Cooperação TécnicaRIB

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Cooperação TécnicaRIB
Ano V (2011) nº 16
Cooperação Técnica
RIB
Uma ferramenta de gestão do conhecimento da Representação do IICA no Brasil
O Brasil Rural está conectado
Programa Territórios Digitais fortalece a organização social e
promove a educação digital no campo
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Capa: Rodrigo Germano
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26
Editorial
Manuel Rodolfo Otero
Entrevista
Roberto Rodrigues
Artigo
Gertjan Beekman
Notícias
Representação do IICA no Brasil
IICA Cooperação
Capa - Projeto Casa Digital
Especial
Momento de Intercâmbio
Instante
Diretor Geral do IICA visita o Brasil
Cooperação Técnica RIB
Expediente
Diretor Geral
Víctor M. Villalobos
Esta publicação está disponível em formato eletrônico
(PDF) no site: www.iica.org.br
Representante do IICA no Brasil
Manuel Rodolfo Otero
A revista Cooperação Técnica RIB é uma publicação da
Representação do IICA no Brasil. Os textos não refletem
necessariamente a opinião do IICA, sendo de responsabilidade
dos articulistas e entrevistados.
Coordenação
Fernanda Tallarico
Redação
Rodrigo Germano
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Cadija Tissiani
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Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 2 I 16ª Edição
Editorial
O Instituto Interamericano de Cooperação para
a Agricultura (IICA) tem uma trajetória ininterrupta
de quase meio século de vida ao serviço do
desenvolvimento agropecuário e rural do Brasil. E
apesar das dificuldades, a missão de contribuir para
melhorar as condições de vida da população no
meio rural sempre se manteve invariável.
Em janeiro deste ano, assumi o cargo de
Representante do IICA no Brasil, com o objetivo
principal de aproximar os parceiros, por meio da
oferta de uma carteira de projetos que reflitam as
demandas da agricultura brasileira face ao novo
cenário internacional e regional do setor.
Esse novo cenário é caracterizado por diversos
desafios. Como, por exemplo, o elevado preço das
principais commodities, o que ocasiona a necessidade
do agronegócio brasileiro de incrementar a produção
nacional em 40% até 2020 para manter sua condição
de liderança da nova revolução agropecuária mundial.
Estes desafios não são apenas tecnológicos. No meio
de importantes mudanças climáticas, o País deverá
fazer um esforço adicional para manter sua base de
recursos naturais e, não menos importante, incluir
os pequenos produtores aos processos produtivos
como parte de uma política de justiça social.
Diante desses desafios, a representação do
IICA no Brasil desenvolve uma política de alianças
estratégicas com instituições públicas e privadas,
promovendo ao mesmo tempo redes colaborativas
a nível multilateral como bilateral.
Diferentemente do que aconteceu durante as
décadas de 1970 e 1980, no qual a agricultura brasileira
era demandante de cooperação técnica para fazer
frente à “Revolução Verde” dos Cerrados, no inicio do
século XXI, o Brasil se encontra em um período de
desenvolvimento agrícola, que o posiciona no papel
de “ofertante” da cooperação técnica. Os avanços
concretizados nas áreas de políticas tecnológicas,
defesa
agropecuária,
comercial,
agricultura
familiar, para citar alguns exemplos, podem ser
compartilhados com outros países das Américas de
menor desenvolvimento relativo, promovendo, por
esta via, a importância da cooperação horizontal.
Finalmente, a cadeia de agregação de valor do
complexo processo da cooperação técnica requer
uma política de comunicação que, no marco da
filosofia da transparência e da prestação de contas,
o parceiro esteja informado permanente sobre as
principais atividades e resultados atingidos, com
especial ênfase no uso das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação.
Assim, se insere neste contexto, este novo número
da Revista Cooperação Técnica RIB, uma valiosa
ferramenta de gestão do conhecimento ao serviço
de nossos parceiros.
Boa leitura!
Manuel Rodolfo Otero
Representante do IICA no Brasil
Perfil
Manuel Rodolfo Otero é médico veterinário, pela Faculdade
de Ciências Veterinárias da Universidade de Buenos Aires; tem dois
mestrados, um em Produção Animal pelo Centro Agronômico
Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE) e outro em Desenvolvimento
Rural pela Universidade de Londres.
No IICA já exerceu outros cargos importantes como
Representante do Instituto no Uruguai por 8 anos, Chefe de
Assessores do Diretor Geral; Diretor de Programação e Avaliação;
e Diretor Regional para a Zona Andina. É autor de numerosos
documentos técnicos relacionados ao comércio internacional,
políticas setoriais e modernização da agricultura.
Além do IICA, Otero exerceu o cargo de vice-presidente do
Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina, nos
anos de 1999 a 2002 e também como Adido Agrícola do governo
argentino, nos Estados Unidos, de 1984 a 1988.
Entrevista
Roberto Rodrigues
Coordenador do Centro de Estudos do Agronegócio na Fundação Getúlio
Vargas (FGV) e ex- ministro da Agricultura.
De passagem por Brasília para atender
uma demanda de avaliação da área de
Agronegócios do IICA, o ex- ministro
de Agricultura do governo Lula (20032006), Roberto Rodrigues, dedicou
um tempo para conversar com a
Revista Cooperação Técnica RIB sobre
cooperação técnica e agricultura
brasileira. Foram apenas 30 minutos,
mas muito valiosos, de entrevista.
Homem de respostas objetivas e
contundentes, Rodrigues conseguiu
em pouco tempo dar um panorama do
atual cenário da agricultura brasileira,
enumerar os principais gargalos e
destacar a importância da cooperação
técnica para superar os desafios.
RIB - Qual é o papel da cooperação técnica
internacional para o Brasil?
Roberto Rodrigues - O Brasil é um País que
conseguiu montar uma plataforma tecnológica em
agricultura tropical respeitável. Felizmente, algumas
instituições nossas, começando com a agronômica
de Campinas e a biológica de São Paulo e, nos últimos
35 anos, com a Embrapa conseguiram montar uma
grande plataforma tecnológica que permitiu ao País
um grau de competitividade na área de agricultura
formidável. Basta observar alguns números, como
o de grãos por exemplo. Nos últimos 20 anos, a
área plantada com grãos no Brasil cresceu 27% e a
produção cresceu 154%. Se você pegar a área de
cana de açúcar, que é um setor muito controlado,
muito discutido no País inteiro, nós temos hoje quase
oito milhões de hectares com cana no Brasil. Se
tivéssemos a produtividade que tínhamos quando o
Proálcool começou, há 35 anos, precisaríamos ter o
dobro da área cultivada para ter a mesma produção.
E assim com grãos, com carne, com leite, tudo para
gerar uma enorme evolução.
E este processo tecnológico nos traz uma
vantagem competitiva que transcende a questão
econômica, pura e simples, da produtividade e nos
leva ao tema da sustentabilidade. Tema este que é o
grande debate global atual e que na verdade traduz
o maior desafio da humanidade do século XXI que é
compatibilizar o aumento da produção agrícola com
a preservação dos recursos naturais. E essa tecnologia
tropical brasileira já fez essa lição de casa. Então, essa
plataforma tecnológica nossa nos da, realmente, uma
condição excepcional, reconhecida globalmente, de
transformar o Brasil em uma potência agrícola de
relevo no cenário mundial.
Ora, se a grande questão no mundo hoje é
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Entrevista
compatibilizar a oferta de alimentos, de energia e
de fibras, do lado agrícola, com os recursos naturais
preservados e o Brasil fez a lição de casa e se estudos
recentes indicam que nos próximos dez anos a oferta
mundial de alimentos tem que crescer 20% para
atender a demanda explosiva nos países emergentes,
por causa de população e renda que cresce muito
nesses países, bem, se esses dois fatos, ou melhor,
duas premissas: Brasil tem a tecnologia e o mundo
precisa de tecnologia. Porque não transformar o Brasil
numa plataforma de lançamento de cooperação
internacional, tendo em vista a inovação tecnológica
agrícola nos países tropicais, que é onde nós temos
uma certa liderança?
Então a importância da cooperação internacional,
sobretudo na plataforma tecnológica, diz respeito
a uma nova forma de produção, mais sustentável
e que garantirá ao mundo o suprimento essencial
para que a vida prossiga em termos adequados em
todos os rincões do planeta. E essa cooperação tem
que ser iniciada, ser priorizada no nível regional,
no nível continental, então a participação de um
organismo como o IICA neste projeto de lançamento
tecnológico é absolutamente essencial para que o
mundo seja mais feliz.
RIB - O senhor comentou sobre desafios.
Quais seriam os principais desafios para
agricultura brasileira?
Roberto Rodrigues - Bom, nós temos três
grandes vantagens comparativas em relação à países
com extensão territorial como o Brasil. Primeiro
temos terras disponíveis. O Brasil hoje cultiva 72
milhões de hectares de 850, que é o território todo,
portanto, menos de 9% do território nacional é
cultivado agricolamente. Então temos uma condição
de expansão territorial que nenhum País do mundo
tem. Segundo, temos a tecnologia tropical, que é
altamente sustentável e, em terceiro, temos um
produtor rural muito competente, inclusive porque
os planos econômicos, voltados para estabelecer
uma economia nos últimos 20 anos, tiraram do
campo muita gente que não resistiu às pressões
econômicas. Então, quem sobreviveu, sobreviveu
com competência para ficar no processo. Então nós
“A importância da cooperação
técnica internacional,
sobretudo na plataforma
tecnológica, diz respeito a uma
nova forma de produção, mais
sustentável e que garantirá ao
mundo suprimento essencial
para que a vida prossiga em
termos adequados em todos os
ricões do planeta.”
temos três condições realmente notáveis.
