Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno

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Plano de Ordenamento e Gestão da Paisagem Protegida de Corno
Plano de Ordenamento e Gestão da
Paisagem Protegida de Corno do Bico
1ª Fase - CARACTERIZAÇÃO
Parte 3: Estudos de Base - Síntese
Novembro de 2008
Equipa Técnica
Coordenação
•
Pedro Beja
Colaboradores
•
Sofia Lourenço
•
Susana Rosa
•
João Honrado
•
Joana Marques
•
Luís Reino
•
Joana Santana
•
Luís Gordinho
Plano de Ordenamento da Paisagem Protegida do Corno do Bico
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ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 3
2. ENQUADRAMENTO ...................................................................................... 5
3. VALORES NATURAIS ................................................................................... 7
4. VALORES PAISAGÍSTICOS ........................................................................ 15
5. VALORES CULTURAIS E SOCIO-ECONÓMICOS ..................................... 17
6. CONCLUSÕES ............................................................................................ 20
Plano de Ordenamento da Paisagem Protegida do Corno do Bico
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1. INTRODUÇÃO
O presente relatório inscreve-se no quadro do Contrato de Prestação de Serviços
entre o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade e a ERENA –
Ordenamento e Gestão de Recursos Naturais, Lda., estabelecido no âmbito da
elaboração do Plano de Ordenamento da Paisagem Protegida de Corno do Bico e do
respectivo Regulamento.
A elaboração deste Plano de Ordenamento foi determinada pela Resolução do
Conselho de Ministros nº 72/2003, de 16 de Maio, tendo como objectivos:
a) Assegurar, à luz da experiência e dos conhecimentos científicos adquiridos
sobre o património natural desta área, uma correcta estratégia de conservação
e gestão que permita a concretização dos objectivos que presidiram à
classificação como área de paisagem protegida;
b) Cumprir os imperativos de conservação dos habitats naturais da fauna e flora
selvagens protegidas, nos termos do Decreto-Lei nº140/99, de 24 de Abril;
c) Estabelecer propostas de ocupação do solo que promovam a necessária
compatibilização entre a protecção e a valorização dos recursos naturais e
culturais e o desenvolvimento das actividades humanas em presença, tendo
em conta os instrumentos de gestão territorial convergentes na área da
Paisagem Protegida;
d) Determinar, atendendo aos valores em causa, os estatutos de protecção
adequados às diferentes áreas, bem como definir as respectivas prioridades de
intervenção.
De forma a cumprir estes objectivos, foi desenvolvido um extenso trabalho de
caracterização da Paisagem Protegida de Corno do Bico, o qual foi organizado nas
seguintes etapas:
•
Etapa 1 – Descrição da área sob os aspectos de enquadramento geográfico e
legal, biofísicos, paisagísticos, patrimoniais, culturais e sócio-económicos;
•
Etapa 2 – Avaliação qualitativa e quantitativa dos valores presentes nas
diversas componentes descritas;
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•
Etapa 3 – Resumo técnico da descrição e valoração.
Este relatório apresenta a síntese do trabalho de descrição e valoração das
componentes
que
constituem
a
Paisagem
Protegida
de
Corno
do
Bico,
correspondendo à terceira etapa da fase de caracterização. O seu principal objectivo é
incorporar os pontos mais relevantes das etapas de descrição e de valoração,
identificando as principais componentes biofísicas, paisagísticas, patrimoniais,
culturais e sócio-económicas presentes na Paisagem Protegida. Para isso, fez-se uma
conjugação das etapas 1 e 2, permitindo assim dar uma visão integrada dos principais
resultados encontrados.
Em termos de apresentação, procurou-se fornecer a informação sob a forma de
tabelas, facilitando assim a rápida apreensão dos principais padrões encontrados.
Adicionalmente, os textos foram reduzidos ao mínimo indispensável para descrever a
Paisagem Protegida de Corno do Bico e os seus valores, tornando mais expedita a
leitura do Relatório. Desta forma, o presente Relatório deverá ser encarado como um
guia de leitura dos Relatórios de Descrição e Valoração, os quais deverão ser
consultados sempre que for necessário um conhecimento mais detalhado da área e
dos conhecimentos científicos de base que justificam as opções de planeamento.
