Mudanças em curso no Distrito de Gorongosa Provincia de Sofala

Transcrição

Mudanças em curso no Distrito de Gorongosa Provincia de Sofala
Mudanças em curso no Distrito de Gorongosa
Provincia de Sofala
Estudo-diagnóstico da situação agrícola numa parte do distrito
Estudo realizado para ARGE
Claudia Antonelli, novembro 2005
Universidade de Paris 1,
Mestrado em Desenvolvimento Agrícola
Introdução ................................................................................................................................. 6
1. Evolução das praticas agrícolas no distrito.......................................................................... 7
1.1. Ate 1992....................................................................................................................................... 7
Das primeiras formas de agricultura ate a independência.......................................................................... 7
1940s-1970s: desenvolvimento da produção alimentar e algodoeira.......................................................... 7
O intermédio socialista e a guerra ............................................................................................................... 8
1.2. 1992-2005: o distrito de Gorongosa em paz, o inicio do desenvolvimento agrícola e os seus
actores ................................................................................................................................................ 8
A nível da produção agrícola ....................................................................................................................... 8
Ao nível da criação de gado.......................................................................................................................... 9
Capacitação da base ..................................................................................................................................... 9
Serviços financeiros.................................................................................................................................... 10
As empresas privadas.................................................................................................................................. 10
2. Os sistemas de produção actuais......................................................................................... 12
Sistema de produção 1: policultura mínima baseada no milho e mapira .................................. 12
Sistema de produção 2: Os pequenos horticultores ..................................................................... 14
Sistema de produção 3: Policultura com enfoque no algodão, com ou sem tabaco .................. 15
Sistema de produção 4: Policultura com enfoque no feijão, com ou sem batata Reno............. 18
Sistema de produção 5: Os horticultores médios ......................................................................... 20
Sistema de produção 6: Policultura diversificada com actividades de criação animal............. 21
As farmas ......................................................................................................................................... 23
Analise comparada dos sistemas de produção.............................................................................. 24
A produtividade do trabalho ........................................................................................................................ 24
Rendimentos ................................................................................................................................................ 25
3. Tendências em curso, perspectivas e recomendações........................................................ 28
3.1. A situação dos sistemas de produção milho mapira ............................................................. 28
3.2. A situação dos pequenos horticultores ................................................................................... 29
3.3. A situação dos produtores de algodão.................................................................................... 29
3.4. A situação dos produtores de feijão........................................................................................ 30
3.5. A situação dos horticultores médios ....................................................................................... 30
3.6. A situação das grandes famílias .............................................................................................. 31
3.7. Tendências em curso referente a terra e a sua disponibilidade – 3 pontos de vistas
diferentes.......................................................................................................................................... 31
i) Os camponeses......................................................................................................................................... 31
ii) A classe médio alta urbana que investe no gado ..................................................................................... 31
iii) Os projectos de desenvolvimento que estão encaminhados................................................................... 31
4. A questão da comercialização: como desbloquear o aislamento dos camponeses ao
mercado.................................................................................................................................... 33
4.1. A situação actual ...................................................................................................................... 33
O escoamento dos cereais e do feijão vulgar: actores principais ................................................................. 33
A comercialização facilitada pelas empresas agro-industriais..................................................................... 35
A comercialização de hortícolas.................................................................................................................. 36
Os projectos de promoção da comercialização no distrito........................................................................... 38
2
4.2. Recomendações......................................................................................................................... 40
Observações sobre os projectos actuais ....................................................................................................... 40
Projectos futuros.......................................................................................................................................... 40
4.3. Proposta de pistas de acção ..................................................................................................... 43
Proposta 1 .................................................................................................................................................... 43
Proposta 2 .................................................................................................................................................... 43
Proposta 3 .................................................................................................................................................... 44
Bibliografia.............................................................................................................................. 48
Acronimia ................................................................................................................................ 50
3
Antes demais, os meus agradecimentos dirigem-se aos
camponeses entrevistados que, com paciência e
disponibilidade responderam as numerosas perguntas.
Este estudo não teria sido possível sem a ARGE, e
sobretudo sem a Direcção Provincial de Sofala. Estou
igualmente grata a Direcção Distrital de Gorongosa, em
particular ao Director Saguate, que me acolheu
calorosamente desde os primeiros dias no distrito, aos
responsáveis das secções e à equipa dos extensionistas
que sempre se mostraram disponíveis ao nível da
logística bem como ao nível de discussões e troca de
opiniões e com os quais trabalhamos de forma
construtiva e em harmonia
Por fim mas não menos importante, agradeço a equipa
da GTZ, pelo seu apoio intelectual bem como moral sem
o qual o estudo teria sido incompleto.
Poucos nomes foram mencionados mas estou certas que
as devidas pessoas se reconheceram nestes
agradecimentos.
As opiniões exprimidas neste estudo são unicamente do seu autor.
4
Nota Preliminar
O estudo foi realizado em aproximadamente quatro meses, desde o fim de Maio até 7 de
Outubro. O estudo começou com mais dum mês de atraso em relação ao previsto. Por este
motivo o estudo foi prolongado apesar de não até a data desejada devido a expiração do prazo
do bilhete de avião. No início existiram dificuldades de alojamento no distrito que foram
progressivamente ultrapassadas a metade de Junho.
Gostaria apenas de realçar que estas falhas na preparação antes da chegada do autor a
pousaram bem como ao estudo numa posição incómoda face aos diversos parceiros do
PRODER.
A chegada ao distrito foi no dia 25 de Maio. Depois da apresentação na DDA e na
administração, foi elaborado um plano de visita, para fazer o primeiro reconhecimento das
zonas do distrito. As zonas visitadas foram Tsiquir, Nhambita, Canda, Vunduzi, Nhauranga.
Os primeiros inquéritos começaram a 13 de Junho. Foi a actividade principal do estudo e
tinham como objectivo perceber porque o camponês faz o que faz assim como avaliar a
produtividade do trabalho e da terra. Os dados permitiram calcular o rendimento familiar por
hectare e por trabalhador.
Foram também entervistados comerciantes informais, vendedores grossistas e retalhistas e
transportadores no distrito e no mercado central da Beira.
Os seguintes actores e organismos foram encontrados:
DDA – secção pecuária, de geografia e cadastro, extensão rural, planificação, fauna bravia e
floresta.
GPZ, Responsável das tecnologias
ACDI-VOCA (Chefe de projecto)
FHI, (Director e responsável da comercialização em Gorongosa; Director, e responsável da
comercialização, Beira).
KULIMA (Responsável do projecto Nhabirira e técnico extensionista)
PROMEC (Responsável e técnico)
ORAM
Companhia Nacional Algodoeira (Director)
Dimon, (Responsável área Gorongosa)
Gapi Sarl (Beira)
Shoprite
V&M
5
Introdução
O Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), implementado pela DPA de Sofala, com
o apoio da GTZ, tem como objectivo a reduçao da pobreza a traves o melhoramento das
condições de vida nas zonas rurais. O PRODER nasce duma fusao dos Programa de
Seguridad Alimentar (PISA) e do programa de Promoção das Instituições Locais (PIL).
O PRODER tem quatro componentes, ou seja quatro area onde a DPA e GTZ colaboram:
1. Planificação para o desenvolvimento distrital;
2. Fortalecimento dos orgãos locais e da sociedade civil;
3. Tecnologias inovativas da produção agricola e gestão sustentavel de recursos naturais;
4. Assesoria ao Governo na implementação das estrategias de desenvolvimento rural.
O estudo enquadra se nas actividades do organismo ARGE, responsável pela implementação
da componente 3 do PRODER. O objectivo do trabalho foi:
i)
Analisar a diversidade do sector familiar no distrito de Gorongosa,
ii)
Perceber as praticas actuais, as estratégias dos camponeses, as escolhas que eles
fazem e porque
iii)
Analisar a eficácia económica de cada um dos sistemas de produção
iv)
Analisar os constrangimentos e potencialidades da comercialização de produtos
agrícolas.
v)
Propor recomendações específicas aos problemas e interesses de cada categoria de
produtores.
A tipologia mais frequentemente utilizada nos estudos agrícolas baseia-se sobre os tipos de
agricultores: agricultores grandes, médios e pequenos. Os critérios de distinção sendo a área
cultivada (de sequeiro – sem rega), o efectivo de gado bovino, caprino ou aviera. Neste estudo
a tipologia utilizada baseia-se sobre o conceito de sistema de produção. Um sistema de
produção define-se como a combinação dos factores de produção (terra, trabalho, capital) com
vista a obter diversas produções. Ele e constituído por diferentes sistemas de cultura e sistema
de criação de gado. Cada sistema de produção representa uma combinação específica de
sistemas de cultura e de gado, combinação que cada família decide de adoptar em função da
terra disponível, da força de trabalho familiar ou empregada, e das ferramentas que ela dispõe.
Esta noção permite perceber e explicar as escolhas feitas pelos camponeses e, as estratégias
que eles adoptam afim de reproduzir a própria família, melhorar as suas condições de vida e o
seu capital. Uma família camponesa constitui em si um sistema de produção, como também
um sistema de produção pode incluir varias famílias que fizeram o mesmo tipo de escolha
porque encontram se numa situação similar a nível da disponibilidade de terra, força de
trabalho e capital.
O estudo não pretende ser exaustivo mas bem, propor uma análise a mais representativa
possível da realidade agrícola duma parte do distrito. Neste fim foram intervistadas 60
famílias nas localidades de Machiço, Tsiquir, Madibe, Nhambondo, Nhataca, Tambarara,
Marondeira, Nhazoé, Nhabirira, Mucodza, Nhauranga, Nhaussembe. Assim a zona do estudo
inclui as partes do distrito com densidade demográficas elevadas e com forte potencial
agrícola. A diversidade de sistemas de produção encontrada nesta área não permitiu abranger
outras zonas do distrito. Também não foi abrangida a região de Muswongongoni, não obstante
o seu dinamismo agrícola, por terem considerado que a dinâmica de desenvolvimento esta
relacionada com o distrito vizinho de Cheringoma.
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O estudo começa com um breve historial das práticas agrícolas para entender porque hoje o
sector agrícola no distrito é o que é. Segue a análise dos sistemas de produção, as suas
características, os seus resultados económicos e recomendações por cada sistema de produção.
A terceira parte trata da questão da comercialização de produtos agrícolas no distrito de
Gorongosa.
1. Evolução das praticas agrícolas no distrito
1.1. Ate 1992
Das primeiras formas de agricultura ate a independência
Os primeiros habitantes, descendentes de povoações Bantu, praticavam uma agricultura de
abate e queima, combinada a actividades de caça, de pesca, e de colheita de fruta silvestre. As
principais produções eram em 1930 (por ordem de quilos produzidos) o milho, a mapira, o
algodão, o feijão o arroz e a cera (Anuário, 1930). A riqueza do distrito em fauna bravia
conduz a Companhia do Moçambique a delimitar em 1921 uma reserva de caça.
Uma importante população de elefantes, cujo corredor de passagem liga o parque ate
Macossa, pode ter desfavorecido o desenvolvimento da agricultura em quanto estes animais
gostam do mesmo tipo de ambiente que os homens: pluviómetria media, solos capazes de
produzir comidas, rios. Neste sentido, um hectare cultivado corresponde a um hectare perdido
pelos elefantes (Reader, 1999).
Os habitantes do distrito já eram em contacto com as povoações estrangeiras, indianos ou
árabes, para a troca de bens de consumo. O interesse para estes bens pode ter estimulado a
produção em quanto permitiam esse troco. A produção tinha que ultrapassar as necessidades
familiares. A paisagem que descobrem os primeiros ‘estrangeiros’ é dominada por uma
floresta clara, e densa nas encostas elevadas da Serra. A densidade demográfica é fraca e as
casas são dispersas. Os pousios de longo prazo permitem a reconstituição da vegetação e de
manter o nível de fertilidade das terras cultivadas. Os habitantes de Gorongosa não têm
iniciado a criação de boi, devido a presença de mosca tsé tsé responsável da transmissão da
tripanossomiase.
1940s-1970s: desenvolvimento da produção alimentar e algodoeira
A chegada dos portugueses no distrito corresponde ao relançamento da política colonial de
Salazar que tem como objectivo explorar os recursos da colónia par estimular a economia do
Portugal. Gorongosa contribui a este projecto a traves de produção algodoeira. A primeira
fabrica se instala em 1947 no posto de Vunduzi, logo a lado do parque (em Bue Maria) para
mudar definitivamente em Beira em 1950.
Não obstante o decreto de cultura obrigatória do algodão não é em vigor em Gorongosa, todas
as famílias produzem um hectare de milho e um hectare de algodão ou de amendoim para
pagar o imposto colonial. As famílias que não conseguem pagar o imposto ‘fazem trato’ ou
seja trabalham durante seis meses fora de casa em farmas ou em obras.
Os anos 50 foram marcados pelo famoso secretario chamado Chigua. A plantação de
eucaliptos, de mangueiras, de mandioca e feijão bóer ao lado dos campos resultariam de
medidas que ele tem imposto.
A partir dos anos 60, o famoso Santos Mosca, enriquecido a traves do comércio de marfim,
instala uma moagem industrial e consegue evitar a saída do milho fora do distrito, praticada
7
ate então pelos comerciantes indianos. A farinha produzida (farinha do leão abastece os
mercado da Beira e de Chimoio). Nesta altura a produção aumenta devida ao feito de ter um
comprado certo e capaz de incentivar os produtores (ofertas de bicicleta e de vinho aos
produtores maiores).
