Monografia completa

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Monografia completa
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas
Curso de Especialização Em Línguas Estrangeiras Modernas
CLÁUDIA APARECIDA WENDRECHOSKI
CIVILIZAÇÃO FRANCESA NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM DE
FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR SOBRE MANUAIS DO
ALUNO
Curitiba
2008
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CLÁUDIA APARECIDA WENDRECHOSKI
CIVILIZAÇÃO FRANCESA NO PROCESSO ENSINO/APRENDIZAGEM DE
FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR SOBRE MANUAIS DO
ALUNO
Monografia apresentada como requisito parcial para
a conclusão do Curso de Especialização em Línguas
Estrangeiras Modernas da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná.
Orientadora: Prof. Maclovia Corrêa da Silva
Curitiba
2008
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TERMO DE APROVAÇÃO
CLÁUDIA APARECIDA WENDRECHOSKI
Civilização francesa no processo ensino/aprendizagem de francês língua
estrangeira: um olhar sobre manuais do aluno
Monografia aprovada com nota...........como requisito parcial para obtenção de
título de Especialista, pelo Curso de Especialização em Ensino de Línguas
Estrangeiras Modernas, pelo Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras
Modernas - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela seguinte banca
examinadora:
Banca:
Profa. Maclovia Corrêa da Silva - Orientadora:
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Profa. Maristela Werner
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Prof. Almir Correia
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Coordenadora:
Miriam Sester Retorta
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
CURITIBA
2008
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RESUMO
Essa monografia trata de aspectos de civilização francesa no processo
ensino/aprendizagem de Francês Língua Estrangeira tendo como suporte de análise os
manuais ou métodos propostos por didáticos franceses. A compreensão do ensino da
Língua Estrangeira passando por conceitos e pelas diferentes esferas do relacionamento
humano, a histórica, a artística e a lingüística, os hábitos, a cultura em geral, aproxima
mais o aluno do país que pretende visitar ou trabalhar. O objetivo é mostrar o papel do
cotidiano francês nas práticas de comunicação lingüística propostas para o ensino de língua
estrangeira. Conhecer a língua francesa também significa ter noções de comportamento e a
visão de mundo do povo que adotou essa língua. Fez-se uma abordagem inicial do que os
franceses denominam civilização, percorrendo livros e sites eletrônicos da área. Em
seguida, foram selecionados métodos de francês ofertados no mercado para aqueles que
desejam ensinar e aprender a língua. Os manuais ou métodos de francês propõem um
percurso obrigatório sobre a língua padrão, e para que o processo ensino-aprendizagem
ocorra é necessário realizar atividades gramaticais, funcionais e culturais. Foram
escolhidos para análise quatro métodos mais concorridos como modelos adotados em
cursos livres de línguas e universidades, elaborados em épocas diferentes. Neles foram
observados aspectos de civilização que são enfatizados e o papel socio-cultural deles no
contexto lingüístico.
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ABSTRACT
This work is about the French civilization aspects in the teaching and learning process of
foreign French language having as analysis support the manuals proposed for French
didactic experts. The comprehension of the foreign language teaching passing by concepts
and by the different regards of human relationship, the historic, the artistic and the
linguistic, the habits, and the culture in general, approaches more the pupil to the country
that he intends to visit or to work. The goal is to show the role of the French day-to-day in
the linguistic communication practices proposed to foreign language teaching. To know the
French language also means to have behavior notions and world vision of the people that
adopted that language. An initial view of what the French people denominates civilization,
going through the books and electronic sites. Then, we selected four French manuals
presented in the market for the ones who wish to teach and to learn the language. The
manuals propose an obligatory way by the standard language and it is necessary that the
teaching and learning process follows the grammatical, functional and cultural activities to
be successful. The manuals chosen for analysis, elaborated in different times, are the ones
adopted in the free language courses, universities. The focus was to study the civilization
aspects and the socio cultural role in the linguistic context.
6
SUMÁRIO
TERMO DE APROVAÇÃO ................................................................................................. 3
RESUMO .............................................................................................................................. 4
ABSTRACT........................................................................................................................... 5
SUMÁRIO............................................................................................................................. 6
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 7
1.1 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................. 9
1. 2 PROBLEMA DE PESQUISA.............................................................................................. 9
1. 2. 1 Objetivo Geral............................................................................................................................. 10
1. 2. 2 Objetivos Específicos.................................................................................................................. 10
1. 2. 3 Metodologia ................................................................................................................................ 10
1. 3 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS .................................................................................... 10
SEGUNDO CAPÍTULO - CIVILIZAÇÃO FRANCESA.................................................. 12
2.1 CIVILIZAÇÃO: CONCEITOS.......................................................................................... 12
2. 2 A LÍNGUA FRANCESA.................................................................................................... 13
2.3 ASPECTOS CULTURAIS FRANCESES ......................................................................... 14
2. 3. 1 TURISMO ....................................................................................................................... 17
TERCEIRO CAPÍTULO - ANÁLISE DOS MANUAIS ................................................... 20
3.1 OS MANUAIS DE ENSINO DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA...................... 20
3.1.2 Registros lingüísticos abordados pelos manuais ........................................................................... 21
3.2 OS MÉTODOS DE FRANCÊS .......................................................................................... 21
3.3 MÉTHODE DE FRANÇAIS FORUM 1 ........................................................................... 22
3. 4 MÉTHODE DE FRANÇAIS LIBRE-ÉCHANGE 1........................................................ 26
3.5 MÉTHODE DE FRANÇAIS - TEMPO 1 ........................................................................ 30
3.6 MÉTHODE DE FRANÇAIS - REFLETS 1 ...................................................................... 33
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 37
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 39
ANEXOS ............................................................................................................................. 42
Anexo 1 – Forum - Méthode de Français 1............................................................................. 42
Anexo 2 Libre Echange - Méthode de Français 1 .................................................................. 43
Anexo 3 – Reflets - Méthode de Français 1.............................................................................. 44
Anexo 4 Tempo - Méthode de Français 1 ................................................................................ 45
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1 INTRODUÇÃO
O ser humano, como parte de sua herança biológica, nasce com sensibilidade, uma
porta de entrada das sensações internas, involuntárias, e a percepção, elaboração mental
das sensações. Com a qualificação dinâmica, a sensibilidade pode se transformar em
criatividade, dependendo da atividade social. Caso ela não seja significativa, não há
estimulação da sensibilidade, e da percepção, e não haverá criatividade. Ostrower (1978)
explica que com o desenvolvimento da socialização, através dos séculos, nas formas de
convívio entre as pessoas e a cultura, aconteceu a construção do pensamento humano.
Não há, para o ser humano, um desenvolvimento biológico que possa
ocorrer independente do cultural. O comportamento de cada ser humano
se molda pelos padrões culturais históricos , do grupo em que o
individuo, nasce, cresce. Ainda vinculado aos mesmos padrões coletivos,
ele se desenvolverá enquanto individualidade com seu modo pessoal de
agir, seus sonhos, suas aspirações e suas eventuais realizações
(OSTROWER, 1978, p12).
O autor diz que a criatividade é uma força crescente, uma tensão psíquica, que quando
canalizada para fins construtivos, transforma-se em potencial criador. O estado de tensão
de criar, ordena, interpreta, propõe e impele o fazer (Ostrower, 1978, p. 28). Exemplos
deste estado emocional podem ser exemplificados pelos registros da história: artistas como
Prost, Kafka, Van Gogh, Gauguin, Munch tiveram graves conflitos emocionais com
agravamento da tensão psíquica, ao produzirem suas obras. Vigotsky relaciona a
importância do convívio social para o progresso pessoal do indivíduo no seu meio cultural:
Quando mais veja, ouça, experimente, quanto mais aprenda e assimile,
quanto mais elementos da realidade disponha em sua experiência, tanto
mais considerável e produtiva será, como as outras circunstâncias, a
atividade de sua imaginação (VIGOTSKY, 1984, p.18).
Segundo Ostrower (1978), o ser humano aparece na história como um ser cultural, com
práticas realizadas em conjunto, e repassadas para as gerações sucessivas. São “formas
materiais e espirituais com que os indivíduos de um grupo convivem, nas quais atuam e
se comunicam, cuja experiência coletiva pode ser transmitida através de vias simbólicas
para geração seguinte” (OSTROWER, 1978, p.13)
8
A cultura dos povos se faz no convívio social, se modifica se enriquece e se
acumula através dos tempos. Com o potencial sensível e consciente, o ser humano encontra
referenciais para suas atitudes e comportamentos. Nessa evolução conjunta de aspectos
peculiares à vida intelectual, artística, moral e material de uma época, de uma região, de
um país ou de uma sociedade nascem os conceitos de civilização. Estes adquirem uma
oposição ao conceito de selvageria, rusticidade e incivilidade. Como não houve simetria de
idéias, de condições ambientais, materiais, intelectuais e espirituais, os povos se
desnivelaram na compreensão de mundo.
Os registros de pinturas em cavernas informam às gerações sobre as civilizações
pré-históricas. Segundo Andreas Lommel (1995), especialista do museu do etnologia de
Munique, na Alemanha, “a arte pré-histórica da civilização e sua expressão na arte
propriamente dita atingiu o apogeu nas pinturas das cavernas do sudoeste da França e
do norte da Espanha cerca de 12.000 a.C” (p.11 ). A literatura, as artes plásticas, o teatro,
a música retratam sempre um período, uma época, uma localidade, ou uma sociedade. Um
povo existe junto com sua cultura, a qual veicula sua identidade, e “através da cultura é que
nós conhecemos e por isso progredimos” (DIVARDIN, 2000, p. 3).
