Publicação em PDF - PGLA - Universidade de Brasília

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Publicação em PDF - PGLA - Universidade de Brasília
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE LETRAS - IL
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUÇÃO - LET
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA APLICADA – PPGLA
A (TRANS)FORMAÇÃO CONTÍNUA, O PROFESSOR
REFLEXIVO E SUA (RE)SIGNIFICAÇÃO IDENTITÁRIA
CAMILA MARA ANDRADE SILVA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA
BRASÍLIA – DF
AGOSTO/2014
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE LETRAS - IL
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUÇÃO - LET
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA APLICADA – PPGLA
A (TRANS)FORMAÇÃO CONTÍNUA, O PROFESSOR
REFLEXIVO E SUA (RE)SIGNIFICAÇÃO IDENTITÁRIA
CAMILA MARA ANDRADE SILVA
ORIENTADOR: PROF. DR. KLEBER APARECIDO DA SILVA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA
BRASÍLIA – DF
AGOSTO/2014
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA E CATALOGAÇÃO
ANDRADE-SILVA, Camila Mara. A (TRANS)FORMAÇÃO CONTÍNUA, O
PROFESSOR REFLEXIVO E SUA (RE)SIGNIFICAÇÃO IDENTITÁRIA.
Brasília: Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução, Universidade de Brasília,
2014, 130 f. Dissertação de mestrado.
Documento formal, autorizando reprodução desta
dissertação de mestrado para empréstimo ou
comercialização, exclusivamente para fins
acadêmicos, foi passado pelo autor à Universidade
de Brasília e acha-se arquivado na Secretaria do
Programa. O autor reserva para si os outros direitos
autorais, de publicação. Nenhuma parte desta
dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem
a autorização por escrito do autor. Citações são
estimuladas, desde que citada a fonte.
FICHA CATALOGRÁFICA
ANDRADE-SILVA, Camila Mara.
A (trans)formação contínua, o professor reflexivo e sua (re)significação
identitária. / Camila Mara Andrade Silva – Brasília, 2014. 130 f.
Dissertação de mestrado - Departamento de Línguas Estrangeiras e
Tradução da Universidade de Brasília. Orientador: Kleber Aparecido da
Silva.
1. Formação Contínua. 2. Professor Reflexivo. 3. Identidade.
I. Universidade de Brasília. II. Título.
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE LETRAS - IL
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUÇÃO - LET
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA APLICADA – PPGLA
A (TRANS)FORMAÇÃO CONTÍNUA, O PROFESSOR
REFLEXIVO E SUA (RE)SIGNIFICAÇÃO IDENTITÁRIA
CAMILA MARA ANDRADE SILVA
Dissertação de mestrado submetida ao programa
de pós-graduação em Linguística Aplicada, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do grau
de mestre em Linguística Aplicada.
Aprovada por:
___________________________________________________________
PROF. DR. KLEBER APARECIDO DA SILVA, (UNB)
(ORIENTADOR)
___________________________________________________________
PROF. DRA. MARIA HELENA VIEIRA ABRAHÃO, (UNESP)
(EXAMINADORA EXTERNA)
___________________________________________________________
PROF. DRA. MARIANA ROSA MASTRELLA-DE-ANDRADE, (UNB)
(EXAMINADORA INTERNA)
___________________________________________________________
PROF. DRA. MARIA DA GLÓRIA MAGALHÃES REIS, (UNB)
(SUPLENTE)
Brasília/DF, 04 de agosto de 2014.
―Por isso não tema, pois estou com você;
não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu
o fortalecerei; eu o segurarei com minha
mão
direita
vitoriosa‖
Isaías 41:10
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, quero e devo agradecer a Deus pelo dom da vida, pela saúde que não
me falta e por todas as dádivas que me são dadas pelas Suas mãos diariamente, dentre
elas o/a bebê que está em meu ventre e que já é tão amado(a) por nós.
Ao meu amor de toda uma vida Ericson Pontes, pelo carinho e dedicação a mim doados
incessantemente, diariamente, sempre! Assim como por todas as coisas que alcançamos
juntos e por todas as outras que estão por vir, por toda paciência, compreensão e apoio
ao longo de toda a minha jornada acadêmica.
Aos meus pais Elenice e Ângelo e meu a irmão Leonardo, por tudo o que fizeram e
fazem por mim, pelo apoio, dedicação e confiança.
Ao meu cachorrinho Lord, por ter um amor tão verdadeiro e ser um companheiro nato.
A minha amada vovó Tereza (in memorian), que continua viva em meu coração e aos
familiares, minhas tias Márcia e Zélia, que são tão queridas e sempre se orgulham das
minhas conquistas, aos meus primos e primas que sempre me apoiam, ou dizem coisas
que me fazer acreditar que posso ir além. E, em especial, ao meu primo Gêubert, que
mesmo longe sempre me manda mensagens de carinho e admiração.
Aos amigos Tatianne e Fáuston, por sempre serem tão amáveis e cuidadosos e à Taty,
por ter se prontificado em ser minha revisora oficial, vocês são muito queridos.
Ao meu amado orientador, Professor Doutor Kleber Aparecido da Silva, pelo carinho
de sempre, por ter acreditado em mim desde que eu era aluna especial e por estar
sempre tão disposto em servir ao próximo, além de transmitir com louvor seus
conhecimentos.
Aos amigos que tive a grande oportunidade de conhecer ao longo do processo e
partilhar tantas coisas: Jaqueline Barros um ser humano tão esplêndido e solícito, e a
minha querida amiga Príscila Mesquita, por estar sempre tão disposta em me ajudar e
não me deixar desistir. Vocês são especiais!
Aos participantes de minha pesquisa, que se tornaram meus amigos após nossas seis
semanas de muito estudo, esforço e empenho na Drexel University, nos Estados Unidos.
Pessoal, sem vocês, esse trabalho não teria acontecido, muito obrigada.
À minha amiga Maria Cláudia Almeida, por ter me apoiado e incentivado desde o
primeiro momento e por sempre me dizer que eu posso conquistar coisas novas
À minha querida amiga Wilda Barbosa, por ser tão iluminada e sempre me transmitir
segurança e serenidade.
À minha amiga Alessandra Almeida, por sempre me dar forças e estar sempre em
oração para e com as minhas vitórias.
Aos professores do programa de pós-graduação em linguística aplicada (PGLA/UnB)
que ministraram o curso Refletir, por me terem feito ver que minha vida acadêmica
merecia uma segunda chance.
À CAPES, pela bolsa concedida, pois sem ela esse sonho não teria sido possível.
À Professora Doutora Maria Helena Vieira Abrahão (UNESP) e à Professora Doutora
Maria da Glória Magalhães Reis (UNB), por terem se disponibilizado a fazer parte de
um momento tão singular em minha jornada acadêmica.
Por último, mas não menos importante, quero agradecer à Professora Doutora Mariana
Rosa Mastrella-de-Andrade por ter me feito refletir acerca das identidades, e também
por ter me incentivado a participar do PDPI.
A todos vocês deixo aqui minha gratidão, carinho e meu muito obrigada!
Figura 1: Welcome!Saudações acadêmicas!1
―Nesse contexto, a formação assume um
papel que transcende o ensino que pretende
uma
mera
atualização
científica,
pedagógica e didática e se transforma na
possibilidade
de
criar
espaços
de
participação, reflexão e formação para que
as pessoas aprendam e se adaptem para
poder conviver com a mudança e a
incerteza‖
Imbernón (2004, p.15)
1
Figura
1:
Welcome!
Saudações
acadêmicas!
Disponível
<http://modatales.wordpress.com/2013/09/27/welcome/> Acesso em 03 de março de 2014.
em:
RESUMO
O ensino de língua estrangeira tem se expandido consideravelmente a cada ano, e se
tornado um desafio constante devido às novas exigências do mundo globalizado
(SIQUEIRA, 2010). Dessa maneira, ensinar uma LE na contemporaneidade requer do
professor não apenas que ele transmita conteúdos, mas que também seja capaz de
formar cidadãos críticos através do ensino de línguas (CELANI ,2010), refletir suas
práticas pedagógicas (SCHÖN, 1992), (trans)formar-se (SILVA E PAVAN, 2010) para
estar em consonância com as novas abordagens e compreender que o ensino de língua
estrangeira nos dias atuais requer desse profissional múltiplos saberes e competências.
Não se aprende LE com professores despreparados (CELANI, 2010), porque à medida
que o professor busca ampliar seus conhecimentos (ALMEIDA FILHO, 2009) e refletir
sua práxis, ele (re)significará sua identidade profissional e saberá articular as novas
teorias por ele aprendidas à sua prática diária. Assim, o objetivo principal deste estudo
foi investigar de que maneira a realização do curso de formação contínua para
professores de língua inglesa nos EUA pôde contribuir para a formação reflexiva, assim
como para a (re)construção identitária desses professores e, também verificar quais são
as vantagens e desvantagens de se buscar esse tipo de formação no exterior. A pesquisa
é qualitativa (CHIZOTTI, 2006; DENZIN E LINCOLN, 2006 & FLICK, 2006). Os
participantes foram três professores que atuam em escolas públicas do Distrito Federal.
Foram utilizados como instrumentos de pesquisa: entrevistas e questionários
semiestruturados (ROSA E ARNOLDI, 2006) e notas de campo (FLICK, 2009). Os
dados foram gerados ao longo de seis semanas de curso intensivo em uma universidade
americana, e os resultados mostram que a realização de um curso de formação contínua
no exterior pode proporcionar ao professor de LE ganhos no âmbito cultural, pessoal,
acadêmico e, sem dúvida, no profissional.
Palavras-chave: Formação contínua, professor reflexivo, (re)significação identitária
ABSTRACT
Foreign language teaching has been growing year after year, and it has also become a
challenge for the new demands of the globalized world (SIQUEIRA, 2010). Thus,
teaching a foreign language nowadays requires that the teacher not only knows how to
deliver content, but also how to shape students into self-empowered citizens through
language teaching (CELANI, 2010), reflect his/her pedagogical practices (SCHÖN,
1992) (re)model himself/herself (SILVA E PAVAN, 2010) to be in up-to-date with the
latest approaches in order to understand that teaching a foreign language nowadays
requires from this professional a wide range of knowledge and competence. One cannot
learn a foreign language with unprepared teachers (CELANI, 2010), because as a
teacher looks at ways to enhance knowledge (ALMEIDA FILHO, 2009) and reflect
pedagogical practice, he is going to (re)frame his/her professional identity and know
how to incorporate new theories to daily practices. Hence, the main objective of this
study was to investigate in which way taking a developing course for EFL teachers in
the USA contributed to their reflexive development and (re)fraiming identity, and also
to verify which are the advantages and disadvantages of taking this kind of training
course overseas. The research is qualitative (CHIZOTTI, 2006; DENZIN E LINCOLN,
2006 E FLICK, 2009). The participants were three teachers who work in public schools
in Federal District, Brazil. We used the following research instruments: interviews and
semi-structured questionnaires (ROSA E ARNOLDI, 2006) and field notes (FLICK,
2009). The data was generated during six weeks in an intensive course, and the study
results show that taking a teaching development course overseas can provide the foreign
language teacher with advantages in cultural, personal, academic and also professional
fields.
Key words: Teacher development, reflexive teacher, (re)framing identity
QUADRO DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
LE
CAPES
Língua Estrangeira
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
TELP
Test of English Language Proficiency
PDPI
Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores de Inglês
SEEDF
Nex
PGLA
LA
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
Núcleo de Extensão
Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada
Linguística Aplicada
CDIS
Correção da Distorção Idade/Série
EAPE
Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação
CILs
Centros Interescolares de Línguas
LI
Língua Inglesa
ILI
Inglês como Língua Internacional
CONVENÇÕES PARA A TRANSCRIÇÃO2
/ ....................................................................Truncamento ou interrupção abrupta da fala
(+) ....................................................................................................................Pausa breve
(+++) ...............................................................................................................Pausa longa
― ‖..........................................................................................................Discurso reportado
‗‘ ................................................................................................................Leitura de texto
(( )) ....................................................................................... Comentário do pesquisador
? .....................................................................Entonação ascendente, como uma pergunta
! ..............................................................................................Forte ênfase ou exclamação
, ...................................................................................................................Pequena pausa
(*) .......................................................................................Uma palavra incompreensível
(**) ........................................................................Mais de uma palavra incompreensível
(***) ........................................................................................... Trecho incompreensível
MAIÚSCULA .........................................................................................................Ênfase
Itálico ................................................................................Palavras em língua estrangeira
[...] ............................................................................Suspensão de trecho da fala original
[sic] .........................................................Erro ou uso incomum provém do autor original
2
As convenções de transcrição são, na maioria, as mesmas da escrita convencional, acrescidas de
adaptações de Marcuschi (2003).
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Welcome ........................................................................................
O caminho a ser traçado .................................................................
Os 50 estados dos Estados Unidos .................................................
Filadélfia ........................................................................................
Apoiados em grandes ideias............................................................
Firmamento da pesquisa ................................................................
Um olhar mais refinado..................................................................
Terra à vista ...................................................................................
08
16
22
23
34
49
66
98
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Tabela 2
Tabela 3
Tabela 4
Tabela 5
Tabela 6
Programação do Curso Refletir ...................................................
Programação e Carga Horária .....................................................
Conhecendo os Participantes .......................................................
Questionário Semiestruturado I ...................................................
Questionário Semiestruturado II ..................................................
As Entrevistas ..............................................................................
26
58
62
75
85
96
SUMÁRIO
CAPÍTULO I – EM BUSCA DO CAMINHO A SER TRAÇADO ...........
1.1
1.2
16
Introdução ............................................................................................ 16
Contextualização da pesquisa e justificativa .................................... 19
1.2.2 Sobre o edital, os participantes e o local de desenvolvimento da
pesquisa, ou ―Onde tudo começou?‖ ....................................................
20
1.2.3 Justificativa de pesquisa, ou melhor, ―De onde viemos e para
onde queremos ir?‖ ...............................................................................
24
1.2.4 A importância pessoal do estudo ou ―Como obtive uma
mudança
tão
significativa
em
minha
trajetória
acadêmica?‖............................................................................................ 25
1.2.5. A importância científica e social do estudo ou ―Quais as
implicações dessa pesquisa para o bojo da Linguística Aplicada?‖......
29
1.2.6 Objetivos e perguntas de pesquisa ou ―O que queremos e como
faremos para tal?‖ .................................................................................
31
1.2.7 Organização da pesquisa ou ―Como deixar o trabalho mais
vistoso?‖ ...............................................................................................
1.2.8 Retomando o capítulo ou ―Vale a pena lembrar!‖ .......................
32
32
CAPÍTULO II – APOIADOS EM GRANDES IDEIAS PODEMOS IR
ALÉM ..............................................................................................................
34
2
2.1
Fundamentação teórica ......................................................................
O professor reflexivo e sua formação contínua ................................
34
34
2.2
2.3
A (re)significação da identidade do professor de LE ....................... 37
A formação contínua como uma fonte inesgotável de saber e de
reflexão ................................................................................................. 39
A formação contínua oferecida para os professores da rede
2.4
pública de ensino do D.F .....................................................................
2.5
2.6
O professor de LE como um ser vocacionado e a (re)construção
de sua identidade profissional ............................................................
Revisitando o que foi discorrido ao longo do capítulo .....................
CAPÍTULO 3 – O FIRMAMENTO DE NOSSA PESQUISA ...................
3.1
3.2
41
44
47
49
Introdução à pesquisa qualitativa ..................................................... 49
A coleta de dados e os instrumentos utilizados ................................. 51
3.2.1 Os questionários ...........................................................................
51
3.2.2 As entrevistas ...............................................................................
53
3.2.3 As notas de campo ......................................................................
3.3
Sobre os princípios éticos...................................................................
55
56
3.4
3.5
Etapas da pesquisa..............................................................................
O contexto e os participantes da pesquisa........................................
3.5.1 Sobre o contexto.........................................................................
57
57
58
3.5.2 Um pouco mais das disciplinas estudadas ..............................
59
3.5.3 Sobre os participantes................................................................
62
3.6
Triangulação dos dados e resultados esperados...............................
63
3.7
Retomando o capítulo .........................................................................
64
CAPÍTULO 4 – UM OLHAR MAIS REFINADO TAMBÉM CAI BEM
66
4.1
4.2
4.3
Análise de dados – algumas considerações ....................................... 66
Delineando o perfil de cada participante.......................................... 68
Hora de detalhar os questionários e analisar as respostas dos
participantes ........................................................................................
4.3.1 O primeiro questionário e suas peculiaridades ............................
70
71
4.3.2 E o segundo questionário, o que nos traz? ...................................
76
4.4
É chegada a hora desvelarmos as entrevistas ...................................
86
4.5
É sempre bom refrescar a memória – retomando o capítulo..........
97
CAPÍTULO 5 – TERRA À VISTA ...............................................................
98
5.1
Alinhavando as ideias finais ...............................................................
98
5.2
É hora de verificarmos o que alcançamos (retomada dos objetivos
traçados e perguntas de pesquisa).....................................................
Limitações que tivemos para o desenvolvimento da pesquisa ........
Possíveis sugestões aos estudos futuros.............................................
Últimas palavras ..................................................................................
99
102
103
104
REFERÊNCIAS .............................................................................................
107
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO ...................................
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTURADO I .................
115
116
5.3
5.4
5.5
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTURADO II ................ 117
APÊNDICE D – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA .........................
118
ANEXO A – EDITAL DO PROGRAMA DE PERFEIÇOAMENTO ......
119
16
CAPÍTULO I
EM BUSCA DO CAMINHO A SER TRAÇADO
Figura 2: O caminho a ser traçado3
“Não
há ensino sem pesquisa e pesquisa sem
ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo
do outro. Enquanto ensino continuo buscando,
reprocurando. Ensino porque busco, porque
indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para
constatar, constatando, intervenho, intervindo, educo
e me educo. Pesquiso para conhecer e o que ainda
não conheço e comunicar ou anunciar a novidade‖
(FREIRE, 1996, p.32).
1.1 INTRODUÇÃO
Muitos estudos na área de formação de professores de língua estrangeira
(doravante LE) têm sido realizados nas últimas décadas, dentre eles: Brown (2001),
Harmer (2007), Gil & Vieira-Abrahão (2008), Bertoldo (2009), Liberali (2010), Silva
(2010), Barcelos (2011), Cristovão (2011) e Ur (2012), devido à real necessidade de se
formar professores críticos (Barbara & Ramos 2003; Celani 2003 e Gimenez &
Monteiro 2010) e reflexivos (Zeichner & Liston, 1996; Almeida Filho, 1999; Paiva
2004 e Vieira-Abrahão, 2004) desde a sua formação inicial. Outros estudos,
concernentes à formação contínua ou continuada 4, como nos asseveram autores da área,
3
Figura
1:
O
caminho
a
ser
traçado.
Imagem
disponível
em
<http://monteirolopes.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html>. Acesso em 03 de março de 2014.
4
Aqui, inicialmente serão apresentadas as duas nomenclaturas: contínua e continuada, devido às
predileções feitas por cada um dos teóricos, Almeida Filho (2009), Vieira-Abrahão (2010). Entretanto, o
17
tais quais: Moita Lopes (1996), Mateus (2002), Barcelos (2005), Almeida Filho (2007),
Alvarez & Silva (2007) Vieira-Abrahão (2006) e Silva et. al. (2011) para citar alguns,
são de suma importância por enfatizarem a necessidade de o profissional de línguas
refletir sobre sua práxis e buscar estar sempre em consonância com as tendências
contemporâneas do ensino de línguas, bem como repensar suas práticas pedagógicas.
Tais pesquisas têm sido desenvolvidas pelo fato de os professores em préserviço
apresentarem inúmeras
lacunas em
sua
formação
inicial.
Segundo
Kumaravadivelu (2003), citado por Vieira-Abrahão (2010), podemos dizer que em sua
formação inicial, o professor de língua estrangeira é, em muitos contextos, ainda
instruído dentro da perspectiva do treinamento como técnico passivo, aquele que
aprende um conjunto de conhecimentos produzidos pela academia e os transmite aos
alunos. Assim, ao receber tal formação, o professor não dispõe da tão almejada prática
reflexiva, tampouco de uma consciência crítica, as quais se fazem necessárias tanto para
a quebra de crenças/paradigmas, quanto para o anseio por mudanças do que não se faz
plausível em sua prática docente. Corroborando com essa ideia, Walesko e Procailo
(2011) pontuam que é através do debate, assim como da reflexão, que os profissionais
poderão catalisar uma autonomia que fará com que eles teorizem suas próprias práticas,
tornando-se, por sua vez, profissionais capazes de (re)pensá-las e, é claro, refletir a
respeito delas, bem como naquilo que pode/poderia/poderá ser melhorado dentro de sua
vida profissional.
Ante o que fora dito, é que os estudos atinentes à prática reflexiva do professor,
no que tange sua (trans)formação contínua, têm chamado a atenção de vários
pesquisadores, tais quais: Schön (1983), Zeichner (1993), Telles (2002), Celani e
Collins (2003), Almeida Filho (2007), Silva e Alvarez (2008), Vieira Abrahão (2010),
Jordão, Martinez e Halu (2011), Pimenta (2012), Valadares (2012). Afinal, em meio ao
mundo globalizado em que nos encontramos, no qual a língua estrangeira (inglês), de
acordo com Costa e Gimenez (2011), pode dar ou negar possibilidades àqueles que a
desconhecem, podemos dizer que esse novo mundo é um lugar onde muitas exigências
sobre a formação do professor são requisitadas. Com efeito, de modo que esse não
venha a perder possibilidades devido à falta de preparo, é que surge a necessidade da
termo utilizado doravante será o de formação contínua. Pois continuada, se refere a um verbo em
particípio passado, ação que iniciará e findará. Desse modo, pela ideia que a própria palavra contínua nos
remete a ―algo inacabado, em constante (trans)formação‖, penso ser ela a mais adequada ao presente
estudo.
18
busca pelo conhecimento, pela reflexão e pela (trans)formação continua. É dentro dessa
perspectiva que podemos elencar o que é pontuado por alguns teóricos:
• Alvarez (2010) nos diz que, como vivemos numa era em que as transformações
são constantes e o conhecimento é renovado a cada momento, a sociedade passa a exigir
do profissional de línguas novas capacidades, novas habilidades e acima disso, que ele
busque atualização em sua área permanentemente.
• Almeida Filho (2009) pontua que ao trabalho do professor, se faz
imprescindível a reflexão permanente, a qual deve ser uma constante em sua rotina.
• Contreras (2002) afirma que a capacitação é um dos valores que deveria ser
inquestionável na profissão docente.
• Freire (1997) ressalta que na formação permanente5 dos professores, o
momento crucial consiste no momento da reflexão crítica acerca de sua prática docente,
e, que, ao pensar criticamente sobre essa prática é que o educador terá a possibilidade de
melhorar suas práticas futuras.
• Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 2000, p. 109)
também nos asseveram que os cursos de formação contínua para os professores de
língua estrangeira são caracterizados como contextos de reflexão, os quais dão ao
profissional o fomento necessário para que eles possam (re)pensar sua práxis.
No que concerne a agir com criticidade e reflexibilidade do professor, é que
Almeida Filho (1993) nos afirma que, ao buscar implementar essas modificações em
sua prática pedagógica, o profissional deverá de fato se debruçar neste seu novo modo
de agir, revendo, pesquisando e estudando acerca de cada uma das alterações realizadas
em suas práticas pedagógicas, pois de acordo com o autor, sem reflexão sobre as
alterações produzidas e sem aprofundamento da base teórica, não há garantia de que a
essência da abordagem seja, de fato, re-construída, podendo ocorrer apenas meras
modificações superficiais.
Como mencionado, a formação contínua do professor de LE está intimamente
ligada tanto ao seu crescimento profissional quanto ao aprimoramento de suas técnicas
de ensino. Não obstante, tal prática tende a ―interfacear‖ a (re)construção de sua
identidade. É neste sentido, de o sujeito passar por (trans)formações, e, por conseguinte,
apresentar modificações identitárias, que podemos citar Hall (1990), quando ele nos diz
5
Segundo Silva e Araújo (2005), a ideia de formação permanente no pensamento de Freire é resultado do
conceito da ―condição de inacabamento do ser humano e consciência desse inacabamento‖.
19
que a identidade do sujeito deve ser pensada como um processo em constante mudança.
De acordo com o autor, podemos dizer que a identidade do sujeito deve ser encarada
como uma produção em constante transformação e não como algo fixo e completo.
Ainda nos conceitos atinentes à identidade, podemos salientar que ela é algo que
desenvolvemos durante nossa vida (BEIJAARD; MEIJER; VERLOOP, 2011 apud
AUDI, 2011 p. 297). Com enfoque neste prisma, podemos salientar que a identidade é
construída e ganha amplo significado diariamente, seja com nossas vivências, nossas
crenças, seja com nossas leituras e discussões. Assim, observa-se que a identidade de
um profissional da área de línguas não haveria de ser de outra maneira. Portanto, dentro
desse prisma, podemos dizer que a cada assunto estudado pelo professor, a cada
experiência por ele vivida, é que há a ruptura entre quem ele era e quem ele passa a ser,
a partir do momento em que ele se reorganiza perante ele mesmo, e, por conseguinte,
ante à sociedade; afinal, para Moita Lopes (2002), as identidades sociais são construídas
através de nossas interações, nossos discursos, em suma no nosso dia a dia.
Sendo assim, podemos dizer que a identidade do professor ganha significado e é
(re)construída a partir de suas vivências, estudos, leituras, e, é claro, com suas
experiências. Desse modo, podemos citar Pimenta (2002), quando nos diz que essa
identidade profissional, além de ser construída pelo docente no decorrer de sua carreira
no magistério, é consolidada a partir de seus valores e no modo em que ele se situa no
mundo.
1.2 Contextualização da pesquisa e justificativa
A presente seção está dividida em (05) cinco subseções, nas quais abordamos os
assuntos concernentes aos seguintes itens: o local onde a pesquisa foi desenvolvida e
seus participantes; as razões que nos moveram a realizá-la; as justificativas; as
perguntas de pesquisa que buscamos responder ao longo do trabalho; os objetivos que
queremos alcançar; a metodologia utilizada; e, por fim, a organização do trabalho.
Achamos por bem organizar esse item dessa maneira, com o intuito de facilitar a
leitura/compreensão de nossos leitores. Assim, mesmo saindo um pouco da linguagem e
formalidade que uma dissertação de mestrado exige, supomos que a melhor expressão
para convidar os leitores a apreciarem este trabalho seria ―sejam bem vindos a bordo‖,
e, é assim que daremos início a essa empreitada acadêmica.
20
1.2.2 Sobre o edital, os participantes e o local de desenvolvimento da pesquisa, ou
“Onde tudo começou?”
O objetivo desta seção é o de oferecer informações sobre o curso custeado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (doravante CAPES),
Embaixada dos Estados Unidos da América e Comissão Fulbright Brasil, o qual nos fez
refletir, aprender, conhecer novas perspectivas, e, é claro, desenvolver a presente
pesquisa.
Em setembro de 2012, a CAPES lançou o edital de número nº. 44/2012/CAPES 6
com o intento de ―mobilizar‖ professores de língua inglesa da rede pública brasileira a
participarem de um certame, com vistas a oferecer aos aprovados uma bolsa de estudos
para a realização de um curso intensivo, em língua inglesa, no período compreendido
por (06) seis semanas, em uma das inúmeras Universidades dos Estados Unidos da
América , com os seguintes objetivos, como listados no referido edital:
• Valorizar os profissionais que atuam na rede pública de educação básica;
• Fortalecer o domínio das quatro habilidades linguísticas – compreender, falar,
ler e escrever em inglês – dos professores de língua inglesa da rede pública de educação
básica;
• Compartilhar com os professores metodologias de ensino e avaliação que
estimulem a participação do aluno em sala de aula;
• Estimular o uso de recursos online e outras ferramentas na formação
continuada de professores e na preparação de planos de aula, assim como a utilização de
tecnologias para o desenvolvimento de projetos dos alunos;
• Oferecer uma experiência in-loco em história e cultura dos EUA, para que isso
se torne parte do currículo do ensino de inglês;
• Estimular parcerias com professores americanos, visando futuros intercâmbios
de professores e de alunos entre os dois países.
Vale ainda ressaltar que tal curso a ser desenvolvido nos EUA, segundo o edital
do certame, ofereceria duas modalidades de aulas, sendo elas: a de ―Aperfeiçoamento
Para Professores de Língua Inglesa‖, a qual ofereceria o desenvolvimento de
6
Para mais informações, vide o edital que se encontra nos anexos deste trabalho. Anexo A, p. 119.
21
metodologias de ensino e aprendizagem na língua alvo àqueles que tivessem
conhecimentos avançados na língua; e a segunda era intitulada ―Aprimoramento em
Inglês‖, cujo foco seria o de oferecer aos profissionais a oportunidade de melhorarem
suas habilidades na língua. Sendo assim, os candidatos que obtiveram as melhores notas
foram selecionados para realizar o curso de ―Metodologia‖ e, por outro lado, os que
obtiveram notas mais baixas realizariam o de ―Aperfeiçoamento‖.
No tocante à seleção do certame, essa se deu em duas partes, sendo elas: a
primeira, a escrita de uma ―Carta de Intenções‖, na qual o candidato deveria expor seus
objetivos e ―anseios‖ para com a viagem. Com a intenção de guiar o candidato, algumas
perguntas norteadoras foram colocadas no edital, eram elas:
a) Qual a importância do ensino da língua inglesa para os jovens de hoje?
b) Por que você se considera um bom candidato para este programa nos Estados
Unidos?
c) Quais são suas expectativas com relação a esse programa?
d) Como pretende compartilhar o conhecimento adquirido nos Estados Unidos com seus
alunos, colegas e o sistema educacional na sua cidade e/ou estado? Exemplificar.
