expedição ao fim do mundo - ana hochheim :: fotografia

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expedição ao fim do mundo - ana hochheim :: fotografia
EXPEDIÇÃO AO FIM DO MUNDO
Sábado, 19/02/2005
F-I-N-A-M-E-N-T-E! ! ! 14hs, botamos o pé na estrada! Ou melhor, as rodas... Depois de uma
manhã de muito trabalho do Fredi (quase ele não consegue se desligar da Casa da Empilhadeira,
que está de caminhão novo e cheia de serviço) e uma verdadeira mudança de casa que a Ana fez
com a ajuda do Dilson e D. Dora, que também fez as cortinas da Maria e as tortinhas básicas de
viagem. Essa semana foi correria geral, tanto na organização e ajustes finais da viagem, com todas
as exigências dos 5 países que pretendemos visitar, quanto para deixar o trabalho em dia.
Todos os dias, dormindo e comendo pouco, alguns estresses “ranca-rabos” de tigros... Mas, ufa...
parece que agora vai... E acho que vai ser bem legal! As fotos que vemos pela internet são show.
Faz um tempão que a gente não viaja pra valer... Até que em fim! Pena que nossos amigos Binho,
Carlão e Piuí, não puderam vir com a gente. Quarenta e cinco dias é muito tempo... Mas, vamos lá!
Nossos amigos Giba e Lica fizeram graciosamente um churras de despedida para nós. Precisamos
fazer um áudio-visual na volta! Essa, acho que foi nossa viagem mais divulgada – tá todo mundo
sabendo... Vamos sentir muita falta dessa galera.
Preparativos da Maria: foram muitos, desde a construção da nova capota de madeira, revestida de
fibra, com mosquiteiro, cortinas, iluminação, super porta-malas, porta especial com trava externa e
interna, pé direito alto e fresquinho e muito espaço interno para deitar, sentar e ficar quase de pé. Dá
para levar todas as tralhas que você imaginar. Tá muito confortável mesmo. A cabine ganhou insulfilm, ar condicionado, assoalho de chapa e bancos novos. Na carroceria, eliminamos a pedrinha
barulhenta, colocamos dois pneus novos cabeludos e grandes, de uso misto (asfalto e terra), na
frente um super pára-choque de proteção para as pedras do rípio. Tá meio pesadona, talvez um
pouco tosca, mas está super segura e uma delícia! Estamos levando todos os itens de segurança: cx.
de ferramentas, dois triângulos, extintor, 2 estepes, cabo de aço, motor de arranque, alternador e
bateria extras, galão de 50 litros de diesel, além dos equipamentos de camping – fogão, gás, etc...
bastante comida e água, 50 CD’s para ouvir, livros para ler, rede para esticar, violão para tocar e até
um GPS, caso a gente se perca por aí...
Não sabemos se escolhemos a melhor época do ano para vir. Tivemos que esperar por uma
audiência do Ministério do Trabalho e adiamos a saída até um pouco além do que pretendíamos.
Estamos felizes, pois devemos pegar duas luas cheias no período.
Começamos a pegar agora nossa primeira chuva; é o grande teste da impermeabilização da capota.
Tomara que não sejam dois tigros molhados... Lá fora, tá o maior calor. Na previsão do tempo,
Buenos Aires está com 32º e Ushuaia com 6º (na semana passada fez -10º). Ainda bem que a Lá me
emprestou o super casacão japonês.
A BR 116 continua a mesma! Excesso de caminhões que intimidam os poucos carros que por lá se
aventuram. Ainda faltam muitos pontos a serem duplicados e com pouca sinalização, às vezes todo
o fluxo é jogado em pista única de mão dupla e cheia de buracos. Até aqui dos 5 pontos da Polícia
Rodoviária, fiscalização “0” (graças a Deus). A quantidade de acidentes é a mesma de sempre.
Crianças na pista, gente atravessando... Na subida da serra, lembramos da D. Emi e suas grandes
negociações de bananas a preço de banana...
Obs.: Paramos para avaliar o estrago da chuva na capota, show! Sequinha! Parabéns ao Sr. Vicente
que a impermeabilizou.
Quanto à documentação, renovamos os passaportes, tomamos vacina de febre amarela, o Fredi tirou
a carteira internacional de habilitação, tiramos a “Carta Verde” (um seguro para terceiros, nos
países do Mercosul), compramos dólares com o cofrinho, fizemos seguro saúde, habilitamos o
roamming internacional do celular, fizemos a divulgação da viagem junto às revistas, nos
preparamos médica e fisicamente, inclusive curso de 1ºs. socorros. Êba! Está novamente um lindo
dia, estamos nos aproximando de Curitiba e como se pode perceber a estrada deu uma melhorada. A
represa que abastece Curitiba está com uma luz sensacional de fim de tarde. A ponte que caiu com
as chuvas impressiona bastante.
Xi! Blitz! Documentos... Primeira parada! Fomos parados por dois policiais, um com uma grande
espingarda na mão, outro bastante educado, que fez uma pequena vistoria, à caça de drogas. Talvez
se existissem mais blitz desse tipo, com tais profissionais, provavelmente, pelo menos, o roubo de
carro diminuiria.
Puxa, a rodovia BR-101, de Curitiba até Floripa/Palhoça é um sonho! Toda duplicada, sem buracos,
relativamente poucos caminhões, talvez por hoje ser sábado. Legal! Tomara que chegue logo
Joinvile, pois estou louca para pagar o pato. É o marreco ao forno do GrünWald!!! Hummm...
Segunda parada - logo após o posto Rudnick/Joinvile - não demorou mais que dois minutos!
Anoiteceu e os faróis da Maria estão ótimos. Tocamos até Barra Velha para passar nossa 1º noite
com vista para o mar, com brisa do mar e tudo o mais. 22.20h. Apesar de ser tranqüilo rodar a noite
por esse trecho da BR 101, estamos um pouco cansados e ansiosos, para re-estrear a capota. É
engraçado como a gente demora para entrar no clima da viagem. A gente fica meio ansioso,
preocupado, encanado, principalmente com a segurança. Mas entre dormir num posto na beira da
BR, cheio de fumaça de óleo diesel e barulho, e dormir dentro da cidade, na rua, bem de frente pro
mar, nós ficamos com a 2ª opção. E foi realmente bom! Dormimos bem tranqüilos até as 4:00h. da
manhã, quando acabou a refrescante brisa do mar e os mosquitos começaram a entrar, pois a gente
“se bobeou” e não colocou o mosquiteiro. Beleza! Tudo isso serve para ir aclimatando a gente no
espírito da viagem... Acendemos a luz, matamos uns 3 ou 4 , prendemos o mosquiteiro com imãs e
dormimos até o sol nascer, bem de frente para nós! Pena que acabou o horário de verão...
Dom 20/02
Tomamos café bem gostoso na Maria, botamos as bermudas, chapéus e papetes. Pronto! Já estamos
entrando no clima! Algumas pessoas olham meio torto pra gente, devem pensar que somos ciganos
ou algo do gênero. Um ou outro nos olha com certa admiração e talvez até um pouco de inveja. E
olha que aqui no Sul tem bastante loja de trailer. Vimos alguns pela estrada. Tomara que na
Argentina isso seja mais comum. Ao entrar na cabine vimos o rastro de patinhas do gatinho que nos
olhou com aquela cara de assustado à noite. Aposto que ele tentou nos pegar. Andou por todo o
carro... Está um lindo dia! Finalmente, conhecemos o museu etnográfico em Biguaçú. Éh...
Depois de Palhoça, acabou a duplicação e a rodovia deu uma piorada considerável: buracos e
dificuldades para ultrapassar um montão de caminhões, alguns bem lentos, no tráfego intenso de
mão dupla. Em Itapirubá, visitamos o centro de observação da baleia Franca, que tem catalogadas
330 baleias (contra 2.000 na Península Vades) em época de reprodução no inverno, de julho a
novembro. O pico é em setembro e as adultas chegam a 18 metros. Agora elas estão na Península
Antártica e nas Ilhas Georgias.
Enfim, pé na estrada. Íamos visitar o Cânion da Fortaleza, mas é verão e tem muita nebulosidade,
decidimos passar batido e demos uma paradinha em Torres no domingão de muito sol. Gente
bonita, casas bonitas, esportes aquáticos e aéreos. Por aqui o pessoal se diverte mesmo! Pelo rádio,
já com a programação gaúcha, aprendemos que Deus é grande e Nossa Senhora é baita!
Pegamos a Rodovia do Mar e passamos em Capão da Canoa, onde tentamos achar o tio Hugo,
deixamos recado no celular. É um balneário com prédios de 4 andares, centenas, talvez milhares. O
transito de volta da praia do gaúcho para Porto Alegre deve render boas horas para quem sai no
horário de pico. Graças à super navegação da Ana, pegamos uma estrada errada, mais curta, porém
com 34 km de estrada em construção - já viu, né? Agora estamos a caminho da Lagoa dos Patos,
aliás, o que mais tem por aqui são lagoas e aves, muitas aves. Tem uma porção de silos abastecidos
com grãos e os caminhões que fazem o transporte deixam cair os grãos e a passarada faz a festa.
Desta vez, graças a Deus, não vimos nenhum atropelado. Dormimos em Mostardas, junto ao posto
AM/PM, onde encomendamos pastéis de guisado. Fredi testou o GPS, Ana protegeu as bagagens da
poeira.
Seg 21/02
O bicho começou a pegar. Pensamos: “melhor guardar os nossos suprimentos para emergências”.
Fomos caçar uma padoca, só tinha uma bem suja, moscas, o sanduíche de queijo frio só tinha 1
fatia, o sonho e o pastel da D. Rosa era da semana passada...
Vamos nessa, temos um longo caminho até o Rio Grande, que nem sabemos se vamos conseguir
atravessar. É assim: 80 km de asfalto até Bujurú, mais 50 km de praia, mais 1 barra de rio, que se
estiver cheio, temos que voltar tudo de novo, pois não tem passagem. Depois mais 30 km de asfalto
até o Rio Grande. Visitamos o Pq. Nacional da Lagoa do Peixe, nosso objetivo vindo por aqui.
É um parque sem portaria, cravado em uma área de reflorestamento de pinheiro canadense (pinus).
Alguns anos de dólar alto deram uma baixada nas reservas (quase tudo para exportação). Algumas
pessoas enriqueceram bem, às custas do extrativismo e o povo, já viu, né? A seca que atingiu o Rio
Grande do Sul quase secou a Lagoa do Peixe, provocando a morte de milhares deles. Mas, o cenário
ainda é muito especial no meio das dunas. Os carros locais dos pescadores é que são muito
engraçados. São artesanais mesmo; consertados com arame, martelo e pregos. Apesar das placas de
proibição do Ibama, existem várias cercas para pesca do camarão, que o pessoal recolhe à noite.
A época ideal para vir é outubro, quando as aves migratórias do Círculo Polar Ártico estão por aqui.
Mais um pouquinho de asfalto bom, que foi ficando ruim até acabar e se transformar em areão
bravo. Estamos na BR- 101 (acredite se quiser), também conhecida, neste trecho, como Estrada do
Inferno, 50 km de areão, por vezes bem fofo, com trilhas que saem da estrada e te levam direto para
o atoleiro. Na beira da estrada, pequenos agricultores produzem cebola ou cultivam gado / ovelhas
(lã). É difícil dizer se o estado da estrada auxilia ou evita o turismo predatório, ou se atrai turistas
off-road. Atolamos! Nossa sorte é que as pessoas são solidárias por aqui. Além de ajudar, já vêm
equipadas. Cinco minutos depois que paramos, chegaram os anjinhos “Paulo e Sérgio”, que sem
nada nos pedirmos , já pararam, vieram com a pá, empurraram, etc...
Atravessamos a Lagoa dos Patos – a barra, o finalzinho, uma merreca... para a cidade de Rio
Grande, uma cidade antiga, com muitos prédios do início do século passado, a maioria bem
conservados, inclusive o Hotel que ficamos, o Paris! (R$ 40,00/PS). Já deve ter sido muito chique
em outras épocas, freqüentado por pessoas importantes do passado. De todo o luxo que tinha só
sobraram alguns detalhes arquitetônicos como o chafariz de mármore, as escadarias de madeiras
gastas, azulejos e pisos do saguão, as janelas coloniais com vitrais coloridos.
O café da manhã podia ser melhor.
Fomos conhecer a famosa e única praia do Cassino, com seus 110 km de extensão, que chega até o
Uruguai. A areia é escura e as barraquinhas não oferecem nada de muito interessante. Atravessamos
um dos molhes, que são os quebra-mares de pedra para a proteção do canal, por onde passam navios
com até 25 m de calado desde 1808. Apesar de bonito, cheira a peixe e xixi, pois tem muita gente
pescando, muitos ratos atravessando. Fomos de vagoneta a vela que circula velozmente pelo trilho
(chega a 70 Km/h). Dá a impressão que vamos dar de cara na pedra, sem muita segurança. Na ponta
do molhe tem um farol e um acampamento de pescadores, que ficam ali meses durante a temporada
da garoupa (verão) e tainha (inverno). A cidade não é muito turística, mas impressiona pelo
tamanho do porto e seus terminais de carga modernos, o 2º maior do Brasil, perdendo só para
Santos.
Ter 22/02
Os Museus Oceanográfico e Antártico, mantidos pela FURG – Fundação Universidade Federal do
Rio Grande, além de gratuitos, são completinhos, apresentando réplicas e esqueletos de peixes e
animais pré-históricos, equipamentos utilizados nas pesquisas, 50.000 lotes de moluscos, conchas,
corais, plantas, plânctons e afins. Tudo muito didático e ilustrado. É considerado um dos melhores
da América do Sul. Lá pode-se ver ainda o Centro de tratamento dos animais em recuperação, onde
vimos um leão marinho e vários pingüins que vêm parar acidentalmente na nossa costa, cheios de
óleo e bem debilitados.
Descobrimos que estamos mais perto do “Fim do Mundo“ (Ushuaia) que do Rio de Janeiro.
OK. Pé na estrada. Atravessamos o Taim, que está bastante seco. Muitas aves, tartarugas, capivaras,
alguns jacarés e, graças a Deus, nenhum bicho atropelado.
Fomos até a beira da Lagoa Mirim, que é gigante e não dá para ver do outro lado, que nem o pampa
gaúcho. É outra que está bem seca. Uns 500 metros de areia até chegar à margem (de onde o nível
deveria ser). Os últimos 225 km de Brasil são uma reta só. Dá um sono... Na estrada, tem cada vez
mais gente indo para longe - acabamos de ver mais 3 ciclistas com bandeira do Brasil.
Pronto, finalmente chegamos na fronteira Brasil x Uruguai pelo Chuí / Chuy. Na aduana brasileira,
apenas declaramos os equipamentos fotográficos. Fizemos um câmbio do outro lado (Av. Brasil) e
pronto: carimbamos os passaportes, jogamos o salame fora (não se pode entrar com nada de origem
animal, por causa da febre aftosa). Até que entramos bem fácil no Uruguai, os policiais rodoviários
e o pessoal da alfândega são bastante simpáticos. Até agora (de S. Paulo para baixo) ninguém
encheu o nosso saco por causa da capota da Maria!
Passamos pela Fortaleza Sta. Tereza e fomos comer um peixe ma-ra-vi-lho-so (Merluza ao
Roquefort e champignon) no La Buca em Punta Del Diablo.
Em Punta Del Diablo, rolou um incêndio monstruoso no mês passado, com 50 km de extensão,
queimando toda a vegetação e várias casas. Segundo os comerciantes locais, os danos maiores
foram causados pela imprensa. Lá fizemos o nosso 1º amigo, o Valter, figuraça, dono do bar, que
sentou-se à mesa e proseou por horas com a gente. Ele nos deu dicas e até um guia do Uruguai. O
Fredi ficou conversando com um tiozinho, que não mexia a boca para falar e não dava para entender
uma só palavra do que ele dizia. Mesmo assim, o Fredi conversou com ele, por 50 minutos. E eu
perguntei: Você entendeu alguma coisa do que ele disse? Ele respondeu: “não”... Esse é o Fredi.