Agora, a pergunta é importante porque
caracteriza os gargalos do Brasil. Eu diria que temos
cinco gargalos no Brasil. O principal é o da logística
industrial. Nós ficamos dez, quinze anos sem fazer
investimentos consistentes na área de logística. Então,
falta ferrovia, rodovia, porto, armazenagem, hidrovia,
falta um projeto integrado, inclusive falta uma saída
para o Pacífico, que seria um mecanismo de abertura
de mercado na Ásia, extraordinário para o País. Então,
o primeiro gargalo é logística e infraestrutura. E
esse gargalo está razoavelmente tratado pelo PAC.
Se o PAC sair do papel para valer, boa parte desse
problema será superado. Não obstante, faltam, ainda,
muitos investimentos, sobretudo na área portuária.
O segundo gargalo é o de uma política de renda
pro campo. Todos os países desenvolvidos do mundo
tem mecanismos que garantem a estabilidade da
renda do produtor rural a partir da premissa de que é
essencial garantir a segurança alimentar do cidadão
daquele País. Então o cidadão recebe garantia de
alimentos através da renda estável do produtor rural.
Então, mecanismos como subsídios explícitos, como
barreiras de importação de produtos, estímulos
à exportação, vários mecanismos protecionistas
garantem aos agricultores dos países desenvolvidos
uma renda estável qualquer que seja o preço do
mercado. E não temos isso no Brasil. Já criamos o
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Entrevista
seguro rural, que demora a decolar. Nossa lei do credito
rural é de 1965, o Brasil mudou completamente e a
lei é a mesma. Nossa política de preços mínimos não
funciona. Nossos mecanismos de comércio privado
são poucos difundidos. Precisamos ter um esforço
maior publico e privado na direção da questão de
uma renda estável para a agricultura.
O terceiro gargalo é o ligado a área de comércio,
sobretudo comércio internacional. Nós colocamos,
nos últimos dez anos, todo o peso da nossa negociação
na Rodada de Doha, da OMC, que, infelizmente,
não decolou. Então, perdemos tempo, não fazendo
acordos bilaterais, não montando acordo com a
União Européia, que é um mercado gigantesco, não
cuidando da relação sul-sul com mais consistência,
não criando instrumentos de agregação de valor. Por
exemplo, a China, que é um grande mercado, não
vai comprar só soja em grão. Temos que criar regras
novas de comercio que viabilizem acesso a mercados,
de forma mais competente do que fizemos até agora.
O quarto gargalo é o da defesa sanitária. Esse é um
tema recorrente e é também transversal do ponto de
vista continental. Porque não adianta eliminar aqui
no Brasil, se o Paraguai não eliminar, se a Colômbia
não eliminar. Então, enquanto não houver uma ação
ampla - ação esta que o Brasil deve liderar porque é o
maior rebanho - não vamos ter um reconhecimento
internacional sobre a qualidade da nossa carne,
porque infelizmente nas áreas extensas do Brasil no
nordeste, no norte, ainda tem Aftosa. Então, a defesa
sanitária é um gargalo fundamental.
O quinto gargalo é o ligado à tecnologia. Embora
tenhamos, como já disse, a melhor tecnologia tropical
do planeta, esse é um processo dinâmico. A tecnologia
é um investimento sistemático e sistêmico. Tem que
haver permanente experiência nessa área e o setor
privado precisa participar disso através de empresas
com protocolo específico, que são inclusive prevista
pela lei de inovação tecnológica. Não conseguimos
sair do papel nisso ai. Então, dependemos muito
de recursos públicos para pesquisa. E um Estado
moderno, um país moderno, uma nação moderno
precisa de muita tecnologia para ser competitiva.
Então são cinco ou seis gargalos importantes.
Mas todos eles, na verdade, estão pendentes de um
tema superior, um guarda-chuva dos gargalos, que é
a inexistência de uma estratégia nacional para esses
assuntos. Você tem, hoje, uma política agrícola muito
boa, instituída pelo Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA), inclusive através de câmaras,
por cada uma das cadeias produtivas ou produzidas
por instrumentos de políticas públicas. Então temos
uma belíssima política agrícola desenhada no nível
do MAPA, mas os instrumentos para implementar
isso estão dispersos em outros ministérios. O
orçamento quem faz é o Ministério do Planejamento,
a liberação de recursos quem faz é a Fazenda, a taxa
de juros quem decide é o Banco Central, a taxa de
câmbio é o Banco Central, a logística quem decide
é o Ministério dos Transportes, a negociação quem
faz é o Itamaraty, as regras de comércio quem faz é o
MDIC, floresta plantada é o Meio Ambiente, questão
agrária no Ministerio do Desenvolvimento Agrário, a
área de energia, bicombustível está no Ministério de
Minas e Energia, dinheiro para pesquisa no Ministério
de Ciência e Tecnologia, enfim, são doze, quinze
ministérios sem falar em empresas como Petrobrás,
Inmet, IBAMA, ANA, Embrapa, FUNAI, que interferem
com que o processo agrícola seja uma estratégia
direcionada. Então a ausência de uma estratégia
ampla do estado brasileiro, que incorpore inclusive
a revisão de legislações obsoletas no País, é que cria
todos os gargalos aos que me referi anteriormente.
Então precisamos ter uma definição nacional
estratégica, que infelizmente, a última que tivemos
foi no governo Geisel, nos anos setenta. Então esse
é o grande tema a ser debatido pela agricultura
brasileira contemporaneamente.
IB - Como está inserida essa questão dos
R
gargalos no governo atual?
Roberto Rodrigues - Esses gargalos já foram
apresentados à presidente Dilma. Se o governo
brasileiro desenvolver aquilo que se propõe a fazer,
nós podemos resolver uma boa parte dos gargalos.
Por outro lado, em uma democracia, como é o caso do
Brasil hoje, as políticas publicas só se desenvolvem, só
são implementadas, se a sociedade majoritariamente
assim quiser. E o Brasil é um País que se urbanizou
muito rapidamente e a sociedade urbana não tem
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Entrevista
“O IICA pode transformar essa plataforma tecnológica brasileira
e essas demandas estruturais, que nós tratamos, em uma ação
articulada de caráter continental, com uma relação mais democrática,
mais justa, mais igualitária entre os países americanos.”
uma visão adequada da agricultura. Então, nós
estamos iniciando, agora, um grande programa de
comunicação rural mostrando para a sociedade
urbana a interdependência que há entre o rural e o
urbano. Um não vive sem outro. E o respeito que o
urbano passa a devotar ao rural será, sem duvida, um
instrumento para que as políticas sejam desenhadas
adequadamente.
IB - Como o IICA pode contribuir para a
R
transformação produtiva do Brasil defendendo o
meio ambiente e garantindo o desenvolvimento
sustentável?
Roberto Rodrigues - Se o IICA cumprir a missão
dele, que é promover a competitividade da agricultura,
garantindo o bem estar das populações rurais com
a preservação dos recursos naturais, que é também
a visão que a agricultura brasileira tem, o IICA pode
transformar essa plataforma tecnológica brasileira e
essas demandas estruturais, que nós tratamos, em
uma ação articulada de caráter continental, com uma
relação mais democrática, mais justa, mais igualitária
entre os países americanos. E isso seria, sem dúvida,
uma enorme plataforma de lançamento das
tecnologias agrícolas brasileiras para os outros países
do continente.Por outro lado, em uma democracia,
como é o caso do Brasil hoje, as políticas publicas
só se desenvolvem, só são implementadas, se a
sociedade majoritariamente assim quiser. E o Brasil
é um País que se urbanizou muito rapidamente e a
sociedade urbana não tem uma visão adequada da
agricultura. Então, nós estamos iniciando, agora, um
grande programa de comunicação rural mostrando
para a sociedade urbana a interdependência que há
entre o rural e o urbano. Um não vive sem outro. E o
respeito que o urbano passa a devotar ao rural será,
sem duvida, um instrumento para que as políticas
sejam desenhadas adequadamente.
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Artigo
Gertjan Beekman
Coordenador de Recursos Naturais e Adaptação às Mudanças
Climáticas do IICA no Brasil
A Rio + 20 e as novas perspectivas
para o desenvolvimento
O
Brasil tem a frente mais uma oportunidade de
chamar a atenção do planeta para os desafios
ambientais que marcam este século. Para os atores
engajados na luta pela mitigação dos efeitos
das mudanças climáticas, pela preservação da
biodiversidade e pela desaceleração dos processos
de degradação dos solos, a Conferência Mundial
das Nações sobre Desenvolvimento Sustentável, a
Rio+20, prevista para 2012, no Rio de Janeiro, será
decisiva.
O mais importante encontro mundial sobre meio
ambiente acontece 20 anos após a Conferência da
ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a
ECO-92 ou Rio-92, que teve a participação de mais
de 100 chefes de estado e criou as três convenções
que hoje norteiam as iniciativas para a conservação
dos ecossistemas e redução da pobreza intensa em
que vivem as populações das áreas mais vulneráveis.
Munidos de relatórios que comprovam os
avanços, compromissos e recomendações para
o enfrentamento das questões ambientais, as
partes buscam pelo menos um sinal mais claro de
comprometimento de todos os países-membros com
as metas de implementação das convenções, como
a redução de carbono na atmosfera, o que rebate
diretamente sobre a preservação da biodiversidade e
o avanço ou a redução das áreas desertificadas.