Em 1967, seis famílias portuguesas se estabelecem em Canda, entre Muera e Nhabirira, zona
de terras planas. Estas famílias exploram 300 hectares de terras irrigadas a partir de represas
construída no rio Chitunga e de canais de rega por gravidade. Estas farmas produzem milho,
algodão, girassol e a batata Reno. Um inglês de Rodésia baseado em Nhancucu, começa a
criação de gado de aproximadamente 600 cabeças de bois. O consumo desta carne não
interessa a população local em quanto a fauna bravia continua a ser abundante.
O intermédio socialista e a guerra
Com a independência, os estrangeiros deixam o distrito. O inglês abandona o seu gado. A
moagem e a fábrica de Santos Mosca são nacionalizadas. Algumas farmas portuguesas são
transformadas em farma de Estado: o GAPO (Gabinete de Apoio a Produção) e a Mecanagro.
Funcionaram para alguns anos ate o início do conflito Renamo-Frelimo. Alem desta politica
de nacionalização, três aldeias comunais são constituídas.
O distrito de Gorongosa que incluía também Maringue e de Cheringoma foram o campo de
batalha da Renamo-Frelimo. Neste contexto de guerra, as actividades de produção forma
reduzida ao mínimo. As machambas são apenas parcelas, para poder ficar perto das casas.
Criação de pequenos animais é difícil neste contexto de pilhagem. As povoações se
concentram ao lado da vila para ter a protecção da Frelimo e ser perto da ajuda humanitária.
Hoje é a região mais povoada do distrito. As povoações mais longe passam de zona
controlada pela Frelimo a zonas da Renamo. Outros fogem para Manica, Tete o Zimbabwe.
1.2. 1992-2005: o distrito de Gorongosa em paz, o inicio do
desenvolvimento agrícola e os seus actores
Com os acordos de paz e a estabilidade politica, as populações regressam nas suas aldeias. Os
programas de desminagem e de reconstrução de escolas, postos de saúde, prédio
administrativos, favorecem este movimento de regresso. Pouco a pouco, as machambas são
mais e mais grandes em detrimento da vegetação de bosque e dos pousios. Estes primeiros
anos de post-conflito são também marcados por uma exploração anárquica e devastadora de
espécies de árvores, sem repovoamento.
A situação politica no distrito se normaliza completamente em 2000, quando alguns chefes de
Renamo param de reivindicar algumas terras ocupadas ate lá e aceitam a autoridade do ‘novo
estado’. A estrada nacional reabilitada em 2003 confirma a pacificação do distrito. O segundo
eixo principal foi reabilitado em Maio 2005. A Vila de Gorongosa dispõe de corrente eléctrica
desde Dezembro 2004.
Depois duma fase de emergência marcada pela distribuição alimentar, de sementes e
ferramentas, os projectos actuais tem como objectivo garantir e consolidar a segurança
alimentar no distrito. Se trata aqui abaixo de brevemente recordar os projectos em curso para
situar melhor os actores que intervêm no processo de desenvolvimento do distrito.
A nível da produção agrícola
A ONG FHI consegue promover e difundir a produção de hortícolas (1993-2000). Tenta
também de promover a cultura da batata-doce a polpa laranjada com menos sucesso.
8
Em 1999-2000, a DPA com o apoio da GTZ, reintegra os extensionistas empregados ate lá em
vários projectos. As numerosas colocações de pessoal afrouxam o trabalho no campo. Sofala é
hoje uma das províncias mais avançadas em termos de extensão rural.
Vários projectos promovem a cultura irrigada. O projecto FAO no regadio de Nhauranga em
2001 (12 hectares) e o projecto do Regadio de Nhabirira (2006) com os fundos do Banco
Africano de Desenvolvimento, que permitira de ter uma área de 60 hectares cultivada com
rega de gravidade. A ONG moçambicana Kulima é responsável por apoiar a associação dos
produtores de Nhabirira, de promover a comercialização das hortícolas produzidas pelos
membros, e de propor um micro credito. Este projecto situado na zona anteriormente
controlada pela Renamo, e hoje numa zona ambicionada por muitos privados, tem uma
importante dimensão politica.
Em 2002, a DPA adoptou a agricultura de conservação como principal estratégia de
desenvolvimento agrícola. Diferente parcelas ditas Unidade de Teste Validação (UTV) foram
preparadas em 2001. Se trata de promover praticas como a cobertura permanente do solo; as
rotações e consociações de culturas, o principio de lavoura mínima, a sementeira no mulch. A
utilização de leguminosas é promovida para a reabilitação dos solos.
As UTVs existentes têm associado um cereal com uma leguminosa: mapira com feijão bóer
para recuperar os solos empobrecidos, milho com feijão mucuna para assegurar uma cobertura
permanente. As UTV de hortícolas mostram como o mulch reduz o número de regas
necessárias. Outras UTVs associam ananaseiro com Stylosanthes (Caleghari, 2002 e 2005).
Ao nível da criação de gado
Vários projectos de distribuição de gado permitiram ao distrito de beneficiar de 1000
caprinos; 60 porcinos e 60 patos.
A tracção animal foi introduzida pela GTZ em 1998. As famílias beneficiárias receberam
cinco bois (3 fêmeas, 2 machos do qual 1 castrado) e vários equipamentos de tracção: charrua
com relha, gravador, charrua de disco. Semeador, cultivador e carroça eram previstos mais
nunca chegaram no lugar previsto devido, assim se fala, a gestão pouco transparente ao nível
da DDA. E contraparte as famílias reembolsam uma parte dos equipamentos e devolvem 3
fêmeas à DDA. Os bois são de raça Brahman e Mashona.
A GPZ presente em Gorongosa desde 2002, trabalha baixo da autoridade do Conselho dos
Ministros e não do Ministério da Agricultura. Este organismo destinado a dar impulso ao
desenvolvimento agrícola for fortemente criticado por ser uma estrutura mais que utiliza
muitos recursos públicos para um impacto pouco significativo e com qualidade duvidosa1. Em
Gorongosa, a GPZ trabalha na promoção da tracção animal (70 camponeses formados entre
2003 e 2005), a venda de boi, o aluguer de tractor para a lavoura e o transporte, a venda de
bombas pedestais. As técnicas propostas são semelhantes a aquelas DDA. Estes dois
organismos trabalham junto mais a coordenação entre eles e pouco clara (Porque dois actores
fazem a mesma coisa?). Um projecto de rádio comunitária foi abandonado.
Capacitação da base
Diferentes iniciativas em 1997-2000 surgem com objectivo de reforçar as associações
camponesas (projecto PIRAC). A ideia principal e de reforçar a UDAC para lhe permitir de
1
Savana, ediçao do 7 de outubro 2005. O articulo referia-se as moto-bombas em Tete.
9
jogar o seu papel de representação das associações camponesas. Os quadros da UDAC são
formados, os locais reabilitados. Geram um projecto de comercialização de milho que
fracasso por questão de ma gestão.
De forma geral, as intervenções no campo associativo são difíceis porque
- Muitas associações são associações de circunstância; a maioria se constituíram em 1994 para
ser apoiado por projecto
- A cultura associativa como iniciativa da base é ainda fraca: as associações são muitas das
vezes iniciada por acima e são ligada ao governo. A mentalidade subsiste que é o estado que
deve motivar, dinamizar a população. A cultura de controlo, a centralização das iniciativas
pelo estado é ainda muito presente.
Ao contrário ao nível das comunidades, um importante trabalho esta a ser feito pela ORAM.
O seu trabalho permitiu criar um espaço de diálogo entre as estruturas ‘tradicionais de
representação do povo e a administração. O objectivo do trabalho actual da ORAM (com o
apoio da GTZ) e de permitir as comunidade a pensar no seu desenvolvimento e de garantir
que a sua visão seja incluída no Plano de Desenvolvimento Distrital, documento chave de
decisão no quadro da descentralização administrativa em curso.
Serviços financeiros
Os serviços financeiros são praticamente inexistentes no distrito. Um portão bancário do
Banco Popular de Desenvolvimento abriu em 1996 ate 2002 por reestruturação interna. Os
programas de créditos passados tiveram um impacto limitado2. A GAPI finança vários
projectos no sector agrícola. Este organismo é um parceiro chave para os programas de
crédito da Socremo, da Adel e futuramente da Kulima. O micro credito na província de Sofala
existe principalmente nas cidades para apoiar as micro empresas (alfaiate, carpinteiro) e os
comerciantes. A província de Nampula seria a mais avançada em termos de micro credito e se
apoia numa rede de associações camponesas bem organizadas. (Vletter /World Bank, 2003)
Reflexões são em curso para desenvolver o sector bancário rural e serviços micro financeiros.
As empresas privadas
Ao nível do sector privado, o distrito atrai principalmente a Companhia Nacional Algodoeira
(CNA) a Dimon Tobacco e a V&M grain co.
A CNA criada em 1943 faz parte do grupo DAGRIS3. A CNA e concessionaria ou seja
“possue pelo menos uma fabrica de descaroçamento e de prensa de algodão, tem assinado um
contrato de fomento do algodão com o Estado que lhe autoriza a constituir redes de extensão
técnica para apoiar os produtores situados nas suas zonas de concessão, a comprar o algodão e
a comercializar a fibra”4.
A CNA trabalha com o IAM (Instituto de Algodão de Moçambique) que garante a aplicação
do regulamento pela cultura do algodão, elabora a tabela de preços mínimos e controla a
qualidade do algodão produzido e a sua classificação.
2
O programa FARE em 1998 serviu para reabilitar algumas lojas e facilitar a compra de meio de transportes
para a comercialização de produtos agricolas. O programa PAPIR permitiu a reintegração dos desmobilizados de
guerra na vida civil a traves apoio material e formações profisionais. A FUMASO propôs créditos a uma dezena
de pessoas. Quase nenhum crédito foi reembolsado.
3
A Dagris era antigamente a Companhia Francesa para o Desenvolvimento das fribas Têxteis (CFDT). Depois
da sua nacionalização, a CNA foi adquirida pelo grupo Entreposto, que faz parte da Sociedade Algodoeira
Franco-Portuguesa (SAFP) desde 1996. 73% das partes da CNA pertencem à SAFP, ela mesma detida a 50% por
Dagris.
4
Regulamento para a cultura do algodão, junho 1994.
10
O algodão e o segundo produto de exportação da província de Sofala e um dos principais
produtos agrícolas exportados do pais. Sofala contribue a 30% duma produçao nacional de
32000 toneladas. Gorongosa e o quarto distrito mais produtor depois de Maringue, Caia e
Chemba. Nos anos de seca, Gorongosa consegue atingir a segunda ou primeira posicao. Com
o apoio da Agencia Francesa para o Desenvolvimento, a CNA foi uma das primeiras empresas
a operar no distrito depois da guerra. O distrito produz hoje 2200 toneladas de algodão contra
115 em 1996/97.
A Dimon Tobaco e uma empresa americana com base em Zimbabwe e com representação em
Chimoio. As suas actividades em Gorongosa estão em fase de redução. A fraca produção este
ano e os problemas de comercialização tem desencorajado muitas famílias. O número de
famílias produtoras de tabaco passou de 1050 em 2004/05 a 300 para a próxima campanha de
2005/06.
A V&M grain co. e uma empresa holandesa de comercialização de produtos agrícolas. Em
quanto parceiro do ICM (ex Agricom).
No distrito de Gorongosa, V&M comercializa o milho, o gergelim e o feijão. O feijão e
exportado na Africa do Sul ou gergelim e Japão. V&M trabalha em parceria com a FHI cujo
extensionistas dão apoio técnico aos camponeses e ajuda no seguimento da campanha
(quantidade semeadas, estimativa da colheita, organização de posto de venda).
Existem outras empresas baseadas em Chimoio e ainda pouco presentes no distrito, que
tentam de fomentar a produção. A dificuldade principal destas empresas e de ter fundos
suficientes no momento da colheita para comprar a produção e cobrir os gastos de transportes.
A falta dum banco rural constitui o maior impedimento para estas empresas.
11
2. Os sistemas de produção actuais
Esta parte tem como objectivo de perceber porque os camponeses fazem o que fazem. Os
sistemas de produção identificados foram os seguintes:
• Sistema de produção 1: Poli cultura mínima baseada na produção de milho e mapira com
pelo menos 0,8 hectares, com ou sem baixa
• Sistema de produção 2: Os pequenos horticultores (de 300 m² a 1000 m²)
• Sistema de produção 3: Poli cultura com enfoque nas culturas de fomento (algodão, com
ou sem tabaco)
• Sistema de produção 4: Poli cultura com enfoque no feijão, com ou sem batata Reno
• Sistema de produção 5: Horticultura semi intensiva praticada em áreas a partir de 0,3
hectares e, em muitos casos, com mão-de-obra empregada
• Sistema de produção 6: Poli cultura diversificada praticada pelas grandes famílias com
mão-de-obra empregada permanente ou com tracção animal
Sistema de produção 1: policultura mínima baseada no milho e mapira
A consociação milho-mapira domina a paisagem da zona de estudo. No mesmo campo, se
semeia também a abóbora, o pepino, a melancia, e feijão nhemba, importante componentes da
dieta alimentar das famílias. As machambas são quase sempre delimitadas por mandioca e
feijão bóer plantados cada 1-2 metros. Este permite de dispor de alimentos diversos sem ter
que dedicar uma porção para estas ‘culturas.
