o sertão vai virar deserto - Unimontes
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o sertão vai virar deserto - Unimontes
impunidade Fora dos campos Desembarque Cadeia se torna realidade distante para os bandidos A difícil aposentadoria dos jogadores longe dos gramados Casa Fiat apresenta obras da Renascença à arte moderna Maio/2011 Edição 23 | Ano III R$ 9,90 O SERTÃO VAI VIRAR DESERTO O X to m eo Pr ev iew M in as Tre nd IG Ê N IO D A M da sp ró xim as es ta çõ es O D A O desmatamento sem controle ameaça uma das regiões mais pobres de Minas. O que já é difícil pode piorar em duas décadas IMAGENS MERAMENTE ILUSTRATIVAS (31) 3333 0071 Informações T-Shirt Lacoste Blusa Malha Ecko De: 179,00 De: 89, por: 00 Calça Jeans Diesel De: por: 1399,00 659, Tênis Nike Waffle Racer De: 199,00 masc. e fem. 90 + 20% off 00 Calça Jeans Levis 399,00 00 Polo Tommy Hilfiger 298,00 00 899,00 265,00 Bermuda Billabong 179,00 99, por: 00 Camisa Polo Ralph Lauren De: 149, por: por: De: 159, por: De: 89, por: De: 99, por: De: 00 189,00 Camisa Armani por: 499,00 349,00 Calvin Klein Jeans Ecko Unltd Ralph Lauren M.Officer Nike Tommy Hilfiger Lacoste Puma Zak Billabong Le Lis Blanc Levis M&Guia E MUITO MAIS! Fácil Localização: Na Cidade Industrial, em frente à Trincheira. editorial 4 | Vox Objetiva Um retrocesso sem explicação CARLOS VIANA - EDITOR CHEFE | [email protected] M inas Gerais escolheu um tema de campanha que ficou famoso durante os últimos nove anos de governo: “Minas Avança”. Criado para mostrar os números positivos do Estado, a frase estampou anúncios e foi citada centenas de vezes em comerciais de rádio e televisão. Mas infelizmente, esse mesmo slogan pode ser usado também de uma forma muito negativa. Aos mineiros, pelo segundo ano consecutivo, foi entregue o triste prêmio de estado que mais destruiu a Mata Atlântica. Ameaçada de extinção em todo o país, o eco sistema mais significativo das regiões sudeste e nordeste vem sendo alvo de programas de proteção ambiental que nos permitem manter viva a esperança de uma sobrevivência para a floresta que já ocupou quase 85% de toda a costa brasileira. Mas ao contrário de nossos vizinhos, Rio de Janeiro e São Paulo, Minas avançou e muito sobre as matas e permitiu que centenas de hectares fossem desmatados de forma autorizada pelas autoridades ambientais. Nesta edição de Vox Objetiva, estamos mostrando como a destruição da Mata Atlântica está sendo feita de forma sistemática nas regiões mais pobres do estado. As autoridades municipais alegam falta de amparo legal para impedir as queimas de troncos e galhos transformados diariamente em carvão. Secretários e prefeitos afirmam categoricamente que as empresas responsáveis pelos desmatamentos exibem as licenças de operação concedidas por instâncias superiores. O resultado da falta de controle, e principalmente da falta de fiscalização, é o diagnóstico de especialistas informando que, se a falta de preservação continuar, em duas décadas pelo menos um terço do território mineiro poderá se tornar semelhante a um deserto. Nas áreas onde a mata deu lugar a pastagens e carvoarias, os sinais claros da mudança ambiental estão por toda a parte. As mesmas pesquisas mostram que o desmatamento, ao contrário do que dizem os defensores do corte indiscriminado, não traz nenhum progresso ou desenvolvimento econômico duradouro. As regiões onde a Mata já foi destruída são a prova de que muito acima do lucro está a necessidade de se garantir sustentabilidade. Cabe agora ao Governo de Minas, diante da denúncia, rever com urgência os vários projetos licenciados que estão promovendo livremente a destruição da Mata Atlântica. É hora de colocar um fim ao “avanço” que nos faz retroceder a um passado indesejado, sem respeito ao meio ambiente e ao futuro das novas gerações. Vox Objetiva | 5 sumário 12 entrevista O Código do Processo Penal e as polêmicas medidas cautelares 18 política “Troca-troca” partidário 22 cidades De Cingapura vem o estudo para o novo modelo de gestão para Confins 25 capa Enquanto o Governo move mundos e fundos para levar água ao semiárido mineiro, as florestas pedem socorro 30 educação Nova carga horária e grade curricular geram debates entre educadores 6 | Vox Objetiva João Izael Prefeito de Itabira “Se não fosse a mineração, possivelmente Itabira não seria a cidade com o potencial que é hoje.” Brizola Rodrigues O O CAMINHO CAMINHO PARA PARA O O FUTURO FUTURO ÉÉ CONSTRUÍDO CONSTRUÍDO COM COM RESPONSABILIDADE RESPONSABILIDADE SOCIAL, SOCIAL, DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ECONÔMICO EE RESPEITO RESPEITO AO AO MEIO MEIO AMBIENTE. AMBIENTE. Diretor do SENAI de São Gonçalo do Rio Abaixo. “As mineradoras são empresas que preocupam com a evolução, de participar no social, cultural e principalmente na educação.” Paulo Henrique Silva Aluno do SENAI de São Gonçalo do Rio Abaixo “Tô recebendo a bolsa de uma mineradora aqui da região. É um grande apoio, um grande incentivo.” Mário Werneck Ambientalista “Para que a mineração possa adequar sua gestão à sustentabilidade, é preciso estar atenta à participação da sociedade civil e cuidar das questões ambientais e culturais.” Nozinho Prefeito de São Gonçalo do Rio Abaixo “A mineração é uma atividade em alta no país e está gerando emprego na região.” Maria Dalce Ricas Superintendente da AMDA “Se a mineração for feita de forma ambientalmente responsável, vai causar impactos, mas também pode trazer benefícios sociais, ambientais e econômicos.” Carmém Lúcia Magela Presidente da ACIASGRA “Depois que a mineradora se instalou, toda casa tem mais de três pessoas trabalhando. Todo mundo começou a vender mais, ampliou o comércio.” Sueli de Oliveira Dir. Adm. da UNIPAC e Secret. do Desenv. de Barão de Cocais “A gente não pode imaginar que uma mineradora vá acabar com o meio ambiente, não existe isso. A gente não tem esse problema hoje.” Trabalhando a principal vocação de Minas. expediente 34 esportes Profissão: aposentado! 41 gastronomia Revista Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Comunicação Ltda., com escritório na rua Tupis, 204, sl 218, Centro Belo Horizonte, MG, CEP: 30.190-060. “... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) EDITOR E JORNALISTA RESPONSÁVEL Carlos Viana Festival Brasil Sabor 46 carros Conheça o imponente novo Passat DIAGRAMAÇÃO E ARTE Rodrigo Denúbila CAPA Rodrigo Denúbila REPORTAGEM André Martins Fernanda Carvalho Guilherme Reis Lucas Alvarenga Thiago Madureira DIRETORA COMERCIAL Solange Viana ATENDIMENTO, ANÚNCIOS [email protected] (31) 2514-0990 SUGESTÕES, CRÍTICAS E RECLAMAÇÕES [email protected] (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br Tiragem: 20 mil exemplares Os textos publicados nesta edição da Vox Objetiva, em forma de reportagens, são de responsabilidade direta dos editores. Os textos publicados em forma de colunas, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores. 8 | Vox Objetiva 48 cavalos Adestramento: elegância no passo 51 turismo As cores e sabores da Terra Santa 56 arte Exposições em Belo Horizonte revelam olhares diferentes sobre as transformações na sociedade humana 61 música Paul, o retorno Vox Objetiva | 9 em foco Fundo Monetário Internacional ReincidEnTE Negócio da China Depois da pressão da oposição e da opinião pública, o ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, pediu demissão. O político foi apanhado em um surpreendente enriquecimento rápido com aumento de R$ 20 milhões no próprio patrimônio. Crescimento esse entre 2006 e 2010. Para substituir Palocci entra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), esposa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. O ex-ministro alegou que não pode revelar o nome dos clientes para quem a Projeto prestou serviço devido a uma cláusula de sigilo nos contratos. Palocci sai do ministério, mas nos bastidores não se acredita que ele irá deixar a proximidade com o poder. Wellington Pedro Genocida encontrado 10 | Vox Objetiva Divulgação Um protocolo de intenções para a instalação de uma unidade da empresa Xuzhou Construction Macchinery Group (XCMG) abre espaço para os chineses em Minas Gerais. Assinado pelo governador Antonio Anastasia (PSDB), o documento estabelece a instalação da primeira filial da empresa asiática fora do país de origem. A fábrica em Pouso Alegre, no Sul de Minas, deve gerar 600 empregos diretos e cerca de cinco mil indiretos. Maior empresa chinesa no ramo de máquinas pesadas, a XCMG produzirá no estado equipamentos destinados à construção civil. Para que a empresa viesse para Minas Gerais, o município de Pouso Alegre doou o terreno e reduziu tributos. Segundo o presidente da XCMG, Min Wang, o investimento, acordado na segunda metade de maio, será de R$ 334 milhões. A XCMG foi criada em 1989 e ocupa atualmente o sétimo lugar mundial no ramo de máquinas pesadas. As obras da filial estão previstas para agosto e o início da produção para 2012. Responsável pelo maior massacre depois da Segunda Guerra Mundial, Ratko Mladic foi preso e levado ao tribunal de Haia na Holanda após 15 anos foragido. O general sérvio vai enfrentar 11 acusações no Tribunal Penal Internacional. Entre elas estão genocídio, extermínio, assassinato, deportação, atos desumanos, atos de violência, ataques ilegais e sequestro, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. O genocídio ficou conhecido como “O massacre de Srebenica”. Mladic era o braço di-reito do presidente iugoslavo na época, Slobodan Milosevic, já falecido. Oito mil homens muçulmanos bósnios foram assassinados na região. O massacre aconteceu por omissão de 400 soldados da ONU que presenciaram a limpeza étnica sem esboçar a menor reação. Cesar Paes Barreto Terra sem lei Depois de quatro assassinatos em Rondônia e no Pará, o Governo irá criar um grupo interministerial para discutir os conflitos agrários na região norte do país. Os governadores de Roraima, Rondônia, Pará e Amazonas compõem o conselho. A ação interministerial será formada pelos ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Direitos Humanos, Secretaria Geral da Presidência e Gabinete de Segurança Institucional. Além das mortes de um agricultor e ambientalistas no Pará e Rondônia, a Comissão Pastoral da Terra divulgou às autoridades uma lista com 125 nomes de pessoas ameaçadas de morte. Segundo a Pastoral, os ameaçados não são bem protegidos e o pedido às vezes demora dois anos para sair. Enquanto isso as ameaças não cessam. Wikipédia Incêndio causado por bombeiros Um protesto de bombeiros em busca de melhores condições de trabalho e salários terminou em confusão no Rio de Janeiro. Os militares invadiram o quartel central da corporação e promoveram apitaços e manifestações. O Bope interveio, invadiu e repreendeu os manifestantes. Foram usadas bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. Além dos dois mil bombeiros, participaram também mulheres e filhos dos oficiais. A confusão terminou depois de 12 horas de negociação. 439 rebelados foram presos e liberados seis dias após a manifestação. Segundo Cabral, os presos responderão administrativamente e criminalmente. Os bombeiros cariocas recebem R$ 950 reais por mês. Vox Objetiva | 11 entrevista CADEIA AGORA SÓ EM ÚLTIMO CASO Uma alteração no Código do Processo Penal brasileiro dará aos autores de crimes de pequeno e médio poder ofensivo a possibilidade de responder em liberdade. Minstério Público e desembargadores estão em lado contrários. André Martins Carlos Viana Herbert Carneiro reconhece que a Justiça está longe do que deseja a população. “Boa parte dos brasileiros desconhece o trabalho do Judiciário” N o próximo dia 05 de julho entra em vigor no país uma das mudanças mais polêmicas do Código do Processo Penal brasileiro. Pelo menos 100 mil indivíduos presos provisoriamente em presídios de todos os estados poderão pedir a revisão da prisão preventiva por conta da nova legislação que cria uma série de medidas cautelares. A novidade inclui, por exemplo, determinar que o suspeito apanhado com uma pistola 9mm não deixe a cidade. O problema é quem vai vigiar o cumprimento da norma 12 | Vox Objetiva muito eficaz na Europa, mas distante de nossa realidade. As restrições deverão ser colocadas em prática antes de se decidir pela manutenção do encarceramento. A novidade vale para todos os crimes cuja pena não seja superior a quatro anos. Para representantes do Ministério Público que militam na área criminal, hoje existe a tendência da Magistratura brasileira aplicar somente pena mínima, o que permitirá, a partir das mudanças, que suspeitos de roubo que tenham invadido casas armados, criminosos apanhados em flagrante com fuzis, ou mesmo homicidas comuns, fiquem livres até o fim do processo. Defensor da medida, o desembargador mineiro Herbert Carneiro afirma que a mudança trará benefícios a milhares de presos cujos processos se arrastam por anos. Juiz há três décadas e desembargador há dois anos, Carneiro é uma das referências em todo o país no assunto. Em entrevista à Vox Objetiva, o desembargador reconhece que a nova lei 12.403 deverá ser acompanhada de uma Justiça mais rápida e mais transparente. VOX: Essa modificação no Código Penal foi determinada por quem? Ela foi discutida com a sociedade? CARNEIRO: É uma mudança do Código de Processo Penal que altera o título das prisões de liberdade provisória. A medida foi objeto de muita discussão. Ela é originária do Império, do projeto de lei 4.208, que já estava tramitando em longa data. Eu mesmo tive a oportunidade de participar de alguns debates. Naturalmente ela teve uma tramitação mais demorada no Congresso Nacional. O Supremo Tribunal Federal participou dessa discussão? Ao que me consta, não. Eu tenho ciência de algumas audiências públicas feitas, discussões no âmbito acadêmico e espaços jurídicos, mas não tenho notícia do envolvimento do STF na discussão dessa matéria. As mudanças acabam com a prisão preventiva? Não, isso é um equívoco. As prisões preventivas estão preservadas até com mais uma hipótese no caso de descumprimento das medidas cautelares impostas. O que alterou é que você não pode mais impor prisão preventiva para aqueles crimes cuja pena máxima não seja superior a quatro anos. São os crimes chamados de pequeno e médio potencial ofensivo. Crimes que muitas ve- Com essas alterações, o flagrante deixa de existir? Não. O flagrante está previsto na legislação e na forma do artigo 310. O juiz terá que examiná- Carlos Alberto zes você faz uma transação penal ou se sujeita a uma suspensão do processo no juizado especial. Ou crimes entre dois e quatro anos de prisão que o juiz, ao aplicar a pena, a substitui por uma restritiva de direito, uma prestação de serviços à comunidade, uma prestação peculiária, se o cidadão atender aos pré-requisitos do artigo 44 do Código Penal. Hoje, muitos dos autores desses crimes se sujeitam à pena privativa de liberdade. Às vezes, cumpre um tempo considerável de privação de liberdade, e o juiz, ao final da sentença, substitui a pena privativa de liberdade por uma restritiva de direito. Além disso, outro fator que possibilitou a não aplicação da prisão preventiva é o número exagerado de presos provisórios que o Brasil tem hoje. São quase 100 mil, segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça. Alguns deles com condição de, ao final do processo, ter a pena substituída. Não quer dizer que não se imponha nada ao cidadão que se vê obrigado a responder um processo por crimes de médio e pequeno potencial ofensivo. Não! Foi criado no título dez as chamadas medidas cautelares. Uma delas eu citaria, por exemplo, a possibilidade do cidadão ficar sob o compromisso de comparecimento perante ao juiz assim que intimado. Se não comparecer, o juiz pode converter essa medida cautelar em pena privativa de liberdade até que ele chegue ao final do processo. A possibilidade do cidadão ficar sob prisão domiciliar monitorado eletronicamente é outra medida cautelar prevista na lei. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, o Brasil tem hoje uma população carcerária estimada em 500 mil pessoas -lo sobre a sua regularidade e sendo regular ele terá que relaxar a prisão. O que diferencia é que podendo, o juiz converterá o flagrante em prisão preventiva. Nós temos a impressão que quanto mais a justiça dá benefícios, quanto mais se coloca presos no semi-aberto ou outra forma de acompanhamento, mais os índices de criminalidade aumentam. Há alguma relação? Os benefícios têm fundamento na Constituição Federal. Eu diria na própria questão da ressocialização e do reconhecimento da dignidade da pessoa humana. Uma coisa que o cidadão preso não deixa de ter. O sistema das nossas leis penais no que diz respeito ao sistema punitivo é o sistema progressivo de pena com contemplação meritória de condição ao cidadão de passar do regime fechado para o regime semi-aberto. Precisamos melhorar a qualidade do nosso sistema punitivo. Nós não podemos ter cadeias superlotadas, sem a mínima condição de humanização e de condição de ressocialização dos cidadãos. E mais do que isso, precisamos de uma estrutura fiscalizatória competente. Não adianta eu conceder ao cidadão a possibilidade de um trabalho externo ou de uma saída tempo- rária e não fiscalizar. Ele sai e, naturalmente, se não existir alguém que o fiscalize, ele simplesmente não volta. Há promotores da área criminal que afirmam que essa mudança no Código do Processo Penal vá não só levar a um sentimento de impunidade, mas impunidade a criminosos que cometem até homicídio, por exemplo. Eu ouso discordar dos promotores nesse aspecto, porque para mim o que moveu o legislador na alteração na legislação do processo penal foi exatamente para os crimes de médio e pequeno potencial ofensivo. Especialmente os de médio potencial ofensivo entre dois e quatro anos de pena, o que não é o caso, definitivamente, do homicídio. Para esses casos, havendo a necessidade, desde que o juiz faça de maneira fundamentada, ele pode, sim, decretar preventivamente a prisão do cidadão que responde ao processo criminal. A preocupação fundamental, na minha modesta visão, foi retirar a possibilidade de prender-se preventivamente grande parte dos cidadãos que se encontram presos preventivamente sob a alegação mais usada, de violação da ordem pública porque, Vox Objetiva | 13 entrevista por exemplo o cidadão cometeu o crime por mais de uma vez ou cometeu com algum grau de violência ou ameaça. Acredito que a 12.403 vai possibilitar, no primeiro momento, que a prisão deixe de ser regra no Brasil, que tem sido lamentavelmente, para passar a ser regra a liberdade. Se uma pessoa for pega em flagrante e todas as provas para uma futura condenação estarem anexas ao processo. Neste caso, a prisão preventiva não se aplica? Pode se aplicar. Por exemplo: se o juiz vislumbrar que o cidadão irá fugir a instrução criminal, que irá ameaçar uma testemunha, não irá comparecer para responder ao processo, ele poderá continuar a determinar a preventiva desde que encontre dados e fatos concretos que a justifiquem. Pela nova lei, temos a possibilidade de que presos sejam beneficiados com a soltura. Isso não é um processo perigoso? A sociedade vai entender isso? Nas situações de crimes de médio potencial ofensivo, não é justo o cidadão receber uma pena de dois anos e seis meses com uma restritiva de direito, com uma prestação de serviços à comunidade, e ficar na cadeia um ano aguardando essa sentença. Exemplo, o cidadão esta respondendo por um furto, mesmo feito em flagrante. Reconhecendo o juiz que não há motivos para prendê-lo preventivamente, ele vai substituir a pena privativa de liberdade por uma medida cautelar. O cidadão vai para a casa, às vezes até monitorado, e responde ao processo. Se ele não comparecer quando solicitado, o juiz pode decretar a prisão preventiva dele. Agora se ele responder regularmente ao processo, ao final ele não receberá uma pena privativa de liberdade, mas sim uma pena restritiva de direito. E o caso das vitimas? É justo ver um criminoso, um assaltante solto, depois de roubar pessoas, por exemplo? Claro que o lado da vítima deve ser visto. Mas o próprio legislador já criou meios de reparar os danos dos crimes patrimoniais às vítimas. Acho que nós temos que sentar e fazer uma grande discussão, até mesmo para fortalecermos no Brasil o instituto da justiça restaurativa, que recompõe a situação do criminoso e essa grande gama de cidadão condenados no Brasil hoje - são mais de quinhentos mil que se acham presos. Que nós repensemos os nossos instiCarlos Alberto Os desvios só poderão ser coibidos com