A problemática da liamba no Zaire

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A problemática da liamba no Zaire
A problemática da liamba no Zaire
(Quinta, 13 Julho 2006) - Contribuido por José Prata (texto) e António Pedro (fotos) - Última actualização (Terça, 16 Janeiro 2007)
“Basta de cultivar liamba” parece ser a palavra de ordem do Comando Provincial da Polícia Nacional do
Zaire, tendo em conta o empenho daquele Comando no combate ao cultivo, tráfico e consumo da liamba. A equipa de
reportagem da “Tranquilidade” viajou às terras do Kulumbimbi e Yala Nku, para assistir à destruição de mais
algumas lavras de liamba na província.
Eram 5H00 do dia 7 de Dezembro de 2005. A equipa de reportagem da Tranquilidade desfaz-se de Luanda com destino
à fronteiriça província do Zaire. Estava convicta de que a missão não seria fácil, tendo em conta a distância que separa
Luanda daquela província. Porém a missão era imperiosa. Conforme descrevemos na edição número 4 da Revista
Tranquilidade, sobre os difíceis caminhos que por estrada ligam Luanda a Mbanza Congo, capital do Zaire, uma distância
de mais de 600 km, num andamento normal, o trajecto podia ser percorrido em 10H00 no máximo, mas foram precisas
16 horas de viagem para a nossa equipa de reportagem chegar a Mbanza Congo. Até ali tínhamos feito quase a
metade do total da difícil caminhada. Bem feitas as contas, tendo em atenção o estado da estrada que nos levaria à
comuna do Luvo, onde foram localizadas as lavras de liamba, na zona circunstancial da aldeia do Dobo – a
última aldeia de Angola que faz fronteira com a vizinha República Democrática do Congo – ainda muito faltava
por andar. Postos em Mbanza Congo, o Comandante Provincial da Polícia Nacional do Zaire, Subcomissário Tito
Munana disse, momentos antes da nossa partida para o “local do crime”, que “a campanha levada
a cabo pelo meu Comando consiste basicamente na substituição das lavras de liamba por sementes agrícolas”. O
Comando Provincial da Polícia Nacional do Zaire (CPPNZ) está empenhado no combate ao cultivo e comércio da
liamba naquela província, para de algum modo diminuir o índice de criminalidade na província, derivado do consumo
dessa droga e por outro lado fazer compreender à população os riscos advindos, não só do consumo mas do tráfico deste
tipo de droga. Questionado de como se fazia a troca, o Comandante Tito Munana deixou sublinhado que “se
porventura a Polícia fosse ao campo, logo que descobrisse uma lavra de liamba e de seguida a destruísse não estaria a
prestar um serviço completo. Pois, estaria apenas a lutar contra os efeitos e deixando para trás as devidas
causas”. Segundo o Subcomissário Tito Munana, o objectivo principal da Polícia não é somente combater os
efeitos mas sobretudo as causas, prevenindo os efeitos e fazer com que todos saibam o mal que o consumo da liamba
pode causar. É assim que a Polícia do Zaire antes de sair para o terreno, para proceder à destruição de lavras de liamba,
primeiro prepara as sementes agrícolas, prepara os recursos necessários e mobiliza os donos das lavras a aceitarem a
troca, para substituir o produto proibido, e fazê-los compreender o mal que isso tem causado, causa e causará à
sociedade. Para aquele governante “é necessário desincentivar na população o cultivo da liamba, porque senão,
num futuro muito próximo, teremos uma geração completamente drogada, o que seria um retrocesso ao processo actual
do Governo que consiste basicamente no aumento da massa intelectual angolana”. “Uma geração de
drogados é uma geração completamente violenta e criminosa”. O Subcomissário Tito Munana disse que as
condições para efectuar a troca estavam criadas, mas que os agricultores, por seu turno, tendo-se apercebido da
descoberta da Polícia Nacional, da existência das lavras e temendo a prisão, nunca mais por lá aparecem, contrariando
assim o plano da Polícia que consistia na mobilização e sensibilização dos mesmos.