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2. ENQUADRAMENTO
A Área de Paisagem Protegida de Corno do Bico (PPCB) localiza-se na zona Noroeste
de Portugal, na região do Minho, enquadrando-se nas NUT II do Norte de Portugal e
na NUT III do Minho Lima, ocupando parte do município de Paredes de Coura. A
Paisagem Protegida é caracterizada essencialmente pelos bosques de carvalhos,
matos, mosaico agro-florestal e rios colinos; nestas áreas desenvolvem-se várias
actividades agrícolas e silvícolas.
A Paisagem Protegida de Corno do Bico foi criada em 1999, pelo Decreto
Regulamentar nº 21/99 de 20 de Setembro, como Área Protegida de Âmbito Regional.
A sua criação tinha como objectivos a conservação da natureza e a valorização do
património natural do Corno do Bico como pressuposto de um desenvolvimento
sustentável e a promoção do repouso e do recreio ao ar livre em equilíbrio com os
valores naturais salvaguardados.
A área da Paisagem Protegida está ainda abrangida por outras normas de protecção
devido aos seus valores naturais, decorrentes da Directiva Europeia 92/43/CEE
(Directiva Habitats). Está na sua quase totalidade incluída na Lista Nacional de Sítios
de Importância Comunitária a incluir na Rede Natura 2000 (Corno do Bico,
PTCON0040), pela Resolução do Conselho de Ministros nº 76/00, de 5 de Julho, ao
abrigo da Directiva Habitats, devido à sua importância para a conservação de um
conjunto diversificado de habitats e espécies ameaçados a nível europeu.
Em termos de planeamento, a Paisagem Protegida está abrangida por Planos
Municipais e Especiais de Ordenamento do Território, enquanto que o Plano Regional
de Ordenamento do Território do Norte, onde se insere, se encontra em elaboração.
Em termos municipais, a Paisagem Protegida é abrangida pelas regulamentações do
Plano Director Municipal de Paredes de Coura, que prevê vários tipos de usos para a
área, relativos a usos agro-florestais e de conservação da natureza, embora esta
última classe esteja pouco representada. A Paisagem Protegida é ainda abrangida por
vários Planos Sectoriais, designadamente os Planos de Bacia Hidrográfica dos rios
Lima e Minho, o Plano Regional de Ordenamento Florestal do Alto Minho e o Plano
Sectorial para a Rede Natura 2000, não tendo este último ainda sido aprovado.
Os terrenos da Paisagem Protegida são maioritariamente privados. Cerca de 20% da
PPCB está integrada no Perímetro Florestal Entre Vez e Coura, sob gestão da
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Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Parte da área encontra-se sujeita ao regime
florestal, em co-gestão entre a assembleia de compartes e a Direcção Geral dos
Recursos Florestais (DGRF), gerida pela assembleia de compartes que podem
delegar a sua gestão num concelho Directivo de Baldios ou na própria Junta de
Freguesia.
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3. VALORES NATURAIS
Hidrologia
A área de estudo enquadra-se nas Bacias Hidrográficas dos Rios Minho e Lima e
integra as cabeceiras dos três principais cursos de água do Alto Minho – Coura,
Labrujo e Vez, o primeiro pertencente à bacia hidrográfica do rio Minho e os restantes
à do rio Lima.
Os rios que integram a Paisagem Protegida albergam em geral espécies de grande
interesse de conservação, e têm importância em termos de exploração de recursos
hídricos para consumo humano e usos agrícolas.
Em termos hidrogeológicos toda a zona corresponde ao Maciço Antigo, não havendo
nenhuma área particularmente importante em termos de sensibilidade e produtividade.
A valoração das estruturas hidrológicas destacou, dos rios anteriormente referidos, o
rio dos Cavaleiros e o rio Coura, que foram classificados com o nível Alto. Não foram
identificadas mais estruturas hidrológicas passíveis de serem destacadas do ponto de
vista da valoração.
