JC - Cidade da Copa deve abrigar a UPE

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JC - Cidade da Copa deve abrigar a UPE
NOVO BAIRRO Responsável pelas obras em São Lourenço da Mata, Odebrecht propõe
ao governo a transferência de grande parte da universidade. Investimento seria de R$
300 mi
Giovanni Sandes
[email protected]
Os
sete
principais
cursos
da
Universidade de Pernambuco (UPE) no
Recife podem ser transferidos para a
Cidade da Copa, em São Lourenço da
Mata, caso vire realidade uma nova
parceria público-privada (PPP) em
estudo. Batizado de Campus Integrado
da UPE, o projeto tem investimento
estimado em R$ 300 milhões. Proposto
pela Odebrecht, ele reuniria, segundo a
Secretaria de Governo, a reitoria e os
cursos de administração, ciências
biológicas, medicina, enfermagem,
odontologia,
educação
física
e
engenharia. O resultado dos estudos
sai em setembro e, se o governo
aprovar o projeto, a ideia é ter o
primeiro edifício funcionando no novo
campus em 2014.
Os números financeiros ainda são
iniciais. Mas o projeto básico de
construção já está pronto: serão 90 mil
metros quadrados na primeira etapa,
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além de uma área de expansão que totaliza 150 mil m² para a nova UPE. Só a primeira fase
teria capacidade para 15 mil alunos. O projeto foi desenvolvido pela consultoria Aecom, a
pedido da Odebrecht, para se integrar ao conceito da Cidade da Copa, um complexo orçado
em R$ 2 bilhões muito maior que a arena do Mundial 2014 e que envolverá áreas
residenciais, comerciais e hotelaria.
Temos o masterplan [plano principal do Campus Universitário já pronto, feito pela Aecom,
hoje a maior do mundo na área , comenta Marcos Lessa, presidente da Arena Pernambuco
Negócios, consórcio de empresas da Odebrecht à frente da Cidade da Copa. Ele cita
trabalhos internacionais da Aecom em Dubai e na Inglaterra, em instituições de ensino
superior como Cambridge.
O projeto, segundo Marcos, é para obras e instalações de um novo campus, não para
fornecer educação. A proposta é unicamente para construção e manutenção predial. Seria
uma concessão administrativa. A parte intelectual, acadêmica, caberia à UPE.
A concessão administrativa mencionada por ele é uma das duas modalidades de uma PPP,
tipo de concessão que precisa de dinheiro público para se sustentar. Quando uma dessas
parcerias gera parte da própria receita, é uma concessão patrocinada. Se o dinheiro vem
apenas do governo, a concessão é administrativa.
As PPPs são um meio para os governos viabilizarem projetos caros de infraestrutura.
Pernambuco tem três: o acesso com pedágio à Reserva do Paiva, no Cabo de Santo
Agostinho, o Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga (complexo prisional na Mata
Norte) e a própria Cidade da Copa, em São Lourenço.
Além das PPPs que já têm contrato assinado, há várias outras em estudos. A mais adiantada
é para ampliar de 28% para 90% a coleta e tratamento de esgoto no Grande Recife e Goiana,
negócio com faturamento estimado em R$ 16,7 bilhões, em 35 anos, e que deve ser licitado
mês que vem. A mais nova é a da UPE.
Como é um estudo, os resultados vão mostrar se ela é viável ou não , diz o secretário interino
de Governo, Josué Honório. O estudo de uma PPP tem que ser autorizado pelo governo até
porque, se o negócio for considerado viável e licitado, o gasto nessa etapa é ressarcido à
empresa que fez a pesquisa. No caso da UPE, o estudo de viabilidade econômico-financeira
custará R$ 8,5 milhões.
Universidade ainda à margem do debate
Os estudos em andamento sobre uma parceria público-privada (PPP) para a construção e
operação do Campus Integrado da Universidade de Pernambuco (UPE), apesar de revelados
hoje, pelo JC, foram autorizados pelo Estado há dois meses. O comando da UPE, contudo,
apesar de seu interesse direto no assunto, ainda não está totalmente integrado ao debate.
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O Comitê Gestor do Programa Estadual de PPPs (CGPE) é a instância onde empresas
podem apresentar uma proposta de manifestação de interesse (PMI), no geral um embrião de
projeto de uma parceria público-privada. Apesar de vários secretários terem assento no
CGPE, a Universidade de Pernambuco, via assessoria de imprensa, informou que teve
poucos e informais contatos com a Odebrecht sobre os estudos do novo campus e que há
reunião sobre o assunto marcada com a construtora para o próximo dia 29.
O CGPE é vinculado à Secretaria de Governo, interinamente sob o comando de Josué
Honório. Procurado para comentar os estudos sobre o novo campus, ele apresenta as
informações iniciais.
A arena é apenas a célula inicial da Cidade da Copa, que terá toda a sorte de serviços,
privados e públicos. Uma possível ida do campus da UPE para lá serviria como nova âncora
da Zona Oeste da região metropolitana. A Universidade teria não apenas novos prédios, mas
também mais musculatura para oferecer instalações melhores e com mais espaço para
crescer , comenta Josué.
Na avaliação dele, os alunos poderão utilizar o novo sistema de transporte coletivo, mais
conhecido pela sigla em inglês BrT, construído para a Copa 2014, além de estação de metrô
próxima.
Também poderemos integrar, de forma racionalizada, os sete cursos iniciais e até novos
cursos, atraindo empresas para o entorno e facilitando o convívio de alunos com um ambiente
multidisciplinar, como acontece na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) , comenta
Honório.
Mas ele ressalta que tudo está condicionado à aprovação dos estudos. Além disso, há outra
questão a resolver: o que fazer com os prédios eventualmente desativados? A PPP vai
demonstrar a viabilidade ou não do novo campus. Sendo viável, o governo vai decidir o que
fazer com os prédios desocupados , complementa Josué.
Estado, único investidor até agora
A Cidade da Copa é um complexo bilionário de lazer e entretenimento, viabilizado por uma
parceria público-privada (PPP). Ele prevê diversos projetos menores nos 242 hectares do
terreno, como hotéis, shopping center, residências e escritórios, entre outros. Até agora,
porém, nenhum nome de investidor havia sido revelado. O governo estadual, já presente na
PPP, é o primeiro nome de investidor da Cidade da Copa com proposta discutida
publicamente.
Mais do que apenas um estádio de futebol, o conceito do complexo é ter moradia, trabalho,
educação, lazer e entretenimento, tudo em um lugar apenas. A ideia é desenvolver tudo em
quatro fases. Apesar de não haver qualquer exigência para a Arena Pernambuco Negócios
iniciar as obras até o Mundial, o consórcio, formado por duas empresas da Odebrecht,
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divulgava que teria obras iniciadas no primeiro semestre deste ano para entregar em 2014 ao
menos parte da primeira fase, com um campus educacional, centro de convenções, hotel e
um ginásio, além de uma área de comércio e alimentação.
Segundo Marcos Lessa, presidente da Arena Pernambuco Negócios, os projetos ainda estão
sendo negociados, em diferentes etapas de consolidação. Ele diz que o shopping deve ficar
pronto até o início de 2014, assim como um primeiro edifício do novo campus da UPE, se a
PPP virar realidade.
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