efetividade a partir do momento em que os presos forem vistos como seres de direito 14 | Vox Objetiva tutos. Será que tão somente aplicar a pena privativa de liberdade também resolve? Será que a sociedade se compraz e acredita que o senso de justiça está feito a partir do momento em que o cidadão vai para a cadeia? Eu tenho certo receio em relação a isso. Se nós não melhorarmos a qualidade do nosso sistema penitenciário, garantindo a efetividade das penas, não adianta impor pena, pois o cidadão vai continuar cometendo crimes. Não teria sido melhor, ao invés de mudar a prisão preventiva, ter alterado o tempo de julgamento dos processos, fazendo com que a justiça agisse com mais rapidez? Há no presente momento no Congresso Nacional um projeto de lei visando alterar o código de processo. Há até mesmo por parte do presidente do STF, uma PEC – chamada PEC dos Recursos – que visa sintetizar, tornar mais célere e mais eficiente o nosso processo penal. Hoje, realmente, mercê de uma séria de dificuldades estruturais, de possibilidades de recursos, os mais variados, a tramitação processual no Brasil pode ser considerada lenta. Para isso, nós estamos acompanhando, junto ao Congresso Nacional, esse projeto que visa alterar o processo penal brasileiro dando a ele mais celeridade e mais efetividade. A mudança na lei abre agora a possibilidade para que os delegados determinem até a questão da fiança. Não é perigoso entregar às polícias em todo país, esse tipo de decisão? Houve uma alteração desse particular que, aliás, já existia. O que aumentou foi a possibilidade quanto à imposição da fian- André Martins Para o desembargado e juiz Herbert Carneiro, prisão é exceção. A regra é a liberdade ça. É preciso ficar claro que nós estamos em um país que prima por um processo penal constitucional onde se garante a ampla defesa, e judicialização do processo. Então, qualquer ação do delegado tem que ser levada imediatamente ao conhecimento do juiz, ao crivo judicial para regular com relação a sua legalidade e constitucionalidade. Esse processualismo da nossa justiça, não torna as decisões judiciais muito distantes do que deseja a população? Nós não poderíamos buscar outra forma de justiça que permitisse ao juiz agir mais fora do processo, dentro de uma decisão que atendesse ao clamor da população? Discute-se muito a judicialização do processo brasileiro, tanto o penal como civil. Também as questões de saúde e educação que são encaminhadas para a justiça. Nós estamos em um momento em que, mais do que nunca, precisamos trabalhar três situações diferenciadas: primeiro é preciso investir mais na questão da conciliação. O brasileiro precisa aprender mais a praticar o processo conciliatório, resolver os problemas sem necessariamente levar todos à justiça. Aí vale dizer mediação, arbitragem, a própria justiça restaurativa que é uma maneira mais informal e menos judicializada de resolver um problema, recompondo a situação conflituosa reiterando a reivindicação de condutas. É preciso reformular a nossa legislação do processo penal. Modernizar o nosso processo, o tornar mais célere e mais efetivo. Por último, eu diria a tendência é de virtualização, é de eletronização do processo. Para que no país exista mais pacificação social, este deverá ser o nosso caminho. Entre as dez instituições brasileiras mais conhecidas e pesquisadas pela Fundação Getúlio Vargas, a Justiça está em 7° na aprovação popular. O senhor acha justa essa reprovação do judiciário brasileiro? Acho que há uma má informação da sociedade quanto ao papel do judiciário. Penso que o judiciário tem amadurecido, tem evoluído. Na medida do possível, tem sido uma instituição do nosso tempo. É preciso continuar aprimorando a atividade judiciária do Brasil. É preciso que tenhamos leis feitas de maneira mais responsável, não achar que somente a aplicação de uma lei penal vai resolver o problema. Isso tem se mostrado ineficiente no combate à criminalidade. É preciso investir no judiciário, dar a ele mais independência, autonomia funcional para que seja uma instituição que responda aos interesses da sociedade. Mais do que isso, que cumpra seu papel institucional e seu papel legal. Agora, é necessário ter consciência. A sociedade precisa se debruçar cada vez mais sobre essa ação de cidadania e entender que o judiciário no Brasil tem cumprido o seu papel, ainda que com as limitações que apresenta. Total de Presos por Regime Provisórios Fechado Semi aberto Aberto Total 2009 17.647 6.196 8.292 3.730 35.865 * Dados de 2009 a maio de 2011 2010 18.745 11.155 6.370 1.336 37.606 2011 21.153 11.857 6.487 1.420 40.917 Vox Objetiva | 15 justiça Notas importantes sobre segurança e cidadania Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes Segundo informações da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, tendo como base os dados do Programa Disque Denúncia – conhecido nacionalmente como Disque 100 –, no período de 2005 a 2010, foram registradas 25.175 casos de exploração sexual contra crianças e adolescentes. Em Minas Gerais, o Disque Direitos Humanos (0800-0311119) também desenvolve sistematicamente uma campanha para incentivar as denúncias de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Fórum Brasileiro de Segurança Pública Em Brasília, aconteceu, em maio, o quinto encontro anual do Fórum que é, provavelmente, a principal instância da sociedade brasileira que, há cinco anos, problematiza as principais questões relacionadas à política de segurança 16 | Vox Objetiva em nosso país. De forma inovadora, o Fórum é composto por importantes operadores da segurança (policiais) e pelos principais estudiosos do tema. Mulheres no poder Durante a Assembleia Geral do Fórum foi eleita para presidir o conselho administrativo da entidade a Coronel Luciene Magalhães de Albuquerque. Ela sucede o delegado da Polícia Civil mineira, Jésus Trindade Barreto, na principal função administrativa do Fórum. Luciene é coronel reformada da Polícia Militar. Sua última função, ainda neste ano, foi a de Subchefe do Estado Maior da Polícia Militar mineira, instituição na qual ingressou em 1981, na primeira turma de policiais femininas do estado de Minas Gerais. Reforma policial Ainda durante o encontro do Fórum, uma conferência do Professor da Universidade Nacional de Quilmes, na Argentina, Marcelo Fabián Sain chamou a atenção dos Robson Sávio Reis Souza Filósofo especialista em Segurança Pública (CRISP/UFMG) e professor da PUC Minas [email protected] participantes. Marcelo foi interventor da Polícia de Segurança Aeroportuária da Argentina, sendo também o responsável por uma ampla reforma nessa polícia. A palestra comprovou que, com vontade política e com bons líderes, é possível transformar as organizações policiais. Além de apoio político, o professor deixou claro que as principais diretrizes que possibilitaram a reforma foram a focalização dos trabalhos dessa polícia nos seus objetivos (exclusivamente o combate ao crime, suprimindo todos os penduricalhos que impedem as polícias de exercerem efetivamente suas funções finalísticas); a mudança na cultura organizacional, com foco na eficiência, no mérito e nos resultados; efetivos mecanismos de controle externo; seleção e formação altamente especializada e por fim, o afastamento de toda e qualquer ingerência política nos processos policiais (uma polícia da sociedade e não do governo). mundo FRANÇA DESAPROVA CASAMENTO GAY Divulgação O governo da França novamente rejeitou o casamento gay durante debate realizado no início de junho no Parlamento. O partido socialista, oposição no país, foi o autor da lei reprovada. Em 1999, um contrato de união estável para casais homossexuais e heterossexuais foi criado pelo então primeiro ministro socialista Lionel Jospin (na foto). Era o Pacto civil de solidariedade, o Pacs. O relator do projeto e deputado do Partido Socialista francês, Michel Bloche, lembrou seu colegas que sete países europeus já reconheceram o casamento entre pesoas do mesmo sexo: Holanda, Bélgica, Espanha, Noruega, Suécia, Portugal e Islândia. O parlamentar também afirmou que, apesar da França ter sido “pioneira” com a criação do Pacs, está hoje “atrasada”. EM PROCESSO DE REEDUCAÇÃO A China defendeu o tratamento dado aos monges tibetanos que, segundo o Governo, estariam sendo submetidos à reeducação. A ONU pediu à potência asiática que revelasse o paradeiro de mais de 300 monges desaparecidos depois de terem sido cercados no monastério em abril. Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, os monges não foram detidos de forma ilegal. Ele ainda pediu para que os investigadores em direitos humanos da ONU agissem sem preconceito. De acordo com os exilados tibetanos, a repressão foi um revide à autoimolação de um monge e um protesto aparente contra o controle do governo em março. Divulgação/ USA Departament of State onwardtibet.org DE OLHO NO BANCO MUNDIAL A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton discute com a Casa Branca deixar seu cargo para assumir a presidência do Banco Mundial ano que vem. A Reuters, responsável pela informação, também garante que Hillary não tem planos de permanecer no Departamento de Estado, caso Obama consiga se reeleger. O porta-voz de Clinton e a própria secretária de Estado negaram que o desejo em ocupar o posto de presidente do Banco Mundial, caso o atual chefe da instituição, Robert Zoellick, deixe o cargo em 2012. Historicamente, o chefe do Fundo Monetário Internacional sempre foi europeu e do Banco Mundial, estadunidense. Vox Objetiva | 17 politíca Em queda de popularidade em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) criou nova legenda, o PSD, e acena para o ingresso dos que desejam abandonar as legendas onde foram eleitos Renatto d’Sousa/ CMSP POLÍTICA DO CAMALEÃO Conjuntura atual aponta para partidos políticos sem ideologias definidas e longe dos apelos da sociedade Thiago Madureira A lém da esperança vista em cada olhar brasileiro, o fim do regime militar e o restabelecimento da democracia trouxeram também uma enxurrada de partidos à política nacional. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirma a mudança histórica. Até 1979, o número de legendas era apenas duas, Arena e MDB, hoje soma 28. Caso sejam aprovadas outras nove solicitações regionais que tramitam no TSE, esse dígito pode alcançar surpreendentes 37. Os cientistas políticos concordam que a pluralidade partidária é base da democracia. Mas há limites. O que deveria ser uma constatação da representatividade política de todos os setores da sociedade brasileira, não passa, no entanto, de um embate de 18 | Vox Objetiva vaidades pelo poder. A formação dos partidos brasileiros, diferentemente da europeia, se distancia dos clamores sociais. “Em regra, os partidos não surgem de setores da sociedade que bradam por representação e buscam a expressão de seus interesses. No Brasil e em países da América Latina, essa formação está desatrelada à sociedade. Aqui, as legendas se dividem internamente e originam outras em função de conflitos pelo poder entre os próprios integrantes”, explica Helaine Sampaio, professora de Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. O cenário político brasileiro comprova que o surgimento das legendas não representa necessariamente novas posições ide- ológicas e programáticas. Pelo contrário. O Partido Social Democrático (PSD), fundado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, por exemplo, já nasce sem ideário. “O PSD não será de direita, nem de centro, nem de esquerda”, descreveu o fundador em artigo publicado no jornal “Folha de São Paulo”. Para alguns especialistas, Kassab constatou a falta de competitividade do Democratas (DEM), partido pelo qual foi eleito duas vezes. Estrategista político experiente, o prefeito paulistano percebeu que o antigo PFL vem pleito a pleito perdendo poder político em função da incisiva oposição ao Governo Federal. Para garantir o próprio futuro, criou uma sigla na qual pode caminhar de mãos dadas deia a perda de relevância dos ideais políticos, como explana Zauli. “É uma realidade presente nas democracias de um modo geral. Hoje, muito mais do que no passado, a decisão do voto é tomada não mais com base em programas e ideologias partidárias, mas sim levando-se em conta os problemas vivenciados pelos diferentes segmentos do eleitorado e na capacidade dos partidos políticos e candidatos de responderem de maneira convincente àqueles desafios”, diz. Um aspecto característico da dinâmica do sistema partidário brasileiro se relaciona com suas formas de adaptação às mudanças econômico-sociais que estão ocorrendo, apontando para o crescente protagonismo dos setores médios da sociedade. “Os progressos que vêm sendo obtidos no sentido da redução dos níveis de desigualdade social e na elevação do nível de renda da população, em virtude do crescimento econômico, certamente criarão nos eleitores novas disposições capazes de influenciar as decisões e demandarão dos partidos algum tipo de reacomodação”, pondera Zauli. Reforma Para alterar a celeuma partidária que caracteriza o quadro político atual - com a constante troca de partidos entre os parlamentares e o surgimento de novas siglas -, a reforma política continua sendo a única alternativa viável. Adiada e arrastada por oito anos durante o governo Lula, as alterações no sistema político-eleitoral, pelo andar da carruagem, não devem sair do papel tão cedo, já que pelo menos 300 propostas sobre o tema foram engavetadas nos últimos anos. Alterações pouco significativas, como a data da posse presidencial, devem ser aprovadas. No entanto, a reforma só será eficaz se os pontos centrais de discussão forem mudados. O que emperra são os múltiplos interesses dos próprios parlamentares. “As transformações devem valorizar os partidos políticos e, ao mesmo tempo, enfraquecer o Fábio Rodrigues Pozzebom /Agência Brasil com os tucanos em São Paulo, enquanto paparica os petistas em nível nacional. É o clássico torcer pra quem está ganhando, sempre vestindo a camisa do fisiologismo. Basta observar os políticos que entraram na escalação do PSD. Ali estão a senadora por Tocantins Kátia Abreu, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e dezenas de deputados federais e estaduais sem nenhum compromisso legendário. De acordo com o coordenador do Departamento de Ciência Política da UFMG, Eduardo Zauli, a sigla de Kassab em nada lembra o antigo PSD, partido do ex-presidente Juscelino Kubitschek, instituído na segunda metade da década de 1940. “O PSD ostentava uma organização e certo grau de enraizamento social que nem de longe se assemelha ao caráter incipiente da nova legenda que agora está sendo criada”. Visando eficácia eleitoral, uma tendência dos partidos brasileiros, assim como o PSD, é assumir uma busca pragmática pelo posicionamento de centro, aumentando também sua maleabilidade na formação de coligações. “Existe certa homogeneidade no discurso e nos programas políticos dos partidos para agregar e atender ao maior número de votantes possível”, frisa a professora Helaine. “Não se percebe atualmente grandes diferenças ideológicas entre os partidos, embora possam ser detectadas entre eles algumas tendências contrárias administrativas”, completa a linha de raciocínio o professor de Direito do Centro Universitário de Belo Horizonte Alexandre de Lima e Silva. Essa convergência desenca- Há mais de 60 anos no poder, José Sarney é um dos símbolos do personalismo brasileiro Vox Objetiva | 19 Para o professor de direito do UNI-BH Alexandre de Lima e Silva, existem poucas distinções ideológias entre os partidos políticos brasileiros a pesquisadora, não é preciso grande esforço. Basta observar a conjuntura política atual. Figuras que apesar de todas as denúncias e processos judiciais conseguem votações expressivas e comandam seus estados de origem. Dentre os diversos represen- Arquivo Público Mineiro Personalistas Enquanto os partidos brasileiros externam sua face oca e pouco integrada à sociedade, o personalismo político - fenômeno no qual os políticos adquirem demasiada evidencia eleitoral ganha espaço. Para alguns cientistas políticos, esse movimento é resultado de um processo histórico nacional, com resquícios do coronelismo e do patrimonialismo desenvolvido nos séculos passados. “A política brasileira é fortemente marcada pelo autoritarismo e pelo caudilhismo. São grandes personalidades comandando o cenário político”, assevera a professora de Ciências Políticas da PUC Minas Helaine Sampaio. Para confirmar o que diz Carismático, Getúlio Vargas assumiu provisóriamente a presidência do Brasil. Tanto gostou que permaneceu no poder durante 18 anos 20 | Vox Objetiva Thiago Madureira personalismo; corrigir as distorções na política da proporcionalidade, mantendo o sistema pluripartidário, mais adequado ao país, também é interessante”, pontua a professora Helaine. tantes da “espécie”, está o atual presidente do Senado, José Sarney, que desde 1950 influencia a política maranhense e nacional. Mesmo sendo de um estado com pouca reprenstatividade, o cacique nordestino chegou ao cobiçado posto de Presidente da República em 1985, em virtude da morte de Tancredo Neves. Hoje, ocupa o cargo de Presidente do Senado pela sexta vez, porém, por um estado com o qual não possui laços, o Amapá. Passado Para o professor de direito do UNI-BH Alexandre de Lima e Silva, figuras como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e mais recentemente Fernando Collor venceram seus pleitos também baseado na popularidade que os cercavam. “Como o discurso político sempre tiveram certa similaridade, resta ao eleitor escolher o candidato que remete maior confiança”, analisa. De acordo com Silva, esse fenômeno pode ser observado, sobretudo, no interior brasileiro, onde os partidos cativam ainda menos as pessoas. os n a O os 3O e e d a cid a as. h n i n i m m es , m u e s redaçõ trega da n e a a d tema: elo do ouro a o r ã pa aç a divulg O prazo e , o c o i lh d ia u o d j t de os em será no do c é o dia 8 9 4 a lu n emiados s , a s s im al de pr p r ê m io , ptop Como lista fin 2011. m b e r ã o la e e c e r , iv e r e m mbro de a t o e v t d ti e e a s t la u s e q is E d g s o Le 1º es. ofessore inas, embleia encedor o os pr v no de M m r s lamento. e o o A Ass v c u o lh g a G e b r e a o d m r o t é m o b a s o d o ç c o sta tam Conhe ww.almg.gov.br parceria o r ie n t a d a lu n o s ria de E s ta e e s s r a s c to e e n , d S le so s da cesse: w A pando ta lé m d is s e s c o la através A A im r . a s g a o r d a in tá s c o, es r e m ia ano do en a i p u b li Educaçã serão p o 6º ao 9º M in a s v s d ie e s r o d é sas. s n io lu ia s r a a o e s v it s e m b le todas õ s entre os ç A e a d d e s r s o ca tal e com as las públi fundamen u m li v r o das esco . s io a d é in m M o derais de do ensin icipais e fe n u m , is a estadu Vox Objetiva | 21 cidades UMA PARCERIA BEM CONHECIDA Enquanto a Infraero estuda como pôr fim aos problemas aéreos brasileiros, o Governo de Minas busca alternativas para garantir o estado na rota da Copa e preparar o futuro Lucas Alvarenga D 22 | Vox Objetiva Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil, o setor cresceu 14% em 2010 e 24% no início deste ano. Já Confins registra expansão de 54% nos voos internacionais só este ano. Reprodução e olho em 2014 e no desenvolvimento da região metropolitana de Belo Horizonte, o Governo de Minas Gerais recorre à estudiosos de Cingapura para acelerar o processo de reforma e expansão do Aeroporto Internacional Tancredo Neves. Contratados, os especialistas em planejamento aeroportuário traçaram um projeto para o Masterplan de Confins. Por meio da análise, o Governo do Estado chegou a uma alternativa: utilizar a Parceria Público-Privada, a PPP, para a reforma do aeroporto. Um dos recursos mais aplicados pela administração mineira para realização de obras no estado, a PPP surge após a desistência de o Governo Federal privatizar parcialmente Confins. Entregue em maio passado à presidente da República, o plano de expansão do aeroporto prevê investimentos até 2030 e a participação da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária, a Infraero, no negócio. A estatal federal entraria como prestadora de serviços ou mesmo como sócia minoritária. De acordo com a empresa aeroportuária, a proposta segue em análise. A parceria, aparentemente vantajosa para os dois lados, traz algumas ressalvas. Se por um lado a receita poderia ajudar a Infraero a sustentar 47 dos 67 aeroportos deficitários sob a sua administração, por outro a