05 Azuis.
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05 Azuis.
novembro/dezembro 2012 CONCEITUAL #05 azuis editorial 03 CONCEITUAL #05 novembro/dezembro 2012 066 biblioteca Publishers André Poli e Roberta Queiroz Consultoria Editorial Eduardo Logullo | Marcos Guinoza ambieNteS PoSSÍVeiS o a z u l d a c o r d o m a r – e que é também o do planeta terra – corresponde às frequências mais altas entre as ondas eletromagnéticas que compõem o espectro luminoso visível. isso significa que, de todas as ondas-cor que integram a luz branca, e que sensibilizam o olho humano, a azul é aquela que oscila mais rapidamente. ao mesmo tempo, e ao contrário do que se possa concluir, as altas frequências da cor azul produzem efeito calmante sobre o corpo humano, favorecendo as atividades intelectuais e de meditação. E talvez não seja à toa que uma das imagens mais associadas à tranquilidade e ao relaxamento seja aquela, clássica, da praia paradisíaca – com céu e mar azuis – ou ainda que, para os amantes da leitura, a praia seja um dos ambientes mais interessantes à dedicação dessa atividade. Além do azul, elementos como o silêncio relativo e o olhar acessível à linha do horizonte compõem esse ambiente que, na medida em que não sobrecarrega os sentidos, favorece a concentração e a reflexão. Se o ambiente urbano, onde vive a maior parte da população mundial, apresenta hoje condição caótica aos cinco sentidos, solicitando-os simultaneamente e de modo permanente, a casa – célula individual – por sua vez, acaba configurando um espaço de contraponto a essa saturação. e ainda que imaginemos uma cidade saudável, onde mesmo os ambientes de uso coletivo estejam aptos à prática de atividades que exijam concentração, a existência de espaços de uso puramente individual, como alternativa ao coletivo, não deverá ser abolida. Se vibramos em alta frequência nas ruas, procuramos na casa um reduto de tranquilidade e, sendo esse um espaço de determinação individual, podemos muni-lo com estímulos que permitam investigar e aprofundar a relação que estabelecemos com nossos próprios sentidos. Se até pouco tempo atrás (meados do século 20), tanto a casa quanto os espaços de uso coletivo respondiam a funções rigidamente estabelecidas, hoje, a maior facilidade de acesso aos recursos de comunicação e produção de que dispomos relativizou os programas de uso dos espaços. um café ou uma livraria tornaram-se possíveis ambientes de trabalho; os espaços de trabalho (escritórios), por outro lado, são cada vez mais pensados como ambientes de encontro, de troca de ideias e tomada de decisões. Da mes- Se vibramos em alta frequência nas ruas, procuramos na casa – célula individual – um reduto de tranquilidade Conselho Editorial Carolina Szabó, Renata Amaral, Jéthero Cardoso, texto Marcella aquila Roberto Negrete e Alex Lipszyc Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia Diretora Regional ABD/DF Angela Borsoi Colaboradores Amer Moussa, Camila Brito Paula, Daiane Ferreira Domingos, Evelyn Leine (arte), Fabio Galeazzo, Gabriel Marchi, Gustavo Garcia (Papanapa), Ilana Bessler, Jéthero Cardoso, Luan Silva, Lucas Magno, Marcella Aquila e Roberto Negrete abd conceitual nov/dez 2012 Diretora de Arte Cinthia Behr Editor de Fotografia Renato Elkis Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683 * CONCEITUAL #05 Pesquisa de Imagens Joanna Heliszkowski design Poder Publicidade Para anunciar [email protected] VELVET EDITORA LTDA 11 3082 4275 www.velveteditora.com.br viking texto Amer moussA Design escandinavo: looks futuristas, desenhos limpos e formas puras ABD Associação Brasileira dos Designers de Interiores www.abd.org.br azuis CAPA revista ABD Conceitual terá cinco edições em 2012. A cada número, a publicação vai abordar uma cor e as incontáveis possibilidades que ela oferece. Na edição 05, o tema é o azul. Presidente SP Carolina Szabó, Vice Presidente SP Renata Duarte Amaral, Diretora Financeira SP Márcia Regina de Souza Kalil, Diretora Nacional SP Maria Luiza Junqueira da Cunha (Malu), Diretora Nacional RJ Paula Neder