o caso do El Corte Inglés . Grandes Armazéns, S.A.
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BALANCED SCORECARD – O CASO DO EL CORTE INGLÉS – GRANDES ARMAZÉNS, S.A. GABRIELA NUNES DA SILVA SOARES ORIENTAÇÃO: PROF. DR.ª MARIA LUÍSA ANACORETA MARÇO / 2013 Trabalho Final de Mestrado submetido no cumprimento parcial dos requisitos para o Grau de Mestre em Gestão da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa. Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. AGRADECIMENTOS À Prof. Drª. Maria Luísa Anacoreta, pelos esclarecimentos e orientação prestada na elaboração do relatório; Aos meus pais e irmão, por todo o apoio, força e confiança que sempre me transmitiram; Ao João, pela paciência, carinho e dedicação; Aos meus amigos pela tolerância e compreensão. Aos colegas da Unidade Administrativa do El Corte Inglés – Grandes Armazéns S.A., que tão bem me acolheram. ii Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. RESUMO A atual conjuntura económica marcada pela crescente competitividade, derivada da globalização de mercados, e pela necessidade de melhoria da eficiência económica e da produtividade das organizações estimulam o surgimento de novas metodologias de avaliação e acompanhamento da performance organizacional. É neste contexto que surge o conceito de Balanced Scorecard, introduzido por Kaplan e Norton (1992), que visa superar os desafios desta nova realidade económica. O presente relatório começa por apresentar e descrever o conceito de Balanced Scorecard, como modelo de gestão estratégica, salientando a origem do mesmo. De seguida abordam-se as especificidades das quatro perspetivas sugeridas por Kaplan e Norton (1992), as fases do processo de implementação, o assim como as causas que podem levar a uma fraca implementação do modelo e ainda, apreciações críticas ao mesmo. Em particular, o relatório centra-se numa simulação do Balanced Scorecard no El Corte Inglés – Grandes Armazéns S.A. Para o efeito foi feita uma breve análise do sistema de controlo de gestão já existente e, à luz da literatura revista, foi apresentada uma proposta de implementação do BSC para a empresa em causa. Palavras-Chave: Balanced Scorecard, Controlo de Gestão, Sistema de Gestão Estratégia iii Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. ABSTRACT Nowadays the economic environment is very affected by the growing competition, due to the market globalization, and the need of better economic and productive efficiency of the organizations, both stimulating the emergence of new evaluation methods and the performance control. It is in this context that the concept of the Balanced Scorecard, developed by Kaplan and Norton (1992), emerges trying to overcome the challenges of this new economic reality. This work begins by presenting and describing the concept of the Balanced Scorecard as a model of strategic management, underlining the origins of itself, the particularities of the 4 perspectives suggested by the authors, the fases of the implementation process as well as the causes that may lead to a poor implementation and, finally, the critical opinions about the system. In particular, this work is based on a simulation of the Balanced Scorecard at the El Corte Inglés - Grandes Armazéns S.A. organization. For that objective it was made a brief analysis of the existing management control system and, according to the consulted literature, it was presented a proposal of Balanced Scorecard implementation at the referred organization. Key Words: Balanced Scorecard, Management Control and Strategic Management System. iv Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 9 2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO.................................................................................. 12 3. 4. 2.1 Controlo de Gestão ...................................................................................................... 12 2.2 Balanced ScoreCard .................................................................................................... 14 2.2.1 Origem .................................................................................................................... 14 2.2.2 As 4 Perspetivas................................................................................................... 18 2.2.3 Balanced scorecard como modelo de gestão estratégica ......................... 28 2.2.4 Processo de Implementação do Balanced Scorecard ................................ 31 2.2.5 Falhas na Implementação do Balanced Scorecard..................................... 35 2.2.6 Apreciações Críticas ao BSC ........................................................................... 36 OBJETIVO DE ESTUDO E METODOLOGIA ........................................................ 39 3.1 Objetivo .......................................................................................................................... 39 3.2 Metodologia ................................................................................................................... 39 CONSTRUÇÃO DE UM BALANCED SCORECARD PARA O EL CORTE INGLÉS – GRANDES ARMAZÉNS S.A. ........................................................................... 43 4.1 Caracterização da empresa ........................................................................................ 43 4.1.1 Apresentação da empresa .................................................................................. 43 4.1.2 Dados Económicos ............................................................................................. 45 4.1.3 O controlo de Gestão no El Corte Inglés ...................................................... 48 4.2 Simulação do Balanced Scorecard para o El Corte Inglés ............................... 53 4.2.1 Análise SWOT ..................................................................................................... 53 v Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 4.2.2 Etapas para a implementação do BSC........................................................... 55 4.2.2.1 Arquitetura do programa de medição .......................................................... 55 4.2.2.2. Estabelecer objetivos estratégicos e definir o seu interrelacionamento ................................................................................................................. 56 4.2.2.3. Escolha e elaboração dos indicadores ........................................................ 59 4.2.2.4. Elaboração do plano de implementação .................................................... 68 5. CONCLUSÕES .................................................................................................................... 71 5.1 Dificuldades sentidas na construção e implementação do BSC ..................... 71 5.2 Considerações finais.................................................................................................... 72 6. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 74 7. ANEXOS ................................................................................................................................ 78 Número de Palavras: 13.563. vi Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA I – Tradução da visão estratégica: Quatro perspetivas ............................... 19 FIGURA II – Modelo Genérico da Proposta de Valor .............................................. 24 FIGURA III – A perspetiva dos processos internos – o modelo genérico da Cadeia de Valor........................................................................................................................... 26 FIGURA IV – Típico Cronograma do Balanced Scorecard ...................................... 33 FIGURA V – Nine Steps to Success .......................................................................... 34 FIGURA VI – Ferramentas de controlo de gestão no ECI e níveis de atuação. ........ 49 FIGURA VII – Mapa estratégico ECI ....................................................................... 59 ÍNDICE DE TABELAS TABELA I – Diferentes objetivos e indicadores financeiros em função das estratégias de vida e dos temas financeiros da empresa/organização ........................ 22 TABELA II – Dados Económicos 2011 – Grupo ECI............................................... 46 TABELA III – Dados Económicos 2011 – ECI – Grandes Armazéns S.A. .............. 47 TABELA IV – Indicadores usados pelo ECI ............................................................. 50 TABELA V – Indicadores e objetivos estratégicos no ECI....................................... 68 Tabela VI – Plano de Comunicação Simplificado para o Balanced Scorecard do El Corte Inglés ................................................................................................................ 69 vii Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS Amort. – Amortizações BSC – Balanced Scorecard EBIT – Earnings Before Interests and Taxes EBITDA – Earnings Before Interests and Taxes Depreciation and Amortization ECI – El Corte Inglés IVA – Imposto sobre valor acrescentado Prov. – Provisões QM – Quota de Mercado R.V. – Rentabilidades das Vendas RL – Resultado Líquido SCG – Sistemas de Controlo de gestão SWOT – Strenghts, Weaknesses, Oppotunities, Treats VN – Volume de Negócios viii Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 1. INTRODUÇÃO Este relatório apresenta-se no âmbito do estágio curricular do Mestrado em Gestão da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa do Porto, realizado entre 03 de Setembro de 2012 e 01 de Fevereiro de 2013, na empresa El Corte Inglés – Grandes Armazéns S.A., em Vila Nova de Gaia. Esta empresa insere-se num grande grupo espanhol – El Corte Inglés – que, além ser um dos líderes mundiais de Grandes Armazéns, atua em muitas outras áreas de negócio como hipermercados, supermercados, bricolage, agência de viagens, seguros, tecnologias de informação e comunicações, entre outros. O grupo expandiu-se para Portugal em 2001 com a abertura de um Grande armazém em Lisboa e, mais tarde, em 2006, inaugurou o centro de Vila Nova de Gaia, onde foi realizado o estágio. O principal objetivo deste relatório é apresentar uma proposta de implementação do Balanced Scorecard no El Corte Inglés – Grandes Armazéns S.A., após ter sido reconhecida a importância de um modelo de gestão deste tipo, sobretudo num ambiente económico, social e político em constante mudança. Apesar do El Corte Inglés já ter em prática um modelo de gestão bastante recente, este ainda apresenta algumas falhas e é nesta perspetiva que o modelo, desenvolvido por Kaplan e Norton em 1992, se torna útil, uma vez que visa melhorar o alinhamento estratégico e os sistemas de medição de desempenho. Este modelo apresenta-se como um instrumento capaz de traduzir a visão e a estratégia de uma empresa num conjunto de indicadores de desempenho, possibilitando a ligação das atividades operacionais de curto prazo à estratégia de negócio de longo prazo. A metodologia usada para a elaboração desta proposta de implementação do BSC recaiu essencialmente na observação da realidade da empresa e em entrevistas feitas 9 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. a alguns membros da organização em funções no Centro de Vila Nova de Gaia. Contudo, é de salientar que, a quantidade de informação é limitada, visto que o El Corte Inglés assume uma postura de grande discrição à volta da sua estratégia e do modo como opera. O presente relatório encontra-se dividido em 5 capítulos. O capítulo I é constituído pela introdução geral à temática em estudo, exibindo toda a estrutura do trabalho. No capítulo II, tendo por base a revisão bibliográfica, é apresentada uma breve referência à importância do controlo de gestão na atualidade e será explicitado o papel do BSC na avaliação do desempenho organizacional, salientando os aspetos mais cruciais desta metodologia. Nesta fase do relatório serão expostos a origem do BSC, as quatro perspetivas, relações causa-efeito, mapa estratégico, as fases de implementação e ainda algumas apreciações críticas a este mesmo modelo. No capítulo III, é apresentado o principal objetivo do relatório e as metodologias usadas durante a execução do mesmo. O capítulo IV será dividido em duas partes. Na primeira parte será feita uma breve apresentação e caracterização da empresa, dando ênfase ao modelo de gestão já em prática na empresa e apresentando algumas críticas ao mesmo. Na segunda parte deste capítulo serão apresentadas as várias fases de construção do BSC, desde uma breve análise estratégica através de uma análise SWOT, até a elaboração do mapa estratégico e escolha de indicadores para cada uma das perspetivas. Por fim, ainda neste capítulo, será apresentado um plano de implementação do BSC, incluindo um plano de comunicação do mesmo. 