empresa não tem ativos que viabilizem o modelo proposto pelo Governo de Minas. Além disso, o entorno de Confins ca- rece de investimentos, garante a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico. De acordo com a Infraero, estão orçados R$ 408,6 milhões em investimentos para o Aeroporto Internacional Tancredo Neves até 2014. A primeira etapa da obra que compreende a reforma do terminal 1 foi suspensa pelo Tribunal de Contas da União no início do ano. O TCU na época apontou indícios de sobrepreço de quase R$ 46 milhões no orçamento, calculado em R$ 295 milhões. Dentre as obras necessárias a Confins estão as intervenções para ampliação do saguão de entrada, balcões de check in, salão de embarque, sistema de restituição de bagagens, além da construção de novo terminal. E os parceiros? Uma das questões pertinentes quanto à viabilidade da proposta do Governo de Minas passa pela atração de investi- mentos. Para o pós-doutor em Transportes pela Sauder School of Business no Canadá, Hugo Tadeu, desde o primeiro projeto de Parceria Público-Privada não houveram empresas seduzidas a investir em Confins. “Se o projeto fosse atrativo para investidores, existiriam interessados, não?”, questiona. De acordo com o professor, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves apresenta problemas de acesso, movimentação interna, pistas, ampla demanda por investimentos, além do risco regulatório. “A forma como o Estado vem apresentando o projeto estruturante para Confins é sinônimo de dúvidas para os investidores, que vem optando por outros aeroportos, como o de São Paulo e do Rio de Janeiro, com maiores chances de retorno sobre o investimento”, argumenta Hugo Tadeu. O fato de a Infraero, não ter ativos também preocupa o pós- -doutor, apesar da negativa da empresa. “Como o projeto de privatização e concessão poderia ser realizado, sendo que a Infraero não tem ativos? Trata-se de um risco ao modelo institucional”, lembra o também professor da Fundação Dom Cabral e do mestrado em Administração da UNA. Além da Copa Em entrevista à Agência Minas, o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, esclareceu que o Estado está preocupado com o atraso das obras em Confins. “Estamos constantemente cobrando e mostrando a necessidade de termos um aeroporto em condições adequadas não só para as questões da Copa do Mundo e da Copa das Confederações, mas porque o aeroporto é uma âncora fundamental de desenvolvimento”. Não é difícil perceber a iminência de novos problemas em Confins até a Copa se nada for feito. Os motivos, segundo Hugo Tadeu, devem-se às restrições de pistas, terminais de passageiros, estacionamentos, cargas e investimentos em segu- rança. “O grande desafio do setor é melhorar a gestão, carente de modelos institucionais e de negócios, com vistas à eficiência do processo”, expõe. Saída para Confins Tanto o modelo de Parceria Público-Privada, quanto o de concessão não seriam os mais interessantes para Minas Gerais. Na análise do pós-doutor, o primeiro modelo é tentado pelo Governo desde 2005 sem sucesso. Já o segundo corre-se o risco de o parceiro público apresentar problemas jurídicos e de caixa. Por isso o professor aponta o modelo privado como uma provável saída. “Esta é a melhor alternativa, desde que exista um aspecto regulatório claro, com indicadores de desempenho e se possível, com outro aeroporto realizando uma competição paralela”, sugere. Hugo reforça que os principais aeroportos do mundo operam por meio do modelo privado e que a visão de gestão privada como problema ao usuário é ultrapassada. “Comparativamente, após a privatização da telefonia e dos serviços de energia, o acesso a eles pode ser O pós-doutor em Transportes Hugo Tadeu lembra que apesar de a Linha Verde ter se tornado um vetor para o desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a própria expansão pode ser um gargalo para crescimento do aeroporto Bernadete Amado/ Setop MG registrado com ganhos para a competitividade nacional. Da mesma forma para os aeroportos, tão carentes de serviços eficientes e preços competitivos”. Na sequência, o professor salienta: “O aeroporto privado deve competir com outros terminais regionais, possibilitando redução nos preços”, conclui. A hora de interceder pela aviação Os aeroportos de Guarulhos e Viracopos, no Estado de São Paulo, e de Brasília, no Distrito Federal, passarão por concessões, de acordo com o Governo. A decisão foi tomada em reunião convocada pela presidente Dilma Rousseff para discutir providências para a Copa do Mundo de 2014. Pela escolha, as concessões serão constituídas por investidores privados, com participação de até 49% da Infraero, que terá poder de participação nas principais decisões da companhia. Enquanto isso, uma empresa privada se responsabilizará pelas novas construções e pela gestão dos aeroportos. A Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República informou em nota que tais medidas pretendem atender a demanda para os próximos anos, incluindo o período da Copa do Mundo de 2014. De acordo com a Infraero, a metodologia e os critérios para o edital de concessão têm de estar prontos até dezembro de 2011. Vox Objetiva | 23 imobiliário A culpa para o atraso das obras não é dos outros O mercado imobiliário tem se mostrado a melhor opção de investimento nos últimos quatro anos, superando a rentabilidade dos Fundos de Investimentos e dos CDBs. Quanto à Bolsa de Valores, os acionistas têm suportado prejuízos, pois o Ibovespa rendeu apenas 1% em 2010. No primeiro quadrimestre deste ano, acumula perda em torno de 8%. Diante desse quadro, as construtoras estão ávidas em aproveitar o grande volume de pessoas que passaram a investir em unidades na planta. Vários adquirentes deixam de comprar um imóvel pronto, pois têm a expectativa de que pagarão menos ao patrocinar a obra, obtendo assim maior rentabilidade no decorrer da construção. Entretanto, esse retorno financeiro depende da quantia que será paga até a posse do imóvel. Se a construção exigir um tempo muito longo, o negócio poderá perder a atratividade. Para justificar atrasos de giram entre seis a 24 meses, algumas construtoras têm alegado falta de materiais e dificuldade de alugar equipamentos como, por exemplo: grua (guindaste), andaimes, girica (caçamba que carrega concreto) e usina de concreto. Alegam ainda falta de mão de obra, mas inexplicavelmente continuam a lançar novos empreendimentos para receber valores de futuros adquirentes, apesar de não cumprirem a obrigação de entregar o que foi vendido. Ninguém em sã consciência consegue entender isso: se não há empregados para terminar 24 | Vox Objetiva o prédio já vendido, como então a construtora obterá mão de obra para começar outro empreendimento? Ao pesquisar empresas de fornecedoras de materiais de acabamentos, constata-se que as desculpas são infundadas, tendo um empresário explicado: “na realidade, as construtoras têm buscado o canal de compra direto com a indústria para baratear o custo da obra, mas devido a essa escolha, tem que esperar prazo da programação dos pedidos, que pode chegar a 150 dias. Na realidade, não há falta de louças, metais, revestimentos”. A título de exemplo, a BelLar Acabamentos mantém um estoque de 80.000 m² de porcelanato e possui toda linha de metais e louças para entrega imediata. Esta não é a única empresa. Existem diversas outras de grande porte em Belo Horizonte. A ausência de algum material pode decorrer da falta de programação, bastando o adquirente procurar as lojas especializadas que têm departamentos específicos para atender, inclusive às construtoras. Uma solução seria deixar o consumidor escolher o acabamento que a construtora alega estar em falta, diretamente nas lojas que têm estoque para atender à demanda prontamente. Quanto aos equipamentos, o proprietário de uma das maiores empresas do segmento que prefere não se identificar, explica: “Há oferta de equipamentos, só os construtores têm pressionado as empresas fornecedoras de equipamentos para reduzir Kênio de Souza Pereira Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG e-mail: [email protected] os preços a qualquer custo, a ponto de quase inviabilizar a disposição do equipamento. A situação é estranha, pois o preço do metro quadrado do imóvel está a cada dia mais elevado, gerando, assim, grande margem de lucro para o construtor. Por lado, ele está impondo a redução de preço e condições inviáveis para os fornecedores de matériaprima e equipamentos. Ou seja, querem preços da China no Brasil, onde o preço final do imóvel disparou”. Logicamente pode haver um problema ou outro com falta de materiais, mas isso não justifica o atraso de 35% das obras conforme apurou o Sindicato da Construção Civil de MG. Essa situação prejudica o adquirente que tem pagar a prestação da compra acumulada com o aluguel que não mais deveria existir se tivesse a posse na data contratada. Nova lei Certamente a maioria das construtoras cumpre o que promete. Mas, diante de uma minoria que não respeita o consumidor, vem num momento oportuno o Projeto de Lei nº 1.576/2011 de autoria do Presidente da Câmara Municipal de BH Vereador Léo Burguês, que, sendo aprovado, protegerá tanto ao adquirente quanto ao mercado, pois a construtora que atrasar mais de 60 dias não obterá alvará de construção para lançar novo empreendimento. Já que há falta de mão de obra, cabe à construtora concentrar a força de trabalho nas obras já vendidas. capa Mais uma vez, Minas Gerais é o campeão do desmatamento no Brasil. Hoje, milhares de hectares de florestas alimentam fornos, gados e a indústria do papel André Martins P esa sobre Minas Gerais uma grave projeção. As regiões norte e nordeste do estado, que juntas correspondem a um terço de todo o território mineiro, podem se tornar tão secas e arenosas quanto um deserto nas próximas duas décadas. O alarme partiu do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais. O estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente ao Governo do estado concluiu que mantida as condições de exploração e uso do solo atual, a cobertura térrea de 142 municípios tende a se tornar cada vez mais pobre e infértil. O impacto ambiental e econômico forçaria cerca de 20% dos mineiros, mais de dois milhões de pessoas, a se deslocarem para outras localidades. O professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia de Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas Guilherme Taitson não tem dúvidas de que as atividades consideradas a mola da economia para as regiões sejam responsáveis pelo processo que ele evita chamar de desertificação. “Talvez o termo seja um pouco exagerado, pois remete às paisagens de desertos como o Saara ou Atacama, onde características climáticas globais e continentais determinam volumes de chuvas anuais extremamente reduzidos”, explica. O impasse conceitual, no entanto, não atenua o problema. Em tese, o que vem acontecendo em Minas Gerais é um pouco pior. Ainda que marcados pela rigidez climática, os desertos naturais são ecossistemas vivos, ao contrário das áreas que passam por processos Vox Objetiva | 25 Rural Minas / Divulgação SEM FLORESTAS Divulgação de extinção de espécies animais e vegetais, desestruturação de mata nativa e empobrecimento do solo. Taitson explica que as peculiaridades naturais das regiões reforçam os problemas. “Trata-se de localidades naturalmente de maior vulnerabilidade ambiental e de menor capacidade de regeneração, principalmente em função dos baixos volumes de chuva anuais”, explica. De acordo com o coordenador do Instituto Minas Tempo, Ruibran dos Reis, as regiões norte e nordeste possuem os menores índices pluviométricos do estado. Nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, por exemplo, a média anual é de 900 milímetros de chuva. “A título de compara- ção, na Região Metropolitana de Belo Horizonte o índice é quase o dobro”, explica o doutor em meteorologia. Já fragilizados pela precipitação insuficiente e irregular, o norte e nordeste mineiro vêem suas coberturas vegetais minguarem de maneira assustadora. Grandes áreas de mata seca e mata atlântica sofrem com uma devastação intensa para o estabelecimento da pecuária extensiva e alimentação da indústria do papel e do carvão. A pouca fiscalização do estado unido a uma espécie de institucionalização do desflorestamento não dá margem para alterações. De acordo com o secretário municipal de agricultura de um município da região nordeste que pediu sigilo, as autoridades locais nada podem fazer diante das licenças concedidas pelos órgãos ambientais. Na visão do deputado estadual Sávio Souza Cruz (PMDB), a corrupção é mais um dos tantos entraves para a educação ambiental nos municípios. “Basta lembrar do escândalo em junho de 2010, quando o então presidente do Instituto Estadual de Florestas, Humberto Candeias, foi preso por conta do envolvimento com a exploração ilegal de madeira”, lembra. “Deseconomia” mineira Não é de hoje que os números do desmatamento no estado chamam a atenção. Em coletiva de imprensa realizada no fim de maio, a diretora de Gestão do Conhecimento da SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, comemorou a queda de 55% no índice médio de desmatamento dos remanescentes de mata atlântica em comparação com o período analisado anteriormente. A inglória primeira colocação de Minas no ranking dos estados campeões do desflorestamento, no entanto, não foi encarada como surpresa. Somente em Ponto dos Volantes, município do Vale do Jequitinhonha, foi constatado um desflorestamento correspondente à totalidade do que foi perdido no Paraná no mesmo período analisado, de 2008 a 2010. “A situação de Ponto dos Volantes já foi alertada ao Governo de Minas Gerais pela Organização. A vegetação nativa estava sendo transformada em carvão”, conta. O município pobre, criado em 1995, tenta definir a própria identidade e fugir De acordo com Márcia Hirota, o Governo de Minas já foi alertado em relação à situação de alguns municípios 26 | Vox Objetiva SOS Mata Atlântica / Inpe Em 1500, a mata atlântica estava presente em 46% do território mineiro. Hoje, restaram pouquíssimas áreas da vegetação nativa do pódio em que reina absoluto, com seus 3.244 hectares desmatados, ao lado de dois outros municípios mineiros – Jequitinhonha e Pedra Azul. Os momentos econômicos diversos e a consequente rotatividade de cultivos ilegais seriam a raiz do problema. “Ora o preço do ferro gusa aumenta bastante e a pressão vai sobre a produção de carvão, ora a pressão é sobre a produção de papel, então temos o ingresso do eucalipto nessas áreas”, explica Flávio Ponzoni, pesquisador do Inpe e coordenador do Remanescentes do Atlas da Mata Atlântica. Para o diretor de Políticas Públicas da ONG, Mario Mantovani, a questão do desmatamento não diz respeito à economia de Minas, mas à “deseconomia” dela. As irregularidades na contratação da mão de obra utilizada nas carvoarias dos rincões mineiros e a omissão daqueles que lucram com a ótica de exploração que vigora nas regiões foram denunciados na conversa com os jornalistas. “Não se paga impostos, colocam famílias dentro de fornos, as grandes empresas se encobrem para não parecer que estão fazendo ferro gusa com aquele carvão. Minas Gerais tem uma grande contradição. Tem o pior dos mundos, como no Vale do Jequitinhonha, nessa região de mata seca, encoberto por autoridades que se dizem autoridades. E tem, por exemplo, casos como o Projeto Plantar que é o melhor dos mundos. É impressionante como Minas Gerais vai do céu pro inferno, sem escalas, em questão de quilômetros”, desabafa. No norte do estado, os dados do Inventário Florestal de Minas Gerais indicam que 52% da cobertura original de matas secas já foi perdida. Recentemente, a Universidade Estadual de Montes Claros constatou o aniquilamento de 222.700 hectares da cobertura original em um período de vinte anos, de 1986 a 2006. As carvoarias e as grandes criações de gado são apontados como os principais vilões na região de acordo com o professor da Unimontes e pesquisador de matas secas Mário Marcos Espírito-Santo. “Deve-se ressaltar que as matas secas norte-mineiras estão sob proteção especial desde 1993, quando foi publicado o Decreto Federal 750. Ou seja, mesmo estando 13 dos 20 anos analisados sob proteção, a área perdida nesse ecossistema foi extremamente alta. Nesse ritmo, em cerca de 100 anos as matas secas estarão praticamente extintas no norte do estado”, projeta o doutor em Biologia. Polêmica Há um ano, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais to- mava uma decisão controversa cujos reflexos, segundo entendem representantes da SOS Mata Atlântica, se tornaram evidentes com os últimos números do desmatamento em Minas. Um projeto de lei, de autoria do então deputado estadual e hoje secretário de estado extraordinário para o Desenvolvimento dos Vales Jequitinhonha e Mucuri e Norte de Minas, Gil Pereira, permitiu a exploração de 70% das áreas estaduais da região cuja cobertura vegetal era de mata seca. Os demais 30% corresponderia à reservas de proteção. A medida garantiria a manutenção de cerca de 250 mil postos de trabalho e evitaria o êxodo intra-estadual. Por 45 votos a 1, a Casa consentiu em desvincular a mata seca da mata atlântica, retirando a vegetação naturalmente já fragilizada da área de proteção estendida a elas pelo decreto do Ibama, de 2008. Procurado pela reportagem da Vox Objetiva para falar sobre a situação das florestas, o secretário Gil Pereira reiterou antigos posicionamentos e convicções. Vox Objetiva | 27 capa “Nossa região é caracterizada pelo cerrado, uma parte caatinga e uma pequena parte de mata atlântica”, explicou. O impasse é antigo. Até os especialistas divergem em relação à categorização da mata seca. Para o professor da PUC Minas Guilherme Taitson “o aspecto especial da vegetação é certamente mais evidente quando situada na região geográfica do cerrado”. Mário Marcos Espírito-Santo, professor da Unimontes, não compartilha da mesma opinião. “A Mata Atlântica é um bioma formado por diversas fitofisionomias, sendo cada uma delas determinada pelo clima. As matas secas possuem uma semelhança florística muito grande com as florestas sempre-verdes e semi-deciduais, podendo ser classificadas de forma inequívoca como mata atlântica”, detalha. De acordo com Márcia Hirota, grande parte do desmatamento em Minas nos dois últimos anos corresponde às áreas que hoje já não possuem total proteção do estado. “Tudo isso aconteceu em função da retirada da mata seca das áreas de proteção de mata atlântica”, expõe. O desenvolvimento que se preconizava com a iniciativa é questionado por Espírito-Santo. “Não existe relação direta entre desmatamento e geração de riquezas. Recentemente o Ministério do Meio Ambiente analisou o PIB das 50 cidades brasileiras que mais desmataram o cerrado. Na maioria delas, houve estagnação e até decréscimo do PIB per capita após o desmatamento. Além disso, a mera geração de riqueza agregada, medida pelo indicador PIB, não implica na eliminação da pobreza e ‘subdesenvolvimento’”, explica. Poder público O estudo que projeta um futuro seco para as regiões norte e nordeste do estado, elaborado dentro da própria Secretaria, foi minimizado por Gil Pereira. “Isso não condiz com a realidade”, explicou se baseando nos números do Índice Mineiro de Responsabilidade Social de 2007 da Fundação João Pinheiro, que coloca as florestas das regiões como as mais preservadas do estado. De acordo com o secretário da SEDVAN, o Governo mineiro tem investido maciçamente em projetos de irrigação por meio da construção de barragens e barraginhas em municípios do semiárido de Minas. “Por meio dessas obras, o Estado estimulará diversos projetos produtivos como horta familiar e cultivo de pomares. Além disso, cada hectare irrigado gera um emprego direto e dois indiretos”, enumera. Dentre os milhões investidos em infra-estrutura, o Governo direcionará R$ 95 milhões para desapropriações de moradores das localidades a serem tomadas pelas águas. Dessa fatia, não foi precisado quanto, parte seria destinada à projetos ambientais paralelos como a restauração da cobertura vegetal nativa predominante na região, a mata seca. A raposa e o galinheiro: o então deputado estadual Gil Pereira foi autor de uma lei que permitiu a exploração econômica de boa parte da mata seca. Hoje secretário de Estado, Pereira luta por verbas para recuperar a região campeã em desmatamento André Martins 28 | Vox Objetiva meteorologia Vulcões e possíveis mudanças climáticas Os vulcões sempre causaram tragédias no mundo. Um dos casos mais emblemáticos é o vulcão Tambora. Localizado no monte que o nomeia na ilha de Sumbawa, ele entrou em erupção entre os dias 5 e 10 de abril de 1815, causando a morte de mais de 71 mil pessoas. A explosão foi ouvida na Ilha de Samatra, que fica a mais de 2.000km de distância. A cinzas chegaram mais de 40km de altura, escurecendo o céu durante 3 dias num raio de 500km. O ano de 1816 ficou conhecido como o “Ano Sem Verão” no Hemisfério Norte, pois as cinzas do vulcão se espalharam na estratosfera, o que impediu a cehgada da radiação solar até a superfície. A agricultura de alguns países não conseguiu produzir o sustento para toda a população e a fome levou à morte de milhares. Em 1991, o vulcão Pinatubo que estava adormecido há mais de 500 anos, entrou em erupção. O vulcão está localizada na ilha Luzon, nas Filipinas. Assim como o Tambora, o Pinatubo também lançou milhões de toneladas de poeiras e gases na atmosfera. Devido às gotículas de ácido sulfúrico, que refletem os raios solares, a temperatura da atmosfera da Terra caiu 0,5 graus no anos de 1992, enquanto se esperava que o ano fosse quente em função da presença do El Niño. Vulcões tendem a se formar junto das margens das placas tectônicas. Os vulcões sempre causaram desastres naturais. Nos últimos dois anos se tem observado que os vulcões que existem na Islândia causam um verdadeiro caos aéreo no mundo. As cinzas vulcânicas finas é uma arma antimotora de aviões a hélice e a jatos. As cinzas vulcânicas são compostas de minerais que contêm silicones e se fundem quando entram nas turbinas dos aviões. Em 15 de dezembro de 1989, apagaram no ar os quatro motores do boeing 747-400 da KLM, Prof. Dr. Ruibran dos Reis Coordenador do Minas Tempo [email protected] voo 867, que partiu de Amsterdam, na Holanda, rumo a Tóquio, Japão, quando a aeronave encontrou cinzas do vulcão Redoubt sobre o Alaska. Não foi o primeiro nem único caso. O vulcão Yjafjallajökull causou no ano passado milhares de cancelamentos de vôos e prejuízos econômicos de mais de um bilhão de euros. O vulcão islandês Grimsvotn voltou a causar caos aéreo na Europa em maio passado. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) utiliza vários modelos de previsões climáticas, mas a cada vulcão que entra em erupção, fica uma dúvida: há necessidade de elaborar vários cenários com as informações sobre possíveis erupções futuras? Pois caos aéreo nós já sabemos que eles causam. Agora precisamos saber os impactos na agricultura, no ciclo hidrológico, nos diferentes biomas, o que irá, provavelmente, garantir a própria sobrevivência do homem. Vox Objetiva | 29 Marcello Casal Jr. / Agência Brasil educação Não basta apenas aumentar a carga horária, é necessário dar condições para que os alunos possam obter melhor aproveitamento em sala de aula REMENDO NOVO EM UNIFORME VELHO Os estudantes brasileiros do ensino médio e fundamental em breve podem ficar mais tempo nas salas de aula. O desafio é garantir que eles aprendam mais. Os jovens que levem mais empolgação na mochila Guilherme Reis O Senado aprovou um projeto de lei que aumenta a carga horária nas escolas públicas e particulares brasileiras em 20%. As atuais 800 horas passarão a 960. Se a proposição for aprovada também pela Câmara e sancionado pela presidente, as escolas terão que adicionar 48 minutos de aula em cada um dos 200 dias letivos do ano, ou então, acrescentar 20 dias nas atividades escolares a partir de 2013. Passar mais tempo na escola, no entanto, não é garantia de boa 30 | Vox Objetiva formação. Um estudo do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, confirma que o Brasil se tornará um dos campeões em tempo de aula. A média dos países desenvolvidos, que tem educação de qualidade, será, aproximadamente, 20 % menor. Aqui está o principal problema brasileiro: boa qualificação escolar. Para provar que o ensino no Brasil ainda está aquém do ideal para crianças e adolescentes, outro estudo, dessa vez da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, aponta que a educação em nosso país apresenta quadros alarmantes. De acordo com a pesquisa, o índice de repetência no ensino fundamental brasileiro é 18,7%, o mais elevado na América Latina. A média mundial é de 2,9%. Quando o assunto é evasão escolar, o Brasil aparece em segundo lugar, com 13,8%, perdendo apenas para a Nicarágua, 26%. Não adianta aumentar a carga horária se o aluno não tiver a oportunidade das escolas se prepararem”. O senador ainda acredita que o simples aumento do tempo de aula vai resolver outra questão. “Estamos aumentando a carga para que o professor tenha mais tempo para aplicar a matéria em sala. Hoje nós temos muito conteúdo e pouca qualidade”. O diretor da escola municipal José Ovídio Guerra, em Contagem, Fernando Marques, afirma que quando os parlamentares tomam decisões a respeito da educação nacional, eles não se preocupam em ouvir os mais interessados. “A partir de toda discussão e burocracia das leis e diretrizes da educação, os parlamentares não ouvem a esfera que será mais afetada: os diretores, os alunos e os professores”. O educador conclui reclamando da condição do profissional da educação. “O salário do professor da rede pública é péssimo. Ele tem que cumprir três jornadas de trabalho para sobreviver. Não tem como esse professor buscar especialização na sua área e acaba se transformando em um profissional ultrapassado”, desabafa. Direcionamento disciplinar O Ministério da Educação pretende colocar em prática outras resoluções para transformar a educação brasileira. Ainda não se sabe se serão benéficas. O Conselho Nacional de Educação, órgão ligado ao MEC, aprovou diretrizes para a flexibilização e expansão do ensino. Uma das medidas seria a formatação do quadro disciplinar de acordo com as necessidades de cada região. A ideia é se basear em quatro eixos que seriam relevantes para a boa formação dos estudantes: trabalho, tecnologia, ciência e cultura. A proposta funcionaria da seguinte maneira: se uma cidade ou região tem um grande mercado na área industrial, as escolas dariam enfoque maior nas matérias física e química. A diretriz teria como objetivo Agência Senado estimulo a comparecer nas aulas. Quem afirma, é o professor de geografia Carlos Justino, com mais de vinte anos de experiência na rede pública e privada de ensino. “A lei é simplista e não resolve nada. Os problemas são muito mais sérios. Não há no país uma política bem estabelecida que vise uma verdadeira democratização do ensino na busca de uma educação de qualidade, tão falada demagogicamente por nossas autoridades. Existem problemas muito mais sérios que simples carga horária”. O educador cita alguns: “Falta de infra-estrutura nas escolas, a violência sem precedentes, o salário baixíssimo do profissional da educação, professores mal preparados, falta de verbas”, e por aí vai. A diretora do Instituto Maria Montessori, Iêda de Oliveira, já se preocupa em adequar a escola à possível mudança. “O calendário atual já é apertado. Não temos dias disponíveis e financeiramente é inviável. Não vou conseguir pagar mais educadores ou horas excedentes”. Iêda afirma ainda que não adianta fazer o aluno ficar mais tempo na escola se o período de aula não for bem utilizado. “Tudo vai da gestão do nosso tempo. Nossos alunos têm um bom aproveitamento com a carga atual.” Mesmo pensando na melhora da educação nacional, os discursos divergem entre os parlamentares e os profissionais de educação. O senador e relator do projeto, Cyro Miranda (PSDB-GO), discorda da diretora. “Existem escolas que já aumentaram a carga horária, essa conversa de que é financeiramente inviável é ‘balela’. Estamos buscando a escola em tempo integral no Brasil. Estamos dando Senador Cyro Miranda (PDSB-GO), relator do projeto, acredita que o aumento da carga horária aumentará a qualidade do ensino médio e fundamental Vox Objetiva | 31 educação formar alunos cada vez mais prontos para o mercado de trabalho. Iêda, diretora do Montessori, não acredita nos benefícios da medida. “Já existem escolas técnicas que cumprem essa função. A escola comum não tem esse papel e isso não deve funcionar em uma cidade grande. Por exemplo, Contagem é uma cidade industrial da região me- beneficia a classe trabalhadora, a maioria da população. Se for mudar, que seja em todo o sistema e busque atender à maior parte do povo, desde o ensino fundamental até o superior”. Pais e mestres Quando os profissionais da área são indagados a respeito de outros problemas da educa- que seus professores se vêem obrigados a esperar um longo período até que a classe se acalme para dar prosseguimento à aula. A pesquisa feita em 66 países aponta que a média mundial de indisciplina está em 28%. Seja na escola particular ou pública, os diretores concordam que os pais não educam os filhos. Para eles a escola é tropolitana de Belo Horizonte, mas a proximidade com outros municípios faz com que exista a necessidade de formação de profissionais de outras áreas. Nós não devemos nos prender apenas à indústria”. O professor Carlos Justino tem outra visão a respeito da resolução. Para ele, a proposta pode ser instituída, mas algumas condições devem mudar. “Isto seria o mais lógico, trabalhar de acordo com a realidade e as necessidades de cada local, mas infelizmente a nossa política educacional não 32 | Vox Objetiva ção brasileira, uma nova resposta ganha relevância. Além dos problemas estruturais, os pais dos alunos são apontados muitas vezes como vilões no comportamento dos filhos dentro das salas de aula. Reclamação que não se restringe ao “achismo”. O estudo feito pela Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico, também demonstra que as salas de aula brasileiras são mais indisciplinadas do que a média. Um total de 33% dos alunos brasileiros ouvidos disseram para ensinar. Respeito, obediência e cidadania, eles deveriam aprender em casa. Muitas vezes esse comportamento permissivo dos pais se traduz na retirada da autonomia da escola na hora de disciplinar o aluno, como revela Iêda de Oliveira. “Tem pai que não aceita chamarmos atenção dos filhos. Eles tiram nossa autoridade em sala de aula. No fim das contas o aluno não aprende a viver com os outros estudantes e isso pode resultar em uma pessoa sem limites na vida adulta”. Marcello Casal Jr. / Agência Brasil A falta de investimentos e a baixa remuneração dos professores diminuem o interesse dos alunos e reduzem a qualidade do aprendizado. economia Não desista, o melhor ainda está por vir Quem participa do dia-a-dia do mercado financeiro deve estar com sua paciência no limite. Há três anos que a bolsa brasileira não sai do lugar, pior, está 12% mais barata. Em 29 de maio de 2008, o Ibovespa atingia a marca dos 73.000 pontos. Hoje estamos na casa dos 64.000. Muita coisa aconteceu ao longo do caminho. Muito sobe e desce enfrentamos com determinação e sangue frio. Mas, sinceramente, o ano de 2011 tem sido o pior destes três anos. Por quê? Basicamente porque neste ano as principais bolsas do mundo estão subindo e a nossa está caindo. Vejam só. Acompanhar as ações americanas subindo 8% este ano e a bolsa brasileira caindo 8% no mesmo período traz um sentimento muito ruim para todos que estão participando diretamente ou indiretamente deste mercado. É uma sensação de que estamos piorando, de que nossa situação econômica está sem perspectiva, de que estamos ficando para trás. Porém, não é isso que os números nos mostram. A economia brasileira está cada vez mais consolidada e forte. As empresas continuam a gerar lucros consistentes. Os investidores estrangeiros, por sua vez, continuam a acreditar e investir no Brasil. Então, por que a bolsa não sobe? Não sobe porque, no momento, os investidores estão assustados com a inflação no Brasil e porque estamos vivenciando um movimento de aumento nas taxas de juros brasileiras, o remédio para conter a inflação. E, de fato, movimentos de aumento de juros fazem os investimentos em renda fixa (CDB, títulos públicos) se tornarem mais atrativos quando comparados aos de renda variável (ações). Vale destacar que há um ano a taxa de juros no Brasil era de 8,75% a.a. e hoje está em 12% a.a com expectativas de continuar subindo. Com isso os investidores colocam seu dinheiro na renda fixa deixando as ações de lado. Rossano Oltramari Analista-chefe da XP Investimentos [email protected] Este é o cenário de curto prazo. No entanto, seremos um pouco audaciosos e tentaremos projetar o cenário futuro e tentar buscar as melhoras alternativas de investimento para o médio prazo. Olhando um pouco mais longe, para os próximos 18 meses, este cenário tende a estar bastante diferente do atual. Acreditamos que a inflação será domada pelo Banco Central, que as taxas de juros voltarão a cair e que o investimento em ações se tornará mais atrativo que o de renda fixa. Assim o Ibovespa voltará a subir com força e ultrapassará a marca dos 73.000 pontos. Este cenário descrito está fundamentado nos números da economia brasileira, nos resultados futuros das companhias de capital aberto que são listadas na Bovespa e na análise relativa do mercado de ações brasileiro com os outros mercados mundiais. Para mim está muito claro: investir no Brasil com horizonte de médio e/ou longo prazo é o melhor negócio. Vox Objetiva | 33 esporte Aposentando AS CHUTEIRAS Exemplos de jogadores que perderam fortunas com o final da carreira levantam a discussão sobre como os atletas devem planejar a aposentadoria Thiago Madureira P ara os grandes atletas, o tempo é o maior adversário. Com os dias, vão-se as conquistas, os enormes salários, o estrelato... E uma vida inteiramente dedicada ao esporte pode parecer vazia com a falta dele. Assim que encerrou a carreira, em 1986, Paulo Roberto Falcão, um dos maiores jogadores da seleção brasileira, expôs o que estava sentindo: “Abandonar os gramados é como morrer pela primeira vez”. A frase virou clichê na boca dos boleiros aposentados. Por pendurar as chuteiras prematuramente, se comparado à maioria dos outros profissionais, os atletas têm no horizonte uma perspectiva de vida mais ampla. Esse, portanto, simboliza o recomeço. “Existem várias possibilidades. Eles podem continuar no meio esportivo em outras funções. Esta situação é favorável, pois facilita a aceitação da nova condição por estar estritamente ligada ao esporte. Com a volta aos estudos, outras carreiras podem ser pensadas. O importante é saber que a vida não acabou, mas está somente tomando um rumo diferente”, explica a psicóloga do América Futebol Clube, Alessandra Monteiro. 34 | Vox Objetiva A transição para uma vida fora das quatro linhas é conflitante e requer, sobretudo, ajustes emocionais. Em função disso, uma orientação profissional competente é imprescindível, pondera o coordenador do Grupo de Estudos da Formação Expertise no Esporte da UFMG, Luiz Carlos Moraes. “O tema em questão é essencial e deveria ser pensado durante a carreira, não após a aposentadoria. Contudo, a discussão carece de interesse dos próprios atletas que se preocupam somente com o sucesso momentâneo”. Não sei se é bom dizer isso, mas é a verdade. Gastei tudo com mulheres, carros. Com vaidades, amigos de ocasião. Muita gente se aproveitou de mim Müller, ex-jogador De acordo com o professor Moraes, muitos esportistas sofrem com a dificuldade de desvinculação da identidade atlética. “Isso atrapalha no estabelecimento de uma nova atividade profissional, podendo, inclusive, gerar depressão, dependência de drogas e outras doenças”, frisa. Em uma recente tese de mestrado defendida na UFMG, na qual o professor Moraes participou da banca, foi constatado que a orientação aos atletas ainda está muito calcada nas relações familiares em detrimento do profissionalismo. A dissertação se referia à transição da carreira esportiva de 186 atletas que atuavam em clubes da primeira divisão de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Com o objetivo de identificar as pessoas que ofereciam suporte aos esportistas, foi perguntado quem eram seus maiores conselheiros. A figura do pai foi a mais mencionada pelos atletas, com 56,5%. Ainda segundo o estudo, 77% dos atletas respon- Caso raro no esporte brasileiro, Euller, o “Filho do Vento”, já tem aposentadoria planejada deram que nunca haviam pensado quando parariam de jogar. Bruno Carotti /América Futebol Clube Chutes na educação Devido à falta de qualificação, as atividades ligadas ao esporte são as mais procuradas pelos atletas aposentados. Normalmente os jogadores não se preocupam com a formação intelectual e deixam de lado o diploma em troca da bola. Com o passar do tempo, o peso educacional passa a ser tão presente quanto o da idade. O ideal, segundo especialistas, é preparar para o término da carreira aproveitando os salários para o investimento em outras áreas que garantam qualidade de vida e também financeira. Caminho esse que deve seguir Euller, atual jogador do América, que no final do ano se despede das quatro linhas. “Já venho me preparando para este momento há algum tempo”, conta. Segundo o “Filho do Vento”, como Euller era conhecido quando estava no auge da carreira, a vida pós-gramados já está planejada. “Vou permanecer neste mundo do futebol. Pretendo virar dirigente e em três anos, após alguns cursos, ingressar na carreira de técnico”. Para Alessandra, Euller tem um futuro promissor. “Pelo pouco que pude perceber, ele tem tudo bem definido e se preparou para isso. É um exemplo de profissional que pensou na carreira e não deve sentir o peso da aposentadoria”, acredita a psicóloga do América. Sem controle Mas a receita de sucesso de uma carreira planejada não é seguida por muitos. A gastança em farras, com mulheres e carros cobra, no futuro, um preço alto. E o futebol brasileiro é pródigo em registrar casos de esportistas que usaram dinheiro de forma desregrada. Em uma entrevista concedida ao jornal “Marca” em maio, Müller, ex-jogador da seleção brasileira, revelou que está morando de favor na casa de um amigo. Após jogar em grandes clubes do futebol brasileiro e trabalhar como comentarista da Rede Globo, Müller conseguiu em pouco tempo consumir os milhões que acumulou durante a carreira. Segundo o ex-jogador, hoje ele não tem nenhum Vox Objetiva | 35 Júnior Faria Ex-atacante tetra-campeão mundial, Müller: uma fortuna perdida em uma vida de vaidades bem material e até a igreja que administrava teve que ser vendida. “Não sei se é bom dizer isso, mas é a verdade. Gastei tudo com mulheres, carros. Com vaidades, amigos de ocasião. Muita gente se aproveitou de mim”, expôs ao periódico. Apoio Para auxiliar atletas que atravessam por dificuldades, como Müller, foi fundado, em 1975, por reivindicação do então capitão da seleção brasileira, Wilson Piazza, a Associação de Garantia ao Atleta Profissional (Agap). De acordo com Piazza, que está à frente da Agap desde sua fundação, a entidade opera como um sistema de assistência social e educacional para atletas. A associação possui convênios em diversas áreas. Entre os principais benefícios estão bolsas de estudo, visando à inserção no mercado de trabalho; auxílio saúde e pagamento de previdência social. “Hoje, fazemos um trabalho importante de apoio a mais de 10 mil associados”, contabiliza o ex-jogador do Cruzeiro, que exerce a função voluntariamente. Alterações na Lei Pelé, aprovada em 16 de março, reduziram de forma considerável a arrecadação da entidade. A Agap recolhia cerca de R$ 500 mil mensais. Após a nova legislação, em abril de 2011, entraram nos cofres da associação R$ 300 mil. “Esse valor mal dá para manter os auxílios atuais. Com isso, nossos novos projetos serão engavetados”, fala com desânimo. “Os atletas poderiam eleger lideranças que lutassem pelos seus direitos e vetar esse tipo de mudança, mas infelizmente eles estão preocupados no agora e esquecem que amanhã podem precisar”, desabafa Piazza. Ele diz ainda que esse trabalho é primordial para atletas que não conseguiram angariar fundos para se aposentar, o que representa a grande maioria. O modelo em questão A falta de preparo dos atletas ao renunciar aos estudos, talvez seja o cerne do debate. O modelo de esporte brasileiro, assim como em vários outros países, é vinculado aos clubes. Com isso, os livros se distanciam desta formação. Diferentemente dos moldes americanos, em que as equipes esportivas surgem a partir das universidades. “Nos Estados Unidos, existe uma preocupação na melhor preparação do atleta, tendo em vista a sua formação educacional e profissional antes e após da aposentadoria. 