sueli rosa gama detecção de fatores de risco
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sueli rosa gama detecção de fatores de risco
SUELI ROSA GAMA DETECÇÃO DE FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM CRIANÇAS DE 5 A 9 ANOS DE IDADE ATENDIDAS EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE RIO DE JANEIRO, 15 DE FEVEREIRO DE 2005 1 DETECÇÃO DE FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM CRIANÇAS DE 5 A 9 ANOS DE IDADE ATENDIDAS EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE SUELI ROSA GAMA Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Saúde da Criança e da Mulher do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz Orientadora: CÉLIA REGINA MOUTINHO DE MIRANDA CHAVES RIO DE JANEIRO - 2005 2 FICHA CATALOGRÁFICA NA FONTE CENTRO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA BIBLIOTECA DO INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA G743d Gama, Sueli Rosa Detecção de fatores de risco para doenças cardiovasculares em crianças de 5 a 9 anos atendidas em uma Unidade Básica de Saúde / Sueli Rosa Gama. – 2005. xviii. ; 119 f.; tab. ; graf. Dissertação (Mestrado em Saúde da Criança e da Mulher)-Instituto Fernandes Figueira, Rio de Janeiro, 2005. Orientador : Chaves, Célia Regina Moutinho de Miranda 1. Doenças Cardiovasculares – prevenção & controle. 2 . Hiperli pidemia . 3 . Obesidade. 4. Estado Nutricional. 5.Hábitos Alimentares. 6. Estilo de Vida. 7. Atividade Motora. I. Título. CDD – 616.1 3 DEDICATÓRIA À minha mãe e meus filhos Thaís e Leandro, motivos da minha felicidade e persistência de luta pela vida. 4 AGRADECIMENTOS À Dra. Célia Regina Moutinho de Miranda Chaves pela competência, paciência, e delicadeza em todos os passos na elaboração dessa dissertação. À Dra. Marília Sá Carvalho, amiga e irmã, pela ajuda na análise epidemiológica e capacidade de sempre ter uma visão de mundo grandiosa e justa. Ao professor Takume Igushi e a Dra. Ana Glória Godoi pelo interesse na ajuda dos primeiros passos para o cálculo da amostra a ser estudada. . À Dra. Gloria Valéria da Veiga pelas prestimosas e valorosas informações para a elaboração desta dissertação. À Dra. Silvia Gugelmin pelas importantes informações nos primeiros passos da preparação dessa dissertação. À equipe do arquivo do CSEGSF, com seus profissionais competentes e pacientes nas suas rotinas cansativas do trabalho diário. À Marluce e Solange, técnicas de enfermagem do módulo da criança, com a boa vontade e profissionalismo nos procedimentos de medir a pressão das crianças. À Flávia da Silva Santos, bolsista do IFF na grande colaboração do cálculo da ingestão alimentar. Ao bolsista do Cecan, René de Castro Lopo Neto, na colaboração da digitação dos dados. A equipe do laboratório do CSEGSF, confirmando a alta qualidade do seu serviço, com os cuidados dispensados aos exames bioquímicos. À Itália, chefe do laboratório e a sua equipe do HEC pela sua dedicação para com os exames da pesquisa. Às professoras da UFRJ Marta Antônia de Souza Santos e Mirian Ribeiro Baião, pela grande contribuição e ajuda no atendimento das crianças em risco. Às estagiárias de nutrição da UFRJ, Daniela Gouveia Vieira, Lia Carolina A.S. Medeiros, Natália Eudes Fagundes de Barros que participaram com grande competência e entusiasmo no processo de intervenção das crianças de risco. Ao Dr. Marcos Besserman, diretor que permitiu a pesquisa neste CESGSF. Ao Dr. Antonio Sergio A. Fonseca que manteve a continuidade da pesquisa na sua vigência. Aos profissionais do CSEGSF que indiretamente contribuíram para o término da pesquisa. 5 RESUMO O objetivo desse estudo foi investigar a presença de fatores de risco para doenças cardiovasculares do adulto entre crianças na idade escolar. Foram selecionadas aleatoriamente 356 crianças de cinco a nove anos atendidas no Centro de Saúde-Escola Germano Sinval Faria da ENSP/FIOCRUZ. Foram determinados níveis séricos dos lipídeos, lipoproteínas e glicose, estado nutricional, pressão arterial, hábitos alimentares por meio de questionário de freqüência alimentar e recordatório de 24 horas de um dia, morbidade familiar e hábitos de vida (sedentarismo e tabagismo na família). As variáveis foram armazenadas e analisadas no programa Epi-info,versão 6.04 e no pacote estatístico R. Na análise dos dados utilizou-se o teste T de Student e o Qui-quadrado para estimar a significância estatística das associações estudadas, este último com simulação de Monte Carlo, quando necessário em tabelas com pequenos números. O programa Nutwin calculou os nutrientes e gasto energético. Encontrou-se, entre as crianças que fizeram os exames laboratoriais, 10,7% com sobrepeso, alta prevalência de dislipidemias, sendo 43,8% de hipercolesterolemia isolada e 6,9% de hiperlipidemia mista. Estes achados foram significativamente associados ao sobrepeso, embora também apareçam em crianças com peso adequado. A hipertensão arterial foi maior nas crianças com sobrepeso. A hiperglicemia ocorreu em 0,8% das crianças. Entre as morbidades familiares, o excesso de peso e o infarto agudo do miocárdio estavam associados ao sobrepeso infantil. Crianças sedentárias foram mais freqüentes que crianças em atividades de brincadeiras próprias da idade que demandam esforço físico. O tabagismo perto das crianças não esteve associado ao estado nutricional e à dislipidemia. Foi freqüente o uso de alimentos ricos em gorduras hidrogenadas saturadas/trans na alimentação. A freqüência do consumo diário de legumes e frutas foi de 16% e 36% respectivamente, principalmente na escola. A média da ingestão calórica foi de 1827Kcal, de ácidos graxos saturados 7,7% , de monossaturados 8,5%, polinsaturados 4,4% do valor energético total e de 197,52mg de colesterol. Podemos concluir que os fatores de risco para as doenças cardiovasculares estão presentes na idade escolar nesta população residente em favela do Rio de Janeiro, sendo necessário o desenvolvimento de atividades visando à mudança no estilo de vida em idades precoces. 6 ABSTRACT The aim of this study is to investigate risk factors in children in the school age, for adult's cardiovascular diseases. We sampled 356 children, aged five to nine years, assisted at the Health Center Germano Sinval Faria/ENSP/FIOCRUZ. Blood levels of the lipids, lipoproteins and glucose, nutritional state, blood pressure, nutritional habits through food frequency questionaire and 24-h recall of one day, family morbidity and life habits (sedentarism and tobacco consumption in the family). The variables were kept and analyzed in Epi-info, version 6.04 and in the statistical package R. Estimation of the statistical significance of associations was based on the test T of Student and the chi-square, this one with Monte Carlo simulation, when necessary for tables with small numbers. The program Nutwin calculated the nutrients and energy expense. Among the children with blood exams, 10,7% were overweighted, and prevalence of dyslipidemy was high, 43,8% of hypercholesterolemy alone and 6,9% of mixed hyperlipidemy, significantly associated with overweight, although present as well in children with adequate and under-weight. Blood hypertension was larger in the children with overweight. The hyperglycemia was found in 0,8% of the children. Among family morbidities, the excess weight and myocardial infarction were associated with overweight. Sedentary activities tended to be more frequent than traditional children games. The consumption of tobacco close to the children was not statistically significantly related to the nutricional state and dyslipidem.Consumption of aliments rich in hydrogenated fats (saturated and trans) was high. Daily consumption of 16% of vegetables and 36% of fruits were found, mainly at school. The average caloric ingestion was 1827 Kcal, 7,7% of saturated fatty acid, 8,5% of monosaturated, 4,4% of polyunsaturated and 197,52mg of cholesterol. We can conclude that the risk factors for the cardiovascular diseases are present already at school age in this population residing in a slum of Rio de Janeiro, and the development of activities promoting changes in the lifestyle in early ages are necessary. 7 LISTA DE GRÁFICOS 1- Relação entre escolaridade dos pais e renda familiar das crianças atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho 2004.......................................................................pag 32 2- Relação entre número de morbidades familiar e estado nutricional das crianças atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004.................................................pag 41 3- Perfil bioquímico das crianças atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004..pag 42 4- Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos do grupo dos carboidratos - fevereiro a julho de 2004............................pag 46 5- Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos do grupo dos açúcares - fevereiro a julho de 2004 ................................ pag 47 6- Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos do grupo das frutas, verduras e legumes - fevereiro a julho de 2004.....pag 48 7- Percentual de crianças por frequência de consumo de alimentos do grupo de bebidas - fevereiro a julho de 2004..........................................................................pag 49 8- Percentual de crianças por freqüência de consumo de leguminosas e leite - fevereiro a julho de 2004........................................................................................pag 50 9- Percentual de crianças por freqüência de consumo do grupo de proteínas animais - fevereiro a julho de 2004.........................................................................................pag 51 10- Percentual de crianças por freqüência de consumo do grupo das gorduras - fevereiro a julho de 2004........................................................................................pág 52 8 LISTA DE TABELAS 1 - Comparação das características das variáveis contínuas do grupo que fez e não exame..........................................................................................................................pag 27 2 - Comparação das variáveis categóricas entre o grupo que fez e não os exames bioquímicos...............................................................................................................pag 28 3 - Características socioeconômicas e demográficas das crianças atendidas no CSEGSF - fevereiro-julho de 2004.............................................................................................pag 31 4 - Presença de fatores de riscos cardiovasculares familiares das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004.....................................................pag 33 5 - Estado nutricional das crianças atendidas no CSEGSF fevereiro-julho de 2004......pag 34 5 A -Estado nutricional por sexo segundo índice de peso/estatura das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004....................................pag 35 5.B - Estado nutricional por sexo segundo índice de estatura/idade das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004....................................pag 35 6 - % de gordura corporal segundo estado nutricional (P/E) das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004........................................................pag 36 7 - Níveis de pressão arterial segundo estado nutricional das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004.....................................................pag 37 8 - Tabagismo perto da criança segundo estado nutricional das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004.....................................................pag 37 9 - Tempo diário de atividades sedentárias das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF segundo estado nutricional - fevereiro a julho de 2004..................................pag 38 10 - Tempo diário de atividades físicas. das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF segundo estado nutricional - fevereiro a julho de 2004..................................................pag 39 11 - Presença dos fatores de risco cardiovascular familiar segundo estado nutricional das crianças de 5 a 9 anos atendidas no atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004...........................................................................................................................pag 40 12 - Perfil lipídico das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF segundo o estado nutricional - fevereiro a julho de 2004 ................................................................... pag 44 13 - Associação entre os lipídios séricos das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF.e o hábito de fumar pelos familiares perto das crianças - fevereiro a julho de 2004......................................................................................................................pag 45 9 14 - Freqüência de refeições consumidas das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004........................................................................pag 53 15 - Relato do local das refeições das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho de 2004 .........................................................................................pag 54 16 – Distribuição dos macronutrientes e dos ácidos graxos das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho de 2004...................................................pág 55 10 SUMÁRIO Introdução..................................................................................................................pag xvi Capítulo 1 1. Referencial Teórico............................................................................................pag 01 1.1 Promoção da Saúde..................................................................................... pag 01 1.2 Fatores de Risco para Doenças Cardiovasculares........................................pag 02 1.2.1 Aterosclerose....................................................................................pag 03 1.2.2 Fatores de Risco Modificáveis para Doenças Cardiovasculares......pag 04 1.2.2.1 Obesidade...................................................................................pag 04 1.2.2.2 Dislipidemia...............................................................................pag 08 1.2.2.3 Diabetes......................................................................................pag 10 1.2.2.4 Hipertensão Arterial...................................................................pag 12 1.2.2.5 Hábitos Alimentares.................................................................pág 13 1.2.2.6 Atividade Física.........................................................................pag 15 1.2.2.7 Fumo..........................................................................................pag 16 1.2.3 Fatores de Risco Não Modificáveis.para as doenças Cardiovasculares............................................................................pag 16 1.2.3.1 Herança Genética......................................................................pag 16 1.2.3.2 Idade e Sexo.............................................................................pag 17 Capítulo 2 Objetivos...................................................................................................................pag 18 2.1 – Geral..........................................................................................................pag 18 2.2- Específico....................................................................................................pag 18 Capítulo 3 11 3. Métodos.....................................................................................................................pag 19 3.1 Tipo de Estudo................................................................................................pag 19 3.2 População do Estudo.......................................................................................pag 19 3.3 Coleta de Dados..............................................................................................pag 19 3.4 Antropometria.................................................................................................pag 20 3.4.1 Dados antropométricos.......................................................................pag 20 3.4.2 Dobras cutâneas................................................................................. pag 21 3.5 Maturação Sexual...........................................................................................pag 22 3.6 Inquérito alimentar.........................................................................................pag 22 3.7 Aferição da Pressão arterial............................................................................pag 23 3.8 Avaliação bioquímica.....................................................................................pag 24 3.9 Atividade Física e Sedentária..........................................................................pag 25 3.10. Considerações éticas......................................................................................pag 25 Capítulo 4 4 Resultados..................................................................................................................pag 27 4.1- Perdas................................................................................................................pag 27 4.2-Características das variáveis do grupo de que fez. e não os exames bioquímicos.......................................................................................................pag 27. 