79 - Across

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79 - Across
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nº 79 - 26 de Novembro de 2010
Sintra
Terra saída de um conto
de fadas
Lisboa
no International Golf
Travel Market
Luxo sobre rodas num país de contrastes
fundamentos para competir
no mundo
PUB
Alvará 1321/06
Marajas Express
Compreender
+ África
II
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EsPecial viagens
26 de Novembro 2010
Sintra
A capital do Romantismo
Texto e fotos Manuela Silva Dias
É um testemunho de quase todas as épocas da
história portuguesa. Do Paleolítico e Neolítico
à Idade do Bronze e do Ferro, passando pelo Período Romano, pelo domínio muçulmano, da
fundação de Portugal (a 9 de Janeiro de 1154,
quando D. Afonso Henriques outorga Carta de
Foral à Vila de Sintra), aos Descobrimentos.
Sintra teve o seu período áureo entre o final do
séc. XVIII e todo o séc. XIX.
Os romanos chamavam-lhe Mons Lunae –
Monte da Lua, sentiam já as influências poderosas dos próprios astros neste local mágico.
Palácios e parques, casas senhoriais, bosques,
palacetes e chalets inseridos no meio de uma
exuberante vegetação, extensos troços amuralhados que coroam os mais altos cumes da Serra. Conventos de meditação entre penhascos,
bosques e fontes, igrejas, capelas e ermidas,
pólos seculares de fé e de arte; enfim, uma unidade cultural intacta num conjunto incrível de
vestígios arqueológicos faz de Sintra Paisagem
Cultural e Património Mundial da Humanidade reconhecida pela Unesco desde 1995.
Começamos o nosso passeio pelo Parque e Palácio da Pena que são o expoente máximo do
Romantismo do século XIX. O ambiente natural é de rara beleza integrando diversos jardins
históricos. O ar puro do parque faz-se sentir no
nosso corpo, como uma renovação, e o próprio
palácio, rosa forte, azul e amarelo, erguido no
cimo da serra, leva-nos a entrar num livro dos
mais bonitos contos de fadas.
Rapidamente percebe-se porque em 1839,
aquando da sua primeira visita a Sintra,
D. Fernando II se apaixonou pelo local,
tendo comprado, 2 anos mais tarde o antigo convento, os terrenos à sua volta e o
Castelo dos Mouros. Iniciou as obras de
restauro transformando o edifício na residência de verão da família real Portuguesa.
O palácio resulta de uma mistura de estilos,
neogótico, neomourisco, neomanuelino, inspiração indiana nalguns casos e também alusões
à simbologia maçónica.
Dentro do palácio guarda-se a memória da
vida quotidiana da família real. Pretende-se reconstruir o ambiente original do palácio com
a exposição de mobiliário, objectos pessoais
e peças de arte. A sala de jantar está sempre
posta para doze pessoas, como se, a qualquer
momento, voltássemos ao passado e a família
real chegasse para jantar.
No terraço da Rainha, desfrutamos de uma
vista esplendorosa dos arredores e do Parque
da Pena que ocupa cerca de oitenta e cinco
hectares. No parque existem árvores exóticas
e espécies nativas que formam um manto verde intenso.
Podemos ver, a cerca de 490 metros de altitude, a estátua de bronze do guerreiro guardião
do palácio, de 1848, que possivelmente é uma
representação do Rei. D. Fernando.
Avistamos também do terraço a Cruz Alta, que
é o ponto mais alto da serra de Sintra, com 529
metros de altitude. O seu nome deve-se a uma
cruz que lá foi colocada no século XVI, por ordem de D. João III. É um local a não perder
quando passear pelo parque.
Publicado Semanalmente à Sexta-Feira
Redacção Fernando Borges
Co-propriedade
área Comercial
Área Financeira
Propriedade Luxuspress Publicações Lda
Arte Francisco Brigham
Directora de Marketing
Megafin Sociedade Editora S.A.
Director Comercial João Pereira
Florbela Rodrigues
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Multimédia Manuela Silva Dias
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III
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Existem vários percursos, com itinerários diferentes, para explorar o luxuriante e encantado
parque e desvendar os seus escondidos recantos.
Partimos à descoberta da Quinta da Regaleira,
que foi adquirida nos finais do século XIX por
um abastado capitalista – António de Carvalho Monteiro. Com uma grande cultura quis
espelhar na sua propriedade o sentimento
lusitano, os Descobrimentos, o misticismo, e
tradições e rituais mais herméticos da sociedade. Contratou o cenógrafo e arquitecto italiano Luigi Manini para o ajudar neste grandioso
projecto. O resultado da simbiose destas duas
mentes brilhantes é algo que não pode deixar
de visitar.
Jardins, poços, lagos, estátuas, misteriosas grutas, sinais da Maçonaria, Templários e RosaCruz. Tudo nesta quinta tem um significado,
é um autêntico percurso alquímico que nos
leva a desvendar mistérios, a caminhar pelo
interior da terra numa busca do espiritual e
do sagrado. Aconselho a fazer a visita acompanhado por um dos excelentes guias existentes
no local.
