Ecstasy pode provocar altera visão até 24 horas
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Ecstasy pode provocar altera visão até 24 horas
ID: 39859127 26-01-2012 Tiragem: 10000 Pág: 30 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 20,92 x 26,14 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 3 cérebros inovação INVESTIGADORES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA LANÇARAM UM ESTUDO PIONEIRO QUE EVIDENCIA EFEITOS DO ECSTASY NA ACUIDADE VISUAL Ecstasy pode provocar altera visão até 24 horas depois do MARCO ROQUE OS AVANÇOS científicos dependem muito dos contactos entre membros de diferentes áreas da investigação e do conhecimento. Exemplo disso é o primeiro estudo a nível mundial sobre o efeito do ecstasy na retina, realizado por investigadores do Instituto Biomédico de Investigação da Luz e Imagem (IBILI), da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. "O estudo começou, essencialmente, numa reunião científica em que eu e alguns colegas, da Faculdade de Farmácia do Porto que trabalha em ecstasy há vários anos, estávamos a conversar", conta Francisco Ambrósio, coordenador do projeto, destacando que "o grande interesse desse grupo está relacionado com o impacto tóxico [desta substância] no cérebro". Fruto da investigação na área, sabia-se que o consumo de ecstasy, uma droga psicotrópica do grupo das anfetaminas, está relacionado com o nível da toxicidade do cérebro. Contudo, durante a discussão, os investigadores aperceberam-se "que não havia estudos ao nível do impacto que o ecstasy poderia ter na visão ou na retina". O salto dos efeitos no cére- bro para a retina é lógico. "A retina, tal como o cérebro, faz parte do sistema nervoso central. Se o cérebro é afetado, porque é que a retina também não é afetada?", questiona Francisco Ambrósio. UMA VEZ que a retina é um elemento central da investigação do IBILI, a dúvida foi posta à prova. "Utilizámos um equipamento que permite fazer eletrorretinograma, testes que estão para a retina como um eletroencefalograma está para o cérebro", refere. Na prática, este equipamento permite avaliar e medir a atividade elétrica da retina quando exposta a estímulos luminosos. "Assim, poderíamos avaliar se as respostas estavam alteradas ou não, depois de administrar o ecstasy", descreve Francisco Ambrósio. O teste foi feito em ratos. "Administrámos apenas uma dose de ecstasy aos animais, que estavam anestesiados", explica o responsável, salientando a importância dos grupos de controlo. "O consumo de ecstasy aumenta a temperatura corporal, dois ou três graus nos humanos, e, uma vez que as subidas de temperatura também afetam a retina, tivemos um grupo cuja temperatura foi elevada artificial- mente", descreve. As análises à acuidade visual dos ratos foram feitas em três momentos: três horas, 24 horas e sete dias depois da administração. "Às três horas existem, claramente, alterações", avança o investigador, ressalvando que, no entanto, "os ratos que tinham a temperatura aumentada artificialmente, também partilhavam algumas dessas alterações". CONTUDO, "após 24 horas, quando todos os animais já estavam com a temperatura normal, apenas os que tinham recebido ecstasy tinham alterações nas ondas A e B, que correspondem, maioritariamente, à função dos fotorrecetores". Os fotorrecetores, um tipo de um tipo de células que existe na retina, são fulcrais para o ato de ver. "Para podermos ver, a luz tem de interagir com os fotorrecetores. Essas alterações correspondiam a alteração nos fotorrecetores, o que indicia a existência de alterações na perceção e acuidade visual". Ao fim de sete dias, "já não registamos alterações. Quer isto dizer que foram alterações transitórias, porque não sabemos se duram 48 horas ou mais. Mas, pelo menos até às 24 horas existem alterações", resume. ID: 39859127 26-01-2012 Tiragem: 10000 Pág: 31 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 14,51 x 26,34 cm² Âmbito: Regional Corte: 2 de 3 rações na consumo Em suma, "o que demonstrámos é que com uma dose única causa alterações funcionais na retina, que se mantêm pelo menos 24 horas". NO FUTURO, seria "interessante mimetizar os diferentes comportamentos de consumo", desde pessoas que consomem todos os dias até ao consumidor de fim de semana. "A nossa intenção era fazer um outro estudo com grupos de animais aos quais seria administrado ecstasy diariamente ou um grupo de animais em que só fosse administrado durante dois dias, várias semanas", destaca Francisco Ambrósio. "Iríamos tentar perceber se ocorrem as mesmas alterações funcionais, se são maiores ou menores, bem como avaliar alterações morfológicas", resultantes do consumo de ecstasy. Entre os efeitos possíveis estão a morte de células da retina ou respostas pró-inflamatórias. No entanto, lamenta, "para isso seria necessário mais financiamento". A investigação foi realizada por dez pessoas, numa parceria entre o IBILI, o Centro de Neurociência e Biologia Solar e a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, e foi publicado na revista online PloS One. à lupa NOME Francisco Ambrósio DATA DE NASCIMENTO 27 de março de 1966 NATURALIDADE Canhas de Senhorim RESIDÊNCIA Coimbra AUTOR FAVORITO Paul Auster UM FILME "Era uma vez na América" HÓBIES "Cinema, viajar, ler, caminhar… O tempo é que é curto" ID: 39859127 26-01-2012 Tiragem: 10000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Semanal Área: 5,05 x 2,77 cm² Âmbito: Regional Corte: 3 de 3 INVESTIGAÇÃO ECSTASY PODE CAUSAR PROBLEMAS DE VISÃO