Flora e Vegetação
A Flora da Paisagem Protegida de Corno do Bico conta com 439 espécies, incluindo
flora vascular e brioflora. Não foram realizados levantamentos florísticos específicos
para os trabalhos deste Plano, mas existiam estudos anteriores que permitiram
caracterizar a flora e vegetação da Paisagem Protegida. O macrobioclima
representado no território é o Temperado. Os andares bioclimáticos predominantes
são o Mesotemperado (quase sempre Submediterrânico) Húmido Superior, nos
territórios de altitude média e o Supratemperado (quase sempre Submediterrânico)
Hiper-húmido Inferior, nas áreas mais elevadas. Em termos biogeográficos a área
estudada enquadra-se no Sector Galaico-Português (Sub-província Galaico-Asturiana,
Província
Cantabro-Atlântica,
Sub-região
Atlântica
Medioeuropeia,
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Região
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Eurosiberiana). O território estudado inclui-se, em particular, no Subsector Miniense
Litoral. A série de vegetação climatófila do território é encabeçada pelos carvalhais da
associação Rusco aculeati-Quercetum roboris.
Estão presentes alguns endemismos ibéricos, nomeadamente algumas espécies raras
e ameaçadas que conferem grande valor florístico à Paisagem Protegida de Corno do
Bico. Entre as espécies presentes na área de estudo, pode-se destacar Bruchia
vogesiaca como a mais relevante, já que foi detectada apenas num habitat de
ocorrência única na área, a turfeira de Lameiro das Cebolas, sendo esta uma das
escassas populações portuguesas conhecidas. Bryoerythrophyllum campylocarpum,
Veronica micrantha, Narcissus cyclamineus e Festuca summilusitana são também
espécies importantes dos ponto de vista da conservação, pertencentes ao Anexo II da
Directiva Habitats, com um grau de raridade assinalável e apresentando vários graus
de endemismo.
Em termos de comunidades vegetais, as turfeiras colinas, os rios colinos, os mosaicos
agro-florestais, os mosaicos colinos sobre granito e os bosques de carvalho são as
comunidades mais importantes na área, sendo que as turfeiras apresentam uma fraca
representatividade, como foi já referido anteriormente.
A flora e vegetação constituem alguns dos elementos mais importantes da Paisagem
Protegida de Corno do Bico em termos de valores naturais. A valoração da vegetação
foi obtida através da raridade, estado de conservação, grau de ameaça e nível de
singularidade de cada habitat, assim como a sua presença e representatividade na
Directiva Habitats, sendo então de destacar:
•
Turfeiras colinas - O valor desta comunidade resulta da sua raridade, quer a
nível local, quer global, da correspondência com vários habitats da Directiva
(3130, 4020, 6230, 7140 e 7150) e pela ocorrência de singularidades florísticas
de grande relevância como Bruchia vogesiaca.
•
Rios colinos – Os rios colinos são zonas com habitats muito importantes do
ponto de vista da conservação, alguns deles prioritários, com destaque para os
amiais ripícolas (91E0pt1), aos quais se acrescenta a ocorrência de diversas
espécies raras ou ameaçadas como Narcissus triandus, N. cyclamineus,
Lysimachia nemorum e Scrophularia herminii.
•
Bosques de carvalho – Esta comunidade apresenta uma correspondência
perfeita com os habitats 9230pt1 e 8220pt3 da Directiva Habitats. Por se
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encontrarem bem conservados, estes bosques apresentam uma considerável
diversidade florística.
•
Mosaicos colinos sobre granitos - Estas comunidades devem a sua importância
à ocorrência de tomilhais galaico-portugueses (8230pt1) e de Festuca
summilusitana, espécie do Anexo II da Directiva Habitats, bastante rara em
toda a área da Paisagem Protegida do Corno do Bico.
•
Mosaico agro-florestal - Apresentam também um valor muito elevado devido à
singular combinação entre vegetação florestal e pratense. Incluem alguns
habitats da Directiva.
As áreas anteriormente referidas foram todas classificadas com relevância Alta.
Em termos de flora, uma espécie destaca-se de todas as restantes: Bruchia
vogesiaca, um endemismo europeu, sendo a população da PP uma das escassas
populações portuguesas conhecidas. De menor importância, mas ainda assim com
grande valor, destacam-se as espécies Bryoerythrophyllum campylocarpum, Veronica
micrantha, Narcissus cyclamineus e Festuca summilusitana, devido à sua presença no
Anexo II da Directiva Habitats, raridade e grau de endemismo.
Na Tabela 1 apresenta-se a relevância das formações vegetais presentes na
Paisagem Protegida de Corno do Bico. Na Tabela 2 faz-se a mesma análise para as
espécies importantes.
