Revista 94.cdr
Transcrição
Revista 94.cdr
Química Têxtil ANO XXXII MAR 2009 A A T CC Corporate Member Membro Titular ISSN 0102-8235 Renato Loch abre seu álbum de viagem e relata sobre seu estágio na Espanha pág. 77 49 Tecnologia Qualidade Tecnologia Tingimento Tecnologia Processos Tecnologia Ultrassom Tecnologia Têxteis Inteligentes Site: www.abqct.com.br e-mail: [email protected] ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUÍMICOS E COLORISTAS TÊXTEIS Editorial Uma oportunidade única: a crise Nos últimos seis meses o que mais se ouve falar é de conformismo e da passividade diante dela. Sempre podemos crise. Falar de crise é promovê-la e calar-se sobre ela é descobrir caminhos promissores que estão escondidos, e comodismo. A vida é constituída de altos e baixos e por isso ocorre nos momentos mais desfavoráveis. Na sabeisso mesmo é que ela é excitante. É nos momentos de doria chinesa um mesmo ideograma significa crise e baixa, que o melhor de cada um aflora, que a cria- oportunidade, ou seja, por trás de uma crise está escondida tividade aparece. Sem crise não há desafios, sem uma grande oportunidade. desafios á vista é uma rotina. Atribuir a crise nossos Temos que acabar de uma vez com a única crise fracassos é ir contra nosso próprio talento e valoriza mais ameaçadora, que é o conformismo de não querer lutar para os problemas do que as soluções. superá-la. A grande chance do sucesso está em manter o A história da humanidade tem inúmeros exemplos de otimismo e forma de encararmos a crise. crescimento e melhoria em função de crises. Estes exemplos também podem ser observados em muitas Evaldo Turqueti empresas, que em sua trajetória sofreram crises e a Presidente cada uma delas se saia mais revitalizada, moderna e competitiva. A crise por si só, não torna uma empresa revitalizada do dia para noite, depende dos dirigentes, da criatividade, da iniciativa para se sobressair e não do Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 03 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE QUÍMICOS E COLORISTAS TÊXTEIS Membro Titular FLAQT AATCC Corporate Member Site: www.abqct.com.br e-mail: [email protected] SUMÁRIO Editorial................................................................................................................................ 03 Avaliação da diferença visual da cor valorizando as condições (Rolf G. Kuehni ) .................................................................................................................. 06 Energia ultrassônica na indústria têxtil ( Sevda Altas e Gulas Pamuk) ..............................................................................................11 Conceitos básicos sobre ultrassom ( Elsa Iglesias Seipac S.A.) .................................................................................................. 18 Uma visão geral sobre o futuro dos têxteis ( J. Jiménez, L. Aubouy, J. Sáez, L. Bautista, A. Briz, M. Delavarga e J. Parra.) ................22 Uma análise comparativa do desempenho colorístico dos processos de tingimento do poliéster em meio ácido e alcalino (Vitor Zambon Brizido e Paulo Alfieri ).................................................................................40 Análise das propriedades físicas de tecidos para lençóis. (M.E.Banja, A.V.S. Martins, J.C. Petermann).........................................................................50 Determinação do comportamento tintorial de corantes naturais extraídos da alfafa e urucum (H.H. Piccoli, S.M.A. Guelli U. Souza, A.A. Ulson de Souza)..... .......................................60 II Prêmio ABQCT de Estímulo ao Estudo Relato da Viagem de Renato Loch...........................................................................................77 Àlbum de viagem.....................................................................................................................79 Produtos e Serviços ............................................................................................................. 81 DIRETORIA NACIONAL Presidente: Evaldo Turqueti Vice- Presidente: Lourival Santos Flor 1º Secretário: Walter José Mota 2º Secretário: Ricardo Vital de Abreu 1º Tesoureiro: Adir Grahl 2º Tesoureiro: João Lino Gonçalves Diretor Técnico: Humberto Sabino da Silva Núcleo Nordeste Coordenador: Clélia Elioni Ferreira de Carvalho Vice- Coordenador: Silvagner Adolpho Veríssimo Tesoureiro: Francisco Paiva Costa Secretário: Milton Glavina Suplente: Manuel Augusto Vieira Núcleo Santa Catarina Coordenador Geral: João Vergilio Dias Vice-coordenador: Carlos Udelson Zagolin Secretário: Andre Luis Klein Da Silva Tesoureiro: Sergio Da Costa Vieira Suplente: Walter Alvaro Da Silva Junior Suplente: Henrique Jose Elisio Núcleo de Americana Coordenador: João José Gobbo Vice-coordenador: Durval B. F. Costa Secretári:o Izaias Ezipati Tesoureiro: Edmilson J. Vasconcelos Suplente: José Antonio M. Lima Suplente: Irani Monteiro CORPO REVISOR Esta edição da Revista Química Têxtil contou com uma equipe técnica para revisar os artigos aqui publicados. A equipe é formada pelos seguintes profissionais: Ricardo Vital de Abreu Dimas Novais Bluma E. K. Chaves Reinaldo Ferreira José Antonio Marconi Paulo Schlickmann Jr. Os autores devem enviar seus artigos para publicação com, pelo menos, 3 meses de antecedência. EXPEDIENTE Solicite seu cadastramento e receba grátis, semanalmente, o ABQCT Online. Aproveite e mantenha-se informado. 04 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Química Têxtil é uma publicação da Associação Brasileira de Químicos e Coloristas Têxteis. Os artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade dos seus autores. ISSN 0102-8235 Periodicidade: Trimestral (mar./jun./set./dez.) Distribuição: mala-direta: associados da ABQCT, Indústrias Têxteis, tinturarias e entidades filiadas à FLAQT e AATCC. Circulação: São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Rio G. do Sul, Ceará e Paraná. Régia Comunicação e Design Jornalista Responsável: Caroline Bitencourt Mtb 02462/SC E-mail: [email protected] www.regiacomunicacao.com - FoneFax: (11) 4330.5624 Colaboradores: Kelson dos Santos Araújo e Márcio Dantas Impressão: Ipsis Gráfica ABQCT Administração e Depto. Comercial: C.G.C: 48.769.327/0001-59 - Inscr. Est.isento Praça Flor de Linho, 44 - Alphaville 06453-000 - Barueri, SP Tel: (11) 4195.4931 FAX: (11) 4191.9774 e-mail: [email protected] Tecnologia Qualidade Avaliação da diferença visual da cor valorizando as condições Autor: Rolf G. Kuehni Universidade do Estado da Carolina do Norte (USA) Artigo também publicado na revista Galáxia Argentina Tradução: Agostinho S. Pacheco ABQCT Revisão Técnica: Reinaldo Ferreira 1. INTRODUÇÃO tras e outras. Todas estas situações revelam que a Filósofos e pesquisadores científicos da cor, estão aparência da cor de um objeto é condicional e somente divididos em seu ponto de vista sobre a natureza da cor. estão atadas comente indiretamente à função de refleUm grupo, os objetivistas ou externalistas pensam em tância. cor como algo que está fora deste mundo, em objetos reproduzidos na consciência humana. O outro grupo, os Variabilidade do observador subjetivistas ou internalistas pensam que a cor é gerada Aqui temos, possivelmente, a maior das variáveis: o na mente, agregando-a (pela própria mente) como observador. O observador é examinado e, (desde que passe símbolos sobre uma imagem ou objeto em um momento no exame) declarado capacitado para avaliar cores, mas dado, baseada em um sistema de visão de cor do isso não significa que enxergue a cor dos objetos da mesma observador, nas propriedades de refletância do objeto, maneira que outros. Qualquer colorista conhece as no poder de distribuição espectral da fonte de luz e nas argumentações feitas entre o supervisor e o laboratorista condições de observação que o rodeiam. em frente da caixa de iluminação ao analisar amostras de Nossa visão comum e nossa linguagem contêm um cor, ou entre o cliente e o fabricante sobre a qualidade da ponto de vista objetivo. A ciência da cor não conseguiu imitação realizada. ainda resolver esta matéria convincentemente. Nos Recentes estudos indicam que a variação que últimos 100 anos, esta ciência tomou uma posição observadores normais percebem frente a uma determifortemente objetivista desenvolvendo rápidas e sofis- nada amostra é muito maior do que a previamente ticadas instrumentações de medidas de refletância, assumida. No passado, estas variações eram baseadas em tanto como colorimetria e modelos para calcular comparação de funções do “color matching (CMF)” de diferenças de cor e aparência de cor, etc.. O ponto pequenos grupos de observadores. principal é que a cor de um objeto pode ser definida e Conhecimentos recentes nos indicam que a varia- controlada via suas funções de refletância. Com certeza, bilidade nas funções de imitação de cor CMF não tem qualquer pessoa dedicada à colorimetria sabe dos correlação com a percepção de cor em uma dada agravantes do embaraçoso problema de avaliação de cor circunstância, porque em nossa consciência se produz uma que são: metamerismo, inconstância da cor, efeito das grande série de cálculos de cor, dos quais a informação condições de observação, tamanho da amostra, que os nossos cones visuais entregam ao cérebro é distância entre amostras, acondicionamento das amos- somente um pequeno componente. Parece existir, em um 06 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Qualidade dado momento, uma série de redes neurais de diferentes em considerável grau. classes que operam para elaborar a interpretação Na Tabela 1, são mostradas as distâncias em termos de individual mais adequada frente aos sinais ópticos que chips Munsell 40 entre a “tonalidade única” para dois entram nos nossos olhos. Existe uma constante observadores. discussão quanto à tabela de dados do observador padrão da CIE, no sentido de determinar se essa tabela pode ser considerada como representativa de um observador humano médio. Observadores neutros Estímulo da cor No Tabela 1. Correlação e erros no local de ensaio (27 substâncias) A-R R-A2 A2-V V-A Observador 1 (masculino 20) 10 15 10 5 Observador 2 (feminino 49) 6 12 7 15 aprofundamento dos conhecimentos sobre o Temos outro enfoque com respeito a observadores. A tema, uma das mais surpreendentes observações é a da psicologia avançada e os psicofísicos coincidem na opinião existência de uma grande variabilidade no estímulo da de que os observadores não são instrumentos neutros de cor (luzes ou amostras observadas sob uma determinada medição de cor. Ao contrário, cada análise é afetada por iluminação) que os indivíduos tomam como represen- estratégias conscientes e inconscientes. Um simples tativas da, assim chamada, cor única (as quatro cores exemplo pode ser a decisão requerida em uma sexta-feira fundamentais, por exemplo, o vermelho que não é a tarde para determinar se uma amostra representa uma percebido nem como amarelado e nem como azulado e imitação aceitável de um padrão ou se seria necessário mais assim comparavelmente para o amarelo, o azul e o um tingimento imediatamente, porque a imitação deve ser concluída até o final do dia. verde). Uma vez que o observador tenha entendido o Não existe muito que podemos fazer com referência a conceito da cor única, ele pode se selecionar observadores e eles representam a maior variabilidade na repetidamente dentro uma série de estímulos àquela avaliação da diferença de cor. Esta variabilidade constitui única para este um incentivo para o uso de uma avaliação objetiva que passa a representar a cor observador. O é que quando são feitos (instrumental) com cálculos baseados em um observador resultado ensaios com observadores normais, com dúzias de mediano (média de todos os observadores que participam chips de cores, a seleção que eles realizam cobre no no estudo para estabelecer a diferença de cor). Devemos, de total dois terços do círculo de matizes. Enquanto que o todas as maneiras, reconhecer que constantemente o amarelo e o vermelho cobrem 12% cada um, o azul cobre resultado aceitável para esse observador “mediano” pode aproximadamente 15% e o verde 28% do círculo. não ser o mesmo para um grande número de observadores É o resultado de uma faixa surpreendentemente reais. grande que nos indica que, como indivíduos nossa Experiências nas quais participaram até centenas de experiência referente à cor pode variar consideravel- observadores com milhares de observações tiveram como mente quando recebemos um estímulo de cor. Resultados resultados grandes discrepâncias. É evidente que, em preliminares indicavam também que as distâncias circunstâncias práticas não é possível dispor de suficientes percentuais entre as quatro tonalidades únicas variam observações que nos permitam estar seguros de um Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 07 Tecnologia Qualidade resultado, a menos que os observadores tenham sido grande variabilidade dentro de uma determinada locação/ cuidadosamente selecionados para serem represen- organização ou entre locações/organizações. tativos da aptidão média dos observadores. Exatidão Variabilidade das condições de ensaio Apesar de 50 anos de experiência em medidas de É bem conhecido que diferenças de condições de diferenças de cor, dispomos de uma limitada informação ensaio afetam severamente os resultados da avaliação. dos efeitos das variáveis de ensaio sobre a reprodução Os coloristas sabem que uma determinada amostra média de resultados. Os dados existentes de medidas de pode ter a aparência de um verde oliva sob uma diferenças de cores, que são consideradas como reprodeterminada luz “branca” e marrom/acastanhado sob dução, foram estabelecidos usando diferentes materiais, outra iluminação. Como exemplo das condições de diferentes condições de ensaio, as quais frequentemente observação, a Figura 1 ilustra os efeitos de diferentes não foram claramente identificadas, diferentes parâmetros intensidades na cor de fundo do painel, ao avaliar de avaliação assim como, também, usando diferentes diferenças de intensidade da amostra frente ao amostras de referência. padrão. Figura 1. Parte superior do campo, intensidade da cor de fundo L=65. Por exemplo, uma recente experiência mostrou que a avaliação da diferença de cor baseada em um único par de referências ou contra uma escala de cinzas, produzem consideráveis diferenças de resultados. Como conseqüência de tais variações não deveria ser surpresa que as melhores fórmulas de medição de diferença de cor têm somente uma exatidão prognóstico de aproximadamente 65% para o observador mediano. Para determinações individuais, a mesma varia entre 50% a 80%. A capacidade de prognóstico para um dado observador individual, a entender do autor, não foi ainda estabelecida. Nota: A cifra de 65% foi informada pela equipe que desenvolveu a fórmula CIE DE 2000, comprovada em ensaios realizados sobre materiais têxteis. As sete amostras em ambos os campos são idênticas, com valores de intensidade de cor L igual a 20, 30, 40, 50, 60, 70 e 80.São percebidas diferenças muito grande entre as amostras em função da intensidade de cor do fundo. Redução de variabilidade Não se conhecem ainda as razões da grande diferença Os detalhes das condições do ensaio são muito de exatidão, dado que até agora não foi desenvolvido o mais fáceis de controlar com o propósito de minimizar trabalho experimental requerido. variabilidades do que uma equipe de observadores. Mas Existe uma regra única que pode ser estabelecida as atuais condições de ensaio continuam tendo uma apesar da falta de informação detalhada, é a seguinte: 08 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Qualidade “Assegure-se que as condições visuais e de medição Inconstância sejam uniformes e padronizadas, o que reduz a Os grandes esforços realizados nos últimos 30 anos ou variabilidade que não seja inerente aos observado- mais, conduziram a uma melhora na segurança de res”. diagnóstico para o observador mediano das fórmulas para Esta situação acarreta implicações positivas e medir diferenças de cor, que era de menos de 50% e negativas. Pode ser possível que tenhamos uma fórmula agora é de cerca de 65%. de medição de diferenças de cor que nos dê uma Não existem dados comparáveis para modelos de aproximação de, digamos, 80%, mas isso seria válido aparência da cor, tais como na fórmula de inconstância. Isto somente para condições de ensaio muito restritas. Esta se deve à difícil situação sob a qual foram realizadas as parece ser a escolha disponível, exatidão medíocre de avaliações do grau de inconstância, aqui a variabilidade do medição válida para ampla variedade de condições ou observador é ainda maior do que na simples avaliação de relativa alta exatidão para condições muito específicas e diferença de cor. Ensaios independentes mostraram, sem definidas. A indústria produtora de objetos coloridos é a surpresa, menor grau de exatidão. que deve decidir com quais condições quer conviver; Devemos tomar em consideração que mesmo os parece ser imperativo determinar experimentalmente as científicos da cor mais otimistas confessam que, no variáveis que devam ser adotadas e informar essa decisão momento não é possível predizer com exatidão a ao fabricante. Isto não é possível pela falta de dados inconsistência da cor ou sua aparência sob todas as sobre os quais devemos nos basear, o que significa condições. nada menos, que devemos começar do nada. O futuro Condições ajustadas É opinião do autor que devem ser realizados É opinião do autor deste artigo que organizações avaliações e ensaios com variáveis quantitativamente como a AATCC, fabricantes de equipamentos, prove- conhecidas, isto é, investigações muito mais cientificadores de artigos têxteis e seus clientes imediatos, devem mente profundas de que o momento, para se conseguir uma começar a ajustar as condições de medição. Existe reprodução nos valores de diferença de cor e poder atualmente uma proliferação de geometrias de medição, estabelecer as condições para se obter estes resultados. fontes de luz, caixas de luzes de variados desenhos, tipos de bulbos de luz, intensidade e condições de iluminação. ABQCT Boletins on-line semanais Revista Química Têxtil Foram realizadas poucas, para não dizer nenhuma, comparações para determinar as variáveis relativas. Por falta destes dados foi aceita a fixação de padrões mais Palestras com entrada franca para todos os associados Preços especiais em eventos e cursos organizados pela ABQCT. Associe-se. Não perca tempo! ajustados, o que produziu sua proliferação. Tudo isso é contrário ao pensamento de qualidade do processo. www.abqct.com.br 10 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Processos Energia ultrassônica na indústria têxtil Autoras: Sevda Altas e Gulas Pamuk Artigo também publicado na revista Galáxia - Argentina Tradução: Agostinho S. Pacheco - ABQCT Revisão Técnica: Eng. Químico Dimas Novais 1. INTRODUÇÃO A indústria têxtil enfrenta os altos custos de energia, ELIMINAÇÃO DE FIBRAS CONTAMINANTES As fibras contaminantes causam linhas coloridas no os rápidos desenvolvimentos tecnológicos e as tecido. Muitos dos sistemas utilizados atualmente para limitações de tempo. Através de uma administração identificar contaminação de fibras usam sensores ópticos efetiva da energia ultrassônica, os engenheiros podem de cor e câmaras para reconhecer o material contaminante. minimizar os custos de energia e melhorar a As câmaras convencionais ou os métodos ópticos não produtividade. Este estudo analisa o mecanismo e a podem identificar fibras contaminantes brancas e de cores influência da energia ultrassônica usada para eliminar muito similar aos substratos. A empresa Loptes SRL fibras contaminantes, para o pré-tratamento e a adiciona fabricação de roupas na indústria têxtil. um sensor acústico para o sistema de classificação, o qual também escaneia opticamente. Este A energia ultrassônica utiliza sons em uma inten- sensor acústico usa a detecção ultrassônica de materiais sidade e freqüência extremamente alta (normalmente incolores junto com a detecção óptica da contaminação superiores a 20 Khz. ou 20000 ciclos/segundo) para colorida. Este sistema oferece máxima eficiência devido ao modificar os materiais. A energia ultrassônica pode duplo monitoramento por integrar os dois sistemas, limpar ou homogeneizar materiais, acelerar as reações óptico e acústico, e por químicas e ter um robusto desenho sem físicas e realizar outras funções nos câmaras ou espelhos. A Figura 1 mostra um sistema processos têxteis. combinado de detecção óptica e ultrassônica com 128 Em um típico processo ultrassônico, a energia da fotossensores e 56 válvulas pneumáticas para eliminar as linha elétrica é transformada de 110/220V (AC) para fibras. As fibras contaminantes são capturadas por meio 60/50Hz a 20 kHz, controlada em um gerador, em de ar e atiradas dentro de uma unidade de refugos. seguida é enviada a um conversor onde os cristais transdutores ou a pilha transdutora de pastilhas de FIGURA 1. Canal de controle de um classificador óptico-sônico níquel laminadas a converte em energia mecânica, passando pelo sonotrodo e através de uma ou mais etapas de amplificação, termina na ponta da superfície radiante. Esta superfície irradia a energia acústica no fluído circulante. 