Um dos locais mais emblemáticos da quinta
é o Poço Iniciático. A entrada é feita através
de uma porta de pedra rotativa para um poço
espiral que se afunda cerca de 27 metros no interior da terra. Descemos por nove patamares,
que lembram os nove círculos do inferno, as
nove secções do Purgatório e os nove céus do
paraíso, segundo a Divina Comédia de Dante.
No fundo, está representada a cruz templária
sobreposta a uma estrela de oito pontas, rosados-ventos indicativo da Ordem Rosa-Cruz. A
água aparece no final do poço iniciático, como
em toda a Quinta, como elemento purificador.
No final, encontramos uma gruta labiríntica,
cujo caminho a escolher deve ser o que conduz
a um magnífico lago, onde se caminha sobre a
água, podendo significar o renascimento.
Ao longo de todo o jardim nos é apresentada a
ideia da iniciação, não especificamente o ritual
secreto ou de uma religião, mas sim o conceito
iniciação, por onde passa, por onde fica, onde
é que leva. Ideias como a busca do conhecimento, a viagem interior, a imortalidade da
alma, a morte e o renascimento simbólicos,
são-nos apresentadas e desmontadas a quem
visita a quinta. António Monteiro apoiou-se
em Camões, Divina Comédia de Dante e em
toda a mitologia clássica. A chegada à “Ilha
dos Amores” ou viagem ao inferno de Dante
são ali retratadas.
Deixamos este lugar místico e fabuloso e paramos para retemperar energias num almoço
delicioso no “Café Paris”, situado no coração
do centro histórico de Sintra defronte ao Palácio Nacional. É um local muito inspirador,
onde o tempo se perde nas paredes com história. Existe com o nome “Café Paris” desde
1925. Da esplanada, penso no que terá mudado nestes 85 anos de existência do restaurante,
na vida da vila.
O café foi tomado no emblemático café Piriquita, acompanhado pelos famosos travesseiros e fico à conversa com a simpática D. Leonor, uma das proprietárias do café e detentora
do segredo dos famosos doces – um privilégio.
Fomos passear pela romântica e pitoresca vila,
com ruelas estreitas, escadarias apertadas, arcos e pátios em cada esquina. Adoro esta vila e
sempre que lá vou apetece-me ficar, tem uma
aura encantada que nos leva a outros tempos e
nos traz paz de espírito.
Dirigimo-nos para o Palácio Nacional, onde
perto existe uma “estação” de charretes.
Neste secular meio de transporte, por caminhos sinuosos, estreitos, indomáveis e
místicos, onde a luz é recortada pelas árvores fomos até ao Palácio de Seteais. Pelo
caminho o Sr. Manuel foi-nos contando histórias engraçadas sobre o seu dia-a-dia de
trabalho na vila.
O Palácio situa-se em plena encosta da Serra
de Sintra, com vista sobre o Palácio da Pena e
o Castelo dos Mouros. Depois de algum tempo
encerrado para remodelações, renasce agora
em todo o seu esplendor e elegância, mantendo na perfeição o requintado ambiente do séc.
XVIII. Um lugar de luxo para passar uns dias e
desfrutar a sua paz.
Continuamos viagem para o notável jardim
romântico e o Palácio de Monserrate.
Francis Cook, o 1º Visconde de Monserrate, com a colaboração do pintor paisagista
William Stockdale, o botânico William Nevill
e o mestre jardineiro James Burt, criou os cenários exuberantes e contrastantes que actualmente se encontram no parque. O Palácio
funde-se entre ruínas, recantos, cascatas e
lagos, caminhos sinuosos, árvores exóticas. É
um dos mais ricos jardins botânicos existentes
em Portugal.
Em conjunto souberam explorar as particularidades micro-climáticas da Serra. Existem espécies espontâneas de Portugal e outras oriundas dos cinco continentes, no qual se podem
observar, ainda hoje, mais de 3.000 espécies
exóticas.
O trabalho de estuque, no interior do Palácio
é todo alusivo à natureza, frutos, animais,
flores. Na parte social existe uma fonte que
jorra água. A ideia era que quando o tempo o
permitisse as portas estivessem todas abertas
e não se sentisse diferença entre o interior e
exterior pois mantinham-se as cores os sons e
os cheiros. Tudo foi pensado como um todo:
parque e palácio.
No Palácio, destaca-se a Sala da Música e as luxuosas salas de recepção como a Sala de Estar
Indiana, a Sala de Jantar e a Biblioteca.
Voltámos ao centro da vila a um pequeno restaurante e hotel, o mais antigo da Península
Ibérica (1764). Ganhou muita notoriedade em
1809, depois de Lord Bryon aí ter estanciado.
Falo do acolhedor e requintado Lawrence’s Hotel de cinco estrelas, com 12 quartos e 5 suites.
Cada quarto tem uma decoração única, bucólica e romântica, onde não existem números
nas portas, mas nomes com história.
Saboreámos um reconfortante chá acompanhado de deliciosos doces tradicionais numa
das acolhedoras salas onde através de umas
janelas altas apreciámos a vista que não nos
cansamos de ver.