de Lima, Diretora Nacional PR Fabianne Nodari Brandalise, Diretor Nacional MG Carlos Alexandre Dumont (Carico), Membro Efet. Cons. Delib. SP Alexander Jonatan Lipszyc, Membro Efet. Cons. Delib. SP Brunete Frahia Fraccaroli, Membro Efet. Cons. Delib. BA Delma Morais Macedo, Membro Efet. Cons. Delib. SP Fernando Piva, Membro Efet. Cons. Delib. SP Jhétero Cardoso de Miranda, Membro Efet. Cons. Delib. RJ Luiz Saldanha Marinho Filho, Membro Efet. Cons. Delib ES Rita de Cássia Marques da Silva (Garajau), Membro Efet. Cons. Delib. SP Roberto Daniel Negrete, Suplente Cons. Deliberat. SP Luciana Teperman, Suplente Cons. Deliberat. SP Maria do Carmo Brandini, Suplente Cons. Deliberat. SP Terezinha Nigri Basiches, Membro Efet. Cons. Fiscal DF Denise Fátima de Faria Zuba, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Marília Brunetti de Campos Veiga, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Maurício Peres Queiroz dos Santos, Suplente Cons. Fiscal RJ Ana Maria de Siqueira Índio da Costa, Suplente Cons. Fiscal BA Eneida Márcia da Silva Alves, Suplente Cons. Fiscal MG Jaqueline Miranda Frauches Sugestões [email protected] Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista. abd conceitual nov/dez 2012 020 abd conceitual nov/dez 2012 060 azulejos orA, pois! A história do patrimônio azulejar português texto Luan SiLva fotos sHutteRstoCK novembro/dezembro 2012 Revisão Ana Cecilia Chiesi Ciclo de cores Amigos e parceiros, A primeira edição da revista ABD Conceitual surgiu em março de 2012. Naquele início, como é comum acontecer em estréias, tínhamos mais dúvidas que certezas sobre o êxito deste novo projeto. Será que a revista daria certo? Será que atingiríamos os objetivos propostos? Será que conseguiríamos agregar valor ao segmento de design de interiores? As respostas para essas questões vieram com a sequência editorial da publicação. De modo rápido, expandimos ideias, temas, abordagens e, agora – após esmiuçar a clareza do branco, o dinamismo do vermelho, a sustentabilidade do verde e a alegria do amarelo – posso afirmar com convicção: sim, nós conseguimos! E para celebrar essa sensação de dever cumprido, nada mais apropriado que fechar 2012 em azuis. Azuis que acalmam; azuis que levam à reflexão; azuis que ajudam a clarear as ideias; azuis do mar, do céu – e da liberdade que move todo ser em movimento. Ser como Verner Panton ou Eero Saarinen ou Arne Jacobsen e outros “vikings” que transformaram a gelada Escandinávia em referência de design limpo, simples e bonito. Ser como Eric Cahan, fotógrafo de Nova York que nos apresenta “Sky Series”, conjunto de imagens do nascer e do pôr do sol que mostram as múltiplas cores do céu. Tem mais: mergulhamos nas piscinas azuis da Califórnia, visitamos A Casa Azul de Frida Kahlo, resgatamos a história dos azulejos portugueses, discutimos a fotografia como obra de coleção e decoração, analisamos a casa como espaço de determinação individual, desnudamos os “corpos azuis” do artista plástico francês Yves Klein. Com o azul, finalizamos o tema Cores. Em 2013, seguiremos com a nossa proposta de informar, debater, inspirar, provocar, surpreender e levar aos profissionais de design de interiores uma revista em sintonia com este novo mundo: mais dinâmico, colaborativo, impermanente. Até lá! Carolina Szabó 04 sumário 54 34 50 048 MERCADO ABERTO 068 FOTO CHOQUE ABD premia novos talentos do design de interiores A fotografia como obra de arte 011 O TEOREMA DO AZUL 050 EQUILÍBRIO PSICOFÍSICO Azul-claro, azul-bebê, azul-marinho, azul-turquesa. Azuis: epílogo de 2012; início de outros estudos Parco Acque: spa e centro de bem-estar em Gubbio, na Itália Como nós, designers, queremos ser lembrados? Panteras ou ratos? Por Fabio Galeazzo 020 PODER VIKING 054 ORA, POIS! 078 OBSERVADOR DO MUNDO A história do patrimônio azulejar português Jean Royère: um dos últimos decoradores integrais. Por Roberto Negrete 060 AMBIENTES POSSÍVEIS 080 REDAÇÃO FINAL Yves Klein e a busca pelo azul perfeito Se vibramos em alta frequência nas ruas, procuramos em casa um reduto de