Paper: cogeração na revista ABEQ
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Paper: cogeração na revista ABEQ
ANÁLISE TERMOECONÔMICA DE PLANTAS DE COGERAÇÃO João Francisco Peral Cespedes Silvio de Oliveira Júnior Engenheiro Mecânico pela Escola Politécnica da USP e Licenciado em Física pelo Instituto de Física da USP. Pesquisador Senior do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Diretor do Instituto Brasileiro do Frio (IBF). Engenheiro Mecânico e Mestre em Engenharia Mecânica pela Escola Politécnica da USP. Doutor em Engenharia de Processos pelo Institut National Polytechnique de Lorraine, França. Chefe do Agrupamento de Engenharia Térmica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e Professor da Escola Politécnica da USP. e-mail: [email protected] e-mail: [email protected] Trabalho publicado na Revista Brasileira de Engenharia Química, vol.17 - n° 4 – Dez. 97/Jan. 98, pp. 21-27 ANÁLISE TERMOECONÔMICA DE PLANTAS DE COGERAÇÃO João Francisco Peral Céspedes a e Silvio de Oliveira Júnior a, b a) Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) b) Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP) Resumo O artigo trata da análise termoeconômica de plantas de cogeração. Em sua introdução é realizada uma análise sucinta da questão da energia elétrica no Brasil e em seguida, a conceituação das plantas de potência e cogeração em termos de ciclos, equipamentos e utilização final. Posteriormente, a. a. realiza-se a análise exergética de unidades de cogeração, empregando combinadamente a 1 e a 2 leis da termodinâmica. A quarta parte do artigo trata da análise termoeconômica dos sistemas de cogeração baseada em dois exemplos: cogeração de energia elétrica e vapor e cogeração de energia elétrica e “água gelada” empregando chiller a absorção. Nas considerações finais é realizada uma síntese dos resultados obtidos no cálculo dos dois exemplos citados de cogeração. NOMENCLATURA B C c COP H n p Q r rη S T W α β η θ µo,i σ : fluxo de exergia (kW) : custo ($ ou $/s) : custo específico ($/kJ) : coeficiente de eficácia : fluxo de entalpia (kW) : taxa anual de juros (%) : pressão (bar) : taxa de transferência de calor (kW) : período de amortização do investimento (ano) : relação de rendimentos (rη = ηb/ηe) : fluxo de entropia (kW/K) : temperatura (K, °C) : potência (kW) : relação entre a exergia química e o poder calorífico inferior : relação calor/trabalho : rendimento : fator de Carnot (1-To/T) : potencial químico da substância i no estado morto (J/mol) : taxa de produção de entropia ( kW/K) ÍNDICES ag b : água gelada : exergético cald comb dest e equip i o p Q rej s t va vb : caldeira : combustível : destruída : eletricidade, entrada, energia : equipamento : componente, investimento : operacional, referência para cálculo da exergia : processo : carga de aquecimento/refrigeração : rejeito : saída : turbina : vapor a alta pressão : vapor a baixa pressão INTRODUÇÃO Para atender o crescimento do consumo brasileiro de energia elétrica seriam necessários investimentos anuais da ordem de US$ 6 bilhões. No ano de 1993, a Eletrobrás investiu US$ 1,4 bilhão em lugar dos US$ 2,3 bilhões previstos (FSP 29.5.94). A expansão do consumo de energia elétrica é superior ao crescimento da produção interna do país. Mesmo em anos de queda do produto interno bruto (PIB), houve crescimento do consumo de energia elétrica. Se o país não investe em geração, transmissão e distribuição pode faltar energia elétrica para atender novas ligações residenciais, industriais e comerciais; ou a própria expansão do consumo das ligações já existentes. A médio prazo, há risco de déficit de energia