o sertão vai virar deserto - Unimontes

Transcrição

o sertão vai virar deserto - Unimontes
impunidade
Fora dos campos
Desembarque
Cadeia se torna realidade
distante para os bandidos
A difícil aposentadoria dos
jogadores longe dos gramados
Casa Fiat apresenta obras da
Renascença à arte moderna
Maio/2011
Edição 23 | Ano III
R$ 9,90
O SERTÃO
VAI VIRAR
DESERTO
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A
O desmatamento sem controle
ameaça uma das regiões mais
pobres de Minas. O que já é difícil
pode piorar em duas décadas
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Na Cidade Industrial, em frente à Trincheira.
editorial
4 | Vox Objetiva
Um retrocesso sem explicação
CARLOS VIANA - EDITOR CHEFE | [email protected]
M
inas Gerais escolheu um
tema de campanha que ficou
famoso durante os últimos nove
anos de governo: “Minas Avança”.
Criado para mostrar os números
positivos do Estado, a frase estampou anúncios e foi citada centenas
de vezes em comerciais de rádio e
televisão. Mas infelizmente, esse
mesmo slogan pode ser usado também de uma forma muito negativa.
Aos mineiros, pelo segundo ano
consecutivo, foi entregue o triste
prêmio de estado que mais destruiu a Mata Atlântica.
Ameaçada de extinção em todo
o país, o eco sistema mais significativo das regiões sudeste e nordeste
vem sendo alvo de programas de
proteção ambiental que nos permitem manter viva a esperança de
uma sobrevivência para a floresta
que já ocupou quase 85% de toda
a costa brasileira. Mas ao contrário de nossos vizinhos, Rio de Janeiro e São Paulo, Minas avançou
e muito sobre as matas e permitiu
que centenas de hectares fossem
desmatados de forma autorizada
pelas autoridades ambientais.
Nesta edição de Vox Objetiva, estamos mostrando como a
destruição da Mata Atlântica está
sendo feita de forma sistemática
nas regiões mais pobres do estado. As autoridades municipais
alegam falta de amparo legal para
impedir as queimas de troncos e
galhos transformados diariamente
em carvão. Secretários e prefeitos
afirmam categoricamente que as
empresas responsáveis pelos desmatamentos exibem as licenças de
operação concedidas por instâncias superiores.
O resultado da falta de controle,
e principalmente da falta de fiscalização, é o diagnóstico de especialistas informando que, se a falta de
preservação continuar, em duas
décadas pelo menos um terço do
território mineiro poderá se tornar
semelhante a um deserto.
Nas áreas onde a mata deu lugar
a pastagens e carvoarias, os sinais
claros da mudança ambiental estão
por toda a parte. As mesmas pesquisas mostram que o desmatamento,
ao contrário do que dizem os defensores do corte indiscriminado, não
traz nenhum progresso ou desenvolvimento econômico duradouro.
As regiões onde a Mata já foi
destruída são a prova de que muito acima do lucro está a necessidade de se garantir sustentabilidade.
Cabe agora ao Governo de Minas,
diante da denúncia, rever com urgência os vários projetos licenciados que estão promovendo livremente a destruição da Mata Atlântica. É hora de colocar um fim ao
“avanço” que nos faz retroceder a
um passado indesejado, sem respeito ao meio ambiente e ao futuro
das novas gerações.
Vox Objetiva | 5
sumário
12 entrevista
O Código do Processo Penal e as
polêmicas medidas cautelares
18 política
“Troca-troca” partidário
22 cidades
De Cingapura vem o estudo para
o novo modelo de gestão para
Confins
25 capa
Enquanto o Governo move mundos e fundos para levar água ao
semiárido mineiro, as florestas
pedem socorro
30 educação
Nova carga horária e grade curricular geram debates entre educadores
6 | Vox Objetiva
João Izael
Prefeito de Itabira
“Se não fosse a mineração,
possivelmente Itabira não seria a
cidade com o potencial que é
hoje.”
Brizola Rodrigues
O
O CAMINHO
CAMINHO PARA
PARA
O
O FUTURO
FUTURO ÉÉ CONSTRUÍDO
CONSTRUÍDO
COM
COM RESPONSABILIDADE
RESPONSABILIDADE SOCIAL,
SOCIAL,
DESENVOLVIMENTO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
ECONÔMICO
EE RESPEITO
RESPEITO AO
AO MEIO
MEIO AMBIENTE.
AMBIENTE.
Diretor do SENAI de São Gonçalo
do Rio Abaixo.
“As mineradoras são empresas
que preocupam com a evolução,
de participar no social, cultural e
principalmente na educação.”
Paulo Henrique Silva
Aluno do SENAI de São Gonçalo
do Rio Abaixo
“Tô recebendo a bolsa de uma
mineradora aqui da região. É um
grande apoio, um grande
incentivo.”
Mário Werneck
Ambientalista
“Para que a mineração possa
adequar sua gestão à
sustentabilidade, é preciso estar
atenta à participação da
sociedade civil e cuidar das
questões ambientais e culturais.”
Nozinho
Prefeito de São Gonçalo do
Rio Abaixo
“A mineração é uma atividade
em alta no país e está gerando
emprego na região.”
Maria Dalce Ricas
Superintendente da AMDA
“Se a mineração for feita de forma
ambientalmente responsável, vai
causar impactos, mas também
pode trazer benefícios sociais,
ambientais e econômicos.”
Carmém Lúcia Magela
Presidente da ACIASGRA
“Depois que a mineradora se
instalou, toda casa tem mais de
três pessoas trabalhando. Todo
mundo começou a vender mais,
ampliou o comércio.”
Sueli de Oliveira
Dir. Adm. da UNIPAC e Secret.
do Desenv. de Barão de Cocais
“A gente não pode imaginar que
uma mineradora vá acabar com
o meio ambiente, não existe
isso. A gente não tem esse
problema hoje.”
Trabalhando a principal vocação de Minas.
expediente
34 esportes
Profissão: aposentado!
41 gastronomia
Revista Vox Objetiva é uma publicação
mensal da Vox Domini Comunicação Ltda.,
com escritório na rua Tupis, 204, sl 218, Centro
Belo Horizonte, MG, CEP: 30.190-060.
“... O povo que conhece o seu Deus se
tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
EDITOR E JORNALISTA RESPONSÁVEL
Carlos Viana
Festival Brasil Sabor
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DIAGRAMAÇÃO E ARTE
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CAPA
Rodrigo Denúbila
REPORTAGEM
André Martins
Fernanda Carvalho
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Tiragem: 20 mil exemplares
Os textos publicados nesta edição da Vox Objetiva, em
forma de reportagens, são de responsabilidade direta
dos editores. Os textos publicados em forma de colunas,
produzidos por colunistas convidados, expressam
o pensamento individual e são de responsabilidade
dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos
publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser
reproduzidos com autorização dos editores.
8 | Vox Objetiva
48 cavalos
Adestramento: elegância no passo
51 turismo
As cores e sabores da Terra Santa
56 arte
Exposições em Belo Horizonte revelam olhares diferentes sobre as transformações na sociedade humana
61 música
Paul, o retorno
Vox Objetiva | 9
em foco
Fundo Monetário Internacional
ReincidEnTE
Negócio da China
Depois da pressão da oposição e da opinião
pública, o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio
Palocci, pediu demissão. O político foi apanhado em um surpreendente enriquecimento rápido com aumento de R$ 20 milhões no próprio
patrimônio. Crescimento esse entre 2006 e 2010.
Para substituir Palocci entra a senadora Gleisi
Hoffmann (PT-PR), esposa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
O ex-ministro alegou que não pode revelar o
nome dos clientes para quem a Projeto prestou
serviço devido a uma cláusula de sigilo nos contratos. Palocci sai do ministério, mas nos bastidores não se acredita que ele irá deixar a proximidade com o poder.
Wellington Pedro
Genocida encontrado
10 | Vox Objetiva
Divulgação
Um protocolo de intenções para a instalação de uma unidade da empresa Xuzhou
Construction Macchinery Group (XCMG)
abre espaço para os chineses em Minas Gerais.
Assinado pelo governador Antonio Anastasia
(PSDB), o documento estabelece a instalação
da primeira filial da empresa asiática fora do
país de origem. A fábrica em Pouso Alegre, no
Sul de Minas, deve gerar 600 empregos diretos e cerca de cinco mil indiretos.
Maior empresa chinesa no ramo de máquinas pesadas, a XCMG produzirá no estado equipamentos destinados à construção
civil. Para que a empresa viesse para Minas
Gerais, o município de Pouso Alegre doou o
terreno e reduziu tributos. Segundo o presidente da XCMG, Min Wang, o investimento,
acordado na segunda metade de maio, será
de R$ 334 milhões.
A XCMG foi criada em 1989 e ocupa atualmente o sétimo lugar mundial no ramo de máquinas pesadas. As obras da filial estão previstas
para agosto e o início da produção para 2012.
Responsável pelo maior massacre depois da
Segunda Guerra Mundial, Ratko Mladic foi preso
e levado ao tribunal de Haia na Holanda após 15
anos foragido. O general sérvio vai enfrentar 11
acusações no Tribunal Penal Internacional. Entre
elas estão genocídio, extermínio, assassinato,
deportação, atos desumanos, atos de violência,
ataques ilegais e sequestro, crimes contra a
humanidade e crimes de guerra.
O genocídio ficou conhecido como “O
massacre de Srebenica”. Mladic era o braço
di-reito do presidente iugoslavo na época,
Slobodan Milosevic, já falecido. Oito mil homens
muçulmanos bósnios foram assassinados na
região.
O massacre aconteceu por omissão de 400
soldados da ONU que presenciaram a limpeza
étnica sem esboçar a menor reação.
Cesar Paes Barreto
Terra sem lei
Depois de quatro assassinatos em
Rondônia e no Pará, o Governo irá criar
um grupo interministerial para discutir
os conflitos agrários na região norte
do país. Os governadores de Roraima,
Rondônia, Pará e Amazonas compõem o
conselho.
A ação interministerial será formada
pelos ministérios da Justiça, Meio
Ambiente, Desenvolvimento Agrário,
Secretaria de Direitos Humanos,
Secretaria Geral da Presidência e
Gabinete de Segurança Institucional.
Além das mortes de um agricultor
e ambientalistas no Pará e Rondônia, a
Comissão Pastoral da Terra divulgou às
autoridades uma lista com 125 nomes de
pessoas ameaçadas de morte.
Segundo a Pastoral, os ameaçados
não são bem protegidos e o pedido
às vezes demora dois anos para sair.
Enquanto isso as ameaças não cessam.
Wikipédia
Incêndio causado
por bombeiros
Um protesto de bombeiros em busca de melhores condições de trabalho e
salários terminou em confusão no Rio
de Janeiro. Os militares invadiram o
quartel central da corporação e promoveram apitaços e manifestações.
O Bope interveio, invadiu e repreendeu os manifestantes. Foram usadas bombas de gás lacrimogêneo e de
efeito moral. Além dos dois mil bombeiros, participaram também mulheres
e filhos dos oficiais. A confusão terminou depois de 12 horas de negociação.
439 rebelados foram presos e liberados
seis dias após a manifestação.
Segundo Cabral, os presos responderão administrativamente e criminalmente. Os bombeiros cariocas recebem
R$ 950 reais por mês.
Vox Objetiva | 11
entrevista
CADEIA AGORA SÓ EM
ÚLTIMO CASO
Uma alteração no Código do Processo Penal brasileiro dará aos autores de crimes de pequeno
e médio poder ofensivo a possibilidade de responder em liberdade. Minstério Público e
desembargadores estão em lado contrários.
André Martins
Carlos Viana
Herbert Carneiro reconhece que a Justiça
está longe do que deseja a população.
“Boa parte dos brasileiros desconhece o
trabalho do Judiciário”
N
o próximo dia 05 de julho
entra em vigor no país uma
das mudanças mais polêmicas do
Código do Processo Penal brasileiro. Pelo menos 100 mil indivíduos presos provisoriamente
em presídios de todos os estados
poderão pedir a revisão da prisão preventiva por conta da nova
legislação que cria uma série de
medidas cautelares. A novidade
inclui, por exemplo, determinar
que o suspeito apanhado com
uma pistola 9mm não deixe a
cidade. O problema é quem vai
vigiar o cumprimento da norma
12 | Vox Objetiva
muito eficaz na Europa, mas distante de nossa realidade.
As restrições deverão ser colocadas em prática antes de se decidir pela manutenção do encarceramento. A novidade vale para
todos os crimes cuja pena não seja
superior a quatro anos. Para representantes do Ministério Público
que militam na área criminal, hoje
existe a tendência da Magistratura brasileira aplicar somente pena
mínima, o que permitirá, a partir
das mudanças, que suspeitos de
roubo que tenham invadido casas
armados, criminosos apanhados
em flagrante com fuzis, ou mesmo homicidas comuns, fiquem
livres até o fim do processo.
Defensor da medida, o desembargador mineiro Herbert
Carneiro afirma que a mudança
trará benefícios a milhares de
presos cujos processos se arrastam por anos. Juiz há três décadas e desembargador há dois
anos, Carneiro é uma das referências em todo o país no assunto. Em entrevista à Vox Objetiva, o desembargador reconhece
que a nova lei 12.403 deverá ser
acompanhada de uma Justiça
mais rápida e mais transparente.
VOX: Essa modificação no
Código Penal foi determinada
por quem? Ela foi discutida com
a sociedade?
CARNEIRO: É uma mudança do Código de Processo Penal
que altera o título das prisões de
liberdade provisória. A medida
foi objeto de muita discussão.
Ela é originária do Império, do
projeto de lei 4.208, que já estava tramitando em longa data.
Eu mesmo tive a oportunidade
de participar de alguns debates. Naturalmente ela teve uma
tramitação mais demorada no
Congresso Nacional.
O Supremo Tribunal Federal participou dessa discussão?
Ao que me consta, não. Eu
tenho ciência de algumas audiências públicas feitas, discussões no âmbito acadêmico e espaços jurídicos, mas não tenho
notícia do envolvimento do STF
na discussão dessa matéria.
As mudanças acabam com a
prisão preventiva?
Não, isso é um equívoco. As
prisões preventivas estão preservadas até com mais uma hipótese
no caso de descumprimento das
medidas cautelares impostas. O
que alterou é que você não pode
mais impor prisão preventiva
para aqueles crimes cuja pena
máxima não seja superior a quatro anos. São os crimes chamados
de pequeno e médio potencial
ofensivo. Crimes que muitas ve-
Com essas alterações, o flagrante deixa de existir?
Não. O flagrante está previsto
na legislação e na forma do artigo 310. O juiz terá que examiná-
Carlos Alberto
zes você faz uma transação penal
ou se sujeita a uma suspensão do
processo no juizado especial. Ou
crimes entre dois e quatro anos
de prisão que o juiz, ao aplicar
a pena, a substitui por uma restritiva de direito, uma prestação
de serviços à comunidade, uma
prestação peculiária, se o cidadão atender aos pré-requisitos do
artigo 44 do Código Penal. Hoje,
muitos dos autores desses crimes
se sujeitam à pena privativa de
liberdade. Às vezes, cumpre um
tempo considerável de privação de liberdade, e o juiz, ao final da sentença, substitui a pena
privativa de liberdade por uma
restritiva de direito. Além disso,
outro fator que possibilitou a não
aplicação da prisão preventiva é
o número exagerado de presos
provisórios que o Brasil tem hoje.
São quase 100 mil, segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça. Alguns deles com
condição de, ao final do processo,
ter a pena substituída. Não quer
dizer que não se imponha nada
ao cidadão que se vê obrigado a
responder um processo por crimes de médio e pequeno potencial ofensivo. Não! Foi criado no
título dez as chamadas medidas
cautelares. Uma delas eu citaria,
por exemplo, a possibilidade do
cidadão ficar sob o compromisso
de comparecimento perante ao
juiz assim que intimado. Se não
comparecer, o juiz pode converter essa medida cautelar em pena
privativa de liberdade até que
ele chegue ao final do processo.
A possibilidade do cidadão ficar
sob prisão domiciliar monitorado
eletronicamente é outra medida
cautelar prevista na lei.
De acordo com o Conselho
Nacional de Justiça, o Brasil
tem hoje uma população
carcerária estimada em
500 mil pessoas
-lo sobre a sua regularidade e
sendo regular ele terá que relaxar a prisão. O que diferencia é
que podendo, o juiz converterá o
flagrante em prisão preventiva.
Nós temos a impressão que
quanto mais a justiça dá benefícios, quanto mais se coloca presos no semi-aberto ou outra forma de acompanhamento, mais
os índices de criminalidade aumentam. Há alguma relação?
Os benefícios têm fundamento na Constituição Federal. Eu
diria na própria questão da ressocialização e do reconhecimento
da dignidade da pessoa humana.
Uma coisa que o cidadão preso
não deixa de ter. O sistema das
nossas leis penais no que diz
respeito ao sistema punitivo é
o sistema progressivo de pena
com contemplação meritória de
condição ao cidadão de passar
do regime fechado para o regime
semi-aberto. Precisamos melhorar a qualidade do nosso sistema
punitivo. Nós não podemos ter
cadeias superlotadas, sem a mínima condição de humanização
e de condição de ressocialização
dos cidadãos. E mais do que isso,
precisamos de uma estrutura
fiscalizatória competente. Não
adianta eu conceder ao cidadão
a possibilidade de um trabalho
externo ou de uma saída tempo-
rária e não fiscalizar. Ele sai e, naturalmente, se não existir alguém
que o fiscalize, ele simplesmente
não volta.
Há promotores da área criminal que afirmam que essa
mudança no Código do Processo Penal vá não só levar a um
sentimento de impunidade,
mas impunidade a criminosos
que cometem até homicídio,
por exemplo.
Eu ouso discordar dos promotores nesse aspecto, porque
para mim o que moveu o legislador na alteração na legislação
do processo penal foi exatamente para os crimes de médio e pequeno potencial ofensivo. Especialmente os de médio potencial
ofensivo entre dois e quatro
anos de pena, o que não é o caso,
definitivamente, do homicídio.
Para esses casos, havendo a necessidade, desde que o juiz faça
de maneira fundamentada, ele
pode, sim, decretar preventivamente a prisão do cidadão que
responde ao processo criminal.
A preocupação fundamental, na
minha modesta visão, foi retirar
a possibilidade de prender-se
preventivamente grande parte
dos cidadãos que se encontram
presos preventivamente sob a
alegação mais usada, de violação da ordem pública porque,
Vox Objetiva | 13
entrevista
por exemplo o cidadão cometeu
o crime por mais de uma vez
ou cometeu com algum grau de
violência ou ameaça. Acredito
que a 12.403 vai possibilitar, no
primeiro momento, que a prisão
deixe de ser regra no Brasil, que
tem sido lamentavelmente, para
passar a ser regra a liberdade.
Se uma pessoa for pega em
flagrante e todas as provas para
uma futura condenação estarem
anexas ao processo. Neste caso, a
prisão preventiva não se aplica?
Pode se aplicar. Por exemplo:
se o juiz vislumbrar que o cidadão irá fugir a instrução criminal,
que irá ameaçar uma testemunha, não irá comparecer para responder ao processo, ele poderá
continuar a determinar a preventiva desde que encontre dados e
fatos concretos que a justifiquem.
Pela nova lei, temos a possibilidade de que presos sejam
beneficiados com a soltura. Isso
não é um processo perigoso? A
sociedade vai entender isso?
Nas situações de crimes de
médio potencial ofensivo, não
é justo o cidadão receber uma
pena de dois anos e seis meses
com uma restritiva de direito,
com uma prestação de serviços
à comunidade, e ficar na cadeia um ano aguardando essa
sentença. Exemplo, o cidadão
esta respondendo por um furto, mesmo feito em flagrante.
Reconhecendo o juiz que não
há motivos para prendê-lo preventivamente, ele vai substituir
a pena privativa de liberdade
por uma medida cautelar. O
cidadão vai para a casa, às vezes até monitorado, e responde
ao processo. Se ele não comparecer quando solicitado, o juiz
pode decretar a prisão preventiva dele. Agora se ele responder
regularmente ao processo, ao
final ele não receberá uma pena
privativa de liberdade, mas sim
uma pena restritiva de direito.
E o caso das vitimas? É justo
ver um criminoso, um assaltante solto, depois de roubar pessoas, por exemplo?
Claro que o lado da vítima
deve ser visto. Mas o próprio
legislador já criou meios de reparar os danos dos crimes patrimoniais às vítimas. Acho que
nós temos que sentar e fazer
uma grande discussão, até mesmo para fortalecermos no Brasil
o instituto da justiça restaurativa, que recompõe a situação do
criminoso e essa grande gama
de cidadão condenados no Brasil hoje - são mais de quinhentos
mil que se acham presos. Que
nós repensemos os nossos instiCarlos Alberto
Os desvios só poderão ser
coibidos com efetividade
a partir do momento em
que os presos forem vistos
como seres de direito
14 | Vox Objetiva
tutos. Será que tão somente aplicar a pena privativa de liberdade também resolve? Será que a
sociedade se compraz e acredita
que o senso de justiça está feito
a partir do momento em que o
cidadão vai para a cadeia? Eu
tenho certo receio em relação a
isso. Se nós não melhorarmos
a qualidade do nosso sistema
penitenciário, garantindo a efetividade das penas, não adianta
impor pena, pois o cidadão vai
continuar cometendo crimes.