tranquilidade Evento da ABD debate projeto que regulamenta profissão de designer de interiores. Por Jéthero Cardoso 030 NEM TUDO É AZUL 066 “NUNCA PINTEI SONHOS” 082 ENSAIO SOBRE O AZUL As cores do céu nas imagens do fotógrafo americano Eric Cahan A Casa Azul de Frida Kahlo e Diego Rivera O design que vem do frio da Escandinávia: looks futuristas, desenhos limpos, formas puras 026 PINCÉIS VIVOS 034 SPLISH SPLASH Cultura alternativa surgida na Califórnia na década de 1960, o skate inspira ambientes e mobiliário 046 PENSAMENTO-COR John Gage e a investigação histórica das motivações humanas que orientam a escolha de uma determinada cor abd conceitual nov/dez 2012 O espetáculo de dança contemporânea da bailarina Mariana Mello 20 Na ensolarada Califórnia, a piscina é uma instituição. Conheça a história desse playground aquático que virou mania mundial 040 SKATE SHAPE 076 ÉTICA & ESTÉTICA 40 CADE RNOINSIDE texto eduardo logullo design papanapa A cor azul traz um chamado distante. Planícies de sonho. O torpor dos primeiros degraus do sono. Existe enigma no azul. Talvez por associar-se a imensas expansões do mundo natural: céu, mar, ar. O pingo no olho, a caverna, o buraco submarino, a queda livre, a madrugada calma dos contos de Christian Andersen, o chuvisco que chapisca, a poça d’água que respinga, o cabelo azul das velhas de Miami, o halo dos deuses hinduístas. Azul mistura medo e surpresa. Nem sei bem porquê. Vai, azulão. O pássaro azulão é tão azul que se torna preto e tão preto que se torna azul. O canto do azulão é triste quando está na gaiola. O azulão canta de tristeza e os imbecis acham lindo. A solidão do azulão é um azul atroz. Ao mesmo tempo, o azulão sabe que a liberdade é azul. Em inglês, azul é blue. E o termo blue também pode significar triste. E o canto dos blues é triste, triste, triste. O blues paralisa. Cutuca. Futuca. Machuca. Desalenta. Dói. Billie Holiday usava sombra azul e engolia calada a sua dor de azulão urbano. Uma mulher que engoliu o azul para sempre. E nunca mais morreu, mesmo deixando de existir. Os blues dela deram essa permanência de intensidade. Azulona pessoa, azulona negona, azulona persona. Mas podemos pensar ainda no azul-claro, que vem a ser um primo cara-pálida do azul. O azul-claro é enternecedor e capaz de levantar semblantes derrubados em questão de segundos. E se você pintar a parede do escritório de azul-claro, haverá um acesso de sono coletivo: trata-se de um tom que existe para não provocar, porém acalmar. Iemanjá é sereia e usa um vestidão azul. Se Iemanjá vestisse vermelho, o mar nunca serenaria e ela perderia o titulo de sereia para virar sirigaita. E vamos combinar que orixá de fundo do mar não pode ser sirigaita nem vestir vermelho. Então deixa ela lá com o azul-claro dela e pronto. Pra quê discutir com tonalidades? Existe também o azul-bebê. Evidentemente vamos pulá-lo e trancafiá-lo numa masmorra para que dali nunca mais volte, pois bebês ficam bem de cores vivas, ora. O azul-bebê é invenção de alguma enfermeira de berçário. Neurótica. Pudera: as pessoas acham que quanto mais fraco o tom do azul, menos intenso será o choro p e d ra preciosa do bebê. Então as mães acreditam e surge a simpatia, a adoção generalizada, a empatia pelo azul mais sem A R graça do sistema solar, o azul-bebê. Roxo nele. Agora chamamos ao microfone o azul-turquesa. Palmas, auditório. Silêncio. Silêncio. Bom, pode voltar ao seu lugar na platéia, azul-turquesa. Não fique triste, existe turquia turquinha muniz de souza muita gente que gosta de você. Juro. Você tem um tom meio esverdeado, diferenciado, sei lá. Algumas pesA que você R é envolvente, refrescante soas Mconsideram e tranquilizante. O problema é que quase ninguém sabe de onde vem esse nome composto. Turquesa? Mas na Turquia tudo é vermelho. Olha que procurei, viu. Será a z u l - t u r q u es a da pedra preciosa? Nada de explicações. Talvez você, azul-turquesa, seja invenção da decoradora Turquinha Muniz de Souza, lá nos anos 1960. Satisfeito? Palmas, auditório. Bom, assim chegamos ao epílogo do nosso transcendental estudo das cores. Foi azul, deu a zul, ganhou a zul, ficou a zul. Qual a aura dessa cor tão popular no planeta? Por que as pessoas se identificam tanto com o azul? Mistérios, enigmas, névoas da mente humana, brumas do conhecimento, precipícios do desconhecido, vibrações óticas de Lakshmi, a deusa hindu que vive cercada de azuis, azulzinhos, azulões, azulaços. O azul flutua no céu da vibração. Azule-se. Como queríamos demonstrar. 