elétrica nas grandes cidades brasileiras. Com o crescimento da economia, haverá uma demanda adicional de energia elétrica que poderá não ser atendida pela oferta de energia das usinas hidrelétricas e térmicas atuais. O Brasil utiliza cerca de 20% do seu potencial hidrelétrico. Para utilizar os restantes 80% teria de explorar quedas d’água distantes ou com baixo potencial individual, que encareceriam mais as obras de novas hidrelétricas e a transmissão de energia. O encarecimento das novas hidrelétricas seria também provocado pela necessidade de controle ambiental das obras, caracterizadas pelo alagamento de grandes regiões, deslocamento de populações e distribuição da flora e da fauna. Os cenários montados pela Eletrobrás indicam a necessidade de que o Brasil comece a aproveitar o potencial hídrico da Amazônia, na Bacia do Xingu entre 2005 e 2010. Em 2011, a Eletrobrás prevê que o Brasil terá de consumir energia elétrica de origem térmica, em grande escala, inclusive a gerada por usinas nucleares, a carvão, a gás natural, eólicas e solares. As centrais elétricas de serviço público geram cerca de 95% do total de eletricidade do país. Dentro desse percentual, 96% tem origem hidraúlica. No mundo do petróleo, há uma revolução à vista. Empresas multinacionais estão investindo dezenas de bilhões de dólares na China, na Rússia e nas antigas repúblicas soviéticas onde descobriram reservas hoje preliminarmente estimadas em mais de 100 bilhões de barris. Representam 10% de todo o petróleo descoberto no mundo até agora (O ESP 19.6.94). Todo esse petróleo já existia. Extinta a União Soviética, aberta a economia chinesa, todas as empresas multinacionais dirigiram-se para onde já sabiam existir as maiores reservas de petróleo a serem exploradas, fugindo da dependência do Golfo Pérsico. A Ocidental Petroleum, a Texaco, a Exxon, a Amoco, a Shell e a Chevron estão explorando petróleo na Rússia e no Casaquistão. A Amoco e a British Petroleum estão no Azerbaijão. Na China estão a Exxon, a Texaco e a Elf. Neste panorama de incertezas de fornecimento estável de energia elétrica e a mudança de paradigma prevista para o petróleo e seus derivados, é oportuno analisar-se, dentro do contexto brasileiro, a cogeração de energia elétrica e térmica, particularmente dentro do contexto individual e industrial. Dentro do setor industrial brasileiro, o consumo de energia em 1994 foi atendido em 48,8% por eletricidade (34,2% em 1977) e apenas 9,5% por óleo combustível (28,3% em 1977). No setor químico, em 1994 a eletricidade contribuiu com 58,5% do consumo de energia (BEN, 1995). PLANTAS DE POTÊNCIA E COGERAÇÃO A conversão termomecânica de energia é realizada em plantas chamadas de potência, cujo objetivo é a geração de eletricidade e/ou potência mecânica para acionamento de equipamentos como compressores, ventiladores, bombas, etc. As plantas de potência normalmente estão conceitualmente baseadas nos ciclos termodinâmicos de Rankine (que emprega turbina a vapor), Brayton (turbina a gás), Diesel e Otto. Os processos que compõem estes ciclos, bem como os esquemas das plantas de potência estão representados na Figura 1. c=caldeira; TV=turbina a vapor; CD=condensador; cc=câmara de combustão; CP=compressor; TG=turbina a gás; TC=trocador de calor Figura 1. Plantas e ciclos de potência Quando dois ciclos de potência são associados em série térmica, ou seja, o rejeito térmico de um deles é o insumo energético do outro, tem-se o chamado ciclo combinado, como mostrado na Figura 2. Objetiva-se, desta forma, otimizar o uso do insumo energético consumido pelo primeiro ciclo para melhorar o rendimento global dos dois ciclos. T1 