Volume 4 - Edição N°1 Saiba mais
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ISSN 1984-0780 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 1 23/3/2003 10:11:42 Tendências em HIV•AIDS Volume 4 - Número 1 - 2009 Editor chefe Ricardo Sobhie Diaz – Universidade Federal de São Paulo Corpo editorial Adauto Castelo Filho – Universidade Federal de São Paulo André Lomar – Hospital Israelita Albert Einstein Artur Kalichman – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP Artur Timerman – Hospital Heliópolis Breno Riegel – Hospital Nossa Senhora da Conceição, Rio Grande do Sul Celina Maria Pereira de Moraes Soares – Universidade Federal de São Paulo Celso Ramos – Universidade Federal do Rio de Janeiro Celso Francisco Hernandes Granato – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo David Salomão Lewi – Universidade Federal de São Paulo – Hospital Israelita Albert Einstein Eduardo Sprinz – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Érico A. Gomes de Arruda – Hospital São José de Doenças Infecciosas do Ceará Esper Georges Kallas – Universidade de São Paulo - USP Estevão Portella – Universidade Federal do Rio de Janeiro Giovana Lótici Baggio-Zappia – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Guido Levi – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo João da Silva Mendonça – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo José Luiz de Andrade Neto – Universidade Federal do Paraná Jeová Keny Baima Colares - Universidade de Fortaleza, Ceará. Jorge Simão do Rosário Casseb – Universidade de São Paulo, USP. Márcia Rachid – Assessoria de DST/Aids da Secretaria do Estado do Rio de Janeiro Marcos Montani Caseiro – Fundação Lusíadas, Santos, SP Marcos Vitória – Organização Mundial de Saúde Marinella Della Negra – Instituto de Infectologia Emílio Ribas Paulo Feijó Barroso – Universidade Federal do Rio de Janeiro Paulo Roberto Abrão – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Reinaldo Salomão – Universidade Federal de São Paulo – Casa de Saúde Santa Marcelina Ricardo Pio Marins – Organização Panamericana de Saúde Rosana Del Bianco – Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo Shirley Cavalcante Vasconcelos Komninakis – Fundação Lusíadas, Santos – SP Simone Barros Tenore – Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Unaí Tupinambás – Universidade Federal de Minas Gerais Valdez Madruga – Centro de Referência e Treinamento de DST/AIDS – SP ÍNDICE TRATAMENTO DE PACIENTES COM LIPODISTROFIA EM PACIENTES EM TERAPIA ANTIRETROVIRAL PARA O HIV.............................. HIV.............................. 5 João Guilherme Grassi dos Anjos, Wanderley Ferre Mackert CONTROLE DA TRANSMISSÃO DO HIV EM BANCOS DE SANGUE .............................................................................................................. 9 José Eduardo Levi , Silvano Wendel DIVERSIDADE GENÉTICA DO HIV E RESISTÊNCIA AOS ANTI-RETROVIRAIS............................................................................................ 13 Elizabeth Stankiewicz Machado, Marcelo Alves Soares INFECÇÃO PELO HIV E PRÁTICAS ESPORTIVAS ......................................................................................................................................... 23 Guido Carlos Levi DESTAQUES ..................................................................................................................................................................................................... 25 RESUMO DE TESES ......................................................................................................................................................................................... 27 Atha Comunicação & Editora Planejamento Editorial, Diagramação e Produção Gráfica Rua Machado Bittencourt, 190 - Cep: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel: 55-11-5087-9502 - Fax: 55-11-5579-5308 E-mail: [email protected] 3 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 3 23/3/2003 10:11:43 EDITORIAL Existem inúmeros consensos para manuseio de pacientes com HIV/aids no mundo. Estes consensos também chamados de diretrizes ou guidelines a partir da versão em inglês servem como guias aos profissionais de saúde que lidam com pacientes portadores do HIV, principalmente médicos que tomam decisões com relação à escolha do tratamento antirretroviral. Estes consensos são escritos por profissionais independentes e no caso do Brasil, dirigidos pelo Programa Nacional de DST/aids do Ministério da Saúde. Um dos consensos mais populares e seguidos no mundo é o consenso dos Estados Unidos que é conhecido como consenso do US Department of Health and Human Services (DHHS) e que pode ser encontrado em http://aidsinfo.nih.gov/Guidelines/Default.aspx?MenuItem=Guidelines. No final de 2008, o DHHS atualizou o seu consenso e publicou novas recomendações para o tratamento inicial em pessoas virgens de tratamento com antirretrovirais. Anteriormente, a escolha preferencial dos dois inibidores de transcriptase reversa análogos de nucleosídeos poderia ser tanto a dupla abacavir/lamivudina quanto tenofovir/entricitabina (ou lamivudina). Atualmente a recomendação para tratamento inicial é para o uso de somente tenofovir/entricitabina (ou lamivudina) a partir de dados recentes que associam o abacavir com risco de eventos coronarianos. Dessa forma, a dupla abacavir/lamivudina foi posicionada como tratamento alternativo. Outra mudança importante no consenso do DHHS refere-se à inclusão dos esquemas com Inibidores de protease incrementados com ritonavir entre os esquemas preferenciais. Desta forma, os esquemas preferenciais podem ter como terceiro medicamento o efavirenz como único representante dos Inibidores da Transcriptase Reversa não Análogo aos Nucleosídeos ou alternativamente os Inibidores da Protease. É importante salientar que o efavirenz não será indicado em mulheres gestantes e deve ser usado com precaução em pessoas com alterações de ordem psiquiátricas. Os esquemas que utilizam Inibidores da Protease deverão utilizar uma escolha entre atazanavir/ritonavir, lopinavir/ritonavir duas vezes ao dia ou em dose única, darunavir/ritonavir em dose única, ou fozamprenavir/ritonavir duas vezes ao dia. As novidades ficam por conta da opção do uso de lopinavir/ritonavir uma vez ao dia e da inclusão do darunavir/ritonavir como escolha para tratamento inicial com o uso restrito a uma vez ao dia. Alguns resultados de pesquisa que apóiam estas decisões estão descritas no final deste fascículo do Tendências nos destaques do último ICAAC/IDSA, realizado em Washington nos Estados Unidos de 25 a 28 de outubro de 2008, com destaque especial para os resultados descritos do estudo NA-ACCORD, que apresenta a possibilidade de mudança das diretrizes futuras com relação ao momento do inicio do tratamento antirretroviral. O consenso brasileiro aponta pela primeira vez na sua última versão que os custos dos medicamentos se constituem em uma variável importante nas diretrizes propostas. Isto para que se mantenha a sustentabilidade de um programa que garante o acesso universal a esses medicamentos. Em outras palavras, para esquemas diferentes que apresentem a mesma eficácia, as opções serão pelos esquemas que contenham os medicamentos de menor preço. Nas diretrizes brasileiras o uso do abacavir nunca foi uma opção muito popular por diversos motivos e nunca foi realmente a escolha da maioria dos médicos como opção para o tratamento inicial. É, entretanto, um medicamento importante que tem se mantido nos arsenais de todos os consensos e o seu real potencial para risco de insuficiência coronariana ainda terá que ser plenamente comprovado. De qualquer forma, coincidentemente, enquanto a maioria dos países da Europa e America do Norte usavam o abacavir como droga preferencial, o Brasil se manteve casualmente do “lado seguro”. Como escolha inicial o Brasil ainda mantém a dupla zidovudina/lamivudina, pela grande experiência e eficácia observadas no Brasil, além do baixo custo. Outro detalhe interessante em condutas de diversas partes do mundo consiste na tendência da escolha de Inibidores da Protease como boa opção de tratamento inicial. Isto principalmente após os dados que relacionam a falha a esquemas com Efavirenz com maior mortalidade e os dados que revelam ausência de resistência na protease entre as pessoas que iniciam o tratamento com Inibidores da Protease com ritonavir. Ainda com relação aos inibidores da protease, vale à pena destacar que na última “Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections” realizado de 8 a 12 de fevereiro de 2009 em Montreal, Canadá, na palestra de abertura o pesquisador Robert Siliciano mostrou resultados sobre a potência dos antirretrovirais, demonstrando que o Inibidor da Protease mais potente seria o darunavir, seguido do indinavir (isto mesmo o que você leu, indinavir!) e na terceira posição o saquinavir (www. retroconference.org/2009). É óbvio que o momento de incluir o darunavir como opção para o tratamento inicial de pacientes com HIV está relativamente longe no Brasil, por se tratar ainda de medicamento novo e mais caro que outros esquemas. Mesmo assim, é importante sempre salientar a posição de vanguarda e inovação que o Brasil demonstra no manuseio da epidemia pelo HIV com relação a tratamento e monitoramento da infecção. Deve-se lembrar que além dos medicamentos, o Brasil foi pioneiro em disponibilizar no sistema público testes de carga viral e testes de genotipagem. Este pioneirismo aparentemente tende a continuar, nas decisões de se obterem opções de medicamentos mais baratas, incorporação de novos medicamentos para o resgate e novos testes de laboratório em nossas redes locais de laboratórios, como testes para determinação do tropismo do HIV e/ou que determinem a resistência a enfuvirtida. Ricardo Sobhie Diaz 4 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 4 23/3/2003 10:11:43 Artigo de Atualização TRATAMENTO DE PACIENTES COM LIPODISTROFIA EM PACIENTES EM TERAPIA ANTIRETROVIRAL PARA O HIV LIPODISTROPHY TREATMENT IN PATIENTS UNDER HIV ANTIRETROVIRAL THERAPY João Guilherme Grassi dos Anjos1, Wanderley Ferre Mackert2 1 Universidade Positivo 2 Sociedade Brasileira Cirurgia Plástica Endereço para correspondência: Rua Carlos de Carvalho 655 cj 2003 - Batel, Curitiba, Paraná. e-mail: [email protected] RESUMO Com o avanço na terapia antiretroviral para o HIV houve uma grande melhora na sobrevida dos pacientes contudo a qualidade de vida destes pacientes é consideravelmente prejudicada pela lipodistrofia. Esta é mais acentuada por alguns medicamentos que outros, mas há indícios que o próprio vírus tenha um papel importante no seu surgimento. A lipodistrofia é composta por uma lipoatrofia periférica (membros e face) e uma lipohipertrofia central (principalmente intra-abdominal). O tratamento principal da lipodistrofia está voltado à correção da atrofia facial (que inicialmente foi tentado com enxertia de gordura, mas que tinha resultados irregulares e desagradáveis) para a qual atualmente o melhor tratamento é o preenchimento com PMMA a 30% se profundo ou 10% se superficial. O tratamento da lipoatrofia periférica apresenta uma boa melhora com enxerto de gordura na região glútea, quando há área doadora disponível, mas nas demais regiões não é viável assim como o tratamento do acumulo de gordura intra-abdominal. A troca da medicação não deve ser baseada unicamente nestes efeitos colaterais, contudo se uma troca já esteja sendo cogitada deve se fazê-la por uma classe de medicamentos que notadamente tenha menos lipodistrofia relacionada. Descritores: Lipoatrofia , Lipodistrofia , HIV , AIDS, terapia HAART ABSTRACT The advances in antiretroviral therapy for HIV caused a great improvement in patients survival, however these patients life quality is considerably impaired by lipodystrophy. This is more pronounced for some drugs than others, but there are signs that the virus itself has an important role in its emergence. The lipodystrophy is composed of a peripheral lipoatrophy (limbs and face) and a central lipohypertrophy (especially intra-abdominal). The main treatment of lipodystrophy is concearned to the correction of facial atrophy (which was originally tried with fat grafting but it has a bad performance and annoying results) for which currently the best treatment is to fill with 30% PMMA or 10% PMMA if superficial filling. The treatment of peripheral