3795 INDICADORES DE DESEMPENHO, QUALIDADE(S) E

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3795 INDICADORES DE DESEMPENHO, QUALIDADE(S) E
Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009
ISBN- 978-972-8746-71-1
INDICADORES DE DESEMPENHO, QUALIDADE(S) E MELHORIA
Virgínio Sá- Universidade do Minho/IEP
[email protected]
Resumo
A definição de sistemas de indicadores de desempenho que reconheçam e captem as diferentes faces
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científica e pedagógica, mas também a sua qualidade democrática (Afonso, 2002), constitui hoje um
dos principais desafios na agenda do Estado Avaliador. A construção de tais sistemas de indicadores
deve ancorar-se, entre outros suportes, nos dados da investigação disponível. Contudo, e ao contrário
do que subentendem as perspectivas mais gerencialistas e tecnocráticas, em educação não existe um
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do a partir do qual se possam derivar sistemas de
indicadores capazes de reconhecer as distintas qualidades que compõem a escola.
Nesta comunicação pretende-se confrontar diferentes lógicas de regulação inerentes aos distintos
processos avaliativos e articula-las com os factores que, com base na literatura específica, devem ser
considerados na criação de um sistema de indicadores. Pretende-se, nomeadamente, explorar as
considerações políticas, técnico-científicas e práticas, relevando as suas tensões e contradições
internas.
1.
As pressões performativas e a centralidade da agenda avaliativa
Ao longo das duas últimas décadas, em geografias sócio-políticas muito diversas, a agenda
avaliativa e as pressões performativas, nas suas diferentes configurações e domínios de
incidência, têm vindo a configurar-se como um dos vectores estruturantes dos discursos, das
propostas e das medidas de política educativa.1 As razões deste aparente consenso em torno da
urgência da avaliação educacional em geral, e da avaliação das escolas em particular,
inscrevem-se num quadro de racionalidades plurais 2 que evidenciam lógicas em tensão, umas
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De resto, Dias Sobrinho (2000: 184) considera mes
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informadas; a assunção da escola c
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(p. 21-22).
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Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009
ISBN- 978-972-8746-71-1
mais referenciáveis às preocupações com a vigilância e o controlo, outras filiadas em agendas
emancipatórias e orientadas para a melhoria e desenvolvimento organizacional.
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recursos necessários à promoção de uma oferta educativa de qualidade. Como afirma Elliot
(1996: 15), citado por Ball (2002: 12), a obtenção d
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oqualidade (Manilla, 1989), associada à sua
despolitização, têm facilitado a sua instrumentalização ao serviço de agendas e de agentes muito
diversos. Por exemplo, a imposição de uma versão hegemónica (e parcial) da qualidade- a sua
versão mercadorizada importada do mundo empresarial- tem conduzido ao privilegiar de
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Expressões que tomamos aqui de Estêvão (2001: 159).
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ISBN- 978-972-8746-71-1
indicadores de desempenho que valorizam sobretudo o que é mensurável, gerando sombra e
opacidade sobre outras faces do poliedro educativo. Assim, por exemplo, como referimos
noutro texto (Sá, 2008), quando a qualidade é medida em termos de resultados escolares, e estes
são aferidos a partir dos desempenhos nos exames nacionais, as escolas serão induzidas a
concentrarem-se na preparação dos alunos para que estes sejam bem sucedidos nesses
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exemplo, a educação para a democracia e para a participação, o desenvolvimento do espírito
crítico, desenvolvimento global da personalidade.6 Na verdade, os exames, além de efectuarem
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Indicadores de desempenho e qualidades plurais
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Na literatura que explora os processos de organização de sistemas de indicadores confere-se
habitualmente um espaço à discussão dos conceitos de referente e de referencial e ao processo
de
referencialização
(Figari,
1996;
1999).
