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A mídia no “Caso Nardoni” - Revista Communic | Página Inicial
NOME DO ARTIGO -::- NOME DO AUTOR
A mídia no “Caso Nardoni”
Ana Paula Moreira
Jacqueline Teixeira Sinfrônio
Wanderlei Homem Paulo
Graduandos do 8º período de Comunicação Social com
habilitação em Relações Públicas
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A MÍDIA NO CASO NARDONI
Resumo
Este artigo tem por objetivo demonstrar o quanto a mídia, em especial o telejornalismo
fez a cobertura do maior caso midiático do ano de 2008, e de que modo ela contribui para
a formação da opinião pública. A análise da cobertura do programa Fantástico da Rede
Globo de jornalismo, a maior rede de televisão do país, permitirá verificar uma série de
elementos discursivos utilizados para a formação da opinião pública.
PALAVRAS-CHAVE
Caso Isabella, Telejornalismo, Opinião pública.
Abstract
This article aims to show how the media, especially television news coverage made the
​​
biggest media event of the year 2008, and how it contributes to the formation of public
opinion. The analysis of program coverage Fantastic Globo journalism, the largest television network in the country, will see a series of discursive elements used for the formation
of public opinion.
KEYWORDS
Isabella’s case, TV Journalism, Public Opinion.
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A MÍDIA NO CASO NARDONI
Introdução
No dia 29 de março de 2008, uma
menina é arremessada de uma janela do
apartamento em um bairro de classe média
num edifício na zona norte da capital paulista. Uma madrasta ciumenta e o pai são os
possíveis suspeitos. Um conflito de família
que tem Isabela Nardoni como vítima fatal,
uma história de amor, ódio e ameaças.
O caso mais parece enredo de uma
telenovela, traz para dentro dos lares uma
história de comoção de uma forma tão
imensa que os fizeram sentir como se tivesse acontecido com alguém que faz parte
da própria família. A mídia denominou a
tragédia do “Caso Nardoni”. O interesse da
sociedade foi tão grande a respeito do desmembramento dos fatos que fez com que
a mídia se voltasse completamente para
obtenção de novas informações, tornando
o caso de maior repercussão midiática daquele ano .
O programa Fantástico exibia semanalmente matérias sobre o caso com exclusividade. Este trabalho tem como objetivo
avaliar a influência que a mídia exerceu sobre e opinião pública.
Analisaremos quatro reportagens
exibidas no citado programa. São elas:
• As matérias do dia 20/04/2008 “Reprodução virtual do quarto de Isabella”
• Entrevista com o casal Nardoni “Pai e
madrasta de Isabella falam pela primeira vez”, do dia 11/05/2008
gamento no dia 21/03/2010 obtidas
no site do Fantástico.
O papel da mídia é escolher matérias
que chamem a atenção e causem comoção
na sociedade, casos que impressionem e
comova a população, atitudes cruéis e más
estão dentre as notícias mais rentáveis e
possibilitam a manipulação da sociedade
para o fortalecimento do direito.
Não existe “produto” midiático mais
rentável que a dramatização da dor humana gerada por uma perda perversa e devidamente explorada, de forma a catalisar a
aflição das pessoas e suas iras. Isso ganha
uma rápida solidariedade popular, todos
passando a fazer um discurso único: mais
leis, mais prisões, mais castigos para os sádicos que destroem a vida de inocentes indefesos.
No melodrama, o povo pode olhar
para si mesmo. É uma encenação que, sem
diálogos, estabelece uma grande cumplicidade com o público. Público que procura
nas cenas não palavras, mas “ações e grandes paixões”. O apelo para as emoções, aliás,
é uma das principais marcas do melodrama.
Nele se lida com os sentimentos de “medo,
entusiasmo, dor e riso” (MARTÍN-BARBERO,
2003, pg. 171, 174). A mídia usou de todos
os modos de comoção para levar a noticia
de uma forma tão impactante que a sociedade se comoveu, gerando assim uma
expectativa do andamento e apuração de
cada detalhe. O telejornalismo trabalhou
incessantemente para levar a informação
com exclusividade.
