Mobilização Comunitária e Comunicação de Risco

Transcrição

Mobilização Comunitária e Comunicação de Risco
Mobilização comunitária e
comunicação de risco para a
redução de riscos de desastres
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Reitora da Universidade Federal
de Santa Catarina
Professora Roselane Neckel, Drª.
Diretor do Centro Tecnológico da
Universidade Federal de Santa Catarina
Professor Sebastião Roberto Soares, Dr.
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ESTUDOS E
PESQUISAS SOBRE DESASTRES
Diretor Geral
Professor Antônio Edesio Jungles, Dr.
Diretor Técnico e de Ensino
Professor Marcos Baptista Lopez Dalmau, Dr.
EXECUÇÃO
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ESTUDOS E
PESQUISAS SOBRE DESASTRES
Coordenação do Projeto
Professor Antônio Edésio Jungles, Dr.
Coordenação Executiva
Janaina Rocha Furtado
Elaboração de Conteúdo
Juliana Frandalozo Alves dos Santos
Capa, Projeto Gráfico e Diagramação
STUDIO S Diagramação & Arte Visual
(48) 3025-3070 | [email protected]
Introdução
Os eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais
frequentes, provocando danos e atingindo um número maior de
pessoas em desastres por todo o mundo. No Brasil, a cultura de
perceber e comunicar o risco de desastre ainda é incipiente tanto
Diretor de Articulação Institucional
Professor Irapuan Paulino Leite, Msc.
para a população quanto para os órgãos de comunicação. A comunicação comunitária e os órgãos de comunicação são parte fundamental na construção de cidades mais seguras e populações mais
FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA E
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
Superintendente Geral
Professor Pedro da Costa Araújo, Dr.
Mobilização comunitária e
comunicação de risco para a
redução de riscos de desastres
preparadas para prevenir o risco e se preparar para o desastre.
Esta obra é distribuída por meio da Licença Creative Commons 3.0
Atribuição/Uso Não Comercial/Vedada a Criação de Obras
Derivadas / 3.0 / Brasil.
Do que estamos falando?
Antes de entender o que é mobilização comunitária e comuni-
Universidade Federal de Santa Catarina. Centro Universitário de Estudos
e Pesquisas sobre Desastres.
Mobilização comunitária e comunicação de risco para a redução
de riscos de desastres / texto Juliana Frandalozo Alves dos Santos. Florianópolis: CEPED UFSC, 2012.
16 p. : il. color. ; 21 cm. – (Redução de Riscos de Desastres na Prática)
1. Comunicação - risco. 2. Desastres naturais. I. Santos, Juliana
Frandalozo Alves dos. II. Universidade Federal de Santa Catarina. III.
Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres. IV. Título.
CDU 504.4
Catalogação na fonte por Graziela Bonin CRB – 14/1191.
cação de risco, vamos definir alguns conceitos importantes, começando pelo risco.
Risco é a probabilidade de ocorrência de um desastre1. Esta probabilidade ocorre quando há uma combinação da ameaça (fenôme1
Todos os conceitos utilizados nesta cartilha estão baseados na Terminologia da UNISDR. ESTRATÉGIA INTERNACIONAL PARA LA REDUCCIÓN DE DESASTRES DE LAS NACIONES
UNIDAS. Terminología sobre reducción del riesgo de desastres. Genebra, Suíça: UNISDR, 2009.
Disponível em: <http://www.unisdr.org/files/7817_UNISDRTerminologySpanish.pdf >.
www.ceped.ufsc.br 3
•
no, substância, atividade humana ou condição perigosa que pode
pacidade da comunidade, ou sociedade afetada, de fazer frente à
causar transtornos ou danos humanos, materiais ou ambientais)
situação adversa mediante o uso de seus próprios recursos.
com a vulnerabilidade (características e circunstâncias de uma comunidade, sistema ou meio que os tornam suscetíveis aos efeitos
danosos de uma ameaça).
Nos guias da Defesa Civil Nacional, o desastre é o “resultado de
eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um
ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais”.
Risco = ameaças X vulnerabilidades
As ameaças são definidas de acordo com sua origem: Ameaças
Na prática
naturais (geológicas, meteorológicas, hidrológicas, oceânicas, bio-
Vamos analisar o desastre da região serrana do Rio de Janeiro,
lógicas) e antropogênicas ou de origem humana (biológicas e tec-
em janeiro de 2011, considerado pela ONU o maior desastre já
nológicas). A ameaça pode ser formada a partir de duas ou mais
ocorrido no Brasil, com 905 vítimas fatais. Aquele evento foi pro-
origens combinadas. Por exemplo: ameaça geológica (terreno incli-
vocado pela combinação de:
nado) em combinação com ameaça meteorológica (chuva) e ameaça hidrológica (rio com possibilidade de extrapolar suas margens).