1) Sensor acústico 2) Sensor óptico 3) Válvulas pneumáticas 4) Refugos 5) Unidade de sucção. Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 11 Tecnologia Processos A tecnologia ultrassônica tem dificuldade para ultrassom no líquido causa dois efeitos primários chamados detectar materiais contaminantes menores do que um cavitação e aquecimento. Quando borbulhas microscópicas centímetro quadrado. A localização do material de cavitação se quebram (estouram) na superfície do contaminante também é muito importante; em um substrato sólido, geram ondas potentes de choque que ângulo de 90º, o material estará, teoricamente, fora da causam uma agitação efetiva da face limite do líquido. Para capacidade de detecção dos sensores. Os sensores um processo têxtil úmido ultrassônico eficiente é geralmente detectam 80% do material contaminante importante otimizar a intensidade da cavitação. Apesar do colorido, mas somente 60% do material contaminante atrativo aparente do ultrassom para a intensificação dos incolor. Outras desvantagens da tecnologia ultrassônica processos bioenzimáticos das fibras naturais, é pouco para a eliminação de materiais contaminantes incluem a claro o quanto a aplicação do ultrassom pode afetar as incapacidade para capturar alguns materiais conta- estruturas complexas das enzimas e quanto significativos minantes muito finos e a baixa pressão de ar. podem ser os benefícios desta aplicação. PROCESSOS DE PRÉ-TRATAMENTO TÊXTIL Lavagem ultrassônica Biopreparação ultrassônica Nas operações de preparação e lavagem, o objetivo é Os materiais não celulósicos hidrófobos, tais como remover o material natural ou as impurezas (sujeiras) da ceras, proteínas e graxas devem ser removidos do superfície da fibra. Os testes de laboratório têm mostrado material em cru para que o tingimento e o acabamento que o tempo de lavagem ultrassônica para a lã pôde ser sejam uniformes. Produtos químicos relativamente reduzido de três horas para 15/30 minutos com uma fortes e não amigáveis com o meio ambiente são brancura equivalente. Tecidos de poliéster foram lavados utilizados nos métodos tradicionais de purga. mais facilmente com ultrassom. A brancura de tecidos de O uso de enzimas na indústria do algodão tornou-se algodão melhora e a lavagem foi duas a três vezes mais mais popular devido a que necessita significativamente rápida depois do tingimento ou estamparia com corantes menos água, energia e produtos químicos do que os reativos. métodos tradicionais. Se bem que os processos A tenacidade da lavagem ultrassônica em tecidos me- enzimáticos oferecem muitas vantagens, existem umas dicinais foi investigada. Os resultados mostram que tecidos poucas desvantagens processos e reação. A tecnologia tais como altos custos de cirúrgicos de poliéster/algodão (65/35%) e poliéster/fibras relativamente baixas velocidade de de carbono (99/01%) têm menos perdas de tenacidade com ultrassônica pode ajudar a tecnologias de ultrassons. Em suma, os investigadores resolver as deficiências de processos enzimáticos. enfatizaram Utilizando energia ultrassônica durante os tratamentos lavagem de que o uso de energia ultrassônica para a tecidos de poliéster e de poliéster e suas enzimáticos de tecidos de algodão podemos melhorar de misturas em aventais cirúrgicos pode ser adaptado às maneira significativa o processo sem afetar a resistência técnicas de lavagem convencionais. do tecido. O ultrassom é prometedor para misturar eficientemente a face limite do líquido na superfície da Alvejamento ultrassônico fibra facilitando a absorção. Geralmente a aplicação do 12 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. O alvejamento convencional é usado para melhorar a Tecnologia Processos brancura dos materiais têxteis, com ou sem remoção de fibras. Recentemente uma grande quantidade de investimatéria natural colorida ou substâncias estranhas. A gações foi realizada procurando resolver os problemas energia ultrassônica pode ser adaptada com êxito para ser ambientais provocados pelo tingimento e pelos processos usada com técnicas de alvejamento convencionais. O uso de acabamento. Diversos processos novos, incluindo de energia ultrassônica no processo proporciona um alto ultrassom, estão sendo introduzidos e estudados como índice de brancura (WI) para os materiais celulósicos, alternativas mais amigáveis para o meio ambiente. especialmente para alvejamento a frio. Apesar da O tingimento de tecido de algodão foi realizado com investigação em processos têxteis úmidos, o mecanismo corantes diretos em presença de seis transdutores físico exato da intensificação de transferência de massa ultrassônicos a 40 kHz, reduzindo o tempo de tingimento e a nos materiais têxteis sob a influência do ultrassom não é concentração dos corantes e eletrólitos no banho de tingiainda conhecida. A energia ultrassônica aumenta a mento. Outras experiências foram realizadas a 27 kHz em velocidade dos processos de alvejamento e melhora a diversas temperaturas sobre o poliéster (PES) e sobre o brancura dos materiais têxteis. Isto é efetivo, especial- nylon (PA) em baixa temperatura (120W, 26 kHz). A mente em fibras finas. influência do ultrassom no comportamento das fibras de Pes, as quais têm uma estrutura altamente cristalina, melhora a Tingimento ultrassônico captação de corante e a velocidade de tingimento para os Nos processos de tingimento, o objetivo é transportar corantes dispersos. Não existe influência atribuída ao ou difundir os corantes e os produtos químicos dentro das ultrassom sobre a captação de corante e a velocidade de Tecnologia Processos tingimento em fibras menos cristalinas. O tingimento de também começa a ser mais avançada. Um destes avanços tecido de PA com corantes ácidos e dispersos em tecnológicos é o ultrassom para corte, soldadura, fixação de diferentes temperaturas sob a influência de ondas marcas ou adornos e costura. ultrassônicas de 0,6 a 2,0 MHz resulta em uma Corte com ultrassom aceleração na velocidade de reação e em total O uso de equipamento ultrassônico para corte e fixação incremento na intensidade do tingimento em todos os de adornos conseguiu aceitação em todos os setores da casos comparados com o tingimento original (controle). indústria têxtil desde o tecido até o acabamento. Os A energia ultrassônica afetou positivamente a captação cortadores ultrassônicos são desenhados para cortes de corante e a velocidade de esgotamento de diversos contínuos e bordas seladas com filmes termoplásticos, corantes reativos usados em tecidos PA/Lycra. A tecidos de malha, planos e não tecidos feitos de nylon, quantidade de corante não fixado que permaneceu no poliéster, polipropileno, acrílicos modificados e misturas banho de tingimento depois do tingimento ultrassônico sintéticas. O processo de corte ultrassônico evita que o foi menor do que quando utilizado o método material convencional. se enrole, seja tecido plano ou malha, efetuando a selagem da borda usando energia vibratória. A A ação do ultrassom (600W, 20kHz) aumenta o velocidade do efeito final e a aplicação de força foram os coeficiente de difusão em cerca de 30% e alcança uma primeiros determinantes da velocidade de corte. Dependenredução de 20% no tempo de tingimento. O ultrassom é do do material, as velocidades de corte podem ser de 10 a efetivo para incrementar a captação de corantes básicos, 120 metros lineares por minuto. ácidos e complexos metálicos sobre seda em diferentes Quase todos os materiais têxteis (planos, malhas e não temperaturas sem danificar a fibra. O uso de ultrassom tecidos) e todos os materiais crus (fibras naturais ou em tingimento reativo de tecidos celulósicos pode sintéticas) podem ser cortados por meio do ultrassom. Não resultar em economias de energia, menos consumo de existe descoloração depois do corte e o processo não é água, incremento na intensidade de cor e melhores perigoso para o meio ambiente, pois o instrumento é condições de processo. Quando a investigação dos aquecido somente até 50ºC, não gerando fumaça nem efeitos da energia ultrassônica na solidez à lavagem odores e eliminando o perigo de queimaduras. As bordas do corante foi feita em termos de composição química, são cortadas limpamente e nem os fios da trama nem do foi determinado que os corantes contendo grupos urdume são deslocados ou fundidos. As bordas seladas se bifuncionais e monofluortriazina são os mais afetados fixam sem formação de bolinhas de material fundido. pela energia ultrassônica e mostraram uma grande melhora nas propriedades de solidez à lavagem. Soldadura por ultrassom A costura, a qual une os tecidos individuais com outro CONFECÇÃO DE ROUPAS elemento têxtil, proporciona propriedades de resistência, A função das peças confeccionadas (roupas) está elasticidade e estética adequada, mas produz pontos se alterando com a integração dos “materiais inteli- descontínuos e costuras perfuradas. Os métodos de colagem gentes”. Como a indumentária tradicional se transforma térmica e ultrassom são utilizados para prevenir as em roupas inteligentes, a tecnologia usada neste setor desvantagens dos métodos convencionais. 14 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Processos A colagem ultrassônica reúne duas ou mais camadas costuras seladas sem costuras com agulhas ajudam a de material. Quando o tecido termoplástico ou o não prevenir a penetração de produtos químicos líquidos, tecido é colocado entre o bico de vibração e a máquina de agentes patogênicos do sangue e pequenas partículas. costura, o calor gerado pela energia de vibração funde e CONCLUSÃO une as camadas juntas, em uma união forte e permanente, produzindo costuras contínuas e impermeáveis. Nem ópticos as câmaras convencionais nem os métodos podem identificar materiais contaminantes O equipamento para soldadura por ultrassom consiste brancos ou similarmente coloridos, como a eliminação de em uma prensa, um gerador, conversor ou transdutor, um fibras contaminantes com ultrassom. A tecnologia ultrassôintensificador, um sonotrodo e um componente de nica permite intensificar a difusão e a lavagem com o efeito suporte. Na Figura 2 aparece um esquema de uma de cavitação e melhora a efetividade destes processos máquina para soldadura por ultrassom. Os materiais comparados com os tratamentos tradicionais. Os tratasintéticos tais como PA, PET, polipropileno, polietileno, mentos de eliminação de azeites e graxas foram acrílicos modificados, alguns vinilos e uretano podem ser particularmente efetivos. processados usando tecnologia ultrassônica. As misturas O uso de ultrassom nos processos de tinturaria resulta de sintéticos com até conteúdos de 50% de fibras não em uma redução de corante, produtos químicos, água e sintéticas (dependendo da aplicação) foram soldadas com consumo de energia. Isto incrementa a eficiência dos equipamentos ultrassônicos. Os filmes e os papéis processos de lavagem e enxágües e melhora a qualidade recobertos podem, também, serem processados desta do produto final. Consistente com o efeito da tecnologia ultrassônica nos maneira. Figura 2. Esquema de uma máquina de soldadura por ultrassom Microprocessador e interfase processos prévios ao acabamento, a preparação de algodão cru utilizando uma combinação de enzima/ultrassom, oferece vantagens Transdutor/ Conversor consumo Intensificador significativas, tais como, menor de enzimas caras, tempos de processo mais curtos, melhor uniformidade do tratamento e uma dimi- Sonotrodo (bico de soldadura) nuição notável do volume e da toxicidade dos efluentes. Sistema pneumático Parada de emergência Prensa Base Nos processos de tingimento, o ultrassom dispersa uniformemente as micelas e conglomerados de alto peso Diversos modelos de selagem estão disponíveis em molecular no banho de tingimento. As moléculas de ar são um sistema de selagem de tecido por ultrassom, incluindo expulsas dos capilares das fibras e dos interstícios onde a ponto padrão, zig-zag ou desenhos elaborados pelo fibra está em contato com o líquido e assim são removidas. cliente. O controle de amplitude externa também está Atravessando a capa isolante da fibra, acelera a velocidade disponível. de difusão do corante dentro da fibra. Na indústria de As aplicações típicas de soldadura por ultrassom indumentária, os cortes por ultrassom proporcionam um incluem roupas de proteção, batas hospitalares descar- corte contínuo e de bordas seladas em uma variedade de táveis, proteção para calçados, máscaras, roupas infantis, filmes e tecidos. A soldadura com ultrassom gera costuras filtros, carteiras, cortinas, velas e redes. As bordas e as contínuas e impermeáveis. 16 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Ultrassom Conceitos básicos sobre ultrassom Autora: Elsa Iglesias Seipac S.A. Argentina Artigo publicado na revista Galáxia - Argentina Tradução: Agostinho S. Pacheco - ABQCT Revisão Técnica: Eng. Químico Dimas Novais 1. INTRODUÇÃO (V) O ultrassom é uma vibração mecânica com uma A velocidade de propagação é a distância recorrida pela frequência maior do que a audível pelo ouvido humano onda dividida pelo tempo empregado para recorrer essa que se transmite através de um meio físico. Diferen- distância. A velocidade dos ultrassons em um material temente das ondas audíveis, os ultrassons não podem determinado depende da densidade e elasticidade do meio ser transmitidos pelo ar, já que quanto maior é a que, por sua vez, variam com a temperatura. A relação é frequência, a onda necessita uma maior densidade direta, ou seja, quanto maior for a densidade do meio, maior /suporte do meio para sua transmissão. Os ultrassons será a velocidade de transmissão dos ultrassons. são medidos em Hertz (Hz). Freqüência (f) É o número de oscilações (vibrações ou ciclos) de uma FREQUÊNCIAS DE SOM partícula por unidade de tempo (segundos). A freqüência é * Infrassônica = 1 a 16 Hz medida em Hertz (Hz). Um hertz é uma oscilação (ciclo) * Sônica ou audível = 16 Hz a 20 KHz por segundo. Como os ultrassons são ondas de alta * Ultrassônica = 20 KHz ou acima. freqüência, a medida básica utilizada é o megahertz (mHz) Os ultrassons têm uma característica muito que é igual a um milhão de Hz. Figura 1. Medição de Ultrassom importante que os diferencia dos sons de menor frequência, a direcionalidade, isto é, a onda ultrassônica não se propaga em todas as direções e sim, forma Medicina e Destruição Notas baixas Animais e produtos química Diagnóstico e NDE feixe de pequeno tamanho que pode ser “enfocado”. Além disso, de um modo análogo ao que sucede com uma onda luminosa, podem ser aplicadas lentes acústicas que podem modular o feixe ultrassônico. Isto permite focalizar Longitude de onda ( l ) o feixe sobre a zona a explorar, É a distância ocupada por uma onda completa e é ficando fora de foco as que estão situadas adiante ou igual à distância através da qual se move a onda por atrás deste ponto. período de ciclo. A longitude de onda, a velocidade e a frequência se relacionam com a seguinte fórmula: PRINCÍPIOS FÍSICOS Velocidade de propagação ou velocidade acústica 18 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. l = V/f Onde l é a longitude de onda, V é a velocidade de Tecnologia Ultrassom propagação da onda pelo meio e f é a frequência. superfície de unidade de área colocada perpendicularmente Devido a que a velocidade é constante para cada meio e à direção de propagação do movimento. A intensidade frequência de emissão (se a temperatura for constante), diminui com a distância. com a fórmula podemos calcular a longitude de onda do feixe. TIPOS DE ONDA Ondas longitudinais Amplitude (A) Os deslocamentos das partículas são paralelos à É a alteração máxima produzida na pressão da propagação do ultrassom. onda, isto é, a distância máxima que a partícula vibratória alcança desde sua posição inicial de repouso Ondas transversais Os deslocamentos das partículas são em forma (altura da curva sinusoidal). A amplitude se relaciona perpendicular à direção do feixe ultrassônico. com a intensidade. Deste modo, se aumentarmos a Ondas superficiais intensidade de uma onda determinada, aumentaremos São aquelas que se deslocam sobre a superfície do sua amplitude. Durante a transmissão das ondas, pelo material e penetram a uma profundidade máxima de uma efeito de sua interação com o meio, diminui a longitude de onda. intensidade da onda em função da distância percorrida e, como consequência, se produz uma PRODUÇÃO DE ENERGIA ULTRASSÔNICA diminuição de sua amplitude. A unidade física que é TRANSDUTORES empregada para representar a amplitude dos ultrassons A produção e recepção de ultrassons acontecem através é o “bel”, todavia, na prática utilizamos o “decibel” de transdutores. Os transdutores são materiais piezelétricos, (dB), que é a décima parte do belio. que, por suas propriedades podem relacionar energia elétrica e mecânica. A produção das ondas ultrassônicas se Figura 2. Direção de Propagação realiza pelos ciclos sucessivos de contração-expansão que sofrem estes materiais quando neles se aplicam um campo elétrico. Do mesmo modo, quando se comprimem e Distância expandem geram cargas elétricas que permitem a detecção das ondas ultrassônicas. Portanto, o efeito piezelétrico relaciona fenômenos Longitude da onda mecânicos e elétricos. Assim, ao aplicar uma corrente alternada em um cristal piezelétrico se produz um ciclo de compressões e dilatações que pode ser transmitido ao meio Período (T) circundante (produção de ultrassons). Pelo fenômeno da É o tempo de uma oscilação completa, isto é, o tempo ressonância, a amplitude das vibrações produzidas é que tarda o som em percorrer uma longitude de onda. máxima Intensidade quando o período da diferença de potencial aplicada coincide com o período das vibrações longitu- É a energia que passa por segundo através de uma dinais do cristal. Do mesmo modo, se forem aplicadas ao Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 19 Tecnologia Ultrassom cristal piezelétrico, uma série de compressões e estão sendo impostos, como as altas pressões ou os dilatações (por exemplo ao receber uma onda ultrassô- ultrassons. A aplicação do ultrassom por sua condição nica) se produz uma diferença de voltagem nas faces de ser pouco contaminante, é utilizada por exemplo na perpendiculares à direção da compressão cuja amplitude determinação das idades de ovos e batatas, maturação de é proporcional à amplitude da onda incidente (recepção frutas, conteúdo de gorduras em carnes vermelhas, porde ultrassons). centagem de sólidos no leite, entre outras. Ultimamente está Além do quartzo, existem outros cristais naturais sendo investigada, também, a aplicação de ultrassons na (blenda, turmalina, etc.) que possuem propriedades purificação da água, concretamente para a limpeza de piezelétricas. filtros. Os primeiros transdutores continham um corpo Aplicações físicas central de quartzo recoberto por lâminas de aço. Ao ser As aplicações físicas dos ultrassons se concentram, empregado um bloco misto consegue-se aumentar muito essencialmente, na medida das propriedades elásticas e às a amplitude das ondas geradas. condições de propagação nos sólidos. A idéia aqui é, Para conseguir transdutores mais sensíveis foram simplesmente, o estudo da propagação de um ultrassom no utilizados polímeros sintéticos, mas também o aço é material. Outras aplicações estão centradas no estudo de empregado para melhorar a eficácia. explosões, determinação das propriedades físicas de líquidos e gases, localização de bolsões de vácuos de ar APLICAÇÕES DOS ULTRASSONS (fundamental para a navegação aérea) etc.. A termometria As aplicações são muito amplas e englobam ultrassônica é usada para medir temperaturas muito altas desde a medicina até a indústria metalúrgica, constru- (exemplo 3000ºC) monitorando alterações na velocidade do ções navais, aeronáuticas, e outras indústrias em geral. som. Alguns exemplos de aplicação são: Orientação e sondagem Aqui Aplicações químicas Sua principal função aqui será a de ativar certos se trata do tema da acústica submarina, compostos com a finalidade de acelerar as reações quími- aplicada na sondagem do fundo do mar, navegação de cas nos diversos processos. submarinos, detecção de bancos de areia, cardumes de Aplicações técnicas peixe, etc.. Medicina e biologia A utilização dos ultrassons na indústria é variada. Podemos encontrar detectores de defeitos em peças Os ultrassons possuem propriedades terapêuticas, metálicas, medição de espessura das mesmas, abertura são empregados em equipamentos de terapia ultrassô- automática de portas, etc.. Outra aplicação importante é a nica, por exemplo, fisioterapia, ultrassonografia e soldagem de plásticos por ultrassons. Também são utilizados nebulizadores. Também são utilizados para diagnós- limpadores ultrassônicos. ticos, tais como a ecografia, doppler, etc.. Tratamento de produtos alimentícios Na indústria têxtil Podemos enumerar as seguintes aplicações: eliminação Frente aos métodos tradicionais, como a refrige- de fibras contaminantes, processo de prétratamento, ração, a defumação, a pasteurização, novos métodos processos de tingimento, confecções de roupas, etc.. 20 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Têxteis Inteligentes Uma visão geral sobre o futuro dos têxteis Autores: J. Jiménez, L. Aubouy, J. Sáez, L. Bautista, A. Briz, M. Delavarga e J. Parra Centro Tecnológico LEITAT Terrassa, Espanha. Artigo publicado, também, na Revista Galáxia Argentina. Tradução: Agostinho S. Pacheco ABQCT Revisão Técnica: Ricardo Vital de Abreu amplo campo de atuação para o setor. RESUMO Neste trabalho apresentamos uma variedade de importantes avanços e produtos que estão surgindo em 1.INTRODUÇÃO função dos chamados “tecidos inteligentes”. A Os especialistas em economia do mundo têxtil definição deste tipo de tecido é abordada a partir de apresentam os têxteis inteligentes, com a futura geração de uma explicação dos diferentes tipos existentes. fibras, tecidos e artigos Posteriormente efetuamos um estudo mais profundo uma ampla que serão produzidos graças a sinalização de possibilidades e funciona- dos principais materiais “inteligentes” (crômicos, lidades. Uma definição ilustrativa e não muito distante da luminescentes, de alteração de fases, condutores e realidade, os descrevem como materiais têxteis que membranas), de seu funcionamento básico destacando pensam por si próprios. Esta é a sensação e o efeito que se suas principais aplicações no âmbito dos SFIT (Smart percebe e que se consegue através da incorporação de Fabrics and Interactive Textile). Estas aplicações são dispositivos eletrônicos ou de materiais inteligentes a apresentadas ilustradas e em diversos exemplos substratos têxteis. Muitos destes tecidos já são utilizados em concretos. Ao longo deste artigo, também fazemos confecções que poderiam ser classificadas como referência a algumas evoluções importantes nos avançadas, principalmente de proteção e de segurança. Nos materiais de condução térmica e elétrica. Outra últimos tempos foi sentido um incremento na utilização parte importante deste trabalho é a deste tipo de tecido, incluindo com êxito o conceito de introdução aos “e-têxteis”, apresentando diversas moda, comodidade e inovação. áreas representativas da importância e as aplicações Os têxteis inteligentes são uma evidência do potencial da “textrônica”. Citamos uma série de protótipos e e das enormes oportunidades que ainda podem ser produtos que têm aplicabilidade em diversos âmbitos exploradas e difundidas a partir da indústria têxtil, da tão importantes como a saúde, a segurança, o ambiente moda ou do desenho, assim como são de grande relevância familiar, etc. Com este documento pretendemos dar a no setor de têxteis técnicos. Em um futuro próximo, nossa conhecer os têxteis inteligentes com exemplos ilus- vida cotidiana será regulada trados e bibliografia de interesse. integrados em importância para a reativação da indústria têxtil atual, diferentes substratos têxteis. 