Nesse ponto, onde se observa com clareza a
forma como as três convenções estão imbricadas,
fica evidenciado a necessidade de se promover
sinergias entre entres seus gestores, de se ampliar a
articulação interinstitucional em todos os níveis e de
ser enfocar os esforços em temáticas transversais aos
três mandatos, com o objetivo maior de se buscar
uma abordagem mais incisiva e precisa para a Rio+20.
Essa transversalidade tem sido a maior
preocupação do Instituto Interamericano de
Cooperação para a Agricultura (IICA) em sua nova
gestão. Nesse contexto, temas como comunicação,
inovação tecnológica aplicada à gestão dos recursos
naturais e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo
(MDL) são vistos como as ferramentas-chave que
perpassam todos os eixos temáticos, dentro da nossa
estratégia de trabalho.
Planos de comunicação elaborados para projetos
cuja meta é a preservação do meio ambiente e a
condução a um modelo de desenvolvimento verde,
centrado na sustentabilidade, permitem a melhor
disseminação das boas práticas, o monitoramento
dos projetos, a transferência e a gestão do
conhecimento, a comparação das ações em curso e
a conscientização sobre a necessidade de se adotar
um modelo que leve em consideração as dimensões
ambiental e social do desenvolvimento, além da
econômica.
O desenvolvimento de tecnologias e modelos
produtivos que permitam adaptar a agricultura às
novas condições climáticas, e ao mesmo tempo,
mitigar os efeitos que esta atividade tem sobre o
ambiente e os recursos naturais também tem sido
um dos principais pontos de atenção do IICA.
Nesse plano há uma série de oportunidades já
vislumbradas e desafios a serem vencidos. A revisão
do planejamento do agribusiness, fundamentado
nos conceitos de água virtual (quantidade de
água necessária para a produção de um produto,
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Artigo
considerando-se toda as fases da cadeia de
produção), por exemplo, o desenvolvimento de
sistemas de infraestrutura hídrica, e a atualização
dos mecanismos que calculam os limites de cada
país para emissões de carbono, e demais gases de
efeito estufa (GEE´s) na atmosfera são algumas dessas
frentes de trabalho para os próximos anos.
Com as mudanças climáticas que estão
previstas, de acordo com cenários de IPCC (Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas), é de se
esperar que haja uma redistribuição geográfica das
chuvas, alteração da sua intensidade, e freqüência de
ocorrência de eventos extremos. Assim, a resposta
obviamente dos ecossistemas representados pelas
bacias hidrográficas, será diferente. Nesse caso, o
próprio agro zoneamento terá que contemplar
e levar em consideração o surgimento de novos
cenários ditados pela variabilidade climática ou de
mudanças climáticas.
Se uma determinada região passar a ter uma
situação de escassez de água, as culturas mais
intensivas deixarão de ser as mais indicadas. Assim, as
culturas vão migrando de regiões, se redistribuindo
geograficamente, e a própria infraestrutura hídrica e
a infraestrutura associada aos processos de produção
terão que acompanhar esse movimento.
Para a simulação de cenários , podemos usar o
caso no caso do café. Os níveis de aquecimento global
ao longo do século preconizados pelo IPCC, sugerem
que os locais geográficos mais favoráveis para esta
cultura estariam nas proximidades da fronteira
como o Estado do Rio de Janeiro, em altitudes mais
elevadas. Esta projeção poderia implicar que toda a
infraestrutura de armazenamento e processamento,
ou seja, as fábricas também tenham que se deslocar.
Esse tipo de percepção deve começar a entrar na
discussão dos governos em termos de planejamento,
em médio prazo. Da mesma forma, os requerimentos
hídricos (´´pegada hídrica´´) necessários para se
produzir um determinado produto também precisam
entrar nessa conta. De modo a não explorarmos os
recursos naturais a exaustão.
A adoção dos conceitos de MDLs, para nós
dentro da cooperação técnica, também é algo muito
interessante, e inclusive já começa a ser pensado para
a formulação de nossos projetos. Certificação verde
de produtos agropecuários, créditos de carbono e
projetos de redução das emissões de CO2, CH4 e
CFCs na agricultura podem pavimentar a construção
de uma economia seja orientada para baixo carbono,
que é muito mais justa e adequada. Além disso, gera
inúmeros créditos associados e faz circular bilhões de
dólares.
Enfim, em um momento em que todos os olhos
do mundo se voltam para a Rio +20, e em que as
perspectivas são tão variadas quanto elevadas, a
integração de ações prioritárias em resposta às
necessidades e demandas diversas faz-se necessária.
Os ingredientes estão aí. Agora é fazer uma boa
mistura do que há e nos certificar que isso resulte em
algo palatável para as discussões na Rio +20 e para o
futuro do nosso planeta.
Saiba mais
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável visa renovar o engajamento dos líderes
mundiais com o desenvolvimento sustentável do planeta,
vinte anos após a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). Serão
debatidos a contribuição da “economia verde” para o
desenvolvimento sustentável e a eliminação da pobreza,
com foco sobre a questão da estrutura de governança
internacional na área do desenvolvimento sustentável.
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Notícias
CRIC9 adota
recomendações para a COP10
Novo sistema de avaliação de desempenho e discussões aprofundadas sobre o
alinhamento dos planos nacionais com a estratégia da Convenção representaram um
marco no processo da UNCCD
A
Nona Sessão da Comissão para a Revisão da
Implementação da Convenção (CRIC9) encerrou
seus trabalhos no último dia 25 de fevereiro, com a
adoção de um relatório que sintetiza recomendações
dos países-membros da Convenção das Nações
Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), para
apreciação da próxima Conferência das Partes. A
décima edição da COP será realizada entre 10 e 21
outubro, na cidade de Changwon, na República da
Coréia.
As sugestões oferecidas abordam questões
fundamentais para o alcance dos cinco objetivos
operacionais que constam no Plano de Ação
Estratégico de dez anos da UNCCD. Essas metas
incluem o aumento dos esforços para elaboração
de políticas públicas incisivas, para sensibilização
e conscientização das populações, para ampliação
das fontes de financiamento, para transferência de
conhecimento e capacitação, e finalmente, para
advocacy.
Efetivamente, não saíram do encontro projetos de
decisão, mas uma compilação de ideias, devidamente
negociadas entre as partes. Ainda assim, a CRIC9,
realizada em Bonn, na Alemanha, de 21 a 25 de
fevereiro, pode ser considerada um divisor de águas
no que diz respeito ao futuro do processo da UNCCD.
Entre tantas questões importantes, a reunião
destaca-se por ter marcado a estréia do novo
sistema PRAIS (Performance, Review and Assessment
of Implementation System) para a elaboração dos
relatórios nacionais. Desenvolvido pelo secretariado
da UNCCD, pelo Mecanismo Global (MG), pela Global
Environmental Facility (GEF) e pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA),
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Notícias
o método é baseado no uso de indicadores de
desempenho quantitativos para o relato das
ações dos governos, sociedade civil, iniciativa
privada e organizações internacionais voltadas
para o enfrentamento dos desafios impostos pela
desertificação e degradação da terra.
O PRAIS é visto pela UNCCD como um passo
extremamente significativo para a implementação
da convenção. “A partir de agora será possível
acompanhar as tendências e avaliar se estamos nos
movendo na direção correta”, avaliou o secretário
executivo da UNCCD, Luc Gnacadja.
Christian Mersmann, diretor gerente do
Mecanismo Global, vê no novo sistema uma
alternativa para monitorar e direcionar melhor os
recursos. Segundo ele, informações valiosas sobre
volume, fontes, distribuição geográfica e alocação
de recursos estarão disponíveis. “Pelo menos um
cenário mais claro do estado dos investimentos
e das despesas públicas direcionadas ao manejo
sustentável da terra começa a emergir”, afirmou.
Os delgados, de modo geral, parecem concordar,
apesar das inúmeras críticas. Entre as ressalvas aparece
a falta de apoio técnico e financeiro necessários para
a operacionalização do software, e de uma análise
mais qualitativa das ações de cada país. “Como todo
software em fase de implementação, o sistema
ainda é falho. Falta, por exemplo, objetividade em
algumas perguntas. No entanto, acredito que seja
uma ferramenta eficaz para se monitorar os avanços
e principais desafios na luta contra a desertificação”,
avaliou o ponto focal nacional de Combate a
Desertificação do Ministério do Meio Ambiente do
Brasil, Francisco Campello.
Nas mesas de negociação, o Brasil defende a
simplificação desse sistema, a fim de evitar despesas
desnecessárias, e uma abordagem mais qualitativa
dos indicadores. Em outras palavras, a delegação
brasileira defende um recurso que reflita de forma
mais precisa as realidades das nações, em vez de ser
uma mera ferramenta de comparação.
Para a UNCCD, a tarefa agora é acertar as arestas
do sistema e aperfeiçoá-lo para que também
possa ser usado na elaboração de relatórios sobre
indicadores de impactos e, enfim, medir o progresso
da implementação da estratégia da convenção.
As discussões sobre o alinhamento dos
Programas de Ação Nacionais com a estratégia da
UNCCD também foi um dos pontos que diferenciam
a CRIC9 das demais reuniões. A sete anos do fim da
data prevista para conclusão da implementação do
mandato da UNCCD, as partes estão conscientes de
que este é o momento de adequar seus programas
de ação.