016 design Poder viking texto Amer Moussa fotos Schnakenburg & Brahl Fotografi | divulgação Design escandinavo: looks futuristas, desenhos limpos e formas puras abd conceitual nov/dez 2012 Cadeiras Wave, da designer dinamarquesa Nanna Ditzel; e poltrona Very Round (2006), de Louise Campbell design fotos Fritz Hansen | Brahl Fotografi | Brahl Fotografi 018 abd conceitual nov/dez 2012 Pesquisas afirmam que fitar o azul puro por determinado tempo diminui o ritmo cardíaco e a respiração. Hibernar. Baixar a frequência. Muita calma para pensar e ter tempo para projetar – o novo. Em terras geladas, o desenho dos objetos, o modo de produção e a usabilidade – ou tudo junto: o design – pode ser decisivo para a sobrevivência humana. Habitantes de países como Dinamarca, Suécia e Noruega que o digam. Altamente funcional, o design escandinavo é eficiente sem demandar elementos pesados. Tem como metas ser facilmente transportável e ecologicamente produzido. E o mais importante: acessível ao maior número possível de consumidores, pois assim se mantém o equilíbrio social necessário para um desenvolvimento comum. Apesar da intensa industrialização, que dominou o modo de produção mundial a partir do início do século XIX, países como a Suécia conseguiram – diferentemente dos norte-americanos, por exemplo – manter a independência das associações locais de artesãos frente à voracidade do grande capital. Em 1845, cria a Sociedade Sueca de Artesanato e Desenho Industrial, que visava à evolução dos meios de produção, porém sem perder o conhecimento acumulado – ou seja, a tradição – dos pequenos produtores. Ao colocar em contato essas duas esferas – artesanato e indústria – fundou as bases de um modelo progressista, que ficou conhecido como “instrustrial arts”. Tal movimento acontecia não só no norte da Europa. Foi uma resposta à brutalidade da Primeira Guerra, que exigiu dos artistas posturas revolucionária e não somente evolucionárias. As escolas Bauhaus (Alemanha) e Vhkuthemas (União Soviética) foram férteis tentativas no sentido de produzir uma síntese entre arte, artesanato e indústria. O termo “design escandinavo” passou a ser difundido a partir dos anos 50, através de uma exposição de mesmo nome que atravessou a América. Deste momento em diante, o conceito de “scandinavian way of living” começa a circular internacionalmente, tendo como base os mesmos princípios que nos vem à mente até hoje: simplicidade, desenho limpo, leveza, inspiração na natureza, clima e comportamento nórdicos (reclusão, introspecção), acessibilidade e disponibilidade a todos e, principalmente, ênfase na alegria do ambiente doméstico. Um dos grandes nomes desta safra é o dinamarquês Hans Wegner (1914-2007). Caudaloso, o designer projetou mais de 500 cadeiras diferentes, das quais 100 foram artigos de produção em massa. O termo “design escandinavo” surgiu nos anos 1950, por meio de uma exposição de mesmo nome que atravessou a América Poltronas Mondial (1978 e 2001), de Nanna Ditzel; poltrona Bless You, da dinamarquesa Louise Campbell. Na página ao lado, Série 7 (1955), de Arne Jacobsen 020 design Poltrona The Egg, modelo 3316, desenhado por Arne Jacobsen em 1958. Abaixo, ambiente com poltronas da linha 3300 do mesmo designer Outro recordista é o seu conterrâneo Arne Jacobsen (1902 - 1971). Arquiteto de formação desenhou edifícios, mobiliário, papel de parede e até talheres, mas foram as cadeiras Ant – também conhecidas como Formiga (1951) – e a Série 7 (1955) que, além de ganharem diversos prêmios, se tornaram as cadeiras de maior sucesso comercial do mundo. O também dinamarquês Verner