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Transcrição

Garoto Apaixonado - CP 01ed01 - PPs.indd
Cuidado: Garoto Apaixonado! – Toni Brandão
O autor
PROJETO
P
ROJETO D
DE
E LLEITURA
EITURA
Toni Brandão,
autor
já consagrado na ficção
juvenil, pertence à linhagem dos que, atentos
ao real concreto e aos
temas contemporâneos
ou atraídos pelo registro
realista da aventura humana, vão além do imediato.
De espírito inquieto e criador, Toni Brandão tem marcado presença na literatura
com obras publicadas pela Editora Melhoramentos – Televizinhos, Foi Ela/ Ele Que
Começou, Falando Sozinha, Guerra na
Casa do João, A Preferida do Rei, Como
as Cabras Foram Domesticadas e Nzuá e
a Cabeça, entre outros (alguns adaptados
para CD-ROM e audiolivros). Além disso,
ele está presente, de maneira dinâmica,
na área artística, desenvolvendo atividades
correlatas como roteiros para TV e adaptações de textos para CD-ROM e escrevendo
espetáculos para teatro, que já lhe renderam prêmios como APCA e Mambembe.
É autor também de duas novelas de suspense e de mistério para a internet, ambas veiculadas pelo site Terra: Crimes no
Parque e Táxi.
Resenha
Ficha
Seguindo uma linha de criação que
procura estimular no jovem a autoestima
e o interesse pela vida e pelas artes, a
obra Cuidado: Garoto Apaixonado!, de
Toni Brandão, revela em linguagem coloquial e viva o cotidiano do garoto Tui,
personagem-narrador.
O texto mostra que não é fácil ter onze
anos e estar em dívida com alguém que
salvou sua vida. Principalmente quando
essa pessoa é o seu melhor amigo, que está
apaixonado pela mesma garota que você.
Trata-se de uma obra fascinante, seja
pela temática, seja pela cumplicidade
que se estabelece entre o leitor e o garoto Tui, quando este expõe seus sentimentos e conflitos.
Tui e Alê são amigos inseparáveis, estudam na mesma escola, gostam de praticar os mesmos esportes e curtem os mesmos programas de lazer. Ao ingressar na
5a série, Tui conhece Camila, uma garota
espontânea, de vitalidade irresistível: “Ela
era demais” (p. 25).
Mas Alê também se encanta com a garota vinda de Presidente Prudente para morar
na capital: “Ela não é igual à Gláucia e Cia.
Ltda., que é só eu estalar os dedos, elas já
fazem tudo o que eu quero” (p. 26).
A narrativa se constrói por meio das relações de convívio e descobertas que vão
se desenvolvendo entre esses três amigos
de escola: Tui, Alê e Camila.
Autor:
Toni Brandão
Título:
Cuidado: Garoto
Apaixonado!
Ilustrador:
Orlando Pedroso
Formato:
13,5 x 20,5 cm
No de páginas:
80
Elaboração:
Sonia Maria Soares dos Reis
Quadro sinóptico
Gênero: Ficção juvenil
Palavras-chave: adolescência,
namoro, Eros, mitologia clássica,
amizade
Tema transversal: ética
Interdisciplinaridade:
Português, Artes, Filosofia,
História, Geografia, Ciências
INDICAÇÃO:
leitor crítico:
a partir de
12
anos
ensino
fundamental
1
Conversa com o professor
M i habilmente,
Muito
h bil
as obras
b
de
d TTonii
Brandão permitem ao leitor ampliar seus
referenciais, pois não se limitam a estereótipos, não reforçam os preconceitos
nem endossam os disparates impostos
pela sociedade, ou seja, deixam o leitor
livre dessas amarras sociais. Obras como
Televizinhos e Cuidado: Garoto Apaixonado derrubam conceitos cristalizados e
abrem-se para novas perspectivas problematizadas pela literatura moderna.
A produção literária desse escritor é
um dos mais significativos exemplos
de como a construção de um discurso
que se abre para o diálogo com o jovem
pode acontecer sem que se amesquinhe a linguagem. Tanto é assim que, em
seus livros, o texto não sofre ameaça de
não resistir a mais de uma leitura.
Encontra-se na obra desse moderno
escritor da literatura brasileira a possibilidade do reencontro com o juvenil, presente em seus personagens; é perfeitamente possível frequentar esse universo
pelo viés fictício.