10 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. No capítulo V serão descritas algumas dificuldades sentidas durante a realização deste mesmo relatório e apresentadas considerações finais acerca da problemática em análise. No final do relatório incluem-se referências bibliográficas de suporte ao trabalho e ainda os respetivos anexos. 11 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO 2.1 Controlo de Gestão O controlo de gestão é, atualmente e por reflexo da conjuntura económica em que se vive, uma função que tem vindo a ganhar mais importância no seio de uma organização. Esta crescente preocupação com os sistemas de controlo de gestão (SCG) é facilmente percetível pois, uma falha neste tipo de sistemas, pode levar a grandes perdas financeiras, danos na reputação e, em casos extremos, a uma situação de difícil recuperação económica. O controlo de gestão é, então, definido por Marques (2012) como um conjunto de “sistemas, instrumentos e processos utilizados pela gestão para influenciar o comportamento cooperativo dos seus colaboradores no sentido da realização dos objetivos estratégicos pré-definidos e emergentes.” Desta forma, os gestores, utilizando os mais variados processos e mecanismos, tentarão influenciar os seus colaboradores orientando, motivando e incentivando a sua ação, tendo como finalidade o cumprimento dos vários objetivos pré-estabelecidos, como por exemplo, objetivos de criação de valor e objetivos de performance. Estes sistemas de controlo de gestão são, assim, definidos de forma a abranger tudo o que os gestores podem fazer para garantir que as estratégias e os planos das suas organizações sejam levados a cabo ou, caso as condições o obriguem, que sejam modificados (Merchand and Van der Stede, 2003). Segundo Jordan et al (2002) estes sistemas devem ser entendidos como fator de desenvolvimento de uma organização, pelo que deve envolver todos os membros da mesma, de forma a melhorar, tanto os desempenhos individuais, como organizacionais. 12 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Em termos genéricos, o controlo em si significa conhecer um objetivo, avaliar o desempenho, comparar o resultado obtido com o perspetivado, apurar desvios e, se necessário, aplicar medidas corretivas. Existem vários motivos para que o controlo seja relevante, os autores Rodrigues e Reis (2011) destacam dois: o eventual conflito de objetivos e a diferença temporal entre a definição e a realização dos objetivos. O conflito de objetivos pode aparecer quando são confrontados os objetivos dos colaboradores com os objetivos da empresa. A maioria dos trabalhadores tende a agir de acordo com o seu interesse pessoal em detrimento dos interesses da organização. Neste contexto, o controlo deve incluir sistemas de motivação, como o sistema de incentivos, para encorajar os colaboradores a trabalharem consistentemente com os objetivos da organização. No que diz respeito à diferença temporal, o controlo assume um papel preponderante na medida em que durante o tempo que decorre entre o momento em que o objetivo foi definido e o momento da sua realização, podem ocorrer imprevistos. Nestas circunstâncias será necessário adotar medidas corretivas, adaptadas às novas condições. Merchand e Van der Stede (2003) vão mais longe e consideram que, para além destes dois tipos de problemas, a falta de direção dos trabalhadores e as limitações pessoais dos mesmos justificam a necessidade de sistemas de controlo de gestão. Muitos trabalhadores apresentam pouca produtividade, simplesmente porque não sabem o que a organização espera deles. Assim, uma função do controlo de gestão é informar os trabalhadores sobre como maximizar o seu contributo para a organização e consequentemente ajudar a atingir os seus objetivos. As limitações pessoais são maioritariamente específicas de cada individuo e podem aparecer devido à falta de 13 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. treino, de experiência, de informação e/ou de conhecimento para executar o trabalho pretendido, sendo os SCG responsáveis por detetar estas falhas e tentar minimiza-las. Paralelamente a estes motivos, o controlo baseado na utilização de indicadores de medição de desempenho permite ainda um melhor alinhamento da missão, da estratégia e dos valores da organização. Desta forma, é possível que haja um aperfeiçoamento continuo dos processos e, consequentemente, dos resultados e uma quantificação dos sucessos ou fracassos atingidos (Lawton, 2002). Estudos empíricos indicam que, na maior parte das empresas, uma melhoria num SCG apresenta mais retorno do que uma redefinição de estratégia, sendo clara a importância dos primeiros. Um estudo da revista Fortune, citado por Merchand e Van der Stede (2003), mostra que 7 em cada 10 CEO’s que fracassaram, não o fizeram por uma má decisão estratégica mas sim devido a uma má execução. 2.2 Balanced ScoreCard 2.2.1 Origem Historicamente, o controlo de gestão sempre se traduziu na medição de indicadores financeiros. Ora, se na era industrial (1850-1975) este método, focado principalmente em dados de relatórios e demonstrações financeiras, era aceite, atualmente já não é suficiente para gerir uma organização. Na era industrial a prioridade era a correta afetação dos recursos materiais e financeiros. Desta forma, uma organização era tão mais bem sucedida quão melhor conseguisse aproveitar as economias de escala e de gama (Kaplan e Norton, 1996). Porém, com a emergência da era da informação, os indicadores financeiros têm-se revelado cada vez menos capazes de responder às especificidades do mundo dos negócios atual. Esta situação deve-se ao fato dos dados puramente contabilísticos não traduzirem corretamente os 14 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. resultados de uma organização. Estes, para além de ignorarem o valor financeiro dos ativos intangíveis, levam os gestores a focarem-se nos resultados de curto prazo em detrimento dos resultados de longo prazo. Se, por um lado, este tipo de indicadores, principalmente baseados em rácios, levam a um maior enfoque nos resultados de curto prazo, por outro, menosprezam o investimento na criação de valor de longo prazo. No curto prazo, a contabilidade financeira é capaz de mostrar reduções de custos mesmo quando essas reduções estão a canibalizar o seu stock de ativos e competências para criar valor futuro. Exemplo disso pode ser a redução imediata de custos face às receitas devido à saída de gestores e trabalhadores qualificados, sendo que a sua saída poderá pôr em causa o desenvolvimento futuro da organização (Russo, 2009). Paralelamente, a título de exemplo, uma organização pode maximizar os seus resultados de curto prazo explorando os seus clientes através de preços elevados e fraco serviço. Contudo, e apesar destas medidas se fazerem refletir no curto prazo, fará com que o nível de satisfação e fidelização dos seus clientes baixe. Assim, é facilmente percetível que, no contexto atual, a vantagem competitiva das empresas não se cinja apenas à forma como gerem os seus recursos financeiros. Esta nova era exige às organizações novas competências. Num contexto de crescente concorrência entre organizações, a importância dos fatores intangíveis cresce também. A capacidade da empresa monitorizar os seus recursos intangíveis tem vindo a ser cada vez mais decisiva comparativamente à sua capacidade de investir e gerir ativos tangíveis, pois são os primeiros os principais potenciadores da competitividade empresarial (Kaplan e Norton, 1996). É apostando nestes fatores intangíveis que uma organização pode desenvolver boas relações com clientes, aumentando o seu grau de satisfação e fidelização, 15 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. introduzir produtos inovadores e de alta qualidade e mobilizar os seus colaboradores para que se sintam motivados e integrados. Desta forma, as empresas, investindo nos seus clientes, nos empregados, nos processos na tecnologia e inovação, criam valor futuro e desenvolvem vantagens competitivas. Perante este cenário há autores que defendem a completa irradicação dos indicadores financeiros como instrumentos de controlo económico. Estes autores acreditam que as empresas, focando-se nos fatores intangíveis como a qualidade dos seus serviços, o nível de satisfação e fidelização dos seus clientes, a capacidade de resposta e a motivação dos seus empregados, farão com que os resultados financeiros venham naturalmente. Contudo, Kaplan e Norton (1996) defendem que as melhorias nos resultados financeiros não são uma resposta automática às melhorias dos processos operacionais e, para tal, apresentam algumas evidências empíricas. Um dos exemplos recai sobre uma grande empresa de eletrónica que durante aproximadamente uma década fez investimentos na qualidade dos seus produtos e no tempo de entrega dos mesmos. Se, por um lado, a taxa de produtos defeituosos baixou, e os tempos de entrega melhoraram significativamente, por outro, tais ações não trouxeram resultados financeiros. Quando empresas, como a mencionada anteriormente, melhoram a qualidade dos seus produtos e os tempos de resposta, estas também deixam de ter a necessidade de inspecionar e de corrigir produtos defeituosos deixando portanto de precisar de tantos recursos, como pessoas e sistemas, para reorganizar as entregas em atraso. Resumindo, conseguem produzir o mesmo volume de produtos com muito menos recursos. O que geralmente se verifica é que os recursos são contratados previamente a estas melhorias, o que leva a que a empresa tenha elevados custos fixos. 16 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Kaplan e Norton (1996) concluem então que as “medidas de desempenho financeiro devem continuar a ter um papel essencial, na medida em que todas as melhorias na qualidade, nos tempos de resposta, na produtividade e nos novos produtos não são um fim em si, mas antes meios para atingir um fim”. É neste contexto que os dois autores apresentam um modelo de gestão integrado – Balanced Scorecard (BSC). Este foi o resultado de um estudo feito em 1990 a 12 grandes empresas norte-americanas que verificavam a crescente ineficácia dos indicadores financeiros tradicionais na avaliação do seu desempenho. Este conceito rapidamente se difundiu para os países anglo-saxónicos e escandinavos, impregnados por uma cultura de relato essencialmente financeiro devido, em grande parte, à influência dos acionistas na vida das organizações. Procurava-se assim, complementar as medidas de desempenho das organizações com novos indicadores não financeiros. Como resultado da sua aplicação na prática empresarial, este conceito rapidamente evoluiu de um sistema de mera medição de desempenho para um instrumento de gestão estratégica. “O BSC põe a estratégia e a visão, não o controlo, no centro” (Kaplan e Norton, 1992). Desta forma, revelou-se uma solução para as empresas que apresentavam dificuldades na implementação de novas estratégias, na medida em que o BSC traduz a visão e a estratégia da empresa em objetivos e medidas de desempenho organizados em 4 diferentes perspetivas – financeira, clientes, processos internos e aprendizagem e desenvolvimento - que serão descritas mais adiante. O BSC providencia assim, uma linguagem própria para comunicar a missão e a estratégia de uma empresa e não deve ser usado como um sistema de controlo, mas sim como uma ferramenta de comunicação, informação e aprendizagem. 17 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Os autores Rodrigues e Reis (2011) sintetizam as principais funções do BSC: • Articular e comunicar a estratégia da empresa; • Alinhar as ações com os objetivos estratégicos; • Medir o desempenho organizacional. Segundo os criadores do BSC, torna-se necessário que o conjunto de indicadores de desempenho seja definido de forma coerente com a missão, visão e estratégia da empresa e num processo de desdobramento hierárquico. A definição dos mesmos deve ser feita na primeira fase do planeamento em que se define a estratégia, os objetivos estratégicos e as metas a alcançar. Define-se assim, à partida, o que se pretende atingir e os meios a usar. Segundo Atkinson e Epstein (2000), um dos aspetos mais importantes do BSC é o sistemático esforço para conseguir medir as relações, comunicá-las e providenciar um suporte de aprendizagem dessas mesmas relações. Assim, o BSC é uma ferramenta que orienta para a quantificação de objetivos, meios e fatores críticos e esforça-se por obter informação em síntese, pelo que, segundo os autores, oferece uma “rápida mas abrangente visão de todo o negócio”. Fornecendo informação de forma clara e simples, promove ainda a comunicação e motiva o diálogo interno. 