Além da carta supracitada, os concorrentes às bolsas de estudo deveriam realizar
um teste de proficiência em língua inglesa ou, como constava no edital, Test of English
Language Proficiency (dovarante TELP), de caráter classificatório/eliminatório a ser
aplicado em várias das regiões brasileiras, cabendo ao candidato a escolha da que lhe
fosse mais próxima ou mais conveniente.
Com isso, foram selecionados os candidatos que fariam parte do programa
denominado Programa de Desenvolvimento Profissional para Professores de Inglês
(doravante PDPI). Entretanto, notei que tal seleção poderia ter sido otimizada se
tivessem acrescido a prova oral, a qual a autora Penny Ur (1996) caracteriza como
intuitivamente a mais importante, e, de acordo com ela, as pessoas que falam uma
língua são caracterizadas como falantes 7. Dentro da mesma perspectiva, a da relevância
da (avaliação) da oralidade, poderíamos até mesmo nos apoiarmos nas palavras de
Consolo (2000), quando ele nos diz que a competência oral é a mais prazerosa dentre as
quatro, pois é nesse momento que o indivíduo tem a possibilidade de se expressar como
agente de seu discurso.
7
Nossa tradução: ―Of all the four skills (listening, speaking, reading and writing), speaking seems
intuitively the most important: people Who know a language are referred to as ‗speakers‘ of that
language, as if speaking included all other kinds of knowing‖ (Ur, 2012, p. 117).
22
Desse modo, os candidatos teriam a oportunidade de mostrar à banca
examinadora um pouco mais suas potencialidades e fragilidades com as quatro
habilidades tão requisitadas nos cursos de inglês e na formação inicial do professor. Não
obstante, tais informações também ajudariam as Universidades anfitriãs a receberem
melhor seus candidatos, com o escopo de que, com a realização da prova oral, elas
teriam mais informações acerca das competências e, quem sabe, das habilidades desse
professor-aluno.
Assim, a Professora Drª Mariana Rosa Mastrella-de-Andrade, que ministrava a
disciplina de ―Identidades no Ensino de Línguas‖ no primeiro semestre de 2012,
comentou conosco acerca do programa e disse que seria uma ótima oportunidade para
nossas vidas profissionais. Disse também que havia participado de um programa
semelhante, o que lhe fora bastante enriquecedor. Chegando à casa, li o edital e vi que
possuía os requisitos necessários para a candidatura. Após longa reflexão, resolvi fazer a
inscrição. Na sequência, realizei a prova e, para a minha felicidade, fui contemplada
com a bolsa para a realização do curso de ―Aperfeiçoamento para professores de língua
inglesa‖ na Drexel University, a qual fica situada na Filadélfia, no estado da
Pensilvânia.
23
Figura 3: Os 50 estados dos Estados Unidos 8
Figura 4: Filadélfia9
Como previu o edital, seriam selecionados até (540) quinhentos e quarenta
professores de todo o país, sendo até (20) vinte por Unidade Federativa. Como fazemos
parte do quadro de professores do Distrito Federal, e tivemos como participantes da
pesquisa os professores da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
(doravante SEEDF), temos como objetivo dar ênfase apenas a esses professores, pois
participamos do mesmo curso e, claro, na mesma universidade.
Do DF foram selecionados (48) quarenta e oito professores, dos quais apenas
(07) sete foram para a Universidade Drexel. De fato, o grupo foi composto por (24)
vinte e quatro profissionais, de escolas públicas dos estados brasileiros e, dentre elas,
Escolas Estaduais, Municipais, Centros de Língua e também Institutos Federais. A
divisão dos professores por UF era a seguinte: (01) um do Acre, (04) quatro do
Amazonas, (07) sete do DF, como mencionado, e (12) doze de São Paulo. Dos
participantes do DF, apenas (03) três aceitaram participar deste estudo e serão eles os
personagens principais, quer dizer, os protagonistas deste trabalho.
8
Fonte:< http://www.joaoleitao.com/viagens/2008/05/06/mapa-estados-unidos-america/>. Acesso em 17
de fevereiro de 2014.
9
Fonte: < https://www.google.com.br/maps/place/PA,+USA/>. Acesso em 17 de fevereiro de 2014.
24
1.2.3 Justificativa de pesquisa, ou melhor, “De onde viemos e aonde queremos ir?”
Vários estudos em Linguística Aplicada (doravante LA), no que diz respeito à
formação contínua do professor, têm sido desenvolvidos por diversos estudiosos no
Brasil e no mundo, Gimenez (2004), Rocha, Tonelli e Silva (2010) Gimenez, Calvo e El
Kadri (2011) e Jordão, Matinez e Halu (2011) para citar alguns. Tais pesquisas nos
mostram que quanto mais o professor busca seu aperfeiçoamento, mais ele terá a
possibilidade de refletir acerca de suas práticas, de suas atitudes e ações como
profissional e, por conseguinte, sua identidade profissional passa a ser (re)construída.
Destarte, ele acaba se (trans)formando a cada leitura feita, a cada mudança de atitude, a
cada curso realizado.
É neste sentido, o de contrastar a questão da (trans)formação contínua do
professor de LE e a (re)construção de sua identidade, que a presente pesquisa tem o
intento de versar. Pois à medida que o profissional busca novas competências, novos
saberes e novos conhecimentos, ele passará a se posicionar de outra maneira na
sociedade, revendo assim seu modo de agir na qualidade de professor, suas teorias e, em
suma, sua práxis. Logo, ao posicionar-se diferentemente de outrora, ele terá sua
identidade (re)construída, deixando de ser quem era e tornando-se outro, com mais
leituras, mais reflexões, mais autonomia. Para tanto, este estudo é movido pelo anseio
de verificar se esses membros da área da linguagem (os professores de LE participantes
do curso de metodologias na Universidade Drexel) veem suas práticas pedagógicas
como aquelas apontadas pelos teóricos: Zeichner & Liston, (1996); Alemida Filho
(1999); Celani (2003) Vieira-Abrahão, (2004) e Gimenez & Monteiro (2010), para citar
alguns, e também se eles, dentro de seus discursos identitários, consideram-se, de fato,
professores reflexivos; e, de que maneira isso é colocado em prática dentro de sua
profissão, quer dizer, como a prática reflexiva é manifestada no cotidiano deles.
Afinal, como apontado por Alvarez (2010), ser professor de LE na
contemporaneidade requer do profissional novos saberes e novas competências e é
devido a isso que esse profissional deve estar em constante formação, revendo conceitos
que traz consigo, realizando novas leituras, discutindo acerca de novas possibilidades,
(re)pensando suas práticas pedagógicas e refletindo acerca delas e assim,
(trans)formando-se diariamente. Corroborando as palavras de Alvarez (2010), podemos
citar Rajagopalan (2011) quando ele nos diz que o ensino de língua inglesa no mundo
25
globalizado nos mostra que vivemos em novos tempos e que estes demandam novas
maneiras de abordar a língua, e é nesse momento que nos damos conta de que muitos
dos nossos conceitos já não servem mais, e uma mudança, uma reflexão acerca disso é
imprescindível.
Dessa maneira, queremos mostrar através desta pesquisa a importância que a
(trans)formação contínua tem para o professor de LE, o qual precisa vê-la e entendê-la
como uma ferramenta de trabalho, pois à medida que ele refletir sua práxis, ele se
posicionará de maneira mais crítica e deixará de ser apenas um reprodutor das técnicas e
teorias aprendidas na academia e tornar-se-á autor delas; um profissional crítico e
qualificado para atender às novas exigências do mundo e, mais que isso, (re)contruindo
sua identidade profissional de modo a não se ver como um simples professor de LE e
sim como um profissional com valor social, capaz de ―contribuir para que a população
brasileira amplie suas capacidades discursivas, pois não há inclusão social sem
letramento, e nesse sentido o papel do professor de línguas é fundamental‖ (ALVAREZ,
2010, p. 247).
Assim, ao buscar por essa (trans)formação contínua, o profissional de LE terá
sua prática docente iluminada pelas novas teorias por ele estudadas e, leituras
realizadas, discussões feitas, e por conseguinte, além de ter suas práticas melhor
embasadas, ele poderá adequá-las às necessidades de seu cotidiano, sua realidade, e é
claro, a realidade de seus alunos. Portanto, a busca permanente pela formação e
(trans)formação contínua oferecerá ao professor de LE a capacidade de conviver com o
novo, entender e ver de maneira ―nova‖ as mudanças que lhes são impostas, fazendo
dele um produtor de conhecimentos, um formador de opiniões, de novas possibilidades
e de novos saberes.
1.2.4 A importância pessoal do estudo ou “Como obtive uma mudança tão
significativa em minha trajetória acadêmica?”
No ano de 2011, a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
juntamente com a Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais de Educação (doravante
EAPE), fizeram uma parceria com o Núcleo de Extensão (doravante NEx) e o Programa
de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (doravante PGLA) da Universidade de
Brasília, com o objetivo de oferecer aos professores de LE um curso de formação
26
contínua em um ambiente que os fizesse refletir, (re)pensar suas práticas docentes e
permear pelas diversas áreas do conhecimento da Linguística Aplicada. Esse curso,
chamado de ―Refletir‖, tinha uma carga horária de 40 horas/aula, sendo elas divididas
em onze módulos. Os encontros, que eram semanais, se deram no período de 01/04/11 à
01/07/2011, sendo que a cada semana um dos professores do programa ficaria
responsável por abordar um assunto da grande área da LA. Como temos na tabela
abaixo:
Tabela 1 – Programação do Curso Refletir
Data do Encontro
Tema do Encontro
Professor
01/04/2011
Formação Reflexiva dos
Professores de Línguas e a
Perspectiva das Competências
Ensino Comunicativo de
Língua(s)
Dr. José Carlos Paes de
Almeida Filho
Dramatizações no ensino de
LE para o desenvolvimento
da competência comunicativa
Experiências, crenças e
identidades do professor de
LE
Dra. Maria da Glória
Magalhães Reis
08/04/2011
15/04/2011
29/04/2011
Dr. José Carlos Paes de
Almeida Filho
Dr. Kléber Aparecido Silva
06/05/2011
O ensino da gramática
Dra. Mariana R. Mastrellade-Andrade
Dr. Kléber Aparecido Silva
13/05/2011
(Multi) Letramentos Digitais
e o ensino de línguas
20/05/2011
O processo de avaliação
Dra. Vanessa Borges de
Almeida
25/05/2011
A relação entre língua e
cultura
Dra. Lúcia Barbosa
03/06/2011
Ensino de leitura em LE
10/06/2011
O uso de dicionários no
ensino de LE
Dra. Mariana R. Mastrellade-Andrade
Dr. Herbert Andreas Welker
17/06/2011
Professores de língua(s) e a
pesquisa
Dr. Augusto César Luitgards
Moura Filho
Fonte: http://pgla.unb.br/nex/index.php/csos10
10
Fonte: <http://pgla.unb.br/nex/index.php/csos>. Acesso em 12 de dezembro de 2013.
27
O cartaz que convidava os professores de LE para fazerem parte do curso dizia o
seguinte:
O título do curso, ‗REFLETIR‘, pretende evocar, não apenas a importância
da prática reflexiva do professor de línguas, mas, numa perspectiva ainda
mais ampla, sugerir através da metáfora do reflexo, as contribuições que o
projeto poderá apresentar, refletindo em mudanças, e (re)significações para
uma maior qualidade do ensino de línguas nos contextos de atuação dos
professores participantes11.
Foi por meio do curso ―Refletir‖ que resolvemos dar uma ―segunda chance‖ à
vida acadêmica, pois após ter participado de um curso de especialização em língua
inglesa e passado por inúmeros dissabores, resolvemos que a vida acadêmica havia
perdido o encanto, e, já não valia mais insistir nela.Entretanto, quando surgiu a
oportunidade de fazer um curso na Universidade de Brasília, com professores tão
qualificados, demos, enfim, uma ―nova chance‖ à vida acadêmica e concretizamos tal
oportunidade com a realização da inscrição.
No desenrolar do curso, em meados de maio, o PGLA abriu suas inscrições para
a seleção de candidatos às vagas do mestrado e muitos dos professores que participavam
do curso comentavam acerca do edital, de seus pré-projetos, suas linhas de pesquisa,
seus possíveis orientadores... Enfim, ao ouvir tudo aquilo, nos ocorreu uma vontade
imensa de também realizarmos a inscrição. Contudo, não havia o sentimento de estamos
preparados para galgar tais sonhos naquele momento. Assim, após a conclusão do curso
―Refletir‖, notou-se a possibilidade de realizarmos a inscrição para ―aluno especial‖ na
disciplina ―A Formação do Professor de Línguas‖, a qual seria ministrada pelo meu
futuro orientador, o Professor Dr. Kleber Aparecido da Silva. A referida disciplina tinha
como sua ementa e seus objetivos12:
Ementa: Estudos dos intervenientes na formação de professores de
língua(s) e o estado-da-arte da pesquisa no tema.
Objetivo(s): Por meio da análise de teorias e pesquisas contemporâneas,
objetiva-se aprofundar a discussão sobre a (re) construção do conhecimento
teórico-prático do professor de línguas, os diferentes modelos de formação pré e
em serviço, a formação do professor na/para a tecnologia e o perfil e a formação
do professor formador levando-se em consideração as demandas da
contemporaneidade.
11
12
Fonte: <http://www.pgla.unb.br/nex/index.php/csos/fp/refletir>. Acesso em 12 de dezembro de 2013.
Disponível em: <http://let.unb.br/pgla/?page_id=1160>. Acesso em: 17 de dezembro de 2013.
28
Tratando-se de uma disciplina tão abrangente, na qual tivemos a oportunidade de
―transitar‖ pelas diversas sub-áreas da LA, tivemos a oportunidade de conhecer um
pouco mais sobre cada um dos aspectos que fazem parte da formação do professor de
línguas. Dessa maneira, com as teses, dissertações e artigos lidos, assim como com as
discussões advindas dos seminários e das aulas expositivas, tivemos a possibilidade de
suscitar ideias e ampliar nosso arcabouço teórico para pensarmos na possibilidade da
participação do processo seletivo que aconteceria naquele semestre, pois com a
participação na disciplina havíamos recebido insumo suficiente para a elaboração de um
pré-projeto de pesquisa, o qual se trata de uma das exigências do processo seletivo do
PGLA.
Assim, no mês de outubro do mesmo ano, o PGLA lançou o edital para a seleção
dos candidatos às vagas de mestrado para o primeiro semestre de 2012. A vontade de
participar da seleção veio novamente à tona, entretanto, as dúvidas acerca de darmos
continuidade à vida acadêmica ainda estavam presentes. Assim, resolveu-se dialogar
acerca disso com o Professor Dr. Kleber e, com todo seu apoio, demos início às leituras.
Devido a todos os pontos positivos que o curso ―Refletir‖ fomentou em nós, assim
como a questão da (trás)formação contínua, que é encantadora, nos debruçamos nos
estudos atinentes a ela. Escrevemos o pré-projeto nessa linha de pesquisa, fizemos a
inscrição para o processo seletivo e, felizmente, o resultado foi positivo.
Assim, nosso projeto inicial versava acerca dessa formação contínua oferecida
pelo (NEx – PGLA), pois tinha-se o intuito de observar a próxima edição do curso
―Refletir‖ e lá coletar os dados, realizar as entrevistas, tomar as notas de campo, etc.,
com vistas a verificar de que maneira a formação contínua contribuiria para a prática
docente desses professores e como essa (trans)formação modificaria a identidade
profissional desse professor de LE. Entretanto, ou melhor, infelizmente, a segunda
edição do ―Refletir‖ não aconteceu. Destarte, cogitou-se a possibilidade de verificar a
existência de outros cursos de formação contínua para a realização da pesquisa, a qual
deveria acontecer em determinado período devido às exigências feitas pelo próprio
departamento e pela CAPES. Foi nesse ínterim que a Professora Drª Mariana Mastrella,
que ministrava a disciplina ―Identidades no Ensino de Línguas‖, como mencionado
anteriormente, nos encorajou a participar do PDPI e foi nesse programa que vimos a
oportunidade de desenvolver a presente pesquisa, a qual teria a mesma essência da que
29
havia sido proposta por mim inicialmente no pré-projeto, mas, em um contexto
completamente diferente.
Desse modo, o que nos moveu a realizarmos esta pesquisa foi verificar de que
maneira a formação contínua pode contribuir na vida do professor de LE, fazendo com
que ele repense suas atitudes, sua práticas pedagógicas, se auto-avalie continuamente,
reflita acerca do modo como trabalha os mais variados conteúdos com seus alunos,
como ele pode fazer a sua parte para a educação realmente ter o valor que precisa e
merece, e entender o porquê é de suma importância formar-se continuamente. Enfim,
sair de sua zona de conforto e fazer o mínimo para buscar inquietações que o motivem a
dar, ou melhor, a oferecer seu máximo à educação brasileira que precisa de pessoas
empenhadas, dedicadas e sedentas por novos saberes, novos conhecimentos, novas
empreitadas. Afinal, da mesma maneira que buscamos estar em consonância com o que
é novo e pode trazer benefícios a nossa sala de aula e comunidade escolar, os outros
também podem fazê-lo.
Por outro lado, não se pretende com esse trabalho afirmar que todos os
professores têm de ser pesquisadores, e, que, somente ao buscarem um curso de pósgraduação eles se tornarão professores reflexivos, não é isso. Queremos sim, tentar
mostrar a eles, através dos resultados da presente pesquisa, que quando nos damos a
chance de buscar progredir, de participarmos de formações contínuas e temos a
oportunidade de dialogar com pessoas que passam pelos mesmos percalços que
passamos, teremos a possibilidade de agregar valores, conhecimentos, experiências e
que, consequentemente, juntos nos tornamos mais fortes e podemos desvendar esses
mistérios que o ensino de línguas nos traz. E mais que isso, teremos mais autonomia
para fazermos novas propostas, irmos ao encontro de novas empreitadas com mais garra
e nos tornamos assim, pesquisadores de nossas salas de aula, nossas escolas. Não
obstante, teremos a vontade de fazermos nossos trabalhos com grandes objetivos, e, não
apenas pelo famoso e velho ―fazer por fazer‖.
1.2.5. A importância científica e social do estudo ou “Quais as implicações dessa
pesquisa para o bojo da Linguística Aplicada?”
Tendo em vista a importância da formação contínua para o professor de LE, bem
como o modo com que sua identidade pode ser (re)construída em consonância com tal
30
formação, espera-se que o presente trabalho possa colaborar com a vida
acadêmica/reflexiva desses profissionais, e, também, em despertar neles o interesse pela
formação contínua. Afinal, ecoando Gimenez (2005), investir na formação de
professores, de modo geral, é contribuir para transformações sociais, quer dizer, à
medida que se investe no professor, ou ele mesmo o faz, a sociedade passa a ter a
possibilidade de ―receber‖ um professor melhor preparado para atender as exigências do
mundo globalizado. Dessa maneira, ao trilhar esse caminho para as novas
descobertas/novos conhecimentos o professor de LE será caracterizado, segundo
Gimenez (2005), como o profissional da linguagem tão almejado pelo novo milênio,
sendo ele um profissional que por estudar, ler e se atualizar/formar, constantemente terá
autonomia e refletirá sobre as decisões a serem tomadas. Pois, ao agir dessa maneira, o
professor deixará de ser mero reprodutor de teorias (coadjuvante) e passará a ser um
docente questionador (protagonista) e consciente de suas ações.
No que diz respeito à (re)construção da identidade profissional do professor,
pretendemos verificar com esse estudo o que Kleiman (2001) havia nos pontuado ao
dizer que identificar como a identidade do professor de línguas é construída é
indispensável para seu crescimento bem como para o do ensino de línguas de uma
forma geral. De fato, ao entender que sua vida profissional é um processo de
desenvolvimento constante como a língua que ensina, e, por conseguinte, como algo
inacabado, ou melhor, em permanente construção é que o professor terá sua identidade
recriada e verá a possibilidade de mudar, de refletir sua prática, de reconstruir sua
identidade enquanto professor, e, assim evoluir constantemente.
Nesse caminho, o presente estudo tem como propósito enfatizar a importância da
formação contínua na vida dos professores de LE, pois ao buscarem essa formação
serão capazes de oferecer tanto aos alunos, à comunidade escolar do local onde
trabalham, sociedade de forma geral e a si mesmos, possibilidades de reflexão, de
competência na profissão que exercem, com o objetivo de desmistificar para a
sociedade que a questão do ―não é possível aprender inglês na escola pública devido à
má formação de seus professores‖ não passa de uma concepção errada do senso comum.
E, mais que isso, de reforçarmos o argumento de que a (trans)formação contínua deve
ser vista como um mecanismo capaz de transpor as barreiras existentes entre a teoria e a
prática. Afinal de contas, um dos principais papéis da LA, como nos pontua Gimenez
(2005, p. 192), é o de fazer com que não haja divisão entre elas.
31
Por fim, este estudo também visa mostrar ao Governo do DF, à SEEDF e demais
órgãos responsáveis pelo ensino público do DF quão significativa é a oferta de cursos
no âmbito da formação contínua, pois só com professores de LE qualificados seremos
capazes de oferecer aos alunos das escolas públicas aulas que os façam aprender a
língua alvo e não apenas treiná-los para fazerem verificações de aprendizagem ou
exercitarmos seus ouvidos a escutarem a famosa ―não entendo o porquê de oferecerem
aulas de LE na escola se meu filho não aprende nada... melhor seria se retirassem essas
disciplinas e aumentassem a carga horária de matemática‖. Com professores de LE
reflexivos e qualificados supomos que também deixaríamos de ouvir ―por que tenho de
aprender uma LE se não sei falar nem português?‖. Dessa maneira, com o intuito de
melhorarmos a formação dos professores de LE do DF e oferecermos aos alunos um
ensino de LE de qualidade, bem como contribuirmos com mais um estudo na área de
LA é que propomos essa pesquisa.
1.2.6 Objetivos e perguntas de pesquisa ou “O que queremos e como faremos para
tal?”
Na presente seção apresentamos os objetivos que serão norteadores na pesquisa,
como segue:
1. Analisar de que maneira três professores participantes do Programa de
Desenvolvimento Profissional para Professores de Inglês (PDPI), promovido pela
Drexel University, avaliam seu aprimoramento profissional e como pretendem divulgar
e colocar em prática o conhecimento construído no curso.
2. Verificar se, na perspectiva dos participantes, foram oferecidos subsídios durante o
curso para que esses profissionais se tornassem ou aperfeiçoassem seu lado professor
reflexivo e como ser um professor reflexivo pode ou poderia (re)construir a identidade
profissional desses professores.
3. No que tange o aperfeiçoamento profissional, investigar as vantagens e desvantagens
de se buscar a formação contínua no exterior.
Com a intenção de alcançarmos os objetivos apresentados acima, procuraremos
obter respostas adequadas às seguintes perguntas:
32
1. Como os participantes da pesquisa avaliam seu aprimoramento profissional e como
pretendem divulgar e colocar em prática o conhecimento construído no curso oferecido
na Drexel University?
2. De que maneira a realização do curso de formação contínua para professores de
inglês realizado nos EUA pôde contribuir para a formação reflexiva, assim como para a
(re)construção identitária desses professores?
3. No que se refere ao aperfeiçoamento profissional, quais as vantagens e desvantagens
de se buscar a formação contínua no exterior?
1.2.7 Organização da pesquisa ou “Como deixar o trabalho mais vistoso?”
Este estudo está organizado da seguinte maneira: iniciamos o primeiro capítulo
com uma breve introdução, fazendo um apanhado sucinto no que tange à
fundamentação teórica. Na sequência, foram apresentados alguns dados acerca dos
participantes da pesquisa e do local onde ela foi desenvolvida. A posteriori, expomos os
objetivos para sua realização, bem como as perguntas de pesquisa que buscamos
responder ao longo de trabalho e, por fim, a metodologia de pesquisa que utilizada.
Por outro lado, no que se refere aos capítulos subsequentes deste estudo,
podemos dizer que estão assim organizados: no segundo capítulo, fazemos uma
abordagem ampla à fundamentação teórica, a qual embasa e norteia a pesquisa. No
terceiro apresentamos a metodologia de pesquisa escolhida e delineamos os
procedimentos metodológicos escolhidos. Já no quarto, temos a análise e discussão dos
dados coletados, onde faremos a triangulação dos dados e os correlacionaremos aos
pensamentos/ideias dos teóricos apresentados previamente. Na sequência, adentramos
ao quinto capítulo, fazendo as considerações finais. Nesse momento faremos uma
retomada ao que apresentamos no início do trabalho, com o intuito de alinhavar o que
havia sido apresentado como, por exemplo, os objetivos e as perguntas de pesquisa, e
verificar se os objetivos foram alcançados e as perguntas respondidas adequadamente.
Ainda nessa seção, discorremos acerca das contribuições que esta pesquisa trará à
grande área da LA.
1.2.8 Retomando o capítulo ou “Vale a pena lembrar!”
33
Ao término de cada capítulo, teremos uma seção intitulada ―Retomando o
capítulo‖, no qual temos a intenção de ―guiar‖ o leitor e, de fato, retomar o que foi
discorrido ao longo do capítulo. Neste que concluímos, por exemplo, fizemos um breve
apanhado dos trabalhos que têm sido desenvolvidos na área de LA sobre formação
contínua, (re)construção identitária e a importância de termos o professor reflexivo.
Também falaremos acerca do local em que a pesquisa foi desenvolvida, das perguntas
de pesquisa que norteiam o trabalho, o porquê de sua escolha e como pretendemos fazer
contribuições científicas com ele. Por fim, falamos da organização da pesquisa, ou
melhor, como os capítulos estão divididos ao longo da dissertação.
34
CAPÍTULO II
APOIADOS EM GRANDES IDEIAS PODEMOS IR ALÉM
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Figura 5: Apoiados em grandes ideias13
―A educação é permanente não por que certa linha
ideológica ou certa posição política ou certo
interesse econômico o exijam. A educação é
permanente na razão, de um lado, da finitude do ser
humano, de outro, da consequência que ele tem
finitude. Mas ainda, pelo fato de, ao longo da
história, ter incorporado à sua natureza não apenas
saber que vivia, mas saber que sabia e, assim, saber
que podia saber mais. A educação e a formação
permanente se fundam aí‖
(FREIRE, 1997 p. 20)
Neste capítulo, discorremos e descrevemos cada um dos construtos que norteiam
este estudo, ou seja, é nele que apresentamos o referencial teórico, o qual embasa as
ideias apresentadas que são de suma importância para a análise de dados.
2.1. O professor reflexivo e sua formação contínua
Como salientado logo no início desta pesquisa, a formação contínua bem como a
reflexão do professor são temas que têm gerado vários estudos em Linguística Aplicada,
13
Figura
5:
Apoiados
em
grandes
ideias.
Disponível
em:
<http://mokusen.wordpress.com/2012/12/06/estufa-de-ideias/> Acesso em 03 de março de 2014>. Acesso
em 06 de março de 2014.
35
devido às falhas que são encontradas na formação de professores em pré-serviço e em
serviço. Segundo Vieira-Abrahão (2010):
[...] a aprendizagem docente como prática reflexiva é fundamentada no
pressuposto de que o professor aprende da experiência pessoal por meio da
reflexão focalizada na natureza e no significado das experiências de ensino. É
por meio do processo reflexivo sistematizado que o professor analisa e avalia
seus objetivos, suas próprias ações, em sala de aula, buscando compreender
suas origens e consequências para o aluno, para a escola e para a sociedade
como um todo. Por meio da reflexão, busca-se o desenvolvimento
profissional permanente (VIEIRA-ABRAHÃO, 2010, p.229).
Tendo como referência as palavras da autora, podemos pontuar que se formar
continuamente faz com que o professor amplie suas habilidades, busque desenvolver
maior compreensão acerca de suas práticas e passe a se avaliar como profissional,
tornando-se, assim, o almejado profissional dessa nova era, calcada no conhecimento e
na reflexão.
A partir das considerações feitas, e com base nas palavras de Vieira-Abrahão
(2010), é que notamos quão importante são os professores (trans)formadores e
reflexivos, sendo eles aqueles que valorizam, dentre outras coisas, a construção do
conhecimento e do saber. São eles que, de acordo com a autora, passam de meros
reprodutores de teorias, às quais são veiculadas pelas academias, a profissionais
produtores de suas próprias teorias, sendo essas elaboradas e corroboradas por suas
práticas diárias. Dentro dessa perspectiva, as palavras de Moita Lopes (1996) citado por
Martins (2005) corroboram o que fora dito pela autora nas linhas acima
De maneira muito semelhante, formar o professor teórica e criticamente seria
envolvê-lo em uma auto-educação contínua propiciada pela adoção de uma
atitude de pesquisa em relação a seu trabalho. Ele deixaria de ser um ―mero
executor de métodos‖ desenvolvidos por pesquisadores que estão fora de sua
sala de aula, para se tornar um profissional envolvido numa reflexão crítica
sobre seu trabalho (MOITA LOPES, 1996, apud MARTINS 2005, p. 196).
