Princípios Contrastivos Interlinguísticos Aplicados ao Tradutorês

Transcrição

Princípios Contrastivos Interlinguísticos Aplicados ao Tradutorês
CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO
CAMPUS ENGENHEIRO COELHO
PRINCÍPIOS CONTRASTIVOS INTERLINGUÍSTICOS APLICADOS AO
TRADUTORÊS: UMA PROPOSTA DE MODELO DE ANÁLISE
KELVIN DELLOVAN MARQUES
ENGENHEIRO COELHO
2012
KELVIN DELLOVAN MARQUES
PRINCÍPIOS CONTRASTIVOS INTERLINGUÍSTICOS APLICADOS AO
TRADUTORÊS: UMA PROPOSTA DE MODELO DE ANÁLISE
Trabalho de conclusão de curso apresentado
como requisito parcial para obtenção do título
de Bacharel em Tradutor e Intérprete, pelo
Centro Universitário Adventista de São Paulo,
campus Engenheiro Coelho, sob orientação do
Prof. Ms. Neumar de Lima.
ENGENHEIRO COELHO
2012
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo,
do curso de Tradutor e Intérprete apresentado e aprovado em 15 de novembro de
2012.
_________________________________________________
Orientador: Prof. Ms. Neumar de Lima.
__________________________________________________________
Segunda leitora: Prof.ªSônia M. Gazeta
Dedico este trabalho a todos aqueles que
acreditaram na minha capacidade, em
especial minha mãe. E mais importante,
ao
Altíssimo
que
sem
dúvidas
me
abençoou nesta caminhada da vida, por
ter conhecido pessoas maravilhosas e
professores sem igual.
AGRADECIMENTOS
•
Primeiramente a Deus que me fortaleceu e me conduziu até aqui. Sem sua
destra não teria alcançado o meu objetivo.
•
À minha mãe que sempre me incentivou nesta caminhada junto das bênçãos de
Deus, ao me prover as condições necessárias para que eu pudesse realizar este
objetivo. Mulher batalhadora e que sempre esteve ao meu lado nos momentos
que precisei. Sem dúvidas, é um anjo em minha vida. Nada se compara à sua
luta para me ajudar a atingir esta meta.
•
Agradeço também ao UNASP por oferecer o curso de Tradutor e Intérprete.
•
Agradeço aos professores que sempre estimularam o meu crescimento
intelectual, incentivando a buscar o melhor de mim. Agradeço pelas aulas que me
proporcionaram, pelos métodos ensinados e pelos recursos e programas de
computador que compartilharam.
•
Ao professor Milton Torres que sempre (sempre mesmo) exigia muito de nós,
porém sempre com a convicção de que sempre iríamos alcançar os objetivos e
se orgulhava disso, como um orgulho de pai; ao professor Neumar de Lima. Suas
aulas, além de objetivas, sempre faziam valer o curso. Sempre me lembrarei
deste mestre como exemplo de tradutor e professor; agradeço também em
especial por ter me orientado e me ajudado a realizar este trabalho;
•
À Professora Dr.ª Ana Maria de Moura Schäffer com suas aulas e com sua
paciência comigo em especial, e por sempre estar disposta a dar seu máximo
pelos alunos. Podemos chamá-la de segunda mãe e amiga; ao professor Edley
Matos pelas aulas de português e inglês, e por estar sempre sorridente e alegre;
ao professor Joubert C. Peres. Nunca me esquecerei de suas piadas e
brincadeiras para descontrair na sala de aula; ao professor Davi Oliveira por suas
aulas de literatura; à professora Tânia Siqueira por suas aulas de literatura
americana e inglesa; à professora Tânia Torres que, mesmo aparecendo no fim
do curso, deixou sua marca com suas aulas de sociologia e ética cristã.
Rompendo
barreiras,
transpondo
diferenças, comunicando sentidos: eis a
essência da missão do tradutor.
Neumar de Lima.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de análise e
correção de textos que apresentem traços do “tradutorês”. Este deve ser evitado por
conter linguagem que mutila a língua de chegada, deixa a leitura difícil, afetando o
sentido apropriado (sens) da mensagem do autor original. Usaremos como molde
teórico os Princípios Contrastivos desenvolvidos por Lima (2011a, 2012d) no Centro
Universitário Adventista de São Paulo, Campus Engenheiro Coelho, com interface
com a Teoria Interpretativa (Théorie du Sens) de Danica Seleskovitch (1980; 1984).
Esse referencial, quando aplicado à tradução escrita, apresenta as seguintes
características: 1) previne o uso do tradutorês; 2) chama a atenção para diferenças
semânticas, sintáticas, lexicais e morfológicas entre a língua inglesa e portuguesa; e
3) valoriza tanto a língua de partida como a língua de chegada, preservando a
fidelidade ao texto original. A proposta visa estimular os tradutores a desenvolver
pesquisas que possam melhorar a qualidade de textos traduzidos, bem como
auxiliar revisores ao prepararem textos para publicação.
Palavras-Chave: Tradutorês; Princípios Contrastivos; Tradução Escrita.
ABSTRACT
This paper aims at presenting a proposal for analysis and correction of translatorese
texts. Such a translation must be avoided because it contains a language that
cripples the target language, makes reading difficult and jeopardizes the correct
sense of the message intended by the original author. We will use as theoretical
framework the Constrastive Principles developed by Lima (2011a, 2012d) at the
Centro Universitário Adventista de São Paulo, Campus Engenheiro Coelho, in
connection with the Interpretive Theory (Théorie du Sens) of Danica Seleskovitch
(1980, 1984). This framework, when applied to the written translation process, has
the following characteristics: 1) it avoids the “translatorese”; 2) it points out the
semantic, syntactic, lexical and morphological differences between English and
Portuguese; 3) it values both the source and the target language, preserving the
faithfulness to the original text. The proposal aims at encouraging translators to carry
out researches to improve the quality of translated texts as well as helping revisers
as they prepare texts to be published.
Keywords: Translatorese; Constrastive Principles; Written Translation.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................
2 METODOLOGIA..................................................................................................
3 DESENVOLVIMENTO........................................................................................
3.1 Tradução versus tradutorês .........................................................................
3.2 A Teoria Interpretativa da Tradução .............................................................
3.3 Os princípios contrastivos de Lima (2011a, 2012d).....................................
3.3.1 Amostra dos princípios contrastivos de Lima(2011)................................
3.4 Proposta de modelo de análise de textos tradutorescos............................
10
11
12
12
14
16
18
21
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................
5 REFERÊNCIAS...................................................................................................
ANEXO ..................................................................................................................
24
25
27
11
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa abordará um assunto que é muito comum na área da tradução,
e que tem se tornado comum entre iniciantes e mesmo profissionais no ramo: o
chamado “tradutorês”. Tal prática revela falta de eficiência no processo de expressar
o real significado do texto a ser traduzido. Queremos ressaltar neste trabalho o papel
do tradutor como agente criador no momento de transferir a mensagem para outra
língua. Para tanto, contaremos com autores tais como Arrojo (1993, 2003), Nida
(1964), Barrento (2002), Seleskovitch (1980, 1984), Lima (2011a, 2012a, 2012d);
Pagura (2003), entre outros.
Dentro desse contexto, nosso alvo é incentivar tradutores em formação e
aqueles que já atuam profissionalmente na área a evitar traduções mecânicas ou
“tradutorescas” para a língua portuguesa. Na realidade, há tradutores que não
conseguem emitir o significado necessário do texto original com fidelidade e
respeito à língua de chegada (em nosso caso, o português), utilizando-se de uma
linguagem robótica, pobre de significado e coerência.