• “Mãe de Isabella Nardoni fala pela primeira vez numa entrevista surpreendente e reveladora” e
• A matéria que fez a cobertura do jul53
A MÍDIA NO CASO NARDONI
O telejornalismo: um
espetáculo na busca pela
audiência
Para que uma noticia chegue até ao
telespectador, primeiramente é feita a seleção dos assuntos mais impactantes e de
grande relevância no caso. Feita a seleção,
a pauta é elaborada com os principais pontos a serem apresentados pelo jornalista.
Nela estão relatadas as informações principais que o repórter precisará para compor
sua matéria, o direcionamento que deverá
ser dado ao assunto, os horários das entrevistas, etc. Eles podem ser chamados de
estrategistas do jornalismo, pois sugerem
os assuntos e roteirizam todo o trabalho da
equipe na rua. Diariamente, antes de sair
com a equipe, recebem do chefe de reportagem uma pauta. Lá está toda a orientação
sobre o que a equipe fará no dia. Essa infraestrutura foi montada para que a equipe
tivesse maior mobilidade e cumprir a pauta
no menor tempo possível. Uma redação televisiva raramente é dividida em editorias,
quando os repórteres chegam com a matéria ela é passada pela chamada retranca e
roteirizarão.
Para o telejornalismo a complexidade é ainda maior. A junção de técnicas da
produção e emissão da mensagem faz a
diferença para o trabalho final, seja ele informar ou prender a atenção do telespectador. Além da voz, o repórter aparece no
vídeo durante a transmissão de uma notícia
em TV. Portanto, é indispensável que ele tenha cuidado com a postura corporal, seus
gestos e com sua expressão facial. Quanto
mais natural e sincero em suas gravações
ele for, mais credibilidade ele irá transmitir.
Como considera Constantin Stanislavski,
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“para representar verdadeiramente, vocês
devem enveredar pelo caminho dos objetivos
certos, como se estes fossem sinais de demarcação a orientá-lo através de uma planície
árida e deserta” (STANISLAVISKI, 1989, p.27).
Outros elementos são fundamentais como
os verbais, o movimento do corpo a fala e a
postura, a colocação da fala é de suma importância.
Nem tudo que é veiculado na mídia
tem a sua veracidade comprovada. O papel
do telejornalismo é informar a sociedade a
respeito dos acontecimentos e fatos ocorridos. Ela tem que atuar como propagadora
da informação.
Nos dizeres de Sálvio De Figueiredo
Teixeira,
A Imprensa, por sua vez, tornou-se indispensável à convivência social, com atividades múltiplas, que abrangem noticiário,
entretenimento, lazer, informação, cultura,
ciência, arte, educação e tecnologia, influindo no comportamento da sociedade,
no consumo, no vestuário, na alimentação,
na linguagem, no vernáculo, na ética, na
política, etc. Representa, em síntese, o mais
poderoso instrumento de influência na sociedade dos nossos dias.
(FIGUEIREDO, 1996, In: <http://bdjur.
stj.gov.br/xmlui/bitstream/handle/2011/20397/imprensa_judiciario.
pdf?sequence=3>)
O telejornalismo, na maioria das vezes, trata a noticia de uma forma exacerbada e sensacionalista, cometendo excessos e
estabelecendo a suposta verdade do caso,
se o assunto é de interesse da sociedade
logo considerado para grande veiculação. Quando surge o interesse de diversos
meios de comunicação à busca incessante
A MÍDIA NO CASO NARDONI
pela exclusividade das matérias, os meios
de comunicação tratam a matéria com a
mesma linha de raciocínio, é quase impossível formar uma opinião pública diferente
com a que esta sendo veiculada pela mídia.