A vulnerabilidade possui vários fatores: socioeconômico, cultural, religioso, ambiental, físico, institucional, educacional, político,
informacional e comunicacional. A vulnerabilidade é determinante na configuração do risco, pois, se refere basicamente a uma população em um determinado local.
Ao definirmos o risco, em seguida podemos definir desastre,
pois o desastre é quando a ameaça extrapola o limite do risco e se
concretiza em um ambiente vulnerável.
De acordo com a terminologia sobre redução de riscos de desastres da Organização das Nações Unidas ONU, desastre é uma séria
interrupção no funcionamento de uma comunidade ou sociedade
causando uma grande quantidade de mortes, bem como perdas e
impactos materiais, econômicos e ambientais que excedem a ca4 • Mobilização comunitária e comunicação de risco para a redução de riscos de desastres
Ameaças naturais:
geológica - terreno inclinado +
meteorológica - muita chuva +
hidrológica - rio com
possibilidade de extrapolar
suas margens
Vulnerabilidades:
pessoas morando em áreas próximas ao rio vulnerabilidade econômica, sociocultural +
falta de conhecimento do risco –
vulnerabilidade sociocultural, institucional,
política, educacional +
descaso das autoridades - vulnerabilidade
institucional, política, sociocultural
Observe que os fatores vulnerabilidade e ameaça, isolados, não
resultam em desastre. Como as ameaças, principalmente de origem
natural, estão fora de nosso controle, resta trabalhar reduzindo as
vulnerabilidades locais para prevenir o risco de desastre.
Mobilização comunitária
Uma comunidade pode ser definida como um espaço geográfico
no qual vivem pessoas. Quando a comunidade está localizada em
www.ceped.ufsc.br 5
•
uma ou mais áreas de risco, ou seja, locais suscetíveis a desastres,
Os feridos mais graves foram transportados a pé por voluntários
ela está exposta às mesmas ameaças. Em comunidades onde ocor-
que abriam caminho, atravessando os acessos destruídos e bloque-
rem desastres com frequência, a população acaba desenvolvendo
ados por lama e entulho.
experiência na resposta aos eventos, pois quando ocorre um desastre, todos são afetados, direta ou indiretamente.
A comunidade ficou isolada por dias e passou meses com dificuldade de acesso que era feito por uma ponte improvisada pelos
Mobilização comunitária é o processo de reunir membros de
moradores. Mesmo hoje, a comunidade ainda enfrenta consequ-
uma comunidade e capacitá-los para lidar com as preocupações e
ências do desastre de 2011, mas, unidos, aprenderam a enfrentar
problemas comuns, com ou sem interferência externa.
as dificuldades. Os relatos da comunidade podem ser lidos no site
Vamos tomar como exemplo a comunidade do bairro Córrego
www.corregodantas.org.
D’Antas, de Nova Friburgo, município atingido pelo desastre da região serrana do Rio, em janeiro de 2011. Antes do desastre, não
havia tido nenhum tipo de trabalho de prevenção ou preparação
para desastres. O bairro se desenvolveu desordenadamente em
uma área de proteção ambiental permanente, às margens do rio
e de uma encosta íngreme. No desastre, o bairro foi atingido pela
corrida de massa, caracterizada por um movimento de lama e entulho trazidos pelo rio em virtude de deslizamentos nas margens, em
grande velocidade e poder de destruição. O movimento danificou
as pontes e estradas de acesso, causando o isolamento da comunidade, destruiu centenas de casas e provocou a morte de mais de 50
pessoas do bairro, além de feridos e desabrigados. De acordo com
o relato da Associação de Moradores, “o dia 12 amanheceu com
Acesso improvisado logo após o desastre. Foto:
Tássia Thum-G1.
Quatro meses depois, o mesmo acesso. Foto:
Associação de Moradores de Córrego D`Antas.
o pânico e a sensação de impotência dominando quase todos na
localidade”. Logo após a ocorrência do desastre, alguns morado-
Este é um caso no qual o desastre uniu a comunidade que pas-
res começaram a se mobilizar para resgatar os feridos e oferecer os
sou a se mobilizar mais fortemente na medida em que percebiam
primeiros socorros, improvisando uma enfermaria, se mobilizan-
a morosidade do poder público em resolver problemas urgentes do
do para conseguir medicamentos e mantimentos entre pessoas da
bairro que foi o mais afetado de Nova Friburgo. Como este, existem
comunidade e ocupando as escolas para socorrer os desabrigados
diversos exemplos de mobilização pós-desastre.
e sobreviventes que eram resgatados em meio à lama e entulho.