Depois de conhecer a tal da “Patrícia” (cerveja de 1 litro uruguaia) ficou assim... (o tiozinho
também). Daí, pegamos um por de sol show e um nascer de lua maravilhoso na estrada e fomos
dormir em águas Dulces, onde fizemos nosso 2º amigo: Fabian, do supermercado. Fomos aprender
o nome das comidas. O chefe dele não gostou e aí, comentamos: “estamos te atrapalhando?”, após
perguntarmos o nome de um monte de coisas. E como sempre ele fazia, respondeu com aquele
sorrisão: ‘si, si, claaaaaaaaaro!’ Nesse momento, descobrimos que a conversa já não estava mais
funcionando.
Dormimos na frente de La Terazza, uma danceteria. Graças a Deus, só abriria na 6ª feira. Tirando a
motinha chata que ficava para lá e para cá até bem tarde, foi tudo ótimo.
Quar 23/02
Passamos por Cabo Polônio, mas não paramos pois nosso objetivo ainda está bem “lejos” (longe...).
Lá, veículos 4x4 fazem passeios pelas dunas. As praias daqui são muito bonitas, recortadas por
pedras e pequenos cabos (pontas) que entram no mar formando baias. As pedras daqui não são
granitos, são arenitos, que vão lentamente se dissolvendo. Passamos em La Paloma para cambiar
mais um pouco de dinheiro uruguaio, pois, pelo visto, vamos ficar mais tempo do que
imaginávamos. Estamos nos sentindo bastante à vontade, seguros, etc...A paisagem é mui hermosa.
Pequenas elevações e alguns lagos. Grandes rios recortam um relevo semi-plano. À beira da
estrada, verdadeiros museus de veículos com mais de 50 anos, muitos deles rodando. As estradas
são tão boas que os carros duram para sempre...
Fomos então para Maldonado e Punta D'el Este, que nos surpreendeu bastante. As casas e prédios
da orla, agora se estendem para além da barra. Algumas milhares de pessoas de alta renda
escolheram este paraíso com verão ameno e inverno nem tão rigoroso, cheio de pessoas bonitas,
bons restaurantes, moradias de alto padrão, cassinos suntuosos, hotéis com campo de golfe, etc...
para morar. O Hotel Cassino Conrad pode ser visto, de quase todos os pontos da península. Um
aeroporto moderno facilita o ir e vir de quem pode. As marinas estão lotadas com barcos de várias
partes do mundo, alguns bem grandinhos. Vimos um veleiro de 80 a 100 pés... Três pescadores
trabalham incansavelmente, limpando os peixes trazidos pelos usuários da marina. Com os restos
dos peixes, uma família de leões marinhos se alimenta sem precisar caçar. Tem uma ponte muito
engraçada, cheia de ondulações. É tudo muito ajeitado, limpo e caprichado. Os carros dos locais são
repletos de adesivos. Os carros de fora são de luxo (principalmente de argentinos). Passamos por
Punta Balena, de onde se vê a península de Punta D'el Este e tem uma galeria de arte com uma
arquitetura muito peculiar.
Depois em Piriópolis, vimos um grande cassino e visitamos o Castelo de Piriópolis, fundador da
cidade, que fez fortuna loteando o litoral do Uruguai. No castelo, tem uma coleção de pedras em
formato de coração, dos mais variados tamanhos. Constatamos que a Maria, tem personalidade, pois
do nada, ela deu canseira para pegar quando paramos numa loja de carros bem velhos.
Seguimos para Montevidéu. Na entrada da cidade, fizemos um lanche numa pizzaria de um sujeito
que se diz fã do Lula e estava empolgadíssimo com a vitória do candidato de esquerda que seria
empossado nos próximos dias no Uruguai. O pessoal aqui é bastante politizado e chegado num batepapo. “Que casualidade! A Argentina e o Brasil extraem boa parte do petróleo que necessitam e o
Uruguai precisa comprar tudo o que precisa...”
A seca deste ano provavelmente fará novamente com que o Uruguai tenha que comprar energia do
Brasil e da Argentina. São 3 mijones de habitantes no pequeno país inteiro.
A capital é imensa. Uma longa avenida se prolonga desde a ruta 2 ou 3 até o centro da cidade. A
outra ruta é a Costaneira, todas com início na capital. Mais da metade da população do país vive em
Montevidéu. O cais é o ponto de encontro nas tardes e manhãs para tomar mate. De novo, todo
mundo toma. Os casais namoram dividindo a cuia. Até as Patricinhas, todas enfeitadas, não
dispensam o acessório. No trânsito, aparentemente, é permitido “manejar” sem cinto. As mãos que,
no paulistano, se ocupam de celulares, aqui seguram a cuia e a garrafa térmica. No porto,
montanhas de containeres Reefer (refrigerados) não escondem a principal comodity de exportação:
a carne. A nova rodovia de concreto que ligará a capital a Colônia não está completada, porém as
cabines de peaje já estão em pleno funcionamento. Em alguns lugares, a super rodovia passa por
uma ponte “angusta” sem "banquinhas” (acostamento), onde só passa 1 carro de cada vez.
Dormimos num posto em Colônia Helvetia, após degustarmos uma Patrícia de 1 litro.
Qui 24/02 e Sex 25/02
Visitamos a parte histórica de Colônia e, numa correria, conseguimos embarcar no ferry-boat p/ a
Argentina. Nem pudemos fazer as contas p/ saber se valia a pena pagar a balsa ou dar a volta por
Fray Bentos. A opção da ponte (F. Bentos) teria aumentado nossa viagem em 800 km (R$ 180,00 de
combustível) e mais 1 dia, mais pedágios, etc...O “Buke Bus” demora 1 hora, nos deixa
praticamente no centro de Buenos Aires, é um naviozão, gigante e silencioso, muito confortável,
com free-shop e tudo. Mas, custou-nos R$ 418,00 (c/ taxa de embarque). Tivemos o azar de sermos
atendidos pala Sra. Zully, que simplesmente passou todo mundo na nossa frente: o cara da reserva,
a mulher que estava comprando p/ sábado, mais “159 pessoas” que chegaram depois de nós. O cara
da aduana digitou o nº do nosso passaporte errado...Enfim, foi um sufoco para embarcar e o
próximo só sairia as 18:00 h. OK. Durante o trajeto, Ana fotografou e pegou autógrafos dos
jogadores de futebol do Real Arroyo Seco...Os preços do free-shop não valem à pena.
Ao desembarcarmos em Buenos Aires, demos uma pegadinha na capota, que depois, o Fredi
remendou com silicone. Espero que não tenhamos problemas de infiltração. Nos enfiamos bem no
meio do centro e descobrimos que não existe hotel com cocheira (garagem). Deixamos a Maria em
um estacionamento 24 horas (12 a 15 pesos p/ 24 h.), fomos descarregar os cartões fotográficos
(leve o seu cabo da máquina ou leitor de cartão, pois os cyber cafés só têm o gravador de CD) e nos
hospedamos no Hotel Majestic (C. Liberdad, 121), um hotel como a maioria dos prédios, bem
antigo, mas limpo, sem barulho, (janelas anti-ruídos), TV a cabo, desayuno – só 2 croassants, café e
leite e um tang bem ruim, ventilador e ar condicionado (tem que avisar antes, pois a diária é $ 60,00
pesos com ventilador ou $ 78,00 c/ ar). Ficamos um dia com ar e outro com ventilador. Advinha se
o safado não tentou nos passar p/ trás na hora de fechar a conta. Aliás, fique esperto com tudo o que
consumir. Eles são loucos para cobrar 2 vezes as águas e os refris. E querem o pagamento em
efectivos. (ficam sempre conferindo as notas de $ 50). Se pagar com cartão de crédito, roubam-nos
mais 10 %. Vamos denunciá-los. A localização, apesar de perto de tudo, bem central, quase esquina
com a Nove de Julio, perto do Corrientes, etc... A Calle Liberdad é cheia de lojas de compra e
vendas de ouro, coisas usadas, frentes de cd-players – já viu, né? Seria injusto dizer que nos
sentimos acuados em algum momento. Pelo contrário, andamos bastante a pé, pelo centro e outras
regiões mais periféricas como La Boca, sempre com a máquina fotográfica a tira-colo, às vezes
tarde da noite – graças a Deus, nada de mal nos aconteceu. Com exceção de umas três ou quatro
abordagens de pedintes, a cidade está muito agradável para visitar. Vimos alguns moradores de rua,
muitos catadores de lixo – esses fazem um estrago. Detonam todo que é saco e largam o lixo nas
ruas. Poucos motoboys, nenhum perueiro, muitos táxis (baratex) e ônibus para todos os lugares. São
coloridos, andam muito rápido. O motorista faz a cobrança digitando uma tarifa conforme o
percurso, que vai de $ 0,75 a $ 1,20 (pesos), muito mais rápido e barato que S. Paulo! Trânsito: não
sei se demos muita sorte, mas quase não pegamos trânsito. Quase não existem carros estacionados
nas ruas. Para cada carro que insiste em circular pelo centro, existem cinco ou mais táxis
transportando pessoas. O metrô é antigo, (a 1ª linha de metrô, está na Av. de Mayo e liga a Casa
Rosada ao Congresso Nacional – é o 1º metrô da América Latina). Para a construção da famosa e
larga Nove de Julho, foram desapropriados dois quarteirões, numa extensão de cinco a seis km, o
que simplesmente desengarrafou a cidade. Nas extremidades da Nove de Julho, pistas elevadas,
fazem a ligação norte-sul. É interessante ver como as coisas são simétricas, por ex. o obelisco está
bem no meio da Nove de Julho (norte-sul) com a Corrientes (leste-oeste ou porto interior). Tem
umas coisas bem modernas: sinalização sonora de travessia de cegos. Todas as avenidas são largas.
Para todos os lados tem um estacionamento, um locutório (telefone), um cyber internet e um café.
Os cafés são lindos! Visitamos o mais tradicional deles – o Café Tortoni, na Av. de Mayo. Muita
gente bonita, comida boa e uma decoração muito peculiar. Garçons e metres muito educados.
E os prédios do centro! Clássicos! Lindos! Dá para imaginar os europeus passando o inverno de lá
no verão daqui... Arquitetura fantástica! E os restaurantes... um melhor que o outro. Limpos,
bonitos, bem arrumados, iluminados, garçons simpáticos, variedade de comida e barata. Por ex,
almoçamos na Ricoleta, num restaurante que lembra muito o Figueira Rubayat em S.P. – comemos
um belo bife de chorizzo com salada, papas e cerveja Quilmes Imperial por $ 32,00 p/ 2 tigros! Nos
fartamos! Aqui o que é caro é a bebida. Um salmão grelhado por $ 11...
Buenos Aires vive à noite Não pára mesmo! Muita balada, cafés e restaurantes lotados. Corrientes é
a rua dos teatros e óperas. Shoppings muito legais, como as galerias Pacífico. Nela, há uma escola
de tango, cheia de turistas. Com uma aula, já dá para ter uma boa noção dos passos. Na Calle
Flórida, com sua arquitetura moderna, por dentro e clássica por fora, lojas de enlouquecer (couro e
cachemir aqui estão muito baratos), uma praça de alimentação completíssima, gostosíssima e com
direito a show de tango na frente! Turistas do mundo inteiro, aliás, muitos figuras. Tinha uma
Kombi com placa de Fortaleza–CE, Brasil. Fomos cumprimentá-los. Eram alemães, 3 caras e uma
menina. Eles compraram a Kombi de um amigo em Fortaleza, desceram e pretendem subir até a
Califórnia. No Brasil não tiveram nenhum problema, mas na Argentina, já tiveram o carro
arrombado duas vezes, talvez por causa da bandeira do Brasil no vidro e placa do CE. Por isso, só
deixamos a Maria em estacionamento por aqui. www.triplesaroundtheworld.de.
No 1º dia, depois de um bom banho no hotel, fomos ao I (informes turísticos), pegar o mapa da
cidade, que é bem completo. Caminhamos pela Calle Florida, com suas lojas e galerias e
performances. Visitamos as Galerias Pacífico, vimos o desasteamento da bandeira na Casa Rosada,
fomos ao Café Tortoni, Av. de Mayo, Corrientes e caminhamos pelo centro, vimos o belíssimo
Teatro Cólon ($7).
No 2º dia, “garramos” o 29 (ônibus), e fomos para La Boca, um bairro bem periférico, onde
visitamos o famoso estádio do Boca-Juniors, o mais popular da Argentina, assim tipo o Flamengo,
Corinthians... “La Bomboneira”, tem um formato retangular, pois está espremido entre duas
avenidas e uma linha férrea. Próximo ao porto, deve ter tido origem com os estivadores. Próximo à
entrada, várias lojas vendem todo tipo de “quinques”, azuis e amarelas. Tem até um museu do
Maradona. Aqui é proibido falar em River. Nossa! Como eles são fanáticos por futebol. Maradona
continua sendo o grande ídolo do clube. Fomos então caminhar pelo Camiñito, onde estão as
“bichas” coloridas (favelas). Uma graça! Hay mutcha artesania, tango, e etc...É tudo muito turístico.
De lá, fomos de ônibus à Santelmo, onde estão as lojas de antiguidades. Fomos a pé ao Puerto
Madero, onde eram os armazéns do porto, desativado, hoje reformado e com vários restaurantes,
escritórios e a moderna “Puente de La Mujer”, além da moçada da PUC.
De lá fomos de táxi para a Ricoleta, onde visitamos o túmulo de Evita, muito importante para a
Argentina. E fomos almoçar um belo bife de chorizzo. De táxi, fomos a Palermo, onde está boa
parte dos parques da cidade. Tentamos ver o Planetário, mas estava fechado por falta de ar
condicionado... Daí, “o tempo fechou” e nós decidimos voltar para casa de metrô. À noite, fomos
dar um rolê pelo Centro, Palermo e Ricoleta, para imagens noturnas iluminadas. Essa cidade ferve à
noite! O taxista trabalha 14 horas por dia, paga $ 70 de aluguel do carro, $ 30 de combustível e fica
com $ 50. De modo geral, eles estão bem conscientizados que passaram uns anos fora da realidade e
agora têm que pagar o preço. Assim como no Brasil, durante um período, todos especulavam no
mercado financeiro, viajavam para o exterior, etc...Todos os serviços públicos foram privatizados e
o país está literalmente vendido. Dez mijones é a população de Buenos Aires.
Sáb 26/02
Mais uma caminhadinha pela Corrientes (as perninhas começaram a doer), pegamos a Maria e nos
mandamos para El Tigre, pegando a Av. Libertador ate o fim, passando por um bairro bem legal,
cheio de Platinos, comuns por aqui, com lojas da Haley, etc... chamado Olives. Dá para ir de trem, a
partir da Estação do Retiro. É um programa barato, mas não acho que valha à pena. Lá pagamos $7
e pegamos um barco que vai pelo delta do El Tigre, Rio Sarmiento, etc... e passamos por umas
casas e clubes com áreas verdes. Éh!... literalmente, éh. Lá tem o Parque Dela Costa para quem
gosta de parque de diversões. Lembra bem o Hopy Hary, tem uma montanha russa bem legal.
Experimentamos o Choripan (pão com lingüiça) e o Milanesa.
Garramos a carreteira expressa CC Norte que nos leva em poucos minutos ao coração de Buenos
Aires, a Nove de Julio. Nos perdemos um pouquinho até acharmos a saída da cidade e finalmente a
rota para a Patagônia. Pedimos informações aos “policiais de Carreteira”, (polícia caminera), um
deles pediu para a gente, na volta, passar para levar ele para o Brasil. Abastecemos em um super
posto Petrobrás! Dormimos num YPF.