De acordo com Leffa (1998), podemos dizer que a sociedade contemporânea
urge por uma educação revitalizada no âmbito do ensino de LE. É devido a isso que
tantos métodos são criados e oferecidos pelas mais diversas instituições de ensino e
pelos pesquisadores. Isso se dá pelo simples motivo de essa sociedade buscar
profissionais que saibam se expressar, mostrar suas opiniões, se posicionarem (tanto em
sua língua materna quanto na LE) como cidadãos que têm suas peculiaridades, anseios,
questionamentos. E é devido a isso que nós professores de LE somos cobrados a nos
36
tornarmos profissionais reflexivos, pois é a partir disso que estaremos aptos a
fornecermos a nós, aos nossos alunos e colegas de profissão mecanismos para a
construção de novos conhecimentos e de novos saberes. Entretanto, temos de estar
cientes que essas mudanças e que o desenvolvimento reflexivo, como nos aponta Celani
(2002), são bem mais fáceis de serem ditos que feitos.
Nesse mesmo sentido, é que Almeida Filho (1999) também nos aponta que o
processo de mudança de habitus14 ocorre no momento em que o professor, além de
desejar a mudança, busca formas de iniciar essa transformação. Considerando essa
perspectiva de mudança, Almeida Filho (2009) nos afirma:
A consciência do que somos (que abordagem temos) e do que fazemos (que
competências revelamos em configurações específicas) é um grande e
necessário passo no processo de desenvolvimento e mudança que nos
colocamos com desejo, mas essa consciência precisa de outros ingredientes
de refinamentos na abordagem. O primeiro é a garantia de uma dinâmica que
mescle consciência e ensino continuado que permita vislumbrar aspectos
diferenciais concretos no ensino produzido. O segundo, é o acoplamento de
uma dieta de leituras relevantes que desvelem as teorizações em
pressupostos, arcabouços e modelos contribuídos pelos autores, teóricos, e
pesquisadores lingüistas aplicados (ALMEIDA FILHO, 2009, p. 20).
Já Ortiz (2003) salienta que é pela (re)construção dos seus conceitos e visões que
o profissional poderá fazer alterações em suas práticas, de modo que ele venha a decidir
o que será melhor para sua realidade. Assim, de acordo com a autora, ao passo que o
professor se aproxima da teoria e amplia seu arcabouço teórico, ele poderá decidir, ante
ao que fora estudado, o que se faz melhor a ser aplicado em sua prática. Adquirindo
assim, confiança e autonomia em suas práxis e discursos em sala, além de beneficiar
seus estudantes oferecendo-lhes ensino/aprendizagem de qualidade.
Conforme o que fora apontado e discutido acerca do professor reflexivo, assim
como da formação contínua, podemos afirmar que é de suma importância que o
professor busque refletir sobre suas práticas pedagógicas, à luz das teorias, para com
isso encontrar soluções plausíveis para os problemas e dificuldades que ele encontra em
seu cotidiano. Ecoando Basso (2008), a competência reflexiva é um ―coringa‖ desse
novo milênio e, é com ela que o professor de LE poderá fazer os ajustes necessários
para melhor atender as suas necessidades e as de seus alunos. A autora também afirma:
14
Bordieu (1991, p.16) define ‗habitus como ―um conjunto de tendências que predispõem os agentes a
agir e reagir de determinadas maneiras, gerando práticas, percepções e atitudes que são regulares sem
serem conscientemente coordenadas e governadas por regras‖.
37
[...] o ponto mais crucial dessa competência é despertar no profissional a
consciência do que sabe e do que não sabe, do que está bom e do que precisa
mudar, e, neste caso, buscar formação continuada que o leve a engajar-se em
cursos, participar de seminários e congressos, tanto para suprir suas
deficiências, quanto para manter-se atualizado na sua área (BASSO, 2008, p.
146).
Encerrando a seção, gostaríamos de salientar que se formar continuamente e
fazer do ato de refletir nossos atos como profissionais de línguas não se trata de uma
tarefa simples, pelo contrário, requer de nós uma busca constante pelo conhecimento,
por alcançarmos os patamares mais elevados do saber. Contudo, cabe a nós termos a
consciência de fazermos essa busca e sabermos que através dela encontraremos os
mecanismos necessários para nos formarmos criticamente, assim como aos que nos
cercam, e fazermos com que o ensino de LE no DF e no Brasil (partindo de uma visão
‗micro‘ a uma ‗macro‘) seja visto com outros olhos, com um olhar que dê aos
professores subsídios para continuarem se (trans)formando e colhendo frutos do saber.
2.2. A (re)significação da identidade do professor de LE
Por outro lado, no que diz respeito à identidade do professor, podemos dizer que
à medida que o professor busca essa (trans)formação contínua, como pontuado
anteriormente, ele (re)constrói sua identidade, vendo-se assim de uma maneira
diferente. Segundo Hall (2000), a identidade do sujeito pode ser vista como uma
construção sem fim, como um processo nunca completado, ou seja, como uma obra em
constante modificação, sempre em processo. O autor também acrescenta que a nossa
identidade é constantemente pautada e reiterada em nossos discursos, práticas e, ainda,
pelos posicionamentos que tomamos nas diversas situações do dia a dia, o que nos
mostra (como dito outrora) que ela está em constante processo de mudança, de
transformação.
Ainda no tocante identidade do professor, é de suma importância salientarmos
que essa identidade deve ser tratada não como uma característica fixa, mas como nos
asseveram Mastrella-de-Andrade e Norton (2011) como aquelas que são construídas e
reproduzidas e ganham sentido, ante as interações que fazemos em nosso cotidiano.
Assim, as identidades são consideradas cambiantes, fragmentadas, fluidas, em constante
(re)construção. Nesse mesmo viés, temos as palavras de Woodward (2000), quando nos
diz que
38
É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos
sentido à nossa experiência e àquilo que somos [...]. A representação,
compreendida como um processo cultural, estabelece identidades individuais
e coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia fornecem
possíveis respostas às questões: Quem sou eu? O que eu poderia ser? Quem
eu quero ser? (WOODWARD, 2000, p. 17).
Além do que fora mencionado no parágrafo anterior acerca da identidade do
professor, faz-se plausível citar Hall (2000) em sua explanação sobre identidades, e
fazermos uma ponte entre aquilo que é dito pelo autor e a ideia de (re)construção da
identidade do professor de LE, quando esse a (re)constrói e reflete sobre seu papel
enquanto profissional, como segue:
As identidades parecem invocar uma origem que residiria em um passado
histórico com o qual elas continuariam a manter uma certa correspondência.
Elas têm a ver, entretanto, com a questão da utilização dos recursos da
história, da linguagem e da cultura para a produção não daquilo que somos,
mas daquilo no qual nos tornamos. Têm a ver não tanto com as questões
―quem nós somos‖ ou ― de onde viemos‖, mas muito mais com as questões
―quem podemos nos tornar‖, ―como nós temos sido representados‖ e ―como
essa representação afeta a forma como nós podemos representar a nós
próprios (HALL, 2000, p. 109).
Diante das considerações identitárias feitas, as quais nos mostram que a nossa
identidade é construída a partir das posições por nós assumidas, como nos diz
Woodward (2000), e também com as posições que contraímos, ou até mesmo pelos
grupos aos quais nos identificamos e, por conseguinte, nos afiliamos, é que essa
identidade de professor reflexivo, aquele que está buscando a formação contínua por
novos saberes e pela reflexão, que podemos dizer que a sua identidade se encontra em
constante mobilidade. Além disso, podemos ecoar Mastrella (2007) quando ela diz que
tratarmos da identidade do sujeito que busca a aprendizagem nos permite lidar com
questões individuais e sociais de forma mais equilibrada, de modo a não dissociarmos o
sujeito de seu contexto, vendo-o assim, como um modelo em constante formação e
transformação.
Por fim, vale salientar a relação existente entre identidade e discurso, já que
neste estudo nos propomos a analisar a identidade de professores (por meio de suas
respostas) em (trans)formação contínua, que buscam a partir dessa formação, tornaremse profissionais mais capacitados, e, como dito anteriormente, reflexivos. Segundo Irala
(2010),
A relação entre discurso e identidade nos ajuda a compreender, como
professores, diferentes situações que nos são apresentadas quando se pensa a
complexidade das questões de linguagem, do ensino de línguas, da relação
39
entre os sujeitos falantes das mais variadas línguas e também entre os
sujeitos-alunos e sujeitos-professores (IRALA, 2010, p. 186)
Dessa maneira, podemos dizer que os discursos, assim como as identidades são
compostos por contradições, afinal as identidades são compostas e marcadas pela
diferença, pela contradição, pela instabilidade. Desse modo, podemos nos apoiar nas
palavras de Silva (2000), quando ele nos diz que a identidade e a diferença são
resultantes de atos da linguagem, sendo elas formadas na e pela língua(gem).
Assim, finalizamos esta seção tendo em mente que a (re)construção identitária
do professor ganha significado diariamente ante suas atitudes para consigo e para com
outros indivíduos e que à medida que o profissional se capacita, reflete suas práticas
pedagógicas, realiza novas leituras e compartilha novas experiências, sua identidade já
não será a mesma, pois haverá a ruptura entre o professor que ele era e aquele que
passou a ser após essas novas vivências. Não obstante, podemos ressaltar que a
identidade do professor também se (re)constrói socialmente, como afirma Calvo (2011),
as vozes e os olhares que os outros cidadãos têm acerca do professor também faz com
que sua identidade seja modificada constantemente, fazendo dela dinâmica, fluída e
constantemente alterada.
2.3 A formação contínua como uma fonte inesgotável de saber e de reflexão
Considerando o que foi dito anteriormente, formar-se continuamente é uma das
necessidades dos docentes deste século, haja vista que a sociedade hodierna, como nos
aponta Buzato (2001), traz consigo múltiplos saberes e conhecimentos devido à
facilidade de encontrarmos os mais diversos tipos de informação nos ditos
―ciberespaços‖. Nesse tocante, é de suma importância que o professor de línguas
estrangeiras ande sempre lado a lado com a (trans)formação do mundo, como observa
Leffa (2001) ao dizer que o professor de LE é um profissional que deve estar
constantemente em formação contínua e por isso é necessário que ele esteja sempre se
aperfeiçoando, buscando se atualizar de forma a acompanhar as mudanças que
acontecem no mundo e, assim, tornar-se capaz de provocar mudanças.
É dentro dessa esfera que propomos a ideia de que a formação contínua deve ser
como uma fonte de saber/refletir inesgotável, ou como fora proposto por Celani e
Collins (2003), como um processo sem fim. De acordo com as referidas autoras, é na e
40
pela formação contínua que o professor será capaz de oferecer a seus estudantes aulas
de qualidade, tornando-se assim não apenas um profissional que transmite aquilo
aprendeu em seus cursos, mas sim um multiplicador do saber. As pesquisadoras
também nos asseveram que o processo de formação contínua é o lugar onde nos
deparamos com a reflexão e a ação, e nesta formação que podemos detectar o que
precisa ser mudado, como tal mudança deve acontecer e por quê.
Entretanto, para que essas mudanças ocorram é necessário que os professores de
LE procurem se auto-avaliar, repensem suas ações, avaliem seus objetivos, e, busquem
discutir criticamente suas ações dentro e fora da sala de aula, em um processo que
Kemmis (1987) intitula de reflexão crítica. Para o autor, este tipo de reflexão não se
trata meramente de um pensar de forma crítica e sim de se posicionar na história de uma
situação, participando assim de uma ação social e principalmente de tomadas de
decisões.
Corroborando a ideia apresentada por Kemmis (1987), podemos dizer que dentro
do bojo da formação contínua, a qual deve ser sempre buscada, (re)pensada e (re)criada
pelo professor de línguas, deve estar o anseio pela reflexão crítica, do encontro com o
novo, do desvelar de novas teorias, da sagacidade pela mudança, de ir ao encontro de
novas empreitadas. Contudo, é necessário que esse profissional tenha foco em seu
desenvolvimento, pois mudanças podem ser entendidas como processos complexos e
morosos e se não houver comprometimento no desenrolar desse conflito, não será
possível chegar a tão almejada construção da reflexão crítica, da ruptura entre o
professor ―formado‖ e o que se ―forma‖ e se ―(trans)forma‖ constantemente.
E é nessa gênese que Fullan (1993 apud CELANI e COLLINS, 2003, p.81) vem
ao encontro do que mencionamos no parágrafo anterior, quando nos informa que os
professores são considerados agentes e não vítimas da mudança. O referido autor ainda
ressalta que tais mudanças demandam certos esforços e trazem consigo confusão,
desconforto e também requerem o desenvolvimento de mecanismos para a realização de
questionamentos e atualização dos mapas mentais de forma contínua. Essas mudanças
ainda exigem dos profissionais uma maneira de pensar continuamente de forma aberta
para o próximo paradigma e os adjacentes que surgirem. Em contrapartida, nesse
modelo de trabalho, os problemas são abraçados por aqueles que os enfrentam, que vão
em busca de soluções, que têm sede pelo saber, a esses chamamos professores que se
formam incessantemente.
41
Dentro desse panorama, de que a formação contínua do professor de LE seria
como uma fonte copiosa de reflexão e conhecimentos, é que vamos ao encontro da
metáfora proposta por Sousa (2003)15, na qual ela compara os educadores a navegantes,
que passam por tormentas na busca pela (trans)formação e da reflexão. De acordo com a
autora, os professores são seres que singram nos mares revoltos da sociedade em
contínua transformação. Ainda dentro do oceano que a formação contínua e a reflexão
podem oferecer ao professor, ancoramo-nos nas palavras da ―capitã‖ Sousa (2003)
temos:
Certo desalento nos acomete quando queremos respostas a questionamentos e
não as encontramos de imediato. Sentimo-nos perdidos a ponto de quase
sucumbirmos dentro da grande nau da educação. As tormentas de o que fazer
e como fazer na sala de aula parecem nos tragar [...]. Como marinheiro,
ansioso por novos caminhos, novas terras, inquieto-me diante no inusitado,
quero novos rumos, portos seguros onde possa deixar meus alunos, a cada
viagem, certa de que valeu a pena. Quero a certeza de uma jornada única,
singular, na qual novas descobertas sejam partilhadas a cada momento com
reflexão e novos saberes (SOUSA, 2003, p. 196-197).
Gostaríamos de terminar a presente seção ecoando Sousa (2003) ao dizer que
nas águas intempestivas da carreira do magistério, melhor dizendo, nesse mar repleto de
ondas de conhecimento e reflexão temos sempre que velejar com o intuito de passar
pelo mar com o sentido de formar, (trans)formar, acalmar e amar todo o conhecimento
que há de vir. Assim, singramos para a próxima seção.
2.4 A formação contínua oferecida para os professores da rede pública de ensino
do D.F
Como dissemos anteriormente, a formação contínua do professor deve receber
atenção especial devido a todos os benefícios que ela é capaz de fornecer a ele, a seus
alunos, ao seu local de trabalho e, por que não dizer, para a sociedade como um todo.
Também podemos dizer que tal formação requer das instituições, nas quais esses
profissionais atuam um olhar diferenciado, de modo que não parta apenas deles a busca
por esses novos conhecimentos. Queremos dizer com isso que é de grande importância
a parceria que deve/deveria existir entre o profissional e seu/sua ―mantenedor(a)‖ (seja
de um empresário – no caso da escola particular, seja do governo – nas escolas
15
Para mais sobre a metáfora ou o artigo como um todo, vide SOUSA, M. B. N. A tormenta do buscar:
refletir para transformar. In: BARBARA, L. & RAMOS, R. (Orgs.). Reflexão e ações no ensinoaprendizagem de línguas. São Paulo, SP: Mercado das Letras, 2003, p.195-205.
42
públicas) já que ambos terão benefícios com tais ―parcerias‖. Sendo assim, iniciamos a
presente seção com o aporte ou ―suporte‖ teórico de Kolf (apud ALVAREZ 2010,
p.235)16:
Professores conscienciosos encontram meios de examinar seu trabalho.
Alguns são muito sistemáticos; outros sentem que isso emperra seu estilo.
Entretanto, a maioria acredita que algum esforço consciente seja necessário
para que evite cair em uma rotina complacente e medíocre, e, uma das
maneiras de evitar que isso aconteça é pela busca do conhecimento (KOLF,
1990, p. 40-41).
Sem dúvida, o professor de LE que está com o olhar voltado ao seu crescimento
e aprimoramento profissional, será de fato um educador consciencioso, como
mencionado acima. Ele também será um profissional que saberá colocar em prática as
competências desenvolvidas, como pontuou Almeida Filho (1993), pois ao formar-se
continuamente se tornará um professor que busca construir de maneira sólida uma ponte
que interligue a teoria e a prática.
Dentro desse mesmo prisma, na busca pelo seu aperfeiçoamento profissional, o
professor de LE também aprenderá a refletir de forma sistematizada (Zeichner, 2003)
acerca de sua práxis, abrindo assim seu olhar para novos horizontes e, por conseguinte,
(re)pensando e (re)significando sua identidade profissional (Calvo, 2011).
Com o objetivo de elucidar a importância de oferecer ao aluno da rede pública
do D.F uma educação de qualidade é que os governos Estadual e Federal visam oferecer
aos seus profissionais a dita formação contínua. Contudo, no presente estudo,
buscaremos informações que regem a educação contínua apenas dos professores do DF,
ou seja, nos debruçaremos apenas nas normas/diretrizes pedagógicas e regimento
interno da SEEDF.
Assim, ao buscarmos nos documentos que regem as estruturas educacionais de
nosso estado, encontramos o seguinte: A Escola de aperfeiçoamento dos profissionais
da educação - EAPE, como no próprio nome já nos diz, é um órgão da SEEDF
responsável em fornecer/ministrar aos professores da rede pública (sejam eles efetivos
do quadro ou contratados) formação contínua nas mais diversas áreas do conhecimento.
E funciona da seguinte maneira: no início de cada semestre letivo, uma circular é
passada para as escolas com a lista de todos os cursos que serão oferecidos ao longo
16
Mais informações em seu artigo: ALVAREZ, M. L. O. O papel dos cursos de Letras na formação dos
professores de línguas: ontem, hoje e sempre. In: SILVA, K. A.(Org.) Ensinar e aprender línguas na
contemporaneidade: linhas e entrelinhas. Campinas: Pontes Editores, 2010, p.235-255.
43
daquele ciclo. Vale ressaltar que há cursos específicos para as áreas de conhecimento,
como por exemplo ―Língua Portuguesa nos Anos Finais do Ensino Fundamental‖ e
outros comuns a todas elas, como segue: ―A Educação Inclusiva‖, ―Correção da
Distorção Idade/Série – CDIS: Rediscutindo Práticas Pedagógicas‖, ―Brasília Como
Espaço de Apropriação: Memória, Identidade e Sustentabilidade‖, para citar alguns. No
site da EAPE17, há um link chamado ―sobre a EAPE‖ e nele encontramos o que segue:
―A função da EAPE consiste em promover a formação continuada dos
profissionais da Educação em consonância com as demandas da Rede Pública
de ensino do DF, contribuindo para a educação de qualidade social e a
valorização profissional dos educadores‖.
Podemos também encontrar nessa mesma página dados concernentes à
quantidade de professores que fazem parte do quadro da SEEDF, gráficos apresentando
o perfil desses professores, formação, etc. Entretanto, o que de fato é relevante para nós,
nesse momento, é a importância da formação contínua para a SEEDF. Embora os cursos
não contemplem as diversas áreas de conhecimento, ou seja, não haja curso para os
professores de LE semestralmente, o que é lamentável devido à língua ser um fenômeno
que se transforma constantemente, nota-se que há de certa forma uma preocupação do
governo em oferecer subsídios aos professores para que eles possam aprimorar seus
conhecimentos e serem mais valorizados perante a si mesmos e, é claro, pela sociedade.
No que tange à formação contínua ante o regimento interno da SEEDF (2009, p.
120) também encontramos no Art. 124 informações sobre a citada EAPE, no qual diz o
seguinte:
A Gerência de Formação, unidade de direção diretamente subordinada à
Diretoria da EAPE, além das competências comuns definidas no art. 171, inc.
II, deste Regimento, tem como competências regimentais específicas: I –
realizar a formação continuada dos profissionais da Secretaria de Estado de
Educação do Distrito Federal, com vistas à melhoria da qualidade do ensino.
Neste sentido, é que podemos citar Moita Lopes (2002, p. 310) quando ele nos
diz que a formação contínua é uma questão crucial para a educação, pois ela circunda
um processo social em que grandes transformações podem ser geradas. Assim, é de
grande valia a ―intenção‖18 da SEEDF em fornecer aos profissionais da educação a
possibilidade de evolução, pois assim, seremos capazes de oferecer aos alunos da rede
17
Endereço eletrônico EAPE: <www.eape.se.df.gov.br>. Acesso em 14 de janeiro de 2014.
Fizemos uso do termo ―intenção‖, por notar em inúmeras propostas/projetos que são lançados pelos
governos há uma ponte longa entre o que eles dizem, o que pretendem fazer e o que é de fato feito. Ou
seja, embora a proposta seja considerável, na prática muitas delas não passam de objetivos propostos.
18
44
pública uma educação de qualidade, e, mais que isso formar cidadãos críticos para a
sociedade pós-moderna.
Continuando no âmbito dos documentos distritais que fomentam a formação
contínua dos professores do DF, vamos ao encontro do que pregam as Diretrizes
Pedagógicas da SEEDF (2008, p. 95), as quais nos informam o que segue:
[...] a formação continuada dos profissionais da educação precisa se voltar
para o trabalho de repensar a concepção da aprendizagem, da função social
da escola, do papel mediador do educador e de tantas outras temáticas
relacionadas, não somente por acumulação de cursos, de conhecimentos ou
de técnicas, como também numa perspectiva crítico-reflexiva que possibilite
ao docente uma reflexão da prática pedagógica e uma reconstrução de seus
saberes.
Como já salientamos, é imprescindível que o governo faça real investimento
para oferecer aos professores a oportunidade de estarem em contínua formação, pois já
que há na SEEDF e na educação de forma geral mudanças significativas, é essencial ao
professor também passar por essas mudanças. Afinal, de acordo com Celani (2010),
tendo em vista que o ensino de línguas na escola pública já é tido como aquele que está
nas mãos de profissionais desqualificados, cabe às partes (governo e professores)
fazerem por onde usar a formação contínua a seu favor, ou como uma
ferramenta/mecanismo para suprimir as falhas existentes no ensino de LE.
2.5 O professor de LE como um ser vocacionado e a (re)construção de sua
identidade profissional
Estudar a identidade de professores em formação inicial e contínua como
mencionado outrora, tem sido alvo de pesquisas de vários dos estudiosos em LA
(Gimenez, 2011, Bohn 2005, Mareco & Silva 2011, Mastrella-de-Andrade 2011, Celani
2006 e Hall 2005) para citar alguns. Muitos desses estudos se deram pela questão que a
formação recebida pelo professor faz com que ele (re)pense seus saberes e, com isso, ele
acabe se (re)construindo ante seu próprio ―ser professor‖ e, por conseguinte, ante a
sociedade. Desse modo, ele tende a (re)significar sua identidade profissional.
Por identidade, entendemos algo dinâmico, socialmente construído e
representado pelas vozes, olhares ou representações que os ―outros‖ possuem sobre uma
classe profissional (CALVO, 2011, p. 143).
Dialogando com as palavras da autora supracitada, temos as palavras de
D‘Almas (2011) quando ela nos diz que a identidade do professor de LE encontra-se
45
intimamente ligada à interpretação social de sua profissão, a qual além de ser construída
por ele, pela relação consigo próprio, também se desenvolve no seu relacionamento para
com os outros. Logo, o que foi dito por Calvo (2011, p.143) no excerto acima, também
faz parte do discurso de D‘Almas, pois ambas ―bebem do líquido da mesma garrafa de
conhecimento‖ ao dizerem que a identidade profissional do sujeito é (re)construída por
ele mesmo e por sua relação para com a sociedade.
É nesse viés, o da busca de melhorias na carreira, de ganhos intelectuais, de
crescimento enquanto ―ser professor‖, que o educador (re)constrói sua identidade
profissional e se questiona repetidamente ―quem sou eu nesse momento‖. Entretanto,
como vimos através das palavras das estudiosas, para que haja essa reconstrução e para
que ela ganhe significado, é necessário o confronto do sujeito consigo mesmo e com o
outro (neste caso o ‗outro‘ pode ser entendido como a sociedade). Sendo assim,
voltaremos nossa atenção ao modo como a sociedade vê o professor de LE, entende sua
profissão e interpreta sua escolha.
Segundo Calvo (2011), dentre as inúmeras profissões que conhecemos, a do
professor possui um aspecto único, afinal é aquela que todos que foram à escola tiveram
contato de perto e por vários anos. A autora também nos pontua:
Por vivenciarmos de perto a profissão docente, possuímos representações,
significações e ideias sobre o que caracteriza essa atividade profissional e o
ser professor, representações estas que são construídas e reconstruídas ao
longo de nossa trajetória escolar, a partir das diferentes interações que
travamos com o profissional do ensino [...] caracterizando-se, portanto, como
uma profissão ―conhecida‖ e já ―observada‖ por nós (CALVO, 2011, p.144).
Contudo, mesmo sabendo que o professor de LE tem de dedicar anos de sua vida
à carreira do magistério, de modo a desempenhar um bom papel, há ainda no senso
comum a ideia fixa de que para ser professor basta ter o dom, ou ainda a vocação para
saber ensinar e paciência para ―transmitir‖ bem os conteúdos programáticos, e, repetir
inúmeras vezes certos conceitos, para que o aluno consiga internalizar o que lhe foi
―passado‖. Ecoando Alvarez (2010), a profissão do professor é estranhamente
concebida pela sociedade, a qual entende a nossa profissão como uma ―vocação para o
magistério‖, todavia, tal característica não faz parte, ou melhor, não está incluída nos
requisitos exigidos pelas instituições de ensino superior, tampouco pelas escolas
(Ênfase adicionada).
Outro aspecto fortemente evidenciado pela sociedade é o de que apenas pessoas
que não têm grandes pretensões salariais, nem buscam ascensão em suas vidas
46
profissionais podem ser professores/professores de línguas. Afinal, a concepção de que
somos mal remunerados e que na maioria das vezes escolhemos a carreira docente
apenas com o intuito de transmitirmos nossos conhecimentos e, por amor ao próximo ou
à LE que ensinamos, está arraigada na cabeça da sociedade. Não que todas essas
questões não sejam importantes, pois elas têm sim seu valor, mas como professores e,
em nosso caso, professores de LE, sabemos que a escolha por nossa profissão vai muito
além dos itens elencados pelo senso comum. Somos profissionais que, assim como os
outros, buscamos o crescimento (em nossas lutas diárias, com nossos alunos, com nossa
formação contínua, com nossas leituras, através de congressos, para citar alguns
exemplos) e almejamos o reconhecimento do trabalho que desenvolvemos. É nesse
sentido que Vian Jr. (2011) nos ressalta o modo errôneo de pensar da sociedade, a qual
parece fechar os olhos e ignorar formação do professor de línguas e pensar que tudo se
resume a dom, vocação, aptidão.
Nesse mesmo tocante, temos as palavras de Celani (2001), quando nos pontua
que essa (re)construção do professor, além de trazer a ele mudanças significativas, será
capaz de mostrar ao senso comum que o ―ser professor‖ não se trata de uma mera
ocupação ou vocação e sim de uma profissão com solidez que exige do docente
empenho, dedicação, formação permanente, reflexão e a busca incansável pela
excelência no ensino de LE.
Voltando à questão da identidade profissional do professor de LE, a qual se
constrói através do papel que ele representa para si e para o outro, temos o pensamento
de Lunardi (2011),
A identidade, então, é construída por meio das diferentes práticas sociais e
discursivas. Surge, a partir disso, um problema caracterizado como sendo a
crise da identidade, já que esta não é fixa; é algo que muda conforme mudam
as práticas sociais e discursivas. No caso da identidade profissional do
professor de línguas, é constantemente alterada, devido à exigência que o
mercado e a sociedade fazem [...]. Por essa razão, o professor é moldado
pelas exigências sociais e institucionais [...]. Assim, a identidade profissional
está ligada ao papel que os indivíduos representam, e, no caso, do professor
de línguas, ela também está ligada às exigências e adaptações feitas pela
profissão (LUNARDI, 2011, p.218).
Dessa maneira, percebemos que essa identidade do professor vai sendo
(re)construída devido à sua relação com a sociedade, relação essa que tem como sua
marcação principal a diferença, afinal, Silva (2012) nos pontua que identidade e
diferença são inseparáveis. O autor ainda nos assevera ―podemos dizer que identidade é
47
uma construção, um processo de produção, instável e inacabado‖ (SILVA, 2012, p. 96 –
97). Sendo assim, entre a relação de diferença existente entre o pensamento tido pelo
docente acerca de sua profissão e de todos os passos que ele dá e o caminho por ele
trilhado para oferecer a sociedade seu melhor e, o juízo que essa sociedade faz dele,
pensando muitas vezes que ele não passa de um ser que traz consigo um dom, uma
aptidão ou uma vocação inatas, como dissemos anteriormente, é que essa nova
identidade profissional vai sendo moldada, transformada, repensada e vai ganhando
significado na vida e no cotidiano do professor.
Finalizo essa seção com as palavras de Bohn (2005) quando ele nos diz que o ser
humano, ou seja, o ser professor, passa a se conhecer a partir da sua diferença com o
outro. Assim, esse ―novo eu‖ do profissional é constituído daquilo que os outros não
são. Por isso, é de grande valor a tensão que é criada entre o pensamento do professor,
como profissional, e o da sociedade, que por sua vez o vê como um ser vocacionado,
daí, é com essa diferença que teremos a tessitura dessa (re)construção da identidade
profissional do professor de LE.