4.3-Características socioeconômicas e demográficas do grupo estudado................pag 30 4.3.1. Relação entre escolaridade dos pais e renda familiar das crianças atendidas.no CSEGSF.................................................................................... pag 32 4.4-Fatores de Risco familiares para as doenças cardiovasculares........................ pag 32 4.5-Estado nutricional das crianças atendidas no CSEGSF....................................pag 33 4.6-Relação do percentual de gordura corporal com o estado nutricional por 12 antropometria.................................................................................................... pag 35 4.7-Associação do estado nutricional com os fatores de risco cardiovasculares... pag 36 4.7.1 Associação do estado nutricional com os níveis de pressão arterial ........pag 36 4.7.2 Associação do estado nutricional e tabagismo perto da criança............. pag 37 4.7.3 Associação do estado nutricional com atividades sedentárias e físicas...pag 38 4.7.4 Associação do estado nutricional com a presença dos fatores de risco cardiovascular familiar..............................................................................pag 39 4.7.5 Relação entre número de fatores de risco cardiovascular familiar e o estado nutricional .....................................................................................pag 41 4.7.6 Perfil bioquímico das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF......pag 40 4.7.7 Associação do estado nutricional com o perfil dos lipídios séricos........pag 41 4.7.8 Associação do perfil lipídico e o uso do fumo perto das crianças............pág 43 4.8- Hábitos Alimentares 4.8.1-Questionário de freqüência alimentar................................................... pag 45 4.8.2-Recordatório de 24 horas ................................................................... pag 54 Capítulo 5 5. Discussão...................................................................................................................pag 56 Capítulo 6 6.1 Conclusão ............................................................................................................pag 73 6.2 Recomendação......................................................................................................pag 74 Referências bibliográficas .............................................................................................pag 75 Anexo 1- Perdas das variáveis...................................................................................... pag 92 2- Termo de consentimento................................................................................pag 93 3- Questionário...................................................................................................pag 94 13 LISTA DE SIGLAS DAC Doença arterial coronariana NCEP National Cholesterol Education Program AHA American Heart Association PNSN Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição LDL-c Lipoproteína de baixa densidade HDL-c Lipoproteína de alta densidade DCV Doença cardiovascular DCNT Doença crônica não transmissível OMS Organização Mundial da Saúde GEPA Grupo de Estudos e Pesquisa em Aterosclerose PCR Proteína c- reativa TG Triglicerídeo WHO World Health Organization IMC Índice de massa corporal CDC Centers for Disease Control and Prevention SISVAN Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional NCHS National Center for Health Statistics VLDL lipoproteína de muito baixa densidade Col-T Colesterol total DMII Diabetes mellitus do tipo II DM Diabetes mellitus AVC Acidente vascular cerebral 14 IAM Infarto agudo do miocárdio SRI Síndrome de resistência à insulina ADA American Diabetes Association NHBPER National High Blood Pressure Education Program NIH National Institute of Health FAO Food and Agricultural Organization MUFAS Ácidos graxos monossaturados CSEGSF Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria ENSP Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca SEDIS Serviço de Informação e Informática FIOCRUZ Fundação Osvaldo Cruz QFA Questionário de freqüência alimentar HEC Hospital Evandro Chagas IFF Instituto Fernandes Figueira PSF Programa de Saúde da Família CEP Comissão de Ética em Pesquisa DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística UNICAMP Universidade Estadual de Campinas TACO Tabela Brasileira de Composição de Alimentos RDA Recommended Dietary Allowances 15 INTRODUÇÃO A globalização favoreceu a rápida chegada da tecnologia aos diversos países do mundo, trazendo transformações no comportamento da sociedade. Estudos epidemiológicos mostram que algumas das mudanças que se deram no estilo de vida (sedentarismo, fumo e hábitos alimentares) interferem diretamente na saúde da população, sendo responsáveis por várias enfermidades, dentre elas a obesidade, diabetes, hipertensão arterial e aterosclerose (Freedman et al., 1999 Gillum et al., 2000). Tais doenças são fatores de risco que aumentam a morbimortalidade por doenças cardiovasculares (Freedman et al., 1999; Gillum, 2000; Nicholson, 2000; Williams et al., 2002) e, conseqüentemente, os gastos do governo com a saúde e com benefícios por invalidez. A obesidade é a de maior dimensão e considerada um fator de risco independente para doença arterial coronariana (DAC) secundária a aterosclerose pelo National Cholesterol Education Program (NCEP) e pela American Heart Association (AHA) (Williams, et al., 2002). A América Latina, inclusive o Brasil, nos últimos 20 anos apresentou uma rápida transição epidemiológica e nutricional marcada pelo aumento da prevalência da obesidade nos diversos estratos da população (Bermudez e Tucker, 2003; Kac e Velásquez, 2003) nas diversas classes econômicas e praticamente em todas as faixas etárias (Monteiro et al., 1999). Em relação à população brasileira infantil, os dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) de 1989 revelaram sobrepeso em 5% de crianças menores de dez anos. As regiões Sul e Sudeste apresentaram prevalência de quase o dobro da observada na 16 região Nordeste, e as regiões Norte e Centro-Oeste obtiveram uma situação intermediária (Taddei, 1993). A prevalência da obesidade infantil aumentou no mundo inteiro e ela leva a complicações metabólicas (dislipidemia, diabetes e hipertensão arterial) que se perpetuam na vida adulta (Daniels, 2001; Freedman et al., 1999; Nilcholson, 2000). Estrias de gordura foram encontradas em artérias coronárias de crianças e podem, em alguns casos, progredir para lesões ateroscleróticas avançadas dentro de poucas décadas (Berenson et al. 1998). Esse processo é reversível no início do desenvolvimento, o que chama a atenção para a aterosclerose como um problema pediátrico (Berenson et al., 1998; Paradis e Mccrindle, 1999; Pérez, 2000; Rabelo, 2001; Tolfrey, 2002). A dislipidemia, condição em que há níveis altos de lipídeos e lipoproteínas de baixa densidade (LDL-c) e baixos de lipoproteínas de alta densidade (HDL-c), são correlacionados com a DAC. Vários estudos estabelecem correlação do nível de colesterol na infância com os encontrados na vida adulta (Gillum, 1999; Ortega, 1999; Freedman et al., 1999). E também fazem a associação da hipercolesterolemia com a dieta rica em gorduras, principalmente as saturadas (Perez et al., 2000; Williams et al., 2002). Por outro lado, a susceptibilidade genética para os riscos de doenças cardiovasculares (DCV) também atua no início da vida (Davis et al., 2000; Freedman, et al., 1999; Perez et al., 2000). Portanto, promoção da saúde cardiovascular dos adultos deve ser iniciada na infância e adolescência, com cuidados primários na rotina pediátrica, identificando e modificando fatores que interferem no estilo de vida (Daniels, 2001; Williams et al., 2002). A maioria desses pode ser melhorada com adequada orientação nutricional e campanhas educativas. Entretanto, o diagnóstico da DCV é feito tardiamente tornando-se responsável por 46% dos óbitos em países desenvolvidos e 24% nos países em desenvolvimento (Ministério da Saúde, 2001). Isto reforça a função da assistência primária à saúde de criar estratégias que promovam mudanças, reforcem conhecimentos, atitudes e práticas, uma vez que a promoção da saúde e a prevenção de doenças se interligam com o educar e esse processo, ativo, contribuirá para a diminuição de situações de risco. Infelizmente, em nosso meio, apesar da vulnerabilidade da idade escolar aos fatores de risco modificáveis para as DCV do adulto, existem poucas políticas de saúde voltadas para a promoção da saúde e prevenção dos fatores desencadeantes dessas doenças. 17 Dessa forma, este estudo, ao detectar a obesidade, diabetes mellitus tipo II, hipertensão arterial e, dislipidemia, e investigar os hábitos alimentares nesse grupo etário atendido em uma unidade primária, promoverá discussão sobre a importância da prevenção das DCV do adulto, durante a infância. 18 CAPÍTULO 1 1. REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 PROMOÇÃO DA SAÚDE A promoção da saúde da população é a estratégia da saúde pública para diminuir a prevalência dos fatores de risco das doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) por meio de mudanças no estilo de vida (Ministério da Saúde, 2001). A Declaração de Alma-Ata, em 1977, tornou-se o marco para o compromisso mundial com a promoção da saúde. Ela identificou cinco campos de ação para concretizar essa promoção: construção de políticas públicas saudáveis; criação de ambientes favoráveis à saúde; desenvolvimento de habilidades individuais; reforço da ação comunitária e reorientação dos serviços de saúde. A Conferência de Adelaide, realizada em abril de 1988, cujo tema central foram as Políticas Públicas Saudáveis, manteve a mesma direção da Carta de Alma-Ata. Elas se caracterizaram pelo interesse e pela preocupação explícitos de todas as áreas de políticas públicas em relação à saúde, eqüidade e pelo compromisso com o impacto destas na saúde da população. O principal propósito de uma política pública é criar um ambiente favorável para que as pessoas vivam de forma saudável. A Organização Mundial da Saúde (OMS), ao desenvolver tais políticas de saúde na esfera local, nacional e internacional, melhora as taxas de mortalidade e morbidade da população acometida por tais enfermidades (OMS, 2004). O enfoque da promoção da saúde na reorientação dos serviços de saúde resgata os componentes da integralidade que se reflete em mudanças de três campos: 1- da gestão intersetorial, que deve ter estratégias mais amplas de intervenção para o enfrentamento de problemas sociais que interferem na saúde das populações, sendo o eixo norteador a qualidade e a melhoria das condições de vida da população; 19 2- da intersetorialidade, que é identificação e coresponsabilidade dos parceiros e que se utilizam instrumentais epidemiológicos e narrativos para construir com a comunidade o diagnóstico de saúde, que é a base para a intervenção intersetorial local. 3- da autonomia, que é uma perspectiva de qualificação da atenção que reconhece a capacidade que se tem de governar a si próprio. A autonomia se aplica ao indivíduo, à comunidade e à sociedade. Ela se manifesta na forma como se lida com necessidades, com as impressões, sentidos e significados que vão sendo dados ao mundo, de uma maneira mais geral, e às condições materiais que se dispõe, de uma forma mais específica. O cuidado, na reorientação das práticas e serviços de saúde, implica na compreensão do ser humano, seus direitos, sua especificidade e sua integralidade. (OPAS, 2004; OMS, 2004). A promoção da saúde, ao trabalhar as representações sociais sobre saúde e doença, diminui a distância entre os saberes populares e científicos, entre as concepções leigas e técnicas sobre saúde. Isto fortalece a relação participativa da comunidade com o serviço de saúde (OMS, 2004). 1.2 FATORES DE RISCO PARA AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES A fisiopatologia das DCV, principais causas de morbimortalidade no mundo, se iniciam em idade precoce (Coronelli e Moura, 2003). As DCV fazem parte do grupo das DCNT, as quais compõem a síndrome plurimetabólica (obesidade, hipertensão, diabetes mellitus e dislipidemia), causada por fatores de risco resultantes de mudanças de hábitos de vida. A probabilidade de a doença arterial coronariana ocorrer aumenta na presença de múltiplos fatores de risco estabelecidos para aterosclerose. Eles podem ser modificáveis e não-modificáveis. Os não-modificáveis são a idade, o sexo e a história familiar. Os fatores modificáveis são a dislipidemia, a hipertensão arterial, os 20 hábitos alimentares, o fumo, o diabetes mellitus, a obesidade e o sedentarismo (Berenson et al., 1998; Paradis et al., 1999; Tolfrey, 2002). 1.2.1 Aterosclerose É a patogênese mais encontrada nas DCV. Esse processo pode aparecer no início da vida. As lesões ateroscleróticas do tipo I e II (early lesions) podem ser encontradas em indivíduos com menos de um ano de idade (Freedman et al., 1999; Rabelo, 2001; Stary, 1990; Williams et al., 2002). As estrias gordurosas na aorta se desenvolvem na infância e as placas fibrosas podem ser observadas antes dos 20 anos. As lesões em estágio avançado são encontradas na terceira década de vida (GEPA, 1996; Mcgill e Mcmahan, 1998; Rabelo, 2001). Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da aterosclerose são a hiperlipoproteinemia, o aumento da agregação plaquetária, a diminuição das células endoteliais vasculares e o aumento da proliferação das células musculares lisas. Os leucócitos polimorfonucleares, monócitos e macrófagos estão presentes na lesão arterosclerótica, sugerindo reação inflamatória no seu desenvolvimento (Belay et al., 2004; Zielinsky et al., 1997). Outro mecanismo inflamatório é a relação entre os altos níveis da proteína-C reativa (PCR) e o aumento da taxa de adiposidade, TG e baixa relação do HDL/colesterol total (Das UN, 2001). A homocisteína é um aminoácido intermediário do metabolismo da metionina. O aumento moderado do seu nível sérico é um fator de risco independente para o desenvolvimento prematuro das DCV. A vitamina B6 e o ácido fólico contribuem para a diminuição dos seus níveis (Piolot et al., 1996). Outros fatores de risco para a aterosclerose são o aumento dos níveis de homocisteína, fibrinogênio e apolipoproteína β (Rabelo, 2001, Scarsella e Després, 2003). 1.2.2. Fatores de Risco Modificáveis para as Doenças Cardiovasculares 1.2.2.1 Obesidade A obesidade foi considerada como o terceiro preditor independente da DAC (Berenson et al., 1998; Freedman et al., 1999). Além disso, ela está associada a uma série de outros fatores de risco como: a hipertensão arterial, acidente vascular cerebral e distúrbios metabólicos (diabetes mellitus tipo II e dislipidemia) (Berenson et al., 1998; 21 Harrell e Stuart, 1998; Goran et al., 2003; Rabelo, 2001; Sorof e Daniels, 2002; Williams et al., 2002). A obesidade também contribui para o desenvolvimento de uma série de outras doenças: apnéia do sono, certos tipos de câncer como do aparelho genital e do intestino, calculose biliar e doenças osteoarticulares (Rabelo, 2001). A obesidade pode ocorrer em conseqüência de vários fatores, dentre os quais podemos destacar dois: genéticos – filhos de pais obesos têm risco duas vezes maior de apresentar obesidade quando adultos (Monyeki et al., 1999; Muller et al., 2001; Whitaker et al., 1997); e socioeconômicos-culturais – relacionados à renda, aos meios de comunicação, à industrialização dos alimentos e ao maior consumo de dietas com grandes quantidades de gorduras e calorias, com menor gasto energético, levando à menor oxidação das gorduras e prejuízo na regulação alimentar (Bermudez e Tucker, 2003, Monteiro et al., 2003; Sawaya e Roberts, 2003). Segundo investigações epidemiológicas, a baixa estatura nutricional, um efeito tardio da desnutrição no início da vida, e o baixo peso de nascimento estão relacionados com a obesidade e as DCV no adulto (Sawaya e Roberts, 2003). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como sobrepeso o excesso de massa corporal e como ‘obesidade’ o excesso de adiposidade. A composição corporal é é a soma dos diversos compartimentos do organismo (massa muscular, massa de gordura e água). Para isso deveria ser feita a composição corporal dos diversos compartimentos do organismo. Por isso a dificuldade ou inadequação de utilizar o termo obesidade quando só se faz a pesagem (WHO, 1995). Da relação dos parâmetros de peso para estatura o mais utilizado é o índice de massa corporal (IMC) ou índice de Quetelet, que é obtido dividindo-se o peso corporal em Kg pela estatura em m² (WHO, 1998). 