Nos dizeres de Graça Caldas,
Sabe-se, que a aquisição do conhecimento
e a formação crítica de leitores não se dá
pela leitura única de um veículo, mas justamente pela comparação entre eles. É exatamente pelo acesso ao contraditório, à percepção e ao reconhecimento de diferentes
visões e interpretações de um mesmo fato,
pela polifonia das vozes, que é possível efetuar uma leitura do mundo que vá além da
leitura das palavras.
(CALDAS, 2006. In: <http://www.scielo.br/
pdf/es/v27n94/a06v27n94.pdf>)
Geralmente as matérias que são decorrentes de crimes, principalmente os que
envolvem a prática de delitos, são pratos
cheios nas mãos da mídia que
se utilizando do interesse da população para ir
afundo no caso, transformando a tragédia
em um melodrama; ficando estabelecida
na convicção das pessoas, a verdade que é
passada pela mídia.
Para Carla Gomes de Mello:
O crime, desde os tempos mais remotos,
onde predominavam execuções públicas
que se constituíam em verdadeiros espetáculos de horror, fascinava a população
e era notícia. A mídia, sabedora desse fascínio e atração do público pelos acontecimentos violentos, desde então, explora o
assunto.
(MELLO, 2010. In: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/
view/7381/6511>)
Partindo do enorme interesse da sociedade pelo caso Isabela, a
mídia,diariamente, mostrava o andamento
do caso, trazia entrevistas com os familiares
envolvidos, ficava horas acampada na porta dos apartamentos em que o triste fato
ocorrera na busca de alguma informação
que os levasse a conclusão do caso,cuja
repercussão se tornou enorme; causando
forte convivência por parte da sociedade,
ocasionando assim o julgamento do casal
Nardoni que apenas era tido como suspeito pela polícia.
A influencia da mídia na
opinião pública
Segundo Milan Rados Radenovic
(2006, p.93), para existir uma verdadeira
opinião pública mundial,é indispensável a
existência de meios de comunicação que
chegue a todas as pessoas da Terra, É ainda
necessário que todas as pessoas do mundo tenham livre aceso à informação através
de um processo democrático ,bem como a
existência de capacidades cognitivas que
permitam receber e analisar a informação.
A opinião reúne elementos heterogêneos em diversas combinações e resulta
em julgamentos reflexivos .Já a opinião pública é baseada em mídia numa espécie de
agrupamento homogênio de crenças ,ideais e opinião.Para atingir a opinião ,o consenso geral,a estrutura midiática aposta em
valores comuns à maioria,como o repúdio
à corrupção,o apelo ao sofrimento humano perante às tragédias ou admiração por
valores assumidamente honestos.
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A MÍDIA NO CASO NARDONI
O telejornal Fantástico utiliza elementos que impressionam e aguçam o lado
emotivo da sociedade quando dramatiza
o caso Izabela Nardoni na televisão retratando dos seguintes fatos: quando fala do
cenário do crime.
A opinião pública, tal como concebida, sempre esteve associada ao desenvolvimento de um regime político democrático,
em que, para se legitimar, o governo busca
o apoio e o consentimento da sociedade.
Analisando detidamente esta fase de
evolução do conceito de opinião, alguns
autores destacam especialmente as contribuições de Hobbes e Locke (HABERMAS,
1984; NASCIMENTO, 1989; SPEIER, 1950).
Para Hobbes, “a opinião, enquanto suposição da verdade pode ser comparada à consciência individual”.
A formação de cadeia de opinião que
se estendem desde a fé até o próprio julgamento ou crença, contudo, não é suficiente
para elevar a opinião ao estatuto da verdade objetiva. Para Habermas (1984, p.112),
a grande contribuição do pensamento de
Hobbes está na desvalorização da crença religiosa e na valorização da convicção
privada individual (Certeza adquirida por
fatos ou razões; persuasão íntima, convencimento).
Seguindo esta tradição, LOCKE também não confere à opinião o estatuto da
verdade, concedido indiscutivelmente à
ciência, única esfera capaz de provar de
maneira irrefutável suas proposições. A
opinião, tida como sentimento difuso a respeito de um provável raciocínio, contudo
deixa de ser um ente isolado e passa a ser
identificada enquanto aceitação coletiva.