2.6 Revisitando o que foi discorrido ao longo do capítulo
Nesse capítulo, discorremos acerca do referencial teórico que sustentará as ideias
que foram apresentadas e as que estão por vir, nos fornecendo assim, o respaldo teórico
necessário para o enriquecimento do trabalho como um todo, bem como para a
realização da análise de dados no quarto capítulo.
Voltando nosso olhar ao que foi trabalhado nas seções do segundo capítulo dessa
dissertação, evidenciamos a importância da formação contínua na vida do profissional
de LE, o qual tem que buscá-la sempre e fazer dela uma ferramenta/mecanismo
indispensável e capaz de promover mudanças substanciais em suas práticas docentes.
Como afirma Vieira-Abrahão (2006), ao dizer que a formação contínua ou o
denominado desenvolvimento do professor de LE pode ser considerado como uma
preparação para educar as demandas do mundo que se encontram em constante
mudança. Dessa forma, é fundamental que o professor considere sua formação contínua
como uma fonte inesgotável de saber, como uma oportunidade constante para o
desenvolvimento de suas habilidades, para sua reflexão, pois é a partir delas que suas
práticas serão modificadas a fundo, o que trará benefícios não apenas para ele e sua sala
48
de aula, mas para a sociedade de modo geral, a qual ganhará um professor de LE que
busca adequar os conceitos aprendidos, as leituras realizadas e as discussões que
vivenciou para seu cotidiano, aprimorando assim sua práxis e a compreensão da língua
alvo de seus alunos.
Na sequência, abordamos a questão (re)significação identitária do professor de
LE, a qual ganha amplo significado à medida que o docente busca se especializar,
ampliar seus conhecimentos, destarte, segundo Mastrella-de-Andrade e Norton (2011), a
identidade profissional do docente é construída e reproduzida e ganha sentido, ante as
interações que fazemos em nosso cotidiano e ―no papel em que os professores enquanto
indivíduos representam‖ (LUNARDI, 2011, p. 217).
Posteriormente, abordamos as questões concernentes à formação contínua
oferecida pela SEEDF aos professores e os desdobramentos dessa formação à vida
acadêmica e docente do professor de LE. Também discutimos sobre o que diz o
regimento interno da SEEDF, assim como o que rege a formação contínua nas diretrizes
pedagógicas da mesma secretaria e contrastamos com o que realmente acontece na
prática.
Por fim, versamos acerca do modo pelo qual o professor de LE é visto pelo
senso comum, ou seja, como um ser vocacionado, como aquele que tem sua profissão
devido ao dom que recebeu e a desempenha apenas por amor, e, não como um
profissional que estudou e continua a buscar por melhorias significativas em sua
carreira, com vistas a melhorar seus saberes e o ensino de línguas como um todo, afinal,
segundo Celani (2010), o ensino de línguas no Brasil deve ser melhorado, pois está nas
mãos de profissionais desqualificados em grande parte do país.
Após revisitarmos algumas das teorizações acerca da (trans)formação contínua
do professor, e, das modificações que ela pode trazer para sua identidade, lancemos o
nosso olhar para a metodologia de pesquisa.
49
CAPÍTULO III
O FIRMAMENTO DE NOSSA PESQUISA
METOLOGIA DE PESQUISA
Figura 6: Firmamento da pesquisa19
―A educação é a resposta da finitude da infinitude. A
educação é possível para o homem, porque este é
inacabado e sabe-se inacabado. Isto leva-o à sua
perfeição. A educação, portanto, implica uma busca
realizada por um sujeito que é homem. O homem
deve ser sujeito de sua própria educação. Não pode
ser o objeto dela‖
(FREIRE, 1979 p. 14)
3.1 Introdução à pesquisa qualitativa
Tendo em vista o que foi mencionado a priori, acerca dos três construtos que a
presente pesquisa visa investigar, sendo eles: Formação Contínua, o Professor Reflexivo
e a (re)significação de sua Identidade, elegemos como metodologia a pesquisa
qualitativa, a qual é em si mesma, um campo de investigação, pois ela atravessa
disciplinas, campos e temas (DENZIN e LINCOLN, 2006). Assim, escolhemos a
pesquisa qualitativa, por se tratar de um campo vasto e repleto de possibilidades, no
qual seus agentes não são vistos apenas como ―mais um participante ou respondente‖ e
sim um ser com uma história de vida, que pode ser visto por vários prismas e
19
Figura 6: Firmamento da pesquisa. Disponível em: <http://ciajr.blogspot.com.br/2012/09/o-alicerce-deum-empreendimento_26.html>. Acesso em 04 de março de 2014.
50
interpretado das mais diversas formas. Quer dizer, a investigação qualitativa, segundo
Gergen e Gergen (2006), se caracteriza como uma das mais ricas e compensadoras
explorações disponíveis na ciência social contemporânea, pois tal campo, ainda na
percepção dos teóricos, está repleto de entusiasmo, criatividade e ação, fazendo da
pesquisa qualitativa aquela que pode ser construída, recriada e analisada dentro das
múltiplas ações e interações dos sujeitos enquanto participantes.
De acordo com as teorias apresentadas, segundo os autores Denzin & Lincoln
(2006) e também Gergen e Gergen (2006), é que podemos nos inclinar às palavras de
Chizotti (2006, p. 28), as quais corroboram aquilo que fora posto pelos teóricos supra
mencionados, ao nos dizer que a pesquisa qualitativa:
[...] recobre, hoje, um campo transdisciplinar, envolvendo as ciências
humanas e sociais, assumindo tradições ou multiparadigmas de análise,
derivadas do positivismo, da fenomenologia, da hermenêutica, do marxismo,
da teoria crítica e do construtivismo, e adotando multimétodos de
investigação para o estudo de um fenômeno situado no local em que ocorre,
e, enfim, procurando tanto encontrar sentido desse fenômeno quanto
interpretar os significados que as pessoas dão a eles (CHIZOTTI, 2006,
p.28).
O autor também nos diz que esse termo ―qualitativo‖, além de implicar uma
partilha profunda com as pessoas, os fatos, e, não obstante, o local no qual a pesquisa
acontecerá, só passa a ter significados visíveis e verossímeis a partir do momento em
que o pesquisador dá a eles uma atenção sensível, meticulosa. Chizotti (2006), também
nos diz que a pesquisa qualitativa não possui um padrão único, uma vez que ela permite
trabalhar os aspectos fluidos, assim como com os contraditórios do palco e dos atores
sociais.
Como essa pesquisa tem por objetivo discorrer acerca de duas sub-áreas da
Linguística Aplicada, sendo elas formação de professores e identidades no ensino de
línguas, como afirmado no início dessa seção, a pesquisa qualitativa [...] por se tratar de
um conjunto de atividades interpretativas, não privilegia nenhuma única prática
metodológica em relação a outra [...] (DENZIN E LINCOLN, 2006, p. 20), e, por não
fazer parte de uma única disciplina, podendo por sua vez ser definida como aquela que
pode ser empregada a várias, além de se tratar de uma pesquisa interdisciplinar,
transdisciplinar, ou até mesmo uma série de coisas ao mesmo tempo como pontua
Nelson (1992), podemos por fim dizer, que de acordo com o autor a pesquisa qualitativa
traz consigo um foco ―multiparadigmático‖.
51
Por fim, podemos citar Bogdan e Biklen (1982 apud BARROS 2013, p.38),
quando nos dizem que na pesquisa qualitativa os pesquisadores não se preocupam em
buscar evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início dos estudos, o que
não implica por isso a inexistência de um quadro teórico que oriente a geração e a
análise dos dados. A pesquisa qualitativa pode ser comparada a um funil, de forma que
no início o foco de pesquisa parece bastante amplo, mas à medida que se dá o
desenvolvimento ele se torna mais concentrado, mais preciso. Com vistas a buscar tal
precisão, avancemos.
3.2 A coleta de dados e os instrumentos utilizados
Tendo visitado as teorias que compõem as metodologias de pesquisa qualitativa
e etnográfica, lancemos nosso olhar aos instrumentos que foram utilizados para a coleta
de dados nesta pesquisa, sendo eles: os questionários, as entrevistas, e, por fim as notas
de campo. Nas seções seguintes, trataremos de cada um deles separadamente com o
objetivo de fazer melhores explanações acerca de cada um dos instrumentos utilizados,
bem como esclarecermos o porquê de cada escolha.
3.2.1 Os questionários
Para a realização dessa pesquisa, foram aplicados aos participantes dois
questionários semiestruturados conforme a seguinte ordem: o primeiro foi aplicado na
primeira semana de curso e o segundo, por sua vez, na quarta semana20. Segundo Rosa e
Arnoldi (2006), os referidos questionários devem ser formulados de modo que os
sujeitos envolvidos possam expor seus pensamentos, verbalizar suas ideias, e, mais que
isso, eles também são feitos com o propósito de que os participantes possam realizar
suas próprias reflexões no que se refere ao tema/assunto que lhes foi questionado. Tais
questionários também foram aplicados com o intuito de analisar mais de perto as
―vozes‖ dos participantes, bem como contrapor seus discursos àquilo que nos dizem as
teorias trabalhadas/abortadas pelo aporte teórico da pesquisa. Afinal, de acordo com as
20
Tendo em vista que o curso teve uma duração de seis semanas, dividimos a aplicação dos questionários
e a realização da entrevista em três partes, de modo a verificar a evolução de cada um dos participantes no
tocante professor reflexivo, (trans)formação contínua e (re)construção identitária dos profissionais.
52
autoras supramencionadas, esse tipo de questionário possibilita que o pesquisador
obtenha respostas confiáveis e amplas.
O primeiro questionário ou Questionário Semiestruturado I21 foi aplicado logo
na primeira semana. Tinha como meta conhecer um pouco mais da vida acadêmicoprofissional de cada um dos participantes, fazendo, de modo geral, uma sondagem
acerca das expectativas de cada um para com o curso, a importância de fazê-lo, o
porquê de se realizar um curso no exterior, dentre outras. Por outro lado, vale ressaltar
que boa parte das informações fornecidas pelos participantes no primeiro questionário
também foram utilizadas para a tessitura dos itens 3.5 e 3.5.2 (que virão na sequência),
como segue abaixo:
1. De que estado e cidade do Brasil você é?
2. Qual é a sua idade?
3. Há quanto tempo você leciona?
4. Por que você se inscreveu neste curso? Quais suas perspectivas em relação a
ele?
5. Como você descreveria sua competência em inglês hoje?
6. Qual a importância da língua inglesa para você?
7. O que você gostaria de ter nas aulas neste curso?
8. O que você não gostaria de ter nas aulas neste curso?
9. Em sua opinião, qual a importância de realizar um curso de aperfeiçoamento
no exterior?
Já o segundo questionário ou Questionário Semiestruturado II22, o qual foi
aplicado na quarta semana do curso, também era composto por nove perguntas, as quais
tinham, por sua vez, o objetivo de verificar de que modo a formação contínua estava
presente na vida desses profissionais; como eles a viam; qual era a compreensão deles
quanto ao almejado professor reflexivo e como isso se manifestava no dia a dia deles
como profissionais de LE; o que eles entendiam por identidade, e outras. Esse
questionário foi essencial para que análises do ponto de vista teórico fossem realizadas,
para que pudéssemos realizar um ―contraste‖ daquilo que é dito pelos professores da
academia e pesquisadores e como tudo isso é visto através do olhar daquele que está nas
21
22
Vide Apêndice B, p. 116.
Vide Apêndice C, p.117.
53
salas de aula das escolas públicas do Distrito Federal, enfrentando salas de aula lotadas,
falta de material didático, e, mais que isso, desinteresse dos alunos para com a LE e do
governo, de um modo geral, para com a educação.
Assim temos o segundo questionário:
1. Há quanto tempo você leciona a disciplina LEM – inglês na rede pública?
2. Há quanto tempo você estuda a língua?
3. Já trabalhou na rede particular?Em curso de idiomas ou no ensino regular?
4. Com base na resposta da questão de número 3, qual sua preferência? Por quê?
5. Qual o seu interesse pela formação contínua? De que maneira você está
envolvido(a) nela?
6. O que você entende por professor reflexivo? Em sua opinião, quais são as
características desse profissional? Você se considera assim?
7. De que maneira, na vida prática da sua profissão, o fato de você ser professor
reflexivo se manifesta?
8. O que você entende por ―identidade profissional‖?
9. De que modo ser um ―professor reflexivo‖ pode/poderia (re)construir sua
identidade profissional?
Ainda no tocante ao Questionário 2, é importante salientar que assim como nos
disseram Rosa e Arnoldi (2006), através das respostas fornecidas, foi realmente possível
ouvir a voz desses profissionais que, antes de mais nada, apenas querem mais respeito
por parte das autoridades para com as línguas estrangeiras, não apenas a inglesa e que
acima de tudo, eles sonham com o ensino público de qualidade. Mas a visão mais
aprofundada desse quesito faz parte de uma ―outra história‖ ou outra seção, a qual
veremos no próximo capítulo.
3.2.2 As entrevistas
Como mencionado no item 3.3, outro instrumento utilizado na coleta de dados
foi a ―entrevista semiestruturada‖ Rosa e Arnoldi (2006, p. 29), a qual segundo Silveira
(2002), pode representar a ―janela da alma‖ do participante. Entretanto, a autora enfatiza
que é de suma importância que essa se dê em um ambiente agradável e confiável, pois
assim, o pesquisador será capaz de obter respostas/dados relevantes. Há também de se
observar que, neste momento, o pesquisador deve ser empático e respeitoso, sem se
54
esquecer de ser flexível. Para termos um aporte teórico mais amplo, o qual terá grande
relevância na triangulação dos dados, ou seja, no próximo capítulo, nos apoiaremos
novamente nas concepções de alguns autores acerca das entrevistas na pesquisa
qualitativa, assim como a maneira mais adequada de elaborá-la/realizá-la, e por
conseguinte, obter respostas verdadeiras e objetivas.
Gil (1999) afirma que a entrevista é um dos instrumentos de pesquisa mais
utilizados no campo das ciências sociais, e, é nela que o pesquisador se encontra com o
participante para a obtenção de coletar dados (através das perguntas formuladas) que
tenham grande relevância dentro da pesquisa e que sejam interessantes para ela. Por
outro lado, é importante salientar que a entrevista não se trata apenas de um diálogo ou
um bate-papo informal, mas sim de uma conversa com um objetivo definido, na qual,
segundo Rosa e Arnoldi (2006), o entrevistado será levado a falar sobre temas
específicos, tratando-se assim, de uma construção de registros (Ênfase adicionada).
As entrevistas foram realizadas no último dia de aula, de modo que os
participantes tivessem mais informações para fornecer e ver de que maneira realizar o
curso no exterior foi positivo, se foi significativo, dentre outras. Veremos todos esses
detalhes concernentes às respostas dadas no capítulo de Análise de dados. Na sequência,
temos as perguntas que foram elaboradas para a entrevista ou Entrevista
Semiestruturada23
1. Tendo realizado o curso, de que maneira você avalia seu aprimoramento
profissional?
2. De que modo você pretende ventilar o conhecimento construído no curso?
3. Que tipo de profissional você se considera neste momento pós-curso no
exterior?
4. Quais foram os subsídios oferecidos, nessas seis semanas de curso intensivo,
para que você se tornasse, ou aperfeiçoasse seu lado ―professor reflexivo‖?
5. Tendo respondido anteriormente acerca da identidade do professor, identidade
no ensino de línguas e a (re)construção identitária desse profissional, como você
vê esses pilares após as aulas dadas, os conteúdos trabalhados e a sua
convivência com a língua?
6. Haja vista que um dos critérios do curso é que você desenvolva um projeto em
sua escola, quais são seus projetos para essa nova ―era profissional‖ após realizar
o curso nos EUA?
23
Vide Apêndice D, p. 118.
55
Para finalizarmos essa seção, e apresentarmos mais uma vez a relevância da
entrevista semiestruturada para e na pesquisa qualitativa, recorro novamente às palavras
de Rosa e Arnoldi (ibidem: 30-31):
As questões nesse caso, deverão ser formuladas de forma a permitir que o
sujeito discorra e verbalize seus pensamentos, tendências e reflexões sobre os
temas apresentados. O questionamento é mais profundo e, também, mais
subjetivo, levando ambos a um relacionamento recíproco, muitas vezes, de
confiabilidade. Frequentemente, elas dizem respeito a uma avaliação de
crenças, sentimentos, valores, atitudes, razões e motivos acompanhados de
fatos e comportamentos [...]. As questões seguem uma formulação flexível, e
a sequência e as minúcias ficam por conta do discurso dos sujeitos e da
dinâmica que acontece naturalmente. (ROSA & ARNOLDI, 2006, p. 31-31).
3.2.3 As notas de campo
Outro instrumento utilizado na coleta dos dados que compõem a presente
pesquisa são as notas de campo. Flick (2009) nos diz que um aspecto relevante da
pesquisa qualitativa, a qual atualmente ―navega sob a bandeira‖ da etnografia é a
utilização de uma variedade significativa de métodos e dados coletados, e, dentre eles
um que têm grande relevância, são as notas de campo, as quais devem ser claramente
planejadas, de modo a delimitar o foco do que se pretende investigar e fazer com que o
pesquisador, por sua vez, não desvie da proposta inicial de sua pesquisa.
As notas foram tomadas pela pesquisadora ao longo de seis semanas durante o
período em que as aulas aconteceram. De fato, elas eram normalmente tomadas de
segunda à sexta-feira no intervalo das aulas ou ao término delas. Entretanto, não
seguiam um determinado calendário, horário ou programação. Assim, à medida que se
notava a necessidade de tomar nota de algo isso era feito.
Segundo Bogdan e Biklen (1998), as notas de campo levam em consideração
aquilo que o pesquisador vivencia, vê, escuta e sente ao longo do processo de
observação e coleta e, principalmente, de reflexão dos dados. Contudo, é de suma
importância que ele conte com notas que sejam detalhadas, extensas e, acima de tudo,
precisas (Ênfase adicionada)24. Por fim, ainda amparados pelas palavras dos autores,
temos que lembrar que as notas de campo são constituídas de dois tipos de materiais. O
primeiro é descritivo e está focado na observação de pessoas, ações e diálogos. E o
24
Nossa tradução: These fieldnotes are the written account of what the researcher hears, sees, experiences,
and thinks in the course of collecting and reflecting on the data (…). The successful outcome of a
participant observation study in particular, but other forms of qualitative research as well, relies on
detailed, accurate, and extensive fieldnotes.
56
outro, por sua vez, é reflexivo, ou seja, de acordo com os Bogdan e Biklen (1998,
p.121), é aquele que captura mais o cenário onde a observação ocorre, as ideias,
pensamentos e valores do pesquisador25. Sem embargo, o pesquisador deverá estar
atento para que ambos caminhem de mãos dadas, pois dessa maneira, suas notas terão
maior confiabilidade e ele terá mais insumo e maior segurança no momento em que for
analisar/fazer a triangulação de seus dados.
3.3 Sobre os princípios éticos
Segundo Moura Filho (2000), os chamados princípios éticos, são cada vez mais
indispensáveis à pesquisa, e têm sido considerados essenciais ou até mesmo ―prérequisitos‖ aos pesquisadores nas áreas de ciências sociais que busquem por maior
credibilidade. Afinal, nas investigações realizadas na contemporaneidade, integridade
física e moral dos participantes são itens de suma importância para a realização de uma
pesquisa, pois eles não se tratam apenas de meros respondentes ou objetos de pesquisa
como tínhamos outrora, como nos pontua Schüklenk (2005):
Durante boa parte da história da ética na pesquisa, as pessoas que
participavam dos experimentos eram chamadas de sujeitos de pesquisa.
Atualmente, a denominação corrente é participantes de pesquisa. A
justificativa para a mudança está no reconhecimento do papel dessas pessoas
nas pesquisas: de sujeitos passivos passaram à condição de agentes ativos.
(SCHÜKLENK, 2005, p.33).
Diante do exposto no parágrafo acima, é que houve uma preocupação da
pesquisadora em explicar aos participantes acerca de sua pesquisa, como seria a
participação de cada um, de que seus nomes seriam mantidos em sigilo e que eles
receberiam uma cópia do texto finalizado para ver se havia verossimilhança entre o que
fora escrito e aquilo que fora dito por eles anteriormente. Destarte, cada participante
recebeu um Termo de Consentimento26, autorizando, por livre e espontânea vontade que
as informações por eles dadas fossem publicadas nesse estudo e em possíveis artigos,
apresentações em congressos e afins.
25
Nossa tradução: As our definition suggests, fieldnotes consist of two kinds of materials. The first is
descricptive ― the concern is to provide a word-picture of the setting, people, actions, and conversations
as observed. The other is reflective ― the part that captures more of the observer‘s frame of mind, ideas,
and concerns.
26
Vide Apêndice A, p.115.
57
3.4 Etapas da pesquisa
A pesquisa desenvolvida neste trabalho foi desenvolvida em três etapas ou fases,
as quais serão apresentadas a seguir.
Na primeira fase ou etapa, nos ativemos em formar o arcabouço teórico que
sustentaria a pesquisa e daria maior credibilidade a ela. Tais ideias e teorias eram
compostas de temas atinentes à Linguística Aplicada, bem como à educação pública no
DF, e às questões de interesse para o desenvolvimento do presente trabalho.
Já a segunda etapa foi constituída daquilo que Flick (2006) chama de ―Entrando
em campo‖, como temos abaixo:
O acesso ao campo em estudo é uma questão mais crucial na pesquisa
qualitativa do que na quantitativa. O contato buscado pelos cientistas, aqui,
ou é mais próximo ou mais intenso, o que, em resumo, pode ser demonstrado
em termos dos problemas enfrentados por alguns métodos qualitativos atuais.
(FLICK, 2006, p.69).
Nessa etapa, foram aplicados os dois questionários, como mencionado a priori,
foram tomadas as notas de campo e, por fim, realizadas as entrevistas.
Por último, mas não menos importante, temos a última fase dessa longa
trajetória acadêmica, a qual foi compreendida pela análise dos dados gerados/coletados
na etapa anterior, a triangulação deles, bem como o fechamento da pesquisa, como
veremos nos capítulos que seguem.
3.5 O contexto e os participantes da pesquisa
Na presente seção, apresentaremos o contexto no qual a pesquisa se deu, de que
maneira tal contexto foi propício para o seu acontecimento, quais as potencialidades de
termos escolhido tal contexto e, por conseguinte, as fraquezas enfrentadas nele, haja
vista que isso será feito com vistas a facilitar uma melhor compreensão do leitor, bem
como a ideia de guiá-lo ao longo da leitura. Na sequência, apresentaremos os
sujeitos/participantes que contribuíram para que a pesquisa acontecesse. Não obstante,
falaremos a respeito deles, por que decidiram participar do programa no exterior, quem
são e o que fazem, o que pensam da profissão que exercem, e outros. Lançamos agora
nossos olhares às seções que seguem, nas quais teremos as respostas para essas e outras
perguntas. São nessas seções que os participantes e o contexto ganharão amplo
58
significado, e, por sua vez, passarão de contexto e participantes a seres e lugar com
nomes, tornando-se assim mais reais, mais humanos e mais concretos.
3.5.1 Sobre o contexto
Como dissemos no capítulo introdutório, a pesquisa se deu na Universidade
Drexel, a qual fica localizada na Filadélfia, no estado da Pensilvânia nos Estados
Unidos da América. A ―Drexel University‖27, uma universidade americana fundada em
1891, conta hoje com uma estrutura moderna, um corpo docente com mestres e
doutores, campi modernos e conta atualmente com um amplo centro de línguas, o qual
tem chamado a atenção de inúmeros estudantes estrangeiros, os quais poderão estudar a
língua alvo e concluir seus cursos em até sete meses, dependendo de seus rendimentos e
interesse, podendo ter aulas diariamente, quatro, três ou duas vezes por semana. Após
fazermos um breve apanhado acerca da universidade, adentremos no curso que foi
oferecido por ela aos professores de língua inglesa do Brasil.
Em janeiro de 2013, vinte e quatro professores brasileiros de língua estrangeira
moderna inglês (doravante LEM-inglês) foram selecionados – após processo seletivo
nacional – para realizarem um curso de ―Metodologia no Ensino de Língua Inglesa‖ no
período compreendido por seis semanas na universidade supracitada. Entretanto, é de
suma importância lembrar que por se tratar de um grupo composto por vinte e quatro
pessoas e com o intuito de potencializar a participação dos professores-alunos, os
coordenadores do curso fizeram uma divisão de turmas, assim, cada turma ficou com
doze componentes. Como dito no início da pesquisa, dos vinte e quatro participantes,
sete eram do Distrito Federal, e, apenas três deles aceitaram fazer parte desse estudo.
No que tange à programação e à carga horária do curso, temos os seguintes
dados: foram dadas cento noventa horas/aula, incluindo palestras, observações de aulas
e passeios culturais guiados. Para deixar mais claro, observemos a tabela abaixo:
Tabela 2 – Programação e carga horária
Atividade desenvolvida
Orientação e turismo
27
Carga horária
9h
Mais informações em: <http://www.drexel.edu/about/history/>. Acesso em 04 de março de 2013.
59
Pesquisa-ação (aula)
36h
Metodologia (aula)
36h
Pronúncia e apresentação (aula)
18h
Fala interativa e treino auditivo (aula)
18h
Cultura americana (aula)
36h
Observações de aulas
8h
Encontros na faculdade
3h
Passeios e turismo pela Filadélfia
20h
Recepções
5h
Total: 190 horas/aula
Fonte: Autoria da pesquisadora
Ao longo de todo o curso, os participantes tinham aulas de segunda à sexta-feira,
das oito da manhã às quatro da tarde, com pausa de uma hora para o almoço. Os
professores de cada disciplina tinham, por sua vez, autonomia de decidir com suas
respectivas turmas quais seriam os procedimentos utilizados para suas avaliações,
dentre eles: leituras diárias para discussões em sala, diários de bordo, apresentações
individuais e coletivas, tarefas de casa e de sala, vídeos caseiros mostrando a produção
oral e de leitura de cada aluno, e, por fim, o desenvolvimento de um projeto individual
que seria possivelmente aplicado na escola que cada um desempenhava suas respectivas
funções. Esse projeto foi abordado pela coordenadora do curso, e, logo no primeiro dia
de aula, ela deu uma palestra explicando de que maneira tal projeto deveria ser
desenvolvido, como seria apresentado à comunidade escolar, e demais detalhes. Dessa
maneira, em ritmo acelerado na Drexel University, os professores-alunos trabalharam
arduamente do dia 14 de janeiro à 23 de fevereiro de 2013, buscando dar o seu melhor e
aproveitar tanto o que era oferecido pelo meio acadêmico quanto pelos locais,
enriquecendo assim seus léxicos, melhorando suas partes gramaticais, semânticas,
fonéticas, sintáticas, ou seja, a língua inglesa como um todo e também ampliando suas
―bagagens culturais‖.
3.5.2 Um pouco mais das disciplinas estudadas
60
Como mencionado na seção anterior, ao longo das cento e noventa horas de
curso, tivemos cinco disciplinas. Destarte, na presente seção, detalharemos a ementa de
cada uma delas28, para oferecermos aos leitores a possibilidade de entender melhor o
que foi trabalhado e como tal trabalho se deu.
Disciplina: Metodologia no ensino de língua inglesa
Carga horária: 36h
Descrição do curso: O curso foi desenvolvido para ajudar os professores de língua
inglesa a serem mais eficientes na língua. O curso proporcionará a você a possibilidade
de aprender acerca de novas teorias e métodos inovadores no ensino da língua
estrangeira. Juntamente com as teorias e métodos, serão oferecidas atividades que lhe
darão a oportunidade de praticar suas habilidades no ensino de línguas.
Objetivos do curso: Analisar as teorias e a prática de aquisição de língua; elaborar
planos de aula nas eficazes; aplicar novas tecnologias no ensino/aprendizagem de
línguas; incorporar uma variedade ampla de materiais e novos recursos no
ensino/aprendizagem de língua estrangeira.
Leituras Obrigatórias: UR, PENNY. A Course in English Language Teaching.
Cambridge Univesity Press, 2012.
Disciplina: Pesquisa-ação
Carga horária: 36
Descrição do curso: A pesquisa-ação é um componente essencial para a prática
reflexiva e para a avaliação de aprendizagem do profissional de línguas, em um
compromisso ético no que tange o aperfeiçoamento da melhoria dos valores
educacionais. Assim, este curso tem a intenção de oferecer aos alunos a participação e o
engajamento em práticas reflexivas concretas, de modo a fazer deles pesquisadores
dentro de seus próprios locais de trabalho.
Objetivos do curso: Aprender sobre o estado da arte da pesquisa-ação; desenvolver um
ciclo de pesquisa, de ação, de observação e reflexão; engajar-se em reflexões críticas
com vistas a melhorar e modificar os diversos aspectos de suas práticas pedagógicas e
de entendê-las.
28
Os dados fornecidos fazem parte dos documentos entregues aos alunos pela coordenadora do programa.
Colocamos aqui a tradução do original recebido.
61
Leituras Obrigatórias: MILLS, G. E. Action Research: A guide for the teacher
researcher. (4th edition). Boston: Pearson.
Disciplina: Cultura Americana
Carga horária: 36h
Descrição do curso: Este curso focará nas questões relativas aos valores culturais, tais
quais: o individualismo, igualdade e a resiliência de cada cidadão e o impacto de cada
uma dessas características nos estilos de comunicação e tópicos que geram várias
discussões, tais quais a política americana e a vida social dos americanos.