Como capital do Romantismo, Sintra com os
jardins românticos leva o visitante a despertar
emoções e sentimentos, a locais com muitas
encruzilhadas, recantos, locais propícios a
viagens no tempo e no espaço levando-o para
paisagens exóticas, a épocas que não a sua, habitualmente para a época medieval, que é uma
época que só por si é envolta em mistério.
IV
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Notícias
Berlim
e Hamburgo
os novos destinos da Spanair
A Spanair aumenta a sua presença no
mercado alemão com ligações de Barcelona a Hamburgo e a Berlim a partir de
Abril de 2011.
Com estes 2 novos destinos há agora 4
cidades alemãs com ligações ao network
da Spanair via o seu hub de Barcelona. As
ligações desde Lisboa e Porto estão asseguradas através de um acordo de code-share.
O primeiro vôo Barcelona-Hamburgo irá
operar a 4 de Abril e inicialmente irá operar 3 vezes por semana; Segundas, Quartas e Sextas, partindo de El Prat às 9:45 e
aterrando no aeroporto de Fuhlsbuttel às
12:25. Em termos de vôos para Berlim, o
vôo inaugural será a 5 de Abril e as 4 operações semanais serão às Terças, Quintas,
Sábados e Domingos. Partem de Barcelona às 9:45 e aterram em Berlim-Tegel às
12:15. Os regressos de Hamburgo são às
13:05, chegando a Barcelona às 15:40. Os
vôos deverão descolar da capital alemã às
13:00 e aterrar em El Part às 15:25.
Com estas 2 novas rotas, a juntar às já
existentes para Frankfurt e Munique, a
Spanair tornou-se na única companhia
com network e serviço total que liga Barcelona a Berlim e Hamburgo, para além
de ter o primeiro vôo do dia a descolar da
capital catalã para ambos os destinos.
Poderá contactar a Spanair, representada em Portugal pela Select Aviation
através do telefone +351 21 3584450.
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Aqualuz Tróia
festeja Reveillon ao estilo de Hollywood
“Entre em 2011 rodeado pelo glamour das
estrelas de Hollywood” é a proposta da festa
de passagem de ano do Aqualuz Suite Hotel
Apartamentos, em Tróia, que convida para
um programa de animação musical que irá
recriar as mais famosas coreografias dos
clássicos do cinema norte-americano.
A partir de 295 Euros por pessoa, o Programa Especial de Reveillon do Aqualuz
Tróia inclui duas noites de alojamento em
quarto tipo estúdio (válido de 30 de Dezembro a 2 de Janeiro), Cocktail e Jantar
de Gala “Hollywood Classics”, Bar Aberto,
Ceia e Brunch servido até às 16h00 no dia
de Ano Novo com possibilidade de late
check out. Está também incluído o livre
acesso à piscina interior, à sauna, ao banho turco e à sala de fitness do Wellness
Center do Aqualuz.
Lisboa
no maior encontro do trade
O Turismo de Lisboa participou, com 18
parceiros, no International Golf Travel
Market (IGTM), um dos maiores encontros
mundiais do trade dedicado ao Golfe, que
decorreu em Valência, Espanha, entre 15 e
18 de Novembro.
Tal como nos anos anteriores, a Lisboa
Golf Coast esteve presente no IGTM - onde
eram aguardados cerca de dois mil participantes - com um espaço próprio, no qual
se fizeram representar, entre outros, 16
associados: Tróia Resort, Quinta do Peru
Golf & Country Club, Montado Golf Resort,
Ribagolfe, Aroeira, Belas Clube de Campo,
Bom Sucesso, Campo Real, Golden Eagle,
Oitavos, Quinta da Marinha, Palácio Estoril, Praia d’el Rey, Penha Longa, Hotéis Sana
e Vila Bicuda.
Ao reunir diversos representantes do sector – desde operadores, destinos, jornalistas, revistas, resorts e hotéis, entre outros
–, o IGTM revela-se como uma excelente
oportunidade para o Turismo de Lisboa
dar a conhecer a oferta de Golfe da Região,
através da marca Lisboa Golf Coast, nomeadamente junto dos principais mercados
emissores (Escandinávia, Finlândia, Reino
Unido, Irlanda, Alemanha e Benelux).
Os mais novos não foram esquecidos e,
também eles, terão direito a um Reveillon
Especial preparado pelo Tróia Kids*. Aqui,
as crianças dos 2 aos 12 anos de idade podem festejar a entrada em 2011 com um
jantar e um animado programa de entretenimento infantil incluindo também o
Brunch no dia seguinte.
Outras actividades para adultos e crianças
estão igualmente disponíveis mediante
marcação na recepção do hotel incluindo
Passeios de Jipe, Visitas às Ruínas Romanas, Clínicas de Golfe, Massagens a Dois ou
Passeios para Observação dos Golfinhos no
rio Sado.
www.aqualuz.com
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Compreender
+ África
fundamentos para competir no mundo
Compreender as condições económicas,
sociais e culturais, dos países e das empresas, num enquadramento de responsabilidade social, numa perpectiva de
apoiar o investimento internacional, é o
que propõe Rui Moreira de Carvalho neste lançamento.
