fisiologia - Faculdade Montenegro

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fisiologia - Faculdade Montenegro
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
Internacional
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Esporte e Atividade Física
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Encontro
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Correlação
entre
no Ipulley
frontal e flexões na barra fixa
• Exercício aeróbico e prevenção de quedas
em idosos
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Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
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Telefone: (011) 2714-5678
skype: instituto.phorte.educacao
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Certificado para Curso
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85 Cursos
ISSN 16778510
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São Paulo
VII
d e
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23/07 à 01/08/2010
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v o l u m e 0 9 - n ú m e r o 0 1 • Jan/Mar 2010
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Força muscular e teste de esforço
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Treinamento
muscular
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Alongamento e desempenho da força
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EXERCÍCIO
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Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
fornecimento de conteúdo, do desenvolvimento e atualização
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missão oferecer saúde e bem-estar à sociedade através do
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REALIZAÇÃO
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EXERCÍCIO
v o l u m e 0 9 - nú m e r o 03 • J u l/S e t 2010
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EXERCÍCIO
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ESPORTE
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NUTRIÇÃO
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FISIOLOGIA
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• Intensidade auto selecionada, percepção subjetiva de esforço e tempo sob tensão
• Influência de diferentes cadências e intensidades de exercício
• Diferença de rendimento entre meninos e meninas handebolistas
CARDIOLOGIA
• Treinamento elíptico em hemiparéticos
• Exercício e fator de risco cardiovascular
EXPERIMENTAL
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ESTERÓIDES
• Mecanismos de funcionamento e efeitos colaterais
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FISIOLOGIA
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EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 9 número 1 - janeiro/março 2010
EDITORIAL
Perspectivas 2010, Walace Monteiro .....................................................................................................................................3
ARTIGOS ORIGINAIS
Estudo sobre lesões em profissionais de ballet clássico e contemporâneo em Belo
Horizonte/MG, Juliana Santos Anselmo, Adelina Lima Rocha, Elisangela Macedo Rufino,
Jediane Souza Julio, Luciana Gobira Brandão Justus, Marina Faria de Melo Valladão,
Roxane Rafaela Macedo dos Santos, Vanderléia Maria de Faria, Vanessa Cristiane Almeida
Rodrigues, Zilernice Ramires Guimarães Brito, Marcus Vinicius de Mello Pinto ....................................................................4
Avaliação do estado nutricional e satisfação da imagem corporal de jovens atletas
integrantes da equipe competitiva de ginástica rítmica de um clube de São Paulo,
Vanessa Quitto Rinaldi, Gabriela de Andrade Moreira Bucheb, Renata Furlan Viebig ..........................................................10
Comparação da autonomia funcional de idosos praticantes e não praticantes de treinamento
combinado, Raphael Gouveia da Silva Lyra, Leandro Ramiro, Paulo Cesar Nunes-Junior,
Sebastião David Santos-Filho ...............................................................................................................................................16
Efeito do exercício aeróbico na incidência de quedas em idosos com problemas de saúde,
Josenei Braga dos Santos, Geórgia Maria F. Benetti, André Junqueira Xavier Eleonora d’Orsi ..............................................24
Correlação entre repetições no pulley frontal e flexões na barra fixa, Jaime Flôres
de Araujo Bastos, Antonio Coppi Navarro, Francisco Navarro..............................................................................................29
Avaliação antropométrica em idosos praticantes de hidroginástica, Danielle Salles Tortola,
Mariane Takesian, Karla Dias Tomazella, Marina Yazigi Solis, Jaqueline Kremer Pereira,
Marina Gomes da Costa Fuchs, Monica Milani, Priscila Anacleto de Oliveira, Clara Korukian Freiberg ..............................34
Comparação do VO2 acumulado durante o exercício contínuo e intermitente
na máxima fase estável de lactato sanguíneo, Luis Fabiano Barbosa, Camila Coelho
Greco, Benedito Sérgio Denadai .................................................................................................................................. 39
REVISÕES
Possíveis mecanismos neurofisiológicos mediadores da educação cruzada, Daniel Teixeira Belloni,
Alessandro Carielo de Albuquerque, Bianca K. de Macedo Jakubovic, Júlio Cesar Correa Neto Carias,
Vernon Furtado da Silva .......................................................................................................................................................45
Bases metabólicas do crescimento muscular, Rodrigo Minoru Manda, Nailza Maestá,
Roberto Carlos Burini ..........................................................................................................................................................52
COMUNICAÇÃO BREVE
A influência da caminhada versus exercícios convencionais sobre a dor e qualidade de vida
em mulheres com fibromialgia: um ensaio simples-cego, Izabel Cristina Camargo dos Santos,
Mariana Conceição Farias de Moraes, Bruna Piergentile, Karin Lima dos Reis de Burgo, Fábio Marcon Alfieri ....................59
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................... 62
EVENTOS ................................................................................................................................................................. 64
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
2
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Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro
Conselho Editorial
Luiz Fernando Kruel (RS)
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Martim Bottaro (DF)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Robert Robergs (EUA)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Rosane Rosendo (SC)
Douglas S. Brooks (EUA)
Sebastião Gobbi (SP)
Emerson Silami Garcia (MG)
Steven Fleck (EUA)
Francisco Martins (PB)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Francisco Navarro (SP)
Vilmar Baldissera (SP)
Luiz Carnevali (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora
e Shalon Representações
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Centro 01037-010 São Paulo SP
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Editor executivo
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Assistente de vendas – Atendimento
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Direção de arte
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estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
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Editorial
Perspectivas 2010
Prof. Dr. Walace Monteiro, Editor Associado – RBFEx
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx)
completa em 2010 o segundo ano com periodicidade trimestral. Através da ampliação das áreas temáticas, houve um
aumento da submissão de artigos, concorrendo também para
uma melhora na qualidade dos trabalhos encaminhados. A
figura do Editor de Área contribuiu para agilizar consideravelmente o processo de avaliação dos manuscritos. Outro
aspecto a se destacar diz respeito às mudanças na proporção
entre trabalhos originais e de revisão. Conseguimos aumentar
a quantidade relativa de artigos originais, que hoje respondem por 80% dos trabalhos publicados. Em cada número, a
RBFEx conta com ao menos 10 artigos, dos quais 8 a 9 são
originais. Isso revela o aumento do interesse dos pesquisadores em publicar os resultados dos seus estudos no periódico.
Pesquisadores de várias áreas do conhecimento relacionadas às ciências do exercício estão apoiando a revista, através
do encaminhamento dos seus trabalhos. Grande parte dos
estudos que publicamos hoje é decorrente de pesquisas realizadas em cursos de pós-graduação stricto-sensu, provenientes
de diferentes áreas, irmanadas pelo interesse comum na fisiologia do exercício. Também se percebe que o interesse na
revista, antes eminentemente concentrado em pesquisadores
do eixo Rio-São Paulo, começa a se diversificar, abrangendo
outros estados do país.
O aumento do número de artigos publicados e dos pesquisadores interessados em divulgar seus estudos na RBFEX
representa um passo importante para uma melhor indexação
do periódico, credenciando-se assim a fomentos por parte dos
órgãos de fomento em pesquisa e tornando-se prioritário no
contexto de um sistema que dá pontos aos pesquisadores com
base na indexação das revistas em que publica.
Aumentar a qualidade e o número de trabalhos publicados,
bem como manter a periodicidade da revista são passos fundamentais para alcançar esse objetivo. Para isso, convidamos os
interessados em fisiologia do exercício a encaminharem seus
trabalhos à RBFEx. Temos a certeza de que, com o apoio de todos, conseguiremos levar a revista ao patamar que ela merece.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
4
Artigo original
Estudo sobre lesões em profissionais de ballet clássico
e contemporâneo em Belo Horizonte/MG
Study of injuries in professional dancers of classical and contemporary
ballet in Belo Horizonte/MG
Juliana Santos Anselmo*, Adelina Lima Rocha*, Elisangela Macedo Rufino*, Jediane Souza Julio*, Luciana Gobira Brandão
Justus*, Marina Faria de Melo Valladão*, Roxane Rafaela Macedo dos Santos*, Vanderléia Maria de Faria*,
Vanessa Cristiane Almeida Rodrigues*, Zilernice Ramires Guimarães Brito*, Marcus Vinicius de Mello Pinto**
*Mestrandas do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação, pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC/MG,
**Professor e Pesquisador do Mestrado em Ciências da Reabilitação, do Centro Universitário de Caratinga – UNEC/MG
Resumo
Abstract
Este estudo teve o objetivo de identificar as lesões sofridas por
profissionais de ballet clássico e contemporâneo, comparar estas com
estudos similares e analisar os aspectos característicos de atletas nestes
profissionais. A amostra pesquisada contou com 21 indivíduos, entre
homens e mulheres, profissionais de ballet clássico e componentes
de uma companhia de dança contemporânea de Belo Horizonte/
MG. Os resultados mostraram que os bailarinos praticam ballet,
em média, há 18 anos, e que 84,20% sofreram uma ou mais lesões
ao longo de sua vida profissional. Destes, 63,45% de lesões em
membros inferiores e 36,55% de membros superiores. O tempo de
licença para 68,75% destas lesões foi de no máximo três meses. Estudos realizados com diferentes populações encontraram resultados
semelhantes. Recomenda-se um estudo mais aprofundado sobre as
possibilidades de se realizar um treinamento desportivo próprio para
bailarinos que objetive trazer benefícios aos bailarinos e às companhias, dispensando aos mesmos cuidados de atletas, além de artistas.
This study aimed to identify the injuries suffered by professional dancers of classical and contemporary ballet, to compare with
similar studies and analyze characteristic aspects of athletes in these
professionals. The sample included 21 individuals, both men and
women, professional ballet dancers and members of a contemporary
dance company of Belo Horizonte/MG. The results showed that
ballet dancers have been practicing ballet for 18 years, and that
84.20% suffered one or more injuries along their professional life.
63.45% had upper limb injuries and 36.55% lower limb injuries.
Duration of treatment of 68% of injuries was not longer than 3
months. Other studies with a different population have shown
similar results. We recommend further detailed studies about the
possibilities of creating a special sport training program for ballet
dancers that brings benefits for dancers and companies, giving them
treatment and care of athletes, as well as artists.
Key-words: injuries, ballet, dancers, athletes.
Palavras-chave: lesões, ballet, bailarinos, atletas.
Endereço para correspondência: Juliana Santos Anselmo, Rua Doutor Maninho, 326, Bloco A - 3º andar, Centro, 35300-019
Caratinga MG, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Introdução
Sabe-se que a base da dança é o movimento. Bambirra [1]
explicita que o movimento é o elemento principal da dança,
aquele o qual se busca sempre trabalhar, lapidar e aperfeiçoar.
Contudo, o movimento em si, segundo Leal [2] reside como
necessidade do ser humano desde os primórdios da evolução.
Quando o movimento se une a música, tem-se a dança.
E ainda, “a dança nasceu com a própria humanidade” [1].
Com a descoberta do som e do ritmo, o homem os juntou
aos seus gestos e movimentos, passando a dançar. Lagoas [3]
completa dizendo que a mais antiga das artes criada pelo
homem é a dança. Ele dançava instintivamente em várias
das manifestações de sua vida. Guimarães & Simas [4] ainda
relatam que a dança é uma necessidade natural e instintiva
do homem de exaurir seu estado latente.
O homem e a dança evoluíram, segundo Verderi [5], ao
longo da história, juntos nas emoções, nas formas e expressão
e nos movimentos. Para Nanni [6] este progresso da dança
não é aleatório, ele obedece a padrões sociais e econômicos
ou nasce da necessidade do homem de expressar suas emoções
e sentimentos.
O ballet clássico surgiu destas transformações e adaptações
culturais da dança. Lagoas [3] diz que o ballet clássico é o
desenvolvimento e a transformação desta dança primitiva.
Complementando, a autora ainda afirma ser o ballet clássico
uma dança que não se baseia mais no instinto, e sim em passos
diferentes, com ligações, com gestos e figuras previamente
elaboradas. Até os dias atuais, o ballet clássico é dançado
dentro da técnica desenvolvida há séculos atrás. De acordo
com Malanga apud Guimarães & Simas [4], certos princípios
da técnica clássica devem sempre ser mantidos em todos os
movimentos. Seguindo a mesma ideia, Picon et al. [7] dizem
que o ballet clássico vem exigindo de seus praticantes, no
decorrer de sua evolução, desempenhos cada vez mais complexos, sempre com a finalidade de manter a sua tradição e o
grau de dificuldade técnica desta arte.
A dança clássica, consolidada e popularizada em meados
do século XVII, ganhou novos rumos com o Renascentismo, através da incorporação de novos elementos extraídos
da arte popular, mesmo com a continuidade das severas
divisões sociais entre camponeses e nobres [8]. Anos mais
tarde, com o movimento Impressionista, surgem correntes
contrárias àquelas que durante décadas sustentaram o ballet
clássico.
A dança moderna surge neste contexto, no final do século XIX, em oposição à rigidez do ballet clássico e em busca
da valorização do movimento natural do corpo. Caminada
[9] aponta a principal precursora deste movimento, Marta
Graham, que juntamente com outros ícones da dança moderna, foram responsáveis pela modificação drástica dos padrões
clássicos de dança, eliminando inclusive as sapatilhas de ponta.
Por sua vez, a dança contemporânea que muito se confunde com moderna, busca uma ruptura total com o ballet
5
clássico, podendo inclusive abandonar a estética em virtude
da expressão e transmissão de ideias e sentimentos. Com
raízes oriundas da dança moderna de Martha Graham, o
ballet contemporâneo surgiu na década de 60, mas somente começou a se definir desenvolvendo uma linguagem
própria na década de 80, embora contraditoriamente,
faça muitas referências ao ballet clássico. É importante
frisar, contudo, que a dança contemporânea não possui
uma técnica única estabelecida. A criação coreográfica dá
liberdade ao bailarino ou coreógrafo de criar aquilo que
bem entender.
Atualmente, o ballet clássico é a base para a formação
de todos os bailarinos profissionais. Mesmo aqueles que se
dedicam exclusivamente à dança contemporânea precisam
possuir técnica apurada também em dança clássica.
A técnica do ballet, apesar de rigorosa e tradicional, pode
ser ensinada de diversas formas, que se diferenciam pelos
métodos de cada escola clássica, dentre elas a Francesa, Inglesa, Italiana, Russa, Cubana e Americana. Estes métodos
foram criados e aperfeiçoados, e segundo Bambirra [1] eles
têm características próprias que não podem deixar de ser
reconhecidas.
A autora ainda enfatiza que dentro desta variedade de
métodos existem regras e cuidados necessários e imprescindíveis. É importante que o professor conheça a biotipologia
física daquelas que, com ele pratiquem o ballet clássico, para
que possa empregar o melhor de cada método às bailarinas.
Guimarães & Simas [4] mostram ser de extrema importância
que a técnica do ballet clássico seja inserida no momento
apropriado, evitando-se a aplicação da técnica pura. Complementando esta ideia, Sampaio [10] indica, como sendo
um dos principais protagonistas da incidência de lesões nos
bailarinos clássicos, a aplicação de um método de ensino
incompatível com as condições musculares do aluno.
Guimarães & Simas [4] dizem ser característico do ballet
clássico o excesso de repetitividade de movimentos. A repetição da coreografia, ou de determinada parte da mesma, é
um erro frequente entre as bailarinas.
Devido aos períodos de longos ensaios e espetáculos, seguidos de curtas etapas de recuperação, é constante perceber
entre os bailarinos a exaustão, descrita por Koutedakis [11]
como burnout,ou overtraining que é uma condição clínica extremamente complexa e de causa indeterminada com sintomas
que variam de pessoa para pessoa, dentre eles a redução da
performance física, fadigas constantes e prolongadas, assim
como diversas alterações emocionais.
Objetivo
Identificar as lesões sofridas por profissionais de ballet
clássico e contemporâneo de Belo Horizonte/MG, comparando com estudos similares realizados com outras amostras,
buscando aspectos predominantes de artistas ou atletas nestes
profissionais.
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Material e métodos
Para fundamentar a pesquisa e possibilitar a análise dos
dados coletados utilizou-se uma revisão bibliográfica de autores e trabalhos que possuíssem estreita relação com o tema
investigado. A pesquisa qualitativa contou com tratamento
de dados estatísticos como forma complementar de análise.
A parte de campo foi realizada com a companhia de dança
contemporânea “Grupo Corpo”, sediada em Belo Horizonte,
Minas Gerais. Companhia esta que, apesar de ter sua identidade própria de ballet contemporâneo, possui como integrantes
bailarinos com base de dança clássica.
De toda a população de bailarinos desta companhia, 21
indivíduos entre homens e mulheres, estiveram presentes na
amostra da pesquisa apenas aqueles que estavam atuando
pela companhia. Foram excluídos, portanto, os bailarinos
que se encontravam afastados por motivos quaisquer. Os
entrevistados deveriam ser profissionais contratados pelo
“Grupo Corpo”, devidamente capacitados para exercer a
função de bailarinos.
Esta entrevista foi feita sob forma de questionário, o qual
se apresentou dividido em domínios, onde constaram: tempo
de profissão e prática em dança (pregresso e atual), histórico
de lesões (pregresso e atual) e o tempo de recuperação das
mesmas.
Resultados e discussão
Bailarinos são artistas que utilizam o corpo para expressar
sua arte e possuem características de verdadeiros atletas. O
ballet deve ser visto como um movimento no mundo da
arte, porém através de uma prática complexa e extremamente
técnica, exigindo do bailarino um desempenho de atleta [4].
O que percebemos ao mergulharmos no mundo da dança, entretanto, é que os bailarinos, mesmo sabendo de suas
próprias características físicas, ainda têm uma percepção artística predominante de sua profissão. Entretanto, assim como
atletas, os bailarinos se arriscam a sofrer lesões a todo tempo
justamente devido às exigências técnicas da dança clássica, e
sabe-se que vários tipos de lesões são típicos e frequentes nos
praticantes do ballet.
“As elevadas amplitudes articulares dos quadris e joelho, e a
repetitividade desses movimentos podem estar desequilibrando
grupos musculares, alterando, assim, a biomecânica do corpo
e comprometendo a função, refletindo na estrutura corporal,
podendo aumentar a predisposição a lesões características em
bailarinos clássicos [4]”.
Brinck & Nery [12] dizem que os bailarinos mais bem
preparados fisicamente, capacitados a suportar a máxima
solicitação de tendões, ligamentos e músculos, poderão ter
incrível melhora em sua performance. Peculiaridades que
fazem parte da preparação de um atleta.
Mesmo que existam diferenças entre os diversos tipos de
dança que utilizam o ballet clássico como base técnica, diferenças também entre estas e os desportos em si, existem inúmeras semelhanças entre o esporte e a performance artística da
dança. Koutedakis & Jamurtas [13] descrevem a dança como
um fenômeno complexo que depende de vários elementos
que, direta ou e indiretamente, têm seus efeitos específicos.
Os autores apontam que em nível profissional os bailarinos
além de possuir excelente técnica e estética artística, devem
estar psicologicamente preparados para lidar com situações
de stress, evitar ao máximo as lesões, e buscar sempre estar
em sua perfeita forma física.
A prática do ballet pode ser vista como um trabalho
muito desgastante para a musculatura em geral e partindo
deste pressuposto, o treinamento de força é peça fundamental
para bailarinos. De acordo com Brinck & Nery [12] é grande
o grau de benefício que um programa de treinamento de
potência muscular pode transferir para o desempenho de
um atleta. Apenas dançar não é o suficiente, o bailarino deve
superar seus limites técnicos e físicos adotando a prática da
preparação física diária no seu ensaio técnico, tanto para
melhorar sua performance, quanto para aliviar e prevenir
suas possíveis lesões.
Além de ser uma atividade física intensa como qualquer
outra, o ballet exige de seus praticantes ampla e complexa
movimentação, quase sempre com posições antianatômicas,
além de um enorme número de repetições de um mesmo
movimento. Estas repetições não se esgotam nem mesmo
com a fadiga muscular, pois os bailarinos se mostram sempre
determinados a atingir a perfeição. Segundo Sampaio [10], o
bailarino precisa reconhecer suas virtudes e também os seus
pontos frágeis, seus limites, para que possam ser trabalhados
e superados, ou até mesmo para que se possa viver em harmonia com eles.
Em suas pesquisas, os autores Picon et al. [7] mostram que
existem inúmeros estudos acerca de lesões típicas decorrentes
do ballet, e que mesmo assim as fortes tradições da prática são
mantidas, assim como os paradigmas contidos nesta arte. Ao
contrário, no âmbito esportivo, a ciência se mostra, cada vez
mais, uma grande aliada na busca por tecnologias de vestuário
e treinamento, sempre buscando melhorar a performance dos
praticantes e garantir sua integridade física.
Barcellos & Imbiriba [14] afirmam que no uso da sapatilha
de ponta, os pés não devem ser comprimidos, preservando o
posicionamento dos dedos entre si, mantendo sua estrutura
anatômica, o que possibilita a elevação en pointé, formando
uma continuidade dos pés, pernas, tronco e cabeça. Caso
contrário pode haver um comprometimento dos músculos e
ligamentos envolvidos.
Segundo Antunes [15], a desinformação sobre o próprio
corpo, suas virtudes, capacidades e exigências, aumenta o
número de lesões, uma vez que muitos professores se mostram despreparados para orientar seus alunos em questões
anatômicas, cinesiológicas e fisiológicas, que estão diretamente
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relacionadas ao rendimento técnico, dando o máximo de
segurança. Complementando esta ideia Sampaio [10] diz:
“Hoje (e cada vez mais no futuro) temos que estar preparados
para lidar com o corpo alheio. Não podemos ficar presos apenas
a banalidades estéticas (...). Temos responsabilidades sobre as
pessoas que muitas vezes chegam as nossas mãos ainda criança,
tendo todo o seu desenvolvimento anatômico por acontecer.”
Por trabalhar com seres humanos envolvidos em uma prática tão complexa como a dança, os professores e profissionais
da área de saúde devem estar atentos à especificidade de cada
bailarino, sua estrutura corporal, suas habilidades para o ballet
e seu limite de treinamento. Bambirra [1] diz que a didática
massificada para o ensino do ballet tira a individualidade do
bailarino. O professor tem que saber tirar do aluno o que ele tem
para dar, contribuindo para o seu desenvolvimento saudável.
O primeiro domínio a ser investigado, tempo de profissão e
prática em dança, contou com interrogações sobre o tempo de
prática em dança e a frequência semanal com que o bailarino
se apresenta para as aulas de ballet clássico da companhia (a
presença dos mesmos, nesta aula anterior aos ensaios, não
era obrigatória).
Quadro 1 - Tempo de profissão e prática de dança.
Tempo médio de prática de dança
Presença média nas aulas de Ballet
clássico
7
sentada para a frequência em aulas semanais (3,57), uma
vez que estas aulas são oferecidas 5 dias por semana. Este
fator pode ser um resultado dos longos anos de dança, que
acabam por desencadear um desinteresse pelo ballet clássico
em alguns bailarinos, agora envolvidos com a dança moderna
e contemporânea. A presença nas aulas não é obrigatória, e
por ela se iniciar logo de manhã, muitos preferem dormir até
mais tarde, ou resolver qualquer outro assunto, a fazer a aula
de ballet. Alguns bailarinos relataram que nunca presenciam
estas aulas, por não sentirem relação direta entre a aula de
ballet clássico e as coreografias dançadas por eles, extremamente contemporâneas. Houve ainda, quem achasse a aula
totalmente voltada para a especificidade do grupo feminino,
faltando exercícios e técnicas específicas aos homens.
É importante relembrar e ressaltar, neste ponto, que um
dos princípios propostos pela teoria do treinamento desportivo é o da especificidade, onde a transferência positiva do
treinamento para a performance do atleta somente ocorrerá
em casos onde o treino possua relação direta e específica com
o esporte [16-21].
Os resultados obtidos com o domínio Histórico de lesões
foram agrupados nas Figuras 1 a 4.
Figura 1 - Incidência de lesões, em caráter quantitativo, entre os
bailarinos entrevistados.
18 anos
31,58%
15,79%
Nunca sofreram
lesões
1 lesão
3,57 vezes/semana
O Quadro 1 nos mostra que os bailarinos estão envolvidos no mundo da dança há muitos anos (18 em média). A
profissionalização na dança não acontece subitamente. São
necessários, em média, 10 anos de estudos sobre o ballet clássico, moderno e contemporâneo, além de outras práticas de
dança. Kadel et al. apud Guimarães & Simas [4] explica que
a formação de um bailarino clássico se inicia precocemente
por ser necessário que se desenvolvam amplamente habilidades físicas como força, amplitude articular, flexibilidade,
resistência, coordenação, velocidade e equilíbrio, buscando
uma performance adequada.
Portanto, são vários anos praticando exaustivamente as
mesmas técnicas, passos e coreografias, com poucas modificações. A diversificação acontece a partir do momento em
que o bailarino já está mais maduro, e o coreógrafo se sente
livre para extrapolar as linhas clássicas.
Confirmando este fato, Schafle apud Guimarães & Simas
[4] diz que a dança se caracteriza por movimentos altamente
repetitivos, e com elevadíssimas amplitudes articulares, o
que acaba por desequilibrar diversos grupos musculares. A
biomecânica do corpo acaba por se alterar, o que reflete na
estrutura corporal e na predisposição a lesões típicas e características da prática.
A não assiduidade perante a parte técnica específica – a
aula de ballet clássico – pode ser percebida pela média apre-
2 lesões
3 ou mais lesões
15,78%
36,84%
Observando os dados da Figura 1 podemos perceber como
a grande maioria dos bailarinos (84,20%) já se lesionou em
sua prática de dança. Percebe-se uma relação com a vida
de um atleta, pois em ambos os casos a grande presença de
lesões é notória. A diferença está nos cuidados que um atleta
recebe, tanto na prevenção de lesões quanto na recuperação
das mesmas.
Para Leal [2] a profilaxia deveria ser adotada como hábito
permanente de uma companhia de dança, através de um
treinamento muscular cotidiano, buscando evitar este alto
índice de lesões características entre os bailarinos. Entretanto,
o que podemos observar na maioria das companhias de dança
do nosso país é a ausência de uma equipe de profissionais
preparada para atender os bailarinos.
Os motivos que podem ocasionar lesões em bailarinos são
diversos. Sampaio [10] enumerou os principais fatores que
levam os bailarinos a se lesionarem ao longo de sua prática
com o ballet clássico: a) trabalho muscular incorreto; b)
aquecimento inadequado antes da atividade física; c) tentativa de aumentar a angulação de en-dehors pelos pés, e não
pelo quadril; d) trabalho prématuro da posição en pointé; e)
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aplicação de um método de ensino que não corresponde às
condições musculares do aluno, entre outros.
Muitas lesões também são oriundas da prática do próprio
ballet contemporâneo, que além destas enumeradas podemos
considerar: os saltos, sem a correta absorção de impacto; os
“portés” (partes da coreografia em que os bailarinos precisam
elevar, ou carregar, outro bailarino); os movimentos que
exigem elevadas amplitudes articulares e posições antianatômicas; entre outros.
Na amostra pesquisada, apenas 15,79% dos bailarinos
relataram nunca terem sofrido lesões, ao passo que 31,58%
já sofreram mais de 3 lesões ao longo de sua vida. A gravidade
e o tipo destas lesões relatadas foram as mais variadas, e são
apresentadas na Figura 2.
Figura 2 - Incidência de lesões, em caráter qualitativo, indicando
os tipos de lesões e o percentual das mesmas entre os bailarinos
entrevistados.
9,37%
6,25%
3,11%
16,61%
3,11%
3,11%
6,25%
6,25%
12,50%
3,11%
6,25%
12,50%
9,37%
Ruptura de ligamentos
do joelho
Entorse tornozelo
Protusão/Hérnia Lombar
Tendinite Aquiles
Pulso aberto
Protusão/Hérnia cervical
Fratura Metatarso
3,11%
Bursite Joelho
Ligamento do ombro
Estiramento do Psoas
Estiramento ligamento
medial olécrano
Contratura muscular Lombar
Osteocondral Pilão Tibial
Fratura por estress da Tíbia
De acordo com a Figura 2, percebe-se que a incidência de
lesões, em caráter qualitativo, dentro da amostra pesquisada,
apontando um maior índice de lesões nos membros inferiores,
sendo representados por 63,45% do total de lesões relatadas.
Dentre elas foram relatadas: entorse de tornozelo (16,61%);
fratura do metatarso (12,50%); fratura da tíbia (9,37%);
ruptura de ligamentos do joelho (6,25%); inflamação no tendão de Aquiles (6,25%); estiramento do ílio-psoas (6,25%);
bursite no joelho (3,11%); osteocondral pilão-tibial (3,11%).
Em menor porcentagem, mas também em grande escala, apareceram lesões de membros superiores, tais como:
protusão/hérnia lombar (12,50%); protusão/hérnia cervical
(9,37%); ruptura do ligamento do ombro (6,25%); pulso
aberto (3,11%); estiramento do ligamento medial do olécrano
(3,11%); contratura muscular lombar (3,11%).
O estudo realizado por Guimarães & Simas [4], que buscou analisar as lesões mais frequentes em bailarinas clássicas,
concluiu que o ballet possui seu próprio conjunto de lesões
associadas, no qual as mais comuns são as de pé e tornozelo,
seguidas das de joelho e quadril e, por último, as de membro
superior. Resultados muito semelhantes aos apresentados por
esta pesquisa.
Para Young apud Guerra [22] as entorses em inversão de
tornozelo são as mais comuns na dança, uma vez que a extremidade distal do corpo é a responsável pelo apoio de toda
a estrutura corporal, sendo, portanto intensa a sobrecarga
nessa região. Confirmando esta colocação, a lesão de maior
representatividade nesta pesquisa foi exatamente a entorse de
tornozelo, com 16,61% dos relatos.
Os resultados aqui obtidos ainda se encontram com os
dados apresentados por Antunes [15] que afirma serem lesões
frequentes em bailarinos: a tendinite no tendão de Aquiles;
fraturas por estresse da tíbia e metatarsos; lesões ligamentares
relacionadas com entorses de tornozelo e do pé; entre outros.
Em estudos realizados na Inglaterra por Koutedakis et al.
[23] foram apresentados dados, onde durante um período de
2 anos, 335 lesões foram documentadas em 159 bailarinos
profissionais. Uma média de 2,10 lesões por bailarino neste
período. A coluna lombar foi apresentada como o local
anatômico de maior incidência de lesões, e que juntamente
com a pelve, pernas, joelhos e pés representam mais de 90%
das lesões documentadas. Já nesta pesquisa, a soma de lesões
nestes locais representa quase 80% do total de lesões.
Para buscar entender a gravidade das lesões apresentadas,
e sua relação com os cuidados dispensados as mesmas pelos
bailarinos, questionou-se o tempo de afastamento da profissão ocasionado por estas lesões. Este resultado é mostrado
na Figura 3.
Figura 3 - Tempo que cada percentual de bailarinos precisou se
afastar da profissão para se recuperar da(s) lesão(ões).
% de bailarinos
entrevistados
8
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Menos
1
2
3
11
12
24
de 01
Tempo afastado para recuperação (em meses)
Ao observar este gráfico podemos perceber que o período em que os bailarinos se ausentam da profissão é, em
sua maioria, relativamente pequeno dado à gravidade das
lesões apresentadas. Os resultados da entrevista mostraram
que 68,75% dos bailarinos retomaram as atividades em
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no máximo 3 meses. Um dos motivos por se afastarem por
tempo insuficiente é que mesmo tendo todos os seus direitos
mantidos, alguns temem perder seu “papel” em determinado
espetáculo para o bailarino que o substitui, enquanto tenta
se recuperar de sua lesão. Com isso, o bailarino se sente recuperado, e retoma suas atividades normais antes mesmo de
curar totalmente sua lesão. Informalmente, durante o período
de observação, alguns bailarinos ainda relataram que, mesmo
recebendo o seu salário fixo quando estão afastados, deixam de
receber os cachês por apresentação, sendo este outro motivo
pelo curto espaço de tempo ausente.
A presença de dores, representada na Figura 4, pode ser
um indicador de que a lesão não foi totalmente recuperada.
Figura 4 - Porcentagem de bailarinos entrevistados que ainda sente
algum tipo de dor crônica, incômodo ou impedimento, causados
pelas lesões sofridas.
31,25%
Sim, ainda sente dores
Não sente mais dores
68,75%
Conclusão
Os resultados mostraram que os profissionais de ballet
clássico e contemporâneo do “Grupo Corpo“ estão envolvidos há muitos anos com a dança, e em sua maioria possuem
lesões características de bailarinos, e ainda não gastam o tempo
ideal de recuperação antes de reiniciarem suas atividades. Esta
realidade identificada na amostra pesquisada é equivalente à
realidade de outras populações já estudadas anteriormente.
Conclui-se então que, os bailarinos se percebem e se
preparam exclusivamente como artistas, desprezando a sua
condição de atleta e os cuidados necessários para seu melhor
desempenho, além da prevenção e minimização das lesões
típicas da prática.
Recomenda-se um estudo mais aprofundado sobre as possibilidades de se realizar um treinamento desportivo próprio
para bailarinos, onde sejam atendidas as suas necessidades
técnicas e biomecânicas. Um trabalho que objetive trazer
benefícios aos bailarinos, às academias, aos professores e às
companhias, na tentativa de vencer este paradigma apresentado, mostrando aos mesmos sua condição de artista e ao
mesmo tempo, atleta.
Ressalta-se ainda, a importância da presença de uma
equipe multiprofissional composta por professores de dança
altamente qualificados, profissionais de educação física, nutricionistas, médicos, fisioterapeutas e psicólogos, que poderiam
evitar o alto índice de dores crônicas nos mesmos e melhorar
seu desempenho artístico. Esta equipe seria responsável por
9
avaliar o bailarino e perceber se o mesmo está ou não em
sua melhor condição física e psicológica, além de tratá-lo da
forma correta, entendendo o bailarino como um atleta que
necessita de cuidados específicos.
Referências
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
10
Artigo original
Avaliação do estado nutricional e satisfação
da imagem corporal de jovens atletas integrantes
da equipe competitiva de ginástica rítmica
de um clube de São Paulo
Assessment of nutritional status and body image satisfaction
of young competitive athletes of a rhythmic gymnastics team
of a club in São Paulo
Vanessa Quitto Rinaldi*, Gabriela de Andrade Moreira Bucheb*, Renata Furlan Viebig, M.Sc.**
*Graduandas em Nutrição do Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica e Dietoterapia,
Doutoranda do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Docente do curso
de Graduação em Nutrição, Centro Universitário São Camilo/São Paulo/SP
Resumo
Abstract
Este estudo visou avaliar o estado nutricional de jovens atletas da
equipe competitiva de ginástica rítmica de um clube de São Paulo,
com ênfase na imagem corporal. Foram analisadas 10 atletas de 9 a
12 anos, através da aplicação de questionário tipo anamnese completo contemplando imagem corporal, e da realização da antropometria.
Após aferidas todas as medidas foram calculadas a circunferência
muscular do braço (CMB), área muscular do braço (AMB) e área
muscular do braço corrigida (AMBc) e estimada a porcentagem
de gordura corporal. Dentre os resultados obtidos foram ressaltados que 9 ginastas ainda não apresentaram a menarca, 40% não
demonstraram satisfação com a imagem corporal e metade estava
com porcentagem de gordura corporal abaixo do recomendado. No
geral, as ginastas estudadas apresentaram-se eutróficas em relação
aos indicadores utilizados, e sem desvio significativo de imagem
corporal. Porém é recomendado o acompanhamento nutricional e
consideram-se pertinentes estudos que abranjam hábitos alimentares
mais detalhados.
This study aimed to assess the nutritional status of young competitive athletes of a rhythmic gymnastics team of a club in São
Paulo, with emphasis on their body image. We examined 10 athletes,
9-12 years old, through the application of standard questionnaire
including full body image, and anthropometry. Were calculated
arm muscle circumference (AMC), arm muscle area (AMA), and
corrected arm muscle area (CAMA) and the body fat percentage was
estimated. The results highlighted that 9 gymnasts have not attained
menarche, 40% showed no satisfaction with body image and half
had body fat percentage below the recommended. In general, the
gymnasts were considered eutrophic, with no significant deviation
of body image. However it is recommended nutritional follow-up
and more relevant studies that include more detailed dietary habits.
Key-words: nutritional status, body image, gymnastis,
anthropometry.
Palavras-chave: estado nutricional, imagem corporal, ginastas,
antropometria.
Endereço para correspondência: Vanessa Quitto Rinaldi, Rua Rodrigues Ferreira, 53 Pirituba 05159-130 São Paulo SP, Tel: (11) 98109296, E-mail: [email protected]
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Introdução
A Ginástica Rítmica (GR) começou a ser praticada ao final
da Primeira Guerra Mundial, quando várias escolas inovavam
os exercícios tradicionais da ginástica artística, misturando-os
com música e criando uma nova modalidade esportiva. Em
1946, na Rússia, surgiu o termo “rítmico”, devido à utilização
da música e da dança durante a execução dos movimentos.
Mais tarde, em 1975, passou a ser denominada Ginástica
Rítmica Desportiva (GRD), estabelecendo-se definitivamente
sua característica competitiva [1].
A GR tornou-se um esporte olímpico oficial em 1984,
somente com competições individuais, apenas nos Jogos
Olímpicos de Atlanta, em 1996, incluíram-se as competições
de conjunto. A GR é o exercício de solo da ginástica artística
com adereços de mão em que as atletas combinam música
com exercícios de equilíbrio e flexibilidade em cada um dos
aparelhos: maças, bola, fita, corda e arco. Esta modalidade
esportiva relaciona três elementos: corpo, música e aparelho.
Os elementos corporais são a base indispensável dos exercícios
individuais e conjuntos. Fazem parte dos elementos corporais
obrigatórios: andar, correr, saltar, saltitar, balancear, circunduzir, girar, equilibrar, ondular, executar pré-acrobáticos, lançar
e recuperar, sendo que os exercícios devem ser acompanhados
por estímulo musical [1,2].
O nível técnico da GR tem evoluído significativamente
no Brasil, graças à seriedade do trabalho realizado pelas
técnicas brasileiras, e apoio recebido de técnicos e coreógrafos provenientes de países onde a GR é mais desenvolvida,
principalmente da Europa. Aos poucos, este esporte vem
se popularizando em nosso país, sendo que o número de
praticantes cresce a cada ano e os locais oferecidos para a sua
prática têm aumentado. Além disso, o nível dos profissionais
especializados, cujo número é ainda relativamente pequeno,
tem melhorado sensivelmente, porém, mesmo com os bons
resultados conquistados em competições internacionais,
ainda são encontradas muitas dificuldades para um maior
desenvolvimento da modalidade no Brasil [3].
A GR é uma modalidade esportiva de alta dificuldade
técnica, em que o alto nível de desempenho é comumente
alcançado em idade muito jovem, de maneira que pressupõe
a necessidade do início do treinamento tão cedo quanto
possível. Os treinamentos iniciam-se em média aos seis anos
de idade. Nessa idade, as crianças possuem um potencial desenvolvimentista para estar no estágio amadurecido da maior
parte das habilidades motoras fundamentais. A introdução de
aparelhos deve ser feita de forma lúdica para que a criança vá
se adaptando às características de cada um [4].
É importante que crianças e adolescentes fisicamente ativos consumam energia e nutrientes suficientes para alcançar
suas necessidades de crescimento, manutenção de tecidos e
para o desempenho de suas atividades intelectuais e físicas.
Atualmente a participação cada vez mais precoce de jovens em
eventos competitivos e seu envolvimento em programas de
11
treinamento bastante intensos fazem com que os profissionais
da saúde devam estar atentos à adoção de comportamentos
alimentares que podem trazer consequências deletérias à
saúde, tais como desidratação, práticas de controle de peso
inadequadas, distúrbios alimentares e uso indiscriminado de
substâncias encaradas como ergogênicas [5,6].
Dessa forma, a alimentação adequada é fundamental
para a manutenção da saúde e para um ótimo desempenho
esportivo de jovens ginastas. A alimentação balanceada aliada
à atividade física pode aperfeiçoar o potencial genético de
crescimento e desenvolvimento. As atletas de GR apresentam
necessidades aumentadas devido ao crescimento, desenvolvimento maturacional, manutenção de tecidos, atividades
intelectuais, além do treinamento extenuante. Dessa forma,
as necessidades calóricas e nutricionais devem ser estimadas
baseadas na ingestão alimentar diária, idade e atividade física
[4,5].
A literatura relata que atletas jovens do sexo feminino que
praticam esportes que exigem um peso corporal baixo, como
ginastas, possuem tipicamente uma dieta hipocalórica e um
intenso gasto energético durante o treinamento físico e no
próprio evento competitivo. Esta conduta pode prejudicar o
estado nutricional por deficiências energéticas resultando em
falhas no crescimento, atraso na puberdade, esgotamento das
reservas de glicogênio e fadiga [4,7,8].
O treinamento físico nas diversas modalidades desportivas femininas, como a GR, proporciona, por um lado,
o desenvolvimento físico harmonioso e atlético, mas por
outro lado, as expõem a problemas específicos da categoria
de atletas. Um desses problemas denomina-se transtorno
do comportamento alimentar (TCA), que é caracterizado por uma perturbação persistente do comportamento
relacionado com a alimentação. Esse transtorno provoca
alterações nos hábitos alimentares, prejudicando a saúde
física, psicológica e social do indivíduo. Os TCA compreendem a anorexia nervosa e a bulimia nervosa que atingem,
sobretudo, mulheres jovens e adolescentes, que representam
90% dos casos [9].
A tendência de instalação do TCA tem sido principalmente relatada em âmbito esportivo, entre mulheres atletas justamente de modalidades que enfatizam reduzida percentagem
de gordura para melhorar o desempenho e estética. Acredita-se
que a busca pelo desempenho, expressa por pressões externas
dos técnicos, treinadores, patrocinadores, administradores e
familiares no anseio por melhores resultados, acarreta estresse
físico e mental nas atletas, criando ambiente para o desenvolvimento dos TCA [10].
Em atletas, embora a prevalência de anorexia nervosa e
bulimia nervosa ainda não seja suficientemente conhecida,
especialmente no Brasil, pesquisas realizadas demonstraram
uma frequência aumentada (de 15 a 62%), sobretudo em
modalidades desportivas específicas. Sabe-se, ainda, que a
adoção de dietas restritivas em idade precoce, sobretudo, se
essa prática se dá sem a supervisão de um profissional, pode
12
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
desencadear TCA, causando danos importantes à saúde e,
por conseguinte, ao desempenho atlético. A GR, entre outras
modalidades, tem sido indicada, por pesquisas realizadas nessa
área, como as de maior incidência de transtornos alimentares
e de comportamentos considerados precursores dos mesmos.
A estreita relação imagem corporal e desempenho físico faz
com que as atletas sejam um grupo particularmente vulnerável
à instalação desses transtornos, tendo em vista a ênfase dada
ao controle de peso [11-12].
Assim, para atletas de GR, a avaliação antropométrica
e dos hábitos alimentares é muito importante, pois este é
um dos esportes que preconizam o baixo peso corporal e
supervalorizam a estética, utilizando-a como critério para a
obtenção de bons resultados em competições, assim como
também acontece na natação sincronizada, corrida e no
balé [13,14].
Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar
o estado nutricional de jovens atletas da equipe competitiva
de GR de um clube de São Paulo, com ênfase na imagem
corporal.
Material e métodos
A amostra foi composta por 10 atletas do sexo feminino,
de 9 a 12 anos, pertencentes à equipe competitiva de ginástica
rítmica de um clube da cidade de São Paulo. As ginastas treinavam por 4 horas e 30 minutos, diariamente, no período da
tarde, durante 6 dias por semana. O estudo foi realizado entre
abril e junho de 2009, e divididos em etapas descritas a seguir.
Etapa 1 - Questionário de anamnese, que contemplava satisfação com a imagem corporal
Foi elaborado e aplicado, um questionário tipo anamnese
completo, no qual foram abordados dados pessoais, história
social, história na modalidade, abrangendo questões como:
com qual idade iniciou o esporte, o motivo, se há apoio dos
pais, satisfação com o desempenho e se pretende ser atleta
profissional. Foram feitas perguntas sobre saúde em geral,
nutrição abrangendo quantas refeições diárias as atletas
realizavam, se já fez uso de dietas para emagrecer ou para
qualquer outro fim. Por fim, foi avaliada a satisfação com
a imagem corporal das ginastas por meio da aplicação de
uma escala de silhuetas femininas numeradas de 1 a 12, em
ordem crescente, sendo a número 1 a mais magra (Figura
1). Nesta parte da anamnese, a atleta observava por alguns
segundos a imagem e escolhia a que se assemelhava com ela,
e marcava a opção. Novamente, a ginasta analisava a figura
e apontava qual das silhuetas ela gostaria de ter. Logo após
a escolha das imagens, foi feita uma pergunta a respeito
do grau de importância que a imagem corporal exercia em
relação à prática de ginástica rítmica, finalizando assim o
questionário de anamnese.
Figura 1 - Imagem para análise da satisfação com a imagem
corporal.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Figura adaptada de: Kakeshita e Almeida [15].
Etapa 2 - Avaliação antropométrica
Após a aplicação da anamnese completa, foi realizada a
avaliação antropométrica de todas as atletas. Para a aferição
das medidas, foi adaptada uma sala de avaliação próxima à
área da prática de atividade física e as medidas antropométricas
foram realizadas em dois dias, de maneira individualizada.
Foram tomadas medidas da massa corporal (kg), estatura (cm),
dobras cutâneas (mm) e circunferências corporais (cm). As
medições foram realizadas antes dos treinamentos, no período
da tarde e descritas a seguir:
• Estatura: mensurada com auxílio de uma fita inelástica
com precisão de 0,1 mm, fixada a uma parede sem rodapé,
estando as atletas descalças, em posição ortostática, com os
pés juntos, para maior precisão foi utilizado um esquadro.
• Peso corpóreo: foi obtido empregando-se uma balança
digital médica Geratherm ® com precisão de até 100 gramas, estando as atletas descalças uniforme de treinamento
(colan).
• Dobras cutâneas: para a avaliação das dobras cutâneas tricipital, bicipital, subescapular, suprailíaca, abdominal, da
coxa medial e da panturrilha, utilizou-se um adipômetro
da marca Sanny® com precisão de 0,5 mm.
• Circunferências: os perímetros corporais (punho, braço,
cintura, quadril, abdominal, coxa medial e panturrilha) foram medidos com uma fita métrica inelástica, com precisão
de 0,1 mm. Estas medidas foram aferidas do lado direito
do corpo, sendo realizadas três mensurações alternadas
em cada local e o valor médio utilizado como escore final.
Após coletar os dados relacionados à antropometria, foram calculadas a circunferência muscular do braço (CMB),
a área muscular do braço (AMB) e a área muscular do braço
corrigida, utilizando as fórmulas seguintes:
CMB (cm) = CB - (PCT x 0,314)
AMB - 6,5 cm2
AMB = (CMB) 2
12,57
Foi estimada a porcentagem de gordura corporal, por
meio da equação de Slaughter et al. [16] para crianças e
adolescentes do sexo feminino. Os resultados obtidos foram
avaliados de acordo com os pontos de corte de Deurenberg
et al. [17], que classifica o percentual de gordura até 12%
como excessivamente baixo; de 12,01 a 15% como baixo; de
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15,01 a 25% como adequado (normal); de 25,01 a 30% como
moderadamente alto; de 30,01 a 36% como alto e acima de
36,01% como excessivamente alto.
Ainda foram determinados o Índice de Massa Corpórea
(IMC), os indicadores Altura para Idade (A/I), Peso para Idade
(P/I) e IMC para Idade (IMC/I), sendo estes classificados
por WHO [18].
13
com silhuetas, na qual era apontada a que a ginasta se achava
semelhante e posteriormente, como gostaria de estar parecida.
Figura 3 - Imagem corporal relatada pelas atletas de G.R de um
clube da região Norte de São Paulo, 2009.
10
9
8
Resultados
Foram estudadas 10 atletas da equipe competitiva de GR,
com idade média de 10 anos e 6 meses, todas eram estudantes, sendo que 70% cursavam o Ensino Fundamental II em
colégio particular.
Com relação aos motivos para a prática da modalidade,
notou-se que 50% das ginastas não pretendiam ser atletas
profissionais e almejavam ter outras profissões, praticando
a GR apenas como hobby. Duas ginastas pretendem ser
economistas, uma médica, uma arquiteta e outra veterinária.
A Figura 2 mostra as respostas das ginastas sobre sua saúde
e sintomas durante e após o treinamento.
Figura 2 - Problemas de saúde e sintomas relatados pelas atletas de
G.R de um clube da região Norte de São Paulo, 2009.
10
9
8
Atletas
7
6
5
4
3
2
1
0
Gastrite
Dor de cabeça
Colesterol alto
Doente com facilidade
Fraqueza
Quando abordado se as ginastas já haviam passado pela
menarca, 9 responderam que não, e uma relatou ter tido
menstruação apenas uma vez (de maneira irregular).
Duas atletas relataram já terem se consultado com um
nutricionista e 70% das ginastas nunca fizeram dieta. A
maioria das ginastas (70%) relatou fazer 5 refeições ao dia,
porém, três disseram ter o hábito de fazer apenas 3 refeições
diárias. Sobre o consumo de água, 90% consideraram que
fazem consumo abaixo do que deveriam.
Quando questionadas sobre a satisfação com o corpo, 40%
disseram não estarem satisfeitas. A Figura 3 mostra o resultado da questão que foi respondida com o auxílio da figura
Atletas
7
6
5
4
3
2
1
0
Se enxergam número a mais
Se enxergam número a menos
Se enxergam igual
A Tabela I mostra os resultados antropométricos obtidos
através das aferições. A análise do estado nutricional das
ginastas, segundo o Índice de Massa Corpórea para Idade
(IMC/I), mostrou que 90% encontravam-se classificadas
entre os percentis 3 e 85, estando, portanto com IMC
adequado. Uma atleta encontrava-se acima do percentil 97,
determinando obesidade [18]. A média de Índice de Massa
Corpórea encontrada foi de 17,2 kg/m2. Nenhuma das ginastas apresentou-se abaixo do percentil 3.
Para o Índice Altura para Idade (A/I), observou-se que
90% das ginastas encontravam-se acima do percentil 3,
determinando altura adequada para idade, e apenas uma,
representando 10%, foi considerada com baixa estatura para
idade [18].
A composição corpórea das atletas foi aferida por meio da
análise do percentual de gordura corporal, cujo valor médio
observado entre as ginastas foi de 15,6%, o que segundo
Deurenberg et al. [17] é considerada adequada. Porém, quatro
ginastas foram classificadas com baixa porcentagem de gordura corporal e uma como excessivamente baixa. Nenhuma
ginasta teve a classificação como moderadamente alta, como
alta e nem como excessivamente alta.
Quando analisada a Circunferência Muscular do Braço
(CMB), uma das ginastas foi classificada como percentil maior
que 95, determinando musculatura desenvolvida, devido à
prática esportiva. Em relação à somatória das dobras tricipital
e subescapular, uma ginasta foi classificada entre o percentil 5
e 10, determinando risco para desnutrição e 3 ginastas foram
classificadas abaixo do percentil 5, determinando desnutrição.
A análise da circunferência do braço (CB) pôde revelar o
risco para desnutrição de uma ginasta, que foi classifica no
percentil 10. A ginasta que apresentou risco para desnutrição
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
14
em relação à CB, também foi classificada como desnutrição
na somatória das dobras cutâneas tricipital e subescapular.
Tabela I - Valores médios, mínimos e máximos obtidos a partir das
mensurações efetuadas nas jovens atletas.
Parâmetros
Peso (kg)
Atura (m)
IMC kg/m2
Circunferência do braço (cm)
Dobra cutânea tricipital (mm)
Área muscular do braço (cm2)
Circunferência muscular do
braço (cm)
Dobra cutânea tricipital + dobra cutânea subescapular (mm)
Dobra cutânea coxa medial (mm)
Dobra cutânea abdominal (mm)
Dobra cutânea panturrilha (mm)
Circunferência do quadril (cm)
Circunferência panturrilha (cm)
Circunferência cintura (cm)
Circunferência coxa medial (cm)
% gordura corporal
Média
35,6
1,4
17,2
21,6
9,2
28,1
18,7
Mínimo
28,7
1,3
15,0
19,0
6,0
24,2
18,0
Máximo
42,0
1,6
20,6
24,4
16,0
31,8
20,0
16,4
10,0
24,0
10,7
10,2
3,4
73,9
29,3
59,6
42,6
15,6
3,0
6,0
2,0
68,0
26,0
56,5
38,3
9,5
16,0
18,0
5,0
81,2
31,5
64,3
48,0
21,9
Discussão
No geral, as ginastas estudadas apresentaram-se eutróficas
em relação ao indicador Índice de Massa Corpórea para Idade
(IMC/I). Porém, 10% foram classificadas como estando em
obesidade. Entretanto, embora com os valores adequados
de IMC, foi observado que 40% das ginastas não estavam
satisfeitas com sua imagem corporal, apontando silhuetas que
não correspondiam a sua. Por outro lado, 40% das ginastas
estudadas apresentaram valores de percentual de gordura
baixa, e 10% excessivamente baixos, representando metade
da equipe.
Em relação à menarca, segundo o estudo de Duarte &
Duarte, a idade média da sua ocorrência em adolescente da
cidade de São Paulo é de 12 anos e dois meses, porém, o estudo de Vivolo et al., mostra que a média de idade da menarca
entre atletas praticantes de Ginástica Rítmica é de 12 anos e
sete meses. O presente estudo mostra que 20% da população
estudada tinham idade superior que as mencionadas anteriormente, sendo que metade relatou a ausência da menarca
e metade mencionou irregularidades menstruais. Entretanto,
esses aspectos não são exclusivos das ginastas, pois, investigações
com atletas de diferentes esportes (tênis e natação) têm indicado menarca tardia e esta tem sido atribuída ao treinamento
intenso. Vários fatores influenciam na idade de menarca, como
a predisposição genética, condutas dietéticas restritivas, baixo
peso e/ou baixo percentual de gordura corporal, visto em 50%
das ginastas estudadas, especialmente entre os 20% que apresentaram irregularidades menstruais ou ausência de menarca.
O excesso de treinamento é considerado um determinante
fundamental, quando se avalia esse fenômeno entre as atletas.
Weimann et al. concluíram ainda, que a associação do treino
físico intenso e de competição, das ginastas do sexo feminino,
e uma nutrição inadequada podem alterar o padrão normal de
desenvolvimento pubertário das atletas [19-23].
A respeito da condição corporal, o presente estudo
constatou um percentual médio de gordura de 15,6%, valor
que se aproxima do encontrado por Ribeiro et al., em um
estudo com atletas femininas de ginástica olímpica de duas
cidades brasileiras. Os pesquisadores encontraram no Rio de
Janeiro, percentuais de gordura médios de 16,5%. Em outro
estudo realizado por Bernardot e Czerwinski, obteve-se um
valor médio de 9,2% de percentual de gordura nas atletas da
Associação Independente de Clubes de Ginastas dos EUA,
valor abaixo do presente estudo. Já comparadas a adolescentes
não atletas de Londrina Paraná, os valores médios mostrados
no estudo de Guedes, em 1994, foi de 21,8% de gordura
corpórea, superior aos valores observados nas ginastas desta
pesquisa. O estudo realizado por Reggiani et al. sobre o estado
nutricional e composição corporal de 26 ginastas com média
de idade de 12 anos, concluiu que o percentual de massa gorda
era reduzida e se encontrava abaixo do recomendável, assim
como no presente estudo [13,24-27].
Silva [28] defende que para estas ginastas, a manutenção
do reduzido peso corporal e de uma reduzida percentagem
de gordura corporal, torna-se algo imperativo para o sucesso
neste esporte, o que está em conformidade com os valores encontrados de porcentagem de gordura corporal da população
estudada. Ressaltando que o excesso de peso não contribui
para uma atleta que pretende seguir carreira profissional,
isso porque, é um esporte que exige flexibilidade, agilidade e
leveza, o que leva a maioria das ginastas a se motivarem para
obterem o que tanto desejam, levando a restrição alimentar
a situações extremas para conseguirem aquilo que querem a
redução do seu peso.
As dores de cabeça, fraqueza e a baixa imunidade, relatadas
como problemas de saúde das ginastas, podem ser justificados
pela dieta inadequada, com destaque para a provável baixa
ingestão de energia e micronutrientes, como o ferro, zinco,
vitaminas A e C, associados ao fracionamento errôneo das
refeições. Ao mesmo tempo, foram constatados problemas
como gastrite e colesterol alto, reforçando a má alimentação
de algumas atletas, acarretando problemas crônicos precocemente [29].
Conclusão
No presente trabalho verificou-se que as atletas estudadas
apresentaram-se, em geral, eutróficas e sem desvio significativo
de imagem corporal. Porém, é recomendado o acompanhamento com nutricionistas para constante avaliação do estado
nutricional das ginastas. Consideram-se pertinentes, além
da antropometria e imagem corporal, estudos que abranjam
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
hábitos alimentares detalhados de ginastas rítmicas, para prevenir desvios nutricionais e, como consequência, melhorar as
condições de alimentação e rendimento no esporte praticado.
15.
Referências
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
16
Artigo original
Comparação da autonomia funcional de idosos
praticantes e não praticantes de treinamento combinado
Comparison of functional autonomy of trained or not-trained elderly
Raphael Gouveia da Silva Lyra*, Leandro Ramiro*, Paulo Cesar Nunes-Junior, Ft.**, Sebastião David Santos-Filho, Ft., D.Sc.***
*Professor de Educação Física, **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica, Especialista em Osteopatia, Professor de PósGraduação UNESA, ***Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ
Resumo
Abstract
As projeções do IBGE para o ano 2050 são de que a população
com mais de 60 anos passará de 14,5 para 64 milhões, com expectativa de vida variando entre 62,97 a 73,59 anos. Assim, a avaliação
da capacidade funcional vem se tornando um instrumento útil para
averiguar o estado de saúde do idoso. Atualmente, houve progressos
na qualidade de vida, tendo um declínio das incapacidades funcionais, aumentando assim, a perspectiva de longevidade em função de
vários fatores, tais como o progresso nas áreas médica, nutricional
e na prescrição de exercícios físicos, dentre outros. Este estudo
teve como objetivo avaliar o nível de autonomia funcional entre
idosos praticantes e não praticantes de treinamento combinado,
entre contra-resistência e endurance. A população pesquisada foi
de idosos, acima de 60 anos, moradores da zona norte e oeste do
município do Rio de Janeiro, sendo 15 praticantes, que deveriam
treinar a pelo menos 3 meses e 16 não praticantes. Para a realização da
coleta de dados foi utilizado o protocolo de avaliação da autonomia
funcional do idoso, desenvolvido pelo Grupo de Desenvolvimento
Latino-Americano (GDLAM), composto pelos testes caminhar 10
metros (C10m), levantar-se da posição sentada cinco vezes (LPS),
levantar-se da posição decúbito ventral (LPDV), levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa (LCLC) e vestir e tirar uma camiseta
(VTC). Os dados obtidos através dos testes foram analisados a partir
de estatística descritiva e tabelas. Verificamos que os dois grupos de
idosos conseguiram realizar os testes propostos, sendo que o teste
LPDV foi realizado em menor tempo por ambos os grupos. Os resultados de todos os testes apresentaram diferenças significativas nos
tempos de execução, diferenciando a classificação entre os grupos.
O grupo praticante obteve a classificação “muito bom” nos testes
LPDV e VTC, bom no LPS e regular no C10m e LCLC. Os não
praticantes apresentaram desempenho muito bom no teste VTC,
regular no LPDV e fraco no C10m, LPS e LCLC. De acordo com
o índice GDLAM, os praticantes foram classificados como regular
e os não praticantes como fraco.
According to the projections of the IBGE for 2050, the population over 60 years old will increase from 14.5 to 64 million, with
life expectancy ranging from 62.97 to 73.59 years. The functional
capacity evaluation has become a useful tool to investigate the health
of the elderly people. Currently, the quality of life is increasing, with
decline in functional disability, thereby increasing the prospect of
longevity based on several factors, such as medical and nutritional
progress, and prescription of exercise, among others. This study
aimed to evaluate the level of functional autonomy among elderly
trained or not at combined exercises as resistance and endurance.
The population studied was elderly, residents of the area north
and west of Rio de Janeiro, with 15 practitioners trained at least 3
months and 16 not-trained. For evaluating the functional autonomy
of the elderly, was used a data protocol developed by the Group
of Latin American Development (GDLAM), composed by 10
meters walking test (C10M), getting out of a seated position five
times (LPS), getting out of prone position (LPDV), getting out of
the chair and move into the house (LCLC) and wear and draw a
shirt (VTC). The data obtained from the tests were analyzed with
descriptive statistics and tables. It was found that the two groups
of elderly are able to perform the tests offered, and the LPDV test
was performed in less time for both groups. The results of all tests
showed significant differences in the time of execution. The trained
group obtained a good classification at the tests LPDV and VTC,
was good and regular in LPS C10M and LCLC. The non-trained
group obtained excellent performance in the test VTC, regular in
LPDV and low in C10M, LPS and LCLC. According to the index
GDLAM, the trained were classified as regular and not-trained as
weak.
Key-words: elderly, combined training, functional autonomy.
Palavras-chave: envelhecimento, treinamento combinado,
autonomia funcional.
Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 25784036, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Introdução
Os últimos dados das Pesquisas Nacionais por Amostra
de Domicílio (PNADs), realizadas no início deste século,
encontraram quedas consideráveis nos níveis de fecundidade
das mulheres no Brasil. Assim, as projeções do IBGE para o
ano 2050 são de que a população com mais de 60 anos passará
de 14,5 para 64 milhões, com expectativa de vida variando
entre 62.97 a 73.59, superando o grupo etário constituído
de crianças e adolescentes até 14 anos. Com isso, a avaliação
da capacidade funcional vem se tornando um instrumento
particularmente útil para averiguar o estado de saúde do idoso. A Organização Mundial de Saúde define a incapacidade
funcional como a dificuldade, devido a alguma deficiência,
para realizar atividades físicas e pessoalmente desejadas na
sociedade [1].
De acordo com a OMS [2], a proporção do crescimento
populacional de pessoas com 60 anos ou mais é muito maior
do que o de qualquer outra faixa etária. A perspectiva deste
aumento gira em torno de 223% ou em torno de 694 milhões,
no número de idosos entre 1970 e 2025. A estimativa é de
que até 2050 haverá 2 bilhões, sendo que 80% nos países em
desenvolvimento.
Diante desta realidade de um envelhecimento constante
na população de nosso país, já que o Brasil é um destes países em constante desenvolvimento, é de suma importância
que a população senescente tenha qualidade de vida além de
uma expectativa de vida maior, como autonomia funcional,
atividade intelectual, o estado de saúde e sua independência
econômica e social [3].
Nos dias atuais, houve progressos na qualidade de vida e
consequentemente um declínio das incapacidades funcionais,
aumentando assim, a perspectiva de longevidade em função
de vários fatores, tais como o progresso nas áreas médica,
fisioterapêutica, nutricional, na prescrição de exercícios físicos, preocupação da mídia com estas questões, dentre muitos
outros [1,4].
Segundo Ramos [5], o fator determinante na terceira idade
é a autonomia, pois qualquer pessoa que chegue aos 80 anos,
capaz de gerir sua própria vida optando por suas atividades
de lazer, meio social e trabalho, certamente será considerada
uma pessoa saudável. Independentemente de ser cardiopata,
hipertensa, diabética ou possuir qualquer outra enfermidade.
Ele ainda sugere que a população idosa em geral apresenta
uma alta prevalência de doenças crônicas, principalmente
hipertensão arterial, dores articulares e varizes. O Grupo de
Desenvolvimento Latino-Americano (GDLAM) classifica a
autonomia funcional em três aspectos: autonomia de vontade, referindo-se a autoestima, achar que é capaz de realizar;
autonomia de pensamento, permitindo julgar e determinar
o que fazer; e autonomia de ação, onde realizará a tarefa ou
o gesto proposto.
O estudo de Parahyba e Simões [1] revela que as comparações dos PNADs de 1998 e 2003 mostraram reduções
17
nas proporções de idosos com dificuldades para caminhar
100 m, sendo que esta foi maior em idosos com mais de 80
anos. Nestes dados os grupos foram separados por região do
país, renda mensal familiar e pela idade. Esse estudo também
relatou que quando comparados mulheres e homens que
possuem incapacidade funcional, as mulheres tendem a ter
mais perspectiva de vida.
O enfraquecimento musculoesquelético tem sido apontado como a causa relevante desta incapacidade na população
senescente, elevando o risco de quedas. O sedentarismo,
associado a doenças crônico-degenerativas e a hábitos de vida
inadequados, como tabagismo e má alimentação, resulta no
decréscimo dos níveis de força, da resistência muscular, da
flexibilidade e da capacidade aeróbia, promovendo a queda da
capacidade funcional, das atividades diárias [4]. As atividades
físicas para o idoso devem ter como objetivo o fortalecimento
muscular, equilíbrio, potência aeróbica, movimentos corporais
totais e tentar associar estas atividades a uma mudança nos
hábitos de vida [6].
Os benefícios do treinamento de força para idosos vão
desde a melhora da saúde e qualidade de vida até a melhoria das habilidades funcionais ou atividades da vida diária
(AVDs), mesmo em senescentes com doenças crônicas [7].
Além disso, este tipo de treinamento proporcionará um ganho
considerável nas funções neuromusculares desta população
[8,9]. Concluindo, assim, que este tipo de treinamento é de
extrema relevância quando se trata de retardar as alterações
fisiológicas inerentes ao envelhecimento, evitando a incapacidade e a dependência social [9].
Os benefícios do treinamento de força vão depender da
interação entre número de repetições, séries, intensidade das
sobrecargas, intervalo e da combinação dos exercícios [10].
Estudos sobre treinamento de força evidenciam que a força
muscular alcança seu auge entre a segunda e terceira décadas de vida e mostra diminuição lenta ou imperceptível até
próximo aos 50 anos de idade, quando começa a declinar
aproximadamente 12% a 15% por década, com perdas mais
acentuadas a partir da sexta década de vida [7,10]. Há perda
de flexibilidade, de velocidade, dos níveis de captação máxima
de oxigênio (VO2max), de massa óssea (osteopenia), além da
redução na massa muscular (sarcopenia), devido ao comprometimento nas fibras tipo IIb, que são fibras de características
anaeróbicas e hipertróficas [4]. O estudo de Izquierdo et al.
[11] citam ainda que esta alteração na massa muscular se
deve a mudanças hormonais e ao declínio da realização das
atividades com o passar do tempo. Neste artigo também é relacionada à perda de estabilidade nas ações musculares devido
ao aumento da co-ativação dos músculos antagonistas e da
variabilidade na taxa de descarga das unidades motoras. Estas
alterações fisiológicas e músculo-articulares no idoso fazem
com que ocorra o aparecimento de problemas como a perda
de equilíbrio (ataxia), comprometendo a marcha e automaticamente sua independência [12]. Guimarães e Farinatti [13]
concluíram que o geronte devido à sua idade avançada tende
18
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
a desenvolver doenças como catarata, glaucoma e retinopatia,
que podem vir a comprometer a capacidade de julgar a ação
correta a ser tomada para se evitar uma queda.
Com o avanço do envelhecimento há uma perda, em
torno de 25%, da capacidade aeróbica do músculo e do fluxo
sanguíneo durante a contração [12]. Outros fatores associados
à qualidade estrutural muscular podem afetar o desenvolvimento da força e potência, como a mudança das miosinas de
cadeia pesada para tipos mais lentos, afetando diretamente a
velocidade de contração nas ações musculares [7].
Perdas progressivas de força tendem a comprometer a
autonomia funcional dos idosos, deixando-os incapacitados para realizarem as tarefas mais simples do dia-a-dia e
tornando-os dependentes dos que os cercam, o que reduzirá
consideravelmente sua qualidade de vida [10]. Além da sarcopenia, também se deve lembrar que há alterações na saúde
mental, como na cognição e no humor, e nos parâmetros
sociais e ambientais, tais como a segurança e sua inclusão na
sociedade [14]. No estudo de Aveiro et al. [8], 16 idosas com
osteoporose na coluna e/ou fêmur foram submetidas a um
treinamento de fortalecimento do músculo quadríceps, de
alongamento dos músculos do tronco, dos membros inferiores
e superiores e um programa de caminhada, e o resultado foi
melhora em relação ao equilíbrio, a qualidade de vida e no
torque da musculatura extensora do joelho.
Todas estas alterações fisiológicas relacionadas ao avanço
da idade sugerem que o treinamento de força muscular e
o treinamento aeróbico estão diretamente ligados à independência funcional das pessoas idosas. Com a inclusão de
exercícios contra resistência, como a musculação, no dia-a-dia
da população idosa, alcançar-se-á benefícios extremamente
relevantes. Porém, sempre de forma coerente, com embasamento científico e respeitando os princípios do treinamento
desportivo, como o princípio da individualidade biológica e
da especificidade, por exemplo [4].
O treinamento de força é uma modalidade de exercícios resistidos em que movimentos musculares são realizados contra
uma força oposta [15]. O vigor máximo que um músculo ou
um grupo muscular pode gerar é determinado pela força. Com
o exercício crônico ocorrem diversas alterações no sistema
neuromuscular. Estas alterações relacionadas a um programa
de treinamento de força podem produzir ganhos entre 25%
a 100% da força máxima [16]. No treinamento resistido
há uma predominância dos sistemas energéticos ATP-CP e
glicolítico, sendo que a atuação do sistema oxidativo se dá
durante o intervalo entre as séries [15]. Com relação à hipertrofia proporcionada pelo treinamento resistido, este relata
que ela acontece devido ao estresse mecânico causado pelo
exercício intenso que ativa a expressão do RNA mensageiro
(RNAm) e consequentemente a síntese protéica muscular.
Este processo acarretará no surgimento de novas miofibrilas.
Também parece haver um aumento do número de filamentos
de actina-miosina, conteúdo sarcoplasmático e combinação
de tecido conjuntivo.
Dentre os benefícios do treinamento resistido estão o
aumento da densidade mineral óssea e da área de secção
transversa do músculo, menor duplo produto, que indica
um menor consumo de oxigênio do miocárdio. Esta alteração pode estar ligada a uma menor frequência cardíaca e/ou
pressão arterial, ambas de repouso. Porém, alguns estudos
apontam para estas ligeiras reduções, enquanto que outros
não encontraram diferenças. Ainda sob suas referências, o
volume sistólico parece ser igual ou ligeiramente maior em
pessoas treinadas, permitindo um aumento do débito cardíaco
sem o aumento concomitante da frequência cardíaca e do
duplo produto [7].
Neste tipo de treinamento há um aumento significativo
na proporção de fibras musculares tipo II [16]. Havendo um
decréscimo das fibras musculares tipo I e um aumento das
fibras musculares tipo IIa. Com relação às adaptações neurais,
estão a elevação do número de unidades motoras recrutadas e,
junto com a sincronização destas, há um aumento da taxa de
disparo e uma atenuação da inibição autogênica [7].
Idosos que se submetem a treinamentos com sobrecargas
têm melhora da função e estrutura muscular, articular e óssea
[17]. Assim, sua autonomia funcional será preservada mesmo
com o passar do tempo. Com o treinamento de força há um
aumento agudo na concentração de testosterona, hormônio de
efeitos anabólicos, total em homens e mulheres jovens, porém
em mulheres idosas estes resultados são, ainda, controversos.
O mesmo estudo cita que também há elevação aguda de GH
em homens e mulheres jovens com o treinamento, mas em
mulheres idosas os resultados não foram consensuais [17].
Os benefícios promovidos pelo treinamento de força dependem de vários fatores, como a intensidade, a frequência e o
volume de exercícios. Quanto à manipulação destas variáveis,
os autores não conseguiram tecer considerações, pois diferentes combinações destas podem ser igualmente eficientes [10].
Em relação à prática de exercícios aeróbicos ou de endurance e seus benefícios associados à autonomia funcional, o
estudo de Amorim et al. [18] evidenciou um aumento na
autonomia funcional e na qualidade de vida de idosos, além
da melhora no consumo, captação e transporte de oxigênio.
O sistema cardiorrespiratório parece ser um dos sistemas
orgânicos mais afetados com o declínio funcional, tornando
a habilidade de captação e transporte de oxigênio para o suprimento da demanda metabólica corporal durante a atividade
física acometida [19]. Algumas alterações cardíacas são de
extrema relevância como na elasticidade, distensibilidade e
dilatação das artérias; o esvaziamento ventricular que ocorre
durante a sístole também se torna comprometido, dentro de
uma aorta menos complacente, levando a um aumento na
incidência de idosos hipertensos [18].
O treinamento de endurance tem como característica
sua execução em uma zona aeróbica, ou seja, dependente de
oxigênio que tem por objetivo a melhora da aptidão cardiorrespiratória e é sustentado energeticamente pelo metabolismo
dos ácidos graxos e carboidratos. Com o treinamento aeróbico
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
existe a possibilidade de retardar este processo degenerativo
que se torna acelerado com o passar da idade, pois há melhora
no consumo máximo de oxigênio, no suprimento capilar na
fibra muscular, aumento do conteúdo de mioglobina, que
armazena oxigênio e o libera para as mitocôndrias quando
necessitam. Além disso, também há alterações no número e
tamanho das mitocôndrias, que é chamada de usina da célula,
pois é lá que ocorre a produção de energia aeróbia [16].
Uma única sessão de treinamento aeróbico parece ser capaz
de promover queda dos níveis de pressão, abaixo dos valores
de repouso, o que tem sido denominado de hipotensão pósexercício [20]. O exercício físico agudo em idosos hipertensos
reduziu a pressão arterial por um período de até 22 horas após
a sessão de treinamento [20]. Contudo, deve-se ter conhecimento que exercícios aeróbicos de intensidade muito baixa
parecem não surtir efeitos significativos na melhoria da saúde
[19]. No estudo de Hepple et al. [21], homens entre 65 e 74
anos foram submetidos a este tipo de treinamento e também
ao treinamento de contra-resistência por 18 semanas, e os
achados foram de um aumento no consumo de oxigênio,
que pode vir a ser de uma melhora na difusão nos músculos
esqueléticos.
A melhoria do consumo máximo de oxigênio é um destacado fator de proteção, pois menor será o risco de mortalidade,
prolongando assim sua longevidade [22]. Não há alteração
na frequência cardíaca máxima com o exercício, mas há uma
redução na de repouso. Esta alteração parece ser ocasionada
por mecanismos como o aumento do retorno venoso e da
contratilidade miocárdica [22]. Jubrias et al. [23] compararam
as mudanças energéticas e estruturais em idosos que se propuseram a participar de seis meses de treinamento de endurance
ou de contra-resistência. Após este período de treinamento, as
maiores mudanças se deram na capacidade oxidativa com o
aumento da densidade mitocondrial e nas adaptações neurais
do músculo quadríceps, mas em se tratando de maior síntese
protéica não houve grande diferença pré e pós-treinamento.
Os indivíduos melhor condicionados aerobicamente
possuem atividade autonômica mais eficiente do que os não
treinados, havendo também indícios que indivíduos com melhor tônus vagal cardíaco apresentam uma resposta melhor ao
treinamento aeróbico [22]. De acordo com o posicionamento
do American College of Sports Medicine [24], o homem idoso
que realiza exercícios aeróbicos é favorecido pelo mecanismo
de Frank-Starling, pois há um maior volume diastólico final
que consequentemente acarretará num maior volume de ejeção. E a taxa de decréscimo do consumo máximo de oxigênio
no idoso de 70 anos treinado parece ser igual a de um adulto
jovem destreinado. Além destas alterações, este posicionamento também preconiza que o treinamento de endurance
tem a capacidade de promover melhorias no perfil lipídico
sanguíneo, além da redução dos estoques de gordura corporal.
Baseado no exposto acima se chegou ao objetivo do
presente estudo: comparar a autonomia funcional de idosos
praticantes de treinamento combinado entre exercícios de
19
contra-resistência e endurance com não praticantes de exercício
físico devidamente prescrito por um profissional capacitado.
Material e métodos
A amostra foi constituída de 31 indivíduos com idade
acima de 60 anos, moradores da zona norte e oeste do município do Rio de Janeiro, sendo que 15 eram praticantes
de treinamento combinado há mais de 3 meses e 16 não
eram praticantes. Os 31 indivíduos estavam completamente
hábeis fisicamente para desempenharem a bateria de testes.
O instrumento utilizado foi o protocolo de GDLAM para
avaliação da autonomia funcional [25]. O instrumento foi
aplicado pelos próprios pesquisadores.
Este estudo caracteriza-se pela forma direta, pois busca e
coleta os dados diretamente na fonte pesquisada, investigando
o fato por meio de instrumentos e procedimentos válidos e
adequados ao que se pretende investigar [26]. A pesquisa é
classificada como descritiva, pois há uma simples descrição
dos fatos investigados e também é considerada comparativa,
devido à comparação entre grupos de pessoas submetidas a
condições diferenciadas [27]. Em relação ao modo de coleta,
este estudo é classificado como pesquisa experimental, onde
um ou mais parâmetros são testados e comparados [26].
O presente trabalho atende as Normas para Realização de
Pesquisa em Seres Humanos, Resolução 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde de 10/10/1996.
Todos os participantes do estudo concordaram em assinar
o termo de participação consentida contendo: objetivo do
estudo, procedimentos de avaliação, possíveis consequências,
caráter de voluntariedade da participação do sujeito e inserção
de responsabilidade por parte do avaliador.
Para as variáveis foram estimadas média, mediana, desviopadrão e coeficiente de variação, visando caracterizá-la [28] e
posteriormente foram submetidas ao teste de Shapiro-Wilk
[29] para investigação da proximidade da distribuição normal,
tendo por configuração, p = 0,05:
H0: A variável j do grupo i se aproximou da Distribuição
Normal
H1: A variável j do grupo i não se aproximou da Distribuição
Normal
∀ j Є J = {C10m, LPS, LPDV, VTC, LCLC, IG, Idade}
∀ i Є I = {Praticante, Sedentário}
Na não verificação de proximidade levou a efetiva comparação a ser tomada pelo teste de Mann-Withney [30], p =
0,05, cujo desenho foi:
H0: A variável j do grupo Sedentário = A variável j do grupo
Praticante
H1: A variável j do grupo Sedentário ≠ A variável j do grupo
Praticante
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
20
Na observação da normalidade, a utilização do teste tStudent se fez necessária [28], cuja aplicação teve configuração
similar ao teste de Mann-Whitney.
Figura 2 - Classificação dos desempenhos dos não praticantes.
18
16
Tabela I - Resultados descritivos do grupo praticante.
Estatística
Média
C10m (s)
LPS (s)
LPDV (s)
VTC (s)
LCLC (s)
Idade (anos)
IG
6,47
8,89
2,52
6,96
43,40
68,60
26,39
DesvioCoeficiente de
Mediana
padrão
variação
0,98
6,59
15,12
1,22
8,60
13,71
0,66
2,47
26,01
1,57
6,49
22,58
14,88
40,68
34,27
4,69
68,00
6,83
5,21
25,89
19,73
Freq. Absoluta
14
Resultado e discussão
12
10
8
6
4
2
0
C10(s)
LPS(s)
LPDV(s)
VTC(s)
Muito bom
Regular
Bom
Fraco
LCLC(s)
IG
C10 = caminhar 10 metros, LPS = levantar da posição sentada, LPDV =
levantar da posição decúbito ventral, VTC = vestir e tirar a camisa, LCLC
Tabela II - Resultados descritivos do grupo não praticante.
Estatística
Média
C10m (s)
LPS (s)
LPDV (s)
VTC (s)
LCLC (s)
Idade (anos)
IG
7,97
11,45
3,65
11,06
66,09
68,88
37,41
Desviopadrão
1,37
1,65
0,82
3,57
21,78
4,41
9,67
Mediana
7,74
11,47
3,49
10,10
56,30
69,50
33,89
= levantar da cadeira e se locomover pela casa, e IG = Índice GDLAM.
Coeficiente
de variação
17,25
14,41
22,33
32,31
32,95
6,40
25,86
Tabela III - Resultados do teste de Shapiro-Wilk (p = 0,05).
Grupo
Sedentário
C10m = caminhar 10 metros, LPS = levantar da posição sentada, LPDV
= levantar da posição decúbito ventral, VTC = vestir e tirar a camisa,
LCLC = levantar da cadeira e se locomover pela casa, e IG = Índice
GDLAM.
Praticante
Figura 1 - Classificação dos desempenhos dos praticantes.
16
14
Freq. Absoluta
12
Variável
C10m (s)
LPS (s)
LPDV (s)
VTC (s)
LCLC (s)
Idade (anos)
IG
C10m (s)
LPS (s)
LPDV (s)
VTC (s)
LCLC (s)
Idade (anos)
IG
Valor-p
0,13
0,72
0,08
0,05
0,00
0,67
0,02
0,97
0,46
0,42
0,05
0,00
0,49
0,00
Tabela IV - Resultados do Teste t-Student (p = 0,05).
10
Variável
LCLC (s)
IG
8
6
4
Valor-p
0,00
0,00
Tabela V - Resultados do Teste de Mann-Whitney (p = 0,05).
2
0
C10(s)
LPS(s)
LPDV(s)
VTC(s)
Muito bom
Regular
Bom
Fraco
LCLC(s)
IG
Variável
C10m (s)
LPS (s)
LPDV (s)
VTC (s)
Idade (anos)
Valor-p
0,00
0,00
0,00
0,00
0,83
C10m = caminhar 10 metros, LPS = levantar da posição sentada, LPDV =
C10 = caminhar 10 metros, LPS = levantar da posição sentada, LPDV
levantar da posição decúbito ventral, VTC = vestir e tirar a camisa, LCLC =
= levantar da posição decúbito ventral, VTC = vestir e tirar a camisa,
levantar da cadeira e se locomover pela casa, e IG = Índice GDLAM.
LCLC = levantar da cadeira e se locomover pela casa, e IG = Índice
GDLAM.
A idade não apresentou diferença relevante entre os
grupos, o que torna o presente estudo com resultados mais
fidedignos na comparação dos resultados.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Caminhar 10 metros: o grupo dos não praticantes obteve
uma média de 7,97 ± 1,37 segundos, e o grupo dos praticantes
teve uma média de 6,47 ± 0,98 ssegundos, sendo assim, de
acordo com a classificação do protocolo de GDLAM, os não
praticantes tiveram um desempenho fraco e os praticantes
conseguiram um desempenho regular. O grupo praticante
ficou aquém quando comparado com o grupo praticante
de hidroginástica do estudo de Mazini Filho et al. [31], que
obteve uma media 5,17 segundos alcançando a classificação
muito bom com este resultado. De acordo com a análise estatística, a diferença de tempo entre os grupos foi significante,
demonstrando que os praticantes de exercício físico obtiveram
melhor desempenho.
Figura 3 - Classificação do desempenho dos grupos no teste de
caminhar 10 metros.
Fraco
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Regular
21
Levantar da posição decúbito ventral: o grupo dos não
praticantes obteve uma mediana de 3,49 segundos e os
praticantes alcançaram uma mediana de 2,47 segundos. De
acordo com a classificação do GDLAM, os não praticantes
foram classificados como regular e o grupo praticante obteve
a excelência do protocolo que é a classificação muito boa.
Comparando com o estudo de Mazini Filho et al. [4] cujos
idosos fisicamente ativos obtiveram uma média de 5,21 segundos, o grupo praticante de treinamento combinado do
presente estudo alcançou em excelente resultado com uma
diferença significativa. Neste teste também houve uma diferença significativa comparando-se os grupos.
Figura 5 - Classificação dos grupos no teste de levantar da posição
decúbito ventral.
Regular
3,5
3
Muito bom
2,5
2
1,5
1
0,5
Praticantes
Não
praticantes
Levantar da posição sentada: nesta bateria, o grupo dos
não praticantes obteve uma média de tempo de 11,45 ± 1,65
segundos, e o grupo dos praticantes alcançou uma média
de 8,89 ± 1,22 segundos. De acordo com a classificação do
GDLAM os não praticantes obtiveram um fraco desempenho
e os praticantes obtiveram uma boa performance. No estudo
de Guimarães et al. [32], os praticantes de treinamento de força obtiveram uma mediana de 11,20 segundos, mas neste caso
eles haviam feito apenas algumas semanas de treinamento e
mesmo assim conseguiram obter uma melhora de 7 segundos,
comparando-se com o teste anterior ao treinamento. Visto
que este teste necessita de maior força e resistência muscular,
a diferença entre os grupos foi significativa de acordo com a
análise estatística.
Figura 4 - Classificação do desempenho dos grupos no teste de
levantar da posição sentada.
Fraco
12
10
0
Praticantes
Não
praticantes
Levantar da cadeira e caminhar pela casa: neste teste, a
mediana do grupo não praticante foi de 56,30 segundos e
a do grupo praticante foi de 40,68 segundos. Sendo assim,
segundo o protocolo de GDLAM, o grupo praticante obteve
uma classificação regular e o não praticante ficou na categoria
fraca. No estudo de Guimarães et al. [32], o grupo praticante
de exercício físico teve uma média neste teste de 37,54 segundos, obtendo uma classificação boa, sendo melhor do que a
do grupo praticante do presente estudo. Estes resultados podem ser explicados pelo fator da coordenação e do equilíbrio
dinâmico pouco trabalhado, o que acabava levando os idosos
a se confundirem durante a execução do teste e fazendo com
que a diferença entre os grupos fosse relevante.
Figura 6 - Classificação dos grupos no teste de levantar da cadeira
e caminhar pela casa.
Fraco
60
50
Bom
Regular
40
8
30
6
20
4
10
2
0
0
Praticantes
Não
praticantes
Praticantes
Não
praticantes
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
22
Vestir e tirar a camisa: o grupo praticante obteve uma mediana de 6,49 segundos, sendo classificado no grupo muito
bom pelo protocolo de GDLAM. Já o grupo não praticante
teve uma mediana de 10,10 segundos, também obtendo a classificação muito boa. Mesmo obtendo a mesma classificação, a
diferença de quase 4 segundos entre os grupos é significativa.
A análise estatística revelou uma diferença relevante entre os
grupos. No estudo de Guimarães et al. [32], o grupo praticante
de exercícios físicos regularmente obteve uma média de tempo
de 11,59 ± 1,72 segundos, o que revela um bom desempenho
dos dois grupos do presente estudo.
Figura 7 - Classificação dos grupos no teste de vestir e tirar a camisa.
12
Muito bom
10
8 Muito bom
6
4
2
0
Praticantes
Não
praticantes
IG: de acordo com o índice GDLAM (IG), que é uma classificação
geral da autonomia funcional dos idosos encontrada em uma fórmula
onde se utilizam os tempos obtidos nos testes citados acima, houve
uma diferença de classificação entre os grupos. O grupo praticante
teve uma pontuação média de 26,39, ± 5,21 o que a classificou como
regular e o grupo não praticante obteve uma pontuação mediana de
33,89 classificando-o como fraco. No estudo de Mazini Filho et al.
[4], o grupo praticante obteve uma pontuação média de 28,60 sendo
classificado como regular também. Já no estudo de Guimarães et al.
[32], o grupo praticante obteve uma mediana de 38,70 classificando o
grupo como fraco.
Figura 8 - Classificação dos grupos pelo Índice GDLAM.
Fraco
35
30
Regular
25
20
15
10
5
0
Praticantes
Não
praticantes
Conclusão
Este estudo teve como objetivo a comparação da autonomia funcional entre idosos praticantes e não praticantes
de treinamento combinado. Observamos uma diferença
significativa no tempo de execução entre os grupos. A maior
diferença se deu nos testes com mais complexidade, que necessitava de atenção e coordenação. Comparando tais achados
deste estudo com outros estudos citados neste trabalho que
também utilizaram o protocolo de GDLAM, sendo que em
todos os estudos o grupo praticante de exercício físico obteve
melhor desempenho na realização da bateria de testes, há uma
forte evidência que o exercício físico prescrito por profissionais
capacitados é imprescindível para a manutenção da autonomia
funcional em idosos.
Recomendamos que outros estudos que envolvam treinamento combinado e autonomia funcional para idosos
utilizem exercícios de intensidade e volume controlados pelos
pesquisadores durante algumas semanas, buscando descobrir
se existe um método de treinamento que seja mais válido e
com melhores resultados para que os idosos alcancem sua
autonomia funcional.
Referências
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
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Artigo original
Efeito do exercício aeróbico na incidência
de quedas em idosos com problemas de saúde
Effect of aerobic exercise on the incidence of falls
in elderly with health problems
Josenei Braga dos Santos, M.Sc.*, Geórgia Maria F. Benetti**, André Junqueira Xavier, D.Sc.***, Eleonora d’Orsi, D.Sc.****
*Mestrando em Saúde Pública – PPGSP/UFSC, **Aluna do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas – DICH/UFSC,
***Informática em Saúde (UNIFESP/EPM), Professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública – PPGSP/UFSC
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi verificar o efeito do exercício aeróbico
na incidência de quedas em idosos com problemas de saúde. Participaram da amostra dois sujeitos: A) masculino 79 anos que sofreu
um AVC e B) feminino 72 anos diabética. O estudo obedeceu a três
etapas: pré-teste: aplicação de questionário com perguntas referentes aos aspectos sociodemográficos, atividades diárias e condições
de saúde em geral, avaliação do índice de massa corporal (IMC),
através do protocolo da World Health Organization e queda avaliada
pelo teste de Tinetti; intervenção: 29 sessões de exercício aeróbio,
realizadas duas vezes por semana, com duração de 65 minutos com
intensidade entre 55% a 85% da Frequência Cardíaca Máxima
(FCmáx); e pós-teste: avaliação da queda e avaliação qualitativa dos
idosos. Os resultados mostraram que houve 100% de participação
do sujeito A e 75,86% do sujeito B, manutenção da classificação no
teste Tinetti nos dois períodos (pré e pós-teste), mantendo-os fora
do risco de sofrer queda durante este período de trabalho. Diversos
benefícios para a saúde e qualidade de vida foram identificados por
meio da avaliação qualitativa.
The aim of this study was to evaluate the effect of the aerobic
exercise on the incidence of falls in elderly with health problems. The
sample was composed by two subjects: A) male 79 years who had
suffered cerebrovascular accident (CVA) and B) female 72 years with
diabetes. The study included three stages: pre-test: a questionnaire
was applied regarding socio-demographic aspects, daily activities and
health in general, body mass index was evaluated through World
Health Organization protocol and the Tinetti balance test was used
to evaluate falls; intervention: 29 sessions of aerobic exercise for 65
min, two times per week, at intensity 55% - 85% of maximum heart
rate (MHR); and post-test: falls risk and qualitative evaluation of the
elderly. The results showed that subject A had 100% participation
and subject B had 75.86%, same classification in Tinetti test in two
periods (pre and pos test), keeping them out of risk of falling over
during this period of work. Many benefits to health and quality of
life were identified through the qualitative evaluation.
Key-words: aerobic exercises, falls, elderly, aging.
Palavras-chave: exercício aeróbico, quedas, idosos,
envelhecimento.
Endereço para correspondência: Josenei Braga dos Santos, Rua Ogê Fortkamp, 111/204, Bloco A, Bairro Trindade 88036-610
Florianópolis SC, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
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Introdução
Materiais e métodos
O envelhecimento é um processo de mudança natural
da vida humana e com ele diversas modificações fisiológicas
sobre o corpo dos idosos podem surgir, causando diversos
problemas de saúde físicos e mentais, frequentemente, causados por doenças crônicas, diminuição do equilíbrio, quedas e
mobilidade funcional Alfieri et al., Ribeiro et al. e Mazo [1-3].
De acordo com Tribess et al. e Souza e Silva et al. [4-5], este
processo leva todos os seres vivos, principalmente os idosos,
a passarem por perdas progressivas nos aspectos físicos, fisiológicos, psicológicos e sociais, que refletem diretamente nas
suas capacidades funcionais, “capacidade de realizar atividades
físicas cotidianas, profissionais, esportivas, terapêuticas e de
lazer” [6:59]. Esta perda, segundo estes autores, dificulta a
realização das atividades da vida diária (AVD), assim como,
conduz o idoso a se tornar sedentário, o que permite o surgimento de doenças crônico-degenerativas advindas de hábitos
de vida inadequados.
Outro fator que também surge nesta fase, segundo Perracini [7] é o da deterioração do equilíbrio e da marcha, que
influencia o aumento do número de quedas, ou seja, “uma
mudança de posição inesperada, não intencional, que faz o
indivíduo permanecer em um nível inferior” [7:195].
Um estudo realizado por Siqueira et al. [8] com 4.003
idosos brasileiros (65 anos ou mais), mostrou que a prevalência de quedas foi de 34,8% e entre os que experimentaram
queda, 12,1% tiveram fratura como consequência: 46% nos
membros superiores, 28% nos membros inferiores, 11% no
tronco, 5,5% na face e os valores restantes distribuídos entre
outros locais.
Isso demonstra que este evento pode ser considerado como
um dos grandes problemas de saúde pública nesta fase, podendo gerar incapacidades parciais ou dependência, alterações
na massa muscular e óssea, institucionalização, fragilidade,
lesões, fratura de quadril, custos de tratamento e morte, o
que resulta em sérias complicações para a saúde, a família e/
ou cuidadores e a qualidade de vida do idoso [2,7-11].
Diversos estudos e matérias veiculadas pelos meios de
comunicação têm mostrado que a prática de exercícios físicos
(EF) por idosos (programas de caminhadas, musculação, yoga,
hidroginástica, tai chi chuan, dança de salão, pilates, etc.),
tem dado uma contribuição significativa para a melhora da
capacidade funcional de curto a médio prazo.
A prática de EF tem sido enfatizada como uma das estratégias eficazes para prevenir doenças e quedas, promover
e manter a saúde dos idosos, aumentar a expectativa de vida
e a capacidade física, melhorar as relações sociais devido à
convivência em grupo com pessoas da mesma idade, e, consequentemente, diminuir os anos de dependência funcional
e a incapacidade física [1,3,4,12-17].
Sendo assim, objetiva-se neste estudo verificar os efeitos
do exercício aeróbico na incidência de quedas em idosos com
problemas de saúde.
Tipo de estudo
É uma pesquisa descritiva, do tipo estudo de caso, no qual
o pesquisador esforça-se por uma compreensão em profundidade de uma única situação ou fenômeno [18].
Sujeitos
Participaram da pesquisa dois idosos conforme pode ser
observado na Tabela I, que faziam uso de diversos medicamentos e que tinham acompanhamento médico mensal.
Tabela I - Características físicas dos participantes.
Sujeito
Sexo
Idade (anos)
Peso (kg)
Altura (m)
IMC kg/m2
FC repouso (bpm)
A
Masculino
79
79,4
1,75
25,79
66
B
Feminino
72
66
1,59
26,12
84
IMC - Índice de Massa Corporal; FC - Frequência Cardíaca.
Sujeito A – portador de marcapasso, que tinha sofrido
acidente vascular cerebral (AVC), possuía dificuldades de se
equilibrar, havia perdido a visão esquerda há 19 anos, tinha
sofrido duas quedas nos últimos 12 meses, relatava queixas
de memória e era sedentário.
Sujeito B – diabética com problemas de pressão alta, que
havia realizado diversas cirurgias: apendicite aguda, problemas na tiróide, vesícula e tornozelo, não havia sofrido queda
nos últimos 12 meses, possuía dificuldades de coordenação
motora, relatava queixas de memória e praticava atividades de
ginástica três vezes por semana com duração de 45 minutos
em grupo.
Coleta de dados
Para atender às necessidades da investigação, aplicou-se um
questionário com perguntas abertas e fechadas referentes aos
aspectos sociodemográficos, atividades diárias e as condições
de saúde em geral.
Com relação à aferição do peso corporal, utilizou-se uma
balança eletrônica marca Filizola, modelo PL-180, com capacidade de 180 kg e divisão de 100 g, a estatura foi mensurada
por meio de um estadiômetro compacto marca WISO, com
campo de medição de 0 a 200 cm. Para cálculo do IMC,
utilizou-se o protocolo da World Health Organization [19],
ou seja, IMC (kg/m²) = Peso/Altura².
No que se referiu à queda, adotou-se o teste de Tinetti
[20], que é um teste que permite avaliar o equilíbrio e as
anormalidades da marcha sendo constituído de 16 itens, no
qual 9 são para o equilíbrio do corpo e 7 para a marcha. Este
26
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
teste classifica os aspectos da marcha como a velocidade, a
distância do passo, a simetria e o equilíbrio em pé, o girar e
também as mudanças com os olhos fechados. A contagem para
cada exercício varia de 0 a 1 ou de 0 a 2, com uma contagem
mais baixa que indica uma habilidade física mais pobre. A
pontuação total é a soma da pontuação do equilíbrio do corpo
e a da marcha. Sua pontuação máxima é de 12 pontos para
a marcha, de 16 para o equilíbrio do corpo e de 28 para a
total, tendo como indicadores do risco de queda as seguintes
pontuações: ≤ 18 alto, 19-23 moderado e ≤ 24 baixo.
Intervenção
Para desenvolvimento deste estudo, adotou-se como forma
de trabalho a cultura de empoderamento na saúde, proposta
pela Organização Panamericana de Saúde [21], ou seja, ajudar
os idosos a gerenciarem sua própria saúde por meio da prática
de exercício físico e orientá-los sobre hábitos de saúde.
Foram realizadas 29 sessões de exercício aeróbio (caminhada), durante um período de três meses, duas vezes por
semana, em dias alternados, com duração de 65 minutos,
divididos em três partes:
a) 5 a 10 minutos – exercícios de alongamento e flexibilidade (aquecimento articular e fisiológico);
b) 30 a 50 minutos – exercício aeróbio;
c) 5 minutos – exercícios respiratórios e de relaxamento
muscular visando retorno da FC aos níveis de repouso.
Com relação à execução dos exercícios aeróbios, tomou-se
como referência trabalhar com intensidade de leve a moderada
em torno de 55% a 85% da Frequência Cardíaca Máxima
(FCmáx) conforme indicado por Nobrega et al. [15]. Para
cálculo da FCmáx adotou-se a fórmula, (FCmáx) = 220 – idade,
preconizada por Karvonen et al. apud Powers e Howley [22],
sendo medida de forma indireta (medida radial), ou seja,
pressionar levemente o indicador e o dedo médio contra a
artéria radial no sulco na parte lateral do punho.
Com relação aos procedimentos éticos de pesquisa, seguiuse a resolução específica do Conselho Nacional de Saúde [23].
No que se referiu ao termo de consentimento livre e esclarecido, os dois sujeitos assinaram confirmando que estavam
cientes dos propósitos da investigação e dos procedimentos
que seriam utilizados e autorizaram a publicação dos dados
obtidos.
Resultados
Após a aplicação das sessões, percebeu-se que houve 100%
de participação do sujeito A e 75,86% de participação do
sujeito B.
Como pode ser observado, na Tabela II e III, respectivamente, encontram-se o resultado do teste de Tinetti (pré e
pós-teste) dos dois sujeitos e logo após cada tabela, apresentase a avaliação qualitativa.
Tabela II - Resultado do teste de Tinetti.
Sujeito A
Equilíbrio
Marcha
Total
Pré-teste
15
9
24
Pós-teste
16
9
25
Avaliação qualitativa
Relatou que houve melhora na qualidade do sono, não
havia sofrido queda durante o desenvolvimento deste estudo, diminuição das dores musculares, sentia que as pernas
estavam mais firmes, o corpo mais flexível, com boa postura
e disposto para as atividades diárias e viagens, começou a
fazer tratamento para o problema de visão e conversou com
seu médico sobre sua medicação, e este por sua vez, decidiu
reduzir um medicamento (anticonvulsivante) de três para
um comprimido/dia.
Tabela III - Resultado do teste de Tinetti.
Sujeito B
Equilíbrio
Marcha
Total
Pré-teste
16
9
25
Pós-teste
16
9
25
Avaliação qualitativa
Relatou que houve melhora na qualidade do sono, que não
havia sofrido queda durante o desenvolvimento deste estudo,
diminuição das dores musculares e sentia-se mais disposta e
flexível durante as atividades diárias e viagens.
Discussão
De acordo com os resultados obtidos, notou-se que a
prática do exercício aeróbico ajudou a melhorar o equilíbrio
do sujeito A e a manter a pontuação do sujeito B. Estes
valores demonstraram que, apesar dos sujeitos apresentarem
um baixo risco de queda no pré-teste, esta classificação também se manteve no pós-teste, mostrando que os exercícios
contribuíram para que esta classificação fosse preservada e,
consequentemente, ajudasse a prevenir e/ou minimizar diversos problemas musculoesqueléticos que pudessem surgir
durante o período de trabalho. Sendo assim, pode-se dizer que
estas informações vão ao encontro dos posicionamentos de
Oliveira [24], quando fala que os exercícios aeróbicos trazem
diversos benefícios ao organismo, porque são os que mais desenvolvem a aptidão musculoesquelética e cardiorrespiratória
e de Mazo [3], quando aponta que os benefícios provocados
pela caminhada parece ser valiosa para os idosos, pois a força
dos membros inferiores auxilia a minimizar os efeitos da
imobilidade e, consequentemente, a manter a independência.
Diversos estudos têm apontado o EF como um dos
principais fatores para a aquisição e manutenção da saúde,
prevenção de doenças, sendo utilizado como um procedi-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
mento na reabilitação e melhoria da performance de atletas
e praticantes de atividades físicas [25].
Rebelatto et al. [26] quando verificaram a influência de
um programa de atividade física de longa duração sobre a
força de preensão manual e a flexibilidade de mulheres idosas, identificaram manutenção da força de preensão manual
e reprogramação dos exercícios para desenvolvimento da
flexibilidade.
