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Propriedades psicométricas do checklist de relações interpessoais - revisado
PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DO CHECKLIST DE
RELAÇÕES INTERPESSOAIS – REVISADO
Psychometrics properties of the Checklist of Interpersonal
Transactions – Revised
Gleiber Couto1
Luc Vandenberghe2
Antonius Cornelius van Hattum3
Helton Rocha Campos4
Resumo
Nos modelos bidimensionais, o circumplexo refere-se às implicações geométricas em matrizes de correlações nas
quais um grupo de correlações sistematicamente aumenta e outro diminui. Ele pode representar um mapa de vários
traços da personalidade, classificando-lhes lado ao lado, sem impor uma hierarquia. O Círculo Interpessoal de
Kiesler é constituído por dois eixos, Poder e Afiliação, em volta dos quais os comportamentos interpessoais se
agrupam em dezesseis categorias que são diferentes combinações de Dominação-Submissão e de AmabilidadeHostilidade, sendo posições propostas para os padrões de interação. Juntas elas representam todas as
possibilidades de combinar as duas dimensões. O objetivo desse estudo foi explorar as propriedades psicométricas
do CLOIT-R, um inventário de personalidade desenvolvido para avaliar o Círculo de Kiesler. Participaram da
pesquisa 622 estudantes do estado de Minas Gerais e interior de São Paulo. Os alunos foram convidados a participar
e instruídos a responder ao teste. Foi realizada uma análise fatorial exploratória pelo método dos componentes
principais com rotação varimax entre os escores nas dezesseis escalas. Os parâmetros para composição dos fatores
foram eigenvalues iguais ou maiores que um e carga fatorial acima de 0,50. A distribuição das escalas em três fatores
e sua representação no espaço tridimensional indicaram uma ordem circular para as escalas. Os valores observados
para a precisão do instrumento demonstram que tanto o inventário quanto as escalas derivadas apresentaram
adequados índices de precisão. Porém, para as escalas principais, existe a necessidade de mais estudos com
amostras diferentes e procedimentos diferentes de estimação sobre seus itens.
Palavras-chave: Relações interpessoais; Personalidade; Psicometria; Circumplexo; Cloit-r.
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Psicólogo, Doutorando do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Psicologia, Universidade São Francisco, USF. Bolsista CAPES
vinculado ao Laboratório de Avaliação Psicológica e Educacional - LabAPE. Endereço para Correspondência: Universidade São
Francisco, Faculdade de Ciências Humanas, Rua Alexandre Rodrigues Barbosa, 45 – CEP 13251-900, Itatiba-SP. E-mail:
[email protected].
Psicólogo, Doutor em Psicologia pela Université de L’Etat à Liège, ULg, Bélgica. Professor do Programa de Pós-Graduação StrictoSensu em Ciências Ambientais e de Saúde e do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Psicologia, Universidade Católica de
Goiás, UCG – Goiânia, GO.
Biólogo, Mestre em Etologia Humana e Neurobiologia pela Universiteit van Amsterdam – UvA - Amsterdam, Paises Baixos. Professor
do English for Scientists / EnfoS – Belo Horizonte, MG.
Psicólogo, Mestre em Avaliação Psicológica, Universidade São Francisco, USF; Doutorando em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento, Universidade de São Paulo, USP; Professor associado ao Curso de Psicologia das Faculdades Metropolitanas de
Belo Horizonte – FAME – BH.
Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 15-28, out./dez. 2006.
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Gleiber Couto et al.
Abstract
The circumplex in bi-dimensional models, refers to the geometric implications in correlational matrixes in
which one group of correlations systematically increases and another diminishes. It can represent a map of
all personality traces, classifying them side by side, without imposing a hierarchy. Kiesler’s Interpersonal
Circle is constituted by two axis, Power and Affiliation, around which interpersonal behaviors are organized,
forming sixteen categories, each of which represents a different combination of Dominance-Submission and
Friendliness-Hostility, and are meant to capture patterns of interaction. Together they represent all possible
combinations of the two dimensions. The intention of the present study was to explore the psychometric
characteristics of the CLOIT-R, an inventory developed for Kiesler’s Circumplex. 622 students of the state of
Minas Gerais and inland state of São Paulo participated in this study. They were invited to participate and
instructed to fill out the questionnaire. An exploratory factor analysis by principal components with varimax
rotation was conducted on the correlations between the sixteen scales. The parameters composing the factors
were eigenvalues equal or above one and factor load 0,50. The distribution of the scales in three factors and
their distribution in tri-dimensional space indicate a circular order. The values obtained for the precision of
the instrument suggest that both the questionnaire as a whole and the derived scales are adequate. But to
the basic scales for which lower values were obtained warrant additional research with other population
samples and procedures.
Keywords: Interpersonal relations; Personality; Psychometry; Circumplex; Cloit-r.
Introdução
A ordem circular das variáveis em um circumplexo, observada nos modelos bidimensionais,
refere-se às implicações geométricas em matrizes
de correlações nas quais um grupo de correlações
sistematicamente aumenta e outro diminui (Guttman, 1954). Tal estrutura correlacional permite uma
representação geométrica de elementos qualitativamente diferentes numa seqüência determinada
por similaridade ou por grau de correlação. Para
aplicar tal modelo circumplexo, é necessário que
os elementos mostrem entre eles uma forma de
transitividade ordenada (se a > b e b > c , então
a > c). Quando duas dimensões ortogonais se cruzam é possível que a > b segundo uma das dimensões e que b > a segundo a outra. Se a amplitude
das correlações ao longo da matriz passa gradualmente de altas e positivas para altas e negativas,
então a análise fatorial revela uma ordem circular
das variáveis em um plano bidimensional.