Como diz o autor, “África é terra de extremos — atrai e repudia”. Trata-se de
um continente em transição. Tudo está
em movimento. Desse movimento, por
vezes turbulento, particularmente aos
olhos dos estrangeiros, emergem inúmeras oportunidades para investidores
interessados em ampliar seus mercados.
O livro mostra a importância de se compreender esses movimentos, de se Compreender África.
Rui M. de Carvalho faz uma retrospectiva
do processo histórico da África e de sua
inter-relação com o resto do mundo. Analisa os diversos factores que promoveram
a crise de 2008, nomeadamente a carência de alimentos e de recursos naturais
“devido” ao ritmo com que as economias
emergentes do Índico e da Ásia se estão
a desenvolver; aborda a problemática da
captação de investimentos estrangeiros e
as estratégias das empresas nos sempre
difíceis processos de internacionalização,
bem como a importância do desenvolvimento agrícola. O objetivo é analisar os
vários fatores que envolvem a atuação
administrativa e as estratégias de management das empresas.
O autor revela os métodos de negociação
que diferenciam as culturas organizacionais das eempresas e as culturas de
valores locais. “Gerir negócios internacionais implica, acima de tudo, aprender
e apreender as diferenças de cada país”,
escreve Rui Moreira de Carvalho.
O livro apresenta-nos a África que funciona através da “leitura” da sua experiência
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IX
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como gestor, e professor universitário,
com experiência internacional, identificando oportunidades e sugerindo opções
para investimentos, cujo sucesso “é a esperança de um povo que sonha, e merece,
uma vida melhor”.
Longe de ser a “Terra do Paraíso”, a África,
conforme mostra o autor, é um território
de oportunidades onde as melhores opções
para investimentos estão, entre outros, nas
áreas de turismo, agroindustrial, trading
de produtos de baixo índice tecnológico
(têxtil, calçados, viaturas, eletrodomésticos), consultadoria (a experiência ainda
recente com África poderá ser aproveitada), recursos naturais, pesca; sabendo que
destas devem tender a ser efectuadas em
Parceria.
No fundo estamos a falar do continente para onde o capitalismo, na busca de
novos mercados onde escoar a produção,
terá, necessariamente, de evoluir. E o último capítulo, “Ventos do ocdente, ventos do Oriente” sugerem as tendências
das trocas comerciais, dos ritmos de produção e de consumo mundiais, que todo
o investidor, cidadão, e investigador deve
analisar.
X
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Marajas Express
A diferença do lugar, a diferença na descoberta
Texto e fotos Manuela Silva Dias
Pronunciada com sinceridade, de mão postas
e cabeça inclinada – Nasmaté – é uma palavra
de acolhimento, gentil e mágica, que nos saúda à chegada à India.
Índia é o sétimo maior país em área geográfica, o segundo mais populoso do Mundo com
1 bilhão de pessoas. Este é um país altamente
rico a nível cultural e histórico. De facto, a sua
cultura expressa várias antigas civilizações. É
também o berço de diversas religiões.
DELHI
Chegámos um dia antes da inauguração do
comboio Maharaja´s Express. Depois de uma
noite bem dormida e de um excelente pequeno-almoço no exuberante hotel ”Lalit New
Delhi”, partimos à descoberta deste país com
mais de cinco mil anos de história.
Em Delhi, capital deste país desde 1947, são
evidentes os contrastes: jovens com roupas ocidentais lado a lado com jovens de sari; carros
luxuosos entre carroças de bois.
A modernidade de Nova Delhi com as suas amplas avenidas, condomínios, centros comerciais, estádios de futebol, arranhas céus, hotéis
luxuosos contrastam e vivem em harmonia
com Velha Delhi, ruas estreitas, comércio ao
ar livre, animais, trânsito caótico. Apesar destas diferenças, Nova e Velha Delhi são apenas
uma cidade.
Dirigimo-nos para a parte antiga da cidade, parámos no “Complexo de Qutb”, um complexo
histórico considerado património mundial da
Unesco. O minarete Qutb foi construído em
1193 para anunciar o advento dos sultões Muçulmanos; com 73 m de altura e cinco pisos é
considerado um dos maiores do mundo.
O calor fazia-se sentir, fomos passear por aquelas estreitas e confusas ruelas, decidimos ir de
“rickshaw”. Passado pouco tempo e a absorver
tanta diferença, começo a fazer parte daquela
alucinante confusão.
O mais estranho de tudo, que eu desconhecia de todo, era uma das regras de trânsito
na Índia que simplesmente é: ”Please Horn”,
i.e., “por favor buzine”, seja qual for a situação: parado, a andar, em perigo, sem perigo,
a reclamar, a cumprimentar…devem sempre,
SEMPRE buzinar. Digo-vos que cumprem à
risca - tudo buzina: bicicletas, carros, táxis…O
primeiro impacto é ensurdecedor, mas passado pouco tempo habituamo-nos.