2.2.2 As 4 Perspetivas Como referido anteriormente, o BSC é uma ferramenta que está organizada em quatro perspetivas diferentes. São elas: Financeira, Clientes, Processos internos e Aprendizagem e desenvolvimento. 18 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. FIGURA I – Tradução da visão estratégica: Quatro perspetivas. (Adaptado Adaptado Kaplan e Norton (1996) ) Contudo, é de notar que Kaplan e Norton consideram que a sua proposta das 4 perspetivas não deve ser considerada um modelo obrigatório e único. Cada organização devee adaptar o modelo à sua realidade incluindo, por exemplo, outras perspetivas,, tornando-se tornando se desta forma, facilmente adaptável a todo o tipo de organizações. Sendo consideradas quatro ou mais perspetivas,, o que realmente torna o BSC numa ferramenta diferenciadora diferenc é a relação causa-efeito efeito entre todas as perspetivas. Para Kaplan lan e Norton, um modelo de BSC bem construído deve contar a história da estratégia de negócio. Deve identificar e tornar explícita cita a sequência de hipóteses sobre as relações de causa-efeito causa o entre os resultados e as ações que os determinam. Daqui, Reis e Rodrigues (2011) agrupam em dois tipos os indicadores de desempenho utilizados no BSC: aqueles que estão relacionados com os resultados (perspetiva financeira e dos clientes) e aqueles que determinam determinam os resultados (perspetiva dos processos internos e de aprendizagem aprendizagem e desenvolvimento). 19 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Assim, cada medida de desempenho selecionada para o BSC deve ser um elemento numa cadeia de relações de causa-efeito que comunica a estratégia da organização. Perspetiva financeira Segundo Porter (1996), o retorno de um investimento no longo prazo é o ponto de partida para se chegar a uma boa estratégia. Contudo, Freezatti, citado por Kallas (2003), considera que, atualmente, o valor da organização e a riqueza dos acionistas merece mais atenção que o retorno do investimento. A partir do momento em que o foco é o valor, a empresa, além de se preocupar com os resultados obtidos e os recursos necessários à sua atividade, preocupa-se também com o impacto que esses resultados terão, a longo prazo, no valor da organização. Neste contexto, os objetivos financeiros representam os objetivos de longo prazo de uma organização. As medidas de performance financeira indicam se a estratégia da empresa, a sua implementação e execução, estão a contribuir para a criação de valor da empresa para os acionistas. Frezatti refere que “um indicador financeiro de longo prazo permite monitorizar os vários elementos, servindo de elo entre o plano estratégico e o orçamento anual. (...) Na definição dos objetivos de longo prazo, pelo menos um indicador financeiro deve ser estabelecido pelos executivos, a fim de proporcionar condições de monitorizar o desenvolvimento das operações sob a perspetiva de unificação do entendimento dos eventos económicos.” (Kallas, 2003) Assim, estas medidas de performance servem de foco para os objetivos e medidas das outras perspetivas. Qualquer medida de desempenho financeiro deve ser parte de uma relação causa-efeito que culmina no melhoramento da performance financeira 20 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. (Kaplan e Norton, 1996). Um BSC bem estruturado deve traduzir a estratégia da empresa, começando por definir os objetivos financeiros de longo prazo e, consequentemente, relaciona-los com as outras perspetivas, estabelecendo assim, as ações necessárias para os atingir. Segundo Kaplan e Norton (1996), são três os temas de âmbito financeiro que podem orientar a estratégia definida: • Crescimento e mix de proveitos • Redução dos custos/incremento da produtividade • Utilização dos ativos/estratégia de investimento. O crescimento e mix de proveitos refere-se ao aumento de oferta de produtos e serviços, captando novos clientes e mercados. A redução de custos deve ser feita através da redução dos custos indiretos e do aproveitamento de recursos comuns noutras unidades de negócio. Por fim, a utilização dos ativos deve ser feita de forma a rentabilizar os ativos fixos, utilizando o excesso de recursos para desenvolver novos negócios. Paralelamente é necessário referir que os objetivos financeiros podem ser diferentes de empresa para empresa, na medida em que depende da fase do ciclo de vida da atividade da mesma. Assim, estes indicadores permitem antever se a estratégia pré-definida irá contribuir para melhorar o desempenho financeiro da empresa. De forma a melhor explicitar, Kaplan e Norton (1996) identificaram 3 fases: crescimento, maturidade e declínio. Em cada uma das fases identificadas, irão ser privilegiados diferentes fatores quanto aos objetivos financeiros principais – crescimento de lucros, redução de custos, produtividade, rentabilidade dos ativos e nível de risco – como se pode verificar na tabela I. 21 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. TABELA I – Diferentes tes objetivos e indicadores financeiros financeiros em função das estratégias de vida e dos temas financeiros da empresa/organização empre (Russo (2009)) Segundo Jordan et al (2002) é possível indicar 3 fatores tores críticos da perspetiva financeira: crescimento, rescimento, rendibilidade e criação de de valor. Para cada um destes fatores fa existem indicadores mais apropriados sendo que indicadores como a rendibilidade do investimento, a rendibilidade do ativo total, o valor acrescentado bruto, o resultado liquido e o EVA estão entre os indicadores mais utilizados. Em suma, quando definidos, espera-se espera se que os indicadores financeiros finance tenham dois papéis: is: determinar o desempenho financeiro eiro esperado da estratégia adotada ado e servir de meta final para os objetivos e medidas de todas as outras perspetivas (Kaplan e Norton, 1996). 22 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Perspetiva de clientes Segundo os autores do BSC, ser o número um na entrega de valor ao cliente é a missão típica das empresas. Uma empresa só conseguirá alcançar bons resultados financeiros se os seus clientes estiverem satisfeitos. Nesta perspetiva, é necessário que os gestores identifiquem o segmento de mercado onde a empresa vai atuar, conheçam os seus clientes, as suas necessidades e, acima de tudo, os fatores a que atribuem mais valor na relação comercial. Assim, da mesma forma que identificam fatores críticos na perspetiva financeira, Jordan et al (2002) apontam 4 fatores críticos para esta perspetiva: rendibilidade, satisfação, retenção e fidelização dos clientes. Neste caso, os indicadores mais usados são o número de clientes, quotas de mercado, volume de vendas anual e tempos de entrega. Esta perspetiva deve também incluir medidas específicas que consigam ir de encontro às principais preocupações dos clientes. Estas são relacionadas com prazos, qualidade, desempenho/serviço e custo. No que diz respeito aos indicadores de prazos, estes devem ser capazes de medir o tempo que a empresa precisa para ir de encontro às necessidades dos clientes. Se para um produto já existente no mercado, o prazo de execução pode ser medido desde o momento em que a empresa recebe o pedido e o momento em que o mesmo é entregue, para novos produtos, este prazo pode ser medido pelo tempo que o produto demora a chegar ao mercado. Relativamente aos indicadores de qualidade, estes medem o número de produtos defeituosos ou ainda as entregas no tempo certo. A combinação de medidas de desempenho e serviço tenta medir a forma como os produtos e/ou serviços contribuem para criar valor para os consumidores. Para o BSC funcionar é necessário articular os objetivos de qualidade, de prazos e desempenho e traduzi-los para objetivos específicos (Kaplan e Norton, 1992). 23 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Para o correto funcionamento do BSC, os gestores devem ainda conseguir identificar ificar a sua proposta de valor, entendida como o conjunto de atributos dos produtos ou serviços capazes de atrair o interesse dos clientes. A proposta de valor determina os segmentos gmentos de mercado almejados pela estratégia e a forma como a empresa se diferenciará nos segmentos-alvo segmentos alvo em relação à concorrência. Embora as propostas de valor variem de acordo com o sector de atividade, a Kaplan e Norton (1996) (1996 identificam um conjunto comum m de atributos que podem ser organizados em 3 categorias: • Atributos de bens e serviços: serviços prazoo de entrega, qualidade, preço e funcionalidade • Relacionamento elacionamento com os clientes: qualidade da experiência de compra e relações interpessoais; • Imagem magem e reputação: publicidade, pub qualidade; FIGURA II – Modelo Genérico da Proposta de Valor (Adaptado Kaplan e Norton (1996)) O autor Russo (2006) considera ainda outro aspeto importante a considerar que consiste no fato to de os clientes serem fonte de valor para a organização. O seu nível de exigência incentiva a competência interna e ajuda a divulgar a empresa, tanto transmitindo informação da mesma, como comparando com a concorrência. 24 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Perspetiva dos processos internos Num ambiente empresarial onde todos os produtos são facilmente copiados, para criar valor é necessário diferenciar. Nesse sentido, é melhorando os processos internos que as organizações ficam mais competitivas. Como tal, é preciso identificar as tecnologias, as competências e os processos capazes de fazer com que os produtos e/ou serviços se diferenciem da concorrência. A partir do momento em que o produto/serviço se diferencia, maior é a probabilidade de aumentar a satisfação do cliente assim como atingir os objetivos financeiros. Apesar de tudo, uma excelente performance deriva dos processos, decisões e ações que decorrem dentro da organização (Kaplan e Norton, 1992). A definição dos objetivos financeiros relacionados com os objetivos dos clientes conduz, numa fase posterior, ao reconhecimento dos processos organizacionais críticos para o seu desenvolvimento. Desta forma, para aplicar o BSC é necessário analisar toda a cadeia de valor e a eficácia dos processos críticos que vão desde o processo de criação do produto/serviço, passando pelas operações, até ao serviço pós venda. Contudo, é o processo de inovação que mais influencia o futuro da organização, uma vez que cria valor a longo prazo. Em muitos casos, este processo é o mais crítico para o futuro da empresa, na medida em que é nesta fase que se identificam as características do segmento de mercado que a empresa quer satisfazer com os seus novos produtos e serviços. É por isso que nesta fase assumem especial importância a pesquisa, o design e o desenvolvimento dos processos. Nesta fase, é fundamental a eficácia e rapidez do processo inovador de conceção de produtos (Russo, 2009). 25 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. FIGURA III – A perspetiva dos processos internos – o modelo genérico da Cadeia de Valor (Adaptado: Kaplan e Norton (1996)) (1996) Quanto aoss processos das operações em si, estes começam na encomenda do cliente e terminam com a entrega do produto/serviço. Estes processos são também importantes portantes e as empresas devem focar-se no custo, qualidade, tempo e características que permitam oferecer produtos produtos superiores aos seus clientes. (Kaplan e Norton, 1996). Para atingir estes objetivos é necessário decompô-los decompô até chegar aos mais baixos níveis da organização. Esta decomposição fará com que os trabalhadores, desde o mais baixo nível até ao mais alto, tenham tenham uma noção clara do objetivo das suas ações e as implicações das suas decisões. Relativamente ao serviço Pós-venda, Pós venda, estes processos são normalmente relacionados com garantias, tratamento de devoluções e reclamações. Tal como para as outras perspetivas já aqui apresentadas, Jordan et al (2002) apresentam quatro fatores críticos desta perspetiva.. São eles: organização, racionalização, qualidade e, por fim, eficiência e eficácia. Como indicadores mais usados para medir a eficácia dos processos internos destacam-se: se: prazos de execução, produtividade, taxa de utilização de capacidade e custo unitário, entre outros. Em suma,, a grande diferença do BSC relativamente a outros sistemas de avaliação e controlo é que o BSC para além de se preocupar com os processos proce já 26 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. existentes, identifica também possíveis novos processos que contribuem tanto para a satisfação dos clientes, como para a dos acionistas. Perspetiva da aprendizagem e desenvolvimento De forma a conseguir obter uma melhoria continua nos processos internos é necessário promover as capacidades internas da organização. Esta perspetiva define, acima de tudo, a