Sempre quando uma área específica do
conhecimento pode ser descrita em termos que se
conformam a estes critérios, pode ser feita uma
organização circumplexa de todas as categorias
que constituam esta área, criando assim um mapa
que a representa como um todo (Fischer, 1996).
Plutchik (1996), em sua revisão de literatura, aponta
que nos anos 50 vários trabalhos propuseram que
dois fatores eram suficientes para mapear os traços de personalidade em um plano bidimensional
e que o padrão de distribuição dessas variáveis se
aproxima de um círculo. Uma organização circum16
plexa pode representar um mapa de todos os traços que constituam o universo da personalidade,
classificando-lhes lado ao lado, sem impor uma
hierarquia.
Leary (1957) utilizou as possibilidades
desse modelo para desenvolver uma representação do universo da personalidade como instrumento para poder mapear mudanças na personalidade de pacientes em terapia. Ele escolheu para
organizar os diferentes elementos que compõem a
personalidade dois eixos que representam as duas
dimensões fundamentais das relações interpessoais segundo a teoria de Sullivan (1953), sendo estes: (1) Poder, representando a dicotomia Submissão-Dominância e (2) Afiliação, representando a
dicotomia Amabilidade-Hostilidade. Ele distinguiu
16 setores, sendo categorias propostas para captar
padrões de interação. Juntos estes setores deviam
representar todas as diferentes possibilidades de
combinar as duas dimensões fundamentais. Cada
setor agrupa as atitudes que se caracterizam por
uma certa qualidade (por exemplo: caloroso, ingênuo, rancoroso, etc...). As atitudes são descritas
em dois níveis. O nível de comunicação faz referência ao que potencialmente influencia os outros,
são os comportamentos publicamente observáveis.
O nível intrapsíquico faz referência às descrições
e avaliações que a pessoa faz das próprias atitudes
e de seus determinantes.
Para Leary (1957), a personalidade é a
totalidade dos padrões consistentes das transações que uma pessoa tem com as outras. Essas
transações são as atitudes e suas conseqüências
Psicol. Argum., Curitiba, v. 24, n. 47 p. 15-28, out./dez. 2006.
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interpessoais. Certos padrões de transações se
repetem muito nos relacionamentos interpessoais de uma pessoa em particular. Isto ocorre porque as formas de interagir com outros são mantidas pelos padrões complementares que eles induzem nessas pessoas. Assim o comportamento
amoroso-dominador de uma pessoa induz nas
outras pessoas atitudes amorosas e submissas, que
levam a primeira pessoa a continuar agindo de
forma amorosa e dominadora. E o contrário também seria verdadeiro. Atitudes do quadrante ódiosubmissão induzem reações do quadrante ódiodominação e vice-versa. E quando a interação se
torna rígida, as atitudes de cada um dos interagentes induzem cada vez mais exatamente as atitudes no outro, que induzem ainda mais o primeiro comportamento.
Leary (1957) descreve a personalidade
patológica como caracteriza por: (1) Rigidez, a
pessoa só usa uma variedade muito restrita de
padrões (quanto mais patológica é a personalidade, mais especializada) e (2) Intensidade, as patologias se caracterizam por formas extremas e
exageradas de alguns padrões. Em contraste, a
personalidade saudável se caracteriza pela manifestação das categorias mais apropriadas à situação. Isso não quer dizer que as atitudes devem
estar linearmente de acordo com o ambiente atual. Cada pessoa é de uma certa forma ao menos
levemente “especializada”. Todos usamos padrões
pertencendo a certos setores mais do que outros,
mas uma grande medida de flexibilidade é necessária para se poder falar de uma personalidade saudável. Os sintomas psicológicos surgem
quando a personalidade não é compatível com
situações importantes na vida. Quanto mais rígida e extrema a personalidade, mais provável que
ela não poderá se adequar às exigências de algumas condições interpessoais importantes.
Alguns estudos que exploraram propriedades psicométricas de instrumentos baseados no
modelo circumplexo são encontrados na literatura especializada, por exemplo, Acton e Revelle
(2002) apresentaram os resultados de um estudo
no qual realizaram uma investigação sobre a adequação da estrutura circumplexa de cinco medidas, quais sejam, Interpersonal Checklist (ICL;
Laforge & Suczek, 1955); Interpersonal Adjective
Scales (IAS; Wiggins, 1979); Interpersonal Adjective Scales Revised (IAS-R; Wiggins, Trapnell &
Phillips, 1988); Inventory of Interpersonal Proble-
ms Circumplex Scales (IIP-C; Alden, Wiggins &
Pincus, 1990) e o Inventory of Interpersonal Goals (IIG; Horowitz, Dryer & Krasnoperova, 1997).
