uma doutrina original sobre essa base.
Além disso, opus ao ideal arianogermânico defendido pelo nazismo
o ideal ariano-romano; certamente
ataquei a ideia confusa de latinidade, não a favor da ideia germânica
mas para exaltar o conceito da
pura romanidade, concebida como
uma força mais augusta e original
do que tudo o que é genericamente
latino.
E não é tudo. O advogado da
Questura parece desconhecer que
as palestras que refere, e cujo título era significativamente “O Despertar Ariano-Romano da Itália Fascista”, foram seguidas por outras
em várias cidades alemãs, cujos
textos recolhi em italiano, extraídos
da Rassegna Italiana. Aqui demonstrei o que a antiga ideia Clássica e Romana tinha a oferecer no
sentido de direccionar várias ideias
em voga na Alemanha, e para as
elevar a um nível superior e espiritual. É possível que algum cônsul
italiano no estrangeiro tenha enviado relatórios alarmantes. Mas no
que diz respeito à alegada preocupação que a minha teoria racial
provocou na hierarquia Fascista, as
coisas são muito diferentes. Após
estas palestras, Mussolini, por sua
Boletim Evoliano
22
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iniciativa pessoal, falou comigo expressando-me a sua aprovação às
minhas formulações raciais, porque as considerava úteis para dar
uma posição independente, e mesmo superior, ao pensamento italiano em relação à ideologia nazi —
algo de que o então chefe do Gabinete Racial, Dr. Luchini, pode dar
testemunho preciso. E devo dizer
que este reconhecimento, feito
espontaneamente por Mussolini a
um não-fascista — i.e., a um nãomembro do partido — é uma das
memórias mais gratificantes da minha vida. De qualquer modo, diria
que a teoria da raça é apenas um
capítulo subordinado e secundário
no conjunto de ideias que defendi,
apesar do que algumas pessoas
pensam.
A seguir, quando o relatório da
Questura alega que durante um
certo período de tempo durante o
Fascismo estive “sob vigilância” por
motivos pessoais obscuramente
mencionados — e, acrescenta, por
actividade mágica! — não há a
mais pequena ponta de verdade
nisso. Seria bom também recordar,
em casos deste tipo, que pessoas
eram obedecidas de maneira servil
pela Questura, cujos oficiais eram
todos membros do Partido, enquanto que eu nunca o fui. Enquanto pensador independente tive, como prontamente admitirei, amigos
dedicados no Fascismo, e também
inimigos mortais que tentaram prejudicar-me por todos os meios, espalhando todo o tipo de rumores e
calúnias. Entre esses inimigos encontravam-se Starace e os seus
capangas, que tentaram até utilizar
a Questura da época, mas sem
sucesso. E hoje parece que a Questura não hesita em desenterrar
estas velhas histórias contra mim:
usadas ontem para me fazer parecer antifascista, e hoje, pelo contrário, para confirmar a acusação de
Fascismo.
Porque não se faz, pelo contrário, qualquer referência ao facto de
em 1930 o Gabinete Político da
Questura ter aprovado uma injunção contra mim para a suspensão
do periódico La Torre, do qual eu
era editor? E porque aconteceu
isso? Por “ataques contra os esqua-
Achille Starace
dristas Fascistas”. Naturalmente,
não se tratava do esquadrismo per
se, mas apenas de alguns indivíduos sem escrúpulos que usavam
a desculpa do Fascismo e do esquadrismo para cometerem todo o
tipo de abusos, e que de maneira a
se vingarem de mim, que os atacava, sendo protegidos por Starace,
usaram até a polícia.
Não pretendo apresentar-me como antifascista ou como vítima do
Fascismo. Mas tudo isto deveria
ser devidamente registado de forma a revelar os métodos que estão
a ser usados contra mim.
Agora que tudo foi clarificado, e
todas as acusações tendenciosas
removidas, passo para a questão
de facto, no que à acusação de ter
defendido “ideias próprias do Fascismo” diz respeito. Mas neste ponto fico perplexo, porque a acusação
não menciona os artigos que a
preocupam nem indica — como é
prática comum — as passagens específicas correspondentes ao pior
do crime; nem, falando de modo
geral, indica o que estas “ideias
próprias do Fascismo” possam ser.