O trânsito circula, simplesmente sem nenhuma regra (tirando o buzinar), mas é curioso
que não se vêem acidentes, por mais incrível
que possa parecer. Com cerca de 18 milhões
de habitantes, o mesmo espaço é ocupado por
peões, carros, motos, muitas motos, camiões,
“rickshaw” ou “ auto - rickshaw”, bicicletas,
vacas... é uma verdadeira loucura!
Durante a viagem de “rickshaw”, uma experiência a não perder, numa ruela com cerca de
5 metros de largura (não estou a exagerar!) o
trânsito ficou congestionado. Claro está que
fiquei a centímetros dos peões. Deu bem para
apreciar os saris lindos que as indianas usam.
As inúmeras pulseiras, anéis nos pés, o sorriso
dos indianos que são sempre muito simpáticos, as inúmeras e minúsculas lojas que tudo
vendem incluindo as ourivesarias, que parecem fora de contexto, mas que são muito importantes para os adornos das indianas.
Maharaja´s Express
No dia seguinte dirigimo-nos para a estação de
comboio Safardjung. Ia começar a nossa “viagem no tempo”. Tivemos o privilégio de embarcar nesta viagem de inauguração do mais
novo comboio de luxo da Índia - Maharajas’
Express, da Royale Indian Rail. Tornamo-nos
Maharajas por uns dias. Fomos recebidos com
flores, passadeira vermelha, música e um delicioso cocktail.
A Índia Britânica (que contava com algumas
colónias portuguesas e francesas) era um extraordinário mosaico de raças, religiões e línguas. A autoridade máxima na colónia era o
vice-rei. Internamente, a Índia compreendia
duas formas de administração: mais de metade
do território era controlada directamente por
funcionários coloniais britânicos; mas havia
também 562 principados de vários tamanhos,
sob a autoridade, hindus ou muçulmanos e de
governantes hereditários. O título desses pequenos monarcas era geralmente: Marajá.
Viviam em reinos repletos de luxo e riqueza,
palácios, fortes e construções medievais privilegiadas por uma arquitectura exuberante.
Actualmente os Marajás ainda existem, de
carne, osso e turbante. Apesar de não deterem
poderes políticos desde a independência indiana em 1947, o panorama não mudou e os Marajás vivem com as heranças deixadas por seus
antepassados, utilizando as grandes fortalezas
como requintados museus e hotéis.
Agra
Partimos com destino a Agra, onde o pequenoalmoço foi servido a bordo. O ambiente do
comboio leva-nos aos mais bonitos contos de
princesas. As cabines têm serviço de mordomo, os vagões-restaurante servem o melhor da
cozinha internacional e um confortável vagãolounge funciona como um club privé.
Em Agra visitámos a cidade-palácio fortificada, mais conhecido como - Forte Vermelho de
Agra – é a fortaleza mais importante na Índia,
irmão do Taj Mahal e Património Mundial da
Unesco.Foi construído entre os anos de 1565 e
1573. Grandes imperadores mongols viveram
aqui e era deste forte que governavam o país.
Foi neste forte que o imperador Shah Jahan
(imperador que mandou construir o Taj
Mahal) passou os últimos oito anos de sua
vida, após ter ficado doente e ter sido aprisionado por seu próprio filho. Conta a lenda, que
ele passou os últimos dias da sua vida, olhando
fixamente para um pequeno espelho onde se
via o reflexo do Taj Mahal, e morreu com o
espelho agarrado na mão.
Almoçamos em tendas nos jardins do Taj Khema, com vista para o Taj Mahal, onde fomos
recebidos por dançarinas em coloridos trajes
típicos.
Seguimos para um dos símbolos da Índia : o
tão falado e imponente Taj Mahal, mausoléu
em mármore branco construído pelo imperador Shah Jahan em homenagem a sua linda
esposa, a princesa Mumtaz Mahal, que faleceu
em 1631 e levou 12 anos para ser finalizado.
Shah Jehan entregou o comando das campanhas militares a seus filhos, dedicando-se
inteiramente à construção do Taj Mahal. O
nome é, na verdade, uma abreviação do nome
da sua amada: Mumtaz Mahal.
Hoje, os restos dos corpos de Shah Jehan e Mumtaz Mahal estão juntos, dentro de uma cripta, debaixo de uma cúpula branca.
O mausoléu contém inscrições do Corão e incrustações com pedras semipreciosas. A sua
cúpula é costurada com fios de ouro. O edifício é ladeado por duas mesquitas e cercado por
quatro minaretes de 40 m de altura cada.
Após a visita, percorremos as ruas principais
do comércio, com pitorescas lojas de artesanato, tecelagens e joalharias.
No caminho, um rapaz de 8 anos, com um
olhar lindo e muito educado, tentou venderme um livro sobre o Taj Mahal, disse-lhe que
já tinha, que não o queria comprar mas que lhe
dava o dinheiro do livro. Recusou delicadamente dizendo que não estava a pedir apenas a vender. Depois de ver o modo precário como muitos vivem, esta atitude deixou-me sem palavras.