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Tabela 1. Resumo da valoração das formações vegetais da Paisagem Protegida de Corno do
Bico. Para cada formação são referidas as suas características principais e é atribuído um nível
de Relevância.
Relevância
Formações vegetais
Características
- Formações globalmente raras, que incluem
- Turfeiras colinas
diversos habitats da Directiva e espécies raras e
ameaçadas.
Alta
- Incluem vários habitats da Directiva, com
- Rios colinos
destaque para os amiais ripícolas, onde ocorrem
várias espécies raras e ameaçadas
- Bosques de carvalho
- Mosaico colino sobre granitos
Alta
Directiva, muito bem conservados
- Ocorrência de habitats da Directiva e de uma
espécie bastante rara
- Mosaico agro-florestal
Média
- Correspondência perfeita com habitats da
- Formações com particularidades relativamente à
sua composição; ocorrência de habitats da Directiva
- Matos colinos granito afor
- Bem representados na AP, correspondem a
- Matos colinos granito
alguns habitats da Directiva; flora e vegetação
- Matos colinos xisto
menos ameaçada que nas comunidades anteriores
- Bosques mistos
Baixa
- Hortas e campos
- Povoamentos florestais
- Formações degradadas pelas actividades
humanas e/ou com pouco potencial.
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Tabela 2. Resumo da valoração das espécies vegetais da Paisagem Protegida de Corno do
Bico. Para cada classe de relevância são referidas as suas características principais.
Relevância
Espécies vegetais
Excepcional - Bruchia vogesiaca
Características
- Endemismo europeu; uma das escassas
populações portuguesas conhecidas
- Bryoerythrophyllum
-Uma das escassas populações portuguesas e uma
campylocarpum
das mais importantes da Europa ocidental.
- Endemismos do noroeste da Península Ibérica,
Alta
- Veronica micrantha
em perigo devido à reduzida área de ocorrência,
- Narcissus cyclamineus
baixo número de efectivos e fragmentação
populacional
- Festuca summilusitana
- Menyanthes trifoliata
- Endemismo do noroeste da Península Ibérica,
globalmente frequente mas rara na área da PP.
-Distribuição geográfica alargada, mas rara em
Portugal
- Arnica atlantica
-Endémica da Península Ibérica e sul de França,
ameaçada, devido à degradação do seu habitat
- Scrophularia herminii
- Narcissus triandrus
- Endémica do Noroeste da Península Ibérica
- Endémica da Península Ibérica; colheita excessiva
é o principal factor de ameaça.
- Narcissus bulbocodium
Média
- Endémica da Península Ibérica e Norte de África;
colheita excessiva é o principal factor de ameaça.
- Endemismo europeu, com distribuição alargada e
- Ruscus aculeatus
abundante em Portugal, mas ameaçada devido a
colheita para efeitos ornamentais e medicinais
- Lysimachia nemorum
- Frequentes, limitadas às áreas mais setentrionais
- Oxalis acetosella
do Norte de Portugal. Comuns na PP.
- Endémica da região atlântica europeia, distribui-se
- Centaurium scilloides
de forma dispersa ao longo do litoral português.
Ocorre pontualmente na PP.
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Fauna
A fauna de vertebrados da Paisagem Protegida de Corno do Bico tem uma riqueza e
diversidade assinaláveis, apesar de se tratar de uma área relativamente pequena.
Assim, já foram registadas 7 espécies de peixes dulciaquícolas ou migradores, 13 de
anfíbios, 17 de répteis, 47 de mamíferos e 104 de aves. Existe um grande
desconhecimento acerca da fauna de invertebrados, existindo apenas alguns registos
de espécies de Lepidópteros e informação bibliográfica acerca da distribuição
potencial de algumas espécies desta Ordem de Insectos. Como resultado destes
trabalhos, e com base em bibliografia, foram atribuídas para a Paisagem Protegida de
Corno do Bico 72 borboletas.
Em termos de vertebrados terrestres e dulciaquícolas, foram identificadas 25 espécies
com elevada prioridade de conservação, incluindo três peixes dulciaquícolas, quatro
anfíbios, cinco répteis, cinco aves e oito mamíferos (Tabela 3).
