a emigração checa para o brasil desde o início até ao

Transcrição

a emigração checa para o brasil desde o início até ao
UNIVERZITA PALACKÉHO V OLOMOUCI
FILOZOFICKÁ FAKULTA
Katedra romanistiky
A EMIGRAÇÃO CHECA PARA O BRASIL
DESDE O INÍCIO ATÉ AO SÉCULO XX
BAKALÁŘSKÁ PRÁCE
Kateřina Bátorová
Portugalská filologie
Vedoucí práce:
PhDr. Zuzana Burianová, Ph.D.
OLOMOUC 2013
Prohlášení
Prohlašuji, že jsem bakalářskou práci vypracovala samostatně pod odborným
dohledem vedoucí bakalářské práce a za použití uvedených pramenů.
V Olomouci dne ….................
..................................................
Podpis
Poděkování
Děkuji PhDr. Zuzaně Burianové, Ph.D. za odborné vedení a za cenné připomínky
a rady, které mi poskytla při psaní bakalářské práce.
Kateřina Bátorová
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 5
1. OS PRIMEIROS CHECOS NO BRASIL NO SÉCULO 17 ............................................ 6
1.1 ŠIMON KOHOUT DE LICHTENFELD ...................................................................................................... 7
1.2 JIŘÍ KRYŠTOF KAPLÍŘ, O CAVALEIRO DE SULEVICE ............................................................................. 7
2. OS JESUÍTAS CHECOS NO BRASIL NOS SÉCULOS 17 E 18 ....................................................... 9
2.1 VALENTIN STANZEL ......................................................................................................................... 10
2.2 SAMUEL FRITZ ................................................................................................................................ 11
3. A EMIGRAÇÃO CHECA DESDE O INÍCIO DO SÉCULO 19 ATÉ AO ANO DE 1920................ 13
3.1 O BRASIL – A POLÍTICA DE IMIGRAÇÃO DESDE O SÉCULO 16 ATÉ AO ANO DE 1934 .............................. 13
3.2 A ÁUSTRIA-HUNGRIA – A POLÍTICA DE EMIGRAÇÃO DESDE O SÉCULO 17 ATÉ AO SÉCULO 19 .............. 14
3.3 AS ESTIMATIVAS DO NÚMERO DOS IMIGRANTES CHECOS QUE CHEGARAM PARA O BRASIL DESDE O
INÍCIO DO SÉCULO 19 ATÉ AO ANO DE 1920 ............................................................................................. 15
3.4 A SITUAÇÃO MATERIAL DOS EMIGRANTES CHECOSLOVACOS APÓS A 1A GUERRA MUNDIAL .................. 17
3.5 A EMIGRAÇÃO ORGANIZADA NO SÉCULO 19 ...................................................................................... 18
3.5.1 A colónia de São Bento no estado de Santa Catarina............................................................... 18
3.5.2 A emigração das regiões de Jablonec e Liberec ....................................................................... 19
3.5.3 Os emigrantes de Rovensko pod Troskami ............................................................................... 19
3.6 OS CONHECIDOS EMIGRANTES CHECOS ESTABELECIDOS NO BRASIL DESDE O INÍCIO DO SÉCULO 19 ATÉ
AO ANO DE 1920 .................................................................................................................................... 20
3.6.1 Josef Wolf de Rýmařov ............................................................................................................ 20
3.6.2 ANTONÍN NEUGEBAUER ............................................................................................................. 20
3.6.3 VLADIMÍR FRANTIŠEK LORENC .................................................................................................... 21
3.6.4 Os antepassados de Juscelino Kubitschek ............................................................................... 22
4. A EMIGRAÇÃO CHECA DESDE O ANO DE 1920 ATÉ À 2ª GUERRA MUNDIAL ................... 23
4.1 AS ESTATÍSTICAS FEITAS POR VOLTA DE 1920 – 1926 ......................................................................... 23
4.2 O NÚMERO DOS EMIGRANTES CHECOS E ESLOVACOS DESDE O ANO DE 1925 ATÉ Á 2A GUERRA MUNDIAL
............................................................................................................................................................. 25
4.3 ONDE VIVIAM OS CHECOSLOVACOS NO BRASIL NAS DÉCADAS DE VINTE E TRINTA ............................. 27
4.4 OS PROJECTOS DE COLONIZAÇÃO NAS DÉCADAS DE VINTE E TRINTA .................................................. 28
4.5 OS CONHECIDOS EMIGRANTES CHECOS ESTABELECIDOS NO BRASIL NO PERÍODO ENTRE AS DUAS
GUERRAS MUNDIAIS .............................................................................................................................. 30
4.5.1 A família de Gayeros ............................................................................................................... 30
4.5.2 Vladimír Kozák ....................................................................................................................... 31
4.5.3 Os arquitectos - Yaro Burian e Josef Pytlík .............................................................................. 31
4.5.4 Outros - Jiří Baum, František Pelíšek, František Jindra, Jan Pěkný, Anežka Srnová ............... 32
5. OS CLUBES CHECOS E AS SUAS ACTIVIDADES NO BRASIL DESDE O SÉCULO 19 ATÉ À
2A GUERRA MUNDIAL ......................................................................................................................... 33
5.1 OS CLUBES CHECOS NO BRASIL DESDE O FIM DO SÉCULO 19 ATÉ À 1A GUERRA MUNDIAL ................... 33
5.1.1 Slavia ...................................................................................................................................... 33
5.1.2 České národní sdružení ........................................................................................................... 34
5.1.3 První československý spolek Přemysl ..................................................................................... 34
5.1.4 Clube dos Lavradores ............................................................................................................. 35
5.2 OS CLUBES CHECOS NO BRASIL DEPOIS DA 1A GUERRA MUNDIAL ...................................................... 35
5.2.1 Slavia ...................................................................................................................................... 35
5.2.2 As menores associações........................................................................................................... 35
CONCLUSÃO ......................................................................................................................................... 37
RESUMÉ V ČEŠTINE ........................................................................................................................... 40
ENGLISH SUMMARY........................................................................................................................... 41
ANOTACE .............................................................................................................................................. 42
BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................... 43
LISTA DAS IMAGENS .......................................................................................................................... 45
LISTA DAS TABELAS ........................................................................................................................... 45
Introdução
Neste trabalho temos a intenção de apresentar a história da emigração checa para
o Brasil. Quando estudámos vários textos sobre esse assunto, encontrámos que ninguém
trata desse tópico de uma maneira geral, por isso decidimos analisar e reunir essas
informações fragmentárias e fazer o resumo da imigração checa para o Brasil desde o
seu início no século 17 até à segunda guerra mundial.
Não se fala muito sobre a emigração checa para o Brasil, porque esta não é
considerada muito significativa em comparação, por exemplo à emigração para os
Estados Unidos da América ou para a Argentina. Nesse trabalho tentaremos mostrar que
a emigração checa para o Brasil não é prescindível e vale a pena explorá-la.
O trabalho é dividio em cinco capítulos. No primero capítulo estudaremos os
destinos dos primeiros “imigrantes” checos no Brasil no século 17. O seguinte capítulo
é dedicado a notáveis cientistas e exploradores jesuítas nos séculos 17 e 18, com ênfase
nas suas actividades científicas.
Em seguida observaremos a emigração checa desde o século 19 até à fundação
da Checoslováquia. Primeiro descreveremos a política brasileira de imigração e depois
aprentaremos a política de emigração da Áustria-Hungria. A seguir estudaremos os
números dos emigrantes checos, descrevendo as expedições checas e os destinos de
alguns emigrantes.
Depois, investigando as décadas de 1920 e de 1930, apresentaremos também os
números dos emigrantes checos que chegaram ao Brasil nesse tempo, comparando as
várias estatísticas e estimações dos historiadores. Dedicar-nos-emos aos projectos da
colonização das autoridades checas e à vida de vários emigrantes. Terminaremos o
trabalho examinando os diversos clubes checos criados no Brasil e, estudando as suas
actividades desde o fim do século 19 até à segunda guerra mundial.
5
1. Os primeiros checos no Brasil no século 17
O Brasil foi descoberto no início do século 16, mas os primeiros checos
chegaram só no século 17. Não existem as fontes que confirmem a presença dos checos
no Brasil anteriormente. Nesse século não havia uma emigração organizada dos países
checos, pessoas vinham individualmente para o Brasil. 1 Neste capítulo examinaremos
concretamente os destinos do Šimon Kohout de Lichtenfeld e o Jiří Kryštof Kaplíř, o
cavaleiro de Sulevice.
Ambos entraram no Brasil por intermédio dos holandêses, em concreto, pela
Companhia das Índias Ocidentais, que foi fundada pelos holandêses no ano de 1621. 2
Essa companhia foi fundada com o fim de adquirir novos territórios, ou seja, segundo
Nicolette Mount, “com o fim de enfraquecer o poder militar e econômico do inimigo
espanhol no hemisfério ocidental e de expulsá-lo, em particular, das suas rendosas
colônias.”3 Os Holandêses tiveram interesse na colónia portuguesa do Brasil e no ano de
1635 eles conquistaram as partes desse território: “os holandeses conquistaram, em
1629, definitivamente a Bahia e após dois anos também o Recife. Em 1635 o litoral das
capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande encontrava-se nas mãos dos
neerlandêses.”4 Entretanto não era fácil manter os novos territórios para holandêses,
porque nesses territórios viviam muitos portugueses naturalmente descontentes com
essa situação. Em 1645 estourou uma insurreição da população portuguesa. As tropas
holandêsas eram pouco numerosas para poderem reprimir a insurreição. A W. I. C.
(Companhia das Índias Ocidentais) viu-se forçada a pedir ajuda aos Estados Gerais.5 E
assim eram enviadas algumas expedições de guerra ao Brasil, nas quais participaram os
checos.
Ambos viveram nos Países Baixos pelos motivos políticos. Tiveram de emigrar
dos países checos, porque as famílias deles participaram no levantamento checo que
ocorreu nos anos 1618 – 1620. O levantamento foi dirigido contra o reinado dos
1
KLÍMA, Jan. Dějiny Brazílie. Praha: Lidové noviny, 1998, s. 340.
Ibid., přel. K. Bátorová z org. „První Češi se do Brazílie dostali jako zaměstnanci nizozemské
Západoindické společnosti“.
3
Mount, Nicolette: Os primeiros Checos no Brasil. In: Ibero-americana Pragensia III, 1969, s. 219.
4
Ibid.
5
Ibid., s. 220.
2
6
Habsburgos e também contra o catolicismo. Todavia, o levantamento foi reprimido após
a perdida Batalha da Montanha Branca no ano de 1620. Por causa disso muitos checos
saíram do país.
1.1 Šimon Kohout de Lichtenfeld
Šimon Kohout de Lichtenfeld foi natural de Praga e como já escrevemos, ele
teve de emigrar aos Países Baixos porque, segundo o Mount, foi “descendente de uma
rica família burguêsa, que tinha participado no levantamento tcheco de 1618-1620.”6
Durante a navegação ao Brasil, muitos soldados holandese morreram e um
grande número de outros não era capaz de combater depois de entrarem no Brasil,
porque durante a navegação sofreram da falta da saneamento e de doenças. Por isso, em
Outubro de 1647, foi chamado ao Brasil o doutor Šimon Kohout de Lichtenfeld.