36 | Vox Objetiva Por exemplo, o atleta universitário, hoje o grande celeiro de transição para o esporte profissional, tem a obrigação de manter uma média pré-estabelecida da somatória das notas das disciplinas cursadas no trimestre. Caso o esportista tenha uma média abaixo do estabelecido, ele terá um prazo para recuperação. Se não reaver essa média em tempo hábil, ele será afastado das competições e, consequentemente, perderá a bolsa de estudos naquela universidade”, explica Moraes. stock.xchng Radar Saúde Reprodução O Instituto de Pesquisa de Células-tronco (IPCTRON) divulgou que de janeiro a abril desse ano o número de famílias que guardam o cordão umbilical de seus filhos cresceu em 148% em relação ao mesmo período do ano passado. Atualmente mais de 80 tipos de enfermidades já utilizam as células-tronco, como leucemia, talessemia e anemias, e cerca de 200 estão em estudo, como o diabetes. Sua utilização se deve graças a capacidade delas em se transformar em diversos tipos de células saudáveis. Já o aumento destes procedimentos, segundo o IPCTRON, ocorreu devido ao maior acesso facilitado às informações sobre os procedimentos e as vantagens de se construir um banco de células-tronco. Elas recebem grande atenção de pesquisas médicas, principalmente da área regenerativa. As presentes no cordão umbilical têm as vantagens de serem totalmente maduras e livres de impurezas, como medicamentos e estresse, o que garante ainda mais eficiência para uso na área terapêutica. Cientistas israelenses dizem ter inventando um nariz eletrônico capaz de identificar câncer no hálito de pacientes que sofrem de tumores no pulmão e em regiões do pescoço e da cabeça. O estudo israelense, chamado de Nano Artificial (Nosa), contou com cerca de 80 voluntários, dos quais 22 sofriam de câncer nas áreas da cabeça e do pescoço - incluindo nos olhos e na boca - e 24 tinham câncer no pulmão. Todos esses tipos de câncer geralmente são identificados mais tarde, ou seja, em estágio avançado. Quando esses tipos de câncer são descobertos mais cedo, maior é a chance de cura. Reprodução Reprodução Famílias guardam mais células-tronco Nariz que identifica câncer Absolvição do pepino espanhol Especialistas germânicos descobriram em fazendas da Alemanha, a origem para o surto que já matou quase 30 pessoas no pais. As atenções se voltaram para plantações de broto de feijão onde foram encontradas as bactérias em grande quantidade. Os locais foram isolados. Incialmente, as autoridades sanitárias acusaram os pepinos espanhóis como os transmissores da bactéria E.coli. Esclarecido o caso, o vice-primeiro ministro espanhol, Alfredo Rubalcaba, estuda a possibilidade de processar a Alemanha. Enquanto os diplomatas discutem,o surto avança. Um caso de infecção pela mesma bactéria foi confirmado nos Estados Unidos. No Brasil, a Anvisa não pretende colocar em prática nenhum programa especial para impedir a bactéria de desembarcar em aeroportos brasileiros. Mas a vigilância sobre passageiros com diarréias fortes será intensificada. Vox Objetiva | 37 saúde CARDÁPIO DOS HORRORES Nutricionistas listam os vilões da alimentação moderna e sugerem itens alternativos para manter o corpo longe das doenças que começam pela boca André Martins G orduras, sódio e açúcares são “ingredientes” tão incorporados à dieta do homem contemporâneo que a cada dia se torna mais difícil pensar em itens que não apresentem considerável teor de um desses inimigos do corpo saudável. Hoje, a indústria alimentícia tem como base essa tríade, contra a qual grande parte dos profissionais de saúde vem travando uma verdadeira batalha. Recentemente, médicos norte-americanos lançaram uma campanha para deter o palhaço Ronald, mascote da poderosa rede de fastfood McDonald’s. Nos Estados Unidos, o sinal vermelho já soou há muito tempo - um recado para os países que desde a década passada têm presenciado a invasão de produtos e multinacionais americanas do ramo alimentício em seus domínios. Hoje, uma em cada três crianças estadunidenses já apresenta problemas com excesso de peso. O Brasil não fica para trás. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, 20% de nossas crianças estão “de mal” com a balança. Considerada doença pela 38 | Vox Objetiva OMS, a obesidade é um dos males associados à alimentação irregular. “Muitas vezes as pessoas não se atentam para o fato de que a maioria das doenças vem da alimentação. São processos lentos, hábitos errados a vida inteira que desencadeiam problemas de saúde aos 50 e 60 anos”, explica a nutricionista Angélica Amaral. Hipertensão, descontrole hipofisário, diabetes, doenças coronarianas e circulatórias também podem ser o resultado de uma vida inteira de excessos. Quando a doença bate à porta, comprimidos e bulas passam a ser companheiros constantes para a reordenação metabólica do organismo. Mas fazer uso de medicamentos passa a ser uma medida vazia se os hábitos alimentares não forem alterados. Para a especialista em nutrição geriátrica Elizabeth Chiari, os péssimos hábitos alimentares modernos, causas do crescente número de diabéticos, hipertensos e cardíacos, foram influenciados pelas transformações sociais e econômicas ocorridas a partir da década de 1950. “Nesse momento o Brasil inicia um processo mais forte de industrialização. É quando a mulher sai de casa e vai buscar espaço no mercado de trabalho”, explica. Assim, surgem novas demandas para a indústria alimentícia e, com elas, as preocupações dos órgãos de saúde. Maldita praticidade Com tantos afazeres e a incompatibilidade de horários, o rito de assentar-se à mesa com os familiares e comer, hoje, praticamente já não existe mais nas grandes metrópoles. As refeições são feitas no carro, no trabalho, nos shoppings, nas praças e até mesmo andando. Comer em casa? Talvez nos finais de semana. Hoje, a comida instantânea, a praticidade é o que prevalece e é aí que mora o perigo. Há alguns meses, circula na internet uma lista elaborada pela nutricionista canadense Michelle Shoffro Cook, com os alimentos mais prejudiciais à saúde: sorvetes, salgadinhos de milho e batata, pizzas, batatas fritas, bacon, cachorros-quentes, donuts (rosquinhas) e refrigerantes. Fica difícil resistir quando todas estas tentações estão ao alcance das mãos e dos bolsos. “Tudo faz mal”, concordam Elizabeth Chiari e Angélica Amaral quando questionadas qual o pior alimento da lista negra de Cook. Elizabeth Chiari tem o costume de negociar com os pacientes – “Eles podem comer de tudo, mas com muita moderação, procurando substituir alguns alimentos. Foi-se o dia em que fazer dieta é sinônimo de sofrimento” Trocas Manter distância de diversos alimentos é uma das principais sugestões dos nutricionistas. Evitar, entretanto, pressupõe encontrar outras alternativas e substituições para o que não é aconselhado consumir. A Vox lançou o desafio à Angélica e Elizabeth e as duas montaram uma relação dos alimentos que são tão prejudiciais quanto os listados por Michelle. “É difícil categorizar, pois cada alimento faz mal de alguma forma”, explica a primeira. Abaixo, alguns dos elementos lembrados e segredos bastante funcionais e saudáveis para a substituição: Alimentos a base de farinha branca Bolos, pães e biscoitos de farinha de trigo, também conhecida como farinha branca (que rapidamente se transforma em glicose) podem ser feitos com frações de farinha integral, 50% de uma e 50% de outra. Não tem erro e o sabor é praticamente o mesmo. Os alimentos integrais controlam o nível de glicose no sangue, previnem a rápida liberação de insulina e, consequentemente, o diabetes. São ainda ricos em fibras, que regulam o sistema intestinal. Refrigerantes Queijo Essas bebidas contém alto teor de sódio e adoçantes (alguns deles de propriedades cancerígenas). Sucos naturais são as melhores substituições, porém, as frutas são ainda mais saudáveis uma vez que delas se aproveita ao máximo as fibras, vitaminas e minerais presentes. Alimento extremamente calórico. A liga do queijo derretido é única. A opção para recheio de pizzas e salgados é fazer uso de uma mistura que leve ricota, ervas aromáticas e condimentos. O resultado é um recheio muito mais saboroso. Sorvetes Os sorvetes à base de leite são constituídos de pura gordura hidrogenada. Picolés e os próprios sorvetes de frutas são alternativas assim como os frozens de iogurte e o açaí, de propriedades antioxidantes. Salgadinhos de milho e batata Em um único saquinho dos conhecidos chips, existe teor de sódio que, em muitos casos, extrapola o máximo recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que é o equivalente a seis tampinhas de uma caneta Bic de sal. Frutas secas, sementes e castanhas (consumidas com moderação) enganam o estômago e são ricas em fibras e óleos benéficos à saúde. Bolachas recheadas O problema destas está no recheio, que leva muita gordura. Biscoitos levemente salgados com ervas, aveia, linhaça e gergelim são as opções de troca. Carnes processadas em geral (salsichas, empanados, hambúrgueres, bacon, presuntos, mortadelas) – Para se manterem conservadas, as carnes processadas recebem grandes quantidades de sódio. O aconselhável é o consumo de carnes frescas e mais magras, como o frango ou peixes. Duas porções semanais de atum, sardinha, bacalhau ou salmão são ideais. Os peixes são ricos em Ômega 3 e ajudam a prevenir a artrite, o infarto, o derrame, o Mal de Alzheimer e a depressão. Cachorros-quentes Maionese, keatchup e a salsicha são os vilões desse tipo de lanche devido a grande quantidade de aditivos químicos. Sanduíche naturais, com pão integral, frango fresco desfiado, cenoura, alface e tomate podem ser a “saída”. Para substituir o keatchup, um molho de tomate temperado com alho, alimento antioxidante. Vox Objetiva | 39 psicologia Consumo ou consumismo – o limiar entre a normalidade e o adoecimento Quando pensamos em consumir, geralmente sentimos prazer, algo que vem encher nosso momento de alegria e satisfação. O consumo é algo que faz parte da natureza humana. Implica na aquisição de bens e serviços. Não vejo nenhum problema em consumir, adquirir e aproveitar bens e produtos para satisfazer as reais necessidades. É algo que mexe com nossa motivação, fonte geradora do prazer, ou seja, o consumo se baseia em necessidades primárias para o homem e para a sociedade. É importante buscar o crescimento pessoal e profissional, a ambição num nível satisfatório é algo que funciona como um combustível para o crescimento em diversas áreas. O problema inicia quando a pessoa passa do limiar do consumo para o consumismo exagerado. Consumismo é uma palavra que faz parte da rotina atual, palavra utilizada em grande escala, motivo de zombaria entre amigos e chavões que incomodam a muitas pessoas. Em geral, as mulheres tendem mais fortemente ao impulso da aquisição. Homens também não ficam muito atrás, mas possuem mais controle por um senso maior de responsabilidade com a provisão familiar. O consumismo é o ato ou hábito de adquirir produtos, na maioria das vezes, supérfluos. Quando comprar se torna algo compulsivo, é possível que o indivíduo sofra de uma doença psíquica geradora de muitos transtornos para a pessoa e aqueles que a cerca. Inicia-se, em geral, com um comprometimento grave, pois a mesma começa a dissimular, enganar e adquirir uma série de coisas inúteis, simples40 | Vox Objetiva mente porque não consegue ficar sem comprar todas as vezes que sai de casa. Atualmente o problema se torna ainda mais sério, com os sites de compras pela internet. Em geral, o compulsivo sente-se culpado, mas não consegue evitar. O desejo pontual é uma ansiedade generalizada e funciona como um “vício”, como de qualquer outro aditivo, tanto que a linha do tratamento terapêutico para este não difere muito se a compulsão é por comida, bebidas, ginástica, sexo ou qualquer outra coisa. Sabemos que a atitude consumista não conduz a nenhum aspecto positivo e complica muito a vida da pessoa, pois acarreta a desconfiança nos relacionamentos, endividamento e estresse pelo remorso constante. É importante realizar uma auto-análise, redescobrirmos a intimidade do nosso eu e de seus valores sólidos. Só assim poderemos encontrar e organizar dentro de nós mesmos os conceitos distorcidos e “mofados”. Muitas vezes a desorganização emocional que envolve as pessoas que apresentam estes conflitos são os problemas de autoestima e sentimentos de inadequação. Os comportamentos compulsivos são hábitos aprendidos numa tenra idade e seguidos por alguma gratificação emocional, frequentemente um alívio da ansiedade e/ou angústia. São hábitos inadaptados que já foram executados várias vezes e acontecem quase que automaticamente numa busca incessante de alívio e prazer. Em resumo, a pessoa que age de forma compulsiva ao adquirir coisas materiais acredita por “certo tempo” que será a forma de externar seus conflitos e inseguranças, lógico que de forma inconscien- Maria Angélica Falci Psicóloga e psicopedagoga [email protected] te a pessoa busca o prazer, mas que em breve tempo cairá no vazio, pois fazer terapia com o cartão tem seu tempo de vida útil. Compra-se por comprar e isso não satisfaz o seu íntimo, não supri necessidade alguma, mesmo que por breve tempo isto pareça acontecer. Quando identificado o problema é necessário uma intervenção profissional. Em nossa sociedade atual, o consumismo é incentivado o tempo todo, seja pelas empresas, na mídia e afins. Muitos recebem como sinal de grandiosidade, status, poder, riqueza, de se encontrar aberto a todas as novidades do mercado, de tê-las e falar sobre elas. Percebe-se um grande valor material em detrimento dos principais valores que tornam uma pessoa realmente feliz e saudável. Assistimos uma geração que caminha para uma frieza em seus sentimentos, relacionando muitas vezes consigo mesmo e se ensoberbecendo de valores que conduzem a uma intensa frustração, pois no íntimo de todos nós existe uma demanda muito forte de amor, segurança e atenção. Devemos valorizar o que realmente importa e fortalecer as ideias que ajudam a construir. Abandonar aquelas que visam à desintegração emocional. Pois acredito que a profunda satisfação e o bem viver vêm do SER e não do TER. A hora para acordarmos é agora. Reflita: onde você está depositando sua felicidade? Qual é o valor que você dá às pessoas? Quais são os valores que você pretende passar para seus filhos, caso os tenha? O ideal para todos nós é saber dosar e viver com equilíbrio e controle dos nossos impulsos, melhor ainda é não sermos prisioneiros de nenhum tipo de compulsão. gastronomia O SABOR DO LUCRO Com números significativos, a sexta edição do festival Brasil Sabor chega ao fim Thiago Madureira D dade dos produtos regionais, têm preços que cabem nos mais variados bolsos, oscilando entre R$ 8 e R$ 85. Para o conselheiro de administração da Abrasel-MG, Fernando de Almeida, o Brasil Sabor valoriza os botecos e restaurantes, uma das opções de lazer preferidas dos mineiros. “É uma forma de incentivar as pessoas a se reunirem, colocar a conversa em dia e divertir saboreando um prato delicioso”. Almeida, que também é proprietário de estabelecimentos que fazem parte do festival, acredita que o evento aumenta a freguesia dos restaurantes. “O Brasil Sabor fomenta o mercado gastronômico”. Os trinta dias de boas opções também são relevantes para que novos ambientes e endereços sejam descobertos. “Existem locais que têm boa comida, mas pouca gente tem conhecimento. O supermercado Super Nosso, por exemplo, tem um ótimo restaurante que serve refeições de qualidade a um bom preço”, diz. O evento também serviu para testar o setor que espera movimentação muito maior com a Copa do Mundo de 2014. “Nosso objetivo é atender com excelência os visitantes e capacitar os profissionais da área com o intuito de melhorar a nossa receptividade para esse evento mundial que está desembarcando no Brasil”, afirma Nonaka. O setor de alimentação fora de casa - que inclui restaurantes, bares, padarias, lanchonetes, entre outros – movimenta, aproximadamente, R$ 73 bilhões todos os anos no Brasil. A cifra, representa 2,4 % do PIB nacional. “Eventos como esses estimulam a produção como um todo e o consumo no setor”, observa. Reprodução iversidade é um termo que caracteriza bem o Brasil. Diferentes sotaques, expressões culturais e belezas naturais compõem a paisagem nacional. O mesmo pode-se dizer da culinária. Os renomados chefs aproveitam a fartura de alimentos e, com o auxílio da criatividade, idealizam inúmeras iguarias. Unindo os mais apreciados manjares, o festival Brasil Sabor completou sua sexta edição com números expressivos. O evento, que terminou em 10 de junho, contou com a participação de aproximadamente 123 mil pessoas, movimentando cerca de R$ 1,7 milhão. Os dados preliminares são da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes. “O Brasil Sabor é um movimento que, ao longo dos seis anos, evidenciou a gastronomia, demonstrando que a comida é o principal recurso da cadeia produtiva do turismo brasileiro e o cartão de visita do nosso país”, frisa o presidente da Abrasel-MG, Paulo Nonaka. “Fazendo uma avaliação, podemos dizer que essa edição foi um sucesso”, comemora. Em Minas Gerais, 87 bares e restaurantes de 22 cidades participaram do Brasil Sabor 2011 com receitas especialmente desenvolvidas para o festival. Os pratos, que exploram a qualiOs bares e restaurantes belohorizontinos nunca estiveram tão lotados. A expansão dos festivais gastronômicos tem dinamizado ainda mais a economia da cidade Vox Objetiva | 41 42 | Vox Objetiva receita QUIBE CRU Receita de Antônio Abrahão Neto, chef da Casa de Abrahão Bistrô Árabe INGREDIENTES » »500g de carne bovina (patinho ou chã de dentro) » »170g de triguilho fino » »sal a gosto » »pimenta síria a gosto » »2 pedras de gelo » »azeite a gosto » »hortelã a gosto » »cebola a gosto MODO DE PREPARO 1.Lave o triguilho e deixe de molho por 20 minutos. Esprema bem e reserve. 2.Limpe a carne, retirando todos os nervos e gorduras. Lembre-se de manter a carne sempre bem gelada. 3.Corte em cubos. Moa a carne, junte o triguilho, sal, pimenta-síria, as pedras de gelo e moa tudo junto mais uma vez. 4.Amasse bastante com os dedos das mãos afim de evitar que a carne se esquente com as palmas da mão. 5.Prove e regule os temperos se necessário. 6.Monte numa travessa, faça desenhos em forma de triângulos e regue com azeite doce. 7.Guarneça com hortelã e cebolas fatiadas. Dica importante: para manter o kibe cru bem fresco e vermelho, mantenha uma película de filme plástico grudado à carne e no lugar mais frio da geladeira. 8.Conserva-se por até 12 horas. Bom Apetite! Vox Objetiva | 43 vox tecnologia GAME COM ENREDO DE CINEMA Divulgação Atento às redes sociais, o Google se apronta para expandir um serviço limitado ao inglês para outras 19 línguas. Trata-se da ferramenta de busca social da empresa, que sugere tweets individuais e atualizações de redes sociais que se relacionam com o assunto pesquisado. O anúncio foi da sede da companhia no Brasil. Um post no blog da Google explica o funcionamento da ferramenta. Os resultados só aprecem quando o usuário está logado. Uma vez conectado à conta pessoal no site da empresa, ela sugere quais as pessoas podem aparecer nos resultados de pesquisa, incluindo contatos do GTalk, do Gmail, usuários seguido no Google Reader e no Buzz, além das demais redes sociais linkadas. A prioridade é, segundo a empresa, para pessoas que já fazem parte dos contatos do usuário nas redes sociais. No entanto, atualizações do Twitter, Facebook e MySpace podem surgir, caso se relacionem aos resultados da busca. O Google tem um acordo com o Twitter para a utilização deste conteúdo, mas não com o Facebook, que acusa a rival de usar o material indevidamente. 