Renascimentos

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Renascimentos
9 A 11 | SETEMBRO | 2015
S I M P Ó S I O
I N T E R N A C I O N A L
Renascimentos
COMPOSIÇÃO A PARTIR DE FOTO DE GLÁUCIA PESSOA. DETALHE DO PAVILHÃO ZERO (INTERIOR). EXPO MILÃO 2015
Rio de Janeiro
Cosmologia,
natureza e ética
COMITÊ ORGANIZADOR
Mario Novello | Luiz Carlos Bombassaro |
Nelson Job | Maria Borba | Bruno Siniscalchi
TEXTOS
Este seminário pretende retornar aos últimos
momentos em que as utopias ainda não eram controladas
e a ciência surgiu, cheia de esperanças e de ambições
de encontrar as razões que as transcendências projetadas
no cosmos escondiam dos humanos.
Hoje, e por razões que analisaremos neste seminário,
estamos ansiando por um novo cosmos, alargado
no espaço e em sua eternidade, para nos libertar
do peso excessivo a que a técnica, ao impor à ciência
sua orientação pragmática, submeteu-nos.
Mario Novello | Luiz Carlos Bombassaro
PESQUISA DE IMAGENS
Luiz Salgado Neto
CONCEPÇÃO
Gláucia Pessoa
SECRETÁRIA
Flavia Schaller | [email protected]
REVISÃO DE TEXTO
Thaís Fernandes
DESIGN GRÁFICO
Ampersand Comunicação Gráfica
ICRA | CBPF
Rua Dr. Xavier Sigaud, 150
22290-180 | Rio de Janeiro | RJ
Tel: +55 21 2141-7298
PATROCÍNIO
Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico • DAAD
Max Planck Institut für Wissenschaftsgeschichte • MPIWG
REALIZAÇÃO
APOIO
COSMOS & CONTEXTO Revista eletrônica de Cosmologia e Cultura
GT Ética e Filosofia no Renascimento (ANPOF)
N
a segunda metade do século 20, a física
esqueceu por momentos seu sucesso prático
e pretendeu se abrir para uma entusiasmante
discussão sobre o universo. A partir de duas
propostas geradas entre os anos 1915 e 1919 por Albert
Einstein e Alexander Friedmann, os cientistas mergulharam,
pela primeira vez desde a época de Isaac Newton, em um
modo novo de análise das propriedades globais do universo.
Como consequência, e sem controle, instalou-se uma batalha
Cenografia da cosmografia ptolomaica. Carta mostrando os símbolos do zodíaco
entre diferentes modos acessíveis
e do Sistema Solar, tendo a Terra ao centro. Atlas Harmonia Macrocosmica,
de Andreas Cellarius. Editado por Johannes Jansonius (Johannes van Loon)
aos cientistas: o modo associado
em 1660/1661. Biblioteca Nacional da Austrália.
ao pensamento aberto, que esperava por
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novidades que viriam de observações
de regiões longínquas, muito além
de nossa galáxia; e, em oposição,
um pensamento rígido, moldado na
eternidade das leis da natureza a partir
da extensão da física terrestre ao universo
e que impedia o exame de novidades
formais não reconhecidas no programa
convencional da ciência.
Ao longo das últimas duas décadas do
século 20 e nos primeiros anos do século
21, as evidências obtidas pelos astrônomos
Manuscrito da Escola Florentina
pareciam ter encerrado a questão e dado
Carta planetária. Sistema heliocêntrico de Nicolau Copérnico (1473-1543).
das obras de Petrarca (manu Mattaei
Atlas Coelestis, 1660. Biblioteca Britânica.
domini Herculani de Vulterris),
vitória ao modo conservador de produzir
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produzido no século 15 para
ciência. No entanto, observações
o primeiro duque de Urbino,
Ao lado, monumento a
Frederico III de Montefeltro (1444-1482).
Giordano Bruno (1548-1600).
inesperadas projetadas para a frente da cena
Contém as Rimas e os Triunfos.
Pietrasanta, Toscana, Itália.
Biblioteca Nacional da Espanha.
cósmica determinaram o retorno a propostas
FOTO DAVIDE PAPALINI / WIKIMEDIA COMMONS
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abandonadas no final do século passado, provocando
Abaixo, retrato de
Nicolau Maquiavel (1469-1527),
uma crise que se instaurou na racionalidade dura
feito por Santi di Tito (1536-1603)
na segunda metade do século 16.
que até então controlava a cosmologia.
Palazzo Vechio, Florença, Itália.
C
oncepções cosmológicas estão profundamente ligadas
ao modo como compreendemos o universo, a natureza,
a vida e o ser humano. Não há cultura que não tenha produzido,
ao seu tempo e em seu contexto histórico e social, uma imagem
de mundo baseada na interpretação do cosmos.