22 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. por dispositivos inteligentes e muitos destes dispositivos Estes produtos de grande valor agregado são de vital estarão cobrem as necessidades dos consumidores e abrem um significativamente peças do vestuário ou em Tecnologia Têxteis Inteligentes 2.DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE TEXTEIS tecnologia de sensores e de detectores, a tecnologia de processos avançados, a eletrônica, a comunicação, a inteli- INTELIGENTES Os têxteis inteligentes são definidos como têxteis gência artificial, a biologia, etc.. que podem detectar ambientais ou a e reagir a condições meio estímulos externos de Os novos materiais para fibras e os que formam diferentes parte de tecidos, combinados com componentes eletrônicas naturezas como os mecânicos, os térmicos, os químicos, miniaturizados, tornam possível a criação de têxteis as fontes elétricas ou magnéticas. Segundo sua inteligentes. Deste modo, são criadas as verdadeiras peças atividade funcional os têxteis inteligentes podem ser de vestuário inteligentes realmente confortáveis. Estas classificados em três categorias: roupas inteligentes são utilizadas como prendas de uso Têxteis Inteligentes Passivos diário, oferecendo soluções ou ajudas a várias situações Trata-se da primeira geração de têxteis inteligentes, segundo as aplicações para as quais tenham sido somente podem detectar e serem sensíveis às condi- desenhadas. ções e/ou estímulos meio-ambientais. Têxteis Inteligentes Ativos 3. MATERIAIS INTELIGENTES E APLICAÇÕES Constituem a segunda geração e são têxteis que têm a EM TECIDOS INTELIGENTES (Smart Fabrics and capacidade de detectar e atuar frente a uma determi- Interactive Textiles SFIT) nada situação. Entre os têxteis inteligentes ativos Os materiais “inteligentes” ou “funcionais” geralmente podemos destacar aqueles que têm memória de forma, formam parte de um “Sistema Inteligente” que tem a são camaleônicos, hidrófobos e permeáveis ao vapor. capacidade de detectar estímulos do ambiente e, se for de Podem armazenar calor, são termo reguladores, segunda ou terceira geração, é também capaz de responder a absorvem vapor e etc.. tal estímulo externo graças a um mecanismo ativo de Têxteis Ultra Inteligentes controle. Os materiais e sistemas inteligentes ocupam uma Os têxteis ultra inteligentes são a terceira geração e área da tecnologia que também inclui os campos de constituem o grupo mais importante, sendo os que sensores e detectores. apresentam uma grande quantidade de potenciais aplicações e possibilidades. Neste grupo estão incluídos 3.1. MATERIAIS DE ALTERAÇÃO DE FASE aqueles que podem detectar, reagir e adaptar-se às PARA TERMORREGULAÇÃO condições e estímulos do meio, respondem a um 3.1.1. Princípio e Materiais estímulo e regulam a resposta gerada até alcançar os Um material normal absorve calor durante um processo limites apropriados e também são capazes de gerar a de calefação enquanto sua temperatura se eleva constanresposta inversa para regular completamente o fator a temente. O calor é armazenado no material e liberado ser controlado. Na atualidade, a produção de têxteis continuamente quando a temperatura ambiente diminui ultra inteligentes é uma realidade. Estabeleceu-se uma mediante um processo inverso de resfriamento. Um têxtil conjunção favorável entre os têxteis tradicionais e absorve aproximadamente 1 KJ/Kg quando sua temperatura novos tecidos com outras disciplinas científicas, se eleva em 1ºC. Os materiais de alteração de fase ou PCM como: a ciência dos materiais, a mecânica estrutural, a (Phase Changing Materials) são materiais que alteram Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 23 Tecnologia Têxteis Inteligentes reversivelmente de estado físico (sólido-líquido-gás, Em suas aplicações têxteis, os materiais de alteração de estado cristalino 1 estado cristalino 2) mediante um fase têm geralmente uma temperatura de transformação estímulo externo que, na maioria dos casos, é a compreendida entre -57ºC e 52ºC. A seleção desta faixa temperatura. A absorção de calor durante o processo de não é casual, e sim corresponde a temperatura atmosférica fusão (alteração de fase) de um material é aproxima- e corporal. Os compostos que possuem uma transição damente 200 KJ/Kg. Durante todo o processo de fusão sólido-líquido nesta faixa de temperaturas são parafinas de sua temperatura permanece constante. Em comparação, cadeia C8 (n-octano) até C20 (n-eicosano). Para prevenir a um têxtil absorve a mesma quantidade de calor se sua dissolução e consequente perda da parafina em estado temperatura aumenta. O mesmo mecanismo rege o líquido, a parafina se incorpora no interior de esferas comportamento no processo de cristalização, a tempe- plásticas pequenas com diâmetros de somente alguns ratura do PCM se mantém constante durante a descida mícrons, chamadas microcápsulas PCM. As microcápsulas da temperatura (Figura 1) até que a totalidade do PCM são aplicadas em fibras têxteis utilizando processos material tenha solidificado. Comparando as capacida- clássicos (esgotamento, foulardagem) ou também podem des de armazenagem de calor de têxteis e de PCM ser incluídas na estrutura do material nos casos de fibras chegamos à conclusão que o uso deste tipo de materiais poliméricas e espumas de poliuretano. pode permitir aos têxteis manter uma temperatura constante e obter um efeito de termorregulação. 3.1.2. Aplicações em têxteis inteligentes As principais aplicações comerciais de microcápsulas Figura 1. Estabilidade calorífica dos pcm PCM se encontram nas roupas e tecidos de alta qualidade desenvolvidos para melhorar o conforto graças à termor- Têxtil 1......... Material de alteração de fase durante o aquecimento 2 .........Material de alteração de fase durante o resfriamento regulação. Outro campo importante de aplicação é a roupa desportiva onde se encontram aplicações focalizadas em melhorar o bem estar e o rendimento do esportista. Com efeito, as roupas desportivas têm que proporcionar um Temperatura do material em ºC equilíbrio entre o calor gerado pelo corpo e o calor liberado ao ambiente enquanto se pratica uma atividade física. As Solidificação roupas desportivas comuns nem sempre satisfazem este requisito. O calor gerado pelo corpo humano durante uma atividade física intensa, se não for liberado ao ambiente na quantidade necessária, provoca uma situação de stress térmico no desportista. Por outro lado, durante os períodos de descanso entre atividades a geração de calor pelo corpo Fusão humano é menor. Se a mesma liberação de calor for mantida, é provável que aconteçam casos de hipotermia. É Temperatura ambiente em ºC por isso que estes materiais capazes de regular as duas situações, que se produzem de forma consecutiva na 24 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Têxteis Inteligentes prática desportiva, são muito importantes para o bem Os polímeros com memória de forma têm o mesmo estar, a saúde e a melhora do rendimento do espor- efeito macroscópico do que as ligas metálicas mas, devido a tista. sua natureza polimérica, em geral, são mais compatíveis com os substratos têxteis e mais leves do que os metais. Os 3.2. MATERIAIS COM MEMÓRIA DE FORMA primeiros Shape Memory Polymers (SMPs) eram baseados 3.2.1.Princípios e materiais em polinorborenos com uma Tg (Temperatura de transição Existem dois tipos de materiais com memória de vítrea) compreendida no intervalo de 35ºC a 40ºC. forma. A primeira classe são materiais estáveis em dois Posteriormente, foram desenvolvidas diversas classes de ou mais estados de temperatura. Nos diferentes estados SMPs baseados em misturas de estireno, butadieno, de temperatura, têm o potencial de adotar diversas polietileno, tereftalado, óxido de polietileno, poliuretano, formas. Os outros tipos de materiais com memória de policaprolactona..., com Tg compreendidas entre -46ºC e forma são os polímeros eletroativos que podem 125ºC. O mecanismo de memória de forma é bastante deformar-se como resposta a estímulos. Na última similar ao observado nos materiais metálicos, excetuandécada aconteceram significativos avanços em políme- do o fato de que a transição efetuada é produzida de um ros eletroativos (EAPs: Electroactive Polymers) capazes estado cristalino a um estado amorfo. de produzir uma alteração substancial de tamanho ou de Outros tipos de materiais que possuem uma capacidade forma. A força gerada é suficiente para ativar vários similar de deformação são os polímeros eletroativos (EAPs) mecanismos relacionados com detecção, comutação ou que alteram de forma devido a uma excitação elétrica. Estes deslocamento. polímeros se alongam, se contraem ou se dilatam quando se As ligas metálicas com memória de forma como produz uma circulação de eletricidade em suas cadeias e níquel/titânio, ouro/cádmio ou cobre/zinco funcionam voltam ao seu estado fundamental em ausência de todas segundo um mesmo mecanismo chamado eletricidade. Os EAPs são geralmente compostos de alteração de fase martensítica, que corresponde a uma polímeros de altas prestações como o “gel robô” composto alteração de fase cristalina. O material se encontra em de 2-poli-2-acrilamida-2-ácido sulfônico de metilpropano. seu estado natural em uma posição A e em uma fase Este composto pode ter aplicações muito relevantes, é por cristalina A, se aplicarmos uma força adequada o isso que a sua aplicação em próteses de músculos e tendões material se deforma e adota a posição B com a mesma está sendo estudada em profundidade. fase cristalina A. Mediante uma subida de temperatura, o material altera de fase cristalina até a fase B e ao ser 3.2.2. Aplicações em tecidos inteligentes resfriado volta a sua posição inicial de fase cristalina A Os materiais de alteração de fase são susceptíveis a (Figura 2). A temperatura de ativação pode ser fixada ativações bidirecionais, é por isso que podem produzir as alterando a proporção dos dois metais na liga metálica. Figura 2. Caracterização do mecanismo de memória de forma nas ligas metálicas. variações reversíveis necessárias para a proteção frente a condições atmosféricas alternantes. No geral apresentam a forma de um suporte que pode ser plano em condições Aquecimento Resfriamento acima desta. Incorporando estas ligas metálicas nos têxteis Fase B Deformação mecânica Fase A ou Fase Martensítica abaixo da temperatura de ativação e que se alonga (dilata) Fase A deformada ou fase martensítica deformada Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 25 Tecnologia Têxteis Inteligentes de uma confecção, pode ser gerado um espaço oco entre estímulo que os afeta. as camadas do tecido quando se alcança a temperatura de “Fotocrômico”: O estímulo externo é a luz. ativação, conseguindo desta maneira uma melhor “Termocrômico”: O estímulo externo é o calor. proteção frente ao calor externo. Do mesmo modo, “Eletrocrômico”: O estímulo externo é a eletricidade. foram desenvolvidas películas de poliuretano que podem “Piezorocrômico”: O estímulo externo é a pressão. ser incorporadas entre camadas adjacentes da confecção “Solvatocrômico”: O estímulo externo é um líquido ou e quando a temperatura da camada externa da roupa um gás. tenha baixado o suficiente, a película de poliuretano responde provocando um aumento no espaço de ar (oco 3.3.2.Princípios Materiais e aplicações em têxteis entre as camadas), tornando-o mais amplo. Este aumento inteligentes permite melhorar as propriedades de isolamento Os materiais fotocrômicos são geralmente moléculas térmico. As ligas metálicas com memória de forma orgânicas instáveis que apresentam configurações molepodem contribuir, também para aumentar o ciclo de vida culares acessíveis de forma reversível que alteram a devido que a liga produz um aumento na resistência à configuração molecular por ruptura de enlaces covalentes fadiga do material. ou por alterações de configuração espacial, devido à É necessário, ainda, realizar um progresso consi- influência de uma radiação concreta. A alteração molecular derável com as tecnologias EAPs antes que sejam perturba o espectro de absorção da molécula e em comercialmente viáveis. Uma aproximação multidisci- consequência a cor. As aplicações em têxteis são dirigidas plinar é essencial para futuros progressos e desenvolvi- principalmente à moda e em alguns casos a produtos mentos. Os grandes avanços que estão sendo produzidos destinados à proteção solar. promoveram uma nova série de aplicações e desenhos. Os materiais termocrômicos são os que alteram de cor A facilidade natural de preparação e transformação de como resultado de uma variação de temperatura. Os tipos de tais materiais, junto com sua leveza e flexibilidade, está sistemas termocrômicos que foram utilizados com êxito em abrindo novos caminhos em muitas áreas consideradas têxteis são dois: um tipo de cristal líquido e um sistema de mais tradicionais ou convencionais do mesmo modo alteração molecular. Em ambos os casos, os corantes são que, por sua vez, apresentam um grande potencial para introduzidos em microcápsulas e são aplicados no tecido novas aplicações. como um pigmento utilizando uma base composta por uma resina. Os cristais líquidos para os sistemas termocrômicos 3.3. MATERIAIS CRÔMICOS são do tipo colestérico, onde se encontra uma ordenação de 3.3.1.Definição moléculas que segue um padrão de estrutura helicoidal. O Outros materiais tipos de materiais inteligentes são os efeito termocrômico resulta da reflexão seletiva da luz no crômicos. A característica deste tipo de cristal líquido que é governada pelo índice de refração de produto é a de alterar sua cor de forma reversível cristal líquido e pela estrutura helicoidal de suas moléculas. respondendo a estímulos externos, é por essa razão que Posto que a estrutura helicoidal varia com a temperatura, a também são chamados “fibras camaleônicas”. Os longitude de onda da luz refletida também se altera, e o materiais crômicos são classificados em função do resultado é percebido como uma alteração da cor. 26 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Têxteis Inteligentes Uma maneira alternativa de induzir o efeito termo- alterações de cor tão efetivas como as produzidas por crômico é provocando a ruptura de enlaces covalentes materiais termocrômicos (Figura 3). produzindo-se uma alteração estrutural da molécula. Os Figura 3.Caracterização de corantes termocrômicos tipos mais comuns de corantes que exibem termocromismo através da alteração molecular são as espirolactonas. A alteração da cor é induzida por três precursores incluídos em uma microcápsula: a tinta (corante lactona), um revelador de cor (ácido) e um solvente orgânico com temperatura de fusão adequada já que é a fusão deste que permite a alteração de cor. Abaixo da temperatura de alteração, o solvente se encontra em estado sólido, quando a tinta e o revelador não interagem. Quando se produz a fusão do solvente Incremento da temperatura Além da alteração de cor devido à reação frente à devido à ação de uma fonte de calor, possibilita-se uma luz ou ao calor, existem outras fibras crômicas que interação entre o revelador e a tinta que induz uma apresentam outras características. Algumas destas fibras alteração molecular pela ruptura de enlaces covalentes. são as que apresentam o fenômeno chamado crômismo do O efeito observado é que a tinta altera de cor ou se solvente ou “solvatocrômicas”, cuja cor se altera quando descolore. A alteração inversa ocorre se a mistura se entram em contato com um líquido ou um gás. Os materiais resfria até abaixo do ponto de fusão, quando o solvente solvatocrômicos que reagem com água foram utilizados torna-se sólido e a cor volta a seu estado inicial. nos anos 90 em trajes de banho. Ainda que o efeito termocrômico através da alteração molecular em corantes tenha despertado um grau de 3.4. MATERIAIS LUMINESCENTES interesse comercial importante, este tipo de tecnologia 3.4.1.- Definição necessita amadurecer e ainda existe um amplo campo de A diferença entre os materiais crômicos e os lumi- exploração com referência a possíveis aplicações nescentes é que os primeiros alteram de cor enquanto que comerciais. A Toray Industriales apresentou, em 1987, o no segundo caso se produz uma emissão de luz graças a um desenvolvimento de um tecido termossensível através da estímulo. Existem vários tipos de efeitos luminescentes: introdução de microcápsulas de 3-4 micras de diâmetro “Fotoluminescência”: O estímulo externo é luminoso. que continham um agente cromóforo e um neutralizador Existem dois tipos de efeitos fotoluminescentes, a fluode cor que reagiam e mostravam “cor/não cor” em rescência e a fosforescência. A diferença entre os dois é o função da temperatura ambiental. O “SWAY” era um modo de relaxamento dos elétrons excitados que se traduz tecido multicolorido, com 4 cores básicas combinadas em uma duração de emissão muito mais longa no caso da de forma que poderiam ser obtidas 64 tonalidades fosforescência. 28 distintas. Outros tipos de “SFIT” que utilizam este efeito “Opticoluminescência”: Condução de luz. são os têxteis que são aquecidos devido à eletricidade “Eletroluminescência”: O estímulo externo é elétrico. (mediante o efeito Joules) e são capazes de produzir “Quimioluminescência”: O estímulo externo é uma Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Têxteis Inteligentes reação química. ção da luz. A transmissão das ondas se efetua pelo “Triboluminescência”: O estímulo externo é a aproveitamento da diferença de índice de refração que fricção. existe entre dois materiais que constituem a fibra óptica: o coração e o recobrimento (Figura 4). 