out 2009 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino

Transcrição

out 2009 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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out-nov/09
out-nov/09
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Editorial
Representar a ovinocultura
O ARCO JORNAL é o veículo informativo da
ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE
OVINOS – ARCO
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DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente: Paulo Afonso Schwab
1º Vice-presidente: Suetônio Villar Campos
2º Vice-presidente: Arnaldo Dos Santos Vieira
Filho
1º Secretário: Wilson Belloc Barbosa
2º Secretário: Antônio Gilberto da Costa
1º Tesoureiro: Paulo Sérgio Soares
2º Tesoureiro: Teófilo Pereira Garcia de Garcia
CONSELHO FISCAL
Titulares
Carlos Alberto Teixeira
Ruy Armando Gessinger
Leonardo Rohrsetzer de Leon
Suplentes
Emanoel da Silva Biscarde
Joel Rodrigues Bitar da Cunha
Fabrício Wollmann Willke
SUPERINTENDÊNCIA DO R.G.O.
Superintendente
Francisco José Perelló Medeiros
Superintendente Substituto
Edemundo Ferreira Gressler
CONSELHO DELIBERATIVO TÉCNICO
Presidente: Fabrício Wollmann Willke
A representação associativa, sindical ou
de entidades de classe
é uma atividade que
tem exigido cada vez
mais preparo daqueles que postulam estar
em cargos diretivos
destas entidades. Em
muitos casos exige até
dedicação exclusiva para que se possa atender a todas as
demandas, que não são poucas. Cargos deste porte exigem
equilíbrio, comprometimento com a neutralidade e disponibilidade para atender aos anseios de todos. Tanto dos representados quanto do mercado e suas representações, bem
como dos vários níveis governamentais.
A experiência de trabalhar neste cargo tem mostrado
que as demandas são múltiplas. É quase que comparável a
uma família que tem muitos filhos. Atender às expectativas
de todos é um esforço muito grande. Interesses diversos e
divergentes às vezes não conciliáveis. No caso específico da
ARCO, entidade representativa da Ovinocultura em nível
nacional e outorgada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para os registros genealógicos, a
comparação é bem próxima, uma vez que precisamos atuar
em várias frentes. Isto significa atender às demandas e aos
pedidos das associações estaduais que, pelas diferenças regionais, têm suas particularidades. Ao mesmo tempo, somos
frequentemente procurados pelos criadores que buscam soluções para seus problemas particulares. E precisamos ainda ter um olhar para o horizonte de tal forma que possamos
planejar ações que tragam benefícios para o setor.
Isto quer dizer que muitos dos anseios que nos chegam
buscam soluções práticas de mercado, seja para a lã, ou
Associado
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Paulo Sérgio Soares
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Jornalista responsável
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para a carne, a pele ou o leite. Temos buscado agir em todas as frentes para que consigamos conquistar espaços,
crescer na produção de cada um destes produtos. Isto tem
exigido do grupo diretivo conhecimentos específicos, contato permanente com entidades de pesquisa, com os governos
a fim de que os processos que iniciamos dentro da entidade,
tragam o resultado esperado.
Um exemplo deste trabalho foi a reunião que realizamos na Expointer 2009 realizada em final de agosto, no Rio
Grande do Sul, com entidades de pesquisa dos três estados
da Região Sul do Brasil. Ali tínhamos a proposição de unir
esforços que este segmento tem feito, em relação à ovinocultura e buscarmos um denominador comum em torno do
tema. Plantamos uma semente em torno do assunto. Realizamos uma tarefa que nos é importante e que sabemos, vai
trazer bons resultados para nossos criadores.
A atuação no cargo diretivo da ARCO tem nos colocado
diante de importantes desafios. Para enfrentá-los, a dedicação de todos é indispensável. Andamos por várias partes
do País, a fim de bem representar a ovinocultura. Deixar
um legado de realizações para o setor, que propiciem ganhos não destrutíveis é a tônica do nosso trabalho, algo
que tem sido feito com grande desprendimento por todos.
A informatização do processo de registros genealógicos é
um marco neste sentido. E, mais recentemente, a execução
do programa que vai criar um banco de dados com o registro de DNA de todos os animais, é outro. É por isto que
sempre que conversamos sobre este tema, sentimos que é
gratificante ver que estamos construindo, dentro da entidade, uma unidade forte de trabalho, um espírito que vai além
dos interesses pessoais, uma vez que o principal objetivo
é ver a ovinocultura se elevar ao patamar de importância
econômica que ela tem.
Paulo Schwab - Presidente da ARCO
SANTA INÊS NO SUL
3
out-nov/09
Reportagem
A
Criação da raça Santa Inês ganha força no Sul
raça Santa Inês tem sua
criação ligada diretamente ao norte e nordeste do
País. Resultado da cruza entre
as raças Morada Nova, Crioula
e Bergamácia, a Santa Inês é um
ovino deslanado, de grande porte
e de alta fertilidade. Corpulentos,
de pelagem nos tons vermelho,
preto e branco, chegando os machos a pesar 80 kg e as fêmeas 60
kg , com rendimento da carne em
média de 30 kg, possui o couro
espesso e macio, excelente para a
fabricação de calçados e roupas. A
produção de leite permite desmamar cordeiros com bom peso. Todas estas credenciais, mais a prolificidade - mais de um cordeiro ao
ano - animaram alguns criadores
gaúchos que resolveram investir
nesta raça considerada hoje como
produto autenticamente nacional.
Os resultados ainda não são definitivos, mas quem decidiu correr
o risco e pagar para ver como ela
se comportaria nos campos do Rio
Grande do Sul, está bem impressionado com os resultados.
Criador
O produtor de Santiago/RS,
Júlio Gaspar Noronha Saldanha,
está investindo na ampliação do
seu rebanho após um período
seis anos criando e observando a
adaptação da raça. “O clima era
uma questão que me preocupava,
mas até agora não percebi nada
muito diferente. Apenas que os
animais, depois de passados dois
ou três anos, começaram a botar
uma lanugem”, informa Saldanha. Proprietário da Cabanha Três
Açudes, atualmente, o criador dispõe de um plantel de 500 animais,
140 dos quais já possuem registro. Falando sobre a prolificidade,
ele explica que em um período
de 14 meses são obtidos quatro
cordeiros. “Estes resultados me
deixaram satisfeito e, neste ano,
já adquiri nove carneiros da raça
Foto: Nicolau Balaszov/ARCO Jornal
Júlio Saldanha, com o exemplar Santa Inês, durante a Expointer
e pretendo aumentar ainda mais a
minha produção”, destaca.
Na edição da Expointer de
2008, Saldanha lembra que realizou uma degustação de carne da
raça. “As pessoas sempre tiveram
a ideia de que o gosto da carne
era igual ao do cabrito, mas puderam verificar que este produto
tem uma qualidade própria”, afirma. Apesar de possuir sangue de
uma raça europeia como é o caso
da Morada Nova, a Santa Inês
manteve a característica de rusticidade tendo, assim, melhorada a
sua adaptação. “Este é um animal
de fácil manejo, pois se adequou
muito bem ao pasto e aceita qualquer tipo de ração, mantendo a sua
produtividade. Quanto ao aspecto
sanitário, o animal exige a desvermifugação apenas duas vezes ao
ano”, conclui.
Cláudio de Souza Caldas, da
Cabanha Santa Rita, localizada
em Santana do Livramento, explica que começou a criação da raça
quase por acaso. “Foi uma experiência que não sabíamos qual seria
o resultado e esperávamos encontrar problemas durante o inverno.
Colocamos até cortinas e capas de
proteção contra o frio, a exemplo
dos criadores do Uruguai”. Mas,
para surpresa de Caldas, quando fazia muito frio os animais se
agrupavam e resistiram ao clima,
sem haver perdas e tampouco
doenças. “Pude perceber a rusticidade da raça que começa a ganhar espaço no mercado da região
Sul”, informa Caldas.
Pioneiro na introdução da raça
no Rio Grande do Sul, o criador
Pedro Eloi Scalco, do município
de Alecrim/RS, há mais de 20
anos acolheu e tem observado
atentamente o desenvolvimento da
Santa Inês. Ele dispõe no momento de mil animais em seu plantel e
ratifica as informações anteriores
e, além disso, acrescenta que o hábito alimentar deste animal difere
do ovino lanado. “A Santa Inês dá
preferência aos arbustos e leguminosas, enquanto as demais raças
buscam os pastos baixos”, descreve Scalco. Também é notável que
o peso do Santa Inês possa chegar
a 50% a mais, comparativamente
ao nativo nordestino. “Isto se justifica pela abundância e qualidade
do pasto encontrado no sul”, justifica.
Scalco explica que o manejo
sanitário com o des­lanado requer
pouca mão-de-obra. São higiênicos, não sendo necessários manejos como desolhe e cascarreio, o
que permite um parto mais seguro.
Finalizando, Scalco destaca que o
paladar da carne é um diferencial.
“O Santa Inês tem sido muito bem
aceito entre os gaúchos, principalmente no tradicional churrasco. A
carne difere bastante das demais
raças criadas no sul devido ao seu
menor teor de gordura”.
Técnico
Para o técnico da Associação
Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO), Claiton de Almeida
Severo, a raça inicialmente teve
algumas dificuldades devido à
barreira sanitária, o que impedia a
sua entrada nos estados da região
sul. “Solucionado este impasse,
atualmente, temos a presença dos
animais em maior escala na região
de Santa Rosa e Alecrim e, mais
espalhados, em outros municípios
gaúchos e, pelo que tudo indica,
a cadeia produtiva está se organizando e a sua criação tende a se
expandir”, explica Severo. Em
suas observações relativas ao desempenho da Santa Inês, ele diz
que ainda é muito cedo para se
chegar a conclusões definitivas,
mas reconhece que o animal tem
se adaptado bem ao clima frio.
“O que pude ver e que chamou a
atenção, é que com a chegada do
inverno à raça desenvolve uma
lanugem e depois, com a chegada do verão, a proteção desaparece”, conta. Essa característica,
segundo o técnico, vem provavelmente da origem Bergamácia,
presente em seu gene. Ele também confirma a profilacidade da
raça, “pude observar as fêmeas e
o que mais pode ser ressaltado é
o fato de que enquanto havia um
cordeiro no pé, ela já carregava
outro na barriga, quer dizer, as
matrizes passam quase todo o
ano prenhas”. •
Foto: Nelson Moreira/Agropress
Hábitos
alimentares e a
carne com menor
teor de gordura
diferenciam o
Santa Inês das
demais raças
criadas no Sul
out-nov/09
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Notícias da ARCO
Perelló completa 50 anos como técnico da ARCO Formada a rede integrada
de Ovinocaprinocultura
Baleiro e operador de filmes
conta que foi professor da cadeiFoto: Horst Knak/Agência Ciranda
no antigo Cinema Avenida, em
Pelotas, RS, o atual Superintendente do Serviço de Registro Genealógico da ARCO, Francisco
José Perelló de Medeiros entrou
para a Agronomia porque queria
aprender mais sobre biologia.
Mas antes de tudo, há uma característica na sua vida que ele
mesmo define: “Eu nunca escolhi
nada na minha vida, ao contrário,
ela que foi me levando para os
caminhos que percorri”.
Buscando seus objetivos, Perelló conseguiu uma bolsa e foi
estudar na Escola de Agronomia
Eliseu Maciel, da Universidade
Federal de Pelotas, de onde saiu
em dezembro de 1951. Em 52
começou a trabalhar na Fazenda
Modelo da Palma, pertencente ao
Ministério da Agricultura e hoje
à Embrapa Clima Temperado.
Por indicação do Dr Geraldo
Nunes Veloso, em 58 foi trabalhar no serviço de ovinocultura
da Secretaria de Agricultura do
Rio Grande do Sul, que possuía
um convênio com a ARCO. Desta forma, em 59 começou oficialmente como Inspetor Técnico da
entidade que já era responsável
pelo aprimoramento genético
dos rebanhos ovinos. Mais de 50
anos depois e com quase 84 anos
de vida, Perelló, como é conhecido por todos, mantém a mesma
disposição para o trabalho. Ele
ra de ovinocultura no Conjunto
Agrotécnico de Pelotas e desde
1997 é o superintendente do Serviço de Registro Genealógico da
ARCO.