O objetivo deste trabalho é compreender o funcionamento do tradutorês,
investigar elementos que possam contribuir para identificar um texto desta categoria
e apresentar uma proposta de modelo de análise com base nos princípios
contrastivos de Lima (2011a, 2012d).
Cremos que o trabalho é de relevância para a área da tradução, já que o
tradutorês é uma realidade tanto com iniciantes quanto com profissionais da área.
Dessa forma, temos a expectativa de que o leitor se beneficie com o trabalho,
conhecendo ferramentas teóricas e linguísticas que poderão ajudá-lo a evitar o
tradutorês, traduzindo e redigindo textos com qualidade, e também aperfeiçoando
textos com características tradutorescas.
2 METODOLOGIA
Esta pesquisa é de caráter bibliográfico com o objetivo de propor um modelo
de análise de textos traduzidos, especialmente os que possuem características
tradutorescas. Em primeiro lugar, discutiremos o conceito de tradução versus
12
tradutorês, tendo como pano de fundo a Teoria Interpretativa da tradução. Em
seguida investigaremos os princípios contrastivos de Lima (2011a, 2012d) e sua
utilização como referencial para análise de textos tradutorescos. Por fim,
apresentamos uma proposta descritiva de um modelo de análise com base nos
princípios contrastivos de Lima.
3 DESENVOLVIMENTO
3.1 Tradução versus tradutorês
A tradução desde os tempos antigos até hoje é uma ferramenta utilizada
como intermediária entre uma língua e outra e como instrumento essencial para a
comunicação. Desde os tempos mais remotos, a tradução vem sendo utilizada como
ponte para que uma determinada mensagem chegue ao conhecimento de milhões
de pessoas ao redor do mundo, quer seja por meio de jornais, livros, bilhetes,
versos, frases ou palavras.
Tradutores e intérpretes trabalham como intermediários entre duas partes,
agindo como decodificadores do sentido da língua, trazendo o significado existente e
adaptando a mensagem à língua do ouvinte/leitor com o máximo de fidelidade
possível, como se o próprio falante utilizasse a língua do ouvinte ao dialogar ou
escrever. Assim, o tradutor ou intérprete age como um ser que transpõe “significados
13
linguísticos” (LIMA, 2011a, p. 34), permitindo que a mensagem chegue a outras
sociedades. Arrojo (1986, p. 80) cita a palavra “tradução” e explica sua posição: “de
acordo com a etimologia, tradução (do latim traductione) significa ‘ato de conduzir
além, de transferir’ [...]. Como tentamos demonstrar, traduzir, mais do que transferir,
é transformar: ‘transformar uma língua em outra, e um texto em outro’”.
A tradução, portanto, envolve um ato de transformação; transformação de
uma língua em outra. Contudo, muitas vezes a transformação para outra língua não
ocorre de fato. Estamos nos referindo ao que está se tornando comum entre muitas
obras traduzidas. Lima (2012a, p.1) descreve que há muitas “traduções com cheiro
de tradução, que mutilam a língua portuguesa e comprometem seriamente sua
vernaculidade e características estilísticas e morfossintáticas próprias.”
Santos (1997), ampliando o tema, afirma que o "tradutorês" ocorre devido à
influência da língua original no texto final. Em outras palavras, o “tradutorês” ocorre
pelo fato de o tradutor estar “amarrado” de tal forma à língua original que se bloqueia
a comunicação de sentidos para a língua alvo de forma natural, idiomática ou
vernacular, comprometendo, assim, os elementos estilísticos da língua alvo. Essas
são as condições que levam ao chamado “tradutorês” – caracterizado por conter
elementos linguísticos da língua original. O que torna o fato ainda mais preocupante
é que tal prática de tradução tem se tornando comum no ramo. Ela tem se tornado
habitual em trabalhos acadêmicos, nas páginas na internet ou até mesmo em livros.
Tal não deveria ocorrer, pois, conforme salienta Tallone (2009, p. 51), a tradução
“deve ser uma máscara que substitua o rosto fazendo-o desaparecer” e “o texto
[traduzido] deverá permitir uma leitura natural, sem chamar atenção sobre o fato de
ser uma tradução”.
Quando esta máscara não oculta totalmente o “rosto” do
original, revelando-se através de termos inadequados e sintaxe estranha à índole da
língua portuguesa, temos então diante de nós o verdadeiro tradutorês.
Santos (1997) afirma ainda que “o tradutorês torna-se, pois, muito mais fácil
de interpretar como uma falha do tradutor”. Não há dúvida de que a linguagem do
tradutorês reflete uma tradução mais simples, menos rica. Isso pode se tornar um
problema, pois as pessoas têm se acostumando a ler traduções dessa estirpe,
provindas até de tradutores profissionais com trabalhos publicados.
14
O jargão é usado também em língua inglesa. Fala-se de “translatese” e
“translatorese”. Há também o termo “translationese”, que foi cunhado em 1985 por
Martin Gellerstam (citado por Anderman e Rogers, 2005, p. 141).
João Barrento (2002, p. 14), comentando sobre o assunto, afirma que o
tradutorês constitui uma “versão artificial e lenhosa da língua” e revela, da parte do
tradutor, falta de “maleabilidade linguístico-formal, capacidade de expressão,
inventividade linguística, num quadro de relação criativa com a sua própria língua.”
Vemos, portanto, que o problema maior reside não na falta de conhecimentos
da língua de partida, e sim na falta de utilização dos conhecimentos do tradutor na
língua de chegada, no caso o português. Na verdade, o tradutor deve ter um
conhecimento excelente das línguas em que trabalha. Além disso, conforme ressalta
Santos (1999), ele precisa centrar-se “nas diferenças entre as línguas”.
É por essa razão que o ato tradutório é um processo difícil de ser feito por
pessoas que não possuem um profundo conhecimento da língua de chegada. Em
outras palavras, pode-se ter até um excelente conhecimento da língua de partida;
mas isso não significa que essa pessoa tem capacidade de traduzir um texto com a
qualidade de um profissional no ramo. O processo tradutório vai muito além de
apenas saber a língua original do texto a ser traduzido. Existem alguns conceitos
que devem ser seguidos; caso contrário, uma simples tradução “ao pé da letra” seria
mais do que suficiente para chegar a uma tradução de qualidade.
Nida (1964:150) complementa o assunto em seu livro ao se referir sobre o
domínio linguístico essencial para qualquer tradutor:
O primeiro e mais óbvio dos requisitos de qualquer tradutor é
que tenha conhecimento satisfatório de língua de partida. Não
basta que ele seja capaz de compreender o sentido geral do
texto, ou que tenha o hábito de consultar dicionários (o que terá
de fazer de qualquer modo). Ele deverá entender não somente
o conteúdo óbvio da mensagem, mas também as sutilezas de
significado, o valor emotivo significativo das palavras e as
características estilísticas que determinam o “sabor e
sentimento” da mensagem [...]. Ainda mais importante do que o
conhecimento dos recursos da língua de partida é o controle
completo da língua de chegada. [...] [N]ão há substituto para o
domínio pleno da língua de chegada.
15
Este é um dos motivos que fazem da tradução, de fato, “uma das atividades
mais complexas da sociedade humana” (Santos, 1997, p. 1).
Essa complexidade envolve, em primeiro lugar, a capacidade do tradutor de
reter o significado do texto original para ser transmitido na língua alvo. Envolve
também a capacidade do tradutor de transmitir esse significado com fidelidade,
fazendo uso de uma linguagem que não indique, em momento algum, a interferência
da língua de partida.
Como utilizar essas capacidades tradutórias de forma competente? A próxima
seção discutirá como é possível se libertar, o máximo possível, da interferência da
língua de partida.