A consociação milho e mapira é possível porque estas duas gramíneas tendem a regular a
própria fisiologia uma com outra: assim durante a sua fase vegetativa, o milho se desenvolve
mais rapidamente e domina na consociação. Entretanto a mapira cresce mas lentamente que si
for cultivada sozinha. Mas após da colheita do milho, a mapira cresce rápido como si for em
cultura pura. Estas duas plantas possuem sistemas de raízes complementares.
Mesmo assim, o feito de cultivar o milho e a mapira junto não obedece a considerações
agronómicas mas bem a questões de tempo de trabalho e de exigências alimentares da família.
O trabalho de sacha que e muito pesado faz se no mesmo tempo para as duas culturas. O
tempo necessário para chegar aos campos também e consideravelmente reduzido.
O milho e primeira fonte de tesouraria das famílias. Si as quantidades produzidas são
importantes, vários sacos) de 50 a 80 quilos são vendidos duma vez. Si as quantidades são
poucas, o milho e vendido ‘gallone por gallone’, progressivamente em pequenas quantidades
em função das despesas diárias como o pagamento da moagem, a compra de azeite, de sal, de
peixe seco etc...
A cabanga fornece uma tesouraria que joga um papel importante, por ser regular, e não tanto
pelo seu volume. O lucro de cabanga produzido uma vez por mês permite de cobrir mais da
metade das despesas de moagem para uma família.
Fabricação de cabanga, duma viúva para aumentar o seu rendimento mensal
.
12
Calendário de tesouraria5
Set.
Out. Nov. Dez Jan.
Fev. Mar
Abr. Maio Jun. Jul. Ago.
Rendimento do milho
Rendimento da mapira
Rendimento de bebidas alcoólicas artesanais
Rendimento de ventas ocasionais : abóboras,
mandiocas, bananas, couve tsunga, canada açúcar.
Venta de cabritos e porcos
Despesas escolares
Despesas de roupa
Despesas de reabilitação da casa
Despesas de saúde
Para resumir, alem da economia em tempo de trabalho, a consociação milho mapira constitui:
- A base da dieta alimentar das famílias
- Um fundo de tesouraria (venta de grão e de álcool)
- Rações disponível regularmente; e que permite alimentar os animais sem trabalho e
custos adicionais
- Um material de construção.
Calendário alimentício
Set.
Out. Nov. Dez Jan.
Fev. Mar
Abr. Maio Jun. Jul. Ago.
Massaroca
Farinha de milho
Farinha de mapira
Feijão nhemba, quiabo, abobora
Manga, limões
Mandioca, feijão boer, cana de
açucar.
Tomates, couve
Feijão
Bananas, papaias
Abacate, tangerinas
Calendário de trabalho6
(SC1): Sistema de cultura 1 : milho (M) + mapira (S) (1,5 ha)
Set.
Preparação
solo
Sementeira M
Out.
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ago.
do
Sementeira S
3 sachas M+S
Colheita M
Operações postcolheita
M
:
debulhar, pilar
48 HD
6HD
15 HD
60 HD
60 HD
60 HD
12 HD
10 HD (2,5 HD/mês)
5
As coores mais claras são para montantes menos importantes.
A quantidade de trabalho è medida em Homen/Dia (HD), ou seja o numero de homens multiplicado pelo
numero de dias necessarios para cumprir a operação.
6
13
Colheita S
Operações postcolheita S : bater, 21 HD (6 HD para bater e para pilar 2,5 HD/mês x 6 mês)
pilar
(SC2): Sistema de cultura 2 : milho - feijão 600 m²
Set.
Preparação
solo M
Sementeira M
Out.
Nov.
Dez
Jan.
14 HD
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
Set.
do
6HD
1 HD
Sachas M
6HD
Colheita M
Preparação
do
solo e sementeira
F
Sacha F
2 HD
2 HD
4 HD
4 HD
4 HD
4 HD
Colheita e bater F
1 HD
1 HD
Total Homen Dia : 320 HD (285 para o SC 1 + 35 para o SC2). (Não inclui os HD postcolheita).
Estimação do rendimento agrícola diário: 45.000 meticais por trabalhador. Este rendimento é
de 28.000 meticais por trabalhador si não se inclui o valor do auto consumo das culturas
secundarias (feijão nhemba, abóbora, batata doce, feijão bóer, mandioca, quiabo, banana, cana
de açúcar). Para áreas inferiores (1 hectare de machamba e 150 m² de baixa) o rendimento
diário atinge 30.000 meticais ou 11.000 meticais. sem as culturas secundarias.
Sistema de produção 2: Os pequenos horticultores
Os pequenos horticultores se situem na mesma zona que o sistema de produção precedente.
Mas, contrariamente a este ultimo, a exploração das baixas faz – se a traves da produção de
hortícolas destinadas para a venta no mercado da Vila. A estratégia destas famílias e de
apostar nas hortícolas para acrescentar o seu rendimento. Produzem hortícolas numa área de
250 m² ate 1000 m². Os produtos principais são tomate Roma, repolho, couve tronchuda e
cebola (fresca e seca). Este sistema de produção resultados esforços de promoção da produção
de hortícolas feitos pela DDA e a FHI desde a metade dos anos 1990. A DDA e a FHI
continuam a oferecer sementes de hortícola a grupos de produtores que se constituem para
aprender as técnicas da horticultura. As famílias que dispõem de varias baixas continuam de
produzir milho seguido de feijão. Não convertem todas as suas baixas na horticultura por falta
de garantia de mercado, falta de fundos para comprar sementes e falta de mão-de-obra
suficiente para cuidar da horta.
Como o sistema de produção precedente, o período vazio situa-se entre o mês de Abril e de
Julho, o que permite a exploração das baixas em cultura intensiva em trabalho como é a
horticultura. Além dos preços atractivos das hortícolas, é também esta fácil integração com o
calendário da cultura do milho e da mapira que permite a difusão da horticultura.
Calendário de trabalho
SC1 Milho + Mapira (0,8 ha)
Set.
Preparação do solo
Sementeira M
Sementeira S
Out.
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
25 HJ
5
HJ
12 HJ
14
Ag
Sachas M+S
32 HJ
32 HJ
32 HJ
Colheita M
7HJ
Colheita S
8 HJ
SC 2: Milho – hortícolas (300 m²)
Preparação do solo
Sementeira M
Set.
1
HJ
Out.
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
3
HJ
3
HJ
1
HJ
Sacha M
7 HJ
Colheita M
1 HJ
Preparação viveiro
Preparação
dos
canteiros
e
transplante
0,5HJ
0,5HJ
10 HJ
10 HJ
3
HJ
Sacha
3
HJ
12
HJ
Rega
12
HJ
12 HJ
Total HD : 244 HD (SC1 : 153 HD + SC2 : 91 HD)
Estimação do rendimento agrícola diário : 26.000 meticais
Baixa com couve tronchuda
Na mesma baixa, uma parte das couves com cobertura
do solo de caniços de mapira (aplicação das técnicas
da agricultura de conservação).
Sistema de produção 3: Policultura com enfoque no algodão, com ou
sem tabaco
Estes produtores situam-se nas zonas cobertas pela rede de extensionistas da Companhia
Nacional Algodoeira (CNA). O algodão representa uma oportunidade de diversificação da
produção e de fonte de rendimento para as famílias que em outros casos se limitariam à uma
poli cultura mínima (milho e mapira), completada com um bocado de horticultura ou de feijão
(SP1 ou SP2).
De 1999/00 ate 2004/05, o número de famílias produtoras de algodão no distrito de
Gorongosa passou de 345 à 22007. A difusão da cultura do algodão é devida aos seguintes
motivos:
7
Segundo os dados fornecidos pela CNA.
15
12
HJ
- Garantia que o produto será comprado, e consequente garantia dum rendimento a um
momento definido do ano. Os produtores costumam preferir ter um ‘patrão’ no sentido dum
comprador certo, em vez de ter acesso a um mercado improvável ou que fica distante, ou
compradores informais que ‘manipulam’ os preços.
- O preço por quilo (5000 meticais) é mais interessante que o preço do milho que oscila nos
3000 meticais / kg e não ultrapassa os 3000 mtc. esmo nos anos de seca.
- O feito de conhecer o preço de venta antes da sementeira
- A CNA fornece as sementes, o insecticida e o pulverizador (com pilas) no início da
campanha.
Mesmo assim, esta cultura não representa nenhuma pechincha. Alem dum preço baixo, o
algodão requer muita mão-de-obra sobretudo durante a colheita. Os insumos são descontados
após da venta. A selecção do nível de qualidade e do preço a ser pago ocorre em condições
pouco clara o que resulta em tensões entre comprador e produtor.
São estes motivos que levam alguns produtores a preferir o milho que, não obstante um preço
mais fraco, permite ter uma tesouraria permanente, cuja disponibilidade depende dele
(debulham quando precisam), e não duma unica venta anual.
Os produtores de algodão que possuem uma baixa não apostam nas hortícolas por falta de
garantia de comprador. Preferem destinar a sua força de trabalho nas produções onde tem
certeza de ser pagos e evitar assim de “trabalhar de graça”.
Alguns produtores de algodão produzem tabaco sobre áreas de 1000 m². A maioria tem
desistido da cultura do tabaco porque consideram não ter suficiente experiência e
consequentemente um fraco rendimento, com respeito ao trabalho fornecido nesta cultura.
Aqui também, ocorrem tensões durante a selecção e a venta do tabaco. Alem disto é também
pago em atraso e a vezes o montante pago não corresponde ao montante inicialmente previsto
(isto e devido ao feito de ter um a segunda selecção na sede da empresa). Por este motivos o
tabaco não e uma cultura que tem muito sucesso. O número de famílias produtoras diminui
cada ano. As famílias que continuam produzem ate meio hectare.
Existem também alguns produtores de tabacos que se dedicam a esta cultura sem ter interesse
no algodão. Isto é devido a experiência familiar ou a falta de terra que não permite ter uma
machamba grande de algodão. Com efeito, o tabaco é uma cultura com um rendimento por
hectare bem superior ao algodão.
Não obstante a recomendação da CNA de semear em novembro, a maioria das familias
semean em Dezembro, ou Janeiro, devido à preparação do solo da machamba de algodão ser
ao mesmo tempo que a sementeira da mapira. A sacha também coincide com as sachas dos
cereais. Mais a colheita de algodão ocorre depois da colheita do milho e antes da colheita da
mapira.
As familias costumam empregar buscateiros (trabalhadores diários) para suportar esta carga
de trabalho. Os buscateiros são pagos em dinheiro ou em comida (gallone de milho ou
mapira) em função da disponibilidade de tesouraria das famílias. O aluguer dum tractor
motorizado com charrua para a preparação do solo é uma solução adoptada pelas famílias que
cultivam o algodão desde 4-5 anos, e que por tanto dispõem dum capital suficiente para esta
despesa elevada. Muitos produtores tem se queixado da fraca disponibilidade de tractores.
16
Calendário de trabalho
SC1 Milho + Mapira (2 ha)
Set.
Preparação
solo
do
Out.
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
64 HJ
8
HJ
Sementeira M
Sementeira S
20 HJ
Sachas M+S
80 HJ
80 HJ
80 HJ
Colheita M
16 HJ
Colheita S
25 HJ
SC2 Algodão (1 ha)
Set.
Out.
Nov.
Preparação
do
solo
Sementeira
- Démariage +
sacha 1
Sachas (3)
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
70 HJ
52 HJ
108
HJ
324 HJ
Colheita
164 HJ
Operações postcolheita: limpagem
e selecção
- Reabilitação das
vias de aceso
90 HJ
20
HJ
Total HD : 1200 HD (SC1 : 373 HD + SC2 : 828 HD)
Estimação do rendimento agrícola diário : 26.000 meticais
Com 0,1 ha de tabaco
SC3 Tabaco (0,1 ha)
Set.
Viveiro (15 m2) e rega
Preparação do solo
Transplante
e
fertilização
Sachas
Colheita e colocação
no secador
Out.
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
15 HJ
9
3
42 HJ
108 HJ
Operações
postcolheita: classificação
20
HJ
Total HD : 1400 HD (SC3 : 197 HD)
Estimação do rendimento agrícola diário : 23.000 meticais
17
Ag
O algodão, uma cultura exigente em trabalho
Sistema de produção 4: Policultura com enfoque no feijão8, com ou sem
batata Reno
As famílias que praticam a policultura com enfoque no feijão e batata Reno situam-se nas
encostas Ocidental e Sul ocidental da Serra de Gorongosa, nas localidades de Nhataca
Nhancucu, Nhazoé, Nharirosa, a parte alta de Nhabirira, lugares onde as condições
pluviometricas são mas favoráveis. As famílias começaram a cultura do feijão como cultura
de rendimento a partir do ano 200, com a introdução duma variedade mas produtiva em 1999
e a subida dos preços do feijão em 2003. O seu preço actual, 11.765 meticais/kg mantém-se
desde dois anos.
Parcela de feijão irrigada por gravidade (Nhazoé).