Alfieri et al. [1], quando avaliaram a mobilidade funcional
e o equilíbrio de 75 idosos (25 praticantes voleibol adaptado
- G1, 25 ginástica - G2 e 25 indivíduos sedentários – G3),
identificaram que o G1 e o G2 obtiveram melhores resultados
em todos os itens avaliados quando comparados ao Grupo
3, concluindo que a prática regular de exercícios físicos pode
interferir positivamente no equilíbrio e mobilidade funcional
de idosos.
Candeloro e Caromano [27] quando estudaram o efeito
de um programa de hidroterapia na flexibilidade e na força
muscular de idosas, notaram que o programa foi eficiente para
melhorar a flexibilidade e, parcialmente, para a força muscular.
Silva et al.[28] quando avaliaram o equilíbrio, a coordenação e agilidade de idosos submetidos à prática de exercícios
físicos resistidos, constataram melhor desempenho para o
grupo experimental em relação ao controle. Já Resende et al.
[29] quando estudaram sobre o efeito de um programa de
hidroterapia no equilíbrio e no risco de quedas em idosas,
conseguiram promover aumento significativo do equilíbrio
e redução do risco de quedas.
De acordo com o que está preconizado na literatura,
consegue-se perceber que a prática de EF tem uma relação
direta com a saúde, qualidade de vida e bem estar dos idosos,
contribuindo para a independência e a capacidade funcional,
fato este também encontrado neste estudo por meio dos
relatos na avaliação qualitativa o que para Guiselini, Nahas
et al. e Araújo [30-32] pode ser considerado como um fator
estimulador, que atua positivamente na mudança de comportamento das pessoas, proporcionando mais autonomia para
a vida e maior disposição.
Conclusão
Pode-se concluir que a prática do exercício aeróbico contribuiu para que os idosos mantivessem suas classificações
no teste realizado, auxiliando na redução do risco de quedas
e, consequentemente, ajudando a prevenir problemas musculoesqueléticos que pudessem surgir durante este período.
Outro ponto de destaque percebido foi que as orientações
sobre hábitos de saúde contribuíram para que os sujeitos
gerenciassem melhorar suas condições de saúde, autonomia,
capacidade funcional e independência.
Cabe ressaltar que se faz necessário desenvolver estudos de
intervenção com um número maior de idosos, por um longo
período de tempo, e que estes possam ser realizados utilizando
instrumentos validados cientificamente, simples, rápidos, de
27
fácil entendimento e execução, para que se possa ajudá-los a
gerenciar melhor sua saúde.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
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Artigo original
Correlação entre repetições no pulley frontal
e flexões na barra fixa
Correlation between repetitions in the frontal pulley
and fixed bar pull down
Jaime Flôres de Araujo Bastos*, Antonio Coppi Navarro**, Francisco Navarro***
*Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu da Faculdade de Educação Física da ACM de Sorocaba em Fisiologia do Exercício: Prescrição do Exercício, Ofi cial do Exército Brasileiro,**Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício, Programa
de Pós-Graduação Lato-Sensu da Faculdade de Educação Física da ACM de Sorocaba em Fisiologia do Exercício: Prescrição do
Exercício, Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu da UMC em Engenharia Biomédica, ***Universidade Federal do Maranhão,
Departamento de Educação Física
Resumo
Abstract
Introdução: A flexão na barra fixa tem como finalidade avaliar
as qualidades físicas de força e de resistência muscular localizada
de membros superiores. Esse exercício é específico para as ações de
combate do militar. Por esse motivo, a flexão na barra fixa faz parte
do Teste de Avaliação Física, executado obrigatoriamente por todos
os militares, três vezes ao ano. A flexão na barra fixa tem sido uma
das causas dos resultados de insuficiência no Teste de Avaliação
Física. Visando buscar um exercício de musculação que irá auxiliar
no treinamento para a execução da flexão na barra fixa, quiçá para o
Teste de Avaliação Física, o objetivo deste estudo foi correlacionar o
resultado do teste de repetição máxima no pulley frontal e o desempenho na flexão na barra fixa. Material e métodos: Participaram do
estudo 32 soldados, voluntários, do Exército Brasileiro, com idade
entre 19 e 20 anos e massa corporal de 71,3 ± 8 kg. No primeiro
dia foram mensuradas a massa corporal e a idade, além do teste
de repetição máxima no pulley frontal, com a carga fixa de 45 kg.
Após 72 horas foi realizado o teste de repetição máxima na barra
fixa. Resultados e discussão: No pulley frontal a média de repetições
máximas foi de 12,21 ± 6,14, enquanto na barra fixa foi de 6,15 ±
3,87. A correlação de Pearson foi 0,88 (P < 0,01). Nesse sentido os
achados deste estudo confirmam a relação de semelhança entre os
exercícios pulley frontal com os exercícios de barra fixa, na proporção equivalente de dois para um. Conclusão: Conclui-se que existe
a relação de duas repetições no pulley frontal, com 45 kg, para cada
repetição na barra fixa.
Introduction: The flexion in fixed bar is used to assess the strength
and muscular endurance of upper limbs. This exercise is specific to
the actions of the military fight. Therefore the flexion in fixed bar is
included in the Physical Assessment Test of the Army. The flexion
at fixed bar has been one of the causes of failure in physical fitness
evaluation. Aiming to determine the training workload to prepare
the soldiers to the flexion at fixed bar test, the purpose of this study
was to correlate the outcome of the repetition maximum in the front
pulley and the performance in the flexion fixed bar. Material and
methods: Participants of the study were 32 soldiers from the Brazilian
Army, 19 and 20 years old, with body mass of 71.3 ± 8 kg. In the
first day the body mass was measured, as well the repetition maximum in front pulley with the fixed load of 45 kg. After 72 hours
the repetition maximum in the fixed bar was determined. Results
and discussion: In the front pulley the mean of maximum repetition
was 12.21 ± 6.14, while the mean maximum repetition in the fixed
bar test was 6.15 ± 3.87. The Pearson correlation coefficient was
0.88 (P < 0.01). In this sense the findings of this study confirm the
relationship between the front pulley exercises with the fixed bar
repetitions. Conclusion: There is a significant relationship between
two repetitions in the front pulley with 45 kg and the repetition
maximum in the fixed bar test.
Key-words: physical assessment test, neuromuscular training, front
pulley, fixed bar, performance.
Palavras-chave: teste de avaliação física, treinamento
neuromuscular, pulley, barra fixa, performance.
Endereço para correspondência: Antonio Coppi Navarro, Rua Piracicaba, 65/04, 07040-310 Guarulhos SP, Tel: (11) 2229-5701,
E-mail: [email protected]
30
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Introdução
O Exército Brasileiro, juntamente com a Marinha e a
Aeronáutica, constituem as Forças Armadas do Brasil. Estas
instituições são permanentes e regulares e destinam-se à
defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e,
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem [1]. A
importância da aptidão física para o sucesso nas operações
militares foi confirmada nos relatórios sobre a campanha
do Exército Britânico nas ilhas Falkland e sobre as ações do
Exército Americano em Granada [2]. Devido a isso, o Exército
Brasileiro adota o Treinamento Físico Militar (TFM) como
instrução obrigatória para todos os militares [3].
Os militares, para desempenharem bem suas funções, estão
em constantes treinamentos físicos e para que se possa controlar e avaliar o desempenho físico individual dos militares
é realizado por todos, isto é, obrigatório, três vezes ao ano se
submeter ao Teste de Avaliação Física (TAF) [3]. Dentre os
exercícios que constituem esta avaliação encontramos a Flexão
na Barra Fixa (FBF) [4].
A FBF tem como objetivo avaliar as qualidades físicas de
força e de Resistência Muscular Localizada (RML) de membros superiores. Ela tem sido uma das causas dos resultados
de insuficiência no Teste de Avaliação Física entre os militares
das forças regulares [5]. Em busca da necessidade em superar
os resultados insuficientes nos Testes de Avaliação Física pelos
militares e visando buscar um exercício de musculação que
fundamente uma prescrição de um treinamento físico de força
e de resistência muscular localizada, em termos de membros
superiores, o objetivo deste estudo é relacionar o resultado do
Teste de Repetição Máxima (TRM) no Pulley Frente (PF) e
a performance na FBF [6].
Material e métodos
Amostra
A amostra foi constituída por 32 soldados voluntários, que
assinaram termo de consentimento, integrantes do 2º Grupo
de Artilharia de Campanha Leve (2º GAC L), incorporados
no mês de março, isto é, com dois meses e meio de quartel,
com idade entre 19 e 20 anos, massa corporal de 71 ± 8
kg. Todos os participantes eram fisicamente ativos [13], do
sexo masculino e não apresentaram nenhuma patologia que
pudesse contra indicá-los para a execução de exercício intenso
de força de membros superiores.
Procedimentos
No primeiro dia foram mensuradas a massa corporal e a
idade, além do Teste de Repetição Máxima no Pulley Frente.
No segundo dia, 72 horas após o teste anterior, foi realizado
o Teste de Repetição Máxima na Barra Fixa. Todos os testes
foram realizados das quinze e trinta às dezessete horas. Foi
demonstrado o protocolo para os dois testes, antes da realização dos mesmos, a fim de padronizar os procedimentos de
execução. A massa corporal foi mensurada utilizando-se uma
balança digital da marca Filizola, modelo Personal, ano 2001,
com precisão de 100 gramas.
O suor nas mãos, variável interveniente para o teste de
flexão na barra fixa, foi controlado pela aplicação de “breu
vegetal” nas mãos de todos os indivíduos da amostra. Outra
interveniente controlada foi a motivação para a realização do
teste, visto que este foi realizado durante a execução do TAF.
O teste de repetição máxima no pulley frente
O aparelho PF foi escolhido para o trabalho de correlação
com a FBF, devido às suas semelhanças [14] quanto às articulações envolvidas, os movimentos articulares e os músculos
envolvidos, tudo isso citado anteriormente. Além disso, esse
exercício de musculação serve como TAF alternativo, para
militares que, por algum motivo de saúde, são impossibilitados de executar a FBF [15].
A aptidão física em relação ao componente força vem
sendo mensurada através de testes de força e resistência de
força, em que figuram o de uma repetição máxima (1RM) e
o de repetições máximas (RM) [16].
O teste de repetição máxima foi escolhido para avaliar a
força máxima dos indivíduos, pois a realização de um teste
de 1RM pode causar lesões, principalmente em indivíduos
inexperientes [17]. Com isso, é aconselhável a execução de
testes de resistência muscular, que são os que realizam o máximo de repetições com cargas submáximas.
Os testes submáximos encontrados na literatura são os
de número máximo de repetições. Para a execução desses
testes, a carga pode ser escolhida pelos seguintes critérios:
carga fixa arbitrariamente determinada, carga baseada em
um percentual da massa corporal ou em um percentual de
1 RM [17]. Para a realização deste trabalho, foi escolhida a
carga fixa arbitrariamente determinada. Com isso, utilizouse a carga de 45 kg para todos. O teste propriamente dito
foi executado seguindo o seguinte protocolo de Moura et al.
[16]. Posição inicial: a) Indivíduo sentado com tronco ereto
e os joelhos flexionados em aproximadamente 90º, estando as
coxas fixadas no anteparo padrão do aparelho situado à frente
do corpo; b) Mãos segurando a barra do aparelho, estando os
cotovelos totalmente estendidos e os braços elevados acima
do corpo, estando o tronco em atitude ereta.
Ponto de resistência da quilagem – A resistência é oferecida
pela barra padrão contra o movimento de puxada (adução de
ombro e flexão de cotovelo).
Execução – O indivíduo executa a puxada da barra para
baixo e a frente do corpo até que ultrapasse a mandíbula,
conforme modelagem na figura 1.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Figura 1 - Modelagem do exercício pulley frente.
O teste de flexão na barra fixa
O teste de flexão na barra fixa foi realizado de acordo com
o protocolo a seguir descrito e exemplificado na modelagem
da Figura 2: Ao comando de ligar, o militar empunhou a
barra com os braços estendidos e os punhos em pronação. Ao
comando de iniciar, executou sucessivas flexões de braço na
barra fixa até o limite de sua resistência. Só foram contadas
aquelas em que o indivíduo ultrapassava a barra com o queixo,
na fase concêntrica e estendia os braços completamente, na
fase excêntrica. Não foram permitidos movimentos abdominais (“galeios”) e pedaladas para impulsionar o tronco [4].
Figura 2 - Modelagem do exercício barra fixa.
31
Tabela I - Pulley frente e barra fixa individualmente.
Amostra
Pulley
(n) (1 a 16)
1
25
2
22
3
22
4
21
5
21
6
20
7
19
8
19
9
18
10
18
11
15
12
14
13
12
14
12
15
11
16
11
Amostra (n = 32)
Média
Desvio Padrão
Teste t
Correlação de
Pearson
ANOVA (Turkey)
Barra
12
15
14
10
11
8
8
8
13
8
6
5
4
9
6
5
Pulley
12,21
6,40
0,01
Amostra (n) Pulley
(17 a 32)
17
10
18
10
19
9
20
9
21
9
22
8
23
8
24
8
25
7
26
6
27
6
28
6
29
5
30
4
31
4
32
2
Barra
6,15
3,87
0,01
Barra
6
6
6
3
5
4
3
6
3
4
1
1
3
1
0
3
0,88
0,0001
Discussão
Tratamento estatístico
Os dados dos testes no pulley frente e na barra fixa foram
coletados e apresentados em estatística descritiva: frequência
absoluta, frequência relativa, média, desvio padrão, e estatística analítica: correlação de Pearson, Test t para cada variável
(pulley e barra fixa) independentemente e a Anova seguida
de verificação post-hoc de Tukey para as variáveis (pulley e
barra fixa). O nível de significância foi fixado em p < 0,05 e
os cálculos feitos com o software Bioestat 4.0.
Resultados
A Tabela I apresenta os resultados para o pulley frontal e
barra fixa, para cada um dos indivíduos participantes.
O exercício físico é uma atividade de baixo custo que
pode promover saúde [7], os exercícios neuromusculares
realizados regularmente são importantes para a manutenção
e melhoria das condições morfofisiológicas e de saúde, nesse
sentido os militares realizam frequentemente exercícios físicos
prescritos [8].
Atividades neuromusculares têm como objetivo atingir
as seguintes finalidades: profilática, terapêutica, psicológica,
estética e de treinamento os militares realizam atividades
neuromusculares principalmente em termos de treinamento físico, profilática e psicológica, e quando necessária
terapêutica [9].
Para o Exército Brasileiro, os exercícios neuromusculares
têm como objetivo principal, atingir a finalidade de treinamento, e a FBF muito utilizada nos treinamentos e testes
físicos dos militares, quando realizada na posição pronada é
similar às ações de combate do militar. Em diversos cursos
operacionais do Exército, durante uma missão real ou até
mesmo nas atividades corriqueiras dos quartéis, como, por
exemplo: o embarque em viaturas altas, subida em árvore
ou a transposição de um muro, os militares utilizam o
tipo de pegada pronação para suspender o peso do próprio
corpo [10].
O exercício da FBF engloba três articulações: a articulação
do ombro, a escápulo - torácica e a do cotovelo [11].
32
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Na execução da FBF observam-se os seguintes movimentos
articulares: adução de ombro, rotação inferior da escápula e
flexão do cotovelo [11].
No movimento de adução do ombro, como Motor Primário (MP) destaca-se os seguintes músculos: latíssimo do
dorso, redondo maior e peitoral maior (parte abdominal). Já
na rotação inferior da escápula, têm-se como MP o peitoral
menor, rombóide maior e trapézio (parte ascendente). Na
flexão de cotovelo observa-se a atuação do bíceps braquial,
do braquial e do braquiorradial [11].
A FBF é um exercício que exige uma certa força e é excelente para o desenvolvimento das costas [12]. Ele trabalha
os seguintes músculos: latíssimo do dorso, redondo maior,
peitoral maior, rombóide, trapézio (parte ascendente), bíceps
braquial, braquial e o braquiorradial.
O exercício de puxada na frente com polia alta (pulley frente), também é um excelente exercício físico para
desenvolver os músculos das costas. Ele trabalha as fibras
superiores e centrais do latíssimo do dorso, a parte transversa
e ascendente do trapézio, o rombóide, o bíceps braquial,
o peitoral maior, o redondo maior, o peitoral menor e o
braquial [12].
O exercício pulley costas, muito semelhante ao pulley frente, engloba as mesmas articulações, os mesmos movimentos
articulares e as mesmas ênfases musculares que o movimento
de FBF [11].
A diferença entre o exercício de FBF e do PF está no ponto
fixo e no ponto móvel. Na FBF o ponto fixo está inserido no
úmero e o móvel na coluna vertebral. No PF o fixo está na
coluna vertebral e o móvel no úmero [11].
Analisando os resultados, deste estudo, e que estão
apresentados, na tabela I, individualmente, ou seja, por
todos os sujeitos da amostra, observa-se que não existe uma
regularidade, em termos de resultado individual, no que
se refere ao resultado do exercício pulley frente, quando
comparado ao exercício da barra fixa. Devido a isso, não
podemos afirmar que o indivíduo que faz mais repetições
no pulley frente, com o peso de 45 kg de carga fará mais
repetições na barra fixa que um indivíduo que obteve um
resultado pior no pulley.
Observando-se a média do número de repetições no
pulley frente de todos os sujeitos da amostra (n = 32) é de
12,21 ± 6,40. Já a media do número de repetições na barra
fixa é de 6,15 ± 3,87. Devido a isso, é possível inferir que,
em percentagem, o número de FBF é 50,8% do número de
repetições no pulley frente com 45 kg de carga. Pelo índice
de 0,88 obtido na correlação de Pearson podemos afirmar
que existe uma relação de duas repetições no exercício pulley
frente para cada exercício de flexão na barra fixa.
Para a significância dos resultados da amostra (n = 32)
em relação aos exercícios físicos pulley frente e flexão na
barra fixa, foi usado em cada um independentemente o
test t (p < 0,01) e para a análise de variância o test Turkey
(p < 0,0001).
Conforme sugerem os estudos citados, principalmente os
[5,10-12,15,18], e comparando com os dados obtidos nesta
investigação os exercícios físicos de pulley frente e flexão na
barra fixa possuem uma correlação de dois para um quando
levamos em consideração as características dos sujeitos dessa
amostra.
Conclusão
Analisando os pressupostos teóricos e os dados estatísticos
apresentados, concluímos que existe a correlação de duas
repetições no pulley frente, com 45 kg, para cada repetição
na barra fixa.
Sendo assim, já que existe uma relação de proporção entre
os dois exercícios, sugere-se aos militares inserir o exercício
pulley frente no teste de avaliação física.
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34
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Artigo original
Avaliação antropométrica em idosos
praticantes de hidroginástica
Anthropometric characteristics of elderly
in a hydrogymnastic exercise program
Danielle Salles Tortola*, Mariane Takesian*, Karla Dias Tomazella*, Marina Yazigi Solis*, Jaqueline Kremer Pereira*, Marina
Gomes da Costa Fuchs*, Monica Milani*, Priscila Anacleto de Oliveira*, Clara Korukian Freiberg**
*Discentes do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo – CUSC, São Paulo, **Docente do Curso de Nutrição do
Centro Universitário São Camilo – CUSC, São Paulo
Resumo
Abstract
Introdução: Visando avaliar a influência da hidroginástica
no estado nutricional de idosos praticantes desta atividade,
83 mulheres e 17 homens foram submetidos à avaliação
antropométrica. Material e métodos: Trata-se de um estudo
transversal descritivo, com coleta de dados primários, realizado em quatro academias da zona sul da cidade de São Paulo.
Os indivíduos foram submetidos a medidas de peso, altura,
dobra cutânea tricipital e circunferências de braço, cintura e
quadril. Foram também coletados dados pessoais e presença
de doenças relacionadas ao estado nutricional. Resultados: Foi
possível observar que, no geral, estes idosos estão em condição
de eutrofia, sendo 48,2% para as mulheres e 52,9% para os
homens, além do que este tipo de atividade física resulta em
preservação da massa muscular, pois 73% da prega cutânea
tricipital e 83% da circunferência muscular do braço dos
participantes se encontram em eutrofia. Os resultados obtidos
pela antropometria mostram que a prática de hidroginástica
por idosos resulta em melhora do estado nutricional, diminuição no risco de desenvolvimento de doenças metabólicas
e cardiovasculares. Conclusão: Foi verificado que a prática da
hidroginástica por idosos melhora a qualidade de vida desta
população, influenciando positivamente no estado nutricional, sendo também importante na integração social, tendo
por consequência, a longevidade.
Introduction: Aiming at evaluating the influence of hydrogymnastics in nutritional status of elderly practicing this activity, 83
women and 17 men were submitted to anthropometric evaluation.
Methodology: It is a descriptive transversal study, with primary data
collection, carried out in four academies at the south of São Paulo
city. Anthropometric measurements included weight, height, tricipital skinfold and circumferences of arm, waist and hip were obtained.
Also, personal information and diseases related to nutritional status
were collected. Results: It was possible to observe that, in general, the
nutritional status of the elderly was classified as eutrophic, 48,2% for
women and 52.9% for men. This physical activity preserves muscle
mass in both gender, and 73% of the triceps skinfold thickness and
83% of arm muscle circumference of the participants are eutrophic.
The anthropometric measurements results showed that the practice
of hydrogymnastics by the elderly improved nutritional status and
decreased risk of developing metabolic and cardiovascular diseases.
Conclusion: It was concluded that the practice of hydrogymnastics
for elderly people improves their quality of life, influencing positively in the nutritional status, being also important in the social
integration and longevity.
Key-words: aged, motor activity, nutricional status, anthropometry.
Palavras-chave: idoso, atividade física, estado nutricional,
antropometria.
Endereço para correspondência: Karla Dias Tomazella, Rua Aparecida Ivone Munhoz, 35, 06142-050 Osasco SP, Tel: (11) 36918004/7456-1916, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Introdução
Nos últimos anos, devido a um aumento na expectativa
de vida, o número de pessoas pertencentes à terceira idade
tem aumentado [1]. Do ponto de vista demográfico, o envelhecimento é caracterizado pelo aumento da proporção da
população acima de 60 anos em relação à população total, com
aumento da expectativa de vida e queda da mortalidade [2].
Com esse envelhecimento da população haverá um aumento
das demandas sanitárias, sociais e econômicas, representando ao mesmo tempo um dos maiores triunfos e desafios da
humanidade [3].
O crescimento da população idosa é um fenômeno comum nos países centrais, mas também está presente de modo
crescente nos países do terceiro mundo [4,5]. Atualmente, no
Brasil, os idosos representam cerca de 10% da população, o
que significa 15,5 milhões de brasileiros com mais de 60 anos
[6], porém esse aumento da população idosa vem ocorrendo
de forma muito rápida, sem a correspondente modificação
nas condições de vida [7].
Com frequência, os idosos são portadores de doenças
crônicas e destinam, muitas vezes, parte importante de seu orçamento à compra de medicamentos, podendo comprometer
a aquisição de determinados alimentos, agravando o estado
nutricional, acarretando maiores complicações de doenças
agudas ou crônicas e maior proporção de internações, sendo
estas ainda mais prolongadas [8].
O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo,
no qual há modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, o que ocasiona maior vulnerabilidade e
maior incidência de processos patológicos; as alterações que
ocorrem variam de um indivíduo para outro e são influenciadas tanto pelo estilo de vida quanto por fatores genéticos [9].
É nessa época que ocorrem alterações significativas da
composição corpórea; há uma diminuição do tecido metabolicamente ativo por redução de massa magra, um aumento de
gordura, diminuição de altura e ganho de peso [10].
As sensações de paladar, odor, visão, audição e tato diminuem em proporções individualizadas. Também ocorre uma
série de mudanças que afetam o apetite e a habilidade para digerir e absorver alimentos e seus respectivos nutrientes, o que
pode levar o idoso à alteração de seu estado nutricional [11].
Há também que se considerar a diminuição do envolvimento em atividades físicas vigorosas e moderadas e da vida
diária, o que leva ao decréscimo da capacidade física. Tal
fato pode ser associado com o aumento do risco de doenças
crônicas não transmissíveis [12].
A obesidade neste grupo etário pode contribuir no
desenvolvimento de disfunções e outras doenças, devendo
ser considerada como forte influência para a morbidade e
para a diminuição da independência [13]. Devemos estar
cientes de que uma velhice tranquila é somatório de tudo o
que beneficie o organismo, por exemplo, exercícios físicos,
alimentação saudável, espaço para o lazer, bom relaciona-
35
mento familiar, ou seja, é preciso investir em uma melhor
qualidade de vida.
O conceito de qualidade de vida está relacionado à autoestima e ao bem-estar pessoal [14,15]. A velhice para alguns
é uma etapa de desenvolvimento, enquanto que para outros
é uma fase negativa da vida [16].
Em virtude desses aspectos, acredita-se que a participação
do idoso em programas de exercício físico regular poderá influenciar no processo de envelhecimento, com impacto sobre a
qualidade de vida, melhoria das funções orgânicas e um efeito
benéfico no controle de doenças, além disso, a prática de exercício físico combate o sedentarismo (que tende a acompanhar
o envelhecimento), e contribui de maneira significativa para
a manutenção da aptidão física do idoso, seja na sua vertente
da saúde como nas capacidades funcionais [14,17].
Os objetivos de um programa de atividade física para essa
população devem conter exercícios diretamente relacionados
com as modificações que são decorrentes do processo de
envelhecimento, tais como: promover atividades recreativas
e de sociabilização; atividades moderadas e progressivas;
atividades de resistência; exercícios de alongamento; exercícios de relaxamento. Dentre as atividades físicas com
essas características, as aquáticas provaram ser eficazes no
desenvolvimento e manutenção das potencialidades físicas
e também orgânicas [14].
A hidroginástica é um destaque que vem cada vez mais
ganhando adeptos por todo o mundo. Como o nome diz,
hidroginástica é a ginástica na água, a qual se diferencia das
outras atividades realçando alguns benefícios, devido a propriedades físicas que o meio oferece, que irão auxiliar ainda
mais os idosos na movimentação das articulações, flexibilidade, diminuição da tensão articular, força, na resistência,
nos sistemas cardiovascular e respiratório, relaxamento, entre
outros [14,18,19].
O processo de envelhecimento acarreta alterações corporais. O peso e a estatura tendem a diminuir. Há também
diminuição da massa magra e modificação no padrão de
gordura corporal, onde o tecido gorduroso dos braços e
pernas diminui, mas aumenta no tronco. Em consequência
disso, as variáveis antropométricas sofrem modificações,
como a prega cutânea tricipital (PCT) e a circunferência de
braço (CB) que diminuem e a circunferência abdominal que
aumenta. É importante avaliar em um plano nutricional essas
variações, pra isso utiliza-e a antropometria. Esta é a medida
das variações das dimensões físicas e da composição total do
corpo humano nas diferentes idades e em diferentes níveis
de desnutrição; fornece informações das medidas físicas e da
composição corporal e é um método não invasivo, de fácil e
rápida execução. No caso dos idosos, as medidas antropométricas mais utilizadas são peso, estatura, perímetros e dobras
cutâneas [20,21].
O objetivo do estudo foi avaliar a influência da hidroginástica no estado nutricional de idosos praticantes desta
atividade.
36
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Material e métodos
O trabalho foi realizado em quatro academias na cidade
de São Paulo, sendo todas localizadas na Zona Sul da cidade.
Foram avaliados 100 indivíduos, sendo 83 mulheres e 17
homens, de ambos os sexos, com idade maior ou igual a 60
anos, durante as aulas habituais de hidroginástica.
Os participantes foram previamente avisados pelos professores das aulas de hidroginástica sobre a pesquisa de coleta antes
de iniciarem a aula. Foram devidamente informados sobre os
objetivos da pesquisa, assinando um Termo de Responsabilidade após tomarem conhecimento do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido. Posteriormente foram levantados e anotados
os dados pessoais dos participantes e as doenças referidas relacionadas ao estado nutricional. Estes foram pesados usando maiô
ou sunga em uma balança eletrônica, da marca Filizola com
capacidade máxima para 200 kg; posteriormente foi verificada
a sua altura, estando os alunos, sempre que possível, em posição
Frankfurt (braços paralelos ao corpo, pés e costas encostadas
na parede, pernas juntas e olhar fixo em um ponto à frente)
conforme recomenda o Ministério da Saúde, utilizando-se de
duas fitas métricas do tipo Fiber Glass inelásticas, presas em
uma parede reta e sem rodapé, com o auxilio de um esquadro
Poli Bras para apoiar o topo da cabeça.
Foram medidas circunferência de braço (região média
entre a medida do acrômio e olecrano) com este relaxado
e na posição lateral; circunferência de cintura (região mais
estreita do abdome), sendo que o participante estava com o
abdome relaxado, circunferência de quadril (região onde há
maior proeminência glútea), sendo todas as medidas feitas
com o uso de fita métrica do tipo Fiber Glass e dobra cutânea
tricipital com o uso do adipômetro Cescorf (face posterior do
braço, da distância média entre acrômio e olecrano), estando
o participante com o braço relaxado.
Todas as medidas foram anotadas imediatamente pósmedida em planilha própria.
As variáveis do estudo e respectivos padrões de referência
utilizados foram:
• Índice de Massa Corporal (IMC)
• Circunferência do Braço (CB), Dobra Cutânea Triciptal
(PCT), Circunferência Muscular do Braço (CMB)
• Percentil de PCT, e classificação do percentil de CMB [22].
• Circunferência da Cintura (CC) e sua classificação [23].
• Relação Cintura/Quadril (C/Q) e sua classificação [24].
Resultados e discussão
A classificação do estado nutricional revelou que a maioria
dos idosos praticantes de hidroginástica, tanto mulheres quanto homens estão na condição de eutrofia (Tabela I). O IMC
(Índice de Massa Corpórea) está correlacionado intimamente
com medidas diretas da gordura corporal, sendo um forte
preditor de problemas de saúde associados à obesidade; seu
aumento representa a obesidade global [13,25].
Um estudo feito com idosos longevos da cidade de Veranópolis/RS, porém não praticantes de atividades físicas, apontou
uma prevalência de obesidade de 45,6%, sendo que ocorreu
uma prevalência significativamente maior de obesidade nas
mulheres do que nos homens [13].
Tabela I - Distribuição da população por % segundo gênero e a
classificação do estado nutricional por IMC.
Baixo Peso
Eutrofia
Sobrepeso
Obesidade
Total
Homens
%
0
52,9
17,7
29,4
100
Mulheres Total
%
%
21,7
18
48,2
49
15,7
16
14,5
17
100
100
A PCT é uma medida utilizada para avaliação das áreas
de gordura e muscular do braço; a CMB é utilizada como
indicador de massa muscular [21].
Outro estudo mostra que idosos praticantes de atividade
física, incluindo hidroginástica, têm a massa muscular braquial levemente acima do esperado para idade. Esses resultados
sugerem a preservação da massa muscular entre os indivíduos,
de ambos os sexos [26]. Os resultados deste estudo foram
semelhantes ao encontrado (Tabela II).
Tabela II - Distribuição da população em % segundo a classificação
do percentil de PCT e CMB [27].
Desnutrido
Risco de desnutrição
Eutrofia
Obesidade
PCT ( %)
7
16
73
4
CMB ( %)
4
5
83
8
A medida da circunferência da cintura tem sido proposta como um dos melhores preditores antropométricos
de gordura visceral, sendo um indicador da distribuição
abdominal da gordura e também da gordura corporal total
[28]; um estudo feito no Rio de Janeiro comprovou que
a circunferência da cintura em idosos sedentários possui
proporções de inadequação, tendo maior porcentagem em
mulheres [29]. Neste estudo foi observado que as medidas
de circunferência de cintura dos indivíduos idosos do sexo
feminino estão acima do aceitável como saudável (Tabela
III). Existem várias explicações para estes dados, a primeira
delas apóia a ideia de que uma medida isolada não pode
diagnosticar uma anormalidade, levando-se em conta que a
maioria dos indivíduos por outras medidas antropométricas
(IMC, PCT, CMB e CQ) se enquadraram como eutróficos
ou sem risco; a segunda explicação diz respeito ao significado
da circunferência de cintura, esta medida é relacionada com
o risco de desenvolvimento de doenças metabólicas, este
risco pode estar aumentado mesmo em pessoas consideradas
eutróficas, no caso deste estudo, existe o agravante da idade
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
dos indivíduos participantes, os idosos representam um grupo
de risco para estas doenças [30].
Tabela III - Distribuição da população, em %, segundo gênero e
risco de obesidade associada a complicações metabólicas analisados
pela circunferência da cintura.
Sem risco
Risco alto
Risco muito alto
Homens
%
41
24
35
Mulheres Total
%
%
36
37
25
25
39
38
A relação Cintura/Quadril (C/Q) é um indicador para doenças cardiovasculares [13]. Os resultados do presente estudo
apontam que os participantes não têm risco de apresentarem
doenças cardiovasculares segundo a relação C/Q (Tabela IV).
Tabela IV - Avaliação da população em % segundo gênero e risco
de doenças cardiovasculares avaliados pela relação cintura/ quadril.
Sem risco
Risco alto
TOTAL
Homens
%
5,9
94,1
100
Mulheres
%
60,2
39,8
100
Total
%
66
34
100
O envelhecimento traz consigo uma série de alterações,
incluindo doenças crônicas [11]. O presente estudo apontou
índices de doenças como: hipertensão, dislipidemia e diabetes
mellitus (Tabela V). Estudos [13] mostraram a ocorrência de
hipercolesterolemia hipertensão arterial e diabetes mellitus
entre os idosos participantes, sendo que a dislipidemia obteve
índices altos por conta da obesidade inerente aos participantes.
A hidroginástica como atividade física, auxilia no tratamento
da diabetes mellitus, pois diminui de 20% a 30% a solicitação
de insulina subcutânea, aumentando a sensibilidade à ação
da insulina e a captação de glicose pelas células musculares
[31]; ela também atua na dislipidemia, aumentando os níveis
de HDL e reduzindo os de LDL [32]. Quanto à hipertensão,
o exercício físico, condiciona vasos e o coração, reduzindo a
pressão arterial e frequência cardíaca [33]. Destacam-se, ainda,
os benefícios de ordem psicológica e social [9,19,26,30,34].
37
Conclusão
De acordo com os dados obtidos neste estudo, verificouse que a prática de hidroginástica por pessoas na faixa etária
acima dos 60 anos resultou na qualidade de vida destes idosos.
Nota-se que 49% da população estudada apresenta eutrofia, o que favorece ao não desenvolvimento de doenças
proeminentes da obesidade. As medidas de PCT e CMB, 73%
e 83%, respectivamente, para ambos os sexos, apresentaram
valores acima do esperado, visto que, com o envelhecimento
há uma inversão na composição corporal do idoso.
Os dados obtidos da relação cintura/quadril revelam que
a maioria dos participantes não apresenta risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Estudos demonstram que cerca de 25% da população
idosa mundial depende de alguém para realizar suas atividades da vida diária. Entretanto, podem ser proteladas ou até
eliminadas com a prática de atividades físicas. De todos os
grupos etários, as pessoas idosas são as mais beneficiadas pelos
exercícios. Os riscos de muitas doenças e problemas de saúde
comuns na velhice diminuem com a atividade física regular,
já que esta prática é um meio de promoção de saúde e de
qualidade de vida. A hidroginástica é bastante reconhecida
por seus benefícios e, por ser uma atividade de baixo impacto,
é bastante indicada para idosos. Esta modalidade atende a
grupos de pessoas que precisam praticar uma atividade física
segura sem causar riscos ou lesões às articulações. Quando
executada com eficiência e segurança, de forma regular, ela
melhora componentes do condicionamento físico, além de
proporcionar bem estar mental.
Na velhice, há uma tendência para a modificação da
autoimagem, tornando-a menos positiva. A autoestima e
autoimagem têm sido desenvolvidas positivamente com a
intervenção de programas de exercícios físicos, tendo resultados inéditos na qualidade de vida e no bem-estar mental. A
prática de atividades físicas pelos idosos possibilita benefícios
nas relações sociais com a família e amigos e na integração
social. Enfim, os idosos se sentem mais úteis, independentes,
com mais esperança e vontade de viver, com maior vitalidade
e disposição, tornam-se mais saudáveis, sociáveis e felizes.
Agradecimentos
Tabela V - Distribuição da população em % segundo gêneros e
presença de doenças referidas associadas ao estado nutricional, São
Paulo, SP, 2006.
Masculino
%
Hipertensão
29
Dislipidemia
29
Diabetes Mellitus
6
Associação de doenças
12
Ausência de doenças
41
Feminino
%
28
26
5
8
51
Total
%
28
27
5
9
49
*As porcentagens não somam 100% devido à presença de mais de uma doença em um único indivíduo, sendo assim, este é contado mais de uma vez.
Agradecemos aos participantes pela colaboração, e às academias que cederam gentilmente o espaço para que pudesse
ser realizado o presente trabalho.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
39
Artigo original
Comparação do VO2 acumulado durante o exercício
contínuo e intermitente na máxima fase estável de
lactato sanguíneo
Comparison of accumulated VO2 during continuous and intermittent
exercise at maximal lactate steady state
Luis Fabiano Barbosa, M.Sc.*, Camila Coelho Greco**, Benedito Sérgio Denadai***
*Laboratório de Avaliação da Performance Humana, UNESP – Rio Claro, **Professor Livre-Docente, Laboratório de Avaliação da
Performance Humana, UNESP, ***Professor Titular, Laboratório de Avaliação da Performance Humana, UNESP – Rio Claro
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi comparar o VO2 acumulado durante
o exercício realizado na máxima fase estável de lactato sanguíneo
contínua (MLSSc) e intermitente (MLSSi). Sete ciclistas treinados
(idade = 25,5 ± 5,1 anos, VO2max = 57,7 ± 4,6 ml.kg-1.min-1) foram
submetidos aos seguintes protocolos em um cicloergômetro: 1) Teste
incremental para a determinação do VO2max e sua respectiva carga
(Pmax); 2) 2 a 3 testes de carga constante para a determinação da
MLSSc e; 3) 2 a 3 testes intermitentes (7 x 4 min e 1 x 2 min, com
2 min de recuperação a 50%Pmax) para a determinação da MLSSi.
Foram determinados na MLSSc e MLSSi o tempo (TMcg), o VO2
(VO2ACcg) mantidos na carga e o consumo acumulado de oxigênio
(VO2AC) durante o exercício. O TMcg (27,1 ± 1,2 e 10,1 ± 3,4 min)
e o VO2ACcg (96,7 ± 1,1 e 35,1 ± 10,7 l) foram estatisticamente
maiores no exercício contínuo do que no intermitente, respectivamente. O VO2AC (104,4 ± 9,4 e 102,2 ± 8,9 l) foi similar nas
condições contínua e intermitente. Pode-se concluir que a possível
superioridade do treinamento intervalado realizado nas condições
deste estudo, não parece ser determinada pela interação entre o
tempo de exercício e o VO2 acumulado (i.e., VO2AC) na MLSS.
The objective of this study was to compare the accumulated
VO2 during the exercise performed at continuous (MLSSc) and
intermittent (MLSSi) maximal lactate steady state. Seven trained
cyclists (age = 25.5 ± 5.1 years, VO2max = 57.7 ± 4.6 ml.kg-1.min-1)
were submitted to the following protocols in a cyclergometer: 1)
Incremental test for the determination of VO2max and its respective
workload (Pmax); 2) 2 to 3 constant workload tests for the determination of MLSSc and; 3) 2 to 3 intermittent tests (7 x 4 min and 1 x
2 min, with 2 min of recovery at 50%Pmax) for the determination
of MLSSi. The time (TMcg), the VO2 (VO2ACcg) maintained
at the workload and accumulated oxygen uptake (VO2AC) were
determined during the exercise at MLSSc and MLSSi. The TMcg
(27.1 ± 1.2 and 10.1 ± 3.4 min) and the VO2ACcg (96.7 ± 1.1 and
35.1 ± 10.7 l) were statistically higher during continuous than intermittent exercise, respectively. The VO2AC (104.4 ± 9.4 and 102.2
± 8.9 l) was similar at continuous and intermittent conditions. It
can be concluded that the possible superiority of interval training,
at the conditions of this study, did not seem to be determined by
the interaction between the time of exercise and accumulated VO2
(i.e., VO2AC) at MLSS.
Palavras-chave: treino aeróbio, ciclismo, capacidade aeróbia,
adaptação aeróbia.
Key-words: aerobic training, cycling, aerobic capacity, aerobic
adaptation.
Endereço para correspondência: Benedito Sérgio Denadai, UNESP, Laboratório de Avaliação da Performance Humana, Instituto de
Biociências, Av. 24A, 1515, Bela Vista, 13506-900, Rio Claro SP, Tel: (19) 3526-4325, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Introdução
Material e métodos
A máxima fase estável de lactato sanguíneo (MLSS) é
definida como sendo a maior intensidade de exercício que
pode ser mantida ao longo do tempo sem aumento contínuo
da concentração de lactato sanguíneo ([La]) [1]. A MLSS tem
sido considerada um ótimo parâmetro para a prescrição do
treinamento aeróbio, particularmente em indivíduos treinados, já que os valores obtidos por meio de sua determinação
expressam respostas agudas e crônicas individuais da [La] ao
exercício [1,2]. De fato, alguns estudos têm verificado que
o treinamento aeróbio contínuo realizado em intensidades
próximas à MLSS pode melhorar a performance aeróbia de
atletas de endurance [3,4].
Entretanto, uma parte significativa do treinamento para
a capacidade aeróbia é realizada de forma intermitente [57]. Uma das grandes vantagens deste tipo de treinamento é
a possibilidade de se realizar a mesma duração de exercício,
porém com uma intensidade maior do que o indivíduo conseguiria realizar de forma contínua. Isto ocorre em função
das mudanças metabólicas que ocorrem durante o período de
recuperação (ressíntese de creatina fosfato e/ou remoção do
lactato) [8,9], permitindo que condições metabólicas similares
sejam alcançadas em intensidades absolutas diferentes [10,11].
Assim, a utilização de intensidades correspondentes à MLSS
determinada de forma contínua, pode não ser adequada para
a prescrição do treino intermitente. Confirmando esta possibilidade, Beneke et al. [7] verificaram que as intensidades
correspondentes à MLSS determinadas durante o exercício
intervalado de recuperação passiva (intervalos de 30 s ou 90
s a cada cinco minutos de exercício), foram significantemente
maiores (300 W, 79% Pmax e 310 W, 81% Pmax, respectivamente) do que a determinada de modo contínuo (277 W, 74%
Pmax). A [La] na MLSS não foi diferente entre o exercício
contínuo e intermitente. Portanto, ao se realizar o exercício
de forma intermitente na mesma carga absoluta correspondente à MLSS, a resposta metabólica tende a ser menor, o
que subestima o nível de esforço realizado pelo indivíduo [7].
É interessante destacar, que alguns estudos têm verificado
que o treinamento intervalado que é realizado com maior
intensidade, pode ser mais eficiente do que o treinamento
contínuo para a promoção de adaptações aeróbias [12,13].
Os mecanismos que determinam este comportamento ainda
não são completamente conhecidos. Um dos fatores que pode
ser apontado, é que o exercício intervalado aumenta o estresse
sobre as estruturas e processos associados à utilização do O2
para a produção de energia. Com isso, pode-se hipotetizar que,
embora existam períodos de recuperação, o VO2 acumulado
na carga durante o exercício intervalado possa ser maior do
que durante o exercício contínuo. Desse modo, o objetivo
deste estudo foi analisar e comparar o VO2 acumulado durante o exercício realizado na MLSS determinada de forma
contínua (MLSSc) e intermitente (MLSSi).
Sujeitos
Sete ciclistas treinados (idade = 25,5 ± 5,1 anos, massa
corporal = 68,4 ± 9,4 kg, estatura = 172,8 ± 7,5 cm, VO2max
= 57,7 ± 4,6 ml.kg-1.min-1), com pelo menos 5 anos de experiência na modalidade, foram voluntários e assinaram um
termo de consentimento para participar do presente estudo.
Os ciclistas treinavam 6-7 vezes por semana (volume = 403 ±
50 km) e estavam competindo em nível regional e nacional.
Os indivíduos foram orientados a não realizarem treinamento
intenso e não ingerirem bebidas contendo cafeína e álcool
nas 24 horas que antecederam as sessões experimentais. Este
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade.
Delineamento experimental
Os atletas compareceram ao laboratório entre 5-7 ocasiões dentro de um período de três semanas, e foram submetidos aos seguintes protocolos, em dias diferentes, em um
cicloergômetro: 1) Teste incremental para a determinação
do limiar anaeróbio (LAn), VO2max e sua respectiva carga
(Pmax); 2) 2 a 3 testes de carga constante para a determinação da MLSSc e; 3) 2 a 3 testes intermitentes de carga
submáxima com recuperação ativa para a determinação da
MLSSi. Cada protocolo intermitente consistiu de 7 repetições de 4 min e 1 repetição de 2 min, intercaladas com 2
min de recuperação a 50%Pmax. O intervalo entre os testes
foi de aproximadamente 48 h. Os indivíduos foram instruídos a chegar ao laboratório descansados e hidratados, com
pelo menos 3 h após a última refeição. Cada indivíduo foi
avaliado no mesmo horário do dia (± 2 h) para minimizar
os efeitos da variação diurna biológica.
Protocolo incremental
Os indivíduos realizaram um teste incremental em um
cicloergômetro eletromagnético (Excalibur Sport, Lode
BV, Croningen, Holand) em cadências de pedalada entre
70-90 rpm. Este ergômetro é construído especialmente
para ajustar automaticamente a resistência e manter a
potência constante, independente da cadência de pedalada
escolhida. A carga inicial foi de 100 W com incrementos de
25 W a cada 3 minutos até a exaustão voluntária. A Pmax
foi considerada como a carga do último estágio completo
ou pela relação incremento / tempo quando um estágio
completo não fosse realizado. Durante os testes, a troca de
gases pulmonares foi determinada respiração-a-respiração
(Quark PFTergo, Rome, Italy). O VO2max foi definido
como o mais alto valor de VO2 obtido em médias de intervalos de 15 s durante o teste incremental. Amostras de
sangue foram coletadas nos últimos 20 s de cada estágio do
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
lóbulo da orelha e colocadas em tubos contendo 50 μl de
NaF (1%) para a determinação da [La] (YSL 2300 STAT,
Yellow Springs, Ohio, EUA). O LAn foi determinado por
interpolação linear usando uma concentração fixa de 3,5
mM de lactato [14].
41
Figura 1- Características do protocolo intervalado. 14 min e 44
min – coleta de sangue para a determinação do lactato sanguíneo.
Protocolo Intervalado
14 min
44 min
Determinação da máxima fase estável usando
protocolo contínuo
Foram realizados de dois a três testes de carga constante
com duração de 30 minutos em diferentes intensidades para
a determinação da potência (MLSSw), [La], VO2 e frequência cardíaca (FC) correspondentes à MLSSc. A primeira
carga foi equivalente a 105% LAn. No 10º e 30º minuto
dos testes foram coletadas amostras de sangue do lóbulo da
orelha para a determinação da [La]. A MLSS foi considerada como sendo a mais alta carga na qual foi observado
um aumento menor ou igual a 1,0 mM entre o 10o e 30o
minuto de exercício [15].
Determinação da máxima fase estável usando
protocolo intermitente
Para a determinação da MLSSi foram realizados 2-3
testes de carga submáxima. O protocolo consistiu de
8 períodos de exercício intercalados com 2 minutos de
recuperação, sendo que 7 períodos de exercício tiveram 4
minutos de duração e o oitavo período com 2 minutos de
duração. Foi utilizada recuperação ativa em que os sujeitos
permaneciam se exercitando com intensidade equivalente a
50% Pmax obtida durante o teste incremental. A duração
total das repetições (30 min) em cargas próximas à MLSSi
está de acordo com o sugerido por Beneke [1], para o protocolo contínuo. A duração total do protocolo foi de 44
minutos (Figura 1). A relação esforço: pausa usada (2:1)
é comumente utilizada durante sessões de treinamento
intervalado próximas à MLSSw [6]. A carga do primeiro
teste correspondeu a 110% MLSSc. Se durante o primeiro teste de carga constante um equilíbrio ou redução no
lactato fosse observado, os testes subsequentes eram realizados com uma carga 5% maior, em dias diferentes até
que um estado estável da [La] não pudesse ser mantido.
Se o primeiro teste resultasse em um aumento na [La] e/
ou não pudesse ser sustentado durante todo o protocolo,
os testes subsequentes eram realizados com cargas 5%
menores. A MLSSi foi definida como a mais alta carga na
qual a [La] não aumentou mais do que 1 mM entre o 14o
e 44o minuto do protocolo (metade da 3a e no final da 8a
repetição, respectivamente). É importante notar que, além
de considerar somente a duração de exercício próxima à
MLSSw, o critério utilizou os últimos 20 min de exercício
próximo à MLSSw, de acordo com Beneke [15].
exercício
recuperação
Cinética do VO2
Para cada exercício de carga constante, o VO2 foi determinado respiração-respiração e os dados foram ajustados de
acordo com a equação:
VO2(t) = VO2b + A (1 – e –(t/τ)) [1]
onde: VO2(t) representa o VO2 no tempo t, VO2b representa os valores pré-exercício, A é a amplitude da assíntota, e
o t representa a constante de tempo para a cinética do VO2
(definida como o tempo requerido para alcançar 63% da A).
No início do exercício contínuo e no início de cada repetição do exercício intermitente, o tempo para alcançar o
consumo de oxigênio ajustado (VO2ajus), ou seja o VO2 assintótico, foi definido como 4,6 x τ. O tempo (TMcg) e o VO2
mantidos na carga (VO2ACcg) foram obtidos por subtração
do tempo para o ajuste do VO2 do tempo total do período de
exercício (30 minutos para o exercício contínuo e 4 minutos
para cada repetição do exercício intermitente) (Figura 2). O
consumo acumulado de oxigênio (VO2AC) foi calculado por
meio da integral da área utilizando o método trapezoidal. Para
o exercício realizado de forma contínua o mesmo representa
o período total de exercício (30 minutos). Para o exercício
intermitente representa o consumo acumulado durante os
períodos de exercício (30 minutos) excluindo os períodos
de recuperação. O consumo de oxigênio de carga (VO2carg)
foi obtido por meio de média aritmética do minuto final de
exercício (29º. – 30º. min durante o exercício contínuo; 43º.
– 44º. min durante o exercício intermitente).
Análise estatística
Os valores estão expressos como média ± DP. Os valores
das variáveis correspondentes à MLSSi e a MLSSc foram
comparados usando o teste t-Student para dados pareados.
O nível de significância foi mantido em p ≤ 0,05.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
42
Figura 2 - Representação esquemática do consumo de oxigênio
(VO2) durante o exercício contínuo (1) e intermitente (2). A – período necessário para o VO2 atingir o valor correspondente à carga.
B - período onde se considerou que o VO2 foi equivalente à carga.
C – período de recuperação.
4000
VO2 carga
VO2 ajus
A Tabela II apresenta os valores médios ± DP do VO2ajus,
VO2carg, TMcg, VO2ACcg e VO2AC durante o exercício contínuo e intermitente. O VO2ajus foi significantemente maior
na condição intermitente (p < 0,05). O TMcg e o VO2ACcg
foram estatisticamente maiores para o exercício contínuo (p
< 0,05). O VO2carga e o VO2AC foram similares nas duas
condições (p > 0,05).
3500
Tabela II - Valores médios ± DP do consumo de oxigênio ajustado
(VO2ajus), consumo de oxigênio na carga (VO2carga), tempo de
manutenção do consumo de oxigênio na carga (TMcg), consumo
de oxigênio acumulado na carga (VO2ACcg) e consumo de oxigênio
acumulado (VO2AC) durante os exercícios contínuo e intermitente.
N = 7.
VO2 (ml.min-1)
3000
2500
2000
B
1500
1000
500
11
A
0
4000
500
1000
1500
2000
Tempo (s)
VO2 carga
VO2 carga
VO2 ajus
VO2 ajus
VO2 ajus
VO2ajus (l.min-1)
VO2carga (l.min-1)
TMcg (min)
VO2ACcg (l)
VO2AC (l)
Contínuo
3,3 ± 0,3
3,5 ± 0,3
27,1 ± 1,2
96,7 ± 1,1
104,4 ± 9,4
Intermitente
3,6 ± 0,2*
3,6 ± 0,2
10,1 ± 3,4*
35,1 ± 10,7*
102,2 ± 8,9
*p ≤ 0,05 em relação ao exercício contínuo.
3500
VO2 (ml.min-1)
3000
Discussão
2500
2000
C
C
1500
C
B
B
1000
A
A
A
500
2
0
180
360
540
720
Tempo (s)
2520
2700
Resultados
A Tabela I apresenta os valores ± DP de [La], MLSSw,
%Pmax e FC obtidos durante o exercício realizado na MLSSc
e na MLSSi. Os valores de MLSSw e %Pmax correspondentes
à MLSSi foram significantemente maiores (~10%) do que os
obtidos na MLSSc (p< 0,05). Não houve diferença significante
na [La] e na FC nas duas condições (p > 0,05).
Tabela I - Valores médios ± DP concentração de lactato sanguíneo
([La]), potência correspondente à máxima fase estável de lactato
sanguíneo (MLSSw), percentual da potência máxima (%Pmax) e
freqüência cardíaca (FC) obtidos durante o exercício realizado na
máxima fase estável de lactato contínua (MLSSc) e intermitente
(MLSSi). N = 7.
[La] (mM)
MLSSw (W)
%Pmax
FC (bpm)
Contínuo
3,9 ± 1,0
277,3 ± 24,8
76,7 ± 5,0
167±11,0
*p ≤ 0,05 em relação ao exercício contínuo.
Intermitente
4,9 ± 1,6
305,1 ± 27,4*
84,4 ± 5,4*
171 ± 11,0
Com base nos resultados obtidos no presente estudo, verifica-se que a principal hipótese do mesmo não foi confirmada,
já que, ao se comparar as condições contínua e intermitente
realizadas com a mesma duração (30 min), o VO2AC na
MLSSi foi similar ao obtido na MLSSc. Isto ocorreu apesar da
MLSSi ter sido realizada em uma intensidade absoluta (10%)
e VO2ajus (8%) maiores, mas com um TMcg menor (62%).
Assim, quando se utiliza um mesmo índice fisiológico como
referência (i.e., MLSS), as vantagens do exercício intermitente
para proporcionar maiores adaptações aeróbias não parecem
ser explicadas pelo estímulo ao metabolismo, indicado pela
interação entre o tempo de exercício e a produção aeróbia de
energia (i.e., VO2AC).
A MLSS tem sido identificada como intensidade de treinamento capaz de aumentar o tempo de exaustão e a velocidade
nesta intensidade [3]. Deste modo, tem sido apontada como
fator importante para o programa de treinamento de atletas
moderada e altamente treinados, por proporcionar forte estímulo para o aumento de aspectos submáximos e máximos
relacionados à capacidade aeróbia [4].
O treinamento intervalado tem sido apontado como capaz de aumentar a performance aeróbia, particularmente em
indivíduos treinados [6], já que nestas condições é possível
acumular grandes estímulos de treinamento comparado com
o que poderia ser sustentado em uma simples sessão de exercício contínuo [16]. Os maiores valores de MLSSi (~10%)
em relação à MLSSc observados neste estudo são similares ao
dados obtidos por Beneke et al. [7], e confirmam a necessidade
da determinação direta da MLSSi, quando o objetivo for a
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
prescrição do treinamento aeróbio intervalado.
Durante o exercício intermitente realizado em intensidades próximas à do VO2max, um dos fatores que tem sido apontado como importante para promover adaptações aeróbias é o
tempo de permanência em valores próximos (>95%VO2max)
ou no VO2max. A principal hipótese é a de que quanto maior
for o tempo de permanência em taxas de produção de energia
aeróbia elevadas, maior seria o estímulo para a promoção de
adaptações aeróbias centrais e periféricas [17].
No presente estudo, a interação entre o tempo e a maior
taxa metabólica permitida pela carga de exercício (VO2ACcg),
mostra que o exercício contínuo permitiria um maior estímulo
ao organismo. Assim, diferentemente do hipotetizado para
exercícios de intensidade máxima (100% VO2max) ou supramáxima (>100% VO2max), no exercício submáximo (MLSS)
o VO2ACcg não parece explicar a provável superioridade do
exercício intermitente sobre o contínuo, já que o os valores
do exercício intermitente foi aproximadamente um terço do
atingido no exercício contínuo. É interessante notar também,
que mesmo considerando o VO2 total acumulado durante o
exercício realizado na MLSS (i.e., VO2AC), os valores são
estatisticamente similares entre o contínuo e o intervalado,
o que também não explicaria as possíveis diferenças de adaptações entre o exercício intermitente e o contínuo.
Daussin et al. [18] analisaram as adaptações periférica
(capacidade oxidativa) e central (cardiovascular) determinadas
por dois protocolos de treinamento (contínuo x intermitente)
realizados com trabalho total similar. Os autores verificaram
que os dois tipos de adaptação (central e periférica) foram
maiores após o treino intervalado. Assim, parece que as
flutuações na carga e nos valores de VO2 durante o exercício
intermitente, mais do que a duração do exercício e o gasto
energético total, são fatores essenciais para o aumento da
capacidade aeróbia. Com isso, os autores propuseram que as
flutuações no turnover de ATP e no fluxo de fosfato de altaenergia gerados pelas alterações na carga no exercício intermitente, ativam mais as vias sinalizadoras, e consequentemente,
determinam uma maior biogênese de mitocôndrias [18].
As principais adaptações que contribuem para o aumento
da capacidade aeróbia (limiar anaeróbio, MLSS), particularmente em indivíduos treinados, ocorrem em nível muscular,
e estão relacionadas ao aumento da quantidade de enzimas
oxidativas, mitocôndrias, densidade capilar e aumento dos
depósitos de energia (glicogênio e triglicerídeos) [19]. Ao se
considerar os valores similares de VO2AC nas duas condições,
como também os menores valores de VO2ACcg obtidos no
exercício intermitente, é possível sugerir que nossos dados
suportam os obtidos por Daussin et al. [18], indicando que
a flutuação nas taxas de produção de energia parece ser um
fator essencial para a promoção das adaptações aeróbias.
Finalmente, não se pode descartar também, que as
maiores intensidades do exercício intervalado leve a maior
utilização e adaptações aeróbias das fibras do tipo II, e/ou
a uma mudança no padrão de recrutamento das unidades
43
motoras, determinando que um percentual maior de fibras
do tipo I (mais eficientes) seja recrutado durante o exercício
submáximo [20,21].
Conclusão
Com base nestes resultados, pode-se concluir que exercícios intermitente e contínuo realizados com a mesma duração
e condições metabólicas similares (i.e., MLSS), apresentam valores similares de VO2AC, embora o tempo mantido em altos
valores de VO2 (i.e., VO2ACcg) sejam inferiores no exercício
intervalado. Assim, a possível superioridade do treinamento
intervalado realizado nas condições deste estudo, não parece
ser determinada pela interação entre o tempo de exercício e
o VO2 acumulado na MLSS.
Agradecimentos
Suporte financeiro – CNPq e FAPESP.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
45
Revisão
Possíveis mecanismos neurofisiológicos mediadores
da educação cruzada
Neuro-physiological mechanisms of the cross-education
Daniel Teixeira Belloni*, Alessandro Carielo de Albuquerque*, Bianca K. de Macedo Jakubovic*,
Júlio Cesar Correa Neto Carias**, Vernon Furtado da Silva***
*Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana/PROCIMH/UCB-RJ,
**Universidade Presidente Antonio Carlos/UNIPAC-MG, ***Professor Titular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Ciência da Motricidade Humana da UCB-RJ
Resumo
Abstract
Estudos prévios têm revelado que o treinamento de somente
um membro pode causar melhora dos níveis de performance do
membro contralateral não treinado. A literatura denomina este
fenômeno como educação cruzada. De acordo com as evidências,
a educação cruzada parece ser mediada por mecanismos neurofisiológicos. Contudo, não se conhece ainda quais são os verdadeiros
mecanismos mediadores deste fenômeno. Portanto, baseado nesta
premissa, o presente estudo teve o objetivo de realizar uma extensa
revisão de literatura sobre os possíveis mecanismos neurofisiológicos
mediadoras da educação cruzada. Diante das evidências podemos
verificar que, embora este fenômeno tenha sido constatado a mais
de um século, os estudos não foram capazes de descrever quais são os
verdadeiros mecanismos neurofisiológicos mediadores da educação
cruzada até a presente data. Os estudos sobre o fenômeno da educação cruzada abrem o caminho para a compreensão e entendimento
dos mecanismos neurais do controle do movimento em vários
níveis do sistema nervoso. Pequenas alterações em varias estruturas
do sistema nervoso podem contribuir para a produção máxima dos
aumentos de força no membro contralateral não treinado. Ainda,
presumimos que o surgimento de novos procedimentos fisiológicos
marcará a possibilidade de constatações sobre outros mecanismos
em futuros estudos.
Previous studies have revealed the cross body member training
as benefiting the performance of the opposite untrained limb. The
related literature denominates this phenomenon as cross education.
Cross education can be thought as mediated by specific neural
mechanisms. However, there is no real knowledge about how the
operating mechanisms really work. Present investigation had as objective to address an extensive revision of studies focusing this theme
in a broad perspective of force generation. The results of the revision
evidenced that in spite of being this a phenomenon well know, no
research was capable of explaining the mechanisms linked to it. On
the other hand, the literature published in this subject matter shades
bright lights for researchers involved on providing directions for
the comprehension about the neural mechanisms, at many sites of
the central and peripheral nervous system, responsible for human
movement control. At a basic configuration of the system, there
is a functional capability through which small alterations in some
structures of the central nervous system can contribute to increases
in force production in the body member contralateral. Even one
could take into account this consideration, there is still a need for
improving knowledge far way of what we now know in respect to
cross education functionality. We presume that new procedures
would permit observing the development of the knowledge about
how the central and peripheral nervous system operates in the cross
force transference situation.
Palavras-chave: educação cruzada, mecanismos
neurofisiológicos, controle do movimento.
Key-words: cross education, neuro-physiological mechanism,
motor control.
Endereço para correspondência: Daniel Teixeira Belloni, Avenida José Fabrino Baião, 304 Thomé 36774-184 Cataguases MG, Tel:
(32) 8876-8090, E-mail: [email protected]
46
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Introdução
As adaptações neurais ao treinamento são os componentes mais intrigantes e fascinantes observados pela literatura
científica acerca do aumento da força durante o treinamento.
Dentre as diversas adaptações neurais decorrentes do treinamento da força, podemos destacar o fenômeno da educação
cruzada [1]. A educação cruzada, ou ainda, transferência
cruzada da força se refere a qualquer transferência de força
muscular ocorrida no músculo contralateral não treinado
após um regime de treinamento experimentado pelo músculo
homólogo ipsilateral [2,3]. Talvez os mecanismos motivadores
deste fenômeno sejam os mais complexos mecanismos neurais
constatados até a presente data [4].
A nomenclatura utilizada para definir tal fenômeno de
transferência seguiu um curso incomum durante o desenvolvimento dos estudos, dependendo, de certa forma, da área
estudada. Enquanto os fisiologistas estudavam a transferência
de força em seus experimentos utilizando, ininterruptamente,
o termo educação cruzada [1-7], os motricistas se centraram
nos estudos mais voltados à transferência da habilidade
motora, referindo-se a este fenômeno como transferência
bilateral [8,9], transferência inter-manual [10-12], ou ainda,
simplesmente, transferência [8]. Os estudos realizados à luz
da fisiologia não citam aqueles realizados sob a perspectiva
motricista e vice-versa. Portanto, a pergunta que aqui cabe
seria: existe necessidade desta desconexão entre ambas as áreas?
A literatura da fisiologia, recentemente, incluiu pela primeira
vez os termos transferência da força muscular e transferência
da aprendizagem da habilidade motora concomitante com
o termo educação cruzada [13-15]. Naturalmente, como a
aprendizagem da habilidade do membro não treinado ocorre
sem mudanças estruturais no músculo, bem como ocorrem
melhoras potenciais na ativação da musculatura do membro,
conclui-se, portanto, que toda habilidade adquirida por esse
membro é, indubitavelmente, uma adaptação neural [15].
Deste modo, a única justificativa relevante para a ocorrência
desta discrepância de definições sobre os termos usados para
descrever o fenômeno da transferência seria, mais especificamente, as características da tarefa que estão sendo transferidas,
como, por exemplo, a aquisição de força muscular versus o
desempenho aumentado de habilidade motora.
Até recentemente, os mecanismos neurais da educação
cruzada de força eram relutantemente adejados pelos investigadores. Alguns investigadores acreditavam o sistema nervoso
periférico como sendo o mediador da educação cruzada de
força [16], enquanto grande parte dos cientistas determinava
que este fenômeno, talvez, fosse causado pelos mecanismos da
plasticidade neural [3-5]. Entretanto, todos sem conclusões
concretas.
A questão sobre os mecanismos mediadores deste fenômeno pode ter uma considerável importância social e grandes aplicações práticas [2]. Por exemplo, os estudos sobre a
educação cruzada abrem a compreensão e entendimento dos
mecanismos neurais do controle cortical, subcortical e espinal
do movimento. Além disso, ao se obter um conhecimento sólido sobre as bases neurais da força humana, indiscutivelmente,
inúmeros benefícios à manutenção e recuperação da saúde
humana poderão ser fornecidos [2,5,15]. Portanto, torna-se
imprescindível obter mais informações sobre os mecanismos
da educação cruzada.
Fortes dúvidas pairam sobre os reais mecanismos mediadores do fenômeno da educação cruzada. Deste modo, ao
considerar a importância desta questão científica, o presente
estudo teve o objetivo de realizar uma extensa revisão de literatura sobre as possíveis alterações neurofisiológicas mediadoras
do fenômeno da educação cruzada.
Desenvolvimento
A educação cruzada
O termo educação cruzada de força muscular refere-se,
basicamente, a qualquer transferência de força muscular
ocorrida no músculo contralateral não treinado após um regime de treinamento experimentado pelo músculo homólogo
ipsilateral [2,3,5].
A magnitude de força muscular obtida pelo músculo
homólogo não treinado está implicitamente relacionada
com a proporção de força alcançada pelo membro treinado.
Aproximadamente 35 a 60% do aumento da força máxima
alcançada pelo músculo treinado é transferido para o músculo
não treinado [14,15,17]. Apesar desta magnitude, existe uma
respectiva assimetria entre os níveis de ganho de força obtidos
pelos músculos treinados e não treinados. A quantidade de
transferência parece depender de fatores tais como, duração,
intensidade e volume do protocolo de treinamento, tipo de
contração, velocidade da contração, grupo muscular treinado,
e ainda, restrição ou ativação do movimento do membro não
treinado. Assim sendo, esses inúmeros fatores parecem controlar os valores que determinam a quantidade da transferência
da força [14,17].
A educação cruzada ocorre com maior magnitude em
indivíduos com pouca ou nenhuma experiência em treinamento de força [2,8]. Autores como Hortobágyi et al. [19]
corroboram com as explicações supracitadas quando afirmam
que a proporção da transferência alcançada pelo membro
contralateral não treinado pode depender da especificidade
do protocolo de treinamento. Entretanto, não existem dados
conclusivos sobre o relacionamento entre a duração e a intensidade do treinamento, bem como, níveis de transferência de
força muscular alcançada. Porém, estudos com duração mais
longa de treinamento mostraram, tipicamente, uma maior
quantidade de educação cruzada [19].
Ao se comparar estudos utilizando o mesmo tipo da contração em seu treinamento, observamos que a transferência de
força é maior quando as contrações em intensidade maiores
foram evocadas [3-5,19]. Complementando, nos estudos que
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usaram somente a ação muscular excêntrica (se comparando
ao trabalho muscular estático e concêntrico puro) ocorreram,
proporcionalmente, uma maior transferência de força na tarefa desempenhada excentricamente. Conseqüentemente, os
protocolos de treinamento utilizando um trabalho puramente
excêntrico mostraram maiores aumentos da força total do que
o trabalho concêntrico ou isométrico, provavelmente, devido
à maior produção de força combinada com o estiramento
do músculo durante a contração [15,17,19]. Apesar destas
considerações, a maioria dos experimentos realizados sobre o
fenômeno da educação cruzada utilizou contrações isométricas, pois há uma maior facilidade em restringir o movimento
do membro não treinado durante a ação muscular estática.
Além disso, contrações dinâmicas apresentam maiores limitações ao procedimento de eletromiografia. Por outro lado,
contrações isométricas são freqüentemente normalizadas pela
análise eletromiográfica.
Um estudo comparando a velocidade do movimento e
educação cruzada tem revelado constatações interessantes.
Farthing e Chilibeck [20], ao comparar um protocolo de
treinamento por meio da ação muscular excêntrica em diferentes velocidades (180º/s[3.14 rad/s] versus 30º/s [0.52
rad/s]) revelaram que o treinamento realizado em velocidade
mais elevada produzia maiores níveis de transferência de
força. Como a ação muscular excêntrica realizada em elevada
velocidade é uma tarefa motora muito pouco utilizada na vida
cotidiana, os autores especularam que a aprendizagem motora
para este movimento foi muito mais substancial, deste modo,
proporcionado maiores níveis de transferência de força ao
membro não treinado. Portanto, o grau de familiaridade das
tarefas hábeis motoras pode ser um importante fator para a
ocorrência da educação cruzada. Intuitivamente, a pergunta
que poderia elucidar nossa carência científica seria, se os indivíduos fossem treinados já para estas tarefas, quanta educação
cruzada poderia ser exibida pelos mesmos? Moritani e DeVries
[21], ao menos em parte, responderam esta questão quando
mostraram que os fatores neurais contribuíam muito pouco
para os ganhos de força isométrica após seis semanas de treinamento. Entretanto, basear somente nos achados de Moritane
e DeVries [21] como um consenso pode ser arriscado, pois,
como supracitado, o nível de adaptação está relacionado com
o nível da tarefa exigida. Assim sendo, se a exigência da tarefa
é elevada, muita adaptação neural é esperada; por outro lado,
se a exigência da tarefa é insignificante, pouca ou nenhuma
adaptação neural pode ser esperada. Conseqüentemente, estudos que empregaram tarefas hábeis motoras mais complexas
mostraram uma maior magnitude de transferência de força.
Possíveis mecanismos neurofisiológicos do fenômeno
Provavelmente, os mecanismos neurofisiológicos que
controlam a educação cruzada de força podem ser os mesmos
que controlam os mecanismos da transferência inter-manual
47
de habilidade motora [15,17]. De certa forma, podemos
compreender as adaptações neurais da educação cruzada como
um tipo de aprendizagem motora. Contudo, o enigma é que
as bases neurais da aprendizagem motora têm continuado
indescritíveis, e ainda, sendo o tópico de estudos extensivos.
Esta questão tem conduzido a especulações sobre se esta informação é transferida por meio de adaptações no encéfalo
e medula espinal (sistema nervoso central) ou em circuitos
neurais periféricos [3].
Plasticidade neural
Compreendem-se por plasticidade neural as adaptações
ocorridas em níveis corticais e sub-corticais do encéfalo em
resposta de repetidos estímulos [22,23]. A plasticidade neural
resulta na formação de novas conexões (sinapses) no sistema
nervoso, podendo produzir uma grande ou pequena ativação no córtex em função do aprendizado motor. Em outras
palavras, o aprendizado motor tem sido associado com uma
redução ou elevação da quantidade e qualidade das conexões
neurais, isto é, plasticidade neural [23].
A plasticidade neural no córtex motor primário pode estar
associada à educação cruzada por interagir com um papel
importante em simples consolidações de habilidades motoras
aprendidas [24,25]. Quando a atividade do córtex motor
primário é interrompida, podem ocorrer desenvolvimento
ou retrocesso da performance motora. As adaptações neurais
ocorridas no córtex motor primário são proporcionadas por
níveis de ativação aumentada ou reduzida. Em outras palavras,
tanto a elevação quanto redução do nível de ativação do córtex
pode melhorar a coordenação do movimento proporcionando
ganhos de força [26-28]. Praticamente, devido ao sinal descendente dos neurônios que se projetam para os músculos
antagonistas serem reduzidos, esta redução proporciona uma
diminuição da co-ativação dos músculos antagonistas. A
redução da co-ativação da musculatura antagonista tem sido
documentada como um aprendizado motor para tarefas que
envolvam força. As evidências destas adaptações no sistema
nervoso podem ser refletidas nas plasticidades neurais dentro
do córtex motor primário com no aprendizado motor [26-28].
As alterações neurais em estruturas subcorticais, como,
por exemplo, o cerebelo e os gânglios da base, podem também ser relevantes para a educação cruzada. As estruturas
do cerebelo são conhecidas por mediar varias alterações
neurais para a ocorrência do aprendizado motor [26,29,30].
Ainda, o cerebelo é responsável por conduzir a coordenação
motora a níveis mais acurados de exatidão devido a uma
ativação mais precisa do timing dos músculos agonistas,
antagonistas e sinergistas recrutados para tarefa motora [23].
Os mecanismos resultantes do aprendizado motor no cerebelo são evidenciados pelos níveis de alterações nas células
de Purkinje. Ito [30] sugeriu que as vias aferentes inibiam
a ativação das células granuladas em virtude de uma nova
tarefa desempenhada. Conseqüentemente, como a nova
48
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
tarefa exige maiores níveis de ativação do sistema nervoso
central, alguns sinais enviados por meio das vias aferentes
prejudicavam o desempenho da tarefa solicitada. Portanto,
quando uma nova tarefa motora é aprendida, parece que o
sistema nervoso reduz os níveis de ativação das células granuladas, proporcionando assim uma mensagem com menos
erros [23,30]. Portanto, a redução dos níveis de ativação
é refletida durante a interação entre os sinais enviados as
células granuladas. Deste modo, quando os impulsos das
vias aferentes alcançam as células de Purkinje no mesmo
momento que as células granuladas, a atividade das células
granuladas é suprimida pelas células de Purkinje. De acordo
com a teoria de Ito [30], a redução dos níveis de ativação das
células granuladas poderia ser pensada como um mecanismo
de memorização desempenhado pelo cerebelo, contribuindo
para o aprendizado do movimento.
Outra função descrita por López-Juárez [31] para a estrutura do cerebelo se expõe por ser uma área neural responsável
em melhorar a precisão do movimento. Provavelmente,
este mecanismo de feedback está ativo na aprendizagem do
movimento através da atividades das vias ascendentes [23].
Desta maneira, os sinais incorretos enviados durante o processo de redução dos níveis de ativação do cerebelo parecem
remodelar os circuitos e conexões cerebelares na direção que
o movimento ocorre. Em síntese, ao prejudicar a atividade
cerebelar também se prejudica a resposta ao aprendizado
motor. Por outro lado, a adaptação neural decorrente da
educação cruzada pode envolver tanto aumentos quanto
reduções dos níveis de ativação cerebelar, especialmente se a
tarefa é complexa e requer ensaio extensivo na ordem que o
movimento é aprendido.
O papel dos gânglios ou núcleos da base no aprendizado
motor não pode ser excluído. Sua contribuição para o movimento é bem maior do que se acredita. Por exemplo, as
regiões que formam os núcleos da base, como, por exemplo,
o caudado, o putâmen, e ainda, o estriado têm mostrado
plasticidade neural em resposta do aprendizado motor de
maneira seqüencial [23,32]. Sintetizando a complexa função
dos gânglios da base associado ao controle e aprendizagem
do movimento, nota-se, que talvez estas estruturas estejam
envolvidas nos processos de informação necessários para o
planejamento e execução do movimento, organizando os
ajustamentos posturais. Os gânglios da base recebem entradas
de todas as outras áreas corticais e projetam-se para o tálamo
antes de retornar ao córtex pré-motor e córtex motor primário
[23]. Os gânglios da base revelam alterações significativas
em sua freqüência de disparos anteriormente à iniciação do
movimento, sugerindo que tais estruturas exercem um papel
para a continuação e modulação do movimento no momento em que é realizado [32]. De acordo com Doyon [32], os
gânglios da base estão conectados as estruturas cerebelares.
Contudo, os gânglios da base participam mais efetivamente
reforçando o aprendizado motor [23,29,32]. Parece que os
sinais enviados pelos gânglios da base são codificados pelas fi-
bras dopaminérgicas presentes na substância negra em resposta
ao reforço do estímulo [23]. De acordo com as evidências do
funcionamento e atividade dos gânglios da base podemos
pressupor que estas estruturas são partes do aumento dos
níveis de ativação neural para a ocorrência do aprendizado
motor por meio da plasticidade neural. Embora existam
controvérsias sobre o preciso mecanismo de sincronização,
estas estruturas também têm sido mostradas por se conectar
ao processamento das regiões temporais com a função de
bloquear as sinapses [33,34].
A plasticidade neural na estrutura dos gânglios da base
pode ser importante para compreender os mecanismos da
educação cruzada, uma vez que estudos têm revelado ativação
bilateral cortical destas estruturas com movimentos unilaterais
[32]. Talvez, com o movimento unilateral, os gânglios da
base limitem as projeções para o córtex motor primário. Entretanto, acredita-se que estas estruturas comandem os sinais
retransmitidos para o tálamo e áreas do córtex pré-motor que
se encontram normalmente associadas com o planejamento
e precisão do movimento [23].
Alteração dos níveis de ativação neuromuscular
Alguns estudos têm documentado que a ativação máxima
de um músculo durante uma contração pode ser limitada por
inibição neural, principalmente durante ações excêntricas em
alta velocidade [20], funcionando como um mecanismo de
proteção, a fim de prevenir lesões [27]. Além disso, o treinamento de força em alta intensidade resulta em uma melhora
na ativação das unidades motoras. Gorgey e Dudley [35]
constataram que indivíduos inexperientes em treinamento
de força podiam ativar somente, aproximadamente, 75% de
sua musculatura durante uma contração voluntária máxima.
Portanto, a adaptação no trajeto da ativação muscular pode
ter um importante papel na ocorrência da educação cruzada.
A aprendizagem motora proporcionada pelo treinamento
parece conduzir o sistema nervoso a aumentos significativos
dos níveis de ativação neuromuscular. Estes aumentos de
ativação podem estar intimamente envolvidos na educação
cruzada. Vários estudos têm demonstrado que a educação
cruzada de força possui correlações com os aumentos nos
níveis de ativação do sistema nervoso [3,4,6,16,19,20,21].
Conseqüentemente, este aumento de ativação reflete uma
melhora no recrutamento das unidades motoras do membro
em treinamento e, desta maneira, refletindo em ganhos dos
níveis de força do membro não treinado.
A integração neural dentro do sistema nervoso é um
processo complexo. Este fato nos faz especular sobre as diferentes adaptações neurofisiológicas durante os distintos tipos
de aprendizagem motora. Por exemplo, o núcleo de uma
unidade motora pode responder a estímulos inibitórios ou
excitatórios, através do comando dos neurônios superiores
que enviam seus axônios pelos tractos medulares, ou ainda,
por inter-neurônios medulares, como parte de circuitos
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
neurais periféricos. Praticamente, esta integração neural
pode produzir vários níveis de inibição/excitação, resultando
em incremento ou redução da força durante uma contração
muscular específica. Estes mecanismos demonstram que
infinitas combinações dos inputs inibitórios e excitatórios
podem elevar os níveis de força. Em outras palavras, uma
mesma tarefa motora pode ser desempenhada com o mesmo
torque articular e com o mesmo objetivo, porém, utilizandose de infinitas combinações de motoneurônios (motoneurônios alpha e motoneurônios gama) e atividades das vias
aferentes neuromusculares. A compreensão de qual seria o
mecanismo preferencial controlado pelo sistema nervoso
durante o movimento tem sido o objetivo de muitos dos
estudos sobre o controle motor [36].
A melhora da coordenação entre os músculos agonistas
e antagonistas também podem provocar ganhos de força.
Carolan e Cafarelli [37] encontraram 16,2% de aumento
de força no membro não treinado com 13% de redução na
co-ativação antagonista após o treinamento experimentado
pelo membro ipsilateral. Devido à redução da oposição dos
músculos antagonista durante a execução do movimento,
os músculos agonistas puderam elevar significativamente
os níveis de força. A co-ativação dos músculos antagonistas
é mediada por integração entre o sistema nervoso central e
inter-neurônios presentes na medula espinal junto com os
aferentes neuromusculares. Enquanto fuso muscular, presente
nas fibras intrafusais, provoca excitação dos motoneurônios
alpha que ativam os músculos agonistas, o órgão tendinoso
de Golgi inibe a ativação do motoneurônio alpha. Portanto,
de acordo com Bears et al. [23] a co-ativação dos músculos
antagonistas é causada pela interação entre o órgão tendinoso
de Golgi e fuso muscular, controlando os níveis de tensão e
estiramento muscular, respectivamente.
Este fato pode explicar, ao menos em parte, por que
o sistema nervoso produz níveis de ativação incompleta
durante ações musculares excêntricas embora a força
muscular seja significativamente maior. Provavelmente,
estas condições resultam em maior interação do órgão
tendinoso de Golgi e fuso muscular, reduzindo assim a
força máxima esperada.
Embora grande parte das pesquisas não tenha sempre
evidenciado a busca pelo entendimento deste fenômeno, a coativação dos músculos antagonistas não é um novo conceito
na literatura. Enoka [38] descreveu este mecanismo com uma
estratégia para a proteção osteomioarticular quando tarefas
não familiarizadas eram realizadas. Portanto, tarefas complexas
ou não familiarizadas encontram-se intimamente relacionadas
com este fenômeno.
Talvez, o aumento da ativação neuromuscular observado
após um caso de educação cruzada seja um mecanismo periférico. Contudo, ainda não se sabe a maneira pela qual o
corpo transfere esta informação para o lado oposto. Entretanto, como supracitado, a plasticidade no encéfalo pode estar
conectado ao mecanismo.
49
Aumento da excitabilidade da musculatura contralateral
Hortobágyi et al. [39] argumenta que a atividade aferente
da musculatura acionada durante movimentos unilaterais
pode elevar a excitabilidade da região cortical que controla
o grupo muscular homólogo contralateral. De acordo com
tais autores, o treinamento por estimulação elétrica foi mais
efetivo para a ocorrência da transferência de força do que o
treinamento voluntário. Ainda, Hortobágyi et al. [39] relatam que este fato talvez tenha ocorrido devido à inervação
das fibras musculares do músculo contralateral se acionarem
por meio dos receptores de dor localizados na pele durante a
eletroestimulação. Portanto, é sugerido que o treinamento por
estimulação elétrica produza maiores níveis de ativação das
fibras inervadas pelos aferentes Ia, o qual poderia resultar em
maior excitação agonista somado a uma inibição antagonista
no membro em treinamento. Por outro lado, no membro
não treinado ocorreria uma inibição agonista junto com uma
excitação antagonista, tal como o reflexo extensor cruzado.
Hortobágyi et al. [39] teorizaram que os aferentes do grupo
Ia poderiam fortalecer a transmissão sináptica excitatória na
musculatura contralateral, conduzindo o membro a melhorar
os níveis de performance. Se a teoria proposta por Hortobágyi
et al. [39], a respeito do reflexo extensor cruzado provocando a educação cruzada estivesse tão correta, não é certo que
deveríamos observar melhoras significativas na musculatura
contralateral antagonista e não o contrário?
Alguns estudos têm revelado que talvez exista uma possível
modulação de excitabilidade cortical em ambos os hemisférios
cerebrais após exercícios unilaterais executados até a fadiga.
Contudo, um estudo realizado por Farthing e Chilibeck [6]
revelou um nível de ativação insignificante da musculatura
contralateral durante uma tarefa de força unilateral. É sabido
que se a excitabilidade do membro ipsilateral for aumentada
durante uma contração muscular, pode-se esperar algum
feedback do membro contralateral, principalmente, se a
tarefa motora desempenhada for complexa. Isto se explica,
basicamente, devido aos axônios descendentes do córtex motor inervarem tanto os motoneurônios alpha quanto enviar
ramos colaterais aos inter-neurônios inibitórios pertencentes
ao grupo Ia. Portanto, o sinal motor de ambos os centros
motores mais altos podem influenciar independentemente a
ativação muscular. Conseqüentemente, os mecanismos que
mediam a educação cruzada podem ser controlados por uma
combinação de adaptações corticais e comunicação entre os
membros em níveis medulares, entretanto, não se sabe qual
é a contribuição relativa de cada um.
Uma recente pesquisa realizada por Aagaard et al. [26]
tem evidenciado que os níveis de excitabilidade das unidades
motoras após um período de treinamento são melhorados.
Neste estudo, Aagaard et al. [26] discutiram estes mecanismos
relacionando-os com dados eletromiográficos da onda V e
reflexo de Hoffmann. Tem se observado que o treinamento
de força unilateral pode elevar os níveis de ativação de ambos
50
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
os membros. Portanto, de acordo com Aagaard et al. [26], o
aumento da expressão da onda V pode refletir uma crescente
atividade eferente dos motoneurônios, ou ainda, proporcionar
melhora da atividade reflexa. Sabe-se que o reflexo de Hoffmann
mostra os níveis de ativação dos programas medulares durante
o repouso muscular, a onda V revela a excitabilidade medular
em atividade, isto é, em uma contração voluntária. Em outras
palavras, a onda V é uma variante do reflexo de Hoffmann,
entretanto, é gravado durante uma tarefa motora voluntária. As
contribuições a respeito dos níveis de atividade muscular após
um caso de educação cruzada aguardam por mais investigações
que possam oferecer maior esclarecimento sobre os fatos.
Poucos estudos têm realmente se propostos a investigar
as alterações ocorridas na onda V e reflexo de Hoffmann,
antes e após um protocolo de treinamento unilateral, em
ambos os membros. O único estudo encontrado que investiga tais efeitos revelou alterações insignificantes no reflexo
de Hoffmann após o protocolo de treinamento unilateral
[16]. Com o propósito de esclarecer informações baseado
em evidências, torna-se imprescindível realizar novos estudos
acerca deste fato.
tem investigado os níveis de ativação da musculatura axial
contralateral associada com a educação cruzada.
O tracto córtico-espinal ipsilateral pode também contribuir para o aprendizado motor em níveis mais elevados do
sistema nervoso central devido a sua forte interação com a
formação reticulada. De acordo com Ghez e Gordon [42], a
formação reticular possui a função de manutenção postural.
Complementando, Kumru e Valls-Solé [43] mostraram que
a formação reticulada é altamente ativada durante a integração de vários inputs neurais. Desta maneira, esta região
do encéfalo poderia, talvez, ser responsável por estabelecer
conexões inibitórias e excitatórias a nível medular com motoneurônios por meio do tracto retículo-espinal, favorecendo
o aprendizado motor.
Em síntese, baseado em evidências, pode se especular que
as alterações neurais ocorridas no fenômeno da educação cruzada podem ser reprogramadas em ambos os hemisférios pela
formação reticulada, conduzindo o sistema a uma melhora
substancial na coordenação agonista/antagonista nos respectivos membros, subseqüentemente a aplicação de um protocolo
de treinamento unilateral. Conseqüentemente, aumentando
os níveis de força por meio da aprendizagem do gesto.
Impulsos do tracto córtico-espinal
Conclusão
De acordo com Bear et al. [23], o encéfalo se comunica com
os neurônios inferiores de nível medular ou motoneurônios
por meio de axônios descendentes do córtex. O componente
mais importante destas vias descendentes é o tracto córticoespinal. O tracto córtico-espinal é mais longo, bem como, o
mais numeroso tracto do sistema nervoso central. Cerca de 10
[6] axônios formam as vias deste tracto [23]. No que se sabe,
aproximadamente, 75% dos nervos do tracto córtico-espinal
conduzem os impulsos gerados no córtex motor primário para
os motoneurônios presentes na medula. Após saírem do córtex,
ocorre uma decussação logo abaixo da pirâmide bulbar representando um mecanismo de controle motor cruzado. Em outras
palavras, o lado direito do encéfalo controla o lado esquerdo
do corpo e vice versa. Entretanto, o restante das vias do tracto
córtico-espinal, isto é, aproximadamente 25% dos axônios,
descendem ipsilateralmente. Explicando melhor, enquanto ¾
dos axônios decussam logo após a pirâmide bulbar, o restante
dos axônios ramificam-se e não decussam.
Tem sido evidenciado que as vias do tracto córtico-espinal
que não decussam possuem a finalidade de controlar os músculos axiais, ajustando o comando postural. Historicamente,
especulou-se que talvez um dos mecanismos da educação
cruzada possa ocorrer devido à co-excitabilidade dos músculos
homólogos do corpo em função das vias dos tractos as quais
não decussam [40,41]. Em outras palavras, durante o movimento unilateral, as vias do tracto córtico-espinal conduzem
cerca de 25% dos seus axônios para a musculatura ipsilateral
que não são acionadas. De acordo com Hellebrandt et al.
[40]; Hellebrandt [41], este fato poderia conduzir o sistema a
ocorrência da educação cruzada. Entretanto, nenhum estudo
Esta revisão levantou várias informações sobre os possíveis mecanismos neurofisiológicos que mediam a educação
cruzada. Embora este fenômeno tenha sido constatado há
mais de um século, os estudos não foram capazes de descrever
quais são os verdadeiros mecanismos mediadores da educação
cruzada até a presente data. Além disso, muitos estudos têm
conduzido seus experimentos sem incidência de grupo controle, utilizando-se de procedimentos metodológicos apenas
com o grupo experimental. Estes procedimentos podem gerar
resultados ambíguos, pois o aparente ganho de força pode ser
ocasionado pela familiarização aos protocolos de teste.
Em síntese, os estudos sobre a educação cruzada abrem
o caminho para a compreensão e entendimento dos mecanismos neurais do controle cortical, subcortical e espinal do
movimento. Em outras palavras, pequenas alterações em
várias estruturas do sistema nervoso podem contribuir para
os ganhos máximos de força do membro contralateral. Além
disso, presumimos que o surgimento de instrumentos de
testes fisiológicos mais modernos marcará a possibilidade de
novas constatações sobre outros mecanismos mediadores da
educação cruzada em futuros estudos.
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52
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Revisão
Bases metabólicas do crescimento muscular
Metabolic basis of muscle growth
Rodrigo Minoru Manda*, Nailza Maestá, D.Sc.**, Roberto Carlos Burini***
*Biomédico, aprimorando pelo programa Laboratório em Metabolismo Nutricional e Desportivo do Centro de Metabolismo em
Exercício e Nutrição (CeMENutri) , Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), **Nutricionista do Centro de Metabolismo em
Exercício e Nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), ***Professor
Titular do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) e responsável pelo CeMENutri
Resumo
Abstract
O músculo esquelético é o maior tecido do corpo e guarda
relação com a autonomia somatocinética e homeostase metabólica.
A miogênese é decorrente da predominância de fatores protéicos
miogênicos sobre miostáticos. O crescimento ocorre predominantemente de forma hipertrófica, após o nascimento, pelo predomínio da
síntese sobre o catabolismo protéico. A síntese protéica é finamente
mantida por cascata de quinases controladas ou controladoras da
mTOR. A mTOR controla o complexo iniciador da síntese protéica,
sendo influenciada pela contração muscular, fatores de crescimento
e a leucina. O estado de privação energética (↑ AMP/ATP) inibe
a mTOR pelo aumento da AMPK. A síntese protéica miofibrilar
é estimulada por fatores hidratantes celulares (glicose, insulina,
creatina, BCAA, glutamina). Seguindo-se a lesão e necrose miofibrilar, há resposta inflamatória e ação dos fagócitos, promovendo
a fagocitose tecidual. Posteriormente, os macrófagos alteram seu
fenótipo para resolver a inflamação e promover a miogênese e
crescimento miofibrilar.
The skeletal-muscle is the largest tissue in the body with the
major roles in kinetics and metabolic process. Myogenesis is the consequence of of myogenic over myostatic factors. The hypertrophic
growth occurs in myofibrillar diameter and length by predominating
protein synthesis over protein breakdown. Protein synthesis is finely
controlled by kinase cascade having mTOR as central role. mTOR
controls the protein synthesis initiation complex, being influenced
positively by muscle contraction, growth factors and also by leucine. Muscle energy deprivation (↑ AMP/ATP) inhibits mTOR by
increasing AMPK. Muscle protein synthesis is enhanced by cell
hydrating factors (glucose, insulin, creatine, BCAA, glutamine).
Postinjury skeletal muscle regeneration is characterized by two local
subsequent phases. Sooner after injury, the infiltrated and residual
macrophages are classically activated. They promote phagocytosis of
tissue debris while preventing early myogenic differentiation. Then
macrophages switch their phenotype to sort out inflammation and
support myogenesis and myofiber growth.
Palavras-chave: músculo esquelético, hipertrofia muscular,
anabolismo protéico, mTOR, regeneração muscular.
Key-words: skeletal muscle, muscle hypertrophy, protein
anabolism, mTOR, muscle regeneration.
Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini, CeMENutri. Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Pública (FMBUNESP), Distrito de Rubião Jr, s/n°, 18618-970 Botucatu SP, Tel: (14) 3811-6128, E-mail: [email protected], rodrigo_manda@yahoo.
com.br
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Introdução
A musculatura esquelética constitui o maior tecido do
corpo, o maior compartimento protéico e supridor de aminoácidos aos demais tecidos na situação de privação alimentar.
É o maior removedor de glicose, insulino-dependente, da
circulação e principal responsável pelo gasto energético voluntário. Assim, há relação direta da integridade morfofuncional
da musculatura esquelética com a saúde e qualidade de vida
do indivíduo [1].
A massa muscular estriada é constituída de estrutura
citológica predominantemente sincicial em que as proteínas miofibrilares (actina e miosina) ocupam o maior
espaço citosólico (sarcoplasma), comprimindo entre si as
mitocôndrias.
Entre as miofibrilas e a membrana (sarcolema) encontramse os mionúcleos e o retículo sarcoplasmático. Externamente
ao sarcolema, há as células satélites, linhagem de células tronco
musculares, responsáveis pela regeneração das fibras musculares após estímulos catabólicos, como o exercício excêntrico
e lesão pós traumática [2].
Crescimento muscular
O crescimento muscular esquelético ocorre por hipercelularidade (hiperplasia) ou hipertrofia sarcoplasmática.
O crescimento muscular hiperplásico ocorre predominantemente na vida embrionária. A linhagem celular envolvida
é constituída dos somitos, mioblasto, miócito e miotubo, A
miogênese é decorrente do equilíbrio entre os fatores protéicos miogênicos (myocite-enhancer factor, MEF-2; miogenina
e myogenic-differenciation factor, MyoD) e os miostáticos
(growth and differentiation factor 8, GDF-8 ou miostatina;
muscle atrophy F-box, MAFbox ou atrogina 1 e o muscle ring
finger 1, MURF-1) [3].
O crescimento muscular hipertrófico ocorre de forma predominante após o nascimento, naturalmente até a juventude,
continuando também na maturidade e senescência frente aos
esforços físicos contra resistência. Pode também ser observado
pós-estimulação elétrica em seccionados de medula [4] e em
idosos pós-cirurgia [4]. Contribui, para tanto, o predomínio
da síntese sobre o catabolismo protéico miofibrilar.
Anabolismo protéico
As variações na síntese protéica muscular ocorrem antes
das variações no conteúdo do mRNA (RNA mensageiro)
[5], por isso é comumente aceito que a síntese protéica
muscular seja controlada, predominantemente, após a fase
de transcrição do DNA [6]. O passo limitante da síntese
protéica muscular seria a iniciação da tradução do mRNA, que
inclui a ligação entre tRNA (RNA transportador) iniciador
(metionil-tRNA) e mRNA, com a subunidade ribossômica
menor, 40S [7] (Figura 1).
53
A regulação da iniciação da tradução do mRNA seria pela
ativação da mammalian target of rapamycin (mTOR) e de
suas proteínas sinalizadoras dowstream, proteína ribossômica70kDa S6 quinase (p70S6k1) e proteína ligadora do fator de
iniciação eucariótico 4E (4E-BP1) [7]. Ambas as proteínas
(p70S6k1 e 4E-BP1) modulam a iniciação da tradução do
mRNA por controlarem a ligação do mRNA à subunidade
ribossomal 40S. A ligação eficiente da subunidade 40S ao
mRNA necessita do fator de iniciação eucariótico 4F (eIF4F)
cuja formação é reprimida pela ligação do fator eIF4E a 4EBP1; complexo que atua como repressor da tradução [7,8]
(Figura 1).
A fosforilação da 4E-BP1 (via mTOR) libera-a do fator
eIF4E permitindo a ativação do eIF4E facilitando a ligação
do mRNA à subunidade 40S (via eIF4F) e permitindo que o
processo de iniciação da tradução do mRNA se perpetue [7].
Outro mecanismo regulador da ligação do mRNA à
subunidade 40S envolve a fosforilação da proteína ribossômica S6, que é controlada pela atividade da p70S6k1.
A proteína S6 está localizada nas proximidades do fator de
iniciação. A fosforilação da proteína S6 está relacionada
com aumento da síntese de proteínas ribossomais e fatores
de alongamento, resultando na interação da proteína da
subunidade 40S com a molécula do mRNA promovendo a
sua tradução [6] (Figura 1).
A ligação do tRNA iniciador (metionil-tRNA) é dependente da ativação do fator de iniciação eucariótico 2B (eIF2B), que consiste em fator de translocação de nucleotídeo
guanina, convertendo o eIF2-GDP em eIF2-GTP. O eIF2B
é reprimido pela glycogen synthase kinase 3 (GSK3), e para sua
ativação, é necessário inibir a atividade da GSK3, através da
fosforilação, via Akt/PKB. Uma vez ativado, e em associação
com os outros fatores, o complexo para tradução do mRNA
encontra-se completo [9,10] (Figura 1).
A mTOR quinase está associada as suas proteínas regulatórias Raptor (regulatory associated protein of mTOR), GβL (Gprotein β subunit-like) e PRAS40 (proline-rich AkT substrate
of 40 kDa) formando o complexo referido como mTORC1
(mTOR complex 1) [11,12] (Figura 1).
A PRAS40 é uma proteína ligadora da Raptor que é
fosforilada pela mTOR (na serina 183) e pela proteína
quinase B (Akt/PKB) na treonina 246, resultando na
fosforilação da S6k1 (quinase S6 da proteína ribossômica
70kDa) e maior síntese protéica muscular [13]. Assim,
4E-BP1 e S6k1 são proteínas downstream da mTOR, diretamente ligadas ao estímulo da síntese protéica muscular
[14,15] (Figura 1).
Como produtos gênicos upstream a mTOR tem-se
os TSC1 e TSC2 (tuberousclerosis complex) formando
o heterodímero estimulado pela insulina e ativador da
reação do fator Rheb (ras homologue enriched in brain):
Rheb-GTP Rheb-GDP, ligado à estimulação da mTOR
[16] (Figura 1).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
54
Figura 1 - via de sinalização mTORC1 (mTOR complex 1).
P
Akt
P
Rheb
GDP TSC1
TSC2
Rheb
GTP
GSK3
Rapamicina
GTP
PDK
eIF2B
GDP
mTOR
GβL
PRAS40
eIF2B
eIF2B
Raptor
4E-BP1
GDP
GTP
eIF4F
p70S6K1
rpS6
40S
4E-BP1
eIF4F
eIF4F
UAC
UAC
40S
rpS6
UAC
eIF2BAUG
40S
eIF4F
rpS6
SÍNTESE PROTÉICA
(Akt: serina/treonina quinase Akt; PDK: quinase dependente de fosfoinositol; mTOR: mammalian target of rapamycin; PRAS40: proline-rich Akt
substrate of 40 kDa; GβL: G-protein β subunit-like; RAPTOR: regulatory
associated protein of mTOR; p70S6K1: proteína ribossômica-70 kDa
S6 quinase; rpS6: proteína ribossômica S6; 40S: subunidade 40S do
ribossomo; 4E-BP1: proteína ligadora do fator de iniciação 4E; eIF4E:
fator de iniciação eucariótico 4E; eIF4F: fator de iniciação eucariótico
4F; GSK3: glycogen synthase kinase 3; eIF2B: fator de iniciação eucariótico 2B; TSC1/TSC2: tuberousclerosis complex; Rheb: ras homologue
enriched in brain).
Ativadores da mTOR
O mTOR é uma via de sinalização canônica que integra
nutriente (leucina), hormônios (insulina; insulin-like growth
factor-1, IGF-1), estado energético (ATP/GTP) intracelular e
o treinamento resistido para controlar a tradução do mRNA
[13] (Figura 2).
É sabido que o treinamento resistido induz hipertrofia
muscular mediante processos mecânicos, metabólicos e
hormonais [17]. A sobrecarga mecânica leva a eventos intracelulares que regulam a expressão gênica e síntese protéica.
O exercício resistido pode alterar a atividade de aproximadamente 70 genes [18], ativar fatores envolvidos com a miogênese (ex. miogenina, MyoD) e reprimir fatores inibidores do
crescimento (ex. miostatina) [19].
Oito semanas de exercícios com pesos resultam em hipertrofia (~10%) associadamente ao aumento do conteúdo
protéico de Akt e GSK3 fosforiladas e de mTOR [4].
A síntese protéica no músculo humano aumenta após uma
simples sessão de exercício resistido vigoroso [20], atingindo pico
máximo em 24 h, após o exercício, com o efeito anabólico permanecendo elevado de 2-3 horas até 36-48 h pós-exercício [21].
As adaptações neurais predominam durante os primeiros
estágios do treino [22] e a hipertrofia muscular torna-se evidente dentro das primeiras 6 semanas [23].
A fosfatidilinositol 3-quinase (PI3K) responde aos estímulos anabólico, da IGF-1, e mecânico, da contração muscular,
via PKB/Akt (Figura 2). A PI3K fosforila o fosfoinositol de
membrana PI-4,5-bifosfato a PI-3,4,5-trifosfato, criando, no
sarcolema, o sítio de ligação para a serina/treoninaquinase Akt.
Subsequentemente, a Akt é ativada pela fosforilação com a
quinase dependente de fosfoinositol (PDK-1) [24] (Figura 2).