Dom. 27/02
Finalmente abrimos os sacos de dormir ! Agora, a viagem é cassete. Muita quilometragem e pouca
mudança de paisagem. Passamos apenas por um lugar muito especial, uns 50 km antes de Baia
Blanca : uma imensa plantação de girassóis, todos ainda em flor. Muito lindo mesmo! Após Baia
Blanca, tivemos que comer ou deixar nossas frutas com o pessoal da fiscalização de controle
bromatológico, para controle da mosca de los frutos. A finalidade é evitar que doenças de fungos e
bactérias atinjam a região. Em vários eucaliptais, vemos uma série de oferendas, garrafas de pet e
fitas vermelhas – parece que é para as pessoas que morrem na estrada. Os postos de gasolina estão
começando a escassear. Ops! Pegamos uma tempestade de areia em plena rodovia! Nossa! É pior
que neblina e chuva , não dá para ver nada. O vento lateral nos tira literalmente da pista e quando é
frontal, perdemos quase toda a velocidade. Nossa “casinha” é uma delícia, pero aerodinamicamente,
parece um pára-quedas aberto. Nosso consumo, com o vento contra, caiu para 7 Km/l, e a
velocidade máxima é de 75 Km/h, esgoelando. Todos os argentinos estão realmente em Buenos
Aires. Por aqui não tem ninguém, nem nada. Só ganado e ceboya. Estamos na Patagônia! Até agora
além do gado e ovelhas, vimos 1 nhandú (ema) e 1 tatu, além de muitas aves, inclusive flamingos.
Em Pedro Luro, (rota 3), mais um controle zoofitosanitário de carnes (contra febre aftosa). Daqui
para frente tem bastante.
Chegamos a Viedma, no fim da tarde (os dias aqui já estão ficando mais longos), descarregamos os
cartões e fomos nos banquetear no melhor restaurante da cidade. Comemos uma parrilhada (costela
de vaca, aqui é carne de vaca mesmo, os bois vão para exportação); pollo (frango atropelado) e
chorizzo (lingüiça). A cerveja alemã Warsteiner está $3, ou seja, R$ 2,70 (em S. Paulo custa R$ 10
a 12 nos restaurantes...).
Dormimos gostozinho no frio, no posto.
Seg 28/02
Falam muito de criminalidade por aqui. Se isso fosse verdade, os frentistas que fazem a cobrança,
eles mesmos não andariam com carteiras estufadas de dinheiro pelo bolso. Pela quantidade de
trailers que andam por aqui, estamos certos de que não teremos problemas com segurança. Os
postos não chegam a ser um GRAAL, mas têm bastante estrutura: locutórios, internet, mini
mercado, TV, máquinas de água caliente para mate, reciclagem de óleo, lubricentro, com óleo
lubrificante a granel, lavação, reciclagem de embalagem, variedade de combustíveis (aqui em baixo,
o preço do diesel é de $ 1,20) e os banheiros têm fraldários, cabine para deficientes, venda de lenços
e absorventes, banho caliente ($ 2) e são em geral, bem limpos.
E dá-lhe estrada. Às vezes, o Fredi tem uns pensamentos... Aliás, a gente pensa muito na vida e em
tudo. É um eterno exercício de persistência, paciência, determinação etc... É longe! Mais do que
pensávamos... A frase “mais perto de Ushuaia que do Rio de Janeiro” lá em Rio Grande está errada.
Talvez, a metade do caminho tenha sido em Baia Blanca, ontem. Mas não podemos, desanimar!
Não estamos fazendo uma viagemzinha de fim de semana, estamos em uma expedição ao Fim do
Mundo! E até agora tá tudo muito legal! Sabe como é, “Cabeça é tudo, meu chapa!“
A gente começa a se questionar o que estamos fazendo aqui... Será que vamos até o fim? É isso
mesmo? O carro vai dar conta? A gente vê cada tranqueira por aí, que ficamos um pouco mais
tranqüilos. De vez em quando, vemos alguns bichos patagônicos: os nhandús, os guanacos, as
biscachas (coelhos), gaviões até um tatu. De lá para cá, estão vindo vários caminhões de equipes de
competição de carros. Deve ter rolado algo forte por aqui. No caminho umas comprinhas de
hipermercado (que só tem uma caixa e uma fila...). As coisas aqui são muito baratas e boas! Uma
porção da melhor geléia de laranja em pedaços custa $ 2. A paisagem aqui já está bem diferente. O
clima é muito seco, a gente sente na pele, olhos, nariz e boca. Fomos direto para a Península
Valdês! A entrada do parque está bem estruturada. Existem três preços: $ 35 p/ estrangeiros, $ 10 p/
mercosul e argentinos, $ 1 p/ nativos. Logo no começo, se visita um centro de informações
completo, com mapas, fauna, flora, fotos, esqueletos e muitas informações. Estava um lindo dia,
fomos direto para a loberia de Puerto Pirâmides, onde fomos recepcionados pelos nossos amigos
zorros, em busca de Cheetos. São pequenos lobinhos que preservam boa parte dos seis instintos
selvagens. Na loberia, as famílias estão enormes! O nascimento dos bebês ocorreu em dezembro.
Nas piscinas naturais formadas na maré baixa, é uma farra, só dá garotada, aprendendo a nadar e
mergulhar. É um barato ouvir os urros! Graves e agudos. São as mães atraindo seus filhotes para a
amamentação ou os filhotes reclamando de fome. Os machos estão no golfo, a pescar. As gaivotas,
apesar de seu vôo muito elegante, alimentam-se de todo tipo de sobra dos leões (lobos marinhos).
De um ponto magnífico, bem acima dos animais, pode-se observar todos os rituais destes lobos que
vivem aqui o ano todo – dormindo, movimentando-se, nadando, chamando, amamentando,
brigando, etc... É um lugar muito especial, onde ficamos horas, mesmo porque não tínhamos pressa,
pois nossas próximas atrações seriam só no dia seguinte, pois dependíamos da maré, para ver
possíveis ataques de orcas. O dia está lindo, com céu de brigadeiro e o visual de Puerto Pirâmides
(região) está sensacional! Ouvindo um sonzinho de Pink Floyd – nossa! Não queria que esse
momento acabasse... Fechamos o dia na Ilha dos Pássaros, onde pudemos observar flamingos ao
longe, se alimentando na maré baixa. O horário ideal é das 18:00 às 20:00 h. Dormimos em Puerto
Pirâmides, onde, lamentavelmente, não achamos nenhum lugar para descarregar e gravar os CD’s
de fotos. Toca a apagar fotos...Tem um hotel 4**** , e algumas dezenas de barcos que fazem
passeios e buceo pelo golfo.
Ter 1/3
Caramba! Estamos em março... Acordamos com o guincheiro de resgate, saindo para buscar mais
uma vítima de capotamento no rípio. São. Pelo menos, três por semana. Dirigir no rípio requer
muita atenção. Tem que andar bem no rastro de pedras, devagar nas curvas e nas retas, pois o tipo
de pedra muda e puxa pros lados. Como nas praias, o vento constrói “costelas de vaca” que fazem
com que se perca o contato com o solo, além de esmerilhar o carro... Mas, o rípio por aqui ainda é
de boa qualidade, todo muito sinalizado, pistas largas. O pó incomoda bastante e advinha se não
entrou por todos os poros da Maria?... Afinal, foram mais de 400 km de rípio... Fomos direto à
impressionante Punta Norte, uma imensa loberia que tem formação em tombo, o que facilita os
ataques das orcas aos lobos. Sabe, todos aqueles documentários do Discovery Channel? São feitos
aqui! É muito legal dar de cara com tudo isso e ficar imaginando aquela barbatana gigante saindo da
imensidão azul e vindo buscar perigosamente o seu alimento na praia, encurralado os lobos,
principalmente os filhotes entre elas e as caletas, onde eles não têm velocidade para escapar. Parece
triste, mas todo mundo fica torcendo pelas orcas, é claro... Deve ser um verdadeiro banquete, pois
nessa época, só aqui em Punta Norte, existem 700 fêmeas adultas e 1.100 filhotes com mais ou
menos 3 meses – lindos! E bobinhos... De novo, a molecada fazendo a farra nas piscininhas da maré
baixa! Para o ataque ser possível, é necessário que a maré esteja alta, de modo a estreitar a faixa de
praia. O vento e as ondas precisam estar bem fracos para que as orcas consigam escutar o
movimento de suas vítimas na praia de pedras. Infelizmente, não tivemos o privilégio de assistir a
um ataque, apesar de estarmos no parque exatamente no horário certo de maré cheia (entre 12:00h /
14:20h, o pico). Elas foram vistas três dias antes, seguidos, antes do vento mudar de sul para norte.
Para descer até a praia, é necessária uma autorização em Rawson. A melhor época para vir para cá é
no inverno, de julho a novembro, quando as baleias francas vêm para o golfo se reproduzir (parir)
em águas rasas e pouco mais quentes e cuidar de seus filhotes até que eles estejam mais fortinhos.
Também é a época de observar os elefantes marinhos, cerca de 50.000 na península. Agora, eles
estão em alto mar, onde permanecem por 8 meses direto... (vd folhetos Península). Não posso
deixar de mencionar nossa recepção em Punta Norte, pelo nosso amigo “peludo”, um simpático tatu
com pêlos, meio desajeitado e cheio de personalidade. Lembra muito o nosso outro amigo Andi –
“ninguém manda em mim!” “Eu como cheetos se eu quero!”
Garramos o rípio, passamos pela bela Calheta Valdez na Punta Cantor, onde há uma pequena
pinguineira e elefanteria. Fomos então a Punta Delgada, uma propriedade particular que não cobra
ingresso, mas limita o horário de visitação entre, 11 e 16h.
Vale à pena, pois lá de pode baixar à praia e chegar bem pertinho dos elefantes (com um guia). São
poucos nessa época – apenas os que estão trocando a pelagem. Não se alimentam e por isso,
dormem a maior parte do tempo, para economizar energia. São bem maiores (até 10 vezes mais)
que os lobos / leões marinhos e se movimentam com muita dificuldade, arrastando-se pela praia de
pedras. “Pára um pouquinho, descansa um pouquinho, 220 metros...” Tem restaurante e lojinha. E
uma estrutura turística de jipes, etc.
No caminho, paramos em uma praia para ver como era. Catamos um monte de tonchinhas para o
Andi. E vimos uma porção de coisas diferentes, muitas ossadas de leões, pingüins, e milhares de
pedras. Vimos também 2 salares imensos que ficamos 40 m. abaixo do nível do mar! Fechamos a
península com chave de ouro, numa praia entre o Riacho San José e a Ilha dos Pássaros. A maré
estava cheia e tinham uns 150 flamingos se alimentando na praia! A luz de fim de tarde estava
mágica! Foi show! Caímos no rípio de novo e fomos beirando a costa até Puerto Madrin. No
caminho, nos jogamos nas pedras de uma praia só nossa! Chegamos cansados e famintos na cidade
e fomos finalmente descarregar os cartões. Procurando um hotel com cocheira que coubesse a
Maria, saímos do centro e achamos um flat com garagem gramada, ideal para bater o pó da capota
da Maria. Estava insuportável... Tivemos que tirar tudo para fora, limpar e lavar a Maria com balde
e tudo. Pedimos umas empanadas no Delivery e acabamos dormindo às 2:30h da matina...O flat
chama Complejo Arenas Blancas.
Qua 2/3
Acordamos tarde e fomos dar um rolê em Puerto Madrin, ótima cidade, com bastante infra turística,
muitos hotéis e pousadas, restaurantes, locutórios, internet, serviços, bancos e muitas lojas legais.
Encontramos até um casal de S. Catarina, que pegou um cruzeiro em Buenos Aires, estava parado
em Puerto Madrin, ia até o Ushuaia, depois Valdívia e Santiago. R$ 15.000 p/ 2 pessoas para 15
dias. Compramos um plástico para proteger a Maria do pó, passamos em Trelew para lubrificar e
dar uma geral na Maria e o tempo fechou de novo por causa do Dique Ameghino, que para Ana é
um lugar especial e para o Fredi, está totalmente fora do roteiro (200 km - ida e volta). Seguimos
então para Punta Tombo, onde chegamos às 18.20h. O parque fecha às 19.30h e uma desagradável
guia, a D. Maria, além de não nos deixar à vontade por um único minuto, praticamente nos
expulsou da pinguineira ao fechar o parque. É um lugar muito especial! Trata-se da maior
pinguineira continental do mundo, com cerca de 850.000 pingüins (nesta época, 70% estão aqui, ou
seja, 595.000. Se estende por cerca de 15 km no litoral e os pingüins ocupam uma faixa de 1 km
para dentro do continente. Não é uma vida fácil; os pingüins que nós vimos são adultos, se
recuperando de 3 meses de alimentação dos filhotes. Durante esses 3 meses, praticamente não se
alimentam. Tudo o que conseguem é destinado aos filhotes. Estes, quando estão em condições, se
lançam ao mar em direção ao litoral brasileiro. (Filhotes: outubro: postura de ovos ; novembro:
nascimento ; dezembro a janeiro: debandada).
Os pais permanecem por mais algumas semanas adquirindo peso e trocando as penas. No chão,
formam-se rios de penas. Dois sons predominam por toda parte: o primeiro é um zurro parecido
com o relinchar de um burro – é o macho chamando a fêmea para o ninho. O segundo é um
grasnado que acontece quando os dois se encontram. Com uma certa freqüência, é possível ver um
“bate-bico”, que pode chegar a ser bastante violento. Segundo o guarda-parques, acontece em
função da defesa / disputa dos ninhos. Nesses pontos turísticos sempre é possível encontrar
aventureiros viajeiros. Desta vez, foi um casal franco-germânico que comprou uma perua Kombi
em Curitiba e está há 3 meses dentro dela. Caímos no rípio e paramos pouco depois, ao escurecer,
numa baixada de ruta, no meio do nada e de absolutamente ninguém. Foi nosso 1º camping
selvagem. Passa muita coisa pela cabeça - “cabeça é tudo, ‘cê sabe, né?” Será que alguém podia nos
molestar e ninguém iria nem ficar sabendo o que houve... Começou a bater um ventinho, tiramos a
proteção anti-pó para não fazer barulho. O céu estava muito forrado de estrelas, algumas cadentes e
quando apagamos a luz, aquela escuridão que dá medo. No hay nada...
Qui 3/3
Cafezão da manhã básico, pé no rípio, toca, toca e nada de cruzar com ninguém. Estamos na ruta 1,
a primeira construída na Argentina, que interliga o litoral, tipo BR-101, só que no rípio. Chega a ser
irritante o cuidado que eles têm com suas rutas. Num trecho de 250 km de rípio, cruzamos com 3
carros e 2 máquinas “reglando la ruta”...
Mais algumas paradinhas nas praias desertas e vilas fantasmas. Vimos até o que achamos ser um
bunker antiaéreo. Alguns cavalos selvagens, lindos, correndo, muito guanacos com filhotes.
Chegamos a Camarones, a capital nacional do salmão. O lixão é nojento, logo na entrada da cidade.
Todos falaram muito desse lugar, mas não vimos nada de muito especial. A recepcionista dos
Informes Turísticos até caprichou nas informações, mas a cidade realmente não ajuda. O Museu
Histórico é uma choupana, com algumas tranqueiras jogadas, no lado de fora. O Jardim Botânico é
uma pracinha com os senderos demarcados com pedras. A imagem da santa protetora Stella Maris
não passa de uma capelinha com flores de plástico, empoeiradas e desbotadas. A festa do salmão foi
há 1 mês, onde se comia salmão de graça. Hoje, não conseguimos comê-los nem pagando. Fomos
até a pinguineira do Cabo dos Bahia, que deve ser bacana de se ver ao fim do dia, quando os
pingüins saem em fila indiana do mar em direção ao morro de tocas. Lá tem uma paisagem legal. E
em frente tem a Isla de Los Arcos, onde podemos ver os lobos de 2 pêlos (com um binóculo bem
possante).
Segundo o guarda-parques, tem de 30 a 45.000 pingüins nesta pinguineira. Não vimos muitos. É um
parque simpático, menos turístico, novo; por esse motivo, as pessoas se empenham mais em
divulgá-lo e tratar bem os turistas. Ficamos bem à vontade – só tinha a gente.
Ufa! Asfalto de novo. Mas quase não tem pó! A proteção do Fredão funcionou muito bem!