Representações artísticas, narrativas míticas,
reflexões filosóficas e explicações científicas servem
para mostrar a presença marcante da cosmologia,
em suas mais variadas formas de interpretação.
Por isso, também não se pode deixar de reconhecer
que as concepções cosmológicas constituem
o horizonte interpretativo sobre o qual incidem
perguntas imprescindíveis para compreender
a própria experiência do pensar e do agir humano.
Embora as perguntas sobre o cosmos tenham
uma longa história, não resta dúvida de que
foi em torno da cosmologia e da filosofia
da natureza que foram sendo forjadas as bases
do projeto moderno, instituído com o advento
da moderna mentalidade científica associada
à transformação histórico-conceitual produzida
pelo movimento intelectual ao qual costumamos
chamar de Renascimento.
Isso é especialmente significativo
quando se considera o contexto da revolução
copernicana, para a qual Nicolau de Cusa
e Giordano Bruno, dentre outros, ofereceram
argumentos metafísicos e matemáticos decisivos
para os debates acerca da unidade,
da infinitude e da eternidade do universo.
À direita, Sibila Délfica, obra de
Michelangelo (1475-1564).
Afresco, c. 1509. Capela Sistina, Vaticano.
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Abaixo, Dinheiro dos Tributos, obra de
Masaccio (1401-1428). Afresco, 1425. Capela Brancacci,
Basílica de Santa Maria del Carmine, Florença, Itália.
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ora se complementam; que a ordem do cosmos guarda
uma relação direta, às vezes de valência inversa,
com a liberdade humana, como bem o mostram pensadores
como Giovani Pico della Mirandola e Leon Battista Alberti.
É
Europa, 1453. Maps and tables
of chronology and genealogy;
selected and translated from
Monsieur Koch’s “Tableau des
Révolutions de l’Europe”
[por C. T. L., i.e. Charles Thomas
Longley, mais tarde,
Arcebispo de York], 1830.
Biblioteca Britânica.
THE BRITISH LIBRARY / FLICKR
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E
Anunciação, obra de Leonardo da Vinci (1452-1519).
Óleo sobre madeira, c. 1472. Galeria Uffizi, Florença, Itália.
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Madonna do Prado, obra de Rafael Sanzio (1483-1520).
Óleo sobre madeira, 1506.
Museu de História da Arte de Viena, Áustria.
ssa teia de interações entre cosmologia, filosofia,
ética e natureza, que tem lugar em um contexto
de transformação impulsionado pelo movimento renascentista,
assim como as contribuições de vários autores para a análise
do modelo emergente de compreensão do universo, encontram
repercussão nas palestras dos especialistas de diversos campos
do conhecimento que integram este seminário.
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PALESTRANTES
Carlo Gabriel Kszan Pancera
E XPERIÊNCIA
E NATUREZA EM
M AQUIAVEL
Universidade Federal de Minas Gerais
Celso Martins Azar Filho
COSMOLOGIA E FILOSOFIA MORAL EM MONTAIGNE
Universidade Federal Fluminense
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desse movimento de liberação, desse renascimento
do pensamento cósmico que iremos falar. No entanto,
é importante que tenhamos em mente que se trata ainda
de um movimento subterrâneo, fora dos holofotes
da mídia com que hoje se produz verdades científicas.
Os grandes programas, os projetos ambiciosos para além
de uma racionalidade simplista, as fantasias idealizadas
e as utopias formais foram colocados à parte,
tornando-se programas vigiados pelo sistema, controlados
de inúmeras formas, em particular, por meio dos
procedimentos de financiamento das pesquisas.
Dessa nossa análise emerge cristalina a necessidade
de um novo compromisso cósmico, que requer um novo
Copérnico, novas utopias, espelhadas nas maravilhosas
propostas de Kurt Gödel e Georg Cantor. Devemos,
enfim, examinar as consequências do espanto provocado
pela perda do controle da finitude do cosmos e a
necessidade de compreender o significado da eternidade
do universo que os cosmólogos produziram. Porque,
afinal, é isso que estamos aprendendo: não há nenhuma
evidência cósmica que nos permita retirar dessa análise
a concordância que nos faça entender o diminuto
papel do homem no cosmos.
Vênus, Marte e o Cupido,
obra de Piero de Cosimo
(1462-1521).
Óleo sobre madeira,
c. 1505.
Gemäldegalerie,
Berlim, Alemanha.