A cultura da época glacial foi encontrada há 500 anos, com obras de arte da época
Franco-Cantárbrica. São as famosas grutas de Altamira, Combarell, Font de Gaume,
Niaux, Pair non Pair, com fósseis humanos e animais, pintura, gravações, desenhos,
esculturas, cerâmica. O abade francês Henri Breuil (1877-1961) codificou as esculturas do
Paleolítico superior, que compreende um período entre o ano 30.000 e 9.000 a.C.
(ALVARES et. al. p.20, 1995).
A cultura francesa é uma somatória de contribuições de vários povos
conquistadores, celtas, romanos, alemães, e outros que deixaram influências marcadas na
história. Faz parte da literatura, da economia, da pintura, da música, da história das idéias,
que são aspectos das expressões dessa civilização, e para se ter acesso a esse
conhecimento, é necessário estudar as obras de pensadores, de artistas, e de sábios, de se
ter uma idéia do quadro geográfico, mas segundo Couchoud & Blancpain (1980), a
civilização francesa “não é somente uma coleção de “grandes figuras”” (p.3).
Como os alunos de francês “língua estrangeira” podem ter acesso a essa cultura
civilizatória sem dominar a língua? Uma das maneiras é consultar os manuais dedicados a
esse público, os quais se situam entre “um guia e um tratado”, com as delimitações
9
propostas pelos autores. Esse gênero textual1 está voltado para narrar fatos que elaboram
na mente humana imagens de uma realidade não vivenciada pelo leitor, abrangendo os
mais diversos aspectos que fazem parte do cotidiano do povo.
Nos manuais, as situações de comunicação introduzem formas gramaticais e
estilísticas, vocabulário, e as práticas do dia-a-dia de diferentes modos: no texto da lição,
na rubrica das palavras escolhidas para a conversação, nos exercícios orais e nos escritos.
O ensino de língua estrangeira está inseparável da realidade social na qual a língua se
aplica (PAOLETTI & STEELE, 1983).
1.1 JUSTIFICATIVA
Da importância da comunicação entre os povos falantes de línguas diversas, e das
mudanças introduzidas pela mídia eletrônica provieram novas estruturas institucionais e
sociais, ainda que atitudes e comportamentos tradicionais remanesçam. O educador Paulo
Freire diz que a interpretação do mundo precede a leitura de um texto. A tendência da
criação de cursos de idiomas e de manuais apropriados acompanha a globalização, e as
escolas de língua estrangeira dedicam-se ao domínio de idiomas. A Aliança Francesa está
no Brasil há 120 anos, e em Curitiba já ultrapassou a casa dos 60 anos. Seu trabalho é o
ensino da língua e da cultura francesa (ALIANÇA FRANCESA, 2008).
O presente trabalho destinou-se à pesquisa da cultura francesa, devido a sua
profunda ligação com a cultura brasileira. Diferente de outras nações, o Brasil e a França
trocaram experiências francamente. A pesquisa dessa monografia deve-se à importância do
conhecimento da cultura francesa, sua interligação com a cultura brasileira e a sua
importância no ensino da língua francesa. Os benefícios decorrentes do estudo das duas
culturas vêm valorizar o intercâmbio cultural, a facilidade de expressão nos dois idiomas,
facultar o aprendizado da língua francesa e as suas nuances, seus costumes e propiciar um
maior entendimento.
1. 2 PROBLEMA DE PESQUISA
1
Nessa monografia entende-se o gênero textual a partir das concepções de Mikhail Bakhtin: os
acontecimentos socio-discursivos são enunciados “relativamente estáveis” com semelhanças (1997).
10
Até que ponto questões de civilização, contidas em manuais, concorrem como
elemento instigador de práticas comunicativas no processo ensino/aprendizagem de
Francês Língua Estrangeira?
1. 2. 1 Objetivo Geral
Verificar nos manuais como o tema da civilização francesa insere-se na estrutura
gramatical da língua, e funciona como mecanismo de socialização no processo de ensinoaprendizagem.
1. 2. 2 Objetivos Específicos
1- Contextualizar as questões de civilização que identificam a sociedade francesa;
2- Mostrar como as questões de civilização francesa aproximam as técnicas didáticas e
as formas de realização lingüísticas no desenrolar do processo ensino-aprendizagem
de língua estrangeira;
3- Analisar manuais de ensino (méthodes de français) usados em sala de aula para o
processo de ensino-aprendizagem destacando o papel socio-cultural do tema da
civilização em situações e contextos de escrita e de fala.
1. 2. 3 Metodologia
Para a organização do texto foi escolhido o método de natureza qualitativa, com a
escolha e análise de bibliografia selecionada.
1. 3 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS
Essa monografia está dividida em três capítulos. Na primeira parte, fez-se uma
introdução ao tema, com a parte metodológica composta pela justificativa do tema,
problema de pesquisa, e objetivos. No segundo capitulo foi feito um sobrevôo sobre os
conceitos de civilização francesa a partir de autores que escreveram especificamente para o
público desejoso de conhecer a França e seu cotidiano. Deu-se ênfase aos temas
desenvolvidos como aqueles que representam mais significativamente o povo francês,
como a questão das artes, da alimentação, da educação e da economia. No terceiro capítulo
11
foram feitas as análises nos próprios manuais de “Francês Língua Estrangeira” - FLE,
observando os temas desenvolvidos com e sem o uso do termo “civilização”, e como eles
são apresentados aos alunos. A monografia finalizou com as considerações finais.
12
SEGUNDO CAPÍTULO - CIVILIZAÇÃO FRANCESA
2.1 CIVILIZAÇÃO: CONCEITOS
A noção do termo civilizado está associada ao seu oposto: a selvageria. Sempre o
homem civilizado conquista o selvagem, e “um tem o que o outro não tem e, portanto, sabe
o que este outro precisa para deixar de ser aquilo que é e, assim, passar a ser outra coisa”
(LAJONQUÈRE, 2001, p. 51). A possibilidade dE ser civilizado distanciar-se da
selvageria implica em um desenvolvimento da parte psicológica do ser humano, que é
capaz de refletir sobre suas práticas, e a educação é “uma empresa de aperfeiçoamento
natural ou de encarnação de um ideal de natureza necessária” (LAJONQUÈRE, 2001, p.
52). A sobrevivência do ser humano dependeu da formação de uma organização social.
Segundo Durant:
etnicamente a civilização é um equilíbrio e tensão entre os
instintos primitivos dos homens e as inibições de um código
moral. Sem as inibições os instintos destruiriam as civilizações,
sem os instintos as inibições destruiriam a vida. O problema da
moral é ajustar as inibições a fim de proteger a civilização sem
enfraquecer a vida (DURANT, 1957, p. 1).
Schultz (1980) afirma que os autores de manuais de civilização sempre correm o
risco da subjetividade, mas, mesmo tentando fugir dessa situação não se pode falar da
organização de um território e de uma sociedade, e do seu cotidiano pois estes não
acontecem sem abordar atos coletivos e mentalidades.
O “Guide de France”, um manual da civilização francesa dirigido às pessoas
desejosas de compreender, conhecer e obter uma idéia geral do país, explica que
civilização é “um conjunto vivo em que todos os elementos estão estreitamente solidários”
(MICHAUD, 1966, p.4)”. História, geografia, língua, literatura, arte, costumes e
instituições dão ao termo “civilização” força e unidade entre os elementos.
“Quem diz civilização diz síntese” (Blancpain &, Couchoud, 1980, apud
MICHAUD, 1966), e esta é essencial, dizem os autores, para se conhecer e estudar obras
de pensadores, de artistas e sábios, da existência e sensibilidades coletivas, e ter uma idéia
da geografia, da vida econômica, social e política.
A escola está organizada para criar as condições adequadas de conduzir as
aprendizagens dos alunos para os domínios almejados, e segue programas, métodos, e
13
meios de ensino adequados desenvolvidos pelos professores. Escolher os temas, fazer
julgamentos sobre os aspectos, e os enfoques faz parte da organização do ensino. Na área
da civilização, em especial da civilização francesa, os manuais e os guias educativos têm
por objetivo ilustrar, com textos e imagens, dentre outras, questões de economia, relações
internacionais, a sociedade, a vida política, a vida social e a cotidiana.
A seguir, são repassadas idéias de temas de estudo da cultura francesa que estão
abordados nos manuais de ensino de língua, e que ilustram a realidade social, e estimulam
alunos, professores e interessados a buscarem um conhecimento mais aprofundado de
civilização. Esses manuais são dedicados aos estudantes que não têm a língua francesa
como língua materna, e por isso são empregados com sucesso para aqueles que desejam
aprender o francês fundamental (ALVERNHE & BRUNSVICK, 1965).
2. 2 A LÍNGUA FRANCESA
No início do século XVII, François de Malherbe definiu uma norma de uso das
palavras francesas em suas obras poéticas e críticas e sob o patrocínio do cardeal Richelieu
foi criado o Dicionário. Com a fundação da Academia Francesa em 1635, durante o
reinado de Luis XIV, a língua francesa converteu-se em língua internacional da Europa
(HISTOIRE DE FRANCE, 2007). Hoje, existe na França, uma língua oficial, devidamente
codificada e supervisionada, há mais de três séculos, pela Academia Francesa.
O Francês provém de um dialeto do norte do país, l´ILe-de–France, cujo centro já
era Paris (antiga Lutécia) .Era um dos que, ao norte do rio Loire, compreendia Langue
d”oil. Outros povos em geral, instalados ao sul do mesmo rio, relacionavam-se com La
langue d’oc” (CORREIA, et al. p 9).