Segundo ele, a ovinocultura
brasileira tem qualidade genética
igual a muitos países do mundo,
mas está precisando adotar práticas mais empresariais, buscando
resultados de produtividade, visando ao comércio. “Creio que
já não se sustenta mais a idéia de
criar como o pai e o avô faziam,
isto não dá retorno financeiro”,
sentencia, acrescentando que a
rentabilidade tem que ser o foco
principal de quem está na ovinocultura. “Temos tecnologias para
quase tudo hoje e que podem ser
aplicadas ao campo. É preciso
tomar a decisão de implantá-las
para realmente ter lucro com a
atividade”, finaliza. •
ARCO com agenda cheia
nos últimos meses
Encontro com Embaixador da
Austrália, participação em seminários, promoção do encontro de
Inspetores Técnicos, eventos no
Pará, no Rio Grande do Sul e muitas outras atividades fazem parte
da movimentada agenda que a diretoria da ARCO tem mensalmente. Ser representante da Ovinocultura em nível nacional exige um
fôlego imenso para estar presente
em tudo que é evento para a qual
a ARCO é convidada. Felizmente a diretoria é coesa e consegue
atender a vários destes convites.
Abaixo apresentamos uma amostra do que foi feito nos dois últimos meses. •
Agenda da ARCO
DATA
EVENTO
LOCAL
02/06/09
Reunião com Ministério do Desenvolvimento Industria e Comércio - MDIC
Brasília/DF
02/06/09
Reunião com o Embaixador da Nova Zelândia - Mark Trainor
Brasília/DF
04 a 06/06/09
VI Exposição Pequenos Notáveis na Superagro 2009
Belo Horizonte/MG
23/06/09
Reunião Ordinária do C.D.T.
Bagé/RS
05 a 11/07/09
Treinamento a Candidatos de Novos Inspetores Técnicos da ARCO
Belém/PA
07/07/09
18ª Reunião Ordinária Câmara Setorial Cadeia Produtiva Caprinos e Ovinos
Brasília/DF
14 a 15/07/09
Reunião com Coordenação da Produção Integrada da Cadeia Pecuária
Brasília/DF
30/07/09
Reunião Extraordinária do C.D.T.
Bagé/RS
06 a 09/08/09
Avaliação de candidatos de inspetores técnicos que concluíram treinamento
Mossoró/RN
28/08 a
06/09/09
XXXII Expointer
Esteio/RS
03/09/09
Reunião da Formação Rede Integrada de Pesquisa de Ovinocaprinocultura
Esteio/RS
14 a 16/09
Expo Prado
Montevidéu/UY
17/09/09
Reunião com o Secretario Agricultura Pecuária Pesca e Agronegocio do RS Sr. João Carlos Machado
Porto Alegre/RS
23 a 24/09
XIV Simpósio Paranaense de Ovinocultura
Curitiba/PR
23 a 26/09/09
4º Encontro Regional dos InspetoresTécnicos
Belém/PA
24 a 26/09/09
AMAZONPEC – Encontro Internacional da Pecuária da Amazônia
Belém/PA
29/09/2009
Reunião da Câmara Setorial da Ovinocultura – SEAPPA/RS
Porto Alegre/RS
30/09/09
19º Reunião Ordinária Câmara Setorial da Cadeia Produtiva Caprinos Ovinos
Brasília/DF
30/09/09
Reunião do Fórum de Competitividade do Sistema Agroindustrial
Brasília/DF
28 a 30/09/09
II Curso Sênior de Formação e Oficialização do Corpo de Jurados da
ABCDorper – Avaliação para homologação do curso no Colégio de Jurados
de Ovinos da ARCO
Jaguariúna/SP
01/10
Encontro da ABCDorper com ARCO
Jaguariúna/SP
Foto: Divulgação/ARCO
Evento de instalação foi realizado durante a Expointer
Com a participação de 10 instituições de pesquisas dos três Estados
do sul do Brasil, ocorreu em setembro, na sede da Associação Brasileira
de Criadores de Ovinos, ARCO, em Esteio, Rio Grande do Sul, o primeiro encontro para a formação da Rede Tecnológica de Ovinocaprinocultura, cujo objetivo é reunir conhecimentos já existentes e formar propostas
para novas pesquisas destinadas à melhoria do setor.
Durante o encontro, realizado por iniciativa da ARCO, foi debatido a
forma como esta rede irá trabalhar e qual a contribuição que cada instituição pode dar, segundo sua expertise, para a Rede. Também ficou deliberado que a ARCO será a coordenadora do processo de organização da
rede e buscará meios para que ela se mantenha sempre em contato. Uma
das sugestões que será posta em discussão é a importância de ter como
pilar do processo a Educação, tanto do produtor rural quanto de seus
funcionários. “Muito da ovinocultura passa por treinamento de quem trabalha com ela”, ressalta o presidente da ARCO, Paulo Schwab.
O professor do curso de Veterinária da UFSM, Cléber Cassol Pires
disse que este encontro foi importante para reunir as tecnologias já existentes e ver como melhorá-las ou aplicá-las. Para o presidente da ARCO,
Paulo Schwab, a formação deste Rede vem contribuir para que se reúna
tudo o que já foi feito em termos de pesquisas para ovinos, se faça uma
avaliação e atualização e se veja como aplicá-las no campo. “Também
podemos ver quais as necessidades do campo, em termos de pesquisas
e ver de que forma esta rede pode contribuir para obter as respostas”,
assinala Schwab. •
Livro discute potencial dos
ovinos no Mato Grosso do Sul
Abordando as questões relacionadas à cadeia produtiva da carne ovina e sua relação com as instituições e organizações vigentes, André Sorio
acaba de lançar seu livro “Sistema agroindustrial da carne ovina - O
exemplo de Mato Grosso do Sul”. Uma das principais questões da obra é
a seguinte: “Por que o Estado conta com todos os requisitos para ter uma
produção pujante de ovinos e no enFoto: Reprodução
tanto as coisas não acontecem com a
velocidade e eficiência que se deseja?” O livro coloca uma luz sobre as
causas que impedem a carne ovina
de ser mais competitiva, apesar de
todo o potencial de mercado para o
produto existente no Brasil.
O livro está disponível para aquisição na página www.sistemavoisin.
com.br/livros.asp, com as facilidades do sistema Pagseguro, por R$
35,00 com o frete grátis. Está disponível, no mesmo local, o download
gratuito do livro. Para mais informações, entre em contato diretamente
com o autor pelo número (67) 92243230. •
5
out-nov/09
Notícias do S.R.G.O.
MAPA concede registro da
raça East Friesian à ARCO
A Associação Brasileira de
Criadores de Ovinos - ARCO foi
autorizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
a realizar o registro genealógico do
ecotipo East Friesian, que também
passou a ser reconhecida como
raça no Brasil. Leia abaixo a íntegra da Portaria do MAPA.
Foto: Divulgação
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO
GABINETE DO MINISTRO
PORTARIA Nº 804, DE 1º DE OUTUBRO DE 2009
O Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no uso das atribuições que lhe conferem o art. 87, Parágrafo
único, inciso II, da Constituição, tendo em vista o disposto na
Lei nº 4.716, de 29 de junho de 1965, no Decreto nº 58.984, de
3 de agosto de 1966, na Portaria SNAP nº 47, de 15 de outubro
de 1987, e o que consta do Processo nº 21000.000767/2009-55,
resolve:
Art. 1º Conceder autorização à entidade privada Associação
Brasileira dos Criadores de Ovinos - ARCO, com sede no Município de Bagé, Estado do Rio Grande do Sul, registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sob o número
07, na categoria de Entidade de Âmbito Nacional, para efetuar o
registro genealógico do ovino East Friesian.
Parágrafo único. O ecótipo East Friesian é reconhecido como
raça de ovinos.
Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
Comunicado aos Associados
e Inspetores Técnicos
-Identificação Numérica e Código de Rebanho em ovinos SO – RD – CG
De conformidade com a determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
– MAPA todo o ovino que for tatuado com sinete da ARCO (além dos PO e PCOC): SO – RD
– CG – deverá receber identificação numérica e o código de rebanho tatuados nas orelhas.
É obrigatório a observância desta determinação, e o seguinte procedimentos:
- Ovinos SO (Seleção Ovina): O sinete SO e o código de rebanho são tatuados na orelha direita
e a identificação numérica é tatuada na orelha esquerda.
- Ovinos RD (Rebanho de Raça Definida): O sinete RD e o código de rebanho são tatuados na
orelha esquerda e a identificação numérica é tatuada na orelha direita.
- Ovinos CG (Controle de Gerações): O sinete CG (acompanhado da indicação da geração)
e o código de rebanho (da raça absorvente) são tatuados na orelha esquerda, a identificação
numérica é tatuada na orelha direita.
IDENTIFICAÇÃO NUMÉRICA
Em qualquer classe (SO – RD – CG) a identificação numérica obedecerá a uma ordem própria,
continua e crescente, não podendo haver repetições, igual ao observado na identificação dos
ovinos PO – PCOC.
A tatuagem de um ovino SO – RD ou CG, automaticamente vai gerar um correspondente certificado.
O Inspetor Técnico ao preencher a Ficha de Inspeção deverá indicar a identificação numérica
dos produtos nela anotados.
REGISTRO
Os ovinos SO – RD e CG passarão a constar do Arquivo Zootécnico de Registro Genealógico.
out-nov/09
6
Notícias da ARCO
A ovinocultura gaúcha
perde Fernando Affonso
DNA dos ovinos na Internet
Fotos: Divulgação/ARCO Jornal
Foto: Horst Knak/Agência Ciranda
Durante a Expointer,
foram realizadas as primeiras coletas de material
genético de animais registrados que vão formar
a grande árvore genealógica da ovinocultura brasileira – baseada no DNA
dos animais. Brevemente,
estes dados estarão disponíveis para consulta no
site da ARCO, permitindo
identificar precisamente
cada animal antes de definir o novo pai de cabanha
da propriedade ou mesmo
realizar investimentos para Fibras, lã e sangue integram amostras
ampliar o plantel.
melhoradores.
Formados por pelos ou amosTodos os dados coletados setras de sangue dos animais prerão reunidos em um banco de damiados – machos e fêmeas – os
dos administrado por um softwaprimeiros materiais foram enviare, que poderá ser acessado por
dos a um laboratório credenciado
todos os criadores, via Internet.
pelo Ministério da Agricultura
O banco de dados será atualizado
(Mapa), em São Paulo, que fará a
pelos 110 inspetores técnicos da
genotipagem de cada reprodutor.
ARCO espalhados em 24 estados
Por isso, o departamento técnibrasileiros, isto porque a coleta se
co da ARCO tem certeza de que
estenderá para outras exposições
isso é um caminho sem volta. O
no país. A previsão da ARCO, rebanco genealógico permitirá a
vela o superintendente do serviço
identificação precisa da origem,
de registro genealógico adjunto,
diminuindo a chance de o criador
Edemundo Gressler, é de ampliar
adquirir reprodutores inadequaa coleta de amostras na Expointer
dos ou mesmo animais comuns
2010. “Em 2011, a apresentação
em lugar de borregos e carneiros
da genotipagem deve se tornar
uma das exigências para a
inscrição de exemplares”,
destaca. “No futuro, todos
os animais de genética terão de estar no banco”, assinala. Atualmente, muitas
cabanhas já fazem o atestado de genotipagem por
conta própria, mas os dados
não estão compilados.
A árvore genealógica
da ovinocultura brasileira
será muito importante para
o criador que produz genética, destaca Gressler. “É
mais um selo que dá a garantia ao comprador de que
o produto contém o perfil
genético desejado”, diz. Há casos
de fertilizações in vitro (FIV), em
que muitas vezes são colocados
materiais de diferentes animais
no mesmo ensaio, de forma que
não se sabe a origem exata do
produto. Por isso, explica o superintendente do serviço de registro
genealógico da Arco, Francisco
José Perelló Medeiros, é necessário que o criador faça o teste de
comparação de parentesco e informe a ARCO. O resultado será
um maior conhecimento do indivíduo. “A ARCO não é a primeira
a controlar a genética, mas está na
vanguarda”, sentencia Perelló. •
Em Brasília, criadores investem
O brasiliense consome entre 28 e 30 toneladas de carne ovina por mês, sendo 10% produzidas no Distrito
Federal e 90% provenientes da Bahia, região Sul e Uruguai. O leite de cabra vem de Minas Gerais e do Rio de
Janeiro. Os dados foram apresentados no Dia de Campo promovido em Brasília, com o objetivo de difundir
tecnologias da Integração Lavoura-Pecuária voltadas aos ovinos. “Estamos estimulando a criação de ovelhas,
pois a demanda está aquecida, o mercado está em expansão”, afirmou o presidente da Associação dos Criadores
de Caprinos e Ovinos de Brasília (ACCOB), Carlos Alberto Reis. No DF e entorno são quase mil criadores,
com rebanho estimado em 16 mil ovinos. •
ABC Dorper realiza Curso de Jurado Sênior
O II Curso Sênior de Formação
e Oficialização do Corpo de Jurados da ABC Dorper, realizado no
início de Outubro em Jaguariúna,
SP, foi coordenado pelo jurado
internacional e ex-presidente da
Associação Sul Africana de Criadores de Dorper e White Dorper,
Ron Van Der Merwe.