Voltámos para o nosso luxuoso comboio para
descansar e deliciarmo-nos com uma óptima
jantar gourmet. Os contrastes são, de facto,
muitos. Dentro do comboio “viajamos no tempo” e somos tratados como verdadeiros Maharajas enquanto pela janela deparamo-nos com
uma realidade bem diferente.
Durante a noite somos embalados nas confortáveis camas até ao nosso próximo destino:
Gwalior.
Gwalior
Visitámos o imponente Forte Gwalior que foi
fundado no séc. VIII d.C. e erguido no topo
de uma alta colina com 100m. Os seus muros
encerram palácios e templos exuberantes. O
palácio de 2 andares – Man Mandir – é o mais
espectacular. A sua fachada está decorada com
reluzentes painéis em tons de azul, representando vários animais, tais como pavões, elefantes, crocodilos, tigres entre outros.
Na porta de entrada, situada a oeste, existem
21 colossais esculturas Jainas impressionantemente esculpidas na rocha, datadas dos séculos VII a XV. Jainismo é uma das religiões mais
antigas da Índia, juntamente com o hinduísmo e o budismo. Os Jainas ou Jinas constituem
hoje cerca de quatro milhões de crentes.
Parámos para almoçar no Palácio - Hotel Usha
Kiran construído há 120 anos onde bonitas Indianas nos receberam com chuva de pétalas.
Foi construído originalmente pelo marajá Jivaji Rao Scindia para acolher o Rei e Rainha de
Inglaterra. Tem 9 hectares de jardins e quartos
luxuosos, elegantemente decorados reflectindo a cultura local, duas suites que oferecem
uma magnífica vista para o forte de Gwalior e
para o palácio Jai Villas.
Depois de um majestoso almoço, partimos à
descoberta dos mercados de Gwalior, onde nos
deparámos novamente com um incessante
trânsito, lojas pitorescas, vacas sagradas em
cada esquina (e às vezes mesmo dentro das lojas), crianças com olhares lindos a vender de
tudo. Reparei que, além das Indianas, também
os bebés tem os olhos pintados de preto. Questionei o nosso inseparável e excelente guia Amitabh – que me explicou que o fazem por
duas razões. Pintam os olhos com lápis Kajal
preto, pois existe a crença de que protege o
olhar da inveja, mas também por razões medicinais para proteger os olhos da poeira e do
calor. O Kajal original é feito de uma pasta de
sândalo, óleo de rícino, ghee (manteiga) e cinzas – no ocidente também é muito utilizado
para maquilhar olhos sensíveis.
Ao entardecer, foi-nos servido um magnífico
cocktail no esplendoroso Palácio de Jai Villas,
ao lado do Palácio - Hotel Usha Kiran, construído nos finais do séc. XIX em estilo italiano.
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Parte do edifício foi transformada em museu
sendo o restante ainda a residência da antiga
família de marajás Scindia. Parece quase impossível, que alguém nos dias de hoje possa
viver ainda em palácios.
Continuamos a nossa “viagem no tempo”, agora no interior do palácio pelas suas salas magníficas. Na sala Durban Hall existem os dois
lustres maiores do mundo, com 13 metros de
altura e 3 toneladas cada. Na enorme mesa de
jantar do marajá, vimos um comboio miniatura mecânico, em prata para servir os licores
aos convidados. O comboio está sempre a andar com várias bebidas nas suas carruagens.
Quando se deseja uma bebida basta tocar na
garrafa parando assim o comboio.
Após belíssimo jantar, fomos mais uma vez,
confortavelmente embalados, até Khajuraho.
Khajuraho
Partimos à descoberta dos templos em Khajuraho, que são Património Mundial da Humanidade. Durante os séculos IX e X foram erguidos
pela dinastia Chandela que dominava a Índia
Central na altura e fizeram da cidade Khajuraho a sua capital. Após o declínio dos Chandela, os mais de 80 templos Hindus medievais
foram abandonados, sendo 25 redescobertos
no séc. XX. Ficaram ocultos durante 700 anos
numa floresta densa.
Os templos são dedicados a divindades Hindus,
destacando a santíssima trindade: Brahma,
Vishnu e Shiva.
O Templo de Kandariya Mahadev é o mais notável, pelas suas grandes dimensões, trabalho
escultórico minucioso e sua enorme complexidade. Tem mais de 800 esculturas que representam actividades do dia-a-dia de camponeses, oleiros, mulheres com seus filhos, deuses
e deusas, animais, guerreiros, músicos, dançarinos e cenas eróticas que prevalecem em muitas das esculturas.
Almoçámos no “The Lalit Temple View
Khajuraho”, um boutique hotel que faz
parte do exclusivo ”Small Luxury Hotels of
the World”.
Fomos conhecer uma aldeia, onde fomos recebidos gentilmente pelos seus habitantes
ao som de tambores e bonitas canções. Uma
aldeia pobre, com casas caiadas de branco
e outras de azul. Entrar na aldeia e conviver
com os seus habitantes é um misto de emoções. As crianças descalças e com roupas sujas,
pedem-nos para lhes tirarmos fotografias e a
felicidade é enorme quando se vêm nos ecrãs
das máquinas digitais. Correm atrás de nós,
sorriem e ficam felizes por uma simples fotografia. Digo simples, pois é inevitável pensar
no grande contraste entre as crianças ocidentais e em tudo aquilo que têm, e olhar para
aquela pobreza e simplicidade e ver a alegria
contagiante daqueles sorrisos com uma simples fotografia.