Esse assunto foi discutido em todos os fóruns
durante a CRIC, inclusive no encontro dos grupos
de interesses regionais, nos grupos de contato, no
plenário e em duas mesas-redondas organizadas
como eventos paralelos. Esses workshops fizeram
parte dos esforços do secretariado da UNCCD e
do Mecanismo Global para facilitar e promover o
alinhamento dos Planos Nacionais em conformidade
com seus mandatos.
A experiência compartilhada pelos países em
todas as atividades da CRIC enfatizaram, mais uma
vez, que a uma mudança mais contundente para
com o alinhamento dos planos nacionais requer não
apenas recursos significativos, mas fontes variadas.
Uma condição fundamental é a existência de uma
real vontade política, apoiada por ações contínuas
e consistentes voltadas a todos os interessadose em
todos os níveis. O valor das parcerias de trabalho e
a necessidade de aumentar a capacidade de facilitar
o processo também estão entre as principais lições
extraídas dessas atividades.
“A partir de agora será possível
acompanhar as tendências e
avaliar se estamos nos movendo
na direção correta.”
Luc Gnacadja
Secretário Executivo da UNCCD
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Notícias
Entrevista // LUC GNACADJA
Em fevereiro, Bonn, na Alemanha, foi o palco de
dois importantes encontros na agenda da Convenção
das Nações Unidas de Combate à Desertificação
(UNCCD). A Segunda Sessão Extraordinária do
Comitê de Ciência e Tecnologia (CST2) e a 9ª Sessão
do Comitê para Revisão da Implementação da
Convenção de Combate a Desertificação (CRIC9)
reuniram aproximadamente mil delegados, de
194 países-membros, para definir recomendações
estratégicas para a 10ª Sessão da Conferência das
Partes (COP10), elencadas após a análise e avaliação
dos relatórios nacionais sobre o processo de
implementação da convenção.
De acordo com o secretário executivo da UNCCD,
Luc Gnacdja, o encontro marcou uma mudança de
paradigma em todos os esforços intergovernamentais
para monitorar o desempenho dos países na
implementação da Convenção.
Em entrevista exclusiva, Luc Gnacadja avaliou os
resultados das reuniões, defendeu a importância do
novo sistema, inédito entre as três convenções criadas
no Rio em 92, e falou sobre suas expectativas para a
COP10, marcada para outubro próximo, na República
da Coréia, e para a Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20.
RIB - A UNCCD alcançou as expectativas em
relação à CST2 e CRIC9?
Luc Gnacadja - O trabalho de base para as
decisões das COPs (Conferências das Partes) é
realizado por órgãos subsidiários da UNCCD, como o
Comitê de Ciência e Tecnologia e o Comitê de Revisão
da Implementação da Convenção. A Segunda Sessão
Extraordinária do Comitê de Ciência e Tecnologia
(CST2) apresentou uma série de conselhos para a
próxima COP, em especial, sobre metodologias para
monitorar os indicadores de impacto no próximo
ciclo de relatórios. A Nona Reunião do Comitê de
Revisão da Implementação da Convenção (CRIC9),
que aconteceu na semana seguinte, avaliou os
relatórios nacionais das partes em relação às
estratégias de implementação. Pela primeira vez, em
todo o processo de implementação da Convenção,
nós tivemos a oportunidade de avaliar relatórios
que foram elaborados sob os mesmos parâmetros
e indicadores, o que nos permitiu ver claramente as
metas alcançadas e as que precisam ser atingidas.
Temos uma série de metas para 2014-2018, e o
tipo de sistema discutido na CRIC nos ajudará a
estabelecer uma base de dados. A partir da próxima
reunião do Comitê, marcada para o próximo ano, e a
cada dois anos, nas COPs, será possível acompanhar
as tendências, avaliar se estamos nos movendo
na direção correta e se a velocidade com que nos
movemos vai nos levar aos resultados pretendidos
na estratégia. Estou satisfeito por ter recebido cerca
de 120 relatórios nacionais, até novembro do ano
passado. Além disso, 89 países afetados apresentaram
avaliações. Estou bastante satisfeito com o novo
sistema de avaliação baseado em uma plataforma
da Web, o PRAIS, que é uma novidade para as partes.
Creio que a partir dessa ferramenta poderemos
aprender muito sobre o que já fizemos.
RIB - Quais as lições aprendidas?
Luc Gnacadja - Primeiro, a crescente
sensibilização em quase todos os países sobre a
questão da desertificação é bastante satisfatória.
Os relatórios mostram que, globalmente, 25% da
população está ciente dos desafios impostos pela
desertificação e pela degradação da terra, e de como
isso se relaciona com as perdas de biodiversidade
e mudanças climáticas. A meta em relação à
sensibilização era atingir 30% da população até 2018.
Por isso, a notícia é muito boa. Mostra que as ações
tomadas pelas Partes nesse sentido são realmente
eficazes. No entanto, em países desenvolvidos,
apenas 7% da população tem consciência do
problema. E isso é preocupante. Nós precismos
aumentar os nossos esforços e nos certificar de que
as populações dos países desenvolvidos sabem o que
está acontecendo. Este não é um desafio apenas dos
países afetados, é uma questão global. A degradação
do solo tem enorme impacto sobre a segurança
alimentar e a pobreza. Os relatórios também
mostraram campos específicos onde há necessidade
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 12 I 16ª Edição
Notícias
de mobilizar mais esforços para alcançar as metas,
por exemplo, os Planos de Ação Nacionais devem ser
alinhados à estratégia da UNCCD. A meta é que 80%
dos países afetados tenham seus planos alinhados
até 2014, mas apenas 6% estão em conformidfade.
Portanto, se queremos atingir esse objetivo até 2014,
temos de mobilizar os nossos esforços.
RIB - Uma das críticas que figura entre as
Partes sobre o novo sistema para elaboração
dos relatórios nacionais, o PRAIS, é em relação
à equiparação dos países? Qual o objetivo de se
criar uma base de dados para comparar países?
Luc Gnacadja - Não se trata de comparar
países. Nós só podemos melhorar aquilo que
podemos medir. Se temos um sistema para medir
indicadores, seremos capazes de compreender de
maneira mais clara os nossos pontos fracos e fortes,
e assim, elaborar ações e políticas mais focadas. Isso
também é bom para que os países aprendam uns
com os outros. Fala-se muito sobre cooperação sulsul, transferência de tecnologia e compartilhamento
do conhecimento, mas como afirmar que podemos
aprender com outros países, se não sabemos quais
são as suas experiências bem-sucedidas? Portanto,
não se trata de comparar, mas definir uma base
de dados para monitorar o progresso e também
identificar as áreas onde a partilha de conhecimentos
poderia estar em foco.
RIB - Nas COPs, a integração entre as
três convenções tornou-se recorrente. Qual a
posição da UNCCD sobre essa questão?
Luc Gnacadja - Eu não creio que eles falem
sobre integração. Em minha opinião, integração
seria pegar as três convenções e transformá-las
em uma. As Partes, na verdade, pedem sinergias,
reunindo ações que poderiam ser mais eficazes para
a implementação de cada um dos mandatos. Nesse
sentido, penso que sim, que há espaço para a criação
de sinergias em vários níveis. Há um terreno comum
nas três convenções. No entanto, as sinergias estão
acontecendo efetivamente em nível da comunidade.
Se você perguntar para as comunidades que
medidas estão tomando para adaptação à mudança
do clima e para melhorar a fertilidade dos solos, eles
não vão dizer quer hoje eles estão implantando as
ações para mitigar as alterações climáticas, amanhã
vão implementar a convenção de biodiversidade e
depois de amanhã a de combate à desertificação. Na
comunidade, os contextos estão integrados, as ações
são conjuntas. Já em âmbito nacional, a políticas
públicas devem assegurar que cada espaço para
sinergias seja cuidadosamente trabalhado. A este
respeito os pontos focais nacionais e instituições
focais para a biodiversidade, mudanças climáticas e
desertificação devem se articular mais. Em 60, dos 193
países membros (para a biodiversidade) e 194 (para
mudanças climáticas e combate à desertificação), o
ponto focal de cada convenção está nos mesmos
ministérios. Então, nesses 60 países deveria ser fácil
construir sinergias. Além disso, em 15 países, o ponto
focal das três convenções é a mesma pessoa. As
sinergias deveriam ser realmente eficazes, mas não
são. Creio que a questão dos recursos pode ser um
entrave para o processo de construção de sinergias,
especialmente quando geridos pela mesma pessoa
a cargo das três convenções. A maneira de pensar
em setores é equivovada. A abordagem deveria ser
diferente. Na natureza as coisas estão intrincadas,
nos ecossistemas não existem barreiras. Se você
não utiliza bem o solo, isso vai impactar no clima,
se você perde biodiversidade, isso afeta a terra. É
assim que as coisas funcionam. Em nível global,
em que o estabelecimento de sinergias também
é absolutamente necessário, já existe um grupo
composto pelos secretariados das três convenções
(Desertificação, Biodiversidade e Mudanças
Climáticas) com o objetivo de reunir as decisões das
Partes em relação às ações de sinergia e avaliar de que
forma facilitar a implementação das três convenções.
RIB - De que forma a UNCCD pode contribuir
para a disseminação das boas práticas?
Luc Gnacadja - Boas práticas estão relacionadas à
partilha de conhecimento. Nós vamos apresentar na
COP 10 um sistema de gestão de compartilhamento
de conhecimento conforme solicitado pelas partes.