3.2 A Teoria Interpretativa da Tradução
A Teoria Interpretativa de Danica Seleskovitch (1980, 1984), ou théorie du
sens [teoria do sentido], foi desenvolvida em decorrência das experiências que
Seleskovitch obteve durante anos de atuação como intérprete de conferência.
Iniciou-se primeiramente com a análise do processo da interpretação e expandiu-se
depois para a área da tradução por meio das pesquisas de Marianne Lederer (1990,
1994). Essa pesquisadora comprovou que os fundamentos teóricos tanto da
tradução como da interpretação (tradução oral) são os mesmos. Pagura (2003)
observa que a théorie du sens contribuiu grandemente para uma reflexão mais
profunda sobre o ato de interpretar e traduzir.
A teoria de Seleskovitch (1980, 1984) tem como um de seus principais
postulados a necessidade de se obter o sentido das palavras empregadas na língua
de partida para, a partir daí, reproduzir na língua de chegada o que foi dito. A teoria
ressalta que uma boa tradução não é efetuada apenas com o conhecimento das
línguas envolvidas, mas envolve muito mais do que mera correspondência entre
uma língua e outra.
Seleskovitch (1978, citado por Pagura, 2003) apresenta três princípios
básicos que formam a sua teoria: a percepção, a desverbalização e a
reverbalização. Trataremos sobre cada um a seguir com base na síntese de Lima
(2012a).
16
A percepção refere-se à análise de uma mensagem e à apreensão de seu
significado por meio de um processo de análise; a desverbalização, ao momento em
que o tradutor abandona de imediato a intenção das palavras, retendo apenas o
conceito. Neste momento o tradutor está apenas com o sentido da frase,
preparando-se para reescrever o texto na língua alvo sem estar preso à forma da
língua de partida; a reverbalização refere-s à fase em que o tradutor dá nova feição
à mensagem compreendida e desverbalizada, ou seja, é o momento em que reveste
o sentido com uma nova roupagem, produzindo um novo enunciado na língua alvo.
Lima (2012a) ressalta que a etapa da reverbalização é a mais importante do
processo tradutório. É este momento que vai definir se o tradutor executou bem
todas as três etapas da teoria e agiu com competência e fidelidade com relação ao
texto original e à língua de chegada.
Esses conceitos de Seleskovitch constituem o fundamento teórico e cognitivo
que permitem ao tradutor se libertar do tradutorês, visto que, graças ao processo de
desverbalização e reverbalização, o texto traduzido pode se libertar de linguagens e
estruturas artificiais e alheias à língua de chegada (Lima, 2012a). Pagura sintetiza
esse tema afirmando que
O texto a ser traduzido não é simplesmente um conjunto de
sequências de estruturas a serem dissecadas, mas um
discurso com funções pragmáticas e comunicativas que exigem
processamento cognitivo por parte do tradutor. Isso significa
que o tradutor cujo alvo é realizar um trabalho consciente e
eficiente precisa se livrar das amarras do domínio dos sistemas
de signos articulados e passar a ver a língua como ato de
comunicação (PAGURA, 2003, p. 210).
Lima (2011a, 2011b, 2012a) denomina esse processo de o princípio cognitivo
da tradução. Segundo o autor,
A tradução constitui um empreendimento cognitivo no qual
informações concretas são processadas pela mente do tradutor
– sujeito cognoscente – ao ele se relacionar com o texto a ser
traduzido – o objeto cognoscível. Isso significa que o ato
tradutório não consiste em mera ação mecânica, mas em
profundo envolvimento cognitivo e hermenêutico do tradutor em
seu esforço de extrair do texto, com o máximo de precisão
possível, a intenção comunicativa do autor original. Em outras
palavras, o texto a ser traduzido deve chegar à percepção do
tradutor ao ele usar suas habilidades cognitivas e
17
interpretativas para alcançar o sentido pretendido pelo autor
original. (LIMA, 2012a, p.2).
A seguir discorreremos sobre os princípios contrastivos sistematizados por
Lima (2011a, 2012d) e sua relação com a Teoria Interpretativa de Seleskovitch ou o
Princípio Cognitivo da Tradução.
3.3 Os princípios contrastivos de Lima (2011a, 2012d)
Partindo do pressuposto de que a tradução é um processo cognitivo e
interpretativo, cujo resultado é um texto livre das amarras estilísticas e
morfossintáticas do texto de partida, Lima (2011), com base em suas observações
no decorrer dos anos, sistematizou princípios que ressaltam as diferenças entre o
inglês e o português.
Lima esclarece que esses princípios são
O resultado da [sua] prática tradutória e das discussões
realizadas na disciplina Análise Contrastiva, ministrada no
curso de Letras e Tradutor e Intérprete do Unasp – EC [...]
[Trata-se de] uma série de Princípios Contrastivos estilísticos e
morfossintáticos entre o inglês e o português (Lima, 2011a,
p.35).
Em suas aulas de Análise Contrastiva, Lima (2011b) observou que “só existe
contrastes reais e significativos entre um original e um texto traduzido porque o
tradutor se deu ao trabalho de perceber, desverbalizar e reverbalizar o sentido
expresso pela outra língua.” Com efeito, sem o processo efetivo de reverbalização, o
texto traduzido vai se assemelhar com o texto original. Em outras palavras, será um
texto “tradutoresco”.
Nesse contexto, Lima (2012c) explica que os princípios contrastivos servem a
três propósitos. Em primeiro lugar, sistematizam conceitos linguísticos e estilísticos
que explicam muitas das decisões que o tradutor toma consciente ou
inconscientemente no processo tradutório. Em segundo lugar, exercem uma função
pedagógica no sentido de deixar o tradutor consciente, já de antemão, a respeito
das diferenças entre os dois idiomas, o que certamente o auxilia na tomada de
18
decisões. Em terceiro lugar, têm um propósito corretivo, na medida em que
“denuncia” os processos “tradutorescos”. Esse terceiro propósito constitui o foco do
nosso trabalho ao propormos um modelo de análise.
Segundo Lima (2011a, p.35), esses princípios “não representam polarizações,
mas tendências observadas nas duas línguas”. Lima (2012b, p.1), com base em
Quénelle e Hourquin (1987), afirma que essas tendências podem ser compreendidas
quando passamos a “compreender o povo [...] e a cultura em que [cada língua] se
desenvolveu”.
No caso da língua inglesa, “os falantes de língua inglesa são fruto da cultura
anglo-saxônica”, cujo “pragmatismo” é uma de suas características (Lima, 2012b,
p.1), em oposição à cultura greco-latina da língua portuguesa, de viés mais
conceitual, ideológico e filosófico. Lima, ainda com base em Quénelle e Hourquin
(1987), ilustra as considerações acima afirmando que:
A gramática inglesa pode ser comparada a um jardim inglês:
espontâneo e natural. A gramática portuguesa é mais
semelhante a um jardim francês: harmonioso e simétrico.
Como exemplo de espontaneidade, podemos citar o Hyde Park
de Londres. Ali você encontrará caminhos que serpenteiam
entre bosques e árvores plantadas “ao acaso”. Como exemplo
de simetria e harmonia, temos Os Jardins das Tulherias [Jardin
de Tuileries] em Paris. Nesse parque os caminhos se alinham
simetricamente, revelando uma perspectiva bem arquitetada e
uma natureza “domesticada”. Os dois jardins exigiram esforços
equivalentes. Contudo, o primeiro reflete o viés pragmático
anglo-saxônico, mais preocupado com os fatos e sua utilidade
prática. Assim é a língua inglesa. Já o segundo, reflete o desejo
dos franceses de permanecer no nível das ideias,
apresentando ao público o resultado de um projeto intelectual
arquitetônico bem estruturado. O português, língua irmã (ou
prima) do francês, reflete essa característica.