Um outro motivo que explica o
sucesso do feijão é que permite
realizar outras culturas exigentes em
tesouraria para o seu arranque como
a cultura da batata Reno ou a
horticultura. Estas culturas são caras
ao nível das sementes, da mão-deobra necessária para cortar a floresta
(no caso da batata), ou pela compra
eventual dos pesticidas no caso das
hortícolas.
Vendido em Junho, o feijão fornece
este rendimento e serve assim de
capital catalisador para estas outras
culturas. Estas culturas de alto rendimento vão logo poder financiar o desenvolvimento da
cultura do feijão.
A batata, vendida em Janeiro – Fevereiro e em Setembro, permite pagar os buscateiros do
feijão. Os buscateiros são uma força de trabalho indispensável para conseguir cultivar o feijão
em áreas grandes. Um camponês que produziu 2,5 hectares de feijão tem em programa de
8
Este feijão è chamado pelos camponeses, feijão GTZ ou feijão manteiga. No mercado da Beira (maquinino), è
chamado feijão Catarina.
18
fazer 4 hectares. Este programa e possível porque sabe que ele pode contar com o lucro da
batata. Quanto masi os rendimentos do feijão aumentam, quanto mais os produtores são
capazes de acrescentar as áreas cultivadas em batata. Um camponês acrescentou a parcela de
batata de 0,1 hectare ao meio hectare na mesma campanha.
As famílias que combinam feijão e batata têm mas facilidades de aumentar as áreas cultivadas
em feijão e vice-versa. Nem todas as famílias adoptam esta estratégia por não serem situadas
perto das terras altas da Serra. Estas famílias, com baixa e mão-de-obra suficiente, começam a
produzir hortícolas. São ainda pouca por que não todas tem baixa ou por dificuldade de
ligação ao mercado nesta áreas pouco frequentadas.
Estas famílias também produzem milho para a alimentação familiar mas também para o
mercado nos anos de boa produção.
Calendário de trabalho
SC1 Milho (0,8 ha)
Set.
Out.
Preparação
do solo
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
Mai
Jun
Jul
Ag
25 HD
Sementeira
M
5
HD
Sacha M
32 HD
32 HD
32 HD
Colheita M
7HD
SC2 Feijão (2,2 ha)
Set.
Preparação
do solo
Out.
Nov.
Dez
Jan.
66 HD
Fev.
Mar
30 HD
Sementeira
66 HD
Sacha
79 HD
Colheita e
bater
53 HD
SC3 Batata Reno (1400 m²)
Set
Out
Nov
Dez
Sementes
baixo do
capim
(favorecer
a
germinação
Preparação
do solo
Sementeira
Cuidado
Colheita e
transporte
ao posto de
venda
Jan
Fev
Mar
Abr
x x x x x x x x
x x x x x x x x x x
15
HD
15 HD
32
HD
32
HD
4
8
8
8
4
8
8
8
75 HD
75 HD
19
Total HD : 753 HD (SC1 : 153 HD + SC2 : 300 HD + SC3 : 300 HD)
Estimação do rendimento agrícola diário : 31.150 meticais
Os rendimentos agrícolas são muitas vezes investidos em pequenos comércios e mas
raramente em compra de animais. Muitas famílias investem o rendimento em bancas de
produtos alimentares (óleo de cozinha, peixe seco, bolachas) e de higiene (sabão, pomadas) e
de vestuário. O interesse destas actividades e de dispor duma tesouraria permanente. E uma
actividade que traz muito lucro (ate um milhão de mtc por mês) e que fornece um
complemento importante ao rendimento familiar. Constitui um investimento interessante
desde que a criação de cabritos e porcos que comem nas machambas dos vizinhos é fonte de
problema: multas a pagar, tensões com vizinhos.
Sistema de produção 5: Os horticultores médios
Estes produtores provem do sistema de produção 1: as famílias produziam antes milho (e
mapira) nas machambas e milho e feijão nas suas baixas. A tendência de especializar-se na
horticultura pode-se explicar pelos seguintes factores:
- A normalização politica em 1999/2000: as famílias se atrevem a abrir as machambas nas
terres controladas pela Renamo.
- As famílias recebem o apoio técnico da FHI que também facilita o acesso as sementes.
As famílias conseguiram iniciar estas culturas mais caras a traves dos rendimentos obtidos
com o feijão. No sistema de produção precedente, o par feijão – batata Reno se estimulavam
mutuamente. Aqui, é o par feijão – hortícolas que permite a especialização na horticultura. Os
rendimentos do feijão e a influência dos primeiros horticultores mais empreendedores
explicam a difusão da horticultura.
Um outro factor determinante na difusão da horticultura é o futuro acesso ao mercado e as
oportunidades de escoamento da produção que os camponeses prevêem a traves do projecto
do regadio de Nhabirira (projecto da BAD e de KULIMA). Já a partir do ano 2000, a zona de
Nhabirira foi desencravada com a reabilitação das vias de acesso (pequenas pontas e estrada
nacional).
E de destacar que o regadio de Nhauranga não conhece esta mesma tendência na
especialização em produção de hortícolas. Os camponeses que tinham se atrevido na
horticultura converteram se rapidamente em produtos cujo mercado era garantido. Agora só se
encontram produtores de feijão e de tabaco naquele regadio.
Canais de irrigação à gravidade numa parcela de repolho
(Nhazoé / Nharirosa).
Os horticultores ‘medios’ se diferenciam dos
horticultores pequenos em vários aspectos.
O ambiente favorece a constituição de
regadio por gravidade e por tanto de cultivar
áreas mais importante que vão de 3000 m²
ate meio hectare. Áreas de tal importância
precisam o emprego de mão-de-obra
permanente, que pode ser paga a traves do
rendimento do feijão. A utilização de adubos
químicos é difundida, em quanto o feijão
gera receitas suficientes para cobrir estas
despesas. Os insumos quimicos sao
20
comprado as familias que proudzem tabaco e por tanto sao facilmente disponivel.
Estas familias produzem cereais em quantidade menos importantes: 0,4 hectare para os
convencidos da horticultura e ainda um hectare para os produtores em transição.
Calendário de trabalho
Baixa 1: Milho – Hortícolas
Parcela 1 (2700 m²)
Set.
Prep. do solo e
sementeira feijão
Sacha F
Out.
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
Jul.
Ag
12 HD
12 HD
Colheita e bater F
2 HD
Repolho
280 HD
Cebola
300 HD
Tomate
Parcela 2 (1300 m²)
Prep. do solo M
Sementeira
Sacha
Set.
8
HD
Out.
Nov.
Dez
280 HD
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
2
HD
10 HD
Colheita M
Prep.
solo
e
sementeira do feijão
Sacha
Colheita e sacha
3 HD
6 HD
6 HD
1 HD
Prep. do solo batata
Reno, adobo, e
sementeira + repolho
30 HD
Total HD : 952 HD
Estimação do rendimento agrícola diário : 30.000 meticais (1 euro)
Sistema de produção 6: Policultura diversificada com actividades de
criação animal.
Estes sistemas de produção se diferenciam dos sistemas de produção precedentes pela força
de trabalho que dispõem e o nível de capital. As famílias apresentam pelo menos duas das
seguintes características:
- Tem uma junta e o equipamento da tracção animal (charrua, gravador). São estas
famílias que tem o capital para aceder a estes equipamentos.
- Tem mão-de-obra empregada o dispõem de mão-de-obra familiar importante (pelo
menos 5 trabalhadores familiares).
- O seu rendimento vem de pelo menos duas culturas
- As áreas cultivadas e o nível de diversificação da produção são mais importantes
- O gado caprino e porcino e mais importante (vinte cabras e vários porcos)
- Tem investido numa actividade exterior: prensa de óleo, carro
- Tem um celeiro melhorado.
Nesta categoria encontram-se as famílias que têm contactos frequentes com a DDA. São
famílias visíveis, que toda a gente conhece. Servem frequentemente de camponês pilota nos
projectos. São as famílias locomotivas das zonas e também as famílias mais frequentemente
21
visitadas pelos doadores, em quanto são mais ‘avançados em termos de bem-estar, que as
outras famílias.
E nesta categoria que encontram-se as famílias que tem acesso as sementes melhorada (tipo
milho sussuma) e os adubos químicos. Tem rendimentos mais alto em milho ais com custo de
produção mas elevados.
Os rendimentos do milho são investidos em gado sobretudo caprino.
Calendário de trabalho
SC1 Milho + Mapira (2 ha)
Set.
Out.
Preparação do
solo
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
64 HD
Sementeira M
8 HD
Sementeira S
20 HD
Sachas M+S
80 HD
80 HD
80 HD
Colheita M
16 HD
Colheita S
19 HD
SC2 Tabaco (1,5 ha)
Set.
Viveiro e rega
Out.
Sacha
Colheita
colocação
secador
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
Jul.
agi
Mai.
Jun.
Jul.
Ag
Jul.
agi
12 HD
Preparação do
solo
Transplante
adubação
Nov.
90 HD
e
30 HD
300 HD
e
no
1200 HD
Operações
post-colheita:
classificação
200
HD
SC3 Girassol (1 ha)
Set.
Out.
Nov.
Dez
Jan.
Preparação do
solo
Fev.
Mar
Abr.
30 HD
150
HD
Sementeira
Sachas (3)
120 HD
Colheita
40 HD
SC4 Milho – Feijão 600 m2
Set.
Preparação do
solo M
6HD
Sementeira
1 HD
Sacha M
Colheita M
Prep. solo e
sementeira
feijão
Sacha feijão
Colheita feijão
Out.
Nov.
Dez
Jan.
Fev.
Mar
Abr.
Mai.
Jun.
6HD
2 HD
2 HD
4 HD
4 HD
4 HD
4 HD
1
HD
1 HD
22
Total HD : 2574 HD
Estimação do rendimento agrícola diário : 23.000 meticais (0,76 euro)
Impacto da tracção animal
Algumas famílias dispõem duma junta desde 1999. A tracção animal e utilizada sobretudo
como meio de transporte e menos como equipamento para cultivar o campo. Isto pode ser
devido as seguintes motivos:
- Os campos não são desbravados porque é preciso de muito trabalho. A lembrança que o
desbravamento faz-se com maquina bulldozer (o ‘caterpillar’) è ainda muito fresca.
- O equipamentos fornecidos não incluem o cultivador, mas é a sacha a operação mais dificil e
mais exigente em trabalho
- A tracção obriga os homens a trabalhar mentras são as mulheres que sempre fazem o
trabalho
- As familias ainda nao tem o costume de utilizar esta técnica no seu trabalho de campo.
- A preocupação mais forte das familias é de ganhar tempo nas deslocações e no transporte
durante as colheitas. E sobretudo a este nível que se situem os ganhos de produtividade de
trabalho graças a tracção animal.
O capital das grandes famílias
As farmas
A descrição da zona de estudo seria incompleta se não se falasse das farmas. De momento,
três farmas operam de forma completa o parcial e se concentram na produção de milho, de
feijão e de hortícolas9.
6500 hectares foram solicitados no posto administrativo de Nhamadzi para desenvolver
actividades agrícolas e agro-pecuárias, contra 450 hectares em Gorongosa. Destes 6500
hectares, 25% são para actividades exclusivamente agrícolas. Os proprietários são
principalmente habitantes exteriores ao distrito, alguns dos quais quadros políticos. As
maiorias destas terras não são ainda exploradas.
9
Situam-se respetivamente em Muera, Nhabirira, Murumbodzi.
23
Analise comparada dos sistemas de produção
Cada ponto representa uma família. O primeiro gráfico mostra por cada família o nível de
valor acrescentado produzido por cada trabalhador em função da área disponível por cada
trabalhador.
Os pontos foram obtidos a traves do cálculo seguinte:
Eixo y: (Produto bruto – Consumos intermédios) / trabalhador
Eixo x: Área por trabalhador
As rectas foram calculadas a traves da equação seguinte:
Para o valor acrescentado:
(Produto Bruto/ha – Consumo intermédio/ha) x área/trabalhador – Amortização do
capital não proporcional a área / trabalhador.
Para o Rendimento agrícola:
(Produto Bruto/ha – Consumo intermédio/ha – salários/ha) x área/trabalhador –
Amortização do capital não proporcional a área / trabalhador.
A amortização de capital corresponde ao valor fictício que o camponês deve poupar para
poder renovar as suas ferramentas, os seus celeiros e currais.
A produtividade do trabalho
O gráfico aqui abaixo permite de comparar a produtividade do trabalho dos diferentes
sistemas de produção. Os valores das ordenadas começam em negativo, o que demonstra o
fraco nível de investimentos das famílias intervistadas. As diferentes inclinações das rectas
revelam a intensificação dos sistemas de produção: quanto mais a recta é inclinada, quanto
mais o sistema de produção é intensivo em trabalho.
Valor acrescido por trabalhador total em função da area por trabalhador total
3
0
SP1 VA
SP1
2
5
SP2 VA
SP2
2
0
SP3 VA
1
5
SP3
1
0
VA SP 4
SP4
5
SP5 VA
0
0,00
5
SP5
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
SP6 VA
Hectare / trabalhador
SP6
Podemos observar neste gráfico que o valor produzido por um trabalhador sobre um hectare é
de 4 milhões no sistema de produção 1 ou 3. Mas é de 20 milhões no SP5. Para produzir um
valor acrescentado equivalente a aquele dum produtor de feijão, o produtor de algodão ou de
24
milho-mapira deve trabalhar em áreas três vezes mais grandes. Isto significa também que os
SP1 e SP3 são sistemas mais extensivos, no sentido que precisam de menos mão-de-obra por
hectare.