lipoatrophy shows a good improvement with fat graft in the gluteal region, if there are available donor area, but in other areas is not feasible as well as the handling of the build up of intra-abdominal fat is no possible. The exchange of medication should not be based solely on these side effects, however if an exchange is already being thouth it should be done for a class of drugs that has notably less related lipodystrophy. Keywords : HIV , AIDS , HAART terapy , lipoatrophy , lipodystrophy Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 05-08) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 5 5 23/3/2003 10:11:43 INTRODUÇÃO Os avanços nas terapias antiretrovirais têm colaborado para a diminuição cada vez mais acentuada da morbidade e mortalidade associadas à infecção pelo HIV. À parte destes benefícios foram percebidos alguns efeitos colaterais relativos ao metabolismo lipídico relacionados aos inibidores da protease (IPs). A lipodistrofia facial dos pacientes portadores de HIV de maneira geral não regride com a suspensão do tratamento(1-3), a qual pode estabilizar e não piorar com a troca da medicação, contudo a atrofia facial permanece na maioria dos casos, portanto não se deve suspender ou trocar o esquema terapêutico unicamente baseado neste efeito colateral. A etiopatogenia da lipodistrofia ainda não é totalmente conhecida, estando presente até em pacientes sem uso de medicação antiretoviral, o que nos leva a acreditar que o próprio vírus HIV pode ter uma ação no aparecimento desta distrofia(4,5). Contudo se a mudança já estiver sendo cogitada por falha terapêutica e ou mutações do vírus a troca da medicação é recomendável. Alguns fatores de risco foram identificados, entre eles estão cor branca, contagem de linfócitos CD4 inferior a 100 cels/mm3 e índice de massa corporal menor que 24 kg/m2(6). Sabe-se hoje que os fármacos inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos (ITRNs) têm papel importante no desenvolvimento desta síndrome que contém três elementos: lipoatrofia, lipohipertrofia e distúrbios metabólicos (resistência insulínica e dislipidemia) com aumento subseqüente do risco de eventos cardiovasculares. Caracteristicamente a lipoatrofia dá-se nos membros e face, enquanto a lipohipertrofia ocorre na região abdominal e nas mamas. Sabe-se que os ITRNs estão relacionados com o desenvolvimento de lipoatrofia enquanto os IPs estão relacionados com a lipohipertrofia(2,3,7). Os sinais clínicos da lipoatrofia (principalmente facial) são responsáveis por estigmatização dos pacientes e por conseqüência acabam sendo causa freqüente de não aderência à terapia. Apesar de inicialmente acreditar-se que a lipodistrofia estava estritamente relacionada aos inibidores da protease logo se tornou aparente que outras drogas estavam envolvidas. Com o passar do tempo 6 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 6 percebeu-se que os componentes da lipodistrofia são, pelo menos parcialmente, processos independentes e que diferentes drogas estão associadas a tipos e graus de toxicidade distintos. Pacientes previamente não tratados, ao iniciar o tratamento demonstraram ganho inicial de gordura central e periférica, com posterior perda de gordura periférica e manutenção da gordura em tronco(5,7,8). Evidências levam a acreditar que os efeitos adversos associados aos ITRNs são devidos à toxicidade mitocondrial no tecido adiposo. Algumas outras hipóteses para a perda de gordura: diferenciação adipocítica prejudicada, apoptose dos adipócitos e defeitos na regulação da 11-beta-hidroxiesteroide-desidrogenase (enzima envolvida na diferenciação dos adipócitos). As mudanças patológicas observadas no tecido adiposo incluem aumento da apoptose, pleomorfismo dos adipócitos, perda da arquitetura tecidual, aumento da fibrose e infiltrados leucocitários(7). Os ITRNs inibem seletivamente a polimerase gama do DNA mitocondrial (mtDNA), o que resulta em depleção deste. Provavelmente esse não é o único mecanismo através do qual os ITRNs contribuem para a toxicidade mitocondrial. É proposto que os danos celulares e, em última instância, do tecido adiposo comecem a se manifestar a partir do momento em que a quantidade de mtDNA atinge nível crítico e a função mitocondrial já não é suficiente para suprir de maneira correta a demanda energética, provavelmente ocorrendo aumento dos níveis de oxigênio reativo nos adipócitos e depleção do ATP celular. Acredita-se que haja certo sinergismo entre os ITRNs e os IPs. Outros mecanismos parecem ter papel importante como o aumento de citocinas inflamatórias como o fator de necrose tecidual alfa (TNF-α), que induz a apoptose de adipócitos. Constatou-se que o TNF-α tem relação com a lipoatrofia, mas não com a lipohipertrofia. Foi observado que a lipoatrofia inicia antes de seus sinais clínicos, havendo danos celulares com quatro semanas de tratamento com ITRNs(3,5). Levando em conta evidências de que pacientes tratados com ITRNs podem ou não desenvolver a lipoatrofia estabeleceu-se hipótese genética para a susceptibilidade de alguns organismos. Em estudo geno-fenotípico realizado com pacientes em tratamento com d4T e/ou IPs constatou-se que Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 05-08) 23/3/2003 10:11:43 polimorfismos do gene APOC3 estão relacionados com o desequilíbrio lipídico. Provavelmente outros fatores que não a terapia anti-retroviral estejam relacionados com a lipoatrofia, como a infecção pelo vírus per se(9,10). Apresentou-se benéfica a substituição do tratamento baseado em análogos de timidina, mas as melhoras fazem parte de um processo lento e limitado. O ganho de gordura periférica devido à mudança da terapia ainda não foi alcançado. Evidências do estudo SMART indicam que a interrupção do tratamento está ligada a um excesso de eventos clínicos, incluindo doença cardiovascular(7). Há significativa melhora na lipoatrofia em crianças quando seus tratamentos baseados em estavudina + lamivudina + IP são substituídos por tenofovir + lamivudina e efavirenz(11). Estratégia de dieta com suplementos baseados em uridina teve bons resultados, mas há necessidade de maiores comprovações. O tratamento com Tiazolinedionas ou metformina não obteve resultados significantes com relação à lipoatrofia. O uso do GH recombinante parece ser promissor, mas é caro e tem efeitos colaterais relacionados ao metabolismo da glicose(5,7). No início do tratamento das alterações faciais foi tentado o uso do enxerto de gordura(12) ou o uso de preenchimentos reabsorvíveis, pois não se tinha certeza de que estas alterações eram irreversíveis espontaneamente ou com a mudança do tratamento. Entretanto o enxerto tem uma reabsorção imprevisível com grande risco de assimetrias e que pode aumentar quando o paciente engorda(13). A experiência clínica quanto a irreversibilidade destas alterações levou ao consenso do uso do preenchimento com o PMMA (Polimetilmetacrilato) como a melhor solução para estes pacientes, quer pela relação custo - beneficio, quer pela durabilidade e previsibilidade do resultado. O PMMA com diluição em matriz de carboximetilcelulose (nacional) tem menor efeito colateral que aquele que usa a diluição em colágeno bovino (importado) além de ter menor custo. Na prática clínica usa-se o PMMA a 30% para a maior parte do tratamento que é feito profundamente na face para que não se torne aparente com a remodelagem natural do organismo com o passar dos anos. Para aplicações de profundidade média (que deve ser feita no final do tratamento para correção de detalhes mais finos) deve ser usado o Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 05-08) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 7 PMMA a 10% . É desaconselhado o uso do PMMA superficialmente ou este se tornará visível. Para o uso superficial, quando necessário, está indicado o uso de preenchimentos superficiais como o acido hialurônico. Apesar de o preenchimento ter as porcentagens definidas como 10% e 30% pode ser esperado um resultado definitivo com um efeito clinico melhor que isto, pois além do volume do PMMA existe o volume obtido com a síntese de colágeno autógeno promovido pelo produto(14), o que pode aumentar a perspectiva de resultado para até 20% e 50% respectivamente. O preenchimento deve ser feito de maneira gradual, sempre em duas ou mais etapas, com um intervalo mínimo de 3 ou 4 semanas, para que tenha desaparecido totalmente o edema ocasionado pela aplicação prévia, minimizando assim o risco de hipercorreção. Pode-se acrescentar anestésico local (lidocaina) em pequeno volume ao PMMA no momento da aplicação para uma aplicação indolor e de menor viscosidade o que facilita a manipulação do produto. O tratamento da lipoatrofia periférica resume-se ao enxerto de gordura para a região glútea, pois a área doadora de gordura é limitada o que não permite volume de enxerto o suficiente para o aumento de tecido subcutâneo dos membros, além de que o enxerto nestas regiões seria muito superficial levando a irregularidades visíveis. O uso de PMMA é inviável para estas regiões, pois necessitaria de um volume muito grande o que além de muito oneroso acarreta riscos de toxicidade ou de embolia. O enxerto de gordura para a região glútea tem um bom resultado quando bem executado e com boa orientação ao paciente, caso contrário terá uma grande reabsorção. Alguns cuidados básicos como orientar o paciente a não sentar por muito tempo continuamente nos primeiros 6 meses, o uso de pressão reduzida controlada durante a coleta da gordura, não traumatizar a gordura com lavagem ou filtragem (se desejar uma gordura mais fina devese utilizar cânulas de menor diâmetro) e minimizar o tempo da gordura fora do organismo consegue dobrar a perspectiva de resultado. O tratamento da giba de gordura cervico-torácica é facilmente realizado com a lipoaspiração, mas em alguns casos é recidivante, sendo possível nova intervenção. 7 23/3/2003 10:11:43 Algumas alterações da lipodistrofia ainda permanecem um desafio para o tratamento como o aumento da gordura intra-abdominal e o aumento de parótidas por depósito de gordura, qualquer tratamento cirúrgico ainda é experimental e empírico e o uso de dieta e exercícios para alguns pacientes até tem melhorado a distensão abdominal, contudo acentua ainda mais a lipoatrofia glútea e de membros além de poder levar a uma desnutrição o que nestes pacientes imunocomprometidos é uma situação de risco. Referências Bibliográficas 1. Parruti G, Toro GM. Persistence of lipoatrophy after a four-year long interruption of antiretroviral therapy for HIV1 infection: case report. BMC Infect Dis. 2005;5:80. 2. Funk E, Brissett AE, Friedman CD, Bressler FJ. HIV-associated facial lipoatrophy: establishment of a validated grading scale. Laryngoscope. 2007 Aug;117(8):1349-53. 3. Baril JG, Junod P, Leblanc R, Dion H, Therrien R, Laplante F, et al. HIV-associated lipodystrophy syndrome: A review of clinical aspects. Can J Infect Dis Med Microbiol. 2005 Jul;16(4):233-43. 4. Miller J, Carr A, Emery S, Law M, Mallal S, Baker D, et al. HIV lipodystrophy: prevalence, severity and correlates of risk in Australia. HIV Med. 2003 Jul;4(3):293-301. 5. Tien PC, Barron Y, Justman JE, Hyman C, Cohen MH, Young M, et al. Antiretroviral therapies associated with lipoatrophy in HIV-infected women. AIDS Patient Care STDS. 2007 May;21(5):297-305. 6. Lichtenstein KA, Delaney KM, Armon C, Ward DJ, Moorman AC, Wood KC, et al. Incidence of and risk factors for lipoatrophy (abnormal fat loss) in ambulatory HIV-1-infected patients. J Acquir Immune Defic Syndr. 2003 Jan 1;32(1):48-56. 9. Bonnet E, Bernard J, Fauvel J, Massip P, Ruidavets JB, Perret B. Association of APOC3 polymorphisms with both dyslipidemia and lipoatrophy in HAART-receiving patients. AIDS Res Hum Retroviruses. 2008 Feb;24(2):169-71. 10. Homsanit M, Nelson KE, Sonjai A, Anekthananon T, Suwanagool S, Cofrancesco J, Jr. Body shape and metabolic abnormalities in Thai HIV-infected patients. AIDS Res Hum Retroviruses. 2007 Nov;23(11):1314-21. 11. Vigano A, Brambilla P, Cafarelli L, Giacomet V, Borgonovo S, Zamproni I, et al. Normalization of fat accrual in lipoatrophic, HIV-infected children switched from stavudine to tenofovir and from protease inhibitor to efavirenz. Antivir Ther. 2007;12(3):297-302. 12. Guaraldi G, Murri R, Orlando G, Orlandi E, Sterrantino G, Borderi M, et al. Morphologic alterations in HIV-infected people with lipodystrophy are associated with good adherence to HAART. HIV Clin Trials. 