fisiologia - Faculdade Montenegro
Transcrição
fisiologia - Faculdade Montenegro
R e v i s t a B r a s i l e i r a Internacional d e Esporte e Atividade Física FI SI OLOGI A VII Encontro E En nccontr tro B r a s i l e i r a DO VII DO EXERCÍCI DO EXERCÍCI FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO FISIO EXE DO F I S I O L O G EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO DO EXERCÍC FISIOLOGIA FISIOLO DO E X Ede R Cballet ÍCIO Lesões em profissionais DO E X E R C Antropometria do idoso em hidroginástica FISIOLOGI Fibromialgia e exercícios físicos DO E X Erepetições RCÍC O DO E X E R C Í C I Correlação entre no Ipulley frontal e flexões na barra fixa • Exercício aeróbico e prevenção de quedas em idosos • • • • EXERCÍCIO FISIOLOGIA VII FISIOLOGI F I S I O L O G I A Tradução SimultâneaE X E R C Í C I O DO E X E R C Í C I VII Cursos ministrados por DO volu m e 0 9 - nú m ero 0 1 • J an /M ar 2 0 1 0 www.encontrophorte.com.br FISIOLOGI FISIOLOGI FISIOLOGIA FISIOLOGIA autores da Phorte Editora [email protected] EXERC Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício DO DO Telefone: (011) 2714-5678 skype: instituto.phorte.educacao DO Brazilian Journal of Exercise Physiology FISIOLOGIA Certificado para Curso FISIOLO EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO ESPORTE EXERCÍCIO 85 Cursos ISSN 16778510 FISIOLOGIA E X E R C Í C I O São Paulo VII d e D O 23/07 à 01/08/2010 R e v i s t a EXERCÍCIO DO FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO FISIO • Avaliação nutricional de atletas de ginástica rítmica F I S I O L O G I A X E R C Í C I O DO E X E R C Í C I O DO E FISIOLOGIA EXE O G I A neurofisiológicos da educação F I S I O L F I S I O L O G I A F I S I O•LMecanismos FISIOLOGIA EXER E X E Rcruzada CÍCIO DO E X E R C Í C I O DO FISIOLOGIA DO E X E R NUTRIÇÃO CÍCIO EXERCÍCIO • Bases metabólicas doX crescimento DO E E R C Í muscular CIO FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO www.atlanticaeditora.com.br DO FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO v o l u m e 0 9 - n ú m e r o 0 1 • Jan/Mar 2010 R e v i s t a R e v i s t a d e d e DO FI SI OLOGI A DO DO E X E R C Í C I O DO EXERCÍCIO FISIO EXE F I S I O L O G EXERCÍCIO • • • • • DO EXERCÍC FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO FISIOLO DO E X E R C Força muscular e teste de esforço FISIOLOGI Treinamento de força e massa óssea Treinamento muscular DO E X inspiratório E R C Í C I O DO E X E R C Í C I Alongamento e desempenho da força Bases metabólicas da rabdomiólise e atrofia muscular EXERCÍCIO FISIOLOGIA FISIOLOGI F I S I O L O G I A EXERCÍCIO DO E X E R C Í C I FISIOLOGIA ESPORTE FISIOLOGIA Fitness Business, principal fonte de informação de negócios DO EXERCÍCIO do setor, e a Rede de Ensino Desportivo, que leva educação à distância para milhares de profissionais em todo o país. InstItuto FItness BrasIl. Quando esta marca está DO EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO • Ginástica laboral • Treinamento aeróbio em adultos obesos e diabéticos FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO EXERCÍCIO FISIOLOGIA • Processo do envelhecimento DO E Xhumano ERC ÍCIO DO F I S I O L O G I A • Esteróides anabolizantes: benefícios ou malefícios EXERCÍCIO www.atlanticaeditora.com.br EXE F I S I O L O G I A F I SEIXOE LR EXERCÍCIO GERONTOLOGIA DO F I S I O ESTERÓIDES LOGIA DO FISIO NUTRIÇÃO DO E X E R C Í C I O DO DO E X E R C Í C I O • Aspectos nutricionais e atividade física F I S I O L O G I A FISIOLOGIA FISIOLOGIA DO www.institutofitnessbrasil.com.br EXERCÍCI FISIOLOGIA e chancelado pelo Instituto Fitness Brasil, assim como a revista presente, você tem a garantia de conteúdo de qualidade. EXERCÍCI DO DO vol u me 0 9 - nú me ro 0 2 • Ab r/ Jun 2 0 1 0 20 anos atualizam profissionais, têm seu conteúdo formatado DO FISIOLOGIA FISIOLOGIA DO FISIOLOGI FISIOLOGI D O Os congressos e conferências da Fitness Brasil, que há mais de EXERC Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício fornecimento de conteúdo, do desenvolvimento e atualização qualidade para produtos e serviços ligados ao bem-estar. DO Brazilian Journal of Exercise Physiology missão oferecer saúde e bem-estar à sociedade através do de profissionais, da atuação em políticas públicas e do aval de FISIOLO EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO E X E R C Í C I O FISIOLOGIA O Instituto Fitness Brasil é uma ONG que tem como ISSN 16778510 FISIOLOGIA B r a s i l e i r a A maior fonte de informação e desenvolvimento profissional da América Latina para o setor de fitness, saúde e bem-estar. B r a s i l e i r a DO EXERCÍCIO v o l u m e 0 9 - n ú m e r o 02 • Abr/Jun 2010 R evi s ta 15 a 17 de outubro de 2010 Centro de Convenções da Bahia Salvador, BA Bra s i l ei ra d e FI SI OLOGI A EXPLORE SEU TALENTO Inelia Garcia Sergio Guida Fitness e Ginástica: Cida Conti, Inelia Garcia, Monica Tagliari e Carol Macário – os ícones do fitness de volta a Salvador Julio Serrão Encontro Nacional de Biomecânica: Julio Serrão, Sergio Guida e Mario Charro reunidos em um único curso DO DO Pilates Tecido Bebida esportiva Rádio FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO FISIO EXE F I S I O L O G EXERCÍCIO FISIOLOGIA DO NUTRIÇÃO • Avaliaçãodaingestãonutricional FISIOLOGIA deummaratonistadeelite DO E X E R C Í C I O FISIOLOGIA • Composiçãocorporaleconsumoalimentar DO E X E R C Í C I O deequipedefutebolfeminino DO E X E R C • Consumodecreatinaporatletasepraticantes FISIOLOGI deatividadefísica DO E X E R C Í C I DO EXERCÍCIO EXERCÍCIO EXERCÍC FISIOLO FISIOLOGIA DO FISIOLOGIA EXERCÍCIO • Flexibilidadeduranteociclomenstrual empré-adolescentes • Reprodutibilidadeecomportamento dafrequênciacardíaca • NíveisplasmáticosdoHDL-colesterolno FISIOLOGIA FISIOLOGIA treinamentoaeróbiodealtaebaixaintensidade DO E X E R C Í C I O DOBIOLOGIA E X E R C Í C I O DO E X E R C Í C I O DO DO REALIZAÇÃO EXERCÍCIO FISIO FISIOLOGIA EXE IOLOGIA F I S I O L O G I A F•I SMaturaçãobiológicadeatletasdeginástica FISIOL F I S I O L O G I A EXERCÍCIO artística EXER DO E X E R C Í C I O DO FISIOLOGIA DO Equipamento EXERCÍCI • Níveldedesidrataçãoedesempenhofísico DO deárbitrodefutebol • Exercíciofísicoresistidoemindivíduochagásico vol um e 0 9 - nú mero 0 3 • J ul/ Set 2 0 1 0 DO (71) 3018 1992 • (11) 5095 2699 • www.fitnessbrasil.com.br Marca esportiva EXERCÍCI FISIOLOGI FISIOLOGIA APOIO DO FISIOLOGI F I S I O L O G I A EXERCÍCIO DO E X E R C Í C I INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: MARCAS OFICIAIS FISIOLOGI Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício FISIOLOGIA DO EXERC Brazilian Journal of Exercise Physiology DO Venha conferir centenas de ofertas do mercado de fitness, saúde e bem-estar: Artigos esportivos ENTRA Acessórios DA FRANC Avaliação física A Editoras e publicações Pilates • Moda fitness • Equipamentos Suplementos nutricionais DO EXERCÍCIO FISIOLOGIA FITNESS BRASIL FISIOLO ESPORTE Monica Tagliari EXPO IS S N 16778510 FISIOLOGIA Cida Conti E ainda: Musculação e Personal training • Carreira • Treinamento Funcional • Nutrição • Recreação e Escolar • Fisioterapia • Natação e Hidroginástica d e EX ER C Í C I O Corrida e Esportes: o melhor conteúdo da área com Alexandre Moreira, Lisia Kiehl, Tavicco Moscatello e Marilândio Ponchet Alexandre Moreira B r a s i l e i r a D O NO MAIOR CONGRESSO DE FITNESS E BEM-ESTAR DA REGIÃO R e v i s t a EXERCÍCIO FISIOLOGIA CRIOTERAPIA DO EXERCÍCIO FISIOLOGIA • Aplicaçãodabolsadegelonaforça depreensãomanual EXERCÍCIO www.atlanticaeditora.com.br DO DO DO EXERCÍCIO v o l u m e 0 9 - nú m e r o 03 • J u l/S e t 2010 R e v i s t a R e v i s t a B r a s i l e i r a d e ISSN 16778510 B r a s i l e i r a FISIOLOGIA d e DO EXERCÍCIO FI SI OLOGI A Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício D O E X E R C Í C I O ESPORTE • Qualidade de vida dos tenistas amadores • Treinamento de musculação e oclusão vascular NUTRIÇÃO • Avaliação da perda hídrica • Dietas restritivas e suplementos nutricionais FISIOLOGIA vol um e 0 9 - nú me ro 0 4 • Ou t/ De z 2 0 1 0 • Intensidade auto selecionada, percepção subjetiva de esforço e tempo sob tensão • Influência de diferentes cadências e intensidades de exercício • Diferença de rendimento entre meninos e meninas handebolistas CARDIOLOGIA • Treinamento elíptico em hemiparéticos • Exercício e fator de risco cardiovascular EXPERIMENTAL • Análise histomorfométrica do músculo esquelético de ratas ESTERÓIDES • Mecanismos de funcionamento e efeitos colaterais www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 0 9 - n ú m e r o 0 4 • Out/Dez 2010 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 9 número 1 - janeiro/março 2010 EDITORIAL Perspectivas 2010, Walace Monteiro .....................................................................................................................................3 ARTIGOS ORIGINAIS Estudo sobre lesões em profissionais de ballet clássico e contemporâneo em Belo Horizonte/MG, Juliana Santos Anselmo, Adelina Lima Rocha, Elisangela Macedo Rufino, Jediane Souza Julio, Luciana Gobira Brandão Justus, Marina Faria de Melo Valladão, Roxane Rafaela Macedo dos Santos, Vanderléia Maria de Faria, Vanessa Cristiane Almeida Rodrigues, Zilernice Ramires Guimarães Brito, Marcus Vinicius de Mello Pinto ....................................................................4 Avaliação do estado nutricional e satisfação da imagem corporal de jovens atletas integrantes da equipe competitiva de ginástica rítmica de um clube de São Paulo, Vanessa Quitto Rinaldi, Gabriela de Andrade Moreira Bucheb, Renata Furlan Viebig ..........................................................10 Comparação da autonomia funcional de idosos praticantes e não praticantes de treinamento combinado, Raphael Gouveia da Silva Lyra, Leandro Ramiro, Paulo Cesar Nunes-Junior, Sebastião David Santos-Filho ...............................................................................................................................................16 Efeito do exercício aeróbico na incidência de quedas em idosos com problemas de saúde, Josenei Braga dos Santos, Geórgia Maria F. Benetti, André Junqueira Xavier Eleonora d’Orsi ..............................................24 Correlação entre repetições no pulley frontal e flexões na barra fixa, Jaime Flôres de Araujo Bastos, Antonio Coppi Navarro, Francisco Navarro..............................................................................................29 Avaliação antropométrica em idosos praticantes de hidroginástica, Danielle Salles Tortola, Mariane Takesian, Karla Dias Tomazella, Marina Yazigi Solis, Jaqueline Kremer Pereira, Marina Gomes da Costa Fuchs, Monica Milani, Priscila Anacleto de Oliveira, Clara Korukian Freiberg ..............................34 Comparação do VO2 acumulado durante o exercício contínuo e intermitente na máxima fase estável de lactato sanguíneo, Luis Fabiano Barbosa, Camila Coelho Greco, Benedito Sérgio Denadai .................................................................................................................................. 39 REVISÕES Possíveis mecanismos neurofisiológicos mediadores da educação cruzada, Daniel Teixeira Belloni, Alessandro Carielo de Albuquerque, Bianca K. de Macedo Jakubovic, Júlio Cesar Correa Neto Carias, Vernon Furtado da Silva .......................................................................................................................................................45 Bases metabólicas do crescimento muscular, Rodrigo Minoru Manda, Nailza Maestá, Roberto Carlos Burini ..........................................................................................................................................................52 COMUNICAÇÃO BREVE A influência da caminhada versus exercícios convencionais sobre a dor e qualidade de vida em mulheres com fibromialgia: um ensaio simples-cego, Izabel Cristina Camargo dos Santos, Mariana Conceição Farias de Moraes, Bruna Piergentile, Karin Lima dos Reis de Burgo, Fábio Marcon Alfieri ....................59 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................... 62 EVENTOS ................................................................................................................................................................. 64 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 2 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Robert Robergs (EUA) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Rosane Rosendo (SC) Douglas S. Brooks (EUA) Sebastião Gobbi (SP) Emerson Silami Garcia (MG) Steven Fleck (EUA) Francisco Martins (PB) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Navarro (SP) Vilmar Baldissera (SP) Luiz Carnevali (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Assistente de vendas – Atendimento Márcia P. Nascimento [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 3 Editorial Perspectivas 2010 Prof. Dr. Walace Monteiro, Editor Associado – RBFEx A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx) completa em 2010 o segundo ano com periodicidade trimestral. Através da ampliação das áreas temáticas, houve um aumento da submissão de artigos, concorrendo também para uma melhora na qualidade dos trabalhos encaminhados. A figura do Editor de Área contribuiu para agilizar consideravelmente o processo de avaliação dos manuscritos. Outro aspecto a se destacar diz respeito às mudanças na proporção entre trabalhos originais e de revisão. Conseguimos aumentar a quantidade relativa de artigos originais, que hoje respondem por 80% dos trabalhos publicados. Em cada número, a RBFEx conta com ao menos 10 artigos, dos quais 8 a 9 são originais. Isso revela o aumento do interesse dos pesquisadores em publicar os resultados dos seus estudos no periódico. Pesquisadores de várias áreas do conhecimento relacionadas às ciências do exercício estão apoiando a revista, através do encaminhamento dos seus trabalhos. Grande parte dos estudos que publicamos hoje é decorrente de pesquisas realizadas em cursos de pós-graduação stricto-sensu, provenientes de diferentes áreas, irmanadas pelo interesse comum na fisiologia do exercício. Também se percebe que o interesse na revista, antes eminentemente concentrado em pesquisadores do eixo Rio-São Paulo, começa a se diversificar, abrangendo outros estados do país. O aumento do número de artigos publicados e dos pesquisadores interessados em divulgar seus estudos na RBFEX representa um passo importante para uma melhor indexação do periódico, credenciando-se assim a fomentos por parte dos órgãos de fomento em pesquisa e tornando-se prioritário no contexto de um sistema que dá pontos aos pesquisadores com base na indexação das revistas em que publica. Aumentar a qualidade e o número de trabalhos publicados, bem como manter a periodicidade da revista são passos fundamentais para alcançar esse objetivo. Para isso, convidamos os interessados em fisiologia do exercício a encaminharem seus trabalhos à RBFEx. Temos a certeza de que, com o apoio de todos, conseguiremos levar a revista ao patamar que ela merece. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 4 Artigo original Estudo sobre lesões em profissionais de ballet clássico e contemporâneo em Belo Horizonte/MG Study of injuries in professional dancers of classical and contemporary ballet in Belo Horizonte/MG Juliana Santos Anselmo*, Adelina Lima Rocha*, Elisangela Macedo Rufino*, Jediane Souza Julio*, Luciana Gobira Brandão Justus*, Marina Faria de Melo Valladão*, Roxane Rafaela Macedo dos Santos*, Vanderléia Maria de Faria*, Vanessa Cristiane Almeida Rodrigues*, Zilernice Ramires Guimarães Brito*, Marcus Vinicius de Mello Pinto** *Mestrandas do Programa de Mestrado em Ciências da Reabilitação, pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC/MG, **Professor e Pesquisador do Mestrado em Ciências da Reabilitação, do Centro Universitário de Caratinga – UNEC/MG Resumo Abstract Este estudo teve o objetivo de identificar as lesões sofridas por profissionais de ballet clássico e contemporâneo, comparar estas com estudos similares e analisar os aspectos característicos de atletas nestes profissionais. A amostra pesquisada contou com 21 indivíduos, entre homens e mulheres, profissionais de ballet clássico e componentes de uma companhia de dança contemporânea de Belo Horizonte/ MG. Os resultados mostraram que os bailarinos praticam ballet, em média, há 18 anos, e que 84,20% sofreram uma ou mais lesões ao longo de sua vida profissional. Destes, 63,45% de lesões em membros inferiores e 36,55% de membros superiores. O tempo de licença para 68,75% destas lesões foi de no máximo três meses. Estudos realizados com diferentes populações encontraram resultados semelhantes. Recomenda-se um estudo mais aprofundado sobre as possibilidades de se realizar um treinamento desportivo próprio para bailarinos que objetive trazer benefícios aos bailarinos e às companhias, dispensando aos mesmos cuidados de atletas, além de artistas. This study aimed to identify the injuries suffered by professional dancers of classical and contemporary ballet, to compare with similar studies and analyze characteristic aspects of athletes in these professionals. The sample included 21 individuals, both men and women, professional ballet dancers and members of a contemporary dance company of Belo Horizonte/MG. The results showed that ballet dancers have been practicing ballet for 18 years, and that 84.20% suffered one or more injuries along their professional life. 63.45% had upper limb injuries and 36.55% lower limb injuries. Duration of treatment of 68% of injuries was not longer than 3 months. Other studies with a different population have shown similar results. We recommend further detailed studies about the possibilities of creating a special sport training program for ballet dancers that brings benefits for dancers and companies, giving them treatment and care of athletes, as well as artists. Key-words: injuries, ballet, dancers, athletes. Palavras-chave: lesões, ballet, bailarinos, atletas. Endereço para correspondência: Juliana Santos Anselmo, Rua Doutor Maninho, 326, Bloco A - 3º andar, Centro, 35300-019 Caratinga MG, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução Sabe-se que a base da dança é o movimento. Bambirra [1] explicita que o movimento é o elemento principal da dança, aquele o qual se busca sempre trabalhar, lapidar e aperfeiçoar. Contudo, o movimento em si, segundo Leal [2] reside como necessidade do ser humano desde os primórdios da evolução. Quando o movimento se une a música, tem-se a dança. E ainda, “a dança nasceu com a própria humanidade” [1]. Com a descoberta do som e do ritmo, o homem os juntou aos seus gestos e movimentos, passando a dançar. Lagoas [3] completa dizendo que a mais antiga das artes criada pelo homem é a dança. Ele dançava instintivamente em várias das manifestações de sua vida. Guimarães & Simas [4] ainda relatam que a dança é uma necessidade natural e instintiva do homem de exaurir seu estado latente. O homem e a dança evoluíram, segundo Verderi [5], ao longo da história, juntos nas emoções, nas formas e expressão e nos movimentos. Para Nanni [6] este progresso da dança não é aleatório, ele obedece a padrões sociais e econômicos ou nasce da necessidade do homem de expressar suas emoções e sentimentos. O ballet clássico surgiu destas transformações e adaptações culturais da dança. Lagoas [3] diz que o ballet clássico é o desenvolvimento e a transformação desta dança primitiva. Complementando, a autora ainda afirma ser o ballet clássico uma dança que não se baseia mais no instinto, e sim em passos diferentes, com ligações, com gestos e figuras previamente elaboradas. Até os dias atuais, o ballet clássico é dançado dentro da técnica desenvolvida há séculos atrás. De acordo com Malanga apud Guimarães & Simas [4], certos princípios da técnica clássica devem sempre ser mantidos em todos os movimentos. Seguindo a mesma ideia, Picon et al. [7] dizem que o ballet clássico vem exigindo de seus praticantes, no decorrer de sua evolução, desempenhos cada vez mais complexos, sempre com a finalidade de manter a sua tradição e o grau de dificuldade técnica desta arte. A dança clássica, consolidada e popularizada em meados do século XVII, ganhou novos rumos com o Renascentismo, através da incorporação de novos elementos extraídos da arte popular, mesmo com a continuidade das severas divisões sociais entre camponeses e nobres [8]. Anos mais tarde, com o movimento Impressionista, surgem correntes contrárias àquelas que durante décadas sustentaram o ballet clássico. A dança moderna surge neste contexto, no final do século XIX, em oposição à rigidez do ballet clássico e em busca da valorização do movimento natural do corpo. Caminada [9] aponta a principal precursora deste movimento, Marta Graham, que juntamente com outros ícones da dança moderna, foram responsáveis pela modificação drástica dos padrões clássicos de dança, eliminando inclusive as sapatilhas de ponta. Por sua vez, a dança contemporânea que muito se confunde com moderna, busca uma ruptura total com o ballet 5 clássico, podendo inclusive abandonar a estética em virtude da expressão e transmissão de ideias e sentimentos. Com raízes oriundas da dança moderna de Martha Graham, o ballet contemporâneo surgiu na década de 60, mas somente começou a se definir desenvolvendo uma linguagem própria na década de 80, embora contraditoriamente, faça muitas referências ao ballet clássico. É importante frisar, contudo, que a dança contemporânea não possui uma técnica única estabelecida. A criação coreográfica dá liberdade ao bailarino ou coreógrafo de criar aquilo que bem entender. Atualmente, o ballet clássico é a base para a formação de todos os bailarinos profissionais. Mesmo aqueles que se dedicam exclusivamente à dança contemporânea precisam possuir técnica apurada também em dança clássica. A técnica do ballet, apesar de rigorosa e tradicional, pode ser ensinada de diversas formas, que se diferenciam pelos métodos de cada escola clássica, dentre elas a Francesa, Inglesa, Italiana, Russa, Cubana e Americana. Estes métodos foram criados e aperfeiçoados, e segundo Bambirra [1] eles têm características próprias que não podem deixar de ser reconhecidas. A autora ainda enfatiza que dentro desta variedade de métodos existem regras e cuidados necessários e imprescindíveis. É importante que o professor conheça a biotipologia física daquelas que, com ele pratiquem o ballet clássico, para que possa empregar o melhor de cada método às bailarinas. Guimarães & Simas [4] mostram ser de extrema importância que a técnica do ballet clássico seja inserida no momento apropriado, evitando-se a aplicação da técnica pura. Complementando esta ideia, Sampaio [10] indica, como sendo um dos principais protagonistas da incidência de lesões nos bailarinos clássicos, a aplicação de um método de ensino incompatível com as condições musculares do aluno. Guimarães & Simas [4] dizem ser característico do ballet clássico o excesso de repetitividade de movimentos. A repetição da coreografia, ou de determinada parte da mesma, é um erro frequente entre as bailarinas. Devido aos períodos de longos ensaios e espetáculos, seguidos de curtas etapas de recuperação, é constante perceber entre os bailarinos a exaustão, descrita por Koutedakis [11] como burnout,ou overtraining que é uma condição clínica extremamente complexa e de causa indeterminada com sintomas que variam de pessoa para pessoa, dentre eles a redução da performance física, fadigas constantes e prolongadas, assim como diversas alterações emocionais. Objetivo Identificar as lesões sofridas por profissionais de ballet clássico e contemporâneo de Belo Horizonte/MG, comparando com estudos similares realizados com outras amostras, buscando aspectos predominantes de artistas ou atletas nestes profissionais. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 6 Material e métodos Para fundamentar a pesquisa e possibilitar a análise dos dados coletados utilizou-se uma revisão bibliográfica de autores e trabalhos que possuíssem estreita relação com o tema investigado. A pesquisa qualitativa contou com tratamento de dados estatísticos como forma complementar de análise. A parte de campo foi realizada com a companhia de dança contemporânea “Grupo Corpo”, sediada em Belo Horizonte, Minas Gerais. Companhia esta que, apesar de ter sua identidade própria de ballet contemporâneo, possui como integrantes bailarinos com base de dança clássica. De toda a população de bailarinos desta companhia, 21 indivíduos entre homens e mulheres, estiveram presentes na amostra da pesquisa apenas aqueles que estavam atuando pela companhia. Foram excluídos, portanto, os bailarinos que se encontravam afastados por motivos quaisquer. Os entrevistados deveriam ser profissionais contratados pelo “Grupo Corpo”, devidamente capacitados para exercer a função de bailarinos. Esta entrevista foi feita sob forma de questionário, o qual se apresentou dividido em domínios, onde constaram: tempo de profissão e prática em dança (pregresso e atual), histórico de lesões (pregresso e atual) e o tempo de recuperação das mesmas. Resultados e discussão Bailarinos são artistas que utilizam o corpo para expressar sua arte e possuem características de verdadeiros atletas. O ballet deve ser visto como um movimento no mundo da arte, porém através de uma prática complexa e extremamente técnica, exigindo do bailarino um desempenho de atleta [4]. O que percebemos ao mergulharmos no mundo da dança, entretanto, é que os bailarinos, mesmo sabendo de suas próprias características físicas, ainda têm uma percepção artística predominante de sua profissão. Entretanto, assim como atletas, os bailarinos se arriscam a sofrer lesões a todo tempo justamente devido às exigências técnicas da dança clássica, e sabe-se que vários tipos de lesões são típicos e frequentes nos praticantes do ballet. “As elevadas amplitudes articulares dos quadris e joelho, e a repetitividade desses movimentos podem estar desequilibrando grupos musculares, alterando, assim, a biomecânica do corpo e comprometendo a função, refletindo na estrutura corporal, podendo aumentar a predisposição a lesões características em bailarinos clássicos [4]”. Brinck & Nery [12] dizem que os bailarinos mais bem preparados fisicamente, capacitados a suportar a máxima solicitação de tendões, ligamentos e músculos, poderão ter incrível melhora em sua performance. Peculiaridades que fazem parte da preparação de um atleta. Mesmo que existam diferenças entre os diversos tipos de dança que utilizam o ballet clássico como base técnica, diferenças também entre estas e os desportos em si, existem inúmeras semelhanças entre o esporte e a performance artística da dança. Koutedakis & Jamurtas [13] descrevem a dança como um fenômeno complexo que depende de vários elementos que, direta ou e indiretamente, têm seus efeitos específicos. Os autores apontam que em nível profissional os bailarinos além de possuir excelente técnica e estética artística, devem estar psicologicamente preparados para lidar com situações de stress, evitar ao máximo as lesões, e buscar sempre estar em sua perfeita forma física. A prática do ballet pode ser vista como um trabalho muito desgastante para a musculatura em geral e partindo deste pressuposto, o treinamento de força é peça fundamental para bailarinos. De acordo com Brinck & Nery [12] é grande o grau de benefício que um programa de treinamento de potência muscular pode transferir para o desempenho de um atleta. Apenas dançar não é o suficiente, o bailarino deve superar seus limites técnicos e físicos adotando a prática da preparação física diária no seu ensaio técnico, tanto para melhorar sua performance, quanto para aliviar e prevenir suas possíveis lesões. Além de ser uma atividade física intensa como qualquer outra, o ballet exige de seus praticantes ampla e complexa movimentação, quase sempre com posições antianatômicas, além de um enorme número de repetições de um mesmo movimento. Estas repetições não se esgotam nem mesmo com a fadiga muscular, pois os bailarinos se mostram sempre determinados a atingir a perfeição. Segundo Sampaio [10], o bailarino precisa reconhecer suas virtudes e também os seus pontos frágeis, seus limites, para que possam ser trabalhados e superados, ou até mesmo para que se possa viver em harmonia com eles. Em suas pesquisas, os autores Picon et al. [7] mostram que existem inúmeros estudos acerca de lesões típicas decorrentes do ballet, e que mesmo assim as fortes tradições da prática são mantidas, assim como os paradigmas contidos nesta arte. Ao contrário, no âmbito esportivo, a ciência se mostra, cada vez mais, uma grande aliada na busca por tecnologias de vestuário e treinamento, sempre buscando melhorar a performance dos praticantes e garantir sua integridade física. Barcellos & Imbiriba [14] afirmam que no uso da sapatilha de ponta, os pés não devem ser comprimidos, preservando o posicionamento dos dedos entre si, mantendo sua estrutura anatômica, o que possibilita a elevação en pointé, formando uma continuidade dos pés, pernas, tronco e cabeça. Caso contrário pode haver um comprometimento dos músculos e ligamentos envolvidos. Segundo Antunes [15], a desinformação sobre o próprio corpo, suas virtudes, capacidades e exigências, aumenta o número de lesões, uma vez que muitos professores se mostram despreparados para orientar seus alunos em questões anatômicas, cinesiológicas e fisiológicas, que estão diretamente Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 relacionadas ao rendimento técnico, dando o máximo de segurança. Complementando esta ideia Sampaio [10] diz: “Hoje (e cada vez mais no futuro) temos que estar preparados para lidar com o corpo alheio. Não podemos ficar presos apenas a banalidades estéticas (...). Temos responsabilidades sobre as pessoas que muitas vezes chegam as nossas mãos ainda criança, tendo todo o seu desenvolvimento anatômico por acontecer.” Por trabalhar com seres humanos envolvidos em uma prática tão complexa como a dança, os professores e profissionais da área de saúde devem estar atentos à especificidade de cada bailarino, sua estrutura corporal, suas habilidades para o ballet e seu limite de treinamento. Bambirra [1] diz que a didática massificada para o ensino do ballet tira a individualidade do bailarino. O professor tem que saber tirar do aluno o que ele tem para dar, contribuindo para o seu desenvolvimento saudável. O primeiro domínio a ser investigado, tempo de profissão e prática em dança, contou com interrogações sobre o tempo de prática em dança e a frequência semanal com que o bailarino se apresenta para as aulas de ballet clássico da companhia (a presença dos mesmos, nesta aula anterior aos ensaios, não era obrigatória). Quadro 1 - Tempo de profissão e prática de dança. Tempo médio de prática de dança Presença média nas aulas de Ballet clássico 7 sentada para a frequência em aulas semanais (3,57), uma vez que estas aulas são oferecidas 5 dias por semana. Este fator pode ser um resultado dos longos anos de dança, que acabam por desencadear um desinteresse pelo ballet clássico em alguns bailarinos, agora envolvidos com a dança moderna e contemporânea. A presença nas aulas não é obrigatória, e por ela se iniciar logo de manhã, muitos preferem dormir até mais tarde, ou resolver qualquer outro assunto, a fazer a aula de ballet. Alguns bailarinos relataram que nunca presenciam estas aulas, por não sentirem relação direta entre a aula de ballet clássico e as coreografias dançadas por eles, extremamente contemporâneas. Houve ainda, quem achasse a aula totalmente voltada para a especificidade do grupo feminino, faltando exercícios e técnicas específicas aos homens. É importante relembrar e ressaltar, neste ponto, que um dos princípios propostos pela teoria do treinamento desportivo é o da especificidade, onde a transferência positiva do treinamento para a performance do atleta somente ocorrerá em casos onde o treino possua relação direta e específica com o esporte [16-21]. Os resultados obtidos com o domínio Histórico de lesões foram agrupados nas Figuras 1 a 4. Figura 1 - Incidência de lesões, em caráter quantitativo, entre os bailarinos entrevistados. 18 anos 31,58% 15,79% Nunca sofreram lesões 1 lesão 3,57 vezes/semana O Quadro 1 nos mostra que os bailarinos estão envolvidos no mundo da dança há muitos anos (18 em média). A profissionalização na dança não acontece subitamente. São necessários, em média, 10 anos de estudos sobre o ballet clássico, moderno e contemporâneo, além de outras práticas de dança. Kadel et al. apud Guimarães & Simas [4] explica que a formação de um bailarino clássico se inicia precocemente por ser necessário que se desenvolvam amplamente habilidades físicas como força, amplitude articular, flexibilidade, resistência, coordenação, velocidade e equilíbrio, buscando uma performance adequada. Portanto, são vários anos praticando exaustivamente as mesmas técnicas, passos e coreografias, com poucas modificações. A diversificação acontece a partir do momento em que o bailarino já está mais maduro, e o coreógrafo se sente livre para extrapolar as linhas clássicas. Confirmando este fato, Schafle apud Guimarães & Simas [4] diz que a dança se caracteriza por movimentos altamente repetitivos, e com elevadíssimas amplitudes articulares, o que acaba por desequilibrar diversos grupos musculares. A biomecânica do corpo acaba por se alterar, o que reflete na estrutura corporal e na predisposição a lesões típicas e características da prática. A não assiduidade perante a parte técnica específica – a aula de ballet clássico – pode ser percebida pela média apre- 2 lesões 3 ou mais lesões 15,78% 36,84% Observando os dados da Figura 1 podemos perceber como a grande maioria dos bailarinos (84,20%) já se lesionou em sua prática de dança. Percebe-se uma relação com a vida de um atleta, pois em ambos os casos a grande presença de lesões é notória. A diferença está nos cuidados que um atleta recebe, tanto na prevenção de lesões quanto na recuperação das mesmas. Para Leal [2] a profilaxia deveria ser adotada como hábito permanente de uma companhia de dança, através de um treinamento muscular cotidiano, buscando evitar este alto índice de lesões características entre os bailarinos. Entretanto, o que podemos observar na maioria das companhias de dança do nosso país é a ausência de uma equipe de profissionais preparada para atender os bailarinos. Os motivos que podem ocasionar lesões em bailarinos são diversos. Sampaio [10] enumerou os principais fatores que levam os bailarinos a se lesionarem ao longo de sua prática com o ballet clássico: a) trabalho muscular incorreto; b) aquecimento inadequado antes da atividade física; c) tentativa de aumentar a angulação de en-dehors pelos pés, e não pelo quadril; d) trabalho prématuro da posição en pointé; e) Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 aplicação de um método de ensino que não corresponde às condições musculares do aluno, entre outros. Muitas lesões também são oriundas da prática do próprio ballet contemporâneo, que além destas enumeradas podemos considerar: os saltos, sem a correta absorção de impacto; os “portés” (partes da coreografia em que os bailarinos precisam elevar, ou carregar, outro bailarino); os movimentos que exigem elevadas amplitudes articulares e posições antianatômicas; entre outros. Na amostra pesquisada, apenas 15,79% dos bailarinos relataram nunca terem sofrido lesões, ao passo que 31,58% já sofreram mais de 3 lesões ao longo de sua vida. A gravidade e o tipo destas lesões relatadas foram as mais variadas, e são apresentadas na Figura 2. Figura 2 - Incidência de lesões, em caráter qualitativo, indicando os tipos de lesões e o percentual das mesmas entre os bailarinos entrevistados. 9,37% 6,25% 3,11% 16,61% 3,11% 3,11% 6,25% 6,25% 12,50% 3,11% 6,25% 12,50% 9,37% Ruptura de ligamentos do joelho Entorse tornozelo Protusão/Hérnia Lombar Tendinite Aquiles Pulso aberto Protusão/Hérnia cervical Fratura Metatarso 3,11% Bursite Joelho Ligamento do ombro Estiramento do Psoas Estiramento ligamento medial olécrano Contratura muscular Lombar Osteocondral Pilão Tibial Fratura por estress da Tíbia De acordo com a Figura 2, percebe-se que a incidência de lesões, em caráter qualitativo, dentro da amostra pesquisada, apontando um maior índice de lesões nos membros inferiores, sendo representados por 63,45% do total de lesões relatadas. Dentre elas foram relatadas: entorse de tornozelo (16,61%); fratura do metatarso (12,50%); fratura da tíbia (9,37%); ruptura de ligamentos do joelho (6,25%); inflamação no tendão de Aquiles (6,25%); estiramento do ílio-psoas (6,25%); bursite no joelho (3,11%); osteocondral pilão-tibial (3,11%). Em menor porcentagem, mas também em grande escala, apareceram lesões de membros superiores, tais como: protusão/hérnia lombar (12,50%); protusão/hérnia cervical (9,37%); ruptura do ligamento do ombro (6,25%); pulso aberto (3,11%); estiramento do ligamento medial do olécrano (3,11%); contratura muscular lombar (3,11%). O estudo realizado por Guimarães & Simas [4], que buscou analisar as lesões mais frequentes em bailarinas clássicas, concluiu que o ballet possui seu próprio conjunto de lesões associadas, no qual as mais comuns são as de pé e tornozelo, seguidas das de joelho e quadril e, por último, as de membro superior. Resultados muito semelhantes aos apresentados por esta pesquisa. Para Young apud Guerra [22] as entorses em inversão de tornozelo são as mais comuns na dança, uma vez que a extremidade distal do corpo é a responsável pelo apoio de toda a estrutura corporal, sendo, portanto intensa a sobrecarga nessa região. Confirmando esta colocação, a lesão de maior representatividade nesta pesquisa foi exatamente a entorse de tornozelo, com 16,61% dos relatos. Os resultados aqui obtidos ainda se encontram com os dados apresentados por Antunes [15] que afirma serem lesões frequentes em bailarinos: a tendinite no tendão de Aquiles; fraturas por estresse da tíbia e metatarsos; lesões ligamentares relacionadas com entorses de tornozelo e do pé; entre outros. Em estudos realizados na Inglaterra por Koutedakis et al. [23] foram apresentados dados, onde durante um período de 2 anos, 335 lesões foram documentadas em 159 bailarinos profissionais. Uma média de 2,10 lesões por bailarino neste período. A coluna lombar foi apresentada como o local anatômico de maior incidência de lesões, e que juntamente com a pelve, pernas, joelhos e pés representam mais de 90% das lesões documentadas. Já nesta pesquisa, a soma de lesões nestes locais representa quase 80% do total de lesões. Para buscar entender a gravidade das lesões apresentadas, e sua relação com os cuidados dispensados as mesmas pelos bailarinos, questionou-se o tempo de afastamento da profissão ocasionado por estas lesões. Este resultado é mostrado na Figura 3. Figura 3 - Tempo que cada percentual de bailarinos precisou se afastar da profissão para se recuperar da(s) lesão(ões). % de bailarinos entrevistados 8 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Menos 1 2 3 11 12 24 de 01 Tempo afastado para recuperação (em meses) Ao observar este gráfico podemos perceber que o período em que os bailarinos se ausentam da profissão é, em sua maioria, relativamente pequeno dado à gravidade das lesões apresentadas. Os resultados da entrevista mostraram que 68,75% dos bailarinos retomaram as atividades em Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 no máximo 3 meses. Um dos motivos por se afastarem por tempo insuficiente é que mesmo tendo todos os seus direitos mantidos, alguns temem perder seu “papel” em determinado espetáculo para o bailarino que o substitui, enquanto tenta se recuperar de sua lesão. Com isso, o bailarino se sente recuperado, e retoma suas atividades normais antes mesmo de curar totalmente sua lesão. Informalmente, durante o período de observação, alguns bailarinos ainda relataram que, mesmo recebendo o seu salário fixo quando estão afastados, deixam de receber os cachês por apresentação, sendo este outro motivo pelo curto espaço de tempo ausente. A presença de dores, representada na Figura 4, pode ser um indicador de que a lesão não foi totalmente recuperada. Figura 4 - Porcentagem de bailarinos entrevistados que ainda sente algum tipo de dor crônica, incômodo ou impedimento, causados pelas lesões sofridas. 31,25% Sim, ainda sente dores Não sente mais dores 68,75% Conclusão Os resultados mostraram que os profissionais de ballet clássico e contemporâneo do “Grupo Corpo“ estão envolvidos há muitos anos com a dança, e em sua maioria possuem lesões características de bailarinos, e ainda não gastam o tempo ideal de recuperação antes de reiniciarem suas atividades. Esta realidade identificada na amostra pesquisada é equivalente à realidade de outras populações já estudadas anteriormente. Conclui-se então que, os bailarinos se percebem e se preparam exclusivamente como artistas, desprezando a sua condição de atleta e os cuidados necessários para seu melhor desempenho, além da prevenção e minimização das lesões típicas da prática. Recomenda-se um estudo mais aprofundado sobre as possibilidades de se realizar um treinamento desportivo próprio para bailarinos, onde sejam atendidas as suas necessidades técnicas e biomecânicas. Um trabalho que objetive trazer benefícios aos bailarinos, às academias, aos professores e às companhias, na tentativa de vencer este paradigma apresentado, mostrando aos mesmos sua condição de artista e ao mesmo tempo, atleta. Ressalta-se ainda, a importância da presença de uma equipe multiprofissional composta por professores de dança altamente qualificados, profissionais de educação física, nutricionistas, médicos, fisioterapeutas e psicólogos, que poderiam evitar o alto índice de dores crônicas nos mesmos e melhorar seu desempenho artístico. Esta equipe seria responsável por 9 avaliar o bailarino e perceber se o mesmo está ou não em sua melhor condição física e psicológica, além de tratá-lo da forma correta, entendendo o bailarino como um atleta que necessita de cuidados específicos. Referências 1. Bambirra W. Dançar & sonhar: a didática do ballet infantil. Belo Horizonte: Del Rey; 1993. 2. Leal MRM. Preparação física na dança. Rio de Janeiro: Sprint; 1998. 3. Lagôas L. Giselle e outras histórias de Ballet. 3ªed. Rio Janeiro: Nórdica; 1989. 4. Guimarães ACA, Simas JPN. Lesões no ballet clássico. Rev Ed Física Maringá 2001;12(2):89-96. 5. Verderi EBLP. Dança na escola. 2ª ed. Rio de Janeiro: Sprint; 2000. 6. Nanni D. Dança-Educação: Pré-escola à universidade. 4ª ed. Rio Janeiro: Sprint; 2003. 7. Picon AP, Lobo da Costa PH, Sousa F, Sacco ICN, Amadio AC. Biomecânica e ballet clássico: uma avaliação de grandezas dinâmicas do “sauté” em primeira posição e da posição “en pointé” em sapatilhas de pontas. Rev Paul Educ Fis 2002;16(1):53-60. 8. Santos ESO. A dança moderna: identificação das alterações nos estados de ânimo dos praticantes. Boletim Brasileiro de Educação Física 2004;4(44). 9. Caminada E. História da dança: evolução cultural. Rio de Janeiro: Sprint;1999. 10. Sampaio F.Ballet Essencial. 3ª ed. Rio de Janeiro: Sprint; 2001. 11. Koutedakis Y. “Burnout” in dance – The physiological viewpoint. J Dance Med Sci 2000;4(4): 122-7. 12. Brinck NB, Nery TP. O treinamento de potência muscular de membros inferiores e a possibilidade do aumento de saltos em bailarinos contemporâneos. Revista Digital Vida e Saúde 2002;1(2). 13. Koutedakis Y, Jamurtas A. The dancer as a performing athlete Physiological considerations. Sports Med 2004;34(10):651-61. 14. Barcellos C, Imbiriba LA. Alterações posturais e do equilíbrio corporal na primeira posição em ponta do balé clássico. Rev Paul Educ Fís 2002;16(1):43-52. 15. Antunes SS. Flexibilidade e lesão no tornozelo do bailarino. [citado 2006 Ago 30]. Disponível em URL: http://www. bailarinas.kit.net. 16. Bompa TO. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. São Paulo: Phorte; 2001. 17. Hernandes Junior BDO. Treinamento desportivo. Rio de Janeiro: Sprint; 2000. 18. Fleck SJ, Kraemaer WJ. Fundamentos do treinamento de força muscular. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1999. 19. Mcardle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. 20. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do Exercício – teoria e aplicação ao condicionamento e ao desporto. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2000. 21. Zatsiorsky VM. Ciência e prática do treinamento de força. São Paulo: Phorte; 1999. 22. Guerra HS. Lesões na dança. [citado 2007 Feb 23] . Disponível em URL: www.conexaodanca.art.br. 23. Koutedakis Y, Khaloula M, Pacy PJ, Murphy M, Dunbar G. Thigh peak torques and lower-body injuries in dancers. J Dance Med Sci 1997;1(1):12-15. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 10 Artigo original Avaliação do estado nutricional e satisfação da imagem corporal de jovens atletas integrantes da equipe competitiva de ginástica rítmica de um clube de São Paulo Assessment of nutritional status and body image satisfaction of young competitive athletes of a rhythmic gymnastics team of a club in São Paulo Vanessa Quitto Rinaldi*, Gabriela de Andrade Moreira Bucheb*, Renata Furlan Viebig, M.Sc.** *Graduandas em Nutrição do Centro Universitário São Camilo, **Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica e Dietoterapia, Doutoranda do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Docente do curso de Graduação em Nutrição, Centro Universitário São Camilo/São Paulo/SP Resumo Abstract Este estudo visou avaliar o estado nutricional de jovens atletas da equipe competitiva de ginástica rítmica de um clube de São Paulo, com ênfase na imagem corporal. Foram analisadas 10 atletas de 9 a 12 anos, através da aplicação de questionário tipo anamnese completo contemplando imagem corporal, e da realização da antropometria. Após aferidas todas as medidas foram calculadas a circunferência muscular do braço (CMB), área muscular do braço (AMB) e área muscular do braço corrigida (AMBc) e estimada a porcentagem de gordura corporal. Dentre os resultados obtidos foram ressaltados que 9 ginastas ainda não apresentaram a menarca, 40% não demonstraram satisfação com a imagem corporal e metade estava com porcentagem de gordura corporal abaixo do recomendado. No geral, as ginastas estudadas apresentaram-se eutróficas em relação aos indicadores utilizados, e sem desvio significativo de imagem corporal. Porém é recomendado o acompanhamento nutricional e consideram-se pertinentes estudos que abranjam hábitos alimentares mais detalhados. This study aimed to assess the nutritional status of young competitive athletes of a rhythmic gymnastics team of a club in São Paulo, with emphasis on their body image. We examined 10 athletes, 9-12 years old, through the application of standard questionnaire including full body image, and anthropometry. Were calculated arm muscle circumference (AMC), arm muscle area (AMA), and corrected arm muscle area (CAMA) and the body fat percentage was estimated. The results highlighted that 9 gymnasts have not attained menarche, 40% showed no satisfaction with body image and half had body fat percentage below the recommended. In general, the gymnasts were considered eutrophic, with no significant deviation of body image. However it is recommended nutritional follow-up and more relevant studies that include more detailed dietary habits. Key-words: nutritional status, body image, gymnastis, anthropometry. Palavras-chave: estado nutricional, imagem corporal, ginastas, antropometria. Endereço para correspondência: Vanessa Quitto Rinaldi, Rua Rodrigues Ferreira, 53 Pirituba 05159-130 São Paulo SP, Tel: (11) 98109296, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução A Ginástica Rítmica (GR) começou a ser praticada ao final da Primeira Guerra Mundial, quando várias escolas inovavam os exercícios tradicionais da ginástica artística, misturando-os com música e criando uma nova modalidade esportiva. Em 1946, na Rússia, surgiu o termo “rítmico”, devido à utilização da música e da dança durante a execução dos movimentos. Mais tarde, em 1975, passou a ser denominada Ginástica Rítmica Desportiva (GRD), estabelecendo-se definitivamente sua característica competitiva [1]. A GR tornou-se um esporte olímpico oficial em 1984, somente com competições individuais, apenas nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, incluíram-se as competições de conjunto. A GR é o exercício de solo da ginástica artística com adereços de mão em que as atletas combinam música com exercícios de equilíbrio e flexibilidade em cada um dos aparelhos: maças, bola, fita, corda e arco. Esta modalidade esportiva relaciona três elementos: corpo, música e aparelho. Os elementos corporais são a base indispensável dos exercícios individuais e conjuntos. Fazem parte dos elementos corporais obrigatórios: andar, correr, saltar, saltitar, balancear, circunduzir, girar, equilibrar, ondular, executar pré-acrobáticos, lançar e recuperar, sendo que os exercícios devem ser acompanhados por estímulo musical [1,2]. O nível técnico da GR tem evoluído significativamente no Brasil, graças à seriedade do trabalho realizado pelas técnicas brasileiras, e apoio recebido de técnicos e coreógrafos provenientes de países onde a GR é mais desenvolvida, principalmente da Europa. Aos poucos, este esporte vem se popularizando em nosso país, sendo que o número de praticantes cresce a cada ano e os locais oferecidos para a sua prática têm aumentado. Além disso, o nível dos profissionais especializados, cujo número é ainda relativamente pequeno, tem melhorado sensivelmente, porém, mesmo com os bons resultados conquistados em competições internacionais, ainda são encontradas muitas dificuldades para um maior desenvolvimento da modalidade no Brasil [3]. A GR é uma modalidade esportiva de alta dificuldade técnica, em que o alto nível de desempenho é comumente alcançado em idade muito jovem, de maneira que pressupõe a necessidade do início do treinamento tão cedo quanto possível. Os treinamentos iniciam-se em média aos seis anos de idade. Nessa idade, as crianças possuem um potencial desenvolvimentista para estar no estágio amadurecido da maior parte das habilidades motoras fundamentais. A introdução de aparelhos deve ser feita de forma lúdica para que a criança vá se adaptando às características de cada um [4]. É importante que crianças e adolescentes fisicamente ativos consumam energia e nutrientes suficientes para alcançar suas necessidades de crescimento, manutenção de tecidos e para o desempenho de suas atividades intelectuais e físicas. Atualmente a participação cada vez mais precoce de jovens em eventos competitivos e seu envolvimento em programas de 11 treinamento bastante intensos fazem com que os profissionais da saúde devam estar atentos à adoção de comportamentos alimentares que podem trazer consequências deletérias à saúde, tais como desidratação, práticas de controle de peso inadequadas, distúrbios alimentares e uso indiscriminado de substâncias encaradas como ergogênicas [5,6]. Dessa forma, a alimentação adequada é fundamental para a manutenção da saúde e para um ótimo desempenho esportivo de jovens ginastas. A alimentação balanceada aliada à atividade física pode aperfeiçoar o potencial genético de crescimento e desenvolvimento. As atletas de GR apresentam necessidades aumentadas devido ao crescimento, desenvolvimento maturacional, manutenção de tecidos, atividades intelectuais, além do treinamento extenuante. Dessa forma, as necessidades calóricas e nutricionais devem ser estimadas baseadas na ingestão alimentar diária, idade e atividade física [4,5]. A literatura relata que atletas jovens do sexo feminino que praticam esportes que exigem um peso corporal baixo, como ginastas, possuem tipicamente uma dieta hipocalórica e um intenso gasto energético durante o treinamento físico e no próprio evento competitivo. Esta conduta pode prejudicar o estado nutricional por deficiências energéticas resultando em falhas no crescimento, atraso na puberdade, esgotamento das reservas de glicogênio e fadiga [4,7,8]. O treinamento físico nas diversas modalidades desportivas femininas, como a GR, proporciona, por um lado, o desenvolvimento físico harmonioso e atlético, mas por outro lado, as expõem a problemas específicos da categoria de atletas. Um desses problemas denomina-se transtorno do comportamento alimentar (TCA), que é caracterizado por uma perturbação persistente do comportamento relacionado com a alimentação. Esse transtorno provoca alterações nos hábitos alimentares, prejudicando a saúde física, psicológica e social do indivíduo. Os TCA compreendem a anorexia nervosa e a bulimia nervosa que atingem, sobretudo, mulheres jovens e adolescentes, que representam 90% dos casos [9]. A tendência de instalação do TCA tem sido principalmente relatada em âmbito esportivo, entre mulheres atletas justamente de modalidades que enfatizam reduzida percentagem de gordura para melhorar o desempenho e estética. Acredita-se que a busca pelo desempenho, expressa por pressões externas dos técnicos, treinadores, patrocinadores, administradores e familiares no anseio por melhores resultados, acarreta estresse físico e mental nas atletas, criando ambiente para o desenvolvimento dos TCA [10]. Em atletas, embora a prevalência de anorexia nervosa e bulimia nervosa ainda não seja suficientemente conhecida, especialmente no Brasil, pesquisas realizadas demonstraram uma frequência aumentada (de 15 a 62%), sobretudo em modalidades desportivas específicas. Sabe-se, ainda, que a adoção de dietas restritivas em idade precoce, sobretudo, se essa prática se dá sem a supervisão de um profissional, pode 12 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 desencadear TCA, causando danos importantes à saúde e, por conseguinte, ao desempenho atlético. A GR, entre outras modalidades, tem sido indicada, por pesquisas realizadas nessa área, como as de maior incidência de transtornos alimentares e de comportamentos considerados precursores dos mesmos. A estreita relação imagem corporal e desempenho físico faz com que as atletas sejam um grupo particularmente vulnerável à instalação desses transtornos, tendo em vista a ênfase dada ao controle de peso [11-12]. Assim, para atletas de GR, a avaliação antropométrica e dos hábitos alimentares é muito importante, pois este é um dos esportes que preconizam o baixo peso corporal e supervalorizam a estética, utilizando-a como critério para a obtenção de bons resultados em competições, assim como também acontece na natação sincronizada, corrida e no balé [13,14]. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar o estado nutricional de jovens atletas da equipe competitiva de GR de um clube de São Paulo, com ênfase na imagem corporal. Material e métodos A amostra foi composta por 10 atletas do sexo feminino, de 9 a 12 anos, pertencentes à equipe competitiva de ginástica rítmica de um clube da cidade de São Paulo. As ginastas treinavam por 4 horas e 30 minutos, diariamente, no período da tarde, durante 6 dias por semana. O estudo foi realizado entre abril e junho de 2009, e divididos em etapas descritas a seguir. Etapa 1 - Questionário de anamnese, que contemplava satisfação com a imagem corporal Foi elaborado e aplicado, um questionário tipo anamnese completo, no qual foram abordados dados pessoais, história social, história na modalidade, abrangendo questões como: com qual idade iniciou o esporte, o motivo, se há apoio dos pais, satisfação com o desempenho e se pretende ser atleta profissional. Foram feitas perguntas sobre saúde em geral, nutrição abrangendo quantas refeições diárias as atletas realizavam, se já fez uso de dietas para emagrecer ou para qualquer outro fim. Por fim, foi avaliada a satisfação com a imagem corporal das ginastas por meio da aplicação de uma escala de silhuetas femininas numeradas de 1 a 12, em ordem crescente, sendo a número 1 a mais magra (Figura 1). Nesta parte da anamnese, a atleta observava por alguns segundos a imagem e escolhia a que se assemelhava com ela, e marcava a opção. Novamente, a ginasta analisava a figura e apontava qual das silhuetas ela gostaria de ter. Logo após a escolha das imagens, foi feita uma pergunta a respeito do grau de importância que a imagem corporal exercia em relação à prática de ginástica rítmica, finalizando assim o questionário de anamnese. Figura 1 - Imagem para análise da satisfação com a imagem corporal. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Figura adaptada de: Kakeshita e Almeida [15]. Etapa 2 - Avaliação antropométrica Após a aplicação da anamnese completa, foi realizada a avaliação antropométrica de todas as atletas. Para a aferição das medidas, foi adaptada uma sala de avaliação próxima à área da prática de atividade física e as medidas antropométricas foram realizadas em dois dias, de maneira individualizada. Foram tomadas medidas da massa corporal (kg), estatura (cm), dobras cutâneas (mm) e circunferências corporais (cm). As medições foram realizadas antes dos treinamentos, no período da tarde e descritas a seguir: • Estatura: mensurada com auxílio de uma fita inelástica com precisão de 0,1 mm, fixada a uma parede sem rodapé, estando as atletas descalças, em posição ortostática, com os pés juntos, para maior precisão foi utilizado um esquadro. • Peso corpóreo: foi obtido empregando-se uma balança digital médica Geratherm ® com precisão de até 100 gramas, estando as atletas descalças uniforme de treinamento (colan). • Dobras cutâneas: para a avaliação das dobras cutâneas tricipital, bicipital, subescapular, suprailíaca, abdominal, da coxa medial e da panturrilha, utilizou-se um adipômetro da marca Sanny® com precisão de 0,5 mm. • Circunferências: os perímetros corporais (punho, braço, cintura, quadril, abdominal, coxa medial e panturrilha) foram medidos com uma fita métrica inelástica, com precisão de 0,1 mm. Estas medidas foram aferidas do lado direito do corpo, sendo realizadas três mensurações alternadas em cada local e o valor médio utilizado como escore final. Após coletar os dados relacionados à antropometria, foram calculadas a circunferência muscular do braço (CMB), a área muscular do braço (AMB) e a área muscular do braço corrigida, utilizando as fórmulas seguintes: CMB (cm) = CB - (PCT x 0,314) AMB - 6,5 cm2 AMB = (CMB) 2 12,57 Foi estimada a porcentagem de gordura corporal, por meio da equação de Slaughter et al. [16] para crianças e adolescentes do sexo feminino. Os resultados obtidos foram avaliados de acordo com os pontos de corte de Deurenberg et al. [17], que classifica o percentual de gordura até 12% como excessivamente baixo; de 12,01 a 15% como baixo; de Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 15,01 a 25% como adequado (normal); de 25,01 a 30% como moderadamente alto; de 30,01 a 36% como alto e acima de 36,01% como excessivamente alto. Ainda foram determinados o Índice de Massa Corpórea (IMC), os indicadores Altura para Idade (A/I), Peso para Idade (P/I) e IMC para Idade (IMC/I), sendo estes classificados por WHO [18]. 13 com silhuetas, na qual era apontada a que a ginasta se achava semelhante e posteriormente, como gostaria de estar parecida. Figura 3 - Imagem corporal relatada pelas atletas de G.R de um clube da região Norte de São Paulo, 2009. 10 9 8 Resultados Foram estudadas 10 atletas da equipe competitiva de GR, com idade média de 10 anos e 6 meses, todas eram estudantes, sendo que 70% cursavam o Ensino Fundamental II em colégio particular. Com relação aos motivos para a prática da modalidade, notou-se que 50% das ginastas não pretendiam ser atletas profissionais e almejavam ter outras profissões, praticando a GR apenas como hobby. Duas ginastas pretendem ser economistas, uma médica, uma arquiteta e outra veterinária. A Figura 2 mostra as respostas das ginastas sobre sua saúde e sintomas durante e após o treinamento. Figura 2 - Problemas de saúde e sintomas relatados pelas atletas de G.R de um clube da região Norte de São Paulo, 2009. 10 9 8 Atletas 7 6 5 4 3 2 1 0 Gastrite Dor de cabeça Colesterol alto Doente com facilidade Fraqueza Quando abordado se as ginastas já haviam passado pela menarca, 9 responderam que não, e uma relatou ter tido menstruação apenas uma vez (de maneira irregular). Duas atletas relataram já terem se consultado com um nutricionista e 70% das ginastas nunca fizeram dieta. A maioria das ginastas (70%) relatou fazer 5 refeições ao dia, porém, três disseram ter o hábito de fazer apenas 3 refeições diárias. Sobre o consumo de água, 90% consideraram que fazem consumo abaixo do que deveriam. Quando questionadas sobre a satisfação com o corpo, 40% disseram não estarem satisfeitas. A Figura 3 mostra o resultado da questão que foi respondida com o auxílio da figura Atletas 7 6 5 4 3 2 1 0 Se enxergam número a mais Se enxergam número a menos Se enxergam igual A Tabela I mostra os resultados antropométricos obtidos através das aferições. A análise do estado nutricional das ginastas, segundo o Índice de Massa Corpórea para Idade (IMC/I), mostrou que 90% encontravam-se classificadas entre os percentis 3 e 85, estando, portanto com IMC adequado. Uma atleta encontrava-se acima do percentil 97, determinando obesidade [18]. A média de Índice de Massa Corpórea encontrada foi de 17,2 kg/m2. Nenhuma das ginastas apresentou-se abaixo do percentil 3. Para o Índice Altura para Idade (A/I), observou-se que 90% das ginastas encontravam-se acima do percentil 3, determinando altura adequada para idade, e apenas uma, representando 10%, foi considerada com baixa estatura para idade [18]. A composição corpórea das atletas foi aferida por meio da análise do percentual de gordura corporal, cujo valor médio observado entre as ginastas foi de 15,6%, o que segundo Deurenberg et al. [17] é considerada adequada. Porém, quatro ginastas foram classificadas com baixa porcentagem de gordura corporal e uma como excessivamente baixa. Nenhuma ginasta teve a classificação como moderadamente alta, como alta e nem como excessivamente alta. Quando analisada a Circunferência Muscular do Braço (CMB), uma das ginastas foi classificada como percentil maior que 95, determinando musculatura desenvolvida, devido à prática esportiva. Em relação à somatória das dobras tricipital e subescapular, uma ginasta foi classificada entre o percentil 5 e 10, determinando risco para desnutrição e 3 ginastas foram classificadas abaixo do percentil 5, determinando desnutrição. A análise da circunferência do braço (CB) pôde revelar o risco para desnutrição de uma ginasta, que foi classifica no percentil 10. A ginasta que apresentou risco para desnutrição Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 14 em relação à CB, também foi classificada como desnutrição na somatória das dobras cutâneas tricipital e subescapular. Tabela I - Valores médios, mínimos e máximos obtidos a partir das mensurações efetuadas nas jovens atletas. Parâmetros Peso (kg) Atura (m) IMC kg/m2 Circunferência do braço (cm) Dobra cutânea tricipital (mm) Área muscular do braço (cm2) Circunferência muscular do braço (cm) Dobra cutânea tricipital + dobra cutânea subescapular (mm) Dobra cutânea coxa medial (mm) Dobra cutânea abdominal (mm) Dobra cutânea panturrilha (mm) Circunferência do quadril (cm) Circunferência panturrilha (cm) Circunferência cintura (cm) Circunferência coxa medial (cm) % gordura corporal Média 35,6 1,4 17,2 21,6 9,2 28,1 18,7 Mínimo 28,7 1,3 15,0 19,0 6,0 24,2 18,0 Máximo 42,0 1,6 20,6 24,4 16,0 31,8 20,0 16,4 10,0 24,0 10,7 10,2 3,4 73,9 29,3 59,6 42,6 15,6 3,0 6,0 2,0 68,0 26,0 56,5 38,3 9,5 16,0 18,0 5,0 81,2 31,5 64,3 48,0 21,9 Discussão No geral, as ginastas estudadas apresentaram-se eutróficas em relação ao indicador Índice de Massa Corpórea para Idade (IMC/I). Porém, 10% foram classificadas como estando em obesidade. Entretanto, embora com os valores adequados de IMC, foi observado que 40% das ginastas não estavam satisfeitas com sua imagem corporal, apontando silhuetas que não correspondiam a sua. Por outro lado, 40% das ginastas estudadas apresentaram valores de percentual de gordura baixa, e 10% excessivamente baixos, representando metade da equipe. Em relação à menarca, segundo o estudo de Duarte & Duarte, a idade média da sua ocorrência em adolescente da cidade de São Paulo é de 12 anos e dois meses, porém, o estudo de Vivolo et al., mostra que a média de idade da menarca entre atletas praticantes de Ginástica Rítmica é de 12 anos e sete meses. O presente estudo mostra que 20% da população estudada tinham idade superior que as mencionadas anteriormente, sendo que metade relatou a ausência da menarca e metade mencionou irregularidades menstruais. Entretanto, esses aspectos não são exclusivos das ginastas, pois, investigações com atletas de diferentes esportes (tênis e natação) têm indicado menarca tardia e esta tem sido atribuída ao treinamento intenso. Vários fatores influenciam na idade de menarca, como a predisposição genética, condutas dietéticas restritivas, baixo peso e/ou baixo percentual de gordura corporal, visto em 50% das ginastas estudadas, especialmente entre os 20% que apresentaram irregularidades menstruais ou ausência de menarca. O excesso de treinamento é considerado um determinante fundamental, quando se avalia esse fenômeno entre as atletas. Weimann et al. concluíram ainda, que a associação do treino físico intenso e de competição, das ginastas do sexo feminino, e uma nutrição inadequada podem alterar o padrão normal de desenvolvimento pubertário das atletas [19-23]. A respeito da condição corporal, o presente estudo constatou um percentual médio de gordura de 15,6%, valor que se aproxima do encontrado por Ribeiro et al., em um estudo com atletas femininas de ginástica olímpica de duas cidades brasileiras. Os pesquisadores encontraram no Rio de Janeiro, percentuais de gordura médios de 16,5%. Em outro estudo realizado por Bernardot e Czerwinski, obteve-se um valor médio de 9,2% de percentual de gordura nas atletas da Associação Independente de Clubes de Ginastas dos EUA, valor abaixo do presente estudo. Já comparadas a adolescentes não atletas de Londrina Paraná, os valores médios mostrados no estudo de Guedes, em 1994, foi de 21,8% de gordura corpórea, superior aos valores observados nas ginastas desta pesquisa. O estudo realizado por Reggiani et al. sobre o estado nutricional e composição corporal de 26 ginastas com média de idade de 12 anos, concluiu que o percentual de massa gorda era reduzida e se encontrava abaixo do recomendável, assim como no presente estudo [13,24-27]. Silva [28] defende que para estas ginastas, a manutenção do reduzido peso corporal e de uma reduzida percentagem de gordura corporal, torna-se algo imperativo para o sucesso neste esporte, o que está em conformidade com os valores encontrados de porcentagem de gordura corporal da população estudada. Ressaltando que o excesso de peso não contribui para uma atleta que pretende seguir carreira profissional, isso porque, é um esporte que exige flexibilidade, agilidade e leveza, o que leva a maioria das ginastas a se motivarem para obterem o que tanto desejam, levando a restrição alimentar a situações extremas para conseguirem aquilo que querem a redução do seu peso. As dores de cabeça, fraqueza e a baixa imunidade, relatadas como problemas de saúde das ginastas, podem ser justificados pela dieta inadequada, com destaque para a provável baixa ingestão de energia e micronutrientes, como o ferro, zinco, vitaminas A e C, associados ao fracionamento errôneo das refeições. Ao mesmo tempo, foram constatados problemas como gastrite e colesterol alto, reforçando a má alimentação de algumas atletas, acarretando problemas crônicos precocemente [29]. Conclusão No presente trabalho verificou-se que as atletas estudadas apresentaram-se, em geral, eutróficas e sem desvio significativo de imagem corporal. Porém, é recomendado o acompanhamento com nutricionistas para constante avaliação do estado nutricional das ginastas. Consideram-se pertinentes, além da antropometria e imagem corporal, estudos que abranjam Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 hábitos alimentares detalhados de ginastas rítmicas, para prevenir desvios nutricionais e, como consequência, melhorar as condições de alimentação e rendimento no esporte praticado. 15. Referências 16. 1. Molinari AMP. Ginástica rítmica: esporte, história e desenvolvimento – 2009. [citado 2009 Abril 14]. Disponível em URL: http://www.cdof.com.br/esportes4.htm 2. Mendes EH, Hein F, Kleinschmidt F, Nuñes JCL, Kochepka S. Ginástica rítmica, sua origem e evolução em Marechal Cândido Rondon/PR. Caderno de Educação Física: Estudos e Reflexões 2005;5:119-124. 3. Lanaro Filho P, Bohme MTS. Detecção, seleção e promoção de talentos esportivos em ginástica rítmica desportiva: um estudo de revisão. Rev Paul Educ Fís 2001;15(2):154-68. 4. Viebig RF, Polpo NA, Corrêa PH. Ginástica rítmica na infância e adolescência: características e necessidades nutricionais. Revista Digital EFDesportes 2006;10(94). 5. Juzwiakl CR, Paschoal VCP, Lopez FA. Nutrição e atividade física. J Pediatr 2000;76(3):349-58. 6. Thompson JL. Energy balance in young athletes. Int J Sports Nutr 1998;8:160-74. 7. Mc Murray RG, Anderson JJB. Introdução à nutrição no exercício e no esporte. In: Wolinsky I, Hickson Junior JF. Nutrição no exercício e no esporte. 2ª ed. São Paulo : Roca; 1996. p.2-14. 8. Vilardi TCC, Ribeiro BG, Soares EA. Distúrbios nutricionais em atletas femininas e suas inter-relações. Rev Nutr 2001;14:619. 9. Nunes MAA, Appolinário JC, Abuchain ALG, Coutinho W, Morgan CM, Azevedo AMC, et al. Transtornos alimentares e obesidade. Artmed: Porto Alegre; 1998. p. 34-5. 10. Sundgot-Borgen J, Torstveit MK. Prevalence of eating disorders in elite athletes is higher than in the general population. Clin J Sport Med 2004;14(1):25-32. 11. Cobb KL, Bachrach LK, Greendale G, Marcus R, Neer RM, Nieves J, et al. Disordered eating, menstrual irregularity, and bone mineral density in female runners. Med Sci Sports Exerc 2003;35:711-9. 12. Oliveira FP, Bosi MLM, Vigario PS, Vieria RS. Eating behavior and body image in athletes. Rev Bras Med Esporte 2003;9:348356. 13. Viebig RF, Takara CH, Lopes DA, Francisco TF. Estudo antropométrico de ginastas rítmicas adolescentes. Revista Digital EFDesportes 2006;11:1-7. 14. Lopiano DA, Zotos C. Modern athletics, the pressure to perform. In: Brownell KD, Rodin J, Wilmore JH, eds. Eating, 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 15 body weight and performance in athletes: disorders of modern society. Philadelphia: Lea & Febiger; 1992. p. 275-92. Kakeshita IS, Almeida SS. Relação entre índice de massa corporal e a percepção da auto-imagem em universitários. Rev Saúde Pública 2006;40(3):497-504. Slaughter MH, Lohman TG, Boileau RA, Horswill CA, Stillman RJ, Loan V, Bemben DA. Skinfolds equations for estimation of body fatness in children and youth. Hum Biol 1988;60:709-23. Deurenberg P, Pieters JJ, Hautvast JG. The assessment of the body fat percentage by skinfold thickness measurements in childhood and young adolescence. Br J Nutr 1990;63:293-303. World Health Organization. WHO child growth standards: methods and development: Length/height-for-age, weight-forage, weight-for-length, and body mass index-for-age. Geneva: WHO; 2006. Mantoanelli G, Vitalle MSS, Amancio OMS. Amenorréia e osteoporose em adolescentes atletas. Rev Nutr 2002;15:319-40. Duarte MFS. Maturação física: uma revisão da literatura, com especial atenção à criança brasileira. Cad Saúde Pública 1993;9:71-84. Duarte MFS, Duarte CR. Sexual maturation and physical fitness in Brazilian girls. In: Olympic Scientific Congress Proceedings (ICSSPE/UNISPORT), 1992;3:27. Vívolo MA, Silva SAPS, Perazzolo S, Matsudo VKR. Avaliação da maturação sexual e características antropométricas de atletas da Seleção Paulista de Ginástica Rítmica Desportiva. Rev Bras Ciênc Esporte 1983;5:33. Weimann E, Witzel C, Schwidergall S, Böhles HJ. Peripubertal perturbations in elite gymnasts caused by sport specific training regimes and inadequate nutritional intake. Int J Sports Med 2000;2(3):210-5. Ribeiro BG, Soares EA. A avaliação do estado nutricional de atletas de ginástica olímpica do Rio de Janeiro e São Paulo. Rev Nutr 2002;34:766. Bernadot D, Czerwinski C. Selected body composition and growth measures of junior elite gymnasts. J Am Diet Assoc 1989;89:401-3. Guedes DP. Composição corporal: princípios, técnicas e aplicações. Ceitec 1994;2:23-4. Reggiani E, Arras GB, Trabacca S, Senarega D, Chiodini G. Nutritional status and body composition of adolescent female gymnasts. J Sports Med Phys Fitness 1989:29(3):285-8. Silva MR. Composición corporal de las gimnastas de competición. Rev Digital EfdEportes 2005;85:1. Whytney E, Rolfes SR. Microminerais. Nutrição I: entendendo os nutrientes. São Paulo: Cengace Learning; 2008. p.267-91. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 16 Artigo original Comparação da autonomia funcional de idosos praticantes e não praticantes de treinamento combinado Comparison of functional autonomy of trained or not-trained elderly Raphael Gouveia da Silva Lyra*, Leandro Ramiro*, Paulo Cesar Nunes-Junior, Ft.**, Sebastião David Santos-Filho, Ft., D.Sc.*** *Professor de Educação Física, **Pós-Graduado em Anatomia Humana e Biomecânica, Especialista em Osteopatia, Professor de PósGraduação UNESA, ***Professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ Resumo Abstract As projeções do IBGE para o ano 2050 são de que a população com mais de 60 anos passará de 14,5 para 64 milhões, com expectativa de vida variando entre 62,97 a 73,59 anos. Assim, a avaliação da capacidade funcional vem se tornando um instrumento útil para averiguar o estado de saúde do idoso. Atualmente, houve progressos na qualidade de vida, tendo um declínio das incapacidades funcionais, aumentando assim, a perspectiva de longevidade em função de vários fatores, tais como o progresso nas áreas médica, nutricional e na prescrição de exercícios físicos, dentre outros. Este estudo teve como objetivo avaliar o nível de autonomia funcional entre idosos praticantes e não praticantes de treinamento combinado, entre contra-resistência e endurance. A população pesquisada foi de idosos, acima de 60 anos, moradores da zona norte e oeste do município do Rio de Janeiro, sendo 15 praticantes, que deveriam treinar a pelo menos 3 meses e 16 não praticantes. Para a realização da coleta de dados foi utilizado o protocolo de avaliação da autonomia funcional do idoso, desenvolvido pelo Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano (GDLAM), composto pelos testes caminhar 10 metros (C10m), levantar-se da posição sentada cinco vezes (LPS), levantar-se da posição decúbito ventral (LPDV), levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa (LCLC) e vestir e tirar uma camiseta (VTC). Os dados obtidos através dos testes foram analisados a partir de estatística descritiva e tabelas. Verificamos que os dois grupos de idosos conseguiram realizar os testes propostos, sendo que o teste LPDV foi realizado em menor tempo por ambos os grupos. Os resultados de todos os testes apresentaram diferenças significativas nos tempos de execução, diferenciando a classificação entre os grupos. O grupo praticante obteve a classificação “muito bom” nos testes LPDV e VTC, bom no LPS e regular no C10m e LCLC. Os não praticantes apresentaram desempenho muito bom no teste VTC, regular no LPDV e fraco no C10m, LPS e LCLC. De acordo com o índice GDLAM, os praticantes foram classificados como regular e os não praticantes como fraco. According to the projections of the IBGE for 2050, the population over 60 years old will increase from 14.5 to 64 million, with life expectancy ranging from 62.97 to 73.59 years. The functional capacity evaluation has become a useful tool to investigate the health of the elderly people. Currently, the quality of life is increasing, with decline in functional disability, thereby increasing the prospect of longevity based on several factors, such as medical and nutritional progress, and prescription of exercise, among others. This study aimed to evaluate the level of functional autonomy among elderly trained or not at combined exercises as resistance and endurance. The population studied was elderly, residents of the area north and west of Rio de Janeiro, with 15 practitioners trained at least 3 months and 16 not-trained. For evaluating the functional autonomy of the elderly, was used a data protocol developed by the Group of Latin American Development (GDLAM), composed by 10 meters walking test (C10M), getting out of a seated position five times (LPS), getting out of prone position (LPDV), getting out of the chair and move into the house (LCLC) and wear and draw a shirt (VTC). The data obtained from the tests were analyzed with descriptive statistics and tables. It was found that the two groups of elderly are able to perform the tests offered, and the LPDV test was performed in less time for both groups. The results of all tests showed significant differences in the time of execution. The trained group obtained a good classification at the tests LPDV and VTC, was good and regular in LPS C10M and LCLC. The non-trained group obtained excellent performance in the test VTC, regular in LPDV and low in C10M, LPS and LCLC. According to the index GDLAM, the trained were classified as regular and not-trained as weak. Key-words: elderly, combined training, functional autonomy. Palavras-chave: envelhecimento, treinamento combinado, autonomia funcional. Endereço para correspondência: Paulo Cesar Nunes Junior, Rua Mearim, 307/301, 20561-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 25784036, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução Os últimos dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio (PNADs), realizadas no início deste século, encontraram quedas consideráveis nos níveis de fecundidade das mulheres no Brasil. Assim, as projeções do IBGE para o ano 2050 são de que a população com mais de 60 anos passará de 14,5 para 64 milhões, com expectativa de vida variando entre 62.97 a 73.59, superando o grupo etário constituído de crianças e adolescentes até 14 anos. Com isso, a avaliação da capacidade funcional vem se tornando um instrumento particularmente útil para averiguar o estado de saúde do idoso. A Organização Mundial de Saúde define a incapacidade funcional como a dificuldade, devido a alguma deficiência, para realizar atividades físicas e pessoalmente desejadas na sociedade [1]. De acordo com a OMS [2], a proporção do crescimento populacional de pessoas com 60 anos ou mais é muito maior do que o de qualquer outra faixa etária. A perspectiva deste aumento gira em torno de 223% ou em torno de 694 milhões, no número de idosos entre 1970 e 2025. A estimativa é de que até 2050 haverá 2 bilhões, sendo que 80% nos países em desenvolvimento. Diante desta realidade de um envelhecimento constante na população de nosso país, já que o Brasil é um destes países em constante desenvolvimento, é de suma importância que a população senescente tenha qualidade de vida além de uma expectativa de vida maior, como autonomia funcional, atividade intelectual, o estado de saúde e sua independência econômica e social [3]. Nos dias atuais, houve progressos na qualidade de vida e consequentemente um declínio das incapacidades funcionais, aumentando assim, a perspectiva de longevidade em função de vários fatores, tais como o progresso nas áreas médica, fisioterapêutica, nutricional, na prescrição de exercícios físicos, preocupação da mídia com estas questões, dentre muitos outros [1,4]. Segundo Ramos [5], o fator determinante na terceira idade é a autonomia, pois qualquer pessoa que chegue aos 80 anos, capaz de gerir sua própria vida optando por suas atividades de lazer, meio social e trabalho, certamente será considerada uma pessoa saudável. Independentemente de ser cardiopata, hipertensa, diabética ou possuir qualquer outra enfermidade. Ele ainda sugere que a população idosa em geral apresenta uma alta prevalência de doenças crônicas, principalmente hipertensão arterial, dores articulares e varizes. O Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano (GDLAM) classifica a autonomia funcional em três aspectos: autonomia de vontade, referindo-se a autoestima, achar que é capaz de realizar; autonomia de pensamento, permitindo julgar e determinar o que fazer; e autonomia de ação, onde realizará a tarefa ou o gesto proposto. O estudo de Parahyba e Simões [1] revela que as comparações dos PNADs de 1998 e 2003 mostraram reduções 17 nas proporções de idosos com dificuldades para caminhar 100 m, sendo que esta foi maior em idosos com mais de 80 anos. Nestes dados os grupos foram separados por região do país, renda mensal familiar e pela idade. Esse estudo também relatou que quando comparados mulheres e homens que possuem incapacidade funcional, as mulheres tendem a ter mais perspectiva de vida. O enfraquecimento musculoesquelético tem sido apontado como a causa relevante desta incapacidade na população senescente, elevando o risco de quedas. O sedentarismo, associado a doenças crônico-degenerativas e a hábitos de vida inadequados, como tabagismo e má alimentação, resulta no decréscimo dos níveis de força, da resistência muscular, da flexibilidade e da capacidade aeróbia, promovendo a queda da capacidade funcional, das atividades diárias [4]. As atividades físicas para o idoso devem ter como objetivo o fortalecimento muscular, equilíbrio, potência aeróbica, movimentos corporais totais e tentar associar estas atividades a uma mudança nos hábitos de vida [6]. Os benefícios do treinamento de força para idosos vão desde a melhora da saúde e qualidade de vida até a melhoria das habilidades funcionais ou atividades da vida diária (AVDs), mesmo em senescentes com doenças crônicas [7]. Além disso, este tipo de treinamento proporcionará um ganho considerável nas funções neuromusculares desta população [8,9]. Concluindo, assim, que este tipo de treinamento é de extrema relevância quando se trata de retardar as alterações fisiológicas inerentes ao envelhecimento, evitando a incapacidade e a dependência social [9]. Os benefícios do treinamento de força vão depender da interação entre número de repetições, séries, intensidade das sobrecargas, intervalo e da combinação dos exercícios [10]. Estudos sobre treinamento de força evidenciam que a força muscular alcança seu auge entre a segunda e terceira décadas de vida e mostra diminuição lenta ou imperceptível até próximo aos 50 anos de idade, quando começa a declinar aproximadamente 12% a 15% por década, com perdas mais acentuadas a partir da sexta década de vida [7,10]. Há perda de flexibilidade, de velocidade, dos níveis de captação máxima de oxigênio (VO2max), de massa óssea (osteopenia), além da redução na massa muscular (sarcopenia), devido ao comprometimento nas fibras tipo IIb, que são fibras de características anaeróbicas e hipertróficas [4]. O estudo de Izquierdo et al. [11] citam ainda que esta alteração na massa muscular se deve a mudanças hormonais e ao declínio da realização das atividades com o passar do tempo. Neste artigo também é relacionada à perda de estabilidade nas ações musculares devido ao aumento da co-ativação dos músculos antagonistas e da variabilidade na taxa de descarga das unidades motoras. Estas alterações fisiológicas e músculo-articulares no idoso fazem com que ocorra o aparecimento de problemas como a perda de equilíbrio (ataxia), comprometendo a marcha e automaticamente sua independência [12]. Guimarães e Farinatti [13] concluíram que o geronte devido à sua idade avançada tende 18 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 a desenvolver doenças como catarata, glaucoma e retinopatia, que podem vir a comprometer a capacidade de julgar a ação correta a ser tomada para se evitar uma queda. Com o avanço do envelhecimento há uma perda, em torno de 25%, da capacidade aeróbica do músculo e do fluxo sanguíneo durante a contração [12]. Outros fatores associados à qualidade estrutural muscular podem afetar o desenvolvimento da força e potência, como a mudança das miosinas de cadeia pesada para tipos mais lentos, afetando diretamente a velocidade de contração nas ações musculares [7]. Perdas progressivas de força tendem a comprometer a autonomia funcional dos idosos, deixando-os incapacitados para realizarem as tarefas mais simples do dia-a-dia e tornando-os dependentes dos que os cercam, o que reduzirá consideravelmente sua qualidade de vida [10]. Além da sarcopenia, também se deve lembrar que há alterações na saúde mental, como na cognição e no humor, e nos parâmetros sociais e ambientais, tais como a segurança e sua inclusão na sociedade [14]. No estudo de Aveiro et al. [8], 16 idosas com osteoporose na coluna e/ou fêmur foram submetidas a um treinamento de fortalecimento do músculo quadríceps, de alongamento dos músculos do tronco, dos membros inferiores e superiores e um programa de caminhada, e o resultado foi melhora em relação ao equilíbrio, a qualidade de vida e no torque da musculatura extensora do joelho. Todas estas alterações fisiológicas relacionadas ao avanço da idade sugerem que o treinamento de força muscular e o treinamento aeróbico estão diretamente ligados à independência funcional das pessoas idosas. Com a inclusão de exercícios contra resistência, como a musculação, no dia-a-dia da população idosa, alcançar-se-á benefícios extremamente relevantes. Porém, sempre de forma coerente, com embasamento científico e respeitando os princípios do treinamento desportivo, como o princípio da individualidade biológica e da especificidade, por exemplo [4]. O treinamento de força é uma modalidade de exercícios resistidos em que movimentos musculares são realizados contra uma força oposta [15]. O vigor máximo que um músculo ou um grupo muscular pode gerar é determinado pela força. Com o exercício crônico ocorrem diversas alterações no sistema neuromuscular. Estas alterações relacionadas a um programa de treinamento de força podem produzir ganhos entre 25% a 100% da força máxima [16]. No treinamento resistido há uma predominância dos sistemas energéticos ATP-CP e glicolítico, sendo que a atuação do sistema oxidativo se dá durante o intervalo entre as séries [15]. Com relação à hipertrofia proporcionada pelo treinamento resistido, este relata que ela acontece devido ao estresse mecânico causado pelo exercício intenso que ativa a expressão do RNA mensageiro (RNAm) e consequentemente a síntese protéica muscular. Este processo acarretará no surgimento de novas miofibrilas. Também parece haver um aumento do número de filamentos de actina-miosina, conteúdo sarcoplasmático e combinação de tecido conjuntivo. Dentre os benefícios do treinamento resistido estão o aumento da densidade mineral óssea e da área de secção transversa do músculo, menor duplo produto, que indica um menor consumo de oxigênio do miocárdio. Esta alteração pode estar ligada a uma menor frequência cardíaca e/ou pressão arterial, ambas de repouso. Porém, alguns estudos apontam para estas ligeiras reduções, enquanto que outros não encontraram diferenças. Ainda sob suas referências, o volume sistólico parece ser igual ou ligeiramente maior em pessoas treinadas, permitindo um aumento do débito cardíaco sem o aumento concomitante da frequência cardíaca e do duplo produto [7]. Neste tipo de treinamento há um aumento significativo na proporção de fibras musculares tipo II [16]. Havendo um decréscimo das fibras musculares tipo I e um aumento das fibras musculares tipo IIa. Com relação às adaptações neurais, estão a elevação do número de unidades motoras recrutadas e, junto com a sincronização destas, há um aumento da taxa de disparo e uma atenuação da inibição autogênica [7]. Idosos que se submetem a treinamentos com sobrecargas têm melhora da função e estrutura muscular, articular e óssea [17]. Assim, sua autonomia funcional será preservada mesmo com o passar do tempo. Com o treinamento de força há um aumento agudo na concentração de testosterona, hormônio de efeitos anabólicos, total em homens e mulheres jovens, porém em mulheres idosas estes resultados são, ainda, controversos. O mesmo estudo cita que também há elevação aguda de GH em homens e mulheres jovens com o treinamento, mas em mulheres idosas os resultados não foram consensuais [17]. Os benefícios promovidos pelo treinamento de força dependem de vários fatores, como a intensidade, a frequência e o volume de exercícios. Quanto à manipulação destas variáveis, os autores não conseguiram tecer considerações, pois diferentes combinações destas podem ser igualmente eficientes [10]. Em relação à prática de exercícios aeróbicos ou de endurance e seus benefícios associados à autonomia funcional, o estudo de Amorim et al. [18] evidenciou um aumento na autonomia funcional e na qualidade de vida de idosos, além da melhora no consumo, captação e transporte de oxigênio. O sistema cardiorrespiratório parece ser um dos sistemas orgânicos mais afetados com o declínio funcional, tornando a habilidade de captação e transporte de oxigênio para o suprimento da demanda metabólica corporal durante a atividade física acometida [19]. Algumas alterações cardíacas são de extrema relevância como na elasticidade, distensibilidade e dilatação das artérias; o esvaziamento ventricular que ocorre durante a sístole também se torna comprometido, dentro de uma aorta menos complacente, levando a um aumento na incidência de idosos hipertensos [18]. O treinamento de endurance tem como característica sua execução em uma zona aeróbica, ou seja, dependente de oxigênio que tem por objetivo a melhora da aptidão cardiorrespiratória e é sustentado energeticamente pelo metabolismo dos ácidos graxos e carboidratos. Com o treinamento aeróbico Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 existe a possibilidade de retardar este processo degenerativo que se torna acelerado com o passar da idade, pois há melhora no consumo máximo de oxigênio, no suprimento capilar na fibra muscular, aumento do conteúdo de mioglobina, que armazena oxigênio e o libera para as mitocôndrias quando necessitam. Além disso, também há alterações no número e tamanho das mitocôndrias, que é chamada de usina da célula, pois é lá que ocorre a produção de energia aeróbia [16]. Uma única sessão de treinamento aeróbico parece ser capaz de promover queda dos níveis de pressão, abaixo dos valores de repouso, o que tem sido denominado de hipotensão pósexercício [20]. O exercício físico agudo em idosos hipertensos reduziu a pressão arterial por um período de até 22 horas após a sessão de treinamento [20]. Contudo, deve-se ter conhecimento que exercícios aeróbicos de intensidade muito baixa parecem não surtir efeitos significativos na melhoria da saúde [19]. No estudo de Hepple et al. [21], homens entre 65 e 74 anos foram submetidos a este tipo de treinamento e também ao treinamento de contra-resistência por 18 semanas, e os achados foram de um aumento no consumo de oxigênio, que pode vir a ser de uma melhora na difusão nos músculos esqueléticos. A melhoria do consumo máximo de oxigênio é um destacado fator de proteção, pois menor será o risco de mortalidade, prolongando assim sua longevidade [22]. Não há alteração na frequência cardíaca máxima com o exercício, mas há uma redução na de repouso. Esta alteração parece ser ocasionada por mecanismos como o aumento do retorno venoso e da contratilidade miocárdica [22]. Jubrias et al. [23] compararam as mudanças energéticas e estruturais em idosos que se propuseram a participar de seis meses de treinamento de endurance ou de contra-resistência. Após este período de treinamento, as maiores mudanças se deram na capacidade oxidativa com o aumento da densidade mitocondrial e nas adaptações neurais do músculo quadríceps, mas em se tratando de maior síntese protéica não houve grande diferença pré e pós-treinamento. Os indivíduos melhor condicionados aerobicamente possuem atividade autonômica mais eficiente do que os não treinados, havendo também indícios que indivíduos com melhor tônus vagal cardíaco apresentam uma resposta melhor ao treinamento aeróbico [22]. De acordo com o posicionamento do American College of Sports Medicine [24], o homem idoso que realiza exercícios aeróbicos é favorecido pelo mecanismo de Frank-Starling, pois há um maior volume diastólico final que consequentemente acarretará num maior volume de ejeção. E a taxa de decréscimo do consumo máximo de oxigênio no idoso de 70 anos treinado parece ser igual a de um adulto jovem destreinado. Além destas alterações, este posicionamento também preconiza que o treinamento de endurance tem a capacidade de promover melhorias no perfil lipídico sanguíneo, além da redução dos estoques de gordura corporal. Baseado no exposto acima se chegou ao objetivo do presente estudo: comparar a autonomia funcional de idosos praticantes de treinamento combinado entre exercícios de 19 contra-resistência e endurance com não praticantes de exercício físico devidamente prescrito por um profissional capacitado. Material e métodos A amostra foi constituída de 31 indivíduos com idade acima de 60 anos, moradores da zona norte e oeste do município do Rio de Janeiro, sendo que 15 eram praticantes de treinamento combinado há mais de 3 meses e 16 não eram praticantes. Os 31 indivíduos estavam completamente hábeis fisicamente para desempenharem a bateria de testes. O instrumento utilizado foi o protocolo de GDLAM para avaliação da autonomia funcional [25]. O instrumento foi aplicado pelos próprios pesquisadores. Este estudo caracteriza-se pela forma direta, pois busca e coleta os dados diretamente na fonte pesquisada, investigando o fato por meio de instrumentos e procedimentos válidos e adequados ao que se pretende investigar [26]. A pesquisa é classificada como descritiva, pois há uma simples descrição dos fatos investigados e também é considerada comparativa, devido à comparação entre grupos de pessoas submetidas a condições diferenciadas [27]. Em relação ao modo de coleta, este estudo é classificado como pesquisa experimental, onde um ou mais parâmetros são testados e comparados [26]. O presente trabalho atende as Normas para Realização de Pesquisa em Seres Humanos, Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996. Todos os participantes do estudo concordaram em assinar o termo de participação consentida contendo: objetivo do estudo, procedimentos de avaliação, possíveis consequências, caráter de voluntariedade da participação do sujeito e inserção de responsabilidade por parte do avaliador. Para as variáveis foram estimadas média, mediana, desviopadrão e coeficiente de variação, visando caracterizá-la [28] e posteriormente foram submetidas ao teste de Shapiro-Wilk [29] para investigação da proximidade da distribuição normal, tendo por configuração, p = 0,05: H0: A variável j do grupo i se aproximou da Distribuição Normal H1: A variável j do grupo i não se aproximou da Distribuição Normal ∀ j Є J = {C10m, LPS, LPDV, VTC, LCLC, IG, Idade} ∀ i Є I = {Praticante, Sedentário} Na não verificação de proximidade levou a efetiva comparação a ser tomada pelo teste de Mann-Withney [30], p = 0,05, cujo desenho foi: H0: A variável j do grupo Sedentário = A variável j do grupo Praticante H1: A variável j do grupo Sedentário ≠ A variável j do grupo Praticante Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 20 Na observação da normalidade, a utilização do teste tStudent se fez necessária [28], cuja aplicação teve configuração similar ao teste de Mann-Whitney. Figura 2 - Classificação dos desempenhos dos não praticantes. 18 16 Tabela I - Resultados descritivos do grupo praticante. Estatística Média C10m (s) LPS (s) LPDV (s) VTC (s) LCLC (s) Idade (anos) IG 6,47 8,89 2,52 6,96 43,40 68,60 26,39 DesvioCoeficiente de Mediana padrão variação 0,98 6,59 15,12 1,22 8,60 13,71 0,66 2,47 26,01 1,57 6,49 22,58 14,88 40,68 34,27 4,69 68,00 6,83 5,21 25,89 19,73 Freq. Absoluta 14 Resultado e discussão 12 10 8 6 4 2 0 C10(s) LPS(s) LPDV(s) VTC(s) Muito bom Regular Bom Fraco LCLC(s) IG C10 = caminhar 10 metros, LPS = levantar da posição sentada, LPDV = levantar da posição decúbito ventral, VTC = vestir e tirar a camisa, LCLC Tabela II - Resultados descritivos do grupo não praticante. Estatística Média C10m (s) LPS (s) LPDV (s) VTC (s) LCLC (s) Idade (anos) IG 7,97 11,45 3,65 11,06 66,09 68,88 37,41 Desviopadrão 1,37 1,65 0,82 3,57 21,78 4,41 9,67 Mediana 7,74 11,47 3,49 10,10 56,30 69,50 33,89 = levantar da cadeira e se locomover pela casa, e IG = Índice GDLAM. Coeficiente de variação 17,25 14,41 22,33 32,31 32,95 6,40 25,86 Tabela III - Resultados do teste de Shapiro-Wilk (p = 0,05). Grupo Sedentário C10m = caminhar 10 metros, LPS = levantar da posição sentada, LPDV = levantar da posição decúbito ventral, VTC = vestir e tirar a camisa, LCLC = levantar da cadeira e se locomover pela casa, e IG = Índice GDLAM. Praticante Figura 1 - Classificação dos desempenhos dos praticantes. 16 14 Freq. Absoluta 12 Variável C10m (s) LPS (s) LPDV (s) VTC (s) LCLC (s) Idade (anos) IG C10m (s) LPS (s) LPDV (s) VTC (s) LCLC (s) Idade (anos) IG Valor-p 0,13 0,72 0,08 0,05 0,00 0,67 0,02 0,97 0,46 0,42 0,05 0,00 0,49 0,00 Tabela IV - Resultados do Teste t-Student (p = 0,05). 10 Variável LCLC (s) IG 8 6 4 Valor-p 0,00 0,00 Tabela V - Resultados do Teste de Mann-Whitney (p = 0,05). 2 0 C10(s) LPS(s) LPDV(s) VTC(s) Muito bom Regular Bom Fraco LCLC(s) IG Variável C10m (s) LPS (s) LPDV (s) VTC (s) Idade (anos) Valor-p 0,00 0,00 0,00 0,00 0,83 C10m = caminhar 10 metros, LPS = levantar da posição sentada, LPDV = C10 = caminhar 10 metros, LPS = levantar da posição sentada, LPDV levantar da posição decúbito ventral, VTC = vestir e tirar a camisa, LCLC = = levantar da posição decúbito ventral, VTC = vestir e tirar a camisa, levantar da cadeira e se locomover pela casa, e IG = Índice GDLAM. LCLC = levantar da cadeira e se locomover pela casa, e IG = Índice GDLAM. A idade não apresentou diferença relevante entre os grupos, o que torna o presente estudo com resultados mais fidedignos na comparação dos resultados. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Caminhar 10 metros: o grupo dos não praticantes obteve uma média de 7,97 ± 1,37 segundos, e o grupo dos praticantes teve uma média de 6,47 ± 0,98 ssegundos, sendo assim, de acordo com a classificação do protocolo de GDLAM, os não praticantes tiveram um desempenho fraco e os praticantes conseguiram um desempenho regular. O grupo praticante ficou aquém quando comparado com o grupo praticante de hidroginástica do estudo de Mazini Filho et al. [31], que obteve uma media 5,17 segundos alcançando a classificação muito bom com este resultado. De acordo com a análise estatística, a diferença de tempo entre os grupos foi significante, demonstrando que os praticantes de exercício físico obtiveram melhor desempenho. Figura 3 - Classificação do desempenho dos grupos no teste de caminhar 10 metros. Fraco 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Regular 21 Levantar da posição decúbito ventral: o grupo dos não praticantes obteve uma mediana de 3,49 segundos e os praticantes alcançaram uma mediana de 2,47 segundos. De acordo com a classificação do GDLAM, os não praticantes foram classificados como regular e o grupo praticante obteve a excelência do protocolo que é a classificação muito boa. Comparando com o estudo de Mazini Filho et al. [4] cujos idosos fisicamente ativos obtiveram uma média de 5,21 segundos, o grupo praticante de treinamento combinado do presente estudo alcançou em excelente resultado com uma diferença significativa. Neste teste também houve uma diferença significativa comparando-se os grupos. Figura 5 - Classificação dos grupos no teste de levantar da posição decúbito ventral. Regular 3,5 3 Muito bom 2,5 2 1,5 1 0,5 Praticantes Não praticantes Levantar da posição sentada: nesta bateria, o grupo dos não praticantes obteve uma média de tempo de 11,45 ± 1,65 segundos, e o grupo dos praticantes alcançou uma média de 8,89 ± 1,22 segundos. De acordo com a classificação do GDLAM os não praticantes obtiveram um fraco desempenho e os praticantes obtiveram uma boa performance. No estudo de Guimarães et al. [32], os praticantes de treinamento de força obtiveram uma mediana de 11,20 segundos, mas neste caso eles haviam feito apenas algumas semanas de treinamento e mesmo assim conseguiram obter uma melhora de 7 segundos, comparando-se com o teste anterior ao treinamento. Visto que este teste necessita de maior força e resistência muscular, a diferença entre os grupos foi significativa de acordo com a análise estatística. Figura 4 - Classificação do desempenho dos grupos no teste de levantar da posição sentada. Fraco 12 10 0 Praticantes Não praticantes Levantar da cadeira e caminhar pela casa: neste teste, a mediana do grupo não praticante foi de 56,30 segundos e a do grupo praticante foi de 40,68 segundos. Sendo assim, segundo o protocolo de GDLAM, o grupo praticante obteve uma classificação regular e o não praticante ficou na categoria fraca. No estudo de Guimarães et al. [32], o grupo praticante de exercício físico teve uma média neste teste de 37,54 segundos, obtendo uma classificação boa, sendo melhor do que a do grupo praticante do presente estudo. Estes resultados podem ser explicados pelo fator da coordenação e do equilíbrio dinâmico pouco trabalhado, o que acabava levando os idosos a se confundirem durante a execução do teste e fazendo com que a diferença entre os grupos fosse relevante. Figura 6 - Classificação dos grupos no teste de levantar da cadeira e caminhar pela casa. Fraco 60 50 Bom Regular 40 8 30 6 20 4 10 2 0 0 Praticantes Não praticantes Praticantes Não praticantes Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 22 Vestir e tirar a camisa: o grupo praticante obteve uma mediana de 6,49 segundos, sendo classificado no grupo muito bom pelo protocolo de GDLAM. Já o grupo não praticante teve uma mediana de 10,10 segundos, também obtendo a classificação muito boa. Mesmo obtendo a mesma classificação, a diferença de quase 4 segundos entre os grupos é significativa. A análise estatística revelou uma diferença relevante entre os grupos. No estudo de Guimarães et al. [32], o grupo praticante de exercícios físicos regularmente obteve uma média de tempo de 11,59 ± 1,72 segundos, o que revela um bom desempenho dos dois grupos do presente estudo. Figura 7 - Classificação dos grupos no teste de vestir e tirar a camisa. 12 Muito bom 10 8 Muito bom 6 4 2 0 Praticantes Não praticantes IG: de acordo com o índice GDLAM (IG), que é uma classificação geral da autonomia funcional dos idosos encontrada em uma fórmula onde se utilizam os tempos obtidos nos testes citados acima, houve uma diferença de classificação entre os grupos. O grupo praticante teve uma pontuação média de 26,39, ± 5,21 o que a classificou como regular e o grupo não praticante obteve uma pontuação mediana de 33,89 classificando-o como fraco. No estudo de Mazini Filho et al. [4], o grupo praticante obteve uma pontuação média de 28,60 sendo classificado como regular também. Já no estudo de Guimarães et al. [32], o grupo praticante obteve uma mediana de 38,70 classificando o grupo como fraco. Figura 8 - Classificação dos grupos pelo Índice GDLAM. Fraco 35 30 Regular 25 20 15 10 5 0 Praticantes Não praticantes Conclusão Este estudo teve como objetivo a comparação da autonomia funcional entre idosos praticantes e não praticantes de treinamento combinado. Observamos uma diferença significativa no tempo de execução entre os grupos. A maior diferença se deu nos testes com mais complexidade, que necessitava de atenção e coordenação. Comparando tais achados deste estudo com outros estudos citados neste trabalho que também utilizaram o protocolo de GDLAM, sendo que em todos os estudos o grupo praticante de exercício físico obteve melhor desempenho na realização da bateria de testes, há uma forte evidência que o exercício físico prescrito por profissionais capacitados é imprescindível para a manutenção da autonomia funcional em idosos. Recomendamos que outros estudos que envolvam treinamento combinado e autonomia funcional para idosos utilizem exercícios de intensidade e volume controlados pelos pesquisadores durante algumas semanas, buscando descobrir se existe um método de treinamento que seja mais válido e com melhores resultados para que os idosos alcancem sua autonomia funcional. Referências 1. Parahyba MI, Simões CCS. A prevalência de incapacidade funcional de idosos no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2006;11(4):967-74. 2. Rosa Neto F. Manual de avaliação motora para 3ª idade. Porto Alegre: Artmed; 2009. 3. Vecchia RD, Ruiz T, Bocchi SCM, Corrente JE. Qualidade de vida na terceira idade: um conceito subjetivo. Rev Bras Epidemiol 2005;8(3):246-52. 4. Mazini Filho ML, Ferreira RW, César EP. Os benefícios do treinamento de força na autonomia funcional do indivíduo idoso. Rev Educ Fís 2006;134:57-68. 5. Ramos LC. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cad Saúde Pública 2003;19(3):793-8. 6. Matsudo SM, Matsudo VKR, Barros Neto TL. Impacto do envelhecimento nas variáveis antropométricas, neuromotoras e metabólicas da aptidão física. Rev Bras Ciênc Mov 2000;8(4):21-32. 7. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2007. 8. Aveiro MC, Navega MT, Granito RN, Rennó ACM, Oishi J. Efeitos de um programa de atividade física no equilíbrio e na força muscular do quadríceps em mulheres osteoporóticas visando uma melhoria na qualidade de vida. Rev Bras Ciênc Mov 2004;3(12):33-8. 9. Pereira FF, Monteiro N, Novaes JS, Faria Junior AG, Dantas EHM. Efeito do treinamento de força na qualidade de vida de mulheres idosas. Fitness & Performance Journal 2006;5(6):383-7. 10. Silva NL, Farinatti PTV. Influência das variáveis do treinamento contra-resistência sobre a força muscular de idosos: uma revisão sistemática com ênfase nas relações dose-resposta. Rev Bras Med Esporte 2007;13(1):60-6. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 11. Izquierdo M, Häkkinen K, Kallinen M, Jokelainen K, Lassila H, Mälkiä E, Kraemer WJ, Newton RU, Alen M. Changes in agonist-antagonist EMG, muscle CSA, and force during strength training in middle-aged and older people. J Appl Physiol 1998;84:1341-9. 12. Matsudo SM, Matsudo VKR, Barros Neto TL. Atividade física e envelhecimento: aspectos epidemiológicos. Rev Bras Med Esporte 2001;7(1):2-13. 13. Guimarães JMN, Farinatti PTV. Análise descritiva de variáveis teoricamente associadas ao risco de quedas em mulheres idosas. Rev Bras Med Esporte 2005;11(5):299-305. 14. Costa AJL. Metodologias e indicadores para avaliação da capacidade funcional: análise preliminar do suplemento saúde da pesquisa nacional por amostra de domicílios – PNAD, Brasil, 2003. Ciênc Saúde Coletiva 2006;11(4):927-40. 15. Bucci M, Vinagre EC, Campos GER, Curi R, Pithon-Curi TC. Efeitos do treinamento concomitante hipertrofia e endurance no músculo esquelético. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13(1):17-28. 16. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício. São Paulo: Manole; 2001. 17. Gentil P, Oliveira RJ, Lima RM, Simões HG, Matos e Ávila WR, Wagner SR, et al. Respostas hormonais agudas a diferentes intensidades de exercícios resistidos em mulheres idosas. Rev Bras Med Esporte 2008;14(4):367-71. 18. Amorim FS, Dantas EHM. Efeitos do treinamento da capacidade aeróbica sobre a qualidade de vida e autonomia de idosos. Fitness & Performance Journal 2002;1(3):47-59. 19. Krause MP, Buzzachera CF, Hallage T, Pulner SB, Silva SG. Influência do nível de atividade física sobre a aptidão cardiorrespiratória em mulheres idosas. Rev Bras Med Esporte 2007;13(2):97-102. 20. Gonçalves IO, Silva GJJ, Navarro AC. Efeito hipotensivo do exercício físico aeróbio agudo em idosos hipertensos entre 60 e 80 anos. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício 2007;1(5):76-84. 23 21. Heppler RT, Mackinnon SLM, Goodmanjs, Tomas SG, Plyley MJ. Resistance and aerobic training in older man: effects on VO² peak and the capillary supply to skeletal muscle. J Appl Physiol 1997;82:1305-10. 22. Almeida MB, Araújo CGS. Efeitos do treinamento aeróbico sobre a frequência cardíaca. Rev Bras Med Esporte 2003;9(2):104-12. 23. Jubrias AS, Esselman PC, Price LB, Cress ME, Conley KE. Large energetic adaptations of elderly muscle to resistance and endurance training. J Appl Physiol 2001;90:1663-70. 24. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 7a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. 25. Dantas EHM, Vale RGS. Protocolo GDLAM de avaliação da autonomia funcional. Fitness & Performance Journal 2004;3:175-82. 26. Mattos MG, Rosseto Junior AJ, Blecher S. Teoria e prática da metodologia da pesquisa. São Paulo: Phorte; 2004. 27. Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas; 2002. 28. Costa Neto PLO. Estatística. São Paulo: Edgard Blucher; 2002. 29. Bunchaft G, Kellner SRO. Estatística sem mistérios. Petrópolis: Vozes; 1999. 30. Siegel S, Castellan Junior NJ. Estatística não-paramétrica para ciências do comportamento. Porto Alegre: Artmed; 2008. 31. Mazini Filho ML, Belloni D, Albuquerque AC, Rodrigues TO, Silva VF. Estudo comparativo entre a autonomia funcional de mulheres idosas praticantes e não praticantes de hidroginástica. Rev Educ Fís 2008;140:20-6. 32. Guimarães AC, Rocha CAQC, Gomes ALM, Cader AS, Dantas EHM. Efeitos de um programa de atividade física sobre o nível de autonomia de idosos participantes do programa de saúde da família. Fitness & Performance Journal 2008;1:5-9. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 24 Artigo original Efeito do exercício aeróbico na incidência de quedas em idosos com problemas de saúde Effect of aerobic exercise on the incidence of falls in elderly with health problems Josenei Braga dos Santos, M.Sc.*, Geórgia Maria F. Benetti**, André Junqueira Xavier, D.Sc.***, Eleonora d’Orsi, D.Sc.**** *Mestrando em Saúde Pública – PPGSP/UFSC, **Aluna do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas – DICH/UFSC, ***Informática em Saúde (UNIFESP/EPM), Professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública – PPGSP/UFSC Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi verificar o efeito do exercício aeróbico na incidência de quedas em idosos com problemas de saúde. Participaram da amostra dois sujeitos: A) masculino 79 anos que sofreu um AVC e B) feminino 72 anos diabética. O estudo obedeceu a três etapas: pré-teste: aplicação de questionário com perguntas referentes aos aspectos sociodemográficos, atividades diárias e condições de saúde em geral, avaliação do índice de massa corporal (IMC), através do protocolo da World Health Organization e queda avaliada pelo teste de Tinetti; intervenção: 29 sessões de exercício aeróbio, realizadas duas vezes por semana, com duração de 65 minutos com intensidade entre 55% a 85% da Frequência Cardíaca Máxima (FCmáx); e pós-teste: avaliação da queda e avaliação qualitativa dos idosos. Os resultados mostraram que houve 100% de participação do sujeito A e 75,86% do sujeito B, manutenção da classificação no teste Tinetti nos dois períodos (pré e pós-teste), mantendo-os fora do risco de sofrer queda durante este período de trabalho. Diversos benefícios para a saúde e qualidade de vida foram identificados por meio da avaliação qualitativa. The aim of this study was to evaluate the effect of the aerobic exercise on the incidence of falls in elderly with health problems. The sample was composed by two subjects: A) male 79 years who had suffered cerebrovascular accident (CVA) and B) female 72 years with diabetes. The study included three stages: pre-test: a questionnaire was applied regarding socio-demographic aspects, daily activities and health in general, body mass index was evaluated through World Health Organization protocol and the Tinetti balance test was used to evaluate falls; intervention: 29 sessions of aerobic exercise for 65 min, two times per week, at intensity 55% - 85% of maximum heart rate (MHR); and post-test: falls risk and qualitative evaluation of the elderly. The results showed that subject A had 100% participation and subject B had 75.86%, same classification in Tinetti test in two periods (pre and pos test), keeping them out of risk of falling over during this period of work. Many benefits to health and quality of life were identified through the qualitative evaluation. Key-words: aerobic exercises, falls, elderly, aging. Palavras-chave: exercício aeróbico, quedas, idosos, envelhecimento. Endereço para correspondência: Josenei Braga dos Santos, Rua Ogê Fortkamp, 111/204, Bloco A, Bairro Trindade 88036-610 Florianópolis SC, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 25 Introdução Materiais e métodos O envelhecimento é um processo de mudança natural da vida humana e com ele diversas modificações fisiológicas sobre o corpo dos idosos podem surgir, causando diversos problemas de saúde físicos e mentais, frequentemente, causados por doenças crônicas, diminuição do equilíbrio, quedas e mobilidade funcional Alfieri et al., Ribeiro et al. e Mazo [1-3]. De acordo com Tribess et al. e Souza e Silva et al. [4-5], este processo leva todos os seres vivos, principalmente os idosos, a passarem por perdas progressivas nos aspectos físicos, fisiológicos, psicológicos e sociais, que refletem diretamente nas suas capacidades funcionais, “capacidade de realizar atividades físicas cotidianas, profissionais, esportivas, terapêuticas e de lazer” [6:59]. Esta perda, segundo estes autores, dificulta a realização das atividades da vida diária (AVD), assim como, conduz o idoso a se tornar sedentário, o que permite o surgimento de doenças crônico-degenerativas advindas de hábitos de vida inadequados. Outro fator que também surge nesta fase, segundo Perracini [7] é o da deterioração do equilíbrio e da marcha, que influencia o aumento do número de quedas, ou seja, “uma mudança de posição inesperada, não intencional, que faz o indivíduo permanecer em um nível inferior” [7:195]. Um estudo realizado por Siqueira et al. [8] com 4.003 idosos brasileiros (65 anos ou mais), mostrou que a prevalência de quedas foi de 34,8% e entre os que experimentaram queda, 12,1% tiveram fratura como consequência: 46% nos membros superiores, 28% nos membros inferiores, 11% no tronco, 5,5% na face e os valores restantes distribuídos entre outros locais. Isso demonstra que este evento pode ser considerado como um dos grandes problemas de saúde pública nesta fase, podendo gerar incapacidades parciais ou dependência, alterações na massa muscular e óssea, institucionalização, fragilidade, lesões, fratura de quadril, custos de tratamento e morte, o que resulta em sérias complicações para a saúde, a família e/ ou cuidadores e a qualidade de vida do idoso [2,7-11]. Diversos estudos e matérias veiculadas pelos meios de comunicação têm mostrado que a prática de exercícios físicos (EF) por idosos (programas de caminhadas, musculação, yoga, hidroginástica, tai chi chuan, dança de salão, pilates, etc.), tem dado uma contribuição significativa para a melhora da capacidade funcional de curto a médio prazo. A prática de EF tem sido enfatizada como uma das estratégias eficazes para prevenir doenças e quedas, promover e manter a saúde dos idosos, aumentar a expectativa de vida e a capacidade física, melhorar as relações sociais devido à convivência em grupo com pessoas da mesma idade, e, consequentemente, diminuir os anos de dependência funcional e a incapacidade física [1,3,4,12-17]. Sendo assim, objetiva-se neste estudo verificar os efeitos do exercício aeróbico na incidência de quedas em idosos com problemas de saúde. Tipo de estudo É uma pesquisa descritiva, do tipo estudo de caso, no qual o pesquisador esforça-se por uma compreensão em profundidade de uma única situação ou fenômeno [18]. Sujeitos Participaram da pesquisa dois idosos conforme pode ser observado na Tabela I, que faziam uso de diversos medicamentos e que tinham acompanhamento médico mensal. Tabela I - Características físicas dos participantes. Sujeito Sexo Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) IMC kg/m2 FC repouso (bpm) A Masculino 79 79,4 1,75 25,79 66 B Feminino 72 66 1,59 26,12 84 IMC - Índice de Massa Corporal; FC - Frequência Cardíaca. Sujeito A – portador de marcapasso, que tinha sofrido acidente vascular cerebral (AVC), possuía dificuldades de se equilibrar, havia perdido a visão esquerda há 19 anos, tinha sofrido duas quedas nos últimos 12 meses, relatava queixas de memória e era sedentário. Sujeito B – diabética com problemas de pressão alta, que havia realizado diversas cirurgias: apendicite aguda, problemas na tiróide, vesícula e tornozelo, não havia sofrido queda nos últimos 12 meses, possuía dificuldades de coordenação motora, relatava queixas de memória e praticava atividades de ginástica três vezes por semana com duração de 45 minutos em grupo. Coleta de dados Para atender às necessidades da investigação, aplicou-se um questionário com perguntas abertas e fechadas referentes aos aspectos sociodemográficos, atividades diárias e as condições de saúde em geral. Com relação à aferição do peso corporal, utilizou-se uma balança eletrônica marca Filizola, modelo PL-180, com capacidade de 180 kg e divisão de 100 g, a estatura foi mensurada por meio de um estadiômetro compacto marca WISO, com campo de medição de 0 a 200 cm. Para cálculo do IMC, utilizou-se o protocolo da World Health Organization [19], ou seja, IMC (kg/m²) = Peso/Altura². No que se referiu à queda, adotou-se o teste de Tinetti [20], que é um teste que permite avaliar o equilíbrio e as anormalidades da marcha sendo constituído de 16 itens, no qual 9 são para o equilíbrio do corpo e 7 para a marcha. Este 26 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 teste classifica os aspectos da marcha como a velocidade, a distância do passo, a simetria e o equilíbrio em pé, o girar e também as mudanças com os olhos fechados. A contagem para cada exercício varia de 0 a 1 ou de 0 a 2, com uma contagem mais baixa que indica uma habilidade física mais pobre. A pontuação total é a soma da pontuação do equilíbrio do corpo e a da marcha. Sua pontuação máxima é de 12 pontos para a marcha, de 16 para o equilíbrio do corpo e de 28 para a total, tendo como indicadores do risco de queda as seguintes pontuações: ≤ 18 alto, 19-23 moderado e ≤ 24 baixo. Intervenção Para desenvolvimento deste estudo, adotou-se como forma de trabalho a cultura de empoderamento na saúde, proposta pela Organização Panamericana de Saúde [21], ou seja, ajudar os idosos a gerenciarem sua própria saúde por meio da prática de exercício físico e orientá-los sobre hábitos de saúde. Foram realizadas 29 sessões de exercício aeróbio (caminhada), durante um período de três meses, duas vezes por semana, em dias alternados, com duração de 65 minutos, divididos em três partes: a) 5 a 10 minutos – exercícios de alongamento e flexibilidade (aquecimento articular e fisiológico); b) 30 a 50 minutos – exercício aeróbio; c) 5 minutos – exercícios respiratórios e de relaxamento muscular visando retorno da FC aos níveis de repouso. Com relação à execução dos exercícios aeróbios, tomou-se como referência trabalhar com intensidade de leve a moderada em torno de 55% a 85% da Frequência Cardíaca Máxima (FCmáx) conforme indicado por Nobrega et al. [15]. Para cálculo da FCmáx adotou-se a fórmula, (FCmáx) = 220 – idade, preconizada por Karvonen et al. apud Powers e Howley [22], sendo medida de forma indireta (medida radial), ou seja, pressionar levemente o indicador e o dedo médio contra a artéria radial no sulco na parte lateral do punho. Com relação aos procedimentos éticos de pesquisa, seguiuse a resolução específica do Conselho Nacional de Saúde [23]. No que se referiu ao termo de consentimento livre e esclarecido, os dois sujeitos assinaram confirmando que estavam cientes dos propósitos da investigação e dos procedimentos que seriam utilizados e autorizaram a publicação dos dados obtidos. Resultados Após a aplicação das sessões, percebeu-se que houve 100% de participação do sujeito A e 75,86% de participação do sujeito B. Como pode ser observado, na Tabela II e III, respectivamente, encontram-se o resultado do teste de Tinetti (pré e pós-teste) dos dois sujeitos e logo após cada tabela, apresentase a avaliação qualitativa. Tabela II - Resultado do teste de Tinetti. Sujeito A Equilíbrio Marcha Total Pré-teste 15 9 24 Pós-teste 16 9 25 Avaliação qualitativa Relatou que houve melhora na qualidade do sono, não havia sofrido queda durante o desenvolvimento deste estudo, diminuição das dores musculares, sentia que as pernas estavam mais firmes, o corpo mais flexível, com boa postura e disposto para as atividades diárias e viagens, começou a fazer tratamento para o problema de visão e conversou com seu médico sobre sua medicação, e este por sua vez, decidiu reduzir um medicamento (anticonvulsivante) de três para um comprimido/dia. Tabela III - Resultado do teste de Tinetti. Sujeito B Equilíbrio Marcha Total Pré-teste 16 9 25 Pós-teste 16 9 25 Avaliação qualitativa Relatou que houve melhora na qualidade do sono, que não havia sofrido queda durante o desenvolvimento deste estudo, diminuição das dores musculares e sentia-se mais disposta e flexível durante as atividades diárias e viagens. Discussão De acordo com os resultados obtidos, notou-se que a prática do exercício aeróbico ajudou a melhorar o equilíbrio do sujeito A e a manter a pontuação do sujeito B. Estes valores demonstraram que, apesar dos sujeitos apresentarem um baixo risco de queda no pré-teste, esta classificação também se manteve no pós-teste, mostrando que os exercícios contribuíram para que esta classificação fosse preservada e, consequentemente, ajudasse a prevenir e/ou minimizar diversos problemas musculoesqueléticos que pudessem surgir durante o período de trabalho. Sendo assim, pode-se dizer que estas informações vão ao encontro dos posicionamentos de Oliveira [24], quando fala que os exercícios aeróbicos trazem diversos benefícios ao organismo, porque são os que mais desenvolvem a aptidão musculoesquelética e cardiorrespiratória e de Mazo [3], quando aponta que os benefícios provocados pela caminhada parece ser valiosa para os idosos, pois a força dos membros inferiores auxilia a minimizar os efeitos da imobilidade e, consequentemente, a manter a independência. Diversos estudos têm apontado o EF como um dos principais fatores para a aquisição e manutenção da saúde, prevenção de doenças, sendo utilizado como um procedi- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 mento na reabilitação e melhoria da performance de atletas e praticantes de atividades físicas [25]. Rebelatto et al. [26] quando verificaram a influência de um programa de atividade física de longa duração sobre a força de preensão manual e a flexibilidade de mulheres idosas, identificaram manutenção da força de preensão manual e reprogramação dos exercícios para desenvolvimento da flexibilidade. Alfieri et al. [1], quando avaliaram a mobilidade funcional e o equilíbrio de 75 idosos (25 praticantes voleibol adaptado - G1, 25 ginástica - G2 e 25 indivíduos sedentários – G3), identificaram que o G1 e o G2 obtiveram melhores resultados em todos os itens avaliados quando comparados ao Grupo 3, concluindo que a prática regular de exercícios físicos pode interferir positivamente no equilíbrio e mobilidade funcional de idosos. Candeloro e Caromano [27] quando estudaram o efeito de um programa de hidroterapia na flexibilidade e na força muscular de idosas, notaram que o programa foi eficiente para melhorar a flexibilidade e, parcialmente, para a força muscular. Silva et al.