A COP 10 deverá decidir e aconselhar criticamente
como isso será feito. Há uma clara necessidade de
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 13 I 16ª Edição
Notícias
acesso ao que chamamos de melhores práticas e a
forma como vamos compartilhá-las. Isso significa
que essas experiências precisam ser avaliadas e, em
seguida, submetidas a um sistema que permita a sua
disseminação e compartilhamento.
RIB - Qual a visão da UNCCD com relação ao
envolvimento da sociedade civil no processo de
elaboração dos relatórios nacionais?
Luc Gnacadja - Quando falamos em sociedade
civil tendemos a pensar em ONGs. Mas nós sabemos
que a sociedade civil tem muitos componentes.
As ONGs são um componente importante e um
bom alvo para nós, porque na maioria das vezes
eles trabalham a nível comunitário, especialmente
no relato de boas práticas, mas devemos estar
conscientes de que o setor privado também é um
forte aliado no que diz respieito às boas práticas. Por
isso, penso que esse setor também deva ser bastante
estimilado. Eles são parte do problema, mas também
pode ser uma grande parte da solução. Porque eles
inteferem diretamente no modelo de produção. É
preciso mobilizar o setor privado, como acontece
com nas convenções de mudança climpatica e
de biodiversidade, especialmente no âmbito do
protocolo de partilha de benefícios. Portanto, se
queremos evitar a degradação, se queremos preservar
o solo, devemos garantir que os produtos fabricados
a partir de materiais de solo e da terra sejam feitas
de forma sustentável. Assim, as corporações também
devem reavaliar seus processos.
RIB - Quais as expectativas da UNCCD com
relação a COP10? Quais os principais pontos a
serem discutidos?
Luc Gnacadja - Alguns pontos bastante
relevantes estão na agenda COP10. Um deles, claro,
é a definição do Plano de Trabalho para 2012-1015.
Outros pontos que deverão entrar na discussão serão
a Segunda Conferência Científica da UNCCD e o
sistema para elaboração dos relatórios de indicadores
de impacto, que vai ajudar a estabelecer uma base de
dados a fim de monitorar anualmente os impactos da
implementação. Esperamos com isso fazer com que
as Partes adotem metas de níveis de impacto. Temos
metas para indicadores de desempenho precisamos
de metas de indicadores de impactos também. Esta
convenção nasceu no Rio de Janeiro. Vinte anos mais
tarde, espero que as Partes olhem para o que já foi
feito, para o que ainda falta e para o que é necessário
para o futuro. Nesse sentido, devemos nos assegurar
de que estabelecemos ações e metas concretas para
preservar a terra e evitar a degradação do solo.
RIB - Rio +20: Quais são as questões para
a próxima década no âmbito do mandato da
UNCCD?
Luc Gnacadja - Pobreza e insegurança alimentar
serão agravadas pelas alterações climáticas e pela
perda da biodiversidade. Portanto, se queremos
colocar em contexto os desafios impostos pela
mudança climática, perda da biodiversidade e
desertificação, devemos olhar para onde queremos
os impactos. Como vamos garantir, por exemplo,
que o bilhão de pessoas esquecidas em terras
áridas e que enfrenta uma incrível pobreza e sofre a
cada dia com os efeitos da mudança climática, saia
dessa condição de vulnerabilidade? Sabemos que
quando não fazemos nada a questão se transforma
em fome, insegurança alimentar, instabilidade e
conflitos. Espero que possamos realmente trazer
alguma abordagem específica para este encontro e
também possamos discutir sobre economia verde,
desenvolvimento sustentável e redução da pobreza
de forma efetiva. Em 2050, seremos nove bilhões de
pessoas e a necessidade de crescimento da produção
de alimentos é óbvia. Essa missão é quase impossível,
a menos que encontremos uma alternativa para
reverter essa tendência. Espero que esses pontos
estejam no centro do palco. Além disso, existem
outras questões que agravam a situação. Quando
mapeamos os conflitos no mundo, oito de cada 10
estão travados em terras secas. Essa instabilidade
em nível regional contribui para um mundo cada
vez mais instável. E a única maneira de reverter
isso é atacando as causas desses conflitos, que na
maior parte das vezes tem a ver com a degradação
de recursos vitais, como a produtividade da terra e
água. Sem solo não há vida. Espero que a Rio +20 seja
construída sobre essa evidência.
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 14 I 16ª Edição
IICA apóia o INMET no fortalecimento de
suas ações agrometeorológicas
Notícias
O
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e o
IICA reafirmaram a parceria entre os institutos,
durante recente encontro realizado em Brasília. O
Projeto de Cooperação Técnica (PCT) Fortalecimento
das ações Agrometeorológicas do INMET em apoio ao
Agronegócio, firmado entre as instituições pautou o
encontro.
O Diretor do INMET, Antonio Divino Moura,
apresentou a Manuel Otero, que está a frente
da Representação do IICA no Brasil (RIB), e ao
Coordenador da área de Recursos Naturais da RIB,
Gertjan Beekman, as principais ações do Instituto
Nacional em parceria com o IICA e a atuação do
órgão nos recentes acontecimentos das chuvas no
estado do Rio de Janeiro.
No âmbito do PCT, em 2010, foi finalizada
a primeira fase do novo Sistema de Apoio às
Decisões Agrícolas, conhecido como SISDAGRO,
que substituirá com grandes vantagens o sistema
atualmente disponível no portal INMET.
Lauro
Fortes,
coordenador
geral
de
Desenvolvimento e Pesquisa do INMET, enfatizou
que o novo sistema “oferecerá algumas facilidades
como o cálculo de balanço hídrico, estimativas
de produtividade, risco climático, entre outras
ferramentas. Funcionalidades para o produtor
e também para o próprio Governo, na tomada
de decisões.” No mesmo ano, concluiu-se a nova
arquitetura de informação a ser utilizada no portal
INMET, visando torná-lo mais atraente, amigável,
confiável e abrangente para os usuários externos.
Por meio do PCT com o IICA, o software Consortium
for Small-scale Modeling (COSMO, sigla em inglês), será
adquirido. Trata-se de um modelo não-hidrostático,
com uma resolução de 5 km e pode contribuir para
a melhoria da previsão de vários fenômenos não
observados pelos modelos hidrostáticos.
Outro tópico que está sendo desenvolvido no
âmbito da cooperação refere-se a criação do Centro
Virtual de Eventos Meteorológicos que terá como
função gerar informações aos serviços de alerta
(defesa civil e população) quando da previsão e
ocorrência de eventos extremos. A previsão numérica
do tempo (atmosfera) também está inserida no
contexto da cooperação INMET-IICA.
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 15 I 16ª Edição
IICA e MAPA definem ações para 2011
Parceiros querem aumentar projetos de cooperação técnica na área agrícola entre os
países latino-americanos
Notícias
F
ruto da manifestação do governo brasileiro, por
meio do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), de multiplicar o potencial
de cooperação técnica na área agrícola entre o Brasil
e os países de menor nível de desenvolvimento no
continente, realizou-se, em fevereiro, reunião entre
técnicos do IICA e do MAPA com o objetivo de discutir
propostas de trabalho entre as duas instituições
e propor uma agenda conjunta de trabalho para
alcançar tal intento.
“O IICA é um organismo de amplitude hemisférica
especializado na área agrícola. Queremos aproveitar
a capilaridade da instituição e desenvolver de
forma embrionária projetos com os países latinoamericanos. Porque ao Brasil interessa uma região
forte”, explicou Alexandre Pontes, coordenadorgeral de negociação na OMC do MAPA.
Entre os temas considerados prioritários para a
realização de trabalhos de cooperação técnica entre
o IICA e o MAPA estão o apoio à participação dos
delegados dos países das Américas nos subcomitês
do Codex Alimentarius; medidas sanitárias e
fitossanitárias; o controle da mosca carambola
na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa; a
produção de sementes de arroz na Guiana para
exportação ao Brasil; e o Projeto Embrapa Américas.
Durante a reunião, Manuel Otero reiterou a
intenção do IICA em aprofundar a cooperação
técnica com o MAPA. “É um parceiro estratégico”,
afirmou.
Além disso, foram apresentados os trabalhos
em andamento pelas duas instituições e que vão
ao encontro do objetivo da agenda atual, como
o projeto em apoio ao Embrapa Américas, que
segundo Jamil Macedo, possui escritórios técnicos
localizados em diversos países latinos americanos, o
que facilitaria o processo de cooperação com outros
países em um novo projeto.
A especialista em Sanidade Agropecuária e
Inocuidade dos Alimentos Lucia Maia, apresentou
os trabalhos que vem desenvolvendo nos últimos
dois anos com o Ministério de Agricultura em
relação à Influenza Aviaria (IA) junto aos Órgãos
Executores de Defesa Agropecuária e Inocuidade
dos Alimentos nos Estados brasileiros.
Além disso, a especialista apresentou o trabalho
realizado em coordenação direta com a Secretaria
de Defesa Agropecuária do MAPA, na busca de uma
definição de estratégias para o trabalho conjunto
com alguns dos países que conformam a região
amazônica (Guiana Inglesa e Francesa) relacionados
ao problema da mosca da carambola.
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 16 I 16ª Edição
IICA e ABC debatem integração de ações
em projetos de cooperação
Notícias
O
Representante do IICA no Brasil, Manuel Otero,
e o Ministro Marco Farani, Diretor da Agência
Brasileira de Cooperação (ABC), reuniram-se, dia 21
de março, para debater os desafios do Instituto e os
trabalhos desenvolvidos em parceria com a Agência.