[Neste ponto o Procurador Público, Dr. Sangiorgi, declarou que não
se tratava de passagens específicas dos trabalhos de Evola, mas
sim do seu espírito geral. Quanto
às “ideias próprias do Fascismo”,
acrescentou que em sua opinião
estas poderiam ser a monocracia,
o hierarquismo e o conceito de aristocracia ou elitismo. Depois de tudo isto ter sido registado, a pedido
de Evola, nas actas do Tribunal,
Evola continuou.]
Muito bem. Quanto à monocracia, isso não passa de um nome
diferente para monarquia, no sentido original, e não necessariamente
dinástico, do termo. Quanto ao hierarquismo, direi de uma vez que eu
defendo a ideia de hierarquia, não
a de hierarquismo. Tendo feito esta
clarificação, direi que se esses são
os termos da acusação, ficaria honrado por ver sentados no mesmo
banco de acusação, pessoas como
Aristóteles, Platão, o Dante de De
Monarchia, até Metternich e Bismarck. Recuso a acusação de defender ideias próprias do Fascismo,
porque a expressão “próprias do”
contida no Artigo 7º significa “específicas do”, ou seja, refere-se não
apenas ideias que se podem encontrar no Fascismo mas especificamente a ideias que só se podem
encontrar no Fascismo e em mais
nenhum lugar.
Agora, no que me diz respeito
esse não é de modo algum o caso.
Defendi, e continuo a defender,
“ideias fascistas”, não tanto na medida em que são “fascistas” mas
na medida em que reavivam ideias
superiores e anteriores ao Fascismo. Como tal elas pertencem à
herança da concepção hierárquica,
aristocrática e tradicional do Estado, uma concepção de carácter universal e mantida na Europa até à
Revolução Francesa. De facto, a
posição que defendi e continuo a
defender, como homem independente — já que nunca fui membro
de nenhum partido, nem do PNF
(Partido Nacional Fascista), nem do
PRF (Partido Republicano Fascista), nem do MSI — não deve ser
chamada “fascista” mas sim tradi-
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cional e contra-revolucionária. No
mesmo espírito de Metternich, Bismarck, ou dos grandes filósofos
católicos do princípio da autoridade, De Maistre e Donoso Cortés,
rejeito tudo o que deriva, directa ou
indirectamente, da Revolução Francesa e que, em minha opinião, tem
como consequência extrema o bolchevismo, ao que eu contraponho o
“mundo da Tradição”. Tudo isto se
percebe claramente no meu trabalho fundamental, entregue ao Tribunal, Revolta contra o Mundo
Moderno, cujas duas partes se intitulam precisamente, “O Mundo da
Tradição” e “Génese e Rosto do
Mundo Moderno”. No prefácio indico que este livro é a chave para a
compreensão correcta dos meus
escritos especificamente políticos;
e o crítico inglês McGregor diz sobre este trabalho, na sua crítica à
segunda edição: “Mais do que a
obra-prima do Spengler italiano,
chamaria a este livro o bastião do
espírito aristocrático e tradicional
europeu”. Esta minha posição é
bem conhecida, e não apenas em
Itália. Num livro recente da autoria
do historiador suíço A. Mohler (Die
konservative Revolution, Estugarda, 1950, pp. 21, 241-242), fui
honrado ao ser colocado ao lado de
Pareto, e considerado o principal
expoente italiano da chamada “revolução conservadora”.
Assim, não existe, em minha
opinião, qualquer motivo para falar
em apologia de “ideias próprias do
Fascismo”. Os meus princípios são
apenas os que, antes da Revolução
Francesa, qualquer pessoa bemnascida considerava sãos e normais. Deixo por clarificar por hoje a
questão dinástica e institucional.
No entanto, tudo o que escrevo, incluindo os artigos incriminados e
Orientações, poderia ser interpretado igualmente bem como a defesa
da ideia tradicional e pré-constitucional da monarquia e hierarquia:
defesa essa que nenhuma das nossas leis criminaliza, porque se o
Artigo 1º das Leis de Emergência
tem o seu contraponto no Artigo 2º,
que proíbe a reconstrução — pelo
menos por meios violentos — da
monarquia, o Artigo 7º não tem
contraponto numa proibição da glo-
23
Boletim Evoliano
Aristóteles, Platão, Dante e Bismarck… co-réus de Evola?
rificação de uma ideologia “monárquica”.