0s primeiros habitantes da França foram os gauleses um povo celta (HISTOIRE DE
FRANCE, 2007). Em 121 a.C, os romanos ocuparam a cidade de Marselha, no sul do país,
e fundaram outros assentamentos no interior que constituíram a base território da província
romana da Gália Narbonense. Com a conquista de Julio Cesar, as tribos gaulesas
abandonaram a língua celta, e adotaram o idioma das legiões romanas o “latim popular”.
No século Vll, o latim havia sofrido numerosas modificações, devido à invasão dos povos
bárbaros de origem germânica, e à colônia grega que se estabeleceu em Marselha. A partir
do século IX, o francês antigo era a língua falada e permaneceu até o século XIV. A partir
14
dessa data, até o século XVI, falou-se o francês nomeado médio, e em fins do século XVI
começou o francês moderno (CORREIA et al. p. 9).
O vocabulário francês sofreu, através dos séculos, a influência de várias outras
línguas, como por exemplo, aquelas faladas pelos gauleses, germânicos, árabes, turcos,
italianos, espanhóis, hebreus, ingleses, escandinavos, eslavos, e africanos, além das
palavras que provém do grego (CORREIA et al. p. 10).
A língua permite exprimir pensamentos que permitem ajuntar uns para produzir
outros, sem se enganar na escolha e os dispor adequadamente. O domínio e conhecimento
da língua, da civilização por meio de métodos franceses ajudam a apreender os signos, e as
formas de estruturação particular da gramática. O francês é a segunda língua estrangeira
ensinada em escolas, depois do inglês. Ela é falada em 37 países e cinco continentes:
África, América do Norte, Suíça e Bélgica na Europa, Guiana, e no Oceano Índico. Na
França além mar, constituída por antigas colônias, que não possuíam o francês como
primeira língua,- Guadalupe, Martinica, Reunião -, na ilha de Córsega, nas regiões La
Savoie, Le Comté de Nice, e no Pacífico - Nova Caledonia, Wallis-et Futna e a Polinésia
francesa, hoje desenvolvem características essenciais dessa língua (BÉRARD, et al., 1996,
p, 68).
2.3 ASPECTOS CULTURAIS FRANCESES
A cultura pode impregnar as práticas quotidianas. Ela envolve o processo de
criação e se manifesta nas práticas, nas obras, nos produtos, na produtividade, na
propaganda. É antes de tudo conexão e criação. Aparece como uma totalidade complexa,
um sistema simbólico de significação e de entendimento, uma abstração presente no
interior de um horizonte, percebida pelas práticas e pelas obras que ela informa,
conectando estes horizontes a outros, mais ou menos distantes, se transmitindo de um
momento a outro, se transformando sem cessar (MARTIN, 2007).
As manifestações coletivas geradoras de música de danças, de costumes, de objetos
de arte, das festas, como o carnaval, por exemplo, são ocasiões de divertimentos, com
expressão simbólica, cheias de representações sociais. A criação característica da cultura é
fonte de orgulho e produtora de ligação social. Ela é ao mesmo tempo, meio de
conhecimento do mundo e recreação permanente deste mundo (MARTIN, 2007).
15
Desde o século XII, teve início um lento processo de transformação cultural a partir das
cidades italianas, que se espalhou por toda a Europa. As cidades medievais tornavam-se
centros de intensa produção intelectual, oferecendo cursos que abrangiam desde o ensino
elementar até os altos estudos universitários. As atividades urbanas requeriam novas
habilidades e conhecimentos como ler, escrever e calcular que eram indispensáveis à
prática do comércio.
Uma alteração da sensibilidade artística começava a se manifestar desde o século
XIII, com a valorização da cultura greco-romana, do racionalismo e do naturalismo
ameaçando o controle da igreja. A relação com a antiguidade não representava o desejo
nostálgico de retorno ao passado. Os homens medievais queriam o poder, a ciência a arte e
a filosofia dos antigos adaptada ao seu mundo.
O desenvolvimento da nova cultura correspondia às necessidades da burguesia de
se afirmar numa sociedade dominada pela nobreza e pelo clero. Desde cedo, ricos
comerciantes denominados mecenas patrocinaram os artistas. Além do prestígio político
que adquiriam esses comerciantes, eles contribuíram para a formação de um movimento
cultural conhecido por Renascimento, que atingiu seu apogeu nos séculos XV e XVI e que
de ser estudado em vários aspectos. (REVISTA CONCURSOS & VESTIBULAR
HISTÓRIA, 2008).
As mudanças mais comuns ao norte e sul dos Alpes foram a unificação da
linguagem e estilo da arte antiga uma espécie de revive-la , tentando a recuperação das
obras clássicas.A cultura clássica Greco- romana foi redescoberta nos
mosteiros
e
catedrais Góticas. Os mosteiros foram verdadeiras escolas de arte. Na França as duas
ordens principais foram, Cister e Cluny. A arquitetura desenvolveu–se na basílica de S.
Martin de Tours, por exemplo, no batistério de São João de Poitiers, com uma nova arte
para interpretar a sociedade. A imprensa ajudou na difusão da cultura (MARTINDALE,
1966, p.10).
A literatura contribuiu para a construção da história da civilização francesa. Honoré
de Balzac (1799) escreveu inúmeros romances, novelas de ficção realista e um conjunto de
novelas analisando estudando e pintando a sociedade francesa e particularmente a
burguesia da primeira metade do século XIX. Outros autores como Anatole France, Guy de
Maupassant, La Bruyère, Fenélon, Massillon, Fleichier Pascal, e Bossuet deram
continuidade a esses aspectos da vida francesa (HISTOIRE DE FRANCE, 2008).
16
A poesia e o teatro também foram espaços onde as pessoas puderam retratar fatos
ou eventos do cotidiano na França. Jean Baptiste Racine (1639-1669), poeta e dramaturgo,
foi um dos maiores representantes do teatro francês ao lado de Molière. Racine inicia sua
trajetória em 1667, com a peça Andromaque. Usa os sentimentos de seus personagens e dá
destaque aos papéis femininos. Apesar das tentativas de Voltaire, a tragédia decai na
França.
Molière é o mais conhecido do público brasileiro. Suas comédias contêm o espírito
gaulês natural, um pouco rude e agressivo. Seus personagens são tipos característicos de
todas as classes, de todos os tempos e de todos os papéis. Segundo Sérgio Milliet,
O século XVII assimila o apogeu da cultura francesa, irradiando para o
mundo ocidental as leis do gosto literário e artístico [...]. O teatro de
Corneille, Racine e Molière constitui a Expressâo clássica da época
[...].o que os renascentistas vinham procurando desde 1400 na literatura
só desabrocha com esses autores franceses, figuras centrais de um
movimento histórico, que tem como estrelas quase de igual grandeza,
Descartes,
Pascal,
La
Rochefoucault,
La
Bruyère
(CHATEAUBRIAND,1950).
Alphonse de Lamartine (1790-1869) umas das grandes figuras do romantismo,
Victor Hugo (1802 1885) romancista e poeta, Alfred de Musset (1817-1857) poeta
teatrólogo também são nomes que figuram nos estudos literários.
O rei Francisco I foi o primeiro rei francês a proteger os artistas italianos que se
estabeleceram na França. As atividades artísticas e as obras de artes realizadas no seu
pavilhão de caça em Fontainebleau fazem parte de um acervo guardado na “Escola de
Fontainebleau”. Os arquitetos Serlio e Pierre Cescot desenharam a fachada do Museu do
Louvre. Escultores como Jean Goujon, Germain Pilon, Rodin eram artistas franceses
empenhados no processo de desenvolver um estilo escultório próprio do idioma clássico.
(MARTINDALE, 1966, p. 132).
No século XII, em 1163 começou a construção da Notre Dame, consagrada em
1182. Paris tornou-se um importantíssimo centro musical, em virtude da construção da
mesma catedral e do grupo de compositores pertencentes à chamada “Ecole de Notre
Dame”. Leonin, que foi o primeiro mestre do coro da catedral e o seu sucessor Pérotin,
trabalharam até 1225. Leonin escreveu muitas organas, duas linhas melódicas com
intervalo inferior de quarta ou quinta. Pérotin revisou as organas anteriores, modernizou-as
acrescentando uma terceira ou quarta voz.
17
No século XIII mudou-se a forma musical que passou a ser conhecida como
motetus- do francês mots-palavras. Segundo Roy Bennet,
Durante os séculos XII e XIII houve intensa produção de obras na forma
de canção compostas pelos Troubadours os poetas-músicos do Sul da
França e pelos Trouvers, a contrapartida destes no Norte. São duas
palavras que estão associadas ao moderno verbo francês trouver que
significa descobrir, de modo que Troubadours e trouvers eram aqueles
que descobriam, ou inventavam poemas e melodias (1986, p. 17-18).
Nas primeiras décadas do século XX, jovens compositores abandonaram o espírito
medieval e adotaram o espírito surrealista. Charles Trenet cantou o amor por seu país, e
Edith Piaf, Jacques Higelin, Toto Bissainthe, Colette Magny, Jean Guidon, Bernard
Lavilliers, Catherine Sauvage, Yves Duteil, Francis Cabrel, Charles Aznavour
aproximaram canções à cultura e língua francesa. (DOMINIQUE, et al. 1984, p, 183).
Hoje, a música está espalhada pelas cidades. As estações mais musicais do metrô de
Paris são Bastille, Chatellet, Odéon e Concorde. Nesses lugares sempre há alguém
tocando, seja uma senhora tocando harpa, um senhor com acordeão, estudantes tocando
flauta, clarinete ou um conjunto de cordas, ou alguém com o violão. Além de encantar os
ouvintes, eles conseguem recolher trocados. O festival de verão - festival de Marais,
Festival de Paris, apresentam concertos todas as tardes em locais prestigiados da capital
francesa. Há também Festival de musica de câmara em igrejas.