Contemplam-se
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Michael Apple (2001), numa entrevista concedida a Michael Shaughnessy, Kathy Peca e Janna Siegel,
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radicalmente transformado. Nos dias de hoje o cidadão é um simples consumidor. O mundo é visto como um
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político em obter informação sobre o funcionamento do sistema de modo a perceber em que
medida os objectivos previamente definidos estão a ser alcançados. As considerações técnicocientíficas centram-se sobretudo na definiç
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operacionalização. As considerações práticas incluem a sua exequibilidade com custos
razoáveis e a produção de informação de fácil leitura e em tempo oportuno.
Considera Nuttall (1994) que, se responder aos req
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prejuízo de dimensões mais substantivas. Quando as questões mais pragmáticas dos custos e da
simplificação para efeitos de consumo ganham a dianteira, compromete-se o rigor e a validade
da análise e aumentam-se os riscos da corrupção dos indicadores. Responder aos requisitos da
validade, aumentado o número de indicadores e diversificando os campos de recolha de
informação, pode reforçar a sua consistência científica, mas conflitua com a exigência de
rapidez, baixo custo e simplicidade da informação requerida. Por isso, conclui Nuttall (1994:
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Subjacente a um sistema de indicadores, de forma explícita ou implícita, encontra-se sempre
não apenas uma concepção de escola (Lima: 2002)7, mas também uma concepção de educação.
Contudo, como esclarece Nutall (1994), apesar dos significativos contributos da investigação
para o estabelecimento de relações de associação (embora dificilmente de causalidade) entre
diversas variáveis potencialmente associadas ao d
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complexidade do processo de criação de um sistema de indicadores. Importa por isso
reconhecer, na linha de Sobrinho (2000: 89) que a avaliação, “
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Como afirma Lima (2002: 17), “
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Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009
ISBN- 978-972-8746-71-1
como o impede de reflectir a pluralidade de qualidades que habitam em cada escola. Na
verdade, com expressivamente defende Afonso (2003: 51):
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oescolar não se consubstancia apenas na sua
qualidade científica e pedagógica, mas também, e em simultâneo, na sua qualidade
democrática, não podemos deixar de exigir que a avaliação das escolas públicas se estruture
através de procedimentos mais complexos, diversificados e muito distintos daqueles em que se
têm baseado os exames externos e
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m todas as implicações que tais
concepções de escola acarretam para a pluralização da qualidade e dos princípios de justiça e de
bem comum que aquela deve corporizar, obriga seguramente a reequacionar uma certa
engenharia da avaliação, assente numa racionalidade tecnocrática, que absolutiza modelos e
nega, ou oculta, a sua natureza mais profunda, isto é, que constituem opções entre muitos outros
futuros possíveis.
O reconhecimento da pluralidade de mandatos da escola, constituindo um requisito prévio à
pluralização da(s) qualidade(s), não se converte automaticamente em dispositivos de avaliação
capazes de registar o largo espectro de excelências que aquela pode abrigar. Como admite
Natércio Afonso (2002: 54),
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programa de avaliação que privilegia, ao nível da definição dos padrões de referência, a
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Walsh (1994), inspirando-se em Miller (1990), utiliza a e
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organizações anteriormente bem sucedidas. A este propós
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Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009
ISBN- 978-972-8746-71-1
Não sendo possível iluminar, em simultâneo, o largo espectro de excelências, a selecção da face
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Segiovanni et al. (1987), citados por Afonso (2002: 53), que equidade, excelência, eficiência e
liberdade constituem valores que constituem o cerne do debate sobre política educativa, resta
saber como se arquitecta o edifício educativo com uma adequada distribuição do peso pelos
quatro pilares, isto é, sem que nenhum deles soçobre. Ora, como admitem os autores referidos, a
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projecto de difícil consecução. Por seu lado Levin (2002), igualmente citado por Afonso (2002:
54), depois de considerar que os critérios da liberdade de escolha, eficiência, equidade e coesão
social podem constituir uma grelha de análise na prestação do serviço educativo, afirma também
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critérios. Em última análise, a escolha depende das preferências específicas e dos valores
transmitidos por intermédio das instituições democ
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natureza eminentemente ético-política, quer do edifício educativo, quer dos dispositivos
susceptíveis de serem mobilizados para o avaliar.
