A hora e a vez da produção independente – Lei, Mercado e

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A hora e a vez da produção independente – Lei, Mercado e
A hora e a vez da produção independente –
Lei, Mercado e Sustentabilidade
Por Mauro Garcia1
A história econômica do Brasil foi calcada em grandes ciclos: do paubrasil, do ouro, da cana, do café e outras riquezas e matérias-primas.
O cinema brasileiro, secular, sempre independente, também foi
historiado por ciclos: do cinema educativo de Humberto Mauro, das
virtudes dos estúdios brasileiros da Atlântida e Vera Cruz, das
Pornochanchadas, do Cinema Novo, da Embrafilme, da retomada do
cinema brasileiro e agora seu maior ciclo virtuoso com as novas
comédias brasileiras de grande bilheteria.
As Tvs abertas brasileiras desde a inauguração da TV Tupi em 1950,
comerciais ou mesmo as públicas, repetem um modelo vertical que
cada vez mais vai se demonstrando inviável por seu alto custo
financeiro e estrutural e por seu distanciamento da produção
independente contemporânea nascida na criativa cadeia produtiva
audiovisual. Tímida e eventualmente as Tvs abertas dialogam com a
produção independente. Dois exemplos de coprodução entre canais
abertos e a produção independente resultaram em Prêmios EMMY, o
Oscar da TV mundial: Mulher Invisivel – coprodução da Conspiração
Filmes e a TV Globo; e Pedro e Bianca - coprodução da Coração da
Selva e a TV Cultura de São Paulo.
A Tv por assinatura no Brasil, quase enveredou por estrutura similar
mas, com capacidade financeira reduzida, encontra há pouco mais de
três anos sua redenção num novo modelo estruturante e do negócio
com a Lei 12.485, do SEAc ou mais conhecida por seu apelido de Lei
da Tv por assinatura.
E o que mudou? As operadoras ou empacotadoras organizam e
disponibilizam a oferta de canais. Os canais de tv por assinatura são
exibidores, programadores. Quem faz a produção é a produtora
1
Diretor Executivo do ICAB e da ABPITV.
independente, que além de criar, viabiliza recursos humanos e
financeiros para as obras audiovisuais.
Nada novo na ordem mundial. O mercado audiovisual norteamericano foi gestado e alavancado por Lei em que a
produção independente se consolidou num mercado inicialmente
com regras e cotas rígidas mas que foram flexibilizadas, diante de um
mercado sustentável financeiramente e que ocupou grande parcela
no mercado mundial com séries e filmes os canais de tv e estúdios de
cinema.
Exemplo de viabilidade e produção em grande escala e "cauda longa"
de monetização e rentabilidade por suas próprias obras audiovisuais
assim como dos produtos derivados. E que inspirou novos modelos
de subsídios temporais no Canadá, na India, entre outros.
As grandes séries que ocupam os principais canais de tv por
assinatura levam todas as marcas de produtoras independentes.
Game of Thrones, CSI, Sherlock Holmes, House, Oprah, são todas
produzidas de forma independente de seus canais exibidores
parceiros.
Em diversos outros países, sobretudo na Europa, as cotas de
produção original independente local são ainda mais rígidas.
Protegendo sua soberania de mercado, de língua, de emprego e
renda.
Por aqui, desde a efetivação da Lei 12.485, foram produzidas mais de
3 mil horas de séries ficcionais, documentários, animações, sucessos
no mercado nacional e em canais internacionais.
Sucesso inequívoco de audiência junto à nova e majoritária base de
20 milhões de assinantes de tv por assinatura, oriundos das Classes C
e D e que hoje forma a nova classe média brasileira.
Público que quer se ver e ver o Brasil, suas histórias e sua língua nos
canais de tv. Oriundo do hábito de consumo audiovisual de tv aberta
em língua e produção nacional.
As produções brasileiras são hoje a maior aposta dos canais
internacionais e nacionais para o horário nobre noturno,
alavancando as maiores audiências nas programadoras e operadoras
da tv por assinatura.
Foram criados milhares de empregos, absorvendo uma nova geração
de realizadores audiovisuais independentes, saídos das Escolas de
Cinema e Audiovisual que compartilham novas linguagens e recursos
das mídias digitais com os ícones do cinema e da produção para tv.
Nosso modelo, hoje comprovadamente vitorioso em resultados de
quantidade, qualidade e audiência, ainda dá seus primeiros passos e
não pode ser "abortado" por visões tacanhas de agentes
econômicos mesquinhos sem a compreensão da escala e da
relevância de uma indústria audiovisual nascente brasileira.
As ADINs (Ações Diretas de Inconstitucionalidade) movidas por
alguns desses agentes da cadeia produtiva do audiovisual brasileiro,
contra a Lei da Tv por Assinatura, que estão previstas para
julgamento no próximo dia 24 de junho pelo Supremo Tribunal
Federal foram suplantadas pela realidade do mercado brasileiro que
provou e comprovou a qualidade da produção independente nacional
e seus resultados positivos de audiência. O fato é que grandes grupos
internacionais de comunicação apostam cada vez mais nas séries
brasileiras, face a seu resultado de público e crítica. Inclusive por
aqueles que moveram “precipitadamente” e com pré-conceito essas
Ações.
As ADINs movidas em 2011 e 2012, anos da promulgação e da
entrada em vigor da Lei 12.485, respectivamente; hoje “caducaram” e
se tornaram “obsoletas”.
A qualidade e o sucesso da produção independente brasileira está
nas telas dos mais de 100 canais disponíveis nas melhores
operadoras de tv por assinatura do ramo.

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