A retidão das ações dos homens pode
ser julgada, ainda de acordo com LOCKE, a
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partir de três leis: lei divina, lei civil e lei da
opinião. A mais temida, entre outras, seria
lei da opinião. É importante frisar que esta
lei não se apóia nas leis do Estado e sim no
“consentimento dos homens privados”.
Durante toda a primeira metade do
século XVIII, a opinião pública ainda é aquela opinião que se tornou pública (que foi
externalizada) por uma elite que freqüenta as academias e salões literários, ela não
se opõe à opinião do povo (composto por
camponeses e analfabetos que não têm
opinião sobre política) e sim aos interesses
particulares dos “conchavos políticos”.
A partir do momento em que a sociedade toma consciência de sua moralidade
e passa a ocupar um espaço público, rapidamente transformado em espaço político,
as ações políticos começam a ser julgadas
pelo tribunal da moral, chamado de opinião pública, que age em nome da razão e
da crítica. Para Speier (1950, p. 137), as mudanças institucionais ocorridas na sociedade européia, que resultaram no surgimento da opinião como fator proeminente na
política, podem ser resumidas da seguinte forma: ”um público fechado e registro se
transformou, aos poucos, num público aberto, aumentando seu tamanho esfera social”.
A notícia existe por meio de um processo de transformação: a mídia transforma molda a notícia de acordo com as características pré-estabelecidas do suposto
receptor. Este, o receptor, cria, em função
de desejos, personalidades e credos, sua interpretação em relação ao fato noticiado. A
opinião pública é criada a partir do agrupamento das interpretações dos receptores.
Num sentido mais amplo, a opinião está ligada à crença na qual o indivíduo se baseia
para criar conclusões e pontos de vista.
A MÍDIA NO CASO NARDONI
A opinião privada e pública protagonizam um movimento centrífugo e centrípeto. Que tende a aproximar-se do centro:
aceleração centrípeta. Ambas precisam
se mesclar para se formarem, numa troca
constante que cria e se refaz ao longo do
tempo.
A mídia exerce um grande poder sobre as pessoas dando relevância a determinados temas ou assuntos ,atuando de
diversas maneiras para relatar os acontecimentos de forma que eles se transformem
em notícias .
Os meios de comunicação de massa
nem sempre são essenciais para formação
da opinião pública.
No dizer de Rouanet, essa opinião
pública construída por esses intelectuais
é igual àquela construída através da oratória .Para ele num século esclarecido ,em
que cada cidadão pode falar à nação inteira
por meio da imprensa, aqueles que têm o
talento de instruir os homens e o dom de
convencê-los ,os homens de letras,em uma
palavra,são no meio do público disperso o
que eram os oradores de Atenas e Roma no
meio público reunido. A imprensa tem o
dom de unificar um público que não pode
mais ser integrado pela oratória.Essa opinião ,constituída pelo texto, é uma opinião
lúcida ,porque esclarecida pelos filósofos ,e
onipotente ,porque sabe impor sua vontade aos governantes tão seguramente como
os cidadãos reunidos nas assembléias antigas. (2001,p.163)
A presente análise tem por objetivo
estudar o conteúdo dos vídeos reportagens exibidos pelo telejornalismo Fantástico da Rede Globo, exibido no dia vinte de
abril de 2008, onde e mostrada a primeira
reconstituição do crime, em seguida a pri-
meira entrevista com o casal Nardoni e subsequencial com Anna Carolina de Oliveira e
finalizaremos com a matéria de cobertura
do julgamento do caso Isabella, onde será
analisado a influência exercida pela mídia
na formação da opinião pública.