Como dizem os camponeses, é o feijão e as hortícolas que ‘pagam mais’. São os sistemas de
produção que tem o nível de produtividade do trabalho mais elevado. São as rectas mais
inclinadas. Pode-se perceber então porque as famílias que tem uma baixa e fundos suficientes
para a compra de sementes convertem-se na produção de feijão e de hortícolas.
Entre estes dois sistemas de produção, a diferença de produtividade também é importante. Um
produtor de feijão deve trabalhar áreas duas vezes mais grande que os horticultores, para
produzir um valor acrescentado equivalente.
Referente aos pequenos horticultores, a produtividade do trabalho depende do tipo de
produção. Aquele que se destaca do grupo (valor ajunto de 10 milhões sobre menos dum
hectare), produz alem de hortícolas, inhame (madumbe) em quantidade importante e vendidas
foras do distrito com um preço mas interessante. O caso de fraca produtividade do trabalho
(1,5 milhões) é devido a uma área de machamba pequena por causa de doença do cabo de
família. Os outros casos onde a produtividade aparece mais fraca correspondem às situações
de famílias que estão a começar a horticultura. Um começou a couve tronchuda que vale
menos que o repolho e os tomates. Outros começaram este ano mais tiveram prejuízo devido a
dificuldades de comercialização. Mesmo assim, este sistema de produção tem uma
produtividade de trabalho potencial (já realizada para alguns produtores) comparável a
aquelas das grandes famílias (SP6).
Rendimentos
O rendimento agrícola é o rendimento que fica para a família depois de ter pago os
empregados e de ter reembolsado os créditos. O limiar de sobrevivência calculado em base
aos dados aqui em baixo permite de ver se as categorias de produtores estão num processo de
descapitalização.
Custo da reprodução da força de trabalho dum trabalhador e dos seus familiares
inactivos
Necessidades mínimas dum casal com 3
Valor
Dia o semana
adultos e 6 crianças
Comida: almoços, mata-bicho, frutas
Sabão
Consultas medicas
Medicina de malária
Roupa de criança
Roupa de adultos
Capulana
Chinelo crianças
Chinelo adultos
Despesas escolares
Total valor anual das necessidades mínimas para um
nível digno de vida
Total valor necessidades minimais anuais /
trabalhador
37 800,00
36 000,00
1 000,00
10 000,00
50 000,00
75 000,00
180 000,00
15 000,00
25 000,00
25 000,00
365,00
12,00
3,00
12,00
6,00
1,00
1,00
2,00
1,00
3 crianças
12,00
Em meticais
13 797 000,00
432 000,00
36 000,00
120 000,00
300 000,00
75 000,00
180 000,00
30 000,00
25 000,00
75 000,00
15 070 000,00
2 511 666,67
Os gráficos aqui abaixo permitem de representar o rendimento agrícola e o rendimento total
das famílias por sistema de produção.
25
Rendimento agricola por trabalhador familial em função da area por trabalhador familial
SP1
50
Série2
45
SP2
40
Série4
35
SP3
30
Série6
25
SP4
20
Série8
15
SP5
10
Série10
5
SP6
0
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
Série12
4,5
-5
Limiar de sobrevivência
A rea / Trabalhado r familiar
Salario min. agr.
Salario min. industr.
Rendimento total por trabalhador familial em função da area por trabalhador familial
5
0
4
5
4
0
3
5
3
0
2
5
2
0
1
5
1
0
5
0
- 0
5
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
Area / Trabalhador familiar
No primeiro gráfico, só as famílias que praticam uma policultura mínima (milho-mapira)
situam-se abaixo do limiar de sobrevivência. Isto significa que estas famílias conseguem
renovar o seu capital (enxada, catana...) só si vendem outros bens (pequenos animais) ou se
tem fonte alternativas de rendimento. Fontes alternativas de rendimento são a fabricação de
bebidas alcoólicas (cabanga, nipa) ou trabalhar como buscateiros nas machambas dos outros.
Fazer buscato é o recurso dos mais pobres, dos que não tem outro remédio.
Nos outros sistemas de produção, só uma família do SP2 se encontra a abaixo do limiar de
sobrevivência por motivo de doença do cabo de família, excepção que revela a
26
vulnerabilidade das famílias confrontadas aos imprevistos (doenças, incêndios) que fazem que
dum dia a outro passem abaixo desta soleira.
Não obstante uma fraca produtividade do trabalho, os produtores de algodão tem um nível de
rendimento relativamente importante, nível que se consta no teto de chapa da suas casas, e em
outros bens de consumo: bicicleta, aparelho de musica ‘de 6 pilas’, panelo solar. Os
produtores de feijão e de hortícolas (SP4 e SP5) são os que tem um rendimento mais elevado.
Para todas estas categorias (de SP3 a SP6), as diferenças entre o rendimento agrícola e o
rendimento total são devidas aos lucros das bancas e comércio alimentar e vestuário. Não se
trata aqui duma estratégia de sobrevivência como e o caso do SP1 e SP2, mas bem duma
forma de poupança ou de emprego de capital numa actividade que é capaz de fornecer
dinheiro de forma regular. Esta poupança menos frequentemente utilizada para a compra de
animais (caprinos, porcinos) devido ao risco de multas. Os produtores que chegam a um nível
alto de poupança investem na compra duma junta de boi, possivelmente com o equipamento
de tracção (charrua).
Fazendo a comparação com o nível de salário mínimo em vigor no pais, olhando para o
rendimento agrícola, só algumas famílias no feijão e nas hortícolas continuariam as suas
actividades. Os rendimentos das grandes famílias e dos produtores de algodão situam-se
também acima destes salários mínimos, si se inclui as suas actividades externas (bancas).
Tendo em conta estas situações económicas de cada categoria de produtores, e analisando as
tendências em curso, quais são as recomendações que podem favorecer o desenvolvimento
agrícola do distrito?
27
3. Tendências em curso, perspectivas e recomendações
3.1. A situação dos sistemas de produção milho mapira
A associação milho mapira e durável em contexto de baixa densidade demográfica, onde a
rotação com um pousio de muitos anos permite aos solos de reconstituir a sua fertilidade.
Quando o número de famílias aumenta, o fenómeno de empobrecimentos dos solos e a erosão
aparecem e são bem conhecidos no distrito, em particular nas zonas de Tsiquir Machiço,
Tazaronda, Tambarara, Nhambondo etc...
O empobrecimento dos solos, responsável da diminuição dos rendimentos, é um dos factores
principais do empobrecimento das famílias. A situação é acentuada pela diminuição das
chuvas estes últimos anos. Ao nível demográfico também ocorre um fenómeno migratório no
distrito e entre distritos que reflecte a abandono de terras secas por zonas mais chuvosas
(famílias que deixam Maringue ou Casa Banana para ficar em Canda ou Mucodza).
Nesta situação algumas famílias param de cultivar milho e mapira em consociação. Outras
fazem barreiras de pedras ou de restolho de mapira para limitar a erosão dos campos. As
famílias que dispõem de mão-de-obra suficiente e que estão numa zona coberta por uma agro
– empresa têm a oportunidade de evoluir no sistema de produção 3. Outros valorizam as suas
baixas em fazem hortícolas e evolvem no sistema de produção 2.
As baixas são sempre mais raras e mais procuradas. São vendidas entre camponeses. Valor
destas transacções ira aumentado com o passar do tempo. Já estão a aparecer produtores sem
baixa nenhuma, um futuro sistema de produção que será mais difundido no futuro e onde se
encontraram as famílias mais pobres.
Recomendações
- Neste contexto a agricultura de conservação e a estratégia mais adequada para evitar a
degradação do ambiente e a consequente deterioração socio-económica das famílias. A
dificuldade principal é a difusão destas novas praticas.
- Primeiro as consociações de dois cereais têm muito vantagem, a curto prazo, em termo de
produtividade de trabalho: e difícil convencer as famílias de deixar esta consociação. Para elas
semear uma linha inteira de feijão bóer, corresponde a perder espaço para semear o milho ou a
mapira.
- Segundo a difusão depende da qualidade de trabalho da extensão rural. E importante poder
exigir uma atitude mais profissional e pró-activa da parte dos extensionistas. Como motivalos? Existe um desequilíbrio forte entre o papel determinante do seu trabalho, e os recursos
materiais e financeiros disponibilizados a nível dele. Este é um factor de grande desmotivação
e faz com que a qualidade do trabalho extensionista é a vezes muito fraca, com impacto
visível na áreas na qual ele opera. Medidas a tomar depende da DPA e da afectação de recurso
decidida a este nível.
- Terceiro, todas as zonas com alta densidade demográfica (‘que estão a ficar cheias de
famílias) deveriam ter campos de demonstração e participar nesta difusão da agricultura de
conservação. Muitas zonas cobertas pelos extensionistas da fundação contra a fome não têm
UTV de consociação leguminosas-cereais.
28
Alem da AC, é preciso continuar a promover actividade de criação de animais valorizado
(peru, galinha de mato), dando prioridade as mulheres viúvas e as categorias sócias mais
vulneráveis. Galinhaços devem ser preferidos aos caprinos e porcinos que geram tensões com
vizinhos e multas, quando comem nas machambas vizinhas.
3.2. A situação dos pequenos horticultores
Alem dos fenómenos de empobrecimentos dos solos, estes produtores são confrontado a
- Falta de mercado
- Falta de equipamento de rega para aumentar a sua produtividade de trabalho.
- Fraco acesso as sementes
Recomendações
- A falta de equipamento de rega é devido a um desencontro entre famílias e extensionistas: as
famílias não sabem que existe este equipamento ou não sabem onde pedi-lo. Os extensionistas
nem sempre identificam as famílias que poderiam precisa-lo. Este desencontro e uma certa
falta de iniciativa faz com que a DDA (não incluir os pedidos no orçamento) faz com a
difusão do equipamento fica lento. Aqui também e em questão a qualidade do trabalho
extensionista.
- O acesso a sementes deveria ser incentivado a traves dum programa de crédito a sementes
com mecanismos adequados para garantir o reembolso do crédito (formação de grupos de
créditos). Este credito e relevante sobretudo para as sementes mais caras como é o caso do
alho, cebola e repolho.
- Falta de mercado (ver próximo capitulo).
3.3. A situação dos produtores de algodão
O constrangimento principal é o aumento da produtividade de trabalho. São muitos os
produtores de algodão que dizem de precisar dum tractor. As possibilidades de alugar uma
junta com charrua são ainda limitadas. Poucas famílias dispõem deste equipamento.
Recomendações
E preciso multiplicar os esforços na difusão deste equipamento. A DDA precisa de trabalhar
com mais actores capazes de trabalhar neste sentido. Uma opção possível e uma eventual
parceria com a CNA.
A CNA prevê num futuro próximo as acções seguintes:
- Promover a difusão da prática de rotação milho / algodão. Trabalha com o CIRAD10 nesta
questão
- Promover a tracção animal a traves de créditos em parceria com a GAPI.
10
Centro de cooperaçao internacional em pesquisa agronomica para o desenvolvimento. www.cirad.fr
29
3.4. A situação dos produtores de feijão
As famílias deste sistema de produção estão todas implicadas num processo de ampliação das
suas machambas de feijão. Aqueles que começaram esta cultura no ano 2000 produzem hoje
de 2 a 5 hectares. O que limita a ampliação e o custo das sementes e o custo de mão-de-obra.
A consequente redução de área em pousio significa que estas zonas (Nhancucu, Nhazoe,
Nharirosa) se encontraram dentro de alguns anos numa situação comparável a aquela da vila:
empobrecimento dos solos e erosão.
A diminuição de pousio reflecte se também nos animais que as famílias possuem. As famílias
possuem sobretudo galinhas e pombas, e evitam de ter porcos ou cabritos que vão comer nas
machambas vizinhas. Já são poucos os pousios que separam as machambas. Construir num
curral e considerado como muito caro porque a madeira é rara
Com o empobrecimento dos solos, a cultura de batata Reno vai ter ainda mais importância
provocando mais desflorestação nas zonas altas da Serra, a não ser de ter uma cultura que da
um lucro comparável para uma quantidade de trabalho igual.
A este propósito e prevista a introdução do arvore de Macadamia, para promover a produção
de noz de Macadamia que tem um alto valor nutricional e um preço elevado no mercado
internacional.
Outras recomendações
- E importante ter UTV de rotação de milho com feijão. Não existe apoio técnico neste
sentido. Os extensionistas chegam raramente nesta zonas por falta de combustível. O
isolamento técnico destas famílias deveria diminuir com o projecto Caritas.
- Também recomendamos a organização de feiras mensal de fruteiras a preço bonificado.
Isto permitira a mais camponeses de ter um aceso fácil as fruteiras já que o viveiro esta
situado, desde a sua deslocação pouco clara da Vila, em Nhancucu, lugar distante e de pouco
aceso.
3.5. A situação dos horticultores médios
O número de famílias que produzem hortícolas esta a aumentar em particular em Nhabirira.
Isto e devido a:
- O alto rendimento por hectare
- O projecto Kulima e as perspectivas de comercialização esperada pelos camponeses
- Possibilidade de produção na temporada de preços altos
- Entradas de dinheiros varias vezes por ano.
- Influencia de jovens camponeses com iniciativa.
