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Cuidado: Garoto Apaixonado! – Toni Brandão O autor PROJETO P ROJETO D DE E LLEITURA EITURA Toni Brandão, autor já consagrado na ficção juvenil, pertence à linhagem dos que, atentos ao real concreto e aos temas contemporâneos ou atraídos pelo registro realista da aventura humana, vão além do imediato. De espírito inquieto e criador, Toni Brandão tem marcado presença na literatura com obras publicadas pela Editora Melhoramentos – Televizinhos, Foi Ela/ Ele Que Começou, Falando Sozinha, Guerra na Casa do João, A Preferida do Rei, Como as Cabras Foram Domesticadas e Nzuá e a Cabeça, entre outros (alguns adaptados para CD-ROM e audiolivros). Além disso, ele está presente, de maneira dinâmica, na área artística, desenvolvendo atividades correlatas como roteiros para TV e adaptações de textos para CD-ROM e escrevendo espetáculos para teatro, que já lhe renderam prêmios como APCA e Mambembe. É autor também de duas novelas de suspense e de mistério para a internet, ambas veiculadas pelo site Terra: Crimes no Parque e Táxi. Resenha Ficha Seguindo uma linha de criação que procura estimular no jovem a autoestima e o interesse pela vida e pelas artes, a obra Cuidado: Garoto Apaixonado!, de Toni Brandão, revela em linguagem coloquial e viva o cotidiano do garoto Tui, personagem-narrador. O texto mostra que não é fácil ter onze anos e estar em dívida com alguém que salvou sua vida. Principalmente quando essa pessoa é o seu melhor amigo, que está apaixonado pela mesma garota que você. Trata-se de uma obra fascinante, seja pela temática, seja pela cumplicidade que se estabelece entre o leitor e o garoto Tui, quando este expõe seus sentimentos e conflitos. Tui e Alê são amigos inseparáveis, estudam na mesma escola, gostam de praticar os mesmos esportes e curtem os mesmos programas de lazer. Ao ingressar na 5a série, Tui conhece Camila, uma garota espontânea, de vitalidade irresistível: “Ela era demais” (p. 25). Mas Alê também se encanta com a garota vinda de Presidente Prudente para morar na capital: “Ela não é igual à Gláucia e Cia. Ltda., que é só eu estalar os dedos, elas já fazem tudo o que eu quero” (p. 26). A narrativa se constrói por meio das relações de convívio e descobertas que vão se desenvolvendo entre esses três amigos de escola: Tui, Alê e Camila. Autor: Toni Brandão Título: Cuidado: Garoto Apaixonado! Ilustrador: Orlando Pedroso Formato: 13,5 x 20,5 cm No de páginas: 80 Elaboração: Sonia Maria Soares dos Reis Quadro sinóptico Gênero: Ficção juvenil Palavras-chave: adolescência, namoro, Eros, mitologia clássica, amizade Tema transversal: ética Interdisciplinaridade: Português, Artes, Filosofia, História, Geografia, Ciências INDICAÇÃO: leitor crítico: a partir de 12 anos ensino fundamental 1 Conversa com o professor M i habilmente, Muito h bil as obras b de d TTonii Brandão permitem ao leitor ampliar seus referenciais, pois não se limitam a estereótipos, não reforçam os preconceitos nem endossam os disparates impostos pela sociedade, ou seja, deixam o leitor livre dessas amarras sociais. Obras como Televizinhos e Cuidado: Garoto Apaixonado derrubam conceitos cristalizados e abrem-se para novas perspectivas problematizadas pela literatura moderna. A produção literária desse escritor é um dos mais significativos exemplos de como a construção de um discurso que se abre para o diálogo com o jovem pode acontecer sem que se amesquinhe a linguagem. Tanto é assim que, em seus livros, o texto não sofre ameaça de não resistir a mais de uma leitura. Encontra-se na obra desse moderno escritor da literatura brasileira a possibilidade do reencontro com o juvenil, presente em seus personagens; é perfeitamente possível frequentar esse universo pelo viés fictício. Enveredar pelo livro Cuidado: Garoto Apaixonado é entrar em consonância com as aspirações dos pré-adolescentes – o leitor jovem inscreve-se