6 • Mobilização comunitária e comunicação de risco para a redução de riscos de desastres
www.ceped.ufsc.br 7
•
Ao levantar o histórico de grandes ações de prevenção, perce-
grada de risco e desastre. Esse tipo de gestão prevê a participação
bemos que elas só ocorreram após um grande desastre. Foi apenas
integral de toda a sociedade, e a participação comunitária é condi-
após a catástrofe da região serrana que o governo federal tomou
ção primordial, para reduzir riscos e construir cidades mais seguras.
medidas que culminaram na lei nº 12.608, de 10 de abril de 2012,
na qual foi instituída a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil,
e no lançamento do PAC Prevenção, Plano Nacional de Gestão de
Como mobilizar a comunidade?
Riscos e Resposta a Desastres Naturais, em 8 de agosto de 2012, que
Para iniciar o processo de mobilização comunitária é neces-
prevê investimentos, até 2014, de R$ 18,8 bilhões em ações articu-
sário um entendimento completo sobre o ciclo de mobilização e
ladas de prevenção e redução do tempo de resposta a ocorrências.
sensibilização da comunidade para a redução de riscos. Para que
Mas, o movimento inverso, trabalhar antes do desastre, é mais
seguro e resulta em menos perdas e mais vidas salvas.
Prevenir é melhor
Vimos que para a resposta ao desastre a mobilização comuni-
a interação com a comunidade seja eficiente, ela deve ter um objetivo claro, planejamento e uma atuação responsável e ética dos
envolvidos. É importante ter em mente que se a mobilização falhar
por descontinuidade das ações, dificilmente a comunidade se mobilizará outra vez e o processo de sensibilização pode se reverter
contra os propósitos.
tária é importante e necessária, mas, e se pudermos antecipar o
O primeiro passo para a mobilização é conhecer as lideranças
movimento da comunidade e trabalhar com ações de prevenção e
locais e apresentar a necessidade de preparação para desastres e
preparação, antes que uma ameaça se concretize, o desastre cer-
seus efeitos benéficos e duradouros sobre a vida social e econômica.
tamente se torna menor. Em comunidades organizadas, os desastres tendem a ter pouco impacto e um mínimo de perdas humanas.
Cada comunidade é diferente, necessita de um tipo de abordagem,
atividades e facilitadores específicos para as necessidades locais.
Ninguém conhece e compreende tanto os problemas e as vulnerabilidades locais quanto os próprios moradores, por isso o envolvimento da comunidade na tomada de decisões é essencial no processo de identificação e redução de riscos de desastres.
O lema da defesa civil dá conta dessa necessidade de interação
constante dos órgãos públicos com a comunidade: “Defesa Civil somos todos nós”, o que se traduz conceitualmente como gestão inte8 • Mobilização comunitária e comunicação de risco para a redução de riscos de desastres
Para que a mobilização comunitária seja eficiente e duradoura, ela deve ser um processo de fortalecimento da comunidade. É
importante que a própria comunidade perceba os problemas que
devem ser enfrentados e se motive a fazer parte da solução, reconhecendo seus papéis e responsabilidades no desenvolvimento das
suas comunidades.
A princípio, os problemas relacionados com o risco de desastre
podem não ser vistos como tal, pois a redução de riscos nem sempre está entre as prioridades da comunidade. Por exemplo: a ocupação de áreas perigosas ocorre, muitas vezes, por uma necessida-
www.ceped.ufsc.br 9
•
de econômica, a comunidade tem problema com tráfico de drogas,
Ampliação de capacidades
prostituição, analfabetismo, violência doméstica, falta de coleta de
lixo, de escola ou posto de saúde. São carências que se amplificam
Outro fator preponderante na ação comunitária diante de uma
durante um desastre e que devem ser observados como parte do
situação de risco ou desastre é o conjunto de capacidades. De acor-
contexto de vulnerabilidades locais.
do com a terminologia da EIRD ONU, capacidade é a combinação
Além disso, a percepção do risco é diferente para cada pessoa e
comunidade. Em uma comunidade onde todas as pessoas estão expostas ao mesmo risco, as pessoas podem ter diferentes percepções
sobre a gravidade daquele risco.