Na ocasião, Otero fez um balanço dos principais
projetos em desenvolvimento no território brasileiro.
Farani apontou interesse em integrar esforços com
o IICA em diversas temáticas que a ABC trabalha.
Foram marcados encontros com a equipe de
gerentes da Agência com os coordenadores das
áreas temáticas do Instituto.
Entre os temas destacados está a troca de
experiências e informações sobre iniciativas de
combate à desertificação; articulação de ações
governamentais em faixas de fronteira; articulação
de ações de defesa sanitária animal e vegetal com
ênfase na mosca da carambola; proposição de um
esboço sobre um espaço de articulação técnica entre
organismos internacionais, sob a liderança da ABC,
em temas relacionados com o desenvolvimento
rural sustentável.
“A cooperação multilateral propicia espaços
favoráveis para discussão e elaboração sobre
políticas públicas e o trabalho do IICA é muito
importante para todo o país”, apontou o ministro
Farani.
Participaram da reunião, Aureliano Matos,
coordenador da Unidade de Gerenciamento de
Projetos da Representação do IICA no Brasil (RIB);
Gertjan Beekman, coordenador da área de Recursos
Naturais da RIB; Carlos Miranda, coordenador da área
de Territórios e Bem estar rural da RIB; o coordenador
de Projetos de Cooperação Técnica Multilateral da
ABC, Márcio Lopes Corrêa, e os gerentes de projetos
da ABC, Pedro Veloso (África), Maria Augusta Ferraz
(América Latina), Pedro Meirelles (Programas IICA,
OACI, ONM); e Grazieli Adjafre, Analista de Projetos
IICA/ABC.
“A cooperação multilateral propicia
espaços favoráveis para discussão e
elaboração sobre políticas públicas e
o trabalho do IICA é muito importante
para todo o país”
Ministro Marco Farani
Diretor da ABC
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 17 I 16ª Edição
IICA participa do Dia Meteorológico
Mundial
Notícias
O encontro reuniu 120 especialistas no tema, entre funcionários do INMET, do IICA, dos
Ministérios da Agricultura (MAPA) e Ciências e Tecnologia (MCT) e da FAO.
O
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET),
órgão vinculado à Organização Meteorológica
Mundial (OMM), comemorou, no dia 24 de março,
o Dia Meteorológico Mundial, com a realização do
Seminário Clima e Você, em Brasília.
O encontro reuniu 120 especialistas no tema,
entre funcionários do INMET, do IICA, dos Ministérios
da Agricultura (MAPA) e Ciências e Tecnologia
(MCT) e da Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO).
Em suas palavras de abertura, o Secretário
Executivo do MAPA, Milton Elias Ortolan,
representando o Ministro da Agricultura Wagner
Rossi, destacou o papel do INMET no enfrentamento
de desafios latentes na relação homem e natureza.
“O tema é atual e reflete essa interação. Neste cenário
de intensas chuvas seguido de seca prolongada, o
INMET tem papel importante em diversos aspectos,
entre eles o de prevenção de riscos”, apontou. Fez
referência também, ao Projeto de Cooperação
Técnica firmado entre o INMET e o IICA, que visa
implementar um modelo não-hidrostático, com
uma resolução de 5 km e pode contribuir para a
melhoria da previsão de vários fenômenos não
observados pelos modelos hidrostáticos.
O Diretor do INMET, Antonio Divino Moura, falou
sobre os avanços tecnológicos na previsão do clima
e na recuperação de dados históricos, que segundo
ele “há mais de 100 anos de registro e o INMET está
envidando esforços no processo de catalogação
de milhares de documentos”. Divino chamou os
documentos de memória do clima do Brasil.
Durante a segunda parte do seminário, o
Representante do IICA no Brasil, Manuel Otero,
apresentou o painel O Clima e as ações do IICA para
enfrentar os impactos das mudanças climáticas na
Agricultura. Segundo Otero, para que a agricultura
seja parte da solução é preciso uma mudança de
modelos, de uma atividade convencional para uma
mais ambientalmente responsável.
“Um pacote de alternativas ecoeficiente
devem ser adotado para minimizar os efeitos das
atividades agrícolas no clima, destacando para
práticas adequadas no manejo do solo; incentivo
ao plantio direto; investimento em biotecnologia;
preservação de agroflorestas; e utilização de
sistemas agrossilvipastoris”, disse o Representante.
Otero ressaltou ainda que o IICA tem um Plano
de Médio Prazo 2010 – 2014, que reconhece a
importância das Mudanças Climáticas na agricultura,
com a criação do Programa de Coordenação
Transversal de Recursos Naturais, Gestão Ambiental
e Adaptação às Mudanças Climáticas.
Armin Augusto Braun, da Secretaria Nacional
da Defesa Civil, apresentou as diretrizes de
ação do Centro Nacional de Gerenciamento
de Desastres (CENAD), que tem como “objetivo
possibilitar, por intermédio do emprego de um
sistema informatizado, o gerenciamento de
ações preventivas e de respostas, permitindo o
geoprocessamento de dados via satélite”.
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 18 I 16ª Edição
Responsabilidade Social
O IICA está comprometido com a solidariedade hemisférica, a
igualdade social, a redução da pobreza rural, a prestação de contas,
a transparência, o bem estar dos funcionários, a equidade de gênero,
a multiculturalismo e a diversidade, a proteção do meio ambiente e a
sustentabilidade financeira.
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 19 I 16ª Edição
IICA C o o p e r a ç ã o
O Brasil Rural está conectado
O Programa Territórios Digitais está mudando a vida de
muitos brasileiros, fortalecendo a organização social e
promovendo a educação digital no campo
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 20 I 16ª Edição
IICA Cooperação
“E
u sou eu e minha circunstância”, esta frase é
de um conhecido filósofo espanhol Ortega
y Gasset. Embora o agricultor de 32 anos, Pedro
Marcelo Pereira da Silva, nunca tenha ouvido
falar sobre Gasset, sabe muito bem quais são suas
circunstâncias. Pedro nasceu e cresceu nas ruas
empoeiradas do Sítio Soledade, em Mauriti, no semiárido cearense, onde as circunstâncias são de 40
famílias de agricultores, pastos compridos com árvores
retorcidas no meio, mato alto, crianças brincando em
cima e debaixo dos cajueiros e uma estrada de terra
que os liga ao município. O homem de semblante
sério sente-se orgulhoso por suas circunstâncias, que
para ele, de um ano pra cá, mudou muito, e apontou
um motivo muito aparente para isso: uma casa que
está no centro do Sítio; ela se diferencia das outras,
que têm telhas desconexas, sem banheiros e com
água que vem do poço artesiano. Essa, porém tem
antena digital, janelas e porta de ferro.
Pedro, os moradores do Sítio Soledade e de
outros 15 sítios ao redor foram beneficiados pelo
Projeto Territórios Digitais, que faz parte do Programa
Territórios da Cidadania, do Governo Federal,
desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA).
Com a coordenação do Núcleo de Estudos
Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD) e do IICA,
por meio de um Projeto de Cooperação Técnica
com o MDA, o Territórios Digitais já alcançou 99
municípios brasileiros, beneficiando agricultores
familiares, indígenas e quilombolas, e instalou nessas
terras 110 Casas Digitais. Até 2012, estão previstas
a instalação de outras 2.050 Casas, por meio do
Programa Nacional de Apoio à Inclusão Digital nas
Comunidades (Telecentros.Br).
“A cooperação técnica firmada entre o MDA
e o IICA vem possibilitando, a contratação de
consultorias, para realizar avaliação de experiências
participativas e a formulação de metodologias de
capacitação, estudos de impacto das TICs nas áreas
rurais, no sentido de potencializar a contribuição da
agricultura para o desenvolvimento dos territórios
e de cidadania no campo. O projeto Territórios
Digitais agradece a importante contribuição do IICA”,
ressalta Rossana Moura, coordenadora do Programa
Territórios Digitais.
“Quando chegaram os computadores, nos
organizamos para preparar o local que iríamos
instalar a Casa Digital, em quatro dias erguemos as
paredes, e pintamos tudo, com a internet instalada
precisávamos aprender a mexer nos computadores”,
contou Pedro.
Antes de inaugurar o espaço público, a própria
comunidade escolhe até 40 moradores para participar
do Curso de Gestores Comunitários Voluntários e
Multiplicadores, quando aprendem noções básicas
de informática e conteúdos de gestão comunitária.
Os parceiros geralmente são as esferas estaduais e
municipais, além de ONGs, fundações e institutos.
No estado do Ceará, o MDA conta com as parcerias
da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do estado
(SDA/CE); execução do Instituto Agropolos; do
Instituto Nordeste Cidadania (INEC); e da Delegacia
Federal do MDA.
Sandra Bandeira é coordenadora do Projeto Casas
Digitais do Campo, assinado pela SDA/CE, e atua
integrada ao Territórios Digitais. Segundo Sandra, o
objetivo da Secretaria é integrar as comunidades e
promover a trocar de experiências.
“Quando chegamos à comunidade percebemos
o relacionamento entre eles crescendo, e por isso
trabalhamos dois focos durante a capacitação: a
educação no campo e a cultura da partilha para
que aprendam a se relacionar com as diferenças”,
informou. Destacou ainda, que já foram instaladas
24 Casas Digitais no Ceará e outras 267 devem ser
implantadas até o fim deste ano.