O nosso luxuoso comboio esperava por nós,
tão acolhedor e majestoso para nos receber
como sempre.
Umaria
De madrugada, saímos para um safari no National Park de Bandhavgarh, apesar das poucas horas de sono, a adrenalina era muita.
É um dos mais importantes habitats de tigres
que ainda existem na Ásia. Dentro do parque,
um palácio abandonado serve de abrigo para
uma próspera população de tigres, morcegos,
cobras, macacos, águias, aves exóticas, veados
e porcos selvagens.
Logo no início do percurso, vimos uma fémea
com dois filhotes. É uma sensação mágica ver
de tão perto a natureza no seu esplendor e ouvir o seu silêncio.
Há um século atrás, existiam na Índia 40 mil
tigres, mas o seu número diminuiu rapidamente devido à caça furtiva. Neste momento, é
uma espécie ameaçada, estima-se que existam
em toda a Índia, apenas 1500 Tigres.
O almoço foi em perfeita comunhão com a natureza no “Mahua Kothi Bandhavgarh Jungle
Lodge” do reputado grupo Taj. Um paraíso no
meio da selva onde, sentados em troncos de
madeira com uma vista deslumbrante, víamos
quem tinha conseguido a melhor foto dos tigres, que sem dúvida foi o nosso querido guia.
Foto essa que teve a amabilidade de nos ceder
e que a mostramos aqui nestas páginas - obrigado Amitabh.
Varanasi
Varanasi, também conhecida pela Cidade da
Luz, é uma das cidades mais antigas do mundo, com cerca de 3000 anos e também considerada a mais sagrada das cidades hindus.
A cidade fica nas margens do Rio sagrado
Ganges. Segundo a religião hindu, banhar-se
em suas margens é como lavar os pecados da
alma. Acreditam que a Varanasi foi fundada
pelo próprio Shiva, Deus da transformação,
e que morrer na cidade significa livrar-se dos
ciclos da reencarnação. Todos os dias milhares
de pessoas atravessam o pais para estarem ali.
Alguns viajam apenas com a passagem de ida,
na esperança de poderem morrer na cidade.
No rio, são realizados diariamente os Pujas (cerimónias de oferendas) duas vezes por dia – ao
nascer e pôr do sol - e nas suas margens são
cremados os mortos.
Apanhamos um “rickshaw” até onde se podia
ir de transportes, a partir daí fomos a pé por
labirínticas ruelas até chegarmos ao rio sagrado. Pelo caminho vende-se de tudo, algumas
lojas muito arranjadas, outras menos, mas
tudo uma perfeita confusão. Por momentos
tive a impressão de estar noutro planeta com
outros valores, outros cheiros, outro som, outra velocidade.
Os médicos incluindo dentistas estavam perto
das lojas com os medicamentos todos alinhados no chão para quem sofresse de alguma
maleita. Pensei por segundos que se algum
ocidental, por algum acaso, tivesse de ser ali
assistido, era morte certa. Os padrões de higiene não têm mesmo nada a ver com os nossos.
Chegámos ao rio e ficamos absorvidos com o
quadro que se vai desenhando à nossa frente,
de onde nós também fazemos parte. Nada nos
prepara para aquela realidade, é um ambiente místico rodeado de tantas pessoas com fé e
devoção.
Antes de entrarmos no barco velho de madeira compramos flores para deitar no rio e pedir
um desejo.
Do barco o cenário era arrepiante, os cânticos,
o fogo, o som dos sinos, a mistura de cores,
cheiros e muitas pessoas. Parámos em frente
ao Manikharnika Gath o crematório. Os dohms, encarregam-se de transportar às costas
grandes troncos de madeira que serão utilizados para cremar o corpo durante algumas
horas.
Os corpos são envoltos em panos e depositados sobre liteiras fazendo uma especie de
fila esperando a sua vez. A cor dos panos diz
se é uma mulher jovem (pano laranja) , idosa
(pano vermelho) ou se é homem (pano branco).
É costume ser um familiar próximo a ir buscar
o fogo à chama eterna de Shiva, que, segundo
os Hindus, se mantem acesa desde a criação
do universo. Para isso, ele também tem de
cumprir um ritual, é necessário rapar a cabeça
deixando um pedaço de cabelo na parte de trás
e estar vestido de branco.
Como a cremação é encarada como uma possibilidade de libertação do ciclo das reencarnações, não é permitido chorar. Os Hindus celebram a passagem desta vida para uma outra
com alegria. Sendo as mulheres geralmente
mais emotivas não podem participar no ritual
de cremação, apenas os homens.
Existem 4 situações em que os corpos não podem ser cremados e são apenas depositados no
rio: crianças - pela pureza, mulheres grávidas
- por terem uma criança no ventre, leprosos pelo contágio da doença e vítimas de picada de
cobras - pelo veneno.