Neste estudo foram usados cinco critérios para se demonstrar a estrutura circumplexa, o
teste de Fischer no qual um circumplexo perfeito
pode ser demonstrado quando as variáveis mostram estar eqüidistantes do centro do círculo. O
teste de Gap no qual essa demonstração exige
que as variáveis estejam igualmente distribuídas
entorno da circunferência. O teste da rotação (RT)
no qual o modelo circumplexo é demonstrado
quando o tipo de rotação não faz diferença no
ajuste, por exemplo, quando a rotação varimax,
quartimax, etc. são igualmente boas. O Teste de
Minkkowski (MT) que incorpora uma generalização do método Euclidiano para encontrar uma
distância entre dois pontos, um pequeno valor
no MT indica um circumplexo. E também o teste
de variância (VT) no qual um pequeno valor indica um circumplexo. Os resultados encontrados
por este estudo indicaram que todos os instrumentos mostraram uma estrutura circumplexa.
Gaines Jr. et al. (1997) avaliaram o ajuste
ideal de modelos circumplexos, quasi-circumplexos e não circumplexos de traços interpessoais.
Num primeiro estudo foram usados os dados originais de Wiggins para a Interpersonal Adjective
Scales (IAS) e no segundo estudo foram usados
dados colhidos pela Interpersonal Adjective Scales Revised (IAS-R). Os resultados de ambos os
estudos indicaram que o modelo quasi-circumplexo providencia o melhor ajuste quando comparado com o circumplexo ou não circumplexo.
Gurteman (1996) investigou a validade
de construto para o inventário de problemas interpessoais (IIP), medida baseada no modelo circumplexo, em um contexto de psicoterapia psicodinâmica. Foram separados os grupos de pacientes utilizando os escores nos quatro quadrantes Dominância - Hostilidade, Dominância - Amabilidade, Submissão - Hostilidade e Submissão Amabilidade. Em seguida, os pacientes foram
avaliados pelos seus terapeutas conforme distúrbios da personalidade, funcionamento global e
habilidade para psicoterapia. Em seguida, os pacientes descreveram suas experiências em sessões
de psicoterapia usando o Therapy Session Report
(TSR). Os resultados indicaram que os quatro tipos de problemas apresentaram coerentes agrupamentos de correlações.
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Gleiber Couto et al.
Pincus, Gurtman e Ruiz (1998) avaliaram
a circumplexidade e as relações estruturais entre o
Círculo Interpessoal (CI) e o modelo dos cinco
grandes fatores da personalidade (Big-5). Os escores na Análise Estrutural do Comportamento Social (SASB), Interpersonal Adjective Scales (IAS),
Inventory of Interpersonal Problems Circumplex
Scales (IIP-C) e o NEO Five Factor Inventory (NEOFFI) de uma amostra de 376 adultos estudantes de
psicologia foram relacionados e como resultados
o SASB apresentou uma estrutura elíptica enquanto que o IAS e o IIP-C apresentaram uma estrutura
circumplexa. As relações entre o SASB e o NEOFFI indicaram que elas apresentam relações convergentes em todas as dimensões. Em seguida o
estudo foi replicado em uma amostra de 187 pacientes internados por uma variedade de transtornos mentais. Os resultados indicaram que as relações estruturais entre o SASB e as medidas circumplexas apresentaram a Afiliação como uma
dimensão comum. Enquanto que as relações entre
o SASB e as medidas do Big-5 indicaram que ambas apresentaram relações convergentes em todas
as dimensões.
Kiesler (1983), baseado no trabalho de
Leary (1957), elaborou uma versão própria do círculo interpessoal e inventários para coletar de
maneira padronizada os dados necessários para
preencher o círculo. Os inventários foram revisados em 1987 e denominados Check List of Interpersonal Transactions-Revised (CLOIT-R) são apresentados em três formas, Autoclassificação na qual
o sujeito descreve seu próprio comportamento típico quando está com outras pessoas; forma do
transator, essa versão é usada na situação em que
uma pessoa responde sobre o comportamento de
outra com quem ela se relacionou, chamada Pessoa-Alvo; forma do observador, essa versão é usada por observadores externos que classificam o
comportamento da Pessoa-Alvo depois de observações ao vivo ou apresentadas em vídeo.
O Círculo Interpessoal de Kiesler é constituído por 16 posições interpessoais que são diferentes misturas de Dominação-Submissão e de
Amabilidade-Hostilidade. Suas categorias são rotuladas pelas letras de A a P e distribuídas ao redor da circunferência em um sentido anti-horário.
Cada uma das posições é uma classe prototípica
de atos. A noção “prototípico” significa que não
há uma qualidade definidora que é decisiva para a
inclusão ou exclusão de um certo comportamen-
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to. Se um ato faz parte da classe, depende da similaridade com exemplares típicos da classe. Uma
posição interpessoal é caracterizada por um conjunto de disposições ou atitudes interpessoais.
Diferente do círculo de Leary (1953), não
há lugar para o aspecto intrapsíquico das atitudes
que são definidos em termos objetivamente quantificáveis. Cada posição é compreendida no círculo de Kiesler em termos da soma de freqüências
de atos observáveis. Estas disposições e atitudes
não têm um status explicativo, isto quer dizer que
elas “são” representações de padrões típicos do
comportamento do indivíduo, mas não o explicam. A explicação, nessa concepção, é de que os
padrões de comportamento são o resultado de
aprendizagem social.