O programa Fantástico conseguiu
algo que normalmente não é comum, dar
continuidade ao tema, geralmente um assunto e explorado somente por um determinado tempo, a cobertura do caso Isabela
Nardoni assim titulado pelo programa Fantástico teve o acompanhamento do primeiro ao último dia do caso, sendo este o tema
de maior impacto pelo qual todos os veículos de comunicação proporcionaram maior
cobertura em detrimento de todos os assuntos dos últimos tempos seja em jornais,
revistas, radio ou televisão.
Esta análise tem como objetivo avaliar o modo como o telejornalismo constituiu a cobertura do caso Nardoni, como a
mídia influencia na formação da opinião
pública, ficando evidente a exclusividade
das matérias e a clareza da estratégia comunicacional utilizada pelo programa.
As reportagens foram dirigidas pelos
apresentadores Zeca Camargo e Patrícia
Poeta. Nas chamadas a imagem dos apresentadores inicialmente é tomada por uma
sequência de fotos da Isabela acompanhada de um fundo musical suave na matéria
levada ao ar no dia 24/04/2012.
A matéria em seguida é acompanhada por uma musica de grande impacto um
suspense com frases de como era a vida do
casal Nardoni segundo relatos dos vizinhos
do Edifício London no distrito da Vila Guilherme, em São Paulo, ”Brigas frequentes e
de Grandes proporções”, eram o que relatavam os vizinhos que sempre acompanha57
A MÍDIA NO CASO NARDONI
vam as discussões entre o casal,em seguida o jornalista Rodrigo Bocardi trás relatos
mais afundo de como era a vida do casal,
em uma entrevista exclusiva ao programa.
No período da matéria o repórter Rodrigo Bocardi faz uma afirmação: “segundo
a polícia, essas provas técnicas levam a seguinte conclusão, o pai jogou a menina pelo
buraco feito na rede e a queda foi determinante para a morte de Isabela.Fica evidente
a afirmação que o repórter faz contra o pai
de Isabella.”
O grande diferencial do jornalismo
televisivo é poder contar com recurso que
trás originalidade ao acontecimento a simulação, nesta repostagem era possível
ver os detalhes no quarto de Isabella e também acompanhar o que aconteceu no dia
do crime, como o resultado das provas periciais os levavam a reconstituição daquela
sena.
A matéria contou com o recuso da
simulação, onde fora reconstituído os últimos instantes de vida de Isabella no quarto, o que chamaram de “o quarto virtual”
o jornalista Rodrigo Bocardi pode em sua
matéria mostrar onde foram encontradas
as provas do crime e ao mesmo tempo que
ele mostrava ele andava em torno da cama
mostrando nos detalhes da reconstituição
do crime, contudo fica evidente a posição
de jornal em assumir o papel de justiceiro
antecipando ao telespectador a reconstituição dos crime antes mesmo da policia,
já que a mesma ainda não havia feito a reconstituição policial do crime até a presente data, pois a mesma aguardava provas
pericias para conclusão e assim reconstituir
a sena do crime.
Segundo Carla Gomes de Mello, “o
veículo midiático sensacionalista faz da emo58
ção o principal foco da matéria, esquecendo-se do conteúdo da notícia a ser repassada, se
é que ela existe”. Desta forma, o jornal trata a
informação com obtenção de lucro, não se
preocupando com a veracidade e fidedignidade das informações transmitidas.
Para o jornalista fica incumbida a
responsabilidade de encontrar entrevistas
exclusivas, fatos, relatos e depoimentos
que ainda não são de conhecimento do
telespectador, a reconstituição dos acontecimentos ocorridos no quarto de Isabella
veio mostrar como o telejornal assumiu o
papel da polícia, fazendo a antecipação da
informação, na matéria foi mostrado os recursos usados para a melhor comprovação
dos fatos como Crimescope, Bluestar Forensic e Hexagon citados na reportagem.