Enveredar pelo livro Cuidado: Garoto
Apaixonado é entrar em consonância
com as aspirações dos pré-adolescentes
– o leitor jovem inscreve-se nessa história por meio do tom confessional do relato de Tui.
2
Preparando a leitura
Procure enlaçar seus alunos por meio da sedução. Para isso, seguem algumas dicas:
• Leia com eles alguns trechos da obra Cui- • Leve obras de Shakespeare para a sala
dado: Garoto Apaixonado!. Por exemde aula – Hamlet, Sonhos de Uma Noite
plo, os versinhos dedicados a Camila:
de Verão, Macbeth, Romeu e Julieta e
outros. Há excelentes versões publicadas
“Dobre-me/ faça de mim/ um peixe, uma
em português. Deixe que eles folheiem
flor/ ou um barquinho/ não me incomoos livros e conversem sobre os personada/ viver dobrado/ desde que seja/ ao seu
gens, as adaptações e os filmes basealado” (p. 36) ou “...você tem que tocar o
dos nessas obras.
coração dela... com inteligência... e mistério... tem que deixar a menina interes- • Convide os alunos para ouvir o CD Nome,
sada... curiosa... e não entregar o jogo
de Arnaldo Antunes, especialmente a
de cara” (p. 28).
música “Cultura”, apreciada por Camila e Tui e responsável pela aproximação
• Faça cartões em origami para que os aludeles. Deixe que os alunos conversem linos possam trocar mensagens de amizavremente sobre o tema, as emoções, as
de e afeto entre si.
imagens inusitadas da música.
• Converse com os alunos e pergunte quem
conhece a história de Romeu e Julieta.
Peça para alguém resumi-la em voz alta.
Convide
os a pesquisar em livros e na in
Convide-os
internet a vida e a obra de Shakespeare.
Trabalhando a leitura - conversa sobre o texto
Sem ser piegas, Toni Brandão caminha com sutileza pelo universo juvenil, preservando cada um dos pequenos momentos tão cheios de significado e beleza para o garoto
Tui, que fala de seus sentimentos e das suas emoções mais profundas e dolorosas:
“Triste em tudo. Triste no caminho do sítio, que é lindo. (...) Triste ouvindo o barulho da
chuva no telhado...” (p. 48).
ca
Ah! esta eterna dúvida, este grande e imenso temor do ser humano, em qualquer época
da vida... sentir o desamor e temer a não concretização do sonho verbalizado...
iliO livro fala de amor em todas as suas dimensões – sofrimentos, descobertas, possibilima
dades, encantos, medo das resoluções, início e término – por meio de dialogismo com
mitologia grega e romana.
“...E mira. E quando tiver certeza de ter mirado certo o seu alvo, deixa que a flecha vá
cê
buscar o que você deseja. A flecha é a sua vontade, que vai até o alvo e traz ele pra você
(...)” (p. 54)
“Como disse o Eros, tem que ter firmeza, leveza e cuidado pra organizar a vontade do
os
nosso coração e para acertar os alvos. Eu não tenho nada disso!” (adaptação de trechos
das p. 55 a 58).
buO texto nos fala da dificuldade de ser jovem – de crescimento e de buscas –, das turbude
lências do garoto Tui. A questão é perceber o quanto ele pode, saber com quem pode
contar (o pai, a mãe), se deseja se colocar em campo e lutar contra o adversário (Alê)) e
se a causa é justa (o amor de Camila).
3
Explorando a leitura - um olhar intertextual sobre a obra
Por meio da história Cuidado: Garoto Apaixonado, o jovem leitor pode entrar em contato com alguns artistas importantes da música brasileira, com deuses da mitologia greco-romana e com o texto clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare.
Acreditamos que a forma como esses textos estão inseridos no contexto da obra
envolverá o leitor jovem na magia de universos paralelos e/ou no universo de outras
g g
linguagens.
O diálogo da obra com outros textos
– Por meio de citação
“... Então, eu estava aqui pensando que a gente podia fazer igual ao Aladim, quando
ele salvou o gênio da lâmpada. (...)” (p. 28)
>>
– Por referência à
mitologia greco-romana
(p. 55-57)
– Por apropriação de
trechos de Romeu e
Julieta, de William
Shakespeare
“Numa cena entre o Romeu e a Julieta,
depois que a Julieta termina uma fala dizendo ‘cuida de mim’, o Alê, quer dizer,
o Romeu, tinha que dizer ‘para sempre.