Entretanto pouco se sabe sobre a sua actividade no Brasil ou durante a viagem.
Morreu cerca de um ano depois da sua chegada a 4 de Dezembro de 1648.7
1.2 Jiří Kryštof Kaplíř, o cavaleiro de Sulevice
Outro checo, que veio para o Brasil quase o mesmo tempo como Šimon Kohout,
foi Jiří Kryštof Kaplíř, o cavaleiro de Sulevice, que „era descendente de uma conhecida
família nobre tcheca a qual nos anos de 1618 – 1620 também participou no
levantamento.”8 No ano de 1621, Kaplíř foi cruelmente perseguido e deixou os países
checos.
Depois ele não tinha dinheiro e vagueou pela Europa e no ano de 1637,
provavelmente entrou no serviço holandês. Mais tarde foi nomeado capitão no
regimento do coronel Van den Brande, onde prestou serviços como tenente.9 A seguir, a
31 de Dezembro no ano de 1647 embarcou com a expedição governada pelo Witt de
With para o Brasil e em Março de 1648 desembarcou no Recife. A 19 de Abril de 1648
travou-se a Batalha dos Guararapes entre os holandêses e os rebeldes portuguêses e
Kaplíř tomou parte nesta batalha. Ele comandava 63 homens „...40 aptos e 23
6
Ibid., s. 221.
Ibid.
8
Ibid.
9
Ibid., s. 222.
7
7
inaptos.“10 Depois ele tomou parte em várias batalhas e expedições militares nas quais
morreram muitos dos seus soldados, e meio ano mais tarde comandava somente 35
homens. “A 19 de Fevereiro de 1649 travou-se a segunda batalha dos Guararapes, na
qual os holandêses sofreram uma grave derrota.“11 Nesta batalha participou também
Kaplíř e morreu lá juntamente com os outros vinte soldados que comandava.
Nem Šimon Kohout nem Kryštof Kaplíř sobreviveram longo tempo no Brasil,
mas não se deve negar-lhes uma grande coragem.
10
11
Ibid.
Ibid.
8
2. Os jesuítas checos no Brasil nos séculos 17 e 18
Durante os séculos 16, 17 e 18 os jesuítas da Europa chegavam ao Brasil para
trabalharem aí. Eles principalmente catequizavam os índios, além disso dedicavam-se
também às actividades científicas e à educação. Portanto fundavam as missões
jesuíticas, chamadas reduções, que eram unidades económicas autónomas, nas quais
vivia um grupo de índios com um missionário. Os índios viviam aí de acordo com a
tradição cristã, recebeiam lá um tratamento digno e a alguma educação.
Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549. Entretanto os jesuítas
checos entraram lá mais tarde. A primeira expedição chegou no ano de 1678, a segunda
no ano de 1684 e outras nos anos de 1686 e 1687 e assim por diante. A ordem jesuítica
ficou lá até ao ano de 1767. Durante esse tempo vieram a toda a América Latina
provavelmente 150 jesuítas dos países checos, dos quais alguns também vieram para o
Brasil.12
Na maioria das vezes os jesuítas checos não tinham ordenação sacerdotal e além
das actividades missionárias dedicavam-se ao trabalho prático e faziam o que era
necessário – eram construtores, arquitectos, administradores de fazendas, artesãos,
médicos e professores. Também “os missionários checos no Brasil expandiram o culto
de São João Nepomuceno canonizado em 1729 e também a adoração do Menino
Jesus.”13
Depois da sua apelação retornaram da América Latina cerca de 70 jesuítas, que
trouxeram muitos escritos sobre o seu trabalho anterior – crónicas, mapas, textos
profissionais médicos, farmacológicos e astronómicos, gramáticas e dicionários de
línguas indígenas e obras sobre a sociedade indígena.14
Aos jesuítas menos conhecidos que entraram no Brasil pertence Václav Hončík,
12
BARTEČEK, Ivo. Jezuité zemí Koruny české v Latinské Americe. Ostrava: Scholaforum, 1997. 21 s.
KLÍMA, Jan. Dějiny Brazílie. Praha: Lidové noviny, 1998, s. 340. přel. K. Bátorová z org. „Čeští
misionáři v Brazílii rozšířili kult svatého Jana Nepomuckého kanonizovaného v roce 1729 a také
uctívání Pražského Jezulátka.“
14
BARTEČEK, Ivo. Jezuité zemí Koruny české v Latinské Americe. Ostrava: Scholaforum, 1997. 21 s.
13
9
Franciscus V. Vocht e Jan Gintzel. Não conhecemos nada sobre a vida e as actividades
de Václav Hončík ou Vocht.15 Conhecemos apenas poucas informações sobre Jan
Gintzel. Ele foi de Chomutov. Chegou ao Brasil no ano de 1692 na quinta expedição.16
Entre os anos de 1694 e 1743 trabalhou em Salvador e em outras partes do Brasil. 17
2.1 Valentin Stanzel18
Valentin Stanzel nasceu no ano de 1621 em Olomouc. Estudou no colégio da
Companhia de Jesus. “No dia 1º de Outubro de 1637, com 16 anos, Stanzel ingressou
na Ordem e seguiu uma carreira longa e invulgar.” 19 Dedicou-se ao estudo da
matemática, física e filosofia e falava a língua checa, alemão, latim e mais tarde
aprendeu a língua portuguesa. Durante a sua vida escreveu numerosas obras de filosofia
natural e de astronomia e também as obras religiosas.
Nos países checos trabalhou como professor na Universidade Carolina de Praga
e construiu diversos aparelhos. “Também atribuem a Stanzel um relógio de sol, no pátio
chamado dos Estudantes...no Colégio Jesuíta Clementinum de Praga.”20 Em 1655 partiu
dos países checos para Roma e, depois para Lisboa, permanecendo em Portugal até
1663. Lá trabalhou como professor da matemática e astronomia e preparou-se para uma
carreira missionária. Originalmente quis ir como missionário para China, mas mudou de
ideia e em 1663 veio para o Brasil.
Logo após a chegada do missionário á Bahia, sua atividade de matemático e
cientista foi intensa. Nos anos de 1664, 1665 e 1668 observou uma cometa e as suas
observações são reunidas nas obras Legatus Uranicus ex Orbe in Veterem e Legatus
uranicus sive cometa...observatus in Brasilia, Bahiae Omnium Sanctorum. Outra obra
provavelmente da autoria de Stanzel sobre a observação da cometa em 1689 chama-se
Discurso Astronômico. Nos anos de 1664 e de 1665 observou eclipses lunares e solares.
Também escreveu as obras sobre a natureza do Brasil Coelis Brasiliensis Oeconomia
15
KLÍMA, Jan. Dějiny Brazílie. Praha: Lidové noviny, 1998, s. 341.
NOVOTNÁ, Eva. Čeští jezuité, cestovatelé a objevitelé. Ikaros [online]. 2006, roč. 10, č. 7 [cit.
06.11.2012]. Dostupný na World Wide Web: <http://www.ikaros.cz/node/3531>.
17
KLÍMA, Jan. Dějiny Portugalska. Praha: Lidové noviny, 1996, 306 s.
18
Valentin Stansel - Um Observador Tcheco dos Céus Brasileiros. ŠTĚPÁNEK, Pavel.Afinidades
históricas e culturais entre o Brasil e a República Tcheca. Brno: L. Marek, 2008, s. 81-102.
19
Ibid, s. 83.
20
Ibid, s. 84.
16
10
sive do benigmo syderum influxu, temperie e Mercurius Brasilius, que são hoje
perdidas. Muito interessante é uma obra escrita em diálogo e publicada em 1685, que se
chama Uranophilus Caelestis Peregrinus. Como afirma Štěpánek „trata-se de um
diálogo entre três personagens: Uranophilus, Geonisbe e Urania, que passeiam pelo
espaço discutindo a conformação dos céus e da Terra.”21 Desde o ano de 1685 foi
professor da matemática e ética em San Salvador e no ano de 1694 tornou-se o reitor do
Colégio dos Jesuítas na Bahia. Faleceu em 1705, aos 84 anos da idade.
2.2 Samuel Fritz22
Samuel Fritz nasceu no dia 9 de Abril de 1654 em Trutnov. Originalmente veio
trabalhar ao território espanhol Alto Amazonas. Em 1684 chegou ao Equador, onde
trabalhou aproximadamente dois anos com uma tribo indígena de Omag construindo a
missão de San Joaquín. No ano de 1686 foi mandado de Quito ao Alto Amazonas e
navegando pelo rio fundava os reduções. Em dois anos conseguiu chegar até ao estuário
do Japurá, fundou aí a estação da missão central e examinou aí a paisagem mapeando e
descrevendo a detalhadamente. Por causa de grandes inundações ele entrou no ano de
1689 ao território português, depois ficou muito doente e foi mandado a Belém onde foi
considerado um espião e passou aí 18 meses na prisão, mas por fim soltado, retornou
para o território espanhol.
Ele navegou no rio Amazonas de Iquitos a Pará, no seu tempo uma viagem digna
de admiração, por ser extremamente longa e difícil. Mais tarde, no ano de 1717,
publicou o mapa que o fez famoso – Běh řeky Maraňonu, jinak Amazonky, od P.
Samuela Fritze, misionáře Tovaryšstva Ježíšova.. Em resumo, criou dois mapas do rios
Amazonas confiáveis em que reside a sua maior importância. Também ele descreveu
detalhadamente as tribos indígenas na bacia do Amazonas – os costumes e hábitos deles
e toda a vida defendeu os índios contra a sua escravização pelos portugueses e
espanhóis. Faleceu no ano de 1725.
21
22
Ibid, s. 93.
BARTEČEK, Ivo. Jezuité zemí Koruny české v Latinské Americe. Ostrava: Scholaforum, 1997. 21 s.
11
Img. 1: O mapa do rio Amazonas de Samuel Fritz
12
3. A emigração checa desde o início do século 19 até ao
ano de 1920
3.1 O Brasil – a política de imigração desde o século 16 até ao
ano de 1934
A imigração no Brasil começou já no ano de 1530: “quando começou a
estabelecer-se um sistema relativamente organizado de ocupação e exploração da nova
terra“,23 mas nos séculos 16 e 17 foi relativamente pequena. “A entrada de estrangeiros
no Brasil era proibida pela legislação portuguesa no período colonial, mas isso não
impediu que chegassem espanhóis entre 1580 e 1640, quando as duas coroas estiveram
unidas; judeus (originários, sobretudo da Península Ibérica), ingleses, franceses e
holandeses. Esporadicamente, viajavam para o Brasil cientistas, missionários,
navegantes e piratas ingleses, italianos ou alemães.”24 Mas, até a independência do
Brasil, chegavam lá principalmente os portugueses e o grande número dos africanos
escravizados, cerca de 4,5 milhôes ao longo de quatro séculos de tráfico.25
A imigração cresceu nos primeiros cinquenta anos do século 18, quando foram
nas Minas Gerais descobridas as minas de ouro e de diamantes. E a migração em grande
escala começou na primeira metade do século 19, devido à independência do Brasil, e
cresceu no fim do século 19. Em 1888 aboliu-se no país a escravidão sem indemnização
e o Brasil apoiou a imigração, porque teve urgência da mão-de-obra para trabalhar nas
plantações, principalmente nas grandes colheitas de café, e nas minas.26
Desde o ano de 1886 até ao ano de 1914 chegavam para o Brasil quase três
milhões de estrangeiros. Em maior número, não contando os portuguêses e africanos,
vieram para o Brasil os italianos, cerca de 1, 6 milhão, depois os espanhóis, cerca de
23
Imigração no Brasil. In: Brasil Escola [online]. [cit. 2013-03-13]. Dostupné z:
http://www.brasilescola.com/brasil/imigracao-no-brasil.htm
24
Ibid.