Em suas pesquisas, Lima (2011a, 2012d) já relacionou 52 princípios
contrastivos (ver Anexo). Os princípios então organizados segundo cinco categorias:
(1) princípios estilísticos, (2) princípios estruturais, (3) princípios lexicais, (4)
princípios morfossintáticos e (5) princípios prosódicos ou suprassegmentais.
3.3.1 Amostra dos princípios contrastivos de Lima (2011ª, 2012d)
19
A seguir apresentaremos uma amostra de 19 princípios contrastivos que
achamos mais relevantes para uma análise de textos tradutorescos. Essa seleção
foi feita com base na utilidade de cada princípio e na sua relevância para aprimorar
um texto final em português, segundo os postulados da Teoria Interpretativa de
Seleskovitch. Cada princípio foi numerado de acordo com a numeração revisada da
Apostila de Princípios Contrastivos de Lima (2012d).
Tabela de amostra de princípios contrastivos de Lima
A. Princípios Estilísticos
Língua Inglesa Língua Portuguesa
2. Expressividade Expressividade
verbal
nominal
1
2
4. Descritividade e Generalidade
especificidade
explicabilidade
estilística
estilística
3
4
5.
Objetividade Subjetividade
expressiva
expressiva
5
6
7. Expressividade Expressividade
pictórica
ou conceitual
imagética
7
8.
Condensação Expansão
semântica
semântica
8
9
Comentários
A língua inglesa prefere verbos a
substantivos – os conceitos em inglês
são expressos preferencialmente por
meio de verbos, ao passo que em
português, substantivos.
e A língua inglesa costuma ser mais
descritiva que a língua portuguesa,
possuindo muitos termos específicos
para o processo de descrição. O
português recorre muitas vezes a
descrições mais gerais, e, quando
necessita
fazer
descrições
mais
específicas,
faz
uso
de
frases
explicativas.
Conceitos e palavras designativas
(substantivos) são expressos de forma
mais objetiva e concreta em língua
inglesa, ao passo que no português, de
forma mais subjetiva e abstrata. Ex.: os
componentes
materiais
de
um
computador são designados de hardware
em inglês, dada a natureza “dura”
desses materiais; já os programas, de
natureza “imaterial”, são designados de
software. A ideia de imaterialidade foi
transmitida em inglês pelo adjetivo soft =
mole, em oposição à hard.
A língua inglesa prefere fazer uso de
descrições precisas por meio de imagens
ou quadros mentais, enquanto o
português prefere conceituar.
Conceitos expressos em inglês de forma
mais sintética precisam muitas vezes ser
traduzidos de forma mais expandida ou
explicativa em português para que
20
possam ser veiculados de forma mais
eficiente.
10.
Economia Variedade
sinonímica
sinonímica
12. Conceitualização Conceitualização
implícita
explícita
A língua inglesa parece economizar
palavras, não se preocupando com a
repetição constante de um mesmo termo.
O escritor em língua inglesa parece deixar
muitas vezes conceitos implícitos, confiando
na bagagem cognitiva do leitor, ao passo que
o leitor em língua portuguesa parece exigir
uma explicitação maior dos conceitos.
B. Princípios Estruturais
16. Condensação/
Explicitação/
Estruturas que em inglês são estruturalmente
Concisão estrutural
Expansão
concisas exigem uma expansão estrutural maior
estrutural
em português.
17.
Logicidade
e Redundância e As estruturas léxico-gramaticais da língua inglesa
economia
léxico- prodigalidade
costumam ser mais lógicas e econômicas.
gramatical
léxicoExemplos: a língua inglesa não faz uso de duplos
gramatical
negativos (I have no money e não I don’t have no
money, como seria o caso em português – eu não
tenho nenhum dinheiro; o artigo definido the em
inglês é realmente definido, sendo omitido quando
a definição já está clara (my car e não the my car,
como pode ser em português – o meu carro; em
inglês, não se pode dizer “eu pintei o carro” se
quem pintou de fato foi o funileiro; nesse caso, em
inglês, precisa-se usar a estrutura causativa – I
had my car painted.
21.
Simplicidade Complexidade
A língua inglesa prefere períodos simples aos
oracional
oracional
compostos.
23.
Estaticidade Deslocamento
pronominal
pronominal
Os pronomes do caso oblíquo (object pronouns)
em inglês possuem posição fixa (após o verbo),
ao passo que em português pode-se fazer uso da
próclise, ênclise e mesóclise.
25.
Sintetismo
e Logicidade
A língua inglesa costuma aplicar um mesmo
pragmatismo
na rígida
na complemento verbal a dois ou mais verbos com
regência
verbo- regência
regências diferentes; o mesmo não pode ocorrer
nominal
verbo-nominal
no português padrão.
C. Princípios Lexicais
27.
Precisão
e Generalismo
especificidade lexical abrangência
lexical
30.
Condensação Explicitação/
semântica
e Expansão
estrutural
semântica
estrutural
D. Princípios Morfossintáticos
e A língua inglesa possui substantivos, adjetivos,
advérbios e verbos bem mais específicos do que
a língua portuguesa (Ex. já = ever, already, yet;
alto = tall, high, loud).
Há palavras e estruturas em língua inglesa com
pesada carga semântica que exigem um
e desdobramento lexical e estrutural maior no
português.
21
39 Determinismo/
Especificidade
pronominal
40.
Flexibilidade
derivacional
41.
Invariabilidade
derivacional
43. Inflexionabilidade
e
simplicidade
conjugacional
44.
Simplicidade
modo-temporal
Generalismo
pronominal
Os pronomes pessoais e possessivos em inglês
são mais específicos, cada pessoa possuindo
suas formas específicas, ao passo que em
português usam-se formas gerais para mais de
uma pessoa. Exemplos: I gave a present to
him/you = Eu lhe dei um presente – em
português, o pronome “lhe” pode se referir tanto
a “ele” quanto a “você”; Jane lives with her
parents/Peter lives with his parents/ You live with
your parents – nesses casos, her, his e your
podem ser traduzidos por “seus”.
Restrição/
O inglês possui um sistema de formação de
Limitação
palavras bem mais flexível do que o do
derivacional
português. Exemplo: one, oneness (um,
unicidade); faith, faithful, faithfulness (fé, fiel,
fidelidade); man, manish (homem, masculino/viril;
other, otherness (outro, diversidade/alteridade).
Mutabilidade
No processo de formação de palavras da língua
derivacional
inglesa, a raiz, radical ou palavra às quais se
acrescentam afixos costumam permanecer
invariáveis, ao passo que em português existe
uma mutabilidade maior delas no processo
derivacional. Exemplos: good/goodness x
bom/bondoso; faith/faithful x fé/fiel; use/useful x
uso/útil; weak/weakness x fraco/fraqueza.
Flexionabilidade Praticamente não existe conjugação de verbos
e complexidade na língua inglesa, ao passo que em português os
conjugacional
verbos possuem desinências pessoais. Além
disso, alguns tempos verbais em inglês são
formados com o uso de um único verbo auxiliar
(future e conditional – will, would).
Complexidade
Além de possuir um sistema de conjugação
modo-temporal
extremamente simplificado, a língua inglesa
possui tempos verbais que correspondem a mais
de um tempo verbal da língua portuguesa.
Exemplos: you were there = você esteve/estava
lá (pretérito perfeito e imperfeito do indicativo; if
you were there = se você estivesse lá (pretérito
imperfeito do subjuntivo. Além disso, o modo
subjuntivo praticamente não existe no inglês
contemporâneo, sendo substituído pelo modo
indicativo. Exemplos: if I had time = se eu tivesse
tempo; when he returns = quando ele voltar; it is
vital that he comes = é vital que ele venha
(nesses casos, em inglês usam-se tempos
verbais do modo indicativo, enquanto em
português, formas do modo subjuntivo).