Quanto ao Fascismo histórico,
se apoiei os seus aspectos que se
enquadravam nesta ordem de ideias, também combati as ideias presentes nele que eram mais ou
menos tributárias do clima político
materialista dos tempos recentes;
e tais críticas do que hoje em dia
se considera comummente como
Fascismo são frequentes nos próprios escritos que são usados para
me incriminar. Limitar-me-ei a alguns pontos essenciais.
1. Oponho-me ao totalitarismo,
contrapondo-lhe o ideal de um Estado orgânico e diferenciado, considerando o “hierarquismo fascista”
um desvio. Em Orientações, na p.
15, pode-se ler que o totalitarismo
representa uma direcção errada e
o aborto da necessidade de uma
unidade política viril e orgânica:
“Hierarquia não é hierarquismo
(mal que hoje reaparece demasiadamente, embora em tom menor)
e a concepção orgânica não tem
nada a ver com a esclerose estatolátrica e a centralização niveladora.” Assumi uma posição anti-totalitária ainda mais extensivamente e
energicamente num artigo que
apresentei ao Tribunal, intitulado
“Estado Orgânico e Totalitarismo”,
que apareceu em Lotta Politica,
órgão oficial do MSI. Defendi a
mesma tese, transposta para um
plano cultural, no artigo incriminado publicado em Imperium (nº 2)
onde, criticando as ideias do escritor Stending, reconheço tal como
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ele, que o mal de que a cultura moderna sofre é a sua fragmentação,
causada pela inexistência de uma
ideia central e directiva; mas oponho-me à solução totalitária, na
qual não existe um princípio espiritual, super-elevado e transcendente, mas apenas a brutal vontade
política de escravizar tiranicamente
e unificar a cultura, de que o sovietismo é o resultado último.
2. Uma concepção especificamente Fascista foi a do chamado
“Estado Ético” de Gentile. Dirigi-lhe
duras palavras (Orientações, p. 23)
(2).
3. Algumas pessoas gostam de
apresentar o Fascismo como uma
“tirania tortuosa”. Durante essa “tirania” nunca tive de passar por
uma situação semelhante a esta.
No que diz respeito a este aspecto,
adopto o axioma de Tácito: “A suprema nobreza dos chefes não é
serem patrões de servos, mas chefes que amam a liberdade até naqueles que lhes obedecem” (p. 15).
4. Em relação ao problema da
soberania, rejeito todas as soluções demagógicas e ditatoriais. A
verdadeira autoridade — como afirmo na p. 15 — não pode ser a de
“um tribuno ou dirigente popular
detentor de um simples poder individual informe desprovido de qualquer carisma superior, assentando
o prestígio precário por ele exercido
nas forças irracionais das massas.”
No chamado “Bonapartismo” vejo
“um dos obscuros aparecimentos
da Decadência do Ocidente de que
falava Spengler”, e recordo a frase
de Carlyle sobre o “mundo dos servos que quer ser governado pelo
pseudo-herói” (p. 17).
5. Ataquei repetidamente a
ideia de “socialização”, que, como
sabem, foi uma das palavras de
ordem do Fascismo de Salò, ao
qual não aderi enquanto doutrina
(os Pontos de Verona), embora
aprovando o comportamento dos
que combateram no Norte por prin-
cípios de honra e lealdade. Na
socialização vejo o Marxismo disfarçado, uma tendência demagógica. Sobre isto, veja-se Orientações,
p. 13, e mais de um terço do artigo
incriminado intitulado “Duas Intransigências” (Imperium, nº 4). A influência que pretendi exercer sobre
os jovens do grupo “Imperium” e
outras correntes juvenis foi, de facto, na direcção de uma contraposição às tendências materialistas e
esquerdistas presentes no MSI.
A defesa da ideia corporativa
não deveria constituir um crime,
dado que se encontra presente nos
partidos legais de hoje — como o
Partido Nacional Monárquico e o
MSI — e mesmo em algumas correntes do catolicismo político. No
entanto, critico alguns aspectos
segundo os quais o corporativismo
Fascista foi uma simples superstrutura burocrática que manteve o
dualismo classista. A isto opus
uma reconstrução orgânica e anticlassista da economia no seio das
próprias empresas (pp. 13-14).
Finalmente, um breve sumário
das teses contidas nos artigos publicados em Imperium e La Sfida.