Não teria sido melhor, ao
invés de mudar a prisão preventiva, ter alterado o tempo
de julgamento dos processos,
fazendo com que a justiça agisse com mais rapidez?
Há no presente momento no
Congresso Nacional um projeto
de lei visando alterar o código
de processo. Há até mesmo por
parte do presidente do STF, uma
PEC – chamada PEC dos Recursos – que visa sintetizar, tornar
mais célere e mais eficiente o
nosso processo penal. Hoje, realmente, mercê de uma séria de
dificuldades estruturais, de possibilidades de recursos, os mais
variados, a tramitação processual no Brasil pode ser considerada lenta. Para isso, nós estamos
acompanhando, junto ao Congresso Nacional, esse projeto
que visa alterar o processo penal
brasileiro dando a ele mais celeridade e mais efetividade.
A mudança na lei abre agora a possibilidade para que os
delegados determinem até a
questão da fiança. Não é perigoso entregar às polícias em
todo país, esse tipo de decisão?
Houve uma alteração desse
particular que, aliás, já existia. O
que aumentou foi a possibilidade quanto à imposição da fian-
André Martins
Para o desembargado e juiz
Herbert Carneiro, prisão é
exceção. A regra é a liberdade
ça. É preciso ficar claro que nós
estamos em um país que prima
por um processo penal constitucional onde se garante a ampla defesa, e judicialização do
processo. Então, qualquer ação
do delegado tem que ser levada
imediatamente ao conhecimento do juiz, ao crivo judicial para
regular com relação a sua legalidade e constitucionalidade.
Esse processualismo da nossa justiça, não torna as decisões
judiciais muito distantes do que
deseja a população? Nós não
poderíamos buscar outra forma
de justiça que permitisse ao juiz
agir mais fora do processo, dentro de uma decisão que atendesse ao clamor da população?
Discute-se muito a judicialização do processo brasileiro,
tanto o penal como civil. Também as questões de saúde e educação que são encaminhadas
para a justiça. Nós estamos em
um momento em que, mais do
que nunca, precisamos trabalhar
três situações diferenciadas: primeiro é preciso investir mais na
questão da conciliação. O brasileiro precisa aprender mais a
praticar o processo conciliatório, resolver os problemas sem
necessariamente levar todos à
justiça. Aí vale dizer mediação,
arbitragem, a própria justiça
restaurativa que é uma maneira
mais informal e menos judicializada de resolver um problema,
recompondo a situação conflituosa reiterando a reivindicação
de condutas. É preciso reformular a nossa legislação do processo penal. Modernizar o nosso
processo, o tornar mais célere e
mais efetivo. Por último, eu diria
a tendência é de virtualização,
é de eletronização do processo.
Para que no país exista mais pacificação social, este deverá ser o
nosso caminho.
Entre as dez instituições
brasileiras mais conhecidas
e pesquisadas pela Fundação
Getúlio Vargas, a Justiça está
em 7° na aprovação popular. O
senhor acha justa essa reprovação do judiciário brasileiro?
Acho que há uma má informação da sociedade quanto ao
papel do judiciário. Penso que
o judiciário tem amadurecido,
tem evoluído. Na medida do
possível, tem sido uma instituição do nosso tempo. É preciso
continuar aprimorando a atividade judiciária do Brasil. É preciso que tenhamos leis feitas de
maneira mais responsável, não
achar que somente a aplicação
de uma lei penal vai resolver o
problema. Isso tem se mostrado
ineficiente no combate à criminalidade. É preciso investir no
judiciário, dar a ele mais independência, autonomia funcional para que seja uma instituição que responda aos interesses
da sociedade. Mais do que isso,
que cumpra seu papel institucional e seu papel legal. Agora,
é necessário ter consciência. A
sociedade precisa se debruçar
cada vez mais sobre essa ação
de cidadania e entender que o
judiciário no Brasil tem cumprido o seu papel, ainda que com
as limitações que apresenta.
Total de Presos por Regime
Provisórios
Fechado
Semi aberto
Aberto
Total
2009
17.647
6.196
8.292
3.730
35.865
* Dados de 2009 a maio de 2011
2010
18.745
11.155
6.370
1.336
37.606
2011
21.153
11.857
6.487
1.420
40.917
Vox Objetiva | 15
justiça
Notas importantes sobre
segurança e cidadania
Combate ao Abuso e à
Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes
Segundo
informações
da
Secretaria
Especial
dos Direitos Humanos da
Presidência da República,
tendo como base os dados do
Programa Disque Denúncia
– conhecido nacionalmente
como Disque 100 –, no
período de 2005 a 2010, foram
registradas 25.175 casos de
exploração sexual contra
crianças e adolescentes.
Em Minas Gerais, o Disque
Direitos Humanos (0800-0311119) também desenvolve
sistematicamente
uma
campanha para incentivar
as denúncias de abuso e
exploração sexual de crianças
e adolescentes.
Fórum Brasileiro de
Segurança Pública
Em Brasília, aconteceu,
em maio, o quinto encontro
anual do Fórum que é,
provavelmente, a principal
instância
da
sociedade
brasileira que, há cinco anos,
problematiza as principais
questões
relacionadas
à política de segurança
16 | Vox Objetiva
em nosso país. De forma
inovadora, o Fórum é
composto por importantes
operadores da segurança
(policiais) e pelos principais
estudiosos do tema.
Mulheres no poder
Durante a Assembleia
Geral do Fórum foi eleita
para presidir o conselho
administrativo da entidade a
Coronel Luciene Magalhães
de Albuquerque. Ela sucede
o delegado da Polícia Civil
mineira, Jésus Trindade
Barreto, na principal função
administrativa do Fórum.
Luciene é coronel reformada
da Polícia Militar. Sua última
função, ainda neste ano, foi a
de Subchefe do Estado Maior
da Polícia Militar mineira,
instituição na qual ingressou
em 1981, na primeira turma
de policiais femininas do
estado de Minas Gerais.
Reforma policial
Ainda durante o encontro
do Fórum, uma conferência
do Professor da Universidade
Nacional de Quilmes, na
Argentina, Marcelo Fabián
Sain chamou a atenção dos
Robson Sávio Reis Souza
Filósofo especialista em Segurança Pública
(CRISP/UFMG) e professor da PUC Minas
[email protected]
participantes. Marcelo foi
interventor da Polícia de
Segurança Aeroportuária da
Argentina, sendo também o
responsável por uma ampla
reforma nessa polícia. A
palestra comprovou que,
com vontade política e com
bons líderes, é possível
transformar as organizações
policiais. Além de apoio
político, o professor deixou
claro que as principais
diretrizes que possibilitaram
a reforma foram a focalização
dos
trabalhos
dessa
polícia nos seus objetivos
(exclusivamente o combate
ao
crime,
suprimindo
todos os penduricalhos
que impedem as polícias
de exercerem efetivamente
suas funções finalísticas);
a mudança na cultura
organizacional, com foco
na eficiência, no mérito e
nos resultados; efetivos
mecanismos de controle
externo; seleção e formação
altamente especializada e
por fim, o afastamento de
toda e qualquer ingerência
política
nos
processos
policiais (uma polícia da
sociedade e não do governo).
mundo
FRANÇA DESAPROVA
CASAMENTO GAY
Divulgação
O governo da França novamente rejeitou o casamento gay durante debate realizado no início de
junho no Parlamento. O partido socialista, oposição
no país, foi o autor da lei reprovada.
Em 1999, um contrato de união estável para casais homossexuais e heterossexuais foi criado pelo
então primeiro ministro socialista Lionel Jospin (na
foto). Era o Pacto civil de solidariedade, o Pacs.
O relator do projeto e deputado do Partido Socialista francês, Michel Bloche, lembrou seu colegas
que sete países europeus já reconheceram o casamento entre pesoas do mesmo sexo: Holanda, Bélgica, Espanha, Noruega, Suécia, Portugal e Islândia.
O parlamentar também afirmou que, apesar da
França ter sido “pioneira” com a criação do Pacs,
está hoje “atrasada”.
EM PROCESSO DE REEDUCAÇÃO
A China defendeu o tratamento dado aos
monges tibetanos que, segundo o Governo,
estariam sendo submetidos à reeducação.
A ONU pediu à potência asiática que revelasse o paradeiro de mais de 300 monges
desaparecidos depois de terem sido cercados
no monastério em abril.
Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, os monges não foram detidos de forma ilegal. Ele ainda pediu
para que os investigadores em direitos humanos da ONU agissem sem preconceito.
De acordo com os exilados tibetanos, a repressão foi um revide à autoimolação de um
monge e um protesto aparente contra o controle do governo em março.
Divulgação/ USA Departament of State
onwardtibet.org
DE OLHO NO BANCO MUNDIAL
A secretária de
Estado dos Estados
Unidos, Hillary Clinton discute com a
Casa Branca deixar
seu cargo para assumir a presidência do
Banco Mundial ano
que vem.
A Reuters, responsável pela informação, também garante que Hillary não
tem planos de permanecer no Departamento de Estado,
caso Obama consiga
se reeleger.
O porta-voz de Clinton e a própria secretária de
Estado negaram que o desejo em ocupar o posto de
presidente do Banco Mundial, caso o atual chefe da
instituição, Robert Zoellick, deixe o cargo em 2012.
Historicamente, o chefe do Fundo Monetário Internacional sempre foi europeu e do Banco Mundial, estadunidense.
Vox Objetiva | 17
politíca
Em queda de
popularidade em São
Paulo, o prefeito Gilberto
Kassab (DEM) criou nova
legenda, o PSD, e
acena para o ingresso
dos que desejam
abandonar as legendas
onde foram eleitos
Renatto d’Sousa/ CMSP
POLÍTICA DO
CAMALEÃO
Conjuntura atual aponta para partidos políticos sem
ideologias definidas e longe dos apelos da sociedade
Thiago Madureira
A
lém da esperança vista em
cada olhar brasileiro, o fim
do regime militar e o restabelecimento da democracia trouxeram também uma enxurrada
de partidos à política nacional.
O Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) confirma a mudança histórica. Até 1979, o número de legendas era apenas duas, Arena
e MDB, hoje soma 28. Caso sejam aprovadas outras nove solicitações regionais que tramitam
no TSE, esse dígito pode alcançar surpreendentes 37.
Os cientistas políticos concordam que a pluralidade partidária é base da democracia. Mas há
limites. O que deveria ser uma
constatação da representatividade política de todos os setores
da sociedade brasileira, não passa, no entanto, de um embate de
18 | Vox Objetiva
vaidades pelo poder. A formação
dos partidos brasileiros, diferentemente da europeia, se distancia
dos clamores sociais.
“Em regra, os partidos não
surgem de setores da sociedade
que bradam por representação e
buscam a expressão de seus interesses. No Brasil e em países
da América Latina, essa formação está desatrelada à sociedade. Aqui, as legendas se dividem internamente e originam
outras em função de conflitos
pelo poder entre os próprios
integrantes”, explica Helaine
Sampaio, professora de Ciência
Política da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
O cenário político brasileiro
comprova que o surgimento das
legendas não representa necessariamente novas posições ide-
ológicas e programáticas. Pelo
contrário. O Partido Social Democrático (PSD), fundado pelo
prefeito de São Paulo, Gilberto
Kassab, por exemplo, já nasce
sem ideário. “O PSD não será
de direita, nem de centro, nem
de esquerda”, descreveu o fundador em artigo publicado no
jornal “Folha de São Paulo”.
Para alguns especialistas,
Kassab constatou a falta de
competitividade do Democratas (DEM), partido pelo qual foi
eleito duas vezes. Estrategista
político experiente, o prefeito
paulistano percebeu que o antigo PFL vem pleito a pleito perdendo poder político em função
da incisiva oposição ao Governo
Federal. Para garantir o próprio
futuro, criou uma sigla na qual
pode caminhar de mãos dadas
deia a perda de relevância dos
ideais políticos, como explana
Zauli. “É uma realidade presente
nas democracias de um modo geral. Hoje, muito mais do que no
passado, a decisão do voto é tomada não mais com base em programas e ideologias partidárias,
mas sim levando-se em conta os
problemas vivenciados pelos diferentes segmentos do eleitorado e na capacidade dos partidos
políticos e candidatos de responderem de maneira convincente
àqueles desafios”, diz.
Um aspecto característico da
dinâmica do sistema partidário
brasileiro se relaciona com suas
formas de adaptação às mudanças econômico-sociais que estão
ocorrendo, apontando para o
crescente protagonismo dos setores médios da sociedade. “Os
progressos que vêm sendo obtidos no sentido da redução dos
níveis de desigualdade social e
na elevação do nível de renda da
população, em virtude do crescimento econômico, certamente
criarão nos eleitores novas disposições capazes de influenciar
as decisões e demandarão dos
partidos algum tipo de reacomodação”, pondera Zauli.
Reforma
Para alterar a celeuma partidária que caracteriza o quadro
político atual - com a constante
troca de partidos entre os parlamentares e o surgimento de
novas siglas -, a reforma política
continua sendo a única alternativa viável. Adiada e arrastada
por oito anos durante o governo
Lula, as alterações no sistema
político-eleitoral, pelo andar da
carruagem, não devem sair do
papel tão cedo, já que pelo menos
300 propostas sobre o tema foram
engavetadas nos últimos anos.
Alterações pouco significativas, como a data da posse presidencial, devem ser aprovadas.
No entanto, a reforma só será
eficaz se os pontos centrais de
discussão forem mudados. O
que emperra são os múltiplos interesses dos próprios parlamentares. “As transformações devem
valorizar os partidos políticos e,
ao mesmo tempo, enfraquecer o
Fábio Rodrigues Pozzebom /Agência Brasil
com os tucanos em São Paulo,
enquanto paparica os petistas
em nível nacional. É o clássico
torcer pra quem está ganhando,
sempre vestindo a camisa do
fisiologismo. Basta observar os
políticos que entraram na escalação do PSD. Ali estão a senadora por Tocantins Kátia Abreu, o
governador de Santa Catarina,
Raimundo Colombo, e dezenas
de deputados federais e estaduais sem nenhum compromisso
legendário.
De acordo com o coordenador do Departamento de Ciência Política da UFMG, Eduardo
Zauli, a sigla de Kassab em nada
lembra o antigo PSD, partido
do ex-presidente Juscelino Kubitschek, instituído na segunda
metade da década de 1940. “O
PSD ostentava uma organização e certo grau de enraizamento social que nem de longe se
assemelha ao caráter incipiente
da nova legenda que agora está
sendo criada”.
Visando eficácia eleitoral,
uma tendência dos partidos
brasileiros, assim como o PSD, é
assumir uma busca pragmática
pelo posicionamento de centro,
aumentando também sua maleabilidade na formação de coligações. “Existe certa homogeneidade no discurso e nos programas políticos dos partidos
para agregar e atender ao maior
número de votantes possível”,
frisa a professora Helaine. “Não
se percebe atualmente grandes
diferenças ideológicas entre os
partidos, embora possam ser
detectadas entre eles algumas
tendências contrárias administrativas”, completa a linha de
raciocínio o professor de Direito
do Centro Universitário de Belo
Horizonte Alexandre de Lima e
Silva.
Essa convergência desenca-
Há mais de 60 anos
no poder, José Sarney
é um dos símbolos do
personalismo brasileiro
Vox Objetiva | 19
Para o professor de
direito do UNI-BH
Alexandre de Lima
e Silva, existem
poucas distinções
ideológias entre os
partidos políticos
brasileiros
a pesquisadora, não é preciso
grande esforço. Basta observar a
conjuntura política atual. Figuras
que apesar de todas as denúncias
e processos judiciais conseguem
votações expressivas e comandam seus estados de origem.
Dentre os diversos represen-
Arquivo Público Mineiro
Personalistas
Enquanto os partidos brasileiros externam sua face oca e
pouco integrada à sociedade, o
personalismo político - fenômeno no qual os políticos adquirem
demasiada evidencia eleitoral ganha espaço.
Para alguns cientistas políticos, esse movimento é resultado
de um processo histórico nacional, com resquícios do coronelismo e do patrimonialismo desenvolvido nos séculos passados.
“A política brasileira é fortemente marcada pelo autoritarismo e
pelo caudilhismo. São grandes
personalidades comandando o
cenário político”, assevera a professora de Ciências Políticas da
PUC Minas Helaine Sampaio.
Para confirmar o que diz
Carismático, Getúlio
Vargas assumiu
provisóriamente a
presidência do Brasil.
Tanto gostou que
permaneceu no poder
durante 18 anos
20 | Vox Objetiva
Thiago Madureira
personalismo; corrigir as distorções na política da proporcionalidade, mantendo o sistema
pluripartidário, mais adequado
ao país, também é interessante”,
pontua a professora Helaine.
tantes da “espécie”, está o atual
presidente do Senado, José Sarney, que desde 1950 influencia a
política maranhense e nacional.
Mesmo sendo de um estado
com pouca reprenstatividade,
o cacique nordestino chegou ao
cobiçado posto de Presidente da
República em 1985, em virtude
da morte de Tancredo Neves.
Hoje, ocupa o cargo de Presidente do Senado pela sexta vez, porém, por um estado com o qual
não possui laços, o Amapá.
Passado
Para o professor de direito do
UNI-BH Alexandre de Lima e
Silva, figuras como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e mais
recentemente Fernando Collor
venceram seus pleitos também
baseado na popularidade que
os cercavam. “Como o discurso
político sempre tiveram certa
similaridade, resta ao eleitor escolher o candidato que remete
maior confiança”, analisa. De
acordo com Silva, esse fenômeno
pode ser observado, sobretudo,
no interior brasileiro, onde os
partidos cativam ainda menos as
pessoas.
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Vox Objetiva | 21
cidades
UMA PARCERIA BEM CONHECIDA
Enquanto a Infraero estuda como pôr fim aos problemas aéreos brasileiros, o Governo de
Minas busca alternativas para garantir o estado na rota da Copa e preparar o futuro
Lucas Alvarenga
D
22 | Vox Objetiva
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil,
o setor cresceu 14% em 2010 e 24% no início
deste ano. Já Confins registra expansão de
54% nos voos internacionais só este ano.
Reprodução
e olho em 2014 e no desenvolvimento da região metropolitana de Belo Horizonte, o
Governo de Minas Gerais recorre à estudiosos de Cingapura
para acelerar o processo de reforma e expansão do Aeroporto
Internacional Tancredo Neves.
Contratados, os especialistas
em planejamento aeroportuário traçaram um projeto para
o Masterplan de Confins. Por
meio da análise, o Governo do
Estado chegou a uma alternativa: utilizar a Parceria Público-Privada, a PPP, para a reforma
do aeroporto.
Um dos recursos mais aplicados pela administração mineira para realização de obras no
estado, a PPP surge após a desistência de o Governo Federal
privatizar parcialmente Confins.
Entregue em maio passado à
presidente da República, o plano
de expansão do aeroporto prevê
investimentos até 2030 e a participação da Empresa Brasileira
de Infraestrutura Aeroportuária,
a Infraero, no negócio. A estatal
federal entraria como prestadora
de serviços ou mesmo como sócia minoritária. De acordo com
a empresa aeroportuária, a proposta segue em análise.
A parceria, aparentemente
vantajosa para os dois lados,
traz algumas ressalvas. Se por
um lado a receita poderia ajudar a Infraero a sustentar 47 dos
67 aeroportos deficitários sob
a sua administração, por outro
a empresa não tem ativos que
viabilizem o modelo proposto
pelo Governo de Minas. Além
disso, o entorno de Confins ca-
rece de investimentos, garante a
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico.
De acordo com a Infraero, estão orçados R$ 408,6 milhões em
investimentos para o Aeroporto
Internacional Tancredo Neves
até 2014. A primeira etapa da
obra que compreende a reforma
do terminal 1 foi suspensa pelo
Tribunal de Contas da União no
início do ano. O TCU na época
apontou indícios de sobrepreço
de quase R$ 46 milhões no orçamento, calculado em R$ 295 milhões. Dentre as obras necessárias a Confins estão as intervenções para ampliação do saguão
de entrada, balcões de check in,
salão de embarque, sistema de
restituição de bagagens, além
da construção de novo terminal.
E os parceiros?
Uma das questões pertinentes quanto à viabilidade da
proposta do Governo de Minas
passa pela atração de investi-
mentos. Para o pós-doutor em
Transportes pela Sauder School
of Business no Canadá, Hugo
Tadeu, desde o primeiro projeto
de Parceria Público-Privada não
houveram empresas seduzidas
a investir em Confins. “Se o projeto fosse atrativo para investidores, existiriam interessados,
não?”, questiona.
De acordo com o professor,
o Aeroporto Internacional Tancredo Neves apresenta problemas de acesso, movimentação
interna, pistas, ampla demanda
por investimentos, além do risco regulatório. “A forma como
o Estado vem apresentando o
projeto estruturante para Confins é sinônimo de dúvidas para
os investidores, que vem optando por outros aeroportos, como
o de São Paulo e do Rio de Janeiro, com maiores chances de
retorno sobre o investimento”,
argumenta Hugo Tadeu.
O fato de a Infraero, não ter
ativos também preocupa o pós-
-doutor, apesar da negativa da
empresa. “Como o projeto de
privatização e concessão poderia ser realizado, sendo que a
Infraero não tem ativos? Trata-se de um risco ao modelo institucional”, lembra o também
professor da Fundação Dom
Cabral e do mestrado em Administração da UNA.