22 Na população adulta o IMC nos valores 25 e 30 caracterizam sobrepeso e obesidade, pois esses pontos de corte foram definidos pelo Internacional Obesity Task Force como risco à saúde (Cole et al., 2000). Os adolescentes com IMC igual ou maior que o percentil 85 são considerados com sobrepeso e aqueles com IMC igual ou maior que o percentil 85 e com as dobras subcutâneas triciptal e subescapular igual ou maior que o percentil 90, obesos (WHO, 1995). Entretanto, em serviços de saúde a aferição das pregas cutâneas é um procedimento de difícil execução (Chiara et al., 2003). Em crianças, a massa de gordura se altera com a idade porque elas estão em desenvolvimento. Meninos e meninas diferem a sua massa de gordura de acordo com a maturidade (CDC, 2000). Na idade escolar, faz-se o diagnóstico de sobrepeso quando a relação peso/estatura está maior que o percentil 95 e o IMC acima de +2,0 zescore, tendo como referência a população americana (WHO, 1998; CDC, 2000). O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN, 2002) do Brasil adota para o diagnóstico de sobrepeso, no escolar, a relação peso/estatura igual ou maior que o percentil 97, que corresponde ao ponto de corte ≥ + 2DP, referência do National Center for Health Statistics (NCHS, 1977). A definição de obesidade em crianças é debatida, mas estudos epidemiológicos utilizam o IMC no percentil 95 como ponto de corte de obesidade porque ele tem alta especificidade para a morbidade, podendo ser usado clinicamente com confiabilidade para identificar excesso de adiposidade (Reilly et al., 2003). Cole e colaboradores (2000) propuseram valores de IMC/ idade que correspondem ao IMC 25 e 30 do adulto, com base nos dados referentes à população de 2 a 18 anos de seis estudos de base populacional realizados em seis diferentes locais (Brasil, Grã- 23 Bretanha, Singapura, Hong Kong, Holanda e Estados Unidos). A morbimortalidade por DCV resultante da obesidade está relacionada com a magnitude, duração e distribuição da gordura corporal. Na obesidade andróide, há acúmulo de tecido adiposo visceral e na obesidade ginecóide, de tecido de gordura na região glútea femoral. As anormalidades metabólicas aterotrombóticas e inflamatórias, que fazem parte da síndrome plurimetabólica estão associadas à obesidade andróide (Goran et al., 2003; Rabelo, 2001). A síndrome plurimetabólica é caracterizada pela concentração plasmática de TG e LDL-c elevados e de HDL-c reduzido, que aumenta em 20 vezes o risco de desenvolver a enfermidade coronariana (Lamarche et al., 1998). Ela também é acompanhada do aumento na concentração de apolipoproteína β, um marcador da concentração de lipoproteína aterogênica (Tchernof et al., 1996). O aumento da concentração de TG resulta da superprodução hepática de lipoproteínas ricas em TG que competem com as partículas de quilomícrons por hidrólise pela lipase lipoprotéica, induzindo a um estado de hiperlipidemia pós-prandial (Scarsella e Deprés, 2003). A circunferência da cintura deve ser um dado antropométrico utilizado como referência para risco cardiovascular, a ser registrado na história clínica de cada paciente (Scarsella e Després, 2003). A Organização Mundial da Saúde (WHO, 1998) recomenda essa medida, proposta em adultos por Lean e colaboradores (1995), nos limites de 88 cm para mulheres e 102 cm para homens. Todavia, no jovem, a circunferência da cintura pode apresentar mais tecido muscular que adiposo, o que limita o método (Després et al., 2000). O crescimento da obesidade no mundo estimulou pesquisas nessa área, em diversos países, inclusive no Brasil. O sobrepeso na população brasileira adulta aumentou em várias 24 regiões e em diversos estratos de renda. Existe uma relação inversa entre obesidade, educação e renda (Kain, 2003; Monteiro et al., 2003), e direta com o consumo energético de alimentos compostos de grãos refinados, açúcar e gordura (Dewnowski e Specter, 2004). Assim, a obesidade é conseqüência do insegurança alimentar porque relaciona trinômio baixa renda/educação e a uma ingestão inadequada de alimentos. De acordo com o Departamento de Agricultura e Pesquisa dos Estados Unidos, insegurança alimentar é a disponibilidade inadequada ou limitada de alimentos nutricionalmente aceitáveis ou seguros, por famílias que nem sempre estão em estado de fome evidente (Dewnowski e Specter, 2004). A prevalência da obesidade na infância e na adolescência traz conseqüências a curto e a longo prazo (Freedman et al., 1999; Gillum, 2000; Perez et al., 2000; Zielinsky, 1997) porque se associa a um perfil lipídico anormal, com aumento da concentração de Col-T, TG e LDL-c e diminuição de HDL-c. Essa situação é mais evidente em meninos do que em meninas (Freedman et al., 1999; Tolfrey et al., 2002). O aumento dos níveis das lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) é a alteração mais significativa associada ao excesso de peso (Rabelo, 2001). A prevenção da obesidade deve ser realizada durante as visitas pediátricas, com educação específica para a promoção da saúde cardiovascular, reduzindo os riscos de doenças ateroscleróticas na vida adulta (Daniels, 2001; Freedmam et al., 1999; Paradis e Mccrindle, 1999; Williams et al., 2002). 1.2.2.2 Dislipidemia 25 A dislipidemia é definida como a alteração dos níveis de lipídios ou de lipoproteínas circulantes, devido às alterações na produção, no catabolismo ou clearence, em conseqüência de fatores genéticos e/ou ambientais (Rabelo, 2001). Existe associação direta entre os níveis de colesterol na infância e os níveis de colesterol na fase adulta (Buiten e Metzger, 2000; Gillum, 1999; Giddings, 1999; Muller et al., 2001; Rodrigues, 1998). As fontes de lipídios do organismo podem ser de duas origens: origem endógena, resultado da síntese hepática das lipoproteínas very low density lipoprotein ou LP de muito baixa densidade (VLDL), que são absorvidas pelo fígado ou sofrem ação da lípase hepática dando origem ao LDL-c. E a de origem exógena, provenientes da absorção dos lipídios da alimentação e síntese dos quilomícrons pelas células intestinais (SBC, 2001). A hipercolesterolemia, em particular o aumento do LDL-c, é preditor da DAC porque as partículas de LDL-c contêm 70% de colesterol no sangue. Por isso, de acordo com o National Cholesterol Education Program, é o principal alvo de intervenção médica (Gillum, 2000; NCEP, 2001). Níveis séricos aumentados de HDL-c diminuem o risco relativo para a DAC. O mecanismo para esse efeito protetor ocorre devido à habilidade HDL-c de fazer o transporte reverso do colesterol, ou seja, de removê-lo das células e transportá-lo para o fígado para posterior excreção. O HDL-c também previne a oxidação e agregação das partículas de LDL-c na parede arterial, diminuindo o potencial aterogênico dessa lipoproteína (Gillum, 2000; Rabelo, 2001). As hiperlipidemias primárias são conseqüentes a causas genéticas, algumas só se manifestando em função da influência ambiental, dieta inadequada e ou do sedentarismo (Perez et al., 2000; SBC, 2004). São classificadas em três tipos: hipercolesterolemia 26 familiar heterozigótica – caracteriza-se pelo aumento da lipoproteína LDL-c, devido ao defeito no receptor da LDL-c; manifesta-se desde o nascimento, sua prevalência na população é de 0,2% e a partir da adolescência produz lesões ateroscleróticas (Perez et al., 2000); hipercolesterolemia familiar combinada – pode se iniciar na infância, se associa com hipertensão arterial, obesidade e diabetes, apresenta aumento das concentrações plasmáticas de colesterol e ou triglicerídeos e concentrações geralmente baixas de HDL-c. A existência de antecedentes familiares de enfermidade coronariana prematura constitui a base do diagnóstico dessa enfermidade (Perez, 2000, Rabelo, 2001; SBC, 2001); hipercolesterolemia poligênica – é a forma mais comum de hipercolesterolemia primária. Ela é atribuída à intervenção de vários genes, cada um com um efeito relativamente pequeno sobre o aumento das concentrações do LDL-c, estando fortemente ligada aos fatores ambientais. A hipercolesterolemia poligênica pode elevar pouco os níveis de colesterol nos indivíduos jovens, manifestando-se mais tardiamente. A história familiar de enfermidade coronária prematura e antecedentes familiares estão presentes nesse grupo (Perez et al., 2000; Rabelo, 2001). A análise laboratorial das alterações lipídicas evidencia os seguintes resultados: valores aumentados de Col-T ou hipercolesterolemia isolada; valores aumentados do TG ou hipertrigliceridemia isolada; valores aumentados de Col-T e dos TG ou hiperlipidemia mista; e valores diminuídos do HDL-c isoladamente ou em associação a alterações do LDL-c e/ou dos TG (SBC, 2001). Em crianças com história familiar de DCV – pais com hiperlipidemia, obesidade ou diabetes –, o NCEP recomenda dosagem dos lipídios séricos, dieta com baixo teor de gorduras saturadas/colesterol, proibição do fumo no ambiente e estímulo à atividade física (Perez et al., 2000; Williams et al., 2002). 27 1.2.2.3 Diabetes mellitus O diabetes mellitus constitui um dos mais importantes problemas de saúde pública no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento (Sartorelli e Franco, 2003). Sua prevalência, no Brasil, em indivíduos adultos é de 7,6% e as principais causas são a obesidade e o envelhecimento da população. Entre 30 e 69 anos sua prevalência é de 9,5% nos homens e de 7,9% nas mulheres (Ministério da Saúde, 2001; Sartorelli e Franco, 2003). A hiperglicemia, as alterações lipoprotéicas e a hipertrigliceridemia são fatores de risco, presentes nos diabéticos, que causam modificações na biologia vascular e aceleram os eventos moleculares e celulares que levam à aterosclerose (Rabelo, 2001). Esses pacientes apresentam a forma mais grave do processo aterosclerótico duas a três vezes mais do que a população geral. Filhos de pais diabéticos tendem a apresentar níveis em jejum de insulina, glucagon e triglicerídeos mais elevados do que indivíduos na mesma faixa etária filhos de pais não-diabéticos. Tais dados sugerem que as anormalidades consistentes com o diabetes mellitus surgem antes das manifestações clínicas (Goran et al., 2003). O aparecimento do diabetes mellitus II (DMII) em crianças obesas confirma que a obesidade é um fator de risco para o desenvolvimento dessa enfermidade, independentemente da faixa etária. Outros fatores de risco são a história familiar de DMII, puberdade, exposição intra-uterina para o DM, vida sedentária, o gênero feminino e a etnia (Lipton et al., 2002; Kaufman, 2002; Rosenbloom, 2002; Wilson, 2002). O DMII é caracterizado pela incapacidade de a célula beta manter a secreção de insulina adequada (Boden, 1999; Gabbay et al., 2003; Kaufman, 2002), além da resistência 28 periférica à ação da insulina, que diminui a utilização da glicose pelo músculo e tecido adiposo prejudicando a supressão da lipólise controlada por esse hormônio. A oferta elevada de ácidos graxos livres inibe a ação da insulina e compete com o transporte de glicose pelo músculo esquelético (Boden, 1997; Gabbay et al., 2003). Estudos longitudinais mostram uma diminuição progressiva da função da célula beta em DMII no adulto, mas esse fato não foi avaliado em crianças. A função da célula beta também diminui com o DMII de longa duração. Em crianças, como em adultos, a regulação intensiva da glicemia permite a recuperação e preservação da célula beta (Banerji, 2002). A síndrome da resistência à insulina (SRI) – distúrbio metabólico causado pelo aumento de gordura abdominal, hiperinsulinemia, diminuição da tolerância à glicose, dislipidemia e hipertensão arterial – ocorre em 9% das crianças obesas (Deesi e Molnar, 2003). Ela está relacionada ao aumento nos níveis plasmáticos de fibrinogênio, ácido úrico, homocisteína, proteína C-reativa e adiposidade visceral. A microalbuminuria, baixa utilização de vitaminas lipossolúveis antioxidantes e aumento expressivo do fator de necrose tumoral alpha em tecidos gordurosos também podem ser encontrados. A predisposição genética é responsável por um percentual pequeno desta síndrome (Deesi e Molnar, 2003). A modificação no estilo de vida, com redução da ingestão energética e aumento da atividade física são considerados pré-requisitos para o sucesso no tratamento da SRI (Deesi e Molnar, 2003). Segundo a American Diabetes Association (ADA), a triagem para o DMII deve ser realizada em toda criança que esteja acima do percentil 85 para o IMC, peso para idade e sexo, ou peso maior que 120% do esperado para a estatura, com história familiar para o DMII em parentes de primeiro ou de segundo grau, e que possua sinais ou condições 29 associados à resistência à insulina como a acanthosis nigricans, hipertensão arterial, dislipidemia e a síndrome de ovários policísticos (Gabbay et al., 2003; Williams, 2002). 1.2.2.4 Hipertensão Arterial A hipertensão arterial é um fator de risco importante para a DAC, em ambos os sexos, independente do grupo étnico e da faixa etária (Pozzan et al., 1998; Rabelo, 2001). Em adultos é considerado o maior fator de risco de morbimortalidade cardiovascular (Pozzan et al., 1998; Rabelo, 2001; Sorof e Daniels, 2002). Em nosso país sua prevalência é de 15% a 20% da população adulta e 6% a 8% em crianças e adolescentes (Ministério da Saúde, 2001). O aparecimento da hipertensão arterial primária é dependente de fatores genéticos e ambientais, sendo que de 30 a 60% dos casos estão diretamente relacionados à hereditariedade (Mcgill e Mcmahan, 1998). É preciso enfatizar que o ambiente sociocultural, o estilo de vida e os hábitos alimentares costumam ser transmitidos de geração a geração (Pozzan et al., 1998). A hipertensão arterial está associada à obesidade e a outros fatores de risco como predisposição étnica, aumento de atividade do sistema nervoso simpático e resistência periférica à insulina. Crianças obesas possuem risco três vezes maior de desenvolver hipertensão arterial do que as não-obesas. As anormalidades na estrutura vascular contribuem para a hipertensão arterial (Pozzan et al., 1998; Rabelo, 2001; Sorof e Daniels, 2002). Na obesidade há uma preponderância da hipertensão sistólica isolada, e em crianças o risco também aumenta com os valores de IMC (Sorof e Daniels, 2002). O National High Blood Pressure Education Program (NHBPEP, 1987) define hipertensão arterial em crianças quando a pressão diastólica ou sistólica estão iguais ou 30 maiores que o percentil 95 para sexo, idade e altura. O National Institute of Health (NIH) considera pré-hipertensas as crianças com pressão arterial sistólica ou diastólica entre o percentil 90 e o percentil 95. A hipertensão arterial é um marcador da prevalência de sobrepeso e da SRI – combinação de múltiplos fatores de risco para as doenças cardiovasculares do adulto e diabetes tipo II em crianças (NIH, 2004). A ingestão de sódio e potássio na alimentação se associa diretamente com a hipertensão. As crianças obesas, quando diminuem a ingestão de sódio e aumentam a de potássio, melhoram os níveis de pressão sistólica e diastólica da mesma forma que adultos hipertensos (Salgado e Carvalhães, 2003). A redução do peso em crianças e adolescentes obesos diminui o nível da pressão arterial. O tratamento com educação nutricional e atividade física são enfatizados para adequar a pressão arterial (Williams et al., 2002). 1.2.2.5 Hábitos Alimentares O crescimento da renda familiar na América Latina favoreceu o consumo alimentar de gordura, principalmente a saturada, elevando a prevalência das DCNT e dos distúrbios cardiovasculares (Kain et al., 2003). Na América do Norte e no Brasil, paradoxalmente, o aumento da ingestão de alimentos ricos em açúcares e gorduras ocorrem na população de baixa renda (Drewnowski e Specter, 2004; Monteiro, 2003). Pesquisa sobre o consumo per capita de calorias, realizada durante 20 anos, na América Latina, pela Food and Agricultural Organization (2001), mostrou redução do consumo de vegetais e frutas e um aumento de 11,3% para 72,0% no percentual de gordura saturada e animal (Bermudez e Tucker, 2003). Esse fenômeno é apontado como um dos responsáveis pela maior prevalência das DCV, pois vegetais e frutas são consideradas 31 protetores, enquanto gorduras animais e saturadas aumentam os seus riscos (Sartorelli e Franco, 2003). A industrialização dos alimentos e o consumo de fast foods aumentaram a quantidade de carboidratos, calorias, gorduras hidrogenadas e sal no processo de preparação dos alimentos (Pozzan et al., 1998; Rodrigues, 1999). Os ácidos graxos trans são considerados fatores deletérios para DCV, formados por meio do processo de hidrogenação e biohidrogenação dos ácidos graxos insaturados. Eles são hipercolesterolêmicos, pois elevam o Col-T e o LDL-c e reduzem a HDL-c, aumentando a relação LDL-c/HDL-c. Segundo Duppont (1991), esses ácidos inibem a biossíntese de ácidos graxos essenciais, por interferir no metabolismo de ácidos graxos poliinsaturados. Eles atuam sobre a enzima dessaturase, bloqueando e inibindo a síntese dos ácidos graxos essenciais de cadeia longa, desse modo interferindo na saúde. A redução do consumo de alimentos ricos em gorduras hidrogenadas é recomendada, limitando-se em 2% a 5% a ingestão de gorduras trans em relação a energia total (Chiara et al., 2002; Ministério da Saúde, 2004). Evidências epidemiológicas sugerem que os ácidos graxos monossaturados (MUFAS) são benéficos para a saúde, pois não aumentam a taxa de colesterol (Nicklas et al., 2001). Estimular os hábitos alimentares saudáveis na família, aumentando o consumo de frutas, verduras e preparações pobres em gorduras saturadas, deve fazer parte dos cuidados primários da educação nutricional. A OMS reforça a promoção dos hábitos alimentares saudáveis com a construção da Estratégia Global para a Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde em que se antecipa com ações não só de informações sobre os benefícios das verduras e legumes como também da possibilidade de acesso a esses alimentos. E que o ambiente escolar não promova alimentos danosos à saúde. (Coitinho e Monteiro, 2004). 1.2.2.6 Atividade Física A prática da atividade física resulta em efeito positivo para os riscos cardiovasculares em adultos. Em crianças ela está relacionada como uma estratégia para o desenvolvimento físico e é influenciada pelos pais (Steinbeck, 2001). 