25
Bueno, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2002.
26
Baďurová M. - Baďura B: Vystěhovalectví z českých zemí do Brazílie před vznikem ČSR, in: Český
lid, 82, 1995, č. 4, s. 323-335.
13
694 mil. Terceiro maior contingente dos imigrantes foram os alemães com 250 mil de
imigrantes. Os alemães eram também os primeiros imigrantes, (exceto os portuguêses) a
chegarem ao Brasil. Primeiros colonos chegaram em 1824 e fundaram a colônia no Rio
Grande do Sul. O quarto maior grupo de imigrantes eram os japonêses com 229 mil de
imigrantes. Em menor número chegavam as outras etnias como turcos, judeus,
poloneses, russos, ucranianos, letões, chineses, sírio-libaneses e também os checos. Os
emigrantes europeus estabeleciam-se especialmente no Sul do Brasil e os japonêses no
São Paulo.27
Ao Brasil eram também atraídas pessoas para fundarem aí quintas pequenas,
assegurando a produção agrícola mais diversificada, porque no Brasil havia
principalmente as grandes plantações onde se cultivou o café e a produção agrícola era
excessivamente uniforme. Aos imigrantes foi oferecido um transporte gratuito ou barato
ou uma terra em prestações a longo prazo. Nos estados Rio Grande do Sul, Santa
Catarina e Paraná ou nas zonas litorâneas entre São Paulo e Bahia eram fundadas
colónias agrícolas e os imigrantes estabeleciam-se especialmente aí.28
O governo, temendo o crescente número de imigrantes da Ásia, principalmente
do Japão, limitou a imigração em 1934. Eram introduzidas as quotas anuais para cada
nação, chamadas A Lei de Cotas. Essa lei dizia que só podiam entrar no Brasil até 2%
por nacionalidade do total de imigrantes entrados no país nos últimos 50 anos 29, por
exemplo 246 checos ao máximo poderiam chegar ao Brasil. 30 Desde a decáda de trinta a
imigração no Brasil descia bastante.
3.2 A Áustria-Hungria – a política de emigração desde o
século 17 até ao século 19
Segundo Polišenský, nos séculos 17 e 18 os estados europeus não promoveram a
27
28
Bueno, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2002.
Baďurová M. - Baďura B: Vystěhovalectví z českých zemí do Brazílie před vznikem ČSR, in: Český
lid, 82, 1995, č. 4, s. 323-335.
29
Imigração no Brasil. Bússola Escolar [online]. [cit. 2013-04-22]. Dostupné z:
http://www.bussolaescolar.com.br/historia_do_brasil/imigracao_no_brasil.htm
30
BARTEČEK, Ivo. Vystěhovalectví do Latinské Ameriky. Češi v cizině.Praha: Ústav pro etnografii a
folkloristiku ČSAV, 1996, č. 9, s. 172-197.
14
emigração: “Nos séculos 17 e 18 a maioria dos estados europeus no espírito do
mercantilismo e fisiocratismo consideravam as suas populações, respectivamente os
trabalhadores, como parte da riqueza nacional e não promoveram a emigração.” 31
Na primeira metade do século 19 a emigração da Áustria-Hungria foi
estreitamente limitada pelas leis emitidas nos anos de 1784 e de 1832. Na segunda
metade do século 19, a emigração não foi proibida, mas também não foi promovida. Em
1850 e 1867 as leis foram aliviadas. Contudo, obter a permissão das autoridades foi
difícil. Por exemplo poderia durar até alguns anos para um emigrante receber um
passaporte, geralmente três anos. Mais tarde esse processo foi acelerado e um emigrante
recebeu um passaporte em dois meses. Mesmo os diversos agentes que atraíam as
pessoas para emigrarem eram perseguidos ou as autoridades tentavam convencer o
requerente de um passaporte que os agentes tinham mentido sobre a situação no país
estrangeiro, o que aliás muitas vezes foi verdade.32
3.3 As estimativas do número dos imigrantes checos que
chegaram para o Brasil desde o início do século 19 até ao
ano de 1920
Em 1817 a arquiduquesa Leopoldina de Habsburgos tornou-se a esposa do
Pedro, o herdeiro do trono brasileiro. Alguns cientistas checos como Jan Kristián
Mikan, Jan Emanuel Pohl, Dominik Sochor eram membros do seu acompanhamento e
mais tarde publicaram tratados científicos sobre o Brasil. Começaram-se a escrever
também romances ou livros de viagens sobre o Brasil. Por exemplo, Václav Rodomil
Kramerius reescreveu um romance germânico para os leitores checos e publicou o sob o
títolo – Vystěhovanci do Brasilie aneb Chaloupka u Gigitanhonhy (1830), em que
apareceu pela primeira vez o tema da emigração para o Brasil e algumas revistas checas
publicaram artigos sobre o Brasil.33
31
Polišenský, J.: Úvod do studia dějin vystěhovalectví do Ameriky I.: Obecné problémy dějin českého
vystěhovalectví do Ameriky 1848-1914, Praha, Univerzita Karlova 1992, s. 9. přel. K. Bátorová z org.
“V 17. a 18. století většina evropských států v duchu merkantilismu a fyziokratismu považovalo své
obyvatelstvo, popř. jeho pracující část, za součást národního bohatství a vystěhovalectví nepřála.“
32
Ibid, s. 17.
33
KLÍMA, Jan. Dějiny Brazílie. Praha: Lidové noviny, 1998, s. 434-344.
15
A própria Checoslováquia é ligada ao Brasil, porque uma checa nobre, Alžběta
Dobřenská de Dobřenice, casou em 1908 no Versailles com Pedro de Orléans-Bragança,
neto do último imperador brasileiro Pedro II. e filho da princesa Isabel e Príncipe
Gaston de Orleans, Duque d'Eu. Eles tiveram um filho, que se tornou o hipotético
herdeiro do trono brasileiro.
Os checos começaram a ser atraídos pelos agentes para as colónias já existentes
no Brasil depois do ano de 1850, quando as leis sobre a emigração foram moderadas.
Não sabemos muito sobre a emigração no século 19 antes do ano de 1850. Muito
provavelmente não muitos checos emigraram para o Brasil. Como escreveu Barteček:
“...se vieram emigrantes ao Brasil dos países checos, até a década da cinquenta eram
pessoas individuais ou grupos menos numerosos.”34
É um grande problema calcular precisamente quantos checos emigraram para o
Brasil desde o início do século 19 até ao ano de 1920. Em primeiro lugar, os registos
sobre a emigração eram feitas na Áustria-Hungria só entre os anos de 1820 e de 1824 e
eram imprecisos. Depois, as informações eram procuradas nos registos dos passageiros
de navios ou de portos ou nas listas das pessoas que perderam a cidadania, etc. 35 Em
segundo lugar, na estatística brasileira feita entre os anos de 1868 e 1920 os checos
eram incluídos entre os membros da Áustria-Hungria.
A pessoa que estudou a emigração checa ao Brasil no século 19 e nas primeiras
décadas do século 20 foi Vlastimil Kybal, historiador e diplomata da República
Checoslováca que serviu entre os anos de 1925-1927 como embaixador no Brasil e na
Argentina. Ele estudou as estatísticas brasileiras feitas pelo Serviço do Povoamento
entre os anos de 1868 e 1920 e calculou uma estimativa, bastante precisa e reconhecida,
quantas pessoas dos países checos entraram no Brasil desde o ano de 1868 até ao ano de
1920. Pelas suas palavras “no Brasil, não é possível determinar o número exacto dos
habitantes da Checoslováquia, pela razão, que estes estavam a ser contados ao ano de
1918 pelos autoridades locais entre os habitantes da Áustria-Hungria e mesmo durante o
34
Barteček, Ivo: Vystěhovalectví z českých zemí a Československa do Brazílie. In: Historie – Historica,
4, Ostrava 1996, s. 150. přel. K. Bátorová z org. „...pokud se však do Brazílie dostali vystěhovalci z
českých zemí, pak to byli do 50. let jednotlivci nebo méně početné skupinky.“
35
Baďurová M. - Baďura B: Vystěhovalectví z českých zemí do Brazílie před vznikem ČSR, in: Český
lid, 82, 1995, č. 4, s. 323-335.
16
recenseamento geral de 1920 não foram registados sob um título separado.”36
Segundo as estatísticas do Serviço do Povoamento entre os anos de 1868-1920
vieram da Áustria-Hungria para o Brasil 81 893 pessoas. Conforme Kybal,
provavelmente todos não ficaram aí, alguns retornaram ou continuaram para outros
países.37 No recenseamento geral feito no Brasil no ano de 1920 foi calculado que no
Brasil viveram nesse ano 29 490 pessoas da Áustria-Hungria. De acordo com estes e
outros dados Kybal calculou a sua estimativa que desde o ano de 1868 até ao ano de
1920 emigraram para o Brasil 7000 Checoslovacos. 38
3.4 A situação material dos emigrantes checoslovacos após a 1a
guerra mundial
Stanislav Klíma no seu livro Čechové a Slováci za hranicemi resumiu a situação
e o número dos emigrantes checoslovacos após a primeira guerra mundial com as
seguintes palavras: “No Brasil há 1500 checos e eslovacos. Eles vivem principalmente
no Rio de Janeiro (130), São Paulo (no cidade e no estado 400), em Porto Alegre e no
estado do Rio Grande do Sul (500). A maioria são trabalhadores industriais e agrícolas,
a minoria são os proprietários das fazendas e pequenas fábricas insdustriais. Em 1922,
os checos no Brasil possuíram 46 fazendas numa área de 2.898 ha e num valor de
271.608 réis. Clubes checos existem em São Paulo (Slavia - 100 membros, České
národní sdružení e Komenský), em Porto Alegre (Československý spolek - 30
membros). Em toda a América do Sul (Argentina e Brasil) há 9500 tchecos.” 39 Os
36
KYBAL, Vlastimil. Jižní Amerika a Československo: s přehledem obchodní, finanční a emigrační
činnosti jiných národů. V Praze: Literární výbor obchodnického spolku Merkur, 1928. s. 142. přel. K.
Bátorová z org. „...v Brazílii není možno zjistiti přesný počet příslušníků československého státu, a to z
toho důvodu, že tito byli až do r. 1918 započítáváni od místních úřadů mezi příslušníky Rakouskouherské a ani při všeobecném sčítání obyvatelstva r. 1920 nebyli zaznamenáni pod samostatnou
rubrikou.“
37
KYBAL, Vlastimil. Jižní Amerika a Československo: s přehledem obchodní, finanční a emigrační
činnosti jiných národů. V Praze: Literární výbor obchodnického spolku Merkur, 1928., s. 144.