Além das 16 posições descritas, outras
são sugeridas a partir da combinação das respostas dos sujeitos. Por exemplo, o número de itens
marcados pelo sujeito forma uma escala específica a NIC (number of items checked), cuja interpretação é uma tendência de respostas ao acaso.
A AIN (average intensity number) é a média de
intensidade de itens marcados num protocolo e
pode ser interpretada como respostas subjetivas
de desejabilidade social ou a intensidade presente em relações particulares. Somando pares de
escalas da direita para a esquerda no círculo, começando pela escala “P” se formam os Octantes
Tradicionais, e começando pela escala “A” se
formam os Octantes não Tradicionais que descrevem padrões mais complexos de comportamentos. Os Quadrantes são combinações das respostas que compõem cada quarto do círculo,
enquanto que combinações de cada metade formam quatro tipos de Hemisférios. Escores dos dois
eixos principais podem ser calculados para descrever detalhadamente interações complexas de
comportamentos típicos, são eles o eixo vertical
de Controle (CTL) e o eixo horizontal de Afiliação (AFL) (Kiesler, Goldston & Schmidt, 1991).
Pesquisas concernindo distúrbios de personalidade usando o Círculo Interpessoal de Kiesler dão apoio à noção da teoria interpessoal, de
que quanto mais patológica é uma personalidade
mais rígida e extrema ela é no uso de uma variedade limitada de categorias de comportamento. Os
distúrbios de personalidade segundo a classificação do DSM - III foram estudados por meio do
círculo de Kiesler e perfis interpessoais podem ser
usados para descrever a patologia da personalida-
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Propriedades psicométricas do checklist de relações interpessoais - revisado
de de um paciente (Kiesler, Vandenburg, Sikes,
Larus & Goldston, 1986).
Um estudo usando o circumplexo na investigação do relacionamento psicoterapêutico
mostrou que muitas vezes terapeuta e cliente se
encontram em posições mais complementares no
início da terapia do que no meio. Os terapeutas
tendem a permitir no início que o estilo do cliente
determine as atitudes deles. Mais tarde, eles parecem desafiar a rigidez do cliente. Ocupando outras posições no círculo, eles evocam atitudes diferentes no cliente. Especificamente o grau de complementariedade entre os atos interpessoais do cliente e do terapeuta no hemisfério hostil do círculo
durante as primeiras sessões está relacionado com
a percepção que o cliente tem da aliança terapêutica. A avaliação da qualidade da aliança terapêutica pelo terapeuta estava relacionada com o grau
de complementariedade no círculo completo (Kiesler e Watkins, 1999).
Kiesler (1991) relata dois estudos realizados nos Estados Unidos, nos quais se verificou
a precisão da forma de Autoclassificação do
CLOIT-R, nestes estudos o autor considerou como
mínimo para demonstrar precisão o valor de 0,50.
Participaram do primeiro estudo 167 estudantes
de graduação e os resultados encontrados foram
coeficientes Alfa para as 16 Escalas Principais que
variaram entre 0,44 e 0,64 com média de 0,55
com somente um coeficiente abaixo de 0,50. O
segundo estudo contou com 196 estudantes de
graduação em dois momentos distintos. Os coeficientes alfa estimados para os Octantes Tradicionais no primeiro momento variaram entre 0,63 e
0,74 com média de 0,72 e para os Octantes não
Tradicionais os coeficientes variaram entre 0,67
e 0,73 com média de 0,70. Daqueles, 126 compareceram para fazer o reteste os resultados dos
coeficientes estimados para os Octantes Tradicionais variaram entre 0,53 e 0,80 com média de
0,72 e para os Octantes não tradicionais 0,65 a
0,75 com média de 0,73.
Tracey e Schneider (1995) avaliaram a
estrutura circular do CLOIT-R em uma amostra
de 219 estudantes universitários que foram solicitados a responder ao CLOIT-R e ao Interpersonal
Adjective Scales (IAS). O critério de circularidade
usado foi que as correlações entre as escalas adjacentes sobre o círculo (por exemplo, B e C, F e
G, etc...) fossem maior que todas as outras correlações entre as escalas alternadas (por exemplo,
B e D, E e G, etc..). Os resultados indicaram um
bom ajuste de todos os escores à estrutura circular tanto para homens quanto para mulheres.
Estes exemplos mostram os potenciais
do modelo circumplexo como instrumento de investigação. Ele se mostrou útil na obtenção de
dados importantes e às vezes surpreendentes em
áreas de pesquisa altamente diferenciadas. Ele é
capaz de captar a personalidade em ação, durante as interações entre pessoas e não se limita à
descrição estática dela. E finalmente, apesar de
ter nascido da teoria interpessoal de Sullivan, ele
não depende dos pressupostos desta teoria para
sua interpretação e por isso pode ser usado por
investigadores com diferentes orientações teóricas que se interessam pelo estudo de trocas interpessoais.
Tendo em vista a larga utilização de instrumentos baseados no modelo circumplexo para
caracterizar um grande espectro de situações de
relacionamento interpessoal, este estudo teve
como objetivo explorar as propriedades psicométricas do CLOIT-R. Foram adotados como referência os critérios mínimos exigidos pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) para demonstrar a qualidade dos instrumentos de medida psicológicos em uso no Brasil. Buscou-se responder
se ele mantém características de qualidade adequadas para ser usado como instrumento de avaliação em uma cultura diferente da qual foi idealizado.