Realizado no Rancho VPJ,
Fazenda Talisman e Cabanha Interlagos, o curso mostrou que o
jurado precisa conhecer cada detalhe do padrão racial para realizar um bom julgamento. “É uma
função ingrata, muitas vezes, mas
é preciso saber que é para o bem
da raça”, assinala Ron.
A ovinocultura
está de luto. Faleceu no dia 1º de outubro um dos seus
pilares mais sólidos, o criador Fernando Rodrigues
Affonso. Nesta hora
triste lembro de um
pensamento da jornalista e escritora
Martha Medeiros “
Fernando Affonso com a esposa
Pessoas entram na
sua vida por uma
mentos, as lembranças dos morazão, uma estação ou uma vida
mentos compartilhados e, graças
inteira...” Fernando era dessas
a Deus, foram muitos. Ele parpessoas, que entram na vida da
tiu... deixa saudade, muita saugente e ficam por uma vida indade. Querido Amigo, vai em
teira. Ficam para sempre.
paz, vai cuidar dos rebanhos de
Ele se foi, infelizmente muiDeus e nós, que por aqui ainda
to cedo, mas deixa sua marca
ficamos, cuidaremos com carigravada bem no fundo de nosnho de tua querida esposa Maria
sos corações. Deixa o exemplo
Cecília, de tuas filhas Arysinha
de um verdadeiro líder, homem
e Adriana, de teu filho Hélio, de
firme, correto, nobre, homem
tua nora Alejandra e de teus neque não tinha medo de dizer o
tos, Bernardo, Luíza, Santiago e
que pensava, que lutava por suas
Martina.
idéias, que levantava bandeiras,
Eternas saudades... de todos
um apaixonado ovelheiro que
os amigos da Raça Ideal, de toa todos sempre encantava com
dos ovinocultores que tiveram o
suas memoráveis palavras.
privilégio de teu convívio.
Ele partiu... ficam os ensinaCleusa F. Piegas
Pará realizou feira de ovinos
A Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos do Pará, Accopa, realizou no dia 25 de setembro, um evento chamado 8º Leilão Ovinorte &
Convidados. O resultado da comercialização foi de R$ 196.840,00 considerado recorde de venda, pois os 38 lotes obtiveram média de R$ 5.180,00.
Já a comercialização de 98 animais teve média de R$ 2.008,00 por animal.
O presidente da Accopa, Joel Bittar, se declarou muito satisfeito com os
resultados, pois mostram que a ovinocaprinocultura está sendo valorizada
no Estado, e ainda mantendo o interesse na atividade.
A raça Texel obteve o total de R$ 47.808,00 para a comercialização de
26 animais com média de R$ 1.838,00 por animal. As 18 fêmeas foram
vendidas por R$ 28.608,00 com média de R$ 1.589,00 e 8 machos foram
negociados por R$ 19.200,00 com média de R$ 2.400,00. O preço mais alto
deste leilão foi para um macho Texel vendido por R$ 5.520.00.
Já a raça Santa Inês faturou R$ 24.072,00 na comercialização de 46 animais com média R$ 557,00. As 45 fêmeas foram vendidas por R$ 24.072,00
com média de R$ 534,00 e 1 carneiro por R$ 1.560,00.
E a raça Dorper, negociou 8 animais por R$ 7.920,00 com média de
R$ 990,00 por animal. Foram vendidos dois carneiros pela média de R$
1.920,00, 1 borrega por R$ 1.680,00 e cinco fêmeas cruzadas por R$
480,00. •
Integrante do grupo PauliTexel
firma parceria com o IZ
Campeões Dorper da Expovelha, de Lençóis Paulistas
O presidente da ABC Dorper,
Valdomiro Poliselli Júnior, destacou que o curso visa à formação
de técnicos que possam, através de
seus julgamentos em exposições,
ajudar ao criador a aperfeiçoar o
seu rebanho, indicando os animais
realmente melhoradores. •
A Fazenda 3 Sinos, de José Roberto Sobral, participante do PauliTexel, Núcleo Paulista Criadores de Ovinos Texel, fechou parceria
com o Instituto de Zootecnia (IZ), de Nova Odessa, para pesquisa com
cordeiros desmamados, a cargo do pesquisador e zootecnista Mario
Sartori. A avaliação prevê prova de ganho de peso, seguida de abate e
mensurações, encerrando no dia 25 de novembro. Os cordeiros foram
divididos em três lotes, sendo um de controle e os outros testados com
dois tipos diferentes de probióticos. •
7
out-nov/09
Notícias do brete
Estados se mobilizam para abater ovinos
O Pará vai ganhar seu primeiro
frigorífico para abate de ovinos,
completando a cadeia produtiva
no Estado a partir de 2010. A Secretaria de Estado de Agricultura
(Sagri), a Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Emater) e a iniciativa privada são parceiras no projeto, que deverá ser
instalado numa área da Escola
Agrotécnica do município de Castanhal, no nordeste paraense, para
atender criadores do Estado. “A
participação da Sagri e da Emater
é muito importante porque viabiliza o acesso dos pequenos criadores e estimula o crescimento da
atividade no Pará”, informou Joel
Bitar, presidente do Sindicato e
da Associação dos Criadores de
Caprinos e Ovinos do Pará. “Tendo para quem vender a produção,
acredito que dentro de um ano o
número de produtores será cinco
vezes maior do que hoje”, disse
Joel.
A Sagri incentiva a criação de
caprinos e ovinos entre os produtores familiares, por meio do Projeto de Pequenos Animais. O objetivo é proporcionar alternativa de
renda no meio rural e aumentar a
oferta de alimentos. “A atividade
é emergente no Brasil, onde 90%
do abate estão na informalidade,
por isso precisa de muito incentivo do governo”, disse o presidente da ARCO, Paulo Schwab.
No Mato Grosso, o município
de Vila Rica (1.259 km a Nordeste de Cuiabá, na região do Araguaia), irá receber investimentos
da ordem de R$ 1 milhão com a
implantação de um frigorífico de
ovinos. A indústria será a primeira
do Estado com o Selo de Inspeção Federal (SIF) no segmento,
com comercialização prevista
para todo o território nacional.
Já em Rondonópolis o Conselho
Diretor de Política e Desenvolvimento Industrial de Rondonópolis
(Codipi) aprovou a doação de uma
área de dez hectares para a instalação de um frigorífico de cordeiros. A Corfrigo Frigorífico pretende investir aproximadamente R$
9 milhões e gerar 54 empregos
diretos e 150 indiretos. A empresa
terá capacidade para abate de 900
animais por dia. As instalações
vão ser projetadas para industria-
Restaurante só de carne
ovina em Pelotas
A cidade de Pelotas ganhou um
restaurante exclusivo de carne de cordeiro: Buena Vida
(rua Gonçalves Chaves, 308, tel. 33214749). Já funciona
há quatro meses,
tendo a nutricionista Luciane Duarte
Prado como uma
das sócias. Sua família dirige o Criadero Buena Vida,
em Piratini, especializado na criação
de ovinos e fornecedor da boutique
de carnes Cordeiro
Pedras Altas, de
Abilio Paiva, que também tem loja em Porto Alegre.
As receitas do restaurante são criações do chef Richard Techera Silveira, uruguaio de Rocha, terra do meu amigo Carlos Julio Pereira.
“Utilizamos os cortes especiais com receitas que exploram uma variedade de molhos”, informa Luciane Prado. Com decoração que
lembra uma casa de fazenda, o Buena Vida, neste mês de outubro,
terá um prato especial para a Quinzena Gastronômica de Pelotas,
com batata suíça recheada, salada e costela de cordeiro desossada.
Uma entrada gostosa são os croquetes de cordeiro. •
Fotos: Divulgação/ARCO Jornal
Aumento das
demandas
de carne
ovina pelo
país ampliam
interesse de
criadores e
frigoríficos
lizar os produtos, atender grandes
centros e exportar.
Além da unidade do Grupo
Marfrig em Promissão, instalada em 2008, até o final de 2009
estará finalizado o frigorífico
para ovinos em Paraguaçu Paulista, que atenderá as cidades da
região. Segundo Celina Harume
Nishizawa, secretária municipal
de Agricultura, após levantamento das dificuldades encontradas
pelos ovinocultores, os principais
problemas identificados foram o
abate clandestino e a dificuldade
na comercialização das carnes.
“Para chegarmos à instalação do
frigorífico foi um longo trabalho,
que começou em 2000 e está finalizando agora”, diz.
O Paraná também se mobiliza
para atender à crescente demanda
por carne ovina. As grandes cooperativas de produção agrícola
também estão projetando investimentos no setor. A Castrolanda,
por exemplo, prevê a instalação
de um frigorífico específico para
o abate de cordeiros, serviço que
hoje é terceirizado. Hoje, um grupo de 25 cooperados comercializa
4 mil cordeiros por ano, com idade entre 100 e 150 dias. A precocidade ajuda na produção de carne
de melhor qualidade, com maciez
e nível moderado de gordura.
“Todo este movimento demonstra
o quanto cresce o interesse pela
produção e pelo consumo da carne ovina”, salienta o presidente da
ARCO, Paulo Schwab. •
Criadores organizam sistemas de produção
A boa perspectiva de comercialização para centros maiores motivou
os criadores de Santiago, no CentroOeste do Rio Grande do Sul a formar a Cooperovinos e lançar a marca Cordeiro do Boqueirão. Segundo
Glauco Bitencourt, um dos sócios
da cooperativa, a produção está em
3 mil cordeiros/ano, comercializada
na cidade e na região. “Com este sis-
tema é mais fácil organizar a cadeia
produtiva e buscar atender ao mercado regional”, ressalta.
Também na cidade de Mafra, em
Santa Catarina, produtores estão se
organizando para oferecerem este
produto ao mercado do litoral norte
catarinense. A expectativa é que tudo
esteja pronto até o final deste ano. O
mesmo acontece com criadores da
região de Cascavel que prospectam
mercado e estão em fase de organização do processo produtivo para
atender a demanda que existe em
torno da carne ovina. Para estes um
mercado consumidor muito forte é
o da tríplice fronteira que se forma
em Foz do Iguaçu, região fortemente habitada por árabes, reconhecidos
consumidores de carne ovina. •
Embrapa cria Agência de Notícias para Ovinos
Fruto de um projeto de comunicação e transferência de tecnologia da Embrapa Caprinos e
Ovinos, a Agência de Notícias de
Caprinos e Ovinos (ANCO) tem
como objetivo facilitar o acesso
de jornalistas e de interessados em
ovinocultura e em caprinocultura
a informações sobre as cadeias
produtivas de caprinos e ovinos.
Dessa forma, pretende ajudar a
manter o setor na pauta do dia da
imprensa nacional.
A ANCO reúne 14 unidades
da Embrapa que desenvolvem
pesquisas com caprinos e ovinos,
em todo o País. Além das notícias produzidas pela equipe de
jornalistas da Embrapa, traz um
apanhado do material divulgado
por veículos de comunicação e
assessoria de imprensa de órgãos
ligados ao setor. As matérias veiculadas pela Agência podem ser
reproduzidas livremente desde
que citada a fonte.•
Leite de ovelha contém mais CLA na primavera
Pesquisadores do Departamento de Produção Animal da Universidade de León, na Espanha,
descobriu que o leite ovino possui concentração entre 30 e 44%
maior de ácido linoléico conjugado (CLA) na primavera do que
nas demais estações do ano. O
CLA é conhecido por seus efeitos
benéficos para a saúde – é anti-
cancerígeno e anti-hipertensivo e pode garantir um valor agregado
aos produtos lácteos ovinos.
A pesquisa – que envolveu
2.218 lactações de 1.109 fêmeas
de 14 rebanhos de ovelhas Churras, uma raça autóctone da comunidade de produtores de leite em
Castilla y Leon - pretendia conhecer quais eram os fatores ambien-
tais que incidem na presença de
até 36 ácidos graxos no leite de
ovelha. Esse conjunto de ácidos
possui qualidades benéficas para
a saúde. A ideia era saber os efeitos da variabilidade que incidem
na presença dessas substâncias no
leite para poder determinar as melhorias genéticas que podem ser
realizadas nos ovinos leiteiros. •
out-nov/09
Especial
8
São Paulo no caminho
Fotos: Divulgação/ARCO Jornal
Após uma euforia que durou quase uma década – com fortes
investimentos em matrizes e plantéis de animais puros, a ovinocultura de São Paulo está passando por mudanças profundas.