Objetivos do curso: Oferecer aos alunos, por meio das leituras e das aulas informações
importantes sobre a cultura americana e suas implicações para as atitudes que poderão
ser vistas e vividas no dia a dia de cada um enquanto estiverem nos EUA.
Leituras Obrigatórias: American Ways
Disciplina: Pronúncia e apresentação
Carga horária: 18h
Descrição do curso: Os alunos praticarão as habilidades de pronúncia participando
ativamente em interações de fala e ao responderem apropriadamente ao que lhes for
proposto, focando nas questões concernentes ao vocabulário, pronúncia, entonação e
funções gramaticais.
Objetivos do curso: Utilizar entonação e pausa na fala para melhorar o diálogo e
manter o interesse do quórum; usar as sílabas tônicas adequadamente; usar ampla
estrutura gramatical tais quais condicionais, voz passiva, orações, etc.
Leituras Obrigatórias: GRANT, L. Well Said: Advanced English Pronunciation. 3rd
Edition. Cengage Learning.
Disciplina: Fala interativa e treino auditivo
Carga horária: 18h
Descrição do curso: Este curso foi desenvolvido para melhorar as habilidades de fala e
audição dos participantes fazendo uso da linguagem autêntica do ambiente da Filadélfia.
A metodologia educacional utilizada, também propiciará modelos utilizados pela mídia,
ensino/aprendizagem experimental, assim como os testes desenvolvidos em sala.
Objetivos do curso: Analisar e refletir como discursos específicos e atos de fala são
conquistados e atingidos na língua alvo; refletir sobre os valores culturais que podem
62
embasar os comportamentos comunicativos na língua utilizada pela comunidade;
melhorar a velocidade da fala, a fluência e a precisão em conversas formais e informais.
Leituras Obrigatórias: Apostilas entregues pela professora.
3.5.3 Sobre os participantes
Quanto aos participantes dessa pesquisa, como dissemos a piori, tratam-se de
três professores de LEM-inglês de Escolas Públicas e Centros Interescolares de línguas
- CILs29 também públicos do Distrito Federal, que fizeram o processo seletivo, foram
aprovados e receberam bolsas de estudo subsidiadas pelas CAPES em parceria com a
Embaixada dos EUA para realizarem o curso na Drexel University. Outro detalhe que
não poderia deixar de ser mencionado é o de que para participar do programa era
necessário ser professor da rede pública de ensino, concursado e fazer parte do quadro
de efetivos, tendo concluído a fase de estágio probatório.
Para visualizarmos de maneira mais clara quem são os participantes da pesquisa,
fazemos a apresentação deles por meio da tabela que segue:
Idade
Experiência
docente (anos)
Tempo que estuda a
língua (anos)
Tempo que
leciona na rede
pública (anos)
Tabela 3 – Conhecendo os participantes30
33
15
20
10
Participantes
Carolina
Formação contínua
Atualmente,
fazendo
cursos
oferecidos pela SEEDF, mas também
sou pós-graduada.
Bernardo
39
13
24
13
Fazendo
cursos
oferecidos
pela
SEEDF.
29
Segundo Mesquita (2014), a capital brasileira conta com oito Centros Interescolares de Línguas – CIL,
inaugurados entre 1975 e 1998, dois localizados em Brasília e os demais em outras regiões
administrativas: Brazlândia, Ceilândia, Gama, Guará, Sobradinho e Taguatinga. Os CILs trabalham
exclusivamente cinco línguas estrangeiras: alemão, espanhol, francês, inglês e japonês. Cada centro
oferece no mínimo três delas e no máximo quatro.
30
Utilizaremos nessa pesquisa pseudônimos escolhidos pela pesquisadora, de modo a resguardar a
identidade de cada um dos participantes.
63
Alessandra
35
12
20
12
Fazendo
cursos
oferecidos
pela
SEEDF.
Fonte: Autoria da pesquisadora
Vale ressaltar que todos os participantes já atuaram como docentes na rede
particular de ensino.
Após sabermos um pouco mais a respeito daqueles que também contribuíram
para que essa pesquisa pudesse acontecer, a partir de agora ampliaremos nosso ―campo
de visão e investigação‖ para analisar mais de perto o que fora dito por cada um dos
participantes e contrastarmos suas respostas às teorias apresentadas pelos teóricos e
estudiosos da grande área da LA, com vistas a fazer contribuições significativas para
ela, assim como para os professores de língua estrangeira, os quais, segundo Alvarez
(2010), têm que buscar por novos conhecimentos incessantemente, para enfrentarem as
novas exigências do mundo globalizado (Ênfase adicionada).
3.6 Triangulação dos dados e resultados esperados
Conforme apresentamos na seção 3.3, intitulada ―A coleta de dados e os
instrumentos utilizados‖, e nas subseções concernentes aos referidos instrumentos (os
questionários semi-estruturados, as entrevistas e as notas de campo), esperamos que eles
possam nos oferecer os dados e o aporte necessário para que o corpus gerado possa ser
triangulado de maneira coerente e positiva, pois segundo Flick (2009), essa triangulação
de dados é palavra chave na pesquisa qualitativa. Vale ressaltar que os dados coletados
serão triangulados a partir das respostas fornecidas pelas participantes em contraposição
às teorias que embasam essa pesquisa, bem como com as notas da pesquisadora e suas
reflexões ante o que fora dito por participantes e teóricos. Com isso em mente,
almejamos fornecer aos leitores deste estudo respostas às perguntas de pesquisa que
foram lançadas logo em seu capítulo introdutório, bem como alcançarmos os objetivos,
lá pontuados e ainda, trazermos possíveis soluções às inquietações que apareceram ao
longo desse percurso investigativo.
Por outro lado, é importante realçar que mesmo com um arcabouço teórico
significativo, riqueza de detalhes nos dados coletados, empenho dos participantes em
responderem aos questionários e avidez daquela que buscou triangular os dados e
64
fornecer aos leitores uma pesquisa com solidez nos argumentos apresentados, há de se
ter em mente que os estudos/pesquisas trazem consigo certas limitações, que podem ser
minimizadas a cada nova leitura e pesquisa realizada na área.
3.7 Retomando o capítulo
No capítulo metodológico de nossa pesquisa, almejamos apresentar ao leitor a
metodologia de pesquisa escolhida e seus desdobramentos. Optamos por nos
debruçarmos sobre a Pesquisa Qualitativa, pois de acordo com Moura Filho (2000), a
pesquisa qualitativa é aquela que nos oferece maior ênfase à natureza da realidade
socialmente construída. Ela também tem a capacidade de oferecer ao pesquisador e ao
pesquisado uma relação de mais intimidade e proximidade, assumindo de acordo com o
autor, uma realidade dinâmica.
Após apresentarmos a metodologia que fora escolhida para o desenvolvimento
da pesquisa, pontuamos as questões atinentes à coleta de dados e instrumentos
utilizados. Nesse momento, optamos por detalhar cada um deles, com o intento de
facilitar a compreensão do leitor e elencar as especificidades de cada um. Logo em
seguida, falamos sobre a importância dos princípios éticos dentro de uma pesquisa
acadêmica, pois assim, os participantes serão resguardados e respeitados ao longo de
todo o processo.
De modo a deixar o capítulo metodológico mais estruturado, também
apresentamos em uma de suas seções as ―Etapas da Pesquisa‖, com o objetivo de guiar
aqueles que a liam para saberem de fato a ordem em que as situações aconteceriam e de
que modo isso se daria.
Visando uma compreensão mais abrangente do leitor sobre o contexto e os
participantes da pesquisa, apresentamos o contexto de forma detalhada (para que os
detalhes levassem os leitores dessa pesquisa a abrirem sua imaginação e adentrarem a
universidade onde os dados foram coletados), assim como os participantes, que
passaram a ter nomes e informações mais concretas.
Para concluirmos, o último ponto abordado foi o de triangulação dos dados e
resultados esperados, no qual falamos da importância da triangulação na pesquisa
qualitativa e das possíveis limitações que uma pesquisa pode trazer consigo. Entretanto,
65
é essencial que o pesquisador mantenha seus pés no chão e seja firme, de modo a
continuar com aquilo que se propôs a realizar anteriormente.
66
CAPÍTULO IV
UM OLHAR MAIS REFINADO TAMBÉM CAI BEM
ANÁLISE DE DADOS
Figura 7: Um olhar mais refinado31
―A questão do compromisso do profissional com a
sociedade nos coloca alguns pontos que devem ser
analisados. Algumas reflexões das quais não
podemos fugir (...). O compromisso seria uma
palavra oca, uma abstração, se não envolvesse a
decisão lúcida e profunda de quem o assume. De
fato, ao nos aproximarmos da natureza do ser que é
capaz de se comprometer, estaremos nos
aproximando da essência do ato comprometido. A
primeira condição para que um ser possa assumir um
ato comprometido está em ser capaz de agir e
refletir.‖
(FREIRE, 1979 p. 07)
4.1 Análise de dados – algumas considerações
Dedicaremos este capítulo à análise dos dados que foram coletados durante toda
a trajetória dedicada ao desenvolvimento da pesquisa. Assim sendo, apresentaremos de
maneira mais ampla os nossos participantes e suas inquietações, as respostas por eles
fornecidas nos dois questionários aplicados, o resultado das entrevistas realizadas, a
31
Figura 7: Um olhar mais refinado. Disponível em: <http://saladeimprensastartcom.com/solucoesintegradas/monitoramento-e-analise/>. Acesso em 25 de junho de 2014.
67
postura da pesquisadora ante as observações e análises feitas, o que dizem os teóricos e
estudiosos de Linguística Aplicada acerca das colocações por eles feitas e finalmente,
possíveis questionamentos e possibilidades sobre o ensino de LE que temos e como
gostaríamos que fosse.
Ao analisarmos tais dados, temos que ter em mente o que fora pontuado por
Fetterman (1998) acerca da importância das análises, pois, de acordo com o autor, os
resultados obtidos pelo pesquisador terão o poder de beneficiar a ele e a sociedade como
um todo, pois ambos colherão frutos saborosos da pesquisa desenvolvida (Ênfase
adicionada). Ainda de acordo com Fetterman (1998), é essencial que o pesquisador
volte seu olhar para os detalhes do que fora coletado e tenha habilidades linguísticas
para revelar em sua tessitura, que pequenos detalhes e fragmentos podem ser muito mais
significativos e expressivos que se pode imaginar.
Além disso, retomaremos aqui os objetivos traçados no início do estudo e
apresentaremos novamente as perguntas norteadoras lançadas anteriormente (no item
1.2.6 Objetivos e perguntas de pesquisa ou o que queremos e como faremos para tal?)
para buscarmos com mais clareza alcançá-los e respondê-las, além de com isso, não
perdermos o foco do que fora proposto no primeiro capítulo, como segue:
Objetivos:
→ Analisar de que maneira três professores participantes do Programa de
Desenvolvimento Profissional para Professores de Inglês (PDPI), promovido
pela Drexel University, avaliam seu aprimoramento profissional e como
pretendem divulgar e colocar em prática o conhecimento construído no curso.
→ Verificar se, na perspectiva dos participantes, foram oferecidos subsídios
durante o curso para que esses profissionais se tornassem ou aperfeiçoassem seu
lado professor reflexivo e como ser um professor reflexivo pode ou poderia
(re)construir a identidade profissional desses professores.
→ No que tange o aperfeiçoamento profissional, investigar as vantagens e
desvantagens de se buscar a formação contínua no exterior.
Perguntas de pesquisa:
68
→ Como os participantes da pesquisa avaliam seu aprimoramento profissional e
como pretendem divulgar e colocar em prática o conhecimento construído no
curso oferecido na Drexel University?
→ De que maneira a realização do curso de formação contínua para professores
de inglês realizado nos EUA pôde contribuir para a formação reflexiva, assim
como para a (re)construção identitária desses professores?
→ No que se refere ao aperfeiçoamento profissional, quais as vantagens e
desvantagens de se buscar a formação contínua no exterior?
Na sequência, apresentaremos os demais itens concernentes à triangulação dos
dados que foram gerados, como aqueles que pontuamos logo no início do capítulo, tais
quais: focar um pouco mais na apresentação dos participantes, apresentar as respostas
dadas por eles aos questionários, explorar as entrevistas, buscando assim, alcançar os
objetivos previamente apresentados, bem como responder plausivelmente às perguntas
que norteiam essa pesquisa.
4.2 Delineando o perfil de cada participante
A partir de agora, voltaremos nossos olhares àqueles que aceitaram fazer parte
desse estudo. Lima Junior (2013, p. 47) nos afirma que ―os participantes não devem, em
hipótese alguma ser utilizados como meros objetos de investigação‖. Por coadunar
completamente com a ideia do autor e, mais que isso, certa de que os participantes
merecem atenção especial tanto durante o processo de investigação de uma pesquisa
quanto na fase posterior a ela, é que selecionamos uma das seções deste estudo para os
apresentarmos aos leitores e ainda darmos mais luz a esses profissionais de LE que
buscam por melhorias no ensino da língua alvo. Sendo assim, façamos as devidas
apresentações:
Carolina: É professora de inglês da rede pública do DF desde 2004 e leciona no
ensino regular. Nascida e criada em Brasília, tem 33 anos e estuda a língua inglesa
desde os 13 anos. É graduada em Letras português/inglês e respectivas literaturas por
uma renomada universidade privada do Distrito Federal, é especialista em Linguística
aplicada e obteve seu título em uma extinta faculdade privada do DF. Já trabalhou na
69
rede privada por 5 anos, entretanto, optou pela rede pública devido à estabilidade
financeira que ela oferece. Procura estar sempre em busca de novos conhecimentos na
sua área, por isso busca os cursos oferecidos pela SEEDF/EAPE e também faz leituras
frequentes de artigos e estudos realizados na área de LE. Considera-se uma profissional
qualificada, mas diz que é sempre bom ―se reciclar‖.
Bernardo: Bernardo é natural de Ilhéus no estado da Bahia e reside no DF há 16
anos. Deixou sua cidade natal em busca de melhores opções profissionais. Tem 39 anos
e há 24 estuda a língua inglesa. Dos 24 anos dedicados ao estudo da língua, dois deles
se deram nos EUA, pois ele fez parte de seu ensino médio lá. Bernardo é graduado em
Letras português/inglês pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Iniciou sua
especialização em docência no ensino superior em uma faculdade privada do DF,
entretanto, não a finalizou e diz que precisa dar continuidade à sua vida acadêmica com
urgência. Segundo ele, buscar novos cursos em sua área e realizar leituras nela faz toda
diferença ao profissional. Ele também já trabalhou na rede privada, mas há 14 anos
leciona no CIL 1 (como dissemos anteriormente, trata-se de um Centro de línguas
público) e diz que lá é um excelente local de trabalho aos professores de LEM – inglês,
pois as turmas são reduzidas com no máximo 20 alunos, e as aulas são ministradas na
língua alvo, o que oferece ao professor a possibilidade de praticar o idioma diariamente.
Além disso, o professor nos informou que cada uma das salas dos CILs é equipada com
aparelho de som, televisão, DVD e projetor e assim, há a possibilidade de usar mais
recursos tecnológicos nas aulas.
Alessandra: Nascida e criada em Brasília, Alessandra, professora de inglês de
35 anos diz amar sua profissão. Ela estuda a língua desde os 15 anos e desde então
nunca parou. É graduada em Letras português/inglês e respectivas literaturas por uma
renomada universidade privada do DF. Alessandra diz que no momento está disposta a
dar continuidade aos estudos, e pretende buscar um curso de especialização ou tentar ir
direto ao mestrado. De acordo com ela, não faz sentido não buscar se especializar cada
vez mais. Embora tenha participado de vários cursos oferecidos pela EAPE, pretende
dar uma guinada em sua vida profissional e acadêmica. Ela também faz parte do quadro
de professores efetivos da SEEDF e atualmente também trabalha em um dos CILs, e
atua na unidade de Ceilândia. Segundo ela, é um excelente local para se trabalhar com a
LE, pois lá os professores contam com o apoio da equipe pedagógica e possuem
recursos tecnológicos para aprimorarem suas aulas e ainda estimularem o desejo dos
70
alunos em aprender a língua. Entretanto, no ano de 2013, Alessandra não estava
lecionando e sim, fazendo parte da coordenação pedagógica de sua escola.
Tendo conhecido um pouco mais sobre cada um dos participantes, notamos que
eles possuem ampla experiência no ensino de línguas, seja na rede particular de ensino,
seja na rede pública. Podemos também dizer que todos iniciaram seus estudos na língua
alvo quando adolescentes e continuam na busca pelo aperfeiçoamento dela desde então.
Um fator de grande relevância é que os professores/participantes se encontram inseridos
na formação contínua de alguma maneira e afirmam que ela é um mecanismo
indispensável à carreira do profissional de LE. Outro ponto levantado pelos
participantes que atuam nos CILs é que eles têm acesso aos
recursos
tecnológicos/multimeios (projetor, TV, DVD, etc.) em suas salas de aula, e isso faz com
que suas aulas possam ser ―inovadas‖ e que o uso de tais recursos os ajudam a motivar
seus alunos no ensino-aprendizagem da língua estrangeira.
Dessa maneira, fica claro que quanto mais recursos o professor tiver, ele poderá
preparar suas aulas com mais qualidade, levando para dentro de sua sala além do mundo
globalizado, novas perspectivas no ensino-aprendizagem de LE, ter novas experiências
e refletir acerca dessa nova maneira de ensinar línguas e aprendendo assim, a lidar com
as novas exigências feitas pela contemporaneidade na área/mercado do ensino de
línguas.
4.3 Hora de detalhar os questionários e analisar as respostas dos participantes
Na presente seção, nos dedicaremos a apresentar e analisar as respostas dadas
pelos participantes aos questionários 1 e 2. Entretanto, achamos por bem dividi-los em
duas subseções, pois como dito anteriormente no capítulo 3 na seção 3.3.1, cada um
deles foi aplicado em momentos diferentes, com o objetivo de sincronizá-los à situação
vivida pelos participantes. Sendo que no primeiro queríamos verificar o que eles
pretendiam aprender no contexto de um curso no exterior, há quanto tempo lecionavam,
o porquê de se inscreverem em um programa como aquele, suas expectativas para com
o curso, dentre outros. O segundo por sua vez, versava acerca das compreensões que
eles tinham sobre identidade, professor reflexivo, da importância em formar-se
continuamente, e quais fomentos o curso havia proporcionado a cada um até o momento
da aplicação do questionário.
71
Dessa maneira, avancemos para as seções e desvendemos os segredos que os
questionários nos trouxeram.
4.3.1 O primeiro questionário e suas peculiaridades
Apenas para relembrarmos o que fora dito, o primeiro questionário foi aplicado
logo no primeiro dia de aula. Ele era composto por nove perguntas, que visavam
conhecer um pouco mais da trajetória acadêmica, profissional e pessoal de cada um dos
participantes, para assim, conhecê-los um pouco mais e melhor. Tendo em vista que
algumas das respostas fornecidas pelos participantes no primeiro questionário já foram
colocadas como informações a respeito de cada um na seção anterior, enfocaremos, na
sequência, apenas naquelas que não foram outrora abordadas.
Posto isso, analisemos de perto as respostas fornecidas e nos deleitemos com a
possibilidade de revivermos o primeiro dia de aula na Drexel University. Singremos por
esse universo de possibilidades.
Baseados na questão ―Por que você se inscreveu nesse programa e quais são suas
perspectivas em relação a eles?‖ obtivemos as respostas que seguem:
1. Carolina: Realizei minha inscrição, pois acredito que o curso me ajudará a aprimorar meus
conhecimentos linguísticos e também a fazer uso das novas tecnologias em sala.
2. Bernardo: Para ter acesso ao uso de novas tecnologias e metodologias de ensino a fim de
melhorar o auto-desempenho em sala de aula.
3. Alessandra: Aprimorar meus conhecimentos linguísticos e conhecer novas metodologias de
ensino da língua inglesa.
Ao observarmos tais respostas (excertos 1, 2 e 3), notamos que os três
participantes (professores de LE) buscaram participar do programa com a finalidade de
melhorar os conhecimentos e as metodologias utilizadas outrora em suas aulas, o que
Monteiro (2011) classifica como sendo uma perspectiva crítica. Para a autora,
Olhar para o passado [...], reconhecer alguns aspectos bem sucedidos e
outros problemáticos, certamente é fundamental para que consigamos
achar caminhos mais eficazes para a formação de professores no contexto
atual. (MONTEIRO, 2011, p.17).
Outro fator pontuado por Monteiro (2011) fundamental para a presente análise,
cerne o ―contexto atual‖ do ensino de LE. Pois, uma das características apresentadas
pelos professores em suas respostas, era a de aprenderem a utilizar as novas tecnologias
72
em suas aulas, o que nos mostra certa ―preocupação‖ em caminhar ao lado das
exigências que o contexto atual de mundo globalizado nos pede, ou seja, de buscarmos
estar em constante (trans)formação para podermos estar aptos a atender as necessidades
dos nossos alunos, do local em que atuarmos e ainda nos sentirmos cada vez mais
preparados e qualificados para aturamos nos mais diferentes contextos e com as
diferentes demandas de estudantes, independentemente de suas classes sociais,
conhecimento linguístico, gênero e idade. Por fim, podemos citar Celani (2010) quando
nos diz que LE não se aprende com professores despreparados, e sim com aqueles que
podem e têm sempre algo a mais a oferecer aos seus alunos, que não se cansam de
buscar por novas maneiras, meios e técnicas de se tornarem mais qualificados e têm a
consciência de que no ensino de LE há sempre algo novo a se aprender.
Já na questão ―Qual a importância da língua inglesa para você‖, obtivemos as
seguintes respostas, como nos excertos que seguem:
4. Carolina: Considero a língua essencial para meu trabalho, meus estudos e para viver no
mundo globalizado.
5. Bernardo: Foi um grande diferencial para os empregos por que passei. Pessoalmente, é
muito bom ter acesso a coisas, pessoas e eventos em língua inglesa.
6. Alessandra: Muito importante como ferramenta de trabalho e também é uma possibilidade
de vivenciar novas experiências culturais.
Nos excertos 4, 5 e 6 notamos que os participantes foram muito objetivos e
pontuais em suas respostas e, de modo geral, consideram a língua inglesa tanto uma
ferramenta de trabalho quanto uma forma de se ter acesso ao globo terrestre, pois ao
conhecê-la o cidadão saberá se posicionar nos mais distintos países do planeta Terra.
Reforçando essa ideia da importância de ter conhecimento na língua inglesa, temos as
palavras de Becker (2011), quando ela nos diz que na contemporaneidade é necessário
que as pessoas tenham em mente a importância da mudança de paradigma em relação à
língua inglesa, a qual têm sido utilizada mais do que a qualquer outro tempo entre
cidadãos das mais diversas nacionalidades, principalmente daqueles que não a têm
como língua mãe.
Corroborando com essa ideia, temos Gimenez (2001, p.296) ―o inglês não é
apenas uma língua internacional, mas a língua da galáxia e, caso o ignoremos, podemos
nos sentir como seres de outro planeta‖. As palavras das autoras reiteram o que fora
73
pontuado pelos professores em suas respostas nos excertos acima, ou seja, a importância
de termos conhecimento na língua inglesa (doravante LI), a qual além de ser para eles
instrumento de trabalho e requerer constante (trans)formação, busca por novos saberes,
informações e competências, é também fundamental para a comunicação dos seres
humanos mundo afora.
Para finalizarmos, podemos também citar Rajagopalan (2002) quando ele nos
diz que a LI se transformou em uma mercadoria intensamente valorizada,
principalmente no Brasil, onde tem se tornado um grande negócio pelo fato de ser
crescente a cada dia, mês ou ano. Não obstante, saber se comunicar na língua tem se
tornado necessário àqueles que pretendem buscar melhores posições sociais ou até
mesmo ascensão em suas carreiras. Igualmente, como aponta Phillipson (1992), a LI
tem ganhado tanto prestígio nos últimos anos que qualquer cidadão que tenha atingido
dado nível de formação acadêmica que não a possua, ainda que de forma razoável,
sente-se em grande desvantagem quando se aproxima daqueles que a dominam.
Na sequência, temos a última pergunta advinda do primeiro questionário ―Em
sua opinião, qual a importância de realizar um curso de aperfeiçoamento no exterior?‖ e
nela, obtivemos as seguintes respostas:
7. Carolina: Muda muito a perspectiva do professor, pois ele tem acesso a bens culturais
(expressões idiomáticas, regionalismos, turismo, etc.) que só acontecem quando ele está em
contato direto com a língua em um curso de imersão.
8. Bernardo: É uma grande oportunidade de aprender ―in loco‖ um pouco mais sobre a cultura
da língua alvo; de praticar o idioma de forma dinâmica e mais eficiente; de trocar ideias não só
com os colegas da área naquele país, como também com a comunidade local.
9. Alessandra: De grande importância, pois além de aprimorar os conhecimentos linguísticos
nos proporciona também a vivência em uma nova cultura.
Dadas as respostas, podemos dizer que, ainda que de maneira geral, a fala dos
participantes está pautada na ideia de que a realização de um curso de aperfeiçoamento
no exterior traz consigo a possibilidade de praticar o idioma de maneira mais intensa ou
até mesmo de praticar a língua ―real‖. Segundo Siqueira (2010), os cursos de
aperfeiçoamento devem criar uma condição de se abordar a língua sob uma ótica menos
prescritiva e mais realista, não apenas aquela “fictícia” que estamos acostumados a ver
nos livros didáticos (Ênfase adicionada).
O autor ainda pontua que em suas pesquisas inúmeros professores afirmam
categoricamente que ―apesar da importância e da relação íntima com a língua, é muito
74
difícil ensinar cultura, se, por exemplo, o professor não possui vivência cultural da
língua em países nativos‖ (SIQUEIRA, 2010, p. 36). De fato, embora o enfoque desse
trabalho não seja abordar a questão de ―língua versus cultura‖ é inegável que ao
abordarmos uma a outra virá automaticamente, pois são intrínsecas e inerentes.
Contudo, o que queremos ressaltar é que devido às respostas dadas pelos professores
nos excertos acima, ficou claro que ao buscar a realização de um curso no exterior em
um país onde a língua inglesa é tida como a língua materna, um dos quesitos que
merece destaque por quem o procura é aprender questões concernentes à cultura local
ou daquela língua. No que tange ao ensino de cultura, Siqueira (2010) nos diz:
Sendo assim, em linhas gerais, ao falarmos de cultura e ensino de ILI
(Inglês como língua internacional), o importante não é mais discutirmos o
caráter essencial que esse elemento possui no processo de ensino e
aprendizagem de línguas, muito menos quando dele lançar mão. O
desafio para o professor contemporâneo de ILI agora é descobrir ‗como‘
enxergar cultura como algo intrínseco, inerente ao sistema linguístico que
estamos ensinando e dele fazer bom uso o tempo inteiro. Além disso, é
crucial que o docente analise criticamente o conteúdo cultural do livro
didático que tende a apresentar esses aspectos como pacotes estanques de
informação de almanaque e muitas vezes a promover exaltação e o
reforço de valores da(s) cultura(s) alvo. (SIQUEIRA, 2010, p.36-37).
Dessa maneira, nota-se que é importante que o professor de LE saiba que a
língua traz consigo uma cultura, e uma só existe devido a outra. Assim, não cabe a esse
profissional ensiná-las como se elas se tratassem de ―produtos‖ distintos e sim, como
nos diz Siqueira (2010), cabe ao professor fomentar o desenvolvimento de uma
competência intercultural que motive tanto a ele quanto aos seus alunos a
compreenderem que língua e cultura estão intimamente ligadas e mais que isso, são
indissolúveis.
Entretanto, deixando de ―lado‖ a questão mais apontada pelos participantes, que
foi a da possibilidade de se aprender mais sobre a cultura dessa língua, um fator muito
importante levantado pelo participante Bernardo, diz respeito a prática da língua alvo,
quando ele coloca em sua resposta a possibilidade ―de praticar o idioma de forma
dinâmica e mais eficiente. Podemos aqui citar Pazello (2011), pois de acordo com a
autora há nos participantes de cursos de imersão a seguinte ideia:
Os professores de inglês em geral, bem como seus alunos, acreditam que
quanto mais inglês ouvirem, maior a possibilidade de poderem ―sair
falando‖. Sem dúvida o princípio dos programas de imersão ratifica a
noção de que mais intensidade e frequência de oportunidades de uso do
75
inglês tende a potencializar resultados, mesmo sem garanti-los
(PAZELLO, 2011, p.145).
Destarte, é comum ouvirmos de profissionais de LE que haverá apenas sucesso
na fala de um professor se esse tiver residido em um país onde a língua alvo (nesse caso
a inglesa) é falada, pois só assim sua competência enquanto professor será validada ou
legitimada. Entretanto, sabemos bem que isso pode ser avaliado como mais uma das
crenças que circundam o ensino/aprendizagem de LE e que isso se dá ainda de acordo
com Pazello (2011), devido a certas carências ou lacunas deixadas pela formação inicial
do professor. Contudo, a melhor forma para que tais ―pré-conceitos‖ deixem de existir é
pela busca incessante por novos paradigmas, novas leituras, novos conhecimentos, ou
melhor, na e pela (trans)formação contínua do professor de LE. Gostaríamos de finalizar
esse parágrafo com as palavras de Kirkpatrick (2007, apud Becker 2011, p.195) ―[...]
Professores sofisticados, bem treinados, multilingues e culturalmente sensíveis são os
que melhor podem ensinar os atuais aprendizes de inglês 32‖.