32 Embora exista controvérsia sobre o benefício imediato da atividade física na saúde da criança, alguns dados mostram que o menor nível de atividade física e o sedentarismo estão associados com maior prevalência de obesidade infantil (Byrnes et al., 2002; Moore et al., 1995). Em crianças a inatividade é associada à quantidade de horas assistindo televisão e usando o computador (Kohl et al. 2000; Nicklas et al., 2001; Reilly e McDowell, 2002; Steinbeck, 2001). A diminuição do sedentarismo, associada à orientação alimentar e ao aumento da atividade física são componentes de intervenção para diminuição do sobrepeso e da obesidade (Reilly e McDowell, 2003). A mudança desses hábitos precisa ser efetiva, mas eles são difíceis de se manter (Epstein et al., 2000; Reilly e McDowell, 2003). A atividade física deve ser adequada à idade da criança, nãocompetitiva, dando-se preferência a brincadeiras. As crianças com risco para DCV ou com limitações físicas devem ser encaminhadas para praticar esportes, no sentido do exercício físico ou de atividades especiais. As indicações para a atividade física deveriam ser orientadas pelo profissional de saúde ao fazer a avaliação antropométrica da criança (Steinbeck, 2001; Twisk, 2001). 1.2.2.7 Fumo O cigarro, além de ser fator de risco para o baixo peso ao nascer, descolamento prematuro da placenta e doenças pulmonares, é um fator de risco importante nas DCV, por diminuir as concentrações sanguíneas de HDL-c (Rabelo, 2001). O convívio com fumantes pode tornar a criança um fumante passivo, por isso deve-se desestimular o hábito do fumar entre os pais e familiares (Gidding, 1999). O exame admissional do primeiro emprego do adolescente ou adulto jovem pode ser aproveitado como uma estratégia para evitar o hábito de fumar e proibir o cigarro. Pois está havendo uma tendência nas instituições públicas e privadas para o impedimento do uso do cigarro no ambiente de trabalho (Williams et al., 2002). 33 1.2.3 Fatores de Risco não-modificáveis para as Doenças Cardiovasculares 1.2.3.1 Herança Genética A anamnese detalhada da história patológica familiar revela a suscetibilidade genética para o desenvolvimento de DAC. As dislipidemias dentre os fatores genéticos são as mais estudadas (Moura et al., 2000; Perez et al., 2000; Zielinsky et al., 1997). 1.2.3.2 Idade e Sexo Os riscos para as DCV crescem com a idade sendo que a cada dez anos há uma possibilidade de aumentar em 2,5 vezes a mortalidade por essas doenças. A magnitude dos fatores de risco e a ocorrência de manifestações clínicas aparecem mais tardiamente em mulheres do que em homens (Rabelo, 2001). Com base no estudo de Bogalusa Heart, Berenson e colaboradores (1998) observaram que há um aumento significativo nos níveis de LDL-c e uma diminuição nos níveis de HDL-c em meninos, durante a adolescência e pós-adolescência, enquanto nas meninas essas variações são pequenas. Assim, os homens jovens apresentam, fisiologicamente, uma relação LDLc/HDL-c desfavorável (Rabelo, 2001). CAPÍTULO 2 34 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Detectar a presença de fatores de risco para as doenças cardiovasculares na população escolar de cinco a nove anos atendida no Centro de Saúde Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP/FIOCRUZ). 2.2 Objetivos Específicos Descrever na população estudada no que diz respeito a: prevalência de sobrepeso e obesidade; hábito alimentar; hábitos de vida correlacionados com os fatores de risco para as doenças cardiovasculares; prevalência da prática de atividade física; níveis tensóricos da pressão arterial; perfil lipídico; prevalência da glicemia. Examinar a associação do perfil nutricional e lipídico, da pressão arterial, das morbidades familiares, da atividade física e do tabagismo com o estado nutricional. 35 CAPÍTULO 3 3. MÉTODOS 3.1 Tipo do Estudo Este estudo foi transversal e descritivo. 3.2 População do estudo Esta pesquisa foi realizada no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), departamento da Escola a Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP) pertencente à Fundação Oswaldo Cruz, do Ministério da Saúde. O Serviço de Informação e Informática (SEDIS) do CSEGSF projetou para o ano de 2003 um total de 1.150 crianças atendidas em um período de 5 meses, na faixa de idade de 5 a 9 anos. A partir de então, de acordo com o número projetado, calculou-se uma amostra de 352 crianças, considerando um erro de estimação para a prevalência da obesidade de 5% e para dislipidemia de 3% , com confiabilidade de 95% (Kishl, 1995). Foram incluídas no estudo crianças com idades de 5 a 9 anos e 11 meses, de ambos os sexos e pré-púberes. Os critérios de exclusão foram as crianças da faixa etária do estudo, porém já púberes segundo critério de Tanner, que avalia a maturação sexual. 3.3 Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora no período de fevereiro a julho de 2004, totalizando 26 semanas. Foram estudadas 356 crianças utilizando-se questionário (Anexo 3) e pesquisa ao prontuário para resgatar dados socioeconômicos não atendidos nas entrevistas. 36 A seleção das crianças ocorreu no atendimento da triagem e nos agendamentos dos profissionais de psicologia, fonoaudiologia, odontologia, dermatologia, pediatria e na vacina. O modelo seguido foi o de amostra aleatória sistemática, com uma média diária de três atendimentos. O processo de seleção no atendimento às crianças deu-se da seguinte maneira: na sala de espera, de acordo com a metodologia, três ou mais cartões de identificação foram retirados de uma das caixas, a que se referiu ao grupo etário de crianças de dois a 11 anos, para o atendimento do dia. Quando a criança selecionada não esteve dentro da idade do estudo (entre dois e quatro anos e 11 meses e maior que 9 anos e 11 meses) ela foi substituída pelo cartão subseqüente sucessivamente até aparecer criança da idade do estudo. Após seleção, a criança e o responsável foram levados para a sala de pré-consulta do módulo da mulher. O termo de consentimento livre e esclarecido foi lido para os responsáveis e explicados os objetivos da pesquisa. Após a leitura, o responsável que quis participar assinou o termo e recebeu uma cópia do documento. A pesquisadora, então, iniciou a pesquisa. 3.4 Antropometria 3.4.1 Dados Antropométricos Os parâmetros antropométricos foram o peso, a altura e as dobras cutâneas triciptal e subescapular. Todas as medidas foram realizadas três vezes e os valores considerados foram as médias das aferições. O peso foi obtido em balança digital modelo Filizola, com capacidade de 150Kg e variação de 0,1Kg, e a estatura em régua antropométrica modelo Sanny de 200cm, 37 sensibilidade de 1 mm presa à parede. Os equipamentos ficaram na sala de pré-consulta, no módulo da mulher do Centro de Saúde. Todas as crianças foram pesadas descalças, com roupas leves. A altura foi medida com a criança colocada na posição ereta encostada na régua antropométrica, com a cabeça ajustada ao plano de Frankfurt. A avaliação nutricional foi feita utilizando-se o índice de peso/altura, referência do National Center for Health Statistics (NCHS, 1977), adotando-se os pontos de corte de ≤ 2 escore-z (baixo peso), - 2 -1 escore-z (risco baixo peso), -1 +1 escore-z (adequado) +1 +2 escore-z (risco de sobrepeso) e ≥ +2 escore-z (sobrepeso). Outro índice empregado foi o de estatura/idade, utilizando-se a mesma população de referência e os seguintes pontos de corte que diagnostica em -2DP baixo peso e + 2DP sobrepeso no índice peso/estatura e 2DP baixa estatura no índice estatura/idade (Engstrom el al., 2002). 3.4.2 Dobras Cutâneas As dobras cutâneas triciptal e subescapular foram aferidas de acordo das normas proposta por Lohman (1989), em adipômentro modelo Cescorf, com precisão de 1mm. A dobra triciptal foi medida com a criança em pé, no braço direito, no ponto médio do braço entre o ponto acromial da escápula e o olecrano da ulna. A dobra subescapular foi medida em um ponto localizado imediatamente abaixo do ângulo inferior da escápula direita, com o ombro e o braço da criança relaxados. As equações preditivas propostas por Slaughter (1988) foram utilizadas para o cálculo da massa de gordura corporal e classificação do percentual de gordura corporal, pois levam em consideração a etnia, a idade e o gênero. Pré- púberes 38 ∑ dobras triciptal + subescapular > 35 mm meninos : % de gordura = 0,783 (∑das dobras) + 1,6 meninas: % de gordura = 0,546 (∑ das dobras) +9,7 ∑ dobras triciptal + subescapular < 35 mm meninos : % de gordura = 1,21 (∑ das dobras) – 0,008 (∑ das dobras)² + FC meninas: % de gordura = 1,33 (∑ das dobras) – 0,013 (∑ das dobras)² - 2,5 FC (fator de correção) = meninos pré-púberes: -3,2 (não-brancos) e -1,7 (brancos) 3.5 Maturação Sexual Para avaliar a maturação sexual das crianças que poderiam estar púberes utilizaramse as pranchas de Tanner com o procedimento pelo método da auto-avaliação, em que a criança se avaliou junto com o responsável e com a ajuda da pesquisadora. 3.6 Inquérito Alimentar O questionário de freqüência alimentar (QFA) (Sichieri, 1998) utilizado em população adulta foi pré-testado em 54 crianças, correspondente a 15% da população estudada – conforme critério de Willet (Fonseca, 1996) –, com o objetivo de se adequar aos hábitos alimentares do grupo a ser estudado. Os alimentos que foram acrescentados depois do pré-teste foram: grupo dos hidratos de carbono – aveia, neston, mucilon; cachorro-quente, misto-quente, sanduíche de hambúrguer; grupo dos açúcares e doces – biscoitos recheados, picolés, chicletes, doces cremosos, caldo de cana, mel/melado, guaraná natural; grupo das carnes – frango frito, carne frita, carne de hambúrguer; produtos industrializados – adoçante, produtos diet, produtos light, temperos ketchup, caldo knorr; grupo de bebidas – água de coco. E 39 retirados: inhame cará; cebola, alho, pimentão, carne de boi com osso, camarão, outras bebidas alcoólicas. O QFA foi utilizado para observar hábitos alimentares e alimentos com teor de colesterol e de gorduras hidrogenadas ou saturadas na sua composição, usados por essa população estudada. Os alimentos foram agrupados de acordo com a pirâmide alimentar brasileira (Philipp, 1996). O recordatório de 24 horas foi realizado com o responsável da criança e utilizou-se o “Livro de Registro Fotográfico para Inquéritos Dietéticos” (Zabotto et al., 1996) para auxiliar o procedimento. Foi verificada a média de ingestão diária de calorias, carboidratos, proteínas, lipídios, ácidos graxos saturados, poliinsaturados, monossaturados e colesterol por meio do recordatório de 24 horas nessa população. O programa Nutwin serviu para o cálculo dos nutrientes e calorias e o programa Epi Info versão 6.4 para realizar o banco de dados da freqüência alimentar. Todas as etapas da entrevista foram realizadas na sala de espera, no período que antecedia a consulta. O tempo gasto para a coleta de dados de cada criança foi em torno de 40 a 50 minutos. Todos os procedimentos foram desempenhados pela pesquisadora exceto da pressão arterial e dos exames bioquímicos. 3.7 Aferição da Pressão Arterial A pressão arterial foi medida três vezes, com esfignomanômetro marca DB e manguito adequado para a idade, com intervalo de meio minuto entre cada medida, pelas duas técnicas de enfermagem responsáveis pela pré-consulta do atendimento à criança. A criança foi colocada sentada, em cadeira à frente da mesa do consultório da pediatria, com o braço direito estendido sobre a mesa e o manguito colocado na posição que 40 ocupava 2/3 do braço. O valor considerado foi a média das três medidas. Crianças que apresentaram pressão sistólica ou diastólica acima do percentil 95 foram encaminhadas para consulta de pediatria e de nutrição e feita nova medição. O critério de normalidade foi o do American Heart Association (AHA), que considera normal a pressão sistólica ou diastólica abaixo do percentil 95 para altura, sexo e idade em população americana de referência (William et al., 2000). 3.8 Avaliação Bioquímica A coleta do sangue foi feita no laboratório do CSEGSF, com pessoal técnico especializado, seguindo-se as normas para esse procedimento. O responsável recebeu, na entrevista, o pedido de solicitação do exame. Foi orientado a trazer a criança ao laboratório nas quartas, quintas ou sextas-feiras, sabendo que ela deveria permanecer em jejum de 12 horas até o momento da coleta. Por problemas técnicos no laboratório do CSEGSF, os exames foram analisados no setor de bioquímica do laboratório do Hospital Evandro Chagas (HEC). Os exames de Col-T, HDL-c, TG e glicemia foram realizados pelo método enzimático, e os valores de normalidade para a faixa etária do estudo foram definidos pelo National Cholesterol Education Program and National Institute Health (NCEP, 2001) em: aumento leve de col-T (171 mg/dl a 184 mg/dl), moderado (185 mg/dl a 199 mg/dl) e grave (> 200 mg/dl). O TG foi considerado normal até 100 mg/dl. O HDL-c igual ou maior que 40 mg/dl foi considerado desejável para as crianças. O ponto de corte da LDL-c foi considerado normal (< que 110 mg/dl), moderado (110 mg/dl a 129 mg/dl) e elevado (≥ 130 mg/dl). O valor da glicemia considerado normal foi entre 70 mg/dl a 110 mg/dl. O cálculo do LDL-c foi obtido pela fórmula de Friedewald e Fredrickson (1967) (LDL-c = Col-T [HDL+TG/5]). 41 3.9 Atividades Físicas e Sedentárias Foram consideradas atividades físicas as brincadeiras: pique, pular amarelinha, pular corda, correr, brincar de pipa, andar de bicicleta, dançar, capoeira, jogar futebol, basquete, vôlei, nadar. Elas são avaliadas como atividades aeróbicas que estimulam o condicionamento cardiovascular. E as atividades sedentárias consideradas foram: assistir televisão , jogar videogame/computador (anexo 3). Para se observar o tempo gasto nas atividades de brincadeiras nos últimos 6 meses, cada tempo de freqüência diária de brincadeira foi transformada para minutos. Os resultados obtidos foram somados e modificados para horas. Assim, foi criada uma variável chamada atividade física. O mesmo procedimento ocorreu para as atividades de assistir televisão e jogar videogame/computador, formando-se também uma outra variável denominada atividade sedentária. Dessa forma pôde-se verificar o tempo gasto das crianças em atividades de brincadeiras e atividades sedentárias. 3.10 Análise Estatística As variáveis foram armazenadas e analisadas no Epi Info versão 6.04 e no programa estatístico R. Utilizou-se o teste T de Student e o Qui-quadrado para estimar a significância estatística das associações estudadas. Quando as tabelas não permitiam o cálculo do Quiquadrado por apresentarem pequenos números, utilizou-se um algoritmo de simulação de Monte Carlo para estimar o valor de p. O nível de significância de p foi considerado em ≤ 0,05. 3.11 Considerações Éticas 42 O projeto e o termo de consentimento livre e esclarecido foram submetidos ao Comitê de Ética e Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca e do Instituto Fernandes Figueira, sendo aprovado pelo CEP-IFF/FIOCRUZ sob o número 001/04, em 12/01/2004. Nesse estudo não houve evidências de riscos ou danos para os entrevistados/pacientes e/ou benefícios para a pesquisadora. O sigilo e a confiabilidade das informações coletadas foram preservados, assim como a identidade do responsável pela criança. Os participantes receberam uma cópia do termo de consentimento (Anexo 2) e puderam fazer quaisquer perguntas antes, durante e depois da pesquisa, com direito a se recusar a participar – desistir da participação a qualquer momento –, sem que o atendimento à criança no CSEGSF fosse prejudicado ou impedido. A medição da pressão arterial e da coleta de sangue poderia trazer desconforto para a criança, mas eles foram realizados por profissionais técnicos do CSEGSF, responsáveis e treinados para esse procedimento dentro das técnicas estabelecidas. As crianças que apresentaram situação de risco nas variáveis coletadas foram encaminhadas para intervenção nutricional ou clínica com os profissionais do Centro de Saúde ou de outra instituição referendada. O material com os dados ficaram sob a guarda da pesquisadora. 43 CAPÍTULO 4 4. RESULTADOS 4.1 Perdas Das 356 entrevistas feitas houve perdas na variável peso de nascimento, da pressão arterial, das dobras cutâneas e nas variáveis produzidas por meio de exames laboratoriais (anexo 1). 