Os exercícios de resistência estimulam a síntese protéica
muscular por até 48 horas [4]. Entretanto, o balanço protéico
permanece negativo no pós-exercício imediato até a administração de proteínas e/ou aminoácidos [20,25].
A ampliação do processo hipertrófico induzido pelo exercício resistido ocorre com a ingestão de aminoácidos [26] e
resposta endócrina [27].
Trabalhos experimentais mostram que tanto os exercícios
de resistência [28], como ingestões de proteína e/ou leucina
[10] resultam em fosforilação de ambos 4E-BP1 e S6k1 (Figura 1 e Figura 2).
O treinamento resistido constitui método excelente para
promover o ganho de músculo esquelético. O mesmo pode
ser potencializado pelos suplementos protéicos, em particular
aqueles contendo elevadas concentrações de aminoácidos indispensáveis como a proteína do soro do leite. A proteína do
soro do leite é especialmente rica em leucina (até 14g/100g
proteína), conhecida como reguladora do início da tradução
do mRNA para a síntese protéica muscular, atuando diretamente na fosforilação da mTOR [29].
Os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) têm
habilidade única de estimular a síntese protéica muscular
independentemente dos demais aminoácidos. Quando
administrada oralmente, a leucina isolada estimula a síntese
protéica muscular em animais e indivíduos exercitados ou
subnutridos [8,30,31]. O estímulo da leucina não é via insulina/IGF-1/PI3K/PKB e sim, provavelmente, via PRAS40
[13] (Figura 2).
Adicionalmente aos anabolizantes protéicos musculares
que agem na mTOR: treinamento contra-resistência, hormônios (IGF-1, GH, testosterona) e leucina há, também, as
misturas facilitadoras da síntese protéica muscular: glicose, insulina, BCAA, glutamina, creatina etc., atuantes na hidratação
celular e positivação do balanço celular de aminoácidos [32].
Bloqueadores da mTOR
A AMPk (5’-AMP-activated protein kinase) é uma enzima
heterotrimérica que atua como o maior sensor energético celular.
É ativada quando o ATP torna-se limitado. Nestas condições, a
AMPk estimula as vias catabólicas e inibe as vias anabólicas no
esforço de suprir o ATP para a sobrevivência celular.
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A AMPk regula, no músculo, o metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, pelos seus efeitos em múltiplas
vias de sinalização e assim, suprime processos que demandam
ATP e ativa vias que geram ATP.
Nesse sentido, a AMPk é um regulador negativo upstream
do mTORC1, reduzindo a síntese protéica muscular em
condições de estresse energético como hipóxia, exercício de
alta intensidade ou glicopenia celular [33].
A AMPk inibe a sinalização mTORC1 em 2 vias: via
fosforilação do Raptor que leva a diminuição da atividade
da mTOR quinase e via fosforilação da TSC2 (ou tuberina)
[34] (Figura 2).
A AMPk desempenha papel importante na regulação da
síntese protéica muscular. Uma simples sessão de exercício
resistido, feita em jejum, resulta na inibição da síntese protéica
muscular via AMPk com redução da fosforilação da 4E-BP1
[35-37]. Entretanto, quando o exercício é feito na situação
alimentado, a inibição da síntese protéica não ocorre, pois a
alimentação reduz a AMPk [26].
Condições em que a leucina é inefetiva em estimular o
anabolismo protéico muscular (sepsis, intoxicação alcoólica
e excesso de glicocorticóides) caracterizam o estado de resistência à leucina [13]. A ativação da AMPk, presente em várias
condições de estresse, tem participação provável no desenvolvimento da resistência a leucina no músculo esquelético [13].
Figura 2 - estimuladores da mTOR complex 1.
Contração muscular
IGF
Energia
AMP:ATP
P PI-3,4,5-3P
,5-2
PI-4
PI3K
PTEN PDK Akt
P
P
TSC1
Rapamicina
AMPk
TSC2
Rheb
Rheb
mTOR
GβL
PRAS40
AMP
GDP
GTP
Raptor
Insulina
SÍNTESE
PROTÉICA
Nutrientes:
Leucina
(BCAA)
(IGF: insulin-like growth factor; IRS 1: insulin receptor substrate-1; PI3K:
fosfatidilinositol 3-quinase; PTEN: phosphatase and tensin homolog;
PI-4,5-2P: fosfatidilinositol-4,5-bifosfato; PI-3,4,5-3P: fosfatidilinositol3,4,5-trifosfato; Akt: serina/treonina quinase Akt; PDK: quinase dependente de fosfoinositol; mTOR: mammalian target of rapamycin; PRAS40:
proline-rich Akt substrate of 40 kDa; GβL: G-protein β subunit-like;
RAPTOR: regulatory associated protein of mTOR; TSC1/TSC2: tuberousclerosis complex; Rheb: ras homologue enriched in brain; AMPk:
5’-AMP-activated protein kinase; BCAA: branched-chain amino acid).
55
Anabolismo pós-lesão por sobrecarga
Após a lesão muscular por sobrecarga há a regeneração,
remodelamento e crescimento muscular (Figura 3). Nestas
condições o crescimento muscular é tanto hipertrófico como
hiperplásico.
A regeneração do músculo esquelético é fortemente
associada a células como macrófagos e células satélites. Os
macrófagos participantes são residentes, recrutados de compartimentos musculares específicos como epimísio/perimísio (ou fáscia muscular) ou resultantes da diferenciação de
monócitos sanguíneos. Estes últimos são atraídos tanto pela
ação quimiotática das células miogênicas como pela MCP-1
(monocytes chemoactractant protein 1) expressados pelos macrófagos residuais [38].
No músculo os macrófagos adotam funções heterogêneas
de acordo com a localização anatômica e estímulos diferentes.
Dentre as atividades que ilustram os diferentes fenótipos dos
macrófagos figuram: pró-inflamatório x anti-inflamatório,
imunogênico x tolerogênico e destruição x reparo tecidual.
A ativação clássica dos macrófagos (chamada M1) induz a
produção de citocinas pró-inflamatórias e espécies reativas do
oxigênio que refletem o estado primário da ativação macrofágica após lesão tecidual ou conflito imunológico. A ativação
alternativa (chamada M2a) é observada em ambiente Th2 e é
associada à inflamação crônica mas evidenciada também em
infecções parasitárias. A ação macrofágica anti-inflamatória
ou de desativação (chamada M2c) é relacionada a fase de reparo tecidual durante a qual os macrófagos secretam TGF-β
(transforming growth factor β) [39].
O músculo esquelético lesado recruta rapidamente (1-2
dias) monócitos sanguíneos que se tornam macrófagos com
padrão comportamental inflamatório. Um a três dias após
serem recrutados, esses macrófagos mudam seu fenótipo para
anti-inflamatórios. Essa mudança ocorre após a fagocitose
tanto das células apoptóticas como das miofibras necrosadas
(figura 3). Assim a regeneração muscular pós-lesão é caracterizada por populações sequenciais de macrófagos. Primeiro, os
macrófagos residuais, que são pró-inflamatórios, associam-se
aos monócitos recrutados para a remoção do material necrosado. A seguir, os macrófagos anti-inflamatórios aparecem e
estão associados à cicatrização e reparo tecidual. Desta forma
a inflamação desencadeada por macrófagos, pós-lesão muscular, é benéfica à regeneração muscular [38]. Os macrófagos
anti-inflamatórios parecem estar envolvidos na diferenciação
celular e/ou crescimento miofibrilar [40] (figura 3).
Quando em contato com macrófagos, as células miogênicas apresentam crescimento. Este estímulo pode ser causado:
1) pela resposta eficiente das células miogênicas aos fatores de
crescimento secretados pelos macrófagos ou 2) pelo contato
estabelecido de célula: célula que protege as células miogênicas contra apoptose. As células miogênicas multinucleadas
diferenciadas (miotubos) são mais protegidas da apoptose,
comparativamente aos mioblástos indiferenciados. Isto sugere
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
56
que a proteção do macrófago estender-se-ia até a associação
final do miotubo à matriz [38].
Quando em cultura, os macrófagos inflamatórios estimulam a proliferação de células miogênicas e inibem sua
diferenciação. Inversamente, os macrófagos anti-inflamatórios
exibem estímulo da fusão dos mioblastos, isto é, diferenciação de células miogênicas. Estes resultados sugerem que o
estado de ativação dos macrófagos pode modular o processo
miogênico [40,41].
O processo de miogênese in vitro envolve 3 etapas principais: diferenciação celular com cessação do ciclo celular e
expressão do programa miogênico, migração celular em direção a outra e fusão eventual em estruturas multinucleadas.
Os macrófagos pró-inflamatórios exercem efeitos negativos
tanto na diferenciação miogênica como na fusão. A menor
fusão pode ser consequente ao estímulo destes macrófagos
exercido sobre a maior mobilidade das células miogênicas. Por
outro lado, macrófagos anti-inflamatórios estimulam tanto
a diferenciação miogênica como o processo de fusão [38].
Figura 3 - Lesão pós-carga e reparo/crescimento muscular [38].
Lesão muscular
(1-2 dias) Recrutamento
de monócitos
sanguíneose de
macrófagos residuais
Macrófagos
inflamatórios
Fagocitose de células (1-3 dias) Macrófagos
apoptóticas e
anti inflamatórios
miofibrilas necrosadas
Contato com
células miogênicas
(células satélites)
Diferenciação celular
Crescimento
hiperplástico
Reparo tecidual
e crescimento
miofibrilar
Embora ainda sob estudos, é provável que os mecanismos
envolvidos estejam associados às citocinas liberadas pelos
macrófagos ativados que influenciariam o comportamento
da célula miogênica. Por exemplo, o fator de necrose tumoral
(TNFα) é mitogênico para mioblastos e inibe suas diferenciações [42], o TNF-β1 parece associado ao diâmetro das
miofibras regeneradas [43].
A cicloxigenase 2 e seus metabólitos também parecem
exercer papel crítico, uma vez que promovem fusão dos mioblastos, necessária à qualidade do reparo muscular [44,45].
Na lesão miofibrilar por trauma, há liberação local da
isoforma muscular do IGF-1, o mecano-growth factor (MGF),
responsável pelo recrutamento e ativação das células satélites quiescentes que se fundirão formando o miotubo, que
substituirá as miofibrilas fagocitadas e acrescentará novos
mionúcleos à massa sincicial. As células tronco musculares
recrutadas reagirão com a integrina (proteína transmembrana) que permitirá a migração do já mioblasto até sua adesão
à laminina, arcabouço colágeno da miofibrila fagocitada,
permitindo a regeneração da área lesada [46].
Sinalizadores anabólicos como Akt/PKB, ativados pela
contração muscular, participam do remodelamento muscular e funcionamento normal do sarcolema [47]. As maiores
secreções de andrógenos e GH decorrentes do esforço de alta
intensidade (e lesão muscular) estimulam a síntese miofibrilar
e o crescimento muscular hipertrófico [46].
Anabolismo pós-desuso
Na recuperação da massa muscular pós-desuso a expressão
gênica da IL-6 está aumentada e funciona como regulador
miogênico e anabólico [48]. Frente ao trabalho muscular possui elevação temporal com pico intermediário entre o TNF-α
(pró-inflamatório) e a IL-10 (anti-inflamatória). Metabolicamente a IL-6 bloqueia as ações musculares (catabólicas e de
resistência à insulina) do TNF-α [49].
A IL-6 liberada no exercício físico é considerada a primeira miocina com ação integrativa entre órgãos resultando
em desbloqueio do IGF-1, sensibilidade insulínica, lipólise
intramuscular e economia do glicogênio muscular [50]. A
maior expressão da IL-6 pelo músculo exercitado pode ser
decorrente de quaisquer dos estímulos Ca++ intracelular,
AMPk ou hipóxia local [51].
Conclusão
O turnover miofibrilar ocorre, fisiologicamente, a cada
5-6 dias, podendo ser retardado pelos estresses inflamatório
e energético (↑ AMP/ATP) e acelerado por fatores anabólicos
(estímulo de contração muscular contra resistência, estímulo
elétrico (em medulados), fatores nutricionais (leucina) e hormonais). Estes fatores anabólicos agem via cascata de quinases
que estimulam a tradução do mRNA miofibrilar e/ou fatores
de diferenciação miogênicos. Figuram como indicadores moleculares das vias do crescimento muscular Akt/PKB, mTOR,
p70S6K, 4E-BP1, GSK3 e miogenina.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
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Comunicação breve
A influência da caminhada versus exercícios
convencionais sobre a dor e qualidade de vida em
mulheres com fibromialgia: um ensaio simples-cego
The influence of walking versus conventional exercises on pain and
quality of life in women with fibromyalgia: a single blind clinical trial
Izabel Cristina Camargo dos Santos*, Mariana Conceição Farias de Moraes*, Bruna Piergentile*, Karin Lima dos Reis de
Burgo**, Fábio Marcon Alfieri, M.Sc.***
*Discentes do curso de Fisioterapia do UNASP, **Especialista em Clínica Médica, Fisioterapeuta do Programa da Saúde da FamíliaSão Paulo, ***Docente do curso de Fisioterapia do UNASP
Resumo
Abstract
Introdução: A fibromialgia é uma síndrome que traz alterações
como dor e diminuição da qualidade de vida. O objetivo deste estudo
foi comparar a dor e a qualidade de vida em pacientes fibromiálgicos
submetidos a exercícios convencionais versus caminhada. Método:
Participaram do estudo 22 mulheres divididas aleatoriamente em
dois tipos de exercícios: caminhada e exercícios gerais. Ambos foram
avaliados pela escala visual analógica e pelo questionário sobre impacto de qualidade de vida (FIQ) antes e após os 3 meses de intervenção. Resultados: Em nenhum grupo houve melhora significativa
em relação à dor e à qualidade de vida. Conclusão: Acredita-se que
o tempo pode ser um fator limitante dos resultados deste estudo
preliminar, bem como o tamanho da amostra.
Introduction: The fibromyalgia is a syndrome that brings changes
as pain and decreased quality of life. The aim of this study was to
compare the pain and quality of life in fibromyalgic patients treated
with conventional versus walking exercises. Method: The study
included 22 women divided into two types of exercises: walking
and general exercise. Both were assessed by visual analogue scale
and questionnaire on the impact of quality of life (FIQ) before
and after 3 months of intervention. Results: In any group there was
significant improvement on pain and quality of life. Conclusion: It
is believed that the time may be a limiting factor on the outcome
of this preliminary study, as well as the sample size.
Key-words: fibromyalgia, exercise, pain, quality of life.
Palavras-chave: fibromialgia, exercício, dor, qualidade de vida.
Endereço para correspondência: Fábio Marcon Alfieri, Rua Candal, 1/31, 05890-030 São Paulo SP, Tel: (11) 9172-8161, E-mail:
[email protected], [email protected]
60
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Introdução
A fibromialgia é uma síndrome musculoesquelética não
inflamatória e não autoimune, cuja incidência é maior em mulheres, contudo, pode ocorrer em homens, porém em menor
proporção [1,2]. Sua etiologia é desconhecida, no entanto,
há evidências sobre alterações metabólicas e de oxigenação
nas fibras musculares, como também desequilíbrio entre a
percepção dolorosa e os mecanismos das vias aferentes, além
da diminuição dos níveis de serotoniana e endorfina [2,3].
O principal sintoma é a dor crônica e difusa e/ou dor
sentida a partir da pressão em 11 de 18 pontos dolorosos
(tender points) predeterminados pelo Colégio Americano de
Reumatologia. Além da dor, a rigidez, diminuição da força
muscular, fadiga e síndromes psicossomáticas como depressão
podem interferir na qualidade de vida dos pacientes [3,4].
A literatura não define um tratamento padrão para a
fibromialgia, entretanto sabe-se que exercícios físicos podem
diminuir os sintomas da doença [1,4-7]. Para tanto, este
estudo teve como objetivo comparar a dor a qualidade de
vida de pacientes fibromiálgicos submetidos a exercícios
convencionais versus caminhada.
Material e métodos
Este foi um estudo clínico simples-cego, no qual participaram 22 pacientes diagnosticados com fibromialgia, segundo
os critérios estabelecidos pelo Colégio Americano de Reumatologia. Não participaram indivíduos que tivessem realizado
intervenção por meio de exercícios físicos nos últimos 6 meses.
A pesquisa foi realizada na Policlínica do UNASP e aprovada
pelo comitê de ética da instituição.
Os indivíduos foram divididos aleatoriamente por sorteio simples em dois grupos: caminhada versus exercícios
convencionais.
No grupo caminhada foram feitos alongamentos, seguidos
de caminhada em ritmo moderado, terminando com relaxamento. Já no grupo exercícios, foram realizados alongamentos,
fortalecimentos dos principais grupos musculares de todo o
corpo e exercícios proprioceptivos. Ambos os grupos realizaram as respectivas atividades físicas durante 12 semanas com
frequência semanal de 2 vezes com 60 minutos cada sessão.
A intensidade da dor foi avaliada através da Escala Visual
Analógica da dor (EVA) e a qualidade de vida foi avaliada
pelo questionário FIQ, que avalia o impacto da fibromialgia
na qualidade de vida dos indivíduos [8]. Ambas avaliações
foram realizadas antes e depois da intervenção. Os dados
foram analisados com a utilização do teste t, com nível de
significância de 5%.
11 voluntárias). A média de idade do grupo de exercícios foi
de 53,72 ± 5,3 anos e 27,12 ± 3 de índice de massa corpórea
(IMC), já a do grupo de caminhada teve média de idade de
50,45 ± 14,5 anos e 27,54 ± 5,7 de IMC, não sendo estas
diferenças significativas.
Ao avaliar a intensidade da dor pela EVA, em nenhum
grupo houve melhora após a intervenção. O grupo de exercícios passou de 5,98 ± 27 para 4,0 ± 2,0 (p = 0,09) e o
grupo de caminhada passou de 7,42 ± 1,9 para 6,05 ± 3,4 (p
= 0,08), após a intervenção, não havendo diferença entre os
grupos (p = 0,09).
Ao avaliar a qualidade de vida pelo FIQ, os resultados
do grupo de caminhada passaram de 6,06 ± 1,4 para 4,42
± 1,8 (p = 0,08). O grupo de exercícios passou de 6,37 ± 1
para 4,75 ± 1,5 (p = 0,08) após a intervenção, também não
havendo diferença entre os grupos (p = 0,65).
Discussão
Os resultados deste estudo mostraram que em ambos
os grupos de intervenção não houve redução significativa
na intensidade da dor e nem melhora na qualidade de vida.
Acreditamos que tais resultados possam ser explicados parcialmente devido ao curto tempo de intervenção, pois segundo
Valim et al. [5] intervenções com tempos superiores a 15
semanas é que são capazes de mostrar benefícios na qualidade
de vida de indivíduos fibromiálgicos, isto devido à exigência
de um período maior e esforço pessoal para adaptação de
tais sujeitos ao programa de exercício. Isto provavelmente
explica programas como o de Sabag et al. [7], que realizaram
condicionamento físico por um ano e perceberam melhoras
quanto a intensidade da dor e qualidade de vida.
Outro fato a ser destacado neste estudo, é a questão da
desistência de cerca de 54% dos voluntários, sendo maior
do que o apontada na literatura (até 50%) sobre este tipo de
ensaio clínico [9].
Conclusão
Os dados do estudo permitem inferir que trabalhos com
indivíduos fibromiálgicos devem apresentar amostras grandes
o suficiente a fim de comportar as perdas. Além disso, devem
ser realizados em períodos superiores a 3 meses de intervenção para verificar o quanto os exercícios gerais bem como a
caminhada regular podem realmente interferir na qualidade
de vida e na intensidade da dor destes pacientes. Com isto,
este trabalho, que possui resultados preliminares, pode ser
reformulado com um tempo maior de intervenção ou com
o aumento da amostra.
Resultados
Referências
Das 22 mulheres, 5 desistiram do grupo de exercícios gerais e 7 do grupo de caminhada (cada grupo foi composto por
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
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(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
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A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
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são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
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está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em
pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
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O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
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Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
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2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
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experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
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PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes
informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
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paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
63
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010
64
Calendário de eventos
Setembro
2010
Abril
16 a 18 de abril
2º Congresso Brasileiro de Natação Infantil
Centro de Convenções Rebouças - Av. Rebouças, 600
São Paulo, SP
Informações: www.alliancefitness.com.br
Pós-Graduação Lato Sensu Educação Física FMU
48o ENAF
Espaço cultural da URCA, Poços de Caldas MG
Informações: www.enaf.com.br
Semestre de 2010
28 a 30 de abril
Congresso Internacional de Envelhecimento Humano
Centro de Eventos Universidade de Passo Fundo (UPF)
Passo Fundo, RS
Informações: [email protected]
Maio
13 a 15 de maio
9º Fórum Internacional de Esportes
FiguraCentro Multiuso de São José, Florianópolis SC
www.unesporte.org.br/forum
20 a 22 de maio
III Congresso Brasileiro de Metabolismo, Nutrição e
Exercício
Londrina, PR
Informações: www.gepemene.com.br
Junho
3 a 6 de junho
27/03/2010
• Atividade Física Adaptada e Saúde.
• Biomecânica, Avaliação Física e Prescrição de Exercícios.
• Condicionamento Físico para Grupos Especiais e
Reabilitação Cardíaca.
• Dança e Consciência Corporal.
• Educação Física Escolar.
• Natação e Atividades Aquáticas.
• Psicomotricidade.
• Treinamento Desportivo.
• Voleibol: Bases Metodológicas para o Treinamento da
Iniciação ao Alto Rendimento.
• Acupuntura.
• Esportes e Atividades de Aventura.
• Ginástica Laboral: Atividade Física e Promoção de Saúde
nas Empresas.
• Ginástica Rítmica Feminina e Masculina.
• Terceira Idade: Metodologia e Prescrição de Atividades.
Informações e Inscrições:
(11) 3209-0059/3399-3877/3271-8042/3207-2923
site: www.apoiofmu.com.br
e-mail: [email protected]
Pós-Graduação Lato Sensu Educação Física FMU
Semestre de 2010
XVII Convenção Brasil Saúde Sport Fitness
Porto Alegre, RS
Informações: (51) 3312-8323 / 3312-8322
www.convencaobrasil.com.br
Julho
23 de julho a 1 de agosto
VII Encontro Internacional Esporte e Atividade Física
São Paulo
Informações: Tel: (11) 2714-5678
www.encontrophorte.com.br
Agosto
VI Jornada de Educação Física em cardiologia
Hotel Intercontinental
Rio de Janeiro, RJ
Informações: Tel: (21) 2552-0864 e 2552-1865
III Simpósio de Fisiologia e Preparação Física no Futebol
Jundiaí, SP
Informações: www.educaçãofísica.com.br
CURSO
17 a 21 de abril
4 de agosto
24 e 25 de setembro
08/05/2010
Educação Física Escolar
29/03/2010
Voleibol: Bases Metodológicas para o Treinamento da
Iniciação ao Alto Rendimento.
Treinamento Desportivo
31/03/2010
Biomecânica, Avaliação Física e Prescrição de Exercicios.
Musculação e Condicionamento Físico.
25/03/2010
Natação e Atividades Aquáticas.
Psicomotricidade
26/03/2010
Ginástica Laboral: Atividade Física e Promoção de Saúde
nas Empresas.
Informações e Inscrições:
(11) 3209-0059/3399-3877/3271-8042/3207-2923
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R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 9 número 2 - abril/junho 2010
EDITORIAL
Do desempenho muscular à nutrição esportiva, Paulo Tarso Veras Farinatti .....................................................................67
ARTIGOS ORIGINAIS
Influência da força e da área de corte transverso muscular de membros inferiores
sobre as potências física e aeróbia máximas em teste de esforço em cicloergômetro,
Thiago Rodrigues Gonçalves.................................................................................................................................................68
Consumo de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico,
Gabriela da Silva Ferreira, Aline Pristilo Domingues, Lúcia Regina Cardoso Alves,
Luiz Roberto Lourena Gomes da Costa, Milena Costa Menezes Cornacini ..........................................................................73
Efeitos de 11 semanas de diferentes tipos de treinamento de força sobre a massa óssea de jovens do sexo masculino, Débora Wagner, Roger Dahlke, Luana Carvalho
Picolini, Rodrigo Ghedini Gehler, Patrícia Somavilla, Daniela Lopes dos Santos .................................................................78
Cinesioterapia laboral aplicada a servidores do judiciário de Poços de Caldas/MG,
Keruline de Oliveira Moreira, Tatiana Rodrigues Martins, Marina Aparecida Gonçalves Pereira ...........................................83
Influência do alongamento estático/passivo sobre o desempenho da força,
Levi Torres Rodrigues, Antonio Gil Castinheiras Neto, Bruna Medeiros Neves,
Nádia Lima da Silva .............................................................................................................................................................89
Avaliação do estado nutricional e do consumo alimentar de praticantes
de atividade física, Viviane Ferreira Zanirati, Juliana Morais Amaral de Almeida,
Àzula Narayama Malacco Ferreira, Márcia Regina Pereira Monteiro, Roberta Ribeiro Silva ..................................................94
REVISÕES
Processo do envelhecimento humano, André Luiz Zanella, Laíne Rocha Moreira,
Paulo Silvano Marinho, Rosimar da Silva Salgueiro, Mauro Lucio Mazini Filho,
Luis Guilherme da Fonseca, Dihogo Gama de Matos .........................................................................................................100
Treinamento aeróbio para adultos obesos portadores de diabetes mellitus tipo 2,
Jean Flávio Alves, Rafaela de Castro Santos, Raquel Brunini Nórcia Fada,
Tania Regina Gonçalves Gomes, Tiago Lasaponari, Kátia Sampaio ....................................................................................107
Treinamento muscular inspiratório para o desenvolvimento físico: evidências
e controvérsias, Maurício de Sant’ Anna Junior, Adalgiza Mafra Moreno,
Pedro Dall’Ago, Pedro Paulo da Silva Soares ......................................................................................................................116
Bases metabólicas da rabdomiólise e atrofia muscular, Rodrigo Minoru Manda,
Fernando Moreto, Roberto Carlos Burini ...........................................................................................................................124
Esteróides anabolizantes: benefícios ou malefícios? Fábio Eduardo de Almeida ..............................................................130
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 134
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 136
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
66
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
67
Editorial
Do desempenho muscular à nutrição esportiva
Paulo Tarso Veras Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx
Apresentamos o segundo número da Revista Brasileira de
Fisiologia do Exercício (RBFEx) neste ano de 2010. Em seu
processo de evolução, este ano marca a consolidação de uma
periodicidade maior – a RBFEx conta com quatro números
em cada volume desde 2009. A quantidade de manuscritos
encaminhados aumentou significativamente, o que nos forçou
a aprimorar o sistema de avaliação por pares. De fato, contando com corpo aumentado de revisores, o período entre a
recepção de um manuscrito e a emissão de um parecer inicial
está, em média, em torno de 30 dias. A colaboração de muitos
colegas, que se oferecem graciosamente para ajudar no esforço
de qualificar a revista, deve ser aqui valorizada.
Este número traz trabalhos originais com diferentes
temáticas. No campo da prescrição do exercício, grupo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro apresenta evidências
quanto à relação entre seção transversa muscular e desempenho em exercício no cicloergômetro. Da Universidade Federal
de Santa Maria chegam-nos dados a respeito do efeito do
treinamento da força sobre a massa óssea de indivíduos jovens
e grupo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro investe
nas relações entre exercício de flexibilidade e desempenho em
testes de força.
Na perspectiva da reabilitação e prevenção de lesões, pesquisadores da Universidade Federal Fluminense apresentam
dados sobre os efeitos do treinamento muscular inspiratório,
ao passo que a ginástica laboral é objeto de estudo de laboratório da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
A nutrição esportiva faz-se presente em estudos que avaliaram a frequência e impacto do uso de repositores hidroeletrolíticos em academias (Universidade Paulista de Araçatuba)
e avaliação do estado nutricional de praticantes de atividade
física (Universidade Federal de Minas Gerais). Enfim, artigos
de revisão abordam assuntos como treinamento aeróbio para
obesos diabéticos (Universidade Gama Filho - Campinas),
processo de envelhecimento humano (Universidade Federal de
Juiz de Fora), rabdomiólise e atrofia muscular (Universidade
Estadual Paulista – Botucatu) e esteróides anabólicos (Escola
Superior de Educação Física de Muzambinho).
Como se vê, a RBFEx reflete o vasto painel de temáticas
que podem ser discutidas à luz da fisiologia do exercício,
bem como a multiplicidade de grupos de pesquisa que vêm
se dedicando ao seu estudo no Brasil. Espero que gostem da
leitura e que dela tirem informações proveitosas!
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
68
Artigo original
Influência da força e da área de corte transverso
muscular de membros inferiores sobre as potências
física e aeróbia máximas em teste de esforço
em cicloergômetro
Influence of strength and cross-sectional area of lower limb
muscle on the maximal physical and aerobic power in exercise
test in cycle ergometer
Thiago Rodrigues Gonçalves*
*Graduado em Educação Física pela Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ, Mestrando em Ciências Cardiovasculares pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense - UFF
Resumo
Abstract
Objetivo: Investigar a relação da força dinâmica máxima (Fmáx)
dos membros inferiores e da área de corte transverso muscular do
quadríceps (ATQ) com a potência máxima (Wmáx) e a potência aeróbia
máxima (VO2máx). Métodos: Nove voluntários masculinos (22 ± 2
anos; 73 ± 9 kg) foram avaliados em dois momentos (M1 e M2).
As medidas antropométricas e o teste de esforço máximo no cicloergômetro foram realizados no M1. Os parâmetros de trocas gasosas
e ventilatórios foram coletados através da calorimetria indireta de
circuito aberto (Aerosport® TEEN 100, EUA). Realizou-se em M2
teste de uma repetição máxima (1RM) no aparelho Leg Press horizontal para determinação da Fmáx. Os dados foram tratados através
da análise de regressão para  ≤ 0,05. Resultados: A ATQ (135,8 ±
13,7 cm2) foi significativamente correlacionada ao VO2máx (46,6 ±
12,4 mL.kg-1.min-1) com r = 0,70 e a Wmáx (270 ± 30 W) com r =
0,76; p ≤ 0,05. A Fmáx (94,3 ± 13,4 kg) não apresentou correlação
significativa ao VO2máx (r = 0,47) e a Wmáx (r = 0,40). Conclusão:
A ATQ apresentou boa associação ao VO2máx e a Wmáx. As últimas
variáveis não apresentaram associação a Fmáx.
Objetive: To investigate the relationship of maximal dynamic
strength (Smax) of the lower limbs and the cross-sectional area of
the quadriceps muscle (CSAQ) at the maximum (Wmax) and maximum aerobic power (VO2max). Methods: Nine male volunteers (22
± 2 years, 73 ± 9 kg) were evaluated in two stages (M1 and M2).
Anthropometric measurements and maximal exercise test on a cycle
ergometer were performed in M1. The parameters of gas exchange
and ventilation were collected by indirect calorimetry open circuit
(Aerosport ® TEEN 100, USA). Held in M2 test of one repetition
maximum (1RM) on the unit Horizontal Leg Press for the determination of Smax. The data were treated by regression analysis for
 ≤ 0.05. Results: The CSAQ (135.8 ± 13.7 cm2) was significantly
correlated with VO2max (46.6 ± 12.4 mL.kg-1.min-1) with r = 0.70
and Wmax (270 ± 30 W) with r = 0.76, p ≤ 0.05. The Smax (94.3 ±
13.4 kg) was not significantly correlated to VO2max (r = 0.47) and
Wmax (r = 0.40). Conclusion: The CSAQ showed good association with
VO2max and Wmax, as last variables showed no association with Smax.
Palavras-chave: 1RM, antropometria, teste de esforço, eficiência
mecânica.
Key-words: 1RM, anthropometry, exercise test, mechanical
efficiency.
Recebido 22 de dezembro de 2009; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Thiago Rodrigues Gonçalves, Rua Santa Rosa 141/703, Santa Rosa 24240-225 Niterói RJ,
Tel: (21) 9731-6594, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
O termo ergoespirometria nasceu em 1929 sugerido por
Kipping & Brauer, posteriormente revisado por Hollmann
& Prinz [1]. O teste ergoespirométrico permite um valioso
estudo da integração entre os sistemas pulmonar, cardiovascular e musculoesquelético [2,3].
Wassermann et al. [4] e posteriormente aprimorado por
Buchfuhrer et al. [5] propuseram o teste de esforço máximo
(TE) no cicloergômetro com incrementos de carga de 1 min,
a fim de determinar principalmente variáveis metabólicas e
físicas como: a potência aeróbia máxima (VO2máx) e a potência
física máxima (Wmáx), caracterizadas por critérios objetivos
[6], em 10 ± 2 min. A pesquisa de Buchfuhrer et al. [5] ainda
propõe que a força muscular nesse protocolo pode influenciar
em sua avaliação.
Alguns estudos se propuseram a investigar a influência da
força muscular sobre variáveis máximas em TE, sendo esta
a partir de treinamento ou não e em protocolos de testes de
esforços diferentes [7,8], e não encontraram resultados significativos para indivíduos adultos. Há algumas dificuldades
em se determinar o valor preciso da Fmáx, pois podem ocorrer
limitações em sua mensuração. Bruce et al. [9] apresentaram
casos de variação da força entre indivíduos adultos e nãotreinados em que o fator neural poderia estar influenciando
sua determinação a partir de dois fatores principais: 1) uma
incompleta ativação muscular ocasionada pela dor e 2) uma
incompleta ativação muscular sem dor gerada por mecanismo
de segurança.
Ainda não é documentada a utilização de preditores da
Fmáx, a fim atenuar essas possíveis limitações, sobre a performance e variáveis máximas em TE. A área transversal muscular
do quadríceps (ATQ) [9,10] pode predizer a Fmáx, sendo um de
seus principais associados, que assim se objetiva a diminuir
os riscos de lesões articulares, musculares e outros acidentes
possíveis e ainda encurtar as sessões de testes propostos para
sua determinação. É importante para avaliação do TE, com
incremento de carga de 1 min, determinar a influência da
Fmáx e da ATQ sobre suas variáveis máximas.
O presente estudo teve como objetivo investigar a relação
da Fmáx e da ATQ dos membros inferiores com o VO2máx e a
Wmáx em teste no cicloergômetro.
Material e métodos
Sujeitos
Participaram da presente investigação nove voluntários
masculinos (Tabela I), aparentemente saudáveis, avaliados
em dois momentos (M1 e M2) entremeados por no mínimo
dois e no máximo 14 dias. Em M1 realizou-se as medidas
antropométricas e o TE no cicloergômetro (Monark® Brasil).
Em M2 realizou-se um teste de uma repetição máxima (1RM)
no aparelho Leg Press Horizontal (Manejo-Fitness, Brasil) para
69
determinação da Fmáx. Foi recomendado para o dia prévio
aos exames, a abstinência de atividades físicas extenuantes (≥
5 METs) e a manutenção da dieta mista. Foi recomendado
também evitar a ingestão de alimentos e cafeína nas três horas
precedentes ao esforço. Nenhum dos voluntários participou
de treinamentos de exercícios resistidos para membros inferiores. Os sujeitos preencheram um termo de consentimento
e esclarecimento. Os procedimentos foram aprovados pelo
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital dos Servidores do
Estado do Rio de Janeiro para Estudos com Seres Humanos.
Tabela I - Características dos sujeitos.
Média ± DP
Idade (anos)
22 ± 2
Estatura (cm)
176,6 ± 4,4
Peso (kg)
73,3 ± 8,8
%gor (%)
14,3 ± 5,7
LBM (kg)
62,6 ± 6,4
Circ-d (cm)
51,6 ± 3,0
%gor-d (%)
14,8 ± 5,6
Circ-e (cm)
52,1 ± 3,2
%gor-e (%)
14,9 ± 5,8
Mínimo
18
166,1
62,0
7,0
51,4
47,5
9,5
48,0
9,0
Máximo
25
188,9
92,4
24,0
71,1
58,5
25,0
57,0
25,0
%gor = percentual de gordura corporal; LBM = massa corporal magra;
Circ-d e Circ-e = circunferência do ponto médio da coxa direita e
esquerda; %gor-d e %gor-e = percentual de gordura anterior da coxa
direita e esquerda.
Antropometria
Primeiramente, foram realizadas as medidas de dobras
cutâneas (DC) e perimetria dos membros superiores e inferiores. Para medidas de circunferências utilizou-se uma
trena metálica. As medidas de DC foram verificadas através
de um adipômetro (Cescorf®, clínico, precisão 1 mm). Para
determinação dos componentes corporais, percentual de gordura (%gor) e massa corporal magra (LBM), foi utilizado o
protocolo de 3DC de Pollock [11], o qual estima densidade
corporal para ser, posteriormente, transformada em %gor e
a LBM determinada pela subtração do peso total pelo peso
gordo.
Para cada sujeito foi medido o comprimento da coxa
direita e esquerda, do trocânter ao côndilo medial, fazendo
a mensuração do ponto médio e dobra cutânea anterior da
coxa a 50% de distância neste comprimento. A área de corte
transverso muscular do quadríceps da coxa direita (ATQD) e
esquerda (ATQE), foi determinada através da seguinte equação
descrita por Housh et al. [12]:
ATQD, E = (2,52 x circunferência medial da coxa em cm)
– (1,25 x dobra cutânea anterior da coxa em mm) – 45,13.
A ATQ foi dada pela soma das áreas de corte transverso dos
membros inferior direito e esquerdo.
Assim: ATQ = ATQD + ATQE em cm2.
70
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Protocolo do teste de esforço
Foi empregado o protocolo escalonado, continuo e máximo, constituído do repouso inicial de seis minutos sentado
no cicloergômetro, seguido pelo aquecimento de quatro
minutos pedalando sem carga e, posteriormente, pela fase
escalonada com duração máxima ocorrendo entre oito e 12
minutos [5]. Os incrementos da sobrecarga postos a cada
minuto foram calculados através de equação de predição
da carga máxima [13], usando uma cadência constante. A
cadência foi de 60 rpm e controlada através de um metrônomo audiovisual.
As variáveis de trocas gasosas e ventilatórias foram medidas
por um analisador metabólico (Aerosport TEEN 100, EUA)
de circuito aberto e por um pneumotacógrafo de fluxo médio
(Hans Rudolph, EUA). Esses dados foram registrados a cada
20 segundos. A frequência cardíaca foi monitorada ao longo
do exame por meio de um cardiotacômetro (Polar Vantage,
NV, Finlândia).
Previamente a cada exame foram realizadas as calibragens dos equipamentos. Calibrou-se o ergoespirômetro em
circuito fechado, fornecendo uma mistura de gases (AGA,
Brasil). O fluxo de gases foi calibrado através de uma seringa
de três litros (Hans Rudolph, EUA) e o cicloergômetro por
um lastro de 3 kg.
Os testes foram considerados máximos quando observados
pelo menos três dos seguintes critérios segundo Howley et al.
[6]: platô no VO2 ( aumento ≤ 150mL. min-¹ ou 2 mL.kg-¹.
min-¹), RER (respiratory exchange ratio) ≥ 1,15, FCMax ≥ 90%
da prevista pela idade (220 - idade), índice de percepção de
esforço ≥ 18 (tabela de BORG de 6 a 20), e fadiga voluntária
máxima com incapacidade de manutenção do ritmo préestabelecido.
Respectivamente, o VO2máx e a Wmáx foram dados pelo
consumo de oxigênio mais alto e pela última carga suportada
ao final do teste.
Para cada sujeito, após o TE acima descrito, foi calculada
a média por minuto do VO2 (L.min-1) integrado a cada 20
segundos e da potência física (W) ao final de cada estágio e
ao final do TE para análise de regressão. A Δef foi determinada
observando a inclinação da reta de cada sujeito [14].
Com o objetivo de reduzir a margem de erro no teste
adotaram-se os seguintes procedimentos [15]: a) instruções
padronizadas antes do teste, de modo que o avaliado estivesse ciente de toda a rotina envolvida na coleta de dados;
b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução do
exercício através da familiarização com o aparelho e execução do exercício sem carga para reduzir o efeito de fadiga;
c) o avaliador estava atento quanto à posição adotada pelo
praticante; d) todos os sujeitos executaram o teste no mesmo
período do dia.
Análise estatística
Os dados foram tratados através da estatística descritiva
(média  DP). A relação das variáveis estudadas no presente
estudo foi tratada por análise de regressão. Para todos os testes
foi adotado o nível de significância de  ≤ 0,05. No presente
estudo foram usados os aplicativos Statistical Package for the
Social Sciences® (SPSS, EUA) versão 10.0 e Microsoft Excel®
para Windows XP® (EUA).
Resultados
Os valores das variáveis de M1 e da variável de M2 estão
descritos na Tabela II.
Tabela II - Valores em média ± DP das variáveis de M1 e M2.
ATQD (cm2)
ATQE (cm2)
ATQ (cm2)
FCmáx (bpm)
Wmáx (W)
VO2máx (L.min-1)
VO2máx (mL.kg-1.min-1)
∆ef (mL min W-1)
Fmáx (kg)
.
-1.
Média ± DP
68,3 ± 7,4
67,5 ± 6,4
135,9 ± 13,7
184,0 ± 16,0
270,0 ± 30,0
3,40 ± 0.98
Mínimo
59,6
60,8
120,4
162,0
240,0
1,72
Máximo
82,2
81,6
163,8
204,0
330,0
4,34
46,6 ± 12,4
11,1 ± 2,80
94,3 ± 13,4
27,8
6,40
83,0
63,0
13,6
125,0
ATQD e ATQE = Áreas de corte transverso muscular do quadríceps do
membro direito e esquerdo; ATQ = soma de ATQD e ATQE; FCmáx = Freqüência Cardíaca Máxima; Wmáx = Carga Máxima; VO2máx = Potência
Aeróbia Máxima em dados absolutos e relativos; ∆ef = Eficiência mecânica delta e Fmáx = Força Muscular Máxima.
Determinação da força dinâmica máxima
Os sujeitos realizaram um aquecimento e uma familiarização prévia no aparelho com duas series de 10 repetições
com intervalo de um minuto entre séries. Seguidamente
executaram até três tentativas para mensuração da 1RM
com intervalos de três a cinco minutos. Os sujeitos fizeram
movimento bilateral dos membros inferiores chegando à
90º na fase excêntrica. Os sujeitos foram aconselhados a
executarem duas repetições no aparelho, sendo determinada
a Fmáx quando os sujeitos conseguissem executar somente
uma repetição.
A Tabela III apresenta a matriz de correlação das variáveis
estudadas. Observamos que a Fmáx apresentou correlação
significativa com a ATQ de p ≤ 0,01 e r2 = 0,66. A Fmáx não
apresentou correlação significativa ao VO2máx (p = 0,200; r2
= 0,22) e a Wmáx (p = 0,293; r2 = 0,16). A Δef também não
apresentou resultados significativos para ATQ (p = 0,176; r2
= 0,24) e para Fmáx (p = 0,265; r2 = 0,18). Já a partir de ATQ
tivemos correlações significativas com o VO2máx (p = 0,036;
r2 = 0,49) e com a Wmáx (p = 0,018; r2 = 0,58).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
* Significativo para  ≤ 0,05; ** significativo para  ≤ 0,01. Fmáx =
Força dinâmica máxima; ATQ = Área de corte transverso muscular do
quadríceps; VO2máx = Potência aeróbia máxima; Wmáx = Potência máxima; ∆ef = Eficiência mecânica delta.
Discussão
Recomenda-se a progressão 10% da carga máxima por
minuto no protocolo escalonado, continuo e máximo para
determinação do VO2máx. O teste deve ser finalizado por
meio de critérios de esforço máximos entre oito e 12 minutos. Baseando-se numa melhor avaliação neste protocolo
em cicloergômetro, o presente estudo investigou a relação
da Fmáx dos membros inferiores com a ATQ e suas influências
sobre o VO2máx, a Wmáx e a Δef. A ATQ apresentou correlação
significativa e positiva com a Fmáx (Tabela III) confirmando a
associação relatada em outros estudos [9,10,16].
Investigando a influência da Fmáx com as variáveis máximas apresentadas aqui no estudo no TE não foram observadas relações significativas (tabela III). Outros estudos que
investigaram a influência da força muscular sobre variáveis
máximas em TE, sendo esta a partir de treinamento ou não e
em protocolos de esforço diferentes, encontraram resultados
significativos somente para voluntários idosos. Frontera e cols.
[17] analisaram o efeito do treinamento da força muscular
em variáveis máximas no TE em cicloergômetro com idosos
e observou significância no VO2máx relativo a LBM, relatando
a importância da massa muscular. Segundo Izquierdo e cols.
[8], em seu estudo, encontrou-se relação entre a Wmáx e Fmáx
também somente para idosos e não para adultos de meiaidade. A pesquisa propõe que a força muscular máxima por
decrescer com o envelhecimento, indivíduos idosos teriam
uma maior influência e necessidade da força sobre a Wmáx. No
estudo de Loveless et al. [7], pesquisando o efeito do treinamento da Fmáx anterior ao TE em cicloergômetro a partir de
testes de 1RM não verificou aumento significativo no VO2máx,
mesmo com a ocorrência de teste de repetibilidade. O teste
de repetibilidade da Fmáx visa atenuar o erro de determinação,
recomendando-se no mínimo três sessões de testes para se ter
uma estabilização da Fmáx [18].
Contrapondo os achados no presente estudo sobre a
Fmáx, a ATQ teve relação significativa com o VO2máx e a Wmáx.
A partir da Figura 1 podemos observar a dispersão de ATQ
sobre o VO2máx e a Wmáx apresentando a equação da reta de
VO2máx = 0.636ATQ – 39.75 e da Wmáx = 0.328ATQ + 46.02 e
coeficiente de determinação nos mostrando uma influência de
Figura 1 - Diagrama de dispersão entre ATQ sobre o VO2máx e a Wmáx.
80
VO 2max (ml .kg .-1min -1)
Fmáx
ATQ
VO2máx Wmáx
∆ef
1.00 0.81** 0.47
0.40 0.42
Fmáx (kg)
ATQ (cm2)
1.00 0.70* 0.76* 0.49
1.00 0.75* 0.87**
VO2máx (mL.kg-1.min-1)
1.00 0.56
Wmáx (W)
1.00
∆ef (mL.min-1.W-1)
49 e 58%, respectivamente. Numa pesquisa semelhante ao de
nosso estudo, Shephard et al. [19] mostraram que o volume
muscular das pernas, variável que também pode predizer a
Fmáx, tem uma relação significativa com o VO2máx (r = 0,79).
ATQ é determinada por técnicas avançadas como a Imagem
de Ressonância Magnética [20] e/ou Ultrassom [21], ou por
técnicas mais simples, como análise antropométrica, visando
um menor custo e praticidade. A equação proposta por Housh
et al. [12], descrita e utilizada em nossa pesquisa, tem R =
0.86 e erro padrão da estimativa (EPE) igual a 0.92 para ATQ.
Assim, dentro dos patrões para validação a partir de regressões. Com isto, a estimativa da ATQ por antropometria nos
garantiu uma avaliação mais confiável da Fmáx e um resultado
mais satisfatório em relação ao VO2máx e a Wmáx. Os achados
aqui encontrados mostram que a ATQ exerce influência sobre
variáveis máximas, podendo ser preditora do VO2máx e da
Wmáx determinadas no protocolo de esforço aqui apresentado.
60
40
y = 0.636x - 39.75
r² = 0.489
20
0
350
W máx (W)
Tabela III - Matriz de correlação das variáveis de M1 e M2.
71
300
y = 0,328x + 46,02
r 2 = 0,575
250
200
100
120
140
160
180
2
A TQ(cm )
Conclusão
Portando o presente estudo concluiu que a ATQ apresentou
uma associação de moderada a boa com o VO2máx e a Wmáx
e não apresentou associação com a Δef determinadas em
protocolo de teste com incremento de um minuto. As últimas variáveis não apresentaram associação com a Fmáx. Para
pesquisas futuras sugerimos analisar ATQ a partir de métodos
mais avançados, utilizar outros fatores representativos do
componente anaeróbio como a potência muscular e analisar a
influência de interação entre as variáveis estudadas no presente
estudo em diferentes populações, principalmente a idosa.
72
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Agradecimentos
Agradeço ao Hospital dos Servidores do Estado do Rio de
Janeiro na pessoa do Dr. Aluysio S. Aderaldo Jr. por possibilitar a execução do teste de esforço máximo no laboratório de
capacidade física (conveniado com a EEFD/UFRJ) e ao centro
esportivo G. Reis - Salesianos na pessoa do Prof. Geraldo Reis
por possibilitar a execução do teste de uma repetição máxima
em seu setor de musculação. Agradeço também aos amigos e
professores Fernando Nogueira, Paula Magrani e Lucenildo
Cerqueira por ajudarem na coleta de dados.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
73
Artigo original
Consumo de repositores hidroeletrolíticos
em praticantes de exercício físico
Intake of hydroelectrolytic solutions in physical activity practitionners
Gabriela da Silva Ferreira*, Aline Pristilo Domingues**, Lúcia Regina Cardoso Alves***,
Luiz Roberto Lourena Gomes da Costa, M.Sc.****, Milena Costa Menezes Cornacini, D.Sc.*****
*Nutricionista Técnica de Laboratório Jr A da Universidade Paulista de Araçatuba, Nutricionista da Associação Abrampeme de Araçatuba, **Pós-Graduanda em Terapia Nutricional Clínico Hospitalar, ***Pós-Graduanda em Gestão e Gastronomia em Serviços de
Alimentação, ****Docente da Universidade Paulista de Araçatuba, *****Coordenadora e Docente do curso de Nutrição da Universidade Paulista de Araçatuba
Resumo
Abstract
Introdução: O exercício físico impõe a perda de líquidos e eletrólitos, principalmente pelo suor, e quando não repostos adequadamente, pode levar a prejuízos no rendimento de treino e ao organismo.
Objetivo: Avaliar a frequência de ingestão de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico. Material e métodos: Foram
selecionados 51 praticantes de exercício físico de uma academia da
cidade de Araçatuba/SP. Os indivíduos foram submetidos à avaliação
do estado nutricional através do índice de massa corporal (IMC) e
investigação sobre o uso de repositores hidroeletrolíticos. Aplicouse 25 questões com objetivo de caracterizar a população quanto ao
tipo de exercício físico, duração de treinos, frequência de consumo
de repositores hidroeletrolíticos, indicação, efeitos colaterais, resultados obtidos entre outras informações necessárias. Resultados:
O IMC demonstrou maior frequência de sobrepeso (47,05%).
Dezoito (35%) dos indivíduos tomavam repositores hidroeletrolíticos, prevalecendo os homens. Houve alto grau de instrução e poder
aquisitivo; a musculação era a atividade mais frequente. Quanto à
recomendação houve prevalência pela autoindicação e orientação
de personal, com citação do conhecimento do produto pela mídia.
A maioria relatou ausência de efeitos colaterais e todos descreveram
benefícios do uso dos repositores hidroeletrolíticos. Conclusão: A
frequência do uso de repositores hidroeletrolíticos foi baixa, sendo
a autoindicação ou por personal uma realidade. Houve benefícios
do uso dos repositores hidroeletrolíticos na população investigada.
Introduction: The physical exercise imposes the loss of liquids
and electrolytes, mainly by sweat, and when they are not replaced
adequately, may affect training performance and body. Objective:
To evaluate frequency of hydroelectrolytic replacement intake in
participants of a physical exercise program. Material e methods: 51
participants of a physical exercise program of one fitness center of
Araçatuba/SP were selected. The individuals were submitted to a
nutritional assessment status through body mass index (BMI) and
investigation about the use of hydroelectrolytic replacements. 25
questions were administered aiming to characterize the population
concerning types of physical exercise, training duration, frequency
of hydroelectrolytic replacement intake, person who recommended,
collateral effects, results from other information. Results: The BMI
showed predominance of overweight (47.05%). Eighteen (35%)
individuals used hydroelectrolytic beverages, prevailing men. High
education level and high purchase power was observed among the
participants; bodybuilding was the favorite exercise. Regarding
recommendation there was prevalence for self-indication and personal trainer, but also through mass media. The majority related
absence of collateral effects and everybody described benefits after
using hydroelectrolytic beverages. Conclusion: We concluded that
hydroelectrolytic beverages were not used very often, and were recommended by personal trainer or by mass media. The investigated
population reported benefits when using them.
Palavras-chave: alimentos para praticantes de atividade física,
exercício físico, hidratação, eletrólitos.
Key-words: foods for persons engaged in physical activities,
physical exercise, hydration, electrolysis.
Recebido 11 de dezembro de 2009; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Gabriela da Silva Ferreira, Rua Duque de Caxias, 36/73, Centro 16010-410 Araçatuba SP, Tel: (18)
9704-4006, E-mail: [email protected]
74
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
É consenso que a alimentação e a hidratação inadequadas ao
praticante de exercício físico afetam diretamente à saúde, o peso
e a composição corporal, além de prejudicarem a disponibilidade de substratos durante o exercício, quanto à recuperação, o
desempenho físico e, consequentemente a qualidade de vida [1].
Durante a atividade muscular ocorre um aumento na
produção de calor no organismo, que é dissipado em parte
pela produção de suor [1]. O estresse do exercício é acentuado pela desidratação, a qual eleva a temperatura corporal,
prejudicando as respostas fisiológicas e o desempenho físico
produzindo riscos à saúde [2]. Estes efeitos podem ocorrer
mesmo que a desidratação seja leve ou moderada, com até
2% de perda do peso corporal, agravando-se à medida que
ela se acentua [3].
Quando ocorre sudorese excessiva por período prolongado, com ausência de reposição suficiente de sódio e/ou de
fluídos como a água, pode instalar-se um quadro de hiponatremia, que se caracteriza por fraqueza, lassidão, apatia,
cefaléia, hipotensão ortostática, taquicardia e choque. Até a
pele é afetada, ocorre a diminuição da elasticidade, e dependendo da quantidade perdida de sódio, pode surgir confusão
mental, alucinação e coma [4].
É possível surgir deficiência de cloreto, o qual se expressa
por espasmos musculares e, quando intensa, pode acarretar
coma e depressão respiratória. A hipocalemia pode ser consequência da sudorese excessiva expressando-se por apatia,
mal-estar, náuseas, vômitos, distensão abdominal e até íleo
paralítico. Pode associar-se com hipotensão postural e com
redução da pressão diastólica [5].
Assim, é de fundamental importância a adequação no
consumo de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de
exercício físico, a fim de evitar carências e excessos de líquidos
e nutrientes. Para tanto, profissionais especializados como
nutricionistas ou médicos de esportes estarão aptos para a
prescrição. De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina
no Esporte (SBME) [6], quando o exercício físico praticado
for prolongado, de mais de uma hora de duração, ou para as
atividades de elevada intensidade recomenda-se a ingestão de
repositores hidroeletrolíticos e não apenas de água [7].
Segundo Monteiro et al. [8], em exercícios prolongados em
que a depleção de substratos ocorre e/ou durante o exercício
realizado no calor levando a um quadro de desidratação, a
ingestão regular de repositores hidroeletrolíticos irá amenizar
os fatores indesejáveis que são prejudiciais ao desempenho.
Maughan et al. [9] esclarecem que a reidratação após o exercício não deve se restringir só ao volume de água perdido mas
também a reposição de eletrólitos, principalmente o sódio que
é eliminado em grandes quantidades através do suor.
Para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem
hidratado, recomenda-se que beba cerca de 250 a 500 ml
de água duas horas antes do exercício. Durante o exercício
recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos
e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos. O volume a
ser ingerido varia conforme as taxas de sudorese, na faixa de
500 a 2.000 ml/hora. Após o exercício, deve-se continuar
ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de
água pela urina e sudorese [6].
Segundo Bar-Or [10], um procedimento simples e efetivo
para determinar a quantidade de líquidos a ser ingerido é pesar
o indivíduo antes e depois da prática do exercício físico, pois
as modificações na massa corporal são causadas praticamente pela perda de fluídos. Para minimizar a possibilidade de
exaustão pelo calor e outras formas de doenças provocadas por
ele, recomenda-se que as perdas hídricas devido à transpiração
durante o exercício sejam repostas em quantidades próximas
ou iguais à da taxa de sudorese [11].
É indiscutível a importância da boa hidratação, porém,
quando se trata do consumo dos repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico, a literatura é escassa.
Portanto, a avaliação do consumo habitual destes produtos
torna-se relevante, a fim de investigar adequações sobre as recomendações, bem como as repercussões clínicas dos excessos
e deficiências de líquidos e eletrólitos, pois a reposição hidroeletrolítica adequada melhora a performance e a qualidade de
vida, minimizando as complicações durante o exercício físico.
Este estudo pretende contribuir para disseminar os conhecimentos na área esportiva e nutricional, visando reduzir
as repercussões negativas do uso incorreto desses produtos.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar
a frequência do consumo de repositores hidroeletrolíticos em
praticantes de exercício físico.
Material e métodos
Foi realizado um estudo transversal exploratório e descritivo, investigando 51 frequentadores de uma academia
da cidade de Araçatuba/SP, em demanda espontânea em
diferentes faixas etárias e ambos os gêneros. O trabalho foi
aprovado Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Paulista
– UNIP (125/08).
Como critérios de inclusão foram selecionados frequentadores da academia que praticassem exercício físico pelo
menos duas vezes na semana por no mínimo 60 minutos,
independente do horário da prática, com idade maior ou
igual a 18 anos, de ambos os gêneros, e assinatura do termo
de consentimento livre e esclarecido. Como critérios de
exclusão, frequentadores crianças, adolescentes menores de
idade, gestantes e indivíduos que se recusassem a participar
do processo de avaliação proposto.
Aplicou-se um formulário estruturado para a atual pesquisa contendo 25 questões com o objetivo de caracterizar
a população quanto ao tipo de exercício físico, duração de
treinos, frequência de consumo de repositores hidroeletrolíticos, conhecimento do produto, indicação, efeitos colaterais,
resultados obtidos entre outras informações necessárias. Todos
os dados foram registrados em planilha Excel, no qual foram
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
75
tica de exercício físico de 2 horas, sendo que 03 praticantes
treinavam de 1 a 2 vezes, 25 de 3 a 4 e 23 treinavam 5 ou
mais vezes na semana. As modalidades descritas de exercícios praticados foram: musculação, aeróbica e associação de
musculação e aeróbica. O exercício físico mais praticado foi
a musculação, descrito em 54,86% dos investigados, com
maior frequência em homens.
De acordo com a SBME [6], quando o exercício físico
praticado for prolongado, de mais de uma hora de duração,
ou para as atividades de elevada intensidade recomenda-se a
ingestão de repositores hidroeletrolíticos. Em atividades com
até 60 minutos de duração a água é a bebida mais adequada,
porém quando o exercício é superior a 60 minutos, a utilização de produtos que contenham carboidrato passa a ter uma
importância considerável [6], recomendação não adotada
efetuadas as análises estatísticas. Foi realizada análise descritiva
dos dados calculando a média e a frequência.
Resultados e discussão
Dos 51 indivíduos que responderam o formulário, 40
(78,43%) eram homens e 11 (21,56%) mulheres. A média
de idade entre os praticantes foi de 27 anos. Observou-se que
37 (72,54%) dos entrevistados eram solteiros, a maioria 26
(50,97%) possui grau de escolaridade superior completo, a
renda familiar prevalente foi entre 6 a 10 salários mínimos
encontrada em 22 (43,13%) dos entrevistados (Tabela I),
refletindo alto grau de instrução e poder aquisitivo.
A Tabela II descreve a média de horas de exercícios físicos
praticados. Observa-se maior frequência de duração da prá-
Tabela I - Dados socioeconômicos dos praticantes de exercício físico. Araçatuba, 2008.
Variáveis investigadas
Masculino
n
Escolaridade
Superior completo
Superior incompleto
Segundo Grau completo
Segundo Grau incompleto
Primeiro Grau completo
Primeiro Grau incompleto
Renda familiar mensal em salários mínimos
0–1
2–5
6 – 10
Acima de 10
Ignorado
Estado civil
Solteiro
Casado
Viúva
%
Feminino
n
%
Total
n
%
21
9
8
1
1
41,17
17,64
15,68
1,96
1,96
5
2
4
-
9,8
3,92
7,84
-
26
11
12
1
1
50,97
21,56
23,52
1,96
1,96
1
9
18
11
1
1,96
17,64
35,29
21,56
1,96
1
4
3
3
1,96
7,84
5,88
5,88
1
10
22
14
4
1,96
19,6
43,13
27,44
7,84
31
9
-
60,78
17,64
-
6
4
1
11,76
7,84
1,96
37
13
1
72,54
25,48
1,96
Tabela II - Frequência, duração e modalidade de exercício praticado de praticantes de exercício físico. Araçatuba, 2008.
Variáveis investigadas
Masculino
n
Frequência de prática de exercício na seman
1–2
3
3–4
18
5 ou mais
19
Horas praticadas de exercício físico no dia
1–2
32
3–4
3
Acima de 4
1
Ignorado
4
Modalidade de exercício
Musculação
27
Aeróbica
1
Musculação e Aeróbica
3
Ignorado
9
%
Feminino
n
%
Total
n
%
5,88
35,29
37,25
7
4
13,72
7,84
3
25
23
5,88
49,01
45,09
62,74
5,88
1,96
7,84
11
-
21,56
-
43
3
1
4
84,3
5,88
1,96
7,84
50,98
1,96
5,88
17,64
2
1
6
2
3,92
1,96
11,76
3,92
29
2
9
11
54,9
3,92
17,64
21,56
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
pelos participantes investigados, observando que a maioria
pratica exercício físico acima de 1 hora, sendo que apenas 18
(35,29), usam os repositores hidroeletrolíticos, como pode
ser evidenciado na Figura 1.
Figura 2 - Indicação de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico. Araçatuba, 2008.
Figura 1 - Frequência de consumo de repositores hidroeletrolíticos
nos praticantes de exercício físico. Araçatuba, 2008.
Percentual (%)
76
70
62,74
Percentual (%)
60
50
40
35,29
30
20
10
0
Não
44,44%
Auto
indicação
44,44%
Personal
5,55%
5,55%
Nutricionista
Amigos
Alguns autores indicam que é relevante prescrever bebidas
adequadas aos praticantes de exercício físico [11]. Igualmente
importante seria trabalhar a educação dos técnicos, treinadores, parentes e praticantes de exercício físico a respeito dos
benefícios da hidratação adequada e dos repositores hidroeletrolíticos, estimular programas de hidratação e pesá-los antes e
após o treinamento. A freqüência no consumo dos repositores
hidroeletrolíticos foi investigada em consumo raro, diário e
semanal. A freqüência rara foi a mais relatada, com preferência
do uso após a prática do exercício físico, com volume médio
ingerido de 300 ml, como demonstra a tabela III.
Segundo o Colégio Americano de Medicina do Esporte –
ACSM [13], a estratégia mais correta de hidratação é aquela
realizada antes, durante e após o exercício realizado, pois a
hidratação antes do exercício objetiva potencializar as reservas
líquidas, e qualquer déficit de líquido pode comprometer a
termorregulação; a hidratação durante o exercício visa tentar
equilibrar a perda de líquido diminuindo as possibilidades
de lesão térmica e exaustão prematura; já a reposição hídrica
após o exercício tem por objetivo restaurar os estoques hídricos
1,96
Sim
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Ignorado
Para Drumond [12], o nível de conhecimento sobre hidratação e sua prática entre atletas do Olímpico Club, da cidade
de Belo Horizonte/MG, foi pequeno e pode-se observar que
o consumo de repositores hidroeletrolíticos foi relativamente
baixo, assim como nossos dados encontrados. Segundo Brito
[13], avaliando atletas da modalidade de judô, constatou que
a maioria ainda não tem nenhum tipo de orientação sobre
a maneira correta de se hidratarem. O consumo de água é
predominante para a hidratação da maioria dos atletas, apesar da importância dos repositores hidroeletrolíticos que são
pouco utilizados por estes.
No que concerne à prescrição ou recomendação, houve
semelhança em autoindicação e orientação de personal trainer
quanto aos repositores hidroeletrolíticos, sendo 44,44% cada.
A prescrição do nutricionista foi relatada por apenas um indivíduo e não houve relato de prescrição médica (Figura 2).
Tabela III - Período de ingestão, frequência e volume de repositores hidroeletrolíticos. Araçatuba, 2008.
Variáveis investigadas
Período de ingestão
Antes
Durante
Após
Antes, durante e após
Antes e após
Durante e após
Freqüência
Diário
Semanal
Quinzenal
Raro
Volume
300ml
300 a 700ml
Masculino
n
%
Feminino
n
%
Total
n
%
4
7
3
1
1
22,22
38,38
16,66
5,55
5,55
2
-
11,11
-
4
9
3
1
1
22,22
49,49
16,66
5,55
5,55
6
3
7
33,33
16,66
38,88
2
-
11,11
-
6
5
7
33,33
27,77
38,88
15
1
83,83
5,55
2
-
11,11
-
17
1
94,94
5,55
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
corporais, deixando o indivíduo em condições adequadas para
iniciar nova atividade sem comprometimento de desempenho
decorrente de desidratação. Nossos achados demonstram que
a ingestão dos repositores hidroeletrolíticos após o exercício
atendeu as recomendações do ACSM [13].
A desidratação durante o trabalho físico causa alterações
significativas das funções corporais em nível cardiovascular,
termorregulador, metabólico e endócrino. Estes efeitos são
observados não somente quando ocorre uma desidratação com
a realização de trabalho físico intenso, como também, quando
iniciada uma tarefa motora em condições de hipohidratação
e/ou déficit hídrico. Contudo, com a ingestão de volumes de
líquidos que contenham os equivalentes das perdas de água e
nutrientes perdidos com a sudorese, previne-se a desidratação
e alterações funcionais no organismo [14].
Conclusão
A frequência no consumo de repositores hidroeletrolíticos
foi baixa, encontrada apenas em 18 (35,29%) dos investigados, com prevalência na população adulta, jovem, masculina
e alto poder aquisitivo.
O consumo de repositores hidroeletrolíticos não foi
evidenciado em todos os praticantes de exercício físico que
necessitavam destes produtos, podendo contribuir para uma
significativa piora na performance, na saúde e na qualidade
de vida da população investigada.
Há a necessidade da inserção de profissionais especializados na área esportiva, como médicos e nutricionistas do
esporte, a fim de que se faça a prescrição adequada dos repositores hidroeletrolíticos, assim como estimular programas
de hidratação, além de trabalhar a educação de técnicos,
treinadores e toda a população envolvida na vida do praticante
de exercício físico.
77
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
78
Artigo original
Efeitos de 11 semanas de diferentes tipos
de treinamento de força sobre a massa óssea
de jovens do sexo masculino
Effects of an eleven week period of different types of strength training
upon young men bone mass
Débora Wagner*, Roger Dahlke*, Luana Carvalho Picolini**, Rodrigo Ghedini Gehler**, Patrícia Somavilla**,
Daniela Lopes dos Santos***
*Graduados em Educação Física pela UFSM, **Especializandos em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde/UFSM, ***Professora Associada do Departamento de Métodos e Técnicas Desportivas do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM
Resumo
Abstract
Exercícios físicos, como o treinamento de força, podem evitar
o aparecimento da osteoporose, aumentando a densidade mineral
óssea. Objetivou-se verificar o comportamento da densidade mineral óssea de homens submetidos aos treinamentos musculares
de hipertrofia e resistência muscular localizada. Participaram do
estudo 8 sujeitos (23 anos ± 2,82) que realizaram o treinamento de
hipertrofia e 8 (20 anos ± 0,81) que desenvolveram o de resistência
muscular localizada durante 11 semanas. A densidade mineral óssea
foi avaliada através da densitometria óssea. Observou-se que no
grupo de hipertrofia, 4 sujeitos aumentaram sua densidade mineral
óssea quando os valores pré e pós-treinamento foram comparados,
porém não de maneira estatisticamente significativa. No treinamento
de resistência muscular localizada obteve-se um resultado similar,
pois 7 sujeitos aumentaram sua densidade mineral óssea, mas não
de forma significativa. Os 5 sujeitos restantes apresentaram uma leve
redução nos seus valores densidade mineral óssea, sendo que 1 deles
participou do grupo de resistência muscular localizada e 4 do grupo
de hipertrofia. Realizando-se uma comparação entre os valores pré
e pós-treinamento dos grupos de hipertrofia e resistência muscular
localizada não se constatou diferenças estatisticamente significativas.
Justifica-se o fato do leve aumento ocorrido não ter sido significativo
ao curto período de treinamento.
Physical exercises such as strength training (ST) may avoid osteoporosis, increasing bone mineral density (BMD). The purpose of
this study was to verify the BMD of men submitted to hypertrophy
muscle training and muscle resistance training. Eight subjects (23
± 2.82 years old) participated in the hypertrophy training (HT)
group and 8 subjects (20 ± 0.81 years old) in the muscle resistance
training (MRT) group during 11 weeks. The BMD was evaluated
with bone densitometry. It was observed that in the HT group, four
subjects increased their BMD when pre and post training values
were compared, but not in a statistically significant manner. In
the MRT group a similar result was obtained, since seven subjects
increased their BMD, but not in a statistically significant manner.
The five other subjects presented a light reduction in their BMD
values, observing that one of them participated in the MRT group
and the other four in the HT group. When comparing pre and post
training values in both groups there was no statistically significant
difference. These results are justified by the short training period.
Key-words: muscle training, bone mineral density, men,
osteoporosis.
Palavras-chave: treinamento muscular, densidade mineral óssea,
homens, osteoporose.
Recebido 10 de fevereiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Daniela Lopes dos Santos, Avenida Presidente Vargas, 1635/303, Centro 97015-511 Santa Maria
RS, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
Materiais e métodos
A osteoporose, caracterizada por uma baixa massa óssea
e um aumento no risco de fraturas é mais frequente em
mulheres, porém, também pode ocorrer em homens, sendo
que 20% da osteoporose e um terço das fraturas [1] ocorrem
neste público. Estudos mencionam que homens possuem
uma densidade mineral óssea (DMO) aproximadamente
15% mais alta [2].
Uma das formas de prevenir a perda exagerada da massa
óssea é através do treinamento de força. Atividades como
esta causam estímulos osteogênicos devido ao aumento do
stress mecânico nos ossos. Entretanto, o processo fisiológico
responsável por este esforço não é claramente explicado, mas
sugere-se que seja o efeito piezoelétrico ósseo. A presença
de sinais bioquímicos parece refletir um campo elétrico decorrente da sobrecarga aplicada [3]. Essa teoria se aplica às
deformações ósseas causadas por compressão, tensão, torção
ou cisalhamento. Essas ações mecânicas geram diferença no
potencial elétrico dos ossos, que agem como um campo elétrico, estimulador da atividade celular, levando a deposição
de minerais nos locais de stress [3].
O período de treinamento também tem se apresentado
como fator determinante para mudanças significativas na
massa óssea, além da intensidade, volume ou tipo de contração envolvido no treinamento de força. Analisando alguns
estudos, percebe-se que o tempo de treinamento varia desde
semanas até meses ou anos. Menkes et al. [3] estudaram
homens durante 16 semanas utilizando o treinamento de
força com série decrescente. Outro estudo avaliou mulheres
pós-menopausa durante 2 anos [4]. Apesar dessa grande
variação de períodos, não foram encontrados estudos que
avaliassem a massa óssea durante um tempo inferior a 16
semanas, sendo que muitos avaliaram a massa óssea em
períodos maiores (24 semanas) [5,6]. A maioria dos estudos
utiliza como amostras mulheres pré ou pós-menopáusicas
[4-6], homens adultos mais velhos [3] e meninos pré-púberes
[7,8]. O foco em relação à massa óssea de adultos jovens do
sexo masculino tem sido baixo, principalmente em relação ao
treinamento de força. Mesmo que na faixa etária entre 20 e
30 anos ocorra uma estabilização da massa óssea [9], não se
pode afirmar que as pessoas desta idade não possam ser acometidas pela osteopenia. Como a osteoporose relaciona-se ao
histórico de atividade física, vida sedentária e alimentação
inadequada (pobre em cálcio), ela pode gerar até mesmo
nesta faixa etária, ossos fracos e frágeis. Desta forma, este
estudo justificou-se pela importância em ampliar o número
de estudos que se referem ao público masculino jovem envolvendo treinamentos musculares específicos, como uma
forma de prevenir a osteoporose. Objetivou-se verificar se
ocorrem alterações na massa óssea através do treinamento
de hipertrofia e resistência muscular localizada durante 11
semanas em homens de 18 a 30 anos.
Grupo de estudo
79
Fizeram parte deste estudo 16 adultos jovens (18 a 30
anos) saudáveis do sexo masculino. Os sujeitos foram selecionados através de uma análise de seu histórico de atividade
física, pois foram adotados critérios de inclusão como nunca
ter praticado musculação e ser sedentário.
Os 16 participantes do estudo foram divididos em 2 grupos. O primeiro grupo, contendo 8 participantes, realizou o
treinamento de hipertrofia e o segundo grupo, também com
8 sujeitos, desenvolveu o treinamento de resistência muscular
localizada. Os sujeitos tiveram a liberdade de escolher qual
treinamento gostariam de desenvolver, a fim de evitar a desistência dos mesmos.
Todos os voluntários foram informados a respeito do objetivo e dos procedimentos a serem adotados para a realização
deste estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética da UFSM sob o CAAE 0091.0.243.000-06 e seguiu
todos os preceitos da Resolução 196/96 do CNS.
Caracterização dos treinamentos musculares
Os indivíduos realizaram um período de adaptação com
duração de 2 semanas, com uma frequência de 3 vezes semanais e o mesmo número de séries, repetições e exercícios para
ambos os grupos de treinamento (hipertrofia e resistência
muscular localizada).
Os treinamentos musculares de hipertrofia (HIP) e resistência muscular localizada (RML) foram desenvolvidos
durante 9 semanas, adotando-se uma frequência de 3 vezes
semanais. O treinamento de HIP consistiu de 3 séries de 10
repetições a 75% de 1 repetição máxima (1RM), e os exercícios foram concentrados por segmento muscular, adotando-se
a inclusão de um exercício por grupo muscular, com exceção
dos grandes grupamentos, nos quais adotou-se dois exercícios
por grupo muscular. O treinamento de RML consistiu de 3
séries com 20 repetições a 60% de 1 RM com os exercícios
também concentrados por segmento muscular. Seguiu-se o
mesmo procedimento adotado no treinamento de HIP para a
quantificação numérica de exercícios por grupo muscular [8].
O tempo de intervalo entre os exercícios para o treinamento de HIP foi de 1 minuto e 30 segundos e entre as séries foi de
1 minuto. Para o treinamento de RML adotou-se um tempo
de intervalo entre os exercícios de 1 minuto e 30 segundos e
entre as séries, de 45 segundos.
Antes de iniciar os treinamentos foram realizados testes de
1 RM em todos os exercícios que seriam efetuados no programa de treinamento. Como a fase de adaptação ocorreu antes
dos testes de 1 RM, os sujeitos estavam familiarizados com
os exercícios. Para a realização dos testes de 1RM seguiu-se o
protocolo estabelecido por Moura et al. [10].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
80
Mensuração da massa óssea
Resultados
Para verificação da massa óssea pré e pós-treinamento foi
realizada a densitometria óssea através do aparelho de Raio-X
de Dupla Energia (DEXA), que não requer nenhum esforço
por parte dos avaliados. Foi avaliada a massa óssea de todo o
corpo, sendo que a DMO foi obtida através da razão entre
conteúdo mineral ósseo (em g) e área do osso (em cm2).
A Tabela I apresenta as características descritivas da
amostra.
A Tabela II apresenta os valores pré e pós-treinamento da
densidade mineral óssea (DMO) dos sujeitos que desenvolveram o treinamento de hipertrofia.
Observa-se que não houve alterações estatisticamente
significativas entre os valores pré e pós-treinamento da DMO
dos sujeitos que desenvolveram o treinamento de HIP. Porém, analisando-se cada resultado isoladamente, verificou-se
que 4 sujeitos aumentaram sua DMO após 11 semanas de
treinamento.
A Tabela III apresenta os valores pré e pós-treinamento
da DMO dos sujeitos que desenvolveram o treinamento de
RML.
Constata-se que não houve diferença estatisticamente
significativa entre os valores pré e pós-treinamento da DMO
dos sujeitos que desenvolveram o treinamento de RML. Po-
Análise estatística
Foi empregada uma análise estatística descritiva através da
média e desvio padrão. Aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk
para verificação da normalidade e o teste “t” de Student para
amostras dependentes para a comparação dos valores da
massa óssea pré e pós-treinamento. Foi realizada inicialmente
uma análise exploratória dos dados sendo que não foram
apresentados desvios de normalidade. Foi adotado um nível
de significância de 5%.
Tabela I - Características descritivas da amostra (Média ± DP).
Variável
Idade
Estatura (cm)
MCT (kg)
MM (kg)
MG (kg)
Pré-treinamento HIP
23 ± 2,82
176 ± 7,45
74,81 ± 12,94
58,9 ± 8,24
11,14 ± 4,19
Pós-treinamento HIP
23 ± 2,82
176 ± 7,45
73,75 ± 11,96
58,9 ± 8,55
10,01 ± 3,12
Pré-treinamento RML
20 ± 0,81
173 ± 7,25
68,13 ± 9,21
54,25 ± 6,16
9,27 ± 4,20
Pós-treinamento RML
20 ± 0,81
173 ± 7,25
68,81 ± 9,66
55,29 ± 6
9,14 ± 4,44
MCT = massa corporal total; MM = massa magra; MG = massa gorda
Tabela II - Valores da DMO pré e pós-treinamento de hipertrofia.
Sujeitos
1
2
3
4
5
6
7
8
Área (cm2) pré
Área (cm2) pós
CMO (g) pré
CMO (g) pós
1990,37
2072,30
1960,83
2512,29
2373,64
2226,71
2500,87
2372,45
2103,42
2080,97
1995,49
2543,01
2310,22
2225,92
2513,47
2405,15
2318,31
2297,35
2238,00
3440,48
3144,99
2651,58
3191,45
3012,91
2436,57
2298,10
2270,79
3469,02
3182,36
2676,21
3261,78
3135,52
DMO total pré
(g/cm2)
1165
1109
1141
1369
1325
1191
1276
1270
DMO total pós
(g/cm2)
1158
1104
1138
1364
1378
1202
1298
1304
DMO total pré
(g/cm2)
1428
1260
1206
1079
1158
1241
1119
1194
DMO total pós
(g/cm2)
1405
1269
1207
1081
1198
1253
1148
1227
CMO = conteúdo mineral ósseo, DMO = densidade mineral óssea; p < 0,05.
Tabela III - Valores da DMO pré e pós-treinamento de RML.
Sujeitos
1
2
3
4
5
6
7
8
Área (cm2) pré
Área (cm2) pós
CMO (g) pré
CMO (g) pós
2218,44
2298,80
2233,41
2118,00
2059,70
2550,50
2028,19
2091,21
2181,81
2248,38
2206,62
2112,48
2091,21
2604,46
1952,16
2024,25
3167,80
2896,03
2693,00
2284,37
2385,52
3165,49
2269,78
2495,97
3064,87
2853,06
2662,59
2282,79
2505,86
3263,85
2241,62
2482,77
CMO= conteúdo mineral ósseo, DMO= densidade mineral óssea; p < 0,05.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
rém, analisando-se cada resultado isoladamente, verificou-se
que 7 sujeitos aumentaram sua DMO após 11 semanas de
treinamento.
A Figura 1 mostra a comparação entre os valores da DMO
dos sujeitos que realizaram o treinamento de HIP e RML.
Figura I - Comparação da DMO dos sujeitos que realizaram HIP
e RML.
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
Pré
Pós
Hipertrofia
Pré
Pós
RML
Discussão
Com base nos resultados verificou-se que não ocorreram
alterações significativas na massa óssea de adultos jovens do
sexo masculino após 11 semanas de treinamento de hipertrofia
ou resistência muscular localizada. Observou-se que 4 sujeitos
do grupo de HIP aumentaram sua DMO após o período de
treinamento, mas não de forma estatisticamente significativa. Observou-se também, que 7 sujeitos do grupo de RML
aumentaram sua DMO, mas não de forma estatisticamente
significativa. Estes pequenos aumentos observados podem
ser devido à aplicação de forças com intensidade acima da
habitual e que forneceram estímulos adequados ao osso, pois
o aumento na carga e consequentemente aumento na força
dos músculos podem induzir uma estimulação mecânica
mais intensa aos ossos [8]. Mesmo com aumentos pequenos
sugere-se uma alta redução no risco de fraturas do quadril em
adultos mais velhos [11]. Apesar de não terem sido encontradas alterações significativas no período de tempo utilizado
neste estudo, o mesmo pretendeu avaliar um período de
tempo diferente dos que geralmente são utilizados em outros
estudos (16 semanas, 24 semanas, 1 ano ou mais). Vários são
os estudos [3,5,6] que modificaram a metodologia do programa de treinamento de força, porém mantiveram períodos
de treinamento semelhantes a outros estudos já publicados.
O efeito osteogênico decorrente da atividade física requer
um alto nível de treinamento, com grande volume e intensidade [12]. Este estudo adotou um percentual de intensidade de
75% para o grupo de HIP e 60% para o RML, considerados
como de intensidades moderada-alta e o volume de treinamento foi considerado suficiente, levando-se em consideração
a utilização de uma amostra sedentária. Desta forma, pode-se
dizer que a falta de mudanças significativas na massa óssea
é devido ao curto período de execução dos treinamentos
musculares e não devido ao volume utilizado.
81
Quanto maior a carga, maior o estímulo fornecido ao
osso, pois maior será o impacto sobre o mesmo. Este fato não
foi evidenciado neste estudo, pois observou-se que o maior
número de sujeitos que apresentaram aumento na DMO foi
no grupo de RML, ou seja, no treinamento que apresentou
menor intensidade. Bemben e cols. [6] não encontraram
aumentos na massa óssea de mulheres após 24 semanas
de treinamento de força a 40% de 1 RM e 80% de 1 RM.
Este estudo usou uma porcentagem similar (75%) a usada
por Bemben e cols. [6] e também não encontrou mudanças
significativas após 11 semanas de treinamento.
Pelo fato de ocorrer uma estabilização da massa óssea
no período de 20 a 30 anos, período em que a aquisição do
pico da massa óssea já pode ter sido atingida [9], parece mais
difícil a influência da atividade física sobre o metabolismo
ósseo para gerar mudanças significativas. Isso provavelmente
explica o baixo número de estudos envolvendo homens jovens
com idades entre 20 e 30 anos. Outro fator que pode explicar
os resultados deste estudo é o tempo do ciclo de formação e
reabsorção óssea, pois segundo Bemben e cols.[6], o processo de remodelação do tecido ósseo ocorre ao longo da vida
em ciclos que duram de 4 a 6 meses. Então, se a atividade
for desenvolvida dentro desse ciclo de remodelação, podem
ocorrer alterações positivas e significativas na massa óssea.
Dessa forma, pode-se dizer que um período de 11 semanas
não é suficiente para provocar alterações significativas e pode
explicar porque vários estudos realizados com períodos de
treinamento acima de 16 semanas obtiveram aumento na
DMO [3,5]. Entretanto, este fato não pode ser adotado como
justificativa principal, pois outros estudos [6,13] adotaram um
tempo de treinamento igual ou superior a 4-6 meses e mesmo
assim não encontraram respostas satisfatórias.
Conclusão
De acordo com os resultados obtidos, um período de 11
semanas não é suficiente para alterar significativamente a
densidade mineral óssea de sujeitos jovens e sedentários do
sexo masculino.
O presente estudo contou com algumas limitações, como
o pequeno número de participantes em cada grupo e a falta de
controle da alimentação dos participantes a fim de determinar
a ingestão de cálcio e qualidade da alimentação.
Agradecimentos
Os membros deste estudo agradecem ao CNPq/ Pibic
pela concessão da bolsa de Iniciação Científica, ao colega Luis
Felipe Schedler dos Santos, pelo apoio e disponibilidade na
realização desde estudo e ao Instituto de Densitometria Óssea
de Santa Maria, RS por facilitar a realização dos exames de
Densitometria Óssea.
82
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
83
Artigo original
Cinesioterapia laboral aplicada a servidores
do judiciário de Poços de Caldas/MG
Labor kinesiotherapy applied to civil servants of the judiciary
of Poços de Caldas/MG
Keruline de Oliveira Moreira*, Tatiana Rodrigues Martins*, Marina Aparecida Gonçalves Pereira**
*Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais campus Poços de Caldas, **Orientadora
e Professora do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais campus Poços de Caldas
Resumo
Abstract
A cinesioterapia laboral é um conjunto de exercícios realizados no local de trabalho durante sua jornada, gerando benefícios
fisiológicos, psicológicos e sociais para o trabalhador, afetando
diretamente a empresa através da maior produtividade e consequentemente, maior lucro. O presente estudo teve como objetivo
verificar o impacto do trabalho para risco de DORT/LER, assim
como a qualidade de vida dos servidores e funcionários do judiciário
de Poços de Caldas/MG antes e após aplicação da cinesioterapia
laboral. Utilizou-se de 03 questionários: Médico, SF-36 e Wisconsin. Foram selecionados 16 trabalhadores pertencentes ao grupo de
risco, porém, apenas 6 funcionárias com média de idade de 42,8
anos concluíram o estudo. Pelos resultados, 83% das trabalhadoras
se encontravam com o peso dentro da normalidade e 17% acima
do ideal. No SF-36, os domínios aspecto social (p = 0,008) e saúde
mental (p = 0,04) foram estatisticamente significativos, enquanto
que os outros domínios não foram estatisticamente significativos (p >
0,05). Os segmentos corporais mais acometidos pela dor e descritos
pelas trabalhadoras foram nos membros superiores com 31%, coluna
cervical e lombo-sacra com 22%. No questionário de Wisconsin,
apenas duas variáveis não foram estatisticamente significativas, sendo
estas a dor atual com (p = 0,058) e o relacionamento com as pessoas
(p = 0,098). Conclui-se que a aplicação da cinesioterapia laboral
de forma isolada demonstrou resultados significativos sobre o risco
de DORT/LER, assim como sobre a qualidade de vida, no entanto
torna-se necessário uma análise mais aprofundada que identifique
as reais necessidades em relação à saúde, segurança e ergonomia dos
servidores e funcionários do referido Fórum.
The labor kinesiotherapy consists of a group of exercises performed in the work place during working hours, providing physiological, psychological and social benefits to the worker, affecting
directly the company by a major productivity and, consequently, a
major profit. The aim of this study was to verify the work impact
for cumulative trauma disorders risk, and also, the civil servants
and employees quality of life of the judiciary of Poços de Caldas/
MG before and after the application of labor kinesiotherapy. Three
questionnaires were used: Medical, SF-36 and Wisconsin. Sixteen
workers belonging to a risk group were selected, but, just 6 employees, average 42.8 years old, concluded the research. 83% of
the workers had normal weight and 17% were overweighted. In the
SF-36 questionnaire, the social aspect (p = 0.008) and mental health
(p = 0.04) domains were statistically significant (p > 0.05). The body
segments most affected by pain and described by the workers were
the superior limbs (31%), cervical and lumbosacral spine (22%). In
the Wisconsin, just 2 variables were not statistically significant, being
them actual pain (p = 0.058) and relationship with other people (p =
0,098). It is concluded that the application of labor kinesiotherapy
in an isolated way demonstrated significant outcomes about the
cumulative trauma disorders risk, as well as about the quality of
life, but its necessary a deeper analysis to identify the real needs of
health, security and ergonomics of the civil servants and employees
of the referred tribunal.
Key-words: labor kinesiotherapy, cumulative trauma disorders,
pain, occupational health, quality of life.
Palavras-chave: cinesioterapia laboral, transtornos traumáticos
cumulativos, dor, saúde do trabalhador, qualidade de vida.
Recebido 7 de janeiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Tatiana Rodrigues Martins, Av. São Francisco, 886 Centro 39270-000 Pirapora MG, Tel: (38) 37417841, E-mail: [email protected]
84
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
As doenças de origem ocupacional começaram a ser diagnosticadas em 1700, na Itália, por Bernardino Ramazzini, o
pai da medicina do trabalho. Porém, no Brasil, somente em
1987 o INSS as reconheceu como doença desta natureza
[1]. No entanto, os cuidados com a saúde dos trabalhadores
eram praticamente inexistentes e o número de indivíduos
portadores de lesões oriundas do trabalho aumentou consideravelmente desde aquela época. Atualmente é reconhecida
por Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(DORT) ou Lesões por Esforços Repetitivos (LER) [2].
Os DORT/LER são afecções relacionadas às atividades
laborativas diárias e/ou profissionais, associadas às repetições
diversas, como as de movimentos bruscos, ou não, com interrupções súbitas, esforço físico com grau alterado de força
exigida, pressão mecânica constante sobre determinados
segmentos corporais e predisposição individual [3].
Os fatores que podem provocar o aparecimento das
DORT/LER são classificados em específicos como traumatismos anteriores, hormonais, psicológicos e congênitos ou
gerais, incluindo os projetos de trabalho não adequados, que
determinam sobrecarga muscular; o tipo de tarefa com movimentos rápidos e repetitivos de antebraço, punho, mãos e
dedos; instrumento de trabalho inadequado facilitando desvio
ulnar e supinação do punho; ambiente de trabalho impróprio
como má iluminação, ruído excessivo; sobrecarga de trabalho
com falta de períodos de descanso e frequentes horas extras;
rotina de produção de alta exigência; competição e mau
relacionamento entre os colegas; medo do desemprego [4,5].
Dentre as afecções relacionadas ao DORT podemos destacar tenossinovites, síndrome do túnel do carpo, tendinite,
epicondilite, bursite, miosite, síndrome cervicobraquial, síndrome do desfiladeiro torácico, ombro doloroso, lombalgia e
outras patologias associadas à fadiga muscular principalmente
de ombro e pescoço [6]. As estruturas mais comprometidas
são tendões, sinovias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos,
associadas ou isoladas a degeneração dos tecidos [7,8]. Os
sinais e sintomas frequentemente encontrados são a perda
de força, diminuição do trofismo (hipotrofia), alterações
sensitivas (parestesias e adormecimentos); dor; diminuição de
morbidade, perda da função [9]. Considerando a importância
da dor no diagnóstico, e decorrentes condutas nas lesões musculoesqueléticas, parece pertinente avaliar, comparativamente,
a capacidade para o trabalho e o impacto da severidade da
dor nos trabalhadores do grupo de risco [10].
Com a instalação da sintomatologia surgem as incapacidades como a diminuição da destreza manual, sentida na
digitação e na escrita, dificuldade de pegar, segurar e manusear
pequenos objetos como lápis e talheres, dificuldade para manter os membros superiores elevados, como estender roupa no
varal, segurar-se em ônibus ou metrô, pentear os cabelos entre
outros [11]. O acometimento somente do membro superior
dominante pode existir, mas é frequente o acometimento de
ambos os membros. É comum observar pacientes poupando
o membro superior acometido, com receio de que a dor
aumente ou de que seu quadro se agrave. O uso exagerado
do membro contralateral para a realização das atividades
cotidianas pode, então, contribuir para o aparecimento dos
sintomas nesse lado [12].
A frequência de comprometimento dos trabalhadores pela
doença ocupacional provoca o aumento da taxa de absenteísmo
e rotatividade por afastamento, custos elevados com assistência
médica e indenizações, gastos com recrutamento e nova seleção de pessoal provocando nas empresas redução dos níveis
de produtividade e, consequentemente, diminuição de lucros
[13,14]. Entretanto, caso o comprometimento ocorra em um
setor específico da empresa, este deve ser objeto de análise dos
aspectos biomecânicos, ergonômicos, físicos e de acidentes [15].
Neste sentido, medidas abrangentes devem ser tomadas tanto
a nível preventivo quanto curativo daqueles que já adoeceram,
objetivando a recuperação rápida das queixas evitando-se
assim o crescimento acelerado da morbidade [16]. O avanço
tecnológico influencia os hábitos de vida e de trabalho das
pessoas principalmente em países industrializados provocando
alterações na qualidade de vida dos mesmos [7,17]. Com isto
são criados programas de qualidade de vida no trabalho que
visam satisfazer as necessidades individuais dos trabalhadores
tanto no trabalho quanto nas atividades diárias [18].
Dentre estes programas pode-se citar a implantação e a
prática regular de realização da cinesioterapia laboral antes,
durante e após as atividades laborais [19]. Utiliza de metodologia simples e de fácil realização aplicada por profissional
técnico habilitado ou por facilitador treinado pelo mesmo.
Tendo como principal função melhorar a qualidade de vida
do trabalhador através da melhora da consciência corporal que
favorece a aquisição de posturas ocupacionais mais corretas e
com maior conforto [20].
Os primeiros registros de aplicação da cinesioterapia laboral datam de 1925, na Polônia, Bulgária, Alemanha Oriental,
Holanda e Rússia, denominada ginástica de pausa. No Japão,
nesta mesma época, esta prática foi impulsionada pela cultura
e tradição oriental, o Taissô [17,21]. No Brasil, iniciou-se na
década de 70, com a chegada de executivos japoneses, mas
após algumas experiências isoladas, houve um período de esquecimento, ressurgindo apenas na segunda metade da década
de 80, como medida de promoção da saúde do trabalhador
[2,22]. A cinesioterapia laboral é um conjunto de exercícios
realizados no próprio local de trabalho durante a jornada de
trabalho, com inserção de pausas na produção, a fim de cuidar da integridade física, psicológica e social do funcionário,
sendo de curta duração utiliza-se mais do alongamento para
compensação das estruturas musculares envolvidas nas tarefas operativas diárias [23,24]. A prática de exercícios físicos
gera para o trabalhador benefícios fisiológicos, psicológicos e
sociais afetando diretamente a empresa [9,25]. Neste sentido,
o presente estudo teve como objetivo verificar o impacto do
trabalho para risco de DORT/LER, assim como a qualidade
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
de vida dos servidores do judiciário de Poços de Caldas/MG
antes e após aplicação a cinesioterapia laboral.
Material e métodos
Amostragem
O presente estudo foi realizado no Fórum da Comarca
de Poços de Caldas/MG, sendo selecionados os servidores
e funcionários dos diversos setores através do questionário
médico do trabalho (Protocolo para Estudo Epidemiológico e
Registro Clínico GERSEG/TIMG – Regional). O questionário constou de dados pessoais, atividade profissional, aspectos
organizacionais e ergonômicos da função atual e anamnese,
além da história pregressa, história familiar e dados antropométricos. Tal questionário possuía o propósito de verificar o
impacto do trabalho para o risco de LER/DORT e selecionar
os servidores e funcionários nos seguintes subitens: grupo
sintomático (lesão instalada), grupo assintomático, grupo de
risco (pessoas que não apresentavam lesões), mas que pela
avaliação foi detectada dores, tensões e posto de trabalho
inadequado que o predispunha a desenvolver a patologia.
Após a interpretação das informações coletadas foram
selecionados 16 indivíduos, sendo 03 homens e 13 mulheres
com média de idade de 42,8 anos, pertencentes ao grupo de
risco e que participaram da cinesioterapia laboral. Todos os
participantes encontravam-se trabalhando regularmente na
ocasião do presente estudo, com uma jornada de seis horas
diárias, durante cinco dias por semana. Antes de qualquer
procedimento metodológico os servidores e funcionários
selecionados foram orientados pelos responsáveis do projeto
e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Procedimento de avaliação
Após a seleção, os 16 indivíduos responderam em local
próprio no Fórum da Comarca de Poços de Caldas o questionário de qualidade de vida Medical Outcome Survery Short
Form 36 (SF- 36).
O SF-36 é um questionário genérico amplamente utilizado para avaliar a qualidade de vida. O questionário é
multidimensional formado por 36 itens, englobados em 8
domínios: capacidade funcional (CF), aspectos físicos (AF),
dor (D), estado geral de saúde (EGS), vitalidade (VT), aspectos sociais (AS), aspectos emocionais (AE), saúde mental
(SM), sendo comparado antes e depois da aplicação da cinesioterapia laboral. Os resultados do SF- 36 são mostrados em
escore de 0 a 100 obtidos a partir de uma relação de questões
sobre vários aspectos da qualidade de vida, onde 100 indica
a melhor qualidade de vida e 0 representa a pior qualidade
possível). Em seguida foi aplicado o questionário de Inventário
para Dor de Wisconsin que avaliou a intensidade da dor em
uma escala de 0 a 10, sendo que 0 representa a ausência de
dor e 10 dor exacerbada.
85
Protocolo de aplicação da cinesioterapia laboral
O tipo de cinesioterapia laboral escolhida foi a do tipo
compensatória (realizado durante a jornada de trabalho), e,
para a aplicação do protocolo, os servidores foram distribuídos
em 3 grupos, 3 vezes por semana, com duração de 20 minutos
para cada grupo no período de 12 semanas. A cinesioterapia
laboral foi dividida em três etapas distintas: A primeira foi
destinada à adaptação dos voluntários com seu próprio corpo
e com os exercícios propostos compondo-se de aquecimento,
alongamento e relaxamento. A segunda etapa constou-se
de aquecimento, alongamento, interação com o grupo e
relaxamento. E na terceira etapa utilizou-se de alongamento,
dinâmica, sociabilização e relaxamento.
Resultados
Visando organizar os resultados por natureza de variáveis,
a seguir serão apresentados conforme a seguinte sequência:
variáveis antropométricas, qualidade de vida, localização da
dor e os aspectos da dor nas últimas 24 horas.
Os resultados estão apresentados em tabelas e gráficos que
contêm os valores obtidos em porcentagem, média e desvio
padrão, além do resultado estatístico referente às comparações
feitas.
Dentre os 16 indivíduos avaliados, somente 06 concluíram
o presente estudo, sendo todas do sexo feminino com idade
média de 42,8 anos. Para o cálculo do IMC foi realizada a coleta da massa corporal (MC) e da altura (H) das trabalhadoras.
A média e desvio padrão, dos valores obtidos das variáveis
antropométricas do grupo de trabalhadoras, estão apresentadas na Tabela I.
Tabela I - Variáveis antropométricas, em média e desvio padrão
dos valores obtidos das voluntárias com os resultados estatísticos.
Variáveis
Idade (anos)
Peso (kg)
Altura (cm)
IMC (kg/m²)
Trabalhadoras
N=6
42,8 ± 7,8
59,25 ± 4,02
1,59 ± 0,07
23,6 ± 2,5
p
0,0001*
0,0001*
0,0001*
0,0001*
IMC: Índice de Massa Corpórea; * extremamente significativo (p < 0,05
Teste t).
As variáveis antropométricas das trabalhadoras em média e desvio padrão apresentaram diferença extremamente
significativas.
A Tabela II apresenta os resultados de todos os domínios
em média e desvio padrão e os respectivos resultados estatísticos do questionário de qualidade de vida (SF-36), aplicados
em dois momentos: sendo um no momento da avaliação inicial (Q1) e o outro durante a avaliação final (Q2) ao término
da aplicação da cinesioterapia laboral.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
86
Tabela II - Domínios do Questionário Short Form 36, pontuação
em média e desvio padrão, para os questionários 1 e 2 e os resultados
estatísticos.
Domínios
CF
AF
D
EGS
VT
AS
AE
SM
Q1
N=6
66,84 ± 42,05
50 ± 38,74
33,67 ± 9,27
62 ± 15,5
55,83 ± 7,35
50,08 ± 13,6
66,83 ± 42,05
54 ± 18,54
Q2
n=6
72,16 ± 44,36
83,33 ± 30,28
44,5 ± 21,16
68,3 ± 22
59,16 ± 13,19
79,25 ± 15,03
72,16 ± 44,4
72 ± 14,1
p
0,83NS
0,13NS
0,28NS
0,58NS
0,60NS
0,008*
0,83NS
0,04*
CF: Capacidade Funcional; AF: Aspectos físicos; D: Dor; EGS: Estado
Geral da Saúde; VT: Vitalidade; AS: Aspecto Social; AE: Aspecto Emocional; SM: Saúde Mental, * estatisticamente significativo (p ≤ 0,005
Teste t); NS: Não significativo (p > 0,05 Teste t).
Tabela III - Variáveis da dor nas últimas 24 horas, em média
e desvio padrão dos valores obtidos do questionário de Wisconsin
(Q1) e 2 (Q2).
Variáveis
Pior dor em 24 hs
Dor mais fraca
Média da dor
Dor atual
Atividade geral
Humor
Hábito de caminhar
Trabalho
Relacionamento
com as pessoas
Sono
Apreciar a vida
Q1
6,5 ± 1,22
2,5 ± 1,04
4,8 ± 0,40
3,66 ± 3,67
5,83 ± 1,47
6,16 ± 3,45
2,7 ± 2,34
Q2
4,83 ± 3,31
1,83 ± 1,16
4,33 ± 2,25
3,17 ± 3,06
4 ± 3,28
2,7 ± 39
2 ± 3,35
p
0,0001*
0,002*
0,0001*
0,058NS
0,02*
0,008*
0,04*
6 ± 2,34
2,5 ± 3,2
4,17 ± 3,19
2,33 ± 2,95
0,0016*
0,098NS
4,17 ± 1,72
5,84 ± 3,87
1,66 ± 2,06
3 ± 4,00
0,002*
0,014*
Q1 e Q2: questionários 1 e 2 respectivamente; * estatisticamente signi-
Pode-se observar pela Tabela II que os domínios CF, AF,
D, EGS, VT e AE relacionados ao questionário SF-36 não
apresentaram diferença estatisticamente significativa entre a
avaliação inicial comparado com a avaliação final, no entanto
os domínios AS e SM apresentaram resultados estatisticamente significativos.
O Gráfico 1 demonstra em porcentagem a localização
segmentar da dor, descrita por cada trabalhadora pertencente ao estudo nos histogramas, durante a avaliação inicial
e final.
Gráfico 1 - Localização da dor: membros superiores 31%; membros
inferiores 7%; coluna cervical 22%; coluna torácica 18% e coluna
lombo-sacra 22%.