De segunda a sábado, a partir das 7 da manhã, a
Casa Digital de Soledade é aberta. Do lado de fora,
desenhos nas paredes enfeitam a fachada e lá dentro
IICA Cooperação
um mundo inteiro de possibilidades, informações
e conhecimentos. Todas as Casas instaladas pelo
Programa, contém 10 computadores completos,
uma impressora, um servidor, uma antena de
internet wireless, um projetor de datashow, além
de mobiliário. Tudo entregue gratuitamente à
comunidade, que realiza a sustentabilidade da
gestão comunitária autônoma da Casa. Maria
Poliana de Melo Landim, de 18 anos, cuida da
Casa Digital de Soledade nas tardes de quinta-feira,
é responsável pelo blog da comunidade na internet,
- http://www.casadigitalsoledade.blogspot.com/ - e
está organizando o segundo bingo solidário em prol
da Casa. O primeiro evento aconteceu ao final do
ano passado, quando toda a comunidade se reuniu,
arrecadou doações e promoveram um torneio de
futebol. Toda a renda foi revestida na forragem do
teto da Casa. Poliana contou que pretende nos
próximos meses, como parte das comemorações de
um ano de uso da Casa, realizar uma série de palestras
para jovens e adultos sobre Doenças Sexualmente
Transmissíveis.
No sítio Soledade, os computadores ganharam
nomes de árvore: cajueiro, pitombeira, mangueira,
laranjeira, entre outras. E é nesse pomar de
conhecimentos que Pedro acabou de criar seu
perfil no Facebook e suas primeiras palavras na rede
social foram “Valeu a tuma do Territorios”. Ainda se
acostumando às mais de 80 teclas do computador,
nessa frase, ele expressa sua gratidão ao Programa.
A falta de oportunidades de conhecimento e de
horizonte colocava em questão a permanência dos
jovens no campo. Hoje, segundo Pedro, os jovens
estão motivados a expandir seus conhecimentos
com a realização de cursos virtuais. “Minha vida
mudou muito, a Casa Digital me deu oportunidade
de conhecer lugares que nunca tinha ouvido falar. E
o mais importante, é ver nossas crianças crescendo e
tendo oportunidades que nós não tivemos na idade
delas”, afirmou Pedro.
Antônio Marciano Pereira é primo de Pedro,
tem 24 anos, é professor da Escola Rural de Fortuna,
vilarejo próximo ao Sítio, divide seu tempo com a lida
no campo, as aulas na escola, cortando os cabelos
dos vizinhos, arrumando os pneus das carroças e a
noite alfabetizando jovens e adultos em um cômodo
de sua casa. Ainda nessa corrida rotina, reserva tempo
para utilizar a Casa Digital como ferramenta para o
preparo de suas aulas e estudo. Iniciou um curso de
edificações com caráter virtual, portanto a chegada e
instalação da Casa Digital há 100 metros de sua casa
facilitou e muito sua jornada.
“Se não fosse a Casa Digital eu teria dificuldades
para concluir meu curso. Como educador, quero
usar a Casa para que meus alunos, tanto as crianças
quanto os adultos, conheçam as vantagens de usar a
internet para seu aprendizado”, disse Marciano.
O jovem dedica sua vida em mudar a de muitos.
É bom de fala e de papo, um líder nato. Todas as
quintas-feiras leva seus alunos para dentro da Casa,
onde os faz acessar um mundo de oportunidades e
informações, tornando aquele espaço um ambiente
de troca e intercâmbio de aprendizagem, de
crescimento e de convivência do cotidiano com o
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 22 I 16ª Edição
IICA Cooperação
“Se não fosse a Casa Digital eu teria dificuldades para concluir meu
curso. Como educador, quero usar a Casa para que meus alunos,
tanto as crianças quanto os adultos, conheçam as vantagens de usar
a internet para seu aprendizado.”
Marciano
virtual. “Quero que a Casa continue e seja cada vez
mais valorizada”, afirmou.
É há aproximadamente 15 minutos de caminhada
da Casa Digital de Soledade, uma imensa algarobeira
carregada de fartura e admiração, generosa em
sua sombra, marca onde fica a casa do pequeno
Francisco Fabrício Furtado de Oliveira, um dos
cinco filhos da Dona Graça e do Senhor Miguel.
Fabrício é um dos mais novos usuários/gestores
da Casa, participou da capacitação quando ainda
tinha 9 anos. Todas as terças-feiras, ele acorda às 7
horas e encara a estrada, faça chuva ou sol, para usar
a Casa Digital, acompanhado pela gestora do turno,
Anailma Nunes, a Loira como é conhecida.
Em busca de aprendizado, Fabrício acessa sites de
notícias e jogos interativos e quando questionado no
que deseja ser quando terminar o ensino médio, diz
logo: “Quero ser educador, me formar em Pedagogia”.
Talvez aqui seja o reflexo da interação com os usuários
da Casa e o exemplo do jovem Marciano.
Recém conectada
No município de Crato, a Casa de Digital da
Villa Malhada foi instalada na sede da Associação
de Produtores Rurais Padre Frederico, há apenas 5
meses e já se vê resultados de mudança na rotina da
comunidade.
Na região, vivem mais de 245 famílias, que cuidam
da plantação de feijão, arroz, milho, amendoim,
maracujá, banana, goiaba, caju e manga, entre outros
produtos que são comercializados nas proximidades
da Villa e no SEASA de Crato.
Segundo José Sebastião Agostinho, agricultor
e gestor da Casa, seus companheiros de campo
estavam sempre desatualizados de informações
importantes como cotação de preço de produtos e
insumos, alem do surgimento de novas pragas.
“Estamos felizes, pois agora nos sentimos parte do
mundo globalizado, temos informações em tempo
real. A produção só teve ganho. Quando aparece
uma nova praga, já temos condições de nos prevenir
contra ela”, contou José.
Durante a exposição agropecuária de Crato,
o agricultor vende com sua família mais de 3 mil
tapiocas, produzidas com matéria prima colhida
das terras da Villa, e foi nessa feira que ele recebeu
informações sobre o Programa Territórios Digitais
e não demorou muito para os computadores
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 23 I 16ª Edição
“Os alunos têm agora
uma importante
ferramenta de estudo.”
IICA Cooperação
Valdenia Gonçalves
chegarem.
Com o treinamento de 38 gestores a Casa abriu
suas portas para a comunidade. As informações que
José Sebastião dizia serem importantes, agora estão
24 horas acessíveis. O agricultor disse ter expandido
seu olhar do mundo e acredita que a Casa Digital é a
extensão da Escola da Villa.
Compartilham da mesma opinião, as professoras
Valdenia Gonçalves e Eulina Agostinho, que enfatizam
que a Casa é o ponto de encontro da aprendizagem
e do lazer.
“Expandiu o aprendizado dos alunos, que antes se
limitava ao livro didático e ao pátio da escola, onde
as atividades extraclasses aconteciam. Os alunos têm
agora uma importante ferramenta de estudo”, contou
Valdenia, formada em Geografia, gestora da Casa e
estudante de pedagogia, na Universidade Regional
do Cariri (URCA).
Eulina, aluna do curso à distância de pedagogia
pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), contou
que é professora do Programa de Educação de Jovens
e Adultos (EJA) e coloca seus alunos para fazerem
uso da internet. “A maior vantagem foi a inovação
dos estudos e materiais de ensino, preparo minhas
aulas na Casa Digital e estou iniciando um trabalho
de inserção destes jovens e adultos no mundo
digital, um caminho de infinitas oportunidades de
aprendizado”, afirmou Eulina.
Para a estudante de economia Rejane Teixeira, de
21 anos, “a Casa deu uma grande perspectiva para os
moradores da Villa, promovendo a socialização entre
as diversas comunidades da região. Mulheres que
viam apenas sendo donas-de-casa e crianças e jovens
sem ocupação, hoje têm onde investir seu tempo. A
auto-estima da população aumentou, pois hoje se
sentem capazes de alcançar novas oportunidades”.
A jovem conta que a gestão da Casa acontece
com a participação de todos. Uma turma está sendo
formada para ministração de um curso básico de
informática, aplicado pelos próprios gestores. “Já
organizamos um evento aqui na Associação e temos
a pretensão de reformar a Casa, pintar as paredes e
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 24 I 16ª Edição
IICA Cooperação
identificar a fachada. Agora ela é nossa Casa”, contou.
Um olhar especial no 10 de abril
José Dionísio dos Santos, de 86 anos, é
conhecido como Vozinho no Assentamento 10
de Abril, no Crato, é o poeta da comunidade, uma
enciclopédia da sabedoria popular. Ele, nos altos de
sua experiência, reconhece que a Casa Digital é uma
porta para o infinito mundo do conhecimento.
Em sua simples casa mostra a velha e companheira
máquina de datilografia, hoje emperrada, pelo
tempo. Vozinho confessa que ainda não se adaptou
à tecnologia do computador, mas já iniciou suas
aulas de socialização com o equipamento. Sente
a diferença nas pontas dos dedos, segundo ele, o
teclado é muito sensível e sente falta do barulho das
teclas marcando o papel.
Começou a digitalizar seu acervo de inúmeras
estrofes, porém sentiu que ainda precisa se
acostumar com as teclas. Tem um sonho, ganhar
um computador, para treinar em casa os dedos, que
segundo ele, são teimosos e pesados.
Marcondes Guedes, um adolescente de 14
anos, é um dos gestores mais novos da comunidade,
não perde a paciência com o Vozinho, sempre está
disposto a ajudá-lo e orientá-lo, e é o mais respeitado
entre os jovens. Seguindo a política da Casa Digital,
quem deve definir as regras do seu uso são os
próprios gestores.