nessa história por meio do tom confessional do relato de Tui. 2 Preparando a leitura Procure enlaçar seus alunos por meio da sedução. Para isso, seguem algumas dicas: • Leia com eles alguns trechos da obra Cui- • Leve obras de Shakespeare para a sala dado: Garoto Apaixonado!. Por exemde aula – Hamlet, Sonhos de Uma Noite plo, os versinhos dedicados a Camila: de Verão, Macbeth, Romeu e Julieta e outros. Há excelentes versões publicadas “Dobre-me/ faça de mim/ um peixe, uma em português. Deixe que eles folheiem flor/ ou um barquinho/ não me incomoos livros e conversem sobre os personada/ viver dobrado/ desde que seja/ ao seu gens, as adaptações e os filmes basealado” (p. 36) ou “...você tem que tocar o dos nessas obras. coração dela... com inteligência... e mistério... tem que deixar a menina interes- • Convide os alunos para ouvir o CD Nome, sada... curiosa... e não entregar o jogo de Arnaldo Antunes, especialmente a de cara” (p. 28). música “Cultura”, apreciada por Camila e Tui e responsável pela aproximação • Faça cartões em origami para que os aludeles. Deixe que os alunos conversem linos possam trocar mensagens de amizavremente sobre o tema, as emoções, as de e afeto entre si. imagens inusitadas da música. • Converse com os alunos e pergunte quem conhece a história de Romeu e Julieta. Peça para alguém resumi-la em voz alta. Convide os a pesquisar em livros e na in Convide-os internet a vida e a obra de Shakespeare. Trabalhando a leitura - conversa sobre o texto Sem ser piegas, Toni Brandão caminha com sutileza pelo universo juvenil, preservando cada um dos pequenos momentos tão cheios de significado e beleza para o garoto Tui, que fala de seus sentimentos e das suas emoções mais profundas e dolorosas: “Triste em tudo. Triste no caminho do sítio, que é lindo. (...) Triste ouvindo o barulho da chuva no telhado...” (p. 48). ca Ah! esta eterna dúvida, este grande e imenso temor do ser humano, em qualquer época da vida... sentir o desamor e temer a não concretização do sonho verbalizado... iliO livro fala de amor em todas as suas dimensões – sofrimentos, descobertas, possibilima dades, encantos, medo das resoluções, início e término – por meio de dialogismo com mitologia grega e romana. “...E mira. E quando tiver certeza de ter mirado certo o seu alvo, deixa que a flecha vá cê buscar o que você deseja. A flecha é a sua vontade, que vai até o alvo e traz ele pra você (...)” (p. 54) “Como disse o Eros, tem que ter firmeza, leveza e cuidado pra organizar a vontade do os nosso coração e para acertar os alvos. Eu não tenho nada disso!” (adaptação de trechos das p. 55 a 58). buO texto nos fala da dificuldade de ser jovem – de crescimento e de buscas –, das turbude lências do garoto Tui. A questão é perceber o quanto ele pode, saber com quem pode contar (o pai, a mãe), se deseja se colocar em campo e lutar contra o adversário (Alê)) e se a causa é justa (o amor de Camila). 3 Explorando a leitura - um olhar intertextual sobre a obra Por meio da história Cuidado: Garoto Apaixonado, o jovem leitor pode entrar em contato com alguns artistas importantes da música brasileira, com deuses da mitologia greco-romana e com o texto clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Acreditamos que a forma como esses textos estão inseridos no contexto da obra envolverá o leitor jovem na magia de universos paralelos e/ou no universo de outras g g linguagens. O diálogo da obra com outros textos – Por meio de citação “... Então, eu estava aqui pensando que a gente podia fazer igual ao Aladim, quando ele salvou o gênio da lâmpada. (...)” (p. 28) >> – Por referência à mitologia greco-romana (p. 55-57) – Por apropriação de trechos de Romeu e Julieta, de William Shakespeare “Numa cena entre o Romeu e a Julieta, depois que a Julieta termina uma fala dizendo ‘cuida de mim’, o Alê, quer dizer, o Romeu, tinha que dizer ‘para sempre. Me chama de amor e este será o meu nome, não mais Romeu’.” “– É. O Arnaldo Antunes, depois que ele saiu dos Titãs, gravou um disco (...). Ela não começa dizendo que ‘o girino é o peixinho do sapo?’