44 | Vox Objetiva Divulgação COMENTÁRIOS NA REDE Refinamento de cinema para uma das novas sensações da indústria de lazer digital. Apontado como provável símbolo desta geração, o game de investigação policial “L.A. Noire”, da Rockstar, usa a tecnologia MotionScan para levar a magia da sétima arte para os jogos. Com um rede de 32 câmeras, o MotionScan gestos em alta resolução e o máximo de realidade. E foi a partir dela que os desenvolvedores do game conseguiram transferir dramaticidade as personagens do jogo. Os jogadores deverão se colocar na pele de um detetive veterano da Segunda Guerra Mundial que constatará a corrupção em meio à Polícia dos Estados Unidos. Além disso, terão de conquistar a confiança de seus superiores aproveitando o faro do velho Cole Phelps. No roteiro do jogo digital, referências ao luxo e a miséria da Hollywood dos anos 40 e 50. “L.A. Noire” já está disponível para PlayStation 3 e Xbox 360 nas principais lojas do país. Você é daquelas pessoas que sempre gostou de tuitar, mas precisa programar seus tuítes? Para que precisa ou deseja fazer uma publicação, porém não dispõe de internet no exato momento, uma das soluções é o Twuffer. O serviço permite com que o usuário programe alguns tuítes para um horário específico, seja cumprimentando algum amigo, divulgando algum produto ou com a intenção de enviar um recado para um usuário que não acessa o Twitter no meu horário que o seu. Para ter acesso ao serviço basta acessar o site - twuffer.com - e informe as credenciais do Twitter. No campo indicado, digite o texto do tuíte e selecione a data e o horário para que ele seja publicado. ESTUDO PODE COMBATER SPAM Uma equipe de cientistas da computação da Universidade da Califórnia analisa a natureza do spam - mensagens de e-mail indesejadas geradas por redes de computadores zumbis controladas por programas nocivos chamados botnets. Em três meses, eles receberem os spams de todos os tipos e realizaram compras em sites anunciados nas mensagens. A esperança era reduzir significativamente o fluxo de spam. E eles acreditam ter conseguido um modo de reduzi-lo. De acordo com os cientistas, 95% das transações de cartão de crédito nas compras foram administradas por apenas três empresas financeiras - uma no Azerbaijão e as outras duas na Dinamarca e em São Cristóvão e Nevis, no Caribe. Os cientistas analisaram aproximadamente um bilhão de mensagens e gastaram vários milhares de dólares em 120 compras. Reprodução PROGRAME OS TUÍTES Vox Objetiva | 45 Divulgação carros BELEZA FUNCIONAL Com mais de 20 sistemas de auxílio ao motorista, o novo Passat chega ao Brasil para brigar com os líderes da categoria Thiago Madureira N o início do mês, a Volkswagen apresentou o novo Passat a um grupo seleto de belo-horizontinos. O design, tanto do Variant quanto do Sedan, surpreendeu. As linhas retas que caracterizavam o desenho do antigo veículo foram substituídas pelas ondulações, uma das novas identidades visuais da marca. 46 | Vox Objetiva Seguindo essa tendência de evolução, ainda no exterior do carro, a traseira ficou mais baixa e menos larga. Além da iluminação com faróis bi-xenônio, as lanternas, em busca de eficiência na iluminação, mas com efetivo valor de realce no automóvel, oferecem LEDs como opcionais. Alguns detalhes, como o contorno cromado das janelas, dão um toque de esmero ao sedan de maior valor da montadora alemã vendido no Brasil. O poder de sedução do automóvel, que era grande na antiga versão para os padrões da década de 1970, aumenta quando todas as novidades internas são descobertas. Ao todo, são 20 sistemas de assistência ao motorista. O detector de fadiga, por exemplo, um dos mecanismos mais modernos, avalia alternâncias no movimento do volante e, constatando distorções, emite aviso sonoro e visual no painel para redobrar a atenção do condutor. Com maior precisão, o display do computador de bordo, instalado de frente ao motorista, oferece ampla visibilidade, assim como a partida com um toque na chave eletrônica e os bancos dianteiros com sistemas de massagens e climatização proporcionam maior comodidade ao dirigir. Outro interessante recurso é o Park Assist, que estaciona o veículo em vagas longitudinais e em 90º. Os itens de segurança, que se restringia ao cinto na primeira versão, são os pontos fortes do novo Passat. Os seis airbags, distribuídos nas partes frontais e laterais, garantem maior proteção aos passageiros em caso de colisão. O controle automático de distância e velocidade, outra novidade, deixa o carro sempre em uma posição segura do veículo à frente ou de algum obstáculo físico. Um sensor mede a distância frontal e avisa ao motorista quando um objeto está muito próximo. Caso o condutor não breque, um aparelho integrado ativa o Front Assist, que aciona a frenagem de emergência, mas apenas em veículos com velocidade de até 30 km/h. O modelo Variant dispõe de duas substanciais distinções ao Sedan: teto solar panorâmico e um porta-malas que leva até 513 litros de bagagem, dez litros a mais que na edição anterior. Os bancos tra- seiros com encosto dividido podem ser rebaixados para dar ainda mais versatilidade no transporte de objetos comprimidos. Fabricado na Alemanha, o Passat, que deve desembarcar em terras brasileiras em agosto, virá equipado com motor 2.0 TSI, de 211 cavalos. A transmissão é DSG, que reduz o consumo do combustível, com dupla engrenagem e seis marchas. A versão Sedan deve custar cerca de R$ 106 mil e a Variant R$ 113 mil. O alemão vai ter um páreo duro pela frente. Seu concorrente, o moderno Azera, da Hyundai, líder da categoria, vendido por aproximadamente R$ 80 mil, está consolidado no mercado brasileiro. Restanos saber qual será a receptividade dos consumidores ao novo Passat. Reprodução Vox Objetiva | 47 André Martins cavalos O PASSO PERFEITO A primeira etapa do Campeonato Mineiro de Adestramento é o início de uma longa jornada para a realização do sonho olímpico 48 | Vox Objetiva André Martins N ão é à toa que o adestramento é a modalidade de competição hípica geralmente conhecida como balé equestre. Salto é adrenalina. Adestramento é concentração. Enquanto no primeiro a beleza está na capacidade do animal transpor obstáculos, atingir a altura necessária e tocar o solo com segurança e classe, o adestramento tem como princípio educar o cavalo e tornar seus movimentos elegantes, quer seja o trote ou o galope. Animais bem treinados chegam a executar o que lhes é solicitado pelo montador com tamanha leveza e espontaneidade que parecem agir por conta própria. Respondem aos mais simples sinais emitidos pelo cavaleiro ou amazona e, submissos, não demonstram resistência na execução do que é pedido. O adestramento torna o cavalo cortês, confiante e atento; corrige problemas posturais como a curvatura da cabeça e movimentação das patas e ancas. Montar um equino adestrado é como flutuar, tão grande é a regularidade e harmonia do passo – o que reflete no conforto de quem monta durante e após o passeio. A musculatura humana é trabalhada na medida em que o corpo recebe os estímulos emitidos com o trote do animal. Não existe espécie adequada para o adestramento. Na verdade, especialistas acreditam que todos os cavalos deveriam ser, ao menos, minimamente adestrados. Nas competições, porém, existe a predominância dos Brasileiros de Hipismo e Lusitanos – espécies muito utilizadas para a prática esportiva em geral. Competições A Confederação Brasileira de Hipismo, instituída em 1941 e vinculada à Federação Equestre Internacional, regulamenta todas as disputas oficiais em solo brasileiro. O somatório dos pontos conseguidos nas etapas de cada torneio determina os competidores que repre- sentarão o Brasil em eventos internacionais, como os Jogos Olímpicos. No final de maio passado, o Centro Hípico Vale do Sol, mais conhecido como Chevals, em Nova Lima, foi palco da primeira etapa do Campeonato Mineiro de Adestramento. É o início de um longo percurso para o sonho de disputar o ouro olímpico. Os conjuntos foram divididos em duas categorias, por execução das séries elementar e preliminar. As provas de adestramento acontecem tradicionalmente em uma pista de areia com dimensões de 60m por 20m. A área é delimitada por fitas e cones nos quais são dispostas placas com letras que orientam o cavaleiro na execução das provas e movimentos estipulados previamente pela Federação Hípica de cada estado ou pela própria CBH. Dias antes das competições, são disponibilizadas as reprises, séries de movimentos que, na ocasião da disputa, deverão ser executadas pelo conjunto. Cabe ao montador se exercitar, repetir sequências, estudar os movimentos e procurar a perfeição. O som emitido pelo sino acionado por um dos dois juízes presentes é o sinal para a entrada do conjunto no campo de provas e o início da apresentação. Atentos, os julgadores avaliam o cumprimento da reprise sugerida. O sino é acionado em caso de irregularidades, o que obriga o conjunto a executar o movimento novamente. Se o sinal for ouvido por três vezes ao longo de uma mesma apresentação, o conjunto é desclassificado. Yago Alves Good God e o garanhão lusitano Violino do V.O, de nove anos, levaram a melhor na disputa na série preliminar, já o conjunto composto pela amazona Paula Xisto Câmara e a égua Roberta JCR, levantou o troféu da série elementar. A segunda etapa do Campeonato Mineiro de Adestramento está marcada para o dia 9 de julho, no Regimento de Cavalaria da Polícia Militar de Minas Gerais. A entrada é franca. Vox Objetiva | 49 cavalos Minas: tudo a favor de cavalgadas Já dizia meu tio Fernando Sabino, citando Jaime Ovalle: “Deus atingiu a perfeição quando criou o cavalo. Os outros animais eram rascunhos: hipopótamo, rinoceronte, girafa”. Eu sempre afirmei que em Minas tudo conspira a favor das cavalgadas. Aqui, temos o privilégio de belas paisagens, esse mar de morros sem fim, artesanato riquíssimo, culinária saborosa e gente hospitaleira. O crescimento do mercado de cavalgadas e no número de adeptos é uma prova viva disso. As pessoas que se interessam pelos passeios têm sido levadas a fazer um programa diferente, a praticar esse tipo de esporte. E isso vale tanto para as pessoas que possuem animais, quanto para aquelas que os alugam. Quem faz a opção de praticar a cavalgada, geralmente faz algumas escolhas tanto em relação ao animal quanto ao tipo de sela, manta, embocadura e ainda ter (e manter) ou alugar um cavalo. O que nós não escolhemos é o tipo de terreno. O cavalo nos leva a todos. Qualquer atividade equestre, por pouco ou muito tempo que leve, exige que tenhamos, antes, durante e depois, alguns tratos com o cavalo, aquele que nos carrega para todo lado e em terrenos variados, debaixo de sol, chuva ou frio. Sabemos da importância de um bom trato, do banho, da escovação, da limpeza dos 50 | Vox Objetiva cascos, orelhas e dos olhos, do desembaraço da crina e do rabo, de um casqueamento bem feito, das ferraduras adequadas e bem colocadas. Enfim, detalhes e mais detalhes desses nossos amigos tão especiais. A possibilidade de poder cuidar de um cavalo e também de alimentá-lo é uma coisa muito prazerosa e o retorno, vem “a galope”: o animal, inteligente que é, reconhece quem o trata bem e por vezes relincha quando escuta a voz do dono. Claro que é preciso tomar alguns cuidados em relação à segurança e bem estar das pessoas que praticam a cavalgada, visando uma integração entre o homem, a natureza e o animal e, sobretudo, respeitando as populações dos lugarejos por onde passamos. Eu costumo dizer também que, quem faz cavalgada deve desmontar do animal com a vontade de cavalgar mais. Um bom guia deve conhecer os lugares onde é possível passar com segurança, além de ter a flexibilidade de mudar o trajeto quando acontece algum imprevisto (ponte caída, porteira trancada, rio intransponível) ou qualquer outra situação que impeça a cavalgada de chegar ao seu destino. À medida que a pessoa começa a praticar cavalgada, ela vai definindo qual o tipo dessa atividade agrada mais: grupos menores ou maiores, mais June Sabino Organizadora da Tropa da Lua [email protected] / [email protected] ou menos conforto, percursos longos ou mais curtos, níveis diferentes de dificuldade do trajeto, alimentação mais sofisticada ou mais simples, turismo clássico associado à cavalgada com atividades culturais que podem ser inseridas na programação ou outra modalidade de esporte equestre, que são inúmeras. Eu me sinto responsável por alguns meninos e meninas que começaram a cavalgar muito cedo junto com o pai e hoje, “dirigem” o cavalo sozinhos como me disse um deles dia desses, hoje com seis anos (ele começou com quase dois anos). As pessoas procuram a cavalgada não só como opção de lazer, mas também por tudo mais que ela pode oferecer como atividade física; além da chance de viver o encantamento com as coisas naturais quando o corre-corre da vida diária não nos deixa muito tempo para isso. Eu não tenho dúvidas de que o meu cavalo me conhece, porque já deu várias demonstrações disso. Conviver com o cavalo é uma alegria e um aprendizado. Assim, organizando cavalgadas e participando de todas elas, tenho me garantido a oportunidade de fazer novos e muitos amigos, de preservar e reforçar as amizades antigas, e, principalmente, estar bem próxima do cavalo, esse animal tão especial, que merece nosso respeito e nosso carinho. turismo IMPRESSÕES DE VIAGEM Os sabores, as cores e as tradições de uma Jerusalém “mágica” Carlos Viana Conhecer e degustar a culinária de Jerusalém é uma experiência surpreendente e prazerosa. É bom lembrar aos brasileiros acostumados às comidas mais temperadas que os cardápios Kosher, determinados pela Torá, prevêem uma série de restrições a alimentos gordurosos, com muito sal e profundamente temperados. Basta olhar ao redor do território onde as regras foram criadas para entender o motivo das limitações. Terreno muito seco, água limitada e temperaturas muito diversas. Durante o dia, quente. À noite, frio de zero grau em várias épocas do ano. Daí, a necessidade de se cuidar mais da alimenta- ção como forma de não sobrecarregar o corpo. Tenha certeza, porém, que esse cardápio Kosher quase nunca agrada ao nosso paladar que reencontra o prazer da boa comida quando em um restaurante árabe. Ali sim, se come bem e com sabores entre os mais variados. Da mesma forma que os judeus, os árabes também desenvolveram uma culinária mais voltada para os alimentos vegetais acompanhados de carnes mais leves como o frango e o cordeiro. Essa última, de longe é a mais preferida pelos habitantes por conta dos rebanhos criados facilmente nas monta- Os restaurantes decorados com a vivacidade das cores árabes são muito confortáveis e o melhor, têm preço justo nhas rochosas onde a sobrevivência é feita sempre com pouca água e capim rarefeito. Nas paisagens montanhosas e cheias de pedras da Palestina ou de Israel é fácil se deparar com grandes quantidades de cabras, ovelhas, carneiros e cabritos vigiados de perto por crianças e pastores que mantém a tradição desde os tempos bíblicos mais remotos. Interessante é que quando assistimos às cenas de animais e homens pulando e se esgueirando entre pedras, as imagens não se tornam surpresas, apesar de não fazerem parte de nossa cultura agrária. Quem não se lembra dos pastores do natal ou das histórias em que Jesus com- Vox Objetiva | 51 Nem gastronomia escapa da influência religiosa. As altas concentrações de sódio e gorduras, característica da culinária ocidental, são proibidas pela Torá e não têm vez na cozinha árabe para os homens aos que dedicam suas vidas e cuidados aos rebanhos de ovelhas e cabras? É como se nossa imaginação infantil e nosso imaginário da Terra Santa deixassem o campo onírico e se pusessem vivos diante dos nossos olhos. E não há como observá-los sem o mesmo carinho do qual falam os evangelhos quando relatam o dia a dia daquele povo simples e batalhador. Mas voltemos aos pratos. Uma das melhores dicas para quem vai a Jerusalém é visitar o elegante e antigo bairro de Sheikh Jarrah. Localizado na Jerusalém oriental, a área é mui- to tranquila e abriga os melhores restaurantes da cidade. Durante os nossos dez dias em viagem pela Palestina, visitamos pelo menos três dos endereços mais conhecidos e a surpresa sempre foi muito positiva. Os ambientes são extremamente confortáveis com áreas reservadas para famílias ou mesas externas onde o fumo do Narguile e permitido, mas não incomoda. Entre os clientes estrangeiros de todas as línguas, especialmente funcionários da ONU responsáveis por projetos de ajuda humanitária na região. Comer para os árabes é um momento especial onde amigos ou pais e filhos se unem em torno de uma mesa farta e que significa prosperidade. Essa tradição de família reunida pode ser entendida pela dificuldade em se cultivar e criar os animais em terreno tão inóspito e com pouca água disponível. Daí, o agradecimento diário pelo alimento considerado sempre como um troféu do esforço e da bondade divina para com o homem. E já que o assunto é agradecer comendo, haja fome e paladar para se saborear os mais diversos alimentos. Azeitonas em conserva, homus tahine, coalhadas em mistura com molhos especiais muito diferentes, hortaliças diversas, tomates, pepinos e as temíveis cebolas cruas, difíceis de serem esquecidas depois da refeição. Quem estiver em lua de mel, por exemplo, nem deve passar perto. Junto com as saladas são servidos os pães assados na hora e que chegam a queimar a ponta O bairro de Sheikh Jarrah é a porta de entrada para as descobertas gastronômicas da Cidade Santa 52 | Vox Objetiva dos dedos quando o visitante mais desavisado se atira rapidamente ao consumo. Esse tempo de comer é, sem dúvida, um dos melhores momentos da viagem. Gostos e sabores tão agradáveis que se sucedem em uma descoberta de um mundo tão distante geograficamente, mas tão próximo de todos nós brasileiros por conta da imigração libanesa. Para os amantes de uma boa cerveja ou de um vinho harmonizando os pratos é bom observar os cardápios nas entradas dos restaurantes. O Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos proíbe o consumo de álcool. Mas as restrições não fazem parte de todas as casas e nos locais onde são vendidos, as cartas de vinho e cerveja ostentam títulos entre os melhores do mundo. Israel produz vinhos de excelente qualidade e com preços democráticos. Um jantar completo para quatro pessoas, por exemplo, incluindo uma boa garrafa de vinho tinto, custa em torno de US$150 ou perto de $500 Shekels, a moeda israelense. Essa, inclusive, é uma das grandes vantagens de se visitar Israel. O nosso Real vale em torno de $2,50 da moeda local o que nos permite um gasto menor durante o consumo dos produtos disponíveis em todo o mercado. A porta de Damasco Se você é adepto a conhecer sabores diferentes em locais também inusitados, não pode deixar de visitar as padarias familiares e as pequenas lanchonetes dentro da parte muçulmana da Jerusalém antiga. Cercada por várias portas, a velha cidade dourada está dividida entre quarteirões judeus, armênios cristãos e árabes. Normalmente, os guias judeus dizem que o visitante deve evitar o lado da Porta de Damasco porque lá os riscos de um ataque ou assalto seriam maiores. Sinceramente, um engano condenável. Quando os estrangeiros chegam à grande porta se deparam com camponeses e pastores vendendo frutas, verduras, carnes e todo tipo de iguarias produzidas na região. É uma das passagens mais interessantes para quem deseja conhecer Jerusalém no contexto de uma vida doméstica e diária. Por ali estão bancas com lentilhas, grãos de bico, farinhas de todos os tipos e cores, pimentas e pimentões, alho, cebola e frutas diferentes colhidas localmente como as deliciosas tâmaras secas. É um momento que merece ser deli- Graças a um eficiente sistema de irrigação, Israel consegue produzir frutas suculentas em pleno deserto Vox Objetiva | 53 ciado não só com o paladar, mas também com os olhos e ouvidos curiosos aos sons tão ruidosos e alegres. Para garantir a segurança, a presença policial é constante, mas não interfere no cotidiano dos palestinos. A polícia de Israel surge apenas quando solicitada ou quando para controlar algum tipo de confusão. Sem dúvida, o visitante pode entrar pela Porta de Damasco e descobrir a pé os becos e ruelas apertadas e cheias de lojas do mercado árabe, que existe há mais de dois mil anos. Em vários pontos, os comerciantes se esforçam para falar português ou espanhol em busca de atender e conquistar os clientes brasileiros. Nessa viagem ao mundo muçulmano e cristão, o estrangeiro é muito bem vindo e convidado constantemente a saborear ki- Os cenários pastoris fazem alusão às Escrituras Sagradas. O quadro que apresenta grandes rebanhos e a figura do pastor a conduzir os animais é comum no cotidiano rural 54 | Vox Objetiva bes fritos na hora, brancos e saborosos preparados no óleo de algodão, kibes crus ou as esfihas com vários ingredientes além da tradicional carne moída de carneiro. Vale a pena a parada depois de se esgueirar entre a multidão de palestinos, mulheres muçulmanas com os cabelos cobertos pelo chador e os milhares de estrangeiros de todas as terras que visitam Jerusalém. Na hora de comprar é preciso pedir sempre um desconto. Produtos diversos muitas vezes chegam a ser vendidos por até 60% mais barato. Entre os árabes se diz que o dinheiro deve ser valorizado pelo dono, mas a negociação tem de ser boa para todos os lados. Daí, fique atento aos preços e especialmente à origem dos produtos. Apesar de toda a cultura árabe preservada, das comidas típicas diferentes e saborosas, o mundo globalizado chegou também ao mercado árabe de Jerusalém. Boa parte ou talvez 99% das lembranças preferidas pelos turistas como bonés, chaveiros e panos diversos não viajam mais de camelos, e sim de navio. São importados da China, mas “abençoados por Allah”. Bem, o que importa? Afinal é um produto chinês, mas comprado em uma das viagens e descobertas do mundo mais agradáveis e inesquecíveis chamada de Terra Santa. E, sinceramente, vale a pena. Garanto que será uma viagem inesquecível e encantadora. Na próxima edição de Vox Objetiva entenda a história milenar de formação do povo árabe e judeu e os conflitos que datam da Antiguidade, desde o patriarca Abraão crônica Sou de ninguém Joanita Gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com [email protected] Já faz muito tempo, mas aquela reportagem nunca me saiu da memória. A pauta previa que eu contasse a história de um município, na região centro-oeste de Minas Gerais, que tem nome de gente, mas curiosamente ficou conhecido como a “cidade dos apelidos”. Mesmo desconfiada de que a produção da TV havia exagerado, segui para Cláudio, disposta a cumprir minha missão. Foi no mínimo divertido conhecer um lugar onde o difícil era alguém ser chamado pelo nome de batismo. Fui apresentada a João-de-Barro, Geraldo Periquito, Marcha-Lenta, Thiú, Zé Costela, Manquinho e muitos outros. O costume é tão forte por lá que o carteiro, apelidado de Pato, graças ao jeito de andar, sugeriu que se criasse um catálogo com os nomes e os respectivos apelidos. Assim foi feito, e ficou mais fácil encontrar os destinatários das cartas que chegam por aquelas bandas. Há quem ame e quem odeie apelidos. Há as alcunhas carinhosas e outras bem constrangedoras. A verdade é que eles fazem parte da nossa mineiridade. É comum, principalmente no interior do estado, que os mo- radores sejam identificados senão as mesmas histórias, por seus pertencimentos. pelo menos enredos bem paExplico: ao invés de sobrerecidos. Enquanto isso não nomes, as pessoas se diferenpassa de uma simples locaciam por seus maridos, espolização geográfica na nossa sas, pais, mães, profissões ou árvore genealógica, tudo endereços. Assim surgem a bem. O perigo é esquecerGeralda da Rua da Ponte, o mos quem somos para viver Toninho da Neusa, o Zé da o eterno papel de acompaIvone e o Candinho da mernhante. O risco é criarmos cearia. raízes que além de nos aliPensando sobre esse asmentar também nos acorrensunto, me lembrei de alguém tam. O abismo se aproxima que conheci há alguns anos. a cada passo que nos distanO nome Ana como o de tancia dos verdadeiros desejos tas outras e a origem em um guardados na alma. cantinho bem discreto e esO movimento rumo ao quecido das Minas Gerais que se quer de verdade muda fizeram da minha amiga de tudo de lugar. Na escuridão infância um exemplo típido caos, nossas mãos procuco da saga “sou de quem?”