Qcomb W1 1 Qrej 2 T2 W2 T0 Figura 2. Princípio de um ciclo combinado Observando-se a Figura 2 pode-se mostrar que o rendimento global do ciclo combinado (η) é: η = η1 + η2 (1 − η1 ) (1) onde η1 e η2 são os rendimentos dos ciclos 1 e 2. A utilização de uma planta de conversão termomecânica de energia para fins de geração elétrica e de aquecimento/refrigeração caracteriza uma instalação que é normalmente denominada de planta de cogeração. A Figura 3 mostra duas possibilidades de geração simultânea de eletricidade e vapor (aquecimento). A configuração “a” mostra uma planta onde a geração de eletricidade é feita nos moldes tradicionais (alta pressão e temperatura) e o rejeito da máquina térmica é utilizado para fins de aquecimento de um dado processo ou em um equipamento (topping cycle). Na configuração “b” a demanda de calor para processo ocorre a alta temperatura (p.ex. fornos de cimento), sendo o rejeito térmico do processo utilizado como insumo da planta de potência (bottowing cycle). T1 Qcomb W Qcomb Qp Qrej Qrej Qp T2 W T0 (a) (b) Figura 3. Plantas de cogeração Como exemplos de plantas de cogeração do tipo “a” (topping cycle) pode-se destacar (ver Figura 4): a) planta de potência com turbina a vapor de contrapressão; b) planta de potência com turbina a vapor de condensação e com extração de vapor; c) planta de potência com turbina a gás com caldeira de recuperação (para geração de vapor a partir dos gases de escape da turbina a gás); d) planta de potência com ciclo combinado: turbina a gás - turbina a vapor, sendo a turbina a vapor do tipo de contra pressão ou condensação-extração. Observe-se que o vapor/gases de escape dos quatro sistemas descritos podem ser empregados por uma máquina de refrigeração com ciclo de absorção destinada a produzir um efeito de resfriamento em um dado processo ou para fins de condicionamento ambiental. W Combustível C W Combustível C TV TV Qp Qp (a) (b) combustíve l combustíve l CC CC W CR CR CP CP TG Qp ar (c) TV TG ar Qp (d) onde: C = caldeira; TV = turbina a vapor; CP = compressor; CC = câmara de combustão; CR= caldeira de recuperação; TG = turbina a gás. Figura 4. Exemplos de plantas de cogeração A escolha da configuração adequada, para uma dada aplicação industrial, depende da relação eletricidade/calor (trabalho/calor) requerida pela unidade industrial. A configuração 4a é adequada para situações onde a demanda de eletricidade é pequena comparativamente à demanda de calor, e a configuração 4d é adequada quando a demanda de eletricidade é comparável à demanda de calor. O emprego de uma turbina de condensação-extração permite atender às diversas relações eletricidade/calor e a configuração 4b é adequada para situações intermediárias àquelas atendidas pela configuração 4a e 4d (El-Wakil, 1984). FUNDAMENTOS DA ANÁLISE EXERGÉTICA DE PROCESSOS A análise exergética consiste no emprego simultâneo da Primeira e Segunda Leis da Termodinâmica na avaliação de desempenho de processos de conversão de energia, permitindo a efetiva avaliação termodinâmica dos processos, uma vez que quantifica as irreversibilidades que ocorrem durante o desenvolvimento destes processos. A exergia é definida como o trabalho que pode ser realizado quando um sistema evolui do estado em que se encontra até um estado de equilíbrio termodinâmico com os componentes comuns do meio ambiente (equilíbrio mecânico, térmico e químico), através de processos reversíveis, interagindo apenas com os componentes do meio ambiente. O emprego combinado da Primeira e Segunda leis da Termodinâmica permite que se estabeleça o balanço de exergia. Considerando-se o volume de controle mostrado na Figura 