A maioria das espécies prioritárias estão associadas aos bosques de caducifólias,
bosques ripícolas, aos matos, ou a algumas áreas agrícolas, como a víbora de Seoane
Vipera seoanei, o picanço-de-dorso-ruivo Lanius collurio ou o tritão-palmado Triturus
helveticus, a título de exemplo. São de destacar também os rios colinos que, embora
não alberguem tantas espécies prioritárias como os habitats anteriormente referidos,
neles ocorrem espécies de grande prioridade de conservação que deles têm uma
elevada dependência, como a toupeira-de-água Galemys pyrenaicus, ou a panjorca
Chondrostoma arcasii. Muitas destas espécies prioritárias apresentam áreas de
distribuição bastante restritas em Portugal, estando limitadas ao Norte do país e a
habitats particulares, sendo assim bastante raras no contexto nacional.
Para os invertebrados, não foi possível estabelecer prioridades claras de conservação,
devido à escassez de conhecimentos existentes sobre a maioria das espécies,
havendo apenas alguma informação disponível para a Ordem dos Lepidópteros,
Classe Insecta. Relativamente a este grupo, é de referir que foi detectada uma espécie
apontada
como
estando
em
risco
de
extinção,
Argynnis
aglasa,
e
uma
moderadamente ameaçada, Arethusa arethusana (Tagis, dados não publicados). A
distribuição potencial de mais quatro espécies moderadamente ameaçadas está
também descrita para a AP.
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Tabela 3. Lista de de vertebrados terrestres e dulciaquícolas de conservação prioritária na
Paisagem Protegida de Corno do Bico. Para cada grupo, as espécies são listadas por ordem
decrescente de valor ecológico. R: Residente; N: Nidificante.
Grupo
Peixes
dulciaquícolas
Anfíbios
Répteis
Aves
Mamíferos
Espécie
Chondrostoma arcasii
Chondrostoma oligolepis
Chondrostoma duriense
Chioglossa lusitanica
Discoglossus galganoi
Triturus helveticus
Rana iberica
Vipera seoanei
Coronella austriaca
Lacerta schreiberi
Vipera latastei
Chalcides bedriagai
Lanius collurio
Caprimulgus europaeus
Loxia curvirostra
Pernis apivorus
Circus pygargus
Nome comum
Panjorca
Ruivaco
Boga-comum
Salamandra-lusitânica
Rã-de-focinho-pontiagudo
Tritão-palmado
Rã-ibérica
Víbora de Seoane
Cobra-lisa-europeia
Lagarto-de-água
Víbora-cornuda
Cobra-de-pernas-pentadáctila
Picanço-de-dorso-ruivo
Noitibó-cinzento
Cruza-bico
Falcão-abelheiro
Tartaranhão-caçador
Galemys pyrenaicus
Canis lupus
Barbastella barbastellus
Rhinolophus hipposideros
Myotis emarginatus
Felis silvestris
Myotis myotis
Rhinolophus ferrumequinum
Toupeira-d’água
Lobo
Morcego-negro
Morcego-de-ferradura-pequeno
Morcego-lanudo
Gato-bravo
Morcego-rato-grande
Morcego-de-ferradura-grande
Fenologia
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
R
N
N
N
N
N
R
R
R
R
R
R
R
R
Biótopos faunísticos
As comunidades vegetais presentes na Paisagem Protegida de Corno do Bico que
constam da carta de vegetação, foram tipificados em termos de biótopos faunísticos,
os quais foram posteriormente valorados em função da ocorrência das espécies de
vertebrados de conservação prioritária (Tabela 4). Dos biótopos presentes na área, os
bosques de caducifólias foram classificados na categoria de excepcional, sublinhando
a sua importância para um elevado número de espécies. Também reconhecidamente
importantes para a fauna, embora classificados com a categoria de alta relevância,
foram classificados os biótopos bosques ripícolas e zonas agrícolas e pastagens.
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Tabela 4. Resumo da valoração dos biótopos faunísticos. Para cada biótopo são referidos, o
nível de relevância e as principais espécies associadas.