3.4.2. Princípios, materiais e uso em têxteis inteligentes Figura 4a. Funcionamento da opticoluminescência em têxteis. Segundo a natureza química, os materiais fotoluminescentes podem ser classificados em dois tipos Recobrimento gerais, os orgânicos e os inorgânicos. Os compostos fotoluminescentes orgânicos são rígidos (moleculares ou poliméricos) e possuem uma boa conjugação molecular Onda Coração Emissão que lhes confere a capacidade de passar de estados excitados para um estado fundamental mediante a emissão de um fóton. A alteração do estado fundamental ao estado excitado se efetua mediante a absorção de um Abrasão Ângulo limite. Emissão ou mais fótons. Existem também materiais fotoluminescentes inorgânicos, tais como o fósforo e também algum tipo de terra rara (európio, irídio). Figura 4b. Cortina que apresenta este fenômeno ou cortina eletroluminescente. Os materiais fluorescentes são geralmente utilizados nos têxteis para confecções utilizadas em locais lúdicos, como as discotecas, mas também apresentam outras aplicações mais relevantes como são a marcação de etiquetas com materiais reagentes à radiação ultravioleta permitindo a detecção de imitações de marcas, assim como também, em etiquetas de segurança. Os materiais fosforescentes são aplicados em corantes que podem armazenar luz e são utilizados em Existem três maneiras diferentes de produzir emis- equipamentos de proteção individual, conseguindo-se são de luz ao exterior da fibra opticoluminescente: de efeitos de sinalização luminosa de alta visibilidade de maneira natural no final da fibra, de maneira artificial mepessoas. Outra aplicação interessante é a confecção de diante a abrasão do recobrimento ou por torção da fibra. As tapetes com indicações luminosas para guiar as pessoas principais aplicações destas fibras técnicas se baseiam quando acontece uma falta de luz elétrica. O efeito em têxteis que emitem luz, exemplos disso, são aqueles obtido é conhecido geralmente como “glow in the dark” desenvolvimentos (brilho na escuridão). que empregam a fibra ótica para a criação de telas para projeção de imagens. Na figura acima A opticoluminescência é o efeito típico que se vemos a fotografia de uma cortina de fibra óptica que encontra em fibras ópticas e que consiste na condu- permite a emissão de luz mediante a abrasão e cuja estrutura Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 29 Tecnologia Têxteis Inteligentes e formada por um coração de polimetacrilato e um combinação versátil de características físicas e elétricas. recobrimento de teflon. Da Nos tecidos condutores térmicos são utilizados direta- mesma forma que os materiais fotolumi- mente os fios condutores. O fio pode ser constituído por nescentes, os materiais eletroluminescentes podem ser, uma base tradicional (algodão, lã, Pes, etc.) e uma alma de também, compostos orgânicos (moleculares ou poli- metal como a prata, o cobre, uma liga metálica ou de méricos) ou inorgânicos. Os compostos eletrolumi- polímeros condutores, como o politiofeno, as polianilinas, nescentes, neste momento, são pouco utilizados em o poliacetileno ou seus derivados. têxteis, especialmente por razões de preço e de Figura 5. Exemplo de fios condutores rigidez. Os principais formatos destes são os fios eletroluminescentes de compostos inorgânicos que são usados no setor da moda e também nos equipamentos de proteção de alta visibilidade. Todavia, os fenômenos eletroluminescentes são, atualmente, alguns dos fenômenos mais estudados na área dos têxteis inteligentes. Neste campo, está sendo consolidada a utilização de diodos orgânicos eletroluminescentes que se caracterizam por possuir um caráter flexível e permitem seu emprego na fabricação de telas planas, finas, leves e flexíveis. 3.5. MATERIAIS CONDUTORES 3.5.1.- Materiais Os produtos têxteis obtidos com o uso de materiais Existem duas formas de desenvolver tecidos condutores são geralmente leves, duradouros, flexíveis e condutores elétricos e/ou térmicos, do mesmo modo que podem ser prensados, soldados e integrados nos processos existem dois tipos de materiais, metais e polímeros, que têxteis. oferecem estas propriedades. Os mesmos materiais são 3.5.2. Usos em têxteis inteligentes utilizados para ambas as aplicações (condução térmica e Desde muito tempo, os materiais condutores elétricos condução elétrica). Ambos os processos são similares e são utilizados em têxteis de proteção eletromagnética e são resultados de uma agitação/condução eletrônica. antiestática. Estes materiais têm, também, um valor Os tecidos condutores elétricos apresentam acaba- adicional para a melhoria da condutividade térmica em mentos (pigmentos e pastas de estamparia) com alto comparação com os polímeros convencionais. Uma de conteúdo metálico. Este conteúdo deve ser suficiente suas aplicações destacadas aparece em roupas desportivas para garantir a condução, mas deve assegurar a para favorecer a dissipação de calor durante o esforço físico. conservação da flexibilidade requerida para os tecidos. Estes materiais oferecem igualmente a capacidade de Acabamentos compostos como o níquel, o cobre, a prata identificar um ponto de pressão, como a pressão de um dedo ou o carbono de diversas espessuras, proporcionam ou de um impacto. Podem ser obtidas leituras do tecido 30 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Têxteis Inteligentes tomando como variáveis a área e a força de um ponto de polifluoro-carbono ou os poliuretanos e seus derivados. pressão. A leitura da força da área pode ser versátil, já que os têxteis podem ser construídos para serem mais 3.6.2. Uso de membranas em têxteis inteligentes sensíveis à força ou à área de pressão. Com essa nova Uma das principais aplicações de membranas se tecnologia, a capacidade de sensibilidade à pressão pode concentra na roupa desportiva, oferecendo características ser incorporada nos têxteis, quase sem ser notada, sem transpiráveis e impermeáveis. O efeito da transpirabilidade aumentar significativamente seu custo nem comprome- é obtido mediante um diâmetro de poro adequado, ter qualquer de suas características e propriedades. considerando que os poros são 20.000 vezes menores do Outro uso dos materiais condutores consiste em que uma gota de água, e 700 vezes maiores do que uma roupas capazes de gerar calor para as condições extre- molécula de vapor de água. O efeito impermeável é obtido mas do inverno ou para atividades de mergulho em águas mediante uma capa hidrofóbica que permite uma repulsão frias. Nestes casos, é necessária uma fonte de energia da água para a superfície externa da membrana. elétrica para que o material possa gerar calor mediante o Outra aplicação importante das membranas têxteis efeito Joule. A condução térmica permite a distribuição inteligentes é o chamado efeito Lótus (Flor de Lótus). O de calor por toda a roupa. efeito de Lótus oferece um resultado ultra hidrofóbico nas Existem também alguns usos de tecidos condutores membranas ou capas, que confere ao tecido a capacidade de no âmbito das antenas devido a suas capacidades de repelir produtos aquosos e também produtos derivados de receber ondas eletromagnéticas. triglicérides (azeites). O resultado é que a roupa não tem Finalmente, alguns dos usos principais dos mate- afinidade para nenhum desses produtos, de modo que não riais têxteis condutores são suas aplicações como fontes se suja. Outra característica é encontrada nos tecidos de alimentação de dispositivos eletrônicos em roupas, a autolimpantes. Existem vários produtos comerciais que segunda área principal dos SFT. utilizam membranas derivadas do politetrafluoretileno que apresentam uma analogia com o efeito da flor de lótus. 3.6 MEMBRANAS 3.6.1.Materiais A investigação multidisciplinar de químicos, físicos 4. TÊXTEIS ELETRÔNICOS Como foi citado no início deste trabalho, outro campo e profissionais do ramo têxtil conduziu ao desen- de investigação e desenvolvimento de SFIT é a integração volvimento correto da tecnologia do laminado, as da eletrônica miniaturizada nos substratos têxteis, como membranas microporosas ou hidrofílicas. As membranas sensores e microchips, que detectam e analisam estímulos são poliméricas e sua estrutura pode ser constituída por dando uma resposta. Estes tipos de desenvolvimentos uma ou mais camadas (até 6 camadas) de acordo com as recebem vários nomes como e-têxteis, textrônica, etc.. propriedades desejadas. As membranas são depositadas Foram realizados diversos esforços neste campo durante os sobre o têxtil para adicionar novas propriedades últimos 10 anos, principalmente em tecidos com aplicações superficiais. Os polímeros usados neste tipo de mem- militares e médicas. Quando incorporada ao desenho de uma branas podem ser de diferentes naturezas como: os roupa, a tecnologia pode chegar a monitorar o rítmo biopolímeros, geralmente celulósicos ou sintéticos, cardíaco do portador, a respiração, a temperatura, e um 32 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Têxteis Inteligentes Figura 6. Camisetas inteligentes amplo campo de funções vitais, alertando o usuário ou o médico sobre anormalidades funcionais. É muito difícil relacionar todos os trabalhos realizados em investigação e desenvolvimento, de modo que citaremos somente os mais famosos e/ou os mais úteis. Geórgia Tech Geórgia Tech, e em particular a equipe do Professor S. Jayaraman foram os pioneiros no desenvolvimento de SFIT que integram eletrônica. Em 1996, fabricaram uma roupa conhecida como Smart Shirt (camiseta inteligente) para uso em condições de combate. A camiseta utiliza fibras ópticas para detectar ferimentos de balas e sensores especiais que ficam junto ao corpo para controlar as constantes vitais em situação de combate. As fibras ópticas plásticas e outros fios especiais estão integrados na estrutura do tecido conferindo à Sensatex camiseta inteligente uma aparência de roupa clássica. A camiseta inteligente identifica a localização exata do problema físico ou do ferimento e transmite a informação em segundos ao receptor, permitindo detectar quem necessita de uma atenção imediata. Os tipos de sensores utilizados podem variar em 4.1. Eletronic Bra ( Sutiã Eletrônico) O Professor Malcolm McCornick, da Montfort função das necessidades do usuário, pelo que podem ser University desenvolveu um novo dispositivo que aplica personalizados para cada um. Por exemplo, um minúsculas correntes elétricas, que passam através do seio bombeiro poderia ter um sensor de gases nocivos e da mulher partindo do sutiã. A aplicabilidade deste artigo perigosos. Outros sensores poderiam supervisionar o se baseia no princípio de que existem diferenças de controle da respiração e da temperatura corporal, etc.. condução eletromagnéticas entre o tecido do peito são e o A camiseta inteligente e seus derivados podem ser tecido tumoral. A diferença de densidade que existe entre utilizados em uma grande variedade de campos e a tecidos humanos sãos e cancerígenos permite à usuária empresa Sensatex os fabrica atualmente para os detectar a presença de células cancerígenas. Do mesmo seguintes usos comerciais: modo, permite a exploração da mama desde diferentes > Supervisão médica geral de constantes vitais. ângulos, gerando um mapa detalhado da zona afetada. A > Supervisão de enfermidades. tecnologia poderia estar disponível em pouco tempo e > Supervisão de crianças. permite um rápido autodiagnóstico da presença de tumores > Atletismo. mamários. > Usos militares. 4.2. O sensor Baby Vest No ITV Denkendorf, uma equipe pluridisciplinar de Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 33 Tecnologia Têxteis Inteligentes investigadores desenvolveu um colete especial para (trabalho, escola, exercício, sonhos), elaborando uma parte bebês. O colete sensorial de bebês é equipado com importante do prontuário clínico e oferecendo mais sensores que permitem a supervisão constante de informações do que as obtidas em visitas ambulatoriais. funções vitais tais como: o ritmo cardíaco, a função pulmonar, a Também correlaciona informações graças à conexão de temperatura corporal, podendo ser dispositivos ópticos periféricos que medem a pressão utilizado na supervisão precoce de enfermidades arterial, a saturação de oxigênio no sangue, o movimento circulatórias ou cardíacas. Acredita-se que a utilização periódico das pernas, a temperatura principal do corpo, a deste colete venha a prevenir mortes sem explicação temperatura da pele, os níveis de CO2 e a tosse do portador. (morte súbita) e outras situações de risco para a vida dos O sistema da LifeShirt está disponível em tamanhos bebês. Os sensores estão colocados de maneira que não adulto e pediátrico (idades de 5 a 18 meses) e são belisquem e nem incomodem o bebê quando este estiver empregados em ensaios e investigação clínica. dormindo. Figura 7. Sensory Baby Vest da ITV É também acessível como dispositivo médico prescritível e não é vendido diretamente aos consumidores. 4.4. Telas interativas Nas ferramentas de comunicação da nossa sociedade, os dispositivos interativos e portáteis são uma das grandes fontes de inovação e representam um grande mercado. A integração de dispositivos eletrônicos portáteis de comunicação em têxteis aparece como um mercado natural. A primeira inovação foi um teclado feito em um tecido usando a detecção eletrocapacitiva, onde uma série de eletrodos bordados ou protegidos por seda compõe os pontos de contato. O contato de um dedo com um eletrodo é detectado, medindo-se o aumento na capacidade total do eletrodo. O teclado foi fabricado em série usando técnicas de bordado ordinárias e tramas condutoras suaves. O 4.3. A Lifeshirt da Vivometrics O sistema LifeShirt é o primeiro sistema de resultado é um teclado flexível, durável e sensível ao tato. Existem vários produtos comerciais que foram supervisão ambulatorial contínuo não invasivo (não inspirados nestes teclados. O mais famoso é a jaqueta de penetra o tecido humano) que pode obter informação KENPO que possui leitores integrados de MP3 e as calças pulmonar, cardíaca e outros dados fisiológicos “vaqueiro” da Levis. correlacionados. Este sistema recopila dados durante a Foram feitos também muitos esforços para a integração rotina diária do usuário, fornecendo aos investigadores de telefones móveis em roupas. Uma equipe sueca de I+D médicos e acadêmicos um “histórico contínuo” da desenvolveu uma luva que incorpora um telefone saúde do paciente nas situações da vida cotidiana móvel. 34 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Têxteis Inteligentes Figura 8. Uma luva que integra um telefone móvel 4.5. Conforto 4.6. Segurança As primeiras ferramentas de segurança, desenvolvidas Um dos melhores exemplos de aumento da comodidade, graças à eletrônica, é uma invenção graças à possibilidade de integração de eletrônica nos australiana: o sutiã inteligente. Wallace et al., da têxteis, são as etiquetas de identificação mediante Universidade de Wollongong desenvolveram um sutiã radiofrequência. As etiquetas de RFID são minúsculos que altera suas propriedades de resposta em função do microchips, que já foram reduzidos à metade do tamanho movimento do peito. O sutiã inteligente aperta ou de um grão de areia. Recebem um sinal de rádio e afrouxa suas tiras (alças) de sustentação, tornam rígidos respondem transmitindo seu código de identificação único. ou relaxados os seus bojos (taças), para restringir o A maioria das etiquetas RFID não usa nenhuma bateria, movimento do peito, prevenindo a dor e a caída do utilizam a energia do sinal inicial de rádio para transmitir peito. Para sua fabricação foram utilizados tecidos sua resposta. O uso principal das etiquetas em roupas recobertos de polímeros que podem alterar sua confeccionadas está centrado no manejo do processo de elasticidade em resposta à informação sobre quanta automatização de produção, incluindo: registros, classitensão existe no tecido. O sutiã inteligente é capaz de ficação e comprovações diversas. Os sistemas de RFID aumentar ou relaxar a rigidez de seus bojos e inseridos nos sistemas de produção têxtil podem eliminar apertar ou afrouxar suas tiras de sustentação quando significativamente o trabalho manual. Todavia, os sistedetecta excessivo movimento. Este sutiã proporciona mas RFID geram melhoras ainda mais significativas, na uma maior ajuda e comodidade já que permite uma satisfação do cliente, com poucos erros de distribuição e adaptação às distintas ações e movimentos de suas qualidade. Por essas razões, muitas marcas de prestígio usuárias. Figura 9. O sutiã inteligente de Wallace et al. pensam em adotar, em breve, o sistema das etiquetas RFID para lutar contra as fraudes e a falsificação de seus produtos. Outro tipo de inovação na área da segurança é a integração de sistemas GPS na roupa para a detecção da posição do usuário em caso de desaparecimento ou sequestro. A empresa Interactive Wear AG apresentou um protótipo experimental, em Março de 2006, desta tecnologia que terá muitas aplicações em roupas desportivas de risco, roupas de crianças, enfermos com mal de Alzheimer, etc.. Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 35 Tecnologia Têxteis Inteligentes 4.7. O computador portátil Existem vários grupos de investigação que trabalham 5. CONCLUSÕES Alguns anos atrás, os têxteis inteligentes foram em uma das soluções de uso de têxteis mais assom- apresentados como produtos imaginários e como um brosas, o computador portátil. O objetivo principal é a mercado pouco competitivo. Depois do esforço científico e integração completa de uma tela de computador, de uma dos diferentes desenvolvimentos elaborados, os SFT estão CPU e de um teclado em uma roupa cômoda e leve. se tornando interessantes aos usuários e se apresentam Atualmente, não existem produtos comerciais que como o futuro da indústria têxtil hoje em dia. Existem respondam a estas inovações incríveis. De fato, foram muitos produtos comerciais disponíveis e, tal e como apresentados alguns protótipos como, por exemplo, o foram apresentados neste documento, muitos invesBoeing Computer Services, desenvolvido pela tigadores estão desenvolvendo novas soluções, idéias e Honeywell Ind. Virtual Vision, Universidade Carnegic produtos concretos. Algumas aproximações anunciam um Melloon e outras organizações de investigação que mercado de milhões de dólares ao redor de 2010, o que estão desenvolvendo sistemas informáticos portáveis. explica a paixão atual pelos SFIT. Homenagem Armando Ramos Se estivesse vivo este ano ele veria a Ydal completar 65 anos com muito orgulho. Ele nos deixou Saudade, Admiração e Reconhecimento do seu trabalho. Trabalharmos juntos não significou termos as mesmas idéias, mas afinidade em buscarmos sempre o melhor caminho. Duas naturezas diferentes, por vezes complementares, outras tantas superpostas e interativas fizeram atravessar junto dele o oceano de uma vida, transformar e ser transformado, é mais do que um simples ato fraterno de companheirismo. É uma comunhão que transcende a lógica, vai além da compreensão, não tem e não pede explicação. O que determina uma afinidade? O que nos faz gostar tanto de alguém que nos torna capaz de gostar até mesmo daquilo que a gente não gosta? O que determina o Amor? É estranho: saudade dói, mas ao mesmo tempo a gente não quer deixar de sentir. Porque a intensidade da saudade machuca, mas é ela que mantêm viva a lembrança daquele cuja presença não podemos mais encontrar. Saudade reacende na memória o olfato, o tato, a voz e a imagem que só reaparece vívida de quando em quando no desespero lúdico do sonho. Sua ausência impôs a dura constatação que a vida tem fim, mas o que fazemos nela fica para sempre. O seu Amor, Compaixão, Amizade, Carinho e Dedicação sempre nos guiará com passos certos na busca de nossos ideais. Com Amor........do Filho. Armando Landi Ramos 36 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Tingimento Uma análise comparativa do desempenho colorístico dos processos de tingimento do poliéster em meio ácido e alcalino Autores: Engs. Vitor Zambon Brizido e Paulo Alfieri Vitor Brizido é um dos vencedores do II Prêmio ABQCT de Estímulo ao Estudo Paulo Alfieri é professor de Fibras e Beneficiamento Têxtil - FEI Mestre em Polímeros e Fibras pela Universidade de Manchester –Inglaterra. Revisão Técnica: Paulo Schlickmann Jr. RESUMO a 120ºC esta fibra apresentou uma maior degradação Um dos processos utilizados e sugeridos pelos que em meio ácido. Para dar consistência ao trabalho fabricantes de corantes para o tingimento do poliéster é foram realizados 3 tingimentos de cada cor. Restam o processo de tingimento em meio alcalino. Embora diversos pontos para a continuidade do trabalho que são existam empresas que já trabalham com este processo há importantes tanto cientificamente como no âmbito algum tempo, até o presente não há uma tratativa mais industrial. ampla sobre as possibilidades deste processo ou de suas limitações, além de algumas considerações gerais sobre Palavras-chave: Poliéster, corantes dispersos, processos alcalino e ácido. corantes mais adequados para o processo e informações qualitativas sobre melhorias de toque e redução da 40 INTRODUÇÃO necessidade da limpeza redutiva para alcançar bons As exigências crescentes de baixos custos, elevada níveis de solidez à lavagem. Para os artigos de Pes/El, qualidade e desempenho dos materiais têxteis tornam cada não há indicações mais específicas deste processo. O vez mais importante a otimização dos processos de presente trabalho teve por objetivos verificar alguns fabricação e o seu pleno entendimento da capacidade de destes pontos, comparando o processo tradicional atender a estas exigências. Com vistas a esta questão, o efetuado em meio ácido com o processo alcalino. presente artigo trata de analisar o processo de tingimento Percebeu-se nos resultados que as diferenças de em meio alcalino comparativamente ao processo tradi- processo vão além das citadas, com variações de cional em meio ácido, visando assim, contribuir no tonalidade, intensidade de cor, em especial na malha de entendimento e na potencialidade deste processo. De Pes/El testada, e mesmo nos índices de solidez. Foi maneira geral, muito pouco de especifico há sobre o assunto observado, também, que a limpeza redutiva não pode a parte indicações dos fabricantes de corantes dispersos ser prescindida nas cores médias e escuras, mas que o quanto a seleção daqueles que permitem o trabalho em meio processo alcalino melhora um pouco os índices de alcalino [3] e algumas informações sobre a questão dos solidez. O esgotamento dos banhos foi analisado e oligômeros [1] e sobre a possibilidade de uma economia mostrou em várias cores que, em meio alcalino, o pela dispensa da limpeza redutiva final [3]. esgotamento é um pouco menor que em meio ácido. Nas Entretanto, há pouca informação sobre a obtenção da malhas de Pes/El o elastano se mostrou mais limpo no intensidade da cor e tonalidade, sobre o esgotamento dos processo alcalino, porém, nas condições de tingimento banhos de tingimento e mesmo sobre os níveis de solidez Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. Tecnologia Tingimento possíveis de serem alcançados. A influência do meio O mecanismo de tingimento do poliéster está ilustrado a alcalino na reserva do elastano e sobre as características seguir: do elastano também não são divulgadas. Figura 1. Análise da Reserva do Elastano Fonte: Apostila de Beneficiamento 2, Alfieri Paulo. 