. ram o corrimão da escada e Quando criança ela era a não encontram mais o apoio. Ana da Fiinha; na adolescênOs primeiros passos são trôcia, porque passava parte do pegos e a vontade de fazer o dia vendendo remédios, se caminho de volta ao óbvio é tornou Ana da farmácia; se grande. Mas, mesmo tateancasou e virou Ana do Beto; e do às cegas, é inevitável não quando teve filhos, ela messe encantar pelo cheiro da lima se identificava nas reuniberdade. A busca por si mesões escolares como Ana do mo vale qualquer sacrifício. Pedro e do João. Ana nunca Se a escritura da sua vida foi dela mesma... não está em seu nome, expulse Somos referências para os logo os invasores e assuma seu outros e também nos apoiaterritório. Faça como a cidamos neles para andar pela de de Cláudio que, apesar de vida. Essa é uma eficiente abrigar tantos apelidos, é um estratégia para sermos recosubstantivo próprio. Quem é nhecidos na multidão de nocoletivo de muitas coisas acaba mes e rostos que traduzem, sendo sinônimo de nada. Vox Objetiva | 55 DO RETRATO À BRASILIDADE Romulo Fialdini artes Exposições exclusivas para Minas Gerais recebem mais de 25 mil visitantes e abrem espaço para públicos das mais variadas classes Lucas Alvarenga N as amplas e bem cuidadas áreas de exposição da Casa Fiat de Cultura, o reencontro dos mineiros com os paulistas. De um lado, a mostra “Olhar e ser visto”, um recorte exclusivo do acervo de pinturas de retrato do Museu de Arte de São Paulo. Do outro, “Tarsila e o Brasil dos Modernistas”, o retorno da artista, por meio de sua obra, ao estado que transformou seu modo de retratar a sociedade da primeira metade do século XX. Entre rostos e a exuberância tropical brasileira, há uma ponte não intencional que liga “Olhar e ser visto” a “Tarsila e o Brasil dos Modernistas” para além de São Paulo. Em Descontrução, João Luiz Musa 56 | Vox Objetiva um dos núcleos da exposição de pinturas de retrato, o retratado aparece sob interferência de objetos, pinceladas e ideias. Neste sentido, a exposição modernista sugere quase uma continuidade à outra mostra, embora sejam completamente diferentes. A prova é que, para o coordenador do Masp e curador da exposição “Olhar e ser visto”, Teixeira Coelho, critérios nacionais, regionais ou mesmo locais não têm lugar na mostra de retratos. “A grande ‘mensagem’ da arte, ao contrário da política e da religião, é que somos parte de um corpo internacional, o único a ter sentido neste mundo cada vez menor. As obras foram selecionadas não por serem de artistas italianos ou brasileiros ou paulistas (ou mineiros), mas porque se inserem na temática em questão (o retrato) em suas diferentes modalidades. Há ocasiões em que o ‘público mineiro’ terá suas características específicas de produção e consumo de arte, há outras em que o públicomineiro é um público-mundo e como tal merece e deve ser tratado”, esclarece Coelho. A pintura, antes voltada à retratação da figura, em “O recurso à cena” o ambiente se torna mais explícito e amplo, o que propõe maior grau de complexidade à obra. Um exemplo é “A Roda”, de Henri de Toulouse-Lautrec Aos olhos do outro De frente para o primeiro núcleo da exposição “Olhar e ser visto”, crianças da Fundação Torino olham atentos para os quadros, de forma a percorrer cada pintura. Dali surge o comentário de que “A moça do quadro tá vestida pro baile de 15 anos”. Imponente, a obra vista pela garota de quatro ou cinco anos tem o intuito de retratar, provavelmente, uma figura pública ou um ego inflado já no século XIII. Para Teixeira Coelho, a aspiração de ser visto pela ótica do outro é algo permanente nas artes. “De modo geral, existimos em larga Influenciada pela cultura francesa desde a infância na Fazenda São Bernardo, em Capivari, São Paulo, Tarsila se põe a pintar o símbolo maior da França em meio ao Rio de Janeiro, em “Carnaval em Madureira”. Um claro sinal de deglutinação do estrangeiro modernista”, resume Regina, também curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Da exuberância das formas e do uso de figuras geométricas por Tarsila até o submundo representado por meio do preto e branco das telas de Oswaldo Goeldi, o que se vê na mostra é a tentativa de se criar um conjunto de imagens “do” Brasil e “para” o Brasil. “Os núcleos não são estanques. Certas obras poderiam estar em outros lugares, dialogar fazendo um percurso de ida e vinda”, lembra Regina Teixeira. Há dois anos com o projeto, a curadora destaca algumas obras como “Carnaval em Madureira” de Tarsila, em que a Torre Eiffel surge em meio à favela carioca, “Samba”, de Di Cavalcanti, representação da alegria de viver do brasileiro e “Flora Tropical”, de Militão Dos Santos. explica a exposição. “A partir da Renascença as obras propõem o mundo exterior e o mundo interior das personagens retratadas. Não é mais como antes, quando apenas o exterior era visível. Agora, a essência aparece e a aparência é essencial. O que ocorre com a arte mais recente é que elas põem em cena tanto os retratados quanto o próprio código estético a que pertence o artista – como sempre, aliás”. Em “Busto de Homem (O Atleta)”, Picasso mostra que a soma pode ser maior que o todo, por meio dos múltiplos fragmentos que compõem a cabeça da personagem Extensão do saber A figura xerocada no papel ofício salta aos olhos de um jovem da Escola Estadual Maria Carolina Campos. Deslumbrado com o fato de poder ver na sua João Luiz Musa medida para o outro e aos olhos do outro. Excessos nesse sentido transformam-se em patologias. Mas não há dúvida que o homem é o grande espetáculo do homem”, expõe. Dividida em seis núcleos, a exposição privilegia o retrato, um dos gêneros de arte mais tradicionais e renovados que se conhece. Da Renascença aos dias atuais, o recorte exclusivo do Masp apresenta pinturas de van Gogh, Diego Rivera, Picasso, Portinari; esculturas e até mesmo uma fotografia, que de acordo com o curador, é por excelência a arte de hoje. Teixeira Coelho também De Minas para o Brasil O ano era 1924. Tarsila do Amaral vinha para Minas Gerais com o “bando” dos modernistas para visitar as cidades históricas durante a Semana Santa. Aqui, deu-se o reencontro que marcou a carreira da artista. Em contato com as cores caipiras que aprendera desde cedo a considerar como bregas, quase rústicas, a pintora voltou à infância e deixou como relato o seguinte trecho: “Encontrei em Minas as cores que adorava em criança: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo em gradações mais ou menos fortes conforme a mistura de branco”. De volta a Minas Gerais por meio das pinturas, a paulista encabeça a mostra “Tarsila e o Brasil dos Modernistas”, com curadoria de Regina Teixeira de Barros, pesquisadora da artista desde 2006. “A obra dela sintetiza um Brasil por meio de imagens fortes e de uma simplicidade de cores e desenhos. Talvez seja esta herança que tenha se perpetuado, influenciando outros artistas do movimento Vox Objetiva | 57 artes frente “Antropofagia”, um dos célebres quadros de Tarsila, o rapaz de 14 ou 15 anos exclama: “Olha! É o desenho de capa do meu caderno”. Informado sobre tal comentário, o diretorpresidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, não fez cerimônia. “Nós privilegiamos os alunos de escolas públicas nas visitas orientadas. Sabe por quê? A razão é simples. Ao chegar a uma exposição, eles, diferente de uma criança com outra condição social, não estão culturalmente preparados a guardar suas reações. Eles são mais espontâneos e curiosos. Assimilam tudo. Por isso digo que são como esponjas”. O trânsito de diferentes classes e culturas pela Casa só acontece, de acordo com José Eduardo, pois há programa educativo para cada exposição. “Este é o nosso grande ponto de força, o programa educativo, onde preparamos monitores para atender diversos setores da sociedade”, expõe o diretorpresidente, também diretor executivo da montadora italiana. Idealizado pela educadora e artista plástica Vera Barros, o programa capacita professores e orientadores observando as Sergio Guerini Enquanto grande parte dos modernistas se pôs a registrar a exuberância da fauna 58 | Vox Objetiva e flora brasileira, Oswaldo Goeldi mostra o submundo, como em “Casas” características de cada exposição. Em função do programa educativo, a associação abriu as portas para uma visita incomum. Um grupo de dez jovens do programa de Liberdade Assistida visitou a área expositiva na tarde do dia 31 de maio. Junto aos visitantes, o diretor-presidente da Casa Fiat caminhou corredor por corredor, observou obra por obra e constatou: “Os rapazes ficaram fascinados com a origem humilde de uma grande parte dos artistas e como eles alcançaram sucesso econômico e social. A saída da marginalidade, seguida de projeção, despertou a curiosidade deles. E a curiosidade deles despertou a minha”. Atenção à cultura Antes público e há cinco anos provendo a cultura em Belo Horizonte, o diretorpresidente da Casa Fiat recorda suas origens. “Minha família tem um pé na universidade e outro nas artes, principalmente a literatura, e em menor medida na música e nas artes plásticas”. Como fruidor das artes desde cedo, o empreendedor, natural de Belo Horizonte, coloca como condição fundamental para o trabalho que lá desenvolve a boa visitação às exposições. E não é a toa que o diretor afirma: “Não há arte sem público”. Ciente de que um visitante ao se deslocar para Casa Fiat busca a arte, primordialmente, José Eduardo se lembra da descrença com relação ao projeto. “Diziam que o local era inadequado e que não haveria público. Ora! Sou de uma época em que havia cinco orquestras em Belo Horizonte e todas tinham demanda”. Apesar de atingir os objetivos traçados em 2006, a associação reconhece a importância de aproximar a arte do público. Não é a toa que o presidente da Fiat, Cledorvino Belini assinou em março passado um protocolo de intenções para que a Casa possa se transferir para o Palácio dos Despachos, antiga sede administrativa do Governo do Estado. De acordo com José Eduardo, a mudança ocorrerá até junho de 2014, embora a data possa ser antecipada. Perguntado sobre o planejamento para o período, o diretor-presidente revela: “Já está programada a exposição ‘O mundo da Copa’, aproveitando a onda do evento. Queremos contemplar todos os países sediados em Belo Horizonte, quebrando tabus por meio da arte por eles produzida”, conclui. Informações: Casa Fiat de Cultura Endereço: Rua Jornalista Djalma Andrade, 1250, Belvedere Horários: terças a sextas, de 10h às 21h, e sábados, domingos e feriados, de 14h às 21h Contato: 3289.8900 Exposições e períodos: “Tarsila e o Brasil dos Modernistas”, de 10 de maio a 10 de julho de 2011 e “Olhar e Ser Visto” de 03 de maio a 03 de julho Entrada e transporte – saindo da Praça da Liberdade - gratuitos música E MISTERIOSA Fernanda Carvalho TURNÊ MÁGICA Paul McCartney fez o público brasileiro abrir a janela dos anos de 1960 e imaginar os Beatles. Independentemente da geração, Macca continua agregando fãs e lotando estádios Fernanda Carvalho E le já é um senhor de 69 anos, mas a vitalidade e energia continuam a mesma daquele Paul McCartney da década de 1960, quando a banda inglesa mais famosa de todos os tempos foi criada. Confirmando a pontualidade britânica, Macca, como é chamado pelos fãs, subiu ao palco no estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro. Era a última noite de uma série de shows da Up and Coming Tour no Brasil. Logo, os admiradores perceberam que McCartney estava um pouco diferente. Dessa vez, de terno e com expressão um pouco mais séria, abriu a noite ao som de Magical Mystery Tour e transformou a segunda-feira de trabalho em pura magia. Do Pará até o Rio Grande do Sul, muita gente viajou o dia todo para cantar com o astro sexagenário. E não foram somente adultos ou idosos. O público era tão eclético quanto as músicas dos Beatles. Cinco ge- rações de beatlemaníacos curtiram juntas as quase duas horas e meia de show. Mônica e Sara Campos, mãe e filha, foram ao espetáculo. Segundo Mônica, os Beatles tinham um arranjo muito original. O interesse dos jovens pelo som estaria na influência que recebem de casa. “A Sara é um exemplo disso. Ela herdou essa admiração por influência do pai. Curtir aquele momento foi muito especial. Eu me sinto feliz por ela ter identificação com música de qualidade”, explica a mãe. A plateia confirmou também que não era a primeira vez que presenciava o show. Durante as 40 músicas, comentavam as modificações, vibravam com as canções repetidas e sabiam tudo o que iria acontecer. Mas Paul provou não ser assim tão previsível. Mudou canções (tocou mais The Wings – banda de McCartney), trocou o figurino, as frases, e até soltou um simpático e carregado “Eu sou Carioca!”, demonstrando que a paixão pela cidade permanece a mesma, desde a primeira visita. A primeira vez do astro no Brasil aconteceu em 1990, ano que marcou a história do cantor e também a do país. O show no Maracanã deu a Macca um lugar no Guinness: 184 mil pessoas lotaram o estádio. Pouco tempo depois, em 1993, os brasileiros teve mais uma chance de curtir um show do ex-Beatle. Na ocasião, Paul incluiu São Paulo e Curitiba na New World Tour. A turnê chegou ao Brasil justamente quando era lançado o disco Paul is Live, com capa na clássica Abbey Road, ironizando a lenda que dizia que Macca estava morto e fora substituído por um sósia. Depois de dezessete anos sem voltar ao país, mais uma vez, McCartney comprovou que realmente está vivo. Retornou e fez esgotar, em menos de uma hora, a venda de ingressos Vox Objetiva | 59 música da primeira noite de apresentações em Sampa. Uma marca que somente um ex-beatle como Paul McCartney poderia alcançar. O retorno de Sir. Paul ao Brasil deixou o público eufórico. Sara Campos, estudante de psicologia, ficou no setor mais próximo ao palco no primeiro show de McCartney no Morumbi, em 2010. Para ela, a performance deste ano teve uma energia muito forte. “Era muita expectativa. Fazia anos que o Paul não pisava em solo brasileiro. Os fãs estavam sedentos. A plateia estava louca”, conta. Em 2011, foi a vez do público impressionar o astro. Vários dias antes de uma das apresentações da turnê, fãs de diferentes partes do país organizaram “São Paul” “Quem conhece os Beatles desde o berço, ama os Beatles desde o berço”. É o que acredita o vocalista da banda cover Hocus Pocus, Vladimir Magalhães. Para ele, Paul McCartney representava no grupo o músico formal, com arranjos mais clássicos, mas com pitadas de experimentalismos. “Ele se sobressaía na banda como multi-instrumentista (piano, guitarra, baixo, violão, bateria, órgão, melotron, flauta). Seus vocais, das baladas mais suaves aos rocks mais agressivos, são sempre impecáveis, ou melhor dizendo, fabulosos”, explica o músico. Magalhães, que com pouco mais de dez anos foi presenteado pelo pai com uma fita cassete do Beatles, é um fã de carteirinha. A paixão era tanta que ele decidiu montar uma banda cover antes mesmo de aprender a tocar. Depois de uma década de contato com o trabalho dos antigos garotos de Liverpool, Vladimir se decidiu quanto ao integrante favorito. “Hoje sou obrigado a dizer que é o Paul McCartney, por tê-lo assistido ao vivo. Mas essa é uma pergunta sempre difícil de responder. O impressionante no caso do Paul, e também dos Beatles, é o quanto uma música gravada há quase 50 anos ainda soa interessante e pertinente para os jovens de hoje e de amanhã”, assegura. Mônica Campos sabe muito bem o porquê de Paul McCartney ainda ser tão adorado. “O valor dele é também por qualidades próprias como pessoa, indivíduo. Além da criatividade musical, o ex-beatle leva para o palco beleza, simpatia, carisma e educação”, explica. Paul vive o momento junto com o público. Esse talvez seja um dos segredos de tanto sucesso. Fernanda Carvalho 60 | Vox Objetiva uma homenagem ao cantor. Levaram ao Engenhão placas a inscrição “Na”, referenciando Hey Jude, e balões coloridos, se referindo ao piano que o cantor geralmente usa para tocar a canção. A instrução era para que as pessoas levantassem as plaquinhas e os balões quando cantado o refrão. Paul e banda acolheram a homenagem com sorrisos de surpresa. Na noite seguinte, o mesmo “Na” fez o público se emocionar na saída do estádio. Depois de ter voltado ao palco com os “NaNaNa’s” de Hey Jude, grande parte da multidão deixou o estádio cantando o mesmo refrão, preenchendo todo o espaço dos corredores que davam para a saída: uma cena pra ficar na memória para o resto da vida. Não satisfeita, Sara também foi à segunda apresentação realizada no Rio. Para ela, um presente. “Nas duas, em 2010 e 2011, eu pulei, cantei e me emocionei feito louca. Nesse, mesmo nos momentos em que eu já sabia o que ia acontecer, como alguns vídeos e efeitos, a emoção foi única. Mal tinha caído a ficha do primeiro show e veio esse segundo”, explica. Nas duas apresentações, Paul não deixou de prestar uma homenagem a John Lennon e George Harrison. Para Mônica Campos, o momento mais emocionante foi quando Paul McCartney entoou Something, em homenagem a Harrison. “Eu gostei muito, foi o que mais me tocou”, afirma Mônica. Existe vida pós Beatles! Em 1970, os Beatles se separam. Apesar do fim da banda, Paul não ficou sentado em uma cadeira de balanço esperando a vida passar. Até porque ainda era jovem, só tinha 28 anos. O dono do baixo de uma das maiores bandas do planeta continuou na ativa. Aliás, continua. Logo depois de se despedir dos companheiros de banda, começou a escrever nova história em outra. McCartney