Com a retirada de aventureiros e “investidores” que buscavam
lucro rápido e fácil, o setor passa por um processo de profissionalização. Ao mesmo tempo em que estabelecem as bases de um
rebanho puro consolidado, capaz de arrancar prêmios em exposições importantes como a Feinco e a Expointer, os criadores
também percebem a existência de nichos especiais para a carne
ovina, não só para abastecimento de restaurantes finos, como
também para a rede de varejo – leia-se supermercados.
Horst Knak
A
s principais raças criadas no Estado são Santa
Inês, Suffolk, Texel, Ile
de France, Hampshire Down, Poll
Dorset, Dorper e White Dorper.
A maioria dos criadores trabalha
com animais comerciais, sem registro, como atividade secundária de haras, granjas leiteiras, de
suínos e aves e possui instalações
adequadas para estes animais. A
maioria dos ovinocultores não
vive da atividade, são agropecuaristas, comerciantes, industriais e
profissionais liberais que adquiriram sítios e fazendas com os lucros de sua profissão.
O rebanho puro está mais
concentrado em torno da capital,
enquanto os rebanhos comerciais
estão a oeste, rumo ao Mato Grosso do Sul. Devido aos tamanhos
dos rebanhos e à falta de maior
organização, a maioria comercializa seus produtos no mercado informal, já que frigoríficos e
abatedouros organizados exigem
cargas fechadas e programadas.
O diagnóstico da atividade foi
realizada pela Rede de Inovação
e Prospecção Tecnológica para
o Agronegócio (RIPA). O levantamento, realizado durante oito
meses em parceria com a Embrapa Pecuária Sudeste e Sindicato
Rural de São Carlos, envolveu
consultores do Sebrae, professores e pesquisadores da USP, apresentando pontos fortes e fracos,
oportunidades e estratégias relacionadas para a produção de carne
ovina, aplicada aos produtores da
região de São Carlos.
Com base na pesquisa, o documento apontou cinco forças,
21 fraquezas, seis ameaças e 24
oportunidades para os ovinocultores. A partir desse resultado, foram estabelecidas oito estratégias
relacionadas para os rebanhos de
São Carlos e região. Foi recomendada a especialização da mão-deobra, por meio de capacitação e
treinamento, para trabalhar com
ovelhas incluindo a agricultura
familiar, a participação em cursos
de manejo sanitário, pastagens e
arraçoamento, oferecimento de
atrativos para os trabalhadores rurais, como a profissionalização da
gestão da exploração do rebanho,
a utilização da raça Santa Inês
como base para as estratégias de
seleção e cruzamento.
Mas o caminho pedregoso
também começou a ser asfaltado
com a formação, em 2005, da Câmara Setorial de Ovinos e Capri-
Direção da ARCO prestigia eventos no Estado
Feinco, um dos principais palcos da ovinocultura paulista, também é uma vitrine nacional
nos, para gradual implantação de
uma rede de assistência técnica e
difusão de tecnologia comandada
pela Associação Paulista de Criadores de Ovinos (Aspaco). Em
apenas três anos, foram criados
mecanismos de estímulo, como
Arnaldo Vieira preside a Aspaco
a linha de crédito de R$ 100 mil
com juros de 3% ao ano, o Indicador de Preço do Cordeiro Paulista
(elaborado pela USP), bem como
a implementação dos núcleos de
criadores. O rebanho paulista reúne 11 mil produtores, que criam
cerca de 700 mil cabeças.
O presidente da Aspaco, Arnaldo dos Santos Vieira Filho
(Dindo Vieira) é o atual presidente da Câmara Setorial e aposta que
a unificação de esforços é o único
caminho para alavancar o setor.
Para isso, promove reuniões interiorizadas, como ocorreu agora
em Outubro, durante a Expovelha
em Lençóis Paulista, também um
belo exemplo de município que
encontrou sua vocação na ovino-
cultura, como um complemento
da atividade rural.
Esta também é a tese defendida pelo técnico da ARCO, Francisco Fernandes, que presidiu a
Aspaco durante 17 anos, entidade
com sede em São Manuel e cerca
de 500 associados espalhados em
15 núcleos. A tese da entidade é
de que os ovinos podem ocupar
áreas marginais da cultura da
cana-de-açúcar, de lavouras de
pequeno ou grande porte, além
de se aliar perfeitamente à pecuária de corte e leite, já que utiliza
instalações já existentes em muitas propriedades. A fragmentação
incessante da propriedade rural,
neste caso, favorece os ovinos.
“Em pequenas áreas de 30 a 40
hectares, é possível manter e desenvolver rebanhos de 300 a 400
fêmeas em produção”, resume
Fernandes.
Procurando integrar criadores de animais de cabanha e os
produtores comerciais, a Aspaco
criou o Campeonato Cordeiro
Paulista (CCP), com o objetivo
de divulgar os produtos, conhecer a performance das diferentes
raças no desempenho de engorda
dos cordeiros em confinamento e
promover o consumo de carne de
cordeiro. Os animais participantes
do concurso são sempre cordeiros
machos nascidos no mês de junho
são adquiridos pelo CCP, remunerando os produtores pelo peso
vivo de seus cordeiros na data de
entrega no local da prova, ao pre-
ço de mercado vigente.
À frente do núcleo de Bauru,
o criador Alexandre Tolói, admite
que os criadores paulistas não têm
muita base empresarial. “Estamos
mudando a cara da ovinocultura,
Francisco Fernandes
utilizando a estrutura de treinamento do Sebrae. Sempre é tempo para correr atrás e recuperar o
tempo perdido”, resume. Com um
volume de matrizes considerado
pequeno (5.500 animais) o núcleo
acaba de reduzir o rebanho, descartando matrizes inferiores e se
prepara para incorporar qualidade
aos plantéis. Com isso, especula,
“é possível ganhar em quantidade, com fêmeas mais prolíficas,
e na qualidade, com animais de
genética superior”. O objetivo é
aumentar o rebanho em 35% nos
próximos dois anos.
Aplicando técnicas de gerenciamento, o grupo já obteve
uma sensível aumento do peso
9
out-nov/09
da profissionalização
da desmama do cordeiro – 20 kg
vivo aos 70 dias, bem como a redução da mortalidade – de 23%
para 15%. “Nossa meta é baixar a
mortalidade para menos de 10%”,
estipula Tolói. Nos próximos seis
meses, outro objetivo é identificar os ralos por onde escoam os
lucros dos criadores integrantes
do núcleo.
Outra frente de profissionalização é do governo paulista,
que programou investimentos de
R$ 830 mil na geração e transferência de tecnologias e material
genético de caprinos e ovinos do
pólo APTA (Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios)
Sudoeste, em Itapetininga (SP).
As metas do projeto envolvem
apoiar o desenvolvimento da
ovinocaprinocultura familiar em
bases técnico-científicas, proporcionando a geração de emprego e
renda na atividade. Do dinheiro
aplicado, R$ 400 mil serão disponibilizados ainda em 2009, para a
reforma das instalações do pólo
de Itapetininga, e R$ 430 mil serão investidos em novos laboratórios, aquisição de matrizes de
ovinos e caprinos e em um centro
de capacitação de agricultores.
Para o técnico Francisco Fernandes, a tecnologia disponível
permite desenvolver a ovinocultura sustentável e lucrativa
em várias condições de criação
no Estado. “Hoje há crédito disponível, mais e mais técnicos
estão sendo treinados e preparados pela ARCO, Aspaco, Senar
e Sebrae”, justifica. Segundo ele,
a Aspaco está em vias de firmar
convênio com a CATI – Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral, equivalente a Emater e
outros estados. Com isso, outros
14 técnicos da CATI prontos para
trabalhar com ovinos entrariam
no circuito.
No front tecnológico, há outras iniciativas da Unidade Pecuária Sudeste, da Embrapa, em
São Carlos. O pesquisador Rui
Machado, Mestre e Doutor em
Produção Animal, com 23 anos
de atuação, revela que a unidade
está envolvida em várias frentes
de trabalho científico. Um dos
primeiros a apresentar resultados
é o Projeto Terminação, que avaliou animais SRD cruzados com
Suffolk, Dorper e Santa Inês.
O objetivo foi a manutenção da
matriz a campo, encaminhando o
cordeiro já desmamado para confinamento.
O primeiro aspecto identificado é que a diferença de peso entre
os três grupos de animais ½ sangue ao final do confinamento não
foi muito expressivo. Enquanto
os cruza Dorper ganharam 310
g/dia, os cruza Suffolk atingiram
250 g/dia e os Santa Inês 225 g/
dia. Igualmente as carcaças ficaram entre 18,2 kg e 17,6 kg. A
maior precocidade foi dos animais cruza Dorper, com 130 dias.
O cruza Santa Inês foi o mais tardio e de carne mais magra, o que
para Rui Machado é um nicho a
se melhor desenvolvido para a
raça. “Sabemos que um abatedouro está adquirindo com preferência animais cruza Santa Inês,
visando atender mercados que
buscam a carne magra”, observa.
A unidade de São Carlos possui outras linhas de pesquisa
em andamento, como o uso de
extratos de plantas no controle
da verminose (leia reportagem
exclusiva nesta edição), além de
um trabalho que envolve o uso de
um resíduo da moagem mineral
na nutrição. Os resultados devem
ser promissores, porque o mine-
Rui Machado: várias linhas de pesquisa avaliam
ganho de peso, doenças e a nutrição de ovinos, mas
a meta mais ambiciosa da unidade da Embrapa de
São Carlos (abaixo a sede) é a formação de um
ovino composto adequado à realidade brasileira
Fotos: Divulgação/ARCO Jornal
ral contribui para a melhora do
balanço do nitrogênio ruminal,
possuindo efeito probiótico, a um
custo muito interessante.
Além de linhas que envolvem o controle reprodutivo – já
em andamento, a unidade está
azeitando projeto de pesquisa
que pode contribuir para a fi-
xação dos ovinos no Sudeste e
Centro-Oeste. “Nos próximos
20 anos, vamos desenvolver
um ovino composto, utilizando raças carniceiras, como Ile
de France, Texel, Santa Inês,
Suffolk e Dorper. Pretendemos
chegar a 31 genótipos diferentes, identificando um deles para
a produção de carne de qualidade. Vamos fixar genes destas várias raças, selecionando
vantagens como eficiência reprodutiva, precocidade, ganho
de peso, resistência a vermes,
envolvendo várias unidades da
Embrapa no País”, revela Rui
Machado. •
Cordeiro Prime VPJ e Programa Marfrig
Uma das ações de ponta no segmento
da carne ovina está sendo comandada pela
VPJ Pecuária, dirigida pelo empresário
Valdomiro Poliselli Júnior, com fazendas
em Mococa e Jaguariúna. Além da criação
própria, trabalha com outros ovinocultores fornecendo, inclusive, melhoramento
genético aos rebanhos e assessoria técnica. Esta é uma garantia de que os animais
tenham uma genética semelhante, fazendo
o produto ter um mesmo padrão de qualidade. No programa Cordeiro Prime da
VPJ, os animais são abatidos aos 4 meses de idade, com peso médio de carcaça
de 18 quilos, a 48% de rendimento, com
garantia de maciez e suculência da carne.
A VPJ realiza o abate em frigoríficos arrendados, sendo as carcaças encaminhadas à
sede da empresa, em Pirassununga, onde a
carne é selecionada, porcionada, embalada
a vácuo e etiquetada, sob o crivo da Inspeção Federal. Os cortes, as embalagens e
a etiquetagem seguem uma padronização
que reforçam a marca da empresa, que distribui a carne direto dos clientes.
O projeto mais ambicioso do País no
segmento da carne ovina também está em
São Paulo. Ao inaugurar sua primeira unidade de abates de cordeiros em Promissão,
com capacidade inicial para abate e processamento de 1.000 animais/dia, o Marfrig
ingressou forte no setor, prometendo atender o mercado do Sudeste. Atualmente, o
Marfrig importa carne de cordeiro congelada processada na Argentina e Uruguai. O diretor de marketing da empresa,
Sergio Mobaier, diz que agora o Marfrig
também vai fornecer o produto resfriado,
já produzido no País.
Os investimentos da empresa, que está
em expansão em todo o País (acaba de ad-
quirir o Frigorífico Mercosul, no RS), prometem ser pesados e passam pela padronização de carcaças e cortes. O coordenador
do Projeto Cordeiros do Marfrig, Fernando
Gottardi, explica que até mesmo a importação de outras genéticas e raças estão nos
planos da empresa. Além dos incentivos
financeiros para adesão ao projeto, os produtores deverão utilizar genéticas recomendadas e indicadas, inclusive de raças
compostas.