3.4 Proposta de modelo de análise de textos tradutorescos
22
Nesta seção, descreveremos uma proposta a ser usada por alunos de
tradução, tradutores ou pesquisadores da área. O objetivo do modelo é ajudar na
recriação de textos tradutorescos, ou seja, contribuir com a melhoria do processo de
reverbalização tendo como parâmetro de decisão os princípios contrastivos de Lima
(2011a) e a Teoria Interpretativa de Seleskovitch (1980, 1984).
Em primeiro lugar, sugerimos a criação de um quadro comparativo contendo o
original e o texto presumivelmente tradutoresco. Vejamos o exemplo abaixo:
Quadro 1: Comparação entre Original e Tradução Tradutoresca
Original
Tradução tradutoresca
Have you ever gone back to your Você já voltou à sua cidade natal após
hometown after a prolonged absence? uma
ausência
prolongada?
Bons
Good friends, no doubt, threw you a amigos, sem dúvida, deu-lhe uma festa
welcome-home party. This happened to de boas-vindas. Isso aconteceu comigo
me when I returned to Argentina after quando eu voltei para a Argentina, após
four years of being away. I had been quatro anos de afastamento. Eu estava
looking forward to this reunion for a very ansioso por esse reencontro por um
long time. After the initial excitement and tempo muito longo. Após o período
reminiscence of “the good old days,” the inicial de emoção e recordação dos
conversation turned to more recent "bons velhos tempos", a conversa virouevents. Although a few moments earlier se para acontecimentos mais recentes.
everyone had received me with open Embora alguns momentos antes todos
arms, I began to feel strangely out of tivessem me recebido de braços abertos,
place. Why? A few months later that comecei a me sentir estranhamente fora
strange feeling left as mysteriously as it de lugar. Por quê? Poucos meses
had come. But I still couldn’t answer why depois, aquela sensação estranha
I had felt so out of place in my hometown desapareceu tão misteriosamente como
and surrounded by my best friends.
tinha vindo. Mas eu ainda não podia
responder por que eu tinha me sentido
tão fora de lugar em minha cidade natal
e cercado por meus melhores amigos.
Fonte do Exemplo: Lima (2011b)
Em seguida, pode-se criar um quadro de pares contrastivos para melhor
visualização das traduções tradutorescas, conforme se segue:
Quadro 2: Pares Contrastivos entre Original e Tradução Tradutoresca
No
Original
Tradução
1 have you ever gone back
Você já voltou
2 a prolonged absence
uma ausência prolongada
3 threw you a welcome-home party
deu-lhe uma festa de boas-vindas
4 after four years of being away
quatro anos de afastamento
5 for a very long time
por um tempo muito longo
Após a análise dos pares contrastivos e dos possíveis princípios contrastivos
que poderiam ajudar a compreender e solucionar os problemas de tradução
presentes em cada par contrastivo pode-se propor uma tradução alternativa, levando
em conta esses princípios, bem como os postulados da Teoria Interpretativa de
Seleskovitch (percepção-desverbalização-reverbalização). Para melhor visualização,
a tradução pode ficar num quadro, como se segue:
Quadro 3: Comparação entre Original e Tradução Reformulada
23
Original
Have you ever gone back to your
hometown after a prolonged absence?
Good friends, no doubt, threw you a
welcome-home party. This happened to
me when I returned to Argentina after
four years of being away. I had been
looking forward to this reunion for a very
long time. After the initial excitement and
reminiscence of “the good old days,” the
conversation turned to more recent
events. Although a few moments earlier
everyone had received me with open
arms, I began to feel strangely out of
place. Why? A few months later that
strange feeling left as mysteriously as it
had come. But I still couldn’t answer why
I had felt so out of place in my hometown
and surrounded by my best friends.
Tradução reformulada
Já aconteceu de você voltar para sua
cidade natal depois de uma longa
ausência? Sem dúvida alguma, seus
velhos
amigos
o
receberam
calorosamente ou até mesmo lhe deram
uma festa de boas-vindas. Isso me
aconteceu quando voltei para a
Argentina depois de quatro anos fora.
Há muito tempo aguardava com
ansiedade esse momento de reencontro.
Após a empolgação inicial e a
recordação saudosista dos “bons e
velhos tempos”, passamos a conversar
sobre acontecimentos mais recentes.
Embora todos me houvessem recebido
de braços abertos alguns momentos
antes, de repente comecei a me sentir
como um peixe fora d’água. Por quê?
Alguns meses depois, aquele sentimento
estranho se foi tão misteriosamente
como havia surgido. Mas mesmo assim
não conseguia entender por que havia
me sentido tão deslocado em minha
própria terra e rodeado de meus
melhores amigos.
Fonte do exemplo: Lima (2011b)
Além disso, pode-se criar outro quadro contendo os mesmos pares
contrastivos, apresentando, porém, dessa vez, as opções reformuladas e não
tradutorescas, conforme se segue:
Quadro 4: Pares Contrastivos entre Original e Tradução Reformulada
No
Original
Tradução Reformulada
1 have you ever gone back
Já aconteceu de você voltar
2 prolonged absence
Uma longa ausência
3 threw you a welcome-home party
O receberam calorosamente ou até
mesmo lhe deram uma festa de boasvindas
4 after four years of being away
Depois de quatro anos fora.
5
for a very long time
Há muito tempo
24
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo compreender o funcionamento do tradutorês
e investigar elementos que pudessem contribuir para identificar um texto dessa
categoria com base nos princípios contrastivos de Lima (2011a, 2012d) e na Teoria
Interpretativa de Seleskovitch (1980, 1984). Com base nesses conceitos,
propusemos um modelo de análise e correção de textos que apresentem traços do
“tradutorês”.
Esse tradutorês está presente em obras publicadas, na internet e tem tomado
muitas vezes o lugar de traduções de fato profissionais. Nesse contexto, cremos que
a sistematização de Lima poderá ser útil para diagnosticar e corrigir esse tipo de
tradução, bem como prevenir que ela ocorra.
Reconhecemos que este trabalho tem algumas limitações. Em primeiro lugar,
não foi nosso objetivo validar os princípios de Lima, mas incentivar pesquisas futuras
em que esses princípios possam estar envolvidos. Em segundo lugar, nossa
proposta de modelo de análise de textos tradutorescos não apresentou exemplos
concretos de análise, o que poderá ser feito em pesquisas futuras.
Em suma, acreditamos que este trabalho nos permite alcançar uma
conscientização maior da difícil missão de cada tradutor. Se tal missão for bem
cumprida, não somente a língua de partida como objeto de discurso será
beneficiado, mas também a língua alvo por meio de referenciais que enfatizam as
diferenças e tendências linguísticas do inglês e português.
5 REFERÊNCIAS
25
ANDERMAN, Gunilla e ROGERS, Margaret (eds.).In an Out of English: for Better,
for Worse?.Clevedon: Multilingual Matters, 2005.
ARROJO, R. Os Estudos da Tradução na Pós-Modernidade, o reconhecimento da
diferençae a perda da inocência. Cadernos de Tradução, UFSC, 1996, n.1.
____________. Tradução, Desconstrução e Psicanálise. Biblioteca Pierre
Menard.Rio de Janeiro: Imago, 1993.
BARRENTO, J. . O Poço de Babel – Para uma poética da tradução literária. Lisboa:
Relógio de Água, 2002.
LEDERER, M. 1990. The role of cognitive complements in interpreting. In: D.
BOWEN e M. BOWEN. Interpreting-yesterday, today and tomorrow. American
Translators Association Scholarly Monograph Series, vol. 4, Binghamton, N.Y.:
SUNY, 1990.