Percepção do risco é a impressão ou juízo intuitivo sobre a natureza ou grandeza de um risco determinado. A percepção do risco
varia conforme aspectos psicológicos, valores morais, socioculturais,
éticos, econômicos, tecnológicos e políticos de um indivíduo ou grupo social. Cada pessoa possui uma percepção diferente do mundo.
Isso porque incide sobre cada um a cultura, a educação, a convivência, a pressão social, entre outros fatores que moldam o ser humano.
de todos os atributos estruturais e não-estruturais disponíveis dentro de uma comunidade, sociedade ou organização que pode ser
utilizada para a construção de uma comunidade segura. A capacidade inclui desde a infraestrutura física, institucional e de mobilização comunitária até o conhecimento e capacidades humanas
como atitude, recursos humanos, físicos e financeiros disponíveis,
liderança, relações e redes sociais.
A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil deve trabalhar para
ampliar as capacidades locais e fortalecer a comunidade. Uma das
formas de fazer isso é estimular a formação dos Núcleos de Defesa
Civil (NUDEC) através da organização de grupos comunitários.
Também existem ferramentas como visitas a locais de risco, mape-
Sabemos que a comunidade está mobilizada quando os
moradores:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
10 • Estão cientes de suas vulnerabilidades e de suas potencialidades
de ação;
São motivados a agir frente aos riscos e vulnerabilidades;
Possuem conhecimento prático para decidir as ações de enfrentamento;
Agem a partir de seus próprios recursos e capacidades;
Participam na tomada de decisões de todos os processos e etapas que os envolvem;
Procuram assistência e cooperação quando necessário.
Mobilização comunitária e comunicação de risco para a redução de riscos de desastres
amento de vulnerabilidades, histórico de eventos e identificação de
ameaças, para então construir um plano de contingência. Sempre em
parceria entre a defesa civil e a comunidade, pois através disso, a comunidade ganha voz e passa a ser mais ouvida em seus problemas, e a
defesa civil consegue exercer seu trabalho de forma mais abrangente.
Dentre as estratégias de mobilização, a disseminação de informação e a comunicação de riscos são recursos muito importantes.
Comunicação de risco
Comunicação de risco é um processo de troca de informações
entre diferentes indivíduos, grupos e instituições envolvidos direta
www.ceped.ufsc.br 11
•
ou indiretamente com o risco. É um processo importante na cons-
Conhecer as capacidades e as vulnerabilidades da população é
cientização e sensibilização pública. De acordo com a EIRD ONU,
vital no processo de comunicação. Por exemplo, em uma comuni-
a conscientização pública é um fator chave na redução eficaz do
dade onde o número de crianças e analfabetos é grande, as formas
risco de desastres. O seu desenvolvimento é alcançado, por exem-
mais eficientes de comunicar são o rádio e o uso de cartazes com
plo, através do desenvolvimento e difusão de informações através
figuras e quadrinhos educativos.
dos meios de comunicação, campanhas educativas, criação de centros de informação, instituição de redes sociais, desenvolvimento
comunitário e ações participativas.
A comunicação é um fator decisivo tanto para a prevenção e
As assessorias de comunicação da defesa civil e dos órgãos que
atuam diretamente com emergências devem ter um planejamento
de ações de comunicação e bom relacionamento, não apenas com
as comunidades, mas também com a imprensa.
preparação, quanto para a resposta ao desastre e posterior reconstrução. Em qualquer uma dessas fases, a população e os órgãos de
gestão integrada de desastres precisam estar munidos de informação de qualidade para agir corretamente na tomada de decisões.
Como comunicar riscos
Para comunicar de forma correta e eficiente deve-se pensar no
público a quem a comunicação se destina, na informação correta a
ser passada e na melhor forma de comunicá-la.
Em 2004, a Defesa Civil de Santa Catarina recebeu um aviso meteorológico de que se aproximava um evento classificado como um
furacão que ia atingir municípios do litoral sul catarinense. Como
se tratava de um evento até então inédito, a Defesa Civil alertou a
população através dos meios de comunicação para que se preparas-
A consultora da ONU, Gloria Bratschi2, ressalta a importância
dos meios de comunicação, pois “além de informadores e formadores de opinião, devem ser divulgadores de medidas preventivas
que acompanham oportunamente e, de forma estratégica, dos processos de atenção e da gestão dos eventos”.