38
Ibid, s. 144.
39
KLÍMA, Stanislav. Čechové a Slováci za hranicemi. Praha: J. Otto, 1925. s. 172. přel. K. Bátorová z
org. „V Brazilii je 1500 Čechů a Slováků. Jsou usedlí hlavně v městě Rio de Janeiro (130), v Sao Paulo
(ve městě a státě 400), Porto Alegre a ve státě Rio Grande do Sul (500). Jsou to většinou dělníci
průmysloví a zemědělští, z části majitelé menších polních hospodářství a menších průmyslových
podniků. Roku 1922 měli Čechoslováci v Brazilii 46 usedlostí ve výměře 2898 ha a v ceně 271.608
milreisů. Krajanské spolky jsou v Sao Paulo (Slavia-100 členů, České národní sdružení a Komenský),
17
checoslovacos possuíram 8 fábricas industriais.40 Na tabela abaixo mostramos o número
de fazendas nos estados individuas.
Tabela 1: O número de fazendas nos estados individuais
estado
número de fazendas
área
São Paulo
6
1 484 ha
Santa Catarina
23
898 ha
Rio Grande
12
310 ha
Paraná
4
202 ha
Pará
1
41
3.5 A emigração organizada no século 1942
No século 19 saíram dos países checos algumas expedições organizadas com o
fim de estabelecer as colónias no Brasil. Os checos vieram principalmente aos estados
de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Em 1830 foi no estado da Santa Catarina fundada a colónia alemão – de
Blumenau. Até ao ano de 1887 vieram aí 7 491 emigrantes do Alemanha e 262 da
Áustria. Entre eles poderiam estar os checos, mas isso não sabemos com certeza.
3.5.1 A colónia de São Bento no estado de Santa Catarina
A colónia de São Bento foi fundada em 1873 pelos emigrantes das regiões de
Bavorsko e de Šumava. O colono Josef Zipperer escreveu a crónica da colónia e
descreveu também os nomes dos colonos que se instalaram aí entre os anos 1874 e
1878.
A maioria das pessoas, cerca de 200, originalmente vidreiros, foi natural das
Porto Alegre (Československý spolek-30 členů).V celé jižní Americe (Argentina a Brazilie) je na 9500
Čechů.“
40
KYBAL, Vlastimil. Jižní Amerika a Československo: s přehledem obchodní, finanční a emigrační
činnosti jiných národů. V Praze: Literární výbor obchodnického spolku Merkur, 1928.
41
Ibid.
42
Baďurová M. - Baďura B: Vystěhovalectví z českých zemí do Brazílie před vznikem ČSR, in: Český
lid, 82, 1995, č. 4, s. 323-335.
18
regiões do Jablonec a Liberec, outros de Šumava. A maioria das pessoas era de
nacionalidade alemã, mas três eram da nacionalidade checa. Estes checos eram mais
tarde assimilados pela comunidade alemã. A colónia era independente, os colonos
próprios construíram as suas casas, cultivaram o campo e negociaram com os índios
vizinhos.
3.5.2 A emigração das regiões de Jablonec e Liberec
Na década de sessenta do século 19 nas regiões de Jablonec e de Liberec descia
o nível da vida dos vidreiros, cujos artigos não se vendiam muito, portanto um grande
número deles decidiu emigrar. No dia 13 de Julho de 1873 saíram da região legalmente
17 famílias, em total 69 pessoas. Contudo, da região tinham que sair realmente mais
pessoas, porque alguns meses mais tarde encontraram-se 150 pessoas no Brasil numa
situação precária.
Esses colonos foram atraídos para as colónias de Moniz e Theodoro no estado da
Bahia por agentes irresponsáveis, chegando sem o equipamento básico que precisavam
para sobreviver. O governo brasileiro pagou o retorno a 41 destes colonos. Essa
expedição fracassada foi mais tarde aproveitada para a propaganda contra a emigração.
A seguir em 1876 saíram do Jablonec legalmente 524 emigrantes, mas também
um grande número, impossível de ser apurado, saiu da região ilegalmente.
3.5.3 Os emigrantes de Rovensko pod Troskami
Em 1893 chegou para o Brasil ainda maior grupo checo dos cidades de
Rovensko pod Troskami e Mladá Boleslav. Naquela região deteriorou o nível da vida,
porque a principal actividade no município, amolação das granadas checas, encontrouse numa crise. Por isso um grupo da noventa pessoas decidiu emigrar para o Brasil e
construir aí uma colónia checa. Eles chegaram a termos com os autoridades brasileiras,
que lhes concederam grátis um pedaço da terra no Rio Grande do Sul.
Esse grupo foi organizado e bem preparado. Eles levaram todo o material para a
construção de casas (excepto a madeira e o tijolo), tecidos e vestuários, as sementes dos
produtos da terra diferentes, e um ferreiro levou tudo o que precisava para o seu ofício.
O grupo consistiu principalmente de trabalhadores, artesões e de um professor. O
19
membro do grupo era também o erudito Vladimír František Lorenc, sobre o qual
escreveremos mais tarde.
Eles puseram-se a caminho em Setembro de 1893 e, chegaram ao Hamburgo
onde embarcaram no navio alemão Argentina. A 9 de Outubro de 1893 chegaram ao Rio
de Janeiro, mas por causa duma revolução na capital, não puderam continuar a viagem
ao Rio Grande do Sul e foram levados para a casa de emigrantes em Pinheiro. Uma
parte dos emigrantes, incluindo Lorenc, começou a trabalhar numa mina em Minas
Gerais, onde, no entanto, havia condições muito duras. Lorenc depois de um tempo
voltou a Pinheiro e esforçou-se pelo que as autoridades brasileiras lhe pagassem a
viagem de regresso, mas sem sucesso. A expedição, pois, se dividiu, a maior parte dos
emigrantes foi o São Paulo. Uma colónia checa compacta no Brasil, como foi
intencionado, não se fundou.
3.6 Os conhecidos emigrantes checos estabelecidos no Brasil
desde o início do século 19 até ao ano de 1920
3.6.1 Josef Wolf de Rýmařov43
Ele chegou ao Brasil em 1855, porque tinha dívidas e quis escapar dos seus
credores. No Brasil era bem sucedido. Fundou em Curitiba no estado de Paraná uma
serraria de água e no ano de 1872 ou de 1873 viajou de volta à sua terra natal
comparando com os seus credores. Depois regressou ao Brasil e levou consigo alguns
parentes. Em 1876 viajou de novo para aos países checos sob o pretexto de algumas
actividades comercias, e possivelmente teria recrutado ilegalmente 100 colonos para
emigrarem ao Brasil.
3.6.2 Antonín Neugebauer44
Foi de Litomyšl e emigrou por motivos políticos, mas foi um emigrante mal
sucedido e passou no Brasil somente alguns anos. No dia 19 de Outubro de 1886
embarcou no navio que navegou ao Brasil em junto com os alemães, portugueses,
43
Baďurová M. - Baďura B: Vystěhovalectví z českých zemí do Brazílie před vznikem ČSR, in: Český
lid, 82, 1995, č. 4, s. 323-335.
44
Ibid.
20
polacos, dinamarqueses, suecos, italianos e russos. Descreveu a incomodidade e a dieta
pobre durante a navegação. Desembarcou no dia 15 de Novembro no porto de São
Francisco e foi ao São Bento, mas não chegou aí, porque ganhou um trabalho numa
família polaca em Lençóis – trabalhou na loja e ensinou as crianças do seu empregador.
Entretanto não estava satisfeito, porque esse trabalho não ofereceu muitas perspectivas.
Em 1887 viajou a Porto Alegre e trabalhou aí como garçom ou diarista, depois viajou a
Montevideo e a seguir viveu dois anos em Buenos Aires. Em 1889 passou por uma
revolução republicana no Brasil. Ele, então, voltou para a sua terra natal em 1916 e
morreu em Litomyšl.
3.6.3 Vladimír František Lorenc45
Vladimír František Lorenc nasceu em 1872 em Zbyslav e morreu em 1952.
Estudou no liceu em Čáslav e em Kolín, mas teve que acabar os seus estudos no sexto
ano, porque foi muito doente. Mais tarde dedicou-se à política e ao jornalismo. Foi
excepcionalmente talentoso em línguas, dominando muitas línguas estrangeiras. Quando
tinha apenas 18 anos, escreveu um livro de esperanto. A 18 de Julho de 1893 tomou
parte na demonstração trabalhista e por isso passou algumas semanas na prisão. Ouviu
dizer que um grupo de checos ia mudar para o Brasil e a fim de escapar a perseguição
política, decidiu juntar-se a este grupo. Foi um grupo de pessoas de Rovensko pod
Troskami, que nós estudáremos anteriormente. Para o grupo ele era inestimável. Na
viagem para o Brasil, aprendeu as noções básicas do português e depois trabalhou como
tradutor para o grupo.
Depois de que o grupo dividiu, trabalhou como operário em várias profissões,
até se finalmente realizar como filólogo, educador, escritor e mesmo médico. Viveu na
aldeia de São Feliciano e por um momento em Porto Alegre. 46 Participou também na
vida social dos clubes checos no Brasil.
Lorenc foi um de mais notáveis emigrantes checos. Destacou-se pela sua
formação intelectual e pelo conhecimento de línguas estrangeiras. Escreveu algumas
obras etnográficas e linguísticas sobre os índios – por exemplo a A mentalidade
45
46
Ibid.
BLANC, Joan Francés. Úplná učebnice mezinárodní řeči dra. Esperanta [online]. Edicions Talvera,
2012, s. 5-14 [cit. 2012-11-20]. ISBN 979-10-90696-20-4.
21
Amerindia (escrita no esperanto e nunca publicada). Também estudou as línguas
indígenas e escreveu por exemplo o livro Iniciação linguística. Nas revistas checas
publicou a sua poesia e as lembranças, assim como as traduções checas de versos
portugueses e espanhóis.
3.6.4 Os antepassados de Juscelino Kubitschek
Segundo Klíma, o primeiro antepassado de Juscelino Kubitschek que emigrou
para o Brasil foi o ferreiro Martin Kubíček que vendou a sua propriedade e emigrou em
1852 concretamente ao estado de Minas Gerais. 47 Štěpánek, porém, menciona o bisâvo
Jan Nepomucky Kubitschek, originário da cidade de Třeboň, que emigrou para o Brasil
por volta de 1830 – 1835.48
Contudo, sobre os avós e os pais de Juscelino Kubitschek temos melhores
informações. O avô do presidente Augusto Eliás Kubitschek foi comerciante em
Diamantina e membro do conselho da cidade, e o irmão de Eliás, João Nepomuceno
Kubitschek foi: “Senador Constituinte estadual em Minas Gerais em 1891 e vicePresidente do Estado de 1894 a 1898.”49 O pai de Juscelino Kubitschek “após ser
garimpeiro, foi delegado da polícia e fiscal de rendas do município de Diamantina,
embora tenha-se dedicado, primordialmente, à profissão de caixeiro-viajante. Sua mãe,
professora primária desde 1898, lecionava no distrito de Palha, percorrendo a pé,
diariamente, extensa distância.”50
47
KLÍMA, Jan. Dějiny Brazílie. Praha: Lidové noviny, 1998, s. 357.