LEDERER, M. La Traduction Aujourd’hui – Le Modèle Interprétatif. Paris:
Hachette, 1994.
LIMA, N. D. O princípio cognitivo da tradução literária: um relato do processo
de tradução do livro The Cognitive Principle of Christian Theology: a
hermeneutical study of the revelation and inspiration of the Bible, de Fernando
Canale. Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em
Estudos Teológicos do UNASP – Engenheiro Coelho, 2011.
LIMA, N. D. Material didático de sala de aula (PowerPoint). O Princípio Cognitivo
da Tradução: o Processo de Percepção-Desverbalização-Reverbalização como
Substrato para uma Prática Tradutória Consciente e Eficiente. Unasp – EC, 2011.
LIMA, N. D. O princípio cognitivo da tradução. Anais eletrônicos: 2º CIELLI –
Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários, 5º CELLi - de Estudos
Linguísticos e Literários. 2012. Em breve disponível em: http://www.cielli.com.br/
LIMA, N. Material didático de sala de aula: Aspectos contrastivos entre o inglês e o
português. Unasp – EC, 2012.
LIMA, N. D. Anotações de Classe da disciplina Análise Contrastiva II do Curso
de Tradutor e Intérprete. Unasp – EC, 2012.
LIMA, N. Material didático de sala de aula: Apostila de Princípios Contrastivos.
Unasp – EC, 2012.
NIDA, E. Toward a science of translating. Leiden: E.J.Brill, 1964
PAGURA, R.. A Interpretação de Conferências: Interfaces com a Tradução Escrita e
Implicações para a Formação de Intérpretes e Tradutores. In: D.E.L.T.A., 19:
ESPECIAL, p. 209-236. São Paulo: PUC-SP – LAEL, 2003.
QUÉNELLE, G; HOURQUIN, D. Formes et employs du verbe anglais. Collection
Bescherelle. Lausanne, Suiça: Editions Foma, 1987.
SANTOS, D. (1997b). "O tradutês na literatura infantil traduzida em Portugal". In
Actas do XIII Encontro da Associação Portuguesa de Linguística (Lisboa, 1-3 de
Outubro de 1997).
26
SANTOS, Diana. Um olhar computacional sobre a tradução. SINTEF Telecom
and Informatics, 1999.
SELESKOVITCH, D. e M. LEDERER. A systematic approach to teaching of
interpretation. Tradução de Pédagogie raisonnée de l’interprétation. n/c: The
Registry of Interpreters for the Deaf, 1995.
SELESKOVITCH, D. e M. LEDERER. Interpréter pour traduire. Paris: Didier
Édurition, 1984.
SELESKOVITCH, D. Pour une théorie de la traduction inspirée de sa pratique. Meta,
v. 25, n. 4. p. 401-408. Montreal: Presses de l’Université de Montréal, 1980.
TALLONE, Laura. D. O processo de tradução de “Nota al pie”. ISCAP, 2009.
27
ANEXO
Princípios Contrastivos de Lima
Língua Inglesa
1. Coloquialismo
estilístico
2. Expressividade verbal
3. Sintetismo
4. Descritividade e
especificidade estilística
5. Objetividade
expressiva
6. Detalhismo expressivo
7. Expressividade
pictórica ou imagética
8. Condensação
semântica
9. Economia referencial
ou anafórica
A. Princípios Estilísticos
Língua Portuguesa
Comentários
Erudição estilística
A língua inglesa possui um estilo mais coloquial
na sua forma de expressão, ao passo que o
português, devido a sua origem latina, possui
um estilo mais erudito.
Expressividade
A língua inglesa prefere verbos a substantivos –
nominal
os conceitos em inglês são expressos
preferencialmente por meio de verbos, ao
passo que em português, substantivos.
Prolixidade
Conceitos expressos em inglês de forma mais
sintética precisam muitas vezes ser traduzidos
de forma mais expandida ou explicativa em
português para que possam ser veiculados de
forma mais eficiente. A prolixidade em
português aparentemente ocorre devido às
estruturas da língua portuguesa de origem
latina, que são mais sofisticadas e complexas.
Generalidade e
A língua inglesa costuma ser mais descritiva
explicabilidade
que a língua portuguesa, possuindo muitos
estilística
termos específicos para o processo de
descrição. O português recorre muitas vezes a
descrições mais gerais, e, quando necessita
fazer descrições mais específicas, faz uso de
frases explicativas.
Subjetividade
Conceitos
e
palavras
designativas
expressiva
(substantivos) são expressos de forma mais
objetiva e concreta em língua inglesa, ao passo
que no português, de forma mais subjetiva e
abstrata. Ex.: os componentes materiais de um
computador são designados de hardware em
inglês, dada a natureza “dura” desses materiais;
já os programas, de natureza “imaterial”, são
designados de software. A ideia de
imaterialidade foi transmitida em inglês pelo
adjetivo soft = mole, em oposição a hard.
Laconismo
Este princípio se aplica no estilo descritivo e
expressivo
narrativo. Visto que a língua inglesa é mais
descritiva, os gêneros descritivos e narrativos
nessa língua costumam ser mais detalhados e
expressivos.
Expressividade
A língua inglesa prefere fazer uso de descrições
conceitual
precisas por meio de imagens ou quadros
mentais, enquanto o português prefere
conceituar.
Expansão semântica Conceitos expressos em inglês de forma mais
sintética precisam muitas vezes ser traduzidos
de forma mais expandida ou explicativa em
português para que possam ser veiculados de
forma mais eficiente.
Variedade referencial Em português, as referências anafóricas
ou anafórica
parecem ser muito mais frequentes, ou seja, a
28
10. Economia sinonímica
11. Expressividade
minuciosa e repetitiva
12. Conceitualização
implícita
13. Pontuação
minimizada
14. Pessoalidade
15. Estruturação modular
de ideias
16. Condensação/
Concisão estrutural
17. Logicidade e
economia léxicogramatical
18. Objetividade oracional
19. Rigidez no sintagma
nominal (grupo nominal)
20. Rigidez sintáticooracional
21. Simplicidade oracional
língua portuguesa parece exigir mais elos
coesivos e retomadas referenciais.
Variedade sinonímica A língua inglesa parece economizar palavras,
não se preocupando com a repetição constante
de um mesmo termo.
Expressividade
A língua inglesa faz uso generoso de adjetivos
comedida e variada
e advérbios no estilo descritivo e narrativo.
Conceitualização
O escritor em língua inglesa parece deixar
explícita
muitas vezes conceitos implícitos, confiando na
bagagem cognitiva do leitor, ao passo que o
leitor em língua portuguesa parece exigir uma
explicitação maior dos conceitos.
Pontuação
A língua inglesa faz uso reduzido de pontuação,
maximizada
especialmente vírgulas, ao passo que em
português há um uso mais extensivo da
pontuação,
especialmente
vírgulas.
Ver
princípio 15, 47 e 49 para possíveis razões.
Impessoalidade
Na forma escrita, a língua inglesa faz mais uso
dos pronomes pessoais da primeira e segunda
pessoas do discurso (I, we, you), ao discutir
temas, ou ao se dirigir ao leitor, transmitindo um
tom mais conversacional ao discurso. A língua
portuguesa, por outro lado, especialmente em
textos mais acadêmicos e formais, prefere
formas impessoais.
B. Princípios Estruturais
Estruturação coesiva A língua inglesa parece se estruturar com base
de ideias
em blocos de ideias aparentemente soltas, ao
passo que a língua portuguesa exige que as
ideias sejam mais amarradas sintática e
logicamente. Em outras palavras, o português
exige uma coesão ou costuramento sintático
mais preciso.
Explicitação/expansã Estruturas que em inglês são estruturalmente
o estrutural
concisas exigem uma expansão estrutural
maior em português.