.” (p. 34) – Por meio de apropriação (música “Ciranda da Bailarina”, de Edu Lobo e Chico Buarque) “Procurando bem Todo mundo tem pereba Marca de bexiga ou vacina e tem piriri, tem lombriga, tem ameba Só a bailarina que não tem. (...) Futu Futucando bem Todo mundo tem piolho Ou ttem cheiro de creolina Todo mundo tem um irmão meio zarolho Só a bailarina que não tem...” >> 4 – Pela releitura dos diálogos (paráfrase) de Romeu e Julieta “E eu continuei: Romeu (Tui) – ...Tem coração batendo no joelho esquerdo. Olho enxergando em cotovelo. E o estômago atravessado no meio da garganta. Coisa esquisita. Desarruma tudo. (...)” ATIVIDADE A TIVIDADE P PRÁTICA RÁTICA A obra Cuidado: Garoto Apaixonado pode servir de elo para integrar as diferentes disciplinas. Percorrendo os domínios das artes, da narrativa, do texto teatral, do texto musical e das imagens poéticas, o autor nos apresenta uma obra que abre vasta possibilidade de trabalhos em sala de aula, seja pela criativa condução da narrativa, seja pelo trabalho intertextual e interdisciplinar. A leitura deve ser guiada por um roteiro temático previamente elaborado, a fim de orientar os alunos na percepção de pontos considerados relevantes: >> >> 1. Entre o real e a ficção No transcorrer da leitura da obra, o leitor poderá questionar os tênues limites que separam o real do fantástico, o concreto do imaginário; isso em razão do encontro do personagem Tui com Eros. História, Geografia e Filosofia Você sabe como são as coisas. Quando menos se espera, os deuses lhe dão as costas, e a desgraça ataca! Por isso, toda primavera, tanto gregos quanto estrangeiros faziam uma peregrinação até o oráculo nas montanhas de Delfos. Mas o que significa visitar essa estranha sacerdotisa, e o que fazia as pessoas virem de tão longe? • Converse com os alunos sobre a Grécia. Onde fica? (Traga um mapa e mostre a localização.) Qual a sua importância na história da humanidade? Quais são seus mais ilustres pensadores? • Mostre que as ideias de alguns filósofos gregos não morreram. Proponha a elaboração de um grande painel com imagens, biografia e ideias dos principais pensadores ao longo da história grega, como Tales, Sócrates, Platão e Aristóteles. • Incentive os alunos a investigar o motivo da morte de Sócrates. Sabe-se que o objetivo de Sócrates era fazer as pessoas examinar tudo e pensar por si mesmas; será que foi por isso que ele se tornou um perigo para o Estado? Como ele via a mitologia e os deuses gregos? Acreditava neles? Português • Converse com os alunos sobre mitologia: quem é Eros? Leia com eles o mito de Eros e Psiquê e mostre como ele serviu de tema para numerosos artistas (sugestão: Histórias de Amor: Eros e Psiquê, adaptado por Gabriel Chalita, Companhia Editora Nacional). Artes • Proporcione um olhar intertextual do mundo das artes: promova uma pequena mostra com telas e esculturas de Cupido (Eros), da lenda Eros e Psiquê (sugestão: Eros e Psiquê, de Gérard (1798); Amore e Psiche, de Antonio Canova (1796), terminado por Adamo Tadolini (1789/1868) e outras. >> 5 >> >> >> 2. Do diálogo com a música popular brasileira Artes • Promova um momento descontraído: tra- • Oriente os alunos a ilustrar a música “Ciga para a sala de aula as músicas menranda da Bailarina”, de Chico Buarque, cionadas na obra. Contextualize-as. Conutilizando sucata: jornais, revistas, papel verse sobre os compositores, pergunte se crepom e laminado, botões, palitos de os alunos conhecem outras composições fósforo, algodão etc. Os alunos devem redesses artistas. Sugira que os alunos inproduzir o contexto da música por meio terpretem outros textos dos artistas, utilida técnica de recorte e colagem. O trabazando diferentes códigos (o da fala, o da lho deve ser exposto para o