infraestrutura necessária para garantir crescimento de longo prazo. No ambiente competitivo dos dias de hoje é imperativo que as empresas melhorem continuamente as suas capacidades para oferecer valor aos seus clientes e acionistas. É neste contexto que, depois de definidos os objetivos financeiros, de clientes e dos processos internos, é necessário determinar objetivos que assegurem a aprendizagem e o desenvolvimento. São então definidas as metas em relação à capacidade interna que a empresa detém, de modo a poder orientar a área carente de formação para os seus colaboradores, de forma a conseguir alcançar os objetivos a que se propõe. Os autores Kaplan e Norton (1992) consideram que a aprendizagem e o desenvolvimento de uma organização parte sempre das pessoas, das tecnologias/sistemas e dos procedimentos. Segundo Pinto (2007), esta perspetiva procura identificar um conjunto de valores intangíveis que podem ser agrupados em 3 grandes áreas: capital humano, capital de informação e capital organizacional, sobre as quais as empresas devem incidir para atingir os objetivos pré-estabelecidos nas outras perspetivas. Relativamente aos indicadores usados, e porque o fator humano tem elevada importância nesta perspetiva, estes devem ser de dois tipos: indicadores genéricos de resultados e indicadores específicos de cada situação. Os primeiros pretendem medir o grau de satisfação e retenção dos trabalhadores, bem como a sua produtividade. Já 27 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. os segundos estão, normalmente, relacionados com a formação dos trabalhadores, as capacidades dos sistemas de informação e a motivação, o empowerment e o alinhamento com os objetivos (Russo, 2009). À semelhança das outras perspetivas, esta também tem os seus fatores críticos apresentados por Jordan et al (2002). Neste caso são a inovação, a satisfação, a qualificação e a tecnologia. Em suma, a perspetiva de aprendizagem e desenvolvimento é indutora dos resultados a atingir nas outras 3 perspetivas, uma vez que é a infraestrutura que possibilita a concretização dos objetivos. 2.2.3 Balanced Scorecard como modelo de gestão estratégica Como já foi referido anteriormente, a implementação do BSC pressupõe relações de causa-efeito entre as 4 perspetivas e, para isso, os autores sugerem a elaboração de um mapa estratégico. Este deve fornecer uma representação visual dos fatores críticos da empresa e a correlação existente entre os mesmos. Segundo Norreklit (2000), a validade do BSC reside nestas relações causa efeito e Kaplan e Norton (1992) defendem a ideia de que se o sucesso nas três perspetivas não financeiras, não desencadear o sucesso financeiro é porque a estratégia está mal implementada, ou então que foram definidos objetivos e indicadores que não conduzem ao sucesso financeiro. São estas relações causa-efeito que, bem definidas e apoiadas pelo mapa estratégico, fazem do BSC mais do que um modelo de avaliação de desempenho, um verdadeiro instrumento de gestão estratégica. O BSC permite uma avaliação contínua das ações dos membros da organização e do seu contributo para a realização dos objetivos estratégicos. 28 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Para que haja essa ligação entre a estratégia de longo prazo previamente definida e as ações de curto prazo, Kaplan e Norton (1996) sugerem o recurso a quatro processos de gestão estratégica a partir do BSC. São eles: 1. Clarificação e tradução da visão e estratégia; 2. Comunicação e alinhamento estratégico; 3. Planeamento e afetação de recursos; 4. Feedback e aprendizagem estratégica. O primeiro processo - Clarificação e tradução da visão e estratégia – ajuda a criar um consenso sobre a visão e a estratégia no seio da empresa. Depois de definida a estratégia pela gestão de topo é fundamental que essa estratégia seja corretamente divulgada entre todos os colaboradores da organização, de forma a facilitar a sua mobilização e participação ativa no sucesso de longo prazo. Com a ajuda do mapa estratégico, o BSC transpõe, de forma correta, a visão e a estratégia para o nível operacional. Relativamente ao segundo processo - Comunicação e alinhamento estratégico – este consiste na difusão da estratégia definida pela gestão de topo a todos os níveis da organização. Com ajuda deste processo, o BSC informa todos os membros da organização o que a mesma quer atingir, tanto para os acionistas como para os clientes, de forma a garantir a convergência de todos os esforços. Esta comunicação torna-se necessária pois, como refere Rohm (2008), o BSC significa coisas diferentes para diferentes pessoas. Se, por um lado, significa um simples plano de ação com medidas de desempenho divididas por categorias e geralmente usadas a nível operacional e não estratégico, por outro, é considerado um plano estratégico, de 29 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. gestão e comunicação muito robusto. Wilsey (2000), comparando uma organização a uma equipa desportiva, acrescenta que se uma equipa não estiver toda alinhada em termos estratégicos e até de valores, é muito provável que essa desarticulação se faça notar na qualidade do jogo da equipa, tendo como consequência fracos resultados. Mas, para haver esse alinhamento entre a performance individual dos trabalhadores e a estratégia global, Kaplan e Norton (1996) sugerem 3 atividades: comunicar e educar, estabelecer objetivos e recompensar a performance. O terceiro processo - Planeamento e afetação de recursos – consiste no alinhamento dos recursos físicos e financeiros com a estratégia da empresa, possibilitando quantificar os resultados desejados a longo prazo nas 4 perspetivas, identificar mecanismos facilitadores para alcançar os objetivos e ainda estabelecer metas a curto prazo para indicadores financeiros e não financeiros (Russo, 2009). Através deste processo é possível obter uma melhor adequação dos recursos, uma melhor gestão de atividades e, principalmente, uma identificação das prioridades de acordo com a estratégia implementada. Por fim, o quarto processo – Feedback e aprendizagem estratégica – leva a que os gestores reflitam, continuamente, sobre a estratégia em prática. Este processo permite à empresa rever e efetuar ajustamentos necessários às estratégias inicialmente definidas ou, até mesmo, às próprias técnicas e métodos usados na sua implementação. Em suma, segundo os autores do modelo, o BSC permite clarificar e obter consenso sobre a estratégia da empresa, comunicar a estratégia a toda a organização e, consequentemente, alinhar os objetivos individuais com os da própria organização. Permite, ainda, ligar os objetivos estratégicos a objetivos de longo-prazo, fazer 30 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. revisões sistemáticas da estratégia e, por fim, obter um feedback e uma aprendizagem estratégica. O BSC providencia, assim, um esquema que facilita a implementação da estratégia permitindo, ao mesmo tempo, que a estratégia evolua de acordo com as alterações que possam ocorrer, no contexto onde a empresa atua. 2.2.4 Processo de Implementação do Balanced Scorecard “Desenvolver um sistema de BSC é como montar um puzzle, onde se juntam diferentes peças de forma a fazer um mosaico completo”(Rohm, 2008). Apesar de se verificarem diversos fatores que influenciam o processo de desenvolvimento e implementação de um sistema como o BSC, como por exemplo, a estrutura da organização e a sua complexidade, Kaplan e Norton (1996) apresentam uma proposta de um plano de desenvolvimento baseado em quatro passos. São eles: 1) Definir a arquitetura do programa de medição Nesta primeira fase é necessário selecionar a unidade da organização na qual se vai implementar o BSC, a qual deverá realizar atividades em toda a cadeia de valor e onde seja possível aceder aos indicadores financeiros. Paralelamente, é necessário analisar as relações que a unidade de negócio em causa tem com as restantes unidades de negócio da organização e deverão, por fim, ser acordados os objetivos financeiros para a unidade selecionada. 2) Estabelecer objetivos estratégicos e definir o seu inter-relacionamento Nesta fase do processo o responsável pelo mesmo deverá recolher o máximo de informação sobre a organização nomeadamente sobre a visão, missão e estratégia da unidade de negócio. Posteriormente, a sua tarefa será de sintetizar as conclusões dessa informação e reunir com os gestores de topo de 31 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. forma a conseguir um consenso relativo aos objetivos estratégicos para cada perspetiva. 3) Selecionar e desenhar indicadores Após se chegar a um consenso no que diz respeito aos objetivos estratégicos para cada perspetiva, é necessário identificar, para cada objetivo, o indicador ou indicadores que melhor espelhem as intenções do objetivo, assim como as fontes de informação para cada um deles. Estes indicadores deverão ser estrategicamente relevantes e analisados como um processo contínuo. Podem dividir-se em indicadores lagging e leading. Os primeiros são, normalmente, os indicadores financeiros enquanto os segundos são indutores de resultados futuros. 4) Elaboração do plano de implementação Por fim, após terem sido definidos os objetivos estratégicos e os indicadores para os medir, torna-se necessário formalizar as metas a atingir e desenvolver um plano de implementação para o BSC. Este plano deverá conter informação de como os indicadores vão estar incluídos nos sistemas de informação para que se possa comunicar a toda a empresa, de forma a toda a equipa estar alinhada na persecução do mesmo. 32 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. FIGURA IV – Típico Cronograma do Balanced Balanced Scorecard (Adaptado: Kaplan e Norton (1996)) Mais recentemente, o Balanced Scorecard Institute, apresentou uma nova metodologia que consiste em nove passos de sucesso para o desenvolvimento e implementação de um BSC, representados na Figura V. Estee processo sugerido pelo BSC Institute é muito baseado nas etapas sugeridas por Kaplan e Norton, estando, no entanto, mais subdividido de forma a ser mais fácil de seguir e de verificar o seu cumprimento. A grande diferença é a incorporação de uma etapa de avaliação, sendo que este processo já prevê o desenvolvimento do BSC e não apenas a sua implementação. 33 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. FIGURA V – Nine Steps to Success (disponível em www.balancedscorecard.org) www.balancedscorecard.org 1) “Assessment”” - processo de avaliação da missão, visão são e valores da empresa e de preparação de d um plano de mudança de gestão; 2) “Strategy” - definição da estratégia com o foco na satisfação do cliente e no valor da organização. 3) “Objectives”” - decomposição da estratégia em objetivos tivos estratégicos para cada perspetiva erspetiva e com ligações de causa-efeito. 4) “Strategy Strategy map” map - realização ealização de um mapa estratégico onde serão evidentes as relações causa-efeito causa entre os objetivos das várias perspetivas. perspetiva 5) “Performance Performance Measures” Measures - definição de indicadores leading ou lagging para cada objetivo,, assim como os resultados esperados. 6) “Initiatives”- desenvolvimento de iniciativas estratégicas que suportem os objetivos estratégicos previamente definidos. 7) “Performance Performance Analysis” Analysis – aplicação de um software de medidas de performance de forma fo a obter informação correta. 8) “Alignment” – tradução da estratégia atégia para toda a organização. 9) “Evaluation”” – avaliação de todo o processo. 34 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Rohm (2008) refere que desenvolver um BSC é uma viagem, não um projeto. Para o autor, o verdadeiro valor de um sistema como o BSC vem de um processo contínuo de autoinvestigação e análise. Dependendo do tamanho da organização, Kaplan e Norton (1996), sugerem que a implementação do BSC poderá ser feita no prazo de quatro meses, desde que a empresa tenha uma estratégia bem formulada. Para que um BSC seja bem implementado, para além de todos os passos sugeridos tanto por Kaplan e Norton como pelo Balanced Scorecard Institute, é imperativo que haja envolvimento da gestão de topo no desenvolvimento do mesmo. Paralelamente, o sucesso de implementação depende também da escolha do responsável pelo projeto, da implementação rápida e aperfeiçoamento contínuo e ainda, do tratamento de informação (Costa, 2009). 