Além da Copa
Em entrevista à Agência
Minas, o governador de Minas
Gerais, Antonio Anastasia, esclareceu que o Estado está preocupado com o atraso das obras
em Confins. “Estamos constantemente cobrando e mostrando
a necessidade de termos um aeroporto em condições adequadas não só para as questões da
Copa do Mundo e da Copa das
Confederações, mas porque o
aeroporto é uma âncora fundamental de desenvolvimento”.
Não é difícil perceber a iminência de novos problemas
em Confins até a Copa se nada
for feito. Os motivos, segundo
Hugo Tadeu, devem-se às restrições de pistas, terminais de
passageiros, estacionamentos,
cargas e investimentos em segu-
rança. “O grande desafio do setor é melhorar a gestão, carente
de modelos institucionais e de
negócios, com vistas à eficiência
do processo”, expõe.
Saída para Confins
Tanto o modelo de Parceria Público-Privada, quanto o de concessão não seriam os mais interessantes para Minas Gerais. Na análise
do pós-doutor, o primeiro modelo é tentado pelo Governo desde
2005 sem sucesso. Já o segundo
corre-se o risco de o parceiro público apresentar problemas jurídicos e de caixa. Por isso o professor
aponta o modelo privado como
uma provável saída. “Esta é a melhor alternativa, desde que exista
um aspecto regulatório claro, com
indicadores de desempenho e se
possível, com outro aeroporto realizando uma competição paralela”, sugere.
Hugo reforça que os principais aeroportos do mundo
operam por meio do modelo
privado e que a visão de gestão
privada como problema ao usuário é ultrapassada. “Comparativamente, após a privatização
da telefonia e dos serviços de
energia, o acesso a eles pode ser
O pós-doutor em Transportes
Hugo Tadeu lembra que
apesar de a Linha Verde ter
se tornado um vetor para o
desenvolvimento da Região
Metropolitana de Belo
Horizonte, a própria expansão
pode ser um gargalo para
crescimento do aeroporto
Bernadete Amado/ Setop MG
registrado com ganhos para a
competitividade nacional. Da
mesma forma para os aeroportos, tão carentes de serviços eficientes e preços competitivos”.
Na sequência, o professor salienta: “O aeroporto privado
deve competir com outros terminais regionais, possibilitando
redução nos preços”, conclui.
A hora de
interceder
pela aviação
Os aeroportos de Guarulhos e Viracopos, no Estado
de São Paulo, e de Brasília,
no Distrito Federal, passarão por concessões, de
acordo com o Governo. A
decisão foi tomada em reunião convocada pela presidente Dilma Rousseff para
discutir providências para
a Copa do Mundo de 2014.
Pela escolha, as concessões serão constituídas por
investidores privados, com
participação de até 49% da
Infraero, que terá poder de
participação nas principais
decisões da companhia. Enquanto isso, uma empresa
privada se responsabilizará
pelas novas construções e
pela gestão dos aeroportos.
A Secretaria de Aviação
Civil da Presidência da República informou em nota
que tais medidas pretendem atender a demanda
para os próximos anos, incluindo o período da Copa
do Mundo de 2014. De acordo com a Infraero, a metodologia e os critérios para o
edital de concessão têm de
estar prontos até dezembro
de 2011.
Vox Objetiva | 23
imobiliário
A culpa para o atraso das
obras não é dos outros
O mercado imobiliário tem
se mostrado a melhor opção de
investimento nos últimos quatro
anos, superando a rentabilidade
dos Fundos de Investimentos
e dos CDBs. Quanto à Bolsa
de Valores, os acionistas têm
suportado prejuízos, pois o
Ibovespa rendeu apenas 1% em
2010. No primeiro quadrimestre
deste ano, acumula perda em
torno de 8%.
Diante desse quadro, as
construtoras estão ávidas em
aproveitar o grande volume
de pessoas que passaram a
investir em unidades na planta.
Vários adquirentes deixam de
comprar um imóvel pronto,
pois têm a expectativa de que
pagarão menos ao patrocinar
a obra, obtendo assim maior
rentabilidade no decorrer da
construção. Entretanto, esse
retorno financeiro depende da
quantia que será paga até a posse
do imóvel. Se a construção exigir
um tempo muito longo, o negócio
poderá perder a atratividade.
Para justificar atrasos de giram
entre seis a 24 meses, algumas
construtoras têm alegado falta
de materiais e dificuldade de
alugar equipamentos como,
por exemplo: grua (guindaste),
andaimes,
girica
(caçamba
que carrega concreto) e usina
de concreto. Alegam ainda
falta de mão de obra, mas
inexplicavelmente continuam a
lançar novos empreendimentos
para receber valores de futuros
adquirentes, apesar de não
cumprirem a obrigação de
entregar o que foi vendido.
Ninguém em sã consciência
consegue entender isso: se não
há empregados para terminar
24 | Vox Objetiva
o prédio já vendido, como
então a construtora obterá mão
de obra para começar outro
empreendimento?
Ao pesquisar empresas de
fornecedoras de materiais de
acabamentos, constata-se que as
desculpas são infundadas, tendo
um empresário explicado: “na
realidade, as construtoras têm
buscado o canal de compra direto
com a indústria para baratear o
custo da obra, mas devido a essa
escolha, tem que esperar prazo
da programação dos pedidos,
que pode chegar a 150 dias. Na
realidade, não há falta de louças,
metais, revestimentos”.
A título de exemplo, a BelLar
Acabamentos
mantém
um estoque de 80.000 m² de
porcelanato e possui toda linha
de metais e louças para entrega
imediata. Esta não é a única
empresa.
Existem
diversas
outras de grande porte em Belo
Horizonte.
A
ausência
de
algum
material pode decorrer da falta
de
programação,
bastando
o adquirente procurar as
lojas especializadas que têm
departamentos
específicos
para atender, inclusive às
construtoras. Uma solução seria
deixar o consumidor escolher o
acabamento que a construtora
alega estar em falta, diretamente
nas lojas que têm estoque para
atender à demanda prontamente.
Quanto aos equipamentos, o
proprietário de uma das maiores
empresas do segmento que
prefere não se identificar, explica:
“Há oferta de equipamentos, só
os construtores têm pressionado
as empresas fornecedoras de
equipamentos para reduzir
Kênio de Souza Pereira
Presidente da Comissão de Direito
Imobiliário da OAB-MG
e-mail: [email protected]
os preços a qualquer custo, a
ponto de quase inviabilizar a
disposição do equipamento. A
situação é estranha, pois o preço
do metro quadrado do imóvel
está a cada dia mais elevado,
gerando, assim, grande margem
de lucro para o construtor. Por
lado, ele está impondo a redução
de preço e condições inviáveis
para os fornecedores de matériaprima e equipamentos. Ou seja,
querem preços da China no
Brasil, onde o preço final do
imóvel disparou”.
Logicamente pode haver um
problema ou outro com falta de
materiais, mas isso não justifica
o atraso de 35% das obras
conforme apurou o Sindicato da
Construção Civil de MG. Essa
situação prejudica o adquirente
que tem pagar a prestação
da compra acumulada com o
aluguel que não mais deveria
existir se tivesse a posse na data
contratada.
Nova lei
Certamente a maioria das
construtoras cumpre o que
promete. Mas, diante de uma
minoria que não respeita o
consumidor, vem num momento
oportuno o Projeto de Lei
nº 1.576/2011 de autoria do
Presidente da Câmara Municipal
de BH Vereador Léo Burguês,
que, sendo aprovado, protegerá
tanto ao adquirente quanto ao
mercado, pois a construtora
que atrasar mais de 60 dias não
obterá alvará de construção para
lançar novo empreendimento.
Já que há falta de mão de obra,
cabe à construtora concentrar
a força de trabalho nas obras já
vendidas.
capa
Mais uma vez, Minas Gerais é o campeão
do desmatamento no Brasil. Hoje, milhares
de hectares de florestas alimentam fornos,
gados e a indústria do papel
André Martins
P
esa sobre Minas Gerais uma grave projeção. As regiões norte e nordeste do estado, que juntas correspondem a um terço
de todo o território mineiro, podem se tornar tão secas e arenosas quanto um deserto
nas próximas duas décadas. O alarme partiu
do Instituto de Desenvolvimento do Norte e
Nordeste de Minas Gerais.
O estudo encomendado pelo Ministério
do Meio Ambiente ao Governo do estado
concluiu que mantida as condições de exploração e uso do solo atual, a cobertura térrea
de 142 municípios tende a se tornar cada vez
mais pobre e infértil. O impacto ambiental
e econômico forçaria cerca de 20% dos mineiros, mais de dois milhões de pessoas, a se
deslocarem para outras localidades.
O professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia de Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas Guilherme
Taitson não tem dúvidas de que as atividades
consideradas a mola da economia para as regiões sejam responsáveis pelo processo que
ele evita chamar de desertificação. “Talvez o
termo seja um pouco exagerado, pois remete
às paisagens de desertos como o Saara ou Atacama, onde características climáticas globais e
continentais determinam volumes de chuvas
anuais extremamente reduzidos”, explica.
O impasse conceitual, no entanto, não atenua o problema. Em tese, o que vem acontecendo em Minas Gerais é um pouco pior. Ainda que marcados pela rigidez climática, os
desertos naturais são ecossistemas vivos, ao
contrário das áreas que passam por processos
Vox Objetiva | 25
Rural Minas / Divulgação
SEM
FLORESTAS
Divulgação
de extinção de espécies animais
e vegetais, desestruturação de
mata nativa e empobrecimento
do solo.
Taitson explica que as peculiaridades naturais das regiões reforçam os problemas.
“Trata-se de localidades naturalmente de maior vulnerabilidade
ambiental e de menor capacidade de regeneração, principalmente em função dos baixos volumes de chuva anuais”, explica.
De acordo com o coordenador do Instituto Minas Tempo,
Ruibran dos Reis, as regiões
norte e nordeste possuem os menores índices pluviométricos do
estado. Nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, por exemplo, a
média anual é de 900 milímetros
de chuva. “A título de compara-
ção, na Região Metropolitana de
Belo Horizonte o índice é quase
o dobro”, explica o doutor em
meteorologia.
Já fragilizados pela precipitação insuficiente e irregular, o
norte e nordeste mineiro vêem
suas coberturas vegetais minguarem de maneira assustadora. Grandes áreas de mata seca e
mata atlântica sofrem com uma
devastação intensa para o estabelecimento da pecuária extensiva e alimentação da indústria
do papel e do carvão.
A pouca fiscalização do estado unido a uma espécie de institucionalização do desflorestamento não dá margem para
alterações. De acordo com o
secretário municipal de agricultura de um município da região
nordeste que pediu sigilo, as
autoridades locais nada podem
fazer diante das licenças concedidas pelos órgãos ambientais.
Na visão do deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB),
a corrupção é mais um dos
tantos entraves para a educação ambiental nos municípios.
“Basta lembrar do escândalo em
junho de 2010, quando o então
presidente do Instituto Estadual de Florestas, Humberto Candeias, foi preso por conta do
envolvimento com a exploração
ilegal de madeira”, lembra.
“Deseconomia” mineira
Não é de hoje que os números do desmatamento no estado
chamam a atenção. Em coletiva
de imprensa realizada no fim de
maio, a diretora de Gestão do Conhecimento da SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, comemorou
a queda de 55% no índice médio
de desmatamento dos remanescentes de mata atlântica em
comparação com o período analisado anteriormente. A inglória
primeira colocação de Minas no
ranking dos estados campeões
do desflorestamento, no entanto,
não foi encarada como surpresa.
Somente em Ponto dos Volantes,
município do Vale do Jequitinhonha, foi constatado um desflorestamento correspondente à
totalidade do que foi perdido no
Paraná no mesmo período analisado, de 2008 a 2010.
“A situação de Ponto dos
Volantes já foi alertada ao Governo de Minas Gerais pela Organização. A vegetação nativa
estava sendo transformada em
carvão”, conta. O município pobre, criado em 1995, tenta definir a própria identidade e fugir
De acordo com Márcia Hirota, o Governo de
Minas já foi alertado em relação à situação
de alguns municípios
26 | Vox Objetiva
SOS Mata Atlântica / Inpe
Em 1500, a mata atlântica estava presente
em 46% do território mineiro. Hoje, restaram
pouquíssimas áreas da vegetação nativa
do pódio em que reina absoluto,
com seus 3.244 hectares desmatados, ao lado de dois outros
municípios mineiros – Jequitinhonha e Pedra Azul.
Os momentos econômicos diversos e a consequente rotatividade de cultivos ilegais seriam a
raiz do problema. “Ora o preço
do ferro gusa aumenta bastante
e a pressão vai sobre a produção
de carvão, ora a pressão é sobre a
produção de papel, então temos
o ingresso do eucalipto nessas
áreas”, explica Flávio Ponzoni,
pesquisador do Inpe e coordenador do Remanescentes do Atlas
da Mata Atlântica.
Para o diretor de Políticas Públicas da ONG, Mario Mantovani, a questão do desmatamento
não diz respeito à economia de
Minas, mas à “deseconomia”
dela. As irregularidades na contratação da mão de obra utilizada nas carvoarias dos rincões
mineiros e a omissão daqueles
que lucram com a ótica de exploração que vigora nas regiões
foram denunciados na conversa
com os jornalistas.
“Não se paga impostos, colocam famílias dentro de fornos, as
grandes empresas se encobrem
para não parecer que estão fazendo ferro gusa com aquele carvão.
Minas Gerais tem uma grande contradição. Tem o pior dos
mundos, como no Vale do Jequitinhonha, nessa região de mata
seca, encoberto por autoridades
que se dizem autoridades. E tem,
por exemplo, casos como o Projeto Plantar que é o melhor dos
mundos. É impressionante como
Minas Gerais vai do céu pro inferno, sem escalas, em questão de
quilômetros”, desabafa.
No norte do estado, os dados
do Inventário Florestal de Minas Gerais indicam que 52% da
cobertura original de matas secas já foi perdida. Recentemente, a Universidade Estadual de
Montes Claros constatou o aniquilamento de 222.700 hectares
da cobertura original em um
período de vinte anos, de 1986 a
2006. As carvoarias e as grandes
criações de gado são apontados
como os principais vilões na região de acordo com o professor
da Unimontes e pesquisador de
matas secas Mário Marcos Espírito-Santo.
“Deve-se ressaltar que as
matas secas norte-mineiras estão sob proteção especial desde 1993, quando foi publicado
o Decreto Federal 750. Ou seja,
mesmo estando 13 dos 20 anos
analisados sob proteção, a área
perdida nesse ecossistema foi
extremamente alta. Nesse ritmo, em cerca de 100 anos as
matas secas estarão praticamente extintas no norte do estado”,
projeta o doutor em Biologia.
Polêmica
Há um ano, a Assembleia
Legislativa de Minas Gerais to-
mava uma decisão controversa
cujos reflexos, segundo entendem representantes da SOS
Mata Atlântica, se tornaram evidentes com os últimos números
do desmatamento em Minas.
Um projeto de lei, de autoria do então deputado estadual
e hoje secretário de estado extraordinário para o Desenvolvimento dos Vales Jequitinhonha
e Mucuri e Norte de Minas, Gil
Pereira, permitiu a exploração
de 70% das áreas estaduais da
região cuja cobertura vegetal era
de mata seca. Os demais 30%
corresponderia à reservas de
proteção. A medida garantiria a
manutenção de cerca de 250 mil
postos de trabalho e evitaria o
êxodo intra-estadual.
Por 45 votos a 1, a Casa consentiu em desvincular a mata
seca da mata atlântica, retirando a vegetação naturalmente já
fragilizada da área de proteção
estendida a elas pelo decreto do
Ibama, de 2008.
Procurado pela reportagem
da Vox Objetiva para falar sobre
a situação das florestas, o secretário Gil Pereira reiterou antigos
posicionamentos e convicções.
Vox Objetiva | 27
capa
“Nossa região é caracterizada
pelo cerrado, uma parte caatinga e uma pequena parte de
mata atlântica”, explicou.
O impasse é antigo. Até os
especialistas divergem em relação à categorização da mata
seca. Para o professor da PUC
Minas Guilherme Taitson “o
aspecto especial da vegetação é
certamente mais evidente quando situada na região geográfica do cerrado”. Mário Marcos
Espírito-Santo, professor da
Unimontes, não compartilha da
mesma opinião. “A Mata Atlântica é um bioma formado por
diversas fitofisionomias, sendo
cada uma delas determinada
pelo clima. As matas secas possuem uma semelhança florística
muito grande com as florestas
sempre-verdes e semi-deciduais, podendo ser classificadas
de forma inequívoca como mata
atlântica”, detalha.
De acordo com Márcia Hirota,
grande parte do desmatamento
em Minas nos dois últimos anos
corresponde às áreas que hoje já
não possuem total proteção do
estado. “Tudo isso aconteceu em
função da retirada da mata seca
das áreas de proteção de mata
atlântica”, expõe.
O desenvolvimento que se
preconizava com a iniciativa é
questionado por Espírito-Santo. “Não existe relação direta
entre desmatamento e geração
de riquezas. Recentemente o
Ministério do Meio Ambiente
analisou o PIB das 50 cidades
brasileiras que mais desmataram o cerrado. Na maioria delas, houve estagnação e até decréscimo do PIB per capita após
o desmatamento. Além disso, a
mera geração de riqueza agregada, medida pelo indicador
PIB, não implica na eliminação
da pobreza e ‘subdesenvolvimento’”, explica.
Poder público
O estudo que projeta um futuro seco para as regiões norte
e nordeste do estado, elaborado
dentro da própria Secretaria,
foi minimizado por Gil Pereira. “Isso não condiz com a realidade”, explicou se baseando
nos números do Índice Mineiro
de Responsabilidade Social de
2007 da Fundação João Pinheiro, que coloca as florestas das
regiões como as mais preservadas do estado.
De acordo com o secretário
da SEDVAN, o Governo mineiro tem investido maciçamente
em projetos de irrigação por
meio da construção de barragens e barraginhas em municípios do semiárido de Minas.
“Por meio dessas obras, o Estado estimulará diversos projetos
produtivos como horta familiar
e cultivo de pomares. Além disso, cada hectare irrigado gera
um emprego direto e dois indiretos”, enumera.
Dentre os milhões investidos
em infra-estrutura, o Governo
direcionará R$ 95 milhões para
desapropriações de moradores
das localidades a serem tomadas pelas águas. Dessa fatia, não
foi precisado quanto, parte seria
destinada à projetos ambientais
paralelos como a restauração da
cobertura vegetal nativa predominante na região, a mata seca.
A raposa e o galinheiro: o
então deputado estadual
Gil Pereira foi autor de
uma lei que permitiu a
exploração econômica
de boa parte da mata
seca. Hoje secretário de
Estado, Pereira luta por
verbas para recuperar
a região campeã em
desmatamento
André Martins
28 | Vox Objetiva
meteorologia
Vulcões e possíveis
mudanças climáticas
Os vulcões sempre causaram tragédias no mundo. Um
dos casos mais emblemáticos é
o vulcão Tambora. Localizado no
monte que o nomeia na ilha de
Sumbawa, ele entrou em erupção entre os dias 5 e 10 de abril
de 1815, causando a morte de
mais de 71 mil pessoas. A explosão foi ouvida na Ilha de Samatra, que fica a mais de 2.000km
de distância. A cinzas chegaram
mais de 40km de altura, escurecendo o céu durante 3 dias num
raio de 500km.
O ano de 1816 ficou conhecido como o “Ano Sem Verão”
no Hemisfério Norte, pois as
cinzas do vulcão se espalharam
na estratosfera, o que impediu a
cehgada da radiação solar até a
superfície. A agricultura de alguns países não conseguiu produzir o sustento para toda a população e a fome levou à morte
de milhares.
Em 1991, o vulcão Pinatubo
que estava adormecido há mais
de 500 anos, entrou em erupção. O vulcão está localizada
na ilha Luzon, nas Filipinas.
Assim como o Tambora, o Pinatubo também lançou milhões de
toneladas de poeiras e gases na
atmosfera. Devido às gotículas
de ácido sulfúrico, que refletem
os raios solares, a temperatura
da atmosfera da Terra caiu 0,5
graus no anos de 1992, enquanto se esperava que o ano fosse
quente em função da presença
do El Niño.
Vulcões tendem a se formar
junto das margens das placas
tectônicas. Os vulcões sempre
causaram desastres naturais.
Nos últimos dois anos se tem
observado que os vulcões que
existem na Islândia causam um
verdadeiro caos aéreo no mundo. As cinzas vulcânicas finas
é uma arma antimotora de aviões a hélice e a jatos. As cinzas
vulcânicas são compostas de
minerais que contêm silicones e
se fundem quando entram nas
turbinas dos aviões.
Em 15 de dezembro de 1989,
apagaram no ar os quatro motores do boeing 747-400 da KLM,
Prof. Dr. Ruibran dos Reis
Coordenador do Minas Tempo
[email protected]
voo 867, que partiu de Amsterdam, na Holanda, rumo a Tóquio, Japão, quando a aeronave encontrou cinzas do vulcão
Redoubt sobre o Alaska. Não foi
o primeiro nem único caso. O
vulcão Yjafjallajökull causou no
ano passado milhares de cancelamentos de vôos e prejuízos
econômicos de mais de um bilhão de euros.