Coluna Cervical;
22%
Membros Inferiores;
7%
Membros
Superiores; 31%
Coluna Toráxica;
18%
Coluna LomboSacra; 22%
Os resultados demonstraram que as porcentagens foram
maiores em membros superiores 31%, seguida pela coluna
cervical e lombo-sacra 22%,
Na Tabela III, constam os valores em média e desvio
padrão do questionário da dor de Wisconsin com seus respectivos resultados estatísticos, coletados em dois momentos:
durante a avaliação inicial (Q1) e após três meses, durante
avaliação final (Q2).
ficativo (p<0,05 Test t); NS: não significativo (p > 0,05 Test t).
Pode-se observar na Tabela III, que a comparação dos
domínios relacionados ao questionário 1 e 2 de Wisconsin,
como a pior dor no decorrer das últimas 24 horas, dor mais
fraca, média da dor, dor atual, atividade geral, humor, hábito
de caminhar, trabalho, sono e apreciar a vida apresentaram
diferença estatisticamente significativa, no entanto a dor atual
e o relacionamento com outras pessoas não determinaram
diferença estatisticamente significativa entre a avaliação inicial
(Q1) comparada com a avaliação final (Q2).
Discussão
Dentre os fatores pessoais, ocupacionais e organizacionais
analisados no presente estudo, todos apresentaram uma relação com a qualidade de vida das trabalhadoras.
No que tange ao gênero, não foi possível realizar uma
comparação entre sexo, uma vez que não houve persistência
dos trabalhadores do sexo masculino até a finalização do
estudo. No entanto, os trabalhadores que concluíram o estudo pertenciam ao grupo de risco e eram do sexo feminino,
podendo estar relacionado ao fato de que as mulheres tendem
a apresentar maiores índices de ocorrência de lesões musculoesqueléticas levando a uma redução na qualidade de vida. A
relação entre lesão e gênero, por sua vez, pode ser permeada
por outras variáveis, tornando essa discussão bastante complexa. Nesse sentido, o maior número de acometimento em
mulheres pode relacionar-se mais ao tipo de atividade, do que
pelo gênero, já que as mulheres realizam tarefas (de riscos)
diferentes das realizadas pelos homens, além de, na maioria
das vezes, exercerem atividades em dupla jornada [10].
Sabe-se que alguns fatores biomecânicos estão envolvidos
nas demandas físicas do trabalho, dentre eles: força, repetitividade e posturas inadequadas têm uma grande relação
com o grupo de risco para o desenvolvimento das doenças
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
ocupacionais [26]. Assim, os indivíduos pertencentes a este
grupo ressentem-se mais esses fatores, o que, consequentemente, parece explicar as respostas mais negativas com relação
às exigências físicas, associadas a uma menor pontuação na
qualidade de vida e uma maior pontuação para a dor [1]. Esse
argumento corrobora com os resultados no presente estudo ao
indicar que quanto melhor as condições de exigência física no
trabalho, menores serão as pontuações sobre a dor e maiores
serão as pontuações para a qualidade de vida.
Com relação aos resultados dos domínios do questionário
de qualidade de vida SF-36, aplicado antes e após a cinesioterapia laboral, encontraram-se valores estatisticamente
significativos para os AS e SM sugerindo que a atividade
laboral expõe os trabalhadores a fatores nocivos à saúde, tais
como: ausência de pausas, posturas e condições ergonômicas inadequadas e excesso de movimento o que acarreta em
prejuízos na percepção da vida por parte destes indivíduos.
Além destes, outros aspectos podem ainda ser listados, como:
as faltas, as desistências, o desinteresse, o excesso de trabalho,
entre outros. Por outro lado, os domínios relacionados à CF,
AF, D, VT, AE e EGS não foram estatisticamente significativos. Os dados encontrados no presente estudo estão de
acordo com os da literatura afeita ao tema e apontam que
a dor leva à diminuição das atividades diárias favorecendo
a compensações e inadequações posturais no ambiente de
trabalho que levam a restrição de movimentos acometendo
diretamente a qualidade de vida dessas pessoas e afastando-as
do convívio social.
Neste sentido, a qualidade de vida depende também da
qualidade de vida no trabalho, onde as pessoas passam a maior
parte do tempo, por isso é importante melhorar as condições
de trabalho, incluindo o ambiente, transportes, relação entre
chefes e funcionários e sistema produtivo no trabalho [27].
Portanto, é fundamental a conscientização por parte dos
trabalhadores da busca de uma melhor qualidade de vida,
através da prática de atividades físicas regulares, evitando
o sedentarismo, hábitos alimentares e equilíbrio emocional
determinados pela convivência entre os colegas de trabalho
e seus familiares [28].
Neste estudo houve uma pequena adesão por parte dos
funcionários e servidores durante a realização da cinesioterapia
laboral, no entanto, quando os resultados do questionário de
Wisconsin antes e após foram confrontados, encontrou-se valores
estatisticamente significativos para a maioria dos itens avaliados,
determinando que a cinesioterapia laboral produziu um efeito
positivo sobre a vida desses trabalhadores. Concordando com
Carvalho [5] e Jimenes [8], a cinesioterapia laboral previne a fadiga muscular, corrige vícios posturais e melhora a disposição dos
trabalhadores e consequentemente, reduz as dores generalizadas
pelo corpo, melhorando o rendimento e a produtividade durante
a jornada de trabalho. Além de afetar os fatores psicológicos
como a mudança na rotina e reforço na autoestima.
Estudos futuros ampliando a população estudada poderão
contribuir para melhor avaliar as tendências aqui relatadas.
87
Poderiam, ainda, avaliar comparativamente aspectos de autorrelatos com dados mais objetivos de capacidade funcional,
de adequações ergonômicas e organizacionais. Naturalmente,
esses quadros são bastante complexos, envolvendo aspectos
físicos, psicossocias e ocupacionais [29]. Portanto, quanto
maior o número de informações disponíveis sobre o quadro
clínico-funcional desses indivíduos, maiores as chances de se
tomar decisões e estabelecer prioridades de atenção acertadas
a qualidade de vida desses trabalhadores [30].
Conclusão
Em conclusão pode ser apresentada a interferência da
organização e das relações de trabalho no adoecimento, no
sofrimento físico que antecede e precede o adoecimento, a
onipresença da dor e as limitações impostas em nível físico
e mental que impossibilitam projetos de vida e dificuldades
no trabalho comprometendo a vida pessoal, familiar e social
dos trabalhadores em questão.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
89
Artigo original
Influência do alongamento estático/passivo sobre o
desempenho da força
Influence of static/ passive stretching on the strength performance
Levi Torres Rodrigues*, Antonio Gil Castinheiras Neto**, Bruna Medeiros Neves**, Nádia Lima da Silva***
*Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ, **Universidade Salgado de Oliveira, Niterói/RJ,
***Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ
Resumo
Abstract
Atualmente observa-se uma restrição muito grande nas academias de musculação sobre a realização de alongamentos antes do
treinamento de força (TF). Ainda não se sabe ao certo se o uso dessas
atividades auxilia ou prejudica o executante em exercícios que exijam
grande quantidade de força. O objetivo do estudo foi comparar a
taxa do desempenho de homens treinados no exercício de supino
horizontal, submetidos à realização de alongamento estático/passivo prévio ou não à realização de séries consecutivas (3 séries) com
carga máxima (10 RM). Participaram deste estudo 10 homens (27
± 3,3 anos) com experiência mínima de um ano de TF. Utilizou-se
estatística descritiva para caracterizar os sujeitos e dados percentuais
para determinar a queda do rendimento nas situações experimentais.
Para determinar a diferença do rendimento utilizou-se o teste t de
student para dados emparelhados, adotando-se uma significância de
p ≤ 0,05. Verificou-se redução do desempenho da força muscular
em ambas as situações experimentais, entretanto, essa perda foi
maximizada na sessão que se utilizou de alongamentos precedendo
o treinamento do supino reto (p < 0,05). Em valores percentuais,
essa diminuição do desempenho foi estimada em 10,2% para a
condição sem alongamento prévio e 27,4% para a condição com
alongamento prévio entre a primeira e a última série.
Some fitness centers do not recommend stretching exercises prior
to strength training (ST). However it is not yet clear whether these
activities improve or affect the performance in exercises that require
voluntary contraction maximum. The objective of this study was to
compare the rate of performance of trained men in horizontal bench
press, with or without to execution of passive stretching before the
completion of consecutive series (3 sets) in 10 RM. Participated ten
men (27 ± 3.3 years) with at least one year of ST. Was used descriptive statistics to characterize the subjects and percentual data to
determine the drop in consequence of this experimental situation. To
determine the difference between experimental conditions, was used
the Student t test for paired data, adopting a significance of p ≤ 0.05.
Reduction in the performance of muscular strength was observed in
both experimental situations, however, the loss was maximized at the
session that used passive stretching prior to bench press training (p
< 0.05). In percentages, this decrease in performance was estimated
at 10.2% for the condition without prior stretching of 27.4% when
the stretching was performed before the experiment.
Key-words: strength, flexibility, resistance training, athletic
performance.
Palavras-chave: força muscular, flexibilidade, treinamento de
resistência, desempenho atlético.
Recebido 20 de dezembro de 2009; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Profa Dra Nadia Lima da Silva, Rua São Francisco Xavier 524 ala 8133 Bloco-F Maracanã 20550013 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2334-0775, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
Exercícios de alongamento são geralmente realizados como
forma de aquecimento antes da participação em esportes
competitivos e atividades físicas. Para esse fim existem várias
técnicas, incluindo estático, dinâmico e facilitação neuromuscular proprioceptiva [1].
Acredita-se que a realização do alongamento melhore
o desempenho posterior, reduza o risco de lesões, além
de servir para aliviar os sintomas de dor muscular tardia.
No entanto, poucos experimentos verificaram melhora
de variáveis neuromotoras analisadas após a utilização de
alongamento [2-4]. Alguns estudos referem-se à realização
do alongamento pré-sessão de exercício físico como um
fator negativo para o desempenho de variáveis neuromotoras, incluindo a contração muscular voluntária máxima,
a potência muscular e o pico de torque articular [5-9]. Em
contrapartida, outros estudos não sustentam o prejuízo
que uma sessão dessa natureza pode gerar no desempenho
subsequente da força explosiva [10-13].
Apesar do conflito de dados existentes na literatura, o
pressuposto teórico acerca do declínio do desempenho após
sessão aguda de alongamento recai sobre fatores neurais e
mecânicos como: diminuição na ativação de unidades motoras, alterações nas propriedades viscoelásticas do músculo
e musculotendinosa e devido às alterações no comprimentotensão da fibra muscular [14,15].
Assim, considerando as divergências apresentadas pelos
estudos envolvendo a realização de alongamento e sua influência sobre o desempenho subsequente da força, surge a
necessidade de se investir esforços investigativos acerca do
tema. Portanto, o objetivo deste estudo foi comparar a taxa
do desempenho de homens treinados no exercício de supino
horizontal, submetidos à realização de alongamento estático/
passivo prévio ou não à realização de séries consecutivas (3
séries) realizadas com carga máxima (10 RM).
Materiais e métodos
Amostra
Participaram do estudo 10 homens com experiência de
pelo menos um ano em exercício resistido. Os voluntários
foram submetidos à anamnese, incluindo o questionário de
prontidão para atividade física (PAR-Q) e foram instruídos
sobre os procedimentos necessários para a realização dos
testes em laboratório. Posteriormente, os sujeitos foram
convidados a participar do estudo, mediante assinatura do
termo de consentimento, conforme resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde. O estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética Institucional. Como critérios de exclusão no
estudo, foram observados os seguintes aspectos: 1) utilização
de medicamentos ou estimulantes que pudessem influenciar
o desempenho da força; 2) diagnóstico prévio de problemas
cardiovasculares, ósseos, articulares ou musculares que limitassem a execução dos exercícios; 3) PAR-Q positivo.
Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada em quatro visitas ao laboratório, separadas entre si por um mínimo de 48 horas e
um máximo de 72 horas de descanso. Na primeira visita os
sujeitos respondiam o questionário de prontidão para atividade física (PAR-Q), assinavam o termo de consentimento pósinformado, eram submetidos às avaliações antropométricas
(massa corporal e estatura) e realizavam o primeiro teste para
determinação da força voluntária máxima. Na segunda visita
a força voluntária máxima era retestada para determinação da
confiabilidade da carga. Nas duas últimas visitas os sujeitos
eram submetidos aleatoriamente às situações experimentais
propriamente ditas.
Avaliação antropométrica
A composição corporal também foi estimada com base
nas equações de Jackson e Pollock [16] e Siri [17], a partir
das dobras cutâneas de peito, abdômen e coxa, a fim de caracterizar os sujeitos. As dobras cutâneas foram aferidas por
compasso Lange® (Beta Technology Incorporated, Maryland,
EUA), a massa corporal medida em balança digital (Welmy®,
São Paulo, Brasil) e a estatura com auxílio de estadiômetro
graduado em milímetros Sanny® (American Medical do Brasil,
São Paulo, Brasil).
Determinação da força voluntária máxima para
10 repetições máximas (10 RM)
Para determinar a carga associada às 10 RM no exercício
supino reto (smith machine) inicialmente foram fornecidas
instruções padronizadas e detalhadas sobre os procedimentos
do teste. Atenção especial foi dada à técnica de execução dos
exercícios, para que variações do movimento não comprometessem os resultados finais. Antes de passar à determinação da
carga propriamente dita, foi franqueado aos voluntários que
realizassem um aquecimento geral na bicicleta estacionária
por 10 min, sem carga, além de aquecimento específico na
máquina na qual o exercício foi realizado, com carga reduzida e confortável. Durante o teste foram dados estímulos
verbais para que os sujeitos mantivessem elevado o nível de
motivação [18].
A escolha do exercício deu-se em função de sua disseminação em centros de treinamento. Para melhor operacionalização
da descrição do exercício, suas fases foram divididas em posição inicial (a), execução do movimento (b) e posição final (c).
• em decúbito dorsal, com os braços elevados sustentando
a barra, joelhos flexionados e pés apoiados no banco do
próprio aparelho;
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
• com a barra em suspensão, o avaliado descia a barra na
linha dos mamilos, até braço e cotovelo formarem um
ângulo de 90º (Fase excêntrica). Na fase concêntrica foi
exigida a extensão completa dos cotovelos a partir da flexão
horizontal dos ombros;
• a extensão completa dos cotovelos computava a conclusão
de uma repetição.
Os intervalos entre as tentativas do teste de 10 RM foram
fixados em cinco minutos [19]. A carga inicial para realização
do teste foi escolhida por cada sujeito, em função da sua experiência no treinamento resistido. A partir daí, as tentativas
foram executadas até a obtenção da carga para 10 RM, sendo
três o número máximo de tentativas.
Após a obtenção das cargas para 10 RM, os indivíduos
descansaram por 48 horas e foram reavaliados para determinação da confiabilidade da carga (teste e re-teste). Possíveis
diferenças entre as médias dos valores alcançados e o seu grau
de associação foram testadas [coeficiente de correlação intraclasse = 0,96 e erro padrão da estimativa = 4,2%; p < 0,001].
Foi considerada a maior carga registrada entre os testes para
a realização dos experimentos.
Situações experimentais
Depois de um mínimo de 48 horas da segunda sessão de
obtenção da carga máxima, os sujeitos foram submetidos de forma aleatória a duas situações experimentais, realizadas em mais
duas sessões separadas por no mínimo 48 horas, quais foram:
1. Realização de alongamento estático/passivo (duas séries,
duração de 15 segundos e intervalo de recuperação de
15 segundos entre as séries) dois minutos antes da sessão
experimental e após 10 minutos de aquecimento geral;
2. Realização da sessão experimental sem alongamento, porém
precedida de 10 minutos de aquecimento geral.
Os grupamentos musculares alongados foram: peitorais e
deltóide anterior, mobilizados através da abdução horizontal
do ombro. Todos os sujeitos foram submetidos às sessões
de alongamento estático/passivo por um único avaliador. O
trabalho de alongamento estático/passivo envolve o uso da
força externa aplicada por um avaliador ou algum tipo de implemento, para mobilizar um segmento corporal até o limite
da amplitude articular em um dado plano de movimento [20].
91
Quanto ao protocolo de treinamento de força foram
realizadas três séries com carga de 10 RM com dois minutos
de intervalo de recuperação entre as séries.
Procurou-se na escolha, tanto do protocolo de treinamento
de força muscular quanto no de flexibilidade, aproximar ao
máximo à realidade encontrada no dia-a-dia das academias
de ginástica, uma vez que a maioria dos estudos que se preocuparam em investigar a influência do alongamento muscular
sobre o desempenho da força muscular, o fez utilizando-se de
testes máximos de força (1 RM), deixando a lacuna referente
à sua influência sobre a produção total de trabalho em uma
sessão de treinamento propriamente dita.
Tratamento dos dados
Os dados demonstraram ter homocedasticidade e normalidade de distribuição, compatíveis com a aplicação de
estatística paramétrica. Utilizou-se a estatística descritiva para
a caracterização dos sujeitos, como média e desvio-padrão, e
porcentual para a determinação da queda do rendimento nas
duas situações experimentais. Para determinação da diferença
do rendimento entre as duas situações experimentais utilizouse o teste-t de student para dados emparelhados. Em todos os
casos o nível de significância estatística foi fixado em p ≤ 0,05
e os cálculos foram realizados com auxílio do software SPSS
for Windows (18.0, Chicago – Illinois, USA).
Resultados
A Tabela I apresenta as características dos sujeitos que
participaram como voluntários do experimento.
A Tabela II apresenta os valores médios e o desvio padrão
do número de repetições por série nos experimentos conduzidos com ou sem a prática do alongamento antecedendo o
trabalho de força. Verificou-se redução do desempenho da
força muscular em ambas as situações experimentais, entretanto, essa perda foi maximizada na sessão que se utilizou de
alongamentos precedendo o treinamento do supino reto (p <
0,05). Em valores percentuais, essa diminuição do desempenho foi estimada em 10,2% para a condição sem alongamento
prévio e 27,4% para a condição com alongamento prévio
entre a primeira e a última série.
Em relação ao volume de trabalho (número de repetições
em cada série vs. carga levantada em kg), ao realizar o alon-
Tabela I - Caracterização dos sujeitos (média ± desvio-padrão).
Sexo
Masculino
N
10
Idade (anos)
27 ± 3,3
Estatura (cm)
179 ± 6,2
Massa corporal (kg)
78 ± 7,4
Tempo de treinamento (anos)
2,2 ± 0,5
Tabela II - Número de repetições por série associadas às sessões experimentais.
Sem alongamento
1ª Série
2ª Série
10 ± 0
9 ± 0,7*
Com alongamento
3ª Série
9 ± 0,6*
1ª Série
10 ± 0
2ª Série
8±1
3ª S Série
6 ± 1,3
*Diferença significativa em relação às séries conduzidas nas situações com e sem alongamento (Série 2, P = 0,0187; Série 3; P = 0,0012).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
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gamento antes do treinamento da força, nota-se perda significativa do volume total de trabalho (p = 0,0001) (Figura 1).
Figura 1 - Volume total de trabalho.
Volume total de trabalho
1200
1000
800
600
400
200
0
1
2
3
4
Sem alongamento
5
6
7
8
9 10
Com alongamento
Os dados numéricos do eixo X indicam a comparação intra-individual
em relação ao número de repetições realizadas em cada série multiplicado pela sobrecarga levantada em quilos nas situações sem e com
alongamento prévio.
Discussão
Os resultados do presente estudo ratificam que a realização aguda de alongamento estático/passivo antecedendo
o exercício de supino reto ocasiona perda do desempenho
em relação ao experimento executado sem o alongamento.
Isso é corroborado por alguns estudos que, especificamente,
utilizaram o alongamento estático/passivo como método de
intervenção antes da realização das situações envolvendo força
dinâmica isotônica [21-23]. Cabe ressaltar que a comparabilidade com outros estudos envolvendo diferentes alongamentos,
tipo de contração muscular e equipamentos são dificultados
por aspectos metodológicos.
Kokkonen et al. [21] submeteram homens e mulheres
jovens e aparentemente saudáveis a sessões de alongamento
estático/passivo assistido e não assistido sobre a força voluntária máxima em 1 RM em dois exercícios (flexores do joelho
e quadríceps). O alongamento prescrito previamente à sessão
de força foram a realização de 3 séries de 15 segundos de duração e intervalo entre os alongamentos de 15 segundos nos
músculos ísquio tibiais, adutores da coxa, flexores plantares,
e quadríceps. Houve perda da força avaliada em 7,3% para
os flexores do joelho e de 8,1% para o quadríceps. Apesar dos
resultados similares entre os resultados de Kokkonen et al.
[21] e os apresentados pelo presente estudo, houve diferença
importante entre a prescrição do alongamento, do tipo de
teste (1RM vs. RM), grupamentos musculares (membros inferiores vs. membros superiores). Isso pode estar na origem da
disparidade da razão da perda de trabalho (27,4% no presente
estudo vs. 7,3 e 8,1% do estudo de Kokkonen et al. [21].
Nelson et al. [22] submeteram homens e mulheres jovens
aparentemente saudáveis a sessões de alongamento estático
(quatro séries de 30 segundos de duração com intervalo entre
séries de 15 segundos nos alongamentos de ísquios tibiais e
flexores plantares). Após a sessão de alongamentos, foi verificada perda de desempenho avaliada em 24% para os ísquios
tibiais e 9% para os flexores plantares.
Laur et al. [23] prescreveram o alongamento estático
envolvendo os ísquios tibiais (três séries de 20 segundos de
duração com intervalo de 10 segundos entre as séries) antes
da avaliação isotônica da força muscular na cadeira flexora
utilizando 60% da carga de 1 RM. Verificou-se diminuição do
número de repetições (homens - 16,2% e mulheres - 8,9%).
Com base nesses resultados, pode-se aventar a possibilidade de a redução no desempenho de força, após sucessivos
alongamentos, estar atrelada a fatores neurais e mecânicos
como: diminuição na ativação de unidades motoras, alterações
nas propriedades viscoelásticas do músculo e músculotendinosa e devido às alterações no comprimento-tensão da fibra
muscular [14,15,24].
De toda forma, cabe ressaltar que alguns fatores podem
minimizar ou potencializar os efeitos do alongamento realizado antes da sessão de força [5]. Assim, diversos estudos
publicados nos últimos anos vêm corroborando que a duração da série de alongamento, a intensidade, o número de
séries, o intervalo entre as séries, mas principalmente o tipo
de alongamento são os principais fatores intervenientes [5].
Segundo Franco et al. [5] há evidências que denotem que o
alongamento do tipo “facilitação neuromuscular proprioceptiva” seria o que mais interfere negativamente na produção
da força subsequente. Os exercícios isotônicos não têm recebido a mesma atenção em detrimento a outros testes para a
avaliação da força muscular, sobretudo pela menor validade
interna do estudo.
Conclusão
Em conclusão, os resultados deste estudo sugerem que o
alongamento estático-passivo influencia negativamente na
manutenção da força máxima em séries consecutivas, com
significativa perda de trabalho. Entretanto, no presente estudo não se quantificou a intensidade do alongamento. Seria
interessante que estudos futuros quantificassem a intensidade
do alongamento visando aumentar as possibilidades de entendimento da real influência do alongamento sobre o desempenho, tornando os resultados mais específicos e confiáveis.
Os resultados ora apresentados reforçam as evidências de
que a execução de exercícios de alongamento, antecedendo
o treinamento resistido, prejudica o desempenho da força
muscular, contribuindo para minimizar os conflitos existentes
na literatura. Assim, contribui-se para uma melhor orientação
por parte de profissionais de Educação Física que atuam nas
academias de ginástica, no que diz respeito ao planejamento
de atividades físicas concorrentes.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Artigo original
Avaliação do estado nutricional e do consumo
alimentar de praticantes de atividade física
Nutritional assessment status and food intake
of practitioners of physical activity
Viviane Ferreira Zanirati*, Juliana Morais Amaral de Almeida**, Àzula Narayama Malacco Ferreira***,
Márcia Regina Pereira Monteiro****, Roberta Ribeiro Silva*****
*Mestranda em Prevenção e Controle de Agravos à Saúde pela Escola de Enfermagem da UFMG, **Mestranda em Ciências dos
Alimentos pela Faculdade de Farmácia da UFMG, ***Especialista em Bases Nutricionais da Atividade Física pela Universidade
Gama Filho, ****Professora adjunta do Curso de Nutrição da UFMG, *****Professora do Curso de Nutrição da Universidade
Federal de Alfenas (UNIFAL)
Resumo
Abstract
Objetivo: Avaliar o estado nutricional e o consumo alimentar de
praticantes de atividade física. Material e métodos: Foram avaliados
115 praticantes de uma modalidade de atividade física oferecida
pela Escola de Educação Física de uma universidade pública. Foram
realizadas avaliação antropométrica com aferição de peso, altura,
circunferência da cintura (CC) e pregas cutâneas e verificação do
consumo alimentar por meio do recordatório 24h. Resultados:
Observou-se ocorrência considerável de excesso de peso entre os
indivíduos, de 28,5% para as mulheres e 70,0% para os homens,
com diferenças significativas entre os sexos (p < 0, 001). Em relação
à CC, 82,0% das mulheres e 50,0% dos homens não apresentaram
risco de desenvolver complicações associadas à obesidade (p =
0,004). Considerando a classificação obtida a partir do percentual
da gordura corporal (%GC), verificou-se que 46,6% das mulheres
e 60,0% dos homens apresentaram risco de desenvolver doenças
associadas à obesidade (p = 0,724). Foi verificado que o consumo
de alimentos dos grupos dos leites e derivados, das hortaliças e das
frutas mostrou-se abaixo do proposto pela maioria dos indivíduos
(76,3%, 91,2% e 69,3%, respectivamente), enquanto para o grupo
dos açúcares, 48,2% apresentou consumo acima do recomendado.
Conclusão: É necessário haver intervenções nutricionais visando a
adequação do consumo alimentar para a prática de atividade física,
otimizando o desempenho dos praticantes.
Objective: To evaluate the nutritional status and food intake of
physically active. Methods: A total of 115 practitioners of a form
of physical activity offered by the School of Physical Education at
a public university were assessed. We evaluated anthropometric
measurement of weight, height, waist circumference (WC) and
skin folds and determine food intake through the recall 24. Results:
There was a considerable incidence of overweight among individuals,
28.5% for women and 70.0% for men, with significant differences
between the sexes (p < 0. 001). Regarding WC, 82.0% of women
and 50.0% of men did not show risk of developing complications
associated with obesity (p = 0.004). Considering the classification
obtained from the body fat percentage % BF, it was found that
46.6% of women and 60.0% of men were at risk of developing
diseases associated with obesity (p = 0.724). It was found that the
intake of food groups of milk and milk products, from vegetables
and fruits was below the recommended intake (76.3%, 91.2% and
69.3% respectively), while for the group of sugars, 48.2% was above
the recommended intake. Conclusion: There is a need of nutritional
interventions aimed at food consumption for physical activity,
optimizing the performance of practitioners.
Key-words: physical activity, body composition, food consumption,
nutritional status.
Palavras-chave: atividade física, composição corporal, consumo
alimentar, estado nutricional.
Recebido 10 de fevereiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Viviane Ferreira Zanirati, Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem,
Departamento de Enfermagem Aplicada, Avenida Professor Alfredo Balena, 190 – 5º andar/ sala 522 Santa Efigênia 30130-100 Belo
Horizonte, MG, Tel: (31) 3409-9847, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
Mudanças estão ocorrendo no estilo de vida, nos padrões
dietéticos e na saúde das populações dos países em desenvolvimento [1]. No Brasil, as mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas ao longo do tempo permitiram que
ocorresse uma transição nutricional, com a redução contínua
de desnutrição e as prevalências crescentes de sobrepeso e
obesidade. Aliado com a falta de atividade física esse fato
vem tornando-se um dos maiores problemas de saúde das
sociedades atuais, contribuindo com o aumento das doenças
e agravos não transmissíveis [2,3].
A atividade física beneficia a nutrição do corpo ajudando
a regular o uso dos combustíveis, mantendo o peso corporal
adequado e aumentando a cota diária de calorias, o que
auxilia um maior aporte de nutrientes e outros constituintes
benéficos da alimentação [4]. Portanto, entende-se que a
prática de atividade física seja um elemento potencializador
dos resultados esperados pela adoção de práticas alimentares
adequadas e, portanto, modos de vida saudáveis [5].
Entretanto, estudos demonstram que, mesmo entre praticantes de atividade física, são encontrados hábitos alimentares
e estado nutricional inadequados. Pontes et al. [3], por exemplo, ao realizar um estudo com futebolistas amadores mostrou
uma falta de equilíbrio de nutrientes ingeridos pelos mesmos,
evidenciando reduzida ingestão de carboidratos e alta ingestão de proteínas e colesterol dietético; além disso, o estado
nutricional mostrou valores prevalentes de excesso de peso.
Sendo assim, é extremamente importante que a participação em prática de atividade física seja associada concomitantemente com orientação nutricional, para melhora nos hábitos
alimentares, seguindo proporções balanceadas de nutrientes,
ajustadas à condição nutricional de cada indivíduo, na perspectiva da melhora da qualidade de vida e do desempenho
esportivo [3,6].
Mediante o exposto acima, este estudo teve como objetivo avaliar o estado nutricional e o consumo alimentar de
praticantes de atividade física.
Material e métodos
Tipo de estudo e casuística
Este estudo foi realizado com praticantes de uma modalidade de atividade física, que faz parte de um Programa
oferecido pela Escola de Educação Física de uma universidade
pública brasileira, entre fevereiro a novembro de 2008.
Ao se matricularem nessa atividade, os participantes foram
orientados pelos seus professores e também estimulados por
meio de cartazes e panfletos a participarem do Projeto de
Orientação e Acompanhamento Nutricional, que faz parte
do referido Programa.
95
Os interessados, que totalizaram 115 pessoas, marcaram
consultas individuais, que foram realizadas por duas estudantes de nutrição em encontros de no mínimo 45 minutos, uma
ou mais vezes, dependendo da necessidade e interesse de cada
participante. Destaca-se que apesar de se tratar de um trabalho
que faz parte de um projeto também considerado como de
intervenção, o foco do presente estudo é avaliar e descrever o
estado nutricional e o consumo alimentar dos praticantes, se
tratando, portanto, de um estudo transversal.
Coleta de informações
Foram coletados dados demográficos (idade e sexo), antropométricos e de consumo alimentar, além da frequência de
atividade física. Essa foi avaliada com base na recomendação
da Organização Mundial de Saúde - OMS [7], que preconiza
a prática de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada a intensa, na maior parte dos dias da semana.
A avaliação antropométrica e de composição corporal
constou da aferição do peso, altura, circunferência da cintura
(CC) e pregas cutâneas.
O peso foi obtido utilizando a balança eletrônica da
marca Plenna, com capacidade de 150 kg e divisão de 50 g.,
segundo técnicas preconizadas por Jellife [8]. Para aferição da
altura foi utilizada uma fita métrica inextensível afixada na
parede, com o indivíduo em posição ereta, descalço e com
os pés unidos encostados na parede [9]. Por meio dessas medidas antropométricas (peso e altura) foi calculado o índice
de massa corporal [IMC = peso(kg)/altura(m)2] e utilizou-se
para a classificação da população os pontos de corte propostos
pela OMS [10].
A medida da circunferência da cintura foi aferida por
meio de uma fita métrica da marca Mabbis, de fibra de vidro
tamanho 150 cm, sendo ela posicionada na menor curvatura
localizada entre as costelas e a crista ilíaca. Foram utilizados
os pontos de corte propostos pela OMS [11].
As pregas cutâneas triciptal, biciptal, subescapular e suprailíaca foram verificadas por meio do compasso de Lange,
calibrado em pressão entre 9 e 20 g.mm-2, com três repetições
de aferição, sendo em seguida calculada a média aritmética
dos três valores encontrados [8,12]. Para o cálculo do percentual de gordura corporal (%GC) utilizou-se as fórmulas
desenvolvidas por Durnin & Womersley [12] e para avaliação
desse percentual utilizou-se o ponto de corte desenvolvido
por Lohman [13].
Para verificar o consumo de alimentos atual da população,
foi aplicado o recordatório alimentar de 24 horas em um dia
de semana, no qual foi perguntado a respeito do consumo de
alimentos, bebidas e suplementos nutricionais nas 24 horas
pregressas. A avaliação foi feita pela adequação do número
de porções de cada grupo de alimentos baseando-se na recomendação proposta pelo Guia Alimentar para a População
Brasileira [5].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
96
Figura 1 - Classificação do IMC, segundo sexo, de praticantes de
atividade física, Belo Horizonte/MG*.
Aspectos éticos
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da UFMG, sendo que todos os participantes assinaram um
termo de consentimento livre e esclarecido.
Análise dos dados
A análise estatística contemplou análise descritiva e aplicação dos testes Kolmogorov-Smirnov (verificar a distribuição das variáveis), Mann-Whitney (comparar medianas de
amostras independentes), Correlação de Spearman (relacionar
variáveis quantitativas contínuas), Qui-Quadrado e exato de
Fisher (comparar proporções de amostras independentes). As
análises foram efetuadas com o auxílio do programa Statistical
Package for the Social Sciences/SPSS versão 12.0 [14] e foi
considerado um valor de significância de 5%.
Os resultados encontram-se apresentados como média ±
desvio padrão para variáveis com distribuição normal e como
mediana (mínimo – máximo) para variáveis com distribuição
não normal.
Resultados
Participaram do estudo 115 adultos, sendo 91,3% do sexo
feminino, com média de idade de 31,3 ± 11,7 anos.
Observou-se que a maioria dos indivíduos, apresentou frequência de atividade física de no mínimo 3 vezes por semana
(72,2%), destacando que não houve diferença significativa
entre os sexos; p = 0,612 (Tabela I).
100
90
80
70
60
% 50
40
30
20
10
0
Feminino
(%)
Masculino
(%)
Total
31,4
41,9
26,7
20,0
40,0
40,0
30,4
41,8
27,8
(%)
Em relação ao IMC, as medianas encontradas foram de
23,1(17,3 – 35,3) kg/m2 e 27,4(22,0 – 30,9) kg/m2 para o
sexo feminino e masculino, respectivamente (p = 0,004).
A maioria dos indivíduos (65,2%) foram classificados pelo
IMC como eutróficos, entretanto foi verificada ocorrência
considerável de excesso de peso, com diferenças significativas
entre os sexos; p < 0,001 (Figura 1).
Em relação à CC, 82,0% das mulheres e 50,0% dos homens não apresentaram risco de desenvolver complicações
associadas à obesidade (p = 0,004). Considerando a classificação obtida a partir do percentual de gordura, verificou-se
que 46,6% das mulheres e 60,0% dos homens apresentaram
risco de desenvolver doenças associadas à obesidade; p =
0,724 (Tabela II).
70
68,5
30
Homens
Excesso de peso
3
Mulheres
Eutrofia
Baixo Peso
*p < 0,05
Tabela II - Classificação da CC e do %GC, segundo sexo, de praticantes de atividade física, Belo Horizonte – MG.
Classificação
Circunferência da
cintura*
Percentual
de gordura
Tabela I - Comparação da frequência de atividade física, segundo
sexo, de praticantes de atividade física, Belo Horizonte/MG.
Frequência de atividade física (mínimo 30
minutos / dia)
2x semana
3x semana
≥ 4x semana
28,5
Não apresenta risco
Risco elevado
Risco muito
elevado
Abaixo da
média
Adequado
Acima da
média
Risco doença
associada
à obesidade
Feminino Masculino
(%)
(%)
Total
(%)
82
11,4
50
50
79,0
14,8
6,6
0,0
6,2
4,8
4,8
0,0
0,0
4,3
4,3
43,8
40
43,4
46,6
60
47,8
*p < 0,05
Além disso, encontrou-se correlação positiva entre as
variáveis IMC e CC (r = 0,862) e entre o IMC e %GC (r =
0,592), destacando que ambas as correlações tiveram diferenças significativas (p < 0,001).
Quanto ao consumo dos alimentos pertencentes ao
grupo dos cereais, das leguminosas e ao das carnes e ovos,
a maioria da população apresentou consumo conforme o
proposto, sendo de 49,1% para os dois primeiros grupos e
71,9% para o último. Entretanto, o consumo dos grupos
dos leites e derivados, das hortaliças e das frutas mostrou-se
abaixo do proposto pela maioria dos indivíduos (76,3%,
91,2% e 69,3%, respectivamente). Quanto ao grupo dos
açúcares, 48,2% da população apresentou consumo acima
do recomendado, enquanto para óleos e gorduras, 54,4%
dos indivíduos apresentaram consumo adequado. A ingestão
de água foi deficiente para 54,8% dos praticantes avaliados.
Destaca-se que não houve diferenças significativas entre os
sexos para o consumo de nenhum dos grupos (Tabela III).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
97
Tabela III - Adequação do número de porções consumidas, segundo recomendação proposta pelo Guia Alimentar para a População Brasileira,
de praticantes de atividade física, Belo Horizonte/MG.
Análise da adequação
Grupo de alimentos
Cereais, tubérculos e raízes
Feijões e leguminosas
Carnes e ovos
Leites e derivados
Hortaliças
Frutas
Açúcares e doces
Óleos e gorduras
Água
Abaixo do proposto
n
%
55
48,2
44
38,6
14
12,3
87
76,3
104
91,2
79
69,3
16
14
0
0
63
54,8
Discussão
Este estudo teve uma prevalência de participantes do sexo
feminino e, segundo Pinheiro et al. [15], isso pode ser justificado pelo fato das mulheres apresentarem maior interesse
em relação à sua saúde.
Considerando a frequência de atividade física dos praticantes, destaca-se que a Estratégia Global da OMS [7]
recomenda que os indivíduos adotem níveis adequados de
atividade física durante toda a vida, sendo preconizada a prática de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada a
intensa, de preferência em todos os dias da semana. Portanto,
ainda uma grande parte dos indivíduos avaliados pela equipe
de Nutrição não se encontram dentro desta recomendação,
visto que apenas 26,7% das mulheres e 40,0% dos homens
realizavam atividades físicas por no mínimo 30 minutos pelo
menos 4 vezes na semana.
Em relação aos dados antropométricos, foi verificada
ocorrência considerável de excesso de peso de 28,5% e 70,0%
entre os indivíduos do sexo feminino e masculino, respectivamente. Pontes et al. [3] em um estudo com praticantes de
futebol recreativo verificou que 52,5% deles apresentavam
sobrepeso e 12,5% obesidade.
A partir das correlações positivas encontradas entre IMC
e CC e IMC e %GC pode-se inferir que os níveis elevados de
IMC, indicando sobrepeso ou obesidade, estão relacionados
à elevada deposição de gordura corporal, principalmente na
região abdominal. O perfil encontrado quanto a essas variáveis é preocupante, visto que o aumento da circunferência
da cintura e o excesso de peso predispõem o indivíduo a
desenvolver doenças cardiovasculares. Segundo Neumann et
al. [16] admite-se que as condições e a exposição aos fatores
de risco (sobrepeso/obesidade e doenças do aparelho circulatório), cuja associação às doenças cardiovasculares (DCV) está
suficientemente demonstrada, tenham um efeito não apenas
aditivo, mas potencializador entre si.
Quanto ao consumo alimentar dos praticantes de atividade
física, foi observado que 48,2% dos indivíduos apresentaram
Conforme o proposto
n
%
56
49,1
56
49,1
82
71,9
21
18,4
10
8,8
30
26,3
43
37,7
62
54,4
43
37,4
Acima do proposto
n
%
3
2,6
14
12,3
18
15,8
6
5,3
0
0
5
4,4
55
48,2
52
45,6
9
7,8
consumo abaixo do adequado para o grupo dos cereais. Sendo
assim, é necessário conscientizá-los quanto à importância do
consumo deste tipo de alimento, que auxilia na manutenção
dos níveis de glicose sanguínea durante a prática de atividade
física, promovendo melhora no desempenho físico [17]. Além
disso, esses alimentos contêm nutrientes importantes para
uma alimentação saudável, como as proteínas, vitaminas do
complexo B, vitamina C, caroteno, fibras alimentares, entre
outros [5].
Nesse estudo foi encontrado baixo consumo de alimentos
do grupo dos leites e derivados (76,3%), o que é bastante
preocupante, pois esses alimentos são boas fontes de proteína
e cálcio da dieta, sendo esses nutrientes importantes na prática
de atividades físicas. O baixo consumo de leite registrado na
Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2002-2003 revelou
decréscimo de 62 kg anual/pessoa em 1987 para 38 kg anual/
pessoa, mostrando ainda pode estar havendo uma substituição
do leite pelo refrigerante durante os lanches [18].
Dados semelhantes aos do presente estudo quanto ao
consumo de frutas e hortaliças, onde a maioria da população
apresentou um consumo abaixo do adequado para estes, foram encontrados em estudos populacionais com brasileiros,
que indicaram níveis de consumo abaixo dos preconizados
pelo Guia Alimentar para a População Brasileira [19-21]. O
consumo insuficiente de frutas, legumes e verduras está entre
os dez principais fatores de risco para a carga total global de
doença em todo o mundo [22]. Evidências epidemiológicas
indicam uma relação inversa entre o consumo desses alimentos
e o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e
alguns tipos de câncer [21]. Além disso, frutas e hortaliças
são fontes de micronutrientes, fibras e de outros componentes com propriedades funcionais e têm baixa densidade
energética, isto é, poucas calorias em relação ao volume do
alimento consumido, o que favorece a manutenção saudável
do peso corporal [22].
O Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda
uma redução em pelo menos 1/3 no consumo atual de açúcares e doces, a partir dos dados disponíveis sobre o consumo
98
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
alimentar da população. De acordo com dados da POF 20022003, o consumo do grupo dos açúcares extrapola os limites
das recomendações nas regiões metropolitanas, em todas as
regiões geográficas, nas áreas rurais e urbanas e em todas as
classes de rendimentos [5,18]. No presente estudo observa-se
um consumo acima do recomendado pelo guia em relação
ao grupo dos açúcares e doces por grande parte da população (48,2%), concordando com o exposto acima. Padrão de
consumo semelhante foi observado por Fiore et al. [20], onde
61,5% dos indivíduos estudados apresentaram um consumo
de açúcares acima do recomendado pelo Guia Alimentar.
O estudo de Duran et al. [23] demonstrou um elevado
consumo de gorduras por parte de praticantes de exercícios
físicos em academias, onde 38,8% dos indivíduos tiveram
este consumo inadequado. O presente estudo também demonstrou que grande parte dos indivíduos avaliados (45,6%)
apresentou consumo elevado do grupo dos óleos de gorduras,
de acordo com as recomendações do Guia Alimentar para a
População Brasileira, o que é preocupante, visto que o consumo excessivo de lipídeos está relacionado ao surgimento
de doenças crônicas na população em geral e leva a uma
diminuição do percentual de carboidratos na dieta [23,24].
Em relação ao consumo de água, de acordo com o Guia
Alimentar [5], as pessoas devem ingerir no mínimo dois litros
de água por dia e essa quantidade pode variar de acordo com
a atividade física, visto que a demanda energética e a taxa
de calor produzida aumentam significativamente [17]. Pelo
fato de a maioria dos indivíduos avaliados terem apresentado
consumo abaixo dessa recomendação (54,8%), constata-se
que eles se encontram em risco de desidratar-se durante a
prática da atividade física, principalmente por esta ser uma
atividade aeróbica, o que predispõe mais ainda os praticantes
à desidratação.
Conclusão
Conclui-se que o perfil antropométrico e nutricional dos
praticantes de atividade física apresentou várias inadequações
destacando o alto percentual de indivíduos com %GC elevada
e com baixo consumo de frutas e hortaliças. Assim, confirmase a importância do Projeto de Orientação e Acompanhamento Nutricional como parte de um Programa de atividade
física, na tentativa de otimizar os benefícios que o exercício
proporciona. Além disso, a população precisa conscientizarse quanto aos hábitos alimentares inadequados e quanto à
importância de promover hábitos saudáveis e condizentes à
prática de exercícios.
A identificação destas práticas alimentares incorretas é
de grande valia para a população estudada, pois direciona as
orientações e condutas nutricionais, com vistas à adoção de
medidas corretivas dirigidas especialmente aos praticantes de
atividade física, para obtenção de uma dieta adequada às suas
reais necessidades, na perspectiva da melhora do desempenho
e da qualidade de vida.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Fundação de Desenvolvimento da
Pesquisa (FUNDEP) pelo apoio financeiro e aos praticantes
de atividade física em questão pela participação no estudo.
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100
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Revisão
Processo do envelhecimento humano
Human aging process
André Luiz Zanella*, Laíne Rocha Moreira**, Paulo Silvano Marinho**, Rosimar da Silva Salgueiro***,
Mauro Lucio Mazini Filho****, Luis Guilherme da Fonseca*****, Dihogo Gama de Matos******
*Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Avaliação das Atividades Físicas e Deportivas (UTAD), Portugal, Universidade
Estadual do Pará (UEPA), **Universidade Estadual do Pará (UEPA), ***Universidade Salgado de Oliveira, Universo, Juiz de Fora/
MG,****Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Avaliação das Atividades Físicas e Deportivas (UTAD), Portugal,
*****Universidade Castelo Branco, ******Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Avaliação das Atividades Físicas e Deportivas (UTAD), Portugal, Laboratório de Avaliação Motora da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG
Resumo
Abstract
Entende-se como envelhecimento como um processo progressivo e inevitável, caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas
e de todas as capacidades físicas, fazendo com que a população idosa
seja dependente de terceiros para que consigam realizar as atividades
cotidianas. Dentre as diversas funções prejudicadas pelo avanço da
idade está a função muscular, que, quando diminuída, afeta significativamente a qualidade de vida dos idosos. O objetivo do presente
estudo foi revisar a literatura a respeito do processo de envelhecimento humano do ponto de vista das alterações fisiológicas que
ocorrem nos diversos sistemas (musculoesquelético, cardiovascular,
respiratório, imunológico, nervoso central). Porém, o que devemos
compreender é de que o processo de envelhecimento é irreparável e
continuo, podendo apenas ser amenizado, mas nunca evitado. Durante toda a fase de envelhecimento nosso corpo responde de formas
e velocidades diferentes, parecendo existir uma forte correlação entre
a inatividade física e a restrição ou supercompensação calórica, o
que faz com que este processo possa ser amenizado.
Aging is a progressive and inevitable process, characterized
by decline of physiological functions as well as physical abilities.
These conditions lead the aged population becoming dependent of
other to perform everyday activities. Among the different functions
affected by aging, loss of muscle function is one of them, which
affects significantly the quality of life of the elderly. This study was
a literature review on the human aging process in terms of physiological changes that occur in different systems (musculoskeletal,
cardiovascular, respiratory, immunological, central nervous system).
But what we should understand is that the aging process is irreversible and continuous, and can only be mitigated, but never avoided.
During every stage of our aging, body responds in different ways and
speeds, and it seems to have a strong correlation between physical
inactivity and caloric restriction or overcompensation, which makes
this process can be eased.
Key-words: aging, quality of life, elderly.
Palavras-chave: envelhecimento, qualidade de vida, idosos.
Recebido 9 de fevereiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Dihogo Gama de Matos, R. Jornalista Carlos Tito, 40, 25811-160 Três Rios RJ, E-mail: dihogogmc@
hotmail.com
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
O envelhecimento humano vem tomando proporções
significativas, principalmente nos últimos 30 anos. Segundo
as projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde
[1] e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [2],
entre 1950 e 2025, a população de idosos, em países em
desenvolvimento como o Brasil, crescerá dezesseis vezes
contra somente cinco vezes da população total. A proporção
passará de aproximadamente 7,5% para cerca de 15%, que
é a mesma de países europeus. Este fato coloca o Brasil em
termos absolutos como o sexto país em idosos, no mundo.
Pode-se entender o envelhecimento como um processo
progressivo e inevitável, caracterizado pela diminuição das
funções fisiológicas e de todas as capacidades físicas, fazendo
com que esta população seja dependente de terceiros para que
consigam realizar as atividades cotidianas [3].
Atualmente, a expectativa de vida tem aumentado muito
em função de inúmeros fatores, tais como os avanços da
medicina, de novas técnicas de fisioterapia, dos maiores conhecimentos na área de nutrição, das informações que a mídia
veicula cotidianamente, do treinamento físico propriamente
dito, dentre outros [4].
O envelhecimento do organismo afeta o desempenho
físico, limitando a interação do homem com o meio ambiente
[5]. Dentre as diversas funções prejudicadas pelo avanço da
idade está a função muscular, que, quando diminuída, afeta
significativamente a qualidade de vida dos idosos, levando-os
a dificuldades para a realização das atividades cotidianas e,
muitas vezes, tornando-os dependentes do auxílio de outras
pessoas [6].
O elevado número de pessoas inativas é um fato relevante
no processo de envelhecimento, tendo em vista o fato que estas
perdas ocasionadas pelos processos deletérios do mesmo têm
relação direta com as variáveis antropométricas, metabólicas
e neuromusculares [7].
Desta forma, o objetivo do presente estudo foi revisar a
literatura a respeito do processo de envelhecimento humano
a partir das alterações fisiológicas que ocorrem nos diversos
sistemas (musculoesquelético, cardiovascular, respiratório,
imunológico, nervoso central).
Envelhecer
O envelhecimento é um processo progressivo e inevitável,
caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas e de
todas as capacidades físicas [3]. Alterações na saúde mental,
na cognição e no humor também são comuns na população
idosa [8].
Pesquisas de Powers & Howley [6] e de Murray e Lopes
[3] têm demonstrado que, com o passar dos anos, ocorrem
perdas naturais das capacidades físicas como a perda de
força, de flexibilidade, de velocidade, dos níveis de VO2, de
massa óssea (osteopenia), além da redução na massa muscu-
101
lar (sarcopenia), devido, sobretudo, ao acometimento das
fibras do tipo IIb. Além disso, nesta fase, ocorre o aumento
da gordura corporal e o aparecimento de várias patologias
decorrentes das mudanças citadas, como, por exemplo, a
osteoporose, doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão
arterial, dentre outras.
Essas alterações fisiológicas e músculo-articulares associadas à inatividade física levam, geralmente, o idoso a condição
degenerativa crescente de suas capacidades físicas e fisiológicas, fazendo com que ocorra o aparecimento de problemas
como a perda de equilíbrio (ataxia), o comprometimento da
marcha e os problemas psicológicos como a diminuição da
autoestima e depressão [8]. Tendo isso em vista, é sugerido
na literatura que grande parte desses aspectos deletérios do
envelhecimento podem ser amenizados com a da prática de
exercícios físicos regulares [9].
De acordo com Cress et al. [5], podemos evidenciar duas
principais teorias para o envelhecimento biológico. Uma trata
da explicação genética, onde o envelhecimento aparece como
tendo sido programado biologicamente. A outra afirma que os
radicais livres promovem a peroxidação da membrana lipídica,
a qual pode interferir em muitos processos celulares [10]. O
posicionamento em relação ao conceito do processo da velhice
é divergente em vários autores, o que deixa claro a grande
dificuldade para a compreensão desse estágio da vida [9].
As transformações inerentes desse processo ocorrem de
forma diversificada em cada um dos indivíduos, uma vez que
está em jogo o estilo de vida do idoso e os fatores genéticos
[11,12].
Envelhecer é uma fase complexa e envolve muitas variáveis
que interagem entre si, influenciando grandemente a maneira
como se envelhece [7]. Transformações nos parâmetros sociais
e ambientais irão ocorrer, pois o idoso passa a vivenciar dificuldades quanto à sua segurança e à adequação do ambiente
em que vive [3].
Portanto com o aumento da população geronte mundial,
uma das grandes preocupações nos países desenvolvidos é a
questão da incapacidade dos sujeitos idosos e os possíveis custos que este fato poderia causar, pois com o envelhecimento,
é natural que ocorra o aumento na dependência [13]. Por
isso, manter esta população ativa com a prática de hábitos
de vida saudáveis como alimentação balanceada, exercícios
regulares e atividades sociais podem ser alternativas eficazes
na diminuição dos gastos dos cofres públicos e na melhoria
da saúde desta população [14].
O processo de envelhecimento populacional, em países
desenvolvidos, ocorreu de forma gradual e acompanhado de
melhorias na cobertura do sistema de saúde, nas condições
de habitação, saneamento básico, trabalho e alimentação. No
Brasil ocorre rapidamente e em um contexto de desigualdades
sociais, economia frágil, níveis de pobreza, precário acesso aos
serviços de saúde e reduzidos recursos financeiros, ou seja, esse
processo ocorre sem que haja modificações estruturais que respondam às demandas do novo grupo etário emergente [7,12].
102
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Envelhecimento do sistema musculoesquelético
Com o processo de envelhecimento existem mudanças
principalmente na estatura, peso e composição corporal [8].
Com o avançar da idade, essas mudanças fazem com que
os componentes do sistema musculoesquelético percam sua
funcionalidade, fazendo com que o idoso deixe de realizar as
atividades da vida diária com eficiência. Os ossos tornam-se
mais frágeis com a idade devido ao decréscimo no conteúdo
mineral ósseo que causa aumento na porosidade do osso. A
lenta, mais progressiva perda de osso com a idade tem sido
ligada à inatividade física e a fatores genéticos, hormonais,
nutricionais e mecânicos [3].
Para Chakravartht et al. [12] a altura ereta diminui de 30 a
50 mm durante o final da vida adulta, por causa da crescente
curvatura da coluna vertebral (cifose), da compressão dos
discos intervertebrais e, no período de velhice extrema, pelo
colapso osteoporótico de uma ou mais vértebras. Weineck [9]
argumenta que a partir dos 30 anos podemos perder até 1,2
cm de altura por década pelos mesmos motivos.
Matsudo [8] afirma também que um sistema musculoesquelético adequadamente funcional é a chave para a
independência e da boa qualidade de vida, sendo que a perda
de equilíbrio e subsequente queda entre os gerontes são as
maiores questões da medicina geriátrica. Então, a necessidade
de melhorar a função muscular e o equilíbrio é importante
em indivíduos idosos, principalmente aqueles com doenças
musculoesqueléticas crônicas.
Não somente há disfunção no componente ósseo, mas
também na hipertrofia muscular. A hipotrofia muscular
observada com a idade parece resultar da inatividade física e
em gradual e seletiva deterioração das fibras musculares, mais
notadamente das fibras do tipo II (fibras rápidas). A atrofia
muscular, que é responsável por grande parte da diminuição de
massa magra com o envelhecimento, reflete tanto no decréscimo de tamanho médio das fibras quanto no decréscimo do
número de fibras musculares [11]. O mesmo autor acrescenta
que as fibras musculares de contração rápida podem ser perdidas simplesmente porque pessoas idosas raramente exercem
contrações musculares fortes contra alguma resistência.
Face ao exposto e conforme as várias mudanças que ocorrem
com o processo de envelhecimento sobre o sistema musculoesquelético, torna-se imprescindível a aquisição de um estilo de
vida ativo, visto que esta atitude contribui de forma gratificante
para melhorias como o aumento da força muscular, taxa de
massa mineral óssea, como resistência muscular [9].
A osteoporose implica em uma baixa massa óssea e uma
deterioração micro arquitetural associada no tecido ósseo.
Durante o período da perimenopausa, o processo afeta
principalmente o osso trabecular (esponjoso), predispondo
a fraturas por compressão das vértebras e fraturas dos pulsos
em quedas. Todavia, em indivíduos mais velhos, há uma perda
progressiva tanto do osso trabecular quanto do osso compacto,
predispondo a fraturas de quadril.
Essa fragilidade está presente em nível muito mais alto
em mulheres no período pós-menopausa devido a alterações
hormonais mais drásticas e porque as mulheres naturalmente
têm menos massa óssea. O processo pode ser amenizado com
reposição hormonal, aumento da ingestão de cálcio e aumento
de exercícios com cargas de peso, sustentação do peso corporal acompanhado de pequenos impactos nas articulações
o que estimula a matriz óssea a absorver maior quantidade
de cálcio [8].
A atividade física beneficia não só o conteúdo mineral
ósseo, mas igualmente outros fatores relacionados aos riscos
de fraturas como a força muscular, a flexibilidade, o tempo
de reação e o equilíbrio – elementos fundamentais para o
adequado controle do corpo em movimento [15].
Envelhecimento do sistema cardiovascular
Matsudo [8:52] afirma que “em ordem de prioridade,
acreditamos que após o impacto das alterações do sistema
neuromuscular na mobilidade e capacidade funcional do
idoso, devem ser consideradas as alterações do sistema cardiovascular e respiratório”.
Conforme nos ensinam Mittal e Logmani [16], a meta
do sistema cardiovascular é garantir que os músculos tenham
uma boa irrigação. Assim, para que isso aconteça, existe o
aumento do débito cardíaco, que, por sua vez, envia maior
quantidade de sangue oxigenado para os músculos em atividade. Deste modo, a função circulatória necessita de dois
mecanismos reguladores interdependentes: a aceleração da
frequência cardíaca e uma alteração na pressão arterial. Essa
frequência cardíaca é caracterizada pelo número de contrações
do músculo cardíaco por minuto. O coração é uma bomba
e com a idade, ele é obrigado a fazer maior esforço em razão
das crescentes resistências arteriais. Com o passar dos anos,
a parede arterial vai perdendo gradualmente a elasticidade
em consequência do processo de aterosclerose, onde se vê o
endurecimento e aumento da espessura das paredes arteriais
e aparecimento de placas.
Conforme Richard [17], em parte por causa de pressões
sistólicas aumentadas devido ao aumento no volume diastólico
final, a espessura da parede ventricular esquerda e a massa
ventricular são maiores no idoso do que em uma pessoa
mais jovem. Além do aumento global da pressão sistólica
em repouso, há uma alteração na forma da onda de pulsação
com o envelhecimento. Portanto, registros da artéria carótida
demonstram aumento final de pressão sistólica em indivíduos
mais velhos. Pensa-se que isso seja em razão de um aumento
na magnitude das ondas de pressão refletidas à medida que
as artérias se enrijecem.
Para Katzman [18], entre 20 e 75 anos a frequência cardíaca máxima cai 25% durante o esforço, os músculos cardíacos
enfraquecem e a quantidade de sangue bombeado cai pela
metade entre 20 e 90 anos. Doenças cardíacas estão entre as
principais causas de morte após os 65 anos.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Diante do exposto, Trelles [13] reforça que o envelhecimento induz algumas alterações da frequência cardíaca em
repouso, porém há diferenças mais notáveis relacionadas à
idade na reação ao exercício submáximo e máximo. Continua afirmando que a frequência cardíaca máxima diminui
substancialmente com o envelhecimento. As razões para o
declínio na frequência cardíaca máxima relacionada à idade
ainda têm que ser totalmente resolvidas, mas possivelmente
incluem alterações na liberação e reação às catecolaminas e
uma crescente rigidez da parede cardíaca.
Conforme Tomlinson e Irving [19], o processo de aterosclerose se dá devido ao aumento na calcificação e um
surgimento de tecido conectivo colágeno nas artérias. A
arteriosclerose afeta o desempenho do sistema circulatório.
A pressão sanguínea aumenta e a quantidade de oxigênio e
nutrientes que alcançam as células do corpo diminui, podendo
prejudicar a eficiência de desempenho dos órgãos e tecidos.
As válvulas dentro do sistema circulatório tornam-se mais
espessas e menos elásticas resultando em um trabalho menos
eficiente.
Para Weineck [9], fatores potenciais que contribuem para
a redução da diferença arteriovenosa de oxigênio máxima incluem redução do conteúdo de oxigênio arterial, distribuição
periférica mais deficiente do débito cardíaco disponível e perda
da atividade nos sistemas teciduais. Parte do aumento maior
na pressão arterial sistêmica da pessoa mais velha é desenvolvida pela restrição progressiva do fluxo sanguíneo para partes
do corpo que estão envolvidas em exercício – particularmente,
os músculos inativos.
O coração reage de modo favorável aos programas de
exercícios físicos dinâmicos realizados de modo regular. Assim,
estimula-se o aumento da contractilidade do miocárdio, queda
da frequência cardíaca e ampliação da função ventricular.
Tendo como hábito regular a prática de exercícios físicos, o
coração torna-se menos sensível aos episódios de isquemia
e esse fator pode levar a proteção do músculo cardíaco com
relação a diversas doenças, valendo tanto para jovens como
para idosos [17].
Efeitos do treinamento aeróbio no idoso referem-se à
condução e à utilização do oxigênio. Isso inclui aumento
de hemoglobina, de mitocôndrias, da atividade de enzimas
aeróbias e do volume sanguíneo total. O treinamento aeróbio
pode melhorar a função sistólica ventricular no idoso, seja
durante o repouso, seja durante o exercício [15].
Envelhecimento do sistema respiratório
Com o envelhecimento, as paredes do pulmão vão ficando
mais rígidas e os músculos envolvidos na respiração, como, por
exemplo, o diafragma, enfraquecem. Com isso, a capacidade
pulmonar diminui em 40% dos 20 aos 80 anos [9].
Ainda segundo o autor com o envelhecimento há o
aumento na profundidade do peito que reflete uma perda
ou uma alteração nas propriedades das fibras elásticas dos
103
pulmões. O trabalho necessário para modificar o volume do
tórax é aumentado pela cifose, a perda de elasticidade nas
costelas, e o enrijecimento, ou até mesmo a anquilose, das
articulações sobre as quais as costelas giram. Alterações na
forma torácica relacionadas à idade afetam adversamente as
relações extensão-comprimento para muitos dos músculos
respiratórios. Portanto a respiração depende crescentemente
da atividade do diafragma.
Com o envelhecimento há o espessamento do alinhamento de mucosa nas vias respiratórias menores e a diminuição
da elasticidade torácica que tendem a estreitar as pequenas
vias respiratórias de uma pessoa mais velha. Isso aumenta a
resistência tanto ao fluxo de ar inspiratório quanto ao fluxo
de ar expiratório. Isso também aumenta a variação de pressão
dos pulmões para a porção extratorácica das vias respiratórias
para qualquer nível de fluxo determinado [3].
Segundo Richard [17], nota-se que o consumo máximo
de oxigênio declina com a idade, mas está terminantemente
provado que gerontes ativos apresentam níveis mais altos
desta variável que os adultos jovens sedentários. Levando à
certeza que vale a pena treinar idosos e buscar melhor qualidade de vida.
Segundo afirma Garret [7], ainda não foi esclarecido se o
exercício regular durante a vida inteira anula o envelhecimento
do sistema pulmonar. Estudos em corte transversal indicam
que a capacidade pulmonar dinâmica de atletas mais velhos
treinados em endurance ultrapassa aquela de seus pares sedentários. Apesar de estudos longitudinais não proporcionarem
uma resposta definitiva, os dados disponíveis sugerem que a
atividade física regular retarda a deterioração na função pulmonar associada com o envelhecimento. Grande parte desse efeito
está relacionada provavelmente à manutenção da potência e da
endurance da musculatura ventilatória com exercício regular.
Envelhecimento do sistema imunológico
Dentre as teorias que procuram explicar o envelhecimento,
existem as teorias do desequilíbrio gradual que afirmam que
o cérebro, as glândulas endócrinas ou o sistema imunológico
começam a deixar de funcionar gradualmente, existindo as
deficiências do sistema imunológico deixando os indivíduos
idosos vulneráveis a doenças de vários tipos, chamados de
senilidade, o que seria na opinião do autor como sendo o
envelhecimento com doença [9]. Para ele o outro tipo de
envelhecimento chama-se de senescência, que seria o envelhecimento sem doença.
O envelhecimento do sistema imunológico recebe o nome
científico de imunosenescência e, como todo o organismo
sofre perda da sua capacidade com o avançar da idade do
indivíduo, leva ao aparecimento de maior número de infecções e resposta terapêutica menor, além do surgimento de
cânceres [8].
Ainda segundo o autor citado anteriormente, a progressiva
involução do timo (glândula marcadora dos linfócitos T) tem
104
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
importante papel no desenvolvimento da imunodeficiência
dos idosos. Silva & Barros [11] concordam e afirmam que os
linfócitos T dos idosos são deficientes quanto à sua capacidade
para ativar e para proliferar uma determinada resposta a um
determinado antígeno e salientam que com a idade, os linfócitos
T diminuem a produção e secreção de interleucina-2 (citocina
necessária ao recrutamento de outras células de defesa).
Ainda segundo os autores o linfócito T helper ou auxiliar
(CD4+) deficiente leva a uma resposta alterada dos anticorpos
para os antígenos sendo que o recrutamento de macrófagos
por células T também está diminuído nos idosos.
Garret [7] concorda com o exposto anteriormente e fala
que o recrutamento de macrófagos por células T também
está diminuído nos idosos, assim como a quimiotaxia dos
neutrófilos polinucleares e a fagocitose. Fato que pode ser
explicado segundo ele, pela carência nutricional, geralmente
presente nos idosos. O autor ainda afirma que a nutrição é
importante determinante da imunocompetência (capacidade
de resposta do sistema imunológico), ressaltando que em certos estados de deficiência relacionados à má nutrição ocorre a
diminuição da resposta aos mitógenos e antígenos, das células
CD 4+ (linfócitos T-auxiliares ou helpers), da taxa CD 4+/
CD 8+ (relação entre linfócitos auxiliares e supressores), da
produção dos imunocomplexos, dos neutrófilos Killing (NK)
e hipersensibilidade tárdia.
Chakravartht [12], por sua vez, afirma que os micronutrientes melhoram a imunidade mediada por células e reduz o
estresse oxidativo. Segundo ele a suplementação de vitamina E
em idosos bem nutridos saudáveis aumenta a proliferação de
linfócitos e resposta de hipersensibilidade tardia, assim como
diminui a formação de prostaglandinas imunossupressoras.
Para ele a vitamina C regenera a forma de antioxidante da
vitamina E, sendo importante na desnutrição dos patógenos
(bactérias e vírus) pelos neutrófilos.
E finaliza afirmando que em idosos, a suplementação
de micronutrientes (vitaminas e sais minerais) aumenta o
subgrupo de células T e a atividade das células natural killer
(NK), que faz com que seja observado que os idosos institucionalizados sofrem de carência de vitaminas, particularmente
cianocobalamina, folato e piridoxina, assim como zinco, que
os deixa mais propensos a infecções. O uso de antioxidantes
(vitamina A, C, E, alfa e betacaroteno, critoxantina, licopeno,
luteína e zeaxantina) e de vitaminas B (tiamina, riboflavina,
niacina, piridoxina, cobalamina e folatos) diminuem o risco
de infecções, sobretudo, pneumonias comunitárias [3].
Envelhecimento do sistema nervoso central
O envelhecimento promove uma série de alterações
anatômicas e químicas no encéfalo e medula. Algumas alterações anatômicas têm sido observadas macroscopicamente.
Segundo Trelles [13], estas modificações ainda que aceitas
não permitem verdadeiramente precisar se são decorrentes do
processo de involução senil. Ainda que pareça definitivo que
o encéfalo se atrofie com a idade, acreditamos que há muito
para esclarecer, pois Dekaban e Sandowsky [20] demonstraram uma grande variação de peso no cérebro de pessoas com
idade entre 70 e 89 anos, considerada normal do ponto de
vista comportamental e psicológico.
Davies e Wrigth [21] desenvolveram uma técnica para
estudar a relação entre volume do cérebro e a arcada craniana. A relação permanece constante em 0.92 até a idade de
55 anos e logo decresce progressivamente até 0.82 por volta
de 90 anos. Corsellis [14] comparou o volume da substância
cinzenta com o volume de substância branca e observou que
jovens apresentavam a proporção de 1,28 e idosos aos 60 anos
apresentavam proporção de 1,33. No entanto, por volta dos
100 anos esta proporção atingiria cerca de 1,55. Desta forma,
podemos acreditar que de acordo com Brody (1955) ocorre
uma diminuição no volume do cérebro de cerca de 2% a cada
dez anos depois dos cinquenta anos e que o peso do cérebro
decai cerca de 15% do volume máximo alcançado por volta
dos oitenta anos. Portanto, nos primeiros 50 anos perdemos
mais substância cinzenta que branca e na segunda metade da
vida esta relação se inverte.
Richard [17] observou, utilizando análise histológica, que
durante o processo de envelhecimento podem ocorrer diversas
alterações, as mais importantes são a diminuição de células,
alterações dendríticas, placas senis, degeneração neurofibrilar,
degeneração granulo-vacuolar e acúmulo de lipofucsina. Estas
lesões predominam no córtex pré - frontal e parieto temporal, núcleo ceruleus, substância negra e núcleo de Meynert.
Ocorre uma redução progressiva do consumo de oxigênio e
de glicose, diminuindo as funções cognitivas, decorrentes dos
diversos circuitos cerebrais semelhante ao processo que ocorre
na doença de Alzheimer.
Os neurônios do encéfalo não são uniformemente sensíveis
à morte neuronal durante o envelhecimento. Uma perda neural acentuada já foi observada por diversos pesquisadores, no
entanto, Hang et al. [15] demonstraram que, na verdade, não
há uma perda neuronal, e sim uma diminuição de tamanho
dos neurônios. Em contraste, na substância negra [18] e no
locus ceruleus [20] observaram que estes núcleos sofrem uma
importante perda neural, principalmente nos primeiros 50
anos de vida.
A neurobiologia do envelhecimento está centrada em
mecanismos estruturais e funcionais. Modificações senis do
sistema serotoninérgico podem ter relação com as alterações
de humor, concomitantes ou não com variações funcionais
do sistema gabaérgico. As alterações estruturais do sistema
nervoso do idoso podem ser responsáveis pela falta de tolerância a modificações de temperatura e fácil produção de
hipo ou hipertermia [16]. Algumas alterações estruturais estão
associadas à perda paulatina da capacidade motora, redução da
destreza e reflexos e, principalmente, à perda da coordenação
medula-cerebelo-vestíbulo para a bipedestação.
Em relação às alterações sensorio-motoras, observamos
o aparecimento de artrose periférica, espondilose e espondi-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
loartrite, reumatismo crônico, artrite reumatóide, artropatia
metabólica (gota), polimialgia reumática e osteopenia. Um
dos efeitos mais proeminentes relacionados à idade é em parte
relacionado à unidade motora e ao neurônio motor inferior.
Como consequência, as fibras musculares inervadas por
esses neurônios também serão afetadas, explicando assim as
reduções de massa muscular e força que observamos na idade
avançada [22]. Até a idade de 60 anos Tomlinson e Irving [19]
e Kawamura et al. [23] não observaram nenhuma evidência
de perda neuronal motora, mas além dessa idade uma perda
acentuada em torno de 25% de neurônios foi detectada e
esta perda se apresentou uniforme em todos segmentos. Para
Mittal e Logmani [16] não detectaram apenas redução do
número de neurônios, mas também uma redução no diâmetro
das fibras nervosas.
Trelles [13] descreveu que o envelhecimento conduz a
alterações na estrutura química cerebral. Ao redor dos 80 anos
existe uma perda acentuada na quantidade de proteínas cerebrais e um aumento do DNA total, provavelmente decorrentes
das reações gliais. O aumento de idade não provoca maiores
perdas de lipídeos, mas o que mais tem merecido a atenção dos
pesquisadores são os neurotransmissores. Observa-se redução
nos níveis de catecolaminas, dopamina e noradrenalina em
várias regiões do encéfalo, sobretudo no tronco encefálico e
em regiões onde terminam os axônios dopaminérgicos e noradrenérgicos (núcleos da base, hipotálamo e córtex cerebral).
As alterações mais significativas ocorrem na via nigro-estriatal
e podem estar relacionadas com as alterações promovidas pelo
Parkinsonismo. Durante o envelhecimento, observa-se que
as enzimas que catabolizam a inativação das catecolaminas,
a MAO e a Catecol-O-metiltransferase estão com a atividade
aumentada. A síntese de serotonina está diminuída em decorrência da diminuição da atividade da enzima responsável pela
sua síntese, a triptofano hidroxilase. Os neurotransmissores
Acetilcolina e o Gaba estão igualmente diminuídos decorrentes também da diminuição da atividade das enzimas que
os sintetizam, colina-acetil transferase ( Hipocampo) e ácido
glutâmico descarboxilase (Tálamo). Outras alterações bioquímicas foram verificadas, por exemplo, as enzimas limitantes,
tirosina hidroxilase e a aromático L aminoácido descarboxilase
encontram-se com suas atividades diminuídas. Em recentes
estudos com ratas, Ingvar et al. [24] demonstraram que a
redução da atividade das enzimas são mais proeminentes nas
áreas visual e auditiva do córtex cerebral e em determinadas
regiões do sistema límbico.
Conclusão
Os efeitos do envelhecimento sobre o organismo são
bastante conhecidos em nossa literatura bem como as partes
do corpo que sofrem maior influência com o passar dos anos.
Em nossa discussão tornou-se claro que muitas das alterações que ocorrem com o envelhecimento devem-se, grande
parte, à inatividade que frequentemente acompanha o idoso.
105
Quando pessoas mais velhas participam de treinamentos,
a maioria das alterações associadas ao envelhecimento são
minimizadas.
Porém o que devemos lembrar e salientar é de que o processo de envelhecimento é irreparável e contínuo, podendo
apenas ser amenizado, mas nunca evitado. Durante toda a fase
de envelhecimento nosso corpo responde ao fator de formas
e velocidades diferentes, sendo que ao que parece existe uma
forte correlação entre a inatividade física e a restrição ou
supercompensação calórica, o que faz com que este processo
possa ser amenizado.
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Revisão
Treinamento aeróbio para adultos obesos portadores
de diabetes mellitus tipo 2
Aerobic training in obese adults with mellitus diabetes type 2
Jean Flávio Alves*, Rafaela de Castro Santos*, Raquel Brunini Nórcia Fada*, Tania Regina Gonçalves Gomes*,
Tiago Lasaponari*, Kátia Sampaio**
*Pós-graduados em Exercício Físico Aplicado à Reabilitação Cardíaca e a Grupos Especiais (UGF),
**Pós-graduada em Fisiologia do Exercício (UGF) Centro de Pós-Graduação e Pesquisa Gama Filho – UGF/Campinas
Resumo
Abstract
O diabetes mellitus é uma doença milenar que se estende até
os dias atuais como sendo uma das maiores epidemias globais da
história da humanidade, e, sem dúvida, proporciona impactos importantes nos setores econômicos mundiais com o seu tratamento,
tornando-o, assim, um dos mais importantes problemas de saúde
pública do mundo. No Brasil, cerca de 10% da população está ameaçada pela doença, porém somente a metade desse percentil, cerca
de 8 milhões de pessoas, sabem de seu diagnóstico. O grande fator
precursor dessa doença está principalmente no estilo de vida, onde
fatores como o desequilíbrio nutricional e a hipocinesia acarretam
elevadas taxas de sobrepeso e de obesidade, um fator de aproximadamente 80% de evidência para o desenvolvimento do diabetes
mellitus tipo 2. A partir do exposto, o objetivo deste estudo é analisar
de forma teórica os benefícios da prática da atividade física aeróbica
aos indivíduos obesos portadores do diabetes mellitus tipo 2.
Diabetes Mellitus is a millenary disease, becoming one of the
largest global epidemics of mankind history and, undoubtedly, its
treatment causes an important impact in the world economy, and
is one of the most important public health problems in the world.
In Brazil, around 10% of the population is threatened by this
disease, although only half of this population, around 8 million
people, know about the diagnosis. The main precursor factors is
the lifestyle, as nutritional unbalance and sedentarism, leading to
high overweight and obesity rates, which means 80% of evidence
to develop diabetes mellitus type 2. The aim of this study was to
analyze in a theoretical way if aerobic physical activity benefits to
obese people with mellitus diabetes type 2.
Key-words: aerobic training, obesity, mellitus diabetes.
Palavras-chave: treinamento aeróbio, obesidade, diabetes
mellitus.
Recebido 10 de fevereiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Jean Flávio Alves, Rua Goiás, 21 Jardim Nova Veneza 13177-062 Sumaré SP, Tel: (19) 3832-1117
108
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
O diabetes mellitus é considerado uma das maiores epidemias da história da humanidade. Estima-se que, no ano de
2025, cerca de 380 milhões de pessoas serão portadoras dessa
doença [1], sendo este um dos mais importantes problemas de
saúde pública do mundo, pois acarreta um grande impacto nos
setores econômicos com os cuidados médicos e hospitalares
no seu tratamento [2-4].
Essa epidemia atinge, hoje, mais de 350 milhões de pessoas
no mundo e, no Brasil, cerca de 10% da população está ameaçada pela doença, porém só a metade sabe que é portadora
e, na grande maioria, esta enfermidade está relacionada ao
seu estilo de vida [5].
O aumento das taxas de sobrepeso e da obesidade associado às alterações do estilo de vida e ao envelhecimento populacional são os principais fatores que explicam o crescimento
da prevalência do diabetes mellitus tipo 2 [3].
O DM é dividido em duas formas distintas, sendo o
diabetes mellitus tipo 1 (DM1), resultado de uma complexa
interação entre fatores genéticos e ambientais ainda não bem
esclarecidos, e o diabetes mellitus tipo 2 (DM2), parte de
uma ampla síndrome centralizada no fenômeno da resistência
insulínica da qual decorre uma série de distúrbios metabólicos
e hemodinâmicos [6].
O exercício físico praticado de forma regular é altamente
recomendado para as pessoas que têm tanto o DM1 quanto
o DM2 [7], que, combinado com atividades aeróbicas e exercícios resistidos tem sido um excelente modelo terapêutico
aos diabéticos [8].
O controle de alguns fatores de risco modifi cáveis
como o peso, a dieta alimentar e a prática de atividade
física regular podem reduzir em até 88% os riscos de desenvolver o DM2 [9]. A prática de atividade física é um
fator importante na eficiência da prevenção e do controle
dessa doença [5], sendo também muito benéfico a todos
os indivíduos [6].
Sabendo que o exercício físico pode minimizar esses fatores de risco e os custos da saúde pública, esta pesquisa de
revisão literária tem como objetivo analisar os benefícios em
indivíduos obesos diabéticos do tipo 2 submetidos à atividade
física aeróbica.
que tem significado de “doce” [5] e a insipidus, que significa
sem sabor [11].
Em 1909, Meyer descobriu uma hipotética substância
produzida pelas ilhotas de Langerhans, sendo estas células
pancreáticas descritas como ilhotas por Paul Langerhans
em 1889. Esta substância hipotética foi isolada, em 1921,
por dois jovens cientistas canadenses Banting e Charles
Best na forma de insulina [10], quando foi denominada a
era insulínica, pois pelo menos 2/3 dos comas diabéticos
em pacientes portadores de DM1, resultavam em óbito.
Essa descoberta proporcionou um aumento significativo na
longevidade dos pacientes [12].
O DM é uma desordem metabólica crônico-degenerativa
de etiologia múltipla que está associada à falta ou à deficiência
da ação do hormônio insulina que é produzido pelo pâncreas
[13]. Essa alteração do funcionamento proporciona as duas
principais classes do DM o tipo 1 (insulino dependente) e o
tipo 2 (insulino não dependente) [14] que são os tipos mais
comuns na literatura [15].
Atualmente os cientistas vêm insistindo, por décadas, em
pesquisas no intuito de repor as células pancreáticas  responsáveis pela produção de insulina que foram destruídas pelo
sistema imune. A descoberta do cientista James Thomson,
em 1998, de métodos para isolar e cultivar células tronco
embrionárias humanas, renovou as esperanças de uma cura
para o diabetes, no entanto um protocolo detalhado para obter
células secretoras de insulina ainda não foi bem estabelecido.
Todos esses procedimentos são muito promissores, mas o
mecanismo envolvido no processo de diferenciação ainda não
está claro. O principal desafio é obter um produto capaz de
mimetizar o mais próximo possível as características básicas
de uma célula pancreática  e assim ser capaz de restaurar a
perda da função do organismo [16].
Esses dois grupos anteriores de classificação do DM
foram dados de acordo com a apresentação clínica da patologia, porém com o avanço das pesquisas em patofisiologia
em conjunto com a evolução dos conhecimentos das áreas
da genética e da imunologia, tornaram-se mais evidentes as
limitações destas classificações, sendo então definidos em 1997
pela American Diabetes Association (ADA), quatro subtipos
principais da doença [17], que são o Diabetes Mellitus do tipo
1, Diabetes Mellitus do tipo 2, Diabetes Mellitus gestacional
e o Diabetes Mellitus por outros tipos específicos [18].
Etiologia do diabetes mellitus
Classificação do diabetes mellitus
O DM é uma doença milenar que acompanha a humanidade até os dias atuais, sendo denominado como diabetes por
volta de 150 a.C. pelo médico grego Aretaeus, que em grego
significa sifão (tubo de espirar água), devido aos enfermos
pela doença urinar demasiadamente, sendo mais tarde em
1670 redescoberto pelo cientista Willis o sabor adocicado da
urina e demonstrado pelo inglês Mathew Dobson, em 1776,
o açúcar secretado, o que permitiu distinguir dois tipos de
diabetes [10]: a mellitus que é uma palavra derivada do latim
Diabetes mellitus tipo 1
O DM1 é caracterizado pela deficiência absoluta de
insulina, sendo esta, na grande maioria dos casos, causada
por um processo autoimune desencadeado tanto por fatores
genéticos como ambientais, acometendo em torno de 8% a
10% da população diabética [19], habitualmente em indivíduos mais jovens [20].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Diabetes mellitus tipo 2
O DM2 é caracterizado por um distúrbio associado à
incapacidade das membranas celulares captarem de forma
eficiente a glicose circulante da corrente sanguínea para o interior da célula [21], acometendo com maior incidência entre
90 a 95% da população diabética, geralmente em indivíduos
de meia idade ou em idade avançada [2].
Diabetes mellitus gestacional
O DM gestacional é desenvolvido devido à incapacidade
das mulheres aumentarem a sua secreção de insulina durante
a gravidez [10], surgindo por volta do segundo ou do terceiro
trimestre de gestação [21], e acometendo cerca de 2% das
gestantes principalmente nas que apresentam certo grau de
obesidade. Normalmente, esses casos de tolerância à glicose
retornam aos seus níveis normais após o parto, porém as
mulheres que apresentam esse histórico têm 30% de chances
de desenvolver o DM2 no futuro [5].
Diabetes mellitus – outros tipos específicos
São caracterizados por distúrbios causados por outras doenças [10], geralmente incomuns, e estão associadas a defeitos
genéticos da função da célula  ou da ação insulínica, podendo ser induzidas por farmacológicos endocrinopáticos ou
químicos, por infecções ou outras síndromes genéticas [21].
Principais causas do diabetes mellitus
Os principais fatores para o surgimento do DM2 são a
hereditariedade, os hábitos alimentares, o estresse, o sedentarismo e a obesidade. Com exceção do fator da hereditariedade,
todos os demais podem ser prevenidos ou controlados [22].
Obesidade como causa do diabete mellitus tipo 2
Ao longo da história da humanidade, o ganho de peso e
o depósito exagerado de gordura eram vistos como sinais de
saúde e de prosperidade, porém com a facilidade atualmente
de se obter alimento somado com uma crescente ação hipocinética, a obesidade se destacou como um dos problemas mais
graves de saúde, onde sua prevalência cresceu acentuadamente
nas últimas décadas, inclusive nos países em desenvolvimento, o que levou estas doenças a uma condição de epidemia
global [23].
Atualmente a obesidade não difere entre raça, sexo, idade
ou nível social, e também deixou de ser um mero problema
estético para se tornar uma alarmante associação de comorbidades [23], tendo prevalência no sexo feminino com
o avançar da idade [24]. Esse grupo tem o pior controle da
doença, devido a maiores variações de obesidade, de inatividade física e das alterações hormonais [25].
109
A obesidade não é uma desordem singular, e sim um
grupo heterogêneo de condições com múltiplas causas que
resultam no fenótipo da obesidade, no qual esta desordem
pode ser atenuada ou agravada por fatores não-genéticos que
atuam sobre os mediadores fisiológicos como, por exemplo,
as interações de gasto e de consumo energéticos [26]. Em
estudo com 41 pacientes diabéticos observou-se que 70,73%
apresentavam sobrepeso ou obesidade [25].
Alguns autores descrevem a obesidade como uma doença
crônica degenerativa não-transmissível, de alta mortalidade
precoce [27], sendo ela uma doença metabólica caracterizada
pelo excesso de gordura corporal em relação à massa magra,
podendo esta ser atualmente ponderada por diversos métodos tanto laboratoriais quanto de imagens para quantificar a
gordura corporal existente [28].
O método de mensuração mais utilizado pela população,
devido ao baixo custo operacional e a grande facilidade de sua
obtenção e aplicação, é o índice de massa corporal (IMC) ou
índice de Quelet, que é calculado pelo peso corporal em (kg) e
dividido pela altura em (m²) e posteriormente, correlacionado
seu resultado com os padrões pré-estabelecidos e sugeridos
pela Organização Mundial da Saúde (OMS – 1997) [29,30]:
Tabela I - Classificação do Índice de Massa Corporal.
1. Magreza de Grau – 3
2. Magreza de Grau – 2
3. Magreza de Grau – 1
4. Normal
5. Pré-Obeso
6. Obesidade de Grau – 1
7. Obesidade de Grau – 2
8. Obesidade de Grau – 3
< 16,0
16,1 – 16,9
17,0 – 18,4
18,5 – 24,9
25,0 – 29,9
30,0 – 34,9
35,0 – 39,9
> 40,0
Cerca de 50% dos portadores de DM desconhecem o diagnóstico, e uma das principais causas para o desenvolvimento
do DM2 é a obesidade [31], um problema de saúde pública
de proporções gigantescas [32], pois tem uma associação
patológica com a evolução crônica de efeitos deletérios ao
organismo, exercendo forte influência na morbidade e na
mortalidade do paciente e também por estar principalmente
associada a doenças cardiovasculares [33,34].
A obesidade resulta em varias alterações fisiopatológicas
que podem resultar em uma menor extração de insulina pelo
fígado, com elevação da produção de glicose hepática seguida
de redução da captação de glicose pelo tecido muscular. Pesquisas recentes mostram que o TNF- diminui a captação de
glicose por induzir a fosforilação do substrato do receptor de
insulina (IRS) e que indivíduos obesos expressam 2,5 vezes
mais TNF- quando comparados com indivíduos magros,
com uma correlação significativa entre essa expressão e o
protocolo de IMC [28].
Em um estudo [32], pesquisadores provocaram a obesidade em ratos, e o aumento da adiposidade foi acompanhado
pela elevação da insulinemia e da leptinemia, além de outras
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
110
alterações metabólicas como uma discreta hiperglicemia e hipertrigliceridemia. Este fato assume uma relevante importância, porque a obesidade é uma co-morbidade comum a todas
as patologias, inclusive ao diagnóstico do desenvolvimento
do DM2. Apesar de o conhecimento desses importantes
preditores de morbidade e mortalidade na população geral,
ainda pouco se faz para reverter esse quadro [33].
Estudo sobre os aspectos estruturais do tecido adiposo
tem sugerido que as células de gordura não se caracterizam de
forma homogênea pelo corpo, elas se apresentam distribuídas
de forma diferente de acordo com a região anatômica, sendo
classificada de duas maneiras: as periféricas onde o acúmulo
de gordura se dá de forma mais acentuada nas extremidades
do corpo e as centrípetas tendo como maior concentração o
tronco principalmente o abdômen [35].
A maneira como a gordura está distribuída pode influenciar no desenvolvimento de doenças, sendo a gordura visceral
um dos principais precursores de doenças metabólicas como
o diabetes mellitus [36]. Uma forma bastante comum de
prognosticar este risco está na fórmula de classificar os valores
da proporção cintura-quadril, expressa na medida da circunferência da cintura (cm) dividido pela circunferência do quadril
(cm) e, posteriormente, correlacionado seu resultado com os
padrões pré-estabelecidos e sugeridos pela Tabela II [37,38].
São fortes as evidências de que o estilo de vida possa
estar contribuindo para o aumento da prevalência do DM
nas sociedades que rapidamente se industrializaram, e que
os benefícios de uma orientação dietética e o aumento de
atividade física, podem ajudar na redução do peso corporal e
isso refletir em até 60% na redução do risco de desenvolver o
DM [39]. Essa intervenção deve merecer uma especial atenção
no tratamento do DM2 [28], já que este desequilíbrio pode
levar a um ganho ponderal de gordura e ser um importante
fator patogênico do DM2 [40].
Importância do exercício físico no controle da
obesidade
Uma reduzida taxa de atividade física contribui para o
desenvolvimento da obesidade. Indivíduos obesos geralmente
não apresentam os requerimentos físicos de aptidão necessários
para realizar um exercício físico de alta intensidade [41], onde o
gasto energético de um indivíduo de 70 kg em uma corrida de
11 km/h por 30 minutos repetidos 4 vezes por semana, equivale
a caminhar 7 vezes por semana a uma intensidade de 5,5 km/h
por volta de 1 hora, e por isso, é necessário acumular um maior
período de atividade durante a semana [42].
A intensidade e o tipo do exercício afetam a magnitude da
elevação da taxa metabólica pós-exercício mais que a duração,
e esse efeito pode durar de 3 horas a 3 dias [41,43], todavia
essa intervenção, no início do programa, deve ser de forma
crescente e gradativa para garantir a aderência aos programas
de atividade física, pois na maioria das vezes, os indivíduos
são destreinados e/ou sedentários [41].
Indivíduos que nunca tiveram hábito de se exercitar terão
mais dificuldades para iniciar a prática de atividade física de
forma regular, e o grande percentual de evasão dos programas,
está nas inadequações de prescrições de exercícios a esses indivíduos, entre elas a incapacidade de executar movimentos
ou de permanecer em atividades intensas. As atividades de
baixa a moderada intensidade praticadas de forma regular
de 2 a 3 vezes por semana com duração de 1 hora são as que
geralmente apresentam melhores efeitos [27].
Exercício e diabetes mellitus tipo 2
Com o aumento da prevalência do DM2 na população, os
efeitos na morbimortalidade consequentemente aumentam,
por isso a necessidade de programas de intervenção que conscientizem a população da importância da prática de atividade
física regular e a mudança nos hábitos alimentares saudáveis,
mas, para que isso ocorra, ações multidisciplinares precisam
ser desenvolvidas [22].
O treinamento físico geralmente é benéfico para o diabético,
porque pode reverter muitos efeitos metabólicos adversos da doença, inclusive a probabilidade da obesidade [7], e a única forma
eficiente de se prevenir o diabetes é a prática de atividade física
de forma regular, visando manter um equilíbrio metabólico com
manutenção do peso corporal que tem como consequência a
obesidade. À medida que se exercita, há tendência da glicose se
metabolizar mais rapidamente, podendo reduzir em até 30%
a necessidade do uso das terapias preventivas medicamentosas
[44]. Devido aos altos custos do tratamento do diabetes, o exercício físico torna-se uma alternativa viável e já reconhecida de
terapia preventiva não só para essa co-morbidade, mas também
para diversas outras enfermidades [45].
Tabela II - Relação do índice cintura/quadril (cm).
Idade
20 – 29
30 – 39
40 – 49
50 – 59
60 – 69
Baixo
Masc.
< 0,83
< 0,84
< 0,88
< 0,90
< 0,91
Fonte: Adaptado de [36]
Fem.
< 0,71
< 0,72
< 0,73
< 0,74
< 0,76
Risco estimado
Moderado
Masc.
Fem.
0,83 - 0,88 0,71 - 0,77
0,84 - 0,91 0,72 - 0,78
0,88 - 0,95 0,73 - 0,79
0,90 - 0,96 0,74 - 0,81
0,91 - 0,98 0,76 - 0,90
Alto
Masc.
Fem.
0,89 - 0,94 0,78 - 0,82
0,92 - 0,96 0,79 - 0,84
0,96 - 1,00 0,80 - 0,87
0,97 - 1,02 0,82 - 0,88
0,99 - 1,03 0,84 - 0,90
Muito Alto
Masc.
Fem.
> 0,94
> 0,82
> 0,96
> 0,84
> 1,00
> 0,87
> 1,02
> 0,88
> 1,03
> 0,90
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
A prática regular de exercícios traz inúmeros benefícios
ao diabético mellitus do tipo 2, pois, de modo geral, auxilia
no controle metabólico e na redução dos fatores de risco de
desenvolvimento de doença cardiovascular. Além de prevenir e auxiliar no tratamento, os exercícios também reduzem
complicações crônicas, estimulando direta e indiretamente
diversos órgãos e sistemas, modificando seus aspectos funcionais e estruturais [46].
O exercício físico desempenha um importante papel no
combate a diabetes, agindo no controle glicêmico devido à sua
capacidade em promover aumento da sensibilidade à insulina, dessa maneira o exercício deve ser incluso no tratamento
[47]; porém, apesar da maioria dos indivíduos saberem da
importância da prática de atividade física regular, poucos a
praticam [25].
O exercício melhora a condição do diabetes, facilitando
a captação de glicose e o metabolismo de glicogênio [48], no
entanto o benefício se dá com a melhora da sensibilidade à
insulina, perfil lipídico e diminuição da hiperinsulinemia [49].
Efeito agudo do exercício físico aeróbio no controle glicêmico
O efeito agudo é conhecido como fenômeno que ocorre
durante e após a sessão de exercício, sendo que a necessidade
energética é suprida pelo metabolismo de carboidratos e
lipídios, assim aumenta a captação de glicose pelo músculo
ativo [47].
O exercício físico aumenta a captação de glicose no
músculo esquelético, esta é uma manifestação semelhante a
ação da insulina no estado de repouso, agindo no processo de
translocação do GLUT-4 para a membrana plasmática, nas
duas vias de sinalização intracelular [50,51].
A insulina utiliza o mecanismo dependente da fosfatidinositol-3-quinase, enquanto a via do exercício deve ser iniciada
pela liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático que leva
a ativação de outros intermediários sinalizadores [50].
Uma única sessão de exercício pode levar à diminuição
em até 22%, ou mesmo a normalização da glicemia durante
o exercício [43,47].
O aumento da permeabilidade da fibra muscular à glicose
mesmo na ausência da insulina é um dos maiores responsáveis
para a redução da glicemia durante o exercício, favorecendo a
captação e o metabolismo de glicose pelo músculo e melhorando a atividade da síntese de transportadores de glicose [46].
Após o término do exercício, a ressíntese de glicogênio
muscular e hepático resulta do incremento na translocação
do GLUT-4, independente da ação da insulina, porém, depois de um determinado tempo, a insulina é necessária para
potencializar esse processo [46].
Os mecanismos envolvidos no aumento da sensibilidade à
insulina não estão bem esclarecidos, no entanto, com relação
ao processo de sinalização da insulina, foi observado o aumento da fosforilação do seu receptor, mas não da atividade da
111
IRS1 e da P13-quinase, e também não observaram aumento
da atividade do receptor de insulina com o exercício, mas
verificaram aumento da IRS2 e da atividade P13-quinase
ligada a IRS1 e IRS2 [47].
Quanto aos transportadores de glicose, o exercício aumenta o número de GLUT-4 na membrana em sua atividade,
mas, num curto período, outra via de transporte de glicose
estimulada pelo exercício é o metabolismo não-oxidativo,
já que o exercício reduz o glicogênio muscular e aumenta a
atividade da glicogênio-sintase [47].
O efeito hipoglicemiante do exercício pode-se prolongar
por horas e até dias após o fim do exercício. Esta resposta
metabólica pode ser alterada durante os estados de extrema
deficiência de insulina ou excesso da mesma [52].
Um estudo envolvendo diabéticos do tipo 2, do qual 8
voluntários participaram de um total de 36 sessões, sendo 3
semanais de um programa de exercício aeróbio ou resistido,
foi constatado em 78% das sessões analisadas diminuição da
glicemia capilar, com variação de 0,4 a 62,5% em relação
à glicemia pré-exercício, e uma redução média de 18% da
glicemia após as sessões, porém a duração desse efeito hipoglicemiante não foi observada pelo autor neste estudo [53].
No entanto, temos relatos na literatura mostrando que
o efeito agudo pode durar até 48 horas após o término do
exercício, explicando o fato de poder ocorrer episódios de uma
hipoglicemia após a execução do exercício, principalmente em
diabéticos que tomam insulina exógena [47].
Em um estudo randomizado de 20 semanas com exercício aeróbio envolvendo diabéticos do tipo 2, foi analisado
os efeitos agudos da glicemia capilar de 40 participantes
divididos em 3 grupos, sendo um grupo controle, um grupo
de 3 sessões semanais e outro grupo de 5 sessões semanais.
Foi verificada uma tendência de queda da glicemia capilar
no grupo que participou de 5 sessões semanais, porém sem
efeito estatístico significativo. O autor do estudo explica que
a intensidade de 60 a 70% da frequência cardíaca máxima
predita pela idade ou a duração de 45 minutos divida em 5
minutos de aquecimento inicial, 30 minutos de caminhada
e 10 minutos de relaxamento final, não tenha sido suficiente
para assegurar mudanças agudas significativas na glicemia
capilar nesse grupo [54].
Neste mesmo estudo, o autor analisou após 13 semanas o
efeito residual do exercício no controle glicêmico e constatou
melhoras em seu controle pré-exercício nos dois grupos, porém
o grupo que participou de 5 sessões semanais apresentou um
controle capilar mais baixo e estável que o grupo de 3 sessões
semanais, indicando desta forma que a frequência do exercício
é um importante fator no controle da glicemia basal [54].
Efeito crônico do exercício físico aeróbio no controle glicêmico
Indivíduos mais ativos têm menores chances de desenvolver diabetes do tipo 2, graças às adaptações crônicas oferecidas
112
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
pelo treinamento físico praticado regularmente, na ação da
insulina, melhorando sua sensibilidade e o controle glicêmico,
sugerindo que os benefícios trazidos pelo treinamento podem
ser a diminuição ou a eliminação dos medicamentos [47].
As adaptações metabólicas que ocorrem com o treinamento provocam aumento da tolerância à glicose e redução da
glicosuria, com redução nas doses de insulina exógena, trazendo a longo prazo o retardamento das complicações crônicas
da doença e queda nos fatores de riscos cardiovasculares [22].
Alguns estudos têm demonstrado que o indivíduo treinado
apresenta aumento do fluxo sanguíneo muscular induzido
pela insulina quando comparado aos não treinados, possibilitando dessa maneira maior fornecimento de insulina para a
musculatura, devido à agregação da insulina ao seu receptor
ser mais ativa com o treinamento físico [47].
O exercício físico praticado regularmente traz benefícios
em longo prazo, o que para o indivíduo diabético é muito
importante, pois diminui os fatores de riscos cardiovasculares, através de alterações no perfil lipídico, normalização da
pressão arterial, aumento da circulação colateral e diminuição
da frequência cardíaca de repouso [52].
Os principais objetivos do tratamento do diabetes são a
normalização da glicemia e da hemoglobina glicada, além de
buscar melhora no perfil lipídico, redução da massa corporal,
com isso diminui a progressão da aterosclerose, a morbimortalidade por problemas cardiovasculares, a cegueira, a nefropatia,
e as complicações dos membros inferiores [55]. Os níveis de
hemoglobina e a glicemia são importantes na avaliação do
controle glicêmico, pois informa sobre diferentes níveis de
glicose sanguínea [55].
O nível de hemoglobina foi considerado como um marcador bioquímico capaz de estimar a chance de ocorrência e
progressão da doença microvascular e de neuropatia, pois seus
valores representam a glicemia média de 2 ou 3 meses precedentes, portanto qualquer redução nos níveis traz benefícios
para os diabéticos, reduzindo o risco de complicações, com
algumas modificações como a redução da gordura corporal,
aumento da concentração e translocação do GLUT-4, e melhora na ação da insulina [55].
Estudo, com 22 voluntários de ambos os sexos, investigou a
associação entre variáveis morfológicas e parâmetros bioquímicos
de diabéticos do tipo 2. As variáveis morfológicas mensuradas foram: massa corporal, IMC, circunferência do abdômen, relação
cintura/quadril, somatória das 7 dobras cutâneas e percentual
gordura corporal, e os bioquímicos avaliados foram: glicemia
de jejum, colesterol total, triglicerídeos, LDL-C, HDL-C e
hemoglobina glicada. Observou-se, nesse estudo, que as concentrações de colesterol total, triglicerídeos, LDL-C, HDL-C e
hemoglobina glicada foram às variáveis que mais apresentaram
associação com as variáveis morfológicas, por isso, a importância
de uma mudança no estilo de vida, como dieta e exercício físico,
visando melhora no controle metabólico [46].
No entanto, o estudo do efeito agudo e crônico do
exercício físico no perfil glicêmico e lipídico em diabéticos
do tipo 2, em 8 voluntários, concluiu que a única variável
bioquímica que apresentou efeito do treinamento foi o
HDL-C. Embora as outras variáveis não terem apresentados
alterações significativas, obtiveram um controle adequado
em relação aos valores de referência, entretanto o número
reduzido de sujeitos estudados pode ter influenciado na
ausência de alterações significativas entre as variáveis bioquímicas e morfológicas [53].
Em outro estudo, com 33 indivíduos diabéticos tipo 2,
os autores concluíram que o programa de exercício físico aeróbio, com duração de 10 semanas, sendo 4 sessões semanais
de 60 minutos com 50 a 80% da frequência cardíaca máxima
predita, é uma boa conduta para os diabéticos do tipo 2, por
apresentar melhora na glicemia de jejum, na hemoglobina
glicada, na diminuição de triglicerídeos, no aumento do
HDL-C, na diminuição da frequência cardíaca de repouso
e no IMC [2].
O exercício tem um papel fundamental no controle dos
níveis da hemoglobina glicada, sendo ela muito utilizada como
recurso de avaliação de longo prazo no controle glicêmico de
diabéticos [55]
Muitos estudos utilizam a hemoglobina glicada como
um referencial de efeito crônico do exercício, como, por
exemplo, no estudo de Cambri e Gevaerd [55] que avaliou
40 indivíduos diabéticos tipo 2, durante 20 semanas em
atividades de exercício aeróbio, sendo que um grupo participou de 3 sessões e o outro participou de 5 sessões semanais,
o resultado dos valores da hemoglobina glicada apresentado
foi a redução, porém não significativa, mas vale salientar que
os valores analisados no início do estudo estavam próximos
aos sugeridos para um bom controle.