Canais de extensão dos regadios em Nhabirira.
Algumas famílias não esperam a reabilitação dos
canais de rega para construir outras represas ou canais
secundários, aumentado assim as suas áreas regadas.
Isto criou um problema pontual de gestão dos
recursos hídricos.
30
A gestão dos direitos da água do regadio pode ser um ponto de tensão, cuja gestão dependera
do comité apoiado por Kulima. O principal desafio será o aceso ao mercado e a diversificação
das hortícolas produzidas, assuntos que serão seguidos pelo projecto Kulima.
3.6. A situação das grandes famílias
E provável que estas famílias continuaram a diversificar a sua produção, para diversificar as
fontes de rendimento num contexto de diminuição das chuvas. Este sistema pode evoluir em
sistemas agro-florestais. Já algumas famílias estão a plantar fruteiras nos campos. No futuro e
também possível que algumas famílias decidam de focalizar progressivamente as suas
actividades na criação de gado bovino, mantendo a agricultura exclusivamente para o
consumo familiar.
3.7. Tendências em curso referente a terra e a sua disponibilidade – 3
pontos de vistas diferentes
i) Os camponeses
São muitos os camponeses que consideram que agora a sua zona ‘esta cheia’, que já não tem
terra. De facto, muitas famílias já desistiram de criar cabritos devido a altas multas paga
quando os animais que vão de pasto comem a cultura das machambas vizinhas.
ii) A classe médio alta urbana que investe no gado
Os processos de registo de Cadastro são claros. Mais de 87 % das terras pedidas são para
desenvolver actividade de agro-pecuária, 45 % para actividades exclusivamente pecuárias,
todas estas situadas nas zonas de Canda. Se não incluímos o pedido de 5000 ha para
actividade de pecuárias da parte dum privado, os pedidos para actividades agropecuária
registados de 1998 a 2004 incluem 78% das terras pedidas. Mais de 1/3 destes pedidos forma
introduzidos entre 2003 – 2004, quando a EN1 estava a ser reabilitada.
A Comunidade de Canda a traves do seu Comité de Gestão de Recursos Naturais prevê o
desenvolvimento destas actividades nas zonas de cruzamento de Cudzo lado ocidental da
EN1. Mais a falta de pontos de agua nesta zona faz com que a maioria dos pedidos dos
interessados referem se as zonas onde os recursos hídricos são abundantes.
iii) Os projectos de desenvolvimento que estão encaminhados
Segundo as perspectivas dos organismos principais que operam no distrito (GPZ, FHI), o ano
2006-2007 serão anos de fomento pecuário e fomento de tracção animal. A abertura duma
farmácia veterinária e prevista. Se todo corre como previsto, a fábrica de rações deveria
arrancar no ano 2006. Também foi questão de promover um projecto de matadouro nos anos
2007. Não parece provável a realização destes dois últimos projectos num futuro próximo.
Sem embargo, estes projectos revelam a aposta num desenvolvimento do distrito baseado
sobre futuros recursos pecuários. Isto, num contexto de rarefacção de terras situada lá onde
são os recursos hídricos.
Este fenómeno de rarefacção de terra já foi claramente analisado e levado ao conhecimento
das autoridades no ano 2001 (Apresentação do PISA, Uso e aproveitamento da Terra no
distrito de Gorongosa).
31
E importante de distinguir o fomento da tracção e da criação animal no sector familiar, do
desenvolvimento de actividades pecuária por pessoas ‘externas ao distrito.
Não se trata de impedir o desenvolvimento da criação de gado, mais de poder dar prioridade
as actividades mais oportunas. Será que um futuro sector pecuário, sustentado pelas classes
médias urbanas, pode dar benefícios ao distrito de Gorongosa num contexto de rarefacção de
terras aptas?
32
4. A questão da comercialização: como
aislamento dos camponeses ao mercado
desbloquear
o
4.1. A situação actual
Pode-se distinguir a comercialização dos cereais (Milho e Mapira) e leguminosas da
comercialização das hortícolas, a primeira sendo mais desenvolvida da outra. Com efeito, o
distrito de Gorongosa é conhecido por ser o celeiro da província de Sofala. Também fornece
bananas mais é menos pela sua produção de hortícola.
Os esquemas a seguir permitem visualizar os actores implicado no processo de
comercialização. E oportuno distinguir a comercialização de cereais e de feijão, a
comercialização de produtos fomentados pela agro industrias e a comercialização de
hortícolas.
O escoamento dos cereais e do feijão vulgar: actores principais
Os produtores
O esquema abaixo mostra os diferentes caminhos que seguem os produtos.
Por grandes produtores, entendemos as explorações que atingem alto níveis de produção e que
tem aceso a meios de transportes motorizados próprios. Se trata de famílias grandes e das
farmas. As famílias quem tem nível mais fracos e que não tem aceso a meio de transporte
próprios são designado neste esquema como produtores fracos, no sentido de fraco poder de
comercialização.
Os comerciantes
Os comerciantes itinerantes e os transportadores jogam um papel chave nesta cadeia de
escoamento dos produtos. Os comerciantes e transportadores começaram a dominar no
processo de comercialização agrícola a partir dos anos 1990. Esta situação resulta duma
dinâmica já em curso desde a implementação em 1986 do Programa de Reabilitação
Económica (PRE), que introduziu uma economia de mercado no pais. No fim da década 1990,
face a predominância do sector informal na comercialização de produtos agrícolas, foram
retiradas as restrições de comércio entre distritos e províncias e a eliminação do sistema de
monopólio geográfico para comerciantes privados registados. No Distrito de Gorongosa, um
dos mais afectados pela guerra, a presencia de comerciante aumentou significativamente a
partir do ano 1995, depois das primeiras eleições, quando fico claro que a paz estava a ponto
de construir-se pouco a pouco.
Podemos distinguir os comerciantes que beneficiam de créditos formais como da Socremo e
outros projectos na zona sul do pais (Amoder, Care), dos comerciantes que actuam com
crédito informal. O motivo por não ter credito formal é devido aos elementos seguintes: falta
deste serviço na zona, falta de garantia que permitem o acesso a tal crédito, prazo de
reembolso não conforme ao nível de negócio do comerciante. Muitos comerciantes
conseguem começar o seu negócio a traves de crédito informal cuja taxa de juro aproxima os
50% do montante emprestado.
Os comerciantes da Vila são principalmente comerciantes do Sul que compram o milho não
directamente ao produtor mais aos compradores itinerantes.
33
Trabalham com 2 ou três pessoas. Ficam no mesmo posto. Tem um transportador de
confiança, que circulam com camião de 6 à 15 toneladas, à vezes mais.
Vila de Gorongosa: comerciantes do Sul carregam
sacos de milho num camião contentor alugado.
Nhazoé: comerciante no interior , a 40 minutos de chapa da EN1.
Os comerciantes do interior são aqueles que estabelecem o posto de compra mais próximo as
comunidades, longe das estradas principais e perto de picadas secundárias.
Não sempre beneficiam de crédito formal. Trabalham sozinhos ou com duas ou três pessoas.
Ficam no mesmo posto. Dispõem de 4 milhões que permite de comercializar 30 sacos de 60
quilos (aproximadamente 2 toneladas).
Vendem aos comerciantes da Vila (alugando os chapas – carinha do distrito), ou vendem nos
mercados dos outros distritos fazendo ‘liga-liga’. Liga-liga significa esperar a passagem dum
camião vazio que vai na mesma direcção. Muitas das vezes, um camião não chega ao mesmo
destino do comerciante. Ele tem que parar varias vezes, descarregar a mercadoria e esperar
para outro camião.
A maioria fazem comercio durante todo o ano. O seus negócios ajustam se a sazonalidade do
produto. Assim o comerciante de milho também é comerciante de caju no norte na devida
altura. O comerciante de feijão em Junho, trabalha com a batata em Dezembro etc...O
comerciante de peixe seco que conseguiu acrescentar o seu rendimento pode decidir
converter-se ao comércio de milho ou de cabritos.
A decisão de comercializar ou o outro produto depende:
i)
do lucro esperado (e por tanto da informação sobre preços de mercado),
ii)
da tesouraria inicial,
iii)
dos meios de transporte existentes (fundo de aluguer ou meio próprio).
Muito importante e a informação sobre os preços do mercado. Um comerciante vende na sua
região de proveniência justamente por terem conhecimento dos preços em curso e terem os
seus contactos de confiança. Um comerciante de Caia chega em Gorongosa para vender em
Caia, um comerciante de Inhambane vem para vender em Inhambane.
Também importante à o fenómeno de replicar o que funciona, de fazer o que muitos já estão a
fazer. O baixo nível de capital da maioria dos comerciantes itinerantes explica que muitos
preferem ir num negócio considerado seguro, um negócio que não falha.
Os transportadores
Os comerciantes itinerantes dependem dos transportadores para o desenvolvimento da sua
actividade. O transportador depende do negociante para a informação sobre o preço do
produto e a sua localização.
Os transportadores que operam no distrito de Gorongosa são:
34
i)
ii)
iii)
os transportadores do Sul ligados aos comerciantes situados na Vila
os transportadores que dirigem se no norte da província e na Zambezia
os pequenos chapas – carrinha que operam ao nível do distrito. Oito chapas ligam
a Vila a Baramanza Canda, quatro chapa vão ate Vunduzi. Fazem pelo menos 4
viagens por dia.
A comercialização facilitada pelas empresas agro-industriais
Comercialização de produtos para agro-industria de exportação
Capacidade financeira
e taxa de juro
BANCO RURAL
Produtores
Quantidades &
Preços ao produtor
Evolução de preços no
mercado internacional
Politicas fiscal e
comercial
Serviços de fomento
sub-contractado
Empresa agro-industrial
Transportadores subcontractados
Tecnicos de fomento
Processamento /
Tratamento /
Embalagem
Mercados
estrangeiros
As vendas as agro industrias no distrito de Gorongosa refere-se ao algodão, tabaco, gergelim,
e duma forma menos difundida, ao girassol e feijão. Foi também o caso do pili pili e será o
caso da soja. As empresas fomentadoras sempre fornecem insumos (pelo menos sementes, e a
vezes adobo o remédio) e sacos.
A relação comercial é desequilibrada no sentido, que o comprador trata com centenas de
famílias, e elas tratam com um so. Esta situação de monopsônio da um poder muito forte aos
compradores. Ainda não existe a tradição de organizar se em grupo para defender os seus
interesses. Por tanto, a relação comercial ‘justa’ depende da consciência moral da empresa de
manter uma relação de respeito e entendimento mútuo.
35
Nhamadzi : camponeses na espera do comprador. O tempo
de espera pode ser de varios dias para não dizer semanas.
Nhamadzi: compra de tabaco.
A comercialização de hortícolas
Ao nível do distrito
Os camponeses que apostam na produção de hortícolas são ainda poucos mais o numero esta a
aumentar (muitos horticultores começaram no anos 2002-2003 e os horticultores mais grandes
fizeram a sua primeira campanha em 2004. Outros estão a abrir novas machambas só para
hortícolas). Com efeito, desde o ano 2002 o distrito de Gorongosa já não depende dos distritos
vizinhos para o seu abastecimento em produtos hortícolas.
As hortícolas de Gorongosa encontram maior saída no distrito, seja no interior nos campos de
produção, seja ao nível do mercado da Vila, consumo que reflecte um maior poder de compra
e melhoria da dieta alimentar das famílias.
As mulheres de mercado de verduras da Vila têm um papel
importante neste escoamento. Pelo menos 30 mulheres estão
envolvidas neste comércio. Costumam trabalhar com créditos de
aproximadamente 400.000 meticais. São emprestados por
conhecidos com uma taxa de juro de 30 a 50 % de juro
dependendo do montante. Vão no campo uma vez por semana.
Poucas trabalham fora do distrito. Só algumas saem para
comprar produto em Chimoio (tangerinas) ou Beira (Coco, peixe
seco...) e vende-lo na Vila. Nenhuma compra na Vila para vender
fora, com a excepção do inhame (madumbe) que encontra boa
saída em Nhamatanda.
Uma mulher do mercado da Vila em
compra de repolho em Nhabirira
Fora do distrito: a questão do transporte
A reabilitação da estrada EN1 em Julho 2003 abre novas perspectivas para o distrito. Mesmo
assim, a produção hortícola que abastece o mercado grossista da Beira (Mercado do
Maquinino) provem principalmente das províncias de Manica, Tete e localidades mais
vizinhas a cidade (Inhamizua, Dondo).
De momento, só as grandes farmas vendem a sua produção na Beira. Eles têm a vantagem de
ter volumes de produção elevados e meios de transportes próprios.
36
Muitos dos transportadores de hortícolas e frutas que operam no mercado da Beira adquiriram
o seu meio de transportes a traves de subsídio de desemprego e planos de reintegração das
empresas em via de reestruturação económica.
Transportadores a espera de negocio no
mercado central do maquinino (Beira)
Trabalham com carrinhas de 3 a 6 toneladas. Conduzem eles
próprios o veículo ou empregam um condutor. Tem tendência
a preferir produtos com pouco volumes, o que permite
carregar mais quantidade. Por exemplo preferem carregar
tomate em vez de pimenta. O comerciante desloca-se com ele,
e paga 50% do serviço ao início da viagem para cobrir os
custos de diesel. O restante é pago na chegada ao mercado de
venda. O transportador evita sempre circular vazio, e quando
se desloca no interior sem carga, costuma comprar produtos
básicos (óleo de cozinha, sabão etc...) para abastecer as lojas do interior. A importância de
não circular vazio faz com que preferem manter relações de negócio com lugares onde há
mercadoria em quantidade e por tanto, probabilidade fraca de circular meio vazio. Isto explica
que muito transportadores do maquinino circulam em Manica, ou em Tete.