Entretanto, planos agressivos como este
exigem mudança de comportamento dos
criadores, a começar com a produtividade,
o uso de animais comprovadamente melhoradores nos rebanhos gerais para aprimorar
os resultados de produção de carne por hectare nas fazendas. O programa do Marfrig
prevê 4 milhões de ventres em produção
em todo o país, com a adesão entusiasmada
do presidente da empresa, Marcos Molina,
para quem a ovinocultura é uma atividade
com grande potencial de expansão, já que
a oferta da carne de cordeiros não atende
nem a baixa demanda atual. •
out-nov/09
10
Carne
Embutidos e derivados para agregar valor
O sabor da carne ovina todo mundo conhece. Olha! Assada, na panela, realmente é uma delícia. Opa! E o que dizer de
um bom churrasco da paleta, que tem lugar cativo nos melhores cardápios do mundo? Huuummmm!!! Mas, não é só
isso, a carne ovina também começa a fazer parte das mesas
brasileiras com novas embalagens e, hoje, estão disponíveis
nas prateleiras dos supermercados e açougues na forma de
charque, embutidos, como o salame, a linguiça, salsicha, presunto, kibe, entre outros.
Nicolau Balaszow
D
ados obtidos junto ao
Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística
(IBGE) mostram que apesar de no
período compreendido entre 1975
a 2003 ter havido um decréscimo
de 18% no efetivo total de ovinos
no Brasil, a ovinocultura está em
franca expansão em praticamente
todo o país, crescendo nas regiões
onde não havia tradição na exploração econômica de ovinos. Tais
fatos apontam para um cenário
em que a tendência da atividade é
aumentar a sua importância e sua
efetiva participação no produto
interno bruto (PIB) do agronegócio brasileiro.
Para Antonio Augusto Rodrigues Miranda, gerente geral
da VPJ Beef, sediada na cidade
paulista de Pirassununga, a maior
dificuldade para que o setor deslanche é a falta de organização
da cadeia produtiva da ovinocultura. “Atualmente não produzimos mais pela falta de oferta de
carne de cordeiro padronizada no
mercado”, informa. Além de trabalhar com cortes de cordeiros, a
VPJ Beef também dispõe de produtos como o espeto de cordeiro,
pernil temperado, hambúrguer,
kibe e linguiça de cordeiro. A empresa, em sua estratégia de crescimento, quer expandir a oferta de
embutidos derivados das partes
nobres do cordeiro e já faz planos
para entrar firme neste mercado
em 2010. Dedicada a atender um
público diferenciado, a empresa
consome 2.500 kg de cordeiro
mensalmente. “Não crescemos
mais porque não existe oferta e,
para podermos atender exclusivamente o mercado nacional, precisamos recorrer também aos frigoríficos do Uruguai, do contrário
não conseguiríamos satisfazer a
enorme demanda existente hoje”,
lamenta Miranda.
Pesquisa
A médica veterinária e consultora Eliane Mattos Monteiro,
doutora na área da Ciência e Tecnologia dos Alimentos, desenvolveu trabalho pioneiro de pesquisa
na Universidade Federal de Santa
Maria no processamento de carne de ovelha de descarte para o
seu aproveitamento em embutidos. “A partir de todos os cortes
dos ovinos, fizemos produtos e
estes foram adaptados em formulação, acompanhamento de
estabilidade, tanto do ponto de
vista químico como microbiológicos, e verificamos a aceitabilidade desses produtos junto a um
Fotos: Divulgação/ARCO Jornal
Linguicas de carne ovina, um novo prato na culinária paulista
público consumidor”, explica
Eliane. Ela disse que o trabalho
surgiu num momento em que se
acentuava a preocupação com a
padronização dos cortes da carne
de cordeiro. “Como a carne de
cordeiro era escassa, para suprir
essa falta, a ovelha de descarte
era colocada no mercado, gerando uma depreciação na qualidade
do produto. Surgiram a partir daí
questionamentos relativos ao que
fazer com esses animais que não
estavam mais dentro dos padrões
exigidos e, portanto, impróprios
para a comercialização”, esclarece. Este trabalho, comenta a consultora, não quis apenas realizar
um teste para a criação de novos
produtos. “Sempre tivemos em
mente resolver um impasse na cadeia produtiva que não conseguia
agregar valor à ovelha de descarte”, enfatiza.
Os embutidos fermentados,
com 80% de carne de ovelhas de
descarte mais 20% de carne suína são aceitos por consumidores
de salame, sendo sua elaboração
uma alternativa importante para
agregar valor à carne de ovelhas
de descarte. No entanto, novos
trabalhos devem ser realizados
utilizando-se carne suína em diferentes proporções, com a finalidade de atingir um melhor nível de
aceitabilidade.
animais por mês e aproveitamos
praticamente toda a carcaça das
ovelhas de descarte, sendo que,
dos 2.520 kg de carne, 500 kg vão
para a fabricação de derivados”,
informa Rocha.
Na produção da Cava Alimentos, há o aproveitamento do pescoço das ovelhas de descarte, do
qual é obtido o guisado, também
usado para linguiça e hambúrguer.
“O cliente gosta muito, porque
utilizamos somente animais selecionados”, explica. Complementando, o consultor informa que já
estão sendo realizados testes para
a produção de carne de sol e charque com carne ovina, sempre com
a orientação de um especialista na
área de engenharia de alimentos.
“Penso que é preciso agregar valor, pois quando utilizamos partes
do animal que seriam naturalmente descartadas, como a carne de pescoço e o peito, conseguimos um ganho de 25% sobre
estas partes ao transformá-las em
embutidos”, conclui Rocha.
A fazenda Santa Maria, em
Itapira (SP), por mais de 13 anos
tinha como principal atividade
produção de leite bovino, mas
os baixos preços de mercado fizeram com que seu proprietário,
o biólogo, Beno Zaterka, procurasse outra atividade. “Comecei
a pesquisa e vi que as instalações
da fazenda poderiam ser facilmente adaptadas para a criação
do cordeiro, cuja procura estava
crescendo no mercado”, conta.
Atualmente ele possui 600 matrizes e trabalha com desmama
precoce, cruzamento industrial e
confinamento. Preocupado com a
qualidade do produto que chega à
mesa do consumidor final, o biólogo treinou pessoalmente os oito
funcionários que fazem 20 diferentes cortes.
A falta de abatedouros adequados e específicos para os ovinos
levou Zaterka a inaugurar, há seis
meses, um frigorífico, com a marca Clube do Cordeiro. Para que
fosse instalado no padrão internacional e referência no Estado,
era preciso uma série de documentos e exigências de diversos
órgãos de fiscalização. Todo o
processo de instalação foi por
meio do programa SAI (Sistema
Agroindustrial Integrado), do Sebrae em São Paulo. “Não existia
nenhum projeto especifico sobre
abatedouros e frigoríficos de ovinos. Praticamente o projeto foi
todo meu com a ajuda do Sebrae,
que trouxe veterinários, técnicos
e engenheiros”. O Clube do Cordeiro abate semanalmente 200
animais, produzindo 3 mil quilos de carne com osso. Recentemente, Zaterka lançou a linha de
embutidos de ovinos, como hambúrguer, almôndegas e linguiças.
Além do aproveitamento máxi>>
Empreendedor
Carcaças ovinas do Açougue Bolinha antes do beneficiamento
O consultor e médico veterinário, André Rocha, que atende
o Condomínio Agropecuário Vale
do Araguaia (Cava Alimentos),
sediada na cidade de Jussara, em
Goiás, conta que a empresa fabrica linguiça, hamburguinho, kibe e
espetinhos de pernil já há bastante
tempo e tem uma ótima aceitação
do consumidor. “Abatemos 180
A criatividade dos gourmets insere a carne ovina em novos pratos
11
out-nov/09
mo da carne ovina na fabricação
de embutidos, o couro é retirado
dos animais e vendido para uma
empresa, que leva o material para
receber tratamento na Bahia. O
empresário vem estimulando empresários locais a investirem em
um curtume específico de couro
ovino, garantindo a eles 900 peles por mês a um preço acessível.
Atualmente o frigorífico paga R$
8,00 o kg/carcaça. Entre as vantagens da criação de
ovinos em relação
a bovinos, o biólogo exemplifica: "um
garrote precoce está
no ponto de abate aos
dois anos e uma ovelha com cinco meses.
E mais, num alqueire
é possível criar até 80
animais”.
Cresce consumo
No Paraná, o consumo de carne ovina aumentou significativamente nos últimos anos. Com
um plantel de 600 mil cabeças, o
consumo supera em oito vezes a
demanda. Nos primeiros três meses de 2009, o Paraná importou
aproximadas 50 toneladas de carne ovina do Uruguai. Para o criador Elídio Vieira Guiomar, que
assumiu a presidência do Núcleo
dos Criadores de Ovinos da Região de Maringá (Ovinomar), este
cenário mostra-se atrativo ao produtor, que já deu suas respostas;
nos últimos cinco anos, a criação
de ovinos cresceu 60% nos arredores do município e mais de
100% no Estado.
Outra ação que caracteriza o
interesse no incremento da atividade vem através do professor
Francisco de Assis Fonseca de
Macedo, do Departamento de
Zootecnia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Ele coordena um programa de extensão
universitária que a Ovinomar e a
UEM executam com a finalidade
de treinar técnicos de nível superior e alunos do curso de Zootecnia para tarefas como a escolha
Fotos: Divulgação/ARCO Jornal
Marcelo "Bolinha": embutidos agregam valor
de animais
de qualidade nas propriedades.
Além de acompanhamento nos
abatedouros, serviço de inspeção,
definição dos cortes da carcaça,
embalagem a vácuo e a elaboração de produtos como o charque,
defumados, linguiça, salsicha, patês e outros. Esse trabalho é financiado pelo Governo do Estado por
meio do Programa Universidade
Sem Fronteiras, da Secretaria de
Ciências e Tecnologia do Paraná.
“Apesar do aumento satisfatório
no consumo da carne de ovinos,
ela permanece como um produto
diferenciado, que não compete
com as outras, que são carnes do
dia-a-dia”, diz o professor.
A Ovinomar está dando acompanhamento técnico nas propriedades e definindo os cortes do
cordeiro, de forma que o consumidor, na hora de comprar, possa fazer escolhas entre costela,
lombo, picanha, pernil, carré, filé
mignon, paleta, miúdos e os produtos industrializados, como linguiça e salsicha. Outra estratégia
é fazer com que o ovino deixe de
ser exclusivo de alguns açougues
e passe a ser vendido nos supermercados em cortes embalados
a vácuo. Para o presidente da
Ovinomar, chegou o momento da
ovinocultura da região de Marin-
gá ser encarada como uma atividade altamente profissional.
Charque
Uma das empresas que se dedica à produção de charque com
carne ovina é a Charque Paladar
Ltda., sediada na cidade gaúcha de Bagé, e que há seis anos
tem alcançado resultados muito
animadores. “A nossa produção
mensal gira em torno de seis toneladas e nos dedicamos unicamente ao charque”, conta o presidente da empresa, Valter Martins.
Ele informa que faz o aproveitamento completo do ovino capão,
em sua maioria nas encomendas,
e também a carne de cordeiros.
“Procuramos utilizar carne de
animais jovens para mantermos a
qualidade e satisfazer o consumidor”, destaca.
Com fornecedores gaúchos assim como o seu mercado, exclusivamente regional, o empresário
explica que a maior dificuldade
para que os negócios continuem
satisfatórios é encontrar produtos
de boa qualidade e em quantidade necessária. “Sofremos com a
desorganização dos frigoríficos e
dos produtores e, ao mesmo tempo, precisamos fiscalizar a carne
que chega a nossa empresa, pois
é muito comum que ovelhas velhas sejam misturadas com animais mais jovens e isso coloca
em risco a qualidade do nosso
charque”, explica Martins. O preço pago pela carcaça do capão é
de R$ 6,00 o quilo. Ele conclui
dizendo que há uma ótima aceitação do produto que acaba sendo
uma alternativa bastante viável
para o comerciante que busca
novas soluções para a utilização
completa do ovino.
Varejo
Bolinha é o nome de um tradicional açougue localizado no
centro de Porto Alegre. Há mais
de 20 anos no mercado de carnes, a empresa cresceu e hoje,
com uma fábrica na cidade de
Hamburguinhos da VPJ - produto saboroso e de mercado garantido
Charque: uma tradição gaúcha
Cachoeirinha (RS), faz cortes
especiais de cordeiros e vêm
testando outros produtos como
a linguicinha, salsichão, patês,
presunto, salames e linguiça. Um
de seus proprietários e consultor
de cortes de carnes, credenciado
pelo Sebrae, Marcelo Conceição,
explica que os produtos como as
linguicinhas, salsichão, miúdos
e linguiça já fazem parte da produção normal da empresa. “Os
primeiros resultados que temos
observado é que o cliente compra para experimentar e retorna
com novos pedidos ou, muitas
vezes, indica para os amigos que
nos fazem uma visita e acabam
levando embutidos e os cortes
diferenciados”, comenta.