2.2.5 Falhas na Implementação do Balanced Scorecard Apesar do sucesso de implementação do BSC num grande número de empresas, houve casos em que o mesmo não se verificou. Bourne e Neely (2002) fizeram um estudo em empresas dos EUA conseguindo enumerar um conjunto de razões pelas quais a implementação não levou a uma situação de sucesso, tais como: a dificuldade de acesso à informação e aos sistemas de informação da organização, a falta de compromisso da direção, o mau planeamento temporal para a sua implementação ou ainda as consequências pessoais ou políticas que as medidas passam a acarretar. Bourne et al (2003) reforça ainda que, para uma boa implementação do BSC, é crucial o envolvimento da gestão de topo em todas as fases do processo de mudança dando, inclusive, orientação sobre a sua execução. 35 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Por outro lado, Ottoboni et al (2002), refere que é frequente haver um conflito de egos entre gerentes/executivos, resultando numa diminuição do nível de eficiência do fluxo de informações existentes na organização. Contudo, a definição e utilização dos indicadores de performance tem suscitado maior atenção na medida em que é uma das principais causas para o insucesso do BSC. Itner e Larcker (1998) realizaram um estudo baseado em respostas de diretores de qualidade e verificaram que estes sentiam uma grande necessidade de demonstrar a relação entre as suas iniciativas e os resultados financeiros, mas esta relação de causa-efeito não se verificava. A par desta frequente falta de relação causa-efeito entre os indicadores das várias perspetivas, Ittner e Larcker (2003) acrescentam que existem erros na definição e utilização dos indicadores, não havendo articulação entre eles nem com a performance financeira futura. Outros estudos revelam que um outro entrave a uma boa implementação do BSC é a complexidade da própria organização, assim como a densa rede de interligações que existe entre variáveis. 2.2.6 Apreciações Críticas ao BSC Apesar do aumento de informação em torno do BSC, investigadores e académicos continuam a manter posições diferentes sobre a sua eficácia, apontando fraquezas deste modelo de gestão. Norreklit (2000) é uma das críticas e enumera as principais fraquezas do BSC. Primeiramente, a autora refere que não existem relações de causalidade entre as quatro perspetivas, mas antes relações lógicas. Avaliar as consequências financeiras 36 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. de uma maior satisfação do cliente e de melhorias de qualidade requer um cálculo financeiro. Um conjunto de ações que produzem um elevado valor para o cliente, a custos baixos levam sempre a bons resultados financeiros. Isto, para a autora, não é uma questão de causalidade, é lógica, uma vez que é inerente aos conceitos. Em segundo lugar, Norreklit (2000) considera que o BSC não é uma ferramenta de gestão estratégica válida, pois não assegura o enraizamento organizacional ou do meio envolvente. Consequentemente, considera que pode haver um desfasamento entre a estratégia previamente planeada e a estratégia prosseguida nas ações concretas. Considera ainda, relativamente à estratégia, que o BSC é uma ferramenta estática pois não tem em consideração os imprevistos e as incertezas estratégicas que podem comprometer a sua fiabilidade. A par destes problemas apontados, principalmente, às relações de causalidade sugeridas por Kaplan e Norton (1992), o BSC não é, de forma alguma, um modelo de fácil implementação, devido à quantidade de informações, custos e de pessoas que envolve. Desta forma, o BSC só é fiável com um forte comprometimento da alta direção, pelo que, sem o seu apoio, o projeto poderá não ser bem sucedido. Por não ser uma ferramenta meramente departamental ou pessoal, mas sim uma ferramenta transversal a toda a organização, é fundamental que, nas primeiras fases de implementação, as instruções circulem de cima para baixo hierarquicamente. Otley (1999) aponta também algumas fragilidades do BSC desenhado por Kaplan e Norton (1992) tais como: - Apesar de ser um modelo bastante direcionado para os stakeholders, não elucida suficientemente sobre a contribuição dos colaboradores, dos fornecedores, do estado e das comunidades locais, dando enfâse apenas aos clientes e instituições financeiras; 37 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. - Falha na identificação de relações entre meios e fins; - Negligencia o sistema de recompensas; - Assume que os sistemas de informação e feedback são garantidos. Conclui-se, portanto, que uma correta aplicação do BSC suscita uma série de benefícios para a empresa como a integração de medidas financeiras e não financeiras, comunicação e feedback da estratégia, vínculo da estratégia e garantia de alinhamento organizacional, entre outros já referidos anteriormente (Kallas, 2003). Contudo, não pode ser vista como a única alternativa para um bom planeamento estratégico, podendo ser complementada com outros modelos de gestão. 38 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 3. OBJETIVO DE ESTUDO E METODOLOGIA 3.1 Objetivo O El Corte Inglés é uma empresa que já tem um processo de controlo de gestão bem monitorizado. Não obstante, e visando proporcionar um processo de melhoria contínua perante a crescente necessidade de criação de valor para os clientes e acionistas, este trabalho tem como objetivo principal apresentar uma proposta de implementação do BSC no El Corte Inglés- Grandes Armazéns S.A. Esta proposta será estudada de forma a complementar os sistemas de controlo já existentes, servindo de base para o desenho de um sistema de controlo estratégico que propõe o alinhamento estratégico e a melhoria da sua performance individual. Previamente à proposta propriamente dita, será importante compreender o dinamismo dos sistemas de controlo de gestão em vigor e, apenas posteriormente, perceber de que modo é que, face aos sistemas de controlo de gestão já existentes, o BSC pode influenciar positivamente os resultados da empresa. Após essa análise serão estudadas as metodologias para o desenvolvimento e implementação do BSC. 3.2 Metodologia Para a realização do presente trabalho será usado um método de investigação interativo, onde a pesquisa é realizada na ação e não sobre a ação – Active Research (Coughlan e Coghlan, 2002). Este método visa a obtenção de resultados práticos em detrimento dos aspetos abstratos, direcionados para a mudança. A implementação de um método de investigação deste tipo está assente num ciclo interativo proposto por Coughlan e Coghlan: Planear – Fazer – Analisar. Os autores defendem a existência 39 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. de 4 fases: planeamento, ação, avaliação da ação e novo planeamento decorrente da ação. Paralelamente, este método apresenta como características o fato do investigador e dos colaboradores serem participantes ativos levando a uma maior integração entre a pesquisa e a prática e a multiplicidade de fontes de dados que é possível considerar. Este trabalho iniciar-se-á com uma recolha de informação através de entrevistas, da própria observação da realidade da empresa e de material fornecido pela empresa cujo ordenamento constitui o início do ciclo preconizado por Coughlan e Coghlan (2002). Nesta fase, o enfâse será dado à perceção da missão, visão, valores, estratégia da empresa e aos sistemas de controlo já existentes, percebendo quais os que mais se destacam e quais os mais valorizados pela gestão de topo da organização. Nesse sentido foram realizadas entrevistas aos seguintes elementos da organização: - Dr. Vítor Moreira, Diretor de Operações; - Pedro Silva, Chefe da Unidade Administrativa; - Fátima Machado, Colaboradora da Unidade Administrativa. Seguidamente, com base neste primeiro passo, segue-se a proposta de plano de ação. Por forma a concretizar o plano de ação atrás referido o autor apresentará possíveis indicadores que se adequem tanto à avaliação de cada uma das quatro perspetivas do BSC, como aos objetivos da própria organização e da sua equipa de gestão. 40 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. De acordo com a bibliografia revista, os indicadores mais usados para cada perspetiva são os apresentados de seguida: • • Perspetiva Financeira: - Retorno do capital investido; - Rendibilidade das vendas; - Volume de negócios; - Taxa de crescimento do volume de negócios; - Quota de mercado; - EVA. Perspetiva dos Clientes: - Índice de satisfação; - Tempos de entrega/serviço; - Quota de mercado; - Volume de negócios com novos clientes VS Volume de negócios com clientes atuais. • • Perspetiva dos Processos Internos: - Prazos de execução; - Lead Time/Tempo de ciclo; - Custo unitário; Perspetiva de Aprendizagem e Desenvolvimento: - Nº de novos produtos/serviços; - Índice de satisfação de pessoal; - Montante de prémios e incentivos; - Nº de Horas de formação; - Investimento em tecnologias de informação por trabalhador. 41 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Neste sentido, a autora deste trabalho analisará a adaptabilidade e a adequação destes indicadores à realidade da empresa estudada, assim como, a possibilidade de existirem outros que complementem a ação dos anteriores. O trabalho aqui apresentado constitui, sobretudo, um estudo interpretativo, com base nas entrevistas já referidas e na análise qualitativa dos elementos facultados pela empresa, relativos à sua atividade, que constituem as duas primeiras fases do método Action Research. Por último, é importante referir que a metodologia que serve de base a este trabalho é meramente qualitativa já que não são estudadas quaisquer hipóteses estatísticas sobre indicadores de gestão, nem é efetuada qualquer outro tipo de análise quantitativa. 42 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 4. CONSTRUÇÃO DE UM BALANCED SCORECARD PARA O EL CORTE INGLÉS – GRANDES ARMAZÉNS S.A. 4.1 Caracterização da empresa 4.1.1 Apresentação da empresa O El Corte Inglés é considerado, atualmente, um dos líderes mundiais de grandes armazéns com uma forte implementação no mercado espanhol e com presença em Portugal desde 2001, com a inauguração de um Grande Armazém em Lisboa e, mais tarde, em 2006, em Vila Nova de Gaia. (disponível em: www.elcorteingles.es) Desde que em 1935 o fundador da empresa, Ramón Areces, adquiriu uma alfaiataria, denominada El Corte Inglés, que a empresa tem crescido a um ritmo contínuo. Durante este período contando com mais de 70 anos de experiência, o Grupo tem mantido uma política de serviço ao cliente e um interesse constante por adequar-se aos gostos e às necessidades da sociedade. Isto terá levado o El Corte Inglés a uma política de diversificação e de especialização que resultou na criação de novos formatos comerciais. Desta forma, cada uma das cadeias responde à procura de um determinado segmento de mercado. Paralelamente aos grandes armazéns El Corte Inglés, o grupo conta com outras cadeias como o Hipercor, Opencor, Supercor, Sfera, Telecor, Viajes El Corte Inglés, Bricor, Optica 2000 e Informática El Corte Inglés, entre outras. Contudo, a principal linha de negócio do grupo e o formato de maior espectro continua a ser o El Corte Inglés – Grandes armazéns, com um peso específico de 58,4% sobre o grupo consolidado. Tal peso deve-se ao fato de nestes grandes armazéns se comercializar todo o tipo de produtos e serviços, desde as últimas 43 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. tendências de moda e complementos até artigos de desporto e culturais, de eletrónica, ou de alimentação. Este conceito de grande armazém tem como atrativo para o cliente a atenção personalizada, amplitude e variedade de oferta, constante incorporação de novos produtos e serviços e capacidade para dar resposta às últimas tendências do mercado. A comprová-lo estão os, aproximadamente, 1,5 milhões de visitantes por dia aos centros El Corte Inglés. Relativamente aos valores da empresa, de acordo com a informação retirada do site do ECI, estes são 5, e sustentam fortemente a política comercial do grupo. São eles: qualidade máxima, variedade, serviço, especialização e garantia. A qualidade é o princípio mais valorizado pelo El Corte Inglés uma vez que é a garantia da segurança do consumidor. A qualidade começa nas instalações e termina nos produtos que são postos à venda, tendo estes sido criteriosamente selecionados, para serem os melhores do mercado. Relativamente à variedade, o El Corte Inglés apresenta a mais ampla oferta que se pode encontrar em qualquer estabelecimento comercial. Milhares de fornecedores respondem com eficácia à procura dos seus clientes. Sendo o El Corte Inglés uma empresa de serviços, aspira em ganhar o título de “excelente” em todos os aspetos da sua atividade: no trato com o pessoal, no cumprimento dos prazos de entrega, na atitude dos funcionários, na eficácia e em todos os outros detalhes. No que diz respeito à especialização, a dimensão dos centros permite que cada secção seja especializada. Para além de todos os produtos serem especializados, os seus funcionários têm também formação específica suficiente para serem especialistas dos produtos, para responder a todas as exigências por parte dos 44 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. clientes. Por fim, o El Corte Inglés assume o compromisso de garantia. Isto só é possível porque conhece os produtos e os fabricantes. Para além de seguir de perto os processos de fabrico, embalamento e transporte, mantém rigorosos procedimentos de controlo. Assumindo este compromisso, assume também a garantia de devolução de dinheiro se o cliente não ficar satisfeito. No que respeita à visão/desafio estratégico do El Corte Inglés, este tem evoluído muito com o tempo. No início da sua atividade comercial, a estratégia passava por “grandes armazéns situados sempre dentro das cidades chave”. Atualmente, existe um ambiente de grande discrição à volta da empresa, pelo que não existem informações escritas disponíveis que divulguem aspetos da estratégia adotada pela empresa. Contudo, é facilmente percetível que expansão, diversificação e especialização são as palavras-chave que estão na base do sucesso do grupo. 