O Fantástico conseguiu com exclusividade uma entrevista com o casal Nardoni
que até a presente data não havia falado
com a imprensa sobre o ocorrido na noite
do dia 29 de Março de 2008 no Edifício London. A entrevista concedida ao Fantástico
ocorreu no apartamento do casal e foi ao
ar no dia vinte (domingo), Aparentemente
abalados,o casal Alexandre Nardoni e Anna
Carolina Jatobá, pai e madrasta da menina Isabella,falar com exclusividade sobre o
drama que estavam vivendo desde a morte
da menina, na chamada feita antes da matéria ir ao ar fica evidente como e grande
o interesses com que o jornalista tem para
com os telespectadores avaliem a sinceridade do casal. Durante toda a entrevista
o casal manteve-se um ao lado do outro, a
entrevista foi conduzida pelo jornalista Valmir Salaro.
Inicialmente foram questionados como
eles se sentiam em relação ao pré julgamento que era feito em relação a eles “Estão
A MÍDIA NO CASO NARDONI
julgando a gente por uma coisa que nós não
fizemos. Não tem nem como explicar isso. As
pessoas que conhecem a gente sabem como
nós somos. Sabem que isso não existe” relatou Alexandre, que acrescentou: “Eu nunca
levantei a mão para ela. Eu nunca falei mais
alto com ela. Não tinha motivo.” Em todo
momento da entrevista o casal tentava
passar que eram uma família muito unida e
que tudo era baseado no amor.
Em momento algum da entrevista o
casal foi questionado a fazerem a reconstituição crime, e mostrar o lado que a sociedade não conhecia a influência por parte
da mídia era tão grande em mostrar o casal
como culpados que era impossível com a
entrevista mostrar que o casal poderia sim
ser inocente, e que a versão de uma pessoa ter entrado no prédio no dia não foi de
grande relevância para a entrevista, esta
influencia que e feita na formação da opinião pública ocorre quando varia meios de
comunicação noticiam a mesma informação com a mesma opinião de dados,e quase que impossível que o público não seja
manipulado pela informação prestada pela
mídia pois os diferentes veículos de informação transmitem a informação da mesma
maneira, estabelecendo uma única verdade sobre o caso, não deixando com que a
sociedade pense por si própria.
Para Carla Gomes de Mello,
Não se importa a sociedade manipulada
pela mídia se contra o suspeito houve tortura que o levou a confessar o ato criminoso, se, da mesma maneira, houve força excessiva, se está preso inocentemente e sem
necessidade, se os direitos dele estão sendo
violados, se eles tem a chance de não ser
considerado culpado e se ele faz jus a um
julgamento justo. [...]
(MELLO, 2010. In: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/
view/7381/6511>)
Em todo o momento da entrevista Anna Carolina chorava muito com tom
de voz sempre baixa,falava no emprenho
que tiveram em construir o quarto da Isabella. Martin-Barbeiro (2003,Pg,176) descreve a inocência da virtude, quase sempre
a “Mulher Vitima” a madrasta em todos o
momentos se coloca como Amiga e mãe
de Isabella enfatizando sempre amor que
ambos sentiam por ela. Os holofotes se direcionavam para os dois o papel de culpados ou suspeitos se misturava na mente de
quem acompanhava a entrevista, a opinião
pública estava formada, por mais que o casal desse a sua versão a sociedade já os via
como condenados.
Nos dizeres de Carla Gomes de Mello,
Holofotes cinematográficos são dirigidos
ao suspeito do crime com o intuito de revelar sua identidade e personalidade. Em
poucos segundos, sabe-se de tudo, detalhadamente, a respeito da vida desse cidadão e de seus familiares. Tudo é vasculhado
pela mídia. Bastam alguns momentos para
que eles se vejam em todas as manchetes
de telejornais, revistas e jornais. A mídia,
assim, vai produzindo celebridades para
poder realimentar-se delas a cada instante,
ignorando a sua intimidade e privacidade.