Ainda em uma fase de experimentação, os patês, salames e outros embutidos serão colocados à
venda num futuro próximo. “Estes produtos são mais complexos
de se produzir, mas todas as experimentações deram um retorno
favorável”, informa Conceição.
Preocupado com a padronização
dos cortes, Conceição também
entende que a cadeia produtiva
precisa passar por uma reformulação, com a finalidade de garantir qualidade e produtividade
para atender o mercado produtor
e consumidor. “Por outro lado, temos a tarefa de quebrar alguns tabus relativos aos ovinos que ainda
prevalecem junto ao consumidor
e mostrar que a carne pode entrar
no cardápio diário das famílias,
assim com as carnes de bovinos,
suíno e frango”, define. •
out-nov/09
Artigo
12
Aplicação da DEP em ovinos
Foto: Divulgação
Marcelo Roncoletta / - Med. Veterinário - Doutor em
Reprodução Animal pela FCAV/Unesp Jaboticabal
E
ssa palavrinha DEP tem
gerado muita dúvida ultimamente, já que tem
estado cada vez mais presente
no dia a dia do produtor de ovinos. Muitos já a ouviram, mas
poucos sabem o seu significado,
sabem de sua importância. A
idéia aqui é desmistificá-la.
DEP é uma sigla do termo Diferença Esperada na Progênie – mas o que isso quer dizer?
Considere uma característica
zootécnica – a exemplo peso
ao nascimento (PN) – um reprodutor com DEP para PN de
+1kg – o que isso significa? A
resposta é simples, é esperado
(com uma bom % de segurança1) que seus filhos (progênie)
tenha 1kg a mais que a média do
PN dos outros filhos reprodutores avaliados naquele Programa
da Avaliação Genética.
Dessa forma podemos dizer
que as DEPs podem ser consideradas as “moedas” dos Programas de Avaliação Genética.
São os indicadores do valor genético, que expressam a capacidade de transmissão genética do
progenitor (pai ou mãe) a sua
progênie.
(1 – esse % de segurança é o
que chamamos de acurácea – é
a confiabilidade dos valores de
DEPs – quanto mais próxima de
100% melhor.)
Em ovinocultura as DEPs de
interesse geralmente calculadas
são: DEP Peso ao Nascimento, DEP Peso a desmama (45
ou 60 dias), DEP peso ao abate (90, 120 ou 180 dias), DEP
peso adulto (270 dias), DEP
Circunferência Escrotal, DEP
Resistência à Verminose, DEP
Parto Gemelar, DEP Habilidade
Materna ou Materno Total, entre
outras.
Outra forma de interpretar
uma DEP é a comparação entre dois reprodutores A e B. No
exemplo, os dois reprodutores
são utilizados em um rebanho.
O reprodutor “A” tem DEP de
Peso aos 120 dias de 1.500g e
o reprodutor “B” tem DEP de
Peso aos 120 dias de 1.000g negativos. Como a diferença entre
as suas DEPs é de 2.500 g, se
estes reprodutores forem utilizados em matrizes de um rebanho
avaliado, a média de peso dos
filhos do reprodutor “A” será
2.500g mais pesada que a média
de peso dos filhos do reprodutor
“B”, quando eles estiverem com
120 dias de idade.
Entendida a definição, agora
é saber para que serve uma DEP,
o que se ganha com isso? Primeiramente vamos então abrir
um parênteses, frisando sobre
o grande objetivo de um produtor – que no final das contas é a
geração de comida – seja carne
e/ou leite – de forma cada vez
mais eficiente e barata. Mesmo
que o objetivo do produtor seja
venda de matrizes, no final das
contas, é carne e/ou leite que ele
esta vendendo, apenas incluindo um intermediário na cadeia.
Nesse contexto podemos dizer
que a DEP é uma forma de se
obter esses objetivos com maior
eficiência. Como? Primeiramente, considere os objetivos de sua
propriedade e utilize uma DEP
que imprima maior eficiência
para se atingir o objetivo – vamos esclarecer no quadro.
Fica óbvio então entender o
porquê que as DEPs são consideradas “moedas” de programas de
Quadro 01 - Descrição dos motivos e considerações para o uso de cada DEP obtida pelos programas de
avaliação genética.
DEPs para
Peso ao
Nascimento
Peso a desmama
(45 ou 60 dias)
Para que serve
Pondere esse índice - nascimento de cordeiros muito
pequenos não é ideal pois aumentaria o prazo para o
Para escolher um reprodutor
peso a desmama. Mas nascer muito grande, pode
cujos filhos serão mais pesados
trazer complicações ao parto. Busque o peso ideal
ao nascimento
para a raça. O cordeiro deve se desenvolver após o
nascimento.
Índice interessante para : (1) àqueles que querem
vender um cordeiro para ser engordado para abate;
Para escolher um reprodutor
cujos filhos serão mais pesados (2) àqueles que querem ganhar tempo na
terminação do cordeiro, pois se desmamaram mais
a desmama
pesados, serão terminados mais rápido.
Para escolher um reprodutor
cujos filhos serão abatidos. A
Peso ao abate
DEP 90, 120 ou 180 dias vai ser
(90, 120 ou 180 dias)
escolhida de acordo com o
sitema de produção
Peso adulto
(270 dias)
Considerações
Índice interessante para : (1) àqueles que querem
abater seus cordeiros mais pesados; ou (2) àqueles
que querem ganhar tempo na terminação do
cordeiro. A DEP 90, 120 ou 180 dias vai ser
escolhida de acordo com o sitema de produção, com
o cordeiro acabado com 90, 120 ou 180 dias.
DEPs elevadas para esse índice pode ser
interessante àqueles que querem vender animal para
reprodução, porém devemos ponderar esse índice Para escolher um reprodutor
nem sempre é interessante se ter matrizes muito
cujos filhos serão mais pesados
pesadas, elas devem sim produzir cordeiros
quando atingirem a idade adulta
pesados. Quanto maior o animal, mais ele come,
mais ele custa. Devemos achar um meio termo de
acordo com a raça.
Circunferência
Escrotal
(CE)
Medida de circunferência
escrotal está relacionada a
fertilidade do rebanho
DEPs positivas a CE siginificam aumentar a
fertilidade de machos e fêmeas no seu rebanho.
Resistência à
Verminose
Para escolher um reprodutor
cujos filhos serão mais
resistentes a verminose.
A verminose em ovinos é um problema sério como
todos sabem. Existem animais que possuem como
característica genética uma capacidade natural de
controlar a infestação de vermes, ou seja, são os
animais que devemos manter no rebanho, pois
diminuimos a necessidade de gastos com
vermifugação - e isso é redução de custos.
Parto Gemelar
Para escolher um reprodutor
cujos filhas serão mais
prolíferas - é ferramenta para
aumentar o índice de
prolificidade na propriedade
A prolificidade em ovinos é um índice zooténico de
maior importância. Para entender sua importância
basta dividir o custo anual de manutenção de uma
matriz em número de cordeiros desmamados.
Quanto maior esse índice, menor será o custo de
manutenção de sua matriz. Maior a eficiência do
rebanho.
Para escolher um reprodutor
cujos filhas serão melhores
mães. É o índice indicado para
Habilidade Materna ou
seleção de reprodutores para
Materno Total
produção de matrizes de
reposição de matrizes no
rebanho.
É um índice muito importante para escolha do pai de
suas novas matrizes. Ponderar com DEP de parto
gemelar, peso ao nascimento e peso ao desmame
para a seleção do melhor reprodutor para essa
finalidade.
avaliação genética – elas são ferramentas para as palavras de ordem do Melhoramento Genético
- seleção e descarte. A finalidade
do Melhoramento Genético é
progredir em características zootécnicas2 de interesse para espécie e isso somente é possível com
descarte e seleção. E a utilização
das DEPs é a forma de deixarmos
os “achismos” de lado – o efeito
do “olho do dono” – que sempre
esta achando que aquela ovelha é
bonitinha e não merece ser descartada – é a forma de se comparar adequadamente os animais,
pois os efeitos de nutrição, manejo, clima foram minimizados.
Cabe salientar que os Programas de Avaliação Genética, além
de calcular as DEPs geram outros
índices importantes: (1) IMGT
– ÍNDICE MERITO GENÉTICO TOTAL – é um índice geral,
calculado como uma média ponderada que reúne todas (ou as
principais) DEPs, mostrando o
equilíbrio genético do progenitor
frente a sua progênie, para todas
as características zootécnicas
avaliadas. (2) E TOP % - AGRUPAMENTO EM GRUPOS EM
RELAÇÃO A UMA DEP – classificação em grupo de progenitores frente a uma DEP específica.
O progenitor se classifica entre os
10, 5, 3 e 1% melhores progenitores, dentre todos os avaliados,
para uma determinada DEP. A
exemplo: quando nos referimos
a um reprodutor como TOP 3%
para Peso ao desmame, significa
que o progenitor está entre os 3%
melhores progenitores para DEP
de peso ao desmame.
O agrupamento de todas essas
informações gera o que denominamos de SUMÁRIO – uma publicação de periodicidade semelhante a das avaliações genéticas,
que resume e classifica os animais avaliados frente a cada uma
das características zootécnicas.
A agilização dos resultados
ou o progresso no Melhoramento Genético dos rebanhos - fato
muito importante para a mudança do cenário nacional atual da
ovinocultura – pode ser obtida
com a união de duas ferramentas: a Inseminação Artificial e as
DEPs – é a DEMOCRATIZAÇÃO da genética superior selecionada nos PROGRAMAS DE
AVALIAÇÃO GENÉTICA. O
cenário ideal será aquele onde as
Centrais disponibilizem sêmen de
reprodutores provados – reprodutores com DEP positiva para
as características zootécnicas de
interesse. Esse cenário não esta
tão distante de nossa realidade.
Atualmente no Brasil já existem
alguns programas de avaliação
genética em andamento – de raças como a Santa Inês (ASCO/
USP, Proag Brasil, entre outros)
e a raça Texel (TOPTexel) – e
destes programas já existem doadores com sêmen disponível no
mercado. Esse cenário já é corriqueiro na pecuária bovina – os
criadores já estão profissionalizados, buscando a aquisição de material genético para o progresso
genético dos rebanhos, via sêmen
de reprodutores provados.
A bovinocultura brasileira
escalou diversos degraus de dificuldade, mas em 40 anos de
tropeços e acertos conquistou
o título de maior produtor e exportador no cenário mundial da
carne bovina. A ovinocultura
brasileira pode pular degraus
nessa escada já garimpada antes, encurtando o intervalo de
tempo necessário para colocar o
Brasil num cenário de auto-suficiência e exportador de carne
ovina. Uma forma de pularmos
degraus é melhorar a eficiência
produtiva dos nossos rebanhos,
e aqui coloco o importante papel dos produtores, que devem
acreditar no potencial do segmento e investir em melhorias
de produtividade e qualidade
de produto, aumentando sua
competitividade no mercado e
gerando animais melhoradores
a partir do uso de ferramentas
como os Programas de Avaliação Genética.
Obs. 2 - Características zootécnicas de interesse são índices
ou medidas obtidos no rebanho
e/ou em cada indivíduo, que serão utilizadas para a comparação do individuo frente ao rebanho, seja ele o rebanho residente
ou de uma população maior – e
através dessa comparação é que
se tem o embasamento para se
realizar a Seleção – apontando
aqueles animais que merecem
permanecer no rebanho – e o
DESCARTE – apontando aqueles animais que devem ser eliminados do rebanho. •
13
out-nov/09
Artigo
Produção de leite de ovelhas:
diversificação de renda para o produtor
Tatiana Pfüller Wommer
Marcel Hastenpflug
A
produção ovina vem se
tornando cada vez mais
promissora e competitiva, despertando nos produtores o
interesse pelo aumento e diversificação da produção. A ovinocultura é uma atividade de fácil manejo, podendo ocupar áreas ociosas
da propriedade que não se prestam para outras criações, pois os
ovinos são animais que possuem
grande adaptabilidade em qualquer tipo de relevo e clima. Com
isto, há uma diversificação da produção na propriedade, o que é de
extrema importância em pequenas
e médias empresas rurais.
Os ovinos podem ser explorados de maneira eficiente tanto
para carne, lã, pele e leite. Em se
tratando de ovinos para produção leiteira, os índices produtivos
vêm demonstrando resultados satisfatórios. Uma ovelha pode ser
considerada apta para a produção
leiteira quando proporciona regularmente uma quantidade de leite
para o consumo humano e também produza satisfatoriamente
para alimentar seus cordeiros.