restante da música, o das artes plásticas etc.). escola. Ciências Naturais Após ouvir a música “Ciranda da Bailarina”, alunos: • As vitaminas têm função reguladora no or- • ganismo. Elas ativam certas enzimas, regulando determinados processos fisiológicos. São, portanto, substâncias fundamentais para o funcionamento harmonioso do organismo. Existem vários tipos de vitamina. A carência delas no organismo pode acarretar problemas de pele seca, esterilidade, • raquitismo, anemia etc. Comente a importância das vitaminas para o nosso organismo e, posteriormente, discuta como a “avitaminose” é abordada na música. Peça que os alunos citem as vitaminas que podem corrigir esses males e quais alimentos as fornecem. • Aponte aos alunos que a música “Ciranda da Bailarina” menciona problemas de doenças: “...Teve escarlatina / Ou tem febre amarela / Só a bailarina que não tem...”. Como evitá-las? Existem vacinas para combatê-las? Vacina é o mesmo que soro? Qual o papel do Instituto Butantã no Brasil? 6 faça as seguintes considerações com os Incentive a pesquisa sobre as doenças causadas por bactérias, vírus, protozoários. O que são? Como é o ciclo de vida desses seres e quais as medidas profiláticas para combatê-las? Como essas doenças são apresentadas na música “Ciranda da Bailarina”? Converse com os alunos sobre o que acontece com os alimentos a partir do momento em que os ingerimos. Quais os caminhos trilhados pelas frutas, verduras, legumes, ovos e demais componentes de nossa dieta cotidiana depois da mastigação? Em seguida, promova uma sessão de vídeo com o filme “Osmose Jones”, de Peter Farrelly (consulte Quer saber mais?). Uma das possibilidades que nos é dada pelo filme refere-se ao caráter cômico e pretensamente descompromissado da produção ao abordar o tema “corpo humano”. >> >> • Uma das melhores atividades que podem ser realizadas após assistir ao filme é fazer um exame minucioso dos personagens e dos ambientes retratados como partes da “Cidade de Frank”. Quem são os personagens e como seriam retratados nos livros que falam sobre o corpo humano? • Busque informações sobre os órgãos e sistemas mostrados como ambientes do corpo de Frank e relacione o funcionamento apresentado no filme aos dados disponibilizados pelas pesquisas na área. • Uma atividade importantíssima em relação ao filme é observar como é feita a higiene pessoal e quais são seus hábitos alimentares. O personagem Frank equivale a tudo aquilo que devemos condenar e poderia servir de exemplo para que pudéssemos produzir uma resposta coletiva sobre o que podemos e devemos fazer para nos alimentar de forma mais adequada e os hábitos que devemos desenvolver para evitar que tenhamos doenças por falta de higiene. • A utilização desse filme como recurso permite o diálogo entre várias disciplinas simultaneamente. A metáfora desenvolvida pelo filme transformou o corpo humano numa cidade, o que pode ser invertido e transformado num exercício a ser desenvolvido por várias disciplinas, como Geografia, História, Filosofia. Os alunos podem pensar, dentro das cidades nas quais estão inseridos, no que equivaleria à circulação sanguínea, ao coração, ao cérebro, aos intestinos grosso e delgado, às viroses etc. >> >> >> 3. Do diálogo com a obra Romeu e Julieta, Julieta de Shakespeare Quer saber mais? Incentive novas leituras e amplie os horizontes de experiências do aluno. Conte que Shakespeare, ao escrever Romeu e Julieta, baseou-se na “Lenda da Amoreira”, um mito de origem. Existem várias versões dessa lenda na mitologia grega. Mas o jeito como Ovídio (43 a.C.) a reconta, em As Metamorfoses, torna-a uma emocionante história de amor proibido que culmina em tragédia. Artes • Faça um grande painel artístico com fotos de Shakespeare, imagens de capas dos livros do artista, principalmente de versões de Romeu e Julieta, reproduções de telas referentes ao texto de Ovídio (sugestão: Thisbe (1909), de