O vulcão islandês Grimsvotn voltou a causar caos aéreo
na Europa em maio passado. O
Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas (IPCC)
utiliza vários modelos de previsões climáticas, mas a cada vulcão que entra em erupção, fica
uma dúvida: há necessidade de
elaborar vários cenários com
as informações sobre possíveis
erupções futuras? Pois caos aéreo nós já sabemos que eles causam. Agora precisamos saber
os impactos na agricultura, no
ciclo hidrológico, nos diferentes
biomas, o que irá, provavelmente, garantir a própria sobrevivência do homem.
Vox Objetiva | 29
Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
educação
Não basta apenas aumentar
a carga horária, é necessário
dar condições para que os
alunos possam obter melhor
aproveitamento em sala de aula
REMENDO NOVO EM
UNIFORME VELHO
Os estudantes brasileiros do ensino médio e fundamental em breve podem ficar mais tempo
nas salas de aula. O desafio é garantir que eles aprendam mais. Os jovens que levem mais
empolgação na mochila
Guilherme Reis
O
Senado aprovou um projeto de lei que aumenta a
carga horária nas escolas públicas e particulares brasileiras
em 20%. As atuais 800 horas
passarão a 960. Se a proposição
for aprovada também pela Câmara e sancionado pela presidente, as escolas terão que adicionar 48 minutos de aula em
cada um dos 200 dias letivos
do ano, ou então, acrescentar
20 dias nas atividades escolares
a partir de 2013.
Passar mais tempo na escola,
no entanto, não é garantia de boa
30 | Vox Objetiva
formação. Um estudo do Programa Internacional de Avaliação
de Estudantes, realizado pela
Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico,
confirma que o Brasil se tornará
um dos campeões em tempo de
aula. A média dos países desenvolvidos, que tem educação de
qualidade, será, aproximadamente, 20 % menor. Aqui está
o principal problema brasileiro:
boa qualificação escolar.
Para provar que o ensino no
Brasil ainda está aquém do ideal para crianças e adolescentes,
outro estudo, dessa vez da Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e Cultura,
aponta que a educação em nosso
país apresenta quadros alarmantes. De acordo com a pesquisa, o
índice de repetência no ensino
fundamental brasileiro é 18,7%,
o mais elevado na América Latina. A média mundial é de 2,9%.
Quando o assunto é evasão escolar, o Brasil aparece em segundo
lugar, com 13,8%, perdendo apenas para a Nicarágua, 26%.
Não adianta aumentar a carga horária se o aluno não tiver
a oportunidade das escolas se
prepararem”. O senador ainda
acredita que o simples aumento do tempo de aula vai resolver outra questão. “Estamos
aumentando a carga para que
o professor tenha mais tempo
para aplicar a matéria em sala.
Hoje nós temos muito conteúdo
e pouca qualidade”.
O diretor da escola municipal José Ovídio Guerra, em
Contagem, Fernando Marques,
afirma que quando os parlamentares tomam decisões a respeito da educação nacional, eles
não se preocupam em ouvir os
mais interessados. “A partir de
toda discussão e burocracia das
leis e diretrizes da educação,
os parlamentares não ouvem a
esfera que será mais afetada: os
diretores, os alunos e os professores”. O educador conclui reclamando da condição do profissional da educação. “O salário do professor da rede pública
é péssimo. Ele tem que cumprir
três jornadas de trabalho para
sobreviver. Não tem como esse
professor buscar especialização
na sua área e acaba se transformando em um profissional ultrapassado”, desabafa.
Direcionamento disciplinar
O Ministério da Educação
pretende colocar em prática
outras resoluções para transformar a educação brasileira.
Ainda não se sabe se serão benéficas. O Conselho Nacional
de Educação, órgão ligado ao
MEC, aprovou diretrizes para a
flexibilização e expansão do ensino. Uma das medidas seria a
formatação do quadro disciplinar de acordo com as necessidades de cada região. A ideia é se
basear em quatro eixos que seriam relevantes para a boa formação dos estudantes: trabalho,
tecnologia, ciência e cultura.
A proposta funcionaria da
seguinte maneira: se uma cidade ou região tem um grande
mercado na área industrial, as
escolas dariam enfoque maior
nas matérias física e química.
A diretriz teria como objetivo
Agência Senado
estimulo a comparecer nas aulas. Quem afirma, é o professor
de geografia Carlos Justino, com
mais de vinte anos de experiência na rede pública e privada de
ensino. “A lei é simplista e não
resolve nada. Os problemas são
muito mais sérios. Não há no
país uma política bem estabelecida que vise uma verdadeira
democratização do ensino na
busca de uma educação de qualidade, tão falada demagogicamente por nossas autoridades.
Existem problemas muito mais
sérios que simples carga horária”. O educador cita alguns:
“Falta de infra-estrutura nas
escolas, a violência sem precedentes, o salário baixíssimo do
profissional da educação, professores mal preparados, falta
de verbas”, e por aí vai.
A diretora do Instituto Maria
Montessori, Iêda de Oliveira, já
se preocupa em adequar a escola
à possível mudança. “O calendário atual já é apertado. Não
temos dias disponíveis e financeiramente é inviável. Não vou
conseguir pagar mais educadores ou horas excedentes”. Iêda
afirma ainda que não adianta fazer o aluno ficar mais tempo na
escola se o período de aula não
for bem utilizado. “Tudo vai da
gestão do nosso tempo. Nossos
alunos têm um bom aproveitamento com a carga atual.”
Mesmo pensando na melhora da educação nacional, os discursos divergem entre os parlamentares e os profissionais de
educação. O senador e relator
do projeto, Cyro Miranda (PSDB-GO), discorda da diretora.
“Existem escolas que já aumentaram a carga horária, essa conversa de que é financeiramente
inviável é ‘balela’. Estamos buscando a escola em tempo integral no Brasil. Estamos dando
Senador Cyro Miranda
(PDSB-GO), relator do projeto,
acredita que o aumento da
carga horária aumentará a
qualidade do ensino médio e
fundamental
Vox Objetiva | 31
educação
formar alunos cada vez mais
prontos para o mercado de trabalho. Iêda, diretora do Montessori, não acredita nos benefícios
da medida. “Já existem escolas
técnicas que cumprem essa função. A escola comum não tem
esse papel e isso não deve funcionar em uma cidade grande.
Por exemplo, Contagem é uma
cidade industrial da região me-
beneficia a classe trabalhadora, a
maioria da população. Se for mudar, que seja em todo o sistema e
busque atender à maior parte do
povo, desde o ensino fundamental até o superior”.
Pais e mestres
Quando os profissionais da
área são indagados a respeito
de outros problemas da educa-
que seus professores se vêem
obrigados a esperar um longo
período até que a classe se acalme para dar prosseguimento à
aula. A pesquisa feita em 66 países aponta que a média mundial
de indisciplina está em 28%.
Seja na escola particular ou
pública, os diretores concordam que os pais não educam
os filhos. Para eles a escola é
tropolitana de Belo Horizonte,
mas a proximidade com outros
municípios faz com que exista
a necessidade de formação de
profissionais de outras áreas.
Nós não devemos nos prender
apenas à indústria”.
O professor Carlos Justino tem
outra visão a respeito da resolução. Para ele, a proposta pode ser
instituída, mas algumas condições devem mudar. “Isto seria o
mais lógico, trabalhar de acordo
com a realidade e as necessidades
de cada local, mas infelizmente a
nossa política educacional não
32 | Vox Objetiva
ção brasileira, uma nova resposta ganha relevância. Além dos
problemas estruturais, os pais
dos alunos são apontados muitas vezes como vilões no comportamento dos filhos dentro
das salas de aula. Reclamação
que não se restringe ao “achismo”. O estudo feito pela Organização de Cooperação e de
Desenvolvimento Económico,
também demonstra que as salas de aula brasileiras são mais
indisciplinadas do que a média.
Um total de 33% dos alunos
brasileiros ouvidos disseram
para ensinar. Respeito, obediência e cidadania, eles deveriam aprender em casa. Muitas vezes esse comportamento
permissivo dos pais se traduz
na retirada da autonomia da
escola na hora de disciplinar o
aluno, como revela Iêda de Oliveira. “Tem pai que não aceita
chamarmos atenção dos filhos.
Eles tiram nossa autoridade em
sala de aula. No fim das contas
o aluno não aprende a viver
com os outros estudantes e isso
pode resultar em uma pessoa
sem limites na vida adulta”.
Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
A falta de investimentos e a baixa
remuneração dos professores
diminuem o interesse dos alunos
e reduzem a qualidade do
aprendizado.
economia
Não desista, o melhor
ainda está por vir
Quem participa do dia-a-dia
do mercado financeiro deve estar com sua paciência no limite.
Há três anos que a bolsa brasileira não sai do lugar, pior, está 12%
mais barata. Em 29 de maio de
2008, o Ibovespa atingia a marca
dos 73.000 pontos. Hoje estamos
na casa dos 64.000. Muita coisa
aconteceu ao longo do caminho.
Muito sobe e desce enfrentamos
com determinação e sangue frio.
Mas, sinceramente, o ano
de 2011 tem sido o pior destes
três anos. Por quê? Basicamente
porque neste ano as principais
bolsas do mundo estão subindo
e a nossa está caindo. Vejam só.
Acompanhar as ações americanas subindo 8% este ano e a
bolsa brasileira caindo 8% no
mesmo período traz um sentimento muito ruim para todos
que estão participando diretamente ou indiretamente deste
mercado. É uma sensação de
que estamos piorando, de que
nossa situação econômica está
sem perspectiva, de que estamos ficando para trás.
Porém, não é isso que os números nos mostram. A economia
brasileira está cada vez mais
consolidada e forte. As empresas
continuam a gerar lucros consistentes. Os investidores estrangeiros, por sua vez, continuam a
acreditar e investir no Brasil.
Então, por que a bolsa não
sobe? Não sobe porque, no momento, os investidores estão
assustados com a inflação no
Brasil e porque estamos vivenciando um movimento de aumento nas taxas de juros brasileiras, o remédio para conter a
inflação. E, de fato, movimentos
de aumento de juros fazem os
investimentos em renda fixa
(CDB, títulos públicos) se tornarem mais atrativos quando
comparados aos de renda variável (ações). Vale destacar que
há um ano a taxa de juros no
Brasil era de 8,75% a.a. e hoje
está em 12% a.a com expectativas de continuar subindo. Com
isso os investidores colocam seu
dinheiro na renda fixa deixando
as ações de lado.
Rossano Oltramari
Analista-chefe da XP Investimentos
[email protected]
Este é o cenário de curto prazo.
No entanto, seremos um pouco
audaciosos e tentaremos projetar
o cenário futuro e tentar buscar as
melhoras alternativas de investimento para o médio prazo.
Olhando um pouco mais longe, para os próximos 18 meses,
este cenário tende a estar bastante diferente do atual. Acreditamos que a inflação será domada
pelo Banco Central, que as taxas
de juros voltarão a cair e que o
investimento em ações se tornará mais atrativo que o de renda
fixa. Assim o Ibovespa voltará a
subir com força e ultrapassará a
marca dos 73.000 pontos.
Este cenário descrito está
fundamentado nos números da
economia brasileira, nos resultados futuros das companhias
de capital aberto que são listadas na Bovespa e na análise relativa do mercado de ações brasileiro com os outros mercados
mundiais. Para mim está muito claro: investir no Brasil com
horizonte de médio e/ou longo
prazo é o melhor negócio.
Vox Objetiva | 33
esporte
Aposentando
AS CHUTEIRAS
Exemplos de jogadores que perderam fortunas com
o final da carreira levantam a discussão sobre como
os atletas devem planejar a aposentadoria
Thiago Madureira
P
ara os grandes atletas, o
tempo é o maior adversário. Com os dias, vão-se as
conquistas, os enormes salários, o estrelato... E uma vida
inteiramente dedicada ao esporte pode parecer vazia com a
falta dele. Assim que encerrou
a carreira, em 1986, Paulo Roberto Falcão, um dos maiores
jogadores da seleção brasileira, expôs o que estava sentindo: “Abandonar os gramados
é como morrer pela primeira
vez”. A frase virou clichê na
boca dos boleiros aposentados.
Por pendurar as chuteiras
prematuramente, se comparado à maioria dos outros profissionais, os atletas têm no horizonte uma perspectiva de vida
mais ampla. Esse, portanto,
simboliza o recomeço. “Existem várias possibilidades. Eles
podem continuar no meio esportivo em outras funções. Esta
situação é favorável, pois facilita a aceitação da nova condição
por estar estritamente ligada
ao esporte. Com a volta aos estudos, outras carreiras podem
ser pensadas. O importante é
saber que a vida não acabou,
mas está somente tomando
um rumo diferente”, explica a
psicóloga do América Futebol
Clube, Alessandra Monteiro.
34 | Vox Objetiva
A transição
para uma vida
fora das quatro
linhas é conflitante e requer,
sobretudo, ajustes
emocionais. Em função disso, uma orientação
profissional competente é imprescindível, pondera o coordenador do Grupo de Estudos da
Formação Expertise no Esporte
da UFMG, Luiz Carlos Moraes.
“O tema em questão é essencial
e deveria ser pensado durante a
carreira, não após a aposentadoria. Contudo, a discussão carece
de interesse dos próprios atletas
que se preocupam somente com
o sucesso momentâneo”.
Não sei se é bom
dizer isso, mas é
a verdade. Gastei
tudo com mulheres,
carros. Com
vaidades, amigos
de ocasião. Muita
gente se aproveitou
de mim
Müller, ex-jogador
De acordo com o professor Moraes, muitos esportistas
sofrem com a dificuldade de
desvinculação da identidade
atlética. “Isso atrapalha no estabelecimento de uma nova atividade profissional, podendo,
inclusive, gerar depressão, dependência de drogas e outras
doenças”, frisa.
Em uma recente tese de mestrado defendida na UFMG, na
qual o professor Moraes participou da banca, foi constatado
que a orientação aos atletas ainda está muito calcada nas relações familiares em detrimento
do profissionalismo. A dissertação se referia à transição da
carreira esportiva de 186 atletas
que atuavam em clubes da primeira divisão de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
Com o objetivo de identificar as
pessoas que ofereciam suporte
aos esportistas, foi perguntado
quem eram seus maiores conselheiros. A figura do pai foi a
mais mencionada pelos atletas,
com 56,5%. Ainda segundo o
estudo, 77% dos atletas respon-
Caso raro
no esporte
brasileiro, Euller,
o “Filho do
Vento”, já tem
aposentadoria
planejada
deram que nunca
haviam pensado
quando parariam
de jogar.
Bruno Carotti /América Futebol Clube
Chutes na educação
Devido à falta
de qualificação, as
atividades ligadas ao
esporte são as mais procuradas pelos atletas aposentados. Normalmente os
jogadores não se preocupam
com a formação intelectual e
deixam de lado o diploma em
troca da bola. Com o passar do
tempo, o peso educacional passa a ser tão presente quanto o da
idade. O ideal, segundo especialistas, é preparar para o término da carreira aproveitando
os salários para o investimento
em outras áreas que garantam
qualidade de vida e também
financeira. Caminho esse que
deve seguir Euller, atual jogador do América, que no final do
ano se despede das quatro linhas. “Já venho me preparando
para este momento há algum
tempo”, conta.
Segundo o “Filho do Vento”,
como Euller era conhecido quando estava no auge da carreira, a
vida pós-gramados já está planejada. “Vou permanecer neste
mundo do futebol. Pretendo virar dirigente e em três anos, após
alguns cursos, ingressar na carreira de técnico”.
Para Alessandra, Euller tem
um futuro promissor. “Pelo
pouco que pude perceber, ele
tem tudo bem definido e se preparou para isso. É um exemplo
de profissional que pensou na
carreira e não deve sentir o
peso da aposentadoria”, acredita a psicóloga do América.
Sem controle
Mas a receita de sucesso de
uma carreira planejada não é
seguida por muitos. A gastança
em farras, com mulheres e carros cobra, no futuro, um preço
alto. E o futebol brasileiro é
pródigo em registrar casos de
esportistas que usaram dinheiro de forma desregrada.
Em uma entrevista concedida ao jornal “Marca” em maio,
Müller, ex-jogador da seleção
brasileira, revelou que está morando de favor na casa de um
amigo. Após jogar em grandes
clubes do futebol brasileiro e
trabalhar como comentarista da
Rede Globo, Müller conseguiu
em pouco tempo consumir os
milhões que acumulou durante
a carreira. Segundo o ex-jogador, hoje ele não tem nenhum
Vox Objetiva | 35
Júnior Faria
Ex-atacante tetra-campeão
mundial, Müller: uma fortuna
perdida em uma vida de vaidades
bem material e até a igreja que
administrava teve que ser vendida. “Não sei se é bom dizer isso,
mas é a verdade. Gastei tudo
com mulheres, carros. Com vaidades, amigos de ocasião. Muita gente se aproveitou de mim”,
expôs ao periódico.
Apoio
Para auxiliar atletas que atravessam por dificuldades, como
Müller, foi fundado, em 1975,
por reivindicação do então capitão da seleção brasileira, Wilson
Piazza, a Associação de Garantia
ao Atleta Profissional (Agap).
De acordo com Piazza, que
está à frente da Agap desde
sua fundação, a entidade opera
como um sistema de assistência
social e educacional para atletas. A associação possui convênios em diversas áreas. Entre
os principais benefícios estão
bolsas de estudo, visando à inserção no mercado de trabalho;
auxílio saúde e pagamento de
previdência social. “Hoje, fazemos um trabalho importante de
apoio a mais de 10 mil associados”, contabiliza o ex-jogador
do Cruzeiro, que exerce a função voluntariamente.
Alterações na Lei Pelé, aprovada em 16 de março, reduziram
de forma considerável a arrecadação da entidade. A Agap recolhia cerca de R$ 500 mil mensais.
Após a nova legislação, em abril
de 2011, entraram nos cofres da
associação R$ 300 mil. “Esse valor mal dá para manter os auxílios atuais. Com isso, nossos novos projetos serão engavetados”,
fala com desânimo.
“Os atletas poderiam eleger
lideranças que lutassem pelos
seus direitos e vetar esse tipo de
mudança, mas infelizmente eles
estão preocupados no agora e
esquecem que amanhã podem
precisar”, desabafa Piazza. Ele
diz ainda que esse trabalho é
primordial para atletas que não
conseguiram angariar fundos
para se aposentar, o que representa a grande maioria.
O modelo em questão
A falta de preparo dos atletas ao renunciar
aos estudos, talvez seja o cerne do debate. O
modelo de esporte brasileiro, assim como
em vários outros países, é vinculado aos
clubes. Com isso, os livros se distanciam
desta formação. Diferentemente dos moldes
americanos, em que as equipes esportivas
surgem a partir das universidades.
“Nos Estados Unidos, existe uma
preocupação na melhor preparação do atleta,
tendo em vista a sua formação educacional e
profissional antes e após da aposentadoria.
36 | Vox Objetiva
Por exemplo, o atleta universitário, hoje o
grande celeiro de transição para o esporte
profissional, tem a obrigação de manter
uma média pré-estabelecida da somatória
das notas das disciplinas cursadas no
trimestre. Caso o esportista tenha uma
média abaixo do estabelecido, ele terá um
prazo para recuperação. Se não reaver essa
média em tempo hábil, ele será afastado das
competições e, consequentemente, perderá
a bolsa de estudos naquela universidade”,
explica Moraes.
stock.xchng
Radar
Saúde
Reprodução
O Instituto de Pesquisa de Células-tronco
(IPCTRON) divulgou que de janeiro a abril desse ano o número de famílias que guardam o cordão umbilical de seus filhos cresceu em 148% em
relação ao mesmo período do ano passado.
Atualmente mais de 80 tipos de enfermidades já utilizam as células-tronco, como leucemia, talessemia e anemias, e cerca de 200 estão
em estudo, como o diabetes. Sua utilização se
deve graças a capacidade delas em se transformar em diversos tipos de células saudáveis.
Já o aumento destes procedimentos, segundo o IPCTRON, ocorreu devido ao maior
acesso facilitado às informações sobre os procedimentos e as vantagens de se construir um
banco de células-tronco.
Elas recebem grande atenção de pesquisas
médicas, principalmente da área regenerativa. As presentes no cordão umbilical têm as
vantagens de serem totalmente maduras e
livres de impurezas, como medicamentos e
estresse, o que garante ainda mais eficiência
para uso na área terapêutica.
Cientistas israelenses dizem ter inventando
um nariz eletrônico capaz de identificar câncer
no hálito de pacientes que sofrem de tumores no
pulmão e em regiões do pescoço e da cabeça.
O estudo israelense, chamado de Nano Artificial
(Nosa), contou com cerca de 80 voluntários, dos
quais 22 sofriam de câncer nas áreas da cabeça e
do pescoço - incluindo nos olhos e na boca - e 24
tinham câncer no pulmão. Todos esses tipos de
câncer geralmente são identificados mais tarde,
ou seja, em estágio avançado.
Quando esses tipos de câncer são descobertos
mais cedo, maior é a chance de cura.
Reprodução
Reprodução
Famílias guardam mais células-tronco
Nariz que identifica câncer
Absolvição do pepino espanhol
Especialistas germânicos descobriram em fazendas da Alemanha, a origem para o surto que
já matou quase 30 pessoas no pais. As atenções se
voltaram para plantações de broto de feijão onde
foram encontradas as bactérias em grande quantidade. Os locais foram isolados. Incialmente, as
autoridades sanitárias acusaram os pepinos espanhóis como os transmissores da bactéria E.coli.