Método
Participantes
Participaram da pesquisa 622 estudantes
do estado de Minas Gerais e interior do estado de
São Paulo com idades variando entre 13 e 65 anos
(M= 19,4 e DP= 7), sendo que nove pessoas não
informaram sua idade. A amostra era composta
por 63% de sujeitos do sexo feminino (393) e 37%
de sujeitos do sexo masculino (229). Na data de
aplicação, 90% dos sujeitos eram solteiros (563) e
10% casados (59). Quanto à escolaridade, 14% estavam cursando a última série do ensino fundamental (86), 20% estavam cursando a primeira série do ensino médio (126), 22% estavam cursando
a segunda série do ensino médio (137), 23% estavam cursando a terceira série do ensino médio
(143) e 21% estavam cursando o segundo e terceiro semestre do ensino superior (127). Com rela-
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ção ao tipo de instituição, 67% estudavam em escolas públicas (416) e 33% estudavam em escolas
particulares (206).
Instrumento
Check List of Interpersonal Transactions –
Revised (CLOIT-R) trata-se de um inventário construído com a finalidade de mapear o comportamento
interpessoal de Pessoas-Alvo. É apresentado em três
formas, Autoclassificação, transator e observador,
cada uma delas deve ser respondida respectivamente, pela Pessoa-Alvo, por uma pessoa que interage
com ela, também chamada de transator e por um
observador que presencia as interações da PessoaAlvo.
Cada inventário contém 96 proposições
que descrevem ações que podem ocorrer em interações entre pessoas, sendo as proposições as mesmas em cada forma, ou seja, apresentam as mesmas ações características de interações interpessoais mudando apenas os pronomes de acordo com a
forma. Na forma de Autoclassificação todas as proposições são iniciadas com a partícula Enquanto
com outros... que fica no alto de cada página. Os
sujeitos são solicitados a ler as proposições e marcar aquelas que descrevem os tipos de interações
mais característicos de sua conduta.
As proposições estão divididas nas 16 escalas bi-dimensionais, a saber, Dominância (A),
Competição (B), Desconfiança (C), Frieza Afetiva
(D), Hostilidade (E), Isolamento (F), Inibição (G),
Insegurança (H), Submissão (I), Deferência (J),
Confiança (K), Calor Afetivo (L), Amigabilidade (M),
Sociabilidade (N), Exibicionismo (O), Segurança
(P). Cada uma delas contém seis proposições que
descrevem relações em dois níveis de intensidade,
três proposições de intensidade moderada que, se
escolhidas, corespondem a um ponto; e outras três
em um nível de extrema intensidade, para as quais
uma marcação recebe dois pontos. O resultado bruto
é obtido somando-se os pontos um ou dois, dependendo do nível de intensidade da proposição para
cada resposta registrada pelo sujeito na folha de
respostas. Cada escala pode receber um escore bruto
que varia entre zero e nove pontos.
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Procedimentos
Nas escolas a coleta ocorreu de forma
coletiva nas salas de aula e levou aproximadamente
uma hora. Os alunos foram convidados a participar da pesquisa e aqueles que concordaram em
participar assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e foram orientados a responder
ao teste seguindo as seguintes instruções:
As páginas seguintes contêm listas de ações
que podem ocorrer em interações entre duas
pessoas. Cada item apresenta descrições alternativas de uma ação. A sua tarefa é marcar
na folha de respostas o número correspondente a cada item caso alguma descrição apresentada por ele corresponda a uma ação tipicamente exibida por você nas suas relações
com outras pessoas. (...)
Para ser marcada a ação deve corresponder a
uma das descrições dentro de um determinado item, deve ter ocorrido pelo menos uma
vez nas suas relações com os outros e deve
também ser julgado por você como típico do
seu jeito de interagir com outros. Se um item
descreve uma ação que não ocorre tipicamente em suas interações com outros, deixe este
item em branco.
Resultados
Para verificar uma evidência de validade
a partir da estrutura interna do instrumento foi realizada a análise fatorial exploratória pelo método
dos componentes principais com rotação varimax
entre os escores nas dezesseis escalas. Os parâmetros para composição dos fatores foram eigenvalues iguais ou maiores que um e carga fatorial acima de 0,50. Como resultado foi encontrado um
KMO de 0,874 e o Teste de Esfericidade de Bartlett’s
apresentou um X2 = 2716,256 (df = 120), ambos
significativos ao nível de 0,0001. Na Tabela 1 pode
ser observado como resultado da análise uma solução em três fatores que após a rotação explicam
55,045% da variância total, cada fator apresentou
um eigenvalue maior que dois.
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Propriedades psicométricas do checklist de relações interpessoais - revisado
Tabela 1: Total de Variância Explicada.
Componentes
Eingenvalues
(%) Variância
(%) Variância Acumulada
1
3,208
20,052
20,052
2
2,897
18,103
38,155
3
2,702
16,890
55,045
Método de Extração: Análise de Componentes Principais. Método de Rotação: Varimax com Normalização Kaiser.