John William Waterhouse), mostra de vídeo das duas versões de Romeu e Julieta – a do diretor Franco Zeffirelli (Inglaterra e Itália, 1968) e a do diretor Baz Luhrmann (EUA,1996). Português • Ofereça a seus alunos várias versões da “Lenda da Amoreira” ou história de Píramo e Tisbe (sugestão: adaptação de Ana Maria Machado no livro Texturas – sobre leituras e escritos). Leia com os alunos e incentive-os a encenar a história, após a análise do mito grego. • Mostre aos alunos que a intertextualidade é uma noção recorrente na tradição literária. Explique que, ao apropriar-se do texto de Shakespeare, Toni Brandão revela as múltiplas possibilidades da arte e da literatura e empreende uma viagem pelo mundo da cultura. • Sugira a composição de resenha dos filmes assistidos durante este trabalho. Observe os aspectos que devem estar presentes: ano de filmagem, diretores, linhas gerais sobre o enredo, linguagem e comparação com outras obras do gênero. Faça um levantamento das semelhanças e diferenças entre o filme clássico Romeu e Julieta (Zeffirelli) e a nova versão (Baz Luhrmann). >> >> 7 Na obra Cuidado: Garoto Apaixonado!, assim como em outras produções artísticas e culturais de Toni Brandão, pode-se perceber o diálogo com outros textos e outras linguagens: a linguagem literária invade o domínio de outras linguagens e, ao mesmo tempo, se deixa penetrar por elas. Inserido no grande jogo sociocultural, o texto de Toni se caracteriza como dialógico, ou seja, é um tipo de texto em que diversas vozes da sociedade estão presentes e se entrecruzam: as vozes poéticas de Chico Buarque e Arnaldo Antunes, compositores contemporâneos; da mitologia, o mito de Eros; do século XVI, a voz de Shakespeare e sua tragédia Romeu e Julieta, que, por sua vez, retoma uma das mais belas histórias de amor, Píramo e Tisbe. PÍRAMO E TISBE (Lenda da Amoreira) Há muitos e muitos anos, vivia na Babilônia um rapaz chamado Píramo, o mais belo dos jovens de seu tempo. Bem ao lado da casa dele, separada apenas por um muro, vivia Tisbe, a mais linda jovem do Oriente. Sendo vizinhos, acabaram se encontrando e ficando amigos. Mais que isso, em pouco tempo aquela amizade virou amor, e começaram a falar em casamento. Acontece, porém, que as famílias não queriam aquela união e proibiram o namoro. Os dois não podiam nem se falar. Como não tinham um aliado ou confidente que pudesse levar seus recados e ajudá-los, foram desenvolvendo uma linguagem de acenos e sinais. Quanto mais se ocultavam, mais o amor escondido ardia e abrasava. No muro que separava os dois quintais havia uma rachadura, que tinha virado uma fresta. Tão apertada que passara despercebida de todos. Mas nada escapa aos olhos dos apaixonados! Píramo e Tisbe descobriram essa fresta e logo notaram que podia ser um canal de comunicação. Píramo parava de um lado, Tisbe, do outro, e começavam a ouvir a respiração do ser amado ali pertinho. Daí a pouco estavam sussurrando: — Muro, muro, deixe de ser ciumento... não fique no caminho dos que se amam! Por que não deixa que a gente se abrace? — Por favor, muro, se abra mais, para podermos nos beijar... 8 do Passavam o dia todo murmurando ao lado ado paredão. De noite, se despediam e beijavam as pedras do muro. Certa manhã, quando a Aurora apagara o m fogo das estrelas e os raios do Sol já tinham asecado o orvalho da noite, os dois chegae, ram ao ponto de encontro e, como sempre, to começaram a suspirar. Mas estavam muito da tristes. Seus lamentos foram ficando cada nvez mais sofridos. Não estavam aguentane, do mais. Por isso, acabaram resolvendo que, rnaquela noite, cada um tentaria esgueirara. -se, passar pelos guardas e escapulir de casa. ra Depois que fugissem, iriam encontrar-se fora m da cidade. Para não se perderem, marcaram ia um encontro junto a um túmulo que havia ra no campo, ao lado de uma imensa amoreira ar – porque a sombra da árvore podia ajudar es a escondê-los, no