Redundância e
As estruturas léxico-gramaticais da língua
prodigalidade léxico- inglesa costumam ser mais lógicas e
gramatical
econômicas. Exemplos: a língua inglesa não faz
uso de duplos negativos (I have no money e
não I don’t have no money, como seria o caso
em português – eu não tenho nenhum dinheiro;
o artigo definido the em inglês é realmente
definido, sendo omitido quando a definição já
está clara (my car e não the my car, como pode
ser em português – o meu carro; em inglês, não
se pode dizer “eu pintei o carro” se quem pintou
de fato foi o funileiro; nesse caso, em inglês,
precisa-se usar a estrutura causativa – I had my
car painted.
Erudição oracional
A língua inglesa prefere fazer uso de orações
coordenadas, e, ao empregar orações
subordinadas, evita as orações reduzidas.
Flexibilidade no
A posição dos modificadores no grupo nominal
sintagma nominal
em língua inglesa é inegociável, chegando a
níveis de precisão inimagináveis em língua
portuguesa.
Flexibilidade
A ordem Sujeito-Verbo-Objeto + Advérbios é
sintático-oracional
bem mais rígida em inglês.
Complexidade
A língua inglesa prefere períodos simples aos
29
22. Mobilidade
preposicional
oracional
Imobilidade
preposicional
23. Estaticidade
pronominal
Deslocamento
pronominal
24. Flexibilidade nos
paralelismos sintáticos
Rigidez nos
paralelismos
sintáticos
Logicidade rígida na
regência verbonominal
25. Sintetismo e
pragmatismo na regência
verbo-nominal
compostos.
Em estruturas verbais (phrasal verbs) e nas
orações relativas, a língua inglesa possui uma
mobilidade preposicional inexistente em língua
portuguesa.
Os pronomes do caso oblíquo (object pronouns)
em inglês possuem posição fixa (após o verbo),
ao passo que em português pode-se fazer uso
da próclise, ênclise e mesóclise.
Os paralelismos sintáticos em português são
mais explícitos e rígidos.
A língua inglesa costuma aplicar um mesmo
complemento verbal a dois ou mais verbos com
regências diferentes; o mesmo não pode
ocorrer no português padrão.
26. Repeticionismo
Variabilidade
Na língua inglesa é muito comum a repetição
morfológico e estrutural
morfológica e
de uma mesma estrutura gramatical ou
estrutural
morfológica, ao passo que na língua portuguesa
essas repetições são evitadas. Ex.: Em
português evita-se o uso do pronome relativo
“que” (queísmo). A língua inglesa usa com
abundância numa mesma oração adjetivos
indefinidos (any), advérbios (just), pronomes
relativos (that), conjunções (and), etc.
C. Princípios Lexicais
27. Precisão e especificidade
Generalismo e abrangência
A
língua
inglesa
possui
lexical
lexical
substantivos, adjetivos, advérbios
e verbos bem mais específicos
do que a língua portuguesa (Ex.
já = ever, already, yet; alto = tall,
high, loud).
28. Predominância
Variabilidade silábica
A língua inglesa possui uma
monossilábica
grande
predominância
de
palavras monossilábicas. Ex.: my
dog died when it ate an old rotten
bone.
29. Elasticidade/
Precisão, pontuação
A língua inglesa possui muitos
Plasticidade semântica
semântica
adjetivos
com
forte
carga
semântica, servindo a muitos
propósitos, os quais, ao serem
traduzidos,
exigem
maior
explicitação
ou
precisão
semântica e lexical.
30. Condensação semântica e Explicitação/expansão
Há palavras e estruturas em
estrutural
semântica e estrutural
língua inglesa com pesada carga
semântica que exigem um
desdobramento
lexical
e
estrutural maior no português.
D. Princípios Morfossintáticos
31. Anaforismo verbal
Repeticionismo verbal ou
A língua inglesa faz uso
silencio anafórico/
constante de verbos auxiliares
anaforismo elíptico
para se referir a verbos já
mencionados. Ex.: You
e ,
didn’t you? = você disse, não
disse? (Observa-se que em
português o verbo é repetido);
você disse, não? Você fala
inglês? Sim. (Observa-se que
em português houve um
30
silêncio anafórico, ou seja, não
houve o uso de verbo auxiliar,
como seria o caso em inglês).
32. Analiticidade na voz verbal
Sintetismo na voz verbal
A língua inglesa não possui a
voz
passiva
sintética
ou
pronominal.
33. Complexidade e especificidade
preposicional
Maleabilidade e
simplificação preposicional
34. Dependência verbal
Autonomia verbal
35. Descritividade e especificidade
verbal
Generalidade e
explicabilidade verbal
36.Prodigalidade/generosidade
pronominal
Economia pronominal
37. Determinismo, especificidade e
expressividade preposicional
Generalismo e
coadjuvância preposicional
A regência verbal-nominal em
inglês é muito mais complexa
que em português.
A maioria dos verbos na língua
inglesa precisa de verbos
auxiliares ao serem conjugados
na
forma
negativa
e
interrogativa; o mesmo princípio
se aplica para a conjugação dos
verbos no futuro e condicional
(will, would).
A língua inglesa possui uma
infinidade de verbos descritivos
para diferentes ações que em
português são descritas por um
verbo de caráter geral acrescido
de advérbios e locuções
explicativas. Ex.: stride = andar
a passos largos; stroll = fazer
uma caminhada lenta; saunter =
passear lentamente; ramble =
caminhar pelo campo; roam =
caminhar sem destino; amble =
andar sem pressa; hike = fazer
uma excursão a pé; swagger =
caminhar de forma arrogante;
stamp = andar pisando forte;
tramp = andar pesadamente.
A língua inglesa faz uso
abundante
de
pronomes
pessoais e possessivos, ao
contrário do português que os
evita sempre que possível. Em
português, por exemplo, evitase o uso do pronome pessoal
reto na forma escrita, pelo fato
de a pessoa estar indicada na
desinência
número-pessoal;
pronomes possessivos são
evitados também: He washed
his hair (ele lavou o cabelo).
As preposições na língua
inglesa exercem uma função
semântica e estrutural muito
mais determinante do que a
exercida
no
português.
Exemplos: in, on, at, todas
podendo ser traduzidas por
“em”; o uso de preposições nos
phrasal vebs – uma preposição
acrescentada a um verbo pode
mudar completamente o seu
31
38. Determinismo, “capricho” ou
arbitrariedade verbal
Flexibilidade e constância
verbal
39. Determinismo/
Especificidade pronominal
Generalismo pronominal
sentido (play = jogar, brincar x
play
down
=
depreciar);
percebe-se a carga semântica
da preposição em orações do
tipo: e swam across the river =
ele atravessou o rio a nado –
em português, o conceito de
cruzar recaiu sobre o verbo, ao
passo que em inglês, sobre a
preposição; vê-se, portanto, que
no
inglês
a
preposição
desempenha
muitas
vezes
papel determinante na definição
de significados, enquanto em
português esse papel parece
ser mais de coadjuvância, ou
seja, um papel auxiliar.
Esse princípio refere-se às
regências
verbais
ou
à
formação de locuções verbais,
e constitui assunto complexo
para o aprendiz de língua
inglesa ao ter que estudar as
formas
nominais
inglesas
infinitive e gerund (verbals). No
inglês, há verbos que regem
sempre o infinitivo, outros
somente o gerúndio, e outros
ambos, com alteração ou não
de significado. Exemplos: I
want to learn (want sempre rege
o infinitivo); avoid speaking now
(avoid sempre rege o gerúnido);
I started to translate/translating
a new book (start pode reger
tanto o infinitivo quanto o
gerúndio, sem alteração de
significado); I stopped talking to
talk, I remembered locking the
door/to lock the door (stop e
remember regem tanto o
infinitivo quanto o gerúndio,
com alteração de significado).