2. 3. 1 TURISMO
Antes de 1936 as férias eram por conta dos trabalhadores e eles necessitavam ter os
meios para isso. Em 1936 foi anunciado que as férias seriam pagas. Após a guerra 19391945, e a ocupação alemã, os franceses conseguiram liberdade para sair em férias.
Hoje em dia, o turista tornou-se um conhecedor, um consumidor, que sai nos meses
de julho e agosto, mesmo sabendo que são os meses mais movimentados. Os destinos são
próximos e também originais. Alguns preferem descobrir a natureza durante suas férias, na
praia repousando e na companhia das crianças, no campo e outros destinos possíveis. Ele
está atento ao seu bem estar, livre na natureza, em família, privilegiando a qualidade de
vida (CAPELLE & GIDON, 1999, p,16).
Um estudo realizado em 1996 mostrou que a concentração de visitantes em Paris e
a região parisiense, mais as sete zonas que oferecem muitos sítios turísticos, recebem mais
de 100.000 visitantes anuais (GRUNFELD, 1999). Na análise d´Alain Monferrand que foi
secretário geral do conselho Nacional do Turismo na França, o momento é importante para
18
a tomada de consciência sobre a importância do turismo cultural e sua especificidade.
Outro fator preponderante é a aglutinação entre cultura (p.14) e lazer, entre arte e
divertimento (GRUNFELD, 1999, p.19).
Ele constatou que a freqüência aos lugares culturais cedeu a outros, como por
exemplo, sítios naturais, parques temáticos, aquários e zoológicos; que os viajantes não
querem mais se limitar às opções culturais, mas descobrir por si mesmos, compreender, se
expatriar, ver e sentir. A diferença entre alta cultura tradicional, como as belas artes, o
teatro, a musica e a literatura, a visita aos monumentos e aos museus, as exposições, os
concertos, as óperas motivou o turismo cultural. Com o advento da indústria cultural, como
a moda, a gastronomia, as festas, a música, os lugares simbólicos, a chamada cultura
popular se misturou à alta cultura, e passou a ser chamada unicamente cultura. Tudo é
devido ao pós-modernismo (GRUNFELD, 1999, p, 18).
O novo campo cultural se abre à descoberta individual com o aparecimento de
novas formas de turismo cultural e com eles, um novo turista, que aparece como
consumidor que persegue a cultura como forma de desenvolvimento pessoal, que se
permite aprender por si mesmo, através das artes, das línguas, das práticas artesanais, dos
costumes, da gastronomia.
[...] Para facilitar este desenvolvimento é necessário encontrar os
mediadores de boa formação que advertem das relações entre cultura
global e local, capazes de apresentar o sítio, o monumento ou a paisagem
sob diversos ângulos respondendo às solicitações de turistas curiosos e
cultos (GRUNFELD, 1999, p., 20).
Os sítios religiosos estão em primeiro lugar em visitação. Os castelos e as
arquiteturas marcantes como Chambord e o Centro Georges Pompidou, os museus de belas
artes, os museus históricos, os museus temáticos, científicos e técnicos, sítios e museus
arqueológicos, eco museus e museus da sociedade, cidadelas fortificadas e arquiteturas
militares, museus de ciências naturais, são nessa ordem os mais visitados.
Tratando-se de freqüência total, os sítios culturais e não culturais
misturados a região de Ile-de-France encabeça com 119,7 milhões de
visitantes, 36%, número quatro vezes superior ao da região PACA. Três
regiões totalizam mais de 52% do total de visitantes: Ile-de-France,
Paca e Rhône-Alpes. Com Midi-Pyrénées, Poitou-Charentes e
Languedoc-Roussilon, eles obtém dois terços dos visitantes
(GRUNFELD, 1999, p. 16).
19
La Maison de France tem a função essencial na promoção do turismo para
estrangeiros coordenando as coletividades territoriais, os profissionais, os ministérios
concernentes. Em 1998 a França acolheu 70 milhões de turistas estrangeiros e nas
estatísticas ficou em terceiro lugar, atrás dos Estados Unidos e da Itália. A secretaria de
Estado do Turismo avaliando os resultados quer saber por que os estrangeiros gastam
relativamente pouco na França. Os órgãos destinados ao turismo da secretaria de estado
buscam soluções para resolver esta situação, embora os números de informações sejam
insuficientes.
A Agence Française D´Ingénierie Touristique – AFIT - age sobre a oferta de
turismo e se coloca em situação de responder às exigências do mercado. Em colaboração
estreita com a direção dos museus da França, com as coletividades territoriais e os
proprietários particulares dos castelos, a agência. juntamente com os escritórios de estudos
especializados, conduz numerosas ações em vista de profissionalizar a oferta turística
cultural. O manual de vendas, é um documento essencial aos profissionais do turismo, que
organizam as viagens, e as visitas de seus clientes. Contém dados sobre o patrimônio
nacional: a história do monumento, sua localização sobre o mapa, as horas de abertura e as
tarifas, os serviços ofertados, sobretudo as especialidades, o detalhamento das visitas com
os horários e temas desenvolvidos, os endereços úteis da região, turísticos e alimentícios.
Há também onze modos de visitas adaptáveis, aos da terceira idade, aos empregados e às
crianças.
20
TERCEIRO CAPÍTULO - ANÁLISE DOS MANUAIS
3.1 OS MANUAIS DE ENSINO DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA
Os livros do aluno brasileiro adotados em escolas para o ensino de língua francesa
para falantes de português são denominados Méthodes de Français - Métodos de francês.
A palavra “método”, no campo da didática significa técnica, e nos livros de língua
estrangeira são apresentadas técnicas gerais de ensino-aprendizagem: articuladoras,
comparativas, repetitivas, e corretivas. Por outro lado, a palavra “manual” contém os
conceitos e as técnicas, e refere-se ao modo de emprego destes. Na verdade, é a realização
física da metodologia enquanto filosofia pedagógica do processo ensino-aprendizagem,
com seus conceitos e definições (CUQ, 1992).
O francês enquanto língua estrangeira é um campo disciplinar com domínio
próprio, e difere do francês “segunda língua”. Enquanto este ensino intensivo funciona ao
mesmo tempo como língua de escolarização e língua de comunicação para estrangeiros, o
“Francês Língua Estrangeira” é a língua ensinada para os brasileiros que falam o português
tido como padrão. Pode ser que nesse estágio, a língua materna seja a única capaz de
operacionalizar sua visão de mundo, e eles estejam buscando conhecer novas formas de
interação em língua estrangeira.
Gérard Vigner (2001) explica que o “francês segunda língua” (FLS) não pode ser
ensinado com as práticas didáticas (progressão, organização das tarefas, exercícios de
aperfeiçoamento) desenvolvidas para o ensino de “francês língua materna” (FLM), e
aquelas para o “Francês Língua Estrangeira” (FLE). Os grandes domínios de expressão
escrita e oral e o conhecimento da língua situam-se nas três fronteiras, e dependem das
condições de transmissão e apropriação, da escolha e seleção de saberes, da dimensão
política e social.
Os manuais elaborados para o ensino de “Francês Língua Estrangeira” (doravante
FLE) contêm técnicas gerais de aprendizagem e diferem quanto ao uso de recursos
normativos, audiovisuais, e exercícios estruturais de automatismo. Existem aqueles que
privilegiam a aprendizagem em contextos, e usualmente, eles apresentam peculiaridades da
vida urbana e de civilização. Nessa monografia, foram escolhidos quatro manuais para
21
análise, todos referentes ao livro do aluno iniciante. O objetivo é destacar as relações entre
ensino de língua e aspectos de civilização.
3.1.2 Registros lingüísticos abordados pelos manuais
Os manuais com textos, lições de gramática e exercícios de responsabilidade dos
autores deixam para os professores pouca liberdade sobre o que ensinar. As práticas de
leitura e escrita, os conteúdos, as metodologias e as concepções teóricas apresentam
variações de livro para livro. Até 1970, os livros embasavam-se na teoria da informação, e
a língua era vista como um código, e o ensino focalizava a comunicação e expressão. Após
os anos 80, outras teorias lingüísticas colaboraram para introduzir textos de cunho
sociocultural em manuais.
Os anos 90, marcados pelos avanços tecnológicos dos meios de comunicação,
ampliaram as questões das linguagens, e a imprensa, o cinema, o teatro, a televisão, o
computador, a informática, a internet entraram na sala de aula e as regularidades
gramaticais, e as estilísticas acompanharam os manuais de língua estrangeira. Conteúdos
específicos foram introduzidos para mobilizarem professores a organizar situaçõesproblema de aprendizagem.
As situações de aprendizagem são produzidas por um
conjunto de ações planejadas que situa o aluno frente às tarefas, problemas ou projetos a
fazer (PERRENOUD, 2000).
3.2 OS MÉTODOS DE FRANCÊS
Para os professores de francês que trabalham com o ensino de língua estrangeira
para brasileiros são ofertados métodos com sugestões de práticas de classes que orientam o
que é necessário fazer em sala de aula, com propostas de exercícios. Os professores têm
um guia passo a passo que evita improvisações, sem fechar as possibilidades de o mestre
incluir seus próprios exercícios, atividades e dramatizações (BÉRARD, et al., 1996).
Métodos são os livros que compilam metodologias (conceitos filosóficos,
pedagogia2) para que se possam fazer as correções de língua padrão. Eles contêm as
técnicas de ensino-aprendizagem e são apresentados de forma didática. Também são
chamados de manuais, os quais trazem o modo físico de realização das metodologias.
2
A pedagogia trata das relações entre professor, aluno e conteúdos.