2003 Mar-Apr;4(2):99-106. 7. Waters L, Nelson M. Long-term complications of antiretroviral therapy: lipoatrophy. Int J Clin Pract. 2007 Jun;61(6):999-1014. 13. Guaraldi G, De Fazio D, Orlando G, Murri R, Wu A, Guaraldi P, et al. Facial lipohypertrophy in HIV-infected subjects who underwent autologous fat tissue transplantation. Clin Infect Dis. 2005 Jan 15;40(2):e13-5. 8. Kosmiski LA, Bacchetti P, Kotler DP, Heymsfield SB, Lewis CE, Shlipak MG, et al. Relationship of fat distribution with adipokines in human immunodeficiency virus infection. J Clin Endocrinol Metab. 2008 Jan;93(1):216-24. 14. Rosa SC, de Magalhaes AV, de Macedo JL. An experimental study of tissue reaction to polymethyl methacrylate (PMMA) microspheres (Artecoll) and dimethylsiloxane (DMS) in the mouse. Am J Dermatopathol. 2008 Jun;30(3):222-7. 8 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 8 Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 05-08) 23/3/2003 10:11:43 Artigo de Atualização CONTROLE DA TRANSMISSÃO DO HIV EM BANCOS DE SANGUE CONTROL OF HIV TRANSMISSION IN BLOOD BANKS José Eduardo Levi1,2 , Silvano Wendel2 1 Banco de Sangue do Hospital Sírio Libanês, São Paulo – SP. 2 Laboratório de Virologia do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, São Paulo – SP. Endereço para correspondência. José Eduardo Levi. Centro de Imunologia e Imunogenética, Rua Peixoto Gomide 515, 12o andar, Bela Vista, São Paulo – SP, CEP 01409-001 - E-mail [email protected] RESUMO O risco de transmissão transfusional do HIV que no início da epidemia era da ordem de 1:100 transfusões, caiu significativamente ao longo dos últimos 25 anos, através da introdução de medidas de triagem clínica-epidemiológica e laboratoriais dos doadores, levando a um risco muito baixo, observado hoje em dia, de cerca de 1:100.000 – 1:1.000.000, variando de acordo com o banco de sangue e as estratégias de triagem implementadas neste. O artigo discute as principais medidas, o efeito observado e a situação atual (2009) no Brasil e no mundo. Descritores: HIV - Transfusão de Sangue - Risco Residual – Teste Imunoenzimático – Teste de Ácidos Nucleicos ABSTRACT The risk of transfusional transmission of HIV has significantly decreased over the last 25 years. The introduction of several measures of donor screening, both clinical-epidemiological and laboratorial have caused the reduction of this risk from 1:100 transfusions in the 1980s to 1:100.000 – 1:1.000.000 nowadays observed, with some variation according to the blood bank population and adoption of screening procedures. This article comments on the main facts responsible for the reduction of the risk, and their observed effect, and also highlights the current situation (2009) in Brazil and abroad. Keywords : HIV – Blood Transfusion – Residual Risk – EIA – NAT INTRODUÇÃO A transmissão do vírus da imunodeficiência Humana (HIV) por transfusão de sangue e hemoderivados foi uma das características mais marcantes do início da epidemia de Aids, ao atingir brutalmente os receptores de transfusão e pacientes com dependência crônica de hemoderivados, como os hemofílicos. Dados do Ministério da Saúde comprovam que o ápice do diagnóstico dos infectados por esta via de sangue e derivados (transfusão + hemofílicos, conforme categorização do site www. aids.gov.br/tabnet) ocorreu entre os anos de 1988 e 1997, quando cerca de 400 casos/ano foram identificados. Devido ao prolongado tempo de laTendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 09-12) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 9 tência clínica do agente, entende-se que a grande maioria destes indivíduos infectou-se na fase anterior à introdução dos testes de triagem de primeira geração, o que ocorreu no Estado de São Paulo em 19851 e no restante do país em 1987. Em contraste, no ano de 2008, até Julho, apenas 6 casos haviam sido notificados nesta categoria enquanto mais de 5.000 casos no mesmo período são atribuídos às outras vias de transmissão. A identificação do agente2 que merecidamente levou ao Prêmio Nobel de Medicina de 2008 os seus descobridores Françoise Barre-Sinoussi e Luc Montagnier, permitiu o rápido desenvolvimento de um teste imunoenzimático, capaz de identificar portadores assintomáticos do agente. Antes 9 23/3/2003 10:11:43 da introdução deste teste, que nos EUA ocorreu em 19853, o risco de transmissão transfusional de HIV era de cerca de 1:100, explicando o grande número de receptores infectados por esta via, uma vez que o risco é multiplicado pelo número de unidades transfundidas, e é comum a transfusão de múltiplas unidades, levando a taxas altíssimas de contaminação entre grupos politransfundidos como talassêmicos e pacientes com anemia falciforme. O uso de marcadores chamados “correlatos” ou surrogate markers , capazes de identificar pessoas com comportamento de risco para a aquisição do HIV, sobretudo hábitos sexuais e uso de drogas endovenosas, foi implementado nas décadas de 80 e 90 em muitos países, destacando-se o anti-HBc, que é o anticorpo contra o antígeno do capsídeo do vírus da hepatite B (HBV), agente de acentuada transmissão pela via sexual. A adoção sistemática do anti-HBc na triagem sorológica de doações de sangue iniciou-se em 1985 nos EUA e no Brasil, e é mantida até hoje, embora haja muita discussão sobre a sua utilidade4. Sem dúvida, no Brasil este teste tem um papel muito útil na prevenção da transmissão do próprio HBV, sendo porém pouco válido na prevenção contra o HIV, após a introdução dos testes anti-HIV de 2a geração, com alta sensibilidade5. Mesmo com um risco de uma ordem de magnitude muito baixa, alguns casos continuaram e continuam a ser observados, e estes quase sempre são causados por doadores que se encontravam nos estágios iniciais de infecção, período denominado de janela imunológica, quando os anticorpos contra os antígenos virais ainda estão em fase de formação, não sendo passíveis de detecção pelos melhores testes. Visando preencher esta lacuna, utilizou-se um teste antigênico, detectando a presença do antígeno p24, derivado do capsídeo viral, no sangue do doador. Este teste foi adotado nacionalmente nos EUA a partir de 19966 enquanto no Brasil apenas alguns bancos de sangue o introduziram7. Com o avanço dos testes de biologia molecular, foi possível a implantação de testes genômicos muito sensíveis e específicos na prática clínica, ressaltando-se o teste de determinação da carga viral de HIV, empregado com grande sucesso na monitoração da terapêutica antiretroviral e da 10 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 10 própria evolução da doença. Uma vez que havia know-how de produção e aplicação destes testes em grande escala, a comunidade hemoterápica passou a investigar a possibilidade de aplicação de um teste denominado NAT (Nucleic Acid Test) visando cobrir o período de janela imunológica. Houve a disponibilização de recursos governamentais dos EUA para empresas que se dispusessem a desenvolver tais metodologias, e duas destas - Chiron e Roche - foram bem sucedidas, colocando seus produtos para o sistema hemoterápico americano já em 1999, respectivamente os testes Transcription Mediated Amplification e Polymerase Chain Reaction8. No entanto, alguns poucos laboratórios com maior domínio deste tipo de tecnologia molecular, não aguardaram o aparecimento de métodos comerciais, optando por desenvolver suas próprias metodologias, denominadas de testes “in-house”. Tais experiências ocorreram pioneiramente na Cruz Vermelha alemã9 já a partir de 1997, no Brasil10 em 1998 e na Escócias em 1999. Hoje, em nível global, a adoção dos testes NAT é praticamente universal nos países desenvolvidos como EUA, Canadá, Japão, Austrália e grande parte da Europa. Já foi introduzido também na África do Sul e em alguns hemocentros da China, incluindo Hong-Kong. Diversos trabalhos reportam os resultados acumulados com esta tecnologia. Existem grandes variações de acordo com a epidemiologia local de cada um dos agentes virais investigados (HIV, HCV e em menor escala HBV). Nos EUA, a prática revelou grande concordância com as projeções pré-testes, onde se estimava que a taxa de detecção de doações NAT isoladamente reativas, sem a presença concomitante do respectivo anticorpo, seria de cerca de 1:100.000 para HCV e 1: 1.000.000 para HIV12. Em 2005, a experiência de 3 anos de NAT8 revelou números semelhantes porem inferiores aos projetados; 1:250.000 para HCV e 1:3.000.000 para HIV. Na Europa13 as taxas de prevalência e incidência de HIV entre doadores de sangue são historicamente baixas, e os casos de NAT isolados são de cerca de 1:1.000.000 para HCV e 1:3.500.000 para HIV. No Brasil existem condições comuns a todo sistema hemoterápico, tais como o número de doações Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 09-12) 23/3/2003 10:11:43 inferior às demandas transfusionais e um baixo percentual de doadores voluntários de repetição. Estas características levam a maioria dos bancos de sangue a utilizar tanto doadores chamados de primeira vez, desconhecidos ao banco de sangue até aquele momento da primeira doação, quanto a estratégia dos doadores de reposição, que possuem laços com pacientes hospitalizados e que recebem transfusão. Esta peculiaridade acaba resultando em uma maior prevalência de doadores HIV positivos em relação aos países acima citados. Se nos EUA a prevalência de HIV nos doadores de sangue é de aproximadamente 0,01% no Brasil esta é pelo menos 100 vezes maior, isto é 0,1%, e tem se mantido constante nos últimos 10 anos, enquanto a prevalência na população geral dos dois países é semelhante, cerca de 0,5% em ambos. Isso significa que o sistema americano tem sido mais eficiente em selecionar seus doadores de sangue da população geral do que nossa hemorede. Dentro deste contexto, como citado acima, alguns bancos de sangue com maiores recursos, implantaram o teste antigênico p24 em 1993. Nossa experiência com este marcador demonstrou uma doação isoladamente reativa entre 103.000 testadas7. Este doador foi reconvocado e apresentou soroconversão, admitindo ter mentido na entrevista de triagem quando questionado sobre contato sexual recente com pessoa do mesmo sexo. Posteriormente14, a partir de Julho de 2001, o NATHIV substituiu o teste p24, e até Janeiro de 2009, cerca de 260.000 doações foram testadas, sendo identificado um caso de janela de HIV e um de HCV. Outros bancos de sangue têm apresentado números ainda maiores de casos NAT-HIV reativos no Brasil15, podendo-se calcular que a média nacional seja de cerca de 1:50.000 – 1:100.000 doações, enquanto para HCV este valor é bem menor, cerca de 1:300.000 – 1:500.000 doações. A experiência brasileira destoa da internacional nestes dois aspectos; maior incidência de doadores NAT HIV positivos em relação aos NAT HCV reativos, enquanto EUA e Europa verificam o inverso, e uma incidência destes casos de janela de HIV de 10 -30 vezes maior do que EUA e Europa. Quando a investigação epidemiologia-laboratorial dos casos NAT-HIV isolados foi completada aqui no Brasil, Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 09-12) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 11 observou-se que a grande maioria destes doadores omitiu informações na entrevista de triagem. Possivelmente, parte destes indivíduos buscou o banco de sangue para obter informação rápida e fidedigna de seu status de portador de HIV, após prática de risco. Este pormenor indica que embora o valor do NAT na prevenção da transmissão transfusional do HIV seja indubitável, medidas de custo muito menor como a melhor seleção de doadores e uma maior conscientização dos mesmos poderiam atingir os mesmos resultados. Outro aspecto interessante da utilização do exame molecular na triagem primária é a questão da orientação ao doador reativo. Sabe-se que a maior parte dos doadores com sorologia reativa para HIV se deve a resultado falso-positivo. Devido à obrigatoriedade da utilização de 2 testes EIA com princípios distintos, a inespecificidade de ambos é somada na composição do resultado final (anticorpos para HIV). Em nossa experiência, 90% dos doadores com descarte por anti-HIV são falsopositivos, fato evidenciado pela ausência de RNA no soro/plasma, ou seja, teste NAT não-reativo. Supostamente, pela composição antigênica semelhante do EIA com o Western blot, é comum que tais falso-positivos apresentem resultado do W.blot indeterminado. Com o resultado em paralelo NATnegativo, a orientação ao doador é feita de forma mais segura, e permite tranqüilizá-lo quanto ao seu status de HIV ser de fato negativo. No entanto, a utilização do NAT também evidenciou a existência de indivíduos de fato infectados pelo HIV (EIA reativo em ambos os testes, W.blot reativo) mas com níveis de RNA indetectáveis pelos testes NAT. Estas pessoas são denominadas “controladores de elite”, pois são capazes de manter o HIV em níveis muito baixos sem tratamento antiretroviral. Na nossa experiência e na internacional, estes casos são cerca de 3% do total de verdadeiros reativos, e constituem uma população de especial interesse na pesquisa de aspectos imunes do controle da replicação viral. Uma série de dificuldades tem retardado a introdução dos testes NAT de forma obrigatória no Brasil. Duas portarias já foram publicadas e posteriormente revogadas, que tornariam compulsória a adoção do NAT. O governo federal vem desenvolvendo um teste “in-house” que planeja distribuir para a he- 11 23/3/2003 10:11:43 morede pública, tornando o custo menor para os cofres públicos, porém este teste ainda não está disponível. Com o projeto de estabelecimento de uma fábrica de hemoderivados nacional e públi- ca (Hemobrás), entende-se que o NAT deverá ser obrigatório, uma vez que é uma boa prática de produção, a utilização apenas de plasma derivado de doadores submetidos a testes moleculares. Referências Bibliográficas 1. Wendel SN, Russo C, Bertoni RR, Tsunoda NM, Ghaname JN. AIDS and blood donors in Brazil. Lancet 1985 31;2(8453):506. 