Fizemos o caminho inverso até apanhar o “rickshaw” com um sentimento confuso de tudo
o que tinhamos presenciado.
No comboio, como sempre, “viajamos no tempo” e tornámo-nos marajás até Gaya.
Gaya
Gaya estende-se ao longo das margens do rio
Phalgu e é considerado como Varanasi um dos
três locais sagrados para rituais dos hindus.
Fomos visitar as ruínas dos templos e mosteiros da universidade Budista de Nalanda, construída num local sagrado onde Budha esteve
muitas vezes. Foi fundada no século V d.C. e
teve mais de 5000 professores e estudantes.
Tem uma biblioteca com nove milhões de manuscritos.
Continuámos viagem de autocarro até Bodh
Gaya. Durante as duas horas de caminho fui
observando o dia-a-dia dos indianos. Nas bermas vêem-se lojas, barbearias de outros tempos, engomadorias com ferros de carvão, camponeses a vender legumes e frutas, homens
nos cafés a ler o jornal, crianças a tomarem
banho, mulheres a lavarem a loiça . A paisagem vai mudando e entramos numa zona que
me lembrou a aldeia do Mogli, casas feitas de
palha com telhados de colmo. Mulheres com
os seus lindos saris, de tantas cores diferentes
carregando em cima da cabeça água, no meio
de campos verdejantes, formam um quadro
digno de moldura.
Chegámos a Bodh Gaya, o local mais sagrado
em todo o mundo para os budistas.
Em 566 a.C. nasceu no Nepal o príncipe do reino de Kapilavastu - Sidarta Gautama. Há mais
de 2500 anos sobre uma árvore em Bodh Gaya,
meditou sobre as causas do sofrimento humano. Foi aí que encontrou a resposta e se tornou
“Buda – o Iluminado”. Hoje o complexo do
templo de Mahabodhi é Património Mundial
da Humanidade.
Bodh Gaya é o mais sagrado e importante centro de peregrinação com mosteiros e centros
de meditação acorridos pelas comunidades
Tibetana, Birmanesa, Tailandesa e Vietnamita.
Os visitantes podem ver uma antiga descendente da Árvore Bodhi, o magnificente e bem
restaurado templo Mahabodhi do século VII,
que é Património Mundial da Humanidade, a
pedra de assento do Buda e um museu de relíquias Budistas e Hinduístas.
De volta para o nosso abrigo dos Maharajas,
depois de um banho, deliciámo-nos com o último jantar gourmet. Como a nossa “viagem
no tempo” se aproximava do fim, começaram
a troca de contactos, de fotografias. As conversas continuaram até de madrugada no vagãolounge. As saudades começavam a sentir-se.
Kolkata
Fomos acordar uma das cidades mais antigas
do mundo, Kolkata (desde 2001), antiga Calcutá que tem encarnado sucessivos papéis ao
longo dos tempos. Foi a capital da Índia britânica de 1833 a 1912. Após a independência da
Índia em 1947, a economia de Kolkata entrou
em declínio, embora tenha voltado a crescer a
partir de 2000.
É conhecida como a capital intelectual da Índia, com uma forte herança britânica, tanto
nos costumes quanto na arquitetura.
O Trânsito é confuso e barulhento com a regra
de ouro do país “Please Horn”, mas mais ordenado que o de Delhi; pelos menos existiam
faixas de rodagem.
É uma cidade superpovoada, com partes muitos pobres e sujas, com muitos edifícios bonitos mas degradados.
A cena mais curiosa que presenciei enquanto
andava pelas ruas da cidade, foi a de um indiano em tronco nu, trazendo na mão um colar
de flores e um vasilhame com água. Ajoelhouse no meio do trânsito caótico que automaticamente e que por milagre parou…o senhor
fez as suas preces durante uns 10/15 minutos,
levantou-se e continuou o seu caminho. Parecia que tinhamos feito pause num filme. Esta
atitude que, para os indianos, foi normal demonstra que existe um elemento comum, um
elo de ligação estreito e profundo, entre os
habitantes da Índia – a DEVOÇÃO.
Fomos depois conhecer os lugares turísticos
mais importantes da cidade, como o Victoria
Memorial, a construção mais impressionante
do Raj britânico em todo o país. Parece uma
mistura do Taj Mahal (já que também é todo
de mármore branco) e da Catedral de St. Paul
(que fica ao lado). Foi construído no início do
século XX em homenagem à Rainha Victoria.
A viagem chega ao fim, e diante de tanta complexidade, resta-nos mergulhar em seu misticismo e deixarmo-nos encantar pelas cores,
cheiros, temperos, sorrisos, olhares , paisagens, obras majestosas que contam histórias
de amor e devoção.
Uma coisa é certa, nada daquilo que se possa
ler nos prepara para a realidade tão diferente
que é a Índia. As marcas da viagem, essas vão
ficar registadas para sempre, fizeram-nos crescer e o olhar para o mundo, nunca mais será
o mesmo.
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EsPecial viagens
26 de Novembro 2010
XI
XII
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26 de Novembro 2010
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