(MELLO, 2010. In: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/direitopub/article/
view/7381/6511>)
O entrevistador, em todos os momentos, induziu aos entrevistados a res59
A MÍDIA NO CASO NARDONI
ponder questões de como se sentiam com
a formação da opinião pública o que achavam o fato de serem os principais suspeitos
pela morte da Isabella, em resposta Alexandre disse: “Deus é nossa maior testemunha”
e segundo o mesmo, irá mostrar quem foi
a pessoa que matou Isabella. Questionados sobre como alguém poderia agir com
tanta brutalidade contra uma menina de 5
anos, Anna Carolina respondeu: “é o que a
gente se pergunta também. Todas as noites,
todos os dias.” Nas perguntas feitas ao casal
fica visível como a formulação das perguntas eram feitas para se obter respostas da
culpa ou inocência do casal, a insistência
por parte do entrevistador em questionar
o fato de serem os suspeitos,ou o que achavam do fato em que a sociedade já os condenavam pelo crime eram de grande percepção.
Desta forma cresce as manifestações
em busca de justiça só aumentava a sociedade clamava pelo julgamento e condenação dos suspeito/réu.Aos olhos da sociedade o casal já era os culpados pela morte da
menina.
Em uma outra entrevista dada ao
Fantástico pela primeira vez Anna Carolina
de Oliveira em entrevista para a repórter
Patrícia Poeta fala do ocorrido na noite do
crime. Por sua vez relata a sua versão para a
sociedade. Na entrevista ela descreve como
era a relação com o pai e a madrasta de Isabella. Durante a entrevista era notável o
tom de voz baixo de Anna Carolina de Oliveira, o silêncio entre uma pergunta e outra,
a interrupção no depoimento de uma mãe
visivelmente emocionada e muito abalada
com o ocorrido, A seriedade pela parte da
entrevistadora que ao mesmo tempo que
se mostra solidaria a entrevistada.
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Na entrevista Ana Carolina de Oliveira vestia uma camisa com a foto de Isabella
em suas mão um bichinho de pelúcia. A
matéria levada ao ar teve enorme repercussão e garantiu uma a alta audiência global.
Todos se voltaram para sabe como era a
versão dos fatos por parte da mãe.
Segundo Cláudio Bertode:
A sede por ibopes, por audiência, por acessos, faz com a qualidade do que é produzido seja feito cada vez mais de maneira
superficial. Não importa a relevância a
informação. Não, o que é interessante é
saber que um grande número de pessoas
acompanharam a publicação. Pode ser um
gato em uma árvore, desde que possa ser
transmitido em tempo real o fascinante
resgate promovido por um grupo de bombeiros; claro que pode ser também um psicopata louco que prendeu a namorada em
um quarto. Melhor ainda se conseguir uma
gravação de imagens exclusivas do meliante na janela com uma arma apontada na
cabeça da garota.
Em momento algum da entrevista
Anna Carolina fez algum julgamento ao pai
e madrasta na Isabella, em todas as perguntas feitas a ela em nenhum momento a mesma fez acusações ou até mesmo pré julgou
o casal, mas em todos os momentos era notório perceber o interesse da repórter em
fazer com que ela falasse sobre o que achava do pai ser o principal suspeito da morte de sua filha. Em alguns trechos poderia
observar a obseção em fazer que ela falasse
do pai seguindo a linha do raciocínio dele
ser culpado ou buscar provas através de
um depoimento como era Alexander Nardni como pai, em um trecho da reportagem
fica claro a intenção da repórter em obter
A MÍDIA NO CASO NARDONI
uma declaração de Anna Carolina da conduta de Alexandre Nardoni. Podemos ver
o preparo da repórter sobre o assunto em
uma das perguntas pergunta, fica claro observar ambas as coisas, o interesse em que
Ana falasse do comportamento de dos suspeitos com sua filha e como ela dominava
o assunto “Caso Isabella”.
Patrícia Poeta: Alguma vez a Isabella relatou qualquer história de violência ou agressão por parte da madrasta?Ana Carolina
de Oliveira: Não.Patrícia Poeta: Eu pergunto porque em outra parte do depoimento
você conta que a Isabella chegava com
manchas roxas no corpo e beliscões. Como
ela explicava isso para você?