2. Barré-Sinoussi F, Chermann JC, Rey F, Nugeyre MT, Chamaret S, Gruest J, Dauguet C et al. Isolation of a T-lymphotropic retrovirus from a patient at risk for acquired immune deficiency syndrome (AIDS).Science 1983 20;220:868-71. 3. Provisional public health service inter-agency recommendations for screening donated blood and plasma for antibody to the virus causing acquired immunodeficiency syndrome. MMWR 1985; 34:1-5. 4. Busch MP, Dodd RY, Lackritz EM, AuBuchon JP, Birkmeyer JD, Petersen LR. 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Stramer SL, Glynn SA, Kleinman SH, Strong DM, Caglioti S, Wright DJ, et al. Blood Institute Nucleic Acid Test Study Group Detection of HIV-1 and HCV infections 12 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 12 among antibody-negative blood donors by nucleic acid-amplification testing. N Engl J Med 2004; 19;351:760-8. 9. Roth WK, Weber M & Seifried E. Feasibility and efficacy of routine PCR screening of blood donations for hepatitis C virus, hepatitis B virus, and HIV-1 in a blood-bank setting. Lancet 1999, 353:359-363. 10. Wendel S, Levi JE, Takaoka DT, Silva IC, Castro JP, Torezan-Filho MA, et al. Primary screening of blood donors by nat testing for HCV-RNA: development of an “inhouse” method and results. Rev Inst Med trop Sao Paulo. 2007;49(3):177-85. 11. Cleland A, Davis C, Adams N et al. Development of multiplexed nucleic acid testing for human immunodeficiency virus type 1 and hepatitis C virus. Vox Sang 2001, 81:93-101. 12. Schreiber GB, Busch MP, Kleinman SH & Korelitz JJ. The risk of transfusiontransmitted viral infections. The Retrovirus Epidemiology Donor Study. New Engl J Med. 1996, 334: 1685-1690. 13. Laperche S. Blood safety and nucleic acid testing in Europe. Euro Surveill 2005;10(2):3-4. 14. Levi JE, Wendel S, Takaoka DT, Silva IC, Castro JP, Torezan-Filho MA, et al. Replacement of HIV p24 Ag test by a multiplex RT-PCR method for primary screening of blood donors. Rev Inst Med trop Sao Paulo 2007; 49(3):171-6. 15. Scuracchio PS, Poli MC, Lemos MM, Oliveira Filho AG, Salles NA, Chamone DA et al. Detection of HIV-1 infection in blood donors during the immunological window period using the nucleic acid-amplification technology. Transfus Med 2007;17(3):200-4. Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 09-12) 23/3/2003 10:11:44 Artigo de Revisão DIVERSIDADE GENÉTICA DO HIV E RESISTÊNCIA AOS ANTI-RETROVIRAIS HIV GENETIC DIVERSITY AND ANTIRETROVIRAL DRUG RESISTANCE Elizabeth Stankiewicz Machado1,2* e Marcelo Alves Soares1,3 Departamento de Genética, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil 2 Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil 3 Divisão de Genética, Instituto Nacional de Câncer, Rio de Janeiro, Brazil *Endereço para correspondência: Laboratório de Virologia Humana – CCS – Bloco A – sala A2-120 – Cidade Universitária – Ilha do Fundão – 21949-570 – Rio de Janeiro, RJ, Brazil – E-mail: [email protected] 1 RESUMO O estudo da diversidade genética do HIV tem sugerido que diferentes subtipos possuem propriedades biológicas e virológicas que possam impactar no tipo e grau de resistência às drogas antiretrovirais. A maioria do conhecimento acumulado sobre o desenvolvimento de mutações de resistência aos antiretrovirais é baseada no subtipo B, que é responsável por apenas 10% do total de infecções pelo HIV. Os diversos subtipos do HIV-1 mostram diferenças genotípicas nas regiões de transcriptase reversa, protease, integrase e gp41, alvos da ação dos antiretrovirais atualmente disponíveis. Vários estudos demonstraram que essas diferenças podem ter impacto na capacidade replicativa, susceptibilidade, emergência e seleção de mutações de resistência, assim como no resultado de diversos algoritmos para interpretação de resistência genotípica. Apesar da resposta clínica à terapia antiretroviral ter se mostrado eficaz em indivíduos infectados por diferentes subtipos, as evidências publicadas ainda são insuficientes para avaliar o real impacto de diferentes subtipos não-B na susceptibilidade às diferentes drogas antiretrovirais. Essas questões são relevantes para o Brasil, que tem acesso universal aos antiretrovirais e onde circulam diversos subtipos com o B, C e F1. O impacto global deste conhecimento é também de grande relevância, já que 90% das infecções são causadas por subtipos não-B do HIV-1. Descritores: Resistência, anti-retrovirais, diversidade genética, HIV-1. ABSTRACT The study of HIV genetic diversity has suggested that different groups and subtypes have biological and virological characteristics that may impact the type and extent of resistance to antiretroviral (ARV) drugs. The majority of the knowledge on antiretroviral drug resistance mutation development is based on subtype B, which accounts for only 10% of worldwide HIV infections. The diverse HIV-1 subtypes show genotypic differences in the reverse transcriptase, protease, integrase and gp41 regions, current targets of ARV. Several studies have shown that those differences may impact on virus replicative capacity, susceptibility and on the emergence and selection of resistance mutations, as well on the results provided by several algorithms for genotypic resistance interpretation. Despite that clinical response to antiretroviral therapy has been shown effective among individuals infected by different subtypes, published evidence is still insufficient to evaluate the actual impact of distinct subtypes in the susceptibility to different ARV. Such issues are relevant for Brazil, where a universal access to ARV and subtypes B, C and F1 co-circulate. The global impact of this knowledge is also of paramount importance, since 90% of worldwide HIV infections are caused by non-B subtypes. Keywords : Resistance, antiretrovirals, genetic diversity, subtypes, HIV-1. Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 13-22) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 13 13 23/3/2003 10:11:44 INTRODUÇÃO Distribuição global dos variantes do HIV O vírus HIV, o agente causador da aids, é classificado em 2 grandes tipos: HIV-1 e HIV-2(1,2). O HIV-1, responsável pela pandemia de aids, divide-se em 3 grupos genéticos: grupo M (“major”), grupo O (“outlier”) e grupo N (“new” ou “non-M, non-O”). O grupo M representa 90% dos tipos circulantes mundialmente. Ele compreende nove diferentes subtipos genéticos (A-D, F-H, J e K) e alguns desses subtipos são subdivididos ainda em sub-subtipos como o subtipo F (F1 e F2) e o A (A1, A2 e A3)(3). Subtipos e sub-subtipos podem se recombinar entre si em indivíduos infectados com dois ou mais variantes, gerando formas mosaicas(4). Esses mosaicos, quando adquirem importância epidemiológica, são então denominadas de formas recombinantes circulantes (do inglês: circulating recombinant forms ou CRFs). Os grupos O e N circulam em países da África Central e Ocidental, principalmente na República dos Camarões, Gabão e Nigéria. O HIV-2 é restrito ao Oeste da África e representa apenas 3% do total de infecções. Vários padrões epidemiológicos podem ser observados a partir da distribuição global dos diferentes subtipos. O subtipo B predomina nas Américas, no Oeste da Europa, no Japão e na Austrália. Na América do Sul, além do subtipo B, há um proporção importante de recombinantes BF, e o subtipo C é encontrado nos estados do Sul do Brasil. O subtipo A circula no leste europeu (onde ocorre também o subtipo B e formas recombinantes AB) e em alguns países da África como a República Democrática do Congo e Tanzânia. O subtipo C predomina na região sub-sahariana, Etiópia e Índia. O subtipo D circula na África Central e Oriental, onde também é encontrado o subtipo A. O subtipo E (na forma da CRF01_AE) é predominante na Tailândia. O subtipo F é encontrado no oeste africano, Romênia e países da América do Sul. Na Ásia, podem ser encontrados os subtipos C, recombinantes BC e ainda o CRF01_ AE. Outros CRFs de importância epidemiológicas são encontrados no oeste da África (CRF02_AG), e CRF07_BC e CRF08_BC na China(2). Essa subdivisão do grupo M se baseia em diferenças de nucleotídeos ao longo do genoma viral. A divergência entre os subtipos pode chegar a 30% 14 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 14 na região do envelope viral, e ao redor de 15% nas regiões de gag e pol, que são os sítios de atuação dos anti-retrovirais(5). Estudos avaliando a presença de mutações de resistência aos anti-retrovirais (genotipagem) ou a susceptibilidade de uma cepa aos diferentes anti-retrovirais (fenotipagem) são derivados principalmente de estudos com o subtipo B do HIV-1, que apesar de mais prevalente em países desenvolvidos, está relacionado apenas com 10% das infecções mundiais(6,7). Por outro lado, as infecções com o subtipo C são responsáveis por 50% e junto com outros subtipos não-B compreendem 90% das infecções. Como conseqüência direta dessas variações genéticas, especula-se que elas possam ser responsáveis por diferenças biológicas, influenciando não só a transmissão viral e a progressão de doença, como também o diagnóstico, o desenvolvimento de vacinas, a resposta clínica e a emergência de resistência aos anti-retrovirais (ARV)(8-13). Os diversos subtipos do HIV-1 mostram diferenças genotípicas nas regiões de transcriptase reversa, protease, integrase e gp41, que são alvos da ação dos anti-retrovirais disponíveis atualmente (Tabela 1). Compreender o impacto dessa diversidade genética na resistência aos ARV em relação aos subtipos não-B é de primordial importância para definir o melhor regime terapêutico em países com acesso restrito ao tratamento ou naqueles onde diferentes subtipos circulam, como ocorre em algumas regiões do Brasil. Diferenças genéticas entre os subtipos: mutações primárias, secundárias e polimorfismos As mutações primárias (ou principais) são aquelas capazes de diminuir a susceptibilidade a um anti-retroviral específico. As mutações secundárias emergem após o aparecimento das mutações primárias, podendo diminuir não só a susceptibilidade ao anti-retroviral como também, em alguns casos, aumentar a adaptabilidade (“fitness”) viral, apesar de isoladamente não terem impacto na susceptibilidade aos ARV. Por exemplo, a reduzida capacidade replicativa de uma cepa com resistência à zidovudina, contendo as mutações M41L e T215Y, é compensada quando a mutação L210W emerge(14). Isolados de subtipos não-B sem história prévia de tratamento anti-retroviral exibem, com frequência, polimorfismos considerados como mutações seTendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 13-22) 23/3/2003 10:11:44 cundárias no subtipo B. Por exemplo, a troca do aminoácido metionina por isoleucina no codon 36 da protease (M36I) em cepas do subtipo B determina um aumento de resistência quando acompanhado de mutações primárias para os inibidores de protease (IP), sendo considerado então