22
Nessa monografia são analisados quatro métodos para iniciantes que circulam pelas
escolas livres de língua francesa, e pelos clubes de línguas vinculados às escolas e
universidades públicas. Consideram-se métodos, as técnicas de ensino-aprendizagem
desenvolvidas por profissionais habilitados, e o livro em si, o objeto físico que contêm
essas técnicas e os conceitos (CUQ, 1992).
As abordagens metodológicas podem ser pragmáticas, de auto-aprendizagem ou
comunicativas. As tendências de cada método estão marcadas pela quantidade de práticas
áudio-visuais, gramaticais, lingüísticas, e contatos de fala, escrita e dramatização.
Divididos em unidades e lições, eles apresentam dificuldades que se articulam de modo
progressivo, começando com pouco conteúdo, a fim de que os alunos possam formar a
base lingüística necessária para avançar. Sem dúvida, os métodos preparam para situações
de comunicação variadas. E são esses momentos em que a civilização francesa se faz
presente, e os alunos necessitam dessas informações para vivenciarem situações reais de
comunicação.
3.3 MÉTHODE DE FRANÇAIS FORUM 1
É um manual pedagógico de Francês Língua Estrangeira para adultos e
adolescentes, concebido de maneira a poder se adaptar a diferentes situações de ensino. O
método analisado é o caderno do aluno, porém o conjunto contém dois CDs áudio e um
caderno de exercícios, com um guia pedagógico para a correção do caderno de exercícios e
o endereço de um site na internet para complementar os conhecimentos: www.clubFórum.com - descobrir Découvrir (conhecer o método), partilhar partager (fórum de
discussões) e praticar s’entraîner (exercícios de reforço).
O material para o ensino/aprendizagem elaborado para estrangeiros visa assegurar a
formação lingüística e cultural necessária à comunicação em língua francesa. Os iniciantes,
com uma primeira experiência de aprendizagem de língua estrangeira, vão adquirir
competências como leitura, compreensão oral ou escrita juntamente com os itens que
marcam a temática da civilização.
A situação e a relação entre os personagens apresentados no manual falam e
expressam os comportamentos e os conhecimentos culturais dos franceses. Além da fala,
os gestos acompanham a compreensão dos discursos. Comunicar não é somente dar
23
informações, é ser um indivíduo completo, ora como receptor, ora como emissor,
participando na interlocução e interagindo em situações de fala.
Os diferentes modos de aprendizagem propostos pelo método permitem conhecer a
língua, e criar situações para agir e reagir -d´agir et reagir -em situações de comunicação.
Na medida em que essa habilidade se desenvolve no processo cognitivo do aluno e do
professor torna-se possível conhecer e reconhecer - connaître et reconnaître - as regras de
pronunciação, de gramática, o vocabulário, as associações das palavras possíveis que
ampliam as possibilidades de expressão - s´exprimer - (BAYLON et al., 2000).
A estrutura do método Fórum 1 divide-se em três módulos de três unidades, que
correspondem a três universos de comunicação, utilizando as cores para distinção temática.
‘A vida ao dia a dia’ Au jour Le jour com a cor laranja é o modulo 1; as ocupações quando
se tem tempo livre Temps livre é o modulo 2, com a cor azul; e as relações estabelecidas
quando amigos se encontram Tous ensemble é o título do modulo 3, na cor verde. Cada
unidade tem um título - Pour aller plus loin – “para ir mais longe” é composto de um
pausa-jogo, e de um dossiê de interculturalidade e de exercícios preparatório para o DELF
– Diploma de Língua Francesa – que é um exame de nivelamento de língua.
O método está dividido em de objetivos comunicativos (Objectifs communicatifs),
composto por estruturas gramaticais (Structures grammaticales), léxicos (Lexique),
fonética (Phonetique), escrita (écrit), intercultural (Interculturel). A página de abertura
contém o contrato de aprendizagem organizado com os conteúdos: comunicativo,
lingüístico e intercultural.
A organização da aprendizagem é composta por janelas: (agir e reagir) que abrem
o método com uma foto situacional que serve de retomada das aquisições precedentes
colocadas para suscitar os conteúdos lingüísticos e culturais da unidade. Em seguida o
aluno é convidado agir e reagir (agir-reagir) com base em documentos como diálogos,
textos, documentos autênticos que se encontram nas situações em contexto, elementos de
vocabulário e gramática. As atividades propostas pelo Fórum 1 são destinadas
principalmente para compreensão global e leva o aluno a refletir sobre a língua, e a cultura.
(Connaître et reconnaître), conhecer e reconhecer, é uma seqüência que continua
do capítulo anterior e é um sistema funcional da língua francesa o qual se apóia sobre
fórmulas no Agir-reagir, agir e reagir, apresentando novos exemplos de questões culturais.
Através de quadros explicativos, o aluno completa o caderno de verbos e vai criar seu
próprio fichário gramatical.
24
S´exprimer, se expresssar, como o próprio nome diz, conduz o aluno a falar ele
mesmo e dele mesmo - lui-même e de lui-même. Expressar-se em língua francesa envolve
ferramentas lingüísticas e culturais para realizar o ato da fala, bem como vocabulário,
noções de fonética que estão sob forma de exercícios de produção oral e de escrita.
Para completar cada unidade, o método propõe um dossiê de interculturalidade e
uma avaliação em dois tempos. Mostra um quadro de vida dos franceses que apresenta
aspectos do patrimônio cultural francês e uma proximidade comportamental entre eles,
com rubricas que descrevem os hábitos sob a forma de um pequeno guia ilustrado do saber
viver na França, Savoir-vivre em France.
Segundo os autores, o conhecimento da língua francesa, dos comportamentos e do
quadro de vida francês, contidos no manual, devem ser suficientes para permitir a
comunicação corrente em francês, e para unir os clássicos saber ser e saber aprender,
savoir-être e savoir apprendre.
O manual Fórum 1 também trabalha com o lúdico, com fotos, desenhos, mapas, e
está voltado para comunicação em uma sociedade civilizada. A metodologia de ensino do
FLE, e as aproximações didáticas baseiam-se na pedagogia construtivista, com ênfase na
gramática, fonética e na cultura de base.
A aula zero “Bom dia” (Bonjour) introduz um hábito de civilização que é o
cumprimentar-se, e o módulo “dia a dia (Au jour le jour) introduz a importância das
apresentações (Présentations) pessoais para que haja um intercâmbio comunicativo para
saudar, cumprimentar, se apresentar. É um encontro entre pessoas (Rencontres) que
introduz a tecnologia dos transportes e da comunicação em momentos de compra de
bilhetes de trem, situação no espaço físico e o uso de aparelhos de telefonia.
A unidade três “Agenda” (Agenda) apresenta os costumes franceses de obedecerem
a rotina de trabalho, lazer e descanso. Tudo está marcado pelo relógio, que informa as
horas (heures) para marcar um encontro, e estabelecer uma rotina diária. O módulo dos
tempos livres, de folga (Temps libre) apresenta a importância cultural de se convidar,
aceitar, recusar um convite.
Além das horas, as datas e as estações têm significados culturais. Aos franceses, é
importante falar do tempo e compreender o boletim metereológico. Para que se possa
hospedar em um estabelecimento, existem fórmulas e regras. O mesmo para fazer compras,
escolher e pagar, experimentar uma roupa.
25
O modulo três “Todos juntos” (Tous ensemble) com a unidade sete Itinerários
(Itinéraires) insere as formas de localização, características das cidades urbanas. Saber
onde ficam as ruas, informar, e deslocar-se são ações que exigem competências lingüísticas
semelhantes às de dar ordem, proibir, e desaconselhar. As posições geográficas em mapas
da França e dos países francofônicos também ajudam o aluno a se localizar.
Na unidade oito “Saídas” (Sorties), as questões culturais aparecem nos atos de se
alimentar, de freqüentar restaurantes e seguir os rituais, e de se comportar em espetáculos.
A interculturalidade com o objetivo de fazer emergir as representações da França de
forma a descobrir o quadro de vida dos franceses, como vivem, o seu ambiente cultural
está representada com fotos de monumentos como a pirâmide do Louvre Pyramide Du
Louvre, uma da barragem na cadeira central de montanhas Massif Central, e a vitória da
França em 1998, da Copa do Mundo.
Por vezes, pequenos diálogos, com apresentações, desenhos e gestos em exercícios
de escuta e imagens, permitem ao aluno acompanhar práticas cotidianas como o uso do
computador para escrever e enviar cartas profissionais, as formas virtuais de compra e
venda de passagens, a consulta de horários por internet, e o uso do banco eletrônico para
efetuar transações.
As imagens fazem parte da cultura francesa e o uso de pictogramas pictogrammes
se estende para os meios de transporte. Um bilhete de trem, encontrado na página quarenta
e quatro, contém informações importantes para uma pessoa saber se deslocar. Pequenas
histórias de desenhos em quadrinhos, cartões postais, propagandas de agências de viagem,
catálogos, e imagens de festas, convidam o aluno a recriar as situações com exercícios
orais e escritos.
O manual mostra com é o modo de vida com pequenos diálogos representando as
situações reais que acontecem na França em hotéis, escritórios, e restaurantes. O tempo
livre Temps libre e as festas, convites são formas sociais e culturais presentes no cotidiano
do francês.
A geografia é algo fundamental para esse povo, bem como o tempo, marcado pelo
calendário com os dias da semana, estações e os meses do ano. Um mapa da França e os
produtos agrícolas e industriais de cada região com a região da Normandia e exemplos de
alguns alimentos Finais de semanas com uma foto de casa de campo, ir ao mercado
compras. Regiões da Normandia como Honfleur posta como uma página de guia de
26
turismo tourisme com os famosos os queijos o camembert o livarot são características dos
hábitos alimentares franceses.