Me chama de amor e este será o meu
nome, não mais Romeu’.”
“– É. O Arnaldo Antunes, depois que ele saiu dos Titãs, gravou um disco (...). Ela não
começa dizendo que ‘o girino é o peixinho do sapo?’.” (p. 34)
– Por meio de apropriação
(música “Ciranda da
Bailarina”, de Edu Lobo e
Chico Buarque)
“Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
e tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem.
(...)
Futu
Futucando
bem
Todo mundo tem piolho
Ou ttem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem...”
>>
4
– Pela releitura dos
diálogos (paráfrase) de
Romeu e Julieta
“E eu continuei:
Romeu (Tui) – ...Tem coração batendo
no joelho esquerdo.
Olho enxergando em
cotovelo. E o estômago
atravessado no meio da
garganta. Coisa
esquisita. Desarruma
tudo. (...)”
ATIVIDADE
A
TIVIDADE P
PRÁTICA
RÁTICA
A obra Cuidado: Garoto Apaixonado
pode servir de elo para integrar as diferentes disciplinas.
Percorrendo os domínios das artes,
da narrativa, do texto teatral, do texto
musical e das imagens poéticas, o autor nos apresenta uma obra que abre
vasta possibilidade de trabalhos em
sala de aula, seja pela criativa condução da narrativa, seja pelo trabalho intertextual e interdisciplinar.
A leitura deve ser guiada por um roteiro temático previamente elaborado, a
fim de orientar os alunos na percepção
de pontos considerados relevantes:
>>
>>
1. Entre o real e a ficção
No transcorrer da leitura da obra, o leitor poderá questionar os tênues limites que separam o real do fantástico, o concreto do imaginário; isso em razão do encontro do
personagem Tui com Eros.
História, Geografia e Filosofia
Você sabe como são as coisas. Quando menos se espera, os deuses lhe dão as costas,
e a desgraça ataca! Por isso, toda primavera, tanto gregos quanto estrangeiros faziam
uma peregrinação até o oráculo nas montanhas de Delfos. Mas o que significa visitar
essa estranha sacerdotisa, e o que fazia as pessoas virem de tão longe?
• Converse com os alunos sobre a Grécia. Onde fica? (Traga um mapa e mostre a localização.) Qual a sua importância na história da humanidade? Quais são seus mais
ilustres pensadores?
• Mostre que as ideias de alguns filósofos gregos não morreram. Proponha a elaboração de um grande painel com imagens, biografia e ideias dos principais pensadores
ao longo da história grega, como Tales, Sócrates, Platão e Aristóteles.
• Incentive os alunos a investigar o motivo da morte de Sócrates. Sabe-se que o objetivo de Sócrates era fazer as pessoas examinar tudo e pensar por si mesmas; será que
foi por isso que ele se tornou um perigo para o Estado? Como ele via a mitologia e
os deuses gregos? Acreditava neles?
Português
• Converse com os alunos sobre mitologia: quem é Eros? Leia com eles o mito de Eros e
Psiquê e mostre como ele serviu de tema para numerosos artistas (sugestão: Histórias
de Amor: Eros e Psiquê, adaptado por Gabriel Chalita, Companhia Editora Nacional).
Artes
• Proporcione um olhar intertextual do mundo das artes: promova uma pequena mostra com telas e esculturas de Cupido (Eros), da lenda Eros e Psiquê (sugestão: Eros
e Psiquê, de Gérard (1798); Amore e Psiche, de Antonio Canova (1796), terminado
por Adamo Tadolini (1789/1868) e outras. >>
5
>>
>>
>>
2. Do diálogo com a música popular brasileira
Artes
• Promova um momento descontraído: tra- • Oriente os alunos a ilustrar a música “Ciga para a sala de aula as músicas menranda da Bailarina”, de Chico Buarque,
cionadas na obra. Contextualize-as. Conutilizando sucata: jornais, revistas, papel
verse sobre os compositores, pergunte se
crepom e laminado, botões, palitos de
os alunos conhecem outras composições
fósforo, algodão etc. Os alunos devem redesses artistas. Sugira que os alunos inproduzir o contexto da música por meio
terpretem outros textos dos artistas, utilida técnica de recorte e colagem. O trabazando diferentes códigos (o da fala, o da
lho deve ser exposto para o restante da
música, o das artes plásticas etc.).
escola.