2. Revisão bibliográfica Os corantes dispersos constituem uma classe de corantes praticamente insolúveis (miligramas/litro) em água por não possuírem grupos facilmente dissociáveis. A presença de grupos polares como as hidroxilas, nitrilas, aminas, etc., dão a estes corantes uma pequena afinidade para com as fibras de poliéster e outras fibras sintéticas. Esta pequena solubilidade varia de corante a corante e é função da temperatura aumentando com o aumento desta [2]. O processo tintorial ocorre na presença de agentes dispersantes que estabilizam a dispersão do corante facilitando o contato entre o corante e a fibra hidrófoba. Quimicamente, os corantes pertencem a diversas classes orgânicas, mas os mais importantes são os derivados azóicos e antraquinônicos [5]. O principal poliéster usado para fins têxteis é o polietilenotereftalato (PET), obtido a partir da policondensação do dimetiltereftalato ou ácido tereftálico e o dietileno glicol, sob vácuo e a alta temperatura [4]. Para efeito deste trabalho, as características mais importantes desta fibra são a sua estrutura molecular micelar, dotada O pH ideal para o tingimento com os corantes de um teor cristalino da ordem de 50% [6] a sua Tg de dispersos é entre 4,5 e 5,5. Este pH deve ser mantido cerca 80ºC (temperatura de transição vítrea), a sua durante todo o tempo do tingimento, geralmente com constituição química e a presença de oligômeros cíclicos ácidos fracos. Os corantes dispersos são usados em meio e regulares que evolvem durante os processos tinto- ácido para prevenir a hidrólise e assegurar a reprodutibiriais e podem precipitar na forma cristalina sobre as lidade das cores. Deste modo, o tingimento em meio alcalino fibras de poliéster [6]. exige uma rigorosa seleção dos corantes que resistam a este Sobre os oligômeros, são bem conhecidas as conse- meio. Ilustrativamente, a seguir estão exemplos de corantes quências, em especial, na alteração o toque quando dispersos que não podem ser usados no processo alcalino por presentes. No processo alcalino, os oligômeros sofrem sofrerem, já a pHs levemente alcalinos, hidrólise. hidrólise tornando-se solúveis em água. Os corantes azóicos sofrem hidrólise de grupos Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. 41 Tecnologia Tingimento substituintes da base cromófora, que resulta em alte- Os tingimentos foram precedidos por uma purga com rações de cor e de rendimento, este último, devido a alte- 2 g/l de barrilha e 2g/l de detergente não iônico por 30’ a rações de caráter iônico da molécula de corante [5]. 80ºC. As amostras foram enxaguadas e neutralizadas para Como se observa nas fórmulas, a hidrólise leva a pH 5,5 a 6,0 com ácido acético. alterações de grupos menos hidrofílicos como os grupos A limpeza redutiva foi realizada de acordo com a éster (-OCO-) e nitrila (-CN) para grupos mais intensidade da cor com: hidrofílicos (-OH) e até dissociáveis como o carboxílico * Cores claras: lavagem dispersiva 1g/l de -COO + H ). Por este motivo, a afinidade dispersante * Cores médias: 2g/l de soda cáustica, 2g/l de destes corantes se reduz em relação a uma fibra como o - (-COOH + hidrossulfito de sódio e 1g/l de dispersante. poliéster. O fato de o corante ser azóico não é o que realmente * Cores intensas: 3g/l de soda cáustica, 3g/l de conta, tanto que se num corante disperso azóico não hidrossulfito de sódio e 1g/l de dispersante. O equipamento utilizado para os tingimentos foi um houver grupos substituintes hidrolisáveis, este corante se aparelho HT - Mathis Alt-b. A avaliação das cores foi feita aplica bem para o processo alcalino. com espectrofotômetro Datacolor 600® e os testes de Processo por esgotamento a alta temperatura. solidez em aparelho Wash Tester BFA-B. Para a malha Pes/El o processo de tingimento em aparelho HT foi feito a 120ºC e para a malha 100% Pes Materiais e métodos Foram usadas malhas de Pes e Pes/Pue, sendo a malha a 130ºC, utilizado o mesmo gráfico abaixo. Processo tintorial 30’ 60º 10’ Dispersante Corantes Ajuste de pH 4,5 ou 9,0 42 de Pes feita com o fio Pes 167dtex f 216/Pes 50den f24 120ºC 30’ 130ºC Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. liso, e a malha de Pes/El com o fio Pes 167dtex f96/ Pue 40 70ºC Enxágues e Descarga Limpeza redutiva den e o fio de elastano de 40 dtex. As malhas utilizadas forma: Tecnologia Tingimento Meia Malha de 100% Pes * Carreiras/cm: 20 * Colunas/cm: 15 * Gramatura: 165g/m² tingimentos de malha Pes/El. Meia Malha de Pes/El * Carreiras/cm: 20 * Colunas/cm: 18 * Gramatura: 184g/m² * % de elastano: 6% Foram selecionados os seguintes corantes que recomendados na faixa de pH entre 3 e 9 para o tingimento em meio ácido e em meio alcalino. OBS: Na tabela, os números seguidos de barras são os * Dianix Amarelo SE-G códigos dos tingimentos com mesma tricromia realizados * Dianix Castanho CC sobre a malha de Pes 100% e Pes/El (94/6%) em meio ácido e * Dianix Vermelho CC alcalino. * Dianix Rubi CC * Dianix Turquesa S-BG RESULTADOS E DISCUSSÃO * Dianix Azul E-R 150 Medição do pH * Dianix Marinho CC * Dianix Preto CC-R Nas tabelas seguintes estão as medidas iniciais e finais de pH mostrando a estabilidade do pH em cada caso. Alguns pH(s) finais nos tingimentos em meio alcalino sofreram As análises colorimétricas foram realizadas com pequenos desvios em relação ao pH inicial nos tingimentos espectrofotômetro marca Datacolor do modelo das malhas de Pes 100%. Não há uma explicação específica CM3600d no sistema CMC. Os ensaios de solidez à dado que nos tingimento das malhas Pes/El isso lavagem foram feitos com padrão tecido multifibras, praticamente não aconteceu. de acordo com a norma ISO 105-CO6 (60ºC) no Medição do pH após processo ácido 100%Pes aparelho Mathis Wash Tester BFA-B e os testes de atrito no Crockmeter, marca Mathis de acordo com a NBR 105X12 ABNT ISO. Medição do pH após processo alcalino 100% Pes Receita das cores Na tabela a seguir estão as tricromias realizadas no trabalho. Os nºs na primeira linha em cada coluna se referem a tingimento com mesma receita. Os primeiros dois nºs de cada coluna se referem aos tingimento feitos sobre malha 100% Pes e os 3º e 4º nºs soa referidos aos 44 Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. Medição do pH após processo ácido PES/PUE Tecnologia Tingimento Medição de pH após processo alcalino Pes/Pue caso da cor cinza escura que foi sensivelmente menor (88,27% no tingimento alcalino em relação ao ácido). A tentativa de relacionar diretamente as diferenças de intensidade da cor na malha com as diferenças, mesmo que Análise das leituras espectrofotométricas As análises espectrofotométricas realizadas sobre as malhas foram feitas de acordo com os critérios de avaliação e os resultados são médias de três tomadas de cor no espectrofotômetro por amostras coloridas. qualitativas, de esgotamento de banho dos tingimentos não revelou uma lógica, havendo nos resultado amostras mais escuras com menor esgotamento e vice-versa. 2º A FC % nos tingimentos da malha Pes/El se alterou grandemente, chegando em algumas cores a variações de Também foram feitas de cada malha para cada cor até 30% na intensidade da cor. Também nestes tingimentos nos pH(s) 4,5 e 9,0 três tingimentos distintos, que se não se conseguiu estabelecer uma relação entre a cor da apresentaram intensidade e tonalidade igual. Com isso malha e o esgotamento, havendo maiores discrepâncias a reprodutibilidade foi muito boa quanto a avaliação das ainda em relação aos tingimentos das malhas de 100% Pes. cores. Aqui a influência do elastano pode ter alguma Os resultados estão na tabela a seguir e incluem importância, mas não devemos esquecer que as malhas de também uma avaliação qualitativa dos esgotamentos de Pes 100% são constituídas de fios de microfilamentos banho. (167/144 f) enquanto que a malha com elastano tem fio Análise Espectrofotométrica Observando os resultados da tabela existem alguns pontos que merecem ser mencionados: normal 167/96 f. Esta diferença de título dos filamentos (1,2 dtex contra 1,7 dtex aproximadamente) para um mesmo 1º A FC % (Força colorística) que define a título de fio, (167 dtex) faz com que a área específica dos intensidade da cor nos tingimentos de malhas de 100% fios a ser tinta seja muito maior no caso dos fios de Pes se apresentaram com poucas diferenças, salvo no microfilamentos. Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. 45 Tecnologia Tingimento Solidez à Fricção As análises feitas aos pares (ácido e alcalino) estão A solidez à fricção (Atrito) dos tingimentos está nas tabelas a seguir: apresentada nas tabelas a seguir e mostra que após a limpeza redutiva, mesmo nas cores mais intensas, praticamente, não resta residual de corantes precipitados Vermelho (ácido) Nota Alteração de cor Nota transferência de Cor Nota Alteração de cor Nota transferência de Cor nas malhas tintas. Mesmo na cor preta representada Lã Lã pelos nºs 7, 14, 21, e 28, respectivamente de tingi- Acrílico Acrílico Poliéster Poliéster mento em meio ácido e alcalino sobre malha de Pes Poliamida Poliamida Algodão Algodão Acetato Acetato 100% e tingimentos em meio ácido e alcalino de malha Pes/El se verificam notas mais baixas que 4. A fricção a úmido da cor preta dos tingimentos em Cinza esc. (Ácido) Nota Alteração de cor Nota Alteração de cor Nota transferência de Cor Nota transferência de Cor meio alcalino apresentaram uma solidez meio ponto Lã Lã mais baixo que em meio ácido. A eficiência da limpeza Acrílico Acrílico Poliéster Poliéster Poliamida Poliamida Algodão Algodão Acetato Acetato redutiva nos dois tingimentos foi bastante boa. Fricção a Fricção a úmido Fricção a Fricção a úmido ¾ Verde. (Ácido) Nota Alteração de cor Nota transferência de Cor Fricção a Fricção a úmido Fricção a Fricção a úmido Nota Alteração de cor Nota transferência de Cor Lã Lã Acrílico Acrílico Poliéster Poliéster Poliamida Poliamida Algodão Algodão Acetato Acetato Turquesa. (Ácido) Nota Alteração de cor Nota transferência de Cor Solidez à lavagem com multifibras a 60ºC Foram selecionadas algumas amostras de malhas com elastano, que é o caso mais crítico, dada a absorção de corantes por parte do elastano para reavaliar o Lã Acrílico Acrílico Poliéster Poliéster Poliamida Poliamida Algodão Algodão Acetato Acetato Preto (ácido) Nota Alteração de cor utilizando o tecido multifibras, que tem em sua elevada capacidade de absorção dos corantes dispersos. Amostras selecionadas: Pes/El em meio ácido 15, 16, 19, 20, 21. Pes/El em meio alcalino 22, 23, 26, 27, 28. 46 Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. Nota transferência de Cor Lã resultado do teste de solidez à lavagem, desta vez, composição faixas de poliamida e acetato, fibras estas de Nota Alteração de cor Nota transferência de Cor Nota Alteração de cor Nota transferência de Cor Lã Lã Acrílico Acrílico Poliéster Poliéster Poliamida Poliamida Algodão Algodão Acetato Acetato Tecnologia Tingimento Os índices de solidez apresentados nas tabelas limpeza redutiva que é destinada à eliminação destes anteriores, mostram agora com clareza que existem corantes residuais foi feita igualmente nos dois tingimendiferenças marcantes de solidez ao desbote em tos. função da fibra que acompanha a malha tinta na Os índices de solidez estão um pouco melhores no caso lavagem. O caso da cor preta é a de maior relevância dos tingimentos ácidos, pelo menos em parte, relacionado pela intensidade da cor e pela importância da cor, à presença de menor contaminação dos corantes no comercialmente falando. Mesmo junto com o Pes branco elastano. como padrão, a nota é muito baixa mostrando a baixa Na superfície do poliéster, a limpeza redutiva foi solidez à lavagem na malha com elastano. Para a efetiva dado que comparativamente, a solidez das cores poliamida e o acetato as notas também são muito nas malhas 100% Pes não sofreu alterações expressivas. Figura 2. Análise da Reserva do Elastano baixas. Em meio alcalino a malha de Pes/El aparece um pouco melhor para a maioria das fibras do tecido multifibras e para a maioria das cores analisadas. Observar principalmente o desbote sobre a poliamida no tecido multifibras. Fato interessante está que os desbotes sobre os padrões dos tingimentos em meio ácido e alcalino para a malha com elastano apresentam nuances de cores diferentes, o que pode significar que o meio aquoso altera ou intensifica a preferência ao desbote de alguns dos 5. CONCLUSÕES componentes da tricromia. As amostras testadas da cor O presente trabalho procurou colocar em evidência as preta e do vermelho ilustram este fato na figura 2. diferenças entre o processo de tingimento por esgotamento em meio alcalino em relação ao tingimento em meio ácido Teste da reserva do elastano tradicional. Nesta comparação, a literatura coloca que há A averiguação da cor dos elastanos após os tingimen- benefícios no tingimento alcalino como uma melhoria no to foi efetuada em três cores: o preto, o cinza e o toque devido à presença menor de microcristais de vermelho. Desta verificação se obtiveram amostras que oligômeros na superfície dos filamentos e melhorias na estão ilustradas na figura a seguir. solidez à lavagem algumas casas fabricantes de anilinas Estas amostras evidenciam bem que em meio chegando a indicar como vantagem a não necessidade da alcalino, o elastano após a limpeza redutiva, está mais realização da limpeza redutiva final do artigo e da máquina, escuro e com outra tonalidade. No caso da cor vermelha, que é, sem dúvida, uma operação onerosa e geralmente o elastano ficou praticamente limpo em meio ácido. Nas requer agentes tóxicos e poluentes como o hidrossulfito de demais cores analisadas o elastano ficou mais claro e de sódio. nuance diferente. O meio ácido do tingimento teve, A gama de corantes possíveis de serem usados nos dois portanto, um efeito de limpeza sobre o elastano, já que a processos é pequena, sendo cerca de 2 dezenas de corantes Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. 47 Tecnologia Tingimento contra centenas de corantes que trabalham bem em meio alongadas o que favorece a remoção nos teste de solidez a ácido. Este aspecto é bastante limitador, dado que a 60ºC. moda exige cada vez mais alternativa de cores entre outros quesitos estético-funcionais. Um outro fato encontrado no trabalho, foi que além das variações de cores e índices de solidez, o elastano sofreu um Nos trabalhos dos fabricantes de corantes não há, no ataque maior em meio alcalino. O descampionamento da entanto, indicações claras a respeito do desempenho malha, embora de maneira qualitativa, apontou para este colorístico entre os dois processos, quanto à cor final do fato, havendo rupturas mais frequentes que no elastano das artigo e, no caso de artigos com elastano, quanto aos malhas tintas em meio ácido. A integridade dos filamentos níveis de solidez possíveis de serem obtidos e quanto ao foi de certa maneira comprometida. desempenho do elastano na condição de tingimento No trabalho muitos pontos interessantes foram observados, mas dada a extensão do mesmo e a necessidade de alcalino. Neste trabalho se pode ver que as cores obtidas na equipamentos não facilmente disponíveis, não puderam ser malha 100% Pes nos dois processos tiveram níveis de verificados. Fica assim, a possibilidade de se continuar este intensidade similares na maioria da cores (6 em 7 assunto em trabalhos subsequentes. Dentre estes pontos se tricromias), mas as nuances foram bastante diferentes, o podem destacar: que exige correções de receita nas quantidades dos a) Uma análise objetiva do toque, baseado princi- corantes da tricromia para se obter uma mesma cor final palmente pela avaliação do coeficiente de atrito das quando se muda de processo. Este fato é ainda mais malhas. ressaltado quando se apresenta uma malha com elastano. b) Uma análise microscópica do estado dos elastanos As alterações de intensidade e nuance da cor são bem nas malhas nos dois processos e a determinação da maiores, sendo na maioria mais intensas para os elasticidade das mesmas. tingimentos alcalinos. Este aspecto também tende a c) Uma análise mais aprofundada sobre o com- desencorajar os tintureiros na aplicação de tingimentos portamento tão distinto dos corantes nas duas malhas, uma alcalinos dado que isso exige o desenvolvimento de mais de microfilamentos 100% Pes e a outra com elastano. receitas para uma mesma cor. d) Uma análise mais aprofundada do por que da No trabalho se constatou que a solidez das cores tendência para o azulado da nuance das cores nos tingimento tintas em meio alcalino é melhor, especialmente quando em meio alcalino. Que fatores são determinantes? A está presente um elastano, mostrando que a limpeza constituição química dos corantes é sem dúvida um dos redutiva conta com a contribuição do próprio tingimento pontos. alcalino para uma limpeza mais efetiva do elastano. É 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS interessante notar que determinadas cores não foram [1] CLARIANT S/A, Apostila de treinamento. Laboratório de aplicações técnicas. 2001. [ 2 ] G U A R AT I N I , C l á u d i a C . I . ; Z A N O N I , M a r i a Va l n i c e B . . C o r a n t e s T ê x t e i s . D i s p o n í v e l e m : <http://www.scielo.br/pdf/qn/v23n1/2146.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2008. sensivelmente afetadas pelo meio ácido ou alcalino, [3] DYSTAR LTDA. Dyeing of Polyester. Frankfurt: Dystar, 2004. [4] REVISTA ABTT (Associação Brasileira de Técnicos Têxteis). Fiação de Filamentos de Poliéster. Rio de Janeiro, v.4, ano 2, 2003. como no caso do verde e do turquesa, que são moléculas de corantes de formas mais volumosas (não necessariamente maiores). Já as cores preta, vermelha e cinza são de corante de moléculas mais 48 Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. [5] SUMITOMO CHEMICAL. Poliester Alkaline Dyes technology. Disponível em: <http://www.sumitomo-chemical.be/>. Acesso em: 28 nov. 2008. [6] ALFIERI, Paulo. Apostila de Beneficiamento Têxtil II AGRADECIMENTOS A Dystar e Têxtil Ouro Verde, que cederam gentilmente o laboratório para que fossem realizados os testes de tingimento e a Dystar que cedeu os corantes. À Unifi que cedeu as malhas sobre as quais foram feitos os trabalhos. Tecnologia Qualidade Análise das propriedades físicas de tecidos para lençóis. Autor: M.E.Banja, A.V.S. Martins, J.C. Petermann SENAI/CETIQT Revisão Técnica: Jose Antonio Marconi na Tabela 2 a seguir. RESUMO Análise da influência do processo de caustificação e dos diferentes fluxos de acabamentos têxteis nas propriedades físicas dos tecidos 100% algodão para Figura 1: Fluxograma do acabamento dos tecidos. Tecido B Tecido A lençóis, focando em algumas características dos tecidos como densidade de fios, gramatura, resistência ao rasgo, resistência à tração e alongamento, que podem variar em função do fluxo de beneficiamento. Palavras-chave: Caustificação; Rama; Fluxo de acabamento; Resistência; Propriedades físicas. 