A França é conhecida pela alta costura e pelo luxo no vestir. Boutique et achats”
lojas e compras foto da Galeria Lafayette em Paris o famoso “magasin Français”marcam
os hábitos dos mais abastados. Todavia, do outro lado está o trabalhador, que respeita os
horários de abertura e fechamento dos estabelecimentos, ou seja não admite estender seu
horário de trabalho.
Na parte específica do manual, dedicada a interculturalidade, destacam-se os
hábitos franceses, com exemplos sobre o quadro de vida da França “cadre de vie français”,
as realizações artísticas, técnicas que representam o patrimônio cultural. As boas maneiras
e as relações sociais, a pontualidade “Être à l´heure”, oferecer um presente, e comemorar
os dias de festa, feriados definem modos de agir do povo francês.
Ser educado para os franceses não implica em ser polido ou não “poli ou impoli”, e
gestos e atitudes, a maneira de falar e encontrar a palavra certa para falar, o uso do
imperativo podem parecer atos agressivos. E esse tempo verbal se emprega em muitas
situações.
A história francesa está destacada na arquitetura, no transporte, e nos museus.
itinerários com uma foto de Paris e alguns monumentos, um desenho do Astérix, um
quadro de Vincent Van gogh. O museu do Louvre, o monumento do Arco do Triunfo, a
ponte Alexandre III revelam fatos.
3. 4 MÉTHODE DE FRANÇAIS LIBRE-ÉCHANGE 1
Esse método propõe um caminho para o ensino-aprendizagem do francês padrão a
partir de situações comunicativas. Dirige-se a dois públicos distintos: alunos de formação
continuada, ou alunos da escola regular, onde se tem apenas noções da língua. Contém
doze lições, com atividades gramaticais, funcionais e culturais. Três diálogos por lição
introduzem diferentes formas de se comunicar: formal, familiar, e esmerada, e assim
possibilitam ao aluno aumentar sua competência com os diferentes modos de falar o
francês.
As atividades são sempre decorrentes do diálogo em língua padrão: exercícios para
descobrir as regras gramaticais [Observer et découvrez lê fonctionement de langue];
representação de papéis [À vous de parler]; atividades de nivelamento de língua [Manières
27
de dire]; quadro gramatical [Votre grammaire]; avaliação da aquisição gramatical [Vérifier
vos connaissances]; e treinamento da fonética [Découvrez les sons].
A rubrica “o cinema da vida” [Le cinéma de la vie] reproduz dois textos tirados de
roteiros de filmes contemporâneos que falam do cotidiano dos franceses. A parte da lição
que se refere às contribuições de civilização é intitulada “A França no cotidiano” [La
France au quotidien]. São propostas de leituras e atividades para estudar aspectos culturais
ligados à temática da lição. Cultura e civilização com ilustrações das produções francesas
(arte, cinema, técnicas), com informações práticas, e com a apresentação do
comportamento dos franceses, e atividades com informações adicionais enriquecem o
ponto de vista lingüístico do método.
Antes de iniciar a unidade um, é apresentado um mapa do país, com suas fronteiras,
com suas atividades produtivas distribuídas por regiões, e com sua arquitetura histórica.
Outro mapa, com todos os continentes, em seguida, situa a França e os países falantes da
língua francesa. A primeira situação do cotidiano francês é a prática do telefone, com as
informações completas para se fazer ligações, o manuseio dos aparelhos público e
particular, e os locais onde adquirir o cartão magnético para fazer os telefonemas. Um
texto, bastante simples, apresenta os meses, os feriados e as comemorações da cultura.
Na unidade dois aparecem desenhos de pessoas que representam o francês médio,
descrevendo o tipo físico e os bens. Um pequeno texto extraído de um período mostra dois
tipos de famílias: a aberta (aquela mais comunicativa) e a realista (aquela que não guarda
lembranças do romantismo). As profissões e o acesso ao trabalho ocupam mais duas
páginas ilustradas (um guarda de jardim público, o padeiro, o degustador de vinhos, a
toalete de animais de estimação, e a cobradora de multas por estacionamento irregular), e
uma quarta fala, em forma de texto, da representação das cores na França.
Três páginas da unidade três são dedicadas ao cotidiano francês. Pensar a França
sem a Europa é difícil, por isso a bandeira francesa está hasteada junto com a da União
Européia. O mapa dos países que a compõe, e a situação política da França aparecem ao
lado, com imagens do Senado, da Câmara dos Deputados, de presidentes e de primeiros/as
ministros. O traçado de um mapa da França introduz dados da população ativa e a
crescente presença de estrangeiros no mercado de trabalho. O cotidiano de um francês de
24 anos mostra como é a agenda de um trabalhador, e a de um aluno da escola, como estão
distribuídas suas aulas durante a semana.
28
Na unidade quatro, os aspectos de civilização aparecem com muitas imagens de
localidades. A cada imagem corresponde um pequeno texto literário, e a proposta para os
alunos é escolher uma imagem e falar dela. Um texto retirado de um periódico expressa a
visão de leitores e repórteres de 13 cidades francesas e remete aos aspectos econômicos,
cultural, lazer e qualidade de vida. Um texto em forma de poesia fala dos gestos e como
eles expressam a comunicação em francês3.
Crescem os espaços para a civilização na unidade cinco. Os temas do consumo
dominam, tanto dos jovens quanto dos adultos. Os jovens ganham pouco e gastam muito.
A eles interessam itens como objetos de vestir, música, aparelhos eletrônicos, e comidas
ricas em carboidratos. Os adultos preferem produtos de beleza, jóias, bolsas, livros e flores.
Mas, os franceses obedecem rigorosamente os horários de abertura e de fechamento dos
estabelecimentos comerciais. A sugestão para exercícios de prática oral envolve diálogos
sobre consumo de pratos preferidos, bebidas, roupas e presentes.
Os preços do transporte, das refeições, e o orçamento familiar apontam como os
franceses dividem suas despesas com o lazer e a cultura. Apesar de serem considerados
econômicos, eles compram muito material impresso e midiático. Os franceses gostam do
café como bebida social, e lhes agrada tomá-lo nos terraços existentes ao longo das ruas
das cidades. Cada um paga o que consome, e isto funciona como regra da boa convivência.
A importância do preparo das refeições aparece na unidade seis, com a
apresentação de restaurantes e pratos típicos. Os preços do cardápio sempre são afixados
na porta dos estabelecimentos para que o consumidor saiba quanto vai gastar para
satisfazer sua fome. O vinho acompanha a cozinha francesa, que tem sua “personalidade” e
peculiaridades.
A vida social está regida pelos princípios da ordem, da seleção e da harmonia. No
restaurante, quando o garçom se aproxima, ele escolhe a mesa e apresenta o cardápio. O
comando tem que ser preciso, mas é possível selecionar os pratos. A harmonia dos pratos
está no equilíbrio entre as carnes, as saladas, o queijo e a bebida. O pagamento pode ser
feito com dinheiro, cheque, cartões de crédito, e a gorjeta faz parte do ritual.
Os museus e os centros culturais caracterizam a paisagem de muitas cidades.
Todavia, na unidade 7, são valorizados aqueles que se situam na cidade de Paris. O museu
3
Um depoimento de turista mostra a linguagem dos gestos. Sempre que ele pedia um café em Paris
fazia o número um com o polegar direito. Vinham dois cafés. Mais tarde, ele veio entender que os
franceses começam a contar o número um com o dedo mínimo, e o quando se faz o gesto com o
polegar, ele representa o número dois.
29
do Louvre abriga muitas obras de arte de pintura e escultura de artistas de diversos países,
e as quais marcam correntes de pensamento e modos de viver. As lojas que estão
localizadas dentro do museu vendem também reproduções de arte e jóias. O museu
d’Orsay, antiga estação de trem, inaugurado em 1986, expõe pinturas e esculturas da
metade do século XIX. O Centro Cultural Georges-Pompidou, com uma arquitetura
moderna, é uma biblioteca, um depositário de arte contemporânea e um espaço cultural. No
norte da cidade, em La Villette, há um grande espaço para exposições temáticas, dando
destaque às personagens e aos feitos científicos, técnicos e tecnológicos.
O transporte francês, em especial o de Paris, é muito usado por moradores e
turistas. Como acontece nas grandes cidades, os ônibus e o metro estão sempre cheios, e
por isso as pessoas precisam escolher os melhores horários e os trajetos que permitam
chegar ao destino desejado o mais rápido possível e de maneira agradável. As atividades
propostas para os alunos é pensar os itinerários. Nesses ambientes é fundamental o uso das
palavras como ”por favor”, “agradecida/o”, sobretudo nas horas de pico, quando as pessoas
se empurram para caber nos veículos. A expressão “lata de sardinhas” é empregada para
essas situações.
Outro lado bastante conhecido da civilização francesa, além da comida, em nível
mundial é o cinema. Na unidade oito há ilustrações que remetem aos artistas famosos e
cenas de películas de sucesso de bilheteria. Filmes de aventura, cômicos, de ficção
científica, policial, de horror, de amor, políticos, eróticos e desenhos animados representam
a civilização francesa em curta e longa metragem.
Os franceses gastam por ano, conforme dados coletados em entrevistas realizadas
pelo Ministério da Cultura, mais tempo no cinema do que no teatro e espetáculos musicais.
Porém, existem muitas atividades de lazer ofertadas nas grandes cidades. As idades e o
nível escolar podem definir as escolhas: os graduados preferem teatro, música e esportes.
O lazer das massas são os jogos de azar, a televisão e o rádio. Os jovens representam mais
da metade do público freqüentador das salas de cinema. Elas são uma festa, e os jovens não
trocam esse meio de comunicação social pela individualidade da televisão.