Ciências Naturais
Após ouvir a música “Ciranda da Bailarina”,
alunos:
• As vitaminas têm função reguladora no or- •
ganismo. Elas ativam certas enzimas, regulando determinados processos fisiológicos.
São, portanto, substâncias fundamentais
para o funcionamento harmonioso do organismo. Existem vários tipos de vitamina.
A carência delas no organismo pode acarretar problemas de pele seca, esterilidade, •
raquitismo, anemia etc. Comente a importância das vitaminas para o nosso organismo e, posteriormente, discuta como a
“avitaminose” é abordada na música. Peça
que os alunos citem as vitaminas que podem corrigir esses males e quais alimentos
as fornecem.
• Aponte aos alunos que a música “Ciranda da Bailarina” menciona problemas de
doenças: “...Teve escarlatina / Ou tem febre
amarela / Só a bailarina que não tem...”.
Como evitá-las? Existem vacinas para combatê-las? Vacina é o mesmo que soro? Qual
o papel do Instituto Butantã no Brasil?
6
faça as seguintes considerações com os
Incentive a pesquisa sobre as doenças causadas por bactérias, vírus, protozoários. O
que são? Como é o ciclo de vida desses
seres e quais as medidas profiláticas para
combatê-las? Como essas doenças são
apresentadas na música “Ciranda da Bailarina”?
Converse com os alunos sobre o que acontece com os alimentos a partir do momento em que os ingerimos. Quais os caminhos
trilhados pelas frutas, verduras, legumes,
ovos e demais componentes de nossa dieta cotidiana depois da mastigação? Em seguida, promova uma sessão de vídeo com
o filme “Osmose Jones”, de Peter Farrelly
(consulte Quer saber mais?). Uma das possibilidades que nos é dada pelo filme refere-se ao caráter cômico e pretensamente
descompromissado da produção ao abordar o tema “corpo humano”. >>
>>
• Uma das melhores atividades que podem ser realizadas após assistir ao
filme é fazer um exame minucioso
dos personagens e dos ambientes retratados como partes da “Cidade de
Frank”. Quem são os personagens e
como seriam retratados nos livros que
falam sobre o corpo humano?
• Busque informações sobre os órgãos e
sistemas mostrados como ambientes do
corpo de Frank e relacione o funcionamento apresentado no filme aos dados
disponibilizados pelas pesquisas na área.
• Uma atividade importantíssima em relação ao filme é observar como é feita
a higiene pessoal e quais são seus hábitos alimentares. O personagem Frank
equivale a tudo aquilo que devemos
condenar e poderia servir de exemplo
para que pudéssemos produzir uma
resposta coletiva sobre o que podemos
e devemos fazer para nos alimentar de
forma mais adequada e os hábitos que
devemos desenvolver para evitar que
tenhamos doenças por falta de higiene.
• A utilização desse filme como recurso
permite o diálogo entre várias disciplinas
simultaneamente. A metáfora desenvolvida pelo filme transformou o corpo
humano numa cidade, o que pode ser
invertido e transformado num exercício
a ser desenvolvido por várias disciplinas, como Geografia, História, Filosofia.
Os alunos podem pensar, dentro das
cidades nas quais estão inseridos, no
que equivaleria à circulação sanguínea,
ao coração, ao cérebro, aos intestinos
grosso e delgado, às viroses etc.
>>
>>
>>
3. Do diálogo com a obra Romeu e Julieta,
Julieta de Shakespeare
Quer saber mais?
Incentive novas leituras e amplie os horizontes de experiências do aluno. Conte que Shakespeare, ao escrever Romeu e Julieta, baseou-se na “Lenda da Amoreira”, um mito de origem. Existem várias versões dessa lenda na mitologia grega. Mas o jeito como Ovídio (43
a.C.) a reconta, em As Metamorfoses, torna-a uma emocionante história de amor proibido que culmina em tragédia.
Artes
• Faça um grande painel artístico com fotos de Shakespeare, imagens de capas dos livros
do artista, principalmente de versões de Romeu e Julieta, reproduções de telas referentes ao texto de Ovídio (sugestão: Thisbe (1909), de John William Waterhouse), mostra
de vídeo das duas versões de Romeu e Julieta – a do diretor Franco Zeffirelli (Inglaterra
e Itália, 1968) e a do diretor Baz Luhrmann (EUA,1996).