Apresentamos na sequência uma tabela que sintetiza as respostas dadas pelos
participantes no primeiro questionário semiestruturado, de modo a relembrarmos o que
foi pontuado por eles e nos deixar situados para analisarmos o próximo.
3
Pergunta
2
Pergunta
1
Participante
Pergunta
Tabela 4 – Questionário Semiestruturado I
Por que se inscreveu
Qual a importância da
Qual a importância de
no programa?
LI para você?
se realizar um curso
no exterior?
Carolina
Bernardo
Alessandra
Para fazer uso de novas
Essencial para o mundo
Ter
tecnologias
globalizado
culturais
Ter melhores empregos
Aprender
e acesso ao mundo
cultura alvo
Vivenciar
Vivenciar
Aprender
novas
tecnologias
Aprender
tecnologias
novas
culturas
novas
acesso
a
sobre
uma
bens
a
nova
cultura
Fonte: Autoria da pesquisadora
32
Tradução da autora: [...] Well-trained, multilingual and culturally sensitive and sophisticated teachers
can best teach today‘s learners of English.
76
Após analisarmos os excertos referentes ao primeiro questionário, olhemos
adiante para realizarmos a análise do segundo questionário, o qual traz consigo
perguntas mais específicas acerca dos construtos que compõem esse trabalho:
(trans)formação contínua, professor reflexivo e (re)significação identitária. Avancemos.
4.3.2 E o segundo questionário, o que nos traz?
Como dito anteriormente, o segundo questionário foi aplicado na quarta semana
de curso e tinha o intuito de verificar, mais precisamente, o que os participantes
pensavam acerca da formação contínua e qual o interesse deles por ela, qual a
concepção deles sobre a temática do professor reflexivo e identidade profissional, dentre
outros. A partir de agora, analisemos cada um dos excertos que seguem, e nos
posicionemos criticamente ante cada um deles.
A primeira pergunta a ser analisada é a seguinte ―Qual o seu interesse pela
formação contínua? De que maneira você está envolvido nela?‖. Obtivemos como
respostas os excertos abaixo:
10. Carolina: Tenho muito interesse pela formação continuada pois acredito que a partir dela
tem-se maior compreensão sobre o fazer pedagógico. Além disso, quando se é professor de
línguas, é necessário um aperfeiçoamento constante, pois a língua é dinâmica.
11. Bernardo: Interesse quase total. Estou sempre fazendo algum curso para o aperfeiçoamento
pessoal, e consequentemente, das aulas por mim ministradas.
12. Alessandra: Não me envolvo mais pela falta de reconhecimento por parte da Secretaria de
Educação. Os cursos que fiz foram exclusivamente para satisfação pessoal.
Antes mesmo de adentrarmos ao universo das análises dos excertos
propriamente dita, acreditamos que fazer certas balizas no que tange à formação
contínua sejam indispensáveis. Assim, para começarmos abordaremos a noção de
formação contínua abordada por Halu (2011), quando ela pontua que esse tipo de
formação não pode sob hipótese alguma ser vista ou considerada meramente como uma
capacitação ou treinamento, pois é na formação contínua que encontramos ―uma
construção
colaborativa
do
conhecimento,
questionando
e
experimentando
metodologias e abordagens de ensino e preocupando-se com a relação entre ensino de
línguas, educação e sociedade‖ (HALU, 2011, p. 36).
77
Indo ao encontro das palavras de Halu (2011), podemos citar Vieira-Abrahão
(2006), quando ela nos afirma que ―Por treinamento, entende-se a preparação do
professor para atividades a serem desempenhadas a curto prazo‖, o que verdadeiramente
não coaduna com a ideia de formação contínua. Dessa maneira, é fundamental que os
profissionais que buscam a formação contínua (aqui damos ênfase aos de LE) entendam
a grandiosidade que ela tem e que nela eles terão espaço, não apenas para realizar novas
leituras e falarem sobre os problemas que enfrentam no seu dia a dia, mas sim um lugar
onde poderão adquirir novos conhecimentos, legitimar suas práticas cotidianas e
aprimorá-las.
Voltando nossos olhares às respostas dadas pelos participantes logo no início
dessa seção, podemos observar que, de maneira geral, há uma preocupação por parte de
cada um em buscar formar-se continuamente. De acordo com a participante Carolina, há
da parte dela grande interesse por tal formação, pois é nela que o professor repensará
sua práxis. Fortalecendo as ideias apresentadas pela participante temos as palavras de
Almeida Filho (1997), quando nos diz que a formação continuada diz respeito ao
engajamento do professor pela busca permanente de seu aperfeiçoamento profissional.
Corroborando Almeida Filho (1997), Walesko e Procailo (2011) nos afirmam que a
procura pela formação contínua visa preencher lacunas e é através dela que será
possível ao professor participar do desenvolvimento de novas técnicas, novas leituras e
como se trabalhar com novas abordagens.
Por outro lado, a participante Alessandra nos diz que a procura pela formação
contínua partiu dela mesma e não por interesse da SEEDF, a qual, segundo ela, não
reconhece a importância de oferecer aos professores da rede formação contínua. No que
tange essa formação, ecoamos Guandalini (2013):
A formação continuada de professores é de obrigação das instituições
públicas que devem primar pela qualidade de seus docentes caso queiram
aprimorar constantemente as práticas pedagógicas. Dessa forma, os
alunos serão mais bem preparados para continuar seus estudos
acadêmicos, ou para entrar no mercado de trabalho e, assim, ser
participativos em suas comunidades, tornando, então, a sociedade na qual
vivemos um lugar melhor. Além do mais, essa formação é direito dos
professores como expressa o artigo 46 do Regimento Interno da SEEDF33
(GUANDALINI, 2013, p. 86)
33
Disponível em <www.cre.se.df.gov.br/ascom/documentos/.../regimento_interno_sedf.pdf > . Acesso em
22 de abril de 2014.
78
Dessa maneira, podemos dizer que o queixume da participante Alessandra é
compreensível, pois não somente ela, mas o órgão educacional para o qual ela trabalha
também deveria estar atento, de forma a cumprir o que regulamenta seu regimento
interno, oferecendo aos seus professores a formação contínua adequada a sua área.
Além disso, uma educação, ou melhor, o ensino de LE de qualidade é aquele que
condensa tanto a vontade do professor ― em continuar se especializando, buscando
novos meios, novas tecnologias, leituras e afins para facilitar a compreensão do aluno e
fazer com que seu interesse na língua alvo seja fomentado ― quanto um plano de
governo que ofereça ao profissional as ferramentas adequadas e necessárias para que ele
possa realizar um trabalho de qualidade e excelência dentro de sua área de atuação,
nesse caso, a da língua estrangeira. Não queremos dizer com isso que cabe à SEEDF
oferecer aos professores de LE salas equipadas de multimeios, de um grande acervo
tecnológico e materiais de última geração e entregar a chave dessa sala ao professor e
dizer a ele: ―Faça bom uso desse material, pois foi um investimento de muitas centenas
de reais advindos dos cofres públicos‖. Ao contrário, queremos dizer que além de
oferecer ao profissional uma sala recheada de possibilidades que certamente o
encantarão, assim como o fará com seus alunos, lhe ofereça de antemão uma formação a
longo prazo e, mais que isso, uma formação adequada para que ele possa fazer o uso
correto dos materiais que o cercam e também veja que há uma preocupação por parte
daquele órgão para o qual ele trabalha em investir nele, em fazer com que ele perceba o
quanto seu trabalho é importante, e que ele não se trata apenas de um ―número de
matrícula‖34.
Nessa mesma perspectiva, acreditamos que quando o participante Bernardo
aponta em sua resposta que seu interesse pela formação contínua é ―quase que total‖ a
palavra quase tenha sido possivelmente utilizada pelo mesmo motivo apontado por
Alessandra, ou seja, pela falta de suporte oferecido pela SEEDF. Afinal, o ser professor
já traz consigo diversos afazeres, obrigações e responsabilidades. Assim, muitas vezes o
profissional acaba se sentindo desmotivado em buscar por novas formações por conta
própria, devido aos inúmeros de afazeres que a própria profissão o traz, tais quais: lidar
com a indisciplina, preencher uma série de diários, levar trabalhos para serem
finalizados em casa, dentre outros.
34
Termo comumente utilizado pelos professores da rede pública de ensino do DF, quando dizem que para
a SEEDF não são nada além daquele número de matrícula que os deram no dia em que tomaram posse.
79
Dessa maneira, seria plausível, se houvesse o interesse real da SEEDF em
oferecer a ele essa formação contínua, capacitando-o e, por conseguinte devolvendo a
ele aquela motivação inicial que os recém formados trazem. Assim, ao se preocupar
efetivamente com a formação contínua, ou como nos aponta Gimenez (2005), formação
essa que deve ser contínua ou continuada, pois implicam em um desenvolvimento que
deve estar em permanente construção, com o objetivo de se ter professores que deixem
de agir de acordo com conhecimentos prévios e crenças e passem a ser implementadores
de teorias, capacitados, críticos e mais que isso, capazes de tomar as decisões adequadas
no tempo propício.
A próxima pergunta do questionário tinha o interesse em saber o que cada um
dos participantes entendia por ―Professor reflexivo‖ e também solicitava que eles
fizessem um breve apanhado acerca das características desse profissional. Contudo,
antes de partirmos para as análises das respostas dadas pelos participantes, falaremos
um pouco mais sobre esse construto e, na sequência, avaliaremos o que foi dito pela
pesquisadora e teóricos que fundamentam esse estudo. Faremos uma comparação com o
que foi dito pelos professores que participaram da pesquisa.
Tanto no capítulo introdutório quanto no incumbido pelo referencial teórico,
falamos sobre o construto de professor reflexivo, pois se trata de um dos pilares
fundamentais para a sustentação dessa pesquisa. Moita Lopes (1996) afirma que
professores
reflexivos
são
capazes
de
reconstruir
seus
conhecimentos
e
consequentemente serem agentes de sua própria prática. Fortalecendo as palavras de
Moita Lopes (1996), temos as palavras de Freire (2002), o qual nos diz que apenas com
a reflexão de sua prática e com o pensar e agir crítico é que o professor será capaz de
pensar de maneira crítica sua prática de ontem ou de hoje e melhorá-la para o amanhã.
Agora, voltemos o nosso olhar à pergunta feita e às respostas obtidas e
verifiquemos o que pensam os participantes acerca do construto professor reflexivo
como mencionado no parágrafo anterior. Tivemos como pergunta: ―O que você entende
por professor reflexivo? Em sua opinião, quais são as características desse profissional?
Você se considera assim?‖, e coletamos as respostas abaixo:
13. Carolina: Professor reflexivo é aquele que não somente exerce seu trabalho pedagógico,
mas pensa muito sobre as teorias imbricadas no processo de ensino-aprendizagem para assim
aperfeiçoar seu trabalho. Acredito que sim, que eu seja uma professora reflexiva.
80
14. Bernardo: É o professor que para e reflete sobre seu empenho e desempenho em sala de
aula. É um professor comprometido, responsável, dinâmico, feliz, aberto à troca de experiências
e que busca sempre aprender para melhorar. Sou assim!
15. Alessandra: Acredito que seja o professor que observa as características de seus grupos e
procura trabalhar com técnicas que possam facilitar a aprendizagem. Me considero assim.
Ante os excertos apresentados, vale ressaltar que a ideia apresentada pelos
participantes no tocante professor reflexivo são válidas e bastante coerentes, pois de
acordo com eles trata-se de um profissional que procura aperfeiçoar seu trabalho, que se
preocupa em pensar nas teorias envolvidas no processo de ensino-aprendizagem de uma
LE com o objetivo de melhorar suas práticas pedagógicas e, consequentemente, agir
como um facilitador do processo. Ainda de acordo com os professores, os três
envolvidos no processo dessa pesquisa afirmam ser reflexivos, ou melhor, eles
declararam que se veem assim, como profissionais reflexivos.
Entretanto, a resposta dada por Bernardo nos chamou a atenção, por alguns
motivos. Primeiramente, por ele ter dito que o professor reflexivo é aquele que
(re)pensa seu empenho e desempenho em sala, o que nos remete às palavras de Liberali
(1999) quando ela nos pontua que o ato de refletir implica um processo de autoavaliação que coloca aquele que o faz como o agente da ação, que toma as rédeas da
situação, como protagonista de sua história.
Outro motivo para darmos ênfase à resposta de Bernardo está nos vários
adjetivos por ele elencados para descrever o professor reflexivo, o que reitera que esse
tipo de profissional traz consigo várias qualidades e que buscar pela reflexão tem grande
relevância e faz uma grande diferença. Como afirma Sousa (2003) que ao buscarmos a
reflexão, refletimos e por que fazemos isso?Questiona a autora e pontua na sequência
―Para transformar a realidade para melhor, mais feliz, com ações que resultem na
aceitação das diferenças. É esse colorido diferente que torna o mundo mais instigante e
por isso mais belo...‖ (SOUSA, 2003, p. 205).
Por fim, outra questão destacada por Bernardo foi a de que ao ser reflexivo, o
professor estará aberto à troca de experiências e continuará em sua busca de aprender
para poder melhorar e progredir cada vez mais. Para Kemmis (1987), ao refletirmos
criticamente exploramos de forma autoconsciente nossas relações enquanto agentes no
processo educacional, e é dessa maneira que reconstruiremos aquilo que temos para que
fique ajustado ao que queremos ter no futuro. Dessa maneira, o professor deverá estar
81
apto a buscar tanto pela (trans)formação contínua quanto pelo (re)pensar e refletir, pois
eles são fontes que não se secam, quer dizer, para que o ato reflexivo passe a ser uma
constante na vida do profissional e seja significativo e expressivo é de suma importância
que ele pense nesse construto a longo prazo, para que de fato as (trans)formações e
reflexões possam existir no seu cotidiano e não apenas em suas leituras.
A questão seguinte versava acerca do construto identidade tanto profissional
quanto no ensino de línguas. A partir dessa perspectiva, Bullough (1997) diz ―A
identidade do professor – aquilo em que professores iniciantes acreditam a respeito de
ensinar e aprender como eu-professor – é de vital preocupação para a educação‖
(BULLOUGH, 1997, p. 21). Já para El Kadri (2010), questionamentos concernentes à
identidade profissional do professor de LE, especialmente no Brasil, têm merecido
atenção especial devido às mudanças e às novas exigências que têm acontecido no
cenário do ensino de línguas, como temos abaixo:
O surgimento de novos paradigmas de ensino de língua inglesa (como por
exemplo, os pressupostos trazidos pelo ensino de inglês como língua
franca versus o ensino tradicional de inglês como língua estrangeira)
exige uma reflexão sobre a identidade profissional do professor de língua
inglesa que problematize seu papel diante deste cenário e ressignifique o
que este deve saber e fazer em sala de aula (EL KADRI, 2010, p.73)
Após revisitarmos alguns dos conceitos de identidade profissional, voltemos aos
excertos dos participantes e façamos as devidas análises. Tendo como pergunta: ―O que
você entende por ―identidade profissional‖?
16. Carolina: Entendo por ―identidade profissional‖ os caminhos profissionais e acadêmicos
percorridos para o exercício da profissão. Eles vão desde a escolha do curso a ser feito à escolha
dos cursos de formação continuada e as etapas de ensino nas quais trabalho. A identidade está
vinculada à percepção e à empatia que o aprendente (minha situação) se coloca frente aos
desafios propostos em determinada língua e a escolha por aquela determinada língua em
detrimento de outra(s).
17. Bernardo: Identidade profissional é o que sou, ou seja, professor. Entendo também que sou
um facilitador, uma ponte entre aquilo que o aluno é e o que ele pode ser: um falante fluente do
idioma alvo.
18. Alessandra: Identidade profissional é a forma como você realiza o seu trabalho, no caso de
professores é a forma como você adéqua o conteúdo a diferentes grupos, à sua maneira, você
repassa os conteúdos.
Com base nas respostas dadas, observamos que em dados momentos os
conceitos apresentados por eles se convergem e em outros momentos se distanciam.
82
Como exemplo, temos a ideia de que identidade profissional está calcada na forma em
que cada um se vê enquanto profissional e como eles realizam seus trabalhos.
Entretanto, em dado momento também surgem as divergências, quando uma pontua que
essa identidade também diz respeito ao modo em que os conteúdos são adequados para
serem posteriormente trabalhados em sala. Já o outro aponta que ele é a ponte para o
que seu aluno é e quem ele pode ser. Entretanto, se avaliarmos essas respostas de forma
mais profunda, elas podem até mesmo ir ao encontro uma da outra, já que ambos têm o
interesse de facilitar a aprendizagem de seus alunos.
Todavia, não cabe a nós aqui dizer, nem faz parte das análises concernentes a
esse estudo, se as respostas apresentadas estão corretas ou não. Entretanto, gostaríamos
de fazer uma análise da resposta fornecida pela participante Carolina, por trazer consigo
uma abordagem mais ampla do construto identidade profissional, nos possibilitando
fazer considerações mais relevantes acerca do referido construto.
Segundo a resposta de Carolina, a identidade profissional do professor de LE
está ligada aos caminhos por ele traçados e percorridos, tanto no âmbito acadêmico
quanto no profissional. Para ela, as escolhas que fazemos e a empatia que apresentamos
ao fazermos nossas escolhas também influenciam diretamente nossa identidade
profissional. Concordando com as ideias apresentadas pela participante Carolina, temos
as palavras de Beijaard, Meijer e Verloop (2011) ao nos afirmarem que identidade
profissional não se trata de um atributo fixo, mas de um fenômeno relacional,
construído pelo sujeito através de suas escolhas. Ainda de acordo com eles, a identidade
profissional está diretamente ligada à interpretação social a ela dada.
Sendo assim, podemos reiterar a posição de Carolina ao dizer que as escolhas
que fazemos atingirão tanto de forma positiva ou até mesmo de maneira negativa nossa
identidade profissional. Tomemos como exemplo a profissão em questão: professor de
LE para tornar o que foi dito tanto pela participante quanto pelos autores mencionados
em uma situação mais verossímil. Destarte, vamos supor que há certo professor de
inglês que normalmente diz aos colegas que não foi ele quem escolheu sua profissão e
que apenas por um acaso essa entrou em sua vida, pois foi à Inglaterra fazer um
intercâmbio, gastou tudo o que tinha por lá e ao retornar se viu numa situação de
dificuldades financeiras e a única coisa que sabia fazer era falar inglês. Leu um anúncio
no jornal de certo curso de idiomas que estava selecionando professores e viu ali uma
oportunidade de emprego. Candidatou-se e foi selecionado. Entretanto, à medida que o
83
tempo foi passando começaram a exigir dele mais preparo no sentido acadêmico, ou
seja, que ele tivesse uma formação formal, uma graduação em sua área de atuação.
Ainda que a contra gosto ele o fez, pois precisava de sua renda para pagar suas dívidas e
afins. Resultado, hoje é um profissional frustrado, que apenas vai à escola e ministra
suas aulas para ter sua renda mensal. Não está disposto a se especializar e foge de
qualquer tipo de formação contínua, pois diz que só está nessa profissão por acaso e,
que além disso, tem vergonha dessa profissão tão mal vista pela sociedade.
Analisemos agora a segunda situação: Certo professor de língua inglesa, sempre
que é questionado sobre sua profissão diz que embora merecesse ter um salário mais
―competitivo‖ ama o que faz e jamais se viu desempenhando outra função. Iniciou seus
estudos na língua estrangeira aos treze anos de idade e desde então, passou a pensar que
era aquilo que queria para sua vida. Por mais que seus pais insistissem para que ele
mudasse de ideia isso não aconteceu. Fez vestibular, foi aprovado e já no terceiro
semestre de curso começou a lecionar em um pequeno curso de idiomas. À medida que
o tempo foi passando, ele se candidatou às vagas oferecidas por escolas maiores e
sempre recebeu resultado positivo. Fez especialização, mestrado e agora já começou a
pensar no título de doutor, pois sabe o quão importante é para o professor buscar estar
em consonância com as novas necessidades do mundo. Hoje, é um profissional
qualificado, com sede de saber a cada dia mais e está sempre disposto a rever suas
práticas e conceitos.
Ao observarmos as duas situações, corroboramos com a ideia inicial apresentada
por Carolina e firmada pelas palavras de Beijaard, Meijer e Verloop (2011), ou seja, a
de que as nossas escolhas e o modo em que a sociedade vê nossa profissão com ou sem
prestígio influenciarão em nossa identidade profissional. No entanto, cabe a nós
decidirmos que tipo de profissional queremos ser e de que maneira estaremos dispostos
a construí-lo, se como o personagem do primeiro exemplo, que para muitos pode ser
caracterizado como um professor de LE que age por agir e não repensa suas práticas, ou
como o segundo, que vê a necessidade de buscar novos conhecimentos e mostrar que
ele e sua profissão podem fazer a diferença na vida de tantos. Assim, para finalizarmos
a análise dessa questão, deixamos e/ou lançamos a seguinte questão ―Que tipo de
profissional quero ser? E com essa escolha, que tipo de identidade profissional terei?‖.
Cabe a cada um de nós o poder da decisão.
84
Na última pergunta do segundo questionário ―De que modo ser um ―professor
reflexivo‖ pode/poderia (re)construir sua identidade profissional?‖, colhemos as
seguintes respostas:
19. Carolina: O professor reflexivo pode construir (formação inicial) ou (re)construir
(formação continuada) sua identidade profissional por meio de atitudes afirmativas, tais como:
conhecimento das teorias acerca do que está sendo ensinado em sala de aula, busca por
tendências e novidades nos meios de circulação da língua, reflexão sobre as atividades que não
geram resultados concretos em sala de aula, entre outros.
20. Bernardo: Quando compartilho com os colegas minhas preocupações, meus erros, meus
acertos, estou (re)construindo a minha identidade de professor. Quando converso com os meus
alunos e escuto suas necessidades, suas opiniões, seus anseios.
21. Alessandra: À medida que o professor vai percebendo a melhor forma de repassar
determinados conteúdos, a sua identidade profissional poderá ser aprimorada, algumas vezes
essa identidade pode até ser mudada de acordo com a realidade dos grupos que ele está
trabalhando.
Ante as respostas obtidas, nota-se que os discursos dos participantes circundam
uma mesma perspectiva: à medida que o professor de LE reflete suas práticas e busca
aprender com seus erros e também com seus acertos, ele (re)construirá sua identidade,
tornando-se um profissional apto a atender as novas exigências feitas constantemente no
ensino de línguas no mundo globalizado. Como nos afirmam Silva e Pavan (2010) é
necessário que os professores tanto em formação inicial como na contínua (que é a por
nós analisada nesse estudo) possam ser encorajados a (re)pensar sobre sua maneira de
ver o mundo, assim como refletir sobre sua auto-imagem, pois a partir disso eles estarão
aptos a reverem suas atitudes e práticas de ensino.
Ainda dentro dessa perspectiva, conforme nos aponta Celani (2010):
A questão fundamental na formação, tanto inicial quanto contínua, é
como passar a dependência sem reflexão, da busca pura e simples de
modelos a serem imitados, para uma independência informada, uma
independência que, a partir da análise de contextos específicos, permite
tomada de decisões que podem até contrariar os ensinamentos do
formador, mas que resultam de reflexões fundamentais (CELANI, 2010,
p.63)
De acordo com o que fora posto por Celani (2010), podemos concluir que
oferecer ao profissional a possibilidade de (trans)formar-se oferecerá a ele a
possibilidade de reflexão e, por conseguinte, de tomada de decisões que o farão mais
autônomo e seguro para agir tanto dentro de seu contexto de escola/sala de aula, quanto
para construir e buscar por espaços mais amplos fora deles. Vale ressaltar que o espaço
85
destinado à formação contínua também contribuirá de forma expressiva para que essas
reflexões ocorram e que o professor passe de reprodutor a implementador de suas
teorias, como já apontado anteriormente.
No que tange à (re)construção identitária do professor, podemos dizer que sendo
a identidade algo dinâmico, socialmente construído e que têm sido um alvo de interesse
em pesquisas nacionais e internacionais; ou dentro do que fora apontado por AlvesMazotti (2007, p. 580 apud CALVO, 2011): que essa (re)construção remete à busca de
novos caminhos para ressignificar o trabalho do professor e sua práxis, com vistas a
proporcionar a ele uma formação que o capacite e o faça ser reflexivo, para que assim,
esse profissional possa enfrentar os desafios postos ao ensino de LE na
contemporaneidade, que queremos reforçar mais uma vez a importância da formação
contínua. Pois é a partir daí, e, ecoando Almeida Filho (1997), com uma dieta
balanceada de leituras e reflexões que o professor poderá refletir suas práticas, andar
com suas ―próprias pernas‖ deixando as muletas com as lacunas de sua formação inicial
de lado e passará a ser agente de seu destino e, como dito anteriormente, tornar-se não
mais um reprodutor de técnicas e teorias, legitimando por sua vez suas próprias
teorizações e construindo sentido em sua constante aprendizagem.
Assim como fizemos na seção anterior, na qual apresentamos uma tabela com
uma visão geral das respostas dadas pelos participantes, faremos a seguir:
pela
interesse
formação
contínua?
Pergunta 4
seu
Pergunta 3
Qual
Pergunta 2
Participante
Pergunta 1
Tabela 5: Questionário Semiestruturado II
O que você entende
O que você entende
De que modo ser um
por
por
professor
professor
reflexivo?
Se
identidade
reflexivo
“pode/poderia”
profissional?
considera um?
(re)construir
sua
identidade
profissional?
Carolina
Bernardo
Muito interesse, pois é
É aquele que exerce
São
necessário
seu trabalho e pensa
percorridos
aperfeiçoamento
nas teorias aplicadas.
professor e as escolhas
constante.
Me considero.
por ele feitas.
Interesse total. Por isso
Professor que reflete
estou sempre fazendo
seu
um curso na área.
desempenho em sala.
um
empenho
e
os
caminhos
É aquilo que sou.
pelo
Por meio de atitudes
afirmativas.
Compartilhando erros e
acertos.
86
Sou assim!
Alessandra
Só não me envolvo
Professor que observa
É a forma como você
Quando
mais
de
seus
realiza seu trabalho.
percebe
da
facilitar
por
falta
reconhecimento
SEEDF.
grupos
para
aprendizagem.
Me
a
forma
o
a
de
professor
melhor
repassar
conteúdos.
considero.
Fonte: Autoria da pesquisadora
4.4 É chegada a hora desvelarmos as entrevistas
Nesta seção, teremos a oportunidade de observarmos de perto a leitura que cada
participante fez sobre o programa realizado no exterior. Diferentemente das respostas
dadas nos questionários, onde cada um elabora sua réplica como lhe convém, na
entrevista isso é modificado. Segundo Silveira (2002), na entrevista os participantes
tendem a se expor mais, a fazerem uma retrospectiva do que aconteceu, dando uma
riqueza de detalhes ao que lhes for questionado.
Por falar em retrospectiva e entrevistas, no capítulo 3 (metodológico) fizemos
um apanhado acerca das entrevistas realizadas. No entanto, a fim de relembrarmos os
leitores faremos uma breve revisão do que abordamos outrora, sendo assim, vale
lembrar que as entrevistas foram aplicadas na sexta semana do curso ou, para sermos
mais precisos, no último dia de aula. Optamos por realizarmos as entrevistas no último
dia devido ao insumo que os participantes teriam a nos oferecer, pois como aquele ciclo
havia se fechado, eles teriam uma visão mais ampla e poderiam contribuir ainda mais
com respostas possivelmente mais ―envolventes‖. A entrevista era composta pelas
seguintes perguntas:
1. Tendo realizado o curso, de que maneira você avalia seu aprimoramento
profissional?
2. De que modo você pretende ventilar o conhecimento construído no curso?
3. Que tipo de profissional você se considera neste momento pós-curso no
exterior?
4. Quais foram os subsídios oferecidos, nessas seis semanas de curso intensivo,
para que você se tornasse, ou aperfeiçoasse seu lado ―professor reflexivo‖?
5. Tendo respondido anteriormente acerca da identidade do professor e a
(re)construção identitária desse profissional, como você vê esses pilares após as
aulas dadas, os conteúdos trabalhados e a sua convivência com a língua?
87
6. Haja vista que um dos critérios do curso é que você desenvolva um projeto em
sua escola, quais são seus projetos para essa nova ―era profissional‖ após realizar
o curso nos EUA?
As respostas obtidas foram gravadas em áudio e, na sequência, apresentaremos
suas transcrições e faremos as devidas análises a cada uma delas.
A primeira pergunta versava acerca da formação contínua oferecida no programa
e como eles a compreendiam. Como novamente apresentamos aqui ―Tendo realizado o
curso, de que maneira você avalia seu aprimoramento profissional?‖. Observemos as
respostas:
22. Carolina: ―O aprimoramento (+) é (+++) profissional que eu tive ao longo do curso foi
muito grande! Porque a oportunidade que você tem de entrar em contato com outra língua e com
outra cultura, outro universo [...] e (+) o aprimoramento, é (+++) poder compartilhar e
APRENDER com outras pessoas que tenham a mesma vontade de aprender que você tenha é
MUITO bom! [...] Então, isso ((aqui ala se refere ao programa)) me melhorou como ser humano
e (+) assim, no, na totalidade como profissional‖.