Não obstante as suas boas condições rodoviárias, o distrito de Gorongosa é ainda muito pouco
frequentado por estes transportadores por ter receio de voltar vazios. Outro motivo de não ir
fazer negocio em Gorongosa e por não haver ainda relação de confiança estabelecidas e
consequentemente, não haver informação chaves. São raros os que tem informação e
conhecimento sobre lugares de produção de hortícolas e ainda menos sobre “a qualidade e
quantidade do produto, quando estará disponível, como chegar ao local de compra, o preço e
os termos de entrega do produto”, que sao as principais preocupacoes dos comerciantes (Flash
SIMA dez 2004). A relação de confiança joga um papel essencial na comercialização.
Venda de repolho em Nhazoé
Tomamos o caso concreto ilustrado na foto aqui ao
lado. Um comerciante contratou um transportador.
Jà é a segunda vez que trablham juntos porque ja
existe uma relação de confiança. Começou com o
comercio da batata reno e do alho. Agora tem
tesouraria suficiente para contratar um transportador
e não depender do liga-liga. Residente no distrito, o
comerciante conhece-o bem e sabe onde encontrar o
produto. Pode assim começar a estabelecer relações
de negocio e de confiança com o produtor. Os
repolhos serão vendidos em Marromeu, porque o
comerciante tem contatos là que lhe informaram que os preços de venda são altos. A parte o
carro, o telefone celular é um instrumento chave na organização do serviço deste comerciante
que pode assim comunicar com o seu transportador.Neste sentido, a existência da rede na vila
é um factor positivo para a comercialização.
De forma geral, pode se dizer que as transacções feitas mensalmente pelos grossistas
informais são reduzidas e com custos unitários de transportes elevados. “Como resultado, as
margens unitárias e retornos de capital têm de ser altos para os comerciantes simplesmente
ganharem um salário que permita viver”. (Tschirley, 1998).
37
A comercialização de Batata Reno
A Batata Reno é comercializada fora e dentro do distrito pelos comerciantes informais. No
interior do distrito são principalmente mulheres da vila que compram directamente ao
produtor ou aos revendedores intermediários. Com efeito o produtor de batata da montanha,
costuma vender o seu produto ao posto administrativo de Nhamadzi. A partir de ali a batata
chega ate a vila o vai ate Inchope e Muxungue em Chibabava , onde chegara na zona sul.
A sua conservação é menos difícil que as hortícolas e o nível de lucro da batata atrai muitos
comerciantes.
Comercialização de produtos horticolas e da Batata Reno
Consumidor
da zona
Ao nivel do distrito
Tch
Pequenos produtores
Mulheres do mercado da Vila
Tb e Tc
Mercado da Vila
Tb, Tc, Tch
Mercado da zona
TK
Fora do distrito
Negociantes interprovinciais e
interdistritais
TK
Mercado dos outros distritros
(Marromeu, Sul)
TK
Tc e Tchapa 100
Mercado grossista Maquinino
na Beira
Grandes produtores
TK
Mercado Maquino –
seccao retalhista
Mercado Retalhistas
nos bairros
Supermercado Shoprite Beira
Vendedores ambulantes
Concorrencia estrangeira:
Produtos do Sul Africa e Zimbabwe:
Batata, Cebola, Tomate
TK: transporte de camião
Tc: transporte de cabeça
Concorrencia local: Horticolas de
Angonia (Tete), de Manica, de
Inhamizua
Tb: transporte de bicleta
Tch: transporte de chapa
Os projectos de promoção da comercialização no distrito
Os primeiros projecto de apoio a comercialização no distrito, tem se concentrado no
escoamento do milho a um preço vantajoso para o camponês. Assim em 2000, a GTZ apoio a
recente UDAC na compra de milho e no estabelecimento de relação com o comprador
Mobeira. Devido a desvios e ma gestão do armazém, não foi possível vender a quantidade
prometida a Mobeira. (A Mobeira opera desde 2002 a traves dos seu comerciantes de
confiança situados em Manica, de onde provem a maioria do milho comprado).
Desde 2001, a Fundação contra Fome (FHI) tem actividades ligadas a comercialização de
produtos agrícolas, em particular dos cereais (milho e mapira) e do mel. A Fundação tem
apoiado camponeses a organizar-se em grupo, constituir posto de venda, afim de facilitar a
venda a grosso do milho aos compradores itinerantes e ao V&M grain co. O princípio consiste
e juntar os sacos de cereais num lugar comum, os camponeses fazem turnos para guardar o
produto ate a sua venda. A fundação também formou os grupos no pesagem de quilos e
facultou com balanças, para acertar que os produtores falassem a mesma linguagem que os
38
compradores formal. A comercialização dos cereais sendo dominado por actores informais
que usam a medida do gallone e da lata, este aspecto foi abandonado.
O objectivo da Fundação e de ligar os produtores ao mercado, o seu papel sendo de servir de
intermediário entre o comprador interessado e o produtor. O principio e de seguir o mercado,
ver onde esta a demanda, e liga-la à produção, tentando de não roubar o papel de protagonista
aos produtores, nas relações comerciais que vão se estabelece pouco a pouco.
Assim informam os compradores itinerantes da localização de posto de venda de milho dos
grupos de camponeses.
Servem de intermediário a V&M para o fomento da cultura de gergelim e de feijão (nhemba e
manteiga). O acordo de parceria entre a FHI e V&M define claramente a responsabilidades de
cada um. A Fundação distribui as sementes da V&M e assiste na produção. Informa a V&M
sobre o número de produtores, e a estimação do volume da produção a vender. Organiza posto
de venda, transmites os sacos dados pela V&M. Forma os grupos no associativismo, a gestão
e a contabilidade.
Para as hortícolas, consideram que o mercado local (entende-se no distrito) e suficiente para
escoar a produção do ‘sector familiar’. Facilitar um contacto em te produtores com o mercado
de Goto na Beira, mais parece ter sido uma actividade pontual e isolada.
A promoção da comercialização tem mirado principalmente cereais e mel nas zonas coberta
pela rede de extensionistas da FHI11.
Outros produtos e outras zonas não são incluídos neste projecto.
A ONG moçambicana Kulima vai-se concentrar na comercialização de hortícolas produzidos
no regadio de Nhabirira em Canda (projecto financiado pela BAD no quadro do seu programa
de regadio de pequena escala). A Kulima vai apoiar a associação do regadio de Nhabirira a
encontrar um comprador ou um mercado para que os produtores fiquem motivado e
continuem a apostar nas hortícolas. Se trata de evitar a evolução conhecida no regadio de
Nhauranga onde a falta de mercado conduziu os agricultores a produzir tabaco e a deixar
produzir hortícolas.
Alem de comité de gestão do regadio, a associação de Nhabirira tem um comité de
comercialização constituído por 4 pessoas, consideradas responsáveis do contacto com o
comprador. Estes responsáveis serão formados, e apoiados no estabelecimento de contactos
comerciais no mercado da Beira. O responsável centralizará o pagamento e redistribuirá os
benefícios aos membros. As viagens de procura de mercado serão financiadas pelo fundo de
gestão da associação. Este fundo também dará um subsídio ao responsável correspondente ao
valor perdido por não poder trabalhar nas suas machambas. A planificação da produção dos
membros da associação permitira estimar a quantidades que a associação pode fornecer ao
comprador. Micro créditos individuais serão proporcionados aos membros em função da
produção prevista (parceria com a GAPI).
As actividades sobre comercialização ainda não arrancaram, a Kulima tendo se concentrado
em fortalecer a associação a traves de formação sobre os direitos e deveres dos membros,
elaboração do regulamento interno, constituição dos comités, construção da macheça de
reunião. A procura de mercado é prevista quando se realizarão as obras de canalização a partir
de Março 2006.
11
Moera, Domba, Chionde, Tazaronda, Nhandemba, Tsaca Tsiquir, Machiço, Nhataca, Tambarara,
Nhamissongora, Npavoa, Pungue.
39
4.2. Recomendações
Observações sobre os projectos actuais
Os projectos actuais são relevantes e, se bem implementados, facilitaram o escoamento da
produção. O ponto mais delicado não é tanto o que fazer mas como faze-lo. Neste sentido
destacam-se as observações seguintes:
E importante continuar o trabalho de apoio aos ‘grupos de venda’ dos camponeses ligados as
agro empresas. Seria desejável chegar a uma situação onde estes grupos estão bem
organizados e autónomos e capazes de tornar-se em verdadeiros ‘clubes de negocios’. A
experiência da PROMEC no distrito de Buzi e considerado um exemplo neste sentido.
Motivos de sucesso são um trabalho constante de acompanhamento e de formação dos grupos
de venda, aspecto que pode ter sido fraco no distrito de Gorongosa.
A boa realização do projecto da Kulima também dependera do bom acompanhamento a
associação do regadio e das relações entre o acompanhador e os camponeses.
Projectos futuros
A questão da comercialização abrange duas perguntas essenciais: vender na devida altura ou
seja quando os preços são altos e vender em quantidade elevada. Por tanto, promover a
comercialização significa:
• Dar a possibilidade ao camponês de vender na época de preços altos
• Encontrar mercado que permita ao camponês de escoar a sua produção e desbloquear
situações onde o camponês não explora o seu potencial produtivo devido a falta de
mercado.
A comercialização dos cereais tem mais a ver com a primeira problemática: vender na altura
certa. As hortícolas encontram se no segundo caso: ter mercado para produzir mais e evitar
apodrecimento do produto.
O feijão e a batata Reno são os produtos que tem menos constrangimentos na
comercialização: Tem um preço mais favorável e a rede de comerciantes itinerantes
asseguram o escoamento do produto.
Não significa que a situação e ideal mais que as acções com respeito as estes produtos são
menos prioritárias.
VENDER QUANDO O CAMPONÊS GANHA:
AO CONSUMO.
UM PROJECTO DE BANCA DE CEREAIS PARA O CREDITO
O problema de comercialização de produtos agrícolas está intimamente ligado a tesouraria
que o camponês dispõe no momento de vender. O celeiro de milho e o equivalente da conta
em banca da gente nas cidades. Quando precisa de pagar a moagem, comprar sabão, carril etc,
apanha a suas massarocas, debulha e vão vender a quantidade conforme as suas despesas
imediatas. Os primeiros meses de compra de milho em Março e Abril, chegam numa altura
onde são pelo menos noves meses onde o camponês não esta a receber entradas, (a parte as
vendas ocasionais de pequenos produtos agrícolas das baixas, cana de açúcar, folha de
abóbora, banana, etc...).
Em Março a situação financeira do camponês e tal que só quer vender, só precisa vender. Por
tanto, o camponês poderá vender o seu milho em Julho e Agosto, só si tiver dinheiro
suficiente para sustentar a sua despesas diária durante 5 meses (de Março a Julho).
40
Neste tipo de situação, seria oportuno propor um crédito ao consumo que permite sustentar o
consumo quotidiano do camponês durante este período. O montante que aproxima os 450000
meticais por família seria desbloqueado de mês em mês. Como garantia de reembolso e para
evitar o fracasso dos programas de créditos não reembolsados, propõe se que o camponês
entregue o valor equivalente do seu milho cada vez que recebe o seu credito mensal. Em Julho
e Agosto, chega o momento de reembolsar o crédito. O camponês pode vender o milho que
ficou no seu celeiro, ou retirar uma parte do milho armazenado pelo organismo de crédito
correspondente ao valor do crédito, reembolsar e recuperar a parte restante do seu milho.
Este principio pode funcionar só si houveram pelo menos as condições seguintes:
- O preço de Julho – Agosto e mais alto que aquele de Março – Abril.
- Gestão transparente e certa do armazém.
- O armazém do organismo de credito e bem guardado.
- Os camponeses têm confiança que não perderam o seu milho durante estes cinco meses.
A confiança recíproca entre os camponeses e o organismo é o ponto fundamental. Por tanto é
importante começar numa pequena zona e abranger poucas famílias no princípio. Também é
importante coordenar com outros organismos que tem relações de confiança já estabelecidas
com as comunidades.
A elaboração dum tal projecto é complexa. Os pormenores da sua implementação não fazem
parte deste relatório.
A
QUESTÃO DE LIGAR OS CAMPONESES AO MERCADO: UM CLUBE DE NEGOCIOS PARA SERVICOS
DE CREDITOS E DE APOIO A COMERCIALIZAÇÃO
i) As hortícolas
Os camponeses seguem o mercado: é o mercado que lhe da força para produzir mais. E só ver
como aumentaram as áreas de produção de feijão e como aumenta o número de horticultores
que estão a produzir a cebola e a batata Reno. A existência dum comprador que pratica preços
altos e o motor da produção (sempre que as sementes seja a preço razoável).
Para a promoção da comercialização, é interessante a abordagem que entende desenvolver a
KULIMA: formar os camponeses na procura de mercado, ajudar a identificar comprador.
E importante afastar a lógica assistencialista e promover uma abordagem de negócio: um
projecto de promoção de comercializar não e ajudar o camponês mas propor um serviço a um
agente económico que é o camponês.