4.2 Características das variáveis do grupo que fez ou não os exames bioquímicos O exame de sangue foi feito em 231 crianças e os resultados mostraram que não houve diferença estatística significante na maioria das variáveis analisadas de quem fez ou não o exame (Tabelas 1 e 2). Houve diferença estatística significante apenas em quatro variáveis: a composição familiar da criança, a história familiar de hipercolesterolemia, maior renda per capita e posse de telefone Tabela 1 – Comparação das características das variáveis contínuas do grupo que fez ou não exame bioquímico Crianças com exame bioquímico Crianças sem exame bioquímico N = 231 N = 125 Idade (a) Média DP Média DP p- valor 6,81 ± 1,29 6,83 ± 1,22 0,8642 44 Peso nascimento (g) 3207 ± 625,87 3114,4 ± 534,05 0,8763 Horas TV e vídeo (h) 2,87 ± 2,36 3,13 ± 2,46 0,3451 Horas brincadeiras 2,62 ± 2,68 2,56 ± 3,03 0,8334 Tabela 2 – Comparação das variáveis categóricas entre o grupo que fez ou não os exames bioquímicos Crianças com exames bioquímicos N = 231 N Sexo Feminino Masculino Cor Branco Não-branco Composição familiar Pai e mãe Mãe e avó Só mãe Mãe e padrasto Sem pai e mãe Escolaridade da mãe Fundamental incompleto Fundamental completo Médio Superior Não-alfabetizada Ignorada Doença crônica na criança Sim Não Hipercolesterolemia familiar Alguém Ninguém Ignorado Hipertensão arterial familiar Alguém Ninguém Ignorado AVC familiar Alguém Ninguém Ignorado Infarto do miocárdio na família Alguém % Crianças sem exames bioquímicos N = 125 N % p- valor 122 109 52,8 47,2 72 53 57,6 42,4 0,4054 72 159 31,2 68,8 38 87 30,4 69,6 0,9763 138 11 38 25 19 59,7 4,8 16,5 10,8 8,2 48 12 30 18 17 38,4 9,6 24,0 14,4 13,6 0,0035 74 100 47 2 7 1 32,0 43,3 20,3 0,9 3,0 0,4 52 48 21 0 3 3 41,6 38,4 16,8 0,0 2,4 2,4 0,24 47 184 20,3 79,7 23 102 18,4 81,6 0,6911 112 17 102 48,5 7,4 44,2 37 12 76 29,6 9,6 60,8 0,00259 186 4 41 80,5 1,7 17,7 90 4 31 72,0 3,2 24,8 0,1711 85 50 96 36,8 21,6 41,6 36 23 66 28,8 18,4 52,8 0,1228 48 20,8 25 20,0 0,2204 45 Crianças com exames bioquímicos N = 231 Ninguém 66 Ignorado 117 Crianças com exames bioquímicos N = 231 N Morte súbita Alguém 33 Ninguém 140 Ignorado 58 Excesso de peso na família Alguém 143 Ninguém 62 Ignorado 26 Diabetes Alguém 103 Ninguém 24 Ignorado 85 Fumo perto da criança Sim 93 Não 138 Peso/Estatura Risco baixo peso 23 Adequado 160 Risco sobrepeso 24 Sobrepeso 24 Ter telefone Sim 175 Não 56 Renda per capita < R$ 100,00 91 R$ 100,00 a R$ 200,00 89 > R$ 200,00 51 Comer assistindo TV Sim 99 Não 132 Respondente Mãe 184 Pai 6 28,6 50,6 Crianças sem exames bioquímicos N = 125 26 20,8 74 59,2 % Crianças sem exames bioquímicos N = 125 N % 14,3 60,6 25,1 17 67 41 13,6 53,6 32,8 0,2956 61,9 26,8 11,3 68 43 14 54,4 34,4 11,2 0,3099 44,6 10,3 36,8 48 43 53 38,4 34,4 42,4 0,4956 40,3 59,7 59 66 47,2 52,8 0,2496 10,0 69,3 10,4 10,4 20 86 5 14 16,0 68,8 4,0 11,2 0,2236 75,8 24,2 77 48 61,6 38,4 0,005513 39,4 38,5 22,1 67 43 15 53,6 34,4 12,0 0,01423 42,9 57,1 63 62 50,4 49,6 0,2103 79,7 2,6 94 2 75,2 1,6 0,4034 46 Avó Padrasto Irmão Outros Horário da escola Manhã Tarde Dia inteiro Não estuda 28 1 7 5 12,1 0,4 3,0 2,2 12 3 2 12 9,6 2,4 1,6 9,6 115 74 35 7 49,8 32,0 15,2 3,0 60 36 27 2 48,0 28,8 21,6 1,6 0,6098 4.3 Características socioeconômicas e demográficas do grupo estudado Foram avaliadas 356 crianças com média de idade de 6,8 ± 1,2 anos, sendo 54,3% do sexo feminino e 45,7% do sexo masculino. As entrevistas foram realizadas com os responsáveis, os quais 78% eram mães, 11,5% avós, 2,0% pais, 1,0% padrastos, 2,5% irmãos e 5,0% outros. Com relação à raça observou-se que 69,1% das crianças eram não-brancas (56,7% pardos, 9,6% negros, 2,8% indígenas) e 30,9% brancas. A média de peso ao nascer foi de 3.178 g ± 598g. O baixo peso ao nascer foi encontrado em 7% das meninas e 5,6% dos meninos. O número de pessoas convivendo na casa da criança foi em média de 4,7 ± 1,6, sendo que 89,6% das crianças possuíam mãe, 55,6% pai e 12,6% padrasto morando no domicílio. A presença da mãe e da avó foi constatada em 6,4%; e crianças morando só com a mãe, em 19,1% e sem pai e mãe, em 7% das famílias. Dessas crianças, 87,6% moravam em casa própria, 71% das famílias possuíam telefone e 13,2% carro. A escola pública foi freqüentada por 90% e a particular por 7,5% , sendo que 2,5% estavam fora da escola. Do grupo, 49% estudavam no horário da manhã, 31% à tarde e 17,4% o dia inteiro. Foi também relatada a inserção de 2% de crianças em atividades informais de trabalho. 47 Ao analisar o grau de escolaridade dos pais observou-se que 2,8% das mães não foram alfabetizadas, 35,5% possuíam o ensino fundamental incompleto, 41,5% o ensino fundamental completo e 18,5% o ensino médio. Com relação aos pais observou-se 6,5% de não-alfabetizados, 29,2% possuíam ensino fundamental incompleto, 33% ensino fundamental completo, 12,3 ensino médio e 0,2% ensino superior Considerando 16% de ignorados, casos esses fossem distribuídos igualmente entre todas as categorias 75,4% teriam o ensino fundamental completo (Tabela 3). A média da renda per capita encontrada foi de R$ 128,42, sendo que 44,4% estavam abaixo de R$ 100,00, 37% entre R$ 100,00 e R$ 200,00 e 18,5% acima de R$ 200,00. E a variação da renda mensal foi de zero a R$ 3.350,00. Tabela 3 – Características socioeconômica e demográfica de crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF – fevereiro a julho, 2004 Variáveis Respondente da criança Mãe Avós Pai e padrasto Irmãos outros Sexo Feminino Masculino Cor Não branco Branco Peso de nascimento adequado baixo peso s/informação Constituição Familiar Pai e mãe Mãe e avó Só mãe Mãe e padrasto Sem pai e mãe Outros Número de pessoas no domicílio ≤4 >4 Moradia Própria Telefone no domicílio Carro N % 278 40 12 9 17 78,0 11,3 3,4 2,5 4,7 193 163 54,3 45,7 246 110 69,1 30,9 298 45 13 83,7 12,6 3,8 187 23 68 43 25 10 52,5 6,4 19,1 12,0 7,0 3,0 173 183 48,6 51,4 309 253 37 86,7 71,0 13,2 48 Renda per capita < 100 101 a 200 >200 Escolaridade do pai * fundamental incompleto fundamental completo médio superior não-alfabetizado ignorado Escolaridade da mãe fundamental incompleto fundamental completo médio superior não-alfabetizada ignorada Tipo de escola Pública Particular Fora da escola Horário na escola Manhã Tarde Dia inteiro 158 132 66 44,4 37,1 18,5 104 118 44 8 23 59 29,2 33,1 12,3 2,3 6,5 16,6 126 148 66 2 10 4 35,5 41,5 18,5 0,6 2,8 1,1 320 27 9 90,0 7,5 2,5 175 110 62 49,0 31,0 17,4 * excluindo os ignorados, a distribuição da escolaridade do pai concentra em 74,7% do ensino fundamental. 4.3.1 Relação entre escolaridade da mãe e renda familiar das crianças atendidas no CSEGSF Observou-se que a mediana de renda aumentou por grupo de escolaridade, ainda que o intervalo de confiança em torno da mediana de cada grupo incluiu-se a mediana do seguinte. 49 Gráfico 1 – Relação entre escolaridade da mãe e renda familiar das crianças atendidas no CSEGSF – fevereiro a julho, 2004 4.4 Fatores de Risco Familiares para as Doenças Cardiovasculares Nas famílias da população do estudo foi referida a presença de 77,5% de hipertensão arterial, 42,5% de diabetes mellitus, 59,2% de excesso de peso, 41,8% de hipercolesterolemia, 20,5% de infarto agudo do miocárdio (IAM), 33,9% de acidente vascular cerebral (AVC), 13,8% de morte súbita e 8,4% de hipertrigliceridemia. A presença de fumante na casa perto das crianças foi de 42,7% (Tabela 4). Tabela 4 – Presença dos Fatores de Risco Cardiovasculares Familiares das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF - fevereiro a julho, 2004 Presença de Fator de Risco familiar Alguém ninguém ignorado N % N % N % Hipertensão arterial 276 77,5 8 2,3 72 20,2 Hipercolesterolemia 149 41,8 29 8,2 178 50,0 50 Diabetes 151 42,4 67 18,8 138 38,8 Excesso de peso 211 59,3 105 29,5 40 11,3 IAM 212 34,0 73 20,5 162 45,5 AVC 73 20,5 92 25,8 191 53,7 Hipertrigliceridemia 30 8,4 16 4,5 310 87,1 Morte súbita 49 13,8 208 58,4 99 27,8 Fumo 152 42,7 204 57,3 0 0 Observou-se também a presença de doença crônica na criança, em que 19,7% dos casos referendaram: bronquite 70,0%, sinusite 4,3% , cardiopatia 4,3%, problemas emocionais 17,2%, colesterol alto 1,4%; arritmia cardíaca 1,4% e anemia 1,4%. Houve também o relato de uma criança, com taquicardia, que fazia uso de beta-bloqueador, a qual apresentou alteração no perfil lipídico e uma criança com hipercolesterolemia que não fez o exame de sangue. O uso de bebida alcoólica apareceu em 48,5% de pessoas convivendo com a criança e em 27,5% convivendo com pessoas que bebiam e fumavam concomitantemente. 4.5 Estado Nutricional das Crianças atendidas no CSEGSF – ano 2004 Ao realizar a avaliação nutricional antropométrica, segundo peso/estatura, diagnosticou-se que 69,1% das crianças apresentaram peso adequado, 10,7% sobrepeso, 8,1% risco de sobrepeso, 1,4% baixo peso, 10,7% risco de baixo peso. Para melhor análise estatística, o grupo de risco de sobrepeso foi incorporado ao peso adequado e o grupo do baixo peso ao risco de baixo peso. Crianças em déficit de crescimento estavam na ordem de 4,5% dessa população (Tabela 5). 51 Tabela 5 – Estado nutricional das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 Estatura/idade P/E Adequado Risco de Baixa Estatura Baixa Estatura N % N Adequado 214 60,1 12 Risco de baixo peso 34 9,6 Sobrepeso 36 Total 284 % Total N % N % 3,4 49 13,7 275 77,2 3 0,8 6 1,7 43 12,1 10,1 1 0,3 1 0,3 38 10,7 79,8 16 4,5 56 15,7 356 100,0 χ² p-value = 0,02683 As tabelas 5A e 5B mostram os dois índices do estado nutricional segundo o sexo. Observou-se que não houve diferenças nas prevalências dos índices peso/estatura e estatura/idade entre meninas e meninos. Tabela 5A – Estado nutricional por sexo segundo índice peso/estatura(P/E) das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 Peso/ Estatura 52 Feminino masculino total N % N % N Adequado 144 74,6 131 80,4 275 Risco de baixo peso 27 14,0 16 9,8 43 Sobrepeso 22 11,4 16 9,8 38 Total 193 100,0 163 100,0 356 χ² p-value = 0,3944 Tabela 5B – Estado nutricional por sexo segundo índice estatura/idade das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 Estatura/Idade feminino masculino total N % N % N Adequada 153 79,3 126 77,3 279 Baixa estatura 6 3,1 10 6,2 16 Risco de baixa estatura 32 16,6 24 14,7 56 Estatura alta 2 1,0 3 1,8 5 Total 193 100.0 163 100,0 356 χ² p-value = 0,5045 4.6 Relação do percentual de gordura corporal com o estado nutricional por antropometria Ao associar o percentual de gordura corporal ao índice peso/estatura observou-se que 62,3% das crianças (5 com peso adequado e 23 com sobrepeso) apresentaram grau de adiposidade acima da taxa de normalidade para sexo e idade segundo equação de Slaughter, caracterizando aumento da adiposidade corporal. Assim, das crianças que apresentaram 53 sobrepeso, 60,5% possuíam também aumento da adiposidade, caracterizando obesidade (Tabela 6), que correspondeu a 6,5% do total de crianças do estudo. Tabela 6 – % da gordura corporal segundo estado nutricional (P/E) das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 % de gordura corporal N = 355 P/E Adequado Adequado Risco baixo peso sobrepeso Baixo Alto Total N % N % N % 104 38,0 165 60,2 5 1,8 1 2,3 42 97,7 0 0 13 34,2 2 5,3 23 60,5 χ² p value = <0,00001 4.7 Associação do estado nutricional com os Fatores de Risco Cardiovasculares 4.7.1 Associação do estado nutricional com os níveis de pressão arterial A análise bivariada foi utilizada nas associações dos fatores de risco e índice de peso/estatura. A média de pressão sistólica foi de 90.46 ± 9.71mmHg e a diastólica de 59.10 ±9.25 mmHg no grupo. A prevalência de hipertensão arterial ocorreu em 3,4% do grupo. Nas crianças com sobrepeso foram encontrados 15,7% com pressão arterial sistólica ou diastólica acima 54 do percentil 95 e entre as crianças com peso adequado foram encontrados 2,2% com alteração de pressão arterial e com significância estatística ( p= 0,0015) (Tabela 7). Tabela 7 - Níveis de pressão arterial segundo estado nutricional das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 P/E Adequada Pressão arterial N = 353 Elevada Sobrepeso N 32 % 84,3 N 6 % 15,7 total 38 Risco de baixo peso 43 100,0 0 0 43 Adequado 266 97,8 6 2,2 272 χ² p valor = 0,0015 4.7.2 Associação do estado nutricional e tabagismo perto da criança A presença de algum fumante morando no domicílio, com a criança não foi estatisticamente significativa, ainda que mais da metade de cada grupo nutricional estivesse exposto a esse fator de risco, sendo o grupo do sobrepeso o mais notório (65,7%). Tabela 8 – Tabagismo perto da criança segundo estado nutricional das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 Fumo P/E N = 356 Sim Sobrepeso Risco de baixo peso Não Total N % N % total 25 65,8 13 34,2 38 21 48,9 22 51,1 43 55 Adequado 158 57,4 117 42,6 275 χ² p valor = 0,3041 4.7.3 Associação com estado nutricional e atividades sedentárias e físicas O tempo médio que as crianças fizeram atividades sedentárias foi de 3,04 ± 2,42 horas diárias, com variação máxima de 16 horas. Observou-se que 25% dessa população gastava até uma hora em atividade sedentária, 50% em até três horas e que os últimos 25%, que corresponde ao quarto quartil, levaram mais de cinco horas nessas atividades diariamente. O tempo gasto em exercício físico, nas brincadeiras, foi de até 27 minutos em 25% no grupo, até uma hora e meia em 50%, e mais de três horas e 36 minutos nos últimos 25% do grupo, correspondendo ao quarto quartil dessa população, com tempo máximo de 17 horas diárias, tendo uma média de 2,59 ± 2,91 horas diárias. Crianças com sobrepeso foram as que tiveram mais tempo de atividades sedentárias (26,3%), e menos tempo em atividades de brincadeiras ativas. Crianças com peso adequado foram as que levaram mais tempo nas atividades físicas, 36,0% (Tabelas 9 e 10), mas sem significância estatística. Tabela 9 – Tempo diário de atividades sedentárias das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF segundo estado nutricional fevereiro a julho, 2004 Atividade sedentária N = 356 total P/E Adequado Até 1 hora + 1 hora até 3 + 3 horas até 5 horas horas + 5 horas N % N % N % N % 79 28,7 80 29,1 65 23,7 51 18,5 275 56 Risco baixo peso 13 30,2 12 27,9 13 30,3 5 11,6 43 sobrepeso 7 18,4 12 31,6 9 23,6 10 26,4 38 χ² p valor = 0,60 Tabela 10 – Tempo diário de atividades físicas das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF segundo estado nutricional. fevereiro a julho, 2004 Atividade física N = 356 P/E Até 1 hora + 1 hora até + 1 e 1/2 hora 1 e ½ horas até 3 horas + 3 horas Total n % n % n % n % n Adequado 101 36,7 27 9,8 48 17,5 99 36,0 275 Risco baixo peso 16 37,3 4 9,3 12 27,9 11 25,5 43 sobrepeso 19 50,0 6 15,8 7 18,4 6 15,8 38 χ² p valor = 0,12 4.7.4 Associação do Estado Nutricional com a Presença dos Fatores de Risco Cardiovascular Familiares A presença de hipertensão arterial familiar apresentou alta prevalência em todos os grupos, mas sem significância estatística. A presença de excesso de peso familiar foi estatisticamente significativa (p = 0,009) nas famílias das crianças com sobrepeso, 89,4%, e maior que 50% nos outros grupos. A presença do IAM familiar foi mais prevalente nas crianças com peso adequado, 21,5%, e também estatisticamente significativa (p = 0,029). 57 Tabela 11 – Presença dos fatores de risco cardiovascular familiar segundo estado nutricional das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 Risco familiar Hipercolesterol. c/ignorado s/ignorado Hipert.arterial c/ignorado s/ignorado Excesso peso c/ ignorado s/ignorado Fumo Diabetes c/ignorado s/ ignorado AVC c/ ignorado s/ignorado IAM c/ignorado s/ignorado Morte súbita c/ignorado s/ignorado Hipertriglicerid. c/ignorado s/ignorado alguém N % 107 38,9 251 91,2 209 76,0 268 97,4 154 56,0 188 68,4 117 42,5 117 42,5 228 82,9 94 34,2 224 81,5 59 21,5 209 76,0 41 14,9 115 41,8 21 7,6 264 96,3 Adequado ninguém N % 24 8,7 24 8,8 7 2,5 7 2,6 87 31,6 87 31,6 158 57,5 47 17,0 47 18,1 51 8,5 51 18,5 66 24,0 66 24,0 160 58,2 160 58,2 10 3,7 10 3,7 ignorado N % 144 52,3 59 21,5 34 12,4 111 40,4 130 47,3 150 54,5 74 26,9 244 88,7 - Peso/estatura Risco baixo peso alguém ninguém ignorado N % N % N % 19 44,2 3 7,0 21 48,8 40 93,0 3 7,0 34 79,0 1 2,4 8 18,6 42 97,6 1 2,4 23 53,5 16 37,3 4 9,2 27 62,8 16 37,2 22 51,2 21 48,8 -20 46,5 9 20,9 14 32,6 34 79,1 9 20,9 12 27,9 11 25,5 20 46,6 32 74,5 11 25,5 8 18,6 10 23,2 25 58,2 33 76,8 10 23,2 4 9,3 25 58,2 14 32,5 18 41,8 25 58,2 2 4,6 3 7,0 38 88,4 40 93,0 3 7,0 - alguém N % 23 60,5 36 94,7 33 86,9 38 100 34 89,4 36 94,7 13 34,2 14 36,9 27 71,1 15 39,5 27 71,0 6 15,8 22 57,9 4 10,6 15 39,5 7 18,4 35 92,1 Sobrepeso ninguém N % 2 5,3 2 5,3 0 0 0 0 2 5,3 2 5,3 25 65,8 11 28,9 11 28,9 11 28,9 11 28,9 16 42,1 16 42,1 23 60,5 23 60,5 3 7,9 3 7,9 ignorado N % 13 34,2 5 13,1 2 5,3 13 34,2 12 31,6 16 42,1 11 28,9 28 73,7 - P valor 0,325 0,750 0,733 0,850 0,009 0,001 0,304 0,276 0,200 0,173 0,224 0,029 0,052 0,930 0,951 0,161 0,380 58 4.7.5 Relação entre o número de fatores de risco cardiovasculares familiares e o estado nutricional das crianças Gráfico 2 -Relação entre número de fatores de risco cardiovasculares familiares e estado nutricional das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF – fevereiro- julho, 2004 Ao se observar o número de casos com morbidade familiar, viu-se que não houve diferença significativa no número de fatores de risco familiares entre crianças em risco de baixo peso e peso adequado. Já as crianças com sobrepeso apresentaram a mediana dos fatores de risco significativamente acima das demais. 4.7.6 Perfil bioquímico das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% glicose colesterol Alterado LDL HDL triglicerideo Normal Gráfico 3 – Perfil bioquímico das crianças de 5 a 9 anos de idade atendidas no CSEGSF – fevereiro a julho, 2004 O exame de sangue foi feito em 65% das crianças. As prevalências encontradas foram: 0,8% de hiperglicemia, 43,8% de hipercolesterolemia, 39,8% de LDL-c acima da taxa de normalidade, 19,0% de HDL abaixo do normal e 13,0% de hipertrigliceridemia (Gráfico 3). 