caso de eventuais olhares ma indiscretos. E, como bem pertinho havia uma to fonte de água fresca, seria um lugar perfeito para uma espera. iu Quando a noite chegou, Tisbe conseguiu ue abrir a porta e sair com facilidade, sem que ou ninguém a visse. Envolta num véu, chegou ao local combinado e sentou-se debaixo da m amoreira, cujos frutos nesse tempo eram branquinhos como a neve e brilhavam sob a oa Lua. Mas, daí a pouco, apareceu uma leoa ca que acabava de caçar e, ainda com a boca ngotejando sangue, vinha beber água na fonxite. À luz do luar, Tisbe viu o animal se aproxi- >> >> mando e correu para se abrigar numa caverna próxima. Na corrida, deixou cair o véu. A leoa encontrou o tecido e avançou sobre ele, rasgando o pano e o deixando todo sujo de sangue. Depois, bebeu água e foi embora. Píramo só conseguiu chegar um pouco mais tarde. Viu as pegadas da fera e ficou pálido. Pior ainda, viu o véu de Tisbe, estraçalhado e ensanguentado. Desesperou-se. Achou que Tisbe tinha sido devorada por um leão, e a culpa era dele, que a convencera a ir sozinha de noite a um lugar perigoso e não conseguira chegar a tempo para estar lá à sua espera. Chorando, abraçado ao véu de Tisbe, sacou a espada e a enterrou no próprio peito. O sangue jorrou longe e abundante e esguichou sobre a raiz da amoreira e sobre as amoras, que foram tingidas por aquela cor de púrpura. Ansiosa para não desapontar seu amado, Tisbe voltou, olhando em volta à procura dele, e louca para lhe contar sua aventura e o perigo de que tinha escapado. Quando viu Píramo no chão, morto e coberto de sangue, ficou fora de si. Batia no peito, arrancava os cabelos, lavava o sangue dele com A obra de Toni Brandão estabelece também diá-logo com informações científicas; daí a intertex-tualidade com o filme Osmose Jones. 9 O filme lágrimas, beijava o rosto frio. Ao distinguir que as mãos do rapaz seguravam seu véu rasgado e a espada estava fora da bainha, percebeu o que ocorrera. Segurou então a espada com firmeza e se lançou sobre ela para morrer também, no aço ainda quente do corpo amado. Com tristeza, os deuses guardaram para sempre a lembrança dos dois nos frutos da amoreira – cor de sangue antes de amadurecer, e pretos de luto no apogeu da doçura, quando ficam no ponto de ser colhidos. E, ao amanhecer, as duas famílias, finalmente, constatando a que ponto sua intransigência tinha levado os dois namorados, consentiram que Píramo e Tisbe ficassem unidos para sempre e guardaram as cinzas dos dois na mesma urna. (Lenda da Amoreira, Ovídio – As Metamorfoses) Ficha técnica Título em inglês: Osmosis Jones País/Ano de produção: EUA, 2001 Gênero/Duração: comédia, 99 min. Direção: Peter Farrelly e Bobby Farrelly Roteiro: Marc Hyman Frank Pepperidge é zelador de um zoológico e pai de uma garota bonita e inteligente de 13 anos de idade. Diferentemente da filha, Shane, Frank é extremamente descuidado e, constantemente, peca pela absoluta falta de zelo com sua aparência e saúde. No início do filme, Frank comete uma exemplar falha relacionada à falta de higiene. Ao se alimentar em frente à jaula dos macacos, permite que um dos animais pegue o ovo que estava prestes a ingerir. Na sequência, entra numa disputa pelo ovo com o chimpanzé, chegando a retirar o alimento da boca do animal. Não bastasse o fato de que o macaco já havia colocado o ovo na boca, Frank acaba comendo o alimento mesmo depois de apanhá-lo do chão. Nesse ponto da história, nossa trajetória se desloca para a boca de Frank. Nela percebemos uma movimentação de células, como se fossem seres humanos, reagindo à ingestão do ovo, já sabendo que o organismo estava a ponto de receber a visita de bactérias e vírus indesejáveis. Eles se deslocam dentro de um universo próprio e muito particular chamado de “Cidade de Frank” (...). Agora é com vocês, professores! ANEXO A NEXO T TEÓRICO EÓRICO Metodologia da Interpretação Vivemos em uma sociedade