O primeiro destes artigos relembra simplesmente o significado da
palavra imperium nas suas origens
romanas: era sinónimo de auctoritas e de poder derivado de forças
divinas, do alto. Depois afirmo que
a crise do mundo político moderno
reflecte a crise de tal princípio ou
poder, e os valores heróicos a ele
ligados.
O artigo de La Sfida assinado
com o pseudónimo “Arthos” e sumariado em Orientações, baseia-se
no princípio de Metternich: “Não se
negoceia com a subversão”, pegando no tema de um escrito de Engels — a revolução liberal limita-se
a preparar a comunista e uma trabalha a favor da outra. De seguida
digo que da mesma maneira que
os comunistas fundam o seu radicalismo subversivo nesta concep-
ção, também nós devemos partir
dela quando tentamos agir no sentido contrário: i.e., na direcção contra-revolucionária de uma verdadeira reconstrução, sem fazer concessões à subversão. Não existem referências ao Fascismo ou a homens
que a ele pertenceram em nenhum
destes escritos. Isto é tudo.
Tendo assim demonstrado que
nos escritos incriminados — e limitando-me apenas a esses e não me
referindo aos meus outros livros,
como a honestidade cientifica exigiria — sou contra o totalitarismo,
contra a ditadura demagógica, contra o “Estado Ético”, contra todas
as formas de autoridade dessacralizada, contra “um simples poder
individual informe”, contra o despotismo — recordar as palavras de
Tácito — contra a socialização, até
mesmo contra um certo corporativismo, peço que o assunto seja
dado por encerrado e que o crime
de “apologia” seja retirado.
De facto, as ideias centrais defendidas por mim, como disse, podem ter aparecido no Fascismo,
mas não são “próprias” do Fascismo, tal como o Artigo 7º diz. O que
sobra pertence essencialmente ao
domínio da ética e da concepção
da vida, e, quanto à política, resume-se a uma atitude de intransigência que é tradicional, e se quiserem “reaccionária”; numa postura resoluta contra a subversão, o
individualismo, o colectivismo, a
demagogia, qualquer que seja a
forma em que se manifesta, contra
o mundo dos políticos e dos homens sem carácter.
O que o Tribunal tem hoje de
decidir no meu caso é o seguinte:
será o clima na Itália de hoje tal
que declarar-se distante de qualquer actividade partidária ou organizativa, e defender tal posição
enquanto escritor, num plano doutrinal, assegura a apresentação
perante um tribunal sendo acusado
de “crime ideológico”?
2. “Em particular, combatemos o seu disfarce, que em certos ambientes se apresentou como «Estado ético» produto de uma
pretensiosa, espúria, vazia filosofia «idealista» que aderiu ao Fascismo mas que, pela sua natureza, é capaz, graças a um
simples jogo «dialéctico» de dados, de dar idêntico aval ao antifascismo de um Croce. Tal filosofia é apenas um produto da
burguesia laica e humanista presumida do «livre pensamento» próprio de um reitor de liceu, ao celebrar a infinitude do
«espírito absoluto» e do «acto puro». Nada aí há de real, de claro, de duro.” (N. do T.)
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Boletim Evoliano
Figura
Ungern-Sternberg,
“O Barão Sanguinário”
Julius Evola
————————————————
O livro de Ferdinand Ossendowski, Bêtes, Hommes et Dieux, cuja
tradução italiana acaba de ser reeditada, teve uma ampla difusão
aquando do seu aparecimento em
1924. Quem leu esta obra não
pôde deixar de ficar sensibilizado
pelo relato das peripécias da agitada viagem realizada por Ossendowski em 1921/22, através da
Ásia central, na sua fuga aos bolcheviques, mas também pelo que
se refere sobre um personagem de
excepção que encontrou, o barão
Ungern-Sternberg, não esquecendo
o que lhe foi dito sobre o “Rei do
Mundo”. Desejamos voltar aqui a
estes últimos pontos.