5 pode-se escrever os balanços de energia e entropia, para condições de regime permanente: w Hs,Ss He,Se Q Figura 5. Volume de controle. Balanço de Entalpia: To, Po, µo,i Q − W = H s − He Q Balanço de Entropia: T + σ = S s − Se (2) (3) Multiplicando-se a Equação 3 por (- To ) e somando-a à Equação 1 tem-se: H s − H e − To ( S s − S e ) = Q (1 − To ) − W − Toσ T (4) A Equação 4 é o balanço de exergia válido para o volume de controle considerado. Ele é formado pelos seguintes termos: - variação entre os fluxos de exergia de entrada e saída = Be-Bs Be-Bs = He-Hs - T0(Se-Ss) (5) - exergia transferida associada ao calor transferido = BQ = Q(1-T0 / T) (6) - exergia pura = trabalho (potência) realizado = W (7) - taxa de exergia destruída = Bdest = T0σ (8) A variação de exergia entre os fluxos de entrada e saída do volume de controle caracteriza o máximo trabalho que poderia ser obtido entre os estados de entrada e saída (trabalho reversível). Esta capacidade de realizar trabalho é igual à somatória composta pelas seguintes parcelas: - trabalho que seria obtido de um motor térmico reversível operando entre os níveis de temperatura T e To , consumindo Q e rejeitando calor para o meio ambiente a To (este trabalho é a exergia associada ao calor trocado); - trabalho efetivamente realizado (exergia pura); - trabalho disponível destruído devido à existência de processos irreversíveis (exergia destruída = Toσ ). A Equação 4, o balanço de exergia, pode ser considerada como a lei da degradação da energia, uma vez que permite a quantificação da redução da capacidade de realização de trabalho, devido à ocorrência de processos irreversíveis durante o desenvolvimento de processos de conversão de energia. Constata-se assim que a capacidade de realização de trabalho (exergia) não se conserva, sendo sempre reduzida toda vez que houver algum processo irreversível (expansão não resistida, perda de carga, mistura, troca de calor com ∆T finito, reação química) ocorrendo no volume de controle analisado. ANÁLISE EXERGÉTICA DE PLANTAS DE COGERAÇÃO A análise exergética de plantas de conversão termomecânica permite caracterizar como a exergia disponível (devido à queima do combustível, empregado como insumo energético) é utilizada e destruída nos processos de conversão de energia existentes na planta. A performance exergética das plantas de cogeração pode ser feita a partir de uma definição geral de rendimento (Oliveira et al 1990, Huang 1990, Tsatsaronis, 1995): η= (efeito útil)/(insumo consumido) (9) Com esta formulação pode-se chegar às expressões dos rendimentos energético (ηe) e exergético (ηb) de plantas de cogeração: ηe = ηb = W +Q Ecomb W + BQ Bcomb (10) (11) onde BQ é a exergia transferida a um processo para fins de aquecimento ou refrigeração (“produção” de água gelada). Combinando-se as Equações 10 e 11, introduzindo-se a relação β = ( Q / W ) , o fator de Carnot θ ( o que eqüivale a assumir que BQ = θ.Q ) e α = Bcomb / Ecomb , obtémse: 1 + θ.β 1 ηb )( ) =( 1+ β α ηe (12) Esta expressão permite obter com facilidade a relação entre os dois rendimentos, dados β, o nível de temperatura a partir do qual se faz a troca de calor e conhecendo α. A Figura 6 apresenta o comportamento de ηb/ηe em função de β e parametrizada em θ, para um combustível com α = 1. Nela observa-se que quando β→0 a relação entre os rendimentos tende a 1, pois o efeito útil do sistema é a produção de potência (exergia pura). Quando β→∞ a relação entre os rendimentos tende a θ, pois o efeito útil é predominantemente uma transferência de calor (aquecimento/refrigeração). Note-se, também, que para θ (em módulo) decrescente, isto é, transferência de calor a temperaturas próximas de To, como é o caso dos sistemas de condicionamento de ar, a relação entre os rendimentos cai para um mesmo β, devido à menor quantidade de exergia associada à troca de calor. Convém ressaltar que os dados apresentados na Figura 6 são facilmente corrigidos para um combustível com α ≠ 1 simplesmente dividindo o valor de ηb/ηe do gráfico pelo particular valor de α (que pode ser obtido, por exemplo, nas correlações apresentadas por Szargut, 1989 e Bejan, 1988). 