Panton (19261998), engenheiro e arquiteto, se enveredou pelo mundo de cores e formas puras, destacando-se principalmente pela cadeira Panton (1960) – a primeira peça de plástico executada através de um único ponto. Certa vez, provocou: “a maioria das pessoas passa a vida nas sombras, numa conformidade abd conceitual nov/dez 2012 fotos Fritz Hansen | Brahl Fotografi | Keystone/Hulton Archive/Getty Images | Andreas von Einsiedel/VIEW/Corbis/Latinstock Ao lado, poltronas The Icon-Familly, de Nanna Ditzel. Abaixo, cadeiras suspensas de Verner Panton “A maioria das pessoas passa a vida numa conformidade bege. O propósito do meu trabalho é provocá-las a usar a imaginação.” – Verner Panton bege, mortalmente com medo de usar cores. O propósito principal do meu trabalho está em provocá-las para usar a imaginação”. O arquiteto finlandês Eero Saarinen (1910-1961) também vestiu a camisa da corrente escandinava de design. Junto com Charles Eames, com quem trabalhou durante os anos em que viveu nos Estados Unidos, desenvolveu diversos objetos premiados, inclusive aeroportos e monumentos. Espécie de Niemeyer ianque, devido à alta plasticidade e ousadia no desenho, é o autor da cadeira Tulipa (1955), um grande hit de elegância do mobiliário moderno. Designers como Nanna Ditzel (1923–2005) e Louise Campbell (1970) são outras que aparecem como fortes representantes da cultura nórdica. A contribuição desta para a cultura ocidental é indiscutível: inúmeros diretores, cineastas e fotógrafos ainda utilizam mobiliário escandinavo sempre que desejam compor um look futurista. A estética do “objeto de consumo de massa com um toque de graça” tem o poder de lembrar ao usuário que o criador do produto é humano. n Ambiente de apartamento em Londres com cadeiras e mesa criadas pelo designer finlandês Eero Saarinen 022 arte PINCÉIS VIVOS Yves Klein: do vazio fez-se o azul texto Lucas Magno É b e m ali , e n t r e o céu e a t e r r a , diluindo a linha do horizonte e expandindo-se ao infinito, em um feixe de cor azulada, saturada e luminosa, que encontramos Yves Klein. Precursor da arte contemporânea, já anunciava por acaso uma das maiores características dos artistas pós-modernos: a multiplicidade dos suportes de criação. Conhecido como pintor, mas não por esse único ofício, experimentou tudo: fotografia, escultura, literatura, música, performance. Para Klein, como na série de obras com esponjas, não havia limites para absorver suas ideias. O ano é 1928, período de entre guerras. Por aqui, surgia o Movimento Antropofágico e, em Nice, cidade francesa rodeada pelo azul, nascia Yves Klein, filho de pintores. Seu pai era paisagista e sua mãe pertencia à vanguarda parisiense da Art Informel. Sem formação acadêmica no campo das artes, foi autodidata e teve seu desenvolvimento intelectual provocado pelas viagens que realizou. Em uma passagem pelo Japão, torna-se mestre em judô e se aprofunda nos estudos da teoria zen-budista, que iria predominar na convergência entre criação e filosofia – eixo central das ideias dos seus trabalhos. A trajetória de Klein com as cores é marcada por três momentos: o dourado, o rosa e o azul. Azul IKB (International Klein Blue) foi a cor que o tornou célebre. Para conseguir o tom exato, passou por um ano de experimentos, misturando pigmentos ao lado de seu amigo, o químico Edouard Adam. Assim, após patentear a sua invenção e começar a usá-la, suas obras se tornam únicas – tanto em conceito quanto em técnica, mas especialmente em cor. Foi esse azul ultramarino que virou o seu maior signo. A monocromia e a ação da natureza eram duas constantes nas obras de Klein. Pintou uma série de quadros seguindo o primeiro conceito. Usava a ação da chuva e do fogo para criar imagens, esculpiu o ar em sua obra de 1001 balões, obviamente na cor IKB, que voaram livres por Paris. Elevou seu trabalho a uma zona pictórica imaterial. Precursor da arte contemporânea, Yves Klein experimentou tudo: fotografia, escultura, literatura, música, performance Acima, Monique (ANT 57), 1960, 115 x 96 cm. Na página ao lado, Héléna (ANT 50), 1960, 109 x 75 cm. Ambas: pigmento puro e resina sintética sobre papel colado sobre tela abd conceitual nov/dez 2012 arte fotos Harry Shunk-John Kender | Yves Klein, ADAGP, Paris | Harry Shunk-John Kender | Roy Lichtenstein Foundation 024 abd conceitual nov/dez 2012 Muito antes de 2008, quando, no circuito artístico brasileiro, aconteceu a Bienal do Vazio, gerando protestos e ira, Klein buscava esse mesmo vazio (uma área livre de referências externas) e já tinha executado a ideia em 1957. Mas foi três anos depois, em 1960, que começam suas principais rupturas com o sistema vigente de fazer arte, oficializando sua busca por novas linguagens e pela singularidade coletiva. Klein e outros artistas criam o movimento dos Novos Realistas. Em março do mesmo ano, fez barulho com a série de obras “Anthropométrie de l›Époque Bleue”. Em uma exposição-performance, abandonou um dos materiais-símbolos do pintor: o pincel, e apresentou três modelos nuas se lambuzando de tinta azul. Na parede e no chão, tiras de papel formavam grandes telas, e as três mulheres manchadas de azul se movimentavam sobre as superfícies. Livres à aleatoriedade do ato, decalcando os corpos com a fluidez do movimento, eram orquestradas por Klein e moviam-se no ritmo da Sinfonia Monótona, criada pelo artista em 1949 e executada por músicos presentes. Eram pinceis vivos. E o resultado são corpos impressos, figuras que remetem à pintura rupestre. Mais uma ironia do artista, estética tão arcaica e técnica tão moderna. Em outubro de 1960, Klein publica “Le Sault dans Le Vide”, fotomontagem que sintetiza bem sua carreira curta e intensa. Era ele, saltando de um prédio, rumo ao vazio. Vazio que ultrapassa limites de tempo e espaço. De braços abertos para o risco e para o futuro, voando em direção à imensidão azul que o guiou. Klein se jogou em direção ao amanhã. O amanhã que sempre se faz presente. Como diria o filósofo francês Bachelard: “No início não há nada / depois um nada profundo / e depois uma profundidade azul”. A profundidade azul de Yves Klein. n www.yveskleinarchives.org Abaixo, exposição-performance “Anthropométrie de l’Époque Bleue”, Paris, março de 1960. Na página ao lado, Héléna, (ANT 50), 1960, 218 x 151 cm, pigmento puro e resina sintética sobre papel colado sobre tela A trajetória de Klein com as cores é marcada por três momentos: o dourado, o rosa e o azul. Foi o azul IKB que o tornou célebre 026 fotografia nem tudo é azul texto marcos guinoza As cores do céu nas imagens do fotógrafo Eric Cahan abd conceitual nov/dez 2012 028 fotografia At ra í d o pe l a l u z nat u ra l , a luz solar, Eric Cahan apontou a lente da sua câmera para o alto a fim de capturar as ondas de luz que colorem o céu. A esse conjunto de imagens ele deu o nome de “Sky Series”. Cahan mora em Nova York. Além de fotógrafo, é escultor. Para alcançar as cores desejadas, utiliza filtros de resina e, depois, faz ajustes no Photoshop. Mas Cahan conta que o processo de encontrar os tons certos é intuitivo: “No registro, sinto a cor que precisa ser destacada, que quer aparecer.” As imagens de “Sky Series” mostram o nascer e o abd conceitual nov/dez 2012 pôr do sol em lugares como Califórnia, Flórida, Nova York e Costa Rica. Sobre esses dois momentos de maior beleza da luz solar, o fotógrafo explica: “O nascer do sol normalmente tem uma camada marinha e o céu tem menos nuvens. Se esperar pela hora certa, pode-se ver um brilho claro antes de o sol nascer. Em um pôr do sol, as cores são mais saturadas.” Não é simples fotografar o céu com olhar próprio, sem cair no lugar-comum dos retratos banais com a luz do sol ao fundo. Eric Cahan consegue. n ericcahan.com 030 piscina SplishSplash Um histórico das piscinas, esse playground aquático que virou mania mundial fotos Archive Photos/Moviepix/Getty Images | shutterstock texto Amer Moussa Na página ao lado, a atriz Esther Williams no filme A Rainha do Mar, de 1952. Sobre ela, dizem que, seca, era como as outras; molhada, virava uma estrela
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