bailarinas de rua. o dançar inconsciente.
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bailarinas de rua. o dançar inconsciente.
ATIVIDADE VOLUNTÁRIA EM PESQUISA BAILARINAS DE RUA: O DANÇAR INCONSCIENTE 1 Macuri Peteffi2 Mônica Restelatto3 Bruno Simon4 Luciene Jung de Campos5 Introdução Dispositivo Teórico-Analítico O presente trabalho é parte de uma reflexão dos pesquisadores do projeto de pesquisa Artesanato e Esta pesquisa trabalha com aportes teóricos da psicanálise, da linguística e do materialismo histórico Turismo: saberes e trocas simbólicas, realizada junto ao PPGTur-UCS. A materialidade em análise neste para ler a arte e o deslocamento humano cotidiano. O olhar que lançamos irá ocupar o espaço entre o que texto é a fotografia, linguagem imagética, fruto de uma performance do projeto artístico chamado a arte nos anuncia e o seu efeito de linguagem num enlace social. Para Campos, (2010, p. 13) “Esta Bailarinas de Rua, de Caxias do Sul. pesquisa considera que a imagem – enquanto linguagem – não é transparente. Desse modo, ela não busca Objetivo sentidos secretos, mas indícios que estão na superfície. Produz um conhecimento partindo da imagem Este trabalho tem como objetivo analisar imagens que transportam através do tempo a potência do como detentora de uma espessura semântica que lhe confere materialidade própria e significativa, ato da bailarina Rosiane Hart Adami do projeto Bailarinas de Rua, estendendo-se ao arco da histeria de concebendo-a em sua potencialidade discursiva. A construção deste olhar se dá na interface entre os Louise Bourgeois, chegando ao corpo histérico de Charcot. campos da arte, da psicanálise e da analise do discurso, fazendo torções de um campo a outro”. Desenvolvimento As três imagens, vistas aqui como efeitos de linguagem, representam o arco histérico em três passagens. A primeira, numa produção de Charcot, no século XIX, interrogando-se através de conceitos e preceitos da medicina clássica, de fundamentos nos fenômenos naturais, da mulher como um indivíduo em seu sofrimento físico, numa estetização da patologia. Louise Bourgeois, em 1993, produz uma releitura, segundo Rivera (2011) “Sua obra não é seu retrato fiel, mas distorção, exploração da linguagem, do objeto, da imagem, de modo a fazer outra coisa, fora dela mesma (do íntimo, retomar o êxtimo). Entre sua vida, suas ‘disposições pulsionais’ e suas obras” [...]. Pensar sobre o trabalho Bailarinas de rua, num terceiro momento, nasce da nossa inquietude com estas imagens e de uma aposta no ato de criação para a mobilização do desejo, produtor do risco necessário que movimenta a vida e que faz estranhar a rua. Pensando no estranhamento familiar de Freud (1919/1976, p. 277) “aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido, de velho, e há muito familiar”. O “estranhamento familiar”, diz Freud (1919/1976, p. 85/86), “nasce na vida real quando complexos infantis recalcados são reanimados por uma impressão exterior ou quando convicções primitivas superadas parecem ser novamente confirmadas”. Eis que estabelecemos um diálogo teórico na interface arte-psicanálise, num deslizamento entre estes dois campos intimistas que se desnudam na cidade. Freud (2013/1900) afirma que o deslocamento – nos sonhos – é um método de distorção do que escapa da censura do inconsciente. Seriam os restos da vida diurna, de vigília, a princípio irrelevantes, deslocado - via desejo - para a cena do inconsciente. Aqui, o deslocamento do espaço institucional para o espaço urbano, da sala de espetáculo para as ruas, de um corpo “escondido” para o público. Temos três imagens marcantes com pontos em comum que nos ‘’estranham familiarmente’’. Para Charcot o empirismo corporal passava uma modalidade estética e visual de existência, celebrado num aparato tecnológico institucional das ciências médicas. Freud, na época, lança um outro olhar, para além da medicina, entendendo as questões das histéricas como repressão dos impulsos sexuais. Em Estudos sobre a histeria (1996/1893-1895), Freud revela que a histérica busca escapar continuamente sendo sustentada pela fantasia como sintoma neurótico em que o sujeito é o objeto do prazer sexual do outro. Bourgeois ao apresentar o arco histérico faz uma confrontação frente ao que antes poderíamos concluir como aberração corporal. A artista convoca o seu público ao ingresso as entranhas do corpo, como texto e das imagens, como discurso. Provoca um abalo no masculino, malogrando a corriqueira ordem imposta por uma sociedade determinista em seu machismo. A construção da artista esta debruçada na estética masculina de corpo, surgindo assim, um interjogo, uma troca de papéis, marcando o estranhamento familiar que se dá no interior do espectador. Considerações Finais artístico. Assim, a fotografia do projeto Bailarinas de Rua transborda perturbações no espectador, levando Neste sentido, abordamos esse trabalho pela função da imagem pelo ato e pela fabricação das a mulher contorcida para o espaço público, da mesma forma que as histéricas suscitaram inquietações imagens via fotografia. Assim, propomos uma tríade entre um objeto (o corpo histérico), uma teoria domésticas no saber biologizante da medicina clássica de sua época. A denúncia feita pelas Bailarinas de (psicanálise) e um agente (fotografia). A bailarina causa um efeito de estranhamento frente ao espectador. Rua, associando deslocamento e estranhamento familiar, quer encontrar uma brecha possível de rasura no O que uma bailarina estaria fazendo na rua? Ensaiando uma histeria para todos na desordem do ato espaço urbano, interrogando-nos. Imagem 1 – Arquivo pessoal Gustavo Cassina. Imagem 2: Arco da histeria, Louise Bourgeois. Retirado do trabalho: Imagem 3 – O arco completo da grande histeria. Jean-Martin Charcot. Tânia Riveira. Nota sobre as Fabulações Psicanalíticas de Louise Bourgeois. Referências Campos, L. J. (2010). Imagens à Deriva: interlocuções entre a arte, a psicanálise e a análise do discurso. Tese de doutorado, Instituto de letras, Curso de pós-graduação em letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil. Freud, S. (1919). O Estranho. In: Obras Completas. Ed.: Standard Brasileira. Rio de Janeiro, Imago. (Trabalho publicado em 1976). Freud, S. (1996) Estudos sobre a histeria. In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Ed: Standard Brasileira. Rio de Janeiro, Imago. (Trabalho publicado em 1893/1895). Freud, S. (2013). A Interpretação dos Sonhos. Porto Alegre: L&PM. (Trabalho publicado em 1900). Rivera, T. (2011). Nota sobre as Fabulações Psicanalíticas de Louise Bourgeois. In: Trivium: estudos interdisciplinares, UVA; ano III; Ed. 2. 1 Essa pesquisa tem apoio do CNPq 2 Bolsista Voluntário de Iniciação Científica 3 Bolsista Voluntário de Iniciação Científica 4 5 Bolsista Voluntário de Iniciação Científica Profa. Dra. Do Centro de Ciências Humanas e PPGTUR/UCS