1,00 teta = 0,80 rend. exergético / rend. energético 0,80 teta = 0,60 0,60 teta = 0,40 0,40 teta = 0,20 teta = 0,10 0,20 teta = 0,02 0,00 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 beta Figura 6. Comportamento de ηb/ηe em função de β para diferentes valores de θ. A Tabela 1 apresenta os valores de W, Q, θ (fator de Carnot médio), β, ηe, ηb e ηb/ηe, para sete tipos de sistemas, englobando unidades de cogeração e ciclos combinados (os dados de operação dos três primeiros sistemas foram levantados a partir de unidades descritas por Horlock, 1987). Tabela 1 Características de sistemas de cogeração Sistema Ciclo Rankine + CR (aquecimento distrital) Turbina a gás com CR W (MW) Q (MW) θ β ηe ηb rη 135,0 0 348,0 0 7,50 23,00* 32,21 0,201 2,60 0,901 0,382 0,424 0,346 0,346 0,273 2,34 7,19 3,54 0,769 0,891 0,882 0,417 0,379 0,382 0,542 0,425 0,433 0,472 0,628 0,461 0,599 0,336 0,361 0,331 0,395 3,20 9,10 Rankine com CR Motor a combustão (Diesel) com CR 7,48 6,70 0,215 0,90 0,751 Ciclo combinado (TG + TV) com CR 26,03 32,21 0,273 1,24 0,770 Ciclo combinado (TG+TV) com chiller a compressão COP = 4,5 3,00 6,30 0,057 2,10 0,930 Turbina a gás com CR e máq. a absorção COP = 3,00 5,39 0,057 1,80 0,839 1,1 * queima de combustível na CR; To=298K; TG=turbina a gás; TV=turbina a vapor; CR=caldeira de recuperação Dos resultados da Tabela 1 pode-se destacar: - os maiores valores de β das unidades com ciclos Rankine e quando há consumo adicional de combustível na caldeira de recuperação de unidades com turbina a gás. - os maiores valores de ηb/ηe para os sistemas de ciclos combinados e motor a combustão, dada a importância relativa da potência produzida. ANÁLISE TERMOECONÔMICA DE PLANTAS DE COGERAÇÃO Numa planta industrial multi-produtos a definição dos custos de produção é feita a partir de métodos de partição de custos que associam aos produtos os custos dos insumos e equipamentos requeridos para sua obtenção. Para plantas de conversão termomecânica a combinação de um método econômico com a análise termodinâmica permite realizar a partição de custos de forma racional. Para uma planta de cogeração a combinação da análise exergética com métodos de partição de custos permite avaliar criteriosamente os custos de produção de eletricidade e de aquecimento/refrigeração, uma vez que com o conceito de exergia consegue-se valorizar diferentemente trabalho (= exergia pura) e calor (exergia = Q (1-To/T)). Para a planta de cogeração esquematizada na Figura 7, composta por uma caldeira e uma turbina de contrapressão, os balanços de custo são, respectivamente, em base exergética e desprezando os gases de chaminé: va . We Turbina Combustível Caldeira (Cturbina) (Ccaldeira) vb Figura 7. Esquema de cogeração para o balanço de custos cva Bva = Bcomb ccomb + Ccald (13) ceWe + cvb Bvb = cva Bva + Ct (14) Introduzindo os rendimentos exergéticos da caldeira ( ηbcald ) e turbina ( ηb ) tem-se: t cva = ccomb Ccald + ηbcald Bva ceηbt + ( Bvb C ) (cvb − ce ) = cva + t Bva Bva (15) (16) com: Bva Bcomb (17) We + Bvb Bva (18) ηbcald = ηbt = Para uma planta de cogeração, esquematizada na Figura 8, com turbina a gás e