Esclarecido o caso, o vice-primeiro ministro
espanhol, Alfredo Rubalcaba, estuda a possibilidade de processar a Alemanha. Enquanto os diplomatas discutem,o surto avança. Um caso de
infecção pela mesma bactéria foi confirmado nos
Estados Unidos. No Brasil, a Anvisa não pretende colocar em prática nenhum programa especial
para impedir a bactéria de desembarcar em aeroportos brasileiros. Mas a vigilância sobre passageiros com diarréias fortes será intensificada.
Vox Objetiva | 37
saúde
CARDÁPIO DOS
HORRORES
Nutricionistas listam os vilões da alimentação
moderna e sugerem itens alternativos para manter
o corpo longe das doenças que começam pela boca
André Martins
G
orduras, sódio e açúcares
são “ingredientes” tão incorporados à dieta do homem
contemporâneo que a cada dia
se torna mais difícil pensar em
itens que não apresentem considerável teor de um desses
inimigos do corpo saudável.
Hoje, a indústria alimentícia
tem como base essa tríade,
contra a qual grande parte dos
profissionais de saúde vem travando uma verdadeira batalha.
Recentemente, médicos norte-americanos lançaram uma
campanha para deter o palhaço
Ronald, mascote da poderosa
rede de fastfood McDonald’s.
Nos Estados Unidos, o sinal
vermelho já soou há muito tempo - um recado para os países
que desde a década passada têm
presenciado a invasão de produtos e multinacionais americanas
do ramo alimentício em seus
domínios. Hoje, uma em cada
três crianças estadunidenses já
apresenta problemas com excesso de peso. O Brasil não fica para
trás. De acordo com dados da
Organização Mundial de Saúde,
20% de nossas crianças estão “de
mal” com a balança.
Considerada doença pela
38 | Vox Objetiva
OMS, a obesidade é um dos males associados à alimentação irregular. “Muitas vezes as pessoas
não se atentam para o fato de que
a maioria das doenças vem da
alimentação. São processos lentos, hábitos errados a vida inteira
que desencadeiam problemas de
saúde aos 50 e 60 anos”, explica
a nutricionista Angélica Amaral.
Hipertensão, descontrole hipofisário, diabetes, doenças coronarianas e circulatórias também podem ser o resultado de
uma vida inteira de excessos.
Quando a doença bate à porta,
comprimidos e bulas passam
a ser companheiros constantes
para a reordenação metabólica
do organismo. Mas fazer uso de
medicamentos passa a ser uma
medida vazia se os hábitos alimentares não forem alterados.
Para a especialista em nutrição geriátrica Elizabeth Chiari,
os péssimos hábitos alimentares
modernos, causas do crescente
número de diabéticos, hipertensos e cardíacos, foram influenciados pelas transformações
sociais e econômicas ocorridas a
partir da década de 1950. “Nesse momento o Brasil inicia um
processo mais forte de industrialização. É quando a mulher
sai de casa e vai buscar espaço
no mercado de trabalho”, explica. Assim, surgem novas
demandas para a indústria alimentícia e, com elas, as preocupações dos órgãos de saúde.
Maldita praticidade
Com tantos afazeres e a incompatibilidade de horários, o
rito de assentar-se à mesa com
os familiares e comer, hoje, praticamente já não existe mais nas
grandes metrópoles. As refeições são feitas no carro, no trabalho, nos shoppings, nas praças e
até mesmo andando. Comer em
casa? Talvez nos finais de semana. Hoje, a comida instantânea, a
praticidade é o que prevalece e é
aí que mora o perigo.
Há alguns meses, circula na
internet uma lista elaborada pela
nutricionista canadense Michelle Shoffro Cook, com os alimentos mais prejudiciais à saúde:
sorvetes, salgadinhos de milho e
batata, pizzas, batatas fritas, bacon, cachorros-quentes, donuts
(rosquinhas) e refrigerantes. Fica
difícil resistir quando todas estas tentações estão ao alcance
das mãos e dos bolsos. “Tudo
faz mal”, concordam Elizabeth
Chiari e Angélica Amaral quando questionadas qual o pior alimento da lista negra de Cook.
Elizabeth Chiari
tem o costume de
negociar com os
pacientes – “Eles
podem comer de
tudo, mas com
muita moderação,
procurando
substituir alguns
alimentos. Foi-se
o dia em que fazer
dieta é sinônimo de
sofrimento”
Trocas
Manter distância de diversos alimentos é uma das principais sugestões dos nutricionistas. Evitar, entretanto, pressupõe encontrar outras alternativas e substituições para o que não é aconselhado consumir.
A Vox lançou o desafio à Angélica e Elizabeth e as duas montaram uma relação
dos alimentos que são tão prejudiciais quanto os listados por Michelle. “É difícil
categorizar, pois cada alimento faz mal de alguma forma”, explica a primeira.
Abaixo, alguns dos elementos lembrados e segredos bastante funcionais e saudáveis para a substituição:
Alimentos a base de farinha branca
Bolos, pães e biscoitos de farinha de trigo, também conhecida como farinha branca (que rapidamente se transforma em glicose) podem ser feitos com frações de
farinha integral, 50% de uma e 50% de outra. Não tem erro e o sabor é praticamente o mesmo. Os alimentos integrais controlam o nível de glicose no sangue, previnem a rápida liberação de insulina e, consequentemente, o diabetes. São ainda
ricos em fibras, que regulam o sistema intestinal.
Refrigerantes
Queijo
Essas bebidas contém alto teor de sódio e
adoçantes (alguns deles de propriedades
cancerígenas). Sucos naturais são as melhores substituições, porém, as frutas são
ainda mais saudáveis uma vez que delas
se aproveita ao máximo as fibras, vitaminas e minerais presentes.
Alimento extremamente calórico. A liga
do queijo derretido é única. A opção para
recheio de pizzas e salgados é fazer uso de
uma mistura que leve ricota, ervas aromáticas e condimentos. O resultado é um recheio muito mais saboroso.
Sorvetes
Os sorvetes à base de leite são constituídos de pura gordura hidrogenada. Picolés
e os próprios sorvetes de frutas são alternativas assim como os frozens de iogurte
e o açaí, de propriedades antioxidantes.
Salgadinhos de milho e batata
Em um único saquinho dos conhecidos
chips, existe teor de sódio que, em muitos
casos, extrapola o máximo recomendado
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que é o equivalente a seis tampinhas
de uma caneta Bic de sal. Frutas secas, sementes e castanhas (consumidas com moderação) enganam o estômago e são ricas
em fibras e óleos benéficos à saúde.
Bolachas recheadas
O problema destas está no recheio, que
leva muita gordura. Biscoitos levemente
salgados com ervas, aveia, linhaça e gergelim são as opções de troca.
Carnes processadas em geral
(salsichas, empanados, hambúrgueres, bacon, presuntos, mortadelas) – Para se manterem conservadas, as carnes processadas
recebem grandes quantidades de sódio.
O aconselhável é o consumo de carnes
frescas e mais magras, como o frango ou
peixes. Duas porções semanais de atum,
sardinha, bacalhau ou salmão são ideais.
Os peixes são ricos em Ômega 3 e ajudam
a prevenir a artrite, o infarto, o derrame, o
Mal de Alzheimer e a depressão.
Cachorros-quentes
Maionese, keatchup e a salsicha são os vilões desse tipo de lanche devido a grande
quantidade de aditivos químicos. Sanduíche naturais, com pão integral, frango
fresco desfiado, cenoura, alface e tomate
podem ser a “saída”. Para substituir o keatchup, um molho de tomate temperado
com alho, alimento antioxidante.
Vox Objetiva | 39
psicologia
Consumo ou consumismo – o
limiar entre a normalidade e o
adoecimento
Quando pensamos em consumir, geralmente sentimos prazer,
algo que vem encher nosso momento de alegria e satisfação. O
consumo é algo que faz parte da
natureza humana. Implica na aquisição de bens e serviços.
Não vejo nenhum problema
em consumir, adquirir e aproveitar bens e produtos para satisfazer
as reais necessidades. É algo que
mexe com nossa motivação, fonte
geradora do prazer, ou seja, o consumo se baseia em necessidades
primárias para o homem e para a
sociedade. É importante buscar o
crescimento pessoal e profissional,
a ambição num nível satisfatório é
algo que funciona como um combustível para o crescimento em
diversas áreas. O problema inicia
quando a pessoa passa do limiar
do consumo para o consumismo
exagerado.
Consumismo é uma palavra
que faz parte da rotina atual, palavra utilizada em grande escala,
motivo de zombaria entre amigos
e chavões que incomodam a muitas pessoas. Em geral, as mulheres
tendem mais fortemente ao impulso da aquisição. Homens também
não ficam muito atrás, mas possuem mais controle por um senso
maior de responsabilidade com a
provisão familiar.
O consumismo é o ato ou hábito de adquirir produtos, na maioria das vezes, supérfluos. Quando
comprar se torna algo compulsivo,
é possível que o indivíduo sofra de
uma doença psíquica geradora de
muitos transtornos para a pessoa
e aqueles que a cerca. Inicia-se, em
geral, com um comprometimento
grave, pois a mesma começa a dissimular, enganar e adquirir uma
série de coisas inúteis, simples40 | Vox Objetiva
mente porque não consegue ficar
sem comprar todas as vezes que sai
de casa. Atualmente o problema se
torna ainda mais sério, com os sites
de compras pela internet.
Em geral, o compulsivo sente-se
culpado, mas não consegue evitar.
O desejo pontual é uma ansiedade
generalizada e funciona como um
“vício”, como de qualquer outro
aditivo, tanto que a linha do tratamento terapêutico para este não
difere muito se a compulsão é por
comida, bebidas, ginástica, sexo ou
qualquer outra coisa. Sabemos que
a atitude consumista não conduz
a nenhum aspecto positivo e complica muito a vida da pessoa, pois
acarreta a desconfiança nos relacionamentos, endividamento e estresse pelo remorso constante.
É importante realizar uma
auto-análise, redescobrirmos a intimidade do nosso eu e de seus valores sólidos. Só assim poderemos
encontrar e organizar dentro de
nós mesmos os conceitos distorcidos e “mofados”.
Muitas vezes a desorganização
emocional que envolve as pessoas
que apresentam estes conflitos são
os problemas de autoestima e sentimentos de inadequação. Os comportamentos compulsivos são hábitos aprendidos numa tenra idade
e seguidos por alguma gratificação
emocional, frequentemente um alívio da ansiedade e/ou angústia. São
hábitos inadaptados que já foram
executados várias vezes e acontecem quase que automaticamente
numa busca incessante de alívio e
prazer. Em resumo, a pessoa que
age de forma compulsiva ao adquirir coisas materiais acredita por
“certo tempo” que será a forma de
externar seus conflitos e inseguranças, lógico que de forma inconscien-
Maria Angélica Falci
Psicóloga e psicopedagoga
[email protected]
te a pessoa busca o prazer, mas que
em breve tempo cairá no vazio, pois
fazer terapia com o cartão tem seu
tempo de vida útil. Compra-se por
comprar e isso não satisfaz o seu
íntimo, não supri necessidade alguma, mesmo que por breve tempo
isto pareça acontecer. Quando identificado o problema é necessário
uma intervenção profissional.
Em nossa sociedade atual, o
consumismo é incentivado o tempo
todo, seja pelas empresas, na mídia
e afins. Muitos recebem como sinal
de grandiosidade, status, poder,
riqueza, de se encontrar aberto a
todas as novidades do mercado, de
tê-las e falar sobre elas. Percebe-se
um grande valor material em detrimento dos principais valores que
tornam uma pessoa realmente feliz
e saudável. Assistimos uma geração que caminha para uma frieza
em seus sentimentos, relacionando muitas vezes consigo mesmo e
se ensoberbecendo de valores que
conduzem a uma intensa frustração, pois no íntimo de todos nós
existe uma demanda muito forte
de amor, segurança e atenção.
Devemos valorizar o que realmente importa e fortalecer as ideias
que ajudam a construir. Abandonar aquelas que visam à desintegração emocional. Pois acredito
que a profunda satisfação e o bem
viver vêm do SER e não do TER. A
hora para acordarmos é agora. Reflita: onde você está depositando
sua felicidade? Qual é o valor que
você dá às pessoas? Quais são os
valores que você pretende passar
para seus filhos, caso os tenha?
O ideal para todos nós é saber
dosar e viver com equilíbrio e controle dos nossos impulsos, melhor
ainda é não sermos prisioneiros de
nenhum tipo de compulsão.
gastronomia
O SABOR DO LUCRO
Com números significativos, a sexta edição do festival Brasil Sabor chega ao fim
Thiago Madureira
D
dade dos produtos regionais,
têm preços que cabem nos mais
variados bolsos, oscilando entre
R$ 8 e R$ 85.
Para o conselheiro de administração da Abrasel-MG,
Fernando de Almeida, o Brasil
Sabor valoriza os botecos e restaurantes, uma das opções de
lazer preferidas dos mineiros.
“É uma forma de incentivar as
pessoas a se reunirem, colocar a
conversa em dia e divertir saboreando um prato delicioso”.
Almeida, que também é proprietário de estabelecimentos
que fazem parte do festival,
acredita que o evento aumenta
a freguesia dos restaurantes. “O
Brasil Sabor fomenta o mercado
gastronômico”. Os trinta dias de
boas opções também são relevantes para que novos ambientes e endereços sejam descobertos. “Existem locais que têm boa
comida, mas pouca gente tem
conhecimento. O supermercado
Super Nosso, por exemplo, tem
um ótimo restaurante que serve refeições de qualidade a um
bom preço”, diz.
O evento também serviu
para testar o setor que espera movimentação muito maior
com a Copa do Mundo de 2014.
“Nosso objetivo é atender com
excelência os visitantes e capacitar os profissionais da área com
o intuito de melhorar a nossa
receptividade para esse evento
mundial que está desembarcando no Brasil”, afirma Nonaka.
O setor de alimentação fora
de casa - que inclui restaurantes, bares, padarias, lanchonetes,
entre outros – movimenta, aproximadamente, R$ 73 bilhões todos os anos no Brasil. A cifra, representa 2,4 % do PIB nacional.
“Eventos como esses estimulam
a produção como um todo e o
consumo no setor”, observa.
Reprodução
iversidade é um termo que
caracteriza bem o Brasil.
Diferentes sotaques, expressões culturais e belezas naturais
compõem a paisagem nacional. O mesmo pode-se dizer da
culinária. Os renomados chefs
aproveitam a fartura de alimentos e, com o auxílio da criatividade, idealizam inúmeras iguarias. Unindo os mais apreciados
manjares, o festival Brasil Sabor
completou sua sexta edição com
números expressivos.
O evento, que terminou em
10 de junho, contou com a participação de aproximadamente
123 mil pessoas, movimentando cerca de R$ 1,7 milhão. Os
dados preliminares são da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes. “O Brasil Sabor
é um movimento que, ao longo
dos seis anos, evidenciou a gastronomia, demonstrando que
a comida é o principal recurso
da cadeia produtiva do turismo
brasileiro e o cartão de visita do
nosso país”, frisa o presidente
da Abrasel-MG, Paulo Nonaka.
“Fazendo uma avaliação, podemos dizer que essa edição foi
um sucesso”, comemora.
Em Minas Gerais, 87 bares e
restaurantes de 22 cidades participaram do Brasil Sabor 2011
com receitas especialmente desenvolvidas para o festival. Os
pratos, que exploram a qualiOs bares e restaurantes belohorizontinos nunca estiveram tão
lotados. A expansão dos festivais
gastronômicos tem dinamizado
ainda mais a economia da cidade
Vox Objetiva | 41
42 | Vox Objetiva
receita
QUIBE CRU
Receita de Antônio Abrahão
Neto, chef da Casa de Abrahão
Bistrô Árabe
INGREDIENTES
» »500g de carne bovina
(patinho ou chã de dentro)
» »170g de triguilho fino
» »sal a gosto
» »pimenta síria a gosto
» »2 pedras de gelo
» »azeite a gosto
» »hortelã a gosto
» »cebola a gosto
MODO DE PREPARO
1.Lave o triguilho e deixe de
molho por 20 minutos. Esprema bem e reserve.
2.Limpe a carne, retirando todos os nervos e gorduras.
Lembre-se de manter a carne
sempre bem gelada.
3.Corte em cubos. Moa a carne,
junte o triguilho, sal, pimenta-síria, as pedras de gelo e moa
tudo junto mais uma vez.
4.Amasse bastante com os dedos das mãos afim de evitar
que a carne se esquente com
as palmas da mão.
5.Prove e regule os temperos se
necessário.
6.Monte numa travessa, faça
desenhos em forma de triângulos e regue com azeite
doce.
7.Guarneça
com
hortelã
e
cebolas
fatiadas.
Dica importante: para manter o kibe cru bem fresco e
vermelho, mantenha uma película de filme plástico grudado à carne e no lugar mais
frio da geladeira.
8.Conserva-se por até 12 horas.
Bom Apetite!
Vox Objetiva | 43
vox tecnologia
GAME COM ENREDO DE CINEMA
Divulgação
Atento às redes sociais, o Google se apronta
para expandir um serviço limitado ao inglês para
outras 19 línguas. Trata-se da ferramenta de busca
social da empresa, que sugere tweets individuais
e atualizações de redes sociais que se relacionam
com o assunto pesquisado. O anúncio foi da sede
da companhia no Brasil.
Um post no blog da Google explica o
funcionamento da ferramenta. Os resultados só
aprecem quando o usuário está logado. Uma vez
conectado à conta pessoal no site da empresa,
ela sugere quais as pessoas podem aparecer nos
resultados de pesquisa, incluindo contatos do
GTalk, do Gmail, usuários seguido no Google
Reader e no Buzz, além das demais redes sociais
linkadas.
A prioridade é, segundo a empresa, para
pessoas que já fazem parte dos contatos do usuário
nas redes sociais. No entanto, atualizações do
Twitter, Facebook e MySpace podem surgir, caso
se relacionem aos resultados da busca. O Google
tem um acordo com o Twitter para a utilização
deste conteúdo, mas não com o Facebook, que
acusa a rival de usar o material indevidamente.
44 | Vox Objetiva
Divulgação
COMENTÁRIOS NA REDE
Refinamento de cinema para uma das
novas sensações da indústria de lazer digital.
Apontado como provável símbolo desta
geração, o game de investigação policial
“L.A. Noire”, da Rockstar, usa a tecnologia
MotionScan para levar a magia da sétima arte
para os jogos.
Com um rede de 32 câmeras, o MotionScan
gestos em alta resolução e o máximo de realidade.
E foi a partir dela que os desenvolvedores do
game conseguiram transferir dramaticidade as
personagens do jogo.
Os jogadores deverão se colocar na pele
de um detetive veterano da Segunda Guerra
Mundial que constatará a corrupção em
meio à Polícia dos Estados Unidos. Além
disso, terão de conquistar a confiança de seus
superiores aproveitando o faro do velho Cole
Phelps.
No roteiro do jogo digital, referências ao
luxo e a miséria da Hollywood dos anos 40 e 50.
“L.A. Noire” já está disponível para
PlayStation 3 e Xbox 360 nas principais lojas
do país.
Você é daquelas pessoas que sempre
gostou de tuitar, mas precisa programar seus
tuítes? Para que precisa ou deseja fazer uma
publicação, porém não dispõe de internet no
exato momento, uma das soluções é o Twuffer.
O serviço permite com que o usuário
programe alguns tuítes para um horário
específico, seja cumprimentando algum
amigo, divulgando algum produto ou com
a intenção de enviar um recado para um
usuário que não acessa o Twitter no meu
horário que o seu.
Para ter acesso ao serviço basta acessar o
site - twuffer.com - e informe as credenciais
do Twitter. No campo indicado, digite o texto
do tuíte e selecione a data e o horário para
que ele seja publicado.
ESTUDO PODE COMBATER SPAM
Uma equipe de cientistas da computação da
Universidade da Califórnia analisa a natureza do
spam - mensagens de e-mail indesejadas geradas
por redes de computadores zumbis controladas
por programas nocivos chamados botnets.
Em três meses, eles receberem os spams de
todos os tipos e realizaram compras em sites
anunciados nas mensagens. A esperança era
reduzir significativamente o fluxo de spam. E eles
acreditam ter conseguido um modo de reduzi-lo.
De acordo com os cientistas, 95% das
transações de cartão de crédito nas compras
foram administradas por apenas três empresas
financeiras - uma no Azerbaijão e as outras duas na
Dinamarca e em São Cristóvão e Nevis, no Caribe.
Os cientistas analisaram aproximadamente um
bilhão de mensagens e gastaram vários milhares
de dólares em 120 compras.
Reprodução
PROGRAME OS TUÍTES
Vox Objetiva | 45
Divulgação
carros
BELEZA
FUNCIONAL
Com mais de 20 sistemas de auxílio ao motorista, o novo Passat chega ao Brasil para brigar com
os líderes da categoria
Thiago Madureira
N
o início do mês, a Volkswagen apresentou o novo Passat a um grupo seleto de belo-horizontinos. O design, tanto do
Variant quanto do Sedan, surpreendeu. As linhas retas que caracterizavam o desenho do antigo
veículo foram substituídas pelas
ondulações, uma das novas identidades visuais da marca.