No 10 de Abril, é Marcondes quem faz questão de
manter a ordem lá, pois somente crianças acima de
dez anos podem usar os computadores, as menores
devem estar acompanhadas; as meninas não podem
entrar de shorts curtos e os meninos sem camiseta.
Com toda essa história de regular os acessos na Casa
e ajudar os amigos no acesso aos computadores,
despertou em Marcondes uma mudança que pode
ser por toda a vida.
“Antes da chegada da Casa no Assentamento,
eu pensava em ser bombeiro e agora com o meu
envolvimento nas atividade da Casa e na interação
com as pessoas que a frequentam, eu quero ser
técnico em informática”, contou Marcondes.
Eliete Saldanha, cursa pedagogia à distância e usa
a Casa Digital para realizar suas pesquisas e ajudar
as crianças nos trabalhos dados pelas professoras. “A
Casa Digital veio para fortalecer a interação de toda
a comunidade e hoje as crianças e jovens têm mais
acesso a informação, o que reflete no sucesso da
Casa Digital do Assentamento”, afirmou.
“A Casa Digital atingiu um patamar reconhecido
nacionalmente. Tem vida longa e útil para
a comunidade quando esta se apodera do
conhecimento e dos equipamentos e tem resultado
significativo”, destacou o coordenador geral do NEAD,
Joaquim Soriano.
“Meu pai morava em Várzea Alegre, no
ano de 27 eu nasci.
Sou brasileiro e gosto do meu país.
Meu pai era agricultor e, por isso,
mudou pra fazenda Boriz.
Meu pai era agricultor trabalhava na
cultura, senão tinha muito dinheiro,
mas tinha sempre fartura.
No inverno se acaba, agente passava,
mas a vida era dura.
(Vozinho, José Dionísio dos Santos,
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br
Poeta do 10 de Abril)
I 25 I 16ª Edição
Especial
Momento de Intercâmbio
Um espaço para conhecer, discutir, aprender e vislumbrar novas oportunidades,
assim é caracterizada a ação de promover um intercâmbio de experiências.
Seguindo esta filosofia, o IICA criou a série de debates “Momento de Intercâmbio”.
No lançamento da ação, a experiência de construção da proposta do Programa
Nacional de Educação Ambiental e Agricultura Familiar esteve em pauta.
Veja como foi esta primeira experiência e conheça um pouco mais sobre essa
iniciativa inovadora.
E
m 2010, o Brasil realizou 590 iniciativas de
cooperação técnica internacional no que se refere à
região Sul-Sul, alcançando 81 países e movimentando
cerca de US$ 35 milhões. A agricultura foi o setor
com maior volume de operações, respondendo com
22% do total de cooperações. Um recorde para o
País. Nesse contexto de valorização e crescimento
das atividades de cooperação técnica pelo governo
brasileiro, o Instituto Interamericano de Cooperação
para a Agricultura (IICA), como agência especializada
e em busca de oferecer um serviço de cooperação de
melhor qualidade, lançou no mês de fevereiro a série
de debates Momento de Intercâmbio.
A iniciativa surgiu da reflexão sobre algumas
dificuldades do Instituto, como a falta de divulgação
de produtos frutos de cooperação técnica e de
resultados alcançados em experiências exitosas
oriundas dos mesmos projetos de cooperação. Somase a este fato, a falta de conhecimento de alguns
gestores públicos sobre como se dá e a importância
da cooperação técnica, engessando diversas ações
dirigidas à população brasileira. “Há que se estimular
as experiências de cooperação técnica. É uma
excelente ação para o desenvolvimento dos países”,
disse o representante do IICA no Brasil, Manuel
Otero. A afirmação de Otero vai ao encontro de um
dos objetivos da presidenta do Brasil, Dilma Roussef,
de fortalecer as ações de cooperação técnica
internacional como meio para se difundir as exitosas
experiências brasileiras para outros países. Tal fato
reforça, ainda mais, a série de debates.
“Além de divulgar os produtos e resultados, a
iniciativa cria um espaço de aproximação com os
parceiros atuais e potenciais do IICA; estimula a
troca de experiências e conhecimentos; e incentiva
o debate técnico”, afirmou Cristina Costa, especialista
em Projetos de Cooperação Técnica.
Agricultura Familiar e Educação Ambiental:
a primeira experiência
Fruto da cooperação técnica entre o IICA, o
Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Agência
Brasileira de Cooperação (ABC), a experiência de
construção da proposta do Programa Nacional de
Educação Ambiental e Agricultura Familiar com
foco nos Territórios do Vale do Paranã e Chapada
dos Veadeiros foi o tema de discussão, no dia 28 de
fevereiro, na sede do IICA Brasil, do lançamento da
série de debates técnicos Momento de Intercâmbio.
Representantes de diversos Ministérios, líderes de
associações em territórios e técnicos especializados
no tema tiveram a oportunidade de conhecer e de
opinar sobre a metodologia adotada para construir
a proposta. Ao todo, 82 pessoas de 22 instituições
participaram da iniciativa. “Nosso objetivo aqui é
compartilhar esta experiência desenvolvida no
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 26 I 16ª Edição
Foto: Rodrigo Germano
Especial
âmbito da cooperação técnica IICA e aproximar
novos parceiros. A cooperação técnica é debater,
pensar e construir”, afirmou Manuel Otero ao abrir o
evento.
O consultor do IICA Ricardo Novaes
contextualizou aos presentes o objetivo do projeto
de cooperação técnica e apresentou como foi
desenvolvida a construção do Programa Nacional.
“Um Programa unindo educação ambiental e
agricultura familiar é uma demanda antiga dos
movimentos sociais. Apresentei como se deu a
formulação da proposta do Programa, destacando a
importância da participação coletiva”, afirmou.
A apresentação do consultor resultou em diversos
comentários dos presentes. “Achei muito importante
conhecer a formulação de uma proposta. Isto
permite a nós, como sociedade civil, e até mesmo
especialistas, a entender o processo e dar vida a uma
proposta. Percebemos que esta proposta vai sair do
papel”, explicou Philippe Pomier Layrargues, professor
da Universidade de Brasília (UnB).
Debates
A secretária de Articulação Institucional e
Cidadania Ambiental, do MMA, Samyra Crespo,
manifestou sua satisfação com o evento e enumerou
três aspectos positivos. “Primeiro, a metodologia
participativa da proposta; segundo, o recorte
do Programa voltado a atender as demandas da
agricultura familiar brasileira; e, um terceiro aspecto, é
o intercâmbio, o momento de mostrar para todos os
parceiros e para outros, que podem nela se inspirar,
como a proposta foi construída. Então eu acho que
trouxe muitas contribuições”, explicou.
Já o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento
Rural Sustentável do MMA, Roberto Vizentin, também
presente ao evento, destacou a importância de um
programa de educação ambiental aliado a um outro
Programa – no caso o Mais Ambiente - e comentou
sobre o impacto da proposta. “É fundamental que a
visão ambiental seja apreendida pelos agricultores
familiares como um componente da transformação
do modo de produção e como facilitador para a
regularização fundiária”, afirmou.
A questão da praticidade de um projeto, ou seja, a
execução da proposta foi questionada diversas vezes
no Momento de Intercâmbio. “Está bem desenhado,
com metodologia participativa, tem tudo para dar
certo. Mas será que vai sair do papel?”, questionou
um dos agricultores presentes, oriundo do Território
do Vale do Paranã. A secretária Samyra defendeu que
com o programa desenhado e atendendo a uma
demanda pública, o mesmo tem de ser inserido no
plano de políticas do Governo Federal, “isso significa
estar no plano plurianual de investimentos, significa
ter recursos e metas definidas e bem como parcerias
e responsabilidades estabelecidas”. A secretária
informou que espera colocar o Programa em prática
ainda este ano.
Programação
Os próximos “Momento de Intercâmbio”
já estão agendados. No dia doze
de abril, o tema será a Elaboração
do Plano Diretor de Agricultura
Irrigada do Estado de Minas Gerais
e, no dia sete de junho, o tema será
Georreferenciamento do Oeste da
Bahia.
Como participar
Entre em contato com a organização
do evento:
Gisele Ceccon
[email protected]
(61) 2106.5414
Instante
O ministro da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento do Brasil, Wagner
Rossi, recebeu o diretor-geral do
IICA, Víctor M. Villalobos, o diretor
de gestão e operações regionais
do Instituto, Victor Del Angel e o
representante do IICA no Brasil,
Manuel Rodolfo Otero, no dia 29
de março. Na reunião, o Ministro
demonstrou interesse em fortalecer
a cooperação técnica com o IICA na
área dos biocombustíveis e sanidade
agropecuária.
Revista Cooperação Técnica RIB - www.iica.org.br I 28 I 16ª Edição
Concurso do IICA premia estudantes de
Publicidade e Propaganda
Estudantes de publicidade e propaganda têm uma boa notícia: a Representação
do IICA no Brasil (RIB) está promovendo um concurso para definir um novo nome
e layout de capa para revista Cooperação Técnica RIB.
A participação neste concurso é gratuita e está aberta para estudantes
matriculados no curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
de qualquer centro de ensino superior cadastrado no Ministério da Educação
(MEC). Será registrada apenas uma proposta por participante.
Não serão admitidas propostas coletivas.
As inscrições vão até o dia 29 de abril de 2011.
Não fique de fora!
Acesse o regulamento no site: www.iica.org.br
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