[28] quando avaliaram o equilíbrio, a coordenação e agilidade de idosos submetidos à prática de exercícios físicos resistidos, constataram melhor desempenho para o grupo experimental em relação ao controle. Já Resende et al. [29] quando estudaram sobre o efeito de um programa de hidroterapia no equilíbrio e no risco de quedas em idosas, conseguiram promover aumento significativo do equilíbrio e redução do risco de quedas. De acordo com o que está preconizado na literatura, consegue-se perceber que a prática de EF tem uma relação direta com a saúde, qualidade de vida e bem estar dos idosos, contribuindo para a independência e a capacidade funcional, fato este também encontrado neste estudo por meio dos relatos na avaliação qualitativa o que para Guiselini, Nahas et al. e Araújo [30-32] pode ser considerado como um fator estimulador, que atua positivamente na mudança de comportamento das pessoas, proporcionando mais autonomia para a vida e maior disposição. Conclusão Pode-se concluir que a prática do exercício aeróbico contribuiu para que os idosos mantivessem suas classificações no teste realizado, auxiliando na redução do risco de quedas e, consequentemente, ajudando a prevenir problemas musculoesqueléticos que pudessem surgir durante este período. Outro ponto de destaque percebido foi que as orientações sobre hábitos de saúde contribuíram para que os sujeitos gerenciassem melhorar suas condições de saúde, autonomia, capacidade funcional e independência. Cabe ressaltar que se faz necessário desenvolver estudos de intervenção com um número maior de idosos, por um longo período de tempo, e que estes possam ser realizados utilizando instrumentos validados cientificamente, simples, rápidos, de 27 fácil entendimento e execução, para que se possa ajudá-los a gerenciar melhor sua saúde. Referências 1. Alfieri FM, Werner A, Roschel AB. Mobilidade funcional e equilíbrio de idosos praticantes de exercícios físicos versus indivíduos sedentários. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2009;8(2):61-4. 2. Ribeiro AP, Souza ER, Atie S, Souza AC, Schilithz AO. A influência das quedas na qualidade de vida dos idosos. Ciênc Saúde Coletiva 2008;13:1265-73. 3. Mazo GZ. Atividade física, qualidade de vida e envelhecimento. Porto Alegre: Sulina; 2008. 4. Tribess S, Virtuoso-Junior JS. Prescrição de exercícios físicos para idosos. Rev Saúde Com 2005;1:163-72. 5. Souza e Silva A, Albertini R, Costa MS. Análise das capacidades físicas em indivíduos adultos sedentários e treinados. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2006;5:15-20. 6. Barreto SM, Pinheiro ARO, Sichieri R, Monteiro CA, Batista Filho M, Schimidt MI, et al. Análise da estratégia global para alimentação, atividade física e saúde, da Organização Mundial da Saúde. Epidemiol Serv Saúde 2005;14:41-68. 7. Perracini MR. Prevenção e manejo de quedas. In: Ramos LR, ed. Guia de geriatria e gerontologia. Barueri: Manole; 2005. p.193-208. 8. Siqueira FV, Facchini LA, Piccini RX, Tomasi E, Thumé E, Silveira DS, et al. Prevalência de quedas em idosos e fatores associados. Rev Saúde Pública 2007;41:749-56. 9. Marinho MS, Silva JF, Pereira LSM, Salmela LFT. Efeitos do Tai Chi Chuan na incidência de quedas, no medo de cair e no equilíbrio em idosos: uma revisão sistemática de ensaios clínicos aleatorizados. Rev Bras Geriatr Gerontol 2007;10(2):243-56. 10. Mazo GZ, Liposcki DB, Ananda C, Prevê D. Condições de saúde, incidência de quedas e nível de atividade física dos idosos. Rev Bras Fisioter 2007;11:437-42. 11. Neto NC. Envelhecimento bem-sucedido e envelhecimento com fragilidade. In: Ramos LR, ed. Guia de geriatria e gerontologia. Barueri: Manole; 2005. p. 9-25. 12. Gonçalves MP, Tomaz C, Sangoi C. Considerações sobre envelhecimento, memória e atividade física. Rev Bras Ciênc Mov 2006;14:101-8. 13. Antunes HKM, Santos RF, Cassilhas R, Santos RVT, Bueno OFA, Mello MT. Exercício físico e função cognitiva. Rev Bras Med Esporte 2006; 12:108-14. 14. Franchi KMB, Montenegro-Junior RM. Atividade física: uma necessidade para a boa saúde na terceira idade. RBPS 2005;18:152-6. 15. Soares J, Alabarse S. Envelhecimento e atividade física. In: Ramos LR, ed. Guia de geriatria e gerontologia. Barueri: Manole; 2005. p.255-70. 16. Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, Leitão MB, Lazzoli JK, Nahas RM, et al. Posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia: atividade física e saúde no idoso. Rev Bras Med Esporte 1999;5:207-11. 17. American College Sport Medicine (ACSM). Position stand on exercise and physical activity for older adults. Med Sci Sports Exerc 1998;30:992-1008. 28 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 18. Thomas JR, Nelson JK. Métodos de pesquisa em atividade física. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2002. p. 294-26. 19. World Health Organization. Preventing and managing the global epidemic. Geneva: WHO; 1997. 20. Tinetti ME, Williams TF, Mayewski R. Fall Risk Index for elderly patients based on number of chronic disabilities. Am J Med 1986;80:429-34. 21. Organização Panamericana de Saúde (OPAS). Participação Comunitária e Empoderamento. [citado 2008 Nov 12]. Disponível em URL: <http://www.opas.org.br/coletiva/temas.cfm. 22. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 5ª. ed. Barueri: Manole; 2005. 23. Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resolução Nº 196/96. [citado 2008 Nov 12]. Disponível em URL: http://conselho. saude.gov.br/comissao/conep/resolucao.html 24. Oliveira MAB. Condicionamento aeróbico. In: Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Prescrição e Orientação da Atividade Física. São Paulo: EPM Projetos Médicos; 2006. p.19-22. 25. Silva RP, Navarro AC. O treinamento de resistência com pesos em circuito de intensidade moderada melhora a capacidade cardiorrespiratória e diminui gordura corporal. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2006:5:62-7. 26. Rebelatto JR, Calvo JI, Orejuela JR, Portillo JC. Influência de um programa de atividade física de longa duração sobre a força muscular manual e a flexibilidade corporal de mulheres idosas. Rev Bras Fisioter 2006;10:127-32. 27. Candeloro JM, Caromano FA. Efeito de um programa de hidroterapia na flexibilidade e na força muscular de idosas. Rev Bras Fisioter 2007;11:303-9. 28. Silva A, Almeida GJM, Cassilhas RC, Cohen M, Peccin MS, Tufik S et al. Equilíbrio, coordenação e agilidade de idosos submetidos à prática de exercícios físicos resistidos. Rev Bras Med Esporte 2008;14:88-93. 29. Resende SM, Rassi CM, Viana FP. Efeitos da hidroterapia na recuperação do equilíbrio e prevenção de quedas em idosas. Rev Bras Fisioter 2008;12:57-63. 30. Guiselini M. Aptidão física, saúde e bem-estar: fundamentos teóricos e exercícios práticos. São Paulo: Phorte; 2004. 31. Nahas MV. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. 3ª. ed. Londrina: Midiograf; 2003. 32. Coelho CW, Araújo CGS. Relação entre aumento da flexibilidade e facilitações na execução de ações cotidianas em adultos participantes de programa de exercício supervisionado. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2000;2:31-41. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 29 Artigo original Correlação entre repetições no pulley frontal e flexões na barra fixa Correlation between repetitions in the frontal pulley and fixed bar pull down Jaime Flôres de Araujo Bastos*, Antonio Coppi Navarro**, Francisco Navarro*** *Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu da Faculdade de Educação Física da ACM de Sorocaba em Fisiologia do Exercício: Prescrição do Exercício, Ofi cial do Exército Brasileiro,**Instituto Brasileiro de Pesquisa e Ensino em Fisiologia do Exercício, Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu da Faculdade de Educação Física da ACM de Sorocaba em Fisiologia do Exercício: Prescrição do Exercício, Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu da UMC em Engenharia Biomédica, ***Universidade Federal do Maranhão, Departamento de Educação Física Resumo Abstract Introdução: A flexão na barra fixa tem como finalidade avaliar as qualidades físicas de força e de resistência muscular localizada de membros superiores. Esse exercício é específico para as ações de combate do militar. Por esse motivo, a flexão na barra fixa faz parte do Teste de Avaliação Física, executado obrigatoriamente por todos os militares, três vezes ao ano. A flexão na barra fixa tem sido uma das causas dos resultados de insuficiência no Teste de Avaliação Física. Visando buscar um exercício de musculação que irá auxiliar no treinamento para a execução da flexão na barra fixa, quiçá para o Teste de Avaliação Física, o objetivo deste estudo foi correlacionar o resultado do teste de repetição máxima no pulley frontal e o desempenho na flexão na barra fixa. Material e métodos: Participaram do estudo 32 soldados, voluntários, do Exército Brasileiro, com idade entre 19 e 20 anos e massa corporal de 71,3 ± 8 kg. No primeiro dia foram mensuradas a massa corporal e a idade, além do teste de repetição máxima no pulley frontal, com a carga fixa de 45 kg. Após 72 horas foi realizado o teste de repetição máxima na barra fixa. Resultados e discussão: No pulley frontal a média de repetições máximas foi de 12,21 ± 6,14, enquanto na barra fixa foi de 6,15 ± 3,87. A correlação de Pearson foi 0,88 (P < 0,01). Nesse sentido os achados deste estudo confirmam a relação de semelhança entre os exercícios pulley frontal com os exercícios de barra fixa, na proporção equivalente de dois para um. Conclusão: Conclui-se que existe a relação de duas repetições no pulley frontal, com 45 kg, para cada repetição na barra fixa. Introduction: The flexion in fixed bar is used to assess the strength and muscular endurance of upper limbs. This exercise is specific to the actions of the military fight. Therefore the flexion in fixed bar is included in the Physical Assessment Test of the Army. The flexion at fixed bar has been one of the causes of failure in physical fitness evaluation. Aiming to determine the training workload to prepare the soldiers to the flexion at fixed bar test, the purpose of this study was to correlate the outcome of the repetition maximum in the front pulley and the performance in the flexion fixed bar. Material and methods: Participants of the study were 32 soldiers from the Brazilian Army, 19 and 20 years old, with body mass of 71.3 ± 8 kg. In the first day the body mass was measured, as well the repetition maximum in front pulley with the fixed load of 45 kg. After 72 hours the repetition maximum in the fixed bar was determined. Results and discussion: In the front pulley the mean of maximum repetition was 12.21 ± 6.14, while the mean maximum repetition in the fixed bar test was 6.15 ± 3.87. The Pearson correlation coefficient was 0.88 (P < 0.01). In this sense the findings of this study confirm the relationship between the front pulley exercises with the fixed bar repetitions. Conclusion: There is a significant relationship between two repetitions in the front pulley with 45 kg and the repetition maximum in the fixed bar test. Key-words: physical assessment test, neuromuscular training, front pulley, fixed bar, performance. Palavras-chave: teste de avaliação física, treinamento neuromuscular, pulley, barra fixa, performance. Endereço para correspondência: Antonio Coppi Navarro, Rua Piracicaba, 65/04, 07040-310 Guarulhos SP, Tel: (11) 2229-5701, E-mail: [email protected] 30 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução O Exército Brasileiro, juntamente com a Marinha e a Aeronáutica, constituem as Forças Armadas do Brasil. Estas instituições são permanentes e regulares e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem [1]. A importância da aptidão física para o sucesso nas operações militares foi confirmada nos relatórios sobre a campanha do Exército Britânico nas ilhas Falkland e sobre as ações do Exército Americano em Granada [2]. Devido a isso, o Exército Brasileiro adota o Treinamento Físico Militar (TFM) como instrução obrigatória para todos os militares [3]. Os militares, para desempenharem bem suas funções, estão em constantes treinamentos físicos e para que se possa controlar e avaliar o desempenho físico individual dos militares é realizado por todos, isto é, obrigatório, três vezes ao ano se submeter ao Teste de Avaliação Física (TAF) [3]. Dentre os exercícios que constituem esta avaliação encontramos a Flexão na Barra Fixa (FBF) [4]. A FBF tem como objetivo avaliar as qualidades físicas de força e de Resistência Muscular Localizada (RML) de membros superiores. Ela tem sido uma das causas dos resultados de insuficiência no Teste de Avaliação Física entre os militares das forças regulares [5]. Em busca da necessidade em superar os resultados insuficientes nos Testes de Avaliação Física pelos militares e visando buscar um exercício de musculação que fundamente uma prescrição de um treinamento físico de força e de resistência muscular localizada, em termos de membros superiores, o objetivo deste estudo é relacionar o resultado do Teste de Repetição Máxima (TRM) no Pulley Frente (PF) e a performance na FBF [6]. Material e métodos Amostra A amostra foi constituída por 32 soldados voluntários, que assinaram termo de consentimento, integrantes do 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (2º GAC L), incorporados no mês de março, isto é, com dois meses e meio de quartel, com idade entre 19 e 20 anos, massa corporal de 71 ± 8 kg. Todos os participantes eram fisicamente ativos [13], do sexo masculino e não apresentaram nenhuma patologia que pudesse contra indicá-los para a execução de exercício intenso de força de membros superiores. Procedimentos No primeiro dia foram mensuradas a massa corporal e a idade, além do Teste de Repetição Máxima no Pulley Frente. No segundo dia, 72 horas após o teste anterior, foi realizado o Teste de Repetição Máxima na Barra Fixa. Todos os testes foram realizados das quinze e trinta às dezessete horas. Foi demonstrado o protocolo para os dois testes, antes da realização dos mesmos, a fim de padronizar os procedimentos de execução. A massa corporal foi mensurada utilizando-se uma balança digital da marca Filizola, modelo Personal, ano 2001, com precisão de 100 gramas. O suor nas mãos, variável interveniente para o teste de flexão na barra fixa, foi controlado pela aplicação de “breu vegetal” nas mãos de todos os indivíduos da amostra. Outra interveniente controlada foi a motivação para a realização do teste, visto que este foi realizado durante a execução do TAF. O teste de repetição máxima no pulley frente O aparelho PF foi escolhido para o trabalho de correlação com a FBF, devido às suas semelhanças [14] quanto às articulações envolvidas, os movimentos articulares e os músculos envolvidos, tudo isso citado anteriormente. Além disso, esse exercício de musculação serve como TAF alternativo, para militares que, por algum motivo de saúde, são impossibilitados de executar a FBF [15]. A aptidão física em relação ao componente força vem sendo mensurada através de testes de força e resistência de força, em que figuram o de uma repetição máxima (1RM) e o de repetições máximas (RM) [16]. O teste de repetição máxima foi escolhido para avaliar a força máxima dos indivíduos, pois a realização de um teste de 1RM pode causar lesões, principalmente em indivíduos inexperientes [17]. Com isso, é aconselhável a execução de testes de resistência muscular, que são os que realizam o máximo de repetições com cargas submáximas. Os testes submáximos encontrados na literatura são os de número máximo de repetições. Para a execução desses testes, a carga pode ser escolhida pelos seguintes critérios: carga fixa arbitrariamente determinada, carga baseada em um percentual da massa corporal ou em um percentual de 1 RM [17]. Para a realização deste trabalho, foi escolhida a carga fixa arbitrariamente determinada. Com isso, utilizouse a carga de 45 kg para todos. O teste propriamente dito foi executado seguindo o seguinte protocolo de Moura et al. [16]. Posição inicial: a) Indivíduo sentado com tronco ereto e os joelhos flexionados em aproximadamente 90º, estando as coxas fixadas no anteparo padrão do aparelho situado à frente do corpo; b) Mãos segurando a barra do aparelho, estando os cotovelos totalmente estendidos e os braços elevados acima do corpo, estando o tronco em atitude ereta. Ponto de resistência da quilagem – A resistência é oferecida pela barra padrão contra o movimento de puxada (adução de ombro e flexão de cotovelo). Execução – O indivíduo executa a puxada da barra para baixo e a frente do corpo até que ultrapasse a mandíbula, conforme modelagem na figura 1. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Figura 1 - Modelagem do exercício pulley frente. O teste de flexão na barra fixa O teste de flexão na barra fixa foi realizado de acordo com o protocolo a seguir descrito e exemplificado na modelagem da Figura 2: Ao comando de ligar, o militar empunhou a barra com os braços estendidos e os punhos em pronação. Ao comando de iniciar, executou sucessivas flexões de braço na barra fixa até o limite de sua resistência. Só foram contadas aquelas em que o indivíduo ultrapassava a barra com o queixo, na fase concêntrica e estendia os braços completamente, na fase excêntrica. Não foram permitidos movimentos abdominais (“galeios”) e pedaladas para impulsionar o tronco [4]. Figura 2 - Modelagem do exercício barra fixa. 31 Tabela I - Pulley frente e barra fixa individualmente. Amostra Pulley (n) (1 a 16) 1 25 2 22 3 22 4 21 5 21 6 20 7 19 8 19 9 18 10 18 11 15 12 14 13 12 14 12 15 11 16 11 Amostra (n = 32) Média Desvio Padrão Teste t Correlação de Pearson ANOVA (Turkey) Barra 12 15 14 10 11 8 8 8 13 8 6 5 4 9 6 5 Pulley 12,21 6,40 0,01 Amostra (n) Pulley (17 a 32) 17 10 18 10 19 9 20 9 21 9 22 8 23 8 24 8 25 7 26 6 27 6 28 6 29 5 30 4 31 4 32 2 Barra 6,15 3,87 0,01 Barra 6 6 6 3 5 4 3 6 3 4 1 1 3 1 0 3 0,88 0,0001 Discussão Tratamento estatístico Os dados dos testes no pulley frente e na barra fixa foram coletados e apresentados em estatística descritiva: frequência absoluta, frequência relativa, média, desvio padrão, e estatística analítica: correlação de Pearson, Test t para cada variável (pulley e barra fixa) independentemente e a Anova seguida de verificação post-hoc de Tukey para as variáveis (pulley e barra fixa). O nível de significância foi fixado em p < 0,05 e os cálculos feitos com o software Bioestat 4.0. Resultados A Tabela I apresenta os resultados para o pulley frontal e barra fixa, para cada um dos indivíduos participantes. O exercício físico é uma atividade de baixo custo que pode promover saúde [7], os exercícios neuromusculares realizados regularmente são importantes para a manutenção e melhoria das condições morfofisiológicas e de saúde, nesse sentido os militares realizam frequentemente exercícios físicos prescritos [8]. Atividades neuromusculares têm como objetivo atingir as seguintes finalidades: profilática, terapêutica, psicológica, estética e de treinamento os militares realizam atividades neuromusculares principalmente em termos de treinamento físico, profilática e psicológica, e quando necessária terapêutica [9]. Para o Exército Brasileiro, os exercícios neuromusculares têm como objetivo principal, atingir a finalidade de treinamento, e a FBF muito utilizada nos treinamentos e testes físicos dos militares, quando realizada na posição pronada é similar às ações de combate do militar. Em diversos cursos operacionais do Exército, durante uma missão real ou até mesmo nas atividades corriqueiras dos quartéis, como, por exemplo: o embarque em viaturas altas, subida em árvore ou a transposição de um muro, os militares utilizam o tipo de pegada pronação para suspender o peso do próprio corpo [10]. O exercício da FBF engloba três articulações: a articulação do ombro, a escápulo - torácica e a do cotovelo [11]. 32 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Na execução da FBF observam-se os seguintes movimentos articulares: adução de ombro, rotação inferior da escápula e flexão do cotovelo [11]. No movimento de adução do ombro, como Motor Primário (MP) destaca-se os seguintes músculos: latíssimo do dorso, redondo maior e peitoral maior (parte abdominal). Já na rotação inferior da escápula, têm-se como MP o peitoral menor, rombóide maior e trapézio (parte ascendente). Na flexão de cotovelo observa-se a atuação do bíceps braquial, do braquial e do braquiorradial [11]. A FBF é um exercício que exige uma certa força e é excelente para o desenvolvimento das costas [12]. Ele trabalha os seguintes músculos: latíssimo do dorso, redondo maior, peitoral maior, rombóide, trapézio (parte ascendente), bíceps braquial, braquial e o braquiorradial. O exercício de puxada na frente com polia alta (pulley frente), também é um excelente exercício físico para desenvolver os músculos das costas. Ele trabalha as fibras superiores e centrais do latíssimo do dorso, a parte transversa e ascendente do trapézio, o rombóide, o bíceps braquial, o peitoral maior, o redondo maior, o peitoral menor e o braquial [12]. O exercício pulley costas, muito semelhante ao pulley frente, engloba as mesmas articulações, os mesmos movimentos articulares e as mesmas ênfases musculares que o movimento de FBF [11]. A diferença entre o exercício de FBF e do PF está no ponto fixo e no ponto móvel. Na FBF o ponto fixo está inserido no úmero e o móvel na coluna vertebral. No PF o fixo está na coluna vertebral e o móvel no úmero [11]. Analisando os resultados, deste estudo, e que estão apresentados, na tabela I, individualmente, ou seja, por todos os sujeitos da amostra, observa-se que não existe uma regularidade, em termos de resultado individual, no que se refere ao resultado do exercício pulley frente, quando comparado ao exercício da barra fixa. Devido a isso, não podemos afirmar que o indivíduo que faz mais repetições no pulley frente, com o peso de 45 kg de carga fará mais repetições na barra fixa que um indivíduo que obteve um resultado pior no pulley. Observando-se a média do número de repetições no pulley frente de todos os sujeitos da amostra (n = 32) é de 12,21 ± 6,40. Já a media do número de repetições na barra fixa é de 6,15 ± 3,87. Devido a isso, é possível inferir que, em percentagem, o número de FBF é 50,8% do número de repetições no pulley frente com 45 kg de carga. Pelo índice de 0,88 obtido na correlação de Pearson podemos afirmar que existe uma relação de duas repetições no exercício pulley frente para cada exercício de flexão na barra fixa. Para a significância dos resultados da amostra (n = 32) em relação aos exercícios físicos pulley frente e flexão na barra fixa, foi usado em cada um independentemente o test t (p < 0,01) e para a análise de variância o test Turkey (p < 0,0001). Conforme sugerem os estudos citados, principalmente os [5,10-12,15,18], e comparando com os dados obtidos nesta investigação os exercícios físicos de pulley frente e flexão na barra fixa possuem uma correlação de dois para um quando levamos em consideração as características dos sujeitos dessa amostra. Conclusão Analisando os pressupostos teóricos e os dados estatísticos apresentados, concluímos que existe a correlação de duas repetições no pulley frente, com 45 kg, para cada repetição na barra fixa. Sendo assim, já que existe uma relação de proporção entre os dois exercícios, sugere-se aos militares inserir o exercício pulley frente no teste de avaliação física. Referências 1. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Secretaria Especial de Editoração e Publicações; 2000:87. 2. Dubik JM, Fullerton TD. Soldier overloading in Grenada. Mil Rev 1987;67:38-47. 3. Estado Maior do Exército. Manual de treinamento físico militar: C 20-20. 3ª ed. Brasília: EGGCF; 2002. p.135-136. 4. Secretaria Geral do Exército. Diretriz para o treinamento físico militar e sua Avaliação: Portaria 739. Brasília: EGGCF; 1999: 29p. 5. Aita E, Gomes Júnior RR, Silva GF, Rosa AS, Oliveira RM, Almeida LP et al. Comparação de dois métodos de treinamento neuromuscular, específicos para a flexão na barra fixa. Rev Educ Fís 2005;130:7-14. 6. Petersem A, Campos JP, Silva PC, Zaneti DWS, Rola DC, Vieira JL, et al. Eficácia da pista de treinamento em circuito e a ginástica básica como treinamento de força muscular para realização da puxada na barra fixa. Rev Educ Fís 2003;127:98. 7. Valim V. Benefícios dos exercícios físicos na fibromialgia. Rev Bras Reumatol 2006;46(1):49-55. 8. Novaes JS, Vianna JM. Personal training & condicionamento físico em academia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003.64p. 9. Dantas EHM. A prática da preparação física. 5ª ed. Rio de Janeiro: Shape; 2003.59p. 10. Silva EB. A execução da barra: pronação X supinação. Rev Educ Fís 1993;121:45-8. 11. Uchida MC, Charro MA, Bacurau RFP, Navarro F, Pontes Júnior FL. Manual de musculação: Uma abordagem teórico-prática ao treinamento de força. São Paulo: Phorte; 2003. p.110-112. 12. Delavier F. Guia dos movimentos de musculação: abordagem anatômica. 3ª ed. Barueri: Manole; 2002. p.58-61. 13. ACMS. The recommended quantity and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility en healthy adults. Med Sci Sports Exerc 1998;30:916-20. 14. Carpenter CSC, Novaes J, Batista LA. Comparação entre a puxada por trás e a puxada pela frente de acordo com a ativação eletromiográfica. Rev Educ Fís 2007;136:20-7. 15. Lima JF, Exercícios alternativos para o TAF: Teste de avaliação física do corpo de tropa. Rev Educ Fís 1993;121:32-7. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 16. Moura JAR, Borher T, Prestes MT, Zinn JL. Influência de diferentes ângulos articulares obtidos na posição inicial do exercício pressão de pernas e final do exercício puxada frontal sobre os valores de 1 RM. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):269. 17. Pereira MIR, Gomes PSC. Teste de força e resistência muscular: confiabilidade e predição de uma repetição máxima: revisão e novas tendências. Rev Bras Med Esporte 2003;9(4):325-35. 33 18. Martins MEA, Santos FM, Arantes RP, Alves CS, Miguel LB, Bastos JFA et al. Relação da performance na barra fixa com a força de preensão manual e tempo de sustentação na barra fixa. Rev Educ Fís 2004;128:65-71. 34 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Artigo original Avaliação antropométrica em idosos praticantes de hidroginástica Anthropometric characteristics of elderly in a hydrogymnastic exercise program Danielle Salles Tortola*, Mariane Takesian*, Karla Dias Tomazella*, Marina Yazigi Solis*, Jaqueline Kremer Pereira*, Marina Gomes da Costa Fuchs*, Monica Milani*, Priscila Anacleto de Oliveira*, Clara Korukian Freiberg** *Discentes do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo – CUSC, São Paulo, **Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo – CUSC, São Paulo Resumo Abstract Introdução: Visando avaliar a influência da hidroginástica no estado nutricional de idosos praticantes desta atividade, 83 mulheres e 17 homens foram submetidos à avaliação antropométrica. Material e métodos: Trata-se de um estudo transversal descritivo, com coleta de dados primários, realizado em quatro academias da zona sul da cidade de São Paulo. Os indivíduos foram submetidos a medidas de peso, altura, dobra cutânea tricipital e circunferências de braço, cintura e quadril. Foram também coletados dados pessoais e presença de doenças relacionadas ao estado nutricional. Resultados: Foi possível observar que, no geral, estes idosos estão em condição de eutrofia, sendo 48,2% para as mulheres e 52,9% para os homens, além do que este tipo de atividade física resulta em preservação da massa muscular, pois 73% da prega cutânea tricipital e 83% da circunferência muscular do braço dos participantes se encontram em eutrofia. Os resultados obtidos pela antropometria mostram que a prática de hidroginástica por idosos resulta em melhora do estado nutricional, diminuição no risco de desenvolvimento de doenças metabólicas e cardiovasculares. Conclusão: Foi verificado que a prática da hidroginástica por idosos melhora a qualidade de vida desta população, influenciando positivamente no estado nutricional, sendo também importante na integração social, tendo por consequência, a longevidade. Introduction: Aiming at evaluating the influence of hydrogymnastics in nutritional status of elderly practicing this activity, 83 women and 17 men were submitted to anthropometric evaluation. Methodology: It is a descriptive transversal study, with primary data collection, carried out in four academies at the south of São Paulo city. Anthropometric measurements included weight, height, tricipital skinfold and circumferences of arm, waist and hip were obtained. Also, personal information and diseases related to nutritional status were collected. Results: It was possible to observe that, in general, the nutritional status of the elderly was classified as eutrophic, 48,2% for women and 52.9% for men. This physical activity preserves muscle mass in both gender, and 73% of the triceps skinfold thickness and 83% of arm muscle circumference of the participants are eutrophic. The anthropometric measurements results showed that the practice of hydrogymnastics by the elderly improved nutritional status and decreased risk of developing metabolic and cardiovascular diseases. Conclusion: It was concluded that the practice of hydrogymnastics for elderly people improves their quality of life, influencing positively in the nutritional status, being also important in the social integration and longevity. Key-words: aged, motor activity, nutricional status, anthropometry. Palavras-chave: idoso, atividade física, estado nutricional, antropometria. Endereço para correspondência: Karla Dias Tomazella, Rua Aparecida Ivone Munhoz, 35, 06142-050 Osasco SP, Tel: (11) 36918004/7456-1916, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução Nos últimos anos, devido a um aumento na expectativa de vida, o número de pessoas pertencentes à terceira idade tem aumentado [1]. Do ponto de vista demográfico, o envelhecimento é caracterizado pelo aumento da proporção da população acima de 60 anos em relação à população total, com aumento da expectativa de vida e queda da mortalidade [2]. Com esse envelhecimento da população haverá um aumento das demandas sanitárias, sociais e econômicas, representando ao mesmo tempo um dos maiores triunfos e desafios da humanidade [3]. O crescimento da população idosa é um fenômeno comum nos países centrais, mas também está presente de modo crescente nos países do terceiro mundo [4,5]. Atualmente, no Brasil, os idosos representam cerca de 10% da população, o que significa 15,5 milhões de brasileiros com mais de 60 anos [6], porém esse aumento da população idosa vem ocorrendo de forma muito rápida, sem a correspondente modificação nas condições de vida [7]. Com frequência, os idosos são portadores de doenças crônicas e destinam, muitas vezes, parte importante de seu orçamento à compra de medicamentos, podendo comprometer a aquisição de determinados alimentos, agravando o estado nutricional, acarretando maiores complicações de doenças agudas ou crônicas e maior proporção de internações, sendo estas ainda mais prolongadas [8]. O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, o que ocasiona maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos; as alterações que ocorrem variam de um indivíduo para outro e são influenciadas tanto pelo estilo de vida quanto por fatores genéticos [9]. É nessa época que ocorrem alterações significativas da composição corpórea; há uma diminuição do tecido metabolicamente ativo por redução de massa magra, um aumento de gordura, diminuição de altura e ganho de peso [10]. As sensações de paladar, odor, visão, audição e tato diminuem em proporções individualizadas. Também ocorre uma série de mudanças que afetam o apetite e a habilidade para digerir e absorver alimentos e seus respectivos nutrientes, o que pode levar o idoso à alteração de seu estado nutricional [11]. Há também que se considerar a diminuição do envolvimento em atividades físicas vigorosas e moderadas e da vida diária, o que leva ao decréscimo da capacidade física. Tal fato pode ser associado com o aumento do risco de doenças crônicas não transmissíveis [12]. A obesidade neste grupo etário pode contribuir no desenvolvimento de disfunções e outras doenças, devendo ser considerada como forte influência para a morbidade e para a diminuição da independência [13]. Devemos estar cientes de que uma velhice tranquila é somatório de tudo o que beneficie o organismo, por exemplo, exercícios físicos, alimentação saudável, espaço para o lazer, bom relaciona- 35 mento familiar, ou seja, é preciso investir em uma melhor qualidade de vida. O conceito de qualidade de vida está relacionado à autoestima e ao bem-estar pessoal [14,15]. A velhice para alguns é uma etapa de desenvolvimento, enquanto que para outros é uma fase negativa da vida [16]. Em virtude desses aspectos, acredita-se que a participação do idoso em programas de exercício físico regular poderá influenciar no processo de envelhecimento, com impacto sobre a qualidade de vida, melhoria das funções orgânicas e um efeito benéfico no controle de doenças, além disso, a prática de exercício físico combate o sedentarismo (que tende a acompanhar o envelhecimento), e contribui de maneira significativa para a manutenção da aptidão física do idoso, seja na sua vertente da saúde como nas capacidades funcionais [14,17]. Os objetivos de um programa de atividade física para essa população devem conter exercícios diretamente relacionados com as modificações que são decorrentes do processo de envelhecimento, tais como: promover atividades recreativas e de sociabilização; atividades moderadas e progressivas; atividades de resistência; exercícios de alongamento; exercícios de relaxamento. Dentre as atividades físicas com essas características, as aquáticas provaram ser eficazes no desenvolvimento e manutenção das potencialidades físicas e também orgânicas [14]. A hidroginástica é um destaque que vem cada vez mais ganhando adeptos por todo o mundo. Como o nome diz, hidroginástica é a ginástica na água, a qual se diferencia das outras atividades realçando alguns benefícios, devido a propriedades físicas que o meio oferece, que irão auxiliar ainda mais os idosos na movimentação das articulações, flexibilidade, diminuição da tensão articular, força, na resistência, nos sistemas cardiovascular e respiratório, relaxamento, entre outros [14,18,19]. O processo de envelhecimento acarreta alterações corporais. O peso e a estatura tendem a diminuir. Há também diminuição da massa magra e modificação no padrão de gordura corporal, onde o tecido gorduroso dos braços e pernas diminui, mas aumenta no tronco. Em consequência disso, as variáveis antropométricas sofrem modificações, como a prega cutânea tricipital (PCT) e a circunferência de braço (CB) que diminuem e a circunferência abdominal que aumenta. É importante avaliar em um plano nutricional essas variações, pra isso utiliza-e a antropometria. Esta é a medida das variações das dimensões físicas e da composição total do corpo humano nas diferentes idades e em diferentes níveis de desnutrição; fornece informações das medidas físicas e da composição corporal e é um método não invasivo, de fácil e rápida execução. No caso dos idosos, as medidas antropométricas mais utilizadas são peso, estatura, perímetros e dobras cutâneas [20,21]. O objetivo do estudo foi avaliar a influência da hidroginástica no estado nutricional de idosos praticantes desta atividade. 36 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Material e métodos O trabalho foi realizado em quatro academias na cidade de São Paulo, sendo todas localizadas na Zona Sul da cidade. Foram avaliados 100 indivíduos, sendo 83 mulheres e 17 homens, de ambos os sexos, com idade maior ou igual a 60 anos, durante as aulas habituais de hidroginástica. Os participantes foram previamente avisados pelos professores das aulas de hidroginástica sobre a pesquisa de coleta antes de iniciarem a aula. Foram devidamente informados sobre os objetivos da pesquisa, assinando um Termo de Responsabilidade após tomarem conhecimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Posteriormente foram levantados e anotados os dados pessoais dos participantes e as doenças referidas relacionadas ao estado nutricional. Estes foram pesados usando maiô ou sunga em uma balança eletrônica, da marca Filizola com capacidade máxima para 200 kg; posteriormente foi verificada a sua altura, estando os alunos, sempre que possível, em posição Frankfurt (braços paralelos ao corpo, pés e costas encostadas na parede, pernas juntas e olhar fixo em um ponto à frente) conforme recomenda o Ministério da Saúde, utilizando-se de duas fitas métricas do tipo Fiber Glass inelásticas, presas em uma parede reta e sem rodapé, com o auxilio de um esquadro Poli Bras para apoiar o topo da cabeça. Foram medidas circunferência de braço (região média entre a medida do acrômio e olecrano) com este relaxado e na posição lateral; circunferência de cintura (região mais estreita do abdome), sendo que o participante estava com o abdome relaxado, circunferência de quadril (região onde há maior proeminência glútea), sendo todas as medidas feitas com o uso de fita métrica do tipo Fiber Glass e dobra cutânea tricipital com o uso do adipômetro Cescorf (face posterior do braço, da distância média entre acrômio e olecrano), estando o participante com o braço relaxado. Todas as medidas foram anotadas imediatamente pósmedida em planilha própria. As variáveis do estudo e respectivos padrões de referência utilizados foram: • Índice de Massa Corporal (IMC) • Circunferência do Braço (CB), Dobra Cutânea Triciptal (PCT), Circunferência Muscular do Braço (CMB) • Percentil de PCT, e classificação do percentil de CMB [22]. • Circunferência da Cintura (CC) e sua classificação [23]. • Relação Cintura/Quadril (C/Q) e sua classificação [24]. Resultados e discussão A classificação do estado nutricional revelou que a maioria dos idosos praticantes de hidroginástica, tanto mulheres quanto homens estão na condição de eutrofia (Tabela I). O IMC (Índice de Massa Corpórea) está correlacionado intimamente com medidas diretas da gordura corporal, sendo um forte preditor de problemas de saúde associados à obesidade; seu aumento representa a obesidade global [13,25]. Um estudo feito com idosos longevos da cidade de Veranópolis/RS, porém não praticantes de atividades físicas, apontou uma prevalência de obesidade de 45,6%, sendo que ocorreu uma prevalência significativamente maior de obesidade nas mulheres do que nos homens [13]. Tabela I - Distribuição da população por % segundo gênero e a classificação do estado nutricional por IMC. Baixo Peso Eutrofia Sobrepeso Obesidade Total Homens % 0 52,9 17,7 29,4 100 Mulheres Total % % 21,7 18 48,2 49 15,7 16 14,5 17 100 100 A PCT é uma medida utilizada para avaliação das áreas de gordura e muscular do braço; a CMB é utilizada como indicador de massa muscular [21]. Outro estudo mostra que idosos praticantes de atividade física, incluindo hidroginástica, têm a massa muscular braquial levemente acima do esperado para idade. Esses resultados sugerem a preservação da massa muscular entre os indivíduos, de ambos os sexos [26]. Os resultados deste estudo foram semelhantes ao encontrado (Tabela II). Tabela II - Distribuição da população em % segundo a classificação do percentil de PCT e CMB [27]. Desnutrido Risco de desnutrição Eutrofia Obesidade PCT ( %) 7 16 73 4 CMB ( %) 4 5 83 8 A medida da circunferência da cintura tem sido proposta como um dos melhores preditores antropométricos de gordura visceral, sendo um indicador da distribuição abdominal da gordura e também da gordura corporal total [28]; um estudo feito no Rio de Janeiro comprovou que a circunferência da cintura em idosos sedentários possui proporções de inadequação, tendo maior porcentagem em mulheres [29]. Neste estudo foi observado que as medidas de circunferência de cintura dos indivíduos idosos do sexo feminino estão acima do aceitável como saudável (Tabela III). Existem várias explicações para estes dados, a primeira delas apóia a ideia de que uma medida isolada não pode diagnosticar uma anormalidade, levando-se em conta que a maioria dos indivíduos por outras medidas antropométricas (IMC, PCT, CMB e CQ) se enquadraram como eutróficos ou sem risco; a segunda explicação diz respeito ao significado da circunferência de cintura, esta medida é relacionada com o risco de desenvolvimento de doenças metabólicas, este risco pode estar aumentado mesmo em pessoas consideradas eutróficas, no caso deste estudo, existe o agravante da idade Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 dos indivíduos participantes, os idosos representam um grupo de risco para estas doenças [30]. Tabela III - Distribuição da população, em %, segundo gênero e risco de obesidade associada a complicações metabólicas analisados pela circunferência da cintura. Sem risco Risco alto Risco muito alto Homens % 41 24 35 Mulheres Total % % 36 37 25 25 39 38 A relação Cintura/Quadril (C/Q) é um indicador para doenças cardiovasculares [13]. Os resultados do presente estudo apontam que os participantes não têm risco de apresentarem doenças cardiovasculares segundo a relação C/Q (Tabela IV). Tabela IV - Avaliação da população em % segundo gênero e risco de doenças cardiovasculares avaliados pela relação cintura/ quadril. Sem risco Risco alto TOTAL Homens % 5,9 94,1 100 Mulheres % 60,2 39,8 100 Total % 66 34 100 O envelhecimento traz consigo uma série de alterações, incluindo doenças crônicas [11]. O presente estudo apontou índices de doenças como: hipertensão, dislipidemia e diabetes mellitus (Tabela V). Estudos [13] mostraram a ocorrência de hipercolesterolemia hipertensão arterial e diabetes mellitus entre os idosos participantes, sendo que a dislipidemia obteve índices altos por conta da obesidade inerente aos participantes. A hidroginástica como atividade física, auxilia no tratamento da diabetes mellitus, pois diminui de 20% a 30% a solicitação de insulina subcutânea, aumentando a sensibilidade à ação da insulina e a captação de glicose pelas células musculares [31]; ela também atua na dislipidemia, aumentando os níveis de HDL e reduzindo os de LDL [32]. Quanto à hipertensão, o exercício físico, condiciona vasos e o coração, reduzindo a pressão arterial e frequência cardíaca [33]. Destacam-se, ainda, os benefícios de ordem psicológica e social [9,19,26,30,34]. 37 Conclusão De acordo com os dados obtidos neste estudo, verificouse que a prática de hidroginástica por pessoas na faixa etária acima dos 60 anos resultou na qualidade de vida destes idosos. Nota-se que 49% da população estudada apresenta eutrofia, o que favorece ao não desenvolvimento de doenças proeminentes da obesidade. As medidas de PCT e CMB, 73% e 83%, respectivamente, para ambos os sexos, apresentaram valores acima do esperado, visto que, com o envelhecimento há uma inversão na composição corporal do idoso. Os dados obtidos da relação cintura/quadril revelam que a maioria dos participantes não apresenta risco para desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Estudos demonstram que cerca de 25% da população idosa mundial depende de alguém para realizar suas atividades da vida diária. Entretanto, podem ser proteladas ou até eliminadas com a prática de atividades físicas. De todos os grupos etários, as pessoas idosas são as mais beneficiadas pelos exercícios. Os riscos de muitas doenças e problemas de saúde comuns na velhice diminuem com a atividade física regular, já que esta prática é um meio de promoção de saúde e de qualidade de vida. A hidroginástica é bastante reconhecida por seus benefícios e, por ser uma atividade de baixo impacto, é bastante indicada para idosos. Esta modalidade atende a grupos de pessoas que precisam praticar uma atividade física segura sem causar riscos ou lesões às articulações. Quando executada com eficiência e segurança, de forma regular, ela melhora componentes do condicionamento físico, além de proporcionar bem estar mental. Na velhice, há uma tendência para a modificação da autoimagem, tornando-a menos positiva. A autoestima e autoimagem têm sido desenvolvidas positivamente com a intervenção de programas de exercícios físicos, tendo resultados inéditos na qualidade de vida e no bem-estar mental. A prática de atividades físicas pelos idosos possibilita benefícios nas relações sociais com a família e amigos e na integração social. Enfim, os idosos se sentem mais úteis, independentes, com mais esperança e vontade de viver, com maior vitalidade e disposição, tornam-se mais saudáveis, sociáveis e felizes. Agradecimentos Tabela V - Distribuição da população em % segundo gêneros e presença de doenças referidas associadas ao estado nutricional, São Paulo, SP, 2006. Masculino % Hipertensão 29 Dislipidemia 29 Diabetes Mellitus 6 Associação de doenças 12 Ausência de doenças 41 Feminino % 28 26 5 8 51 Total % 28 27 5 9 49 *As porcentagens não somam 100% devido à presença de mais de uma doença em um único indivíduo, sendo assim, este é contado mais de uma vez. Agradecemos aos participantes pela colaboração, e às academias que cederam gentilmente o espaço para que pudesse ser realizado o presente trabalho. Referências 1. Silva DK, Barros MGV. Indicação para a prescrição de exercícios dirigidos a idosos. Corporis;1998;3(2):47-56. 2. Ribeiro RCL. A velhice em uma nova versão: uma abordagem interdisciplinar na microregião de Viçosa, Minas Gerais [Tese]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 1999. 38 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 3. Cotta RMM, Suàrez-Varela MM, Cotta Filho JS, Gonzáles AL, Real ER, Ricos JAD. La hospitalización domiciliar ante los cambios demográficos y nuevos retos de salud. Rev Panam Salud Pública 2002;11(4):253-61. 4. Veras RP. Brazil is getting older: demographic changes and epidemiological challenges. Rev Saúde Pública 1991;25(6):476-88. 5. Veras RP, Ramos LR, Kalache A. Crescimento da população idosa no Brasil: transformações e conseqüências na sociedade. Rev Saúde Pública 1987;21(3):225-33. 6. Garrido R, Menezes PR. O Brasil está envelhecendo: boas e más notícias por uma perspectiva epidemiológica. Rev Bras Psiquiatr 2002;24(1):3-6. 7. Cervato AM, Derntl AM, Latorre MRDO, Marucci MFN. Educação nutricional para adultos e idosos: uma experiência positiva em universidade aberta para a terceira idade. Rev Nutr 2005;18(1):41-52. 8. Marín-Leon L, Corrêa AMS, Panigassi G, Maranha LK, Sampaio MFA, Escamilla RP. A percepção de insegurança alimentar em famílias com idosos em Campinas, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública 2005;21(5):1433-40. 9. Guimarães ACA, Mazo GZ, Simas JPN, Salin MS, Schwertner DS, Soares A. Idosos praticantes de atividade física: tendência a estado depressivo e capacidade funcional. Revista Digital EFDesportes 2006;10(94). 10. Curati JAE, Garcia YM. Nutrição e envelhecimento. In: Carvalho Filho ET, Papaléo Netto M. Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. 2a ed. São Paulo: Atheneu; 2005. p. 707-17. 11. Procanica D. Avaliação do risco de desnutrição de pacientes idosos internados na unidade de clínica no hospital Albert Einstein [TCC]. São Paulo: Centro Universitário São Camilo; 2002. 12. Ferreira, M, Matsudo S, Matsudo V, Braggion G. Efeitos de um programa de orientação de atividade física e nutricional sobre o nível de atividade física em mulheres fisicamente ativas de 50 a 72 anos de idade. Rev Bras Med Esporte 2005;11(3):172-76. 13. Cruz IBM, Almeida MSC, Schwanke CHA, Moriguchi EH. Prevalência de obesidade em idosos longevos e sua associação com fatores de risco e morbidades cardiovasculares. AMB Rev Assoc Med Bras 2004;50(2):172-7. 14. Takahashi SR. Benefícios da atividade física na melhor idade. Revista Digital EFDeportes 2004;10(74). 15. Vecchia RD, Ruiz T, Bocchi SCM, Corrente JE. Qualidade de vida na terceira idade: um conceito subjetivo. Rev Bras Epidemiol 2005;8(3):246-52. 16. Xavier FMF, Ferraz MPT, Marc N, Escosteguy NU, Moriguchi EH. Elderly people’s definition of quality of life. Rev Bras Psiquiatr 2003;25(1):31-9. 17. Alves RV, Mota J, Costa MC, Alves JGB. Aptidão física relacionada à saúde de idosos: influência da hidroginástica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(1):35-7. 18. Etchepare LS, Pereira EF, Graup S, Zinn JL. Terceira idade: aptidão física de praticantes de hidroginástica. Revista Digital EFDeportes 2003;9(65). 19. Novais RG. Cooperativa do Fitness. A importância da hidroginástica na promoção da qualidade de vida em idosos [online]. [citado 2006 Out 5]. Disponível em URL: http://www.cdof. com.br/idosos4.htm. 20. Santos VH, Rezende CHA. Nutrição e envelhecimento. In: Freitas EV, Py L, Cançado FAX, Doll J, Gorzoni ML. Tratado de geriatria e gerontologia. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. p. 930-941. 21. Menezes TN, Marucci MFN. Antropometria de idosos residentes em instituições geriátricas, Fortaleza, CE. Rev Saúde Pública 2005;39(2):169-75. 22. Kuczmarski, MF, Kuczmarski, RJ, Najjar, Mathew. Descriptive anthropometric reference data for older Americans. J Am Diet Assoc 2000;100(1):50-66 23. Lean MEJ, Han TS, Morrison CE. Waist circumference as a measure for indicating need for weight management. BMJ 1995;311(15):158-61. 24. Fagundes AA. Vigilância alimentar e nutricional – SISVAN: Orientações básicas para coleta e processamento, análise de dados e informações em serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2004. 25. Cabrera MAS. Relação do índice de massa corporal, da relação cintura-quadril e da circunferência abdominal com a mortalidade em mulheres idosas: seguimento de 5 anos. Cad Saúde Pública 2005;21(3):767-75. 26. César TB, Wada SR, Borges RG. Zinco plasmático e estado nutricional em idosos. Rev Nutr 2005;18(3):357-65. 27. Frisancho AR. Anthropometric standards for the assessment of growth and nutritional status. Ann Arbor: University of Michigan Press; 1990. 28. Sampaio LR. Avaliação nutricional e envelhecimento. Rev Nutr 2004;17(4):507-14. 29. Santos DM, Sichiery R. Índice de massa corporal e indicadores antropométricos de adiposidade em idosos. Rev Saúde Pública 2005;39(2):163-68. 30. Carvalho KA, Maia MR, Richa RMC. A percepção da melhoria da capacidade funcional em indivíduos de terceira idade praticantes de hidroginástica de uma academia da cidade de Juiz de Fora. Revista Digital Vida e Saúde 2003;2(1):35-46. 31. Perazo MNA. Atividade física e o controle do Diabetes. Nutri Profi 2005;1(2):28-32. 32. Khawali C. Benefícios da atividade física no perfil lípidico de pacientes com diabetes tipo 1. Arq Bras Endocrinol Metab 2003;47(1):49-54. 33. Vieira ZM, Goulart JCT, Fiamoncini RL, Galli GB. Atividade física e hipertensão. Revista Digital EFDeportes 2004;10(77). 34. Mazo GZ, Cardoso FL, Aguiar DL. Programa de hidroginástica para idosos: motivação, auto-estima e auto-imagem. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2006;8(2):67-72. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 39 Artigo original Comparação do VO2 acumulado durante o exercício contínuo e intermitente na máxima fase estável de lactato sanguíneo Comparison of accumulated VO2 during continuous and intermittent exercise at maximal lactate steady state Luis Fabiano Barbosa, M.Sc.*, Camila Coelho Greco**, Benedito Sérgio Denadai*** *Laboratório de Avaliação da Performance Humana, UNESP – Rio Claro, **Professor Livre-Docente, Laboratório de Avaliação da Performance Humana, UNESP, ***Professor Titular, Laboratório de Avaliação da Performance Humana, UNESP – Rio Claro Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi comparar o VO2 acumulado durante o exercício realizado na máxima fase estável de lactato sanguíneo contínua (MLSSc) e intermitente (MLSSi). Sete ciclistas treinados (idade = 25,5 ± 5,1 anos, VO2max = 57,7 ± 4,6 ml.kg-1.min-1) foram submetidos aos seguintes protocolos em um cicloergômetro: 1) Teste incremental para a determinação do VO2max e sua respectiva carga (Pmax); 2) 2 a 3 testes de carga constante para a determinação da MLSSc e; 3) 2 a 3 testes intermitentes (7 x 4 min e 1 x 2 min, com 2 min de recuperação a 50%Pmax) para a determinação da MLSSi. Foram determinados na MLSSc e MLSSi o tempo (TMcg), o VO2 (VO2ACcg) mantidos na carga e o consumo acumulado de oxigênio (VO2AC) durante o exercício. O TMcg (27,1 ± 1,2 e 10,1 ± 3,4 min) e o VO2ACcg (96,7 ± 1,1 e 35,1 ± 10,7 l) foram estatisticamente maiores no exercício contínuo do que no intermitente, respectivamente. O VO2AC (104,4 ± 9,4 e 102,2 ± 8,9 l) foi similar nas condições contínua e intermitente. Pode-se concluir que a possível superioridade do treinamento intervalado realizado nas condições deste estudo, não parece ser determinada pela interação entre o tempo de exercício e o VO2 acumulado (i.e., VO2AC) na MLSS. The objective of this study was to compare the accumulated VO2 during the exercise performed at continuous (MLSSc) and intermittent (MLSSi) maximal lactate steady state. Seven trained cyclists (age = 25.5 ± 5.1 years, VO2max = 57.7 ± 4.6 ml.kg-1.min-1) were submitted to the following protocols in a cyclergometer: 1) Incremental test for the determination of VO2max and its respective workload (Pmax); 2) 2 to 3 constant workload tests for the determination of MLSSc and; 3) 2 to 3 intermittent tests (7 x 4 min and 1 x 2 min, with 2 min of recovery at 50%Pmax) for the determination of MLSSi. The time (TMcg), the VO2 (VO2ACcg) maintained at the workload and accumulated oxygen uptake (VO2AC) were determined during the exercise at MLSSc and MLSSi. The TMcg (27.1 ± 1.2 and 10.1 ± 3.4 min) and the VO2ACcg (96.7 ± 1.1 and 35.1 ± 10.7 l) were statistically higher during continuous than intermittent exercise, respectively. The VO2AC (104.4 ± 9.4 and 102.2 ± 8.9 l) was similar at continuous and intermittent conditions. It can be concluded that the possible superiority of interval training, at the conditions of this study, did not seem to be determined by the interaction between the time of exercise and accumulated VO2 (i.e., VO2AC) at MLSS. Palavras-chave: treino aeróbio, ciclismo, capacidade aeróbia, adaptação aeróbia. Key-words: aerobic training, cycling, aerobic capacity, aerobic adaptation. Endereço para correspondência: Benedito Sérgio Denadai, UNESP, Laboratório de Avaliação da Performance Humana, Instituto de Biociências, Av. 24A, 1515, Bela Vista, 13506-900, Rio Claro SP, Tel: (19) 3526-4325, E-mail: [email protected] 40 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução Material e métodos A máxima fase estável de lactato sanguíneo (MLSS) é definida como sendo a maior intensidade de exercício que pode ser mantida ao longo do tempo sem aumento contínuo da concentração de lactato sanguíneo ([La]) [1]. A MLSS tem sido considerada um ótimo parâmetro para a prescrição do treinamento aeróbio, particularmente em indivíduos treinados, já que os valores obtidos por meio de sua determinação expressam respostas agudas e crônicas individuais da [La] ao exercício [1,2]. De fato, alguns estudos têm verificado que o treinamento aeróbio contínuo realizado em intensidades próximas à MLSS pode melhorar a performance aeróbia de atletas de endurance [3,4]. Entretanto, uma parte significativa do treinamento para a capacidade aeróbia é realizada de forma intermitente [57]. Uma das grandes vantagens deste tipo de treinamento é a possibilidade de se realizar a mesma duração de exercício, porém com uma intensidade maior do que o indivíduo conseguiria realizar de forma contínua. Isto ocorre em função das mudanças metabólicas que ocorrem durante o período de recuperação (ressíntese de creatina fosfato e/ou remoção do lactato) [8,9], permitindo que condições metabólicas similares sejam alcançadas em intensidades absolutas diferentes [10,11]. Assim, a utilização de intensidades correspondentes à MLSS determinada de forma contínua, pode não ser adequada para a prescrição do treino intermitente. Confirmando esta possibilidade, Beneke et al. [7] verificaram que as intensidades correspondentes à MLSS determinadas durante o exercício intervalado de recuperação passiva (intervalos de 30 s ou 90 s a cada cinco minutos de exercício), foram significantemente maiores (300 W, 79% Pmax e 310 W, 81% Pmax, respectivamente) do que a determinada de modo contínuo (277 W, 74% Pmax). A [La] na MLSS não foi diferente entre o exercício contínuo e intermitente. Portanto, ao se realizar o exercício de forma intermitente na mesma carga absoluta correspondente à MLSS, a resposta metabólica tende a ser menor, o que subestima o nível de esforço realizado pelo indivíduo [7]. É interessante destacar, que alguns estudos têm verificado que o treinamento intervalado que é realizado com maior intensidade, pode ser mais eficiente do que o treinamento contínuo para a promoção de adaptações aeróbias [12,13]. Os mecanismos que determinam este comportamento ainda não são completamente conhecidos. Um dos fatores que pode ser apontado, é que o exercício intervalado aumenta o estresse sobre as estruturas e processos associados à utilização do O2 para a produção de energia. Com isso, pode-se hipotetizar que, embora existam períodos de recuperação, o VO2 acumulado na carga durante o exercício intervalado possa ser maior do que durante o exercício contínuo. Desse modo, o objetivo deste estudo foi analisar e comparar o VO2 acumulado durante o exercício realizado na MLSS determinada de forma contínua (MLSSc) e intermitente (MLSSi). Sujeitos Sete ciclistas treinados (idade = 25,5 ± 5,1 anos, massa corporal = 68,4 ± 9,4 kg, estatura = 172,8 ± 7,5 cm, VO2max = 57,7 ± 4,6 ml.kg-1.min-1), com pelo menos 5 anos de experiência na modalidade, foram voluntários e assinaram um termo de consentimento para participar do presente estudo. Os ciclistas treinavam 6-7 vezes por semana (volume = 403 ± 50 km) e estavam competindo em nível regional e nacional. Os indivíduos foram orientados a não realizarem treinamento intenso e não ingerirem bebidas contendo cafeína e álcool nas 24 horas que antecederam as sessões experimentais. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade. Delineamento experimental Os atletas compareceram ao laboratório entre 5-7 ocasiões dentro de um período de três semanas, e foram submetidos aos seguintes protocolos, em dias diferentes, em um cicloergômetro: 1) Teste incremental para a determinação do limiar anaeróbio (LAn), VO2max e sua respectiva carga (Pmax); 2) 2 a 3 testes de carga constante para a determinação da MLSSc e; 3) 2 a 3 testes intermitentes de carga submáxima com recuperação ativa para a determinação da MLSSi. Cada protocolo intermitente consistiu de 7 repetições de 4 min e 1 repetição de 2 min, intercaladas com 2 min de recuperação a 50%Pmax. O intervalo entre os testes foi de aproximadamente 48 h. Os indivíduos foram instruídos a chegar ao laboratório descansados e hidratados, com pelo menos 3 h após a última refeição. Cada indivíduo foi avaliado no mesmo horário do dia (± 2 h) para minimizar os efeitos da variação diurna biológica. Protocolo incremental Os indivíduos realizaram um teste incremental em um cicloergômetro eletromagnético (Excalibur Sport, Lode BV, Croningen, Holand) em cadências de pedalada entre 70-90 rpm. Este ergômetro é construído especialmente para ajustar automaticamente a resistência e manter a potência constante, independente da cadência de pedalada escolhida. A carga inicial foi de 100 W com incrementos de 25 W a cada 3 minutos até a exaustão voluntária. A Pmax foi considerada como a carga do último estágio completo ou pela relação incremento / tempo quando um estágio completo não fosse realizado. Durante os testes, a troca de gases pulmonares foi determinada respiração-a-respiração (Quark PFTergo, Rome, Italy). O VO2max foi definido como o mais alto valor de VO2 obtido em médias de intervalos de 15 s durante o teste incremental. Amostras de sangue foram coletadas nos últimos 20 s de cada estágio do Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 lóbulo da orelha e colocadas em tubos contendo 50 μl de NaF (1%) para a determinação da [La] (YSL 2300 STAT, Yellow Springs, Ohio, EUA). O LAn foi determinado por interpolação linear usando uma concentração fixa de 3,5 mM de lactato [14]. 41 Figura 1- Características do protocolo intervalado. 14 min e 44 min – coleta de sangue para a determinação do lactato sanguíneo. Protocolo Intervalado 14 min 44 min Determinação da máxima fase estável usando protocolo contínuo Foram realizados de dois a três testes de carga constante com duração de 30 minutos em diferentes intensidades para a determinação da potência (MLSSw), [La], VO2 e frequência cardíaca (FC) correspondentes à MLSSc. A primeira carga foi equivalente a 105% LAn. No 10º e 30º minuto dos testes foram coletadas amostras de sangue do lóbulo da orelha para a determinação da [La]. A MLSS foi considerada como sendo a mais alta carga na qual foi observado um aumento menor ou igual a 1,0 mM entre o 10o e 30o minuto de exercício [15]. Determinação da máxima fase estável usando protocolo intermitente Para a determinação da MLSSi foram realizados 2-3 testes de carga submáxima. O protocolo consistiu de 8 períodos de exercício intercalados com 2 minutos de recuperação, sendo que 7 períodos de exercício tiveram 4 minutos de duração e o oitavo período com 2 minutos de duração. Foi utilizada recuperação ativa em que os sujeitos permaneciam se exercitando com intensidade equivalente a 50% Pmax obtida durante o teste incremental. A duração total das repetições (30 min) em cargas próximas à MLSSi está de acordo com o sugerido por Beneke [1], para o protocolo contínuo. A duração total do protocolo foi de 44 minutos (Figura 1). A relação esforço: pausa usada (2:1) é comumente utilizada durante sessões de treinamento intervalado próximas à MLSSw [6]. A carga do primeiro teste correspondeu a 110% MLSSc. Se durante o primeiro teste de carga constante um equilíbrio ou redução no lactato fosse observado, os testes subsequentes eram realizados com uma carga 5% maior, em dias diferentes até que um estado estável da [La] não pudesse ser mantido. Se o primeiro teste resultasse em um aumento na [La] e/ ou não pudesse ser sustentado durante todo o protocolo, os testes subsequentes eram realizados com cargas 5% menores. A MLSSi foi definida como a mais alta carga na qual a [La] não aumentou mais do que 1 mM entre o 14o e 44o minuto do protocolo (metade da 3a e no final da 8a repetição, respectivamente). É importante notar que, além de considerar somente a duração de exercício próxima à MLSSw, o critério utilizou os últimos 20 min de exercício próximo à MLSSw, de acordo com Beneke [15]. exercício recuperação Cinética do VO2 Para cada exercício de carga constante, o VO2 foi determinado respiração-respiração e os dados foram ajustados de acordo com a equação: VO2(t) = VO2b + A (1 – e –(t/τ)) [1] onde: VO2(t) representa o VO2 no tempo t, VO2b representa os valores pré-exercício, A é a amplitude da assíntota, e o t representa a constante de tempo para a cinética do VO2 (definida como o tempo requerido para alcançar 63% da A). No início do exercício contínuo e no início de cada repetição do exercício intermitente, o tempo para alcançar o consumo de oxigênio ajustado (VO2ajus), ou seja o VO2 assintótico, foi definido como 4,6 x τ. O tempo (TMcg) e o VO2 mantidos na carga (VO2ACcg) foram obtidos por subtração do tempo para o ajuste do VO2 do tempo total do período de exercício (30 minutos para o exercício contínuo e 4 minutos para cada repetição do exercício intermitente) (Figura 2). O consumo acumulado de oxigênio (VO2AC) foi calculado por meio da integral da área utilizando o método trapezoidal. Para o exercício realizado de forma contínua o mesmo representa o período total de exercício (30 minutos). Para o exercício intermitente representa o consumo acumulado durante os períodos de exercício (30 minutos) excluindo os períodos de recuperação. O consumo de oxigênio de carga (VO2carg) foi obtido por meio de média aritmética do minuto final de exercício (29º. – 30º. min durante o exercício contínuo; 43º. – 44º. min durante o exercício intermitente). Análise estatística Os valores estão expressos como média ± DP. Os valores das variáveis correspondentes à MLSSi e a MLSSc foram comparados usando o teste t-Student para dados pareados. O nível de significância foi mantido em p ≤ 0,05. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 42 Figura 2 - Representação esquemática do consumo de oxigênio (VO2) durante o exercício contínuo (1) e intermitente (2). A – período necessário para o VO2 atingir o valor correspondente à carga. B - período onde se considerou que o VO2 foi equivalente à carga. C – período de recuperação. 4000 VO2 carga VO2 ajus A Tabela II apresenta os valores médios ± DP do VO2ajus, VO2carg, TMcg, VO2ACcg e VO2AC durante o exercício contínuo e intermitente. O VO2ajus foi significantemente maior na condição intermitente (p < 0,05). O TMcg e o VO2ACcg foram estatisticamente maiores para o exercício contínuo (p < 0,05). O VO2carga e o VO2AC foram similares nas duas condições (p > 0,05). 3500 Tabela II - Valores médios ± DP do consumo de oxigênio ajustado (VO2ajus), consumo de oxigênio na carga (VO2carga), tempo de manutenção do consumo de oxigênio na carga (TMcg), consumo de oxigênio acumulado na carga (VO2ACcg) e consumo de oxigênio acumulado (VO2AC) durante os exercícios contínuo e intermitente. N = 7. VO2 (ml.min-1) 3000 2500 2000 B 1500 1000 500 11 A 0 4000 500 1000 1500 2000 Tempo (s) VO2 carga VO2 carga VO2 ajus VO2 ajus VO2 ajus VO2ajus (l.min-1) VO2carga (l.min-1) TMcg (min) VO2ACcg (l) VO2AC (l) Contínuo 3,3 ± 0,3 3,5 ± 0,3 27,1 ± 1,2 96,7 ± 1,1 104,4 ± 9,4 Intermitente 3,6 ± 0,2* 3,6 ± 0,2 10,1 ± 3,4* 35,1 ± 10,7* 102,2 ± 8,9 *p ≤ 0,05 em relação ao exercício contínuo. 3500 VO2 (ml.min-1) 3000 Discussão 2500 2000 C C 1500 C B B 1000 A A A 500 2 0 180 360 540 720 Tempo (s) 2520 2700 Resultados A Tabela I apresenta os valores ± DP de [La], MLSSw, %Pmax e FC obtidos durante o exercício realizado na MLSSc e na MLSSi. Os valores de MLSSw e %Pmax correspondentes à MLSSi foram significantemente maiores (~10%) do que os obtidos na MLSSc (p< 0,05). Não houve diferença significante na [La] e na FC nas duas condições (p > 0,05). Tabela I - Valores médios ± DP concentração de lactato sanguíneo ([La]), potência correspondente à máxima fase estável de lactato sanguíneo (MLSSw), percentual da potência máxima (%Pmax) e freqüência cardíaca (FC) obtidos durante o exercício realizado na máxima fase estável de lactato contínua (MLSSc) e intermitente (MLSSi). N = 7. [La] (mM) MLSSw (W) %Pmax FC (bpm) Contínuo 3,9 ± 1,0 277,3 ± 24,8 76,7 ± 5,0 167±11,0 *p ≤ 0,05 em relação ao exercício contínuo. Intermitente 4,9 ± 1,6 305,1 ± 27,4* 84,4 ± 5,4* 171 ± 11,0 Com base nos resultados obtidos no presente estudo, verifica-se que a principal hipótese do mesmo não foi confirmada, já que, ao se comparar as condições contínua e intermitente realizadas com a mesma duração (30 min), o VO2AC na MLSSi foi similar ao obtido na MLSSc. Isto ocorreu apesar da MLSSi ter sido realizada em uma intensidade absoluta (10%) e VO2ajus (8%) maiores, mas com um TMcg menor (62%). Assim, quando se utiliza um mesmo índice fisiológico como referência (i.e., MLSS), as vantagens do exercício intermitente para proporcionar maiores adaptações aeróbias não parecem ser explicadas pelo estímulo ao metabolismo, indicado pela interação entre o tempo de exercício e a produção aeróbia de energia (i.e., VO2AC). A MLSS tem sido identificada como intensidade de treinamento capaz de aumentar o tempo de exaustão e a velocidade nesta intensidade [3]. Deste modo, tem sido apontada como fator importante para o programa de treinamento de atletas moderada e altamente treinados, por proporcionar forte estímulo para o aumento de aspectos submáximos e máximos relacionados à capacidade aeróbia [4]. O treinamento intervalado tem sido apontado como capaz de aumentar a performance aeróbia, particularmente em indivíduos treinados [6], já que nestas condições é possível acumular grandes estímulos de treinamento comparado com o que poderia ser sustentado em uma simples sessão de exercício contínuo [16]. Os maiores valores de MLSSi (~10%) em relação à MLSSc observados neste estudo são similares ao dados obtidos por Beneke et al. [7], e confirmam a necessidade da determinação direta da MLSSi, quando o objetivo for a Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 prescrição do treinamento aeróbio intervalado. Durante o exercício intermitente realizado em intensidades próximas à do VO2max, um dos fatores que tem sido apontado como importante para promover adaptações aeróbias é o tempo de permanência em valores próximos (>95%VO2max) ou no VO2max. A principal hipótese é a de que quanto maior for o tempo de permanência em taxas de produção de energia aeróbia elevadas, maior seria o estímulo para a promoção de adaptações aeróbias centrais e periféricas [17]. No presente estudo, a interação entre o tempo e a maior taxa metabólica permitida pela carga de exercício (VO2ACcg), mostra que o exercício contínuo permitiria um maior estímulo ao organismo. Assim, diferentemente do hipotetizado para exercícios de intensidade máxima (100% VO2max) ou supramáxima (>100% VO2max), no exercício submáximo (MLSS) o VO2ACcg não parece explicar a provável superioridade do exercício intermitente sobre o contínuo, já que o os valores do exercício intermitente foi aproximadamente um terço do atingido no exercício contínuo. É interessante notar também, que mesmo considerando o VO2 total acumulado durante o exercício realizado na MLSS (i.e., VO2AC), os valores são estatisticamente similares entre o contínuo e o intervalado, o que também não explicaria as possíveis diferenças de adaptações entre o exercício intermitente e o contínuo. Daussin et al. [18] analisaram as adaptações periférica (capacidade oxidativa) e central (cardiovascular) determinadas por dois protocolos de treinamento (contínuo x intermitente) realizados com trabalho total similar. Os autores verificaram que os dois tipos de adaptação (central e periférica) foram maiores após o treino intervalado. Assim, parece que as flutuações na carga e nos valores de VO2 durante o exercício intermitente, mais do que a duração do exercício e o gasto energético total, são fatores essenciais para o aumento da capacidade aeróbia. Com isso, os autores propuseram que as flutuações no turnover de ATP e no fluxo de fosfato de altaenergia gerados pelas alterações na carga no exercício intermitente, ativam mais as vias sinalizadoras, e consequentemente, determinam uma maior biogênese de mitocôndrias [18]. As principais adaptações que contribuem para o aumento da capacidade aeróbia (limiar anaeróbio, MLSS), particularmente em indivíduos treinados, ocorrem em nível muscular, e estão relacionadas ao aumento da quantidade de enzimas oxidativas, mitocôndrias, densidade capilar e aumento dos depósitos de energia (glicogênio e triglicerídeos) [19]. Ao se considerar os valores similares de VO2AC nas duas condições, como também os menores valores de VO2ACcg obtidos no exercício intermitente, é possível sugerir que nossos dados suportam os obtidos por Daussin et al. [18], indicando que a flutuação nas taxas de produção de energia parece ser um fator essencial para a promoção das adaptações aeróbias. Finalmente, não se pode descartar também, que as maiores intensidades do exercício intervalado leve a maior utilização e adaptações aeróbias das fibras do tipo II, e/ou a uma mudança no padrão de recrutamento das unidades 43 motoras, determinando que um percentual maior de fibras do tipo I (mais eficientes) seja recrutado durante o exercício submáximo [20,21]. Conclusão Com base nestes resultados, pode-se concluir que exercícios intermitente e contínuo realizados com a mesma duração e condições metabólicas similares (i.e., MLSS), apresentam valores similares de VO2AC, embora o tempo mantido em altos valores de VO2 (i.e., VO2ACcg) sejam inferiores no exercício intervalado. Assim, a possível superioridade do treinamento intervalado realizado nas condições deste estudo, não parece ser determinada pela interação entre o tempo de exercício e o VO2 acumulado na MLSS. Agradecimentos Suporte financeiro – CNPq e FAPESP. Referências 1. Beneke R. Methodological aspects of maximal lactate steady state implications for performance testing. Eur J Appl Physiol 2003a;89:95-9. 2. Londeree BR. Effect of training on lactate/ventilatory thresholds: a meta analysis. Med Sci Sports Exerc 1997;29:837-43. 3. Billat V, Sirvent P, Lepretre PM, Koralsztein JP. Training effect on performance, substrate balance and blood lactate concentration at maximal lactate steady state in master endurancerunners. Pflugers Arch 2004;447:875-83. 4. Philp A, Macdonald AL, Carter H, Watt PW, Pringle JS. Maximal lactate steady state as a training stimulus. Int J Sports Med 2008;29:475-9. 5. Billat V. Interval training for performance: a scientific and empirical practice special recommendations for middle- and long-distance running. Part I: Aerobic interval training. Sports Med 2001;31:13-31. 6. Laursen PB, Jenkins DG. The scientific basis for high-intensity interval training. Optimising training programmes and maximising performance in highly trained endurance athletes. Sports Med 2002;32:53-73. 7. Beneke R, Hutler M, Von Duvillard SP, Sellens M, Leithauser RM. Effect of test interruptions on blood lactate during constant workload testing. Med Sci Sports Exerc 2003;35:1626-30. 8. Yoshida T, Watari H, Tagawa K. Effects of active and passive recoveries on splitting of the inorganic phosphate peak determined by 31P-nuclear magnetic resonance spectroscopy. NMR Biomed 1996;9:13-9. 9. Spencer M, Bishop D, Dawson B, Goodman C, Duffield R. Metabolism and performance in repeated cycle sprints: active versus passive recovery. Med Sci Sports Exerc 2006 ;38:1492-9. 10. Billat VL, Slawinski J, Bocquet V, Demarle A, Lafitte L, Chassaing P. Intermittent runs at the velocity associated with maximal oxygen uptake enables subjects to remain at maximal oxygen uptake for a longer time than intense but submaximal runs. Eur J Appl Physiol 2000;81:188-96. 44 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 11. Billat V, Sirvent P, Py G, Koralsztein JP, Mercier J. The concept of maximal lactate steady state: a bridge between biochemistry, physiology and sport science. Sports Med 2003;33:407-26. 12. McManus AM, Cheng CH, Leung MP, Yung TC, Macfarlane DJ. Improving aerobic power in primary school boys: a comparison of continuous and interval training. Int J Sports Med 2005;26:781-6. 13. Helgerud J, Hoydal K, Wang E, Karlsen T, Berg P, Bjerkaas M, et al. Aerobic high-intensity intervals improve VO2max, more than moderate training. Med Sci Sports Exerc 2007;39:665-71. 14. Denadai BS, Figueira TR, Favaro OR, Gonçalves M. Effect of the aerobic capacity on the validity of the anaerobic threshold for determination of the maximal lactate steady state in cycling. Braz J Med Biol Res 2004;37:1551-6. 15. Beneke R. Maximal lactate steady state concentration (MLSS): experimental and modelling approaches. Eur J Appl Physiol 2003b;8:361-9. 16. Seiler S, Hetlelid KJ. The impact of rest duration on work intensity and RPE during interval training. Med Sci Sports Exerc 2005;37:1601-7. 17. Wenger HA, Bell GJ. The interactions of intensity, frequency and duration of exercise training in altering cardiorespiratory fitness. Sports Med 1986;3:346-56. 18. Daussin FN, Zoll J, Dufour SP, Ponsot E, Lonsdorfer-Wolf E, Doutreleau S, et al. Different effect of interval versus continuous training on mitochondrial function in sedentary subjects: relation to aerobic performance improvements. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2008;295:R264–R72. 19. Jones AM, Carter H. The effect of endurance training on parameters of aerobic fitness. Sports Med 2000;29:373-86. 20. Gollnick PD, Saltin B. Significance of skeletal muscle oxidative enzyme enhancement with endurance training. Clin Physiol 1982;2:1-12. 21. Spina RJ, Chi MM, Hopkins MG, Nemeth PM, Lowry OH, Holloszy JO. Mitochondrial enzymes increase in muscle in response to 7-10 days of cycle exercise. J Appl Physiol 1996;80:2250-4. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 45 Revisão Possíveis mecanismos neurofisiológicos mediadores da educação cruzada Neuro-physiological mechanisms of the cross-education Daniel Teixeira Belloni*, Alessandro Carielo de Albuquerque*, Bianca K. de Macedo Jakubovic*, Júlio Cesar Correa Neto Carias**, Vernon Furtado da Silva*** *Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana/PROCIMH/UCB-RJ, **Universidade Presidente Antonio Carlos/UNIPAC-MG, ***Professor Titular do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana da UCB-RJ Resumo Abstract Estudos prévios têm revelado que o treinamento de somente um membro pode causar melhora dos níveis de performance do membro contralateral não treinado. A literatura denomina este fenômeno como educação cruzada. De acordo com as evidências, a educação cruzada parece ser mediada por mecanismos neurofisiológicos. Contudo, não se conhece ainda quais são os verdadeiros mecanismos mediadores deste fenômeno. Portanto, baseado nesta premissa, o presente estudo teve o objetivo de realizar uma extensa revisão de literatura sobre os possíveis mecanismos neurofisiológicos mediadoras da educação cruzada. Diante das evidências podemos verificar que, embora este fenômeno tenha sido constatado a mais de um século, os estudos não foram capazes de descrever quais são os verdadeiros mecanismos neurofisiológicos mediadores da educação cruzada até a presente data. Os estudos sobre o fenômeno da educação cruzada abrem o caminho para a compreensão e entendimento dos mecanismos neurais do controle do movimento em vários níveis do sistema nervoso. Pequenas alterações em varias estruturas do sistema nervoso podem contribuir para a produção máxima dos aumentos de força no membro contralateral não treinado. Ainda, presumimos que o surgimento de novos procedimentos fisiológicos marcará a possibilidade de constatações sobre outros mecanismos em futuros estudos. Previous studies have revealed the cross body member training as benefiting the performance of the opposite untrained limb. The related literature denominates this phenomenon as cross education. Cross education can be thought as mediated by specific neural mechanisms. However, there is no real knowledge about how the operating mechanisms really work. Present investigation had as objective to address an extensive revision of studies focusing this theme in a broad perspective of force generation. The results of the revision evidenced that in spite of being this a phenomenon well know, no research was capable of explaining the mechanisms linked to it. On the other hand, the literature published in this subject matter shades bright lights for researchers involved on providing directions for the comprehension about the neural mechanisms, at many sites of the central and peripheral nervous system, responsible for human movement control. At a basic configuration of the system, there is a functional capability through which small alterations in some structures of the central nervous system can contribute to increases in force production in the body member contralateral. Even one could take into account this consideration, there is still a need for improving knowledge far way of what we now know in respect to cross education functionality. We presume that new procedures would permit observing the development of the knowledge about how the central and peripheral nervous system operates in the cross force transference situation. Palavras-chave: educação cruzada, mecanismos neurofisiológicos, controle do movimento. Key-words: cross education, neuro-physiological mechanism, motor control. Endereço para correspondência: Daniel Teixeira Belloni, Avenida José Fabrino Baião, 304 Thomé 36774-184 Cataguases MG, Tel: (32) 8876-8090, E-mail: [email protected] 46 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução As adaptações neurais ao treinamento são os componentes mais intrigantes e fascinantes observados pela literatura científica acerca do aumento da força durante o treinamento. Dentre as diversas adaptações neurais decorrentes do treinamento da força, podemos destacar o fenômeno da educação cruzada [1]. A educação cruzada, ou ainda, transferência cruzada da força se refere a qualquer transferência de força muscular ocorrida no músculo contralateral não treinado após um regime de treinamento experimentado pelo músculo homólogo ipsilateral [2,3]. Talvez os mecanismos motivadores deste fenômeno sejam os mais complexos mecanismos neurais constatados até a presente data [4]. A nomenclatura utilizada para definir tal fenômeno de transferência seguiu um curso incomum durante o desenvolvimento dos estudos, dependendo, de certa forma, da área estudada. Enquanto os fisiologistas estudavam a transferência de força em seus experimentos utilizando, ininterruptamente, o termo educação cruzada [1-7], os motricistas se centraram nos estudos mais voltados à transferência da habilidade motora, referindo-se a este fenômeno como transferência bilateral [8,9], transferência inter-manual [10-12], ou ainda, simplesmente, transferência [8]. Os estudos realizados à luz da fisiologia não citam aqueles realizados sob a perspectiva motricista e vice-versa. Portanto, a pergunta que aqui cabe seria: existe necessidade desta desconexão entre ambas as áreas? A literatura da fisiologia, recentemente, incluiu pela primeira vez os termos transferência da força muscular e transferência da aprendizagem da habilidade motora concomitante com o termo educação cruzada [13-15]. Naturalmente, como a aprendizagem da habilidade do membro não treinado ocorre sem mudanças estruturais no músculo, bem como ocorrem melhoras potenciais na ativação da musculatura do membro, conclui-se, portanto, que toda habilidade adquirida por esse membro é, indubitavelmente, uma adaptação neural [15]. Deste modo, a única justificativa relevante para a ocorrência desta discrepância de definições sobre os termos usados para descrever o fenômeno da transferência seria, mais especificamente, as características da tarefa que estão sendo transferidas, como, por exemplo, a aquisição de força muscular versus o desempenho aumentado de habilidade motora. Até recentemente, os mecanismos neurais da educação cruzada de força eram relutantemente adejados pelos investigadores. Alguns investigadores acreditavam o sistema nervoso periférico como sendo o mediador da educação cruzada de força [16], enquanto grande parte dos cientistas determinava que este fenômeno, talvez, fosse causado pelos mecanismos da plasticidade neural [3-5]. Entretanto, todos sem conclusões concretas. A questão sobre os mecanismos mediadores deste fenômeno pode ter uma considerável importância social e grandes aplicações práticas [2]. Por exemplo, os estudos sobre a educação cruzada abrem a compreensão e entendimento dos mecanismos neurais do controle cortical, subcortical e espinal do movimento. Além disso, ao se obter um conhecimento sólido sobre as bases neurais da força humana, indiscutivelmente, inúmeros benefícios à manutenção e recuperação da saúde humana poderão ser fornecidos [2,5,15]. Portanto, torna-se imprescindível obter mais informações sobre os mecanismos da educação cruzada. Fortes dúvidas pairam sobre os reais mecanismos mediadores do fenômeno da educação cruzada. Deste modo, ao considerar a importância desta questão científica, o presente estudo teve o objetivo de realizar uma extensa revisão de literatura sobre as possíveis alterações neurofisiológicas mediadoras do fenômeno da educação cruzada. Desenvolvimento A educação cruzada O termo educação cruzada de força muscular refere-se, basicamente, a qualquer transferência de força muscular ocorrida no músculo contralateral não treinado após um regime de treinamento experimentado pelo músculo homólogo ipsilateral [2,3,5]. A magnitude de força muscular obtida pelo músculo homólogo não treinado está implicitamente relacionada com a proporção de força alcançada pelo membro treinado. Aproximadamente 35 a 60% do aumento da força máxima alcançada pelo músculo treinado é transferido para o músculo não treinado [14,15,17]. Apesar desta magnitude, existe uma respectiva assimetria entre os níveis de ganho de força obtidos pelos músculos treinados e não treinados. A quantidade de transferência parece depender de fatores tais como, duração, intensidade e volume do protocolo de treinamento, tipo de contração, velocidade da contração, grupo muscular treinado, e ainda, restrição ou ativação do movimento do membro não treinado. Assim sendo, esses inúmeros fatores parecem controlar os valores que determinam a quantidade da transferência da força [14,17]. A educação cruzada ocorre com maior magnitude em indivíduos com pouca ou nenhuma experiência em treinamento de força [2,8]. Autores como Hortobágyi et al. [19] corroboram com as explicações supracitadas quando afirmam que a proporção da transferência alcançada pelo membro contralateral não treinado pode depender da especificidade do protocolo de treinamento. Entretanto, não existem dados conclusivos sobre o relacionamento entre a duração e a intensidade do treinamento, bem como, níveis de transferência de força muscular alcançada. Porém, estudos com duração mais longa de treinamento mostraram, tipicamente, uma maior quantidade de educação cruzada [19]. Ao se comparar estudos utilizando o mesmo tipo da contração em seu treinamento, observamos que a transferência de força é maior quando as contrações em intensidade maiores foram evocadas [3-5,19]. Complementando, nos estudos que Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 usaram somente a ação muscular excêntrica (se comparando ao trabalho muscular estático e concêntrico puro) ocorreram, proporcionalmente, uma maior transferência de força na tarefa desempenhada excentricamente. Conseqüentemente, os protocolos de treinamento utilizando um trabalho puramente excêntrico mostraram maiores aumentos da força total do que o trabalho concêntrico ou isométrico, provavelmente, devido à maior produção de força combinada com o estiramento do músculo durante a contração [15,17,19]. Apesar destas considerações, a maioria dos experimentos realizados sobre o fenômeno da educação cruzada utilizou contrações isométricas, pois há uma maior facilidade em restringir o movimento do membro não treinado durante a ação muscular estática. Além disso, contrações dinâmicas apresentam maiores limitações ao procedimento de eletromiografia. Por outro lado, contrações isométricas são freqüentemente normalizadas pela análise eletromiográfica. Um estudo comparando a velocidade do movimento e educação cruzada tem revelado constatações interessantes. Farthing e Chilibeck [20], ao comparar um protocolo de treinamento por meio da ação muscular excêntrica em diferentes velocidades (180º/s[3.14 rad/s] versus 30º/s [0.52 rad/s]) revelaram que o treinamento realizado em velocidade mais elevada produzia maiores níveis de transferência de força. Como a ação muscular excêntrica realizada em elevada velocidade é uma tarefa motora muito pouco utilizada na vida cotidiana, os autores especularam que a aprendizagem motora para este movimento foi muito mais substancial, deste modo, proporcionado maiores níveis de transferência de força ao membro não treinado. Portanto, o grau de familiaridade das tarefas hábeis motoras pode ser um importante fator para a ocorrência da educação cruzada. Intuitivamente, a pergunta que poderia elucidar nossa carência científica seria, se os indivíduos fossem treinados já para estas tarefas, quanta educação cruzada poderia ser exibida pelos mesmos? Moritani e DeVries [21], ao menos em parte, responderam esta questão quando mostraram que os fatores neurais contribuíam muito pouco para os ganhos de força isométrica após seis semanas de treinamento. Entretanto, basear somente nos achados de Moritane e DeVries [21] como um consenso pode ser arriscado, pois, como supracitado, o nível de adaptação está relacionado com o nível da tarefa exigida. Assim sendo, se a exigência da tarefa é elevada, muita adaptação neural é esperada; por outro lado, se a exigência da tarefa é insignificante, pouca ou nenhuma adaptação neural pode ser esperada. Conseqüentemente, estudos que empregaram tarefas hábeis motoras mais complexas mostraram uma maior magnitude de transferência de força. Possíveis mecanismos neurofisiológicos do fenômeno Provavelmente, os mecanismos neurofisiológicos que controlam a educação cruzada de força podem ser os mesmos que controlam os mecanismos da transferência inter-manual 47 de habilidade motora [15,17]. De certa forma, podemos compreender as adaptações neurais da educação cruzada como um tipo de aprendizagem motora. Contudo, o enigma é que as bases neurais da aprendizagem motora têm continuado indescritíveis, e ainda, sendo o tópico de estudos extensivos. Esta questão tem conduzido a especulações sobre se esta informação é transferida por meio de adaptações no encéfalo e medula espinal (sistema nervoso central) ou em circuitos neurais periféricos [3]. Plasticidade neural Compreendem-se por plasticidade neural as adaptações ocorridas em níveis corticais e sub-corticais do encéfalo em resposta de repetidos estímulos [22,23]. A plasticidade neural resulta na formação de novas conexões (sinapses) no sistema nervoso, podendo produzir uma grande ou pequena ativação no córtex em função do aprendizado motor. Em outras palavras, o aprendizado motor tem sido associado com uma redução ou elevação da quantidade e qualidade das conexões neurais, isto é, plasticidade neural [23]. A plasticidade neural no córtex motor primário pode estar associada à educação cruzada por interagir com um papel importante em simples consolidações de habilidades motoras aprendidas [24,25]. Quando a atividade do córtex motor primário é interrompida, podem ocorrer desenvolvimento ou retrocesso da performance motora. As adaptações neurais ocorridas no córtex motor primário são proporcionadas por níveis de ativação aumentada ou reduzida. Em outras palavras, tanto a elevação quanto redução do nível de ativação do córtex pode melhorar a coordenação do movimento proporcionando ganhos de força [26-28]. Praticamente, devido ao sinal descendente dos neurônios que se projetam para os músculos antagonistas serem reduzidos, esta redução proporciona uma diminuição da co-ativação dos músculos antagonistas. A redução da co-ativação da musculatura antagonista tem sido documentada como um aprendizado motor para tarefas que envolvam força. As evidências destas adaptações no sistema nervoso podem ser refletidas nas plasticidades neurais dentro do córtex motor primário com no aprendizado motor [26-28]. As alterações neurais em estruturas subcorticais, como, por exemplo, o cerebelo e os gânglios da base, podem também ser relevantes para a educação cruzada. As estruturas do cerebelo são conhecidas por mediar varias alterações neurais para a ocorrência do aprendizado motor [26,29,30]. Ainda, o cerebelo é responsável por conduzir a coordenação motora a níveis mais acurados de exatidão devido a uma ativação mais precisa do timing dos músculos agonistas, antagonistas e sinergistas recrutados para tarefa motora [23]. Os mecanismos resultantes do aprendizado motor no cerebelo são evidenciados pelos níveis de alterações nas células de Purkinje. Ito [30] sugeriu que as vias aferentes inibiam a ativação das células granuladas em virtude de uma nova tarefa desempenhada. Conseqüentemente, como a nova 48 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 tarefa exige maiores níveis de ativação do sistema nervoso central, alguns sinais enviados por meio das vias aferentes prejudicavam o desempenho da tarefa solicitada. Portanto, quando uma nova tarefa motora é aprendida, parece que o sistema nervoso reduz os níveis de ativação das células granuladas, proporcionando assim uma mensagem com menos erros [23,30]. Portanto, a redução dos níveis de ativação é refletida durante a interação entre os sinais enviados as células granuladas. Deste modo, quando os impulsos das vias aferentes alcançam as células de Purkinje no mesmo momento que as células granuladas, a atividade das células granuladas é suprimida pelas células de Purkinje. De acordo com a teoria de Ito [30], a redução dos níveis de ativação das células granuladas poderia ser pensada como um mecanismo de memorização desempenhado pelo cerebelo, contribuindo para o aprendizado do movimento. Outra função descrita por López-Juárez [31] para a estrutura do cerebelo se expõe por ser uma área neural responsável em melhorar a precisão do movimento. Provavelmente, este mecanismo de feedback está ativo na aprendizagem do movimento através da atividades das vias ascendentes [23]. Desta maneira, os sinais incorretos enviados durante o processo de redução dos níveis de ativação do cerebelo parecem remodelar os circuitos e conexões cerebelares na direção que o movimento ocorre. Em síntese, ao prejudicar a atividade cerebelar também se prejudica a resposta ao aprendizado motor. Por outro lado, a adaptação neural decorrente da educação cruzada pode envolver tanto aumentos quanto reduções dos níveis de ativação cerebelar, especialmente se a tarefa é complexa e requer ensaio extensivo na ordem que o movimento é aprendido. O papel dos gânglios ou núcleos da base no aprendizado motor não pode ser excluído. Sua contribuição para o movimento é bem maior do que se acredita. Por exemplo, as regiões que formam os núcleos da base, como, por exemplo, o caudado, o putâmen, e ainda, o estriado têm mostrado plasticidade neural em resposta do aprendizado motor de maneira seqüencial [23,32]. Sintetizando a complexa função dos gânglios da base associado ao controle e aprendizagem do movimento, nota-se, que talvez estas estruturas estejam envolvidas nos processos de informação necessários para o planejamento e execução do movimento, organizando os ajustamentos posturais. Os gânglios da base recebem entradas de todas as outras áreas corticais e projetam-se para o tálamo antes de retornar ao córtex pré-motor e córtex motor primário [23]. Os gânglios da base revelam alterações significativas em sua freqüência de disparos anteriormente à iniciação do movimento, sugerindo que tais estruturas exercem um papel para a continuação e modulação do movimento no momento em que é realizado [32]. De acordo com Doyon [32], os gânglios da base estão conectados as estruturas cerebelares. Contudo, os gânglios da base participam mais efetivamente reforçando o aprendizado motor [23,29,32]. Parece que os sinais enviados pelos gânglios da base são codificados pelas fi- bras dopaminérgicas presentes na substância negra em resposta ao reforço do estímulo [23]. De acordo com as evidências do funcionamento e atividade dos gânglios da base podemos pressupor que estas estruturas são partes do aumento dos níveis de ativação neural para a ocorrência do aprendizado motor por meio da plasticidade neural. Embora existam controvérsias sobre o preciso mecanismo de sincronização, estas estruturas também têm sido mostradas por se conectar ao processamento das regiões temporais com a função de bloquear as sinapses [33,34]. A plasticidade neural na estrutura dos gânglios da base pode ser importante para compreender os mecanismos da educação cruzada, uma vez que estudos têm revelado ativação bilateral cortical destas estruturas com movimentos unilaterais [32]. Talvez, com o movimento unilateral, os gânglios da base limitem as projeções para o córtex motor primário. Entretanto, acredita-se que estas estruturas comandem os sinais retransmitidos para o tálamo e áreas do córtex pré-motor que se encontram normalmente associadas com o planejamento e precisão do movimento [23]. Alteração dos níveis de ativação neuromuscular Alguns estudos têm documentado que a ativação máxima de um músculo durante uma contração pode ser limitada por inibição neural, principalmente durante ações excêntricas em alta velocidade [20], funcionando como um mecanismo de proteção, a fim de prevenir lesões [27]. Além disso, o treinamento de força em alta intensidade resulta em uma melhora na ativação das unidades motoras. Gorgey e Dudley [35] constataram que indivíduos inexperientes em treinamento de força podiam ativar somente, aproximadamente, 75% de sua musculatura durante uma contração voluntária máxima. Portanto, a adaptação no trajeto da ativação muscular pode ter um importante papel na ocorrência da educação cruzada. A aprendizagem motora proporcionada pelo treinamento parece conduzir o sistema nervoso a aumentos significativos dos níveis de ativação neuromuscular. Estes aumentos de ativação podem estar intimamente envolvidos na educação cruzada. Vários estudos têm demonstrado que a educação cruzada de força possui correlações com os aumentos nos níveis de ativação do sistema nervoso [3,4,6,16,19,20,21]. Conseqüentemente, este aumento de ativação reflete uma melhora no recrutamento das unidades motoras do membro em treinamento e, desta maneira, refletindo em ganhos dos níveis de força do membro não treinado. A integração neural dentro do sistema nervoso é um processo complexo. Este fato nos faz especular sobre as diferentes adaptações neurofisiológicas durante os distintos tipos de aprendizagem motora. Por exemplo, o núcleo de uma unidade motora pode responder a estímulos inibitórios ou excitatórios, através do comando dos neurônios superiores que enviam seus axônios pelos tractos medulares, ou ainda, por inter-neurônios medulares, como parte de circuitos Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 neurais periféricos. Praticamente, esta integração neural pode produzir vários níveis de inibição/excitação, resultando em incremento ou redução da força durante uma contração muscular específica. Estes mecanismos demonstram que infinitas combinações dos inputs inibitórios e excitatórios podem elevar os níveis de força. Em outras palavras, uma mesma tarefa motora pode ser desempenhada com o mesmo torque articular e com o mesmo objetivo, porém, utilizandose de infinitas combinações de motoneurônios (motoneurônios alpha e motoneurônios gama) e atividades das vias aferentes neuromusculares. A compreensão de qual seria o mecanismo preferencial controlado pelo sistema nervoso durante o movimento tem sido o objetivo de muitos dos estudos sobre o controle motor [36]. A melhora da coordenação entre os músculos agonistas e antagonistas também podem provocar ganhos de força. Carolan e Cafarelli [37] encontraram 16,2% de aumento de força no membro não treinado com 13% de redução na co-ativação antagonista após o treinamento experimentado pelo membro ipsilateral. Devido à redução da oposição dos músculos antagonista durante a execução do movimento, os músculos agonistas puderam elevar significativamente os níveis de força. A co-ativação dos músculos antagonistas é mediada por integração entre o sistema nervoso central e inter-neurônios presentes na medula espinal junto com os aferentes neuromusculares. Enquanto fuso muscular, presente nas fibras intrafusais, provoca excitação dos motoneurônios alpha que ativam os músculos agonistas, o órgão tendinoso de Golgi inibe a ativação do motoneurônio alpha. Portanto, de acordo com Bears et al. [23] a co-ativação dos músculos antagonistas é causada pela interação entre o órgão tendinoso de Golgi e fuso muscular, controlando os níveis de tensão e estiramento muscular, respectivamente. Este fato pode explicar, ao menos em parte, por que o sistema nervoso produz níveis de ativação incompleta durante ações musculares excêntricas embora a força muscular seja significativamente maior. Provavelmente, estas condições resultam em maior interação do órgão tendinoso de Golgi e fuso muscular, reduzindo assim a força máxima esperada. Embora grande parte das pesquisas não tenha sempre evidenciado a busca pelo entendimento deste fenômeno, a coativação dos músculos antagonistas não é um novo conceito na literatura. Enoka [38] descreveu este mecanismo com uma estratégia para a proteção osteomioarticular quando tarefas não familiarizadas eram realizadas. Portanto, tarefas complexas ou não familiarizadas encontram-se intimamente relacionadas com este fenômeno. Talvez, o aumento da ativação neuromuscular observado após um caso de educação cruzada seja um mecanismo periférico. Contudo, ainda não se sabe a maneira pela qual o corpo transfere esta informação para o lado oposto. Entretanto, como supracitado, a plasticidade no encéfalo pode estar conectado ao mecanismo. 49 Aumento da excitabilidade da musculatura contralateral Hortobágyi et al. [39] argumenta que a atividade aferente da musculatura acionada durante movimentos unilaterais pode elevar a excitabilidade da região cortical que controla o grupo muscular homólogo contralateral. De acordo com tais autores, o treinamento por estimulação elétrica foi mais efetivo para a ocorrência da transferência de força do que o treinamento voluntário. Ainda, Hortobágyi et al. [39] relatam que este fato talvez tenha ocorrido devido à inervação das fibras musculares do músculo contralateral se acionarem por meio dos receptores de dor localizados na pele durante a eletroestimulação. Portanto, é sugerido que o treinamento por estimulação elétrica produza maiores níveis de ativação das fibras inervadas pelos aferentes Ia, o qual poderia resultar em maior excitação agonista somado a uma inibição antagonista no membro em treinamento. Por outro lado, no membro não treinado ocorreria uma inibição agonista junto com uma excitação antagonista, tal como o reflexo extensor cruzado. Hortobágyi et al. [39] teorizaram que os aferentes do grupo Ia poderiam fortalecer a transmissão sináptica excitatória na musculatura contralateral, conduzindo o membro a melhorar os níveis de performance. Se a teoria proposta por Hortobágyi et al. [39], a respeito do reflexo extensor cruzado provocando a educação cruzada estivesse tão correta, não é certo que deveríamos observar melhoras significativas na musculatura contralateral antagonista e não o contrário? Alguns estudos têm revelado que talvez exista uma possível modulação de excitabilidade cortical em ambos os hemisférios cerebrais após exercícios unilaterais executados até a fadiga. Contudo, um estudo realizado por Farthing e Chilibeck [6] revelou um nível de ativação insignificante da musculatura contralateral durante uma tarefa de força unilateral. É sabido que se a excitabilidade do membro ipsilateral for aumentada durante uma contração muscular, pode-se esperar algum feedback do membro contralateral, principalmente, se a tarefa motora desempenhada for complexa. Isto se explica, basicamente, devido aos axônios descendentes do córtex motor inervarem tanto os motoneurônios alpha quanto enviar ramos colaterais aos inter-neurônios inibitórios pertencentes ao grupo Ia. Portanto, o sinal motor de ambos os centros motores mais altos podem influenciar independentemente a ativação muscular. Conseqüentemente, os mecanismos que mediam a educação cruzada podem ser controlados por uma combinação de adaptações corticais e comunicação entre os membros em níveis medulares, entretanto, não se sabe qual é a contribuição relativa de cada um. Uma recente pesquisa realizada por Aagaard et al. [26] tem evidenciado que os níveis de excitabilidade das unidades motoras após um período de treinamento são melhorados. Neste estudo, Aagaard et al. [26] discutiram estes mecanismos relacionando-os com dados eletromiográficos da onda V e reflexo de Hoffmann. Tem se observado que o treinamento de força unilateral pode elevar os níveis de ativação de ambos 50 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 os membros. Portanto, de acordo com Aagaard et al. [26], o aumento da expressão da onda V pode refletir uma crescente atividade eferente dos motoneurônios, ou ainda, proporcionar melhora da atividade reflexa. Sabe-se que o reflexo de Hoffmann mostra os níveis de ativação dos programas medulares durante o repouso muscular, a onda V revela a excitabilidade medular em atividade, isto é, em uma contração voluntária. Em outras palavras, a onda V é uma variante do reflexo de Hoffmann, entretanto, é gravado durante uma tarefa motora voluntária. As contribuições a respeito dos níveis de atividade muscular após um caso de educação cruzada aguardam por mais investigações que possam oferecer maior esclarecimento sobre os fatos. Poucos estudos têm realmente se propostos a investigar as alterações ocorridas na onda V e reflexo de Hoffmann, antes e após um protocolo de treinamento unilateral, em ambos os membros. O único estudo encontrado que investiga tais efeitos revelou alterações insignificantes no reflexo de Hoffmann após o protocolo de treinamento unilateral [16]. Com o propósito de esclarecer informações baseado em evidências, torna-se imprescindível realizar novos estudos acerca deste fato. tem investigado os níveis de ativação da musculatura axial contralateral associada com a educação cruzada. O tracto córtico-espinal ipsilateral pode também contribuir para o aprendizado motor em níveis mais elevados do sistema nervoso central devido a sua forte interação com a formação reticulada. De acordo com Ghez e Gordon [42], a formação reticular possui a função de manutenção postural. Complementando, Kumru e Valls-Solé [43] mostraram que a formação reticulada é altamente ativada durante a integração de vários inputs neurais. Desta maneira, esta região do encéfalo poderia, talvez, ser responsável por estabelecer conexões inibitórias e excitatórias a nível medular com motoneurônios por meio do tracto retículo-espinal, favorecendo o aprendizado motor. Em síntese, baseado em evidências, pode se especular que as alterações neurais ocorridas no fenômeno da educação cruzada podem ser reprogramadas em ambos os hemisférios pela formação reticulada, conduzindo o sistema a uma melhora substancial na coordenação agonista/antagonista nos respectivos membros, subseqüentemente a aplicação de um protocolo de treinamento unilateral. Conseqüentemente, aumentando os níveis de força por meio da aprendizagem do gesto. Impulsos do tracto córtico-espinal Conclusão De acordo com Bear et al. [23], o encéfalo se comunica com os neurônios inferiores de nível medular ou motoneurônios por meio de axônios descendentes do córtex. O componente mais importante destas vias descendentes é o tracto córticoespinal. O tracto córtico-espinal é mais longo, bem como, o mais numeroso tracto do sistema nervoso central. Cerca de 10 [6] axônios formam as vias deste tracto [23]. No que se sabe, aproximadamente, 75% dos nervos do tracto córtico-espinal conduzem os impulsos gerados no córtex motor primário para os motoneurônios presentes na medula. Após saírem do córtex, ocorre uma decussação logo abaixo da pirâmide bulbar representando um mecanismo de controle motor cruzado. Em outras palavras, o lado direito do encéfalo controla o lado esquerdo do corpo e vice versa. Entretanto, o restante das vias do tracto córtico-espinal, isto é, aproximadamente 25% dos axônios, descendem ipsilateralmente. Explicando melhor, enquanto ¾ dos axônios decussam logo após a pirâmide bulbar, o restante dos axônios ramificam-se e não decussam. Tem sido evidenciado que as vias do tracto córtico-espinal que não decussam possuem a finalidade de controlar os músculos axiais, ajustando o comando postural. Historicamente, especulou-se que talvez um dos mecanismos da educação cruzada possa ocorrer devido à co-excitabilidade dos músculos homólogos do corpo em função das vias dos tractos as quais não decussam [40,41]. Em outras palavras, durante o movimento unilateral, as vias do tracto córtico-espinal conduzem cerca de 25% dos seus axônios para a musculatura ipsilateral que não são acionadas. De acordo com Hellebrandt et al. [40]; Hellebrandt [41], este fato poderia conduzir o sistema a ocorrência da educação cruzada. Entretanto, nenhum estudo Esta revisão levantou várias informações sobre os possíveis mecanismos neurofisiológicos que mediam a educação cruzada. Embora este fenômeno tenha sido constatado há mais de um século, os estudos não foram capazes de descrever quais são os verdadeiros mecanismos mediadores da educação cruzada até a presente data. Além disso, muitos estudos têm conduzido seus experimentos sem incidência de grupo controle, utilizando-se de procedimentos metodológicos apenas com o grupo experimental. Estes procedimentos podem gerar resultados ambíguos, pois o aparente ganho de força pode ser ocasionado pela familiarização aos protocolos de teste. Em síntese, os estudos sobre a educação cruzada abrem o caminho para a compreensão e entendimento dos mecanismos neurais do controle cortical, subcortical e espinal do movimento. Em outras palavras, pequenas alterações em várias estruturas do sistema nervoso podem contribuir para os ganhos máximos de força do membro contralateral. Além disso, presumimos que o surgimento de instrumentos de testes fisiológicos mais modernos marcará a possibilidade de novas constatações sobre outros mecanismos mediadores da educação cruzada em futuros estudos. Referências 1. Scripture EW, Smith TL, Brown EM. On the education of muscular control and power. Studies Yale Psychol Lab 1894;2:114-9. 2. Farthing JP, Krentz JR, Magnus CR. Strength training the free limb attenuates strength loss during unilateral immobilization. J Appl Physiol 2009;106(3):830-6. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 3. Farthing JP, Borowsky R, Chilibeck PD, Binsted G, Sarty GE. Neuro-physiological adaptations associated with crosseducation of strength. Brain Topogr 2007;20(2):77-88. 4. Hortobágyi T. Cross education and the human central nervous system. IEEE Eng Med Biol Mag 2005;24(1):22-8. 5. Gabriel DA, Kamen G, Frost G. Neural adaptations to resistive exercise: mechanisms and recommendations for training practices. Sports Med 2006;36(2):133-49. 6. Farthing JP, Chilibeck PD. The effects of eccentric training at different velocities on cross-education. Eur J Appl Physiol 2003;89:570-577. 7. Toca-Herrera JL, Gallach JE, Gómis M, González LM. Cross-education after one session of unilateral surface electrical stimulation of the rectus femoris. J Strength Cond Res 2008;22(2):614-8. 8. Kumar S, Mandal MK. Bilateral transfer of skill in left- and right-handers. Laterality 2005;10(4):337-44. 9. Teixeira LA. Timing and force components in bilateral transfer of learning. Brain Cogn 2000;44:455-69. 10. Perez MA, Tanaka S, Wise SP, Willingham DT, Cohen LG. Time-specific contribution of the supplementary motor area to intermanual transfer of procedural knowledge. J Neurosci 2008;28(39):9664-9. 11. Anguera JA, Russell CA, Noll DC, Seidler RD. Neural correlates associated with intermanual transfer of sensorimotor adaptation. Brain Res 2007;1185:136-51. 12. Teixeira LA, Caminha LQ. Intermanual transfer of force control is modulated by asymmetry of muscular strength. Exp Brain Res 2003;149:312-9. 13. Lee M, Carroll TJ. Cross education: possible mechanisms for the contralateral effects of unilateral resistance training. Sports Med 2007;37(1):1-14. 14. Carroll TJ, Herbert RD, Munn J, Lee M, Gandevia SC. Contralateral effects of unilateral strength training: evidence and possible mechanisms. J Appl Physiol 2006;101:1514-22. 15. Zhou S. Chronic neural adaptations to unilateral exercise: mechanisms of cross-education. Exerc Sport Sci Rev 2000;28(4):177-84. 16. Lagerquist O, Zehr EP, Docherty D. Increased spinal reflex excitability is not associated with neural plasticity underlying the cross-education effect. J Appl Physiol 2006;100(1):83-90. 17. Munn J, Herbert RD, Gandevia SC. Contralateral effects of unilateral resistance training: a meta-analysis. J Appl Physiol 2004;96:1861-6. 18. Hortobágyi T, Taylor JL, Petersen NT, Russell G, Gandevia SC. Changes in segmental and motor cortical output with contralateral muscle contractions and altered sensory inputs in humans. J Neurophysiol 2003;90: 2451-9. 19. Hortobágyi T, Lambert NJ, Hill JP. Greater cross-education following training with muscle lengthening than shortening. Med Sci Sports Exerc 1997;29:107-12. 20. Farthing JP, Chilibeck PD. The effects of eccentric and concentric training at different velocities on muscle hypertrophy. Eur J Appl Physiol 2003;89:578-86. 21. Moritani T, DeVries HA. Neural factors verses hypertrophy in the time course of muscle strength gain. Am J Phys Med 1979;58(3):115-30. 22. Machado S, Portella CE, Silva JG, Velasques B, Bastos VH, Cunha M, et al. Learning and implicit memory: mechanisms and neuroplasticity. Rev Neurol 2008;46(9):543-9. 51 23. Bear MF, Connors BW, Paradiso MA. Neurociência: desvendando o sistema nervoso. 2 ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. p. 731. 24. Kalaska JF. From intention to action: motor cortex and the control of reaching movements. Adv Exp Med Biol 2009;629:139-78. 25. Muellbacher W, Ziemann U, Wissel J, Dang N, Kofler M, Facchini S, et al. Early consolidation in human primary motor cortex. Nature 2002;415:640-44. 26. Aagaard P, Simonsen EB, Anderson JL, Magnusson SP, DyhrePoulsen P. Neural adaptation to resistance training: changes in evoked V-wave and H-reflex responses. J Appl Physiol 2002;92:2309-18. 27. Aagaard P, Simonsen EB, Anderson JL, Magnusson SP, Halkjaer-Kristensen J, Dyhre-Poulsen P. Neural inhibition during maximal eccentric and concentric quadriceps contraction: effects of resistance training. J Appl Physiol 2000;89:2249-57. 28. Carolan B, Cafarelli E. Adaptations in coactivation after isometric resistance training. J Appl Physiol 1992;73:911-7. 29. Yelnik J. Une modélisation de l’organisation des ganglions de la base. Rev Neurol (Paris) 2008;164(12):969-76. 30. Ito M. Mechanisms of motor learning in the cerebellum. Brain Res 2000;886:237-45. 31. López-Juárez A. Receptores y transportadores en la glía de Bergmann: posibles funciones en la fisiología del cerebelo. Rev Neurol 2008;47(10):527-35. 32. Doyon J, Bellec P, Amsel R, Penhune V, Monchi O, Carrier J, et al. Contributions of the basal ganglia and functionally related brain structures to motor learning. Behav Brain Res 2009;199(1):61-75. 33. Cole S, McNally GP. Complementary roles for amygdala and periaqueductal gray in temporal-difference fear learning. Learn Mem 2008;16(1):1-7. 34. Gerardin E, Sirigu A, Lehericy S, Poline JB, Gaymard B, Marsault C, et al. Partially overlapping neural networks for real and imagined hand movements. Cereb Cortex 2000;10:1093-104. 35. Gorgey AS, Dudley GA. The role of pulse duration and stimulation duration in maximizing the normalized torque during neuromuscular electrical stimulation. J Orthop Sports Phys Ther 2008;38(8):508-16. 36. Tin C, Poon CS. Internal models in sensorimotor integration: perspectives from adaptive control theory. J Neural Eng 2005;2(3):S147-63. 37. Carolan B, Cafarelli E. Adaptations in coactivation after isometric resistance training. J Appl Physiol 1992;73: 911-7. 38. Enoka RM. Bases neuromecânicas da cinesiologia. 2a ed. São Paulo: Manole; 2000. 39. Hortobágyi T, Scott K, Lambert J, Hamilton G, Tracy J. Crosseducation of muscle strength is greater with stimulated than voluntary contractions. Motor Control 1999;3:205-19. 40. Hellebrandt FA, Parrish AM, Houtz SJ. Cross education: the effect of unilateral exercise on the contralateral limb. Arch Phys Med 1947;28:76-85. 41. Hellebrandt FA. Cross education: ipsilateral and contralateral effects of unimanual training. J Appl Physiol 1951;4:136-44. 42. Ghez C, Gordon J. An introduction to movement. In Kandel ER, Schwartz JH, Jessell TM. Essentials of neural science and behavior. New York: McGraw-Hill; 1995. p. 489-500. 43. Kumru H, Valls-Solé J. Excitability of the pathways mediating the startle reaction before execution of a voluntary movement. Exp Brain Res 2006;169(3):427-32. 52 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Revisão Bases metabólicas do crescimento muscular Metabolic basis of muscle growth Rodrigo Minoru Manda*, Nailza Maestá, D.Sc.**, Roberto Carlos Burini*** *Biomédico, aprimorando pelo programa Laboratório em Metabolismo Nutricional e Desportivo do Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri) , Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), **Nutricionista do Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), ***Professor Titular do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) e responsável pelo CeMENutri Resumo Abstract O músculo esquelético é o maior tecido do corpo e guarda relação com a autonomia somatocinética e homeostase metabólica. A miogênese é decorrente da predominância de fatores protéicos miogênicos sobre miostáticos. O crescimento ocorre predominantemente de forma hipertrófica, após o nascimento, pelo predomínio da síntese sobre o catabolismo protéico. A síntese protéica é finamente mantida por cascata de quinases controladas ou controladoras da mTOR. A mTOR controla o complexo iniciador da síntese protéica, sendo influenciada pela contração muscular, fatores de crescimento e a leucina. O estado de privação energética (↑ AMP/ATP) inibe a mTOR pelo aumento da AMPK. A síntese protéica miofibrilar é estimulada por fatores hidratantes celulares (glicose, insulina, creatina, BCAA, glutamina). Seguindo-se a lesão e necrose miofibrilar, há resposta inflamatória e ação dos fagócitos, promovendo a fagocitose tecidual. Posteriormente, os macrófagos alteram seu fenótipo para resolver a inflamação e promover a miogênese e crescimento miofibrilar. The skeletal-muscle is the largest tissue in the body with the major roles in kinetics and metabolic process. Myogenesis is the consequence of of myogenic over myostatic factors. The hypertrophic growth occurs in myofibrillar diameter and length by predominating protein synthesis over protein breakdown. Protein synthesis is finely controlled by kinase cascade having mTOR as central role. mTOR controls the protein synthesis initiation complex, being influenced positively by muscle contraction, growth factors and also by leucine. Muscle energy deprivation (↑ AMP/ATP) inhibits mTOR by increasing AMPK. Muscle protein synthesis is enhanced by cell hydrating factors (glucose, insulin, creatine, BCAA, glutamine). Postinjury skeletal muscle regeneration is characterized by two local subsequent phases. Sooner after injury, the infiltrated and residual macrophages are classically activated. They promote phagocytosis of tissue debris while preventing early myogenic differentiation. Then macrophages switch their phenotype to sort out inflammation and support myogenesis and myofiber growth. Palavras-chave: músculo esquelético, hipertrofia muscular, anabolismo protéico, mTOR, regeneração muscular. Key-words: skeletal muscle, muscle hypertrophy, protein anabolism, mTOR, muscle regeneration. Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini, CeMENutri. Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Pública (FMBUNESP), Distrito de Rubião Jr, s/n°, 18618-970 Botucatu SP, Tel: (14) 3811-6128, E-mail: [email protected], rodrigo_manda@yahoo. com.br Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução A musculatura esquelética constitui o maior tecido do corpo, o maior compartimento protéico e supridor de aminoácidos aos demais tecidos na situação de privação alimentar. É o maior removedor de glicose, insulino-dependente, da circulação e principal responsável pelo gasto energético voluntário. Assim, há relação direta da integridade morfofuncional da musculatura esquelética com a saúde e qualidade de vida do indivíduo [1]. A massa muscular estriada é constituída de estrutura citológica predominantemente sincicial em que as proteínas miofibrilares (actina e miosina) ocupam o maior espaço citosólico (sarcoplasma), comprimindo entre si as mitocôndrias. Entre as miofibrilas e a membrana (sarcolema) encontramse os mionúcleos e o retículo sarcoplasmático. Externamente ao sarcolema, há as células satélites, linhagem de células tronco musculares, responsáveis pela regeneração das fibras musculares após estímulos catabólicos, como o exercício excêntrico e lesão pós traumática [2]. Crescimento muscular O crescimento muscular esquelético ocorre por hipercelularidade (hiperplasia) ou hipertrofia sarcoplasmática. O crescimento muscular hiperplásico ocorre predominantemente na vida embrionária. A linhagem celular envolvida é constituída dos somitos, mioblasto, miócito e miotubo, A miogênese é decorrente do equilíbrio entre os fatores protéicos miogênicos (myocite-enhancer factor, MEF-2; miogenina e myogenic-differenciation factor, MyoD) e os miostáticos (growth and differentiation factor 8, GDF-8 ou miostatina; muscle atrophy F-box, MAFbox ou atrogina 1 e o muscle ring finger 1, MURF-1) [3]. O crescimento muscular hipertrófico ocorre de forma predominante após o nascimento, naturalmente até a juventude, continuando também na maturidade e senescência frente aos esforços físicos contra resistência. Pode também ser observado pós-estimulação elétrica em seccionados de medula [4] e em idosos pós-cirurgia [4]. Contribui, para tanto, o predomínio da síntese sobre o catabolismo protéico miofibrilar. Anabolismo protéico As variações na síntese protéica muscular ocorrem antes das variações no conteúdo do mRNA (RNA mensageiro) [5], por isso é comumente aceito que a síntese protéica muscular seja controlada, predominantemente, após a fase de transcrição do DNA [6]. O passo limitante da síntese protéica muscular seria a iniciação da tradução do mRNA, que inclui a ligação entre tRNA (RNA transportador) iniciador (metionil-tRNA) e mRNA, com a subunidade ribossômica menor, 40S [7] (Figura 1). 53 A regulação da iniciação da tradução do mRNA seria pela ativação da mammalian target of rapamycin (mTOR) e de suas proteínas sinalizadoras dowstream, proteína ribossômica70kDa S6 quinase (p70S6k1) e proteína ligadora do fator de iniciação eucariótico 4E (4E-BP1) [7]. Ambas as proteínas (p70S6k1 e 4E-BP1) modulam a iniciação da tradução do mRNA por controlarem a ligação do mRNA à subunidade ribossomal 40S. A ligação eficiente da subunidade 40S ao mRNA necessita do fator de iniciação eucariótico 4F (eIF4F) cuja formação é reprimida pela ligação do fator eIF4E a 4EBP1; complexo que atua como repressor da tradução [7,8] (Figura 1). A fosforilação da 4E-BP1 (via mTOR) libera-a do fator eIF4E permitindo a ativação do eIF4E facilitando a ligação do mRNA à subunidade 40S (via eIF4F) e permitindo que o processo de iniciação da tradução do mRNA se perpetue [7]. Outro mecanismo regulador da ligação do mRNA à subunidade 40S envolve a fosforilação da proteína ribossômica S6, que é controlada pela atividade da p70S6k1. A proteína S6 está localizada nas proximidades do fator de iniciação. A fosforilação da proteína S6 está relacionada com aumento da síntese de proteínas ribossomais e fatores de alongamento, resultando na interação da proteína da subunidade 40S com a molécula do mRNA promovendo a sua tradução [6] (Figura 1). A ligação do tRNA iniciador (metionil-tRNA) é dependente da ativação do fator de iniciação eucariótico 2B (eIF2B), que consiste em fator de translocação de nucleotídeo guanina, convertendo o eIF2-GDP em eIF2-GTP. O eIF2B é reprimido pela glycogen synthase kinase 3 (GSK3), e para sua ativação, é necessário inibir a atividade da GSK3, através da fosforilação, via Akt/PKB. Uma vez ativado, e em associação com os outros fatores, o complexo para tradução do mRNA encontra-se completo [9,10] (Figura 1). A mTOR quinase está associada as suas proteínas regulatórias Raptor (regulatory associated protein of mTOR), GβL (Gprotein β subunit-like) e PRAS40 (proline-rich AkT substrate of 40 kDa) formando o complexo referido como mTORC1 (mTOR complex 1) [11,12] (Figura 1). A PRAS40 é uma proteína ligadora da Raptor que é fosforilada pela mTOR (na serina 183) e pela proteína quinase B (Akt/PKB) na treonina 246, resultando na fosforilação da S6k1 (quinase S6 da proteína ribossômica 70kDa) e maior síntese protéica muscular [13]. Assim, 4E-BP1 e S6k1 são proteínas downstream da mTOR, diretamente ligadas ao estímulo da síntese protéica muscular [14,15] (Figura 1). Como produtos gênicos upstream a mTOR tem-se os TSC1 e TSC2 (tuberousclerosis complex) formando o heterodímero estimulado pela insulina e ativador da reação do fator Rheb (ras homologue enriched in brain): Rheb-GTP Rheb-GDP, ligado à estimulação da mTOR [16] (Figura 1). