Envelhecimento e família - Portal do Envelhecimento

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Envelhecimento e família - Portal do Envelhecimento
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Envelhecimento e Família: novas perspectivas
Por Viviane de Moraes
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem...
Guimarães Rosa1
A vida é composta de infindáveis surpresas. E o tempo encarrega-se de
proporcionar alegrias e / ou tristezas em consonância ao presente, passado e
futuro de cada ser humano. Para isso é necessário planejar, e agir de acordo
com os próprios ideais, buscando crescimento e o exercício pleno de
cidadania, fato este atrelado a importantes mudanças sociais.
O sujeito que envelhece traça sua identidade ao longo de sua vida, no entanto,
na fase de envelhecimento, quando começam aparecem as primeiras
alterações físicas e / ou psíquicas, surgem juntamente preocupações com o
futuro e, principalmente, com o próprio envelhecer. Pois apesar de comum ao
ciclo da vida, o envelhecimento parece aterrorizar muitas pessoas, em nossa
sociedade, onde se valoriza a beleza, a produtividade, a juventude e o
consumo. E quanto à família, será que o cidadão idoso é valorizado, ou
simplesmente negam sua existência?
Culturalmente às mulheres cabia o papel de cuidado, tanto de seus filhos
quanto de familiares e idosos. No entanto, com o ingresso da mulher no
mercado de trabalho, esse papel modificou-se. As crianças passaram a ficar
em creches, por determinados períodos – fato este de extrema polêmica, pois
para muitos foi considerado como situação de abandono. Quanto aos idosos,
de certa forma, continuaram tendo papel principal dentro do contexto familiar
no cuidado com os netos.
O fato é que o conceito de família, mesmo que universal, está em constante
transformação e, desta maneira, sua definição pode se dar de acordo com a
cultura e significado social, mesmo que a união dos laços não seja biológica.
Diante de mudanças sociais, e de papéis, aparecem ainda conflitos entre as
gerações, em consonância ao individualismo e à negação da responsabilidade
dos idosos. Segundo Sarti:
1
Ver http://pensador.uol.com.br/autor/Guimaraes_Rosa/
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A perda do sentido da tradição e o processo de
individualização e de atomização do sujeito, processos
sociais que caminham juntos, moldaram uma nova
configuração familiar, redefinindo o cuidado dos
dependentes, ao alterar as relações entre o homem e a
mulher e entre as gerações. (Sarti, 2001: 92)
Na atualidade as relações familiares, constituem-se por novos rearranjos
sociais, resultante da diversidade de situações – divórcios; recomposição de
famílias, entre outras, implicando, assim, em novas adaptações do cotidiano de
cada indivíduo. É Sarti quem mais uma vez ressalta que,
Novas formas de viver e novos valores convivem com os
antigos, configurando um momento de transição, uma vez
que as novas experiências vividas na família se articulam
a transformações sociais profundas, não havendo ainda
soluções coletivas e sociais para os novos problemas.
(2001: 93,).
Diante destas transformações nota-se, cada vez mais, a participação de
homens e mulheres ativos, maiores de sessenta anos na sociedade em geral.
Neste quadro assume relevância a participação de seus filhos e familiares em
eventos e / ou atividades elaboradas, ou mesmo apresentadas por eles.
No Centro de Referência da Cidadania do Idoso – CRECI@ este fato é notório.
A emoção e orgulho são por eles expressas, através de um largo sorriso ou
mesmo por um simples olhar, ao saberem que estarão sendo prestigiados por
seus filhos.
Através de atividades diversificadas como dança espanhola, coral, e teatro, por
exemplo, evidencia-se a plenitude da vida. E que não importa a idade para ser
feliz e aprender coisas novas e, mais do que isso, a real importância do
incentivo e participação das famílias, que se contrapõe aos sentimentos de
tristeza e a solidão.
Os laços são construídos ao longo da vida, e consolidados até sua finitude.
Porém, assim como uma planta, é necessário cultivá-los, sem exageros, com
responsabilidade, atenção e carinho, diante de sua real importância no
cotidiano de cada ser humano. Não importa a distância nem o tempo, o
importante é manter estes laços.
Saliento a importância do exercício de cidadania e do sentimento de
pertencimento, seja no contexto familiar ou mesmo na sociedade, considerando
que cada ser humano tem sua importância e valor moral, desde a mais tenra
idade.
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O protagonismo dos cidadãos idosos tem tornado o cotidiano de cada um
distinto, fazendo da velhice uma experiência diferenciada, afirmando-os como
sujeitos de desejos e direitos, de modo a contribuir cada vez mais para uma
nova concepção social a respeito desta fase da vida. Afinal, como dizem Lopes
e Calderoni (2006), “a idade cronológica é só um referencial. O importante é
como a pessoa vive a idade que tem”.
Referências
LOPES, RUTH G. C.; CALDERONI, SILA Z. “O Idoso na família: fechar-se ou
abrir-se”. In: Papaléo Netto, M (org.) Tratado de Gerontologia. 2ª edição:
Revista e Ampliada, Ed. Atheneu, 2006. (pp.225 – 241).
SARTI, CYNTIA A. “A família como ordem simbólica”. Revista de Psicologia
USP, 2004, 15 (3), 11-28.
SARTI, CYNTIA A. “A velhice na família atual”. Acta Paul. Enf, maio/ago, v.14,
n.2, 2001.
CARVALHO, MARIA BRANT. A família contemporânea em debate. São Paulo:
Cortez
Editora:
Educ,
4ª
ed,
2006.
Disponível
em:
http://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=wtHiLCNtqXEC&oi=fnd&pg=PA11&dq=a+fam%C3%ADlia+contemp
or%C3%A2nea+em+debate&ots=eu8is2uZ62&sig=fUs8QP7y_1hboS11WLddu
2alrBI#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 09 dez. 2010.
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Viviane de Moraes - Técnica em Gerontologia do Centro de Referência da
Cidadania do Idoso – CRECI@. Especialista em Gerontologia, pela PUC/SP.
Terapeuta
Ocupacional,
pela
UNISO
–
Sorocaba/SP.
E-mail:
[email protected]
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