Na Figura 1 pode ser observado o Scree
Plot que indicou a preleção de três fatores principais para o inventário. Pode-se observar que os
fatores antes da rotação apresentam diferenças sig-
nificativas nos coeficientes dos eigenvalues, no
primeiro fator o valor é de 4,757; o segundo fator
2,212 e o terceiro fator 1,838.
Figura 1: Gráfico de sedimentação dos Eigenvalues
A figura 2 apresenta os componentes da
matriz fatorial num espaço tridimensional rotado.
A configuração apresenta as escalas distribuídas
perifericamente, sem nenhuma delas localizada
próximo ao centro, de modo que demonstra uma
circularidade.
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Figura 2: Componentes da matriz no espaço rotado
Na Tabela 2 são apresentadas as cargas
fatoriais para o modelo do CLOIT – R sugerido
pela análise. Como pode ser observado o Fator 1 é
composto pelas escalas Dominância (A), Competição (B), Frieza Afetiva (D), Hostilidade (E), Exibicionismo (O), Segurança (P), este fator é composto por escalas que pertencem ao Hemisfério
Dominância (DOM). O Fator 2 é composto pelas
escalas Desconfiança (C), Isolamento (F), Inibição (G), Insegurança (H), Submissão (I), este fa-
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tor é composto por escalas que pertencem ao Hemisfério Hostilidade (HOS) sendo que as quatro
últimas pertencem ao Quadrante Hostilidade-Submissão (HS). O Fator 3 é formado pelas escalas
Deferência (J), Confiança (K), Calor Afetivo (L),
Amabilidade (M), Sociabilidade (N). Este fator é
composto pelas escalas que pertencem ao Hemisfério Amabilidade (AMI) sendo que as quatro primeiras pertencem ao Quadrante Amabilidade-Submissão (AS).
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Propriedades psicométricas do checklist de relações interpessoais - revisado
Tabela 2: Componentes da matriz (A).
Componentes
1
Dominância (A)
Hostilidade (E)
0,752
0,736
Segurança (P)
Frieza Afetiva (D)
0,690
0,642
Competição (B)
Exibicionismo (O)
0,625
0,602
2
Isolamento (F)
Submissão (I)
0,737
0,728
Insegurança (H)
Inibição (G)
0,720
0,665
Desconfiança (C)
Calor Afetivo (L)
0,571
3
0,809
Amabilidade (M)
Confiança (K)
0,721
0,668
Sociabilidade (N)
Deferência (J)
0,642
0,626
Método de Extração: Análise de Componentes Principais.
Método de Rotação: Varimax com Normalização Kaiser.
A rotação convergiu em 4 iterações.
Em seguida foi estimada a fidedignidade
do Inventário e de todas as escalas que o compõem por meio da análise da consistência interna
estimando os coeficientes do Alfa de Cronbach.
Dentre os resultados apresentados na Tabela 3 está
o Alfa para o inventário, o valor encontrado foi
acima do mínimo exigido pelo Conselho Federal
de Psicologia (CFP) que é de 0,60; o que sugere
uma boa consistência interna do instrumento.
As dezesseis Escalas Principais apresentaram coeficientes que variaram de 0,38 a 0,54 (M
= 0,47) com onze coeficientes abaixo de 0,50; apenas quatro escalas apresentam índices abaixo de
0,45; nenhuma das escalas apresentou o valor mínimo para os coeficientes, conforme exigido pelo
CFP, o que sugere necessidade de modificações,
sendo as escalas (B) e (H) as mais sôfregas.
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Tabela 3: Coeficientes de fidedignidade das escalas principais.
Escala
Alfa de Cronbach
Num. Itens
Escalas
Alfa de Cronbach
Num. Itens
A
0,46
6
I
0,52
6
B
C
0,40
0,48
6
6
J
K
0,42
0,48
6
6
D
E
0,43
0,50
6
6
L
M
0,54
0,47
6
6
F
G
0,52
0,48
6
6
N
O
0,48
0,54
6
6
H
0,38
6
P
0,49
6
Alfa do Teste
0,88
96
Para as Escalas Derivadas, os resultados
são apresentados na Tabela 4. Na segunda e quinta colunas respectivamente, encontram-se os valores para os Octantes tradicionais e não tradicionais. Como observado todas as escalas apresentam valores acima de 0,50 considerado no estudo
de Kiesler (1991) como indicador de razoável consistência interna. Os resultados variaram entre 0,57
e 0,67 (M = 0,62) com apenas três valores menores
que 0,60 para os Octantes tradicionais e 0,57 e
0,66 (M = 0,61) com apenas dois valores menores
que 0,60 para os Octantes não tradicionais. Esses
resultados indicam que apenas cinco Octantes
apresentam valores um pouco abaixo do mínimo
exigido pelo CFP, porém a violação do critério é
bastante baixa, 0,03 no caso mais crítico.
Tabela 4: Coeficientes de fidedignidade das escalas derivadas octantes.