Chegamos no fim do dia à Comodoro Rivadavia, que impressiona, por ser uma grande cidade bem
estruturada, no meio do deserto. E rola uma grana forte por causa do petróleo. Aqui vimos carros de
alto luxo e também alguns V-8 acelerando no máximo. A cidade é cheia de restaurantes, onde se
come uma boa costela. Nos fartamos (até que enfim... não comíamos de verdade há 4 dias e daqui
para frente, sabe Deus como vai ser...). Tem umas lojas bem legais de shopping mesmo. Nas colinas
atrás, 20 moinhos de vento (usinas eólicas) indicam a alternativa energética para o futuro. Mas, o
que vira mesmo por aqui, são as bombas sugando petróleo, que estão por toda parte. O preço das
coisas (inclusive combustível) já está ficando mais caro. Descarregamos fotos, Fredi passou e-mail
para a tabaturma, sacamos uma grana, comemos e fomos dormir no posto Petrobrás, até as 03:00h
da matina, quando acordamos de sobressalto com o forte vento que chacoalhava a Maria.
Preocupados, saímos de baixo da cobertura do posto, com medo de que ela caísse em cima da
gente... Perguntamos ao frentista se devíamos procurar abrigo (lembramos que o guarda–parques já
havia dito que haveria uma tormenta esta noite, porque as moscas estavam infernais) e o mesmo não
compreendia a nossa preocupação e dizia que aquilo era normal... Rajadas muito fortes (eu calculo
uns 80 Km/h, pelo menos). Parece que tá entrando frente fria...
Sex 4/3
O vento continua. Estávamos pensando em esperar melhorar, mas parece que vai durar muitos dias.
O jeito é ir tocando. Comodoro Rivadávia está que é um pó só! Alguns moinhos estão desligados. E
o mar verde tem um fenômeno engraçado – as ondas vão do continente para o mar... Pronto,
estamos no deserto pra valer. Não hay nada – só a ruta (graças a Deus, asfalto), uma vegetação
rasteira e muito seca, apenas uns tufinhos. Não tem mais nem ovelhas (coitadas). Os postos (quando
aparecem), são absolutamente fantasmas e não funcionam. Parece a Rote 66!
Conforme nos alertou nosso amigo Piuí, o vento forte é ruim de qualquer jeito: quando lateral,
balança pra c... e quase nos tira da estrada. Quando frontal, diminui nossa velocidade para 60km/h
de máxima e o consumo vai lá pra cima). Quando a favor, a gente perde a noção da velocidade e
chega a ser perigoso.
Visitamos o Monumento Nacional Bosques Petrificados. É um lugar bastante interessante que
expõe toras imensas de araucárias com mais de 2m de diâmetro por mais ou menos 50 ou 60 metros
de comprimento, cravadas em meio a uma região árida, onde crescem, a muito custo, tufos esparsos
de gramíneas com não mais de 30cm de altura. A explicação do fenômeno: em um determinado
momento, a erupção de um vulcão próximo cobriu toda a região com uma camada de mais de 60 m.
de altura de cinza, provocando a fossilização destas árvores em pé (petrificação). Na medida em que
toda essa região sofreu erosão, levando embora todas essas camadas de cinza vulcânica, essas toras
petrificadas em pé, acabaram tombando.
A floresta data de 500.000.000 de anos e as árvores, de 150.000.000 de anos. É incrível e triste
imaginar que tudo isso já foi uma grande floresta verde e se transformou em puro deserto...
Conversando com o guia, tomamos conhecimento de que a Argentina é um grande produtor de
petróleo, mas não o refina, sendo obrigado a exportar tudo o que extrai para, em seguida importar os
derivados, ou seja, mais caro. É de se admirar que mesmo assim, o combustível aqui, seja mais
barato do que no Brasil.
De volta ao asfalto, estrada boa! A única coisa que pega é o vento lateral e frontal.
Sabe, dirigir no deserto não é tão ruim como nos disseram. Às vezes, dá um soninho no Fredão e
Ana diz: “encosta aí que eu levo”, e ele responde “só vou até ali” e não pára nunca...Um bom papo,
uma boa música, algumas paisagens diferentes, quando pintam os “micro-climas”, de vez em
quando um ou outro bicho patagônico... Mas, acima de tudo muitos pensamentos. Na natureza, em
Deus, neste lugar, nos argentinos, nos brasileiros, na nossa família e nos nossos amigos... Que
saudade de todo mundo...
O fim de tarde foi show! O sol se põe às 20:30h e não faz o vermelhão, mas a vegetação, as pedras,
a estrada – tudo fica com uma cor louca! Dormimos num posto movimentado na entrada de Piedra
Buena.
Sáb 5/3
Bem cedinho, chegamos ao Pq. Nacional Monte Leon, um lugar muito especial, com miradores,
pinguineira (abre das 16 às 20h), loberia, playas hermosas e uma caverna que dá para entrar na maré
baixa (chegamos na hora certa, sem querer!). Tem uma ilha forrada de aves marinhas e um visual
deslumbrante! É de graça e, o melhor, exclusivo – só tinha a gente! Muuuuuuito show!
Começamos a pegar o frio pra valer... O ventão continua, só que bem gelado, de dar dor de ouvido...
O sol demora para furar as nuvens. Quando fura, aquece bem. Sol é vida! Pra aquecer, pra ver, pra
fotografar, pra curtir, pra tudo!
Às 15:30h, chegamos a Rio Gallegos, ligamos para o Giba e resolvemos fazer um pit-stop para
carregar as baterias, etc... É uma considerável base militar da Marinha, Exército e Aeronáutica
argentinas. Aqui foi a base para a triste guerra das Malvinas – que estão bem aqui na frente. Temos
que concordar que, de fato, as Malvinas deveriam pertencer à Argentina! Geologicamente, fazem
parte da mesma plataforma continental. Seria como admitir que Fernando da Noronha pudesse
pertencer aos americanos. Outro argumento argentino seria: os ingleses dizem ter direito sobre as
Malvinas por terem sido os primeiros a pisar nas ilhas. Por este raciocínio, o pólo sul deveria
pertencer aos argentinos. O que de fato está em jogo (como sempre...), são as jazidas petrolíferas.
Segundo um dos moradores, existem diversas plataformas oceânicas estrangeiras, sugando o
petróleo na plataforma continental argentina... Conversando com um cidadão galego, percebemos
quão grave é o relacionamento de submissão da Argentina. Nem mesmo a lã, extraída das ovelhas
ainda hoje não é beneficiada; sai tudo em estado bruto e volta manufaturada, claro, muito mais
caro...
O conflito aconteceu da forma totalmente desproporcional: os argentinos estavam equipados com as
sucatas da 2ª guerra mundial e os ingleses trouxeram o que havia de mais moderno em
equipamentos bélicos. Daqui sai todo o gás natural utilizados em Buenos Aires. Um gasoduto de
3.000 km O que mais impressiona é a quantidade de pessoas educadas e capacitadas para muito
pouca atividade fabril. Nossa viagem anterior, há 6 anos atrás, na época, Carlos Menem,
privatização das estatais e paridade do peso com o dólar, fomos tratados com arrogância, desprezo,
etc, principalmente pelos portenhos. Desta vez, existe uma relação de respeito e até de
companheirismo. É como se eles talvez nos invejassem um pouco. A única coisa que eles ainda
insistem fortemente é que o Maradona é melhor que o Pelé... Mas nós ainda somos os P-E-N-T-AC-A-M-P-E-Õ-E-S!
A Argentina é uma grande nação! Um país rico, belo, pero, infelizmente, mal governado como o
Brasil e por aí vai...
Ao contrário do puto do nosso vizinho, a maioria dos argentinos nos parecem muito simpáticos. Los
ermanos! Encontramos em Rio Gallegos o Cyber Café mais profissional do país até agora! Nem
precisou do leitor de cartões para descarregar as fotos e o próprio funcionário o fez. Ana ficou de
mãos abanando, enquanto Fredi conversava com o galego, aguardando sua vez para usar uma
máquina.
Nos fartamos na parrilhada do Chino. Pela 3ª vez consecutiva, “almo-jantamos” num restaurante de
propriedade de chineses. Nossa preferência se deu pela oferta de “Tenedor Libre”. Nada melhor do
que poder ver e escolher o que vamos comer. Se pedirmos à La Carte, podemos ser surpreendidos.
As parrilhadas por aqui oferecem costela de vaca, alcatra, frango, lingüiça (chorizzo) e salsicha,
acompanhadas com molho , inclusive, um verde, bem apimentado. Dormimos no hotel Covadonga,
bem central, mas bem velho, com cheiro de mofo e um atendente bem chato. $ 66.
Dom 6/3
Café da manhã / desayuno Continental: leite, café, 2 croassants doces, bolacha, manteiga e geléia de
laranja. Na Argentina inteira, é assim.
Para baixo de Rio Gallegos, tem uma reserva geológica chamada Laguna Azul, dentro de uma
cratera vulcânica de aproximadamente 500 metros de diâmetro, em cujo fundo se forma um lago
habitado por gansos. Quem vê a serenidade desses animais, que deslizam por esta água cristalina,
não pode imaginar a provável violência da erupção desse vulcão há milhões de anos atrás. Existem
pedras lançadas há mais de 1 km de distância e um rio de lava que se estende por dezenas de km.
Finalmente, chegamos na fronteira com o Chile. Para salir da Argentina foi bastante rápido. Para
entrar no Chile, são 5 guichês com 5 procedimentos distintos. Demoramos por volta de 40 minutos.
Aqui, nesse passo, o pessoal, de modo geral, é mais tranqüilo e amigável do que, no Passa Lama,
que atravessamos há 6 anos atrás. O canal de cerca de 3 a 4 km de largura e uma correnteza que se
iguala à velocidade da balsa: estamos atravessando o famoso Estreito de Magalhães! Para
atravessar, a balsa avançou contra a correnteza pela margem durante uns 10 minutos, para
finalmente atravessar a 45° a parte mais profunda do canal. Normalmente, leva 15 minutos. $58
(pesos argentinos), muito barato, comparado com a travessia Colônia-Buenos Aires (10 vezes mais
barato). De repente, acabou-se o asfalto, na verdade, uma calçada de concreto (os 1ºs 30 km). Após
a bifurcação para San Sebastian, experimentamos o pior rípio de toda a viagem (110 km...) A bordo
da balsa, descobrimos que a Terra do Fogo é Zona Franca e concentra a indústria de eletroeletrônicos, um absurdo só igualado à zona franca de Manaus.
Chegando finalmente a San Sebastian, constatamos que esta aduana é basicamente para trânsito de
argentinos para Ushuaia. Por isso o abandono, inclusive na rodovia. Já, no lado argentino, mudança
da água para o vinho!!! Impressionante. A aduana é clara, limpa, tem calefação e o pessoal (todos
muito educados e amigáveis nos trataram muito bem), queima um incenso direto. Tem um cheiro
muito bom! E um completo balcão de informações turísticas! Tudo muito profissional! Ninguém
ficou inspecionando nossas coisas. E, o melhor, caímos no asfalto – de novo, a ótima Ruta 3!
Agora, estamos no km 2.780! E na Maria, estamos virando o velocímetro para 6.000 km!!! Quase
chegando ao fim do mundo!!!
Passamos por Rio Grande. Parece que foi aqui a base mais forte para a guerra das Malvinas, pois
tem vários monumentos em homenagem aos heróis.
Tá um frio do cão! Aqui, as gaviotas vêm comer bolachas na nossa mão (muito melhor do que ter
que pescar nessa água gelada)! Nossa sorte durou pouco. Alguns km depois de Rio Grande, acabou
o asfalto e começou um rípio tão ruim quanto o do Chile. Ushuaia é turística, mas turista bom é o
que vem de avião. Quem vem de carro tem que se f... mesmo...
Daqui até Ushuaia, são vários trechos de obra em construção! E a galera tá trabalhando mesmo!
Com chuva e frio...E eles têm muito pouco tempo para isso, pois o verão já se foi...
A paisagem sofre uma forte mudança. A vegetação, que antes era rasteira e minguada, começa a ter
uns arbustos maiores, depois umas árvores secas com barba de bode, que vão ficando mais verdes e
finalmente, uma inteira floresta de árvores verdes e grandes, algumas já começaram a mudar de cor
por causa do outono. É muito legal ver essa transição.
Dormimos numa cidade bem pequena, chamada Tolhuin, à beira do Lago Fagnano. Hoje, domingo,
o único lugar aberto para comer é a Panaderia La Union, aberta 24 h, com calefação. Ligamos para
o Andi, conversamos com o Emílio, o dono e dissemos que iríamos fazer um teste, se
conseguiríamos dormir no coche (Maria), com o frio intenso da noite; se não conseguíssemos, ele
nos colocaria na oficina com calefação e não nos cobraria nada. Quando fosse ao Brasil, dormiria
em mossa casa... Lanchamos e fomos para a Maria. Lá dentro tava tudo molhado, por causa da
condensação. Forramos e isolamos o quanto pudemos, nos abraçamos e nos aquecemos. Ouvimos
os gritos de uma mulher esculhambando. Parece que ela falava de uma camioneta. Não dava para
entender direito. Uns 15 minutos depois, alguém bateu forte na janela da Maria. Era a polícia! Nos
interrogaram e disseram que não podíamos ficar ali. Fredi explicou que a Maria tem um problema
para pegar de manhã e precisávamos ficar ali, que era meio descida. Prometemos sair assim que
amanhecesse, às 7.30h. Curioso ele olhou mais um pouco e liberou. Cidade pequena é isso... As
pessoas não aceitam esse tipo de “ciganismo”! Não gostam de pessoas estranhas dormindo dentro
de um carro, na frente de uma padaria, no centro do povoado. Nosso lugar seria num camping. De
manhã, quando fomos tomar café na padaria, as pessoas nos olharam com umas caras tão feias que
tomamos só um chocolate quente e nos fomos... À noite foi bem fria e barulhenta. Estávamos perto
do gerador da cidade, além da muvuca 24hs dos carros a diesel, que não desligam o motor, por
causa da calefação.
Seg 7/3
De manhã, à beira do grande lago Fagnano, vimos as primeiras montanhas nevadas. É o fim da
Cordilheira dos Andes!
Na Maria, as coisas estavam todas geladas. Nosso grande problema é a condensação. Fica tudo
muito úmido; o cobertor do Fredi ficou literalmente molhado!
Mais um pouquinho de rípio e atravessamos uma belíssima serra por entre a Cordilheira. Pena que o
tempo tava muito ruim.
Chegamos finalmente ao FIM DO MUNDO!!! Ushuaia!!! Um lugar histórico de muitas chegadas e
muitas saídas! Daqui saíram muitas expedições ao Pólo Sul (inclusive era para nós irmos à
Antártida, mas não há mais barcos indo, apenas voltando, porque a temporada já acabou e o inverno
já começou por aqui. O barco mais barato para 10 dias era US$ 2.500,00 por pessoa; para arrumar
esquema com a aeronáutica argentina ou com a marinha chilena, só conhecendo alguém). Algumas
expedições foram bem sucedidas, outras nem tanto. Ponto de saída dos baleeiros e ponto de chegada
de muitos criminosos. Acredite, no início do século XX, foi construído nesta cidade um imenso
presídio que recebeu boa parte dos criminosos famosos da Argentina. Talvez, a segurança que
sentimos ao rodar pela Argentina se deva à tradição deste país, de realmente penalizar seus
criminosos. Aqui, o detento sabia que não poderia escapar, não levava uma vida boa e tinha que
trabalhar. Do fruto do seu trabalho, ele recebia o pagamento e com esse dinheiro, muitos se
reintegraram e iniciaram uma nova vida. Para quem estava fora, Ushuaia significava o pior, o que
certamente desestimulou muitos de entrar no mundo do crime. Mais ou menos o mesmo terror que
significa um presídio super populoso no Brasil.
Hoje o presídio foi transformado em um museu multidisciplinar, contando a história das
embarcações, expedições, Antártica, artes e também, do próprio presídio. $15 por pessoa.
O Parque Nacional é a região de fronteira com o Chile. Como já vimos, em outra viagem, uma
tentativa de reduzir os conflitos com o vizinho Chile. Nos parques, não há estradas que atravessem a
fronteira e nem tampouco propriedades agrícola–pecuárias, nem mesmo comércio. É um lugar
muito especial, cheio de trilhas e senderos com paisagens muy ricas! No final da ruta 3, aquela que
pegamos desde Buenos Aires (a quilometragem não conta no trecho do Chile), no km 3.127, tem
uma placa do FIN DEL MUNDO! Fredi marcou o GPS e, em linha reta, estamos a exatos 3.911 km
de casa, a quase 60° Sul (a 2/3 do caminho do Pólo Sul).