uma mutação secundária nesse subtipo. Essa mesma mutação é o consenso para os subtipos A, AE, C, D, F and G, sendo considerada um polimorfismo de alta freqüência(15). Outros exemplos de polimorfimos na região de protease são L89M e I93L no subtipos C, V82I no subtipo G, e na região da transcriptase reversa A98S e V179I no subtipo A13,16). Tabela 1. Anti-retrovirais atualmente disponíveis para uso clínico Inibidores Nucleosídeos da Transcriptase Reversa (INTR) Zidovudina Didanosina Estavudina Abacavir Lamivudina Tenofovir Inibidores Não-Nucleosídeos da Transcriptase Reversa (INNTR) Nevirapina Efavirenz Inibidores de Protease Amprenavir Atazanavir Lopinavir/r Ritonavir Nelfinavir Saquinavir Indinavir Darunavir Fosamprenavir Inibidores de Fusão Enfuvirtida (T-20) Inibidores da Integrase Raltegravir Inibidores de Entrada Maraviroc Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 13-22) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 15 Impacto do polimorfismo nos genes da protease (PR) e transcriptse reversa (TR) na susceptibilidade aos anti-retrovirais (ARV) em pacientes virgens de tratamento Estudos sobre a variabilidade genética em subtipos não-B em comparação com o subtipo B mostram os primeiros apresentam polimorfismos em mais de 70 posições nas regiões da TR e PR(13,17). Uma das principais questões envolvendo tais polimorfimos é se, na ausência de mutações primárias, eles seriam responsáveis por uma menor susceptibilidade ao um ARV específico. Estudos sobre a susceptibilidade aos ARV em pacientes virgens de tratamento, infectados com subtipos não-B (A, AC, B, C, D, F, G, CRF01_AE e CRF_02_AG) não mostraram diminuição da susceptibilidade aos inibidores análogos de nucleotídeos/nucleosídeos da transcriptase reversa (INTR) ou aos inibidores não-análogos de nucleosídeos (INNTR)(18-20), mesmo na presença de um grande número de polimorfismos na região da TR(21). Alguns poucos estudos encontraram entretanto, em um número pequeno de isolados, uma discreta diminuição da susceptibilidade para abacavir, zidovudina, estavudina e também aos INNTR. Fleury et al.(22) observaram resistência fenotípica para abacavir em 2 de 12 isolados CRF02_AG (que foram atribuídas às mutações D123N + I135V), resistência a efavirenz e nevirapina em 1 de 12 isolados CFR01_AE, e resistência a atazanavir em 4 de 12 subtipos C (correlacionada à mutação I135T). Vergne et al.(23) encontraram resistência fenotípica em 14 de 35 isolados de subtipos não-B para cada uma das 3 classes de ARV testadas (INTR, INNTR e IP), porém com IC50 discretamente acima dos cut-offs. Alguns subtipos exibem o polimorfismo 70R na região da protease, como a CRF01_AG, e são mais susceptíveis aos IPs nelfinavir e ritonavir. Outros polimorfismos, como 37D/S/T, se correlacionam a uma menor susceptibilidade a indinavir, e 89M a lopinavir(24). Estudos fenotípicos relataram que alguns isolados do subtipo F, apesar de serem susceptíveis a todos os IPs, exibem um IC50 maior do que aqueles de cepas do subtipo B. O mesmo foi observado para algumas cepas de subtipo G em relação a ritonavir, nelfinavir e amprenavir(20). Já em um estudo em pacientes virgens de tratamento em Gana, infectados 15 23/3/2003 10:11:44 com o CRF02_AG, mostraram uma menor susceptibilidade para nelfinavir e lopinavir e também para saquinavir e indinavir(25). Em pacientes tratados, observou-se diferenças em relação à susceptibilidade aos novos IPs tipranavir e darunavir em pacientes de diversos subtipos. Poveda et al. observaram que subtipos não-B mostram um número maior de mutações ao tipranavir (TPV) quando comparados com isolados do subtipo B e ainda encontraram alguns subtipos F, virgens de tratamento, com reduzida susceptibilidade ao TPV. Não houve influência do subtipo em relação à sensibilidade ao darunavir(26). Santos et al. observaram que o subtipo G seleciona a mutação I54V/L quando exposto ao nelfinavir e que a presença de L90M tem impacto menor na diminuição da sensibilidade a nelfinavir quando comparada com cepas B(27). Impacto da diversidade genética no acúmulo de mutações, vias mutacionais e capacidade replicativa Alguns subtipos apresentam uma menor frequência no desenvolvimento de certas mutações quando submetidos à pressão seletiva de um ARV específico, que é dependente da maior ou menor barreira genética para certas mutações. Nosso grupo demonstrou que pacientes infectados com subtipo F desenvolvem as mutações L210W e Q151M com menor freqüência quando comparados com pacientes infectados por subtipos B e C. Para que essas mutações ocorram em indivíduos infectados com o subtipo F, há necessidade de duas substituições de nucleotídeos, enquanto uma substituição apenas é necessária para outros subtipos. Desta forma, o subtipo F exibe uma maior barreira genética ao desenvolvimento dessas mutações(28). Mecanismos similares de uma maior barreira genética também foram observados para as mutações de TR V108I e V118I no subtipo G, Q151M nos subtipos D e F e para mutações de PR I82A nos subtipos C e G(29), o que pode explicar porque algumas mutações emergem preferencialmente em certos subtipos. Estudos que utilizaram dose única de nevirapina para a prevenção da transmissão vertical do HIV em países da África detectaram uma taxa maior de resistência àquela droga em mulheres infectadas pelos subtipos C (69.2%) e D (36.1%) do que naquelas carreando o subtipo A (19.4%)(30). Nes- 18 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 18 ses estudos, observou-se também que o subtipo A apresenta uma susceptibilidade maior a todos os INNTR devido a polimorfismos nos codons I31T, N136S e N265D na região da TR(31). Além disso, mostrou-se uma menor persistência de Y181C no subtipo A, enquanto que K103N persistiu um tempo maior no subtipo D(32). Nosso grupo mostrou que pacientes infectados pelo subtipo C adquirem menos mutações de resistência para INTR e IP quando comparados com aqueles infectados pelo subtipo B. Ao final de quatro anos de observação, pacientes infectados com subtipo B apresentavam 54% de resistência aos INTR e 26% aos IPs enquanto pacientes com subtipo C apresentaram resistência aos INTR e IP de 23% e 8%, respectivamente. Em relação aos INNTR, a frequência de mutações foi a mesma nos dois grupos estudados(33). Estudos in vitro mostram que cepas do subtipo C desenvolvem mais rapidamente a mutação K65R quando cultivadas na presença de tenofovir do que outros subtipos, e em estudos clínicos observa-se que o subtipo A desenvolve com menor frequência as mutações K65R e Y181C durante tratamento com terapia tripla altamente potente (HAART) quando comparados com os subtipos B e C(34,35). Um outro tipo de impacto da diversidade genética se refere a diferentes vias mutacionais quando diferentes subtipos são submetidos à pressão seletiva de um mesmo ARV. Pacientes do subtipo C mostram uma tendência a desenvolver o genótipo de mutações associadas com a timidina 67N, 70R e 215Y (a via de resistência a análogos de timidina TAM-2) quando tratados com HAART em que o esquema de INTR são AZT+DDI, em contraste com o subtipo B, que desenvolvem mais frequentemente 41L, 210W/215Y (a via TAM-1)(36). Da mesma forma, a mutação D30N, observada com o uso de nelfinavir, ocorre com maior frequência no subtipo B (23%) do que no subtipo C (7%) (37). Essa diferença mostrou ter impacto virológico em tratamentos subsequentes: em um estudo, a resposta virológica para um segundo IP após falha com nelfinavir foi de 56% em pacientes com D30N e de 18% naqueles com a mutação L90M(38). Sob a pressão seletiva de INNTR, o subtipo C desenvolve a mutação V106A ao invés de V106M, característica do subtipo B. Enquanto V106M de- Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 13-22) 23/3/2003 10:11:44 termina resistência apenas a nevirapina no subtipo B, V106A confere resistência cruzada a todos os INNTR(39). Pacientes infectados pelo CRF01_AE em tratamento com nelfinavir desenvolvem a mutação N88S(40), que também determina ampla resistência cruzada a outros IPs, mas aumenta a sensibilidade ao amprenavir(41). Polimorfismos naturais podem conferir maior ou menor capacidade replicativa, dependendo se estão ou não presentes com outras mutações. Holguin et al. estudaram dois polimorfismos frequentemente encontrados em cepas não-B (K20I e M36I). Na ausência de drogas as cepas com M36I exibiram uma capacidade replicativa maior do que cepas selvagens ou naquelas em que M36I estava associada à K20I, o que pode significar uma vantagem em relação à transmissão e dissemimação de cepas não-B. Porém ambas as mutações, sob pressão seletiva, melhoram a capacidade replicativa do vírus, reduzindo a susceptibilidade para saquinavir e indinavir(42). Outro estudo comparando o impacto da mutação D30N em subtipos B e C encontrou uma diminuição da capacidade replicativa de 10% nos subtipos B em comparação com uma redução de 40% em cepas C(43). Certas mutações, raramente observadas em subtipos B, podem determinar diferentes sensibilidades a IP em outros subtipos. A mutação I93L, comum no subtipo C, determina hipersensibilidade ao lopinavir ao invés de resistência. González et al. encontraram IC50 16 vezes menor em isolados de subtipo C quando comparados com uma cepa padrão de subtipo B (HXB2/NL4-3) em relação ao lopinavir(44). A mutação de protease M89I/V, que emerge em subtipos F, G e C em tratamento com nelfinavir, está associada a um aumento de susceptibilidade a outros IP, em especial atazanavir, mas não a lopinavir. A combinação de M89I/V + L90M determina IC50 maiores para APV, ATV e IDV mas menores para NFV, RTV e IDV(45). Outro ponto de diferença entre os distintos subtipos do HIV-1 se refere ao nível de resistência conferido pelas mesmas mutações dependendo do subtipo onde elas estão inseridas. González et al. observaram que, em presença das mutações de proteases M46V, I54V, V82A e L90M, cepas do subtipo C apresentam maior nível de resistência a nelfinavir e lopinavir em comparação com subtipo B(46). Por Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 13-22) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 19 outro lado, o aparecimento da mutação V82F no CRF01_AE determina maior resistência ao indinavir nesse subtipo do que no subtipo B(47). 5. Diversidade genética e novos anti-retrovirais Inibidores de Fusão. Enfuvirtida (ENF ou T-20) é um inibidor de fusão que se liga a região HR1 da gp41, prevenindo a fusão do envelope viral com a membrana celular requerida para sua entrada na célula. Em isolados do subtipo B, a resistência a ENF ocorre nos codons 36-45 da região HR1 da gp41 viral. Outras mutações acessórias na região HR2 (que é semelhante à sequência de peptídeos do ENF) emergem de forma a aumentar o fitness viral quando acompanhada de mutações específicas na região HR1. Resistência natural a ENF foi descrita em 9.1% em subtipos B e em 16.7% em subtipos não-B em um estudo realizado na Espanha com 200 sequências de vários subtipos. Polimorfismos também foram mais frequentes nos subtipos não-B. O polimorfismo N42S, associado a um aumento de susceptibilidade ao T-20, foi encontrado em 13.1% no subtipo B, 73.3% no A, 90% no G, 100% no C, mas não no subtipo F, sugerindo que esse subtipo possa ter uma menor susceptibilidade ao T-20 em comparação ao demais(48). Porém outros estudos genotípicos e fenotípicos em pacientes virgens de tratamento não observaram diferenças de susceptibilidade entre os diferentes subtipos ou à presença de mutações primárias associadas a resistência a ENF(49,50). Apesar dessas diferenças, as mutações de resistência desenvolvida por subtipos não-B durante tratamento com T-20 não diferem daquelas encontradas para o subtipo B(51). Inibidores da Integrase: Mutações nos codons 66, 92, 121, 140, 148 e 155 foram relacionadas a uma diminuição de cinco a dez vezes na susceptibilidade ao raltegravir. Alguns estudos sugerem que há duas vias mutacionais para o desenvolvimento de resistência àquela, droga, uma envolvendo a mutação Q148H e outra a N155H(52,53). O sequenciamento da integrase de diversos subtipos foi realizada por van Laethem et al., que observaram a presença de vários polimorfimos em posições relacionas com resistência, mas a relevância dessas mutações na ausência de mutações primárias ainda não foi esclarecida(54). 