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 54 Figura 1 - via de sinalização mTORC1 (mTOR complex 1). P Akt P Rheb GDP TSC1 TSC2 Rheb GTP GSK3 Rapamicina GTP PDK eIF2B GDP mTOR GβL PRAS40 eIF2B eIF2B Raptor 4E-BP1 GDP GTP eIF4F p70S6K1 rpS6 40S 4E-BP1 eIF4F eIF4F UAC UAC 40S rpS6 UAC eIF2BAUG 40S eIF4F rpS6 SÍNTESE PROTÉICA (Akt: serina/treonina quinase Akt; PDK: quinase dependente de fosfoinositol; mTOR: mammalian target of rapamycin; PRAS40: proline-rich Akt substrate of 40 kDa; GβL: G-protein β subunit-like; RAPTOR: regulatory associated protein of mTOR; p70S6K1: proteína ribossômica-70 kDa S6 quinase; rpS6: proteína ribossômica S6; 40S: subunidade 40S do ribossomo; 4E-BP1: proteína ligadora do fator de iniciação 4E; eIF4E: fator de iniciação eucariótico 4E; eIF4F: fator de iniciação eucariótico 4F; GSK3: glycogen synthase kinase 3; eIF2B: fator de iniciação eucariótico 2B; TSC1/TSC2: tuberousclerosis complex; Rheb: ras homologue enriched in brain). Ativadores da mTOR O mTOR é uma via de sinalização canônica que integra nutriente (leucina), hormônios (insulina; insulin-like growth factor-1, IGF-1), estado energético (ATP/GTP) intracelular e o treinamento resistido para controlar a tradução do mRNA [13] (Figura 2). É sabido que o treinamento resistido induz hipertrofia muscular mediante processos mecânicos, metabólicos e hormonais [17]. A sobrecarga mecânica leva a eventos intracelulares que regulam a expressão gênica e síntese protéica. O exercício resistido pode alterar a atividade de aproximadamente 70 genes [18], ativar fatores envolvidos com a miogênese (ex. miogenina, MyoD) e reprimir fatores inibidores do crescimento (ex. miostatina) [19]. Oito semanas de exercícios com pesos resultam em hipertrofia (~10%) associadamente ao aumento do conteúdo protéico de Akt e GSK3 fosforiladas e de mTOR [4]. A síntese protéica no músculo humano aumenta após uma simples sessão de exercício resistido vigoroso [20], atingindo pico máximo em 24 h, após o exercício, com o efeito anabólico permanecendo elevado de 2-3 horas até 36-48 h pós-exercício [21]. As adaptações neurais predominam durante os primeiros estágios do treino [22] e a hipertrofia muscular torna-se evidente dentro das primeiras 6 semanas [23]. A fosfatidilinositol 3-quinase (PI3K) responde aos estímulos anabólico, da IGF-1, e mecânico, da contração muscular, via PKB/Akt (Figura 2). A PI3K fosforila o fosfoinositol de membrana PI-4,5-bifosfato a PI-3,4,5-trifosfato, criando, no sarcolema, o sítio de ligação para a serina/treoninaquinase Akt. Subsequentemente, a Akt é ativada pela fosforilação com a quinase dependente de fosfoinositol (PDK-1) [24] (Figura 2). Os exercícios de resistência estimulam a síntese protéica muscular por até 48 horas [4]. Entretanto, o balanço protéico permanece negativo no pós-exercício imediato até a administração de proteínas e/ou aminoácidos [20,25]. A ampliação do processo hipertrófico induzido pelo exercício resistido ocorre com a ingestão de aminoácidos [26] e resposta endócrina [27]. Trabalhos experimentais mostram que tanto os exercícios de resistência [28], como ingestões de proteína e/ou leucina [10] resultam em fosforilação de ambos 4E-BP1 e S6k1 (Figura 1 e Figura 2). O treinamento resistido constitui método excelente para promover o ganho de músculo esquelético. O mesmo pode ser potencializado pelos suplementos protéicos, em particular aqueles contendo elevadas concentrações de aminoácidos indispensáveis como a proteína do soro do leite. A proteína do soro do leite é especialmente rica em leucina (até 14g/100g proteína), conhecida como reguladora do início da tradução do mRNA para a síntese protéica muscular, atuando diretamente na fosforilação da mTOR [29]. Os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA) têm habilidade única de estimular a síntese protéica muscular independentemente dos demais aminoácidos. Quando administrada oralmente, a leucina isolada estimula a síntese protéica muscular em animais e indivíduos exercitados ou subnutridos [8,30,31]. O estímulo da leucina não é via insulina/IGF-1/PI3K/PKB e sim, provavelmente, via PRAS40 [13] (Figura 2). Adicionalmente aos anabolizantes protéicos musculares que agem na mTOR: treinamento contra-resistência, hormônios (IGF-1, GH, testosterona) e leucina há, também, as misturas facilitadoras da síntese protéica muscular: glicose, insulina, BCAA, glutamina, creatina etc., atuantes na hidratação celular e positivação do balanço celular de aminoácidos [32]. Bloqueadores da mTOR A AMPk (5’-AMP-activated protein kinase) é uma enzima heterotrimérica que atua como o maior sensor energético celular. É ativada quando o ATP torna-se limitado. Nestas condições, a AMPk estimula as vias catabólicas e inibe as vias anabólicas no esforço de suprir o ATP para a sobrevivência celular. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 A AMPk regula, no músculo, o metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas, pelos seus efeitos em múltiplas vias de sinalização e assim, suprime processos que demandam ATP e ativa vias que geram ATP. Nesse sentido, a AMPk é um regulador negativo upstream do mTORC1, reduzindo a síntese protéica muscular em condições de estresse energético como hipóxia, exercício de alta intensidade ou glicopenia celular [33]. A AMPk inibe a sinalização mTORC1 em 2 vias: via fosforilação do Raptor que leva a diminuição da atividade da mTOR quinase e via fosforilação da TSC2 (ou tuberina) [34] (Figura 2). A AMPk desempenha papel importante na regulação da síntese protéica muscular. Uma simples sessão de exercício resistido, feita em jejum, resulta na inibição da síntese protéica muscular via AMPk com redução da fosforilação da 4E-BP1 [35-37]. Entretanto, quando o exercício é feito na situação alimentado, a inibição da síntese protéica não ocorre, pois a alimentação reduz a AMPk [26]. Condições em que a leucina é inefetiva em estimular o anabolismo protéico muscular (sepsis, intoxicação alcoólica e excesso de glicocorticóides) caracterizam o estado de resistência à leucina [13]. A ativação da AMPk, presente em várias condições de estresse, tem participação provável no desenvolvimento da resistência a leucina no músculo esquelético [13]. Figura 2 - estimuladores da mTOR complex 1. Contração muscular IGF Energia AMP:ATP P PI-3,4,5-3P ,5-2 PI-4 PI3K PTEN PDK Akt P P TSC1 Rapamicina AMPk TSC2 Rheb Rheb mTOR GβL PRAS40 AMP GDP GTP Raptor Insulina SÍNTESE PROTÉICA Nutrientes: Leucina (BCAA) (IGF: insulin-like growth factor; IRS 1: insulin receptor substrate-1; PI3K: fosfatidilinositol 3-quinase; PTEN: phosphatase and tensin homolog; PI-4,5-2P: fosfatidilinositol-4,5-bifosfato; PI-3,4,5-3P: fosfatidilinositol3,4,5-trifosfato; Akt: serina/treonina quinase Akt; PDK: quinase dependente de fosfoinositol; mTOR: mammalian target of rapamycin; PRAS40: proline-rich Akt substrate of 40 kDa; GβL: G-protein β subunit-like; RAPTOR: regulatory associated protein of mTOR; TSC1/TSC2: tuberousclerosis complex; Rheb: ras homologue enriched in brain; AMPk: 5’-AMP-activated protein kinase; BCAA: branched-chain amino acid). 55 Anabolismo pós-lesão por sobrecarga Após a lesão muscular por sobrecarga há a regeneração, remodelamento e crescimento muscular (Figura 3). Nestas condições o crescimento muscular é tanto hipertrófico como hiperplásico. A regeneração do músculo esquelético é fortemente associada a células como macrófagos e células satélites. Os macrófagos participantes são residentes, recrutados de compartimentos musculares específicos como epimísio/perimísio (ou fáscia muscular) ou resultantes da diferenciação de monócitos sanguíneos. Estes últimos são atraídos tanto pela ação quimiotática das células miogênicas como pela MCP-1 (monocytes chemoactractant protein 1) expressados pelos macrófagos residuais [38]. No músculo os macrófagos adotam funções heterogêneas de acordo com a localização anatômica e estímulos diferentes. Dentre as atividades que ilustram os diferentes fenótipos dos macrófagos figuram: pró-inflamatório x anti-inflamatório, imunogênico x tolerogênico e destruição x reparo tecidual. A ativação clássica dos macrófagos (chamada M1) induz a produção de citocinas pró-inflamatórias e espécies reativas do oxigênio que refletem o estado primário da ativação macrofágica após lesão tecidual ou conflito imunológico. A ativação alternativa (chamada M2a) é observada em ambiente Th2 e é associada à inflamação crônica mas evidenciada também em infecções parasitárias. A ação macrofágica anti-inflamatória ou de desativação (chamada M2c) é relacionada a fase de reparo tecidual durante a qual os macrófagos secretam TGF-β (transforming growth factor β) [39]. O músculo esquelético lesado recruta rapidamente (1-2 dias) monócitos sanguíneos que se tornam macrófagos com padrão comportamental inflamatório. Um a três dias após serem recrutados, esses macrófagos mudam seu fenótipo para anti-inflamatórios. Essa mudança ocorre após a fagocitose tanto das células apoptóticas como das miofibras necrosadas (figura 3). Assim a regeneração muscular pós-lesão é caracterizada por populações sequenciais de macrófagos. Primeiro, os macrófagos residuais, que são pró-inflamatórios, associam-se aos monócitos recrutados para a remoção do material necrosado. A seguir, os macrófagos anti-inflamatórios aparecem e estão associados à cicatrização e reparo tecidual. Desta forma a inflamação desencadeada por macrófagos, pós-lesão muscular, é benéfica à regeneração muscular [38]. Os macrófagos anti-inflamatórios parecem estar envolvidos na diferenciação celular e/ou crescimento miofibrilar [40] (figura 3). Quando em contato com macrófagos, as células miogênicas apresentam crescimento. Este estímulo pode ser causado: 1) pela resposta eficiente das células miogênicas aos fatores de crescimento secretados pelos macrófagos ou 2) pelo contato estabelecido de célula: célula que protege as células miogênicas contra apoptose. As células miogênicas multinucleadas diferenciadas (miotubos) são mais protegidas da apoptose, comparativamente aos mioblástos indiferenciados. Isto sugere Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 56 que a proteção do macrófago estender-se-ia até a associação final do miotubo à matriz [38]. Quando em cultura, os macrófagos inflamatórios estimulam a proliferação de células miogênicas e inibem sua diferenciação. Inversamente, os macrófagos anti-inflamatórios exibem estímulo da fusão dos mioblastos, isto é, diferenciação de células miogênicas. Estes resultados sugerem que o estado de ativação dos macrófagos pode modular o processo miogênico [40,41]. O processo de miogênese in vitro envolve 3 etapas principais: diferenciação celular com cessação do ciclo celular e expressão do programa miogênico, migração celular em direção a outra e fusão eventual em estruturas multinucleadas. Os macrófagos pró-inflamatórios exercem efeitos negativos tanto na diferenciação miogênica como na fusão. A menor fusão pode ser consequente ao estímulo destes macrófagos exercido sobre a maior mobilidade das células miogênicas. Por outro lado, macrófagos anti-inflamatórios estimulam tanto a diferenciação miogênica como o processo de fusão [38]. Figura 3 - Lesão pós-carga e reparo/crescimento muscular [38]. Lesão muscular (1-2 dias) Recrutamento de monócitos sanguíneose de macrófagos residuais Macrófagos inflamatórios Fagocitose de células (1-3 dias) Macrófagos apoptóticas e anti inflamatórios miofibrilas necrosadas Contato com células miogênicas (células satélites) Diferenciação celular Crescimento hiperplástico Reparo tecidual e crescimento miofibrilar Embora ainda sob estudos, é provável que os mecanismos envolvidos estejam associados às citocinas liberadas pelos macrófagos ativados que influenciariam o comportamento da célula miogênica. Por exemplo, o fator de necrose tumoral (TNFα) é mitogênico para mioblastos e inibe suas diferenciações [42], o TNF-β1 parece associado ao diâmetro das miofibras regeneradas [43]. A cicloxigenase 2 e seus metabólitos também parecem exercer papel crítico, uma vez que promovem fusão dos mioblastos, necessária à qualidade do reparo muscular [44,45]. Na lesão miofibrilar por trauma, há liberação local da isoforma muscular do IGF-1, o mecano-growth factor (MGF), responsável pelo recrutamento e ativação das células satélites quiescentes que se fundirão formando o miotubo, que substituirá as miofibrilas fagocitadas e acrescentará novos mionúcleos à massa sincicial. As células tronco musculares recrutadas reagirão com a integrina (proteína transmembrana) que permitirá a migração do já mioblasto até sua adesão à laminina, arcabouço colágeno da miofibrila fagocitada, permitindo a regeneração da área lesada [46]. Sinalizadores anabólicos como Akt/PKB, ativados pela contração muscular, participam do remodelamento muscular e funcionamento normal do sarcolema [47]. As maiores secreções de andrógenos e GH decorrentes do esforço de alta intensidade (e lesão muscular) estimulam a síntese miofibrilar e o crescimento muscular hipertrófico [46]. Anabolismo pós-desuso Na recuperação da massa muscular pós-desuso a expressão gênica da IL-6 está aumentada e funciona como regulador miogênico e anabólico [48]. Frente ao trabalho muscular possui elevação temporal com pico intermediário entre o TNF-α (pró-inflamatório) e a IL-10 (anti-inflamatória). Metabolicamente a IL-6 bloqueia as ações musculares (catabólicas e de resistência à insulina) do TNF-α [49]. A IL-6 liberada no exercício físico é considerada a primeira miocina com ação integrativa entre órgãos resultando em desbloqueio do IGF-1, sensibilidade insulínica, lipólise intramuscular e economia do glicogênio muscular [50]. A maior expressão da IL-6 pelo músculo exercitado pode ser decorrente de quaisquer dos estímulos Ca++ intracelular, AMPk ou hipóxia local [51]. Conclusão O turnover miofibrilar ocorre, fisiologicamente, a cada 5-6 dias, podendo ser retardado pelos estresses inflamatório e energético (↑ AMP/ATP) e acelerado por fatores anabólicos (estímulo de contração muscular contra resistência, estímulo elétrico (em medulados), fatores nutricionais (leucina) e hormonais). Estes fatores anabólicos agem via cascata de quinases que estimulam a tradução do mRNA miofibrilar e/ou fatores de diferenciação miogênicos. Figuram como indicadores moleculares das vias do crescimento muscular Akt/PKB, mTOR, p70S6K, 4E-BP1, GSK3 e miogenina. Referências 1. Robergs RA, Roberts SO. Função neuromuscular e adaptação ao exercício. In: Princípios fundamentais de fisiologia do exercício para adaptação, desempenho e saúde. 1ª ed. São Paulo: Phorte; 2002. p.76-109. 2. Nair KS. Aging muscle. Am J Clin Nutr 2005;81:953-63. 3. Mascher H, Tannerstedt J, Brink-Elfegoun T, Ekblom B, Gustafsson T, Blomstrand E. Repeated resistance exercise training induces different changes in mRNA expression of MAFbx and MuRF-1 in human skeletal muscle. Am J Physiol Endocrinol Metab 2008;294:E43-51. 4. Leger B, Cartoni R, Praz M, Lamon S, Dériaz O, Crettenand A, et al. Akt signalling through GSK-3beta, mTOR and Foxo1 is involved in human skeletal muscle hypertrophy and atrophy. J Physiol 2006;576:923-33. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 5. Welle S, Bhatt K, Thornton CA. Stimulation of myofibrillar synthesis by exercise is mediated by more efficient translation of mRNA. J Appl Physiol 1999;86:1220-5. 6. Witard OC, Tieland M, Beelen M, Tipton KD, van Loon LJ, Koopman R. Resistance exercise increases postprandial muscle protein synthesis in humans. Med Sci Sports Exerc 2009;41:144-54. 7. Mitchell JW, Nadel ER, Stolwijk JA. Respiratory weight losses during exercise. J Appl Physiol 1972;32:474-6. 8. Anthony JC, Anthony TG, Kimball SR, Jefferson LS. Signaling pathways involved in translational control of protein synthesis in skeletal muscle by leucine. J Nutr 2001;131:856S-860S. 9. Fingar DC, Blenis J. Target of rapamycin (TOR): an integrator of nutrient and growth factor signals and coordinator of cell growth and cell cycle progression. Oncogene 2004;23:315171. 10. Kimball SR, Farrell PA, Jefferson LS. Invited Review: Role of insulin in translational control of protein synthesis in skeletal muscle by amino acids or exercise. J Appl Physiol 2002;93:1168-80. 11. Oshiro N, Takahashi R, Yoshino K, Tanimura K, Nakashima A, Eguchi S, et al. The proline-rich Akt substrate of 40 kDa (PRAS40) is a physiological substrate of mammalian target of rapamycin complex 1. J Biol Chem 2007;282:20329-39. 12. Proud CG. Amino acids and mTOR signalling in anabolic function. Biochem Soc Trans 2007;35:1187-90. 13. Pruznak AM, Kazi AA, Frost RA, Vary TC, Lang CH. Activation of AMP-activated protein kinase by 5-aminoimidazole4-carboxamide-1-beta-D-ribonucleoside prevents leucinestimulated protein synthesis in rat skeletal muscle. J Nutr 2008;138:1887-94. 14. Lang CH, Frost RA, Jefferson LS, Kimball SR, Vary TC. Endotoxin-induced decrease in muscle protein synthesis is associated with changes in eIF2B, eIF4E, and IGF-I. Am J Physiol Endocrinol Metab 2000;278:E1133-43. 15. Svanberg E, Frost RA, Lang CH, Isgaard J, Jefferson LS, Kimball, et al. IGF-I/IGFBP-3 binary complex modulates sepsisinduced inhibition of protein synthesis in skeletal muscle. Am J Physiol Endocrinol Metab 2000;279:E1145-58. 16. Huang J, Manning BD. The TSC1-TSC2 complex: a molecular switchboard controlling cell growth. Biochem J 2008;412:17990. 17. American College of Sports Medicine position stand. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc 2009;41:687-708. 18. Roth SM, Ferrell RE, Peters DG, Metter EJ, Hurley BF, Rogers MA. Influence of age, sex, and strength training on human muscle gene expression determined by microarray. Physiol Genomics 2002;10:181-90. 19. Roth SM, Martel GF, Ferrell RE, Metter EJ, Hurley BF, Rogers MA. Myostatin gene expression is reduced in humans with heavy-resistance strength training: a brief communication. Exp Biol Med (Maywood) 2003;228:706-9. 20. Phillips SM, Tipton KD, Aarsland A, Wolf SE, Wolfe RR. Mixed muscle protein synthesis and breakdown after resistance exercise in humans. Am J Physiol 1997;273:E99-107. 21. MacDougall JD, Gibala MJ, Tarnopolsky MA, MacDonald JR, Interisano SA, Yarasheski KE. The time course for elevated muscle protein synthesis following heavy resistance exercise. Can J Appl Physiol 1995;20:480-6. 57 22. Moritani T, deVries HA. Neural factors versus hypertrophy in the time course of muscle strength gain. Am J Phys Med 1979;58:115-30. 23. Phillips SM. Short-term training: when do repeated bouts of resistance exercise become training? Can J Appl Physiol 2000;25:185-93. 24. Miyazaki M, Noguchi M, Takemasa T. Intermittent reloading attenuates muscle atrophy through modulating Akt/mTOR pathway. Med Sci Sports Exerc 2008;40:848-55. 25. Biolo G, Tipton KD, Klein S, Wolfe RR. An abundant supply of amino acids enhances the metabolic effect of exercise on muscle protein. Am J Physiol 1997;273:E122-9. 26. Fujita S, Dreyer HC, Drummond MJ, Micah J, Glynn EL. Nutrient signaling in the regulation of human muscle protein synthesis. J Physiol 2007;582:813-23. 27. Kraemer WJ, Ratamess NA. Hormonal responses and adaptations to resistance exercise and training. Sports Med 2005;35:339-61. 28. Kubica N, Bolster DR, Farrell PA, Kimball SR, Jefferson LS. Resistance exercise increases muscle protein synthesis and translation of eukaryotic initiation factor 2Bepsilon mRNA in a mammalian target of rapamycin-dependent manner. J Biol Chem 2005;280:7570-80. 29. Roth E. Skeletal muscle gain: how much can be achieved by protein and amino acid administration? Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2008;11:32-3. 30. Drummond MJ, Rasmussen BB. Leucine-enriched nutrients and the regulation of mammalian target of rapamycin signalling and human skeletal muscle protein synthesis. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2008;11:222-6. 31. Rieu I, Balage M, Sornet C, et al. Leucine supplementation improves muscle protein synthesis in elderly men independently of hyperaminoacidaemia. J Physiol 2006;575:305-15. 32. Rivas DA, Lessard SJ, Yaspelkis BB, Hawley JA. Regulation of mTORC 1/2 formation in response to a high- fat diet and exercise training. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S3-S4. 33. Hardie DG, Sakamoto K. AMPK: a key sensor of fuel and energy status in skeletal muscle. Physiology (Bethesda) 2006;21:48-60. 34. Gwinn DM, Shackelford DB, Egan DF, Mihaylova MM, Mery A, Vasques DS, et al. AMPK phosphorylation of raptor mediates a metabolic checkpoint. Mol Cell 2008;30:214-26. 35. Bolster DR, Crozier SJ, Kimball SR, Jefferson LS. AMPactivated protein kinase suppresses protein synthesis in rat skeletal muscle through down-regulated mammalian target of rapamycin (mTOR) signaling. J Biol Chem 2002;277:23977-80. 36. Dreyer HC, Fujita S, Cadenas JG, Chinkes DL, Volpi E, Rasmussen BB. Resistance exercise increases AMPK activity and reduces 4E-BP1 phosphorylation and protein synthesis in human skeletal muscle. J Physiol 2006;576:613-24. 37. Koopman R, Zorenc AH, Gransier RJ, Cameron-Smith D, van Loon LJ. Increase in S6K1 phosphorylation in human skeletal muscle following resistance exercise occurs mainly in type II muscle fibers. Am J Physiol Endocrinol Metab 2006;290:E1245-52. 38. Chazaud B, Brigitte M, Yacoub-Youssef H, Arnold L, Gherardi R, Sonnet C et al. Dual and beneficial roles of macrophages during skeletal muscle regeneration. Exerc Sport Sci Rev 2009;37:18-22. 58 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 39. Stout RD, Suttles J. Functional plasticity of macrophages: reversible adaptation to changing microenvironments. J Leukoc Biol 2004;76:509-13. 40. Arnold L, Henry A, Poron F, van Rooijen N, Plonquet A, Gherardi RK et al. Inflammatory monocytes recruited after skeletal muscle injury switch into antiinflammatory macrophages to support myogenesis. J Exp Med 2007;204:1057-69. 41. Gordon S, Taylor PR. Monocyte and macrophage heterogeneity. Nat Rev Immunol 2005;5:953-64. 42. Li YP. TNF-alpha is a mitogen in skeletal muscle. Am J Physiol Cell Physiol 2003;285:C370-6. 43. Lefaucheur JP, Gjata B, Lafont H, Sebille A. Angiogenic and inflammatory responses following skeletal muscle injury are altered by immune neutralization of endogenous basic fibroblast growth factor, insulin-like growth factor-1 and transforming growth factor-beta 1. J Neuroimmunol 1996;70:37-44. 44. Bondesen BA, Mills ST, Pavlath GK. The COX-2 pathway regulates growth of atrophied muscle via multiple mechanisms. Am J Physiol Cell Physiol 2006;290:C1651-9. 45. Shen W, Li Y, Zhu J, Schwendener R, Huard J. Interaction between macrophages, TGF-beta1, and the COX-2 pathway during the inflammatory phase of skeletal muscle healing after injury. J Cell Physiol 2008;214:405-12. 46. Boppart MD, Liu J, Alexander NM, Kaufman SJ. The alpha7beta1 integrin recruits a Sca-1+/CD45- stem cell population in skeletal muscle following exercise-induced injury. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S33. 47. Moore NA, Devaney JM, Hoffman E, Zambraski E, Gordish H, Clarkson PM. Association of Akt2 genotypes and exercise muscle damage. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S32. 48. Washington TA, Davis JM, Lowe LL, Wilson LB, Durstine JL, Carson JA. Interleukin-6 deficiency attenuates the recovery of gastrocnemius muscle mass from disuse-induced atrophy. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5). 49. Carey AL, Bruce CR, Sacchetti M, Anderson MJ, Olsen DB, Saltin B, et al. Interleukin-6 and tumor necrosis factor-alpha are not increased in patients with Type 2 diabetes: evidence that plasma interleukin-6 is related to fat mass and not insulin responsiveness. Diabetologia 2004;47:1029-37. 50. Pedersen BK, Fischer CP. Beneficial health effects of exercise--the role of IL-6 as a myokine. Trends Pharmacol Sci 2007;28:152-6. 51. Mehan RS, Allen DL, Uyenishi J, Cleary A, Lindsay SF, Reed JM. Transcriptional regulation of interleukin-6 expression in mouse skeletal muscle in vivo and in myotubes in viitro. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S163-S164. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 59 Comunicação breve A influência da caminhada versus exercícios convencionais sobre a dor e qualidade de vida em mulheres com fibromialgia: um ensaio simples-cego The influence of walking versus conventional exercises on pain and quality of life in women with fibromyalgia: a single blind clinical trial Izabel Cristina Camargo dos Santos*, Mariana Conceição Farias de Moraes*, Bruna Piergentile*, Karin Lima dos Reis de Burgo**, Fábio Marcon Alfieri, M.Sc.*** *Discentes do curso de Fisioterapia do UNASP, **Especialista em Clínica Médica, Fisioterapeuta do Programa da Saúde da FamíliaSão Paulo, ***Docente do curso de Fisioterapia do UNASP Resumo Abstract Introdução: A fibromialgia é uma síndrome que traz alterações como dor e diminuição da qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi comparar a dor e a qualidade de vida em pacientes fibromiálgicos submetidos a exercícios convencionais versus caminhada. Método: Participaram do estudo 22 mulheres divididas aleatoriamente em dois tipos de exercícios: caminhada e exercícios gerais. Ambos foram avaliados pela escala visual analógica e pelo questionário sobre impacto de qualidade de vida (FIQ) antes e após os 3 meses de intervenção. Resultados: Em nenhum grupo houve melhora significativa em relação à dor e à qualidade de vida. Conclusão: Acredita-se que o tempo pode ser um fator limitante dos resultados deste estudo preliminar, bem como o tamanho da amostra. Introduction: The fibromyalgia is a syndrome that brings changes as pain and decreased quality of life. The aim of this study was to compare the pain and quality of life in fibromyalgic patients treated with conventional versus walking exercises. Method: The study included 22 women divided into two types of exercises: walking and general exercise. Both were assessed by visual analogue scale and questionnaire on the impact of quality of life (FIQ) before and after 3 months of intervention. Results: In any group there was significant improvement on pain and quality of life. Conclusion: It is believed that the time may be a limiting factor on the outcome of this preliminary study, as well as the sample size. Key-words: fibromyalgia, exercise, pain, quality of life. Palavras-chave: fibromialgia, exercício, dor, qualidade de vida. Endereço para correspondência: Fábio Marcon Alfieri, Rua Candal, 1/31, 05890-030 São Paulo SP, Tel: (11) 9172-8161, E-mail: [email protected], [email protected] 60 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Introdução A fibromialgia é uma síndrome musculoesquelética não inflamatória e não autoimune, cuja incidência é maior em mulheres, contudo, pode ocorrer em homens, porém em menor proporção [1,2]. Sua etiologia é desconhecida, no entanto, há evidências sobre alterações metabólicas e de oxigenação nas fibras musculares, como também desequilíbrio entre a percepção dolorosa e os mecanismos das vias aferentes, além da diminuição dos níveis de serotoniana e endorfina [2,3]. O principal sintoma é a dor crônica e difusa e/ou dor sentida a partir da pressão em 11 de 18 pontos dolorosos (tender points) predeterminados pelo Colégio Americano de Reumatologia. Além da dor, a rigidez, diminuição da força muscular, fadiga e síndromes psicossomáticas como depressão podem interferir na qualidade de vida dos pacientes [3,4]. A literatura não define um tratamento padrão para a fibromialgia, entretanto sabe-se que exercícios físicos podem diminuir os sintomas da doença [1,4-7]. Para tanto, este estudo teve como objetivo comparar a dor a qualidade de vida de pacientes fibromiálgicos submetidos a exercícios convencionais versus caminhada. Material e métodos Este foi um estudo clínico simples-cego, no qual participaram 22 pacientes diagnosticados com fibromialgia, segundo os critérios estabelecidos pelo Colégio Americano de Reumatologia. Não participaram indivíduos que tivessem realizado intervenção por meio de exercícios físicos nos últimos 6 meses. A pesquisa foi realizada na Policlínica do UNASP e aprovada pelo comitê de ética da instituição. Os indivíduos foram divididos aleatoriamente por sorteio simples em dois grupos: caminhada versus exercícios convencionais. No grupo caminhada foram feitos alongamentos, seguidos de caminhada em ritmo moderado, terminando com relaxamento. Já no grupo exercícios, foram realizados alongamentos, fortalecimentos dos principais grupos musculares de todo o corpo e exercícios proprioceptivos. Ambos os grupos realizaram as respectivas atividades físicas durante 12 semanas com frequência semanal de 2 vezes com 60 minutos cada sessão. A intensidade da dor foi avaliada através da Escala Visual Analógica da dor (EVA) e a qualidade de vida foi avaliada pelo questionário FIQ, que avalia o impacto da fibromialgia na qualidade de vida dos indivíduos [8]. Ambas avaliações foram realizadas antes e depois da intervenção. Os dados foram analisados com a utilização do teste t, com nível de significância de 5%. 11 voluntárias). A média de idade do grupo de exercícios foi de 53,72 ± 5,3 anos e 27,12 ± 3 de índice de massa corpórea (IMC), já a do grupo de caminhada teve média de idade de 50,45 ± 14,5 anos e 27,54 ± 5,7 de IMC, não sendo estas diferenças significativas. Ao avaliar a intensidade da dor pela EVA, em nenhum grupo houve melhora após a intervenção. O grupo de exercícios passou de 5,98 ± 27 para 4,0 ± 2,0 (p = 0,09) e o grupo de caminhada passou de 7,42 ± 1,9 para 6,05 ± 3,4 (p = 0,08), após a intervenção, não havendo diferença entre os grupos (p = 0,09). Ao avaliar a qualidade de vida pelo FIQ, os resultados do grupo de caminhada passaram de 6,06 ± 1,4 para 4,42 ± 1,8 (p = 0,08). O grupo de exercícios passou de 6,37 ± 1 para 4,75 ± 1,5 (p = 0,08) após a intervenção, também não havendo diferença entre os grupos (p = 0,65). Discussão Os resultados deste estudo mostraram que em ambos os grupos de intervenção não houve redução significativa na intensidade da dor e nem melhora na qualidade de vida. Acreditamos que tais resultados possam ser explicados parcialmente devido ao curto tempo de intervenção, pois segundo Valim et al. [5] intervenções com tempos superiores a 15 semanas é que são capazes de mostrar benefícios na qualidade de vida de indivíduos fibromiálgicos, isto devido à exigência de um período maior e esforço pessoal para adaptação de tais sujeitos ao programa de exercício. Isto provavelmente explica programas como o de Sabag et al. [7], que realizaram condicionamento físico por um ano e perceberam melhoras quanto a intensidade da dor e qualidade de vida. Outro fato a ser destacado neste estudo, é a questão da desistência de cerca de 54% dos voluntários, sendo maior do que o apontada na literatura (até 50%) sobre este tipo de ensaio clínico [9]. Conclusão Os dados do estudo permitem inferir que trabalhos com indivíduos fibromiálgicos devem apresentar amostras grandes o suficiente a fim de comportar as perdas. Além disso, devem ser realizados em períodos superiores a 3 meses de intervenção para verificar o quanto os exercícios gerais bem como a caminhada regular podem realmente interferir na qualidade de vida e na intensidade da dor destes pacientes. Com isto, este trabalho, que possui resultados preliminares, pode ser reformulado com um tempo maior de intervenção ou com o aumento da amostra. Resultados Referências Das 22 mulheres, 5 desistiram do grupo de exercícios gerais e 7 do grupo de caminhada (cada grupo foi composto por 1. Clark SR, Jones KD, Burckhardt CS. Exercise for patients with fibromyalgia: risks versus benefits. Curr Rheumatol 2001;3:135-40. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 2. Okumus M, Gokoglu F, Kocaoglus, Ceecelie, Yorgancioglu ZR. Muscle performance in patients with fibromyalgia. Singapore Med J 2006;47(9):752-6. 3. Riberto M, Pato TR. Fisiopatologia da fibromialgia. Acta Fisiatr 2004;11(2):78-81. 4. Konmrad LM. Efeito agudo do exercício físico sobre a qualidade de vida de mulheres com síndrome da fibromialgia [dissertação]. Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina; 2005. 5. Valim V, Feldman D, Oliveira LM, Suda AL, Silva LE, Faro M, et al. Ensaio clínico comparativo entre o condicionamento físico aeróbio e alongamento no tratamento da fibromialgia. Rev Bras Reumatologia 2000;40 (suppl.1):S32,(Tl-038, 2000. 6. Valim V. Benefits of physical exercises in fibromyalgia. Rev Bras Reumatol 2006;46: 49-55. 61 7. Sabag LMS, Carlos APCA, Júnior PY, Miyazaki MH, Gonçalves A, Kaziyama HHS, Battistella LR. Efeitos do condicionamento físico sobre pacientes com fibromialgia Rev Bras Med Esporte 2007;13(1):6-10. 8. Marques AM, Santos AMB, Assumpção A, Matsutani LA, Lage LV, Pereira CAB. Validação da versão brasileira do Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Rev Bras Reumatol 2006;46(1):24-31. 9. Jones KD, Clarck SR: Individualizing the exercise prescription for persons with fibromyalgia. Rheum Dis Clin North Am 2002;28:419-36. 62 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para 63 os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 1 - janeiro/março 2010 64 Calendário de eventos Setembro 2010 Abril 16 a 18 de abril 2º Congresso Brasileiro de Natação Infantil Centro de Convenções Rebouças - Av. Rebouças, 600 São Paulo, SP Informações: www.alliancefitness.com.br Pós-Graduação Lato Sensu Educação Física FMU 48o ENAF Espaço cultural da URCA, Poços de Caldas MG Informações: www.enaf.com.br Semestre de 2010 28 a 30 de abril Congresso Internacional de Envelhecimento Humano Centro de Eventos Universidade de Passo Fundo (UPF) Passo Fundo, RS Informações: [email protected] Maio 13 a 15 de maio 9º Fórum Internacional de Esportes FiguraCentro Multiuso de São José, Florianópolis SC www.unesporte.org.br/forum 20 a 22 de maio III Congresso Brasileiro de Metabolismo, Nutrição e Exercício Londrina, PR Informações: www.gepemene.com.br Junho 3 a 6 de junho 27/03/2010 • Atividade Física Adaptada e Saúde. • Biomecânica, Avaliação Física e Prescrição de Exercícios. • Condicionamento Físico para Grupos Especiais e Reabilitação Cardíaca. • Dança e Consciência Corporal. • Educação Física Escolar. • Natação e Atividades Aquáticas. • Psicomotricidade. • Treinamento Desportivo. • Voleibol: Bases Metodológicas para o Treinamento da Iniciação ao Alto Rendimento. • Acupuntura. • Esportes e Atividades de Aventura. • Ginástica Laboral: Atividade Física e Promoção de Saúde nas Empresas. • Ginástica Rítmica Feminina e Masculina. • Terceira Idade: Metodologia e Prescrição de Atividades. Informações e Inscrições: (11) 3209-0059/3399-3877/3271-8042/3207-2923 site: www.apoiofmu.com.br e-mail: [email protected] Pós-Graduação Lato Sensu Educação Física FMU Semestre de 2010 XVII Convenção Brasil Saúde Sport Fitness Porto Alegre, RS Informações: (51) 3312-8323 / 3312-8322 www.convencaobrasil.com.br Julho 23 de julho a 1 de agosto VII Encontro Internacional Esporte e Atividade Física São Paulo Informações: Tel: (11) 2714-5678 www.encontrophorte.com.br Agosto VI Jornada de Educação Física em cardiologia Hotel Intercontinental Rio de Janeiro, RJ Informações: Tel: (21) 2552-0864 e 2552-1865 III Simpósio de Fisiologia e Preparação Física no Futebol Jundiaí, SP Informações: www.educaçãofísica.com.br CURSO 17 a 21 de abril 4 de agosto 24 e 25 de setembro 08/05/2010 Educação Física Escolar 29/03/2010 Voleibol: Bases Metodológicas para o Treinamento da Iniciação ao Alto Rendimento. Treinamento Desportivo 31/03/2010 Biomecânica, Avaliação Física e Prescrição de Exercicios. Musculação e Condicionamento Físico. 25/03/2010 Natação e Atividades Aquáticas. Psicomotricidade 26/03/2010 Ginástica Laboral: Atividade Física e Promoção de Saúde nas Empresas. Informações e Inscrições: (11) 3209-0059/3399-3877/3271-8042/3207-2923 site: www.apoiofmu.com.br e-mail: [email protected] R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 9 número 2 - abril/junho 2010 EDITORIAL Do desempenho muscular à nutrição esportiva, Paulo Tarso Veras Farinatti .....................................................................67 ARTIGOS ORIGINAIS Influência da força e da área de corte transverso muscular de membros inferiores sobre as potências física e aeróbia máximas em teste de esforço em cicloergômetro, Thiago Rodrigues Gonçalves.................................................................................................................................................68 Consumo de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico, Gabriela da Silva Ferreira, Aline Pristilo Domingues, Lúcia Regina Cardoso Alves, Luiz Roberto Lourena Gomes da Costa, Milena Costa Menezes Cornacini ..........................................................................73 Efeitos de 11 semanas de diferentes tipos de treinamento de força sobre a massa óssea de jovens do sexo masculino, Débora Wagner, Roger Dahlke, Luana Carvalho Picolini, Rodrigo Ghedini Gehler, Patrícia Somavilla, Daniela Lopes dos Santos .................................................................78 Cinesioterapia laboral aplicada a servidores do judiciário de Poços de Caldas/MG, Keruline de Oliveira Moreira, Tatiana Rodrigues Martins, Marina Aparecida Gonçalves Pereira ...........................................83 Influência do alongamento estático/passivo sobre o desempenho da força, Levi Torres Rodrigues, Antonio Gil Castinheiras Neto, Bruna Medeiros Neves, Nádia Lima da Silva .............................................................................................................................................................89 Avaliação do estado nutricional e do consumo alimentar de praticantes de atividade física, Viviane Ferreira Zanirati, Juliana Morais Amaral de Almeida, Àzula Narayama Malacco Ferreira, Márcia Regina Pereira Monteiro, Roberta Ribeiro Silva ..................................................94 REVISÕES Processo do envelhecimento humano, André Luiz Zanella, Laíne Rocha Moreira, Paulo Silvano Marinho, Rosimar da Silva Salgueiro, Mauro Lucio Mazini Filho, Luis Guilherme da Fonseca, Dihogo Gama de Matos .........................................................................................................100 Treinamento aeróbio para adultos obesos portadores de diabetes mellitus tipo 2, Jean Flávio Alves, Rafaela de Castro Santos, Raquel Brunini Nórcia Fada, Tania Regina Gonçalves Gomes, Tiago Lasaponari, Kátia Sampaio ....................................................................................107 Treinamento muscular inspiratório para o desenvolvimento físico: evidências e controvérsias, Maurício de Sant’ Anna Junior, Adalgiza Mafra Moreno, Pedro Dall’Ago, Pedro Paulo da Silva Soares ......................................................................................................................116 Bases metabólicas da rabdomiólise e atrofia muscular, Rodrigo Minoru Manda, Fernando Moreto, Roberto Carlos Burini ...........................................................................................................................124 Esteróides anabolizantes: benefícios ou malefícios? Fábio Eduardo de Almeida ..............................................................130 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 134 EVENTOS ............................................................................................................................................................... 136 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 66 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Robert Robergs (EUA) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Rosane Rosendo (SC) Douglas S. Brooks (EUA) Sebastião Gobbi (SP) Emerson Silami Garcia (MG) Steven Fleck (EUA) Francisco Martins (PB) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Navarro (SP) Vilmar Baldissera (SP) Luiz Carnevali (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 67 Editorial Do desempenho muscular à nutrição esportiva Paulo Tarso Veras Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx Apresentamos o segundo número da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx) neste ano de 2010. Em seu processo de evolução, este ano marca a consolidação de uma periodicidade maior – a RBFEx conta com quatro números em cada volume desde 2009. A quantidade de manuscritos encaminhados aumentou significativamente, o que nos forçou a aprimorar o sistema de avaliação por pares. De fato, contando com corpo aumentado de revisores, o período entre a recepção de um manuscrito e a emissão de um parecer inicial está, em média, em torno de 30 dias. A colaboração de muitos colegas, que se oferecem graciosamente para ajudar no esforço de qualificar a revista, deve ser aqui valorizada. Este número traz trabalhos originais com diferentes temáticas. No campo da prescrição do exercício, grupo da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresenta evidências quanto à relação entre seção transversa muscular e desempenho em exercício no cicloergômetro. Da Universidade Federal de Santa Maria chegam-nos dados a respeito do efeito do treinamento da força sobre a massa óssea de indivíduos jovens e grupo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro investe nas relações entre exercício de flexibilidade e desempenho em testes de força. Na perspectiva da reabilitação e prevenção de lesões, pesquisadores da Universidade Federal Fluminense apresentam dados sobre os efeitos do treinamento muscular inspiratório, ao passo que a ginástica laboral é objeto de estudo de laboratório da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. A nutrição esportiva faz-se presente em estudos que avaliaram a frequência e impacto do uso de repositores hidroeletrolíticos em academias (Universidade Paulista de Araçatuba) e avaliação do estado nutricional de praticantes de atividade física (Universidade Federal de Minas Gerais). Enfim, artigos de revisão abordam assuntos como treinamento aeróbio para obesos diabéticos (Universidade Gama Filho - Campinas), processo de envelhecimento humano (Universidade Federal de Juiz de Fora), rabdomiólise e atrofia muscular (Universidade Estadual Paulista – Botucatu) e esteróides anabólicos (Escola Superior de Educação Física de Muzambinho). Como se vê, a RBFEx reflete o vasto painel de temáticas que podem ser discutidas à luz da fisiologia do exercício, bem como a multiplicidade de grupos de pesquisa que vêm se dedicando ao seu estudo no Brasil. Espero que gostem da leitura e que dela tirem informações proveitosas! Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 68 Artigo original Influência da força e da área de corte transverso muscular de membros inferiores sobre as potências física e aeróbia máximas em teste de esforço em cicloergômetro Influence of strength and cross-sectional area of lower limb muscle on the maximal physical and aerobic power in exercise test in cycle ergometer Thiago Rodrigues Gonçalves* *Graduado em Educação Física pela Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ, Mestrando em Ciências Cardiovasculares pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense - UFF Resumo Abstract Objetivo: Investigar a relação da força dinâmica máxima (Fmáx) dos membros inferiores e da área de corte transverso muscular do quadríceps (ATQ) com a potência máxima (Wmáx) e a potência aeróbia máxima (VO2máx). Métodos: Nove voluntários masculinos (22 ± 2 anos; 73 ± 9 kg) foram avaliados em dois momentos (M1 e M2). As medidas antropométricas e o teste de esforço máximo no cicloergômetro foram realizados no M1. Os parâmetros de trocas gasosas e ventilatórios foram coletados através da calorimetria indireta de circuito aberto (Aerosport® TEEN 100, EUA). Realizou-se em M2 teste de uma repetição máxima (1RM) no aparelho Leg Press horizontal para determinação da Fmáx. Os dados foram tratados através da análise de regressão para ≤ 0,05. Resultados: A ATQ (135,8 ± 13,7 cm2) foi significativamente correlacionada ao VO2máx (46,6 ± 12,4 mL.kg-1.min-1) com r = 0,70 e a Wmáx (270 ± 30 W) com r = 0,76; p ≤ 0,05. A Fmáx (94,3 ± 13,4 kg) não apresentou correlação significativa ao VO2máx (r = 0,47) e a Wmáx (r = 0,40). Conclusão: A ATQ apresentou boa associação ao VO2máx e a Wmáx. As últimas variáveis não apresentaram associação a Fmáx. Objetive: To investigate the relationship of maximal dynamic strength (Smax) of the lower limbs and the cross-sectional area of the quadriceps muscle (CSAQ) at the maximum (Wmax) and maximum aerobic power (VO2max). Methods: Nine male volunteers (22 ± 2 years, 73 ± 9 kg) were evaluated in two stages (M1 and M2). Anthropometric measurements and maximal exercise test on a cycle ergometer were performed in M1. The parameters of gas exchange and ventilation were collected by indirect calorimetry open circuit (Aerosport ® TEEN 100, USA). Held in M2 test of one repetition maximum (1RM) on the unit Horizontal Leg Press for the determination of Smax. The data were treated by regression analysis for ≤ 0.05. Results: The CSAQ (135.8 ± 13.7 cm2) was significantly correlated with VO2max (46.6 ± 12.4 mL.kg-1.min-1) with r = 0.70 and Wmax (270 ± 30 W) with r = 0.76, p ≤ 0.05. The Smax (94.3 ± 13.4 kg) was not significantly correlated to VO2max (r = 0.47) and Wmax (r = 0.40). Conclusion: The CSAQ showed good association with VO2max and Wmax, as last variables showed no association with Smax. Palavras-chave: 1RM, antropometria, teste de esforço, eficiência mecânica. Key-words: 1RM, anthropometry, exercise test, mechanical efficiency. Recebido 22 de dezembro de 2009; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Thiago Rodrigues Gonçalves, Rua Santa Rosa 141/703, Santa Rosa 24240-225 Niterói RJ, Tel: (21) 9731-6594, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução O termo ergoespirometria nasceu em 1929 sugerido por Kipping & Brauer, posteriormente revisado por Hollmann & Prinz [1]. O teste ergoespirométrico permite um valioso estudo da integração entre os sistemas pulmonar, cardiovascular e musculoesquelético [2,3]. Wassermann et al. [4] e posteriormente aprimorado por Buchfuhrer et al. [5] propuseram o teste de esforço máximo (TE) no cicloergômetro com incrementos de carga de 1 min, a fim de determinar principalmente variáveis metabólicas e físicas como: a potência aeróbia máxima (VO2máx) e a potência física máxima (Wmáx), caracterizadas por critérios objetivos [6], em 10 ± 2 min. A pesquisa de Buchfuhrer et al. [5] ainda propõe que a força muscular nesse protocolo pode influenciar em sua avaliação. Alguns estudos se propuseram a investigar a influência da força muscular sobre variáveis máximas em TE, sendo esta a partir de treinamento ou não e em protocolos de testes de esforços diferentes [7,8], e não encontraram resultados significativos para indivíduos adultos. Há algumas dificuldades em se determinar o valor preciso da Fmáx, pois podem ocorrer limitações em sua mensuração. Bruce et al. [9] apresentaram casos de variação da força entre indivíduos adultos e nãotreinados em que o fator neural poderia estar influenciando sua determinação a partir de dois fatores principais: 1) uma incompleta ativação muscular ocasionada pela dor e 2) uma incompleta ativação muscular sem dor gerada por mecanismo de segurança. Ainda não é documentada a utilização de preditores da Fmáx, a fim atenuar essas possíveis limitações, sobre a performance e variáveis máximas em TE. A área transversal muscular do quadríceps (ATQ) [9,10] pode predizer a Fmáx, sendo um de seus principais associados, que assim se objetiva a diminuir os riscos de lesões articulares, musculares e outros acidentes possíveis e ainda encurtar as sessões de testes propostos para sua determinação. É importante para avaliação do TE, com incremento de carga de 1 min, determinar a influência da Fmáx e da ATQ sobre suas variáveis máximas. O presente estudo teve como objetivo investigar a relação da Fmáx e da ATQ dos membros inferiores com o VO2máx e a Wmáx em teste no cicloergômetro. Material e métodos Sujeitos Participaram da presente investigação nove voluntários masculinos (Tabela I), aparentemente saudáveis, avaliados em dois momentos (M1 e M2) entremeados por no mínimo dois e no máximo 14 dias. Em M1 realizou-se as medidas antropométricas e o TE no cicloergômetro (Monark® Brasil). Em M2 realizou-se um teste de uma repetição máxima (1RM) no aparelho Leg Press Horizontal (Manejo-Fitness, Brasil) para 69 determinação da Fmáx. Foi recomendado para o dia prévio aos exames, a abstinência de atividades físicas extenuantes (≥ 5 METs) e a manutenção da dieta mista. Foi recomendado também evitar a ingestão de alimentos e cafeína nas três horas precedentes ao esforço. Nenhum dos voluntários participou de treinamentos de exercícios resistidos para membros inferiores. Os sujeitos preencheram um termo de consentimento e esclarecimento. Os procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro para Estudos com Seres Humanos. Tabela I - Características dos sujeitos. Média ± DP Idade (anos) 22 ± 2 Estatura (cm) 176,6 ± 4,4 Peso (kg) 73,3 ± 8,8 %gor (%) 14,3 ± 5,7 LBM (kg) 62,6 ± 6,4 Circ-d (cm) 51,6 ± 3,0 %gor-d (%) 14,8 ± 5,6 Circ-e (cm) 52,1 ± 3,2 %gor-e (%) 14,9 ± 5,8 Mínimo 18 166,1 62,0 7,0 51,4 47,5 9,5 48,0 9,0 Máximo 25 188,9 92,4 24,0 71,1 58,5 25,0 57,0 25,0 %gor = percentual de gordura corporal; LBM = massa corporal magra; Circ-d e Circ-e = circunferência do ponto médio da coxa direita e esquerda; %gor-d e %gor-e = percentual de gordura anterior da coxa direita e esquerda. Antropometria Primeiramente, foram realizadas as medidas de dobras cutâneas (DC) e perimetria dos membros superiores e inferiores. Para medidas de circunferências utilizou-se uma trena metálica. As medidas de DC foram verificadas através de um adipômetro (Cescorf®, clínico, precisão 1 mm). Para determinação dos componentes corporais, percentual de gordura (%gor) e massa corporal magra (LBM), foi utilizado o protocolo de 3DC de Pollock [11], o qual estima densidade corporal para ser, posteriormente, transformada em %gor e a LBM determinada pela subtração do peso total pelo peso gordo. Para cada sujeito foi medido o comprimento da coxa direita e esquerda, do trocânter ao côndilo medial, fazendo a mensuração do ponto médio e dobra cutânea anterior da coxa a 50% de distância neste comprimento. A área de corte transverso muscular do quadríceps da coxa direita (ATQD) e esquerda (ATQE), foi determinada através da seguinte equação descrita por Housh et al. [12]: ATQD, E = (2,52 x circunferência medial da coxa em cm) – (1,25 x dobra cutânea anterior da coxa em mm) – 45,13. A ATQ foi dada pela soma das áreas de corte transverso dos membros inferior direito e esquerdo. Assim: ATQ = ATQD + ATQE em cm2. 70 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Protocolo do teste de esforço Foi empregado o protocolo escalonado, continuo e máximo, constituído do repouso inicial de seis minutos sentado no cicloergômetro, seguido pelo aquecimento de quatro minutos pedalando sem carga e, posteriormente, pela fase escalonada com duração máxima ocorrendo entre oito e 12 minutos [5]. Os incrementos da sobrecarga postos a cada minuto foram calculados através de equação de predição da carga máxima [13], usando uma cadência constante. A cadência foi de 60 rpm e controlada através de um metrônomo audiovisual. As variáveis de trocas gasosas e ventilatórias foram medidas por um analisador metabólico (Aerosport TEEN 100, EUA) de circuito aberto e por um pneumotacógrafo de fluxo médio (Hans Rudolph, EUA). Esses dados foram registrados a cada 20 segundos. A frequência cardíaca foi monitorada ao longo do exame por meio de um cardiotacômetro (Polar Vantage, NV, Finlândia). Previamente a cada exame foram realizadas as calibragens dos equipamentos. Calibrou-se o ergoespirômetro em circuito fechado, fornecendo uma mistura de gases (AGA, Brasil). O fluxo de gases foi calibrado através de uma seringa de três litros (Hans Rudolph, EUA) e o cicloergômetro por um lastro de 3 kg. Os testes foram considerados máximos quando observados pelo menos três dos seguintes critérios segundo Howley et al. [6]: platô no VO2 ( aumento ≤ 150mL. min-¹ ou 2 mL.kg-¹. min-¹), RER (respiratory exchange ratio) ≥ 1,15, FCMax ≥ 90% da prevista pela idade (220 - idade), índice de percepção de esforço ≥ 18 (tabela de BORG de 6 a 20), e fadiga voluntária máxima com incapacidade de manutenção do ritmo préestabelecido. Respectivamente, o VO2máx e a Wmáx foram dados pelo consumo de oxigênio mais alto e pela última carga suportada ao final do teste. Para cada sujeito, após o TE acima descrito, foi calculada a média por minuto do VO2 (L.min-1) integrado a cada 20 segundos e da potência física (W) ao final de cada estágio e ao final do TE para análise de regressão. A Δef foi determinada observando a inclinação da reta de cada sujeito [14]. Com o objetivo de reduzir a margem de erro no teste adotaram-se os seguintes procedimentos [15]: a) instruções padronizadas antes do teste, de modo que o avaliado estivesse ciente de toda a rotina envolvida na coleta de dados; b) o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução do exercício através da familiarização com o aparelho e execução do exercício sem carga para reduzir o efeito de fadiga; c) o avaliador estava atento quanto à posição adotada pelo praticante; d) todos os sujeitos executaram o teste no mesmo período do dia. Análise estatística Os dados foram tratados através da estatística descritiva (média DP). A relação das variáveis estudadas no presente estudo foi tratada por análise de regressão. Para todos os testes foi adotado o nível de significância de ≤ 0,05. No presente estudo foram usados os aplicativos Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS, EUA) versão 10.0 e Microsoft Excel® para Windows XP® (EUA). Resultados Os valores das variáveis de M1 e da variável de M2 estão descritos na Tabela II. Tabela II - Valores em média ± DP das variáveis de M1 e M2. ATQD (cm2) ATQE (cm2) ATQ (cm2) FCmáx (bpm) Wmáx (W) VO2máx (L.min-1) VO2máx (mL.kg-1.min-1) ∆ef (mL min W-1) Fmáx (kg) . -1. Média ± DP 68,3 ± 7,4 67,5 ± 6,4 135,9 ± 13,7 184,0 ± 16,0 270,0 ± 30,0 3,40 ± 0.98 Mínimo 59,6 60,8 120,4 162,0 240,0 1,72 Máximo 82,2 81,6 163,8 204,0 330,0 4,34 46,6 ± 12,4 11,1 ± 2,80 94,3 ± 13,4 27,8 6,40 83,0 63,0 13,6 125,0 ATQD e ATQE = Áreas de corte transverso muscular do quadríceps do membro direito e esquerdo; ATQ = soma de ATQD e ATQE; FCmáx = Freqüência Cardíaca Máxima; Wmáx = Carga Máxima; VO2máx = Potência Aeróbia Máxima em dados absolutos e relativos; ∆ef = Eficiência mecânica delta e Fmáx = Força Muscular Máxima. Determinação da força dinâmica máxima Os sujeitos realizaram um aquecimento e uma familiarização prévia no aparelho com duas series de 10 repetições com intervalo de um minuto entre séries. Seguidamente executaram até três tentativas para mensuração da 1RM com intervalos de três a cinco minutos. Os sujeitos fizeram movimento bilateral dos membros inferiores chegando à 90º na fase excêntrica. Os sujeitos foram aconselhados a executarem duas repetições no aparelho, sendo determinada a Fmáx quando os sujeitos conseguissem executar somente uma repetição. A Tabela III apresenta a matriz de correlação das variáveis estudadas. Observamos que a Fmáx apresentou correlação significativa com a ATQ de p ≤ 0,01 e r2 = 0,66. A Fmáx não apresentou correlação significativa ao VO2máx (p = 0,200; r2 = 0,22) e a Wmáx (p = 0,293; r2 = 0,16). A Δef também não apresentou resultados significativos para ATQ (p = 0,176; r2 = 0,24) e para Fmáx (p = 0,265; r2 = 0,18). Já a partir de ATQ tivemos correlações significativas com o VO2máx (p = 0,036; r2 = 0,49) e com a Wmáx (p = 0,018; r2 = 0,58). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 * Significativo para ≤ 0,05; ** significativo para ≤ 0,01. Fmáx = Força dinâmica máxima; ATQ = Área de corte transverso muscular do quadríceps; VO2máx = Potência aeróbia máxima; Wmáx = Potência máxima; ∆ef = Eficiência mecânica delta. Discussão Recomenda-se a progressão 10% da carga máxima por minuto no protocolo escalonado, continuo e máximo para determinação do VO2máx. O teste deve ser finalizado por meio de critérios de esforço máximos entre oito e 12 minutos. Baseando-se numa melhor avaliação neste protocolo em cicloergômetro, o presente estudo investigou a relação da Fmáx dos membros inferiores com a ATQ e suas influências sobre o VO2máx, a Wmáx e a Δef. A ATQ apresentou correlação significativa e positiva com a Fmáx (Tabela III) confirmando a associação relatada em outros estudos [9,10,16]. Investigando a influência da Fmáx com as variáveis máximas apresentadas aqui no estudo no TE não foram observadas relações significativas (tabela III). Outros estudos que investigaram a influência da força muscular sobre variáveis máximas em TE, sendo esta a partir de treinamento ou não e em protocolos de esforço diferentes, encontraram resultados significativos somente para voluntários idosos. Frontera e cols. [17] analisaram o efeito do treinamento da força muscular em variáveis máximas no TE em cicloergômetro com idosos e observou significância no VO2máx relativo a LBM, relatando a importância da massa muscular. Segundo Izquierdo e cols. [8], em seu estudo, encontrou-se relação entre a Wmáx e Fmáx também somente para idosos e não para adultos de meiaidade. A pesquisa propõe que a força muscular máxima por decrescer com o envelhecimento, indivíduos idosos teriam uma maior influência e necessidade da força sobre a Wmáx. No estudo de Loveless et al. [7], pesquisando o efeito do treinamento da Fmáx anterior ao TE em cicloergômetro a partir de testes de 1RM não verificou aumento significativo no VO2máx, mesmo com a ocorrência de teste de repetibilidade. O teste de repetibilidade da Fmáx visa atenuar o erro de determinação, recomendando-se no mínimo três sessões de testes para se ter uma estabilização da Fmáx [18]. Contrapondo os achados no presente estudo sobre a Fmáx, a ATQ teve relação significativa com o VO2máx e a Wmáx. A partir da Figura 1 podemos observar a dispersão de ATQ sobre o VO2máx e a Wmáx apresentando a equação da reta de VO2máx = 0.636ATQ – 39.75 e da Wmáx = 0.328ATQ + 46.02 e coeficiente de determinação nos mostrando uma influência de Figura 1 - Diagrama de dispersão entre ATQ sobre o VO2máx e a Wmáx. 80 VO 2max (ml .kg .-1min -1) Fmáx ATQ VO2máx Wmáx ∆ef 1.00 0.81** 0.47 0.40 0.42 Fmáx (kg) ATQ (cm2) 1.00 0.70* 0.76* 0.49 1.00 0.75* 0.87** VO2máx (mL.kg-1.min-1) 1.00 0.56 Wmáx (W) 1.00 ∆ef (mL.min-1.W-1) 49 e 58%, respectivamente. Numa pesquisa semelhante ao de nosso estudo, Shephard et al. [19] mostraram que o volume muscular das pernas, variável que também pode predizer a Fmáx, tem uma relação significativa com o VO2máx (r = 0,79). ATQ é determinada por técnicas avançadas como a Imagem de Ressonância Magnética [20] e/ou Ultrassom [21], ou por técnicas mais simples, como análise antropométrica, visando um menor custo e praticidade. A equação proposta por Housh et al. [12], descrita e utilizada em nossa pesquisa, tem R = 0.86 e erro padrão da estimativa (EPE) igual a 0.92 para ATQ. Assim, dentro dos patrões para validação a partir de regressões. Com isto, a estimativa da ATQ por antropometria nos garantiu uma avaliação mais confiável da Fmáx e um resultado mais satisfatório em relação ao VO2máx e a Wmáx. Os achados aqui encontrados mostram que a ATQ exerce influência sobre variáveis máximas, podendo ser preditora do VO2máx e da Wmáx determinadas no protocolo de esforço aqui apresentado. 60 40 y = 0.636x - 39.75 r² = 0.489 20 0 350 W máx (W) Tabela III - Matriz de correlação das variáveis de M1 e M2. 71 300 y = 0,328x + 46,02 r 2 = 0,575 250 200 100 120 140 160 180 2 A TQ(cm ) Conclusão Portando o presente estudo concluiu que a ATQ apresentou uma associação de moderada a boa com o VO2máx e a Wmáx e não apresentou associação com a Δef determinadas em protocolo de teste com incremento de um minuto. As últimas variáveis não apresentaram associação com a Fmáx. Para pesquisas futuras sugerimos analisar ATQ a partir de métodos mais avançados, utilizar outros fatores representativos do componente anaeróbio como a potência muscular e analisar a influência de interação entre as variáveis estudadas no presente estudo em diferentes populações, principalmente a idosa. 72 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Agradecimentos Agradeço ao Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro na pessoa do Dr. Aluysio S. Aderaldo Jr. por possibilitar a execução do teste de esforço máximo no laboratório de capacidade física (conveniado com a EEFD/UFRJ) e ao centro esportivo G. Reis - Salesianos na pessoa do Prof. Geraldo Reis por possibilitar a execução do teste de uma repetição máxima em seu setor de musculação. Agradeço também aos amigos e professores Fernando Nogueira, Paula Magrani e Lucenildo Cerqueira por ajudarem na coleta de dados. Referências 1. Hollmann W, Prinz JP. Ergoespirometry and its history. Sports Med1997;23:93-105. 2. Astrand PO, Rodahl K, Dahl HA, Stromme SB. Evaluation physical performance on the basis of tests. In: Textbook of work physiology. 4th ed. Champaign: Human Kinetics; 2003:273-97. 3. Jones NL. Clinical exercise testing. 4th ed. Philadelphia: W. B. Saunders; 1997. 4. Wasserman K, Whipp BJ, Koyal SN, Beaver WL. Anaerobic threshold and respiratory gas exchange during exercise. J Appl Physiol 1973;35:236-43. 5. Buchfuhrer MJ, Hansen JE, Robnison DY, Sue DY, Wasserman K, Whipp BJ. Optimizing the exercise protocol for cardiopulmonary assessment. J Appl Physiol 1983;55:1558-64. 6. Howley ET, Basset Junior DR, Welch HG. Criteria for maximal oxygen uptake: review and commentary. Med Sci Sports Exerc 1995;27:1292-301. 7. Loveness DJ, Weber CL, Haseler LJ, Schneider DA. Maximal leg-strength training improves cycling in previously untrained men. Med Sci Sports Exerc 2005;37:1231-6. 8. Izquierdo M, Häkkinen K, Antón A, Garrues M, Ibañes J, Ruesta M, Gorostiaga EM. Maximal strength and power, endurance performance, and serum hormones in middle-aged and elderly men. Med Sci Sports Exerc 2001;33:1577-87. 9. Bruce SA, Phillips SK, Woledge RC. Interpreting the relation between force and cross-sectional area in human muscle. Med Sci Sports Exerc 1997;29:677-83. 10. Wernbom M, Augustnnon J, Thomeé R. The influence of frequency, intensity, volume and mode of strength training on whole muscle cross-sectional area in humans. Sports Med 2007;37:225-64. 11. Pollock ML, Wilmore J. Exercício na saúde e na doença. 2th ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1993. 12. Housh DJ, Housh TJ, Weir JP, Weir LL, Johnson GO, Stout JR. Anthropometric estimation of thigh muscle cross-sectional area. Med Sci Sports Exerc 1995;27:784-91. 13. Nogueira FS, Pompeu FAMS. Modelos para predição da carga máxima no teste clínico de esforço cardiopulmonar. Arq Bras Cardiol 2006;87:137-45. 14. Poole DC, Gaesser GA, Hogan MC, Knight DR, Wagner PD. Pulmonary and leg VO2 during submaximal exercise: implications for muscular efficiency. J Appl Physiol 1992;72:805-10. 15. Monteiro W, Simão R, Farinatti P. Manipulação na ordem dos exercícios e sua influência sobre o número de repetições e percepção subjetiva do esforço em mulheres treinadas. Rev Bras Med Esporte 2005;11:146-50. 16. Higbie EJ, Cureton KJ, Warren III, Prior BM. Effects of concentric and eccentric training on muscle strength, cross-sectional area, and neural activation. J Appl Physiol 1996;81:2173-81. 17. Frontera WR, Meredith CN. Strength training and determinants of VO2máx in older men. J Appl Physiol 1990;68:329-33. 18. Pereira MIR, Gomes PSC. Testes de força e resistência muscular: confiabilidade e predição de uma repetição máxima – revisão e novas evidências. Rev Bras Med Esporte 2003;9:325-35. 19. Shepard RJ, Boulehlel E, Vanderwalle H, Monod H. Muscle mass as a factor limiting physical work. J Appl Physiol 1988;64:1472-9. 20. Tracy BL, Ivey FM, Metter J, Fleg JL. A more efficient magnetic resonance imaging-based strategy for measuring quadriceps muscle volume. Med Sci Sports Exerc 2003;35:425-33. 21. Bemben MG. Use of diagnostic ultrasound for assessing muscle size. J Strength Cond Res 2002;16:103-08. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 73 Artigo original Consumo de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico Intake of hydroelectrolytic solutions in physical activity practitionners Gabriela da Silva Ferreira*, Aline Pristilo Domingues**, Lúcia Regina Cardoso Alves***, Luiz Roberto Lourena Gomes da Costa, M.Sc.****, Milena Costa Menezes Cornacini, D.Sc.***** *Nutricionista Técnica de Laboratório Jr A da Universidade Paulista de Araçatuba, Nutricionista da Associação Abrampeme de Araçatuba, **Pós-Graduanda em Terapia Nutricional Clínico Hospitalar, ***Pós-Graduanda em Gestão e Gastronomia em Serviços de Alimentação, ****Docente da Universidade Paulista de Araçatuba, *****Coordenadora e Docente do curso de Nutrição da Universidade Paulista de Araçatuba Resumo Abstract Introdução: O exercício físico impõe a perda de líquidos e eletrólitos, principalmente pelo suor, e quando não repostos adequadamente, pode levar a prejuízos no rendimento de treino e ao organismo. Objetivo: Avaliar a frequência de ingestão de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico. Material e métodos: Foram selecionados 51 praticantes de exercício físico de uma academia da cidade de Araçatuba/SP. Os indivíduos foram submetidos à avaliação do estado nutricional através do índice de massa corporal (IMC) e investigação sobre o uso de repositores hidroeletrolíticos. Aplicouse 25 questões com objetivo de caracterizar a população quanto ao tipo de exercício físico, duração de treinos, frequência de consumo de repositores hidroeletrolíticos, indicação, efeitos colaterais, resultados obtidos entre outras informações necessárias. Resultados: O IMC demonstrou maior frequência de sobrepeso (47,05%). Dezoito (35%) dos indivíduos tomavam repositores hidroeletrolíticos, prevalecendo os homens. Houve alto grau de instrução e poder aquisitivo; a musculação era a atividade mais frequente. Quanto à recomendação houve prevalência pela autoindicação e orientação de personal, com citação do conhecimento do produto pela mídia. A maioria relatou ausência de efeitos colaterais e todos descreveram benefícios do uso dos repositores hidroeletrolíticos. Conclusão: A frequência do uso de repositores hidroeletrolíticos foi baixa, sendo a autoindicação ou por personal uma realidade. Houve benefícios do uso dos repositores hidroeletrolíticos na população investigada. Introduction: The physical exercise imposes the loss of liquids and electrolytes, mainly by sweat, and when they are not replaced adequately, may affect training performance and body. Objective: To evaluate frequency of hydroelectrolytic replacement intake in participants of a physical exercise program. Material e methods: 51 participants of a physical exercise program of one fitness center of Araçatuba/SP were selected. The individuals were submitted to a nutritional assessment status through body mass index (BMI) and investigation about the use of hydroelectrolytic replacements. 25 questions were administered aiming to characterize the population concerning types of physical exercise, training duration, frequency of hydroelectrolytic replacement intake, person who recommended, collateral effects, results from other information. Results: The BMI showed predominance of overweight (47.05%). Eighteen (35%) individuals used hydroelectrolytic beverages, prevailing men. High education level and high purchase power was observed among the participants; bodybuilding was the favorite exercise. Regarding recommendation there was prevalence for self-indication and personal trainer, but also through mass media. The majority related absence of collateral effects and everybody described benefits after using hydroelectrolytic beverages. Conclusion: We concluded that hydroelectrolytic beverages were not used very often, and were recommended by personal trainer or by mass media. The investigated population reported benefits when using them. Palavras-chave: alimentos para praticantes de atividade física, exercício físico, hidratação, eletrólitos. Key-words: foods for persons engaged in physical activities, physical exercise, hydration, electrolysis. Recebido 11 de dezembro de 2009; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Gabriela da Silva Ferreira, Rua Duque de Caxias, 36/73, Centro 16010-410 Araçatuba SP, Tel: (18) 9704-4006, E-mail: [email protected] 74 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução É consenso que a alimentação e a hidratação inadequadas ao praticante de exercício físico afetam diretamente à saúde, o peso e a composição corporal, além de prejudicarem a disponibilidade de substratos durante o exercício, quanto à recuperação, o desempenho físico e, consequentemente a qualidade de vida [1]. Durante a atividade muscular ocorre um aumento na produção de calor no organismo, que é dissipado em parte pela produção de suor [1]. O estresse do exercício é acentuado pela desidratação, a qual eleva a temperatura corporal, prejudicando as respostas fisiológicas e o desempenho físico produzindo riscos à saúde [2]. Estes efeitos podem ocorrer mesmo que a desidratação seja leve ou moderada, com até 2% de perda do peso corporal, agravando-se à medida que ela se acentua [3]. Quando ocorre sudorese excessiva por período prolongado, com ausência de reposição suficiente de sódio e/ou de fluídos como a água, pode instalar-se um quadro de hiponatremia, que se caracteriza por fraqueza, lassidão, apatia, cefaléia, hipotensão ortostática, taquicardia e choque. Até a pele é afetada, ocorre a diminuição da elasticidade, e dependendo da quantidade perdida de sódio, pode surgir confusão mental, alucinação e coma [4]. É possível surgir deficiência de cloreto, o qual se expressa por espasmos musculares e, quando intensa, pode acarretar coma e depressão respiratória. A hipocalemia pode ser consequência da sudorese excessiva expressando-se por apatia, mal-estar, náuseas, vômitos, distensão abdominal e até íleo paralítico. Pode associar-se com hipotensão postural e com redução da pressão diastólica [5]. Assim, é de fundamental importância a adequação no consumo de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico, a fim de evitar carências e excessos de líquidos e nutrientes. Para tanto, profissionais especializados como nutricionistas ou médicos de esportes estarão aptos para a prescrição. De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina no Esporte (SBME) [6], quando o exercício físico praticado for prolongado, de mais de uma hora de duração, ou para as atividades de elevada intensidade recomenda-se a ingestão de repositores hidroeletrolíticos e não apenas de água [7]. Segundo Monteiro et al. [8], em exercícios prolongados em que a depleção de substratos ocorre e/ou durante o exercício realizado no calor levando a um quadro de desidratação, a ingestão regular de repositores hidroeletrolíticos irá amenizar os fatores indesejáveis que são prejudiciais ao desempenho. Maughan et al. [9] esclarecem que a reidratação após o exercício não deve se restringir só ao volume de água perdido mas também a reposição de eletrólitos, principalmente o sódio que é eliminado em grandes quantidades através do suor. Para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado, recomenda-se que beba cerca de 250 a 500 ml de água duas horas antes do exercício. Durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos. O volume a ser ingerido varia conforme as taxas de sudorese, na faixa de 500 a 2.000 ml/hora. Após o exercício, deve-se continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de água pela urina e sudorese [6]. Segundo Bar-Or [10], um procedimento simples e efetivo para determinar a quantidade de líquidos a ser ingerido é pesar o indivíduo antes e depois da prática do exercício físico, pois as modificações na massa corporal são causadas praticamente pela perda de fluídos. Para minimizar a possibilidade de exaustão pelo calor e outras formas de doenças provocadas por ele, recomenda-se que as perdas hídricas devido à transpiração durante o exercício sejam repostas em quantidades próximas ou iguais à da taxa de sudorese [11]. É indiscutível a importância da boa hidratação, porém, quando se trata do consumo dos repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico, a literatura é escassa. Portanto, a avaliação do consumo habitual destes produtos torna-se relevante, a fim de investigar adequações sobre as recomendações, bem como as repercussões clínicas dos excessos e deficiências de líquidos e eletrólitos, pois a reposição hidroeletrolítica adequada melhora a performance e a qualidade de vida, minimizando as complicações durante o exercício físico. Este estudo pretende contribuir para disseminar os conhecimentos na área esportiva e nutricional, visando reduzir as repercussões negativas do uso incorreto desses produtos. Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar a frequência do consumo de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico. Material e métodos Foi realizado um estudo transversal exploratório e descritivo, investigando 51 frequentadores de uma academia da cidade de Araçatuba/SP, em demanda espontânea em diferentes faixas etárias e ambos os gêneros. O trabalho foi aprovado Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Paulista – UNIP (125/08). Como critérios de inclusão foram selecionados frequentadores da academia que praticassem exercício físico pelo menos duas vezes na semana por no mínimo 60 minutos, independente do horário da prática, com idade maior ou igual a 18 anos, de ambos os gêneros, e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Como critérios de exclusão, frequentadores crianças, adolescentes menores de idade, gestantes e indivíduos que se recusassem a participar do processo de avaliação proposto. Aplicou-se um formulário estruturado para a atual pesquisa contendo 25 questões com o objetivo de caracterizar a população quanto ao tipo de exercício físico, duração de treinos, frequência de consumo de repositores hidroeletrolíticos, conhecimento do produto, indicação, efeitos colaterais, resultados obtidos entre outras informações necessárias. Todos os dados foram registrados em planilha Excel, no qual foram Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 75 tica de exercício físico de 2 horas, sendo que 03 praticantes treinavam de 1 a 2 vezes, 25 de 3 a 4 e 23 treinavam 5 ou mais vezes na semana. As modalidades descritas de exercícios praticados foram: musculação, aeróbica e associação de musculação e aeróbica. O exercício físico mais praticado foi a musculação, descrito em 54,86% dos investigados, com maior frequência em homens. De acordo com a SBME [6], quando o exercício físico praticado for prolongado, de mais de uma hora de duração, ou para as atividades de elevada intensidade recomenda-se a ingestão de repositores hidroeletrolíticos. Em atividades com até 60 minutos de duração a água é a bebida mais adequada, porém quando o exercício é superior a 60 minutos, a utilização de produtos que contenham carboidrato passa a ter uma importância considerável [6], recomendação não adotada efetuadas as análises estatísticas. Foi realizada análise descritiva dos dados calculando a média e a frequência. Resultados e discussão Dos 51 indivíduos que responderam o formulário, 40 (78,43%) eram homens e 11 (21,56%) mulheres. A média de idade entre os praticantes foi de 27 anos. Observou-se que 37 (72,54%) dos entrevistados eram solteiros, a maioria 26 (50,97%) possui grau de escolaridade superior completo, a renda familiar prevalente foi entre 6 a 10 salários mínimos encontrada em 22 (43,13%) dos entrevistados (Tabela I), refletindo alto grau de instrução e poder aquisitivo. A Tabela II descreve a média de horas de exercícios físicos praticados. Observa-se maior frequência de duração da prá- Tabela I - Dados socioeconômicos dos praticantes de exercício físico. Araçatuba, 2008. Variáveis investigadas Masculino n Escolaridade Superior completo Superior incompleto Segundo Grau completo Segundo Grau incompleto Primeiro Grau completo Primeiro Grau incompleto Renda familiar mensal em salários mínimos 0–1 2–5 6 – 10 Acima de 10 Ignorado Estado civil Solteiro Casado Viúva % Feminino n % Total n % 21 9 8 1 1 41,17 17,64 15,68 1,96 1,96 5 2 4 - 9,8 3,92 7,84 - 26 11 12 1 1 50,97 21,56 23,52 1,96 1,96 1 9 18 11 1 1,96 17,64 35,29 21,56 1,96 1 4 3 3 1,96 7,84 5,88 5,88 1 10 22 14 4 1,96 19,6 43,13 27,44 7,84 31 9 - 60,78 17,64 - 6 4 1 11,76 7,84 1,96 37 13 1 72,54 25,48 1,96 Tabela II - Frequência, duração e modalidade de exercício praticado de praticantes de exercício físico. Araçatuba, 2008. Variáveis investigadas Masculino n Frequência de prática de exercício na seman 1–2 3 3–4 18 5 ou mais 19 Horas praticadas de exercício físico no dia 1–2 32 3–4 3 Acima de 4 1 Ignorado 4 Modalidade de exercício Musculação 27 Aeróbica 1 Musculação e Aeróbica 3 Ignorado 9 % Feminino n % Total n % 5,88 35,29 37,25 7 4 13,72 7,84 3 25 23 5,88 49,01 45,09 62,74 5,88 1,96 7,84 11 - 21,56 - 43 3 1 4 84,3 5,88 1,96 7,84 50,98 1,96 5,88 17,64 2 1 6 2 3,92 1,96 11,76 3,92 29 2 9 11 54,9 3,92 17,64 21,56 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 pelos participantes investigados, observando que a maioria pratica exercício físico acima de 1 hora, sendo que apenas 18 (35,29), usam os repositores hidroeletrolíticos, como pode ser evidenciado na Figura 1. Figura 2 - Indicação de repositores hidroeletrolíticos em praticantes de exercício físico. Araçatuba, 2008. Figura 1 - Frequência de consumo de repositores hidroeletrolíticos nos praticantes de exercício físico. Araçatuba, 2008. Percentual (%) 76 70 62,74 Percentual (%) 60 50 40 35,29 30 20 10 0 Não 44,44% Auto indicação 44,44% Personal 5,55% 5,55% Nutricionista Amigos Alguns autores indicam que é relevante prescrever bebidas adequadas aos praticantes de exercício físico [11]. Igualmente importante seria trabalhar a educação dos técnicos, treinadores, parentes e praticantes de exercício físico a respeito dos benefícios da hidratação adequada e dos repositores hidroeletrolíticos, estimular programas de hidratação e pesá-los antes e após o treinamento. A freqüência no consumo dos repositores hidroeletrolíticos foi investigada em consumo raro, diário e semanal. A freqüência rara foi a mais relatada, com preferência do uso após a prática do exercício físico, com volume médio ingerido de 300 ml, como demonstra a tabela III. Segundo o Colégio Americano de Medicina do Esporte – ACSM [13], a estratégia mais correta de hidratação é aquela realizada antes, durante e após o exercício realizado, pois a hidratação antes do exercício objetiva potencializar as reservas líquidas, e qualquer déficit de líquido pode comprometer a termorregulação; a hidratação durante o exercício visa tentar equilibrar a perda de líquido diminuindo as possibilidades de lesão térmica e exaustão prematura; já a reposição hídrica após o exercício tem por objetivo restaurar os estoques hídricos 1,96 Sim 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Ignorado Para Drumond [12], o nível de conhecimento sobre hidratação e sua prática entre atletas do Olímpico Club, da cidade de Belo Horizonte/MG, foi pequeno e pode-se observar que o consumo de repositores hidroeletrolíticos foi relativamente baixo, assim como nossos dados encontrados. Segundo Brito [13], avaliando atletas da modalidade de judô, constatou que a maioria ainda não tem nenhum tipo de orientação sobre a maneira correta de se hidratarem. O consumo de água é predominante para a hidratação da maioria dos atletas, apesar da importância dos repositores hidroeletrolíticos que são pouco utilizados por estes. No que concerne à prescrição ou recomendação, houve semelhança em autoindicação e orientação de personal trainer quanto aos repositores hidroeletrolíticos, sendo 44,44% cada. A prescrição do nutricionista foi relatada por apenas um indivíduo e não houve relato de prescrição médica (Figura 2). Tabela III - Período de ingestão, frequência e volume de repositores hidroeletrolíticos. Araçatuba, 2008. Variáveis investigadas Período de ingestão Antes Durante Após Antes, durante e após Antes e após Durante e após Freqüência Diário Semanal Quinzenal Raro Volume 300ml 300 a 700ml Masculino n % Feminino n % Total n % 4 7 3 1 1 22,22 38,38 16,66 5,55 5,55 2 - 11,11 - 4 9 3 1 1 22,22 49,49 16,66 5,55 5,55 6 3 7 33,33 16,66 38,88 2 - 11,11 - 6 5 7 33,33 27,77 38,88 15 1 83,83 5,55 2 - 11,11 - 17 1 94,94 5,55 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 corporais, deixando o indivíduo em condições adequadas para iniciar nova atividade sem comprometimento de desempenho decorrente de desidratação. Nossos achados demonstram que a ingestão dos repositores hidroeletrolíticos após o exercício atendeu as recomendações do ACSM [13]. A desidratação durante o trabalho físico causa alterações significativas das funções corporais em nível cardiovascular, termorregulador, metabólico e endócrino. Estes efeitos são observados não somente quando ocorre uma desidratação com a realização de trabalho físico intenso, como também, quando iniciada uma tarefa motora em condições de hipohidratação e/ou déficit hídrico. Contudo, com a ingestão de volumes de líquidos que contenham os equivalentes das perdas de água e nutrientes perdidos com a sudorese, previne-se a desidratação e alterações funcionais no organismo [14]. Conclusão A frequência no consumo de repositores hidroeletrolíticos foi baixa, encontrada apenas em 18 (35,29%) dos investigados, com prevalência na população adulta, jovem, masculina e alto poder aquisitivo. O consumo de repositores hidroeletrolíticos não foi evidenciado em todos os praticantes de exercício físico que necessitavam destes produtos, podendo contribuir para uma significativa piora na performance, na saúde e na qualidade de vida da população investigada. Há a necessidade da inserção de profissionais especializados na área esportiva, como médicos e nutricionistas do esporte, a fim de que se faça a prescrição adequada dos repositores hidroeletrolíticos, assim como estimular programas de hidratação, além de trabalhar a educação de técnicos, treinadores e toda a população envolvida na vida do praticante de exercício físico. 77 Referências 1. Bertolucci P. Nutrição, hidratação e suplementação do atleta: Um desafio atual. Nutrição em Pauta 2002;54:57-62. 2. Rabello FH, Kapazi IM. Avaliação das perdas hídricas e necessidades de hidratação em jogadores profissionais de futebol da cidade de Florianópolis/SC. Nutrição em Pauta 2005;75:48-53. 3. Perrella MM, Noriyuki OS, Rossi L. Avaliação da perda hídrica durante treino intenso de rugby. Rev Bras Med Esporte 2005;11(4):229-32. 4. Oliveira JED, Marchini JS. Ciências nutricionais. In: Enio RPP. Água e eletrólitos São Paulo; Savier; 2000. p. 107-31. 5. Waitzberg DL. Nutrição oral, enteral e parenteral na prática clínica. In: Borges VC, Ferrini MT, Waitzberg DL, Oliveira GPC, Bottoni A. Minerais. 3ª. ed. São Paulo: Atheneu; 2000; p.185-199. 6. Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med Esporte 2003;9(2):43-56. 7. Gisolf CV, Duchman SM. Guidelines for optimal replacement beverages for different athletic events. Med Sci Sports Exerc 1992;24(6):679-87. 8. Monteiro CR, Guerra I, Barros TL. Hidratação no futebol: uma revisão. Rev Bras Med Esporte 2003;9(4):238-42. 9. Maughan RJ, Leiper JB, Shirreffs SM. Rehydration and recovery after exercise. Sports Sci Exch 1996;9(62):1-5. 10. Bar-Or O. Nutrition for child and adolescent athlete. Sports Sci Exch 2000;13(2):77. 11. American College of Sports Medicine. Position Stand: exercise and fluid replacement. Med Sci Sports Exerc 1996;28(1):1-7. 12. Drumond MG. Hidratação em atletas adolescentes – hábitos e nível de conhecimento. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva 2007;1(2):76-93. 13. Brito IP. Considerações atuais sobre reposição hidroeletrolítica no esporte. Nutrição em Pauta 2003;62(5):48-52. 14. Simões MC. Formulação de um repositor hidroeletrolítico para o trabalho físico ostensivo de policiais militares, adaptado as variações climáticas de Florianópolis [Tese]. Universidade Federal de Santa Catarina; 2003. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 78 Artigo original Efeitos de 11 semanas de diferentes tipos de treinamento de força sobre a massa óssea de jovens do sexo masculino Effects of an eleven week period of different types of strength training upon young men bone mass Débora Wagner*, Roger Dahlke*, Luana Carvalho Picolini**, Rodrigo Ghedini Gehler**, Patrícia Somavilla**, Daniela Lopes dos Santos*** *Graduados em Educação Física pela UFSM, **Especializandos em Atividade Física, Desempenho Motor e Saúde/UFSM, ***Professora Associada do Departamento de Métodos e Técnicas Desportivas do Centro de Educação Física e Desportos da UFSM Resumo Abstract Exercícios físicos, como o treinamento de força, podem evitar o aparecimento da osteoporose, aumentando a densidade mineral óssea. Objetivou-se verificar o comportamento da densidade mineral óssea de homens submetidos aos treinamentos musculares de hipertrofia e resistência muscular localizada. Participaram do estudo 8 sujeitos (23 anos ± 2,82) que realizaram o treinamento de hipertrofia e 8 (20 anos ± 0,81) que desenvolveram o de resistência muscular localizada durante 11 semanas. A densidade mineral óssea foi avaliada através da densitometria óssea. Observou-se que no grupo de hipertrofia, 4 sujeitos aumentaram sua densidade mineral óssea quando os valores pré e pós-treinamento foram comparados, porém não de maneira estatisticamente significativa. No treinamento de resistência muscular localizada obteve-se um resultado similar, pois 7 sujeitos aumentaram sua densidade mineral óssea, mas não de forma significativa. Os 5 sujeitos restantes apresentaram uma leve redução nos seus valores densidade mineral óssea, sendo que 1 deles participou do grupo de resistência muscular localizada e 4 do grupo de hipertrofia. Realizando-se uma comparação entre os valores pré e pós-treinamento dos grupos de hipertrofia e resistência muscular localizada não se constatou diferenças estatisticamente significativas. Justifica-se o fato do leve aumento ocorrido não ter sido significativo ao curto período de treinamento. Physical exercises such as strength training (ST) may avoid osteoporosis, increasing bone mineral density (BMD). The purpose of this study was to verify the BMD of men submitted to hypertrophy muscle training and muscle resistance training. Eight subjects (23 ± 2.82 years old) participated in the hypertrophy training (HT) group and 8 subjects (20 ± 0.81 years old) in the muscle resistance training (MRT) group during 11 weeks. The BMD was evaluated with bone densitometry. It was observed that in the HT group, four subjects increased their BMD when pre and post training values were compared, but not in a statistically significant manner. In the MRT group a similar result was obtained, since seven subjects increased their BMD, but not in a statistically significant manner. The five other subjects presented a light reduction in their BMD values, observing that one of them participated in the MRT group and the other four in the HT group. When comparing pre and post training values in both groups there was no statistically significant difference. These results are justified by the short training period. Key-words: muscle training, bone mineral density, men, osteoporosis. Palavras-chave: treinamento muscular, densidade mineral óssea, homens, osteoporose. Recebido 10 de fevereiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Daniela Lopes dos Santos, Avenida Presidente Vargas, 1635/303, Centro 97015-511 Santa Maria RS, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução Materiais e métodos A osteoporose, caracterizada por uma baixa massa óssea e um aumento no risco de fraturas é mais frequente em mulheres, porém, também pode ocorrer em homens, sendo que 20% da osteoporose e um terço das fraturas [1] ocorrem neste público. Estudos mencionam que homens possuem uma densidade mineral óssea (DMO) aproximadamente 15% mais alta [2]. Uma das formas de prevenir a perda exagerada da massa óssea é através do treinamento de força. Atividades como esta causam estímulos osteogênicos devido ao aumento do stress mecânico nos ossos. Entretanto, o processo fisiológico responsável por este esforço não é claramente explicado, mas sugere-se que seja o efeito piezoelétrico ósseo. A presença de sinais bioquímicos parece refletir um campo elétrico decorrente da sobrecarga aplicada [3]. Essa teoria se aplica às deformações ósseas causadas por compressão, tensão, torção ou cisalhamento. Essas ações mecânicas geram diferença no potencial elétrico dos ossos, que agem como um campo elétrico, estimulador da atividade celular, levando a deposição de minerais nos locais de stress [3]. O período de treinamento também tem se apresentado como fator determinante para mudanças significativas na massa óssea, além da intensidade, volume ou tipo de contração envolvido no treinamento de força. Analisando alguns estudos, percebe-se que o tempo de treinamento varia desde semanas até meses ou anos. Menkes et al. [3] estudaram homens durante 16 semanas utilizando o treinamento de força com série decrescente. Outro estudo avaliou mulheres pós-menopausa durante 2 anos [4]. Apesar dessa grande variação de períodos, não foram encontrados estudos que avaliassem a massa óssea durante um tempo inferior a 16 semanas, sendo que muitos avaliaram a massa óssea em períodos maiores (24 semanas) [5,6]. A maioria dos estudos utiliza como amostras mulheres pré ou pós-menopáusicas [4-6], homens adultos mais velhos [3] e meninos pré-púberes [7,8]. O foco em relação à massa óssea de adultos jovens do sexo masculino tem sido baixo, principalmente em relação ao treinamento de força. Mesmo que na faixa etária entre 20 e 30 anos ocorra uma estabilização da massa óssea [9], não se pode afirmar que as pessoas desta idade não possam ser acometidas pela osteopenia. Como a osteoporose relaciona-se ao histórico de atividade física, vida sedentária e alimentação inadequada (pobre em cálcio), ela pode gerar até mesmo nesta faixa etária, ossos fracos e frágeis. Desta forma, este estudo justificou-se pela importância em ampliar o número de estudos que se referem ao público masculino jovem envolvendo treinamentos musculares específicos, como uma forma de prevenir a osteoporose. Objetivou-se verificar se ocorrem alterações na massa óssea através do treinamento de hipertrofia e resistência muscular localizada durante 11 semanas em homens de 18 a 30 anos. Grupo de estudo 79 Fizeram parte deste estudo 16 adultos jovens (18 a 30 anos) saudáveis do sexo masculino. Os sujeitos foram selecionados através de uma análise de seu histórico de atividade física, pois foram adotados critérios de inclusão como nunca ter praticado musculação e ser sedentário. Os 16 participantes do estudo foram divididos em 2 grupos. O primeiro grupo, contendo 8 participantes, realizou o treinamento de hipertrofia e o segundo grupo, também com 8 sujeitos, desenvolveu o treinamento de resistência muscular localizada. Os sujeitos tiveram a liberdade de escolher qual treinamento gostariam de desenvolver, a fim de evitar a desistência dos mesmos. Todos os voluntários foram informados a respeito do objetivo e dos procedimentos a serem adotados para a realização deste estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFSM sob o CAAE 0091.0.243.000-06 e seguiu todos os preceitos da Resolução 196/96 do CNS. Caracterização dos treinamentos musculares Os indivíduos realizaram um período de adaptação com duração de 2 semanas, com uma frequência de 3 vezes semanais e o mesmo número de séries, repetições e exercícios para ambos os grupos de treinamento (hipertrofia e resistência muscular localizada). Os treinamentos musculares de hipertrofia (HIP) e resistência muscular localizada (RML) foram desenvolvidos durante 9 semanas, adotando-se uma frequência de 3 vezes semanais. O treinamento de HIP consistiu de 3 séries de 10 repetições a 75% de 1 repetição máxima (1RM), e os exercícios foram concentrados por segmento muscular, adotando-se a inclusão de um exercício por grupo muscular, com exceção dos grandes grupamentos, nos quais adotou-se dois exercícios por grupo muscular. O treinamento de RML consistiu de 3 séries com 20 repetições a 60% de 1 RM com os exercícios também concentrados por segmento muscular. Seguiu-se o mesmo procedimento adotado no treinamento de HIP para a quantificação numérica de exercícios por grupo muscular [8]. O tempo de intervalo entre os exercícios para o treinamento de HIP foi de 1 minuto e 30 segundos e entre as séries foi de 1 minuto. Para o treinamento de RML adotou-se um tempo de intervalo entre os exercícios de 1 minuto e 30 segundos e entre as séries, de 45 segundos. Antes de iniciar os treinamentos foram realizados testes de 1 RM em todos os exercícios que seriam efetuados no programa de treinamento. Como a fase de adaptação ocorreu antes dos testes de 1 RM, os sujeitos estavam familiarizados com os exercícios. Para a realização dos testes de 1RM seguiu-se o protocolo estabelecido por Moura et al. [10]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 80 Mensuração da massa óssea Resultados Para verificação da massa óssea pré e pós-treinamento foi realizada a densitometria óssea através do aparelho de Raio-X de Dupla Energia (DEXA), que não requer nenhum esforço por parte dos avaliados. Foi avaliada a massa óssea de todo o corpo, sendo que a DMO foi obtida através da razão entre conteúdo mineral ósseo (em g) e área do osso (em cm2). A Tabela I apresenta as características descritivas da amostra. A Tabela II apresenta os valores pré e pós-treinamento da densidade mineral óssea (DMO) dos sujeitos que desenvolveram o treinamento de hipertrofia. Observa-se que não houve alterações estatisticamente significativas entre os valores pré e pós-treinamento da DMO dos sujeitos que desenvolveram o treinamento de HIP. Porém, analisando-se cada resultado isoladamente, verificou-se que 4 sujeitos aumentaram sua DMO após 11 semanas de treinamento. A Tabela III apresenta os valores pré e pós-treinamento da DMO dos sujeitos que desenvolveram o treinamento de RML. Constata-se que não houve diferença estatisticamente significativa entre os valores pré e pós-treinamento da DMO dos sujeitos que desenvolveram o treinamento de RML. Po- Análise estatística Foi empregada uma análise estatística descritiva através da média e desvio padrão. Aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk para verificação da normalidade e o teste “t” de Student para amostras dependentes para a comparação dos valores da massa óssea pré e pós-treinamento. Foi realizada inicialmente uma análise exploratória dos dados sendo que não foram apresentados desvios de normalidade. Foi adotado um nível de significância de 5%. Tabela I - Características descritivas da amostra (Média ± DP). Variável Idade Estatura (cm) MCT (kg) MM (kg) MG (kg) Pré-treinamento HIP 23 ± 2,82 176 ± 7,45 74,81 ± 12,94 58,9 ± 8,24 11,14 ± 4,19 Pós-treinamento HIP 23 ± 2,82 176 ± 7,45 73,75 ± 11,96 58,9 ± 8,55 10,01 ± 3,12 Pré-treinamento RML 20 ± 0,81 173 ± 7,25 68,13 ± 9,21 54,25 ± 6,16 9,27 ± 4,20 Pós-treinamento RML 20 ± 0,81 173 ± 7,25 68,81 ± 9,66 55,29 ± 6 9,14 ± 4,44 MCT = massa corporal total; MM = massa magra; MG = massa gorda Tabela II - Valores da DMO pré e pós-treinamento de hipertrofia. Sujeitos 1 2 3 4 5 6 7 8 Área (cm2) pré Área (cm2) pós CMO (g) pré CMO (g) pós 1990,37 2072,30 1960,83 2512,29 2373,64 2226,71 2500,87 2372,45 2103,42 2080,97 1995,49 2543,01 2310,22 2225,92 2513,47 2405,15 2318,31 2297,35 2238,00 3440,48 3144,99 2651,58 3191,45 3012,91 2436,57 2298,10 2270,79 3469,02 3182,36 2676,21 3261,78 3135,52 DMO total pré (g/cm2) 1165 1109 1141 1369 1325 1191 1276 1270 DMO total pós (g/cm2) 1158 1104 1138 1364 1378 1202 1298 1304 DMO total pré (g/cm2) 1428 1260 1206 1079 1158 1241 1119 1194 DMO total pós (g/cm2) 1405 1269 1207 1081 1198 1253 1148 1227 CMO = conteúdo mineral ósseo, DMO = densidade mineral óssea; p < 0,05. Tabela III - Valores da DMO pré e pós-treinamento de RML. Sujeitos 1 2 3 4 5 6 7 8 Área (cm2) pré Área (cm2) pós CMO (g) pré CMO (g) pós 2218,44 2298,80 2233,41 2118,00 2059,70 2550,50 2028,19 2091,21 2181,81 2248,38 2206,62 2112,48 2091,21 2604,46 1952,16 2024,25 3167,80 2896,03 2693,00 2284,37 2385,52 3165,49 2269,78 2495,97 3064,87 2853,06 2662,59 2282,79 2505,86 3263,85 2241,62 2482,77 CMO= conteúdo mineral ósseo, DMO= densidade mineral óssea; p < 0,05. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 rém, analisando-se cada resultado isoladamente, verificou-se que 7 sujeitos aumentaram sua DMO após 11 semanas de treinamento. A Figura 1 mostra a comparação entre os valores da DMO dos sujeitos que realizaram o treinamento de HIP e RML. Figura I - Comparação da DMO dos sujeitos que realizaram HIP e RML. 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Pré Pós Hipertrofia Pré Pós RML Discussão Com base nos resultados verificou-se que não ocorreram alterações significativas na massa óssea de adultos jovens do sexo masculino após 11 semanas de treinamento de hipertrofia ou resistência muscular localizada. Observou-se que 4 sujeitos do grupo de HIP aumentaram sua DMO após o período de treinamento, mas não de forma estatisticamente significativa. Observou-se também, que 7 sujeitos do grupo de RML aumentaram sua DMO, mas não de forma estatisticamente significativa. Estes pequenos aumentos observados podem ser devido à aplicação de forças com intensidade acima da habitual e que forneceram estímulos adequados ao osso, pois o aumento na carga e consequentemente aumento na força dos músculos podem induzir uma estimulação mecânica mais intensa aos ossos [8]. Mesmo com aumentos pequenos sugere-se uma alta redução no risco de fraturas do quadril em adultos mais velhos [11]. Apesar de não terem sido encontradas alterações significativas no período de tempo utilizado neste estudo, o mesmo pretendeu avaliar um período de tempo diferente dos que geralmente são utilizados em outros estudos (16 semanas, 24 semanas, 1 ano ou mais). Vários são os estudos [3,5,6] que modificaram a metodologia do programa de treinamento de força, porém mantiveram períodos de treinamento semelhantes a outros estudos já publicados. O efeito osteogênico decorrente da atividade física requer um alto nível de treinamento, com grande volume e intensidade [12]. Este estudo adotou um percentual de intensidade de 75% para o grupo de HIP e 60% para o RML, considerados como de intensidades moderada-alta e o volume de treinamento foi considerado suficiente, levando-se em consideração a utilização de uma amostra sedentária. Desta forma, pode-se dizer que a falta de mudanças significativas na massa óssea é devido ao curto período de execução dos treinamentos musculares e não devido ao volume utilizado. 81 Quanto maior a carga, maior o estímulo fornecido ao osso, pois maior será o impacto sobre o mesmo. Este fato não foi evidenciado neste estudo, pois observou-se que o maior número de sujeitos que apresentaram aumento na DMO foi no grupo de RML, ou seja, no treinamento que apresentou menor intensidade. Bemben e cols. [6] não encontraram aumentos na massa óssea de mulheres após 24 semanas de treinamento de força a 40% de 1 RM e 80% de 1 RM. Este estudo usou uma porcentagem similar (75%) a usada por Bemben e cols. [6] e também não encontrou mudanças significativas após 11 semanas de treinamento. Pelo fato de ocorrer uma estabilização da massa óssea no período de 20 a 30 anos, período em que a aquisição do pico da massa óssea já pode ter sido atingida [9], parece mais difícil a influência da atividade física sobre o metabolismo ósseo para gerar mudanças significativas. Isso provavelmente explica o baixo número de estudos envolvendo homens jovens com idades entre 20 e 30 anos. Outro fator que pode explicar os resultados deste estudo é o tempo do ciclo de formação e reabsorção óssea, pois segundo Bemben e cols.[6], o processo de remodelação do tecido ósseo ocorre ao longo da vida em ciclos que duram de 4 a 6 meses. Então, se a atividade for desenvolvida dentro desse ciclo de remodelação, podem ocorrer alterações positivas e significativas na massa óssea. Dessa forma, pode-se dizer que um período de 11 semanas não é suficiente para provocar alterações significativas e pode explicar porque vários estudos realizados com períodos de treinamento acima de 16 semanas obtiveram aumento na DMO [3,5]. Entretanto, este fato não pode ser adotado como justificativa principal, pois outros estudos [6,13] adotaram um tempo de treinamento igual ou superior a 4-6 meses e mesmo assim não encontraram respostas satisfatórias. Conclusão De acordo com os resultados obtidos, um período de 11 semanas não é suficiente para alterar significativamente a densidade mineral óssea de sujeitos jovens e sedentários do sexo masculino. O presente estudo contou com algumas limitações, como o pequeno número de participantes em cada grupo e a falta de controle da alimentação dos participantes a fim de determinar a ingestão de cálcio e qualidade da alimentação. Agradecimentos Os membros deste estudo agradecem ao CNPq/ Pibic pela concessão da bolsa de Iniciação Científica, ao colega Luis Felipe Schedler dos Santos, pelo apoio e disponibilidade na realização desde estudo e ao Instituto de Densitometria Óssea de Santa Maria, RS por facilitar a realização dos exames de Densitometria Óssea. 82 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Referências 1. Ryan AS, Ivey FM, Hurlubut DE, Martel GF, Lemmer JT, Sorkin JD et al. Regional bone mineral density after resistive training in young and older men and women. J Appl Physiol 2004;14:16-23. 2. Melton LJ, Khosla S, Achanbach SJ, O’Connor MK, O’Fallon WM, Riggs BL. Effects of body size and skeletal site an the estimated prevalence of osteoporosis in women and men. Osteoporosis Int 2000;11:977-83. 3. Menkes A, Mazel S, Redmond RA, Koffler K, Libsnsti CR, Gundemberg CM et al. Strength training increase regional bone mineral density and bone remodeling in middle-aged and older men. J Appl Physiol 1993;74:2478-84. 4. Kerr D, Ackland T, Maslen B, Morton A, Pronce R. Resistance training over 2 years increases bone mass in calcium-replete in postmenopausal women. J Bone Miner Res 2001;16:170-81. 5. Humphries B, Newton RU, Bronks R, Marshall S, McBride J, McBride TT et al. Effect of exercise intensity on bone density, strength and calcium turnover in older women. Med Sci Sports Exerc 2000;32:1043-50. 6. Bemben DA, Fetters NL, Bemben MG, Nabavi N, Koh ET. Musculoskeletal responses to high- and low-intensity resistance training in early postmenopausal women. Med Sci Sports Exerc 2000;32:1949-57. 7. Linden C, Alwis G, Ahlborg H, Gardsell P, Valdimarsson O, Stenevi-Lindgreen S et al. Exercise, bone mass and bone size in prepubertal boys: one-year data from the pediatric osteoporosis prevention study. Scand J Med Sci Sports 2007;17:340-7. 8. Uchida MC, Charro MA, Bacurau RFP, Navarro F, Pontes Júnior FL. Manual de musculação. São Paulo: Phorte; 2004. 9. Abrams SA. Normal acquisition and loss of bone mass. Horm Res 2003;60:71-6. 10. Moura JAR, Almeida HFR, Sampedro RMF. Força máxima dinâmica: Uma proposta metodológica para validação do teste de peso máximo em aparelhos de musculação. Kinesis 1997;18:23-50. 11. Cummings SR, Black DM, Nevitt MC, Browner W, Cauley J, Ensrud K et al. Bone density at various sites for prediction of hip fractures. The study of osteoporotic fractures research group. Lancet 1993;341:72-5. 12. Cadore EL, Brentano MA, Kruel LFM. Efeitos da atividade física na densidade mineral óssea e na remodelação do tecido ósseo. RBME 2007;11:373-79. 13. Peterson SE, Peterson MD, Raymond G, Gilligan C, Checovich MM, Smith EL. Muscular strength and bone mineral density with weight training in middle-aged women. Med Sci Sports Exerc 1991;23:499-504. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 83 Artigo original Cinesioterapia laboral aplicada a servidores do judiciário de Poços de Caldas/MG Labor kinesiotherapy applied to civil servants of the judiciary of Poços de Caldas/MG Keruline de Oliveira Moreira*, Tatiana Rodrigues Martins*, Marina Aparecida Gonçalves Pereira** *Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais campus Poços de Caldas, **Orientadora e Professora do Curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais campus Poços de Caldas Resumo Abstract A cinesioterapia laboral é um conjunto de exercícios realizados no local de trabalho durante sua jornada, gerando benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais para o trabalhador, afetando diretamente a empresa através da maior produtividade e consequentemente, maior lucro. O presente estudo teve como objetivo verificar o impacto do trabalho para risco de DORT/LER, assim como a qualidade de vida dos servidores e funcionários do judiciário de Poços de Caldas/MG antes e após aplicação da cinesioterapia laboral. Utilizou-se de 03 questionários: Médico, SF-36 e Wisconsin. Foram selecionados 16 trabalhadores pertencentes ao grupo de risco, porém, apenas 6 funcionárias com média de idade de 42,8 anos concluíram o estudo. Pelos resultados, 83% das trabalhadoras se encontravam com o peso dentro da normalidade e 17% acima do ideal. No SF-36, os domínios aspecto social (p = 0,008) e saúde mental (p = 0,04) foram estatisticamente significativos, enquanto que os outros domínios não foram estatisticamente significativos (p > 0,05). Os segmentos corporais mais acometidos pela dor e descritos pelas trabalhadoras foram nos membros superiores com 31%, coluna cervical e lombo-sacra com 22%. No questionário de Wisconsin, apenas duas variáveis não foram estatisticamente significativas, sendo estas a dor atual com (p = 0,058) e o relacionamento com as pessoas (p = 0,098). Conclui-se que a aplicação da cinesioterapia laboral de forma isolada demonstrou resultados significativos sobre o risco de DORT/LER, assim como sobre a qualidade de vida, no entanto torna-se necessário uma análise mais aprofundada que identifique as reais necessidades em relação à saúde, segurança e ergonomia dos servidores e funcionários do referido Fórum. The labor kinesiotherapy consists of a group of exercises performed in the work place during working hours, providing physiological, psychological and social benefits to the worker, affecting directly the company by a major productivity and, consequently, a major profit. The aim of this study was to verify the work impact for cumulative trauma disorders risk, and also, the civil servants and employees quality of life of the judiciary of Poços de Caldas/ MG before and after the application of labor kinesiotherapy. Three questionnaires were used: Medical, SF-36 and Wisconsin. Sixteen workers belonging to a risk group were selected, but, just 6 employees, average 42.8 years old, concluded the research. 83% of the workers had normal weight and 17% were overweighted. In the SF-36 questionnaire, the social aspect (p = 0.008) and mental health (p = 0.04) domains were statistically significant (p > 0.05). The body segments most affected by pain and described by the workers were the superior limbs (31%), cervical and lumbosacral spine (22%). In the Wisconsin, just 2 variables were not statistically significant, being them actual pain (p = 0.058) and relationship with other people (p = 0,098). It is concluded that the application of labor kinesiotherapy in an isolated way demonstrated significant outcomes about the cumulative trauma disorders risk, as well as about the quality of life, but its necessary a deeper analysis to identify the real needs of health, security and ergonomics of the civil servants and employees of the referred tribunal. Key-words: labor kinesiotherapy, cumulative trauma disorders, pain, occupational health, quality of life. Palavras-chave: cinesioterapia laboral, transtornos traumáticos cumulativos, dor, saúde do trabalhador, qualidade de vida. Recebido 7 de janeiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Tatiana Rodrigues Martins, Av. São Francisco, 886 Centro 39270-000 Pirapora MG, Tel: (38) 37417841, E-mail: [email protected] 84 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução As doenças de origem ocupacional começaram a ser diagnosticadas em 1700, na Itália, por Bernardino Ramazzini, o pai da medicina do trabalho. Porém, no Brasil, somente em 1987 o INSS as reconheceu como doença desta natureza [1]. No entanto, os cuidados com a saúde dos trabalhadores eram praticamente inexistentes e o número de indivíduos portadores de lesões oriundas do trabalho aumentou consideravelmente desde aquela época. Atualmente é reconhecida por Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) ou Lesões por Esforços Repetitivos (LER) [2]. Os DORT/LER são afecções relacionadas às atividades laborativas diárias e/ou profissionais, associadas às repetições diversas, como as de movimentos bruscos, ou não, com interrupções súbitas, esforço físico com grau alterado de força exigida, pressão mecânica constante sobre determinados segmentos corporais e predisposição individual [3]. Os fatores que podem provocar o aparecimento das DORT/LER são classificados em específicos como traumatismos anteriores, hormonais, psicológicos e congênitos ou gerais, incluindo os projetos de trabalho não adequados, que determinam sobrecarga muscular; o tipo de tarefa com movimentos rápidos e repetitivos de antebraço, punho, mãos e dedos; instrumento de trabalho inadequado facilitando desvio ulnar e supinação do punho; ambiente de trabalho impróprio como má iluminação, ruído excessivo; sobrecarga de trabalho com falta de períodos de descanso e frequentes horas extras; rotina de produção de alta exigência; competição e mau relacionamento entre os colegas; medo do desemprego [4,5]. Dentre as afecções relacionadas ao DORT podemos destacar tenossinovites, síndrome do túnel do carpo, tendinite, epicondilite, bursite, miosite, síndrome cervicobraquial, síndrome do desfiladeiro torácico, ombro doloroso, lombalgia e outras patologias associadas à fadiga muscular principalmente de ombro e pescoço [6]. As estruturas mais comprometidas são tendões, sinovias, músculos, nervos, fáscias e ligamentos, associadas ou isoladas a degeneração dos tecidos [7,8]. Os sinais e sintomas frequentemente encontrados são a perda de força, diminuição do trofismo (hipotrofia), alterações sensitivas (parestesias e adormecimentos); dor; diminuição de morbidade, perda da função [9]. Considerando a importância da dor no diagnóstico, e decorrentes condutas nas lesões musculoesqueléticas, parece pertinente avaliar, comparativamente, a capacidade para o trabalho e o impacto da severidade da dor nos trabalhadores do grupo de risco [10]. Com a instalação da sintomatologia surgem as incapacidades como a diminuição da destreza manual, sentida na digitação e na escrita, dificuldade de pegar, segurar e manusear pequenos objetos como lápis e talheres, dificuldade para manter os membros superiores elevados, como estender roupa no varal, segurar-se em ônibus ou metrô, pentear os cabelos entre outros [11]. O acometimento somente do membro superior dominante pode existir, mas é frequente o acometimento de ambos os membros. É comum observar pacientes poupando o membro superior acometido, com receio de que a dor aumente ou de que seu quadro se agrave. O uso exagerado do membro contralateral para a realização das atividades cotidianas pode, então, contribuir para o aparecimento dos sintomas nesse lado [12]. A frequência de comprometimento dos trabalhadores pela doença ocupacional provoca o aumento da taxa de absenteísmo e rotatividade por afastamento, custos elevados com assistência médica e indenizações, gastos com recrutamento e nova seleção de pessoal provocando nas empresas redução dos níveis de produtividade e, consequentemente, diminuição de lucros [13,14]. Entretanto, caso o comprometimento ocorra em um setor específico da empresa, este deve ser objeto de análise dos aspectos biomecânicos, ergonômicos, físicos e de acidentes [15]. Neste sentido, medidas abrangentes devem ser tomadas tanto a nível preventivo quanto curativo daqueles que já adoeceram, objetivando a recuperação rápida das queixas evitando-se assim o crescimento acelerado da morbidade [16]. O avanço tecnológico influencia os hábitos de vida e de trabalho das pessoas principalmente em países industrializados provocando alterações na qualidade de vida dos mesmos [7,17]. Com isto são criados programas de qualidade de vida no trabalho que visam satisfazer as necessidades individuais dos trabalhadores tanto no trabalho quanto nas atividades diárias [18]. Dentre estes programas pode-se citar a implantação e a prática regular de realização da cinesioterapia laboral antes, durante e após as atividades laborais [19]. Utiliza de metodologia simples e de fácil realização aplicada por profissional técnico habilitado ou por facilitador treinado pelo mesmo. Tendo como principal função melhorar a qualidade de vida do trabalhador através da melhora da consciência corporal que favorece a aquisição de posturas ocupacionais mais corretas e com maior conforto [20]. Os primeiros registros de aplicação da cinesioterapia laboral datam de 1925, na Polônia, Bulgária, Alemanha Oriental, Holanda e Rússia, denominada ginástica de pausa. No Japão, nesta mesma época, esta prática foi impulsionada pela cultura e tradição oriental, o Taissô [17,21]. No Brasil, iniciou-se na década de 70, com a chegada de executivos japoneses, mas após algumas experiências isoladas, houve um período de esquecimento, ressurgindo apenas na segunda metade da década de 80, como medida de promoção da saúde do trabalhador [2,22]. A cinesioterapia laboral é um conjunto de exercícios realizados no próprio local de trabalho durante a jornada de trabalho, com inserção de pausas na produção, a fim de cuidar da integridade física, psicológica e social do funcionário, sendo de curta duração utiliza-se mais do alongamento para compensação das estruturas musculares envolvidas nas tarefas operativas diárias [23,24]. A prática de exercícios físicos gera para o trabalhador benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais afetando diretamente a empresa [9,25]. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo verificar o impacto do trabalho para risco de DORT/LER, assim como a qualidade Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 de vida dos servidores do judiciário de Poços de Caldas/MG antes e após aplicação a cinesioterapia laboral. Material e métodos Amostragem O presente estudo foi realizado no Fórum da Comarca de Poços de Caldas/MG, sendo selecionados os servidores e funcionários dos diversos setores através do questionário médico do trabalho (Protocolo para Estudo Epidemiológico e Registro Clínico GERSEG/TIMG – Regional). O questionário constou de dados pessoais, atividade profissional, aspectos organizacionais e ergonômicos da função atual e anamnese, além da história pregressa, história familiar e dados antropométricos. Tal questionário possuía o propósito de verificar o impacto do trabalho para o risco de LER/DORT e selecionar os servidores e funcionários nos seguintes subitens: grupo sintomático (lesão instalada), grupo assintomático, grupo de risco (pessoas que não apresentavam lesões), mas que pela avaliação foi detectada dores, tensões e posto de trabalho inadequado que o predispunha a desenvolver a patologia. Após a interpretação das informações coletadas foram selecionados 16 indivíduos, sendo 03 homens e 13 mulheres com média de idade de 42,8 anos, pertencentes ao grupo de risco e que participaram da cinesioterapia laboral. Todos os participantes encontravam-se trabalhando regularmente na ocasião do presente estudo, com uma jornada de seis horas diárias, durante cinco dias por semana. Antes de qualquer procedimento metodológico os servidores e funcionários selecionados foram orientados pelos responsáveis do projeto e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Procedimento de avaliação Após a seleção, os 16 indivíduos responderam em local próprio no Fórum da Comarca de Poços de Caldas o questionário de qualidade de vida Medical Outcome Survery Short Form 36 (SF- 36). O SF-36 é um questionário genérico amplamente utilizado para avaliar a qualidade de vida. O questionário é multidimensional formado por 36 itens, englobados em 8 domínios: capacidade funcional (CF), aspectos físicos (AF), dor (D), estado geral de saúde (EGS), vitalidade (VT), aspectos sociais (AS), aspectos emocionais (AE), saúde mental (SM), sendo comparado antes e depois da aplicação da cinesioterapia laboral. Os resultados do SF- 36 são mostrados em escore de 0 a 100 obtidos a partir de uma relação de questões sobre vários aspectos da qualidade de vida, onde 100 indica a melhor qualidade de vida e 0 representa a pior qualidade possível). Em seguida foi aplicado o questionário de Inventário para Dor de Wisconsin que avaliou a intensidade da dor em uma escala de 0 a 10, sendo que 0 representa a ausência de dor e 10 dor exacerbada. 85 Protocolo de aplicação da cinesioterapia laboral O tipo de cinesioterapia laboral escolhida foi a do tipo compensatória (realizado durante a jornada de trabalho), e, para a aplicação do protocolo, os servidores foram distribuídos em 3 grupos, 3 vezes por semana, com duração de 20 minutos para cada grupo no período de 12 semanas. A cinesioterapia laboral foi dividida em três etapas distintas: A primeira foi destinada à adaptação dos voluntários com seu próprio corpo e com os exercícios propostos compondo-se de aquecimento, alongamento e relaxamento. A segunda etapa constou-se de aquecimento, alongamento, interação com o grupo e relaxamento. E na terceira etapa utilizou-se de alongamento, dinâmica, sociabilização e relaxamento. Resultados Visando organizar os resultados por natureza de variáveis, a seguir serão apresentados conforme a seguinte sequência: variáveis antropométricas, qualidade de vida, localização da dor e os aspectos da dor nas últimas 24 horas. Os resultados estão apresentados em tabelas e gráficos que contêm os valores obtidos em porcentagem, média e desvio padrão, além do resultado estatístico referente às comparações feitas. Dentre os 16 indivíduos avaliados, somente 06 concluíram o presente estudo, sendo todas do sexo feminino com idade média de 42,8 anos. Para o cálculo do IMC foi realizada a coleta da massa corporal (MC) e da altura (H) das trabalhadoras. A média e desvio padrão, dos valores obtidos das variáveis antropométricas do grupo de trabalhadoras, estão apresentadas na Tabela I. Tabela I - Variáveis antropométricas, em média e desvio padrão dos valores obtidos das voluntárias com os resultados estatísticos. Variáveis Idade (anos) Peso (kg) Altura (cm) IMC (kg/m²) Trabalhadoras N=6 42,8 ± 7,8 59,25 ± 4,02 1,59 ± 0,07 23,6 ± 2,5 p 0,0001* 0,0001* 0,0001* 0,0001* IMC: Índice de Massa Corpórea; * extremamente significativo (p < 0,05 Teste t). As variáveis antropométricas das trabalhadoras em média e desvio padrão apresentaram diferença extremamente significativas. A Tabela II apresenta os resultados de todos os domínios em média e desvio padrão e os respectivos resultados estatísticos do questionário de qualidade de vida (SF-36), aplicados em dois momentos: sendo um no momento da avaliação inicial (Q1) e o outro durante a avaliação final (Q2) ao término da aplicação da cinesioterapia laboral. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 86 Tabela II - Domínios do Questionário Short Form 36, pontuação em média e desvio padrão, para os questionários 1 e 2 e os resultados estatísticos. Domínios CF AF D EGS VT AS AE SM Q1 N=6 66,84 ± 42,05 50 ± 38,74 33,67 ± 9,27 62 ± 15,5 55,83 ± 7,35 50,08 ± 13,6 66,83 ± 42,05 54 ± 18,54 Q2 n=6 72,16 ± 44,36 83,33 ± 30,28 44,5 ± 21,16 68,3 ± 22 59,16 ± 13,19 79,25 ± 15,03 72,16 ± 44,4 72 ± 14,1 p 0,83NS 0,13NS 0,28NS 0,58NS 0,60NS 0,008* 0,83NS 0,04* CF: Capacidade Funcional; AF: Aspectos físicos; D: Dor; EGS: Estado Geral da Saúde; VT: Vitalidade; AS: Aspecto Social; AE: Aspecto Emocional; SM: Saúde Mental, * estatisticamente significativo (p ≤ 0,005 Teste t); NS: Não significativo (p > 0,05 Teste t). Tabela III - Variáveis da dor nas últimas 24 horas, em média e desvio padrão dos valores obtidos do questionário de Wisconsin (Q1) e 2 (Q2). Variáveis Pior dor em 24 hs Dor mais fraca Média da dor Dor atual Atividade geral Humor Hábito de caminhar Trabalho Relacionamento com as pessoas Sono Apreciar a vida Q1 6,5 ± 1,22 2,5 ± 1,04 4,8 ± 0,40 3,66 ± 3,67 5,83 ± 1,47 6,16 ± 3,45 2,7 ± 2,34 Q2 4,83 ± 3,31 1,83 ± 1,16 4,33 ± 2,25 3,17 ± 3,06 4 ± 3,28 2,7 ± 39 2 ± 3,35 p 0,0001* 0,002* 0,0001* 0,058NS 0,02* 0,008* 0,04* 6 ± 2,34 2,5 ± 3,2 4,17 ± 3,19 2,33 ± 2,95 0,0016* 0,098NS 4,17 ± 1,72 5,84 ± 3,87 1,66 ± 2,06 3 ± 4,00 0,002* 0,014* Q1 e Q2: questionários 1 e 2 respectivamente; * estatisticamente signi- Pode-se observar pela Tabela II que os domínios CF, AF, D, EGS, VT e AE relacionados ao questionário SF-36 não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre a avaliação inicial comparado com a avaliação final, no entanto os domínios AS e SM apresentaram resultados estatisticamente significativos. O Gráfico 1 demonstra em porcentagem a localização segmentar da dor, descrita por cada trabalhadora pertencente ao estudo nos histogramas, durante a avaliação inicial e final. Gráfico 1 - Localização da dor: membros superiores 31%; membros inferiores 7%; coluna cervical 22%; coluna torácica 18% e coluna lombo-sacra 22%. Coluna Cervical; 22% Membros Inferiores; 7% Membros Superiores; 31% Coluna Toráxica; 18% Coluna LomboSacra; 22% Os resultados demonstraram que as porcentagens foram maiores em membros superiores 31%, seguida pela coluna cervical e lombo-sacra 22%, Na Tabela III, constam os valores em média e desvio padrão do questionário da dor de Wisconsin com seus respectivos resultados estatísticos, coletados em dois momentos: durante a avaliação inicial (Q1) e após três meses, durante avaliação final (Q2). ficativo (p<0,05 Test t); NS: não significativo (p > 0,05 Test t). Pode-se observar na Tabela III, que a comparação dos domínios relacionados ao questionário 1 e 2 de Wisconsin, como a pior dor no decorrer das últimas 24 horas, dor mais fraca, média da dor, dor atual, atividade geral, humor, hábito de caminhar, trabalho, sono e apreciar a vida apresentaram diferença estatisticamente significativa, no entanto a dor atual e o relacionamento com outras pessoas não determinaram diferença estatisticamente significativa entre a avaliação inicial (Q1) comparada com a avaliação final (Q2). Discussão Dentre os fatores pessoais, ocupacionais e organizacionais analisados no presente estudo, todos apresentaram uma relação com a qualidade de vida das trabalhadoras. No que tange ao gênero, não foi possível realizar uma comparação entre sexo, uma vez que não houve persistência dos trabalhadores do sexo masculino até a finalização do estudo. No entanto, os trabalhadores que concluíram o estudo pertenciam ao grupo de risco e eram do sexo feminino, podendo estar relacionado ao fato de que as mulheres tendem a apresentar maiores índices de ocorrência de lesões musculoesqueléticas levando a uma redução na qualidade de vida. A relação entre lesão e gênero, por sua vez, pode ser permeada por outras variáveis, tornando essa discussão bastante complexa. Nesse sentido, o maior número de acometimento em mulheres pode relacionar-se mais ao tipo de atividade, do que pelo gênero, já que as mulheres realizam tarefas (de riscos) diferentes das realizadas pelos homens, além de, na maioria das vezes, exercerem atividades em dupla jornada [10]. Sabe-se que alguns fatores biomecânicos estão envolvidos nas demandas físicas do trabalho, dentre eles: força, repetitividade e posturas inadequadas têm uma grande relação com o grupo de risco para o desenvolvimento das doenças Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 ocupacionais [26]. Assim, os indivíduos pertencentes a este grupo ressentem-se mais esses fatores, o que, consequentemente, parece explicar as respostas mais negativas com relação às exigências físicas, associadas a uma menor pontuação na qualidade de vida e uma maior pontuação para a dor [1]. Esse argumento corrobora com os resultados no presente estudo ao indicar que quanto melhor as condições de exigência física no trabalho, menores serão as pontuações sobre a dor e maiores serão as pontuações para a qualidade de vida. Com relação aos resultados dos domínios do questionário de qualidade de vida SF-36, aplicado antes e após a cinesioterapia laboral, encontraram-se valores estatisticamente significativos para os AS e SM sugerindo que a atividade laboral expõe os trabalhadores a fatores nocivos à saúde, tais como: ausência de pausas, posturas e condições ergonômicas inadequadas e excesso de movimento o que acarreta em prejuízos na percepção da vida por parte destes indivíduos. Além destes, outros aspectos podem ainda ser listados, como: as faltas, as desistências, o desinteresse, o excesso de trabalho, entre outros. Por outro lado, os domínios relacionados à CF, AF, D, VT, AE e EGS não foram estatisticamente significativos. Os dados encontrados no presente estudo estão de acordo com os da literatura afeita ao tema e apontam que a dor leva à diminuição das atividades diárias favorecendo a compensações e inadequações posturais no ambiente de trabalho que levam a restrição de movimentos acometendo diretamente a qualidade de vida dessas pessoas e afastando-as do convívio social. Neste sentido, a qualidade de vida depende também da qualidade de vida no trabalho, onde as pessoas passam a maior parte do tempo, por isso é importante melhorar as condições de trabalho, incluindo o ambiente, transportes, relação entre chefes e funcionários e sistema produtivo no trabalho [27]. Portanto, é fundamental a conscientização por parte dos trabalhadores da busca de uma melhor qualidade de vida, através da prática de atividades físicas regulares, evitando o sedentarismo, hábitos alimentares e equilíbrio emocional determinados pela convivência entre os colegas de trabalho e seus familiares [28]. Neste estudo houve uma pequena adesão por parte dos funcionários e servidores durante a realização da cinesioterapia laboral, no entanto, quando os resultados do questionário de Wisconsin antes e após foram confrontados, encontrou-se valores estatisticamente significativos para a maioria dos itens avaliados, determinando que a cinesioterapia laboral produziu um efeito positivo sobre a vida desses trabalhadores. Concordando com Carvalho [5] e Jimenes [8], a cinesioterapia laboral previne a fadiga muscular, corrige vícios posturais e melhora a disposição dos trabalhadores e consequentemente, reduz as dores generalizadas pelo corpo, melhorando o rendimento e a produtividade durante a jornada de trabalho. Além de afetar os fatores psicológicos como a mudança na rotina e reforço na autoestima. Estudos futuros ampliando a população estudada poderão contribuir para melhor avaliar as tendências aqui relatadas. 