Nesta região já temos a nítida impressão de estarmos dentro dos Andes, porém com alturas muito
baixas. Os lagos, a poucos metros do nível do mar e os picos nevados com mais de 1.000 metros!
Um espetáculo!
Próximo à cidade, há um distrito industrial, com algumas poucas e pequenas empresas que se
beneficiam das isenções fiscais da ilha da Terra do Fogo (zona franca).
Estamos na Terra do Fogo! Aqui, no verão, o sol nasce às 5h. e escurece entre 23 e 0:00h. Hoje, o
sol nasceu às 7:15h. e se escureceu as 21:00h. Pena! Já estamos praticamente no inverno. Devíamos
ter chegado duas semanas antes, quando os termômetros marcavam 28° C (contra os 6° C de hoje
de manhã, com neve nas montanhas). No inverno, chega a fazer - 40° C. Poderíamos ter feito a
expedição ao Pólo Sul... Acabamos ficando apenas um dia no Fim do Mundo, porque estava
muuuuito frio! Dava vontade de ficar apenas dentro dos cafés, com calefação (o ar quente da Maria
não funciona, foi trocado pelo ar condicionado). A cidade está muito próspera, cheia de turistas do
mundo inteiro. Acabou de encostar um super cruzeiro de Amsterdã...
Ushuaia é longe, mas, mais fácil do que pensávamos para chegar. Para muitos pode ser o fim do
mundo, mas também pode ser o começo...
É uma cidade legal, com argentinos legais; fizemos algumas amizades com o parrilheiro, que nos
deu o melhor pedaço do carneiro/cordeiro (quanto mais ar sur, melhor a carne, em função do sal e
do deserto) e Ana Cláudia, a guia do I (Informes) que já trabalhou no Shopping Morumbi.
Visitamos o Parque Nacional até La Pataia ($10/PS). É um lugar limpo, bem sinalizado, com belas
paisagens, lagos e muitas trilhas de trekking. Tem o “trem del fim del mundo” ($47 ou $50). Muitos
coelhos.
Depois fomos até a estação de ski que vai o Glaciar. Só que lá em cima tava nevando e a gente não
tava a fim (nem preparado) de andar na nieve. Depois fomos ao Museu Marinho/Presídio, algumas
comprinhas na San Martim (a principal). Tá tudo meio caro para a turistada... E para variar,
jantamos no Tenedor Libre do chinês, o restaurante Arco Ires ($19/PS). O King Crab (Centolha)
custa $90... Carimbamos os passaportes, pegamos os certificados do Fim do Mundo e fomos pifar
na Maria (hoje tá bem menos frio que ontem). Aqui não é comum dormir em postos de gasolina,
dormimos tranqüilos no estacionamento da Prefeitura. Para chegar ao Fim do Mundo, rodamos
6.775km, em média 424 por dia. Detalhe: o Fredi não deixa a Ana dirigir, apenas dar tranquinhos
para a Maria pegar de manhã... Ela até que pede, e ele sempre diz: “só até ali, só...”.
Ter 8/3
Hoje é dia internacional da mulher! Aqui no Fim do Mundo também...
Acordamos com as montanhas nevadas em volta... Tomamos um café com chocolate e torradas no
“café da esquina”, ligamos para as mães do fim do mundo e, infelizmente, começamos a voltar para
a casa.
Ushuaia é legal, é fim da linha, mas acreditamos que ainda temos muito para ver, cordilheira a fora.
Se tivesse um pouquinho mais quente e sol, faríamos o passeio de navegação de catamaran pelo
Canal de Beagle para ver El Faro e a Loberia ($50 por pessoa). Tá muito frio, vam’bora...
Demos umas paradinhas no Rio Olívia e na serra, que estava toda nevada! É impressionante a
quantidade de neve que caiu sem parar de ontem pra hoje! Está lindo! E tudo congelado de doer os
ossos...
Paradinha básica na Panaderia La Union em Tolhuim, só para dar uma esquentada (e não perder o
costume), tomar um “Moca” e voltamos pela mesma ruta 3 até San Sebastian para então, seguirmos
para Puerto Natales. Em Punta Arenas, parece que não tem nada turístico para se ver. Fizemos
amigos também na Aduana argentina em San Sebastian. No passo chileno, tudo muito rápido e sem
muito papo, de novo.
Dica: após o passo chileno de San Sebastian, pegue a ruta para Porvenir por 42 km e depois outra
para Cerro Sombrio, pois o rípio está bem melhor.
Ana ficou jururú 2 vezes. Chiii...
Em Cerro Sombrio, já noite, só tinha 1 hotel $158 pesos argentinos. Caraca! Acho que o Chile será
bem mais caro para nós... Nos dirigimos à Delegacia para ver se podíamos dormir lá, pois o único
posto estava fechado desde as 20:00h. Queríamos pelo menos um banheiro. O carabineiro pediu que
estacionássemos ao lado do posto, pois lá não podíamos. Nos atendeu muito bem e conversamos
algum tempo com ele. A impressão que tivemos novamente é que o Chile é um país militarizado,
organizado e as instituições funcionam e eles têm muito orgulho disso.
Cerro Sombrio é uma pequeníssima cidade de 900 habitantes, mais parecida com um alojamento da
ENAP (empresa petrolífera do Chile). Mesmo assim, vimos o clube, o cinema, escolas primárias,
secundárias e profissionalizantes, hospital, igreja católica, supermercado, etc...
Estacionamos ao lado do posto e descobrimos que a capota da Maria está com várias infiltrações de
água. Tinha muita coisa molhada lá atrás. Que droga... O pior é que tá uma chuvinha razoável e
pelo visto vai longe. Enxugamos o que pudemos e tentamos dormir. Outra noite de cão, pois depois
da chuva, veio aquele ventão. Começa tudo de novo: será que o toldo do posto vai cair em cima da
gente? Não dá nem pra ver lá fora, pois tá cheio de mala empilhada na frente da janela.
Qua 9/3
Que bom que amanheceu com sol! Fredi tentou vedar a Maria por fora com Silver Tape, mas não tá
aderindo direito. Finalmente caímos no asfalto e fomos atravessar o Estreito de Magalhães. Tá um
mar pra lá de batido. Ondas com mais de 5 metros balançavam bastante a super balsa imensa e
pesada. Ainda bem que viemos por aqui, pois se fossemos por Porvenir, a balsa seria mais cara
($130) e demorada (2:30h ou mais).
Na estrada, placas para não bajar basura (lixo) e várias de “campo minado”, um lixo
propositalmente colocado... Pra variar, vento contra e logo já começamos ver as montanhas nevadas
de novo. Frio do cão...
Câmbio $1 peso argentino corresponde a $200 pesos chilenos. $600 pesos chilenos compram
US$1,00 dólar. O Chile está fatiado em 12 regiões; estamos na 12ª, dividida em 3 departamentos:
Terra del Fuego, Magalhanes e Última Esperança.
Em Puerto Natales, logo de cara, um banquete com Centolha (King Crab) parmeggiana – um
ESPETÁCULO de encher a boca de água só de lembrar! $8.000 (R$40,00 p/ 1 pessoa). O Tigro
comeu una milanesa e ficou arrotando pimenta o resto do dia. Descobrimos que o Chile realmente
será bem mais caro para os Tigros. Fomos buscar um hotel e o que achamos razoável, foi um
“residencial” com uma mulher, que fez questão de não nos entender; tentamos iniciar uma conversa,
perguntando se ontem (que não sabíamos que era “ayer”, tinha chovido... deixa pra lá...) $10.000
(R$ 50,00) p/ 2. Hostal Central. Daí rodamos um pouco pela cidade. É um porto no Pacífico,
situado a mais de 100 km do oceano, ligado por calhetas ou fiordes. Vive essencialmente do turismo
do Pq. Nacional Torres del Paine. A cidade é repleta de back-pakers (mochileiros) e todos os
serviços associados. O supermercado tem, bem na entrada, uma imensa prateleira com produtos
liofilizados. Os lixos públicos são estatuazinhas de mochileiros.
Qui 10/03
Acordamos bem cedo. Tava um tempinho medíocre, em todos os sentidos. Fomos para o parque,
passando antes para abastecer com o diesel mais caro de nossas vidas: R3, 00 o litro, mais do que o
dobro da Argentina e ainda perdemos uns 20% na conversão do câmbio. Vamos rezar para o
combustível ser, pelo menos, razoável... Só vimos um posto pior que este no Jalapão.
Chegamos ao Parque. $ 10.000 por pessoa, ou seja , “cemzinho” para 2 Tigros... Caro! Pero vale a
pena! É um dos lugares mais bonitos que vimos. No 1º dia, não deu para ver direito. Os lagos do
parque estão cerca de 50 metros acima do nível do mar e junto a estes, nascem montanhas com mais
de 2.000 metros de altura. Boa parte delas, nevada! Um espetáculo! O formato das montanhas
lembra um acidente de trem, em que os vagões resultam em pé, formando as famosas Torres del
Paine. O vento tem rajadas tão fortes, capazes de arrancar a porta do carro! 100 Km/h, ou mais.
Nunca abrir duas portas ao um tempo. É como tentar abrir a porta do carro em alta velocidade. As
rajadas arrancam a água da superfície dos lagos e lançam a mesma na forma de chuva a longas
distâncias. Fizemos o “recorrido en auto” até o Glaciar Grey, onde pudemos ver imensos blocos de
gelo azuis – os icebergues, vagando pelo lago, sendo reduzidos a gelinhos na praia. O passeio para o
Glaciar em catamaran custa US$ 60 / pessoa, o que inviabilizou qualquer possibilidade para nós,
mas dá para chegar relativamente perto, de um mirador, bem em frente (mais de 10 km). Depois das
15:30h, o tempo finalmente foi abrindo e então pudemos descortinar visuais incríveis, como Los
Cuernos! Enlouquecemos e ficamos fotografando até as 19:30h. Visitamos também o Salto Grande,
onde tínhamos que agachar no chão para não sermos arrastados desgovernadamente pelo vento. O
Mirador de Nordenskjold é especial. Várias lagunas, muitos guanacos. Na Sede Administrativa,
todas as informações sobre o parque, geologia, fauna, flora, etc, no centro de visitantes. Tudo é
muito caro por aqui. O hotel mais barato, com banho compartido era US$ 47,00, ou seja R$ 130,00
na Pousada Rio Serrano. Os Campings, $ 3.500, por pessoa, ou seja, R$ 35,00, sem tomadas para
carregar baterias ou secar cabelos e só tem água quente no chuveiro. Decidimos dormir ao lado de
um abrigo próximo ao Catamarán da Guarderia Pehoe (Pudeto), o mais abrigado possível do vento.
Foi ótimo! E de graça...
Sex 11/03
Foi tão bom que acabamos acordando tarde... Nem podíamos imaginar o dia maravilhoso que
amanheceu! Céu de Brigadeiro, nenhuma nuvem, nenhum vento, calor, o dia perfeito para vermos a
principal atração do parque – as Torres del Paine... 1º, fomos ver as torres do Mirador Cascada
Paine, a mais ou menos uns 13 km Só que tínhamos que subir às 8:00h. e acabamos entrando na
trilha somente ao meio-dia... Nos animamos ao ver centenas de mochileiros saindo carregados, no
mesmo horário. Logo descobrimos que estes iriam acampar no meio do caminho ou no
albergue/camping Chileno (R$ 180,00 para 2 ou R$ 162,00 com uma sopa, barraca, colchonete e
saco de dormir) ou no Campamento Torres ($?). A trilha para a base das Torres começa com uma
subidinha de 2 horas, onde se vê algumas lagunas, um belo cânion com riozinho, depois entra num
trecho de floresta até o albergue/camping do Chileno, onde a moçada faz um pit-stop para comer
pão com maionesa e atum. Daí, é mais 1 hora, até o Campamento Torres e mais 1 hora até a base
das Torres. E só dá para ver as Torres lá na base mesmo. Antes, só parte delas, ou no mirante, a 13
km Acabamos parando entre o abrigo e o camping, pois havíamos estabelecido o limite de
começarmos a voltar a partir das 15:00h. Até poderíamos pagar uma boa grana e dormir acampados
no refúgio (mais ou menos R$ 180,00), mas o que dá medo é que o tempo se cambia muito por
aqui. De repente, à noite poderia chover ou nevar, ventar forte, etc... para passarmos a noite sem
estrutura (no refúgio não tinha mais lugar, teríamos que acampar) e voltarmos no dia seguinte, sem
nem saber se realmente conseguiríamos ver as Torres, que poderiam amanhecer encobertas... Foi
meio frustrante, mas fizemos uma boquinha e descemos. Pelo caminho, fizemos alguns amigos
internacionais: um casal holandês, um coreano maluco, doidão, largado, “por que nô?” e muitos,
muitos israelenses (70% dos mochileiros). É muito legal trocar figurinha com essa galera!
Na volta, muito cuidado com os abismos, pois, como eles dizem aqui, “um escorregão e usted
rompe el culo”... literalmente...
Acabamos indo dormir no camping, porque um cara que tava fazendo um churras pra uma galera de
outro camping naturalista (o mais caro), disse que depois do incêndio, existe um patrulhamento
noturno e não se pode dormir em qualquer lugar, principalmente se fizer um foguinho. Era o caso,
estávamos loucos para comer algo quente e estreamos o fogãozinho do Dílson, para cozinhar nosso
Miojo com atum. Tava ótimo! Fredi aproveitou para reabastecer a Maria com a bombona reserva de
diesel que trouxemos do Brasil, pois não estávamos a fim de sermos novamente “assaltados”
naquele posto F.D.P. em Cerro Castilho e pagar o triplo...
Descobrimos pelo menos 2 utilidades para garrafas de pet: “chupa-quitos” e barômetro (quando a
pressão aumenta, ela encolhe).
Fredão tava tão desencanado que deixou a porta do motorista aberta, com a chave do lado de fora, a
luz interna acesa, carteiras, cds, etc - tudo à vista, a noite toda... Ainda bem que, por aqui, só tem
gente boa!
Como temíamos choveu e esfriou bastante...
Sáb 12/03 e Dom 13/13
Acordamos com o gaúcho Beto, batendo na porta da Maria; é a 2ª vez que acordamos com esse
barulhão... Será a Polícia de novo? Beto achou estranho que, ao chegar à noite, viu tudo aberto e ao
acordar de manhã, ainda estava tudo do mesmo jeito... “Estão mortos?”
O tempo estava bem fechado, de novo. Aliás, aqui é assim: no mesmo dia amanhece encoberto, faz
frio, depois vem o sol, daí encobre, vem a chuva, faz frio e neva ou dá ventão de 100 Km/h. São os
tais “micro-climas”! Impossível prever – nem Weather Channel sabe...
Saímos do parque, passando por um visual muito triste: a grande queimada! Provocada
acidentalmente por um iugoslavo, nas proximidades da Laguna Azul, que tomou proporções
astronômicas, o parque se queimou por 10 dias (quase a gente não vê, pois esteve fechado até há
pouco). Com esse ventão forte, a secura do solo e da pobre vegetação e a ausência de chuvas, só
imagine o estrago! É de chorar. Nem fomos ver a Laguna Azul e o resto do Parque.
Seguimos pela ruta até a nossa 1ª parada pela Polícia Camineira Chilena. Aqui eles são chatos
mesmo... Na Argentina toda, não pega nada. Só um pouquinho de Chile e pronto... “Será que eles
vão invocar com a Maria? Tem cada tosqueira por aqui, que não é possível”...
Bueno... Apenas rotina e curiosidade. Nem encheram porque estávamos sem cintos e de farol
apagado. Parece que eles estão mais acessíveis por aqui ou as coisas mudaram, pelo menos para os
turistas.
O sol foi abrindo e junto com ele, a distância das Torres!... Certa decepção – tá faltando alguma
coisa...
Estamos novamente na Argentina e, após 8 km, asfalto! Seria possível ir até Calafate em asfalto,
mas optamos por um “short-cut” de 80 km de rípio. Calafate tem uma avenida principal, que parece
Monte Verde. Mas atrás desta principal arborizada, casas simples e esparsas abrigam a população.