4.1.2 Dados Económicos De seguida apresentam-se alguns dados económicos relativos ao Grupo El Corte Inglés e à empresa portuguesa, El Corte Inglés, Grandes Armazéns, S. A. 45 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. - O Grupo El Corte Inglés TABELA II – Dados Económicos 2011 – Grupo ECI (adaptado Rel. Contas El Corte Inglés) ações apresentadas na tabela II justificam-se, se, em termos gerais, pelo As variações comportamento da distribuição do comércio em Espanha, onde se situa a maioria da atividade do grupo. upo. A conjuntura económica afetou afetou significativamente o consumo e o ano de 2011 foi marcado marcado pela “contração do consumo familiar, pela deslocação da opção de compra em direção a produtos de menor preço, pelo decréscimo do talão médio de compra e pelo aumento das vendas de artigos em promoção” (Relatório de Contas El Corte Inglés 2011). Todos estes fatores se refletiram nos resultados re do Grupo mas, apesar de tudo, este conseguiu manter a sua quota de mercado. Paralelamente, manteve também estável o emprego, que abrange 93% do quadro de pessoal, com um total de 99.323 empregados no fecho do exercício. exercício. Para lidar com a conjuntura atual, o Presidente do Grupo, Isidoro Álvarez, referiu, num Comunicado de Imprensa sobre os resultados do Exercício 2011, 2011 a necessidade de “desenvolver todas as possibilidades de ampliação de atividade; estimular as iniciativas ivas de renovação, que é o motor do crescimento e adaptar-nos adaptar com realismo e com uma correta gestão de custos, às novas exigências do 46 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. consumidor e às novas realidades do mercado”. mercado” Perante esta necessidade, o El Corte Inglés encontra na inovação a resposta para estes desafios. O grupo tem respondido às dificuldades do sector com propostas inovadoras, com variadas ações de marketing e campanhas promocionais e com uma oferta baseada na diferenciação e na variedade. Relativamente às várias linhas de negócio, as as atividades que mais contribuem para os resultados são, como já referido anteriormente, os grandes armazéns, os hipermercados e a agência de viagens que, juntas, correspondem a 87% do total do volume de negócios. - El Corte Inglés – Grandes Armazéns S.A. TABELA III – Dados Económicos 2011 – ECI – Grandes Armazéns S.A. (adaptado Rel. Contas El Corte Inglés) Relativamente ao exercício anterior, as vendas da empresa portuguesa neste exercício foram inferiores em 22,6 milhões de euros, euros, o que se justifica pela opção da empresa em não refletir o aumento do IVA nos preços ao consumidor. No que respeita aos resultados líquidos, estes são considerados positivos pela Direção da 47 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. empresa, tendo em conta o contexto recessivo em que se encontra o comércio em Portugal. Apesar deste contexto, o El Corte Inglés continua empenhado em investir em Portugal, e da mesma forma que em Espanha, tem levado a cabo numerosas ações de marketing com o objetivo de satisfazer as novas necessidades do consumidor com preços atrativos e adequados aos diferentes perfis de consumidores. É também importante referir que a empresa tem vindo a fazer esforços de gestão para ajustar custos e garantir a política de adequação às exigências do mercado e proximidade dos clientes. 4.1.3 O controlo de Gestão no El Corte Inglés Tal como já foi referido na introdução deste trabalho, o seu âmbito apenas se circunscreve ao El Corte Inglés – Grandes Armazéns S.A. Contudo, toda a informação apresentada daqui em diante deriva de informações retidas no seio do El Corte Inglés de Gaia, onde decorreu o estágio, e de entrevistas a alguns membros da organização deste Centro. Sendo as vendas o verdadeiro alicerce do negócio do El Corte Inglés, o controlo recai, sobretudo, na análise do orçamento das vendas. Assim, há uma comparação constante com o orçamento previamente definido, sendo que este é feito com base no orçamento do exercício anterior. A partir do orçamento do exercício anterior, a empresa faz estimativas considerando os vários cenários possíveis de crescimento/diminuição das vendas, estando assim preparados para tomar medidas corretivas, no momento considerado oportuno. Contudo, em Janeiro de 2011, foi apresentado ao El Corte Inglés um novo modelo de gestão a juntar à análise do orçamento, perspetivando-se um 48 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. desenvolvimento bastante significativo no negócio. Este modelo é suportado por duas ferramentas principais, StorEIS e PGCA, e tem por base uma nova organização da informação. Para melhor se perceber os níveis de atuação das ferramentas usadas, atentemos na figura abaixo: FIGURA VI – Ferramentas de controlo de gestão no ECI e níveis de atuação. (Fonte: adaptado da Revista “A gente do El Corte Inglés”) O StorEIS, usado ao nível estratégico e tático, permite agrupar dados dos vários indicadores usados, que outrora estavam dispersos. Esta aplicação agrupa numa única ferramenta os indicadores de gestão da loja e está acessível para as funções de Direção, Chefe de Piso e de Sector. Facilita, assim, o acompanhamento de cinco grupos de indicadores: Vendas, Pessoas, Mercadoria, Rendimentos e Clientes. Esta informação pode, por sua vez, ser organizada por Grupo de Venda/Divisão/Área de Venda/Departamento ou por Exercício/Campanha/Mês/Dia. De forma a compreender o tipo de indicadores usados serão apresentados, de seguida, alguns indicadores para cada um dos grupos individualmente. 49 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. TABELA IV – Indicadores ndicadores usados pelo ECI Todos estes indicadores são analisados e discutidos isoladamente pelo menos m uma vez por mês pela direção, pelo que os indicadores de vendas são analisados com 50 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. mais frequência, tanto pela direção, como pelos chefes de Piso e de Sector, de forma a evitar desvios face ao orçamento de vendas para o período em causa. Por norma, este orçamento é feito com base no ano anterior, com os devidos ajustes derivados de possíveis alterações no mercado. Os restantes indicadores, na falta de objetivos prédefinidos para cada um deles, são comparados com os resultados médios da organização. Este agrupamento de indicadores e o fato de os mesmos estarem disponíveis para todos os decisores, aumenta a possibilidade de uma intervenção coordenada, com melhorias significativas nos resultados da empresa. A grande mais-valia desta aplicação é o fato de ser comparável com outros cinco centros, definidos previamente pela Direção. Estes são definidos de acordo com vários critérios como proximidade, dimensão, tipo de cliente, entre outros. Desta forma, permite comparar eficácias de atuações, tendências e rácios médios da organização. Paralelamente, a análise dos indicadores, permite também avaliar quantitativamente a performance dos chefes, componente importante aquando da sua avaliação no final de cada exercício, que condiciona o montante dos prémios recebidos. Contudo, são também feitas algumas críticas à aplicação. A primeira é o fato de não abranger todas as áreas, pelo que condiciona a avaliação global do centro e dos próprios chefes. Simultaneamente, existem vários indicadores que não são analisados, muito pelo fato de haver fórmulas mal calculadas, por limitação da própria plataforma da aplicação. Por fim, a multiplicidade de indicadores torna o sistema muito denso e de difícil análise. Por sua vez, ao nível operacional da gestão, ainda em fase de desenvolvimento, é usada uma Plataforma de Gestão de Chefes de Área (PGCA) que deriva do StorEIS e 51 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. se orienta para as chefias intermédias. Nesta plataforma a informação está organizada em quatro grandes blocos: Sistema de Controlo de Vendedores, Sistema de Informação de Clientes e Concorrência, Sistema de Controlo de Espaço e Sistema de Controlo de Sortido. Da PGCA deriva, assim, a agenda do Chefe de Área, que permite otimizar o tempo dedicado à gestão da área e facilita o cumprimento de todas as tarefas implícitas à sua função. A utilização destas ferramentas conduz a uma gestão mais objetiva, ao ser baseada em informação concreta e comparável. Paralelamente, a informação está descentralizada e permite aos Chefes de Área ter conhecimento dos seus departamentos, propor e tomar decisões operacionais. (in Revista “A gente do El Corte Inglés”) Contudo, esta informação, como já referido anteriormente, só está disponível para as Chefias, pelo que os restantes colaboradores não têm acesso direto aos objetivos da empresa. No que respeita aos objetivos de venda, o problema é parcialmente ultrapassado, na medida em que existe uma outra aplicação ao nível operacional que lhes permite ter acesso a alguns dados da venda podendo, a partir daí, gerir a sua atividade. Paralelamente, é da responsabilidade dos chefes de sector fazer briefings diários para apresentar os objetivos pretendidos. Quanto aos restantes, estes não são, em momento algum, do conhecimento dos restantes colaboradores, podendo pôr em causa a motivação dos mesmos, na persecução dos objetivos individuais e da própria organização. 52 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 4.2 Simulação do Balanced Scorecard para o El Corte Inglés 4.2.1 Análise SWOT O processo de criação e desenvolvimento de um Balanced Scorecard deve ser antecedido por uma análise estratégica da empresa. Como já referido anteriormente, aquando da sua descrição, o El Corte Inglés é uma empresa muito fechada, disponibilizando pouca, ou quase nenhuma, informação. Contudo, de forma a fundamentar o trabalho que se segue, foi feita uma breve análise SWOT ao El Corte Inglés, para melhor se perceber a sua posição no meio envolvente. Neste contexto, apresentam-se como forças da empresa o fato de fazer parte de um grupo detentor dos maiores armazéns da Europa, podendo assim, ter à disposição dos seus clientes, uma enorme variedade de produtos num mesmo local, sendo que em Portugal não existe um espaço igual. A excelente localização dos centros El Corte Inglés é também considerada um ponto forte da empresa, uma vez que os centros se situam no centro das grandes cidades. Por fim, uma das características que mais distingue o El Corte Inglés é a qualidade no atendimento, na medida em que a empresa aposta na especialização dos seus funcionários, para que estejam preparados para responder às questões levantadas pelos clientes e os saibam aconselhar corretamente. Como fraqueza, aponta-se a pouca flexibilidade, uma vez que o El Corte Inglés tem uma estrutura muito pesada com custos operacionais muito elevados. Paralelamente, verifica-se pouca autonomia dos centros, estando sempre dependentes da uma Central, limitando a sua atividade. Por fim, o software usado 53 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. pode também ser apontado como uma fraqueza, na medida em que o El Corte Inglés usa vários softwares, que muitas vezes dão resultados desajustados entre si. Relativamente à análise externa da empresa, e no que respeita às oportunidades, foi considerada a abertura de novos centros no país. Paralelamente, num mercado onde o comércio online ganha cada vez mais importância, é também importante que a empresa se aproxime do cliente por esta via. Para isso, há a oportunidade de alargar as áreas de vendas online, de criar aplicações para Smartphones com as mais diversas informações sobre produtos, promoções, loja mais próxima, etc., até porque, a oferta desse serviço, não pressupõe um grande investimento em termos de infraestruturas. Por fim, é facilmente percetível que a conjuntura económica atual representa uma ameaça à empresa. O aumento de impostos ao consumo, o aumento da carga fiscal sobre o consumo, com consequente aumento do preço dos bens, o aumento do desemprego e a perda da capacidade económica das famílias são fatores que poderão prejudicar o volume de vendas dos centros. Por outro lado, existem também ameaças a montante do negócio do El Corte Inglés, na medida em que, por lidar com grandes fornecedores, a simples perda de relação comercial com um deles, poderá levar a empresa a procurar outros fornecedores com os quais não terá um poder negocial tão forte, além de poderem perder a venda de determinados produtos âncora. 