Português
• Ofereça a seus alunos várias versões da “Lenda da Amoreira” ou história de Píramo e
Tisbe (sugestão: adaptação de Ana Maria Machado no livro Texturas – sobre leituras
e escritos). Leia com os alunos e incentive-os a encenar a história, após a análise do mito
grego.
• Mostre aos alunos que a intertextualidade é uma noção recorrente na tradição literária.
Explique que, ao apropriar-se do texto de Shakespeare, Toni Brandão revela as múltiplas
possibilidades da arte e da literatura e empreende uma viagem pelo mundo da cultura.
• Sugira a composição de resenha dos filmes assistidos durante este trabalho. Observe os
aspectos que devem estar presentes: ano de filmagem, diretores, linhas gerais sobre o
enredo, linguagem e comparação com outras obras do gênero. Faça um levantamento
das semelhanças e diferenças entre o filme clássico Romeu e Julieta (Zeffirelli) e a nova
versão (Baz Luhrmann). >>
>>
7
Na obra Cuidado: Garoto Apaixonado!,
assim como em outras produções artísticas e culturais de Toni Brandão, pode-se perceber o diálogo com outros
textos e outras linguagens: a linguagem literária invade o domínio de outras linguagens e, ao mesmo tempo,
se deixa penetrar por elas. Inserido no
grande jogo sociocultural, o texto de
Toni se caracteriza como dialógico, ou
seja, é um tipo de texto em que diversas vozes da sociedade estão presentes e se entrecruzam: as vozes poéticas
de Chico Buarque e Arnaldo Antunes,
compositores contemporâneos; da mitologia, o mito de Eros; do século XVI,
a voz de Shakespeare e sua tragédia
Romeu e Julieta, que, por sua vez, retoma uma das mais belas histórias de
amor, Píramo e Tisbe.
PÍRAMO E TISBE (Lenda da Amoreira)
Há muitos e muitos anos, vivia na Babilônia
um rapaz chamado Píramo, o mais belo dos
jovens de seu tempo. Bem ao lado da casa
dele, separada apenas por um muro, vivia
Tisbe, a mais linda jovem do Oriente. Sendo
vizinhos, acabaram se encontrando e ficando amigos. Mais que isso, em pouco tempo
aquela amizade virou amor, e começaram a
falar em casamento. Acontece, porém, que
as famílias não queriam aquela união e proibiram o namoro. Os dois não podiam nem
se falar. Como não tinham um aliado ou
confidente que pudesse levar seus recados
e ajudá-los, foram desenvolvendo uma linguagem de acenos e sinais. Quanto mais se
ocultavam, mais o amor escondido ardia e
abrasava.
No muro que separava os dois quintais havia uma rachadura, que tinha virado uma
fresta. Tão apertada que passara despercebida de todos. Mas nada escapa aos olhos dos
apaixonados! Píramo e Tisbe descobriram
essa fresta e logo notaram que podia ser um
canal de comunicação. Píramo parava de um
lado, Tisbe, do outro, e começavam a ouvir
a respiração do ser amado ali pertinho. Daí a
pouco estavam sussurrando:
— Muro, muro, deixe de ser ciumento...
não fique no caminho dos que se amam! Por
que não deixa que a gente se abrace?
— Por favor, muro, se abra mais, para podermos nos beijar...
8
do
Passavam o dia todo murmurando ao lado
ado paredão. De noite, se despediam e beijavam as pedras do muro.
Certa manhã, quando a Aurora apagara o
m
fogo das estrelas e os raios do Sol já tinham
asecado o orvalho da noite, os dois chegae,
ram ao ponto de encontro e, como sempre,
to
começaram a suspirar. Mas estavam muito
da
tristes. Seus lamentos foram ficando cada
nvez mais sofridos. Não estavam aguentane,
do mais. Por isso, acabaram resolvendo que,
rnaquela noite, cada um tentaria esgueirara.