Com o asfalto e o aeroporto, certamente El Calafate é a cidade que mais cresce na Argentina. De
Calafate ao principal ponto turístico, o famoso Glaciar Perito Moreno, são 50 + 30 km, (asfalto e
rípio), ou, se preferir 60 km, só de rípio.
A geleira é realmente um show! Um dos lugares mais impressionantes da viagem! Desloca-se a 1,4
metros por dia e, lentamente vai se desfragmentando em toda a sua extensão (2 a 3 km frontais), em
imensos blocos de gelo. Na medida em que a geleira fecha a passagem da água, o lago esquerdo
enche até 10 metros, até que esta barragem de gelo se rompa. A última ruptura aconteceu em 2004
(documentada por jornalistas do mundo inteiro) e isto é cíclico. Em cada um dos lagos, navios
levam turistas até a muralha de até 60 metros de altura, para assistir os desprendimentos. Para os
pedestres, mais de 600 metros de passarela permitem a visualização a certa distância, de boa parte
da extensão. A torcida por desprendimentos é constante; a todo o momento, sons de gelo rachando
e/ou despencando no lago tem uma certa freqüência. Um show magnífico por $ 30/PS. Faz parte do
Parque Nacional Los Glaciares. O Perito Moreno é a 3ª maior geleira continental do mundo, com
256 Km², perdendo apenas para o Pólo Norte e Pólo Sul.
Esta foi a noite mais fria da viagem! Dormimos no Camping do parque, $8/PS., com nossos amigos
gaúchos, Beto e Vanessa, depois de um grande jantar com lentilhas, no fogãozinho do Dilson.
Amigos: conhecemos até aqui, diversas pessoas, que acabamos reencontrando em cada atração.
Sendo os principais, os gaúchos Beto e Vanessa, os bombeiros de Santos, Caio e... e o palhaço
italiano Andrés, os soteropolitanos do Land Branco, Ângelo e a namorada, o motoqueiro Rodrigo,
de S. Roque, que “arrecada alimentos”, o curitibano Fernando que mora em Igatú (Chapada
Diamantina-BA), além dos caminhões alemães, carregados de gringos, circundando o hemisfério
sul, a cada 4 meses, fazendo: Quito - RJ - Ushuaia - Santiago - Quito. Não podemos esquecer dos
figuras Rhinos e Anne da Holanda (sorte da porra), o casal australiano, os dois casais de velejadores
alemães que já estão há 6 e 12 anos no mar, o amiguinho Tiago - um gurizinho pra lá de amigo com
apenas 3 anos, seu pai Eduardo e seu amiguinho “sangue ruim”, o filho do Eduardo! Além de uma
onda infindável de israelenses – “zum, zum, zum, zumzum – bába”... que tem como Brasil “Tudo
bem? Tudo bom”, suas melhores recordações. Aliás, todo mundo adora o Brasil, a terra, la gente, a
comida, a música, o Lula, etc... Encontramos até um casal zen de argentinos portenhos...
Banho de camping: Terrível! Primeiro, chão gelado; depois quando liga a ducha, um banho de água
fria; depois quando esquenta, queima a pele, até equilibrar a temperatura; quando equilibra, no meio
do banho, o vento apaga a chama do gás e na hora, a água gela; você grita, pula e sai do box
(cortina) no chão gelado de novo!
Um frio do cão! Sempre à noite. E não tem tomada para secador de pelo... Show de horror...
Passamos no Lago Rocca e fomos para Calafate descarregar cartões, telefonar, abastecer, super,
etc...
Seg 14/03
Dá-lhe rípio, chegamos a El Chaten com boa visão do famoso Cerro Fitz Roy (3.400 m) e do Cerro
Torres, muito semelhante às Torres Del Paine.
Como chegamos tarde e o tempo já estava se cambiando, fomos ver o Lago Del Desierto, divisa
com Chile. No caminho, belas paisagens, rios e cascatas como a Chorillo del Salto.
Dormimos no camping. A boa surpresa é que o parque, mesmo tendo boa estrutura, é grátis, com
camping grátis e um bom centro de visitantes, com Vitor, o gentil guarda-parque.
Ter 15/03
O tempo amanheceu horrível, tudo encoberto, chuva, vento e frio. Decidimos nos internar num
hotel e fazer o nosso “princess day”. “La Base”, muito bonzinho, por $110 (aqui continua tudo meio
caro – imagine que esse pessoal tem apenas 3 meses para faturar bem, no verão, além do que é tudo
muito mais caro para se construir, transporte de material – a loja de material de construção mais
próxima está a mais ou menos 400 km daqui, tem que fazer encomendas, que demoram dias para
ser entregues. É necessário fazer isolamento térmico, calefação, encanamentos anti-congelantes,
etc...) O hotel tem um quarto bem espaçoso e quentinho, de madeira com calefação, banho próprio
deliciosamente quente, tudo limpinho; cochera pra Maria (demos aquele super trato que ela ficou
um brinco!), videoteca, lojinha e cozinha. Aproveitamos para fazer nosso Miojo com lomo (tipo de
alcatra) com roquefort que compramos fresquinhos no “Stela Mares” – o grande supermercado que
não precisa de carrito... Bundamos o resto do dia.
Interessante notar o tipo de turista que freqüenta esses lugares; não é aquele turista predatório que
desce de buzão para a Praia Grande para aprontar, bagunçar, zoar, talvez até roubar, brigar, etc...
São pessoas educadas, que se cumprimentam, em geral, tocam experiências (Fredi adora essa parte)
e ninguém mexe no que não é seu (vide a geladeira da cozinha coletiva, etc...), não há lixo nas rilhas
(nem nas cidades), até mesmo a maior parte das bitucas de cigarro são levadas de volta à cidade,
pois no parque não tem basural (se tivesse, o vento o espalharia por todos os lugares, como já vimos
por aí).
A única coisa que pega são os fumantes, que são muitos, em todos os lugares públicos, como
restaurantes – tudo fechado por causa do frio. Fumam antes, durante e depois das refeições. Um
saco! Neste ponto, viva São Paulo, viva Maluf!
Qua 16/03
Acordamos bem cedinho e aja coragem para botar tudo na Maria e largar o “paraíso terreno” do
nosso hotel quentinho... O tempo melhorou um pouco, pelo menos, parou a chuva, mas nosso amigo
Fitz ainda estava um pouco encoberto.
Como as cidades sempre estão nos vales, abrigadas de vento e frio, todas as trilhas andinas,
começam com uma subida forte. É importante saber dosar o esforço no começo da trilha, bem como
horários de luz, quantidade de peso a ser carregado, etc... Iniciar uma trilha às 10:00h pode não ser
tarde demais, pois a luminosidade vai até as 20:30h (nesta época).
Decidimos ir até o Mirador do Fitz Roy, depois seguimos um grupo com o guia David, que nos deu
a dica de atravessarmos entre dois morros para cortarmos caminho, senão seria muito longe para
fazermos o que queríamos. Fizemos e acabamos saindo da trilha, o que não é bom, 1º, porque o solo
aqui é muito frágil e a gente acaba detonando por onde pisa. 2º, porque a gente se enche de
carrapicho espinhudo e se arranha todo nos galhos secos da mata fechada. 3º e pior, porque dá
desespero de a gente se perder nesta imensidão; por mais que tenha muitas trilhas (El Chaten é a
capital nacional do trekking), dentro da floresta fechada não tem visualidade, nem das montanhas e
o que ainda nos ajudou, foi o sol. Se o tempo mudasse, estaríamos ferrados... Sem equipamentos,
lanternas, comida e pouca água... Além do que, ninguém passa por ali. E se a gente sofresse uma
picada de cobra, ataque de marimbondos ou de pumã? Ou, e se a gente tropeça e se machuca, sei
lá... Depois de algum tempo sozinhos, graças a Deus, avistamos uma laguna e nos dirigimos a ela,
onde ouvimos vozes. De novo, graças a Deus! Eram nossos amigos israelenses “zum – zum –zum –
zum – zum – bába”, que depois nos ofereceram um café marrom bem ruim, fervido junto com a
água e servido sem coar... Finalmente, estávamos de volta à trilha! Junto com os japoneses. E os
cavalos mochileiros. Por aqui não tem pangaré, eles não suportariam o frio e o trabalho pesado, são
tão musculosos, que parecem não ter ossos. Finalmente avistamos Las Torres, muito parecidas com
as Del Paine e fomos até a Laguna Torres. No vale que lhe dá acesso, uma sucessão de morros de
até 20 metros de altura mostra até aonde o glaciar empurrou a terra. Hoje, o limite da geleira está
muito distante e deixa claro que a região já foi muito mais fria e recoberta de gelo do que hoje.
Começamos a voltar, pois a “porta da geladeira estava aberta” e o ventinho frio batia forte e gelava
tudo na ausência do sol, que estava quase se pondo. Andamos bem depressa, preocupados com a luz
e o frio. Hoje, andamos forte, por volta de uns 16 km E fizemos mais um “short-cut” para El Chaten
norte, onde estava a Maria, caminho bem mais curto e rápido. Quase sem sentir as pernas, fomos
nos fartar no bar Patagônicos, uma sensacional pizza de champignons e napolitana com vinho da
casa (Gato Negro) por $30! Hum! Dormimos no camping free (aqui a gente sua mais não empoeira
e nem fica preto de poluição).
Qui 17/03
Acordamos as 7:10h, horário em que o sol começa a nascer. Estava simplesmente lindo! Um
espetáculo! Pouquíssimas nuvens minúsculas, apenas para dar um charme... Lá estava ele, em toda
sua magnitude, Fitz Roy, bem na nossa frente! Fizemos várias fotos da própria janela da Maria,
ainda debaixo dos cobertores. E conforme o sol ia aparecendo, ele ia mudando de cor! Lindo!
Fomos obrigados a fazer tudo de novo! Uau! Que dia abençoado! Paradinha rápida na Panaderia La
Nieve para um café com empanadas e toca a subir tudo de novo, rumo ao Fitz. Só que, desta vez,
com sol, muita visibilidade e tranqüilidade. Fomos bem devagar, parando, curtindo, pudemos
apreciar até uma pequena família de pica-paus a 1 metro de distância, muito show!
Hoje também fotografamos os condores! Só falta um puma e um huemul (veado). Após o Mirador
do Fitz, pegamos a trilha da Laguna Capri e com mais um short-cut, economizamos alguns km e
horas, logo estávamos – agora sim – com total visibilidade das Torres e voltamos até pelo caminho
mais longo para El Chaten.
El Chaten poderia até ser mais conhecido que Torres del Paine. Mas alguns cuidados que os
chilenos tiveram, fizeram com que Torres del Paine seja mais divulgado do que El Chaten. Em 1º
lugar, o parque Nacional de Torres del Paine, só dispõe de 3 grandes hotéis e é fechado, com
portarias cobrando ingresso de R$50,00. Por outro lado, El Chaten se transformou numa cidade,
dispondo inclusive de posto de gasolina ($1,70 o litro do diesel), supermercados, internet,
locutórios, etc... Não cobram ingressos, tem camping livre... Isso faz com que as atrações, que são
inclusive mais altas e mais acessíveis e enfeitadas com geleiras, não tenham o mesmo destaque de
Torres del Paine. Talvez falte um pouco de divulgação. Enfim, gostamos muito daqui (deu pra
perceber, pela quantidade de dias que ficamos).
Apesar de estar longe de aeroportos e cidades, vale a pena ser visitada! Novamente, nos fartamos na
mesma pizza do Patagônicos Bar e saímos da cidade às 18:00h, nos despedindo de nosso amigo Fitz
com um fim de tarde espetacular! Vai deixar saudades...
Pela 1ª vez, Fredi deixou Ana dirigir, pois estava meio bêbado de Quilmes.
Sex 18/03 e Sáb 19/03
Dá-lhe rípio. Dormimos num YPF fantasma, antes da cidade fantasma de Três Lagos. Desertão
mesmo! Não conhecemos a rota 66, mas deve se parecer muito com isso. As bombas de gasolina
funcionam, mas ficam piscando com o vento, acendendo e apagando. Com aquela poeira levantando
em rodamoinhos e só o barulho do vento... Tudo meio medonho. A lua mudou e, com ela, o tempo.
Um tranquinho na Maria pra pegar de manhã e dá-lhe estrada. De El Chaten até Rio Mayo são
aproximadamente 750 km, quase tudo em rípio, às vezes bem alto e com piedras sueltas (quase a
Maria encalha, imagine carros pequenos...). Na maior parte, dá pra desenvolver boa velocidade,
quando o vento não está contra.
Passamos batido pelo Parque Nacional Perito Moreno, que queríamos visitar, mas não há
sinalização alguma... Chegamos a Bajo Caracoles, com seus talvez 50 habitantes e fomos visitar a
Cueva de las Manos e o Vale do Rio Pinturas. Trata-se de um sítio arqueológico com datação
superior a 9.000 anos, onde podem ser observadas pinturas rupestres, a maior parte são negativos
das mãos. Existem também cenas de caça e mais algumas outras coisas, cuja explicação do guia é
muito subjetiva. $5/pessoa. O vale do Rio Pinturas, cravado dentro de um pampa cerrado, em forma
de cânion, se destaca neste desertão!
Dá-lhe rípio de fim de tarde. Pegamos um pedaço da estrada em construção (asfalto novinho), mas
tivemos que voltar, pois, não tinha saída. Nosso grande problema é circular com a Maria no escuro,
pois os faróis, além de estarem com mau contato, estão muito sujos e difíceis de limpar por causa da
grade do pára-choque.
Já com escuro, chegamos à cidade de Perito Moreno, onde tomamos um chá de conversa com Eva,
que com muita boa vontade, descobriu alguém que pudesse gravar um CD com as nossas fotos.
Fredi fuçou a internet e sentou-se à frente do caixa – tudo ali, facinho... Voltamos para o mesmo
cybercafé, onde já nos tinham negado o serviço. Enquanto Ana descarregava as fotos pelo seu
próprio leitor, Fredi mandou um boletim pra galera e o cara do cyber ficou xeretando as fotos.
Aliás, eles têm uma pasta de fotos dos turistas (inclusive pessoais), que eles não apagam. Dá pra
ficar meio cabreiro com isso.
Todas as cidades por aqui funcionam com gerador. A energia, o gás, os combustíveis, tudo é
subsidiado. Existe um conflito forte entre argentinos e chilenos nesta região, pois a fronteira, que
deveria ser demarcada pelas montanhas mais altas da cordilheira, nesta região, avança muito em
direção à Argentina.
Todo o Lago deveria estar na Argentina. Atravessando a fronteira, imediatamente vimos uma mina
de ouro e prata. Os chilenos têm os mesmos problemas da América do Sul; a extração do ouro é
feita em bruto e beneficiada no Japão. Assim, boa parte pode ser sonegada e a parte que agrega mais
valor à etapa, fica fora do país...
Passamos pelo belíssimo e enorme Lago Buenos Aires, no povoado de Los Antigos, região de
plantação de frutas finas como framboesa e cereja. Gastamos uma fortuna em telefone (R$60,00) e
entramos no Chile. Além de todas as formalidades corriqueiras e bem chatas do Chile, desta vez
fomos submetidos ao focinho do detetive Nero, um cão farejador Labrador, encarregado em
encontrar drogas. Pela quantidade de policiais que rodearam nosso carro e pelo tom que o policial
conduzia o cão: “donde está, Nero”? Donde está? Enquanto ele fuçava toda nossa bagagem
espalhada pelo chão, inclusive pisoteava nosso colchão (isso foi o fim da picada!), entrou em baixo
e em cima da capota, da cabine, atrás dos bancos, caixote, enfim... tudo... Eles tinham certeza que
iam pegar alguma coisa e ficaram até frustrados. Ao fim da inspeção, o policial tentou justificar
dizendo que há 15 dias, haviam surpreendido 2 mineiros (brasileiros) com 15 gramas de maconha –
imagine só... Pobres brasileiros devem ter sido presos e multados por causa de um tapinha...