Fabrina Magalhães Pinto
M
as, ao propor a substituição do modelo de um mundo fechado para
o modelo de um universo infinito com uma pluralidade de mundos,
teria a grande mudança conceitual operada pela revolução copernicana também
transformado o modo de compreender o próprio homem? As reflexões de
Maquiavel e Montaigne, por exemplo, parecem indicar claramente uma íntima
conexão entre cosmologia e filosofia moral, natureza e política. No caso de
Maquiavel, o movimento do mundo celeste, eterno e circular, contrapõe-se às
contínuas transformações do mundo sublunar, onde tudo é instável e está sujeito
à corrupção e à mudança. Mas, não raras vezes, o próprio modelo
da cidade ideal busca inspiração na
representação idealizada do cosmos,
como em Leonardo Bruni.
Por isso, pode-se justificar que, para
o pensamento renascentista, conflito
e harmonia ora são contrapostos,
À esquerda, planta de Paris (c. 1550) de Olivier Truschet
e Germain Hoyau. Fac-símile Seefeld, Zurique, Suíça, 1980.
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Abaixo, panorama de Florença (1557) de autoria incerta.
Coleção do conde Magnus Gabriel De La Gardie (1622-1686).
Biblioteca Nacional da Suécia.
BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL
Cópia da segunda
edição do primeiro livro
da obra Essais,
de Montaigne, com as
correções, anotações
e adições do autor
no ensaio nº 27,
intitulado De l’amitié
(‘Sobre a Amizade’),
para a terceira (e última)
edição da obra.
Exemplar de Bordeaux,
Universidade de Chicago.
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Universidade Federal Fluminense, Polo Universitário de Campos dos Goytacazes
Flávia Roberta Benevenuto de Souza
A CIDADE IDEAL DE LEONARDO BRUNI
NO RENASCIMENTO ITALIANO
COSMOS E FORTUNA NA OBRA DE MAQUIAVEL
Universidade Federal de Alagoas
Gilmar Henrique da Conceição
Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
campus Toledo
Helton Adverse
MONTAIGNE E A LEI: SOBRE O DO COSTUME
E DE NÃO MUDAR FACILMENTE UMA LEI ACEITA
E DA EXPERIÊNCIA (III, 13)
(I, 23)
MAQUIAVEL, POLÍTICA E CONFLITO
Universidade Federal de Minas Gerais
Jonathan Molinari
Universidade de São Paulo
José Luiz Ames
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus Toledo
José Martins Salim
AS LEIS DO COSMOS E A LIBERDADE DO HOMEM:
GIOVANI PICO DELLA MIRANDOLA E LEON BATTISTA ALBERTI
NATUREZA E COSMOLOGIA EM MAQUIAVEL:
ENTRE O FATALISMO E A AUTONOMIA DA HISTÓRIA
RUMO À TERCEIRA REVOLUÇÃO COPERNICANA
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
Luiz Carlos Bombassaro
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
GIORDANO BRUNO, UNIVERSO INFINITO
E FINITUDE HUMANA
Marcio Tavares d’Amaral
OCIDENTE, TERRA DA NOITE: O SOL RENASCERÁ?
Maria Cristina Theobaldo
MONTAIGNE, SÊNECA E A UTILIDADE DOS SABERES
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Universidade Federal de Mato Grosso
Mario Novello
AS LEIS DA FÍSICA E O UNIVERSO
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
Nelson Job
RENASCIMENTOS: DO RESGATE DA ANTIGUIDADE
HCTE/Universidade Federal do Rio de Janeiro
Newton Bignotto de Souza
Acima, Dante e Virgílio visitando o Inferno,
obra de Rafael Flores (1832-1886).
Óleo sobre tela, 1855.
Museu Nacional de Arte – MUNAL,
Cidade do México, México.
Pietro Omodeo
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C OSMOS
E ETHOS NO TEMPO DE
G IORDANO BRUNO
Instituto Max Planck para a História da Ciência (Alemanha)
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Ao lado, detalhe da Porta do Paraíso do
Batistério de Florença. História de José.
Placa de bronze. Réplica a partir do original
de Lorenzo Ghiberti (1378-1455).
Obra iniciada em 1425 e hoje no Museo
dell’Opera del Duomo, Florença, Itália.
NICOLAU DE CUSA: ENTRE A METAFÍSICA E A COSMOLOGIA
Universidade Federal de Minas Gerais
De Re Aedificatoria, obra de 1452
de Leon Battista Alberti
(1404-1472). Página de rosto
da tradução de Giacomo Leoni
para o inglês (1726).
Biblioteca da Universidade
de Heidelberg, Alemanha.
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Sérgio Xavier Gomes de Araújo
GLÓRIA E VANITAS NOS ENSAIOS DE MONTAIGNE
Universidade Federal de São Paulo, campus Guarulhos
Wolfgang Neuser
Universidade de Kaiserslautern (Alemanha)
DUAS CULTURAS PÓS-TRADICIONAIS:
RENASCENÇA E SOCIEDADE DO CONHECIMENTO