cresceu e produziu o seu primeiro disco solo, McCartney (1970), que contava nos vocais com a mulher, Linda McCartney. Não demorou muito para que viessem o segundo e o terceiro discos pósBeatles. A diferença é que o terceiro trabalho solo de Paul, saiu com a assinatura de The Wings. Já na estreia, o álbum Wild Life (1971) ganhou disco de ouro nos EUA. Foram mais dez anos com os Wings. A banda lançou, ao todo, sete álbuns de estúdio e um ao vivo. Todos os discos gravados durante a existência da banda ganharam certificações de vendagem. Foram dez discos de ouro, sete de platina e um Guilherme Reis disco de platina triplo. Os destaques da discografia do Wings foram: Red Rose Speedway (1973), Band on the Run (1973) e London Town (1978). Apesar das mudanças constantes na formação da banda, Paul McCartney mostrou que sua música tinha enorme qualidade ainda que sem o suporte dos demais beatles. Claro que juntos eram melhores. Se Paul continuou trabalhando depois do término dos Beatles, por que não continuar depois de Wings? Foi o que fez. Macca ainda produziu mais 13 álbuns de estúdio. O último deles é Memory Almost Full de 2007. Ótimo, diga-se de passagem. Os números de Paul são incríveis. Ao todo, contando com a trajetória nos Beatles, The Wings e carreira solo, são 41 álbuns de estúdio lançados. Um detalhe: a qualidade é a mesma. Por onde passa, Macca é reconhecido e leva milhões de pessoas aos seus shows. A grande sacada é construir uma linguagem musical atemporal e de fácil entendimento para todos. Coisa de beatle, coisa de gênio. BIG Ciclovias: BH ganha mais uma alternativa de transporte e lazer. Obra. Muita obra. Com planejamento, eficiência e uma lógica que faz tudo se encaixar. Agora, a Prefeitura de Belo Horizonte traz mais uma novidade: o programa Pedala BH, que vai implantar dezenas de ciclovias pela cidade. Para começar, serão construídas as ciclovias da Risoleta Neves, de Venda Nova, do Barreiro, da Américo Vespúcio, da Avenida dos Andradas e a ciclovia da Savassi. Novas ciclovias. Mais uma alternativa de transporte e lazer para a cidade. Prefeitura de Belo Horizonte. A cidade não para de melhorar porque a Prefeitura não para de trabalhar por você. Ciclovia Savassi Ciclovia Américo Vespúcio Ciclovia Barreiro Ciclovia Venda Nova Ciclovia Risoleta Neves BHTRANS. É a Prefeitura fazendo tudo para você chegar m BHTRANS. É a Prefeitura fazendo tudo para você chegar melhor. Informações Disque 156 www.bhtrans.pbh.gov.br Vox Objetiva | 61 literatura SEXO! Em novo lançamento, Mary Del Priore discute os tabus da sexualidade e as regras sociais brasileiras do período colonial à contemporaneidade André Martins H á quem acredite que a melhor maneira de se conseguir atenção é pronunciar a palavra que intitula esta página. A razão parece óbvia. Sexo tem apelo popular. Em segredo ou não, ele ocupa lugar na vida individual e coletiva. Histórias íntimas – sexualidade e erotismo na história do Brasil, da historiadora Mary del Priore, é o resultado de uma investigação profunda sobre a história do sexo e da sexualidade em nosso país. Conhecida por confluir história e literatura, Mary, vencedora dos prêmios Jabuti e Casa Grande & Senzala, acaba de lançar o vigésimo nono livro. Em Histórias íntimas, entretanto, a prosa é deixada de lado. A autora adota uma redação descritiva, traçando um interessante e rico panorama do século XV até o momento atual. Além de consultar uma extensa bibliografia, Mary ouviu diversos especialistas. Tamanho empenho resultou em uma obra agradável, disposta de maneira leve e “viciante”. Assim como Moacir Scliar expôs no prefácio, a história pode ser trabalhada de diversas maneiras. E Mary del Priore sabe, como ninguém, torná-la convidativa. Por isso, Histórias íntimas é um achado. Indispensável àqueles que desejam descobrir passado e presente por meio de um enfoque 62 | Vox Objetiva que transcende o prazer. Abaixo, a Vox apresenta as principais questões que pontuam esse detalhado manual de pesquisa sobre um povo e sua maneira peculiar de encarar o sexo e tudo que a ele se vincula. Para despertar o “apetite” Há 511 anos, âncoras das treze caravelas portuguesas comandadas por Pedro Álvares Cabral eram lançadas no assoalho oceânico da costa brasileira. Após uma longa e extenuante viagem pelo misterioso Oceano Atlântico, os homens de D. Manuel I encontraram uma terra exuberante, de vegetação herbácea, com comunidades de aparente pequeno grau de complexidade. Os nativos viviam assim como vieram ao mundo: nus. Não demorou muito para que os corpos ondulados das índias, a inexistência de panos que lhes cobrissem as “vergonhas” e o modo despudorado com o qual lidavam com o corpo e pensavam em sexo despertasse a curiosidade branca. O demônio atentava, andava a espreita. Parecia impossível esconjurá-lo. No século XVI, os parâmetros de beleza eram diferentes. A robustez estava em alta e se refletia na arte renascentista. Seios não haviam sido descobertos. Eróticos eram, acredite, os pés, fetichizados pelo univer- so masculino até o século XIX. Um descuido com a barra dos vestidos e a aparição do tornozelo ou dorso de algum membro inferior era o suficiente para levar os homens ao delírio. Prazer era algo relativo, permitido apenas a eles. A luxúria, entretanto, era o passaporte para o inferno, dizia a Igreja. O sexo era mecânico. À mulher, não eram permitidas reações. Ela deveria ser apenas uma exímia senhora e procriadora. Nos 200 anos seguintes poucos avanços. Os romances e desejos continuavam reprimidos. Vontades e propostas indecorosas ecoavam dos confessionários. Nada que não fosse reparado com penitências. Os galanteios eram atípicos. Da janela, as moças apreciavam candidatos escarrarem, assoarem o nariz e cuspirem – rudimentares demonstrações de virilidade do Homo sapiens. Contudo, existia quem violasse as regras ao beijar de língua e bulinar as parceiras. Modernos também eram os poetas que criaram um vocabulário estarrecedor para satirizar os conservadores protocolos sociais. Com a chegada da Família Real Portuguesa no século XIX, o Brasil se tornava o Império da Lascívia. O descontrole sexual era característica marcante em ries e, décadas depois, o polêmico biquíni. As meias grossas e o incômodo espartilho, tal como num streptease, são banidos do corpo e do guarda-roupas feminino. Um novo perfil de mulher desponta no início dos 1900. Apesar de neste período as mulheres iniciarem um processo de não-subserviência ao macho e adquirirem autonomia, o discurso tradicionalista se manteve. Preservar a virgindade, ser recatada e, arrumando marido, se dedicar inteiramente ao lar eram atitudes salutares. O divórcio, por sua vez, era um infortúnio, principalmente a elas, as responsáveis pela preservação da união. Enquanto as meninas aprendiam as tarefas domésticas e sonhavam com o matrimônio perfeito, os meninos exploravam as aventuras que a noite e as mulheres da vida poderiam proporcionar. Nas décadas de 1960 e 1970, o Brasil é “assaltado” pela “revolução sexual”. O desejo de transgredir se confluía com o anseio pela liberdade, cerceada pelo golpe de estado. A TV, o cinema, a indústria fonográfica e editorial, mesmo que controladas, estimulavam o discurso do “vamos liberar”. O corpo da mulher voltava a estar em evidência. As discussões relacionadas à pílula anticoncepcional colocavam em choque comunidade científica e Igreja. O feminismo, no Brasil em menor grau, determinava nos Estados Unidos e Europa que era a vez das mulheres. De 1970 a 1980, o Brasil se surpreende com a escalada no número de assassinatos de mulheres por seus próprios parceiros. O motivo era quase sempre o mesmo: ciúme. Eles exerciam cada vez menos controle sobre elas. Daí para frente, o que se viu foi uma menor preocupação com o casamento. O bem-estar individual passava a estar acima de qualquer preceito. Hoje, o perfil da família brasileira é diferente. O índice de lares chefiados por mulheres tem aumentado rapidamente. Já não é possível afirmar que casar seja algo almejado como outrora. O Brasil passa por um processo de individualização. Descobrimos que é possível viver melhor sós. Melhor? Seria um mal de um tempo? Seria um mal? O século XXI parece repleto de perguntas não respondidas. Indagações que se impõem com o dilatamento da palavra “liberdade” na vida social. Liberdade sexual, inclusive. Muita coisa mudou de 1500 para 2011. Entretanto, é nítida a maneira engessada com a qual pensamos a sexualidade. Preconceitos e resquícios de uma sociedade onde o homem ainda tem primazia. O tempo é um santo remédio e o senhor da razão, dizem. A história é fascinante e ininterrupta e cabe a nós darmos novos rumos a ela. O livro de Mary Del Priore é um bom começo para entender em detalhes uma trajetória de tantas transformações. Pós-doutorada na École dês Hautes Études em Sciences Sociles, de Paris, Mary del Priore lança um novo olhar sobre nosso passado com “Histórias íntimas“ Vox Objetiva | 63 Fernando Rabelo D. João VI e, mais tarde, na figura de seu herdeiro, o voraz D. Pedro I, que tinha maior apreço por uma de suas amantes, Domitila de Castro, do que pela própria esposa, dona Leopoldina. Antes que o filho colocasse em perigo a credibilidade da Realeza, Carlota Joaquina, a princesa brasileira adúltera, havia mandado matar a facadas a mulher de um de seus muitos amores. Nunca se pensou tanto com a “cabeça de baixo”. Apesar da libertinagem, o sexo se mantinha como tabu entre a sociedade, e a Igreja como a instituição que prezava pelos bons costumes. José e Maria ainda eram como modelo de casal. A masturbação, o coito e as carícias genitais eram condenadas. O sêmen era considerado um líquido precioso que não poderia ser desperdiçado. Curiosamente, é nesse contexto que o mercado editorial se expande. A literatura pornográfica ganha adeptos e, mais tarde, se torna tecnicamente mais refinada. Os desenhos grosseiros dos periódicos apimentados do Império davam lugar às fotografias de artistas e prostitutas francesas que se exibiam de maneira comportada até. As doenças sexuais começavam a ser debatidas. Aborto, nem pensar! A homossexualidade era considerada depravação por uns e doença por outros. Além deste “grave desvio”, a “corrupção de menores”, a pedofilia, acreditem, já preocupava especialistas no desfecho dos 1800. No século XX, o vento da transformação começava a varrer o país. De acordo com estudiosos, é neste século que o corpo é descoberto, no real sentido. A mulher passa a se despir para a arte e prática esportiva. Do exterior chegam as primeiras linge- vox cultural ias estre No escurinho do cinema X-men primeira classe Meia noite em Paris Direção: Woody Allen Gênero: Comédia Distribuidora: Paris Filmes Estreia: 17 de junho de 2011 Depois de Barcelona (com Vicky, Cristina, Barcelona), Nova York (com Tudo pode dar certo) e Londres (com Ponto final), chegou a vez de Allen reverenciar e homenagear a Cidade Luz. Meia noite em Paris tem esse significado. O filme abriu o Festival de Cannes, tendo sido muito bem recebido pela crítica. Como não poderia deixar de ser, o novo filme de Allen é repleto de personagens neuróticos. O casal em crise, o personagem que não acredita existir alguém mais infeliz que ele, uma família que se vê obrigada a mudar para a capital francesa. Em meio a tantas desilusões e decepções, esses personagens se encontrão, o que dará origem a situações tragicômicas. No elenco, Marrion Cotillard (Piaf – um hino ao amor), Adrien Brody (O pianista), Kathy Bates (Louca obsessão) e a primeira-dama francesa Carla Bruni (Paparazzi). Direção: Matthew Vaughn Gênero: Ação Distribuidora: Fox Film Estreia: 3 de junho de 2011 Magneto (Michael Fassbender – Aquário) e Professor Charles Xavier (James McAvoy – O último rei da Escócia) têm o passado revelado no novo longa. O longa explica como os X-men se conheceram, reuniram e os motivos que levaram Magneto e Professor Xavier, antes companheiros, a tornarem-se arqui-inimigos. A história se desenrola na década de 1960, quando União Soviética e Estados Unidos quase protagonizaram a 3ª Guerra Mundial por conta da crise dos mísseis de Cuba. Os eventos históricos e suas consequências são relacionados à atuação dos integrantes do grupo, que tentam impedir que o conflito aconteça. O máximo uso da força por parte da URSS e EUA interessaria unicamente a Sebastian Shaw (Kevin Bacon – O lenhador), mutante que possui capacidade de concentrar toda espécie de energia e convertê-la em força. Sem dúvidas, o mais inteligente filme da franquia. No elenco, um conjunto de jovens promessas de Hollywood que inclui, além de Fassbender e McAvoy, Rose Byrne (Adam), Jennifer Lawrence (Inverno da alma) e January Jones (Mad men). A árvore da vida Direção: Terrence Malick Gênero: Drama Distribuidora: Imagem Filmes Estreia: 24 de junho de 2011 O grande vencedor do Festival de Cannes 2011, A árvore da vida se relaciona a dois assuntos tratados de maneira paralela, porém quase indissociáveis: a criação de filhos, os reflexos desse contato – representação que se dá por meio de uma família americana inserida na década de 1950 e, especialmente, de um garoto 64 | Vox Objetiva que anos mais tarde, já homem, sofre com as lembranças do passado – e o existencialismo. Estrelado por Brad Pitt (Clube da luta) e Sean Penn (Sobre meninos e lobos), o filme de Terrence Malick apresenta diversas imagens de impacto que dão conta da criação do universo, a força da natureza e os reflexos da passagem do tempo. Tudo para delinear a dicotomia início e fim, vida e morte – que de forma sutil e delicada é tratada na obra. Hoje, A árvore da vida é considerado o maior favorito às premiações americanas. MENTE ABERTA 21 Adele Sony Music Preço: 26,90 Aos poucos Adele vai colhendo os louros que, ninguém duvida, lhe são dignos. Com apenas 23 anos, a cantora inglesa tem conseguido solidificar a carreira, iniciada em 2008. Hoje, de acordo com o jornal inglês The Guardian, Adele é a personalidade mais importante da industria fonográfica mundial. E por essa, Lady Gaga não esperava. O nome da moça demorou a retumbar por aqui, tanto que o novo álbum da jovem, 21, só chegou às prateleiras das lojas brasileiras no fim de abril. A cantora, que conflui soul, folk e jazz no repertório, emplacou algumas das canções do disco de estreia, 19, nas paradas de sucesso inglesas e conheceu o sucesso de maneira quase instantânea. O novo trabalho, se não é equivalente, é superior ao primeiro. 21 significa muito. Além de ser o álbum que vem projetando Adele para o mundo, as 11 canções que o compõe são o resultado do recente rompimento dela com o namorado. A grande maioria delas músicas faz referência à separação. Algumas flertam ainda com a música country. É nítida essa influência americana. Nos EUA, Adele foi muito bem aceita, o que nem sempre é fácil para uma estrangeira. O destaque de 21 fica por conta da excelente Rolling in the deep, música que abre o disco, Turning tables, a mais badalada do álbum, e Lovesong, uma bossinha que só faz lembrar a musicalidade brasileira. Se você não conhece, vale a pena dar uma única chance. É o suficiente. O segredo dos seus olhos Blu-ray Europa Filmes Preço: R$ 29,90 Benjamín Espósito (Ricardo Darín – Nove Rainhas) é um funcionário público aposentado pelo Tribunal Penal argentino que decide escrever um livro sobre um caso em que esteve envolvido anos atrás, o assassinato brutal de Liliana Coloto (Carla Quevedo). Entre as recordações e o tempo presente, Espósito se reencontra com a antiga chefe e eterno afair Irene Menéndez (Soledad Villamil) peça importante na captura do assassino. O processo de rememoramento leva Benjamín a fazer novas descobertas a respeito dos envolvidos, algo absolutamente inesperado. O filme não segue uma sequência cronológica. Por meio da edição, o espectador transita entre o presente e o tempo das investigações, há 25 anos, quando, revirando as provas do caso, Espósito percebe que as fotografias e olhares impressos em álbuns familiares da vítima poderiam levar ao assassino, que estava mais próximo da jovem do que se podia imaginar. Em 2009, O segredo dos seus olhos se tornou o segundo filme argentino a vencer na categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar. A obra é dirigida por Juan José Campanella e baseado no romance La pregunta de sus ojos, de Eduardo Sacheri. Interpretação inspiradíssima de Darín, talvez o maior ator sul-americano hoje. O blu-ray de O segredo dos seus olhos apresenta formato de tela widescreen e áudio dolby digital 2.0. Espanhol e português são as línguas opcionais de idioma. Inglês e português as opções de legenda. Não contém extras. Vox Objetiva | 65 piadas Rir faz bem Sorrir também CLONE O sujeito entra no bar, já mais pra lá do que pra cá, quando olha pra única mulher dentro do buteco. Cambaleando ele vai até lá, põe a mão na perna dela e dá um abraço. A mulher vira e dá um tapa na cara dele: - Desculpa, dona. Eu pensei que fosse minha mulher. Ocê é igualzinha a ela! - Sai daqui, seu bêbado. Vagabundo, sem-vergonha, safado... - Tá vendo! Você também fala igualzinho a ela! LAGOSTA - Ei, garçom! Esta lagosta que você trouxe está sem garras! - É que as lagostas que servimos são tão frescas que brigam na cozinha umas com as outras e acabam arrancando as garras. - Tá bom. Então leve esta de volta e trás a que ganhou a briga. 66 | Vox Objetiva ck Xch ng PROPAGANDA O menino vinha subindo a rua com um balaio cheio de laranjas e gritando: - OLHA A LARANJA! OLHA A LARANJA! Um cara chegou na janela e perguntou: - É doce? - Não, seu burro! Se fosse doce, eu ia gritar: OLHA O DOCE! OLHA O DOCE! NO RESTAURANTE O cara leva a namorada em um restaurante japonês. Para tirar onda, pega o cardápio, aponta um nome e fala: - Eu vou comer esse aqui, você me acompanha? O garçom, com a maior cara de pau, informa: - Acho melhor o senhor escolher outra coisa. Esse é o nome do dono do restaurante, e ele é campeão de judô! Stock Xchng BEBUM O bêbado fazia o maior escândalo na delegacia: - Seu delegado. Só porque eu estava ajoelhado no meio da estrada não significa que eu estava bêbado! Nem precisava me prender! - E o senhor estar tentando enrolar a faixa amarela no meio da estrada? Também não significa nada? Stock Xchng FEIURA! Um pai, mais feio do que a fome mostrava os trigêmeos recémnascidos para o amigo. - E aí, o que acha? - Bem... seu eu fosse você, ficava com o da direita! por Mário Brito Sto PROMESSA - Neste ano novo, vou parar de beber. - Parar? Você está maluco? - É que toda vez que eu bebo, vejo tudo dobrado. - E vai parar só por causa disso? É só fechar um olho! CORREIO O capiau pergunta: - Moço quanto custa mandá uma carta pra Sumpaulo? - Um real. - E duas carta? - Dois reais. - E dez carta pra Sumpaulo, quanto fica? - Fala logo quantas cartas o senhor quer mandar, que eu faço as contas de uma vez! - Eu quiria mandá um baraio intero! O juiz apitou, Vai ter prorrogação. A promoção “Marque um golaço com o BMG Card” agora vai até 31 de agosto. Campanha válida até 31 de agosto de 2011. Devido ao grande sucesso, o BMG decidiu prorrogar a promoção que está fazendo a torcida pular de felicidade. Agora você, servidor do Governo de Minas, tem até o dia 31 de agosto para solicitar o seu BMG Card e garantir a camisa oficial do seu time com a maior facilidade.* E tem mais: com o seu BMG Card, você tem 10%** de margem extra para o cartão consignado, com a comodidade de fazer compras em toda a rede MasterCard®. Sem taxa de adesão e sem anuidade. Consulte o regulamento no www.bancobmg.com.br e veja como é simples. Ligue 0800 723 3113 ou procure um correspondente autorizado. *Somente para servidores efetivos. Consulte o regulamento no www.bancobmg.com.br. **Refere-se à margem consignável em folha de pagamento, estabelecida por ato legal, e fixada em 10%, para fins de pagamento da fatura de cartão de crédito. Promoção válida para camisas dos times do América, Atlético, Cruzeiro, Flamengo, Vasco, Coritiba, Santos ou São Paulo. Aprovação do crédito sujeita à margem consignável e às especificações contratuais e critérios das autarquias e órgãos públicos. Os empréstimos e financiamentos aqui descritos são produtos do Banco BMG S.A., oferecidos através de seus correspondentes autorizados. Juros de 4,99% a.m. e 59,88% a.a., CET máx. 5,49% a.m. e 81,26% a.a. Consulte as taxas, prazos e demais condições para concessão do empréstimo/financiamento em um correspondente autorizado BMG. Ouvidoria: 0800 723 2044. BACEN: 0800 979 2345. SAC: 0800 979 7050. SAC Deficientes Auditivos: 0800 979 7333. Gente que entende você
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