Relevância
Biótopos
Excepcional - Bosques de caducifólias
Características
- Elevada importância para grande
número de espécies
- Importantes para várias espécies,
- Bosques ripícolas
destacando-se alguns anfíbios e
morcegos
Alta
- Zonas agrícolas e pastagens
- Importantes para grande número de
espécies
- Vitais para algumas das espécies de
- Rios colinos
maior prioridade de conservação, como a
toupeira-d’água e a panjorca
Média
- Importantes para várias espécies,
- Pinhais
destacando-se algumas das aves como o
noitibó-cinzento ou o cruza-bico
Baixa
- Eucaliptal
- Zonas urbanas
- Mais humanizados.
- Escassa utilização por espécies
prioritárias da fauna.
A relevância dos restantes biótopos foi classificada como média ou baixa, devido a
não lhes estar associado um grande número de espécies prioritárias. Apesar disso,
estes biótopos contribuem decisivamente para a biodiversidade global do sistema.
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4. VALORES PAISAGÍSTICOS
A Paisagem Protegida de Corno do Bico foi dividida em unidades o mais homogéneas
possível que foram posteriormente valoradas, analisando a diversidade, harmonia e
identidade de cada uma delas (Tabela 5). Com base nesta metodologia, mapearam-se
as unidades com maior valor paisagístico, às quais foram atribuídos níveis de valor
Relevante e Agradável. Nenhuma das unidades preencheu os requisitos para ser
classificada como Excepcional, pelo que este nível não foi atribuído.
Tabela 5. Valoração das Unidades Paisagísticas mais relevantes identificadas na Paisagem
Protegida de Corno do Bico.
Relevância
Unidades
Agradável
Relevante
Campos da
Parada
Características
- Relevo ondulado.
- Mosaico agro-florestal.
- Humanização média.
- Paisagem heterogénea de carácter agrícola.
Mata Corno do
Bico
- Relevo muito ondulado.
- Zonas florestadas e terrenos incultos
- Humanização reduzida.
- Paisagem florestal.
Mata de Coutos
- Relevo ondulado.
- Zonas florestadas.
- Humanização reduzida.
- Paisagem florestal.
Campos de
Sobreiras
- Relevo muito ondulado.
- Terrenos incultos e zonas florestadas.
- Humanização reduzida.
- Paisagem florestal.
Encostas de
Travanca
- Relevo ondulado.
- Terrenos incultos e zonas florestadas.
- Humanização média a reduzida.
- Paisagem heterogénea com carácter agro-florestal.
Mata do Cristelo
- Relevo ondulado.
- Zonas florestadas.
- Humanização reduzida.
- Paisagem florestal.
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Foram principalmente valorizadas as unidades de maior relevo, que proporcionam
grandeza assinalável de cenários, que conjugavam igualmente padrões menos
fragmentados com valores de diversidade apreciáveis. De uma forma geral, foi
conferida uma relevância relativamente mais baixa a unidades que, apresentando um
eventual valor paisagístico, não possuíam nenhuma particularidade estreitamente
associada com a área em questão.
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5. VALORES CULTURAIS E SOCIO-ECONÓMICOS
A Paisagem Protegida de Corno do Bico apresenta um património cultural assinalável,
na globalidade das vertentes arquitectónica, arqueológica e etnográfica.
Os principais valores culturais identificados na Paisagem Protegida são:
•
A actividade agrícola e pastoril que moldou a paisagem, proporcionando
marcas únicas com valor do ponto de vista de conservação como sejam os
lameiros;
•
Vestígios arqueológicos do período do Neo-Calcolítico, as mamoas, uma
marca muito característica da região pela sua abundância.
Podem ainda ser referidos alguns elementos arquitectónicos, exemplos de arquitectura
religiosa; no entanto, os mais relevantes do concelho onde a AP se insere situam-se
fora da área da Paisagem Protegida.
As actividades humanas desenvolvidas na Paisagem Protegida de Corno do Bico são
fundamentalmente do sector primário, destacando-se pela sua importância social,
económica e ecológica:
•
Agricultura caracterizada pela sucessão anual de prados temporários, culturas
forrageiras e cereal para grão;
•
Pecuária, destacando-se a criação de garranos em liberdade e de gado
barrosão,
•
Exploração florestal de espécies de folhosas, na sua maioria carvalhos, que
proporcionam diferentes produções – madeira, lenha, pastorícia, produção de
cogumelos, agricultura e exploração cinegética.
