e-Terra A exposição “Allosaurus: um dinossáurio
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e-Terra A exposição “Allosaurus: um dinossáurio
e-Terra http://e-terra.geopor.pt ISSN 1645-0388 Volume 15 – nº 51 2010 Revista Electrónica de Ciências da Terra Geosciences On-line Journal GEOTIC – Sociedade Geológica de Portugal VIII Congresso Nacional de Geologia _________________________________________________________ A exposição “Allosaurus: um dinossáurio, dois continentes?”Divulgar procedimentos científicos para promover literacia científica The exhibition “Allosaurus: one dinosaur, two continents?”Scientific procedures popularization as a way to promote the public understanding of science L. PÓVOAS – [email protected] (Museu Nacional de História Natural, UL) C. LOPES – [email protected] (Museu Nacional de História Natural, UL) P. DANTAS – [email protected] (Museu Nacional de História Natural, UL; Laboratório de História Natural da Batalha) E. MALAFAIA – [email protected] (Museu Nacional de História Natural, UL; Laboratório de História Natural da Batalha) F.J.A.S. BARRIGA – [email protected] (Museu Nacional de História Natural, UL; Dep. Geologia, Fac. Ciências Univ. Lisboa) Resumo: O Museu N. História Natural tem vindo a divulgar a temática “Dinossáurios” por constituir uma ferramenta estratégica para divulgação das Ciências da Terra. O Museu procura promover a proximidade entre os seus públicos e os métodos inerentes à produção de conhecimento científico como via para a promoção da literacia científica. Numa exposição revela-se o projecto de investigação resultante da inesperada descoberta de Allosaurus fragilis em Portugal. Todo o processo, da escavação à exposição, foi concebido e implementado pelo Museu. Um estudo de avaliação verificará se os objectivos foram atingidos. Palavras-chave: MNHN, públicos, dinossáurios, procedimentos científicos, estudos de avaliação. Abstract: The Museu Nacional de História Natural has been developing science public outreach on the thematic “Dinosaurs”, as an excellent means for public understanding of the earth sciences. Presently, the Museum promotes proximity between its publics and the scientific procedures as a way to promote the public understanding of science. An exhibition is bringing to the visitors all about the research project on the unexpected discovery of Allosaurus fragilis in Portugal. The whole process, from excavation to exhibition, was led by the museum. An evaluation will verify the public’s response. Key-words: MNHN, publics, dinosaurs, scientific procedures, evaluation studies 1. INTRODUÇÃO Como relatámos na anterior edição deste congresso, há mais de vinte anos que se estabeleceu, e se tem mantido, uma relação entre o Museu Nacional de História Natural (MNHN) e os seus públicos, no âmbito da temática “Dinossáurios” (Póvoas et al., 2006). O trabalho continuado em torno deste tema deve-se ao facto de ele se revelar estratégico para levar a cabo a missão do Museu. É que, devido ao interesse que desperta em diferentes públicos, partindo deste assunto é mais fácil a comunicação sobre: história da Terra e da Vida; tempo geológico; extinções em massa, causas e consequências; mudança global; evolução; paleobiodiversidade; paleobiogeografia; processos de fossilização; a Terra como um sistema, mas um sistema frágil. 1(4) e-Terra Volume 15 – nº 51 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia E, com base nestes tópicos, também podemos abordar o lugar da humanidade no Universo e o nosso papel nas transformações do sistema Terra. Os meios para o estabelecimento desta relação têm variado ao longo do tempo e à medida que diferentes projectos vão surgindo. Desde um quotidiano de sessões e “laboratórios pedagógicos” para grupos escolares e outros, até acções de formação, processos de promoção e preservação de património “in-situ” (Galopim de Carvalho et al., 1999), conferências e, claro, exposições sobre diferentes aspectos da temática e dirigidas a diferentes públicos. Algumas destas exposições têm constituído grandes sucessos, em termos de afluência o que, desde o início desta relação Museupúblicos, nos sugeriu a necessidade de se proceder à avaliação das sucessivas actividades, e em particular das exposições, através de questionários administrados aos visitantes e do tratamento dos dados obtidos. As avaliações vão-nos revelando, não só quem são os nossos públicos e donde provêem, mas também quais são os seus interesses no que respeita ao conhecimento sobre dinossáurios e como esses interesses vão evoluindo ao longo do tempo, quais as questões e dúvidas que se lhes colocam relativas à temática em causa e quais as formas de comunicação que vão mais ao encontro das suas necessidades. Umas vezes, estas necessidades são expressas, outras são deduzidas pelo Museu a partir das observações que se vão recolhendo. O contacto diário, nas actividades, com crianças e adultos, também nos vai indicando o que fazer. É por esta via que, muitas vezes, decidimos qual será a iniciativa seguinte. E, assim, a relação do Museu com os seus públicos se vai tornando mais efectiva. 