1 - INTRODUÇÃO Neste estudo, analisaremos os resultados providos de um experimento cujas amostras são derivadas de uma fábrica do segmento de lençóis. Tais amostras são tecidos que possuem a mesma característica quanto à gramatura, peso, título de fio, à estrutura do tecido e à mesma largura cru e acabado (Tabela 1). Tabela 1: Características construtivas do tecido. Título do fio (Ne) Densidade (fios/pol) Bat/pol 60 Urdume Trama Urdume Trama 40Pent 30Card. 118 60 Largura (m) Estrutura Composição Tafetá 100% cru Acabado algodão 2,76 2,52 2 - O FLUXO DE ACABAMENTO DOS TECIDOS. Ao dar entrada no acabamento do tecido apresentado, serão destinados três fluxos de acabamento específicos (Figura 1) e poderá ser encontrado em três formas distintas: tecido para lençol branco, estampado ou tinto. Para fins deste estudo, usaremos a nomenclatura 50 Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. Tecido C Tecnologia Qualidade Tabela 2: Nomenclatura utilizada para os diferentes tecidos. Associação Brasileiras de Normas Técnicas (ABNT) Fluxo de acabamento Nomenclatura Tecido para lençol branco Tecido A Tecido para lençol estampado Tecido B Tecido para lençol tinto Tecido C Norma Brasileira (NBR) 8428-84 referente ao condicionamento de materiais têxteis para ensaio. O primeiro teste, que visa determinar a quantidade de fios por unidade de comprimento, foi feito de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) Norma 3 COLETA DAS AMOSTRAS E ENSAIOS FÍSICOS. Brasileira (NBR) 10588/1988. Em seguida, avaliamos a quantidade de massa em Para realizar os testes, colhemos amostras em diversos gramas por metro quadrado (g/m2) e sua uniformidade ao pontos de cada fluxograma em que o tecido é submetido. longo da superfície do tecido. Este teste foi realizado de Os tecidos B e C passam duas vezes na Rama para acordo com a ABNT NBR 10591/1988. primeiramente pré-alargar e depois estabilizar o tecido. Para determinar a força média necessária para prolongar Neste caso coletamos amostras antes e pós-rama nas um rasgo previamente iniciado no corpo de prova, duas etapas. utilizamos a norma American Society for Testing and 3.1 - Testes físicos Materials (ASTM) D 1424/1996. Para a realização dos testes físicos das amostras de E, por fim, o teste de resistência à tração e à carga tecidos coletadas, primeiramente estas foram con- máxima necessária para fazer com que um corpo de prova se dicionadas em laboratório têxtil de acordo com a rompa foi realizado de acordo com a ABNT NBR Tecnologia Qualidade 11912/1991. No gráfico 2, apresentamos as médias da densidade de 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS. tramas nos tecidos. Ao analisar os dados, observa-se o Para avaliarmos os dados utilizaremos gráficos para a comportamento dos resultados opostos em relação aos melhor visualização e análise destes valores. Como o resultados apresentados no gráfico 3. Comparando-os, tecido A dispõe apenas de 4 amostras coletadas para a percebemos que ocorre uma compensação entre urdume e realização dos ensaios físicos, será repetido na quinta trama, ou seja, enquanto em um sentido aumenta a amostra o valor da quarta amostra, apenas para densidade, no outro sentido diminui. compararmos os três tecidos no final do processo. Gráfico 2: Médias de densidade de tramas Os gráficos referidos obedeceram à seguinte Médias de densidade de tramas nomenclatura: etapa 1 corresponde ao tecido antes do etapa 3 amostra colida antes de passar pela rama (pré alargar), 4 à pós rama e 5 corresponde ao momento após segunda passagem pela rama. O gráfico 1 mostra os resultados da densidade média Densidade (tramas/pol) 66 processo de caustificação, à etapa 2 pós-caustificação, à 64 62 60 58 56 1 2 3 de fios de urdume nos tecidos analisados no decorrer do acabamento. Podemos observar que 4 5 Amostra ao longo do Tecido A Tecido B Tecido C processo a média da densidade varia de acordo com as etapas em que o tecido é submetido, mas que os tecidos A No gráfico 3, apresentamos os dados referentes à média e C terminam com as médias muito próximas em relação de gramatura dos tecidos. Neste caso observamos que ao tecido B após a última passagem pela rama. apesar de os resultados de cada etapa não serem regulares, Apesar de os tecidos serem submetidos a processos diferentes como a concentração de Soda na caustificação os tecidos possuem uma mínima diferença no valor da gramatura após passar pelo acabamento. Gráfico 3: Médias de gramatura dos tecidos. e o número de passagens na rama, o resultado final deste teste se mostra quantitativamente regular. Médias de gramatura dos tecidos Gráfico 1: Médias de densidade de fios de urdume. 130 Gramatura (g/m 2) D e ns ida de (fios /pol) Médias de densidade de urdume 130 125 125 120 115 110 120 1 2 3 115 4 5 Amostra Tecido A 110 1 2 3 4 Amostra Tecido A Tecido B Tecido B Tecido C 5 No gráfico 4, apresentamos os dados das médias de Tecido C resistência ao rasgo no sentido do urdume nas amostras. Analisando os dados, observamos que o tecido C tem uma 52 Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. Tecnologia Qualidade elevada resistência ao rasgo em relação aos demais, pois também o aumento da resistência nesta mesma etapa no acreditamos que tal característica seja influenciada pela gráfico 6. O contrário acontece com os tecidos A e B, que na diferença de concentração de soda cáustica no banho de etapa 2 apresentam uma redução de fios de urdume e por caustificação. conseqüência a redução de resistência à tração. Gráfico 6: Médias de resistência à tração no sentido do urdume. Gráfico 4: Médias de resistência ao rasgo no sentido do urdume. Médias de resistência à tração no sentido do urdume Resistência à tração (daN) Médias de resistência ao rasgo no sentido do urdume Resistência ao rasgo (kgf) 1,30 1,20 1,10 1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 60 55 50 45 40 35 1 0,50 1 2 3 4 2 Amostra Tecido A Tecido B 3 4 5 Amostra 5 Tecido A Tecido B Tecido C Tecido C No gráfico 5, apresentamos os dados das médias de No gráfico 7 apresentamos os resultados das médias de resistência ao rasgo no sentido da trama. Observa-se que resistência à tração no sentido da trama. Ao comparar os a resistência ao rasgo dos tecidos A e B neste experi- gráficos 2 e 7, notaremos comportamentos esperados, pois mento é maior do que o tecido C. a variação de resistência entre as etapas 1 e 3 no gráfico 7, foi produzida também pelo efeito de variação de densidade de Gráfico 5: Médias de resistência ao rasgo no sentido da trama. fios de trama do gráfico 2, já que o aumento de densidade de fios tem como consequência o aumento na resistência do Médias de resistência ao rasgo no sentido da trama tecido e vice-versa. Contudo, o tecido B nesta avaliação da Resistência ao rasgo (kgf) 1,20 1,10 resistência à tração em ambos sentidos tem elevada perda 1,00 0,90 desta propriedade. 0,80 0,70 Gráfico 7: Médias de resistência à tração no sentido da trama. 0,60 0,50 0,40 1 2 3 4 5 Médias de resistência à tração no sentido da trama Tecido A Tecido B Tecido C No gráfico 6, apresentamos os dados das médias de resistência à tração no sentido do urdume. Ao comparar os gráficos 1 e 6 observaremos que a densidade de fios de urdume exerce grande influência na resistência à tração Resistência à tração (daN) Amostra 36 34 32 30 28 26 24 22 20 1 2 3 dos tecidos. Com o aumento na densidade de fios de urdume na etapa 2 do tecido C no gráfico 1, ocorre 54 Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. 4 Amostra Tecido A Tecido B Tecido C 5 Tecnologia Qualidade No gráfico 8 apresentamos as médias de resistência à Gráfico 9: Médias de resistência à tração (alongamento à ruptura) no sentido da trama. tração ( alongamento a ruptura) no sentido do urdume. E observamos que o tecido C que tem melhor resistência à Médias de resistência à tração (alongamento à ruptura) no sentido da trama baixa disposição ao alongamento nestas mesmas amostras. Os tecidos A e B que perdem resistência com a caustificação, têm um aumento na disposição ao Alongamento (mm) tração nas etapas 2, 3, 4 e 5 no gráfico 6, apresenta uma 50 40 30 20 10 1 2 3 alongamento. Depois de passarem pelas etapas 2 e 3 os 4 5 Amostra tecidos A e B perdem o alongamento à ruptura e ambos se Tecido A Tecido B Tecido C aproximam do valor do tecido C, seguindo com pequenas alterações até serem acabados em rama. As análises efetuadas mediantes os resultados obtidos Gráfico 8: Médias de resistência à tração (alongamento à ruptura) no sentido do urdume. neste estudo refletem a importância da caustificação e da escolha do fluxo de processamento do tecido plano no Médias de resistência à tração (alongamento à ruptura) no sentido do urdume Alongamento (mm) 5 - CONCLUSÃO beneficiamento. As propriedades físicas (densidade de 45 40 35 30 25 20 15 10 5 fios, gramatura, resistência ao rasgo, resistência à tração e alongamento) são alteradas constantemente durante as etapas de acabamento chegando às características finais, quando serão entregues ao consumidor final. 1 2 3 4 5 Verifica-se que a concentração da soda cáustica ao se Amostra Tecido A Tecido B Tecido C realizar a caustificação tem papel fundamental nas propriedades físicas dos tecidos, logo após a caustificação e No gráfico 9 apresentamos os resultados das médias nas etapas seguintes onde seu desempenho também será de resistência à tração ( alongamento à ruptura ) no verificado. O tecido C ao final do seu processamento, sentido da trama. Estes tecidos antes de sofrerem a apresentou os melhores valores de resistência ao rasgo e caustificação, possuem valores de alongamento muito resistência à tração nos dois sentidos (urdume e trama), próximos, porém durante o fluxo de acabamento todos os este fato se deve à contribuição da caustificação, pois a tecidos apresentam grandes oscilações destes valores. É concentração de 25 ºBé de soda cáustica tem melhor efeito importante enfatizar a diferença apresentada nesta no inchamento da fibra e na contração dos fios de algodão e, propriedade na etapa 5 destes tecidos, que foram consequentemente, ocorre o aumento de resistência dos acabados em rama, pois o tecido C apresenta um fios. Este efeito é menor se reduzirmos esta concentração, e alongamento de 63,38% maior que o tecido B, e a isto é verificado nos tecidos A e B, com concentrações de diferença é ainda maior se compararmos o tecido A com 10 ºBé e 20 ºBé respectivamente. B, alcançando um alongamento 92,88% maior do que o tecido B. A gramatura tem várias alterações durante os processos, porém antes de se iniciar o acabamento destes tecidos se Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. 55 Tecnologia Qualidade constatou que eram muito próximas, evidentemente, já resistência do mesmo. Este fato ficou evidenciado nos que estes tecidos têm as mesmas características gráficos de resistência à tração no sentido do urdume, onde construtivas. Verifica-se ao término dos processos de os tecidos B e C têm queda na resistência entre as etapas 4 e acabamento que a gramatura dos três tecidos tem 5. No tecido A, esta queda é percebida entre as etapas 3 e 4. praticamente o mesmo valor, apesar das variações que os Este efeito ocorre também na resistência à tração no sentido tecidos apresentaram durante as etapas. Este fato ocorre da trama nos tecidos A e B. devido aos três tecidos serem acabados com a mesma Concluímos que o objetivo do estudos foi alcançado, largura final. Como os tecidos não sofreram processos uma vez que se pôde observar o comportamento das em que ocorrera a perda ou o ganho de massa em demasia, propriedades físicas dos tecidos com as variações no se compreende este fato já que temos as mesmas processo de caustificação e nos fluxos de acabamentos. características construtivas nos tecidos. Percebemos que o fluxo foi um fator importante, já que os A perda de resistência nos tecidos de algodão durante tecidos A e B passaram por processos semelhantes e o beneficiamento já era esperada devido aos excessivos tiveram também comportamentos semelhantes nas tratamentos com produtos químicos e temperaturas propriedades físicas. Comparando com o tecido C, as elevadas. propriedades físicas foram inferiores, pois este tecido O fluxo de acabamento tem grande influência nas passou por outro processamento que lhe conferiu melhores propriedades físicas dos tecidos, ao verificarmos o propriedades. Com comparações pertinentes, avaliamos os comportamento das linhas geradas nos gráficos, mais dados obtidos com a teoria no assunto e, desta maneira, a especificamente os tecidos A e B que tem até a etapa 3 sua importância e abrangência para empresas do segmento processos muito semelhantes, onde tais processos têxtil, com foco na qualidade dos produtos e na otimização ocorrem na sua maioria em corda, notaremos que as dos processos do acabamento dos tecidos. linhas possuem grande semelhança em seus comportamentos, ou seja, a tendência das linhas é genérica na Referências Bibliográfica: maioria dos casos. Já as linhas geradas nos gráficos pelo ·ABNT, NBR 10520: Informações e documentação tecido C têm um comportamento na maioria dos casos Citações em documentos - Apresentação. Rio de Janeiro, diferenciado, isso se deve ao fato de seu processo ser 1988. realizado em aberto, o que lhe garante uma melhor ·ABNT, NBR 10591: Materiais Têxteis - Determinação da uniformidade, enquanto que, nos processos realizados gramatura de tecidos. Rio de Janeiro, 1988. em corda, a uniformidade é dificultada devido ao ataque ·ABNT, NBR 11912: Materiais Têxteis - Determinação da dos produtos químicos acontecer preferencialmente no resistência à tração e alongamento de tecidos planos (tira). exterior da “corda”, e no interior da “corda” a penetração Rio de Janeiro, 1991. dos produtos não ocorre homogeneamente. ·ALTENBURG, Tiago. Estabilidade dimensional dos O acabamento em rama tem por finalidade dar a tecidos planos: Um estudo do comportamento dimensional largura final e melhorar a estabilidade dimensional do de tecidos tintos de algodão nas diversas etapas do tecido, porém, se aplicarmos uma tensão excessiva no beneficiamento. Rio de Janeiro: SENAI/CETIQT, 2006, tecido visando uma largura maior, pode ocorrer uma Monografia. Dias 56 Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. Tecnologia Qualidade ·AMARAL, Lucia do. Mercerização e seus efeitos físico- 33-38, jun. 2006. químicos. IN: CONFERÊNCIA NACIONAL DE ·SÁNCHEZ, José Cegarra. Introduccion al blanqueo de TECNOLOGIA TÊXTIL, 4, Rio de janeiro: materiais textiles. Barcelona, UPC, 1966, pag. 131-157. SENAI/CETIQT, 1987. Vol. 2, pag. 1-7. ·SANTORO, Leonardo Fernandes. Tecelagem: ·ARAÚJO, Márcio de; CASTRO, E.M. de Mello. desenvolvimento de método para aumento da Manual de Engenharia Têxtil. Lisboa: Fundação produtividade através da alteração dos fatores de Calouste Gulbenkian, 1984. vol.2. construção dos tecidos sem prejuízo às suas propriedades. ·ASTM D 1424-96 Rio de Janeiro: SENAI/CETIQT, 2006, Monografia. Método de teste padrão para resistência ao rasgo de tecidos (método Elmendorf), ·SHORE, John. Celluloses Dyeing. Manchester (UK): 1996. Society of Dyes and Colourists, 1995. ·BRUNO, Flávio da Silveira. Tecelagem; Conceitos e ·SOUZA, Ronaldo Luiz de. Introdução à Tecnologia do Princípios. Rio de Janeiro, SENAI-DN, SENAI- Acabamento Têxtil. Rio de Janeiro: SENAI/CETIQT, CETIQT, CNPq/IBICT, PADCT, TIB, 1992. 2002. · ·TOMASINO, Charles. Chemistry & Technology of fabric GRAFEN, K. Automatización em las ramas tensoras. Boletin Textil Internacional: Tintore- preparation & finishing. Raligh: NCSU, 1992, pag. 71-76. ria/Acabado/Estampado. Zurich, vol. 30, n.3, pag. 38-53, ·VIGO, Tyronel. Têxtil processing and properties, jun/set. 1984. preparation, dyein, finishing and performace. Amsterdam: ·GRUNENWALD, Dominique; FISCUS, Gerard. Elsevier, 1994. Textile Finishing: a complete guide. Sauseim: High Tex, ·WAJCHENBERG, Moyses I. . Beneficiamentos Têxteis. 1995, pag. 154-160. São Paulo, vol. 2, 1977, pag. 190 ·HILDEN, Jachim. La mercerizacion: una técnica Educação é fundamental e para isso, estímulo nunca é demais... moderna basada em antiguas teorías. International Têxtil Bulletin, Zurich, vol.46, n.1, p. 67-73, jan/fev. 2000. ·LAUDATI, Sérgio. Utilização de gás natural em ramas e secadoras têxteis. Química Têxtil. São Paulo, vol. 2, n.54, pag. 58-62, mar. 1999. ·MCCONNELL, Bob L. Revisão sobre equipamentos de preparação e branqueamento. Química Têxtil. São Paulo, n.6, pag. 74-80, set/out/nov. 1982. ·PACHECO, Agostinho S. .Mercerização com ou sem corrente, dois conceitos de mercerização comparados. Química Têxtil. São Paulo, pag. 36-41, n.61, dez. 2000. ABQCT Apresentando caminhos. ·RIZZI, Tulio. A mercerização sem segredos. Química Têxtil. São Paulo, n.12, pag. 29-35, 1985. ·SABINO, Humberto. Mercerização de tecido plano de algodão. Química Têxtil. São Paulo, vol 29, n.83, pag. Realização Associação Brasileira de Químicos e Coloristas Têxteis 58 Revista Química Têxtil n 94 Março 2009. Tecnologia Processos Determinação do comportamento tintorial de corantes naturais extraídos da alfafa e urucum Autores: H.H. Piccoli1, S.M.A. Guelli U. Souza2, A.A. Ulson de Souza3 1Aluna do Curso de Mestrado Engenharia Química/ UFSC 2,3Professor do EQA - Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos/ UFSC Revisão Técnica: Bluma Elisabete Koiffman Chaves RESUMO O valor do H para o caso do tingimento com corante de O processo de tingimento têxtil utiliza produtos e urucum foi de H = 19 kJ/mol, indicando um processo de processos poluentes e com alta demanda de recursos fisissorção. naturais. Existem alternativas de corantes provenientes Palavras-chave: Corante de Alfafa, Corante de Urucum, de fontes naturais e renováveis, que poderiam suprir comportamento tintorial, tingimento, mordentes. parte da demanda dos tingimentos têxteis, minimizando os impactos ambientais e quiçá trazendo benefícios à INTRODUÇÃO saúde humana através de suas propriedades fito- As empresas estão inseridas em um mercado de intensa terápicas. Os objetivos deste trabalho foram: Estudar o competitividade global, definido por D'AVENI (1985) como processo de tingimento do substrato de algodão com dois “Hipercompetição”. Um ambiente onde as vantagens são corantes naturais selecionados, Corantes de Alfafa e de rapidamente criadas e erodidas. Urucum, e determinar as melhores condições do Não obstante a este cenário de competitividade, surge a processo, verificando o desempenho do produto tingido partir do início deste século, um fato até então ignorado através de testes de solidez à lavação e à luz pelos economistas e cientistas sociais: a preocupação com os normatizados. Estudou-se também a influência de recursos naturais e não tão somente os recursos materiais, diferentes processos de preparação, concluindo-se não mas também os sociais e do capital. A julgar por seu impacto ser esta etapa relevante no resultado do tingimento. Foi sobre o capital natural e social, a nova economia se parece investigada a aplicação de vários mordentes deter- mais com a próxima onda da “Era Industrial” do que com minando-se a influência destes sobre o resultado dos uma “Era Pós-Industrial”. A ousada afirmação é de tingimentos, onde significativas variações no padrão de SENGE e CARSTED (2001). cor e resistência à solidez e lavação foram observadas. Diante deste cenário, questiona-se se é possível encon- Para os testes de avaliação do comportamento tintorial os trar matérias-primas naturais e processos menos agresresultados demonstraram que ambos os corantes são sivos para tingimento dos tecidos de malha em algodão, de semelhantes aos corantes diretos. forma a serem aplicados na prática das indústrias têxteis, a O processo de tingimento proposto foi compatível com fim de torná-las mais competitivas. os processos utilizados nesta classe de corantes. Foram O grande desafio destas empresas está em viabilizar obtidas as Isotermas de Absorção de Langmuir e a partir matérias-primas e processos que minimizem os impactos destas, o valor de variação de entalpia para o processo. ambientais, utilizem fontes naturais e renováveis e ainda 60 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Processos possam ter como vantagem competitiva funcionalidades determinados os melhores parâmetros para processo de que, de alguma forma, melhorem a qualidade de vida do tingimento com os Corantes de Urucum e de Alfafa, bem ser humano. Em se tratando de tecido tinto de malha em como os insumos a serem utilizados. Foi determinada a algodão, o processo com maior impacto ambiental na variação de entalpia do processo de tingimento, através da utilização de recursos naturais é o processo de tingimento, isoterma de Langmuir, e a avaliação do comportamento bem como os insumos utilizados nele. tintorial. Desde a antiguidade já existiam tingimentos com corantes naturais. Entretanto, estes processos eram MATERIAIS E MÉTODOS realizados de forma artesanal e destinados a produtos Os materiais utilizados foram produtos auxiliares de para os quais não se observava a exigência de padrões de tingimento, Corantes de Urucum e de Alfafa e substrato de qualidade como nos dias atuais. algodão. As especificações dos produtos auxiliares são: Mas como tingir tecidos de malha de algodão com Cloreto de Sódio (NaCl 99,2%), Barrilha leve (Na2CO3 corantes naturais, de maneira assertiva, sem gerar 99,5%), tensoativo aniônico Goldpal TQE, mordentes Ácido problemas de qualidade e atingindo níveis de exigência Tânico, Sulfato de cobre II, Sulfato Ferroso Amoniacal e aceitáveis quanto aos padrões de qualidade? Sulfato de Amônio Alumínio, sendo estes reagentes Assim sendo, neste trabalho, é investigado o analíticos PA. comportamento tintorial de dois corantes naturais O Corante de Urucum possui como princípios ativos extraídos do Urucum e da Alfafa, e identifica a que classe principais a bixina e a norbixina. O Corante de Alfafa possui de corante artificial eles mais se aproximam. São como substância corante a clorofila, ALVES et al. (2006). Tecnologia Processos O substrato utilizado foi tecido em estrutura de meia- classes passíveis de comparação são de corantes diretos, malha 100% algodão, fio título 26/1 penteado com reativos, sulfurosos e corantes a cuba, TROTMAN (1984). gramatura de 160 g/m2. Com exceção dos experimentos Na Tabela 1 é apresentada a compilação dos procedimentos para análise da influência do tratamento prévio, todas as utilizados nesta etapa. amostras foram tratadas inicialmente com um processo de As concentrações de corante, eletrólito e álcali utilizadas pré-alvejamento utilizando a combinação soda cáustica e foram respectivamente (psp): 1,5% de Corante de Urucum, peróxido de hidrogênio à alta temperatura. 