87 Poderiam, ainda, avaliar comparativamente aspectos de autorrelatos com dados mais objetivos de capacidade funcional, de adequações ergonômicas e organizacionais. Naturalmente, esses quadros são bastante complexos, envolvendo aspectos físicos, psicossocias e ocupacionais [29]. Portanto, quanto maior o número de informações disponíveis sobre o quadro clínico-funcional desses indivíduos, maiores as chances de se tomar decisões e estabelecer prioridades de atenção acertadas a qualidade de vida desses trabalhadores [30]. Conclusão Em conclusão pode ser apresentada a interferência da organização e das relações de trabalho no adoecimento, no sofrimento físico que antecede e precede o adoecimento, a onipresença da dor e as limitações impostas em nível físico e mental que impossibilitam projetos de vida e dificuldades no trabalho comprometendo a vida pessoal, familiar e social dos trabalhadores em questão. Referências 1. Bertocello D. Importância da intervenção preventiva da fisioterapia na readequação ergonômica e análise biomecânica de um posto de trabalho. Fisioter Mov 1999;11(2):89-96. 2. Casellato TFL, Veiga AC, Veiga ML. Análise prospectiva da ocorrência de LER/DORT em empresas da cidade de São Paulo. Reabilitar 2003;5(16):26-31. 3. Fernandes VS, França D, Santos Filho SD, Cortez C, Bernardo Filho M, Guimarães MA. Acupuntura cinética como tratamento coadjuvante na qualidade de vida de pessoas com distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Fisioter Bras 2005;6(3)204-10. 4. Lech O, Hoefel MG, Severo A, Pitágoras T. Aspectos clínicos dos distúrbios ósteo-musculares relacionados ao trabalho (DORT) – lesão por esforços repetitivos. Belo Horizonte: Ergo; 1998. 5. Carvalho HF. Princípios da ginástica laboral. Revista Saúde em Movimento [online]; 2003; [citado 2009 Mai 23]. Disponível em URL: http://www.saudeemmovimento.com.br 6. Longen WC. Ginástica laboral na prevenção de LER/DORT? Um estudo reflexivo em uma linha de produção. [Dissertação]. Florianópolis: UFSC; 2003. 7. Barbosa EB, Borges FD, Dias LP, Fabris G, Frigeri F, Salmaso C. Lesões por esforços repetitivos em digitadores da centro de processamento de dados do Banestado Londrina, Paraná, Brasil. Rev Fisioter Univ São Paulo 1997;4(2):83-91. 8. Jimenes P. Bem-estar do trabalhador traz resultados surpreendentes. Revista CIPA 2002; 271:70-81. 9. Mendonça FM, Trindade FMG, Oliveira L, Sampaio RF, Silva FCM et al. Ginástica e sintomas osteomusculares em trabalhadores de uma indústria têxtil de Minas Gerais. Fisioter Bras 2004;5(6):425-30. 10. Walsh IAP, Corral S, Franco RN, Canetti EEF, Alem MER, Coury HJCG. Capacidade para o trabalho em indivíduos com lesões músculo-esqueléticas crônicas. Rev Saúde Pública 2004;38(2):149-56. 88 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 11. Miyamoto TS, Salmaso C, Mehanna A, Batistela AE, Sato T, Grego ML. Fisioterapia preventiva atuando na ergonomia e no stress no trabalho. Rev Fisioter Univ São Paulo 1999;6(1):83-91. 12. Assunção AA, Almeida IM. Sistema músculo-esquelético: lesões por esforços repetitivos (LER). In: Mendes R, ed. Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu; 1995. p.173-98. 13. Pobl HH, Reckziegel MB, Goldschmidt FP. Importância da ginástica laboral no resgate da corporeidade. Cinergis 2000;1(2):77-107. 14. Assunção AP, Silva MB, Souza AD. Cinesioterapia laboral como prevenção e melhora da qualidade de vida em trabalhadores industriais. Cadernos - Centro Universitário São Camilo 2004;10(1):94-106. 15. Nascimento NM, Moraes RAS. Atuação fisioterapêutica ergonômica. In: Nascimento NM, Moraes RAS. Fisioterapia nas empresas: saúde x trabalho. Rio de Janeiro: Taba Cultural; 2000; p.22-27. 16. Oliveira JRG. A prática da ginástica laboral. Rio de Janeiro: Sprint; 2002.136 p. 17. Mendes RA, Leite N. Ginástica laboral: princípios e aplicações práticas. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2004. 18. Pinto PR, Moraes GC, Minghini BV. Confiabilidade de um modelo de avaliação para portadores de LER/DORT: a experiência de um serviço público de saúde. Rev Bras Fisioter 2005;9(11):85-91. 19. Bergamaschi EC, Polito E. Ginástica laboral: teoria e prática. 1ªed. Rio de Janeiro: Sprint; 2002. 20. Cañete I. Humanização: desafio da empresa moderna - a ginástica laboral como um novo caminho. Porto Alegre: Artes e Ofício; 1996. 21. Bittar ADS, Costa CC, Martini D, Souza DV, Lopes J, Bessa R, et al. Influência da intervenção ergonômica e o exercício físico no tratamento do estresse ocupacional. Reabilitar 2004;24(6):35-44. 22. Pinto ACCS, Souza RCF. A ginástica laboral como ferramenta para a melhorância da qualidade de vida no setor de cozinha em restaurantes [online]. [citado 2006 Set 23]. Disponível em URL: http:// www.eps.ufsc.br/ergon/revista 23. Polito E, Bergamaschi EC. Ginástica laboral: teoria e prática. Rio de Janeiro: Sprint; 2002. p.25-76. 24. Rocha LE. Tenossinovite e trabalho: análise das comunicações de acidentes de trabalho (CATs) registradas no município de São Paulo. Rev Bras Saúde Ocup 1990;18(70):29-9. 25. Lima V. Ginástica laboral: atividade física no ambiente de trabalho. 2ª ed. São Paulo: Phorte; 2005.p.3-19. 26. Garbin AC, Neves IR, Batista MB. Etiologia do senso comum: as lesões por esforços repetitivos da rede de saúde do trabalhador do estado de São Paulo. Cad Psicol Soc Trab 1998(1):43-55. 27. Zilli CM. Manual de cinesioterapia/ Ginástica laboral; uma tarefa interdisciplinar com ação multiprofissional. São Paulo: Lovise; 2002. 28. Assunção AA, Lacerda EM, Andrade EB. Lesões por esforços repetitivos: descrição de aspectos laboratoriais e clínicos em casos do ADP/UFMG. Rev Bras Saúde Ocup 1993;80(2):13-22. 29. Dangelo JG, Fattini CA. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 2ª ed. São Paulo. Atheneu; 2000. 30. Moreira PHC, Cirelli G, Santos PRB. A importância da ginástica laboral na diminuição das algias e melhora da qualidade de vida do trabalhador. Fisioter Bras 2005;6(5):349-53. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 89 Artigo original Influência do alongamento estático/passivo sobre o desempenho da força Influence of static/ passive stretching on the strength performance Levi Torres Rodrigues*, Antonio Gil Castinheiras Neto**, Bruna Medeiros Neves**, Nádia Lima da Silva*** *Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro/RJ, **Universidade Salgado de Oliveira, Niterói/RJ, ***Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ Resumo Abstract Atualmente observa-se uma restrição muito grande nas academias de musculação sobre a realização de alongamentos antes do treinamento de força (TF). Ainda não se sabe ao certo se o uso dessas atividades auxilia ou prejudica o executante em exercícios que exijam grande quantidade de força. O objetivo do estudo foi comparar a taxa do desempenho de homens treinados no exercício de supino horizontal, submetidos à realização de alongamento estático/passivo prévio ou não à realização de séries consecutivas (3 séries) com carga máxima (10 RM). Participaram deste estudo 10 homens (27 ± 3,3 anos) com experiência mínima de um ano de TF. Utilizou-se estatística descritiva para caracterizar os sujeitos e dados percentuais para determinar a queda do rendimento nas situações experimentais. Para determinar a diferença do rendimento utilizou-se o teste t de student para dados emparelhados, adotando-se uma significância de p ≤ 0,05. Verificou-se redução do desempenho da força muscular em ambas as situações experimentais, entretanto, essa perda foi maximizada na sessão que se utilizou de alongamentos precedendo o treinamento do supino reto (p < 0,05). Em valores percentuais, essa diminuição do desempenho foi estimada em 10,2% para a condição sem alongamento prévio e 27,4% para a condição com alongamento prévio entre a primeira e a última série. Some fitness centers do not recommend stretching exercises prior to strength training (ST). However it is not yet clear whether these activities improve or affect the performance in exercises that require voluntary contraction maximum. The objective of this study was to compare the rate of performance of trained men in horizontal bench press, with or without to execution of passive stretching before the completion of consecutive series (3 sets) in 10 RM. Participated ten men (27 ± 3.3 years) with at least one year of ST. Was used descriptive statistics to characterize the subjects and percentual data to determine the drop in consequence of this experimental situation. To determine the difference between experimental conditions, was used the Student t test for paired data, adopting a significance of p ≤ 0.05. Reduction in the performance of muscular strength was observed in both experimental situations, however, the loss was maximized at the session that used passive stretching prior to bench press training (p < 0.05). In percentages, this decrease in performance was estimated at 10.2% for the condition without prior stretching of 27.4% when the stretching was performed before the experiment. Key-words: strength, flexibility, resistance training, athletic performance. Palavras-chave: força muscular, flexibilidade, treinamento de resistência, desempenho atlético. Recebido 20 de dezembro de 2009; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Profa Dra Nadia Lima da Silva, Rua São Francisco Xavier 524 ala 8133 Bloco-F Maracanã 20550013 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2334-0775, E-mail: [email protected] 90 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução Exercícios de alongamento são geralmente realizados como forma de aquecimento antes da participação em esportes competitivos e atividades físicas. Para esse fim existem várias técnicas, incluindo estático, dinâmico e facilitação neuromuscular proprioceptiva [1]. Acredita-se que a realização do alongamento melhore o desempenho posterior, reduza o risco de lesões, além de servir para aliviar os sintomas de dor muscular tardia. No entanto, poucos experimentos verificaram melhora de variáveis neuromotoras analisadas após a utilização de alongamento [2-4]. Alguns estudos referem-se à realização do alongamento pré-sessão de exercício físico como um fator negativo para o desempenho de variáveis neuromotoras, incluindo a contração muscular voluntária máxima, a potência muscular e o pico de torque articular [5-9]. Em contrapartida, outros estudos não sustentam o prejuízo que uma sessão dessa natureza pode gerar no desempenho subsequente da força explosiva [10-13]. Apesar do conflito de dados existentes na literatura, o pressuposto teórico acerca do declínio do desempenho após sessão aguda de alongamento recai sobre fatores neurais e mecânicos como: diminuição na ativação de unidades motoras, alterações nas propriedades viscoelásticas do músculo e musculotendinosa e devido às alterações no comprimentotensão da fibra muscular [14,15]. Assim, considerando as divergências apresentadas pelos estudos envolvendo a realização de alongamento e sua influência sobre o desempenho subsequente da força, surge a necessidade de se investir esforços investigativos acerca do tema. Portanto, o objetivo deste estudo foi comparar a taxa do desempenho de homens treinados no exercício de supino horizontal, submetidos à realização de alongamento estático/ passivo prévio ou não à realização de séries consecutivas (3 séries) realizadas com carga máxima (10 RM). Materiais e métodos Amostra Participaram do estudo 10 homens com experiência de pelo menos um ano em exercício resistido. Os voluntários foram submetidos à anamnese, incluindo o questionário de prontidão para atividade física (PAR-Q) e foram instruídos sobre os procedimentos necessários para a realização dos testes em laboratório. Posteriormente, os sujeitos foram convidados a participar do estudo, mediante assinatura do termo de consentimento, conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Institucional. Como critérios de exclusão no estudo, foram observados os seguintes aspectos: 1) utilização de medicamentos ou estimulantes que pudessem influenciar o desempenho da força; 2) diagnóstico prévio de problemas cardiovasculares, ósseos, articulares ou musculares que limitassem a execução dos exercícios; 3) PAR-Q positivo. Coleta de dados A coleta de dados foi realizada em quatro visitas ao laboratório, separadas entre si por um mínimo de 48 horas e um máximo de 72 horas de descanso. Na primeira visita os sujeitos respondiam o questionário de prontidão para atividade física (PAR-Q), assinavam o termo de consentimento pósinformado, eram submetidos às avaliações antropométricas (massa corporal e estatura) e realizavam o primeiro teste para determinação da força voluntária máxima. Na segunda visita a força voluntária máxima era retestada para determinação da confiabilidade da carga. Nas duas últimas visitas os sujeitos eram submetidos aleatoriamente às situações experimentais propriamente ditas. Avaliação antropométrica A composição corporal também foi estimada com base nas equações de Jackson e Pollock [16] e Siri [17], a partir das dobras cutâneas de peito, abdômen e coxa, a fim de caracterizar os sujeitos. As dobras cutâneas foram aferidas por compasso Lange® (Beta Technology Incorporated, Maryland, EUA), a massa corporal medida em balança digital (Welmy®, São Paulo, Brasil) e a estatura com auxílio de estadiômetro graduado em milímetros Sanny® (American Medical do Brasil, São Paulo, Brasil). Determinação da força voluntária máxima para 10 repetições máximas (10 RM) Para determinar a carga associada às 10 RM no exercício supino reto (smith machine) inicialmente foram fornecidas instruções padronizadas e detalhadas sobre os procedimentos do teste. Atenção especial foi dada à técnica de execução dos exercícios, para que variações do movimento não comprometessem os resultados finais. Antes de passar à determinação da carga propriamente dita, foi franqueado aos voluntários que realizassem um aquecimento geral na bicicleta estacionária por 10 min, sem carga, além de aquecimento específico na máquina na qual o exercício foi realizado, com carga reduzida e confortável. Durante o teste foram dados estímulos verbais para que os sujeitos mantivessem elevado o nível de motivação [18]. A escolha do exercício deu-se em função de sua disseminação em centros de treinamento. Para melhor operacionalização da descrição do exercício, suas fases foram divididas em posição inicial (a), execução do movimento (b) e posição final (c). • em decúbito dorsal, com os braços elevados sustentando a barra, joelhos flexionados e pés apoiados no banco do próprio aparelho; Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 • com a barra em suspensão, o avaliado descia a barra na linha dos mamilos, até braço e cotovelo formarem um ângulo de 90º (Fase excêntrica). Na fase concêntrica foi exigida a extensão completa dos cotovelos a partir da flexão horizontal dos ombros; • a extensão completa dos cotovelos computava a conclusão de uma repetição. Os intervalos entre as tentativas do teste de 10 RM foram fixados em cinco minutos [19]. A carga inicial para realização do teste foi escolhida por cada sujeito, em função da sua experiência no treinamento resistido. A partir daí, as tentativas foram executadas até a obtenção da carga para 10 RM, sendo três o número máximo de tentativas. Após a obtenção das cargas para 10 RM, os indivíduos descansaram por 48 horas e foram reavaliados para determinação da confiabilidade da carga (teste e re-teste). Possíveis diferenças entre as médias dos valores alcançados e o seu grau de associação foram testadas [coeficiente de correlação intraclasse = 0,96 e erro padrão da estimativa = 4,2%; p < 0,001]. Foi considerada a maior carga registrada entre os testes para a realização dos experimentos. Situações experimentais Depois de um mínimo de 48 horas da segunda sessão de obtenção da carga máxima, os sujeitos foram submetidos de forma aleatória a duas situações experimentais, realizadas em mais duas sessões separadas por no mínimo 48 horas, quais foram: 1. Realização de alongamento estático/passivo (duas séries, duração de 15 segundos e intervalo de recuperação de 15 segundos entre as séries) dois minutos antes da sessão experimental e após 10 minutos de aquecimento geral; 2. Realização da sessão experimental sem alongamento, porém precedida de 10 minutos de aquecimento geral. Os grupamentos musculares alongados foram: peitorais e deltóide anterior, mobilizados através da abdução horizontal do ombro. Todos os sujeitos foram submetidos às sessões de alongamento estático/passivo por um único avaliador. O trabalho de alongamento estático/passivo envolve o uso da força externa aplicada por um avaliador ou algum tipo de implemento, para mobilizar um segmento corporal até o limite da amplitude articular em um dado plano de movimento [20]. 91 Quanto ao protocolo de treinamento de força foram realizadas três séries com carga de 10 RM com dois minutos de intervalo de recuperação entre as séries. Procurou-se na escolha, tanto do protocolo de treinamento de força muscular quanto no de flexibilidade, aproximar ao máximo à realidade encontrada no dia-a-dia das academias de ginástica, uma vez que a maioria dos estudos que se preocuparam em investigar a influência do alongamento muscular sobre o desempenho da força muscular, o fez utilizando-se de testes máximos de força (1 RM), deixando a lacuna referente à sua influência sobre a produção total de trabalho em uma sessão de treinamento propriamente dita. Tratamento dos dados Os dados demonstraram ter homocedasticidade e normalidade de distribuição, compatíveis com a aplicação de estatística paramétrica. Utilizou-se a estatística descritiva para a caracterização dos sujeitos, como média e desvio-padrão, e porcentual para a determinação da queda do rendimento nas duas situações experimentais. Para determinação da diferença do rendimento entre as duas situações experimentais utilizouse o teste-t de student para dados emparelhados. Em todos os casos o nível de significância estatística foi fixado em p ≤ 0,05 e os cálculos foram realizados com auxílio do software SPSS for Windows (18.0, Chicago – Illinois, USA). Resultados A Tabela I apresenta as características dos sujeitos que participaram como voluntários do experimento. A Tabela II apresenta os valores médios e o desvio padrão do número de repetições por série nos experimentos conduzidos com ou sem a prática do alongamento antecedendo o trabalho de força. Verificou-se redução do desempenho da força muscular em ambas as situações experimentais, entretanto, essa perda foi maximizada na sessão que se utilizou de alongamentos precedendo o treinamento do supino reto (p < 0,05). Em valores percentuais, essa diminuição do desempenho foi estimada em 10,2% para a condição sem alongamento prévio e 27,4% para a condição com alongamento prévio entre a primeira e a última série. Em relação ao volume de trabalho (número de repetições em cada série vs. carga levantada em kg), ao realizar o alon- Tabela I - Caracterização dos sujeitos (média ± desvio-padrão). Sexo Masculino N 10 Idade (anos) 27 ± 3,3 Estatura (cm) 179 ± 6,2 Massa corporal (kg) 78 ± 7,4 Tempo de treinamento (anos) 2,2 ± 0,5 Tabela II - Número de repetições por série associadas às sessões experimentais. Sem alongamento 1ª Série 2ª Série 10 ± 0 9 ± 0,7* Com alongamento 3ª Série 9 ± 0,6* 1ª Série 10 ± 0 2ª Série 8±1 3ª S Série 6 ± 1,3 *Diferença significativa em relação às séries conduzidas nas situações com e sem alongamento (Série 2, P = 0,0187; Série 3; P = 0,0012). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 92 gamento antes do treinamento da força, nota-se perda significativa do volume total de trabalho (p = 0,0001) (Figura 1). Figura 1 - Volume total de trabalho. Volume total de trabalho 1200 1000 800 600 400 200 0 1 2 3 4 Sem alongamento 5 6 7 8 9 10 Com alongamento Os dados numéricos do eixo X indicam a comparação intra-individual em relação ao número de repetições realizadas em cada série multiplicado pela sobrecarga levantada em quilos nas situações sem e com alongamento prévio. Discussão Os resultados do presente estudo ratificam que a realização aguda de alongamento estático/passivo antecedendo o exercício de supino reto ocasiona perda do desempenho em relação ao experimento executado sem o alongamento. Isso é corroborado por alguns estudos que, especificamente, utilizaram o alongamento estático/passivo como método de intervenção antes da realização das situações envolvendo força dinâmica isotônica [21-23]. Cabe ressaltar que a comparabilidade com outros estudos envolvendo diferentes alongamentos, tipo de contração muscular e equipamentos são dificultados por aspectos metodológicos. Kokkonen et al. [21] submeteram homens e mulheres jovens e aparentemente saudáveis a sessões de alongamento estático/passivo assistido e não assistido sobre a força voluntária máxima em 1 RM em dois exercícios (flexores do joelho e quadríceps). O alongamento prescrito previamente à sessão de força foram a realização de 3 séries de 15 segundos de duração e intervalo entre os alongamentos de 15 segundos nos músculos ísquio tibiais, adutores da coxa, flexores plantares, e quadríceps. Houve perda da força avaliada em 7,3% para os flexores do joelho e de 8,1% para o quadríceps. Apesar dos resultados similares entre os resultados de Kokkonen et al. [21] e os apresentados pelo presente estudo, houve diferença importante entre a prescrição do alongamento, do tipo de teste (1RM vs. RM), grupamentos musculares (membros inferiores vs. membros superiores). Isso pode estar na origem da disparidade da razão da perda de trabalho (27,4% no presente estudo vs. 7,3 e 8,1% do estudo de Kokkonen et al. [21]. Nelson et al. [22] submeteram homens e mulheres jovens aparentemente saudáveis a sessões de alongamento estático (quatro séries de 30 segundos de duração com intervalo entre séries de 15 segundos nos alongamentos de ísquios tibiais e flexores plantares). Após a sessão de alongamentos, foi verificada perda de desempenho avaliada em 24% para os ísquios tibiais e 9% para os flexores plantares. Laur et al. [23] prescreveram o alongamento estático envolvendo os ísquios tibiais (três séries de 20 segundos de duração com intervalo de 10 segundos entre as séries) antes da avaliação isotônica da força muscular na cadeira flexora utilizando 60% da carga de 1 RM. Verificou-se diminuição do número de repetições (homens - 16,2% e mulheres - 8,9%). Com base nesses resultados, pode-se aventar a possibilidade de a redução no desempenho de força, após sucessivos alongamentos, estar atrelada a fatores neurais e mecânicos como: diminuição na ativação de unidades motoras, alterações nas propriedades viscoelásticas do músculo e músculotendinosa e devido às alterações no comprimento-tensão da fibra muscular [14,15,24]. De toda forma, cabe ressaltar que alguns fatores podem minimizar ou potencializar os efeitos do alongamento realizado antes da sessão de força [5]. Assim, diversos estudos publicados nos últimos anos vêm corroborando que a duração da série de alongamento, a intensidade, o número de séries, o intervalo entre as séries, mas principalmente o tipo de alongamento são os principais fatores intervenientes [5]. Segundo Franco et al. [5] há evidências que denotem que o alongamento do tipo “facilitação neuromuscular proprioceptiva” seria o que mais interfere negativamente na produção da força subsequente. Os exercícios isotônicos não têm recebido a mesma atenção em detrimento a outros testes para a avaliação da força muscular, sobretudo pela menor validade interna do estudo. Conclusão Em conclusão, os resultados deste estudo sugerem que o alongamento estático-passivo influencia negativamente na manutenção da força máxima em séries consecutivas, com significativa perda de trabalho. Entretanto, no presente estudo não se quantificou a intensidade do alongamento. Seria interessante que estudos futuros quantificassem a intensidade do alongamento visando aumentar as possibilidades de entendimento da real influência do alongamento sobre o desempenho, tornando os resultados mais específicos e confiáveis. Os resultados ora apresentados reforçam as evidências de que a execução de exercícios de alongamento, antecedendo o treinamento resistido, prejudica o desempenho da força muscular, contribuindo para minimizar os conflitos existentes na literatura. Assim, contribui-se para uma melhor orientação por parte de profissionais de Educação Física que atuam nas academias de ginástica, no que diz respeito ao planejamento de atividades físicas concorrentes. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Referências 1. Woods K, Bishop P, Jones E. Warm-up and stretching in the prevention of muscular injury. Sports Med 2007;37(12):1089-99. 2. Yamaguchi T, Ishii K. Effects of static stretching for 30 seconds and dynamic stretching on leg extension power. J Strength Cond Res 2005;19:677-83. 3. Little T, Williams AG. Effects of differential stretching protocols during warm-ups on high-speed motor capacities in professional soccer players. J Strength Cond Res 2006;20:203-7. 4. Woolstenhulme MT, Griffiths CM, Woolstenhulme EM, Parcell AC. Ballistic stretching increases flexibility and acute vertical jump height when combined with basketball activity. J Strength Cond Res 2006;20:799-03. 5. Franco BL, Signorelli GR, Trajano GS, Oliveira CG. Acute effects of different stretching exercises on muscular endurance. J Strength Cond Res 2008;22(6):1832-37. 6. Yamaguchi T, Ishii K, Yamanaka M, Yasuda K. Acute effect of static stretching on power output during concentric dynamic constant external resistance leg extension. J Strength Cond Res 2006;20:804-10. 7. Cramer JT, Housh TJ, Weir JP, Johnson GO, Coburn JW, Beck TW. The acute effects of static stretching on peak torque, mean power output, electromyography, and mechanomyography. Eur J Appl Physiol 2005;93:530-9. 8. Wallmann HW, Mercer JA and McWhorter, JW. Surface electromyographic assessment of the effect of static stretching of the gastrocnemius on vertical jump performance. J Strength Cond Res 2005;19:684-8. 9. Fletcher IM, Jones B. The effect of different warm-up stretch protocols on 20 meter sprint performance in trained rugby union players. J Strength Cond Res 2004;18:885-8. 10. Cramer JT, Housh TJ, Coburn JW, Beck TW, Johnson GO. Acute effects of static stretching on maximal eccentric torque production in women. J Strength Cond Res 2006;20:354-8. 11. LaRoche DP, Connolly DA. Effects of stretching on passive muscle tension and response to eccentric exercise. Am J Sports Med 2006;6:1000-07. 93 12. Bradley PS, Olsen PD, Portas MD. The effect of static, ballistic, and proprioceptive neuromuscular facilitation stretching on vertical jump performance. J Strength Cond Res 2007;21:223-6. 13. Unick J, Kieffer HS, Cheesman W, Feeney A. The acute effects of static and ballistic stretching on vertical jump performance in trained women. J Strength Cond Res 2005;19:206-12. 14. Fowles JR, Sale DG, MacDougall M. Reduced strength after passive stretch of the human plantarflexores. J Appl Physiol 2000;89:1179-88. 15. Cramer JT, Housh TJ, Johnson GO, Miller JM, Coburn JW, Beck TW. The acute effects of static stretching on peak torque in women. J Strength Cond Res 2004;18:236-41. 16. Jackson AS, Pollock ML. Generalized equations for predicting body density of men. Br J Nutr 1978;40:497-504. 17. Siri WE. Body composition from fluid space and density. In: Brozek J, Henschel A, eds. Techniques for measuring body composition. Washington DC: National Academy of Science 1961. p.223-44. 18. McNair PJ, Depledge J, Brettkelly M, Stanley SN. Verbal encouragement: effects on maximum effort voluntary muscle action. Br J Sports Med 1996;30:243-5. 19. Baechle TR, Earle RW, ed. Essentials of strength training and conditioning. 2a ed. Champaign: Human Kinetics; 2000. 20. Hall SJ. Biomecânica básica. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 21. Kokkonen J, Nelson AG, Cornwell A. Acute muscle stretching inhibits maximal strength performance. Res Q Exerc Sport 1998;69:411-5. 22. Nelson AG, Kokkonen J, Arnall DA. Acute muscle stretching inhibits muscle strength endurance performance. J Strength Cond Res 2005;19:338-43. 23. Laur DJ, Anderson T, Geddes G, Crandall A, Pincivero DM. The effects of acute stretching on hamstring muscle fatigue and perceived exertion. J Sport Sci 2003;21(1):163-70. 24. Comwell A, Nelson AG, Sidaway B. Acute effects of stretching on the neuromechanical properties of the triceps surae muscle complex. Eur J Appl Physiol 2002;86:428-34. 94 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Artigo original Avaliação do estado nutricional e do consumo alimentar de praticantes de atividade física Nutritional assessment status and food intake of practitioners of physical activity Viviane Ferreira Zanirati*, Juliana Morais Amaral de Almeida**, Àzula Narayama Malacco Ferreira***, Márcia Regina Pereira Monteiro****, Roberta Ribeiro Silva***** *Mestranda em Prevenção e Controle de Agravos à Saúde pela Escola de Enfermagem da UFMG, **Mestranda em Ciências dos Alimentos pela Faculdade de Farmácia da UFMG, ***Especialista em Bases Nutricionais da Atividade Física pela Universidade Gama Filho, ****Professora adjunta do Curso de Nutrição da UFMG, *****Professora do Curso de Nutrição da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) Resumo Abstract Objetivo: Avaliar o estado nutricional e o consumo alimentar de praticantes de atividade física. Material e métodos: Foram avaliados 115 praticantes de uma modalidade de atividade física oferecida pela Escola de Educação Física de uma universidade pública. Foram realizadas avaliação antropométrica com aferição de peso, altura, circunferência da cintura (CC) e pregas cutâneas e verificação do consumo alimentar por meio do recordatório 24h. Resultados: Observou-se ocorrência considerável de excesso de peso entre os indivíduos, de 28,5% para as mulheres e 70,0% para os homens, com diferenças significativas entre os sexos (p < 0, 001). Em relação à CC, 82,0% das mulheres e 50,0% dos homens não apresentaram risco de desenvolver complicações associadas à obesidade (p = 0,004). Considerando a classificação obtida a partir do percentual da gordura corporal (%GC), verificou-se que 46,6% das mulheres e 60,0% dos homens apresentaram risco de desenvolver doenças associadas à obesidade (p = 0,724). Foi verificado que o consumo de alimentos dos grupos dos leites e derivados, das hortaliças e das frutas mostrou-se abaixo do proposto pela maioria dos indivíduos (76,3%, 91,2% e 69,3%, respectivamente), enquanto para o grupo dos açúcares, 48,2% apresentou consumo acima do recomendado. Conclusão: É necessário haver intervenções nutricionais visando a adequação do consumo alimentar para a prática de atividade física, otimizando o desempenho dos praticantes. Objective: To evaluate the nutritional status and food intake of physically active. Methods: A total of 115 practitioners of a form of physical activity offered by the School of Physical Education at a public university were assessed. We evaluated anthropometric measurement of weight, height, waist circumference (WC) and skin folds and determine food intake through the recall 24. Results: There was a considerable incidence of overweight among individuals, 28.5% for women and 70.0% for men, with significant differences between the sexes (p < 0. 001). Regarding WC, 82.0% of women and 50.0% of men did not show risk of developing complications associated with obesity (p = 0.004). Considering the classification obtained from the body fat percentage % BF, it was found that 46.6% of women and 60.0% of men were at risk of developing diseases associated with obesity (p = 0.724). It was found that the intake of food groups of milk and milk products, from vegetables and fruits was below the recommended intake (76.3%, 91.2% and 69.3% respectively), while for the group of sugars, 48.2% was above the recommended intake. Conclusion: There is a need of nutritional interventions aimed at food consumption for physical activity, optimizing the performance of practitioners. Key-words: physical activity, body composition, food consumption, nutritional status. Palavras-chave: atividade física, composição corporal, consumo alimentar, estado nutricional. Recebido 10 de fevereiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Viviane Ferreira Zanirati, Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Enfermagem, Departamento de Enfermagem Aplicada, Avenida Professor Alfredo Balena, 190 – 5º andar/ sala 522 Santa Efigênia 30130-100 Belo Horizonte, MG, Tel: (31) 3409-9847, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução Mudanças estão ocorrendo no estilo de vida, nos padrões dietéticos e na saúde das populações dos países em desenvolvimento [1]. No Brasil, as mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas ao longo do tempo permitiram que ocorresse uma transição nutricional, com a redução contínua de desnutrição e as prevalências crescentes de sobrepeso e obesidade. Aliado com a falta de atividade física esse fato vem tornando-se um dos maiores problemas de saúde das sociedades atuais, contribuindo com o aumento das doenças e agravos não transmissíveis [2,3]. A atividade física beneficia a nutrição do corpo ajudando a regular o uso dos combustíveis, mantendo o peso corporal adequado e aumentando a cota diária de calorias, o que auxilia um maior aporte de nutrientes e outros constituintes benéficos da alimentação [4]. Portanto, entende-se que a prática de atividade física seja um elemento potencializador dos resultados esperados pela adoção de práticas alimentares adequadas e, portanto, modos de vida saudáveis [5]. Entretanto, estudos demonstram que, mesmo entre praticantes de atividade física, são encontrados hábitos alimentares e estado nutricional inadequados. Pontes et al. [3], por exemplo, ao realizar um estudo com futebolistas amadores mostrou uma falta de equilíbrio de nutrientes ingeridos pelos mesmos, evidenciando reduzida ingestão de carboidratos e alta ingestão de proteínas e colesterol dietético; além disso, o estado nutricional mostrou valores prevalentes de excesso de peso. Sendo assim, é extremamente importante que a participação em prática de atividade física seja associada concomitantemente com orientação nutricional, para melhora nos hábitos alimentares, seguindo proporções balanceadas de nutrientes, ajustadas à condição nutricional de cada indivíduo, na perspectiva da melhora da qualidade de vida e do desempenho esportivo [3,6]. Mediante o exposto acima, este estudo teve como objetivo avaliar o estado nutricional e o consumo alimentar de praticantes de atividade física. Material e métodos Tipo de estudo e casuística Este estudo foi realizado com praticantes de uma modalidade de atividade física, que faz parte de um Programa oferecido pela Escola de Educação Física de uma universidade pública brasileira, entre fevereiro a novembro de 2008. Ao se matricularem nessa atividade, os participantes foram orientados pelos seus professores e também estimulados por meio de cartazes e panfletos a participarem do Projeto de Orientação e Acompanhamento Nutricional, que faz parte do referido Programa. 95 Os interessados, que totalizaram 115 pessoas, marcaram consultas individuais, que foram realizadas por duas estudantes de nutrição em encontros de no mínimo 45 minutos, uma ou mais vezes, dependendo da necessidade e interesse de cada participante. Destaca-se que apesar de se tratar de um trabalho que faz parte de um projeto também considerado como de intervenção, o foco do presente estudo é avaliar e descrever o estado nutricional e o consumo alimentar dos praticantes, se tratando, portanto, de um estudo transversal. Coleta de informações Foram coletados dados demográficos (idade e sexo), antropométricos e de consumo alimentar, além da frequência de atividade física. Essa foi avaliada com base na recomendação da Organização Mundial de Saúde - OMS [7], que preconiza a prática de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada a intensa, na maior parte dos dias da semana. A avaliação antropométrica e de composição corporal constou da aferição do peso, altura, circunferência da cintura (CC) e pregas cutâneas. O peso foi obtido utilizando a balança eletrônica da marca Plenna, com capacidade de 150 kg e divisão de 50 g., segundo técnicas preconizadas por Jellife [8]. Para aferição da altura foi utilizada uma fita métrica inextensível afixada na parede, com o indivíduo em posição ereta, descalço e com os pés unidos encostados na parede [9]. Por meio dessas medidas antropométricas (peso e altura) foi calculado o índice de massa corporal [IMC = peso(kg)/altura(m)2] e utilizou-se para a classificação da população os pontos de corte propostos pela OMS [10]. A medida da circunferência da cintura foi aferida por meio de uma fita métrica da marca Mabbis, de fibra de vidro tamanho 150 cm, sendo ela posicionada na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca. Foram utilizados os pontos de corte propostos pela OMS [11]. As pregas cutâneas triciptal, biciptal, subescapular e suprailíaca foram verificadas por meio do compasso de Lange, calibrado em pressão entre 9 e 20 g.mm-2, com três repetições de aferição, sendo em seguida calculada a média aritmética dos três valores encontrados [8,12]. Para o cálculo do percentual de gordura corporal (%GC) utilizou-se as fórmulas desenvolvidas por Durnin & Womersley [12] e para avaliação desse percentual utilizou-se o ponto de corte desenvolvido por Lohman [13]. Para verificar o consumo de alimentos atual da população, foi aplicado o recordatório alimentar de 24 horas em um dia de semana, no qual foi perguntado a respeito do consumo de alimentos, bebidas e suplementos nutricionais nas 24 horas pregressas. A avaliação foi feita pela adequação do número de porções de cada grupo de alimentos baseando-se na recomendação proposta pelo Guia Alimentar para a População Brasileira [5]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 96 Figura 1 - Classificação do IMC, segundo sexo, de praticantes de atividade física, Belo Horizonte/MG*. Aspectos éticos O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG, sendo que todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Análise dos dados A análise estatística contemplou análise descritiva e aplicação dos testes Kolmogorov-Smirnov (verificar a distribuição das variáveis), Mann-Whitney (comparar medianas de amostras independentes), Correlação de Spearman (relacionar variáveis quantitativas contínuas), Qui-Quadrado e exato de Fisher (comparar proporções de amostras independentes). As análises foram efetuadas com o auxílio do programa Statistical Package for the Social Sciences/SPSS versão 12.0 [14] e foi considerado um valor de significância de 5%. Os resultados encontram-se apresentados como média ± desvio padrão para variáveis com distribuição normal e como mediana (mínimo – máximo) para variáveis com distribuição não normal. Resultados Participaram do estudo 115 adultos, sendo 91,3% do sexo feminino, com média de idade de 31,3 ± 11,7 anos. Observou-se que a maioria dos indivíduos, apresentou frequência de atividade física de no mínimo 3 vezes por semana (72,2%), destacando que não houve diferença significativa entre os sexos; p = 0,612 (Tabela I). 100 90 80 70 60 % 50 40 30 20 10 0 Feminino (%) Masculino (%) Total 31,4 41,9 26,7 20,0 40,0 40,0 30,4 41,8 27,8 (%) Em relação ao IMC, as medianas encontradas foram de 23,1(17,3 – 35,3) kg/m2 e 27,4(22,0 – 30,9) kg/m2 para o sexo feminino e masculino, respectivamente (p = 0,004). A maioria dos indivíduos (65,2%) foram classificados pelo IMC como eutróficos, entretanto foi verificada ocorrência considerável de excesso de peso, com diferenças significativas entre os sexos; p < 0,001 (Figura 1). Em relação à CC, 82,0% das mulheres e 50,0% dos homens não apresentaram risco de desenvolver complicações associadas à obesidade (p = 0,004). Considerando a classificação obtida a partir do percentual de gordura, verificou-se que 46,6% das mulheres e 60,0% dos homens apresentaram risco de desenvolver doenças associadas à obesidade; p = 0,724 (Tabela II). 70 68,5 30 Homens Excesso de peso 3 Mulheres Eutrofia Baixo Peso *p < 0,05 Tabela II - Classificação da CC e do %GC, segundo sexo, de praticantes de atividade física, Belo Horizonte – MG. Classificação Circunferência da cintura* Percentual de gordura Tabela I - Comparação da frequência de atividade física, segundo sexo, de praticantes de atividade física, Belo Horizonte/MG. Frequência de atividade física (mínimo 30 minutos / dia) 2x semana 3x semana ≥ 4x semana 28,5 Não apresenta risco Risco elevado Risco muito elevado Abaixo da média Adequado Acima da média Risco doença associada à obesidade Feminino Masculino (%) (%) Total (%) 82 11,4 50 50 79,0 14,8 6,6 0,0 6,2 4,8 4,8 0,0 0,0 4,3 4,3 43,8 40 43,4 46,6 60 47,8 *p < 0,05 Além disso, encontrou-se correlação positiva entre as variáveis IMC e CC (r = 0,862) e entre o IMC e %GC (r = 0,592), destacando que ambas as correlações tiveram diferenças significativas (p < 0,001). Quanto ao consumo dos alimentos pertencentes ao grupo dos cereais, das leguminosas e ao das carnes e ovos, a maioria da população apresentou consumo conforme o proposto, sendo de 49,1% para os dois primeiros grupos e 71,9% para o último. Entretanto, o consumo dos grupos dos leites e derivados, das hortaliças e das frutas mostrou-se abaixo do proposto pela maioria dos indivíduos (76,3%, 91,2% e 69,3%, respectivamente). Quanto ao grupo dos açúcares, 48,2% da população apresentou consumo acima do recomendado, enquanto para óleos e gorduras, 54,4% dos indivíduos apresentaram consumo adequado. A ingestão de água foi deficiente para 54,8% dos praticantes avaliados. Destaca-se que não houve diferenças significativas entre os sexos para o consumo de nenhum dos grupos (Tabela III). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 97 Tabela III - Adequação do número de porções consumidas, segundo recomendação proposta pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, de praticantes de atividade física, Belo Horizonte/MG. Análise da adequação Grupo de alimentos Cereais, tubérculos e raízes Feijões e leguminosas Carnes e ovos Leites e derivados Hortaliças Frutas Açúcares e doces Óleos e gorduras Água Abaixo do proposto n % 55 48,2 44 38,6 14 12,3 87 76,3 104 91,2 79 69,3 16 14 0 0 63 54,8 Discussão Este estudo teve uma prevalência de participantes do sexo feminino e, segundo Pinheiro et al. [15], isso pode ser justificado pelo fato das mulheres apresentarem maior interesse em relação à sua saúde. Considerando a frequência de atividade física dos praticantes, destaca-se que a Estratégia Global da OMS [7] recomenda que os indivíduos adotem níveis adequados de atividade física durante toda a vida, sendo preconizada a prática de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada a intensa, de preferência em todos os dias da semana. Portanto, ainda uma grande parte dos indivíduos avaliados pela equipe de Nutrição não se encontram dentro desta recomendação, visto que apenas 26,7% das mulheres e 40,0% dos homens realizavam atividades físicas por no mínimo 30 minutos pelo menos 4 vezes na semana. Em relação aos dados antropométricos, foi verificada ocorrência considerável de excesso de peso de 28,5% e 70,0% entre os indivíduos do sexo feminino e masculino, respectivamente. Pontes et al. [3] em um estudo com praticantes de futebol recreativo verificou que 52,5% deles apresentavam sobrepeso e 12,5% obesidade. A partir das correlações positivas encontradas entre IMC e CC e IMC e %GC pode-se inferir que os níveis elevados de IMC, indicando sobrepeso ou obesidade, estão relacionados à elevada deposição de gordura corporal, principalmente na região abdominal. O perfil encontrado quanto a essas variáveis é preocupante, visto que o aumento da circunferência da cintura e o excesso de peso predispõem o indivíduo a desenvolver doenças cardiovasculares. Segundo Neumann et al. [16] admite-se que as condições e a exposição aos fatores de risco (sobrepeso/obesidade e doenças do aparelho circulatório), cuja associação às doenças cardiovasculares (DCV) está suficientemente demonstrada, tenham um efeito não apenas aditivo, mas potencializador entre si. Quanto ao consumo alimentar dos praticantes de atividade física, foi observado que 48,2% dos indivíduos apresentaram Conforme o proposto n % 56 49,1 56 49,1 82 71,9 21 18,4 10 8,8 30 26,3 43 37,7 62 54,4 43 37,4 Acima do proposto n % 3 2,6 14 12,3 18 15,8 6 5,3 0 0 5 4,4 55 48,2 52 45,6 9 7,8 consumo abaixo do adequado para o grupo dos cereais. Sendo assim, é necessário conscientizá-los quanto à importância do consumo deste tipo de alimento, que auxilia na manutenção dos níveis de glicose sanguínea durante a prática de atividade física, promovendo melhora no desempenho físico [17]. Além disso, esses alimentos contêm nutrientes importantes para uma alimentação saudável, como as proteínas, vitaminas do complexo B, vitamina C, caroteno, fibras alimentares, entre outros [5]. Nesse estudo foi encontrado baixo consumo de alimentos do grupo dos leites e derivados (76,3%), o que é bastante preocupante, pois esses alimentos são boas fontes de proteína e cálcio da dieta, sendo esses nutrientes importantes na prática de atividades físicas. O baixo consumo de leite registrado na Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2002-2003 revelou decréscimo de 62 kg anual/pessoa em 1987 para 38 kg anual/ pessoa, mostrando ainda pode estar havendo uma substituição do leite pelo refrigerante durante os lanches [18]. Dados semelhantes aos do presente estudo quanto ao consumo de frutas e hortaliças, onde a maioria da população apresentou um consumo abaixo do adequado para estes, foram encontrados em estudos populacionais com brasileiros, que indicaram níveis de consumo abaixo dos preconizados pelo Guia Alimentar para a População Brasileira [19-21]. O consumo insuficiente de frutas, legumes e verduras está entre os dez principais fatores de risco para a carga total global de doença em todo o mundo [22]. Evidências epidemiológicas indicam uma relação inversa entre o consumo desses alimentos e o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer [21]. Além disso, frutas e hortaliças são fontes de micronutrientes, fibras e de outros componentes com propriedades funcionais e têm baixa densidade energética, isto é, poucas calorias em relação ao volume do alimento consumido, o que favorece a manutenção saudável do peso corporal [22]. O Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda uma redução em pelo menos 1/3 no consumo atual de açúcares e doces, a partir dos dados disponíveis sobre o consumo 98 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 alimentar da população. De acordo com dados da POF 20022003, o consumo do grupo dos açúcares extrapola os limites das recomendações nas regiões metropolitanas, em todas as regiões geográficas, nas áreas rurais e urbanas e em todas as classes de rendimentos [5,18]. No presente estudo observa-se um consumo acima do recomendado pelo guia em relação ao grupo dos açúcares e doces por grande parte da população (48,2%), concordando com o exposto acima. Padrão de consumo semelhante foi observado por Fiore et al. [20], onde 61,5% dos indivíduos estudados apresentaram um consumo de açúcares acima do recomendado pelo Guia Alimentar. O estudo de Duran et al. [23] demonstrou um elevado consumo de gorduras por parte de praticantes de exercícios físicos em academias, onde 38,8% dos indivíduos tiveram este consumo inadequado. O presente estudo também demonstrou que grande parte dos indivíduos avaliados (45,6%) apresentou consumo elevado do grupo dos óleos de gorduras, de acordo com as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira, o que é preocupante, visto que o consumo excessivo de lipídeos está relacionado ao surgimento de doenças crônicas na população em geral e leva a uma diminuição do percentual de carboidratos na dieta [23,24]. Em relação ao consumo de água, de acordo com o Guia Alimentar [5], as pessoas devem ingerir no mínimo dois litros de água por dia e essa quantidade pode variar de acordo com a atividade física, visto que a demanda energética e a taxa de calor produzida aumentam significativamente [17]. Pelo fato de a maioria dos indivíduos avaliados terem apresentado consumo abaixo dessa recomendação (54,8%), constata-se que eles se encontram em risco de desidratar-se durante a prática da atividade física, principalmente por esta ser uma atividade aeróbica, o que predispõe mais ainda os praticantes à desidratação. Conclusão Conclui-se que o perfil antropométrico e nutricional dos praticantes de atividade física apresentou várias inadequações destacando o alto percentual de indivíduos com %GC elevada e com baixo consumo de frutas e hortaliças. Assim, confirmase a importância do Projeto de Orientação e Acompanhamento Nutricional como parte de um Programa de atividade física, na tentativa de otimizar os benefícios que o exercício proporciona. Além disso, a população precisa conscientizarse quanto aos hábitos alimentares inadequados e quanto à importância de promover hábitos saudáveis e condizentes à prática de exercícios. A identificação destas práticas alimentares incorretas é de grande valia para a população estudada, pois direciona as orientações e condutas nutricionais, com vistas à adoção de medidas corretivas dirigidas especialmente aos praticantes de atividade física, para obtenção de uma dieta adequada às suas reais necessidades, na perspectiva da melhora do desempenho e da qualidade de vida. Agradecimentos Os autores agradecem à Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (FUNDEP) pelo apoio financeiro e aos praticantes de atividade física em questão pela participação no estudo. Referências 1. Malta DC, Cezário AC, Moura L, Neto OLM, Junior JBS. A construção da vigilância e prevenção das doenças crônicas não transmissíveis no contexto do Sistema Único de Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2006;15:47-65. 2. Coutinho JG, Gentil PC, Toral N. A desnutrição e obesidade no Brasil: o enfrentamento com base na agenda única de nutrição. Cad Saúde Pública 2008;24(2):332-40. 3. Pontes LM, Sousa MSC, Lima RT. Perfil dietético, estado nutricional e prevalência de obesidade centralizada em praticantes de futebol recreativo. Rev Bras Med Esporte 2006;12:201-05. 4. Sizer F, Whitney E. Nutrição: conceitos e controvérsias. 1ª. ed. São Paulo: Manole; 2003. 5. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. O guia alimentar da população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. 6. Juzwiakl CR, Paschoal VCP, Lopez FA. Nutrição e atividade física. J Pediatr 2000;76(3):S349-58. 7. World Health Organization. Global strategy on diet, physical activity and health. Geneva: WHO; 2004. 8. Jellife DB. Evaluación del estado de nutrición de la comunidad. Genebra: Organización Mundial de la Salud, (série de monografias, 53); 1968. 9. Oliveira ECO, Paiva AA, Meneses FR. Avaliação do estado nutricional e consumo alimentar de adolescentes de uma escola pública de Teresina. Nutrição Brasil 2003;2:368-72. 10. World Health Organization. Obesity preventing and managing the global epidemic: report of a world health organization consultation on obesity. Geneva: WHO; 1998. 11. World Health Organization. Obesity preventing and managing the global epidemic: report of a world health organization consultation on obesity. Geneva: WHO; 1997. 12. Durnin JVGA, Womersley J. Body fat assessed from total body density and its estimation from skinfold thickness: measurements on 481 men and woman aged from 16 to 71 years. Br J Nutr 1974;32:77-97. 13. Lohman TG. Advances in body composition assessment. Champaign: Human Kinetics; 1992. 14. Statistical Package for the Social Sciences for Windows Student – SPSS [programa de computador]. Versão 12.0. Chicago: Marketing Department; 2000. 15. Pinheiro RS, Viacava F, Travassos C, Brito AS. Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2002;7:687-707. 16. Neumann AICP, Shirassu MM, Fisberg RM. Consumo de alimentos de risco e proteção para doenças cardiovasculares entre funcionários públicos. Rev Nutr 2006;19:19-28. 17. Tirapegui J. Nutrição, metabolismo e suplementação da atividade física. 1ª. ed. São Paulo: Atheneu; 2005. 18. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – Pesquisa de Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Orçamentos Familiares 2002-2003. Rio de Janeiro: Ministério do Planejamento; 2004. 19. Costa RBL, Sichieri R, Pontes NS, Monteiro CA. Disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil: distribuição e evolução (1974-2003). Rev Saúde Pública 2005; 39:530-40. 20. Fiore EG, Araújo M, Campos VJ, Mattos LL, Pelliciari MC, Nuzzo L. Perfil de indivíduos com diferentes níveis de sobrepeso e avaliação do consumo alimentar frente às diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira. Nutrição em Pauta 2007;87:11-6. 21. Jaime PC, Monteiro CA. Consumo de frutas e hortaliças na população adulta brasileira, 2003. Cad Saúde Pública 2005;21(1):19-24. 99 22. Figueiredo ICR, Jaimel PC, Monteiro CA. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verduras em adultos da cidade de São Paulo. Rev Saúde Pública 2008;42:777-85. 23. Duran ACFL, Latorre MRDO, Florindo AA, Jaime PC. Correlação entre consumo alimentar e nível de atividade física habitual de praticantes de exercícios físicos em academia. Rev Bras Ciên e Mov 2004;12:15-9. 24. World Health Organization. Obesity preventing and managing the global epidemic: report of a world health organization consultation on obesity. Geneva: WHO; 2000. 100 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Revisão Processo do envelhecimento humano Human aging process André Luiz Zanella*, Laíne Rocha Moreira**, Paulo Silvano Marinho**, Rosimar da Silva Salgueiro***, Mauro Lucio Mazini Filho****, Luis Guilherme da Fonseca*****, Dihogo Gama de Matos****** *Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Avaliação das Atividades Físicas e Deportivas (UTAD), Portugal, Universidade Estadual do Pará (UEPA), **Universidade Estadual do Pará (UEPA), ***Universidade Salgado de Oliveira, Universo, Juiz de Fora/ MG,****Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Avaliação das Atividades Físicas e Deportivas (UTAD), Portugal, *****Universidade Castelo Branco, ******Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Avaliação das Atividades Físicas e Deportivas (UTAD), Portugal, Laboratório de Avaliação Motora da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG Resumo Abstract Entende-se como envelhecimento como um processo progressivo e inevitável, caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas e de todas as capacidades físicas, fazendo com que a população idosa seja dependente de terceiros para que consigam realizar as atividades cotidianas. Dentre as diversas funções prejudicadas pelo avanço da idade está a função muscular, que, quando diminuída, afeta significativamente a qualidade de vida dos idosos. O objetivo do presente estudo foi revisar a literatura a respeito do processo de envelhecimento humano do ponto de vista das alterações fisiológicas que ocorrem nos diversos sistemas (musculoesquelético, cardiovascular, respiratório, imunológico, nervoso central). Porém, o que devemos compreender é de que o processo de envelhecimento é irreparável e continuo, podendo apenas ser amenizado, mas nunca evitado. Durante toda a fase de envelhecimento nosso corpo responde de formas e velocidades diferentes, parecendo existir uma forte correlação entre a inatividade física e a restrição ou supercompensação calórica, o que faz com que este processo possa ser amenizado. Aging is a progressive and inevitable process, characterized by decline of physiological functions as well as physical abilities. These conditions lead the aged population becoming dependent of other to perform everyday activities. Among the different functions affected by aging, loss of muscle function is one of them, which affects significantly the quality of life of the elderly. This study was a literature review on the human aging process in terms of physiological changes that occur in different systems (musculoskeletal, cardiovascular, respiratory, immunological, central nervous system). But what we should understand is that the aging process is irreversible and continuous, and can only be mitigated, but never avoided. During every stage of our aging, body responds in different ways and speeds, and it seems to have a strong correlation between physical inactivity and caloric restriction or overcompensation, which makes this process can be eased. Key-words: aging, quality of life, elderly. Palavras-chave: envelhecimento, qualidade de vida, idosos. Recebido 9 de fevereiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Dihogo Gama de Matos, R. Jornalista Carlos Tito, 40, 25811-160 Três Rios RJ, E-mail: dihogogmc@ hotmail.com Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução O envelhecimento humano vem tomando proporções significativas, principalmente nos últimos 30 anos. Segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde [1] e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [2], entre 1950 e 2025, a população de idosos, em países em desenvolvimento como o Brasil, crescerá dezesseis vezes contra somente cinco vezes da população total. A proporção passará de aproximadamente 7,5% para cerca de 15%, que é a mesma de países europeus. Este fato coloca o Brasil em termos absolutos como o sexto país em idosos, no mundo. Pode-se entender o envelhecimento como um processo progressivo e inevitável, caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas e de todas as capacidades físicas, fazendo com que esta população seja dependente de terceiros para que consigam realizar as atividades cotidianas [3]. Atualmente, a expectativa de vida tem aumentado muito em função de inúmeros fatores, tais como os avanços da medicina, de novas técnicas de fisioterapia, dos maiores conhecimentos na área de nutrição, das informações que a mídia veicula cotidianamente, do treinamento físico propriamente dito, dentre outros [4]. O envelhecimento do organismo afeta o desempenho físico, limitando a interação do homem com o meio ambiente [5]. Dentre as diversas funções prejudicadas pelo avanço da idade está a função muscular, que, quando diminuída, afeta significativamente a qualidade de vida dos idosos, levando-os a dificuldades para a realização das atividades cotidianas e, muitas vezes, tornando-os dependentes do auxílio de outras pessoas [6]. O elevado número de pessoas inativas é um fato relevante no processo de envelhecimento, tendo em vista o fato que estas perdas ocasionadas pelos processos deletérios do mesmo têm relação direta com as variáveis antropométricas, metabólicas e neuromusculares [7]. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi revisar a literatura a respeito do processo de envelhecimento humano a partir das alterações fisiológicas que ocorrem nos diversos sistemas (musculoesquelético, cardiovascular, respiratório, imunológico, nervoso central). Envelhecer O envelhecimento é um processo progressivo e inevitável, caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas e de todas as capacidades físicas [3]. Alterações na saúde mental, na cognição e no humor também são comuns na população idosa [8]. Pesquisas de Powers & Howley [6] e de Murray e Lopes [3] têm demonstrado que, com o passar dos anos, ocorrem perdas naturais das capacidades físicas como a perda de força, de flexibilidade, de velocidade, dos níveis de VO2, de massa óssea (osteopenia), além da redução na massa muscu- 101 lar (sarcopenia), devido, sobretudo, ao acometimento das fibras do tipo IIb. Além disso, nesta fase, ocorre o aumento da gordura corporal e o aparecimento de várias patologias decorrentes das mudanças citadas, como, por exemplo, a osteoporose, doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, dentre outras. Essas alterações fisiológicas e músculo-articulares associadas à inatividade física levam, geralmente, o idoso a condição degenerativa crescente de suas capacidades físicas e fisiológicas, fazendo com que ocorra o aparecimento de problemas como a perda de equilíbrio (ataxia), o comprometimento da marcha e os problemas psicológicos como a diminuição da autoestima e depressão [8]. Tendo isso em vista, é sugerido na literatura que grande parte desses aspectos deletérios do envelhecimento podem ser amenizados com a da prática de exercícios físicos regulares [9]. De acordo com Cress et al. [5], podemos evidenciar duas principais teorias para o envelhecimento biológico. Uma trata da explicação genética, onde o envelhecimento aparece como tendo sido programado biologicamente. A outra afirma que os radicais livres promovem a peroxidação da membrana lipídica, a qual pode interferir em muitos processos celulares [10]. O posicionamento em relação ao conceito do processo da velhice é divergente em vários autores, o que deixa claro a grande dificuldade para a compreensão desse estágio da vida [9]. As transformações inerentes desse processo ocorrem de forma diversificada em cada um dos indivíduos, uma vez que está em jogo o estilo de vida do idoso e os fatores genéticos [11,12]. Envelhecer é uma fase complexa e envolve muitas variáveis que interagem entre si, influenciando grandemente a maneira como se envelhece [7]. Transformações nos parâmetros sociais e ambientais irão ocorrer, pois o idoso passa a vivenciar dificuldades quanto à sua segurança e à adequação do ambiente em que vive [3]. Portanto com o aumento da população geronte mundial, uma das grandes preocupações nos países desenvolvidos é a questão da incapacidade dos sujeitos idosos e os possíveis custos que este fato poderia causar, pois com o envelhecimento, é natural que ocorra o aumento na dependência [13]. Por isso, manter esta população ativa com a prática de hábitos de vida saudáveis como alimentação balanceada, exercícios regulares e atividades sociais podem ser alternativas eficazes na diminuição dos gastos dos cofres públicos e na melhoria da saúde desta população [14]. O processo de envelhecimento populacional, em países desenvolvidos, ocorreu de forma gradual e acompanhado de melhorias na cobertura do sistema de saúde, nas condições de habitação, saneamento básico, trabalho e alimentação. No Brasil ocorre rapidamente e em um contexto de desigualdades sociais, economia frágil, níveis de pobreza, precário acesso aos serviços de saúde e reduzidos recursos financeiros, ou seja, esse processo ocorre sem que haja modificações estruturais que respondam às demandas do novo grupo etário emergente [7,12]. 102 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Envelhecimento do sistema musculoesquelético Com o processo de envelhecimento existem mudanças principalmente na estatura, peso e composição corporal [8]. Com o avançar da idade, essas mudanças fazem com que os componentes do sistema musculoesquelético percam sua funcionalidade, fazendo com que o idoso deixe de realizar as atividades da vida diária com eficiência. Os ossos tornam-se mais frágeis com a idade devido ao decréscimo no conteúdo mineral ósseo que causa aumento na porosidade do osso. A lenta, mais progressiva perda de osso com a idade tem sido ligada à inatividade física e a fatores genéticos, hormonais, nutricionais e mecânicos [3]. Para Chakravartht et al. [12] a altura ereta diminui de 30 a 50 mm durante o final da vida adulta, por causa da crescente curvatura da coluna vertebral (cifose), da compressão dos discos intervertebrais e, no período de velhice extrema, pelo colapso osteoporótico de uma ou mais vértebras. Weineck [9] argumenta que a partir dos 30 anos podemos perder até 1,2 cm de altura por década pelos mesmos motivos. Matsudo [8] afirma também que um sistema musculoesquelético adequadamente funcional é a chave para a independência e da boa qualidade de vida, sendo que a perda de equilíbrio e subsequente queda entre os gerontes são as maiores questões da medicina geriátrica. Então, a necessidade de melhorar a função muscular e o equilíbrio é importante em indivíduos idosos, principalmente aqueles com doenças musculoesqueléticas crônicas. Não somente há disfunção no componente ósseo, mas também na hipertrofia muscular. A hipotrofia muscular observada com a idade parece resultar da inatividade física e em gradual e seletiva deterioração das fibras musculares, mais notadamente das fibras do tipo II (fibras rápidas). A atrofia muscular, que é responsável por grande parte da diminuição de massa magra com o envelhecimento, reflete tanto no decréscimo de tamanho médio das fibras quanto no decréscimo do número de fibras musculares [11]. O mesmo autor acrescenta que as fibras musculares de contração rápida podem ser perdidas simplesmente porque pessoas idosas raramente exercem contrações musculares fortes contra alguma resistência. Face ao exposto e conforme as várias mudanças que ocorrem com o processo de envelhecimento sobre o sistema musculoesquelético, torna-se imprescindível a aquisição de um estilo de vida ativo, visto que esta atitude contribui de forma gratificante para melhorias como o aumento da força muscular, taxa de massa mineral óssea, como resistência muscular [9]. A osteoporose implica em uma baixa massa óssea e uma deterioração micro arquitetural associada no tecido ósseo. Durante o período da perimenopausa, o processo afeta principalmente o osso trabecular (esponjoso), predispondo a fraturas por compressão das vértebras e fraturas dos pulsos em quedas. Todavia, em indivíduos mais velhos, há uma perda progressiva tanto do osso trabecular quanto do osso compacto, predispondo a fraturas de quadril. Essa fragilidade está presente em nível muito mais alto em mulheres no período pós-menopausa devido a alterações hormonais mais drásticas e porque as mulheres naturalmente têm menos massa óssea. O processo pode ser amenizado com reposição hormonal, aumento da ingestão de cálcio e aumento de exercícios com cargas de peso, sustentação do peso corporal acompanhado de pequenos impactos nas articulações o que estimula a matriz óssea a absorver maior quantidade de cálcio [8]. A atividade física beneficia não só o conteúdo mineral ósseo, mas igualmente outros fatores relacionados aos riscos de fraturas como a força muscular, a flexibilidade, o tempo de reação e o equilíbrio – elementos fundamentais para o adequado controle do corpo em movimento [15]. Envelhecimento do sistema cardiovascular Matsudo [8:52] afirma que “em ordem de prioridade, acreditamos que após o impacto das alterações do sistema neuromuscular na mobilidade e capacidade funcional do idoso, devem ser consideradas as alterações do sistema cardiovascular e respiratório”. Conforme nos ensinam Mittal e Logmani [16], a meta do sistema cardiovascular é garantir que os músculos tenham uma boa irrigação. Assim, para que isso aconteça, existe o aumento do débito cardíaco, que, por sua vez, envia maior quantidade de sangue oxigenado para os músculos em atividade. Deste modo, a função circulatória necessita de dois mecanismos reguladores interdependentes: a aceleração da frequência cardíaca e uma alteração na pressão arterial. Essa frequência cardíaca é caracterizada pelo número de contrações do músculo cardíaco por minuto. O coração é uma bomba e com a idade, ele é obrigado a fazer maior esforço em razão das crescentes resistências arteriais. Com o passar dos anos, a parede arterial vai perdendo gradualmente a elasticidade em consequência do processo de aterosclerose, onde se vê o endurecimento e aumento da espessura das paredes arteriais e aparecimento de placas. Conforme Richard [17], em parte por causa de pressões sistólicas aumentadas devido ao aumento no volume diastólico final, a espessura da parede ventricular esquerda e a massa ventricular são maiores no idoso do que em uma pessoa mais jovem. Além do aumento global da pressão sistólica em repouso, há uma alteração na forma da onda de pulsação com o envelhecimento. Portanto, registros da artéria carótida demonstram aumento final de pressão sistólica em indivíduos mais velhos. Pensa-se que isso seja em razão de um aumento na magnitude das ondas de pressão refletidas à medida que as artérias se enrijecem. Para Katzman [18], entre 20 e 75 anos a frequência cardíaca máxima cai 25% durante o esforço, os músculos cardíacos enfraquecem e a quantidade de sangue bombeado cai pela metade entre 20 e 90 anos. Doenças cardíacas estão entre as principais causas de morte após os 65 anos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Diante do exposto, Trelles [13] reforça que o envelhecimento induz algumas alterações da frequência cardíaca em repouso, porém há diferenças mais notáveis relacionadas à idade na reação ao exercício submáximo e máximo. Continua afirmando que a frequência cardíaca máxima diminui substancialmente com o envelhecimento. As razões para o declínio na frequência cardíaca máxima relacionada à idade ainda têm que ser totalmente resolvidas, mas possivelmente incluem alterações na liberação e reação às catecolaminas e uma crescente rigidez da parede cardíaca. Conforme Tomlinson e Irving [19], o processo de aterosclerose se dá devido ao aumento na calcificação e um surgimento de tecido conectivo colágeno nas artérias. A arteriosclerose afeta o desempenho do sistema circulatório. A pressão sanguínea aumenta e a quantidade de oxigênio e nutrientes que alcançam as células do corpo diminui, podendo prejudicar a eficiência de desempenho dos órgãos e tecidos. As válvulas dentro do sistema circulatório tornam-se mais espessas e menos elásticas resultando em um trabalho menos eficiente. Para Weineck [9], fatores potenciais que contribuem para a redução da diferença arteriovenosa de oxigênio máxima incluem redução do conteúdo de oxigênio arterial, distribuição periférica mais deficiente do débito cardíaco disponível e perda da atividade nos sistemas teciduais. Parte do aumento maior na pressão arterial sistêmica da pessoa mais velha é desenvolvida pela restrição progressiva do fluxo sanguíneo para partes do corpo que estão envolvidas em exercício – particularmente, os músculos inativos. O coração reage de modo favorável aos programas de exercícios físicos dinâmicos realizados de modo regular. Assim, estimula-se o aumento da contractilidade do miocárdio, queda da frequência cardíaca e ampliação da função ventricular. Tendo como hábito regular a prática de exercícios físicos, o coração torna-se menos sensível aos episódios de isquemia e esse fator pode levar a proteção do músculo cardíaco com relação a diversas doenças, valendo tanto para jovens como para idosos [17]. Efeitos do treinamento aeróbio no idoso referem-se à condução e à utilização do oxigênio. Isso inclui aumento de hemoglobina, de mitocôndrias, da atividade de enzimas aeróbias e do volume sanguíneo total. O treinamento aeróbio pode melhorar a função sistólica ventricular no idoso, seja durante o repouso, seja durante o exercício [15]. Envelhecimento do sistema respiratório Com o envelhecimento, as paredes do pulmão vão ficando mais rígidas e os músculos envolvidos na respiração, como, por exemplo, o diafragma, enfraquecem. Com isso, a capacidade pulmonar diminui em 40% dos 20 aos 80 anos [9]. Ainda segundo o autor com o envelhecimento há o aumento na profundidade do peito que reflete uma perda ou uma alteração nas propriedades das fibras elásticas dos 103 pulmões. O trabalho necessário para modificar o volume do tórax é aumentado pela cifose, a perda de elasticidade nas costelas, e o enrijecimento, ou até mesmo a anquilose, das articulações sobre as quais as costelas giram. Alterações na forma torácica relacionadas à idade afetam adversamente as relações extensão-comprimento para muitos dos músculos respiratórios. Portanto a respiração depende crescentemente da atividade do diafragma. Com o envelhecimento há o espessamento do alinhamento de mucosa nas vias respiratórias menores e a diminuição da elasticidade torácica que tendem a estreitar as pequenas vias respiratórias de uma pessoa mais velha. Isso aumenta a resistência tanto ao fluxo de ar inspiratório quanto ao fluxo de ar expiratório. Isso também aumenta a variação de pressão dos pulmões para a porção extratorácica das vias respiratórias para qualquer nível de fluxo determinado [3]. Segundo Richard [17], nota-se que o consumo máximo de oxigênio declina com a idade, mas está terminantemente provado que gerontes ativos apresentam níveis mais altos desta variável que os adultos jovens sedentários. Levando à certeza que vale a pena treinar idosos e buscar melhor qualidade de vida. Segundo afirma Garret [7], ainda não foi esclarecido se o exercício regular durante a vida inteira anula o envelhecimento do sistema pulmonar. Estudos em corte transversal indicam que a capacidade pulmonar dinâmica de atletas mais velhos treinados em endurance ultrapassa aquela de seus pares sedentários. Apesar de estudos longitudinais não proporcionarem uma resposta definitiva, os dados disponíveis sugerem que a atividade física regular retarda a deterioração na função pulmonar associada com o envelhecimento. Grande parte desse efeito está relacionada provavelmente à manutenção da potência e da endurance da musculatura ventilatória com exercício regular. Envelhecimento do sistema imunológico Dentre as teorias que procuram explicar o envelhecimento, existem as teorias do desequilíbrio gradual que afirmam que o cérebro, as glândulas endócrinas ou o sistema imunológico começam a deixar de funcionar gradualmente, existindo as deficiências do sistema imunológico deixando os indivíduos idosos vulneráveis a doenças de vários tipos, chamados de senilidade, o que seria na opinião do autor como sendo o envelhecimento com doença [9]. Para ele o outro tipo de envelhecimento chama-se de senescência, que seria o envelhecimento sem doença. O envelhecimento do sistema imunológico recebe o nome científico de imunosenescência e, como todo o organismo sofre perda da sua capacidade com o avançar da idade do indivíduo, leva ao aparecimento de maior número de infecções e resposta terapêutica menor, além do surgimento de cânceres [8]. Ainda segundo o autor citado anteriormente, a progressiva involução do timo (glândula marcadora dos linfócitos T) tem 104 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 importante papel no desenvolvimento da imunodeficiência dos idosos. Silva & Barros [11] concordam e afirmam que os linfócitos T dos idosos são deficientes quanto à sua capacidade para ativar e para proliferar uma determinada resposta a um determinado antígeno e salientam que com a idade, os linfócitos T diminuem a produção e secreção de interleucina-2 (citocina necessária ao recrutamento de outras células de defesa). Ainda segundo os autores o linfócito T helper ou auxiliar (CD4+) deficiente leva a uma resposta alterada dos anticorpos para os antígenos sendo que o recrutamento de macrófagos por células T também está diminuído nos idosos. Garret [7] concorda com o exposto anteriormente e fala que o recrutamento de macrófagos por células T também está diminuído nos idosos, assim como a quimiotaxia dos neutrófilos polinucleares e a fagocitose. Fato que pode ser explicado segundo ele, pela carência nutricional, geralmente presente nos idosos. O autor ainda afirma que a nutrição é importante determinante da imunocompetência (capacidade de resposta do sistema imunológico), ressaltando que em certos estados de deficiência relacionados à má nutrição ocorre a diminuição da resposta aos mitógenos e antígenos, das células CD 4+ (linfócitos T-auxiliares ou helpers), da taxa CD 4+/ CD 8+ (relação entre linfócitos auxiliares e supressores), da produção dos imunocomplexos, dos neutrófilos Killing (NK) e hipersensibilidade tárdia. Chakravartht [12], por sua vez, afirma que os micronutrientes melhoram a imunidade mediada por células e reduz o estresse oxidativo. Segundo ele a suplementação de vitamina E em idosos bem nutridos saudáveis aumenta a proliferação de linfócitos e resposta de hipersensibilidade tardia, assim como diminui a formação de prostaglandinas imunossupressoras. Para ele a vitamina C regenera a forma de antioxidante da vitamina E, sendo importante na desnutrição dos patógenos (bactérias e vírus) pelos neutrófilos. E finaliza afirmando que em idosos, a suplementação de micronutrientes (vitaminas e sais minerais) aumenta o subgrupo de células T e a atividade das células natural killer (NK), que faz com que seja observado que os idosos institucionalizados sofrem de carência de vitaminas, particularmente cianocobalamina, folato e piridoxina, assim como zinco, que os deixa mais propensos a infecções. O uso de antioxidantes (vitamina A, C, E, alfa e betacaroteno, critoxantina, licopeno, luteína e zeaxantina) e de vitaminas B (tiamina, riboflavina, niacina, piridoxina, cobalamina e folatos) diminuem o risco de infecções, sobretudo, pneumonias comunitárias [3]. Envelhecimento do sistema nervoso central O envelhecimento promove uma série de alterações anatômicas e químicas no encéfalo e medula. Algumas alterações anatômicas têm sido observadas macroscopicamente. Segundo Trelles [13], estas modificações ainda que aceitas não permitem verdadeiramente precisar se são decorrentes do processo de involução senil. Ainda que pareça definitivo que o encéfalo se atrofie com a idade, acreditamos que há muito para esclarecer, pois Dekaban e Sandowsky [20] demonstraram uma grande variação de peso no cérebro de pessoas com idade entre 70 e 89 anos, considerada normal do ponto de vista comportamental e psicológico. Davies e Wrigth [21] desenvolveram uma técnica para estudar a relação entre volume do cérebro e a arcada craniana. A relação permanece constante em 0.92 até a idade de 55 anos e logo decresce progressivamente até 0.82 por volta de 90 anos. Corsellis [14] comparou o volume da substância cinzenta com o volume de substância branca e observou que jovens apresentavam a proporção de 1,28 e idosos aos 60 anos apresentavam proporção de 1,33. No entanto, por volta dos 100 anos esta proporção atingiria cerca de 1,55. Desta forma, podemos acreditar que de acordo com Brody (1955) ocorre uma diminuição no volume do cérebro de cerca de 2% a cada dez anos depois dos cinquenta anos e que o peso do cérebro decai cerca de 15% do volume máximo alcançado por volta dos oitenta anos. Portanto, nos primeiros 50 anos perdemos mais substância cinzenta que branca e na segunda metade da vida esta relação se inverte. Richard [17] observou, utilizando análise histológica, que durante o processo de envelhecimento podem ocorrer diversas alterações, as mais importantes são a diminuição de células, alterações dendríticas, placas senis, degeneração neurofibrilar, degeneração granulo-vacuolar e acúmulo de lipofucsina. Estas lesões predominam no córtex pré - frontal e parieto temporal, núcleo ceruleus, substância negra e núcleo de Meynert. Ocorre uma redução progressiva do consumo de oxigênio e de glicose, diminuindo as funções cognitivas, decorrentes dos diversos circuitos cerebrais semelhante ao processo que ocorre na doença de Alzheimer. Os neurônios do encéfalo não são uniformemente sensíveis à morte neuronal durante o envelhecimento. Uma perda neural acentuada já foi observada por diversos pesquisadores, no entanto, Hang et al. [15] demonstraram que, na verdade, não há uma perda neuronal, e sim uma diminuição de tamanho dos neurônios. Em contraste, na substância negra [18] e no locus ceruleus [20] observaram que estes núcleos sofrem uma importante perda neural, principalmente nos primeiros 50 anos de vida. A neurobiologia do envelhecimento está centrada em mecanismos estruturais e funcionais. Modificações senis do sistema serotoninérgico podem ter relação com as alterações de humor, concomitantes ou não com variações funcionais do sistema gabaérgico. As alterações estruturais do sistema nervoso do idoso podem ser responsáveis pela falta de tolerância a modificações de temperatura e fácil produção de hipo ou hipertermia [16]. Algumas alterações estruturais estão associadas à perda paulatina da capacidade motora, redução da destreza e reflexos e, principalmente, à perda da coordenação medula-cerebelo-vestíbulo para a bipedestação. Em relação às alterações sensorio-motoras, observamos o aparecimento de artrose periférica, espondilose e espondi- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 loartrite, reumatismo crônico, artrite reumatóide, artropatia metabólica (gota), polimialgia reumática e osteopenia. Um dos efeitos mais proeminentes relacionados à idade é em parte relacionado à unidade motora e ao neurônio motor inferior. Como consequência, as fibras musculares inervadas por esses neurônios também serão afetadas, explicando assim as reduções de massa muscular e força que observamos na idade avançada [22]. Até a idade de 60 anos Tomlinson e Irving [19] e Kawamura et al. [23] não observaram nenhuma evidência de perda neuronal motora, mas além dessa idade uma perda acentuada em torno de 25% de neurônios foi detectada e esta perda se apresentou uniforme em todos segmentos. Para Mittal e Logmani [16] não detectaram apenas redução do número de neurônios, mas também uma redução no diâmetro das fibras nervosas. Trelles [13] descreveu que o envelhecimento conduz a alterações na estrutura química cerebral. Ao redor dos 80 anos existe uma perda acentuada na quantidade de proteínas cerebrais e um aumento do DNA total, provavelmente decorrentes das reações gliais. O aumento de idade não provoca maiores perdas de lipídeos, mas o que mais tem merecido a atenção dos pesquisadores são os neurotransmissores. Observa-se redução nos níveis de catecolaminas, dopamina e noradrenalina em várias regiões do encéfalo, sobretudo no tronco encefálico e em regiões onde terminam os axônios dopaminérgicos e noradrenérgicos (núcleos da base, hipotálamo e córtex cerebral). As alterações mais significativas ocorrem na via nigro-estriatal e podem estar relacionadas com as alterações promovidas pelo Parkinsonismo. Durante o envelhecimento, observa-se que as enzimas que catabolizam a inativação das catecolaminas, a MAO e a Catecol-O-metiltransferase estão com a atividade aumentada. A síntese de serotonina está diminuída em decorrência da diminuição da atividade da enzima responsável pela sua síntese, a triptofano hidroxilase. Os neurotransmissores Acetilcolina e o Gaba estão igualmente diminuídos decorrentes também da diminuição da atividade das enzimas que os sintetizam, colina-acetil transferase ( Hipocampo) e ácido glutâmico descarboxilase (Tálamo). Outras alterações bioquímicas foram verificadas, por exemplo, as enzimas limitantes, tirosina hidroxilase e a aromático L aminoácido descarboxilase encontram-se com suas atividades diminuídas. Em recentes estudos com ratas, Ingvar et al. [24] demonstraram que a redução da atividade das enzimas são mais proeminentes nas áreas visual e auditiva do córtex cerebral e em determinadas regiões do sistema límbico. Conclusão Os efeitos do envelhecimento sobre o organismo são bastante conhecidos em nossa literatura bem como as partes do corpo que sofrem maior influência com o passar dos anos. Em nossa discussão tornou-se claro que muitas das alterações que ocorrem com o envelhecimento devem-se, grande parte, à inatividade que frequentemente acompanha o idoso. 105 Quando pessoas mais velhas participam de treinamentos, a maioria das alterações associadas ao envelhecimento são minimizadas. Porém o que devemos lembrar e salientar é de que o processo de envelhecimento é irreparável e contínuo, podendo apenas ser amenizado, mas nunca evitado. Durante toda a fase de envelhecimento nosso corpo responde ao fator de formas e velocidades diferentes, sendo que ao que parece existe uma forte correlação entre a inatividade física e a restrição ou supercompensação calórica, o que faz com que este processo possa ser amenizado. Referências 1. World Health Organization. Health Evidence Network. What are the main risk factors for disability in old age and how can disability be prevented. Copenhagen: WHO; 2004. 2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Projeção de população do Brasil por sexo e idade para o período de 1980-20050. Diretoria de Pesquisa. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro: IBGE; 2004. 3. Murray CJ, Lopez AD. Mortality by cause for eight regions of the world: global burden of disease study. Lancet 1997;349:1269-76. 4. American College of Sports Medicine. Position stand on exercise and physical activity for older adults. Med Sci Sports Exerc 1998;30:992-1008. 5. Ress ME, Kenneth BS, Mulrow CD, Fiatarone MA, Gerety MB, Buchner MD. Relationship between physical performance and self-perceived physical function. J Am Geriatric Soc 1995;2:93-101. 6. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3a ed. São Paulo: Manole; 2000. 7. Garrett NA, Brasure M, Schmitz KH, Schultz MM, Huber MR. Physical inactivity: direct cost to a health plan. Am J Prev Med 2004;27:304-9. 8. Matsudo SM. Envelhecimento, atividade física e saúde. Revista Mineira de Educação Física. Viçosa: Paulo Lannes Lobato; 2002. 9. Weineck J. Biologia do Esporte. 7ª ed. São Paulo: Manole; 2005. 10. Robergs RA, Roberts SO. Princípios fundamentais de Fisiologia do Exercício para a aptidão, desempenho e saúde. 1ª ed. São Paulo: Phorte; 2002. 489 p. 11. Silva DK, Barros MVG. Indicação para a prescrição de exercícios dirigidos a idosos. Departamento do Conhecimento Técnico e Científico em Educação Física 2000 - ESEF / UPE. [citado 2009 Jul 23]. Disponível em URL http://www.upe.br/ corporis3/artigo5.html 12. Chakravarthy MV, Joyner MJ, Booth FW. An obligation for primary care physicians to prescribe physical activity to sedentary patients to reduce the risk of chronic health conditions. Mayo Clin Proc 2002;77:165-73. 13. Trelles L. El envejecimiento del sistema nervioso: Aspectos estructurales y bioquímicos. Rev Neuropsiquiatr 1986;49(4):192202. 14. Corsellis JAN. Alzheimer disease: senile dementia and related disorders. New York: Raven Press; 1978. 106 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 15. Hang H. Macroscopic and microscopic morphometry of the human brain and cortex. A survey in the light of new results. Brian Pathol 1984;1:123-49. 16. Mittal KR, Logmani FH. Age-related reduction in 8th cervical ventral nerve root myelinated fiber diameters and numbers in man. J Gerontol1987;42:8-10. 17. Richard J, Alhenc-Gelas F, Courbon D, Warnet JM, Corvol P. Distribution of plasma angiotensin I-converting enzyme levels in healthy men: relationship to environmental and hormonal parameters. J Lab Clin Med 1991;117(1):33-9. 18. Katzman-Rooks SM, Poehlman EM, Berke JR, Joseph AW, Gardner AW. Influence of aerobic capacity, body composition, and thyroid hormones on the age-related decline in resting metabolic rate. Metabolism 1992;41(8):915-21. 19. Tomilinson BE, Irving D. The numbers of limb motor neurons in the human lumbosacral cord throughout life. J Neurol Sci 1977;9:321-46. 20. Dekaban A, Sadwsky D. Changes in brain weights during the span of human life: Relation of brain weights to body heights and body weights. Ann Neurol 1978;4:345-56. 21. Davis PJM, Wright EA. A new method for measuring cranial cavity volume and its application to the assessment of cerebral atrophy at autopsy. Neuropathol Appl Neurobiol 1977;3:34145. 22. Lexell J. Human aging, muscle mass, and fiber type composition. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 1995;50:11-6. 23. Kavamura Y, O’Briem P, Okazaki H, Dyck PJ. Lumbar motoneurons of man. II: Numbers and diameter distributions of large-andintermediate-diameter cytons in motoneuron columns of spinal cord of man. J Neuropathol Exp Neurol 1977a; 36:860-870. 24. Ingvar MC, Maeder P, Sokoloff L, Smith CB. Effects of ageing on local rates of cerebral protein synthesis in Sprague Dawlwey rats. Brain 1985;108:155-70. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 107 Revisão Treinamento aeróbio para adultos obesos portadores de diabetes mellitus tipo 2 Aerobic training in obese adults with mellitus diabetes type 2 Jean Flávio Alves*, Rafaela de Castro Santos*, Raquel Brunini Nórcia Fada*, Tania Regina Gonçalves Gomes*, Tiago Lasaponari*, Kátia Sampaio** *Pós-graduados em Exercício Físico Aplicado à Reabilitação Cardíaca e a Grupos Especiais (UGF), **Pós-graduada em Fisiologia do Exercício (UGF) Centro de Pós-Graduação e Pesquisa Gama Filho – UGF/Campinas Resumo Abstract O diabetes mellitus é uma doença milenar que se estende até os dias atuais como sendo uma das maiores epidemias globais da história da humanidade, e, sem dúvida, proporciona impactos importantes nos setores econômicos mundiais com o seu tratamento, tornando-o, assim, um dos mais importantes problemas de saúde pública do mundo. No Brasil, cerca de 10% da população está ameaçada pela doença, porém somente a metade desse percentil, cerca de 8 milhões de pessoas, sabem de seu diagnóstico. O grande fator precursor dessa doença está principalmente no estilo de vida, onde fatores como o desequilíbrio nutricional e a hipocinesia acarretam elevadas taxas de sobrepeso e de obesidade, um fator de aproximadamente 80% de evidência para o desenvolvimento do diabetes mellitus tipo 2. A partir do exposto, o objetivo deste estudo é analisar de forma teórica os benefícios da prática da atividade física aeróbica aos indivíduos obesos portadores do diabetes mellitus tipo 2. Diabetes Mellitus is a millenary disease, becoming one of the largest global epidemics of mankind history and, undoubtedly, its treatment causes an important impact in the world economy, and is one of the most important public health problems in the world. In Brazil, around 10% of the population is threatened by this disease, although only half of this population, around 8 million people, know about the diagnosis. The main precursor factors is the lifestyle, as nutritional unbalance and sedentarism, leading to high overweight and obesity rates, which means 80% of evidence to develop diabetes mellitus type 2. The aim of this study was to analyze in a theoretical way if aerobic physical activity benefits to obese people with mellitus diabetes type 2. Key-words: aerobic training, obesity, mellitus diabetes. Palavras-chave: treinamento aeróbio, obesidade, diabetes mellitus. Recebido 10 de fevereiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Jean Flávio Alves, Rua Goiás, 21 Jardim Nova Veneza 13177-062 Sumaré SP, Tel: (19) 3832-1117 108 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução O diabetes mellitus é considerado uma das maiores epidemias da história da humanidade. Estima-se que, no ano de 2025, cerca de 380 milhões de pessoas serão portadoras dessa doença [1], sendo este um dos mais importantes problemas de saúde pública do mundo, pois acarreta um grande impacto nos setores econômicos com os cuidados médicos e hospitalares no seu tratamento [2-4]. Essa epidemia atinge, hoje, mais de 350 milhões de pessoas no mundo e, no Brasil, cerca de 10% da população está ameaçada pela doença, porém só a metade sabe que é portadora e, na grande maioria, esta enfermidade está relacionada ao seu estilo de vida [5]. O aumento das taxas de sobrepeso e da obesidade associado às alterações do estilo de vida e ao envelhecimento populacional são os principais fatores que explicam o crescimento da prevalência do diabetes mellitus tipo 2 [3]. O DM é dividido em duas formas distintas, sendo o diabetes mellitus tipo 1 (DM1), resultado de uma complexa interação entre fatores genéticos e ambientais ainda não bem esclarecidos, e o diabetes mellitus tipo 2 (DM2), parte de uma ampla síndrome centralizada no fenômeno da resistência insulínica da qual decorre uma série de distúrbios metabólicos e hemodinâmicos [6]. O exercício físico praticado de forma regular é altamente recomendado para as pessoas que têm tanto o DM1 quanto o DM2 [7], que, combinado com atividades aeróbicas e exercícios resistidos tem sido um excelente modelo terapêutico aos diabéticos [8]. O controle de alguns fatores de risco modifi cáveis como o peso, a dieta alimentar e a prática de atividade física regular podem reduzir em até 88% os riscos de desenvolver o DM2 [9]. A prática de atividade física é um fator importante na eficiência da prevenção e do controle dessa doença [5], sendo também muito benéfico a todos os indivíduos [6]. Sabendo que o exercício físico pode minimizar esses fatores de risco e os custos da saúde pública, esta pesquisa de revisão literária tem como objetivo analisar os benefícios em indivíduos obesos diabéticos do tipo 2 submetidos à atividade física aeróbica. que tem significado de “doce” [5] e a insipidus, que significa sem sabor [11]. Em 1909, Meyer descobriu uma hipotética substância produzida pelas ilhotas de Langerhans, sendo estas células pancreáticas descritas como ilhotas por Paul Langerhans em 1889. Esta substância hipotética foi isolada, em 1921, por dois jovens cientistas canadenses Banting e Charles Best na forma de insulina [10], quando foi denominada a era insulínica, pois pelo menos 2/3 dos comas diabéticos em pacientes portadores de DM1, resultavam em óbito. Essa descoberta proporcionou um aumento significativo na longevidade dos pacientes [12]. O DM é uma desordem metabólica crônico-degenerativa de etiologia múltipla que está associada à falta ou à deficiência da ação do hormônio insulina que é produzido pelo pâncreas [13]. Essa alteração do funcionamento proporciona as duas principais classes do DM o tipo 1 (insulino dependente) e o tipo 2 (insulino não dependente) [14] que são os tipos mais comuns na literatura [15]. Atualmente os cientistas vêm insistindo, por décadas, em pesquisas no intuito de repor as células pancreáticas responsáveis pela produção de insulina que foram destruídas pelo sistema imune. A descoberta do cientista James Thomson, em 1998, de métodos para isolar e cultivar células tronco embrionárias humanas, renovou as esperanças de uma cura para o diabetes, no entanto um protocolo detalhado para obter células secretoras de insulina ainda não foi bem estabelecido. Todos esses procedimentos são muito promissores, mas o mecanismo envolvido no processo de diferenciação ainda não está claro. O principal desafio é obter um produto capaz de mimetizar o mais próximo possível as características básicas de uma célula pancreática e assim ser capaz de restaurar a perda da função do organismo [16]. Esses dois grupos anteriores de classificação do DM foram dados de acordo com a apresentação clínica da patologia, porém com o avanço das pesquisas em patofisiologia em conjunto com a evolução dos conhecimentos das áreas da genética e da imunologia, tornaram-se mais evidentes as limitações destas classificações, sendo então definidos em 1997 pela American Diabetes Association (ADA), quatro subtipos principais da doença [17], que são o Diabetes Mellitus do tipo 1, Diabetes Mellitus do tipo 2, Diabetes Mellitus gestacional e o Diabetes Mellitus por outros tipos específicos [18]. Etiologia do diabetes mellitus Classificação do diabetes mellitus O DM é uma doença milenar que acompanha a humanidade até os dias atuais, sendo denominado como diabetes por volta de 150 a.C. pelo médico grego Aretaeus, que em grego significa sifão (tubo de espirar água), devido aos enfermos pela doença urinar demasiadamente, sendo mais tarde em 1670 redescoberto pelo cientista Willis o sabor adocicado da urina e demonstrado pelo inglês Mathew Dobson, em 1776, o açúcar secretado, o que permitiu distinguir dois tipos de diabetes [10]: a mellitus que é uma palavra derivada do latim Diabetes mellitus tipo 1 O DM1 é caracterizado pela deficiência absoluta de insulina, sendo esta, na grande maioria dos casos, causada por um processo autoimune desencadeado tanto por fatores genéticos como ambientais, acometendo em torno de 8% a 10% da população diabética [19], habitualmente em indivíduos mais jovens [20]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Diabetes mellitus tipo 2 O DM2 é caracterizado por um distúrbio associado à incapacidade das membranas celulares captarem de forma eficiente a glicose circulante da corrente sanguínea para o interior da célula [21], acometendo com maior incidência entre 90 a 95% da população diabética, geralmente em indivíduos de meia idade ou em idade avançada [2]. Diabetes mellitus gestacional O DM gestacional é desenvolvido devido à incapacidade das mulheres aumentarem a sua secreção de insulina durante a gravidez [10], surgindo por volta do segundo ou do terceiro trimestre de gestação [21], e acometendo cerca de 2% das gestantes principalmente nas que apresentam certo grau de obesidade. Normalmente, esses casos de tolerância à glicose retornam aos seus níveis normais após o parto, porém as mulheres que apresentam esse histórico têm 30% de chances de desenvolver o DM2 no futuro [5]. Diabetes mellitus – outros tipos específicos São caracterizados por distúrbios causados por outras doenças [10], geralmente incomuns, e estão associadas a defeitos genéticos da função da célula ou da ação insulínica, podendo ser induzidas por farmacológicos endocrinopáticos ou químicos, por infecções ou outras síndromes genéticas [21]. Principais causas do diabetes mellitus Os principais fatores para o surgimento do DM2 são a hereditariedade, os hábitos alimentares, o estresse, o sedentarismo e a obesidade. Com exceção do fator da hereditariedade, todos os demais podem ser prevenidos ou controlados [22]. Obesidade como causa do diabete mellitus tipo 2 Ao longo da história da humanidade, o ganho de peso e o depósito exagerado de gordura eram vistos como sinais de saúde e de prosperidade, porém com a facilidade atualmente de se obter alimento somado com uma crescente ação hipocinética, a obesidade se destacou como um dos problemas mais graves de saúde, onde sua prevalência cresceu acentuadamente nas últimas décadas, inclusive nos países em desenvolvimento, o que levou estas doenças a uma condição de epidemia global [23]. Atualmente a obesidade não difere entre raça, sexo, idade ou nível social, e também deixou de ser um mero problema estético para se tornar uma alarmante associação de comorbidades [23], tendo prevalência no sexo feminino com o avançar da idade [24]. Esse grupo tem o pior controle da doença, devido a maiores variações de obesidade, de inatividade física e das alterações hormonais [25]. 109 A obesidade não é uma desordem singular, e sim um grupo heterogêneo de condições com múltiplas causas que resultam no fenótipo da obesidade, no qual esta desordem pode ser atenuada ou agravada por fatores não-genéticos que atuam sobre os mediadores fisiológicos como, por exemplo, as interações de gasto e de consumo energéticos [26]. Em estudo com 41 pacientes diabéticos observou-se que 70,73% apresentavam sobrepeso ou obesidade [25]. Alguns autores descrevem a obesidade como uma doença crônica degenerativa não-transmissível, de alta mortalidade precoce [27], sendo ela uma doença metabólica caracterizada pelo excesso de gordura corporal em relação à massa magra, podendo esta ser atualmente ponderada por diversos métodos tanto laboratoriais quanto de imagens para quantificar a gordura corporal existente [28]. O método de mensuração mais utilizado pela população, devido ao baixo custo operacional e a grande facilidade de sua obtenção e aplicação, é o índice de massa corporal (IMC) ou índice de Quelet, que é calculado pelo peso corporal em (kg) e dividido pela altura em (m²) e posteriormente, correlacionado seu resultado com os padrões pré-estabelecidos e sugeridos pela Organização Mundial da Saúde (OMS – 1997) [29,30]: Tabela I - Classificação do Índice de Massa Corporal. 1. Magreza de Grau – 3 2. Magreza de Grau – 2 3. Magreza de Grau – 1 4. Normal 5. Pré-Obeso 6. Obesidade de Grau – 1 7. Obesidade de Grau – 2 8. Obesidade de Grau – 3 < 16,0 16,1 – 16,9 17,0 – 18,4 18,5 – 24,9 25,0 – 29,9 30,0 – 34,9 35,0 – 39,9 > 40,0 Cerca de 50% dos portadores de DM desconhecem o diagnóstico, e uma das principais causas para o desenvolvimento do DM2 é a obesidade [31], um problema de saúde pública de proporções gigantescas [32], pois tem uma associação patológica com a evolução crônica de efeitos deletérios ao organismo, exercendo forte influência na morbidade e na mortalidade do paciente e também por estar principalmente associada a doenças cardiovasculares [33,34]. A obesidade resulta em varias alterações fisiopatológicas que podem resultar em uma menor extração de insulina pelo fígado, com elevação da produção de glicose hepática seguida de redução da captação de glicose pelo tecido muscular. Pesquisas recentes mostram que o TNF- diminui a captação de glicose por induzir a fosforilação do substrato do receptor de insulina (IRS) e que indivíduos obesos expressam 2,5 vezes mais TNF- quando comparados com indivíduos magros, com uma correlação significativa entre essa expressão e o protocolo de IMC [28]. Em um estudo [32], pesquisadores provocaram a obesidade em ratos, e o aumento da adiposidade foi acompanhado pela elevação da insulinemia e da leptinemia, além de outras Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 110 alterações metabólicas como uma discreta hiperglicemia e hipertrigliceridemia. Este fato assume uma relevante importância, porque a obesidade é uma co-morbidade comum a todas as patologias, inclusive ao diagnóstico do desenvolvimento do DM2. Apesar de o conhecimento desses importantes preditores de morbidade e mortalidade na população geral, ainda pouco se faz para reverter esse quadro [33]. Estudo sobre os aspectos estruturais do tecido adiposo tem sugerido que as células de gordura não se caracterizam de forma homogênea pelo corpo, elas se apresentam distribuídas de forma diferente de acordo com a região anatômica, sendo classificada de duas maneiras: as periféricas onde o acúmulo de gordura se dá de forma mais acentuada nas extremidades do corpo e as centrípetas tendo como maior concentração o tronco principalmente o abdômen [35]. A maneira como a gordura está distribuída pode influenciar no desenvolvimento de doenças, sendo a gordura visceral um dos principais precursores de doenças metabólicas como o diabetes mellitus [36]. Uma forma bastante comum de prognosticar este risco está na fórmula de classificar os valores da proporção cintura-quadril, expressa na medida da circunferência da cintura (cm) dividido pela circunferência do quadril (cm) e, posteriormente, correlacionado seu resultado com os padrões pré-estabelecidos e sugeridos pela Tabela II [37,38]. São fortes as evidências de que o estilo de vida possa estar contribuindo para o aumento da prevalência do DM nas sociedades que rapidamente se industrializaram, e que os benefícios de uma orientação dietética e o aumento de atividade física, podem ajudar na redução do peso corporal e isso refletir em até 60% na redução do risco de desenvolver o DM [39]. Essa intervenção deve merecer uma especial atenção no tratamento do DM2 [28], já que este desequilíbrio pode levar a um ganho ponderal de gordura e ser um importante fator patogênico do DM2 [40]. Importância do exercício físico no controle da obesidade Uma reduzida taxa de atividade física contribui para o desenvolvimento da obesidade. Indivíduos obesos geralmente não apresentam os requerimentos físicos de aptidão necessários para realizar um exercício físico de alta intensidade [41], onde o gasto energético de um indivíduo de 70 kg em uma corrida de 11 km/h por 30 minutos repetidos 4 vezes por semana, equivale a caminhar 7 vezes por semana a uma intensidade de 5,5 km/h por volta de 1 hora, e por isso, é necessário acumular um maior período de atividade durante a semana [42]. A intensidade e o tipo do exercício afetam a magnitude da elevação da taxa metabólica pós-exercício mais que a duração, e esse efeito pode durar de 3 horas a 3 dias [41,43], todavia essa intervenção, no início do programa, deve ser de forma crescente e gradativa para garantir a aderência aos programas de atividade física, pois na maioria das vezes, os indivíduos são destreinados e/ou sedentários [41]. Indivíduos que nunca tiveram hábito de se exercitar terão mais dificuldades para iniciar a prática de atividade física de forma regular, e o grande percentual de evasão dos programas, está nas inadequações de prescrições de exercícios a esses indivíduos, entre elas a incapacidade de executar movimentos ou de permanecer em atividades intensas. As atividades de baixa a moderada intensidade praticadas de forma regular de 2 a 3 vezes por semana com duração de 1 hora são as que geralmente apresentam melhores efeitos [27]. Exercício e diabetes mellitus tipo 2 Com o aumento da prevalência do DM2 na população, os efeitos na morbimortalidade consequentemente aumentam, por isso a necessidade de programas de intervenção que conscientizem a população da importância da prática de atividade física regular e a mudança nos hábitos alimentares saudáveis, mas, para que isso ocorra, ações multidisciplinares precisam ser desenvolvidas [22]. O treinamento físico geralmente é benéfico para o diabético, porque pode reverter muitos efeitos metabólicos adversos da doença, inclusive a probabilidade da obesidade [7], e a única forma eficiente de se prevenir o diabetes é a prática de atividade física de forma regular, visando manter um equilíbrio metabólico com manutenção do peso corporal que tem como consequência a obesidade. À medida que se exercita, há tendência da glicose se metabolizar mais rapidamente, podendo reduzir em até 30% a necessidade do uso das terapias preventivas medicamentosas [44]. Devido aos altos custos do tratamento do diabetes, o exercício físico torna-se uma alternativa viável e já reconhecida de terapia preventiva não só para essa co-morbidade, mas também para diversas outras enfermidades [45]. Tabela II - Relação do índice cintura/quadril (cm). Idade 20 – 29 30 – 39 40 – 49 50 – 59 60 – 69 Baixo Masc. < 0,83 < 0,84 < 0,88 < 0,90 < 0,91 Fonte: Adaptado de [36] Fem. < 0,71 < 0,72 < 0,73 < 0,74 < 0,76 Risco estimado Moderado Masc. Fem. 0,83 - 0,88 0,71 - 0,77 0,84 - 0,91 0,72 - 0,78 0,88 - 0,95 0,73 - 0,79 0,90 - 0,96 0,74 - 0,81 0,91 - 0,98 0,76 - 0,90 Alto Masc. Fem. 0,89 - 0,94 0,78 - 0,82 0,92 - 0,96 0,79 - 0,84 0,96 - 1,00 0,80 - 0,87 0,97 - 1,02 0,82 - 0,88 0,99 - 1,03 0,84 - 0,90 Muito Alto Masc. Fem. > 0,94 > 0,82 > 0,96 > 0,84 > 1,00 > 0,87 > 1,02 > 0,88 > 1,03 > 0,90 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 A prática regular de exercícios traz inúmeros benefícios ao diabético mellitus do tipo 2, pois, de modo geral, auxilia no controle metabólico e na redução dos fatores de risco de desenvolvimento de doença cardiovascular. Além de prevenir e auxiliar no tratamento, os exercícios também reduzem complicações crônicas, estimulando direta e indiretamente diversos órgãos e sistemas, modificando seus aspectos funcionais e estruturais [46]. O exercício físico desempenha um importante papel no combate a diabetes, agindo no controle glicêmico devido à sua capacidade em promover aumento da sensibilidade à insulina, dessa maneira o exercício deve ser incluso no tratamento [47]; porém, apesar da maioria dos indivíduos saberem da importância da prática de atividade física regular, poucos a praticam [25]. O exercício melhora a condição do diabetes, facilitando a captação de glicose e o metabolismo de glicogênio [48], no entanto o benefício se dá com a melhora da sensibilidade à insulina, perfil lipídico e diminuição da hiperinsulinemia [49]. Efeito agudo do exercício físico aeróbio no controle glicêmico O efeito agudo é conhecido como fenômeno que ocorre durante e após a sessão de exercício, sendo que a necessidade energética é suprida pelo metabolismo de carboidratos e lipídios, assim aumenta a captação de glicose pelo músculo ativo [47]. O exercício físico aumenta a captação de glicose no músculo esquelético, esta é uma manifestação semelhante a ação da insulina no estado de repouso, agindo no processo de translocação do GLUT-4 para a membrana plasmática, nas duas vias de sinalização intracelular [50,51]. A insulina utiliza o mecanismo dependente da fosfatidinositol-3-quinase, enquanto a via do exercício deve ser iniciada pela liberação de cálcio do retículo sarcoplasmático que leva a ativação de outros intermediários sinalizadores [50]. Uma única sessão de exercício pode levar à diminuição em até 22%, ou mesmo a normalização da glicemia durante o exercício [43,47]. O aumento da permeabilidade da fibra muscular à glicose mesmo na ausência da insulina é um dos maiores responsáveis para a redução da glicemia durante o exercício, favorecendo a captação e o metabolismo de glicose pelo músculo e melhorando a atividade da síntese de transportadores de glicose [46]. Após o término do exercício, a ressíntese de glicogênio muscular e hepático resulta do incremento na translocação do GLUT-4, independente da ação da insulina, porém, depois de um determinado tempo, a insulina é necessária para potencializar esse processo [46]. Os mecanismos envolvidos no aumento da sensibilidade à insulina não estão bem esclarecidos, no entanto, com relação ao processo de sinalização da insulina, foi observado o aumento da fosforilação do seu receptor, mas não da atividade da 111 IRS1 e da P13-quinase, e também não observaram aumento da atividade do receptor de insulina com o exercício, mas verificaram aumento da IRS2 e da atividade P13-quinase ligada a IRS1 e IRS2 [47]. Quanto aos transportadores de glicose, o exercício aumenta o número de GLUT-4 na membrana em sua atividade, mas, num curto período, outra via de transporte de glicose estimulada pelo exercício é o metabolismo não-oxidativo, já que o exercício reduz o glicogênio muscular e aumenta a atividade da glicogênio-sintase [47]. O efeito hipoglicemiante do exercício pode-se prolongar por horas e até dias após o fim do exercício. Esta resposta metabólica pode ser alterada durante os estados de extrema deficiência de insulina ou excesso da mesma [52]. Um estudo envolvendo diabéticos do tipo 2, do qual 8 voluntários participaram de um total de 36 sessões, sendo 3 semanais de um programa de exercício aeróbio ou resistido, foi constatado em 78% das sessões analisadas diminuição da glicemia capilar, com variação de 0,4 a 62,5% em relação à glicemia pré-exercício, e uma redução média de 18% da glicemia após as sessões, porém a duração desse efeito hipoglicemiante não foi observada pelo autor neste estudo [53]. No entanto, temos relatos na literatura mostrando que o efeito agudo pode durar até 48 horas após o término do exercício, explicando o fato de poder ocorrer episódios de uma hipoglicemia após a execução do exercício, principalmente em diabéticos que tomam insulina exógena [47]. Em um estudo randomizado de 20 semanas com exercício aeróbio envolvendo diabéticos do tipo 2, foi analisado os efeitos agudos da glicemia capilar de 40 participantes divididos em 3 grupos, sendo um grupo controle, um grupo de 3 sessões semanais e outro grupo de 5 sessões semanais. Foi verificada uma tendência de queda da glicemia capilar no grupo que participou de 5 sessões semanais, porém sem efeito estatístico significativo. O autor do estudo explica que a intensidade de 60 a 70% da frequência cardíaca máxima predita pela idade ou a duração de 45 minutos divida em 5 minutos de aquecimento inicial, 30 minutos de caminhada e 10 minutos de relaxamento final, não tenha sido suficiente para assegurar mudanças agudas significativas na glicemia capilar nesse grupo [54]. Neste mesmo estudo, o autor analisou após 13 semanas o efeito residual do exercício no controle glicêmico e constatou melhoras em seu controle pré-exercício nos dois grupos, porém o grupo que participou de 5 sessões semanais apresentou um controle capilar mais baixo e estável que o grupo de 3 sessões semanais, indicando desta forma que a frequência do exercício é um importante fator no controle da glicemia basal [54]. Efeito crônico do exercício físico aeróbio no controle glicêmico Indivíduos mais ativos têm menores chances de desenvolver diabetes do tipo 2, graças às adaptações crônicas oferecidas 112 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 pelo treinamento físico praticado regularmente, na ação da insulina, melhorando sua sensibilidade e o controle glicêmico, sugerindo que os benefícios trazidos pelo treinamento podem ser a diminuição ou a eliminação dos medicamentos [47]. As adaptações metabólicas que ocorrem com o treinamento provocam aumento da tolerância à glicose e redução da glicosuria, com redução nas doses de insulina exógena, trazendo a longo prazo o retardamento das complicações crônicas da doença e queda nos fatores de riscos cardiovasculares [22]. Alguns estudos têm demonstrado que o indivíduo treinado apresenta aumento do fluxo sanguíneo muscular induzido pela insulina quando comparado aos não treinados, possibilitando dessa maneira maior fornecimento de insulina para a musculatura, devido à agregação da insulina ao seu receptor ser mais ativa com o treinamento físico [47]. O exercício físico praticado regularmente traz benefícios em longo prazo, o que para o indivíduo diabético é muito importante, pois diminui os fatores de riscos cardiovasculares, através de alterações no perfil lipídico, normalização da pressão arterial, aumento da circulação colateral e diminuição da frequência cardíaca de repouso [52]. Os principais objetivos do tratamento do diabetes são a normalização da glicemia e da hemoglobina glicada, além de buscar melhora no perfil lipídico, redução da massa corporal, com isso diminui a progressão da aterosclerose, a morbimortalidade por problemas cardiovasculares, a cegueira, a nefropatia, e as complicações dos membros inferiores [55]. Os níveis de hemoglobina e a glicemia são importantes na avaliação do controle glicêmico, pois informa sobre diferentes níveis de glicose sanguínea [55]. O nível de hemoglobina foi considerado como um marcador bioquímico capaz de estimar a chance de ocorrência e progressão da doença microvascular e de neuropatia, pois seus valores representam a glicemia média de 2 ou 3 meses precedentes, portanto qualquer redução nos níveis traz benefícios para os diabéticos, reduzindo o risco de complicações, com algumas modificações como a redução da gordura corporal, aumento da concentração e translocação do GLUT-4, e melhora na ação da insulina [55]. Estudo, com 22 voluntários de ambos os sexos, investigou a associação entre variáveis morfológicas e parâmetros bioquímicos de diabéticos do tipo 2. As variáveis morfológicas mensuradas foram: massa corporal, IMC, circunferência do abdômen, relação cintura/quadril, somatória das 7 dobras cutâneas e percentual gordura corporal, e os bioquímicos avaliados foram: glicemia de jejum, colesterol total, triglicerídeos, LDL-C, HDL-C e hemoglobina glicada. Observou-se, nesse estudo, que as concentrações de colesterol total, triglicerídeos, LDL-C, HDL-C e hemoglobina glicada foram às variáveis que mais apresentaram associação com as variáveis morfológicas, por isso, a importância de uma mudança no estilo de vida, como dieta e exercício físico, visando melhora no controle metabólico [46]. No entanto, o estudo do efeito agudo e crônico do exercício físico no perfil glicêmico e lipídico em diabéticos do tipo 2, em 8 voluntários, concluiu que a única variável bioquímica que apresentou efeito do treinamento foi o HDL-C. Embora as outras variáveis não terem apresentados alterações significativas, obtiveram um controle adequado em relação aos valores de referência, entretanto o número reduzido de sujeitos estudados pode ter influenciado na ausência de alterações significativas entre as variáveis bioquímicas e morfológicas [53]. Em outro estudo, com 33 indivíduos diabéticos tipo 2, os autores concluíram que o programa de exercício físico aeróbio, com duração de 10 semanas, sendo 4 sessões semanais de 60 minutos com 50 a 80% da frequência cardíaca máxima predita, é uma boa conduta para os diabéticos do tipo 2, por apresentar melhora na glicemia de jejum, na hemoglobina glicada, na diminuição de triglicerídeos, no aumento do HDL-C, na diminuição da frequência cardíaca de repouso e no IMC [2]. O exercício tem um papel fundamental no controle dos níveis da hemoglobina glicada, sendo ela muito utilizada como recurso de avaliação de longo prazo no controle glicêmico de diabéticos [55] Muitos estudos utilizam a hemoglobina glicada como um referencial de efeito crônico do exercício, como, por exemplo, no estudo de Cambri e Gevaerd [55] que avaliou 40 indivíduos diabéticos tipo 2, durante 20 semanas em atividades de exercício aeróbio, sendo que um grupo participou de 3 sessões e o outro participou de 5 sessões semanais, o resultado dos valores da hemoglobina glicada apresentado foi a redução, porém não significativa, mas vale salientar que os valores analisados no início do estudo estavam próximos aos sugeridos para um bom controle. Cambri et al. [53], em outro estudo, com duração de 12 semanas de exercícios aeróbios e ou resistidos, não observaram queda na hemoglobina glicada. Segundo os autores, o tempo de estudo foi curto para obter melhores resultados nessa variável e também os níveis de hemoglobina glicada no início do programa se apresentavam inferiores a 7% em 37,5% dos sujeitos estudados, o que dificulta maiores alterações. Qualquer redução nos níveis da hemoglobina glicada, menores serão os riscos de desenvolvimento de complicações decorrentes da doença, como, por exemplo, para cada decréscimo absoluto de 1% na hemoglobina glicada, há uma redução da incidência de 35% das complicações microvasculares, de 25% das mortes relacionadas ao diabetes e de 7% dos óbitos em geral, sendo que os indivíduos diabéticos que apresentarem a hemoglobina abaixo de 7% passam a corresponder aos índices de complicações similares aos da população em geral [55]. Prescrição de exercício físico aeróbio para diabético tipo 2 A ótima dose para alcançar um bom controle de glicemia ainda não esta esclarecido, porém, preconizam-se os exercícios Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 aeróbios com intensidade moderada, realizada por pelo menos 30 minutos de 3 a 5 vezes por semana [22]. No estudo de 20 semanas de exercício físico aeróbico, com 40 participantes diabéticos do tipo 2, com sessões de 45 minutos de duração e a intensidade entre 60 a 70% de frequência cardíaca máxima predita, foram analisados os efeitos da frequência semanal sobre a estrutura da composição corporal e do controle glicêmico. Concluiu-se que a melhor frequência de um programa de exercício físico em todos os parâmetros avaliados é de 5 sessões de treinamento por semana [54]. O estudo de Cambri et al. [53], com 8 voluntários diabéticos do tipo 2, realizou um programa de exercícios aeróbios ou resistidos de 12 semanas de duração, 3 sessões semanais com duração entre 40 a 60 minutos e intensidade entre 60 a 70% da frequência cardíaca máxima predita. Os resultados apresentados foram a redução da glicemia capilar e o aumento nas concentrações de HDL-C, quanto às variáveis antropométricas e bioquímicas não houve alterações significativas. Em uma pesquisa experimental com 33 participantes diabéticos tipo 2 submetidos a um programa de exercícios aeróbicos por 10 semanas, 4 sessões semanais de 60 minutos de duração e intensidade entre 50 a 80% da frequência cardíaca máxima predita, observou-se melhora na glicemia de jejum, na hemoglobina glicada, redução do triglicerídeo, da frequência cardíaca de repouso e aumento do HDL-C [2]. O American College of Sports Medicine [47] recomenda exercícios aeróbios que envolvam grandes grupos musculares com frequência entre 2 e 6 sessões semanais, tendo como duração de 20 a 60 minutos e intensidade moderada entre 50 a 70% da frequência cardíaca de reserva para sedentários e/ou obesos, e entre 60 a 85% da frequência cardíaca de reserva para condicionados. É possível através de uma correta prescrição de exercícios físicos melhorar as condições gerais do indivíduo, promovendo um melhor controle metabólico e, com isso, possibilitar uma redução do elevado custo social e econômico, o que representa atualmente uma prioridade na saúde pública nacional [25]. Cuidados durante a sessão de exercício A hipoglicemia é um dos problemas mais comuns que ocorre no diabético durante o exercício, normalmente esse episódio ocorre quando há muita insulina ou quando a absorção é acelerada, podendo ainda ocorrer de 4 a 6 horas após o término da sessão de treinamento [46]. Para prevenir a hipoglicemia é muito importante o seu monitoramento, aumentando, se necessário, a ingestão de carboidratos antes e após os exercícios e mantendo-se sempre hidratado, pois qualquer alteração nos níveis de glicose também pode causar poliúria [46]. Evitar exercitar-se com glicemia acima de 300 mg/dl, e se estiver menor que 80 mg/dl fazer uma alimentação prévia, 113 não se exercitar nos picos de ação da insulina e de hipoglicemiantes orais, e evitar aplicar insulina na musculatura que irá ser utilizada nos exercícios [47]. Iniciar o exercício entre uma ou duas horas após as refeições, fazer exames diários nos pés, e por fim antes de iniciar a prática de exercício, realizar exames clínicos e laboratoriais para se certificar da existência de complicações como retinopatia, neuropatia, entre outras [50]. Conclusão Podemos concluir que o exercício físico promove melhoria nas condições de saúde do diabético, pois o controle da glicemia se torna mais adequado trazendo benefícios em curto prazo, e assim, prever as complicações crônicas decorrentes da doença, mantendo estáveis os níveis de glicemia e de hemoglobina glicada. Alguns cuidados devem ser sempre adotados durante as sessões de exercícios, entre eles o monitoramento da glicemia capilar, antes, durante e depois para prevenir possíveis episódios de crise hipoglicêmica. Os exercícios mais recomendados são os do tipo aeróbio que envolva grandes grupos musculares, tendo como frequência preferencialmente 7 sessões semanais, com duração de no mínimo de 30 minutos e intensidade em torno de 50 a 70% da frequência cardíaca de reserva. Referências 1. Brito CP. Prevenção da diabetes tipo 2: Consenso da International Diabetes Federation (2007). Revista Portuguesa de Diabetes 2007;2(2):34-7. 