A interpretação dos escores dos testes psicométricos

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A interpretação dos escores dos testes psicométricos
A interpretação dos escores dos testes psicométricos
Mensurar significa quantificar, ou seja, atribuir um valor numérico a uma “variável”.
Uma “variável” é qualquer coisa que possa ser observada direta ou indiretamente: em
psicologia as variáveis mais pesquisadas são os comportamentos, os humores, as preferências,
o fator G (inteligência), etc. Até para os testes de inteligência que medem algum tipo de
habilidade – sem precisar exatamente o que medem – onde existe um ponto zero, uma
habilidade nula, o uso de escalas intervalares ou ordinais torna impossível obter qualquer
informação comparativa entre dois QI’s. Por exemplo: quantas vezes as pessoas com QI 144
são mais “inteligentes” do que as pessoas com QI 120? Isso não pode ser determinado com
base no método atual de construção de escalas. Estes resultados só indicam que, dependendo
da escala escolhida e do nível de sua média, as pessoas com um resultado de 144 são mais
raras ou abundantes na população do que as pessoas com um resultado de 120. Porém,
inúmeros psicólogos – e não só eles - são convencidos que com um QI 144 a pessoa é 20%
mais inteligente que seu colega com 120, para não entender a significação dos escores
padronizados, do que é uma média e do senso do desvio padrão!!!
Os novos testes construídos com o método da TRI (Teoria de Resposta ao Item) compensam
parcialmente este problema, mas seria muito técnico e demorado explicar como e não cabe
neste curto artigo.
A dificuldade é ainda mais aguda quando tratamos de aptidões - onde não existe uma
aptidão nula – e que se constroem as escalas da mesma forma. O número que atribuímos às
variáveis, quando as medimos, traduz em representação numérica a impressão quantitativa que
o ser humano tem da sua realidade.
Quando
dizemos,
por
exemplo,
que
este
pensamento
nos
acompanha
“sempre”,
“freqüentemente”, “de vez em quando”, “raramente” ou “nunca”, de forma mais ou menos
consciente estamos medindo colocando nossa experiência em qualquer ponto de um continuum
delimitado por dois extremos – em nosso exemplo “sempre/nunca”.
O mesmo acontece quando comparamos nossa variável com uma norma, quando
afirmamos que este trabalhador é “mais”, “menos”, “igualmente” eficiente que seus colegas. Os
adjetivos ou advérbios que utilizamos veiculam no conteúdo a função de medição absoluta ou
relativa. O problema é que associando os números 5 a “sempre”, 4 a “freqüentemente”, 3 a “de
vez em quando”, 2 a “raramente”, 1 a “nunca”, o autor do teste escolheu arbitrariamente estes
valores atribuídos aos adjetivos ou advérbios.
Isto rende impossível qualquer operação matemática a partir destes números. Parece
efetivamente impossível adicionar um “nunca” (1) a um “freqüentemente” (4) para obter um
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resultado médio variável entre “de vez em quando” e “raramente”. Portanto, todos os testes que
não forem de Método Funcional adicionam “sem vergonha” estes números para os itens que
pertencem a uma escala, e pouco importa que esta escala seja homogênea ou capaz de medir o
mesmo “traço latente”. Esta prática somativa, apesar de passar depois por várias análises
estatísticas dos dados, é amplamente criticável, mas poucos se preocupam com isto e com erros
decorrentes dela.
Envolvido na construção de provas psicométricas desde seus doutorados, F. Gendre
encontrou uma solução a esta problemática no fim da década 80, início da década 90 criando o
Método Funcional. Nesta maneira de criar provas psicométricas (que serve para a construção do
L.A.B.E.L., para medir a personalidade, do COMPER, para medir as competências, do I.V.P.G,
para medir os valores e do INTERESSES que mede os interesses profissionais) se definem, para
cada item, um número restrito de características que possam ser sintetizadas em algumas
dimensões fundamentais de avaliação independentes (ortogonais, no sentido matemático do
termo). Dependendo do teste estas dimensões variam de quatro a sete e definem o “tamanho” do
espaço de medição. Relacionando as respostas do sujeito com os valores atribuídos a cada
estímulo para cada dimensão fundamental, é possível avaliar a estratégia de resposta do
indivíduo, ou seja, a maneira que utiliza para ponderar as dimensões fundamentais respondendo
a cada item. A estratégia de resposta do sujeito é obtida fazendo uma correlação entre cada
coluna da matriz das características com o vetor de resposta do sujeito. Aplicadas às
características dos itens, essas correlações (ponderações ou peso beta) permitem calcular as
respostas « esperadas » do sujeito. Se trata de cálculos vetoriais que permitem obter, por
exemplo, no caso do L.A.B.E.L., uma fidedignidade média das escalas de .93 enquanto que no
método clássico nenhuma escala supera .75. E tem mais: graças a estes cálculos é possível
evidenciar alguns índices de controle que revelam da oportunidade ou não de interpretar os
resultados da prova.
Desse fato uma avaliação feita a partir de instrumentos de Método Funcional permite
alcançar uma qualidade de medição e uma validade preditiva impossíveis de serem obtidas com
qualquer outro método.
Existem vários artigos neste site para os leitores que querem conhecer mais sobre o
assunto. Eles são assinalados por PSI (psicometria), mas que o leitor não fique desanimado:
sempre tentamos vulgarizar os assuntos para que o maior número possa entender.
Renzo Oswald
São Paulo, Maio 2008
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