Cambri et al. [53], em outro estudo, com duração de 12
semanas de exercícios aeróbios e ou resistidos, não observaram
queda na hemoglobina glicada. Segundo os autores, o tempo
de estudo foi curto para obter melhores resultados nessa variável e também os níveis de hemoglobina glicada no início
do programa se apresentavam inferiores a 7% em 37,5% dos
sujeitos estudados, o que dificulta maiores alterações.
Qualquer redução nos níveis da hemoglobina glicada,
menores serão os riscos de desenvolvimento de complicações decorrentes da doença, como, por exemplo, para cada
decréscimo absoluto de 1% na hemoglobina glicada, há uma
redução da incidência de 35% das complicações microvasculares, de 25% das mortes relacionadas ao diabetes e de
7% dos óbitos em geral, sendo que os indivíduos diabéticos
que apresentarem a hemoglobina abaixo de 7% passam a
corresponder aos índices de complicações similares aos da
população em geral [55].
Prescrição de exercício físico aeróbio para diabético tipo 2
A ótima dose para alcançar um bom controle de glicemia
ainda não esta esclarecido, porém, preconizam-se os exercícios
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
aeróbios com intensidade moderada, realizada por pelo menos
30 minutos de 3 a 5 vezes por semana [22].
No estudo de 20 semanas de exercício físico aeróbico,
com 40 participantes diabéticos do tipo 2, com sessões de 45
minutos de duração e a intensidade entre 60 a 70% de frequência cardíaca máxima predita, foram analisados os efeitos da
frequência semanal sobre a estrutura da composição corporal
e do controle glicêmico. Concluiu-se que a melhor frequência
de um programa de exercício físico em todos os parâmetros
avaliados é de 5 sessões de treinamento por semana [54].
O estudo de Cambri et al. [53], com 8 voluntários diabéticos do tipo 2, realizou um programa de exercícios aeróbios
ou resistidos de 12 semanas de duração, 3 sessões semanais
com duração entre 40 a 60 minutos e intensidade entre 60 a
70% da frequência cardíaca máxima predita. Os resultados
apresentados foram a redução da glicemia capilar e o aumento
nas concentrações de HDL-C, quanto às variáveis antropométricas e bioquímicas não houve alterações significativas.
Em uma pesquisa experimental com 33 participantes
diabéticos tipo 2 submetidos a um programa de exercícios aeróbicos por 10 semanas, 4 sessões semanais de
60 minutos de duração e intensidade entre 50 a 80% da
frequência cardíaca máxima predita, observou-se melhora
na glicemia de jejum, na hemoglobina glicada, redução do
triglicerídeo, da frequência cardíaca de repouso e aumento
do HDL-C [2].
O American College of Sports Medicine [47] recomenda
exercícios aeróbios que envolvam grandes grupos musculares
com frequência entre 2 e 6 sessões semanais, tendo como duração de 20 a 60 minutos e intensidade moderada entre 50 a
70% da frequência cardíaca de reserva para sedentários e/ou
obesos, e entre 60 a 85% da frequência cardíaca de reserva
para condicionados.
É possível através de uma correta prescrição de exercícios
físicos melhorar as condições gerais do indivíduo, promovendo um melhor controle metabólico e, com isso, possibilitar
uma redução do elevado custo social e econômico, o que
representa atualmente uma prioridade na saúde pública
nacional [25].
Cuidados durante a sessão de exercício
A hipoglicemia é um dos problemas mais comuns que
ocorre no diabético durante o exercício, normalmente esse
episódio ocorre quando há muita insulina ou quando a absorção é acelerada, podendo ainda ocorrer de 4 a 6 horas após
o término da sessão de treinamento [46].
Para prevenir a hipoglicemia é muito importante o seu
monitoramento, aumentando, se necessário, a ingestão de
carboidratos antes e após os exercícios e mantendo-se sempre hidratado, pois qualquer alteração nos níveis de glicose
também pode causar poliúria [46].
Evitar exercitar-se com glicemia acima de 300 mg/dl, e
se estiver menor que 80 mg/dl fazer uma alimentação prévia,
113
não se exercitar nos picos de ação da insulina e de hipoglicemiantes orais, e evitar aplicar insulina na musculatura que
irá ser utilizada nos exercícios [47].
Iniciar o exercício entre uma ou duas horas após as refeições, fazer exames diários nos pés, e por fim antes de iniciar
a prática de exercício, realizar exames clínicos e laboratoriais
para se certificar da existência de complicações como retinopatia, neuropatia, entre outras [50].
Conclusão
Podemos concluir que o exercício físico promove melhoria
nas condições de saúde do diabético, pois o controle da glicemia se torna mais adequado trazendo benefícios em curto
prazo, e assim, prever as complicações crônicas decorrentes
da doença, mantendo estáveis os níveis de glicemia e de hemoglobina glicada.
Alguns cuidados devem ser sempre adotados durante as
sessões de exercícios, entre eles o monitoramento da glicemia
capilar, antes, durante e depois para prevenir possíveis episódios de crise hipoglicêmica.
Os exercícios mais recomendados são os do tipo aeróbio
que envolva grandes grupos musculares, tendo como frequência preferencialmente 7 sessões semanais, com duração de
no mínimo de 30 minutos e intensidade em torno de 50 a
70% da frequência cardíaca de reserva.
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Revisão
Treinamento muscular inspiratório para o
desenvolvimento físico: evidências e controvérsias
Inspiratory muscle training for the physical development:
evidences and controversies
Maurício de Sant’Anna Junior*, Adalgiza Mafra Moreno**, Pedro Dall’Ago***, Pedro Paulo da Silva Soares****
*Departamento de Fisioterapia UNIPLI, Laboratório de Fisiologia do Exercício Experimental e Aplicada UFF, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ, **Departamento de Fisioterapia UNIPLI, UNIVERSO/RJ, Programa de Pós-Graduação em
Ciências Cardiovasculares UFF, ***Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), **** Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física
(PPGCAF) UNIVERSO/RJ, Departamento de Fisiologia e Farmacologia UFF
Resumo
Abstract
O Treinamento Muscular Inspiratório (TMI) visa o aumento da
força e resistência dos músculos inspiratórios. Os efeitos positivos
do TMI na melhora clínica e no desempenho físico em indivíduos
com doença pulmonar obstrutiva ou insuficiência cardíaca são bem
reconhecidos, mas em indivíduos sadios ainda são controversos. O
objetivo do presente artigo é o de apresentar uma revisão sobre o
possível efeito positivo no desempenho físico em indivíduos sadios
decorrentes do TMI. Observamos em todos os estudos consultados
um aumento na força e resistência muscular inspiratória. Entretanto,
nem todos os estudos apresentaram aumento na capacidade física,
gerando controvérsia quanto à aplicabilidade desta estratégia de treinamento objetivando desempenho. Verificou-se uma grande variação
entre os protocolos descritos no que diz respeito à carga utilizada,
número de semanas, frequência semanal, além de formas de TMI,
continua ou intervalada, em diferentes modalidades esportivas.
Inspiratory Muscle Training (IMT) is used to increase strength
and resistance of inspiratory muscles. IMT effects on exercise performance and clinical status of subjects with chronic obstructive
pulmonary disease or heart failure are well recognized, but its positive
effects on healthy subjects are still controversial. The aim of the
present study was a literature review regarding the possible effects
of IMT for improving physical exercise performance in healthy
subjects. In all consulted studies there was an increase in strength and
resistance of inspiratory muscles. However, not all of them showed
concomitant improvement of physical capacity. These controversial
results introduced questions regarding the applicability of this type
of training strategy aiming physical performance. It was verified
great variations among protocols in relation to workload, number
of weeks, frequency, and IMT modes, continuous or interval, in
different sports that may be responsible for different findings.
Palavras-chave: treinamento muscular inspiratório, pressão
inspiratória máxima, resistência muscular inspiratória, fadiga
diafragmática.
Key-words: inspiratory muscle training, maximal inspiratory
pressure, respiratory muscle endurance, diaphragmatic fatigue.
Recebido 12 de março de 2010; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Pedro Paulo da Silva Soares, Universidade Federal Fluminense (UFF), Laboratório de Fisiologia do
Exercício e Experimentação Animal, Rua Prof. Ernani Melo, 101/304, bl Y, São Domingos 24210-130 Niterói RJ, Tel: (21) 2629-2451,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
Durante a realização de exercícios físicos ocorrem respostas cardiorrespiratórias que são responsáveis diretas pela
manutenção da atividade física. Dentre as diversas respostas,
podemos mencionar o aumento do débito cardíaco, frequência cardíaca, pressão arterial média e da concentração de
lactato, porém o aumento da ventilação pulmonar também
deve ser destacado, ocorrendo de forma concomitantemente o
aumento da frequência respiratória, do volume de ar corrente
e do trabalho dos músculos ventilatórios [1].
Os músculos ventilatórios apresentam como sua principal função o deslocamento da base dos pulmões e da parede
torácica, com a finalidade primária de produzir a ventilação alveolar [2,3]. Apesar de representarem apenas 3% do
peso corporal total, os músculos ventilatórios têm grande
capacidade de suportar altas demandas, com capacidade
de ajustarem-se às necessidades ventilatórias em diferentes
condições fisiológicas e fisiopatológicas, sendo o principal
músculo da inspiração o diafragma [4,5]. Deve-se ressaltar
que os músculos ventilatórios podem sofrer alterações em
virtude do treinamento, aumentando sua força assim como
sua resistência [6-9].
Durante vários anos questionou-se os efeitos oriundos
do treinamento sobre a musculatura ventilatória, principalmente no que tange a seus efeitos similares aos dos demais
músculos esqueléticos. Porém, no estudo pioneiro proposto
por Leith & Bradley, em 1976 [10], verificou-se o efeito de
cinco semanas de treinamento muscular inspiratório (TMI)
durante 30 a 45 minutos em grupo de indivíduos saudáveis, divididos em três grupos (treinamento de resistência,
treinamento de força e grupo controle), evidenciado-se um
aumento de 55% na força dos músculos inspiratórios no
grupo que treinou força e um aumento de 14% na resistência da musculatura inspiratória no grupo que treinou
resistência, não sendo verificado nenhum tipo de alteração
no grupo controle, dando assim início a uma série de estudos
subsequentes com metodologias cada vez mais elaboradas,
porém com resultados controversos.
O TMI tem como objetivo o aumento da força e resistência dos músculos inspiratórios, sendo a sua indicação
primária à existência de alguma doença de base que acarrete
em alteração funcional dos músculos ventilatórios. Seus efeitos
encontram-se bem documentados em situações como doença
pulmonar obstrutiva crônica, asma e insuficiência cardíaca
[11-14]. Tais efeitos parecem estar diretamente relacionados
à intensidade, duração e frequência do exercício [15].
Recentemente, o TMI foi utilizado em indivíduos sadios
com a finalidade de promover alterações no desempenho,
durante a realização de exercícios físicos, como aumento do
tempo de exercício [15,16]. Porém nem todos os estudos
alcançaram os mesmos resultados, sendo discutido principalmente, se o TMI pode aumentar o tempo de exercício e/ou
VO2pico, se existe alteração na sensação subjetiva de esforço,
117
e se existe atenuação na concentração de lactato sanguíneo
[16-18].
Neste contexto, o objetivo do presente artigo é o de
promover uma análise sobre as possíveis melhorias no desempenho durante o exercício físico em indivíduos sadios
submetidos ao TMI realizado em diversos protocolos e em
grupos diferentes de indivíduos não-atletas e atletas de algumas modalidades esportivas.
Métodos
Os artigos revisados foram obtidos através de pesquisas
bibliográficas em bancos de dados, incluindo Medline,
Pubmed, Lilacs e Scielo (1966-2009). Foram selecionados
estudos que investigaram especificamente os efeitos do TMI
em indivíduos sadios (atletas e não atletas). Foram utilizadas as
seguintes palavras-chave, isoladas ou combinadas: Inspiratory
muscle training, maximal inspiratory pressure, respiratory muscle
resistance, diaphagmatic fatigue e healthy individuals.
Resultados e discussão
Mensuração da força muscular ventilatória
A força muscular ventilatória pode ser verificada de
forma invasiva (pressão transdiafragmática) [18,19] ou não
invasiva. No processo de verificação não-invasiva da força
muscular ventilatória, o instrumento mais utilizado é o
manuvacuômetro que consiste em um tubo cilíndrico, cuja
extremidade distal é fechada, a extremidade proximal é aberta
onde se encaixa uma peça bucal, sendo realizada através dela
as manobras expiratórias ou inspiratórias. Uma saída lateral e
uma tubulação de plástico rígido fazem a comunicação a um
transdutor de pressão utilizado para mensuração de pressão
inspiratória máxima (PImáx) e da pressão expiratória máxima
(PEmáx) [20].
As medidas de PImáx e PEmáx são utilizadas para quantificar
a força dos músculos ventilatórios [21]. A posição ideal para
realização da manobra que se verifica a PImáx é com o indivíduo
sentado, sendo realizada uma inspiração forçada, a partir do
volume residual ou da capacidade residual funcional, com
oclusão do circuito (manobra de Muller), o valor da PImáx é
expresso através de cmH2O, sendo precedido de sinal negativo [22].
A PEmáx pode ser mensurada através do mesmo circuito que
se verifica a PImáx, diferenciado pela utilização de uma válvula
unidirecional inspiratória e pela extremidade expiratória
ocluída, realizando-se uma expiração forçada contra o sistema
fechado, a partir da capacidade pulmonar total (manobra de
Valsalva) [21,22]. Recomenda-se que tanto para verificação
da PImáx quanto para verificação da PEmáx sejam realizadas três
mensurações, considerando-se a melhor medida [23]. As
pressões geradas pelos músculos faciais podem alterar a fidedignidade dos valores encontrados nas mensurações, por esse
118
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
motivo recomenda-se a utilização de um orifício de 2 mm de
diâmetro no sistema promovendo assim uma pequena fuga
de ar [22,24,25].
Aceita-se como PImáx normal para um adulto jovem do
sexo masculino -125 cmH2O e de PEmáx 230 cmH2O, e em
mulheres esse valor diminui em 30% e, após os 20 anos de
idade, ocorre uma queda de 0,5 cmH2O por ano [26].
Um estudo conduzido com 100 indivíduos, não fumantes
(50 homens e 50 mulheres), na faixa etária de 20 a 80 anos,
apresentou como proposta encontrar parâmetros de normalidade para PImáx e PEmáx na população brasileira, partindo
da premissa que as referencias utilizadas até então para esta
finalidade subestimavam seus os valores reais [27].
Os autores utilizaram análise de regressão múltipla, levando em consideração em suas análises além do gênero e
das variáveis antropométricas, (peso e altura), variáveis de
aptidão física. A PImáx apresentou uma forte correlação com
aptidão física e VO2máx, sendo os valores preditos de PImáx para
homens entre 20 – 29 anos 129,3 ± 17,6 cmH2O e mulheres
101,6 ± 13,1 [27].
Mensuração da resistência muscular ventilatória
Resistência muscular ventilatória é a capacidade do músculo em oferecer resistência à fadiga, em um determinado tempo
de trabalho. No que diz respeito à mensuração da resistência
muscular ventilatória, encontramos descrito várias formas
para sua obtenção são elas: 1) Método de hiperpnéia que
consiste em manter por um período de tempo, um elevado
volume pulmonar em um minuto; 2) VVM que é a ventilação
voluntária máxima que indivíduo pode realizar em 10 a 15
segundos; 3) Capacidade Ventilatória Máxima (CVSM) descrito como a ventilação que o indivíduo é capaz de sustentar
por 15 segundos; 4) estimulação de nervo frênico (consiste na
avaliação seletiva do desempenho da porção periférica da via
neuromuscular e quantificar e quantificar o grau de fadiga do
diafragma; 5) Eletromiografia (podendo ser realizada através
de eletrodo de superfície ou esofágico) [26,27].
Outro protocolo frequentemente descrito na literatura
para a determinação da resistência muscular respiratória é o
de Martyn et al. [28], também conhecido como protocolo
incremental, que posteriormente foi adaptado para indivíduos
sadios [29].
Neste protocolo o indivíduo respira através de um sistema
composto por duas válvulas unidirecionais, uma inspiratória
e outra expiratória, onde a válvula inspiratória é conectada
a uma câmara inspiratória, que é vedada por um diafragma
possibilitando o aumento na carga inspiratória, dificultando
a inspiração.
Pode-se iniciar o protocolo com a realização de uma inspiração com carga de aproximadamente 30% da PImáx, sendo
esta aumentada a cada três minutos, até que o indivíduo não
consiga mais abrir a válvula inspiratória, sendo computado
o tempo total até a fadiga.
Fadiga muscular ventilatória e desempenho físico
Em exercícios prolongados e de altas intensidades, fisiologicamente ocorre o fenômeno da hiperventilação, em função
da necessidade de manutenção de adequada ventilação alveolar, compatível com a atividade realizada. Para adequação
das demandas ventilatórias, um maior trabalho do diafragma,
assim como a utilização de músculos acessórios da respiração
é necessária [1].
Porém o do trabalho da musculatura acessória pode não
ser o suficiente para manter a troca gasosa adequada e consequentemente a oferta de O2, podendo ser um dos mecanismos
desencadeadores da dispneia [30].
A literatura descreve esses mecanismos como responsáveis
pela fadiga muscular ventilatória, especialmente do diafragma [1,31,32]. Tais eventos são justificáveis pela hipótese de
que durante o exercício ocorre uma competição pelo fluxo
sanguíneo entre a musculatura ventilatória e a musculatura
periférica ativa [33-36].
Também foi observado em humanos que a fadiga muscular inspiratória, induzida através de exercício de resistência,
acarretou em aumento da descarga simpática, mensurada em
nervo periférico e redução do fluxo sanguíneo no membro
em repouso [37].
Harms et al. [8] objetivaram investigar se a fadiga da
musculatura ventilatória poderia ser responsável por alteração
do desempenho físico durante exercício de alta intensidade.
Para investigar sua hipótese, utilizaram uma amostra composta
por sete ciclistas do sexo masculino, com VO2pico 63 ± 5 ml
kg-1min-1 que realizaram exercício em ciclo ergômetro em
uma intensidade correspondente a 90% VO2pico. Os autores
utilizaram um período de aquecimento que variou entre 5-10
minutos, com carga equivalente a 40 – 50% VO2pico. Encontraram como resultado que a realização de exercício físico em
alta intensidade, acarreta em um decréscimo da função dos
músculos ventilatórios e que esta é uma condição fundamental
na redução da performance do grupo estudado.
Vogiatzis et al. [38] desenvolveram um protocolo experimental objetivando investigar se o fluxo sanguíneo e a saturação de oxigênio (SpO2) dos músculos intercostais, durante
realização de exercício físico de alta intensidade, reduzia em
ambos. Sua amostra foi composta por dez atletas de ciclismo,
com média de idade de 35 ± 10 anos de idade, VO2pico de 61,8
± 8,3 ml kg-1min-1 que realizaram exercícios em diferentes
intensidades (60, 80, 90 e 100% VO2pico). A investigação
dos efeitos do exercício na SpO2 da musculatura periférica e
intercostal foi utilizada a espectroscopia quase infra-vermelha
(NIRS). Estes autores concluíram que durante a realização de
exercício em altas intensidades, tanto a musculatura periférica
ativa, quanto a musculatura intercostal encontravam-se com
redução da SpO2 e fluxo sanguíneo em relação ao repouso,
porém a maior queda era evidencia na musculatura intercostal.
Portanto, a utilização do TMI para aumento de força e
resistência muscular ventilatória poderia aumentar a tolerância
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
à fadiga e reduzindo sensação subjetiva de esforço além de
promover efeitos positivos sobre a capacidade física.
Treinamento muscular inspiratório em indivíduos sadios
Apresentaremos na Tabela I, os principais resultados
alcançados pelos diversos autores, através do TMI em indivíduos sadios, descrevendo variáveis como características da
amostra, número de semanas que foram realizadas o TMI,
frequência semanal, duração, carga de trabalho e modificações
na capacidade física ou indicadores da função respiratória.
O TMI vem sendo utilizado em indivíduos sadios, porém
os resultados obtidos merecem ser discutidos em virtude da
discordância encontrada na literatura. Gething et al. [39] de-
119
senvolveram um protocolo experimental preconizando o TMI
com a participação de 15 indivíduos voluntários de ambos os
sexos divididos em três grupos, objetivando testar a hipótese
de que os indivíduos que realizassem o TMI apresentariam
um melhor desempenho em exercício realizado em cicloergômetro. O primeiro grupo realizou TMI com carga de 80%
da PImáx, o segundo grupo realizou treinamento com a carga
mínima (treinamento placebo) e o terceiro grupo controle.
Após 10 semanas de treinamento realizado três vezes por semana, o grupo que realizou o TMI apresentou uma melhora
de 34% na PImáx (134 vs. 180 cmH2O) e 38% na resistência
muscular respiratória, além de um aumento de 36% no tempo
de exercício realizado até a exaustão em cicloergômetro à 75%
do VO2pico, não sendo observada nenhuma alteração significativa na PImáx do grupo placebo (136 vs. 140.2 cmH2O),
Tabela I - Estudos encontrados na literatura envolvendo treinamento da musculatura inspiratória em indivíduos sadios com seus resultados
no desempenho físico.
Autor
Semanas de
TMI
Freqüência
Semanal
Amostra
Spengler et al.
1999
Sedentários
4
5x
30 minutos
Inbar et al.
2000
Atletas
10
7x
30 minutos
Volianitis et al.
2001
Remadores
11
5x/2x
dia
30 minutos
50% PImáx
Sometti et al.
2001
Ciclistas
5
4x
30 minutos
50 % PImáx
Gething et al.
2002
Sedentários
10
3x
Romer et al.
2002
Ciclistas
6
2x / 2 x
dia
Williams et al.
2002
Atletas
4
Romer et al.
2002
Atletas
6
2x / 2x
dia
Gething et al.
2004
Sadios
6
3x
4-5
20 sessões não
especificadas
4
7x/2x
dia
Verges et al.
Griffiths &
McConnell
2007
2007
Sedentários
Remadores
Duração
Carga de
trabalho
% da PImax
60 % carga
progressiva
50% progredindo 5%/semana
até 80% PImáx
Ano
80% PImáx
30 repetições
50% PImáx
25 minutos
50 – 65% PImáx
30 repetições
50% PImáx
85 – 100% PImáx
30 minutos
30 repetições
Resultado
Obtido
 PImáx ,  concentração de lactato,
tempo de exercício
 8% PImáx manutenção do
VO2pico
 PImáx e do teste de caminhada
de seis minutos
 8% PImáx, não evidenciou alteração
e tempo de exercício, FC e lactado
 34%PImáx, 38% na resistência e
36% no tempo de exercício em
cicloergômetro
 sensação subjetiva de esforço
em exercício máximo
 VO2pico, PImáx, e resistência  sensação subjetiva de esforço e FCpico
 PImáx , Melhora na recuperação
na corrida
e menor concentração de lactato
 PImáx,  espirometria em todos
os grupos,  sensação subjetiva de
esforço e FCpico
70% VVM
 da fadiga muscular respiratória,
 correlação com melhora no
desempenho físico
50% PImáx
 da concentração de lactato, FCe sensação subjetiva de esforço;
pico
 PImáx
 = diminuição,  = aumento,  sem alteração, VVM = ventilação voluntária máxima, CVF = capacidade vital forçada, PF = pico de fluxo, VE = ventilação PImáx= pressão inspiratória máxima PEmáx = pressão expiratória máxima, VEF1,volume expiratório forçado no primeiro segundo, VO2pico = consumo
máximo de oxigênio, FCpico = freqüência cardíaca de pico, CRF = capacidade residual funcional.
120
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
nem no grupo controle (127 vs. 128 cmH2O), assim como
no tempo de exercício, ressaltando-se que a PEmáx permaneceu
inalterada em todos os grupos.
Esses resultados decorrentes do treinamento muscular
ventilatório corroboram com os obtidos por outros grupos.
Volianitis et al. [40] descreveram alterações significativas em
remadores do sexo feminino após onze semanas de TMI,
sendo o protocolo experimental dividido em dois grupos,
um composto por sete remadoras que realizaram o TMI com
carga equivalente a 50% PImáx, 30 repetições, duas vezes ao
dia, todos os dias da semana por período de trinta minutos.
O segundo grupo foi composto por sete remadoras, que realizaram TMI (placebo) com carga de 15% PImáx, 60 repetições,
uma única vez ao dia e observaram além de um aumento na
PImáx do grupo treinado (TMI = 104 ± 8 vs. 148 ± 10cmH2O
Placebo = 130 ± 12 vs. 136 ± 12), uma maior distância percorrida no teste de seis minutos realizado em remoergômetro
(1561 ± 9,3 vs. 1616 ± 13,4 metros), quando comparado com
o grupo placebo (1566 ± 20,7 vs. 1592 ± 21,1 metros).
Romer et al. [41] realizaram protocolo experimental com
16 ciclistas do sexo masculino, divididos em dois grupos de
oito indivíduos. O primeiro que realizou o TMI e o segundo
que realizou treinamento placebo sendo o projeto realizado
de formato duplo-cego. O treinamento foi composto por seis
semanas, duas vezes ao dia, onde o grupo treinamento utilizou
50% da PImáx, com orientação de realizar apenas 30 repetições,
já o grupo controle utilizou 15% PImáx. Nenhuma alteração
ocorreu na rotina de treinamento dos ciclistas no período das
seis semanas de TMI. Foi evidenciado que o TMI foi capaz
de aumentar a PImáx (102 ± 6 vs. 126 ± 5 cmH2O) quando
comparado ao grupo placebo (100 ± 6 vs. 99 ± 6 cmH2O),
diminuir a sensação subjetiva de esforço em exercício máximo em cicloergômetro no grupo treinamento sem, contudo,
aumentar o consumo máximo de oxigênio.
Esses dados são complementares aos obtidos por Spengler et al. [42], que com objetivo de investigar os efeitos do
TMI na concentração de lactato e consumo de oxigênio,
desenvolveram um protocolo experimental com participação
de 20 indivíduos sadios que realizaram o protocolo de TMI
com duração de 30 minutos, com 60% PImáx sendo a carga
aumentada de forma progressiva semanalmente, 5 dias na
semana por período de 4 semanas. Observou-se que houve
redução da concentração de lactato sanguíneo para mesma
intensidade de exercício, gerando a hipótese que tal fenômeno
pudesse estar diretamente relacionado ao melhor desempenho
da musculatura ventilatória em função do treinamento.
Recentemente Griffiths & McConnell [43] realizaram
protocolo experimental, utilizando amostra composta por
10 remadores do sexo masculino com média de idade de
24,9 ± 5,6 anos, 1,9 ± 0,5 metros de estatura e 83,7 ± 4,8 kg
de massa corporal. O TMI foi realizado por 4 semanas com
carga de 50% da PImax diariamente, duas vezes ao dia. Como
resultado observou-se um aumento de 26% na PImáx, além
de redução da sensação subjetiva de esforço, mensurada pela
escala de Borg CR-10 (9,1 ± 0,9 vs. 8,2 ± 1,7), redução da
concentração máxima de lactato (14,6 ± 4,4 vs. 13.0 ± 3.5)
e FCpico (187 ± 11 vs. 183 ± 10 bpm) seguido de aumento do
VO2pico (60,7 ± 6,2 vs. 62,7 ± 7,7 ml kg-1min-1) para mesma
intensidade de exercício realizado em remoergômetro em teste
de distância máxima em seis minutos
Esses resultados, porém diferem dos obtidos por Sonetti
et al. [16], que realizaram um protocolo experimental em
ciclistas do sexo masculino com TMI objetivando ganho de
força e resistência dos músculos ventilatórios. O TMI foi
realizado por período de cinco semanas, uma vez ao dia, por
período de 30 minutos, com carga equivalente a 50% da PImáx.
Foi verificado um aumento de 8% na PImáx do grupo TMI
e de 3,7% no grupo controle. Os resultados do TMI, não foram tão expressivos, uma vez que tempo de exercício máximo
realizado em cicloergômetro, VO2máx, frequência cardíaca e
concentração de lactato sanguíneo não sofreram alteração em
nenhum dos grupos, devendo-se, contudo, ressaltar que o
tempo de intervenção foi menor que os dos demais protocolos,
composto de apenas cinco semanas.
O estudo desenvolvido por Inbar et al. [17] apresentava
a hipótese de que o TMI realizado em vinte atletas de resistência de alto rendimento poderia aumentar o VO2máx e assim
melhorar o desempenho, adotando-se um protocolo de TMI,
composto por 10 semanas, todos os dias. Um grupo realizou
o TMI iniciando com 30% PImáx durante a primeira semana,
com acréscimo de 5% a cada sessão, atingindo 80% da PImáx
na quinta semana, sendo esse percentual da carga mantido
até o término da décima semana. Concluiu-se que apesar do
TMI ter alterado significativamente a PImáx, não foi capaz de
aumentar o VO2pico (58 ± 4,6 vs. 58,1 ± 5,4 ml kg-1min-1).
Esses resultados são similares aos obtidos por Willians et al.
[44] que utilizaram em seu protocolo experimental sete atletas
que realizaram TMI com carga de 50-65% da PImáx com 4 – 5
sessões de treinamento semanais, com duração de 25 minutos,
por período de 4 semanas. Após esse período, verificou-se que
tanto força como a resistência muscular ventilatória estavam
aumentados (31% e 128% respectivamente), porém não
ocorreram alterações significativas em VO2pico (53,1 ± 9,6 vs.
53,3 ± 11,9 ml kg-1min-1), FCpico (192 ± 9 vs. 194 ± 7 bpm)
e percepção subjetiva de esforço (8,4 ± 1,4 vs. 7,8 ± 1,0).
Porém no intuito de apontar os benefícios do TMI em
indivíduos sadios, destaque deve ser dado ao estudo de Gething [45] que realizou uma comparação entre diferentes
intensidades de TMI, tendo em seu protocolo experimental 66
indivíduos sadios de ambos os sexos divididos em três grupos,
que treinaram três vezes por semana durante seis semanas.
O primeiro grupo composto por 22 indivíduos treinou com
100% da PImáx, o segundo grupo composto por 21 indivíduos
realizou treinamento a nível sub-máximo, com 85% da PImáx,
e o terceiro grupo composto por 23 indivíduos não realizou
treinamento, verificando-se que ao final não existiu alteração
da função pulmonar, avaliada através de espirometria em
nenhum dos três grupos.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Porém a PImáx aumentou no primeiro e segundo grupos,
quando comparados ao controle. As respostas na frequência cardíaca durante o exercício ventilatório no grupo que
treinou com carga máxima, foi menor, quando comparado
ao controle, assim como a sensação subjetiva de esforço
relatada através da escala de Borg, demonstrando que as
seis semanas de TMI foram capazes de não só aumentar a
PImáx, mas também promover um decréscimo da frequência
cardíaca e na sensação subjetiva de esforço mensurada pela
escala de Borg, para mesma intensidade de exercício realizado em cicloergômetro.
Romer et al. [46] demonstraram os benefícios do TMI
em uma amostra composta por 24 atletas de corrida do sexo
masculino, divididos em dois grupos. O primeiro grupo TMI
realizou 30 manobras inspiratórias, duas vezes ao dia com
carga de 50% da PImáx por 6 semanas. Já o grupo controle
realizou 60 manobras inspiratórias uma vez ao dia com carga
de equivalente a 15% da PImáx. Como resultado, observou-se
uma melhora no teste de corrida de curta distância em intensidade submáxima, além de redução na concentração de
lactato sanguíneo no grupo TMI.
Objetivando investigar se o TMI é capaz de atenuar a
fadiga da musculatura ventilatória durante o exercício aeróbio,
Verges et al. [47] utilizaram em seu protocolo experimental 21
indivíduos sadios do sexo masculino divididos em dois grupos
(13 no grupo TMI e 8 grupo controle). O grupo treinamento
realizou 20 sessões de TMI com duração de 30 minutos em
intensidade de 70% da VVM.
Os indivíduos realizaram exercício de ciclismo em intensidade submáxima (85% FCmáx) antes e após o TMI, sendo
verificado uma redução da fadiga muscular ventilatória após
o período de TMI avaliada através de ventilação voluntária
máxima, porém sem nenhuma correlação com melhora do
desempenho físico máximo.
Gigliotti et al. [48] em seu trabalho de revisão, procuraram
apresentar evidências de que o TMI é capaz de promover
benefícios no desempenho de indivíduos sadios, tais como
redução na concentração de lactato, aumento da força e da
resistência dos músculos ventilatórios e uma menor sensação
subjetiva de esforço para uma mesma intensidade de exercício
aeróbico. Esses resultados foram mais evidentes em estudos
que os protocolos experimentais foram melhor controlados
(dosagem de lactato, grupo controle e testes de exercício com
protocolos máximos e sub-máximos) [16,42,46,49].
Portanto, estes autores, apesar de acreditarem que o TMI
acarrete em melhora no desempenho físico, sugerem que
estudos adicionais envolvendo a temática sejam realizados
na tentativa de elucidar os mecanismos envolvidos em tal
fenômeno.
Verges et al. [49] realizaram uma meta-análise envolvendo
nove estudos realizados pelo seu grupo de pesquisa totalizando
quinze anos de experiência com TMI em indivíduos sadios.
O objetivo foi avaliar os efeitos promovidos pelo TMI.
Amostra foi composta por 135 indivíduos (sendo 32 não
121
treinados e 103 treinados), dos quais 45 (7 mulheres e 38
homens) formaram o grupo controle com média de idade 29
± 5 anos e o grupo treinamento 28 ± 4 anos ambos os grupos
compostos por indivíduos com função pulmonar normal
avaliada através de espirometria.
O grupo que realizou treinamento totalizou um período
de aproximadamente seis horas semanais contra sete horas
semanais de treinamento placebo. Como resultado foi observado um aumento significativo em variáveis espirométricas
como Capacidade Vital Forçada, Pico de Fluxo e VVM. Porém
nenhuma alteração foi verificada em Volume Expiratório
Forçado no primeiro segundo (VEF1), PImáx e PEmáx.
Quanto à melhora no desempenho físico, avaliada através
de teste de esforço realizado em cicloergômetro, o VO2pico não
apresentou alteração significativa, porém o tempo de duração
do teste, assim como a Ventilação (VE) aumentaram de forma
significativa quando comparados ao grupo controle.
Uma menor sensação subjetiva de esforço foi verificada
para o mesmo tempo de exercício realizado antes do TMI.
Concluindo que o TMI foi capaz de promover uma redução
da sensação subjetiva de esforço para mesma intensidade de
exercício, aumentar o tempo de realização do teste de esforço
cardiopulmonar, seguido de uma maior VE máxima, além
de promover aumento da força e resistência da musculatura
ventilatória.
Em resumo, os trabalhos consultados apresentam importantes divergências, apesar de a maioria dos trabalhos
terem sua amostra composta por atletas, porém o número
de semanas de TMI é bastante diferente entre os estudos,
sendo o menor tempo de quatro semanas e o maior de onze
semanas. A frequência semanal também é outra variável que
merece ser destacada, sendo a maior frequência de sete vezes
por semana e a menor de duas vezes por semana, além de,
em três estudos, o TMI ter sido realizado duas vezes ao dia.
A carga de trabalho também foi bastante discrepante entre
os estudos, variando de 50% a 100 da PImáx, e, ainda, o fato
de em alguns estudos a carga de trabalho aumentar de forma
progressiva ao longo das semanas ao passo que em outros
estudos a carga era fixa durante todo o período. A variável
que sofreu a menor alteração entre os estudos foi o tempo
de TMI que variou de vinte e cinco a trinta minutos. Além
destas variáveis, deve ser destacado que os grupos experimentais eram compostos de indivíduos não-treinados e atletas de
modalidades distintas, como ciclistas, corredores e remadores.
Portanto, os possíveis efeitos do TMI podem ser dependentes
da modalidade esportiva ou mesmo do protocolo de testes
específicos para cada esporte.
Conclusão
Exercícios de alta intensidade ocasionam agudamente em
decréscimo da função muscular ventilatória decorrentes da
musculatura periférica ativa. O TMI é capaz de promover
aumento na força e resistência da musculatura ventilatória em
122
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
indivíduos sadios. Porém seus resultados quanto à melhora no
desempenho físico permanecem controversos, principalmente
pela discrepância entre os protocolos quanto à carga utilizada,
número de semanas, frequência semanal, além de treinamento
contínuo ou seriado.
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124
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Revisão
Bases metabólicas da rabdomiólise e atrofia muscular
Metabolic basis of rhabdomyolysis and muscle atrophy
Rodrigo Minoru Manda*, Fernando Moreto**, Roberto Carlos Burini, D.Sc.***
*Biomédico, Centro de metabolismo em exercício e nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), Programa Laboratório em Metabolismo Nutricional e Desportivo, Faculdade de Medicina de Botucatu
(UNESP, ** Biomédico, Centro de metabolismo em exercício e nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, Faculdade
de Medicina de Botucatu (UNESP), Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), *** Professor
Titular do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) e responsável pelo CeMENutri, Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina
de Botucatu (UNESP)
Resumo
Abstract
A redução da musculatura esquelética ou atrofia muscular ocorre
gradativamente a partir dos 30 anos de idade, mas com significância
importante a partir da 5ª década. Entretanto, ocorre em qualquer
idade, na privação alimentar de carboidratos e no trauma. Pode
ocorrer por denervação, desuso, deficiência nutricional, desequilíbrio
hormonal e inflamação. A proteólise muscular ocorre predominantemente via ATP-ubiquitina-proteossoma e cooperativamente com os
sistemas calpaína e caspase 3. Como promotores da proteólise figuram os glicocorticóides, o FOXO3 e as citocinas pró-inflamatórias.
O TNF, ativa o NF-B tanto pelo Ca++ intracelular como pelas
espécies reativas do oxigênio. Figuram como marcadores moleculares
da atrofia muscular, a expressão aumentada dos genes MAFbx/atrogina 1 e MURF-1 e os marcadores proteolíticos como ubiquitina,
calpaína, miostatina, TNF e NF-B. No geral, a rabdomiólise tem
o estresse oxidativo como principal efetor e a disfunção mitocondrial,
apoptose celular, como desfecho.
A gradual reduction in muscle mass began to occur physiologically after 30 years of age achieving clinical importance beyond
the 5th decade of life. However it can occur earlier by the presence
of food-energy deprivation and/or in association with trauma.
Skeletal-muscle loss may occur by causes such as muscle denervation, disuse, nutritional deficiencies, hormonal imbalance and
inflammation states. Muscle proteolysis occurs predominantly
through ATP-ubiquitin-proteasomal pathway, cooperatively with
systems of calpain and caspase 3. As proteolytic promoters there are
the glucocorticoids, FOXO3 and the pro-inflammatory cytokines.
TNF activates NFB either by increasing Ca++ intracellular as
well by the increased reactive oxygen species. The over expression
of genes MAFbx/atrogin 1 and MURF-1 are the main molecular
markers of muscular atrophy whereas ubiquitin, calpain, TNF and
NFB figure as the proteolytic markers. In general, oxidative stress
is the main promoter of rhabdomyolysis and both mitochondrial
disfunction and cellular apoptosis are the outcomes.
Palavras-chave: rabdomiólise, proteólise, atrofia muscular,
caquexia.
Key-words: rhabdomyolysis, proteolysis, muscle atrophy, cachexia.
Recebido 15 de janeiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini, CeMENutri, Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Pública (FMBUNESP), Distrito de Rubião Jr, s/n° 18618-970 Botucatu SP, Tel: (14) 3811-6128, E-mail: [email protected], rodrigo_manda@yahoo.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
A musculatura esquelética constitui o maior tecido do
corpo. Sua redução significativa está associada a patologias
metabólicas como diabetes melito tipo 2 (DM-2), obesidade,
dificuldades de cicatrização e imunodepressão [1]. Adicionalmente, por estar ligada aos maiores compartimentos colágeno
e mineral do corpo, tem implicações importantes na densidade
mineral óssea e função osteoarticular. Como consequência
da menor aptidão física, há comprometimento do equilíbrio
com quedas, fraturas e maior mortalidade [2,3].
Na vida adulta a perda muscular ocorre quantitativamente
por atrofia sarcoplasmática, mais precisamente por proteólise
miofibrilar [4].
A massa muscular é mantida pelo balanço entre a síntese
e o catabolismo protéico miofibrilar, entre os processos de
apoptose e regeneração ou ambos. O catabolismo protéico
é o principal determinante da deposição protéica muscular
adulta [5]. Assim, o processo de perda de massa ou atrofia
muscular é decorrente do predomínio do catabolismo sobre
a síntese de suas proteínas [6].
A atrofia é acompanhada pela redução do tamanho
(diâmetro) e número das miofibrilas e o determinante do
diâmetro da fibra parece ser a densidade de mionúcleos,
que guardariam proporção com o sarcoplasma e este com as
miofibrilas. Proporção análoga existiria entre a rede vascular
(e perfusão) muscular e as miofibrilas.
Causas da atrofia muscular
A atrofia muscular esquelética pode ocorrer por denervação, desuso, desnutrição, desequilíbrio hormonal ou
inflamação [3].
A atrofia muscular por denervação pode ser observada nas
condições de seccionamento de terminação nervosa local ou
da medula espinal, assim como pela neurodegeneração patológica (Alzheimer, paralisia infantil) ou farmacológica [7].
A atrofia por desuso é vista nas situações de: imobilização
de membros, ventilação mecânica (atrofia do diafragma),
microgravidade (vôos espaciais prolongados), hospitalização
longa (bed rest) e inatividade física cotidiana (sedentarismo) [8].
A atrofia por desnutrição ocorre por privação dietética de
carboidratos e necessidade de preservar a homeostase glicêmica (pela neoglicogênese hepática) à custa de aminoácidos
da proteólise muscular.
A atrofia por desequilíbrio hormonal está associada ao
predomínio dos hormônios catabólicos do eixo hipotálamohipófise-adrenal: hormônio adrenocorticotrófico, cortisol,
tiroxina e catecolaminas; sobre os hormônios anabólicos
sistêmicos: hormônio do crescimento (GH), testosterona,
estrogênios, insulina e IGF-1 (insulin-like growth factor 1).
São exemplos deste tipo de atrofia o ocorrido na menopausa, hiperfunção adrenal ou corticoterapia prolongada e na
senilidade [9-11].
125
De forma análoga, a atrofia inflamatória se caracteriza pelo
predomínio das citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, IL-8
e TNF) sobre as antiinflamatórias (IL-2 e IL-10).
Quando persistido cronicamente, esse padrão citocínico
(TNF) retroalimentado positivamente pelo estresse oxidativo [12,13], leva a síndrome de caquexia, em que o desgaste
muscular (com relativa preservação do tecido adiposo) é acompanhado de anorexia, anemia, hipoalbuminemia, dificuldade
de cicatrização e imunodeficiência [1]. São exemplos de caquexia: a artrite reumatóide, o câncer e AIDS. Entretanto, não se
exclui a participação inflamatória na hipotrofia muscular do
alcoólatra, renal crônico e do obeso. As causas nutricionais e
sedentarismo estão intimamente associadas [11,14].
Mecanismos proteolíticos
A degradação das proteínas musculares ocorre por quatro
vias proteolíticas principais: a lisossômica [15], a proteossômica dependente da ubiquitina (Ub) [16], as proteases
cálcio (Ca++) dependentes (calpaínas I e II) e suas inibidoras
(calpastatinas), existentes no citosol e; por fim, o sistema que
envolve a caspase 3, enzima citosólica participante também
do processo de apoptose celular [8].
Proteólise lisossômica
Na proteólise lisossômica, as proteínas encaminhadas à
organela são degradadas por proteases ácidas denominadas
catepsinas. Diferentes vias são usadas para entregar substratos
proteicos intracelulares aos lisossomos: microautofagia, crinofagia, autofagia mediada por chaperonas e macroautofagia
[15].
O músculo esquelético contém poucos lisossomos e esse
sistema é, provavelmente, responsável pelo catabolismo,
apenas, de algumas proteínas de vida longa, de proteínas
membranosas ou ambas e pela eliminação de organelas. Os
sistemas fomentadores de macroautofagia e autofagia mediada
por chaperonas, que são pouco intensos em condições basais,
são estimulados em condições de estresse como: jejum crônico,
estresse oxidativo e exposição celular a compostos tóxicos [17].
Proteólise dependente da via ATP-ubiquitinaproteossoma
A proteólise proteossomal é dependente da ubiquitina
(Ub), proteína norteadora da proteína a ser destruída. A via
proteolítica ubiquitina-proteossoma constitui importante
mecanismo no catabolismo proteico de células eucarióticas,
sendo estimulado em situações de diminuição do trabalho
muscular, denervação, tratamento com glicocorticóide (dexametasona), administração de IL-1, estresse inflamatório e
câncer [18,19]. Essa via envolve, basicamente, duas etapas:
a ligação covalente da ubiquitina ao substrato proteico a ser
destruído e o catabolismo proteico por proteases do proteos-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
126
soma 26S, estrutura em forma de tubo, dotada de proteases,
em seu interior, responsáveis pela fragmentação da cadeia
polipeptídica em peptídeos livres.
A ubiquitinação do substrato inicia-se com a ativação de
pelo menos 3 classes de proteínas: E1, ativadora da Ub; E2,
conjugadora da Ub e; E3, ligases da Ub. São responsáveis pela
conjugação da Ub às proteínas intracelulares, que são reconhecidas e degradadas no proteossoma [20]. A E3 Ub-ligase,
também, é conhecida como muscle ring finger (MuRF-1)
e a muscle athophy F-box (MAFbx/atrogina 1). MuRF-1
e MAFbx/atrogina 1 são genes que apresentam expressão
elevada no músculo atrófico. A expressão proteica (E3 Ubligase) é responsável pela conjugação específica da ubiquitina
ao substrato [18,21]. Paralelamente, há maior expressão do
mRNA do proteossoma 26S (contendo as proteases) [16].
A transcrição dos genes reguladores da atrofia (MAFbx/
atrogina 1 e MuRF-1) é regulada pelos fatores transcricionais
da família FOXO (fork head box O): FOXO1 e FOXO3. A
atividade desses fatores transcricionais é modulada pela serina/
treonina quinase Akt. A fosforilação da Akt inibe a ação dos
fatores FOXO e, consequentemente, a ativação dos genes da
atrofia. Reciprocamente, a não-fosforilação da Akt permite a
atividade dos fatores FOXO, promovendo a atrofia muscular,
decorrente da maior expressão dos genes MAFbx/atrogina 1
e MuRF-1 [22](Figura 1).
Figura 1 - esquema da integração dos processos de apoptose e proteólise muscular.
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‡-HMXPSURORQJDGR
‡,PRELOL]DomR
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126
&D
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SIRT-1: deacetilase sirtuina; PGC-1 : peroxisome proliferator-activated
receptor  coactivator-1; IGF-1: insulin-like growth factor 1; Aktp:
serina/treonina quinase Akt fosforilada; FOXO1 e FOXO3: fork head
Box O; EROs: espécies reativas de oxigênio; I: IB quinase; NF-B:
fator nuclear B; TNF-: fator de necrose tumoral ; MAFbx: muscle
athophy F-box; MURF-1: muscle ring finger; Sistema Ub-Proteossoma
26S: sistema ubiquitina proteossoma 26S; Ca2+: Cálcio; NOS: óxido
nítrico sintase; NO: óxido nítrico.
O composto ubiquitinado dirige-se ao proteossoma e é
reconhecido pela subunidade 8S, iniciando-se o desenove-
lamento da cadeia polipeptídica, permitindo assim a ação
das proteases presentes na subunidade 20S, liberando os
peptídeos livres.
Proteólise cálcio dependente
A atividade proteolítica dependente de cálcio é condicional
a atividade de cisteína-proteases, conhecidas como calpaínas
[23], e decorrente do predomínio das calpaínas sobre as calpastatinas, inibidoras endógenas da primeira. As isoformas
bem caracterizadas da calpaína são calpaína 1 (ou μ-calpaína),
calpaína 2 (ou m-calpaína) e calpaína 3 (ou p97), sendo esta
músculo específica [24].
Variações na expressão dos níveis de calpaínas e de seus
reguladores foram relatados na atrofia muscular induzida pelo
desuso, no envelhecimento com ausência de exercício físico
e no tratamento com dexametasona [21].
Similarmente às catepsinas, as calpaínas não são sistematicamente ativadas e, provavelmente, não são diretamente
responsáveis pelo catabolismo de actina e miosina. Sugere-se,
entretanto, que possam atuar na desagregação das proteínas
sarcoméricas, passo inicial para degradação das proteínas
miofibrilares pelo sistema proteossomal [25].
As calpaínas estão envolvidas em diferentes mecanismos
celulares: proliferação, migração e fusão dos mioblastos, associados à regeneração muscular. Participam ainda na regulação
da apoptose e proliferação das células satélites [26], células
tronco musculares dotadas da capacidade de regeneração das
fibras musculares submetidas a estímulos catabólicos (exercício excêntrico, ferimentos etc) [27].
Proteólise dependente das caspases
A caspase 3 é a protease que cataboliza proteínas musculares de estrutura complexa (ex: actina/miosina), tornando-as
viáveis a serem degradadas completamente pelo sistema Ubproteossoma [28].
As espécies reativas de oxigênio (EROs), geradas no músculo
tanto em repouso como no exercício, quando não neutralizadas,
resultam em estado de estresse oxidativo, que podem levar a
rabdomiólise tanto pela proteólise via caspase 3, como pela
apoptose via disfunção mitocondrial [6]. Ambas são decorrentes
da maior concentração citosólica de Ca++ (Figura 1).
A proteólise pela caspase 3 ocorre, tanto pelo aumento do
Ca++ intracelular, através da via: Ca++  calpaína  caspase
12  caspase 3, como pela citocromo oxidase, liberada em
situações de agressão mitocondrial, pela via: calpaína  BID
 tBID  mitocôndria  citocromo c  caspase 3 [8].
Adicionalmente, o Ca++ pode induzir a geração de EROs,
tanto pela via: Ca++  nNOS  NO  EROs, como pelos
estágios mitocondriais 3  4  EROs e também pelo transdutor do sarcolema PkC  ERk 1/2  NAD(P)se  EROs.
As EROs podem ainda ser geradas, independentemente do
Ca++, via xantina oxidase [8].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Integração dos mecanismos proteolíticos
Citocinas pró-inflamatórias agem como estimuladores
proteolíticos via ativação do NF-B, tanto por EROs como
pela mobilização do Ca++ do retículo sarcoplasmático [29]
(figura 1). Nesse sentido, a rabdomiólise induzida pelo TNF
está associada as EROs e alterações de indicadores pró-antioxidantes como GSH/GSSG (glutationa reduzida/oxidada).
EROs levam a ativação das vias sinalizadoras que ativam
fatores de transcrição (NF-B, FOXO) [25] (Figura 1).
As enzimas de ubiquitinação (ligases) são reguladas por
mecanismos S-tiolização/detiolização e, portanto, susceptíveis
ao estresse oxidativo [30].
Assim, a atrofia muscular decorrente do TNF está associada à ativação do NF-B com ligação ao sistema proteossomal [6], pela indução da E3 Ub-ligase (MuRF-1 e MAFbx/
atrogina 1) [31] (Figura 1).
Embora seja aceito que o sistema ATP-Ub-proteossomal
seja o predominante na proteólise muscular [32,33], foi demonstrado que o sistema proteossomal é capaz de degradar
actina ou miosina isoladamente, mas não a miofibrila. Desta
forma, as proteínas miofibrilares primeiro seriam liberadas
pela proteólise da titina por calpaínas concentradas na linha
Z. Assim, os estágios iniciais da rabdomiólise seriam dependentes das calpaínas e caspase 3 e os finais pelo sistema Ubproteossomal [33,34].
Ativadores da proteólise muscular
Dentre os promotores a via proteolítica (Ub-proteossoma),
encontra-se os fatores de transcrição (FOXO), sendo o estresse
oxidativo o principal sinal “upstream” para a proteólise miofibrilar [8]. O principal alvo proteolítico do estresse oxidativo
seria a ativação da caspase 3 adicional a disfunção mitocondrial
e apoptose celular [6] (Figura 1).
A expressão aumentada dos genes da E3-Ub ligase muscular é vista na atrofia muscular das condições de jejum,
diabetes, microgravidades, imobilização e deficiências de
nutrientes [18,19,35]. Essa expressão pode ser estimulada
pelo tratamento da célula muscular com TNF via ativação
da p38/MAPk [36]. Acredita-se que na atrofia induzida pelo
desuso a expressão aumentada do MuRF-1 e MAFbx/atrogina
1, seja induzida pelo sinalizador I-NF-B [37].
O TNF é ativador potente do NF-B e há ligação entre
TNF-NF-B e o sistema proteolítico ubiquitina dependente
[6] (figura 1). A inibição do NFB reduz a proteólise em
cultura de células musculares [29], enquanto o tratamento
crônico com TNF resulta em perda de miosina [31]. As
concentrações de TNF ampliam a transcrição de NF-B,
suprimindo o fator de diferenciação muscular MyoD e prejudicando o reparo muscular [38]. O TNF induz a E3-Ub
ligase, com consequente atrofia muscular e redução da força
contrátil, em mecanismo semelhante ao da cardiomiopatia
crônica [31].
127
Assim, figuram como marcadores moleculares da atrofia
muscular a expressão aumentada dos genes MAFbx/atrogina-1
e MURF-1 [18,19]. Como mediadores proteolíticos incluem
Ub, calpaína, miostatina, TNF e NF-B [6].
No jejum e em patologias como câncer e insuficiência
renal crônica, os glicocorticóides têm mostrado atividade
“upstream”, aumentando a expressão da E3-Ub ligase e miostatina [39]. As citocinas pro-inflamatórias, particularmente o
TNF, agem como estimuladores, pela ativação do NF-B
tanto pelo estresse oxidativo como pela mobilização do cálcio
intracelular (e disfunção mitocondrial) (figura 1).
Distúrbios no balanço de oxi-redução são mecanismos
regulatórios críticos na ativação de ambos, calpaínas e caspase
3, durante a atrofia do miotúbo [40]. Estresse oxidativo e
inflamação são fortemente correlacionados e contribuem
para os estados de atrofia muscular. Além desses, resistência
insulínica e acidose metabólica também constituem estímulos
rabdomiolíticos. A deficiência insulínica experimental resulta na
hiperativação do sistema ATP-Ub-proteossoma pela expressão
gênica [41]. A proteólise muscular induzida pela acidose é via
ATP-Ub-proteossoma, mas requer as concentrações aumentadas de glicocorticóides decorrentes da acidose metabólica [42].
Nos exercícios exaustivos ou nos modelos de exercícios
excêntricos, há danos musculares relatados em indivíduos
sadios. São caracterizados por danos morfológicos e celulares,
com vazamento de constituintes celulares para a circulação,
resposta inflamatória, disfunção muscular e dor [43]. Nestas
condições, há aumento dos mediadores proteolíticos (E3-Ub
ligase, proteossoma 26S e calpaína) [44]. No dano muscular
pelo exercício exaustivo há dor (sinal clínico), perda de força
(sinal funcional) e elevação dos marcadores musculares no
sangue (sinal bioquímico) [45].
Assim, tanto os processos miostáticos, como os rabdomiolíticos têm no estresse oxidativo seu principal efetor e a
apoptose celular por disfunção mitocondrial seu desfecho.
Como estímulos, há aumento do cálcio intracelular, atividade
pró-inflamatória, elevação dos glicocorticóides, denervação e
dano muscular por exercício exaustivo (Figura 1).
Ratos SOD -/- (superóxido dismutase) desenvolvem
atrofia (redução do diâmetro das fibras e número de mionúcleos) associadamente a maior proteólise e apoptose com
maiores atividades das calpaínas, caspase 3 e endonuclease G
(e fragmentação do DNA) [46]. Citocinas pró-inflamatórias
(IL1, IL-6, IL-8 e TNF) agem como mediadores proteolíticos “upstream” pela ativação do NF-B, o que é feito tanto
pela mobilização do Ca++ intracelular (das EROs) como pela
produção de EROs [29].
A restrição calórica e o treinamento físico reduzem a
produção de EROs e aumentam a defesa antioxidante, respectivamente, neutralizando o estresse oxidativo. As EROs são
os principais processos ativadores da disfunção mitocondrial
e rabdomiólise. A restrição calórica aumenta a biogênese mitocondrial (via PGC-1 , peroxisome proliferator-activated
receptor  coactivator-1) e a sensibilidade insulínica (via
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PI3K, phosphoinositide 3-kinase), ambos pela ativação da
deacetilase sirtuina (SIRT1) (figura 1).
Em animais SOD-/- a restrição calórica reduz a geração de
EROs, aumenta a sobrevida, reverte os efeitos da denervação
e a intolerância dos animais ao exercício físico [46].
15.
Conclusão
17.
Em conclusão, pode-se afirmar que a rabdomiólise tem,
de forma geral, o estresse oxidativo como principal efetor. Por
outro lado, a disfunção mitocondrial com apoptose celular
parece consistir em seu principal desfecho.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
130
Revisão
Esteróides anabolizantes: benefícios ou malefícios?
Anabolic steroids: benefits or harms?
Fábio Eduardo de Almeida*
*Graduando em Educação Física pelo Instituto Federal de Ensino, Ciência e Tecnologia - Campus Muzambinho/MG
Resumo
Abstract
Os esteróides anabólico-androgênicos são geralmente utilizados por atletas e vêm, crescentemente, sendo encontrados junto
de jovens e adultos através de uso indiscriminado pelo fato de
prometer ganhos rápidos e sem muito esforço, além de propiciar
níveis de recuperação muito mais altos do que o normal. Porém,
estes indivíduos esquecem-se dos efeitos colaterais que muitas das
vezes são deletérios. Os objetivos deste estudo são explanar sobre os
compostos dos esteróides e abordar seus possíveis potenciais de risco.
The anabolic-androgenic steroid are generally used by athletes
and is increasingly being found among young people and adults
through widespread use because of promising quick gain and without much effort, besides provide levels of recovery much higher
than normal. However, these individuals forget the side effects that
often are deleterious. The objective of this study is to explain about
the compounds of steroids and address their possible potential risk.
Palavras-chave: esteróides anabólico-androgênicos, uso
indiscriminado, efeitos colaterais, potenciais de risco.
Key-words: anabolic-androgenic steroids, indiscriminate use, side
effects, potential risks.
Recebido 7 de dezembro de 2010; aceito 15 de abril de 2010.
Endereço para correspondência: Fábio Eduardo de Almeida, Loteamento Bela Vista, Caixa postal 36, 37145-000 Alterosa MG, Tel:
(35) 9108-2009, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Introdução
Os esteróides anabólico-androgênicos (EAA’s) obtiveram
proeminência no início da década de 1950 com finalidades
médicas e o seu desenvolvimento sintético permitiu a alteração da composição química natural desses hormônios para
reduzir as propriedades androgênicas e aumentar seus efeitos
anabólicos na musculatura [1-3].
Os EAA’s são derivados sintéticos da testosterona que é o
hormônio sexual primário do homem [4,5]. A testosterona
se liga a um complexo hormônio receptor denominado de
receptor androgênico, potencializando a síntese de proteína
muscular. Sua produção é endógena, porém, pode ser exógena
através de administração com injeção [6]. Os EAA’s são utilizados comumente para o tratamento de patologias, porém
atletas de alto nível que necessitam de um maior desempenho
e pessoas que querem uma melhora de aparência descobriram
essas drogas e as usam sem nenhum tipo de restrição [5,7]. Os
efeitos anabólicos dos EAA’s são o de promover uma melhor
síntese de proteína muscular e consequentemente um maior
crescimento muscular, porém os efeitos colaterais são bem
piores podendo levar inclusive ao óbito. Dentre estes efeitos
podemos citar hipertensão arterial, aterosclerose, alterações na
coagulação sanguínea, carcinoma hepático, danos nos tendões
entre vários outros [8].
A testosterona e o hormônio do crescimento –
GH
Testosterona - Segundo Peres e Guimarães Neto [9], a testosterona é o hormônio dominante encontrado no cérebro, nos
ovários, na hipófise, nos rins e nos testículos sendo o principal
responsável pelas características que diferem o organismo masculino do feminino. A concentração plasmática de testosterona
funciona como um marcador fisiológico do estado anabólico
sendo que, além de seus efeitos diretos sobre a síntese do tecido muscular, ela afeta indiretamente o conteúdo proteico das
fibras musculares por promover a liberação de hormônio do
crescimento que, consequentemente, faz com que haja síntese
e a liberação do IGF [1]. A testosterona age juntamente com
receptores neurais que aumentam a liberação de neurotransmissores e inicia as alterações nas proteínas estruturais que irão
modificar o tamanho da junção neuromuscular acarretando um
aumento de força da musculatura [2].
A produção da testosterona se dá através de dois hormônios hipofisários, sendo hormônio luteinizante (LH) e
hormônio folículo estimulante (LSH) [10] e é considerado
um hormônio esteróide por possuir uma estrutura química
semelhante a do colesterol sendo lipossolúvel difundindo-se
facilmente através das membranas celulares [2]. Ela também
pode ser derivada de seus precursores diretos, dehidroepiandrosterona (DHEA) e androstenediona que são liberados pelas
gônadas e pelo córtex adrenal e se convertem em testosterona
no fígado [3].
131
Em mulheres o nível de testosterona corresponde a apenas
um décimo da encontrada nos homens, porém, em exercício
esse nível tem um aumento significativo [1].
Sabe-se que com a idade, existe um declínio muito grande
na produção de testosterona em homens, mas uma dose fisiológica semanal seria interessante para evitar alguns problemas
de saúde relacionados com esse declínio [11]. A deficiência
nos níveis de testosterona também pode acarretar doenças
cardiovasculares [12].
Hormônio do Crescimento (GH) - Na Medicina, o GH é
conhecido como somatotropina, hormônio secretado pela
glândula pituitária, sendo um potente hormônio anabólico
que influencia no crescimento corpóreo, no metabolismo
celular, na composição corporal, no perfil lipídico, no estado
cardiovascular e na longevidade [3,9,13]. Antes de 1985,
esse hormônio tinha sua produção limitada, pois ainda não
existiam os seus compostos sintéticos havendo então uma
extração direta de cadáveres. Essa prática ocasionou grandes
complicações devido a possíveis e prováveis contaminações
e patologias [2,9].
O GH atua diretamente sobre o tecido gorduroso,
intensificando a lipólise e age por intermédio do IGF-1
sobre o tecido muscular e ósseo causando a proliferação de
tecidos [9].
Uma maior liberação de GH ocorre através do exercício
físico regular, porém deve ser realizado em níveis acima do
limiar de lactato, já que este feito pode conservar a massa de
tecido magro durante a perda de peso [1,14]. De acordo com
Mauras e Haymond [15], o GH age diretamente no metabolismo proteico incrementando a retenção de nitrogênio e
diminuindo a quebra de proteína muscular. Foi observada
também certa resistência contra a insulina, havendo alguns
relatos de hiperinsulinemia. Não existem evidências clínicas em
seres humanos saudáveis de que o GH aumente o desempenho,
contudo algumas evidências sugerem que o seu abuso seja pelo
fato de ser um potente agente anabólico e ter propriedades
lipolíticas [16].
Segundo Tentori e Graziani [3], o uso de GH, tanto em pacientes quanto em atletas, causa sérios efeitos colaterais como
hipertensão arterial e intracraniana, náuseas, vômito, edema
periférico, síndrome do túnel de carpo, mialgia, acromegalia,
cardiomegalia, aumento do risco cardiovascular, resistência à
insulina e consequentemente o diabetes.
A insulina como agente anabólico
A insulina é um hormônio anabólico com efeitos potentes
sobre o metabolismo e a composição corporal [17] e tem sua
produção a partir das células  nas ilhotas de Langerhans do
pâncreas [9]. É de essencial importância para a manutenção da
homeostase de glicose fazendo seu transporte para o interior
das células, especialmente as musculares e do tecido conjuntivo, além de promover a glicogênese e inibir a gliconeogênese
[1,2,17,18].
132
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Além de seu papel primário como regulador do metabolismo de glicose, apresenta outro fator importante, agindo
também com o metabolismo de proteínas e gorduras através
da captação celular de aminoácidos e na síntese de proteínas
e tecido adiposo [2,9].
No meio esportivo, vem sendo utilizada como agente anabólico devido ao aumento no transporte de aminoácidos de
cadeia ramificada (BCAA’s) para dentro das células musculares
e aumento da síntese de glicogênio muscular e, além disso,
pelo fato de agir como fator anti-catabólico por prevenir a
quebra de proteínas musculares [9].
Cortisol, o hormônio indesejado
O cortisol é o principal glicocorticóide secretado pelo
córtex supra-renal sendo considerado um hormônio catabólico, que tem seus níveis elevados durante situações de
estresse intenso e depressão [9]. Em indivíduos treinados,
essa elevação durante estresse intenso é menor do que em
indivíduos sedentários [1].
Segundo Wilmore e Costill [2], o cortisol estimula a gliconeogênese, aumenta a mobilização de ácidos graxos para
sua utilização como fonte energética, diminui a utilização de
glicose, estimula o catabolismo proteico para liberação de
aminoácidos, atua como agente antiinflamatório, deprime
reações imunológicas e aumenta a vasoconstrição causada
pela adrenalina.
Pelo fato de estimular o catabolismo proteico, liberando
aminoácidos para serem utilizados pelo fígado no processo
da gliconeogênese [2], atletas vem tentando inibir a secreção
desse hormônio para que não haja perda de massa muscular,
mesmo após o ciclo de esteróides [3].
Os ciclos
Os ciclos de EAA’s geralmente têm duração de 4 a 12 semanas com alguns atletas, levando até 16 semanas. Geralmente
são administradas várias drogas simultaneamente (stacking)
ou em doses que são gradualmente aumentadas e a seguir
diminuídas (pirâmide) administradas via oral, intramusculares
ou ambas com doses de 10 a 100 vezes maiores do que as preconizadas através de tratamento e estudos médicos [1,3,9,19].
Na tentativa de minimizar os possíveis efeitos colaterais
causados pelo uso excessivos dos EAA’s, atletas vêm realizando
ciclos cada vez mais curtos. Outro fator interessante é que a
produção natural de testosterona parece voltar mais rapidamente após um ciclo curto de anabolizante [9].
O uso e suas consequências
Os EAA’s vêm sendo utilizados por atletas para o ganho
de massa muscular e força. Eles são benéficos em vários tipos
de competições, mas são mais comumente encontrados em
campeonatos de fisiculturismo, levantamento de peso, alguns
estudantes atletas e entusiastas do fitness [20]. Segundo Wilmore e Costill [2] fundamentados em bases teóricas, os esteróides causam alguns efeitos benéficos dentre eles: aumento
de massa muscular magra, aumento da força muscular, além
de auxiliar na recuperação pós-treino propiciando, assim,
uma maior intensidade de treinamento. Apesar de todos estes
efeitos benéficos, a quantidade de efeitos colaterais é muito
grande sendo que alguns deles são reversíveis e outros não,
podendo ocasionar a morte do usuário.
Os efeitos colaterais, como citado acima, são bem maiores do que os efeitos benéficos, dentre eles podemos citar:
azooespermia, hipertrofia prostática, hipertensão arterial,
impotência, acne, psicose, aumento do colesterol LDL e
consequentemente o total fechamento das epífises em adolescentes, infarto de miocárdico, hipertrofia do ventrículo
esquerdo, icterícia colestática, alteração do perfil tireóideo,
carcinoma hepático etc. [9,21-23].
Outro efeito que pode ser considerado como colateral, é
o fato de que logo após o término do ciclo de esteróides há
uma grande perda de força e massa muscular devido a uma
sobreposição do cortisol para com a testosterona podendo
levar o usuário a depressão e ao uso de ciclos mais longos
piorando os efeitos deletérios [3].
Hipertensão arterial: sem dúvida, um potencial
de risco
Como descrito anteriormente, os EAA’s podem trazer
benefícios e malefícios a saúde, mas a quantidade e a periculosidade dos malefícios citados são, sem dúvida, bem maiores
do que qualquer benefício. Foram ligados ao uso de EAA’s,
inúmeros possíveis efeitos colaterais, alguns deles reversíveis
e outros não, podendo ocasionar até a morte. Porém um dos
efeitos mais perigosos é a hipertensão arterial.
No mundo existem mais de 1 bilhão de pessoas com
pressão arterial alta [1] e este é um dos efeitos colaterais dos
EAA’s que não deve ser ignorado de maneira alguma [9]. No
Brasil esse número corresponde de 15 a 20% da população
adulta possuindo prevalência também em crianças e adolescentes [24].
Geralmente, pacientes hipertensos não submetidos a
tratamento evoluem em 50% dos casos para insuficiência
cardíaca, 30% sofrem acidente vascular cerebral, 15% sofrem
de insuficiência renal e os 5% restantes sofrem de outras
complicações [9].
Conclusão
Os esteróides anabólicos, como qualquer outro medicamento que seja utilizado incorretamente, trazem, sem dúvida,
efeitos colaterais, porém o fator preocupante é que mesmo
sabendo destes efeitos o número de usuários é crescente.
Portanto, informação nunca é demais e a diferença entre
o remédio e o veneno é a dosagem, sendo que, caso o indi-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
víduo não necessite de tratamento medicamentoso, o uso
de esteróides é totalmente desaconselhado, mas caso deseje
fazer o uso destas substâncias, ao menos deve procurar um
profissional apto para o mesmo.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e
divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade
física.
Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do
Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica
da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos
(CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela
publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo
Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted
to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional
de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que
são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of
Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão
atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos
está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ).
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por
um de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relação a aspectos
experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou
inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional
que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos,
Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel,
etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições
de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
135
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010
136
Calendário de eventos
2010
Setembro
Junho
3 a 6 de junho
17ª Convenção Brasil Saúde Sport Fitness
Porto Alegre, RS
Informações: (51) 3312-8323 / 3312-8322
www.convencaobrasil.com.br
2 a 4 de setembro
11th IHRSA – Fitness Brasil
Transamérica Expo Center, São Paulo, SP
Informações: www.fitnessbrasil.com.br
24 e 25 de setembro
Julho
3º Simpósio de Fisiologia e Preparação Física no Futebol
Jundiaí, SP
Informações: www.educaçãofísica.com.br
Outubro
15 a 17 de julho
Wellness Rio 2010
Centro de Convenções SulAmérica Rio de Janeiro, RJ
5 a 17 de outubro
10ª Fitness Brasil Norte/Nordeste
Centro de Convenções da Bahia, Salvador, BA
23 de julho a 1 de agosto
VII Encontro Internacional Esporte e Atividade Física
São Paulo
Informações: www.encontrophorte.com.br
Tel: (11) 2714-5678
Agosto
4 de agosto
VI Jornada de Educação Física em cardiologia
Hotel Intercontinental
Rio de Janeiro, RJ
Informações: (21) 2552-0864 e 2552-1865
Novembro
5 a 7 novembro
14º SIAFIs RJ – Simpósio Internacional de Atividades
Físicas do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, RJ
Informações: www.educaçaofisica.com.br
19 a 21 de novembro
Wellness Curitiba 2010
Expotrade Convention Center, Curitiba, PR
2011
Janeiro
15 a 19 de janeiro
26º Congresso Internacional de Educação Física (FIEP)
Foz do Iguaçu, PR
Informações: www.congressofiep.com
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 9 número 3 - julho/setembro 2010
EDITORIAL
Paulo Farinatti ....................................................................................................................................................................147
ARTIGOS ORIGINAIS
Nível de desidratação e desempenho físico do árbitro de futebol no Paraná
e São Paulo, Alberto Inácio da Silva, Ricardo Fernández, Mario Cesar de Oliveira,
Turíbio Leite de Barros Neto ..............................................................................................................................................148
Influência da aplicação da bolsa de gelo na força de preensão manual,
Francisco Olímpio Barbosa de Castro, Rodrigo Santos de Queiroz, Igor Larchert Mota .....................................................156
Mudança na composição corporal e consumo alimentar no período pré-competição
da equipe campeã paulista de futebol feminino de campo, Evelise Boliani,
Camila Pereira Braga, Ana Carolina de Bianchi, Juliana Bravo Guerrero, Mayumi Akiba,
Talita Amaro Pereira, Nailza Maestá ...................................................................................................................................162
Maturação biológica de atletas de ginástica artística do Rio de Janeiro,
Gisele Valle da Silva, Astrogildo Vianna de Oliveira-Júnior, Patrícia Arruda de Albuquerque .............................................167
Reprodutibilidade e comportamento da frequência cardíaca durante aulas
de ginástica localizada, Rafael Ayres Montenegro, Jonas Lírio Gurgel,
Flávia Porto Melo Ferreira, Alexandre Hideki Okano .........................................................................................................174
Avaliação da flexibilidade durante o ciclo menstrual em pré adolescentes,
Isabela de Souza Camargo, Christiano Bertoldo Urtado, Márvio Pereira Leoncini,
José Bechara Neto ..............................................................................................................................................................178
RELATOS DE CASO
Influência do exercício físico resistido na melhora da fração de ejeção
em indivíduo chagásico, Jefferson Petto, George Robson Ferraz, Thiago Bouças ...............................................................181
Avaliação da ingestão nutricional de um maratonista de elite do atletismo português,
José Augusto Rodrigues dos Santos, Domingos José Lopes da Silva, Paulo Jorge Colaço .....................................................184
REVISÕES
Comparação entre as modulações dos níveis plasmáticos de HDL-colesterol
induzidas pelo treinamento aeróbio de alta e baixa intensidade,
Marcos Maruyama, Júlio Cezar Papeschi da Silva, Waldecir Paula Lima,
Luiz Carlos Carnevali Junior .............................................................................................................................................193
Aspectos e efeitos da creatina sobre o sistema renal e hepático,
William Marciel de Souza, Thiago Gomes Heck, Cíntia Fiorini, Everton Boff ....................................................................198
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 206
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 208
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
146
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
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Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Robert Robergs (EUA)
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Rosane Rosendo (SC)
Douglas S. Brooks (EUA)
Sebastião Gobbi (SP)
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Steven Fleck (EUA)
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Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
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do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
147
Editorial
Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx
Chegamos ao terceiro número deste volume 9 da Revista
Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). Este ano de
2010 caracterizou-se por, definitivamente, termos imprimido periodicidade regular à revista. O número de artigos
submetidos vem aumentando mês a mês e, no momento
em que escrevo o presente editorial, a taxa de aceitação dos
artigos está em aproximadamente 70%, bem abaixo dos 85%
que tínhamos há dois anos. Isso é sinal de que a competição
por espaço na revista é crescente, bem como a qualidade do
material publicado. O presente número ilustra a variedade
de assuntos que interessam aos pesquisadores e leitores da
RBFEx. Inicialmente, temos seis artigos originais, tratando
de aspectos ligados ao desempenho atlético em diferentes
idades e modalidades – desidratação em árbitros de futebol,
composição corporal de futebolistas femininas e maturação
biológica de ginastas –, da prescrição do exercício de forma
mais geral – comportamento da frequência cardíaca em
aulas de ginástica e avaliação da flexibilidade e influência da
temperatura na força muscular. Seguem-se dois interessantes
relatos de caso, sobre os efeitos do exercício em paciente com
doença de Chagas e nutrição de maratonista. Enfim, temos
duas revisões da literatura, examinando com profundidade
as relações entre treinamento aeróbio e lipídios sanguíneos
e efeitos da suplementação com creatina sobre fígado e rins.
Como se pode perceber, variedade e riqueza de assuntos, os
quais, certamente, tornarão agradável a leitura do presente
número. Bom proveito!
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
148
Artigo original
Nível de desidratação e desempenho físico
do árbitro de futebol no Paraná e São Paulo
Level of dehydration and physical performance
of soccer referee from Paraná and São Paulo
Alberto Inácio da Silva, D.Sc.*, Ricardo Fernandez, D.Sc.**, Mario Cesar de Oliveira, D.Sc.***,
Turíbio Leite de Barros Neto, D.Sc.****
*Prof. do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá, campus Ivaiporã, **Prof. do Departamento de
Fisiologia da Universidade Federal do Paraná – UFPR, ***Prof. Universidade Federal de São Paulo, Programa de Pós-Graduação,
Centro de Estudos em Medicina da Atividade Física e do Esporte – CEMAFE, **** Prof. Universidade Federal de São Paulo –
UNIFESP
Resumo
Abstract
O objetivo deste trabalho foi analisar e comparar o grau de desidratação no transcorrer de partidas oficiais de futebol em árbitros
do estado do Paraná e São Paulo. Foram avaliados 16 árbitros, do
sexo masculino, sendo nove da Federação Paranaense e sete pela Federação Paulista de Futebol. A perda total de água no organismo foi
determinada a partir da mudança no peso corporal, considerando-se
os valores do peso inicial e final, diurese e líquido ingerido no início
e intervalo da partida. A distância percorrida durante a partida foi
determinada mediante a filmagem dos árbitros. A temperatura
ambiente média no Paraná foi de 23,1 ± 2,0 C, e a umidade
relativa do ar de 67,3 ± 21,3%. Já em São Paulo foi de 31,1 ± 7,1
C, e 56,9 ± 12,8%, respectivamente. A temperatura apresentou
diferença estatisticamente significativa (p = 0,029). A perda total de
água corporal nos árbitros do Paraná foi de 1,86 ± 0,5 litros, o que
equivale a 2,16 ± 0,5% do seu peso corporal inicial. Em São Paulo
os árbitros apresentaram desidratação de 2,30 ± 0,6 litros, o que
equivaleu a 3,20 ± 0,8% do peso corporal. A porcentagem da perda
de peso corporal apresentou diferença estatisticamente significativa
(p = 0, 006). A distância total média percorrida pelos árbitros do Paraná foi de 9.131,4  255,8 metros. Já para os árbitros de São Paulo
foi de 10.034,1  840,6 metros. A análise estatística demonstrou
haver diferenças estatisticamente significativas entre estes valores
(p = 0,0083). A diferença na temperatura ambiente observada em
cada região foi considerada um fator determinante para a diferença
no volume hídrico perdido pelos árbitros no transcorrer da partida.
The aim of this work was to determine and compare the level of
dehydration soccer referees from Parana and São Paulo are subject
to over the course of official football matches. Sixteen male soccer
referee were evaluated, nine (9) from Parana Soccer Federation
and seven (7) from São Paulo Soccer Federation. Dehydration was
determined by analyzing the referee’s body weight before and after
the match, the amount of isotonic solution intake and the volume
of urine excreted between the two measures of weight. The distance
covered by the referees during the match was determined by analyzing the video recording of the match. The average temperature at
football-field level in Paraná and São Paulo state, was 23.1 ± 2.0 C
and 31.1 ± 7.1 and relative humidity was 67,3 ± 21,3% and 56,9 ±
12,8%, respectively. There was a statistically significant difference in
temperature between the two cities (p = 0.029). The total body fluid
loss in referees from Parana was 1.86 ± 0.5L, equivalent to 2.16 ±
0.5% of the referee’s baseline body mass. Referee’s dehydration in São
Paulo was 2.30 ± 0.6 L equivalent to 3.20 ± 0.8% of his body mass.
There was a statistically significant difference between percent body
weight loss (p = 0. 006). The average distance covered by referees
in Parana was 9,131.4  255.8 m. In São Paulo, however, it was
10,034.1  840.6 m. The statistical analysis showed a significant
difference between these measurements (p = 0.0083). Temperature
difference between the two states was considered a factor for the
different fluid loss observed between state referees over the match.
Key-words: referee, soccer, nutrition.
Palavras-chave: árbitro, futebol, nutrição.
Recebido em 26 de abril de 2010; aceito em 2 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: Alberto Inácio da Silva, Rua Santa Mariana, 35, Guanabara I 86780-000 Ivaiporã PR, Tel: (41)
9112-1393, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Introdução
O futebol, quando praticado profissionalmente, segue regras próprias, pré-estabelecidas, com o objetivo de padronizar
ações permissivas e restritivas, de maneira a obter um caráter
universal. Naturalmente, essas regras estipuladas atualmente
pela Fédération Internationale de Football Association (FIFA)
não são dotadas de autoaplicabilidade, dependendo de uma
pessoa ou de uma figura que faça valer os preceitos normativos
estabelecidos, sem o qual as regras seriam tão somente escritas
sem valor. A figura responsável por efetivar a aplicação das
regras da modalidade é denominada de árbitro.
Durante uma partida de futebol o árbitro deve analisar as
jogadas que ocorrem em uma área que mede em média 8.250
m2. Para conduzir as partidas de futebol de nível profissional,
num espaço desta magnitude, o árbitro deve apresentar um
bom nível de preparação física, pois num período que varia
de 4 a 6 segundos, os árbitros modificam suas ações motoras
[1,2]. Desta forma, durante os 90 minutos de uma partida
oficial ele realiza, em média, 1268 diferentes atividades;
entre essas, 588 são atividades de baixa intensidade (parado,
caminhando, trotando) e 161 de alta intensidade (corrida e
sprint) [2]. Em termos de exigências perceptuais-cognitivas,
um árbitro de elite toma aproximadamente 137 decisões
observáveis por jogo [3]. Segundo esses autores ainda, dado
o tempo efetivo de jogo, um árbitro de alto nível toma 3-4
decisões por minuto.
Além de boa preparação física para estar bem posicionado
para avaliar as jogadas, evitando com isso que as regras sejam
violadas, o árbitro deve buscar o melhor ângulo de visão
para analisar agressões entre os atletas, pois o risco de um
jogador sofrer ferimento é cerca de 1000 vezes maior do que
o encontrado na maioria de outras profissões [4].
É conhecido que a ingestão de água durante exercícios do
tipo intermitente (como é a atividade do árbitro de futebol)
tem um efeito benéfico sobre a capacidade física [5]. Desta
forma, os estudos direcionados à avaliação da perda hídrica
durante a prática desportiva adquirem grande importância.
Uma redução, ainda que pequena, no conteúdo de água
no corpo de um indivíduo, determina queda na sua performance física. A perda de fluidos pela sudorese e a evaporação
são acompanhadas de diminuição no volume plasmático,
queda na pressão arterial, que determinam redução no fluxo
de sangue para os músculos e para pele. A menor circulação
de sangue na pele provoca dificuldades na dissipação de calor
e elevação da temperatura corporal, determinada pela retenção
de calor. Sem adequada reposição de fluidos, o sujeito apresenta diminuição na tolerância ao exercício [6].
Um trabalho de revisão bibliográfica, publicado em 2006,
no Journal of Sports Sciences, envolvendo árbitros de futebol,
só reporta um trabalho sobre a perda hídrica durante jogos
oficiais [7]. Neste estudo foi determinado o percentual da
perda hídrica e o percentual de redução do volume plasmático
do árbitro principal e do árbitro-assistente durante os jogos
149
oficiais do Campeonato Paranaense [8]. Os árbitros apresentaram uma desidratação durante a partida, que equivaleu a
2,05% do seu peso corporal, sendo observada uma redução
média do volume plasmático na ordem de 5,2%. Portanto,
foi possível prever que uma desidratação de 1% nos árbitros
determina uma redução no volume plasmático de aproximadamente 2,6%, o que coincide com o estudo de Costill et al.
[9], que encontrou uma redução de 2,4% no volume plasmático para cada 1% de redução no peso corporal. Foi possível
concluir, ainda, neste estudo, que a ingestão espontânea de
água realizada pelo árbitro durante o intervalo só repõe 24%
da água perdida pelo organismo durante a partida.
Apesar de não constar na literatura cientifica internacional,
outro trabalho foi publicado no Brasil referente à perda hídrica
do árbitro durante a partida [10]. A perda hídrica estimada
do árbitro nesse estudo foi de 2,16%, equivalente ao estudo
comentado anteriormente. Nesse trabalho, também foi observado que a ingestão espontânea não repõe a perda hídrica
do árbitro durante a partida, sendo o déficit de quase 80%.
Entretanto, em nenhum desses trabalhos que avaliaram a
perda hídrica do árbitro no transcorrer da partida, verificou-se
uma forma de reposição hídrica e se esta interfere no condicionamento físico do árbitro durante a partida.
Com relação às pesquisas relacionadas à perda hídrica, até
o momento, não foram desenvolvidos estudos que verificassem como se comporta o processo de sudorese em árbitros
de futebol em outras regiões do Brasil, além do Paraná, já
que num país de extensão continental as temperaturas e
umidade relativa do ar são totalmente diferentes de uma
região para outra. Tampouco se conhece se a estratégia de
uma hidratação antes e durante o intervalo da partida em
diferentes temperaturas modifica o padrão de movimentação do árbitro durante a partida. Portanto, o objetivo deste
estudo foi mensurar o grau de desidratação e desempenho
físico dos árbitros de futebol no transcorrer da partida, após
serem hidratados, em jogos realizados nos estados do Paraná
(PR) e São Paulo (SP).
Material e métodos
A população deste estudo foi constituída por árbitros profissionais da Federação Paranaense de Futebol e da Federação
Paulista de Futebol. A amostra foi composta por nove árbitros
da Federação Paranaense e sete árbitros da Federação Paulista
de Futebol. Todos os árbitros atuaram em partidas oficiais das
respectivas federações. Todos os árbitros foram voluntários,
habilitados para a realização de atividades físicas mediante
atestado médico. Cada voluntário, antes de participar neste
projeto, assinou termo de concordância que esclarecia o
procedimento experimental a ser realizado e autorizava a
utilização dos dados coletados no presente trabalho. O projeto foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal
do Paraná (CEP/HC 130.EXT.021/2004-10).
150
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
As variáveis antropométricas mensuradas foram: massa
corporal, estatura e três dobras cutâneas (peitoral, abdominal
e coxa). A mensuração destas variáveis seguiu a padronização
descrita por Petroski [11]. A partir das variáveis antropométricas, determinou-se a densidade corporal conforme equação
de Jackson & Pollock [12] que utiliza a somatória de três
dobras mais a idade. O percentual de gordura foi determinado
utilizando-se a equação de Siri [13]. O peso da gordura (PG)
foi obtido multiplicando-se a massa corporal (MC) pela fração
do percentual de gordura (%G), PG = MC (%G/100). Já
Massa Corporal Magra (MCM) foi determinada subtraindo
da MC o PG. O índice de massa corporal foi determinado
dividindo-se o peso (kg) pela altura (m) ao quadrado.
Para a análise da perda hídrica, cada árbitro foi analisado
em situação real de jogo. Para tanto foi fornecido no início e
no intervalo da partida um repositor hidroeletrolítico, que
é uma solução que contém, em 100 mL: carboidratos, 6 g,
sódio, 45 mg, potássio, 10 mg, cloreto, 42 mg, calorias, 22,8
(GatoradeMR). O volume do repositor hidroeletrolítico que
os árbitros ingeriram, correspondeu a mais ou menos 1%
do seu peso corporal (800 mL no mínimo), sendo que 50%
deste volume deu-se previamente ao início da partida e 50%
durante o intervalo. Este volume foi estabelecido a partir de
um estudo prévio que mostrou que os árbitros perdem aproximadamente 1,5% do seu peso corporal durante uma partida
oficial [8]. Tendo em vista a velocidade do esvaziamento
gástrico e, para evitar desconforto aos árbitros, a quantidade
consumida por eles, no presente estudo, foi equivalente a
1% do seu peso corporal basal. Os árbitros foram pesados
totalmente nus, após esvaziar completamente sua bexiga, no
início da partida, utilizando-se, uma balança eletrônica digital
Plenna, resolução 0,1 kg. No intervalo, foi coletada a diurese
espontânea, em recipiente graduado.
A perda total de água no organismo foi determinada
utilizando-se da seguinte equação, a qual leva em consideração
o peso inicial (PI), o peso final (PF), a diurese (D) e o líquido
(L) ingerido pelo indivíduo durante sua atividade física.
A perda total de líquido corporal durante o exercício é =
(PI – PF) + L + D.
A taxa de sudorese, por hora, foi calculada pela modificação no peso corporal após correção pelo volume de fluido
ingerido e pela diurese, utilizando-se a fórmula:
Taxa de Sudorese = [(PI – PF) + L - D] / duração total
do jogo em minutos.
As perdas insensíveis de água foram ignoradas.
Foi considerado que uma redução de 1 kg no peso corporal
é equivalente a uma desidratação de 1 litro [14]. O erro de
medida foi 0,1 kg, o que representa ± 0,14% para peso, e ±
0,3% para volume.
Para determinação da distância percorrida durante o
jogo, os árbitros foram filmados utilizando uma câmara da
marca Sony, modelo Handycam. Por meio da observação da
filmagem, foi possível determinar o tempo em que os árbitros
permaneceram em cada ação motora. Utilizou-se a classifi-
cação proposta por Da Silva & Rodriguez-Añez [15] para a
caracterização das ações motoras, onde caminhar representa
um deslocamento com velocidade média de 1,62 m/s; trote,
deslocamentos a 2,46 m/s, mesma velocidade considerada
para o deslocamento de costas; para corrida, deslocamentos
de 3,16 m/s e no sprint, deslocamentos de 5,08 m/s. O tempo
em que o árbitro permaneceu parado também foi quantificado. A distância percorrida em cada atividade foi determinada
pelo produto do tempo total pela velocidade média para essa
atividade. A distância total percorrida durante cada etapa da
partida foi calculada somando as distâncias percorridas em
cada atividade motora. Todas as partidas, incluídas no presente
estudo, foram analisadas pelo mesmo observador, experiente,
utilizando metodologia similar à usada em outros estudos que
determinaram a demanda fisiológica do árbitro de futebol no
transcorrer da partida [1,2,16,17].
Neste trabalho foi levada em consideração a temperatura
ambiente e a umidade relativa do ar no dia da realização dos
jogos. No Paraná os dados foram fornecidos pelo Sistema
Meteorológico do Paraná, SIMEPAR. Já para mensuração
destas variáveis no estado de São Paulo utilizou-se medidor
de temperatura e umidade relativa do ar, portátil marca
Kiltler®.
Os resultados dos testes foram expressos como média e o
respectivo desvio padrão. Foi utilizado o teste “t” para amostras independentes a fim de comparar os grupos de árbitros
do Paraná e os árbitros de São Paulo. O software estatístico
utilizado foi o Instat 3.0 (Graphpad Inc, San Diego, CA,
USA). Significâncias estatísticas foram consideradas para
p < 0,05.
Resultados
Uma visão geral dos dados relativos à avaliação antropométrica pode ser observada na tabela I. A idade cronológica
dos árbitros avaliados no estado de São Paulo era menor que
as dos árbitros paranaenses, ou seja, eles são mais novos, e
quando se compara esta diferença mediante a análise estatística, observa-se diferença estatisticamente significativa (p
= 0, 0002).
Com relação ao peso corporal, observa-se que os árbitros
do Paraná são mais pesados que os árbitros de São Paulo, sendo esta diferença estatisticamente significativa (p = 0,0002).
Contudo observa-se que a altura dos árbitros de ambos os
estados são similares (Tabela I), entretanto como os árbitros
de São Paulo possuem uma massa corporal menor, estes
apresentam um biótipo atlético mais definido. O fato dos
árbitros de São Paulo, como comentado, apresentarem um
peso corporal menor, mas a mesma altura dos árbitros do
Paraná colaborou para eles apresentassem um IMC menor
que os árbitros do Paraná (Tabela I), sendo esta diferença
estatisticamente significativa (p = 0,0006).
O valor do IMC mais elevado por parte dos árbitros
do Paraná foi em decorrência dos mesmos apresentarem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
uma massa gordurosa maior que os árbitros de São Paulo,
sendo que esta diferença é estatisticamente significativa (p
= 0,0041). Ou seja, enquanto a massa corporal magra dos
árbitros de São Paulo representa 88,6% de sua massa corpórea, a MCM dos árbitros do Paraná só representa 79,7%
de sua massa corpórea.
Tabela I - Dados morfológicos dos árbitros de futebol envolvidos
no estudado por estado.
Média
DP
Média
DP
Idade Peso Altura IMC %G
MG MCM
Paraná
38,44 85,90 1,80 26,65 20,26 17,41 68,49
4,0
7,0
0,1
2,2
4,8
4,3
6,9
São Paulo
27,29 72,11 1,82 21,96 11,38 8,20 63,91
4,7
2,2
0,1
2,1
5,6
4,0
4,6
IMC = Índice de massa corporal (kg/m2), %G = Porcentagem de Gordura, MG = Massa de Gordura, MCM = Massa Corporal Magra.
151
perda total de água mostrou que os árbitros do Estado de
São Paulo apresentaram uma diferença estatisticamente significativa (p = 0.0062), (Tabela III). Os árbitros envolvidos
neste estudo ingeriram em média 0, 910 ± 0,11L, sendo
que, a média dos árbitros paranaenses foi de 0, 880 ± 011L
e a dos paulistas de 0, 960 ± 0,11L. Não houve diferença
estatisticamente significativa entre o volume ingerido em
cada estado (p = 0,0836).
Tabela III - Avaliação da desidratação dos árbitros por estado.
Peso Inicial (kg)
Peso final (kg)
Perda de peso (%)
Perda total de água (L)
Perda total de água (%)
Taxa de Sudorese (L/min)
Paraná
85,62 ± 6,9
84,73 ± 6,6
1,02 ± 0,7
1,86 ± 0,5
2,16 ± 0,5
0,02 ± 0,0
São Paulo
72,11 ± 2,2
70,89 ± 2,1
1,70 ± 0,7
2,30 ± 0,6
3,20 ± 0,8
0,02 ± 0,0
Os valores representam a média ± desvio padrão. Paraná, n = 10;
São Paulo, n = 7. * p < 0,001 vs Paraná. Perda de peso (%): Percen-
Na Tabela II, encontramos os valores relativos à temperatura ambiente e umidade relativa do ar em cada estado, sendo
que a diferença entre a temperatura ambiente observada em
cada estado foi estatisticamente significativa (p = 0,0064), já
a confrontação dos dados relativos à umidade relativa do ar
mostrou não haver diferença estatisticamente significativa (p
= 0,4358).
Tabela II - Dados de temperatura ambiente e umidade relativa do
ar durante no Paraná e em São Paulo.
Temperatura ambiente
(°C)
Umidade relativa do ar
(%)
Paraná
São Paulo
23,13 ± 2,05
31,11 ± 7,18*
64,27 ± 21,31 56,93 ± 12,83
* Diferença estatisticamente significativa.
A Tabela III apresenta os dados referentes ao balanço hídrico dos árbitros em cada Estado. Após ser elaborada análise
estatística referente à diferença observada entre o déficit de
peso corporal apresentado pelos árbitros tanto do Paraná
quanto de São Paulo, observou-se que esta diferença não era
estatisticamente significativa (p = 0, 2766). Isso porque, os
árbitros do Paraná apresentaram redução do peso corporal
durante o jogo de 0, 890 quilogramas e os de São Paulo de
1, 230 quilogramas respectivamente. A porcentagem de peso
corporal perdida pelos árbitros durante a partida (Tabela III),
também não apresentou diferença estatisticamente significativa (p = 0,0702).
Apesar da taxa de sudorese e a perda total de água do
organismo não apresentarem diferença estatisticamente
significativa, p = 0,2607 e p = 0,1325 respectivamente, o
confronto dos valores correspondentes a porcentagem da
tagem de perda de peso em relação ao peso inicial; Perda total de
água (L) = Perda de peso (kg) + Água consumida (L) + Diurese (L);
Perda total de água (%) = ([Perda de peso (kg) + Água consumida (L)
+ Diurese (L)] / Peso inicial) * 100; Taxa de Sudorese (L/min): (Peso
inicial – Peso final + Água consumida – Diurese) / duração da partida
em minutos.
A distância total média percorrida pelo árbitro do Paraná
foi de 9.131,4 ± 255,8 metros, já a distância percorrida
pelo árbitro de São Paulo foi de 10.034,1 ± 840,6 metros
(Figura 1). Os árbitros de São Paulo deslocaram-se mais
durante a partida, e a análise estatística demonstrou haver
diferença estatisticamente significativa entre estes valores
(p = 0,0083). Os dados demonstram que os árbitros de
São Paulo permanecem mais tempo parados durante a
partida que os árbitros do Paraná, isto porque os árbitros
paulistas permaneceram em média 20,32 ± 2,24 minutos
parados durante o jogo, contra 14,13 ± 2,12 minutos dos
árbitros paranaenses, sendo esta diferença estatisticamente
significativa (p= 0,0001). Na Figura 1 observamos que a
distância total percorrida durante a partida em atividades de
baixa intensidade (andando e trote) foi significativamente
diferente. Os árbitros de São Paulo percorreram 3.180,6
± 422,7metros andando e 4.443,0 ± 1.204,1 metros na
atividade de trote, e os do Paraná 4.587,8 ± 424,6 metros
e 2.357,4 ± 440,9 metros, respectivamente (p < 0,0001 e p
= 0,0003). A distância percorrida na forma de atividades de
alta intensidade, corrida e sprint, não foi estatisticamente
significativa (Figura 1).
A distância percorrida nos dois períodos de jogo (primeiro
e segundo tempo) não foi significativamente diferente, salvo
na atividade de deslocamento de costa dos árbitros de São
Paulo (Tabela IV).
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
152
Figura 1 - Distância total percorrida em cada ação motora pelos
árbitros do Paraná e de São Paulo.
*
10000
8000
6000
Paraná
São Paulo
*
Metros
5000
4000
*
3000
2000
1000
0
Distância Cami- Trote Correndo Sprint Corrida
Total nhando
de Costas
Discussão
O componente físico é tido como um dos mais importantes para uma boa preparação do árbitro para, assim, efetivar
sua atuação no campo de jogo. A demanda energética do
árbitro durante a partida é similar a dos jogadores de futebol
[16], deste modo, espera-se que sua preparação e seu biótipo
físico estejam próximos aos atletas da modalidade de futebol.
Os árbitros de São Paulo apresentaram um valor menor de
IMC quando comparados aos árbitros paranaenses (tabela I).
O IMC é muito utilizado na prática com grandes populações,
pois é um método antropométrico de procedimento rápido
e de baixo custo que se correlaciona bem com a gordura corporal e algumas incidências de doenças degenerativas [18].
Entretanto, de acordo com Barata [19] este método é pouco
eficaz quando aplicado ao desporto, pois os desportistas
apresentam grandes massas musculares. Como os árbitros
de futebol estão envolvidos num esporte de alto nível, que
necessita de seus praticantes um grande nível de preparação
física, foi determinado o percentual de gordura dos árbitros,
mediante as dobras cutâneas, para que se pudesse determinar
com exatidão a composição corporal.
Os árbitros paranaenses apresentaram um percentual de
gordura bem acima do apresentado pelos árbitros paulistas
(Tabela I). A média de 20,26 ± 4,8% de gordura corporal
apresentada pelos árbitros paranaenses corrobora para com
o índice de massa corporal acima do limite de normalidade
(25 kg/m2) encontrado neste estudo. O percentual de gordura
dos árbitros paranaenses, também está acima da média dos
homens da Região Sul do Brasil (16,14%), região esta onde
foi desenvolvido este trabalho [20]. Contudo, considerando
que os homens aqui estudados são árbitros de futebol, dos
quais se espera capacidade física acima da média populacional,
seria conveniente aconselhá-los a entrar num programa de
exercícios e/ou aconselhamento nutricional, que permitisse
redução da massa gordurosa sem perda da massa muscular.
Com relação ao percentual de gordura, o valor médio encontrado neste estudo é superior ao valor médio encontrado
em árbitros brasileiros do quadro da CBF 15,9% [21] e dos
árbitros gregos 16,7% [22]. Entretanto é similar a um estudo
publicado recentemente no Brasil, onde os árbitros apresentaram uma porcentagem de 20,81 ± 3,29 % [23].
O percentual de gordura apresentado pelos árbitros de São
Paulo (11,38 ± 5,6%) foi compatível com o percentual de
gordura corporal apresentado por árbitros de elite da Espanha
(11,3 ± 2,15%), menor percentual encontrado por nós na
literatura cientifica [24], que colaborou para que os árbitros
paulistas apresentassem IMC dentro da normalidade. Em
uma investigação conduzida com atletas do futebol brasileiro
realizado por Guerra et al. [25] observou-se, por meio do
método antropométrico, um valor de adiposidade de 10,6%,
sendo que valor semelhante (10,6 ± 2,6) foi encontrado em
jogadores de países da América do Sul [26]. Esses valores são
similares aos dos árbitros paulistas, entretanto, inferiores aos
apresentados pelos dos árbitros paranaenses. Isso demonstra
que com relação ao acúmulo de adiposidade, os árbitros
paranaenses avaliados estão em condições físicas deficitárias
quando comparados com os atletas da modalidade de futebol
e aos seus colegas paulistas.
A perda significativa de fluidos durante a atividade física
tem sido observada em numerosas modalidades esportivas,
tais como maratona, futebol americano, basquetebol, hockey,
e outros. Esta perda é exacerbada por diferentes condições
ambientais, tais como calor, alta umidade relativa do ar, falta
de vento, e/ou restrição na reposição de fluidos [27,28]. Desta
forma, em estudos de campo que sejam realizados em dias
e regiões diferentes é necessário que as condições climáticas
sejam mensuradas a fim de que os resultados obtidos possam
ser comparáveis.
O presente estudo foi desenvolvido em condições climáticas do tipo subtropical. A temperatura ambiente média
nos dias dos jogos dos dois estados foi de 26,6  6,3 ºC e da
umidade relativa do ar de 61,1  17,9%. Na Tabela II encontramos os valores destas variáveis por estado. Foi encontrada
diferença estatisticamente significativa entre a temperatura
ambiente mensurada no Paraná e em São Paulo.
Tabela IV - Distâncias percorridas durante cada período da partida por estado.
Paraná
1º tempo
2º tempo
São Paulo 1º tempo
2º tempo
Andando
2245,3 ± 248,6
2342,6 ± 2498
1524,9 ± 237,5
1655,8 ± 238,9
Trote
1247,9 ± 343,6
1109,4 ± 225,2
2196,0 ± 523,3
2247,0 ± 753,9
* p < 0.05 vs deslocamento de costas no 1º tempo.