ŠTĚPÁNEK, Pavel. Afinidades históricas e culturais entre o Brasil e a República Tcheca. Brno: L.
Marek, 2008, s. 249.
49
Ibid.
50
Ibid.
48
22
4. A emigração checa desde o ano de 1920 até à 2ª
guerra mundial
Antes da formação da Checoslováquia os checos emigraram por motivos
políticos ou devido à pobreza. Após a 1ª guerra mundial há novas razões. Algumas
pessoas também emigraram por motivos políticos, por exemplo, para fugirem de
nazistas que invadiram a República em 1939. Outros emigraram para a América Latina
em vez dos EUA, porque lá foram em 1924 introduzidas as cotas da imigração e assim a
imigração foi reduzida.51
No período da primeira república eram feitas algumas estatísticas checoslovacas
de emigração e igualmente a instituição brasileira Directório do Serviço do Povoamento
começou a levar em conta o fato de que o novo estado da Checoslováquia foi formado e
fez as estatísticas concretas. O problema é que em muitos casos essas estatísticas não
são iguais.
4.1 As estatísticas feitas por volta de 1920 – 1926
Neste subcapítulo vamos tratar das duas estatísticas sobre a emigração ao Brasil
feitas por volta de 1920 – 1926 e estudadas por Vlastimil Kybal, que fez com base delas
as suas próprias estimativas.
Novamente não é possível determinar com precisão o número de emigrantes
checos. Vlastimil Kybal estudou as duas estatísticas – a estatística brasileira que foi feita
pelo Directório do Serviço do Povoamento entre anos de 1920 e de 1925 e a estatística
checoslovaca que foi feita entre anos de 1922 e de 1926. O problema é que estas
estatísticas não concordam. Kybal explica que “o número de imigrantes checoslovacos
que chegavam para o Brasil desde o ano de 1918 é diferente nas estatísticas brasileiras e
nas checoslovacas. As estatísticas checoslovacas eram feitas desde o ano de 1922, com
base das estatísticas de passaportes emitidos, e eram corrigidas numas estatísticas de
pessoas aceitas para transporte ao ultramar. Os dados são incompletos, porque não se
51
OPATRNÝ, Josef. Česká emigrace do Latinské Ameriky. Historický obzor, 1999, 10 (9/10), s. 216-217.
23
tome em conta uns emigrantes que vieram ao país por outro caminho.”52 Afinal,
segundo a estatística feita pelo Directório do Serviço do Povoamento emigraram para o
Brasil 2 228 emigrantes da Checoslováquia, enquanto segundo a estatística
checoslovaca emigraram 982 pessoas. Kybal arguiu que os números da estatística
brasileira são mais precisos, mas é necessário corrigi-los pelo número das pessoas que
retornaram ao país de origem ou continuaram a outro país e afirmou que entre 1920 e
1926 emigraram para o Brasil 1 500 pessoas da Checoslováquia.53 No entanto, esse
número não inclui apenas checos e eslovacos, mas também outras nacionalidades que
eram nesse tempo os cidadãos checoslovacos – notavelmente alemães e russos.
Barteček, que estudou esse problema mais tarde, constata, que desse número era
cerca de 50 % checos e 50 % alemães e outras nações e estima que entre os anos de
1920 – 1926 emigraram 700 – 800 checos e eslovacos. Isto quer dizer que, em resumo,
desde o ano de 1868 até ao ano de 1926 emigraram para o Brasil 7 700 – 7 800 checos e
eslovacos.54 Outra vez não é possível separar as duas nações, os checos e os eslovacos, e
calcular precisamente o número dos emigrantes checos. Para a complementação
incluímos a tabela descrevendo a estatística checoslovaca completada pela estatística
brasileira na base dos dados de Kybal, mas que não mostra as pessoas que vieram para o
Brasil de outros países e as pessoas que mais tarde saíram do Brasil e vieram para outro
país.55 Com respeito à profissão dessas pessoas, o maior número eram operários
industriais, depois lavradores e comerciantes.
52
KYBAL, Vlastimil. Jižní Amerika a Československo: s přehledem obchodní, finanční a emigrační
činnosti jiných národů. V Praze: Literární výbor obchodnického spolku Merkur, 1928. s. 142. přel. K.
Bátorová z org. „Počet československých přistěhovalců do Brazilie od roku 1918 jest udáván jinak ve
statistikách československých a jinak ve statistikách brazilských. Statistiky československé udávají
počet vystěhovalců teprve od r. 1922 a činí tak na základě statistiky o vydaných pasech cestovních,
korigované statistikou osob, převzatých k dopravě do zámoří. Data jsou neúplná, ježto se nebere zřetel
na vystěhovalce, kteří přišli do země jinou cestou.“
53
Ibid. s. 143.
54
BARTEČEK, Ivo. České a slovenské vystěhovalectví před druhou světovou válkou. KUNC,
Jiří.Latinská Amerika: dějiny a současnost. Vyd. 1. Praha: Orientální ústav ČSAV, Oddělení Latinské
Ameriky, 1988-1989, s. 161-180. ISBN 80-900055-5-1.
55
KYBAL, Vlastimil. Jižní Amerika a Československo: s přehledem obchodní, finanční a emigrační
činnosti jiných národů. V Praze: Literární výbor obchodnického spolku Merkur, 1928.
24
Tabela 2: O número dos emigrantes da Checoslováquia entre os anos de 1922 – 1926
ano/nação
checa e eslovaca
alemão
diferente
em total
1922
167
45
7
2191 (205)2
1923
229
133
22
3841 (248)2
1924
52
65
9
1261 (111)2
1925
36
51
9
961 (459)3
1926
49
102
6
1571 (104)2
1
o número de requerentes do passaporte para o Brasil
o número de pessoas que foram realmente aceites para o transporte
3
o número de emigrantes que realmente eram observados pelas autoridades brasileiras
2
4.2 O número dos emigrantes checos e eslovacos desde o ano
de 1925 até á 2a guerra mundial
À emigração desde o ano de 1925 até à segunda guerra mundial dedicou-se
Barteček. Na revista o Diário Popular56 ele encontrou que, segundo o estudo do
Departamento Estadual do Trabalho, entre os anos de 1925 – 1929 viveram em São
Paulo 1 261 cidadãos checoslovacos57 e, segundo a observação da revista de Correio
Paulistano,58 entre os anos de 1929 – 1934 chegaram para o Brasil 546 emigrantes da
Checoslováquia, (em concreto em 1929 – 174, 1930 – 90, 1931 – 117, 1932 – 41, 1933
– 35, 1934 – 89).59 Barteček depois concluiu que desde o ano de 1925 até ao ano de
1934 teria vindo ao Brasil 900 emigrantes checoslovacos e assim teria vindo ao Brasil
em conjunto (desde o ano de 1868) 8 600 checos e eslovacos. “Partindo de facto que a
maioria dos emigrantes da Checoslováquia se dirigia ao estado de São Paulo, e
considerando o número dos emigrantes registados ali como o limite inferior da
emigração da Checoslováquia entre os anos de 1925 – 1929, então podemos assumir
56
A reconstituição do antigo reino da Bohemia. Diario Popular. São Paulo, 15. 5. 1930.
BARTEČEK, Ivo. České a slovenské vystěhovalectví před druhou světovou válkou. KUNC, Jiří.
Latinská Amerika: dějiny a současnost. Vyd. 1. Praha: Orientální ústav ČSAV, Oddělení Latinské
Ameriky, 1988-1989, s. 166.
58
Tchecoslovaquia e a sua emigração. Correio Paulistano. São Paulo, 21.4. 1937. s. 33.
59
BARTEČEK, Ivo. České a slovenské vystěhovalectví před druhou světovou válkou. KUNC, Jiří.
Latinská Amerika: dějiny a současnost. Vyd. 1. Praha: Orientální ústav ČSAV, Oddělení Latinské
Ameriky, 1988-1989, s. 165.
57
25
que durante a década de 1925 – 1934 vieram ao Brasil pelo menos 1.800 emigrantes da
Checoslováquia. Continuando a suposição de que os checos e eslovacos representaram
cerca de 50 por cento das quotas de emigração total, cheguamos à conclusão...,que até
ao meados da década de trinta chegaram para o Brasil em total pelo menos 8 600 checos
e eslovacos.”60
A este número de 8 600 pessoas deve ser adicionado o número de emigrantes
que chegaram entre os anos de 1934 – 1937, o que foi 172 pessoas (cerca da metade
deles eram checos e eslovacos).61 Em resumo, segundo o estudo de Barteček, ao Brasil
emigraram desde o ano de 1868 até à 2 a guerra mundial 8 700 – 10 000 checoslovacos.
O primeiro número representa as estimativas mínimas checas, o segundo é a estimativa
da estatística brasileira.62 Para a melhor orientação nos números serve a seguinte tabela.
Dados relativos aos anos posteriores não os conhecemos.
Tabela 3: As estimativas do número dos emigrantes checoslovacos desde o século 19
até ao ano de 1937
1868 – 19201
7000
1920 – 25/61
700 – 800
1925/6 – 342
900
2
1934 – 37
Em total
2
86
8 700 – 10 000
1
estimações de Kybal
2
estimações de Barteček
60
Ibid, s. 166. přel. K. Bátorová z org. „Vyjdeme-li ze skutečnosti, že do státu São Paulo směřovala
většina vystěhovalců z Československa, a počet zde registrovaných imigrantů budeme oprávněně
pokládat za dolní hranici imigračního přílivu z ČSR v letech 1925-29, pak můžeme předpokládat, že v
průběhu desetiletí 1925-34 přišlo do Brazílie nejméně 1 800 československých vystěhovalců. Setrvámeli u předpokladu, že se Češi a Slováci podíleli na celkových vystěhovaleckých kvótách přibližně
padesáti procenty, pak dospíváme k závěru...,že do poloviny 30. let přišlo do Brazílie celkem nejméně 8
600 Čechů a Slováků.“
61
Ibid, s. 167.
62
Ibid, s. 167.
26
4.3 Onde viviam os checoslovacos no Brasil nas décadas de
vinte e trinta
Neste capítulo trataremos da questão em que regiões viviam os checoslovacos,
baseando-nos nas informações de Barteček63, que estudou nos periódicos Krajan64 do
ano de 1936 e Correio Paulistano65 do ano de 1937. Os números destes periódicos
diferem. As estimativas brasileiras são novamente maiores, de que as checoslovacas.
A metade dos checoslovacos vivia nas cidades industriais. Eram artesões,
operários ou comerciantes. A maioria vivia na cidade de São Paulo – segundo Correio
Paulistano viviam aí 2000 checoslovacos e segundo Krajan cerca de 1700
checoslovacos.
Os emigrantes que não viviam nas cidades, lavradores, estabeleceram-se
particularmente no estado do Rio Grande do Sul 66, mas outros também em Santa
Catarina, Paraná e São Paulo.