2. DIVULGAR PROCEDIMENTOS CIENTÍFICOS Há alguns anos o MNHN combinou a abordagem exposta com um novo conceito derivado da necessidade de contribuir para o incremento da literacia científica, reconhecidamente considerada como um instrumento fundamental para o desenvolvimento do nosso país. De facto, a relação com os públicos em torno de temas como dinossáurios, mostrou-nos que a divulgação científica é mais consequente se comunicarmos não só o conhecimento científico, o produto da investigação científica já pronto (por vezes apresentado com um carácter definitivo), mas também a metodologia, os processos de aquisição de conhecimento, os sucessivos passos desses processos, as questões que se vão colocando ao longo do trabalho de investigação e que, muitas vezes, acabam por levar ao avanço de diversas ciências. Verificamos que uma relação mais estreita entre os públicos e os procedimentos científicos conduz a uma melhor compreensão das ciências e das suas conclusões. Permite perceber como foi possível produzir um determinado conhecimento que, por vezes, até parece contrariar o que nos indica o senso comum, contrariar o que a percepção mais imediata dos fenómenos nos faz crer. E também percebemos que compreender (e aprender a aplicar) procedimentos de cariz científico constitui uma ferramenta indispensável que nos prepara para a resolução de inúmeros problemas do dia-a-dia. Temos procurado aplicar este conceito em determinados aspectos dos conteúdos das exposições, em actividades que designamos “laboratórios pedagógicos”, nas quais se reproduzem os passos inerentes à investigação científica, e noutras actividades com carácter experimental, procurando-se sempre que os participantes, à medida que as desenvolvem, sejam informados dos objectivos, da pertinência e adequação dos procedimentos envolvidos e das finalidades dos métodos utilizados. Sempre que possível, usamos equipamentos e instrumentos actualmente (ou até há pouco) em uso nos laboratórios. Os participantes ficam, assim, mais próximos dos procedimentos da investigação em ciências geológicas. O recurso a factos e histórias da História da Ciência também contribui para tornar as ciências mais próximas, mais inteligíveis, menos definitivas na expressão do conhecimento que produz, mais mutáveis, mais como elas são na realidade. Mas, a montante deste trabalho, há questões básicas que nos temos preocupado em assegurar para melhor atingir os nossos objectivos: procuramos que o conhecimento que comunicamos seja 2(4) e-Terra Volume 15 – nº 51 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia actualizado, procuramos que seja apresentado por alguém que esteja “por dentro”, que esteja próximo da investigação científica. 3. EXPOR E AVALIAR O MNHN apresentou em Lisboa, no ano de 2005, “Plumas em Dinossáurios”, exposição produzida pelo Natural History Museum de Londres. Eram exibidos cinco fósseis fundamentais para demonstrar que Dinossáurios terópodes do grupo dos maniraptores, dotados de penas, puderam adquirir a capacidade de voar e evoluírem para Aves. Em torno desses fósseis, oriundos do Cretácico da China, e da relação Dinossáurios/Aves, a exposição discutia evolução e adaptação dos organismos a diferentes ambientes. Mais uma vez, a avaliação da exposição nos revelou o interesse pela observação de fósseis verdadeiros e raros, pela temática e pela vida no passado (Lopes, 2008). E o contacto diário com os diferentes públicos vai-nos dando conta de uma curiosidade comum por saber como se trabalha para criar novos conhecimentos. Compreenderem o método de trabalho constitui como que uma prova de autenticidade das conclusões que são apresentadas. Estes interesses do público indicaram-nos que seria o momento de pôr em prática um projecto de há muito: uma exposição em que se apresentasse o trabalho de investigação em Paleontologia dos Dinossáurios, realizado por uma equipa do Museu, desde a escavação até às conclusões finais e às novas questões surgidas do processo e justificadoras de um novo, e actual, projecto de investigação1. Ou seja, aproximar os públicos dos métodos envolvidos na produção de conhecimento paleontológico como forma de incrementar a literacia científica nesta área do conhecimento, a partir de um processo desenvolvido no Museu na sua totalidade: da investigação à divulgação da Paleontologia que produz e como produz. Assim surgiu a exposição “Allosaurus: um dinossáurio, dois continentes?”, em que se aborda o historial dos trabalhos previamente desenvolvidos e toda a problemática decorrente da primeira e inesperada descoberta, em Portugal, de Allosaurus fragilis, até aí considerado exclusivamente norte-americano (Pérez-Moreno et al., 1999). Desde Fevereiro de 2009, através de diorama, fósseis, imagens, réplicas e aplicações interactivas, convidamos o visitante a fazer um percurso através do processo de investigação contado em três momentos da exposição (Fig. 1). O primeiro momento relata a descoberta do fóssil por um agricultor (o Sr. José Amorim de Andrés, Pombal), as escavações realizadas em 1988 e 