46 | Vox Objetiva
Seguindo essa tendência de
evolução, ainda no exterior do
carro, a traseira ficou mais baixa
e menos larga. Além da iluminação com faróis bi-xenônio, as
lanternas, em busca de eficiência na iluminação, mas com efetivo valor de realce no automóvel, oferecem LEDs como opcionais. Alguns detalhes, como o
contorno cromado das janelas,
dão um toque de esmero ao sedan de maior valor da montadora alemã vendido no Brasil.
O poder de sedução do automóvel, que era grande na antiga
versão para os padrões da década
de 1970, aumenta quando todas
as novidades internas são descobertas. Ao todo, são 20 sistemas
de assistência ao motorista. O detector de fadiga, por exemplo, um
dos mecanismos mais modernos,
avalia alternâncias no movimento
do volante e, constatando distorções, emite aviso sonoro e visual
no painel para redobrar a atenção
do condutor.
Com maior precisão, o display do computador de bordo,
instalado de frente ao motorista, oferece ampla visibilidade,
assim como a partida com um
toque na chave eletrônica e os
bancos dianteiros com sistemas
de massagens e climatização
proporcionam maior comodidade ao dirigir. Outro interessante recurso é o Park Assist,
que estaciona o veículo em vagas longitudinais e em 90º.
Os itens de segurança, que
se restringia ao cinto na primeira versão, são os pontos fortes
do novo Passat. Os seis airbags,
distribuídos nas partes frontais
e laterais, garantem maior proteção aos passageiros em caso
de colisão. O controle automático de distância e velocidade,
outra novidade, deixa o carro
sempre em uma posição segura
do veículo à frente ou de algum
obstáculo físico. Um sensor
mede a distância frontal e avisa
ao motorista quando um objeto
está muito próximo. Caso o condutor não breque, um aparelho
integrado ativa o Front Assist,
que aciona a frenagem de emergência, mas apenas em veículos
com velocidade de até 30 km/h.
O modelo Variant dispõe de
duas substanciais distinções ao Sedan: teto solar panorâmico e um
porta-malas que leva até 513 litros
de bagagem, dez litros a mais que
na edição anterior. Os bancos tra-
seiros com encosto dividido podem ser rebaixados para dar ainda
mais versatilidade no transporte
de objetos comprimidos.
Fabricado na Alemanha, o
Passat, que deve desembarcar
em terras brasileiras em agosto,
virá equipado com motor 2.0
TSI, de 211 cavalos. A transmissão é DSG, que reduz o consumo do combustível, com dupla
engrenagem e seis marchas. A
versão Sedan deve custar cerca
de R$ 106 mil e a Variant R$ 113
mil. O alemão vai ter um páreo
duro pela frente. Seu concorrente, o moderno Azera, da Hyundai, líder da categoria, vendido
por aproximadamente R$ 80 mil,
está consolidado no mercado
brasileiro. Restanos saber qual
será a receptividade dos consumidores ao novo Passat.
Reprodução
Vox Objetiva | 47
André Martins
cavalos
O PASSO
PERFEITO
A primeira etapa do Campeonato Mineiro de Adestramento é o início de uma longa jornada
para a realização do sonho olímpico
48 | Vox Objetiva
André Martins
N
ão é à toa que o adestramento é a
modalidade de competição hípica
geralmente conhecida como balé equestre. Salto é adrenalina. Adestramento
é concentração. Enquanto no primeiro
a beleza está na capacidade do animal
transpor obstáculos, atingir a altura necessária e tocar o solo com segurança e
classe, o adestramento tem como princípio educar o cavalo e tornar seus movimentos elegantes, quer seja o trote ou
o galope.
Animais bem treinados chegam a
executar o que lhes é solicitado pelo
montador com tamanha leveza e espontaneidade que parecem agir por conta
própria. Respondem aos mais simples
sinais emitidos pelo cavaleiro ou amazona e, submissos, não demonstram resistência na execução do que é pedido.
O adestramento torna o cavalo cortês, confiante e atento; corrige problemas posturais como a curvatura da cabeça e movimentação das patas e ancas.
Montar um equino adestrado é como
flutuar, tão grande é a regularidade e
harmonia do passo – o que reflete no
conforto de quem monta durante e
após o passeio. A musculatura humana
é trabalhada na medida em que o corpo recebe os estímulos emitidos com o
trote do animal.
Não existe espécie adequada para o
adestramento. Na verdade, especialistas
acreditam que todos os cavalos deveriam
ser, ao menos, minimamente adestrados.
Nas competições, porém, existe a predominância dos Brasileiros de Hipismo
e Lusitanos – espécies muito utilizadas
para a prática esportiva em geral.
Competições
A Confederação Brasileira de Hipismo, instituída em 1941 e vinculada à
Federação Equestre Internacional, regulamenta todas as disputas oficiais em
solo brasileiro. O somatório dos pontos
conseguidos nas etapas de cada torneio
determina os competidores que repre-
sentarão o Brasil em eventos internacionais, como os Jogos Olímpicos.
No final de maio passado, o Centro Hípico Vale do Sol, mais conhecido
como Chevals, em Nova Lima, foi palco
da primeira etapa do Campeonato Mineiro de Adestramento. É o início de um
longo percurso para o sonho de disputar o ouro olímpico. Os conjuntos foram
divididos em duas categorias, por execução das séries elementar e preliminar.
As provas de adestramento acontecem tradicionalmente em uma pista
de areia com dimensões de 60m por
20m. A área é delimitada por fitas e
cones nos quais são dispostas placas
com letras que orientam o cavaleiro na
execução das provas e movimentos estipulados previamente pela Federação
Hípica de cada estado ou pela própria
CBH. Dias antes das competições, são
disponibilizadas as reprises, séries de
movimentos que, na ocasião da disputa, deverão ser executadas pelo conjunto. Cabe ao montador se exercitar,
repetir sequências, estudar os movimentos e procurar a perfeição.
O som emitido pelo sino acionado
por um dos dois juízes presentes é o sinal
para a entrada do conjunto no campo de
provas e o início da apresentação. Atentos, os julgadores avaliam o cumprimento da reprise sugerida. O sino é acionado
em caso de irregularidades, o que obriga
o conjunto a executar o movimento novamente. Se o sinal for ouvido por três
vezes ao longo de uma mesma apresentação, o conjunto é desclassificado. Yago
Alves Good God e o garanhão lusitano
Violino do V.O, de nove anos, levaram a
melhor na disputa na série preliminar, já
o conjunto composto pela amazona Paula Xisto Câmara e a égua Roberta JCR,
levantou o troféu da série elementar.
A segunda etapa do Campeonato
Mineiro de Adestramento está marcada
para o dia 9 de julho, no Regimento de
Cavalaria da Polícia Militar de Minas
Gerais. A entrada é franca.
Vox Objetiva | 49
cavalos
Minas: tudo a favor de
cavalgadas
Já dizia meu tio Fernando
Sabino, citando Jaime Ovalle:
“Deus atingiu a perfeição quando criou o cavalo. Os outros
animais eram rascunhos: hipopótamo, rinoceronte, girafa”.
Eu sempre afirmei que em
Minas tudo conspira a favor
das cavalgadas. Aqui, temos o
privilégio de belas paisagens,
esse mar de morros sem fim,
artesanato riquíssimo, culinária
saborosa e gente hospitaleira.
O crescimento do mercado
de cavalgadas e no número de
adeptos é uma prova viva disso. As pessoas que se interessam pelos passeios têm sido
levadas a fazer um programa
diferente, a praticar esse tipo
de esporte. E isso vale tanto
para as pessoas que possuem
animais, quanto para aquelas
que os alugam.
Quem faz a opção de praticar a cavalgada, geralmente
faz algumas escolhas tanto
em relação ao animal quanto
ao tipo de sela, manta, embocadura e ainda ter (e manter)
ou alugar um cavalo. O que
nós não escolhemos é o tipo
de terreno. O cavalo nos leva
a todos.
Qualquer atividade equestre, por pouco ou muito
tempo que leve, exige que
tenhamos, antes, durante e
depois, alguns tratos com o
cavalo, aquele que nos carrega para todo lado e em terrenos variados, debaixo de sol,
chuva ou frio.
Sabemos da importância
de um bom trato, do banho,
da escovação, da limpeza dos
50 | Vox Objetiva
cascos, orelhas e dos olhos,
do desembaraço da crina e
do rabo, de um casqueamento bem feito, das ferraduras
adequadas e bem colocadas.
Enfim, detalhes e mais detalhes desses nossos amigos
tão especiais.
A possibilidade de poder
cuidar de um cavalo e também de alimentá-lo é uma coisa muito prazerosa e o retorno, vem “a galope”: o animal,
inteligente que é, reconhece
quem o trata bem e por vezes
relincha quando escuta a voz
do dono.
Claro que é preciso tomar
alguns cuidados em relação
à segurança e bem estar das
pessoas que praticam a cavalgada, visando uma integração
entre o homem, a natureza e
o animal e, sobretudo, respeitando as populações dos lugarejos por onde passamos.
Eu costumo dizer também
que, quem faz cavalgada deve
desmontar do animal com a
vontade de cavalgar mais.
Um bom guia deve conhecer os lugares onde é possível passar com segurança,
além de ter a flexibilidade
de mudar o trajeto quando
acontece algum imprevisto
(ponte caída, porteira trancada, rio intransponível) ou
qualquer outra situação que
impeça a cavalgada de chegar ao seu destino.
À medida que a pessoa começa a praticar cavalgada, ela
vai definindo qual o tipo dessa
atividade agrada mais: grupos menores ou maiores, mais
June Sabino
Organizadora da Tropa da Lua
[email protected] / [email protected]
ou menos conforto, percursos
longos ou mais curtos, níveis
diferentes de dificuldade do
trajeto, alimentação mais sofisticada ou mais simples,
turismo clássico associado à
cavalgada com atividades culturais que podem ser inseridas
na programação ou outra modalidade de esporte equestre,
que são inúmeras.
Eu me sinto responsável
por alguns meninos e meninas que começaram a cavalgar muito cedo junto com o
pai e hoje, “dirigem” o cavalo
sozinhos como me disse um
deles dia desses, hoje com seis
anos (ele começou com quase
dois anos).
As pessoas procuram a cavalgada não só como opção de
lazer, mas também por tudo
mais que ela pode oferecer
como atividade física; além
da chance de viver o encantamento com as coisas naturais
quando o corre-corre da vida
diária não nos deixa muito
tempo para isso.
Eu não tenho dúvidas de
que o meu cavalo me conhece,
porque já deu várias demonstrações disso. Conviver com
o cavalo é uma alegria e um
aprendizado.
Assim, organizando cavalgadas e participando de todas
elas, tenho me garantido a
oportunidade de fazer novos
e muitos amigos, de preservar
e reforçar as amizades antigas,
e, principalmente, estar bem
próxima do cavalo, esse animal tão especial, que merece
nosso respeito e nosso carinho.
turismo
IMPRESSÕES DE VIAGEM
Os sabores, as cores e as tradições de uma Jerusalém “mágica”
Carlos Viana
Conhecer e degustar a culinária de Jerusalém é uma experiência surpreendente e prazerosa. É bom lembrar aos brasileiros acostumados às comidas
mais temperadas que os cardápios Kosher, determinados pela
Torá, prevêem uma série de restrições a alimentos gordurosos,
com muito sal e profundamente
temperados. Basta olhar ao redor do território onde as regras
foram criadas para entender o
motivo das limitações. Terreno muito seco, água limitada e
temperaturas muito diversas.
Durante o dia, quente. À noite,
frio de zero grau em várias épocas do ano. Daí, a necessidade
de se cuidar mais da alimenta-
ção como forma de não sobrecarregar o corpo.
Tenha certeza, porém, que
esse cardápio Kosher quase
nunca agrada ao nosso paladar
que reencontra o prazer da boa
comida quando em um restaurante árabe. Ali sim, se come
bem e com sabores entre os
mais variados.
Da mesma forma que os judeus, os árabes também desenvolveram uma culinária mais
voltada para os alimentos vegetais acompanhados de carnes
mais leves como o frango e o
cordeiro. Essa última, de longe
é a mais preferida pelos habitantes por conta dos rebanhos
criados facilmente nas monta-
Os restaurantes decorados com a
vivacidade das cores árabes são muito
confortáveis e o melhor, têm preço justo
nhas rochosas onde a sobrevivência é feita sempre com pouca
água e capim rarefeito. Nas paisagens montanhosas e cheias de
pedras da Palestina ou de Israel
é fácil se deparar com grandes
quantidades de cabras, ovelhas,
carneiros e cabritos vigiados de
perto por crianças e pastores
que mantém a tradição desde os
tempos bíblicos mais remotos.
Interessante é que quando
assistimos às cenas de animais
e homens pulando e se esgueirando entre pedras, as imagens
não se tornam surpresas, apesar
de não fazerem parte de nossa
cultura agrária. Quem não se
lembra dos pastores do natal ou
das histórias em que Jesus com-
Vox Objetiva | 51
Nem gastronomia escapa
da influência religiosa.
As altas concentrações
de sódio e gorduras,
característica da culinária
ocidental, são proibidas
pela Torá e não têm vez
na cozinha árabe
para os homens aos que dedicam suas vidas e cuidados aos
rebanhos de ovelhas e cabras?
É como se nossa imaginação
infantil e nosso imaginário da
Terra Santa deixassem o campo onírico e se pusessem vivos diante dos nossos olhos. E
não há como observá-los sem o
mesmo carinho do qual falam
os evangelhos quando relatam
o dia a dia daquele povo simples e batalhador. Mas voltemos aos pratos.
Uma das melhores dicas
para quem vai a Jerusalém é visitar o elegante e antigo bairro
de Sheikh Jarrah. Localizado na
Jerusalém oriental, a área é mui-
to tranquila e abriga os melhores restaurantes da cidade. Durante os nossos dez dias em viagem pela Palestina, visitamos
pelo menos três dos endereços
mais conhecidos e a surpresa
sempre foi muito positiva. Os
ambientes são extremamente
confortáveis com áreas reservadas para famílias ou mesas externas onde o fumo do Narguile
e permitido, mas não incomoda.
Entre os clientes estrangeiros de
todas as línguas, especialmente
funcionários da ONU responsáveis por projetos de ajuda humanitária na região.
Comer para os árabes é um
momento especial onde amigos
ou pais e filhos se unem em torno de uma mesa farta e que significa prosperidade. Essa tradição de família reunida pode ser
entendida pela dificuldade em
se cultivar e criar os animais em
terreno tão inóspito e com pouca água disponível. Daí, o agradecimento diário pelo alimento
considerado sempre como um
troféu do esforço e da bondade divina para com o homem.
E já que o assunto é agradecer
comendo, haja fome e paladar
para se saborear os mais diversos alimentos. Azeitonas em
conserva, homus tahine, coalhadas em mistura com molhos especiais muito diferentes, hortaliças diversas, tomates, pepinos
e as temíveis cebolas cruas, difíceis de serem esquecidas depois
da refeição. Quem estiver em
lua de mel, por exemplo, nem
deve passar perto.
Junto com as saladas são servidos os pães assados na hora e
que chegam a queimar a ponta
O bairro de Sheikh Jarrah é a porta
de entrada para as descobertas
gastronômicas da Cidade Santa
52 | Vox Objetiva
dos dedos quando o visitante
mais desavisado se atira rapidamente ao consumo. Esse tempo
de comer é, sem dúvida, um dos
melhores momentos da viagem.
Gostos e sabores tão agradáveis
que se sucedem em uma descoberta de um mundo tão distante
geograficamente, mas tão próximo de todos nós brasileiros por
conta da imigração libanesa.
Para os amantes de uma boa
cerveja ou de um vinho harmonizando os pratos é bom observar os cardápios nas entradas
dos restaurantes. O Alcorão,
livro sagrado dos muçulmanos
proíbe o consumo de álcool.
Mas as restrições não fazem
parte de todas as casas e nos locais onde são vendidos, as cartas de vinho e cerveja ostentam
títulos entre os melhores do
mundo. Israel produz vinhos
de excelente qualidade e com
preços democráticos. Um jantar completo para quatro pessoas, por exemplo, incluindo
uma boa garrafa de vinho tinto,
custa em torno de US$150 ou
perto de $500 Shekels, a moeda israelense. Essa, inclusive, é
uma das grandes vantagens de
se visitar Israel. O nosso Real
vale em torno de $2,50 da moeda local o que nos permite um
gasto menor durante o consumo dos produtos disponíveis
em todo o mercado.
A porta de Damasco
Se você é adepto a conhecer
sabores diferentes em locais
também inusitados, não pode
deixar de visitar as padarias familiares e as pequenas lanchonetes dentro da parte muçulmana da Jerusalém antiga. Cercada
por várias portas, a velha cidade dourada está dividida entre
quarteirões judeus, armênios
cristãos e árabes. Normalmente, os guias judeus dizem que o
visitante deve evitar o lado da
Porta de Damasco porque lá os
riscos de um ataque ou assalto
seriam maiores. Sinceramente,
um engano condenável. Quando os estrangeiros chegam à
grande porta se deparam com
camponeses e pastores vendendo frutas, verduras, carnes e
todo tipo de iguarias produzidas na região. É uma das passagens mais interessantes para
quem deseja conhecer Jerusalém no contexto de uma vida
doméstica e diária. Por ali estão
bancas com lentilhas, grãos de
bico, farinhas de todos os tipos
e cores, pimentas e pimentões,
alho, cebola e frutas diferentes
colhidas localmente como as
deliciosas tâmaras secas. É um
momento que merece ser deli-
Graças a um eficiente sistema de
irrigação, Israel consegue produzir
frutas suculentas em pleno deserto
Vox Objetiva | 53
ciado não só com o paladar, mas
também com os olhos e ouvidos
curiosos aos sons tão ruidosos e
alegres.
Para garantir a segurança, a
presença policial é constante,
mas não interfere no cotidiano
dos palestinos. A polícia de Israel surge apenas quando solicitada ou quando para controlar algum tipo de confusão. Sem
dúvida, o visitante pode entrar
pela Porta de Damasco e descobrir a pé os becos e ruelas apertadas e cheias de lojas do mercado árabe, que existe há mais de
dois mil anos. Em vários pontos, os comerciantes se esforçam
para falar português ou espanhol em busca de atender e conquistar os clientes brasileiros.
Nessa viagem ao mundo muçulmano e cristão, o estrangeiro
é muito bem vindo e convidado
constantemente a saborear ki-
Os cenários pastoris
fazem alusão às Escrituras Sagradas. O quadro
que apresenta grandes
rebanhos e a figura do
pastor a conduzir os
animais é comum no
cotidiano rural
54 | Vox Objetiva
bes fritos na hora, brancos e saborosos preparados no óleo de
algodão, kibes crus ou as esfihas
com vários ingredientes além
da tradicional carne moída de
carneiro. Vale a pena a parada
depois de se esgueirar entre a
multidão de palestinos, mulheres muçulmanas com os cabelos
cobertos pelo chador e os milhares de estrangeiros de todas
as terras que visitam Jerusalém.
Na hora de comprar é preciso pedir sempre um desconto.
Produtos diversos muitas vezes
chegam a ser vendidos por até
60% mais barato. Entre os árabes se diz que o dinheiro deve
ser valorizado pelo dono, mas a
negociação tem de ser boa para
todos os lados. Daí, fique atento aos preços e especialmente à
origem dos produtos.
Apesar de toda a cultura
árabe preservada, das comidas
típicas diferentes e saborosas,
o mundo globalizado chegou
também ao mercado árabe de
Jerusalém. Boa parte ou talvez
99% das lembranças preferidas pelos turistas como bonés,
chaveiros e panos diversos não
viajam mais de camelos, e sim
de navio. São importados da
China, mas “abençoados por
Allah”. Bem, o que importa?
Afinal é um produto chinês,
mas comprado em uma das viagens e descobertas do mundo
mais agradáveis e inesquecíveis
chamada de Terra Santa. E, sinceramente, vale a pena. Garanto
que será uma viagem inesquecível e encantadora.
Na próxima edição de Vox
Objetiva entenda a história
milenar de formação do povo
árabe e judeu e os conflitos que
datam da Antiguidade, desde o
patriarca Abraão
crônica
Sou de ninguém
Joanita Gontijo
Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com
[email protected]
Já faz muito tempo, mas
aquela reportagem nunca
me saiu da memória. A pauta previa que eu contasse a
história de um município, na
região centro-oeste de Minas
Gerais, que tem nome de gente, mas curiosamente ficou conhecido como a “cidade dos
apelidos”. Mesmo desconfiada de que a produção da TV
havia exagerado, segui para
Cláudio, disposta a cumprir
minha missão. Foi no mínimo
divertido conhecer um lugar
onde o difícil era alguém ser
chamado pelo nome de batismo. Fui apresentada a João-de-Barro, Geraldo Periquito, Marcha-Lenta, Thiú, Zé
Costela, Manquinho e muitos
outros. O costume é tão forte
por lá que o carteiro, apelidado de Pato, graças ao jeito de
andar, sugeriu que se criasse
um catálogo com os nomes e
os respectivos apelidos. Assim foi feito, e ficou mais fácil encontrar os destinatários
das cartas que chegam por
aquelas bandas.