Criou-se na Ásia uma espécie de
mito em torno de UngernSternberg, ao ponto de ser adorado
em certos templos da Mongólia
como uma manifestação do deus
da guerra. Sobre ele existe também uma biografia romanceada,
aparecida em alemão com o título
Ich befehle (“Eu ordeno”), enquanto
que interessantes dados sobre a
sua personalidade, fornecidos pelo
seu chefe de artilharia, foram publicados na revista francesa “Études
Traditionelles”. Nós próprios tivemos a oportunidade de ouvir falar
de Sternberg directamente pelo
seu irmão, que viria a ser vítima de
um destino trágico: tendo escapado aos bolcheviques e regressado à
Europa através da Ásia após todo o
tipo de vicissitudes incríveis, ele e a
sua mulher foram assassinados
por um porteiro enlouquecido
quando Viena foi ocupada em
1945.
Ungern-Sternberg pertencia a
uma velha família báltica de origem viking. Oficial russo, comanda-
va na Ásia, no momento em que a
revolução bolchevique estourou,
numerosos regimentos de cavalaria, que pouco a pouco acabaram
por se tornar num verdadeiro exército, que Ungern utilizou para combater a subversão vermelha até às
últimas possibilidades, actuando a
partir do Tibete. E foi ele quem
libertou o Tibete dos chineses, que
na época tinham ocupado parte do
seu território. Manteve além disso
estreitas relações com o DalaiLama, após tê-lo libertado.
As coisas tomaram tal magnitude que acabaram por preocupar
seriamente os bolcheviques que,
derrotados regularmente, foram
obrigados a organizar uma campanha de grande envergadura, sob o
comando do “Napoleão vermelho”,
o general Blücher.
Depois de alguns altos e baixos,
Ungern foi vencido, devido à traição
de alguns regimentos checoslovacos. Existem numerosas versões
contraditórias sobre a sua morte,
mas não se sabe nada de exacto.
Seja como for, diz-se que previu a
sua morte, assim como certas circunstância particulares: por exemplo, teria adivinhado que seria ferido no assalto a Durga, o que realmente aconteceu.
Dois aspectos de Sternberg interessam-nos aqui. O primeiro referese à sua personalidade, que apresenta uma mescla de traços singulares. Homem de prestígio excepcional e de uma coragem sem limites, era também de uma crueldade
desapiedada, implacável para com
os bolcheviques, seus inimigos
mortais. Daqui a alcunha que lhe
foi colocada: o “barão sanguinário”.
É possível que uma grande paixão tenha “queimado” nele todo o
elemento humano, não deixando
subsistir na sua pessoa mais que
uma força indiferente à vida e à
morte. Ao mesmo tempo, encontramos em Ungern traços quase místicos. Mesmo antes de ir para a Ásia
professava já o budismo (que não
se reduz a uma doutrina moral
humanitária), e as relações que
manteve com os representantes da
tradição tibetana não se limitavam
ao domínio exterior, político e militar, no marco dos acontecimentos
mencionados anteriormente.
Ungern possuía certas faculdades
supra-normais: algumas testemunhas falaram de uma espécie de
clarividência que lhe permitia ler a
alma do outro, segundo uma percepção tão exacta como a relativa
às coisas físicas.
O segundo ponto diz respeito ao
ideal defendido por Ungern. O combate contra o bolchevismo teria
sido o sinal de uma acção mais
vasta. Segundo Ungern, o bolchevismo não era um fenómeno autónomo, mas sim a última e inevitável consequência de processos
involutivos que se tinham verificado desde há muito tempo no seio
da civilização ocidental. Tal como
Metternich no passado, ele detectava uma continuidade entre as
diferentes fases e formas da subversão mundial, desde a Revolução
Francesa. Também segundo Ungern, a reacção deveria partir do
Oriente, de um Oriente fiel às suas
tradições espirituais e unido, face
ao perigo ameaçador, a todos
aqueles que fossem capazes de
uma revolta contra o mundo moderno. A primeira tarefa seria eliminar o bolchevismo e libertar a Rússia.
É interessante, por outro lado,
saber que, segundo numerosas
fontes em certa medida dignas de
fé, Ungern, transformado no libertador e protector do Tibete, teria
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mantido então, em vista a este plano, alguns contactos secretos com
os representantes das principais
forças tradicionais, não apenas da
Índia mas também do Japão e do
Islão. Tratava-se de realizar a pouco e pouco a solidariedade defensiva e ofensiva de um mundo ainda
não ferido de morte pelo materialismo e a subversão.
Foquemos agora o segundo problema, o do “Rei do Mundo”.