2. Silva CA, Lima WC. Efeito benéfico do exercício físico no controle metabólico do diabetes mellitus tipo 2 a curto prazo. Arq Bras Endocrinol Metab 2002;46(5):550-6. 3. Sartorelli DS, Franco LJ. Tendências do diabetes mellitus no Brasil: o papel da transição nutricional. Cad Saúde Pública 2003;19(1):29-36. 4. Mediano MFF, Barbosa JSO, Sichieri R, Pereira RA. Efeito do exercício físico na sensibilidade à insulina em mulheres obesas submetidas a programa de perda de peso: um ensaio clínico. Arq Bras Endocrinol Metab 2007;51(6):993-9. 5. Franco LL. Diabetes: como prevenir, tratar e conviver. São Paulo: Elevação; 2005. 6. Martins DM. Exercício físico no controle do diabetes mellitus. São Paulo: Phorte; 2000. 7. Farrell PA. Diabetes, exercício físico e esportes de competição. Sports Science Exchange 2004; 16(3):39. 8. Pádua S, Neiva CM, Tonello MGM, Araújo ECF. Treinamento físico como método terapêutico e controle clínico do diabetes: atualizando modelos. Revista Digital EF Deportes 2007;12(114):1-7. 9. Hu FB, Manson JE, Stampfer MJ, Colditz G, Liu S, Solmon CG, Willett WC. Diet, lifestyle and the risk of type 2 diabetes mellitus in women. New Engl J Med 2001;345(11):790-7. 10. Crepaldi S, Savall PJ, Fiamoncini RL. Diabetes mellitus e exercício físico. Revista EF Deportes 2005;10(88):1-5. 114 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 11. Gregorim CO, Martinelli CPS, Terciotti SH. Michaelis: Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos; 2002. 12. Chaib E, Papalois A, Brons IGM, Calne RY. Transplante isogênico de ilhotas de Langerhans no fígado de ratos. Arq Gastroenterol 2000;37(1):44-51. 13. Dullius J, López RFA. Atividades físicas é parte do tratamento para diabéticos: mas quem é o profissional que a deve prescrever? Revista Digital EF Desportes 2003;60:1-6. 14. Ballesteros EC. Actividad física y diabetes tipo 2. Revista Digital EF Deportes 2009;14(131):1-11. 15. Lima ICG, Júnior GMJ, Giacomini MCC. Análise dos efeitos fisiológicos dos exercícios físicos aeróbicos na prevenção do diabetes tipo 2. Rev Digital EF Deportes 2009;13(130):1-8. 16. Lojudice FH, Sogayar MC. Células-tronco no tratamento e cura do diabetes mellitus. Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(1):19-21. 17. Paiva C. Novos critérios de diagnóstico e classificação da diabetes mellitus. Revista Medicina Interna 2001;7(4):234-8. 18. American Diabetes Association. Report of the expert committee on the diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care 2003;26(1):5-20. 19. Angelis K, Pureza DY, Flores LJF, Rodrigues B, Melo KFS, Schaan BD, et al. Efeitos Fisiológicos do treinamento físico em pacientes portadores de diabetes tipo 1. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50(6):1005-13. 20. Oliveira AMR, Casal HMV. Auto-estima do diabético e atividade física. Revista Digital EF Desportes 2001;6(32):1-4. 21. Balsamo S, Simão R. Treinamento de força para: osteoporose, fibromialgia, diabetes tipo 2, artrite reumatóide e envelhecimento. São Paulo: Phorte; 2007. 22. Molena-Fernandes CA, Junior NN, Tasca RS, Pelloso SM, Cuman RKN. A importância da associação de dieta e de atividade física na prevenção e controle do diabetes mellitus tipo 2. Rev Acta Sci Health Sci 2005;27(2):195-205. 23. Repetto G, Rizzolli J, Bonatto C. Prevalência, riscos e soluções na obesidade e sobrepeso: here, there, and everywhere. Arq Bras Endocrinol Metab 2003;47(6):633-5. 24. Souza LJ, Neto CG, Chalita FEB, Reis AFF, Bastos DA, Souto Filho JTD, et al. A prevalência de obesidade e fatores de risco cardiovascular em Campos, Rio de Janeiro. Arq Bras Endocrinol Metab 2003;47(6):82-95. 25. Freitas FF, Neto JBL, Navarro F. Nível de esclarecimento dos portadores de diabetes no que diz respeito à patologia e seu tratamento: aspectos nutricionais, medicamentosos e atividade física. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício 2007;1(4):82-95. 26. Francischi RPP, Pereira LO, Freitas CS, Klopfer M, Santos RC, Vieira P, Júnior AHL. Obesidade: Atualizações sobre sua etiologia, morbidade e tratamento. Rev Nutr 2000; 3(1):17-28. 27. Dâmaso A, Tock L. Obesidade: perguntas e respostas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 28. Corrêa FHS, Taboada GF, Júnior CRMA, Faria AM, Clemente ELS, Funks AG, et al. Influência da gordura corporal no controle clínico e metabólico de pacientes com diabetes mellitus tipo 2. Arq Bras Endocrinol Metab 2003;47(1):62-8. 29. Costa RF. Composição corporal: teoria e prática da avaliação. São Paulo: Manole; 2001. 30. Machado FCF, Pereira JF, Silva QF, Gonçalves A. Relação entre índice de massa corporal e a percepção da auto-imagem em 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. estudantes de Educação Física. Revista Digital EF Desportes 2007;12(115):1-7. Gross JL, Silveiro SP, Camargo JL, Reichelt AJ, Azevedo MJ. Diabetes melito: diagnóstico, classificação e avaliação do controle glicêmico. Arq Bras Endocrinol Metab 2002;46(1):16-26. Lima FB. Tecido adiposo: uma breve perspectiva histórica e o momento atual. Arq Bras Endocrinol Metab 2008;52(6):9278. Gomes MB, Neto DG, Mendonça E, Tambascia MA, Fonseca RM, Réa RR, et al. Prevalência de sobrepeso e obesidade em pacientes com diabetes mellitus do tipo 2 no Brasil: estudo multicêntrico nacional. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50(1):136-44. Aguiar CCT, Vieira APGF, Carvalho AF, Montenegro-Junior RM. Instrumentos de avaliação de qualidade de vida relacionado à saúde no diabetes melito. Arq Bras Endocrinol Metab 2008;52(6):931-9. Guedes DP, Guedes JERP. Controle do peso corporal: composição corporal, atividade física e nutrição. Rio de Janeiro: Shape; 2003. Heyward VH. Avaliação física e prescrição de exercício: técnicas avançadas. Porto Alegre: Artmed; 2004. Domingues Filho LA. Manual do personal trainer Brasileiro. São Paulo: Ícone; 2006. Pitanga FJG. Testes, medidas e avaliação em educação física e esporte. São Paulo:Phorte; 2005. Ferreira SRG, Almeida B, Siqueira AFA, Khawali C. Intervenções na prevenção do diabetes mellitus tipo 2: é viável um programa populacional em nosso meio? Arq Bras Endocrinol Metab 2005;49(4):479-84. Melo KFS, Giannella MLCC, Souza JJS. Diabetes mellitus. Rev Bras Med 2003;60(7):505-15. Fernandez AC, Mello MT, Tufik S, Castro PM, Fisberg M. Influência do treinamento aeróbio e anaeróbio na massa de gordura corporal de adolescentes obesos. Rev Bras Med Esporte 2004;10(3):152-158. Añez CRR, Petroski EL. O exercício físico no controle do sobrepeso corporal e da obesidade. Revista Digital EF Deportes 2002;8(52):1-3. Ciolac EG, Guimarães GV. Exercício físico e síndrome metabólica. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):319-24. Cardoso LM, Ovando RGM, Silva SF, Ovando LA. Aspectos importantes na prescrição do exercício físico para o diabetes mellitus tipo 2. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício 2007;1(6):59-69. Krinski K, Elsangedy HM, Gorla JI, Calegari DR. Efeitos do exercício físico em indivíduos portadores de diabetes e hipertensão arterial sistêmica. Revista Digital EF Desportes 2006;10(93):1-8. Cambri LT, Gevaerd SM. Indicadores antropométricos e parâmetros bioquímicos em diabéticos tipo 2. Revista Motriz 2006;12(3):293-300. Forjaz CLM, Junior Cardoso CG, Bisquolo VAF. Exercício físico, resistência à insulina e diabetes melito: efeitos agudos e crônicos, cuidados necessários. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2002;12(5):16-27. Queiroga MR, Silveira RF, Oliveira MFM, Crespilho D, Kokubun E, Luciano E. Efeito do exercício físico agudo sobre a glicemia e lipidemia de ratos diabéticos tratados com metformina. Rev Educ Fís 2006;17(2):169-175. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 49. Araujo LMB, Brito MS, Porto da Cruz TR. Tratamento do diabetes mellitus tipo 2: novas opções. Arq Bras Endocrinol Metab 2000;44(6):509-18. 50. Gazola VF, Bazotte RB, Souza SV. A Atividade física no tratamento de pacientes portadores de diabetes mellitus. Arq Ciênc Saúde Unipar 2001;5(1):25-32. 51. Lyra R, Oliveira M, Lins D, Cavalcanti N. Prevenção do diabetes mellitus tipo 2. Arq Bras Endocrinol Metab 2006;50(2):239-49. 52. Mercuri N, Arrechea V. Atividade física e diabetes mellitus. Diabetes Clínica 2001;4:347-9. 115 53. Cambri LT, Decimo PJ, Souza M, Oliveria RF, Gevaerd SN. Efeito agudo e crônico do exercício físico no perfil glicêmico e lipídico em diabetes tipo 2. Revista Motriz 2007;13(4):238-248. 54. Vancea DMM, Vancea JN, Pires MIF, Reis MA, Moura RB, Dib SA. Efeito da freqüência do exercício físico no controle glicêmico e composição corporal de diabetes tipo 2. Arq Bras Cardiol 2009;92(1):23-30. 55. Cambri LT, Gevaerd SM. Diabetes mellitus tipo 2, hemoglobina glicada e exercício físico. Rev Min Educ Fís 2006;14(2):47-67. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 116 Revisão Treinamento muscular inspiratório para o desenvolvimento físico: evidências e controvérsias Inspiratory muscle training for the physical development: evidences and controversies Maurício de Sant’Anna Junior*, Adalgiza Mafra Moreno**, Pedro Dall’Ago***, Pedro Paulo da Silva Soares**** *Departamento de Fisioterapia UNIPLI, Laboratório de Fisiologia do Exercício Experimental e Aplicada UFF, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – UFRJ, **Departamento de Fisioterapia UNIPLI, UNIVERSO/RJ, Programa de Pós-Graduação em Ciências Cardiovasculares UFF, ***Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), **** Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física (PPGCAF) UNIVERSO/RJ, Departamento de Fisiologia e Farmacologia UFF Resumo Abstract O Treinamento Muscular Inspiratório (TMI) visa o aumento da força e resistência dos músculos inspiratórios. Os efeitos positivos do TMI na melhora clínica e no desempenho físico em indivíduos com doença pulmonar obstrutiva ou insuficiência cardíaca são bem reconhecidos, mas em indivíduos sadios ainda são controversos. O objetivo do presente artigo é o de apresentar uma revisão sobre o possível efeito positivo no desempenho físico em indivíduos sadios decorrentes do TMI. Observamos em todos os estudos consultados um aumento na força e resistência muscular inspiratória. Entretanto, nem todos os estudos apresentaram aumento na capacidade física, gerando controvérsia quanto à aplicabilidade desta estratégia de treinamento objetivando desempenho. Verificou-se uma grande variação entre os protocolos descritos no que diz respeito à carga utilizada, número de semanas, frequência semanal, além de formas de TMI, continua ou intervalada, em diferentes modalidades esportivas. Inspiratory Muscle Training (IMT) is used to increase strength and resistance of inspiratory muscles. IMT effects on exercise performance and clinical status of subjects with chronic obstructive pulmonary disease or heart failure are well recognized, but its positive effects on healthy subjects are still controversial. The aim of the present study was a literature review regarding the possible effects of IMT for improving physical exercise performance in healthy subjects. In all consulted studies there was an increase in strength and resistance of inspiratory muscles. However, not all of them showed concomitant improvement of physical capacity. These controversial results introduced questions regarding the applicability of this type of training strategy aiming physical performance. It was verified great variations among protocols in relation to workload, number of weeks, frequency, and IMT modes, continuous or interval, in different sports that may be responsible for different findings. Palavras-chave: treinamento muscular inspiratório, pressão inspiratória máxima, resistência muscular inspiratória, fadiga diafragmática. Key-words: inspiratory muscle training, maximal inspiratory pressure, respiratory muscle endurance, diaphragmatic fatigue. Recebido 12 de março de 2010; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Pedro Paulo da Silva Soares, Universidade Federal Fluminense (UFF), Laboratório de Fisiologia do Exercício e Experimentação Animal, Rua Prof. Ernani Melo, 101/304, bl Y, São Domingos 24210-130 Niterói RJ, Tel: (21) 2629-2451, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução Durante a realização de exercícios físicos ocorrem respostas cardiorrespiratórias que são responsáveis diretas pela manutenção da atividade física. Dentre as diversas respostas, podemos mencionar o aumento do débito cardíaco, frequência cardíaca, pressão arterial média e da concentração de lactato, porém o aumento da ventilação pulmonar também deve ser destacado, ocorrendo de forma concomitantemente o aumento da frequência respiratória, do volume de ar corrente e do trabalho dos músculos ventilatórios [1]. Os músculos ventilatórios apresentam como sua principal função o deslocamento da base dos pulmões e da parede torácica, com a finalidade primária de produzir a ventilação alveolar [2,3]. Apesar de representarem apenas 3% do peso corporal total, os músculos ventilatórios têm grande capacidade de suportar altas demandas, com capacidade de ajustarem-se às necessidades ventilatórias em diferentes condições fisiológicas e fisiopatológicas, sendo o principal músculo da inspiração o diafragma [4,5]. Deve-se ressaltar que os músculos ventilatórios podem sofrer alterações em virtude do treinamento, aumentando sua força assim como sua resistência [6-9]. Durante vários anos questionou-se os efeitos oriundos do treinamento sobre a musculatura ventilatória, principalmente no que tange a seus efeitos similares aos dos demais músculos esqueléticos. Porém, no estudo pioneiro proposto por Leith & Bradley, em 1976 [10], verificou-se o efeito de cinco semanas de treinamento muscular inspiratório (TMI) durante 30 a 45 minutos em grupo de indivíduos saudáveis, divididos em três grupos (treinamento de resistência, treinamento de força e grupo controle), evidenciado-se um aumento de 55% na força dos músculos inspiratórios no grupo que treinou força e um aumento de 14% na resistência da musculatura inspiratória no grupo que treinou resistência, não sendo verificado nenhum tipo de alteração no grupo controle, dando assim início a uma série de estudos subsequentes com metodologias cada vez mais elaboradas, porém com resultados controversos. O TMI tem como objetivo o aumento da força e resistência dos músculos inspiratórios, sendo a sua indicação primária à existência de alguma doença de base que acarrete em alteração funcional dos músculos ventilatórios. Seus efeitos encontram-se bem documentados em situações como doença pulmonar obstrutiva crônica, asma e insuficiência cardíaca [11-14]. Tais efeitos parecem estar diretamente relacionados à intensidade, duração e frequência do exercício [15]. Recentemente, o TMI foi utilizado em indivíduos sadios com a finalidade de promover alterações no desempenho, durante a realização de exercícios físicos, como aumento do tempo de exercício [15,16]. Porém nem todos os estudos alcançaram os mesmos resultados, sendo discutido principalmente, se o TMI pode aumentar o tempo de exercício e/ou VO2pico, se existe alteração na sensação subjetiva de esforço, 117 e se existe atenuação na concentração de lactato sanguíneo [16-18]. Neste contexto, o objetivo do presente artigo é o de promover uma análise sobre as possíveis melhorias no desempenho durante o exercício físico em indivíduos sadios submetidos ao TMI realizado em diversos protocolos e em grupos diferentes de indivíduos não-atletas e atletas de algumas modalidades esportivas. Métodos Os artigos revisados foram obtidos através de pesquisas bibliográficas em bancos de dados, incluindo Medline, Pubmed, Lilacs e Scielo (1966-2009). Foram selecionados estudos que investigaram especificamente os efeitos do TMI em indivíduos sadios (atletas e não atletas). Foram utilizadas as seguintes palavras-chave, isoladas ou combinadas: Inspiratory muscle training, maximal inspiratory pressure, respiratory muscle resistance, diaphagmatic fatigue e healthy individuals. Resultados e discussão Mensuração da força muscular ventilatória A força muscular ventilatória pode ser verificada de forma invasiva (pressão transdiafragmática) [18,19] ou não invasiva. No processo de verificação não-invasiva da força muscular ventilatória, o instrumento mais utilizado é o manuvacuômetro que consiste em um tubo cilíndrico, cuja extremidade distal é fechada, a extremidade proximal é aberta onde se encaixa uma peça bucal, sendo realizada através dela as manobras expiratórias ou inspiratórias. Uma saída lateral e uma tubulação de plástico rígido fazem a comunicação a um transdutor de pressão utilizado para mensuração de pressão inspiratória máxima (PImáx) e da pressão expiratória máxima (PEmáx) [20]. As medidas de PImáx e PEmáx são utilizadas para quantificar a força dos músculos ventilatórios [21]. A posição ideal para realização da manobra que se verifica a PImáx é com o indivíduo sentado, sendo realizada uma inspiração forçada, a partir do volume residual ou da capacidade residual funcional, com oclusão do circuito (manobra de Muller), o valor da PImáx é expresso através de cmH2O, sendo precedido de sinal negativo [22]. A PEmáx pode ser mensurada através do mesmo circuito que se verifica a PImáx, diferenciado pela utilização de uma válvula unidirecional inspiratória e pela extremidade expiratória ocluída, realizando-se uma expiração forçada contra o sistema fechado, a partir da capacidade pulmonar total (manobra de Valsalva) [21,22]. Recomenda-se que tanto para verificação da PImáx quanto para verificação da PEmáx sejam realizadas três mensurações, considerando-se a melhor medida [23]. As pressões geradas pelos músculos faciais podem alterar a fidedignidade dos valores encontrados nas mensurações, por esse 118 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 motivo recomenda-se a utilização de um orifício de 2 mm de diâmetro no sistema promovendo assim uma pequena fuga de ar [22,24,25]. Aceita-se como PImáx normal para um adulto jovem do sexo masculino -125 cmH2O e de PEmáx 230 cmH2O, e em mulheres esse valor diminui em 30% e, após os 20 anos de idade, ocorre uma queda de 0,5 cmH2O por ano [26]. Um estudo conduzido com 100 indivíduos, não fumantes (50 homens e 50 mulheres), na faixa etária de 20 a 80 anos, apresentou como proposta encontrar parâmetros de normalidade para PImáx e PEmáx na população brasileira, partindo da premissa que as referencias utilizadas até então para esta finalidade subestimavam seus os valores reais [27]. Os autores utilizaram análise de regressão múltipla, levando em consideração em suas análises além do gênero e das variáveis antropométricas, (peso e altura), variáveis de aptidão física. A PImáx apresentou uma forte correlação com aptidão física e VO2máx, sendo os valores preditos de PImáx para homens entre 20 – 29 anos 129,3 ± 17,6 cmH2O e mulheres 101,6 ± 13,1 [27]. Mensuração da resistência muscular ventilatória Resistência muscular ventilatória é a capacidade do músculo em oferecer resistência à fadiga, em um determinado tempo de trabalho. No que diz respeito à mensuração da resistência muscular ventilatória, encontramos descrito várias formas para sua obtenção são elas: 1) Método de hiperpnéia que consiste em manter por um período de tempo, um elevado volume pulmonar em um minuto; 2) VVM que é a ventilação voluntária máxima que indivíduo pode realizar em 10 a 15 segundos; 3) Capacidade Ventilatória Máxima (CVSM) descrito como a ventilação que o indivíduo é capaz de sustentar por 15 segundos; 4) estimulação de nervo frênico (consiste na avaliação seletiva do desempenho da porção periférica da via neuromuscular e quantificar e quantificar o grau de fadiga do diafragma; 5) Eletromiografia (podendo ser realizada através de eletrodo de superfície ou esofágico) [26,27]. Outro protocolo frequentemente descrito na literatura para a determinação da resistência muscular respiratória é o de Martyn et al. [28], também conhecido como protocolo incremental, que posteriormente foi adaptado para indivíduos sadios [29]. Neste protocolo o indivíduo respira através de um sistema composto por duas válvulas unidirecionais, uma inspiratória e outra expiratória, onde a válvula inspiratória é conectada a uma câmara inspiratória, que é vedada por um diafragma possibilitando o aumento na carga inspiratória, dificultando a inspiração. Pode-se iniciar o protocolo com a realização de uma inspiração com carga de aproximadamente 30% da PImáx, sendo esta aumentada a cada três minutos, até que o indivíduo não consiga mais abrir a válvula inspiratória, sendo computado o tempo total até a fadiga. Fadiga muscular ventilatória e desempenho físico Em exercícios prolongados e de altas intensidades, fisiologicamente ocorre o fenômeno da hiperventilação, em função da necessidade de manutenção de adequada ventilação alveolar, compatível com a atividade realizada. Para adequação das demandas ventilatórias, um maior trabalho do diafragma, assim como a utilização de músculos acessórios da respiração é necessária [1]. Porém o do trabalho da musculatura acessória pode não ser o suficiente para manter a troca gasosa adequada e consequentemente a oferta de O2, podendo ser um dos mecanismos desencadeadores da dispneia [30]. A literatura descreve esses mecanismos como responsáveis pela fadiga muscular ventilatória, especialmente do diafragma [1,31,32]. Tais eventos são justificáveis pela hipótese de que durante o exercício ocorre uma competição pelo fluxo sanguíneo entre a musculatura ventilatória e a musculatura periférica ativa [33-36]. Também foi observado em humanos que a fadiga muscular inspiratória, induzida através de exercício de resistência, acarretou em aumento da descarga simpática, mensurada em nervo periférico e redução do fluxo sanguíneo no membro em repouso [37]. Harms et al. [8] objetivaram investigar se a fadiga da musculatura ventilatória poderia ser responsável por alteração do desempenho físico durante exercício de alta intensidade. Para investigar sua hipótese, utilizaram uma amostra composta por sete ciclistas do sexo masculino, com VO2pico 63 ± 5 ml kg-1min-1 que realizaram exercício em ciclo ergômetro em uma intensidade correspondente a 90% VO2pico. Os autores utilizaram um período de aquecimento que variou entre 5-10 minutos, com carga equivalente a 40 – 50% VO2pico. Encontraram como resultado que a realização de exercício físico em alta intensidade, acarreta em um decréscimo da função dos músculos ventilatórios e que esta é uma condição fundamental na redução da performance do grupo estudado. Vogiatzis et al. [38] desenvolveram um protocolo experimental objetivando investigar se o fluxo sanguíneo e a saturação de oxigênio (SpO2) dos músculos intercostais, durante realização de exercício físico de alta intensidade, reduzia em ambos. Sua amostra foi composta por dez atletas de ciclismo, com média de idade de 35 ± 10 anos de idade, VO2pico de 61,8 ± 8,3 ml kg-1min-1 que realizaram exercícios em diferentes intensidades (60, 80, 90 e 100% VO2pico). A investigação dos efeitos do exercício na SpO2 da musculatura periférica e intercostal foi utilizada a espectroscopia quase infra-vermelha (NIRS). Estes autores concluíram que durante a realização de exercício em altas intensidades, tanto a musculatura periférica ativa, quanto a musculatura intercostal encontravam-se com redução da SpO2 e fluxo sanguíneo em relação ao repouso, porém a maior queda era evidencia na musculatura intercostal. Portanto, a utilização do TMI para aumento de força e resistência muscular ventilatória poderia aumentar a tolerância Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 à fadiga e reduzindo sensação subjetiva de esforço além de promover efeitos positivos sobre a capacidade física. Treinamento muscular inspiratório em indivíduos sadios Apresentaremos na Tabela I, os principais resultados alcançados pelos diversos autores, através do TMI em indivíduos sadios, descrevendo variáveis como características da amostra, número de semanas que foram realizadas o TMI, frequência semanal, duração, carga de trabalho e modificações na capacidade física ou indicadores da função respiratória. O TMI vem sendo utilizado em indivíduos sadios, porém os resultados obtidos merecem ser discutidos em virtude da discordância encontrada na literatura. Gething et al. [39] de- 119 senvolveram um protocolo experimental preconizando o TMI com a participação de 15 indivíduos voluntários de ambos os sexos divididos em três grupos, objetivando testar a hipótese de que os indivíduos que realizassem o TMI apresentariam um melhor desempenho em exercício realizado em cicloergômetro. O primeiro grupo realizou TMI com carga de 80% da PImáx, o segundo grupo realizou treinamento com a carga mínima (treinamento placebo) e o terceiro grupo controle. Após 10 semanas de treinamento realizado três vezes por semana, o grupo que realizou o TMI apresentou uma melhora de 34% na PImáx (134 vs. 180 cmH2O) e 38% na resistência muscular respiratória, além de um aumento de 36% no tempo de exercício realizado até a exaustão em cicloergômetro à 75% do VO2pico, não sendo observada nenhuma alteração significativa na PImáx do grupo placebo (136 vs. 140.2 cmH2O), Tabela I - Estudos encontrados na literatura envolvendo treinamento da musculatura inspiratória em indivíduos sadios com seus resultados no desempenho físico. Autor Semanas de TMI Freqüência Semanal Amostra Spengler et al. 1999 Sedentários 4 5x 30 minutos Inbar et al. 2000 Atletas 10 7x 30 minutos Volianitis et al. 2001 Remadores 11 5x/2x dia 30 minutos 50% PImáx Sometti et al. 2001 Ciclistas 5 4x 30 minutos 50 % PImáx Gething et al. 2002 Sedentários 10 3x Romer et al. 2002 Ciclistas 6 2x / 2 x dia Williams et al. 2002 Atletas 4 Romer et al. 2002 Atletas 6 2x / 2x dia Gething et al. 2004 Sadios 6 3x 4-5 20 sessões não especificadas 4 7x/2x dia Verges et al. Griffiths & McConnell 2007 2007 Sedentários Remadores Duração Carga de trabalho % da PImax 60 % carga progressiva 50% progredindo 5%/semana até 80% PImáx Ano 80% PImáx 30 repetições 50% PImáx 25 minutos 50 – 65% PImáx 30 repetições 50% PImáx 85 – 100% PImáx 30 minutos 30 repetições Resultado Obtido PImáx , concentração de lactato, tempo de exercício 8% PImáx manutenção do VO2pico PImáx e do teste de caminhada de seis minutos 8% PImáx, não evidenciou alteração e tempo de exercício, FC e lactado 34%PImáx, 38% na resistência e 36% no tempo de exercício em cicloergômetro sensação subjetiva de esforço em exercício máximo VO2pico, PImáx, e resistência sensação subjetiva de esforço e FCpico PImáx , Melhora na recuperação na corrida e menor concentração de lactato PImáx, espirometria em todos os grupos, sensação subjetiva de esforço e FCpico 70% VVM da fadiga muscular respiratória, correlação com melhora no desempenho físico 50% PImáx da concentração de lactato, FCe sensação subjetiva de esforço; pico PImáx = diminuição, = aumento, sem alteração, VVM = ventilação voluntária máxima, CVF = capacidade vital forçada, PF = pico de fluxo, VE = ventilação PImáx= pressão inspiratória máxima PEmáx = pressão expiratória máxima, VEF1,volume expiratório forçado no primeiro segundo, VO2pico = consumo máximo de oxigênio, FCpico = freqüência cardíaca de pico, CRF = capacidade residual funcional. 120 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 nem no grupo controle (127 vs. 128 cmH2O), assim como no tempo de exercício, ressaltando-se que a PEmáx permaneceu inalterada em todos os grupos. Esses resultados decorrentes do treinamento muscular ventilatório corroboram com os obtidos por outros grupos. Volianitis et al. [40] descreveram alterações significativas em remadores do sexo feminino após onze semanas de TMI, sendo o protocolo experimental dividido em dois grupos, um composto por sete remadoras que realizaram o TMI com carga equivalente a 50% PImáx, 30 repetições, duas vezes ao dia, todos os dias da semana por período de trinta minutos. O segundo grupo foi composto por sete remadoras, que realizaram TMI (placebo) com carga de 15% PImáx, 60 repetições, uma única vez ao dia e observaram além de um aumento na PImáx do grupo treinado (TMI = 104 ± 8 vs. 148 ± 10cmH2O Placebo = 130 ± 12 vs. 136 ± 12), uma maior distância percorrida no teste de seis minutos realizado em remoergômetro (1561 ± 9,3 vs. 1616 ± 13,4 metros), quando comparado com o grupo placebo (1566 ± 20,7 vs. 1592 ± 21,1 metros). Romer et al. [41] realizaram protocolo experimental com 16 ciclistas do sexo masculino, divididos em dois grupos de oito indivíduos. O primeiro que realizou o TMI e o segundo que realizou treinamento placebo sendo o projeto realizado de formato duplo-cego. O treinamento foi composto por seis semanas, duas vezes ao dia, onde o grupo treinamento utilizou 50% da PImáx, com orientação de realizar apenas 30 repetições, já o grupo controle utilizou 15% PImáx. Nenhuma alteração ocorreu na rotina de treinamento dos ciclistas no período das seis semanas de TMI. Foi evidenciado que o TMI foi capaz de aumentar a PImáx (102 ± 6 vs. 126 ± 5 cmH2O) quando comparado ao grupo placebo (100 ± 6 vs. 99 ± 6 cmH2O), diminuir a sensação subjetiva de esforço em exercício máximo em cicloergômetro no grupo treinamento sem, contudo, aumentar o consumo máximo de oxigênio. Esses dados são complementares aos obtidos por Spengler et al. [42], que com objetivo de investigar os efeitos do TMI na concentração de lactato e consumo de oxigênio, desenvolveram um protocolo experimental com participação de 20 indivíduos sadios que realizaram o protocolo de TMI com duração de 30 minutos, com 60% PImáx sendo a carga aumentada de forma progressiva semanalmente, 5 dias na semana por período de 4 semanas. Observou-se que houve redução da concentração de lactato sanguíneo para mesma intensidade de exercício, gerando a hipótese que tal fenômeno pudesse estar diretamente relacionado ao melhor desempenho da musculatura ventilatória em função do treinamento. Recentemente Griffiths & McConnell [43] realizaram protocolo experimental, utilizando amostra composta por 10 remadores do sexo masculino com média de idade de 24,9 ± 5,6 anos, 1,9 ± 0,5 metros de estatura e 83,7 ± 4,8 kg de massa corporal. O TMI foi realizado por 4 semanas com carga de 50% da PImax diariamente, duas vezes ao dia. Como resultado observou-se um aumento de 26% na PImáx, além de redução da sensação subjetiva de esforço, mensurada pela escala de Borg CR-10 (9,1 ± 0,9 vs. 8,2 ± 1,7), redução da concentração máxima de lactato (14,6 ± 4,4 vs. 13.0 ± 3.5) e FCpico (187 ± 11 vs. 183 ± 10 bpm) seguido de aumento do VO2pico (60,7 ± 6,2 vs. 62,7 ± 7,7 ml kg-1min-1) para mesma intensidade de exercício realizado em remoergômetro em teste de distância máxima em seis minutos Esses resultados, porém diferem dos obtidos por Sonetti et al. [16], que realizaram um protocolo experimental em ciclistas do sexo masculino com TMI objetivando ganho de força e resistência dos músculos ventilatórios. O TMI foi realizado por período de cinco semanas, uma vez ao dia, por período de 30 minutos, com carga equivalente a 50% da PImáx. Foi verificado um aumento de 8% na PImáx do grupo TMI e de 3,7% no grupo controle. Os resultados do TMI, não foram tão expressivos, uma vez que tempo de exercício máximo realizado em cicloergômetro, VO2máx, frequência cardíaca e concentração de lactato sanguíneo não sofreram alteração em nenhum dos grupos, devendo-se, contudo, ressaltar que o tempo de intervenção foi menor que os dos demais protocolos, composto de apenas cinco semanas. O estudo desenvolvido por Inbar et al. [17] apresentava a hipótese de que o TMI realizado em vinte atletas de resistência de alto rendimento poderia aumentar o VO2máx e assim melhorar o desempenho, adotando-se um protocolo de TMI, composto por 10 semanas, todos os dias. Um grupo realizou o TMI iniciando com 30% PImáx durante a primeira semana, com acréscimo de 5% a cada sessão, atingindo 80% da PImáx na quinta semana, sendo esse percentual da carga mantido até o término da décima semana. Concluiu-se que apesar do TMI ter alterado significativamente a PImáx, não foi capaz de aumentar o VO2pico (58 ± 4,6 vs. 58,1 ± 5,4 ml kg-1min-1). Esses resultados são similares aos obtidos por Willians et al. [44] que utilizaram em seu protocolo experimental sete atletas que realizaram TMI com carga de 50-65% da PImáx com 4 – 5 sessões de treinamento semanais, com duração de 25 minutos, por período de 4 semanas. Após esse período, verificou-se que tanto força como a resistência muscular ventilatória estavam aumentados (31% e 128% respectivamente), porém não ocorreram alterações significativas em VO2pico (53,1 ± 9,6 vs. 53,3 ± 11,9 ml kg-1min-1), FCpico (192 ± 9 vs. 194 ± 7 bpm) e percepção subjetiva de esforço (8,4 ± 1,4 vs. 7,8 ± 1,0). Porém no intuito de apontar os benefícios do TMI em indivíduos sadios, destaque deve ser dado ao estudo de Gething [45] que realizou uma comparação entre diferentes intensidades de TMI, tendo em seu protocolo experimental 66 indivíduos sadios de ambos os sexos divididos em três grupos, que treinaram três vezes por semana durante seis semanas. O primeiro grupo composto por 22 indivíduos treinou com 100% da PImáx, o segundo grupo composto por 21 indivíduos realizou treinamento a nível sub-máximo, com 85% da PImáx, e o terceiro grupo composto por 23 indivíduos não realizou treinamento, verificando-se que ao final não existiu alteração da função pulmonar, avaliada através de espirometria em nenhum dos três grupos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Porém a PImáx aumentou no primeiro e segundo grupos, quando comparados ao controle. As respostas na frequência cardíaca durante o exercício ventilatório no grupo que treinou com carga máxima, foi menor, quando comparado ao controle, assim como a sensação subjetiva de esforço relatada através da escala de Borg, demonstrando que as seis semanas de TMI foram capazes de não só aumentar a PImáx, mas também promover um decréscimo da frequência cardíaca e na sensação subjetiva de esforço mensurada pela escala de Borg, para mesma intensidade de exercício realizado em cicloergômetro. Romer et al. [46] demonstraram os benefícios do TMI em uma amostra composta por 24 atletas de corrida do sexo masculino, divididos em dois grupos. O primeiro grupo TMI realizou 30 manobras inspiratórias, duas vezes ao dia com carga de 50% da PImáx por 6 semanas. Já o grupo controle realizou 60 manobras inspiratórias uma vez ao dia com carga de equivalente a 15% da PImáx. Como resultado, observou-se uma melhora no teste de corrida de curta distância em intensidade submáxima, além de redução na concentração de lactato sanguíneo no grupo TMI. Objetivando investigar se o TMI é capaz de atenuar a fadiga da musculatura ventilatória durante o exercício aeróbio, Verges et al. [47] utilizaram em seu protocolo experimental 21 indivíduos sadios do sexo masculino divididos em dois grupos (13 no grupo TMI e 8 grupo controle). O grupo treinamento realizou 20 sessões de TMI com duração de 30 minutos em intensidade de 70% da VVM. Os indivíduos realizaram exercício de ciclismo em intensidade submáxima (85% FCmáx) antes e após o TMI, sendo verificado uma redução da fadiga muscular ventilatória após o período de TMI avaliada através de ventilação voluntária máxima, porém sem nenhuma correlação com melhora do desempenho físico máximo. Gigliotti et al. [48] em seu trabalho de revisão, procuraram apresentar evidências de que o TMI é capaz de promover benefícios no desempenho de indivíduos sadios, tais como redução na concentração de lactato, aumento da força e da resistência dos músculos ventilatórios e uma menor sensação subjetiva de esforço para uma mesma intensidade de exercício aeróbico. Esses resultados foram mais evidentes em estudos que os protocolos experimentais foram melhor controlados (dosagem de lactato, grupo controle e testes de exercício com protocolos máximos e sub-máximos) [16,42,46,49]. Portanto, estes autores, apesar de acreditarem que o TMI acarrete em melhora no desempenho físico, sugerem que estudos adicionais envolvendo a temática sejam realizados na tentativa de elucidar os mecanismos envolvidos em tal fenômeno. Verges et al. [49] realizaram uma meta-análise envolvendo nove estudos realizados pelo seu grupo de pesquisa totalizando quinze anos de experiência com TMI em indivíduos sadios. O objetivo foi avaliar os efeitos promovidos pelo TMI. Amostra foi composta por 135 indivíduos (sendo 32 não 121 treinados e 103 treinados), dos quais 45 (7 mulheres e 38 homens) formaram o grupo controle com média de idade 29 ± 5 anos e o grupo treinamento 28 ± 4 anos ambos os grupos compostos por indivíduos com função pulmonar normal avaliada através de espirometria. O grupo que realizou treinamento totalizou um período de aproximadamente seis horas semanais contra sete horas semanais de treinamento placebo. Como resultado foi observado um aumento significativo em variáveis espirométricas como Capacidade Vital Forçada, Pico de Fluxo e VVM. Porém nenhuma alteração foi verificada em Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo (VEF1), PImáx e PEmáx. Quanto à melhora no desempenho físico, avaliada através de teste de esforço realizado em cicloergômetro, o VO2pico não apresentou alteração significativa, porém o tempo de duração do teste, assim como a Ventilação (VE) aumentaram de forma significativa quando comparados ao grupo controle. Uma menor sensação subjetiva de esforço foi verificada para o mesmo tempo de exercício realizado antes do TMI. Concluindo que o TMI foi capaz de promover uma redução da sensação subjetiva de esforço para mesma intensidade de exercício, aumentar o tempo de realização do teste de esforço cardiopulmonar, seguido de uma maior VE máxima, além de promover aumento da força e resistência da musculatura ventilatória. Em resumo, os trabalhos consultados apresentam importantes divergências, apesar de a maioria dos trabalhos terem sua amostra composta por atletas, porém o número de semanas de TMI é bastante diferente entre os estudos, sendo o menor tempo de quatro semanas e o maior de onze semanas. A frequência semanal também é outra variável que merece ser destacada, sendo a maior frequência de sete vezes por semana e a menor de duas vezes por semana, além de, em três estudos, o TMI ter sido realizado duas vezes ao dia. A carga de trabalho também foi bastante discrepante entre os estudos, variando de 50% a 100 da PImáx, e, ainda, o fato de em alguns estudos a carga de trabalho aumentar de forma progressiva ao longo das semanas ao passo que em outros estudos a carga era fixa durante todo o período. A variável que sofreu a menor alteração entre os estudos foi o tempo de TMI que variou de vinte e cinco a trinta minutos. Além destas variáveis, deve ser destacado que os grupos experimentais eram compostos de indivíduos não-treinados e atletas de modalidades distintas, como ciclistas, corredores e remadores. Portanto, os possíveis efeitos do TMI podem ser dependentes da modalidade esportiva ou mesmo do protocolo de testes específicos para cada esporte. Conclusão Exercícios de alta intensidade ocasionam agudamente em decréscimo da função muscular ventilatória decorrentes da musculatura periférica ativa. O TMI é capaz de promover aumento na força e resistência da musculatura ventilatória em 122 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 indivíduos sadios. Porém seus resultados quanto à melhora no desempenho físico permanecem controversos, principalmente pela discrepância entre os protocolos quanto à carga utilizada, número de semanas, frequência semanal, além de treinamento contínuo ou seriado. Referências 1. Dempsey JA, Romer L, Rodman J, Miller J, Smith C. Consequences of exercise-induced respiratory muscle work. Respir Physiol Neurobiol 2006;151:242-50. 2. De Troyer A, Esterme M. Functional anatomy of the respiratory muscle. Clin Chest Med 1988;9(2):175-93. 3. De Troyer A. Mechanics of the chest wall muscle. In: Miller AD, Bianchu AL, Bishop BP, ed. Neural control of the respiratory muscles. New York: CRC Press; 1997. p.59-73. 4. Epstein S. An overview of respiratory muscle function. Clin Chest Med 1994;15(4):619-39. 5. Poole DC, Sexton WL, Farkas GA, Powers SK, Reid MB. Diaphragm structure and function in health and disease. Med Sci Sports Exerc 1997;29(6):738-54. 6. Robertson CH, Foster GH, Johnson RL. The relationship of respiratory muscle failure to the oxygen consumption of, lactate production, by and distribution of blood flow among respiratory muscle during increased inspiratory resistance. J Clin Invest 1977;59:31-42. 7. Polla B, D’Antona G, Bottinelli, Reggiani C. Respiratory muscle fibers: specialization and plasticity. Thorax 2004;59:808-17. 8. Harms CA, Wetter TJ, Croix CMST, Pegelow DF, Dempsey JA et al. Effects of respiratory muscle work on exercise performance. J Appl Physiol 2000;89:131-8. 9. Harms CA, Wetter TJ, McClaran SR, Pegelow DF, Nickele GA, Nelson WB et al. Effects of respiratory muscle work on cardiac output and its distribution during maximal exercise. J Appl Physiol 1998;85(2):609-18. 10. Leith DE, Bradley M. Ventilatory muscle strength and endurance training. J Appl Physiol 1976;41:508-16. 11. Chiappa GR, Roseguini BT, Vieira PJC, Alves NC, Tavares A, Winkelmann ER et al. Inspiratory muscle training improves blood flow to resting and exercising limbs in patients with chronic heart failure. J Am Coll Cardiol 2008;51:1663-71. 12. Dall’Ago P, Chiappa GRS, Guths H, Stein R, Ribeiro JP. Inspiratory muscle training in patients with heart failure and inspiratory muscle weakness. J Am Coll Cardiol 2006;47(4):757-63. 13. Weiner P, Magadle R, Massarwa F, Beckerman M, Yanay N. Influence of gender and inspiratory muscle training on the perception of dyspnea in patients with asthma. Chest 2002;122(1):197-201. 14. Gosselink R, Decramer M. Inspiratory muscle training: Where are we? Eur Respir J 1994;7:2103-5. 15. Suzuki S, Sato M, Okubo T. Expiratory muscle training and sensation of respiratory effort during exercise in normal subjects. Thorax 1995;50:366-70. 16. Sonetti DA, Wetter TJ, Pegelow DF, Dempsey JA. Effects of respiratory muscle training versus placebo on endurance exercise performance. Respir Physiol 2001;127:185-99. 17. Inbar O, Weiner P, Azgad Y, Rotstein A, Weinstein Y. Specific inspiratory muscle training in well trained endurance athletes. Med Sci Sports Exerc 2000;32:1233-7. 18. Milic-Emili J, Mead J, Turner JM, Glauser EM. Improved technique for estimating pleural pressure from esophageal balloons. J Appl Physiol 1964;19:207-11. 19. Laporta D, Grassino A. Assessment of transdiaphragmatic pressure in humans. J Appl Physiol 1985;58:1469-76. 20. Neder JA, Andreoni S, Lerario MC, Nery LE. Reference values for lung function tests II. Maximal respiratory pressures and voluntary ventilation. Braz J Med Biol Res 1999;32(6):71927. 21. Leech JA, Ghezzo H, Stevens D, Becklake MR. Respiratory pressures and function in young adults. Am Rev Respir Dis 1983;128:17-23. 22. Tzelepis GE, Vega DL, Cohen ME, McCool FD. Lung volume specificity of inspiratory muscle training. J Appl Physiol 1994;77:789-94. 23. Green M, Road J, Sieck GC, Similowski T. Tests of respiratory muscle strength. ATS/ERS statement on respiratory muscle testing. Am J Respir Crit Care Med 2002;166:518-624. 24. Mayos M, Giner J, Casan P, Sanchis J. Measurement of maximal static respiratory pressures at the mouth with different air leaks. Chest 1991; 100(2):364-6. 25. Tzelepis GE, Vega DL, Cohen ME, Fulambarker AM, Patel KK, McCool FD. Pressure-flow specificity of inspiratory muscle training. J Appl Physiol 1994(b);77:795-801. 26. Auler JC, Amaral G. Assistência ventilatória mecânica. São Paulo: Atheneu; 1995. p.36-8. 27. Neder JA, Andreoni S, Lerario MC, Nery LC. Reference values for lung function tests. II. Maximal respiratory pressures and voluntary ventilation. Braz J Med Biol Res 32(6);719-27. 28. Martyn JB, Moreno H, Paré PD, Pardy RL. Measurement of inspiratory muscle performance with incremental threshold loading. Am Rev Respir Dis 1987;135:919-23. 29. Fiz PR, Romero P, Gomez R, Hernandez MC, Ruiz J, Izquierdo J, et al. Indices of respiratory muscle endurance in health subjects. Respiration 1998;65:21-7. 30. Ward ME, Eidelman D, Stubbing DG, Bellemare F, Macklem PT. Respiratory sensation and pattern of respiratory muscle activation during diaphragm fatigue. J Appl Physiol 1988;65:2181-9. 31. Johnson BD, Saupe KW, Dempsey JA. Mechanical constraints on exercise hyperpnea in endurance athletes. J Appl Physiol 1992;73:874-86. 32. Babcock MA, Pegelow DF, Harms CA, Dempsey JA. Effects of respiratory muscle unloading on exercise-induced diaphragm fatigue. J Appl Physiol 2002;93:201-6. 33. Boussana A, Matecki S, Galy O, Hue O Ramonatxo M, Gallais LD. The effect of exercise modality on respiratory muscle performance in triathletes. Med Sci Sports Exerc 2001;33(12):2036-43. 34. Manohar M. Blood flow to the respiratory and limb muscles and to abdominal organs during maximal exertion in ponies. J Physiol 1986;377:25-35. 35. Aaron EA, Seow KC, Johnson BD, Dempsey JA. Oxygen cost of exercise hyperpnea: implications for performance. J Appl Physiol 1992;72:1818-25. 36. Hill JM. Discharge of group IV phrenic afferent fibers increases during diaphragmatic fatigue. Brain Res 2000;856:240-4. 37. St Croix CM, Morgan BJ, Wetter TJ, Dempsey JA. Fatiguing inspiratory muscle work causes reflex sympathetic activation in humans. J Physiol 2000;529(2):493-504. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 38. Vogiatzis I, Athanasopoulos D, Habazettl H, Guenette JA, Koskolou M, Vasilopoulou M. Intercostal muscle blood flow limitation in athletes during maximal exercise. J Physiol 2009;587(14):3665-77. 39. Gething AD, Passeld L, Davies B. The effects of different inspiratory muscle training intensities on exercising heart rate and perceived exertion. Eur J Appl Physiol 2003:92:50-5. 40. Volianitis S, McConnell AK, Koutedakis Y, Mcnaughton L, Backx K, Jones DA. Inspiratory training improves rowing performance. Med Sci Sports Exerc 2001;33:803-9. 41. Romer LM, McConnell AK, Jones DA. Effects of inspiratory muscle training on time-trial performance in trained cyclists. J Sports Sci 2002;20:547-62. 42. Spengler CM, Roos M, Boutellier SML. Decreased exercise blood lactate concentrations after respiratory endurance training in humans. Eur J Appl Physiol 1999;79:299-305. 43. Griffiths LA, McConnell AK. The influence of inspiratory and expiratory muscle training upon rowing performance. Eur J Appl Physiol 2007;99:457-66. 123 44. Williams JS, Wongsathikun J, Boon SM, Acevedo ED. Inspiratory muscle training fails to improve endurance capacity in athletes. Med Sci Sports Exerc 2002;34(7):1194-8. 45. Gething AD, Passeld L, Davies B. The effects of different inspiratory muscle training intensities on exercising heart rate and perceived exertion. Eur J Appl Physiol 2004;92:50-5. 46. Romer LM, McConnell AK, Jones DA Effects of inspiratory muscle training upon recovery time during high intensity, repetitive sprint activity. Int J Sports Med 2002;23:353-60. 47. Verges S, Lenherr O, Haner AC, Schulz C, Spengler CM. Increased fatigue resistance of respiratory muscles during exercise after respiratory muscle endurance training. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2007;292:1246-53. 48. Gigliotti F, Binazzi BM, Scanoa G. Does training of respiratory muscles affect exercise performance in healthy subjects? Resp Med 2006;100:1117-20. 49. Verges S, Boutellier U, Spengler CM. Effect of respiratory muscle endurance training on respiratory sensations, respiratory control and exercise performance: a 15-year experience. Respir Physiol Neurobiol 2008;11(1):16-22. 124 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Revisão Bases metabólicas da rabdomiólise e atrofia muscular Metabolic basis of rhabdomyolysis and muscle atrophy Rodrigo Minoru Manda*, Fernando Moreto**, Roberto Carlos Burini, D.Sc.*** *Biomédico, Centro de metabolismo em exercício e nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), Programa Laboratório em Metabolismo Nutricional e Desportivo, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP, ** Biomédico, Centro de metabolismo em exercício e nutrição (CeMENutri), Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), *** Professor Titular do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) e responsável pelo CeMENutri, Departamento de Saúde Pública, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP) Resumo Abstract A redução da musculatura esquelética ou atrofia muscular ocorre gradativamente a partir dos 30 anos de idade, mas com significância importante a partir da 5ª década. Entretanto, ocorre em qualquer idade, na privação alimentar de carboidratos e no trauma. Pode ocorrer por denervação, desuso, deficiência nutricional, desequilíbrio hormonal e inflamação. A proteólise muscular ocorre predominantemente via ATP-ubiquitina-proteossoma e cooperativamente com os sistemas calpaína e caspase 3. Como promotores da proteólise figuram os glicocorticóides, o FOXO3 e as citocinas pró-inflamatórias. O TNF, ativa o NF-B tanto pelo Ca++ intracelular como pelas espécies reativas do oxigênio. Figuram como marcadores moleculares da atrofia muscular, a expressão aumentada dos genes MAFbx/atrogina 1 e MURF-1 e os marcadores proteolíticos como ubiquitina, calpaína, miostatina, TNF e NF-B. No geral, a rabdomiólise tem o estresse oxidativo como principal efetor e a disfunção mitocondrial, apoptose celular, como desfecho. A gradual reduction in muscle mass began to occur physiologically after 30 years of age achieving clinical importance beyond the 5th decade of life. However it can occur earlier by the presence of food-energy deprivation and/or in association with trauma. Skeletal-muscle loss may occur by causes such as muscle denervation, disuse, nutritional deficiencies, hormonal imbalance and inflammation states. Muscle proteolysis occurs predominantly through ATP-ubiquitin-proteasomal pathway, cooperatively with systems of calpain and caspase 3. As proteolytic promoters there are the glucocorticoids, FOXO3 and the pro-inflammatory cytokines. TNF activates NFB either by increasing Ca++ intracellular as well by the increased reactive oxygen species. The over expression of genes MAFbx/atrogin 1 and MURF-1 are the main molecular markers of muscular atrophy whereas ubiquitin, calpain, TNF and NFB figure as the proteolytic markers. In general, oxidative stress is the main promoter of rhabdomyolysis and both mitochondrial disfunction and cellular apoptosis are the outcomes. Palavras-chave: rabdomiólise, proteólise, atrofia muscular, caquexia. Key-words: rhabdomyolysis, proteolysis, muscle atrophy, cachexia. Recebido 15 de janeiro de 2010; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini, CeMENutri, Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Pública (FMBUNESP), Distrito de Rubião Jr, s/n° 18618-970 Botucatu SP, Tel: (14) 3811-6128, E-mail: [email protected], rodrigo_manda@yahoo. com.br Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução A musculatura esquelética constitui o maior tecido do corpo. Sua redução significativa está associada a patologias metabólicas como diabetes melito tipo 2 (DM-2), obesidade, dificuldades de cicatrização e imunodepressão [1]. Adicionalmente, por estar ligada aos maiores compartimentos colágeno e mineral do corpo, tem implicações importantes na densidade mineral óssea e função osteoarticular. Como consequência da menor aptidão física, há comprometimento do equilíbrio com quedas, fraturas e maior mortalidade [2,3]. Na vida adulta a perda muscular ocorre quantitativamente por atrofia sarcoplasmática, mais precisamente por proteólise miofibrilar [4]. A massa muscular é mantida pelo balanço entre a síntese e o catabolismo protéico miofibrilar, entre os processos de apoptose e regeneração ou ambos. O catabolismo protéico é o principal determinante da deposição protéica muscular adulta [5]. Assim, o processo de perda de massa ou atrofia muscular é decorrente do predomínio do catabolismo sobre a síntese de suas proteínas [6]. A atrofia é acompanhada pela redução do tamanho (diâmetro) e número das miofibrilas e o determinante do diâmetro da fibra parece ser a densidade de mionúcleos, que guardariam proporção com o sarcoplasma e este com as miofibrilas. Proporção análoga existiria entre a rede vascular (e perfusão) muscular e as miofibrilas. Causas da atrofia muscular A atrofia muscular esquelética pode ocorrer por denervação, desuso, desnutrição, desequilíbrio hormonal ou inflamação [3]. A atrofia muscular por denervação pode ser observada nas condições de seccionamento de terminação nervosa local ou da medula espinal, assim como pela neurodegeneração patológica (Alzheimer, paralisia infantil) ou farmacológica [7]. A atrofia por desuso é vista nas situações de: imobilização de membros, ventilação mecânica (atrofia do diafragma), microgravidade (vôos espaciais prolongados), hospitalização longa (bed rest) e inatividade física cotidiana (sedentarismo) [8]. A atrofia por desnutrição ocorre por privação dietética de carboidratos e necessidade de preservar a homeostase glicêmica (pela neoglicogênese hepática) à custa de aminoácidos da proteólise muscular. A atrofia por desequilíbrio hormonal está associada ao predomínio dos hormônios catabólicos do eixo hipotálamohipófise-adrenal: hormônio adrenocorticotrófico, cortisol, tiroxina e catecolaminas; sobre os hormônios anabólicos sistêmicos: hormônio do crescimento (GH), testosterona, estrogênios, insulina e IGF-1 (insulin-like growth factor 1). São exemplos deste tipo de atrofia o ocorrido na menopausa, hiperfunção adrenal ou corticoterapia prolongada e na senilidade [9-11]. 125 De forma análoga, a atrofia inflamatória se caracteriza pelo predomínio das citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, IL-8 e TNF) sobre as antiinflamatórias (IL-2 e IL-10). Quando persistido cronicamente, esse padrão citocínico (TNF) retroalimentado positivamente pelo estresse oxidativo [12,13], leva a síndrome de caquexia, em que o desgaste muscular (com relativa preservação do tecido adiposo) é acompanhado de anorexia, anemia, hipoalbuminemia, dificuldade de cicatrização e imunodeficiência [1]. São exemplos de caquexia: a artrite reumatóide, o câncer e AIDS. Entretanto, não se exclui a participação inflamatória na hipotrofia muscular do alcoólatra, renal crônico e do obeso. As causas nutricionais e sedentarismo estão intimamente associadas [11,14]. Mecanismos proteolíticos A degradação das proteínas musculares ocorre por quatro vias proteolíticas principais: a lisossômica [15], a proteossômica dependente da ubiquitina (Ub) [16], as proteases cálcio (Ca++) dependentes (calpaínas I e II) e suas inibidoras (calpastatinas), existentes no citosol e; por fim, o sistema que envolve a caspase 3, enzima citosólica participante também do processo de apoptose celular [8]. Proteólise lisossômica Na proteólise lisossômica, as proteínas encaminhadas à organela são degradadas por proteases ácidas denominadas catepsinas. Diferentes vias são usadas para entregar substratos proteicos intracelulares aos lisossomos: microautofagia, crinofagia, autofagia mediada por chaperonas e macroautofagia [15]. O músculo esquelético contém poucos lisossomos e esse sistema é, provavelmente, responsável pelo catabolismo, apenas, de algumas proteínas de vida longa, de proteínas membranosas ou ambas e pela eliminação de organelas. Os sistemas fomentadores de macroautofagia e autofagia mediada por chaperonas, que são pouco intensos em condições basais, são estimulados em condições de estresse como: jejum crônico, estresse oxidativo e exposição celular a compostos tóxicos [17]. Proteólise dependente da via ATP-ubiquitinaproteossoma A proteólise proteossomal é dependente da ubiquitina (Ub), proteína norteadora da proteína a ser destruída. A via proteolítica ubiquitina-proteossoma constitui importante mecanismo no catabolismo proteico de células eucarióticas, sendo estimulado em situações de diminuição do trabalho muscular, denervação, tratamento com glicocorticóide (dexametasona), administração de IL-1, estresse inflamatório e câncer [18,19]. Essa via envolve, basicamente, duas etapas: a ligação covalente da ubiquitina ao substrato proteico a ser destruído e o catabolismo proteico por proteases do proteos- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 126 soma 26S, estrutura em forma de tubo, dotada de proteases, em seu interior, responsáveis pela fragmentação da cadeia polipeptídica em peptídeos livres. A ubiquitinação do substrato inicia-se com a ativação de pelo menos 3 classes de proteínas: E1, ativadora da Ub; E2, conjugadora da Ub e; E3, ligases da Ub. São responsáveis pela conjugação da Ub às proteínas intracelulares, que são reconhecidas e degradadas no proteossoma [20]. A E3 Ub-ligase, também, é conhecida como muscle ring finger (MuRF-1) e a muscle athophy F-box (MAFbx/atrogina 1). MuRF-1 e MAFbx/atrogina 1 são genes que apresentam expressão elevada no músculo atrófico. A expressão proteica (E3 Ubligase) é responsável pela conjugação específica da ubiquitina ao substrato [18,21]. Paralelamente, há maior expressão do mRNA do proteossoma 26S (contendo as proteases) [16]. A transcrição dos genes reguladores da atrofia (MAFbx/ atrogina 1 e MuRF-1) é regulada pelos fatores transcricionais da família FOXO (fork head box O): FOXO1 e FOXO3. A atividade desses fatores transcricionais é modulada pela serina/ treonina quinase Akt. A fosforilação da Akt inibe a ação dos fatores FOXO e, consequentemente, a ativação dos genes da atrofia. Reciprocamente, a não-fosforilação da Akt permite a atividade dos fatores FOXO, promovendo a atrofia muscular, decorrente da maior expressão dos genes MAFbx/atrogina 1 e MuRF-1 [22](Figura 1). Figura 1 - esquema da integração dos processos de apoptose e proteólise muscular. 'HQHUYDomR -HMXPSURORQJDGR ,PRELOL]DomR GOLFRFRUWLFyLGHV 5HVWULomR FDOyULFD 'HVXVR (52V 6,57 3*&D ,*) ĹPLWRF{QGULDV $NWS 0$)E[H 085) 3URWHyOLVHPXVFXODU $SRSWRVH ,KK-NFKB )2;2H)2;2 (((8EOLJDVHV &DTXH[LD &kQFHU $,'6 $UWULWHUHXPDWyLGH &LWRFLQDV SUyLQIODPDWyULDV NFKB 71)D 6LVWHPD8E3URWHRVVRPD6 &LWRFURPR&R[LGDVH &DVSDVH (52V &DOSDtQD &DVSDVH NO 'LVIXQomR 126 &D PLWRFRQGULDO SIRT-1: deacetilase sirtuina; PGC-1 : peroxisome proliferator-activated receptor coactivator-1; IGF-1: insulin-like growth factor 1; Aktp: serina/treonina quinase Akt fosforilada; FOXO1 e FOXO3: fork head Box O; EROs: espécies reativas de oxigênio; I: IB quinase; NF-B: fator nuclear B; TNF-: fator de necrose tumoral ; MAFbx: muscle athophy F-box; MURF-1: muscle ring finger; Sistema Ub-Proteossoma 26S: sistema ubiquitina proteossoma 26S; Ca2+: Cálcio; NOS: óxido nítrico sintase; NO: óxido nítrico. O composto ubiquitinado dirige-se ao proteossoma e é reconhecido pela subunidade 8S, iniciando-se o desenove- lamento da cadeia polipeptídica, permitindo assim a ação das proteases presentes na subunidade 20S, liberando os peptídeos livres. Proteólise cálcio dependente A atividade proteolítica dependente de cálcio é condicional a atividade de cisteína-proteases, conhecidas como calpaínas [23], e decorrente do predomínio das calpaínas sobre as calpastatinas, inibidoras endógenas da primeira. As isoformas bem caracterizadas da calpaína são calpaína 1 (ou μ-calpaína), calpaína 2 (ou m-calpaína) e calpaína 3 (ou p97), sendo esta músculo específica [24]. Variações na expressão dos níveis de calpaínas e de seus reguladores foram relatados na atrofia muscular induzida pelo desuso, no envelhecimento com ausência de exercício físico e no tratamento com dexametasona [21]. Similarmente às catepsinas, as calpaínas não são sistematicamente ativadas e, provavelmente, não são diretamente responsáveis pelo catabolismo de actina e miosina. Sugere-se, entretanto, que possam atuar na desagregação das proteínas sarcoméricas, passo inicial para degradação das proteínas miofibrilares pelo sistema proteossomal [25]. As calpaínas estão envolvidas em diferentes mecanismos celulares: proliferação, migração e fusão dos mioblastos, associados à regeneração muscular. Participam ainda na regulação da apoptose e proliferação das células satélites [26], células tronco musculares dotadas da capacidade de regeneração das fibras musculares submetidas a estímulos catabólicos (exercício excêntrico, ferimentos etc) [27]. Proteólise dependente das caspases A caspase 3 é a protease que cataboliza proteínas musculares de estrutura complexa (ex: actina/miosina), tornando-as viáveis a serem degradadas completamente pelo sistema Ubproteossoma [28]. As espécies reativas de oxigênio (EROs), geradas no músculo tanto em repouso como no exercício, quando não neutralizadas, resultam em estado de estresse oxidativo, que podem levar a rabdomiólise tanto pela proteólise via caspase 3, como pela apoptose via disfunção mitocondrial [6]. Ambas são decorrentes da maior concentração citosólica de Ca++ (Figura 1). A proteólise pela caspase 3 ocorre, tanto pelo aumento do Ca++ intracelular, através da via: Ca++ calpaína caspase 12 caspase 3, como pela citocromo oxidase, liberada em situações de agressão mitocondrial, pela via: calpaína BID tBID mitocôndria citocromo c caspase 3 [8]. Adicionalmente, o Ca++ pode induzir a geração de EROs, tanto pela via: Ca++ nNOS NO EROs, como pelos estágios mitocondriais 3 4 EROs e também pelo transdutor do sarcolema PkC ERk 1/2 NAD(P)se EROs. As EROs podem ainda ser geradas, independentemente do Ca++, via xantina oxidase [8]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Integração dos mecanismos proteolíticos Citocinas pró-inflamatórias agem como estimuladores proteolíticos via ativação do NF-B, tanto por EROs como pela mobilização do Ca++ do retículo sarcoplasmático [29] (figura 1). Nesse sentido, a rabdomiólise induzida pelo TNF está associada as EROs e alterações de indicadores pró-antioxidantes como GSH/GSSG (glutationa reduzida/oxidada). EROs levam a ativação das vias sinalizadoras que ativam fatores de transcrição (NF-B, FOXO) [25] (Figura 1). As enzimas de ubiquitinação (ligases) são reguladas por mecanismos S-tiolização/detiolização e, portanto, susceptíveis ao estresse oxidativo [30]. Assim, a atrofia muscular decorrente do TNF está associada à ativação do NF-B com ligação ao sistema proteossomal [6], pela indução da E3 Ub-ligase (MuRF-1 e MAFbx/ atrogina 1) [31] (Figura 1). Embora seja aceito que o sistema ATP-Ub-proteossomal seja o predominante na proteólise muscular [32,33], foi demonstrado que o sistema proteossomal é capaz de degradar actina ou miosina isoladamente, mas não a miofibrila. Desta forma, as proteínas miofibrilares primeiro seriam liberadas pela proteólise da titina por calpaínas concentradas na linha Z. Assim, os estágios iniciais da rabdomiólise seriam dependentes das calpaínas e caspase 3 e os finais pelo sistema Ubproteossomal [33,34]. Ativadores da proteólise muscular Dentre os promotores a via proteolítica (Ub-proteossoma), encontra-se os fatores de transcrição (FOXO), sendo o estresse oxidativo o principal sinal “upstream” para a proteólise miofibrilar [8]. O principal alvo proteolítico do estresse oxidativo seria a ativação da caspase 3 adicional a disfunção mitocondrial e apoptose celular [6] (Figura 1). A expressão aumentada dos genes da E3-Ub ligase muscular é vista na atrofia muscular das condições de jejum, diabetes, microgravidades, imobilização e deficiências de nutrientes [18,19,35]. Essa expressão pode ser estimulada pelo tratamento da célula muscular com TNF via ativação da p38/MAPk [36]. Acredita-se que na atrofia induzida pelo desuso a expressão aumentada do MuRF-1 e MAFbx/atrogina 1, seja induzida pelo sinalizador I-NF-B [37]. O TNF é ativador potente do NF-B e há ligação entre TNF-NF-B e o sistema proteolítico ubiquitina dependente [6] (figura 1). A inibição do NFB reduz a proteólise em cultura de células musculares [29], enquanto o tratamento crônico com TNF resulta em perda de miosina [31]. As concentrações de TNF ampliam a transcrição de NF-B, suprimindo o fator de diferenciação muscular MyoD e prejudicando o reparo muscular [38]. O TNF induz a E3-Ub ligase, com consequente atrofia muscular e redução da força contrátil, em mecanismo semelhante ao da cardiomiopatia crônica [31]. 127 Assim, figuram como marcadores moleculares da atrofia muscular a expressão aumentada dos genes MAFbx/atrogina-1 e MURF-1 [18,19]. Como mediadores proteolíticos incluem Ub, calpaína, miostatina, TNF e NF-B [6]. No jejum e em patologias como câncer e insuficiência renal crônica, os glicocorticóides têm mostrado atividade “upstream”, aumentando a expressão da E3-Ub ligase e miostatina [39]. As citocinas pro-inflamatórias, particularmente o TNF, agem como estimuladores, pela ativação do NF-B tanto pelo estresse oxidativo como pela mobilização do cálcio intracelular (e disfunção mitocondrial) (figura 1). Distúrbios no balanço de oxi-redução são mecanismos regulatórios críticos na ativação de ambos, calpaínas e caspase 3, durante a atrofia do miotúbo [40]. Estresse oxidativo e inflamação são fortemente correlacionados e contribuem para os estados de atrofia muscular. Além desses, resistência insulínica e acidose metabólica também constituem estímulos rabdomiolíticos. A deficiência insulínica experimental resulta na hiperativação do sistema ATP-Ub-proteossoma pela expressão gênica [41]. A proteólise muscular induzida pela acidose é via ATP-Ub-proteossoma, mas requer as concentrações aumentadas de glicocorticóides decorrentes da acidose metabólica [42]. Nos exercícios exaustivos ou nos modelos de exercícios excêntricos, há danos musculares relatados em indivíduos sadios. São caracterizados por danos morfológicos e celulares, com vazamento de constituintes celulares para a circulação, resposta inflamatória, disfunção muscular e dor [43]. Nestas condições, há aumento dos mediadores proteolíticos (E3-Ub ligase, proteossoma 26S e calpaína) [44]. No dano muscular pelo exercício exaustivo há dor (sinal clínico), perda de força (sinal funcional) e elevação dos marcadores musculares no sangue (sinal bioquímico) [45]. Assim, tanto os processos miostáticos, como os rabdomiolíticos têm no estresse oxidativo seu principal efetor e a apoptose celular por disfunção mitocondrial seu desfecho. Como estímulos, há aumento do cálcio intracelular, atividade pró-inflamatória, elevação dos glicocorticóides, denervação e dano muscular por exercício exaustivo (Figura 1). Ratos SOD -/- (superóxido dismutase) desenvolvem atrofia (redução do diâmetro das fibras e número de mionúcleos) associadamente a maior proteólise e apoptose com maiores atividades das calpaínas, caspase 3 e endonuclease G (e fragmentação do DNA) [46]. Citocinas pró-inflamatórias (IL1, IL-6, IL-8 e TNF) agem como mediadores proteolíticos “upstream” pela ativação do NF-B, o que é feito tanto pela mobilização do Ca++ intracelular (das EROs) como pela produção de EROs [29]. A restrição calórica e o treinamento físico reduzem a produção de EROs e aumentam a defesa antioxidante, respectivamente, neutralizando o estresse oxidativo. As EROs são os principais processos ativadores da disfunção mitocondrial e rabdomiólise. A restrição calórica aumenta a biogênese mitocondrial (via PGC-1 , peroxisome proliferator-activated receptor coactivator-1) e a sensibilidade insulínica (via 128 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 PI3K, phosphoinositide 3-kinase), ambos pela ativação da deacetilase sirtuina (SIRT1) (figura 1). Em animais SOD-/- a restrição calórica reduz a geração de EROs, aumenta a sobrevida, reverte os efeitos da denervação e a intolerância dos animais ao exercício físico [46]. 15. Conclusão 17. Em conclusão, pode-se afirmar que a rabdomiólise tem, de forma geral, o estresse oxidativo como principal efetor. Por outro lado, a disfunção mitocondrial com apoptose celular parece consistir em seu principal desfecho. Referências 1. Tracey KJ, Cerami A. Tumor necrosis factor in the malnutrition (cachexia) of infection and cancer. Am J Trop Med Hyg 1992;47:2-7. 2. Pereira SEM, Buksman S, Perracini M, Py L, Barreto KML, Leite VMM. Queda em idosos. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; 2001. [citado 2010 mai 13]. Disponível em URL: http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/082.pdf 3. Roubenoff R. Sarcopenia: a major modifiable cause of frailty in the elderly. J Nutr Health Aging 2000;4:140-2. 4. Dirks AJ, Leeuwenburgh C. The role of apoptosis in age-related skeletal muscle atrophy. Sports Med 2005;35:473-83. 5. Combaret L, Dardevet D, Bechet D, Taillandier D, Mosoni L, Attaix D. Skeletal muscle proteolysis in aging. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2009;12:37-41. 6. Wismann JA, Willoughby DS. Effects of protein/amino acid supplementation and gastrocnemius immobilization on muscle mass, strength, and gene expression. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S474. 7. Sacheck JM, Hyatt JP, Raffaello A, Roy RR, Edgerton VR, Lecker SH et al. Rapid disuse and denervation atrophy involve transcriptional changes similar to those of muscle wasting during systemic diseases. Faseb J 2007;21:140-155. 8. French JP, Hamilton KL, Quindry JC, Lee Y, Upchurch PA, Powers SK. Exercise-induced protection against myocardial apoptosis and necrosis: MnSOD, calcium-handling proteins, and calpain. Faseb J 2008;22:2862-71. 9. Barbieri M, Ferrucci L, Ragno E, Corsi A, Bandinelli S, Bonafè M et al. Chronic inflammation and the effect of IGF-I on muscle strength and power in older persons. Am J Physiol Endocrinol Metab 2003;284:E481-7. 10. Volpi E, Nazemi R, Fujita S. Muscle tissue changes with aging. Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2004;7:405-10. 11. Morley JE, Thomas DR, Wilson MM. Cachexia: pathophysiology and clinical relevance. Am J Clin Nutr 2006;83:735-43. 12. Costelli P, Carbo N, Tessitore L, Bagby GJ, Lopez-Soriano FJ, Argilés JM, et al. Tumor necrosis factor-alpha mediates changes in tissue protein turnover in a rat cancer cachexia model. J Clin Invest 1993;92:2783-9. 13. Wing SS, Goldberg AL. Glucocorticoids activate the ATPubiquitin-dependent proteolytic system in skeletal muscle during fasting. Am J Physiol 1993;264:E668-76. 14. Roubenoff R, Roubenoff RA, Cannon JG, Kehayias JJ, Zhuang H, Dawson-Hughes B et al. Rheumatoid cachexia: cytokine- 16. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. driven hypermetabolism accompanying reduced body cell mass in chronic inflammation. J Clin Invest 1994;93:2379-86. Bechet D, Tassa A, Taillandier D, Combaret L, Attaix D. Lysosomal proteolysis in skeletal muscle. Int J Biochem Cell Biol 2005;37:2098-114. Kandarian SC, Stevenson EJ. Molecular events in skeletal muscle during disuse atrophy. Exerc Sport Sci Rev 2002;30:111-6. Kiffin R, Kaushik S, Zeng M, Bandyopadhyay U, Zhang C, Massey AC et al. Altered dynamics of the lysosomal receptor for chaperone-mediated autophagy with age. J Cell Sci 2007;120:782-91. Bodine SC, Latres E, Baumhueter S, Lai UK, Nunez L, Clarke BA, et al. Identification of ubiquitin ligases required for skeletal muscle atrophy. Science 2001;294:1704-8. Gomes MD, Lecker SH, Jagoe RT, Navon A, Goldberg AL. Atrogin-1, a muscle-specific F-box protein highly expressed during muscle atrophy. Proc Natl Acad Sci USA 2001;98:14440-5. Mitch WE, Goldberg AL. Mechanisms of muscle wasting. The role of the ubiquitin-proteasome pathway. N Engl J Med 1996;335:1897-905. Stevenson EJ, Giresi PG, Koncarevic A, Kandarian SC. Global analysis of gene expression patterns during disuse atrophy in rat skeletal muscle. J Physiol 2003;551:33-48. Sandri M, Sandri C, Gilbert A, Shurk C, Calabria E, Picard A, et al. Foxo transcription factors induce the atrophy-related ubiquitin ligase atrogin-1 and cause skeletal muscle atrophy. Cell 2004;117:399-412. Costelli P, Reffo P, Penna F, Autelli R, Bonelli G, Baccino FM. Ca(2+)-dependent proteolysis in muscle wasting. Int J Biochem Cell Biol 2005;37:2134-46. Goll DE, Thompson VF, Li H, Wei W, Cong J. The calpain system. Physiol Rev 2003;83:731-801. Attaix D, Ventadour S, Codran A, Bechet D, Taillandier D, Combaret L. The ubiquitin-proteasome system and skeletal muscle wasting. Essays Biochem 2005;41:173-86. Dargelos E, Poussard S, Brule C, Daury L, Cottin P. Calciumdependent proteolytic system and muscle dysfunctions: a possible role of calpains in sarcopenia. Biochimie 2008;90:359-68. Nair KS. Aging muscle. Am J Clin Nutr 2005;81:953-63. Du J, Wang X, Miereles C, Bailey JL, Debigare R, Zheng B, et al. Activation of caspase-3 is an initial step triggering accelerated muscle proteolysis in catabolic conditions. J Clin Invest 2004;113:115-23. Reid MB, Li YP. Tumor necrosis factor-alpha and muscle wasting: a cellular perspective. Respir Res 2001;2:269-72. Obin M, Shang F, Gong X, Handelman G, Blumberg J, Taylor A. Redox regulation of ubiquitin-conjugating enzymes: mechanistic insights using the thiol-specific oxidant diamide. Faseb J 1998;12:561-9. Adams V, Mangner N, Gasch A, Krohne C, Gielen S, Hirner S, et al. Induction of MuRF1 is essential for TNF-alpha-induced loss of muscle function in mice. J Mol Biol 2008;384:48-59. Hasselgren PO, Fischer JE. Muscle cachexia: current concepts of intracellular mechanisms and molecular regulation. Ann Surg 2001;233:9-17. Jagoe RT, Goldberg AL. What do we really know about the ubiquitin-proteasome pathway in muscle atrophy? Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2001;4:183-90. Huang J, Forsberg NE. Role of calpain in skeletal-muscle protein degradation. Proc Natl Acad Sci U S A 1998;95:12100-5. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 35. Lecker SH, Jagoe RT, Gilbert A, Gomes M, Baracos V, Bailey, et al. Multiple types of skeletal muscle atrophy involve a common program of changes in gene expression. Faseb J 2004;18:39-51. 36. Li YP, Chen Y, John J, Moylan J, Jin B, Mann DL, et al. TNF-alpha acts via p38 MAPK to stimulate expression of the ubiquitin ligase atrogin1/MAFbx in skeletal muscle. Faseb J 2005;19:362-70. 37. Cai D, Frantz JD, Tawa NE, Jr., Melendez PA, Oh BC, Lidov HG et al. IKKbeta/NF-kappaB activation causes severe muscle wasting in mice. Cell 2004;119:285-98. 38. Guttridge DC, Mayo MW, Madrid LV, Wang CY, Baldwin AS, Jr. NF-kappaB-induced loss of MyoD messenger RNA: possible role in muscle decay and cachexia. Science 2000;289:2363-6. 39. Allen DL, Cleary AS, Speaker KJ, Lindsay SF, Reed JM, Madden MC. Expression of components of the myostatin signaling pathway in fasting mouse skeletal muscle and adipose. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S33. 40. Powers SK, Kavazis AN, DeRuisseau KC. Mechanisms of disuse muscle atrophy: role of oxidative stress. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2005;288:R337-44. 41. Price SR, Bailey JL, Wang X, Jurkovitz C, England BK, Ding X et al. Muscle wasting in insulinopenic rats results from activa- 42. 43. 44. 45. 46. 129 tion of the ATP-dependent, ubiquitin-proteasome proteolytic pathway by a mechanism including gene transcription. J Clin Invest 1996;98:1703-8. May RC, Kelly RA, Mitch WE. Mechanisms for defects in muscle protein metabolism in rats with chronic uremia. Influence of metabolic acidosis. J Clin Invest 1987;79:1099-103. Sostaric S, Pearce A, Gatt B, McKenna MJ, Stathis C, Goodman C. Effects of mild electro-stimulation treatment on healthy humans following exercise induced muscle damage. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S76. Kerksick C, Robertts M, Dalbo V, Willoughby D. Changes in skeletal muscle proteolytic gene expression after prophylactic supplementation of EGCG and NAC and eccentric damage. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S109. Moore NA, Devaney JM, Hoffman E, Zambraski E, Gordish H, Clarkson PM. Association of Akt2 genotypes and exercise muscle damage. Med Sci Sports Exerc 2008;40(5):S32. Marcinek DJ, Smith SR, Remmen HV. Increased mitochondrial content in response to mitochondrial dysfunction in skeletal muscle of Cu, Zn superoxide dismutase knockout mice. Faseb J 2008;22:958.5. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 130 Revisão Esteróides anabolizantes: benefícios ou malefícios? Anabolic steroids: benefits or harms? Fábio Eduardo de Almeida* *Graduando em Educação Física pelo Instituto Federal de Ensino, Ciência e Tecnologia - Campus Muzambinho/MG Resumo Abstract Os esteróides anabólico-androgênicos são geralmente utilizados por atletas e vêm, crescentemente, sendo encontrados junto de jovens e adultos através de uso indiscriminado pelo fato de prometer ganhos rápidos e sem muito esforço, além de propiciar níveis de recuperação muito mais altos do que o normal. Porém, estes indivíduos esquecem-se dos efeitos colaterais que muitas das vezes são deletérios. Os objetivos deste estudo são explanar sobre os compostos dos esteróides e abordar seus possíveis potenciais de risco. The anabolic-androgenic steroid are generally used by athletes and is increasingly being found among young people and adults through widespread use because of promising quick gain and without much effort, besides provide levels of recovery much higher than normal. However, these individuals forget the side effects that often are deleterious. The objective of this study is to explain about the compounds of steroids and address their possible potential risk. Palavras-chave: esteróides anabólico-androgênicos, uso indiscriminado, efeitos colaterais, potenciais de risco. Key-words: anabolic-androgenic steroids, indiscriminate use, side effects, potential risks. Recebido 7 de dezembro de 2010; aceito 15 de abril de 2010. Endereço para correspondência: Fábio Eduardo de Almeida, Loteamento Bela Vista, Caixa postal 36, 37145-000 Alterosa MG, Tel: (35) 9108-2009, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Introdução Os esteróides anabólico-androgênicos (EAA’s) obtiveram proeminência no início da década de 1950 com finalidades médicas e o seu desenvolvimento sintético permitiu a alteração da composição química natural desses hormônios para reduzir as propriedades androgênicas e aumentar seus efeitos anabólicos na musculatura [1-3]. Os EAA’s são derivados sintéticos da testosterona que é o hormônio sexual primário do homem [4,5]. A testosterona se liga a um complexo hormônio receptor denominado de receptor androgênico, potencializando a síntese de proteína muscular. Sua produção é endógena, porém, pode ser exógena através de administração com injeção [6]. Os EAA’s são utilizados comumente para o tratamento de patologias, porém atletas de alto nível que necessitam de um maior desempenho e pessoas que querem uma melhora de aparência descobriram essas drogas e as usam sem nenhum tipo de restrição [5,7]. Os efeitos anabólicos dos EAA’s são o de promover uma melhor síntese de proteína muscular e consequentemente um maior crescimento muscular, porém os efeitos colaterais são bem piores podendo levar inclusive ao óbito. Dentre estes efeitos podemos citar hipertensão arterial, aterosclerose, alterações na coagulação sanguínea, carcinoma hepático, danos nos tendões entre vários outros [8]. A testosterona e o hormônio do crescimento – GH Testosterona - Segundo Peres e Guimarães Neto [9], a testosterona é o hormônio dominante encontrado no cérebro, nos ovários, na hipófise, nos rins e nos testículos sendo o principal responsável pelas características que diferem o organismo masculino do feminino. A concentração plasmática de testosterona funciona como um marcador fisiológico do estado anabólico sendo que, além de seus efeitos diretos sobre a síntese do tecido muscular, ela afeta indiretamente o conteúdo proteico das fibras musculares por promover a liberação de hormônio do crescimento que, consequentemente, faz com que haja síntese e a liberação do IGF [1]. A testosterona age juntamente com receptores neurais que aumentam a liberação de neurotransmissores e inicia as alterações nas proteínas estruturais que irão modificar o tamanho da junção neuromuscular acarretando um aumento de força da musculatura [2]. A produção da testosterona se dá através de dois hormônios hipofisários, sendo hormônio luteinizante (LH) e hormônio folículo estimulante (LSH) [10] e é considerado um hormônio esteróide por possuir uma estrutura química semelhante a do colesterol sendo lipossolúvel difundindo-se facilmente através das membranas celulares [2]. Ela também pode ser derivada de seus precursores diretos, dehidroepiandrosterona (DHEA) e androstenediona que são liberados pelas gônadas e pelo córtex adrenal e se convertem em testosterona no fígado [3]. 131 Em mulheres o nível de testosterona corresponde a apenas um décimo da encontrada nos homens, porém, em exercício esse nível tem um aumento significativo [1]. Sabe-se que com a idade, existe um declínio muito grande na produção de testosterona em homens, mas uma dose fisiológica semanal seria interessante para evitar alguns problemas de saúde relacionados com esse declínio [11]. A deficiência nos níveis de testosterona também pode acarretar doenças cardiovasculares [12]. Hormônio do Crescimento (GH) - Na Medicina, o GH é conhecido como somatotropina, hormônio secretado pela glândula pituitária, sendo um potente hormônio anabólico que influencia no crescimento corpóreo, no metabolismo celular, na composição corporal, no perfil lipídico, no estado cardiovascular e na longevidade [3,9,13]. Antes de 1985, esse hormônio tinha sua produção limitada, pois ainda não existiam os seus compostos sintéticos havendo então uma extração direta de cadáveres. Essa prática ocasionou grandes complicações devido a possíveis e prováveis contaminações e patologias [2,9]. O GH atua diretamente sobre o tecido gorduroso, intensificando a lipólise e age por intermédio do IGF-1 sobre o tecido muscular e ósseo causando a proliferação de tecidos [9]. Uma maior liberação de GH ocorre através do exercício físico regular, porém deve ser realizado em níveis acima do limiar de lactato, já que este feito pode conservar a massa de tecido magro durante a perda de peso [1,14]. De acordo com Mauras e Haymond [15], o GH age diretamente no metabolismo proteico incrementando a retenção de nitrogênio e diminuindo a quebra de proteína muscular. Foi observada também certa resistência contra a insulina, havendo alguns relatos de hiperinsulinemia. Não existem evidências clínicas em seres humanos saudáveis de que o GH aumente o desempenho, contudo algumas evidências sugerem que o seu abuso seja pelo fato de ser um potente agente anabólico e ter propriedades lipolíticas [16]. Segundo Tentori e Graziani [3], o uso de GH, tanto em pacientes quanto em atletas, causa sérios efeitos colaterais como hipertensão arterial e intracraniana, náuseas, vômito, edema periférico, síndrome do túnel de carpo, mialgia, acromegalia, cardiomegalia, aumento do risco cardiovascular, resistência à insulina e consequentemente o diabetes. A insulina como agente anabólico A insulina é um hormônio anabólico com efeitos potentes sobre o metabolismo e a composição corporal [17] e tem sua produção a partir das células nas ilhotas de Langerhans do pâncreas [9]. É de essencial importância para a manutenção da homeostase de glicose fazendo seu transporte para o interior das células, especialmente as musculares e do tecido conjuntivo, além de promover a glicogênese e inibir a gliconeogênese [1,2,17,18]. 132 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Além de seu papel primário como regulador do metabolismo de glicose, apresenta outro fator importante, agindo também com o metabolismo de proteínas e gorduras através da captação celular de aminoácidos e na síntese de proteínas e tecido adiposo [2,9]. No meio esportivo, vem sendo utilizada como agente anabólico devido ao aumento no transporte de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA’s) para dentro das células musculares e aumento da síntese de glicogênio muscular e, além disso, pelo fato de agir como fator anti-catabólico por prevenir a quebra de proteínas musculares [9]. Cortisol, o hormônio indesejado O cortisol é o principal glicocorticóide secretado pelo córtex supra-renal sendo considerado um hormônio catabólico, que tem seus níveis elevados durante situações de estresse intenso e depressão [9]. Em indivíduos treinados, essa elevação durante estresse intenso é menor do que em indivíduos sedentários [1]. Segundo Wilmore e Costill [2], o cortisol estimula a gliconeogênese, aumenta a mobilização de ácidos graxos para sua utilização como fonte energética, diminui a utilização de glicose, estimula o catabolismo proteico para liberação de aminoácidos, atua como agente antiinflamatório, deprime reações imunológicas e aumenta a vasoconstrição causada pela adrenalina. Pelo fato de estimular o catabolismo proteico, liberando aminoácidos para serem utilizados pelo fígado no processo da gliconeogênese [2], atletas vem tentando inibir a secreção desse hormônio para que não haja perda de massa muscular, mesmo após o ciclo de esteróides [3]. Os ciclos Os ciclos de EAA’s geralmente têm duração de 4 a 12 semanas com alguns atletas, levando até 16 semanas. Geralmente são administradas várias drogas simultaneamente (stacking) ou em doses que são gradualmente aumentadas e a seguir diminuídas (pirâmide) administradas via oral, intramusculares ou ambas com doses de 10 a 100 vezes maiores do que as preconizadas através de tratamento e estudos médicos [1,3,9,19]. Na tentativa de minimizar os possíveis efeitos colaterais causados pelo uso excessivos dos EAA’s, atletas vêm realizando ciclos cada vez mais curtos. Outro fator interessante é que a produção natural de testosterona parece voltar mais rapidamente após um ciclo curto de anabolizante [9]. O uso e suas consequências Os EAA’s vêm sendo utilizados por atletas para o ganho de massa muscular e força. Eles são benéficos em vários tipos de competições, mas são mais comumente encontrados em campeonatos de fisiculturismo, levantamento de peso, alguns estudantes atletas e entusiastas do fitness [20]. Segundo Wilmore e Costill [2] fundamentados em bases teóricas, os esteróides causam alguns efeitos benéficos dentre eles: aumento de massa muscular magra, aumento da força muscular, além de auxiliar na recuperação pós-treino propiciando, assim, uma maior intensidade de treinamento. Apesar de todos estes efeitos benéficos, a quantidade de efeitos colaterais é muito grande sendo que alguns deles são reversíveis e outros não, podendo ocasionar a morte do usuário. Os efeitos colaterais, como citado acima, são bem maiores do que os efeitos benéficos, dentre eles podemos citar: azooespermia, hipertrofia prostática, hipertensão arterial, impotência, acne, psicose, aumento do colesterol LDL e consequentemente o total fechamento das epífises em adolescentes, infarto de miocárdico, hipertrofia do ventrículo esquerdo, icterícia colestática, alteração do perfil tireóideo, carcinoma hepático etc. [9,21-23]. Outro efeito que pode ser considerado como colateral, é o fato de que logo após o término do ciclo de esteróides há uma grande perda de força e massa muscular devido a uma sobreposição do cortisol para com a testosterona podendo levar o usuário a depressão e ao uso de ciclos mais longos piorando os efeitos deletérios [3]. Hipertensão arterial: sem dúvida, um potencial de risco Como descrito anteriormente, os EAA’s podem trazer benefícios e malefícios a saúde, mas a quantidade e a periculosidade dos malefícios citados são, sem dúvida, bem maiores do que qualquer benefício. Foram ligados ao uso de EAA’s, inúmeros possíveis efeitos colaterais, alguns deles reversíveis e outros não, podendo ocasionar até a morte. Porém um dos efeitos mais perigosos é a hipertensão arterial. No mundo existem mais de 1 bilhão de pessoas com pressão arterial alta [1] e este é um dos efeitos colaterais dos EAA’s que não deve ser ignorado de maneira alguma [9]. No Brasil esse número corresponde de 15 a 20% da população adulta possuindo prevalência também em crianças e adolescentes [24]. Geralmente, pacientes hipertensos não submetidos a tratamento evoluem em 50% dos casos para insuficiência cardíaca, 30% sofrem acidente vascular cerebral, 15% sofrem de insuficiência renal e os 5% restantes sofrem de outras complicações [9]. Conclusão Os esteróides anabólicos, como qualquer outro medicamento que seja utilizado incorretamente, trazem, sem dúvida, efeitos colaterais, porém o fator preocupante é que mesmo sabendo destes efeitos o número de usuários é crescente. Portanto, informação nunca é demais e a diferença entre o remédio e o veneno é a dosagem, sendo que, caso o indi- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 víduo não necessite de tratamento medicamentoso, o uso de esteróides é totalmente desaconselhado, mas caso deseje fazer o uso destas substâncias, ao menos deve procurar um profissional apto para o mesmo. Referências 1. MCArdle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 2. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2001. 3. Tentori L, Graziani G. Doping with growth hormone/IGF1, anabolic steroids or erythropoietin: is there a cancer risk? Pharmacol Res 2007;55: 359-69. 4. Hartgens F, Kuipers H. Effects of androgenic-anabolic steroids in athletes. Sports Med 2004;34(8):513-54. 5. Bahrke MS, Yesalis CE. Abuse of anabolic androgenic steroids and related substances in sport and exercise. Curr Opin Pharmacol 2004;4(6): 614-20. 6. Yamada AK. Hipertrofia do músculo esquelético – aspectos fisiológicos, celulares e moleculares. 6ª Mostra Acadêmica UNIMEP [online]. [citado 2009 Out 22]. Disponível em URL: http://www.unimep.br 7. Martin NM, Dayyeh BKA, Chung RT. Anabolic steroid abuse causing recurrent hepatic adenomas and hemorrhage. World J Gastroenterol 2008;14(28):4573-5. 8. Mottram DR, George AJ. Anabolic steroids. Clin Endocrinol Metab 2000;14:55-69. 9. Peres RAN, Guimrarães Neto WM. Guerra metabólica: manual de sobrevivência. 2ª ed. Londrina: Midiograf; 2005. 10. Matos AFG, Moreira RO, Guedes EP. Aspectos neuroendócrinos da síndrome metabólica. Arq Bras Endocrinol Metab 2003;47(4):410-21. 11. Tenover JS. Effects of testosterone supplementation in the aging male. J Clin Endocrinol Metab 1992;75:1092-8. 133 12. Traish AM, Saad F, Feeley RJ, Guay A. The dark side of testosterone deficiency: III. Cardiovascular disease. J Androl 2009;30(5):477-94. 13. Souza AHO, Salvatori R, Martinelli Junior CE, Carvalho WMO, Menezes CA, Barreto ESA et al. Hormônio do crescimento ou somatotrófico: novas perspectivas na deficiência isolada de GH a partir da descrição da mutação no gene do receptor do GHRH nos indivíduos da cidade de Itabaianinha, Brasil. Arq Bras Endocrinol Metab 2004;48(3):406-13. 14. Weltman A, Weltman JY, Schurrer R, Evans WS, Veldhuis JD, Rogol AD. Endurance training amplifies the pulsatile release of growth hormone: effects of training intensity. J Appl Physiol 1992;72:2188-96. 15. Mauras N, Haymond MW. Are the metabolic effects of GH and IGF-1 separable? Growth Horm IGF Res 2005;15:19-27. 16. McHugh CM, Park RT, Sönksen PH, Holt RIG. Challenges in detecting the abuse of growth hormone in sport. Clin Chemistry 2005;51(9):1587-93. 17. Carvalheiras JBC, Zecchin HG, Saad MJA. Vias de sinalização da insulina. Arq Bras Endocrinol Metab 2002;46(4):419-25. 18. Haber EP, Curi R, Carvalho CRO, Carpinelli AR. Secreção da insulina: efeito autócrino da insulina e modulação por ácidos graxos. Arq Bras Endocrinol Metab 2001;45(3):219-27. 19. Manetta MCDP, Silveira DX. Uso abusivo de esteróides anabolizantes androgênicos. Psiquiatria na Prática Médica 2000;33(4). 20. Fineschi V, Baroldi G, Monciotti F, Reattelli LP, Turillazzi E. Anabolic steroids abuse and cardiac sudden death: a pathologic study. Arch Pathol Lab Med 2001;125:253-5. 21. Lise MLZ, Gama TS, Ferigolo M, Barros HMT. O abuso de esteróides anabólico-androgênicos em atletismo. Rev Ass Med Brasil 1999;45(4):364-70. 22. Guimarães Neto WM. Musculação: anabolismo total. São Paulo: Phorte; 1996. 23. Gorayski P, Thompson CH, Subhash HS, Thomas AC. Hepatocelullar carcinoma associated with recreational anabolic steroid use. Br J Sports Med 2008;42:74-5. 24. Monteiro MF, Sobral Filho DC. Exercício físico e o controle da pressão arterial. Rev Bras Med Esporte 2004;10(6):513-6. 134 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. 135 O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 2 - abril/junho 2010 136 Calendário de eventos 2010 Setembro Junho 3 a 6 de junho 17ª Convenção Brasil Saúde Sport Fitness Porto Alegre, RS Informações: (51) 3312-8323 / 3312-8322 www.convencaobrasil.com.br 2 a 4 de setembro 11th IHRSA – Fitness Brasil Transamérica Expo Center, São Paulo, SP Informações: www.fitnessbrasil.com.br 24 e 25 de setembro Julho 3º Simpósio de Fisiologia e Preparação Física no Futebol Jundiaí, SP Informações: www.educaçãofísica.com.br Outubro 15 a 17 de julho Wellness Rio 2010 Centro de Convenções SulAmérica Rio de Janeiro, RJ 5 a 17 de outubro 10ª Fitness Brasil Norte/Nordeste Centro de Convenções da Bahia, Salvador, BA 23 de julho a 1 de agosto VII Encontro Internacional Esporte e Atividade Física São Paulo Informações: www.encontrophorte.com.br Tel: (11) 2714-5678 Agosto 4 de agosto VI Jornada de Educação Física em cardiologia Hotel Intercontinental Rio de Janeiro, RJ Informações: (21) 2552-0864 e 2552-1865 Novembro 5 a 7 novembro 14º SIAFIs RJ – Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ Informações: www.educaçaofisica.com.br 19 a 21 de novembro Wellness Curitiba 2010 Expotrade Convention Center, Curitiba, PR 2011 Janeiro 15 a 19 de janeiro 26º Congresso Internacional de Educação Física (FIEP) Foz do Iguaçu, PR Informações: www.congressofiep.com R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 9 número 3 - julho/setembro 2010 EDITORIAL Paulo Farinatti ....................................................................................................................................................................147 ARTIGOS ORIGINAIS Nível de desidratação e desempenho físico do árbitro de futebol no Paraná e São Paulo, Alberto Inácio da Silva, Ricardo Fernández, Mario Cesar de Oliveira, Turíbio Leite de Barros Neto ..............................................................................................................................................148 Influência da aplicação da bolsa de gelo na força de preensão manual, Francisco Olímpio Barbosa de Castro, Rodrigo Santos de Queiroz, Igor Larchert Mota .....................................................156 Mudança na composição corporal e consumo alimentar no período pré-competição da equipe campeã paulista de futebol feminino de campo, Evelise Boliani, Camila Pereira Braga, Ana Carolina de Bianchi, Juliana Bravo Guerrero, Mayumi Akiba, Talita Amaro Pereira, Nailza Maestá ...................................................................................................................................162 Maturação biológica de atletas de ginástica artística do Rio de Janeiro, Gisele Valle da Silva, Astrogildo Vianna de Oliveira-Júnior, Patrícia Arruda de Albuquerque .............................................167 Reprodutibilidade e comportamento da frequência cardíaca durante aulas de ginástica localizada, Rafael Ayres Montenegro, Jonas Lírio Gurgel, Flávia Porto Melo Ferreira, Alexandre Hideki Okano .........................................................................................................174 Avaliação da flexibilidade durante o ciclo menstrual em pré adolescentes, Isabela de Souza Camargo, Christiano Bertoldo Urtado, Márvio Pereira Leoncini, José Bechara Neto ..............................................................................................................................................................178 RELATOS DE CASO Influência do exercício físico resistido na melhora da fração de ejeção em indivíduo chagásico, Jefferson Petto, George Robson Ferraz, Thiago Bouças ...............................................................181 Avaliação da ingestão nutricional de um maratonista de elite do atletismo português, José Augusto Rodrigues dos Santos, Domingos José Lopes da Silva, Paulo Jorge Colaço .....................................................184 REVISÕES Comparação entre as modulações dos níveis plasmáticos de HDL-colesterol induzidas pelo treinamento aeróbio de alta e baixa intensidade, Marcos Maruyama, Júlio Cezar Papeschi da Silva, Waldecir Paula Lima, Luiz Carlos Carnevali Junior .............................................................................................................................................193 Aspectos e efeitos da creatina sobre o sistema renal e hepático, William Marciel de Souza, Thiago Gomes Heck, Cíntia Fiorini, Everton Boff ....................................................................198 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 206 EVENTOS ............................................................................................................................................................... 208 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 146 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Robert Robergs (EUA) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Rosane Rosendo (SC) Douglas S. Brooks (EUA) Sebastião Gobbi (SP) Emerson Silami Garcia (MG) Steven Fleck (EUA) Francisco Martins (PB) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Navarro (SP) Vilmar Baldissera (SP) Luiz Carnevali (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 147 Editorial Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx Chegamos ao terceiro número deste volume 9 da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx). Este ano de 2010 caracterizou-se por, definitivamente, termos imprimido periodicidade regular à revista. O número de artigos submetidos vem aumentando mês a mês e, no momento em que escrevo o presente editorial, a taxa de aceitação dos artigos está em aproximadamente 70%, bem abaixo dos 85% que tínhamos há dois anos. Isso é sinal de que a competição por espaço na revista é crescente, bem como a qualidade do material publicado. O presente número ilustra a variedade de assuntos que interessam aos pesquisadores e leitores da RBFEx. Inicialmente, temos seis artigos originais, tratando de aspectos ligados ao desempenho atlético em diferentes idades e modalidades – desidratação em árbitros de futebol, composição corporal de futebolistas femininas e maturação biológica de ginastas –, da prescrição do exercício de forma mais geral – comportamento da frequência cardíaca em aulas de ginástica e avaliação da flexibilidade e influência da temperatura na força muscular. Seguem-se dois interessantes relatos de caso, sobre os efeitos do exercício em paciente com doença de Chagas e nutrição de maratonista. Enfim, temos duas revisões da literatura, examinando com profundidade as relações entre treinamento aeróbio e lipídios sanguíneos e efeitos da suplementação com creatina sobre fígado e rins. Como se pode perceber, variedade e riqueza de assuntos, os quais, certamente, tornarão agradável a leitura do presente número. Bom proveito! Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 148 Artigo original Nível de desidratação e desempenho físico do árbitro de futebol no Paraná e São Paulo Level of dehydration and physical performance of soccer referee from Paraná and São Paulo Alberto Inácio da Silva, D.Sc.*, Ricardo Fernandez, D.Sc.**, Mario Cesar de Oliveira, D.Sc.***, Turíbio Leite de Barros Neto, D.Sc.**** *Prof. do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá, campus Ivaiporã, **Prof. do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Paraná – UFPR, ***Prof. Universidade Federal de São Paulo, Programa de Pós-Graduação, Centro de Estudos em Medicina da Atividade Física e do Esporte – CEMAFE, **** Prof. Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Resumo Abstract O objetivo deste trabalho foi analisar e comparar o grau de desidratação no transcorrer de partidas oficiais de futebol em árbitros do estado do Paraná e São Paulo. Foram avaliados 16 árbitros, do sexo masculino, sendo nove da Federação Paranaense e sete pela Federação Paulista de Futebol. A perda total de água no organismo foi determinada a partir da mudança no peso corporal, considerando-se os valores do peso inicial e final, diurese e líquido ingerido no início e intervalo da partida. A distância percorrida durante a partida foi determinada mediante a filmagem dos árbitros. A temperatura ambiente média no Paraná foi de 23,1 ± 2,0 C, e a umidade relativa do ar de 67,3 ± 21,3%. Já em São Paulo foi de 31,1 ± 7,1 C, e 56,9 ± 12,8%, respectivamente. A temperatura apresentou diferença estatisticamente significativa (p = 0,029). A perda total de água corporal nos árbitros do Paraná foi de 1,86 ± 0,5 litros, o que equivale a 2,16 ± 0,5% do seu peso corporal inicial. Em São Paulo os árbitros apresentaram desidratação de 2,30 ± 0,6 litros, o que equivaleu a 3,20 ± 0,8% do peso corporal. A porcentagem da perda de peso corporal apresentou diferença estatisticamente significativa (p = 0, 006). A distância total média percorrida pelos árbitros do Paraná foi de 9.131,4 255,8 metros. Já para os árbitros de São Paulo foi de 10.034,1 840,6 metros. A análise estatística demonstrou haver diferenças estatisticamente significativas entre estes valores (p = 0,0083). A diferença na temperatura ambiente observada em cada região foi considerada um fator determinante para a diferença no volume hídrico perdido pelos árbitros no transcorrer da partida. The aim of this work was to determine and compare the level of dehydration soccer referees from Parana and São Paulo are subject to over the course of official football matches. Sixteen male soccer referee were evaluated, nine (9) from Parana Soccer Federation and seven (7) from São Paulo Soccer Federation. Dehydration was determined by analyzing the referee’s body weight before and after the match, the amount of isotonic solution intake and the volume of urine excreted between the two measures of weight. The distance covered by the referees during the match was determined by analyzing the video recording of the match. The average temperature at football-field level in Paraná and São Paulo state, was 23.1 ± 2.0 C and 31.1 ± 7.1 and relative humidity was 67,3 ± 21,3% and 56,9 ± 12,8%, respectively. There was a statistically significant difference in temperature between the two cities (p = 0.029). The total body fluid loss in referees from Parana was 1.86 ± 0.5L, equivalent to 2.16 ± 0.5% of the referee’s baseline body mass. Referee’s dehydration in São Paulo was 2.30 ± 0.6 L equivalent to 3.20 ± 0.8% of his body mass. There was a statistically significant difference between percent body weight loss (p = 0. 006). The average distance covered by referees in Parana was 9,131.4 255.8 m. In São Paulo, however, it was 10,034.1 840.6 m. The statistical analysis showed a significant difference between these measurements (p = 0.0083). Temperature difference between the two states was considered a factor for the different fluid loss observed between state referees over the match. Key-words: referee, soccer, nutrition. Palavras-chave: árbitro, futebol, nutrição. Recebido em 26 de abril de 2010; aceito em 2 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: Alberto Inácio da Silva, Rua Santa Mariana, 35, Guanabara I 86780-000 Ivaiporã PR, Tel: (41) 9112-1393, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Introdução O futebol, quando praticado profissionalmente, segue regras próprias, pré-estabelecidas, com o objetivo de padronizar ações permissivas e restritivas, de maneira a obter um caráter universal. Naturalmente, essas regras estipuladas atualmente pela Fédération Internationale de Football Association (FIFA) não são dotadas de autoaplicabilidade, dependendo de uma pessoa ou de uma figura que faça valer os preceitos normativos estabelecidos, sem o qual as regras seriam tão somente escritas sem valor. A figura responsável por efetivar a aplicação das regras da modalidade é denominada de árbitro. Durante uma partida de futebol o árbitro deve analisar as jogadas que ocorrem em uma área que mede em média 8.250 m2. Para conduzir as partidas de futebol de nível profissional, num espaço desta magnitude, o árbitro deve apresentar um bom nível de preparação física, pois num período que varia de 4 a 6 segundos, os árbitros modificam suas ações motoras [1,2]. Desta forma, durante os 90 minutos de uma partida oficial ele realiza, em média, 1268 diferentes atividades; entre essas, 588 são atividades de baixa intensidade (parado, caminhando, trotando) e 161 de alta intensidade (corrida e sprint) [2]. Em termos de exigências perceptuais-cognitivas, um árbitro de elite toma aproximadamente 137 decisões observáveis por jogo [3]. Segundo esses autores ainda, dado o tempo efetivo de jogo, um árbitro de alto nível toma 3-4 decisões por minuto. Além de boa preparação física para estar bem posicionado para avaliar as jogadas, evitando com isso que as regras sejam violadas, o árbitro deve buscar o melhor ângulo de visão para analisar agressões entre os atletas, pois o risco de um jogador sofrer ferimento é cerca de 1000 vezes maior do que o encontrado na maioria de outras profissões [4]. É conhecido que a ingestão de água durante exercícios do tipo intermitente (como é a atividade do árbitro de futebol) tem um efeito benéfico sobre a capacidade física [5]. Desta forma, os estudos direcionados à avaliação da perda hídrica durante a prática desportiva adquirem grande importância. Uma redução, ainda que pequena, no conteúdo de água no corpo de um indivíduo, determina queda na sua performance física. A perda de fluidos pela sudorese e a evaporação são acompanhadas de diminuição no volume plasmático, queda na pressão arterial, que determinam redução no fluxo de sangue para os músculos e para pele. A menor circulação de sangue na pele provoca dificuldades na dissipação de calor e elevação da temperatura corporal, determinada pela retenção de calor. Sem adequada reposição de fluidos, o sujeito apresenta diminuição na tolerância ao exercício [6]. Um trabalho de revisão bibliográfica, publicado em 2006, no Journal of Sports Sciences, envolvendo árbitros de futebol, só reporta um trabalho sobre a perda hídrica durante jogos oficiais [7]. Neste estudo foi determinado o percentual da perda hídrica e o percentual de redução do volume plasmático do árbitro principal e do árbitro-assistente durante os jogos 149 oficiais do Campeonato Paranaense [8]. Os árbitros apresentaram uma desidratação durante a partida, que equivaleu a 2,05% do seu peso corporal, sendo observada uma redução média do volume plasmático na ordem de 5,2%. Portanto, foi possível prever que uma desidratação de 1% nos árbitros determina uma redução no volume plasmático de aproximadamente 2,6%, o que coincide com o estudo de Costill et al. [9], que encontrou uma redução de 2,4% no volume plasmático para cada 1% de redução no peso corporal. Foi possível concluir, ainda, neste estudo, que a ingestão espontânea de água realizada pelo árbitro durante o intervalo só repõe 24% da água perdida pelo organismo durante a partida. Apesar de não constar na literatura cientifica internacional, outro trabalho foi publicado no Brasil referente à perda hídrica do árbitro durante a partida [10]. A perda hídrica estimada do árbitro nesse estudo foi de 2,16%, equivalente ao estudo comentado anteriormente. Nesse trabalho, também foi observado que a ingestão espontânea não repõe a perda hídrica do árbitro durante a partida, sendo o déficit de quase 80%. Entretanto, em nenhum desses trabalhos que avaliaram a perda hídrica do árbitro no transcorrer da partida, verificou-se uma forma de reposição hídrica e se esta interfere no condicionamento físico do árbitro durante a partida. Com relação às pesquisas relacionadas à perda hídrica, até o momento, não foram desenvolvidos estudos que verificassem como se comporta o processo de sudorese em árbitros de futebol em outras regiões do Brasil, além do Paraná, já que num país de extensão continental as temperaturas e umidade relativa do ar são totalmente diferentes de uma região para outra. Tampouco se conhece se a estratégia de uma hidratação antes e durante o intervalo da partida em diferentes temperaturas modifica o padrão de movimentação do árbitro durante a partida. Portanto, o objetivo deste estudo foi mensurar o grau de desidratação e desempenho físico dos árbitros de futebol no transcorrer da partida, após serem hidratados, em jogos realizados nos estados do Paraná (PR) e São Paulo (SP). Material e métodos A população deste estudo foi constituída por árbitros profissionais da Federação Paranaense de Futebol e da Federação Paulista de Futebol. A amostra foi composta por nove árbitros da Federação Paranaense e sete árbitros da Federação Paulista de Futebol. Todos os árbitros atuaram em partidas oficiais das respectivas federações. Todos os árbitros foram voluntários, habilitados para a realização de atividades físicas mediante atestado médico. Cada voluntário, antes de participar neste projeto, assinou termo de concordância que esclarecia o procedimento experimental a ser realizado e autorizava a utilização dos dados coletados no presente trabalho. O projeto foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CEP/HC 130.EXT.021/2004-10). 150 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 As variáveis antropométricas mensuradas foram: massa corporal, estatura e três dobras cutâneas (peitoral, abdominal e coxa). A mensuração destas variáveis seguiu a padronização descrita por Petroski [11]. A partir das variáveis antropométricas, determinou-se a densidade corporal conforme equação de Jackson & Pollock [12] que utiliza a somatória de três dobras mais a idade. O percentual de gordura foi determinado utilizando-se a equação de Siri [13]. O peso da gordura (PG) foi obtido multiplicando-se a massa corporal (MC) pela fração do percentual de gordura (%G), PG = MC (%G/100). Já Massa Corporal Magra (MCM) foi determinada subtraindo da MC o PG. O índice de massa corporal foi determinado dividindo-se o peso (kg) pela altura (m) ao quadrado. Para a análise da perda hídrica, cada árbitro foi analisado em situação real de jogo. Para tanto foi fornecido no início e no intervalo da partida um repositor hidroeletrolítico, que é uma solução que contém, em 100 mL: carboidratos, 6 g, sódio, 45 mg, potássio, 10 mg, cloreto, 42 mg, calorias, 22,8 (GatoradeMR). O volume do repositor hidroeletrolítico que os árbitros ingeriram, correspondeu a mais ou menos 1% do seu peso corporal (800 mL no mínimo), sendo que 50% deste volume deu-se previamente ao início da partida e 50% durante o intervalo. Este volume foi estabelecido a partir de um estudo prévio que mostrou que os árbitros perdem aproximadamente 1,5% do seu peso corporal durante uma partida oficial [8]. Tendo em vista a velocidade do esvaziamento gástrico e, para evitar desconforto aos árbitros, a quantidade consumida por eles, no presente estudo, foi equivalente a 1% do seu peso corporal basal. Os árbitros foram pesados totalmente nus, após esvaziar completamente sua bexiga, no início da partida, utilizando-se, uma balança eletrônica digital Plenna, resolução 0,1 kg. No intervalo, foi coletada a diurese espontânea, em recipiente graduado. A perda total de água no organismo foi determinada utilizando-se da seguinte equação, a qual leva em consideração o peso inicial (PI), o peso final (PF), a diurese (D) e o líquido (L) ingerido pelo indivíduo durante sua atividade física. A perda total de líquido corporal durante o exercício é = (PI – PF) + L + D. A taxa de sudorese, por hora, foi calculada pela modificação no peso corporal após correção pelo volume de fluido ingerido e pela diurese, utilizando-se a fórmula: Taxa de Sudorese = [(PI – PF) + L - D] / duração total do jogo em minutos. As perdas insensíveis de água foram ignoradas. Foi considerado que uma redução de 1 kg no peso corporal é equivalente a uma desidratação de 1 litro [14]. O erro de medida foi 0,1 kg, o que representa ± 0,14% para peso, e ± 0,3% para volume. Para determinação da distância percorrida durante o jogo, os árbitros foram filmados utilizando uma câmara da marca Sony, modelo Handycam. Por meio da observação da filmagem, foi possível determinar o tempo em que os árbitros permaneceram em cada ação motora. Utilizou-se a classifi- cação proposta por Da Silva & Rodriguez-Añez [15] para a caracterização das ações motoras, onde caminhar representa um deslocamento com velocidade média de 1,62 m/s; trote, deslocamentos a 2,46 m/s, mesma velocidade considerada para o deslocamento de costas; para corrida, deslocamentos de 3,16 m/s e no sprint, deslocamentos de 5,08 m/s. O tempo em que o árbitro permaneceu parado também foi quantificado. A distância percorrida em cada atividade foi determinada pelo produto do tempo total pela velocidade média para essa atividade. A distância total percorrida durante cada etapa da partida foi calculada somando as distâncias percorridas em cada atividade motora. Todas as partidas, incluídas no presente estudo, foram analisadas pelo mesmo observador, experiente, utilizando metodologia similar à usada em outros estudos que determinaram a demanda fisiológica do árbitro de futebol no transcorrer da partida [1,2,16,17]. Neste trabalho foi levada em consideração a temperatura ambiente e a umidade relativa do ar no dia da realização dos jogos. No Paraná os dados foram fornecidos pelo Sistema Meteorológico do Paraná, SIMEPAR. Já para mensuração destas variáveis no estado de São Paulo utilizou-se medidor de temperatura e umidade relativa do ar, portátil marca Kiltler®. Os resultados dos testes foram expressos como média e o respectivo desvio padrão. Foi utilizado o teste “t” para amostras independentes a fim de comparar os grupos de árbitros do Paraná e os árbitros de São Paulo. O software estatístico utilizado foi o Instat 3.0 (Graphpad Inc, San Diego, CA, USA). Significâncias estatísticas foram consideradas para p < 0,05. Resultados Uma visão geral dos dados relativos à avaliação antropométrica pode ser observada na tabela I. A idade cronológica dos árbitros avaliados no estado de São Paulo era menor que as dos árbitros paranaenses, ou seja, eles são mais novos, e quando se compara esta diferença mediante a análise estatística, observa-se diferença estatisticamente significativa (p = 0, 0002). Com relação ao peso corporal, observa-se que os árbitros do Paraná são mais pesados que os árbitros de São Paulo, sendo esta diferença estatisticamente significativa (p = 0,0002). Contudo observa-se que a altura dos árbitros de ambos os estados são similares (Tabela I), entretanto como os árbitros de São Paulo possuem uma massa corporal menor, estes apresentam um biótipo atlético mais definido. O fato dos árbitros de São Paulo, como comentado, apresentarem um peso corporal menor, mas a mesma altura dos árbitros do Paraná colaborou para eles apresentassem um IMC menor que os árbitros do Paraná (Tabela I), sendo esta diferença estatisticamente significativa (p = 0,0006). O valor do IMC mais elevado por parte dos árbitros do Paraná foi em decorrência dos mesmos apresentarem Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 uma massa gordurosa maior que os árbitros de São Paulo, sendo que esta diferença é estatisticamente significativa (p = 0,0041). Ou seja, enquanto a massa corporal magra dos árbitros de São Paulo representa 88,6% de sua massa corpórea, a MCM dos árbitros do Paraná só representa 79,7% de sua massa corpórea. Tabela I - Dados morfológicos dos árbitros de futebol envolvidos no estudado por estado. Média DP Média DP Idade Peso Altura IMC %G MG MCM Paraná 38,44 85,90 1,80 26,65 20,26 17,41 68,49 4,0 7,0 0,1 2,2 4,8 4,3 6,9 São Paulo 27,29 72,11 1,82 21,96 11,38 8,20 63,91 4,7 2,2 0,1 2,1 5,6 4,0 4,6 IMC = Índice de massa corporal (kg/m2), %G = Porcentagem de Gordura, MG = Massa de Gordura, MCM = Massa Corporal Magra. 151 perda total de água mostrou que os árbitros do Estado de São Paulo apresentaram uma diferença estatisticamente significativa (p = 0.0062), (Tabela III). Os árbitros envolvidos neste estudo ingeriram em média 0, 910 ± 0,11L, sendo que, a média dos árbitros paranaenses foi de 0, 880 ± 011L e a dos paulistas de 0, 960 ± 0,11L. Não houve diferença estatisticamente significativa entre o volume ingerido em cada estado (p = 0,0836). Tabela III - Avaliação da desidratação dos árbitros por estado. Peso Inicial (kg) Peso final (kg) Perda de peso (%) Perda total de água (L) Perda total de água (%) Taxa de Sudorese (L/min) Paraná 85,62 ± 6,9 84,73 ± 6,6 1,02 ± 0,7 1,86 ± 0,5 2,16 ± 0,5 0,02 ± 0,0 São Paulo 72,11 ± 2,2 70,89 ± 2,1 1,70 ± 0,7 2,30 ± 0,6 3,20 ± 0,8 0,02 ± 0,0 Os valores representam a média ± desvio padrão. Paraná, n = 10; São Paulo, n = 7. * p < 0,001 vs Paraná. Perda de peso (%): Percen- Na Tabela II, encontramos os valores relativos à temperatura ambiente e umidade relativa do ar em cada estado, sendo que a diferença entre a temperatura ambiente observada em cada estado foi estatisticamente significativa (p = 0,0064), já a confrontação dos dados relativos à umidade relativa do ar mostrou não haver diferença estatisticamente significativa (p = 0,4358). Tabela II - Dados de temperatura ambiente e umidade relativa do ar durante no Paraná e em São Paulo. Temperatura ambiente (°C) Umidade relativa do ar (%) Paraná São Paulo 23,13 ± 2,05 31,11 ± 7,18* 64,27 ± 21,31 56,93 ± 12,83 * Diferença estatisticamente significativa. A Tabela III apresenta os dados referentes ao balanço hídrico dos árbitros em cada Estado. Após ser elaborada análise estatística referente à diferença observada entre o déficit de peso corporal apresentado pelos árbitros tanto do Paraná quanto de São Paulo, observou-se que esta diferença não era estatisticamente significativa (p = 0, 2766). Isso porque, os árbitros do Paraná apresentaram redução do peso corporal durante o jogo de 0, 890 quilogramas e os de São Paulo de 1, 230 quilogramas respectivamente. A porcentagem de peso corporal perdida pelos árbitros durante a partida (Tabela III), também não apresentou diferença estatisticamente significativa (p = 0,0702). Apesar da taxa de sudorese e a perda total de água do organismo não apresentarem diferença estatisticamente significativa, p = 0,2607 e p = 0,1325 respectivamente, o confronto dos valores correspondentes a porcentagem da tagem de perda de peso em relação ao peso inicial; Perda total de água (L) = Perda de peso (kg) + Água consumida (L) + Diurese (L); Perda total de água (%) = ([Perda de peso (kg) + Água consumida (L) + Diurese (L)] / Peso inicial) * 100; Taxa de Sudorese (L/min): (Peso inicial – Peso final + Água consumida – Diurese) / duração da partida em minutos. A distância total média percorrida pelo árbitro do Paraná foi de 9.131,4 ± 255,8 metros, já a distância percorrida pelo árbitro de São Paulo foi de 10.034,1 ± 840,6 metros (Figura 1). Os árbitros de São Paulo deslocaram-se mais durante a partida, e a análise estatística demonstrou haver diferença estatisticamente significativa entre estes valores (p = 0,0083). Os dados demonstram que os árbitros de São Paulo permanecem mais tempo parados durante a partida que os árbitros do Paraná, isto porque os árbitros paulistas permaneceram em média 20,32 ± 2,24 minutos parados durante o jogo, contra 14,13 ± 2,12 minutos dos árbitros paranaenses, sendo esta diferença estatisticamente significativa (p= 0,0001). Na Figura 1 observamos que a distância total percorrida durante a partida em atividades de baixa intensidade (andando e trote) foi significativamente diferente. Os árbitros de São Paulo percorreram 3.180,6 ± 422,7metros andando e 4.443,0 ± 1.204,1 metros na atividade de trote, e os do Paraná 4.587,8 ± 424,6 metros e 2.357,4 ± 440,9 metros, respectivamente (p < 0,0001 e p = 0,0003). A distância percorrida na forma de atividades de alta intensidade, corrida e sprint, não foi estatisticamente significativa (Figura 1). A distância percorrida nos dois períodos de jogo (primeiro e segundo tempo) não foi significativamente diferente, salvo na atividade de deslocamento de costa dos árbitros de São Paulo (Tabela IV). