Fractura de fadiga do astrágalo no desportista - Intranet

Transcrição

Fractura de fadiga do astrágalo no desportista - Intranet
A propósito de um caso clínico
“Del dolor si tionsequatie eriliqu ipisim
ver irit ipit dunt lut lum volesto du Duiscip eu feugiatue venis dolenimd mod”
Fractura de fadiga do
astrágalo no desportista
Marta Massada(1), Alexandre Pereira(1), Ricardo
conizado para esta patologia, prova-
Sousa(1), Leandro Massada(2).
velmente devido á sua raridade. Ainda
(1)
Serviço de Ortopedia do Hospital de Santo
António, Centro Hospitalar do Porto.
que estudos anteriores as tenham descrito como fracturas de baixo risco,
Departamento de Traumatologia Desportiva,
alguns trabalhos recentes postulam
Faculdade de Desporto, Universidade do Porto
que as fracturas de fadiga do corpo as-
(2)
tragalino possuem algum potencial de
atraso de consolidação e osteonecrose,
Introdução
complicações frequentes das fracturas
As fracturas de fadiga são lesões de
traumáticas agudas(4). No entanto, as-
sobrecarga comuns em atletas e mili-
sume-se o tratamento conservador
tares, sendo a sua patogenia multifac-
como “primeira-linha”, adoptando-se
torial, habitualmente envolvendo car-
uma atitude mais agressiva em caso
gas cíclicas e sub-máximas . A grande
de falência ou quando as exigências
maioria das fracturas de stress do pé
desportivas da alta competição assim
e tornozelo ocorrem nos metatarsos e
o obriguem.
(1)
no calcâneo(2). A fractura de fadiga do
astrágalo, descrita pela primeira vez
por McGlone(3) em 1965, é rara, sendo
escassos os casos clínicos na literatu-
Material e Métodos
Os autores descrevem o caso de um jo-
ra internacional, a maioria referente a
vem de 28 anos, jogador da liga profis-
atletas ou joggers(2,3,4).
sional de andebol, com história de dor
Não existe um tratamento ideal pre-
no tornozelo esquerdo com 7 semanas
TAC do tornozelo revelando o traço de fractura no astrágalo
Revista de Medicina Desportiva in forma * Janeiro 2010
A propósito de um caso clínico
de evolução, sem referência a traumatismo prévio ou doen-
ga do pé e tornozelo no atleta podem estar associadas a
ça sistémica. A dor, gradual e progressivamente incapaci-
morbilidade prolongada(1,4,6). O tratamento conservador
tante, agravava-se com os sprints e agachamentos.
implica cessação da actividade causadora de dor, descarga
Ao exame objectivo verificou-se uma estrutura do pé nor-
total e imobilização com aparelho gessado por um perí-
mal, com ausência de edema ou outras alterações à inspec-
odo que pode atingir os 3 meses de duração. A este tipo
ção ou à palpação. O arco de movimento tibiotalar e subta-
de tratamento associam-se inevitavelmente maiores taxas
lar era completo e indolor, bilateralmente. A dor conseguia
de pseudartrose, atraso de consolidação e refractura, es-
ser reproduzida através da elevação do calcanhar esquerdo
pecialmente em atletas com altos graus de exigência f í-
(“bicos de pés”).
sica/competitiva(6). Face ao exposto, os autores defendem
O estudo radiológico não revelou qualquer alteração. Foi re-
o tratamento cirúrgico como forma de promover a esta-
alizada TAC que demonstrou uma fractura incompleta, sem
bilização do astrágalo (permitindo que venha a sofrer, no
desvio, do corpo astragalino, com características compatíveis
futuro, uma reprodução das cargas que levaram à fadiga) e
com fractura de insuficiência. A cintigrafia óssea permitiu a
possibilitar um retorno precoce à competição.
confirmação do diagnóstico, com aumento local do uptake.
Face ao cariz de exigência que o desporto de alta competição
impõe, os autores optaram pela fixação cirúrgica desta fractura, de forma a permitir um retorno mais rápido à carga total
do membro afectado e à actividade desportiva. O atleta foi,
Conclusão
As fracturas de fadiga, ainda que raras no astrágalo, são uma
patologia que parasita frequentemente o atleta de alta compe-
então, submetido a
tição pelo que a sua
fixação percutânea
suspeita deve estar
com parafuso de
presente
quando
compressão (Acu-
estamos
perante
trak–Ac ume d®)
um desportista com
após
colocação
queixas de meta-
de enxerto ósseo
tarsalgia ou talalgia
autólogo
(agulha
de instalação gra-
de biópsia). Foi
dual. Nestes casos,
feita imobilização
os exames auxilia-
funcional e aconselhou-se
carga
Imagem do controlo radiográfico peri-operatório.
precoce.
res de diagnóstico
complementares do
estudo radiológico
simples assumem particular importância já que o primeiro é habitualmente normal nesta patologia.
Resultados
O tratamento cirúrgico como principal abordagem nas fracturas
O atleta reiniciou a prática desportiva às 6 semanas, ten-
de fadiga nos atletas sujeitos a requisitos competitivos exigentes
do retornado à competição sem limitações às 8 semanas
é uma opção eficaz com bons resultados demonstrados.
de pós-operatório.
Bibliografia
Discussão
1. Boden BP, Osbahr DC. High-risk stress fractures: evaluation and
As fracturas de fadiga, comuns em atletas e militares su-
treatment. J Am Acad Orthop Surg. 2000; 8:344-353;
jeitos a cargas de repetição, são pouco frequentes no as-
2. Black KP, Ehlert KJ. A stress fracture of the lateral process of the talus
trágalo. As principais causam incluem a sobrecarga cíclica
in a runner. A case report. J Bone joint Surg Am. 1994; 76:441-443;
resultante do treino desportivo e uma biomecânica anó-
3. McGlone JJ. Stress fracture of the talus. J Am Podiatry Assoc. 1965; 814-817;
mala do pé (stress aumentado no colo astragalino do pé
4. Chiodo CP, Crawford AH, Rankin E. Stress fractures of the tarsal
plano-valgo, rigidez da articulação subtalar, pronação e
talus. Sports Med. 1980; 80:133-139;
flexão plantar subtalares excessivas, entre outras)(5).
5. Rosati M, Zampa V, Latessa M, Consoli V. About a stress fracture of
No atleta em questão, não foram encontrados factores bio-
the talus. Foot Ankle Surg. 2005; 11:97-99;
mecânicos que justificassem o quadro.
Sormaala MJ e tal. Outcomes of stress fractures of the talus. Am J
Apesar de habitualmente benignas, as fracturas de fadi-
Sports Med. 2006; 34:1809
Janeiro 2010 * Revista de Medicina Desportiva in forma