A criação tradicional de ovinos estrutura-se basicamente na
produção de carne e lã, tendo
pouca ênfase na produção leiteira. Porém com a necessidade de
se diversificar a cadeia produtiva
com novos produtos é que se tem
despertado para a linha de produção e beneficiamento do leite.
Pode-se concomitantemente com
a produção de carne e lã, agregar
a atividade leiteira na cadeia produtiva, aumentando assim a renda
do produtor.
As raças leiteiras de maior produção introduzidas no Brasil são
a Lacaune, originária da França
e Bergamácia, oriunda da Itália,
sendo que a primeira tem uma
maior representatividade e produtividade na Região Sul. O rebanho
mundial de ovelhas ordenhadas é
de aproximadamente 100 milhões
de cabeças, tendo uma produção
estimada em 7,8 milhões de litros produzidos por ano, segundo
dados da FAO. No Brasil, a produção leiteira dos ovinos ainda
encontra-se em desenvolvimento
com algumas propriedades em
franca expansão. A primeira propriedade do país a trazer ovinos
com aptidão leiteira foi a Cabanha Dedo Verde, localizada em
Viamão, no Rio Grande do Sul,
com animais da raça Lacaune
importados da França. O município de Viamão também sediou o
primeiro laticínio com inspeção
oficial de leite de ovelha, processando 48 mil litros anualmente.
O leite é beneficiado em queijos,
iogurtes, ricota, etc. A segunda
indústria inspecionada implantada foi o laticínio Casa da Ovelha,
na cidade de Bento Gonçalves,
no Rio Grande do Sul, tendo uma
produção anual de 100 mil litros
de leite, reunindo a produção de
produtores da região.
Qualidade do leite ovino
O leite ovino apresenta algumas diferenças na sua constituição em relação ao leite das demais espécies, principalmente por
possuir elementos mais ricos em
sua composição. O teor médio de
proteína no leite ovina é de 5,6%,
7,6% de gordura, 19% de sólidos
totais, 10,3% de sólidos desengordurados, 4,7% de lactose, 4,6% de
caseína. Por possuir elevados níveis de caseína e gordura, o leite
ovino presta-se satisfatoriamente
para a produção de produtos lácteos como queijos duros e macios,
apresentando um sabor e textura
particular e com preço elevado no
mercado.
A gordura do leite ovino apresenta maior quantidade de certos
ácidos graxos de cadeia curta,
como caprílico, capróico e cáprico, quando comparado ao leite de
vaca, além de não possui caroteno
em sua gordura, o que resulta em
um leite branco típico. O leite ovino apresenta um menor tempo de
coagulação e um coalho mais firme, o que pode ser explicado principalmente pela maior ocorrência
de caseína em sua composição. O
iogurte proveniente do leite ovino
Foto: Divulgação
Ovelhas Lacaune da Cabanha Dedo Verde, de Viamão, RS
é mais fino, mais leve e 50% mais
nutritivo.
A água presente no leite dos
ovinos é em menor quantidade
do que a dos bovinos, sendo esta
relacionada com a síntese de lactose. A gordura é o constituinte
de maior variação encontrado no
leite. Esta pode ser afetada pela
raça, fase de lactação, cuidados
na ordenha e principalmente pela
nutrição.
Cruzamento entre animais com
aptidão leite x carne
O cruzamento entre animais
destinados a produção de carne
com exemplares leiteiros, vem
surgindo como uma alternativa
para intensificar a produção. Com
o acasalamento de animais destas
duas aptidões tem-se como resultado uma melhor capacidade leiteira das matrizes mestiças e conseqüentemente um significativo
aumento no desempenho de seus
cordeiros, que tem seu desenvolvimento estreitamente relacionado com a produção leiteira de sua
mãe. Juntamente com esse aumento na produção de cordeiros para
o abate, pode-se proporcionar um
incremento com a produção leiteira destas matrizes, vindo a beneficiar a sua produção láctea.
Com a utilização destes cruzamentos o produtor tem a possibilidade de diversificar e aumentar
a sua produção, tendo como produtos finais a carne de cordeiro,
que está sendo muito demandada,
e produtos lácteos como queijo,
iogurte e ricota.
Comercialização
Os produtos oriundos do leite
de ovelha, como queijo, iogurte,
doce de leite e ricota estão con-
quistando vários mercados consumidores. Os produtos lácteos
beneficiados na região da Serra
Gaúcha são tradicionalmente
absorvidos por mercados consumidores da Região Sul, porém,
nos últimos anos essa oferta de
produtos está sendo dividida com
alguns Estados como São Paulo e
Rio de Janeiro. Mais recentemente, outros Estados estão fazendo
pedidos para comercializar os
produtos lácteos fabricados no
Rio Grande do Sul.
Atualmente existem duas indústrias que beneficiam o leite de
ovelha no Rio Grande do Sul, a
Casa da Ovelha, em Bento Gonçalves e a agroindústria Confer
Alimentos, com leite proveniente
da Cabanha Dedo Verde, em Viamão.
No Estado de Santa Catarina
a produção leiteira vem despontando em passos largos. Com o
apoio do SEBRAE, produtores
estão produzindo ovinos leiteiros
e entregando sua produção para a
empresa de alimentos Cedrense,
que após altos investimentos está
produzindo o queijo Pecorino, típico da Itália.
A comercialização dos produtos lácteos gera um retorno satisfatório aos produtores e agroindústria. Os queijos são os mais
procurados e apreciados, atingindo preços que vão desde R$ 50,00
até R$ 100,00 o quilograma, como
é o caso do queijo tipo Pecorino
com 270 dias de maturação.
Considerações finais
Realizando uma avaliação
comparativa entre a produção
leiteira bovina e ovina, podemos
observar que existem algumas
vantagens importantes da ovinocultura sobre as vacas leiteiras:
A eficiência alimentar dos
ovinos é maior para produção de
leite, ou seja, com a produção
forrageira total da propriedade,
produz-se mais volume em leite
ovino do que bovinos;
Na cadeia leiteira bovina, a
figura do “machinho” é rejeitada, tornando-se um empecilho na
propriedade e sinônimo de perda
financeira. Já na ovinocultura, o
cordeiro macho pode ser desmamado precocemente e chegar a
peso de abate cedo, gerando retorno financeiro com a venda de
carne, inclusive, de grande aceitação no mercado, principalmente
quando falamos na raça Lacaune;
As ovelhas leiteiras podem ser
consorciadas as vacas, sem representar perda produtiva a estas
últimas, pois possuem hábitos de
pastejo distintos e acabam não
competindo tanto por alimentação. Além da sala de ordenha para
vacas poder ser adaptada para utilização com ovelhas em um mesmo sistema de produção.
Levando em conta todos os aspectos avaliados anteriormente, a
ovinocultura vem crescendo muito, e possui um potencial de diversificação de atividades singular,
que pode proporcionar renda para
o produtor em diversas épocas do
ano, deixando este livre das questões de sazonalidade de mercado.
Com isso, é o produtor rural com
maior qualidade de vida e a ovinocultura em franca expansão,
demonstrando suas possibilidades
em uma idéia de desenvolvimento
sustentável.
Sendo assim, o Laboratório
de Ovinocultura da Universidade
Federal de Santa Maria, está iniciando suas pesquisas nesta linha.
Inicialmente, estão sendo feitos
cruzamentos industriais com a
raça Lacaune em cima do rebanho base tipo carne (cruza Texel
X Ile de France) para mensurar a
produção de leite, além do desempenho dos cordeiros e a qualidade
da carcaça destes. •
Zootecnistas, Programa de Pós-Graduação em Zootecnia (PPGZ) da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) - Grupo de
Estudos, Pesquisa e Extensão em Ovinocultura
(Gepeo)
out-nov/09
14
Sanidade
Verminose desafia pesquisadores
Na atualidade os profissionais da área de parasitologia veterinária têm abordado o controle parasitário de rebanhos ovinos
de forma mais realista e consciente, uma vez que o uso abusivo
e inadequado dos medicamentos antiparasitários tem demonstrado conseqüências graves. Segundo a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos, SP, Dra. Ana Carolina de
Souza Chagas, entre essas conseqüências ganha destaque o forte
estabelecimento da resistência aos remédios, assim como o perigo de contaminação dos produtos de origem animal através de
resíduos das drogas veterinárias administradas para o controle
da verminose.
Fotos: Divulgação
Eduardo Fehn Teixeira
A
resistência dos parasitas
aos medicamentos antihelmínticos, conforme
Ana Carolina, é considerada por
técnicos e criadores como um
dos grandes problemas da ovinocultura no Brasil. “Nos países
desenvolvidos, por exemplo, as
perdas anuais estimadas para o
controle de nematóides em pequenos ruminantes superam todos os outros custos para o controle de doenças endêmicas que
afetam esses animais”, compara
a pesquisadora.
Para que se possa fazer idéia
do tamanho do problema acarretado ao setor, Ana Carolina lembra que nos três países de maior
produção em ovinos – a Austrália, a África do Sul e o Uruguai
- as perdas anuais giram em torno de US$ 222 milhões, US$ 45
milhões e US$ 42 milhões, respectivamente, conforme levantamentos de 2006.
Na ovinocultura brasileira,
diz a Dra. Ana Carolina, o nematóide gastrintestinal Haemochus contortus é considerado
um grande problema, que causa
prejuízos aos criadores devido à
queda de produção, aos gastos
com vermífugos e à morte dos
animais jovens e debilitados. “O
uso de anti-helmínticos em muitos países em desenvolvimento
esbarra nos custos e na disponibilidade e qualidade dos produtos. Soma-se a isso a catastrófica
resistência anti-helmíntica, especialmente nos ovinos”, argumenta a especialista.
A pesquisadora lamenta que
a transferência para os técnicos
de informações importantes e
simples relacionadas ao manejo
sanitário dos animais continua
deficiente. “Isto se transformou
num grande aliado da resistência
dos vermes aos medicamentos”,
aponta.
Novos caminhos
Formas alternativas e/ou adicionais ao controle dos parasitas
com químicos sintéticos estão
entre as prioridades da pesquisa.
“A meta é encontrar novos caminhos para o controle da verminose, e com isto reduzir o uso
dos medicamentos”, informa a
especialista.
Experimentos com acompanhamento técnico, realizados
por criadores, estão mostrando
resultados positivos. Segundo a
Dra. Ana Carolina, a seleção de
raças ou cruzamentos com características desejáveis de produtividade e também que apresentam resistência à infecção
por nematóides gastrintestinais
se mostra bastante prática. “Mas
Ana Carolina de Souza Chagas: foco nas doenças dos ovinos
o produtor deve estar atento,
pois numa mesma raça indivíduos apresentam maior ou menor
sensibilidade à verminose e a
observação destas características
pode orientar a seleção de reprodutores, matrizes e animais para
descarte”, alerta a técnica.
Neste sentido, a pesquisadora observa que o método Famacha (leia no box) também é um
instrumento muito prático, pois
sua adoção na rotina da propriedade identifica os animais que
necessitam de vermifugação freqüente. “Trata-se de um método
seletivo, onde só são tratados
os exemplares mais anêmicos
do rebanho”, explica. Pesquisas
demonstraram a segurança do
método adotado sob condições
alimentares ideais para os animais, ou seja, com os níveis de
proteína bruta recomendados
para cada categoria (filhotes,
fêmeas em lactação, etc.). A
economia representada pela redução de tratamentos com antihelmínticos foi notória. “Mas a
maior vantagem do método é a
minimização do problema da resistência, pois a pressão seletiva
sobre os parasitas é muito menor”, aponta a técnica.
Fungos predadores
A Dra. Ana Carolina Chagas
também cita pesquisas sobre o
controle biológico dos nematóides por meio de fungos nematófagos. “Algumas espécies
de fungos predadores têm demonstrado resistir à passagem
pelo trato gastrintestinal dos
pequenos ruminantes (caso dos
ovinos) e apresentam ação sobre
as larvas dos nematóides no bolo
fecal. Entretanto, os resultados
em termos de eficácia ainda são
insatisfatórios, pois variam muito com relação à dose fornecida
ao animal, intervalo de tratamentos, influência das condições climáticas, dieta do animal, taxa de
lotação, eficácia entre isolados,
etc”, observa ela.
Remédios oriundos
das plantas
Oesophagostomum e Trichostrongylus, dois dos mais
importantesnematóides gastrintestinais dos ovinos
Nos últimos anos, as pesquisas que investigam a aplicabilidade de plantas medicinais no
controle parasitário animal estão
em expansão. O Brasil, segundo
Ana Carolina Chagas, possui
22% de toda a biodiversidade
vegetal do mundo, o que representa elevada riqueza de substâncias com potencial para uso
farmacológico. Cerca de 40%
dos medicamentos consumidos
na área humana no mundo são
de origem natural e que anualmente US$ 22 bilhões são movimentados pelos fitoterápicos,
com crescimento de 12% ao ano.