Octantes
Alfa de Cronbach
Núm. Itens
Octantes NT
Alfa de Cronbach
Núm. Itens
PA
0,63
12
AB
0,57
12
BC
DE
0,59
0,65
12
12
CD
EF
0,60
0,60
12
12
FG
HI
0,65
0,61
12
12
GH
IJ
0,59
0,63
12
12
JK
LM
0,57
0,67
12
12
KL
MN
0,66
0,62
12
12
NO
Total
0,58
12
96
OP
Total
0,63
12
96
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Propriedades psicométricas do checklist de relações interpessoais - revisado
Os valores dos coeficientes Alfa para os
Quadrantes e para os Hemisférios podem ser encontrados na Tabela 5. Os valores dos Quadrantes
são todos maiores que 0,70; variando entre 0,74 e
0,77 (M = 0,76) e dos Hemisférios variaram entre
0,80 e 0,81 (M = 0,80), todos os valores são considerados satisfatórios segundo os critérios adotados pelo CFP.
Tabela 5: Coeficientes de fidedignidade das escalas derivadas.
Quadrantes / Hemisférios.
Quadrantes
Alfa de Cronbach
Núm. Itens
Hemisférios
Alfa de Cronbach
Núm. Itens
HD
0,77
30
DOM
0,80
42
HS
FS
0,77
0,77
30
30
SUB
FRI
0,80
0,81
42
42
FD
0,74
30
HOS
0,81
42
Discussão
Segundo Guttmam (1954), a demonstração de uma estrutura circumplexa em dados referentes a traços de personalidade pode ser realizada a partir da análise fatorial. Nesse caso os resultados devem apresentar uma estrutura específica.
A matriz fatorial deve apontar a existência de dois
fatores com os valores das correlações entre os
itens variando de altas e positivas até altas e negativas. Dessa forma, obtém-se uma circularidade
perfeita ou ideal.
Embora um círculo necessariamente apresente duas dimensões, a redução das propriedades espaciais dos escores das escalas em um círculo pode não apresentar apenas duas dimensões,
sendo muitas vezes necessárias três ou quatro dimensões, principalmente quando os escores representam traços de personalidade. Portanto, a
configuração de pontos ao longo da circunferência pode se organizar de várias formas em função
das dimensões adicionais (Fisher, 1996).
Portanto, existem várias formas de demonstração de circularidade para os dados, entre
elas a configuração dos componentes da matriz
fatorial em uma forma de círculo, ou seja, sem
nenhum de seus componentes localizados no centro ou próximo dele, o que poderia sugerir algum
tipo de hierarquia. Pôde ser observado que, por
um lado, os resultados da análise apontam para
uma solução fatorial de três fatores e que os componentes transpostos para o espaço rotado como
mostrado pela Figura 2 apresentam uma configu-
ração que satisfaz o critério de circularidade para
o modelo. Dessa forma, os resultados apresentam
consonância com os trabalhos de Fisher (1985) e
Wiggins (1979). Por outro lado, a composição de
cada um dos três fatores do inventário aglutina
escalas cuja combinação para a formação de cada
fator pode ser convenientemente interpretada.
Para o Fator 1, os valores médios nas escalas caracterizam indivíduos que assumem responsabilidade com as pessoas com quem estão
interagindo, não se furtam a conversar e discutir
questões relevantes e facilmente aceitam situações
de rotina; põem seus interesses à frente, disputam
espaço com as exposições delas; apresentam dificuldade de manifestar cordialidade, esperam obediência a princípios e regras e fazem avaliações a
respeito das pessoas de forma desprendida e insensível; recusam-se a cooperar com as pessoas
ou impõem suas próprias regras, destratam ou
quebram convenções sociais; são espontaneamente
expressivos e falam facilmente; apresentam suas
opiniões firmemente e tentam confiar nas pessoas, comportam-se formalmente e preferem depender dos próprios recursos para tomar decisões.
Para o Fator 2, escores médios nas escalas caracterizam indivíduos que escondem suas
intenções das pessoas com quem estão interagindo e desconfiam das intenções delas; protegem
sua privacidade, mantêm-se distantes ou insensíveis e não se interessam pelas ocupações delas;
interpretam de forma séria, precisa e racional as
exposições das pessoas, se comportam de forma
reservada e pesam todos os aspectos antes de de-
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cidir ou agir; tentam ser modestos e admitem prontamente suas deficiências ou fraquezas, parecem
necessitados e facilmente aceitam suporte, culpa
ou elogios; evitam assumir responsabilidades, são
rápidos para aceitar e cumprir ordens, aceitam que
as coisas sejam feitas conforme o desejo das outras pessoas ou concordam com as opiniões delas.
O Fator 3 escores médios nas escalas caracterizam indivíduos que se esforçam para aceitar as pessoas com quem estão interagindo, fazem
apenas o que foi pedido, são hesitantes ao tomar
iniciativa e falam favoravelmente sobre elas; são
honestos sobre suas intenções e confiam no que
as pessoas dizem, inclusive avaliações sobre si
mesmos, simpatizam e perdoam qualquer transtorno; são rápidos em expressar cordialidade, aprovação ou aceitação, julgam de forma indulgente e
apontam as qualidades dessas pessoas; são rápidos em cooperar ou prestar assistência as pessoas,
fazem sua parte, tendem a ser corteses ou diplomáticos, pacientes e respeitosos, evitam ofensas,
encorajam ou ajudam as pessoas; tentam ser atentos e susceptíveis às pessoas, interessam-se por
suas coisas e expressam satisfação e alegria em
sua presença, parecem querer iniciar um novo
contato e incluí-las em atividades.