19 23/3/2003 10:11:44 Antagonistas do co-receptor CCR5: Estudos preliminares in vitro não observaram diferenças na resistência ao maraviroc entre diversos subtipos(55). Troca de tropismo de CCR5 para CXCR4 já foi observada em alguns pacientes tratados com maraviroc(56) e diferenças de tropismo já foram assinalados para alguns subtipos(57). Isolados do subtipo C apresentam tropismo menor para o coreceptor CXCR4 quando comparados com subtipo D(58). Se essas diferenças terão significado clínico na utilização dessa nova classe de anti-retroviral ainda é desconhecido. Diversidade Genética e interpretação de testes genotípicos e fenotípicos Uma das limitações dos testes para detecção genotípica de resistência aos anti-retrovirais é a interpretação dos resultados. Quando comparados três diferentes algoritmos de teste genotípico (ANRS, Rega e Stanford 2007) em pacientes virgens de tratamento infectados com subtipos B e não-B, observou-se que no algoritmo ANRS os subtipos não-B são considerados como naturalmente resistentes ao tipranavir(59). Discordância entre os diversos algoritmos tem se mostrado maior na avaliação da susceptibilidade aos INTRs seguidos pelos IPs, e com concordância de 93% para INNTR(60) entre os diferentes subtipos. Estudos fenotípicos foram desenvolvidos para medir alterações de susceptibilidade em subtipos B e são baseados em cepas adaptadas em laboratório com um background genético relacionado ao subtipo B. Essas cepas laboratoriais são construídas utilizando apenas uma pequena parte do gene gag do material a ser estudado junto com a região pol oriunda do paciente estudado. A região gag codifica um precursor poliproteico que é clivado pela protease do HIV-1 para produzir as proteínas da matriz, do capsídeo e do nucleocapsídeo, além de p1, p2 e p6. Alguns estudos sugerem que polimorfismos e mutações na proteína p6 e nos sítios de clivagem de Gag possam influenciar a replicação viral e a susceptibilidade a drogas(61,62). Várias alterações nos sítios de clivagem de Gag foram vistos entre diversos subtipos(63), e certas mutações foram relacionadas com reduzida sensibilidade a amprenavir(64). O impacto desses polimorfirmos em estudos fenotípicos ainda está para ser determinado. 20 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 20 Diversidade Genética e o HIV-2 Diferenças na susceptibilidade aos ARVs podem ser encontradas também entre diferentes tipos do HIV. O HIV-2 e os HIV-1 do grupo O isolados de pacientes virgens de tratamento da República dos Camarões são naturalmente resistentes aos INNTRs. Pacientes infectados pelo HIV-2 exibem frequentemente as mutações 181I, 188L e 190A, que determinam resistência aos INNTRs. Esses isolados exibem também menor susceptibilidade aos IPs como ritonavir, nelfinavir e tipranavir. Algumas cepas de HIV-2 exibem um IC50 de 9 a 30 vezes maior para amprenavir quando comparados ao HIV-1(65). Resposta ao tratamento Vários estudos comparando pacientes infectados por subtipos não-B demostram que, apesar do grande número de polimorfismos, a resposta aos anti-retrovirais é independente do subtipo infectante e do número de polimorfismos apresentados antes do início do tratamento(66-68). Um estudo comparando o desfecho imunológico e a carga viral entre pacientes infectados por subtipos A, C e D tratados com HAART mostram resultados semelhantes, independente da classe de ARV (INNTR ou IP) usado no tratamento(69). Porém, um estudo na Bélgica com 175 pacientes infectados por diversos subtipos encontrou diferenças na recuperação imunológica após 24 meses de tratamento com IPs como parte do HAART. Uma pior resposta foi observada em pacientes infectados com subtipo A(70). Assim, estudos mais extensos e controlados para avaliar o papel da diversidade de subtipos na resposta terapêutica são ainda necessários. CONCLUSÕES Tendo em vista que mais 33 milhões de indivíduos estão infectados pelo HIV no mundo, e que uma vacina esterilizante ou mesmo terapêutica ainda é uma realidade distante de alguns anos, o tratamento com drogas ARV será amplamente disseminado no mundo na próxima década, particularmente nos países em desenvolvimento. Embora as mutações de resistência aos ARV pareçam ser primariamente as mesmas em diferentes subtipos do HIV, diferenças mais sutis na susceptibilidade, na barreira genética, e na adaptabilidade viral têm sido descritas para vírus de diferentes subtipos, e o impacto destas Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 13-22) 23/3/2003 10:11:44 diferenças no desfecho clínico dos pacientes está ainda a ser completamente elucidado. Nosso entendimento dos processos de resistência aos ARV ainda é parcial, e novas descobertas vêm surgindo mesmo para drogas antigas como o AZT. Novas drogas ARV vêm sendo incorporadas na clínica, e o impacto da diversidade genética do HIV na eficácia destas drogas merecerá futura investigação. Embora os estudos clínicos comparando diferentes subtipos infectantes sejam encorajadores por não mostrarem diferenças de desfecho, eles incluíram poucos indivíduos, um tempo curto de análise, e muitas vezes compararam diferentes grupos étnicos ou geográficos. Assim, estudos mais extensos e controlados serão necessários para descartar por completo o papel da diversidade viral na eficácia de esquemas de tratamento correntes e futuros no combate ao HIV/AIDS no mundo. Referências Bibliográficas 1. Robertson DL, Anderson JP, Bradac JA, Carr JK, Foley B, Funkhouser RK et al. HIV- nomenclature proposal. Science 2000; 288:55-6. 2. Eholié S, Anglaret X.Commentary: decline of HIV-2 prevalence in West Africa: good news or bad news?. Int J Epidemiol 2006; 35:1329-30. 3. Hemelaar J, Gouws E, Ghys PD, Osmanov S. Global and regional distribution of HIV-1 genetic subtypes and recombinants in 2004. AIDS 2006; 20:W13-23. 4. Burke DS. Recombination in HIV: an important viral evolutionary strategy. Emerg Infect Dis 1997; 3:253-9. 5. Gao F, Robertson DL, Carruthers CD, Morrison SG, Jian B, Chen Y et al. A comprehensive panel of near-full-length clones and reference sequences for non-subtype B isolates of human immunodeficiency virus type 1. 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Já no caso do indivíduo com doença avançada – AIDS – são desaconselhados exercícios muito intensos, não havendo contra-indicação para atividades leves. Este aconselhamento deverá ser reavaliado periodicamente dependendo de evolução negativa da doença ou, pelo contrário, melhoria progressiva decorrente da terapêutica anti-retroviral. Riscos de transmissão da infecção pelo HIV do atleta infectado para outros. Trata-se de eventualidade extremamente rara, havendo poucos casos descritos até hoje. A contaminação por contacto cutâneo com sangue de esportista infectado já foi descrita, com dois casos ocorrendo após atividades pugilísticas (Lancet 1991; 337: 731 e Lancet 1992; 339:246). Em relação aos outros jogos calcula-se haver uma chance em um milhão de jogos de ocorrer transmissão (Joel Tedesco – Infecção por HIV – AIDS em Orientação sobre Avaliação e Controle em Atividades Esportivas. Amato Neto ed., Segmento Farma Editora Ltda. 2006, São Paulo). No entanto, pode-se observar que essas raríssimas descrições (uma só no futebol – Lancet 1990; 335: 1105), ocorreram ainda numa fase relativamente inicial da epidemia, quando ainda não haviam sido implantados os cuidados universais no atendimento aos ferimentos com sangue visível. Já há mais de uma década o Committee on Sports Medicine and Fitness da Academia Americana de Pediatria publicou sua posição sobre o assunto (Pediatrics 1991; 88: 640), ressaltando que: Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 23-24) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 23 1 – Atletas infectados pelo HIV devem ter permissão de participar em todos os esportes competitivos. 2 – Não é indicada sorologia rotineira em atletas. 3 – O médico deve respeitar o direito ao sigilo do atleta infectado. 4 – Caso esse atleta atue em esportes que envolvem exposição ao sangue, como lutas, deve ser informado dos riscos de contágio e eventualmente encorajado a mudar de tipo de esporte. A seguir, esse comitê elenca as precauções a serem rotineiramente adotadas. A – Pele exposta a sangue ou outros fluidos corporais contaminados com sangue deve ser limpa o mais rapidamente possível, preferencialmente com sabão e água morna. Quando estes não estiverem disponíveis, antissépticos cutâneos (por exemplo álcool ou toalhas úmidas) podem ser empregados. B – Embora a boa lavagem de mãos seja precaução adequada, luvas impermeáveis à água (látex, vinil, etc.) devem ser disponíveis para uso da equipe de atendimento, se desejadas, ao manejarem sangue ou outros fluidos corporais contaminados com sangue. Luvas devem sempre se usadas por indivíduos com pele não intacta. Lavar as mãos após remoção das luvas. C – Limpar superfícies contaminadas com sangue ou outros fluidos com solução doméstica fresca preparada para uso indireto, contendo uma parte de hipoclorito a 5,25% para 100 de água. D – Não atrasar atendimento de urgência por falta de luvas ou outros equipamentos protetores. E – Na falta imediata de luvas, cobrir o ferimento com toalha felpuda até chegar a local onde estas sejam disponíveis. F – Treinadores e “segundos” (auxiliares) devem receber treinamento em primeiros socorros e atendimentos de urgência e receberem materiais para tratar de ferimentos abertos. 23 23/3/2003 10:11:44 G – Para esportes com contato direto corpóreo e outros em que pode ocorrer sangramento: G1 – caso se observe lesão de pele, limpar imediatamente com antisséptico apropriado e cobrir adequadamente; G2 – se ocorre ferimento sangrante, a participação do indivíduo deve ser interrompida até que o sangramento tenha cessado e o ferimento limpo e coberto. H – Embora a saliva não transmita o HIV, pelo potencial temor dos que fazem ressucitação cardiopulmonar, dispositivos para ventilação oral e ambu devem ser disponíveis para aqueles que preferirem não fazer ressucitação boca a boca. I – Treinadores e “segundos” devem receber treinamento na prevenção da transmissão do HIV no ambiente esportivo; devem após isso ajudar a implantar as medidas acima sugeridas. Nos últimos anos esses cuidados passaram a ser adotados praticamente em todas as atividades esportivas e em quase todas as áreas geográficas, como pode ser observado com a transmissão televisiva desses eventos. É possível, no entanto, que em atividades amadorísticas em regiões de menor desenvolvimento sócio-econômico possa haver ainda inobservância dessas regras, tornando importante continuar a enfatizá-las para que seu alcance seja o mais abrangente possível. 24 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 24 Uma outra forma de possível transmissão da infecção pelo HIV ligada a atividades esportivas é representada pelo uso comum de seringas e/ou agulhas contaminadas. Apesar de intensa divulgação dos riscos dessa prática, não só para a transmissão do HIV, mas também de outros patógenos possíveis de serem transmitidos dessa maneira, como por exemplo os vírus das hepatites B e C, ainda continuamos a verificar a ocorrência dessa forma de transmissão, ligada não somente ao uso de drogas ilícitas, mas também ao uso de anabolizantes e outras substâncias destinadas a melhorar o aspecto e o rendimento físico. Os profissionais da saúde e em particular os médicos de nossos clubes esportivos ou que prestam assessoria a academias esportivas e similares, têm aí um papel vital em levar essas informações aos atletas, principalmente os iniciantes, e repisá-las constantemente para que essa forma de transmissão seja reduzida de maneira drástica. Finalmente, recordemos que existe ainda uma forma excepcional de transmissão de agente infecciosos ligada às atividades esportivas: o transplante de órgãos ou tecidos. Dois casos de transmissão do HIV por transplante ósseo e um por transplante ósseo-tendinoso (Am J Sports Med 1993; 21:170) exemplificam essa possibilidade. No entanto, calcula-se que com os critérios atuais de seleção e os protocolos de triagem utilizados o risco de obter material ósseo ou tendinoso contaminante é menor que um em um milhão. Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 23-24) 23/3/2003 10:11:44 DESTAQUES DO ICAAC/IDSA, WASHINGTON DC, 25 A 28 DE OUTUBRO DE 2008 ARTEMIS, Darunavir/ritonavir versus Lopinavir/ritonavir em pacientes virgens de ARV. Mills A, et al. ICAAC/IDSA 2008. Abstract 1250c. O ARTEMIS é um estudo de 96 semanas que comparou darunavir/ritonavir administrado uma vez ao dia com lopinavir/ritonavir administrados tanto uma quanto duas vezes ao dia. A combinação de Tenofovir com entricitabina em dose fixa era a base de inibidores análogos aos nucleosídeos dos dois braços do estudo. Este estudo aberto de fase 3 recrutou 689 indivíduos virgens de antirretrovirais com carga viral do RNA do HIV >2000 cópias/mL sem nenhuma restrição ao CD4 de entrada no estudo. As medianas de CD4 e carga viral foram semelhantes em cada braço do estudo. Durante o curso do estudo, 86% dos indivíduos do braço do lopinavir substituíram as cápsulas por comprimidos de lopinvir/ritonavir. Após 48 semanas de tratamento, 84% dos indivíduos no braço do darunavir obtiveram carga viral indetectável com um limite de 50 cópias/ mL enquanto 78% dos indivíduos do braço do lopinavir apresentavam carga viral < 50 cópias/mL. Como definido pelo protocolo, a não inferioridade foi demonstrada para os dois braços do estudo. Entretanto, na análise por intenção de tratamento, não foi possível a confirmação da superioridade do darunavir (p=0,62). Estudo CASTLE: comparação doaAtazanavir/ ritonavir versus lopinavir/ritonavir após 96 semanas. Molina JM, et al. ICAAC/IDSA 2008. Abstract 1250d. Este estudo divulgou a comparação dos esquemas com atazanavir (440 pessoas) ou lopinavir (443 pessoas) incrementados com o ritonavir em combinação com doses fixas de tenofovir/entricitabina em pacientes previamente virgens de antirretrovirais. Os resultados de 96 semanas confirmam os resultados de 48 semanas. Na análise por intenção de tratamento, 74% dos indivíduos do braço do atazanavir/ritonavir em comparação a 68% dos indivíduos do braço do lopinavir/ritonavir mantiveram a carga viral indetectável em um limite inferior a 50 cópias/ mL, o que foi estatisticamente significante (p<0,05). Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 25-26) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 25 Interessante observar que a diferença entre os desempenhos dos dois antirretrovirais foi principalmente decorrente da maior descontinuação do tratamento entre as pessoas alocadas no braço do lopinavir em comparação com o atazanavir (21% vs 16%, respectivamente). Muito importante notar que resistência aos antirretrovirais foi incomum neste estudo. Apenas 1 paciente apresentou resistência aos inibidores da protease (braço do atazanavir), enquanto foram detectados 5 pacientes no braço do atazanavir e 7 pacientes no braço do lopinavir com a mutação M184V e um paciente no braço do atazanavir com K65R. Estudo KLEAN: comparação entre fozamprenavir/ ritotavir versus lopinavir/ritonavir em pacientes virgens de antirretrovirais. Estrada V, et al. ICAAC/IDSA 2008. Abstract 1243. Foi apresentada uma extensão do estudo inicial com 196 pacientes estando entre 48 e 144 semanas de tratamento. Os pacientes foram tratados tanto com fozamprenavir/ritonavir 700/100 mg 12/12 hs quanto com Lopinavir/ritonavir, ambos acompanhados de doses fixas de abacavir/3TC. Os índices de supressão viral foram semelhantes nos dois braços do estudo, inclusive entre os pacientes com carga viral superior a 100.000 cópias/mL. Não houve mutações de resistência aos inibidores de protease nos três indivíduos com falhas virológicas. Estudo COL100758: Fozamprenavir/ritonavir 1400/200 mg vs 1400/100 mg em dose única em pacientes previamente virgens de tratamento. DeJesus E, et al. ICAAC/IDSA 2008. Abstract 1246. Neste estudo, 115 indivíduos virgens de antirretrovirais foram tratados com dose única de fozamprenavir/ritonavir e doses fixas de abacavir/3TC por 96 semanas. Interessantemente, indivíduos tratados com a dose de 1400/100 (menores doses de ritonavir) obtiveram melhor resposta virológica, melhor 25 23/3/2003 10:11:44 adesão, menores índices de abandono precoce do tratamento e melhor perfil lipídico. A falha virológica foi observada em 5/58 (9%) do braço 1400/100 mg comparado a 8/57 (14%) do braço 1400/200 mg. Não foram observadas mutações principais na protease entre os pacientes com falha virológica e 2/13 desenvolveram a mutação M184V. HEAT: Estudo de 96 semanas comparativo entre abacavir/3TC e tenofovir/FTC. Smith KY, et al. IAC 2008. Abstract LBPE1138. Foi apresentado o estudo randomizado, duplo cego e comparativo entre os esquemas com dose fixa de abacavir/3TC em comparacao com tenofovir/FTC, ambos administrados em dose única com lopinavir/ Ritonavir (poderia ser substituído por Fozamprenavir/ritonavir, sem que isto fosse considerado falha). A falha virológica nos dois braços do estudo foi de 14% (>200 cópias/mL) e o incremento de CD4 também foi praticamente idêntico. Não devemos esquecer, entretanto os dados de outro estudo, o ACTG 5202, que demonstrou que a falha virológica no braço do abacavir foi de aproximadamente o dobro entre os indivíduos que apresentavam carga viral basal superior a 100.000 cópias/mL. Interessantemente, apesar dos índices de falha virológica ter sido idêntica nos dois braços do estudo HEAT, quando se observa somente o estrato de pacientes com carga viral >100.000 cópias/mL, 58% destes pacientes falharam ao abacavir enquanto 38% falharam ao tenofovir. STARTMRK: estudo de fase três comparativo entre raltegravir e efavirenz para pacientes virgens de tratamento. Lennox J, et al. ICAAC/IDSA 2008. Abstract 896a. Este estudo avalia o raltegravir, atualmente aprovado para resgate, em tratamento inicial em compa- 26 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 26 ração com o efavirenz, ambos com dose fixa de tenofovir/FTC. O estudo recrutou 563 pacientes com carga viral > 5.000 cópias/mL e sem resistência ao efavirenz ou tenofovir ou FTC. Após 48 semanas de estudo, a análise de intenção de tratamento demonstrou que 86% dos indivíduos do braço do raltegravir e 82% do braço do efavirenz obtiveram carga viral inferior a 50 cópias/mL. Além disso, aproximadamente 50% dos indivíduos do braço do raltegravir já tinham carga viral indetectável na quarta semana em comparação com 20% das pessoas do braço do efavirenz. O incremento de CD4 após 48 semanas foi de 189 células no braço do Raltegravir em comparação com 163 células no braço do efavirenz, o que foi estatisticamente significante. Quatro entre oito pacientes testados desenvolveram resistência ao raltegravir por ocasião da falha virológica em comparação co 3 de 8 pacientes que desenvolveram resistência ao efavirenz. Estudo NA-ACCORD: comparação entre tratamento precoce e postergado. Kitahata MM, et al. ICAAC/IDSA 2008. Abstract 896b. O grupo conhecido como “The North American AIDS Cohort Collaboration on Research and Design (NA-ACCORD)” avaliou a sobrevida de pacientes que iniciaram o tratamento com o diagnostico inicial demonstrando CD4 entre 351-500. Estes pacientes foram identificados entre 1996 e 2006 em 22 Centros e alocados para receberem tratamento imediato (CD4 entre 351-500) ou postergarem o tratamento por 1 ano e meio. Os resultados demonstraram um beneficio na sobrevida de 70% entre as pessoas que iniciaram o tratamento com CD4 entre 351-500 em comparação aos que iniciaram o tratamento com CD4 inferior a 350. Estes resultados se mantêm a despeito de outras variáveis como uso prévio de drogas injetáveis ou infecção por HCV. Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 25-26) 23/3/2003 10:11:44 Resumo de Teses Autor: Mariana Machado da Silva Orientador: Ana Paula de Souza Morais Tese de Doutorado Instituição: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) – USP Título: Polimorfismo da região do fator de necrose tumoral (TNF) na síndrome da lipodistrofia associada à terapia anti-retroviral em portadores do HIV-1 Resumo: Apesar de causar um enorme impacto na história da evolução e prognóstico a partir da infecção pelo HIV, a terapia anti-retroviral altamente potente prolongada apresenta vários efeitos colaterais. Dentre esses, a síndrome da lipodistrofia (SL) caracterizada por alterações metabólicas e morfológicas. Embora tenha sido descrito que a adesão à terapia esteja associada, sua patogenia ainda permanece desconhecida. Um enfoque têm sido dado aos mediadores pró-inflamatórios, como o Fator de Necrose Tumoral (TNF), sugerindo que o aumento nos níveis dessa citocina esteja associado com o desenvolvimento da SL. Como os sítios polimórficos têm sido associados com a magnitude da produção de citocinas, no presente estudo avaliamos a freqüência de alguns sítios polimórficos na região do gene que codifica o TNF em portadores do HIV/aids apresentando ou não a SL. Para avaliar o polimorfismo genético dos microssatélites TNFa-e e da região promotora do TNF (TNF-308 e TNF-238) foram estudados 117 portadores do HIV-1 usando terapia anti-retroviral (67 com SL e 50 sem SL) e 131 controles saudáveis. Os microssatélites e região promotora do TNF foram tipificados usando DNA genômico hibridizado com iniciadores específicos. Os pacientes foram arrolados no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). A analise estatística foi realizada utilizando-se o teste exato de Fisher. Quando consideramos as comparações das freqüências dos alelos dos microssatélites da região do TNF podemos inferir que a presença do alelo TNFa5 pode conferir proteção aos indivíduos portadores do HIV/aids no desenvolvimento da SL. Já as comparações dos alelos da região promotora do TNF nos sugerem que a presença do alelo TNF-308G, assim como seu homozigoto TNF-308GG, podem conferir susceptibilidade para o desenvolvimento da SL. A presença do haplótipo TNFe3 d3 -238G -308A c1 a5 b7 sugere proteção para o desenvolvimento dessa síndrome. Esse é o primeiro estudo associando o polimorfismo dosmicrossatelites do TNF com a SL e aponta diversas associações entre alelos da região do gene que codifica o TNF com a SL. Embora os mecanismos relacionados com a participação do TNF no desenvolvimento da SL não estejam bem esclarecidos, este estudo sugere que fatores imunogeTendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 27-28) TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 27 néticos associados com a magnitude de expressão do TNF e, provavelmente da expressão de outras citocinas pró-inflamatórias, estejam envolvidas no desenvolvimento da SL em portadores do HIV/aids. Aluna: Michelle Camargo Orientador: Luiz Mário Ramos Janini Co-orientador: Ricardo Sobhie Diaz Tese de Doutorado Instituição: Laboratório de Retrovirologia, Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo Título: Caracterização genética e das pressões seletivas atuantes na região do envelope e das variantes GWGR do subtipo B brasileiro do Vírus da Imunodeficiência Humana Tipo 1 (HIV-1) Resumo: Apesar do subtipo B ser o mais predominante na epidemia da AIDS no Brasil, existem evidências de que esse subtipo não é homogêneo. O subtipo B apresenta no Brasil uma assinatura no tetrâmero da coroa V3 da gp120 que é a presença de um triptofano (W) ao invés de prolina (P) que é o aminoácido mais freqüente nessa posição do genoma do HIV-1. Aproximadamente metade dos isolados do subtipo B no Brasil possuem um triptofano (W) no tetrâmero do loop V3 da gp120 (GWGR). Essa frequência não é observada em outros subtipos e nem mesmo no subtipo B em outras epidemias de AIDS no mundo. Para explorar mais as características das variantes GWGR e GPGR, foi realizada uma análise detalhada incluindo inferências filogenéticas, análise de diversidade genética e de pressão seletiva em sequências dos genes env, pol e gag. Os resultados da análise de diversidade genética e pressão seletiva mostraram que os valores da razão entre dN/dS entre os genes são distintos. Para uma aferição mais precisa da pressão seletiva sugerida pelo método par-a-par foram realizadas análises usando um método de verossimilhança que estima os valores de dN/dS em cada códon individualmente presente no alinhamento de sequências. Os resultados obtidos com essa análise indicaram códons sob seleção positiva ao longo da seqüência da região dos genes env, pol e gag do HIV-1 em ambas as variantes. Para realmente definir se amostras GWGR e GPGR são variantes distintas ou amostras que contêm apenas uma assinatura deferenciada em env, foi composta uma sequência concatâmera e comparada a distribuição de ambas as amostras em um agrupamento filogenético. Essa análise mostrou que as amostras GWGR não são variantes distintas do subtipo B brasileiro, mas apenas sequências com assinaturas diferentes. A distribuição encontrada demonstrou que não houve separação das amostras GWGR e GPGR e sim uma total mistura entre elas. Essas análises mostraram que os vírus que contém W ou P no loop V3 não estão