Corrida
534,3 ± 297,0
501,4 ± 115,0
519,8 ± 394,2
406,0 ± 308,4
Sprint
61,6 ± 53,7
64,5 ± 60,0
94,9 ± 93,7
72,8 ± 80,9
Desloc. de costa
545,6 ± 155,5
478,9 ± 168,5
779,3 ± 193,4
537,7 ± 236,6*
Total
4634,8 ± 190,7
4496,7 ± 191,9
5114,8 ± 218,2
4919,3 ± 648,1
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
O desempenho físico de um indivíduo durante uma atividade física está estreitamente ligado ao estado de hidratação.
Tem sido descrito que uma perda de fluidos equivalente a 2%
do peso corporal pode induzir a uma queda na capacidade
aeróbica de até 20% [29]. Entretanto, este efeito apresenta
uma forte dependência da temperatura ambiente, pois níveis
de desidratação que são bem tolerados a temperaturas moderadas (20° C), podem afetar a capacidade física do atleta a
uma temperatura maior (> 30° C) [27]. Gonzalez-Alonso et
al. [30] têm estudado este ponto utilizando ciclistas treinados para provas de enduro, que foram submetidos a todas as
possíveis combinações de desidratação e temperatura. Eles
encontraram que, tanto a hipertermia (incremento de 1° C
na temperatura esofágica) como uma desidratação equivalente
a 4% do peso corporal, de forma independente, reduzem o
débito sistólico em 7-8% e incrementam a frequência cardíaca
em 5%, resultando numa modificação não significativa do
débito cardíaco. Quando ambos os fatores são combinados
no mesmo indivíduo, observa-se uma queda significativa de
13% no débito cardíaco e na pressão arterial média. Fora
estes efeitos cardiovasculares, tem sido observada uma queda
na capacidade cognitiva quando desidratação e hipertermia
estão presentes [31]. Assim sendo, não resta dúvida que a
temperatura mais elevada observada no estado de São Paulo
nos dias dos jogos (tabela II), foi um dos fatores determinantes
para que o árbitro paulista apresenta-se maior nível de perda
hídrica que o árbitro paranaense.
Os árbitros do Paraná apresentaram uma perda total de
água corporal de 1,86  0,5 litros, equivalente a 2,16  0,5%
do seu peso corporal no início da mesma (Tabela III). Este
valor foi similar ao registrado em nossos estudos anteriores,
2,05  0,44% [8] e 2,16  0,62% [10]. Entretanto, o peso
corporal apresentou uma redução de 1,02 ± 0,7%, demonstrando que a ingestão de um volume pré-determinado de
uma bebida isotônica antes e durante o intervalo da partida
(média de 0, 880  011L) foi capaz de repor 56% dos fluidos
perdidos durante o jogo. Já os árbitros paulistas apresentaram
uma desidratação que correspondeu a 2,30  0,6 litros, que
equivaleu a 3,20  0,8% do seu peso corporal. Entretanto,
no final da partida o déficit de peso encontrado foi de 1,23
 0,5 litros, ou seja, o volume de líquido tomado, que foi
previamente determinado foi capaz de repor somente 49%
do volume perdido com o processo de sudorese. Estes resultados demonstram que os árbitros desenvolveram durante a
partida uma desidratação moderada que não foi compensada
pela ingestão pré-determinada de líquido, antes e durante o
intervalo da partida. Contudo, quando a ingestão de água pelo
árbitro era espontânea, ao final da partida o líquido ingerido
pelo árbitro só havia reposto de 20 a 24% do líquido perdido
durante a partida [8,10].
Num estudo prévio, mostramos que a perda total de fluidos do organismo do árbitro de futebol durante uma partida
oficial se correlaciona significativamente com uma redução do
seu volume plasmático, sendo que uma desidratação de 1 %
153
determina uma redução de 2,5% no volume plasmático [8].
Desta forma, podemos prever que a desidratação observada
nos dois estados onde ocorreu este estudo, determinou uma
redução do volume plasmático de aproximadamente 2,55%
no Paraná e 4,25% em São Paulo, respectivamente, baseando na porcentagem da redução de peso apresentado pelos
árbitros no final da partida (Tabela III). Contudo, se não
houvesse a hidratação dos árbitros, os árbitros paranaenses
apresentariam uma redução média de 5,4% e os paulistas de
8% respectivamente. Os dados apresentados acima indicam,
portanto, que a ingestão prévia de volume pré-determinado
de fluido, em especial a solução isotônica, antes e no intervalo
da partida, foi capaz de diminuir significativamente a redução
do volume plasmático apresentado pelo árbitro no final da
partida, o que reduz acentuadamente a possibilidade de que
o mesmo venha a apresentar queda na capacidade física ou
mental em decorrência da perda hídrica.
No presente estudo percebe-se que, durante as partidas,
os árbitros tanto do Paraná quanto de São Paulo realizam
atividades físicas aeróbicas de baixa a moderada intensidade
(Tabela IV). Outros estudos envolvendo árbitro de futebol
também confirmam que a atividade física do árbitro durante
a partida utiliza predominantemente energia proveniente do
metabolismo aeróbico [1,2,15-17,32,33].
Dos 9.131,4  255,8 metros, percorridos em média pelos
árbitros do Paraná no transcorrer da partida, 50,25% foi na
forma andando, o que correspondeu a 52,28% do tempo total
da partida, ou seja, quanto maior o tempo que o árbitro permanece executando uma ação motora maior vai ser a distância
percorrida na mesma. Os árbitros paulistas se deslocaram nesta
forma 31,99%, dos 10.034,1  840,60 metros, deslocados
em média durante o jogo. Em um estudo desenvolvido com
árbitros paranaenses [15] observou-se que esses permaneceram
57,95% do jogo andando. Entretanto, um estudo desenvolvido com árbitros paulistas, recentemente, demonstrou que os
árbitros desse estado percorrem em média 31,41% do total
da distância percorrida durante a partida andando [34]. Em
um estudo envolvendo árbitros dinamarqueses [2], também
observou-se que o árbitro permanecia a maior parte do tempo
do jogo andando, e isso correspondeu a 40%. Asami et al.
[32] e Rebelo et al. [35] relatam também uma porcentagem
significativa de deslocamento na forma de caminhada. Nos
dois estudos os árbitros japoneses e portugueses andaram 33%
do tempo de jogo, respectivamente.
A segunda ação motora mais utilizada pelos árbitros é o
trote. O deslocamento total dos árbitros paranaenses correspondeu a 25,83% do deslocamento total do jogo, ou seja,
17,71% do tempo total da partida. Já os árbitros paulistas se
deslocaram 43,94% da distância total do jogo na forma de
trote. No estudo envolvendo árbitros paranaenses, observouse que esses haviam se deslocado 22,28% do deslocamento
total do jogo na forma de trote [15]. Já Rebelo et al. [35]
descrevem um percentual de 25,9% do tempo total nessa ação
motora para árbitros portugueses. Entretanto, em um estudo
154
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
envolvendo árbitros de São Paulo, contatou-se que esses se
deslocam em média 43,79% da distância percorrida durante
o jogo, na forma de trote [34]. Outros estudos apresentam
percentuais para essa ação motora, em relação ao tempo que
se desenvolvem esta atividade durante a partida. Asami et al.
[32] relataram 48% em árbitros japoneses, Catterall et al. [1],
47% em árbitros ingleses e Johnston & McNaughton [17]
relatam que em 46,6% do tempo total de jogo o árbitro da
Tasmânia desloca-se trotando. Ao analisarmos os dados até
este ponto, verificamos que uma dessas duas ações motoras
sempre aparece se revezando como a primeira ou segunda forma principal de deslocamento do árbitro de futebol. Quando
uma aumenta, a outra diminui. Portanto seria o revezamento
destas duas formas de deslocamento que definem o padrão
aeróbico da atividade física do árbitro durante a partida.
Uma ação motora que apresenta uma velocidade que é
superior ao deslocamento andando, mas similar ao deslocamento na forma de trote é o deslocamento de costas. Quando
somamos as distâncias percorridas destas três ações motoras
(andando, trotando e de costas) verificamos que o árbitro paranaense percorre nestas ações motoras em média mais de 87%
do deslocamento total do jogo, o que corresponde a 77,69%
do tempo de jogo, sendo que os árbitros paulistas percorrem
89% da distancia total nestas formas de deslocamento. Nos
estudos já publicados encontramos valores que vão de 60 a
90% do tempo total do jogo [1,2,15,17,32,35].
Para Johnston & Mcnaughton [17] e Rebelo et al. [35] o
árbitro de futebol gasta mais de 60% do tempo de jogo em
atividades físicas de baixa intensidade, isto é, andar, trotar e
deslocamento de costa. Contudo, esses autores não consideraram o tempo que os árbitros permanecem parados durante o
jogo. Quando somasse esse tempo com o tempo que o árbitro
executa as atividades de baixa intensidade verificamos que,
no caso dos árbitros paranaenses aqui estudados, isso passa
a representar 93,09% do tempo total de jogo. No estudo
de Rebelo et al. [35] que apresenta o tempo que o árbitro
permanece parado e a classificação das ações motoras como
a nossa, o tempo em que os árbitros permanecem em ação
motora de baixa intensidade corresponde a 95% do tempo
total da partida.
Corridas de velocidade de alta e moderada intensidade
são muito pouco executadas pelo árbitro de futebol. No
presente estudo isso não passou de 13% no Paraná e 11%
em São Paulo, do deslocamento total da partida. Correndo, o árbitro do Paraná percorreu uma distância média de
1.035,7 ± 398,8 metros e em forma de sprint 126,1 ± 103,1
metros. Entretanto, os árbitros paulistas percorreram 925,8
± 694,7 metros na forma de corrida e 167,5 ± 162,6 metros
na forma de sprint. Na literatura científica o tempo médio
nessas formas de deslocamento varia de 4 a 19% do tempo
de jogo [1,2,15,17,32,35]. Assim como Rebelo et al. [35],
concordamos que esses tipos de ações motoras somente são
desenvolvidos pelos árbitros em situações de contra-ataque de
uma das equipes, ou quando está para ocorrer uma situação
clara de gol; nesses momentos os árbitros procuram o melhor
ângulo dentro de campo para visualizar as jogadas.
Existem varias hipóteses que poderiam ser levantadas para
justificar as diferenças observadas nas distâncias percorridas
pelos árbitros em cada ação motora. Para Castagna et al. [33]
essa diferença poderia ser em decorrência do nível da forma
física e do status do treinamento. Krustrup & Bangsbo [2]
afirmam que a boa forma aeróbia tem uma forte relação com
a cobertura total da partida e com as atividades principais de
jogo executadas pelo árbitro de elite durante a competição.
Finalmente as diferenças de estilo de jogo (entre países)
também devem ser levadas em conta quando se comparam
resultados encontrados em diferentes estudos [3,35]. Outro
fator a ser considerado são as diferentes condições ambientais
(temperatura e umidade relativa do ar) em que aconteceram
os jogos analisados nestes diversos estudos.
Após a análise dos dados referente à distância percorrida
pelo árbitro durante a partida, verificamos que outra hipótese
para explicar a maior perda hídrica apresentada pelos árbitros
paulistas pode estar relacionada ao maior deslocamento no
transcorrer da partida executados por eles. Apesar da distância
total apresentar diferença estatisticamente significativa (p = 0,
0083), os deslocamentos de alta intensidade: correr e sprint,
que seriam atividades que produziriam maiores desgastes
físico e consequentemente maior sudorese, não apresentaram
diferenças (figura 1).
Conclusão
A temperatura ambiente em São Paulo foi maior que a do
Paraná e a umidade relativa do ar menor durante os jogos, o
que pode ter influenciado na maior redução de peso corporal,
após os jogos, para os árbitros de São Paulo.
O estudo demonstrou que a estratégia de hidratação
realizada com os árbitros antes, durante e após as partidas,
influenciou significantemente na redução do volume plasmático apresentado ao final das partidas, contribuindo para
diminuir a possibilidade de apresentar fadiga muscular, que
provavelmente poderia interferir signifi cantemente no
desempenho do árbitro. Em consequência da fadiga física
intensa, poder-se-ia observar lentidão no desempenho
sensório-motor e distúrbios de coordenação, além de erros
grosseiros de avaliação dos atletas e das suas ações.
É importante salientar que as federações de futebol de
todos os estados devem orientar seus árbitros em relação
a estratégias de hidratação em decorrência de esforços
intensos sob elevadas temperaturas com baixa umidade
relativa do ar.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
156
Artigo original
Influência da aplicação da bolsa de gelo
na força de preensão manual
Influence of ice pack application in the strength of handgrip
Francisco Olímpio Barbosa de Castro*, Rodrigo Santos de Queiroz, Esp.*, Igor Larchert Mota**
*Graduados em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Campos Jequié,
**Docente do Curso de Fisioterapia da UESB, Campos Jequié
Resumo
Abstract
A preensão manual é uma função essencial da mão humana
devido ao grande número de atividades funcionais que dependem
dela para serem realizadas. Os efeitos fisiológicos teciduais da
crioterapia são largamente utilizados para fins terapêuticos no tratamento de patologias do sistema neuro-músculo-esquelético. No
entanto, o seu efeito sobre o grau de força muscular ainda não está
bem esclarecido. O presente estudo objetivou avaliar a influência
da crioterapia sobre a força de preensão manual. Para tanto, 44
voluntários hígidos, homens, com idade entre 18 e 29 anos, foram
submetidos à crioterapia por 20 minutos no antebraço, sendo realizada aferição da força isométrica máxima de preensão manual antes
e imediatamente após a aplicação de gelo. Na análise estatística dos
dados foram utilizados os testes t de student pareado, Shapiro-Wilk e
a correlação não paramétrica de Spearman. Os resultados mostraram
que a força de preensão manual aumentou significativamente após a
crioterapia, observando-se uma elevação da força pós-crio (38,586
± 1,2165 Kgf ) em relação à força pré-crio (36,243 ± 1,398 Kgf )
(p = 0,05). Portanto foi possível observar, através da metodologia
utilizada, que a crioterapia por meio de bolsa de gelo descartável é
capaz de aumentar significativamente a força de preensão manual.
The grip is an essential function of the human hand because
of the large number of functional activities that depend on it to
get things done. The physiological effects of cryotherapy tissue are
widely used for therapeutic treatment of diseases of the neuromusculoskeletal system. However, its effect on the degree of muscle
strength is not yet very clear. This study has as objective to evaluate
the influence of cryotherapy on the strength of handgrip. For this
purpose, 44 healthy volunteers, all men, aged between 18 and
29 years, underwent cryotherapy for 20 minutes on the forearm,
being held measurement of maximal isometric strength of handgrip
before and immediately after application of ice. Statistical analysis
consisted of student paired t test, Shapiro-Wilk and correlation of
non-parametric Spearman’s rho. The results showed that the strength
of handgrip increased significantly after cryotherapy, observing an
increase of strength post-cryo (38.586 ± 1.2165 kgf ) in relation to
the pre-cryo strength (36.243 ± 1.398 kgf ) (p = 0.05). Therefore
it was possible to conclude, through the methodology used, that
the cryotherapy through disposable ice pack is able to significantly
increase the strength of handgrip.
Key-words: cryotherapy, muscle strength, hand strength.
Palavras-chave: crioterapia, força muscular, força da mão.
Recebido em 23 de março de 2010; aceito em 9 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: Igor Larchert Mota, Caminho 01 Urbis III, 78, Jequié BA, Tel: (73) 8866-7007, E-mail: igorlarchert@
hotmail.com.br, [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Introdução
A mão do homem é uma estrutura dotada de função
altamente especializada, sofisticada e de ampla capacidade
de movimentação possuindo uma anatomia dotada de singular capacidade de adaptação a depender do trabalho a ser
realizado [1].
Assim, além de ter uma importância no que se refere às
atividades vitais de um indivíduo, o uso da mão pode ser
considerado como um meio de integração social [2].
Entre as múltiplas e variadas funções intrínsecas à mão, a
de preensão, movimento extremamente exigido nas atividades
corriqueiras, destaca-se como essencial, uma vez que é ampla
a gama de movimentos que podem ser efetuados utilizando
a preensão manual [1].
Durante o movimento de preensão palmar, os dedos
posicionam-se em flexão, adução, lateralmente rodados e
inclinados em direção ao lado ulnar da mão, tendo como base
de apoio as eminências tenar e hipotenar da mão. O polegar
encontra-se flexionado, aduzido tanto em sua articulação
metacarpofalângica como na carpometacárpica e opondo-se
à polpa dos dedos [1,3].
O movimento de preensão provoca intensa atividade
dos músculos flexor superficial e profundo dos dedos, dos
interósseos e do 4º lumbrical, bem como nota-se atividade
de músculos que realizam o movimento de contrapressão
realizado pelo polegar pelo do músculo flexor longo do polegar, de músculos tênares (oponente do polegar, adutor do
polegar e flexor curto do polegar) e hipotênares (flexor curto
do dedo mínimo), estes agindo como agonistas e contraindose isotonicamente [4].
A força de preensão manual é aquela gerada pelos movimentos forçados dos dedos contra a palma com os dedos
passando ao redor de um objeto com contrapressão do polegar,
como ao segurar uma estrutura cilíndrica, por exemplo [4,5].
Na força de preensão manual, os músculos extrínsecos, que
têm origem no antebraço com seus ventres localizados na face
anterior do mesmo, exercem principal ação, sendo os músculos flexor superficial e profundo dos dedos os que imprimem
maior potência durante a aplicação dessa força [1,6].
Diversas são as patologias capazes de causar ineficácia ou
diminuição da força de preensão manual, entre elas afecções
musculoesqueléticas como: tendinites, síndrome do túnel do
carpo; neurológicas tais como: acidente vascular encefálico
[7,8]. Além disso, as linfopatias após tratamento de câncer
de mama [9] e a diabetes mellitus [10]. Estudos identificam
também que a força de preensão manual apresenta uma relação curvilínea com a idade [11-13].
As limitações causadas por essas patologias constituem
um amplo campo de atuação para a Fisioterapia que procura
solucionar, quando possível, ou atenuar tais disfunções,
utilizando-se para isso de recursos cinesioterapêuticos frequentemente associados a modalidades térmicas terapêuticas,
como o frio [7-14].
157
O uso terapêutico de modalidades de frio com variação de
temperatura de 0° C a 18,3°C é descrito pelo termo crioterapia. Esse recurso promove a subtração de calor do corpo pela
modalidade de frio, provocando uma série de respostas locais
e sistêmicas. A magnitude desses efeitos depende de variáveis
como: temperatura da modalidade, duração do tratamento e
área a ser tratada [15].
A utilização do frio terapêutico pode ser realizada através
de várias modalidades crioterápicas tais como: bolsa de gelo,
bolsa de gel, bolsa química, banhos de imersão em água e
gelo, massagem com gelo, spray (cloreto etil-líquido ou de
fluorometano) [16]. Dentre estas modalidades a bolsa de gelo
é a mais largamente empregada em virtude do baixo custo,
segurança e da facilidade de aplicação [15,17].
A crioterapia através do resfriamento local ou total do
corpo com fins terapêuticos promove vasoconstricção, analgesia, redução do metabolismo e diminuição da velocidade
de condução nervosa [15,17].
No músculo, a redução da temperatura causa elevação
da viscosidade dos tecidos, diminui o fluxo sanguíneo, além
de reduzir a velocidade de condução nervosa periférica e a
transmissão sináptica nas junções neuromusculares [18].
Após a vasoconstricção imediata ocorre vasodilatação como
uma tentativa do organismo de proteger os tecidos de possíveis
danos em virtude do resfriamento prolongado e da relativa
isquemia [16,19,20]. O mecanismo pelo qual essa resposta é
desencadeada ainda não está completamente esclarecido havendo a hipótese de um reflexo axonal, envolvendo uma substância
análoga à histamina capaz de causar vasodilatação local. Outra
possibilidade sugerida refere-se à redução da contratilidade da
musculatura lisa vascular em razão da redução da temperatura,
resultando em dilatação dos vasos [16].
Qualquer que seja o mecanismo causador, a vasodilatação
induzida pelo frio provoca uma hiperemia no local de aplicação do gelo, o que disponibilizará um maior suprimento
de oxigênio e nutrientes melhorando a produção de energia,
utilizada na contração muscular [16,19,20].
A terapia com gelo e seus efeitos diminuem a temperatura
intramuscular de modo mais lento e em menor amplitude do
que a temperatura cutânea [15,19,21-23], sua recuperação
obedece a uma curva exponencial decrescente sem retornar ao
valor inicial, pelo menos durante 210 minutos após a retirada
da modalidade crioterápica [21].
A utilização do frio e seus efeitos fisiológicos no desempenho muscular merecem uma atenção maior devido aos
poucos estudos sobre a sua atuação e as controvérsias entre
as pesquisas existentes, principalmente no que se refere ao
aumento ou diminuição na capacidade de um músculo em
gerar torque após ser resfriado [15,24].
Há evidências de que o resfriamento da superfície da pele
pode levar a um aumento de força nos músculos subjacentes,
embora também haja relatos conflitantes de uma redução de
força após a crioterapia [15]. Uma vez que a crioterapia é
frequentemente utilizada em programas fisioterapêuticos de
158
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
reabilitação, a determinação do efeito da aplicação do frio
sobre o desempenho muscular mostra-se bastante relevante.
Tal efeito tem implicações importantíssimas no risco de
lesões durante ou após o tratamento, sendo necessário um
planejamento em relação à utilização de frio antes ou após
a cinesioterapia e a liberação para realização de atividades
funcionais após o gelo [24,25].
Assim, o presente estudo objetivou verificar a influência
da crioterapia sobre a força de preensão manual em indivíduos hígidos.
Material e métodos
Trata-se de um estudo de desenho transversal, descritivo,
inferencial, com ensaio em indivíduos hígidos. A coleta de
dados foi realizada em um consultório da Clínica Escola de
Fisioterapia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
– UESB, campos de Jequié, na cidade de Jequié BA.
A população estudada foi constituída pelos discentes, do
sexo masculino, do curso de Fisioterapia da UESB. A amostra
selecionada por conveniência utilizada nesta pesquisa foi composta por 48 indivíduos voluntários. Foram feitos convites
aos estudantes nas salas de aula para participação na pesquisa,
sendo assim a amostra foi ocasional, estratificada por semestre
do curso de Fisioterapia da UESB.
Com a perda amostral durante a realização das intervenções, apenas 44 voluntários com idade entre 18 e 29
anos, média de 21,84 ± 0,358 anos, massa corporal média
de 69,261 kg ± 1,5263, altura média de 1,7563 ± 0,1095 e
IMC médio de 22,4069 ± 0,38773 participaram efetivamente
desta pesquisa.
Para o cálculo amostral levou-se em consideração uma
média de 131,26 de ganho de força e um desvio padrão de
18,5, segundo Duarte [25], com 3% de margem de erro e taxa
de não resposta de 20%, dentro de um universo composto
por 65 estudantes do sexo masculino matriculados no curso
de Fisioterapia da UESB.
A escolha dos sujeitos foi aleatória, utilizando como critérios de inclusão: higidez; idade entre 18 e 30 anos; ausência
de distúrbios sensitivos, neurológicos e cardiorrespiratórios;
ausência de patologias ou lesões neuro-músculo-esqueléticas
e de cirurgia em membros superiores ou coluna nos últimos
2 anos; ausência de insuficiência vascular periférica e de síndrome de Raynaund. Foram adotados como critérios de exclusão: hipersensibilidade, alergia ao frio e impossibilidade ou
desistência do participante durante a aplicação do protocolo.
Inicialmente os indivíduos foram submetidos à avaliação
física, sendo medida a estatura (com uso de fita antropométrica Sanny Medical, 2m) e a massa corporal total (em
balança digital modelo Glass 3S da marca G-TECH com
carga máxima de 150 Kg), sendo calculado o IMC. O valor
obtido da massa corporal total foi utilizado para a determinação da respectiva massa de gelo (balança modelo BP15 da
marca Filizola® com carga máxima de 15 Kg, mínima de 125g,
divisão de 5g), correspondente a 1% da massa corporal de
cada voluntário, baseado em Duarte [25].
Os participantes foram submetidos a dois momentos de
aferição da força máxima de preensão manual, o primeiro
antes da aplicação de gelo, para a medida da força denominada
pré-crio, e o segundo imediatamente após aplicação local de
crioterapia por 20 minutos na região ântero-proximal do
antebraço dominante (sobre os músculos flexores dos dedos),
para verificação da força pós-crio. Na tentativa de evitar discrepâncias, a força de preensão manual foi medida três vezes,
em cada momento de aferição, com intervalo de 1 minuto
entre essas medidas para evitar fadiga [1], tendo como valor
de referência a média aritmética dos valores encontrados.
A força máxima de preensão manual foi medida através de
dinamômetro manual da Kratos, com variação de 1 kgf, após
período de 5 minutos para adequação do indivíduo à temperatura do ambiente, o qual foi climatizado através de aparelho de
ar-condicionado Silentia 7500, da marca Springer, graduado
na capacidade máxima. As medidas foram realizadas com o
indivíduo sentado em cadeira com apoio para o antebraço,
sendo os voluntários orientados a manter o braço dominante
com o cotovelo fletido a 90° e uma extensão de no máximo
30° de punho [1,7]. Durante a aferição os participantes foram
verbalmente estimulados a imprimirem a máxima força de
preensão, mantendo a contração isométrica por 3s.
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia – UESB sob o protocolo n° 220/2008, obedecendo à
resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Todos os sujeitos da pesquisa foram orientados quanto aos
procedimentos a serem realizados e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Os dados foram registrados em um formulário próprio
contendo identificação, idade, dados antropométricos (tais
como altura, peso e IMC), massa de gelo utilizada, além
de membro dominante e os momentos de aferição com as
respectivas medidas de força pré-crio e pós-crio, sendo posteriormente transferidos para um banco de dados criado no
Microsoft Office Excel®, versão 2007.
A análise descritiva dos dados foi utilizada para caracterização da amostra, com distribuição de frequência, medida
de tendência central (média) e de dispersão (amplitude de
variação, desvio-padrão). Já a estatística inferencial foi realizada através do software SPSS – “Statistical Package for the
Social Sciences” (versão 15.0 for Windows) com utilização
do teste t de student pareado para comparação das médias
de força pré-crio e pós-crio, considerando um coeficiente de
significância de 0,05 (5%). Foi utilizado também o teste de
Shapiro-Wilk, com nível de significância de 95% (pd”0,05)
para o teste de normalidade da amostra. Como algumas das
variáveis estudadas não apresentaram distribuição normal,
foi utilizado o teste não-paramétrico de Spearman’s rho com
nível de significância de 95% (pd”0,05) para verificação da
associação ou dependência dessas variáveis.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Resultados
Dos 48 indivíduos selecionados na amostragem, houve
uma perda amostral de 4 voluntários.
Os valores médios, desvios padrão, mínimos e máximos
das variáveis idade (em anos), peso (Kg), altura (m) e IMC
estão representados na Tabela I.
Tabela I - Descrição das variáveis idade, peso e altura e IMC.
Variáveis
Idade
Peso
Altura
IMC
Média
Margem Desvio
Valor
Valor
de erro padrão máximo mínimo
21,84
0,358
2,372
29
18
69,261
1,5263 10,1244
89,6
53
1,7563 0,01095 0,07260
1,92
1,64
22,4069 0,38773 2,57194 29,09
17,73
Fonte: Dados coletados na pesquisa. Jequié/BA, 2008.
Entre os voluntários 93,2% (n = 41) possuía membro
superior direito como dominante, havendo 6,8% (n = 3) de
indivíduos cujo membro esquerdo era o dominante.
A comparação entre as médias da força pré-crio e pós-crio,
apresentadas pelos 44 participantes, demonstrou diferença
estatisticamente significativa entre as medidas (p = 0,05)
comprovada através do teste t pareado (com t = -2,020 e desvio
padrão de 7,6942). A Tabela II abaixo representa os valores
médios, desvio padrão, máximo e mínimo dessas medidas de
força (medida em Kgf ).
Tabela II - Descrição das forças de preensão manual pré-crio e
pós-crio.
Força
Pré-crio
Pós-crio
Média
Margem
de erro
36,243 1,3980
38,586 1,2165
Desvio
Valor
Valor
padrão máximo mínimo
9,2733
55,7
15,3
8,0691
58,0
23,7
Fonte: Dados coletados na pesquisa. Jequié/BA, 2008.
Gráfico 1 - Relação entre as médias de força pré-crio e pós-crio.
39
PRÉ-CRIO
38,5
PÓS-CRIO
38
37,5
37
36,5
36
35,5
35
Média
Fonte: Dados coletados na pesquisa. Jequié/BA, 2008.
159
Os voluntários apresentaram um aumento de força de preensão manual após a aplicação de crioterapia, sendo observada
uma diferença significativa entre a média de força pré-crio
(36,243 ± 1,398 Kgf ) e pós-crio (38,586 ± 1,2165 Kgf ) (p =
0,05), evidenciando um aumento de 6,46% após aplicação
do gelo. Essa diferença pode ser observada no Gráfico 1.
O teste não paramétrico de Sperman’s rho demonstrou
haver uma fraca correlação entre as variáveis idade e força précrio (rho = 0,319 e p = 0,035) e peso e Força pré-crio (rho =
0,338 e p = 0,25), sugerindo que a força de preensão manual
aumenta com a idade e o peso, nos indivíduos estudados.
Discussão
Existe ainda muita discussão acerca dos benefícios da
utilização da crioterapia tendo em vista a grande variedade de
modalidades, as diferentes especificidades de cada condição
patológica e as controvérsias existentes em relação aos efeitos
fisiológicos de tal método terapêutico. Os estudos publicados
não costumam comparar, a partir da utilização de um mesmo
protocolo, métodos diferentes de aplicação do frio, além disso,
a maioria dos estudos traz uma amostra reduzida, havendo
divergências também em relação ao local de aplicação da
crioterapia [22,25].
Algumas variáveis, como a temperatura do agente crioterápico, do ambiente e dos tecidos expostos e a espessura local
de tecido adiposo, também não são controladas na maioria
das pesquisas, podendo vir a influenciar os resultados. Esses
fatores acabam por tornar difícil uma comparação entre os
resultados das pesquisas existentes [20,24,25,27,28].
Uma análise do efeito da crioterapia na temperatura cutânea, comparando a utilização de sacos de gel e gelo triturado,
por 20 minutos na região anterior da coxa, verificou que a
diminuição da temperatura cutânea foi significativamente
menor com a utilização do gelo triturado [29]. No entanto
Merrick et al.[23], ao comparar as modalidades gelo triturado
e cubos de gelo em aplicação de 30 minutos na região anterior
da coxa constataram não haver diferença significativa entre
as mesmas. Em decorrência disso, o presente estudo optou
pela utilização de gelo em cubos. A modalidade de aplicação
com bolsa de gelo descartável (saco plástico) foi preferida
devido à segurança, ao custo reduzido e à facilidade de sua
aplicação [15,17].
A maioria dos autores recomenda um tempo de aplicação
de baixas temperaturas de 15 a 30 minutos [15,17]. Esta
pesquisa optou pelo tempo de aplicação de 20 minutos que,
segundo Nirascou [19], deve ser o tempo de aplicação para
a crioterapia. Este valor, além de representar um valor intermediário entre os recomendados, representa o tempo aconselhado de exposição para a modalidade escolhida [16,30],
já que esta causa uma queda de 20,3° C, a uma temperatura
de contato de 0 a 3° C depois de 10 minutos [30].
O presente estudo constatou um aumento significativo
de força muscular de preensão manual após a aplicação de
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
crioterapia durante 20 minutos em face anterior de antebraço
dominante de indivíduos do sexo masculino. Tais resultados
concordam com os obtidos na pesquisa de Borgmeyer et al.
[27] sobre os efeitos do frio na força máxima isométrica do
músculo quadríceps em 60 indivíduos. Esta pesquisa mediu
a força isométrica do músculo antes da aplicação do agente
crioterápico, imediatamente após remoção da modalidade
e passados 10 minutos desta remoção. Os resultados demonstraram aumento significativo da força isométrica após
a aplicação do frio.
O mecanismo pelo qual isto ocorre é apontado como
uma resposta do sistema simpático e aumento da liberação
de catecolaminas devido ao estresse pelo frio. Também a
vasodilatação induzida pelo frio é apontada como responsável pelo aumento de força muscular após o resfriamento.
Essa vasodilatação causa hiperemia no local de aplicação do
gelo disponibilizando um maior suprimento de oxigênio e
nutrientes o que melhora a produção de energia, utilizada
na contração muscular [17,19,20].
Resultados diferentes quanto ao uso da crioterapia no
tecido muscular foram encontrados a partir da investigação
do efeito da terapia com baixas temperaturas na força máxima
isométrica dos extensores do punho após remoção imediata da
modalidade de frio e ao longo de 15 minutos após a retirada
do mesmo. Tal estudo [29] consistia em submergir o antebraço
em banho frio por 5, 10, 15, ou 20 minutos. Os resultados
obtidos indicaram que houve uma acentuada diminuição na
força isométrica quando o antebraço foi imerso durante os
tempos mencionados.
No estudo realizado por Duarte [25], através da aplicação
de gelo triturado por 20 minutos na região anterior da coxa
dominante, foi também constatada uma diminuição significativa da força isocinética de extensão de joelho pelo quadríceps.
Embora tenha ocorrido aumento gradativo durante o período
de recuperação, o músculo não atingiu os valores de força
pré-crioterapia mesmo após 45 minutos da remoção do gelo.
Por outro lado, uma pesquisa [28] constatou que não há
alterações na capacidade do músculo em gerar torque após
tratamento com gelo, evidenciando assim a necessidade de
mais estudos nessa área, uma vez que os estudos existentes
apontam uma heterogeneidade metodológica, inclusive no
que se refere ao tamanho da amostra, o que se reflete em
resultados muito conflitantes.
Diante do exposto, algumas considerações devem ser feitas
quanto às limitações desta pesquisa. O estudo foi realizado
apenas com homens, não tendo sido investigada a ocorrência
ou não de um comportamento diferente da força em relação
aos diferentes sexos. Apesar de o ambiente ter sido climatizado,
não houve um controle efetivo de sua temperatura, não tendo
sido investigada também a influência da espessura do tecido
adiposo do local de aplicação do gelo.
Por fim, todos os indivíduos investigados eram hígidos,
não tendo sido investigada a ação do gelo na força muscular
de indivíduos portadores de doenças.
Conclusão
De acordo com os resultados obtidos neste estudo, observa-se que a crioterapia por meio de bolsa de gelo, durante 20
minutos em face anterior de antebraço é capaz de aumentar
significativamente a força de preensão manual em homens
saudáveis. No entanto, os estudos existentes se mostram ainda
muito conflitantes.
Com isso fica clara a necessidade de realização de novas
pesquisas que venham a elucidar os efeitos fisiológicos da
crioterapia sobre a força muscular, a partir do controle adequado das variáveis envolvidas e seguindo protocolos bem
estabelecidos.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
162
Artigo original
Mudança na composição corporal e consumo alimentar
no período pré-competição da equipe campeã paulista
de futebol feminino de campo
Change in body composition and food intake during pre-competition
of the São Paulo champion professional female soccer players
Evelise Boliani*, Camila Pereira Braga*, Ana Carolina de Bianchi*, Juliana Bravo Guerrero*,
Mayumi Akiba*, Talita Amaro Pereira*, Nailza Maestá**
*Graduandas do curso de Nutrição do Instituto de Biociências/ UNESP-Botucatu,
**Docente do Curso de Educação Física – Faculdades Integradas de Botucatu (SP)/UNIFAC
Resumo
Abstract
O objetivo foi avaliar o consumo alimentar e perfil antropométrico pré e pós-competição das jogadoras profissionais de futebol
feminino de campo. Fizeram parte 18 atletas (22,62 ± 3,67 anos).
Avaliou-se o consumo alimentar no período pré-competição e a
composição centesimal dos nutrientes foi calculado pelo NutWin
2.5, comparadas com a recomendação das DRI. Aferiu-se peso
corporal e estatura para cálculo do índice de massa corporal (IMC),
circunferências e dobras cutâneas para cálculo do percentual de
gordura corporal e massa muscular. Utilizou-se estatística descritiva, teste t-student e percentuais dos parâmetros analisados. Para
a maioria dos nutrientes houve inadequação, sendo que a ingestão
protéica (31,88%) estava acima do adequado e lipídica dentro dos
limites recomendáveis. O consumo glicídico (56,85 ± 22,43%),
fibras (46,13 ± 28%) e cálcio (49,98 ± 26,14%) estavam abaixo
da recomendação. No pré e pós-competição, o estado nutricional
encontrou-se dentro da faixa de eutrofismo (19,93 ± 2,72 kg/
m2). Houve aumento significativo de IMC (p = 0,004) no póscompetição, justificado pelo aumento de 29,85% no percentual
de massa muscular e redução de 7,4% do percentual de gordura.
Apesar da normalidade da massa magra e adiposa, a inadequação
alimentar pode prejudicar o desempenho físico das atletas, havendo
necessidade de acompanhamento nutricional, visando à adequação
da qualidade da dieta.
The objective was to assess the food consumption and anthropometric profile before and after competition of professional
female soccer players. 18 athletes participated (22.62 ± 3.67 years).
Dietary intake in the pre-competition was assessed and composition of nutrients was calculated by NutWin 2.5, compared with
the recommendation of the DRI. Body weight and height were
measured to calculate body mass index (BMI), circumferences
and skinfolds to calculate the percentage of body fat and muscle
mass. We used descriptive statistics, t-student test and percentage
of the parameters analyzed. Most nutrients were inadequate, and
the protein intake (31.88%) was above the appropriate and lipid
within the recommended limits. The glucose consumption (56.85
± 22.43%), fibers (46.13 ± 28%) and calcium (49.98 ± 26.14%)
were below the recommendation. In the pre and post-competition,
nutritional status was found in the eutrophic range (19.93 ± 2.72
kg/m2). There was a significant increase in BMI (p = 0.004) after
competition, justified by an increase of 29.85% in the percentage of
muscle mass and reduction of 7.4% in the percentage of fat. Despite
the normality of body lean and fat, inadequate food can impair
the physical performance of athletes; there is a need for nutritional
monitoring to obtain an adequate diet quality.
Key-words: female soccer players, anthropometry evaluation, food
consumption.
Palavras-chave: jogadoras de futebol, avaliação antropométrica,
consumo alimentar.
Recebido em 26 de março de 2010; aceito em 10 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: Evelise Boliani, Rua Albano Pizzigatti, 167, Santa Rita 13423-346 Piracicaba SP, E-mail: evelise_
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Introdução
O futebol é um dos esportes mais praticados por crianças,
jovens e adultos de todo o mundo [1]. Atualmente ultrapassa
190 o número de países filiados à Federação Internacional
de Futebol (FIFA), onde mais de 60 milhões de jogadores
estão registrados. No Brasil a sua prática ocorre nas escolas e
clubes, seja em caráter recreacional ou competitivo. Ao todo
são 30 milhões de praticantes (23 milhões ocasionais e 7
milhões regulares), 13 mil equipes amadoras e 11 mil atletas
registrados (2 mil atuando no exterior) [2].
A modalidade envolve exercícios intermitentes e a intensidade do esforço físico depende do posicionamento do
atleta, qualidade do adversário e importância do jogo. Aproximadamente 88% das atividades de uma partida de futebol
são aeróbias e os 12% restantes, atividades anaeróbias de alta
intensidade [3].
A prática de atividades esportivas pode proporcionar benefícios à composição corporal, à saúde e à qualidade de vida.
No entanto, o esporte competitivo nem sempre representa
sinônimo de equilíbrio no organismo. As alterações fisiológicas e os desgastes nutricionais gerados pelo esforço físico
podem conduzir o atleta ao limiar da saúde e da doença, se
não houver a compensação adequada desses eventos [4-6].
Contudo, a magnitude das respostas ao exercício parece estar
associada à interação de diferentes variáveis, como a natureza
do estímulo, a duração e intensidade do esforço, o grau de
treinamento e o estado nutricional do indivíduo [7].
A nutrição e o treinamento são alguns aspectos fundamentais para que o jogador de futebol tenha bom desempenho. A
demanda energética dos treinamentos e competições requer
que os jogadores consumam uma dieta balanceada, particularmente rica em carboidratos [8].
A importância da nutrição na performance e saúde de
atletas já se encontra suficientemente documentada na literatura [1-3]. Diversos trabalhos têm buscado estabelecer
recomendações relativas ao consumo nutricional e estratégias
dietéticas que possam otimizar o desempenho e atenuar o
impacto negativo do exercício na saúde [6,7]. Junto a isso,
nas últimas décadas, várias pesquisas avaliaram, em diferentes
grupos atléticos, o quanto a prática alimentar desses indivíduos tem refletido os conhecimentos científicos acumulados
na área da nutrição esportiva [9,10].
Estudos mais recentes têm direcionado seu foco para
o entendimento das relações entre o padrão de consumo
alimentar em populações atléticas e os variados aspectos
inerentes ao grupo, dentro e fora da prática esportiva. Esse
tipo de abordagem, em pesquisas de consumo alimentar de
atletas, confere grande contribuição no estabelecimento de
orientações nutricionais específicas que possam auxiliar na
melhora do desempenho físico e na manutenção da saúde
do indivíduo [11].
163
No futebol, apesar das poucas informações disponíveis
na literatura, os menores valores de gordura corporal podem
favorecer o rendimento máximo, visto que a movimentação
durante as partidas é extremamente intensa, com alta exigência energética. Assim, a massa corporal excedente, provocada
pelo maior acúmulo de tecido adiposo, denominada de massa
corporal inativa, acarretará maior dispêndio energético, dificultando sobremaneira o processo de recuperação pós-esforço,
visto que na perspectiva do esporte de alto rendimento os
períodos destinados à recuperação ao estresse gerado pelas
situações de treinamento ou competição dificilmente atendem
as reais necessidades do organismo do atleta. A resistência
muscular, a força/potência de membros inferiores, a agilidade
e a flexibilidade são capacidades físicas consideradas essenciais
para a prática do futebol [12].
O objetivo deste artigo foi descrever a prática alimentar
de atletas de futebol feminino frente às recomendações nutricionais. Apresentam-se as características do comportamento
alimentar e da ingestão dietética e identifica-se a composição
corporal das mesmas.
Material e métodos
A amostra caracterizou-se como não aleatória voluntária,
constituída de 18 atletas profissionais do time de futebol
feminino, com média de idade de 22,62 ± 3,67 anos, na
fase pré e pós-competição. Para a realização do estudo, foi
obtida autorização, por escrito, das jogadoras e do técnico
responsável pelo time, por meio do Termo de Consentimento
Livre e esclarecido.
Para a recolha das medidas somáticas, utilizamos balança
antropométrica, com escala 0,1 kg; estadiômetro fixo à parede,
escala de 0,1 cm; fita métrica de fibra inextensível (precisão
de 0,1cm) e compasso CESCORF®.
Levamos a cabo a mensuração das seguintes variáveis:
a) Peso-medido com o indivíduo descalço, com o mínimo de
roupa (top e bermuda);
b) Altura - medida com o indivíduo descalço;
c) Circunferência do braço (CB) - medida no ponto médio
entre os ossos acrômio e olecrano;
d) Circunferência da coxa - aferida no ponto médio entre o
trocanter e o joelho;
e) Circunferência da panturrilha - realizada no ponto mais
alto da perna;
f ) Dobra cutânea tricipital - medida no mesmo ponto médio
da circunferência do braço, no sentido vertical;
g) Dobra cutânea suprailíaca - dois centímetros acima da
crista ilíaca no sentido diagonal;
h) Dobra cutânea da coxa - na parte frontal, no mesmo ponto
da circunferência com sentido vertical;
i) Dobra cutânea da panturrilha - na parte interna da
perna, no mesmo local da circunferência, com posição
vertical.
164
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
A partir do peso e altura foi calculado o índice de massa
corpórea (IMC), pela equação: peso/estatura2, classificado
segundo a Organização Mundial da Saúde [13].
Para se obter o percentual de gordura corporal (%G),
primeiramente foi calculada a densidade corporal (D), pela
equação proposta por Jackson & Pollock [14], que, para
mulheres, utiliza a somatória das dobras cutâneas triciptal,
suprailíaca e da coxa. Posteriormente, com este resultado,
da densidade, aplicou-se a equação de Siri [15] para a
obtenção do %G. A massa muscular foi quantificada pela
equação de Lee et al. [16], que utiliza as circunferências
do braço, da coxa e da panturrilha, além das dobras do
tríceps, da coxa e da panturrilha, bem como a distinção
do sexo e da etnia.
Consideraram-se valores de normalidade para o percentual de gordura corporal entre 14-24% [17] e para a massa
muscular valores acima de 36%.
O consumo alimentar, na fase pré-competição, foi avaliado
mediante recordatório de 24 horas, com posterior cálculo
da composição centesimal dos nutrientes pelo software de
Nutrição NutWin 2.5 [18]. Para a verificação da adequação
alimentar foram utilizadas as recomendações propostas pela
Dietary Reference Intake [19].
Após avaliação nutricional foi realizada uma orientação
individualizada sobre a dieta, utilizando o porcionamento dos
grupos dos alimentos e uma lista de substituição, respeitando
a quantidade equivalente das porções entre os alimentos, a fim
de melhorar a alimentação das atletas e consequentemente o
desempenho físico.
Os resultados foram descritos em tabelas com valores
médios e desvio padrão, calculado o teste-t student, percentuais de adequação ou inadequação. A estatística utilizada foi
a descritiva calculada por meio do software Stat versão 6.0.
Resultados
A Figura 1 mostra a composição corporal das jogadoras
no período pré e pós- competição. Observando o índice de
massa corporal (IMC) o estado nutricional encontra-se dentro da faixa de eutrofismo (19,93 ± 2,72 kg/m2), de acordo
com o proposto pela Organização Mundial da Saúde. No
período pós-competição, houve um aumento significativo
de IMC (p = 0,004), justificado pelo aumento de 29,85%
no percentual de massa muscular e com redução de 7,4% do
percentual de gordura.
Na Tabela I, temos o consumo alimentar das jogadoras
no período anterior à competição. Levando-se em consideração as necessidades do elevado gasto energético devido
aos treinos, podemos analisar que a ingestão energética está
insuficiente para suprir o desgaste físico, pois o consumo
calórico (1638,68 ± 692,88kcal) e glicídico (3,48 ± 1,75g/
kg), em média, estão abaixo do ideal (50 kcal/kg e 6-8 g/
kg), respectivamente.
Figura 1 - Característica da composição corporal pré e pós-competição das jogadoras de futebol feminino (n = 18).
60
Pré-competição
Pós-competição
50
40
30
20
10
0
Peso (kg)
IMC
MM (kg)
% MM
%Gordura
Tabela I - Consumo energético (kcal total), protéico (g/kg e %),
glicídico (g/kg e %) e lipídico (%) de jogadoras de futebol feminino
(n = 18).
Parâmetros
kcal total
Prot./kg
Carboidratos/kg
% Proteína
% Carboidrato
% Lipídio
Média e desvio padrão
1638,68 ± 692,88
1,62 ± 0,57
3,48 ± 1,75
24,80 ± 6,60
49,45 ± 8,35
26,377± 5,44
Ao contrário do observado no consumo energético, a
ingestão protéica superou os limites propostos, quando se
leva em consideração o sexo, pois mulheres atletas não devem
ultrapassar 1,4g/kg/dia, e a média consumida pelas jogadoras
foi 1,62 ± 0,57g/kg (Tabela I). O fornecimento de proteína
excedendo esse valor resulta na sua maior oxidação ou em
estocagem do esqueleto carbônico dos aminoácidos na forma de gordura, em ambos os casos aumentando a formação
e excreção de uréia. A oxidação de aminoácidos aumenta o
risco de desidratação devido à necessidade da diluição dos
seus metabólitos excretados via urina [3].
A Figura 2 mostra que o cálcio da dieta das jogadoras, um
dos micronutrientes mais importantes, principalmente para
mulheres porque mantém a densidade mineral óssea, está
reduzido, com percentual de inadequação de 49,98%, pois
o consumo ideal é de no mínimo 1.000 mg/dia.
Discussão
Em relação à composição corporal, a proporção ideal entre
massa gorda e massa magra não só de atletas de futebol, mas
também de outras modalidades, ainda parece não estar bem
definida, já que tanto uma quantidade de massa corporal,
principalmente de massa gorda exagerada, pode fazer com que
o atleta fique mais pesado e perca, entre outras capacidades
motoras, resistência aeróbia, velocidade e agilidade [20].
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Figura 2 - Adequação e consumo de micronutrientes das
jogadoras avaliadas (n = 18).
1000
900
800
700
Valor de referência
Inadequação
600
500
400
300
200
100
0
Cálcio (mg)
Ferro (mg)
Vit. C (mg)
Folato (mcg)
Observa-se no estudo, que o percentual de gordura está
dentro dos limites adequados para mulheres (14-24%), mas
em comparação ao recomendável para mulheres adultas está
abaixo do ideal (20-25%). Em compensação a massa muscular das jogadoras está dentro do recomendável, tanto para
sedentárias quanto para atletas (> 36%).
O treinamento físico pode provocar importantes modificações nos parâmetros de composição corporal, sobretudo na
gordura corporal e na massa magra, sendo assim um importante fator na regulação e na manutenção da massa corporal.
Se, por um lado, os efeitos anabólicos do treinamento físico
induzem a um aumento na massa magra, por outro, a gordura
corporal relativa tende a sofrer redução [21].
O aumento da massa muscular resulta, possivelmente,
em um maior desenvolvimento da resistência e da força
muscular. Desse modo, alguns pesquisadores têm conseguido
demonstrar algumas modificações morfológicas e bioquímicas
que se processam na musculatura esquelética em resposta ao
treinamento físico. Geralmente, o treinamento provoca uma
hipertrofia nos grupos musculares diretamente envolvidos
com o esforço, evidenciando o conceito de especificidade
do treinamento. Todavia, os níveis de hipertrofia variam em
razão da intensidade do estímulo gerado [21].
A nutrição esportiva tem sido enormemente valorizada,
pois se reconhece, na atualidade, que o alimento, quando
bem utilizado pode ser de grande valor para o desempenho
do atleta [22].
Neste estudo, conforme podemos observar na Tabela I, o
consumo alimentar apresenta inadequações. Podemos analisar que a ingestão energética está insuficiente para suprir o
desgaste físico, pois o consumo calórico (37,6 ± 15,1 kcal/
kg) e glicídico (4,7 ± 1,8 g/kg), em média, estão abaixo do
ideal (50 kcal/kg e 6-8 g/kg, respectivamente).
O carboidrato deve ser ingerido antes que ocorra a fadiga
muscular, para assegurar que esteja disponível quando os níveis de glicogênio muscular estiverem baixos. A ingestão de
165
carboidratos é também importante para a recuperação após
o exercício. O termo recuperação envolve processos nutricionais, como a restauração dos estoques hepáticos e musculares
de glicogênio, reposição de fluidos e eletrólitos, regeneração
e reparo de lesões causadas pelo exercício e adaptação após o
estresse catabólico [3].
As necessidades protéicas de um atleta são maiores do que
as de um indivíduo sedentário por causa do reparo de lesões
induzidas pelo exercício nas fibras musculares, uso de pequena quantidade de proteína como fonte de energia durante a
atividade e ganho de massa magra [23].
Juntamente com o carboidrato, a gordura é a principal
fonte de energia durante o exercício [24]. No presente estudo,
o percentual encontrado para lipídios foi de 26,377 ± 5,44,
sendo esse valor adequado ao recomendado (abaixo de 30%
do valor energético total), oriundo em sua maior parte de
ácidos graxos monoinsaturados (9,79 ± 2,65 %).
O consumo elevado de gordura na dieta é um problema
muito comum entre atletas, tornando mais difícil a ingestão
das quantidades preconizadas de carboidrato. Entretanto,
redução muito intensa no consumo de lipídios não é aconselhável, já que estes participam não só do metabolismo da
produção de energia, mas também do transporte de vitaminas
lipossolúveis e são componentes essenciais das membranas
celulares [21,25].
Os micronutrientes desempenham um papel importante
na produção de energia, síntese de hemoglobina, manutenção da massa óssea, função imune e protegem os tecidos dos
danos oxidativos [26].
Algumas vitaminas e minerais desempenham papel importante no metabolismo energético; por isso, a inadequação de um
ou mais micronutrientes pode comprometer a capacidade aeróbia
e anaeróbia [27]. Atletas submetidos a intenso programa de treinamento e competições têm possivelmente alguma dificuldade
em manter níveis adequados de vitaminas [28]. O exercício pode
causar a redistribuição dos minerais entre os compartimentos
corporais [21,29]. A suplementação, tanto de vitaminas quanto
de minerais, pode ser útil quando há necessidade de compensar
dietas deficitárias devido ao estilo de vida, assegurar demandas
de certos nutrientes por causa dos exercícios extremos, corrigir
alguma inadequação nutricional ou para atender às recomendações. Geralmente, a suplementação no futebol está associada
à dieta inadequada e à ingestão elevada de álcool [30].
No presente estudo, houve um consumo de 217% de
vitamina C maior do que o adequado, e inadequação de
35,54% de folato.
Conclusão
Apesar da normalidade dos parâmetros da composição
corporal, tanto para massa adiposa quanto para massa muscular, o mais preocupante se refere à dieta das atletas, visto que
existiu uma inadequação alimentar com relação ao excessivo
consumo de lipídios e proteínas.
166
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Houve menor consumo de carboidratos que é o nutriente
que tem maior efeito sobre o desempenho físico, principalmente para a reposição do glicogênio muscular.
Portanto, além do treinamento físico exigido pelo futebol,
há necessidade de adequação alimentar, visando um ajuste
dietético de macro e micronutrientes, tanto para o sexo quanto
para o desgaste físico e, desta forma, garantindo, além do
bom desempenho, melhor qualidade de vida das jogadoras.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
167
Artigo original
Maturação biológica de atletas de ginástica
artística do Rio de Janeiro
Biological maturation of female gymnastics athletes
from Rio de Janeiro
Gisele Valle da Silva, Esp.*, Astrogildo Vianna de Oliveira-Júnior, M.Sc.*, Patrícia Arruda de Albuquerque, M. Sc.**
*Universidade do Estado do Rio de Janeiro,**Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Estácio de Sá, Universidade
Gama Filho
Resumo
Abstract
O estudo comparou indicadores de maturação biológica entre
atletas femininas de Ginástica Artística do Rio de Janeiro, de outros
países e populações não-atléticas de idade similar. Foram observadas
9 ginastas nas categorias pré-infantil (9-10 anos) e infantil (11-12
anos), com idade cronológica de 11 ± 3 anos. Para coleta de dados
utilizou-se um questionário e um exame radiológico do punho e
da mão esquerda. Apesar da reduzida idade cronológica, as ginastas
eram submetidas a uma carga de treinamento semelhante àquela
imposta a atletas de elite. Além disso, de acordo com os indicadores
adotados, apresentavam tendência a atraso puberal.
The study compared indicators of biological maturation between
female gymnastics’ athletes from Rio de Janeiro, athletes from other
countries, and non-athletical girls of a similar age. A group of 9
gymnasts aged 9 to 12 years old was observed (mean = 11 ± 3 yrs).
The biological maturation was assessed by means of a questionnaire
and radiological examination of the left wrist and hand. Despite
their young chronological age, the gymnasts had a workload similar
to elite athletes’ training work-outs. Furthermore, according to the
indicators employed, the subjects showed a tendency for delayed
puberty.
Palavras-chave: maturação biológica, atletas, atraso puberal.
Key-words: biological maturation, athletes, delayed puberty.
Recebido em 12 de julho de 2010; aceito em 13 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: Gisele Silva, Departamento de Desportos Individuais, Rua São Francisco Xavier 524/8133-F, Instituto
de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 20550-013 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected],
[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
168
Introdução
A Ginástica Artística é um desporto que exige muito do
atleta no que se refere ao aprimoramento das técnicas de
movimento, visto que o bom desempenho nas competições é
resultado da capacidade de executá-lo com a técnica descrita
nos códigos de pontuação.
Para que os movimentos sejam executados com a técnica
exigida, os atletas são submetidos a cargas de treinamento elevadas. Tofler et al. [1] sugerem que a carga semanal de treinamento
de ginastas é de cerca de 18 horas. Quando se atinge a elite do
desporto, os treinamentos podem chegar a 30-40 horas semanais.
Um fato que chama a atenção em relação ao treinamento para
Ginástica Artística é a idade em que os atletas o iniciam, entre
5 e 7 anos [2]. Em ambos os sexos, aos 13 e 16 anos atingem
as categorias superiores, juvenil e adulto respectivamente. Nessa
etapa, os atletas já se encontram em alto nível de treinamento,
tendo em vista que alguns já representam seus países em campeonatos internacionais e obtêm resultados expressivos.
Devido à idade precoce de início da prática da modalidade
visando o rendimento, a literatura discute a possibilidade de
atrasos no desenvolvimento maturacional dos atletas e suas
possíveis implicações. Essas discussões ocorrem porque nas
fases da infância e adolescência muitas mudanças físicas e fisiológicas são verificadas em todos os indivíduos. Tais mudanças
ocorrem em diferentes períodos e podem ter velocidades
distintas em sujeitos com a mesma idade cronológica.
No caso específico da Ginástica Artística, acredita-se que
alguns fatores decorrentes do treinamento poderiam provocar
alterações no desenvolvimento dos praticantes. Dentre os
possíveis fatores, podem ser citados a restrição calórica para
controle do percentual de gordura e massa corporal, o estresse
emocional e o grande volume semanal de treinamento [1,3].
Em virtude da recente popularização do desporto no
Brasil, poucos estudos apresentam dados referentes ao desenvolvimento das praticantes da modalidade no país e suas
características antropométricas e nutricionais [4,5].
Assim, o estudo teve como objetivo comparar indicadores
de maturação biológica em atletas femininas de ginástica
artística do município do Rio de Janeiro com os indicadores
habitualmente propostos na literatura para populações nãoatléticas de idade similar e de ginastas de outros países.
Desenvolvimento de crianças e adolescentes
Infância e adolescência são períodos em que diversos fenômenos ocorrem de forma intensa no organismo, para que os
indivíduos atinjam a maturidade biológica. No aspecto físico,
essas modificações ocorrem mais intensamente no período
da puberdade que, de acordo com Zeferino et al. [6], é um
fenômeno biológico de transformações físicas e fisiológicas.
Chipkevitch [7] afirma que esse fenômeno tem duração de 3
a 4 anos, iniciando-se, em média, aos 9,7 anos na população
brasileira do sexo feminino.
A puberdade varia no seu início, ritmo e intensidade de
progressão de acordo com fatores genéticos e ambientais [8]
e também entre indivíduos de um mesmo grupo [7,9]. Isso
levou Martin et al. [10] a afirmarem que, durante a puberdade, o melhor critério a ser utilizado para a caracterização
do indivíduo não seria a idade cronológica, mas sim a biológica, que corresponde à idade determinada pelo nível de
maturação dos diversos órgãos. Vale frisar que a puberdade
não deve ser confundida com adolescência, pois esta se refere
a um fenômeno psicossocial [11], com duração maior que a
puberdade e classificada pela Organização Mundial de Saúde
[12] na faixa etária de 10 a 19 anos.
Com o objetivo de avaliar a maturidade biológica diversos
métodos podem ser utilizados, como a avaliação somática,
esquelética, dental e sexual [9,13].
A avaliação somática ou morfológica pode ser feita por
meio da observação de medidas antropométricas relacionadas ao crescimento físico [14]. A estatura e a massa corporal
total (MCT) podem ser empregadas como indicadores da
maturação somática, pela comparação dos dados de um
indivíduo com valores de referência para indivíduos com a
mesma idade cronológica. Os valores de referência geralmente
são apresentados na forma de gráficos, nos quais se indica
em que percentil o indivíduo ou grupo avaliado se encontra.
A avaliação da maturação esquelética a partir da determinação da idade óssea [15] é o procedimento mais rigoroso
de determinação da idade maturacional dos indivíduos [16]
e os classifica como maturados precoces ou tardios, se estes
apresentarem idade óssea com variação superior a 1 ano para
mais ou menos em relação à idade cronológica [13]. Fragoso
e Vieira [9] afirmam que é possível encontrar indivíduos
com a mesma idade cronológica que tenham idades ósseas
distantes em até 6 anos.
A relação da idade óssea com a idade cronológica de alguns
grupos de ginastas e os métodos utilizados para a determinação
da idade óssea são apresentados no Quadro I. A literatura
disponibiliza diversos métodos e os mesmos apresentam diferenças em seus resultados [13]. Porém, estas diferenças não
serão discutidas neste estudo, apenas os resultados obtidos
pelos autores.
Quadro 1 - Relação entre idade óssea e idade cronológica de ginastas.
Autor
Caldorone et al.
Theintz et al.
Weimann et al.
Bass et al.
Ano
1986
1993
1999
2000
Região/País
Europa
Suíça
Alemanha
Austrália
Resultados
Compatível com a IC
Atraso médio de 1 ano
Atraso médio de 1,7 anos
Atraso médio de 1,3 (± 0,1) anos
N
52
22
22
83
Método
TW-2
TW-2
Greulinch & Pyle
Greulinch and Pyle
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
No sexo feminino, pode-se avaliar a maturação sexual
a partir da determinação do grau de desenvolvimento dos
caracteres sexuais secundários mamas (M) e pelos pubianos
(P) [17]. Isso possibilita classificar um indivíduo como prépubere, quando se encontra no estágio 1 de desenvolvimento;
púbere, quando se encontra nos estágios 2, 3 e 4 e pós-púbere,
no estágio 5. Outra forma de avaliar a maturação sexual no
sexo feminino é pela determinação da ocorrência da menarca
[7,18,19]. Segundo Colli [20], há maior ocorrência do evento
nos estágios maturacionais M4 (mamas) e P4 (pilosidade
pubiana). Os Quadros II e III apresentam a idade média de
ocorrência da menarca de algumas populações brasileiras e
de ginastas, respectivamente.
Fatores que determinam ou influenciam o crescimento das atletas
Tanner [17] aponta o físico adulto, clima, raça, estação do
ano, hereditariedade, nutrição, doenças, exercícios, distúrbios
psicológicos, classe socioeconômica, tamanho da família e
tendência secular como fatores influenciadores do processo de
crescimento e desenvolvimento. Desses fatores, os que mais
influenciam ou são influenciados pelo treinamento de Ginástica Artística são: físico adulto, hereditariedade, nutrição,
prática de atividade física e distúrbios psicológicos.
O físico adulto e a hereditariedade são fatores genéticos
que, segundo Rogol et al. [21], influenciam, de forma significativa, a estatura adulta, o tempo de crescimento, o ritmo e
a taxa de desenvolvimento sexual e a maturação esquelética.
Esses fatores, segundo os mesmos autores, interagem com
os fatores ambientais durante todo período de crescimento.
No caso de atletas, a prática de atividade física se dá no contexto do treinamento desportivo. O treinamento da ginástica
artística pode ser caracterizado como intenso, repetitivo e de
alto impacto, podendo provocar estresse repetitivo no sistema
musculoesquelético que se encontra em desenvolvimento [1].
169
Os distúrbios psicológicos podem surgir a partir do estresse psicológico que as atletas são submetidas. Além disso,
a excessiva preocupação com a MCT “ideal” pode provocar
alterações na autoimagem da ginasta, favorecendo distúrbios
alimentares [22].
A alimentação das atletas de ginástica artística é rigidamente controlada com o objetivo de que estas mantenham uma
MCT “ideal” para uma boa apresentação nas competições,
tendo em vista a exigência estética do desporto e a melhora na
eficiência mecânica. Em virtude dessa necessidade, Weimann
et al. [3] e Ribeiro [4] apontam em seus estudos que a ingestão
calórica das ginastas seria inadequada para as suas idades.
Monte et al. [23] apontam como fatores determinantes para
a velocidade de multiplicação da cartilagem de crescimento, entre outros, a atividade física e as concentrações de aminoácidos
para a síntese da matriz proteica e minerais como Ca, Mg, P e
Zn. Silva et al. [8], ao associar a prática excessiva de atividade
com uma nutrição inadequada, afirmam que estes podem
diminuir a velocidade de crescimento e provocar uma menor
mineralização óssea, além de reduzir o crescimento e diminuir
os níveis de IGF-I. Além disso, segundo Monte et al.[23], os
principais hormônios responsáveis pela modulação do crescimento, como IGFs, GH, T3, esteróides sexuais, cortisol,
PTH, 1,25vit.D3 e a insulina poderiam ter suas concentrações
alteradas pela integração dos estímulos do meio ambiente, da
nutrição e da estabilidade psicossocial no sistema límbico.
Como consequência dos distúrbios nutricionais, endócrinos e
psicológicos, Tofler et al. [1] e Mantoanelli et al. [22] apontam a
possibilidade de atletas desenvolverem a tríade da atleta, caracterizada pela desordem alimentar, osteoporose e disfunção menstrual.
Material e métodos
O estudo, realizado no período de maio a julho de 2005,
observou uma amostra de 9 ginastas integrantes das 2 principais equipes do município do Rio de Janeiro que participa-
Quadro II - Idade média da menarca de algumas populações brasileiras.
Autor
Ano
Estado
Bem e Petroski
1988
Santa Catarina
Guedes e Guedes
Oliveira Júnior
Petroski et al.
Moreira et al.
1991
1996
1999
2004
Paraná
Rio de Janeiro
Santa Catarina
Rio de Janeiro
Média – sd
12,83 – 1,06
12,46 – 1,04
12,39 – x
12,17 – 1,33
12,56 – 1,15
12,19 – 1,51
N
209
294
193
261
1070
118
População
Escolares reg. Serrana
Escolares reg. Litorânea
Moças de 12 a 14 anos
Escolares
Escolares
Sambistas
Quadro III - Idade da menarca de atletas de ginástica artística.
Autor
Ano
Nível de competição
Caldarone et al.
1986
Alto rendimento
Claessens et al.
Theintz et al.
Baxter-Jones, AD, Helms PJ
Skierska, Elzbieta
1992
1993
1996
1998
Alto rendimento
Alto rendimento
Atletas britânicas
Alto rendimento
Média – s.d.
No grupo com idade média de 14 ± 0.9,
94% não apresentavam menarca
15,6 – 2,1
14,5 – 1,2
14,3 – x
14,4 - 1,2
N
69
201
11
81
73
170
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
ram de campeonatos nacionais na temporada de 2004. Essa
amostra representa 82% do total de atletas do município, nas
categorias estudadas.
Para a realização do estudo, o primeiro contato foi feito
com os técnicos das equipes para o pedido de colaboração e
apresentação do objetivo e relevância do estudo.
Todos os procedimentos foram realizados após a autorização por escrito de um dos responsáveis legais pelas ginastas
após o devido esclarecimento das peculiaridades e propósito
da pesquisa (termo de consentimento pós-informado).
O grupo foi composto por ginastas de 2 categorias:
pré-infantil (9-10anos) e infantil (11-12 anos), com idade
cronológica média de 11,3 ± 1,0 anos (idade decimal). O
tempo médio de prática da modalidade foi de 4,8 ± 1,0 anos,
a frequência semanal de treinamento de 6 vezes e a média
semanal de treinamento de 32,3 ± 4,7 horas. A estatura
média era de 137,9 ± 7,3 cm e a MCT média, 30,7 ± 4,0 kg.
Estas medidas antropométricas foram declaradas pelas atletas.
Considerando que os técnicos avaliavam regularmente suas
atletas e que a MCT era avaliada diariamente, acredita-se na
confiabilidade das informações prestadas.
Utilizou-se na coleta de dados um questionário adaptado
de Fragoso [24] e um exame radiológico do punho e da mão
esquerda [15]. O questionário compreendeu questões acerca
de dados antropométricos e biológicos das ginastas, seus pais e
irmãos; informações sobre o histórico de atividade física e determinação do estágio de maturação sexual da ginasta. As questões
aproveitadas para o estudo foram as que se referiam à data de
nascimento da atleta, MCT, estatura, ocorrência da menarca,
tempo de prática da modalidade e autoavaliação do estágio de
maturação sexual das mamas e da pilosidade pubiana. A avaliação somática foi feita pelo cruzamento dos dados referentes
a MCT e estatura com os valores de referência para a evolução
pondero-estatural na população brasileira do sexo feminino,
conforme proposto por Marques et al. apud Monte et al. [23].
Já que o esqueleto é considerado um bom indicador de
maturação porque seu desenvolvimento prolonga-se durante
todo o processo de crescimento, e a sua evolução desde a cartilagem até a ossificação total na fase adulta pode ser facilmente
registrada radiologicamente [16], a determinação da idade
óssea foi utilizada com o auxílio da metodologia denominada TW3, proposta por Tanner et al. [15]. Ela consiste na
avaliação do rádio, ulna e ossos curtos, totalizando 13 ossos
da mão e do punho esquerdos. Após serem individualmente
comparados com as figuras de um atlas são atribuídas letras
indicando o estágio maturacional de cada centro de ossificação
observado, que são transcritas para o programa de computador
RUS BoneAge version 1.0 da AlphaBrigde Computers, para
o cálculo da idade esquelética.
A metodologia utilizada para a determinação do estágio
de maturação sexual foi a proposta por Tanner [17] na qual
se observa o desenvolvimento das mamas e da pilosidade
pubiana, valendo-se para isso dos modelos fotográficos apresentados por Chipkevitch [7].
A menarca, enfim, foi avaliada através do método status
quo, ou seja, a ginasta respondia se o evento já havia ocorrido
ou não. Em caso afirmativo, foi aplicado o método retrospectivo, questionamento de quando a menarca havia ocorrido,
para determinação da data de sua ocorrência.
A comparação entre idade óssea e idade cronológica foi
feita por meio do teste t- Student para amostras pareadas (p
< 0,05), com auxílio do programa GraphPad Prism 4 for
Windows versão 4.02.
Resultados
Considerando a frequência e o tempo médio semanal de
treinamento, 6 vezes e 32,3 ± 4,7 horas respectivamente, o
grupo se assemelha às atletas de elite do desporto [1]. Quatro
ginastas eram submetidas a uma sessão de treinamento diário
e cinco, duas sessões. A idade óssea média do grupo foi de
10,6 ± 1,1 anos e a cronológica, 11,3 ± 1,0 anos. A tabela
I apresenta as idades cronológica (IC) e óssea (IO) de todas
as ginastas e a situação maturacional, considerando a relação
entre os dois dados.
Verifica-se que duas ginastas apresentavam idade óssea
atrasada em relação à idade cronológica e sete, equivalência.
Tabela I - IC, e IO das atletas e situação maturacional a partir da
relação dos dois dados.
Atleta
1
2
3
4
5
6
7
8
9
IC
IO
9,7
11,5
9,7
11,7
12,4
11,8
12,2
11,7
10,6
10,1
10,8
8,3
11,4
12,2
10,3
11,2
10,9
10,1
Desenvolvimento
maturacional
Normal
Normal
Atrasada
Normal
Normal
Atrasada
Normal
Normal
Normal
P = 0,0103 (teste t-Student)
A estatura das ginastas pode ser observada na Tabela II.
Uma vez comparadas com os valores de referência da Figura
1 para as respectivas idades cronológicas, percebe-se que uma
ginasta se encontra entre os percentis 90 e 75, duas entre 25
e 10, duas entre 10 e 2,5 e quatro no percentil 2,5 ou abaixo.
Já os dados da MCT indicam que uma ginasta encontra-se
acima do percentil 75, duas entre 50 e 25, três entre 25 e 10
e três entre o 10 e 2,5. Os valores para os índices de massa
corporal (IMC) do grupo (tabela II), comparados aos propostos por Sichieri e Allam [25] para a população brasileira do
sexo feminino, possibilitaram classificar duas ginastas como
de baixo peso e cinco como eutróficas. Duas ginastas não
puderam ser classificadas, visto que os dados de referência
eram para indivíduos a partir dos 10 anos.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Tabela II - Estatura, MCT, IMC e sua classificação.
Estatura
(cm)
134,0
135,0
124,0
138,0
136,0
144,0
138,0
142,0
150,0
Atleta
1
2
3
4
5
6
7
8
9
MCT (Kg)
IMC (Kg/m2)
27,7
26,7
27,0
29,0
29,0
32,5
31,5
33,5
39,2
15,4
14,7
17,6
15,2
15,7
15,7
16,5
16,6
17,4
Classificação
Baixo peso
Eutrófica
Baixo peso
Eutrófica
Eutrófica
Eutrófica
Eutrófica
Em relação aos estágios de desenvolvimento dos caracteres
sexuais secundários mamas e pilosidade pubiana (Tabela III),
considerando apenas a classificação M1P1 como indicativa
da fase pré-púbere, pode-se classificar três atletas como prépúberes e seis como púberes. Das atletas púberes, três estavam
no estágio inicial desta fase, M1P2 ou M2P1.
Figura 1 - Estatura e MCT das atletas de ginástica artística.
Peso em kg
6
F
Altura
7
8
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
90
85
180
97,5 175
90 170
75 165
50 160
25 155
10
2,5 150
97,5
90
75
50
25
Peso
5
6
10
2,5
7
8
Altura em cm
180
175
170
165
160
155
150
145
140
135
130
125
120
115
112
105
100
95
90
48
44
40
36
32
28
24
20
16
12
8
4
5
96
92
88
84
80
76
72
68
64
60
56
52
48
44
40
36
Peso em kg
Altura em cm
Feminino
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Idade em anos
Estatura e MCT das atletas de ginástica artística (n = 9)
Valores médios de estatura e MCT do grupo
Tabela III - Frequência para o estágio maturacional de atletas
de ginástica artística de acordo com a relação entre os estágios de
desenvolvimento das mamas (Mx) e pelos púbicos (Px).
P1
P2
P3
M1
3
1
M2
2
2
1
171
Quanto à ocorrência da menarca, todas as atletas declararam que este evento ainda não havia ocorrido.
Discussão
A idade óssea média do grupo (10,6 ± 1,1 anos) apresentou diferença significativa (p = 0,0103) em relação à idade
cronológica (11,3 ± 1,0 anos), o que leva a pensar que este
grupo apresenta um atraso na maturação óssea semelhante
às ginastas estudadas por Bass et al. [26], Theintz et al. [27] e
Weimann et al. [3], apresentados no Quadro 1.
O desenvolvimento maturacional, que também relaciona
IO e IC, apresenta a maior parte das atletas com o desenvolvimento considerado normal. Mesmo o grupo sendo
considerado normal neste aspecto, é importante mencionar
que várias atletas encontravam-se próximas ao limite inferior
da classificação.
A estatura média do grupo situou-se entre os percentis
10 e 2,5, isto é, inferior aos valores médios da população
brasileira estudada por Marques et al. apud Monte et al. [23].
Resultados semelhantes foram verificados em outras populações de ginastas, quando comparadas às suas populações
de referência. Claessens et al. [28] verificaram que a estatura
média de seu grupo situou-se entre os percentis <1 e 13 de
uma população suíça; Weimann et al. [3] abaixo do percentil
12 de uma população alemã; Malina [29] entre os percentis ≤
10 e <50 de uma população americana e Caldarone et al. [30],
Baxter-Jones e Helms [31] e Damsgaard et al. [32] abaixo da
média de populações americana, britânica e dinamarquesa
respectivamente.
A MCT média do grupo situou-se entre os percentis 25 e
10, mostrando que as ginastas, além de mais baixas, possuíam
menor MCT que a referência. Caldarone et al.[30], Claessens et al. [28], Weimann et al.[3] e Malina [29] obtiveram
resultados semelhantes em seus grupos de ginastas: abaixo
da média de uma população americana; entre os percentis
6 e 15 de uma população suíça; abaixo do percentil 12 de
uma população alemã e entre os percentis 10 e <50 de uma
população americana respectivamente.
Mesmo apresentando valores inferiores que a média para
estatura e MCT, o IMC da maioria das ginastas foi classificado
como eutrófico; ou seja, a relação MCT-estatura foi classificada como adequada. Porém, considerando que a nutrição é
um fator que influencia o desenvolvimento, que este método
possui limitações [6] e já foi verificado em alguns grupos de
ginastas déficits nutricionais e/ou consumo energético inadequado para idade [4,3,26], este índice nutricional deve ser
utilizado em conjunto com um rigoroso controle alimentar,
já que isoladamente pode não retratar a realidade nutricional
das ginastas.
O desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários
mama e pilosidade pubiana faz pensar em atraso no desenvolvimento sexual do grupo: apesar de uma idade média
de 11 anos, em sua maior parte as atletas encontravam-se
172
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
no início da puberdade, quando essa fase inicia-se, em
média, aos 9,7 anos de idade na população brasileira do
sexo feminino.
Devido à idade cronológica média do grupo, a utilização
da ocorrência da menarca como indicativo da maturação
sexual não era o parâmetro mais aconselhado. Nenhuma
atleta relatou a ocorrência do evento. Os dados de algumas
populações brasileiras, apresentados no Quadro 2, indicam
que a ocorrência do evento ocorre, em média, acima dos
12 anos.
Considerando a individualidade biológica, algumas ginastas que apresentaram atraso maturacional em algum aspecto
estudado podem, posteriormente, recuperar este atraso (catch
up). Fenômeno similar foi relatado por autores como Bass
et al. [26], para velocidade de crescimento em meninas que
abandonaram a ginástica artística e por Baxter-Jones e Helms
[31] para a estatura num grupo de ginasta. Assim, é necessário um acompanhamento do desenvolvimento biológico em
prazo mais longo, com repetidas avaliações com o intuito
de verificar se há recuperação ou atraso mais significativo
do desenvolvimento, que possa causar malefício a saúde ou
disso decorrer.
Conclusão
As ginastas observadas tinham idade cronológica reduzida,
pertenciam a categorias iniciais da modalidade e se encontravam nos estágios iniciais de sua maturação biológica. Apesar
disso, eram submetidas a uma carga de treinamento semelhante àquela observada em praticantes classificadas como de
elite. As atletas apresentaram algumas características antropométricas e sexuais que se aproximavam daquela de outros
grupos de ginastas e, consequentemente, distanciavam-se das
médias para populações não-atléticas. De forma geral, isso
indica tendência a um possível atraso puberal.
Os fatores que poderiam estar contribuindo para esse
atraso no desenvolvimento das atletas, sejam eles genéticos
ou ambientais, não foram profundamente investigados no
questionário distribuído, logo não foi possível analisá-los ou
discriminá-los mais precisamente. Porém, diversos estudos
indicam que fatores como nutrição, carga de treinamento,
estresse psicológico, dentre outros, estão presentes no dia-adia de atletas de ginástica artística, independentemente de
sua idade ou categoria. Estudos adicionais são desejáveis para
identificação da presença concreta e contribuição relativa de
cada um desses fatores, bem como sua contribuição relativa
ao processo de desenvolvimento e maturação biológica.
Agradecimentos
Agradecemos ao Prof. Dr. Paulo T.V. Farinatti pela revisão
do texto e comentários de forma geral.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
174
Artigo original
Reprodutibilidade e comportamento da frequência
cardíaca durante aulas de ginástica localizada
Reproducibility and behavior of heart rate during fitness sessions
Rafael Ayres Montenegro*, Jonas Lírio Gurgel**, Flávia Porto Melo Ferreira**, Alexandre Hideki Okano***
*Grupo de Estudo e Pesquisa em Biologia Integrativa do Exercício – GEPEBIEX, Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro – UERJ, Instituto de Educação Física, Universidade Federal Fluminense – UFF, ***Grupo de Estudo e Pesquisa
em Biologia Integrativa do Exercício – GEPEBIEX. Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN)
Resumo
Abstract
Ginástica localizada (GL), embora amplamente praticada, não
possui informações referentes às repostas da frequência cardíaca (FC)
durante a aula e a reprodutibilidade destas medidas. Desse modo,
os objetivos foram verificar a reprodutibilidade da FC através de
sua monitoração em aulas de GL e analisar seu comportamento
nas aulas. Participaram do estudo 30 indivíduos (14 homens e 16
mulheres) com idade média de 21,9 ± 4,3 anos, massa corporal
de 59,5 ± 10,3kg, estatura de 166,6 ± 8,4cm. Aplicaram-se duas
aulas (50 min) de GL idênticas, ministradas pelo mesmo professor,
temperatura ambiente controlada, com intervalo de uma semana
entre as sessões. Foram constituídas por alongamento/aquecimento
envolvendo todos os seguimentos corporais (20 min); parte principal enfatizando exercícios localizados de membros inferiores (25
min) e esfriamento/alongamento (5 min). Utilizou-se 2 séries de 15
repetições para todos os exercícios abordados, exceto nos exercícios
abdominais, 2 séries de 30 repetições. FC foi medida pelo método
pulsatório (na artéria radial por 15 segundos, sendo multiplicado o
valor resultante por quatro) a cada 5 min, totalizando 10 medidas
por sessão. Correlação intra-classe indicou alta reprodutibilidade (r
= 0,76; p < 0,01) nas medidas de FC obtidas pelo método pulsatório
radial entre as aulas, além disso, o teste T de Student para amostras
dependentes não evidenciou diferenças significantes (p > 0,05)
entre as médias (%FCMáx) obtidas entre as aulas de GL1 (58,80
± 7,82) e GL2 (57,03 ± 8,59). Podemos concluir que o método de
medida da FC pulsatória constitui-se numa maneira de controle
da intensidade do esforço em aulas de GL. Além disso, o estresse
cardiorrespiratório gerado pela aula de GL parece ser suficiente para
promover melhorias na aptidão aeróbia.
Physical fitness (PF), although widely performed, has no information regarding heart rate (HR) responses during its performance.
The objectives of this study were to investigate during fitness sessions
the reproducibility of HR control and to analyze its behavior. The
study included 30 subjects (14 men and 16 women) with mean
age of 21.9 ± 4.3 years, body mass 59.5 ± 10.3 kg, height 166.6 ±
8.4 cm. Two sessions of (50min) of identical exercises, controlled
temperature, and same teacher were carried out, with one week interval between sessions. The exercises consisted of stretching and full
body warm-up (20 minutes), emphasizing physical fitness of lower
limbs (25min) and cooling down/stretching (5min). We used 2 sets
of 15 repetitions for all exercises, except for abdominal exercises,
2 sets of 30 repetitions. HR was measured manually by taking the
pulse (at the radial artery for 15 seconds, and the resulting value
multiplied by four) every 5 minutes, totaling 10 measurements per
session. Intra-class correlation showed high reproducibility (r = 0.76,
p <0.01) in HR measurements obtained by taking the radial pulse
artery between sessions. In addition, the Student t test for dependent samples showed no significant differences (p > 0.05) between
average (% MHR) obtained in the PF1 (57.03 ± 8.59) and PF2
(58.80 ± 7.82). We conclude that the HR measured manually is a
way to control the intensity of effort in PF sessions. Furthermore,
the cardiorespiratory stress generated by the PF sessions seems to be
sufficient to promote improvements in aerobic fitness.
Key-words: gymnastics, heart rate, reproducibility of results.
Palavras-chave: ginástica, frequência cardíaca, reprodutibilidade
dos testes.
Recebido em 23 de agosto de 2010; aceito 16 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: Esp. Rafael Ayres Montenegro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU-UERJ), Rua São Francisco Xavier 524, 80 andar, sala 8133, Bloco F Maracanã, 20599-900 Rio de
Janeiro RJ, E-mail:[email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Introdução
Material e métodos
A ginástica localizada (GL) é uma modalidade de exercício físico tradicional e eficaz, muito utilizada em centros
de treinamento, como as academias, e tendo grande adesão
dos clientes que procuram benefícios saudáveis e estéticos. Embora seja amplamente praticada, existem poucas
informações referentes ao efetivo controle da intensidade
do estímulo aeróbio durante aulas de GL. Por outro lado,
sabe-se que existe uma intensidade mínima para que o
exercício físico promova adaptações benéficas ao sistema
cardiorrespiratório [1-4]. Para a promoção e manutenção
dos níveis de saúde, o Colégio Americano de Medicina
Esportiva [5,6], por exemplo, recomenda que adultos
saudáveis entre 18-65 anos de idade realizem no mínimo
30 minutos de atividade física aeróbia, em intensidade
moderada (50-60%VO2Máx), 5 vezes por semana ou 20
minutos de atividades aeróbias vigorosas (70-85%VO2Máx)
com frequência semanal de 3 sessões.
Vários métodos baseados no monitoramento da frequência cardíaca (FC) têm sido propostos com o propósito
de avaliar a intensidade do exercício durante um programa
de treinamento e de competição, fornecendo informações
mais precisas do que auto-relatos de intensidade do treino
[7,8]. Nesse sentido, Padilla et al. [9,10] atribuem uma
maior relevância ao método de controle da intensidade do
exercício através do recordatório da frequência cardíaca,
sendo um índice metabólico válido para determinação
apropriada do ritmo de treino e de competição de ciclistas
profissionais, possuindo precisão similar a variáveis metabólicas frequentemente utilizadas como parâmetros de controle
da intensidade do exercício, como é o caso do limiar de
lactato ou do limiar ventilatório. Com base nisso, alguns
pesquisadores têm investigado as respostas da FC durante
atividades como a dança aeróbia [11], step training [12] ou
circuit training [13]. Contudo, não foram encontradas na
literatura informações referentes às exigências fisiológicas
específicas em uma aula de GL.
A maioria dos centros de treinamento não possui estrutura que permita a utilização de monitores de frequência
cardíaca para o controle da intensidade, simultaneamente, a
todos os alunos durante uma aula de ginástica. Desse modo,
uma alternativa bastante interessante é o monitoramento
da frequência cardíaca medida no pulso. No entanto, por
ser um método de controle da intensidade que possui limitações e um erro padrão considerável, é fundamental a
análise da reprodutibilidade das medidas entre sessões de
treinamento ou em aulas de ginástica. Com base nisso, os
objetivos do presente estudo foram: a) analisar a intensidade de aulas de GL conforme traduzida pelo comportamento
da FC; b) verificar a reprodutibilidade da medida da FC
em aulas de GL.
Amostragem
175
Participaram do estudo 30 indivíduos (14 homens e 16
mulheres) com idade média de 22 ± 4 anos, massa corporal de
59,5 ± 10,3 kg, estatura de 166,6 ± 8,4 cm. Todos referiram
ser saudáveis e fisicamente ativos. Foram excluídos da amostra
indivíduos que fizessem uso de medicamentos que tivessem
influência sobre o comportamento das respostas funcionais,
principalmente sobre a FC e quem possuísse problemas
osteomioarticulares que pudessem limitar a realização dos
exercícios propostos. Todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil. O presente
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Alagoas.
Procedimentos
Foram aplicadas por duas vezes aulas padronizadas de GL,
ministradas pelo mesmo professor, com temperatura ambiente
da sala controlada, separadas com intervalo de uma semana.
As aulas tiveram duração de 50 minutos e foram constituídas
por: alongamento/aquecimento envolvendo todos os seguimentos corporais (20 minutos); parte principal enfatizando
exercícios localizados de membros inferiores (25 minutos) e
esfriamento/alongamento (5 minutos). Foram utilizadas duas
séries de 15 repetições para todos os exercícios abordados,
exceto nos exercícios abdominais, duas séries de 30 repetições.
A FC foi medida pelo método pulsatório (na artéria radial
por 15 segundos, sendo multiplicado o valor resultante por
quatro) a cada 5 minutos, totalizando 10 medidas durante a
sessão. Na primeira aula, antes de seu início foram coletados
peso e estatura dos avaliados para a caracterização da amostra.
Os voluntários foram orientados a não realizarem atividade
física vigorosa nas 48 horas precedentes às aulas de ginástica
localizada. Para determinação da intensidade relativa das aulas,
calculou-se a média dos valores de FC mensurados durante
os diferentes momentos da aula, convertendo-se esses resultados em porcentuais da FC máxima, utilizando-se a equação
FCmax = 220 - idade. Posteriormente, esses valores foram
convertidos a porcentuais estimados do VO2max, utilizando-se
a equação: %VO2Máx = 1,41 x (%FCMáx - 42) [14-17].
Análise estatística
A normalidade dos dados foi confirmada pelo teste de
Shapiro-Wilk. A análise dos dados foi realizada de forma
descritiva e a reprodutibilidade das medidas em cada momento da aula feita pelo coeficiente de correlação intraclasse
(CCI). Para a comparação entre as médias da FCmáx obtidas
nas aulas empregou-se o teste t de Student para amostras
dependentes e análise do limite de concordância (plotagem
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
176
de Bland-Altman) [18]. Os dados foram tratados no pacote
estatístico Statistic for Windows 6.0 (Statsoft®, Tulsa, EUA).
O nível de significância adotado foi de p ≤ 0,05.
Resultados
A Figura 1 apresenta o comportamento da frequência
cardíaca durante as duas sessões padronizadas de ginástica
localizada.
Figura 1 - Comportamento da frequência cardíaca durante aulas
de ginástica localizada.
Aula 1
Aula 2
%FCMax
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
5
10
15
20
25 30 35
Tempo (min)
40
45
50
Os resultados de correlação intraclasse indicaram alta
reprodutibilidade (CCI = 0,76; p < 0,01) nas medidas de FC
obtidas pelo método pulsatório radial entre as aulas de GL.
Além disso, não foram encontradas diferenças significativas
(p > 0,05) entre as médias (% FCMáx) obtidas entre as aulas
de GL 1 (58,8 ± 7,8%) e GL 2 (57,0 ± 8,6%), o que corresponderia a aproximadamente 40%VO2máx.
Figura 2 - Plotagem de Bland Altman para comparações das méias
do %FCmáx entre aulas de GL1 e GL2 (n = 30).
20
Aula 1 - Aula 2
15
+1,96DP
12,2
10
5
1,6
0
-5
-1,96DP
-9,0
-10
-15
40
50
60
70
80
Média dos valores da Aula 1 e Aula 2
90
A Figura 2 apresenta a plotagem proposta por Bland e
Altman [18] para verificação de concordância entre as médias
dos percentuais da frequência cardíaca máxima obtidas nas
aulas de ginástica localizada 1 e 2. Percebe-se um bom padrão
de concordância das médias dos percentuais da frequência
cardíaca máxima nas duas aulas.
Discussão
Este estudo teve o propósito de investigar o comportamento da FC e reprodutibilidade de sua aferição durante aulas
de GL. Os resultados indicaram que não houve diferenças
significativas entre as médias de %FCMáx obtidas em GL 1
e GL 2, indicando alta reprodutibilidade nas medidas de FC
obtidas pelo método pulsatório radial. Em relação à intensidade de esforço durante as aulas, pode-se considerar que a
intensidade de esforço durante as aulas de GL são suficientes
para promover adaptações cardiovasculares, já que os valores
percentuais da FCmáx situaram-se nos limites usualmente
preconizados para produção de efeitos do treinamento aeróbio
sobre o sistema cardiorrespiratório [5,19,20].
Vários estudos analisaram a intensidade gerada por
diferentes modalidades de ginástica, como dança aeróbia,
circuit training, step training, body pump e power jump [1113,12,21,22]. Olson et al. [11] demonstraram que a intensidade associada à dança aeróbia situou-se em torno de 80%
da FCmáx e 50% do VO2Máx. Martinovic et al. [12] avaliaram
uma aula de step training, relatando 74% a 81%FCmáx
(dependendo da altura do step), correspondendo a uma
faixa de 65% a 75% do VO2máx. Já Beckman e Earnest [13]
investigaram as respostas cardiovasculares durante sessões de
ginástica do tipo circuit training, tendo observado valores
de FC correspondentes a aproximadamente 32% VO2Máx.
Stanforth, Stanforth e Hoemeke [21] observaram, em aulas
de body pump, exigências físicas de 29,1% do VO2 de pico e
63% da FCMáx. Em aulas de power jump, Grossl et al.[22]
encontraram ~80% da FCmáx.
A intensidade relativa presentemente encontrada foi
ligeiramente inferior ao observado por Olson et al. [11],
Martinovic et al. [12] e Grossl [22] . Essa discrepância poderia
ser explicada, ao menos em parte, pelo uso limitado de cargas
(caneleiras e halteres com pouca quilagem) e menor potencial
de elevação da intensidade em comparação com aulas de
step training, dança aeróbia e power jump. Por outro lado, a
intensidade das aulas de GL se assemelhou – sendo mesmo
ligeiramente superior – ao encontrado por Beckman e Earnest
[13] para o circuit training e Stanforth, Stanforth e Hoemeke
[21] para aula de body pump. Uma vez que essas atividades se
caracterizam por não treinar especificamente uma capacidade
física em seu grau máximo, antes possuindo uma abordagem
generalizada, esses resultados revelam-se coerentes.
Existem na literatura estudos que divergem quanto à reprodutibilidade e validade do método de medida da FC pela
palpação da artéria radial. Hwu et al. [23], King et al. [24]
encontraram fortes níveis de concordância entre as medidas
de FC utilizando o método pulsatório radial (CCI = 0,98; p
< 0,0001; CCI = 0,62; p = 0,0002), mas esses estudos foram
realizados com indivíduos em repouso.
Por outro lado, Huse et al. [25] não obtiveram reprodutibilidade em testes de 12 min em nadadores. Todavia, por motivos
óbvios a pulsação nesse caso era medida após a finalização da
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
atividade, o que aumenta bastante a chance de erro em função da flutuação da FC, que retorna rapidamente aos valores
de repouso. Nesse sentido, DeVan et al. [26] compararam a
recuperação de sujeitos saudáveis em exercício aeróbio, tendo
concluído que a medida da FC pelo método pulsatório radial
subestimaria em torno de 20-27 batimentos por minuto os
valores reais de FC quando monitoradas e comparadas por
eletrocardiograma. É fácil aceitar, portanto, que estudos de
reprodutibilidade e validade da medida da FC pelo método
pulsatório em diferentes atividades físicas e grupos devem
ser estimulados, a fim de tornar mais prático o controle da
intensidade de atividades físicas realizadas de forma coletiva.
Assim, os presentes resultados sugerem que o método de
medida pulsatória radial constitui-se em estratégia viável para
o controle da intensidade durante aulas de ginástica localizada. O método pode ser amplamente utilizado em centros de
treinamento, em virtude de sua praticidade e fácil assimilação
pelos praticantes.
Conclusão
Conclui-se que a medida da FC pelo método pulsatório
constitui-se numa boa maneira de controle da intensidade do
esforço em aulas de ginástica localizada. Além disso, a intensidade relativa estimada pelo %FCmáx durante aulas de GL
parece ser compatível com o exigido para promover melhorias
na aptidão aeróbia de indivíduos sedentários.
Agradecimentos
Ao Prof Dr. Paulo de Tarso Veras Farinatti e ao CNPq e
FAPERJ pelo parcial financiamento deste estudo.
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178
Artigo original
Avaliação da flexibilidade durante
o ciclo menstrual em pré-adolescentes
Evaluation of flexibility during the menstrual cycle in preadolescents
Isabela de Souza Camargo*, Christiano Bertoldo Urtado, M.Sc.**, Márvio Pereira Leoncini***, José Bechara Neto***
*Professora de Educação Física pelas Faculdades Integradas Stella Maris de Andradina – FISMA, **Performance Humana pela
Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, ***Professor do Curso de Educação Física das Faculdades Integradas Stella Maris
de Andradina – FISMA
Resumo
Abstract
O presente estudo buscou analisar o comportamento da
flexibilidade corporal em pré-adolescentes durante a presença e
ausência do ciclo menstrual. Estudou-se uma amostra de 10 (dez)
pré-adolescentes na faixa etária de 14 a 15 anos, que possuíam ciclo
menstrual regular. Dados referentes ao período menstrual foram
obtidos através da aplicação de um questionário. Foi solicitado
um termo de consentimento assinado pelos responsáveis de cada
pré-adolescente. A flexibilidade foi avaliada pelo Banco de Wells,
permitindo uma análise da flexibilidade corporal e ainda foi realizado
o Teste t de student analisando duas amostras presumindo variâncias
diferentes (p < 0,05). Sem inferir para além dos dados da amostra
e, levando-se em conta diversos fatores que podem influenciar nos
resultados dos testes, tais como: idade, valores antropométricos,
aspectos maturacionais, hora do dia e treinamento físico, não houve
diferença significativa com relação à flexibilidade tanto na presença
como na ausência do ciclo menstrual.
The present study aimed at analyzing the behavior of body
flexibility in preadolescents during the presence and absence of
menstrual cycle. A sample of 10 (ten) preadolescents 14-15 years old
with regular menstrual cycle was studied. A questionnaire was used
to obtain data related to menstrual period. The person responsible
for each preadolescent was asked to sign the written informed consent. The flexibility was evaluated by the Bank of Wells, allowing an
analysis of body flexibility. In addition, the student’s t-test analyzing
two samples supposing different variances (p < 0.05) was carried out.
Without inferring beyond the sample data, and considering several
factors which may influence test results, such as: age, anthropometric
values, aspects of maturation, time of the day and physical training,
there was no significant difference with reference to flexibility during
the presence or absence of the menstrual cycle.
Key-words: flexibility, menstrual cycle, preadolescents.
Palavras-chave: flexibilidade, ciclo menstrual, pré-adolescentes.
Recebido em 29 de abril de 2010; aceito em 8 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: José Bechara Neto, Rua Joaquim Nabuco 416, 17800-000 Adamantina SP, Tel: (18) 8122-1520,
E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Introdução
Este estudo buscou analisar o comportamento da flexibilidade, mensurada através do teste do Banco de Wells,
em pré-adolescentes durante a presença e ausência do ciclo
menstrual. Embora ainda não se tenha explicação adequada
para inúmeros questionamentos relacionados com os efeitos
da prática do treinamento de flexibilidade envolvendo a
população jovem, verifica-se, nos últimos anos uma grande
quantidade de estudos relacionados ao treinamento de flexibilidade durante o ciclo menstrual [1].
O período reprodutivo feminino normal caracteriza-se
por alterações rítmicas mensais na secreção dos hormônios
femininos e por alterações correspondentes nos próprios órgãos sexuais. Esse padrão rítmico é denominado ciclo sexual,
ou menos precisamente, ciclo menstrual [2].
A menstruação sempre foi um tabu para a ciência do esporte, treinadores e atletas. Embora existam muitos estudos
relatando como o exercício afeta a menstruação, são menos
conhecidos os que analisam como a menstruação e as outras
fases do ciclo menstrual interferem na performance e quais
as alterações que podem comprometer o potencial físico e
psicológico. Não se pode esquecer que essas fases são altamente
individuais, ou seja, algumas pré-adolescentes podem ter seu
rendimento prejudicado, principalmente na fase menstrual
devido ao desconforto de seus sintomas ou um melhor rendimento durante essa fase menstrual devido ao efeito hormonal
[3]. Durante o ciclo menstrual ocorrem mudanças hormonais,
a menos que a mulher esteja em contracepção, e isso tem
efeitos definidos no desempenho físico [4].
A análise da flexibilidade através do Banco de Wells
consiste no teste de sentar e alcançar, que é um dos mais
indicados para a avaliação de adolescentes. Além disso,
apresenta a padronização descrita nas principais baterias
de teste de performance motora; frequentemente os resultados obtidos neste teste são empregados como sendo
representativos da flexibilidade geral. Sua grande aceitação
deve-se a utilização de um movimento que se assemelha
com algumas ações do cotidiano; grande facilidade na sua
utilização; alta reprodutibilidade; permitir uma avaliação
da flexibilidade ao nível da coluna e dos músculos isquiotibiais, que está associada a grande parte das queixas dolorosas na região lombar e aos problemas de ordem postural
[5]. Entretanto, a utilização deste procedimento avaliativo
pode ser representativa da flexibilidade geral, mensurando
a flexibilidade corporal.
Material e métodos
Foram avaliadas 10 (dez) pré-adolescentes na faixa
etária de 14 a 15 anos, especificamente que possuem ciclo
menstrual regular. Antes de iniciar a coleta de dados, as préadolescentes responderam a um questionário básico prelimi-
179
nar, com a única finalidade de saber se as pré-adolescentes
possuem ciclo menstrual regular e quais as datas específicas
de cada fase do seu ciclo menstrual. Foi solicitado um termo de consentimento assinado pelos responsáveis de cada
pré-adolescente.
A coleta de dados ocorreu no primeiro semestre letivo de
2005. As avaliações foram realizadas durante o período de
4 (quatro) semanas consecutivas, sempre no mesmo dia da
semana (sexta-feira) e aproximadamente no mesmo horário
(entre 15 e 16 horas da tarde), quando foram anotadas a
presença e ausência do ciclo menstrual.
Todas as medidas foram feitas sempre na mesma sala, com
temperatura ambiente. As pré-adolescentes estavam vestidas
com roupas adequadas para a prática de exercícios, de forma
que a execução de movimentos não fosse prejudicada. As
pré-adolescentes realizaram um prévio aquecimento com
leves exercícios de alongamento [6]. Sentadas no solo, pernas
estendidas com as solas dos pés descalços apoiados contra o
banco (encostado em uma parede). Com os braços estendidos
sobre a cabeça, as pré-adolescentes avaliadas avançavam à frente vagarosamente com ambas as mãos paralelas tão distante
quanto possível, mantendo esta posição momentaneamente.
O avaliador apoiava os joelhos das avaliadas, segurando-os
com as mãos, sem, no entanto, pressioná-los, para que se
mantivessem estendidos. Avaliou-se a melhor de três execuções
como resultado final do teste [6]. Todas as pré-adolescentes
avaliadas praticam exercício físico intenso regularmente, contudo nenhuma pré-adolescente praticou qualquer exercício
prévio mais intenso antes da avaliação.
Nessas quatro semanas, cada pré-adolescente realizou 3
(três) avaliações, sendo 1 (uma) avaliação na presença do
ciclo menstrual e 2 (duas) avaliações na ausência do ciclo
menstrual.
Pressupomos que a diferença média de idade de 1 (um)
ano entre as pré-adolescentes não interfere na flexibilidade.