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 152 Figura 1 - Distância total percorrida em cada ação motora pelos árbitros do Paraná e de São Paulo. * 10000 8000 6000 Paraná São Paulo * Metros 5000 4000 * 3000 2000 1000 0 Distância Cami- Trote Correndo Sprint Corrida Total nhando de Costas Discussão O componente físico é tido como um dos mais importantes para uma boa preparação do árbitro para, assim, efetivar sua atuação no campo de jogo. A demanda energética do árbitro durante a partida é similar a dos jogadores de futebol [16], deste modo, espera-se que sua preparação e seu biótipo físico estejam próximos aos atletas da modalidade de futebol. Os árbitros de São Paulo apresentaram um valor menor de IMC quando comparados aos árbitros paranaenses (tabela I). O IMC é muito utilizado na prática com grandes populações, pois é um método antropométrico de procedimento rápido e de baixo custo que se correlaciona bem com a gordura corporal e algumas incidências de doenças degenerativas [18]. Entretanto, de acordo com Barata [19] este método é pouco eficaz quando aplicado ao desporto, pois os desportistas apresentam grandes massas musculares. Como os árbitros de futebol estão envolvidos num esporte de alto nível, que necessita de seus praticantes um grande nível de preparação física, foi determinado o percentual de gordura dos árbitros, mediante as dobras cutâneas, para que se pudesse determinar com exatidão a composição corporal. Os árbitros paranaenses apresentaram um percentual de gordura bem acima do apresentado pelos árbitros paulistas (Tabela I). A média de 20,26 ± 4,8% de gordura corporal apresentada pelos árbitros paranaenses corrobora para com o índice de massa corporal acima do limite de normalidade (25 kg/m2) encontrado neste estudo. O percentual de gordura dos árbitros paranaenses, também está acima da média dos homens da Região Sul do Brasil (16,14%), região esta onde foi desenvolvido este trabalho [20]. Contudo, considerando que os homens aqui estudados são árbitros de futebol, dos quais se espera capacidade física acima da média populacional, seria conveniente aconselhá-los a entrar num programa de exercícios e/ou aconselhamento nutricional, que permitisse redução da massa gordurosa sem perda da massa muscular. Com relação ao percentual de gordura, o valor médio encontrado neste estudo é superior ao valor médio encontrado em árbitros brasileiros do quadro da CBF 15,9% [21] e dos árbitros gregos 16,7% [22]. Entretanto é similar a um estudo publicado recentemente no Brasil, onde os árbitros apresentaram uma porcentagem de 20,81 ± 3,29 % [23]. O percentual de gordura apresentado pelos árbitros de São Paulo (11,38 ± 5,6%) foi compatível com o percentual de gordura corporal apresentado por árbitros de elite da Espanha (11,3 ± 2,15%), menor percentual encontrado por nós na literatura cientifica [24], que colaborou para que os árbitros paulistas apresentassem IMC dentro da normalidade. Em uma investigação conduzida com atletas do futebol brasileiro realizado por Guerra et al. [25] observou-se, por meio do método antropométrico, um valor de adiposidade de 10,6%, sendo que valor semelhante (10,6 ± 2,6) foi encontrado em jogadores de países da América do Sul [26]. Esses valores são similares aos dos árbitros paulistas, entretanto, inferiores aos apresentados pelos dos árbitros paranaenses. Isso demonstra que com relação ao acúmulo de adiposidade, os árbitros paranaenses avaliados estão em condições físicas deficitárias quando comparados com os atletas da modalidade de futebol e aos seus colegas paulistas. A perda significativa de fluidos durante a atividade física tem sido observada em numerosas modalidades esportivas, tais como maratona, futebol americano, basquetebol, hockey, e outros. Esta perda é exacerbada por diferentes condições ambientais, tais como calor, alta umidade relativa do ar, falta de vento, e/ou restrição na reposição de fluidos [27,28]. Desta forma, em estudos de campo que sejam realizados em dias e regiões diferentes é necessário que as condições climáticas sejam mensuradas a fim de que os resultados obtidos possam ser comparáveis. O presente estudo foi desenvolvido em condições climáticas do tipo subtropical. A temperatura ambiente média nos dias dos jogos dos dois estados foi de 26,6 6,3 ºC e da umidade relativa do ar de 61,1 17,9%. Na Tabela II encontramos os valores destas variáveis por estado. Foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre a temperatura ambiente mensurada no Paraná e em São Paulo. Tabela IV - Distâncias percorridas durante cada período da partida por estado. Paraná 1º tempo 2º tempo São Paulo 1º tempo 2º tempo Andando 2245,3 ± 248,6 2342,6 ± 2498 1524,9 ± 237,5 1655,8 ± 238,9 Trote 1247,9 ± 343,6 1109,4 ± 225,2 2196,0 ± 523,3 2247,0 ± 753,9 * p < 0.05 vs deslocamento de costas no 1º tempo. Corrida 534,3 ± 297,0 501,4 ± 115,0 519,8 ± 394,2 406,0 ± 308,4 Sprint 61,6 ± 53,7 64,5 ± 60,0 94,9 ± 93,7 72,8 ± 80,9 Desloc. de costa 545,6 ± 155,5 478,9 ± 168,5 779,3 ± 193,4 537,7 ± 236,6* Total 4634,8 ± 190,7 4496,7 ± 191,9 5114,8 ± 218,2 4919,3 ± 648,1 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 O desempenho físico de um indivíduo durante uma atividade física está estreitamente ligado ao estado de hidratação. Tem sido descrito que uma perda de fluidos equivalente a 2% do peso corporal pode induzir a uma queda na capacidade aeróbica de até 20% [29]. Entretanto, este efeito apresenta uma forte dependência da temperatura ambiente, pois níveis de desidratação que são bem tolerados a temperaturas moderadas (20° C), podem afetar a capacidade física do atleta a uma temperatura maior (> 30° C) [27]. Gonzalez-Alonso et al. [30] têm estudado este ponto utilizando ciclistas treinados para provas de enduro, que foram submetidos a todas as possíveis combinações de desidratação e temperatura. Eles encontraram que, tanto a hipertermia (incremento de 1° C na temperatura esofágica) como uma desidratação equivalente a 4% do peso corporal, de forma independente, reduzem o débito sistólico em 7-8% e incrementam a frequência cardíaca em 5%, resultando numa modificação não significativa do débito cardíaco. Quando ambos os fatores são combinados no mesmo indivíduo, observa-se uma queda significativa de 13% no débito cardíaco e na pressão arterial média. Fora estes efeitos cardiovasculares, tem sido observada uma queda na capacidade cognitiva quando desidratação e hipertermia estão presentes [31]. Assim sendo, não resta dúvida que a temperatura mais elevada observada no estado de São Paulo nos dias dos jogos (tabela II), foi um dos fatores determinantes para que o árbitro paulista apresenta-se maior nível de perda hídrica que o árbitro paranaense. Os árbitros do Paraná apresentaram uma perda total de água corporal de 1,86 0,5 litros, equivalente a 2,16 0,5% do seu peso corporal no início da mesma (Tabela III). Este valor foi similar ao registrado em nossos estudos anteriores, 2,05 0,44% [8] e 2,16 0,62% [10]. Entretanto, o peso corporal apresentou uma redução de 1,02 ± 0,7%, demonstrando que a ingestão de um volume pré-determinado de uma bebida isotônica antes e durante o intervalo da partida (média de 0, 880 011L) foi capaz de repor 56% dos fluidos perdidos durante o jogo. Já os árbitros paulistas apresentaram uma desidratação que correspondeu a 2,30 0,6 litros, que equivaleu a 3,20 0,8% do seu peso corporal. Entretanto, no final da partida o déficit de peso encontrado foi de 1,23 0,5 litros, ou seja, o volume de líquido tomado, que foi previamente determinado foi capaz de repor somente 49% do volume perdido com o processo de sudorese. Estes resultados demonstram que os árbitros desenvolveram durante a partida uma desidratação moderada que não foi compensada pela ingestão pré-determinada de líquido, antes e durante o intervalo da partida. Contudo, quando a ingestão de água pelo árbitro era espontânea, ao final da partida o líquido ingerido pelo árbitro só havia reposto de 20 a 24% do líquido perdido durante a partida [8,10]. Num estudo prévio, mostramos que a perda total de fluidos do organismo do árbitro de futebol durante uma partida oficial se correlaciona significativamente com uma redução do seu volume plasmático, sendo que uma desidratação de 1 % 153 determina uma redução de 2,5% no volume plasmático [8]. Desta forma, podemos prever que a desidratação observada nos dois estados onde ocorreu este estudo, determinou uma redução do volume plasmático de aproximadamente 2,55% no Paraná e 4,25% em São Paulo, respectivamente, baseando na porcentagem da redução de peso apresentado pelos árbitros no final da partida (Tabela III). Contudo, se não houvesse a hidratação dos árbitros, os árbitros paranaenses apresentariam uma redução média de 5,4% e os paulistas de 8% respectivamente. Os dados apresentados acima indicam, portanto, que a ingestão prévia de volume pré-determinado de fluido, em especial a solução isotônica, antes e no intervalo da partida, foi capaz de diminuir significativamente a redução do volume plasmático apresentado pelo árbitro no final da partida, o que reduz acentuadamente a possibilidade de que o mesmo venha a apresentar queda na capacidade física ou mental em decorrência da perda hídrica. No presente estudo percebe-se que, durante as partidas, os árbitros tanto do Paraná quanto de São Paulo realizam atividades físicas aeróbicas de baixa a moderada intensidade (Tabela IV). Outros estudos envolvendo árbitro de futebol também confirmam que a atividade física do árbitro durante a partida utiliza predominantemente energia proveniente do metabolismo aeróbico [1,2,15-17,32,33]. Dos 9.131,4 255,8 metros, percorridos em média pelos árbitros do Paraná no transcorrer da partida, 50,25% foi na forma andando, o que correspondeu a 52,28% do tempo total da partida, ou seja, quanto maior o tempo que o árbitro permanece executando uma ação motora maior vai ser a distância percorrida na mesma. Os árbitros paulistas se deslocaram nesta forma 31,99%, dos 10.034,1 840,60 metros, deslocados em média durante o jogo. Em um estudo desenvolvido com árbitros paranaenses [15] observou-se que esses permaneceram 57,95% do jogo andando. Entretanto, um estudo desenvolvido com árbitros paulistas, recentemente, demonstrou que os árbitros desse estado percorrem em média 31,41% do total da distância percorrida durante a partida andando [34]. Em um estudo envolvendo árbitros dinamarqueses [2], também observou-se que o árbitro permanecia a maior parte do tempo do jogo andando, e isso correspondeu a 40%. Asami et al. [32] e Rebelo et al. [35] relatam também uma porcentagem significativa de deslocamento na forma de caminhada. Nos dois estudos os árbitros japoneses e portugueses andaram 33% do tempo de jogo, respectivamente. A segunda ação motora mais utilizada pelos árbitros é o trote. O deslocamento total dos árbitros paranaenses correspondeu a 25,83% do deslocamento total do jogo, ou seja, 17,71% do tempo total da partida. Já os árbitros paulistas se deslocaram 43,94% da distância total do jogo na forma de trote. No estudo envolvendo árbitros paranaenses, observouse que esses haviam se deslocado 22,28% do deslocamento total do jogo na forma de trote [15]. Já Rebelo et al. [35] descrevem um percentual de 25,9% do tempo total nessa ação motora para árbitros portugueses. Entretanto, em um estudo 154 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 envolvendo árbitros de São Paulo, contatou-se que esses se deslocam em média 43,79% da distância percorrida durante o jogo, na forma de trote [34]. Outros estudos apresentam percentuais para essa ação motora, em relação ao tempo que se desenvolvem esta atividade durante a partida. Asami et al. [32] relataram 48% em árbitros japoneses, Catterall et al. [1], 47% em árbitros ingleses e Johnston & McNaughton [17] relatam que em 46,6% do tempo total de jogo o árbitro da Tasmânia desloca-se trotando. Ao analisarmos os dados até este ponto, verificamos que uma dessas duas ações motoras sempre aparece se revezando como a primeira ou segunda forma principal de deslocamento do árbitro de futebol. Quando uma aumenta, a outra diminui. Portanto seria o revezamento destas duas formas de deslocamento que definem o padrão aeróbico da atividade física do árbitro durante a partida. Uma ação motora que apresenta uma velocidade que é superior ao deslocamento andando, mas similar ao deslocamento na forma de trote é o deslocamento de costas. Quando somamos as distâncias percorridas destas três ações motoras (andando, trotando e de costas) verificamos que o árbitro paranaense percorre nestas ações motoras em média mais de 87% do deslocamento total do jogo, o que corresponde a 77,69% do tempo de jogo, sendo que os árbitros paulistas percorrem 89% da distancia total nestas formas de deslocamento. Nos estudos já publicados encontramos valores que vão de 60 a 90% do tempo total do jogo [1,2,15,17,32,35]. Para Johnston & Mcnaughton [17] e Rebelo et al. [35] o árbitro de futebol gasta mais de 60% do tempo de jogo em atividades físicas de baixa intensidade, isto é, andar, trotar e deslocamento de costa. Contudo, esses autores não consideraram o tempo que os árbitros permanecem parados durante o jogo. Quando somasse esse tempo com o tempo que o árbitro executa as atividades de baixa intensidade verificamos que, no caso dos árbitros paranaenses aqui estudados, isso passa a representar 93,09% do tempo total de jogo. No estudo de Rebelo et al. [35] que apresenta o tempo que o árbitro permanece parado e a classificação das ações motoras como a nossa, o tempo em que os árbitros permanecem em ação motora de baixa intensidade corresponde a 95% do tempo total da partida. Corridas de velocidade de alta e moderada intensidade são muito pouco executadas pelo árbitro de futebol. No presente estudo isso não passou de 13% no Paraná e 11% em São Paulo, do deslocamento total da partida. Correndo, o árbitro do Paraná percorreu uma distância média de 1.035,7 ± 398,8 metros e em forma de sprint 126,1 ± 103,1 metros. Entretanto, os árbitros paulistas percorreram 925,8 ± 694,7 metros na forma de corrida e 167,5 ± 162,6 metros na forma de sprint. Na literatura científica o tempo médio nessas formas de deslocamento varia de 4 a 19% do tempo de jogo [1,2,15,17,32,35]. Assim como Rebelo et al. [35], concordamos que esses tipos de ações motoras somente são desenvolvidos pelos árbitros em situações de contra-ataque de uma das equipes, ou quando está para ocorrer uma situação clara de gol; nesses momentos os árbitros procuram o melhor ângulo dentro de campo para visualizar as jogadas. Existem varias hipóteses que poderiam ser levantadas para justificar as diferenças observadas nas distâncias percorridas pelos árbitros em cada ação motora. Para Castagna et al. [33] essa diferença poderia ser em decorrência do nível da forma física e do status do treinamento. Krustrup & Bangsbo [2] afirmam que a boa forma aeróbia tem uma forte relação com a cobertura total da partida e com as atividades principais de jogo executadas pelo árbitro de elite durante a competição. Finalmente as diferenças de estilo de jogo (entre países) também devem ser levadas em conta quando se comparam resultados encontrados em diferentes estudos [3,35]. Outro fator a ser considerado são as diferentes condições ambientais (temperatura e umidade relativa do ar) em que aconteceram os jogos analisados nestes diversos estudos. Após a análise dos dados referente à distância percorrida pelo árbitro durante a partida, verificamos que outra hipótese para explicar a maior perda hídrica apresentada pelos árbitros paulistas pode estar relacionada ao maior deslocamento no transcorrer da partida executados por eles. Apesar da distância total apresentar diferença estatisticamente significativa (p = 0, 0083), os deslocamentos de alta intensidade: correr e sprint, que seriam atividades que produziriam maiores desgastes físico e consequentemente maior sudorese, não apresentaram diferenças (figura 1). Conclusão A temperatura ambiente em São Paulo foi maior que a do Paraná e a umidade relativa do ar menor durante os jogos, o que pode ter influenciado na maior redução de peso corporal, após os jogos, para os árbitros de São Paulo. O estudo demonstrou que a estratégia de hidratação realizada com os árbitros antes, durante e após as partidas, influenciou significantemente na redução do volume plasmático apresentado ao final das partidas, contribuindo para diminuir a possibilidade de apresentar fadiga muscular, que provavelmente poderia interferir signifi cantemente no desempenho do árbitro. Em consequência da fadiga física intensa, poder-se-ia observar lentidão no desempenho sensório-motor e distúrbios de coordenação, além de erros grosseiros de avaliação dos atletas e das suas ações. É importante salientar que as federações de futebol de todos os estados devem orientar seus árbitros em relação a estratégias de hidratação em decorrência de esforços intensos sob elevadas temperaturas com baixa umidade relativa do ar. Referências 1. Catterall C, Reilly T, Atkinson G, Coldwells A. Analysis of the work rates and heart rates of association football referees. Br J Sports Med 1993;27(3):193-96. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 2. Krustrup P, Bangsbo J. Physiological demands of top-class soccer refereeing in relation to physical capacity: effect of intense intermittent exercise training. J Sports Sci 2001;19:881-91. 3. Helsen W, Bultynck JB. Physical and perceptual-cognitive demands of top-class refereeing in association football. J Sports Sci 2004;22:179-89. 4. Fuller CW, Junge A, Dvorak J. An assessment of football referees’ decisions in incidents leading to player injuries. Am J Sports Med 2004;32(1):17-21. 5. McGregor SJ, Nicholas CW, Lakomy HK, Williams C. The influence of intermittent high-intensity shuttle running and fluid ingestion on the performance of a soccer skill. J Sports Sci 1999;17(11):895-903. 6. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2001. 7. Reilly T, Gregson W. Special populations: The referee and assistant referee. J Sports Sci 2006;24(7):795-801. 8. Da Silva AI, Fernández R. Dehydration of football referees during a match. Br J Sport Med 2003;37:502-6. 9. Costill DL, Coté R, Fink W. Muscle water and electrolytes following varied levels of dehydration in man. J Appl Physiol 1976;40:6-10. 10. Roman ER, Arruda M, Gasparin CEB, Fernadez RP. Da Silva AI. Estudo da desidratação, intensidade da atividade física do árbitro de futebol durante a partida. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2004;3(2):161-71. 11. Petoski EL. Antropometria: técnicas e padronizações. 2ª ed. Porto Alegre: Pallotti; 2003. 12. Jackson AS, Pollock ML. Generalized equations for predicting body density of men. Br J Nutr 1978;40(3):497-504. 13. Siri WE. Body composition from fluid space and density. In: Brozek J, Hanschel A. Techniques for measuring body composition. Washington, D.C: National Academy of Science; 1961. p .223-4. 14. Shirreffs SM. Markers of hydration status. J Sports Med Phys Fitness 2000;40:80-84. 15. Da Silva AI, Rodriguez-Añez CR. Ações motoras do árbitro de futebol durante a partida. Revista Treinamento Desportivo 1999;4(2):5-11. 16. Da Silva AI, Fernandes LC, Fernandez R. Energy expenditure and intensity of physical activity in soccer referees during matchplay. J Sports Sci Med 2008;7:327-34. 17. Johnston L, Mcnaughton L. The physiological requirements of soccer refereeing. Aust J Sci Med Sport 1994;26(3-4):67-72. 18. Ceddia RB. Gordura corporal, exercício e emagrecimento. Revista Sprint Magazine 1998;99:10-20. 19. Barata JLT. Composição corporal. Revista Portuguesa de Medicina Desportiva 1994;12:76-78. 155 20. Petroski LE, Pires-Neto CS. Validação de equações antropométricas para a estimação da densidade corporal em homens. Rev Bras Ativ Fís Saúde 1996;1(3):5-14. 21. Da Silva AI, Rodriguez-Añez CR. Níveis de aptidão física e perfil antropométrico dos árbitros de elite do Paraná credenciados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Rev Port Ciênc Desporto 2003;3(3):18-26. 22. Rontoyannis GP, Stalikas A, Sarros G, Vlastaris A. Medical, morphological and functional aspects of Greek football referees. J Sports Med Phys Fitness 1998;38:208-14. 23. Da Silva AI, Rech CR. Somatotipo e composição corporal de árbitros e árbitros assistentes da CBF. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2008;10(2):143-8. 24. Casajus JA, Castagna C. Aerobic fitness and field test performance in elite Spanish soccer referees of different ages. J Sci Med Sport 2006;133:1-8. 25. Guerra I, Chaves R, Barros T, Tirapegui J. The influence of fluid ingestion on performance of soccer players during a match. J Sports Sci Med 2004;3:198-202. 26. Rienzi E, Mazza JC, Carter JEL, Reilly T. Futbolista sudamericano de elite: morfología, análisis del juego y performance. Rosario: Biosystem Servicio Educativo; 1998. 27. Barr SI. Effects of dehydration on exercise performance. Can J Appl Phys 1999; 24(2):164-72. 28. Coyle EF. Fluid and fuel intake during exercise. J Sports Sci 2004;22:39-55. 29. Saltin B, Costill DL. Exercise, nutrition and metabolism. New York: E. S. Horton and R. L. Teejung; 1988. 30. Gonzalez-Alonso J, Mora-Rodriguez R, Below PR, Coyle EF. Dehydration markedly impairs cardiovascular function in hypertermic endurance athletes during exercise. J Appl Phys 1997;82(4):1229-36. 31. Gopinathan PM, Pichan G, Sharma VM. Role of dehydration in heat stress-induced variations in mental performance. Arch Environ Health 1988;43(1):15-17. 32. Asami T, Togari H, Ohashi J. Analysis movement patterns of referees during soccer matches. In: Reilly T, Lees A, Davids K, Murphy WJ. Science and Football. London: E & EN Spon; 1988. p. 341-5. 33. Castagna C, Abt G, D’Ottavio S. Activity profile of international-level soccer referees during competitive matches. J Strength Cond Res 2004;18(3):486-90. 34. Oliveira M, Santana CHG, Neto TLB. Análise dos padrões de movimento e dos índices funcionais de árbitros durante uma partida de futebol. Fitness & Performance Journal 2008;7(1):41-47. 35. Rebelo A, Silva S, Pereira N, Soares J. Stress físico do árbitro de futebol no jogo. Rev Port Ciênc Desporto 2002;2(5):24-30. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 156 Artigo original Influência da aplicação da bolsa de gelo na força de preensão manual Influence of ice pack application in the strength of handgrip Francisco Olímpio Barbosa de Castro*, Rodrigo Santos de Queiroz, Esp.*, Igor Larchert Mota** *Graduados em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Campos Jequié, **Docente do Curso de Fisioterapia da UESB, Campos Jequié Resumo Abstract A preensão manual é uma função essencial da mão humana devido ao grande número de atividades funcionais que dependem dela para serem realizadas. Os efeitos fisiológicos teciduais da crioterapia são largamente utilizados para fins terapêuticos no tratamento de patologias do sistema neuro-músculo-esquelético. No entanto, o seu efeito sobre o grau de força muscular ainda não está bem esclarecido. O presente estudo objetivou avaliar a influência da crioterapia sobre a força de preensão manual. Para tanto, 44 voluntários hígidos, homens, com idade entre 18 e 29 anos, foram submetidos à crioterapia por 20 minutos no antebraço, sendo realizada aferição da força isométrica máxima de preensão manual antes e imediatamente após a aplicação de gelo. Na análise estatística dos dados foram utilizados os testes t de student pareado, Shapiro-Wilk e a correlação não paramétrica de Spearman. Os resultados mostraram que a força de preensão manual aumentou significativamente após a crioterapia, observando-se uma elevação da força pós-crio (38,586 ± 1,2165 Kgf ) em relação à força pré-crio (36,243 ± 1,398 Kgf ) (p = 0,05). Portanto foi possível observar, através da metodologia utilizada, que a crioterapia por meio de bolsa de gelo descartável é capaz de aumentar significativamente a força de preensão manual. The grip is an essential function of the human hand because of the large number of functional activities that depend on it to get things done. The physiological effects of cryotherapy tissue are widely used for therapeutic treatment of diseases of the neuromusculoskeletal system. However, its effect on the degree of muscle strength is not yet very clear. This study has as objective to evaluate the influence of cryotherapy on the strength of handgrip. For this purpose, 44 healthy volunteers, all men, aged between 18 and 29 years, underwent cryotherapy for 20 minutes on the forearm, being held measurement of maximal isometric strength of handgrip before and immediately after application of ice. Statistical analysis consisted of student paired t test, Shapiro-Wilk and correlation of non-parametric Spearman’s rho. The results showed that the strength of handgrip increased significantly after cryotherapy, observing an increase of strength post-cryo (38.586 ± 1.2165 kgf ) in relation to the pre-cryo strength (36.243 ± 1.398 kgf ) (p = 0.05). Therefore it was possible to conclude, through the methodology used, that the cryotherapy through disposable ice pack is able to significantly increase the strength of handgrip. Key-words: cryotherapy, muscle strength, hand strength. Palavras-chave: crioterapia, força muscular, força da mão. Recebido em 23 de março de 2010; aceito em 9 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: Igor Larchert Mota, Caminho 01 Urbis III, 78, Jequié BA, Tel: (73) 8866-7007, E-mail: igorlarchert@ hotmail.com.br, [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Introdução A mão do homem é uma estrutura dotada de função altamente especializada, sofisticada e de ampla capacidade de movimentação possuindo uma anatomia dotada de singular capacidade de adaptação a depender do trabalho a ser realizado [1]. Assim, além de ter uma importância no que se refere às atividades vitais de um indivíduo, o uso da mão pode ser considerado como um meio de integração social [2]. Entre as múltiplas e variadas funções intrínsecas à mão, a de preensão, movimento extremamente exigido nas atividades corriqueiras, destaca-se como essencial, uma vez que é ampla a gama de movimentos que podem ser efetuados utilizando a preensão manual [1]. Durante o movimento de preensão palmar, os dedos posicionam-se em flexão, adução, lateralmente rodados e inclinados em direção ao lado ulnar da mão, tendo como base de apoio as eminências tenar e hipotenar da mão. O polegar encontra-se flexionado, aduzido tanto em sua articulação metacarpofalângica como na carpometacárpica e opondo-se à polpa dos dedos [1,3]. O movimento de preensão provoca intensa atividade dos músculos flexor superficial e profundo dos dedos, dos interósseos e do 4º lumbrical, bem como nota-se atividade de músculos que realizam o movimento de contrapressão realizado pelo polegar pelo do músculo flexor longo do polegar, de músculos tênares (oponente do polegar, adutor do polegar e flexor curto do polegar) e hipotênares (flexor curto do dedo mínimo), estes agindo como agonistas e contraindose isotonicamente [4]. A força de preensão manual é aquela gerada pelos movimentos forçados dos dedos contra a palma com os dedos passando ao redor de um objeto com contrapressão do polegar, como ao segurar uma estrutura cilíndrica, por exemplo [4,5]. Na força de preensão manual, os músculos extrínsecos, que têm origem no antebraço com seus ventres localizados na face anterior do mesmo, exercem principal ação, sendo os músculos flexor superficial e profundo dos dedos os que imprimem maior potência durante a aplicação dessa força [1,6]. Diversas são as patologias capazes de causar ineficácia ou diminuição da força de preensão manual, entre elas afecções musculoesqueléticas como: tendinites, síndrome do túnel do carpo; neurológicas tais como: acidente vascular encefálico [7,8]. Além disso, as linfopatias após tratamento de câncer de mama [9] e a diabetes mellitus [10]. Estudos identificam também que a força de preensão manual apresenta uma relação curvilínea com a idade [11-13]. As limitações causadas por essas patologias constituem um amplo campo de atuação para a Fisioterapia que procura solucionar, quando possível, ou atenuar tais disfunções, utilizando-se para isso de recursos cinesioterapêuticos frequentemente associados a modalidades térmicas terapêuticas, como o frio [7-14]. 157 O uso terapêutico de modalidades de frio com variação de temperatura de 0° C a 18,3°C é descrito pelo termo crioterapia. Esse recurso promove a subtração de calor do corpo pela modalidade de frio, provocando uma série de respostas locais e sistêmicas. A magnitude desses efeitos depende de variáveis como: temperatura da modalidade, duração do tratamento e área a ser tratada [15]. A utilização do frio terapêutico pode ser realizada através de várias modalidades crioterápicas tais como: bolsa de gelo, bolsa de gel, bolsa química, banhos de imersão em água e gelo, massagem com gelo, spray (cloreto etil-líquido ou de fluorometano) [16]. Dentre estas modalidades a bolsa de gelo é a mais largamente empregada em virtude do baixo custo, segurança e da facilidade de aplicação [15,17]. A crioterapia através do resfriamento local ou total do corpo com fins terapêuticos promove vasoconstricção, analgesia, redução do metabolismo e diminuição da velocidade de condução nervosa [15,17]. No músculo, a redução da temperatura causa elevação da viscosidade dos tecidos, diminui o fluxo sanguíneo, além de reduzir a velocidade de condução nervosa periférica e a transmissão sináptica nas junções neuromusculares [18]. Após a vasoconstricção imediata ocorre vasodilatação como uma tentativa do organismo de proteger os tecidos de possíveis danos em virtude do resfriamento prolongado e da relativa isquemia [16,19,20]. O mecanismo pelo qual essa resposta é desencadeada ainda não está completamente esclarecido havendo a hipótese de um reflexo axonal, envolvendo uma substância análoga à histamina capaz de causar vasodilatação local. Outra possibilidade sugerida refere-se à redução da contratilidade da musculatura lisa vascular em razão da redução da temperatura, resultando em dilatação dos vasos [16]. Qualquer que seja o mecanismo causador, a vasodilatação induzida pelo frio provoca uma hiperemia no local de aplicação do gelo, o que disponibilizará um maior suprimento de oxigênio e nutrientes melhorando a produção de energia, utilizada na contração muscular [16,19,20]. A terapia com gelo e seus efeitos diminuem a temperatura intramuscular de modo mais lento e em menor amplitude do que a temperatura cutânea [15,19,21-23], sua recuperação obedece a uma curva exponencial decrescente sem retornar ao valor inicial, pelo menos durante 210 minutos após a retirada da modalidade crioterápica [21]. A utilização do frio e seus efeitos fisiológicos no desempenho muscular merecem uma atenção maior devido aos poucos estudos sobre a sua atuação e as controvérsias entre as pesquisas existentes, principalmente no que se refere ao aumento ou diminuição na capacidade de um músculo em gerar torque após ser resfriado [15,24]. Há evidências de que o resfriamento da superfície da pele pode levar a um aumento de força nos músculos subjacentes, embora também haja relatos conflitantes de uma redução de força após a crioterapia [15]. Uma vez que a crioterapia é frequentemente utilizada em programas fisioterapêuticos de 158 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 reabilitação, a determinação do efeito da aplicação do frio sobre o desempenho muscular mostra-se bastante relevante. Tal efeito tem implicações importantíssimas no risco de lesões durante ou após o tratamento, sendo necessário um planejamento em relação à utilização de frio antes ou após a cinesioterapia e a liberação para realização de atividades funcionais após o gelo [24,25]. Assim, o presente estudo objetivou verificar a influência da crioterapia sobre a força de preensão manual em indivíduos hígidos. Material e métodos Trata-se de um estudo de desenho transversal, descritivo, inferencial, com ensaio em indivíduos hígidos. A coleta de dados foi realizada em um consultório da Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, campos de Jequié, na cidade de Jequié BA. A população estudada foi constituída pelos discentes, do sexo masculino, do curso de Fisioterapia da UESB. A amostra selecionada por conveniência utilizada nesta pesquisa foi composta por 48 indivíduos voluntários. Foram feitos convites aos estudantes nas salas de aula para participação na pesquisa, sendo assim a amostra foi ocasional, estratificada por semestre do curso de Fisioterapia da UESB. Com a perda amostral durante a realização das intervenções, apenas 44 voluntários com idade entre 18 e 29 anos, média de 21,84 ± 0,358 anos, massa corporal média de 69,261 kg ± 1,5263, altura média de 1,7563 ± 0,1095 e IMC médio de 22,4069 ± 0,38773 participaram efetivamente desta pesquisa. Para o cálculo amostral levou-se em consideração uma média de 131,26 de ganho de força e um desvio padrão de 18,5, segundo Duarte [25], com 3% de margem de erro e taxa de não resposta de 20%, dentro de um universo composto por 65 estudantes do sexo masculino matriculados no curso de Fisioterapia da UESB. A escolha dos sujeitos foi aleatória, utilizando como critérios de inclusão: higidez; idade entre 18 e 30 anos; ausência de distúrbios sensitivos, neurológicos e cardiorrespiratórios; ausência de patologias ou lesões neuro-músculo-esqueléticas e de cirurgia em membros superiores ou coluna nos últimos 2 anos; ausência de insuficiência vascular periférica e de síndrome de Raynaund. Foram adotados como critérios de exclusão: hipersensibilidade, alergia ao frio e impossibilidade ou desistência do participante durante a aplicação do protocolo. Inicialmente os indivíduos foram submetidos à avaliação física, sendo medida a estatura (com uso de fita antropométrica Sanny Medical, 2m) e a massa corporal total (em balança digital modelo Glass 3S da marca G-TECH com carga máxima de 150 Kg), sendo calculado o IMC. O valor obtido da massa corporal total foi utilizado para a determinação da respectiva massa de gelo (balança modelo BP15 da marca Filizola® com carga máxima de 15 Kg, mínima de 125g, divisão de 5g), correspondente a 1% da massa corporal de cada voluntário, baseado em Duarte [25]. Os participantes foram submetidos a dois momentos de aferição da força máxima de preensão manual, o primeiro antes da aplicação de gelo, para a medida da força denominada pré-crio, e o segundo imediatamente após aplicação local de crioterapia por 20 minutos na região ântero-proximal do antebraço dominante (sobre os músculos flexores dos dedos), para verificação da força pós-crio. Na tentativa de evitar discrepâncias, a força de preensão manual foi medida três vezes, em cada momento de aferição, com intervalo de 1 minuto entre essas medidas para evitar fadiga [1], tendo como valor de referência a média aritmética dos valores encontrados. A força máxima de preensão manual foi medida através de dinamômetro manual da Kratos, com variação de 1 kgf, após período de 5 minutos para adequação do indivíduo à temperatura do ambiente, o qual foi climatizado através de aparelho de ar-condicionado Silentia 7500, da marca Springer, graduado na capacidade máxima. As medidas foram realizadas com o indivíduo sentado em cadeira com apoio para o antebraço, sendo os voluntários orientados a manter o braço dominante com o cotovelo fletido a 90° e uma extensão de no máximo 30° de punho [1,7]. Durante a aferição os participantes foram verbalmente estimulados a imprimirem a máxima força de preensão, mantendo a contração isométrica por 3s. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB sob o protocolo n° 220/2008, obedecendo à resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Todos os sujeitos da pesquisa foram orientados quanto aos procedimentos a serem realizados e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram registrados em um formulário próprio contendo identificação, idade, dados antropométricos (tais como altura, peso e IMC), massa de gelo utilizada, além de membro dominante e os momentos de aferição com as respectivas medidas de força pré-crio e pós-crio, sendo posteriormente transferidos para um banco de dados criado no Microsoft Office Excel®, versão 2007. A análise descritiva dos dados foi utilizada para caracterização da amostra, com distribuição de frequência, medida de tendência central (média) e de dispersão (amplitude de variação, desvio-padrão). Já a estatística inferencial foi realizada através do software SPSS – “Statistical Package for the Social Sciences” (versão 15.0 for Windows) com utilização do teste t de student pareado para comparação das médias de força pré-crio e pós-crio, considerando um coeficiente de significância de 0,05 (5%). Foi utilizado também o teste de Shapiro-Wilk, com nível de significância de 95% (pd”0,05) para o teste de normalidade da amostra. Como algumas das variáveis estudadas não apresentaram distribuição normal, foi utilizado o teste não-paramétrico de Spearman’s rho com nível de significância de 95% (pd”0,05) para verificação da associação ou dependência dessas variáveis. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Resultados Dos 48 indivíduos selecionados na amostragem, houve uma perda amostral de 4 voluntários. Os valores médios, desvios padrão, mínimos e máximos das variáveis idade (em anos), peso (Kg), altura (m) e IMC estão representados na Tabela I. Tabela I - Descrição das variáveis idade, peso e altura e IMC. Variáveis Idade Peso Altura IMC Média Margem Desvio Valor Valor de erro padrão máximo mínimo 21,84 0,358 2,372 29 18 69,261 1,5263 10,1244 89,6 53 1,7563 0,01095 0,07260 1,92 1,64 22,4069 0,38773 2,57194 29,09 17,73 Fonte: Dados coletados na pesquisa. Jequié/BA, 2008. Entre os voluntários 93,2% (n = 41) possuía membro superior direito como dominante, havendo 6,8% (n = 3) de indivíduos cujo membro esquerdo era o dominante. A comparação entre as médias da força pré-crio e pós-crio, apresentadas pelos 44 participantes, demonstrou diferença estatisticamente significativa entre as medidas (p = 0,05) comprovada através do teste t pareado (com t = -2,020 e desvio padrão de 7,6942). A Tabela II abaixo representa os valores médios, desvio padrão, máximo e mínimo dessas medidas de força (medida em Kgf ). Tabela II - Descrição das forças de preensão manual pré-crio e pós-crio. Força Pré-crio Pós-crio Média Margem de erro 36,243 1,3980 38,586 1,2165 Desvio Valor Valor padrão máximo mínimo 9,2733 55,7 15,3 8,0691 58,0 23,7 Fonte: Dados coletados na pesquisa. Jequié/BA, 2008. Gráfico 1 - Relação entre as médias de força pré-crio e pós-crio. 39 PRÉ-CRIO 38,5 PÓS-CRIO 38 37,5 37 36,5 36 35,5 35 Média Fonte: Dados coletados na pesquisa. Jequié/BA, 2008. 159 Os voluntários apresentaram um aumento de força de preensão manual após a aplicação de crioterapia, sendo observada uma diferença significativa entre a média de força pré-crio (36,243 ± 1,398 Kgf ) e pós-crio (38,586 ± 1,2165 Kgf ) (p = 0,05), evidenciando um aumento de 6,46% após aplicação do gelo. Essa diferença pode ser observada no Gráfico 1. O teste não paramétrico de Sperman’s rho demonstrou haver uma fraca correlação entre as variáveis idade e força précrio (rho = 0,319 e p = 0,035) e peso e Força pré-crio (rho = 0,338 e p = 0,25), sugerindo que a força de preensão manual aumenta com a idade e o peso, nos indivíduos estudados. Discussão Existe ainda muita discussão acerca dos benefícios da utilização da crioterapia tendo em vista a grande variedade de modalidades, as diferentes especificidades de cada condição patológica e as controvérsias existentes em relação aos efeitos fisiológicos de tal método terapêutico. Os estudos publicados não costumam comparar, a partir da utilização de um mesmo protocolo, métodos diferentes de aplicação do frio, além disso, a maioria dos estudos traz uma amostra reduzida, havendo divergências também em relação ao local de aplicação da crioterapia [22,25]. Algumas variáveis, como a temperatura do agente crioterápico, do ambiente e dos tecidos expostos e a espessura local de tecido adiposo, também não são controladas na maioria das pesquisas, podendo vir a influenciar os resultados. Esses fatores acabam por tornar difícil uma comparação entre os resultados das pesquisas existentes [20,24,25,27,28]. Uma análise do efeito da crioterapia na temperatura cutânea, comparando a utilização de sacos de gel e gelo triturado, por 20 minutos na região anterior da coxa, verificou que a diminuição da temperatura cutânea foi significativamente menor com a utilização do gelo triturado [29]. No entanto Merrick et al.[23], ao comparar as modalidades gelo triturado e cubos de gelo em aplicação de 30 minutos na região anterior da coxa constataram não haver diferença significativa entre as mesmas. Em decorrência disso, o presente estudo optou pela utilização de gelo em cubos. A modalidade de aplicação com bolsa de gelo descartável (saco plástico) foi preferida devido à segurança, ao custo reduzido e à facilidade de sua aplicação [15,17]. A maioria dos autores recomenda um tempo de aplicação de baixas temperaturas de 15 a 30 minutos [15,17]. Esta pesquisa optou pelo tempo de aplicação de 20 minutos que, segundo Nirascou [19], deve ser o tempo de aplicação para a crioterapia. Este valor, além de representar um valor intermediário entre os recomendados, representa o tempo aconselhado de exposição para a modalidade escolhida [16,30], já que esta causa uma queda de 20,3° C, a uma temperatura de contato de 0 a 3° C depois de 10 minutos [30]. O presente estudo constatou um aumento significativo de força muscular de preensão manual após a aplicação de 160 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 crioterapia durante 20 minutos em face anterior de antebraço dominante de indivíduos do sexo masculino. Tais resultados concordam com os obtidos na pesquisa de Borgmeyer et al. [27] sobre os efeitos do frio na força máxima isométrica do músculo quadríceps em 60 indivíduos. Esta pesquisa mediu a força isométrica do músculo antes da aplicação do agente crioterápico, imediatamente após remoção da modalidade e passados 10 minutos desta remoção. Os resultados demonstraram aumento significativo da força isométrica após a aplicação do frio. O mecanismo pelo qual isto ocorre é apontado como uma resposta do sistema simpático e aumento da liberação de catecolaminas devido ao estresse pelo frio. Também a vasodilatação induzida pelo frio é apontada como responsável pelo aumento de força muscular após o resfriamento. Essa vasodilatação causa hiperemia no local de aplicação do gelo disponibilizando um maior suprimento de oxigênio e nutrientes o que melhora a produção de energia, utilizada na contração muscular [17,19,20]. Resultados diferentes quanto ao uso da crioterapia no tecido muscular foram encontrados a partir da investigação do efeito da terapia com baixas temperaturas na força máxima isométrica dos extensores do punho após remoção imediata da modalidade de frio e ao longo de 15 minutos após a retirada do mesmo. Tal estudo [29] consistia em submergir o antebraço em banho frio por 5, 10, 15, ou 20 minutos. Os resultados obtidos indicaram que houve uma acentuada diminuição na força isométrica quando o antebraço foi imerso durante os tempos mencionados. No estudo realizado por Duarte [25], através da aplicação de gelo triturado por 20 minutos na região anterior da coxa dominante, foi também constatada uma diminuição significativa da força isocinética de extensão de joelho pelo quadríceps. Embora tenha ocorrido aumento gradativo durante o período de recuperação, o músculo não atingiu os valores de força pré-crioterapia mesmo após 45 minutos da remoção do gelo. Por outro lado, uma pesquisa [28] constatou que não há alterações na capacidade do músculo em gerar torque após tratamento com gelo, evidenciando assim a necessidade de mais estudos nessa área, uma vez que os estudos existentes apontam uma heterogeneidade metodológica, inclusive no que se refere ao tamanho da amostra, o que se reflete em resultados muito conflitantes. Diante do exposto, algumas considerações devem ser feitas quanto às limitações desta pesquisa. O estudo foi realizado apenas com homens, não tendo sido investigada a ocorrência ou não de um comportamento diferente da força em relação aos diferentes sexos. Apesar de o ambiente ter sido climatizado, não houve um controle efetivo de sua temperatura, não tendo sido investigada também a influência da espessura do tecido adiposo do local de aplicação do gelo. Por fim, todos os indivíduos investigados eram hígidos, não tendo sido investigada a ação do gelo na força muscular de indivíduos portadores de doenças. Conclusão De acordo com os resultados obtidos neste estudo, observa-se que a crioterapia por meio de bolsa de gelo, durante 20 minutos em face anterior de antebraço é capaz de aumentar significativamente a força de preensão manual em homens saudáveis. No entanto, os estudos existentes se mostram ainda muito conflitantes. Com isso fica clara a necessidade de realização de novas pesquisas que venham a elucidar os efeitos fisiológicos da crioterapia sobre a força muscular, a partir do controle adequado das variáveis envolvidas e seguindo protocolos bem estabelecidos. Referências 1. Silva ACK. Estudo biomecânico da preensão manual em atletas de diferentes modalidades esportivas [dissertação]. Florianópolis: Universidade do Estado de Santa Catarina; 2006. 2. Padula RS, Souza VC, Gil Coury HJC. Tipos de preensão e movimentos do punho durante atividade de manuseio de carga. Rev Bras Fisioter 2006;10(1):29-34. 3. Paschoarelli LC, Coury HJCG. Aspectos ergonômicos e de usabilidade no design de pegas e empunhaduras. Revista Estudos em Design 2000;8(1):79-101. 4. Moreira D, Alvarez RRA, Godoy JRP. Estudo sobre a realização da preensão palmar com a utilização do dinamômetro: considerações anatômicas e cinesiológicas. Fisioter Bras 2001;2(5):295-300. 5. Moore KL, Dalley AF. Anatomia orientada para a clínica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. p.764-72. 6. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl LD. Cinesiologia clínica de Brunnstrom. 5ª ed. São Paulo: Manole; 1997. 7. Fonseca APC, Jakaitis F, D’Andreia-Greve JM, Pavan K, Lourenção MIP, Gal PLM, et al. Projeto diretrizes. Espasticidade: tratamento por meio de medicina física. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação; 2006. 8. Nicoletti S. Tratamento dos distúrbios músculo-esqueléticos ocupacionais (DMO). Centro Brasileiro de Ortopedia Ocupacional [online]. [citado 2008 Out 25]. Disponível em URL:http://www.cboo.com.br 9. Valente FM, Godoy MFG, Godoy JMP. Força de preensão palmar em portadoras de linfedema secundário ao tratamento para câncer de mama. Arq Bras Ciênc Saúde 2008;15(2):55-8. 10. Oliveira FB, Moreira D. Força de preensão palmar e diabetes mellitus. Rev Bras Clin Med 2009;7:251-5. 11. Figueiredo IM, Sampaio RF, Mancini MC, Silva FCM, Souza MAP. Teste da força de preensão utilizando o dinamômetro Jamar. Acta Fisiátrica 2007;4(2):104-10. 12. Moreira D, Moreira D, Alvarez RR, Godoy JR, Cambraia AN. Abordagem sobre preensão palmar utilizando o dinamômetro JAMAR®: uma revisão de literatura. Rev Bras Ciênc Mov 2003;11(2):95-99. 13. Rebelatto JR, Castro AP, Chan A. Quedas em idosos institucionalizados: características gerais, fatores determinantes e relações com a força de preensão palmar. Acta Ort Bras 2007;15(3):151-4. 14. Sandoval RA, Mazzari AS, Oliveira GD. Crioterapia nas lesões ortopédicas; revisão. Revista Digital Buenos Aires; 2005;10(81). Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 15. Starkey C. Recursos terapêuticos em fisioterapia. Traduzido por: Fragoso C. 2ªed. São Paulo: Manole; 2001. 16. Agne JE. Eletrotermoterapia: teoria e prática. Santa Maria: Orium; 2005. 17. Low J, Reed A. Eletroterapia explicada: princípios e prática. Traduzido por: Breternitz L. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2001. 18. Nieda K, Micholovitz SL. Cryotherapy. In: Micholovitz SL, ed. Thermal agents in rehabilitation. 3rd ed. Philadelphia: FA Davies Company; 1996. p.78-106. 19. Nirascou M. Cryothérapie: cinétique des temperatures cutanées et musculaires lors de différentes applications de froid. Ann Kinésithér 1987;14(6):267-79. 20. Chesterton LS, Foster NE, Ross L. Skin temperature response to cryotherapy. Arch Phys Med Rehabil 2002;83:543-9. 21. Jutte LS, Merrick MA, Ingersoll CD, Edwards JE. The relationship between intramuscular temperature, skin temperature and adipose thickness during cryotherapy and rewarning. Arch Phys Med Rehabil 2001;(82):845-50. 22. Knight KL. Crioterapia no tratamento das lesões esportivas. 1ª ed. São Paulo: Manole; 2000. 23. Merrick MA, Jutte LS, Smith, ME. Cold modalities with different thermodynamic properties produce different surface and intramuscular temperatures. J Athletic Train 2003;38(1):28-33. 161 24. Pereira LG, Paula RP, Sampaio-Jorge F, Magini M. Avaliação da força muscular do tibial anterior após aplicação local de crioterapia. Anais - XI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VII Encontro Latino Americano de PósGraduação – Universidade do Vale do Paraíba. Rev Univap 2007;10:1917-20. 25. Duarte R, Macedo R. Efeito do gelo no momento máximo de força durante movimento concêntrico de extensão do joelho. Revista Essfisioline 2005;1(3):21-37. 26. Douris P, Mckenna R, Madigan K, Cesarski B, Costiera R, Lu M. Recovery of maximal isometric grip strength following cold immersion. J Strength Cond Res 2003;17(3):509-13. 27. Borgmeyer JA, Scott BA, Mayhew JL. The effects of ice massage on maximum isokinetictorque production. J Sport Rehabil 2004;13:1-8. 28. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. São Paulo: Manole; 2000. p. 527. 29. Sanya AO, Bello AO. Effects of cold application on isometric strength and endurance of quadriceps femoris muscle. Afr J Med Med Sci 1999;28(3-4):195-8. 30. Kitchen S. Eletroterapia: prática baseada em evidências. 11ª ed. São Paulo: Manole; 2003. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 162 Artigo original Mudança na composição corporal e consumo alimentar no período pré-competição da equipe campeã paulista de futebol feminino de campo Change in body composition and food intake during pre-competition of the São Paulo champion professional female soccer players Evelise Boliani*, Camila Pereira Braga*, Ana Carolina de Bianchi*, Juliana Bravo Guerrero*, Mayumi Akiba*, Talita Amaro Pereira*, Nailza Maestá** *Graduandas do curso de Nutrição do Instituto de Biociências/ UNESP-Botucatu, **Docente do Curso de Educação Física – Faculdades Integradas de Botucatu (SP)/UNIFAC Resumo Abstract O objetivo foi avaliar o consumo alimentar e perfil antropométrico pré e pós-competição das jogadoras profissionais de futebol feminino de campo. Fizeram parte 18 atletas (22,62 ± 3,67 anos). Avaliou-se o consumo alimentar no período pré-competição e a composição centesimal dos nutrientes foi calculado pelo NutWin 2.5, comparadas com a recomendação das DRI. Aferiu-se peso corporal e estatura para cálculo do índice de massa corporal (IMC), circunferências e dobras cutâneas para cálculo do percentual de gordura corporal e massa muscular. Utilizou-se estatística descritiva, teste t-student e percentuais dos parâmetros analisados. Para a maioria dos nutrientes houve inadequação, sendo que a ingestão protéica (31,88%) estava acima do adequado e lipídica dentro dos limites recomendáveis. O consumo glicídico (56,85 ± 22,43%), fibras (46,13 ± 28%) e cálcio (49,98 ± 26,14%) estavam abaixo da recomendação. No pré e pós-competição, o estado nutricional encontrou-se dentro da faixa de eutrofismo (19,93 ± 2,72 kg/ m2). Houve aumento significativo de IMC (p = 0,004) no póscompetição, justificado pelo aumento de 29,85% no percentual de massa muscular e redução de 7,4% do percentual de gordura. Apesar da normalidade da massa magra e adiposa, a inadequação alimentar pode prejudicar o desempenho físico das atletas, havendo necessidade de acompanhamento nutricional, visando à adequação da qualidade da dieta. The objective was to assess the food consumption and anthropometric profile before and after competition of professional female soccer players. 18 athletes participated (22.62 ± 3.67 years). Dietary intake in the pre-competition was assessed and composition of nutrients was calculated by NutWin 2.5, compared with the recommendation of the DRI. Body weight and height were measured to calculate body mass index (BMI), circumferences and skinfolds to calculate the percentage of body fat and muscle mass. We used descriptive statistics, t-student test and percentage of the parameters analyzed. Most nutrients were inadequate, and the protein intake (31.88%) was above the appropriate and lipid within the recommended limits. The glucose consumption (56.85 ± 22.43%), fibers (46.13 ± 28%) and calcium (49.98 ± 26.14%) were below the recommendation. In the pre and post-competition, nutritional status was found in the eutrophic range (19.93 ± 2.72 kg/m2). There was a significant increase in BMI (p = 0.004) after competition, justified by an increase of 29.85% in the percentage of muscle mass and reduction of 7.4% in the percentage of fat. Despite the normality of body lean and fat, inadequate food can impair the physical performance of athletes; there is a need for nutritional monitoring to obtain an adequate diet quality. Key-words: female soccer players, anthropometry evaluation, food consumption. Palavras-chave: jogadoras de futebol, avaliação antropométrica, consumo alimentar. Recebido em 26 de março de 2010; aceito em 10 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: Evelise Boliani, Rua Albano Pizzigatti, 167, Santa Rita 13423-346 Piracicaba SP, E-mail: evelise_ [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Introdução O futebol é um dos esportes mais praticados por crianças, jovens e adultos de todo o mundo [1]. Atualmente ultrapassa 190 o número de países filiados à Federação Internacional de Futebol (FIFA), onde mais de 60 milhões de jogadores estão registrados. No Brasil a sua prática ocorre nas escolas e clubes, seja em caráter recreacional ou competitivo. Ao todo são 30 milhões de praticantes (23 milhões ocasionais e 7 milhões regulares), 13 mil equipes amadoras e 11 mil atletas registrados (2 mil atuando no exterior) [2]. A modalidade envolve exercícios intermitentes e a intensidade do esforço físico depende do posicionamento do atleta, qualidade do adversário e importância do jogo. Aproximadamente 88% das atividades de uma partida de futebol são aeróbias e os 12% restantes, atividades anaeróbias de alta intensidade [3]. A prática de atividades esportivas pode proporcionar benefícios à composição corporal, à saúde e à qualidade de vida. No entanto, o esporte competitivo nem sempre representa sinônimo de equilíbrio no organismo. As alterações fisiológicas e os desgastes nutricionais gerados pelo esforço físico podem conduzir o atleta ao limiar da saúde e da doença, se não houver a compensação adequada desses eventos [4-6]. Contudo, a magnitude das respostas ao exercício parece estar associada à interação de diferentes variáveis, como a natureza do estímulo, a duração e intensidade do esforço, o grau de treinamento e o estado nutricional do indivíduo [7]. A nutrição e o treinamento são alguns aspectos fundamentais para que o jogador de futebol tenha bom desempenho. A demanda energética dos treinamentos e competições requer que os jogadores consumam uma dieta balanceada, particularmente rica em carboidratos [8]. A importância da nutrição na performance e saúde de atletas já se encontra suficientemente documentada na literatura [1-3]. Diversos trabalhos têm buscado estabelecer recomendações relativas ao consumo nutricional e estratégias dietéticas que possam otimizar o desempenho e atenuar o impacto negativo do exercício na saúde [6,7]. Junto a isso, nas últimas décadas, várias pesquisas avaliaram, em diferentes grupos atléticos, o quanto a prática alimentar desses indivíduos tem refletido os conhecimentos científicos acumulados na área da nutrição esportiva [9,10]. Estudos mais recentes têm direcionado seu foco para o entendimento das relações entre o padrão de consumo alimentar em populações atléticas e os variados aspectos inerentes ao grupo, dentro e fora da prática esportiva. Esse tipo de abordagem, em pesquisas de consumo alimentar de atletas, confere grande contribuição no estabelecimento de orientações nutricionais específicas que possam auxiliar na melhora do desempenho físico e na manutenção da saúde do indivíduo [11]. 163 No futebol, apesar das poucas informações disponíveis na literatura, os menores valores de gordura corporal podem favorecer o rendimento máximo, visto que a movimentação durante as partidas é extremamente intensa, com alta exigência energética. Assim, a massa corporal excedente, provocada pelo maior acúmulo de tecido adiposo, denominada de massa corporal inativa, acarretará maior dispêndio energético, dificultando sobremaneira o processo de recuperação pós-esforço, visto que na perspectiva do esporte de alto rendimento os períodos destinados à recuperação ao estresse gerado pelas situações de treinamento ou competição dificilmente atendem as reais necessidades do organismo do atleta. A resistência muscular, a força/potência de membros inferiores, a agilidade e a flexibilidade são capacidades físicas consideradas essenciais para a prática do futebol [12]. O objetivo deste artigo foi descrever a prática alimentar de atletas de futebol feminino frente às recomendações nutricionais. Apresentam-se as características do comportamento alimentar e da ingestão dietética e identifica-se a composição corporal das mesmas. Material e métodos A amostra caracterizou-se como não aleatória voluntária, constituída de 18 atletas profissionais do time de futebol feminino, com média de idade de 22,62 ± 3,67 anos, na fase pré e pós-competição. Para a realização do estudo, foi obtida autorização, por escrito, das jogadoras e do técnico responsável pelo time, por meio do Termo de Consentimento Livre e esclarecido. Para a recolha das medidas somáticas, utilizamos balança antropométrica, com escala 0,1 kg; estadiômetro fixo à parede, escala de 0,1 cm; fita métrica de fibra inextensível (precisão de 0,1cm) e compasso CESCORF®. Levamos a cabo a mensuração das seguintes variáveis: a) Peso-medido com o indivíduo descalço, com o mínimo de roupa (top e bermuda); b) Altura - medida com o indivíduo descalço; c) Circunferência do braço (CB) - medida no ponto médio entre os ossos acrômio e olecrano; d) Circunferência da coxa - aferida no ponto médio entre o trocanter e o joelho; e) Circunferência da panturrilha - realizada no ponto mais alto da perna; f ) Dobra cutânea tricipital - medida no mesmo ponto médio da circunferência do braço, no sentido vertical; g) Dobra cutânea suprailíaca - dois centímetros acima da crista ilíaca no sentido diagonal; h) Dobra cutânea da coxa - na parte frontal, no mesmo ponto da circunferência com sentido vertical; i) Dobra cutânea da panturrilha - na parte interna da perna, no mesmo local da circunferência, com posição vertical. 164 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 A partir do peso e altura foi calculado o índice de massa corpórea (IMC), pela equação: peso/estatura2, classificado segundo a Organização Mundial da Saúde [13]. Para se obter o percentual de gordura corporal (%G), primeiramente foi calculada a densidade corporal (D), pela equação proposta por Jackson & Pollock [14], que, para mulheres, utiliza a somatória das dobras cutâneas triciptal, suprailíaca e da coxa. Posteriormente, com este resultado, da densidade, aplicou-se a equação de Siri [15] para a obtenção do %G. A massa muscular foi quantificada pela equação de Lee et al. [16], que utiliza as circunferências do braço, da coxa e da panturrilha, além das dobras do tríceps, da coxa e da panturrilha, bem como a distinção do sexo e da etnia. Consideraram-se valores de normalidade para o percentual de gordura corporal entre 14-24% [17] e para a massa muscular valores acima de 36%. O consumo alimentar, na fase pré-competição, foi avaliado mediante recordatório de 24 horas, com posterior cálculo da composição centesimal dos nutrientes pelo software de Nutrição NutWin 2.5 [18]. Para a verificação da adequação alimentar foram utilizadas as recomendações propostas pela Dietary Reference Intake [19]. Após avaliação nutricional foi realizada uma orientação individualizada sobre a dieta, utilizando o porcionamento dos grupos dos alimentos e uma lista de substituição, respeitando a quantidade equivalente das porções entre os alimentos, a fim de melhorar a alimentação das atletas e consequentemente o desempenho físico. Os resultados foram descritos em tabelas com valores médios e desvio padrão, calculado o teste-t student, percentuais de adequação ou inadequação. A estatística utilizada foi a descritiva calculada por meio do software Stat versão 6.0. Resultados A Figura 1 mostra a composição corporal das jogadoras no período pré e pós- competição. Observando o índice de massa corporal (IMC) o estado nutricional encontra-se dentro da faixa de eutrofismo (19,93 ± 2,72 kg/m2), de acordo com o proposto pela Organização Mundial da Saúde. No período pós-competição, houve um aumento significativo de IMC (p = 0,004), justificado pelo aumento de 29,85% no percentual de massa muscular e com redução de 7,4% do percentual de gordura. Na Tabela I, temos o consumo alimentar das jogadoras no período anterior à competição. Levando-se em consideração as necessidades do elevado gasto energético devido aos treinos, podemos analisar que a ingestão energética está insuficiente para suprir o desgaste físico, pois o consumo calórico (1638,68 ± 692,88kcal) e glicídico (3,48 ± 1,75g/ kg), em média, estão abaixo do ideal (50 kcal/kg e 6-8 g/ kg), respectivamente. Figura 1 - Característica da composição corporal pré e pós-competição das jogadoras de futebol feminino (n = 18). 60 Pré-competição Pós-competição 50 40 30 20 10 0 Peso (kg) IMC MM (kg) % MM %Gordura Tabela I - Consumo energético (kcal total), protéico (g/kg e %), glicídico (g/kg e %) e lipídico (%) de jogadoras de futebol feminino (n = 18). Parâmetros kcal total Prot./kg Carboidratos/kg % Proteína % Carboidrato % Lipídio Média e desvio padrão 1638,68 ± 692,88 1,62 ± 0,57 3,48 ± 1,75 24,80 ± 6,60 49,45 ± 8,35 26,377± 5,44 Ao contrário do observado no consumo energético, a ingestão protéica superou os limites propostos, quando se leva em consideração o sexo, pois mulheres atletas não devem ultrapassar 1,4g/kg/dia, e a média consumida pelas jogadoras foi 1,62 ± 0,57g/kg (Tabela I). O fornecimento de proteína excedendo esse valor resulta na sua maior oxidação ou em estocagem do esqueleto carbônico dos aminoácidos na forma de gordura, em ambos os casos aumentando a formação e excreção de uréia. A oxidação de aminoácidos aumenta o risco de desidratação devido à necessidade da diluição dos seus metabólitos excretados via urina [3]. A Figura 2 mostra que o cálcio da dieta das jogadoras, um dos micronutrientes mais importantes, principalmente para mulheres porque mantém a densidade mineral óssea, está reduzido, com percentual de inadequação de 49,98%, pois o consumo ideal é de no mínimo 1.000 mg/dia. Discussão Em relação à composição corporal, a proporção ideal entre massa gorda e massa magra não só de atletas de futebol, mas também de outras modalidades, ainda parece não estar bem definida, já que tanto uma quantidade de massa corporal, principalmente de massa gorda exagerada, pode fazer com que o atleta fique mais pesado e perca, entre outras capacidades motoras, resistência aeróbia, velocidade e agilidade [20]. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Figura 2 - Adequação e consumo de micronutrientes das jogadoras avaliadas (n = 18). 1000 900 800 700 Valor de referência Inadequação 600 500 400 300 200 100 0 Cálcio (mg) Ferro (mg) Vit. C (mg) Folato (mcg) Observa-se no estudo, que o percentual de gordura está dentro dos limites adequados para mulheres (14-24%), mas em comparação ao recomendável para mulheres adultas está abaixo do ideal (20-25%). Em compensação a massa muscular das jogadoras está dentro do recomendável, tanto para sedentárias quanto para atletas (> 36%). O treinamento físico pode provocar importantes modificações nos parâmetros de composição corporal, sobretudo na gordura corporal e na massa magra, sendo assim um importante fator na regulação e na manutenção da massa corporal. Se, por um lado, os efeitos anabólicos do treinamento físico induzem a um aumento na massa magra, por outro, a gordura corporal relativa tende a sofrer redução [21]. O aumento da massa muscular resulta, possivelmente, em um maior desenvolvimento da resistência e da força muscular. Desse modo, alguns pesquisadores têm conseguido demonstrar algumas modificações morfológicas e bioquímicas que se processam na musculatura esquelética em resposta ao treinamento físico. Geralmente, o treinamento provoca uma hipertrofia nos grupos musculares diretamente envolvidos com o esforço, evidenciando o conceito de especificidade do treinamento. Todavia, os níveis de hipertrofia variam em razão da intensidade do estímulo gerado [21]. A nutrição esportiva tem sido enormemente valorizada, pois se reconhece, na atualidade, que o alimento, quando bem utilizado pode ser de grande valor para o desempenho do atleta [22]. Neste estudo, conforme podemos observar na Tabela I, o consumo alimentar apresenta inadequações. Podemos analisar que a ingestão energética está insuficiente para suprir o desgaste físico, pois o consumo calórico (37,6 ± 15,1 kcal/ kg) e glicídico (4,7 ± 1,8 g/kg), em média, estão abaixo do ideal (50 kcal/kg e 6-8 g/kg, respectivamente). O carboidrato deve ser ingerido antes que ocorra a fadiga muscular, para assegurar que esteja disponível quando os níveis de glicogênio muscular estiverem baixos. A ingestão de 165 carboidratos é também importante para a recuperação após o exercício. O termo recuperação envolve processos nutricionais, como a restauração dos estoques hepáticos e musculares de glicogênio, reposição de fluidos e eletrólitos, regeneração e reparo de lesões causadas pelo exercício e adaptação após o estresse catabólico [3]. As necessidades protéicas de um atleta são maiores do que as de um indivíduo sedentário por causa do reparo de lesões induzidas pelo exercício nas fibras musculares, uso de pequena quantidade de proteína como fonte de energia durante a atividade e ganho de massa magra [23]. Juntamente com o carboidrato, a gordura é a principal fonte de energia durante o exercício [24]. No presente estudo, o percentual encontrado para lipídios foi de 26,377 ± 5,44, sendo esse valor adequado ao recomendado (abaixo de 30% do valor energético total), oriundo em sua maior parte de ácidos graxos monoinsaturados (9,79 ± 2,65 %). O consumo elevado de gordura na dieta é um problema muito comum entre atletas, tornando mais difícil a ingestão das quantidades preconizadas de carboidrato. Entretanto, redução muito intensa no consumo de lipídios não é aconselhável, já que estes participam não só do metabolismo da produção de energia, mas também do transporte de vitaminas lipossolúveis e são componentes essenciais das membranas celulares [21,25]. Os micronutrientes desempenham um papel importante na produção de energia, síntese de hemoglobina, manutenção da massa óssea, função imune e protegem os tecidos dos danos oxidativos [26]. Algumas vitaminas e minerais desempenham papel importante no metabolismo energético; por isso, a inadequação de um ou mais micronutrientes pode comprometer a capacidade aeróbia e anaeróbia [27]. Atletas submetidos a intenso programa de treinamento e competições têm possivelmente alguma dificuldade em manter níveis adequados de vitaminas [28]. O exercício pode causar a redistribuição dos minerais entre os compartimentos corporais [21,29]. A suplementação, tanto de vitaminas quanto de minerais, pode ser útil quando há necessidade de compensar dietas deficitárias devido ao estilo de vida, assegurar demandas de certos nutrientes por causa dos exercícios extremos, corrigir alguma inadequação nutricional ou para atender às recomendações. Geralmente, a suplementação no futebol está associada à dieta inadequada e à ingestão elevada de álcool [30]. No presente estudo, houve um consumo de 217% de vitamina C maior do que o adequado, e inadequação de 35,54% de folato. Conclusão Apesar da normalidade dos parâmetros da composição corporal, tanto para massa adiposa quanto para massa muscular, o mais preocupante se refere à dieta das atletas, visto que existiu uma inadequação alimentar com relação ao excessivo consumo de lipídios e proteínas. 166 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Houve menor consumo de carboidratos que é o nutriente que tem maior efeito sobre o desempenho físico, principalmente para a reposição do glicogênio muscular. Portanto, além do treinamento físico exigido pelo futebol, há necessidade de adequação alimentar, visando um ajuste dietético de macro e micronutrientes, tanto para o sexo quanto para o desgaste físico e, desta forma, garantindo, além do bom desempenho, melhor qualidade de vida das jogadoras. Referências 1. Tomas S, Karim C, Carlo C, Ulrik W. Physiology of soccer: An update. Sports Med 2005;35(6):501-36. 2. Costa L. Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF; 2006. 3. Guerra I, Soares EA, Burini RC. Aspectos nutricionais do futebol de competição. Rev Bras Med Esporte 2001;7(6):200-6. 4. Lukaski HC. Vitamin and mineral status: effects on physical performance. Nutrition 2004 20(7-8):632-44. 5. Thong FSL, Mclean C, Graham TE. Plasma leptin in female athletes: relationship with body fat, reproductive, nutritional, and endocrine factors. J Appl Physiol 2000; 88(6):2037-44. 6. Nieman DC, Henson DA, Smith LL, Utter AC, Vinci DM, Davis JM. Cytokine changes after a marathon race. Appl Physiol 2001;91(1):109-14. 7. American Dietetic Association, Dietitians of Canada, American College of Sports Medicine. Position of American Dietetic Association, Dietitians of Canada, and American College of Sports Medicine: nutrition and athletic performance. J Am Diet Assoc 2001;100(12):1543-56. 8. Sanz-Rico J, Frontera WR, Molé PA, Rivera MA, Rivera-Brown A, Meredith CN. Dietary and performance assessment of elite soccer players during a period of intense training. Int J Sports Nutr 1998;8:230-40. 9. Burke LM, Gollan RA, Read RSD. Dietary intakes and food use of groups of elite Australian male athletes. Int J Sport Nutr 1991;1(4):378-94. 10. Sandoval WM, Heyward VH. Food selection patterns of bodybuilders. Int J Sport Nutr 1991;1(1):61-8. 11. Panza VP, Coelho MSPH, Di Pietro PF, Assis MAA, Vasconcelos FAG. Consumo alimentar de atletas: reflexões sobre recomendações nutricionais, hábitos alimentares e métodos para avaliação do gasto e consumo energéticos. Rev Nutr 2007;20(6):681-92. 12. Bello JRN. A ciência do esporte aplicada ao futsal. Rio de Janeiro: Sprint; 1998. 13. Organización Mundial de la Salud. La asistencia al niño en las guarderías y residencias infantiles. Genebra: OMS; 2002. 14. Jackson AS, Pollock ML, Ward ANN. Generalized equations for predicting body density of women. Med Sci Sports Exerc 1980;12(3):175-82. 15. Siri WE. The gross composition of the body. Adv Biol Med Phys 1956;4:239-80. 16. Lee RC, Wang ZM, Heo M, Ross R, Janssen I, Heymsfield SB. Total-body skeletal muscle mass: development and crossvalidation of anthropometric prediction models. Am J Clin Nutr 2000;72:796-803. 17. Lohman TG. Advances in body composition assessment. Champaign: Human Kinetics; 1992. 18. Anção MS, Cuppari L, Draibe AS, Sigulem D. Programa de apoio à nutrição – NutWin. Versão: 1.5. São Paulo: Departamento de Informática em Saúde – SPDM – UNIFESP/EPM; 2002. Programa de computador. 1 CD-ROM. 19. Food and Nutrition Board, the Institute of Medicine of the National Academy of Sciences 2002: Dietary reference intakes for energy, carbohydrate, fiber, fat, protein, and amino acids (macronutrients). Washintong: Nathional Academies Press; 2002. 20. Mantovani TVL, Rodrigues GAM, Miranda JMQ, Palmeira MV, Cal Abad CC, Wichi RB. Composição corporal e limiar anaeróbio de jogadores de futebol das categorias de base. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte 2008;7(1):25-33. 21. Cyrino ES, Altimari LR, Okano AH, Coelho CF. Efeitos do treinamento de futsal sobre a composição corporal e o desempenho motor de jovens atletas. Rev Bras Ciênc Mov 2002;10(1):41-46. 22. Wolinsky I, Hickson JF. Nutrição no exercício e no esporte. 2ª ed. São Paulo: Roca; 1996. 23. Clarkson PM. Minerals: exercise performance and supplementation in athletes. J Sports Sci 1991;9:91-116. 24. Economos CD, Bortz SS, Nelson ME. Nutritional practices of elite athletes. Practical recommendations. Sports Med 1993;16:381-99. 25. Williams C. Macronutrients and performance. J Sports Sci 1995;13:S1-S10. 26. American College of Sports Medicine, American Dietetic Association, Dietitians of Canada. Joint position stand: nutrition & athletic performance. Med Sci Sports Exerc 2000;32:2. 27. Fogelholm M. Vitamins, minerals and supplementation in soccer. J Sports Sci 1994; 12:S23-7. 28. Rokitzki L, Hinkel S, Klemp C, Cufi D, Keul J. Dietary, serum and urine ascorbic acid status in male athletes. Int J Sports Med 1994;15:435-40. 29. Scheidtweiler CE, Gelhau I, Mücke S, Baum M, Liesen H. Minerals concentrations in blood compartments before and after intensive physical exercise during a training camp for soccer players. Int J Sports Med 1997;18:S134. 30. Burke LM, Read RS. Dietary supplements in sport. Sports Med 1993;15:43-65. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 167 Artigo original Maturação biológica de atletas de ginástica artística do Rio de Janeiro Biological maturation of female gymnastics athletes from Rio de Janeiro Gisele Valle da Silva, Esp.*, Astrogildo Vianna de Oliveira-Júnior, M.Sc.*, Patrícia Arruda de Albuquerque, M. Sc.** *Universidade do Estado do Rio de Janeiro,**Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Estácio de Sá, Universidade Gama Filho Resumo Abstract O estudo comparou indicadores de maturação biológica entre atletas femininas de Ginástica Artística do Rio de Janeiro, de outros países e populações não-atléticas de idade similar. Foram observadas 9 ginastas nas categorias pré-infantil (9-10 anos) e infantil (11-12 anos), com idade cronológica de 11 ± 3 anos. Para coleta de dados utilizou-se um questionário e um exame radiológico do punho e da mão esquerda. Apesar da reduzida idade cronológica, as ginastas eram submetidas a uma carga de treinamento semelhante àquela imposta a atletas de elite. Além disso, de acordo com os indicadores adotados, apresentavam tendência a atraso puberal. The study compared indicators of biological maturation between female gymnastics’ athletes from Rio de Janeiro, athletes from other countries, and non-athletical girls of a similar age. A group of 9 gymnasts aged 9 to 12 years old was observed (mean = 11 ± 3 yrs). The biological maturation was assessed by means of a questionnaire and radiological examination of the left wrist and hand. Despite their young chronological age, the gymnasts had a workload similar to elite athletes’ training work-outs. Furthermore, according to the indicators employed, the subjects showed a tendency for delayed puberty. Palavras-chave: maturação biológica, atletas, atraso puberal. Key-words: biological maturation, athletes, delayed puberty. Recebido em 12 de julho de 2010; aceito em 13 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: Gisele Silva, Departamento de Desportos Individuais, Rua São Francisco Xavier 524/8133-F, Instituto de Educação Física e Desportos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 20550-013 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected], [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 168 Introdução A Ginástica Artística é um desporto que exige muito do atleta no que se refere ao aprimoramento das técnicas de movimento, visto que o bom desempenho nas competições é resultado da capacidade de executá-lo com a técnica descrita nos códigos de pontuação. Para que os movimentos sejam executados com a técnica exigida, os atletas são submetidos a cargas de treinamento elevadas. Tofler et al. [1] sugerem que a carga semanal de treinamento de ginastas é de cerca de 18 horas. Quando se atinge a elite do desporto, os treinamentos podem chegar a 30-40 horas semanais. Um fato que chama a atenção em relação ao treinamento para Ginástica Artística é a idade em que os atletas o iniciam, entre 5 e 7 anos [2]. Em ambos os sexos, aos 13 e 16 anos atingem as categorias superiores, juvenil e adulto respectivamente. Nessa etapa, os atletas já se encontram em alto nível de treinamento, tendo em vista que alguns já representam seus países em campeonatos internacionais e obtêm resultados expressivos. Devido à idade precoce de início da prática da modalidade visando o rendimento, a literatura discute a possibilidade de atrasos no desenvolvimento maturacional dos atletas e suas possíveis implicações. Essas discussões ocorrem porque nas fases da infância e adolescência muitas mudanças físicas e fisiológicas são verificadas em todos os indivíduos. Tais mudanças ocorrem em diferentes períodos e podem ter velocidades distintas em sujeitos com a mesma idade cronológica. No caso específico da Ginástica Artística, acredita-se que alguns fatores decorrentes do treinamento poderiam provocar alterações no desenvolvimento dos praticantes. Dentre os possíveis fatores, podem ser citados a restrição calórica para controle do percentual de gordura e massa corporal, o estresse emocional e o grande volume semanal de treinamento [1,3]. Em virtude da recente popularização do desporto no Brasil, poucos estudos apresentam dados referentes ao desenvolvimento das praticantes da modalidade no país e suas características antropométricas e nutricionais [4,5]. Assim, o estudo teve como objetivo comparar indicadores de maturação biológica em atletas femininas de ginástica artística do município do Rio de Janeiro com os indicadores habitualmente propostos na literatura para populações nãoatléticas de idade similar e de ginastas de outros países. Desenvolvimento de crianças e adolescentes Infância e adolescência são períodos em que diversos fenômenos ocorrem de forma intensa no organismo, para que os indivíduos atinjam a maturidade biológica. No aspecto físico, essas modificações ocorrem mais intensamente no período da puberdade que, de acordo com Zeferino et al. [6], é um fenômeno biológico de transformações físicas e fisiológicas. Chipkevitch [7] afirma que esse fenômeno tem duração de 3 a 4 anos, iniciando-se, em média, aos 9,7 anos na população brasileira do sexo feminino. A puberdade varia no seu início, ritmo e intensidade de progressão de acordo com fatores genéticos e ambientais [8] e também entre indivíduos de um mesmo grupo [7,9]. Isso levou Martin et al. [10] a afirmarem que, durante a puberdade, o melhor critério a ser utilizado para a caracterização do indivíduo não seria a idade cronológica, mas sim a biológica, que corresponde à idade determinada pelo nível de maturação dos diversos órgãos. Vale frisar que a puberdade não deve ser confundida com adolescência, pois esta se refere a um fenômeno psicossocial [11], com duração maior que a puberdade e classificada pela Organização Mundial de Saúde [12] na faixa etária de 10 a 19 anos. Com o objetivo de avaliar a maturidade biológica diversos métodos podem ser utilizados, como a avaliação somática, esquelética, dental e sexual [9,13]. A avaliação somática ou morfológica pode ser feita por meio da observação de medidas antropométricas relacionadas ao crescimento físico [14]. A estatura e a massa corporal total (MCT) podem ser empregadas como indicadores da maturação somática, pela comparação dos dados de um indivíduo com valores de referência para indivíduos com a mesma idade cronológica. Os valores de referência geralmente são apresentados na forma de gráficos, nos quais se indica em que percentil o indivíduo ou grupo avaliado se encontra. A avaliação da maturação esquelética a partir da determinação da idade óssea [15] é o procedimento mais rigoroso de determinação da idade maturacional dos indivíduos [16] e os classifica como maturados precoces ou tardios, se estes apresentarem idade óssea com variação superior a 1 ano para mais ou menos em relação à idade cronológica [13]. Fragoso e Vieira [9] afirmam que é possível encontrar indivíduos com a mesma idade cronológica que tenham idades ósseas distantes em até 6 anos. A relação da idade óssea com a idade cronológica de alguns grupos de ginastas e os métodos utilizados para a determinação da idade óssea são apresentados no Quadro I. A literatura disponibiliza diversos métodos e os mesmos apresentam diferenças em seus resultados [13]. Porém, estas diferenças não serão discutidas neste estudo, apenas os resultados obtidos pelos autores. Quadro 1 - Relação entre idade óssea e idade cronológica de ginastas. Autor Caldorone et al. Theintz et al. Weimann et al. Bass et al. Ano 1986 1993 1999 2000 Região/País Europa Suíça Alemanha Austrália Resultados Compatível com a IC Atraso médio de 1 ano Atraso médio de 1,7 anos Atraso médio de 1,3 (± 0,1) anos N 52 22 22 83 Método TW-2 TW-2 Greulinch & Pyle Greulinch and Pyle Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 No sexo feminino, pode-se avaliar a maturação sexual a partir da determinação do grau de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários mamas (M) e pelos pubianos (P) [17]. Isso possibilita classificar um indivíduo como prépubere, quando se encontra no estágio 1 de desenvolvimento; púbere, quando se encontra nos estágios 2, 3 e 4 e pós-púbere, no estágio 5. Outra forma de avaliar a maturação sexual no sexo feminino é pela determinação da ocorrência da menarca [7,18,19]. Segundo Colli [20], há maior ocorrência do evento nos estágios maturacionais M4 (mamas) e P4 (pilosidade pubiana). Os Quadros II e III apresentam a idade média de ocorrência da menarca de algumas populações brasileiras e de ginastas, respectivamente. Fatores que determinam ou influenciam o crescimento das atletas Tanner [17] aponta o físico adulto, clima, raça, estação do ano, hereditariedade, nutrição, doenças, exercícios, distúrbios psicológicos, classe socioeconômica, tamanho da família e tendência secular como fatores influenciadores do processo de crescimento e desenvolvimento. Desses fatores, os que mais influenciam ou são influenciados pelo treinamento de Ginástica Artística são: físico adulto, hereditariedade, nutrição, prática de atividade física e distúrbios psicológicos. O físico adulto e a hereditariedade são fatores genéticos que, segundo Rogol et al. [21], influenciam, de forma significativa, a estatura adulta, o tempo de crescimento, o ritmo e a taxa de desenvolvimento sexual e a maturação esquelética. Esses fatores, segundo os mesmos autores, interagem com os fatores ambientais durante todo período de crescimento. No caso de atletas, a prática de atividade física se dá no contexto do treinamento desportivo. O treinamento da ginástica artística pode ser caracterizado como intenso, repetitivo e de alto impacto, podendo provocar estresse repetitivo no sistema musculoesquelético que se encontra em desenvolvimento [1]. 169 Os distúrbios psicológicos podem surgir a partir do estresse psicológico que as atletas são submetidas. Além disso, a excessiva preocupação com a MCT “ideal” pode provocar alterações na autoimagem da ginasta, favorecendo distúrbios alimentares [22]. A alimentação das atletas de ginástica artística é rigidamente controlada com o objetivo de que estas mantenham uma MCT “ideal” para uma boa apresentação nas competições, tendo em vista a exigência estética do desporto e a melhora na eficiência mecânica. Em virtude dessa necessidade, Weimann et al. [3] e Ribeiro [4] apontam em seus estudos que a ingestão calórica das ginastas seria inadequada para as suas idades. Monte et al. [23] apontam como fatores determinantes para a velocidade de multiplicação da cartilagem de crescimento, entre outros, a atividade física e as concentrações de aminoácidos para a síntese da matriz proteica e minerais como Ca, Mg, P e Zn. Silva et al. [8], ao associar a prática excessiva de atividade com uma nutrição inadequada, afirmam que estes podem diminuir a velocidade de crescimento e provocar uma menor mineralização óssea, além de reduzir o crescimento e diminuir os níveis de IGF-I. Além disso, segundo Monte et al.[23], os principais hormônios responsáveis pela modulação do crescimento, como IGFs, GH, T3, esteróides sexuais, cortisol, PTH, 1,25vit.D3 e a insulina poderiam ter suas concentrações alteradas pela integração dos estímulos do meio ambiente, da nutrição e da estabilidade psicossocial no sistema límbico. Como consequência dos distúrbios nutricionais, endócrinos e psicológicos, Tofler et al. [1] e Mantoanelli et al. [22] apontam a possibilidade de atletas desenvolverem a tríade da atleta, caracterizada pela desordem alimentar, osteoporose e disfunção menstrual. Material e métodos O estudo, realizado no período de maio a julho de 2005, observou uma amostra de 9 ginastas integrantes das 2 principais equipes do município do Rio de Janeiro que participa- Quadro II - Idade média da menarca de algumas populações brasileiras. Autor Ano Estado Bem e Petroski 1988 Santa Catarina Guedes e Guedes Oliveira Júnior Petroski et al. Moreira et al. 1991 1996 1999 2004 Paraná Rio de Janeiro Santa Catarina Rio de Janeiro Média – sd 12,83 – 1,06 12,46 – 1,04 12,39 – x 12,17 – 1,33 12,56 – 1,15 12,19 – 1,51 N 209 294 193 261 1070 118 População Escolares reg. Serrana Escolares reg. Litorânea Moças de 12 a 14 anos Escolares Escolares Sambistas Quadro III - Idade da menarca de atletas de ginástica artística. Autor Ano Nível de competição Caldarone et al. 1986 Alto rendimento Claessens et al. Theintz et al. Baxter-Jones, AD, Helms PJ Skierska, Elzbieta 1992 1993 1996 1998 Alto rendimento Alto rendimento Atletas britânicas Alto rendimento Média – s.d. No grupo com idade média de 14 ± 0.9, 94% não apresentavam menarca 15,6 – 2,1 14,5 – 1,2 14,3 – x 14,4 - 1,2 N 69 201 11 81 73 170 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 ram de campeonatos nacionais na temporada de 2004. Essa amostra representa 82% do total de atletas do município, nas categorias estudadas. Para a realização do estudo, o primeiro contato foi feito com os técnicos das equipes para o pedido de colaboração e apresentação do objetivo e relevância do estudo. Todos os procedimentos foram realizados após a autorização por escrito de um dos responsáveis legais pelas ginastas após o devido esclarecimento das peculiaridades e propósito da pesquisa (termo de consentimento pós-informado). O grupo foi composto por ginastas de 2 categorias: pré-infantil (9-10anos) e infantil (11-12 anos), com idade cronológica média de 11,3 ± 1,0 anos (idade decimal). O tempo médio de prática da modalidade foi de 4,8 ± 1,0 anos, a frequência semanal de treinamento de 6 vezes e a média semanal de treinamento de 32,3 ± 4,7 horas. A estatura média era de 137,9 ± 7,3 cm e a MCT média, 30,7 ± 4,0 kg. Estas medidas antropométricas foram declaradas pelas atletas. Considerando que os técnicos avaliavam regularmente suas atletas e que a MCT era avaliada diariamente, acredita-se na confiabilidade das informações prestadas. Utilizou-se na coleta de dados um questionário adaptado de Fragoso [24] e um exame radiológico do punho e da mão esquerda [15]. O questionário compreendeu questões acerca de dados antropométricos e biológicos das ginastas, seus pais e irmãos; informações sobre o histórico de atividade física e determinação do estágio de maturação sexual da ginasta. As questões aproveitadas para o estudo foram as que se referiam à data de nascimento da atleta, MCT, estatura, ocorrência da menarca, tempo de prática da modalidade e autoavaliação do estágio de maturação sexual das mamas e da pilosidade pubiana. A avaliação somática foi feita pelo cruzamento dos dados referentes a MCT e estatura com os valores de referência para a evolução pondero-estatural na população brasileira do sexo feminino, conforme proposto por Marques et al. apud Monte et al. [23]. Já que o esqueleto é considerado um bom indicador de maturação porque seu desenvolvimento prolonga-se durante todo o processo de crescimento, e a sua evolução desde a cartilagem até a ossificação total na fase adulta pode ser facilmente registrada radiologicamente [16], a determinação da idade óssea foi utilizada com o auxílio da metodologia denominada TW3, proposta por Tanner et al. [15]. Ela consiste na avaliação do rádio, ulna e ossos curtos, totalizando 13 ossos da mão e do punho esquerdos. Após serem individualmente comparados com as figuras de um atlas são atribuídas letras indicando o estágio maturacional de cada centro de ossificação observado, que são transcritas para o programa de computador RUS BoneAge version 1.0 da AlphaBrigde Computers, para o cálculo da idade esquelética. A metodologia utilizada para a determinação do estágio de maturação sexual foi a proposta por Tanner [17] na qual se observa o desenvolvimento das mamas e da pilosidade pubiana, valendo-se para isso dos modelos fotográficos apresentados por Chipkevitch [7]. A menarca, enfim, foi avaliada através do método status quo, ou seja, a ginasta respondia se o evento já havia ocorrido ou não. Em caso afirmativo, foi aplicado o método retrospectivo, questionamento de quando a menarca havia ocorrido, para determinação da data de sua ocorrência. A comparação entre idade óssea e idade cronológica foi feita por meio do teste t- Student para amostras pareadas (p < 0,05), com auxílio do programa GraphPad Prism 4 for Windows versão 4.02. Resultados Considerando a frequência e o tempo médio semanal de treinamento, 6 vezes e 32,3 ± 4,7 horas respectivamente, o grupo se assemelha às atletas de elite do desporto [1]. Quatro ginastas eram submetidas a uma sessão de treinamento diário e cinco, duas sessões. A idade óssea média do grupo foi de 10,6 ± 1,1 anos e a cronológica, 11,3 ± 1,0 anos. A tabela I apresenta as idades cronológica (IC) e óssea (IO) de todas as ginastas e a situação maturacional, considerando a relação entre os dois dados. Verifica-se que duas ginastas apresentavam idade óssea atrasada em relação à idade cronológica e sete, equivalência. Tabela I - IC, e IO das atletas e situação maturacional a partir da relação dos dois dados. Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 IC IO 9,7 11,5 9,7 11,7 12,4 11,8 12,2 11,7 10,6 10,1 10,8 8,3 11,4 12,2 10,3 11,2 10,9 10,1 Desenvolvimento maturacional Normal Normal Atrasada Normal Normal Atrasada Normal Normal Normal P = 0,0103 (teste t-Student) A estatura das ginastas pode ser observada na Tabela II. Uma vez comparadas com os valores de referência da Figura 1 para as respectivas idades cronológicas, percebe-se que uma ginasta se encontra entre os percentis 90 e 75, duas entre 25 e 10, duas entre 10 e 2,5 e quatro no percentil 2,5 ou abaixo. Já os dados da MCT indicam que uma ginasta encontra-se acima do percentil 75, duas entre 50 e 25, três entre 25 e 10 e três entre o 10 e 2,5. Os valores para os índices de massa corporal (IMC) do grupo (tabela II), comparados aos propostos por Sichieri e Allam [25] para a população brasileira do sexo feminino, possibilitaram classificar duas ginastas como de baixo peso e cinco como eutróficas. Duas ginastas não puderam ser classificadas, visto que os dados de referência eram para indivíduos a partir dos 10 anos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Tabela II - Estatura, MCT, IMC e sua classificação. Estatura (cm) 134,0 135,0 124,0 138,0 136,0 144,0 138,0 142,0 150,0 Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 MCT (Kg) IMC (Kg/m2) 27,7 26,7 27,0 29,0 29,0 32,5 31,5 33,5 39,2 15,4 14,7 17,6 15,2 15,7 15,7 16,5 16,6 17,4 Classificação Baixo peso Eutrófica Baixo peso Eutrófica Eutrófica Eutrófica Eutrófica Em relação aos estágios de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários mamas e pilosidade pubiana (Tabela III), considerando apenas a classificação M1P1 como indicativa da fase pré-púbere, pode-se classificar três atletas como prépúberes e seis como púberes. Das atletas púberes, três estavam no estágio inicial desta fase, M1P2 ou M2P1. Figura 1 - Estatura e MCT das atletas de ginástica artística. Peso em kg 6 F Altura 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 90 85 180 97,5 175 90 170 75 165 50 160 25 155 10 2,5 150 97,5 90 75 50 25 Peso 5 6 10 2,5 7 8 Altura em cm 180 175 170 165 160 155 150 145 140 135 130 125 120 115 112 105 100 95 90 48 44 40 36 32 28 24 20 16 12 8 4 5 96 92 88 84 80 76 72 68 64 60 56 52 48 44 40 36 Peso em kg Altura em cm Feminino 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Idade em anos Estatura e MCT das atletas de ginástica artística (n = 9) Valores médios de estatura e MCT do grupo Tabela III - Frequência para o estágio maturacional de atletas de ginástica artística de acordo com a relação entre os estágios de desenvolvimento das mamas (Mx) e pelos púbicos (Px). P1 P2 P3 M1 3 1 M2 2 2 1 171 Quanto à ocorrência da menarca, todas as atletas declararam que este evento ainda não havia ocorrido. Discussão A idade óssea média do grupo (10,6 ± 1,1 anos) apresentou diferença significativa (p = 0,0103) em relação à idade cronológica (11,3 ± 1,0 anos), o que leva a pensar que este grupo apresenta um atraso na maturação óssea semelhante às ginastas estudadas por Bass et al. [26], Theintz et al. [27] e Weimann et al. [3], apresentados no Quadro 1. O desenvolvimento maturacional, que também relaciona IO e IC, apresenta a maior parte das atletas com o desenvolvimento considerado normal. Mesmo o grupo sendo considerado normal neste aspecto, é importante mencionar que várias atletas encontravam-se próximas ao limite inferior da classificação. A estatura média do grupo situou-se entre os percentis 10 e 2,5, isto é, inferior aos valores médios da população brasileira estudada por Marques et al. apud Monte et al. [23]. Resultados semelhantes foram verificados em outras populações de ginastas, quando comparadas às suas populações de referência. Claessens et al. [28] verificaram que a estatura média de seu grupo situou-se entre os percentis <1 e 13 de uma população suíça; Weimann et al. [3] abaixo do percentil 12 de uma população alemã; Malina [29] entre os percentis ≤ 10 e <50 de uma população americana e Caldarone et al. [30], Baxter-Jones e Helms [31] e Damsgaard et al. [32] abaixo da média de populações americana, britânica e dinamarquesa respectivamente. A MCT média do grupo situou-se entre os percentis 25 e 10, mostrando que as ginastas, além de mais baixas, possuíam menor MCT que a referência. Caldarone et al.[30], Claessens et al. [28], Weimann et al.[3] e Malina [29] obtiveram resultados semelhantes em seus grupos de ginastas: abaixo da média de uma população americana; entre os percentis 6 e 15 de uma população suíça; abaixo do percentil 12 de uma população alemã e entre os percentis 10 e <50 de uma população americana respectivamente. Mesmo apresentando valores inferiores que a média para estatura e MCT, o IMC da maioria das ginastas foi classificado como eutrófico; ou seja, a relação MCT-estatura foi classificada como adequada. Porém, considerando que a nutrição é um fator que influencia o desenvolvimento, que este método possui limitações [6] e já foi verificado em alguns grupos de ginastas déficits nutricionais e/ou consumo energético inadequado para idade [4,3,26], este índice nutricional deve ser utilizado em conjunto com um rigoroso controle alimentar, já que isoladamente pode não retratar a realidade nutricional das ginastas. O desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários mama e pilosidade pubiana faz pensar em atraso no desenvolvimento sexual do grupo: apesar de uma idade média de 11 anos, em sua maior parte as atletas encontravam-se 172 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 no início da puberdade, quando essa fase inicia-se, em média, aos 9,7 anos de idade na população brasileira do sexo feminino. Devido à idade cronológica média do grupo, a utilização da ocorrência da menarca como indicativo da maturação sexual não era o parâmetro mais aconselhado. Nenhuma atleta relatou a ocorrência do evento. Os dados de algumas populações brasileiras, apresentados no Quadro 2, indicam que a ocorrência do evento ocorre, em média, acima dos 12 anos. Considerando a individualidade biológica, algumas ginastas que apresentaram atraso maturacional em algum aspecto estudado podem, posteriormente, recuperar este atraso (catch up). Fenômeno similar foi relatado por autores como Bass et al. [26], para velocidade de crescimento em meninas que abandonaram a ginástica artística e por Baxter-Jones e Helms [31] para a estatura num grupo de ginasta. Assim, é necessário um acompanhamento do desenvolvimento biológico em prazo mais longo, com repetidas avaliações com o intuito de verificar se há recuperação ou atraso mais significativo do desenvolvimento, que possa causar malefício a saúde ou disso decorrer. Conclusão As ginastas observadas tinham idade cronológica reduzida, pertenciam a categorias iniciais da modalidade e se encontravam nos estágios iniciais de sua maturação biológica. Apesar disso, eram submetidas a uma carga de treinamento semelhante àquela observada em praticantes classificadas como de elite. As atletas apresentaram algumas características antropométricas e sexuais que se aproximavam daquela de outros grupos de ginastas e, consequentemente, distanciavam-se das médias para populações não-atléticas. De forma geral, isso indica tendência a um possível atraso puberal. Os fatores que poderiam estar contribuindo para esse atraso no desenvolvimento das atletas, sejam eles genéticos ou ambientais, não foram profundamente investigados no questionário distribuído, logo não foi possível analisá-los ou discriminá-los mais precisamente. Porém, diversos estudos indicam que fatores como nutrição, carga de treinamento, estresse psicológico, dentre outros, estão presentes no dia-adia de atletas de ginástica artística, independentemente de sua idade ou categoria. Estudos adicionais são desejáveis para identificação da presença concreta e contribuição relativa de cada um desses fatores, bem como sua contribuição relativa ao processo de desenvolvimento e maturação biológica. Agradecimentos Agradecemos ao Prof. Dr. Paulo T.V. Farinatti pela revisão do texto e comentários de forma geral. Referências 1. Tofler IR, Stryer BK, Micheli LJ, Herman LR. Physical and emotional problems of elite female gymnasts. N Engl J Med 1996;335(4):281-3. 2. Caine D, Lewis R, O’Connor P, Howe W, Bass S. Does gymnastics training inhibit growth of females? Clin J Sport Med 2001;11(4): 260-70. 3. Weimann E, Blum WF, Witzel C, Schwidergall S, Böhles HJ. Hypoleptinemia in female and male elite gymnasts. Eur J Clin Invest 1999;29:853-60. 4. Ribeiro BG. Avaliação do estado nutricional de atletas de ginástica olímpica do Rio de Janeiro e São Paulo. Rev Nutr 2002;15(2):181-91. 5. Paiva MFNDB. Avaliação antropométrica: estudo comparativo do crescimento de crianças praticantes e não praticantes de ginástica olímpica [dissertação]. Santa Catarina: Universidade Federal de Santa Catarina; 2001. 6. Zeferino AMB, Barros Filho AA, Bettiol H, Barbieri MA. Acompanhamento do crescimento. J Pediatr 2003;79:23-32. 7. Chipkevitch E. Puberdade e adolescência: aspectos biológicos, clínicos e psicossociais. São Paulo: Roca; 1995. 8. Silva C, Teixeira A, Goldberg T. O esporte e suas implicações na saúde óssea de atletas adolescentes. Rev Bras Med Esporte 2003;9(6):426-431. 9. Fragoso MICJ, Vieira MFS. Morfologia e crescimento. Curso prático. Cruz Quebrada: Faculdade de Motricidade Humana; 2000. 10. Martin R, Vezu R, Parra S, Arena S, Bojikian L, Bohme M. Auto-avaliação da maturação sexual masculina por meio da utilização de desenhos e fotos. Rev Paul Educ Fís 2001;15(2):212-22. 11. Coll C, Palacios J, Marchesi A. Desenvolvimento psicológico e educacional: Psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. 12. World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Geneve: WHO; 1995. 13. Malina RM, Bouchard C. Growth, maturation, and physical activity. Champaign: Human Kinetics; 1991. 14. Guedes DP, Guedes JERP. Influência do nível sócio-econômico e do aspecto racial em variáveis antropométricas e motoras de moças maturadas e não-maturadas. Rev Bras Ciênc Mov 1991;5(2):41-51. 15. Tanner JM, Healy MJR, Goldstein H, Cameron N. Assessment of skeletal maturity and prediction of adult height – TW3 method. Philadelphia: W.B. Saunders; 2001. 16. Fragoso MICJ, Vieira MFS. Morfologia e Crescimento. Cruz Quebrada: Faculdade de Motricidade Humana; 2006. 17. Tanner JM. Growth at adolescence. Oxford: Blackwell; 1962. 18. Bem MFL, Petroski EL. Maturação sexual em escolares de diferentes regiões climáticas. Rev Bras Ciênc Mov 1988;2(4):27-31. 19. Moreira DM, Fragoso MIJ, Oliveira Júnior AV. Níveis maturacional e socioeconômico de jovens sambistas do Rio de Janeiro. Rev Bras Med Esporte 2004;10(1):1-8. 20. Colli A. Inter-relações entre características de maturação sexual em adolescentes brasileiros. II – sexo feminino. Pediatria (São Paulo) 1984;6:63-68. 21. Rogol AD, Roemmich JN, Clark PA. Growth at puberty. J Adolesc Health 2002;31(6):192-200. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 22. Mantoanelli G, Vitalle MSS, Amancio OMS. Amenorréia e osteoporose em adolescentes atletas. Rev Nutr 2002;15(3):319-32. 23. Monte O, Longui CA, Calliari LEP. Endocrinologia para o pediatra. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 1998. 24. Fragoso MICJ. Desenvolvimento morfológico: Indicadores biossociais e variação morfológica entre os 3 e 11 anos [dissertação]. Lisboa: CDI, 1996. 25. Sichieri R, Allam VLC. Avaliação do estado nutricional de adolescentes brasileiros através do índice de massa corporal. J Pediatr 1996;72(2):80-84. 26. Bass S, Bradney M, Pearce G, Hendrich E, Inge K, Stuckey S. Short stature and delayed puberty in gymnasts: influence of selection bias on leg length and the duration of training on trunk length. J Pediatr 2000;136(2):149-55. 27. Theintz GE, Howald H, Weiss U, Sizonenko PC. Evidence for a reduction of growth potential in adolescent female gymnasts. J Pediatr 1993;122(2):306-13. 173 28. Claessens AL, Malina RM, Lefreve J, Beunen G, Stijnen V, Maes H, Veer FM. Growth and menarcheal status of elite female gymnasts. Med Sci Sports Exerc 1992;24(7):755-63. 29. Malina RM. Growth and maturation: basic principles and effects of training. Children and Youth in Organized Sports. Portugal: Imprensa da Universidade de Coimbra; 2004. 30. Caldarone G, Leglise M, Giampietro M, Berlutti G. Anthropometric measurements, body composition, biological maturation and growth predictions in young female gymnasts of high agonistic level. J Sports Med 1986;26:263-73. 31. Baxter-Jones ADG, Helms PJ. Effects of training at a young age: A review of the training of young athletes (TOYA) study. Pediatric Exercise Science 1996;8:310-27. 32. Damsgaard R, Bencke J, Matthiesen G, Petersen JH, Müller J. Body proportions, body composition and pubertal development of children in competitive sports. Scand J Med Sci Sports 2001;11:5460. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 174 Artigo original Reprodutibilidade e comportamento da frequência cardíaca durante aulas de ginástica localizada Reproducibility and behavior of heart rate during fitness sessions Rafael Ayres Montenegro*, Jonas Lírio Gurgel**, Flávia Porto Melo Ferreira**, Alexandre Hideki Okano*** *Grupo de Estudo e Pesquisa em Biologia Integrativa do Exercício – GEPEBIEX, Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, **Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde – LABSAU, Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, Instituto de Educação Física, Universidade Federal Fluminense – UFF, ***Grupo de Estudo e Pesquisa em Biologia Integrativa do Exercício – GEPEBIEX. Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Resumo Abstract Ginástica localizada (GL), embora amplamente praticada, não possui informações referentes às repostas da frequência cardíaca (FC) durante a aula e a reprodutibilidade destas medidas. Desse modo, os objetivos foram verificar a reprodutibilidade da FC através de sua monitoração em aulas de GL e analisar seu comportamento nas aulas. Participaram do estudo 30 indivíduos (14 homens e 16 mulheres) com idade média de 21,9 ± 4,3 anos, massa corporal de 59,5 ± 10,3kg, estatura de 166,6 ± 8,4cm. Aplicaram-se duas aulas (50 min) de GL idênticas, ministradas pelo mesmo professor, temperatura ambiente controlada, com intervalo de uma semana entre as sessões. Foram constituídas por alongamento/aquecimento envolvendo todos os seguimentos corporais (20 min); parte principal enfatizando exercícios localizados de membros inferiores (25 min) e esfriamento/alongamento (5 min). Utilizou-se 2 séries de 15 repetições para todos os exercícios abordados, exceto nos exercícios abdominais, 2 séries de 30 repetições. FC foi medida pelo método pulsatório (na artéria radial por 15 segundos, sendo multiplicado o valor resultante por quatro) a cada 5 min, totalizando 10 medidas por sessão. Correlação intra-classe indicou alta reprodutibilidade (r = 0,76; p < 0,01) nas medidas de FC obtidas pelo método pulsatório radial entre as aulas, além disso, o teste T de Student para amostras dependentes não evidenciou diferenças significantes (p > 0,05) entre as médias (%FCMáx) obtidas entre as aulas de GL1 (58,80 ± 7,82) e GL2 (57,03 ± 8,59). Podemos concluir que o método de medida da FC pulsatória constitui-se numa maneira de controle da intensidade do esforço em aulas de GL. Além disso, o estresse cardiorrespiratório gerado pela aula de GL parece ser suficiente para promover melhorias na aptidão aeróbia. Physical fitness (PF), although widely performed, has no information regarding heart rate (HR) responses during its performance. The objectives of this study were to investigate during fitness sessions the reproducibility of HR control and to analyze its behavior. The study included 30 subjects (14 men and 16 women) with mean age of 21.9 ± 4.3 years, body mass 59.5 ± 10.3 kg, height 166.6 ± 8.4 cm. Two sessions of (50min) of identical exercises, controlled temperature, and same teacher were carried out, with one week interval between sessions. The exercises consisted of stretching and full body warm-up (20 minutes), emphasizing physical fitness of lower limbs (25min) and cooling down/stretching (5min). We used 2 sets of 15 repetitions for all exercises, except for abdominal exercises, 2 sets of 30 repetitions. HR was measured manually by taking the pulse (at the radial artery for 15 seconds, and the resulting value multiplied by four) every 5 minutes, totaling 10 measurements per session. Intra-class correlation showed high reproducibility (r = 0.76, p <0.01) in HR measurements obtained by taking the radial pulse artery between sessions. In addition, the Student t test for dependent samples showed no significant differences (p > 0.05) between average (% MHR) obtained in the PF1 (57.03 ± 8.59) and PF2 (58.80 ± 7.82). We conclude that the HR measured manually is a way to control the intensity of effort in PF sessions. Furthermore, the cardiorespiratory stress generated by the PF sessions seems to be sufficient to promote improvements in aerobic fitness. Key-words: gymnastics, heart rate, reproducibility of results. Palavras-chave: ginástica, frequência cardíaca, reprodutibilidade dos testes. Recebido em 23 de agosto de 2010; aceito 16 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: Esp. Rafael Ayres Montenegro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU-UERJ), Rua São Francisco Xavier 524, 80 andar, sala 8133, Bloco F Maracanã, 20599-900 Rio de Janeiro RJ, E-mail:[email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Introdução Material e métodos A ginástica localizada (GL) é uma modalidade de exercício físico tradicional e eficaz, muito utilizada em centros de treinamento, como as academias, e tendo grande adesão dos clientes que procuram benefícios saudáveis e estéticos. Embora seja amplamente praticada, existem poucas informações referentes ao efetivo controle da intensidade do estímulo aeróbio durante aulas de GL. Por outro lado, sabe-se que existe uma intensidade mínima para que o exercício físico promova adaptações benéficas ao sistema cardiorrespiratório [1-4]. Para a promoção e manutenção dos níveis de saúde, o Colégio Americano de Medicina Esportiva [5,6], por exemplo, recomenda que adultos saudáveis entre 18-65 anos de idade realizem no mínimo 30 minutos de atividade física aeróbia, em intensidade moderada (50-60%VO2Máx), 5 vezes por semana ou 20 minutos de atividades aeróbias vigorosas (70-85%VO2Máx) com frequência semanal de 3 sessões. Vários métodos baseados no monitoramento da frequência cardíaca (FC) têm sido propostos com o propósito de avaliar a intensidade do exercício durante um programa de treinamento e de competição, fornecendo informações mais precisas do que auto-relatos de intensidade do treino [7,8]. Nesse sentido, Padilla et al. [9,10] atribuem uma maior relevância ao método de controle da intensidade do exercício através do recordatório da frequência cardíaca, sendo um índice metabólico válido para determinação apropriada do ritmo de treino e de competição de ciclistas profissionais, possuindo precisão similar a variáveis metabólicas frequentemente utilizadas como parâmetros de controle da intensidade do exercício, como é o caso do limiar de lactato ou do limiar ventilatório. Com base nisso, alguns pesquisadores têm investigado as respostas da FC durante atividades como a dança aeróbia [11], step training [12] ou circuit training [13]. Contudo, não foram encontradas na literatura informações referentes às exigências fisiológicas específicas em uma aula de GL. A maioria dos centros de treinamento não possui estrutura que permita a utilização de monitores de frequência cardíaca para o controle da intensidade, simultaneamente, a todos os alunos durante uma aula de ginástica. Desse modo, uma alternativa bastante interessante é o monitoramento da frequência cardíaca medida no pulso. No entanto, por ser um método de controle da intensidade que possui limitações e um erro padrão considerável, é fundamental a análise da reprodutibilidade das medidas entre sessões de treinamento ou em aulas de ginástica. Com base nisso, os objetivos do presente estudo foram: a) analisar a intensidade de aulas de GL conforme traduzida pelo comportamento da FC; b) verificar a reprodutibilidade da medida da FC em aulas de GL. Amostragem 175 Participaram do estudo 30 indivíduos (14 homens e 16 mulheres) com idade média de 22 ± 4 anos, massa corporal de 59,5 ± 10,3 kg, estatura de 166,6 ± 8,4 cm. Todos referiram ser saudáveis e fisicamente ativos. Foram excluídos da amostra indivíduos que fizessem uso de medicamentos que tivessem influência sobre o comportamento das respostas funcionais, principalmente sobre a FC e quem possuísse problemas osteomioarticulares que pudessem limitar a realização dos exercícios propostos. Todos os voluntários assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas. Procedimentos Foram aplicadas por duas vezes aulas padronizadas de GL, ministradas pelo mesmo professor, com temperatura ambiente da sala controlada, separadas com intervalo de uma semana. As aulas tiveram duração de 50 minutos e foram constituídas por: alongamento/aquecimento envolvendo todos os seguimentos corporais (20 minutos); parte principal enfatizando exercícios localizados de membros inferiores (25 minutos) e esfriamento/alongamento (5 minutos). Foram utilizadas duas séries de 15 repetições para todos os exercícios abordados, exceto nos exercícios abdominais, duas séries de 30 repetições. A FC foi medida pelo método pulsatório (na artéria radial por 15 segundos, sendo multiplicado o valor resultante por quatro) a cada 5 minutos, totalizando 10 medidas durante a sessão. Na primeira aula, antes de seu início foram coletados peso e estatura dos avaliados para a caracterização da amostra. Os voluntários foram orientados a não realizarem atividade física vigorosa nas 48 horas precedentes às aulas de ginástica localizada. Para determinação da intensidade relativa das aulas, calculou-se a média dos valores de FC mensurados durante os diferentes momentos da aula, convertendo-se esses resultados em porcentuais da FC máxima, utilizando-se a equação FCmax = 220 - idade. Posteriormente, esses valores foram convertidos a porcentuais estimados do VO2max, utilizando-se a equação: %VO2Máx = 1,41 x (%FCMáx - 42) [14-17]. Análise estatística A normalidade dos dados foi confirmada pelo teste de Shapiro-Wilk. A análise dos dados foi realizada de forma descritiva e a reprodutibilidade das medidas em cada momento da aula feita pelo coeficiente de correlação intraclasse (CCI). Para a comparação entre as médias da FCmáx obtidas nas aulas empregou-se o teste t de Student para amostras dependentes e análise do limite de concordância (plotagem Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 176 de Bland-Altman) [18]. Os dados foram tratados no pacote estatístico Statistic for Windows 6.0 (Statsoft®, Tulsa, EUA). O nível de significância adotado foi de p ≤ 0,05. Resultados A Figura 1 apresenta o comportamento da frequência cardíaca durante as duas sessões padronizadas de ginástica localizada. Figura 1 - Comportamento da frequência cardíaca durante aulas de ginástica localizada. Aula 1 Aula 2 %FCMax 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 5 10 15 20 25 30 35 Tempo (min) 40 45 50 Os resultados de correlação intraclasse indicaram alta reprodutibilidade (CCI = 0,76; p < 0,01) nas medidas de FC obtidas pelo método pulsatório radial entre as aulas de GL. Além disso, não foram encontradas diferenças significativas (p > 0,05) entre as médias (% FCMáx) obtidas entre as aulas de GL 1 (58,8 ± 7,8%) e GL 2 (57,0 ± 8,6%), o que corresponderia a aproximadamente 40%VO2máx. Figura 2 - Plotagem de Bland Altman para comparações das méias do %FCmáx entre aulas de GL1 e GL2 (n = 30). 20 Aula 1 - Aula 2 15 +1,96DP 12,2 10 5 1,6 0 -5 -1,96DP -9,0 -10 -15 40 50 60 70 80 Média dos valores da Aula 1 e Aula 2 90 A Figura 2 apresenta a plotagem proposta por Bland e Altman [18] para verificação de concordância entre as médias dos percentuais da frequência cardíaca máxima obtidas nas aulas de ginástica localizada 1 e 2. Percebe-se um bom padrão de concordância das médias dos percentuais da frequência cardíaca máxima nas duas aulas. Discussão Este estudo teve o propósito de investigar o comportamento da FC e reprodutibilidade de sua aferição durante aulas de GL. Os resultados indicaram que não houve diferenças significativas entre as médias de %FCMáx obtidas em GL 1 e GL 2, indicando alta reprodutibilidade nas medidas de FC obtidas pelo método pulsatório radial. Em relação à intensidade de esforço durante as aulas, pode-se considerar que a intensidade de esforço durante as aulas de GL são suficientes para promover adaptações cardiovasculares, já que os valores percentuais da FCmáx situaram-se nos limites usualmente preconizados para produção de efeitos do treinamento aeróbio sobre o sistema cardiorrespiratório [5,19,20]. Vários estudos analisaram a intensidade gerada por diferentes modalidades de ginástica, como dança aeróbia, circuit training, step training, body pump e power jump [1113,12,21,22]. Olson et al. [11] demonstraram que a intensidade associada à dança aeróbia situou-se em torno de 80% da FCmáx e 50% do VO2Máx. Martinovic et al. [12] avaliaram uma aula de step training, relatando 74% a 81%FCmáx (dependendo da altura do step), correspondendo a uma faixa de 65% a 75% do VO2máx. Já Beckman e Earnest [13] investigaram as respostas cardiovasculares durante sessões de ginástica do tipo circuit training, tendo observado valores de FC correspondentes a aproximadamente 32% VO2Máx. Stanforth, Stanforth e Hoemeke [21] observaram, em aulas de body pump, exigências físicas de 29,1% do VO2 de pico e 63% da FCMáx. Em aulas de power jump, Grossl et al.[22] encontraram ~80% da FCmáx. A intensidade relativa presentemente encontrada foi ligeiramente inferior ao observado por Olson et al. [11], Martinovic et al. [12] e Grossl [22] . Essa discrepância poderia ser explicada, ao menos em parte, pelo uso limitado de cargas (caneleiras e halteres com pouca quilagem) e menor potencial de elevação da intensidade em comparação com aulas de step training, dança aeróbia e power jump. Por outro lado, a intensidade das aulas de GL se assemelhou – sendo mesmo ligeiramente superior – ao encontrado por Beckman e Earnest [13] para o circuit training e Stanforth, Stanforth e Hoemeke [21] para aula de body pump. Uma vez que essas atividades se caracterizam por não treinar especificamente uma capacidade física em seu grau máximo, antes possuindo uma abordagem generalizada, esses resultados revelam-se coerentes. Existem na literatura estudos que divergem quanto à reprodutibilidade e validade do método de medida da FC pela palpação da artéria radial. Hwu et al. [23], King et al. [24] encontraram fortes níveis de concordância entre as medidas de FC utilizando o método pulsatório radial (CCI = 0,98; p < 0,0001; CCI = 0,62; p = 0,0002), mas esses estudos foram realizados com indivíduos em repouso. Por outro lado, Huse et al. [25] não obtiveram reprodutibilidade em testes de 12 min em nadadores. Todavia, por motivos óbvios a pulsação nesse caso era medida após a finalização da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 atividade, o que aumenta bastante a chance de erro em função da flutuação da FC, que retorna rapidamente aos valores de repouso. Nesse sentido, DeVan et al. [26] compararam a recuperação de sujeitos saudáveis em exercício aeróbio, tendo concluído que a medida da FC pelo método pulsatório radial subestimaria em torno de 20-27 batimentos por minuto os valores reais de FC quando monitoradas e comparadas por eletrocardiograma. É fácil aceitar, portanto, que estudos de reprodutibilidade e validade da medida da FC pelo método pulsatório em diferentes atividades físicas e grupos devem ser estimulados, a fim de tornar mais prático o controle da intensidade de atividades físicas realizadas de forma coletiva. Assim, os presentes resultados sugerem que o método de medida pulsatória radial constitui-se em estratégia viável para o controle da intensidade durante aulas de ginástica localizada. O método pode ser amplamente utilizado em centros de treinamento, em virtude de sua praticidade e fácil assimilação pelos praticantes. Conclusão Conclui-se que a medida da FC pelo método pulsatório constitui-se numa boa maneira de controle da intensidade do esforço em aulas de ginástica localizada. Além disso, a intensidade relativa estimada pelo %FCmáx durante aulas de GL parece ser compatível com o exigido para promover melhorias na aptidão aeróbia de indivíduos sedentários. Agradecimentos Ao Prof Dr. Paulo de Tarso Veras Farinatti e ao CNPq e FAPERJ pelo parcial financiamento deste estudo. Referências 1. Elsawy B, Higgins K. Physical activity guidelines for older adults. Am Fam Phys 2010; 81(1):55-9. 2. Berenson GS. Cardiovascular health promotion for children: a model for a Parish (County)-wide program (implementation and preliminary results). Prev Cardiol Winter 2010;13(1):23-8. 3. Parra-Medina D, Wilcox S, Wilson DK, Addy CL, Felton G, Poston MB. Heart Healthy and Ethnically Relevant (HHER) Lifestyle trial for improving diet and physical activity in underserved African American women. Contemp Clin Trials 2010;31(1):92-104. 4. U.S. Department of Health and Human Services. 2008 Physical Activity Guidelines for Americans. Washington: The Secretary of Health and Human Services; 2008. 5. Haskellw L, Lee IM, Pate RR, Powell KE, Blair SN, Franklin BA, et al. Physical activity and public health: updated recommendation for adults from the American College of Sports Medicine and the American Heart Association. Med Sci Sports Exerc 2007;39:1423-34. 6. American College of Sports Medicine. ACSM’s Guidelines for Exercise Testing and Prescription. Med Sci Sports Exerc 2009;41(3):687-708. 177 7. Gilman M B, Wells CL. The use of heart rates to monitor exercise intensity in relation to metabolic variables. Int J Sports Med 1993;14:339-44. 8. Karvonen J, Vuorimaa T. Heart rate and exercise intensity during sports activities: practical application. Sports Med 1988;5:303-12. 9. Padilla S, Mujika I, Orbaños J, Angulo F. Exercise intensity during competition time trials in professional road cycling. Med Sci Sports Exerc 2000;32(4):850-56. 10. Padilla S, Mujika I, Santisteban J, Impellizzeri FM, Goiriena JJ. Exercise intensity and load during uphill cycling in professional 3-week races. Eur J Appl Physiol 2008; 102:431-38. 11. Olson MS, Williford HN, Smith FH. The heart rate VO2 relationship of aerobic dance: a comparison of target heart rate methods. J Sports Med Phys Fitness 1992;32: 372-77. 12. Martinovic NMVP, Bottaro M, Novaes JS. Respostas cardiovasculares e metabólicas do step training em diferentes alturas de plataforma. Rev Bras Ativ Fís Saúde 2002;7(2):5-13. 13. Beckham SG, Ernest CP. Metabolic cost of free weight circuit weight training. J Sports Med Phys Fitness 2000;40:118-25. 14. Taylor HL, Buskirk E, Henschel A. Maximal oxygen intake as an objective measure of cardiorespiratory performance. J Appl Physiol 1995;8:73-80. 15. Saltin B, Blomqvist B, Mitchel JH, Johnson Junior RL, Wildenthal K, Chapman CB. Response to submaximal and maximal exercise after bed rest and training. Circulation 1968;38:71-78. 16. Londeree BR, Thomas TR, Ziogas G, Smith G, Thomas D, Zhang Q. % VO2 máx versus % HR máx regressions for six modes of exercise. Med Sci Sports Exerc 1995;27: 458-461. 17. Swain DP, Abernathy KS, Smith CS, Lee SJ, Bunn SA. Target heart rates for the development of cardiorespiratory fitness. Med Sci Sports Exerc 1994;26(1):112-6. 18. Bland JM, Altman DJ. Regression analysis. Lancet 1986;(1)8486:908-909. 19. Polito MD, Simão SJW, Farinatti PTV. Efeito hipotensivo do exercício de força realizado em intensidades diferentes e mesmo volume de trabalho. Rev Bras Med Esporte 2003;9(2):69-73. T 20. Thompson PD, Crouse SF, Goodpaster B, Kelley D, Moyna N, Pescatello L. The acute versus the chronic response to exercise. Med Sci Sports Exerc 2001;6:438-45. 21. Stanforth D, Stanforth PR, Hoemeke MR. Physiologic and metabolic responses to a body pump workout. J Strength Cond Res 2000;14(2):144-150. 22. Grossl T, Guglielmo LGA, Carminatti LJ, Silva JF. Determinação da intensidade da aula de power jump por meio da freqüência cardíaca. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2008;10(2):129-36. 23. Hwu YJ, Vivien EC, Lin FY. A study of the effectiveness of different measuring times and counting methods of human radial pulse rates. 24. King E, Cobbin D, Walsh S, Ryana D. The reliable measurement of radial pulse characteristics. Acupunct Med 2002;20(4):150-9. 25. Huse D, Patterson P, Nichols J. The validity and reliability of the 12-minute Swin Test in male swimmers Age 13-17. Measurement in Physical Education and Exercise Science 2000;4(1):45-55. 26. DeVan, Lacy BK, Cortez-Cooper MY, Tanaka H. Post-exercise palpation of pulse rates: its applicability to habitual exercisers. Scand J Med Sci Sports 2005:15:177-81. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 178 Artigo original Avaliação da flexibilidade durante o ciclo menstrual em pré-adolescentes Evaluation of flexibility during the menstrual cycle in preadolescents Isabela de Souza Camargo*, Christiano Bertoldo Urtado, M.Sc.**, Márvio Pereira Leoncini***, José Bechara Neto*** *Professora de Educação Física pelas Faculdades Integradas Stella Maris de Andradina – FISMA, **Performance Humana pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP, ***Professor do Curso de Educação Física das Faculdades Integradas Stella Maris de Andradina – FISMA Resumo Abstract O presente estudo buscou analisar o comportamento da flexibilidade corporal em pré-adolescentes durante a presença e ausência do ciclo menstrual. Estudou-se uma amostra de 10 (dez) pré-adolescentes na faixa etária de 14 a 15 anos, que possuíam ciclo menstrual regular. Dados referentes ao período menstrual foram obtidos através da aplicação de um questionário. Foi solicitado um termo de consentimento assinado pelos responsáveis de cada pré-adolescente. A flexibilidade foi avaliada pelo Banco de Wells, permitindo uma análise da flexibilidade corporal e ainda foi realizado o Teste t de student analisando duas amostras presumindo variâncias diferentes (p < 0,05). Sem inferir para além dos dados da amostra e, levando-se em conta diversos fatores que podem influenciar nos resultados dos testes, tais como: idade, valores antropométricos, aspectos maturacionais, hora do dia e treinamento físico, não houve diferença significativa com relação à flexibilidade tanto na presença como na ausência do ciclo menstrual. The present study aimed at analyzing the behavior of body flexibility in preadolescents during the presence and absence of menstrual cycle. A sample of 10 (ten) preadolescents 14-15 years old with regular menstrual cycle was studied. A questionnaire was used to obtain data related to menstrual period. The person responsible for each preadolescent was asked to sign the written informed consent. The flexibility was evaluated by the Bank of Wells, allowing an analysis of body flexibility. In addition, the student’s t-test analyzing two samples supposing different variances (p < 0.05) was carried out. Without inferring beyond the sample data, and considering several factors which may influence test results, such as: age, anthropometric values, aspects of maturation, time of the day and physical training, there was no significant difference with reference to flexibility during the presence or absence of the menstrual cycle. Key-words: flexibility, menstrual cycle, preadolescents. Palavras-chave: flexibilidade, ciclo menstrual, pré-adolescentes. Recebido em 29 de abril de 2010; aceito em 8 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: José Bechara Neto, Rua Joaquim Nabuco 416, 17800-000 Adamantina SP, Tel: (18) 8122-1520, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Introdução Este estudo buscou analisar o comportamento da flexibilidade, mensurada através do teste do Banco de Wells, em pré-adolescentes durante a presença e ausência do ciclo menstrual. Embora ainda não se tenha explicação adequada para inúmeros questionamentos relacionados com os efeitos da prática do treinamento de flexibilidade envolvendo a população jovem, verifica-se, nos últimos anos uma grande quantidade de estudos relacionados ao treinamento de flexibilidade durante o ciclo menstrual [1]. O período reprodutivo feminino normal caracteriza-se por alterações rítmicas mensais na secreção dos hormônios femininos e por alterações correspondentes nos próprios órgãos sexuais. Esse padrão rítmico é denominado ciclo sexual, ou menos precisamente, ciclo menstrual [2]. A menstruação sempre foi um tabu para a ciência do esporte, treinadores e atletas. Embora existam muitos estudos relatando como o exercício afeta a menstruação, são menos conhecidos os que analisam como a menstruação e as outras fases do ciclo menstrual interferem na performance e quais as alterações que podem comprometer o potencial físico e psicológico. Não se pode esquecer que essas fases são altamente individuais, ou seja, algumas pré-adolescentes podem ter seu rendimento prejudicado, principalmente na fase menstrual devido ao desconforto de seus sintomas ou um melhor rendimento durante essa fase menstrual devido ao efeito hormonal [3]. Durante o ciclo menstrual ocorrem mudanças hormonais, a menos que a mulher esteja em contracepção, e isso tem efeitos definidos no desempenho físico [4]. A análise da flexibilidade através do Banco de Wells consiste no teste de sentar e alcançar, que é um dos mais indicados para a avaliação de adolescentes. Além disso, apresenta a padronização descrita nas principais baterias de teste de performance motora; frequentemente os resultados obtidos neste teste são empregados como sendo representativos da flexibilidade geral. Sua grande aceitação deve-se a utilização de um movimento que se assemelha com algumas ações do cotidiano; grande facilidade na sua utilização; alta reprodutibilidade; permitir uma avaliação da flexibilidade ao nível da coluna e dos músculos isquiotibiais, que está associada a grande parte das queixas dolorosas na região lombar e aos problemas de ordem postural [5]. Entretanto, a utilização deste procedimento avaliativo pode ser representativa da flexibilidade geral, mensurando a flexibilidade corporal. Material e métodos Foram avaliadas 10 (dez) pré-adolescentes na faixa etária de 14 a 15 anos, especificamente que possuem ciclo menstrual regular. Antes de iniciar a coleta de dados, as préadolescentes responderam a um questionário básico prelimi- 179 nar, com a única finalidade de saber se as pré-adolescentes possuem ciclo menstrual regular e quais as datas específicas de cada fase do seu ciclo menstrual. Foi solicitado um termo de consentimento assinado pelos responsáveis de cada pré-adolescente. A coleta de dados ocorreu no primeiro semestre letivo de 2005. As avaliações foram realizadas durante o período de 4 (quatro) semanas consecutivas, sempre no mesmo dia da semana (sexta-feira) e aproximadamente no mesmo horário (entre 15 e 16 horas da tarde), quando foram anotadas a presença e ausência do ciclo menstrual. Todas as medidas foram feitas sempre na mesma sala, com temperatura ambiente. As pré-adolescentes estavam vestidas com roupas adequadas para a prática de exercícios, de forma que a execução de movimentos não fosse prejudicada. As pré-adolescentes realizaram um prévio aquecimento com leves exercícios de alongamento [6]. Sentadas no solo, pernas estendidas com as solas dos pés descalços apoiados contra o banco (encostado em uma parede). Com os braços estendidos sobre a cabeça, as pré-adolescentes avaliadas avançavam à frente vagarosamente com ambas as mãos paralelas tão distante quanto possível, mantendo esta posição momentaneamente. O avaliador apoiava os joelhos das avaliadas, segurando-os com as mãos, sem, no entanto, pressioná-los, para que se mantivessem estendidos. Avaliou-se a melhor de três execuções como resultado final do teste [6]. Todas as pré-adolescentes avaliadas praticam exercício físico intenso regularmente, contudo nenhuma pré-adolescente praticou qualquer exercício prévio mais intenso antes da avaliação. Nessas quatro semanas, cada pré-adolescente realizou 3 (três) avaliações, sendo 1 (uma) avaliação na presença do ciclo menstrual e 2 (duas) avaliações na ausência do ciclo menstrual. Pressupomos que a diferença média de idade de 1 (um) ano entre as pré-adolescentes não interfere na flexibilidade. Todas as pré-adolescentes da amostra foram testadas mediante o teste do Banco de Wells, o qual utiliza como instrumento um banco de madeira, expressando os resultados em uma escala de distância em centímetros, utilizando-se de uma régua para a mensuração; esse teste apresenta como ponto forte uma visão global da flexibilidade. E ainda foi realizado o Test t de student analisando duas amostras presumindo variâncias diferentes (p < 0,05). Resultados Usou-se 2 (duas) observações da flexibilidade das pré-adolescentes na ausência do ciclo menstrual para que tivéssemos uma melhor estimativa do verdadeiro índice de flexibilidade, visto que se supõe que o intervalo de tempo em que a préadolescente está na presença do seu ciclo menstrual é menor – 1 (uma) semana – do que quando a mesma não está no seu período menstrual – 20 (vinte) dias. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 180 Gráfico 1 - Média da presença do ciclo menstrual e média da ausência do ciclo menstrual. Teste no banco de wells 40,2 (cm) 50 0 Presença de mestruação Ausência de mestruação Analisando a flexibilidade das pré-adolescentes através do teste do Banco de Wells e ainda no Test t de studant, não houve diferença estatística com relação à flexibilidade, tanto na presença como na ausência do ciclo menstrual (p < 0,05). Discussão A literatura tem demonstrado que a flexibilidade tem forte contribuição na eficácia do treinamento de força, da resistência muscular e da resistência cardiovascular, melhorando a performance, tornando os atletas menos suscetíveis a lesões musculares [3]. Isso também é válido para as tarefas do cotidiano, nas quais a flexibilidade desempenha um papel de grande relevância para a saúde geral e para a aptidão física especificamente na prevenção de lombalgias, as quais representam forte indício de redução da flexibilidade do quadril e na manutenção da postura corporal. Conclusão Em conclusão, sem inferir para além dos dados da amostra e, levando-se em conta diversos fatores que podem influenciar nos resultados dos testes, tais como idade, valores antropométricos, aspectos maturacionais, hora do dia e treinamento físico, não houve diferença significativa com relação à presença do ciclo menstrual, assim como na ausência do ciclo menstrual. Contudo estudos com métodos estatísticos mais elaborados podem relacionar melhor essas eventuais modificações na flexibilidade durante o ciclo menstrual. Referências 1. Berne RM, Levy MN. Fisiologia. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 934p. 2. Guyton AC, Hall JE. Fisiologia humana e mecanismos das doenças. 6a ed. Guanabara Koogan; 1998. p.588-92. 3. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos do treinamento de força muscular. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. 4. Judy D, Wendy E. Hormones and female athletic performance. Perth: Women’s Sport Foundation of Western Australia; 1996. 5. Pereira MA. Comparação do grau de flexibilidade da coluna vertebral entre escolares do sexo feminino. Sprint 1997;7(40):1623. 6. ACSM. Guia para teste de esforço e prescrição de exercício. 3a ed. Rio de Janeiro: Medsi; 2000. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 181 Relato de caso Influência do exercício físico resistido na melhora da fração de ejeção em indivíduo chagásico Effect of resistive physical exercise in the improvement of ejection fraction in patient with Chagas disease Jefferson Petto, Esp.*, George Robson Ferraz**, Thiago Bouças*** *Mestrando pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública – EBMSP, BA, Aperfeiçoamento em Pesquisa em Fisioterapia Cardiovascular – UFSCar, SP, Professor Substituto de Fisiologia do Exercício e Cinesiologia da UEFS e da UNEB, BA, **Cardiologista do Setor de Fisioterapia Cardíaca da Clínica Escola da Faculdade Adventista da Bahia, ***Graduando do curso de Fisioterapia da Faculdade Social Resumo Abstract Este relato de caso evidencia o efeito do Exercício Físico Resistido Supervisionado (EFSR) na melhora da Fração de Ejeção (FE) em indivíduo com Doença de Chagas (DC). Após um Teste de Carga Máxima (TCM) e um Teste de Resistência Máxima (TRM), foi realizado programa de EFRS executado em duas séries com 30% do TCM e 60% do TRM. Esta etapa teve duração de seis semanas, sendo que nas seis semanas posteriores foram realizados os mesmos exercícios com 40% do TCM. Após esse período um novo ECO foi realizado, evidenciando uma melhora de 95,65% da FE. This case study reported the effect of Supervised Resistance Training Exercise (SRTE) in the improvement of Ejection Fraction (EF) in individual with Chagas disease (CD). After a Maximum Load Test (MLT) and a Maximum Resistance Test (MRT), a SRTE program was carried out and performed in two series with 30% of MLT and 60% of MRT. This phase lasted for six weeks and six weeks later the same exercises were performed with 40% of MLT. After this period of work a new ECHO was performed, showing an improvement of 95.65% of EF. Palavras-chave: exercício físico, doença de Chagas, teste de resistência. Key-words: physical exercise, Chagas disease, resistive test. Recebido em 22 de fevereiro de 2010; aceito em 18 de julho de 2010. Endereço para correspondência: Jefferson Petto, Cond. Água, lote 22 quadra 02 apto 12, Guarajuba 42827-000 Camaçari BA, Tel: (71) 9619-1061, E-mail: [email protected] ou [email protected] 182 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Introdução Segundo dados da Organização Mundial da Saúde 2004, a Doença de Chagas é uma das doenças infecciosas de maior prevalência na América Latina. Atualmente, estima-se que no continente, noventa milhões de pessoas estão sob risco de contrair a doença, treze milhões estão infectadas e entre 3 e 3,3 milhões apresentam formas sintomáticas da doença. A doença de Chagas tem como resultado final o remodelamento miocárdico e a Insuficiência Cardíaca (IC) [1]. Segundo a Diretriz de Reabilitação Cardíaca 2005, um programa de exercício físico supervisionado, de acordo com a literatura, tem se mostrado eficaz como tratamento não medicamentoso da IC [2]. Dentre os efeitos desse programa destacam-se o aumento do consumo máximo de oxigênio, a diminuição da resistência vascular periférica, o aumento da sensibilidade ao barorreflexo da ativação simpática, a redução da atividade neuro-humoral e até mesmo o remodelamento reverso miocárdico [3,4]. No entanto, pouco se tem pesquisado sobre os efeitos cardiovasculares do exercício físico em indivíduos chagásicos crônicos com insuficiência cardíaca, em especial os efeitos do exercício físico resistido. Sendo assim, este relato de caso se torna relevante devido não só a sua originalidade, como também em função dos resultados obtidos. Relato de caso M.J, 57 anos, sexo feminino, sedentária, não tabagista apresentou-se ao setor de reabilitação cardíaca da Santa Casa de Misericórdia de Cruz das Almas em 1° de maio de 2007, com diagnóstico clínico de cardiomiopatia chagásica, sob tratamento clínico há dois meses com as seguintes medicações: carvedilol 12,5 mg, digoxina 0,25 mg e amiodarona 100 mg. Ao Ecocardiograma (ECO) se observou a Fração de Ejeção (FE) de 23% e massa ventricular esquerda de 275 g, sendo que os diagnósticos ecocardiográficos foram disfunção diastólica importante (padrão restritivo) (relação EA > 1,5), insuficiência mitral grave, dilatação leve a moderada de átrio esquerdo e cardiomiopatia dilatada grave. As demais variáveis ecocardiográficas pré e pós-condicionamento físico estão descritas com os resultados na tabela I. No exame físico foram verificados os seguintes dados: altura 162 cm, massa 73 kg, IMC 27,8, Tensão Arterial (TA) e Frequência Cardíaca (FC) de repouso respectivamente de 110/70mmhg e 47bpm. Foi então proposto à cliente a realização de condicionamento físico supervisionado para tratamento coadjuvante da insuficiência cardíaca. Após a descrição do procedimento e riscos do tratamento, foi assinado pela mesma o termo de consentimento livre esclarecido. Precedente ao programa de exercício foi realizada uma avaliação composta de anamnese, exame físico, um Teste de Carga Máxima (TCM) e um Teste de Resistência Máxima (TRM). Como a cliente não tinha realizado um Teste de Esforço Físico Máximo, optamos por não realizar exercícios aeróbicos contínuos durante o período de três meses de condicionamento. Para o TCM foram escolhidos três movimentos, dois de Membro Inferior (MI) e um de Membro Superior (MS). O primeiro de MI foi realizado com a cliente em supino onde a mesma efetuava flexão a 65° da articulação coxofemoral, e o segundo em sedestação realizando extensão de joelho. O movimento de MS foi realizado em sedestação e a cliente realizava flexão de cúbito em torno de 90º. Todos os movimentos eram executados inicialmente com carga externa zero, acrescendo ½ kg a cada série de 1 repetição com intervalo de 2 minutos entre uma série e outra. Em cada série verificou-se, durante a execução do movimento, a FC, o traçado eletrocardiográfico a TA (no braço contralateral a execução do movimento) e a intensidade de esforço, que era mensurada pela escala de percepção subjetiva de BORG. Foram considerados critérios para determinação da carga máxima: repetição na qual a cliente refere-se pela escala de Borg valor 17 a 20, ou, aparecimento de alterações eletrocardiográficas indicativas de interrupção do teste citadas na II Diretriz de Teste Ergométrico 2002 [5], ou ainda, compensações ergonômicas ao realizar o movimento. Todo o exame foi realizado em ambiente hospitalar na presença de um cardiologista e com suporte técnico adequado de acordo com a II Diretriz de Teste Ergométrico 2002 [5]. Quarenta e oito horas após o TCM foi feito um novo teste, o Teste de Resistência Máxima (TRM). Nesse teste a cliente realizou os mesmos movimentos do TCM em uma série de repetições livres com 30% da CM. Para a determinação da RM foram adotados os mesmos critérios utilizados para a determinação da CM. Posteriormente a esses testes, a cliente foi submetida a um programa de exercício físico supervisionado, que estava de acordo com o padrão de segurança referido na Normatização dos Equipamentos e Técnicas da Reabilitação Cardiovascular Supervisionada da Sociedade Brasileira de Cardiologia 2004 [6]. O programa de condicionamento seguia a seguinte rotina: registro da TA e FC em repouso, durante cada série dos exercícios resistidos e ao final da sessão, alongamento ativo assistido pré-exercício, e os exercícios resistidos executados em duas séries com 30% da CM e 60% da RM preconizando a fase concêntrica do movimento. Foram utilizados os mesmos movimentos do TCM sendo acrescentado mais um exercício estático no qual a cliente em supino realizava sustentação de flexão de coxo femoral a 65º durante 10 segundos por 15 segundos de descanso totalizando seis séries de 10’x15’. Essa primeira etapa do programa teve duração de 45 dias. Na segunda etapa do programa foram realizados os mesmo exercícios resistidos, com 40% da CM e 75% da RM também Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 com duração de 45 dias. Nos três meses de condicionamento não houve nenhuma intercorrencia durante as sessões de tratamento. Importante ressaltar que as medicações e dosagens que vinham sendo utilizadas pela cliente não foram alteradas durante esse período que transcorreu entre a realização do primeiro e segundo ECO. Resultados e discussão Após esse período de trabalho, foi solicitado a cliente que realizasse um novo ECO pelo mesmo observador e no mesmo local do exame anterior ao condicionamento, sendo obtidos os resultados descritos na Tabela I. Dos resultados obtidos se destacam o aumento de 43% da massa ventricular esquerda e também a melhora de 95% da FE sendo esta muito significante. O aumento da massa ventricular esquerda possivelmente tenha ocorrido por dois motivos, pela própria progressão natural da doença, já que houve aumento do infiltrado de tecido colágeno e lipofusina no miocárdio, como também por uma hipertrofia miocárdica estimulada pelo exercício [3] e observada pelo aumento da massa da parede posterior em VE (Tabela I). Já a melhora da FE pode ter ocorrido tanto por alterações cardiovasculares centrais como periféricas. A redução da resistência vascular periférica e consequente redução da pós-carga facilitam o trabalho da musculatura ventricular esquerda [7]. Além disso, outros fatores como a hipertrofia miocárdica os efeitos neuro-humorais, o aumento da perfusão e vascularização miocárdica e adaptações qualitativas das fibras musculares cardíacas podem ter contribuído de forma significativa [7,8]. 183 Conclusão Com base neste relato, concluímos que o exercício físico resistido supervisionado exerce influência significativamente positiva sobre a fração de ejeção e massa ventricular esquerda, neste caso em um individuo chagásico. No entanto, novos estudos com maior número de indivíduos e grupo controle devem ser realizados para que se comprove o que foi observado neste trabalho e até que ponto a medicação exerce sua influência. Referências 1. Braga JCV, Reis F, Aras R, Costa ND, Bastos C, Silva R, et al. Aspectos clínicos e terapêuticos da insuficiência cardíaca por doença de Chagas. Arq Bras Cardiol 2006,86(4):297-302. 2. Diretriz de Reabilitação Cardíaca. Arq Bras Cardiol 2005;84(5):432-40. 3. Thompson PD. O exercício e a cardiologia do esporte. São Paulo: Manole; 2004. p.485. 4. Petto J, Ferraz GB, Garrido AJL, Santos CLS, Ramos P. Efeito do exercício físico na remodelação miocárdica. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2009;8(2):95-8. 5. II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Teste Ergométrico. Arq Bras Cardiol 2002;78(Supl II):1-18. 6. Araújo CGS, Carvalho T, Castro CLB, Costa RV, Moraes RS, Oliveira Filho JA, Guimarães JI. Normatização dos equipamentos e técnicas da reabilitação cardiovascular supervisionada. Arq Bras Cardiol 2004;83:448-52. 7. Maiorana A, O’Driscoll P, Dembo L, Cheetham C, Goodman C, Taylor, et al. Effect of aerobic and resistance exercise training on vascular function in heart failure. Am J Physiol Heart Circ Physiol 2000;279:1999-2005. 8. Negrão CE, Barreto ACP. Cardiologia do exercício. São Paulo: Manole; 2006. 354p. Tabela I - Resultados obtidos no ecocardiograma pré e pós-condicionamento físico. Variáveis Ecocardiográficas Volume Diastólico Final Volume Sistólico Final Volume Sistólico Espessura Diastólica de Septo Parede Posterior de VE Relação Septo/Parede Posterior Fração de Ejeção (Teicholz) Massa Ventricular Esquerda Diâmetro Diastólico Final do VE Diâmetro Sistólico Final do VE Pré-Condicionamento 272 ml 209 ml 64 ml 07 mm 07 mm 1,0 23% 275g 72 mm 64 mm Pós-Condicionamento 247 ml 135 ml 112 ml 09 mm 09 mm 1,0 45% 394g 69 mm 53 mm % Mudança das Variáveis 09% 35% 75% 28% 28% 00% 95% 43% 04% 14% Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 184 Relato de caso Avaliação da ingestão nutricional de um maratonista de elite do atletismo português Nutritional status of elite Portuguese male marathoner José Augusto Rodrigues dos Santos, D.Sc.*, Domingos José Lopes da Silva, D.Sc.*, Paulo Jorge Colaço, D.Sc.* *Faculdade de Desporto – Universidade do Porto Resumo Abstract Objectivo: Défices ou excessos nutricionais podem impedir o máximo rendimento de um desportista. Assim, estudamos a ingestão nutricional de um maratonista de elite, analisando o grau de adequação às exigências de treino e competição. Material e métodos: Maratonista de elite (32 anos, 1,69m, 55 kg), 4º lugar no Campeonato do Mundo de Atletismo, (2h09’28” - melhor marca pessoal). Realiza 12 a 14 treinos por semana. Os dados nutricionais foram obtidos por registo de sete dias. A conversão dos alimentos em nutrientes foi realizada pelo programa informático The Food Processor Plus 7.0. Estatística: Utilizaram-se as medidas descritivas, média, desvio-padrão e valores máximo e mínimo dos sete dias. Resultados: Aporte diários médios: calorias - 2296 ± 639 kcal (1316 - 3143 kcal); carbohidratos - 40,6 ± 10,2% (4,42 ± 1,98 g/kg/dia); proteínas - 22,9 ± 6,7% (2,1 ± 0,3 g/kg/dia); gorduras - 36,5 ± 6,3%; colesterol - 488,1 ± 102,3 mg; fibras - 8,1 ± 2,8 g; vitamina C - 24,9 ± 12,5 mg; vitamina A - 211,0 ± 130,5 μg ER; Betacaroteno - 163,4 ± 265,5 μg; vitamina D - 3,7 ± 4,1 μg; vitamina E - 7,02 ± 3,4 mg ET. Reduzido aporte de cálcio (387,4 ± 154,5 mg), magnésio (222,6 ± 22,3 mg), molibdénio (2,46 ± 3,42 μg) e iodo (58,6 μg). Conclusão: Este maratonista apresenta um perfil nutricional incompatível com as elevadas exigências do treino e competição, caracterizado pelo reduzido aporte de energia, carboidratos, vitaminas antioxidantes e fibras, com excessivo consumo de colesterol. Este maratonista deve alterar o seu perfil de ingestão nutricional. Objective: Nutritional deficits or excesses can impair sport’s performance. So, we studied the nutritional profile of an elite male marathoner, analysing the adequacy of nutritional habits to training and competition. Methods: Elite marathoner (32 years old, 1,69 m, 55 kg), 4th place in the Athletics World Championship, 2h09’28” as personal best time. He performs 12 to 14 workouts per week. The nutritional data were obtained by daily register during seven days. The food conversion into nutrients was performed by the informatics’ program The Food Processor Plus 7.0. Statistics: The average, standard-deviation, maximum and minimum values of the seven days were obtained. Results: Daily average intake: Energy - 2296 ± 639 kcal (1316 - 3143 kcal); carbohydrates - 40.6 ± 10.2% (4.42 ± 1.98 g/kg/day); proteins - 22.9 ± 6.7% (2.1 ± 0.3 g/kg/day); fat - 36.5 ± 6.3%; cholesterol - 488.1 ± 102.3 mg; fibres - 8.1 ± 2.8 g; vitamin C - 24.9 ± 12.5 mg; vitamin A - 211.0 ± 130.5 μg ER; Betacaroteno - 163.4 ± 265.5 μg; vitamin D - 3.7 ± 4.1 μg; vitamin E - 7.02 ± 3.4 mg ET; calcium - 387.4 ± 154.5 mg; magnesium 222.6 ± 22.3 mg; molybdenum - 2.46 ± 3.42 μg and iodine - 58.6 μg. Conclusion: This marathoner has a nutritional profile incompatible with heavy training and competition, characterized by reduced intake of energy, carbohydrates, antioxidant vitamins and fibres with an excessive cholesterol intake. This athlete must be advised to change his nutritional profile. Key-words: nutritional profile, sports, performance test. Palavras-chave: perfil nutricional, esportes, provas de rendimento. Recebido em 4 de maio de 2010; aceito em 18 de julho de 2010. Endereço para correspondência: Prof. Dr. José Augusto Rodrigues dos Santos, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Rua Plácido Costa, 91, 4200-450 Porto, Portugal, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 185 Introdução Recolha de dados A maratona é uma modalidade do atletismo muito exigente a nível fisiológico e psicológico. Elevadas performances competitivas e correspondentes níveis de treino são incompatíveis com défices energéticos, nomeadamente ao nível dos carbohidratos, pois são estes os principais nutrientes ressintetizadores do glicogénio muscular e hepático, fundamentais para o suporte energético a esforços de elevada intensidade [1]. O treino do maratonista, ao mais elevado nível, pressupõe cuidados nutricionais muito exigentes para evitar situações de overtraining [2] que podem não só destruir o potencial competitivo do atleta bem como afectar, de forma mais ou menos prolongada, o seu estado de saúde [3]. Em estudo anterior [4] verificamos que os fundistas portugueses, de uma forma geral, não apresentam uma adequada ingestão nutricional, evidenciando reduzidos aportes de carbohidratos que são compensados por excessiva ingestão de proteínas. A análise individual dos resultados do referido estudo permite verificar situações de excessivo défice, quer calórico quer de carbohidratos determinando um quadro nutricional incompatível com elevadas performances nas especialidades estudadas. Esta situação foi corroborada por Gadelho [5] que caracterizou o perfil de ingestão nutricional em meio-fundistas e fundistas. Com este estudo, pretendemos averiguar o grau de adequação da ingestão nutricional de um maratonista de elite do atletismo português, no sentido de despistar eventuais situações nutricionais que possam comprometer a recuperação entre esforços de treino e que, em última análise, podem interferir com o rendimento desportivo do atleta numa situação de ausência de suplementação nutricional específica. Foi feito um registo de 7 dias consecutivos do consumo alimentar. Foram entregues ao atleta 7 fichas de registo alimentar, divididas da seguinte forma: pequeno-almoço, lanche matutino, almoço, lanche vespertino e ceia. No decurso do estudo o atleta não recorreu a suplementos nutricionais. Foi entregue também um dossiê com fotografias informativas com as quantidades-padrão dos principais alimentos tendo sido o atleta informado da forma correcta de preenchimento das fichas em função das quantidades consumidas. A conversão dos alimentos em nutrientes foi realizada no programa informático The Food Processor Plus 7.0. Material e métodos Sujeito Maratonista experiente com 18 anos de prática de corrida, pertencente à elite do atletismo português, com 32 anos de idade, 1,69 m de estatura e 55 kg de massa corporal, cujo melhor resultado foi um quarto lugar no Campeonato do Mundo e cuja melhor marca à maratona é de 2h09’28’’. O atleta, depois de informado das implicações do estudo, deu consentimento escrito antes do início do estudo que foi conduzido de acordo com a declaração de Helsínquia e aprovado pelo Comité de Ética do Conselho Científico da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal. Treino O sujeito deste estudo realiza normalmente entre 12 a 14 treinos semanais, cada um com duração variando entre 45 e 120 minutos. No decurso do período do estudo, o atleta realizou 12 treinos com a duração média de 65 minutos. Referências nutricionais Para o consumo de macronutrientes tomamos como referência as propostas do American College of Sports Medicine [6]; para os micronutrientes apoiamo-nos na revisão crítica de Whiting & Barash [7] e nas propostas de Murray e Horswill [8]. Tratamento estatístico Utilizamos as seguintes medidas descritivas: média, desviopadrão e valores máximo e mínimo dos sete dias. Os dados foram analisados no software SPSS, versão 12.0. Resultados e discussão O treino e competição do maratonista exigem grandes gastos energéticos, incompatíveis com défices nutricionais. Tabela I - Consumo calórico médio diário, ± DP e valores mínimo e máximo do maratonista. Valor energético total (VET) kcalorias/kg/dia Média ± DP 2296 ± 639 Mínimo 1316 Máximo 3143 41,7 ± 11,6 23,9 57,2 DP = desvio-padrão O valor médio diário de consumo energético do maratonista do presente estudo (PE) enquadra-se nos valores médios encontrados por Erp-Baart et al. [9] para corredores de elite. No entanto, pela análise quotidiana verifica-se um VET muito reduzido, em alguns dias (Tabela I). Segundo os cálculos determinados a partir da proposta do Report of a Joint FAO/WHO/ UNU Expert Consultation (2001) o gasto metabólico basal deste sujeito é de 1517 kcal/dia. Se acrescentarmos a este dispêndio energético relacionado com a manutenção dos sistemas vitais, o gasto inerente ao processamento térmico dos alimentos (mais ou menos 10% do aporte calórico total) vemos, que em alguns dias, o reduzido aporte energético é incompatível com o treino que caracteriza este atleta - duplo treino diário com 186 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 duração mínima de 1 hora cada treino. No entanto, parece que este panorama não é singular, já que Erp-Baart et al. [9] encontraram uma grande amplitude de variação no aporte energético de corredores de elite (30,2 - 74,1 kcal.kg-1.dia-1) o que se enquadra nos valores por nós encontrados no PE. Em modalidades que definem as categorias competitivas pela massa corporal podemos encontrar valores mínimos de ingestão calórica ainda mais baixos. Em atletas de elite de judo foram encontrados valores mínimos de 18,1 e 14,3 kcal/kg/dia [9], o que indicia grave défice energético, situação provavelmente relacionada com a obtenção do peso ideal para a competição. Não podemos excluir a hipótese de os baixos valores de ingestão calórica verificados no presente estudo se prenderem com o receio de aumentar a massa corporal, receio que atravessa de certa forma toda a população de maratonistas de elite já que se sabe que a acumulação de massa corporal excedentária afecta negativamente a performance. Isso foi confirmado por vários autores [10,11] que verificaram que o aumento mesmo reduzido da massa corporal em maratonistas afecta significativamente a performance na maratona. O treino intenso e sistemático desenvolve superior eficiência energética [12], desenvolvendo, assim, a capacidade de suportar uma mesma carga de treino com um inferior gasto de energia. No entanto, mesmo com todos os processos adaptativos melhorados, pensamos que o maratonista do PE não tem acesso, pelo menos em alguns dias, à quantidade necessária de calorias para fazer frente às exigências de um treino de alta competição. O problema pode ser agravado se os dias de ingestão calórica deficitária corresponderem aos dias de treino mais intensivo. Acresce que, em situação de significativa redução do aporte calórico em sujeitos activos, verificou-se uma redução do tamanho das fibras de contracção rápida enquanto o tamanho das fibras de contracção lenta não foi afectado [13]. Embora, Farrel et al. [14] tenham verificado uma correlação positiva (r = 0,49; p < 0,05) entre a percentagem de fibras Tipo I (contracção lenta) e a performance na maratona obtida em esteira rolante, pensamos que as fibras de contracção rápida, principalmente as fast glycolitic oxidative (Fibras Tipo IIa) são importantes para a consecução de elevadas performances em esforços prolongados já que constituem mais de 30% das fibras dos fundistas do atletismo [15]. Daí a importância de não afectar as fibras de contracção rápida por reduzido aporte calórico. Em termos de valor energético total os dados apontam para um claro défice energético já que Costill [16] esclarece que um corredor de endurance gasta, no treino, diariamente, entre 900 e 2400 kcal. Sabe-se que esforços prolongados com intensidades superiores a 60% da potência máxima aeróbia estão condicionados pelo perfil em carboidratos da dieta [17,18]. Por outro lado, esforços prolongados de intensidade mais reduzida (30-50% do VOmax) são suportados, fundamentalmente, pelo metabolismo 2 das gorduras [19]. Daí a importância de uma ingestão adequada de carboidratos para que a ressíntese das reservas musculares de glicogénio que é o substrato essencial aos esforços de elevada intensidade seja contínuo [20,21] seja intermitente [22]. Tabela II - Ingestão média diária de carboidratos, ± DP e valores mínimo e máximo, do maratonista. Carboidratos Carboidratos (g) Carboidratos (%)* Carboidratos (g/kg) CHO complexos (g) Açúcares (g) Média ± DP 243,1 ± 109 40,6 ± 10,2 4,42 ± 1,98 70,3 ± 27,2 126,1 ± 86,2 Mínimo 81 24,6 1,47 34,3 6,6 Máximo 393 55,7 7,14 119 260 * Valor percentual do aporte energético total obtido através da ingestão de carbohidratos Um maratonista de elite tem o suporte energético fundamental do seu treino nos carboidratos (CHO), devendo ingerir entre 7 a 10 g diárias por quilograma de massa corporal [23]. Estes valores permitem não só disponibilizar CHO, antes e durante o exercício, bem como são suficientes para a reposição das reservas de glicogénio muscular e hepático após o exercício. Ao nível das implicações negativas, importa salientar que o esforço muscular e respiratório aumenta com uma dieta baixa em CHO [24]. Como podemos ver, os valores médios do nosso estudo estão muito abaixo do recomendado (Tabela II), com o valor mínimo a indicar, claramente, uma situação nutricional incompatível com treino de alta intensidade. Quando o glicogénio muscular está reduzido por reduzida ingestão de CHO, o exercício tem forçosamente de baixar de intensidade apoiando-se energeticamente nos lipídios [20,25]. Está suficientemente comprovado que enquanto a ingestão aumentada de CHO pode melhorar a performance em esforços de alta intensidade, a ingestão deficitária pode afectar negativamente o rendimento nesse tipo de esforços [26,27] e, isto, apesar de algumas adaptações metabólicas induzidas pelo treino sistemático como sejam, a superior eficiência energética dos CHO quando o aporte calórico é reduzido [27,28], e a poupança de glicose induzida pela redução da taxa metabólica basal que é uma das adaptações metabólicas relacionadas com a redução do aporte energético [29]. No entanto, pensamos que estas adaptações terão pouco significado para quem treina duas vezes por dia visando as mais elevadas performances. A importância dos CHO na dieta de um maratonista de elite prende-se com o papel crucial das reservas iniciais de glicogénio muscular. Bergstrom et al. [30] demonstraram que um nível inicial de glicogénio muscular de 1.75 g/100 g de músculo húmido permitiu a execução de uma dada carga estandardizada por 114 minutos; quando o conteúdo de glicogénio muscular foi alterado para 0,63 ou 3,31 g/100 g, o tempo até à exaustão foi de 57 e 167 minutos, respectivamente. Este estudo histórico, permite-nos verificar a importância das reservas iniciais de glicogénio muscular na performance em esforços prolongados. O reduzido aporte de CHO do maratonista do PE parece ser um obstáculo à plena reposição diária do glicogénio muscular. Em termos percentuais a análise confirma o défice deste macronutriente. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Atletas de endurance que treinam duas vezes por dia, como é normal em maratonistas de elite, requerem entre 65 a 75% do aporte calórico total sob a forma de CHO [31]. Os atletas quenianos do grupo étnico dos Kalenjin, do qual derivaram alguns fundistas de elite, têm um aporte energético derivado em 93% de produtos vegetais, correspondendo os CHO a 78% do aporte energético total [32]. Em contraponto ao perfil dietético dos fundistas quenianos, a análise dos presentes resultados permite-nos evidenciar o perfil inadequado da ingestão de CHO que é incompatível com a consecução de elevadas performances competitivas e disponibilidade para o treino de elevada intensidade. Se existe um défice crónico de CHO, num atleta em regime de duplo treino diário, o esforço vai incidir mais no metabolismo das gorduras o que é feito à custa de uma inferior intensidade de treino. De igual forma, é importante a ingestão adequada de CHO para o cérebro e sistema nervoso central que, situações normais, requerem o suprimento contínuo de glicose, para funcionarem adequadamente. O cérebro, após exercício exaustivo, tem necessidade acrescida de CHO [32]. Acresce que a ingestão aumentada de CHO reflecte-se em um superior estado de vigilância e em um estado de humor mais positivo [34], o que determina um estado psicológico favorável ao treino e ao empenhamento no mesmo. A fadiga central é muitas vezes a razão da falta de estímulo para o treino de elevada intensidade. Para evitar os malefícios decorrentes do suporte energético ao cérebro pelos corpos cetónicos ou pela degradação muscular (gluconeogénese proteica), é importante aumentar o aporte energético sob a forma de CHO. No caso dos desportistas de endurance, com elevados volumes de treino, como é este caso, o problema da qualidade dos CHO é, no nosso entender, pouco importante. Em termos de aconselhamento epidemiológico a FAO não distingue os CHO complexos dos simples colocando a diferenciação em relação ao índice glicémico dos alimentos. Em termos de bioenergética do exercício são tão importantes uns quanto os outros. O maratonista que estudamos caracteriza-se por ingerir maior quantidade de CHO simples que complexos o que é corroborado pelo estudo que fizemos com outros fundistas do atletismo [4]. No nosso entender, o importante para uma maratonista de elite não é tanto o problema de os CHO serem simples ou complexos, de alto ou baixo índice glicémico, mas, fundamentalmente, a quantidade ajustada aos gastos energéticos diários que comprovamos não é, de todo em todo, conseguida. Tabela III - Ingestão média diária proteica, ± DP e valores mínimo e máximo, do maratonista. Proteínas Proteínas (g) Proteínas (%)* Proteínas (g/kg) Média ± DP 123,1 ± 14,5 22,9 ± 6,7 2,1 ± 0,3 Mínimo 102 16,1 1,8 Máximo 143 35,3 2,5 * Valor percentual do aporte energético total obtido através da ingestão de proteínas 187 A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha, para sedentários, a ingestão diária de proteínas variando entre 0,8 e 1,0 g por quilograma de massa corporal. Para desportistas, as proteínas devem corresponder a 12-15% do valor energético total [35]. Parece que as necessidades proteicas de um desportista estão relacionadas com o tipo de actividade desenvolvida. Assim, os especialistas dos desportos de força parecem ter maior necessidade de proteínas que os especialistas dos desportos de endurance. Lemon [36] aconselha a ingestão proteica de 1.4 1.8 g.kg-1.dia-1 para modalidades de força e 1.2 - 1.4 g.kg-1.dia-1 para modalidades de endurance, embora exista certa controvérsia sobre os valores adequados a cada modalidade [37]. Os valores médios do presente estudo (2,1 ± 0,3 g/kg/dia) excedem as recomendações de vários autores [36,6]. O consumo proteico exagerado do maratonista do PE pode ser nefasto para o rendimento desportivo se adoptar um carácter crónico. Excessivo consumo proteico, ultrapassando a capacidade do fígado em desaminar as proteínas e converter o azoto em ureia, pode levar à deplecção de cálcio e a situações de desidratação. Excessiva ingestão de proteínas pode levar a hiperaminoacidemia, hiperamonemia, hiperinsulinemia, náusea e diarreia [38]. Embora a ingestão proteica do maratonista deste estudo exceda as recomendações, pensamos, que por si só, esse excesso não será problemático já que está, segundo Bilsborough e Mann [38], abaixo do limite de toxicidade proteica (25% do aporte energético total). As preocupações derivam do facto de o excessivo aporte de proteínas ser feito à custa do reduzido aporte de carboidratos, o que pode provocar problemas metabólicos e afectar negativamente o rendimento atlético. O excessivo consumo de proteínas do sujeito do PE enquadra-se num panorama geral que caracteriza outras populações de desportistas portugueses [39,40], e que contrasta com o perfil nutricional dos jovens fundistas quenianos de elite que ingerem 14,5% de proteínas, em grande parte proveniente de alimentos vegetais [41]. Outros praticantes de actividades de endurance tendem a apresentar um consumo proteico excessivo [42]. Os resultados deste estudo são confirmados por Martins [43] e parecem caracterizar várias populações de desportistas e não desportistas de Portugal que têm um aporte excessivo de proteínas animais. Tabela IV - Ingestão média diária de lipídios, ± DP e valores mínimo e máximo do maratonista. Lipídios Lipídios Total (g) Lipídios (%)* Lipíd. Saturados (g) Lipíd. Monoins. (g) Lipíd. Polinsat. (g) Ácidos Gordos (g) Trans Ómega-3 Ómega-6 Colesterol (mg) Média ± DP 92,4 ± 28,3 36,5 ± 6,3 29,1 ± 10,9 37,2 ± 13,1 17,9 ± 5,1 Mínimo 55,7 26,0 14,1 19,6 9,6 Máximo 131 44,3 48,1 55,8 25,4 0,118 ± 0,152 1,80 ± 0,77 13,9 ± 4,56 488,1 ± 102,3 0,00 1,07 7,3 365 0,38 3,42 21,3 638 * Valor percentual do VET obtido através da ingestão de lipídios 188 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Durante o exercício de intensidade baixa ou moderada (30 - 50% do VO2max) verifica-se um progressivo suporte do exercício no metabolismo lipídico [44] que é tanto mais significativo quanto mais prolongado for o exercício. Embora os lipídios sejam um combustível essencial para os maratonistas, os cuidados nutricionais não têm a ver com a quantidade de lipídios disponível na dieta ou armazenada no organismo, mas antes com a qualidade dos mesmos. Em termos energéticos, qualquer ser humano tem energia acumulada sob a forma de lipídios que lhe permite a realização de várias maratonas. Segundo várias recomendações [45,6], a dieta de um desportista não deve ter mais de 30% do aporte calórico total sob a forma de lipídios. O maratonista deste estudo, em média, excede estes valores (Tabela IV). Em virtude do seu perfil de actividade, não acreditamos que o excessivo consumo de lipídios possa provocar problemas de saúde neste desportista. No entanto, como é feito à custa do reduzido aporte de carboidratos, pode ter efeitos negativos sobre a performance e/ou qualidade do treino. Comparando com outros estudos, verificamos que os fundistas quenianos estudados por Christensen et al. [41] consomem somente 7,5% da energia sob a forma de lipídios, enquanto em fundistas mexicanos pertencentes à etnia Tarahumara estudados por Cerqueira et al. [46] consomem 9%. Em especialistas portugueses de meio-fundo e fundo Gadelho [5] encontrou consumos médios de lipídios de 29,7 ± 4,99%, mas com uma grande amplitude de variação (16-40,3%), o que evidencia consumos excessivos que podemos considerar tendencialmente patológicos. Em relação ao tipo de lipídios, verifica-se um consumo médio elevado de ácidos gordos monoinsaturados (cerca de 15%), o que está dentro das recomendações, mas, como aspecto negativo, o sujeito do PE consome uma elevada quantidade de ácidos gordos saturados que ultrapassa os 8-10% da gordura total ingerida, aconselhado por vários organismos internacionais relacionados com a saúde (e.g. OMS, American Heart Association). O consumo de ácidos gordos polinsaturados (cerca de 7%) está abaixo das recomendações (10%). Em relação aos ácidos gordos essenciais, podemos ver que os ómega-3 (derivados do ácido alfa-linolénico) são ingeridos em menor quantidade que os ómega-6 (derivados do ácido linoleico). A importância destes ácidos gordos essenciais parece relacionar-se com o controlo que exercem sobre alguns genes implicados na regulação do metabolismo, particularmente aqueles envolvidos no armazenamento e oxidação dos lipídios e síntese de glicogénio [47]. Embora haja pouco consenso entre os nutricionistas, recomenda-se a ingestão diária de 9 g de ómega-6 e 6 g de ómega-3, o que dá um ratio de 1,5:1 [48]. O sujeito do PE apresenta, segundo estas recomendações, um aporte excessivo de ómega-6 e reduzido de ómega-3. O elevado ratio 8,5:1 verificado neste estudo assenta na superior facilidade de na dieta mediterrânea se ingerir alimentos ricos em ácidos gordos ómega-6. Para reequilibrar este aspecto particular da dieta, o atleta deve aumentar o consumo de peixes gordos (e.g. arenque, salmão, truta, sardinha, cavala, etc), já que estão comprovados os efeitos benéficos dos ácidos ómega-3 de cadeia longa (ácidos eicosapentaenóico, docosaexaenóico) na patologia cardiovascular e na agregação plaquetária [49] que poderão não ser muito importantes para a actual condição deste maratonista, mas que o devem preocupar numa perspectiva futura de saúde e bem estar. Embora os resultados sejam conflituais, alguns estudos associam melhorias do rendimento muscular à ingestão de ácidos gordos essenciais [50]; no entanto, Huffman et al. [51] não verificaram melhorias da performance em esforços de endurance após suplementação com ácidos gordos ómega-3. É importante salientar o reduzido aporte de ácidos gordos trans, que não são aconselháveis, mesmo para um desportista que faz apelo acrescido ao metabolismo lipídico, já que os lipídios hidrogenados podem ter implicações negativas no sistema circulatório [48]. O consumo de colesterol não deve ultrapassar as 300 mg diárias [52], embora não existam RDA (Recommended Dietary Allowances) para este nutriente. O problema que se coloca tem mais a ver com a taxa total de colesterol sanguíneo, principalmente o colesterol acoplado às lipoproteínas de baixa densidade e menos o aporte dietético. Parece que a taxa sanguínea do HDL-colesterol, o denominado bom colesterol, está mais dependente do perfil da actividade física e menos da dieta [53], pelo que será de assumir que a teoricamente excessiva ingestão de colesterol pode não acarretar problemas de saúde a este atleta, pelo menos enquanto o for (Tabela V). É de salientar que uma elevada aptidão cardiorrespiratória, como a característica do sujeito do presente estudo, está mais relacionada com uma reduzida tendência para a hipercolesterolemia que o exercício por si só [54]. Tabela V - Ingestão média diária de fibras, etanol e cafeína, ± DP e valores mínimo e máximo, do maratonista. Outros nutrientes Fibras (g) Etanol (g) Cafeína (mg) Média ± DP 8,1 ± 2,8 8,4 ± 14,7 8,8 ± 13,5 Mínimo 4,5 0 0 Máximo 13 35,4 35,9 Verificamos que o consumo de fibras alimentares é muito reduzido. A prevenção de desordens digestivas aliada ao efeito positivo das fibras dietéticas na redução da absorção das gorduras da dieta e na redução do colesterol sanguíneo permite acentuar os eventuais malefícios do reduzido aporte destas substâncias que está muito longe dos 20-35 g/dia recomendados [55]. O consumo de etanol também não é preocupante, embora os valores polares indiquem dias de completa abstinência e outros em que a ingestão de bebidas alcoólicas pode gerar algum grau de toxicidade que se pode reflectir não só na saúde como no rendimento desportivo. Embora estudos epidemiológicos apontem para o facto de que o consumo moderado de álcool está associado com um risco diminuído de morbilidade e mortalidade cardiocircu- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 latória quando se relaciona com a abstinência e o consumo imoderado [56], pensamos que o álcool não deve fazer parte da dieta de um atleta, uma vez que o consumo crónico de álcool está relacionado com alterações desfavoráveis do sistema imune, do processo de coagulação e da integridade cerebral [57]. Como o álcool é uma droga rica em energia e pobre em nutrientes deve ser erradicado da dieta do atleta sob pena de a reposição energética pós-esforço ser deficitária em nutrientes essenciais que só podem ser providenciados pelos alimentos mais completos cuja ingestão fica comprometida já que o álcool reduz de forma significativa o apetite [58]. Os valores da cafeína são reduzidos e apresentam o mesmo perfil do etanol, o que parece indicar um padrão nutricional tocado por alguns excessos que não serão problemáticos se não tiverem carácter sistemático. Tabela VI - Ingestão média diária, ± DP e Recomendações de vitaminas do maratonista. Recomendações pª Atletas (Murray e Horswill, 1998) Tiamina (mg) 1,7 ± 0,48 1,5 mg Riboflavina (mg) 1,61 ± 0,30 1,7 - 1,8 mg Niacina (mg) 27,1 ± 5,2 19 - 20 mg Ác. Pantoténico (mg) 3,8 ± 0,64 4 - 7 mg Piridoxina (mg) 1,76 ± 0,42 2,0 mg Biotina (μg) 2,8 ± 2,9 30 μg Cianocobalamina (μg) 17,5 ± 14,9 2 μg Ácido Fólico (μg) 132,1± 51,7 200 μg Ácido Ascórbico (mg) 24,9 ± 12,5 60 mg Vit A (μg ER) 211,0 ± 130,5 1000 μg Vit A Caroteno (μg) 163,4 ± 265,5 6000 μg Vit. D (μg) 3,7 ± 4,1 10 μg Vit. E (mg ET) 7,02 ± 3,4 10 mg Vit. K (μg) 9,76 ± 0 70 - 140 μg Vitaminas Média ± DP Embora aportes energéticos inferiores a 2000 kcal possam conduzir a uma inadequada ingestão de alguns minerais essenciais e vitaminas [59], verificamos que a ingestão média das vitaminas do complexo B, com excepção da biotina, encontrase dentro dos valores recomendados para atletas, por vezes excedendo-os. Embora a biotina assista a várias conversões metabólicas, ajudando também na transferência do dióxido de carbono e na homeostasia do açúcar sanguíneo [60], este aporte reduzido (Tabela VI), que pensamos circunstancial, não deverá trazer problemas, até porque algumas das suas funções metabólicas podem ser substituídas por outras vitaminas como, por exemplo, a tiamina, riboflavina e niacina [61]. O que se nos afigura mais problemático é o baixo aporte das vitaminas A, C, E e Betacaroteno (Tabela VII), que têm uma função fundamental na luta contra o stresse oxidativo induzido pela produção de radicais livres durante o esforço, principalmente no de grande intensidade. O aporte reduzido destas vitaminas indicia que a actividade antioxidante não está 189 ajustada ao stresse oxidativo que normalmente está aumentado nos atletas sujeitos a cargas físicas de elevada intensidade. Nestes casos é de aceitar a suplementação ou o aumento dramático dos alimentos ricos em elementos com potencial antioxidante que serão mais direccionados para a reposição do potencial antioxidante do que no sentido de melhorar a performance, embora se tenha comprovado que o défice de algumas vitaminas afecta negativamente o desempenho atlético [62]. Foi comprovado que a suplementação com vitaminas E e C reduz o stresse oxidativo em desportistas mas não tem efeitos potenciadores da performance [63]. O baixo aporte de vitamina D (Tabela VII), importante para a absorção de cálcio e regulação do cálcio sérico, pode ter implicações negativas sobre a saúde do osso e, se o défice nutricional se mantiver, deve ser objecto de eventual suplementação, principalmente no inverno quando a reduzida exposição solar atenua a síntese exógena de vitamina D. O problema não se colocará com tanta acuidade no verão, uma vez que a exposição solar aumentada promoverá a síntese cutânea de vitamina D [64]. O valor baixo deste atleta enquadra-se num panorama global caracterizado por uma elevada prevalência de insuficiência e deficiência em vitamina D, com alguns estudos a apontar para défices de vitamina D em populações de desportistas [65]. O baixo aporte de vitamina K (Tabela VI) não é problemático, já que situações de deficiência são extremamente raras porque as bactérias intestinais normalmente produzem a vitamina K2 (menaquinona). No entanto, em virtude do baixo aporte, seria aconselhável este atleta aumentar o aporte de alimentos ricos em vitamina K, tais como, vegetais de folha verde (salsa, espinafre, brócolos e couve galega); também existem pequenas quantidades desta vitamina no leite e em outros lacticínios, carne, ovos e cereais. O aumento da ingestão destes alimentos contribuirá não só para normalizar o metabolismo ósseo como para melhorar o sistema de coagulação, duas importantes funções da vitamina K [66]. Tabela VII - Ingestão média diária de macrominerais, ± DP e Recomendações (RDA) do maratonista. Macrominerais Cálcio (mg) Magnésio (mg) Fósforo (mg) Potássio (mg) Sódio (mg) Cloro (mg) Média ± DP 387,4 ± 154,5 222,6 ± 22,3 1260,3 ± 158,9 2371,4 ± 672,0 2100,7 ± 888.1 302,0 ± 82,0 RDA* 800 - 1200 mg 350 mg 800 - 1200 mg 1875 - 5625 mg 1100 - 3300 mg 2300 mg * Dietary reference intakes. Washington, DC, 1997, 1998, 2000 e 2002. Aliado aos baixos aportes de vitamina K e vitamina D, a baixa ingestão de cálcio cria um ambiente nutricional pouco favorável ao metabolismo ósseo. O panorama é agravado quando as RDA, apresentadas na tabela VII, dizem respeito a sujeitos sedentários. O cálcio é um ião com múltiplas implicações metabólicas, sendo essencial para despoletar e controlar o Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 190 processo de contracção muscular. Será de corrigir de imediato esta situação deficitária, já que a sudação recorrente induzida pelos treinos frequentes promove uma perda significativa de cálcio pelo suor [67]. De igual forma, o relativamente baixo aporte de magnésio (Tabela VII) deve ser corrigido, pois a perda deste mineral pelo suor pode ser significativa, principalmente quando o maratonista treinar em ambientes quentes. Clarkson & Haymes [68] relacionam o défice em magnésio com cãibras musculares e, derivado das múltiplas funções que desempenha, em especial as relacionadas com os sistemas enzimáticos e a excitação neuromuscular, deve haver especial cuidado em evitar défices deste mineral. A conjugação da deplecção de magnésio induzida pelo exercício físico com a ingestão marginal deste nutriente pode afectar o metabolismo energético, a função muscular, o consumo de oxigénio e o equilíbrio electrolítico [69]. Os valores de sódio estão dentro das referências. É rara a deficiência em sódio, pois faz parte de muitos alimentos. O potássio, o maior catião (ião positivo) dentro das células animais, é importante para manter o equilíbrio electrolítico do corpo e fundamental para a contracção muscular e a condução dos impulsos nervosos. O maratonista do PE apresenta valores médios dentro das recomendações, corroborando os dados de outros estudos com fundistas portugueses [4]. Tabela VIII - Ingestão média diária de oligoelementos, ± DP e Recomendações (RDA) do maratonista. Microminerais Cobre (g) Ferro (mg) Manganésio (mg) Selénio (μg) Zinco (mg) Boro (mg) Iodo (μg) Molibdénio (μg) Média ± DP 1,52 ± 0,90 15,8 ± 3,3 1,83 ± 0,70 109,5 ± 45,6 15,7 ± 4,9 1,84 ± 2,56 58,6 ± 0,0 2,46 ± 3,42 RDA * 0.9 g 8 mg 2,3 mg 55 μg 11 mg ND 150 μg 45 μg ND – não disponível * Dietary reference intakes. Washington, DC, 1997, 1998, 2000 e 2002. De uma forma geral a ingestão de microminerais está dentro das recomendações e, em alguns casos, excede-as (Tabela VIII). As excepções mais marcantes são o iodo e o molibdénio. O iodo é importante para a síntese das hormonas tiróideias e o défice nutricional recorrente pode vir a afectar o metabolismo da glândula tiróide. No entanto, o défice persistente deste mineral é pouco provável nas dietas ocidentais [70]. Uma ingestão mais generosa de peixe do mar pode resolver esta ingestão reduzida. Os valores médios baixos de molibdénio podem afectar a formação da enzima xantina-oxidase fundamental para transformar a xantina em ácido úrico [71]. Os valores médios, extremamente baixos neste estudo, podem estar relacionados com o consumo reduzido de leite, leguminosas e cereais integrais. Um défice recorrente de molibdénio pode afectar a actividade da enzima sulfito-oxidase importante na degradação oxidativa da cisteína e metionina [72]. Esta deficiência pode conduzir a anormalidades neurológicas [72]. Pensamos que a alteração do padrão dietético do atleta pode suprir o défice verificado. Salienta-se o adequado aporte de ferro, zinco e selénio, todos importantes para um maratonista de elite. O ferro está implicado numa série de funções corporais, entre as quais se salientam o transporte de oxigénio dos pulmões para os tecidos e o transporte mitocondrial de electrões. Este atleta, mantendo o status férrico evidenciado no PE, deve evitar suplementações deste mineral, já que o excesso de ferro não é facilmente excretado e pode induzir toxicidade, além de afectar o metabolismo de outros minerais, em especial cobre e zinco e poder funcionar como pro-oxidante acentuando a formação de radicais livres. Excesso de ferro pode aumentar o risco de doença cardíaca coronária [73]. O selénio, importante constituinte da enzima antioxidante glutationa-peroxidase, apresenta uma margem estreita entre a deficiência e a toxicidade [70], pelo que se devem ter acrescidas precauções com a suplementação. A ingestão de oligoelementos no PE é similar à encontrada por Gadelho [5] em corredores de meio-fundo. Conclusão Podemos concluir que o maratonista do PE apresenta uma ingestão nutricional incompatível com a sua condição de atleta de alta competição, caracterizado por treinos e competições muito exigentes. Apresenta um aporte energético deficitário, reduzida ingestão de carboidratos e excessiva de gorduras e proteínas. As fibras dietéticas são ingeridas muito abaixo das recomendações. Enquanto o aporte de vitaminas do complexo B, de uma forma geral, está adequado, o das vitaminas C, A, D, E e K está abaixo das RDA para sujeitos normais saudáveis, o que pode indiciar uma fragilização do sistema de defesa contra os radicais livres e a afectação do metabolismo ósseo. O aporte de cálcio e magnésio, derivado da sua importância metabólica, deve ser objecto de especiais cuidados nutricionais. O aporte de oligoelementos parece adequado às exigências de um maratonista de elite. Como corolário pensamos que este atleta deve alterar o seu padrão nutricional, fundamentalmente aumentando a ingestão de carboidratos e vitaminas antioxidantes. Embora no período deste estudo não nos tenha sido relatada qualquer ingestão de suplementos, sabemos que é prática comum a recorrência à suplementação ergogénica em desportistas de modalidades de endurance. Defendemos que os défices nutricionais deste atleta devem ser supridos por uma alimentação diversificada que forneça a quantidade de calorias adequadas ao perfil de treino e competição do sujeito e não por suplementos ergogénicos artificialmente produzidos, já que existem dúvidas acerca da efectiva taxa de absorção dos nutrientes provenientes de produtos artificialmente processados. No entanto, a partir de novos inquéritos nutricionais que se justificam no futuro, no caso de continu- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 ação dos défices verificados é de aconselhar a suplementação nutricional evitando-se, assim, a continuação de uma situação nutricionalmente patológica. Pensamos que para o treino dos maratonistas uma adequação ingestão nutricional é um parâmetro de crucial importância para o rendimento desportivo, pelo que urge monitorizar recorrentemente o aporte energético e nutricional destes atletas no sentido de despistar eventuais carências que podem não só afectar a performance como ter implicações negativas na saúde. Referências 1. Helge JW, Stallknecht B, Richter EA, Galbo H, Kiens B. Muscle metabolism during graded quadriceps exercise in man. J Physiol 2007;581(3):1247-58. 2. Rogero MM, Mendes RR,Tirapegui J. Neuroendocrine and nutritional aspects of overtraining. Arq Bras Endocrinol Metab 2005;49(3):359-68. 3. Margonis K, Fatouros IG, Jamurtas AZ, Nikolaidis MG, Douroudos I, Chatzinikolaou A, et al. Oxidative stress biomarkers responses to physical overtraining: implications for diagnosis. Free Radic Biol Med 2007;43(6)901-10. 4. Siqueira JE, Rodrigues dos Santos JA. Perfil nutricional dos fundistas na semana que antecede a competição. Rev Port Ciênc Desporto 2004;4(2):255. 5. Gadelho SFNA. Alimentação e nutrição no atletismo. Caracterização do perfil alimentar e dos hábitos nutricionais de praticantes Portugueses, de ambos os sexos, especialistas em corrida de meio-fundo [tese]. Porto: Faculdade de Desporto, Universidade do Porto; 2004. 6. American College of Sports Medicine. Joint Position Statement: nutrition and athletic performance. American College of Sports Medicine, American Dietetic Association, and Dietitians of Canada. Med Sci Sports Exercise 2000;32(12):2130-450. 7. Whiting SJ, Barabash A. Dietary reference intakes for the micronutrients: considerations for physical activity. Appl Physiol, Nutr Metab 2006;31:80-5. 8. Murray R, Horswill CA. Nutrient requirements for competitive sports. In: Wolinsky I, ed. Nutrition in Exercise and Sport. Third Edition. CRC Press, Boca Raton: CRC Press; 1998. p. 551-8. 9. Erp-Baart AMJ, van Saris WHM, Binkhorst RA, Vos JA, Elvers JWH. Nationwide survey on nutritional habits in elite athletes, part I: Energy, carbohydrate, protein, and fat intake. Int J Sports Med 1989;10(1):3-10. 10. Walters NJ, Ison J, Michaels D, Syed S. Body composition and marathon running performance. Second IOC World Congress on Sport Sciences, Biological Sciences. Barcelona: COOB’92; 1991. p. 243-4. 11. Marino FE, Mbambo Z, Kortekaas E, Wilson G, Lambert MI, Noakes TD, et al. Advantages of smaller body mass during distance running in warm, humid environments. Pflugers Arch 2000;441(2-3):359-67. 12. De Feo P, Di Loreto C, Lucidi P, Murdolo G, Parlanti N, De Cicco A, et al. Metabolic response to exercise. J Endocrinol Invest 2003;26(9):851-54. 13. Henriksson J. Energy metabolism in muscle; its possible role in the adaptation to energy deficiency. In: Kinney JM & Tucker HN, ed. Energy metabolism: Tissue determinants and cellular corollaries. New York: Raven Press; 1992. p. 345-65. 191 14. Farrell PA, Wilmore JH, Coyle EF, Billing JE, Costill DL. Plasma lactate accumulation and distance running performance 1979. Med Sci Sports Exerc 1993;25(10):1091-97. 15. Johansson C, Lorentzon R, Sjostrom M, Fagerlund M, FuglMeyers AR. Sprinters and marathon runners. Does isokinetic knee extensor performance reflect size and structure? Acta Physiol Scand 1987;130(4):663-69. 16. Costill DL. Nutrition and dietetics. In: Dirix A, Knuttgen HG, Tittel K, ed. The Olympic Book of Sports Medicine, Volume I of the Encyclopaedia of Sports Medicine, an International Olympic Committee Publication. Oxford: Blackweel Scientific Publications; 1988. p. 603-34. 17. Hargreaves M. Carbohydrates and exercise. J Sports Sci 1991;9:17-28. 18. Burke LM, Cox GR, Culmmings NK, Desbrow B. Guidelines for daily carbohydrate intake: do athletes achieve them? Sports Med 2001;31(4):267-99. 19. Wilkinson JG, Liebman M. Carbohydrate metabolism in sport and exercise. In: Wolinsky I, ed. Nutrition in exercise and sport. 3rd ed. Boca Raton: CRC Press; 1998. p. 63-100. 20. Rodrigues JAS. A fisiologia da maratona. In: Bento J, Marques A, eds. As ciências do desporto e a prática desportiva. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto; 1991. p. 195-214. 21. Utter AC, Kang DC, Dumke CL, McAnulty SR, Vinci DM, McAnaulty LS. Carbohydrate supplementation and perceived exertion during prolonged running. Med Sci Sports Exerc 2004;36(6):1036-41. 22. Foskett A, Williams C, Boobis L, Tsintzas K. Carbohydrate availability and muscle energy metabolism during intermittent running. Med Sci Sports Exerc 2008;40(1):96-103. 23. Burque LM, Cox GR, Culmmings NK, Desbrow B. Guidelines for daily carbohydrate intake: do athletes achieve them? Sport Med 2001;31(4):267-99. 24. ST Amanda TA, Killian KJ, Jones NL, Spriet LL, Heigenhauser GJF. Contribution of a carbohydrate restricted diet to exertional symptoms during exercise. Proceedings of the 5th Annual Meeting of the Canadian Society for Exercise Physiology. Can J Appl Physiol 1997;22(supl):58. 25. Coyle EF. Fat oxidation during whole body exercise appears to be a good example of regulation by the interaction of physiological systems. J Physiol 2007;581(3):886. 26. Maughan RJ. Effects of diet composition on the performance of high intensity exercise. In: Monod H, ed. Nutrition and Sport. Paris: Masson; 1990. p. 200-11. 27. Shetty PS. Adaptation to low energy intakes: the responses and limits to low intakes in infants, children and adults. Eur J Clin Nutr 1999;53(supl. 1):S14-S33. 28. Blaxter KL. Methods of measuring the energy metabolism of animals and interpretation of results obtained. Fed Proc 1970;30(4):1436-43. 29. Henriksson J. Effects of physical training on the metabolism of skeletal muscle. Diabetes Care 1992;15:1701-11. 30. Bergstrom J, Hermansen L, Hultman E, Saltin B. Diet, muscle glycogen and physical performance. Acta Physiol Scand 1967;71(2):140-150. 31. Sherman W. Carbohydrates, muscle glycogen and muscle glycogen supercompensation. In: Williams MH, ed. Ergogenic aids in sports. Champaign: Human Kinetics; 1983. p. 3-26. 32. Christensen DL, van Hall G, Hambraeus L. Food intake of Kalenjin runners in Kenia: A field study. Communications to 192 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 the second annual conference of the European College of Sport Science (Abstract). J Sports Sci 1998;16(5):500. Nybo L, Nielsen B, Blomstrand E, Moller K, Secher N. Neurohumoral responses during prolonged exercise in humans. J Appli Physiol 2003;95(3):1125-31. Lieberman HR, Falco CM, Slade SS. Carbohydrate administration during a day of sustained aerobic activity improves vigilance, as assessed by a novel ambulatory monitoring device, and mood. Am J Clin Nutr 2002;76(1):120-27. Lemon PW, Proctor DN. Protein intake and athletic performance. Sports Med 1991;12(5):313-25. Lemon PW. Do athletes need more dietary protein and amino acids? Int J Sport Nutr 1995;5:39-61. Tipton KD, Witard OC. Protein requirements and recommendations for athletes: relevance of ivory tower arguments for practical recommendations. Clin Sports Med 2007;26(1):17-36. Bilsborough S, Mann N. A review of issues of dietary protein intake in humans. Int J Sport Nutr 2006;16(2):129-52. Couto CE, Rodrigues JAS. Perfil nutricional em jovens praticantes de Surf. Endocrinologia, Metabolismo e Nutrição 2005;14(3):83-88. Martins FR, Rodrigues JAS. Atividade física de lazer, alimentação e composição corporal. Rev Bras Educ Fís Esp 2004;18(2):159-67. Christensen DI, Van Hall G, Hambraeus L. Food intake of Kalenjin runners in Kenya: A field study. J Sports Sci 2009;16:5. Zalcman I, Guarita HV, Juzwiak CR, Crispim CA, Antunes HK, Edwards B, et al. Nutritional status of adventure racers. Nutrition 2007;23(5):404-11. Martins FR. Actividade física de lazer. A associação com variáveis nutricionais, composição corporal e auto-conceito físico [tese]. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto; 2002. Wilkinson JG, Liebman M. Carbohydrate metabolism in sport and exercise. In: Wolinsky I, ed. Nutrition in exercise and sport. 3rd ed. Boca Raton: CRC Press; 1998. p. 63-99. Williams C. Macronutrients and performance. J Sports Sci 1995;13:1-10. Cerqueira MT, Fry MM, Connor WE. The food and nutrient intakes of the Tarahumara Indians of Mexico. Am J Clin Nutr 1979;32(4):905-15. Hamilton A. Essential fats: The answer to most athletes’ prayers – helping to conserve carbohydrates while shedding fat. London: Peak Performance; 2005. p. 25-34. Erasmus U. The healing essential fatty acids. Richmond: Alive Books; 1993. p. 43-54. Noseda G. Fats and oils (including omega3, omega6). Ther Umsch 2005;62(9): 625-28. Ayre KJ, Hulbert AJ. Effects of changes in dietary fatty acids on isolated skeletal muscle functions in rats. J Appl Physiol 1996;80(2):464-71. Huffman DM, Altena TS, Mawhinney TP, Thomas TR. Effect of n-3 fatty acids of free tryptophan and exercise fatigue. Eur J Appl Physiol 2004;92(4-5):584-91. Minderico C, Teixeira P. Nutrição e alimentação saudável. In: Teixeira P, Sardinha LB, Barata JLT, eds. Nutrição, Exercício e Saúde. Porto: Lidel; 2008. p. 1-27. Hartung GH, Foreyt JP, Mitchell RE, Vlasek I, Gotto Junior AM. Relation of diet to high-density-lipoprotein cholesterol in middle-aged marathon runners, joggers, and inactive men. N England J Med 1980;302(7):357-61. 54. Williams PT. Vigorous exercise, fitness and incident hypertension, high cholesterol, and diabetes. Med Sci Sports Exerc 2008;40(6):998-1006. 55. Escudero AE, Gonzalez SP. Dietary fibre. Nutr Hosp 2006;21(2):S60-S71. 56. Ferreira MP, Willoughby D. Alcohol consumption. The good, the bad, and the indifferent. Appl Physiol Nutr Metab 2008;33(1):12-20. 57. El-Sayed MS, Ali N, El-Sayed AZ. Interaction between alcohol and exercise: physiological and haematological implications. Sports Med 2005;35(3):257-69. 58. Zimmermann US, Buchmann A, Steffin B, Dieterle C, Uhr M. Alcohol administration acutely inhibits ghrelin secretion in an experiment involving psychosocial stress. Addict Biol 2007;12(1):17-21. 59. Economos CD, Bortz SS, Nelson ME. Nutritional practices of elite athletes. Practical recommendations. Sports Med 1993;16(6):381-99. 60. Lardy HA, Peanasky R. Metabolic functions of Biotin. Physiol Rev 1953;33:560-65. 61. Reed LJ. Functions of thiamine and lipoic acid. Physiol Rev 1953;33:544-59. 62. Van der Beek EJ, Van Dokkum W, Schrijver J, Wedel M, Gaillard AW, Wesstra A, et al. Thiamin, riboflavin, and vitamins B-6 and C: impact of combined restricted intake on functional performance in man. Am J Clin Nutr 1988;48(6):1451-62. 63. Zoppi CC, Hohl R, Silva FC, Lazarim FL, Neto JM, Stancanneli M, Macedo DV. Vitamin C and E supplementation effects in professional soccer players under regular training. J Int Soc Sports Nutr 2006;13(3):37-44. 64. Norman AW. Sunlight, season, skin pigmentation, vitamin D, and 25-hydroxyvitamin D: integral components of the vitamin D endocrine system. Am J Clin Nutr 1998;67(6):1108-10. 65. Willis KS, Petersen NJ, Larson-Meyer DE. Should we be concerned about the vitamin D status of athletes? Int J Sport Nutr Exerc Metab 2008;18(2):204-24. 66. Vermeer C, Gijsbers BLMG, Craciun AM, Gronen-van Dooren MMCL, Knapen MHJ. Effects of vitamin K on bone mass and bone metabolism. J Nutr 1996; 126(4):1187-91. 67. Montain SJ, Cheuvront SN, Lukaski HC. Sweat mineralelement responses during 7 h of exercise-heat stress. Int J Sport Nutr Exerc Metab 2007;17(6):574-82. 68. Clarkson PM, Haymes EM. Exercise and mineral status of athletes: calcium, magnesium, phosphorus, and iron. Med Sci Sports Exerc 1995;27(6):831-43. 69. Laires MJ, Monteiro C. Exercise, magnesium and immune function. Magnes Res 2008;21(2):92-96. 70. Anderson JJB. Minerals. In: Kathleen LM, Escott-Stump S, ed. Krause’s Food, Nutrition & Diet Therapy. Philadelphia: Elsevier; 2004. p. 120-163. 71. Rajagopalan KV. Molybdenum: An essential trace element in human nutrition. Ann Rev Nutr 1988;8:401-27. 72. Kisker C, Schindelin H, Pacheco A, Wehbi WA, Garret RM, Rajagopalan KV, et al. Molecular basis of sulfite oxidase deficiency from the structure of sulfite oxidase. Cell 1997;91(7):973-83. 73. Salonen JT, Nyyssonen K, Korpela H, Tuomilehto J, Seppanen R, Salonen R. High stored iron levels are associated with excess risk of myocardial infarction in Eastern Finnish men. Circulation 1992;86(3):803-11. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 193 Revisão Comparação entre as modulações dos níveis plasmáticos de HDL-colesterol induzidas pelo treinamento aeróbio de alta e baixa intensidade Comparison between the modulations of plasma levels of HDL-C induced by high and low intensity aerobic training Marcos Maruyama, Esp.*, Júlio Cezar Papeschi da Silva, Esp.**, Waldecir Paula Lima, D.Sc.***, Luiz Carlos Carnevali Junior, M.Sc.**** *Mestrando em Biociências pela Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso (FANUT - UFMT), Laboratório de Aptidão Física e Metabolismo, Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso (LAFIME/ FEF-UFMT), **Professor dos cursos de Pós-graduação da Universidade Gama Filho (UGF), ***Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), ****Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), Coordenador do Curso de Educação Física Faculdade Anhanguera de Taboão da Serra (FTS), Professor e Coordenador dos cursos de pós-graduação da Universidade Gama Filho (UGF) Resumo Abstract O presente estudo objetivou comparar as modulações dos níveis plasmáticos da lipoproteína de alta densidade ligada ao colesterol (HDL-C) pelo treinamento aeróbio de alta e baixa intensidade por meio de uma revisão de bibliografia. Atualmente a doença cardiovascular é a principal causa de mortes em âmbito mundial. Contudo a adoção de mudanças no estilo de vida pode contribuir para reversão de tal quadro. O exercício aeróbio regular está extremamente relacionado à redução do risco de doenças cardiovasculares e consequentemente a um aumento do HDL-C, que atualmente é considerada uma variável importante na prevenção de tais doenças. De fato, o treinamento de caráter aeróbio modula positivamente as concentrações do HDL-C, mostrando-se aquele realizado em alta intensidade mais efetivo que o de baixa intensidade na modulação dos níveis plasmáticos de HDL-C. Portanto, não apenas o caráter aeróbio, bem como a intensidade do trabalho mostrou-se uma variável fundamental em tal processo. The purpose of the present study was to compare the modulation of plasma levels of high-density lipoprotein cholesterol (HDL-C) by high intensity aerobic training and low intensity aerobic training. The study is based on a literature review. Currently cardiovascular disease is the main cause of current worldwide death. However the adoption of simple changes in lifestyle can help reverse such framework. The regular aerobic exercise is highly related to reduction of risk of cardiovascular diseases and consequent increasing of HDL-C, nowadays considered an important variable in the prevention of such diseases. In fact, regular aerobic training modulates positively HDL-C plasma concentration, showing that performed at high intensity is more effective than low intensity in the modulation of plasma levels of HDL-C. Therefore, not only the aerobic character, as well as the intensity of work proved to be a key variable in this case. Key-words: lipoprotein, high intensity aerobic training, low intensity aerobic training. Palavras-chave: lipoproteína, treinamento aeróbio de alta intensidade, treinamento aeróbio de baixa intensidade. Recebido em 2 de junho de 2010; aceito em 14 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: Luiz Carlos Carnevali Junior, Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo I (ICBUSP), Avenida Professor Lineu Prestes 1524 Cidade Universitária São Paulo SP, Tel: (11) 3091-7225, E-mail: contato@carnevalijunior. com.br, [email protected] 194 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Introdução Hoje em dia a doença cardiovascular é a principal causa de mortes em âmbito mundial [1,2]. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) a doença cardiovascular origina-se por patologias relacionadas ao coração e vasos sanguíneos. Inclui a doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral, doença arterial periférica, doença cardíaca reumática, cardiopatia congênita e insuficiência cardíaca. Se as tendências atuais continuarem, até 2015 estima-se que 20 milhões de pessoas morrerão vítimas de doenças cardiovasculares, principalmente a partir de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais. A adoção de simples mudanças no estilo de vida (exercício físico, adaptação da dieta e consequente redução de peso corporal) contribui na reversão de tal quadro, sendo a atividade física regular apontada como uma importante e relevante intervenção neste processo. Atualmente, a prática de exercício físico regular tem sido adotada como uma conduta preventiva e terapêutica no tratamento de dislipidemias e doenças cardiovasculares [3-5]. De fato, estudos prévios [6,7] relatam uma associação entre maiores níveis de capacidade aeróbia com o aumento da longevidade e redução de mortalidade para doenças arteriais coronarianas. A prática de exercício aeróbio regular está diretamente relacionada à redução de risco de doenças cardiovasculares e consequentemente aumento da expectativa de vida. Assim, o valor do exercício aeróbio regular na redução do risco de doenças cardiovasculares e aumento nos níveis plasmáticos da lipoproteína de alta densidade-colesterol (HDL-C) têm recebido ampla aceitação [5]. Pesquisas atuais e evidências crescentes sugerem que o HDL-c é um potente preditor negativo de doenças cardiovasculares, sugerindo que o baixo HDL-C é um grande risco cardiovascular [8]. Um dos mecanismos mais bem compreendidos do HDLC para a sua proteção cardiovascular é o transporte reverso do colesterol [9]. Tal transporte caracteriza-se por um processo dinâmico de múltiplos passos, incluem-se neste a remoção do excesso de colesterol da parede arterial a partir das membranas celulares e tecidos periféricos como também a remoção de macrófagos. Essas substâncias são transportadas pelo HDL-C para o fígado onde serão excretadas na bílis [10-12]. Além do transporte reverso do colesterol, o HDL-C apresenta diversas atividades antiaterogênicas que contribuem para a sua capacidade preventiva contra doença arterial coronariana. Demonstra ainda ação anti-inflamatória (inflamação endotelial), antioxidante (oxidação da lipoproteína de baixa densidade-colesterol (LDL-C), ação vasodilatadora (promove a produção endotelial do óxido nítrico), diminuição de agregação plaquetária e coagulação, além da manutenção da integridade do endotélio a partir dos efeitos antiapoptóticos [8,12-14]. Estudos prospectivos e observacionais realizados em todo o mundo demonstram que os altos níveis plasmáticos de HDL-C, estão associados com a redução do risco de doença arterial coronariana, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e morte, enquanto que baixos níveis plasmáticos desta lipoproteína estão correlacionados com maior risco de mortalidade imposto pela prevalência de doenças cardiovasculares em homens e mulheres [15]. Baixos níveis plasmáticos de HDL-c é considerado um importante fator de risco para o surgimento de doenças cardiovasculares que podem ser modificados através da prática de exercícios regulares [16]. Segundo Kodama et al. [5] existe uma crescente aceitação do efeito que o exercício aeróbio regular tem sobre o aumento nos níveis plasmáticos de HDL-c. O mais sustentado e distinto efeito do exercício sobre as lipoproteínas, é o aumento de HDL-c circulantes [6]. Portanto, já é de consenso que o exercício aeróbio regular atua de forma terapêutica e preventiva nas doenças cardiovasculares. Sua principal influência positiva está na modulação dos níveis plasmáticos de HDL-c, conforme supracitado [4,5,8,15]. Contudo, a duração e intensidade na qual os efeitos positivos tornam-se evidentes ainda não estão bem esclarecidas. O objetivo da presente revisão é comparar a efetividade do treinamento aeróbio de alta intensidade e o treinamento aeróbio de baixa intensidade em promover aumento nos níveis plasmáticos da lipoproteína de alta densidade ligada ao colesterol (HDL-c). Revisão de literatura Para uma melhora na capacidade aeróbia e um efeito cardioprotetor maior, o exercício aeróbio de alta intensidade é claramente mais efetivo que o exercício aeróbio de baixa intensidade. Estudos indicam que atividades anaeróbias e treinamento de força também contribuem de maneira efetiva para aumentos nos níveis plasmáticos da HDL-C [17,18]. Como definição, atividades aeróbias de alta intensidade podem ser classificadas como aquelas que utilizam uma maior quantidade de oxigênio por unidade de tempo, para oxidação dos substratos energéticos [19]. Alguns parâmetros fisiológicos podem ser utilizados na prescrição do treinamento para o controle da intensidade de esforço. Entre eles podemos citar o volume máximo de oxigênio (VO2 máx), frequência cardíaca (FC), limiar ventilatório, limiar anaeróbio, e a percepção subjetiva ao esforço, entre outros [20]. Mais comumente utilizados na prescrição de exercícios, os percentuais relativos de VO2 máx e de as equações para predição de intensidade baseados na frequência cardíaca máxima, apresentam uma maneira prática, acessível e confiável de realizar tais prescrições. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Na literatura científica valores a partir de 65% do Vo2 máx ou 75% da FC máxima aparecem como as intensidades de esforço para qualificar tais atividades [21]. Com relação ao volume de trabalho utilizado medidas da quantidade de atividade realizada em um dia ou o volume acumulado na semana são utilizados para quantificar esta variável. Valores a partir de 30 minutos diários ou 150 minutos acumulados em uma semana, aparecem como atividades de alto volume, sendo valores abaixo destes considerados de baixo volume [22]. O efeito sobre o HDL-C é proporcional à atividade física independente do nível de aptidão de cada indivíduo. Portanto, a realização de exercícios mais intensos e mais frequentes, parece exercer um maior efeito sobre o HDL-c [23,5]. O alto valor da razão de troca respiratória durante o exercício tem correlação positiva e está associada ao aumento nos níveis plasmáticos de HDL-C [24,25]. Uma pesquisa recente [26] mostrou que dois meses de treinamento aeróbio de moderada à alta intensidade, realizado três vezes na semana, pode elevar significativamente os níveis plasmáticos de HDL-C. Em um estudo realizado por Duncan et al. [27] participaram 492 indivíduos saudáveis e sedentários, com idade entre 30-69 anos, submetidos ao treinamento aeróbio durante seis meses e divididos em cinco grupos: A. Baixa Intensidade e Baixo Volume (45-55% FC / três a quatro dias por semana) B. Baixa Intensidade e Alto Volume (45-55% FC /cinco a sete dias por semana) C. Alta Intensidade e Baixo Volume (65-75% FC /três a quatro dias por semana) D. Alta Intensidade e Alto Volume (65-75% FC /cinco a sete dias por semana) E. Grupo Controle O estudo concluiu que o treinamento de alta intensidade e alto volume foi a única intervenção que produziu efeito significativo sobre os níveis plasmáticos de HDL-C. Em outro estudo, Slentz et al. [28] submeteram 249 indivíduos sedentários com sobrepeso e dislipidemia, com idade entre 40-62 anos. Realizaram o treinamento aeróbio durante seis meses e divididos em quatro grupos: A. Baixa Intensidade e Baixo Volume (40-55% VO2 máx/~12 milhas por semana) B. Alta Intensidade e Baixo Volume (65-80% VO2 máx/~12 milhas por semana) C. Alta Intensidade e Alto Volume (65-80% VO2 máx/~20 milhas por semana) D. Grupo Controle Concluiu-se após o período que somente o treinamento de alta intensidade e alto volume resultou em melhorias sus- 195 tentadas no HDL-C, sugerindo que este de fato seja o maior modificador de metabolismo do HDL-C em resposta ao treinamento. Por sua vez, o grupo que realizou o treinamento de baixa intensidade e baixo volume, não apresentou mudança significativa nos níveis plasmáticos de HDL-C. Uma das hipóteses sobre o aumento do HDL-c em resposta ao exercício seria a redução da atividade da proteína de transferência de colesterol esterificado (CETP). A CETP remodela as HDLs transferindo colesterol esterificado de HDLs a VLDLs em troca de triglicérides (TG) [3]. Outro possível mecanismo de incremento do HDL-C seria uma redução da enzima lipase hepática (HL), que reduziria a velocidade de captação hepática do (HDL2-c) e resultaria em uma alta concentração plasmática de HDL-C [29]. O exercício de alta intensidade tende a uma capacidade mitocondrial aumentada, levando a uma maior mobilização de TG como resposta aos altos níveis de catecolaminas derivadas da prática de exercícios de alta intensidade. Ainda, a redução de TG está relacionada com a produção aumentada do HDLC, fato que ocorre também durante o exercício aeróbio [28]. A lipase lipoprotéica (LPL) que mede a hidrólise do TG, mostra-se com sua ação aumentada em resposta ao exercício, isso pode ajudar no reabastecimento de TG intramuscular usado durante o exercício, além de também fornecer o substrato na produção do HDL-c [6]. Além da intensidade, o volume de exercícios realizado parece ser uma importante variável na promoção de um aumento efetivo nos níveis de HDL-C. Segundo Kraus et al. [30], o volume de exercício parece ser mais efetivo do que a intensidade do exercício sobre as concentrações plasmáticas de lipoproteínas. Kraus et al. [30] realizaram um estudo com 84 indivíduos sedentários com sobrepeso e dislipidemia, idade entre 40 e 65 anos e os submeteram ao treinamento aeróbio durante seis meses. Foram divididos em quatro grupos distintos: A. Baixa Intensidade e Baixo Volume (40-55% VO2 máx e 19,2 km por semana) B. Alta Intensidade e Baixo Volume (65-80% VO2 máx e 19,2 km por semana) C. Alta Intensidade e Alto Volume (65-80% VO2 máx e 30,733 km por semana) D. Grupo controle O grupo denominado A, não apresentou melhora significativa quando comparado aos demais grupos. Os outros dois grupos que realizaram o treinamento de alta intensidade (B e C) obtiveram melhora semelhante na aptidão física, conforme medido pelo consumo máximo de oxigênio (VO2 máx), contudo, apenas o grupo que realizou o treinamento de volume mais elevado obteve melhora geral no perfil das lipoproteínas. O estudo ratifica a importância do treinamento aeróbio de alta intensidade na melhora do VO2 máx. Contudo, o mesmo estudo mostra que a intensidade do exercício foi 196 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 menos relevante que o volume de treinamento em termos de resposta das lipoproteínas. O último mostrou-se mais efetivo na melhora de tal perfil. Recente meta-análise realizada sobre o efeito do treinamento aeróbio na modulação dos níveis plasmáticos de HDL-C, corroborou o supracitado. Relatou que de fato as características do exercício (volume e intensidade), são os principais preditores de mudança nos níveis de HDL-C sendo mais uma vez o volume do treinamento por sessão o mais importante preditor de alteração no HDL-C [5]. Conclusão O treinamento aeróbio de alta intensidade mostrou ser mais efetivo que o treinamento aeróbio de baixa intensidade no aumento dos níveis plasmáticos de HDL-C, levando em consideração o gasto calórico promovido pela realização de exercício aeróbios em uma faixa maior de frequência cardíaca e VO2 máx mais elevado. Em conclusão, o treinamento aeróbio de alta intensidade apresenta uma melhor eficiência de tempo em relação ao mesmo treinamento realizado em baixa intensidade, muito embora o segundo também promova um aumento nos níveis plasmáticos de HDL-c, à custa de um maior volume de treinamento. Contudo, não é só a quantidade elevada dos níveis plasmáticos de HDL-C que parece ser o mais importante para o efeito cardioprotetor, e sim a melhor funcionalidade nas suas diversas ações, como: antioxidante, anti-inflamatória, antiapoptótica, agregação plaquetária e vasodilatadoras. Mais estudos são necessários para explicar a relação quantidade versus funcionalidade, provendo assim uma melhor ferramenta no auxílio da prevenção de doenças cardiovasculares. Referências 1. Cutler J, Thom T, Roccella E. Leading causes of death in the United States. JAMA 2006;295:383-84. 2. Dastani Z, Engert J, Genest J, Marcil M. Genetics of highdensity lipoproteins. Curr Opin Cardiol 2006;21:329-35. 3. Durstine J, Grandjean P, Cox C, Thompson P. Lipids, lipoproteins, and exercise. J Cardiopul Rehab 2002;22:385-98. 4. Inder M, Mehdi H, Benjamin J. High-density lipoprotein as a therapeutic target: A systematic review. JAMA 2007;298:78698. 5. Kodama S, Tanaka S, Saito K, Shu M, Sone Y, Onitake F, et al. Effect of aerobic exercise training on serum levels of highdensity lipoprotein cholesterol, a meta-analysis. Arch Intern Med 2007;167:999-1008. 6. Olchawa B, Kingwell A, Hoang A, Schneider L, Miyazaki O, Nestel P, et al. Physical fitness and reverse cholesterol transport. Arterioscler Thromb Vasc Biol 2004;24:1087-091. 7. Lee I, Skerrett P. Physical activity and all-cause mortality: What is the dose-response relation? Med Sci Sports Exerc 2001;33:459-71. 8. Bruckert E, Hansel B. HDL-c is a powerful lipid predictor of cardiovascular diseases. Int J Clin Pract 2007;61:1905-13. 9. Lewis G, Rader D. New insights into the regulation of HDL metabolism and reverse cholesterol transport. Circulation 2005;96:1221-232. 10. Ohashi R, Mu H, Wang X, Yao Q, Chen C. Reverse cholesterol transport and cholesterol efflux in atherosclerosis. Q J Med 2005;98:845-56. 11. Sviridov D, Nestel P. Dynamics of reverse cholesterol transport: protection against atherosclerosis. Atherosclerosis 2002;161:245-54. 12. Tabet F, Rye K. A. High-density lipoproteins, inflammation and oxidative stress. Clin Sci 2009;116:87-98. 13. Barter P. HDL: a recipe for longevity. Atheroscler Suppl 2004;5:25–31. 14. Florentin M, Liberopoulos E, Wierzbicki A, Mikhailidis D. Multiple actions of high-density lipoprotein. Curr Opin Cardiol 2008;23:370-78. 15. Toth P. Novel therapies for increasing serum levels of HDL. Endocrinol Metab Clin N Am 2009;38:151-170. 16. Halverstadt A, Phares D, Ferrell R, Wilund K, Goldberg A, Hagberg J. High-density lipoprotein-cholesterol, its subfractions, and responses to exercise training are dependent on endothelial lipase genotype. Metabolism 2003;52:1505-511. 17. Cauza E, Hanusch-Enserer U, Strasser B, Ludvik B, MetzSchimmerl S, Pacini G, et al. The relative benefits of endurance and strength training on the metabolic factors and muscle function of people with type 2 diabetes mellitus. Arch Phys Med Rehabil 2005;86:1527-33. 18. Danladi M, Samuel A, Dikko A, Stephen S. The effect of a high-intensity interval training program on high-density lipoprotein cholesterol in young men. J Strength Cond Res 2009;23:587-92. 19. Yoshioka M, Doucet E, St-Pierre S, Alméras N, Richard D, Labrie A, et al. Impact of high-intensity exercise on energy expenditure, lipid oxidation and body fatness. Int J Obes Relat Metab Disord 2001;25:332-39. 20. Bhambhani Y, Singh M. Ventilatory thresholds during a graded exercise test. Respiration 1985;47:120-28. 21. Achten J, Gleeson M, Jeukendrup A. Determination of the exercise intensity that elicits maximal fat oxidation. Med Sci Sports Exerc 1997;34:92-97. 22. Jeukendrup A., Achten J. Fatmax: a new concept to optimize fat oxidation during exercise? Eur J Sport Sci 2001;1:5-15. 23. Swain D, Franklin B. Comparison of cardioprotective benefits of vigorous versus moderate intensity aerobic exercise. Am J Cardiol 2006;97:141-47. 24. Price M, Halabi K. The effects of work-rest duration on intermittent exercise and subsequent performance. J Sports Sci 2005;23:835-42. 25. Hernandéz-Torres R, Ramos-Jiménez A, Torrez-Durán P, Romero-Gonzales J, Mascher D, Posadas-Romero C, Juárez-Oropeza, MA. Effects of single sessions of low-intensity continuous and moderate-intensity intermittent exercise on blood lipids in the same endurance runners. J Sci Med Sport 2007;12:323-31. 26. Stasiulis A, Mockiene A, Vizbaraite D, Mockus P. Aerobic exercise-induced changes in body composition and blood lipids in young women. Medicina (Kaunas) 2010;46:129-34. 27. Duncan G, Anton S, Sydeman S, Newton L, Corsica A, Durning E, et al. Prescribing exercise at varied levels of intensity and frequency. A randomized trial. Arch Intern Med 2005;165:2362-369. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 28. Slentz A, Houmard A, Johnson L, Bateman A, Tanner J, McCartney S, et al. Inactivity, exercise training and detraining, and plasma lipoproteins. STRRIDE: a randomized, controlled study of exercise intensity and amount. J Appl Physiol 2007;103:432-42. 197 29. Ferguson M, Alderson N, Trost S, Essig D, Burke J, Durstine J. Effects of four different single exercise sessions on lipids, lipoproteins, and lipoprotein lipase. J Appl Physiol 1998;85:1169-74. 30. Kraus E, Houmard A, Duscha D, Knetzeger J, Wharton B, McCartney S, et al. Effects of the amount and intensity of exercise on plasma lipoproteins. N Engl J Med 2002;347:1483-92. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 198 Revisão Aspectos e efeitos da creatina sobre o sistema renal e hepático Aspects and effects of creatine on renal and hepatic systems William Marciel de Souza*,Thiago Gomes Heck, M.Sc.**, Cíntia Fiorini***, Everton Boff, M.Sc.**** *Acadêmico do curso de Biomedicina da Universidade do Oeste de Santa Catarina, **Doutorando em Ciências do Movimento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ***Acadêmica do curso de Educação Física da Universidade do Oeste de Santa Catarina, ****Professor titular da Universidade do Oeste de Santa Catarina Resumo Abstract Enquanto o consumo de creatina por atletas e praticantes de atividade física que desejam aumentar a massa muscular e o desempenho físico tem crescido vertiginosamente, os efeitos adversos desse suplemento continuam sendo alvos de debates. O objetivo desta revisão é descrever aspectos gerais da creatina, seu metabolismo e impacto na composição corporal. Enfatizam-se possíveis efeitos colaterais prejudiciais, em especial sobre a função renal e hepática. Há muitas contradições e lacunas na literatura, fatores que contribuem para a divergência do tema, uma vez que os resultados disponíveis são contraditórios. Levando-se em conta que estudos sobre possíveis efeitos tóxicos da suplementação com creatina são escassos, sugerese investimento adicional para avaliar a relação custo-benefício de sua suplementação. While the use of creatine by athletes and physically active who want to increase muscle mass and physical performance has grown dramatically, the adverse effects of this supplement remain targets of heated scientific debate. The purpose of this review was to describe the general aspects of creatine, its metabolism and body composition with emphasis on their possible detrimental factor, particularly kidney and liver, in view of the methodological flaws and gaps in the literature, factors that contribute to the divergence of theme, since the results are contradictory. Taking into account that studies on possible toxic effects of creatine supplementation are lacking, one must seek appropriate parameters to evaluate its supplementation. Key-words: creatine, supplementation, exercise, nutrition. Palavras-chave: creatina, suplementação, exercício, nutrição. Recebido em 26 de março de 2010; aceito em 10 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: William Marciel de Souza, Faculdade de Ciências Biomédicas, Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade do Oeste de Santa Catarina, 89900-000 São Miguel do Oeste SC, Cel: (49) 8828-4579, E-mail: wmarciel@ hotmail.com Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Introdução A creatina foi identificada pelo cientista francês Michel Chevreu, em 1835, quando este relatou ter encontrado um novo constituinte orgânico nas carnes. Devido a dificuldades técnicas, apenas em 1847, Justus Liebig confirmou a presença regular de creatina nas carnes, verificando ainda que carne de raposas selvagens possuía 10 vezes mais creatina em comparação às raposas em cativeiro, concluindo que o trabalho muscular resultaria em acúmulo dessa substância. Na mesma época, os pesquisadores Heitz e Pettenkoffer descobriram uma nova substância presente na urina, mais tarde identificada por Liebig como creatinina, um subproduto da creatina [1]. A creatina é sintetizada endogenamente pelo fígado, rins e pâncreas a partir dos aminoácidos glicina, metionina e arginina. Também pode ser obtida via alimentação, principalmente pelo consumo de carne vermelha e peixes [2]. Embora não seja um nutriente essencial, a creatina está intimamente envolvida no metabolismo humano, sendo catabolizada à creatinina na musculatura e excretada pelos rins [2]. Os produtos disponíveis no mercado contendo creatina são muito variados. Pode-se encontrar creatina em pó ou diluída em gel, na forma líquida, em barras e até mesmo em goma de mascar. A mais utilizada é a creatina micronizada, porém alguns produtos misturam o monoidrato de creatina a outros compostos, como carboidratos, proteínas, aminoácidos, vitaminas e até extratos herbais e fitoquímicos. Esta variedade comercial dificulta a interpretação dos resultados obtidos com sua suplementação [2,3]. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio da portaria nº 222 (24 de março de 1998), que discorre sobre as normas técnicas referentes a alimentos para praticantes de atividade física, surpreendentemente, não contemplou a creatina como alimento para esportistas. Em outros países como os EUA a posição sobre o assunto é bem mais aberta, o FDA, órgão que controla os medicamentos e alimentos americanos, isenta-se da responsabilidade e esta fica exclusivamente nas mãos do fabricante, caso seja exposto ao mercado algo enganoso ou que faça mal, a empresa fabricante paga caro por isto. Na União Européia, a situação é bem mais defensiva, os interessados realmente precisam comprovar a segurança e eficácia de um produto [2,4-6]. Atualmente a suplementação de creatina (ácido metil guanidino acético) vem sendo amplamente utilizada por indivíduos em diversas faixas etárias, e recomendada pelo American College of Sports Medicine, especialmente para atletas profissionais e amadores, que visam potencializar o rendimento físico, no intuito de melhorar o desempenho em exercícios de curtos períodos e de extrema potencia [4-7]. Seu uso no meio esportivo deve-se a esta representar um importante reservatório de energia para a contração muscular. Quando a demanda de energia aumenta, a creatina fosforilada (CP) fornece o fosfato para a adenosina difosfato (ADP) com a finalidade de sintetizar adenosina trifosfato (ATP) [2]. 199 O uso suplementar de creatina tem como objetivo aumentar o conteúdo de CP muscular [8], sendo então possível inferir que a suplementação possa resultar em benefícios ergogênicos da devido ao seu papel bioquímico e fisiológico sobre a bioenergética do tecido muscular esquelético na ressíntese de ATP [9]. Diversos mecanismos são propostos para demonstrar o envolvimento da suplementação de creatina com o desempenho físico melhorado: a) aumento dos níveis de (CP), servindo como tampão imediato do uso de adenosina trifosfato (ATP) durante o exercício; b) aumento dos níveis de creatina em repouso para aumentar a taxa de ressíntese da própria CP durante e após o exercício; c) redução da acidez muscular, uma vez que a CP atua consumindo um H+ no processo de ressíntese de ATP, causa aumento da atividade da citrato sintase, um marcador da capacidade oxidativa, potencializando exercícios aeróbicos; aumento da capacidade de treinamento; d) aumento da massa muscular, por ser a creatina uma substância osmoticamente ativa [2,10]. Visto que a suplementação de creatina (20 g/dia por 5-7 dias) promove aumento de 20% nas concentrações de creatina muscular [11], estudos sobre a relação desta modificação com o rendimento esportivo são mais frequentes, principalmente em atividades intermitentes de alta intensidade e curta duração [6]. Além disso, a suplementação de creatina pode ser benéfica em certos acometimentos neuromusculares [12], doenças crônico-degenerativas e tolerância à glicose [13]. Cabe ressaltar também que a utilização de creatina, como suplemento nutricional ainda gera controvérsia, haja vista que 20 possíveis eventos adversos ou efeitos colaterais da ingestão de suplementos contendo creatina foram listados no relatório de 14 de maio de 1998 do Special Nutritions Adverse Event Monitoring System (pertencente ao Food and Drug Administration – FDA) [2]. Neste sentido alguns trabalhos experimentais e clínicos têm associado sua suplementação a alguns efeitos colaterais, particularmente sobre o fígado e rins [5,14]. Estudos demonstraram que a suplementação via oral de 25 g de creatina ao dia pode levar a um quadro de hepatite [15]. Outros trabalhos avaliaram os efeitos da suplementação com creatina sobre a progressão da doença renal cística demonstrando que uma aceleração da progressão da doença, sugerindo que a suplementação com creatina deveria ser realizada com especial cuidado em pacientes renais [16]. Por outro lado, a redução dos níveis teciduais de creatina tem sido associada a uma série de doenças, razão pelos quais os efeitos da suplementação são estudados tanto em modelos experimentais quanto em estudos clínicos [17-19]. Alguns estudos fazem uma estimativa da necessidade de creatina em atletas e em casos patológicos pode estar aumentada [15,17]. Por exemplo, doenças na qual a função mitocondrial está alterada, resultando numa diminuição da síntese de adenosina trifosfato, como no caso da doença de Parkinson, Huntington e miopatias. Neste contexto, a suplementação com creatina tem apresentado importantes efeitos benéficos [2,15]. 200 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Assim, o presente trabalho busca evidenciar cientificamente suposições clínicas e de debate cientifico em relação ao uso da suplementação da creatina, como suplementação alimentar desde seu histórico, explorando seu mecanismo e seus possíveis danos fisiopatológicos ao sistema renal e hepático. Esperamos, assim, levantar um questionamento crítico sobre tal substância, lacunas na literatura que de fato não permitem conclusões generalizadas sobre o tema. Métodos Buscou-se neste trabalho revisar aspectos gerais da creatina, assim como efeitos sobre o sistema renal e hepático. Desta forma, analisando principalmente metodologias utilizadas em estudos, em artigos originais que tinham como objetivo direto a investigação dos efeitos da suplementação de creatina nesses sistemas. Utilizou-se, para tanto, a base de dados Medline. Os termos empregados na busca foram: creatine supplementation and renal function, creatine supplementation and hepatic function, metabolism, adverse effects. Histórico No início do século 20, as pesquisas sobre creatina começaram a ganhar espaço. Estudos relatavam que nem toda a creatina ingerida era encontrada na urina, indicando que o organismo armazenava uma parte [1,2]. A partir dessa constatação, novas descobertas foram realizadas, tais como a influência da ingestão de creatina sobre seu conteúdo muscular, a concentração total de creatina em seres humanos, e até a existência de formas diferenciadas da creatina, como creatina livre e CP [2]. Embora o envolvimento da creatina no metabolismo muscular não seja uma descoberta recente, seu potencial ergogênico, via suplementação, tem sido um dos mais atuais enfoques das pesquisas sobre ergogenics aids. Através da reintrodução das técnicas de biópsia e da invenção de técnicas de ressonância magnética nuclear, pesquisadores têm sido capazes de estudar a “quebra” e a ressíntese de compostos como o ATP e a CP no músculo esquelético, bem como determinar a função da CP neste processo. Desta forma, intensifica-se cada vez mais a contribuição dos estudos para a compreensão do quebra-cabeça que é a regulação do metabolismo muscular [1]. Metabolismo da creatina O processo de síntese de creatina tem início a partir da arginina, da seguinte maneira: o grupo amino da arginina é transferido para glicina, formando guanidinoacetato e ornitina, através de uma reação mediada pela enzima glicina transaminase (GT). Em seguida, o guanidinoacetato é metilado pela s-adenosil-metionina, através da ação da enzima guanidinoacetato N-metil transferase (MT), derivando, finalmente, a creatina [20]. Além da síntese de creatina no organismo, ou seja, da creatina endógena, a alimentação fornece cerca de 1 grama de creatina/dia, principalmente através do consumo de produtos de origem animal, tais como carnes bovinas e peixes [21]. O turnover diário da creatina em um homem de 70 kg é de aproximadamente 2 gramas. Sua concentração plasmática apresenta-se entre 40 e 100 mol/litro. Com o início dos procedimentos de biópsia, em 1968, permitiu-se que se obtivessem dados que quantificassem o conteúdo de creatina no músculo. Verificou-se que existe um pool de 120-140 gramas no organismo humano, onde 95% estão estocados no músculo, sendo 60% a 70% sob na forma livre e 30-40% na forma de CP. Reservas adicionais (cerca de 5%) são encontradas no coração, músculos lisos, cérebro e testículos [6,21,22]. A distribuição corpórea de creatina indica que este composto é transportado dos lugares de síntese até os locais de utilização através da corrente sanguínea [23]. Esse transporte é realizado por uma transportados específico, chamado CreaT [24]. A concentração intracelular de creatina é determinada pela habilidade da célula muscular em assimilar o nutriente a partir do plasma, uma vez que não há síntese muscular da mesma. Sabe-se que a captação da creatina circulante na corrente sanguínea pelo músculo é realizada através de um processo altamente específico, sódio-dependente, saturável e de alta afinidade, capaz de transportar a creatina contra um gradiente de concentração. Neste processo, para cada 2 moléculas de sódio, 1 molécula de creatina é captada pela célula muscular. Tal processo se dá através da ação da enzima Na+-K+-ATPase, também conhecida como bomba de sódio-potássio [23]. Acredita-se que o músculo humano estriado apresente um limite máximo de acúmulo de creatina entre 150 e 160 mmol/kg de músculo seco. Esse fato sugere que a ingestão crônica de creatina promova uma diminuição da síntese de CreaT. Tal fato se deve a finalidade de evitar um armazenamento excessivo de creatina intramuscular. Desta forma, esta regulação “negativa” da CreaT pode ser interpretada como um indesejável efeito adverso de uma suplementação prolongada [23]. Como aproximadamente 75% do músculo é constituído por água, a concentração limite de creatina no músculo úmido representaria aproximadamente 37,5-40,0 mmol/kg. De acordo com o fato de existir um limite de armazenamento muscular de creatina, indivíduos que, por razões diversas, apresentam originalmente concentrações musculares de creatina elevadas respondem menos intensamente à suplementação de creatina, quando comparados a indivíduos com níveis normais de creatina, pois se encontram mais próximos da chamada concentração limite [2]. A captação máxima de creatina é dada nos primeiros dias de suplementação com altas doses [20]. Identificou-se uma série de hormônios que influenciam a captação de creatina pelas células musculares [25]. Os autores observaram que as catecolaminas podem estimular a captação de creatina, principalmente através Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 dos receptores do tipo beta, provavelmente via mecanismo dependente de AMP cíclico. Esses autores também demonstraram que a insulina, em concentrações suprafisiológicas, e o IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina) também podem estimular a captação de creatina. A administração de creatina e carboidratos associados resultou em um aumento do transporte de creatina até o músculo, aumentando assim a retenção muscular deste nutriente. Os autores sugerem que a insulina estimule a enzima Na+-K+-ATPase, promovendo o co-transporte de Na+-Cr, o que provocaria os resultados observados no estudo. Outros estudos têm apontado resultados semelhantes, contribuindo para a hipótese de que a ingestão de carboidratos pode aperfeiçoar a captação muscular de creatina [26]. O exercício físico pode estar indiretamente relacionado com esse mecanismo de adaptação, considerando-se que uma das consequências benéficas do exercício consiste no aumento da sensibilidade à insulina [26]. Cabe ressaltar que assim como existem fatores capazes de otimizar a captação de creatina, possivelmente existam fatores prejudiciais a esse processo. A cafeína tem sido avaliada como um possível inibidor dos efeitos da suplementação de creatina [27], porém os mecanismos responsáveis por essa inibição ainda não estão totalmente esclarecidos. No músculo, parte da creatina captada é fosforilada através de uma reação mediada pela enzima creatinaquinase (CPK), que origina os 60%-70% da creatina total presente no músculo, conforme dito anteriormente [21,23]. O equilíbrio entre as concentrações de creatina livre e CP é regulado através de um processo conhecido como “phosphorylcreatine shutlle”. Este processo demonstra a difusão da creatina por três locais: área de utilização, área de transição e área de fosforilação da creatina. No local de utilização, ou seja, na miosina, a molécula de CP é “quebrada”, através da ação da enzima CPK, liberando energia (íons fosfato) para a ressíntese de ATP. A creatina livre, resultante desta “quebra”, é levada por difusão até a membrana da mitocôndria, onde é novamente fosforilada, utilizando a energia proveniente da quebra de ATP em ADP. Em seguida, a creatina fosforilada retorna, por difusão, ao seu local de utilização, onde novamente será utilizada como fonte de energia para a ressíntese de ATP [1]. As concentrações de creatina e de CP estão diretamente relacionadas com os tipos de fibras musculares, observando-se maiores concentrações nas fibras de contração rápida (IIa e IIb) em relação às fibras de contração lenta [28]. No músculo, tanto a creatina livre quanto a creatina fosfato sofrem reações irreversíveis de ciclização e desidratação, formando aproximadamente 2 gramas de creatinina por dia. Em seguida, a creatinina sintetizada é transportada através da água corpórea e rapidamente excretada pelos rins. Não existe um limiar para a excreção renal de creatinina, todavia a excreção renal diária de creatinina aproxima-se de 2 gramas, podendo variar de acordo com a massa muscular total do indivíduo [20]. 201 Creatina e atividade física A energia utilizada durante o exercício físico pode ser obtida através de três sistemas metabólicos, denominados “Sistema ATP-CP”, também conhecido como anaeróbio alático, “Sistema do glicogênio-ácido lático”, também conhecido como anaeróbio lático, e o “Sistema aeróbio”, que pode se subdividir entre glicólise oxidativa e lipólise [28]. Durante uma atividade física, esses três sistemas de energia operam simultaneamente, porém a contribuição relativa de cada um deles às exigências totais de energia pode diferir de acordo com a duração e a intensidade do exercício [29]. A participação da creatina em um dos sistemas metabólicos utilizados como fonte de energia durante o exercício, o sistema ATP-CP, é conhecida há décadas e pode ser resumida da seguinte forma: cerca de 85 gramas de ATP são estocados no organismo, porém esta concentração não pode diminuir a menos de 30%. Por esse motivo é preciso que o ATP seja constantemente ressintetizado, a fim de fornecer a energia necessária para o trabalho biológico. Uma parte da energia necessária para a sua ressíntese é obtida diretamente e rapidamente através de um outro composto rico em energia; a CP. Em termos energéticos, esse composto é similar ao ATP, pois com seu rompimento, quantidades significativas de energia são liberadas, formando creatina livre e fosfato. Portanto, a mobilização de energia proveniente de ATP e CP são fundamentais na determinação da habilidade de um indivíduo em gerar e sustentar o exercício de máxima intensidade com duração de até 30 segundos [29]. Atualmente vem sendo proposto que tal composto funcione como uma “lançadeira” para o transporte de fosfatos de alta-energia da mitocôndria para os diferentes locais de utilização, ou seja, dentro das células do músculo esquelético [26]. Adicionalmente, outras propriedades têm sido atribuídas à creatina, principalmente com relação ao tamponamento de compostos como o ADP e íons hidrogênio. Relata-se que concentrações elevadas de ADP no meio intracelular provocam, indiretamente, efeito inibitório em algumas reações mediadas pelas enzimas denominadas ATPases, o que prejudicaria a contração muscular. Além disso, sabe-se que o aumento dos íons hidrogênio, com consequente diminuição do pH muscular, contribui para o início do processo de fadiga. Portanto, a suplementação de creatina poderia aumentar a capacidade de tamponamento da célula através da creatina fosfato e poderia contribuir para o retardo a fadiga [2], por aumentar a produção de energia através do sistema ATP-CP [30]. Os efeitos ergogênicos provocados pela suplementação de creatina podem ser atribuídos ao aumento do conteúdo total de creatina intramuscular, acelerando a ressíntese de fosfocreatina, sobretudo no intervalo dos exercícios. Como resultado, a taxa de refosforilação de ADP requerida pode ser mantida durante o exercício, aumentando a capacidade de contração muscular [9, 202 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Suplementação de creatina e desempenho esportivo Diversos estudos têm demonstrado que a suplementação oral de creatina monoidratada aumenta o estoque muscular desse composto, relacionando este aumento à otimização do desempenho em exercícios intermitentes de alta intensidade [31]. Acredita-se que o caminho mais rápido para se aumentar a concentração intramuscular de creatina consiste na ingestão de 20 gramas de tal composto por dia, em período de 5 a 8 dias [32]. Os tipos de exercícios beneficiados pela suplementação de creatina têm sido alvos frequentes de estudos. O artigo de revisão traz uma tabulação de resultados obtidos através de 71 estudos publicados entre 1993 e 1997 [30]. Todos esses estudos avaliavam o efeito da suplementação de creatina sobre a performance esportiva, sendo controversos no que diz respeito ao exercício de curta duração e alta intensidade (43 estudos), apontando uma melhora da performance em 53.5% dos casos e resultados menos satisfatórios nos 46.5% restantes. Nessa tabulação, estudos realizados com testes de atividade aeróbia (sistema oxidativo) demonstraram não haver melhora no desempenho após a suplementação de creatina, e, em alguns casos, apontaram efeitos prejudiciais da suplementação sobre o desempenho dessas atividades. Parece haver ainda efeitos dependendo da modalidade (musculatura envolvida), pois trabalhos realizados especificamente com nadadores (5 publicações) demonstraram não haver melhora do desempenho em função da suplementação de creatina. Outros estudos sobre a suplementação de creatina e performance esportiva foram publicados, na busca de minimização das incertezas geradas [20,30]. Neste sentido, o nível de treinamento do indivíduo modifica a magnitude do efeito da suplementação [2]. Diversos estudos realizados com indivíduos não treinados vêm demonstrando que a suplementação de creatina é capaz de aperfeiçoar o desempenho em exercícios de alta intensidade e curta duração [33,34]. O desempenho esportivo pode estar diretamente relacionado ao aumento do conteúdo muscular de creatina, porém apenas poucos estudos têm determinado simultaneamente as alterações no desempenho esportivo e o incremento do conteúdo de creatina no meio intramuscular após o período de suplementação, abordando um aspecto fundamental que é o nível de treinamento individual. Portanto, a realização desse tipo de estudos poderia contribuir significativamente para a interpretação do real efeito da suplementação de creatina sobre o desempenho esportivo [3,34]. A ingestão de creatina, em curto prazo, é acompanhada de um aumento da massa corpórea, principalmente em atletas do sexo masculino, cujo ganho gira em torno de 0,7 a 2,0 kg de peso após 1 a 2 semanas de suplementação com altas doses (20-25 g/d) [20,35]. Este ganho de peso pode ser justificado por duas hipóteses; a) ocorrência de retenção hídrica devido ao alto poder osmótico da creatina, fenômeno este supostamente consequente de uma suplementação aguda, consiste em um potente estimulador da síntese protéica, motivo para constante crítica na literatura, porém, esta é uma hipótese a espera de ser confirmada [3], b) ocorrência de um aumento da taxa de síntese de proteínas contráteis [36]. O efeito da suplementação possui diferentes níveis de alterações na composição corporal em diferentes tipos de atletas, podendo ser vantajoso de acordo com cada tipo de modalidade [2,3]. Em contrapartida, a creatina também vem sendo apontada como um estimulador da biossíntese de proteínas miofibrilares e da captação de aminoácidos pelas proteínas contráteis, haja vista que ratos induzidos à depleção de creatina sofrem anormalidades em suas estruturas musculares, como perda de miofilamentos e hipotrofia das fibras tipo II e de massa magra. Porém, outras investigações não têm demonstrado efeito algum da creatina sobre a síntese protéica [37]. Assim acredita-se que a realização de estudos que avaliem mais especificamente a composição corporal de indivíduos suplementados com creatina, através da utilização de metodologias que permitam a diferenciação da massa magra entre massa muscular e água corpórea, possa contribuir fundamentalmente para a interpretação desta controvérsia [8]. É importante ressaltar ainda que os efeitos da suplementação crônica de creatina sobre a composição corporal podem ser distintos daqueles observados em estudos de suplementação aguda, devido a adaptações metabólicas diferenciadas. Aspectos de saúde renal e hepática, relacionados com a suplementação de creatina Uma vez que o uso da suplementação de creatina tem se tornado um fato bastante popular entre atletas, tem surgido interesse quanto aos possíveis riscos à saúde associados a essa suplementação [2,3]. Algumas preocupações foram sugeridas com relação a alguns possíveis efeitos adversos, tais como, danos renais, hepáticos, desidratação, aumento de pressão arterial, mal estar gastrointestinal, cãibras musculares e lesões muscular severas durante o treinamento [38,39]. Uma vez que o armazenamento de creatina no músculo ocorre essencialmente nos primeiros dias de suplementação, e nos dias subsequentes o excesso de creatina é excretado pela urina, um dos possíveis efeitos adversos mais discutidos no meio científico consiste na suspeita de que a suplementação de creatina poderia provocar um estresse renal. Porém, estudos disponíveis na literatura indicam que o uso agudo ou crônico (até 10 semanas) desse composto, em doses diárias de até 30 gramas não alterara a função renal de indivíduos saudáveis. Adicionalmente, a suplementação diária com doses baixas (1,5 grama) durante até 5 anos também não tem provocado efeitos quaisquer sobre a função renal [2]. Portanto, até o presente momento, não há evidências científicas de que a suplementação de creatina possa causar danos à saúde de indivíduos sadios. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 203 Tabela I - Estudos sobre creatina e seus efeitos. Autores Efeitos relatados Poortmans et al. 1997 Suplementação aguda não tem efeito na função renal Pritchard e Kalra 1998 Suplementação foi suspensa a fim de recuperar a filtração glomerular, observou a normalização após 1 mês. Kuehl et al. 1998 Parâmetros de função renal estavam normais, com exceção da Crn. Koshy et al. 1999 Kuhel et al. 2000 Robinson et al. 2000 Edmunds et al. 2001 Barisic et al. 2002 Kreider et al. 2003 Revai et al. 2003 Causadora de nefrite intersticial aguda e injúria tubular focal. Não há evidências suficientes para se afirmar que a suplementação de creatina não prejudica a função renal Consideraram que a suplementação de creatina não apresentou efeitos deletérios A creatina apresentou piora na função renal, além de provocar progressão da doença renal Deterioração na função renal, acredita-se que ocorreu devido ao curso natural da doença Nenhuma diferença clínica significativa foi encontrada, em atletas submetidos a treinamento intenso Apresentava glomerulonefrite membranoproliferativa difusa do tipo I Taes et al.2003 Não causa danos à função renal, mesmo havendo doença renal pré-existente Poortmans et al.2005 Formação de compostos citotóxicos, porém função renal é preservada Riscos da suplementação irrestrita de creatina, principalmente em longo prazo Quadro de insuficiência renal aguda e nefrite intersticial aguda Não prejudicava a função renal Ferreira et al. 2005 Thorsteinsdottir et al. 2006 Gualano et al. 2006 Estudos envolvendo humanos não verificaram alterações na função renal decorrentes da suplementação de creatina [40]. Pode-se demonstrar que a suplementação levou a um aumento na formação de metilamina e formoldeído, ambos compostos com ação tóxica sobre os rins [41]. Neste mesmo trabalho, os autores verificaram ainda que o aumento dos níveis desses compostos não resultou no aumento da permeabilidade glomerular, nem em alterações da função renal. Contudo, os estudos nesta área apresentam grandes limitações metodológicas, dentre as quais, destacam-se: falta de aleatorização amostral e grupo controle [42], baixo poder estatístico [43] e ausência de marcadores precisos de função renal [44], ausência de distribuição aleatória dos grupos e marcadores precisos para avaliação da função renal dosagens Tipo de pesquisa 5 homens adultos saudáveis Consumo / tempo 20g/dia por 5 dias Homem de 25 anos com glomeruloesclerose, síndromes nefróticas, periódicas, há 8 anos. Jogador de futebol americano asmático de 19 anos com uso de albuterol Homem de 20 anos aparentemente saudável Estudo retrospectivo de Poortmans et al. 1997 5g/dia na 1ª semana + 2g/dia por 7 semanas 10g/dia por 3 meses 5 g/dia por 4 semanas 20g/dia por 5 dias 48 Homens e mulheres saudáveis, submetidos ou não a treinamento 47 ratos Han: Sprague Dawley (SPRD-cy) 3g/dia por 1 semana + 20g/dia por 8 semanas 2g/Kg da dieta por 7 dias +0,48g/kg da dieta por 35 dias 20g/dia por 12 dias + Homem sedentário de 18 anos, paciente sofria de insuficiência renal 5/g/dia ao por 28 meses moderada 98 atletas profissionais de futebol ~5g/dia por 21 meses americano Um indivíduo de 22 anos de idade, 200g/dia cronicamente usuário de esteróide anabólico (metandiona) 43 ratos Wistar com insuficiência re- 2% dieta por 4 semanas nal induzida pela remoção cirúrgica de 2/3 do tecido renal 20 homens saudáveis 21g/d por 14 dias 36 ratos Wistar saudáveis, submetidos ou não a treinamento Homem de 24 anos praticante de musculação 14 homens saudáveis 2g/kg da dieta por 10 semanas 15g/semana por 6 10 g/dia 3 meses padronizadas de creatina [41], e limitação dos resultados a atletas de alto nível, marcadores precisos de função renal e grupo controle [45], a falta de marcador preciso de função renal, tratamento estatístico empregado, reduzida amostra [43] ausência de marcadores mais precisos (padrão-ouro) não permite maiores conclusões [46], generalizações dos autores [44], uso de esteróides anabolizantes [47], os autores não providenciaram dados de ingestão ou excreção de creatina [48]. Estudos clínicos avaliando possíveis efeitos da suplementação com creatina sobre o fígado ainda deixam muitas dúvidas, não permitindo uma afirmação de que a suplementação com creatina leva a alterações hepáticas, principalmente por se tratar de relatos de casos e estudos retrospectivos [49,50]. 204 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Estudos demonstraram que a suplementação com creatina tanto aguda quanto cronicamente, não alterou significativamente parâmetros hematológicos, hepáticos e renais, com exceção dos níveis de albumina [40]. Entretanto, os mesmos autores demonstraram que esses níveis, apesar de significativamente aumentados, permaneceram dentro dos valores de normalidade, referindo-os como resultados sem significância clínica. Pesquisas avaliaram os efeitos da suplementação com creatina, em diferentes doses, e em 21 tecidos de ratos e camundongos, geneticamente modificados ou não, após 50, 56, 150, 159 e 365 dias de suplementação com creatina [15]. Os resultados demonstraram que a suplementação com creatina levou ao aparecimento de um infiltrado inflamatório difuso no fígado, em ambas as espécies, geneticamente modificados ou não. Os autores também comentaram que nenhuma outra alteração foi encontrada nos demais tecidos analisados e concluíram que a suplementação com creatina, independentemente da dose induz a um quadro de hepatotoxicidade típico de hepatite aguda. Entretanto, a presença de pequenos e isolados focos inflamatórios no fígado, poderiam ser mais bem classificados como alterações hepáticas transitórias, e isoladamente não podem ser considerados como achados de grande importância clínica, ainda mais, como no caso deste trabalho citado, no qual os autores não mostraram nenhuma outra alteração da morfologia e da função hepática [15,51]. Conclusão A suplementação com creatina tornou-se popular entre atletas. Há, porém, dúvidas sobre a relação custo-benefício no seu uso. Portanto, são necessários estudos controlados adicionais para elucidar seu impacto na fisiopatologia renal e hepática, sobretudo em longo prazo. Referências 1. Demant TW, Rhodes EC. Effects of creatine supplementation on exercise performance. Sports Med 1999;28:49-60. 2. Williams MH. Creatina. São Paulo: Manole; 2000. 272p. 3. Gualano B, Ugrinowitsch C, Seguro AC, Lancha Junior AH. A suplementação de creatina prejudica a função renal?. Rev Bras Med Esporte 2008;14:68-73. 4. Bemben MG, Lamont HS. Creatine supplementation and exercise performance: recent findings. Sports Med 2005;35:107-25. 5. Kreider RB, Melton C, Rasmussen CJ, Greenwood M, Lancaster S, Cantler EC. Long-term creatine supplementation does not significantly affect clinical markers of health in athletes. Mol Cell Bio 2003;244:95-104. 6. Terjung RL, Clarkson P, Eichner ER, Greenhaff PL, Hespel PJ, Israel RG et al. American College of Sports Medicine roundtable. The physiological and health effects of oral creatine supplementation. Med Science Sports Exer 2000;32:706-17. 7. Volek JS, Rawson ES. Scientific basis and practical aspects of creatine supplementation for athletes. Nutrition 2004;20:609-14. 8. Mendes RR, Tirapegui J. Considerações sobre o exercício físico, creatina e nutrição. Rev Bras Ciên Farm 1999;35:196-209. 9. Greenhaff PL. The nutritional biochemistry of creatine. J Nutritl Bio 1997;11:610-8. 10. Brannon TA, Adams GR, Gonniff CL, Baldwin KM. Effects of creatine loading and training on running performance and biochemical properties of rat skeletal muscle. Med Sci Sports Exerc 1997;29:489-95. 11. Harris RC, Sordelund K.; Hultman E. Elevation of creatine in resting and exercised muscle of normal subjects by creatine supplementation. Clin Sci (London) 1992;83:367-74. 12. Pearlman JP, Fielding RA. Creatine monohydrate as a therapeutic aid in muscular dystrophy. Nutri Rev 2006;64:80-8. 13. Burklen TS, Schlattner U, Homayouni R, Gough K, Rak M, Szeghalmi A. The creatine kinase/creatine connection to alzheimers disease: CK-inactivation, APP-CK complexes and focal creatine deposits. J Biomed Biotechnol 2006;2006:1-11. 14. Bjornsson E. Drug-induced liver injury: Hys rule revisited. Clin Pharmacol Ther 2006;79:521-8. 15. Tarnopolsky MA, Bourgeoi JM, Snow R, Keys S, Roy BD, Kwiecien JM. Histological assessment of intermediate and long-term creatine monohydrate supplementation in mice and rats. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 2003;285(4):762-69. 16. Edmunds JW, Jayapalan S, De Marco NM, Saboorian MH, Aukema HM. Creatine supplementation increases renal disease progression in Han:SPRD-cy rats. Am J Kidney Dis 2001;37(1):73-8. 17. Holtzman D, Khait I, Mulkern R, Allred E, Rand T, Jensen F. In vivo development of brain phosphocreatine in normal and creatine-treated rabbit pups. J Neurochem 1999;73:2477-84. 18. Woo YJ, Grand TJ, Zentko S, Cohen JE, Hsu V, Atluri P, Berry MF. Creatine phosphate administration preserves myocardial function in a model of off-pump coronary revascularization. J Cardiovasc Surg (Torino) 2005;46:297-305. 19. Prass K, Royl G, Lindauer U, Freyer D, Megow D, Dirnagl U. Improved reperfusion and neuroprotection by creatine in a mouse model of stroke. J Cereb Blood Flow Metab 2007;27:452-9. 20. Feldman EB. Creatine: a dietary supplement and ergogenic aid. Nutri Rev 1999;57:45-50. 