-se, passar pelos guardas e escapulir de casa.
ra
Depois que fugissem, iriam encontrar-se fora
m
da cidade. Para não se perderem, marcaram
ia
um encontro junto a um túmulo que havia
ra
no campo, ao lado de uma imensa amoreira
ar
– porque a sombra da árvore podia ajudar
es
a escondê-los, no caso de eventuais olhares
ma
indiscretos. E, como bem pertinho havia uma
to
fonte de água fresca, seria um lugar perfeito
para uma espera.
iu
Quando a noite chegou, Tisbe conseguiu
ue
abrir a porta e sair com facilidade, sem que
ou
ninguém a visse. Envolta num véu, chegou
ao local combinado e sentou-se debaixo da
m
amoreira, cujos frutos nesse tempo eram
branquinhos como a neve e brilhavam sob a
oa
Lua. Mas, daí a pouco, apareceu uma leoa
ca
que acabava de caçar e, ainda com a boca
ngotejando sangue, vinha beber água na fonxite. À luz do luar, Tisbe viu o animal se aproxi-
>>
>>
mando e correu para se abrigar numa caverna próxima. Na corrida, deixou cair o véu. A
leoa encontrou o tecido e avançou sobre ele,
rasgando o pano e o deixando todo sujo de
sangue. Depois, bebeu água e foi embora.
Píramo só conseguiu chegar um pouco mais
tarde. Viu as pegadas da fera e ficou pálido.
Pior ainda, viu o véu de Tisbe, estraçalhado e
ensanguentado. Desesperou-se. Achou que
Tisbe tinha sido devorada por um leão, e a
culpa era dele, que a convencera a ir sozinha
de noite a um lugar perigoso e não conseguira chegar a tempo para estar lá à sua espera. Chorando, abraçado ao véu de Tisbe,
sacou a espada e a enterrou no próprio peito. O sangue jorrou longe e abundante e esguichou sobre a raiz da amoreira e sobre as
amoras, que foram tingidas por aquela cor
de púrpura.
Ansiosa para não desapontar seu amado,
Tisbe voltou, olhando em volta à procura
dele, e louca para lhe contar sua aventura
e o perigo de que tinha escapado. Quando
viu Píramo no chão, morto e coberto de sangue, ficou fora de si. Batia no peito, arrancava os cabelos, lavava o sangue dele com
A obra de Toni Brandão estabelece também diá-logo com informações científicas; daí a intertex-tualidade com o filme Osmose Jones.
9
O filme
lágrimas, beijava o rosto frio. Ao distinguir
que as mãos do rapaz seguravam seu véu
rasgado e a espada estava fora da bainha,
percebeu o que ocorrera. Segurou então a
espada com firmeza e se lançou sobre ela
para morrer também, no aço ainda quente
do corpo amado.
Com tristeza, os deuses guardaram para
sempre a lembrança dos dois nos frutos da
amoreira – cor de sangue antes de amadurecer, e pretos de luto no apogeu da doçura,
quando ficam no ponto de ser colhidos. E,
ao amanhecer, as duas famílias, finalmente,
constatando a que ponto sua intransigência
tinha levado os dois namorados, consentiram que Píramo e Tisbe ficassem unidos para
sempre e guardaram as cinzas dos dois na
mesma urna.
(Lenda da Amoreira, Ovídio –
As Metamorfoses)
Ficha técnica
Título em inglês: Osmosis Jones
País/Ano de produção: EUA, 2001
Gênero/Duração: comédia, 99 min.
Direção: Peter Farrelly e Bobby Farrelly
Roteiro: Marc Hyman
Frank Pepperidge é zelador de um
zoológico e pai de uma garota bonita
e inteligente de 13 anos de idade. Diferentemente da filha, Shane, Frank é extremamente descuidado e, constantemente, peca pela absoluta falta de zelo
com sua aparência e saúde. No início
do filme, Frank comete uma exemplar
falha relacionada à falta de higiene.
Ao se alimentar em frente à jaula dos
macacos, permite que um dos animais
pegue o ovo que estava prestes a ingerir. Na sequência, entra numa disputa
pelo ovo com o chimpanzé, chegando
a retirar o alimento da boca do animal.
Não bastasse o fato de que o macaco
já havia colocado o ovo na boca, Frank
acaba comendo o alimento mesmo depois de apanhá-lo do chão.
Nesse ponto da história, nossa trajetória
se desloca para a boca de Frank. Nela
percebemos uma movimentação de células, como se fossem seres humanos,
reagindo à ingestão do ovo, já sabendo que o organismo estava a ponto de
receber a visita de bactérias e vírus indesejáveis. Eles se deslocam dentro de
um universo próprio e muito particular
chamado de “Cidade de Frank” (...).