evoluindo diferencialmen27 23/3/2003 10:11:44 te na epidemia de AIDS no Brasil e não são variantes distintas. Possivelmente os vírus que contêm a variante GWGR entraram cedo na epidemia (efeito fundador), sofrendo disseminação no Brasil. Aluna: Mariana Leão de Lima Orientador: Luiz Mário Ramos Janini Tese de Doutorado Instituição: Laboratório de Retrovirologia, Disciplina de Infectologia, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP Título: Análise de correlação entre eventos de hipermutação e carga viral em pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana tipo 1 (HIV-1) A extensa variabilidade genética do HIV-1 dificulta o desenvolvimento de vacinas que contemplem eficazmente as linhagens existentes. Atualmente, diversos estudos têm avaliado o papel da imunidade inata no combate à infecção pelo HIV-1. A substituição monótona de bases G → A no genoma do HIV-1 é observada desde a década de 1990, entretanto, apenas recentemente este efeito foi atribuído às APOBECs (apolipoprotein B editing catalytic polypeptide). A transcrição reversa do HIV-1 consiste na síntese de DNA de dupla fita a partir do RNA genômico viral e ocorre no citoplasma celular. As APOBECs celulares atuam durante a etapa de transcrição reversa e realizam deaminação de citidina a uridina na fita de DNA viral de polaridade negativa (cDNA de fita simples), de maneira que o efeito da ação destas proteínas pode ser observado como excesso de bases adeninas ao longo da fita complementar de DNA viral (fita de polaridade positiva, que será traduzida na síntese protéica). A presença de hipermutações ocasiona perda da capacidade replicativa da partícula do HIV-1 e pode levar populações e subpopulações virais à extinção. Estudos in vitro demonstraram o efeito antirretroviral das APOBECs baseados, principalmente, na verificação de hipermutação. Por outro lado, estudos sistemáticos in vivo são escassos e os dados da literatura ainda são controversos. Assim sendo, para responder se presença de hipermutação tem efeito protetor no controle da infecção natural pelo HIV, o estudo avaliou os efeitos da hipermutação em 158 amostras de pacientes HIV-positivos não tratados correlacionando o índice de hipermutação com a carga viral em cada indivíduo. A carga viral foi utilizada como parâmetro de apoio no estudo por ser um importante indicador biológico de replicação do HIV-1 e clínico de progressão para a AIDS. Realizou-se a técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) para amplificar fragmentos da região da integrase do HIV-1, que é alvo preferencial do processo de hipermutação no genoma viral. Para a análise dos fragmentos amplificados, as amostras clínicas foram submetidas à migração eletroforética em gel de agarose com o corante HA-Yellow. O HA-Yellow retarda a migração das seqüências de DNA amplificadas proporcionalmente ao conteúdo A+T das mesmas e permite a triagem das amostras hipermutadas no gel por inspeção visual. Das 158 amostras estudadas, foi observada a presença de hipermutação em 74,6% 28 TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 28 (n=118) dos casos e não houve associação aparente entre presença de hipermutação e redução de viremia (P=0,24). Adicionalmente, a presença de hipermutação também não se mostrou associada ao status de linfócitos T CD4 (P=0,69) e nem à etnia ou ao sexo do paciente. Em resumo, embora a detecção no DNA proviral de variantes do HIV-1 portadoras de hipermutação não se correlacionou com menores níveis totais de carga viral nos pacientes avaliados, entende-se o fenômeno de hipermutação como presente e ativo no controle natural da infecção pelo HIV-1 gerando partículas provirais inviáveis. Postula-se que os valores detectados de carga viral em cada indivíduo reflitam a quantidade de partículas virais já filtradas pelo processo de hipermutação e que, desta forma, o fenômeno deve exercer efeito na dinâmica da infecção pelo HIV-1 e na seleção e extinção de populações e subpopulações virais. Autor: Rachel Fontella da Silva Orientador: Marcelo Alves Soares Co-orientadores: Carlos Guerra Schrago e Eduardo L. M. Garcia Tese de Doutorado Instituição: Laboratório Nacional de Computação Científica Título: Análise computacional da origem do subtipo C do HIV-1 na América do Sul Resumo: O principal subtipo do HIV-1 na América do Sul é o B, mas o C e o F também são importantes. Tem sido relatados um aumento de prevalência do subtipo C no sul do Brasil e a sua ocorrência em outros países da América Latina. O objetivo desse trabalho foi analisar filogeneticamente amostras de HIV-1C para testar a hipótese de que a sua entrada na América do Sul foi um episódio único, e tentar estimar a sua origem. Analisamos 97 seqüências virais com 975pb (protease e dois terços da transcriptase reversa), de amostras de regiões geográficas onde o subtipo C é importante epidemiologicamente (América do Sul, Ásia e África). Análises filogenéticas foram realizadas com os métodos de Máxima Verossimilhança e Inferência Bayesiana usando PAUP, PHYML e MrBayes. Amostras da América do Sul formaram um grupo monofilético em todas as árvores geradas com diferentes metodologias, com altos valores de bootstrap e de probabilidade posterior. Em todas as árvores uma amostra do Quênia foi a mais proximamente relacionada a esse grupo. Análises de bootscanning de seqüências do subtipo C puras e recombinantes da Argentina e do Uruguai demonstraram que elas são similares às seqüências brasileiras. Nossos resultados indicam que a entrada do HIV-1C na América do Sul ocorreu em um único episódio ou em múltiplos episódios de vírus geneticamente próximos, possivelmente provenientes de países do Leste da África. O HIV-1 C se espalhou do Brasil para os outros países da América do Sul. Tendências em HIV • AIDS (Volume 4 - Número 1 - 27-28) 23/3/2003 10:11:44 TENDÊNCIAS EM HIV/AIDS INSTRUÇÕES AOS AUTORES A revista Tendências em HIV/AIDS é uma publicação trimestral da Disciplina de Infectologia da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. O intuito dessa publicação é apresentar artigos de revisão preparados por especialistas da área que expressem o conhecimento e a experiência desses pesquisadores. Os artigos são todos escritos por líderes de opinião nesse campo do conhecimento com o intuito de conhecer como caminha a ciência na área, principalmente no que possa refletir a prática do dia-a-dia do clínico. Muitas das estratégias e opiniões aqui apresentadas são inovadoras e modernas. Portanto, os conceitos apresentados podem estar à frente de consensos e da prática corriqueira atual. Dessa forma, pretende-se manter a missão deste periódico, que é a de disseminar a informação de alta qualidade e com potencial inovador. O seleto corpo editorial da revista é também responsável pela escolha dos temas de interesse e pela indicação de especialistas que se dedicam ao desenvolvimento desses temas. A aprovação dos artigos está sujeita à avaliação por uma comissão de revisores que recebem o texto de forma anônima e decidem por sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao Editor Chefe que por fim as encaminha aos autores. Categorias: O próprio autor deve indicar se o seu texto pertence à categoria: a) artigo de revisão b) artigo de atualização c) relato de caso A Tendências em HIV/AIDS também publica resumos de teses sobre HIV/ AIDS defendidas no trimestre anterior e resumos de congressos. Artigos de revisão e atualização: Devem ser apresentados de forma didática e conter: resumo, palavraschave, abstract, Keywords, texto, referências bibliográficas. Tabelas e figuras também podem ser apresentadas, se necessário. Relatos de Caso: Deverão conter: resumo, palavras-chave, abstract, Keywords, introdução, descrição do caso, discussão. Normas para preparação dos artigos Os artigos devem ser redigidos em língua portuguesa. É obrigatória a apresentação de um resumo em português e um em inglês. Os artigos devem ser digitados no MS Word, formato txt e encaminhados por e-mail, no endereço eletrônico: [email protected] Em caso de aceite, o autor será comunicado e o artigo será publicado mediante apresentação de carta de autorização de publicação assinada pelos autores. Os autores devem certificar-se de que o manuscrito está de acordo com as “instruções aos autores”. O protocolo estabelece que: a) Os conceitos emitidos nos artigos são de total responsabilidade dos autores; b) Os artigos devem ser inéditos, ou seja, não devem ter sido publicados anteriormente, nem devem ter sido disponibilizados na Internet, com exceção das teses, dissertações e dos trabalhos apresentados em congressos; c) Caso sugestões ou mudanças sejam sugeridas aos autores como condição para publicação na Tendências em HIV/AIDS, os autores devem responder se aceitam ou não essas sugestões dentro de um prazo de 48 horas. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria da Tendências em HIV/AIDS. Os artigos enviados passarão a ser propriedade da Tendências em HIV/AIDS. d) Uma vez aceito para publicação, o artigo torna-se propriedade Tendências em HIV/AIDS e somente a revista poderá autorizar a reprodução dos artigos nela contidos. e) A publicação do artigo, quando aceita, obedecerá à programação editorial. Página de rosto A página de rosto deve conter: a) o título do artigo, na língua portuguesa e em inglês; b) Categoria a que pertence o trabalho; TEND HIV VOL 4 N1 2009 23 03 09 L7.indd 29 c) nome completo dos autores e afiliação institucional; d) nome endereço, telefone e e-mail do autor responsável para correspondência. Segunda página a) Resumo, sem exceder 200 palavras; b) Abstract: versão fidedigna do resumo; c) 3 a 6 palavras-chave extraídas do vocabulário DeCS - Descritores de Ciências da Saúde (http://decs.bvs.br); d) 3 a 6 keywords, baseadas no MeSH - Medical Subject Headings sss(http://www.nlm.nih.gov/cgi/mesh/2006/MB_cgi). Caso não sejam encontrados descritores apropriados para cobrirem o assunto do trabalho, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Referências Bibliográficas As referências devem ser numerar de forma consecutiva, de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizandose números arábicos sobrescritos e entre parênteses. As referências devem seguir o estilo Vancouver, como exemplificado: Revistas Científicas Linnen J, Wages J, Jr., Zhang-Keck ZY, Fry KE, Krawczynski KZ, Alter H, et al. Molecular cloning and disease association of hepatitis G virus: a transfusion-transmissible agent. Science 1996;271(5248):505-8. Livros Ringsven MK, Bond D. Gerontology and leadership skills. 2nd ed. Albany(NY): Delmar Publisher; 1996. Capítulos de Livro Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. P. 465-78. Anais de Congressos Kimura J, Shibasaki H. Recent advances in clinical neurophysiology. Proceedings of the 10th International Congress of EMG and Clinical Neurophysiology; 1995 Oct 15-19; Kyoto, Japan. Amsterdam: Elsevier; 1996. Dissertações e Teses Kaplan SJ. Post-hospital home health care: the elderly’s access and utilization [dissertation]. St. Louis(MO): Washington Univ.; 1995. Tabelas e Ilustrações a) todas as partes do artigo devem ser incluídas em um único arquivo, sendo que as tabelas e as ilustrações devem ser apresentadas ao final do corpo do texto, após as referências bibliográficas; b) as tabelas deverão ser numeradas seqüencialmente através de algarismos arábicos e identificadas na parte superior pelo termo “Tabela” seguido do número, dois pontos, espaço e seu título; c) as ilustrações deverão ser numeradas seqüencialmente através de algarismos arábicos e identificadas na parte inferior pelo termo “Figura” seguido do número, dois pontos, espaço e seu título; d) os títulos das tabelas devem ser suficientemente explicativos. Conflito de Interesses Conforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000 os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros (comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação. Reprodução Somente a Tendências em HIV/AIDS poderá autorizar a reprodução dos artigos nelas contidos. Estamos acessíveis a críticas e sugestões e poderemos ser contatados pelos endereços eletrônicos: [email protected] e [email protected] Dúvidas e sugestões também podem ser resolvidas através da editora: Atha Comunicação e Editora A/C: Fernanda Colmatti/ Arthur T. Assis Rua: Machado Bittencourt,190, cj.410 - Vila Mariana - São Paulo - Capital - CEP 04044-000 - [email protected] 23/3/2003 10:11:44