3,0% Alfafa, 10 g/l de cloreto de sódio e 10 g/l de barrilha. A Os equipamentos utilizados foram: para a realização relação de banho foi de 1:10 e as amostras eram de 10 gramas dos tingimentos um Equipamento de Tingimento do tecido de malha citado anteriormente. Os tingimentos Infravermelho Mod. IVA da Metal Working, com 12 foram realizados em duplicata. canecos de 150 ml; para a realização das leituras de As amostras obtidas foram analisadas através de leituras amostras tintas o Espectrofotômetro Datacolor 650 e comparativas em espectrofotômetro Datacolor 650, onde os para a leitura de absorbância dos banhos o espec- resultados foram fornecidos em valores de diferença de cor trofotômetro UV-Vis Mini 1240 Shimadzu, com cubeta DE (CIE CMC 2:1) e força colorística (%). de vidro. Avaliação da Influência do Tratamento Prévio no Caracterização do Comportamento Tintorial Fez-se a caracterização do comportamento tintorial dos corantes utilizando as informações que identifi- Rendimento do Tingimento Os tratamentos prévios que podem ser aplicados a tecidos de malha em algodão são a purga e o pré-alvejamento. cam o comportamento de cada classe de corante artificial. Para a purga utilizou-se 1 g/l de detergente aniônico, 1,5 Assim, através de análise de parâmetros como afinidade, g/l de sequestrante/dispersante e 3 g/l de soda cáustica migração, fixação com eletrólito ou com álcali obteve-se 36ºBé, cozinhando o tecido a 98ºC por 40 minutos em uma similaridade de comportamento com alguma classe Máquina de Tingir Industrial Thies Eco-Soft Plus; de corante artificial existente, e conseqüentemente uma sugestão de parâmetros de processo a ser utilizada. As Os parâmetros de processo para estes experimentos seguem os gráficos da Figura 1. Tabela 1. Procedimento para determinação do comportamento tintorial. 62 Teste 01 Objetivo Verificar o grau de afinidade do corante com a fibra. Procedimento a) Realizar um tingimento utilizando somente água e corante. b) Separar parte da amostra e lavar em água corrente para remoção do corante não fixado. c) Comparar resultado de cor. 02 Verificar o grau de fixação do corante com a fibra na presença do eletrólito. a) Realizar um tingimento utilizando água, corante e eletrólito. b) idem teste 01 itens b) e c). 03 Verificar a capacidade de migração do corante dentro da fibra. A) Realizar um tingimento com água, corante e eletrólito nas quantidades iguais às anteriores, no mesmo tempo de processo, entretanto utilizando 50% em peso de substrato. b) Ao final do processo, acrescentar o restante do substrato e processar em quantidade de tempo igual ao primeiro passo. c) Comparar resultado de cor entre as duas amostras de substrato. 04 Obter amostra padrão de cor para o teste anterior. a) Comparar resultado de cor entre as duas amostras de substrato do teste anterior e a amostra deste teste. 05 Verificar a capacidade de fixação do corante com a fibra na presença de álcali. a) Realizar um tingimento utilizando água, corante, eletrólito e álcali. b) idem teste 01 itens b) e c). Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Processos Figura 1. Gráficos de processo - testes de caracterização de comportamento tintorial nº 01 a 05. Figura 1d.Gráfico de processo nº 05. Gráfico para os Testes 01 e 02 T (ºC) Retirada teste 01 Retirada teste 02 10' 30' 60ºC 30ºC t (min) Para o pré-alvejamento utilizou-se 1 g/l de detergente aniônico, 1,5 g/l de sequestrante/dispersante, 3,5 g/l de A B peróxido de hidrogênio 35% e 3 g/l de soda cáustica 36ºBé, Figura 1a.Gráfico de processo nº 01 e 02. tratando o tecido a 110ºC por 30 minutos em Máquina de Tingir Industrial Thies Eco-Soft Plus. Foram utilizadas concentrações específicas de corante e produtos auxiliares Gráfico para o Teste 03 em ambos os testes. T (ºC) Retirada teste 03 Os parâmetros do processo de tingimento utilizados foram os mesmos apresentados na Figura 1 (a). As 60ºC concentrações de corante e auxiliares também são as mesmas do teste 02. 30ºC As amostras resultantes dos diferentes processos de pré10' A 30' t (min) tratamento e tingimento foram submetidas a ensaios espectrofotométricos, onde os resultados são fornecidos em B Figura 1b. Gráfico de processo nº 03 valores de diferença de cor DE (CIE CMC 2:1) e força colorística (%). Gráfico para o Teste 04 T (ºC) Avaliação da Influência da Utilização de Mordentes no Retirada teste 04 Resultado: Cor e Solidez do Tingimento 60ºC Para este estudo optou-se pelo método de mordantagem posterior, devido às vantagens de operação em escala 30ºC industrial. Alguns mordentes podem ser utilizados para estes 10' A B Figura 1c.Gráfico de processo nº 04 64 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. t (min) casos. Conforme GARDNER (1998) e ARAÚJO e CASTRO (1986/87) os mordentes mais utilizados para corantes naturais estão relacionados na Tabela 2 com suas Tecnologia Processos Tabela 3. Testes utilizando mordentes. características. Foram testados o Ácido Tânico Sulfato de cobre II, Ácido Tânico Sulfato Ferroso Amoniacal e Sulfato de Amônio Sulfato de Amônio Alumínio Alumínio. Os testes foram realizados conforme as condições de temperatura e tempo de processo apresentadas na Tabela 02 e concentrações especificadas na Tabela 3. As amostras obtidas foram submetidas aos testes de solidez e analisadas através de leituras em espectrofotômetro e/ou escala de cinzas, onde os resultados foram fornecidos em notas. Determinação da Isoterma de Equilíbrio e da Entalpia Em altas concentrações de soluto, a equação prediz uma de Adsorção para o Corante de Urucum no Processo capacidade de adsorção em monocamada. A capacidade de de Tingimento. adsorção em monocamada saturada pode ser representada A isoterma de Langmuir é uma isoterma de equilíbrio pela equação (1). que relaciona a quantidade de soluto adsorvido (adsorbato) na superfície de uma fase sólida com a Cf = concentração do soluto na solução, neste caso o corante adsorvido ao tecido e o corante residual no banho. Este modelo é baseado na hipótese de que as forças de Onde: interação entre as moléculas adsorvidas são desprezíveis · e que cada sítio pode ser ocupado por apenas uma 1 + K L Cb Cf representa a quantidade de corante adsorvido no tecido no equilíbrio; · C 8 molécula. Estas são adsorvidas sobre um número fixo e definido de sítios. C ¥ K LC b representa a quantidade máxima de corante adsorvido no tecido para a formação de uma monocamada completa; Tabela 2. Principais mordentes suas características Mordente Ferro Cobre Tanino Alumínio Latão Nome Químico Sulfato ferroso Sulfato cuproso Ácido tânico Sulfato de amônio-alumínio Cloreto estanoso Cristais verdes Cristais azuis Pó marrom claro Cristais transparentes ou pó branco Cristais brancos Aparência Concentrações de uso 3% 1 a 3% 1 a 3% 2 a 4% 3% Temperatura e tempo de trabalho Banho morno (60ºC) até mudança de cor (1 hora) Banho frio (25ºC) por 1 hora Banho quente (90ºC) por 1 hora Banho quente (90º) por 1 hora Banho quente (90ºC) por 1 hora Em excesso pode deixar a Em grandes quantidades Efeito para a fibra fibra áspera e frágil enfraquece a fibra. Toxicidade Não há. É utilizado como suplemento alimentar. Tóxico Pode deixar a fibra dura e áspera. Amacia a fibra. Dissolvido não é tóxico. Utilizado como adstringente. Evitar inalação do pó. Não há. Usado na indústria alimentícia como aditivo. Evitar excesso devido ao alumínio Em grandes quantidades enfraquece a fibra. Pequena. Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 65 Tecnologia Processos · Cb representa a quantidade de corante no banho; · KL é a constante de equilíbrio. O valor da entalpia de adsorção fornece a informação a respeito do tipo de ligação existente entre o adsorvente e o adsorbato. Segundo TREYBAL (1980), valores de entalpia A constante KL pode ser usada para determinar a de adsorção menores que 2000 kJ/mol, indicam que o entalpia de adsorção, usando a equação (2) de Clausius- processo é de natureza física, o qual ocorre por uma Clapeyron: diferença de energia e/ou forças de atração que tornam as moléculas fisicamente presas ao adsorvente, neste caso, ao æ - ÄH ö K L = A expç ÷ è RT ø tecido. Estas interações têm um longo alcance, porém são fracas. Para valores acima de 2000kJ/mol o processo é de quimissorção, com a ocorrência de ligações químicas fortes, por exemplo, ligações covalentes. Onde: Efetuaram-se tingimentos em diversas concentrações de · A é uma constante; · Ä H é a variação de entalpia do processo; corante a fim de determinar-se a isoterma de equilíbrio e a · R é a constante dos gases ideais e partir dela a entalpia de adsorção para o Corante de · T é a temperatura do processo. Urucum conforme as concentrações descritas na Tabela 5. Tabela 5. Testes para obtenção da isoterma de equilíbrio. As características essenciais de uma isoterma de Langmuir podem ser expressas em termos de um fator de separação adimensional constante, ou comumente Nº Amostra Concentração de corante (g/l) chamado de parâmetro de equilíbrio, RL, que é definido pela seguinte equação (4): RL = 1 1 + K L .C0 Onde: · KL é a constante de equilíbrio; · C0 é a concentração de corante de equilíbrio em cada ponto da isoterma. O valor do parâmetro RL indica o tipo de isoterma de adsorção, conforme Tabela 4. Tabela 4 Classificação do tipo de isoterma. Desfavorável Favorável Irreversível 66 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Admitiu-se que, após o decorrer do tempo do processo de tingimento, a concentração do corante adsorvido no Tecnologia Processos tecido e a concentração do corante presente no banho estão em equilíbrio. Assim, coletou-se amostras de cada banho de tingimento realizado com a uma concentração inicial diferente de corante e mesma massa de substrato têxtil e quantificou-se a concentração de corante residual Tabela 06. Resultados da determinação do comportamento tintorial do Corante de Alfafa. Teste Força Colorística (%) Referência no banho através de leitura em Espectrofotômetro UV Mini 1240 UV-Vis Shimadzu. Como a concentração total de corante é conhecida, pode-se obter por diferença a concentração de corante adsorvida no tecido, SCHMITT et al., (2008). Neste caso desprezou-se a possível formação de corante hidrolisado eliminado no banho de lavagem. Posterior Os dados obtidos foram graficados e ajustados conforme a isoterma de equilíbrio de Langmuir. Com base na equação resultante desta curva obtiveram-se os valores para a constante de equilíbrio e a concentração de saturação do corante. Com a equação de ClausiusClapeyron calculou-se o valor para a variação de entalpia. A partir daí verificou-se a condição do tipo da isoterma e o tipo de interação entre as moléculas do corante e o substrato. RESULTADOS E DISCUSSÕES Figura 02. Corpos de prova para avaliação do comportamento tintorial. Comportamento Tintorial Na Figura 02 apresentam-se os corpos de prova obtidos nos procedimento experimentais para a verificação do comportamento tintorial. Os valores obtidos através das leituras espectrofotométricas estão Nota: * Para o teste três, a primeira coluna se refere à amostra adicionada no início e a segunda coluna à amostra adicionada posteriormente. descritos nas Tabelas 6 e 7. O iluminante padrão adotado foi Luz de loja Tl84. Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 67 Tecnologia Processos Para o Corante de Alfafa identificou-se através do que este fixou aproximadamente 93,83% do corante teste 01 que houve uma fixação de 55,14% do corante esgotado, perdendo cerca de 6% do corante esgotado na esgotado. Já para o Corante de Urucum houve a fixação lavagem. Somente com esta análise poderia se concluir que de todo o corante. Para minimizar efeito de flutuações não há necessidade do eletrólito para o tingimento do nas leituras estas foram repetidas 4 vezes duas no sentido Corante de Urucum. Contudo, além desta avaliação, um dos cursos e duas no sentido das colunas - e a média foi outro dado deve ser levado em conta: Se compararmos o utilizada como resultado para o experimento. Assim, resultado final de cor (amostras lavadas) entre os testes 01 e verificou-se que o Corante de Alfafa possui uma 02, percebe-se que a intensidade de cor alcançada com a substantividade média e o Corante de Urucum possui uma presença de eletrólito é maior para os dois corantes. O substantividade alta. Corante de Alfafa acrescentou 31% e o Corante de Urucum Com os dados do teste 02 observou-se a influência do 56,96% a mais de rendimento de cor. eletrólito na fixação dos corantes. O Corante de Alfafa Através dos resultados descritos nas Tabelas 06 e 07 para fixou 78,39% do corante esgotado, aumentando em o teste 03, verificou-se que o Corante de Alfafa tem um bom 23,25% o percentual de fixação em relação ao teste 01. poder de migração enquanto o Corante de Urucum possui Isto mostra que o Corante de Alfafa necessita do sal para uma capacidade de migração inferior. Esta capacidade de promover o esgotamento e fixar o corante. migração, na maioria dos casos, é dependente da quantidade Já no teste 02, para o Corante de Urucum, verificou-se fixada do corante no início do processo, sendo que os resultados obtidos no teste 03 corroboraram esta tendência. Tabela 07. Resultados da determinação do comportamento tintorial do Corante de Urucum. Teste Força Colorística (%) Desta forma, verificou-se a necessidade de separar as adi- Configuração das Leituras das Amostras Referência ções de corante e eletrólito no processo produtivo, bem como acrescentar estes produtos através de dosagens progressivas. Através da comparação entre os testes 04 e 02, pôde-se identificar que os 20 minutos de processo de tingimento no patamar de temperatura são suficientes para o esgotamento e fixação dos corantes. Através das leituras espectros fotométricas, verificou-se que o percentual de intensidade de cor no teste 02 para o Corante de Alfafa é um pouco menor que no teste 04, cerca de 3% menos de intensidade de cor e os valores de DE estão abaixo de 1,2, valor aceito como máximo industrialmente para corantes artificiais. Para o Corante de Urucum, verificou-se um pequeno acréscimo de 6% na intensidade de cor, mas uma variação total de cor indicada pelo valor de DE abaixo da variação aceita dentro do processo industrial. Para o teste 05, os resultados mostraram que para os 68 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Processos tingimentos com os Corantes de Alfafa e de Urucum, o Avaliação da influência da utilização de um mordente no acréscimo do álcali prejudicou o rendimento de cor, tendo resultado de cor e solidez do tingimento as amostras tingidas somente com corante e eletrólito Através da análise da Figura 3, verificou-se que em todas alcançado cerca de 110% da intensidade de cor se as situações a utilização de mordentes alterou a tonalidade comparadas às amostras tingidas com corante, eletrólito e do tingimento. Desta forma não foi possível uma comparação de rendimento de cor entre os testes. álcali. Outro fato que se pode perceber com a adição do álcali, Para o Corante de Alfafa, os resultados de solidez é que o aumento do pH interfere no resultado de cor. Pela referentes aos tingimentos realizados com presença de comparação dos valores de DE, para as amostras lavadas eletrólito, temperatura de 60ºC e patamar de 20 minutos, nos testes 02 e 05, verificou-se que a variação de cor demonstraram que somente nos itens solidez à água atinge valores acima de 2, os quais são perceptíveis ao clorada e à luz este corante não atingiu os parâmetros de olho humano. Desta forma, é necessário controlar o exigência mínimos. parâmetro de pH durante o processo e também na finalização do processo após as lavagens. Uma solução para a questão da solidez à água clorada identificada neste estudo é a utilização de um mordente, onde todas as opções apresentaram melhoria na resistência Avaliação da influência do tratamento prévio no da cor a produtos clorados, lembrando que algumas opções são mais adequadas devido ao caráter ecológico do processo rendimento do tingimento Através dos resultados apresentados na Tabela 08 proposto. verificou-se que não houve interferência no rendimento Para o item solidez à luz, observou-se através dos de cor para os tingimentos com os dois corantes em resultados que a utilização dos mordentes incrementou o estudo, quando modificado o processo de preparação. A resultado de solidez à luz em todas as situações, com vantagem apresentada pelo processo de preparação de destaque para o Sulfato de cobre II onde acréscimo foi de 1 pré-alvejamento é a eliminação completa dos “piolhos”, ½ ponto e para a combinação Ácido tânico + Sulfato ferroso casquinhas de algodão, que eventualmente aparecem em amoniacal onde o acréscimo foi de1 ponto na escala de cores mais claras quando se utiliza como preparação solidez à luz. Neste ponto, é importante salientar que a segunda opção mencionada possui um caráter ecológico somente uma purga. Tabela 08. Resultados dos procedimentos experimentais para substratos purgados e pré-alvejados Referência Força Colorística (%) adequado e pode ser empregada sem qualquer prejuízo em relação ao ser humano e ao meio ambiente. Contudo, os valores de solidez à luz mesmo após a aplicação dos mordentes não satisfazem as exigências de mercado. Entretanto, o fato é que se pode observar Pré encontrados uma influência bastante positiva, após a aplicação dos mordentes, nos dois itens de solidez onde havia deficiência para o Corante de Alfafa, sem compro- Pré meter a questão ecológica, e isto, torna este corante uma opção promissora para uso industrial. 