Há quem ame e quem
odeie apelidos. Há as alcunhas carinhosas e outras
bem constrangedoras. A verdade é que eles fazem parte
da nossa mineiridade. É comum, principalmente no interior do estado, que os mo-
radores sejam identificados
senão as mesmas histórias,
por seus pertencimentos.
pelo menos enredos bem paExplico: ao invés de sobrerecidos. Enquanto isso não
nomes, as pessoas se diferenpassa de uma simples locaciam por seus maridos, espolização geográfica na nossa
sas, pais, mães, profissões ou
árvore genealógica, tudo
endereços. Assim surgem a
bem. O perigo é esquecerGeralda da Rua da Ponte, o
mos quem somos para viver
Toninho da Neusa, o Zé da
o eterno papel de acompaIvone e o Candinho da mernhante. O risco é criarmos
cearia.
raízes que além de nos aliPensando sobre esse asmentar também nos acorrensunto, me lembrei de alguém
tam. O abismo se aproxima
que conheci há alguns anos.
a cada passo que nos distanO nome Ana como o de tancia dos verdadeiros desejos
tas outras e a origem em um
guardados na alma.
cantinho bem discreto e esO movimento rumo ao
quecido das Minas Gerais
que se quer de verdade muda
fizeram da minha amiga de
tudo de lugar. Na escuridão
infância um exemplo típido caos, nossas mãos procuco da saga “sou de quem?”.
ram o corrimão da escada e
Quando criança ela era a
não encontram mais o apoio.
Ana da Fiinha; na adolescênOs primeiros passos são trôcia, porque passava parte do
pegos e a vontade de fazer o
dia vendendo remédios, se
caminho de volta ao óbvio é
tornou Ana da farmácia; se
grande. Mas, mesmo tateancasou e virou Ana do Beto; e
do às cegas, é inevitável não
quando teve filhos, ela messe encantar pelo cheiro da lima se identificava nas reuniberdade. A busca por si mesões escolares como Ana do
mo vale qualquer sacrifício.
Pedro e do João. Ana nunca
Se a escritura da sua vida
foi dela mesma...
não está em seu nome, expulse
Somos referências para os
logo os invasores e assuma seu
outros e também nos apoiaterritório. Faça como a cidamos neles para andar pela
de de Cláudio que, apesar de
vida. Essa é uma eficiente
abrigar tantos apelidos, é um
estratégia para sermos recosubstantivo próprio. Quem é
nhecidos na multidão de nocoletivo de muitas coisas acaba
mes e rostos que traduzem,
sendo sinônimo de nada.
Vox Objetiva | 55
DO RETRATO
À BRASILIDADE
Romulo Fialdini
artes
Exposições exclusivas para Minas Gerais recebem mais de 25
mil visitantes e abrem espaço para públicos das mais variadas
classes
Lucas Alvarenga
N
as amplas e bem cuidadas
áreas de exposição da Casa
Fiat de Cultura, o reencontro
dos mineiros com os paulistas.
De um lado, a mostra “Olhar e
ser visto”, um recorte exclusivo
do acervo de pinturas de retrato
do Museu de Arte de São Paulo.
Do outro, “Tarsila e o Brasil
dos Modernistas”, o retorno da
artista, por meio de sua obra,
ao estado que transformou seu
modo de retratar a sociedade da
primeira metade do século XX.
Entre rostos e a exuberância
tropical brasileira, há uma ponte
não intencional que liga “Olhar
e ser visto” a “Tarsila e o Brasil
dos Modernistas” para além de
São Paulo. Em Descontrução,
João Luiz Musa
56 | Vox Objetiva
um dos núcleos da exposição de
pinturas de retrato, o retratado
aparece sob interferência de
objetos, pinceladas e ideias.
Neste sentido, a exposição
modernista sugere quase uma
continuidade à outra mostra,
embora sejam completamente
diferentes.
A prova é que, para o
coordenador do Masp e curador
da exposição “Olhar e ser
visto”, Teixeira Coelho, critérios
nacionais, regionais ou mesmo
locais não têm lugar na mostra de
retratos. “A grande ‘mensagem’
da arte, ao contrário da política
e da religião, é que somos parte
de um corpo internacional,
o único a ter sentido neste
mundo cada vez menor. As
obras foram selecionadas não
por serem de artistas italianos
ou brasileiros ou paulistas
(ou mineiros), mas porque se
inserem na temática em questão
(o retrato) em suas diferentes
modalidades. Há ocasiões em
que o ‘público mineiro’ terá
suas características específicas
de produção e consumo de arte,
há outras em que o públicomineiro é um público-mundo
e como tal merece e deve ser
tratado”, esclarece Coelho.
A pintura, antes voltada à retratação da
figura, em “O recurso à cena” o ambiente
se torna mais explícito e amplo, o que
propõe maior grau de complexidade à
obra. Um exemplo é “A Roda”, de Henri de
Toulouse-Lautrec
Aos olhos do outro
De frente para o primeiro
núcleo da exposição “Olhar e
ser visto”, crianças da Fundação
Torino olham atentos para os
quadros, de forma a percorrer
cada pintura. Dali surge o
comentário de que “A moça do
quadro tá vestida pro baile de
15 anos”. Imponente, a obra
vista pela garota de quatro
ou cinco anos tem o intuito
de retratar, provavelmente,
uma figura pública ou um ego
inflado já no século XIII. Para
Teixeira Coelho, a aspiração de
ser visto pela ótica do outro é
algo permanente nas artes. “De
modo geral, existimos em larga
Influenciada pela cultura francesa desde
a infância na Fazenda São Bernardo, em
Capivari, São Paulo, Tarsila se põe a pintar
o símbolo maior da França em meio ao Rio
de Janeiro, em “Carnaval em Madureira”. Um
claro sinal de deglutinação do estrangeiro
modernista”, resume Regina,
também curadora da Pinacoteca
do Estado de São Paulo.
Da exuberância das formas
e do uso de figuras geométricas
por Tarsila até o submundo
representado por meio do preto
e branco das telas de Oswaldo
Goeldi, o que se vê na mostra
é a tentativa de se criar um
conjunto de imagens “do” Brasil
e “para” o Brasil. “Os núcleos
não são estanques. Certas obras
poderiam estar em outros
lugares, dialogar fazendo um
percurso de ida e vinda”, lembra
Regina Teixeira. Há dois anos
com o projeto, a curadora destaca
algumas obras como “Carnaval
em Madureira” de Tarsila, em
que a Torre Eiffel surge em meio
à favela carioca, “Samba”, de
Di Cavalcanti, representação da
alegria de viver do brasileiro e
“Flora Tropical”, de Militão Dos
Santos.
explica a exposição. “A partir da
Renascença as obras propõem
o mundo exterior e o mundo
interior
das
personagens
retratadas. Não é mais como
antes, quando apenas o exterior
era visível. Agora, a essência
aparece e a aparência é essencial.
O que ocorre com a arte mais
recente é que elas põem em
cena tanto os retratados quanto
o próprio código estético a
que pertence o artista – como
sempre, aliás”.
Em “Busto de Homem (O Atleta)”, Picasso
mostra que a soma pode ser maior que o
todo, por meio dos múltiplos fragmentos
que compõem a cabeça da personagem
Extensão do saber
A figura xerocada no papel
ofício salta aos olhos de um
jovem da Escola Estadual Maria
Carolina Campos. Deslumbrado
com o fato de poder ver na sua
João Luiz Musa
medida para o outro e aos olhos
do outro. Excessos nesse sentido
transformam-se em patologias.
Mas não há dúvida que o
homem é o grande espetáculo
do homem”, expõe.
Dividida em seis núcleos, a
exposição privilegia o retrato,
um dos gêneros de arte mais
tradicionais e renovados que
se conhece. Da Renascença aos
dias atuais, o recorte exclusivo
do Masp apresenta pinturas
de van Gogh, Diego Rivera,
Picasso, Portinari; esculturas
e até mesmo uma fotografia,
que de acordo com o curador,
é por excelência a arte de
hoje. Teixeira Coelho também
De Minas para o Brasil
O ano era 1924. Tarsila do
Amaral vinha para Minas Gerais
com o “bando” dos modernistas
para visitar as cidades históricas
durante a Semana Santa.
Aqui, deu-se o reencontro que
marcou a carreira da artista. Em
contato com as cores caipiras
que aprendera desde cedo a
considerar como bregas, quase
rústicas, a pintora voltou à
infância e deixou como relato o
seguinte trecho: “Encontrei em
Minas as cores que adorava em
criança: azul puríssimo, rosa
violáceo, amarelo vivo, verde
cantante, tudo em gradações
mais ou menos fortes conforme
a mistura de branco”.
De volta a Minas Gerais por
meio das pinturas, a paulista
encabeça a mostra “Tarsila e o
Brasil dos Modernistas”, com
curadoria de Regina Teixeira de
Barros, pesquisadora da artista
desde 2006. “A obra dela sintetiza
um Brasil por meio de imagens
fortes e de uma simplicidade
de cores e desenhos. Talvez
seja esta herança que tenha
se perpetuado, influenciando
outros artistas do movimento
Vox Objetiva | 57
artes
frente “Antropofagia”, um dos
célebres quadros de Tarsila, o
rapaz de 14 ou 15 anos exclama:
“Olha! É o desenho de capa
do meu caderno”. Informado
sobre tal comentário, o diretorpresidente da Casa Fiat de
Cultura, José Eduardo de Lima
Pereira, não fez cerimônia.
“Nós privilegiamos os alunos
de escolas públicas nas visitas
orientadas. Sabe por quê? A
razão é simples. Ao chegar a
uma exposição, eles, diferente
de uma criança com outra
condição social, não estão
culturalmente preparados a
guardar suas reações. Eles são
mais espontâneos e curiosos.
Assimilam tudo. Por isso digo
que são como esponjas”.
O trânsito de diferentes
classes e culturas pela Casa só
acontece, de acordo com José
Eduardo, pois há programa
educativo para cada exposição.
“Este é o nosso grande ponto
de força, o programa educativo,
onde preparamos monitores
para atender diversos setores
da sociedade”, expõe o diretorpresidente, também diretor
executivo da montadora italiana.
Idealizado pela educadora e
artista plástica Vera Barros, o
programa capacita professores
e orientadores observando as
Sergio Guerini
Enquanto grande parte dos modernistas
se pôs a registrar a exuberância da fauna
58 | Vox
Objetiva
e flora
brasileira, Oswaldo Goeldi mostra
o submundo, como em “Casas”
características de cada exposição.
Em função do programa
educativo, a associação abriu as
portas para uma visita incomum.
Um grupo de dez jovens do
programa de Liberdade Assistida
visitou a área expositiva na tarde
do dia 31 de maio. Junto aos
visitantes, o diretor-presidente
da Casa Fiat caminhou corredor
por corredor, observou obra por
obra e constatou: “Os rapazes
ficaram fascinados com a
origem humilde de uma grande
parte dos artistas e como eles
alcançaram sucesso econômico e
social. A saída da marginalidade,
seguida de projeção, despertou a
curiosidade deles. E a curiosidade
deles despertou a minha”.
Atenção à cultura
Antes público e há cinco
anos provendo a cultura em
Belo Horizonte, o diretorpresidente da Casa Fiat recorda
suas origens. “Minha família
tem um pé na universidade e
outro nas artes, principalmente
a literatura, e em menor medida
na música e nas artes plásticas”.
Como fruidor das artes desde
cedo, o empreendedor, natural
de Belo Horizonte, coloca como
condição fundamental para o
trabalho que lá desenvolve a boa
visitação às exposições. E não é
a toa que o diretor afirma: “Não
há arte sem público”.
Ciente de que um visitante ao
se deslocar para Casa Fiat busca
a arte, primordialmente, José
Eduardo se lembra da descrença
com relação ao projeto. “Diziam
que o local era inadequado e que
não haveria público. Ora! Sou de
uma época em que havia cinco
orquestras em Belo Horizonte e
todas tinham demanda”.
Apesar de atingir os objetivos
traçados em 2006, a associação
reconhece a importância de
aproximar a arte do público.
Não é a toa que o presidente
da Fiat, Cledorvino Belini
assinou em março passado um
protocolo de intenções para
que a Casa possa se transferir
para o Palácio dos Despachos,
antiga sede administrativa
do Governo do Estado. De
acordo com José Eduardo, a
mudança ocorrerá até junho de
2014, embora a data possa ser
antecipada. Perguntado sobre
o planejamento para o período,
o diretor-presidente revela: “Já
está programada a exposição ‘O
mundo da Copa’, aproveitando
a onda do evento. Queremos
contemplar todos os países
sediados em Belo Horizonte,
quebrando tabus por meio da
arte por eles produzida”, conclui.
Informações:
Casa Fiat de Cultura
Endereço: Rua Jornalista Djalma
Andrade, 1250, Belvedere
Horários: terças a sextas, de 10h às
21h, e sábados, domingos e feriados,
de 14h às 21h
Contato: 3289.8900
Exposições e períodos: “Tarsila e o
Brasil dos Modernistas”, de 10 de
maio a 10 de julho de 2011 e “Olhar
e Ser Visto” de 03 de maio a 03 de
julho
Entrada e transporte – saindo da
Praça da Liberdade - gratuitos
música
E MISTERIOSA
Fernanda Carvalho
TURNÊ MÁGICA
Paul McCartney fez o público brasileiro abrir a janela dos anos de 1960 e imaginar os Beatles.
Independentemente da geração, Macca continua agregando fãs e lotando estádios
Fernanda Carvalho
E
le já é um senhor de 69 anos,
mas a vitalidade e energia
continuam a mesma daquele
Paul McCartney da década de
1960, quando a banda inglesa
mais famosa de todos os tempos foi criada. Confirmando a
pontualidade britânica, Macca,
como é chamado pelos fãs, subiu ao palco no estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro. Era
a última noite de uma série de
shows da Up and Coming Tour
no Brasil. Logo, os admiradores perceberam que McCartney estava um pouco diferente.
Dessa vez, de terno e com expressão um pouco mais séria,
abriu a noite ao som de Magical
Mystery Tour e transformou a
segunda-feira de trabalho em
pura magia.
Do Pará até o Rio Grande do
Sul, muita gente viajou o dia
todo para cantar com o astro
sexagenário. E não foram somente adultos ou idosos. O público era tão eclético quanto as
músicas dos Beatles. Cinco ge-
rações de beatlemaníacos curtiram juntas as quase duas horas
e meia de show.
Mônica e Sara Campos,
mãe e filha, foram ao espetáculo. Segundo Mônica, os Beatles
tinham um arranjo muito original. O interesse dos jovens
pelo som estaria na influência
que recebem de casa. “A Sara é
um exemplo disso. Ela herdou
essa admiração por influência
do pai. Curtir aquele momento
foi muito especial. Eu me sinto
feliz por ela ter identificação
com música de qualidade”, explica a mãe.
A plateia confirmou também
que não era a primeira vez que
presenciava o show. Durante
as 40 músicas, comentavam as
modificações, vibravam com
as canções repetidas e sabiam
tudo o que iria acontecer. Mas
Paul provou não ser assim tão
previsível. Mudou canções (tocou mais The Wings – banda
de McCartney), trocou o figurino, as frases, e até soltou um
simpático e carregado “Eu sou
Carioca!”, demonstrando que a
paixão pela cidade permanece a
mesma, desde a primeira visita.
A primeira vez do astro no
Brasil aconteceu em 1990, ano
que marcou a história do cantor e também a do país. O show
no Maracanã deu a Macca um
lugar no Guinness: 184 mil pessoas lotaram o estádio.
Pouco tempo depois, em
1993, os brasileiros teve mais
uma chance de curtir um show
do ex-Beatle. Na ocasião, Paul
incluiu São Paulo e Curitiba na
New World Tour. A turnê chegou
ao Brasil justamente quando era
lançado o disco Paul is Live, com
capa na clássica Abbey Road,
ironizando a lenda que dizia que
Macca estava morto e fora substituído por um sósia.
Depois de dezessete anos
sem voltar ao país, mais uma
vez, McCartney comprovou
que realmente está vivo. Retornou e fez esgotar, em menos de
uma hora, a venda de ingressos
Vox Objetiva | 59
música
da primeira noite de apresentações em Sampa. Uma marca que
somente um ex-beatle como Paul
McCartney poderia alcançar.
O retorno de Sir. Paul ao
Brasil deixou o público eufórico. Sara Campos, estudante de
psicologia, ficou no setor mais
próximo ao palco no primeiro
show de McCartney no Morumbi, em 2010. Para ela, a performance deste ano teve uma
energia muito forte. “Era muita
expectativa. Fazia anos que o
Paul não pisava em solo brasileiro. Os fãs estavam sedentos.
A plateia estava louca”, conta.
Em 2011, foi a vez do público impressionar o astro. Vários
dias antes de uma das apresentações da turnê, fãs de diferentes partes do país organizaram
“São Paul”
“Quem conhece os Beatles
desde o berço, ama os Beatles
desde o berço”. É o que acredita
o vocalista da banda cover Hocus Pocus, Vladimir Magalhães.
Para ele, Paul McCartney representava no grupo o músico formal, com arranjos mais clássicos,
mas com pitadas de experimentalismos. “Ele se sobressaía na
banda como multi-instrumentista (piano, guitarra, baixo, violão,
bateria, órgão, melotron, flauta).
Seus vocais, das baladas mais
suaves aos rocks mais agressivos, são sempre impecáveis, ou
melhor dizendo, fabulosos”, explica o músico.
Magalhães, que com pouco
mais de dez anos foi presenteado
pelo pai com uma fita cassete do Beatles, é um fã de carteirinha. A paixão era tanta que ele decidiu montar uma banda cover antes mesmo
de aprender a tocar. Depois de uma
década de contato com o trabalho
dos antigos garotos de Liverpool,
Vladimir se decidiu quanto ao integrante favorito. “Hoje sou obrigado
a dizer que é o Paul McCartney, por
tê-lo assistido ao vivo. Mas essa é
uma pergunta sempre difícil de responder. O impressionante no caso
do Paul, e também dos Beatles, é
o quanto uma música gravada há
quase 50 anos ainda soa interessante e pertinente para os jovens de
hoje e de amanhã”, assegura.
Mônica Campos sabe muito
bem o porquê de Paul McCartney ainda ser tão adorado. “O
valor dele é também por qualidades próprias como pessoa,
indivíduo. Além da criatividade
musical, o ex-beatle leva para o
palco beleza, simpatia, carisma
e educação”, explica. Paul vive
o momento junto com o público.
Esse talvez seja um dos segredos
de tanto sucesso.
Fernanda Carvalho
60 | Vox Objetiva
uma homenagem ao cantor.
Levaram ao Engenhão placas a
inscrição “Na”, referenciando
Hey Jude, e balões coloridos, se
referindo ao piano que o cantor
geralmente usa para tocar a canção. A instrução era para que as
pessoas levantassem as plaquinhas e os balões quando cantado
o refrão. Paul e banda acolheram
a homenagem com sorrisos de
surpresa.
Na noite seguinte, o mesmo
“Na” fez o público se emocionar na saída do estádio. Depois
de ter voltado ao palco com os
“NaNaNa’s” de Hey Jude, grande parte da multidão deixou o
estádio cantando o mesmo refrão, preenchendo todo o espaço
dos corredores que davam para a
saída: uma cena pra ficar na memória para o resto da vida.
Não satisfeita, Sara também
foi à segunda apresentação realizada no Rio. Para ela, um
presente. “Nas duas, em 2010
e 2011, eu pulei, cantei e me
emocionei feito louca. Nesse,
mesmo nos momentos em que
eu já sabia o que ia acontecer,
como alguns vídeos e efeitos,
a emoção foi única. Mal tinha
caído a ficha do primeiro
show e veio esse segundo”,
explica.
Nas duas apresentações,
Paul não deixou de prestar
uma homenagem a John
Lennon e George Harrison. Para Mônica Campos, o momento mais
emocionante foi quando Paul McCartney
entoou Something,
em homenagem
a Harrison. “Eu
gostei muito, foi
o que mais me
tocou”, afirma
Mônica.
Existe vida pós Beatles!
Em 1970, os Beatles se separam. Apesar do fim
da banda, Paul não ficou sentado em uma cadeira
de balanço esperando a vida passar. Até porque
ainda era jovem, só tinha 28 anos. O dono do baixo
de uma das maiores bandas do planeta continuou
na ativa. Aliás, continua.
Logo depois de se despedir dos companheiros de
banda, começou a escrever nova história em outra.
McCartney cresceu e produziu o seu primeiro disco
solo, McCartney (1970), que contava nos vocais com
a mulher, Linda McCartney. Não demorou muito
para que viessem o segundo e o terceiro discos pósBeatles. A diferença é que o terceiro trabalho solo
de Paul, saiu com a assinatura de The Wings. Já na
estreia, o álbum Wild Life (1971) ganhou disco de
ouro nos EUA.
Foram mais dez anos com os Wings. A banda
lançou, ao todo, sete álbuns de estúdio e um ao
vivo. Todos os discos gravados durante a existência
da banda ganharam certificações de vendagem.
Foram dez discos de ouro, sete de platina e um
Guilherme Reis
disco de platina triplo. Os destaques da discografia
do Wings foram: Red Rose Speedway (1973), Band on
the Run (1973) e London Town (1978). Apesar das
mudanças constantes na formação da banda, Paul
McCartney mostrou que sua música tinha enorme
qualidade ainda que sem o suporte dos demais
beatles. Claro que juntos eram melhores.