grafocêntrica, embora se saiba que essa posição conferida à palavra escrita não significa exclusividade; não só porque há culturas que dela prescindem, mas também porque, na atualidade, confere-se à imagem uma nova dimensão. Mas isso não impede que nos aproximemos da escrita informativa ou poética – com certo respeito. Com o objetivo de possibilitar a construção contextualizada, no qual o aluno deverá da compreensão de diferentes textos, que interpretar o texto narrativo. abordam dos fatos mais simples aos mais O terceiro momento, o da aplicação, forcomplexos, dos mais concretos aos mais mado pelos dois precedentes, é o da reabstratos, valemo-nos da metodologia dos cepção efetiva do texto, quando há formatrês olhares – Metodologia da Interpreta- ção de julgamento estético e, com ele, a ção – para auxiliar o ato da leitura. Essa atualização do texto. Esse momento abarmetodologia tem sido vista como uma uni- ca dois níveis de leitura: o nível da leitura dade tripartida em compreensão, interpre- crítica, no qual o aluno deverá apreender tação e aplicação. o discurso temático e ampliar o seu horiAssim, o primeiro momento, o da compreensão, quando se faz o primeiro contato com o texto e a apreensão dos seus referenciais, corresponderia ao nosso nível de leitura literal, no qual o aluno deverá reconhecer os elementos da superfície do texto, como personagens, espaço, tempo. Para isso, faz-se necessário, evidentemente, ter domínio do código da língua portuguesa. zonte de expectativa, dialogando com outros textos, formadores de sua história de leituras e que abordem o mesmo tema, e o nível da metaleitura, no qual o aluno deverá ter o domínio do conhecimento, pela apropriação do discurso metalinguístico. Conceitos e teoria dessa metodologia podem ser aplicados à leitura do texto verbal e não verbal, uma vez que ela admite a interO segundo momento, o da interpretação, textualidade e a interdisciplinaridade; enfim, quando o aluno, pelo exercício da herme- o dialogismo entre textos de áreas diferennêutica, dialoga com o texto, dá-se pela tes, mas de conteúdos complementares. concretização de uma leitura mais apurada, tendo por base o horizonte de expectativa da primeira leitura. Esse momento corresponde, para nós, ao nível da leitura 10 Método dos três olhares à luz da estética da recepção apresentado no quadro a seguir: MOMENTOS DO OLHAR O que acontece O que faz 2o MOMENTO Olhar mediador 3o MOMENTO Olhar ativo Encontro do leitor com um mundo que não conhece Encontro do leitor com o mundo significativo Encontro do leitor com o mundo novo que agora conhece Uma leitura que apanha os elementos significativos, sinais, referentes Uma leitura de diálogo com o texto, por meio da pergunta e da resposta Uma leitura de cruzamento do ver e do sentir, do exterior e do interior, ou seja, cruzar experiências Olha e vê Olha, vê, interroga e busca Olha, encontra, associa, reúne, interioriza, vê e lê O que importa Reconhecer os elementos significativos, sinais, referentes O exame da realidade representada, por meio do questionamento da busca dos porquês, causas e motivos A integração do novo que se vê e do antigo que é a experiência do já visto, fusão de horizontes, ampliação de conhecimento O que resulta Compreensão VER-POR-CONHECER Interpretação VER-E-PENSAR Aplicação VER-PENSAR-LER Como faz 11 1o MOMENTO Olhar receptivo Bibliografia JAUSS, H. R. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. São Paulo: Ática, 1994. LONTRA, Hilda Orquídea Hartmann (org.). Leitura e Literatura Infantil – Questão do ser, do fazer e do sentir. Oficina Editorial do Instituto de Letras da UnB: FINATEC, 2000. ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura – Perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1988. Este projeto de leitura está com a Nova Ortografia conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
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