sistema de refrigeração a absorção, destinada a gerar eletricidade e “produzir” água gelada, o balanço de custos torna-se: ceWe + cag Bag = Bcomb ccomb + Cequip (19) Combustível CC . We CP TG água gelada ar CR CA onde: CP = compressor ; CC = câmara de combustão ; TG = turbina a gás ; CR = caldeira de recuperação ; CA = chiller a absorção. Figura 8. Planta de cogeração para gerar eletricidade e produzir água gelada. Para uma dada planta são conhecidos os custos dos equipamentos (manutenção e amortização), o custo exergético unitário do combustível (ccomb) bem como os fluxos de exergia (Bva, Bvb, W e e Bcomb). A determinação do custo unitário do vapor de alta pressão (cva) da planta esquematizada na Figura 7 é feita diretamente a partir do balanço de custos da caldeira. Para a determinação de ce e cvb dispõem-se apenas de uma equação. Assim a equação adicional é definida pelo método de alocação de custos utilizado. Para a alocação de custos pode-se ter os seguintes métodos: - igualdade (ce = cvb); - extração (cva = cvb); - eletricidade como subproduto; - vapor como subproduto. A avaliação do desempenho econômico pode ser feita através do cálculo do custo médio total da energia e exergia (cb) (eletricidade/vapor ou eletricidade/água gelada) transferidas pelos sistemas durante suas vidas úteis de operação, através do método do custo anual (IAEA, 1991), considerando-se o investimento inicial (equipamentos, instalação e comissionamento) e os custos operacionais, que em uma primeira aproximação podem ser associados aos insumos energéticos (eletricidade e combustível): cb = [ Ci ( n / (1-(1+n)-r) + Co] / (W e + Q θ) (20) Para exemplificar o uso da alocação de custos com base na exergia são apresentadas duas plantas de cogeração, uma para geração de eletricidade e vapor e outra para geração de eletricidade e produção de água gelada. No primeiro caso emprega-se o critério da igualdade e no segundo caso o critério da eletricidade como subproduto. a) Planta de cogeração com turbina a vapor A Figura 9 esquematiza a planta de cogeração que opera com uma turbina de contrapressão, fornecendo informações sobre as condições de operação da caldeira e da turbina a vapor. va . m=5,5 kg/s p = 20 bar . T = 400 C óleo BPF We = 1938 kW Turbina Caldeira ar vb p = 2 bar T = To T = 185 C po = 1 bar ; To = 25 C Figura 9. Características da planta de cogeração para geração de eletricidade e produção de vapor. As características dos equipamentos são: - rendimento energético da caldeira: 0,830 - rendimento exergético da caldeira: 0,341 - rendimento isentrópico da turbina: 0,75 - rendimento eletromecânico: 0,87 - combustível: óleo BPF - custo do combustível (Agência para Aplicação da Energia, 1994): 0,1133 US$/kg - custo dos equipamentos (Agência para Aplicação da Energia, 1994): 1200 US$/kW - custo anual de manutenção: 1% do custo dos equipamentos - horas anuais de operação (h): 6000 - fator de carga: 0,75 - fator de amortização anual: 0,17698 A análise termoeconômica deste sistema, empregando-se o critério de igualdade de custos em base exergética dos produtos da planta de cogeração (eletricidade e vapor a 2 bar), fornece os seguintes resultados: ce = 52,80 US$/MWh cvb = 9,2 US$/t b) Planta de cogeração com turbina a gás e sistema de refrigeração a absorção Considere-se agora uma planta de cogeração como a mostrada na Figura 8, composta por uma turbina a gás e sistema de refrigeração a absorção destinada a gerar eletricidade e “produzir“ água gelada para fins de condicionamento ambiental. As características dos equipamentos são: - potência elétrica gerada (MW): 2,5 - capacidade de refrigeração (MW): 4,7 - rendimento