Foi este o espírito que esteve na base da nossa deslocação à província nortenha do Zaire, uma vez mais, depois de termos
lá estado cinco meses antes, para testemunharmos a destruição de lavras de “canábis”.
Da nossa delegação faziam parte o Director da DPIC, o Superintendente Justino Calyambuca, o Director do
Departamento de Educação Moral e Cívica do Comando Provincial da Polícia Nacional do Zaire, o Superintendente
Capemba, o Director Provincial do GEIA/CPPNZ, o Intendente Patrick e a equipa de jornalistas da
“Tranquilidade”, isso até à comuna do Luvo, onde apanharíamos a delegação comunal, composta pelo
Administrador Comunal adjunto, em representação do Administrador, que se encontrava doente, o Comandante do Posto
da Polícia de Guarda Fronteira da comuna do Luvo, o Inspector Celes Mendes Nelson e as forças que acompanharam a
caravana.
Quase todos os integrantes da caravana faziam cálculos pelas divisões dos dedos e ninguém sabia que distância
havíamos de andar, excepto os polícias do Luvo. A caravana partiu animada do Luvo, em direcção à aldeia do Dobo. A
caminhada era exactamente para lá das montanhas junto à fronteira, concretamente na zona do Marco 17. Pelo mapa
pudemos calcular a distância que nos separava da zona em que iríamos trabalhar. As condições logísticas estavam criadas.
O Comandante Provincial, o Subcomissário Tito Munana, conhecia onde ficavam localizadas as lavras, pelo que nos
advertiu de quanto cansativa seria a nossa viagem até atingirmos o objectivo. A distância de ida e volta calculava-se em
mais de 50Km andados a pé, pois a zona onde ficavam as lavras era intransitável para viaturas, devido às condições
geográficas (montanhosa). Andámos 15 Km a subir e descer montanhas e o cansaço começava a fazer-se sentir nos
corpos suados da caravana. O Intendente Patrick já se tinha desfeito do primeiro par de botas. As “mata
cobra” não aguentaram a caminhada e ficaram com as solas despedaçadas, pelo que teve de acabar o restante
trajecto de chinelos até ao destacamento da Polícia de Guarda Fronteira. Tentou ainda amarrá-las com os atacadores e
cordas silvestres, mas estas diziam mesmo basta à caminhada. Afinal, por um caminho fendido de pedras e britas, não
eram apenas os previstos 25 Km de sobe e desce. Eram mais 10 Km do que o percurso previsto. Já no destacamento
pediu que alguém se prestasse a emprestar-lhe um par de botas mas ninguém tinha botas do seu número. Como
alternativa um jovem polícia emprestou-lhe um par de sapatilhas. Fazia recordar os tempos dos combates na luta contra
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bandidos, o facto de calçar botas civis com uniforme da Polícia. Nem este último par azul a confundir-se com a farda
aguentou. Foi logo destruído ficando sem a sola. Bom, com estas teve que andar até chegar ao Dobo onde tínhamos
deixado as viaturas, em casa do Regedor António Mavambo Ngombe de 65 anos de idade, soba daquela aldeia. Já o
Director da DPIC, Superintendente Justino Cayumbuca, num passo de cágado tentava esforçar-se a caminhar e não
desistir da viagem. Quase que não mais conseguia pôr um pé em frente do outro. Sentou-se. Olhou para trás e a
distância percorrida, obrigou-o a continuar. Pelo que a Tranquilidade soube que esta foi a sua primeira missão de
campo, desde que foi para o Zaire, transferido do Huambo. Que missão! É só porque o velho ditado diz “mais velho
não chora”. Superintendente Capemba, este apesar da sua idade, esforçou-se em manter-se no grupo da frente.
Por causa do desconhecimento quase total do quanto cansativa seria a nossa viagem até ao “local do
crime”, subir montanha e descer montanha para depois arrancar aqueloutra, saídos de Mbanza Congo quase às
8H00 da manhã, somente às 18H00 conseguimos atingir a zona da referida produção.
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