A colónia de Guarany, numa área de 180x100 quilómetros, ficava no noroeste do
estado do Rio Grande do Sul, 40 quilómetros da cidade de Santo Ângelo, na linha
ferroviária de Santa Rosa. Viviam ali os polacos, alemães, suecos, italianos, brasileiros,
checos e eslovacos. Os primeiros checos chegaram em 1896 e outros chegavam até à 1 a
guerra mundial. No fim do ano de 1920, a maior comunidade foi representada por
polacos – vivendo ali 300 famílias, e a menor comunidade eram checos, vivendo ali as
30 – 40 famílias.67
Na colónia de Minna Orroio do Ratto, que não está na tabela, teria vivido nos
anos de trinta 26 famílias checas, e na colónia de Nova Bratislava, fundada em 1932,
viviam por volta de 40 famílias eslovacas, e também alguns checos.
Nas seguintes tabelas mostraremos os números dos emigrantes em vários estados
63
BARTEČEK, Ivo: Vystěhovalectví z českých zemí a Československa do Brazílie. In: Historie –
Historica, 4, Ostrava 1996, s. 149-162.
64
Českoslovenští vystěhovalci v Brazílii. In. Krajan, roč. V., čís. 18, 15. září 1936, s. 3.
65
Tchecoslovaquia e a sua emigração. In: Correio Paulistano (São Paulo), 21.dubna 1937.
66
BARTEČEK, Ivo: Vystěhovalectví z českých zemí a Československa do Brazílie. In: Historie –
Historica, 4, Ostrava 1996, s. 149-162.
67
Ibid.
27
e cidades.68
Tabela 4: Os emigrantes checoslovacos nas cidades industriais
Cidade
Estado
Correio Paulistano1
Krajan2
São Paulo
São Paulo
2000
1700
Porto Alegre
Rio Grande do Sul
800
700
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
600
-
Curitiba
Paraná
400
300
3800
2700
Em total
1
Tchecoslovaquia e a sua emigração. In: Correio Paulistano (São Paulo), 21.dubna 1937
Českoslovenští vystěhovalci v Brazílii. In. Krajan, roč. V., čís. 18, 15. září 1936, s. 3.
2
Tabela 5: Os emigrantes checoslovacos no campo
Correio Paulistano1
Krajan2
São Bento,
Santa Catarina
Blumenau, Joinville
900
450
Erechim e B. Vista
de E.
Rio Grande do Sul
900
700
Guarany
Rio Grande do Sul
450
300
S. Angelo
Rio Grande do Sul
400
200
S. Jeronymo
Rio Grande do Sul
250
100
Annitapolis
Santa Catarina
120
100
Nová Vlast
Paraná
60
50
B. de Antonina
São Paulo
40
-
Itariry
São Paulo
20
20
3140
1920
Cidade
Em total
Estado
1
Tchecoslovaquia e a sua emigração. In: Correio Paulistano (São Paulo), 21.dubna 1937
Českoslovenští vystěhovalci v Brazílii. In. Krajan, roč. V., čís. 18, 15. září 1936, s. 3.
2
4.4 Os projectos de colonização nas décadas de vinte e trinta
Nos anos de vinte e de trinta cresceu o interesse de checoslovacos pelos
projectos de colonização no Brasil, particularmente em Paraná. O cônsul František
68
Ibid, s. 160.
28
Eichler estudou no estado de Paraná as condições para os colonizadores checoslovacos e
pensava que eram favoráveis porque, entre outras coisas, ali viviam 150 000 polacos.
Escreveu a notícia sobre as condições ao Ministério da Previdência Social checoslovaco
em 1929.69
No estado de Paraná preparava-se um novo projecto. A cultivação de chá seria
substituida pela cultivação do trigo, porque o Brasil se queria livrar da dependência da
importação do trigo e do problema do declínio nas vendas de chá. Zdeněk Gayer
elaborou um projecto agronómico e calculou que, para cobrir o consumo brasileiro,
seria preciso um meio milhão de hectares de terras cultivadas. Para isso seria necessário
20 000 famílias numas 200 – 400 colónias de 50 – 100 famílias. Cada família receberia
60 hectares de terra e seria obrigada a plantar 25 ha de trigo e 5 ha de batatas inglesas.
Zdeněk Gayer teria mandado a realizar esse projecto. Teria possuido uma terra a 40
quilómetros fora de Curitiba e a 10 quilómetros fora da estação de caminho de ferro
mais próxima ou no sul do estado de Mato Grosso junto do rio Vaccaria. Aqui teria sido
construida uma colónia experimental com 100 colonos, mas devido a Grande Depressão
esse projecto não foi realizado.70
Em 1930 foi em Praga fundada a cooperativa colonizadora Nová Vlast com o
fim de colonizar a terra no estado de Paraná, não longe da cidade de Londrina. 71 A
fundação da colónia não era tão fácil. O governo de Paraná não promovia a colonização
direta pelos estrangeiros e uma terra não era atribuída grátis. Os preços variavam de
acordo com a distância da terra do caminho de ferro ou da cidade e para os pequenos
camponês poderiam ser demais altos.72
A Nová Vlast ganhou 250 ha da terra da parte de Companhia de Terras Norte de
Paraná (CTNP). Em 1931 partiram para o Brasil algumas expedições. 80 colonos com
as famílias participaram nas primeiras três expedições, mas a maioria de colonos
retornou a Checoslováquia no ano seguinte, porque se intimidaram das dificuldades e
69
BARTEČEK, Ivo. Československá kolonizace v Brazílii. Češi v cizině. Praha: Ústav pro etnografii a
folkloristiku ČSAV, 1988, č. 3, s. 237-251.
70
Ibid.
71
BARTEČEK, Ivo: Vystěhovalectví z českých zemí a Československa do Brazílie. In: Historie –
Historica, 4, Ostrava 1996, s. 149-162.
72
BARTEČEK, Ivo. Československá kolonizace v Brazílii. Češi v cizině. Praha: Ústav pro etnografii a
folkloristiku ČSAV, 1988, č. 3, s. 237-251.
29
pensaram que tinham sido enganados. Em Paraná ficaram só 5 colonos (17 pessoas).
Em 1935 teria partido a Paraná outra expedição, mas não temos informações, se teve
sucesso. Em 1937 a cooperativa Nová Vlast foi terminada.
Em Nová Vlast em Paraná estabeleceram-se cerca de 15 famílias. O projecto
falhou provalvemente devido a má organização, a má liderança e também devido a
colonos próprios, que
eram da cidade e não estavam preparados para a vida no
campo.73
Por volta do ano de 1935 o Instituto Checoslovaco Estrangeiro negociava com a
Companhia de Cia de Terras Norte de Paraná e obteve a permissão de 30 colonos
checoslovacos se poderem estabelecer por ano em Paraná. No entanto, este projecto
eventualmente fracassou devido ao desenvolvimento político no final da decáda de
trinta do século 20.74
4.5 Os conhecidos emigrantes checos estabelecidos no Brasil
no período entre as duas guerras mundiais75
4.5.1 A família de Gayeros
Karel Gayer ficou o mais famoso dessa família. Interessou-se pela cultura de
trigo. Depois da 1a primeira guerra mundial dedicou-se ao estudo das sementes e à
cultivação do trigo, primeiramente em Ponta Grossa em Paraná e depois em Alfredo
Chaves (hoje Veranópolis) no Rio Grande do Sul. Tornou-se um dos maiores
especialistas brasileiros nessa disciplina. Em 1924 deu ao Ministério da Agricultura um
extenso relato sobre os trigos brasileiros e mudou-se para Itapetininga no estado de São
Paulo e no período entre os anos de 1925-1930 trabalhou aí como cultivador. Durante a
sua vida escreveu muitos artigos profissionais e é considerado um fundador dessa
disciplina no Brasil.
73
BARTEČEK, Ivo: Vystěhovalectví z českých zemí a Československa do Brazílie. In: Historie –
Historica, 4, Ostrava 1996, s. 149-162.
74
BARTEČEK, Ivo. Československá kolonizace v Brazílii. Češi v cizině. Praha: Ústav pro etnografii a
folkloristiku ČSAV, 1988, č. 3, s. 237-251.
75
KLÍMA, Jan. Dějiny Brazílie. Vyd. 2., dopl. Praha: NLN, Nakladatelství Lidové noviny, 2011, 505 s.
30
Zdeněk Gayer estabaleceu se no Brasil antes da 2 a guerra mundial, e em Itaí no
estado Paraná fundou a quinta Gayerovo. O seu parente, Josef Gayer, estebeleceu-se ao
mesmo tempo em Curitiba onde fundou um restaurante. Tania Gayer-Ehlke, filho dos
Gayeros, é historiadora e vive no Paraná.
4.5.2 Vladimír Kozák
Nasceu em 1897 na cidade Bystřice pod Hostýnem. Para o Brasil chegou em
1924 e estabeleceu-se em Curitiba em Paraná. Trabalhava como técnico na central
eléctrica, mas também estudava as diversas tribos indígenas no interior. Mais tarde
tornou-se director do Centro de Documentação da Universidade do Estado de Paraná e
dedicava-se à etnografia. Em 1938 chegou ao Brasil a sua irmã Karla Kozáková, que o
ajudou com as suas investigações. Kozák escreveu famosos estudos sobre a tribo Xetás
e fez filmos documentários. Deixando um extenso trabalho morreu em 1979. Segundo
Fernanda Maranhão: “Ao longo de 132 anos de existência o Museu Paranaense reuniu
um acervo de mais de 300 mil peças, entre objetos tridimensionais, documentos, obras
de arte, fotografias e filmes, que registram a história e a cultura paranaense. Destaca-se
neste acervo a coleção do cineasta e pesquisador Vladimir Kozák formada por filmes,
fotografias, desenhos e aquarelas que retratam temas variados como o cotidiano de
grupos indígenas brasileiros, manifestações da cultura popular, registros de
comunidades e de cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Joinvile, além de
temas diversos sobre o Paraná. Os registros cinematográficos de Kozák reúnem 36
horas de filmes em 16mm, coloridos e não sonorizados. Destes, 17 horas constituem um
registro único sobre o homem e o território paranaense entre as décadas de 1940-1950,
os quais constituem uma rica fonte de pesquisas para antropólogos, historiadores,
cineastas, geógrafos e biólogos.” 76
4.5.3 Os arquitectos - Yaro Burian e Josef Pytlík
Josef Pytlík projectou e construiu muitos edifícios públicos em muitas cidades
brasileiras. No início da década de 1920 projectou com Pavel Janák, professor da
76
MARANHÃO, Fernanda. Obra cinematográfica de Vladimir Kozák. Museu Paranaense[online]. 2008
[cit. 2013-04-05]. Dostupné z:
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=64
31
Checoslováquia, o pavilhão para uma exposição no Rio de Janeiro em 1922.
Yaro Burian ou Jaroslav Burian nasceu em Chropiň. Em 1934 chegou às Minas
Gerais trabalhando para uma firma siderúrgica belga. Depois projectou alguns edifícios
em Sabará e na cidade de João Monlevade projectou duas igrejas e um bloco dos
apartamentos, que são até hoje chamadas Chácaras Burian.
4.5.4 Outros - Jiří Baum, František Pelíšek, František Jindra, Jan
Pěkný, Anežka Srnová
Jiří Baum chegou para o Brasil em 1924. Trabalhou como operário na quinta e
numa empresa artesanal. Foi viajante e biólogo. Estudou a natureza brasilera nas
proximidades das cidades, escrevendo sobre isso no seu livro para juventude - K
neznámým břehům Brazílie.