A humanidade, a sua arte e a sua técnica contam suas histórias por meio dos
objetos. Na unidade dez, “De ontem a amanhã” está o que se encontrava na França em
1995 em termos de divulgação de informações. A lista telefônica e o aparelho telefônico
foram substituídos pelos computadores. Essas máquinas colocaram os estilos de vida, as
atividades produtivas e comerciais existentes no planeta em casas, estabelecimentos
30
escolares, e escritórios. Não é mais preciso esperar que as notícias cheguem, pois elas estão
sempre no ar. A humanidade atravessou a invenção da escrita, do alfabeto, dos trovadores,
do pombo-correio, da fotografia, do rádio, e dos circuitos eletrônicos, e juntamente as
relações sociais transformaram as formas de comunicação. Fatos históricos como a
revolução cultural de 1968, a crise do petróleo declarada em 1973, a construção de aviões
supersônicos, de trens de grande velocidade e de espaçonaves trouxeram reformas
econômicas e sociais para o país e para o mundo.
Os eventos festivos relacionados aos esportes são mencionados na unidade onze.
Na França, as competições animam os jovens e os amantes de aventuras. O ciclismo, barco
à vela, os jogos de futebol, as corridas de cavalo, a corrida automobilística, carregam a
imagem de campeões. Há públicos diferenciados que escolhem assistir e praticar esportes:
os jovens preferem primeiramente o futebol e a natação ao passo que os adultos gostam
mais das caminhadas e da cultura da educação física. A hierarquia social também é um
parâmetro de seleção das opções: os mais abastados se divertem com o golfe, o tênis e a
equitação, e os com menos recursos praticam a ginástica, a caminhada e o futebol.
Grande espaço é dedicado à parte da civilização na última unidade. Muitas imagens
expressam as emoções das festas populares, e a grande participação do público nos eventos
de rua. Os franceses festejam eventos políticos, casamentos, aniversários, batismos,
comunhões, festas religiosas, datas comemorativas, cívicas, o início do ano, e os solstícios
de verão. Os ritos são respeitados e a comida está presente nas celebrações. Existe um
calendário religioso que traz os santos de cada dia do ano.
A escrita de cartões restringe-se cada vez mais. Essas formas de anunciar as
celebrações limitam-se às ocasiões mais solenes, em que as pessoas gostam de exprimir a
alegria, a felicidade, o prazer e a tristeza. Sempre se pede uma resposta, pois assim a
família pode organizar melhor o evento, evitando desperdícios e fazendo um planejamento
mais ajustado.
3.5 MÉTHODE DE FRANÇAIS - TEMPO 1
A organização do método Tempo 1, cujas idéias foram concebidas no “Centro
Lingüístico Aplicado de Besançon”, na França, é feita em torno de objetivos de
comunicação: gramática, comunicação e léxico. São doze unidades, que contêm textos de
civilização francesa necessária para a aquisição da língua. A produção de enunciados
31
remete aos fenômenos econômicos, políticos e culturais do cotidiano francês. As interações
que fazem uso da língua correspondem ao saber-fazer lingüístico, e o desenvolvimento das
atividades que levam a isso percorre as doze unidades.
Os autores do método introduzem a civilização dentro dos princípios metodológicos
que associam uma aquisição nova a um exercício preciso efetuado pelo aluno aprendiz,
nomeando esse procedimento de “civilização ativa”. Eles apresentam um fato de
civilização sempre ligado à uma atividade oral ou escrita. Além disso, o livro também usa
a imagem para apresentar as obras de arte, a literatura, os pensamentos, a geografia da
França.
Observando as unidades 0, 1, 2 e 3 que introduzem a conversação mínima para se
fazer os primeiros contatos com as pessoas falantes da língua francesa, há uma grande
quantidade de imagens que mostram aspectos da civilização. Dentre aqueles que o aluno
pode perceber, está a escrita de duas ou mais línguas nos anúncios de pontos comerciais,
mostrando a presença de estrangeiros no país. As cores da bandeira francesa se repetem em
toldos, letreiros, painéis e cartazes.
O hábito dos franceses exporem mesas de refeições pelas calçadas das cidades
aparece em diálogos e em imagens. É bastante forte a questão da geografia, com a
apresentação de mapas do país (BÉRARD et al, 1996, p. 10, 36 e 38), com a divisão
administrativa das cidades, das regiões, e o que se produz em cada região representado por
desenhos. Destacam-se os produtos derivados do leite, as bebidas, os monumentos, a
arquitetura, as devoções religiosas, e as ligações comerciais com os países vizinhos.
Nos exercícios de escuta, reproduzidos no final do livro, destacam-se os hábitos
franceses de usar pronomes de tratamento em todas as situações formais e informais como
“bom dia, desculpa, por favor, agradecido/a, encantado”. Quando os personagens se
apresentam logo dizem seu nome completo, estado civil, a situação familiar, anunciam
suas profissões, a cidade onde moram mostrando a diversidade econômica, e locacional das
atividades produtivas.
A questão temporal sempre se destaca, e aprender horas, dias do mês, da semana, e
marcar encontros, cumprir os horários são hábitos bastante respeitados pelo povo francês.
Há horário certo para iniciar e encerrar as atividades comerciais, e os lugares mencionados
são aqueles que o turista ou o estudante freqüentam: os correios, o teatro, cinema, os meios
de transporte, e quiosques.
32
Falar do tempo também é relevante, na medida em que ele muda de região para
região. O aluno aprende quais regiões do país enfrentam a escuridão e a claridade de cada
estação. Na página 92 do método, apresenta-se um quadro com uma lista de cidades e o
número de horas de sol por ano em cada uma delas.
A partir da unidade 2, há sempre atividades de civilização. Na página 38, há o mapa
da França e imagens de diferentes regiões que remetem à alimentação, à agricultura e aos
agricultores, à pesca, à criação de animais, à navegação, à natureza, ao território e ao
turismo. Um pequeno texto mostra a variedade cultura e lingüística do país, mas a presença
da língua padrão e do regime político único. A República não impede que os franceses
estudem na academia as variantes das línguas existentes.
Na unidade três, o conteúdo do item “civilização ativa” está apresentado em forma
de teste, e o aluno vai mostrar quais personagens ou produtos já conhece. As imagens de
presidentes, artistas, perfumes, bebidas, monumentos, jornais, automóveis ajudam na
execução do exercício. As questões políticas são mostradas de forma que se possa entender
que existe um diálogo entre candidatos eleitos e eleitores.
A “França é assim” é o título da unidade quatro, que apresenta um exercício de
múltipla escolha, com informações sobre escolas, colégios, horários, festas típicas, datas
nacionais, refeições, e telefones úteis. Há serviços de trem, de bombeiro, de polícia, de
informações, e outros. Porém todos eles obedecem à horários de atendimento, segundo
anúncios feitos na porta de cada estabelecimento.
A reprodução de entrevistas (unidade cinco) feitas por um periódico sobre cidades
populosas da França apresenta a opinião dos habitantes sobre alimentação, clima,
segurança, cultura, qualidade de vida e capacidade de suporte. Os exercícios propostas
ajudam os alunos a idealizarem onde gostariam de viver, e de sugerir aspectos importantes
que tornam uma cidade agradável de viver.
Textos mais densos aparecem na unidade seis, com a apresentação dos
“departamentos” e “territórios” que a França possui em outros mares. São terras
longínquas, ligadas pela história colonial, onde se fala a língua francesa e se desenvolvem
atividades econômicas locais. As cidades estão localizadas nos oceanos Atlântico, Pacífico
e Índico, com distâncias maiores que 7.000 quilômetros.
A unidade sete apresenta as festas típicas comemoradas pelos franceses. Há um
texto que percorre as atividades culturais de diversas cidades, e destaca a importância das
datas cívicas. Algumas festas existem no Brasil, como as feitas para os pais, os mortos, os
33
namorados, e os feitos heróicos. Outro aspecto da civilização mostrado em textos densos e
imagens são as profissões e sua função social na organização da sociedade.
Comida francesa, pratos requintados e produtos alimentares variados de alta
qualidade são dimensões dos hábitos franceses de comer. O consumo de alimentos e de
bens aparece em estatísticas na unidade nove, e mostra que o pão, a batata e o vinho estão
liderando o consumo diário dos habitantes. A unidade dez, com textos longos, faz
sobressair a importância da imprensa no país, com uma grande variedade de oferta de
periódicos e jornais para todos os tipos de leitores. Na unidade onze, a mídia eletrônica,
com a televisão a cabo atingindo todos os continentes, amplia as possibilidades de
comunicação entre os povos.
A unidade doze, que encerra o livro, procura fazer uma cronologia histórica dos
eventos políticos que marcaram a França. Passando por todos os itens de “civilização
ativa”, observa-se que o aluno pode obter uma visão geral da cultura francesa, sem deixar
de conhecer outros aspectos inseridos nos conteúdos lingüísticos, como a poesia, a música,
os planos de orientação dentro de cidades, e as dramatizações.
3.6 MÉTHODE DE FRANÇAIS - REFLETS 1
As festas francesas, as especialidades, o modo de vida, festas, atividades esportivas,
televisão, teatro cinema música, artes, monumentos, parques, cidades, vilas, regiões,
turismos, trânsito, meios de transporte, horários, alimentação, serviços, são alguns dos
aspectos de cultura e civilização presentes no método Reflets 1. Eles estão inseridos em
exercícios, atividades, leituras, imagens que permitem aos docentes e discentes tomar
conhecimento do modo de viver na França.