3.
Dispositivos avaliativos e aprendizagem de duplo circuito
A repolitização do processo avaliativo densifica a sua complexidade, obrigando à consideração
de distintos planos de análise. Já não se trata apenas de pensar a escola como organização
aprendente, na linha da single-loop learning, mas de a pensar como organização que aprende a
aprender, pressupondo esta uma double-loop learning (Morgan, 1997). Se, no primeiro caso, a
organização revela capacidade de monitorar o seu desempenho por referência aos padrões préestabelecidos e de iniciar acções correctivas em relação a eventuais desvios (ênfase nos meiosface técnica), no segundo caso, acrescenta-se a capacidade de auto-questionamento sobre a
adequação das próprias normas e objectivos (ênfase nos fins- face política). À tradicional
operação de determinação da congruência entre o desempenho e os objectivos, há agora que
adicionar uma avaliação que questione os próprios objectivos.
Boa parte da discussão em torno das questões da avaliação das escolas (e não só) tende a
circunscrever o debate à esfera dos problemas técnicos, onde incluímos o espaço de definição
do dispositivo, com especificação do referente e do referido, e de todo o arsenal metodológico
com os seus diferentes graus de sofisticação. Neste debate, as questões da validade dos
indicadores e da objectividade dos avaliadores tendem a ocupar o núcleo da agenda. Contudo, e
não obstante a relevância destas questões, o essencial parece ser remetido para as margens, ou
ficar mesmo fora de cena, isto é, a intensidade da luz que se projecta sobre o modelo e o modo
de avaliar, acaba por invisibilizar (e naturalizar) o avaliado. Na verdade, um dispositivo de
3800
Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009
ISBN- 978-972-8746-71-1
avaliação, sendo uma forma de ver, constitui simultaneamente uma forma de não ver. No caso
da avaliação das escolas, por exemplo, discute-se com frequência a adequação dos indicadores
em relação às dimensões, mas problematiza-se muito pouco as próprias dimensões, e menos
ainda a hierarquia das metas e dos objectivos educativos.9 A preocupação em seguir o caminho
certo para se alcançar uma meta não dispensa a necessidade de, a todo o momento, nos
interrogarmos sobre a bondade d
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A avaliação educacional em geral, e a institucional em particular, pode servir diferentes agentes
e agendas, realçando-se, num extremo, a avaliação orien
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(Ventura, 2006), podendo mesmo gerar alguns efeitos colaterais (Sá, 2009). No caso português,
como escrevemos recentemente (Sá, 2009: 101),“
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4.
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verificada na produção de sistemas de indicadores de
11
desempenho , a vigilância crítica deve constituir a postura que orienta a avaliação dos
9
Um exemplo paradigmático do efeito de ofuscação da face técnica sobre a face política da avaliação pode
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10
Importa referir que Nutall (1994: 19), ao desenvolver este raciocínio, reconhece que se inspira em
Selden (1991), autor que considera ter tido o mérito de t
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desta questão.
11
Walsh (1994: 51), baseando-se em estudos de outros autores, informa-nos que na década de 80 se
assistiu a um rápido crescimento do número de indicadores de desempenho em diversos serviços
públicos. Por exemplo, no caso do Serviço Nacional de Saúde inglês, passou-se de 70 indicadores em
1980 para 450 em 1988 e no livro banco da despesa pública passou-se de 500 em 1985 para 1800 em
1987, data a partir da qual, acrescenta oa
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3801
Actas do X Congresso Internacional Galego-Português de Psicopedagogia. Braga: Universidade do Minho, 2009
ISBN- 978-972-8746-71-1
processos e dos produtos educativos, bem assim como os usos (e abusos) que se fazem dos seus
resultados. Como esclarece Walsh (1994: 56), “
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