Em outro momento quando questionada sobre o que achava da entrevista
que o casal deu ao Fantástico para o Valmir
Salaro, ela responde que “prefiro não dar
detalhes do que aconteceu naquele dia”
mas em seguida a repórter diz a Ana Carolina que ela tem todo o direito de não falar
nada sobre o ocorrido mas a faz outra pergunta sobre a entrevista.
Patrícia Poeta: Você tem todo o direito.
Agora, em um momento da entrevista ela
[Anna Carolina jatobá] diz algumas coisas,
que se referem à Isabella e que de certa forma atingem você. Uma delas foi dizer que
algumas vezes a Isabella a chamava de
mãe. Você sabia disso, você concorda com
isso?
Na mátria levada ao ar no dia
28.03.2010, especialistas criminalísticos
contam o que foi usado para obtenção
das provas que levaram os réus Alexandre
Nardoni e Carolina Jatobá a condenação
da morte de Isabella. Rosângela Monteiro
perita responsável do caso relata como foi
a obtenção das provas para a condenação
do casal, Rosângela mostra as técnicas usadas no caso.
Nesta reportagem fica perceptível
como a mídia consegui a formação da
opinião pública no caso, como foi o comportamento da sociedade no dia do julgamento do casal assim então suspeitos pelo
crime, O comportamento da sociedade do
lado de fora do fórum de Tremembé, era
notório se perceber que a opinião pública
já tinha o seu veredito antes mesmo de iniciar o julgamento o que predominava era
a expectativa da condenação do casal, os
gritos por justiça já descrevia a suas opiniões sobre os réus, e bem mais evidente foi a
comemoração feita quando o juiz mauricio
fossen anunciou a sentença dos então condenados.
A mídia foi a principal condutora na
formação da opinião Pública, através dela
a sociedade se obteve dos fatos. Desde o
inicio quando a sociedade se interessou
pelo caso a mídia foi afundo explorando
ao máximo o caso de maior comoção midiática. Por sua vez opinião pública já tinha
o veredito antes mesmo do julgamento
ser anunciado, isto se deu pela influência
que a mídia exercia como formadora de
opinião,antes mesmo do juiz responsável
condenar ou não o casal Nardoni, do lado
de fora do fórum era notório a pressão com
que a opinião pública fazia sobre o poder
Judiciário em querer a condenação do casal. Em suas reportagens a Rede Globo de
jornalismo conduzia suas entrevistas pré
julgando o casal, em muitas delas foi possível perceber como ela conduzia os fatos
61
A MÍDIA NO CASO NARDONI
fazendo com que a sociedade acreditasse
que um casal suspeito fosse mesmo culpado, podendo ela ser legitimadora de um
julgamento incorreto pois as provas conclusivas só seriam apresentadas no dia do
julgamento.
O papel do jornalista é de grande valia em casos como o da Isabela, pois a influência midiática é capaz de alterar o imaginário das pessoas, mas a imparcialidade
destes profissionais é fundamental para
que a sociedade pense e julgue o caso e
não seja manipulado por informações que
a face pensar manipulada mente, por mais
que as provas levasse a condenação do
casal Nardoni,não era papel da mídia julgar ou pré julgar, o jornalista tem que ter
a atenção voltada para a contextualização
dos fatos e não levar a matéria para o sensacionalismo.
Referências
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análise do telejornalismo: premissas,
conceitos, operadores de análise. Revista
da Associação Nacional dos Programas de
Pós-Graduação em Comunicação - Compós,
abril/2007.
RADOS,Milan. Opina Pública mundial: Formar ou Manipular. Faculdade de Letras da
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MORETZSOHN, Sylvia “O crime que chocou
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MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios
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Mãe de Isabella Nardoni fala pela primeira
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BOURDIEU, P. O desencantamento do mundo: Estruturas econômicas
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LUCIANE BLUMVESTENA, Carla.O papel
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