A actividade turística tem um potencial considerável na Paisagem Protegida de Corno
do Bico, sobretudo na vertente de turismo rural, mas também no âmbito do Turismo de
Natureza e de Ar Livre, incluindo actividades como a observação da vida selvagem, a
realização de percursos a pé, a cavalo, ou de bicicleta. Existem já alguns percursos
pedestres definidos pelo município de Paredes de Coura, incluindo cinco que se
localizam dentro do perímetro da Paisagem Protegida.
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Considerando o potencial para usos turísticos e recreativos, fez-se uma tipificação do
potencial de uso da Paisagem Protegida de Corno do Bico para perspectivar o turismo
baseado no usufruto dos seus valores, sendo no entanto dada especial atenção aos
constrangimentos decorrentes dos imperativos de Conservação da Natureza. Este
aspecto é extremamente relevante, atendendo a que algumas das espécies
faunísticas são muito sensíveis à perturbação humana sendo, por outro lado, vários
dos habitats e espécies da flora muito vulneráveis ao pisoteio. Assim, fez-se uma
primeira avaliação das principais aptidões turísticas de cada espaço da Paisagem
Protegida de Corno do Bico tendo em consideração os constrangimentos decorrentes
dos imperativos de conservação da Natureza (Tabela 6).
Tabela 6. Principais aptidões turísticas para cada espaço da Paisagem Protegida de Corno do
Bico, tendo em consideração constrangimentos decorrentes dos imperativos de conservação
da Natureza.
Aptidões turísticas
Acessos principais
Áreas de fruição
das paisagens
naturais
Espaços
- Áreas de maior altitude.
- Espaços degradados pelas
Áreas degradadas
Áreas de recreio
peri-urbanas
Características
- Áreas edificadas.
actividades humanas.
- Áreas florestais e agrícolas
envolventes às principais localidades.
- Atracção paisagística.
- Zonas que é essencial recuperar por
forma a valorizar a aptidão turística da
Paisagem Protegida.
- Potencial de utilização como locais de
lazer pelos habitantes e turistas dos
principais centros urbanos envolventes.
- Muito sensíveis à perturbação humana.
- Áreas favoráveis para a observação
Observação da vida
selvagem
da vida selvagem.
- Visitas baseadas em postos de
observação que se venham a revelar
adequados.
- Rede de caminhos secundários e
Percursos na
natureza
percursos da Paisagem Protegida de
Corno do Bico.
- Principais eixos de acesso para visitantes
integrados em percursos de interpretação
dos espaços naturais, passeios pedestres
e outros.
- Acomodação nos alojamentos existentes
e em património recuperado disperso na
- Áreas agrícolas da Paisagem
Turismo no Espaço
Rural
Protegida
área, com capacidade de carga estudada
em função dos constrangimentos
ambientais.
- Organização de actividades de
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interpretação do espaço rural.
Apesar destes constrangimentos, considera-se que a PP apresenta, na sua
generalidade, um potencial muito considerável para o Turismo de Natureza nas suas
diferentes vertentes.
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6. CONCLUSÕES
A Paisagem Protegida é uma área importante para a conservação da biodiversidade
aos níveis regional, nacional e mesmo internacional, no caso de algumas espécies e
habitats específicos. Essa importância relaciona-se principalmente com a presença de
dos bosques de carvalhos, bem como a alguns matos, rios colinos e uma pequena
área de turfeira, aos quais estão associados habitats e espécies de conservação
prioritária. De referir ainda as zonas agrícolas e pastagens às quais estão também
associadas várias espécies de conservação prioritária.
Os bosques de caducifólias são indubitavelmente um dos valores mais importantes da
Paisagem Protegida, contribuindo simultaneamente para a conservação de habitats e
espécies faunísticas muito ameaçadas e para a valorização sócio-económica. A
turfeira, localizada na área sueste da PP, apresenta espécies de flora de grande
destaque, incluindo algumas espécies ameaçadas a nível nacional e internacional.
Também fundamentais em termos de conservação são os rios colinos, por serem
essenciais para algumas espécies de conservação prioritária, mas também devido à
sua importância no que diz respeito aos recursos hídricos da região.