Se Paul continuou trabalhando depois do
término dos Beatles, por que não continuar depois
de Wings? Foi o que fez. Macca ainda produziu
mais 13 álbuns de estúdio. O último deles é Memory
Almost Full de 2007. Ótimo, diga-se de passagem.
Os números de Paul são incríveis. Ao todo,
contando com a trajetória nos Beatles, The Wings
e carreira solo, são 41 álbuns de estúdio lançados.
Um detalhe: a qualidade é a mesma. Por onde
passa, Macca é reconhecido e leva milhões de
pessoas aos seus shows. A grande sacada é
construir uma linguagem musical atemporal e de
fácil entendimento para todos. Coisa de beatle,
coisa de gênio.
BIG
Ciclovias: BH ganha mais uma alternativa de transporte e lazer.
Obra. Muita obra. Com planejamento, eficiência e uma lógica que faz tudo se encaixar. Agora, a
Prefeitura de Belo Horizonte traz mais uma novidade: o programa Pedala BH, que vai implantar
dezenas de ciclovias pela cidade.
Para começar, serão construídas as ciclovias da Risoleta Neves, de Venda Nova, do Barreiro, da
Américo Vespúcio, da Avenida dos Andradas e a ciclovia da Savassi.
Novas ciclovias. Mais uma alternativa de transporte e lazer para a cidade.
Prefeitura de Belo Horizonte.
A cidade não para de melhorar porque a Prefeitura não para de trabalhar por você.
Ciclovia Savassi
Ciclovia Américo Vespúcio
Ciclovia Barreiro
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BHTRANS. É a Prefeitura fazendo tudo para você chegar melhor.
Informações
Disque 156
www.bhtrans.pbh.gov.br
Vox Objetiva | 61
literatura
SEXO!
Em novo lançamento, Mary Del Priore discute os tabus da
sexualidade e as regras sociais brasileiras do período colonial
à contemporaneidade
André Martins
H
á quem acredite que a melhor maneira de se conseguir atenção é pronunciar a
palavra que intitula esta página.
A razão parece óbvia. Sexo tem
apelo popular. Em segredo ou
não, ele ocupa lugar na vida individual e coletiva. Histórias íntimas – sexualidade e erotismo na
história do Brasil, da historiadora
Mary del Priore, é o resultado
de uma investigação profunda
sobre a história do sexo e da sexualidade em nosso país.
Conhecida por confluir história e literatura, Mary, vencedora dos prêmios Jabuti e Casa
Grande & Senzala, acaba de
lançar o vigésimo nono livro.
Em Histórias íntimas, entretanto,
a prosa é deixada de lado. A autora adota uma redação descritiva, traçando um interessante e
rico panorama do século XV até
o momento atual.
Além de consultar uma extensa bibliografia, Mary ouviu
diversos especialistas. Tamanho
empenho resultou em uma obra
agradável, disposta de maneira
leve e “viciante”. Assim como
Moacir Scliar expôs no prefácio,
a história pode ser trabalhada
de diversas maneiras. E Mary
del Priore sabe, como ninguém,
torná-la convidativa. Por isso,
Histórias íntimas é um achado.
Indispensável àqueles que desejam descobrir passado e presente por meio de um enfoque
62 | Vox Objetiva
que transcende o prazer.
Abaixo, a Vox apresenta as
principais questões que pontuam esse detalhado manual de
pesquisa sobre um povo e sua
maneira peculiar de encarar o
sexo e tudo que a ele se vincula.
Para despertar o “apetite”
Há 511 anos, âncoras das
treze caravelas portuguesas comandadas por Pedro Álvares
Cabral eram lançadas no assoalho oceânico da costa brasileira.
Após uma longa e extenuante
viagem pelo misterioso Oceano Atlântico, os homens de
D. Manuel I encontraram uma
terra exuberante, de vegetação
herbácea, com comunidades de
aparente pequeno grau de complexidade. Os nativos viviam
assim como vieram ao mundo:
nus. Não demorou muito para
que os corpos ondulados das índias, a inexistência de panos que
lhes cobrissem as “vergonhas”
e o modo despudorado com
o qual lidavam com o corpo e
pensavam em sexo despertasse
a curiosidade branca. O demônio atentava, andava a espreita.
Parecia impossível esconjurá-lo.
No século XVI, os parâmetros de beleza eram diferentes.
A robustez estava em alta e se
refletia na arte renascentista.
Seios não haviam sido descobertos. Eróticos eram, acredite,
os pés, fetichizados pelo univer-
so masculino até o século XIX.
Um descuido com a barra dos
vestidos e a aparição do tornozelo ou dorso de algum membro inferior era o suficiente para
levar os homens ao delírio. Prazer era algo relativo, permitido
apenas a eles. A luxúria, entretanto, era o passaporte para o
inferno, dizia a Igreja. O sexo
era mecânico. À mulher, não
eram permitidas reações. Ela
deveria ser apenas uma exímia
senhora e procriadora.
Nos 200 anos seguintes poucos avanços. Os romances e desejos continuavam reprimidos.
Vontades e propostas indecorosas ecoavam dos confessionários.
Nada que não fosse reparado
com penitências. Os galanteios
eram atípicos. Da janela, as moças
apreciavam candidatos escarrarem, assoarem o nariz e cuspirem
– rudimentares demonstrações
de virilidade do Homo sapiens.
Contudo, existia quem violasse as regras ao beijar de língua e
bulinar as parceiras. Modernos
também eram os poetas que criaram um vocabulário estarrecedor
para satirizar os conservadores
protocolos sociais.
Com a chegada da Família
Real Portuguesa no século XIX,
o Brasil se tornava o Império da
Lascívia. O descontrole sexual
era característica marcante em
ries e, décadas depois, o polêmico biquíni. As meias grossas e o
incômodo espartilho, tal como
num streptease, são banidos do
corpo e do guarda-roupas feminino. Um novo perfil de mulher
desponta no início dos 1900.
Apesar de neste período as
mulheres iniciarem um processo
de não-subserviência ao macho
e adquirirem autonomia, o discurso tradicionalista se manteve.
Preservar a virgindade, ser recatada e, arrumando marido, se
dedicar inteiramente ao lar eram
atitudes salutares. O divórcio,
por sua vez, era um infortúnio,
principalmente a elas, as responsáveis pela preservação da união.
Enquanto as meninas aprendiam
as tarefas domésticas e sonhavam
com o matrimônio perfeito, os
meninos exploravam as aventuras que a noite e as mulheres da
vida poderiam proporcionar.
Nas décadas de 1960 e 1970, o
Brasil é “assaltado” pela “revolução sexual”. O desejo de transgredir se confluía com o anseio
pela liberdade, cerceada pelo
golpe de estado. A TV, o cinema,
a indústria fonográfica e editorial, mesmo que controladas,
estimulavam o discurso do “vamos liberar”. O corpo da mulher
voltava a estar em evidência. As
discussões relacionadas à pílula
anticoncepcional colocavam em
choque comunidade científica
e Igreja. O feminismo, no Brasil
em menor grau, determinava
nos Estados Unidos e Europa
que era a vez das mulheres.
De 1970 a 1980, o Brasil se
surpreende com a escalada no
número de assassinatos de mulheres por seus próprios parceiros. O motivo era quase sempre
o mesmo: ciúme. Eles exerciam
cada vez menos controle sobre
elas. Daí para frente, o que se
viu foi uma menor preocupação
com o casamento. O bem-estar
individual passava a estar acima
de qualquer preceito.
Hoje, o perfil da família brasileira é diferente. O índice de lares chefiados por mulheres tem
aumentado rapidamente. Já não
é possível afirmar que casar seja
algo almejado como outrora. O
Brasil passa por um processo de
individualização. Descobrimos
que é possível viver melhor sós.
Melhor? Seria um mal de um
tempo? Seria um mal?
O século XXI parece repleto
de perguntas não respondidas.
Indagações que se impõem com
o dilatamento da palavra “liberdade” na vida social. Liberdade
sexual, inclusive. Muita coisa
mudou de 1500 para 2011. Entretanto, é nítida a maneira engessada com a qual pensamos a
sexualidade. Preconceitos e resquícios de uma sociedade onde
o homem ainda tem primazia.
O tempo é um santo remédio e
o senhor da razão, dizem. A história é fascinante e ininterrupta e
cabe a nós darmos novos rumos
a ela. O livro de Mary Del Priore
é um bom começo para entender
em detalhes uma trajetória de
tantas transformações.
Pós-doutorada na École dês
Hautes Études em Sciences
Sociles, de Paris, Mary del Priore
lança um novo olhar sobre nosso
passado com “Histórias íntimas“
Vox Objetiva | 63
Fernando Rabelo
D. João VI e, mais tarde, na figura
de seu herdeiro, o voraz D. Pedro I, que tinha maior apreço por
uma de suas amantes, Domitila
de Castro, do que pela própria
esposa, dona Leopoldina. Antes
que o filho colocasse em perigo a
credibilidade da Realeza, Carlota Joaquina, a princesa brasileira
adúltera, havia mandado matar a
facadas a mulher de um de seus
muitos amores. Nunca se pensou
tanto com a “cabeça de baixo”.
Apesar da libertinagem, o
sexo se mantinha como tabu entre a sociedade, e a Igreja como
a instituição que prezava pelos
bons costumes. José e Maria ainda eram como modelo de casal.
A masturbação, o coito e as carícias genitais eram condenadas.
O sêmen era considerado um líquido precioso que não poderia
ser desperdiçado.
Curiosamente, é nesse contexto que o mercado editorial se
expande. A literatura pornográfica ganha adeptos e, mais tarde, se torna tecnicamente mais
refinada. Os desenhos grosseiros dos periódicos apimentados
do Império davam lugar às fotografias de artistas e prostitutas francesas que se exibiam de
maneira comportada até. As doenças sexuais começavam a ser
debatidas. Aborto, nem pensar!
A homossexualidade era considerada depravação por uns e
doença por outros. Além deste
“grave desvio”, a “corrupção de
menores”, a pedofilia, acreditem, já preocupava especialistas
no desfecho dos 1800.
No século XX, o vento da
transformação começava a varrer o país. De acordo com estudiosos, é neste século que o corpo é descoberto, no real sentido.
A mulher passa a se despir para
a arte e prática esportiva. Do exterior chegam as primeiras linge-
vox cultural
ias
estre
No escurinho do
cinema
X-men
primeira classe
Meia noite
em Paris
Direção: Woody Allen
Gênero: Comédia
Distribuidora: Paris Filmes
Estreia: 17 de junho de
2011
Depois de Barcelona
(com Vicky, Cristina, Barcelona), Nova York (com Tudo
pode dar certo) e Londres
(com Ponto final), chegou a
vez de Allen reverenciar e homenagear a Cidade Luz.
Meia noite em Paris tem esse significado. O filme abriu
o Festival de Cannes, tendo sido muito bem recebido
pela crítica.
Como não poderia deixar de ser, o novo filme de
Allen é repleto de personagens neuróticos. O casal em
crise, o personagem que não acredita existir alguém
mais infeliz que ele, uma família que se vê obrigada a
mudar para a capital francesa. Em meio a tantas desilusões e decepções, esses personagens se encontrão, o
que dará origem a situações tragicômicas.
No elenco, Marrion Cotillard (Piaf – um hino ao
amor), Adrien Brody (O pianista), Kathy Bates (Louca obsessão) e a primeira-dama francesa Carla Bruni
(Paparazzi).
Direção: Matthew Vaughn
Gênero: Ação
Distribuidora: Fox Film
Estreia: 3 de junho de 2011
Magneto (Michael Fassbender – Aquário) e Professor
Charles Xavier (James McAvoy – O último rei da Escócia)
têm o passado revelado no
novo longa. O longa explica
como os X-men se conheceram, reuniram e os motivos
que levaram Magneto e Professor Xavier, antes companheiros, a tornarem-se arqui-inimigos.
A história se desenrola na década de 1960, quando
União Soviética e Estados Unidos quase protagonizaram
a 3ª Guerra Mundial por conta da crise dos mísseis de
Cuba. Os eventos históricos e suas consequências são relacionados à atuação dos integrantes do grupo, que tentam impedir que o conflito aconteça. O máximo uso da
força por parte da URSS e EUA interessaria unicamente
a Sebastian Shaw (Kevin Bacon – O lenhador), mutante
que possui capacidade de concentrar toda espécie de
energia e convertê-la em força.
Sem dúvidas, o mais inteligente filme da franquia. No
elenco, um conjunto de jovens promessas de Hollywood que
inclui, além de Fassbender e McAvoy, Rose Byrne (Adam), Jennifer Lawrence (Inverno da alma) e January Jones (Mad men).
A árvore da vida
Direção: Terrence Malick
Gênero: Drama
Distribuidora: Imagem Filmes
Estreia: 24 de junho de 2011
O grande vencedor do Festival
de Cannes 2011, A árvore da vida se
relaciona a dois assuntos tratados
de maneira paralela, porém quase
indissociáveis: a criação de filhos, os
reflexos desse contato – representação
que se dá por meio de uma família
americana inserida na década de
1950 e, especialmente, de um garoto
64 | Vox Objetiva
que anos mais tarde, já homem, sofre
com as lembranças do passado – e o
existencialismo.
Estrelado por Brad Pitt (Clube da
luta) e Sean Penn (Sobre meninos e lobos),
o filme de Terrence Malick apresenta
diversas imagens de impacto que dão
conta da criação do universo, a força da
natureza e os reflexos da passagem do
tempo. Tudo para delinear a dicotomia
início e fim, vida e morte – que de forma
sutil e delicada é tratada na obra. Hoje,
A árvore da vida é considerado o maior
favorito às premiações americanas.
MENTE
ABERTA
21
Adele
Sony Music
Preço: 26,90
Aos poucos Adele vai colhendo os louros que,
ninguém duvida, lhe são dignos. Com apenas 23
anos, a cantora inglesa tem conseguido solidificar a
carreira, iniciada em 2008. Hoje, de acordo com o jornal
inglês The Guardian, Adele é a personalidade mais
importante da industria fonográfica mundial. E por
essa, Lady Gaga não esperava.
O nome da moça demorou a retumbar por aqui,
tanto que o novo álbum da jovem, 21, só chegou às
prateleiras das lojas brasileiras no fim de abril. A
cantora, que conflui soul, folk e jazz no repertório,
emplacou algumas das canções do disco de estreia, 19,
nas paradas de sucesso inglesas e conheceu o sucesso
de maneira quase instantânea.
O novo trabalho, se não é equivalente, é superior ao
primeiro. 21 significa muito. Além de ser o álbum que
vem projetando Adele para o mundo, as 11 canções
que o compõe são o resultado do recente rompimento
dela com o namorado. A grande maioria delas músicas
faz referência à separação. Algumas flertam ainda com
a música country. É nítida essa influência americana.
Nos EUA, Adele foi muito bem aceita, o que nem
sempre é fácil para uma estrangeira.
O destaque de 21 fica por conta da excelente Rolling
in the deep, música que abre o disco, Turning tables, a
mais badalada do álbum, e Lovesong, uma bossinha
que só faz lembrar a musicalidade brasileira. Se você
não conhece, vale a pena dar uma única chance. É o
suficiente.
O segredo dos seus olhos
Blu-ray
Europa Filmes
Preço: R$ 29,90
Benjamín Espósito (Ricardo Darín – Nove Rainhas)
é um funcionário público aposentado pelo Tribunal
Penal argentino que decide escrever um livro sobre um
caso em que esteve envolvido anos atrás, o assassinato
brutal de Liliana Coloto (Carla Quevedo).
Entre as recordações e o tempo presente, Espósito
se reencontra com a antiga chefe e eterno afair Irene
Menéndez (Soledad Villamil) peça importante na
captura do assassino. O processo de rememoramento
leva Benjamín a fazer novas descobertas a respeito dos
envolvidos, algo absolutamente inesperado.
O filme não segue uma sequência cronológica. Por
meio da edição, o espectador transita entre o presente
e o tempo das investigações, há 25 anos, quando,
revirando as provas do caso, Espósito percebe que as
fotografias e olhares impressos em álbuns familiares
da vítima poderiam levar ao assassino, que estava mais
próximo da jovem do que se podia imaginar.
Em 2009, O segredo dos seus olhos se tornou o segundo
filme argentino a vencer na categoria de melhor filme
estrangeiro do Oscar. A obra é dirigida por Juan José
Campanella e baseado no romance La pregunta de sus
ojos, de Eduardo Sacheri. Interpretação inspiradíssima
de Darín, talvez o maior ator sul-americano hoje.
O blu-ray de O segredo dos seus olhos apresenta
formato de tela widescreen e áudio dolby digital 2.0.
Espanhol e português são as línguas opcionais de
idioma. Inglês e português as opções de legenda. Não
contém extras.
Vox Objetiva | 65
piadas
Rir faz bem
Sorrir também
CLONE
O sujeito entra no bar, já mais pra
lá do que pra cá, quando olha pra
única mulher dentro do buteco.
Cambaleando ele vai até lá, põe a
mão na perna dela e dá um abraço.
A mulher vira e dá um tapa na
cara dele:
- Desculpa, dona. Eu pensei
que fosse minha mulher. Ocê é
igualzinha a ela!
- Sai daqui, seu bêbado.
Vagabundo, sem-vergonha,
safado...
- Tá vendo! Você também fala
igualzinho a ela!
LAGOSTA
- Ei, garçom! Esta lagosta que
você trouxe está sem garras!
- É que as lagostas que servimos
são tão frescas que brigam na
cozinha umas com as outras e
acabam arrancando as garras.
- Tá bom. Então leve esta de
volta e trás a que ganhou a
briga.
66 | Vox Objetiva
ck
Xch
ng
PROPAGANDA
O menino vinha subindo a rua
com um balaio cheio de laranjas e
gritando:
- OLHA A LARANJA! OLHA A
LARANJA!
Um cara chegou na janela e
perguntou:
- É doce?
- Não, seu burro! Se fosse doce,
eu ia gritar: OLHA O DOCE!
OLHA O DOCE!
NO RESTAURANTE
O cara leva a namorada em um
restaurante japonês. Para tirar
onda, pega o cardápio, aponta um
nome e fala:
- Eu vou comer esse aqui, você me
acompanha?
O garçom, com a maior cara de
pau, informa:
- Acho melhor o senhor escolher
outra coisa. Esse é o nome do dono
do restaurante, e ele é campeão de
judô!
Stock Xchng
BEBUM
O bêbado fazia
o maior escândalo na
delegacia:
- Seu delegado. Só porque eu estava
ajoelhado no meio da estrada não
significa que eu estava bêbado! Nem
precisava me prender!
- E o senhor estar tentando enrolar
a faixa amarela no meio da
estrada? Também não
significa nada?
Stock Xchng
FEIURA!
Um pai, mais feio do que a fome
mostrava os trigêmeos recémnascidos para o amigo.
- E aí, o que acha?
- Bem... seu eu fosse você, ficava
com o da direita!
por Mário Brito
Sto
PROMESSA
- Neste ano novo, vou parar de
beber.
- Parar? Você está maluco?
- É que toda vez que eu bebo, vejo
tudo dobrado.
- E vai parar só por causa disso? É
só fechar um olho!
CORREIO
O capiau pergunta:
- Moço quanto custa mandá
uma carta pra Sumpaulo?
- Um real.
- E duas carta?
- Dois reais.
- E dez carta pra Sumpaulo,
quanto fica?
- Fala logo quantas cartas o
senhor quer mandar, que eu faço
as contas de uma vez!
- Eu quiria mandá um baraio
intero!
O juiz apitou,
Vai ter prorrogação.
A promoção
“Marque um golaço
com o BMG Card”
agora vai até
31 de agosto.
Campanha válida até 31 de agosto de 2011.
Devido ao grande sucesso, o BMG decidiu prorrogar a promoção que está fazendo a torcida pular de
felicidade. Agora
você, servidor do Governo de Minas, tem até o dia 31 de agosto
para solicitar o seu BMG Card e garantir a camisa oficial do seu time com a maior facilidade.*
E tem mais: com o seu BMG Card, você tem 10%** de margem extra para
o cartão consignado, com a comodidade de fazer compras em toda
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Consulte o regulamento no www.bancobmg.com.br e veja como é simples.
Ligue 0800 723 3113 ou procure um correspondente autorizado.
*Somente para servidores efetivos. Consulte o regulamento no www.bancobmg.com.br. **Refere-se à margem
consignável em folha de pagamento, estabelecida por ato legal, e fixada em 10%, para fins de pagamento da
fatura de cartão de crédito. Promoção válida para camisas dos times do América, Atlético, Cruzeiro, Flamengo,
Vasco, Coritiba, Santos ou São Paulo. Aprovação do crédito sujeita à margem consignável e às especificações
contratuais e critérios das autarquias e órgãos públicos. Os empréstimos e financiamentos aqui descritos
são produtos do Banco BMG S.A., oferecidos através de seus correspondentes autorizados. Juros de 4,99%
a.m. e 59,88% a.a., CET máx. 5,49% a.m. e 81,26% a.a. Consulte as taxas, prazos e demais condições para
concessão do empréstimo/financiamento em um correspondente autorizado BMG. Ouvidoria: 0800 723 2044.
BACEN: 0800 979 2345. SAC: 0800 979 7050. SAC Deficientes Auditivos: 0800 979 7333.
Gente que entende você

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