Os pronomes pessoais e
possessivos em inglês são mais
específicos,
cada
pessoa
possuindo
suas
formas
específicas, ao passo que em
português
usam-se
formas
gerais para mais de uma
pessoa. Exemplos: I gave a
present to him/you = Eu lhe dei
um presente – em português, o
pronome “lhe” pode se referir
tanto a “ele” quanto a “você”;
Jane
lives
with
her
parents/Peter lives with his
parents/ You live with your
parents – nesses casos, her,
his e your podem ser traduzidos
32
40. Flexibilidade derivacional
Restrição/limitação
derivacional
41. Invariabilidade derivacional
Mutabilidade derivacional
42. Flexibilidade
adjetival
Explicabilidade e
prolixidade adjetival
e
concisão
43. Inflexionabilidade
e simplicidade conjugacional
Flexionabilidade e
complexidade
conjugacional
44. Simplicidade modo-temporal
Complexidade modotemporal
por “seus”.
O inglês possui um sistema de
formação de palavras bem mais
flexível do que o do português.
Exemplo: one, oneness (um,
unicidade);
faith,
faithful,
faithfulness (fé, fiel, fidelidade);
man,
manish
(homem,
masculino/viril; other, otherness
(outro, diversidade/alteridade).
No processo de formação de
palavras da língua inglesa, a
raiz, radical ou palavra às quais
se
acrescentam
afixos
costumam
permanecer
invariáveis, ao passo que em
português
existe
uma
mutabilidade maior delas no
processo
derivacional.
Exemplos: good/goodness x
bom/bondoso; faith/faithful x
fé/fiel; use/useful x uso/útil;
weak/weakness
x
fraco/fraqueza.
Na língua inglesa, existe um
sistema
de
formação
de
adjetivos extremamente flexível
e conciso, não existente em
língua portuguesa. Exemplos:
os adjetivos participiais simples
e compostos veiculam de forma
sintética significados que, ao
serem traduzidos para o
português, exigem muitas vezes
formas e explicações mais
prolixas
e
explicativas.
Exemplos: a very inquiring
student = um aluno que gosta
muito de perguntar; a very timeconsuming activity = uma
atividade que consome muito
tempo/
a
profit-oriented
economy = uma economia
voltada para o lucro; a very
easy-installing kidney-shaped
swimming-pool = uma piscina
com formato de rim que pode
ser facilmente instalada.
Praticamente
não
existe
conjugação de verbos na língua
inglesa, ao passo que em
português os verbos possuem
desinências pessoais. Além
disso, alguns tempos verbais
em inglês são formados com o
uso de um único verbo auxiliar
(future e conditional – will,
would).
Além de possuir um sistema de
conjugação
extremamente
33
45. Multifuncionalidade
morfológico-gramatical
Especificidade morfológicogramatical
46. Rigidez no aspecto verbal
Flexibilidade/ maleabilidade
no aspecto verbal
47. Invariabilidade de número e
gênero em diferentes classes
Variabilidade de número e
gênero em diferentes
simplificado, a língua inglesa
possui tempos verbais que
correspondem a mais de um
tempo
verbal
da
língua
portuguesa. Exemplos: you
were
there
=
você
esteve/estava
lá
(pretérito
perfeito
e
imperfeito
do
indicativo; e you were there =
se você estivesse lá (pretérito
imperfeito do subjuntivo. Além
disso, o modo subjuntivo
praticamente não existe no
inglês contemporâneo, sendo
substituído
pelo
modo
indicativo. Exemplos: e I had
time = se eu tivesse tempo;
when e returns = quando ele
voltar; it is vital that e comes =
é vital que ele venha (nesses
casos, em inglês usam-se
tempos verbais do modo
indicativo,
enquanto
em
português, formas do modo
subjuntivo).
No inglês, uma mesma forma
pode representar diferentes
classes gramaticais. Exemplos:
I need you; this doesn’t supply
my need (na primeira oração,
need é um verbo – preciso,
necessito –, e na segunda, um
substantivo – necessidade.
Na língua inglesa, o aspecto
verbal, ou seja, o processo
verbal nas fases de seu
desenvolvimento na linha do
tempo se mostra bem mais
rígido
que
na
língua
portuguesa, especificamente no
que diz respeito à anterioridade
e à progressividade da ação
verbal. Exemplos: I’ve read
three books so far = li três livros
até agora (a noção de repetição
da ação verbal fica evidenciada
no uso do present perfect tense,
o
que
não
ocorre
em
português); I’ve known her
since I was a child = eu a
conheço desde criança (a
noção da continuidade da ação
a partir de um tempo no
passado é expressa pelo uso
do present perfect tense, noção
esta não transmitida pelo
presente do indicativo da língua
portuguesa.
Na língua inglesa, os adjetivos
e outras classes gramaticais
34
gramaticais
classes gramaticais
(artigos, por exemplo) não se
flexionam em número e gênero;
outras classes, como os
demonstrativos só variam em
número, mas não em gênero
(this, that, these, those). Os
substantivos em geral não
possuem gênero, só variando
em
número.
Em
outras
palavras, número e gênero não
são características marcantes e
consistentes na língua inglesa,
como o são na língua
portuguesa.
48. Sintaxe rítmica-modular
Sintaxe fuida-melódica
Percebe-se
na
língua
portuguesa
uma
fluidez
estrutural com redução de
quebras que possam impedir
uma leitura mais “corrida” e não
tão rítmica e “quebrada” como a
leitura em língua inglesa. Ex.:
Evita-se o “que”. A impressão
que se tem é que a linha de
pensamento em português flui
num ritmo mais constante,
numa cadência mais melódica,
como se quisesse chegar a um
descanso final.
49. Generalização pluralizada
Generalização
Na língua inglesa, quando se
singularizada
quer
generalizar,
os
substantivos ficam no plural, ao
contrário do português. Ex.:
Adoro gato – I love cats.
E. Princípios Prosódicos ou Suprassegmentais
50. Imprevisibilidade na Previsibilidade na relação
É
extremamente
difícil
relação pronúncia/escrita
pronúncia/escrita
estabelecer na língua inglesa
uma relação consistente e
coerente entre pronúncia e
escrita, especialmente no que diz
respeito à pronúncia das vogais.
Tal relação existiu no passado
longínquo
da
língua
(Old
English); após a conquista
normanda, porém (1066 d.C), o
inglês (Middle English) entra num
período de confusão linguística; e
a partir de 1400 d.C passa pela
fase do great vowel shift (grande
mudança vocálica), que se
estendeu por cerca de duzentos
anos, chegando até o ano de
1600 d.C.
51.
Entonação
e Entonação e acentuação fluida e
Na língua inglesa, a pronúncia
acentuação
rítmica
e melódica
dos vocábulos bem como dos
marcada
sintagmas verbais e nominais é
bem mais rítmica e marcada do
que na língua portuguesa, cuja
pronúncia é de natureza mais
fluida e melódica. Esse aspecto
parece ter consequências na
35
52. Mobilidade acentual
com reduzidas implicações
semânticas
Fonte: Lima (2012d)
Mobilidade acentual com fortes
implicações semânticas
estruturação sintática da língua
portuguesa; observa-se uma
maior fluidez sintática.
Na língua portuguesa, a posição
da acentuação na sílaba pode
trazer
fortes
implicações
semânticas, ao passo que no
inglês esse fenômeno é bastante
reduzido. Exemplo: Eu vou para o
Pará; a sábia aluna sabia que o
sabiá era uma ave passeriforme,
da família dos muscicapídeos.