As interpretações apresentadas para os
escores nos respectivos fatores são propostas por
Kiesler (1983, 1986, 1988, 1991) em seus estudos
para a população Americana e estão baseadas nas
teorias de Sullivam (1953) e Leary (1957). No que
concerne à população Brasileira, as interpretações
para os escores fatoriais devem ser demonstradas
empiricamente.
Os resultados referentes aos índices de
precisão encontrados pela estimação dos coeficientes Alfa indicam que se por um lado o inventário revela uma boa consistência interna, o que
possibilita a interpretação de que ele é preciso,
por outro lado, os resultados para as 16 Escalas
Principais quando comparados com os resultados
descritos por Kiesler (1991) mostram uma diferença em relação à média de menos oito pontos. Também o número de escalas que apresentaram valores abaixo de 0,50 foi bem maior na amostra brasileira.
Uma hipótese que pode ajudar a entender os valores insatisfatórios dos coeficientes de
precisão para as 16 Escalas Principais é que eles
podem estar relacionados com o baixo número de
itens presente em cada escala e a forma como eles
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estão organizados. Cada uma das 16 Escalas Principais contém apenas seis itens, sendo que estão
divididos em três pares que descrevem comportamentos semelhantes e diferem apenas nos níveis
de intensidade. Por exemplo, o item um pertencente à escala Dominância (A) ... sou rápido para
assumir o controle de uma conversa ou discussão
ou oferecer sugestões a respeito do que deve ser feito. Descreve o mesmo tipo de comportamento do
item 17 ... domino o fluxo da conversa ou mudo o
assunto ou interrompo e falo não dando oportunidade para eles. Que pertence à mesma escala diferindo apenas na intensidade da descrição do comportamento.
Essa organização sugere que de fato as
escalas contêm apenas três itens, pois cada par
descreve o mesmo tipo de comportamento e os
escores resultantes dessas escalas podem ser interpretados apenas como um screen rápido sobre
o padrão de comportamento geral do indivíduo
avaliado. O aumento no número de itens conseqüentemente leva a um aumento nos coeficientes
de precisão quando este é calculado por meio do
Alfa de Cronbach. Esse efeito pode ser notado
quando são somados os escores das Escalas Principais para formar as Escalas Derivadas. Cada aumento no número de itens vem acompanhado num
aumento dos coeficientes de precisão como pode
ser notado nos aumentos progressivos desses valores das Escalas Principais para os Octantes e dos
Octantes para os Quadrantes e dos Quadrantes para
os Hemisférios. Calculando-se a proporção de
aumento do coeficiente de fidedignidade pelo aumento no número de itens das escalas utilizando a
fórmula da profecia de Spearman - Brown se chega a valores próximos aos encontrados na estimação das Escalas Derivadas.
Neste caso, o padrão de redução nas
médias dos coeficientes quando comparadas às
amostras brasileira e americana, tal como encontrado nas Escalas Principais, foi semelhante, por
exemplo, para os Octantes tradicionais, a diferença de média foi de menos dez pontos e para os
não tradicionais foi de nove pontos. Apesar disso,
os resultados para a amostra brasileira indicam razoável precisão, pois dos valores do Alfa para os
Octantes tradicionais apenas três, Competição-Desconfiança (BC), Deferência-Confiança (JK), Sociabilidade-Exibicionismo (NO) e para os Octantes
não tradicionais apenas Dominância-Competição
(AB), Inibição-Insegurança (GH) apresentam va-
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Propriedades psicométricas do checklist de relações interpessoais - revisado
lores pouco menores que 0,60, indicando uma pequena violação.
Considerações Finais
A distribuição das escalas em três fatores e
sua representação no espaço tridimensional indicam
uma ordem circular para os escores das escalas do
inventário, não obstante, é preciso que se desenvolvam mais estudos utilizando testes diferentes de demonstração para a estrutura circumplexa do CLOITR.
Os valores observados para a precisão do
instrumento demonstram que por um lado tanto o
inventário quanto as Escalas Derivadas, Octantes,
Quadrantes, Hemisférios e Eixos apresentaram adequados índices de precisão. Por outro lado, nas Escalas Principais, as quais 11 das 16 obtiveram valores
abaixo de 0,50 e especificamente as escalas Competição (B) e Insegurança (H) que apresentaram valores de 0,40 e 0,38, existe a necessidade de mais estudos sobre os itens que as compõem. Também, novos estudos devem ser realizados com amostras diferentes e utilizando procedimentos diferentes de estimação da precisão, por exemplo, o teste-reteste, uma
vez que o número de itens interfere nos valores da
precisão estimados pelo Alfa de Cronbach, com a
finalidade de se conhecer melhor a estabilidade das
16 Escalas Principais. Além disso, outras pesquisas
sobre a validade das escalas precisam ser realizadas,
a fim de se estabelecer os parâmetros de interpretação dos escores, por exemplo, uma investigação sobre as relações com variáveis externas.
As diferenças nos valores dos coeficientes
encontrados entre a amostra Brasileira e Americana
podem apontar para o fato de que as escalas medem
dimensões sobrepostas na população Brasileira em
relação à população Americana ou mesmo de se tratar de algum tipo de viés de resposta que deve ser
esclarecido. Contudo os resultados podem ser considerados encorajadores sobre o futuro do instrumento.
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Recebido em/Received in: 09/05/2006
Aprovado em/Approved in: 30/05/2006
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