2005, os métodos e técnicas utilizados, a diversidade paleontológica encontrada, os sedimentos presentes na jazida e as interpretações geológicas e paleoecológicas baseadas nos achados e análises efectuados. O segundo momento aborda as características do exemplar encontrado, os trabalhos de preparação, armazenamento e reconstituição, a identificação do género e da espécie, o seu lugar entre os Dinossáurios terópodes, a sua filogenia e, a propósito, a evolução de um grupo de Dinossáurios para as Aves. À medida que se caminha ao longo deste módulo, o visitante é convidado a tocar dez réplicas de diferentes ossos ou partes de esqueleto escondidas em caixas e a tentar compará-las com réplicas ou fósseis expostos. Os objectivos são: estabelecer uma analogia com o tipo de dificuldades e, até, de perplexidades dos paleontólogos quando estudam os exemplares; valorizar o papel fundamental que a observação e a comparação desempenham nas ciências naturais e, em particular, em Paleontologia. O terceiro módulo da exposição revela as questões paleobiogeográficas levantadas pela descoberta de Allosaurus fragilis em Portugal: há cerca de 150 milhões de anos, no Jurássico superior, era possível, pelo menos para algumas espécies, deslocarem-se entre as duas margens do Atlântico Norte, então no início da abertura. E, reforçando aquela conclusão, são também 1 Projecto: “Study of the vertebrate faunas of the Upper Jurassic of the Lusitanian Basin and paleobiogeographic implications” - VERT-JURA, [PTDC/CTE-GEX/67723/2006 - Ciências da Terra e do Espaço - Geodinâmica Externa] financiado pela FCT 3(4) e-Terra Volume 15 – nº 51 | 2010 VIII Congresso Nacional de Geologia apresentadas as descobertas, em Portugal, de Stegosaurus pela mesma equipa do MNHN e, ainda, a de uma forma semelhante a Camarasaurus, por uma equipa conjunta do Departamento de Geologia da FCUL e do MNHN. Ambos os géneros de dinossáurios eram, até então, considerados exclusivamente norte-americanos. Por sua vez, estas conclusões levam a novas questões, como é natural em processos de investigação. Estas novas questões, a que a equipa multidisciplinar de investigadores tem como objectivo responder, para melhor compreender a relação das variáveis espaço-tempo, são partilhadas com o visitante neste último módulo da exposição: Figura 1 – Aspectos da exposição “Allosaurus: um dinossáurio, dois continentes?” (Fotos F. Barriga©Imagens MNHN). “Quando, mais em concreto, se terão verificado as possibilidades de passagem entre os territórios que se situam hoje na Península Ibérica e América do Norte? Terão ocorrido de forma constante ao longo de todo um intervalo de tempo? Quais terão sido as rotas migratórias? A passagem terá acontecido de forma directa ou através de porções de terra que emergiram em diferentes fases? Ter-se-á verificado num só ou nos dois sentidos? Como se terão os animais deslocado? Caminhando sobre as terras emersas? Nadando ao longo de braços de mar pouco profundos? Todos os animais puderam transitar? Que processos geológicos criaram as condições para estas migrações poderem ter ocorrido?” O objectivo desta exposição é aproximar os públicos de procedimentos científicos inerentes às Ciências Geológicas, particularmente à Paleontologia. Mas, neste caso específico, procuramos, também, promover a aproximação com a investigação realizada no Museu, uma vez que todo o processo, desde a produção de conhecimento à sua socialização, foi desenvolvido no quadro do MNHN. Como outras exposições e actividades do Museu, também “Allosaurus: um dinossáurio, dois continentes?” será objecto de um trabalho de avaliação. No entanto, desta vez, mais do que procurar saber que público a visita, como a avalia e que outras iniciativas gostaria de ver desenvolvidas, vamos indagar se as mensagens fundamentais emitidas foram efectivamente recebidas. Ou seja, avaliar se os visitantes, depois de percorrerem a exposição, mudaram as suas representações sobre o modo como a investigação científica é feita, bem como sobre a evolução da Vida e da Terra. Referências Galopim de Carvalho, A. M.; Lopes, C. & Póvoas, L. (1999) – Exomuseum of Geology. In: Barettino, D., Vallejo, M. & Gallego, E. (Edt.) Towards the Balanced Management and Conservation of Geological Heritage in the New Millenium, Madrid, pp. 406-409. Lopes, C. (2008) – Plumas em Dinossáurios – Relatório de avaliação. Documento interno. MNHN, Lisboa, 17 p. Pérez-Moreno, B. P.; Chure, D.J.; Pires, C.; Marques da Silva, C.; Santos, V.F.; Dantas, P.; Póvoas, L.; Cachão, M.; Sanz, J.L. & Galopim de Carvalho, A. M. (1999) – On the presence of Allosaurus fragilis (Theropoda: Carnosauria) in the Upper Jurassic of Portugal: first evidence of an intercontinental dinosaur species. Journal of the Geological Society, Londres. Vol. 156, pp. 449-452. Póvoas, L.; Lopes, C.; Ribeiro, B.; Galopim de Carvalho, A.M. & Barriga, F.(2006) – Museu e dinossáurios num processo de comunicação pública da ciência. In: Mirão, J. & Balbino, A.(coords.) Livro de resumos do VII Congresso Nacional de Geologia., Vol. III, Estremoz, pp. 859- 862. 4(4)