70 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Tecnologia Processos Tabela 09. Resultados dos testes de solidez para os tingimentos mordantados. Os resultados para o Corante de Urucum atingiram as especificações somente nos itens de solidez à fricção água seco e fricção úmida. As deficiências maiores se (60ºC) Ácido Fricção Fricção Úmido à luz localizaram nos testes de solidez à lavagem, solidez à água clorada e solidez à luz. Nos resultados para solidez caso deve-se evitar o uso em roupas esportivas e uniformes. Para a solidez à água clorada, o Ácido tânico e a combinação Ácido Tânico + Sulfato Ferroso Amoniacal levaram a índices de qualidade adequados, obedecendo ALFAFA ao suor, os índices ficaram próximos ao exigido. Neste Ácido Tânico Amônio Alumínio Ácido Tânico + ao critério ecológico da proposta deste estudo. Para o caso da solidez à luz, o melhor resultado obtido foi sem a utilização de mordente, onde o valor ainda não atinge às especificações do mercado, mas é compatível com os níveis de solidez à luz de grande parte dos corantes diretos e da maioria dos corantes reativos nos tons escarlate e vermelho. Nesta situação, a restrição do uso do corante deve ser observada levando em conta o uso do produto tinto pelo consumidor. Figura 3. Corpos de prova para os tingimentos e testes de solidez. Ácido Tânico Sulfato de Amônio Alumínio Ácido Tânico + Quanto ao item solidez à lavagem, a aplicação de mordentes melhorou o resultado em todos os testes. O resultado mais interessante foi o do Sulfato de cobre II, seguido do Sulfato ferroso amoniacal. Este último se mostra como uma opção melhor devido ao caráter de atoxicidade do mordente. Contudo, o teste de solidez à lavagem pode ser realizado em várias temperaturas, segundo a NBRISO105-C06. O usual para artigos de algodão tingidos com corantes reativos é 60ºC. Porém, pode-se realizar este teste em outras temperaturas como no caso de peças de poliamida ou tingimento com corantes diretos, onde o teste identifica a nota obtida em uma Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 71 Tecnologia Processos situação de uso menos rigorosa. comportamento tintorial, verificou-se ainda a influência da Assim, após a obtenção dos resultados onde se temperatura no processo de tingimento, dentro de valores de detectou que o Corante de Urucum é um corante com temperaturas comumente empregados no esgotamento para comportamento tintorial de corante direto, realizou-se o corantes diretos, ou seja, realizaram-se tingimentos com teste patamares a 60º C e 80º C. As demais condições de processo, de solidez à lavagem para o tingimento com Corante de Urucum à temperatura de 40ºC para o tempo e concentração de auxiliares foram mantidas como processo sem a utilização de mordentes, já que este nos testes anteriores. Os resultados estão apresentados na apresentou melhor solidez à luz. Com este Tabela 10. procedimento obteve-se nota 3,5, havendo um ganho Tabela 10. Resultados dos procedimentos experimentais para substratos purgados e pré-alvejados. significativo na nota obtida. A Figura 4 ilustra os corpos Referência de prova para o teste a 40ºC e a 60ºC para o tingimento Força Colorística (%) com Corante de Urucum sem a utilização de mordentes. Figura 4. Corpos de prova para os testes de solidez. À lavagem a 40ºC e 60ºC. o o o o Identificou-se que o acréscimo de temperatura afeta distintamente os dois corantes, alterando a tonalidade da cor e não somente o rendimento da mesma. Assim sendo, os parâmetros para o processo foram definidos conforme a Figura 5. Inicialmente realizou-se Desta forma, este corante é passível de aplicação em uma varredura no espectrofotômetro para identificação do alguns produtos têxteis específicos, como por exemplo, a comprimento de onda (nm) onde ocorresse um pico máximo linha underware, principalmente destinada à faixa etária de absorbância. Para isto, utilizou-se uma solução com “zero ano”. concentração de 0,010 g/l de Corante de Urucum. O pico É importante salientar que as condições de teste para a identificado foi de 365 nm. Neste comprimento de onda se solidez à luz foram rigorosas tendo sido avaliado após 25 obteve os dados para a confecção da curva de calibração horas de exposição. A norma não especifica a quantidade para determinação das concentrações de Corante de de horas a serem avaliadas, mas tradicionalmente utiliza- Urucum. se avaliação com 20 horas ou com 25 horas. Neste caso, Figura 5. Gráfico de tingimento para Corantes Naturais. optou-se por 25 horas, teste compatível com exigências internacionais. Determinação dos parâmetros do processo de tingimento para os corantes alfafa e urucum Gráfico para o Processo de Tingimento Corantes Naturais (ºC) 60ºC 30ºC Além das variáveis estudadas na avaliação do 10' A B A - água e corante B - eletrólito 72 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 30' t (min) Tecnologia Processos Determinação da isoterma de equilíbrio e da entalpia Tabela 12. Resultados para tingimento 60ºC. de adsorção para o corante de urucum no processo de Curva de Tingimento 60ºC tingimento. A curva de calibração é apresentada na Figura 06 para a qual se obteve um valor de R2 = 0,9959. A média média equação obtida foi: y = 304,75x + 0,0125 Através (5) das l eituras espectrofotométricas dos banhos residuais dos tingimentos, sendo assumido o sistema em equilíbrio nesta condição, obtiveram-se os dados de absorbância relativos às quantidades de corantes residuais nos banhos. A partir da equação da curva de calibração converteram-se os dados de absorbância e obtiveram-se os dados das Tabelas 12 e 13. Por diferença, em relação à concentração inicial conhecida, obtiveram-se dados para a concentração de corante na fibra. Os experimentos foram realizados em duplicata. Tabela 11. Resultados para curva de calibração. Curva de calibração Concentração (g/l) Absorbância Notas: * Utilizou-se diluição na leitura de absorbância 1ml amostra e 1 ml água. ** Utilizou-se diluição na leitura de absorbância 1 ml amostra e 2 ml água. Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 73 Tecnologia Processos Tabela 13. Resultados para tingimento 80ºC. Figura 7. Isoterma de Langmuir 80ºC. Isoterma Langmuir - 80ºC 30 25 1/Cf 20 15 10 y = 0,0267x + 0,576 2 R = 0,9996 5 0 0 200 400 600 800 1000 1/Cb Compararam-se as equações obtidas com o ajuste dos dados e a equação da Isoterma de Langmuir a fim de obter os 8 dados para KL e C em cada temperatura de trabalho. Os resultados estão apresentados na Tabela 14. 8 Tabela 14. Resultados para KL e C Processo 60ºC Processo 80ºC Nota: * Utilizou-se diluição na leitura de absorbância 1 ml amostra e 2 ml água. Para a obtenção do valor da variação de entalpia do processo de tingimento com corante de Urucum, utilizou-se a Ajustadas as unidades, utilizou-se a equação da equação de Clausius-Clapeyron para a qual graficou-se ln Isoterma de Langmuir graficando 1/Cf versus 1/Cb e KL versus 1/T e obteve-se obtiveram-se as Figuras 06 e 07. Do ajuste da curva processo. resultaram as equações descritas juntamente com os a variação de entalpia do Figura 8. Ajuste para equação de Clausius-Clapeyron. valores de R2 nas figuras correspondentes. Variação de Entalpia Figura 6. Isoterma de Langmuir 60ºC Iso terma de Langmuir 3,2 Isoterma de Langmuir 60ºC 30 3,0 ln k 25 1/Cf 20 2,8 10 y = 0,0303x + 0,4175 2 R = 0,9986 5 0 0 200 400 600 1 /Cb 74 y = -2634,8x + 10,536 2 R =1 15 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 800 1000 2,6 0,002 00 0,00 250 0, 00300 1/T ( 1/K) 0,0035 0 0,00 400 Tecnologia Processos O valor da variação de entalpia para o processo de CONCLUSÕES E SUGESTÕES tingimento com Corante de Urucum obtido foi de 19,6 KJ/mol, o que caracteriza H= No estudo do comportamento tintorial identificou-se uma um processo de substantividade entre média e alta para os corantes fisissorção, ou seja, as reações envolvidas são estudados, o que juntamente com o bom esgotamento dos correspondentes a um fenômeno físico, tais como forças corantes e fixação destes na presença do eletrólito os de Van der Waals e forças de atração. caracterizam com comportamento tintorial de corantes Verificou-se o tipo de isoterma identificando esta diretos. A presença do álcali não promoveu a reação do como favorável. Os dados estão relacionados na Tabela corante como no caso dos corantes reativos. 15. A Figura 5 ilustra os parâmetros de processo para Tabela 15. Resultados para RL. Processo 60ºC Concetração Processo 80ºC Concetração tingimento com Corantes de Alfafa e de Urucum, que apesar de apresentarem comportamento tintorial ligeiramente diferentes podem ser agrupados em um único processo. Utilizando o processo proposto foi identificado através de testes de solidez em amostras que o Corante de Alfafa não atendeu as exigências para a solidez à água clorada e solidez à luz. Porém, a aplicação de Sulfato de cobre II como mordente resolveu o problema da solidez à água clorada e melhorou em 1 ½ pontos a solidez à luz. Contudo, o Sulfato de cobre possui alguma toxicidade e isto deverá ser levado Tecnologia Processos em conta. Existe ainda a opção da utilização da caracterizando um processo físico, ou de fisissorção, combinação de Ácido tânico + Sulfato ferroso amoniacal, corroborando através de valores numéricos o resultado onde estas propriedades também foram melhoradas. obtido para a avaliação do comportamento tintorial do Muitos dos corantes diretos, atualmente em uso, Corante de Urucum. possuem restrições quanto à solidez à luz. Assim, se o Assim, conclui-se que as reações envolvidas são Corante de Alfafa for utilizado em produtos direcionados interações fracas como forças de Van der Waals e forças de com uso sem grandes exposições à luz e secagem à atração. Avaliou-se também o parâmetro de equilíbrio RL sombra, este possui bom potencial para aplicação onde foi possível verificar que a isoterma de adsorção é industrial. favorável. Quanto ao Corante de Urucum, os resultados de solidez em sua maioria não atingiram os resultados REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS desejados utilizando o processo de tingimento proposto. ALVES, R. W.; JAUREGI, P.; Guelli U. SOUZA, S. M. A.; Contudo, observou-se que a utilização de mordentes em ULSON DE SOUZA, A. A. Recovery of Norbixin from a todos os testes influenciou negativamente os resultados Raw Extraction Solution of Annatto Pigments using de solidez à luz. Colloidal Gas Aphrons (CGAs). Separation and Purification Assim, desta forma, a utilização industrial deste Technology, v. 48, n. 2, p. 208-213, 2006. corante fica restrita a produtos onde não haja mistura de ARAÚJO, M.; CASTRO, E.M.M. Manual de Engenharia cores em uma mesma peça e não seja utilizado como Têxtil. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1986-87. roupa esportiva ou uniforme. O processo de lavagem e D'AVENI, R. A. Hipercompetição: estratégias para dominar secagem deve ser o mais brando possível, com limite de a dinâmica do mercado. Rio de Janeiro: Campus, 1985. temperatura de 40ºC. GARDNER, W.M. The Natural Dye Sections of Wool Como sugestão, o tingimento com este corante poderia Dyeing. Part II. Philadelphia, E. A. POSSELT Publisher, ser utilizado para roupas de bebê, onde o apelo de produto 1998. natural converge com as necessidades nesta faixa etá- PETERS, R.H. Textile Chemistry Volume III. ria. SCHMITT, F.; ULSON DE SOUZA, A. A. ; GUELLI U. de Através do estudo de aplicação de mordentes SOUZA, S. M. A. Análise da Fixação do Corante de Urucum identificou-se uma variação nas cores obtidas, o que não na Estamparia de Substratos de Algodão. Química Têxtil, v. permitiu uma comparação de rendimento de cor entre os 91, p. 44-52, 2008. testes. Entretanto, este fato pode ser utilizado como um SENGE, P. M.; CARSTEDT, G.. Rumo à próxima revolução recurso a fim de se obter cores diferenciadas com um industrial. HSM Management. p.120-128, jul./ago. 2001. mesmo corante. TREYBAL, R. E. Mass-Transfer Operations. 3rd ed., New Calculou-se ainda a variação de entalpia do processo York: McGraw-Hill,1980. de tingimento com Corante de Urucum em malha 100% TROTMAN, E.R. Dyeing and Chemical Technology of algodão, utilizando uma relação de banho de 1:10 e Textile Fibers. 6. Ed. Charles Griffin & Company Limited, somente eletrólito e detergente como auxiliares de England, 1984. processo. O valor encontrado foi de H = 19,6 kJ/mol, 76 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. “ S into-me privilegiado em meio a tantos estudantes em poder ter usufruído deste prêmio da ABQCT, com o patrocínio de algumas empresas, que nunca é demais, usar deste espaço, para mais uma vez agradecer a todos os envolvidos na organização deste evento. A sensação é ótima, é uma real sensação de vitória, é sentir-se gratificado por um esforço dedicado.” Renato Loch abre seu álbum de viagem e relata sobre seu estágio na Espanha Impressionou... Foram muitas as coisas que me impressionaram na INTEXTER. Para começar, a estrutura de laboratórios que comporta o Instituto, cada qual equipado dentro de especialidades que lhe competem atuar, e que no conjunto complementam-se para o desenvolvimento de soluções e aplicações no campo têxtil. Toda e qualquer atividade desenvolvida pelo INTEXTER seguem técnicas padronizadas através de normas de procedimentos; e claro, a credibilidade conquistada pelo INTEXTER no desenvolvimento de soluções para o campo têxtil. Cito, assim, os trabalhos de investigação para descobrir as causas de problemas do beneficiamento têxtil, onde muitos são solicitados por empresas para fins judiciais, ou seja, são trabalhos de peritos! O mais impressionante, ainda, são os acertos na elaboração dos laudos com os resultados dos testes, tanto é que nunca perdeu-se uma causa judicial com os laudos efetuados pelo INTEXTER, graças a experiência acumulada, principalmente, do Professor Valldeperas. Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 77 Aprendi... Vários assuntos me chamaram a atenção! Dentre eles, como por exemplo, a reutilização de banhos de tingimentos com corantes reativos para tintura de algodão, que há alguns anos era visto como algo impossível de ser realizado. Lá realizei tinturas aplicando o método de Parque Paradís em Terrassa. processamento têxtil. reutilização de banhos com corantes reativos no Os trabalhos de investigação são iniciados após prévia INTEXTER com monocromia, e mais, realizei todo o avaliação do problema, para em seguida, efetuar o ensaio processo na prática desde o tingimento padrão até mais que na maioria das situações, com um único ensaio, chega- nove reutilizações de banhos residuais, com ótima se à solução do problema. reprodutibilidade das cores, passando por todos os controles necessários para o êxito deste processo. Os ensaios realizados vão desde testes mais simples como remoção de manchas com solventes até ensaios Controles que vi mais adiante serem extremamente efetuados utilizando-se de equipamentos mais sofisticados importantes para detectar causas de possíveis desvios de como Espectroscopia de Infra-Vermelho - Técnica eficaz resultados (controles como medir pH em diversas fases para determinar a do processo, neutralização do banho residual, avaliação através da análise comparativa do espectro de absorção e da concentração do corante hidrolisado, entre outros). intensidade das bandas de absorção em determinados natureza química de um composto Como estava no controle total do processo, tive comprimentos de onda (4000 a 400 cm-1) que caracterizam inicialmente também, alguns desvios nos resultados, um composto; uso do Calorímetro elaborando-se mas que com base nestes controles efetuados, por isso Termogramas através da técnica DSC (Calorimetria tão importantes, possibilitaram-me a tomar medidas Diferencial de Barrido). práticas para corrigir a causa de tais resultados. Sobre Neste caso, fibras sintéticas para determinar a memória este tema, estou elaborando um relatório completo com térmica da fibra, tratamentos térmicos e hidrotérmicos todos os procedimentos efetuados e resultados obtidos aplicados, temperatura efetiva de termofixação ou então, se que serão publicados na próxima edição da Revista foi ou não, termofixado. Estes tratamentos podem atuar Química Têxtil. como possíveis causas de barrados em tecidos, problemas Outro assunto que me chamou a atenção logo no de afinidade tintorial (absorção desuniforme do corante). início, que já fiz breve descrição acima, são os trabalhos Bem, se eu tinha conhecimento sobre o assunto? de investigação Um pouco restringindo-me mais na teoria, e também das causas e soluções dos mais diversos problemas em artigos têxteis, solicitados por sobre alguns equipamentos, então foi aprendizado sim! empresas de diversos países. São não-conformidades que podem ter origem em qualquer etapa do 78 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. Renato Loch Álbum de um vencedor Prédio do INTEXTER (Desenho relacionado na capa da edição) Consultando uma monografia de um trabalho de reutilização de banhos com corantes reativos. Laboratório de Tecnologia Química Têxtil Controle de Qualidade e Físico-Química do Tingimento. “Eu estava preparando as diluições da Solução mãe que havia preparado para fazer leitura no Espectrofotômetro no comprimento de onda de máxima absorção de tal corante e posteriormente determinar a reta de calibração.” Alguns membros do Laboratório Acompanhado de alguns membros da equipe que atuam no Laboratório Químico Têxtil Controle de Qualidade e Físico-Química do Tingimento. Determinando o pH das soluções das alíquotas coletadas anteriormente do banhos de reutilização de tintura. Transferindo uma alíquota do banho de reutilização de tintura com corante reativo para fazer as análises de controle do processo. Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 79 Graças a estes patrocinadores, os dois primeiros colocados foram premiados Qualidades: Calmo, paciente e perspicaz. Defeitos: Ansioso. “Estou sempre lendo as revistas da ABQCT que são adquiridas na faculdade. Gostaria de agradecer pela oportunidade e iniciativa, tanto aos patrocinadores, organizadores quando a FEI pela escolha!”. Nome: Renato Loch (43) São Martinho - SC Universidade Regional de Blumenau (FURB) Qualidades: Humildade, respeito, tolerância “É acima de tudo um prêmio de incentivo ao aluno na dedicação ao aprendizado na área de Química Têxtil. Gostaria de dar meu agradecimento especial aos patrocinadores e organizadores do concurso, que, com este gesto, estão contribuindo para qualidade de ensino e investindo no profissional do setor.” ” Vitor Brizido deverá retornar ao Brasil dia 16 de março. A “ cabei de chegar na Espanha. A expectativa é grande já que fui recebido muito bem por todos aqui. Já pude perceber que terei muito a aprender. Espero poder levar o máximo de informações que puder aprender para o Brasil e , quem sabe ajudar a aprimorar o que temos no nosso país” Vencedor Vencedor Nome: Vitor Zambon Brizido (22) Jundiaí - SP Faculdade de Engenharia Industrial - FEI Produtos e Serviços Iniciativa Em solidariedade ao ocorrido em Santa Catarina às empresas Ertex Química Ltda, Timavo do Brasil SA, Linhasita Indústrias de Linhas, Covolan Beneficiamento Têxteis Ltda e M.A. Transportes de Itatiba em conjunto com a Transportadora Keller de Blumenau e a malharia Cristina Ltda de Ilhota, enviaram um lote de cestas básicas e água potável para serem distribuídas entre os desabrigados da região. Foto: James Tavares - SECOM - SC Esta iniciativa foi um pouco do que pudemos fazer para um povo hospitaleiro e trabalhador como são os catarinenses. Força Catarinense e que Deus os protejam! Cipriano Colorzen e JAM em parceria Mal começamos 2009 e já nos debruçamos de corpo e alma neste projeto que a cada dia nos inclina a sustentar a bandeira do exemplo em cidadania e ações sociais. Nestes dias cada vez mais difíceis e sombrios que vivemos, graças a DEUS seguimos aprendendo o sábio provérbio que é dando que se recebe, e que o pouco que ainda nos resta deve ser dividido como o exemplo de JESUS com a multiplicação e a divisão dos pães. É nossa convicção que a verdadeira sabedoria consiste em saber como aumentar o bem estar do mundo e que a melhor maneira de sermos felizes é contribuir para felicidade dos outros. A JAM (Jacareí Ampara Menores) é uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1969, que tem como missão atender a pessoa com deficiência Mental e o Adolescente, de nível sócio econômico deficitário, promovendo sua inclusão social. Propicia a esta gente humilde e quase sempre desamparada, atendimento médico, odontológico, fonoaudiólogo, psicológico, fisioterápico, pedagógico, assistência social, artes, dança, esportes, lazer e alimentação. Para conhecer a instituição, basta acessar www.jan.org.br ou visite através do endereço: Praça Independência, 126/215 - Bairro São João, Jacareí - SP. Tel.: (12) 2127-1288 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009. 81 Produtos e Serviços Gratuito Escola SENAI "Francisco Matarazzo” abre concorrência para curso técnico têxtil O curso abrange as disciplinas relacionadas ao retirar o boleto bancário na Unidade que desen-volverá o Processo Produtivo Têxtil (Fibras; Fiação; Tecelagem; curso. No ato da inscrição o candidato deverá apresentar o Malharia; Beneficiamento; Design Têxtil; Ensaios RG, CPF e comprovante de conclusão do ensino médio ou de Têxteis); a Gestão (Gestão de Pessoas; Gestão da estar matriculado em curso que lhe permita concluir esse Produção); a Projetos (Projetos Têxteis) e de Apoio nível de ensino até a data de início das aulas.CPF e (Comunicação Oral e Escrita; Fundamentos Físicos e comprovante de conclusão do ensino médio ou de estar Matemáticos) matriculado em curso que lhe permita concluir esse nível de O Curso tem duração de 1200 horas, distribuídas em ensino até a data de início das aulas. 04 (quatro) semestres letivos + 400 horas de estágio No ato da inscrição o candidato receberá o Manual do supervisionado obrigatório em empresa da Cadeia Candidato com as informações do processo seletivo. A Produtiva Têxtil. prova será composta por 60 questões de múltipla escolha, As aulas são desenvolvidas de 2ª a 6ª feira, temos em nível de conclusão do ensino médio: 20 de Língua turmas em 03 períodos, sendo: Portuguesa, 20 de Matemática e 20 de Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia). Manhã: das 08h15 às 11h30. Mesmo em tempo de crise, Paulo Vaz, vice-presidente da Tarde: das 13h45 às 17h00. Associação Seletiva Moda, que tem apoiado a presença de Noite: das 18h30 às 21h45. diversas empresas em eventos internacionais, considera que há margem para crescer até aos 100 milhões de euros em O próximo período de inscrições para o Curso 2013. Técnico Têxtil será de 09 a 27/03/2009 e o exame de seleção no dia 26/04/2009 das 08h00 às 11h00. O Curso Técnico Têxtil é ministrado na Escola SENAI "Francisco Matarazzo", localizada à rua Correia de A inscrição deverá ser efetuada na própria Escola, Andrade, 232 - Brás - São Paulo - SP - Telefax.: (11) 3227 após comprovação do pagamento de R$ 35,00 referente à 5852. taxa de inscrição. Para pagamento o candidato deverá Solicite seu cadastramento através do e-mail: [email protected] e receba grátis, semanalmente, o ABQCT Online. Aproveite e mantenha-se informado. 82 Revista Química Têxtil n 94/Março 2009.