František Pelíšek nasceu em 1896 em Kutná Hora. No Brasil foi um professor do
desenho no Rio e em Porto Alegre. Depois trabalhou para a revista o Globo como
impressor e cartunista.
František Jindra foi um editor e um administrados das revistas checas Slavia e
Průkopník em São Paulo. Jan Pěkný dedicou-se no Brasil à florestação e à fruticultura.
Morreu em 1958 em São Paulo. Anežka Srnová leccionava na escola checa e participava
na vida de clubes checos.
32
5. Os clubes checos e as suas actividades no Brasil
desde o século 19 até à 2a guerra mundial
Os checos, dispersos no Brasil, tentaram apoiar-se mutuamente e fundaram os
clubes e as associações de expatriados checos. O maior número dos clubes houve em
São Paulo, mas outros clubes foram fundados também em Porto Alegre, em Rio Grande
do Sul e em Minas Gerais.
5.1 Os clubes checos no Brasil desde o fim do século 19 até à
1a guerra mundial77
5.1.1 Slavia
A Slavia foi o primeiro clube checo, fundado no Brasil no dia 13 Outobro de
1895. Ao início teve vinte membros, na maioria pessoas pobres que viviam no subúrbio
Villa Mariana em São Paulo. Numas casas de trabalhadores estabeleceram a biblioteca e
ensinavam os seus filhos o checo. Em 1896 fundaram uma escola. Em 1902 mudaram o
nome do clube para Vzdělávací, podporovací spolek Slavia. Ústřední jednota Slovanů v
Brazílii se sídlem v São Paulo.
Também se esforçaram por estabelecer uma cooperação com outros clubes –
com os polacos e croatas, mas eles não estavam interessados. No entanto, em 1898
comecaram a cooperar com
a Sociedade Auxiliadora Austro-Hungara, Instituição
Imperador Francisco José I., que foi fundada no dia 30 Janeiro de 1898, uma
associação destinada ajudar os emigrantes da Áustria-Hungria, desde que se
encontrassem numa situação da pobreza. Criou se também um clube de leitura.
Logo, porém, surgiu uma disputa entre os alemães e os povos eslavos. Da parte
desse associação desuniu a nova associação, Viribus Unitis, principalmente liderada por
checoslovacos, membros da Slavia. A Slavia nunca recebeu o apoio financeiro da
77
BAĎUROVÁ M. - BAĎURA B.: Vystěhovalectví z českých zemí do Brazílie před vznikem ČSR, in:
Český lid, 82, 1995, č. 4, s. 323-335.
33
Áustria-Hungria para a sua escola, onde em 1912 estudavam 30 crianças a história e a
cultura e linguagem checa. Áustria-Hungria apoiou só a escola austro-alemã.
O clube esforçou se por publicar uma própria revista e assim pôs-se em contacto
com V. F Lorenc, que viveu nesse tempo em São Feliciano (hoje Dom Feliciano). Ele
foi provido da copiadora. Em Novembro de 1902 imprimiu a primeira edição da revista
Slavie, orgánu čechů v Brazílii. Essa revista deveu ser publicada mensalmente desde
Maio de 1903, mas a primeira edição foi confiscada por razões desconhecidas pelas
autoridades brasileiras. Foi resgatada só uma cópia e as outras edições não eram
emitidas, porque o grande calor destruiu o copiador.
5.1.2 České národní sdružení
Outro clube que foi fundado em São Paulo em 1915, foi České národní sdružení,
criado para apoiar a checoslovaca resistência estrangeira. A associação projetou a enviar
os emigrantes checoslovacos para ajudarem com a construção das Legiões
Checoslovacas, mas devido às problemas em comunicação com a resistência em Paris,
devido às problemas de transporte, e também devido ao pequeno número dos
emigrantes checoslovacos no Brasil, foi esse projeto cancelado.
No dia 15 de Julho de 1917 publicou o editor Jan Veselý, em cooperação com
Slavia, o primeiro número da primeira revista checa na América Latina – Slovan, com o
fim livrar os checos a dependência das revistas alemães, porgue 75 % dos checos não
sabiam o português. Os alemães não gostavam dessa revista. Até hoje têm sido
descobridas três edições da revista.
České národní sdružení dedicava-se mais às actividades culturais, por exemplo
em 1917 traduziu Labyrint světa a ráj srdce de Jan Ámos Komenský ao português.
5.1.3 První československý spolek Přemysl
První československý spolek Přemysl foi fundado por volta do ano de 1905 pelas
20 famílias em Jaguari no estado do Rio Grande do Sul. O seu símbolo escolhido foi
Přemysl Oráč. As famílias viveram muito longe de si, o que dificultou uma
comunicação. Eles tinham o grande problema em manutenção da cultura e da linguagem
checa. Cooperavam com Slavia.
34
5.1.4 Clube dos Lavradores
Clube dos Lavradores (Klub rolníků) foi fundado no dia 4 de Abril de 1906 em
Sabará na colónia de Maria Custodia no estado de Minas Gerais. Entre os fundadores
eram algumas pessoas da expedição de Rovensko, por exemplo o presidente Jan
Hamáček, que chegou para o Brasil com V. F. Lorenc. Hamáček era também o membro
do conselho municipal em Sabará e vice-presidente da conferência trabalhista no estado
de Minas Gerais. Os membros dessa associação não eram só os checos, mas eles tinham
a maioria.
5.2 Os clubes checos no Brasil depois da 1a guerra mundial78
5.2.1 Slavia
Em 1925 Vlastimil Kybal tornou-se um embaixador checoslovaco no Brasil, e
em 1927 foi em São Paulo fundado o consulado eficiente. Slavia continuava nas suas
actividades com apoio desses instituções. Em 1926 foi fundado o clube da ginástica
Sokol e em 1930 eram contratadas as salas e foi fundado o Československý dům. Slavia
também mantia uma biblioteca e uma sala da leitura e uma escola.
Em 1930 começou-se com uma publicação da revista Brazilský průkopník ou
Brazilský Slovan. Saiu cadas 14 dias e conteu os artigos em língua eslovena e croata.
Mas saíram só alguns números, porque esse projecto foi demais exigente. Então, em
1934 começou a sair a nova revista Věstník. Isso foi o menor projeto e por isso bem
sucedido. A revista saiu cado mês.
5.2.2 As menores associações
Em São Paulo haviam em breve outras duas associações – Komenský e Šumavan.
Na colónia de Nová Bratislava foi em 1938 fundada a escola eslovaca. Em Porto Alegre,
no Rio Grande do Sul havia o clube Československý spolek. Na decáda de trinta tinha os
50 membros e os membros possuíram a biblioteca.
Outras menores associações que existiam em breve na década de vinte e trinta
78
BARTEČEK, Ivo. Vystěhovalectví do Latinské Ameriky. Češi v cizině.Praha: Ústav pro etnografii a
folkloristiku ČSAV, 1996, č. 9, s. 172-197.
35
haviam o clube Guarany na colónia de Guarany (no Rio Grande do Sul), o clube dos
leitores em Annitapolis (em Santa Catarina), o clube Bratislava em Lodrina (em Paraná)
o clube Slovan em São Sebastião de Boa Vista e o clube Přemysl em Jaguari (no Rio
Grande do Sul).
36
Conclusão
Neste trabalho decrevemos a emigração checa desde o século 17 até à segunda
guerra mundial. Esse relativamente longo período do tempo dividimos nas cinco partes
distintas e estudámos mais em pormenor nos quatros capítolos individuais. O último
capítolo dedicámos aos vários clubes checos no Brasil.
Primeiro descrevemos os destinos e a vida de Šimon Kohout de Lichtenfeld e de
Jiří Kryštof Kaplíř, os primeros checos que entraram no Brasil em 1647. Šimon Kohout
era doutor, chamado ao Brasil para curar uns soldados, mas não vivia ali por longo
tempo e morreu o ano seguinte. Jiří Kryštof Kaplíř era soldado e morreu numa batalha
contra os portuguêses em 1649.
A seguir observámos as actividades dos jesuítas checos, cujas ordem operava no
Brasil quase 100 anos desde o ano de 1678 até ao ano de 1767 e, aproximando de pouco
as actividades jesuíticas no Brasil. À América Latina chegavam 150 jesuítas checos.
Conhecemos só cinco deles que entraram no Brasil – Václav Hončík, Franciscus V.
Vocht, Jan Gintzel, Valentin Stanzel e Samuel Fritz. Não sabemos muito sobre a vida
dos primeiros três, mas Stanzel e Fritz são as pessoas eminentes.
Stanzel foi professor e grande cientista. São conhecidas principalmente as suas
obras sobre as observações das cometas no Brasil. Samuel Fritz era explorador
sigificativo. Navegou no rio Amazonas de Iquitos a Pará e elaborou dois mapas do rio
Amazonas confiáveis. Estudou os costumes dos índios, toda a sua vida defendendo os
contra a escravização.
Depois movemos para o século 19 e analisamos as políticas diferentes da
Áustria-Hungria e o Brasil em relação à emigração e à imigração. O Brasil apoiou a
imigração, especialmente desde o ano de 1888, quando foi abolido a escravidão ali, até
ao ano de 1934, quando, temendo o crescente número dos emigrantes da Ásia, intriduziu
as quotas anuais para cada nação. A Áustria-Hungria não estimulava a emigração dos
seus cidadãos.
Tratámos também uma idéia, que é muito difícil calcular o número preciso dos
emigrantes checos, que entraram no Brasil desde o início do século 19 até o ano de
37
1920, porque eles eram incluídos nas estatísticas brasileiras entre os membros da
Áustria-Hungria até ao ano de 1920 e as estatísticas checas para este período não
existem. Vlastimil Kybal estudou as várias estatísticas e calculou a sua estimativa, bem
reconhecida hoje, que desde o ano de 1868 até ao ano de 1920 emigraram para o Brasil
7000 checoslovacos. Agora é importante apontar, que não é possível separar a
nacionalide checa e eslovaca nas estatísticas, essas nacões são sempre contadas juntas.
Ficando nesse período, estudámos a fundação da colónia de São Bento e as
expedições organizadas das regiões de Jablonec e Liberec e de Rovensko pod Troskami.
Em seguida observámos os destinos dos alguns emigrantes, destacando linguista V. F.
Lorenc e os antepassados de ex-prezidente Juscelino Kubitschek, que chegaram ao
Brasil em 1852 ou por volta dos anos de 1830 – 1835.
Chegando ao século 20, concretamente à decada de 1920 e de 1930, estudámos
os trabalhos de Vlastimil Kybal e Barteček, que se dedicaram ao estudo de número dos
emigrantes checoslovacos (novamente não é possível separar checos dos eslovacos) nas
primeiras décadas do século 20 e com base desses dados chegamos à conclusão que
desde o ano de 1868 até ao ano de 1937 emigravam para o Brasil 8 700 – 10 000
checoslovacos. Infelizmente, não tomámos as informações sobre os anos que se seguem.
A maioria dos checolovacos vivia no centro indutrial em São Paulo. Eles
ganharam a vida como operários, comerciantes ou artesões. A menor parte dos
checoslovacos eram os lavradores que viviam no campo escpecialmente no Rio Grande
do Sul.
A seguida descrevemos os diversos projectos de colonização na decáda de 1930.