4.7.7 Associação do estado nutricional com o perfil dos lipídeos séricos A média do perfil lipídico do grupo estudado foi a seguinte: Col-T 176,68 mg/dl ± 34,39 mg/dl; HDL-c 52,30 mg/dl ± 14,58 mg/dl; LDL-c 102,47 mg/dl ± 32,79 mg/dl e triglicerídeo 67,74 mg/dl ± 30,31 mg/dl. A Tabela 12 apresenta a relação entre o perfil lipídico e o estado nutricional. Verificou-se que as crianças com sobrepeso apresentaram maiores prevalências de hipercolesterolemia, 62,5%, mas as eutróficas ou/e com peso baixo também tiveram altas prevalências 43,4%, sendo estatisticamente significativa (p = 0,0068) com o estado nutricional. A LDL-c alterada foi mais prevalente nas crianças com sobrepeso (58,3%), porém também foi alta nas crianças em risco de baixo peso, 43,4%, e nas de peso adequado, 36,9%, mas sem significância estatística. A HDL-c esteve em níveis abaixo da normalidade em 33,3% de crianças com sobrepeso e em 21,7% de crianças com risco de baixo peso e também sem significância estatística. A hipertrigliceridemia foi prevalente no grupo de crianças com sobrepeso 33,3%, e os dois outros grupos nutricionais mantiveram prevalências semelhantes de 13,0%, com significância estatística (p = 0,0145). A hiperlipidemia mista foi observada em 6,9% do grupo com maior prevalência em crianças com sobrepeso, 25,0%, e estatisticamente significativa (p = 0,007). A associação do HDL-c diminuído com as alterações do LDL-c e/ou TG foi de 1,3%, sendo 12,5% em crianças com sobrepeso e estatisticamente significativa (p = < 0,00001). Tabela 12 – Perfil lipídico das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF segundo estado nutricional fevereiro a julho, 2004 Risco de baixo peso N 23 Adequado Sobrepeso Total N 184 N 24 231 P valor N % N % N % N % Col-T adequado 13 56,5 108 58,6 9 37,5 130 56,3 Leve 7 30,4 25 13,5 3 12,5 35 15,2 Moderado 2 8,7 25 13,5 5 20,8 32 13,9 grave 1 4,3 26 14,1 7 29,2 34 14,7 Hipercolesterolemia total LDL-c adequado 10 43,4 76 41,1 15 62,5 101 43,8 13 56,5 116 63,0 10 41,7 139 60,2 moderado 7 30,4 37 20,1 5 20,8 49 21,2 elevado 3 13,0 31 16,8 9 37,5 43 18,6 LDL-c alterado 10 43,4 68 36,9 14 58,3 92 39,8 HDL-c adequado 18 78,3 153 83,2 16 66,7 187 80,9 Baixo 5 21,7 31 16,8 8 33,3 44 19,0 TG adequado 20 87,0 165 89,7 16 66,7 201 87,0 3 13,0 19 10,3 8 33,3 30 13,0 Alto Colt-c /TG Adequado Hiperlipidemia mista 22 95,7 175 95,1 18 75,0 215 93,1 1 4,3 9 4,9 6 25,0 16 6,9 0,0068 0,082 0,1465 0,014 0,007 HDLc/TG/ LDL-c adequado alterado 23 100,0 184 100,0 21 87,5 228 98,7 0 0 0 0 3 12,5 3 1,3 <0,00001 4.7.8 Associação do perfil lipídico e o hábito de fumar perto das crianças Quanto à associação do perfil lipídico com o hábito de fumar perto da criança não se observaram alterações significantes. (Tabela 13). Tabela 13 – Associação entre e os lipídios séricos das crianças atendidas no CSEGSF e o hábito de fumar pelos familiares perto das crianças – fevereiro a julho, 2004 Perfil lipídico Fumo Não Sim Total Alterado Normal N % 57 44 101 24,7 19,0 43,7 N % Colesterol 81 35,1 49 21,2 130 56,3 Total N P value 138 93 231 0,4428 51,9 35,1 87,0 138 93 231 0,866 56,2 35,5 138 93 0,1639 Triglicerídeo Não Sim Total 18 12 30 7,8 5,2 13,0 120 81 201 Não Sim 8 11 3,5 4,8 130 82 HDL Total 19 8,3 212 91,7 231 50,2 31,2 81,4 138 93 231 LDL Não Sim Total 22 21 43 9,5 9,1 18,6 116 72 188 0,2718 4.8 Hábitos Alimentares 4.8.1 Questionário de freqüência alimentar O QFA mostrou os hábitos alimentares e a freqüência dos alimentos que contêm colesterol e gorduras hidrogenadas e/ou saturadas na sua composição nessa população. A presença do hábito de consumir alimentos junto com a atividade de assistir televisão foi observado em 29,2% das crianças ingerindo biscoitos recheados, 8,5% refeições, 3% frutas, 2% doces e 1,5% pipocas. 100% 3Xdia 60% 2Xdia 40% 1Xdia 20% 2a6vezes Semanal bisc recheados* bisc salgado* salgadinho* batata frita* pizzas/esfiha* Alimentos sanduiches cereais pipoca polenta batata/aipim farinhas macarrão arroz pão forma 0% pão frances Percentuais 80% Quinzenal Mensal Nunca * alimentos com taxas de colesterol/ácidos graxos saturados Gráfico 4 – Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos do grupo dos carboidratos No grupo dos alimentos ricos em carboidratos (produtos de panificação, cereais, raízes, tubérculos e derivados) observou-se que o arroz e o pão francês foram os alimentos mais consumidos diariamente, com 94,4% e 78,7% respectivamente. Dentre os alimentos com gordura hidrogenada/saturada e colesterol (assinalados com asterisco no Gráfico 4), os mais relatados como consumo diário foram os biscoitos recheados, 53,4%, biscoitos salgados,40,4%, batata frita, 10,7%, salgadinho 7,3% e pizza, 2,0%. 100% 3Xdia 60% 2Xdia 40% 1Xdia 20% 2a6vezes Semanal Alimentos refrigerantes guarana nat suco indust caldo cana mel/melado açúcar doces cremosos bolo e doce balas/chicletes bisc doces picole chocolate 0% achocolatados Percentuais 80% Quinzenal Mensal Nunca * alimentos com taxas de colesterol/ácidos graxos saturados Gráfico 5 – Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos do grupo dos açúcares No grupo dos açúcares, a proporção de crianças com a ingestão diária de balas e chicletes foi de 64,0%, sucos industrializados de 53,7%, guaraná natural de 37,9% e refrigerante de 28,7%. O açúcar foi consumido diariamente por 94,7% das crianças. Desse grupo, os alimentos contendo colesterol/gorduras saturadas mais relatados foram achocolatados, 47,5%, doces cremosos,13,2%, e chocolates em barra ,12,6%. 100% 3Xdia 80% Percentuais 2Xdia 60% 1Xdia 2a6vezes 40% Semanal 20% Quinzenal Mensal legumes Alimentos verduras frutas fr cítrica 0% Nunca Gráfico 6 – Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos no grupo das frutas, verduras e legumes Em relação aos vegetais e frutas, a freqüência diária do consumo foi de 33,4% para frutas cítricas e de 36,2% para outras frutas. Verduras e legumes tiveram a mesma freqüência de consumo diário, 16% respectivamente. Percentual de Crianças por Freqüência de Consumo de Alimentos do Grupo das Bebidas 100% 3Xdia 2Xdia Percentuais 80% 1Xdia 60% 2a6vezes 40% Semanal 20% Quinzenal Mensal Bebidas cerveja vinho cafeínas 0% Nunca Gráfico 7 – Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de bebidas Dentre as bebidas, o café foi o mais usado diariamente, com 44,4% de freqüência. Nesse estudo apareceu uso de freqüência diária de cerveja em 0,8% e 0,6% de vinho nas crianças, no relato com os responsáveis. 100% Percentuais 80% 3Xdia 60% 2Xdia 40% 1Xdia 2a6vezes 20% Semanal Alimentos feijão ervilhas sorvete cremoso* iogurtes qj branco qj amarelo* leite desna leite integ* 0% Quinzenal Mensal Nunca *alimentos com taxas de colesterol/ácidos graxos saturados Gráfico 8 – Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos do grupo do leite e das leguminosas Das proteínas, o feijão foi o alimento mais usado, com uma freqüência de consumo diário em 88,8% das crianças. Desse grupo, os alimentos ricos em colesterol/gorduras saturadas mais consumidos diariamente foram o leite integral, 71,3%, queijo amarelo, 6,5% e sorvete cremoso, 8,1%. 100% 3Xdia 2Xdia Percentuais 80% 1Xdia 60% 2a6vezes 40% Semanal Quinzenal 20% Mensal salgados* ovo frito* lingüiça* salsicha* mortadela* porco* peixe lata peixe fresco víscera* carne magra carne frita* carne cozida* hamburguer* frango frito* frango ensopado 0% Alimentos *alimentos com taxas de colesterol/ácidos graxos saturados Gráfico 9 – Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos do grupo das proteínas animais A freqüência percentual de crianças com consumo diário de alimentos ricos em colesterol e gorduras saturadas foi a seguinte: carnes salgadas, 24,4%, ovo frito, 19,9%, mortadela, 18,8%, salsicha 12,6%, lingüiça 9,3%, carne frita, 4,2%, frango frito, 3,9%, hambúrguer, 5,3%, vísceras, 0,6% e carne de porco, 0,3%. Nunca 100% 3Xdia 2Xdia Percentuais 80% 1Xdia 60% 2a6vezes Semanal 40% Quinzenal 20% Mensal Nunca banha oleo/azeite maionese margarina crem margarina creme leite requeijão 0% Alimentos Gráfico 10 – Percentual de crianças atendidas no CSEGSF por freqüência de consumo de alimentos do grupo das gorduras A freqüência de consumo de margarina cremosa/manteiga foi de 84,6% e o de óleo, de 94,7% . A banha apareceu, nessa população, com uma freqüência de 3,1%. Observou-se também o uso diário no consumo de temperos prontos em 75% das crianças. O hábito de adicionar sal nas preparações diariamente foi achado em 21,6% do grupo. Já com produtos dietéticos, tipo diet e light, a prevalência de consumo diário ocorreu em 1,7% e na de adoçante em 5,1% das crianças. No relato das refeições realizadas observou-se que diariamente 93% almoçavam, 81,2% jantavam, 79,8% faziam o desjejum, 33,7% a merenda da escola e 34,6% ceiavam. Constatou-se também que o desjejum não era realizado por 6,5%, lanche da escola por 15,7%, o almoço por 0,8%, o jantar por 3,4% e a ceia por 46,3% das crianças (Tabela 14). Tabela 14 –Freqüência de refeições consumidas das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 Refeições Desjejum N = 356 Almoço N = 356 Jantar N = 356 Ceia N = 356 Merenda na escola N = 356 Merenda N = 356 Diariamente 3 a 6 vezes < de 3 vezes por semana por semana Nunca N % N % N % N % 284 79,8 40 11,2 9 2,5 23 6,5 331 93,0 17 4,8 5 1,4 3 0,8 289 81,2 35 9,8 20 5,6 12 3,4 123 34,6 35 9,8 33 9,3 165 46,3 120 33,7 166 46,6 14 3,9 56 15,7 265 74,4 35 9,8 28 7,9 28 7,9 Quanto ao local no qual foram feitas as refeições foi mencionada a escola, onde 6,7% de crianças fizeram o café da manhã, 3,4% o almoço, 43,3% a merenda e 0,6% o jantar. Foram detectadas também crianças que fizeram refeições duas vezes, usando a escola e sua casa ao mesmo tempo. Encontrou-se 17,7 % fazendo o desjejum, 38,5% o almoço, 15,7% o lanche e 2,8% o jantar, além de crianças levando merenda de casa, 23,6%. Das refeições feitas em casa, o jantar foi a que teve a maior freqüência, com 88,8% de crianças, seguida da merenda, 87,1% , desjejum, 66,3%, almoço, 53,7% e ceia, 51,7% (Tabela 15). Tabela 15 – Relato do local das refeições das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 Refeições Local Café da Almoço Manhã N = 356 Lanche escola Jantar Ceia Lanche N = 355 N = 356 Casa N = 355 N = 356 N = 355 N % N % N % N % N % N % Casa 236 66,3 191 53,7 - - 316 89,0 184 51,7 310 87,3 Escola 24 6,7 12 3,4 154 43,3 2 0,6 - - - - Escola e casa 63 17,7 137 38,5 56 15,7 10 2,8 - - - - Parentes 8 2,2 10 2,8 - - 10 2,8 5 1,4 13 3,7 Outros 2 0,6 3 0,8 - - 5 1,4 2 0,6 4 1,1 Leva merenda de casa - - - - 84 23,6 - - - - - - Não come 23 6,5 3 0,8 56 15,7 12 3,4 165 46,3 28 7,9 Sem informação - - - - 6 1,7 1 0,3 - - 1 0,3 4.8.2 Recordatório de 24 horas Utilizando-se o recordatório de 24 horas de um dia estimou-se a ingestão média de calorias, gorduras monossaturadas, saturadas, polinssaturadas e colesterol desse grupo. Observou-se a média de 7,7% na ingestão de gordura saturada, 8,5% de mufas e 4,4% de gorduras poliinssaturadas. Os lipídios totais alcançaram 28,4% do valor total de energia e o colesterol obteve média de 197,52 mg. A média da ingestão calórica foi de 1.827,71 Kcal (Tabela 16). Tabela 16 – Distribuição dos macronutrientes e dos ácidos graxos das crianças de 5 a 9 anos atendidas no CSEGSF fevereiro a julho, 2004 Energia e nutrientes Média % Ingestão Kcal Mediana DP RDA % Adequação Kcal 1827,71 100,0 Carboidrato (g) 268= 58,6 1693,08 755,65 1800 a 2000 100 251,48 117,57 50 a 60% 100 Proteína (g) 61,23 13,4 56,46 41,12 10 a 15% 116 Lipídio (g) 57,78 28,4 52,04 30,89 20 a 30% 100 Ácido graxo monossaturado (g) 17,43 8,5 14,64 11,62 10% 85 Ácido graxo saturado (g 15,70 7,7 13,49 9,28 7,5 * 103 Ácido graxo polinssaturado (g) 9,03 4,4 7,26 6,78 10% 44 Colesterol (mg) 197,52 - 152,08 150,59 Até 300 mg - * Recomendação do Ministério da Saúde RDA ( Recommended Dietary Allowances) 1989 e 2001 CAPÍTULO 5 5. DISCUSSÃO A epidemiologia é enfática quando evidencia na população a presença das doenças cardiovasculares como a maior causa de morbimortalidade no mundo. Nas últimas décadas, estudos têm sido direcionados para determinar os vários fatores e riscos cardiovasculares de origem hereditária, fisiológica e principalmente ambiental. Este último, caracterizado por mudanças no estilo de vida, como hábitos alimentares, fumo e sedentarismo, tem sido responsável pelo aumento da prevalência das DCNT na população mundial. O Centro de Saúde de Atenção Primária é o espaço que o serviço de saúde utiliza para efetuar as primeiras ações de assistência e prevenção na população. Entretanto, essas ações estão sendo cada vez mais substituídas por terapia medicamentosa, no atendimento à população adulta e idosa, devido ao aumento das DCNT, dentre elas as DCV. Seus desencadeadores, os fatores de risco, são apontados como facilitadores das altas prevalências da obesidade, hipertensão arterial, dislipidemia e do diabetes mellitus tipo II, aumentando assim a morbidade na população adulta e idosa. Na população infantil, a exposição a esses fatores se acumula e acelera silenciosamente o desenvolvimento para as DCV, que geralmente só são diagnosticadas e tratadas na vida adulta. Pesquisas realizadas por Berenson e colaboradores (1998), Deprés (2003) e Lamarche e colaboradores (1998) reforçam o início desse processo na infância, sendo a DAC a mais diretamente associada a tais fatores de risco. Este estudo detectou fatores de risco para a prevenção das DCV na população escolar – residentes na comunidade de Manguinhos, atendida no CSEGSF de Atenção Primária. A maioria das 356 crianças do estudo veio ao posto com as mães, sinalizando a permanência do perfil de mãe cuidadora. Constatou-se nesse modelo tradicional a menor escolaridade da mulher. Entretanto, a estrutura familiar das crianças refletiu mudanças no padrão tradicional com o surgimento da figura do padrasto. E também o aparecimento de estruturas muito afastadas do padrão familiar nuclear, seja sem mãe ou sem pai. Esse perfil está de acordo com o descrito por Minayo e Souza (1993), em que a morte por violência está relacionada aos grupos sociais desfavorecidos, principalmente os compostos por moradores de favelas, dentre elas a de Manguinhos. As famílias, com um número médio de 4,7 pessoas, sobreviviam com dois salários mínimos em média, tendo uma renda per capita média de R$ 128,42, em que 44,4% apresentaram renda per capita menor que R$ 100,00. Essa renda aumentou de acordo com a elevação do grau de escolaridade. Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – Dieese (2004) mostrou o valor da cesta básica no Rio de Janeiro no mês de março de 2004 – R$ 158,57 –, correspondente a 71,5% do salário mínimo vigente à época. Alguns pesquisadores afirmam que os grupos populacionais de renda e escolaridade baixas estão mais vulneráveis aos fatores de riscos ambientais, elevando consideravelmente a prevalência para as doenças cardiovasculares (Drewnowski et al., 2004; Monteiro, 2004; Sawaya et al., 2003). A prevalência de moradia própria (86,7%) indica que não há gasto com aluguel e há estabilidade com relação ao local de residência. O telefone (celular e fixo) indica a grande penetração da telecomunicação na região. A presença de crianças fora da escola (2,5%) em uma região que disponibiliza quatro instituições de ensino público para atender à demanda desse grupo etário é preocupante, pois aponta que as políticas públicas de educação não apresentam estratégias para resgatar e fiscalizar essas crianças. A ‘instituição saúde’ torna-se responsável para solucionar essas questões que aparecem rotineiramente nos atendimentos e que vão influenciar na prevenção, no diagnóstico e na intervenção da saúde da criança. Entretanto, o artigo 227 da Constituição Federal dispõe: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” A expressão concreta do compromisso do Estado, como promotor dos direitos infanto-juvenis, está prevista também no artigo 227, ao dispor que... “o Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não-governamentais...” “Esta assistência é reafirmada no artigo 203, que prevê a sua prestação a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, com ênfase no amparo às crianças e adolescentes carentes.” A OMS (2004), focalizando a promoção da saúde, faz da intersetorialidade, da integralidade e da autonomia aplicada ao indivíduo e à sociedade um referencial para a reorientação dos serviços de saúde. Assim, este estudo, ao investigar os fatores de risco cardiovasculares do adulto na população infantil descobriu seus problemas sociais, econômicos e educacionais A avaliação nutricional antropométrica é um procedimento de grande valor para detecção de fator de risco para DCV, ao diagnosticar os indivíduos que poderão estar em risco ou com obesidade. Após relacionar o índice peso/estatura com o percentual de gordura corporal através da fórmula de Slaughter, que usa a prega subescapular e triciptal para predizer a adiposidade do corpo, levando em consideração o sexo e a raça, estimou-se que 62,3% de crianças estavam com aumento de excesso de adiposidade corporal, sendo que algumas tinham peso adequado (Tabela 6). Também não foi encontrado aumento da adiposidade em algumas crianças com sobrepeso. Isto mostra que o índice de peso/estatura não distingue o peso da massa magra e da massa gorda, como o método de Slaughter, que mede a composição corporal. A OMS recomenda o uso de três parâmetros antropométricos para definir obesidade. Na associação do peso/estatura e a prega subescapular e triciptal, notou-se aquelas crianças com aumento de adiposidade, 60,5 % estavam também com sobrepeso. A equação de Slaughter usa as duas dobras cutâneas, sensíveis para risco cardiovascular. É junto com o peso/estatura, uma ferramenta para estimar a massa de gordura em crianças. Entretanto, em artigos recentes, Cameron e colaboradores (2004), Parker e colaboradores (2004) e Dezenberg e colaboradores (1999) demonstraram que a equação de Slaughter subestima o percentual de gordura corporal em crianças pré-púberes, e que para