54 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 4.2.2 Etapas para a implementação do BSC Conhecida já a visão, os valores e um pouco da estratégia do El Corte Inglés, irá apresentar-se, de seguida, o Balanced Scorecard para o ECI. Este BSC diz apenas respeito ao El Corte Inglés – Grandes Armazéns S.A. de Vila Nova de Gaia. Apesar de diferentes autores apresentarem métodos de construção do BSC diferentes, sendo o caso, por exemplo, de Kaplan e Norton (1996), Niven (2005) ou Balanced Scorecard Institute já referidos anteriormente, todos eles estão de acordo em que a sua construção é condicionada por diversos fatores como a estrutura, o sector, a complexidade e a formação de cada organização. Neste caso, ter-se-á como referência a metodologia preconizada por Kaplan e Norton (1996), uma vez que este projeto se circunscreve à implementação do BSC, não incluindo a sua monitorização. As quatro etapas a seguir serão, de acordo com o que foi referido no enquadramento teórico, as seguintes: 1) Definir a arquitetura do programa de medição; 2) Estabelecer objetivos estratégicos e definir o seu inter-relacionamento; 3) Escolha e elaboração dos indicadores; 4) Elaboração do plano de implementação. 4.2.2.1 Arquitetura do programa de medição Nesta fase inicial, segundo Kaplan e Norton (1996), para a definição da estrutura e arquitetura do BSC é necessário definir a unidade organizativa para a qual será desenvolvido o BSC. Esta pode ser desenvolvida apenas para uma unidade organizativa, um departamento, ou para uma área funcional da organização. Contudo, este estudo diz respeito a uma parte da organização que é o Centro de Vila Nova de Gaia do ECI. 55 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. As responsabilidades do ECI em questão, encontram-se substancialmente divididas pela Direção, Diretor de Operações e Diretor de Pessoal, pelos Responsáveis de Loja, Chefes de cada Piso e ainda pelos Chefes de cada Serviço (ver Anexo I). Cada unidade de serviços, assim como cada piso, tem o seu orçamento, embora caiba à direção a aprovação dos mesmos. Na elaboração do orçamento são tidas em conta as ações que se visa implementar durante o exercício e os custos inerentes à atividade e aos seus colaboradores. 4.2.2.2. Estabelecer objetivos estratégicos e definir o seu interrelacionamento Por forma a se conseguir um balanço entre os objetivos de curto e longo prazo e entre os resultados e as ações condutoras, é essencial definir previamente as perspetivas a estudar (Kaplan e Norton, 1996). Segundo Kaplan e Norton, cada organização deve adaptar as perspetivas à sua realidade, não considerando que as quatro perspetivas sugeridas pelos mesmos tenham de ser vistas como um modelo obrigatório. O que realmente importa são as relações de causa-efeito entre as perspetivas. Neste estudo, serão consideradas as quatro perspetivas originais: Financeira, Clientes, Processos Internos e Aprendizagem e Desenvolvimento. Neste sentido, serão de seguida apresentados os objetivos estratégicos para cada uma das perspetivas. i) Perspetiva financeira Numa área de negócio onde as vendas são o grande pilar do sucesso da empresa, o aumento do Volume de Negócios é claramente o principal objetivo estratégico numa perspetiva Financeira. Associado a esse objetivo, considera-se também que 56 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. aumentar a quota de mercado, maximizar a margem de mercadorias e, por fim, aumentar a rentabilidade são considerados objetivos chave a atingir pela empresa. Um aumento da quota de mercado associado a um aumento do volume de negócios representará que os esforços internos da empresa estão a ser recompensados. Relativamente ao objetivo – maximizar a margem de mercadorias – este é claramente um dos aspetos a que se deve dar mais atenção, pois só com uma boa gestão destas margens, acompanhadas por um aumento de volume de negócios, é que a empresa consegue atingir bons resultados. No que respeita ao último objetivo, este é mais visto pela gestão do centro como um aumento de melhoria de resultados, do que propriamente aumento da rentabilidade de capitais. ii) Perspetiva de Clientes Nesta perspetiva foram realçados como objetivos estratégicos: aumentar a satisfação dos clientes, aumentar o número de clientes fidelizados e aumentar o número de clientes com Cartão El Corte Inglés. Neste tipo de empresa, onde é dada uma extrema relevo ao cliente, dada a sua importância para os resultados da empresa, a melhoria de satisfação do cliente prende-se, não só com os produtos, mas também com o serviço prestado no momento da venda e serviço pós-venda. O aumento do número de clientes com cartão ECI representa, para a empresa, um objetivo estratégico, pois traduz, assim, a satisfação dos clientes e a sua fidelização ao El Corte Inglés. iii) Perspetiva dos Processos Internos No que diz respeito aos processos internos, considera-se como objetivos estratégicos: a melhoria do atendimento, o aumento da eficiência de gestão de mercadorias, uma gestão eficiente dos custos e melhoria das relações com os fornecedores. Relativamente ao aumento da eficiência de gestão de mercadorias, este 57 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. refere-se essencialmente, a rotação, a taxas de cobertura e a quebras de mercadorias. A par desta gestão eficiente de mercadorias, é também posta em destaque a necessidade de gerir eficientemente os custos de operações, de pessoal e ainda, custos publicitários. Por fim, o objetivo de melhoria de relações com os fornecedores vai de encontro ao objetivo de gerir os custos de forma eficiente, como de maximizar a margem de mercadorias. iv) Perspetiva de Aprendizagem e Desenvolvimento Por último, no que toca aos objetivos estratégicos na perspetiva de Aprendizagem e Desenvolvimento, estes são: aumentar as competências do pessoal, adaptar a tecnologia às necessidades, melhorar a comunicação interna e, por último, visto tratar-se de um negócio que lida com tendências, antecipar as necessidades dos mercados alvo. Segundo Kaplan e Norton (1996), as relações causa-efeito devem ser definidas e representadas num mapa estratégico, como o que se apresenta na Figura VII. 58 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. FIGURA VII – Mapa estratégico ECI 4.2.2.3. Escolha e elaboração dos indicadores Nesta fase de desenvolvimento do BSC será feita uma avaliação aos indicadores mais is usados pelas empresas, já mencionados na metodologia do trabalho, e propostos novos, caso seja pertinente no caso da empresa em estudo. Primeiramente, é necessário referir que o número de indicadores para cada perspetiva é discutido por diversos autores, autores, mas todos eles acreditam que esse número deve ser limitado, por forma a evitar excesso de informação e informação supérflua. Paralelamente, vários autores enumeram alguns critérios para a definição dos indicadores. Olve et al (2000) defendem que os indicadores icadores não devem ser ambíguos, devem ser realistas e uniformes com toda a organização e deve, ainda, existir interligação dos indicadores com as diferentes perspetivas. s. Por sua vez, Niven (2005) 59 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. defende que, acima de tudo, os indicadores devem estar diretamente relacionados com a estratégia. Considera também que estes devem ser de fácil medição e interpretação. De seguida, serão apresentados os indicadores sugeridos para cada perspetiva, avaliando a pertinência dos indicadores mais usados pelas empresas e apresentando a sua forma de cálculo, finalidade e métrica. i) Perspetiva Financeira Como já referido anteriormente, os indicadores mais usados para avaliar a performance financeira de uma empresa são: Retorno do capital Investido, Rendibilidade das Vendas, Volume de Negócios, Taxa de Crescimento do Volume de Negócios, Quota de Mercado, EVA. No caso do El Corte Inglés, e indo de encontro aos objetivos estratégicos previamente apresentados, os indicadores acima descritos são, na sua maioria, aplicáveis à empresa. São estes a Rendibilidade das Vendas, a Taxa de Crescimento do Volume de Negócios e a Quota de Mercado. Tratando-se de uma empresa de distribuição, com um claro objetivo de aumento do volume de negócios, estes indicadores resumem claramente os objetivos pretendidos. Relativamente ao Retorno no Capital Investido, este não é adequado á empresa, uma vez que o grande investimento já foi realizado – construções dos centros – pelo que todos os investimentos feitos daí em diante são relacionados com melhoria de imagem e atendimento que se traduzem facilmente nos resultados da empresa. No que respeita ao EVA, este também não se adequa, na medida em que o El Corte Inglés é uma empresa caracterizada por ter excedente de capital com nenhum recurso á banca, não apresentando por isso, muitos custos de capital. 60 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Contudo, existe ainda um indicador que não foi referido, mas que é essencial para avaliar a performance da empresa – EBITDA. Este indicador, já utilizado pela empresa, permite medir a produtividade e eficiência da empresa no que respeita às suas atividades operacionais. Neste sentido, de seguida far-se-á uma breve descrição dos indicadores referidos anteriormente, por forma a facilitar a compreensão. - Rendibilidade das Vendas Fórmula de cálculo: RV= RL/Venda Finalidade: Analisar a eficácia da gestão em gerar vendas e controlar despesas. Métrica: Taxa (%) - Taxa de Crescimento do Volume de Negócios Fórmula de cálculo: Taxa VN= (VN(t)- VN(t-1))/VN(t-1) Finalidade: Analisa em que medida a empresa prossegue o seu objetivo de crescimento, traduzindo-se num aumento das vendas e prestações de serviços. Métrica: Taxa (%) - Quota de Mercado Fórmula de cálculo: QM= VN(ECI)/VN(Segmento) Finalidade: Analisa a percentagem de mercado dominado pela empresa no segmento onde atua. Métrica: Taxa (%) 61 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. - EBITDA Fórmula de cálculo: EBITDA= EBIT – Amort – Prov - Imparidades Finalidade: Avaliar a produtividade e eficiência do ECI no que respeita às suas atividades operacionais. Métrica: Euros (€) ii) Perspetiva de Clientes Como indicadores mais usados para a perspetiva de Clientes foram apresentados os seguintes: Índice de Satisfação, Tempos de Entrega/Serviço, Quota de Mercado, Volume de Negócios com Novos Clientes VS Volume de Negócios com Clientes Atuais. Neste caso, o Índice de Satisfação é um indicador que vai, claramente, de encontro a um dos objetivos estratégicos nesta perspetiva. De forma a complementar a análise é importante medir a Número de Novos Clientes. Os restantes indicadores, a quota de mercado, que já foi inserida na perspetiva anterior, e os tempos de entrega/Serviço perdem relevância quando comparados com indicadores como a Percentagem de Clientes com Cartão ECI, a Percentagem de Pagamentos com o Cartão ECI face ao Total de Pagamentos, o Índice de Reclamações e o Número de Dias da sua Resolução, uma vez que estes últimos são diretamente relacionáveis com os objetivos estratégicos pré-estabelecidos. 