global da turbina a gás: 0,30 - rendimento térmico da caldeira de recuperação: 0,75 - COP do ‘chiller’ a absorção: 1,10 - tarifa do gás natural, base PCS (US$/MWh): 3,0 - custo do sistema de cogeração (Batista de Morais et al., 1992) (US$/kW): 841 - custo anual de manutenção: 1% do custo dos equipamentos - horas anuais de operação (h): 6000 - fator de amortização anual: 0,17698 - fator de carga: 1,00 Utilizando-se para esta planta o critério de partição de custos que considera a eletricidade como subproduto, obtém-se os seguintes valores de ce e cag (calculado a partir de uma instalação destinada a produzir apenas água gelada com chiller a absorção): ce = 68.12 US$/MWh cag = 0,20 US$/t CONSIDERAÇÕES FINAIS O emprego da análise exergética é essencial na caracterização da performance termodinâmica de plantas de cogeração, ponderando corretamente a influência da eletricidade e do vapor/água gelada na performance global da planta. Além disso o uso do conceito de exergia nos métodos de alocação de custos de produção garante que os custos de eletricidade e vapor/água sejam estimados de forma racional, caracterizando o real valor de cada um desses “produtos” das plantas de cogeração. Os valores obtidos de ce nos dois casos descritos anteriormente atestam a potencialidade do uso de plantas de cogeração em plantas industriais. Por outro lado os valores de cvb e cag atestam também a atratividade da geração de vapor e de água gelada em plantas de cogeração. Com relação ao custo do vapor gerado deve-se destacar que ele aumenta (em base mássica) à medida que suas condições de pressão e temperatura aumentam, uma vez que sua exergia também cresce com essas propriedades, atestando seu maior “valor” termodinâmico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Agência para Aplicação de Energia, Informações sobre Cogeração, Análise Econômica. Agência para Aplicação de Energia, 1994, Boletim Informação, ano 7, no. 31, maio/junho. Balanço Energético Nacional 1995, 1995, Ministério de Minas e Energia, Brasília. Batista de Morais et al., 1992, Cogeração e Auto Geração no Setor Comercial e de Serviços- Relatório Final da Sub-Comissão da Matriz Energética Paulista de Cogeração e Auto Geração no Setor Comercial e de Serviços, São Paulo. Bejan, A., 1988, Advanced Engineering Thermodynamics, John Wiley & Sons, N.Y., 758 p. El-Wakil, M. M., 1984, Powerplant Technology, Nova York: McGraw-Hill Book Company. Freitas, J., 1994, Se o país crescer, pode ficar sem luz., Folha de S. Paulo, São Paulo, 29 mai. Horlock, J.H., 1987,Cogeneration: Combined Heat and Power-Thermodynamics and Economics, Pergamon Press, Oxford. Huang F.F., 1990, Performance Evaluation of Selected Combustion Gas Turbine Cogeneration Systems Based or First and Second-Law Analysis, Journal of Eng. for Gas Turbines and Power, vol. 112, pp. 117-121, N. Y. International Atomic Energy Agency, 1991, Senior Expert Symposium on Electricity and the Environment, Helsinki, Finland, May 13-17. Oliveira Jr., S. et al., 1990, “New Structures and New Types of Heat Transformers”, Proceedings of the 3rd Brazilian Thermal Science Meeting, vol. II, pp. 883-888, Itapema (Brasil). Szargut, J. et al., 1988, Exergy Analysis of Thermal, Chemical, and Metallurgical Processes, Hemisphere Pub. Corp., N.Y. Tamer A., 1994, Petróleo explode no mundo, O Estado de São Paulo, São Paulo, 12 jun. Tsatsaronis, G., 1995, On the Efficiency of Energy Systems, Proceedings of the International Conference Efficiency, Costs, Optimization, Simulation and Environmental Aspects Of Energy Systems (ECOS’95), pp 53-60, Istanbul
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