František Eichler estudou as condições em Paraná para os checoslovacos e pensava que
eram favoráveis. Depois Zdeňek Gayer elaborou o projecto agronómico e em 1930 foi
fundada a cooperativa colonizadora Nová Vlast. Essa cooperativa intentou fundar a
colónia checoslovaca em Paraná. Mas esse projecto falhou eventualmente, devido a má
organização e os próprios colonos, que não eram, na maioria dos casos, preparados para
uma vida rural e também devido ao desenvolvimento político às vésperas da 2 a guerra
mundial. Em Paraná ficaram só algumas famílias checoslovacas.
No fim do quarto capítolo observámos os destinos de alguns emigrantes
conhecidos, destacando o cultivador Karel Gayer, famoso etnógrafo, fotógrafo e
38
documentarista Vladimír Kozák e arquitectos Yaro Burian e Josef Pytlík.
Último capítolo desse trabalho é dedicado aos clubes checos em Brasil.
Apresentámos mais detalhadamente Slavia em São Paulo, o maior clube checo, e České
národní sdružení, mencionando os clubes menores – První československý spolek
Přemysl, Clube dos Lavradores, Guarany, Annitapolis, Bratislava e Slovan.
39
Resumé v češtině
Tato bakalářská práce se zabývá českou emigrací do Brazílie od počátků v 17.
století až do druhé světové války. Ve čtyřech kapitolách chronologicky mapujeme naši
emigraci do Brazílie a poslední pátá kapitola je věnována českým krajanským spolkům,
které v Brazílii vznikly.
První kapitola se zaměřuje na emigraci v 17. století. V této době „emigrovali“ do
Brazílie, tehdejší portugalské kolonie, dva češi – doktor Šimon Kouhout z Lichtenfeldu
a voják Jiří Kryštof Kaplíř, rytíř ze Sulevic. Dostali se tam ve službách Nizozemské
východoindické společnosti, ale ani jeden z nich nepřežil v Brazílii více než dva roky.
V další kapitole sledujeme osudy několika českých jezuitů, kteří působili v
Brazílii, hlavně nás zajímá vědec Valentin Stanzel a cestovatel a etnograf Samuel Fritz.
Potom se věnujeme české emigraci v 19. století. Nejdříve rozebíráme přístup
Brazílie, popřípadě Portugalska, k emigraci od 16. století až do třicátých let dvacátého
století. A pak popisujeme přístup Rakouska-Uherska k vystěhovalectví od 17. století do
vzniku Československa. Zmiňujeme Kybalovy odhady počtu československých
přistěhovalců žijících v Brazílii od roku 1868 až do roku 1920 a zjistíme, že do Brazílie
v průběhu této doby pravděpodobně odešlo na 7 000 Čechoslováků. Pak popíšeme
osudy několika jednotlivců a skupin.
V další kapitole se zabýváme počtem československých vystěhovalců, kteří
přicházeli do Brazílie od roku 1920 až do začátku druhé světové války. Zjišťujeme, že
jich bylo asi 1 600 až 3 000. Stejně jako předtím zmíníme osudy několika jednotlivců.
Také zmíníme, kde se Češi usazovali, a popisujeme naše kolonizační projekty.
V poslední kapitole se zabýváme vznikem několika českých krajanských spolků
v Brazílii a jejich činností. Nejvíce se věnujeme největšímu krajanskému spolku a to
Slavii, dále Českému národnímu sdružení a následují menší spolky jako První
československý spolek Přemysl, Klub rolníků, Guarany, Annitapolis, Bratislava a
Slovan.
40
English Summary
This bachelor thesis deals with the Czech emigration to Brasil from its beginning
in the 17th century to the World War II. There are four chapters chronologically ordered,
in which we examine our emigration to Brasil and the chapter five is dedicated to
various czech organizations of compatriots.
The first chapter focus on emigration in 17th century. These times emigrated to
Brasil, then a portuguese colony, two czechs – doctor Šimon Kouhout from Lichtenfeld
and a soldier, Jiří Kryštof Kaplíř, knight from Sulevice. They got there in the service of
Dutch-East India Company, but none of them survived in Brazil more than two years.
In another chapter we examine the fates of the two Czech Jesuits, who worked in
Brasil, mainly we are interested in a life of a scientist Valentin Stanzel and an explorer
and an ethnographer Samuel Fritz..
Then we deal with the Czech emigration in the 19 th century. First, we discuss the
approach of Brazil, or Portugal, to the imigration in the period from the 16 th century to
the 1930th . Then we discuss the approach of Austria-Hungary to emigration in the
period from 17th century until the formation of Czechoslovakia. We mention Kybal's
estimates about the number of Czech immigrants living in Brazil from 1868 to the 1920
and we find out, that during this period came to live to Brazil approximately 7 000
Czechoslovaks. Then we describe the lives of several individuals and the fates of some
groups.
In the next chapter we deal with the number of Czechoslovak's imigrants who
came to Brazil from 1920 until the beginning of the World War II. We find out that there
were about 1 600 to 3 000. As before, we mention the lives of several individuals. Also
we mention, where the Czechs settled and describe our colonization projects.
The last chapter describes the emergence of several Czech expatriate
associations in Brazil and their activities. We are mostly focused on the largest
association Slavia, then Czech National Associations and follow smaller clubs like First
Czechoslovak Society Přemysl, Club of Peasants, Guarany, Annitapolis, Slovan and
Bratislava.
41
Anotace
Jméno a příjmení autora: Kateřina Bátorová
Název fakulty a katedry: Filozofická fakulta, Katedra romanistiky
Název bakalářské práce: A emigração checa para o Brasil desde o início até ao século
XX
Vedoucí bakalářské diplomové práce: PhDr. Zuzana Burianová, Ph.D.
Počet znaků: 76641 (64 366 bez mezer)
Počet příloh: 0
Počet titulů literatury a internetových zdrojů: 21
Klíčová slova: Brazílie, Československo, Česká republika, Rakousko-Uhersko, jezuité,
emigrace, česká emigrace do Brazílie, české krajanské spolky
Abstrakt: Tato bakalářská práce se zabývá českou emigrací do Brazílie od počátků v
17. století až do druhé světové války. Ve čtyřech kapitolách chronologicky mapuje naši
emigraci do Brazílie a poslední pátá kapitola je věnována českým krajanským spolkům,
které v Brazílii vznikly.
42
Bibliografia
BAĎUROVÁ M. - BAĎURA B.: Vystěhovalectví z českých zemí do Brazílie před
vznikem ČSR, in: Český lid, 82, 1995, č. 4, s. 323-335.
BARTEČEK, Ivo. Jezuité zemí Koruny české v Latinské Americe. Ostrava:
Scholaforum, 1997. 21 s. Tematický sešit. Dějepis. ISBN 80-86058-35-2.
BARTEČEK, Ivo. České a slovenské vystěhovalectví před druhou světovou válkou.
KUNC, Jiří. Latinská Amerika: dějiny a současnost. Vyd. 1. Praha: Orientální ústav
ČSAV, Oddělení Latinské Ameriky, 1988-1989, s. 161-180. ISBN 80-900055-5-1.
BARTEČEK, Ivo. Vystěhovalectví do Latinské Ameriky. Češi v cizině.Praha: Ústav pro
etnografii a folkloristiku ČSAV, 1996, č. 9, s. 172-197.
BARTEČEK, Ivo. Vystěhovalectví z českých zemí a Československa do Brazílie. In:
Historie – Historica, 4, Ostrava 1996, s. 149-162, německé resumé. ISBN 80-7042-4540.
BARTEČEK, Ivo. Československá kolonizace v Brazílii. Češi v cizině. Praha: Ústav pro
etnografii a folkloristiku ČSAV, 1988, č. 3, s. 237-251.
BLANC, Joan Francés. Úplná učebnice mezinárodní řeči dra. Esperanta [online].
Edicions Talvera, 2012, s. 5-14 [cit. 2012-11-20]. ISBN 979-10-90696-20-4.
Bueno, Eduardo. Brasil: uma história. São Paulo: Ática, 2002.
Imigração no Brasil. In: Brasil Escola [online]. [cit. 2013-03-13]. Dostupné z:
http://www.brasilescola.com/brasil/imigracao-no-brasil.htm
Imigração no Brasil. Bússola Escolar [online]. [cit. 2013-04-22]. Dostupné z:
http://www.bussolaescolar.com.br/historia_do_brasil/imigracao_no_brasil.htm
KLÍMA, Jan. Dějiny Brazílie. Praha: Lidové noviny, 1998, s. 340-360. Dějiny států.
ISBN 80-7106-261-8.
KLÍMA, Jan. Dějiny Brazílie. Vyd. 2., dopl. Praha: NLN, Nakladatelství Lidové noviny,
2011, 505 s. Dějiny států. ISBN 978-807-4221-071.
KLÍMA, Jan. Dějiny Portugalska. Praha: Lidové noviny, 1996, 306 s. Dějiny států
(Nakladatelství Lidové noviny). ISBN 80-710-6164-6.
KLÍMA, Stanislav. Čechové a Slováci za hranicemi. Praha: J. Otto, 1925. 303 s.
43
KYBAL, Vlastimil. Jižní Amerika a Československo: s přehledem obchodní, finanční a
emigrační činnosti jiných národů. V Praze: Literární výbor obchodnického spolku
Merkur, 1928. 228, [iii] s. Obchodní knihovna Merkur; č. 23.
MARANHÃO, Fernanda. Obra cinematográfica de Vladimir Kozák. Museu
Paranaense[online]. 2008 [cit. 2013-04-05]. Dostupné z:
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=64
MOUNT, Nicolette: Os primeiros Checos no Brasil. In: Ibero-americana Pragensia III,
1969, s. 219-223.
NOVOTNÁ, Eva. Čeští jezuité, cestovatelé a objevitelé. Ikaros [online]. 2006, roč. 10,
č. 7 [cit. 06.11.2012]. Dostupný na World Wide Web:
<http://www.ikaros.cz/node/3531>. URN-NBN:cz-ik3531. ISSN 1212-5075.
OPATRNÝ, Josef. Česká emigrace do Latinské Ameriky. Historický obzor, 1999, 10
(9/10), s. 214-221. ISSN 1210-6097.
POLIŠENSKÝ, J.: Úvod do studia dějin vystěhovalectví do Ameriky I.: Obecné
problémy dějin českého vystěhovalectví do Ameriky 1848-1914, Praha, Univerzita
Karlova 1992.
ŠTĚPÁNEK, Pavel. Afinidades históricas e culturais entre o Brasil e a República
Tcheca. Brno: L. Marek, 2008, 301 s. ISBN 978-80-87127-08-7.
44
Lista das imagens
Imagem 1: O mapa do rio Amazonas de Samuel Fritz...................................................12
Lista das tabelas
Tabela 1: O número de fazendas nos estados individuais...............................................18
Tabela 2: O número dos emigrantes da Checoslováquia entre os anos de 1922 –
1926.................................................................................................................25
Tabela 3: As estimativas do número dos emigrantes checoslovacos desde o século
19 até ao ano de 1937......................................................................................26
Tabela 4: Os emigrantes checoslovacos nas cidades industriais ……………………...28
Tabela 5: Os emigrantes checoslovacos no campo…………………………………….28
45