Um projecto muito avançado neste sentido e o projecto ACDI-VOCA. Esta organização apoia
vários grupos de produtores na planificação da produção de hortícola e na organização de
posto de venda. Os grupos funcionam como clubes de negócios: o clube oferece serviços aos
seus membros considerados como clientes destes serviços.
Acdi-voca começou os seus trabalhos de promoção da comercialização a traves da
capacitação das UDAC. Mais devido ao mal funcionamento de muitas Udacs, os membros se
desinteressaram da Udacs ate que esta estrutura dirigia uma organização sem base. Os clubes
de negócios permitiram de criar uma nova coesão entre membros e lideres desta nova
estrutura. De momento Acdi-voca, a Clusa (com experiência em micro credito) e Tecnoserve
juntaram-se para formar uma nova organização chamada Emprenda, mais ligadas as
empresas. Assim uma organização única atendera os pequenos camponeses como os médio
41
agricultores. As actividades principais são ligar compradores e produtores, fornecere micro
credito aos produtores.
Seria oportuno um projecto que se inspire destas experiências para apoiar os horticultores fora
do regadio de Nhabirira (e por tanto não incluído no projecto de Kulima).
E importante também combinar os aspectos de comercialização com crédito de sementes para
favorecer uma diversificação das produções de hortícolas.
Outra possibilidade interessante poderia ser de apoiar as mulheres do mercado da Vila que
jogam o papel principal na venda de hortícolas e permitira aumentar o volume do seu negócio.
Dum lado tem um aspecto menos arriscado de começar micro crédito com mulheres
comerciantes. Por outro lado as mulheres já trabalham com crédito informais e mesmo si a
taxa de juro praticada e elevada (50%), pode ser que não sejam interessadas. O estudo de
viabilidade deveria definir este ponto.
ii) Meios de transportes
A falta de meios de transporte constitui um dos constrangimentos principais do
desenvolvimento do distrito. O tempo necessário para levar produtos ao mercado é muito
elevado e as quantidades carregadas são poucas. Os camponeses empregam buscateiros para
conseguir escoar a sua produção ao mercado. Existe uma rede de chapa-carrinhas nos eixos
principais (EN1 e estrada de Vunduzi). Vão em picadas secundárias em função da carga. E
prevista uma chapa que vai ate Nhabirira via Baramanza.
Mais normalmente o carregamento do interior ate a estrada principal faz-se de cabeça o de
bicicleta. E ainda pouco frequente o carregamento via carroça, por serem poucas as famílias
que dispõem deste equipamento.
E importante acelerar a difusão de transporte a tracção com carroça. As carroças têm um
preço muito alto. Mesmo si pode ser pago em tranches são poucas as famílias que tem acesso
a este equipamento. E preciso não só um crédito para a junta de boi e a carroça, mais também
que o preço de base seja bonificado.
iii) O mercado internacional
Com respeito a ligação as empresas, é importante garantir a inclusão de Gorongosa nos
projectos de fomentos das agro industrias e empresas de exportação, e de continuar a
coordenação com organismos chaves baseado em Chimoio (sede de muitas desta empresas).
O aceso a informações sobre preço.
E importante a informação oral em língua local sobre preços praticados nos mercados que são
de interesse para o produtor e comerciantes que operam no distrito. Neste sentido nos parece
fundamental de reactivar o projecto duma rádio comunitária em Gorongosa que poderia
difundir preços de produtos agrícolas chaves praticados nos mercados dos distritos vizinhos
(Caia, Marromeu, Maringue), Beira, Chimoio.
42
4.3. Proposta de pistas de acção
Deste estudo, surgem três propostas.
Proposta 1
Criar um Clube de negocio para as horticolas de Gorongosa.
Este clube funcionariam como um escritorio independente que oferecería aos seus membros
voluntarias (todos camponeses) os serviços seguintes:
Crédito em sementes
Crédito em compra de carroça e junta
Apoio na procura de mercado e ligação com comprador
Membros deste clube podem ser individuais e as assoçiações formais de camponeses e grupos
informais de camponeses. O acesso aos serviços tendría condições gerais e especifica ao tipo
de serviços pedidos. Cada credito tendria o seu regulamento que possa garantir o reembolso.
O crédito em sementes pode funcionar com grupo de 4 a 6 pessoas: duas beneficiam da
sementes numa campanha. Se não reembolsam, os outros membros do grupo não podem
beneficiar do credito se os outros. O crédito da carroça e da junta pode ser a um pequeno
grupo também. A propriedade seria do grupo. Neste caso é preciso apoiar os grupos a
establecer regras de direitos e obrigações dos proprios membros.
E importante que seja um processo lento, para conhecer a seriedade dos camponeses,
acompanhar a capacitação dos camponeses nesta experiencia e garantir que as relações entre
membros são boas e que não sejam grupos constituidos so para uma ou duas pessoas
influentes.
Em quanto elo de ligação com o comprador, o Clube tendriam uma base de dados sobre os
sues membros, áreas cultivadas em hortícolas, capacidade produtiva, planficação da produção
e outras características relevantes.
O Clube trabalharía em coordenação com a Kulima, outros projetos no distrito (por exemplo
para as encomendas de carroças e juntas) e com a DDA. O seu funcionamento se inspiraría
dos clubes de negocio apoiados pela PROMEC e as associações membros ligadas a ACDIVOCA.
En nenhum caso o Clube operaría de forma isolada com os seus clientes, mas establecería
progressivamente uma rede de parceiros para criar oportunidades de sinergia.
Este projecto beneficiaria do estudo recomendado aqui abaixo. O estudo poderia definir si o
Clube de negocio deve incluir creditos para comerciantes de horticolas ou não.
Proposta 2
Realizar um projecto pilota de Serviços de micro finanças rural dirigidos aos
camponeses.
Este terá um impacto indirecto a dois níveis:
Introdução e fortalecimento do espírito de trabalho em grupos organizados chamado
‘associativismo.
43
Introdução duma dinâmica de negocio e afastamento da posição assistencialista dos
camponeses.
Os recursos já existente são:
Documentações sobre experiências de sucesso de micro credito ao camponês em
África.
Experiências de micro credito à produção em Montepuez e Nampula
Fundos neste sentido (Proagri 2)
Recomendamos a realização dum estudo de viabilidade para definir que tipo de programa
iniciar:
Banco de cereais / micro credito ao consumo, micro credito a produção (em sementes
ou em dinheiro), micro credito a comercialização,
Montagem de projecto (caixa comunitárias, banco de aldeias...),
Mecanismos de reembolso, montantes considerado.
Alguns factores de sucessos:
Conhecer os beneficiários (relação de confiança) e realizar um importante trabalho de
informação, sensibilização, capacitação e acompanhamento,
Elaborar mecanismos de garantia do reembolso,
Começar pequeno.
Proposta 3
Uma rádio comunitária ao serviço das famílias camponesas, montada a partir da base e
com a base (implicação de indivíduos, grupos e associações de jovens, de mulheres,
camponeses etc...)
Esta rádio permitira de difundir as informações seguintes:
Informação sobre preços de produtos agrícolas chaves praticados nos distritos vizinhos
Informação sobre técnicas agrícolas:
o Técnicas de horticultura, de fruticultura
o Experiências camponesas na agricultura de conservação
o Mais trocas de experiências no seio do distrito e entre distritos e províncias.
Prevenção do HIV/SIDA
Outros temas relevantes para o distrito
Alem de ser um instrumento chave de informação, sensibilização e educação, uma rádio
comunitária permitira de acrescer a participação das famílias e jovens no processo do
desenvolvimento socio-económico do distrito de Gorongosa.
44
Anexo 1
Preços em quilos dos principais produtos horticolas, mercado da Beira, maquinino, 10 agosto 2005
Batata Reno (Angonia Tete)
Periodo 1
Preço ao produtor
3700-4000
Preço de venda do revendedor
Prix de vente revendeur
Rethalista
Batata Reno (Africa do Sul)
8000
Observações
700000-800000 par sac de 190-200 kg
6500
1600000/saco o 1300000. Obs (1)
Per 1: agost-set a março, variação de preço em
função do tamanho do produto
10000-12000
Idem
Periodo 1
Preço ao produtor
11000
Preço de venda do revendedor
15000
Prix de vente revendeur
Periodo 2
Periodo 2
Observações
110000 o saco de 100 quilos
17000-18000
transporte Maputo Beira: 20000/ sac. Per 2:
nov.- dez
17500:vendedor ambulante na baixa. 20000
mercado central.
15000 - 20000
Rethalista
Idem
Tomates
Periodo 1: abril set
Periode 2: out-fever
3500 (min. em
agost.) - 5000
10000
6666,7
11666 à 15000
15000 - 20000
25000 max en janvier
min: maquinino. 20000: mercado central. 10000:
vendedor ambulante (produto do Zimbabwe).
Periodo 1:
agosto
Periodo 2: out-nov
Observações
Preço ao produtor
2500
8000
Preço de venda do revendedor
8000
12000
Preço ao produtor
Preço de venda do revendedor
Prix de vente revendeur
Rethalista
Cebola fresca (Chimoio,
Tete)
Observações
Per 1: 100000-160000/ caixa de 30kg. Per 2:
300000/caixa
Per 2: 450000/caixa
idem
preço de 1500 à Changara Tete em agosto
Prix de vente revendeur
Rethalista
Cebola seca (Nampula)
Prix de vente revendeur
50000
Periodo 1:
agosto set.
13000-14000
Rethalista
Couve tronchuda
Preço ao produtor
Preço de venda do grossista
Preço de venda do revendedor
Rethalista
5000 o molho no mercado central
Periodo 2: out-nov
19000
12000-15000
Periodo 1:abril set.
2000
Observações
5000
3000
8000
4000-5000
2000 o molho
(10ena de folhas)
20000
8000-10000
em Mafambisse
Mercado central
Prix d'achat au producteur
Prix de vente grossiste
5000-8000
10000-20000
Prix de vente revendeur
10000
10000 cabeça
media-grande
15000-20000
Détail
cebola de maputo (pi de africa do Sul)
Periode 2: nov
Periodo 1:
agosto
2000
Repolho (Chimoio)
Observações
Periodo 2: nov-mars
Observações
7500-10000
15000-20000
45
Pimenta verde
Preço ao produtor
Preço de venda do revendedor
Periodo 1:
agosto
6727,3
7400
Prix de vente revendeur
10000-13000
Rethalista
15000-20000
Periodo 2: nov-déc
20000
30000
Ervilha
Periodo: agosto
2005
40000
manica, chimoio
Pepino
20000
inhamizua
Beringela
15000
inhamizua
Feijão verde
30000
manica, chimoio
Outros (preço retalhista)
Observações
Mercado central o 10000 por 3 unidade no
mercado retalhista do maquinino
Proveniencia
Observações
M central
25000 ao mercado das mulheres em frente do
Shoprite.
(Obs 1): Os preços são mais elevados a partir de junho. Nos anos de secas, os preços sobem jà a partir do mês de Maio. Baixam
em agosto (abundancia do produto no mercado) e sobem outra vez em Novembro e Dezembro ate Março.
46
Anexo 2
Preços por quilogramas no Mercado da Vila de Gorongosa, 22 de Julho 2005
Preço/kg
Numero unidade
Preço por unidade
ou molho
Repolho
4000
1 cabeça
4000
Cove trunchuda
5000
2,5
2000
Tomate pequeno
5000
5 molhos
1000
Alface
12000
7 ou 8
Tomate Roma
12500
Produto
Horticolas e batata Reno
1500
1000 - 2000
2000
2000 à 5000
Cebola comprida
20000
20
1000
Cebola seca
40000
20
2000
Batata Reno
30000
1,5
Batata Reno fim set
21053
Alho
120000
20000 o molho
5000 à 20000
20000 o molho
60
2000 uma unidade
Feijão e outros
Feijao manteiga
Feijão Boer em casca
Feijão Boer em copo
Feijão Nhemba
Batata doce
1 copo, 1 gallone = 5 copos
2000
10000
1000 o molho
10000
3 copos
3000-4000
1 copo
2000
2500
2500
Mandioca grande
1111,11
5000
Mandioca pequena
2666,7
Inhame grande
Inhame pequeno
13 unidade
5000
6666,7
Quiabo
Arachide
2000
20000 por 4
10000
5 unidade
1000
1 copo, 1 gallon = 5 copos
5000
Fruta
Papaye
1500
Maracajica
2000
Limão
2000
Banana verdiana
3000
2000 para uma
1000 por 4
8
1000 por 4
1000 por 3
Abacate
8888,89
1,75
5000 por unidade
Tanjarina
10000
10
1000
47
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Semanal, Savana
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DDA
Direcção Distrital da Agricultura
DPA
Direcção Provincial da Agricultura
FARE
Fundo de Apoio à Reabilitação Economica
FHI
Food against Hunger International
GTZ
Cooperação tecnica alemã
GPZ
Gabinete do Plano de Desenvolvimento do Vale do Zambeze
MADER
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural
ONG
Organisação Não Governamental
PAPIR
Programa de Apoio as Pequenas Industrias Rurais
PNG
Parque Nacional de Gorongosa
PRODER
Programa de Desenvolvimento Rural
UDAC
União Distrital das Associações Camponesas
UNAC
Union Nacional das Associações Camponesas
50