Passamos por Chile Chico e caímos finalmente na famosa Carreteira Austral, que é um “camiño”,
uma rodovia de 2 mãos, porém muito estreita e o pessoal só anda no meio, ou seja, não tem
nenhuma visão de quem vem de frente. Você passa por uns penhascos (pendientes) muito altos e o
pior – tudo em rrrrrrípio, às vezes bueno, às vezes suelto e com costela de vaca. Se precisar pisar
forte no freio, já viu, né?
Escolhemos vir por aqui, porque do lado argentino, não há nada para ser visto até Trevelin (2º o
pessoal dos informes turísticos do Chile...).
Em seu trecho inicial, a estrada foi escavada na rocha bem em frente ao lago. Existem pontos em
que se está a mais de 300 metros de altura e a menos de 30 metros de distância do lago. “Miete
miedo”. Vamos beirando o lago durante uns 80 km até a ponte, onde atravessamos um rio caudaloso
azul turquesa. Já quase escuro (aqui, o fuso mudou de novo), descemos por uma “comunidade” de
pesca à beira do lago, onde tivemos que pagar $ 2.000 (R$10,00) para poder pernoitar na Maria,
com direito a “banheiro de casinha” (natural) – um verdadeiro show de horror... O cara nos largou
sozinhos e subiu a pirambeira.
Noite de cão para Ana, que encanou que o Fredi não tinha engatado a Maria e mais tarde começou a
chover e ventar forte. Podia cair uma árvore em cima da gente, ou podíamos ir parar direto no lago.
Além do que, de manhã, provavelmente não conseguiríamos subir a pirambeira s/ 4x4 com aquela
chuva. E a gente sacou muito pouco dinheiro para atravessar o Chile. E já temos pouca comida,
etc... Nossa!... Cabeça é tudo, cara! Na verdade, hoje não foi um dia legal, pois recebemos uma
notícia muito, muito triste e forte sobre a Kika.
Dom 20/03
Graças a Deus, amanheceu! (super tarde), não fomos arrastados, não caiu a árvore (só na Casa da
Empilhadeira). Tá chovendo e faz frio. Só falta a gente conseguir subir!
Graças a Deus, subimos! Viva os pneuzões novos da Maria!
Mais um pouquinho de lago, mais um montão de rrrrrrípio, com bastante concentração dos dois
tigros. Chegamos à Vila de Monte Castilho, onde tem o Parque Nacional de Monte Castilho, que
queríamos ver, mas o tempo tava péssimo, tudo encoberto e ninguém para informar. Tocamos,
agora, ufa, pelo asfalto até Coihaique.
Frio do cão, fomos a um café para esquentar os pés, tomar um chocolate e comer umas empanadas.
Era o único lugar aberto que tinha informações turísticas. Descobrimos que a Laguna San Rafael
está fora de cogitação para nós. Tem uma embarcação saindo hoje à noite e voltando na 3ª às 6:00h
da manhã. Custa $85.000 p/pessoa e viaja à noite, ou seja, gastaríamos R$850,00 só para ver o
glaciar da Laguna, sem ver os fiordes, pois passaríamos por eles à noite. Inclui alimentação, mas a
dormida é numa poltrona (por duas noites, sem ducha, nem nada). O outro passeio, que é de um dia,
mais confortável, que dá para ver os fiordes e tudo mais, custa $185.000 por pessoa, ou seja,
R$1.850,00 e só sai na 6ª feira (hoje é Domingo...). Então, decidimos tocar, afinal, temos mais duas
semanas para voltar para casa e estamos a mais ou menos 7.000 km far away from home (estamos
na altura de Comodoro Rivadávia). É chão...
Mais um pouquinho de rípio e, acredite! Asfalto! Ruta 7 – ainda na Carreteira Austral, com suas
belas paisagens! Mas, foram só uns 20 km... Voltamos ao rrrrrrípio. A estrada deu uma piorada e o
tempo não estava lá essas coisas. Mas, as paisagens são muito bonitas. De repente, vimos uma
região com muitas, inúmeras árvores meio queimadas e caídas. Pensamos que fosse desmatamento,
mas parece que foi a erupção de um vulcão em 1.991, que alterou drasticamente o meio ambiente
por aqui...
E assim segue a carreteira Austral: altas montanhas, rios e lagos de águas transparentes, muita
vegetação. Já estava ficando bem escuro e, com chuva, pra ajudar. Tivemos sorte de conseguir
passar pela estrada, que estava praticamente fechada para obras em um trecho de 8 km.
Então, seguimos para Puerto Cisnes, que ficava a apenas 32 km e chegaríamos, provavelmente no
começo da noite. Fomos seguindo um cara que provavelmente conhecia a estrada. Chegando na
cidade, a beira de um fiorde (braço de mar) do Pacífico, fomos ver uma cabana bem meia boca.
R$125,00 corta o tesão de qualquer um. Dormimos na Maria, na frente dos Carabinieri - nossa
impressão é que eles querem que a gente fique por lá para eles poderem ficar de olho na gente...
Antes, um chá preto quentinho na Maria.
Seg 23/03
Bah! Que noite bem boa de sono...
Fomos tomar café à beira do Pacífico, observando os criadouros de salmão. Acredite, o quilo aqui,
sai por US$2,50!!!
De volta a estrada, começamos a ver muitas cachoeiras (a Daniela enlouqueceria neste lugar...). De
repente, entramos no Parque Nacional Queoulat, que é cortado pela própria Carreteira Austral! Tava
difícil de andar. A cada 100 metros, uma parada para foto!
Piramos! Nossa! Como valeu ter vindo por aqui! A paisagem paga todo o sufoco do rípio! Altas
montanhas, muuuuuuitas cachoeiras, a perder de vista, uma vegetação muito louca – uma floresta
verde com árvores altas, “folhonhas” – Nalca (aquelas de Ubirici) e milhares de Brincos de
Princesa! Um charme! Tava tudo tão lindo, que a gente foi e voltou no mesmo trecho duas vezes!
Então, a surpresa maior: tem um glaciar com uma cachoeira gigante! É o Ventisqueiro! Na verdade,
o único trecho organizado do parque. Tem uma portaria, onde se paga $1.500 (R$7,00 por pessoa)
para entrar. Tem vários sítios para camping e alguns senderos. O 1° é um mirador (200 metros de
caminhada); decidimos fazer o sendeiro do mirador principal (3.300 m), que passa por uma trilha FA-N-T-Á-S-T-I-C-A – um dos melhores trekkings que já fiz! Praticamente o tempo todo dentro da
floresta, na companhia de nosso amigo Chucao, um passarinho redondo, que fica a meio metro,
esperando qualquer comida.
Quase tropical, a floresta é úmida e rica, cheia de cogumelos, liquens, fungos, flores e “olelas”.
Macro fotografia aqui, é o que há! O Andi demoraria horas para fazer esta trilha... O 1º trecho é um
subidão (para variar...). Depois, anda-se por cima do cume, até chegar o mirador, bem de frente para
o Ventisqueiro, a mais ou menos 1 km de distância. A cachoeira de degelo tem mais ou menos 300
metros de largura e cai num lago que escoa para o rio, que vai para o Pacífico. É lindo! Mesmo sem
sol, que por aqui é muito raro, é um show!
Fomos para Puyuhuapi, onde pernoitamos e jantamos pollito com “loko” – um marisco gigante da
região (só come quem é louco mesmo...), na Pousada Residencial Elizabeth ($5.000/PS = RS$
25/PS).
A cama é daquelas de afundar. O legal é que dá pra dormir bem juntinho, dentro do buraco. O
problema é a coluna torta no dia seguinte...
Ter 22/03
Vamos nessa! Precisamos sair do Chile. Pegamos o final da carreteira Austral, lotada de Brincos de
Princesa e seus “bichões” – as grandes abelhas que dão o maior trampo por aqui.
A última cidade foi Futaleufú, onde nos fartamos de comer salmão no restaurante “Cosina
Americana”. Precisávamos “torrar” os pesos chilenos e o Fredi andou reclamando de fraqueza.
Poderíamos continuar pelo Chile até Chaiten e pegar a balsa para Puerto Mont, o que nos custaria
praticamente RS$500,00. Advinha qual foi a nossa opção?!
De volta à Argentina! Puxa, aqui nos sentimos em casa! Passagem tranqüila pela aduana, chegamos
a Trevelin, onde descarregamos os cartões mais demorados da viagem. Aqui, eles realmente não
estão acostumados a fazer esse tipo de serviço. Descarrega os cartões, passa para outra máquina,
grava o CD, checa a gravação, máquina lenta, internet lenta, e no final, a conferência das fotos foi
na mão, pois a mulher não conseguiu checar as propriedades de cada CD... Nunca tinha visto isso...
Acabamos perdendo o horário de entrada no Parque Nacional Los Alerces (até 21h). Fredi tá meio
esquisito, indeciso, cansado de viajar, querendo voltar, preocupado com o trabalho, já vimos tudo
por aqui... Enfim, o tempo fechou.
Qua 23/03
Acordamos ainda indecisos quanto à volta. Temos 12 dias para subir. Fredi já quer passar meio
batido, não sabe bem por onde. Ana quer ir para a Bolívia, atravessar o salar de Uyuni, como
planejado. Ou, se não der, pelo menos, escalar um vulcão no Chile: Osorno ou Villa Rica em Pucon
(estamos bem perto).
Tocamos para o Parque Los Alerces ($12/ps) e fomos para o Puerto Chucao, onde saem os barcos
para ver os Allerces milenares (2.600 anos, 97m alt, 2,5 m diâmetro) $60/PS. Tempo nublado, barco
cheio, fumantes, indecisão, incompatibilidade de vontades, muito tempo de passeio, R$110,00...
Acabamos não fazendo o passeio. E o tempo fechou e está fechado até agora. E é um saco viajar
assim! A gente perde o tesão de tudo.
Continuamos pelo rípio, (ruim, o pior de todos), não paramos em nenhum mirador do parque,
saímos, passamos batido por Cholila e El Bolson! Esquel nem vimos.
No asfalto, a paisagem vai ficando mais bonita, a caminho de Bariloche. Pena que passamos direto,
pois o clima não estava no fukking good. Melhor pular esta parte...
Qui 24/03
“Começar de novo”...
Pegamos a ruta em direção a Neuken e viramos no sentido de Mendonça.
O objetivo era ver mais um pouco de cordilheira com montanhas nevadas, perto da divisa com o
Chile,
Por causa do feriado da semana santa, tem bastante controle policial nas estradas. O pior é que eles
pedem a “carta verde” – seguro obrigatório contra 3ºs. no MercoSul. O nosso está vencido desde o
dia 22. O jeito é enrolation/embromation. A gente mostra o documento de licenciamento do carro,
que também é verde, eles olham, olham, perguntam “donde viene”, a gente fala do “recorrido asta
Ushuaia”, eles olham de novo, parecem que não acreditam e liberam. Nos postos de controle
sempre tem um monte de gente: guendemarie, camineiros, bromatológicos, etc... Mais curiosidade
do que outra coisa. Depois de Zapala, começamos a entrar na região dos vulcões. Um grande
deserto (aliás, começou após Bariloche). Do lado direito, muitos vulcões e formações geológicas
decorrentes, do lado esquerdo, ao longe, a cordilheira próxima à divisa com o Chile. Tocamos
bastantão; Ana dirigiu pela 2ª vez! Dormimos ao lado do rio Colorado, próximo a Barrancas, na ruta
40; uma das nossas melhores noites. Tempo bom, macarrãozinho da hora, friozinho suficiente,
violão, barulhinho do rio e muita tranqüilidade! É realmente uma delícia poder relaxar e dormir
tranquilamente, sem precisar se preocupar com absolutamente nada! Ana, bêbada, derrubou o chá
quase pronto do Fredi.
Sex 25/03
Continuamos atravessando o deserto, que parece ser muito mais difícil de se viver do que o
Nordeste brasileiro. Vimos apenas umas poucas casinhas de barro, inclusive o telhado e, no meio do
nada, um cara doido “caçando aranhas”...
Fomos almoçar em Malargüe, onde Ana conseguiu cair dentro de um buraco (quero minha mãe),
tipo um grande ralo que deve servir para escoar a neve do inverno... Cacete! Tanta pirambeira, tanto
lugar mais bonito, tinha que ser justo aqui?? Bem na frente dos informes turísticos. O estrago foi
razoável (ainda bem que não quebrou nada)... Acabamos indo parar no Hospital Municipal (não
existe hospital particular por nenhum lugar aqui).
O atendimento é excelente! Rápido, limpo, bem equipado, com direito a curativo e consulta médica.
E tudo de graça! Inclusive as medicações receitadas pelo doutor (caso não tivéssemos condições de
comprar). E sem filas! Igualzinho o HC de S. Paulo... Fomos almoçar num bom restaurante; nos
fartamos com truta e bife de chorizzo – hum!... que delícia!
Depois, seguimos para a famosa Las Leñas, que pensávamos ser no Chile. É aqui mesmo! De volta
às grandes altitudes (chegamos a 2.900 m, 2º o GPS), dormimos no Vale Hermoso, com direito ao
céu mais vermelho que já vimos, ao fim da tarde.
Subimos por uma encosta que já foi geleira por quase 20 km, numa estradinha bem estreita, com
pendientes beeeem altos. Ultrapassar, nem pensar. Veículos em sentido contrário se metem
educadamente no barranco para ceder el passo. Hay que manejar mutcho despacio! Chega-se ao
mirador do vale, que é uma cratera de vulcão imensa, com uma laguna de águas transparentes e um
minguado rio, onde se pesca trutas. Dormimos no camping.
Sáb 26/03
Las Lenãs é um centro de ski com 13 pistas. Hotéis caros e lojinhas de bochicho. Uma pessoa gasta
por volta de $300/dia (100 de hotel, 100 p/ski, 100 para equipamentos e refeições).
Partimos para San Rafael, passando pelo Embalse Nihuil, onde vimos a 1ª hidrelétrica argentina,
(de nossa viagem), na verdade 3, que aproveitam o mesmo rio Atuel. Em 3 hidrelétricas sucessivas,
com desnível de 100 metros cada uma, geram eletricidade para os fornos de uma aciaria
(siderúrgica de aço) e luz e energia para a cidade de San Rafael e região.
Após utilizada para a geração de energia, a água é canalizada para a irrigação das vinícolas e
plantações de oliveiras (azeite), dando de fato energia ao solo, para permitir a existência de uma
cidade de 180.000 habitantes bem no meio do deserto. Muito inteligente!
Além da estiagem, esta região é açoitada por fortes geadas, granizo e neve durante 3 meses do ano.
Mesmo assim, os agricultores transformam esta região numa das maiores vinícolas de Mendonça.
Colonização italiana!
Turisticamente, a região é interessante. Depois do Dique Nihuil, descemos um caracoles e passamos
por dentro do Cañon del Atuel, com paisagens bem diferentes, com formações rochosas multicores,
de curiosas formas. Ao fim, uma grande e bela represa e o Valle Grande, com o rio Atuel, onde a
galera se diverte com esportes náuticos. Vela, windsurfe, pesca, cabalgatas e muito rafting! Tem
camping para todo canto.
No fim da tarde, chegamos a San Rafael. Locutório, comprinhas e camping.
A cidade cheira a vinho. É totalmente quadradinha de 100 x 100. Os lotes também seguem esta
padronização. A irrigação é paga e nosso anfitrião paga para irrigar 5 hectares (100 x 500 m), $100
por ano. Tem direito a 5 horas de água por semana.
Dom 27/03
Fredi fez amigos: Pablo e Alicia, os donos do camping, nos deram regalos: um ramo de oliveira,
pois hoje é Domingo de Páscoa, algumas folhas de erva cidreira para “te” e um delicioso molho de
tomate com azeite de oliva e alho, esterilizado artesanalmente. Hum! Garramos a ruta 40 para
Mendonça, passando ao lado de montanhas nevadas bem altas, por volta de 4.000 metros. A capital
da província surpreende pelo verde. Lentamente, fomos constatando que este milagre da vida se
deve à bênção da água. Todas as ruas têm, em ambas as calçadas, as valas de irrigação. O centro
comercial é bem charmoso, com praças maravilhosas, calçadões peatonais, etc... Cidade grande.