62 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Segue de seguida a descrição pormenorizada de cada um dos indicadores. - Índice de Satisfação Fórmula de cálculo: Questionário de satisfação. Finalidade: Avaliar o grau de satisfação do cliente face ao serviço prestado, na medida em que é essencial para o ECI perceber se os seus clientes ficam, ou não, satisfeitos, com os produtos e serviços prestados pelo ECI. Métrica: Taxa (%) - Número de Clientes Novos Fórmula de cálculo: Entrada de novos clientes. Finalidade: Analisar o número de novos clientes interessados em comprar produtos no ECI. Métrica: Número - Índice de Reclamações Fórmula de cálculo: Nª Reclamações/Nº de Clientes.1 Finalidade: Controlar e analisar as reclamações recebidas com vista a melhorar a qualidade dos serviços. Métrica: Taxa (%) - Número de Dias da sua Resolução Fórmula de cálculo: Nº de dias entre a reclamação e a sua resolução. Finalidade: Analisar a eficácia dos processos com vista a melhorar o atendimento e à satisfação dos clientes. Métrica: Número (dias) 1 Entende-se por Nº de Clientes o nº total de pessoas que dão entrada na loja. 63 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. - Percentagem de Clientes com Cartão ECI por Total de Clientes Fórmula de cálculo: nº de clientes com cartão ECI/ Total de clientes Finalidade: Avaliar o grau de fidelização dos clientes ao ECI, considerando que cliente com cartão ECI é um cliente fidelizado. Métrica: Taxa (%) - Percentagem de Pagamentos com o Cartão ECI face ao Total dos Pagamentos Fórmula de cálculo: Pagamentos com cartão ECI/ Total de pagamentos Finalidade: Avaliar a aceitação dos clientes face ao cartão ECI, por forma a melhorar a sua ação de promoção dos cartões de cliente. Métrica: Taxa (%) iii) Perspetiva dos Processos Internos Na perspetiva dos Processos Internos, e dada a especificidade do negócio, são apresentados indicadores mais específicos, não indo diretamente de encontro aqueles que mais são usados no seio das empresas. Neste caso, e tendo por base alguns indicadores que a empresa já utiliza, os indicadores sugeridos são: Rotação de Stocks, Taxa de Cobertura, Retorno do Investimento em Publicidade, Gastos com Pessoal sobre o Total de Vendas, Prazo de Resolução de Problemas e Prazo Médio de Entrega dos Fornecedores. Mais detalhadamente: - Rotação de Stocks Fórmula de cálculo: Vendas/Total Inventário Finalidade: Avaliar o grau de eficiência com que o ECI está a efetuar a sua gestão de inventários de stock. Quanto mais elevado for o rácio, maior será a 64 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. eficiência da empresa sendo, no entanto, necessário evitar situações de ruturas. Métrica: Taxa (%) - Taxa de Cobertura Fórmula de cálculo: Inventário/ Venda Média Finalidade: Avaliar o tempo médio que o inventário de stock poderá satisfazer a procura, sem que se façam novas encomendas. Métrica: Taxa (%) - Retorno do Investimento em Publicidade Fórmula de cálculo: VN/ Gastos com Publicidade Finalidade: Avaliar o retorno em termos de volume de negócios por investimento em publicidade. Métrica: Taxa (%) - Gastos com Pessoal sobre o Total de VN Fórmula de cálculo: Gastos com Pessoal/ VN Finalidade: Avaliar qual o impacto da variação nos gastos com Recursos Humanos no VN. Métrica: Taxa (%) - Prazo de Resolução de Problemas Fórmula de cálculo: Nº de dias de resolução de problemas. Finalidade: Avaliar a eficácia dos processos internos na resolução de problemas, com vista a uma melhoria contínua do sistema. Métrica: Número (dias) 65 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. - Prazo Médio de Entrega dos Fornecedores Fórmula de cálculo: Média do número de dias de entrega dos fornecedores. Finalidade: Analisar a eficiência dos fornecedores de forma a fomentar uma relação de longo prazo com os quais apresentem um prazo menor. Métrica: Número (dias) iv) Perspetiva da Aprendizagem e Desenvolvimento Por último, no que respeita à perspetiva da Aprendizagem e Desenvolvimento, dentro dos indicadores frequentemente usados, são perfeitamente adaptáveis à empresa em causa o Índice de Satisfação do Pessoal, e o Número de Horas de Formação por Ano. No que toca a tecnologia, neste caso, será mais coerente medir a Percentagem de Investimento em Tecnologia face às Vendas do que o investimento em tecnologia por trabalhador, uma vez que o objetivo central é aumentar o volume de vendas. Por fim, de modo a ir de encontro ao objetivo de antecipar as necessidades dos mercados alvo, a análise do Tempo Despendido com Clientes para identificar as suas Necessidades (h/mês), será bastante pertinente. - Índice de Satisfação do Pessoal Fórmula de cálculo: Inquérito. Finalidade: Avaliar a satisfação dos colaboradores, uma vez que a sua satisfação se traduzirá em motivação e consequente aumento de produtividade. Métrica: Taxa (%) 66 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. - Número de Horas de Formação por Ano Fórmula de cálculo: Inquérito. Finalidade: Avaliar o esforço do ECI em investir no Capital Humano, essencial para o sucesso no longo prazo. Métrica: Número (Horas) - Percentagem de Investimento em Tecnologia face às Vendas Fórmula de cálculo: Investimento em tecnologia/ VN Finalidade: Avaliar o esforço do ECI em inovar tecnologicamente. Métrica: Taxa (%) - Tempo Despendido com Clientes para Identificar as suas Necessidades Fórmula de cálculo: Inquérito. Finalidade: Avaliar quanto tempo o ECI despende com clientes de forma a antecipar as suas necessidades. Métrica: Número (h/mês) No quadro seguinte apresentam-se os indicadores agrupados pelas perspetivas consideradas e de acordo com os objetivos estratégicos. 67 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. TABELA V – Indicadores e objetivos estratégicos no ECI 4.2.2.4. Elaboração do plano de implementação A implementação do BSC e o cumprimento dos objetivos apenas são bem sucedidos dos se existir uma total compreensão por parte de toda a organização, sendo essencial fazer o seu acompanhamento e garantir a continuidade ao longo tempo. De acordo com Niven (2005), sendo o BSC um projeto de mudança, mudança exige grandes esforços para ser bem sucedido, sucedido, mas a falta de comunicação pode fazer com que esses esforços sejam infrutíferos. John Kotter chega até a afirmar que “sem uma comunicação credível, o coração e as mentes dos colaboradores não são capturados” (Niven, 2005). Neste sentido, sentido é necessárioo definir uma estratégia de comunicação de forma a garantir o alinhamento dos colaboradores com todo o processo de mudança. Um plano de comunicação deve ser estruturado de forma a elucidar toda a organização acerca do BSC. Para isso, Niven (2005) sugere que qu o plano construa uma consciência generalizada a todos os níveis da organização sobre o modelo em causa, e que gere entusiasmo sobre o mesmo, mesmo de forma a conduzir à participação de 68 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. toda a organização no processo. Para isso, torna-se torna se necessário descrever os conceitos conc base do BSC e garantir que os acionistas chave estejam envolvidos no projeto. De forma a criar um modelo de comunicação será tida em conta a metodologia sugerida por Niven (2005) – “W5 – who, what, when, where and why”. why Sucintamente, esta metodologia metodologia propõe que se defina previamente o que vamos comunicar, a quem e quando vamos comunicar, com que propósito e como deve ser feita a comunicação. O quadro que se segue descreve uma proposta do plano de comunicação do BSC para o ECI. Tabela VI – Plano de Comunicação Simplificado para o Balanced Scorecard do El Corte Inglés (Adaptado: Niven (2005)) O acompanhamento dos objetivos deverá ser feito mensalmente por parte da Direção,, havendo uma constante comparação entre os valores reais reais do período, período com os valores dos objetivos definidos previamente. Para os objetivos serem cumpridos é necessário definir claramente as ações estratégicas, os programas e as atividades. (Niven, 2005). Este acompanhamento acompanhamento mensal permitirá ao ECI detetar desvios e aplicar medidas corretivas logo que possível. 69 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. Contudo, uma avaliação global será feita no final do exercício, com o objetivo de analisar o cumprimento dos objetivos pré-definidos, assim como de avaliar a eficácia das medidas corretivas até então aplicadas. 70 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 5. CONCLUSÕES 5.1 Dificuldades sentidas na construção e implementação do BSC Sendo essencial para o sucesso do BSC que uma empresa possua uma estratégia bem definida, sentem-se, mesmo quando esta existe, dificuldades na implementação do BSC, por ser sempre difícil de definir e avaliar corretamente as relações de causaefeito entre os objetivos estratégicos e indicadores de desempenho. No caso concreto da empresa onde o estágio foi feito, tal como referido anteriormente, a estratégia existe, mas à sua volta existe também um grande secretismo, pelo que comprometeu, desde logo, uma visão integrada e estratégica da empresa, o que tornou o processo ainda mais difícil. Simultaneamente, o processo de implementação do BSC deve ser gerido por uma equipa de gestão de topo, que reporte diretamente da Administração, para que todos os processos de gestão estejam alinhados com o BSC. Após o processo de análise estratégica, da qual a autora inferiu as suas conclusões, a dificuldade foi em limitar o número de indicadores para cada uma das perspetivas, dando preferência aos mais abrangentes, mensuráveis e controláveis, tendo em conta os indicadores já utilizados pelo ECI. Desta forma, é possível manter um sistema de medição cognitivo e administrativamente simples. É de realçar que uma escolha incorreta dos indicadores, ou uma listagem extensa, ou ainda a escolha de indicadores que não são perfeitamente mensuráveis podem conduzir a conclusões falsas e, portanto, a uma gestão menos eficaz. Posteriormente, a falta de informação comprometeu a apresentação de um BSC completo, pelo que não foi possível definir metas e os planos de ação para cada um dos indicadores. 71 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. É importante referir que um BSC leva bastante tempo a ser construído e implementado, pelo que todos os indicadores sugeridos são suscetíveis de serem alterados ou complementados de acordo com especificidades da própria empresa e dos seus objetivos estratégicos, de forma a aperfeiçoar o BSC ao longo do tempo. 5.2 Considerações finais Conforme referido anteriormente, o objetivo a que se propôs este relatório consiste numa proposta de implementação do Balanced Scorecard no El Corte Inglés – Grandes Armazéns S.A., como forma de aumentar a competitividade da empresa. Dadas as constantes mutações no mercado, as empresas têm, cada vez mais, de adotar estratégias flexíveis e que se adaptem ao mercado. Paralelamente, torna-se necessário antecipar as tendências de mercado, colocando-se em posição de liderança relativamente aos seus concorrentes, munindo-se de colaboradores e sistemas capazes de responder eficazmente à procura dos seus clientes. Neste contexto, e considerando que o El Corte Inglés lida frequentemente com produtos em constante dinamização, considerou-se que um sistema de gestão integrado como o BSC poderá trazer grandes benefícios à empresa. Um sistema como o BSC irá permitir o alinhamento de toda a organização, incluindo pessoas, processos e infraestruturas, com a estratégia, visando uma melhoria significativa da sua performance. Naturalmente que, a presente proposta de implementação do BSC irá provocar mudanças no seio do El Corte Inglés e será necessário tempo para provar a sua eficácia. Em primeiro lugar, entende-se essencial que a empresa adote uma postura de maior abertura para com todos os colaboradores da organização, de forma a que seja 72 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. mais fácil conseguir o seu alinhamento com a estratégia do ECI. Para esse efeito, o plano de comunicação proposto poderá servir de base a esse alinhamento. Em segundo lugar, os objetivos e indicadores definidos para esta proposta são claramente suscetíveis de serem alterados ou melhorados, de forma a se ajustarem à estratégia da empresa, pelo que caberá à equipa responsável pela sua monitorização, analisar e testar a sua adaptabilidade. Contudo, a prática quotidiana ditará, naturalmente, as melhorias a serem introduzidas. À equipa responsável também caberá propor um conjunto de ações, que criarão condições para os objetivos e as respetivas metas a serem atingidos. Por fim, será conveniente estabelecer meios operacionais ao nível dos sistemas informáticos para que o BSC seja monitorizado adequadamente, possibilitando, sempre que necessário, uma consulta ou reajustamento dos objetivos estratégicos, dos indicadores e das metas fixadas. Em suma, de forma a fazer uma efetiva implementação do BSC, será necessário um grande comprometimento por parte da direção, na medida em que serão exigidos elevados esforços no sentido de consciencializar e envolver todos os colaboradores, assim como de assegurar a sua fácil monitorização. 73 Gabriela Nunes Silva Soares Trabalho Final de Mestrado Balanced Scorecard – O caso do El Corte Inglés - Grande Armazéns S.A. 6. BIBLIOGRAFIA • ATKINSON, Anthony, EPSTEIN, Marc (2000), “Measure for measure – realizing the power of Balanced Scorecard”. Articles of Merit. I.F.A.L., 2632. • BOURNE, M., NEELY, A. (2002), “The success and failure of performance measurement initiatives: perceptions of participating managers”. International Journal of Operations & Production Management, Vol.22, nº 11 • BOURNE, M., NEELY, A., MILLS, J., PLATTS, K. (2003), “Implementing performance measurement systems: a literature review”. 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