23. Bernardo: “Eu achei muito válido o curso (+++), primeiramente porque eu pude reciclar
(+++) é, vocabulário, é (+) aprender novas é (+++) novos vocabulários! Também pude, é (+)
praticar o inglês mais ((a LI)) [...]. Também pude reforçar algumas teorias que (+) a gente tem
de aprendizagem e de ensino ((de LE)) e, tive a oportunidade poder fazer uma troca de
informações entre os NOSSOS colegas (+++) que foi tanto com os colegas do Brasil da mesma
área, trocar experiências (+) quanto com os estrangeiros (+) pra conhecer o outro lado ((acredito
que ele quis dizer que com a troca de experiências tenha sido possível ver as diferenças
existentes no ensino que LE entre Brasil e EUA, e também notar quais são as potencialidades e
fraquezas de cada país nesse âmbito de ensino/aprendizagem de LE)). Eu pude perceber que não
devemos NADA aos países desenvolvidos [...] mesmo com as adversidades que encontramos,
como salas lotadas!‖.
24. Alessandra: “É (+) eu aprendi algumas coisas (+++) algumas técnicas de sala de aula (+)
muito pouco porque a gente quase não tinha aula de técnica (+) mas algumas coisas que os
professores faziam na sala de aula, eu (+++) comecei a pensar que eu poderia fazer na minha
sala de aula também [...] E uma coisa, que (+) que me ajudou MUITO,MUITO foi aquela aula
da Michelle que a gente tinha que dar uma aula de improviso (+) isso aí, me desinibiu um pouco
((a participante não deixou claro se a desinibiu durante o período que esteve no programa, ou se
a desinibiu para sua vida profissional de modo geral)).
Ao analisarmos as respostas referente a primeira pergunta da pesquisa, notamos
que o curso foi de modo geral profícuo aos três participantes, haja vista que todos
fizeram apontamentos de situações positivas tanto no âmbito pessoal, quanto no
profissional e acadêmico, e normalmente, aquilo que nos satisfaz nas diversas esferas de
nossas vidas é porque foi sim satisfatório.
88
Contudo, gostaríamos de salientar que por meio das respostas podemos inferir
que os professores tiveram uma oportunidade especial de vivenciar a língua e sua
cultura, novas experiências no ensino/ aprendizagem de língua e ainda de desmistificar
certas colocações que costumavam tecer acerca do Brasil, como veremos
posteriormente. Além disso, eles tiveram a oportunidade de trocar experiências tanto no
que diz respeito à vida acadêmica quanto a profissional, com os professores brasileiros
vindos de outros estados e também com os professores estrangeiros que lecionavam
para o programa e os demais que faziam parte do corpo docente da universidade. Dessa
maneira, eles tiveram a possibilidade de trocar ideias, experiências e aprenderem uns
com os outros, desenvolvendo várias competências dentro do âmbito da formação
contínua, como apontado por Basso (2008):
[...] contemplar as competências na contemporaneidade como uma
alternativa para a reflexão e formação do professor de LE, seja em forma
inicial ou continuada, seja para uma reflexão auto-avaliativa do
profissional em busca de sua própria superação [...] devemos usar tais
competências como um meio e não como fim. [...] A Competência
Reflexiva ajuda-o na percepção e na resolução dos problemas do
cotidiano [...]. A capacidade de reflexão pode ajudar o professor de LE
não somente na percepção da sua dificuldade no trabalho e uso da língua
alvo, mas também o a definir o que fazer para imprimir um movimento
contínuo para seu crescimento. A Competência Profissional engloba
toda a sua formação, desde sua experiência como aluno, até a sua
autonomia na procura de uma prática docente que condiga com seu dizer
e seu desejo. (BASSO, 2008, P.127-144 – Ênfase adicionada)
Como dito pelos participantes, a troca de experiências, reforçar as teorias que
traziam consigo, aprender com pessoas que têm o mesmo interesse que você e que
comungam de uma mesma trajetória acadêmica e profissional, se ―reciclar‖ e ter novas
vivências, em suma, aprender. Essas são sem dúvida possibilidades de se desenvolver
novas competências e saberes, como dito por Basso (2008), e ir além do aprendizado
tradicional, ultrapassando os muros da academia, aprendendo consigo e com o próximo,
compartilhando conhecimento, aprender pelo simples fato de aprender, aprender por
amor àquilo que faz. É dessa maneira que interpretamos a primeira fase dessa entrevista.
Já na segunda questão ―De que modo você pretende ventilar o conhecimento
construído no curso?‖ eles nos deram as seguintes devolutivas:
25. Carolina: ―Pretendo multiplicar (+) esse conhecimento tanto com meus alunos, em sala de
aula mesmo (+++) quanto nos, nas coordenações pedagógicas que você tem (+) é, com outros
colegas de língua estrangeira [...] pois tem colegas da minha escola, é, que também foram para o
programa (+) só que, é (+++) pra estados diferentes!‖
89
26. Bernardo: Pretendo fazer esse compartilhamento, através de (+) é, reuniões, é (+++) nas
coordenações pedagógicas (+++). [...] oportunamente eu vou poder falar lá das experiências que
eu tive (+) e aprendi e compartilhar com meus colegas tudo o que (+++) é, foi aprendido.
27. Alessandra: [...] pros meus colegas eu vou passar o conhecimento que adquiri nas
coordenações mesmo (+++) quando eles vão, é (+) preparar a aula e estão procurando uma
DINÂMICA sobre alguma coisa específica (+++) e se eu lembrar de alguma coisa que eu
aprendi lá (+) que dê pra ser usada por eles eu vou falar [...]. Já para os alunos, é, (+) eu quero
passar esses conhecimentos para eles em sala de aula mesmo.
Almeida Filho (2004) afirma que o professor de LE ensina de maneira profícua
quando envolve seus aprendentes numa ―teia‖ de linguagem e o faz através de
procedimentos que ele entende como apropriados e relevantes. Assim, apoiados nas
palavras do autor e envolvidos na teia que interfaceia as respostas dos participantes, é
apropriado dizer que por estarem envoltos na teia da linguagem e cheios de novos
conhecimentos, experiências positivas e considerarem o que trarão consigo em suas
bagagens mentais e físicas é que acreditamos que os professores ventilarão, passarão
adiante, ou usando um termos mais comum aos dias atuais, compartilharão com seus
colegas de trabalho e alunos tudo aquilo que aprenderam ao longo das seis semanas de
curso intensivo nos EUA; o que indiretamente promoverá aprendizagem e fomentará
nos docentes e discentes que os ouvirem falar acerca de suas experiências vontade de se
inscrever na próxima edição do curso (no caso dos docentes) e ver o quanto aprender
uma língua estrangeira pode te oferecer possibilidades (na perspectiva dos discentes).
Por outro lado, também foi possível observar na fala dos três participantes que
o momento da coordenação pedagógica de suas escolas pode ser considerado importante
para a preparação das aulas, como de praxe, e também um lugar para o desenvolvimento
de uma formação contínua, onde os saberes dos colegas e suas experiências são
trocados, e uma colcha de conhecimento ou um mosaico de novas reflexões vão sendo
construídos e os professores (trans)formados. Afinal, como ponderou Sturm (2011):
A (trans)formação envolve ensinar e aprender, uma ação não se dissocia
da outra, pois só se ensina porque alguém está disponível em aprender.
Com isso, o desenvolvimento da capacidade reflexiva crítica gera
aprendizado e autonomia; os participantes desse processo [...] terão
possibilidades de (re)criar ou de (re)fazer (STURM, 2011, p. 84)
Persistindo
nessa
questão
concernente
ao
desenvolvimento,
nessa
(trans)formação do professor de LE dentro das coordenações pedagógicas e na troca de
saberes uns com os outros, é que Nóvoa (1997) argumenta:
90
[...] da mesma maneira que a formação não se pode dissociar da produção
de saber, também não se pode alhear de uma intervenção no terreno
profissional. As escolas não podem mudar sem o empenho dos
professores; e estes não podem mudar sem uma transformação das
instituições em que trabalham. O desenvolvimento profissional dos
professores tem de estar articulado com as escolas e os seus projetos
(NÓVOA, 1997, p. 28)
Dessa maneira, voltamos ao que dissemos na seção anterior, de que é muito
importante que o professor compreenda os benefícios que se formar continuamente
pode lhe trazer. Mais que isso, que a instituição ou órgão para o qual ele trabalha
fomente isso em seus profissionais e os ofereça as ferramentas adequadas e o local
oportuno para que essa (trans)formação possa acontecer e que a reflexão também seja
uma crescente. Assim, todos (professor, aluno, diretor, supervisor, secretário de
educação, governador, ministros, para citar alguns) terão seus devidos benefícios.
Omitiremos as respostas dadas à terceira pergunta pelo fato que as devolutivas
obtidas nela acabam sendo encontradas como respostas às perguntas seguintes, e se
tivéssemos optado por abordá-la acabaríamos com trechos prolixos e redundantes.
Sendo assim, voltemos nossa atenção às respostas seguintes.
Na quarta questão ―Quais foram os subsídios oferecidos, nessas seis semanas
curso intensivo, para que você se tornasse, ou aperfeiçoasse seu lado ―professor
reflexivo‖? As respostas dadas estão nos excertos abaixo:
28. Carolina: O material didático fornecido pelo curso foi MUITO bom! (+) Até as dicas
mesmo, os e-mails, as discussões e reflexões em sala, as ferramentas tecnológicas que eles
davam algumas dicas ((foram ótimos subsídios para nós)). [...] além das discussões,
principalmente sobre pesquisa-ação (+) que o professor hoje em dia, o professor brasileiro ele
NÃO É acostumado a pesquisa (+++) a licenciatura é pouco acostumada a pesquisa, é isso foi
uma ferramenta muito importante![...] pois o professor pode usar a pesquisa em sua sala de
aula(+)e, é (+) isso foi muito importante!‖.
29. Bernardo:―Como subsídios eu posso citar (+++) o próprio contato com os colegas, porque a
gente trocava experiências trocávamos experiências, (+) o contato com os professores de lá,
porque também trocávamos experiências, os livros pelos quais nós estudávamos (+) que era no
caso a nossa base teórica. [...] E também a experiência como aluno, porque eu podia
experimentar o que meu aluno vivencia (+) aqui no Brasil e me faziam, é (+++) refletir a minha
práxis aqui no Brasil‖.
30. Alessandra: ―[...] o que aconteceu lá (+) foi que tínhamos uma matéria, uma disciplina que
a professora era a mesma para as duas turmas. [...] com a minha turma o que ela tinha planejado
nunca dava certo (+) e com a outra dava. Aí, ela teve que achar, é (+) um meio para que as
coisas funcionassem na minha turma também. Assim, essa reflexão que ela teve foi importante e
eu pude ver (+++) dessa vez como ALUNA que é necessário o professor refletir, que não
91
significa (+) que o que ele planejou para uma turma vai dar certo em todas! E (+) é isso que eu
vou procurar fazer ainda mais‖.
Ao analisarmos as respostas acima, fica claro que a palavra reflexão, refletir
apareceram nos excertos de todos os participantes. No que tange essa reflexão, Gimenez
(2005) pontua:
Tratar do tema da formação de professores de línguas no contexto
brasileiro nos dias atuais e, por si só um desafio [...]. Se considerarmos
formação como um processo de aprendizagem que leva em conta o
aprendiz e seus conhecimentos, que tornar-se professor implica envolverse na tomada de decisões [...]. A Linguística Aplicada (doravante LA)
contribui para essa formação na medida em que está orientada para
problemas de uso da língua [...]. E é nesse campo da LA que a abordagem
reflexiva tem sido adotada como aquela que possibilita a articulação
teórico-prática. Neste sentido, a reflexão pode ser vista como um
mecanismo eficiente de diminuir a resistência de professores às teorias
oriundas da ―academia‖ [...]. A LA como área multidisciplinar se abre
para essas diferentes perspectivas e, como tal, oferece contribuições
importantes para a superação da divisão entre teoria e prática [...].
(GIMENEZ, 2005, p. 183-192)
Ao considerarmos as palavras da autora, bem como o que fora pontuado pelos
participantes, ficamos ainda mais certos das contribuições que a formação críticoreflexiva pode oferecer aos docentes. As contribuições são amplas, construtivas e, sem
dúvida, de grande relevância ao seu agir como um profissional da educação. Não
obstante, ao se formarem continuamente e de forma reflexiva, eles não mais tomarão
suas decisões pelo simples fato de tomá-las, tampouco só agirão de acordo com
―achismos‖ (avaliando as diversas situações baseados em suas próprias opiniões) e sim,
calcados em ideias de estudiosos que se adaptam ao seu cotidiano, ao grupo que é por
ele atendido, suprimindo as necessidades existentes, unindo a teoria que aprendeu tanto
em sua formação inicial quanto contínua, juntamente com a prática que lhe cabe.
Antes de concluirmos a análise dessa pergunta, há dois pontos levantados pelos
participantes que merecem atenção. O primeiro deles está na resposta dada por Carolina,
quando ela levanta a questão de que a pesquisa não é comum no curso de Letras, e que
desenvolver no professor seu lado pesquisador faz toda a diferença, pois à medida que
seu lado pesquisador se desenvolver, sua autonomia também se desenvolverá, fazendo
desse professor de LE um profissional possivelmente mais qualificado e preparado para
atender aos novos requisitos e exigências do ensino-aprendizagem de línguas na
contemporaneidade.
92
Ecoando Nicolaides e Tílio (2011), temos que ter noção de que a autonomia não
pode, tampouco deve, estar limitada ao plano individual do aluno-professor, mas que
essa deve se voltar sempre para o coletivo, para o social, para o grupo no qual esse
professor se encontra inserido. Ainda na visão dos autores, uma vez que o conhecimento
se encontre em um processo de constante evolução, é que há maior possibilidade de o
professor tornar-se autônomo, crítico e experiente. Queremos dizer com tudo isso que
mais uma característica da formação contínua (de estar inserido nela) e da reflexão é
oferecer ao profissional de LE a possibilidade de construir seus conhecimentos e dar a
eles um significado, pois normalmente há um grupo para que as discussões e
(re)construções sejam feitas e estabelecidas, e isso resultará no que nos pontuaram os
autores no início desse parágrafo, ou seja a disseminação da autonomia, ou ainda, da
formulação de novas teorias e práticas docentes advindas dos próprios professores, e
não apenas das academias.
O segundo e último ponto que queremos abordar (no tocante às respostas
obtidas), trata-se das experiências que os participantes tiveram de ―verem as diversas
situações de sala de aula acontecerem por outro ângulo‖. Como disseram, puderam
experimentar e vivenciar o que seus alunos passam, sentem, vivem e experimentam, o
que também os fez notar como é estar do outro lado da moeda, por assim dizer. E mais
uma vez, reiteraram que isso os fez refletir sobre suas posturas e abordagens como
professores com as seguintes indagações ―será que sou assim?‖ (para situações nas
quais o que foi planejado pelo professor não veio a calhar; ou simplesmente não
funcionou) ou ainda ―como será que sou visto pelos meus alunos?‖ no que concerne
suas posturas em salas, questões de empatia e também no próprio sentido de ser um
―bom professor‖, que é algo definitivamente relativo. Em suma, podemos dizer que as
experiências vividas, experiências trocadas, e estar no outro lado da sala de aula (como
aluno) foram sem dúvida enriquecedoras e mais que isso, abriram os olhos e as mentes
dos participantes para a reflexão.
Na penúltima pergunta da entrevista que foi: ―Tendo respondido anteriormente
acerca da identidade do professor e a (re)construção identitária desse profissional, como
você vê esses pilares após as aulas dadas, os conteúdos trabalhados e a sua convivência
com a língua?‖. Seguem os excertos das respostas dadas:
93
31. Carolina: ―A questão da identidade (+) ela fica, realmente modificada e é acrescida (+++) e
o profissional, ele se reconhece mais a partir do momento que ele aprende mais sobre o que ele
ensina (+) sobre o objeto da aprendizagem [...]. Acho que quanto mais o professor aprende (+)
mais ele tem CONSCIÊNCIA do que ele deve ensinar e SEM DÚVIDA melhora sua prática,
principalmente quando busca a formação continuada‖.
32. Bernardo: ―Eu poderia dizer que em suma (+++) o mais forte ponto ((suponho que ele quis
dizer o ponto mais forte)) em relação a isso tudo, foi a minha identidade de professor brasileiro,
porque isso veio a reforçar coisas que eu já tinha como CERTAS (+) que é em relação a práticas
de ensino, que nós não ficamos atrás deles ((dos professores estrangeiros/americanos e aos
países desenvolvidos)) em NADA! [...]. Pois ainda com salas cheias, alunos com transtornos e
déficits de material didático (+) e, com todos os problemas que nós temos, nós conseguimos um
nível de (+) ensino-aprendizagem MUITO BOM![...]. E com isso, houve uma concretização e
uma otimização na minha identidade‖.
33. Alessandra: ―[...] na verdade, tudo o que vi e vivi lá só confirmaram minha identidade de
professora (+) pois eu percebi que a gente tem que focar mais a língua, colocar o aluno pra
praticar, colocando ele em situações que ele vai USAR essa língua, e isso ajudou a (re)construir
a minha identidade profissional. [...] porque agora eu vou pegar aquela estrutura que eu tenho
que trabalhar repensar como eu vou aplicar, pra ver se aquilo vai dar certo (+) e antes eu não
parava pra pensar muito nisso. (+++) Agora eu vou analisar a receptividade da turma para
aquele conteúdo e ver se dá pra continuar daquele jeito ou se eu vou ter que mudar‖.
Segundo Nóvoa (1997), a identidade que cada ser constrói enquanto educador é
em geral baseada num equilíbrio único, que existe entre as características pessoais e os
percursos profissionais do professor de LE. Ou seja, as novas experiências que o ser
humano traz consigo - seja em seu bojo acadêmico, pessoal e até mesmo profissional, o
imbuirá de novas perspectivas, fazendo com que ele tenha a possibilidade de
(re)construir a sua identidade (como se trata de um estudo que visa investigar a
identidade profissional, é a essa que daremos ênfase) de professor.
É nesse sentido que podemos notar através dos excertos advindos das respostas
dos participantes que as aulas que eles tiveram e as trocas de informações tanto com
professores brasileiros de outros estados e também com os estrangeiros, o fizeram
perceber/notar situações que passavam despercebidas anteriormente e dar a elas um
olhar diferenciado, tornando-os assim outro, pois como nos postulou Audi (2011),
―ensinar é também acreditar que não existe um sujeito pronto e acabado, e que ele está
sempre se transformando no movimento das relações vivenciadas‖ (AUDI, 2011, p.
309).
Para concluirmos essa questão, gostaria de mais uma vez elucidar essa discussão
de identidade profissional e (re)construção identitária novamente ancorada às palavras
de Audi (2011), ao nos dizer que:
94
A partir dessas transformações, as quais ocorrem/ocorreram
essencialmente por meio das/e pelas interações dos professores entre si
[...] considero que é inegável a influência dos fatores históricos, sociais,
psicológicos e culturais – conforme citei no início deste capítulo – na
contínua construção da identidade profissional do professor de Língua
Inglesa. Uma vez que a identidade não é estanque, destaco a importância
de programas de formação continuada serem oferecidos com maior
frequência a todos os professores de Língua Inglesa, vislumbrando nos
aproximarmos do ideal de uma sociedade mais humana e mais justa,
como tão almejado pela nossa educação. (AUDI, 2011, p. 312).
Ante o exposto, é inegável que a formação contínua poderia ser chamada de
―palavra-chave‖ para vários dos problemas existentes na educação brasileira e voltado
ao foco dessa pesquisa, ela também se faz imprescindível para os professores de LE.
Afinal, de nada adianta almejarmos uma educação de qualidade, que forme o cidadão
criticamente se os próprios educadores não a receberem, pois se não tenho ―nem mesmo
jornais, como posso exigir livros?‖. O que queremos dizer com essa simples metáfora é
que é necessário que eu tenha o mínimo, para que possa a partir dele oferecer algo e se
não o tenho, poderei oferecer o que?Supostamente nada.
Na sexta e última questão da entrevista, tínhamos a seguinte pergunta: ―Haja
vista que um dos critérios do curso é que você desenvolva um projeto em sua escola,
quais são seus projetos para essa nova ―era profissional‖ após realizar o curso nos
EUA?‖. Analisemos os excertos:
34. Carolina: ―Eu sempre gostei de trabalhar com projetos (+) e após o curso essa minha
vontade se tornou um projeto de vida! Agora quero trabalhar dentro de uma perspectiva
interdisciplinar, dentro da escola que trabalho (+), é, com o Ensino Médio. Também quero
inserir ((acredito que ela queira inserir em seu local de trabalho, tanto com alunos quanto com
professores)) alguns aspectos de pesquisa (+) ensinar os alunos a pesquisar, porque isso também
é importante. [..] com isso o professor muda a percepção dele e começa a construir seu próprio
material (+) a partir daquela experiência ((da que o professor teve))‖.
35. Bernardo: ―Eu, na verdade, carrego comigo dois projetos (+) o primeiro é com relação a
fonética, porque o livro traz um pouco disso e, (+++) é, e eu gosto sempre de abordar, colocar
no quadro [...] treinar com os alunos mesmo essa questão da oralidade, reforçando ela. Eu
também dou exercícios e reforço e chamo atenção a pronúncia, (+), é, a pronúncia das palavras,
de frases (+) de entonação [..]. Outro ponto que me (+) chamou a atenção dentro desse curso, é
para o uso de tecnologias, aí, me chamou atenção, porque eu já usava o Facebook como uma
ferramenta de aprendizado, porque eu (+) formo grupos de acordo com os níveis (+) que eu
estou, é (+), ensinando a cada semestre [...] e lá os alunos podem interagir comigo e com os
outros colegas e pelo menos UMA (+) vez por semana, eu, posto dicas de inglês, de coisas que
eu acho interessante, na língua alvo. [...] e isso o curso me fez perceber que eu devo continuar a
fazer, é, é isso!‖
36. Alessandra: ―[...] é o meu projeto, (+) o que eu quero fazer para melhorar minha prática em
sala e melhorar o aprendizado dos meus alunos, é (+) o de detectar um determinado problema
95
em uma turma, e pensar numa forma de solucionar esse problema, aplicar tudo o que a gente
tivesse pensado ((supomos que no sentido de possíveis soluções)) e analisar os resultados [...]
igual quando voe tem três turmas do mesmo nível e em uma delas, é (+++) as coisas acabam
não funcionando, aí seria nesse sentido (+) que eu queria aplicar esse projeto, de investigar o
que não ta dando certo e fazer com que aquilo melhore, estruturando o problema e fazendo as
adaptações necessárias‖.
Nessa última questão, quer dizer, nas últimas respostas dadas, os participantes se
mostraram empolgados, o que nos fez notar que certamente estarão engajados ou até
mesmo que serão militantes na busca pela pesquisa, em levantar dados em suas salas,
verificando-os e fazendo assim com que o possível problema notado por eles possa ser
verificado, argumentado e na sequência solucionado e ainda, que as situações que não
se encontram dentro dos eixos, ou da forma que eles gostariam que estivessem serão
analisadas, para que alcancem do nível almejado.
Assim, tendo em vista que os participantes disseram, nota-se que eles querem, de
fato, mostrar que o curso os fez crescer, que despertou neles curiosidades, que aguçou o
lado pesquisador que cada um trazia consigo, mas que por algum motivo, ou até mesmo
por falta de incentivo e/ou oportunidade estava adormecido. E é justamente isso que as
novas perspectivas no que tange ao ensino-aprendizagem de LE na contemporaneidade
requerem do professor, que ele esteja disposto a mudanças, a reflexões, a buscar
(re)construir sua identidade profissional, a (re)pensar suas práticas pedagógicas, a
compreender que a língua está em constante movimento e isso implica no professor,
uma movimentação contínua, na qual a cada vez que ele se propõe a buscá-la ele
aprenderá mais e se motivará a buscá-la novamente. Ecoando Celani e Colins (2003
apud MOURA FILHO, 2011, p.58):
A experiência de formação continuada e reflexiva de professores de
escolas públicas relatada por Celani e Collins, mostra que, após a
formação, os professores se achavam mais persistentes quando tinham
que fazer algo novo e difícil, mais entusiasmados com sua profissão,
dispostos a imprimir dinamismo às suas praticas, mais sensíveis às
necessidades dos alunos, mais habilitados a utilizar novas ferramentas
tecnológicas e mais abertos à mudanças. (CELANI E COLLINS, 2003, p.
98 apud MOURA FILHO, 2011, p. 58)
Para concluirmos este capítulo, gostaríamos de enfatizar a importância da
pesquisa na vida do professor, seja no âmbito acadêmico, seja no bojo profissional, pois
é apenas ao buscá-la que ele saberá fazer a ponte entre a teoria e a prática, para que com
isso, torne-se autônomo e possa/saiba ―implementar suas próprias teorias‖, como nos
96
afirmam Walesko e Procailo (2011). Contudo, o profissional deve ter em mente que é
um caminho longo a ser percorrido. E como nos disse sabiamente Drummond que ―no
meio do caminho tinha uma pedra‖, o professor de LE encontrará várias, cabe a ele,
desviar delas, ou com elas construir algo.
Na tabela abaixo, temos de forma sucinta as respostas dadas pelos participantes.
Optamos por fazê-la para recapitularmos aquilo que nos disseram e, com isso,
verificarmos se os objetivos propostos e as perguntas de pesquisa lançadas foram
alcançados e respondidos, tanto pelas palavras dos professores/participantes, quanto
pelo que foi discorrido pela pesquisadora com o apoio dos teóricos que compuseram
esse estudo. Não obstante, o uso da tabela pode auxiliar os leitores a estarem sempre
atentos quanto aos desdobramentos da pesquisa, guiando-os de forma geral.
Tabela 6: As entrevistas
Participantes
Carolina
Bernardo
Pergunta 1
Pergunta 2
Pergunta 3
Pergunta 4
Pergunta 5
Como você avalia
Como pretende
Quais os subsídios
Como você vê a
Quais seus
seu aprimoramento
ventilar o
oferecidos para que
identidade e a
projetos para
profissional?
conhecimento
você se
(re)construção
essa nova “era
construído?
tornasse/aperfeiçoasse
identitária do
profissional”?
seu lado “professor
professor de LE
reflexivo”?
após no curso?
Nas
As discussões e
O profissional se
grande!Oportunidades
coordenações
reflexões em sala
reconhece a
pesquisas e
de aprender com
pedagógicas e
partir do
ensinar meus
outras pessoas.
com meus
momento que ele
alunos a fazê-las
alunos.
ensina
também
Foi muito
Desenvolver
Muito válido. Pude
Nas
A troca de experiências
Minha
Realizar projetos
trocar experiências.
coordenações
com os colegas
identidade de
com o uso das
professor
novas
brasileiro foi
tecnologias
pedagógicas
reforçada
Alessandra
Aprendi técnicas de
Nas
sala de aula.
coordenações
As situações vividas
Tudo o que vivi
Projetos de
confirmaram
detectem e
minha identidade
solucionem
de professora
problemas de
ensinoaprendizagem
apresentados
pelos meu
grupos
Fonte: Autoria da pesquisadora
97
4.5 É sempre bom refrescar a memória – retomando o capítulo
No quarto capítulo intitulado ―Um olhar mais refinado também cai bem‖, o qual
tinha o objetivo de analisar os dados coletados e compilar as ideias apresentadas nos
capítulos anteriores, tivemos a oportunidade de examinar meticulosamente cada uma
das respostas fornecidas pelos participantes as quais nos mostraram o que cada um pode
aprender ao participar do programa e como essa experiência contribuiu e contribuirá em
suas vidas acadêmico-profissionais. Também corroboramos as ideias por eles
apresentadas com as pontuadas por vários dos estudiosos da Linguística Aplicada. Por
fim, ouvimos mais de perto e melhor suas vozes através das entrevistas e entendemos
que não cabe somente a eles quererem fazer mais pelo ensino de LE no nosso país, mas
que é também dever do governo, do estado, da SEEDF abrirem seus olhos e dar ao
ensino de línguas assim como aos seus professores, mais subsídios para irem além e
promoverem a língua estrangeira não apenas no DF, mas no Brasil e no mundo.
98
CAPÍTULO V
TERRA À VISTA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 8: Terra à vista 35
Por isso, é fundamental que, na prática da formação
docente, o aprendiz de educador assuma que o
indispensável para pensar certo não é presente dos
deuses nem se acha nos guias de professores que
iluminados intelectuais escrevem desde o centro do
poder, mas pelo contrário, o pensar certo que supera
o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio
aprendiz em comunhão com o professor formador
(FREIRE, 2002, p. 22)
5.1 Alinhavando as ideias finais
No presente capítulo, pretendemos retomar algumas questões levantadas ao
longo da pesquisa no que diz respeito aos objetivos traçados logo no início, bem como
as perguntas de pesquisa que nos propomos a responder. Ou seja, é chegada a hora de
analisarmos se conseguimos alcançar os objetivos, e se sim, quais as contribuições que
eles nos trouxeram. Também verificaremos se as perguntas de pesquisa foram
devidamente respondidas, e se a metodologia utilizada e os instrumentos de coleta
foram peças importantes e precisas para que as respondêssemos adequadamente. Ainda
neste capítulo, voltaremos nossa atenção a questões concernentes às limitações que
35
Figura 8: Terra à vista. Disponível em: <http://arturfujita.blogspot.com.br/2013/07/terra-vista.html>.
Acesso em 20 de março de 2014.
99
tivemos para o desenvolvimento da pesquisa, daremos algumas sugestões para possíveis
estudos futuros e, por fim, as últimas palavras que fecharão a pesquisa. Agora, por já
estarmos tão próximos do fim, já não podemos usar o verbo ―singremos‖, pois o
fizemos ao longo de todo o percurso investigativo, na análise dos dados, etc. Desse
modo, faremos alusão ao título do capítulo e diremos: ―Terra à vista!‖
5.2 É hora de verificarmos o que alcançamos (retomada dos objetivos traçados e
perguntas de pesquisa)
No primeiro capítulo e nos capítulos seguintes, ou melhor, para sermos mais
precisos, poderíamos dizer que no primeiro e no quarto capítulo tratamos dos objetivos
que gostaríamos de alcançar ao longo do desenrolar deste estudo, e das perguntas de
pesquisa que nos fizeram velejar por essa busca pela construção de novos
conhecimentos.