Agora é com vocês, professores!
ANEXO
A
NEXO T
TEÓRICO
EÓRICO
Metodologia da Interpretação
Vivemos em uma sociedade grafocêntrica, embora se saiba que essa posição
conferida à palavra escrita não significa exclusividade; não só porque há culturas que
dela prescindem, mas também porque, na atualidade, confere-se à imagem uma nova
dimensão. Mas isso não impede que nos aproximemos da escrita informativa ou poética
– com certo respeito.
Com o objetivo de possibilitar a construção contextualizada, no qual o aluno deverá
da compreensão de diferentes textos, que interpretar o texto narrativo.
abordam dos fatos mais simples aos mais O terceiro momento, o da aplicação, forcomplexos, dos mais concretos aos mais mado pelos dois precedentes, é o da reabstratos, valemo-nos da metodologia dos cepção efetiva do texto, quando há formatrês olhares – Metodologia da Interpreta- ção de julgamento estético e, com ele, a
ção – para auxiliar o ato da leitura. Essa atualização do texto. Esse momento abarmetodologia tem sido vista como uma uni- ca dois níveis de leitura: o nível da leitura
dade tripartida em compreensão, interpre- crítica, no qual o aluno deverá apreender
tação e aplicação.
o discurso temático e ampliar o seu horiAssim, o primeiro momento, o da compreensão, quando se faz o primeiro contato
com o texto e a apreensão dos seus referenciais, corresponderia ao nosso nível de
leitura literal, no qual o aluno deverá reconhecer os elementos da superfície do texto,
como personagens, espaço, tempo. Para
isso, faz-se necessário, evidentemente, ter
domínio do código da língua portuguesa.
zonte de expectativa, dialogando com outros textos, formadores de sua história de
leituras e que abordem o mesmo tema, e
o nível da metaleitura, no qual o aluno deverá ter o domínio do conhecimento, pela
apropriação do discurso metalinguístico.
Conceitos e teoria dessa metodologia podem ser aplicados à leitura do texto verbal e
não verbal, uma vez que ela admite a interO segundo momento, o da interpretação, textualidade e a interdisciplinaridade; enfim,
quando o aluno, pelo exercício da herme- o dialogismo entre textos de áreas diferennêutica, dialoga com o texto, dá-se pela tes, mas de conteúdos complementares.
concretização de uma leitura mais apurada, tendo por base o horizonte de expectativa da primeira leitura. Esse momento
corresponde, para nós, ao nível da leitura
10
Método dos três olhares à luz da estética da recepção
apresentado no quadro a seguir:
MOMENTOS DO
OLHAR
O que acontece
O que faz
2o MOMENTO
Olhar mediador
3o MOMENTO
Olhar ativo
Encontro do leitor
com um mundo
que não conhece
Encontro do leitor
com o mundo
significativo
Encontro do leitor
com o mundo
novo que agora
conhece
Uma leitura
que apanha
os elementos
significativos,
sinais, referentes
Uma leitura de
diálogo com o
texto, por meio da
pergunta e
da resposta
Uma leitura de
cruzamento do
ver e do sentir,
do exterior e do
interior, ou seja,
cruzar experiências
Olha e vê
Olha, vê, interroga
e busca
Olha, encontra,
associa, reúne,
interioriza, vê e lê
O que importa
Reconhecer
os elementos
significativos,
sinais, referentes
O exame da
realidade
representada,
por meio do
questionamento da
busca dos porquês,
causas e motivos
A integração do
novo que se vê
e do antigo que
é a experiência
do já visto, fusão
de horizontes,
ampliação de
conhecimento
O que resulta
Compreensão
VER-POR-CONHECER
Interpretação
VER-E-PENSAR
Aplicação
VER-PENSAR-LER
Como faz
11
1o MOMENTO
Olhar receptivo
Bibliografia
JAUSS, H. R. A História da Literatura como
Provocação à Teoria Literária. São Paulo:
Ática, 1994.
LONTRA, Hilda Orquídea Hartmann (org.).
Leitura e Literatura Infantil – Questão do
ser, do fazer e do sentir. Oficina Editorial do
Instituto de Letras da UnB: FINATEC, 2000.
ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura – Perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática,
1988.
Este projeto de leitura está com a Nova Ortografia
conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

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