Com a internet e as mídias sociais, a ocorrência de um desastre ganha amplificação instantânea, por meio de envio de fotos,
notícias e vídeos em tempo real. Isso é benéfico para a mobilização de ajuda, doações e recursos humanos na resposta a um
desastre. Mas, também exige a necessidade de uma equipe capaz
de passar informações corretamente em um trabalho coordenado
e estratégico de assessoria de comunicação, para a divulgação de
dados corretos durante o desastre e de campanhas nas fases de
prevenção e preparação.
sem para todos os efeitos de um furacão, ventos fortes, tempestade,
mas sem dizer que era um furacão, de forma a prevenir o pânico.
Dessa forma o alerta foi emitido eficientemente a partir da avaliação correta das capacidades da comunidade de responder a um
evento dessa proporção.
12 • Mobilização comunitária e comunicação de risco para a redução de riscos de desastres
2
BRATSCHI, Gloria. La comunicación social em la gestión del riesgo: algunos conceptos para
recordar y aplicar. Reducción de Desastres em las Américas: EIRD Informa, Panamá, n. 14, 2007.
Disponível em: <http://www.eird.org/esp/revista/no-14-2007/index.html>.
www.ceped.ufsc.br 13
•
Jornalismo de risco ou desastre?
Necessidade de especialização no jornalismo
Desastres sempre são notícia. E não apenas para a imprensa,
Além disso, é necessário um conhecimento mais profundo sobre
mas também para a sociedade. Todos querem saber o que aconte-
redução de riscos e desastre e jornalismo ambiental. Os guias que
ceu de diferente no mundo, e essa é a definição clássica de notícia:
existem para orientar a cobertura jornalística de desastres destacam
informação socialmente importante ou interessante, excepcional,
a importância de acompanhar as etapas de prevenção e preparação
anormal ou de grande impacto social.
e a elaboração do plano de contingência. O manual para Cobertura
Existe uma série de fatores que definem a forma como o jornalismo é hoje, incluindo sua função, que, de acordo com Kovach &
Rosenstiel (2004, p. 31)3, é “fornecer aos cidadãos as informações
de que necessitam para serem livres e se autogovernar”. A partici-
Jornalística de Desastres Naturais, do governo de Moçambique4 cita
aspectos básicos que devem ser respeitados no jornalismo: liberdade dos órgãos de imprensa para investigar, livre acesso às fontes de
informação, tratamento igual a todos os veículos de imprensa.
pação da imprensa nas políticas de redução de riscos e desastre não
O guia da ONU5 para jornalistas enfoca a participação estraté-
só é importante como é inevitável, uma vez que, mesmo sem tomar
gica da mídia na redução de riscos e desastres e sugere um papel
consciência, a mera cobertura do desastre já contribui, positiva ou
mais amplo do jornalismo na gestão de risco e desastre, destacando
negativamente, para informar – ou desinformar – a população.
a necessidade de incluir a RRD na pauta diária e a responsabilidade
Por isso há a necessidade de se pensar o jornalismo do risco, não
social do jornalista na informação correta e de qualidade.
apenas do desastre. Nesse sentido a mesma motivação da defesa
Definitivamente, o jornalismo tem um papel de responsabili-
civil em integrar e ouvir as comunidades locais vale para o jorna-
dade social que, de acordo com Castro6 (1999, 380-382), deve ser
lismo na busca de compreender as necessidades e vulnerabilidades
cumprido com independência, desvinculado de sistemas, exercen-
locais e ir direto na fonte para investigar qual a verdadeira origem
do principalmente o jornalismo informativo, o jornalismo denún-
desses problemas. Pensar no desastre como uma consequência de
cia e o jornalismo educativo.
problemas que ocorrem todos os dias e estão por aí, em todo o lugar
na forma de riscos. E isso sempre pode ser pauta.
4
5
3
KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo: o que os jornalistas devem
saber e o público exigir. São Paulo: Geração Editorial, 2004.
14 • Mobilização comunitária e comunicação de risco para a redução de riscos de desastres
6
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Ministério da Administração Estatal. Instituto Nacional de
Gestão de Calamidades. Cobertura jornalística de desastres naturais. 2009. Disponível em:
<http://desastres-moz.org/cobertura jornalistica.pdf>.
LEONI, Brigitte. Los desastres vistos desde una óptica diferente: detrás de cada efecto hay una
causa: guía para los periodistas que cubren la reducción del riesgo de desastres. [S. l.]: ONU/EIRD,
[2012]. 196 p.
CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Manual de planejamento em defesa civil. 1. ed. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 1999. Disponível em: <http://www.defesacivil.gov.br/publicacoes/
publicacoes/planejamento.asp>.
www.ceped.ufsc.br 15
•