21. Engelhardt M, Neumann G, Berbalk A, Reuter I. Creatine supplementation in endurance sports. Med Sci Sports Exerc 1998;30:1123-29. 22. Wyss M, Kaddurah-Daouk R. Creatine and creatinine metabolism. Physiol Rev 2000;80:1107-213. 23. Ontiveros ML, Wallimann T. Creatine supplementation in heath and disease. Effects of chronic creatine ingestion in vivo: Down-regulation of the expression of creatine transporter isoforms in skeletal muscle. Mol Cell Biochem 1998;184:427-37. 24. Clark JF. Creatine and phosphocreatine: a review of their use in exercise and sport. J Athl Train 1997;32:45-51. 25. Odoom JE. The regulation of total content in a myoblast cell line. Mol Cell Biochem 1996;158:179-188. 26. Mujika I, Padilla S. Creatine supplementation as an ergogenic aid for sports performance in highly trained athletes: A critical review. Int J Sports Nutr 1997;18:491-6. 27. Vanderberghe K, Gillis N, Leempute V, Hecke V. Caffeine counteracts the ergogenic action of muscle creatine loading. J Appl Physiol 1996;80:452-7. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 28. Gomes M, Tirapegui J. Nutrição e atividade física. In: Julio Tirapegui, ed. Nutrição: Fundamentos e aspectos atuais. São Paulo: Atheneu; 2000. p. 141-60. 29. Mcardle KK. Exercise physiology. Lea & Febiger 1994;54:34570. 30. Williams MH, Branch JD. Creatine supplementation and exercise performance: an update. J Am Coll Nutr 1998;17:216-34. 31. Smith JC, Sthephens DP, Hall EL, Jackson AW, Earnest CP. Effect of oral creatine ingestion on parameters of the work rate-time relationship and time to exhaustion in high-intensity cycling. Euro J Appl Physiol Occup Physiol 1998;77:300-65. 32. Greenhaff P. Creatine supplementation: recent developments. Br J Sports Med 1996;30:276-81. 33. Francaux M, Demeure R, Goudemant JF, Poortmans JR. Effect of exogenous creatine supplementation on muscle PCr metabolism. Int J Sports Med 2000;21:139-45. 34. Becque MD, Lochman JD, Melrose DR. Effects of oral creatine supplementation on muscular strength and body composition. Med Sci Sports Exerc 2000;32:654-8. 35. Mihic S, Macdonald J, Mckenzie S, Tarnopolsky M. Acute creatine loading increases fat-free mass, but does not affect blood pressure, plasma creatinina or CK activity in men and women. Med Sci Sports Exerc 2000;32:291-6. 36. Maughan RJ. Nutritional ergogenic aids and exercise performance. Nutr Res Rev 1999;12:255-80. 37. Maganaris CN, Maughan RJ. Creatine supplementation enhances maximum voluntary isometric force and endurance capacity in resistance trained man. Acta Physiol Scand 1998;163:279-87. 38. Russel LB. Interstitial nephritis in a patient taking creatine. New Engl J Med 1999;340:814-15. 39. Pritchard NR, Kaira PA. Renal dysfunction accompanying oral creatine supplements. The Lancet 1998;351:1252-53. 40. Robinson TM, Sewell DA, Casey A, Steenge G, Greenhaff PL. Dietary creatine supplementation does not affect some haematological indices, or indices of muscle damage and hepatic and renal function. Br J Sports Med 2000;34:284-8. 205 41. Poortmans JR, Kumps A, Duez P, Fofonka A, Carpentier A, Francaux M. Effect of oral creatine supplementation on urinary methylamine, formaldehyde, and formate. Med Sci Sports Exerc 2005;37:1717-20. 42. Poortmans JR, Auquier H, Renaut V, Durussel A, Saugy M, Brisson GR. Effect of short-term creatine supplementation on renal responses in men. Euro J Appl Physiol 1997;76:566-7. 43. Barisic N, Bernert G, Ipsiroglu O, Stromberger C, Muller T, Gruber S. Effects of oral creatine supplementation in a patient with MELAS phenotype and associated nephropathy. Neuropediatrics 2002;33:157-61. 44. Kuehl K, Goldberg L, Elliot D. Re: Long-term oral creatine supplementation does not impair renal function in healthy athletes. Med Sci Sports Exerc 2000;32:248-9. 45. Taes YE, Delanghe JR, Wuyts B, Van de Voorde J, Lameire NH. Creatine supplementation does not affect kidney function in an animal model with pre-existing renal failure. Nephrol Dial Transplan 2003;18:258-64. 46. Ferreira LG, Toledo BC, Lazaretti-Castro M, Heilberg IP. Effects of creatine supplementation on body composition and renal function in rats. Med Sci Sports Exerc 2005;37:1525-9. 47. Revai T, Sapi Z, Benedek S, Kovacs A, Kaszas I, Viranyi M. Severe nephrotic syndrome in a young man taking anabolic steroid and creatine long term. Orvosi Hetilap 2003;144:2425-7. 48. Thorsteinsdottir B, Grande JP, Garovic VD. Acute renal failure in a young weight lifter taking multiple food supplements, including creatine monohydrate. J Renal Nutr 2006;16:341-5. 49. Bizzarini E, De Angelis L. Is the use of oral creatine supplementation safe? J Sports Med Phys Fitness 2004;44:411-6. 50. Schilling BK, Stone MH, Utter A, Kearney JT, Johnson M, Coglianese R. Creatine supplementation and health variables: a retrospective study. Med Sci Sports Exerc 2001;33:183-8. 51. Romagnuolo J, Jhangri GS, Jewell LD, Bain VG. Predicting the liver histology in chronic hepatitis C: how good is the clinician? Am J Gastroenterol 2001;96:3165-74. 206 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 Normas de publicação Fisiologia do Exercício A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à atividade física. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relação a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à atividade física, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Educação Física (novas técnicas, legislação, etc) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato ou estudo de caso São artigo de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif ) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. 207 O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço Internet seguinte: http://decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Guillermina Arias - E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 3 - julho/setembro 2010 208 Calendário de eventos 2010 4 a 6 de novembro Congresso Científico Internacional de Educação Física, Esporte, Saúde e Educação do Triângulo Mineiro (CIEF) Uberaba, MG Informações: www.uftm.edu.br/cief/ 5 e 6 de novembro 2º Simpósio Paulista de Atividade Física e Saúde 6ª Jornada Santista de Treinamento de Força ACM, Rua Nestor Pestana, São Paulo, SP Informações: (11) 5514-1427, informaluiz.com.br, infocc.com. br 5 a 7 novembro 14º SIAFIs RJ – Simpósio Internacional de Atividades Físicas do Rio de Janeiro Auditório da Escola Naval - R. Almirante Silvio Noronha, s/n, Castelo, Rio de Janeiro, RJ Informações: (021) 2586-2279 / www.siafisrj.com.br 6 e 7 de novembro Biomecânica Funcional Aplicada Auditório do Barretos Country Hotel, Barretos, SP Informações: (17) 8119-7554 / 3322-3655 / tarcisioveiga@ hotmail.com 10 a 12 de novembro Doping Conference 2010 Institute of Exercise and Sport Sciences, University of Copenhagen, Dinamarca Informações: www.ifi.ku.dk/english/communication/ dopingconference2010/ 17 a 20 de novembro 2010 Sport and Development Conference Cape Town, South Africa Informações: [email protected] 26 a 27 de novembro 6th Meeting of the Transnational Working Group for the Study of Gender and Sport Bath, Inglaterra Informações: [email protected] 19 a 21 de novembro Wellness Curitiba 2010 Expotrade Convention Center, Curitiba, PR Informações: www.fitnessbrasil.com.br 19 e 20 de novembro Congresso Paraolímpico Brasileiro Centro de Convenções da UNICAMP, Campinas, SP Informações: (19) 3521-6755, www.fef.unicamp.br/cpb2010 26 a 27 de novembro 6th Meeting of the Transnational Working Group for the Study of Gender and Sport Bath, Inglaterra Informações: [email protected] 2 a 4 de dezembro Youth Sport 2010 Faculty of Sport of University of Ljubljana, Slovenia Informações: www.youthsport2010.si 2 a 4 de dezembro 6th ICCE Continental Coach Conference Arnhem, Netherlands Informações: www.sportsmedia.nl 3 a 5 de dezembro Encontro dos Docentes de Educação Física e Esportes Adaptados Porto Alegre, RS Informações: (34) 3218-2953 / [email protected] / www. cefep.faefi.ufu.br 2011 13 a 15 de janeiro FIVB Volleyball Medicine Congress 2011 Bled, Slovenia Informações: www.fivbmedicine2011.org 15 a 19 de janeiro 26º. Congresso Internacional de Educação Física (FIEP) Foz do Iguaçu, PR Informações: www.congressofiep.com R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Índice volume 9 número 4 - outubro/dezembro 2010 EDITORIAL Ruy Jornada Krebs: in memoriam, Paulo Farinatti ..........................................................................................................211 ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação da perda hídrica de praticantes de atividade física de duas modalidades diferentes de uma academia de São Paulo, Daniela D’Amico Silvestre de Castro, Bruna Barbosa Aires, Raquel Bicudo Mendonça, Renata Furlan Viebig .............................................................................212 Análise histomorfométrica do músculo esquelético de ratas suplementadas com L-arginina, Rodrigo Rodrigues Marcondes, Lívia Mara Alves Figueiredo, Jairo José Matozinho Cubas, Manuel de Jesus Simões, Vinícius Cestari do Amaral ............................................................216 A influência de diferentes cadências e intensidades de exercício sobre as respostas da frequência cardíaca e da percepção subjetiva de esforço em ciclistas, Mateus Rossato, Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo, Antônio Renato Pereira Moro, Talita Grossl, Juliano Fernandes da Silva .................................................................................................................................................220 Intensidade auto selecionada, percepção subjetiva de esforço e tempo sob tensão no treinamento resistido em adolescentes, Ramires Alsamir Tibana, Dahan da Cunha Nascimento, Otávio Vanni, Sandor Balsamo ..........................................................................................226 Diferença de rendimento entre meninos e meninas handebolistas que fazem treinamento de força, José Bechara Neto, Fabiana Cristina Magalhães Belisário, Paulo Henrique Correa de Oliveira ....................................................................................................................................230 Treinamento elíptico em hemiparéticos crônicos pós-AVC, Eliz Karoliny Rosa, Suzana Gomes, Simone Suzuki Woellner, Antônio Vinicius Soares ....................................................................................233 Avaliação da qualidade de vida dos tenistas amadores de Joinville, Marcelo Luiz Oliveira Weber, Gelson André Maldaner ....................................................................................................................................................239 REVISÕES Uso de dietas restritivas e suplementos nutricionais em academias, Luiza Marly Freitas de Cravalho, Ana Luisa Nascimento Albuquerque, Camila Batista Silva .............................................245 Os efeitos do treinamento de musculação com cargas baixas e oclusão vascular na hipertrofia e força, William Couto, Cintia Martins, Fabio Henrique Ornellas, Francisco Navarro, Rafaela Liberali .........................................252 Exercícios físicos e fatores de risco cardiovascular, Priscilla Rosa Queiroz Ribeiro, David Michel de Oliveira ..................................................................................................................................................260 ATUALIZAÇÃO Esteroides anabolizantes: história, mecanismos de funcionamento e efeitos colaterais, Fábio Eduardo de Almeida ................................................................................................................................................266 NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................. 270 EVENTOS ............................................................................................................................................................... 272 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 210 R e v i s t a B r a s i l e i r a d e FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Brazilian Journal of Exercise Physiology Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP) Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ) Benedito Sérgio Denadai (SP) Robert Robergs (EUA) Dartagnan Pinto Guedes (PR) Rosane Rosendo (SC) Douglas S. Brooks (EUA) Sebastião Gobbi (SP) Emerson Silami Garcia (MG) Steven Fleck (EUA) Francisco Martins (PB) Yagesh N. Bhambhani (CAN) Francisco Navarro (SP) Vilmar Baldissera (SP) Luiz Carnevali (SP) Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares, Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício está indexada no SIBRADID (Sistema Brasileiro de Documentação e Informação Desportiva) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (4 edições ao ano): R$ 160,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Administração e vendas Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Enfermagem Brasil, Neurociências e Nutrição Brasil I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 211 Editorial Ruy Jornada Krebs: in memoriam Paulo Farinatti, Editor-Chefe da RBFEx Dedicamos o presente editorial ao professor Ruy Jornada Krebs, falecido no último dia 11 de dezembro, aos 62 anos. Amigo de longa data, o professor Ruy Krebs deixa muitas saudades no plano pessoal. Ao mesmo tempo, a Educação Física brasileira e a Psicologia do Esporte perdem uma de suas maiores lideranças. O Professor Ruy Krebs atuava ultimamente como docente da Universidade de Santa Catarina, tendo se aposentado como Professor Titular pela Universidade Federal de Santa Maria. Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1969), possuía os títulos de Mestre em Educação Física pela Universidade de Iowa (1980) e em Administração Esportiva pela Universidade do Novo México (1986), Doutor em Educação Física igualmente pela Universidade do Novo México (1987) e Pós-Doutorado em Desenvolvimento Motor pela Universidade de Indiana (1994). Foi presidente da Sociedade Brasileira de Comportamento Motor e membro do Managing Council da International Society of Sport Psychology, tendo sido homenageado pela Fédération Internationale d’Education Physique (FIEP) como um dos dez Grandes Pensadores da Educação Física Brasileira. O professor Ruy Krebs atuava em projetos diversos, cuja ênfase girava predominantemente em torno das temáticas do desenvolvimento e aprendizagem motora. Discutia com profundidade problemas relacionados à seleção de talentos desportivos, psicologia do desporto, jogos e brincadeiras populares e educação física escolar. Com isso, era presença constante em congressos nacionais e internacionais. Sempre simpático a novas idéias e desafios, o professor Ruy Krebs foi um dos primeiros a aceitar convite para participar do I Encontro Brasileiro de Fisiologia do Exercício, realizado em 2002 no Rio de Janeiro. Ao longo daquele evento, foi um dos maiores estimuladores e membro fundador da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício (SBFEX), tendo sido desde sempre membro do corpo editorial da RBFEx. Por isso, dedicamos esse Editorial à memória do professor Ruy Krebs. Agradecemos profundamente pelo legado que deixou e relembramos com carinho os momentos em que pudemos conviver. Você fará falta, professor, obrigado por tudo! Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 212 Artigo original Avaliação da perda hídrica de praticantes de atividade física de duas modalidades diferentes de uma academia de São Paulo Evaluation of water loss in participants in two different fitness modalities in academy of São Paulo Daniela D’Amico Silvestre de Castro*, Bruna Barbosa Aires**, Raquel Bicudo Mendonça, M.Sc.***, Renata Furlan Viebig, M.Sc.**** *Nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo, Nutricionista autônoma, **Nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo, Nutricionista autônoma, prestadora de serviços à academia ADPM Falcão Azul, ***Nutricionista, graduada pela universidade estadual paulista, especialista em fisiologia do exercício pela UNIFESP, Nutricionista autônoma, ****Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica e Dietoterapia, Doutoranda do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Docente dos Cursos de Graduação em Nutrição do Centro Universitário São Camilo São Paulo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie Resumo Abstract Este estudo teve por objetivo calcular a perda percentual hídrica e a taxa de sudorese de praticantes de atividade física de uma academia de São Paulo. Foram avaliadas 17 praticantes todas do sexo feminino com idade entre 20 e 50 anos, frequentadoras das aulas de Jump e Spinning, com 40 minutos de duração. As praticantes foram pesadas em uma balança digital, antes e após a aula. Foi entregue um questionário de hidratação com 8 questões. Os resultados mostraram que, em relação à taxa de sudorese, a média encontrada na aula de Jump foi de 6,7 mL/min e na aula de Spinning 4,4 mL/min. O sintoma mais citado foi à fadiga pós-exercício (47,1%). Através do questionário aplicado notamos que a maioria (82,4%) beberia água naquele momento e (52,9%) não apresentaram sensação de boca seca. Caso as aulas fossem prolongadas, algumas das praticantes poderiam entrar em estado de desidratação, podendo chegar a uma desidratação grave. The aim of this study was to calculate the percentage of water loss and sweating rate of of participants of a fitness academy in São Paulo. 17 female participants were evaluated, 20 to 50 years old, attending jump and spinning sessions for 40 minutes/session. The participants were weighed using a digital scale, before and after the session. A questionnaire of hydration with 8 questions was used. The results showed that, in relation to the sweating rate, the average found in the jump class was 6.7 mL/min and in the spinning class 4.4 mL/min. The fatigue after exercise was one of the most common symptoms cited (47.1%). We noticed through the questionnaire that most of the participants (82.4%) would drink water at that time and 52.9% did not feel dry mouth sensation. If the sessions were extended, some participants could get dehydration or severe dehydration. Key-words: sweating, fluid therapy, dehydration, motor activity. Palavras-chave: sudorese, hidratação, atividade motora. Recebido em 11 de outubro de 2010; aceito em 3 de dezembro de 2010. Endereço para correspondência: Daniela D´Amico Silvestre de Castro, Rua Alameda dos Papagaios, 320, 07600-000 Mairiporã SP, Tel: (11) 4485-5643, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 Introdução Para que todos os participantes de aulas realizadas em academias de ginástica estejam bem e consigam manter um ritmo bom e contínuo, existem alguns fatores que são fundamentais: dentre eles, a hidratação e o correto consumo energético, pois o gasto energético é alto e a perda hídrica, principalmente pelo suor, é elevada. A água perfaz 40 a 60% da massa corporal de um indivíduo e está distribuída em tecidos, órgãos e sangue. Para um bom funcionamento de todo o metabolismo corporal é necessário um estado de euhidratação, pois a água participa de praticamente todos os processos metabólicos do corpo, sejam esses anabólicos ou catabólico [1]. A prática de exercício físico proporciona o aumento da sudorese, o que pode levar o organismo a uma desidratação, com aumento da osmolalidade e da concentração de sódio no plasma, e como grande parte da água perdida pela transpiração é proveniente do plasma sanguíneo, ocorre diminuição do volume plasmático e na capacidade de trabalho, já que o fluxo sanguíneo tem que ser mantido para suprir o oxigênio e substratos aos músculos e dissipar o calor pela superfície da pele [2,3]. A desidratação pode comprometer o desempenho durante o exercício e aumentar os riscos associados ao esforço e ao calor. Além disso, segundo a National Athletic Trainer’s Association, os indivíduos não ingerem voluntariamente água suficiente para prevenir a desidratação durante uma atividade física. Recomendações sobre a hidratação têm sido propostas em consensos internacionais com o intuito de minimizar os efeitos negativos das perdas hídricas sobre as respostas fisiológicas ao exercício [2]. Durante a prática de atividade física, com uma perda hídrica entre 1 a 2% em relação ao peso corporal, inicia-se um aumento na temperatura corporal considerável; em torno de 3% de desidratação, há uma redução importante no desempenho, com 4 a 6% pode ocorrer fadiga térmica e a partir de 6% ocorre risco de choque térmico, coma e morte [3]. Dessa forma, a melhor advertência que pode ser dada em relação à prática de exercícios, especialmente no calor, é a ingestão de líquidos antes, durante e depois da atividade física. Em seres humanos isto é uma alteração mais comportamental que fisiológica, pois a resposta da sede é menos desenvolvida. Quando estamos com sede durante o exercício, já nos tornamos pelo menos parcialmente desidratados. Também, a menos que um esforço consciente para a reidratação seja feito, a sede será responsável por apenas uma fração da bebida necessária para uma reposição suficiente de líquidos [1]. Segundo a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte [4], para garantir que o indivíduo inicie o exercício bem hidratado, recomenda-se que ele beba cerca de 250 a 500 mL de água duas horas antes do exercício. Durante o exercício recomenda-se iniciar a ingestão já nos primeiros 15 minutos e continuar bebendo a cada 15 a 20 minutos. O volume a ser ingerido varia conforme as taxas de sudorese, na faixa de 500 213 a 2.000 mL/hora. A bebida deve estar numa temperatura em torno de 15 a 22C° e apresentar um sabor de acordo com a preferência do indivíduo. Após o exercício, deve-se continuar ingerindo líquidos para compensar as perdas adicionais de água pela urina e sudorese. Poucas pesquisas têm sido realizadas com foco na perda hídrica de praticantes de atividade física em academias. Dessa forma, é de suma importância a elaboração de trabalhos referentes à perda e à reposição hídrica, bem como à taxa de sudorese destes indivíduos, para o conhecimento dos efeitos nocivos da desidratação e a necessidade de reposição hídrica durante o exercício físico. O presente estudo teve como objetivo calcular a perda percentual hídrica e a taxa de sudorese de praticantes de atividade física de uma academia de São Paulo. Material e métodos Desenho do estudo Estudo transversal realizado com praticantes adultos de atividade física de uma academia localizada na zona norte da cidade de São Paulo. População do estudo e amostra A amostra foi constituída de 17 praticantes de atividade física que frequentavam as aulas de Jump e Spinning, todas do sexo feminino e com idade entre 20 e 50 anos. Procedimentos As desportistas foram avaliadas em aulas habituais de Jump e Spinning, ambas com duração de 40 minutos. As praticantes foram pesadas em uma balança digital da marca Britânia®, antes da aula (Pi = Peso inicial) e após a aula (Pf = Peso final). A partir destes valores foram estimados a perda de peso, em gramas, além do percentual de perda de peso e da taxa de sudorese (TS) das praticantes. A taxa de sudorese foi calculada através da fórmula: TS = [(Pi – Pf ) x 1000] / tempo total de atividade física. Além disso, foi perguntado às praticantes por meio de um questionário de hidratação com 8 questões sobre hidratação, se “Houve a ingestão de líquidos antes e durante a aula?”, se “Sentiram alguns sintomas durante e a após a aula?”, para avaliar a ingestão hídrica de cada uma delas. Os principais sintomas e respostas relatados foram registrados e tabulados, sendo estimadas as distribuições percentuais. Aspectos éticos O presente estudo faz parte de um projeto maior submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (Coep) do Centro Universitário São Camilo e aprovado sob o número 093/06. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 214 Resultados a fadiga pós-exercício (47,1%, n = 8), sendo que todas estas tinham praticado musculação antes das aulas. Foram avaliadas 17 praticantes de atividade física, as quais apresentaram idade medida de 35 anos (dp = 4,76), sendo que 70,6 % (n = 12) praticavam Jump e 29,4 % (n = 5) praticavam Spinning. Apenas 6 participantes não haviam praticado musculação antes das aulas. A Tabela I mostra os resultados obtidos para a avaliação do estado de hidratação e perda hídrica das desportistas durante a aula habitual. São apresentados a porcentagem da perda de peso, a taxa de sudorese e os sintomas relatados após a aula. Na Tabela I é possível observar que de todas as mulheres avaliadas, apenas 2 não tiveram alteração de peso durante o exercício e 3 apresentaram leve ganho de peso (100 g). Assim, a maior parte das praticantes 70,6% (n = 12) perdeu peso durante as aulas. A perda de peso média em gramas foi de 300 g, sendo que na aula de Jump a perda média foi 28%, superior (322 g) àquela apresentada na aula de Spinning (233 g). Entretanto, apenas uma praticante apresentou uma perda de peso percentual de 1% em relação ao seu peso inicial. Em relação à taxa de sudorese (TS) a média encontrada na aula de Jump foi de 6,7 mL/min e na aula de Spinning 4,4 mL/min, desconsiderando aqueles que obtiveram um aumento de peso gerando uma TS negativa. Através do questionário, aplicado após as aulas, notamos que 70,6% apresentaram sede e 82,4% disseram que beberiam água naquele momento. Além disso, 52,9% não apresentaram sensação de boca seca e 64,7% não estavam com vontade de comer (Tabela II). O sintoma mais citado pelas mulheres foi Discussão A quantidade de perda hídrica corporal através do suor é dependente da intensidade do exercício, duração, propriedades e quantidade de vestimentas. A redução no peso corporal como indicador da perda hídrica é uma das melhores avaliações [5]. Neste trabalho, apesar das atividades terem tido duração menor do que sessenta minutos, os participantes tiveram perda de peso média considerável de 300 g. Em um estudo com atletas de karatê, em um treino com duração de 4 horas, observou-se perda de peso de 800 gramas [6]. Já no estudo de Vimieiro-Gomes & Rogrigues [7] com atletas de vôlei, a perda de peso encontrada em um treino com mais ou menos duas horas de duração foi de 100 g a 2,3 Kg. Verificou-se também, em nosso estudo, que 11,8% das praticantes obtiveram um ganho de peso, o que pode ser explicado pelos tipos de vestimentas utilizadas. Para que isso não ocorra, o ideal seria padronizar as roupas das praticantes no momento da pesagem. As diferenças no percentual de gordura corporal podem estar diretamente relacionadas ao aumento da intensidade de treinamento e práticas dietéticas mais favoráveis pelos atletas [5]. Conforme a porcentagem da perda de peso apresentada pelas desportistas de nosso estudo, apenas 5,9% perderam mais do que 1% de seu peso corporal durante a atividade, o qual é o valor considerado como início de desidratação [3]. Tabela I - Resultados relativos à análise da perda hídrica durante uma aula habitual de mulheres praticantes de Jump e Spinning. São Paulo, 2010. Idade Peso Inicial (PI) Kg Peso Final (Pf) Kg *1 *2 *3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 26 34 34 27 28 36 50 48 23 41 47 35 75,4 55,6 59,5 67,6 65,6 69,9 76,3 60,3 65,2 58,6 49,8 66,4 75,0 55,4 59,2 67,7 65,6 69,6 75,9 59,9 65,3 58,5 49,3 66,1 13 *14 15 *16 *17 21 32 23 47 41 62,4 72,1 52,7 72,1 60,2 62,0 72,0 52,8 72,1 60,0 Nome *Não praticaram nenhuma atividade antes da aula. Perda de peso (g) Jump 0,4 400 0,2 200 0,3 300 -0,1 +100 0,3 300 0,4 400 0,4 400 -0,1 + 100 0,1 100 0,5 500 0,3 300 Spinning 0,4 400 0,1 100 -0,1 +100 0,2 200 PI-PF % perda de peso Taxa de sudorese Sintomas pós exercício 0,5 0,4 0,5 0,4 0,5 0,7 0,2 1,0 0,5 10 5 5 -2,5 7,5 10 10 -2,5 2,5 12,5 7,5 ----------------------------------------Fadiga Fadiga ----------Fadiga ----------Fadiga Fadiga Fadiga 0,6 0,1 0,3 10 2,5 -2,5 5 Fadiga Fadiga ------------------------------- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 Entretanto, pesquisadores sugerem que mesmo uma pequena desidratação, perda de 1% do peso corporal, pode causar um aumento na pressão cardiovascular, dificultar as respostas fisiológicas de termorregulação e de rendimento [1]. Da mesma forma que com relação ao percentual de perda de peso, a taxa de sudorese (TS) observada em nossa população pode ser considerada elevada se comparada a outros estudos. Um estudo no qual foi avaliada a TS em jogadores de futebol, em um treino com duração de 60 min, a média foi de 8,8 ± 6,6 mL/min, o que não difere muito do nosso estudo, no qual a média da TS encontrada foi de 4,7 mL/min [3]. Já quando comparamos nossos resultados com outra pesquisa com atletas de Rugby do sexo masculino, a TS encontrada foi de 26,6 a 36,7 mL/min, um valor superior ao encontrado em nosso estudo (0mLmin a 12,5 mL/min). O tempo de treino com os atletas de Rugby foi de 120 min e o dos desportistas da academia foi de 40 min, considerando essa duração a TS encontrada em nosso estudo parece ter sido relevante [5]. Acreditamos que os resultados relativos à perda de peso, ao percentual de gordura e a taxa de sudorese sofreriam alterações caso o tempo de duração do exercício fosse maior, podendo alcançar níveis mais elevados caracterizando um início de desidratação ou uma desidratação moderada a grave. Em relação à sensação de boca seca, em seu estudo, Kenney [8] explica que só há forte sensação de sede, boca seca e diminuição do apetite quando ocorre uma perda de peso corporal superior a 2%, não ocorrendo nos praticantes do nosso estudo. A maioria dos praticantes que realizaram outro tipo de atividade antes das aulas relatou apresentar fadiga. Em um estudo com atletas de Mountain Bike os principais sintomas relatados foram de sensação de perda de força, câimbras e sede muito intensa, estes se relacionam diretamente com hidratação e reposição energética [9]. Já no estudo de Brito, Marins [10] com judocas, 20,29% relataram dificuldade de concentração, um fator em que os treinadores devem prestar bastante atenção, pois esta manifestação está relacionada a uma desidratação superior a 5%, interferindo significativamente na performance do atleta. Conclusão Em nosso estudo foi possível estimar a TS e a perda percentual hídrica de praticantes da aula de Jump e Spinning, de uma academia paulistana. Devido aos estudos escassos na área, não encontramos dados semelhantes a serem comparados com nossos resultados. 215 Observamos que os resultados encontrados foram relevantes, pois caso as aulas praticadas fossem prolongadas, algumas das praticantes poderiam entrar em estado de desidratação, podendo chegar a uma desidratação grave. Por fim, constatamos que é de suma importância o papel do nutricionista nas academias, para que assim possa orientar adequadamente os praticantes não somente em relação à alimentação, mas também a hidratação adequada, pré, durante e pós as aulas, evitando assim as consequências que esta pode causar. Referências 1. Ribeiro NR. Avaliação do consumo hídrico de atletas de Corrida de Aventura em provas de curta duração [online]; 2004; Disponível em URL: http://www. gease.pro.br 2. Machado Moreira CA, Vimieiro-Gomes AC, Silmani-Garcia E, Rodrigues LOC. Hidratação durante o exercício: a sede é suficiente? Rev Bras Med Esporte 2006:12(6):405-9. 3. Reis VAB, Azevedo COE, Rossi L. Perfil antromométrico e taxa de sudorese no futebol juvenil. Rev Bras Cineatropom Desempenho Hum 2009;11(2):134-41. 4. Carvalho T. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Rev Bras Med Esporte 2003;9(2):43-56. 5. Perrela MM, Noriyuki OS, Rossi L. Avaliação da perda hídrica durante treino intenso de rugby. Rev Bras Med Esporte 2005;11(4):229-32. 6. Rossi L, Tirapegui J. Avaliação antropométrica de atletas de Karatê. Rev Bras Ciênc Mov 2007;15(3):39-46. 7. Vimieiro-Gomes AC, Rodrigues LOC. Avaliação do estado de hidratação dos atletas, estresse térmico do ambiente e custo calórico do exercício durante sessões de treinamento em voleibol de alto nível. Rev Paul Educ Fis 2001;15(2):201-11. 8. Kenney WL. Thermoregulation at rest and during exercise in health older adults. Sports Sci 1997;25:41-76. 9. Cruz MAE, Cabral CAC, Marins JCB. Nível de conhecimento e hábitos de hidratação dos atletas de mountain bike. Fitness & Performance Journal 2009;8(2):79-89. 10. Brito CJ, Marins JCB. Caracterização das práticas sobre hidratação em atletas da modalidade de judô no estado de Minas Gerais. Rev Bras Ciênc Mov 2005;13(2):59-74. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 216 Artigo original Análise histomorfométrica do músculo esquelético de ratas suplementadas com L-arginina Histomorphometric analysis of the skeletal muscle of female rats supplemented with L-arginine Rodrigo Rodrigues Marcondes*, Lívia Mara Alves Figueiredo*, Jairo José Matozinho Cubas**, Manuel de Jesus Simões***, Vinícius Cestari do Amaral**** *Alunos de iniciação científica da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, **Professor Adjunto da Faculdade Unida de Suzano – UNISUZ, ***Chefe da Disciplina de Histologia e Biologia Estrutural da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, ****Pós-graduando da Disciplina de Ginecologia (LIM 58) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi analisar o efeito da suplementação de L-arginina no tecido muscular esquelético de ratas. Foram utilizadas oito ratas divididas em dois grupos, com quatro animais cada, sendo: grupo I (GI), suplementado com L-arginina; grupo II (GII), controle. Os animais do GI foram suplementados com L-arginina por meio de gavagem por 30 dias. Após esse período, os animais foram sacrificados e o músculo gastrocnêmio foi retirado, fixado em formol a 10% e submetido a montagem das lâminas com a coloração de hematoxilina e eosina. As lâminas foram analisadas por microscopia óptica e as imagens destas foram capturadas em um sistema de análise de imagens. No sistema de análise de imagens foram mensuradas as circunferências das células musculares esqueléticas e os dados destas mensurações foram analisados estatisticamente pelo teste T student. Os resultados revelaram que houve aumento da circunferência das células musculares esqueléticas das ratas do GI em relação ao GII. Assim, a média de circunferência do GI foi 2069 ± 32,98 μm2 e a média de circunferência do GII foi 1096 ± 17,41 μm2. Esta diferença foi estatisticamente significativa (p < 0,0001). Conclui-se que a suplementação com L-arginina promove aumento significativo da massa muscular de ratas. The aim of this study was to analyze the effects of L-arginine supplementation in skeletal muscle tissue of female rats. Eight rats divided into two groups were used, containing four animals each, as follows: group I (GI), supplemented with L-arginine; group II (GII), control. The animals of the GI were supplemented with Larginine, by gavage, for 30 days. Later, the animals were sacrificed and the gastrocnemius muscle was removed, fixed in formaldehyde 10% and submitted to haematoxylin and eosin staining. Glass slides were analyzed by optical microscopy and their images were captured in a picture analysis system. In the picture analysis system, the circumferences of the skeletal muscle cells were measured and these data were analyzed statistically by the T student test. The results revealed that there was an increase in circumference of the rat’s skeletal muscle, being the circumferences of the GI muscle cells bigger than GII. So the GI circumference mean was 2069 ± 32,98 μm2 and the GII circumference mean was 1096 ± 17.41 μm2. This difference was statistically significant (p < 0.0001). It was concluded that the supplementation with L-arginine promotes a significant increase in muscle mass of the female rats. Palavras-chave: arginina, óxido nítrico, morfologia, músculo gastrocnêmio. Key-words: arginine, nitric oxide, morphology, gastrocnemius muscle. Recebido em 2 de setembro de 2010; aceito em 12 de novembro de 2010. Endereço para correspondência: Rodrigo Rodrigues Marcondes, Estrada da Grama, P-1891, Bairro da Grama 08970-000 Salesópolis SP, Tel: (11) 7313-7907, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 217 Introdução Procedimento A L-arginina é um aminoácido semi-essencial extremamente versátil, presente em uma grande diversidade de processos fisiológicos [1]. Dentre esses processos, a síntese do óxido nítrico (NO) é atribuída como uma das mais importantes funções do metabolismo da L-arginina [2]. A enzima óxido nítrico sintase (NOS) catalisa a reação bioquímica que dá origem ao NO [3], de modo que todas as isoformas da NOS estão presentes no tecido muscular esquelético [4]. O NO tem sido descrito como o mais potente vasodilatador endógeno [5] e, em estudos com animais, demonstrou-se que a ingestão de L-arginina melhora a vasodilatação dependente do endotélio [6,7]. Recentemente, a melhora do desempenho físico tem sido relacionada com a suplementação com L-arginina [8], sendo que isto pode ocorrer de três modos: pelo papel deste composto na indução de secreção do hormônio de crescimento; através do seu envolvimento na síntese de creatina; e por ser a molécula precursora do NO [9,10]. Além disso, os aminoácidos em geral são conhecidos como potentes estimuladores da síntese proteica muscular, porém tem sido sugerido que a L-arginina, em especial, possui um papel anabólico muscular privilegiado [11]. Em vista disso, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito da suplementação oral de L-arginina na massa muscular de ratas, por meio de análise histomorfométrica. Os animais foram confinados em gaiolas plásticas com medidas de 45 x 35 x 15 cm, de comprimento, largura e altura, respectivamente, com tampa de metal gradeada. As 8 ratas foram mantidas em duas gaiolas plásticas, de modo que cada gaiola apresentasse 4 ratas, com a temperatura ambiente a 22º C e iluminação artificial com lâmpadas fluorescentes, mantendo-se o período de iluminação de 12 horas intercalado com o período escuro de 12 horas, considerando o período de iluminação das 7:00 às 19:00 h. Após o período de 30 dias, os animais foram submetidos à eutanásia e o músculo gastrocnêmio de cada animal foi retirado e submetido a técnicas histológicas para montagem das lâminas com a coloração de hematoxilina e eosina (H. E.), de modo que para cada animal foi confeccionada uma lâmina. As lâminas foram analisadas morfológica e histomorfometricamente por meio microscópio de luz (modelo Axiolab Standart 20, Carl Zeiss), com aumento de 400x. Material e métodos Animais O projeto de pesquisa foi inicialmente enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (CEP - UNIFESP) e, após a aprovação deste (CEP 0986/07), deu-se início ao experimento. Para este experimento foram utilizadas 8 ratas adultas (Rattus norvegicus albinus), com aproximadamente 3 meses de idade e peso médio de 250 g, sendo estas fornecidas pelo Centro de Desenvolvimento de Modelos de Experimentação (CEDEME) da UNIFESP. Os animais foram divididos em dois grupos: o grupo I (GI) foi submetido à suplementação com L-arginina e o grupo II (GII) serviu como controle. Histomorfometria A análise histomorfométrica foi realizada por meio de um microscópio de luz (Axiolab Standart 20) acoplado a uma câmera de vídeo colorida (modelo Hyper Had SSC-DC 54, Sony) que transmite a imagem para um computador, dotado de um software de análise gráfica (Imagelab, Softium) instalado em sistema operacional Windows XP. Para a mensuração da circunferência das células musculares foram escolhidos e fotografados feixes musculares encontrados em quatro quadrantes diferentes de cada lâmina. Foram mensuradas 50 células por lâmina, o que compôs um total de 200 células mensuradas para cada grupo de estudo. As circunferências foram mensuradas somente em células com contorno sarcolêmico totalmente visível. Análise estatística Após o cálculo da média do total de mensurações da circunferência das células musculares das ratas do grupo I e grupo II, foi visto a significância estatística entre os valores das mensurações dos grupos experimentais pelo teste T-student não pareado, com valor de significância estipulado em p < 0,05. Protocolo de gavagem Resultados A solução era composta por 1 g de L-arginina (Sigma) dissolvida em 5 ml de água filtrada. Esta solução foi administrada 1 vez ao dia por 30 dias consecutivos, entre as 15:00 e 17:00 h. Este protocolo foi adaptado de Penaforte et al. [12]. Análise morfológica No aumento de 400x, ambos os grupos apresentaram células musculares com aspecto normal, multinucleadas, núcleos periféricos, com espaço normal do perimísio e endomísio. Porém, nota-se maior espessura das células musculares das ratas suplementadas com L-arginina (Figura 1) em relação às células do grupo controle (Figura 2). 218 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 Figura 1 - Fotomicrografia do tecido muscular esquelético de rata suplementada com L-arginina (aumento de 400x). L-arginina associado à ingestão de vitamina C na massa e força muscular durante um programa de treinamento com pesos. 10 indivíduos que participaram desse estudo foram submetidos à suplementação oral de L-arginina por oito semanas e exercícios com pesos 3 vezes por semana, de modo que o grupo controle, composto também por 10 indivíduos, seguiu o mesmo protocolo de exercícios. Ao final da pesquisa notou-se que o grupo suplementado com este aminoácido apresentou aumento significativo da massa muscular. Figura 3 - Média da circunferência das células musculares esqueléticas das ratas dos grupos I e II. 2500 Histomorfometria do tecido muscular esquelético 2000 1500 μm2 Figura 2 - Fotomicrografia do tecido muscular esquelético de rata do grupo controle (aumento de 400x.) 1000 500 0 Controle L-arginina Grupos Análise histomorfométrica do tecido muscular esquelético A média das mensurações da circunferência das células musculares esqueléticas das ratas do grupo I (suplementadas com L-arginina) foi de 2069 ± 32,98 μm2. Já a média das mensurações das células musculares das ratas do grupo II (controle) 1096 ± 17,41 μm2 (Figura 3). Os resultados comparados pelo teste T-student não pareado demonstram haver diferença estatisticamente significativa entre as mensurações das células musculares do grupo I e II (p < 0,0001). Discussão No presente trabalho, a circunferência das células musculares do grupo de ratas suplementadas com L-arginina apresentarem-se maior em relação ao grupo controle, sendo demonstrada diferença significativa entre os grupos experimentais. Este resultado corrobora com o estudo de Angeli et al. [13], que analisou os efeitos da suplementação oral de Borsheim et al. [11] estudaram o efeito da suplementação de aminoácidos essenciais junto com a arginina e execução de exercícios físicos na massa muscular, na força e na função física de idosos. Notou-se que, após o período de 16 semanas, houve ganho significativo de massa muscular em resposta a suplementação e exercícios. Um estudo feito com porcos por Tan et al. [14], no qual foi analisado o efeito da suplementação de L-arginina por 60 dias em 24 animais, foi constatado o aumento significante da massa muscular desses animais. Já Suzuki [15] observou no seu experimento com 28 ratas que, após 6 semanas de suplementação em associação com exercícios de resistência, houve aumento de forma significativa da massa dos músculos posteriores das pernas. Na literatura há diversos protocolos de administração de L-arginina analisando seus efeitos no músculo esquelético, porém, na maioria desses protocolos, o uso da L-arginina é associado com o exercício físico, o que faz carecer as provas de que somente o efeito da L-arginina sem a execução de exercícios físicos associados promove alguma alteração na musculatura esquelética. Além disso, há escassez de estudos relacionados à histomorfometria do músculo esquelético após a suplementação com L-arginina, sendo a maioria dos estudos composta por análises macroscópicas, onde a histologia muscular não é estudada. Por outro lado, sabe-se que a suplementação de determinados compostos ergogênicos pode causar efeitos adversos, Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 principalmente quando este ato não é orientado por um médico [10]. Devido a isso, são necessários novos estudos visando analisar o efeito da suplementação de L-arginina em outros órgãos, para esclarecer se há ou não algum efeito maléfico após a suplementação com este composto. Conclusão Em conclusão, foi demonstrado que a suplementação com L-arginina por 30 dias consecutivos promove aumento estatisticamente significativo da circunferência das células musculares esqueléticas de ratas. Agradecimentos Agradeço ao apoio técnico das pessoas da Disciplina de Histologia e Biologia Estrutural da UNIFESP e demais apoios: Pedro Sampaio Amorim, acadêmico do curso de estatística (IME - USP), Dra. Kátia Cândido Carvalho, pesquisadora do Laboratório de Ginecologia Estrutural e Molecular - FMUSP, e David Larronda, pelo auxílio no idioma espanhol. Referências 1. Morris Jr SM. Arginine: beyond protein. Am J Clin Nutr 2006;83(Suppl):508S-12S. 2. Zago AS, Zanesco A. Óxido nítrico, doenças cardiovasculares e exercício físico. Arq Bras Cardiol 2006;87(6):e264-e270. 3. Morris Jr SM. Enzymes of arginine metabolism. J Nutr 2004;134(10):2143S-7S. 4. Stamler JS, Meissner G. Physiology of nitric oxide in skeletal muscle. Physiol Rev 2001;81(1):209-237. 5. Cuevas AM, Germain AM. Diet and endothelial function. Biol Res 2004;37:225-30. 219 6. Adams MR, Mccredie R, Jessup W, Robinson J, Sullivan D, Celermajer DS. Oral L-arginine improves endothelium-dependent dilatation and reduces monocyte adhesion to endothelial cells in young men with coronary artery disease. Atherosclerosis 1997;129:261-269. 7. Brown AA, Hu FB. Dietary modulation of endothelial function: implications for cardiovascular disease. Am J Clin Nutr 2001;73:673-686. 8. McConell GK, Huynh NN, Lee-Young RS, Canny BJ, Wadley GD. L-arginine infusion increases glucose clearance during prolonged exercise in humans. Am J Physiol Endocrinol Metab 2006;290(1):E60-E66. 9. Campbell BI, Bounty PML, Roberts M. The ergogenic potential of arginine. J Int Soc Sports Nutr 2004;1(2):35-38. 10. Weitzel LB, Sandoval PA, Mayles WJ, Wischmeyer PE. Performance-enhancing sports supplements: Role in critical care. Crit Care Med 2009;37(10 Suppl): S400-S409. 11. Borsheim E, Buib QT, Tissier S, Kobayashi H, Ferrando AA, Wolfe RR. Effect of amino acid supplementation on muscle mass, strength and physical function in elderly. Clin Nutr 2008;27(2):189-95. 12. Penaforte LRAG, Guimarães SB, Farias RAF, Alves GC, Oliveira TR, Vasconcelos PRC, et al. Efeitos da L-arginina sobre as concentrações in vivo de metabólitos do sangue e em retalho miocutâneo contendo cicatriz cirúrgica em ratos Wistar. Rev Soc Bras Cir Plást 2003;8(3):55-6. 13. Angeli G, Barros TL, Barros DFL, Lima M. Investigação dos efeitos da suplementação oral de arginina no aumento de força e massa muscular. Rev Bras Med Esporte 2007;13(2):129-32. 14. Tan B, Yin Y, Liu Z, Li X, Xu H, Kong X, et al. Dietary L-arginine supplementation increases muscle gain and reduces body fat mass in growing-finishing pigs. Amino Acids 2009;37(1):169-75. 15. Suzuki J. Microvascular angioadaptation after endurance training with L-arginine supplementation in rat heart and hindleg muscles. Exp Physiol 2005;90(5):763-71. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 220 Artigo original A influência de diferentes cadências e intensidades de exercício sobre as respostas da frequência cardíaca e da percepção subjetiva de esforço em ciclistas The influence of different cadences and exercise intensities on heart rate responses and rating of perceived exertion in cyclists Mateus Rossato, M.Sc.*, Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo, D.Sc.**, Antônio Renato Pereira Moro, D.Sc.**, Talita Grossl***, Juliano Fernandes da Silva, M.Sc.**** *Professor FEFF/UFAM, **Professores CDS/UFSC, ***Aluna PPGEF/CDS/UFSC, ****Professor CEFID/UDESC Resumo Abstract Em períodos de treinos e competições, os ciclistas utilizam cadências que não apresentam a maior economia de movimento, porém apresentam menor ativação neuromuscular. O objetivo deste estudo foi investigar as respostas cardiovasculares e psicológicas em diferentes cadências e intensidades de exercício em ciclistas profissionais. Participaram oito ciclistas profissionais, os quais realizaram um teste incremental máximo e outros dois testes submáximos (60 e 80% da potência máxima), em que pedalaram na cadência preferida, 20% a menos da cadência preferida e 20% acima da preferida. Foi utilizada a ANOVA Two Way e o post-hoc de Tukey. Foi adotado p < 0,05. Pode-se concluir que a intensidade parece ser determinante na escolha das cadências preferidas, resultando na sua redução à medida que intensidades maiores eram solicitadas, além disso, a elevação das cadências foi determinante para a elevação da demanda energética para ambas as intensidades. Adicionalmente, observou-se que as cadências preferidas pelos ciclistas não apresentaram os valores mais baixos de percepção subjetiva de esforço. In training and competition periods, cyclists use cadences that do not represent the greatest economy of movement, however, present less neuromuscular activation. The aim of this study was to investigate the psychological and cardiovascular responses at different cadences and exercise intensities in professional cyclists. Eight professional cyclists took part of the study, who performed a maximal incremental test and two submaximal tests (60 and 80% of maximum power output), pedaling at the preferred cadence, 20% below and 20% above the preferred cadence. ANOVA twoway and post hoc Tukey was used and the level of significance was set at p < 0.05. It can be concluded that the intensity seems to be determinant in the choice of the preferred cadences, resulting in its reduction as the higher intensities were required, besides, the increase in cadence was crucial to the rise in energy demand for both intensities. Additionally, we observed that the preferred cadences by cyclists did not present the lowest ratings of perceived exertion. Key-words: cycling, heart rate, cadence. Palavras-chave: ciclismo, frequência cardíaca, cadência. Recebido em 23 de setembro de 2010; aceito em 19 de novembro de 2010. Endereço para correspondência: Mateus Rossato, Universidade Federal do Amazonas, Faculdade de Educação Física e Fisioterapia, Mini-Campus – Coroado, 69077-000 Manaus AM, Tel: (92) 3305-4090, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 Introdução O monitoramento da intensidade de esforço seja em treinamentos ou em provas é de extrema importância, pois possibilita tanto o ajuste das cargas de treinamento quanto a avaliação das exigências fisiológicas da sessão de treino ou competição [1]. Dessa forma, para a prescrição da intensidade do exercício, podem ser empregados vários parâmetros, como o consumo máximo de oxigênio (VO2max), a resposta do lactato sanguíneo, a percepção subjetiva de esforço (PSE) e a frequência cardíaca (FC) [1]. Por meio da mensuração da concentração de lactato sanguíneo, é possível assumir a existência de domínios fisiológicos separados por dois limiares ou duas perdas de continuidade [2]. A identificação precisa dos limiares de transição fisiológica é uma ótima estratégia para os treinamentos, visto que o treino torna-se mais eficaz quando realizado nas intensidades correspondentes a esses limiares. No entanto, a realização de medidas diretas em situações de provas e treinamentos torna-se inviável tanto por aumentarem os custos operacionais como pela possibilidade de interferir na rotina de treinamento do atleta [3]. Sendo assim, tem aumentado o interesse dos técnicos e atletas pela utilização da FC como meio para o controle das intensidades de treinamento, principalmente por ser um método não invasivo, de fácil aplicabilidade e de baixo custo operacional [4]. Além disso, para Santos et al. [5], uma das bases fisiológicas, que regem a aplicação da FC como indicador de intensidade do esforço, é a sua relação linear dos percentuais da FC máxima (%FCmax) com os percentuais do VO2max (%VO2max), permitindo estimar o comportamento de uma variável em função da outra. Outra variável empregada para a obtenção do grau do esforço físico, principalmente pela fácil aplicabilidade e baixo custo, é a PSE. Borg [6] salienta que a avaliação global da percepção do esforço integra algumas informações de sinais deduzidos do trabalho muscular (músculos e articulações), cardiopulmonar e do sistema nervoso central. Consequentemente, a PSE é um indicador importante para saber o grau de esforço que está sendo realizado em uma determinada atividade e/ou exercício físico. Além disso, torna-se interessante associar os indicadores fisiológicos, como a FC, com os indicadores subjetivos, como a Escala de Borg. Fernandéz-Garcia et al. [7] e Lucía et al. [8] relatam que os ciclistas estão entre os atletas que conseguem manter as mais altas intensidades de trabalho, sendo reportados valores acima de 90% do VO2max pelo período de uma hora em ciclistas profissionais [9,10]. Esta grande capacidade de tolerância à fadiga está em parte associada às cadências de pedalada utilizadas pelos mesmos. Assim sendo, as cadências mais econômicas são as compreendidas entre 50 e 80 rpm [11,12], no entanto, os ciclistas preferem utilizar cadências compreendendo uma faixa de 90 a 105 rpm [13-18]. Esta discordância entre o recomendado 221 e o utilizado é um dos pontos intrigantes entre os pesquisadores, sendo consenso entre os autores que os fatores que determinam a preferência por cadências mais elevadas não estão completamente elucidados. Dessa forma, fatores hemodinâmicos [19], fatores ligados à minimização da fadiga [20-23] e fatores ligados à diminuição dos momentos articulares [23], entre outros, parecem estar associados com a escolha por parte dos ciclistas de cadências mais elevadas. Sendo assim, alterações nas cadências desencadeiam uma série de mudanças metabólicas [16,24], cardiopulmonares [8,22,25], neuromusculares [26,27], biomecânicas [28] e psicológicas [29-33]. Tendo em vista a escassez de iniciativas cientificas que levaram em consideração a individualidade e a especificidade no ciclismo, em ciclistas profissionais, percebe-se a importância de determinar as respostas cardiovasculares e psicológicas em diferentes cadências e intensidades de exercício. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo investigar as respostas cardiovasculares e psicológicas em diferentes cadências de pedalada e diferentes intensidades de exercício em ciclistas profissionais. Material e métodos Participantes Participaram deste estudo oito ciclistas profissionais, do sexo masculino (24 ± 3 anos, 73 ± 6,3 kg, 178 ± 6,8 cm, 8 ± 4 anos de experiência, 487 ± 171 km/semana de treinamento). Todos os procedimentos adotados foram aprovados previamente pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (protocolo 065/2006) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Os participantes foram informados e familiarizados com todos os procedimentos do experimento, assim como os riscos e benefícios, assinando um termo de consentimento livre e esclarecido. Teste incremental máximo Os ciclistas foram submetidos a um teste incremental máximo (TI) com carga inicial de 100 W e teve incrementos de 30 W a cada 3 min [34], sendo que a cadência de pedalada deveria ser mantida entre 90 e 110 rpm. O teste foi considerado máximo quando dois ou mais critérios a seguir fossem encontrados: quociente respiratório maior que 1,10; platô de VO2; 90% FCmax predita pela idade e incapacidade de manter a cadência solicitada. A FC foi monitorada a cada 5 s por meio de um cardiofrequencímetro da marca POLAR® (modelo S610i). A cadência de pedalada e potência produzida foram monitoradas e controladas por intermédio de um ciclosimulador CompuTrainer Profissional (modelo 8001 RaceMate Inc®). O consumo de oxigênio (VO2) foi monitorado a cada 20 s por meio do ergoespirômetro da marca AeroSport TEEM 100® Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 222 (Metabolic Analyze System), sendo que o maior valor relatado pelo equipamento foi considerado o valor de VO2max. Com a finalidade de preservar a individualidade e especificidade da modalidade, tanto o TI como os testes submáximos foram realizados nas próprias bicicletas dos atletas. A relação de marchas utilizada foi 39/19, porém, quando a bicicleta não possuía esta relação de marchas, utilizava-se uma metragem similar que mais se aproximasse desta. A potência máxima (Pmax) foi determinada de acordo com a equação: Pmax(W) = carga do último estágio completado (W) + [t (s)/duração do estágio (s) * incremento de carga (W); onde “t” foi o tempo do estágio incompleto. Testes submáximos Após 48 h, os ciclistas retornaram ao laboratório onde realizaram duas séries de 30 min, com intervalo de 30 min entre as séries, respectivamente, nas intensidades correspondentes a 60 e 80% da Pmax (60%Pmax e 80%Pmax) determinada previamente no TI. Cada série de 30 min foi constituída por 10 min na cadência preferida (Pref ), posteriormente foi reduzida em 20% (Pref-20%) e, nos últimos 10 min, foi elevada em 20% da cadência preferida (Pref+20%), conforme demonstrado na Figura 1. Figura 1 - Ilustração da realização dos dois testes submáximos. Primeira etapa Segunda etapa Recu60%Pmax pera- 80%Pmax 10 min 10 min 10 min 10 min 10 min 10 min ção Pref Pref-20% Pref+20% 30 min Pref Pref-20% Pref+20% A ordem das cadências não foi realizada de forma aleatória pela necessidade de identificar a cadência preferida para cada carga (60%Pmax e 80%Pmax), para então determinar as demais cadências. A utilização da cadência correspondente a Pref-20% logo após a Pref foi definida após a realização de testes prévios onde foram relatados menores desconfortos. Em relação à ordem das cargas (60%Pmax e 80%Pmax), optou-se por 60%Pmax para ser a primeira carga pelo fato de servir também como forma de aquecimento para a realização de uma carga superior. O monitoramento e controle das cadências e potências foram realizados por meio do ciclosimulador utilizado no TI. Para a determinação das cadências preferidas, os ciclistas tinham 5 min para adaptação às cargas e nos 5 min finais era solicitado que mantivessem as cadências escolhidas previamente com a mínima variação possível. Nas variações das cadências (± 20%), os ciclistas tinham 5 min para adaptação à nova situação, e os 5 min finais necessariamente deveriam ter sido realizados nas cadências definidas. Durante todos os procedimentos, tanto a cadência de pedalada quanto a potência eram visualizadas pelo ciclista em um display localizado junto ao guidom da sua bicicleta. A PSE foi obtida por meio da escala de 20 pontos proposta por Borg (2000), sendo solicitada ao ciclista, no último minuto de cada série, a classificação do esforço proporcionado pela associação carga/cadência. A FC foi monitorada a cada 5 s por meio de um frequencímetro da marca POLAR® (modelo S610i), entretanto somente foi utilizada a média dos últimos 5 min de cada série. Análise estatística Os dados estão expressos com média ± desvio padrão (DP). Inicialmente foi realizado o teste de Shapiro-Wilk para verificar a normalidade dos dados. Para as comparações das variáveis analisadas entre as diferentes cadências utilizou-se a análise de variância de dois fatores (ANOVA Two Way) e o teste post-hoc de Tukey (HSD). Em todas as análises foi adotado um nível de significância de 5%. Resultados A Tabela I demonstra os valores referentes às variáveis obtidas no teste incremental. A Pmax obtida pelos atletas foi de 371 ± 33 W, sendo assim, 60%Pmax foi 223 ± 20 W e 80%Pmax foi 297 ± 27 W (Tabela I). Na Tabela II estão descritos os valores referentes às variáveis cardiovasculares (FC e %FCmax) e psicológica (PSE) obtidas nos testes submáximos nas diferentes situações de potência e cadência. Considerando que os ciclistas poderiam escolher as cadências nas quais pedalariam, observou-se uma redução significativa nos valores de cadências preferidas à medida que intensidades mais altas eram solicitadas (Tabela II). Em relação aos parâmetros cardiovasculares analisados, observou-se que em ambas as intensidades, a cadência preferida não foi a que apresentou a menor demanda energética. Além disso, em ambas as intensidades, foram reportados valores significativamente superiores de FC e %FCmax com a elevação das cadências (Tabela II). Quanto a PSE, em ambas as intensidades, a elevação da cadência (Pref+20%) resultou aumentos significativos do desconforto orgânico quando comparado com as demais cadências (Pref-20% e Pref ). Também foram reportados valores significativamente superiores para a cadência Pref quando comparada com a Pref-20% na intensidade 80%Pmax. Discussão O principal achado do presente estudo foi que cadência preferida utilizada pelos ciclistas não é aquela cujo consumo energético é menor, estando de acordo com outras investigações. Além disso, o aumento das cadências de pedalada mostra-se determinante para a elevação tanto dos valores de FC quanto de PSE, sendo que a cadência preferida pelos ciclistas, em ambas as intensidades, não foi a que apresentou os menores valores de PSE (Tabela II). A escolha das intensidades 60%Pmax e 80%Pmax tinha por finalidade submeter, de maneira indireta, os ciclistas a in- Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 223 Tabela I - Valores médios e DP referentes às variáveis obtidas no teste incremental máximo. N=8 Média ± DP Pmax (W) 371 ± 33 FCmax (bpm) 191 ± 9 VO2max (mL.kg-1.min-1) 62,2 ± 3,4 60%Pmax (W) 223 ± 20 80%Pmax (W) 297 ± 27 Nota: Pmax = potência máxima; FCmax = frequência cardíaca máxima; Potência/MC = potência relativa a massa corporal; VO2pico = consumo de oxigênio de pico; 60%Pmax = potência referente a 60% da potência máxima; 80%Pmax = potência referente a 80% da potência máxima. Tabela II - Valores médios e DP de cadência, FC, %FCmax e PSE nas diferentes situações analisadas. Cadência (rpm) FC (bpm) %FCmax (%) PSE (n) %Pmax 60% 80% 60% 80% 60% 80% 60% 80% Pref-20% 77 ± 6 b 72 ± 7 144 ±13 161 ± 16 75,6 ± 5,1 84,4 ± 6,8 12,3 ± 1 14,5 ± 1,4 Pref 96 ± 9 a 90 ±10 154 ± 11d,e 170 ± 11 d,e 81,1 ± 4,6 d,e 89,5 ± 4,8 d,e 12,5 ± 1,2 e 15,4 ± 1,3 d,e Pref+20% 114 ± 9 c 107 ± 11 163±14 d d 178,6 ±12 d 85,5 ± 5,8 d 93,7 ± 3,6 d 14,3 ± 1,6 d 16,6 ± 1,4 d Nota: %Pmax = percentual da potência máxima; Pref-20% = 20% abaixo da cadência preferida; Pref = cadência preferida; Pref+20% = 20% acima da cadência preferida; FC = freqüência cardíaca; %FCmax = percentual da freqüência cardíaca máxima; PSE = percepção subjetiva de esforço. a p< 0,05 em relação a 80%Pmax da Pref; b p< 0,05 em relação a 80%Pmax da Pref-20%; c p< 0,05 em relação a 80%Pmax da Pref+20% ; d p< 0,05 em relação a Pref-20%; e p< 0,05 em relação a Pref+20%. tensidades próximas às correspondentes ao limiar de lactato e máxima fase estável de lactato (MLSS). De acordo com o estudo de Denadai et al. [3], com ciclistas treinados, foi encontrado que a MLSS ocorreu em percentuais da Pmax semelhantes ao utilizado nesta pesquisa (79,4 ± 4,1%). Em relação às cadências de pedalada preferidas pelos ciclistas, estas se encontram de acordo com outros estudos [13-18] indicando que os ciclistas preferem pedalar em cadências mais elevadas que as mais econômicas. Interessante notar que a elevação na carga de 60%Pmax para 80%Pmax resultou em reduções significativas na cadência preferida dos ciclistas (tabela II). Comportamento semelhante foi relatado tanto em protocolos de laboratório [8,13,18,25,30,31,33,35] quanto em situações de campo [7,36-38]. Os estudos realizados em campo descrevem cadências inferiores em etapas de montanha quando comparadas com etapas planas, possivelmente devido à carga a ser vencida. É consenso na literatura a existência de uma relação direta entre valores de VO2 e FC [5,39]. Sendo assim, apesar de não ter sido possível utilizar medidas de VO2, quando analisados os valores de FC nas diferentes cadências estudadas, observase uma elevação significativa dos valores de FC e %FCmax (tabela II), indicando que em ambas as intensidades (60%Pmax e 80%Pmax), a elevação da cadência resulta em um aumento na demanda metabólica. Esta maior demanda metabólica está associada à redução na economia de movimento [1,11], uma vez que a economia de movimento é definida como o VO2 obtido em determinada intensidade absoluta de exercício [1,40]. Os atletas mais econômicos são capazes de utilizar oxigênio de maneira mais eficiente para uma mesma intensidade, propiciando, assim, um melhor desempenho em eventos de endurance [40,41]. Adicionalmente, um indivíduo com maior economia de movimento apresenta um menor gasto energético em uma intensidade submáxima, dessa forma conseguirá atingir uma maior velocidade em determinada distância ou um maior tempo em uma velocidade constante [42]. Consequentemente, um valor menor de VO2 para determinada intensidade é vantajoso, principalmente em provas predominantemente aeróbias, pois utilizará uma menor fração do VO2max para qualquer intensidade de exercício. Sendo assim, os ciclistas do presente estudo, conforme fora abordado em outras investigações [1,22,25,27,43], não foram mais econômicos nas cadências preferidas, indicando que outros fatores, além dos ligados a minimização do gasto energético, parecem estar associados com a escolha das cadências preferidas. Além disso, no presente estudo foram reportados valores de %FCmax entre 75 e 85% (60%Pmax) a 84 e 94% (80%Pmax), estes valores estão acima dos observados por Neumayr et al. [44], que reportaram valores de 70% da FCmax, porém esses dados são relativos a provas de longa duração, o que possivelmente tenha influenciado tais resultados. Neumayr et al. [45] investigaram as intensidades de esforço em eventos de cicloturismo e reportaram valores médios de 77% da FCmax, valores estes que se assemelham com as intensidades correspondentes a 60%Pmax do presente estudo, indicando um predomínio de intensidades moderadamente aeróbias. A PSE é um índice importante quando o ciclista deve selecionar qual potência e cadência irá pedalar, uma vez que pode reconhecer os sinais periféricos (musculares) e centrais (cardiopulmonares). A percepção dos sinais periféricos parece ser mais determinante para as escolhas das cadências preferidas [31] quando comparada com os sinais centrais. Isso explica em parte o fato dos ciclistas pedalarem em cadências menos econômicas. Considerando os achados do atual estudo, não foram reportadas diferenças significativas quando comparadas as 224 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 cadências Pref e Pref-20% na intensidade de 60%Pmax. Por outro lado, foram observadas diferenças nestas mesmas cadências, em intensidades superiores (80%Pmax). Em ambas as intensidades, as cadências preferidas não foram as que apresentaram os menores valores de PSE, indicando que o fato dos ciclistas utilizarem cadências preferidas menos econômicas, parece não influenciar de maneira significativa a PSE. No entanto, em ambas as intensidades (60%Pmax e 80%Pmax), a utilização de cadências acima das preferidas resultou em aumentos significativos na PSE (tabela II). Sobretudo, ainda parece não existir um consenso sobre o comportamento da PSE em diferentes cadências de pedalada. Marsh, Martin e Foley [13], variando as cadências, das mais econômicas (~ 60 rpm) para as preferidas (~ 100 rpm), reportaram que os ciclistas não minimizam a sua PSE na cadência preferida, o que estaria de acordo com os achados pelo atual estudo. Além disso, Hansen et al. [32] relatam que quando testadas cadências acima e abaixo das cadências preferidas, as mais econômicas eram as que apresentavam os valores significativamente mais baixos para a PSE. Adicionalmente, Hansen et al. [17] mostraram reduções significativas na PSE à medida que cadências mais elevadas eram testadas e Lucia et al. [33] verificaram que quando os sujeitos pedalaram em altas potências (acima de 300 W), a PSE aumentava com a diminuição da cadência. Conclusão A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que a intensidade de esforço parece ser determinante na escolha das cadências preferidas, resultando na sua redução à medida que intensidades maiores eram solicitadas. A elevação das cadências foi determinante para a elevação da demanda energética para ambas as intensidades, inferindo a ocorrência de redução na economia de movimento. Em relação às mudanças da PSE, em função das alterações das cadências e das intensidades, observou-se que as cadências preferidas pelos ciclistas não apresentaram os valores mais baixos de PSE, porém parece não existir um consenso sobre tal assunto. Sugere-se que novos estudos sejam realizados, onde aspectos como a individualidade e a especificidade da modalidade continuem sendo respeitados. Referências 1. Denadai BS. Índices fisiológicos de avaliação aeróbia: conceitos e aplicações. Ribeirão Preto: BSD; 1999. 2. Gaesser GA, Poole DC. The slow component of oxygen uptake kinetics in humans. Exerc Sport Sci Rev 1996;24:35-71. 3. Denadai BS, Figueira TR, Favaro ORP, Gonçalves M. Effect of the aerobic capacity on the validity of the anaerobic threshold for determination of the maximal lactate steady state in cycling. Braz J Med Biol Res 2004;37:1551-6. 4. Amorim PRS. Fisiologia do exercício: Considerações sobre o controle do treinamento aeróbio. R Min Educ Fís 2002;10:50-61. 5. Santos AL, Cavalcanti S, Farinatti PTV, Monteiro WD. Respostas de freqüência cardíaca de pico em testes máximos de campo e laboratório. Rev Bras Med Esporte 2005;11:177-80. 6. Borg G. Escalas de Borg para a dor e o esforço percebido. São Paulo: Manole; 2000. 7. Fernandéz-Garcia B, Pérez-Landaluce J, Rodríguez-Alonso M, Terrados N. Intensity of exercise during road race pro-cycling competition. Med Sci Sports Exerc 2000;32:1002-6. 8. Lucía A, Hoyos J, Santalla A, Pérez M, Chicharro JL. Kinetics of VO2 in professional cyclists. Med Sci Sports Exerc 2002a;34:320-5. 9. Coyle EF, Feltner ME, Kautz SA, Hamilton MT, Montain SJ, Baylor AM, Abraham LD, Petrek GW. Physiological and biomechanical factors associated with elite endurance cycling performance. Med Sci Sports Exerc 1991;23:93-107. 10. Lucía A, Carvajal A, Calderon FJ, Alfonso AE, Chicharro JL. Breathing pattern in highly competitive cyclists during incremental exercise. Eur J Appl Physiol Occup Physiol 1999;79:512-21. 11. Gaesser GA, Brooks GA. Muscular efficiency during steadystate exercise: effects of speed and work rate. J Appl Physiol 1975;38:1132-9. 12. Di Prampero PE. Cycling on earth, in space, on the moon. Eur J Appl Physiol 2000;82:345-60. 13. Marsh AP, Martin PE, Foley KO. Effect of cadence, cycling experience, and aerobic power on delta efficiency during cycling. Med Sci Sports Exerc 2000;32:1630-4. 14. Atkinson G, Davison R, Jeukendrup A, Passfield L. Science and cycling: current knowledge and future directions for research. J Sports Sci 2003;21:767-87. 15. Nesi X, Bosquet L, Pelayo P. Preferred pedal rate: an index of cycling performance. Int J Sports Med 2004;26:372-5. 16. Denadai BS, Ruas VDA, Figueira TR. Efeito da cadência de pedalada sobre as respostas metabólica e cardiovascular durante o exercício incremental e de carga constante em indivíduos ativos. Rev Bras Med Esporte 2005;11:286-90. 17. Hansen EA, Jensen K, Pedersen PK. Performance following prolonged sub-maximal cycling at optimal versus freely chosen pedal rate. J Appl Physiol 2006;98:2227-33. 18. Mora-Rodrigues R, Aguado-Jimenez R. Performance at high pedaling cadences in well-trained cyclists. Med Sci Sports Exerc 2006;38:953-7. 19. Gotshall RW, Bauer TA, Fahrner SL. Cycling cadence alters exercise hemodynamics. Int J Sports Med 1996;17:17-21. 20. Takaishi T, Yasuda Y, Moritani T. Neuromuscular fatigue during prolonged pedaling rates. Eur J Appl Physiol 1994;69:154-8. 21. Takaishi T, Yasuda Y, Ono T. Optimal pedaling rate estimated from neuromuscular fatigue for cyclists. Medand Sci Sports Exerc 1996;28:1492-7. 22. Faria EW, Parker DL, Faria IE. The science of cycling - physiology and training - part 1. Sports Med 2005;35:285-312. 23. Widrick JJ, Freedson P, Hamill J. Effect of internal work on calculation of optimal pedaling rates. Med Sci Sports Exerc 1992;24:376-82. 24. Caputo F, Greco CC, Denadai BS. Efeitos do estado e especificidade do treinamento aeróbio na relação % VO2max durante o ciclismo. Arq Bras Cardiol 2005;84:20-3. 25. Takaishi T, Yamamoto T, Ono T, Ito T, Moritani, T. Neuromuscular, metabolic, and kinetic adaptations for skilled pedaling performance in cyclists. Med Sci Sports Exerc 1998;30:442-9. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 26. Neptune RR, Hull ML. A theoretical analysis of preferred pedaling rate selection in endurance cycling. J Biomech 1999;32:409-15. 27. Macintosh BR, Neptune RR, Horton JF. Cadence, power, and muscle activation in cycle ergometry. Med Sci Sports Exerc 2000;32:1281-7. 28. Sarre G, Lepers R, Maffiuletti N, Millet G, Martin A. Influence of cycling cadence on neuromuscular activity of the knee extensors in humans. Eur J Appl Physiol 2003;88:476-9. 29. Garcin M, Vautier J, Vandewalle H, Wolff M, Monod H. Ratings of perceived exertion (RPE) during cycling exercises at constant power output. Ergonomics 1998;41:1500-9. 30. Marsh AP, Martin PE. Perceived exertion and the preferred cycling cadence. Med Sci Sports Exerc 1998;30:942-8. 31. Jameson C, Ring C. Contributions of local and central sensations to the perception of exertion during cycling: effects of work rate and cadence. J Sports Sci 2000;18:291-8. 32. Hansen EA, Andersen JL, Nielsen JS, Sjogaard G. Muscle fibre type, efficiency, and mechanical optima affect freely chosen pedal rate during cycling. Acta Physiol Scand 2001;176:185-94. 33. Lucía A, San Juan AF, Montilla M, Cañete S, Santalla A, Earnest C, Pérez M. In professional road cyclists, low pedaling cadences are less efficient. Med Sci Sports Exerc 2004;36:1048-54. 34. Suriano R, Vercruyssen F, Bishop D, Brisswalter J. Variable power output during cycling improves subsequent treadmill run time to exhaustion, J Sci Med Sport 2007;10:244-51. 35. Lucía A, Hoyos J, Santalla A, Pérez M, Chicharro JL. Inverse relationship between VO2max and economy/efficiency in world-class cyclists. Med Sci Sports Exerc 2002b;34:2079-84. 225 36. Basset DR, Kyle CR, Passfield L, Broker JP, Burke ER. Comparing cycling world hour records, 1967-1996: modeling with empirical data. Med Sci Sports Exerc 1999;31:1665-76. 37. Broker JP, Kyle CR, Burke ER. Racing cyclist power requirements in the 4000-m individual and team pursuits. Med Sci Sports Exerc 1999;31:1677-85. 38. Lucía A, Hoyos J, Chicharro JL. Preferred pedalling cadente in professional cycling. Med Sci Sports Exerc 2001;33:1361-6. 39. Silva AC, Torres FC. Ergoespirometria em atletas paraolímpicos brasileiros. Rev Bras Med Esporte 2002;8:107-16. 40. Brandon LJ. Physiological factors associated with middledistance running performance. Sports Med 1995;19:268-77. 41. Morgan DW, Craib M. Physiological aspects of running economy. Med Sci Sports Exerc 1992;24:456-461. 42. Guglielmo LGA, Greco CC, Denadai BS. Effects of strength straining on running economy. Int J Sports Med 2009;30:2732. 43. Samozino P, Horvais N, Hintzy F. Interactions between cadence and power output effects on mechanical efficiency during sub maximal cycling exercises. Eur J Appl Physiol 2006;97:133-9. 44. Neumayr G, Pfister G, Mitterbauer H, Gaenzer W, Sturm G, Hoertnagl H. Heart rate response to ultraendurance cycling. Br J Sports Med 2003;37:89-90. 45. Neumayr G, Pfister R, Mitterbauer G, Gaenzer H, Sturm W, Hoertnagl H. Exercise intensity of cycle-touring events. Int J Sports Med 2002;23:505-9. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 226 Artigo original Intensidade auto selecionada, percepção subjetiva de esforço e tempo sob tensão no treinamento resistido em adolescentes Self-selected intensity, perceived exertion and time under tension in adolescents during resistance training Ramires Alsamir Tibana*, Dahan da Cunha Nascimento*, Otávio Vanni*, Sandor Balsamo** *Centro universitário UNIEURO, Curso de Educação Física, GEPEEFS (Grupo de Estudo e Pesquisa em Exercício de Força e Saúde) – Brasília/DF, **Programa de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Brasília – Brasília/DF Resumo Abstract O objetivo deste estudo foi determinar a intensidade autoselecionada, o tempo sob tensão e a percepção subjetiva de esforço no treinamento resistido em adolescentes sem experiência. Vinte adolescentes do sexo masculino (15,00 ± 0,97 anos; 59,23 ± 10,37 kg; 1,70 ± 0,09; 12,23 ± 5,49 % de gordura; Tanner 4), realizaram duas semanas de familiarização no exercício supino na máquina sentado, logo após realizaram o protocolo de intensidade auto selecionada, o teste de 10RM em ambos os protocolos foram medidos o tempo sob tensão e a percepção subjetiva de esforço. Os resultados demonstram que os valores da carga auto selecionada, do tempo sob tensão e da percepção subjetiva de esforço foram 56,44%, 38,36% e 51,16% significativamente inferiores aos valores obtidos durante o teste de 10RM. Portanto, adolescentes inexperientes não podem auto-selecionar uma intensidade suficiente para estimular uma melhora significativa na força muscular, e estão mais suscetíveis a riscos decorrentes de repetições realizadas em alta velocidade com baixa resistência. The purpose of this study was to determine the self-selected intensity, time under tension and the rate of perceived exertion in adolescents without experience on resistance training. Twenty apparently healthy male adolescents (15.00 ± 0.97 age; 59.23 ± 10.37 kg; 1.70 ± 0.09; 12.23 ± 5.49 % fat; Tanner stage 4) completed two sessions on the seated chest press to familiarize. Then completed the self-selected intensity protocol, 10 RM test, and the time under tension and rate of perceived exertion were measured respectively. The results of this study demonstrates that, values from the self-selected intensity protocol, time under tension and rate of perceived exertion were significantly inferior (56.44%, 38.36% e 51.16%) from the values of the 10 RM test. Therefore, inexperienced adolescents cannot self-select a sufficient intensity to enhance the strength, and are likelihood to injuries occurring after repetitions with high velocity and low resistance. Key-words: self-selected intensity, adolescents, resistance training. Palavras-chave: intensidade auto-selecionada, adolescentes, treinamento de resistência. Recebido em 2 de setembro de 2010; aceito em 3 de dezembro de 2010. Endereço de correspondência: Ramires Alsamir Tibana, Centro Universitário Euro-Americano, Laboratório de Avaliação do Desempenho Físico e Saúde, Av. das Nações, Trecho 0, Conjunto 5, Brasília DF, Tel: (61) 9616-8340, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 227 Introdução Medidas antropométricas O treinamento resistido (TR) é geralmente prescrito para promover o aumento na força absoluta, potência e resistência muscular tanto em crianças como em adolescentes e adultos. Similar com outras atividades físicas o TR tem demonstrado ter efeitos benéficos em diversos indicadores de saúde como a aptidão cardiovascular, composição corporal, densidade mineral óssea, perfil lipídico sanguíneo e melhora na capacidade cognitiva [1]. Dependendo dos objetivos e das necessidades individuais, diversas variáveis podem ser consideradas no delineamento do TR, como o número de exercícios, séries, intervalo de recuperação, ordem dos exercícios, velocidade de execução e intensidade de esforço [2]. A intensidade do treinamento pode influenciar significativamente na resposta da força muscular [3]. Em uma metaanálise Rhea et al. [4] analisaram a relação dose-resposta para a carga de treinamento em diferentes níveis de treinamento para o aumento da força muscular em adultos, e verificaram que para indivíduos destreinados a carga entre 60% de 1RM propiciou maiores níveis de força. Considerando a importância da intensidade de treinamento em propiciar o aumento da força, hipertrofia e outros componentes da aptidão física, a seleção de uma intensidade adequada é fundamental [5]. Estudos recentes têm demonstrado que a intensidade autoselecionada por praticantes adultos no TR sem experiência não corresponde ao limiar necessário para gerar adaptações positivas [6,7]. Além disso, estudos têm comprovado que uma maior supervisão durante a prática do TR pode implicar em maiores adaptações na força, hipertrofia e resistência muscular quando comparado com o treinamento com baixa ou sem supervisão [8-10]. Através disso, devido à carência de estudos com adolescentes, e pelo fato de nenhum estudo ter analisado a intensidade auto-selecionada, percepção subjetiva de esforço e tempo sob tensão, o objetivo do presente estudo foi comparar a intensidade auto-selecionada, a percepção subjetiva de esforço e o tempo sob tensão em adolescentes sem experiência no TR com os valores obtidos no teste de 10RM. A medida da massa corporal foi realizada com o indivíduo descalço portando roupas leves, utilizando-se balança digital da marca Welmy® (W110H). A estatura foi medida utilizando-se estadiômetro de parede. O percentual de gordura foi caracterizado pelo somatório de duas dobras cutâneas tricipital e subescapular (2DC), que foram medidas com um adipômetro analógico Lange, com valor de uma divisão de 1 mm e resolução de 0,05 mm. Com a soma das dobras cutâneas foi possível obter a porcentagem de gordura corporal utilizando a fórmula de Slaughter et al. [11]. Avaliação da maturação sexual Para determinação dos estágios de maturação sexual foi utilizada a escala de Tanner, por meio de auto-avaliação, um método de reconhecida validade e confiabilidade [12]. Protocolo de carga auto-selecionada Antes da realização do protocolo todos os participantes realizaram familiarização de duas semanas com o equipamento e exercício proposto. O exercício escolhido foi o supino reto na máquina sentado (SR) utilizando o protocolo sugerido por Ratamess et al. [5]. Depois de um aquecimento geral que consistiu de 5 minutos de caminhada na esteira, cada participante foi instruído a selecionar uma resistência que usaria para a realização de 10 repetições. Os indivíduos foram especificamente perguntados “quanto de peso você escolheria para este exercício se você estivesse completando uma série de 10 repetições durante o treino?”. Foram dadas três oportunidades para selecionar o peso adequado, isto é, se a seleção inicial parecia ser demasiado leve ou pesado. Nenhuma informação foi fornecida no que concerne à seleção do peso. Uma vez que o peso apropriado foi selecionado, cada participante foi cuidadosamente instruído a realizar uma série de 10 repetições com o movimento completo, não foi controlada a velocidade de execução. Material e métodos Teste de 10RM Amostra Foi realizado o teste de 10RM no exercício SR. Logo após o aquecimento na esteira foram seguidas as seguintes recomendações: 1) aquecimento no equipamento de 5 a 10 repetições com cargas de 40 a 60% de 1RM estimada ; 2) descanso de um minuto, seguidos de três a cinco repetições com 60% de 1RM estimada e um descanso de três minutos; 3) incremento do peso tentando alcançar as 10RM em três a cinco tentativas, usando cinco minutos de intervalo entre uma tentativa e outra; 4) o valor registrado foi o de 10 repetições, com o peso máximo levantado na última tentativa bem sucedida. Para determinar uma confiabilidade do teste de 10RM foram aplicados dois testes, com um intervalo mínimo de 48 Participaram deste estudo 20 adolescentes do sexo masculino aparentemente saudáveis. Como critério de inclusão os adolescentes não deveriam possuir quaisquer lesões que pudessem comprometer a saúde durante o estudo, não ser portador de doenças crônicas e entregar até a data estipulada o termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelo seu responsável. O projeto foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, do Centro Universitário EuroAmericano (Unieuro), sob o Protocolo nº 030/09, parecer nº 035/09. 228 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 horas, para determinar a carga de trabalho dos voluntários, foi utilizada a carga mais alta encontrada em um dos dois testes. O valor de 10RM para cada exercício foi usado para calcular a intensidade relativa auto-selecionada (%), em que: Carga auto-selecionada / Carga de 10RM x 100. subjetiva de esforço para os protocolos de intensidade autoselecionada e carga de 10RM estão referidos na figura 1. O tempo sob tensão (p < 0,0001), a percepção subjetiva de esforço (p < 0,0001) e a carga (p < 0,0001) foram significativamente superiores na carga de 10RM quando comparado ao protocolo de intensidade auto-selecionada. Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) Todos os participantes da amostra realizaram uma familiarização com o protocolo da escala de esforço de OMNI-RES [13]. Ao final da realização de cada protocolo o avaliado era questionado quanto à sua PSE, e foram especificamente perguntados “desejamos que você estime o seu esforço percebido, ou seja, como você sente a intensidade do exercício. Isso depende principalmente da tensão e da fadiga nos seus músculos. Mas você deve prestar atenção somente às suas sensações subjetivas e não aos sinais fisiológicos ou em qual é a atual carga física”. Figura 1 - Média e desvio-padrão para a carga (A), tempo sob tensão (B) e percepção subjetiva de esforço (C) nos protocolos de 10RM e intensidade auto selecionada. 80 70 60 Kg 50 40 30 20 0 A * Tempo sob tensão O tempo sob tensão (TST) foi definido como o tempo total no qual os músculos estavam aplicando força ao implemento durante a execução de cada protocolo. O mesmo investigador registrou o tempo de todos os testes usando um cronômetro digital [14]. Análise estatística A estatística foi realizada aceitando o nível de significância para todas as variáveis estudadas em p ≤ 0,05. Inicialmente foi realizada a análise descritiva da amostra das variáveis estudadas com medidas de tendência central e dispersão. Em seguida, realizou-se o teste de Shapiro-Wilk para avaliar a normalidade dos dados e, de acordo com o resultado, utilizou-se o teste t de Student para variáveis dependentes. Tabela I - Caracterização da amostra. N = 20 Idade (anos) Peso (kg) Estatura (cm) IMC (kg/m2) Massa livre de gordura (kg) Massa gorda (kg) % de gordura Tanner genitália† Tanner pelos púbicos† Média ± DP 14,75 ± 1,16 59,16 ± 9,97 1,70 ± 0,09 20,41 ± 2,15 51,46 ± 8,27 7,00 ± 2,74 12,70 ± 5,32 4 4 † Valores expressos em mediana. Resultados A Tabela I apresenta as características da amostra. A média e o desvio-padrão da carga, o tempo sob tensão e a percepção 35 30 25 TT 20 15 10 5 0 10 9 8 7 PSE 6 5 4 3 2 0 B * * C Auto-seleção 10RM *indica diferença significativa entre os protocolos. Discussão O objetivo do presente estudo foi comparar a intensidade auto-selecionada, a percepção subjetiva de esforço e o tempo sob tensão em adolescentes sem experiência no treinamento resistido, com os valores obtidos no teste de 10RM. Com base nos resultados encontrados, verificou-se que os valores da carga auto-selecionada, do tempo sob tensão e da percepção subjetiva de esforço foram significativamente inferiores aos valores obtidos durante o teste de 10RM. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 A intensidade do treinamento é uma importante variável do TR que pode influenciar tanto a força como a resistência e a hipertrofia muscular. Campos et al. [3] analisaram 3 grupos durante 8 semanas de treinamento, e verificaram que a resposta da força muscular foi maior para o grupo que realizou um menor número de repetições (3-5RM), quando comparado com o grupo de altas repetições (20-28RM) e o grupo de repetições intermediárias (9-11RM). Os resultados do presente estudo são consistentes com estudos anteriores, os quais demonstram que a intensidade auto-selecionada por homens e mulheres sem experiência no TR correspondem a 50-55% de 1RM [6,7]. Glass e Stanton [6] analisaram a intensidade auto-selecionada de iniciantes no TR. A carga do teste de 1RM foi estimada após a seleção de carga. Os resultados demonstraram que iniciantes no TR auto-selecionaram cargas que foram abaixo de 60% de 1RM e também evidenciaram que os indivíduos não realizavam repetições até a fadiga, como evidenciado por um baixo número de repetições. A utilização da PSE como método de monitoramento da intensidade no TR ainda é limitado, no entanto, estudos têm demonstrado que a PSE altera de acordo com a intensidade do exercício. Focht [7], ao analisar a PSE e a carga auto-selecionada de 19 mulheres destreinadas, reportou que a intensidade auto-selecionada e a PSE são significativamente inferiores aos valores obtidos na intensidade imposta por profissionais. No presente estudo foram verificados resultados semelhantes tanto para a PSE quanto para a carga auto-selecionada, portanto, esses dados reforçam o valor potencial da utilização da PSE para ajudar a monitorar e prescrever a intensidade no TR. Em posicionamento institucional direcionado a prática do TR para crianças e adolescentes, a American Academy of Pediatrics [1], apresentou uma revisão sobre as características do treinamento para essa população. Foi recomendado que a velocidade de execução não seja realizada de forma rápida e explosiva, pois a técnica de execução pode ser afetada. Os resultados do presente estudo demonstraram que quando a carga é auto-selecionada, os adolescentes realizam as repetições mais rapidamente (12,79 ± 2,84s) quando comparado com a carga imposta de 10RM (25,00 ± 4,32s). É oportuno destacar algumas possíveis limitações metodológicas do presente estudo, como, a aplicação dos resultados para outros exercícios, especialmente para aqueles de membros inferiores e a não comparação com outras populações, como adultos e idosos. Conclusão Em conclusão, os resultados do presente estudo indicam que a intensidade, a PSE e o TT são significativamente inferiores à carga imposta de 10RM, demonstrando que adolescentes inexperientes não podem auto-selecionar uma intensidade 229 suficiente para estimular uma melhora significativa na força muscular e estão mais suscetíveis a riscos decorrentes de repetições realizadas em alta velocidade com baixa resistência. Referências 1. American Academy of Pediatrics. Strength training by children and adolescents. Pediatrics 2008;121:835-40. 2. Kraemer WJ e Ratamess NA. Fundamentals of resistance training: progression and exercise prescription. Med Sci Sport Exerc 2004;36:674-8. 3. Campos GE, Luecke TJ, Wendeln HK, Toma K, Hagerman FC, Murray, et al. Muscular adaptations in response to three different resistance-training regimens: specificity of repetition maximum training zones. Eur J Appl Physiol 2002;88:50-60. 4. 4- Rhea MR, Alvar BA, Burkett LN, Ball SD. A meta-analysis to determine the dose response for strength development. Med Sci Sports Exerc 2003;35:456-64. 5. Ratamess NA, Faigenbaum AD, Hoffman JR, Kang J. Self-selected resistance training intensity in healthy women: the influence of a personal trainer. J Strength Cond Res 2008;22:103-11. 6. Glass S e Stanton D. Self-selected resistance training intensity in novice weightlifters. J Strength Cond Res 2004;18:324-7. 7. Focht BC. Perceived exertion and training load during selfselected and imposed-intensity resistance exercise in untrained women. J Strength Cond Res 2007;21:183-7. 8. Mazzetti SA, Kraemer WJ, Volek JS, Duncan ND, Ratamess NA, Gomez AL, et al. The influence of direct supervision of resistance training on strength performance. Med Sci Sports Exerc 2000:32:1175-84. 9. Coutts AJ, Murphy AJ, Dascombe BJ. Effect of direct supervision of a strength coach on measures of muscular strength and power in young rugby league players. J Strength Cond Res 2004;18:316-23. 10. Gentil P, Bottaro M. Influence of supervision ratio on muscle adaptations to resistance training in nontrained subjects. J Strength Cond Res 2010;24(3):639-43. 11. Slaughter ME, Lohman TG, Boileau RA. Skinfold equations for estimation of body fatness in children and youth. Hum Biol1988;60:709-23. 12. Duke PM, Litt IF, Gross RT. Adolescents’ self assessment of sexual maturation. Pediatrics 1980;66:918-20. 13. Lagally KM, Robertson RJ. Construct validity of the OMNI resistance exercise scale. J Strength Cond Res 2006;20:252-6. 14. Gentil P, Oliveira E, Bottaro M. Time under tension and blood lactate response during four different resistance training methods. J Physiol Anthrop 2006;25:339-44. 15. Faigenbaum AD. Strength training for children and adolescents. Clin Sports Med 2000;19:593-619. 16. Ramsay JA, Blimkie CJ, Smith K, Garner S, MacDougall JD, Sale DG. Strength training effects in prepubescent boys. Med Sci Sports Exerc 1990;22:605-14. 17. Weltman A, Janney C, Rians CB, Strand K, Katch F. The effects of hydraulic resistance strength training in pre-pubertal males. Med Sci Sports Exerc 1986;18:629-38. 18. Bailey DA, Martin AD. Physical activity and skeletal health in adolescents. Pediatr Exerc Sci 1994;6:330-47. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 230 Artigo original Diferença de rendimento entre meninos e meninas handebolistas que fazem treinamento de força Difference of performance between boys and girls handball players after strengthening exercise José Bechara Neto*, Fabiana Cristina Magalhães Belisário**, Paulo Henrique Correa de Oliveira** *Associação de Ensino do Mato Grosso do Sul – Três Lagoas/MS, Faculdades Integradas Stella Maris – Andradina/SP, **Faculdades Integradas Stella Maris – Andradina/SP Resumo Abstract Este trabalho pretende analisar a contribuição de exercícios de musculação para o rendimento da potência muscular em atletas do sexo masculino e feminino da equipe de handebol. Os atletas foram submetidos ao teste de 1RM para se prescrever um treinamento com um percentual de 75% de 1RM, utilizando o protocolo de (10). Foram realizados dois testes, o 1º em junho de 2007 e o 2º em setembro de 2007, a fim de identificar diferenças significativas entre os resultados obtidos por cada grupo de alunos, utilizando a estatística descritiva e teste t de Student com nível de confiabilidade de 95%. This work aims at analyzing the contribution of workout exercises for muscle strength performance in male and female athletes of a handball team. The athletes performed a 1RM test to prescribe a training with 75% of 1RM, using the protocol (10). Two tests were carried out, the first in June 2007 and the second in September 2007, in order to identify significant differences between the results obtained by each group of students, using the descriptive statistics and Students t-test at 95% reliability level. Key-words: handball, exercises, strength. Palavras-chave: handebol, exercícios, potência. Introdução O handebol é um esporte que tem um tempo de jogo normalmente fixado em 60 minutos, dividido em 2 tempos de 30 minutos com intervalos de 10 minutos entre os tempos. É um esporte que possui características de esforços de alta intensidade e curta duração com pausas entre os esforços, o que exige de seus praticantes um alto índice de condicionamento físico. Entretanto, a intensidade em que a partida é realizada ainda pouco se conhece. Em nosso país há escassez significativa de estudos que retratam o handebolista brasileiro em vários aspectos do conhecimento físico, principalmente o fisiológico. Jogadores considerados de alto nível e que atuam em vários clubes do Brasil jogam e treinam inúmeras vezes por ano. Alguns parâmetros fisiológicos são de grande importância para qualificar o nível de capacidade funcional em jogadores de handebol. A potência aeróbia máxima tem recebido a atenção de vários pesquisadores em diversas modalidades desportivas, pois quando bem desenvolvidos, é de fundamen- Recebido em 29 de abril de 2010; aceito em 16 de setembro de 2010. Endereço para correspondência: José Bechara Neto, Rua Joaquim Nabuco 416, Centro 17800-000 Adamantina SP, Tel: (18) 81221520, E-mail: [email protected] Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 Este trabalho foi realizado na academia da Faculdade Integrada Stella Maris de Andradina. A amostra foi constituída por quatro atletas do sexo masculino e cinco atletas do sexo feminino com idade média de 15 anos de uma equipe de handebol da cidade de Andradina. Os atletas foram submetidos ao teste de 1RM para prescrever um treinamento com um percentual de 75% de 1RM, utilizando o protocolo de Ushida [5]. A fim de identificar diferenças significativas entre os resultados obtidos por cada grupo de alunos, utilizou-se a estatística descritiva e Teste t de Student a nível de confiabilidade de 95%. Foram realizados dois testes, o 1º em julho de 2007 e o 2º em setembro de 2007, perfazendo um tempo de dois meses. O treinamento era realizado duas vezes na semana com a carga horária de uma hora treino, com a utilização dos seguintes aparelhos: Leg-Press, Rosca Direta, Remada pela Frente, Tríceps Pulley e Supino Reto. Resultados e discussão Podemos observar que no treinamento com o aparelho Leg-Press (Figura 1), os resultados obtidos nos mostram uma diferença estatística significativa de 99,7% (p > 0,05) no aumento da potência do grupo masculino e feminino. Percentual de melhora do teste de 1RM 60% LEG PRESS * 57% 50% 40% 30% 20% 8% 10% 0% masc fem O mesmo ocorreu no treino de Rosca Direta (Figura 2), com um aumento estatístico significativo de 99,1% (p > 0,05). Figura 2 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas handebolistas do sexo masculino e feminino na rosca direta. Percentual de melhora do teste de 1RM Material e métodos Figura 1 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas handebolistas do sexo masculino e feminino no aparelho leg press. ROSCA DIRETA 30% * 27% 25% 20% 15% 10% 2,50% 5% 0% masc fem Figura 3 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas handebolistas do sexo masculino e feminino na remada pela frente. Percentual de melhora do teste de 1RM tal importância para um adequado rendimento físico desses atletas durante as competições [1]. Agostinho [2] relata que o processo de desenvolvimento das capacidades motoras no treinamento desportivo e as habilidades individuais são fundamentais. Por isso tem-se notado nos últimos anos uma preocupação especial com o aprimoramento do condicionamento físico do atleta, apoiada em conceitos científicos bem fundamentados, pois o mesmo é imprescindível para o alto rendimento. De acordo com Astrand [3], o desempenho no esporte de alto nível é dependente da produção de energia através dos sistemas aeróbio, anaeróbio e neuromuscular, além do psicológico. Denadai [4] relata que a capacidade dos seres humanos para realizar exercícios intensos de média e longa duração depende principalmente do metabolismo aeróbio. Poucos estudos têm sido abordados em termos científicos, com a finalidade de esclarecer e contribuir para a melhoria da qualidade do handebol. Este estudo visa comparar a evolução de dois grupos de alunos que treinam a modalidade de handebol e realizaram paralelamente um treinamento de musculação por um período de dois meses com ênfase no ganho de força, sendo que um grupo é composto somente por alunos do sexo masculino e outro somente por alunos do sexo feminino com idade entre 14 e 18 anos para ambos os grupos. 231 REMADA PELA FRENTE 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 36% 15% masc fem No treinamento com os demais aparelhos, obtivemos um aumento da potência, mas não estatisticamente significativo, pois com o aparelho de Remada pela Frente a diferença foi Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 232 de 77% (Figura 3), o aparelho tríceps Pulley a diferença foi de 84% (Figura 4), e o aparelho de Supino Reto a diferença foi de 88% (Figura 5). Percentual de melhora do teste de 1RM Figura 4 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas handebolistas do sexo masculino e feminino para o exercício de tríceps. TRICEPS 60% 52% Conclusão Fem Diante dos resultados obtidos no pré e pós-teste e confrontados com a literatura observou-se que os exercícios de musculação têm uma grande participação para o aumento da potência em atletas de handebol, porém com o período de treinamento que foi utilizado não foi o bastante para se obter dados estatisticamente significativos para a pesquisa quando comparado com treinamento de cinco a seis vezes por semana. Poucos são os estudos realizados envolvendo essa variável fisiológica estudada, principalmente em relação à modalidade em evidência, com isso recomenda-se que novos estudos sejam realizados nesta área, estudos semelhantes de treinamentos e de desportos diversos, bem como utilizar-se dos mais diferentes esquemas de preparação, mantendo-se o tratamento experimental dentro da estrutura e da realidade desportiva brasileira. 50% 40% 30% 22% 20% 10% 0% Masc Percentual de melhora do teste de 1RM Figura 5 - Gráfico comparativo para melhora da força entre atletas handebolistas do sexo masculino e feminino no supino reto. SUPINO 50% De acordo com Guedes & Guedes [9], exercitar-se de 5 a 6 vezes por semana produzirá modificações significativas no metabolismo em geral, somente duas vezes por semana não produzirá alterações significativas, e modesta parte contraria os resultados deste estudo. Mas para Atomi et al. apud Piovezan [10], uma frequência de treinamento de duas e três vezes por semana foi o suficiente para produzir alterações significativas em pessoas normais. 42% 40% Referências 30% 20% 10% 10% 0% Masc Fem No handebol, a frequência de treinamento recomendada a fim de desenvolver essas variáveis fisiológicas, segundo Garcia [6], depende das características apresentadas pela equipe bem como os objetivos que desejam alcançar. Para Grecco [7], o handebol por ser um esporte coletivo que envolve força explosiva (ou potência), necessita de um programa de treinamento sistematizado visando à melhoria da força muscular em função do rendimento. Com isso, recomenda-se uma frequência de treinamento de três a quatro vezes por semana com uma intensidade podendo chegar a 90% da frequência máxima para atletas em período de competição, podendo durar de oito a dez semanas. Fox, Bowers & Foss [8] garantem que uma frequência de treinamento de três vezes por semana, durante um período de oito a dez semanas, independente da modalidade praticada, é o suficiente para garantir mudanças significativas no desempenho da potência muscular, o que justifica em parte a melhora do desempenho dos atletas participantes deste estudo. 1. Holmer I. Maximum oxygen uptake in athletes. J Appl Physiol 1967;23(3):353-8. 2. Agostinho PJM. Preparação física dos voleibolistas no período preparatório. Revista Treinamento Desportivo 1998;3(1):55-60. 3. Astrand P, Rodahl K. Tratado de Fisiologia do Exercício. 2a ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1980. 4. Denadai B. S. Consumo máximo de oxigênio: fatores determinados e limitados. Rev Bras Ativ Fís Saúde 1995;1(1):85-94. 5. Ushida MC. Manual de Musculação: Uma abordagem teóricaprática do treinamento de força. 3a ed. São Paulo: Phorte; 2005. 6. Garcia JLAB. Metodologia y alto rendimento. 1a ed. Barcelona: Hurope SL; 1990. 7. Greco JP. Caderno de rendimento do atleta de handebol. 1a ed. Belo Horizonte: Health; 2000. 169p. 8. Fox EL, Bowers R W, Foss ML. Bases fisiológicas da Educação Física e dos Desportos. 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1991. 9. Guedes DP, Guedes JERP. Controle do peso corporal. Londrina: Midiograf; 1998. 10. Piovezan A. Efeitos do número de sessões semanais de treinamento exaustivos sobre os metabolismos anaeróbio alático, lático e anaeróbio em universitários do sexo feminino [Tese]. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 1985. 136f. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 233 Artigo original Treinamento elíptico em hemiparéticos crônicos pós-AVC Elliptical training in patients with chronic hemiparesis after stroke Eliz Karoliny Rosa*, Suzana Gomes**, Simone Suzuki Woellner**, Antônio Vinicius Soares, M.Sc.*** *Graduandas em Fisioterapia, Associação Catarinense de Ensino (ACE) da Faculdade Guilherme Guimbala, Joinville/SC, **Especialista em Fisioterapia Neurológica e Supervisora do Estágio de Neurologia Adulto da Associação Catarinense de Ensino (ACE) da Faculdade Guilherme Guimbala, Joinville/SC, ***Especialista em Cinesioterapia Neuro-sensório-motora, ***Professor de Anatomia, Neuroanatomia, Cinesiologia e Neurologia da Associação Catarinense de Ensino (ACE) da Faculdade Guilherme Guimbala Resumo Abstract Introdução: O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das síndromes mais incapacitantes da atualidade caracterizada por um déficit focal súbito de origem vascular. A incapacidade mais comum é a hemiparesia, e consequente déficit de marcha, equilíbrio e descondicionamento físico. Estudos com diversas modalidades de treinamento vêm sendo publicados, e o treinamento elíptico pode ser inserido em programas de reabilitação neurológica. Objetivo: Avaliar os efeitos do treinamento elíptico em hemiparéticos crônicos pósAVC. Materiais e métodos: Pesquisa quase experimental, tipo séries de tempo com três pré e pós-testes, com 4 indivíduos hemiparéticos. Os instrumentos de medida utilizados foram esfigmomanômetro modificado para força do quadríceps, teste de equilíbrio de Berg, Timed Up and Go e manovacuometria. O programa de treinamento teve frequência de duas vezes semanais durante 8 semanas (16 sessões). Resultados: Os sujeitos apresentaram uma melhora significativa pelo teste t (p < 0,05) nas medidas da velocidade da marcha e TUG, com melhora no desempenho de 35,2% e 22,07%, respectivamente, e pelo Berg, com melhora de 6,8%. Conclusão: O presente estudo buscou inserir uma nova modalidade terapêutica em um programa de reabilitação neurológica e os resultados iniciais devem incentivar novas pesquisas com diferenciação nos grupos de amostra. Introduction: Stroke is one of the most disabling syndromes characterized by a sudden focal deficit of vascular origin. The most common inability is hemiparesis, and consequent deficit of motion, balance and physical deconditioning. Studies with various forms of training have been published, and elliptical training can be inserted into programs for neurological rehabilitation. Objective: To evaluate the effects of elliptical training in chronic hemiparesis after stroke. Material and methods: A quasi-experimental research, about series of three pre and post tests, with four hemiparetic subjects. The measurement instruments used were modified sphygmomanometer to quadriceps strength, Berg Balance Test, Timed Up and Go Test and manometer. The training program had a frequency of twice weekly for 8 weeks (16 sessions). Results: Patients showed a significant improvement by t test (p < 0.05) in measurements of gait speed and TUG, with improvement in performance of 35.2% and 22.07%, respectively, and Berg, with improvement of 6.8%. Conclusion: This study sought to develop a new therapeutic modality in a neurological rehabilitation program and initial results should stimulate further research in different sample groups. Key-words: stroke, hemiparesis, aerobic training. Palavras-chave: acidente vascular cerebral, hemiparesia, treinamento aeróbico. Recebido em 2 de setembro de 2010; aceito em 30 de novembro de 2010. Endereço para correspondência: Simone Suzuki Woellner, Rua São José, 490, 89202-010 Anita Garibaldi RS 89202-010, Tel: (47) 3026-8251, E-mail: [email protected] 234 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 Introdução O acidente vascular cerebral (AVC) tem, por definição, ser um incidente neurológico súbito, não traumático e com sequelas persistentes que refletem um envolvimento focal ou global do sistema nervoso central (SNC) por mais de 24 horas, resultante de distúrbios da irrigação sanguínea encefálica [14]. É a principal causa de incapacidades físicas e cognitivas em adultos e o resultado final muitas vezes é o óbito nas primeiras três semanas em aproximadamente 30% dos casos, e recuperação total em 30% dos casos e incapacidade residual em 40% [4]. No Brasil, dos indivíduos que sofreram AVC, 30% necessitam de auxílio para caminhar e 20% ficam com sequelas graves e incapacitantes [5]. As principais limitações observadas nesses indivíduos são alterações do tônus e da postura, amplitude de movimento, esquema corporal, déficit de equilíbrio, percepção, sensibilidade, fraqueza muscular e incoordenação durante a marcha e em outras atividades funcionais [1,6-8]. As consequências funcionais dos déficits primários neurológicos geralmente predispõem os sobreviventes a um padrão de vida sedentária, com restrições para as atividades de vida diária e limitando a independência e a qualidade de vida do indivíduo, contribuindo para baixa autoestima, depressão, isolamento social e reserva cardiológica reduzida [3,8]. A hemiparesia é um dos sinais clínicos mais comuns do AVC caracterizada pela perda total ou parcial da função motora em um hemicorpo, com variáveis níveis de comprometimento e incapacidade e repercutindo em alterações na marcha [9]. Indivíduos hemiparéticos exibem redução na velocidade da marcha e no comprimento do passo, bem como na diminuição do equilíbrio e reação de proteção, além de fazer uso de padrões primitivos para andar, de elevado consumo de energia e inabilidade em transferir o peso para o membro acometido [10-12]. A maioria dos indivíduos que sofreram AVC apresenta uma redução na capacidade aeróbia e na capacidade de gerar força em relação a indivíduos saudáveis com a mesma idade, provavelmente devido à diminuição do recrutamento de unidades motoras durante a atividade física e uma diminuição global da resistência aeróbia, causando um aumento no gasto energético durante a realização das atividades de vida diária. O alto custo energético pode contribuir para a fadiga precoce, dispnéia, depressão, ansiedade, estilo de vida sedentário e consequente descondicionamento físico [1,13], além de comorbidades metabólicas e cardiovasculares [5]. Diversas modalidades de exercício para o treinamento físico em hemiparéticos pós-AVC, incluindo esteira e cicloergômetro adaptado, têm demonstrado benefícios no incremento da força muscular, marcha, mobilidade funcional e condicionamento físico sem aumentar a atividade muscular anormal destes indivíduos [14-18]. O elíptico é uma nova modalidade de exercício aeróbio, de baixo impacto e ainda pouco inserido nos programas de reabilitação. Atualmente, não há nenhuma pesquisa relacionada sobre esta modalidade num cenário de reabilitação neurológica. Portanto, o objetivo deste estudo foi determinar os efeitos do treinamento elíptico na velocidade da marcha, condicionamento aeróbico, incremento da força e equilíbrio em hemiparéticos crônicos pós-AVC. Material e métodos A presente pesquisa caracteriza-se como quase experimental, tipo séries de tempo, composta por 16 sessões de treinamento, com 2 sessões semanais. A amostra foi composta por 4 sujeitos, todos com marcha independente, com idades variando entre 50 a 60 anos de idade. Como parâmetro de análise os sujeitos foram submetidos a 3 pré e 3 pós-testes na semana anterior e posterior aos treinos, em dias alternados. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido submetido juntamente com o projeto à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Bom Jesus/Ielusc. Para os testes foram utilizados os seguintes instrumentos: 1) Esfigmomanômetro modificado (EM): utilizado para a avaliação da força do músculo quadríceps, confeccionado e empregado conforme Delgado et al. [19], através do “teste de execução”. O EM foi posicionado entre a região anterior da perna e a alavanca da mesa de Bonet com a extremidade fixa, com o examinado exercendo esforço máximo, isométrico, e obtida a média de três tentativas em mmHg. 2) Teste de equilíbrio de Berg: Avalia o equilíbrio do indivíduo em 14 situações envolvendo várias atividades, tais como andar, transferir-se e ficar de pé. A pontuação máxima a ser alcançada é 56 pontos, com boa confiabilidade interexaminadores e intraexaminadores [20]. 3) Teste timed up and go (TUGT): Avalia a mobilidade funcional do indivíduo, que é solicitado a levantar-se de uma cadeira, deambular uma distância de 3 m, virar-se, retornar e sentar-se na cadeira novamente, sendo o seu desempenho analisado através do tempo de execução do teste em segundos [20]. 4) Velocidade da marcha: A distância utilizada para o cálculo de velocidade de marcha foi de 10 metros [10] dividindo-se a distância percorrida pelo tempo gasto do percurso [9]. 5) Manovacuometria: foram mensuradas as pressões expiratórias e inspiratórias máximas (PEmáx e PImáx) por meio do manovacuômetro [21] (MDI, modelo MVD300), sendo calculada a média de três tentativas. Treinamento elíptico Para o treinamento com o elíptico (Athletic Elliptical modelo 01163) foram utilizados quatro parâmetros. A frequência cardíaca máxima foi utilizada como determinante da intensidade do exercício, mensurada através do cálculo: 220 menos a idade do indivíduo em anos [22], sendo neste Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 caso utilizado como FC ideal 70% da FC máxima. A escala de Borg foi utilizada como um indicador de intensidade de esforço conforme Mendonça [23], além do nível de Saturação de 02 e pressão arterial. Estes parâmetros foram monitorados antes, durante e após o treinamento. Inicialmente, foi realizado o aquecimento, durante cerca de três minutos. No treino, o equipamento foi mantido sem carga e com velocidade de cerca de 40 ciclos/minuto [24], interrompendo o treinamento em caso de aumento da FC acima da ideal ou relato do nível de esforço pela escala de Borg em pontuação 7. Ao finalizar o treino, foi realizada uma desaceleração ainda no instrutor elíptico, com anotação do tempo de treinamento a cada sessão. 235 Figura 1 - Resultados para o teste de velocidade da marcha (m/s) antes e após o treinamento. 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Pré Pós Sujeito 1 Resultados Pré Sujeito 2 1º Teste Nas Figuras 1 a 3 e Tabelas I e II encontram-se expressos os resultados comparativos entre pré e pós testes com o treinamento elíptico e o tempo de permanência no treinamento na 1a e 16a sessão. Foi realizada a análise comparativa dos resultados obtidos pré-treinamento e pós-treinamento, avaliando-se estatisticamente, por meio do teste t de Student, as diferenças verificadas nos desempenhos inicial e final dos sujeitos. Nesta comparação, foi também utilizada a variação da média do desempenho, determinada através da fórmula: (média final menos média inicial) vezes 100, dividido pela média inicial, denominado índice de desempenho (ID). Tabela I - Médias, desvio-padrão e índice de desempenho da amostra nos pré e pós-testes. Pemax Pimax Força TUG Marcha Berg Antes 79,37 ± 16,74 71,4 ± 17,13 264,2 ± 36,10 10,93 ± 2,23 0,93 ± 0,09 51 ± 3,08 Depois 89, 55 ± 36,36 85,1 ± 15,27 280,07± 30,76 8,51 ± 2,26 1,25 ± 0,23 54,5 ± 2,08 ID 12,82% 19,1% 6% 22,07% 35,2% 6,8% Tabela II - Tempos de permanência (em minutos) no elíptico. Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 Sujeito 4 1a sessão 08’15 14’13 1’48 05’ 16a sessão 25’ 25’ 10’49 10’16 Em relação à manovacuometria, os sujeitos apresentaram melhora nas PE e PI máximas obtidas, com uma variação no desempenho de 12,82% para a PE máxima e de 19,1% para a PI máxima, porém as diferenças não foram consideradas estatisticamente significativas no teste t (p < 0,05). Em relação à dinamometria, os sujeitos apresentaram melhora nos valores obtidos, com uma variação no desempenho de 6%, porém as diferenças não foram consideradas estatisticamente significativas no teste t (p < 0,05). Pós Pré Pós Sujeito 3 2º Teste Pré Pós Sujeito 4 3º Teste Figura 2 - Resultados para o teste ‘Timed up and go’ (segundos) antes e após o treinamento. 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Pré Pós Sujeito 1 1º Teste Pré Pós Sujeito 2 2º Teste Pré Pós Sujeito 3 Pré Pós Sujeito 4 3º Teste Em relação à velocidade da marcha e TUG, os sujeitos apresentaram melhora nos tempos de realização dos testes, com uma variação no desempenho de 35,2% para a velocidade da marcha e de 22,07% para o TUG, e as diferenças foram consideradas estatisticamente significativas no teste t (p < 0,05). Figura 3 - Resultados para o teste de equilíbrio de Berg antes e após o treinamento. 60 50 40 30 20 10 0 Sujeito 1 Sujeito 2 Pré-teste Sujeito 3 Pós-teste Sujeito 4 236 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 Em relação ao equilíbrio pelo Berg, os sujeitos apresentaram melhora na pontuação do teste, com uma variação no desempenho de 6,8%, e as diferenças foram consideradas estatisticamente significativas no teste t (p < 0,05). Discussão Diversos estudos prévios demonstram os benefícios dos exercícios aeróbicos no condicionamento físico e marcha de indivíduos hemiparéticos, porém não foi encontrado nenhum estudo demonstrando os benefícios do treinamento elíptico em pacientes neurológicos. No presente estudo todos os sujeitos da amostra apresentaram incrementos na manovacuometria, porém os ganhos não foram estatisticamente significativos. Mesmo assim, os resultados são similares aos de pesquisas anteriores. Pang e Eng [25] analisaram diversos estudos relativos à melhora da capacidade aeróbica em treinamento de hemiparéticos, com frequências variando de 3-5 sessões semanais e duração de 3-19 semanas. Foi verificado em todos eles efeitos positivos na capacidade aeróbica, principalmente no pico de VO2, e também na velocidade da marcha. Os métodos de treinamento incluíram principalmente cicloergômetro e esteira com e sem suporte de peso. Na presente amostra, a frequência semanal pode ter sido um fator limitante para incrementos adicionais na capacidade aeróbica. Mesmo assim, todos os sujeitos apresentaram incrementos no tempo de permanência na atividade, o que pode indicar um aumento na resistência e condicionamento aeróbico. Sweitzer et al. [18] compararam os efeitos cardiopulmonares do treinamento elíptico e da esteira em 12 indivíduos submetidos à reabilitação cardíaca. Os resultados indicaram que o treinador elíptico produz melhores respostas cardiorrespiratórias comparado a outra modalidade de exercício, com melhora significativa da VO2 e PEmáx. Ovando et al. [5] ressaltam que na aplicação das técnicas de reabilitação é de grande importância a aprendizagem motora, particularmente por meio da abordagem da aprendizagem ou reaprendizagem motora, que propõe a prática ativa de tarefas motoras contexto-específicas. Portanto, tarefas que se assemelhem à marcha podem apresentar maior eficiência no ganho do controle motor. Kulig e Burnfield [24] analisaram a cinemática do treinamento no elíptico e concluíram que esta atividade e a marcha apresentam similaridades nos padrões de movimento, exceto que os indivíduos ficam posicionados em maior ângulo de flexão das articulações. Em outro estudo, porém, Burnfield et al. [26] ressaltam, com base em análises por EMG, que durante o treinamento no elíptico a atividade do glúteo máximo e vasto lateral podem estar aumentadas; isquiotibiais mediais, triceps sural e tibial anterior, diminuídas; glúteo médio e isquiotibiais laterais similares, comparando à ativação durante a marcha. Por outro lado, Leveau et al. [27] estudaram os efeitos do treinamento elíptico na força de quadríceps e isquiotibiais em um grupo com quatorze indivíduos saudáveis. O treinamento foi realizado de duas a três vezes semanais durante oito semanas consecutivas, com um período de quinze minutos por sessão. Os resultados mostraram um incremento significativo da força destes músculos no final das oito semanas de treinamento. Alguns autores acreditavam que o treinamento muscular não deveria ser usado na reabilitação de indivíduos com lesão de neurônio motor superior, justificando que a diminuição da potência muscular não estaria relacionada à fraqueza, e, sim, à hipertonia da musculatura espástica, e o treinamento aumentaria e reforçaria o movimento anormal [7,8], Porém, Ovando et al. [5] ressaltam a importância do fortalecimento muscular em hemiparéticos, e citam variados estudos demonstrando a melhora no desempenho funcional, apesar da polêmica a respeito dos exercícios resistidos. Diversos estudos a respeito da cicloergometria foram conduzidos por Kautz e Brown [16], que observaram, através da análise por EMG, que não ocorria aumento da atividade muscular anormal durante esta tarefa em hemiparéticos espásticos. O presente estudo apresentou uma limitação na avaliação da força do quadríceps, uma vez que o esfigmomanômetro modificado não permite a verificação de pressões maiores que 300mmHg. Portanto, apesar da melhora apresentada pelos sujeitos, a avaliação do efeito positivo do elíptico no fortalecimento ficou prejudicada. Na velocidade da marcha, TUG e teste de Berg, os incrementos foram significativos, similares aos de estudos prévios envolvendo outras modalidades. Beinotti e cols. [9] estudaram um grupo com quatorze indivíduos com idades entre 18 e 60 anos de idade, que apresentavam hemiparesia pós-AVC. Foram submetidos a 20 sessões com esteira ergométrica com suporte parcial 2 vezes por semana, e observaram melhora da velocidade da marcha de 14,8% e consequente melhora do equilíbrio através da escala de Berg. Katz-Leurer et al.[28] compararam dois grupos de hemiparéticos na fase subaguda do AVC, um grupo submetido a cinesioterapia e cicloergometria durante 3 semanas e o segundo grupo submetido somente a cinesioterapia. Os dois grupos apresentaram melhora em testes de equilíbrio e de função motora dos membros inferiores, porém o grupo da cicloergometria teve um desempenho significativamente maior nos pós-testes, sugerindo uma melhora devido ao incremento da força dos membros inferiores. Moura et al. [13] conduziram um estudo de caso com dois participantes crônicos pós-AVC, com 40 sessões realizadas cinco vezes por semana com duração média de 50 minutos com bicicleta ergométrica e a capacidade funcional foi verificada pelo teste de caminhada de 6 minutos, com evidências de aumento da velocidade da marcha e da distância percorrida após o treinamento aeróbico ergométrico. O treinamento elíptico requer movimentação cíclica e simultaneamente a manutenção do controle postural, e assim como na marcha, promove a transferência do peso corporal para o membro afetado, portanto, pode ter um benefício adicional Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 9 Número 4 - outubro/dezembro 2010 em relação à melhora do equilíbrio. Incrementos no equilíbrio e na velocidade da marcha estão associados à melhora da força de membros inferiores em diversos estudos [29], com forte correlação entre a velocidade da marcha, equilíbrio pelo Berg e a força de membros inferiores em hemiparéticos crônicos [30]. Os indivíduos da amostra não apresentaram incrementos significativos na força do quadríceps, por isso acreditamos que a melhora nos testes de equilíbrio e marcha pode ser atribuída ao fortalecimento de outros grupos musculares, havendo a necessidade de novos estudos investigando estas variáveis. Conclusão Por meio do presente estudo, verificou-se os efeitos do treinamento elíptico em hemiparéticos crônicos pós-AVC cujos valores significativos foram na melhora da velocidade da marcha, mobilidade funcional e equilíbrio em todos os participantes. O presente estudo buscou inserir uma nova modalidade terapêutica de baixo custo e com repercussão na qualidade de vida de portadores de sequelas crônicas pósAVC, uma vez que melhorar a capacidade aeróbica pode ser fundamental para a prevenção de complicações secundárias à imobilidade comuns nestes indivíduos. Este estudo apresenta limitações, uma vez que o número de indivíduos da amostra e a duração do tratamento foram restritos. Sugerem-se estudos com amostras, períodos e frequencias de treinamento maiores a fim de gen
Documentos relacionados
Fisiologia - Faculdade Montenegro
Ricardo Xavier Pinto, Daiane Cardoso, Rafael Cusatis Neto ........................................................................................ 14 Análise do salto vertical em jogadores de basqu...
Leia maisFisiologia do Exercicio_2011
Editor Chefe Paulo de Tarso Veras Farinatti Editor Associado Pedro Paulo da Silva Soares Walace Monteiro Conselho Editorial Luiz Fernando Kruel (RS) Amandio Rihan Geraldes (AL) Martim Bottaro (DF) ...
Leia mais