Ossendowski afirmou que os lamas
e os chefes da Ásia central tiveram
ocasião de lhe falar da existência
de um misterioso centro inspirador
denominado l’Aghartta, residência
do “Rei do Mundo”. Tal centro seria
subterrâneo e poderia comunicarse, por meio de “canais” situados
sob os continentes e os oceanos,
com todas as regiões da Terra. Da
forma como Ossendowski fala
delas, estas informações apresentam um carácter demasiado imaginativo. É mérito de René Guénon
ter posto em destaque, no seu livro
Le Roi du Monde, o verdadeiro conteúdo destes relatos, não sem assinalar este significativo detalhe: que
na obra póstuma de Saint-Yves
d’Alveydre aparecida em 1910 e
intitulada La Mission des Indes,
obra que Ossendowski certamente
desconhecia, se fala do mesmo
centro misterioso.
O que é necessário compreender é que a ideia de um centro subterrâneo (difícil de conceber, quanto mais não fosse pela dificuldade
de alojamento e de aprovisionamento, a partir do momento em
que não fosse habitado por espíritos puros) deve ser traduzida pela
ideia de um “centro invisível”.
Quanto ao “Rei do Mundo” que ali
residiria, esta ideia reenvia-nos à
concepção geral de um governo ou
de um controlo invisível do mundo
ou da história; a fantástica referência aos “canais subterrâneos” que
permitem a este centro comunicarse com numerosos países deve ser
igualmente desmaterializada: de
facto, trata-se das influências exercidas, por assim dizer, “por trás dos
bastidores”, por este centro.
No entanto, mesmo que tudo se
interprete desta forma mais concreta, não deixam de se colocar
graves problemas, se nos detivermos um pouco nos factos. É certo
que o espectáculo oferecido de forma mais ou menos precisa pelo
nosso planeta dificilmente nos indica a ideia da existência deste “Rei
do Mundo” e das suas influências,
admitindo que estas seriam positivas e rectificadoras.
Os lamas teriam dito a Ossendowski: “O Rei do Mundo aparecerá
perante os homens quando chegar
o momento de guiar os bons na
guerra contra os maus. Mas este
tempo ainda não chegou.” Trata-se
aqui da adaptação de um tema tradicional que também foi conhecido
no Ocidente até à Idade Média.
O que é verdadeiramente interessante é que esta ordem de
ideias tenha sido apresentada a
Ossendowski no Tibete, pelos lamas e chefes destas regiões, como
derivando de um ensinamento esotérico. E a maneira grosseira como
Ossendowski refere o que lhe foi
dito, inserindo-o no relato das suas
viagens, permite precisamente
pensar que não se trata, pela sua
parte, de um devaneio pessoal.
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Boletim Evoliano
Tradição em rede
Tradição em rede
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Dinamarca (embora o seu catálogo seja composto quase na totalidade por títulos em inglês) dedicada à distribuição e publicação de
livros sobre o tradicionalismo, a
metapolítica, a iniciação, o esoterismo, a crise do mundo moderno,
bem como as diferentes tradições
religiosas. Julius Evola e René
Guénon são autores em destaque.
Segundo o seu site: “A ITP foi
criada para criar consciência da
Verdade eterna e transcendente
contida em todas as autênticas
tradições, bem como dos problemas, defeitos e hipocrisias da sociedade Ocidental moderna. Desejamos fazê-lo através da publicação e distribuição de materiais
sobre o tradicionalismo que demonstrem a discrepância entre a
luz da Tradição e as trevas da mo-
A Associação Cultural Raido é
uma associação italiana de inspiração evoliana. Entre as suas actividades contam-se a organização
de conferências, a edição de
livros, cadernos, música e roupa.
Editam também uma revista com
o mesmo nome e o boletim electrónico Azione Tradizionale.
Através do seu site, bastante
bem concebido em termos gráficos, é possível encomendar dezenas de obras sobre os mais variados temas, desde a II Guerra Mundial à Filosofia e Religião, bem
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ou pequenas peças de artesanato,
sempre com uma temática tradicional.
dernidade. Criando tal consciência, mesmo que num pequeno
número de pessoas, esperamos
poder ajudar a criar as bases do
regresso à Tradição.”
A sua primeira publicação foi
precisamente “A Metafísica da
Guerra – Batalha, Vitória e Morte
no Mundo da Tradição”, de Julius
Evola.
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