Novamente nos fartamos com um belo bife de chorizzo ao roquefort, com vinho Nuestro Borgoña
da vinícola Bianchi (San Rafael). Depois fomos degustar mais um pouquinho e comprar de regalo
para nostros amigos. Estamos bêbados...
Como se já não tivesse praças o bastante, ¼ do Centro é ocupado por um imenso parque – o San
Martin, onde está instalado Clube Hípico, Tênis Clube, Golf Club, Cidade Universitária, Zoo,
Observatório, Clube de Regatas, etc... E pra completar, um lago artificial tipo Ibirapuera. Mesmo
sendo, a 3ª maior cidade argentina (perde para Buenos Aires e Córdoba), em todos os lugares,
fomos muito bem recebidos e atendidos, para variar.
Ainda um pouco tontos, garramos a ruta 7 para Córdoba, em direção ao Atlântico, nos despedindo
das montanhas e vendo muito mais parreiras do que imaginávamos.
Para adiantar um pouco a viagem, manejamos até as 22:00h e fomos até San Luis, onde dormimos
no posto mais barulhento da viagem.
Seg 28/03
Apesar dos poucos atrativos turísticos que a região oferece, decidimos nos mandar, pois ainda
temos muito chão pela frente. Após o café continental e uma boa conversa com o cara dos informes
turísticos, pegamos a ruta 20, que é um caminho mais curto para Córdoba, passando por lugares
turísticos. Pobre Argentina... Dá dó de ver o estrago que o Menem fez por aqui. Este safado devia
ser preso, torturado e morto. Seus bens deveriam ser caçados e todos os contratos feitos sob sua
gestão deveriam ser revistos. O que estas empresas privatizadas fazem com nossos hermanos latinoamericanos é uma grande exploração (vide por ex, a Telefônica; eles pagam mais de R$1,00 por
minuto, enquanto no Brasil, paga-se R$0,09 o pulso). Por outro lado, as rodovias cobram pedágios
simbólicos, comparado a São Paulo.
Entre San Luis e Córdoba, pegamos as rutas 20 e 148 e passamos por alguns povoados,
aparentemente turísticos, como La Toma, Merlo, Vila de Las Rosas, etc... Mas o tempo tava bem
meia boca e decidimos tocar. De Las Rabonas pra frente, começamos a subir uma serra mais alta
que Campos do Jordão (deve fazer um frio do cão aqui...) Pena que tava tudo encoberto. Muita
neblina e muita pedra. Pelo visto, vamos nos despedir das montanhas, por aqui. Saindo das nuvens,
dá pra ver que é um chapadão só, a perder de vista.
Passamos por um observatório que estava fechado e chegamos a Córdoba.
Assim como no Brasil, cada estado e cidade tem suas características próprias. Córdoba é o pólo
industrial argentino. Ubicada entre a várzea a 400 m de altura e uma serra de rochas de granito com
2.200 m, é uma região fértil. A cidade tem semelhanças às outras, como os mesmos nomes de ruas e
avenidas, Pça de Espanha, a estátua do Libertador San Martim e uma grande área verde, junto à
famosa Universidade de Córdoba. Cidade grande com problemas de cidade grande. As indústrias
estão instaladas junto ao rodoanel, em volta da cidade e, segundo o dono do supermercado Horácio
(amigo do Fredi), também não estão em sua melhor fase. Na entrada de Córdoba, um pequeno chalé
indica a residência oficial da Defunta Correia. Abaixo da árvore seguinte, seu companheiro
Gauchito A. Gil. Dormimos em Rio Primeiro, em um camping bem caidaço, pero com muitas
árvores, cachorrinhos e gatinhos que fizeram a nossa alegria por algum tempo. Lentamente, estamos
constatando que a Maria não foi projetada para dormir em postos ou na cidade. Vale à pena pagar
R$10,00 e ter um mínimo de estrutura: banheiro, ducha (nem sempre aquelas coisas), luz, mesas
para juntar, tomadas para carregar as baterias da câmera, segurança, silêncio e muita tranqüilidade.
É bem legal diminuir o ritmo da viagem é poder curtir um pouquinho essas coisas também.
Ter 29/03
Ontem, pensamos que não íamos mais pegar frio, empacotamos os cobertores. No meio da noite, o
ventinho, que parecia chuva, deu aquela refrescada.
Hoje, uma chuvinha fraca, tempo bem encoberto, pé na estrada! Pelas nossas contas, se pegarmos o
caminho mais curto (que provavelmente não será o caso) estamos a 2.200 km de casa. É mais do
que S. Paulo - Aracajú (SE) – 2.168 km...
Passamos pela 4ª cidade (em importância) da Argentina: Santa Fé. Uma cidade antiga, feia, mal
cuidada, poluída e grande. Já deva ter sido bem próspera, no tempo em que os navios eram menores
e entravam até esta cidade pelo rio Paraná.
Hoje, todas as instalações portuárias estão largadas e obsoletas, restando para a cidade, as atividades
de comércio e administração da Província.
De modo geral, a cidade está muito aquém de nossas expectativas. Para atravessar o saudoso rio
Paraná, bem espalhado por aqui, que já vimos beeem largo lá em S. Paulo x Mato Grosso/Brasil,
são 5 pontes, sendo 3 delas bem extensas e por fim, um túnel com c/ 2,6 Km. O pedágio foi caro
($8) porque temos mais de 2,10 m de altura. Se a Maria fosse mais baixa, seria apenas $ 2.
Do outro lado, a cidade do Paraná está mais bonita, limpa e arborizada. Porém, morta, pois
chegamos as 13:00h. Eles levam muito a sério a hora do almoço, digo, 4h de almoço. O comércio
funciona das 8:00h às 12:30h e das 16:00h às 20:30h. Algumas lojas vão até as 23:00h ou 01:00h,
no caso dos cybercafés.
Estamos à procura de um bom restaurante para nos despedir da Argentina em grande estilo com,
cllllaaaaaaro... um belo bife de chorizzo... Tocamos pela ruta 12, depois a 127 em direção a Passos
de Los Libres, divisa com o Brasil (Uruguaiana). Que droga... Tá ficando cada vez mais perto. Já
começamos a ver placas de Passos de Los Libres (já vimos até uma de S. Paulo...) e vários
caminhões com placa do Brasil. Agora, estamos a menos de 400 km de nosso país... /
Dormimos num camping alagado em Federal, com direito a arroz com muito hongo, vinho no
colchão, violão e a maior sapaiada da viagem!
Qua 30/03
Estávamos indo bem... 10.000 de Argentina, 14.000 km de viagem total até aqui e, chegando perto
de nosso querido país, a menos de 150 km do Brasil, os filhos da puta dos policiais camineiros
argentinos tinham que nos parar para fazer uma graninha... Fomos multados em $ 27,62 (a multa
mais barata, porque antes era $50 e tralalá), pois um de nossos faróis não funciona. Arrecadação
para a pobre Província de Entre Rios – com certeza, a quem menos gostamos na Argentina...
Que pena! Por tudo o que já rodamos, passamos e vimos, achamos que isso jamais aconteceria –
não na Argentina... Estávamos até elogiando a todos com quem conversávamos que, é uma delícia
viajar por aqui. É bonito, as pessoas são educadas, é seguro; os turistas são muito bem tratados,
inclusive e principalmente pelos policiais, que até então eram apenas curiosos ou orientadores,
amigos... hermanos... Parece ser uma “troca de gentilezas” de irmãos. Os caras vêem como se faz
no Brasil, tomam as ferradas da Polícia Rodoviária e dão o troco nos brasileiros – nada mais justo...
Nossa! E como passa caminhão brasileiro por aqui! É só o que tem; em cada 10, 8 são brasileiros.
Provavelmente, mais de 1.000 por dia, todos os dias. É o escoamento da produção brasileira
exportada para o Chile (essa é a rota mais curta para Santiago). E quantos caminhões novos zero
km, sem placas!
Antes de sairmos da Argentina, fomos encher tanque e galão extra de combustível. Aqui, além de a
qualidade do diesel ser muito superior, mais pura e não matizada, aparentemente enriquecida com
querosene, (pelo cheiro e pela cor), é mais barata que no Brasil, principalmente no RS, longe das
refinarias. Pagamos R$1,39, o litro. O dono do posto racha de ganhar dinheiro aqui.
Paso de Los Libres, aparentemente zona franca, é uma cidade feia e pobre. Já tem um monte de
desocupados parados na rua, te olhando meio estranho. Precisamos ficar espertos, pois nesta
fronteira é que se escondem os “sangue ruim” de lá, e na fronteira de lá, os “sangue ruim” daqui...
Na aduana, de cara, um moleque quase malandro, falando que aqui se risca carro e temos que lhe
dar la plata. Além de uma cara cheio de indicações e conduções, pedindo la colaboracion... Que
saco! Pronto! Entramos no Brasil, claaaro, ao som de Daniela Mercury “Pais Tropical”.
Uruguaiana, do outro lado do rio Iguaçu, já é um contraste forte. Ao parar para pedir informação
sobre o caminho, é até estranho ouvir dois brasileiros falando português...
Lamentavelmente, a rodovia é bem esburacada... Estamos a caminho das missões jesuíticas, pela
BR 472, entre os grandes arrozais.
Paradinha em S. Borja para ligar a cobrar para o Brasil. Aliás, aqui tem sinal da Tim! Vai
começando a dar uma vontadezinha de chegar em casa...
Essa não é uma rota turística; viemos por aqui exatamente para conhecer este outro lado do Rio
Grande do Sul. Segundo informações, todas as missões que haviam nesta região foram destruídas.
Não sabemos muito da história, que sempre é contada por quem domina, não por quem é dominado.
Mas parece que os portugueses expulsaram os padres espanhóis e italianos que tentavam colonizar
esta região, destruindo as missões. A única que sobrou inteira, foi a de São Miguel das Missões, na
verdade, ruínas preservadas.
Fredi esteve aqui há uns 30 anos atrás, com seu pai, sua mãe e seu primo Carlos. Claro que
aproveitamos para fazer a mesma foto, ao lado do sino, com o Fredi um bocado maior.
Está tudo organizado com portaria (R$5/PS), museu missionário, sacristia com maquete e vídeo e a
visita ao sítio arqueológico. À noite, uma apresentação com som e luzes, que conta a triste e
vergonhosa história das missões e a dizimação indígena dos 30.000 guaranis que eram os donos
dessas terras... Pelo tratado de Tordesilhas, a região que hoje compreende o Uruguai, deveria
pertencer a Portugal.
Assim, apenas uma estreita faixa caberia a Portugal e o interior espanhol. Nesta região, instalaramse povoamentos sob orientação dos jesuítas. Construíam igrejas, escolas, enfim, cidades. No início
de 1.700, Portugal e Espanha resolveram trocar a região de Colônia de Sacramento - Uruguai pela
região ocupada pelas Missões, obrigando os jesuítas a conduzirem os índios para o outro lado do rio
Uruguai, largando para trás suas terras e tudo o que haviam construído. Foi dado o prazo de um ano
e seis dias. Diante da óbvia recusa dos índios, iniciou-se um massacre sangrento pelo extermínio e
captura dos índios – os que sobreviveram eram vendidos como escravos para os fazendeiros do
litoral. É muito, muito triste.
Qui 31/03
Visitamos a réplica de uma igreja missionária ativa em Sto. Ângelo e partimos rumo a Vacaria. Em
Passo Fundo, fomos, 2º o guarda da base comunitária, na melhor churrascaria da cidade, o Grill
Hall Panorâmico (R$17,50/PS), afinal queríamos saborear um espeto corrido gaúcho. Concluímos
que o melhor lugar pra se comer ainda é, de longe, S. Paulo.
Pegamos a RS 135 até Erechim, no trecho de divisa RS x SC, atravessamos o rio Pelotas, bem
bonito. Em seguida, a BR 153 ou Transbrasiliana ou Rodovia do Xisto, depois, a BR 476 para
atravessar S. Catarina, rumo a Curitiba. Achamos que este seria, provavelmente o caminho mais
perto. Só que demos azar de pegar chuva, neblina e muitos caminhões em pistas simples.
Em Erechim, tem umas termas, mas já estamos em ritmo de “quero chegar logo em casa”, então
tocamos até ficar escuro, num posto pra frente de Campina da Alegria /SC. Um banho maravilhoso
no posto BR e, finalmente, o Jornal Nacional. Nossa... Fazia tempo... Tem até novela nova na
Globo. A última vez que assistimos TV (e não foi o Jornal Nacional), foi em Buenos Aires... Com
um caminhoneiro (amigo do Fredi), descobrimos que, além da ponte da represa de Curitiba, caiu
outra na BR 116, a 90 km de S. Paulo e tá dando o maior trânsito. Talvez, tenhamos que pegar uma
rota alternativa.
Sex 01/04
Acordamos com desejo de pão c/manteiga na chapa e vitamina de abacate – que saudade... Mas, por
aqui, o máximo que conseguimos foi um queijo quente.
Entramos no Paraná. Que estradinha bem ruim (saudades da Argentina). Uma lenga-lenga de
buracos e uma procissão interminável de caminhões na pista única faz nossa média de velocidade
cair para 30 Km/h. E ainda tem que se pagar um pedágio de R$3,60 por esse lixo de rodovia...
Finalmente, chegamos à duplicação e, logo depois, Curitiba. Puxa, estamos cada vez mais perto.
Resolvemos fazer uma boquinha na churrascaria bem na frente do portal de S. José dos Pinhais, na
Av. das Torres. Comemos bem, por R$ 8,00/PS.
Às 14:30h, caímos na 116, “estamos indo de volta para casa...”.
No caminho, algumas reflexões sobre a viagem. A dizimação dos povos indígenas brasileiros foi tão
intensa a ponto de se fazer necessário convidar imigrantes de todo o mundo para fazer parte do
Brasil, para ocupar o território. Enquanto que na Argentina, aparentemente, o convívio dos
espanhóis com os indígenas foi mais ameno, talvez. Ainda tem bastante índio por lá.
Concluímos que para o roteiro que prevíamos, incluindo Atacama e Salar de Uyuni na Bolívia,
precisaríamos de mais um mês, pois as distâncias são muito longas, os trechos do Pacífico são
difíceis, tortuosos, com muito vento lateral e frontal (principalmente, para baixo de Comodoro
Rivadávia) e muito rípio. Dos 15.700 km totais da viagem, calculamos mais de 2.500 km em rípio
por vezes, bem ruim, com costela de vaca e buraqueira.
A Maria resistiu bravamente, pois só precisamos colocar combustível, uma troca de óleo e um
“trago” de óleo, de tempos em tempos.
Vimos muitas coisas especiais; as que mais marcaram foram: Os girassóis, o luxo de Punta D’El
Este, a modernidade de Buenos Aires, nossos amigos bichos da Península Valdes, incluindo a
especial revoada de flamingos na Ilha dos Pássaros, os bosques petrificados, as crateras de vulcão, o
Parque Monte Leon, os rios límpidos que cruzam as desertas estepes, Ushuaia – o fim do mundo e
parque de La Pataia, a centolha (King Crab) de Puerto Natales, Torres Del Paine, os glaciares,
Perito Moreno, Fitz Roy em El Chaten, a carreteira austral a partir de Chile Chico até Futaleufu no
Chile, pela cordilheira, depois o desertão vulcânico entre as províncias de Neuquen e Mendonza, os
deliciosos vinhos e bifes de chorizzo argentinos em Mendonza e finalmente, a missão de S. Miguel,
no Rio Grande do Sul.
Fora isso, dormir confortavelmente na Maria (MARIA = LIBERDADE), nos lugares gostosos, onde
queríamos, quando queríamos, com tranqüilidade e segurança, cozinhando nossa própria comida,
regada a vinho bom e barato, com friozinho suficiente para dormir abraçado. Isso tudo foi muito
bom!
Fredi queria ter descansado mais. Ana queria ter feito o roteiro completo até a Bolívia.
Foram, ao todo, 15.700 km, em 42 dias (seis semanas). Gastamos R$8.000.00. (R$188,26/dia p/2)
(R$94,13/dia/PS). 374 km/dia.
Obs.: A Regis Bittencourt é uma grande merda!!! Único trânsito de toda a viagem...

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