melhor verificação da gordura corporal as pregas triciptal, subescapular, supra-ilíaca da coxa e da panturrilha seriam mais indicadas para predizer a adiposidade corporal. No entanto, Fagundes e colaboradores (2004), documentam o contrário em relação à massa corporal de gordura, quando analisam crianças indígenas pela equação de Slaughter. Giugliano e Melo (2004) também confirmam a validade da equação de Slaughter para o diagnóstico de obesidade em escolares entre 6 a 10 anos. Devido a falta de consenso na literatura quanto a que medida e que pontos de corte utilizar na definição de obesidade nessa faixa etária (Cole et al., 2000; CDC, 2000; Soares, 2003), optou-se neste trabalho por usar a classificação do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), conforme já mencionado na metodologia. A prevalência de sobrepeso, 10,7%, encontrada neste estudo confirma a tendência do aumento excesso de peso que está ocorrendo também nessa faixa de idade da população de baixa renda. Este resultado é mais alto que o estudo realizado por Anjos e colaboradores. (2003) em escolares no município do Rio de Janeiro, em que a prevalência de sobrepeso em crianças menores de 10 anos foi de 6,3% e de 7,7% em meninos e meninas, respectivamente. Este dado é preocupante porque a obesidade é o maior fator de risco para as DCV e o terceiro preditor da DAC de acordo com os estudos epidemiológicos em crianças e adolescentes (Berenson et al., 1998; Freedman et al., 1999). Dentre as doenças crônicas a bronquite foi a mais prevalente. Porém nenhuma fazia uso rotineiro de medicação que pudesse interferir no resultado do estudo. Esse fato confirma que a área de Manguinhos é reconhecida como de alto grau de poluição do ar ambiental da região. A criança com hipercolesterolemia não fez o exame de sangue e uma criança que fazia uso de betabloqueador apresentou hipercolesterolemia. Nesse caso não podemos afirmar se foi a droga ou os fatores de risco que influenciaram no resultado do exame. Apesar da alta prevalência da história familiar positiva para os fatores de risco cardiovasculares encontrada neste estudo, os resultados seriam bem maiores do que o estimado porque grande número de respondentes ignoraram tal informação. Ainda que o NCEP recomende que todos os indivíduos que desconheçam esses dados sejam considerados com história positiva, o desconhecimento desses fatores de risco foi mantido para evitar transposições culturais não-justificadas (Tabela 11). Neste estudo observou-se a presença de história familiar positiva para mais de um fator de risco para as DCV (Tabela 11) e foi estatisticamente significativo (p = 0,009) com o peso familiar nas crianças com sobrepeso, 89,4% e para o IAM familiar (p-0,029) em crianças com peso adequado, 21,5%. Cabe ressaltar que o acúmulo de fatores de risco aumenta a morbimortalidade para as DCV. Estudos nacionais realizados por Coronelli e Moura (2003) e Zielinsky (1997) mostraram prevalências menores de história familiar positiva para fatores de risco cardiovasculares, 38,3%, em crianças de 6 a 16 anos e de 49,4% em escolares de 7 a 10 anos. É importante observar que os padrões comportamentais familiares são transmitidos de pais para filhos. E este ambiente sócio cultural pode ser um desencadeador para as doenças cardiovasculares. Pois um estilo de vida com hábitos alimentares inadequados, sedentarismo, tabagismo. aumentam o desenvolvimento das DCV e reforçam a predisposição genética familiar para a doença. A presença do fumo no ambiente familiar também foi um fator de risco presente. O cigarro, além de influenciar o comportamento da criança, criando o hábito de fumar, favorece modificações do perfil lipídico, apesar de não ter sido estatisticamente significante neste estudo. A literatura descreve estratégias para desestimular o uso de cigarro pelos familiares das crianças (Harrell et al., 1998; Paradis et al., 1999). O papel do profissional de saúde, segundo Williams e colaboradores (2002), é importante e seu silêncio pode ser interpretado como ausência de risco à saúde da criança. As atividades sedentárias também são associadas positivamente ao aumento dos fatores de risco cardiovasculares e foram muito freqüentes neste estudo, em que e o quarto quartil permaneceu mais de cinco horas nessas atividades. Vários pesquisadores também evidenciaram o aumento do sedentarismo quando observaram que o tempo gasto por crianças assistindo televisão aumentou de duas para quatro horas (Kohl et al., 2000; Nicklas et al., 2001; Reilly e McDowell, 2002; Steinbeck, 2001). Nas crianças com sobrepeso encontrou-se maior tempo de atividades sedentárias. Tal resultado está de acordo com outros estudos que relacionam o aumento da obesidade infantil ao tempo gasto assistindo TV, jogando no videogame e em computadores (Nicholson, 2000; Paradis et al., 1999; Reilly et al., 2003; Sorof et al., 2002; Taddei et al., 1993). Nas atividades ligadas a brincadeiras observou-se menor gasto de tempo em crianças com sobrepeso e maior tempo em crianças com peso adequado, porém os resultados não tiveram significância estatística (Tabela 10). A criança nessa fase de idade, ao substituir e diminuir o período de brincadeiras ativas por atividades sedentárias, em sua rotina diária, poderá favorecer o aparecimento de fatores de risco cardiovasculares (aumento da obesidade e do LDL e ou diminuição do HDL) e ainda contribui para o mau condicionamento cardiovascular (Abbott et al., 2002, Reilly et al., 2002; Steinbeck, 2001; Willliams et al., 2002). A média da pressão sistólica e diastólica encontrada no grupo foi menor que a obtida em estudos nacionais realizados por Coronelli (2003) e Zielinsky e Gerber (1997). A presença de hipertensão arterial foi estatisticamente significante na associação com o estado nutricional, reforçando que o sobrepeso é um marcador de hipertensão arterial. Com relação à ingestão de sódio notou-se, em 21,6% dos casos, o hábito de adicionar sal sobre os alimentos durante as refeições. Nas crianças com sobrepeso este fato foi encontrado com maior freqüência. O hábito de acrescentar sal nos alimentos preparados leva ao aumento da ingestão de sódio. Por isso, a OMS recomenda o consumo de no máximo seis gramas de sal por dia, pois esse micronutriente está associado positivamente à hipertensão arterial. Os exames bioquímicos de sangue foram realizados por 65% da população do estudo. Estratégias como o uso insistente do telefone e o auxílio dos agentes de saúde do CSEGSF e do Programa da Saúde da Família (PSF) foram usadas para resgatar as perdas. Dentre as 23 variáveis analisadas, a comparação entre o grupo de crianças que fez ou não as dosagens sanguíneas difere significativamente em apenas quatro: famílias com estrutura tradicional, mostrando que a composição familiar da criança sem exame indica estrutura instável; as de maior renda per capita, as que tinham telefone e as com presença de morbidade familiar para colesterol alto apresentaram maior adesão aos exames. Ainda que esta perda possa introduzir viés, e a única forma de ter certeza é não ter perda, acreditamos que os resultados representam uma avaliação importante do problema da dislipidemia na área, como também os outros fatores de risco terem sido todos analisados. Ao analisar os resultados dos exames de sangue do grupo estudado observou-se 0,8% de prevalência de hiperglicemia. Essas crianças não apresentaram sobrepeso, ao contrário dos estudos de Deesi e Molnar (2003), Lipton e colaboradores (2002) e Srinivasan e colaboradores (2003), Pescador e colaboradores (2001) que relacionaram a síndrome de resistência à insulina em crianças com obesidade. O peso de nascimento dessas crianças esteve no padrão de normalidade, não havendo associação da hiperglicemia com baixo peso de nascimento, divergindo de Hofman et al (1997) e Newsome at al.,(2003) que estudaram associação da desnutrição intra-uterina com intolerância à glicose. A alteração do perfil lipídico (aumento do Col-T e do TG) foi estatisticamente significante associado ao estado nutricional (Tabela 12), com maior prevalência para o sobrepeso. Isso está de acordo com os estudos epidemiológicos que mostraram a obesidade como o carreador dos fatores de risco cardiovascular, inclusive a dislipidemia (Harrel et.al.1998, Gillum, 1999). A hipercolesterolemia ocorreu em quase metade do grupo, 43,8% sendo 15,2% leve, 13,9% moderada e 14,7% grave. Entretanto, notou-se que a hiperlipidemia esteve presente em outros estados nutricionais. Este fato é relevante porque muitas vezes passa desapercebida por profissionais menos sensibilizados aos fatores de risco cardiovasculares. Como a dislipidemia pode evoluir até a idade adulta, isto agrava sobremaneira o quadro aterosclerótico. A LDL é a lipoproteína mais valorizada no diagnóstico de DCV, porque seu aumento na concentração plasmática, junto com o aumento do TG, favorece o aparecimento da síndrome plurimetabólica e da DAC. O aumento do LDL-c isolada – o maior preditor de DAC – ocorreu em 39,8%, ou seja, quase três vezes mais que no estudo de Bogalusa, uma coorte de 9.167 crianças de cinco a 17 anos, entre 1973 a 1994, no estado de Louisiana, nos Estados Unidos, que encontrou a prevalência de LDL-c alterado em 11%. O estudo de Romaldini e colaboradores (2004), em crianças e adolescentes com história familiar de doença arterial coronariana prematura, observou prevalência menor, 7,3%. No grupo de sobrepeso encontrou-se uma prevalência de 58,3%, também maior que o encontrado no estudo de Bogalusa. Nas crianças com risco de baixo peso a prevalência de 43,4% também foi maior que os dados referendados por Freedman e colaboradores (1999), no mesmo grupo nutricional. Em relação ao triglicerídeo, houve associação significativa para o índice peso/estatura (p = 0,01). No grupo de risco de baixo peso, a prevalência de 13% esteve mais uma vez acima do estudo de Bogalusa (1973-1994), de 5%, e de Romaldini e colaboradores (2004), com 12,8%. Isto mostra mais uma vez que se deve estar alerta para a presença de fatores de risco para DCV, independentemente do estado nutricional, porque a dislipidemia é a patogênese mais encontrada para as DCV – a aterosclerose. O aumento do triglicerídeo é importante para as DCV porque de acordo com Lamarche e colaboradores (1998) e Scarsella e Deprés (2003) resultam em hiperlipidemia pós-prandial que acompanha a concentração de lipoproteína β, que está diretamente associada à lipoproteína aterogênica. O diagnóstico de hiperlipidemia mista tem no colesterol e no triglicerídeo as referências de alterações concomitantes no perfil lipídico. Este estudo detectou 6,9% de crianças com tal alteração e com significância estatística (p = 0,007) associada ao estado nutricional. O grupo com sobrepeso apresentou esse fator de risco 3,2 vezes mais elevado, ratificando os estudos feitos por Forti e colaboradores (1996), Freedman e colaboradores (1999) e por Romaldini e colaboradores (2004). A associação do HDL-c baixo com as alterações do LDL-c e TG encontradas no grupo foram de 1,3%, com prevalência 12,5 % no grupo de sobrepeso e com alta significância estatística (p ≤ 0,0001). de Nesta pesquisa a diminuição do nível da HDL-c (19%), apesar de não ter tido significância estatística, foi três vezes maior que no estudo de Bogalusa (1973-1994), de Romaldini e colaboradores (2004) e de Zielinsky e Gerber (1997). De acordo com Lamarche e colaboradores (1998), a elevação do LDL-c e do TG e a diminuição do HDL-c no plasma sanguíneo aumenta em 20 vezes o desenvolvimento de enfermidade coronariana. Esse resultado, então, chama a atenção da gravidade do quadro, uma vez que existe a tendência de sua manutenção na idade adulta. A transição nutricional foi um marco para a mudança de hábitos alimentares na população. Por isso a observação de como a população do estudo se alimentou foi relevante, em razão da influência da alimentação e da insegurança alimentar para a saúde cardiovascular. Ao analisar os resultados, notou-se grande freqüência no consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas, hidrogenadas e trans. No grupo dos carboidratos – base da pirâmide –, o pão francês deixou de ser usado diariamente por 9,3% para ser substituído pelo pão de forma simples, que contém gordura hidrogenada em sua composição. Houve também grande freqüência relacionada ao consumo de batatas fritas, salgadinhos, pizzas e de biscoitos salgados. O biscoito recheado foi exacerbadamente utilizado, como pode ser observado no QFA (prevalência de 53,9% no consumo diário e de 90% na freqüência semanal) e no relato do recordatório de 24 horas. Verificou-se o uso de pacotes inteiros, a qualquer hora do dia, substituindo refeições, e durante o período de se assistir televisão, 29,2%. De acordo com Chiara e colaboradores (2003), Lichtenstein (2003), Sanders e colaboradores (2003) e De Roos e colaboradores (2003), os ácidos graxos trans encontrados nos alimentos que contêm gorduras hidrogenadas aumentam a LDL-c, estando associados ao aumento das doenças cardiovasculares. No Brasil, a dosagem das gorduras trans nos rótulos dos alimentos ainda não se tornou obrigatória. O Ministério da Saúde e a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) lançaram, em outubro de 2004, a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO). Ela traz a composição de vários nutrientes, inclusive das gorduras trans, o que favorecerá a rotulagem dos alimentos que contenham tal substância. Por não ter sido analisada a gordura trans neste estudo é interessante a continuidade do estudo do seu consumo da freqüência alimentar, a fim de melhor visualizar esse efeito na saúde das crianças atendidas. No grupo dos açúcares, a ingestão de achocolatados e de doces cremosos também foi alta, tendo mais da metade do grupo feito uso diário. Nota-se aqui, também, a elevada freqüência de consumo de balas/chicletes, de sucos industrializados, 53,7% – dentre as três bebidas envolvidas no estudo, a mais consumida –, guaraná natural e refrigerante. Estudos de Harnak e colaboradores (1999) apontaram aumento do consumo de bebidas industrializadas no grupo de adolescentes e crianças norte-americanas. Tais líquidos, ricos em açúcares simples, têm associação positiva com o aumento da ingestão calórica e do triglicerídeo (Lamarche, 1998; Scarela e Deprés, 2003). O Guia Alimentar da População Brasileira publicação do Ministério da Saúde (2004), recomenda que a quantidade de consumo de alimentos tipo bolos, biscoitos, chocolates, doces de confeitaria e refrigerantes sejam diminuídos, pois sua ingestão favorece o aumento da obesidade e suas conseqüências. As verduras, legumes e frutas foram utilizadas diariamente por menos da metade da população estudada. De acordo com Nicklas e colaboradores (2001), Nicholson (2000), Paradis e colaboradores (1999) e Williams e colaboradores (2002), esse grupo alimentar, fonte de fibras e vitaminas, com função antioxidante, protege o endotélio vascular da agressão produzida pela LDL-c. A OMS (2003), recomenda que no mínimo 7% das calorias ingeridas diariamente sejam desse grupo de alimentos. A OMS/OPAS (2003), no contexto da promoção da alimentação saudável, criaram estratégias mundiais para melhoria dos fatores de risco cardiovasculares na população. Elas recomendam o uso de verduras, legumes e frutas diariamente na alimentação. No Rio de Janeiro existe um movimento da sociedade civil – denominado Programa ‘Cinco ao Dia’ –, de instituições públicas, agricultores e de empresários para estimular a alimentação saudável na população, através do consumo diário de verduras, frutas e legumes. No recordatório de 24 horas houve muitos relatos de frutas e legumes/verduras no almoço da escola. Tal fato merece destaque porque em geral, nessa fase, a criança se alimenta de acordo com os hábitos familiares e com o ambiente em que vive. A escola, portanto, é um agente facilitador na criação e manutenção do hábito alimentar saudável. Estimular e informar as famílias quanto à importância do consumo desses alimentos é uma estratégia de intervenção na saúde da criança e, por conseguinte, da própria família (Borys e Lafay, 2000) No grupo das leguminosas, a freqüência relacionada ao hábito diário de comer feijão com arroz apareceu em 88,8% dos casos. Tal combinação alimentar típica da cultura brasileira é considerada bastante saudável. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2004, revelaram estar esse hábito mais presente na população de menor renda. Em relação ao consumo de carnes (boi e frango cozido ou assado, além de peixe), menos de 10% das crianças as usou diariamente. O hambúrguer, o frango frito e a carne frita apareceram com mais freqüência. Todavia, as carnes salgadas e as embutidas (lingüiças, salsichas e mortadelas), juntamente com o ovo frito tiveram mais de 15% de freqüência diária. A banha, uma gordura animal que desapareceu do hábito alimentar da população brasileira, foi encontrada em 3,1%, indicando que a cultura alimentar também resiste às mudanças. A margarina cremosa da marca “Qualy” foi a mais relatada na freqüência alimentar (84,6%). Já a margarina de consistência dura, com teores mais altos de ácidos graxos trans, teve uma freqüência de menos de 10%. O óleo vegetal também foi muito usado, com cerca de mais de 90% de freqüência diária, fonte de gordura poliinsaturada. Tal fato aponta que a família já está escolhendo alimentos considerados saudáveis na sua alimentação cotidiana. O leite integral é uma fonte de gorduras saturadas, como também de ácidos graxos essenciais, e foi consumido diariamente por 71,3% das crianças. A recomendação norteamericana (Williams et al., 2002) e também do Ministério da Saúde (2004) é a de substituição do leite integral pelo desengordurado em crianças a partir de dois anos de idade portadoras de dislipidemia. Em estudos recentes, Chiara e colaboradores (2003), Sanders e colaboradores (2003) e De Roos e colaboradores (2003) demonstraram as gorduras hidrogenadas/ácidos graxos trans como sendo as principais responsáveis pelo aumento dos riscos cardiovasculares, devido aos efeitos no metabolismo do HDL-c e do LDL-c. Os temperos prontos são preparações utilizadas em substituição aos caseiros que fazem parte da alimentação da população. Trata-se de preparações com altas taxas de cloreto de sódio. Seu relato aconteceu em mais de 75% das crianças do grupo estudado, o que demonstra um hábito alimentar facilitador do aumento da ingestão de sal na alimentação diária. Com relação aos adoçantes, foram usados diariamente por 5,2% das crianças, sendo o consumo de maior freqüência naquelas com sobrepeso, 18,4%. Este produto é utilizado tanto em dietas de redução de peso quanto para diabetes em adultos. Em crianças, seu uso não é o mais indicado, uma vez que a dieta balanceada fornece energia necessária sem necessitar de artifícios químicos. O número de refeições consumidas durante o dia se associa positivamente às DCV, tendo em vista que longos períodos de jejum interferem no metabolismo da insulina e da lípase pós-prandial. Ao verificar os hábitos alimentares referentes às refeições diárias do grupo estudado, o almoço foi o mais relatado 93,0%. Entretanto o jantar foi a que mais apareceu no ambiente familiar 88,8%. Estudo de Gilman e colaboradores (2000) mencionam que as refeições feitas no grupo familiar estão associadas a dietas mais saudáveis. Dado interessante é que menos da metade do grupo merendou diariamente na escola. Porém, como as escolas públicas oferecem almoço, supõe-se que esse mesmo dado tenha ficado subestimado por desinformações dos pais. Entretanto, 23,6% das crianças levaram alimentos oriundos de casa, dentre os quais – conforme relato do recordatório de 24 horas – , os biscoitos tipo salgadinhos e/ou recheados figuram como o de uso mais freqüente e comum entre elas. Isto pode estar contribuindo para o aumento da ingestão de gorduras hidrogenadas/trans/saturadas. Notou-se também crianças fazendo uma mesma refeição em dois lugares diferentes – casa e escola. Esse fato pode ser indicador de uma grande ingestão alimentar, ou de alimentos ingeridos em quantidade insuficiente, em que a criança procuraria complementar sua fome. No entanto, houve omissão de algumas refeições, não tendo 15,7% de crianças merendando na escola. Em um grupo de renda baixa, isto sinaliza o hábito alimentar familiar influenciando a criança, levando-se em conta que a escola pública municipal oferece merendas e/ou refeições balanceadas aos escolares. Gordon e colaboradores (1995) associaram o aumento da obesidade em crianças de baixa renda à introdução do desjejum e do almoço nas escolas públicas norte-americanas. O desjejum, refeição considerada importante para o bom equilíbrio nutricional – por ser a primeira do dia, de acordo com Nicklas e colaboradores (1998) –, não foi feito por 6,5% do grupo. Tal hábito pode estimular a ingestão de alimentos mais disponíveis – e mais baratos –, contendo elevadas taxas de gorduras saturadas/hidrogenadas/trans ou de açúcares simples em sua composição. A média de ingestão calórica desse grupo foi de 1.827 Kcal e esteve dentro da adequação das recomendações das Recommended Dietary Allowances – RDA (1989 e 2001) para esse grupo etário. Entretanto, de acordo com Goran (1997), a recomendação de ingestão calórica para crianças precisa ser revisada, pois a relação dessa ingestão deve ser igual ao gasto energético total, com a finalidade de se tentar reverter a tendência cultural de redução da atividade física. A ingestão média dos ácidos graxos poliinsaturados nesse grupo de crianças foi de 4,4%, enquanto a de ácidos monossaturados foi de 8,5% da ingestão calórica total. Tais médias estiveram abaixo das recomendações do Ministério da Saúde (2004), que estabelece 10% para o consumo. Essas gorduras são consideradas protetoras para as DCV porque não interferem no metabolismo lipídico e não formam placas fibrogordurosas resultantes da agregação plaquetária (Chiaria et al., 2002). Para os ácidos graxos saturados, a recomendação do Ministério da Saúde (2004) é de 7,5%. Neste estudo pôde-se observar a ingestão média de 7,7%. Em relação ao colesterol, a OMS recomenda 100 mg/1.000 Kcal ou 300 mg por dia. Os dados encontrados neste estudo mostraram que a média de ingestão esteve dentro dos padrões de adequação. Todavia o QFA mostrou que esse grupo de crianças está tendendo ao consumo freqüente de alimentos com elevadas taxas de gorduras saturadas/hidrogenadas/trans. O QFA foi o instrumento que melhor detectou o número de alimentos com teores de gorduras saturadas/trans usados pelo grupo. Já o recordatório de 24 horas de um dia confirmou a presença diária de somente alguns alimentos ricos em gorduras saturadas/trans consumidos no estudo. Seria importante que estes dados fossem analisados controlando a associação entre os fatores de risco estudados e o perfil nutricional pelas variáveis socioeconômicas da família, o que deve ser desdobrado futuramente. Entretanto o objetivo mais importante é não só testar uma hipótese já definida, mas descrever dados de uma realidade pouco descrita na literatura. Este estudo mostrou, também crianças com alta prevalência de presença para fatores de risco de doenças cardiovasculares do adulto. Para reversão desse quadro, a adoção de medidas de prevenção é mais eficaz do que qualquer intervenção terapêutica. A compreensão da magnitude dos diversos fatores de risco para as doenças cardiovasculares e sua identificação nas diferentes faixas etárias são essenciais para a elaboração desses planos preventivos e eficientes. CAPÍTULO 6 6.1 CONCLUSÕES Este estudo, ao investigar os fatores de risco cardiovasculares em crianças atendidas no CSEGSF, concluiu que: 1- Os fatores de risco cardiovasculares estão presentes na idade escolar. 2- Existe uma alta prevalência de dislipidemia, independentemente do estado nutricional. 3- Há uma grande prevalência de morbidade familiar para hipertensão arterial e com significância estatística associada ao excesso de peso e ao infarto agudo do miocárdio. 4- A prevalência de sobrepeso foi alta na população estudada. 5- No grupo estudado há uma tendência para a diminuição de atividades físicas e brincadeiras ativas e aumento de atividades sedentárias. 6- A prevalência de hipertensão arterial de crianças com sobrepeso do grupo estudado confirma que a obesidade é um marcador da hipertensão. 7- A prevalência da presença da presença de diabetes mellitus tipo II no grupo foi baixa. 8- A presença de pessoas com hábito de fumar perto de criança não foi estatisticamente significante com o perfil lipídico. 9- Os hábitos alimentares mostraram a presença freqüente de ingestão de alimentos que contêm gorduras saturadas/hidrogenadas/trans no grupo. 6.2 RECOMENDAÇÕES → Os profissionais de saúde precisam de maior conscientização para a promoção da alimentação saudável. → A história familiar de risco cardiovascular deveria fazer parte da anamnese dirigida. → Todas as crianças precisam prevenir as DCV, independentemente do seu estado nutricional. → Os profissionais de saúde precisam discutir qual a melhor rotina para a prevenção de fatores de risco cardiovasculares na criança. → Há necessidade de se fazer um protocolo das DCV nesta faixa de idade. → As instituições de educação e saúde -públicas e privadas- precisam criar estratégias para promoção da saúde e discutir qual a melhor rotina para a prevenção dos fatores de risco cardiovasculares na criança. 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Anexo 1 Perdas das variáveis variáveis N % motivo 13 3,7 Responsável não soube informar, ausência de informação no cartão da criança 02 0,5 Respondente não informar (irmã) Peso de nascimento Renda familiar soube Pregas triciptal e subescapular 01 0,2 Aparelho precisou manutenção e criança retornou para medição de não Pressão arterial 03 0,8 Aparelho precisou manutenção e criança retornou para medição de não Exames laboratoriais 125 35,0 Responsáveis não trouxeram a criança ao laboratório para fazer o exame Anexo 2 MINISTÉRIO DA SAÚDE FIOCRUZ INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA/ CSEGSF PÓS-GRADUAÇÃO DA SAÚDE DA CRIANÇA E DA MULHER Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 1) Sr. responsável: Seu (a) filho (a)____________________________________________________ está sendo convidado para participar da pesquisa Detecção de fatores de risco (obesidade, dislipidemia, hipertensão, diabetes mellitus, sedentarismo, fumo, hábitos alimentares) para a prevenção das doenças cardiovasculares do adulto em crianças na idade escolar atendidas no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria. Seu (a) filho(a) foi selecionado e sua participação não é obrigatória. A qualquer momento você (a) pode desistir e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em relação ao tratamento que seu filho faz no Centro de Saúde. Os objetivos deste estudo são: observar os fatores de risco que interferem para as doenças cardiovasculares que acontecem na vida adulta. A participação do seu (a) filho nesta pesquisa consistirá em: tomada das medidas de peso, altura, dobras cutâneas e pressão arterial. Também se aplicará um questionário de hábitos de vida e inquérito alimentar e realizará exames bioquímicos de colesterol total, colesterol HDL, triglicerídeo e glicose. Os benefícios relacionados com a participação de seu (a) filho são: encaminhamento para atendimento com o profissional de saúde, se observada situação de risco, e intervenção nutricional se necessária. As informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre a participação de seu(sua) filho(a). Sua identidade será preservada. Você receberá uma cópia deste termo, onde consta telefone e local de trabalho do pesquisador, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação agora ou a qualquer momento. ____________________________________ Sueli Rosa Gama (nutricionista do CSEGSF) Declaro que li ou ouvi e entendi os objetivos, riscos e benefícios da participação de meu/minha filho(a) na pesquisa e concordo dele(a) participar. _____________________________________________ assinatura do responsável Telefone: 2598-2525 ramal 2522 – local: CSEGSF – NUTRIÇÃO – sala I Anexo 3 Ministério da Saúde/FIOCRUZ Pós-Graduação da Saúde da Mulher e da Criança (PGSCM) Instituto Fernandes Figueira (IFF) Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF) Questionário para detectar Fatores de Risco de DVC no Escolar atendido no Centro de Saúde Germano Sinval Faria (Anexo 3) Nome:_________________________________________________________________ no questionário____ no do prontuário_________________ Data da entrevista_____________ série __________turno____________ Dados antropométricos e de composição corporal: Peso atual 1º pesagem 2 ª pesagem Kg Kg 3ª pesagem Kg Média Kg Estatura atual 1ª medida m 2ª medida m 3ª medida m Média Pressão arterial 1ª medida mm/hg 2ª medida mm/hg 3ª medida mm/hg Média Mm/hg Prega triciptal 1ª medida mm 2ª medida mm 3ª medida mm Média mm Prega subescapular 2ª medida mm 3ª medida mm Média mm 1ª medida mm Escore z classificação IMC classificação Exames Bioquímicos Glicose plasmática mg/dl Colesterol total mg/dl HDL colesterol mg/dl LDL colesterol mg/dl Triglicerídeo mg/dl Ministério da Saúde FIOCRUZ/ENSP/IFF/CSEGSF Questionário de Avaliação da Saúde do Escolar atendido no CSEGSF para detectar Fatores de Risco de DCV (A ser respondido pelo responsável pela criança) Dados de Identificação Número do questionário:_________ Número do prontuário:_______________ respondente:________ Data da entrevista: ________________ Escola:__________________________________________________________ pública ٱparticular ٱfora da escola ٱ Nome da criança ______________________________________________________________________ Série: ____________ turno: __________ Data de nascimento: ________ idade :_______ peso de nascimento da criança _____________ Sexo: __________cor da criança___________(observação do entrevistador) Endereço:______________________________________________________________ Telefone: ____________________ Criança mora em casa própria? Sim ________não _____________ A família tem carro? Sim _____não ____________ٱ Renda da família:________________ História Familiar e Hábitos de Vida e Saúde: Composição da família: a criança mora com: Número pessoas pai mãe avó avô número pessoas irmã irmão tio tia Outros: quem? Idade da mãe da criança Escolaridade do pai da criança: quantos anos estudou? _________até que série: ___________ Escolaridade da mãe da criança: quantos anos estudou? ________ até que série:____________ Não Na casa da criança existem pessoas que fumam próximo à criança? Na casa da criança existem pessoas que usam bebidas alcoólicas? A criança veio para ser atendida no Motivo: posto A criança tem alguma doença Não Sim crônica Sim Quem? Qual: Entre os irmãos, pais, tios, avôs ou avós da criança existe algum caso de: Não Sim: Quem? Pai Mãe Tios Irmãos Avô avó Não sabe Idade Pressão alta Derrame Infarto miocárdio do Colesterol alto (gordura no sangue) Triglicerídeo alto (gordura no sangue) Diabetes (açúcar no sangue) Excesso de peso /obesidade Morte súbita Avaliação da Atividade Física Marque com um X e responda não Além de estudar, a criança trabalha? A criança domésticas? ajuda nas tarefas não sim Quantos dias por semana? Quantas horas/minutos O que ela faz? ______________ ________ por dia?_________ _____ O que ela faz? Quantos dias por semana? Quantas horas/minutos ________ por dia?________ ______________ _____ Como a criança vai e volta da escola? Andando De bicicleta De carro De ônibus Outro: qual? Se a criança vai e volta andando ou de bicicleta (ela pedalando), quanto tempo gasta por dia (somando a ida e a volta). _______________ minutos/horas Todos dias os 1 a 2 3 a 4 4 a 6 Nunca ou vezes/semana vezes/semana vezes/semana quase nunca A criança assiste TV Quantas horas/minutos a criança assiste televisão por dia? ______________________ horas/minutos A criança costuma comer alguma coisa enquanto assiste TV ou vídeo? Não ٱ Sim ٱque tipos de alimentos?________________________________ Nos últimos 6 meses A criança faz estas atividades? Todos os 1 a 2 vezes dias semana Temp 3 a 4 4 a 6 vezes Nunca por semana ou quase o vezes Min/h nunca semana oras Andar de bicicleta Brincar de pique Pular amarelinha Brincar de pular corda Brincar de correr Brincar de pipa Jogar videogame Dançar Jogar futebol Jogar basquete Jogar vôlei natação Capoeira Outras ( ) Avaliação de Hábitos Alimentares: A criança faz Todos dias estas refeições? Café da manhã Lanche escola Almoço da Lanche Jantar Ceia Local das refeições os 3 a 6 vezes Menos por semana 3vezes semana de Nunca ou local por quase nunca 1- casa 2- na escola (refeitório) 3 na escola (cantina) 4- na escola e em casa 5- escola, mas leva de casa 6- na casa de parentes 7- restaurante, lanchonete 8- outros 9- sem informação Período - últimos 6 meses Freqüência alimentar: (responsável responde) (anexo 3) Alimento Pão francês Pão de forma, pão hambúrguer Arroz Macarrão Farinha (mandioca, milho), farofa Batatas, aipim Pizzas, esfirras Biscoitos salgados Polenta Pipoca cereais integrais( aveia, neston etc.) Sanduíches (cachorro quente, mistoquente, hambúrguer) Biscoitos recheados Nescau, toddy Chocolates em barra, bombons Sorvetes de creme Picolés Biscoitos doces simples Balas, chicletes Bolos, doces Doces cremosos Leite integral Leite desnatado Queijos amarelos Queijos brancos Iogurtes e danones Ervilha, lentilha Feijão Frutas cítricas (limão, laranja, tangerina, acerola etc.) 1 vez 2 a 6 Por dia sema vezes por 1 2 3 ou na sema vez vezes + na vezes 1 vez 2 veze por mês s por mês Nunca ou quase nunca Outras frutas (mamão, banana, manga, maçã, goiaba etc.) Verduras cruas ou cozidas (folhas) e tomate Legumes crus ou cozidos (cenoura, chuchu, vagem etc.) Aves (frango, galinha, ensopados com pele) Aves (frango, galinha etc.) fritas Hambúrguer (carne) Alimento 1 vez Carne de boi (carne assada, moída, com gordura etc.) Carne de boi frita Carne de boi magra (assada, moída) Vísceras (fígado, coração, bucho) Peixe fresco Peixe enlatado (atum, sardinha) Carne de porco (pernil, carré, costeleta) Salgadinhos (empada, coxinha, pastel, quibe) Mortadela, presunto Salsicha Lingüiça, torresmo Ovo ou ovo frito Carnes salgadas (toucinho, paio) Frituras (batata frita, batata chips) Café, mate, chá Sucos industrializados Guaraná natural Refrigerantes comuns Vinho Cerveja, outras bebidas alcoólicas Requeijão Creme de leite Margarina, gordura hidrogenada Manteiga, margarina cremosa Maionese Óleo, azeite Banha Adoçante 1 vez 2 a 6 sema vezes por na 2 3 ou sema vezes + na vezes Por dia 1 vez 2 veze por mês s por mês Nunca ou quase nunca açúcar Mel, melado Caldo de cana Produtos diet Produtos light Água Água de coco Temperos (tipo catchup, knorr etc.) Adiciona sal na comida preparada sim_____ não_______ Nome da criança_____________________________________________________ Recordatório de 24 horas (dia anterior à entrevista) Preparação/alimento Horário Quantidade marca