As zonas mais humanizadas são os habitats menos interessantes da Paisagem
Protegida de Corno do Bico. Apesar disso, podem ocorrer pontualmente nessas áreas
algumas espécies com valor de conservação e regionalmente relevantes.
Floristicamente, entre as espécies presentes na área de estudo, pode-se destacar
Bruchia vogesiaca como a mais relevante, já que foi detectada apenas num habitat de
ocorrência única na área, a turfeira de Lameiro das Cebolas, sendo esta uma das
escassas populações portuguesas conhecidas Bryoerythrophyllum campylocarpum,
Veronica micrantha, Narcissus cyclamineus e Festuca summilusitana também devem
ser destacadas, já que todas pertencem ao Anexo II da Directiva Habitats, apresentam
um grau de raridade de assinalar e possuem algum grau de endemismo. B.
campylocarpum, apesar de ter uma distribuição geográfica global alargada, apresenta
na AP uma das populações mais importantes da Europa ocidental, sendo igualmente
uma das escassas populações portuguesas. V. micrantha N. cyclamineus são
endémicas do noroeste da Península Ibérica e são raras na AP, à semelhança da sua
restante área de distribuição. F. summilusitana é também endémica da Península
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Ibérica e, embora seja relativamente frequente no norte e centro de Portugal, é
bastante rara na AP.
Em termos de comunidades vegetais, as turfeiras colinas, os rios colinos, os mosaicos
agro-florestais, os mosaicos colinos e os bosques de carvalho são as comunidades
mais importantes na área, sendo que as turfeiras apresentam uma fraca
representatividade com apenas um local, em Lameiro das Cebolas. O valor da turfeira
resulta também da ocorrência de várias singularidades florísticas. Os rios colinos
correspondem também a habitats da Directiva e neles ocorrem diversas espécies
raras ou ameaçadas. A importância dos bosques de carvalho deriva da sua
correspondência perfeita com os habitats 9230pt1 e 8220pt3 da Directiva Habitats.
Em termos faunísticos, a Paisagem Protegida apresenta espécies prioritárias do ponto
de vista de conservação de todas as classes de vertebrados, destacando-se várias
espécies que apresentam uma distribuição muito restrita em Portugal. Entre as
espécies com maior valor de conservação, destacam-se a toupeira-d’água (Galemys
pyrenaicus), a panjorca (Chondrostoma arcasii), a víbora de Seoane (Vipera seoanei),
o lobo (Canis lupus), a salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), a cobra-lisaeuropeia (Coronella austriaca), o picanço-de-dorso-ruivo (Lanius collurio), o morcegonegro (Barbastella barbastellus), a rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi),
o lagarto-de-água (Lacerta schrebeiri), o tritão-palmado (Triturus helveticus), a víboracornuda (Vipera latastei), o noitibó-cinzento (Caprimulgus europaeus) e o cruza-bico
(Loxia curvirostra), devido ao seu estatuto de ameaça e à presença de efectivos
significativos. São contudo necessários dados adicionais sobre a importância relativa
destas populações. A informação para os invertebrados é ainda mais escassa,
existindo apenas alguns registos de ocorrência de espécies raras e ameaçadas de
lepidópteros, mas desconhecendo-se quase em absoluto o seu estatuto na Paisagem
Protegida.
As actividades sócio-económicas na Paisagem Protegida têm uma importância
considerável, destacando-se a agricultura, pecuária e exploração florestal. O turismo,
essencialmente nas vertentes rural e de natureza, é um actividade com potencial de
desenvolvimento na AP, nomeadamente para actividades relacionadas com a
interpretação dos espaços naturais e agro-florestais, a realização de passeios a pé, de
bicicleta e a cavalo.
Em resumo, os valores da Paisagem Protegida centram-se nas espécies e habitats
associados aos bosques de caducifólias, bosques ripícolas, mosaicos colinos, zonas
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agrícolas e pastagens e aos rios colinos, os quais têm elevada importância aos níveis
regional e nacional. Em termos sócio-económicos, a agricultura, pecuária e exploração
florestal promovem a conservação de habitats importantes do ponto de vista da
conservação, podendo a valorização desta componente ser reforçada através de
actividades relacionadas com o eco-turismo. A compatibilização da conservação dos
valores naturais com estas actividades constitui um dos principais desafios de
planeamento e gestão da Paisagem Protegida.
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