Indicado para adultos e adolescentes, o método propõe documentos de vídeo
contribuindo com uma vivência cultural motivante, dizendo-se assim que compreende o
sentido das situações para analisar e ensinar, aprender as formas lingüísticas, e estimular a
atenção e a criatividade dos alunos, e também mantém desperto o interesse com a proposta
de problemas para resolver. Fornece ferramentas de reflexão e de procedimentos
enriquecidos para favorecer a observação e a formulação de hipóteses.
O método é composto de situações de comunicação, as quais fazem parte das
exigências para o ensino-aprendizagem do francês, segundo os autores. Uma comunicação
autêntica dominantemente oral, em que a escrita aparece como um meio de reforço, de
34
acesso para o conhecimento, e de aquisição de técnicas e estratégias no manejo da
linguagem. O manual apresenta situações que articulam o verbal e o não-verbal em forma
de ação como estratégia comunicativa do método, a qual resulta na constatação de que a
língua e a cultura são duas faces indispensáveis de uma mesma realidade, e que a língua
deve ser aprendida em situações vividas. (CAPELLE & GIDON, 1999).
Dentre os diferentes suportes utilizados pelo Reflets 1, destaca-se o vídeo, com sua
autenticidade de concepção e realização dos temas e personagens. É uma representação
próxima dos hábitos franceses, com a utilização de recursos televisuais para os alunos que
os motive e os ajude a construir referências e adquirir meios de assimilar o francês como
expressão de uma cultura.
O livro do aluno é composto de início com um mapa da região da França, e dos
países que fazem fronteira com ela, evidenciando números de habitantes e cidades. Um
dossiê de partida, chamado aula zero, com exercícios gramaticais com o tema [Vous êtes
français?] você é francês? composto de desenhos de adolescentes e atores que ilustram o
manual, apresenta o uso habitual dos verbos [être et s´appeler], ser e estar, e se chamar,
para ensinar e aprender a comunicação inicial de um relacionamento social. Juntamente,
passa-se a conhecer os hábitos dos franceses, as profissões que institucionalizam o
mercado de trabalho, e a presença de estrangeiros no país, nas fronteiras, e em outros
continentes. As diferentes nacionalidades precisam conhecer o alfabeto [l´alphabet] e a
pronúncia padrão das letras, bem como os números [les chiffres et nombres]. Todavia, os
exercícios também trabalham as duas formas de se comunicar, ou seja, a formal e a
informal, presentes na apresentação dos personagens que gravaram o vídeo.
Depois dessa unidade, seguem vinte e quatro episódios reagrupados em doze
dossiês, mais dois episódios audiovisuais de encerramento, os quais complementam o
método. Cada episódio possui seis páginas, separadas por títulos que permitem melhor
identificação dos conteúdos.
As atividades de antecipação e a transcrição da série televisiva compõem-se de duas
páginas de descoberta de situações [découvrez les situations]. As atividades de
compreensão e de exploração dos comportamentos verbais e não-verbais da série estão
organizadas em uma página que dispõe o raciocínio lógico de compreensão da construção
verbal [organisé votre compréhension].
Os quadros de exercícios de formas e de empregos gramaticais estão distribuídos de
forma didática e diversificados em uma página e meia, e se intitula descoberta da
35
gramática [découvrez la grammaire]. A fonética e ortografia têm seu espaço em cada
episódio do livro são colocados em meia página os sons e letras para trabalhar a pronuncia
[sons et lettres]. E com uma página de exercícios comunicativos [communiquez] faz-se a
apresentação de situações do cotidiano com a exploração das cenas apresentada no vídeo e
no manual trabalhando a compreensão de situações urbanas, e a produção oral de
vocábulos criados para explicar as vivências.
As páginas que aparecem entre dois episódios são de abertura com contrato de
aprendizagem, com as atividades de compreensão e de produção escritas, apresentando um
vocabulário temático de complementação, civilização com atividades apresentada sobre a
forma de curtas reportagens.
O “episódio Um novo locatário [Le nouveau locataire] e o Visite o apartamento [on
visite l´appartement], compostos de duas páginas com atividades de antecipação e
exercícios gramaticais, empregam os hábitos franceses de usar formas de polidez para
identificação, apresentação, e diálogo. Esses modos de viver socialmente consagraram
expressões de perguntas e respostas apresentadas nos exercícios gramaticais [découvrez la
grammaire], com fotos ilustrativas dos personagens para melhor visualização e com
transcrição das séries, exercícios de comunicação [communiquez].
Modos de viver franceses, com ilustrações reais de personagens, retratam atitudes
aceitáveis no convívio social como entrar em uma boutique perguntar [demander] comprar
[acheter], agradecer [remercier] ir à uma agência de viagem, comprar passagens, conhecer
as formas de pagamento - dinheiro francês [l´euro] cartão de crédito, cheque.
No final do episódio dois, um momento intitulado civilização [La francophonie],
com características como o Francês no mundo os francófonos e os amantes da língua
francesa mostram o alcance da língua enquanto força de nação, e a unidade lingüística da
língua materna padrão no território francês e países onde a o Francês é língua oficial ou
língua ensinada. Os episódios do quatro até o vinte e seis seguem com, exercícios de
compreensão, réplicas dos personagens, gramática, tempos verbais, com objetivos
comunicativos.
Apresenta no final de cada episódio, a seção documentos diversos [documents
divers] que representam hábitos cotidianos, cultura e comportamento dos franceses. Outro
aspecto da civilização é o uso de documentos para identificação, como carteira de
identidade e carteira de motorista. As noções de tempo são muito marcantes na civilização.
Há seriedade e precisão quanto aos horários, ao calendário - dias da semana, do mês, o ano,
36
bem como agrada ao povo acompanhar o ritmo das estações do ano, e o clima nos
diferentes meses. Nos meios de comunicação, os horários dos trens, do trem de grande
velocidade [TGV], dos ônibus, e dos programas em canais de televisão obedecem às leis
do rigor e da pontualidade.
Os outros episódios seguem o modelo do vídeo, como por exemplo, o três, uma
cliente difícil [une cliente difficile], e o quatro, feliz aniversário [joyeux anniversaire!],
situações em que se introduz os pronomes de tratamento tu e vós [tu et vous].
37
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os olhares sobre a civilização francesa em métodos de ensino de Francês Língua
Estrangeira não somente complementam o processo ensino-aprendizagem, como fazem
parte de todas as partes lingüísticas, na medida em que as práticas propostas refletem
comportamentos e atitudes de uma sociedade “civilizada”. Língua, geografia, história
política, social, econômica, educação, artes e letras fazem um conjunto que abrange a
concepção genérica de civilização. A língua francesa é considerada por muitos povos a
língua de cultura por excelência (MICHAUD, 1966), e no mundo todo é possível encontrar
livros e periódicos importados da França.
Segundo o Jornal Francês do Brasil de 1958 (FALCÃO, 1958), a língua inglesa
estava se destacando na linguagem comercial, todavia, as pessoas tomavam contato com a
língua francesa nas leituras, sem deixar de apreciar o país e seus falantes e escritores.
Ainda hoje, o ensino de Francês Língua Estrangeira, com os métodos ou manuais
elaborados por didáticos para o processo ensino-aprendizagem, instigam os estudantes a se
interessar pelas práticas comunicativas de uma cultura que lança moda, idéias, que se
uniformizam.
Os manuais ou métodos de Francês Língua Estrangeira integram aspectos
lingüísticos e culturais que evoluem conjuntamente e precisam ser administrados,
canalizados dentro da complexidade de organização de uma sociedade. Cultura e
civilização são tópicos que ajudam o aluno a compreender como funcionam os
mecanismos de socialização, tanto em sala de aula com as representações [Jouez les
scènes], quanto nas prováveis vivências com o povo e a língua francesa.
Aprender uma língua estrangeira significa mais que adquirir um conjunto de
habilidades lingüísticas presentes no livro didático, modelo de gênero textual que contribui
com o trabalho do professor. Esse instrumental didático, organizador de atividades em sala
de aula, compõe-se também de um conjunto de valores e ideologias de um povo, o qual se
estende para outras culturas.
Nos manuais selecionados, material de apoio para os alunos e para os professores,
os pontos de lingüística permitem que a apropriação da linguagem aconteça em diferentes
situações, aumentando a interação entre as questões de civilização e as técnicas didáticas
em contextos de escrita e de fala.
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É importante ressaltar que as noções de civilização contidas nos livros didáticos são
superficiais, considerando que as vivências podem apresentar outras realidades e outro
vocabulário. Na experiência da pesquisadora, enquanto intérprete para franceses que vêm
prestar serviços no Brasil, as dificuldades de comunicação surgem quando os estrangeiros
fazem uso de variantes da língua, gírias e expressões familiares. Os pronomes de
tratamento, as fórmulas de apresentação, de agradecimento enfatizados nos manuais para
determinadas situações, não são usados com freqüência no cotidiano daqueles com quem a
pesquisadora mantém relações de trabalho.
Os manuais estão centrados em histórias de personagens que desenvolvem uma
atividade, que têm momentos de lazer, que se relacionam com amigos e familiares, e por
vezes, essa continuidade pode se tornar desinteressante e monótona.
Então, seria
interessante que o professor de “francês língua estrangeira” utilizasse outros recursos para
mostrar aspectos diferenciados de civilização que avançam para outras situações. O aluno
pode entender que quando uma história termina, ele já adquiriu habilidades suficientes para
se comunicar com fluência.
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DOMINIQUE Ph. et al. Sans Frontières. Paris, Cle Internacional, 1984.
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ANEXOS
Anexo 1 – Forum - Méthode de Français 1
43
Anexo 2 Libre Echange - Méthode de Français 1
44
Anexo 3 – Reflets - Méthode de Français 1
45
Anexo 4 Tempo - Méthode de Français 1

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