Todas as pré-adolescentes da amostra foram testadas
mediante o teste do Banco de Wells, o qual utiliza como
instrumento um banco de madeira, expressando os resultados
em uma escala de distância em centímetros, utilizando-se de
uma régua para a mensuração; esse teste apresenta como ponto
forte uma visão global da flexibilidade. E ainda foi realizado
o Test t de student analisando duas amostras presumindo
variâncias diferentes (p < 0,05).
Resultados
Usou-se 2 (duas) observações da flexibilidade das pré-adolescentes na ausência do ciclo menstrual para que tivéssemos
uma melhor estimativa do verdadeiro índice de flexibilidade,
visto que se supõe que o intervalo de tempo em que a préadolescente está na presença do seu ciclo menstrual é menor
– 1 (uma) semana – do que quando a mesma não está no seu
período menstrual – 20 (vinte) dias.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
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Gráfico 1 - Média da presença do ciclo menstrual e média da
ausência do ciclo menstrual.
Teste no banco de wells
40,2
(cm)
50
0
Presença de
mestruação
Ausência de
mestruação
Analisando a flexibilidade das pré-adolescentes através
do teste do Banco de Wells e ainda no Test t de studant, não
houve diferença estatística com relação à flexibilidade, tanto
na presença como na ausência do ciclo menstrual (p < 0,05).
Discussão
A literatura tem demonstrado que a flexibilidade tem
forte contribuição na eficácia do treinamento de força, da
resistência muscular e da resistência cardiovascular, melhorando a performance, tornando os atletas menos suscetíveis
a lesões musculares [3]. Isso também é válido para as tarefas
do cotidiano, nas quais a flexibilidade desempenha um papel
de grande relevância para a saúde geral e para a aptidão física
especificamente na prevenção de lombalgias, as quais representam forte indício de redução da flexibilidade do quadril e
na manutenção da postura corporal.
Conclusão
Em conclusão, sem inferir para além dos dados da amostra
e, levando-se em conta diversos fatores que podem influenciar
nos resultados dos testes, tais como idade, valores antropométricos, aspectos maturacionais, hora do dia e treinamento
físico, não houve diferença significativa com relação à presença do ciclo menstrual, assim como na ausência do ciclo
menstrual. Contudo estudos com métodos estatísticos mais
elaborados podem relacionar melhor essas eventuais modificações na flexibilidade durante o ciclo menstrual.
Referências
1. Berne RM, Levy MN. Fisiologia. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 934p.
2. Guyton AC, Hall JE. Fisiologia humana e mecanismos das
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6. ACSM. Guia para teste de esforço e prescrição de exercício. 3a
ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2000.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
181
Relato de caso
Influência do exercício físico resistido na melhora
da fração de ejeção em indivíduo chagásico
Effect of resistive physical exercise in the improvement of ejection
fraction in patient with Chagas disease
Jefferson Petto, Esp.*, George Robson Ferraz**, Thiago Bouças***
*Mestrando pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – EBMSP, BA, Aperfeiçoamento em Pesquisa em Fisioterapia Cardiovascular – UFSCar, SP, Professor Substituto de Fisiologia do Exercício e Cinesiologia da UEFS e da UNEB, BA, **Cardiologista
do Setor de Fisioterapia Cardíaca da Clínica Escola da Faculdade Adventista da Bahia, ***Graduando do curso de Fisioterapia da
Faculdade Social
Resumo
Abstract
Este relato de caso evidencia o efeito do Exercício Físico Resistido
Supervisionado (EFSR) na melhora da Fração de Ejeção (FE) em
indivíduo com Doença de Chagas (DC). Após um Teste de Carga
Máxima (TCM) e um Teste de Resistência Máxima (TRM), foi
realizado programa de EFRS executado em duas séries com 30%
do TCM e 60% do TRM. Esta etapa teve duração de seis semanas,
sendo que nas seis semanas posteriores foram realizados os mesmos
exercícios com 40% do TCM. Após esse período um novo ECO foi
realizado, evidenciando uma melhora de 95,65% da FE.
This case study reported the effect of Supervised Resistance
Training Exercise (SRTE) in the improvement of Ejection Fraction
(EF) in individual with Chagas disease (CD). After a Maximum
Load Test (MLT) and a Maximum Resistance Test (MRT), a SRTE
program was carried out and performed in two series with 30%
of MLT and 60% of MRT. This phase lasted for six weeks and six
weeks later the same exercises were performed with 40% of MLT.
After this period of work a new ECHO was performed, showing
an improvement of 95.65% of EF.
Palavras-chave: exercício físico, doença de Chagas, teste de
resistência.
Key-words: physical exercise, Chagas disease, resistive test.
Recebido em 22 de fevereiro de 2010; aceito em 18 de julho de 2010.
Endereço para correspondência: Jefferson Petto, Cond. Água, lote 22 quadra 02 apto 12, Guarajuba 42827-000 Camaçari BA, Tel:
(71) 9619-1061, E-mail: [email protected] ou [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Introdução
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde 2004,
a Doença de Chagas é uma das doenças infecciosas de maior
prevalência na América Latina. Atualmente, estima-se que
no continente, noventa milhões de pessoas estão sob risco
de contrair a doença, treze milhões estão infectadas e entre
3 e 3,3 milhões apresentam formas sintomáticas da doença.
A doença de Chagas tem como resultado final o remodelamento miocárdico e a Insuficiência Cardíaca (IC) [1].
Segundo a Diretriz de Reabilitação Cardíaca 2005, um
programa de exercício físico supervisionado, de acordo com
a literatura, tem se mostrado eficaz como tratamento não
medicamentoso da IC [2]. Dentre os efeitos desse programa
destacam-se o aumento do consumo máximo de oxigênio, a
diminuição da resistência vascular periférica, o aumento da
sensibilidade ao barorreflexo da ativação simpática, a redução
da atividade neuro-humoral e até mesmo o remodelamento
reverso miocárdico [3,4].
No entanto, pouco se tem pesquisado sobre os efeitos
cardiovasculares do exercício físico em indivíduos chagásicos
crônicos com insuficiência cardíaca, em especial os efeitos
do exercício físico resistido. Sendo assim, este relato de caso
se torna relevante devido não só a sua originalidade, como
também em função dos resultados obtidos.
Relato de caso
M.J, 57 anos, sexo feminino, sedentária, não tabagista
apresentou-se ao setor de reabilitação cardíaca da Santa Casa
de Misericórdia de Cruz das Almas em 1° de maio de 2007,
com diagnóstico clínico de cardiomiopatia chagásica, sob
tratamento clínico há dois meses com as seguintes medicações: carvedilol 12,5 mg, digoxina 0,25 mg e amiodarona
100 mg.
Ao Ecocardiograma (ECO) se observou a Fração de
Ejeção (FE) de 23% e massa ventricular esquerda de 275 g,
sendo que os diagnósticos ecocardiográficos foram disfunção
diastólica importante (padrão restritivo) (relação EA > 1,5),
insuficiência mitral grave, dilatação leve a moderada de átrio
esquerdo e cardiomiopatia dilatada grave. As demais variáveis
ecocardiográficas pré e pós-condicionamento físico estão
descritas com os resultados na tabela I.
No exame físico foram verificados os seguintes dados:
altura 162 cm, massa 73 kg, IMC 27,8, Tensão Arterial (TA)
e Frequência Cardíaca (FC) de repouso respectivamente de
110/70mmhg e 47bpm.
Foi então proposto à cliente a realização de condicionamento físico supervisionado para tratamento coadjuvante
da insuficiência cardíaca. Após a descrição do procedimento
e riscos do tratamento, foi assinado pela mesma o termo de
consentimento livre esclarecido.
Precedente ao programa de exercício foi realizada uma
avaliação composta de anamnese, exame físico, um Teste de
Carga Máxima (TCM) e um Teste de Resistência Máxima
(TRM). Como a cliente não tinha realizado um Teste de
Esforço Físico Máximo, optamos por não realizar exercícios
aeróbicos contínuos durante o período de três meses de
condicionamento.
Para o TCM foram escolhidos três movimentos, dois de
Membro Inferior (MI) e um de Membro Superior (MS). O
primeiro de MI foi realizado com a cliente em supino onde a
mesma efetuava flexão a 65° da articulação coxofemoral, e o
segundo em sedestação realizando extensão de joelho. O movimento de MS foi realizado em sedestação e a cliente realizava
flexão de cúbito em torno de 90º. Todos os movimentos eram
executados inicialmente com carga externa zero, acrescendo
½ kg a cada série de 1 repetição com intervalo de 2 minutos
entre uma série e outra. Em cada série verificou-se, durante a
execução do movimento, a FC, o traçado eletrocardiográfico
a TA (no braço contralateral a execução do movimento) e
a intensidade de esforço, que era mensurada pela escala de
percepção subjetiva de BORG.
Foram considerados critérios para determinação da carga
máxima: repetição na qual a cliente refere-se pela escala de
Borg valor 17 a 20, ou, aparecimento de alterações eletrocardiográficas indicativas de interrupção do teste citadas
na II Diretriz de Teste Ergométrico 2002 [5], ou ainda,
compensações ergonômicas ao realizar o movimento. Todo
o exame foi realizado em ambiente hospitalar na presença de
um cardiologista e com suporte técnico adequado de acordo
com a II Diretriz de Teste Ergométrico 2002 [5].
Quarenta e oito horas após o TCM foi feito um novo teste,
o Teste de Resistência Máxima (TRM). Nesse teste a cliente
realizou os mesmos movimentos do TCM em uma série de
repetições livres com 30% da CM. Para a determinação da
RM foram adotados os mesmos critérios utilizados para a
determinação da CM.
Posteriormente a esses testes, a cliente foi submetida a um
programa de exercício físico supervisionado, que estava de
acordo com o padrão de segurança referido na Normatização
dos Equipamentos e Técnicas da Reabilitação Cardiovascular
Supervisionada da Sociedade Brasileira de Cardiologia 2004
[6].
O programa de condicionamento seguia a seguinte rotina: registro da TA e FC em repouso, durante cada série dos
exercícios resistidos e ao final da sessão, alongamento ativo
assistido pré-exercício, e os exercícios resistidos executados
em duas séries com 30% da CM e 60% da RM preconizando a fase concêntrica do movimento. Foram utilizados
os mesmos movimentos do TCM sendo acrescentado mais
um exercício estático no qual a cliente em supino realizava
sustentação de flexão de coxo femoral a 65º durante 10 segundos por 15 segundos de descanso totalizando seis séries
de 10’x15’. Essa primeira etapa do programa teve duração
de 45 dias.
Na segunda etapa do programa foram realizados os mesmo
exercícios resistidos, com 40% da CM e 75% da RM também
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
com duração de 45 dias. Nos três meses de condicionamento
não houve nenhuma intercorrencia durante as sessões de tratamento. Importante ressaltar que as medicações e dosagens
que vinham sendo utilizadas pela cliente não foram alteradas
durante esse período que transcorreu entre a realização do
primeiro e segundo ECO.
Resultados e discussão
Após esse período de trabalho, foi solicitado a cliente que
realizasse um novo ECO pelo mesmo observador e no mesmo
local do exame anterior ao condicionamento, sendo obtidos
os resultados descritos na Tabela I.
Dos resultados obtidos se destacam o aumento de 43%
da massa ventricular esquerda e também a melhora de 95%
da FE sendo esta muito significante.
O aumento da massa ventricular esquerda possivelmente
tenha ocorrido por dois motivos, pela própria progressão
natural da doença, já que houve aumento do infiltrado de
tecido colágeno e lipofusina no miocárdio, como também
por uma hipertrofia miocárdica estimulada pelo exercício
[3] e observada pelo aumento da massa da parede posterior
em VE (Tabela I).
Já a melhora da FE pode ter ocorrido tanto por alterações cardiovasculares centrais como periféricas. A redução
da resistência vascular periférica e consequente redução da
pós-carga facilitam o trabalho da musculatura ventricular
esquerda [7]. Além disso, outros fatores como a hipertrofia
miocárdica os efeitos neuro-humorais, o aumento da perfusão e vascularização miocárdica e adaptações qualitativas
das fibras musculares cardíacas podem ter contribuído de
forma significativa [7,8].
183
Conclusão
Com base neste relato, concluímos que o exercício físico
resistido supervisionado exerce influência significativamente
positiva sobre a fração de ejeção e massa ventricular esquerda,
neste caso em um individuo chagásico. No entanto, novos estudos com maior número de indivíduos e grupo controle devem
ser realizados para que se comprove o que foi observado neste
trabalho e até que ponto a medicação exerce sua influência.
Referências
1. Braga JCV, Reis F, Aras R, Costa ND, Bastos C, Silva R, et
al. Aspectos clínicos e terapêuticos da insuficiência cardíaca
por doença de Chagas. Arq Bras Cardiol 2006,86(4):297-302.
2. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq Bras Cardiol
2005;84(5):432-40.
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Paulo: Manole; 2004. p.485.
4. Petto J, Ferraz GB, Garrido AJL, Santos CLS, Ramos P. Efeito
do exercício físico na remodelação miocárdica. Revista Brasileira
de Fisiologia do Exercício 2009;8(2):95-8.
5. II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Teste
Ergométrico. Arq Bras Cardiol 2002;78(Supl II):1-18.
6. Araújo CGS, Carvalho T, Castro CLB, Costa RV, Moraes RS,
Oliveira Filho JA, Guimarães JI. Normatização dos equipamentos e técnicas da reabilitação cardiovascular supervisionada. Arq
Bras Cardiol 2004;83:448-52.
7. Maiorana A, O’Driscoll P, Dembo L, Cheetham C, Goodman
C, Taylor, et al. Effect of aerobic and resistance exercise training
on vascular function in heart failure. Am J Physiol Heart Circ
Physiol 2000;279:1999-2005.
8. Negrão CE, Barreto ACP. Cardiologia do exercício. São Paulo:
Manole; 2006. 354p.
Tabela I - Resultados obtidos no ecocardiograma pré e pós-condicionamento físico.
Variáveis Ecocardiográficas
Volume Diastólico Final
Volume Sistólico Final
Volume Sistólico
Espessura Diastólica de Septo
Parede Posterior de VE
Relação Septo/Parede Posterior
Fração de Ejeção (Teicholz)
Massa Ventricular Esquerda
Diâmetro Diastólico Final do VE
Diâmetro Sistólico Final do VE
Pré-Condicionamento
272 ml
209 ml
64 ml
07 mm
07 mm
1,0
23%
275g
72 mm
64 mm
Pós-Condicionamento
247 ml
135 ml
112 ml
09 mm
09 mm
1,0
45%
394g
69 mm
53 mm
% Mudança das Variáveis
09%
35%
75%
28%
28%
00%
95%
43%
04%
14%
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
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Relato de caso
Avaliação da ingestão nutricional de um maratonista
de elite do atletismo português
Nutritional status of elite Portuguese male marathoner
José Augusto Rodrigues dos Santos, D.Sc.*, Domingos José Lopes da Silva, D.Sc.*, Paulo Jorge Colaço, D.Sc.*
*Faculdade de Desporto – Universidade do Porto
Resumo
Abstract
Objectivo: Défices ou excessos nutricionais podem impedir
o máximo rendimento de um desportista. Assim, estudamos a
ingestão nutricional de um maratonista de elite, analisando o grau
de adequação às exigências de treino e competição. Material e
métodos: Maratonista de elite (32 anos, 1,69m, 55 kg), 4º lugar no
Campeonato do Mundo de Atletismo, (2h09’28” - melhor marca
pessoal). Realiza 12 a 14 treinos por semana. Os dados nutricionais
foram obtidos por registo de sete dias. A conversão dos alimentos
em nutrientes foi realizada pelo programa informático The Food
Processor Plus 7.0. Estatística: Utilizaram-se as medidas descritivas,
média, desvio-padrão e valores máximo e mínimo dos sete dias.
Resultados: Aporte diários médios: calorias - 2296 ± 639 kcal (1316
- 3143 kcal); carbohidratos - 40,6 ± 10,2% (4,42 ± 1,98 g/kg/dia);
proteínas - 22,9 ± 6,7% (2,1 ± 0,3 g/kg/dia); gorduras - 36,5 ± 6,3%;
colesterol - 488,1 ± 102,3 mg; fibras - 8,1 ± 2,8 g; vitamina C - 24,9
± 12,5 mg; vitamina A - 211,0 ± 130,5 μg ER; Betacaroteno - 163,4
± 265,5 μg; vitamina D - 3,7 ± 4,1 μg; vitamina E - 7,02 ± 3,4 mg
ET. Reduzido aporte de cálcio (387,4 ± 154,5 mg), magnésio (222,6
± 22,3 mg), molibdénio (2,46 ± 3,42 μg) e iodo (58,6 μg). Conclusão:
Este maratonista apresenta um perfil nutricional incompatível com
as elevadas exigências do treino e competição, caracterizado pelo
reduzido aporte de energia, carboidratos, vitaminas antioxidantes e
fibras, com excessivo consumo de colesterol. Este maratonista deve
alterar o seu perfil de ingestão nutricional.
Objective: Nutritional deficits or excesses can impair sport’s
performance. So, we studied the nutritional profile of an elite male
marathoner, analysing the adequacy of nutritional habits to training
and competition. Methods: Elite marathoner (32 years old, 1,69 m,
55 kg), 4th place in the Athletics World Championship, 2h09’28” as
personal best time. He performs 12 to 14 workouts per week. The
nutritional data were obtained by daily register during seven days.
The food conversion into nutrients was performed by the informatics’ program The Food Processor Plus 7.0. Statistics: The average,
standard-deviation, maximum and minimum values of the seven
days were obtained. Results: Daily average intake: Energy - 2296 ±
639 kcal (1316 - 3143 kcal); carbohydrates - 40.6 ± 10.2% (4.42
± 1.98 g/kg/day); proteins - 22.9 ± 6.7% (2.1 ± 0.3 g/kg/day); fat
- 36.5 ± 6.3%; cholesterol - 488.1 ± 102.3 mg; fibres - 8.1 ± 2.8
g; vitamin C - 24.9 ± 12.5 mg; vitamin A - 211.0 ± 130.5 μg ER;
Betacaroteno - 163.4 ± 265.5 μg; vitamin D - 3.7 ± 4.1 μg; vitamin
E - 7.02 ± 3.4 mg ET; calcium - 387.4 ± 154.5 mg; magnesium 222.6 ± 22.3 mg; molybdenum - 2.46 ± 3.42 μg and iodine - 58.6
μg. Conclusion: This marathoner has a nutritional profile incompatible with heavy training and competition, characterized by reduced
intake of energy, carbohydrates, antioxidant vitamins and fibres
with an excessive cholesterol intake. This athlete must be advised
to change his nutritional profile.
Key-words: nutritional profile, sports, performance test.
Palavras-chave: perfil nutricional, esportes, provas de
rendimento.
Recebido em 4 de maio de 2010; aceito em 18 de julho de 2010.
Endereço para correspondência: Prof. Dr. José Augusto Rodrigues dos Santos, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Rua
Plácido Costa, 91, 4200-450 Porto, Portugal, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
185
Introdução
Recolha de dados
A maratona é uma modalidade do atletismo muito exigente a nível fisiológico e psicológico. Elevadas performances
competitivas e correspondentes níveis de treino são incompatíveis com défices energéticos, nomeadamente ao nível dos
carbohidratos, pois são estes os principais nutrientes ressintetizadores do glicogénio muscular e hepático, fundamentais
para o suporte energético a esforços de elevada intensidade
[1]. O treino do maratonista, ao mais elevado nível, pressupõe
cuidados nutricionais muito exigentes para evitar situações
de overtraining [2] que podem não só destruir o potencial
competitivo do atleta bem como afectar, de forma mais ou
menos prolongada, o seu estado de saúde [3].
Em estudo anterior [4] verificamos que os fundistas
portugueses, de uma forma geral, não apresentam uma adequada ingestão nutricional, evidenciando reduzidos aportes
de carbohidratos que são compensados por excessiva ingestão
de proteínas. A análise individual dos resultados do referido
estudo permite verificar situações de excessivo défice, quer
calórico quer de carbohidratos determinando um quadro
nutricional incompatível com elevadas performances nas
especialidades estudadas. Esta situação foi corroborada por
Gadelho [5] que caracterizou o perfil de ingestão nutricional
em meio-fundistas e fundistas.
Com este estudo, pretendemos averiguar o grau de adequação da ingestão nutricional de um maratonista de elite
do atletismo português, no sentido de despistar eventuais
situações nutricionais que possam comprometer a recuperação
entre esforços de treino e que, em última análise, podem interferir com o rendimento desportivo do atleta numa situação
de ausência de suplementação nutricional específica.
Foi feito um registo de 7 dias consecutivos do consumo
alimentar. Foram entregues ao atleta 7 fichas de registo alimentar, divididas da seguinte forma: pequeno-almoço, lanche
matutino, almoço, lanche vespertino e ceia. No decurso do
estudo o atleta não recorreu a suplementos nutricionais. Foi
entregue também um dossiê com fotografias informativas
com as quantidades-padrão dos principais alimentos tendo
sido o atleta informado da forma correcta de preenchimento
das fichas em função das quantidades consumidas. A conversão dos alimentos em nutrientes foi realizada no programa
informático The Food Processor Plus 7.0.
Material e métodos
Sujeito
Maratonista experiente com 18 anos de prática de corrida,
pertencente à elite do atletismo português, com 32 anos de
idade, 1,69 m de estatura e 55 kg de massa corporal, cujo
melhor resultado foi um quarto lugar no Campeonato do
Mundo e cuja melhor marca à maratona é de 2h09’28’’. O
atleta, depois de informado das implicações do estudo, deu
consentimento escrito antes do início do estudo que foi conduzido de acordo com a declaração de Helsínquia e aprovado
pelo Comité de Ética do Conselho Científico da Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto, Portugal.
Treino
O sujeito deste estudo realiza normalmente entre 12 a 14
treinos semanais, cada um com duração variando entre 45
e 120 minutos. No decurso do período do estudo, o atleta
realizou 12 treinos com a duração média de 65 minutos.
Referências nutricionais
Para o consumo de macronutrientes tomamos como
referência as propostas do American College of Sports Medicine [6]; para os micronutrientes apoiamo-nos na revisão
crítica de Whiting & Barash [7] e nas propostas de Murray
e Horswill [8].
Tratamento estatístico
Utilizamos as seguintes medidas descritivas: média, desviopadrão e valores máximo e mínimo dos sete dias. Os dados
foram analisados no software SPSS, versão 12.0.
Resultados e discussão
O treino e competição do maratonista exigem grandes
gastos energéticos, incompatíveis com défices nutricionais.
Tabela I - Consumo calórico médio diário, ± DP e valores mínimo
e máximo do maratonista.
Valor energético total
(VET)
kcalorias/kg/dia
Média ± DP
2296 ± 639
Mínimo
1316
Máximo
3143
41,7 ± 11,6
23,9
57,2
DP = desvio-padrão
O valor médio diário de consumo energético do maratonista do presente estudo (PE) enquadra-se nos valores médios
encontrados por Erp-Baart et al. [9] para corredores de elite.
No entanto, pela análise quotidiana verifica-se um VET muito
reduzido, em alguns dias (Tabela I). Segundo os cálculos determinados a partir da proposta do Report of a Joint FAO/WHO/
UNU Expert Consultation (2001) o gasto metabólico basal deste
sujeito é de 1517 kcal/dia. Se acrescentarmos a este dispêndio
energético relacionado com a manutenção dos sistemas vitais,
o gasto inerente ao processamento térmico dos alimentos
(mais ou menos 10% do aporte calórico total) vemos, que em
alguns dias, o reduzido aporte energético é incompatível com
o treino que caracteriza este atleta - duplo treino diário com
186
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
duração mínima de 1 hora cada treino. No entanto, parece
que este panorama não é singular, já que Erp-Baart et al. [9]
encontraram uma grande amplitude de variação no aporte
energético de corredores de elite (30,2 - 74,1 kcal.kg-1.dia-1)
o que se enquadra nos valores por nós encontrados no PE.
Em modalidades que definem as categorias competitivas pela
massa corporal podemos encontrar valores mínimos de ingestão
calórica ainda mais baixos. Em atletas de elite de judo foram
encontrados valores mínimos de 18,1 e 14,3 kcal/kg/dia [9],
o que indicia grave défice energético, situação provavelmente
relacionada com a obtenção do peso ideal para a competição.
Não podemos excluir a hipótese de os baixos valores de ingestão calórica verificados no presente estudo se prenderem com
o receio de aumentar a massa corporal, receio que atravessa de
certa forma toda a população de maratonistas de elite já que se
sabe que a acumulação de massa corporal excedentária afecta
negativamente a performance. Isso foi confirmado por vários
autores [10,11] que verificaram que o aumento mesmo reduzido da massa corporal em maratonistas afecta significativamente
a performance na maratona. O treino intenso e sistemático
desenvolve superior eficiência energética [12], desenvolvendo,
assim, a capacidade de suportar uma mesma carga de treino com
um inferior gasto de energia. No entanto, mesmo com todos os
processos adaptativos melhorados, pensamos que o maratonista
do PE não tem acesso, pelo menos em alguns dias, à quantidade necessária de calorias para fazer frente às exigências de um
treino de alta competição. O problema pode ser agravado se os
dias de ingestão calórica deficitária corresponderem aos dias de
treino mais intensivo. Acresce que, em situação de significativa
redução do aporte calórico em sujeitos activos, verificou-se uma
redução do tamanho das fibras de contracção rápida enquanto
o tamanho das fibras de contracção lenta não foi afectado [13].
Embora, Farrel et al. [14] tenham verificado uma correlação
positiva (r = 0,49; p < 0,05) entre a percentagem de fibras Tipo
I (contracção lenta) e a performance na maratona obtida em
esteira rolante, pensamos que as fibras de contracção rápida,
principalmente as fast glycolitic oxidative (Fibras Tipo IIa) são
importantes para a consecução de elevadas performances em
esforços prolongados já que constituem mais de 30% das fibras
dos fundistas do atletismo [15]. Daí a importância de não afectar as fibras de contracção rápida por reduzido aporte calórico.
Em termos de valor energético total os dados apontam
para um claro défice energético já que Costill [16] esclarece
que um corredor de endurance gasta, no treino, diariamente,
entre 900 e 2400 kcal.
Sabe-se que esforços prolongados com intensidades superiores a 60% da potência máxima aeróbia estão condicionados pelo
perfil em carboidratos da dieta [17,18]. Por outro lado, esforços
prolongados de intensidade mais reduzida (30-50% do VOmax) são suportados, fundamentalmente, pelo metabolismo
2
das gorduras [19]. Daí a importância de uma ingestão adequada
de carboidratos para que a ressíntese das reservas musculares de
glicogénio que é o substrato essencial aos esforços de elevada
intensidade seja contínuo [20,21] seja intermitente [22].
Tabela II - Ingestão média diária de carboidratos, ± DP e valores
mínimo e máximo, do maratonista.
Carboidratos
Carboidratos (g)
Carboidratos (%)*
Carboidratos (g/kg)
CHO complexos (g)
Açúcares (g)
Média ± DP
243,1 ± 109
40,6 ± 10,2
4,42 ± 1,98
70,3 ± 27,2
126,1 ±
86,2
Mínimo
81
24,6
1,47
34,3
6,6
Máximo
393
55,7
7,14
119
260
* Valor percentual do aporte energético total obtido através da ingestão
de carbohidratos
Um maratonista de elite tem o suporte energético fundamental do seu treino nos carboidratos (CHO), devendo
ingerir entre 7 a 10 g diárias por quilograma de massa corporal
[23]. Estes valores permitem não só disponibilizar CHO,
antes e durante o exercício, bem como são suficientes para
a reposição das reservas de glicogénio muscular e hepático
após o exercício. Ao nível das implicações negativas, importa
salientar que o esforço muscular e respiratório aumenta com
uma dieta baixa em CHO [24].
Como podemos ver, os valores médios do nosso estudo
estão muito abaixo do recomendado (Tabela II), com o valor mínimo a indicar, claramente, uma situação nutricional
incompatível com treino de alta intensidade. Quando o
glicogénio muscular está reduzido por reduzida ingestão de
CHO, o exercício tem forçosamente de baixar de intensidade
apoiando-se energeticamente nos lipídios [20,25]. Está suficientemente comprovado que enquanto a ingestão aumentada
de CHO pode melhorar a performance em esforços de alta
intensidade, a ingestão deficitária pode afectar negativamente
o rendimento nesse tipo de esforços [26,27] e, isto, apesar de
algumas adaptações metabólicas induzidas pelo treino sistemático como sejam, a superior eficiência energética dos CHO
quando o aporte calórico é reduzido [27,28], e a poupança de
glicose induzida pela redução da taxa metabólica basal que é
uma das adaptações metabólicas relacionadas com a redução
do aporte energético [29]. No entanto, pensamos que estas
adaptações terão pouco significado para quem treina duas
vezes por dia visando as mais elevadas performances.
A importância dos CHO na dieta de um maratonista de
elite prende-se com o papel crucial das reservas iniciais de
glicogénio muscular. Bergstrom et al. [30] demonstraram
que um nível inicial de glicogénio muscular de 1.75 g/100
g de músculo húmido permitiu a execução de uma dada
carga estandardizada por 114 minutos; quando o conteúdo de glicogénio muscular foi alterado para 0,63 ou 3,31
g/100 g, o tempo até à exaustão foi de 57 e 167 minutos,
respectivamente. Este estudo histórico, permite-nos verificar
a importância das reservas iniciais de glicogénio muscular na
performance em esforços prolongados. O reduzido aporte
de CHO do maratonista do PE parece ser um obstáculo à
plena reposição diária do glicogénio muscular. Em termos
percentuais a análise confirma o défice deste macronutriente.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Atletas de endurance que treinam duas vezes por dia, como
é normal em maratonistas de elite, requerem entre 65 a 75%
do aporte calórico total sob a forma de CHO [31]. Os atletas
quenianos do grupo étnico dos Kalenjin, do qual derivaram
alguns fundistas de elite, têm um aporte energético derivado
em 93% de produtos vegetais, correspondendo os CHO a
78% do aporte energético total [32]. Em contraponto ao
perfil dietético dos fundistas quenianos, a análise dos presentes resultados permite-nos evidenciar o perfil inadequado da
ingestão de CHO que é incompatível com a consecução de
elevadas performances competitivas e disponibilidade para o
treino de elevada intensidade. Se existe um défice crónico de
CHO, num atleta em regime de duplo treino diário, o esforço
vai incidir mais no metabolismo das gorduras o que é feito à
custa de uma inferior intensidade de treino. De igual forma,
é importante a ingestão adequada de CHO para o cérebro e
sistema nervoso central que, situações normais, requerem o
suprimento contínuo de glicose, para funcionarem adequadamente. O cérebro, após exercício exaustivo, tem necessidade
acrescida de CHO [32]. Acresce que a ingestão aumentada
de CHO reflecte-se em um superior estado de vigilância e em
um estado de humor mais positivo [34], o que determina um
estado psicológico favorável ao treino e ao empenhamento
no mesmo. A fadiga central é muitas vezes a razão da falta de
estímulo para o treino de elevada intensidade.
Para evitar os malefícios decorrentes do suporte energético
ao cérebro pelos corpos cetónicos ou pela degradação muscular
(gluconeogénese proteica), é importante aumentar o aporte
energético sob a forma de CHO. No caso dos desportistas
de endurance, com elevados volumes de treino, como é este
caso, o problema da qualidade dos CHO é, no nosso entender,
pouco importante. Em termos de aconselhamento epidemiológico a FAO não distingue os CHO complexos dos simples
colocando a diferenciação em relação ao índice glicémico dos
alimentos. Em termos de bioenergética do exercício são tão
importantes uns quanto os outros. O maratonista que estudamos caracteriza-se por ingerir maior quantidade de CHO
simples que complexos o que é corroborado pelo estudo que
fizemos com outros fundistas do atletismo [4]. No nosso
entender, o importante para uma maratonista de elite não é
tanto o problema de os CHO serem simples ou complexos,
de alto ou baixo índice glicémico, mas, fundamentalmente, a
quantidade ajustada aos gastos energéticos diários que comprovamos não é, de todo em todo, conseguida.
Tabela III - Ingestão média diária proteica, ± DP e valores mínimo
e máximo, do maratonista.
Proteínas
Proteínas (g)
Proteínas (%)*
Proteínas (g/kg)
Média ± DP
123,1 ± 14,5
22,9 ± 6,7
2,1 ± 0,3
Mínimo
102
16,1
1,8
Máximo
143
35,3
2,5
* Valor percentual do aporte energético total obtido através da ingestão
de proteínas
187
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha, para
sedentários, a ingestão diária de proteínas variando entre 0,8 e
1,0 g por quilograma de massa corporal. Para desportistas, as
proteínas devem corresponder a 12-15% do valor energético
total [35]. Parece que as necessidades proteicas de um desportista estão relacionadas com o tipo de actividade desenvolvida.
Assim, os especialistas dos desportos de força parecem ter maior
necessidade de proteínas que os especialistas dos desportos de
endurance. Lemon [36] aconselha a ingestão proteica de 1.4 1.8 g.kg-1.dia-1 para modalidades de força e 1.2 - 1.4 g.kg-1.dia-1
para modalidades de endurance, embora exista certa controvérsia
sobre os valores adequados a cada modalidade [37]. Os valores
médios do presente estudo (2,1 ± 0,3 g/kg/dia) excedem as recomendações de vários autores [36,6]. O consumo proteico exagerado do maratonista do PE pode ser nefasto para o rendimento
desportivo se adoptar um carácter crónico. Excessivo consumo
proteico, ultrapassando a capacidade do fígado em desaminar as
proteínas e converter o azoto em ureia, pode levar à deplecção
de cálcio e a situações de desidratação. Excessiva ingestão de
proteínas pode levar a hiperaminoacidemia, hiperamonemia,
hiperinsulinemia, náusea e diarreia [38]. Embora a ingestão
proteica do maratonista deste estudo exceda as recomendações,
pensamos, que por si só, esse excesso não será problemático já
que está, segundo Bilsborough e Mann [38], abaixo do limite
de toxicidade proteica (25% do aporte energético total). As
preocupações derivam do facto de o excessivo aporte de proteínas
ser feito à custa do reduzido aporte de carboidratos, o que pode
provocar problemas metabólicos e afectar negativamente o rendimento atlético. O excessivo consumo de proteínas do sujeito
do PE enquadra-se num panorama geral que caracteriza outras
populações de desportistas portugueses [39,40], e que contrasta
com o perfil nutricional dos jovens fundistas quenianos de elite
que ingerem 14,5% de proteínas, em grande parte proveniente
de alimentos vegetais [41]. Outros praticantes de actividades de
endurance tendem a apresentar um consumo proteico excessivo
[42]. Os resultados deste estudo são confirmados por Martins
[43] e parecem caracterizar várias populações de desportistas e
não desportistas de Portugal que têm um aporte excessivo de
proteínas animais.
Tabela IV - Ingestão média diária de lipídios, ± DP e valores
mínimo e máximo do maratonista.
Lipídios
Lipídios Total (g)
Lipídios (%)*
Lipíd. Saturados (g)
Lipíd. Monoins. (g)
Lipíd. Polinsat. (g)
Ácidos Gordos (g)
Trans
Ómega-3
Ómega-6
Colesterol (mg)
Média ± DP
92,4 ± 28,3
36,5 ± 6,3
29,1 ± 10,9
37,2 ± 13,1
17,9 ± 5,1
Mínimo
55,7
26,0
14,1
19,6
9,6
Máximo
131
44,3
48,1
55,8
25,4
0,118 ± 0,152
1,80 ± 0,77
13,9 ± 4,56
488,1 ± 102,3
0,00
1,07
7,3
365
0,38
3,42
21,3
638
* Valor percentual do VET obtido através da ingestão de lipídios
188
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Durante o exercício de intensidade baixa ou moderada
(30 - 50% do VO2max) verifica-se um progressivo suporte do
exercício no metabolismo lipídico [44] que é tanto mais significativo quanto mais prolongado for o exercício. Embora os
lipídios sejam um combustível essencial para os maratonistas,
os cuidados nutricionais não têm a ver com a quantidade de
lipídios disponível na dieta ou armazenada no organismo, mas
antes com a qualidade dos mesmos. Em termos energéticos,
qualquer ser humano tem energia acumulada sob a forma
de lipídios que lhe permite a realização de várias maratonas.
Segundo várias recomendações [45,6], a dieta de um desportista não deve ter mais de 30% do aporte calórico total sob
a forma de lipídios. O maratonista deste estudo, em média,
excede estes valores (Tabela IV). Em virtude do seu perfil
de actividade, não acreditamos que o excessivo consumo de
lipídios possa provocar problemas de saúde neste desportista. No entanto, como é feito à custa do reduzido aporte de
carboidratos, pode ter efeitos negativos sobre a performance
e/ou qualidade do treino.
Comparando com outros estudos, verificamos que os
fundistas quenianos estudados por Christensen et al. [41]
consomem somente 7,5% da energia sob a forma de lipídios,
enquanto em fundistas mexicanos pertencentes à etnia Tarahumara estudados por Cerqueira et al. [46] consomem 9%.
Em especialistas portugueses de meio-fundo e fundo Gadelho
[5] encontrou consumos médios de lipídios de 29,7 ± 4,99%,
mas com uma grande amplitude de variação (16-40,3%), o
que evidencia consumos excessivos que podemos considerar
tendencialmente patológicos.
Em relação ao tipo de lipídios, verifica-se um consumo
médio elevado de ácidos gordos monoinsaturados (cerca de
15%), o que está dentro das recomendações, mas, como
aspecto negativo, o sujeito do PE consome uma elevada
quantidade de ácidos gordos saturados que ultrapassa os
8-10% da gordura total ingerida, aconselhado por vários organismos internacionais relacionados com a saúde (e.g. OMS,
American Heart Association). O consumo de ácidos gordos
polinsaturados (cerca de 7%) está abaixo das recomendações
(10%). Em relação aos ácidos gordos essenciais, podemos
ver que os ómega-3 (derivados do ácido alfa-linolénico) são
ingeridos em menor quantidade que os ómega-6 (derivados
do ácido linoleico). A importância destes ácidos gordos
essenciais parece relacionar-se com o controlo que exercem
sobre alguns genes implicados na regulação do metabolismo,
particularmente aqueles envolvidos no armazenamento e
oxidação dos lipídios e síntese de glicogénio [47]. Embora
haja pouco consenso entre os nutricionistas, recomenda-se
a ingestão diária de 9 g de ómega-6 e 6 g de ómega-3, o que
dá um ratio de 1,5:1 [48]. O sujeito do PE apresenta, segundo estas recomendações, um aporte excessivo de ómega-6 e
reduzido de ómega-3. O elevado ratio 8,5:1 verificado neste
estudo assenta na superior facilidade de na dieta mediterrânea
se ingerir alimentos ricos em ácidos gordos ómega-6. Para
reequilibrar este aspecto particular da dieta, o atleta deve
aumentar o consumo de peixes gordos (e.g. arenque, salmão,
truta, sardinha, cavala, etc), já que estão comprovados os
efeitos benéficos dos ácidos ómega-3 de cadeia longa (ácidos
eicosapentaenóico, docosaexaenóico) na patologia cardiovascular e na agregação plaquetária [49] que poderão não ser
muito importantes para a actual condição deste maratonista,
mas que o devem preocupar numa perspectiva futura de saúde
e bem estar. Embora os resultados sejam conflituais, alguns estudos associam melhorias do rendimento muscular à ingestão
de ácidos gordos essenciais [50]; no entanto, Huffman et al.
[51] não verificaram melhorias da performance em esforços de
endurance após suplementação com ácidos gordos ómega-3.
É importante salientar o reduzido aporte de ácidos gordos
trans, que não são aconselháveis, mesmo para um desportista
que faz apelo acrescido ao metabolismo lipídico, já que os
lipídios hidrogenados podem ter implicações negativas no
sistema circulatório [48].
O consumo de colesterol não deve ultrapassar as 300
mg diárias [52], embora não existam RDA (Recommended
Dietary Allowances) para este nutriente. O problema que se
coloca tem mais a ver com a taxa total de colesterol sanguíneo, principalmente o colesterol acoplado às lipoproteínas de
baixa densidade e menos o aporte dietético. Parece que a taxa
sanguínea do HDL-colesterol, o denominado bom colesterol,
está mais dependente do perfil da actividade física e menos
da dieta [53], pelo que será de assumir que a teoricamente
excessiva ingestão de colesterol pode não acarretar problemas
de saúde a este atleta, pelo menos enquanto o for (Tabela V).
É de salientar que uma elevada aptidão cardiorrespiratória,
como a característica do sujeito do presente estudo, está mais
relacionada com uma reduzida tendência para a hipercolesterolemia que o exercício por si só [54].
Tabela V - Ingestão média diária de fibras, etanol e cafeína, ± DP
e valores mínimo e máximo, do maratonista.
Outros nutrientes
Fibras (g)
Etanol (g)
Cafeína (mg)
Média ± DP
8,1 ± 2,8
8,4 ± 14,7
8,8 ± 13,5
Mínimo
4,5
0
0
Máximo
13
35,4
35,9
Verificamos que o consumo de fibras alimentares é muito reduzido. A prevenção de desordens digestivas aliada ao
efeito positivo das fibras dietéticas na redução da absorção
das gorduras da dieta e na redução do colesterol sanguíneo
permite acentuar os eventuais malefícios do reduzido aporte
destas substâncias que está muito longe dos 20-35 g/dia
recomendados [55]. O consumo de etanol também não é
preocupante, embora os valores polares indiquem dias de
completa abstinência e outros em que a ingestão de bebidas
alcoólicas pode gerar algum grau de toxicidade que se pode
reflectir não só na saúde como no rendimento desportivo.
Embora estudos epidemiológicos apontem para o facto de
que o consumo moderado de álcool está associado com um
risco diminuído de morbilidade e mortalidade cardiocircu-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
latória quando se relaciona com a abstinência e o consumo
imoderado [56], pensamos que o álcool não deve fazer parte
da dieta de um atleta, uma vez que o consumo crónico de
álcool está relacionado com alterações desfavoráveis do sistema
imune, do processo de coagulação e da integridade cerebral
[57]. Como o álcool é uma droga rica em energia e pobre em
nutrientes deve ser erradicado da dieta do atleta sob pena de a
reposição energética pós-esforço ser deficitária em nutrientes
essenciais que só podem ser providenciados pelos alimentos
mais completos cuja ingestão fica comprometida já que o
álcool reduz de forma significativa o apetite [58].
Os valores da cafeína são reduzidos e apresentam o mesmo
perfil do etanol, o que parece indicar um padrão nutricional
tocado por alguns excessos que não serão problemáticos se
não tiverem carácter sistemático.
Tabela VI - Ingestão média diária, ± DP e Recomendações de
vitaminas do maratonista.
Recomendações pª
Atletas (Murray e
Horswill, 1998)
Tiamina (mg)
1,7 ± 0,48
1,5 mg
Riboflavina (mg)
1,61 ± 0,30
1,7 - 1,8 mg
Niacina (mg)
27,1 ± 5,2
19 - 20 mg
Ác. Pantoténico (mg)
3,8 ± 0,64
4 - 7 mg
Piridoxina (mg)
1,76 ± 0,42
2,0 mg
Biotina (μg)
2,8 ± 2,9
30 μg
Cianocobalamina (μg) 17,5 ± 14,9
2 μg
Ácido Fólico (μg)
132,1± 51,7
200 μg
Ácido Ascórbico (mg)
24,9 ± 12,5
60 mg
Vit A (μg ER)
211,0 ± 130,5
1000 μg
Vit A Caroteno (μg)
163,4 ± 265,5
6000 μg
Vit. D (μg)
3,7 ± 4,1
10 μg
Vit. E (mg ET)
7,02 ± 3,4
10 mg
Vit. K (μg)
9,76 ± 0
70 - 140 μg
Vitaminas
Média ± DP
Embora aportes energéticos inferiores a 2000 kcal possam
conduzir a uma inadequada ingestão de alguns minerais essenciais e vitaminas [59], verificamos que a ingestão média das
vitaminas do complexo B, com excepção da biotina, encontrase dentro dos valores recomendados para atletas, por vezes
excedendo-os. Embora a biotina assista a várias conversões
metabólicas, ajudando também na transferência do dióxido
de carbono e na homeostasia do açúcar sanguíneo [60], este
aporte reduzido (Tabela VI), que pensamos circunstancial, não
deverá trazer problemas, até porque algumas das suas funções
metabólicas podem ser substituídas por outras vitaminas
como, por exemplo, a tiamina, riboflavina e niacina [61].
O que se nos afigura mais problemático é o baixo aporte
das vitaminas A, C, E e Betacaroteno (Tabela VII), que têm
uma função fundamental na luta contra o stresse oxidativo
induzido pela produção de radicais livres durante o esforço,
principalmente no de grande intensidade. O aporte reduzido
destas vitaminas indicia que a actividade antioxidante não está
189
ajustada ao stresse oxidativo que normalmente está aumentado
nos atletas sujeitos a cargas físicas de elevada intensidade.
Nestes casos é de aceitar a suplementação ou o aumento
dramático dos alimentos ricos em elementos com potencial
antioxidante que serão mais direccionados para a reposição
do potencial antioxidante do que no sentido de melhorar a
performance, embora se tenha comprovado que o défice de
algumas vitaminas afecta negativamente o desempenho atlético [62]. Foi comprovado que a suplementação com vitaminas
E e C reduz o stresse oxidativo em desportistas mas não tem
efeitos potenciadores da performance [63]. O baixo aporte de
vitamina D (Tabela VII), importante para a absorção de cálcio
e regulação do cálcio sérico, pode ter implicações negativas
sobre a saúde do osso e, se o défice nutricional se mantiver,
deve ser objecto de eventual suplementação, principalmente no inverno quando a reduzida exposição solar atenua a
síntese exógena de vitamina D. O problema não se colocará
com tanta acuidade no verão, uma vez que a exposição solar
aumentada promoverá a síntese cutânea de vitamina D [64].
O valor baixo deste atleta enquadra-se num panorama global
caracterizado por uma elevada prevalência de insuficiência e
deficiência em vitamina D, com alguns estudos a apontar para
défices de vitamina D em populações de desportistas [65].
O baixo aporte de vitamina K (Tabela VI) não é problemático, já que situações de deficiência são extremamente
raras porque as bactérias intestinais normalmente produzem
a vitamina K2 (menaquinona). No entanto, em virtude do
baixo aporte, seria aconselhável este atleta aumentar o aporte
de alimentos ricos em vitamina K, tais como, vegetais de folha
verde (salsa, espinafre, brócolos e couve galega); também existem pequenas quantidades desta vitamina no leite e em outros
lacticínios, carne, ovos e cereais. O aumento da ingestão destes
alimentos contribuirá não só para normalizar o metabolismo
ósseo como para melhorar o sistema de coagulação, duas
importantes funções da vitamina K [66].
Tabela VII - Ingestão média diária de macrominerais, ± DP e
Recomendações (RDA) do maratonista.
Macrominerais
Cálcio (mg)
Magnésio (mg)
Fósforo (mg)
Potássio (mg)
Sódio (mg)
Cloro (mg)
Média ± DP
387,4 ± 154,5
222,6 ± 22,3
1260,3 ± 158,9
2371,4 ± 672,0
2100,7 ± 888.1
302,0 ± 82,0
RDA*
800 - 1200 mg
350 mg
800 - 1200 mg
1875 - 5625 mg
1100 - 3300 mg
2300 mg
* Dietary reference intakes. Washington, DC, 1997, 1998, 2000 e
2002.
Aliado aos baixos aportes de vitamina K e vitamina D, a
baixa ingestão de cálcio cria um ambiente nutricional pouco
favorável ao metabolismo ósseo. O panorama é agravado
quando as RDA, apresentadas na tabela VII, dizem respeito a
sujeitos sedentários. O cálcio é um ião com múltiplas implicações metabólicas, sendo essencial para despoletar e controlar o
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
190
processo de contracção muscular. Será de corrigir de imediato
esta situação deficitária, já que a sudação recorrente induzida
pelos treinos frequentes promove uma perda significativa
de cálcio pelo suor [67]. De igual forma, o relativamente
baixo aporte de magnésio (Tabela VII) deve ser corrigido,
pois a perda deste mineral pelo suor pode ser significativa,
principalmente quando o maratonista treinar em ambientes
quentes. Clarkson & Haymes [68] relacionam o défice em
magnésio com cãibras musculares e, derivado das múltiplas
funções que desempenha, em especial as relacionadas com
os sistemas enzimáticos e a excitação neuromuscular, deve
haver especial cuidado em evitar défices deste mineral. A
conjugação da deplecção de magnésio induzida pelo exercício
físico com a ingestão marginal deste nutriente pode afectar o
metabolismo energético, a função muscular, o consumo de
oxigénio e o equilíbrio electrolítico [69]. Os valores de sódio
estão dentro das referências. É rara a deficiência em sódio,
pois faz parte de muitos alimentos. O potássio, o maior catião
(ião positivo) dentro das células animais, é importante para
manter o equilíbrio electrolítico do corpo e fundamental para
a contracção muscular e a condução dos impulsos nervosos.
O maratonista do PE apresenta valores médios dentro das
recomendações, corroborando os dados de outros estudos
com fundistas portugueses [4].
Tabela VIII - Ingestão média diária de oligoelementos, ± DP e
Recomendações (RDA) do maratonista.
Microminerais
Cobre (g)
Ferro (mg)
Manganésio (mg)
Selénio (μg)
Zinco (mg)
Boro (mg)
Iodo (μg)
Molibdénio (μg)
Média ± DP
1,52 ± 0,90
15,8 ± 3,3
1,83 ± 0,70
109,5 ± 45,6
15,7 ± 4,9
1,84 ± 2,56
58,6 ± 0,0
2,46 ± 3,42
RDA *
0.9 g
8 mg
2,3 mg
55 μg
11 mg
ND
150 μg
45 μg
ND – não disponível
* Dietary reference intakes. Washington, DC, 1997, 1998, 2000 e 2002.
De uma forma geral a ingestão de microminerais está
dentro das recomendações e, em alguns casos, excede-as
(Tabela VIII). As excepções mais marcantes são o iodo e o
molibdénio. O iodo é importante para a síntese das hormonas tiróideias e o défice nutricional recorrente pode vir
a afectar o metabolismo da glândula tiróide. No entanto, o
défice persistente deste mineral é pouco provável nas dietas
ocidentais [70]. Uma ingestão mais generosa de peixe do
mar pode resolver esta ingestão reduzida. Os valores médios
baixos de molibdénio podem afectar a formação da enzima
xantina-oxidase fundamental para transformar a xantina em
ácido úrico [71]. Os valores médios, extremamente baixos
neste estudo, podem estar relacionados com o consumo
reduzido de leite, leguminosas e cereais integrais. Um défice
recorrente de molibdénio pode afectar a actividade da enzima
sulfito-oxidase importante na degradação oxidativa da cisteína
e metionina [72]. Esta deficiência pode conduzir a anormalidades neurológicas [72]. Pensamos que a alteração do padrão
dietético do atleta pode suprir o défice verificado. Salienta-se
o adequado aporte de ferro, zinco e selénio, todos importantes
para um maratonista de elite. O ferro está implicado numa
série de funções corporais, entre as quais se salientam o transporte de oxigénio dos pulmões para os tecidos e o transporte
mitocondrial de electrões. Este atleta, mantendo o status
férrico evidenciado no PE, deve evitar suplementações deste
mineral, já que o excesso de ferro não é facilmente excretado
e pode induzir toxicidade, além de afectar o metabolismo de
outros minerais, em especial cobre e zinco e poder funcionar
como pro-oxidante acentuando a formação de radicais livres.
Excesso de ferro pode aumentar o risco de doença cardíaca
coronária [73]. O selénio, importante constituinte da enzima
antioxidante glutationa-peroxidase, apresenta uma margem
estreita entre a deficiência e a toxicidade [70], pelo que se
devem ter acrescidas precauções com a suplementação. A
ingestão de oligoelementos no PE é similar à encontrada por
Gadelho [5] em corredores de meio-fundo.
Conclusão
Podemos concluir que o maratonista do PE apresenta
uma ingestão nutricional incompatível com a sua condição
de atleta de alta competição, caracterizado por treinos e competições muito exigentes. Apresenta um aporte energético
deficitário, reduzida ingestão de carboidratos e excessiva de
gorduras e proteínas. As fibras dietéticas são ingeridas muito
abaixo das recomendações. Enquanto o aporte de vitaminas
do complexo B, de uma forma geral, está adequado, o das
vitaminas C, A, D, E e K está abaixo das RDA para sujeitos
normais saudáveis, o que pode indiciar uma fragilização do
sistema de defesa contra os radicais livres e a afectação do
metabolismo ósseo. O aporte de cálcio e magnésio, derivado
da sua importância metabólica, deve ser objecto de especiais
cuidados nutricionais. O aporte de oligoelementos parece
adequado às exigências de um maratonista de elite.
Como corolário pensamos que este atleta deve alterar o
seu padrão nutricional, fundamentalmente aumentando a
ingestão de carboidratos e vitaminas antioxidantes.
Embora no período deste estudo não nos tenha sido
relatada qualquer ingestão de suplementos, sabemos que é
prática comum a recorrência à suplementação ergogénica
em desportistas de modalidades de endurance. Defendemos
que os défices nutricionais deste atleta devem ser supridos
por uma alimentação diversificada que forneça a quantidade
de calorias adequadas ao perfil de treino e competição do
sujeito e não por suplementos ergogénicos artificialmente
produzidos, já que existem dúvidas acerca da efectiva taxa de
absorção dos nutrientes provenientes de produtos artificialmente processados. No entanto, a partir de novos inquéritos
nutricionais que se justificam no futuro, no caso de continu-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
ação dos défices verificados é de aconselhar a suplementação
nutricional evitando-se, assim, a continuação de uma situação
nutricionalmente patológica. Pensamos que para o treino
dos maratonistas uma adequação ingestão nutricional é um
parâmetro de crucial importância para o rendimento desportivo, pelo que urge monitorizar recorrentemente o aporte
energético e nutricional destes atletas no sentido de despistar
eventuais carências que podem não só afectar a performance
como ter implicações negativas na saúde.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
193
Revisão
Comparação entre as modulações dos níveis
plasmáticos de HDL-colesterol induzidas pelo
treinamento aeróbio de alta e baixa intensidade
Comparison between the modulations of plasma levels of HDL-C
induced by high and low intensity aerobic training
Marcos Maruyama, Esp.*, Júlio Cezar Papeschi da Silva, Esp.**, Waldecir Paula Lima, D.Sc.***,
Luiz Carlos Carnevali Junior, M.Sc.****
*Mestrando em Biociências pela Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso (FANUT - UFMT), Laboratório
de Aptidão Física e Metabolismo, Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso (LAFIME/ FEF-UFMT),
**Professor dos cursos de Pós-graduação da Universidade Gama Filho (UGF), ***Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade
de São Paulo (ICB-USP), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), ****Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), Coordenador do Curso de Educação Física Faculdade Anhanguera de Taboão da
Serra (FTS), Professor e Coordenador dos cursos de pós-graduação da Universidade Gama Filho (UGF)
Resumo
Abstract
O presente estudo objetivou comparar as modulações dos níveis
plasmáticos da lipoproteína de alta densidade ligada ao colesterol
(HDL-C) pelo treinamento aeróbio de alta e baixa intensidade
por meio de uma revisão de bibliografia. Atualmente a doença
cardiovascular é a principal causa de mortes em âmbito mundial.
Contudo a adoção de mudanças no estilo de vida pode contribuir
para reversão de tal quadro. O exercício aeróbio regular está extremamente relacionado à redução do risco de doenças cardiovasculares
e consequentemente a um aumento do HDL-C, que atualmente é
considerada uma variável importante na prevenção de tais doenças.
De fato, o treinamento de caráter aeróbio modula positivamente as
concentrações do HDL-C, mostrando-se aquele realizado em alta
intensidade mais efetivo que o de baixa intensidade na modulação
dos níveis plasmáticos de HDL-C. Portanto, não apenas o caráter
aeróbio, bem como a intensidade do trabalho mostrou-se uma
variável fundamental em tal processo.
The purpose of the present study was to compare the modulation
of plasma levels of high-density lipoprotein cholesterol (HDL-C) by
high intensity aerobic training and low intensity aerobic training.
The study is based on a literature review. Currently cardiovascular
disease is the main cause of current worldwide death. However the
adoption of simple changes in lifestyle can help reverse such framework. The regular aerobic exercise is highly related to reduction of
risk of cardiovascular diseases and consequent increasing of HDL-C,
nowadays considered an important variable in the prevention of
such diseases. In fact, regular aerobic training modulates positively
HDL-C plasma concentration, showing that performed at high
intensity is more effective than low intensity in the modulation of
plasma levels of HDL-C. Therefore, not only the aerobic character, as
well as the intensity of work proved to be a key variable in this case.
Key-words: lipoprotein, high intensity aerobic training, low intensity
aerobic training.
Palavras-chave: lipoproteína, treinamento aeróbio de alta
intensidade, treinamento aeróbio de baixa intensidade.
Recebido em 2 de junho de 2010; aceito em 14 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: Luiz Carlos Carnevali Junior, Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo I (ICBUSP), Avenida Professor Lineu Prestes 1524 Cidade Universitária São Paulo SP, Tel: (11) 3091-7225, E-mail: contato@carnevalijunior.
com.br, [email protected]
194
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Introdução
Hoje em dia a doença cardiovascular é a principal causa
de mortes em âmbito mundial [1,2].
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS) a doença cardiovascular origina-se por patologias
relacionadas ao coração e vasos sanguíneos. Inclui a doença
cardíaca coronária, acidente vascular cerebral, doença arterial
periférica, doença cardíaca reumática, cardiopatia congênita e
insuficiência cardíaca. Se as tendências atuais continuarem, até
2015 estima-se que 20 milhões de pessoas morrerão vítimas de
doenças cardiovasculares, principalmente a partir de ataques
cardíacos e acidentes vasculares cerebrais.
A adoção de simples mudanças no estilo de vida (exercício
físico, adaptação da dieta e consequente redução de peso corporal) contribui na reversão de tal quadro, sendo a atividade
física regular apontada como uma importante e relevante
intervenção neste processo.
Atualmente, a prática de exercício físico regular tem sido
adotada como uma conduta preventiva e terapêutica no tratamento de dislipidemias e doenças cardiovasculares [3-5].
De fato, estudos prévios [6,7] relatam uma associação
entre maiores níveis de capacidade aeróbia com o aumento da
longevidade e redução de mortalidade para doenças arteriais
coronarianas.
A prática de exercício aeróbio regular está diretamente
relacionada à redução de risco de doenças cardiovasculares e
consequentemente aumento da expectativa de vida. Assim,
o valor do exercício aeróbio regular na redução do risco de
doenças cardiovasculares e aumento nos níveis plasmáticos
da lipoproteína de alta densidade-colesterol (HDL-C) têm
recebido ampla aceitação [5].
Pesquisas atuais e evidências crescentes sugerem que o
HDL-c é um potente preditor negativo de doenças cardiovasculares, sugerindo que o baixo HDL-C é um grande risco
cardiovascular [8].
Um dos mecanismos mais bem compreendidos do HDLC para a sua proteção cardiovascular é o transporte reverso do
colesterol [9]. Tal transporte caracteriza-se por um processo
dinâmico de múltiplos passos, incluem-se neste a remoção do
excesso de colesterol da parede arterial a partir das membranas
celulares e tecidos periféricos como também a remoção de
macrófagos. Essas substâncias são transportadas pelo HDL-C
para o fígado onde serão excretadas na bílis [10-12].
Além do transporte reverso do colesterol, o HDL-C
apresenta diversas atividades antiaterogênicas que contribuem
para a sua capacidade preventiva contra doença arterial coronariana. Demonstra ainda ação anti-inflamatória (inflamação
endotelial), antioxidante (oxidação da lipoproteína de baixa
densidade-colesterol (LDL-C), ação vasodilatadora (promove a produção endotelial do óxido nítrico), diminuição de
agregação plaquetária e coagulação, além da manutenção da
integridade do endotélio a partir dos efeitos antiapoptóticos
[8,12-14].
Estudos prospectivos e observacionais realizados em todo
o mundo demonstram que os altos níveis plasmáticos de
HDL-C, estão associados com a redução do risco de doença
arterial coronariana, infarto do miocárdio, acidente vascular
cerebral e morte, enquanto que baixos níveis plasmáticos
desta lipoproteína estão correlacionados com maior risco de
mortalidade imposto pela prevalência de doenças cardiovasculares em homens e mulheres [15].
Baixos níveis plasmáticos de HDL-c é considerado um
importante fator de risco para o surgimento de doenças cardiovasculares que podem ser modificados através da prática
de exercícios regulares [16].
Segundo Kodama et al. [5] existe uma crescente aceitação
do efeito que o exercício aeróbio regular tem sobre o aumento
nos níveis plasmáticos de HDL-c. O mais sustentado e distinto efeito do exercício sobre as lipoproteínas, é o aumento
de HDL-c circulantes [6].
Portanto, já é de consenso que o exercício aeróbio regular
atua de forma terapêutica e preventiva nas doenças cardiovasculares. Sua principal influência positiva está na modulação
dos níveis plasmáticos de HDL-c, conforme supracitado
[4,5,8,15]. Contudo, a duração e intensidade na qual os
efeitos positivos tornam-se evidentes ainda não estão bem
esclarecidas.
O objetivo da presente revisão é comparar a efetividade
do treinamento aeróbio de alta intensidade e o treinamento
aeróbio de baixa intensidade em promover aumento nos
níveis plasmáticos da lipoproteína de alta densidade ligada
ao colesterol (HDL-c).
Revisão de literatura
Para uma melhora na capacidade aeróbia e um efeito
cardioprotetor maior, o exercício aeróbio de alta intensidade
é claramente mais efetivo que o exercício aeróbio de baixa
intensidade. Estudos indicam que atividades anaeróbias
e treinamento de força também contribuem de maneira
efetiva para aumentos nos níveis plasmáticos da HDL-C
[17,18].
Como definição, atividades aeróbias de alta intensidade
podem ser classificadas como aquelas que utilizam uma maior
quantidade de oxigênio por unidade de tempo, para oxidação
dos substratos energéticos [19].
Alguns parâmetros fisiológicos podem ser utilizados na
prescrição do treinamento para o controle da intensidade
de esforço. Entre eles podemos citar o volume máximo de
oxigênio (VO2 máx), frequência cardíaca (FC), limiar ventilatório, limiar anaeróbio, e a percepção subjetiva ao esforço,
entre outros [20].
Mais comumente utilizados na prescrição de exercícios,
os percentuais relativos de VO2 máx e de as equações para
predição de intensidade baseados na frequência cardíaca máxima, apresentam uma maneira prática, acessível e confiável
de realizar tais prescrições.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Na literatura científica valores a partir de 65% do Vo2
máx ou 75% da FC máxima aparecem como as intensidades
de esforço para qualificar tais atividades [21].
Com relação ao volume de trabalho utilizado medidas da
quantidade de atividade realizada em um dia ou o volume
acumulado na semana são utilizados para quantificar esta
variável. Valores a partir de 30 minutos diários ou 150 minutos acumulados em uma semana, aparecem como atividades
de alto volume, sendo valores abaixo destes considerados de
baixo volume [22].
O efeito sobre o HDL-C é proporcional à atividade física
independente do nível de aptidão de cada indivíduo. Portanto,
a realização de exercícios mais intensos e mais frequentes,
parece exercer um maior efeito sobre o HDL-c [23,5]. O alto
valor da razão de troca respiratória durante o exercício tem
correlação positiva e está associada ao aumento nos níveis
plasmáticos de HDL-C [24,25].
Uma pesquisa recente [26] mostrou que dois meses de
treinamento aeróbio de moderada à alta intensidade, realizado
três vezes na semana, pode elevar significativamente os níveis
plasmáticos de HDL-C.
Em um estudo realizado por Duncan et al. [27] participaram 492 indivíduos saudáveis e sedentários, com idade entre
30-69 anos, submetidos ao treinamento aeróbio durante seis
meses e divididos em cinco grupos:
A. Baixa Intensidade e Baixo Volume (45-55% FC / três a
quatro dias por semana)
B. Baixa Intensidade e Alto Volume (45-55% FC /cinco a
sete dias por semana)
C. Alta Intensidade e Baixo Volume (65-75% FC /três a
quatro dias por semana)
D. Alta Intensidade e Alto Volume (65-75% FC /cinco a sete
dias por semana)
E. Grupo Controle
O estudo concluiu que o treinamento de alta intensidade
e alto volume foi a única intervenção que produziu efeito
significativo sobre os níveis plasmáticos de HDL-C.
Em outro estudo, Slentz et al. [28] submeteram 249 indivíduos sedentários com sobrepeso e dislipidemia, com idade
entre 40-62 anos. Realizaram o treinamento aeróbio durante
seis meses e divididos em quatro grupos:
A. Baixa Intensidade e Baixo Volume (40-55% VO2 máx/~12
milhas por semana)
B. Alta Intensidade e Baixo Volume (65-80% VO2 máx/~12
milhas por semana)
C. Alta Intensidade e Alto Volume (65-80% VO2 máx/~20
milhas por semana)
D. Grupo Controle
Concluiu-se após o período que somente o treinamento
de alta intensidade e alto volume resultou em melhorias sus-
195
tentadas no HDL-C, sugerindo que este de fato seja o maior
modificador de metabolismo do HDL-C em resposta ao
treinamento. Por sua vez, o grupo que realizou o treinamento
de baixa intensidade e baixo volume, não apresentou mudança
significativa nos níveis plasmáticos de HDL-C.
Uma das hipóteses sobre o aumento do HDL-c em resposta ao exercício seria a redução da atividade da proteína
de transferência de colesterol esterificado (CETP). A CETP
remodela as HDLs transferindo colesterol esterificado de
HDLs a VLDLs em troca de triglicérides (TG) [3].
Outro possível mecanismo de incremento do HDL-C seria
uma redução da enzima lipase hepática (HL), que reduziria a
velocidade de captação hepática do (HDL2-c) e resultaria em
uma alta concentração plasmática de HDL-C [29].
O exercício de alta intensidade tende a uma capacidade
mitocondrial aumentada, levando a uma maior mobilização de
TG como resposta aos altos níveis de catecolaminas derivadas
da prática de exercícios de alta intensidade. Ainda, a redução
de TG está relacionada com a produção aumentada do HDLC, fato que ocorre também durante o exercício aeróbio [28].
A lipase lipoprotéica (LPL) que mede a hidrólise do TG,
mostra-se com sua ação aumentada em resposta ao exercício,
isso pode ajudar no reabastecimento de TG intramuscular
usado durante o exercício, além de também fornecer o substrato na produção do HDL-c [6].
Além da intensidade, o volume de exercícios realizado
parece ser uma importante variável na promoção de um
aumento efetivo nos níveis de HDL-C. Segundo Kraus et al.
[30], o volume de exercício parece ser mais efetivo do que a
intensidade do exercício sobre as concentrações plasmáticas
de lipoproteínas.
Kraus et al. [30] realizaram um estudo com 84 indivíduos
sedentários com sobrepeso e dislipidemia, idade entre 40 e 65
anos e os submeteram ao treinamento aeróbio durante seis
meses. Foram divididos em quatro grupos distintos:
A. Baixa Intensidade e Baixo Volume (40-55% VO2 máx e
19,2 km por semana)
B. Alta Intensidade e Baixo Volume (65-80% VO2 máx e 19,2
km por semana)
C. Alta Intensidade e Alto Volume (65-80% VO2 máx e 30,733 km por semana)
D. Grupo controle
O grupo denominado A, não apresentou melhora significativa quando comparado aos demais grupos. Os outros dois
grupos que realizaram o treinamento de alta intensidade (B e
C) obtiveram melhora semelhante na aptidão física, conforme
medido pelo consumo máximo de oxigênio (VO2 máx), contudo, apenas o grupo que realizou o treinamento de volume
mais elevado obteve melhora geral no perfil das lipoproteínas.
O estudo ratifica a importância do treinamento aeróbio
de alta intensidade na melhora do VO2 máx. Contudo, o
mesmo estudo mostra que a intensidade do exercício foi
196
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
menos relevante que o volume de treinamento em termos de
resposta das lipoproteínas. O último mostrou-se mais efetivo
na melhora de tal perfil.
Recente meta-análise realizada sobre o efeito do treinamento aeróbio na modulação dos níveis plasmáticos de
HDL-C, corroborou o supracitado. Relatou que de fato as
características do exercício (volume e intensidade), são os
principais preditores de mudança nos níveis de HDL-C sendo
mais uma vez o volume do treinamento por sessão o mais
importante preditor de alteração no HDL-C [5].
Conclusão
O treinamento aeróbio de alta intensidade mostrou ser
mais efetivo que o treinamento aeróbio de baixa intensidade
no aumento dos níveis plasmáticos de HDL-C, levando em
consideração o gasto calórico promovido pela realização de
exercício aeróbios em uma faixa maior de frequência cardíaca
e VO2 máx mais elevado.
Em conclusão, o treinamento aeróbio de alta intensidade
apresenta uma melhor eficiência de tempo em relação ao
mesmo treinamento realizado em baixa intensidade, muito
embora o segundo também promova um aumento nos níveis
plasmáticos de HDL-c, à custa de um maior volume de treinamento. Contudo, não é só a quantidade elevada dos níveis
plasmáticos de HDL-C que parece ser o mais importante para
o efeito cardioprotetor, e sim a melhor funcionalidade nas
suas diversas ações, como: antioxidante, anti-inflamatória,
antiapoptótica, agregação plaquetária e vasodilatadoras. Mais
estudos são necessários para explicar a relação quantidade versus funcionalidade, provendo assim uma melhor ferramenta
no auxílio da prevenção de doenças cardiovasculares.
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198
Revisão
Aspectos e efeitos da creatina sobre
o sistema renal e hepático
Aspects and effects of creatine on renal and hepatic systems
William Marciel de Souza*,Thiago Gomes Heck, M.Sc.**, Cíntia Fiorini***, Everton Boff, M.Sc.****
*Acadêmico do curso de Biomedicina da Universidade do Oeste de Santa Catarina, **Doutorando em Ciências do Movimento da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ***Acadêmica do curso de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina, ****Professor titular da Universidade do Oeste de Santa Catarina
Resumo
Abstract
Enquanto o consumo de creatina por atletas e praticantes de
atividade física que desejam aumentar a massa muscular e o desempenho físico tem crescido vertiginosamente, os efeitos adversos desse
suplemento continuam sendo alvos de debates. O objetivo desta
revisão é descrever aspectos gerais da creatina, seu metabolismo e
impacto na composição corporal. Enfatizam-se possíveis efeitos colaterais prejudiciais, em especial sobre a função renal e hepática. Há
muitas contradições e lacunas na literatura, fatores que contribuem
para a divergência do tema, uma vez que os resultados disponíveis
são contraditórios. Levando-se em conta que estudos sobre possíveis
efeitos tóxicos da suplementação com creatina são escassos, sugerese investimento adicional para avaliar a relação custo-benefício de
sua suplementação.
While the use of creatine by athletes and physically active who
want to increase muscle mass and physical performance has grown
dramatically, the adverse effects of this supplement remain targets of
heated scientific debate. The purpose of this review was to describe
the general aspects of creatine, its metabolism and body composition with emphasis on their possible detrimental factor, particularly
kidney and liver, in view of the methodological flaws and gaps in the
literature, factors that contribute to the divergence of theme, since
the results are contradictory. Taking into account that studies on
possible toxic effects of creatine supplementation are lacking, one
must seek appropriate parameters to evaluate its supplementation.
Key-words: creatine, supplementation, exercise, nutrition.
Palavras-chave: creatina, suplementação, exercício, nutrição.
Recebido em 26 de março de 2010; aceito em 10 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: William Marciel de Souza, Faculdade de Ciências Biomédicas, Departamento de Ciências Biológicas
e da Saúde, Universidade do Oeste de Santa Catarina, 89900-000 São Miguel do Oeste SC, Cel: (49) 8828-4579, E-mail: wmarciel@
hotmail.com
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Introdução
A creatina foi identificada pelo cientista francês Michel
Chevreu, em 1835, quando este relatou ter encontrado um
novo constituinte orgânico nas carnes. Devido a dificuldades
técnicas, apenas em 1847, Justus Liebig confirmou a presença
regular de creatina nas carnes, verificando ainda que carne
de raposas selvagens possuía 10 vezes mais creatina em comparação às raposas em cativeiro, concluindo que o trabalho
muscular resultaria em acúmulo dessa substância. Na mesma
época, os pesquisadores Heitz e Pettenkoffer descobriram uma
nova substância presente na urina, mais tarde identificada
por Liebig como creatinina, um subproduto da creatina [1].
A creatina é sintetizada endogenamente pelo fígado, rins e
pâncreas a partir dos aminoácidos glicina, metionina e arginina. Também pode ser obtida via alimentação, principalmente
pelo consumo de carne vermelha e peixes [2]. Embora não seja
um nutriente essencial, a creatina está intimamente envolvida
no metabolismo humano, sendo catabolizada à creatinina na
musculatura e excretada pelos rins [2].
Os produtos disponíveis no mercado contendo creatina
são muito variados. Pode-se encontrar creatina em pó ou
diluída em gel, na forma líquida, em barras e até mesmo em
goma de mascar. A mais utilizada é a creatina micronizada,
porém alguns produtos misturam o monoidrato de creatina
a outros compostos, como carboidratos, proteínas, aminoácidos, vitaminas e até extratos herbais e fitoquímicos. Esta
variedade comercial dificulta a interpretação dos resultados
obtidos com sua suplementação [2,3]. No Brasil, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio da
portaria nº 222 (24 de março de 1998), que discorre sobre
as normas técnicas referentes a alimentos para praticantes de
atividade física, surpreendentemente, não contemplou a creatina como alimento para esportistas. Em outros países como
os EUA a posição sobre o assunto é bem mais aberta, o FDA,
órgão que controla os medicamentos e alimentos americanos,
isenta-se da responsabilidade e esta fica exclusivamente nas
mãos do fabricante, caso seja exposto ao mercado algo enganoso ou que faça mal, a empresa fabricante paga caro por
isto. Na União Européia, a situação é bem mais defensiva,
os interessados realmente precisam comprovar a segurança e
eficácia de um produto [2,4-6].
Atualmente a suplementação de creatina (ácido metil
guanidino acético) vem sendo amplamente utilizada por
indivíduos em diversas faixas etárias, e recomendada pelo
American College of Sports Medicine, especialmente para atletas
profissionais e amadores, que visam potencializar o rendimento físico, no intuito de melhorar o desempenho em exercícios
de curtos períodos e de extrema potencia [4-7].
Seu uso no meio esportivo deve-se a esta representar um
importante reservatório de energia para a contração muscular.
Quando a demanda de energia aumenta, a creatina fosforilada
(CP) fornece o fosfato para a adenosina difosfato (ADP) com
a finalidade de sintetizar adenosina trifosfato (ATP) [2].
199
O uso suplementar de creatina tem como objetivo aumentar o conteúdo de CP muscular [8], sendo então possível
inferir que a suplementação possa resultar em benefícios
ergogênicos da devido ao seu papel bioquímico e fisiológico
sobre a bioenergética do tecido muscular esquelético na ressíntese de ATP [9].
Diversos mecanismos são propostos para demonstrar o envolvimento da suplementação de creatina com o desempenho
físico melhorado: a) aumento dos níveis de (CP), servindo
como tampão imediato do uso de adenosina trifosfato (ATP)
durante o exercício; b) aumento dos níveis de creatina em
repouso para aumentar a taxa de ressíntese da própria CP
durante e após o exercício; c) redução da acidez muscular,
uma vez que a CP atua consumindo um H+ no processo de
ressíntese de ATP, causa aumento da atividade da citrato sintase, um marcador da capacidade oxidativa, potencializando
exercícios aeróbicos; aumento da capacidade de treinamento;
d) aumento da massa muscular, por ser a creatina uma substância osmoticamente ativa [2,10].
Visto que a suplementação de creatina (20 g/dia por 5-7
dias) promove aumento de 20% nas concentrações de creatina
muscular [11], estudos sobre a relação desta modificação com
o rendimento esportivo são mais frequentes, principalmente
em atividades intermitentes de alta intensidade e curta duração [6]. Além disso, a suplementação de creatina pode ser
benéfica em certos acometimentos neuromusculares [12],
doenças crônico-degenerativas e tolerância à glicose [13].
Cabe ressaltar também que a utilização de creatina, como
suplemento nutricional ainda gera controvérsia, haja vista
que 20 possíveis eventos adversos ou efeitos colaterais da
ingestão de suplementos contendo creatina foram listados
no relatório de 14 de maio de 1998 do Special Nutritions Adverse Event Monitoring System (pertencente ao Food and Drug
Administration – FDA) [2]. Neste sentido alguns trabalhos
experimentais e clínicos têm associado sua suplementação
a alguns efeitos colaterais, particularmente sobre o fígado e
rins [5,14]. Estudos demonstraram que a suplementação via
oral de 25 g de creatina ao dia pode levar a um quadro de
hepatite [15]. Outros trabalhos avaliaram os efeitos da suplementação com creatina sobre a progressão da doença renal
cística demonstrando que uma aceleração da progressão da
doença, sugerindo que a suplementação com creatina deveria
ser realizada com especial cuidado em pacientes renais [16].
Por outro lado, a redução dos níveis teciduais de creatina
tem sido associada a uma série de doenças, razão pelos quais
os efeitos da suplementação são estudados tanto em modelos
experimentais quanto em estudos clínicos [17-19]. Alguns
estudos fazem uma estimativa da necessidade de creatina em
atletas e em casos patológicos pode estar aumentada [15,17].
Por exemplo, doenças na qual a função mitocondrial está alterada, resultando numa diminuição da síntese de adenosina
trifosfato, como no caso da doença de Parkinson, Huntington
e miopatias. Neste contexto, a suplementação com creatina
tem apresentado importantes efeitos benéficos [2,15].
200
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Assim, o presente trabalho busca evidenciar cientificamente suposições clínicas e de debate cientifico em relação
ao uso da suplementação da creatina, como suplementação
alimentar desde seu histórico, explorando seu mecanismo e
seus possíveis danos fisiopatológicos ao sistema renal e hepático. Esperamos, assim, levantar um questionamento crítico
sobre tal substância, lacunas na literatura que de fato não
permitem conclusões generalizadas sobre o tema.
Métodos
Buscou-se neste trabalho revisar aspectos gerais da creatina, assim como efeitos sobre o sistema renal e hepático. Desta
forma, analisando principalmente metodologias utilizadas em
estudos, em artigos originais que tinham como objetivo direto
a investigação dos efeitos da suplementação de creatina nesses
sistemas. Utilizou-se, para tanto, a base de dados Medline. Os
termos empregados na busca foram: creatine supplementation
and renal function, creatine supplementation and hepatic function, metabolism, adverse effects.
Histórico
No início do século 20, as pesquisas sobre creatina começaram a ganhar espaço. Estudos relatavam que nem toda
a creatina ingerida era encontrada na urina, indicando que
o organismo armazenava uma parte [1,2]. A partir dessa
constatação, novas descobertas foram realizadas, tais como a
influência da ingestão de creatina sobre seu conteúdo muscular, a concentração total de creatina em seres humanos, e
até a existência de formas diferenciadas da creatina, como
creatina livre e CP [2]. Embora o envolvimento da creatina
no metabolismo muscular não seja uma descoberta recente,
seu potencial ergogênico, via suplementação, tem sido um
dos mais atuais enfoques das pesquisas sobre ergogenics aids.
Através da reintrodução das técnicas de biópsia e da invenção
de técnicas de ressonância magnética nuclear, pesquisadores
têm sido capazes de estudar a “quebra” e a ressíntese de
compostos como o ATP e a CP no músculo esquelético,
bem como determinar a função da CP neste processo. Desta
forma, intensifica-se cada vez mais a contribuição dos estudos
para a compreensão do quebra-cabeça que é a regulação do
metabolismo muscular [1].
Metabolismo da creatina
O processo de síntese de creatina tem início a partir da
arginina, da seguinte maneira: o grupo amino da arginina
é transferido para glicina, formando guanidinoacetato e
ornitina, através de uma reação mediada pela enzima glicina
transaminase (GT). Em seguida, o guanidinoacetato é metilado pela s-adenosil-metionina, através da ação da enzima
guanidinoacetato N-metil transferase (MT), derivando, finalmente, a creatina [20].
Além da síntese de creatina no organismo, ou seja, da
creatina endógena, a alimentação fornece cerca de 1 grama de
creatina/dia, principalmente através do consumo de produtos
de origem animal, tais como carnes bovinas e peixes [21].
O turnover diário da creatina em um homem de 70 kg é
de aproximadamente 2 gramas. Sua concentração plasmática
apresenta-se entre 40 e 100 mol/litro. Com o início dos procedimentos de biópsia, em 1968, permitiu-se que se obtivessem
dados que quantificassem o conteúdo de creatina no músculo.
Verificou-se que existe um pool de 120-140 gramas no organismo humano, onde 95% estão estocados no músculo, sendo
60% a 70% sob na forma livre e 30-40% na forma de CP.
Reservas adicionais (cerca de 5%) são encontradas no coração,
músculos lisos, cérebro e testículos [6,21,22].
A distribuição corpórea de creatina indica que este composto é transportado dos lugares de síntese até os locais de
utilização através da corrente sanguínea [23]. Esse transporte
é realizado por uma transportados específico, chamado CreaT
[24].
A concentração intracelular de creatina é determinada pela
habilidade da célula muscular em assimilar o nutriente a partir
do plasma, uma vez que não há síntese muscular da mesma.
Sabe-se que a captação da creatina circulante na corrente
sanguínea pelo músculo é realizada através de um processo
altamente específico, sódio-dependente, saturável e de alta
afinidade, capaz de transportar a creatina contra um gradiente
de concentração. Neste processo, para cada 2 moléculas de
sódio, 1 molécula de creatina é captada pela célula muscular.
Tal processo se dá através da ação da enzima Na+-K+-ATPase,
também conhecida como bomba de sódio-potássio [23].
Acredita-se que o músculo humano estriado apresente
um limite máximo de acúmulo de creatina entre 150 e 160
mmol/kg de músculo seco. Esse fato sugere que a ingestão
crônica de creatina promova uma diminuição da síntese de
CreaT. Tal fato se deve a finalidade de evitar um armazenamento excessivo de creatina intramuscular. Desta forma,
esta regulação “negativa” da CreaT pode ser interpretada
como um indesejável efeito adverso de uma suplementação
prolongada [23].
Como aproximadamente 75% do músculo é constituído
por água, a concentração limite de creatina no músculo úmido representaria aproximadamente 37,5-40,0 mmol/kg. De
acordo com o fato de existir um limite de armazenamento
muscular de creatina, indivíduos que, por razões diversas,
apresentam originalmente concentrações musculares de
creatina elevadas respondem menos intensamente à suplementação de creatina, quando comparados a indivíduos com
níveis normais de creatina, pois se encontram mais próximos
da chamada concentração limite [2]. A captação máxima de
creatina é dada nos primeiros dias de suplementação com
altas doses [20]. Identificou-se uma série de hormônios que
influenciam a captação de creatina pelas células musculares
[25]. Os autores observaram que as catecolaminas podem
estimular a captação de creatina, principalmente através
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dos receptores do tipo beta, provavelmente via mecanismo
dependente de AMP cíclico. Esses autores também demonstraram que a insulina, em concentrações suprafisiológicas, e o
IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina) também
podem estimular a captação de creatina. A administração de
creatina e carboidratos associados resultou em um aumento
do transporte de creatina até o músculo, aumentando assim
a retenção muscular deste nutriente. Os autores sugerem que
a insulina estimule a enzima Na+-K+-ATPase, promovendo o
co-transporte de Na+-Cr, o que provocaria os resultados observados no estudo. Outros estudos têm apontado resultados
semelhantes, contribuindo para a hipótese de que a ingestão de
carboidratos pode aperfeiçoar a captação muscular de creatina
[26]. O exercício físico pode estar indiretamente relacionado
com esse mecanismo de adaptação, considerando-se que uma
das consequências benéficas do exercício consiste no aumento
da sensibilidade à insulina [26].
Cabe ressaltar que assim como existem fatores capazes de
otimizar a captação de creatina, possivelmente existam fatores
prejudiciais a esse processo. A cafeína tem sido avaliada como
um possível inibidor dos efeitos da suplementação de creatina
[27], porém os mecanismos responsáveis por essa inibição
ainda não estão totalmente esclarecidos.
No músculo,
parte da creatina captada é fosforilada através de uma reação
mediada pela enzima creatinaquinase (CPK), que origina os
60%-70% da creatina total presente no músculo, conforme
dito anteriormente [21,23]. O equilíbrio entre as concentrações de creatina livre e CP é regulado através de um processo
conhecido como “phosphorylcreatine shutlle”. Este processo
demonstra a difusão da creatina por três locais: área de utilização, área de transição e área de fosforilação da creatina.
No local de utilização, ou seja, na miosina, a molécula de
CP é “quebrada”, através da ação da enzima CPK, liberando
energia (íons fosfato) para a ressíntese de ATP. A creatina
livre, resultante desta “quebra”, é levada por difusão até a
membrana da mitocôndria, onde é novamente fosforilada,
utilizando a energia proveniente da quebra de ATP em ADP.
Em seguida, a creatina fosforilada retorna, por difusão, ao seu
local de utilização, onde novamente será utilizada como fonte
de energia para a ressíntese de ATP [1]. As concentrações de
creatina e de CP estão diretamente relacionadas com os tipos
de fibras musculares, observando-se maiores concentrações
nas fibras de contração rápida (IIa e IIb) em relação às fibras
de contração lenta [28].
No músculo, tanto a creatina livre quanto a creatina fosfato sofrem reações irreversíveis de ciclização e desidratação,
formando aproximadamente 2 gramas de creatinina por dia.
Em seguida, a creatinina sintetizada é transportada através
da água corpórea e rapidamente excretada pelos rins. Não
existe um limiar para a excreção renal de creatinina, todavia
a excreção renal diária de creatinina aproxima-se de 2 gramas,
podendo variar de acordo com a massa muscular total do
indivíduo [20].
201
Creatina e atividade física
A energia utilizada durante o exercício físico pode ser
obtida através de três sistemas metabólicos, denominados
“Sistema ATP-CP”, também conhecido como anaeróbio alático, “Sistema do glicogênio-ácido lático”, também conhecido
como anaeróbio lático, e o “Sistema aeróbio”, que pode se
subdividir entre glicólise oxidativa e lipólise [28]. Durante
uma atividade física, esses três sistemas de energia operam
simultaneamente, porém a contribuição relativa de cada um
deles às exigências totais de energia pode diferir de acordo
com a duração e a intensidade do exercício [29].
A participação da creatina em um dos sistemas metabólicos utilizados como fonte de energia durante o exercício, o
sistema ATP-CP, é conhecida há décadas e pode ser resumida
da seguinte forma: cerca de 85 gramas de ATP são estocados
no organismo, porém esta concentração não pode diminuir
a menos de 30%. Por esse motivo é preciso que o ATP seja
constantemente ressintetizado, a fim de fornecer a energia
necessária para o trabalho biológico. Uma parte da energia
necessária para a sua ressíntese é obtida diretamente e rapidamente através de um outro composto rico em energia; a CP.
Em termos energéticos, esse composto é similar ao ATP, pois
com seu rompimento, quantidades significativas de energia
são liberadas, formando creatina livre e fosfato. Portanto, a
mobilização de energia proveniente de ATP e CP são fundamentais na determinação da habilidade de um indivíduo
em gerar e sustentar o exercício de máxima intensidade com
duração de até 30 segundos [29].
Atualmente vem sendo proposto que tal composto funcione como uma “lançadeira” para o transporte de fosfatos de
alta-energia da mitocôndria para os diferentes locais de utilização, ou seja, dentro das células do músculo esquelético [26].
Adicionalmente, outras propriedades têm sido atribuídas
à creatina, principalmente com relação ao tamponamento de
compostos como o ADP e íons hidrogênio. Relata-se que concentrações elevadas de ADP no meio intracelular provocam,
indiretamente, efeito inibitório em algumas reações mediadas
pelas enzimas denominadas ATPases, o que prejudicaria a
contração muscular. Além disso, sabe-se que o aumento dos
íons hidrogênio, com consequente diminuição do pH muscular, contribui para o início do processo de fadiga. Portanto,
a suplementação de creatina poderia aumentar a capacidade
de tamponamento da célula através da creatina fosfato e poderia contribuir para o retardo a fadiga [2], por aumentar a
produção de energia através do sistema ATP-CP [30].
Os efeitos ergogênicos provocados pela suplementação
de creatina podem ser atribuídos ao aumento do conteúdo
total de creatina intramuscular, acelerando a ressíntese de
fosfocreatina, sobretudo no intervalo dos exercícios. Como
resultado, a taxa de refosforilação de ADP requerida pode
ser mantida durante o exercício, aumentando a capacidade
de contração muscular [9,
202
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Suplementação de creatina e desempenho esportivo
Diversos estudos têm demonstrado que a suplementação
oral de creatina monoidratada aumenta o estoque muscular
desse composto, relacionando este aumento à otimização do
desempenho em exercícios intermitentes de alta intensidade
[31]. Acredita-se que o caminho mais rápido para se aumentar
a concentração intramuscular de creatina consiste na ingestão
de 20 gramas de tal composto por dia, em período de 5 a 8 dias
[32]. Os tipos de exercícios beneficiados pela suplementação
de creatina têm sido alvos frequentes de estudos. O artigo de
revisão traz uma tabulação de resultados obtidos através de
71 estudos publicados entre 1993 e 1997 [30]. Todos esses
estudos avaliavam o efeito da suplementação de creatina
sobre a performance esportiva, sendo controversos no que
diz respeito ao exercício de curta duração e alta intensidade
(43 estudos), apontando uma melhora da performance em
53.5% dos casos e resultados menos satisfatórios nos 46.5%
restantes. Nessa tabulação, estudos realizados com testes de
atividade aeróbia (sistema oxidativo) demonstraram não
haver melhora no desempenho após a suplementação de
creatina, e, em alguns casos, apontaram efeitos prejudiciais da
suplementação sobre o desempenho dessas atividades. Parece
haver ainda efeitos dependendo da modalidade (musculatura
envolvida), pois trabalhos realizados especificamente com
nadadores (5 publicações) demonstraram não haver melhora
do desempenho em função da suplementação de creatina.
Outros estudos sobre a suplementação de creatina e
performance esportiva foram publicados, na busca de minimização das incertezas geradas [20,30]. Neste sentido, o
nível de treinamento do indivíduo modifica a magnitude
do efeito da suplementação [2]. Diversos estudos realizados
com indivíduos não treinados vêm demonstrando que a suplementação de creatina é capaz de aperfeiçoar o desempenho
em exercícios de alta intensidade e curta duração [33,34].
O desempenho esportivo pode estar diretamente relacionado ao aumento do conteúdo muscular de creatina, porém
apenas poucos estudos têm determinado simultaneamente
as alterações no desempenho esportivo e o incremento do
conteúdo de creatina no meio intramuscular após o período
de suplementação, abordando um aspecto fundamental que é
o nível de treinamento individual. Portanto, a realização desse
tipo de estudos poderia contribuir significativamente para
a interpretação do real efeito da suplementação de creatina
sobre o desempenho esportivo [3,34].
A ingestão de creatina, em curto prazo, é acompanhada de
um aumento da massa corpórea, principalmente em atletas
do sexo masculino, cujo ganho gira em torno de 0,7 a 2,0 kg
de peso após 1 a 2 semanas de suplementação com altas doses
(20-25 g/d) [20,35]. Este ganho de peso pode ser justificado
por duas hipóteses; a) ocorrência de retenção hídrica devido
ao alto poder osmótico da creatina, fenômeno este supostamente consequente de uma suplementação aguda, consiste
em um potente estimulador da síntese protéica, motivo para
constante crítica na literatura, porém, esta é uma hipótese a
espera de ser confirmada [3], b) ocorrência de um aumento
da taxa de síntese de proteínas contráteis [36].
O efeito da suplementação possui diferentes níveis de
alterações na composição corporal em diferentes tipos de
atletas, podendo ser vantajoso de acordo com cada tipo de
modalidade [2,3].
Em contrapartida, a creatina também vem sendo apontada
como um estimulador da biossíntese de proteínas miofibrilares e da captação de aminoácidos pelas proteínas contráteis,
haja vista que ratos induzidos à depleção de creatina sofrem
anormalidades em suas estruturas musculares, como perda de
miofilamentos e hipotrofia das fibras tipo II e de massa magra.
Porém, outras investigações não têm demonstrado efeito algum da creatina sobre a síntese protéica [37]. Assim acredita-se
que a realização de estudos que avaliem mais especificamente
a composição corporal de indivíduos suplementados com
creatina, através da utilização de metodologias que permitam
a diferenciação da massa magra entre massa muscular e água
corpórea, possa contribuir fundamentalmente para a interpretação desta controvérsia [8]. É importante ressaltar ainda
que os efeitos da suplementação crônica de creatina sobre a
composição corporal podem ser distintos daqueles observados
em estudos de suplementação aguda, devido a adaptações
metabólicas diferenciadas.
Aspectos de saúde renal e hepática, relacionados
com a suplementação de creatina
Uma vez que o uso da suplementação de creatina tem se
tornado um fato bastante popular entre atletas, tem surgido
interesse quanto aos possíveis riscos à saúde associados a essa
suplementação [2,3].
Algumas preocupações foram sugeridas com relação a
alguns possíveis efeitos adversos, tais como, danos renais,
hepáticos, desidratação, aumento de pressão arterial, mal
estar gastrointestinal, cãibras musculares e lesões muscular
severas durante o treinamento [38,39]. Uma vez que o armazenamento de creatina no músculo ocorre essencialmente nos
primeiros dias de suplementação, e nos dias subsequentes o
excesso de creatina é excretado pela urina, um dos possíveis
efeitos adversos mais discutidos no meio científico consiste na
suspeita de que a suplementação de creatina poderia provocar
um estresse renal. Porém, estudos disponíveis na literatura
indicam que o uso agudo ou crônico (até 10 semanas) desse
composto, em doses diárias de até 30 gramas não alterara
a função renal de indivíduos saudáveis. Adicionalmente, a
suplementação diária com doses baixas (1,5 grama) durante
até 5 anos também não tem provocado efeitos quaisquer sobre
a função renal [2]. Portanto, até o presente momento, não
há evidências científicas de que a suplementação de creatina
possa causar danos à saúde de indivíduos sadios.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
203
Tabela I - Estudos sobre creatina e seus efeitos.
Autores
Efeitos relatados
Poortmans et al. 1997 Suplementação aguda não tem efeito na
função renal
Pritchard e Kalra 1998 Suplementação foi suspensa a fim de
recuperar a filtração glomerular, observou
a normalização após 1 mês.
Kuehl et al. 1998
Parâmetros de função renal estavam normais, com exceção da Crn.
Koshy et al. 1999
Kuhel et al. 2000
Robinson et al. 2000
Edmunds et al. 2001
Barisic et al. 2002
Kreider et al. 2003
Revai et al. 2003
Causadora de nefrite intersticial aguda e
injúria tubular focal.
Não há evidências suficientes para se
afirmar que a suplementação de creatina
não prejudica a função renal
Consideraram que a suplementação de
creatina não apresentou efeitos deletérios
A creatina apresentou piora na função
renal, além de provocar progressão da
doença renal
Deterioração na função renal, acredita-se
que ocorreu devido ao curso natural da
doença
Nenhuma diferença clínica significativa
foi encontrada, em atletas submetidos a
treinamento intenso
Apresentava glomerulonefrite membranoproliferativa difusa do tipo I
Taes et al.2003
Não causa danos à função renal, mesmo
havendo doença renal pré-existente
Poortmans et al.2005
Formação de compostos citotóxicos, porém função renal é preservada
Riscos da suplementação irrestrita de creatina, principalmente em longo prazo
Quadro de insuficiência renal aguda e
nefrite intersticial aguda
Não prejudicava a função renal
Ferreira et al. 2005
Thorsteinsdottir et al.
2006
Gualano et al. 2006
Estudos envolvendo humanos não verificaram alterações
na função renal decorrentes da suplementação de creatina
[40]. Pode-se demonstrar que a suplementação levou a um
aumento na formação de metilamina e formoldeído, ambos
compostos com ação tóxica sobre os rins [41]. Neste mesmo
trabalho, os autores verificaram ainda que o aumento dos
níveis desses compostos não resultou no aumento da permeabilidade glomerular, nem em alterações da função renal.
Contudo, os estudos nesta área apresentam grandes limitações metodológicas, dentre as quais, destacam-se: falta
de aleatorização amostral e grupo controle [42], baixo poder
estatístico [43] e ausência de marcadores precisos de função
renal [44], ausência de distribuição aleatória dos grupos e
marcadores precisos para avaliação da função renal dosagens
Tipo de pesquisa
5 homens adultos saudáveis
Consumo / tempo
20g/dia por 5 dias
Homem de 25 anos com glomeruloesclerose, síndromes nefróticas,
periódicas, há 8 anos.
Jogador de futebol americano
asmático de 19 anos com uso de
albuterol
Homem de 20 anos aparentemente
saudável
Estudo retrospectivo de Poortmans et
al. 1997
5g/dia na 1ª semana +
2g/dia por 7 semanas
10g/dia por 3 meses
5 g/dia por 4 semanas
20g/dia por 5 dias
48 Homens e mulheres saudáveis,
submetidos ou não a treinamento
47 ratos Han: Sprague Dawley
(SPRD-cy)
3g/dia por 1 semana +
20g/dia por 8 semanas
2g/Kg da dieta por 7 dias
+0,48g/kg da dieta
por 35 dias
20g/dia por 12 dias +
Homem sedentário de 18 anos,
paciente sofria de insuficiência renal 5/g/dia ao por 28 meses
moderada
98 atletas profissionais de futebol
~5g/dia por 21 meses
americano
Um indivíduo de 22 anos de idade, 200g/dia cronicamente
usuário de esteróide anabólico
(metandiona)
43 ratos Wistar com insuficiência re- 2% dieta por 4 semanas
nal induzida pela remoção cirúrgica
de 2/3 do tecido renal
20 homens saudáveis
21g/d por 14 dias
36 ratos Wistar saudáveis, submetidos ou não a treinamento
Homem de 24 anos praticante de
musculação
14 homens saudáveis
2g/kg da dieta por 10
semanas
15g/semana por 6
10 g/dia 3 meses
padronizadas de creatina [41], e limitação dos resultados a
atletas de alto nível, marcadores precisos de função renal e
grupo controle [45], a falta de marcador preciso de função
renal, tratamento estatístico empregado, reduzida amostra
[43] ausência de marcadores mais precisos (padrão-ouro)
não permite maiores conclusões [46], generalizações dos
autores [44], uso de esteróides anabolizantes [47], os autores não providenciaram dados de ingestão ou excreção de
creatina [48].
Estudos clínicos avaliando possíveis efeitos da suplementação com creatina sobre o fígado ainda deixam muitas dúvidas,
não permitindo uma afirmação de que a suplementação com
creatina leva a alterações hepáticas, principalmente por se
tratar de relatos de casos e estudos retrospectivos [49,50].
204
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Estudos demonstraram que a suplementação com creatina tanto aguda quanto cronicamente, não alterou significativamente parâmetros hematológicos, hepáticos e renais,
com exceção dos níveis de albumina [40]. Entretanto, os
mesmos autores demonstraram que esses níveis, apesar de
significativamente aumentados, permaneceram dentro dos
valores de normalidade, referindo-os como resultados sem
significância clínica.
Pesquisas avaliaram os efeitos da suplementação com
creatina, em diferentes doses, e em 21 tecidos de ratos e
camundongos, geneticamente modificados ou não, após
50, 56, 150, 159 e 365 dias de suplementação com creatina
[15]. Os resultados demonstraram que a suplementação com
creatina levou ao aparecimento de um infiltrado inflamatório difuso no fígado, em ambas as espécies, geneticamente
modificados ou não. Os autores também comentaram
que nenhuma outra alteração foi encontrada nos demais
tecidos analisados e concluíram que a suplementação com
creatina, independentemente da dose induz a um quadro
de hepatotoxicidade típico de hepatite aguda. Entretanto,
a presença de pequenos e isolados focos inflamatórios no
fígado, poderiam ser mais bem classificados como alterações
hepáticas transitórias, e isoladamente não podem ser considerados como achados de grande importância clínica, ainda
mais, como no caso deste trabalho citado, no qual os autores
não mostraram nenhuma outra alteração da morfologia e
da função hepática [15,51].
Conclusão
A suplementação com creatina tornou-se popular entre
atletas. Há, porém, dúvidas sobre a relação custo-benefício
no seu uso. Portanto, são necessários estudos controlados
adicionais para elucidar seu impacto na fisiopatologia renal
e hepática, sobretudo em longo prazo.
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206
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
Normas de publicação Fisiologia do Exercício
A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação
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Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
3. Revisão
Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas
à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar
ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas
técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de
um artigo de revisão.
5. Relato ou estudo de caso
São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo,
idade e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições
de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados
em Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
7. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
8. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista.
Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados,
será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar
a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte
maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12,
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e
com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos
devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e
bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do
resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words).
O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete,
CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em
mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e
identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do
artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe,
aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública
do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise
e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão
crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c)
a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão
ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A
participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta
de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores
durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o
total de autores exceder seis.
4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para
os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol.
207
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e
estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior
novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave
para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar
os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências
da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no
endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do
possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro
e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as
referências, em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico),
ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano
da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es),
letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto.
Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação
seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois
pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas
ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com
o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site
da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser
citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and
localization of urokinase-type plasminogen activator receptor
in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
Guillermina Arias - E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010
208
Calendário de eventos
2010
4 a 6 de novembro
Congresso Científico Internacional de Educação Física,
Esporte, Saúde e Educação do Triângulo Mineiro (CIEF)
Uberaba, MG
Informações: www.uftm.edu.br/cief/
5 e 6 de novembro
2º Simpósio Paulista de Atividade Física e Saúde
6ª Jornada Santista de Treinamento de Força
ACM, Rua Nestor Pestana, São Paulo, SP
Informações: (11) 5514-1427, informaluiz.com.br, infocc.com.
br
5 a 7 novembro
14º SIAFIs RJ – Simpósio Internacional de Atividades
Físicas do Rio de Janeiro
Auditório da Escola Naval - R. Almirante Silvio Noronha, s/n,
Castelo, Rio de Janeiro, RJ
Informações: (021) 2586-2279 / www.siafisrj.com.br
6 e 7 de novembro
Biomecânica Funcional Aplicada
Auditório do Barretos Country Hotel, Barretos, SP
Informações: (17) 8119-7554 / 3322-3655 / tarcisioveiga@
hotmail.com
10 a 12 de novembro
Doping Conference 2010
Institute of Exercise and Sport Sciences, University of
Copenhagen, Dinamarca
Informações: www.ifi.ku.dk/english/communication/
dopingconference2010/
17 a 20 de novembro
2010 Sport and Development Conference
Cape Town, South Africa
Informações: [email protected]
26 a 27 de novembro
6th Meeting of the Transnational Working Group for the
Study of Gender and Sport
Bath, Inglaterra
Informações: [email protected]
19 a 21 de novembro
Wellness Curitiba 2010
Expotrade Convention Center, Curitiba, PR
Informações: www.fitnessbrasil.com.br
19 e 20 de novembro
Congresso Paraolímpico Brasileiro
Centro de Convenções da UNICAMP, Campinas, SP
Informações: (19) 3521-6755, www.fef.unicamp.br/cpb2010
26 a 27 de novembro
6th Meeting of the Transnational Working Group for the
Study of Gender and Sport
Bath, Inglaterra
Informações: [email protected]
2 a 4 de dezembro
Youth Sport 2010
Faculty of Sport of University of Ljubljana, Slovenia
Informações: www.youthsport2010.si
2 a 4 de dezembro
6th ICCE Continental Coach Conference
Arnhem, Netherlands
Informações: www.sportsmedia.nl
3 a 5 de dezembro
Encontro dos Docentes de Educação Física e Esportes
Adaptados
Porto Alegre, RS
Informações: (34) 3218-2953 / [email protected] / www.
cefep.faefi.ufu.br
2011
13 a 15 de janeiro
FIVB Volleyball Medicine Congress 2011
Bled, Slovenia
Informações: www.fivbmedicine2011.org
15 a 19 de janeiro
26º. Congresso Internacional de Educação Física (FIEP)
Foz do Iguaçu, PR
Informações: www.congressofiep.com
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Índice
volume 9 número 4 - outubro/dezembro 2010
EDITORIAL
Ruy Jornada Krebs: in memoriam, Paulo Farinatti ..........................................................................................................211
ARTIGOS ORIGINAIS
Avaliação da perda hídrica de praticantes de atividade física de duas modalidades
diferentes de uma academia de São Paulo, Daniela D’Amico Silvestre de Castro,
Bruna Barbosa Aires, Raquel Bicudo Mendonça, Renata Furlan Viebig .............................................................................212
Análise histomorfométrica do músculo esquelético de ratas suplementadas
com L-arginina, Rodrigo Rodrigues Marcondes, Lívia Mara Alves Figueiredo,
Jairo José Matozinho Cubas, Manuel de Jesus Simões, Vinícius Cestari do Amaral ............................................................216
A influência de diferentes cadências e intensidades de exercício sobre as respostas
da frequência cardíaca e da percepção subjetiva de esforço em ciclistas, Mateus Rossato,
Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo, Antônio Renato Pereira Moro, Talita Grossl,
Juliano Fernandes da Silva .................................................................................................................................................220
Intensidade auto selecionada, percepção subjetiva de esforço e tempo sob tensão
no treinamento resistido em adolescentes, Ramires Alsamir Tibana,
Dahan da Cunha Nascimento, Otávio Vanni, Sandor Balsamo ..........................................................................................226
Diferença de rendimento entre meninos e meninas handebolistas que fazem
treinamento de força, José Bechara Neto, Fabiana Cristina Magalhães Belisário,
Paulo Henrique Correa de Oliveira ....................................................................................................................................230
Treinamento elíptico em hemiparéticos crônicos pós-AVC, Eliz Karoliny Rosa,
Suzana Gomes, Simone Suzuki Woellner, Antônio Vinicius Soares ....................................................................................233
Avaliação da qualidade de vida dos tenistas amadores de Joinville, Marcelo Luiz Oliveira Weber,
Gelson André Maldaner ....................................................................................................................................................239
REVISÕES
Uso de dietas restritivas e suplementos nutricionais em academias,
Luiza Marly Freitas de Cravalho, Ana Luisa Nascimento Albuquerque, Camila Batista Silva .............................................245
Os efeitos do treinamento de musculação com cargas baixas e oclusão vascular na hipertrofia e força,
William Couto, Cintia Martins, Fabio Henrique Ornellas, Francisco Navarro, Rafaela Liberali .........................................252
Exercícios físicos e fatores de risco cardiovascular, Priscilla Rosa Queiroz Ribeiro,
David Michel de Oliveira ..................................................................................................................................................260
ATUALIZAÇÃO
Esteroides anabolizantes: história, mecanismos de funcionamento e efeitos colaterais,
Fábio Eduardo de Almeida ................................................................................................................................................266
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 270
EVENTOS ............................................................................................................................................................... 272
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
210
R e v i s t a
B r a s i l e i r a
d e
FISIOLOGIA
DO
EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti
Editor Associado
Pedro Paulo da Silva Soares
Walace Monteiro
Conselho Editorial
Luiz Fernando Kruel (RS)
Amandio Rihan Geraldes (AL)
Martim Bottaro (DF)
Antonio Carlos Gomes (PR)
Patrícia Chakour Brum (SP)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ)
Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Benedito Sérgio Denadai (SP)
Robert Robergs (EUA)
Dartagnan Pinto Guedes (PR)
Rosane Rosendo (SC)
Douglas S. Brooks (EUA)
Sebastião Gobbi (SP)
Emerson Silami Garcia (MG)
Steven Fleck (EUA)
Francisco Martins (PB)
Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Francisco Navarro (SP)
Vilmar Baldissera (SP)
Luiz Carnevali (SP)
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID
(Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva)
Atlântica Editora
e Shalon Representações
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estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou
do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
211
Editorial
Ruy Jornada Krebs: in memoriam
Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx
Dedicamos o presente editorial ao professor Ruy Jornada
Krebs, falecido no último dia 11 de dezembro, aos 62 anos.
Amigo de longa data, o professor Ruy Krebs deixa muitas
saudades no plano pessoal. Ao mesmo tempo, a Educação
Física brasileira e a Psicologia do Esporte perdem uma de
suas maiores lideranças.
O Professor Ruy Krebs atuava ultimamente como docente
da Universidade de Santa Catarina, tendo se aposentado como
Professor Titular pela Universidade Federal de Santa Maria. Graduado em Educação Física pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (1969), possuía os títulos de Mestre
em Educação Física pela Universidade de Iowa (1980) e em
Administração Esportiva pela Universidade do Novo México
(1986), Doutor em Educação Física igualmente pela Universidade do Novo México (1987) e Pós-Doutorado em Desenvolvimento Motor pela Universidade de Indiana (1994). Foi
presidente da Sociedade Brasileira de Comportamento Motor
e membro do Managing Council da International Society of
Sport Psychology, tendo sido homenageado pela Fédération
Internationale d’Education Physique (FIEP) como um dos dez
Grandes Pensadores da Educação Física Brasileira.
O professor Ruy Krebs atuava em projetos diversos, cuja
ênfase girava predominantemente em torno das temáticas
do desenvolvimento e aprendizagem motora. Discutia com
profundidade problemas relacionados à seleção de talentos
desportivos, psicologia do desporto, jogos e brincadeiras
populares e educação física escolar. Com isso, era presença
constante em congressos nacionais e internacionais.
Sempre simpático a novas idéias e desafios, o professor Ruy
Krebs foi um dos primeiros a aceitar convite para participar
do I Encontro Brasileiro de Fisiologia do Exercício, realizado
em 2002 no Rio de Janeiro. Ao longo daquele evento, foi um
dos maiores estimuladores e membro fundador da Sociedade
Brasileira de Fisiologia do Exercício (SBFEX), tendo sido
desde sempre membro do corpo editorial da RBFEx.
Por isso, dedicamos esse Editorial à memória do professor
Ruy Krebs. Agradecemos profundamente pelo legado que
deixou e relembramos com carinho os momentos em que pudemos conviver. Você fará falta, professor, obrigado por tudo!
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
212
Artigo original
Avaliação da perda hídrica de praticantes
de atividade física de duas modalidades diferentes
de uma academia de São Paulo
Evaluation of water loss in participants in two different fitness modalities
in academy of São Paulo
Daniela D’Amico Silvestre de Castro*, Bruna Barbosa Aires**, Raquel Bicudo Mendonça, M.Sc.***,
Renata Furlan Viebig, M.Sc.****
*Nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo, Nutricionista autônoma, **Nutricionista graduada pelo Centro
Universitário São Camilo, Nutricionista autônoma, prestadora de serviços à academia ADPM Falcão Azul, ***Nutricionista, graduada pela universidade estadual paulista, especialista em fisiologia do exercício pela UNIFESP, Nutricionista autônoma,
****Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica e Dietoterapia, Doutoranda do Departamento de Medicina Preventiva da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Docente dos Cursos de Graduação em Nutrição do Centro Universitário São
Camilo São Paulo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Resumo
Abstract
Este estudo teve por objetivo calcular a perda percentual hídrica
e a taxa de sudorese de praticantes de atividade física de uma academia de São Paulo. Foram avaliadas 17 praticantes todas do sexo
feminino com idade entre 20 e 50 anos, frequentadoras das aulas de
Jump e Spinning, com 40 minutos de duração. As praticantes foram
pesadas em uma balança digital, antes e após a aula. Foi entregue
um questionário de hidratação com 8 questões. Os resultados mostraram que, em relação à taxa de sudorese, a média encontrada na
aula de Jump foi de 6,7 mL/min e na aula de Spinning 4,4 mL/min.
O sintoma mais citado foi à fadiga pós-exercício (47,1%). Através
do questionário aplicado notamos que a maioria (82,4%) beberia
água naquele momento e (52,9%) não apresentaram sensação de
boca seca. Caso as aulas fossem prolongadas, algumas das praticantes
poderiam entrar em estado de desidratação, podendo chegar a uma
desidratação grave.
The aim of this study was to calculate the percentage of water
loss and sweating rate of of participants of a fitness academy in São
Paulo. 17 female participants were evaluated, 20 to 50 years old,
attending jump and spinning sessions for 40 minutes/session. The
participants were weighed using a digital scale, before and after the
session. A questionnaire of hydration with 8 questions was used.
The results showed that, in relation to the sweating rate, the average
found in the jump class was 6.7 mL/min and in the spinning class
4.4 mL/min. The fatigue after exercise was one of the most common
symptoms cited (47.1%). We noticed through the questionnaire
that most of the participants (82.4%) would drink water at that
time and 52.9% did not feel dry mouth sensation. If the sessions
were extended, some participants could get dehydration or severe
dehydration.
Key-words: sweating, fluid therapy, dehydration, motor activity.
Palavras-chave: sudorese, hidratação, atividade motora.
Recebido em 11 de outubro de 2010; aceito em 3 de dezembro de 2010.
Endereço para correspondência: Daniela D´Amico Silvestre de Castro, Rua Alameda dos Papagaios, 320, 07600-000 Mairiporã SP,
Tel: (11) 4485-5643, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
Introdução
Para que todos os participantes de aulas realizadas em academias de ginástica estejam bem e consigam manter um ritmo
bom e contínuo, existem alguns fatores que são fundamentais:
dentre eles, a hidratação e o correto consumo energético, pois
o gasto energético é alto e a perda hídrica, principalmente pelo
suor, é elevada. A água perfaz 40 a 60% da massa corporal de
um indivíduo e está distribuída em tecidos, órgãos e sangue.
Para um bom funcionamento de todo o metabolismo corporal
é necessário um estado de euhidratação, pois a água participa
de praticamente todos os processos metabólicos do corpo,
sejam esses anabólicos ou catabólico [1].
A prática de exercício físico proporciona o aumento
da sudorese, o que pode levar o organismo a uma desidratação,
com aumento da osmolalidade e da concentração de sódio no
plasma, e como grande parte da água perdida pela transpiração é proveniente do plasma sanguíneo, ocorre diminuição
do volume plasmático e na capacidade de trabalho, já que o
fluxo sanguíneo tem que ser mantido para suprir o oxigênio
e substratos aos músculos e dissipar o calor pela superfície da
pele [2,3].
A desidratação pode comprometer o desempenho durante o exercício e aumentar os riscos associados ao esforço
e ao calor. Além disso, segundo a National Athletic Trainer’s
Association, os indivíduos não ingerem voluntariamente água
suficiente para prevenir a desidratação durante uma atividade
física. Recomendações sobre a hidratação têm sido propostas
em consensos internacionais com o intuito de minimizar os
efeitos negativos das perdas hídricas sobre as respostas fisiológicas ao exercício [2].
Durante a prática de atividade física, com uma perda hídrica entre 1 a 2% em relação ao peso corporal, inicia-se um
aumento na temperatura corporal considerável; em torno de
3% de desidratação, há uma redução importante no desempenho, com 4 a 6% pode ocorrer fadiga térmica e a partir de
6% ocorre risco de choque térmico, coma e morte [3].
Dessa forma, a melhor advertência que pode ser dada em
relação à prática de exercícios, especialmente no calor, é a ingestão de líquidos antes, durante e depois da atividade física.
Em seres humanos isto é uma alteração mais comportamental
que fisiológica, pois a resposta da sede é menos desenvolvida.
Quando estamos com sede durante o exercício, já nos tornamos pelo menos parcialmente desidratados. Também, a menos
que um esforço consciente para a reidratação seja feito, a sede
será responsável por apenas uma fração da bebida necessária
para uma reposição suficiente de líquidos [1].
Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte
[4], para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado, recomenda-se que ele beba cerca de 250 a 500 mL
de água duas horas antes do exercício. Durante o exercício
recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos
e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos. O volume a ser
ingerido varia conforme as taxas de sudorese, na faixa de 500
213
a 2.000 mL/hora. A bebida deve estar numa temperatura em
torno de 15 a 22C° e apresentar um sabor de acordo com a
preferência do indivíduo. Após o exercício, deve-se continuar
ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de
água pela urina e sudorese.
Poucas pesquisas têm sido realizadas com foco na perda
hídrica de praticantes de atividade física em academias. Dessa forma, é de suma importância a elaboração de trabalhos
referentes à perda e à reposição hídrica, bem como à taxa de
sudorese destes indivíduos, para o conhecimento dos efeitos
nocivos da desidratação e a necessidade de reposição hídrica
durante o exercício físico.
O presente estudo teve como objetivo calcular a perda
percentual hídrica e a taxa de sudorese de praticantes de
atividade física de uma academia de São Paulo.
Material e métodos
Desenho do estudo
Estudo transversal realizado com praticantes adultos de
atividade física de uma academia localizada na zona norte da
cidade de São Paulo.
População do estudo e amostra
A amostra foi constituída de 17 praticantes de atividade
física que frequentavam as aulas de Jump e Spinning, todas do
sexo feminino e com idade entre 20 e 50 anos.
Procedimentos
As desportistas foram avaliadas em aulas habituais de
Jump e Spinning, ambas com duração de 40 minutos. As
praticantes foram pesadas em uma balança digital da marca
Britânia®, antes da aula (Pi = Peso inicial) e após a aula (Pf =
Peso final). A partir destes valores foram estimados a perda
de peso, em gramas, além do percentual de perda de peso e
da taxa de sudorese (TS) das praticantes. A taxa de sudorese
foi calculada através da fórmula: TS = [(Pi – Pf ) x 1000] /
tempo total de atividade física.
Além disso, foi perguntado às praticantes por meio de um
questionário de hidratação com 8 questões sobre hidratação,
se “Houve a ingestão de líquidos antes e durante a aula?”, se
“Sentiram alguns sintomas durante e a após a aula?”, para
avaliar a ingestão hídrica de cada uma delas. Os principais
sintomas e respostas relatados foram registrados e tabulados,
sendo estimadas as distribuições percentuais.
Aspectos éticos
O presente estudo faz parte de um projeto maior submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (Coep) do Centro
Universitário São Camilo e aprovado sob o número 093/06.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
214
Resultados
a fadiga pós-exercício (47,1%, n = 8), sendo que todas estas
tinham praticado musculação antes das aulas.
Foram avaliadas 17 praticantes de atividade física, as
quais apresentaram idade medida de 35 anos (dp = 4,76),
sendo que 70,6 % (n = 12) praticavam Jump e 29,4 % (n =
5) praticavam Spinning. Apenas 6 participantes não haviam
praticado musculação antes das aulas.
A Tabela I mostra os resultados obtidos para a avaliação do
estado de hidratação e perda hídrica das desportistas durante
a aula habitual. São apresentados a porcentagem da perda de
peso, a taxa de sudorese e os sintomas relatados após a aula.
Na Tabela I é possível observar que de todas as mulheres
avaliadas, apenas 2 não tiveram alteração de peso durante o
exercício e 3 apresentaram leve ganho de peso (100 g). Assim,
a maior parte das praticantes 70,6% (n = 12) perdeu peso
durante as aulas. A perda de peso média em gramas foi de
300 g, sendo que na aula de Jump a perda média foi 28%,
superior (322 g) àquela apresentada na aula de Spinning (233
g). Entretanto, apenas uma praticante apresentou uma perda
de peso percentual de 1% em relação ao seu peso inicial.
Em relação à taxa de sudorese (TS) a média encontrada
na aula de Jump foi de 6,7 mL/min e na aula de Spinning
4,4 mL/min, desconsiderando aqueles que obtiveram um
aumento de peso gerando uma TS negativa.
Através do questionário, aplicado após as aulas, notamos
que 70,6% apresentaram sede e 82,4% disseram que beberiam
água naquele momento. Além disso, 52,9% não apresentaram
sensação de boca seca e 64,7% não estavam com vontade de
comer (Tabela II). O sintoma mais citado pelas mulheres foi
Discussão
A quantidade de perda hídrica corporal através do suor
é dependente da intensidade do exercício, duração, propriedades e quantidade de vestimentas. A redução no peso
corporal como indicador da perda hídrica é uma das melhores
avaliações [5]. Neste trabalho, apesar das atividades terem tido
duração menor do que sessenta minutos, os participantes
tiveram perda de peso média considerável de 300 g. Em um
estudo com atletas de karatê, em um treino com duração de
4 horas, observou-se perda de peso de 800 gramas [6]. Já no
estudo de Vimieiro-Gomes & Rogrigues [7] com atletas de
vôlei, a perda de peso encontrada em um treino com mais ou
menos duas horas de duração foi de 100 g a 2,3 Kg.
Verificou-se também, em nosso estudo, que 11,8% das
praticantes obtiveram um ganho de peso, o que pode ser
explicado pelos tipos de vestimentas utilizadas. Para que isso
não ocorra, o ideal seria padronizar as roupas das praticantes
no momento da pesagem.
As diferenças no percentual de gordura corporal podem
estar diretamente relacionadas ao aumento da intensidade de
treinamento e práticas dietéticas mais favoráveis pelos atletas
[5]. Conforme a porcentagem da perda de peso apresentada
pelas desportistas de nosso estudo, apenas 5,9% perderam
mais do que 1% de seu peso corporal durante a atividade, o
qual é o valor considerado como início de desidratação [3].
Tabela I - Resultados relativos à análise da perda hídrica durante uma aula habitual de mulheres praticantes de Jump e Spinning. São Paulo,
2010.
Idade
Peso Inicial
(PI) Kg
Peso Final
(Pf) Kg
*1
*2
*3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
26
34
34
27
28
36
50
48
23
41
47
35
75,4
55,6
59,5
67,6
65,6
69,9
76,3
60,3
65,2
58,6
49,8
66,4
75,0
55,4
59,2
67,7
65,6
69,6
75,9
59,9
65,3
58,5
49,3
66,1
13
*14
15
*16
*17
21
32
23
47
41
62,4
72,1
52,7
72,1
60,2
62,0
72,0
52,8
72,1
60,0
Nome
*Não praticaram nenhuma atividade antes da aula.
Perda de
peso (g)
Jump
0,4
400
0,2
200
0,3
300
-0,1
+100
0,3
300
0,4
400
0,4
400
-0,1
+ 100
0,1
100
0,5
500
0,3
300
Spinning
0,4
400
0,1
100
-0,1
+100
0,2
200
PI-PF
% perda de
peso
Taxa de
sudorese
Sintomas pós
exercício
0,5
0,4
0,5
0,4
0,5
0,7
0,2
1,0
0,5
10
5
5
-2,5
7,5
10
10
-2,5
2,5
12,5
7,5
----------------------------------------Fadiga
Fadiga
----------Fadiga
----------Fadiga
Fadiga
Fadiga
0,6
0,1
0,3
10
2,5
-2,5
5
Fadiga
Fadiga
-------------------------------
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
Entretanto, pesquisadores sugerem que mesmo uma
pequena desidratação, perda de 1% do peso corporal, pode
causar um aumento na pressão cardiovascular, dificultar as
respostas fisiológicas de termorregulação e de rendimento [1].
Da mesma forma que com relação ao percentual de perda
de peso, a taxa de sudorese (TS) observada em nossa população
pode ser considerada elevada se comparada a outros estudos.
Um estudo no qual foi avaliada a TS em jogadores de futebol,
em um treino com duração de 60 min, a média foi de 8,8
± 6,6 mL/min, o que não difere muito do nosso estudo, no
qual a média da TS encontrada foi de 4,7 mL/min [3]. Já
quando comparamos nossos resultados com outra pesquisa
com atletas de Rugby do sexo masculino, a TS encontrada foi
de 26,6 a 36,7 mL/min, um valor superior ao encontrado em
nosso estudo (0mLmin a 12,5 mL/min). O tempo de treino
com os atletas de Rugby foi de 120 min e o dos desportistas
da academia foi de 40 min, considerando essa duração a TS
encontrada em nosso estudo parece ter sido relevante [5].
Acreditamos que os resultados relativos à perda de peso, ao
percentual de gordura e a taxa de sudorese sofreriam alterações
caso o tempo de duração do exercício fosse maior, podendo
alcançar níveis mais elevados caracterizando um início de
desidratação ou uma desidratação moderada a grave.
Em relação à sensação de boca seca, em seu estudo, Kenney [8] explica que só há forte sensação de sede, boca seca
e diminuição do apetite quando ocorre uma perda de peso
corporal superior a 2%, não ocorrendo nos praticantes do
nosso estudo. A maioria dos praticantes que realizaram outro
tipo de atividade antes das aulas relatou apresentar fadiga.
Em um estudo com atletas de Mountain Bike os principais
sintomas relatados foram de sensação de perda de força, câimbras e sede muito intensa, estes se relacionam diretamente com
hidratação e reposição energética [9]. Já no estudo de Brito,
Marins [10] com judocas, 20,29% relataram dificuldade de
concentração, um fator em que os treinadores devem prestar
bastante atenção, pois esta manifestação está relacionada a
uma desidratação superior a 5%, interferindo significativamente na performance do atleta.
Conclusão
Em nosso estudo foi possível estimar a TS e a perda percentual hídrica de praticantes da aula de Jump e Spinning,
de uma academia paulistana. Devido aos estudos escassos na
área, não encontramos dados semelhantes a serem comparados
com nossos resultados.
215
Observamos que os resultados encontrados foram relevantes, pois caso as aulas praticadas fossem prolongadas, algumas
das praticantes poderiam entrar em estado de desidratação,
podendo chegar a uma desidratação grave.
Por fim, constatamos que é de suma importância o papel
do nutricionista nas academias, para que assim possa orientar adequadamente os praticantes não somente em relação
à alimentação, mas também a hidratação adequada, pré,
durante e pós as aulas, evitando assim as consequências que
esta pode causar.
Referências
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Karatê. Rev Bras Ciênc Mov 2007;15(3):39-46.
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de hidratação dos atletas, estresse térmico do ambiente e custo
calórico do exercício durante sessões de treinamento em voleibol
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8. Kenney WL. Thermoregulation at rest and during exercise in
health older adults. Sports Sci 1997;25:41-76.
9. Cruz MAE, Cabral CAC, Marins JCB. Nível de conhecimento
e hábitos de hidratação dos atletas de mountain bike. Fitness
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10. Brito CJ, Marins JCB. Caracterização das práticas sobre hidratação em atletas da modalidade de judô no estado de Minas
Gerais. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13(2):59-74.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
216
Artigo original
Análise histomorfométrica do músculo esquelético
de ratas suplementadas com L-arginina
Histomorphometric analysis of the skeletal muscle of female rats
supplemented with L-arginine
Rodrigo Rodrigues Marcondes*, Lívia Mara Alves Figueiredo*, Jairo José Matozinho Cubas**, Manuel de Jesus Simões***,
Vinícius Cestari do Amaral****
*Alunos de iniciação científica da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, **Professor Adjunto da Faculdade Unida de
Suzano – UNISUZ, ***Chefe da Disciplina de Histologia e Biologia Estrutural da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP,
****Pós-graduando da Disciplina de Ginecologia (LIM 58) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi analisar o efeito da suplementação
de L-arginina no tecido muscular esquelético de ratas. Foram
utilizadas oito ratas divididas em dois grupos, com quatro animais
cada, sendo: grupo I (GI), suplementado com L-arginina; grupo
II (GII), controle. Os animais do GI foram suplementados com
L-arginina por meio de gavagem por 30 dias. Após esse período, os
animais foram sacrificados e o músculo gastrocnêmio foi retirado,
fixado em formol a 10% e submetido a montagem das lâminas com
a coloração de hematoxilina e eosina. As lâminas foram analisadas
por microscopia óptica e as imagens destas foram capturadas em
um sistema de análise de imagens. No sistema de análise de imagens
foram mensuradas as circunferências das células musculares esqueléticas e os dados destas mensurações foram analisados estatisticamente
pelo teste T student. Os resultados revelaram que houve aumento da
circunferência das células musculares esqueléticas das ratas do GI
em relação ao GII. Assim, a média de circunferência do GI foi 2069
± 32,98 μm2 e a média de circunferência do GII foi 1096 ± 17,41
μm2. Esta diferença foi estatisticamente significativa (p < 0,0001).
Conclui-se que a suplementação com L-arginina promove aumento
significativo da massa muscular de ratas.
The aim of this study was to analyze the effects of L-arginine
supplementation in skeletal muscle tissue of female rats. Eight rats
divided into two groups were used, containing four animals each,
as follows: group I (GI), supplemented with L-arginine; group II
(GII), control. The animals of the GI were supplemented with Larginine, by gavage, for 30 days. Later, the animals were sacrificed
and the gastrocnemius muscle was removed, fixed in formaldehyde
10% and submitted to haematoxylin and eosin staining. Glass
slides were analyzed by optical microscopy and their images were
captured in a picture analysis system. In the picture analysis system,
the circumferences of the skeletal muscle cells were measured and
these data were analyzed statistically by the T student test. The
results revealed that there was an increase in circumference of the
rat’s skeletal muscle, being the circumferences of the GI muscle cells
bigger than GII. So the GI circumference mean was 2069 ± 32,98
μm2 and the GII circumference mean was 1096 ± 17.41 μm2. This
difference was statistically significant (p < 0.0001). It was concluded
that the supplementation with L-arginine promotes a significant
increase in muscle mass of the female rats.
Palavras-chave: arginina, óxido nítrico, morfologia, músculo
gastrocnêmio.
Key-words: arginine, nitric oxide, morphology, gastrocnemius
muscle.
Recebido em 2 de setembro de 2010; aceito em 12 de novembro de 2010.
Endereço para correspondência: Rodrigo Rodrigues Marcondes, Estrada da Grama, P-1891, Bairro da Grama 08970-000 Salesópolis
SP, Tel: (11) 7313-7907, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
217
Introdução
Procedimento
A L-arginina é um aminoácido semi-essencial extremamente versátil, presente em uma grande diversidade de processos fisiológicos [1]. Dentre esses processos, a síntese do óxido
nítrico (NO) é atribuída como uma das mais importantes
funções do metabolismo da L-arginina [2].
A enzima óxido nítrico sintase (NOS) catalisa a reação
bioquímica que dá origem ao NO [3], de modo que todas
as isoformas da NOS estão presentes no tecido muscular
esquelético [4]. O NO tem sido descrito como o mais potente vasodilatador endógeno [5] e, em estudos com animais,
demonstrou-se que a ingestão de L-arginina melhora a vasodilatação dependente do endotélio [6,7].
Recentemente, a melhora do desempenho físico tem sido
relacionada com a suplementação com L-arginina [8], sendo
que isto pode ocorrer de três modos: pelo papel deste composto na indução de secreção do hormônio de crescimento;
através do seu envolvimento na síntese de creatina; e por ser
a molécula precursora do NO [9,10].
Além disso, os aminoácidos em geral são conhecidos como
potentes estimuladores da síntese proteica muscular, porém
tem sido sugerido que a L-arginina, em especial, possui um
papel anabólico muscular privilegiado [11]. Em vista disso, o
objetivo deste estudo foi verificar o efeito da suplementação
oral de L-arginina na massa muscular de ratas, por meio de
análise histomorfométrica.
Os animais foram confinados em gaiolas plásticas com
medidas de 45 x 35 x 15 cm, de comprimento, largura e
altura, respectivamente, com tampa de metal gradeada. As 8
ratas foram mantidas em duas gaiolas plásticas, de modo que
cada gaiola apresentasse 4 ratas, com a temperatura ambiente
a 22º C e iluminação artificial com lâmpadas fluorescentes,
mantendo-se o período de iluminação de 12 horas intercalado
com o período escuro de 12 horas, considerando o período
de iluminação das 7:00 às 19:00 h.
Após o período de 30 dias, os animais foram submetidos
à eutanásia e o músculo gastrocnêmio de cada animal foi retirado e submetido a técnicas histológicas para montagem das
lâminas com a coloração de hematoxilina e eosina (H. E.), de
modo que para cada animal foi confeccionada uma lâmina.
As lâminas foram analisadas morfológica e histomorfometricamente por meio microscópio de luz (modelo Axiolab
Standart 20, Carl Zeiss), com aumento de 400x.
Material e métodos
Animais
O projeto de pesquisa foi inicialmente enviado ao Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo
(CEP - UNIFESP) e, após a aprovação deste (CEP 0986/07),
deu-se início ao experimento. Para este experimento foram
utilizadas 8 ratas adultas (Rattus norvegicus albinus), com
aproximadamente 3 meses de idade e peso médio de 250 g,
sendo estas fornecidas pelo Centro de Desenvolvimento de
Modelos de Experimentação (CEDEME) da UNIFESP. Os
animais foram divididos em dois grupos: o grupo I (GI) foi
submetido à suplementação com L-arginina e o grupo II (GII)
serviu como controle.
Histomorfometria
A análise histomorfométrica foi realizada por meio de um
microscópio de luz (Axiolab Standart 20) acoplado a uma
câmera de vídeo colorida (modelo Hyper Had SSC-DC 54,
Sony) que transmite a imagem para um computador, dotado
de um software de análise gráfica (Imagelab, Softium) instalado em sistema operacional Windows XP.
Para a mensuração da circunferência das células musculares
foram escolhidos e fotografados feixes musculares encontrados em quatro quadrantes diferentes de cada lâmina. Foram
mensuradas 50 células por lâmina, o que compôs um total
de 200 células mensuradas para cada grupo de estudo. As
circunferências foram mensuradas somente em células com
contorno sarcolêmico totalmente visível.
Análise estatística
Após o cálculo da média do total de mensurações da circunferência das células musculares das ratas do grupo I e grupo
II, foi visto a significância estatística entre os valores das mensurações dos grupos experimentais pelo teste T-student não
pareado, com valor de significância estipulado em p < 0,05.
Protocolo de gavagem
Resultados
A solução era composta por 1 g de L-arginina (Sigma)
dissolvida em 5 ml de água filtrada. Esta solução foi administrada 1 vez ao dia por 30 dias consecutivos, entre as
15:00 e 17:00 h. Este protocolo foi adaptado de Penaforte
et al. [12].
Análise morfológica
No aumento de 400x, ambos os grupos apresentaram células musculares com aspecto normal, multinucleadas, núcleos
periféricos, com espaço normal do perimísio e endomísio.
Porém, nota-se maior espessura das células musculares das
ratas suplementadas com L-arginina (Figura 1) em relação
às células do grupo controle (Figura 2).
218
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
Figura 1 - Fotomicrografia do tecido muscular esquelético de rata
suplementada com L-arginina (aumento de 400x).
L-arginina associado à ingestão de vitamina C na massa e
força muscular durante um programa de treinamento com
pesos. 10 indivíduos que participaram desse estudo foram
submetidos à suplementação oral de L-arginina por oito semanas e exercícios com pesos 3 vezes por semana, de modo
que o grupo controle, composto também por 10 indivíduos,
seguiu o mesmo protocolo de exercícios. Ao final da pesquisa
notou-se que o grupo suplementado com este aminoácido
apresentou aumento significativo da massa muscular.
Figura 3 - Média da circunferência das células musculares esqueléticas das ratas dos grupos I e II.
2500
Histomorfometria do tecido
muscular esquelético
2000
1500
μm2
Figura 2 - Fotomicrografia do tecido muscular esquelético de rata
do grupo controle (aumento de 400x.)
1000
500
0
Controle
L-arginina
Grupos
Análise histomorfométrica do tecido muscular
esquelético
A média das mensurações da circunferência das células
musculares esqueléticas das ratas do grupo I (suplementadas
com L-arginina) foi de 2069 ± 32,98 μm2. Já a média das
mensurações das células musculares das ratas do grupo II
(controle) 1096 ± 17,41 μm2 (Figura 3). Os resultados comparados pelo teste T-student não pareado demonstram haver
diferença estatisticamente significativa entre as mensurações
das células musculares do grupo I e II (p < 0,0001).
Discussão
No presente trabalho, a circunferência das células musculares do grupo de ratas suplementadas com L-arginina
apresentarem-se maior em relação ao grupo controle, sendo
demonstrada diferença significativa entre os grupos experimentais. Este resultado corrobora com o estudo de Angeli
et al. [13], que analisou os efeitos da suplementação oral de
Borsheim et al. [11] estudaram o efeito da suplementação
de aminoácidos essenciais junto com a arginina e execução
de exercícios físicos na massa muscular, na força e na função
física de idosos. Notou-se que, após o período de 16 semanas,
houve ganho significativo de massa muscular em resposta a
suplementação e exercícios.
Um estudo feito com porcos por Tan et al. [14], no qual
foi analisado o efeito da suplementação de L-arginina por 60
dias em 24 animais, foi constatado o aumento significante da
massa muscular desses animais.
Já Suzuki [15] observou no seu experimento com 28 ratas
que, após 6 semanas de suplementação em associação com
exercícios de resistência, houve aumento de forma significativa
da massa dos músculos posteriores das pernas.
Na literatura há diversos protocolos de administração de
L-arginina analisando seus efeitos no músculo esquelético,
porém, na maioria desses protocolos, o uso da L-arginina é
associado com o exercício físico, o que faz carecer as provas
de que somente o efeito da L-arginina sem a execução de
exercícios físicos associados promove alguma alteração na
musculatura esquelética. Além disso, há escassez de estudos
relacionados à histomorfometria do músculo esquelético após
a suplementação com L-arginina, sendo a maioria dos estudos composta por análises macroscópicas, onde a histologia
muscular não é estudada.
Por outro lado, sabe-se que a suplementação de determinados compostos ergogênicos pode causar efeitos adversos,
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
principalmente quando este ato não é orientado por um
médico [10]. Devido a isso, são necessários novos estudos
visando analisar o efeito da suplementação de L-arginina
em outros órgãos, para esclarecer se há ou não algum efeito
maléfico após a suplementação com este composto.
Conclusão
Em conclusão, foi demonstrado que a suplementação
com L-arginina por 30 dias consecutivos promove aumento
estatisticamente significativo da circunferência das células
musculares esqueléticas de ratas.
Agradecimentos
Agradeço ao apoio técnico das pessoas da Disciplina de
Histologia e Biologia Estrutural da UNIFESP e demais apoios:
Pedro Sampaio Amorim, acadêmico do curso de estatística
(IME - USP), Dra. Kátia Cândido Carvalho, pesquisadora do
Laboratório de Ginecologia Estrutural e Molecular - FMUSP,
e David Larronda, pelo auxílio no idioma espanhol.
Referências
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2006;83(Suppl):508S-12S.
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as concentrações in vivo de metabólitos do sangue e em retalho
miocutâneo contendo cicatriz cirúrgica em ratos Wistar. Rev
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13. Angeli G, Barros TL, Barros DFL, Lima M. Investigação dos
efeitos da suplementação oral de arginina no aumento de força
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15. Suzuki J. Microvascular angioadaptation after endurance training with L-arginine supplementation in rat heart and hindleg
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
220
Artigo original
A influência de diferentes cadências e intensidades
de exercício sobre as respostas da frequência cardíaca
e da percepção subjetiva de esforço em ciclistas
The influence of different cadences and exercise intensities on heart
rate responses and rating of perceived exertion in cyclists
Mateus Rossato, M.Sc.*, Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo, D.Sc.**, Antônio Renato Pereira Moro, D.Sc.**,
Talita Grossl***, Juliano Fernandes da Silva, M.Sc.****
*Professor FEFF/UFAM, **Professores CDS/UFSC, ***Aluna PPGEF/CDS/UFSC, ****Professor CEFID/UDESC
Resumo
Abstract
Em períodos de treinos e competições, os ciclistas utilizam
cadências que não apresentam a maior economia de movimento,
porém apresentam menor ativação neuromuscular. O objetivo deste
estudo foi investigar as respostas cardiovasculares e psicológicas em
diferentes cadências e intensidades de exercício em ciclistas profissionais. Participaram oito ciclistas profissionais, os quais realizaram
um teste incremental máximo e outros dois testes submáximos (60 e
80% da potência máxima), em que pedalaram na cadência preferida,
20% a menos da cadência preferida e 20% acima da preferida. Foi
utilizada a ANOVA Two Way e o post-hoc de Tukey. Foi adotado p <
0,05. Pode-se concluir que a intensidade parece ser determinante na
escolha das cadências preferidas, resultando na sua redução à medida
que intensidades maiores eram solicitadas, além disso, a elevação das
cadências foi determinante para a elevação da demanda energética
para ambas as intensidades. Adicionalmente, observou-se que as
cadências preferidas pelos ciclistas não apresentaram os valores mais
baixos de percepção subjetiva de esforço.
In training and competition periods, cyclists use cadences that
do not represent the greatest economy of movement, however,
present less neuromuscular activation. The aim of this study was
to investigate the psychological and cardiovascular responses at
different cadences and exercise intensities in professional cyclists.
Eight professional cyclists took part of the study, who performed a
maximal incremental test and two submaximal tests (60 and 80%
of maximum power output), pedaling at the preferred cadence,
20% below and 20% above the preferred cadence. ANOVA twoway and post hoc Tukey was used and the level of significance was
set at p < 0.05. It can be concluded that the intensity seems to be
determinant in the choice of the preferred cadences, resulting in
its reduction as the higher intensities were required, besides, the
increase in cadence was crucial to the rise in energy demand for both
intensities. Additionally, we observed that the preferred cadences
by cyclists did not present the lowest ratings of perceived exertion.
Key-words: cycling, heart rate, cadence.
Palavras-chave: ciclismo, frequência cardíaca, cadência.
Recebido em 23 de setembro de 2010; aceito em 19 de novembro de 2010.
Endereço para correspondência: Mateus Rossato, Universidade Federal do Amazonas, Faculdade de Educação Física e Fisioterapia,
Mini-Campus – Coroado, 69077-000 Manaus AM, Tel: (92) 3305-4090, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
Introdução
O monitoramento da intensidade de esforço seja em
treinamentos ou em provas é de extrema importância, pois
possibilita tanto o ajuste das cargas de treinamento quanto
a avaliação das exigências fisiológicas da sessão de treino ou
competição [1]. Dessa forma, para a prescrição da intensidade
do exercício, podem ser empregados vários parâmetros, como
o consumo máximo de oxigênio (VO2max), a resposta do
lactato sanguíneo, a percepção subjetiva de esforço (PSE) e a
frequência cardíaca (FC) [1].
Por meio da mensuração da concentração de lactato sanguíneo, é possível assumir a existência de domínios fisiológicos
separados por dois limiares ou duas perdas de continuidade
[2]. A identificação precisa dos limiares de transição fisiológica é uma ótima estratégia para os treinamentos, visto que o
treino torna-se mais eficaz quando realizado nas intensidades
correspondentes a esses limiares.
No entanto, a realização de medidas diretas em situações
de provas e treinamentos torna-se inviável tanto por aumentarem os custos operacionais como pela possibilidade de
interferir na rotina de treinamento do atleta [3]. Sendo assim,
tem aumentado o interesse dos técnicos e atletas pela utilização da FC como meio para o controle das intensidades de
treinamento, principalmente por ser um método não invasivo,
de fácil aplicabilidade e de baixo custo operacional [4]. Além
disso, para Santos et al. [5], uma das bases fisiológicas, que
regem a aplicação da FC como indicador de intensidade do
esforço, é a sua relação linear dos percentuais da FC máxima
(%FCmax) com os percentuais do VO2max (%VO2max),
permitindo estimar o comportamento de uma variável em
função da outra.
Outra variável empregada para a obtenção do grau do
esforço físico, principalmente pela fácil aplicabilidade e baixo
custo, é a PSE. Borg [6] salienta que a avaliação global da
percepção do esforço integra algumas informações de sinais
deduzidos do trabalho muscular (músculos e articulações),
cardiopulmonar e do sistema nervoso central. Consequentemente, a PSE é um indicador importante para saber o grau
de esforço que está sendo realizado em uma determinada
atividade e/ou exercício físico. Além disso, torna-se interessante associar os indicadores fisiológicos, como a FC, com os
indicadores subjetivos, como a Escala de Borg.
Fernandéz-Garcia et al. [7] e Lucía et al. [8] relatam que os
ciclistas estão entre os atletas que conseguem manter as mais
altas intensidades de trabalho, sendo reportados valores acima
de 90% do VO2max pelo período de uma hora em ciclistas
profissionais [9,10]. Esta grande capacidade de tolerância
à fadiga está em parte associada às cadências de pedalada
utilizadas pelos mesmos.
Assim sendo, as cadências mais econômicas são as compreendidas entre 50 e 80 rpm [11,12], no entanto, os ciclistas
preferem utilizar cadências compreendendo uma faixa de 90
a 105 rpm [13-18]. Esta discordância entre o recomendado
221
e o utilizado é um dos pontos intrigantes entre os pesquisadores, sendo consenso entre os autores que os fatores que
determinam a preferência por cadências mais elevadas não
estão completamente elucidados.
Dessa forma, fatores hemodinâmicos [19], fatores ligados à
minimização da fadiga [20-23] e fatores ligados à diminuição
dos momentos articulares [23], entre outros, parecem estar
associados com a escolha por parte dos ciclistas de cadências
mais elevadas. Sendo assim, alterações nas cadências desencadeiam uma série de mudanças metabólicas [16,24], cardiopulmonares [8,22,25], neuromusculares [26,27], biomecânicas
[28] e psicológicas [29-33].
Tendo em vista a escassez de iniciativas cientificas que levaram em consideração a individualidade e a especificidade no
ciclismo, em ciclistas profissionais, percebe-se a importância
de determinar as respostas cardiovasculares e psicológicas em
diferentes cadências e intensidades de exercício. Desta forma,
o presente estudo teve como objetivo investigar as respostas
cardiovasculares e psicológicas em diferentes cadências de
pedalada e diferentes intensidades de exercício em ciclistas
profissionais.
Material e métodos
Participantes
Participaram deste estudo oito ciclistas profissionais, do
sexo masculino (24 ± 3 anos, 73 ± 6,3 kg, 178 ± 6,8 cm, 8
± 4 anos de experiência, 487 ± 171 km/semana de treinamento). Todos os procedimentos adotados foram aprovados
previamente pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos (protocolo 065/2006) da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). Os participantes foram informados e
familiarizados com todos os procedimentos do experimento,
assim como os riscos e benefícios, assinando um termo de
consentimento livre e esclarecido.
Teste incremental máximo
Os ciclistas foram submetidos a um teste incremental
máximo (TI) com carga inicial de 100 W e teve incrementos
de 30 W a cada 3 min [34], sendo que a cadência de pedalada
deveria ser mantida entre 90 e 110 rpm. O teste foi considerado máximo quando dois ou mais critérios a seguir fossem
encontrados: quociente respiratório maior que 1,10; platô
de VO2; 90% FCmax predita pela idade e incapacidade de
manter a cadência solicitada.
A FC foi monitorada a cada 5 s por meio de um cardiofrequencímetro da marca POLAR® (modelo S610i). A
cadência de pedalada e potência produzida foram monitoradas e controladas por intermédio de um ciclosimulador
CompuTrainer Profissional (modelo 8001 RaceMate Inc®). O
consumo de oxigênio (VO2) foi monitorado a cada 20 s por
meio do ergoespirômetro da marca AeroSport TEEM 100®
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
222
(Metabolic Analyze System), sendo que o maior valor relatado
pelo equipamento foi considerado o valor de VO2max.
Com a finalidade de preservar a individualidade e especificidade da modalidade, tanto o TI como os testes submáximos
foram realizados nas próprias bicicletas dos atletas. A relação
de marchas utilizada foi 39/19, porém, quando a bicicleta não
possuía esta relação de marchas, utilizava-se uma metragem
similar que mais se aproximasse desta. A potência máxima
(Pmax) foi determinada de acordo com a equação: Pmax(W)
= carga do último estágio completado (W) + [t (s)/duração do
estágio (s) * incremento de carga (W); onde “t” foi o tempo
do estágio incompleto.
Testes submáximos
Após 48 h, os ciclistas retornaram ao laboratório onde
realizaram duas séries de 30 min, com intervalo de 30 min
entre as séries, respectivamente, nas intensidades correspondentes a 60 e 80% da Pmax (60%Pmax e 80%Pmax) determinada
previamente no TI. Cada série de 30 min foi constituída
por 10 min na cadência preferida (Pref ), posteriormente
foi reduzida em 20% (Pref-20%) e, nos últimos 10 min, foi
elevada em 20% da cadência preferida (Pref+20%), conforme
demonstrado na Figura 1.
Figura 1 - Ilustração da realização dos dois testes submáximos.
Primeira etapa
Segunda etapa
Recu60%Pmax
pera- 80%Pmax
10 min 10 min 10 min
10 min 10 min 10 min
ção
Pref
Pref-20% Pref+20% 30 min Pref
Pref-20% Pref+20%
A ordem das cadências não foi realizada de forma aleatória
pela necessidade de identificar a cadência preferida para cada
carga (60%Pmax e 80%Pmax), para então determinar as demais
cadências. A utilização da cadência correspondente a Pref-20%
logo após a Pref foi definida após a realização de testes prévios
onde foram relatados menores desconfortos. Em relação à
ordem das cargas (60%Pmax e 80%Pmax), optou-se por 60%Pmax
para ser a primeira carga pelo fato de servir também como
forma de aquecimento para a realização de uma carga superior.
O monitoramento e controle das cadências e potências
foram realizados por meio do ciclosimulador utilizado no
TI. Para a determinação das cadências preferidas, os ciclistas
tinham 5 min para adaptação às cargas e nos 5 min finais
era solicitado que mantivessem as cadências escolhidas previamente com a mínima variação possível. Nas variações das
cadências (± 20%), os ciclistas tinham 5 min para adaptação
à nova situação, e os 5 min finais necessariamente deveriam
ter sido realizados nas cadências definidas. Durante todos os
procedimentos, tanto a cadência de pedalada quanto a potência eram visualizadas pelo ciclista em um display localizado
junto ao guidom da sua bicicleta.
A PSE foi obtida por meio da escala de 20 pontos proposta
por Borg (2000), sendo solicitada ao ciclista, no último minuto de
cada série, a classificação do esforço proporcionado pela associação
carga/cadência. A FC foi monitorada a cada 5 s por meio de um
frequencímetro da marca POLAR® (modelo S610i), entretanto
somente foi utilizada a média dos últimos 5 min de cada série.
Análise estatística
Os dados estão expressos com média ± desvio padrão (DP).
Inicialmente foi realizado o teste de Shapiro-Wilk para verificar
a normalidade dos dados. Para as comparações das variáveis
analisadas entre as diferentes cadências utilizou-se a análise de
variância de dois fatores (ANOVA Two Way) e o teste post-hoc
de Tukey (HSD). Em todas as análises foi adotado um nível
de significância de 5%.
Resultados
A Tabela I demonstra os valores referentes às variáveis
obtidas no teste incremental. A Pmax obtida pelos atletas
foi de 371 ± 33 W, sendo assim, 60%Pmax foi 223 ± 20 W e
80%Pmax foi 297 ± 27 W (Tabela I).
Na Tabela II estão descritos os valores referentes às variáveis cardiovasculares (FC e %FCmax) e psicológica (PSE)
obtidas nos testes submáximos nas diferentes situações de
potência e cadência.
Considerando que os ciclistas poderiam escolher as
cadências nas quais pedalariam, observou-se uma redução
significativa nos valores de cadências preferidas à medida que
intensidades mais altas eram solicitadas (Tabela II).
Em relação aos parâmetros cardiovasculares analisados,
observou-se que em ambas as intensidades, a cadência preferida não foi a que apresentou a menor demanda energética.
Além disso, em ambas as intensidades, foram reportados
valores significativamente superiores de FC e %FCmax com
a elevação das cadências (Tabela II).
Quanto a PSE, em ambas as intensidades, a elevação
da cadência (Pref+20%) resultou aumentos significativos do
desconforto orgânico quando comparado com as demais
cadências (Pref-20% e Pref ). Também foram reportados valores
significativamente superiores para a cadência Pref quando
comparada com a Pref-20% na intensidade 80%Pmax.
Discussão
O principal achado do presente estudo foi que cadência
preferida utilizada pelos ciclistas não é aquela cujo consumo
energético é menor, estando de acordo com outras investigações. Além disso, o aumento das cadências de pedalada
mostra-se determinante para a elevação tanto dos valores
de FC quanto de PSE, sendo que a cadência preferida pelos
ciclistas, em ambas as intensidades, não foi a que apresentou
os menores valores de PSE (Tabela II).
A escolha das intensidades 60%Pmax e 80%Pmax tinha por
finalidade submeter, de maneira indireta, os ciclistas a in-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
223
Tabela I - Valores médios e DP referentes às variáveis obtidas no teste incremental máximo.
N=8
Média ± DP
Pmax (W)
371 ± 33
FCmax (bpm)
191 ± 9
VO2max (mL.kg-1.min-1)
62,2 ± 3,4
60%Pmax (W)
223 ± 20
80%Pmax (W)
297 ± 27
Nota: Pmax = potência máxima; FCmax = frequência cardíaca máxima; Potência/MC = potência relativa a massa corporal; VO2pico = consumo de
oxigênio de pico; 60%Pmax = potência referente a 60% da potência máxima; 80%Pmax = potência referente a 80% da potência máxima.
Tabela II - Valores médios e DP de cadência, FC, %FCmax e PSE nas diferentes situações analisadas.
Cadência
(rpm)
FC
(bpm)
%FCmax
(%)
PSE
(n)
%Pmax
60%
80%
60%
80%
60%
80%
60%
80%
Pref-20%
77 ± 6 b
72 ± 7
144 ±13
161 ± 16
75,6 ± 5,1
84,4 ± 6,8
12,3 ± 1
14,5 ± 1,4
Pref
96 ± 9 a
90 ±10
154 ± 11d,e
170 ± 11 d,e
81,1 ± 4,6 d,e
89,5 ± 4,8 d,e
12,5 ± 1,2 e
15,4 ± 1,3 d,e
Pref+20%
114 ± 9 c
107 ± 11
163±14 d d
178,6 ±12 d
85,5 ± 5,8 d
93,7 ± 3,6 d
14,3 ± 1,6 d
16,6 ± 1,4 d
Nota: %Pmax = percentual da potência máxima; Pref-20% = 20% abaixo da cadência preferida; Pref = cadência preferida;
Pref+20% = 20% acima da cadência preferida; FC = freqüência cardíaca; %FCmax = percentual da freqüência cardíaca
máxima; PSE = percepção subjetiva de esforço. a p< 0,05 em relação a 80%Pmax da Pref; b p< 0,05 em relação a 80%Pmax da Pref-20%; c p<
0,05 em relação a 80%Pmax da Pref+20% ; d p< 0,05 em relação a Pref-20%; e p< 0,05 em relação a Pref+20%.
tensidades próximas às correspondentes ao limiar de lactato
e máxima fase estável de lactato (MLSS). De acordo com
o estudo de Denadai et al. [3], com ciclistas treinados, foi
encontrado que a MLSS ocorreu em percentuais da Pmax
semelhantes ao utilizado nesta pesquisa (79,4 ± 4,1%).
Em relação às cadências de pedalada preferidas pelos ciclistas, estas se encontram de acordo com outros estudos [13-18]
indicando que os ciclistas preferem pedalar em cadências mais
elevadas que as mais econômicas. Interessante notar que a elevação na carga de 60%Pmax para 80%Pmax resultou em reduções
significativas na cadência preferida dos ciclistas (tabela II).
Comportamento semelhante foi relatado tanto em protocolos de laboratório [8,13,18,25,30,31,33,35] quanto em
situações de campo [7,36-38]. Os estudos realizados em
campo descrevem cadências inferiores em etapas de montanha
quando comparadas com etapas planas, possivelmente devido
à carga a ser vencida.
É consenso na literatura a existência de uma relação direta
entre valores de VO2 e FC [5,39]. Sendo assim, apesar de não
ter sido possível utilizar medidas de VO2, quando analisados
os valores de FC nas diferentes cadências estudadas, observase uma elevação significativa dos valores de FC e %FCmax
(tabela II), indicando que em ambas as intensidades (60%Pmax
e 80%Pmax), a elevação da cadência resulta em um aumento na
demanda metabólica. Esta maior demanda metabólica está
associada à redução na economia de movimento [1,11], uma
vez que a economia de movimento é definida como o VO2 obtido em determinada intensidade absoluta de exercício [1,40].
Os atletas mais econômicos são capazes de utilizar oxigênio de maneira mais eficiente para uma mesma intensidade,
propiciando, assim, um melhor desempenho em eventos
de endurance [40,41]. Adicionalmente, um indivíduo com
maior economia de movimento apresenta um menor gasto
energético em uma intensidade submáxima, dessa forma
conseguirá atingir uma maior velocidade em determinada
distância ou um maior tempo em uma velocidade constante
[42]. Consequentemente, um valor menor de VO2 para determinada intensidade é vantajoso, principalmente em provas
predominantemente aeróbias, pois utilizará uma menor fração
do VO2max para qualquer intensidade de exercício.
Sendo assim, os ciclistas do presente estudo, conforme
fora abordado em outras investigações [1,22,25,27,43], não
foram mais econômicos nas cadências preferidas, indicando
que outros fatores, além dos ligados a minimização do gasto
energético, parecem estar associados com a escolha das cadências preferidas.
Além disso, no presente estudo foram reportados valores
de %FCmax entre 75 e 85% (60%Pmax) a 84 e 94% (80%Pmax),
estes valores estão acima dos observados por Neumayr et
al. [44], que reportaram valores de 70% da FCmax, porém
esses dados são relativos a provas de longa duração, o que
possivelmente tenha influenciado tais resultados. Neumayr
et al. [45] investigaram as intensidades de esforço em eventos de cicloturismo e reportaram valores médios de 77% da
FCmax, valores estes que se assemelham com as intensidades
correspondentes a 60%Pmax do presente estudo, indicando um
predomínio de intensidades moderadamente aeróbias.
A PSE é um índice importante quando o ciclista deve
selecionar qual potência e cadência irá pedalar, uma vez que
pode reconhecer os sinais periféricos (musculares) e centrais
(cardiopulmonares). A percepção dos sinais periféricos parece ser
mais determinante para as escolhas das cadências preferidas [31]
quando comparada com os sinais centrais. Isso explica em parte
o fato dos ciclistas pedalarem em cadências menos econômicas.
Considerando os achados do atual estudo, não foram
reportadas diferenças significativas quando comparadas as
224
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
cadências Pref e Pref-20% na intensidade de 60%Pmax. Por outro
lado, foram observadas diferenças nestas mesmas cadências,
em intensidades superiores (80%Pmax). Em ambas as intensidades, as cadências preferidas não foram as que apresentaram
os menores valores de PSE, indicando que o fato dos ciclistas
utilizarem cadências preferidas menos econômicas, parece
não influenciar de maneira significativa a PSE. No entanto,
em ambas as intensidades (60%Pmax e 80%Pmax), a utilização
de cadências acima das preferidas resultou em aumentos
significativos na PSE (tabela II).
Sobretudo, ainda parece não existir um consenso sobre o
comportamento da PSE em diferentes cadências de pedalada.
Marsh, Martin e Foley [13], variando as cadências, das mais
econômicas (~ 60 rpm) para as preferidas (~ 100 rpm), reportaram que os ciclistas não minimizam a sua PSE na cadência
preferida, o que estaria de acordo com os achados pelo atual
estudo. Além disso, Hansen et al. [32] relatam que quando
testadas cadências acima e abaixo das cadências preferidas,
as mais econômicas eram as que apresentavam os valores
significativamente mais baixos para a PSE. Adicionalmente,
Hansen et al. [17] mostraram reduções significativas na PSE
à medida que cadências mais elevadas eram testadas e Lucia
et al. [33] verificaram que quando os sujeitos pedalaram em
altas potências (acima de 300 W), a PSE aumentava com a
diminuição da cadência.
Conclusão
A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que a
intensidade de esforço parece ser determinante na escolha
das cadências preferidas, resultando na sua redução à medida que intensidades maiores eram solicitadas. A elevação
das cadências foi determinante para a elevação da demanda
energética para ambas as intensidades, inferindo a ocorrência de redução na economia de movimento. Em relação às
mudanças da PSE, em função das alterações das cadências
e das intensidades, observou-se que as cadências preferidas
pelos ciclistas não apresentaram os valores mais baixos de
PSE, porém parece não existir um consenso sobre tal assunto.
Sugere-se que novos estudos sejam realizados, onde aspectos
como a individualidade e a especificidade da modalidade
continuem sendo respeitados.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
226
Artigo original
Intensidade auto selecionada, percepção subjetiva
de esforço e tempo sob tensão no treinamento
resistido em adolescentes
Self-selected intensity, perceived exertion and time under tension
in adolescents during resistance training
Ramires Alsamir Tibana*, Dahan da Cunha Nascimento*, Otávio Vanni*, Sandor Balsamo**
*Centro universitário UNIEURO, Curso de Educação Física, GEPEEFS (Grupo de Estudo e Pesquisa em Exercício de Força e
Saúde) – Brasília/DF, **Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Brasília –
Brasília/DF
Resumo
Abstract
O objetivo deste estudo foi determinar a intensidade autoselecionada, o tempo sob tensão e a percepção subjetiva de esforço
no treinamento resistido em adolescentes sem experiência. Vinte
adolescentes do sexo masculino (15,00 ± 0,97 anos; 59,23 ± 10,37
kg; 1,70 ± 0,09; 12,23 ± 5,49 % de gordura; Tanner 4), realizaram
duas semanas de familiarização no exercício supino na máquina
sentado, logo após realizaram o protocolo de intensidade auto selecionada, o teste de 10RM em ambos os protocolos foram medidos
o tempo sob tensão e a percepção subjetiva de esforço. Os resultados
demonstram que os valores da carga auto selecionada, do tempo sob
tensão e da percepção subjetiva de esforço foram 56,44%, 38,36%
e 51,16% significativamente inferiores aos valores obtidos durante
o teste de 10RM. Portanto, adolescentes inexperientes não podem
auto-selecionar uma intensidade suficiente para estimular uma
melhora significativa na força muscular, e estão mais suscetíveis a
riscos decorrentes de repetições realizadas em alta velocidade com
baixa resistência.
The purpose of this study was to determine the self-selected
intensity, time under tension and the rate of perceived exertion
in adolescents without experience on resistance training. Twenty
apparently healthy male adolescents (15.00 ± 0.97 age; 59.23 ±
10.37 kg; 1.70 ± 0.09; 12.23 ± 5.49 % fat; Tanner stage 4) completed two sessions on the seated chest press to familiarize. Then
completed the self-selected intensity protocol, 10 RM test, and the
time under tension and rate of perceived exertion were measured
respectively. The results of this study demonstrates that, values from
the self-selected intensity protocol, time under tension and rate of
perceived exertion were significantly inferior (56.44%, 38.36% e
51.16%) from the values of the 10 RM test. Therefore, inexperienced
adolescents cannot self-select a sufficient intensity to enhance the
strength, and are likelihood to injuries occurring after repetitions
with high velocity and low resistance.
Key-words: self-selected intensity, adolescents, resistance training.
Palavras-chave: intensidade auto-selecionada, adolescentes,
treinamento de resistência.
Recebido em 2 de setembro de 2010; aceito em 3 de dezembro de 2010.
Endereço de correspondência: Ramires Alsamir Tibana, Centro Universitário Euro-Americano, Laboratório de Avaliação do
Desempenho Físico e Saúde, Av. das Nações, Trecho 0, Conjunto 5, Brasília DF, Tel: (61) 9616-8340, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
227
Introdução
Medidas antropométricas
O treinamento resistido (TR) é geralmente prescrito para
promover o aumento na força absoluta, potência e resistência
muscular tanto em crianças como em adolescentes e adultos.
Similar com outras atividades físicas o TR tem demonstrado
ter efeitos benéficos em diversos indicadores de saúde como
a aptidão cardiovascular, composição corporal, densidade mineral óssea, perfil lipídico sanguíneo e melhora na capacidade
cognitiva [1]. Dependendo dos objetivos e das necessidades
individuais, diversas variáveis podem ser consideradas no
delineamento do TR, como o número de exercícios, séries,
intervalo de recuperação, ordem dos exercícios, velocidade de
execução e intensidade de esforço [2].
A intensidade do treinamento pode influenciar significativamente na resposta da força muscular [3]. Em uma metaanálise Rhea et al. [4] analisaram a relação dose-resposta para
a carga de treinamento em diferentes níveis de treinamento
para o aumento da força muscular em adultos, e verificaram
que para indivíduos destreinados a carga entre 60% de 1RM
propiciou maiores níveis de força. Considerando a importância da intensidade de treinamento em propiciar o aumento
da força, hipertrofia e outros componentes da aptidão física,
a seleção de uma intensidade adequada é fundamental [5].
Estudos recentes têm demonstrado que a intensidade autoselecionada por praticantes adultos no TR sem experiência
não corresponde ao limiar necessário para gerar adaptações
positivas [6,7]. Além disso, estudos têm comprovado que uma
maior supervisão durante a prática do TR pode implicar em
maiores adaptações na força, hipertrofia e resistência muscular
quando comparado com o treinamento com baixa ou sem
supervisão [8-10].
Através disso, devido à carência de estudos com adolescentes, e pelo fato de nenhum estudo ter analisado a intensidade
auto-selecionada, percepção subjetiva de esforço e tempo sob
tensão, o objetivo do presente estudo foi comparar a intensidade auto-selecionada, a percepção subjetiva de esforço e
o tempo sob tensão em adolescentes sem experiência no TR
com os valores obtidos no teste de 10RM.
A medida da massa corporal foi realizada com o indivíduo descalço portando roupas leves, utilizando-se balança
digital da marca Welmy® (W110H). A estatura foi medida
utilizando-se estadiômetro de parede.
O percentual de gordura foi caracterizado pelo somatório
de duas dobras cutâneas tricipital e subescapular (2DC), que
foram medidas com um adipômetro analógico Lange, com
valor de uma divisão de 1 mm e resolução de 0,05 mm. Com a
soma das dobras cutâneas foi possível obter a porcentagem de
gordura corporal utilizando a fórmula de Slaughter et al. [11].
Avaliação da maturação sexual
Para determinação dos estágios de maturação sexual foi
utilizada a escala de Tanner, por meio de auto-avaliação, um
método de reconhecida validade e confiabilidade [12].
Protocolo de carga auto-selecionada
Antes da realização do protocolo todos os participantes
realizaram familiarização de duas semanas com o equipamento
e exercício proposto. O exercício escolhido foi o supino reto
na máquina sentado (SR) utilizando o protocolo sugerido
por Ratamess et al. [5]. Depois de um aquecimento geral
que consistiu de 5 minutos de caminhada na esteira, cada
participante foi instruído a selecionar uma resistência que
usaria para a realização de 10 repetições. Os indivíduos
foram especificamente perguntados “quanto de peso você
escolheria para este exercício se você estivesse completando
uma série de 10 repetições durante o treino?”. Foram dadas
três oportunidades para selecionar o peso adequado, isto é,
se a seleção inicial parecia ser demasiado leve ou pesado. Nenhuma informação foi fornecida no que concerne à seleção
do peso. Uma vez que o peso apropriado foi selecionado,
cada participante foi cuidadosamente instruído a realizar uma
série de 10 repetições com o movimento completo, não foi
controlada a velocidade de execução.
Material e métodos
Teste de 10RM
Amostra
Foi realizado o teste de 10RM no exercício SR. Logo
após o aquecimento na esteira foram seguidas as seguintes
recomendações: 1) aquecimento no equipamento de 5 a 10
repetições com cargas de 40 a 60% de 1RM estimada ; 2)
descanso de um minuto, seguidos de três a cinco repetições
com 60% de 1RM estimada e um descanso de três minutos;
3) incremento do peso tentando alcançar as 10RM em três a
cinco tentativas, usando cinco minutos de intervalo entre uma
tentativa e outra; 4) o valor registrado foi o de 10 repetições,
com o peso máximo levantado na última tentativa bem sucedida. Para determinar uma confiabilidade do teste de 10RM
foram aplicados dois testes, com um intervalo mínimo de 48
Participaram deste estudo 20 adolescentes do sexo masculino aparentemente saudáveis. Como critério de inclusão
os adolescentes não deveriam possuir quaisquer lesões que
pudessem comprometer a saúde durante o estudo, não ser
portador de doenças crônicas e entregar até a data estipulada
o termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelo
seu responsável. O projeto foi encaminhado e aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa, do Centro Universitário EuroAmericano (Unieuro), sob o Protocolo nº 030/09, parecer
nº 035/09.
228
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
horas, para determinar a carga de trabalho dos voluntários,
foi utilizada a carga mais alta encontrada em um dos dois
testes. O valor de 10RM para cada exercício foi usado para
calcular a intensidade relativa auto-selecionada (%), em que:
Carga auto-selecionada / Carga de 10RM x 100.
subjetiva de esforço para os protocolos de intensidade autoselecionada e carga de 10RM estão referidos na figura 1. O
tempo sob tensão (p < 0,0001), a percepção subjetiva de
esforço (p < 0,0001) e a carga (p < 0,0001) foram significativamente superiores na carga de 10RM quando comparado
ao protocolo de intensidade auto-selecionada.
Percepção Subjetiva de Esforço (PSE)
Todos os participantes da amostra realizaram uma familiarização com o protocolo da escala de esforço de OMNI-RES
[13]. Ao final da realização de cada protocolo o avaliado
era questionado quanto à sua PSE, e foram especificamente
perguntados “desejamos que você estime o seu esforço percebido, ou seja, como você sente a intensidade do exercício.
Isso depende principalmente da tensão e da fadiga nos seus
músculos. Mas você deve prestar atenção somente às suas
sensações subjetivas e não aos sinais fisiológicos ou em qual
é a atual carga física”.
Figura 1 - Média e desvio-padrão para a carga (A), tempo sob tensão
(B) e percepção subjetiva de esforço (C) nos protocolos de 10RM e
intensidade auto selecionada.
80
70
60
Kg 50
40
30
20
0
A
*
Tempo sob tensão
O tempo sob tensão (TST) foi definido como o tempo
total no qual os músculos estavam aplicando força ao implemento durante a execução de cada protocolo. O mesmo
investigador registrou o tempo de todos os testes usando um
cronômetro digital [14].
Análise estatística
A estatística foi realizada aceitando o nível de significância
para todas as variáveis estudadas em p ≤ 0,05. Inicialmente foi
realizada a análise descritiva da amostra das variáveis estudadas
com medidas de tendência central e dispersão. Em seguida,
realizou-se o teste de Shapiro-Wilk para avaliar a normalidade
dos dados e, de acordo com o resultado, utilizou-se o teste t
de Student para variáveis dependentes.
Tabela I - Caracterização da amostra.
N = 20
Idade (anos)
Peso (kg)
Estatura (cm)
IMC (kg/m2)
Massa livre de gordura (kg)
Massa gorda (kg)
% de gordura
Tanner genitália†
Tanner pelos púbicos†
Média ± DP
14,75 ± 1,16
59,16 ± 9,97
1,70 ± 0,09
20,41 ± 2,15
51,46 ± 8,27
7,00 ± 2,74
12,70 ± 5,32
4
4
† Valores expressos em mediana.
Resultados
A Tabela I apresenta as características da amostra. A média
e o desvio-padrão da carga, o tempo sob tensão e a percepção
35
30
25
TT 20
15
10
5
0
10
9
8
7
PSE 6
5
4
3
2
0
B
*
*
C
Auto-seleção
10RM
*indica diferença significativa entre os protocolos.
Discussão
O objetivo do presente estudo foi comparar a intensidade
auto-selecionada, a percepção subjetiva de esforço e o tempo
sob tensão em adolescentes sem experiência no treinamento
resistido, com os valores obtidos no teste de 10RM. Com
base nos resultados encontrados, verificou-se que os valores da
carga auto-selecionada, do tempo sob tensão e da percepção
subjetiva de esforço foram significativamente inferiores aos
valores obtidos durante o teste de 10RM.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
A intensidade do treinamento é uma importante variável
do TR que pode influenciar tanto a força como a resistência e a hipertrofia muscular. Campos et al. [3] analisaram
3 grupos durante 8 semanas de treinamento, e verificaram
que a resposta da força muscular foi maior para o grupo que
realizou um menor número de repetições (3-5RM), quando
comparado com o grupo de altas repetições (20-28RM) e o
grupo de repetições intermediárias (9-11RM).
Os resultados do presente estudo são consistentes com
estudos anteriores, os quais demonstram que a intensidade
auto-selecionada por homens e mulheres sem experiência no
TR correspondem a 50-55% de 1RM [6,7]. Glass e Stanton
[6] analisaram a intensidade auto-selecionada de iniciantes
no TR. A carga do teste de 1RM foi estimada após a seleção
de carga. Os resultados demonstraram que iniciantes no TR
auto-selecionaram cargas que foram abaixo de 60% de 1RM
e também evidenciaram que os indivíduos não realizavam
repetições até a fadiga, como evidenciado por um baixo
número de repetições.
A utilização da PSE como método de monitoramento da
intensidade no TR ainda é limitado, no entanto, estudos têm
demonstrado que a PSE altera de acordo com a intensidade do
exercício. Focht [7], ao analisar a PSE e a carga auto-selecionada de 19 mulheres destreinadas, reportou que a intensidade
auto-selecionada e a PSE são significativamente inferiores aos
valores obtidos na intensidade imposta por profissionais. No
presente estudo foram verificados resultados semelhantes tanto para a PSE quanto para a carga auto-selecionada, portanto,
esses dados reforçam o valor potencial da utilização da PSE
para ajudar a monitorar e prescrever a intensidade no TR.
Em posicionamento institucional direcionado a prática
do TR para crianças e adolescentes, a American Academy of
Pediatrics [1], apresentou uma revisão sobre as características
do treinamento para essa população. Foi recomendado que
a velocidade de execução não seja realizada de forma rápida
e explosiva, pois a técnica de execução pode ser afetada. Os
resultados do presente estudo demonstraram que quando a
carga é auto-selecionada, os adolescentes realizam as repetições
mais rapidamente (12,79 ± 2,84s) quando comparado com a
carga imposta de 10RM (25,00 ± 4,32s).
É oportuno destacar algumas possíveis limitações metodológicas do presente estudo, como, a aplicação dos resultados
para outros exercícios, especialmente para aqueles de membros
inferiores e a não comparação com outras populações, como
adultos e idosos.
Conclusão
Em conclusão, os resultados do presente estudo indicam
que a intensidade, a PSE e o TT são significativamente inferiores à carga imposta de 10RM, demonstrando que adolescentes
inexperientes não podem auto-selecionar uma intensidade
229
suficiente para estimular uma melhora significativa na força
muscular e estão mais suscetíveis a riscos decorrentes de repetições realizadas em alta velocidade com baixa resistência.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
230
Artigo original
Diferença de rendimento entre meninos e meninas
handebolistas que fazem treinamento de força
Difference of performance between boys and girls handball players
after strengthening exercise
José Bechara Neto*, Fabiana Cristina Magalhães Belisário**, Paulo Henrique Correa de Oliveira**
*Associação de Ensino do Mato Grosso do Sul – Três Lagoas/MS, Faculdades Integradas Stella Maris – Andradina/SP, **Faculdades
Integradas Stella Maris – Andradina/SP
Resumo
Abstract
Este trabalho pretende analisar a contribuição de exercícios de
musculação para o rendimento da potência muscular em atletas do
sexo masculino e feminino da equipe de handebol. Os atletas foram
submetidos ao teste de 1RM para se prescrever um treinamento com
um percentual de 75% de 1RM, utilizando o protocolo de (10).
Foram realizados dois testes, o 1º em junho de 2007 e o 2º em setembro de 2007, a fim de identificar diferenças significativas entre os
resultados obtidos por cada grupo de alunos, utilizando a estatística
descritiva e teste t de Student com nível de confiabilidade de 95%.
This work aims at analyzing the contribution of workout exercises for muscle strength performance in male and female athletes
of a handball team. The athletes performed a 1RM test to prescribe
a training with 75% of 1RM, using the protocol (10). Two tests
were carried out, the first in June 2007 and the second in September
2007, in order to identify significant differences between the results
obtained by each group of students, using the descriptive statistics
and Students t-test at 95% reliability level.
Key-words: handball, exercises, strength.
Palavras-chave: handebol, exercícios, potência.
Introdução
O handebol é um esporte que tem um tempo de jogo
normalmente fixado em 60 minutos, dividido em 2 tempos
de 30 minutos com intervalos de 10 minutos entre os tempos.
É um esporte que possui características de esforços de alta
intensidade e curta duração com pausas entre os esforços, o
que exige de seus praticantes um alto índice de condicionamento físico. Entretanto, a intensidade em que a partida é
realizada ainda pouco se conhece. Em nosso país há escassez
significativa de estudos que retratam o handebolista brasileiro
em vários aspectos do conhecimento físico, principalmente o
fisiológico. Jogadores considerados de alto nível e que atuam
em vários clubes do Brasil jogam e treinam inúmeras vezes
por ano.
Alguns parâmetros fisiológicos são de grande importância
para qualificar o nível de capacidade funcional em jogadores
de handebol. A potência aeróbia máxima tem recebido a
atenção de vários pesquisadores em diversas modalidades
desportivas, pois quando bem desenvolvidos, é de fundamen-
Recebido em 29 de abril de 2010; aceito em 16 de setembro de 2010.
Endereço para correspondência: José Bechara Neto, Rua Joaquim Nabuco 416, Centro 17800-000 Adamantina SP, Tel: (18) 81221520, E-mail: [email protected]
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
Este trabalho foi realizado na academia da Faculdade Integrada Stella Maris de Andradina. A amostra foi
constituída por quatro atletas do sexo masculino e cinco
atletas do sexo feminino com idade média de 15 anos
de uma equipe de handebol da cidade de Andradina. Os
atletas foram submetidos ao teste de 1RM para prescrever
um treinamento com um percentual de 75% de 1RM,
utilizando o protocolo de Ushida [5]. A fim de identificar
diferenças significativas entre os resultados obtidos por
cada grupo de alunos, utilizou-se a estatística descritiva e
Teste t de Student a nível de confiabilidade de 95%. Foram
realizados dois testes, o 1º em julho de 2007 e o 2º em
setembro de 2007, perfazendo um tempo de dois meses.
O treinamento era realizado duas vezes na semana com
a carga horária de uma hora treino, com a utilização dos
seguintes aparelhos: Leg-Press, Rosca Direta, Remada pela
Frente, Tríceps Pulley e Supino Reto.
Resultados e discussão
Podemos observar que no treinamento com o aparelho
Leg-Press (Figura 1), os resultados obtidos nos mostram
uma diferença estatística significativa de 99,7% (p > 0,05)
no aumento da potência do grupo masculino e feminino.
Percentual de melhora do teste de 1RM
60%
LEG PRESS
*
57%
50%
40%
30%
20%
8%
10%
0%
masc
fem
O mesmo ocorreu no treino de Rosca Direta (Figura 2),
com um aumento estatístico significativo de 99,1% (p > 0,05).
Figura 2 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas
handebolistas do sexo masculino e feminino na rosca direta.
Percentual de melhora do teste de 1RM
Material e métodos
Figura 1 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas
handebolistas do sexo masculino e feminino no aparelho leg press.
ROSCA DIRETA
30%
*
27%
25%
20%
15%
10%
2,50%
5%
0%
masc
fem
Figura 3 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas
handebolistas do sexo masculino e feminino na remada pela frente.
Percentual de melhora do teste de 1RM
tal importância para um adequado rendimento físico desses
atletas durante as competições [1].
Agostinho [2] relata que o processo de desenvolvimento
das capacidades motoras no treinamento desportivo e as
habilidades individuais são fundamentais. Por isso tem-se
notado nos últimos anos uma preocupação especial com o
aprimoramento do condicionamento físico do atleta, apoiada
em conceitos científicos bem fundamentados, pois o mesmo
é imprescindível para o alto rendimento.
De acordo com Astrand [3], o desempenho no esporte
de alto nível é dependente da produção de energia através
dos sistemas aeróbio, anaeróbio e neuromuscular, além do
psicológico.
Denadai [4] relata que a capacidade dos seres humanos
para realizar exercícios intensos de média e longa duração
depende principalmente do metabolismo aeróbio.
Poucos estudos têm sido abordados em termos científicos,
com a finalidade de esclarecer e contribuir para a melhoria da
qualidade do handebol.
Este estudo visa comparar a evolução de dois grupos de
alunos que treinam a modalidade de handebol e realizaram
paralelamente um treinamento de musculação por um período
de dois meses com ênfase no ganho de força, sendo que um
grupo é composto somente por alunos do sexo masculino e
outro somente por alunos do sexo feminino com idade entre
14 e 18 anos para ambos os grupos.
231
REMADA PELA FRENTE
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
36%
15%
masc
fem
No treinamento com os demais aparelhos, obtivemos um
aumento da potência, mas não estatisticamente significativo,
pois com o aparelho de Remada pela Frente a diferença foi
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
232
de 77% (Figura 3), o aparelho tríceps Pulley a diferença foi
de 84% (Figura 4), e o aparelho de Supino Reto a diferença
foi de 88% (Figura 5).
Percentual de melhora do teste de 1RM
Figura 4 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas
handebolistas do sexo masculino e feminino para o exercício de tríceps.
TRICEPS
60%
52%
Conclusão
Fem
Diante dos resultados obtidos no pré e pós-teste e confrontados com a literatura observou-se que os exercícios de
musculação têm uma grande participação para o aumento da
potência em atletas de handebol, porém com o período de
treinamento que foi utilizado não foi o bastante para se obter
dados estatisticamente significativos para a pesquisa quando
comparado com treinamento de cinco a seis vezes por semana.
Poucos são os estudos realizados envolvendo essa variável
fisiológica estudada, principalmente em relação à modalidade
em evidência, com isso recomenda-se que novos estudos sejam
realizados nesta área, estudos semelhantes de treinamentos e
de desportos diversos, bem como utilizar-se dos mais diferentes esquemas de preparação, mantendo-se o tratamento
experimental dentro da estrutura e da realidade desportiva
brasileira.
50%
40%
30%
22%
20%
10%
0%
Masc
Percentual de melhora do teste de 1RM
Figura 5 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas
handebolistas do sexo masculino e feminino no supino reto.
SUPINO
50%
De acordo com Guedes & Guedes [9], exercitar-se de 5 a
6 vezes por semana produzirá modificações significativas no
metabolismo em geral, somente duas vezes por semana não
produzirá alterações significativas, e modesta parte contraria os
resultados deste estudo. Mas para Atomi et al. apud Piovezan
[10], uma frequência de treinamento de duas e três vezes por
semana foi o suficiente para produzir alterações significativas
em pessoas normais.
42%
40%
Referências
30%
20%
10%
10%
0%
Masc
Fem
No handebol, a frequência de treinamento recomendada a
fim de desenvolver essas variáveis fisiológicas, segundo Garcia
[6], depende das características apresentadas pela equipe bem
como os objetivos que desejam alcançar. Para Grecco [7], o
handebol por ser um esporte coletivo que envolve força explosiva (ou potência), necessita de um programa de treinamento
sistematizado visando à melhoria da força muscular em função
do rendimento. Com isso, recomenda-se uma frequência
de treinamento de três a quatro vezes por semana com uma
intensidade podendo chegar a 90% da frequência máxima
para atletas em período de competição, podendo durar de
oito a dez semanas. Fox, Bowers & Foss [8] garantem que
uma frequência de treinamento de três vezes por semana,
durante um período de oito a dez semanas, independente da
modalidade praticada, é o suficiente para garantir mudanças
significativas no desempenho da potência muscular, o que
justifica em parte a melhora do desempenho dos atletas participantes deste estudo.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
233
Artigo original
Treinamento elíptico em hemiparéticos
crônicos pós-AVC
Elliptical training in patients with chronic hemiparesis after stroke
Eliz Karoliny Rosa*, Suzana Gomes**, Simone Suzuki Woellner**, Antônio Vinicius Soares, M.Sc.***
*Graduandas em Fisioterapia, Associação Catarinense de Ensino (ACE) da Faculdade Guilherme Guimbala, Joinville/SC, **Especialista em Fisioterapia Neurológica e Supervisora do Estágio de Neurologia Adulto da Associação Catarinense de Ensino (ACE) da
Faculdade Guilherme Guimbala, Joinville/SC, ***Especialista em Cinesioterapia Neuro-sensório-motora, ***Professor de Anatomia,
Neuroanatomia, Cinesiologia e Neurologia da Associação Catarinense de Ensino (ACE) da Faculdade Guilherme Guimbala
Resumo
Abstract
Introdução: O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das
síndromes mais incapacitantes da atualidade caracterizada por um
déficit focal súbito de origem vascular. A incapacidade mais comum
é a hemiparesia, e consequente déficit de marcha, equilíbrio e
descondicionamento físico. Estudos com diversas modalidades de
treinamento vêm sendo publicados, e o treinamento elíptico pode ser
inserido em programas de reabilitação neurológica. Objetivo: Avaliar
os efeitos do treinamento elíptico em hemiparéticos crônicos pósAVC. Materiais e métodos: Pesquisa quase experimental, tipo séries
de tempo com três pré e pós-testes, com 4 indivíduos hemiparéticos.
Os instrumentos de medida utilizados foram esfigmomanômetro
modificado para força do quadríceps, teste de equilíbrio de Berg,
Timed Up and Go e manovacuometria. O programa de treinamento
teve frequência de duas vezes semanais durante 8 semanas (16 sessões). Resultados: Os sujeitos apresentaram uma melhora significativa
pelo teste t (p < 0,05) nas medidas da velocidade da marcha e TUG,
com melhora no desempenho de 35,2% e 22,07%, respectivamente,
e pelo Berg, com melhora de 6,8%. Conclusão: O presente estudo
buscou inserir uma nova modalidade terapêutica em um programa
de reabilitação neurológica e os resultados iniciais devem incentivar
novas pesquisas com diferenciação nos grupos de amostra.
Introduction: Stroke is one of the most disabling syndromes
characterized by a sudden focal deficit of vascular origin. The most
common inability is hemiparesis, and consequent deficit of motion,
balance and physical deconditioning. Studies with various forms of
training have been published, and elliptical training can be inserted
into programs for neurological rehabilitation. Objective: To evaluate
the effects of elliptical training in chronic hemiparesis after stroke.
Material and methods: A quasi-experimental research, about series
of three pre and post tests, with four hemiparetic subjects. The measurement instruments used were modified sphygmomanometer to
quadriceps strength, Berg Balance Test, Timed Up and Go Test and
manometer. The training program had a frequency of twice weekly
for 8 weeks (16 sessions). Results: Patients showed a significant improvement by t test (p < 0.05) in measurements of gait speed and
TUG, with improvement in performance of 35.2% and 22.07%,
respectively, and Berg, with improvement of 6.8%. Conclusion: This
study sought to develop a new therapeutic modality in a neurological
rehabilitation program and initial results should stimulate further
research in different sample groups.
Key-words: stroke, hemiparesis, aerobic training.
Palavras-chave: acidente vascular cerebral, hemiparesia,
treinamento aeróbico.
Recebido em 2 de setembro de 2010; aceito em 30 de novembro de 2010.
Endereço para correspondência: Simone Suzuki Woellner, Rua São José, 490, 89202-010 Anita Garibaldi RS 89202-010, Tel: (47)
3026-8251, E-mail: [email protected]
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
Introdução
O acidente vascular cerebral (AVC) tem, por definição,
ser um incidente neurológico súbito, não traumático e com
sequelas persistentes que refletem um envolvimento focal ou
global do sistema nervoso central (SNC) por mais de 24 horas,
resultante de distúrbios da irrigação sanguínea encefálica [14]. É a principal causa de incapacidades físicas e cognitivas
em adultos e o resultado final muitas vezes é o óbito nas primeiras três semanas em aproximadamente 30% dos casos, e
recuperação total em 30% dos casos e incapacidade residual
em 40% [4]. No Brasil, dos indivíduos que sofreram AVC,
30% necessitam de auxílio para caminhar e 20% ficam com
sequelas graves e incapacitantes [5].
As principais limitações observadas nesses indivíduos são
alterações do tônus e da postura, amplitude de movimento,
esquema corporal, déficit de equilíbrio, percepção, sensibilidade, fraqueza muscular e incoordenação durante a marcha
e em outras atividades funcionais [1,6-8]. As consequências
funcionais dos déficits primários neurológicos geralmente
predispõem os sobreviventes a um padrão de vida sedentária,
com restrições para as atividades de vida diária e limitando
a independência e a qualidade de vida do indivíduo, contribuindo para baixa autoestima, depressão, isolamento social
e reserva cardiológica reduzida [3,8].
A hemiparesia é um dos sinais clínicos mais comuns
do AVC caracterizada pela perda total ou parcial da função
motora em um hemicorpo, com variáveis níveis de comprometimento e incapacidade e repercutindo em alterações na
marcha [9]. Indivíduos hemiparéticos exibem redução na velocidade da marcha e no comprimento do passo, bem como na
diminuição do equilíbrio e reação de proteção, além de fazer
uso de padrões primitivos para andar, de elevado consumo
de energia e inabilidade em transferir o peso para o membro
acometido [10-12].
A maioria dos indivíduos que sofreram AVC apresenta
uma redução na capacidade aeróbia e na capacidade de gerar
força em relação a indivíduos saudáveis com a mesma idade,
provavelmente devido à diminuição do recrutamento de unidades motoras durante a atividade física e uma diminuição
global da resistência aeróbia, causando um aumento no gasto
energético durante a realização das atividades de vida diária.
O alto custo energético pode contribuir para a fadiga precoce, dispnéia, depressão, ansiedade, estilo de vida sedentário
e consequente descondicionamento físico [1,13], além de
comorbidades metabólicas e cardiovasculares [5].
Diversas modalidades de exercício para o treinamento
físico em hemiparéticos pós-AVC, incluindo esteira e cicloergômetro adaptado, têm demonstrado benefícios no incremento da força muscular, marcha, mobilidade funcional e
condicionamento físico sem aumentar a atividade muscular
anormal destes indivíduos [14-18].
O elíptico é uma nova modalidade de exercício aeróbio,
de baixo impacto e ainda pouco inserido nos programas de
reabilitação. Atualmente, não há nenhuma pesquisa relacionada sobre esta modalidade num cenário de reabilitação
neurológica. Portanto, o objetivo deste estudo foi determinar
os efeitos do treinamento elíptico na velocidade da marcha,
condicionamento aeróbico, incremento da força e equilíbrio
em hemiparéticos crônicos pós-AVC.
Material e métodos
A presente pesquisa caracteriza-se como quase experimental, tipo séries de tempo, composta por 16 sessões de
treinamento, com 2 sessões semanais. A amostra foi composta
por 4 sujeitos, todos com marcha independente, com idades
variando entre 50 a 60 anos de idade. Como parâmetro de
análise os sujeitos foram submetidos a 3 pré e 3 pós-testes na
semana anterior e posterior aos treinos, em dias alternados. Os
participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido submetido juntamente com o projeto à aprovação
do Comitê de Ética em Pesquisa do Bom Jesus/Ielusc.
Para os testes foram utilizados os seguintes instrumentos:
1) Esfigmomanômetro modificado (EM): utilizado para a
avaliação da força do músculo quadríceps, confeccionado e
empregado conforme Delgado et al. [19], através do “teste de
execução”. O EM foi posicionado entre a região anterior da
perna e a alavanca da mesa de Bonet com a extremidade fixa,
com o examinado exercendo esforço máximo, isométrico, e
obtida a média de três tentativas em mmHg.
2) Teste de equilíbrio de Berg: Avalia o equilíbrio do indivíduo
em 14 situações envolvendo várias atividades, tais como
andar, transferir-se e ficar de pé. A pontuação máxima a
ser alcançada é 56 pontos, com boa confiabilidade interexaminadores e intraexaminadores [20].
3) Teste timed up and go (TUGT): Avalia a mobilidade
funcional do indivíduo, que é solicitado a levantar-se de
uma cadeira, deambular uma distância de 3 m, virar-se,
retornar e sentar-se na cadeira novamente, sendo o seu
desempenho analisado através do tempo de execução do
teste em segundos [20].
4) Velocidade da marcha: A distância utilizada para o cálculo
de velocidade de marcha foi de 10 metros [10] dividindo-se
a distância percorrida pelo tempo gasto do percurso [9].
5) Manovacuometria: foram mensuradas as pressões expiratórias e inspiratórias máximas (PEmáx e PImáx) por meio do
manovacuômetro [21] (MDI, modelo MVD300), sendo
calculada a média de três tentativas.
Treinamento elíptico
Para o treinamento com o elíptico (Athletic Elliptical
modelo 01163) foram utilizados quatro parâmetros. A frequência cardíaca máxima foi utilizada como determinante
da intensidade do exercício, mensurada através do cálculo:
220 menos a idade do indivíduo em anos [22], sendo neste
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
caso utilizado como FC ideal 70% da FC máxima. A escala
de Borg foi utilizada como um indicador de intensidade de
esforço conforme Mendonça [23], além do nível de Saturação
de 02 e pressão arterial. Estes parâmetros foram monitorados
antes, durante e após o treinamento.
Inicialmente, foi realizado o aquecimento, durante cerca
de três minutos. No treino, o equipamento foi mantido sem
carga e com velocidade de cerca de 40 ciclos/minuto [24],
interrompendo o treinamento em caso de aumento da FC
acima da ideal ou relato do nível de esforço pela escala de
Borg em pontuação 7. Ao finalizar o treino, foi realizada uma
desaceleração ainda no instrutor elíptico, com anotação do
tempo de treinamento a cada sessão.
235
Figura 1 - Resultados para o teste de velocidade da marcha (m/s)
antes e após o treinamento.
1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
Pré
Pós
Sujeito 1
Resultados
Pré
Sujeito 2
1º Teste
Nas Figuras 1 a 3 e Tabelas I e II encontram-se expressos
os resultados comparativos entre pré e pós testes com o treinamento elíptico e o tempo de permanência no treinamento na
1a e 16a sessão. Foi realizada a análise comparativa dos resultados obtidos pré-treinamento e pós-treinamento, avaliando-se
estatisticamente, por meio do teste t de Student, as diferenças
verificadas nos desempenhos inicial e final dos sujeitos. Nesta
comparação, foi também utilizada a variação da média do
desempenho, determinada através da fórmula: (média final
menos média inicial) vezes 100, dividido pela média inicial,
denominado índice de desempenho (ID).
Tabela I - Médias, desvio-padrão e índice de desempenho da amostra
nos pré e pós-testes.
Pemax
Pimax
Força
TUG
Marcha
Berg
Antes
79,37 ± 16,74
71,4 ± 17,13
264,2 ± 36,10
10,93 ± 2,23
0,93 ± 0,09
51 ± 3,08
Depois
89, 55 ± 36,36
85,1 ± 15,27
280,07± 30,76
8,51 ± 2,26
1,25 ± 0,23
54,5 ± 2,08
ID
12,82%
19,1%
6%
22,07%
35,2%
6,8%
Tabela II - Tempos de permanência (em minutos) no elíptico.
Sujeito 1
Sujeito 2
Sujeito 3
Sujeito 4
1a sessão
08’15
14’13
1’48
05’
16a sessão
25’
25’
10’49
10’16
Em relação à manovacuometria, os sujeitos apresentaram
melhora nas PE e PI máximas obtidas, com uma variação no
desempenho de 12,82% para a PE máxima e de 19,1% para
a PI máxima, porém as diferenças não foram consideradas
estatisticamente significativas no teste t (p < 0,05).
Em relação à dinamometria, os sujeitos apresentaram
melhora nos valores obtidos, com uma variação no desempenho de 6%, porém as diferenças não foram consideradas
estatisticamente significativas no teste t (p < 0,05).
Pós
Pré
Pós
Sujeito 3
2º Teste
Pré
Pós
Sujeito 4
3º Teste
Figura 2 - Resultados para o teste ‘Timed up and go’ (segundos)
antes e após o treinamento.
16
14
12
10
8
6
4
2
0
Pré
Pós
Sujeito 1
1º Teste
Pré
Pós
Sujeito 2
2º Teste
Pré
Pós
Sujeito 3
Pré
Pós
Sujeito 4
3º Teste
Em relação à velocidade da marcha e TUG, os sujeitos
apresentaram melhora nos tempos de realização dos testes, com
uma variação no desempenho de 35,2% para a velocidade da
marcha e de 22,07% para o TUG, e as diferenças foram consideradas estatisticamente significativas no teste t (p < 0,05).
Figura 3 - Resultados para o teste de equilíbrio de Berg antes e
após o treinamento.
60
50
40
30
20
10
0
Sujeito 1
Sujeito 2
Pré-teste
Sujeito 3
Pós-teste
Sujeito 4
236
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
Em relação ao equilíbrio pelo Berg, os sujeitos apresentaram melhora na pontuação do teste, com uma variação no
desempenho de 6,8%, e as diferenças foram consideradas
estatisticamente significativas no teste t (p < 0,05).
Discussão
Diversos estudos prévios demonstram os benefícios dos
exercícios aeróbicos no condicionamento físico e marcha de
indivíduos hemiparéticos, porém não foi encontrado nenhum
estudo demonstrando os benefícios do treinamento elíptico
em pacientes neurológicos.
No presente estudo todos os sujeitos da amostra apresentaram incrementos na manovacuometria, porém os ganhos
não foram estatisticamente significativos. Mesmo assim, os
resultados são similares aos de pesquisas anteriores. Pang e
Eng [25] analisaram diversos estudos relativos à melhora da
capacidade aeróbica em treinamento de hemiparéticos, com
frequências variando de 3-5 sessões semanais e duração de
3-19 semanas. Foi verificado em todos eles efeitos positivos
na capacidade aeróbica, principalmente no pico de VO2, e
também na velocidade da marcha. Os métodos de treinamento incluíram principalmente cicloergômetro e esteira com
e sem suporte de peso. Na presente amostra, a frequência
semanal pode ter sido um fator limitante para incrementos
adicionais na capacidade aeróbica. Mesmo assim, todos os
sujeitos apresentaram incrementos no tempo de permanência
na atividade, o que pode indicar um aumento na resistência
e condicionamento aeróbico.
Sweitzer et al. [18] compararam os efeitos cardiopulmonares do treinamento elíptico e da esteira em 12 indivíduos
submetidos à reabilitação cardíaca. Os resultados indicaram
que o treinador elíptico produz melhores respostas cardiorrespiratórias comparado a outra modalidade de exercício, com
melhora significativa da VO2 e PEmáx.
Ovando et al. [5] ressaltam que na aplicação das técnicas de
reabilitação é de grande importância a aprendizagem motora,
particularmente por meio da abordagem da aprendizagem
ou reaprendizagem motora, que propõe a prática ativa de
tarefas motoras contexto-específicas. Portanto, tarefas que se
assemelhem à marcha podem apresentar maior eficiência no
ganho do controle motor. Kulig e Burnfield [24] analisaram a
cinemática do treinamento no elíptico e concluíram que esta
atividade e a marcha apresentam similaridades nos padrões
de movimento, exceto que os indivíduos ficam posicionados
em maior ângulo de flexão das articulações. Em outro estudo,
porém, Burnfield et al. [26] ressaltam, com base em análises
por EMG, que durante o treinamento no elíptico a atividade
do glúteo máximo e vasto lateral podem estar aumentadas; isquiotibiais mediais, triceps sural e tibial anterior, diminuídas;
glúteo médio e isquiotibiais laterais similares, comparando à
ativação durante a marcha.
Por outro lado, Leveau et al. [27] estudaram os efeitos do
treinamento elíptico na força de quadríceps e isquiotibiais
em um grupo com quatorze indivíduos saudáveis. O treinamento foi realizado de duas a três vezes semanais durante oito
semanas consecutivas, com um período de quinze minutos
por sessão. Os resultados mostraram um incremento significativo da força destes músculos no final das oito semanas
de treinamento.
Alguns autores acreditavam que o treinamento muscular
não deveria ser usado na reabilitação de indivíduos com lesão
de neurônio motor superior, justificando que a diminuição
da potência muscular não estaria relacionada à fraqueza, e,
sim, à hipertonia da musculatura espástica, e o treinamento
aumentaria e reforçaria o movimento anormal [7,8], Porém,
Ovando et al. [5] ressaltam a importância do fortalecimento
muscular em hemiparéticos, e citam variados estudos demonstrando a melhora no desempenho funcional, apesar da
polêmica a respeito dos exercícios resistidos. Diversos estudos
a respeito da cicloergometria foram conduzidos por Kautz e
Brown [16], que observaram, através da análise por EMG, que
não ocorria aumento da atividade muscular anormal durante
esta tarefa em hemiparéticos espásticos.
O presente estudo apresentou uma limitação na avaliação
da força do quadríceps, uma vez que o esfigmomanômetro
modificado não permite a verificação de pressões maiores
que 300mmHg. Portanto, apesar da melhora apresentada
pelos sujeitos, a avaliação do efeito positivo do elíptico no
fortalecimento ficou prejudicada.
Na velocidade da marcha, TUG e teste de Berg, os incrementos foram significativos, similares aos de estudos prévios
envolvendo outras modalidades. Beinotti e cols. [9] estudaram
um grupo com quatorze indivíduos com idades entre 18 e
60 anos de idade, que apresentavam hemiparesia pós-AVC.
Foram submetidos a 20 sessões com esteira ergométrica com
suporte parcial 2 vezes por semana, e observaram melhora
da velocidade da marcha de 14,8% e consequente melhora
do equilíbrio através da escala de Berg. Katz-Leurer et al.[28]
compararam dois grupos de hemiparéticos na fase subaguda
do AVC, um grupo submetido a cinesioterapia e cicloergometria durante 3 semanas e o segundo grupo submetido somente
a cinesioterapia. Os dois grupos apresentaram melhora em
testes de equilíbrio e de função motora dos membros inferiores, porém o grupo da cicloergometria teve um desempenho
significativamente maior nos pós-testes, sugerindo uma melhora devido ao incremento da força dos membros inferiores.
Moura et al. [13] conduziram um estudo de caso com dois
participantes crônicos pós-AVC, com 40 sessões realizadas
cinco vezes por semana com duração média de 50 minutos
com bicicleta ergométrica e a capacidade funcional foi verificada pelo teste de caminhada de 6 minutos, com evidências
de aumento da velocidade da marcha e da distância percorrida
após o treinamento aeróbico ergométrico.
O treinamento elíptico requer movimentação cíclica e
simultaneamente a manutenção do controle postural, e assim
como na marcha, promove a transferência do peso corporal para
o membro afetado, portanto, pode ter um benefício adicional
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010
em relação à melhora do equilíbrio. Incrementos no equilíbrio
e na velocidade da marcha estão associados à melhora da força
de membros inferiores em diversos estudos [29], com forte
correlação entre a velocidade da marcha, equilíbrio pelo Berg
e a força de membros inferiores em hemiparéticos crônicos
[30]. Os indivíduos da amostra não apresentaram incrementos
significativos na força do quadríceps, por isso acreditamos que
a melhora nos testes de equilíbrio e marcha pode ser atribuída
ao fortalecimento de outros grupos musculares, havendo a
necessidade de novos estudos investigando estas variáveis.
Conclusão
Por meio do presente estudo, verificou-se os efeitos do
treinamento elíptico em hemiparéticos crônicos pós-AVC
cujos valores significativos foram na melhora da velocidade
da marcha, mobilidade funcional e equilíbrio em todos os
participantes. O presente estudo buscou inserir uma nova
modalidade terapêutica de baixo custo e com repercussão
na qualidade de vida de portadores de sequelas crônicas pósAVC, uma vez que melhorar a capacidade aeróbica pode ser
fundamental para a prevenção de complicações secundárias
à imobilidade comuns nestes indivíduos.
Este estudo apresenta limitações, uma vez que o número
de indivíduos da amostra e a duração do tratamento foram
restritos. Sugerem-se estudos com amostras, períodos e
frequencias de treinamento maiores a fim de gen

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