O Brasil responde a um segmento de 7% do mercado farmacêutico, o que representa US$ 400
milhões por ano, gerando cerca
de 100 mil empregos diretos e
indiretos.
Embora ainda em fase experimental, o uso de fitoterápicos
em parasitologia veterinária,
especialmente no controle dos
nematóides gastrintestinais de
pequenos ruminantes, ocorre
em pequenas propriedades do
Nordeste, mas ainda sem a necessária comprovação científica. As linhas de pesquisa estão
centradas na etnoveterinária,
que busca a associação dos conhecimentos populares com as
práticas de prevenção e tratamento de doenças animais. “O
conhecimento popular está impulsionando vários estudos que
indicam espécies vegetais, parte
da planta a ser utilizada, forma
de extração das substâncias de
interesse, etc. Muitas vezes os
resultados laboratoriais demonstram elevada eficácia, mas os
testes in vivo não reproduzem a
eficácia de laboratório”, relata a
Dra. Ana Carolina.
As plantas produzem algumas
substâncias que são classificadas
como metabólitos secundários
e que têm sido utilizadas como
pesticidas ou modelos para pesticidas sintéticos, como piretrinas,
toxafeno, nicotina e rotenona.
Essas substâncias podem causar
interferência tóxica nas funções
bioquímicas e fisiológicas dos
parasitas. Algumas são consideradas alternativas potenciais aos
produtos comerciais sintéticos,
ao serem reconhecidos como
seguros pela US Food and Drug
Administration, sendo utilizadas
em muitos produtos como con>>
15
out-nov/09
a encontrar alternativas naturais
dimentos artificiais, perfumes e
em formulações de expectorantes, descongestionantes, analgésicos externos e anti-sépticos.
“Inseticidas originados de
plantas tendem a ter baixa toxicidade no trato dos mamíferos,
rápida degradação e desenvolvimento lento da resistência. E
tais características fazem com
que os bioparasiticidas tenham
elevado apelo comercial, permitindo o controle de parasitas de
uma maneira menos agressiva
ao meio ambiente”, avalia a pesquisadora.
Para ela, os fitoterápicos podem ter uma ação direta, causando mortalidade do parasita,
por exemplo, ou também uma
ação indireta, interferindo na
sua metamorfose, reduzindo a
fertilidade da fêmea, causando
repelência, dentre outros. A pesquisadora chama a atenção que
para o uso de princípios ativos
botânicos, vários aspectos devem ser levados em consideração: extração, conservação dos
extratos, dosagem eficaz, estabilidade, toxicidade e custos.
A “sabedoria popular” muitas
vezes indica que determinadas
plantas podem ser utilizadas na
fitoterapia. Muitas pesquisas realmente atestam a ação destas
plantas, mas ao mesmo tempo
demonstram reações tóxicas no
organismo hospedeiro. “A relação entre ação da planta, dosificação com ação significativa e
efeito tóxico deve ser muito bem
investigada, para que os conhecimentos adquiridos através das
pesquisas possam ser passados
de maneira clara no momento
da utilização prática do fitoterápico”, assevera Ana Carolina.
Para ela, a realização dos testes
laboratoriais é essencial no início da investigação, no sentido
de estimar a possibilidade de uso
de determinado fitoterápico. É
muito comum uma relação não
linear entre concentração e ação
do extrato e acredita-se que isto
ocorra em função do processo
de extração do princípio ativo e
produção do extrato. Muitas vezes, o efeito sobre a praga alvo é
como o comportamento, irão
influenciar diretamente nos resultados, provocando uma série
de testes para se chegar ao ajuste final da fórmula.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
publicou uma lista de espécies
já investigadas, com níveis de
toxicidade determinados para
alguns marcadores, possibili-
sido realizados em laboratório,
bem como testes controlados
com necropsia dos hospedeiros
e também a partir de espécies de
árvores e arbustos consumidos
por esses animais no campo.
“O consumo de forragens
contendo taninos condensados
pode afetar o estabelecimento,
o crescimento, a persistência e
a fecundidade dos nematóides
Foto: Divulgação
Lote de animais da Unidade da Embrapa de São Carlos
provocado por vários constituintes do extrato e a união dos mesmos potencializa o efeito.
A validação da eficiência
ocorre realmente nos experimentos a campo, onde os fatores ambientais, tais como temperatura,
umidade e pluviosidade, além de
fatores inerentes ao hospedeiro,
tando registro simplificado dos
fitoterápicos para ações terapêuticas específicas em humanos. O
neem (ou nim) (Azadirachta indica) é uma árvore indiana à qual
se atribui atividade antiparasitária direta e indireta. Levantamentos do efeito anti-helmíntico
de plantas ricas em taninos têm
gastrintestinais no hospedeiro.
Os taninos são uma classe de
metabólitos secudários de plantas e são classificados em taninos condensados e hidrolisados.
Os estudos em relação à sua
ação não são conclusivos, pois
não se determinou se a redução
no estabelecimento da infecção
O que é o Método Famacha?
O método Famacha é utilizado como estratégia auxiliar no
controle do parasita Haemonchus contortus em ovinos e caprinos
no Brasil. A principal característica deste método é a identificação de animais resistentes e resilientes no rebanho, sendo possível a seleção de animais que não necessitam receber tratamento
antiparasitário. Os animais anêmicos são identificados por meio
da observação da mucosa ocular dos animais em comparação ao
Cartão Famacha. Além do acompanhamento clínico, foram de-
terminados valores de hematócrito e ovos por grama de fezes
(OPG). Ao término do experimento, foi determinada uma considerável redução (75,6%) na utilização de medicação antiparasitária nos ovinos, quando comparado com o controle profilático
de tratamento do rebanho todo em intervalos de 30 dias dos anos
anteriores. O método Famacha pode ser utilizado no Brasil com
o objetivo de racionalizar o uso dos compostos antiparasitários,
preservando sua eficácia por períodos prolongados. •
se deve a um efeito direto dos
taninos nos parasitas ou ao aumento da resposta imune associada à maior disponibilidade de
proteínas pós-ruminal”, examina
a Dra. Ana Carolina.
Extratos vegetais
Na maioria das vezes, os
resultados de elevada eficácia
verificados em estudos em laboratório não se repetem na avaliação da mesma planta a campo.
Estudos relatam dificuldades
encontradas na administração
direta de plantas para controle
antihelmíntico em ovinos, tais
como destruição das substâncias
ativas pela flora ruminal e pH
ruminal.
“Ao se detectarem nos testes
in vitro extratos com grande potencial anti-helmíntico, deve-se
buscar soluções para elaboração
de formulações adequadas à fisiologia dos animais em parceria
com químicos e farmacêuticos
especialistas”, alerta a técnica.
A questão, conforme a pesquisadora, é realmente complexa. A
variabilidade dos princípios ativos presentes no extrato de cada
espécie é um dos maiores problemas nessa linha de pesquisa.
As condições climáticas, tipo de
solo, fase de desenvolvimento
da planta, ataque de predadores
e outros estresses, são os principais fatores que influenciam a
quantidade de princípios ativos.
“Desta forma, deve-se levar
em consideração nessa área de
pesquisa que as condições de coleta, estabilização e estocagem
influenciam na qualidade e no
valor terapêutico do material vegetal. A domesticação, produção
biotecnológica e melhoramento
genético de plantas medicinais
são processos hoje disponíveis
e ainda sub-utilizados para a
produção de matérias-primas de
maior qualidade, e mais uniformes com relação à constância
dos componentes e das propriedades terapêuticas”, diz a pesquisadora. Para ela, somente o
controle de qualidade realizado
por técnicas analíticas, possibilitará no futuro a produção em
escala industrial de fitoterápicos
de espécies de plantas bem conhecidas com relação ao seu potencial antiparasitário. •
out-nov/09
16
Mercado
Fibras naturais, a nova tendência
O
mercado consumidor,
especialmente o europeu, dá mostras consistentes de que o momento é
privilegiar os produtos naturais.
Um exemplo disso ficou manifesto durante a inauguração da
Lanatur 2009, realizada na sede
do Observatório de Sustentabilidade em Pastrana, Guadalajara,
quando a ministra do Meio Ambiente, Meio Rural e Marinho
da Espanha, Elena Espinosa, fez
uma solicitação ao setor para assumir um compromisso com a lã.
A partir do tema Sustentabilidade
está na Moda, a ministra destacou o papel social do ovino e o
seu benefício para o meio ambiente. “A lã é uma fibra natural
com uma linhagem ecológica e é
tanto sustentável como biodegradável”, afirmou. Ela disse ainda
que aposta na fibra natural, pois
esta requer menos energia na sua
produção, em comparação ao de
fibra artificial.
Esta proposta é apenas o início de uma nova estratégia para
que a produção de lã seja global,
integradora e sustentável. E, nesta mesma direção, o presidente
da Fecolã, Álvaro Lima da Silva,
diz que o momento para os negócios ligados ao produto mostrase favorável. “Além do aspecto
Foto: Seagri-RS/Divulgação
ou do pelo bovino. O projeto busca agregar valor à lã, uma fibra
natural composta dessa proteína chamada queratina. Ao tratar
essa proteína mediante reação
com ácidos se obtém o hidrolisado. A qualidade da lã depende
fortemente da finura da fibra, de
forma que existem lãs de baixa
qualidade difíceis de se colocar
no mercado. Essas podem ser utilizadas para a produção de hidrolisado de queratina.
Atualmente, a população ovina mundial é estimada em 1,2 bilhões de cabeças. A lã representa
18% do vestuário do mundo, re-
sultando de 1,6 milhões de toneladas de tops de lã, sendo 40% da
Austrália, 30% África do Sul e
Nova Zelândia e 30% de outros
países. No Brasil, conforme o
presidente da Fecolã, o rebanho
estimado é de um pouco mais de
14 milhões de cabeças, sendo que
destas, quatro milhões se destinam exclusivamente à produção
de lã. “A safra a partir de 2007
tem-se mantido em patamares
constantes, ou seja, em torno de
12 mil toneladas, o que vai se
confirmar provavelmente para a
safra atual”, informou Lima da
Silva.
Foto: Divulgação
Produtos apresentados na Expointer 2009 valorizam vestuário
ecológico que, de fato, é uma
tendência e que vai favorecer o
consumo do produto, atualmente, a lã passou a ser também uma
exigência básica no tema da segurança”, informa. Este tema a
que se refere Silva, diz respeito
às novas exigências para as companhias aéreas em confeccionar
os forros dos assentos com a utilização de grande quantidade de
lã. Do mesmo modo, a segurança
em prédios comerciais e residenFoto: Horst Knak/Agência Ciranda
Artesanato, outra vertente que utiliza as fibras naturais
ciais seria muito maior caso os
carpetes e cortinas fossem confeccionadas com lã, isso porque
pesquisas mostram que o fogo
se propaga pelos carpetes e, por
andares, as chamas se espalham
pelas cortinas. ”A tendência para
as empresas construtoras é investir cada vez mais nesta fibra que é
um material anti-chamas, a lã na
propaga o fogo”, explica.
Lã líquida
O Instituto Nacional de Tecnologia Industrial da Argentina
(INTI) desenvolveu um sistema
para produzir um valioso produto
industrial a partir de dejetos de
tosquia. Trata-se da obtenção de
hidrolisado de queratina (ou lã
líquida) empregado em cosmética (em tratamentos capilares), na
indústria têxtil, na fabricação de
polímeros e papel e na produção
de biomateriais. O produto obtido nos laboratórios do INTI, com
a participação de suas unidades
de química e têxtil, foi comparado com os produtos presentes no
mercado provenientes do casco
Lã bruta
beneficiada
no Brasil é
exportada a
vários países
2009 - Ano das Fibras Naturais
A Assembléia Geral das Nações Unidas decidiu proclamar o ano de
2009 como o Ano Internacional das Fibras Naturais, conforme resolução
61/189. A produção de uma grande diversidade de fibras naturais produzidas em muitos países tornou-se fonte de renda importante para muitos
produtores, que, assim, possuem um papel importante na provisão de
segurança alimentar, na erradicação da pobreza e na contribuição para
atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A resolução convida a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
(FAO), a coordenar o Ano em colaboração com Estados, organizações
regionais, internacionais e não-governamentais, setor privado e agências
do Sistema das Nações Unidas.
Os objetivos do Ano Internacional das Fibras Naturais são: sensibilizar e estimular a procura de fibras naturais; encorajar respostas políticas
adequadas por parte dos governos para os problemas enfrentados pelas
indústrias de fibras naturais; promover uma efetiva e duradoura parceria
internacional entre as diversas indústrias de fibras naturais e promover a
eficiência e sustentabilidade das indústrias de fibras naturais. •

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