Dentre os objetivos outrora apresentados, tínhamos os seguintes: ―Analisar de
que maneira três professores participantes do Programa de Desenvolvimento
Profissional para Professores de Inglês (PDPI), promovido pela Drexel University,
avaliam seu aprimoramento profissional e como pretendem divulgar e colocar em
prática o conhecimento construído no curso‖. Supomos que tal objetivo tenha sido
alcançado, pois nas respostas dadas pelos professores às entrevistas, tivemos a
possibilidade de fazer uma análise de perto acerca de como avaliavam o aprimoramento
que tiveram no momento ―pós-curso‖ e também relataram em uma das perguntas como
ventilariam/divulgariam o conhecimento obtido ao longo das seis semanas de curso
intensivo no exterior. Destarte, esse primeiro objetivo foi alcançado.
O segundo objetivo tinha como intento ―verificar se, na perspectiva dos
participantes, foram oferecidos subsídios durante o curso para que esses eles se
tornassem ou aperfeiçoassem seu lado professor reflexivo e como ser um professor
reflexivo pode ou poderia (re)construir a identidade profissional desses professores‖.
Mais uma vez, acreditamos que o objetivo tenha sido alcançado, pois a primeira parte
do objetivo constava no segundo questionário semiestruturado e, a segunda parte dele
nas perguntas contidas na entrevista, as quais como dissemos anteriormente, foram
realizadas no último dia de aula, para que os participantes vissem o curso como
concluído, e pudessem nos fornecer respostas amplas e abrangentes com relação aos
100
possíveis subsídios oferecidos pelo programa com vistas a fomentar neles a perspectiva
de melhorarem seu lado ―reflexivo‖ e, por conseguinte, (re)construirem suas identidades
profissionais.
De acordo com participantes, essa característica já fazia parte de suas
personalidades enquanto professores de LE e que ao longo das seis semanas de curso
intensivo, determinadas aulas, leituras, dinâmicas desenvolvidas em sala, trocas de
experiências e reflexões, corroboraram neles a importância de refletir suas práticas
pedagógicas, as visões e compreensões que tinham de determinados assuntos e como se
posicionavam ante certas situações, o que fez com que cada um pudesse (re)pensar o
seu ―eu professor de LE‖ e concomitantemente (re)significassem suas identidades
profissionais.
O terceiro e último objetivo era ―investigar as vantagens e desvantagens de se
buscar a formação contínua no exterior‖, nesse objetivo, ficou claro que os participantes
ao longo das seis semanas se mostraram satisfeitos, felizes e participativos tanto nas
atividades desenvolvidas em sala, quanto nas atividades fora do Campus. Com o intuito
de reforçar essa ideia, temos a seguinte nota de campo da pesquisadora:
―Hoje, dia 21 de janeiro de 2013, tivemos mais uma discussão em sala (na aula de
metodologia) acerca de como são nossas aulas no Brasil, ou melhor, como são
ministradas. Cada um dos professores teceu comentários sobre suas escolas, o material
didático que utilizam, a quantidade de alunos que temos em sala e, é claro, as limitações
que vivemos no ensino/aprendizagem de LE. Contudo, vários participantes levantaram
suas mãos para falarem que mesmo com todas as dificuldades, tinham deixado suas
famílias e férias de verão com o intuito de poderem melhorar ―seu inglês‖, suas técnicas
de sala de aula, suas leituras...e estavam ali, realizando um sonho, cursando disciplinas
em uma universidade americana, com um curso custeado por órgãos de seu país. E que
estavam fazendo todo aquele esforço, pois tinham a certeza de que é importante buscar
aprender cada vez mais e, que também, ao fazermos um curso fora, temos a
possibilidade de vivenciar situações diferentes, de aprender não somente para si, mas
para a vida como um todo‖.
Tendo verificado os objetivos, olhemos com atenção se conseguimos responder
de maneira plausível às perguntas de nossa pesquisa, as quais Moura Filho (2000)
descreve assim:
101
A pergunta será considerada significativa se ajudar o(a) pesquisador(a) a
avançar na pesquisa, permitir o realce do problema proposto e representar
uma possibilidade de solução que se traduza na aquisição de novos
conhecimentos ou em possibilidades de intervenção no contexto
investigado. (MOURA FILHO, 2000, p. 20)
Apoiados pelas palavras do autor, apresentaremos as perguntas e verificaremos
se foram de fato significativas para esse estudo. Como primeira pergunta tivemos:
―Como os participantes da pesquisa avaliam seu aprimoramento profissional e como
pretendem divulgar e colocar em prática o conhecimento construído no curso oferecido
na Drexel University?.
Ante os resultados obtidos/apresentados no capítulo anterior, concebemos a
pergunta como positiva para o estudo avançar e mais, é possível dizer que foi
respondida em vários trechos da pesquisa, principalmente no que diz respeito a análise
de dados. Nela, ficou claro o quão enriquecedor foi o curso aos professores
participantes, que realçaram em suas falas o diferencial que a realização de um curso no
exterior é para o professor de LE. E mais que isso, pois eles pretendem transmitir o
conhecimento adquirido/construído não apenas com seus colegas de profissão (os quais
poderão se beneficiar com os relatos daqueles que participaram do curso, com as novas
atividades por eles aprendidas), mas com seus alunos, o que provavelmente fomentará
neles a motivação na aprendizagem de uma nova língua.
Na segunda pergunta de pesquisa, buscávamos saber de que maneira a realização
do curso de formação contínua para professores de inglês realizado nos EUA pôde
contribuir para a formação reflexiva, assim como para a (re)construção identitária
desses professores. Nela, ficou claro o quão enriquecedor foi o curso aos professores
participantes, que realçaram em suas falas o diferencial que a reflexão pode trazer para
eles enquanto professores e para seus alunos, os quais terão a possibilidade de ter em
suas salas um profissional disposto a alcançar seus objetivos, aperfeiçoar sua práxis e
oferecê-los o fomento necessário para se comunicarem na língua alvo. Com relação à
(re)construção identitária, a qual também foi abordada, quando relatamos os objetivos
alcançados, ela indubitavelmente foi reconstruída ao longo do programa, tanto com as
aulas, observação de aulas, quanto por trocas de ideias, experiências e leituras
significativas.
Já na última pergunta de pesquisa, queríamos saber quais as vantagens e
desvantagens de se buscar a formação contínua no exterior. Já nessa pergunta,
102
constatou-se que o motivo principal pela busca desse tipo de formação em um país que
tinha a LI como língua oficial/materna, ou como nos disse Siqueira (2010), como língua
nativa é que eles veem a possibilidade de aprender mais acerca de pronúncia, de
expressões idiomáticas, vivenciar a língua em seus cotidianos com nativos e,
principalmente, aprender mais sobre a cultura da língua alvo. Neste ponto, vale ressaltar
que a questão da cultura foi unânime entre os participantes quando lhes fora perguntado
sobre os pontos positivos no que concerne formar-se continuamente no exterior.
Entretanto, fizemos um adendo e citamos alguns autores que nos pontuam que língua e
cultura são indissociáveis e não construtos distintos.
Assim, concluímos essa seção com o sentimento de termos alcançado os
objetivos propostos e também por termos respondido com argumentações amplas as
perguntas de pesquisa.
5.3 Limitações que tivemos para o desenvolvimento da pesquisa
Ao longo de todo o processo investigativo, podemos dizer que limitações
estavam presentes a cada início de capítulo, na seleção dos artigos e livros a serem
eleitos e lidos, pois o fator tempo infelizmente constrói e destrói certas estruturas.
Entretanto, nessa seção, gostaria de elencar aquelas limitações que se não as tivéssemos
encontrado, certamente poderíamos ter uma pesquisa melhor estruturada, com menos
falha. Embora em determinados momentos, o lado humano fala mais alto e, elas acabam
aparecendo. De qualquer maneira, elencaremos nos parágrafos seguintes os
―empecilhos‖ ou como mencionado ―as pedras‖ 36 encontradas ao longo dos últimos
meses até chegarmos aqui.
Podemos encarar a primeira limitação com o tempo que os participantes tinham
para responderem aos questionários. De fato, apenas três dos seis participantes do DF
quiseram participar da pesquisa com receio que essa os tirasse o pouco tempo livre que
tinham, e por mais que a pesquisadora tenha tentado argumentar com eles, foi em vão.
O fato é que o calendário escolar montado para as seis semanas era ―apertadíssimo‖ e
havia muito a ser contemplado: aulas durante todo o dia, palestras em algumas noites,
leituras e tarefas de casa diárias. Assim, pensamos que em algumas das respostas
fornecidas, os participantes evitaram se estender para não ―perderem tempo‖ ou como
36
As quais tentamos juntar e construir com mais fomento a presente pesquisa.
103
dizem os falantes da LI Time is Money. Destarte, algumas respostas que poderiam ter
sido mais abrangentes acabaram não sendo.
Outro fator que também poderia ser citado foi o fato de a pesquisadora também
ser aluna e, por ter seus dias comprometidos como os dos demais, não pode tomar notas
de tudo o que via e acontecia sempre que tinha vontade, pois tinha que prestar atenção
nas aulas e fazer anotações concernentes a elas. Assim, algumas situações acabaram
passando sem que as devidas notas fossem tomadas.
Para fecharmos, acreditamos que o fator tempo não nos fez realizar a quantidade
de leituras que inicialmente havíamos nos proposto e, mesmo com tantos autores
selecionados, há sempre a ideia de que poderíamos ter tido mais insumo, mais
referências na área pesquisada. Contudo, ainda com os percalços apontados, não há
dúvida que primamos pela excelência na investigação e escrita dessa pesquisa.
5.4 Possíveis sugestões aos estudos futuros
Nesta seção, faremos um breve apanhado de sugestões e ideias que surgiram ao
longo da pesquisa, de modo que sejam desenvolvidas e formem continuamente os
professores de LE que não tiveram a possibilidade de participar de um programa no
exterior, mas que podem fomentar seus conhecimentos dentro de nosso país, bem como
temas que poderiam interessar aos que participaram do programa a não pararem suas
vidas acadêmicas e poderem ventilar e compartilhar o que fora aprendido por eles
anteriormente. Optamos por destacar esses pontos nessa seção, pois não haveria como
tratar de todos esses assuntos e abordar tais elementos no corpo da pesquisa. Dessa
maneira, pontuamos as seguintes sugestões:
• Analisar de que maneira os projetos apresentados pelos participantes do PDPI
foram aplicados/desenvolvidos em suas escolas e quais foram as vantagens e
desvantagens de aplicá-los.
• Investigar de que maneira os professores transmitiram os conhecimentos
construídos no curso aos colegas de trabalho e o espaço que a SEEDF oferece
aos professores para que eles o façam.
• O PGLA em parceria com a EAPE (SEEDF) oferecer novamente o ―Curso
Refletir‖, pois há inúmeros professores da rede pública afastados/distantes da
academia desde sua formação e, se em sua primeira versão ele trouxe tantos
104
professores para cursarem a pós-graduação, supomos que sua próxima versão
também seria considerada um sucesso.
• A EAPE poderia oferecer cursos de formação contínua com professores
egressos de cursos no exterior, pois haveria a possibilidade de trocar
experiências e desenvolver nos demais o desejo de também participar dos
programas da CAPES.
• A EAPE poderia fazer um levantamento de professores em cada uma de suas
gerências regionais de ensino (núcleo responsável pelas escolas de cada cidade
satélite) para que estes oferecessem formação contínua aos professores de LE
mais perto de suas escolas, pois muitos ficam desmotivados por terem que
percorrer longas distâncias até chegar à sede da EAPE, onde normalmente os
cursos são ministrados.
• NEx em parceria com a EAPE oferecer cursos aos professores de LE como
fizeram em 2011, onde os professores e seus orientandos ministravam cursos
específicos condizentes com a pesquisa desenvolvida
Em suma, essas sugestões são apenas a ―ponta o iceberg‖, já que a área de
formação de professores e formação contínua tem tanto a ser explorada, discutida,
(re)pensada, (re)formulada e refletida. Contudo, esperamos que as considerações feitas
possam ser representativas e significativas dentro desse vasto campo de pesquisa.
5.5 Últimas palavras
O ensino de língua estrangeira têm se expandido e ganhado amplo significado
tanto no contexto nacional, quanto no internacional. Dessa maneira, com o atual
processo de globalização no mundo a necessidade de se falar uma LE tem crescido a
cada dia. Entretanto, as necessidades daqueles que buscam aprendê-las também têm
mudado e, é daí, que surge a necessidade de constante mudança por parte do professor.
Devido a isso que a formação contínua tem sido fonte de várias pesquisas, pois o
profissional também deve buscar por essas mudanças, passando assim, a refletir suas
práticas pedagógicas, suas leituras, sua postura como professor de LE e (re)significar
sua identidade profissional com vistas a estar apto para compreender todo esse
movimento no globo e com ele aperfeiçoar seus saberes e competências na língua alvo.
105
Assim, Gimenez (2005) nos assevera que ao considerarmos a formação contínua
como uma crescente socialmente situada e a pesquisarmos sob esse mesmo prisma,
abriremos caminho para conceber a pesquisa como um espaço extra para a
aprendizagem, haja vista que o professor de LE da contemporaneidade deve estar apto a
se (trans)formar, refletir, (re)significar suas práticas e ser ―o dono do seu destino‖ no
sentido de se tornar um pesquisador e não somente ser mais um professor que transmite
teorias padronizadas que aprendeu em sua formação inicial.
Com esta pesquisa pretendemos mostrar a importância que os cursos oferecidos
pela SEEDF ou pelo governo de forma geral têm e como eles podem contribuir para o
aprimoramento dos professores de línguas da rede, os quais são vistos, de acordo com
Celani (2010), como docentes desqualificados, que não têm o domínio básico na língua
alvo, ou seja, da LE que deveria ser ensinada por eles. É nesse sentido, o de melhorar o
ensino de línguas da escola pública e a maneira pela qual o professor de LE é visto pela
sociedade e por muitos estudantes, que a formação contínua deve ser encarada pelos
governantes e professores, não apenas como um complemento às suas formações
iniciais, e sim, como uma ferramenta de real importância para seu crescimento
profissional. Tornando-os, por sua vez, capacitados e oferecendo a eles o refinamento
necessário para transmitirem a LE que ensinam com propriedade, com segurança, com o
desejo de formar melhor seus alunos. Formando-os não apenas para a realização de uma
avaliação bimestral, mas para a vida, fazendo deles cidadãos críticos. Assim, é de real
importância que esses professores saibam fazer uso da língua que ensinam com
destreza, como agentes de seus discursos. É nesse momento que realçamos mais uma
vez a importância do PDPI, pois nele o professor tem a oportunidade de estar em
contato com a língua estrangeira por seis semanas, vivenciando in loco a língua e a
cultura que ensinam; além de desenvolverem suas habilidades de fala, escrita, leitura e
audição na língua alvo.
Os resultados que alcançamos com essa pesquisa com as respostas fornecidas
pelos participantes, assim como no que permeou suas falas durante as entrevistas,
apenas veicularam o que as pesquisas realizadas na área de formação contínua e seus
estudiosos nos afirmam, ou seja, que é através dessa formação que o profissional de LE
se (trans)formará e refletira suas práticas pedagógicas, tornando-se dessa maneira cada
vez mais qualificado e preparado para enfrentar os embates que lhes são impostos em
seu cotidiano e será capaz de formar-se criticamente e, por conseguinte, aos seus alunos
106
e comunidade escolar. Não obstante, tal formação lhe servirá (como dissemos outrora),
como um mecanismo/ferramenta para (re)pensar suas atitudes docentes, realizar novas
leituras com um novo olhar, se reconhecer como protagonista de seu fazer,
(re)construindo assim sua identidade profissional.
Para concluirmos, é com esse intento, o de mostrar ao profissional de língua
estrangeira a importância de compreender as potencialidades oferecidas pela formação
contínua e concebê-la como uma fonte inesgotável de conhecimento para o docente que
consideramos a importância de termos nos dedicado a realizarmos esse estudo. Assim, é
com as voltas que o percurso da vida acadêmica do professor de LE dá e com as
reflexões que ele faz, é que teremos professores qualificados e destemidos para
enfrentar os embates do dia a dia. Profissionais esses, que se entendem como seres
inacabados e que precisam continuar sua caminhada pelas estradas do conhecimento e
pela excelência no ensino de línguas.
Finalizamos com sábias palavras de Guimarães Rosa
―[...] mire, veja: o mais importante e bonito do mundo é
isto: que as pessoas não estão todas iguais, ainda não foram
terminadas, mas que elas estão sempre mudando. Afinam
ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.‖
(Guimarães Rosa)
107
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115
APÊNDICE A – TERMO DE CONSCENTIMENTO
Universidade de Brasília – UnB
Instituto de Letras – IL
Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução – LET
Mestrado em Linguística Aplicada
Aluna: Camila Mara Andrade Silva
Orientador: Professor Dr. Kleber Aparecido da Silva
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu, ___________________________________, declaro para os devidos fins que
aceitei participar da pesquisa de Camila Mara Andrade Silva, estudante da pósgraduação em Linguística Aplicada da Universidade de Brasília – UnB. Ainda declaro
que aceitei participar da pesquisa por livre e espontânea vontade e que a pesquisadora
me esclareceu todas as dúvidas que eu tinha acerca do uso de minhas respostas e
entrevistas. Também que fiquei ciente que serão utilizadas em sua dissertação para a
obtenção do título de mestre, mas que também poderão ser utilizadas em artigos,
periódicos, revistas, congressos e afins. Dessa maneira, concedo a pesquisadora o
direito de fazer uso do material que fornecerei, para fins acadêmicos e científicos.
Filadélfia, _____ de ____________ de 2013.
116
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTURADO I
Universidade de Brasília – UnB
Instituto de Letras – IL
Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução – LET
Mestrado em Linguística Aplicada
Aluna: Camila Mara Andrade Silva
Orientador: Professor Dr. Kleber Aparecido da Silva
Questionário Semiestruturado I
1. De que estado e cidade do Brasil você é?
2. Qual é a sua idade
3. Há quanto tempo você leciona?
4. Por que você se inscreveu neste curso? Quais suas perspectivas em relação a ele?
5. Como você descreveria sua competência em inglês hoje?
6. Qual a importância da língua inglesa para você?
7. O que você gostaria de ter nas aulas neste curso?
8. O que você não gostaria de ter nas aulas neste curso?
9. Em sua opinião, qual a importância de realizar um curso de aperfeiçoamento no
exterior?
117
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO SEMIESTRUTURADO II
Universidade de Brasília – UnB
Instituto de Letras – IL
Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução – LET
Mestrado em Linguística Aplicada
Aluna: Camila Mara Andrade Silva
Orientador: Professor Dr. Kleber Aparecido da Silva
Questionário Semiestruturado II
1. Há quanto tempo você leciona a disciplina LEM – inglês na rede pública?
2. Há quanto tempo você estuda a língua?
3. Já trabalhou na rede particular?Em curso de idiomas ou no ensino regular?
4. Com base na resposta da questão de número 3, qual sua preferência? Por quê?
5. Qual o seu interesse pela formação contínua? De que maneira você está envolvido(a)
nela?
6. O que você entende por professor reflexivo? Em sua opinião, quais são as
características desse profissional? Você se considera assim?
7. De que maneira, na vida prática da sua profissão, o fato de você ser professor(a)
reflexiva se manifesta?
8. O que você entende por ―identidade profissional‖?
9. De que modo ser um ―professor reflexivo‖ pode/poderia (re)construir sua identidade
profissional?
118
APÊNDICE D – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
Universidade de Brasília – UnB
Instituto de Letras – IL
Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução – LET
Mestrado em Linguística Aplicada
Aluna: Camila Mara Andrade Silva
Orientador: Professor Dr. Kleber Aparecido da Silva
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
1. Tendo realizado o curso, de que maneira você avalia seu aprimoramento profissional?
2. De que modo você pretende ventilar o conhecimento construído no curso?
3. Que tipo de profissional você se considera neste momento pós-curso no exterior?
4. Quais foram os subsídios oferecidos, nessas seis semanas de curso intensivo, para que
você se tornasse, ou aperfeiçoasse seu lado ―professor reflexivo‖?
5. Tendo respondido anteriormente acerca da identidade do professor, identidade no
ensino de línguas e a (re)construção identitária desse profissional, como você vê esses
pilares após as aulas dadas, os conteúdos trabalhados e a sua convivência com a língua?
6. Haja vista que um dos critérios do curso é que você desenvolva um projeto em sua
escola, quais são seus projetos para essa nova ―era profissional‖ após realizar o curso
nos EUA?
119
ANEXO A – EDITAL DO PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO
CAPES – EMBAIXADA DOS EUA – COMISSÃO FULBRIGHT PROGRAMA DE
APERFEIÇOAMENTO
PARA PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA NOS EUA
Edital nº. 44/2012/CAPES
1. DA APRESENTAÇÃO
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, instituída como
Fundação Pública pela Lei nº. 8.405, de 09 de janeiro de 1992, modificada pela Lei nº. 11.502,
de 11 de julho de 2007 e Lei 12.695, de 25 de julho de 2012, regida pelo seu Estatuto aprovado
pelo Decreto nº 7.692, de 02 de março de 2012, inscrita no CNPJ sob nº. 00.889.834/0001-08,
com sede no Setor Bancário Norte, Quadra 2, Bloco L, Lote 06, CEP 70040-020, Brasília, DF,
por meio de sua Diretoria de Relações Internacionais – DRI e Diretoria de Formação de
Professores da Educação Básica - DEB, no uso de suas atribuições, a Embaixada dos Estados
Unidos da América no Brasil e a Comissão para o Intercâmbio Educacional entre os Estados
Unidos da América e o Brasil (Comissão Fulbright), organização binacional, criada por troca
de notas diplomáticas em 05 de novembro de 1957, modificadas pelo Decreto Presidencial
7.176, de 12 de maio de 2010, tornam pública a seleção para o Programa de Aperfeiçoamento
para Professores de Língua Inglesa nos EUA. O programa busca capacitar professores de língua
inglesa da educação básica em efetivo exercício na rede pública de ensino e estreitar as relações
bilaterais entre os dois países. O presente edital rege-se pela legislação aplicável à matéria, em
especial, a Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, bem como pelas normas previstas neste.
2. DOS OBJETIVOS
2.1. O programa oferece curso intensivo de (06) seis semanas em uma universidade nos Estados
Unidos, com atividades acadêmicas e culturais, para professores de língua inglesa da educação
básica em efetivo exercício na rede pública de ensino e tem como objetivos:
120
2.1.1. Valorizar os profissionais que atuam na rede pública de educação básica;
2.1.2. Fortalecer o domínio das quatro habilidades linguísticas – compreender, falar, ler e
escrever em inglês – dos professores de língua inglesa da rede pública de educação básica;
2.1.3. Compartilhar com os professores metodologias de ensino e avaliação que estimulem a
participação do aluno em sala de aula;
2.1.4. Estimular o uso de recursos online e outras ferramentas na formação continuada de
professores e na preparação de planos de aula, assim como a utilização de tecnologias para o
desenvolvimento de projetos dos alunos;
2.1.5. Oferecer uma experiência in-loco em história e cultura dos Estados Unidos, para que isso
se torne parte do currículo do ensino de inglês;
2.1.6. Estimular parcerias com professores americanos visando futuros intercâmbios de
professores e de alunos entre os dois países.
2.2. O programa oferecerá duas modalidades de curso, ficando a critério do comitê de seleção a
indicação da modalidade a ser cursada nos EUA para cada candidato:
2.2.1. Curso de desenvolvimento de metodologias, voltado para professores com conhecimentos
avançados na língua inglesa e que visam desenvolver e/ou aprender novas metodologias de
ensino-aprendizagem; e
2.2.2. Curso de aprimoramento em inglês, voltado para professores que necessitem melhorar
habilidades específicas na língua inglesa.
3. DOS REQUISITOS PARA CANDIDATURA
3.1. O candidato ao programa CAPES - Embaixada dos EUA – Comissão Fulbright para
Aperfeiçoamento para Professores de Língua Inglesa nos EUA, deverá atender a todos os
requisitos abaixo:
3.1.1. Possuir nacionalidade brasileira. No caso de estrangeiro, ser residente no Brasil com visto
permanente.
3.1.2. Ser professor concursado com estágio probatório concluído e estar ministrado aula de
língua inglesa na rede pública da educação básica;
3.1.3. Realizar teste de avaliação de nível em língua inglesa, conforme o item 5. deste edital;
3.1.4. Não receber bolsa ou benefício financeiro de outras entidades brasileiras e/ou americanas
para o mesmo objetivo, sob pena de cancelamento do benefício e de ressarcimento dos valores
pagos, com a incidência de juros de mora sob os valores a serem ressarcidos;
121
3.1.5. Não ter sido contemplado nas edições anteriores do Programa de Aperfeiçoamento para
Professores de
Língua Inglesa nos EUA, ou em outros programas de formação continuada de professores de
inglês no exterior.
3.2. É obrigatório o retorno do candidato selecionado, ao Brasil, após o término do curso.
4. DOS PROCEDIMENTOS PARA CANDIDATURA
4.1. O candidato deverá preencher o formulário de inscrição online, a partir de 11 de setembro
de 2012, anexando a documentação complementar solicitada. O fornecimento parcial ou
incorreto das informações e da documentação complementar em qualquer etapa do processo
de seleção levará ao cancelamento da candidatura. O formulário está disponível em:
www.fulbright.org.br.
4.2. Passo 1: obtenção da senha de acesso ao formulário de inscrição online
4.2.1. Acessar a página da Comissão Fulbright, www.fulbright.org.br > Bolsas para brasileiros >
Professores> Aperfeiçoamento em Inglês nos EUA. Inserir o CPF do candidato e um e-mail
válido para envio da senha.
4.2.2. De posse da senha, no mesmo endereço ou no link enviado, o candidato deverá digitar o
e-mail válido e a senha recebida para acessar o formulário de inscrição online.
4.3. Passo 2: preenchimento do formulário de inscrição online
4.3.1. Os campos do formulário de inscrição online deverão ser preenchidos em português.
4.3.2. Após iniciar o preenchimento do formulário online, deve proceder-se à gravação dos
dados, antes do
logoff, clicando a cada 10 minutos, pelo menos, no botão save, no final da página. Caso
contrário, as informações introduzidas poderão ser perdidas.
4.3.3. O candidato deverá escolher o local de sua preferência, entre as opções disponíveis no
formulário de
inscrição online, para a realização do teste de proficiência em língua inglesa, Test of English
Language
Proficiency – TELP, conforme item 5. deste edital.
4.3.4. A realização do TELP é obrigatória a todos os candidatos. Nesta edição não serão aceitos
outros certificados de proficiência.
4.3.5. A confirmação da data, horário e endereço do local de aplicação do teste será
encaminhada para o e-mail do candidato.
122
4.3.6. A Carta de Intenções é um documento muito importante no processo seletivo e
será analisado minuciosamente pelo comitê de seleção. O candidato deverá redigi-la em
português, a partir das seguintes
questões norteadoras, também apresentadas no formulário:
a) Qual a importância do ensino da língua inglesa para os jovens de hoje?
b) Por que você se considera um bom candidato para este programa nos Estados Unidos?
c) Quais são suas expectativas com relação a esse programa?
d) Como pretende compartilhar o conhecimento adquirido nos Estados Unidos com seus alunos,
colegas e o sistema educacional na sua cidade e/ou estado? Exemplificar.
4.3.7. Carta de Intenções idênticas desclassificarão os candidatos que as apresentarem.
4.3.8. Para facilitar o preenchimento do formulário eletrônico, a Carta de Intenções poderá ser
redigida em um editor de texto offline e copiada posteriormente para o campo adequado do
formulário online, utilizando os recursos de ‗copiar‘ e ‗colar‘ do editor de textos.
4.4. Passo 3: documentação complementar
4.4.1. O candidato deverá anexar os seguintes documentos digitalizados no formato JPG, com
tamanho de até
1 MB para cada arquivo:
a) Documento de identificação oficial com foto: carteira de identidade (frente e verso), ou
Carteira Nacional de Habilitação (frente e verso), ou Passaporte válido, pelo menos, até
setembro de 2013 (capa azul – páginas 2
e 3; capa verde – páginas 1, 2 e 3);
b) Declaração, em português, do diretor da instituição onde o candidato leciona, endossando sua
participação no programa e certificando que o professor é concursado estável com estágio
probatório concluído na rede pública de ensino da educação básica, e é docente de língua
inglesa, em efetivo exercício em sala de aula. (Anexo I)
4.4.2. Recomendação: para gerar arquivos digitalizados dentro do limite de 1 MB,
recomendamos:
a) Digitalizar os arquivos em preto e branco, exceto a carteira de identidade ou a carteira
nacional de habilitação ou o passaporte, que devem ser coloridos;
b) Limitar a área de digitalização aos limites do documento, evitando digitalizar áreas
desnecessárias e/ou em
branco.
c) Certificar-se de que os documentos anexados estão legíveis quando impressos para não haver
prejuízo à candidatura.
123
4.5. Passo 4: encaminhamento do formulário
4.5.1. Concluído o preenchimento do formulário online, esse deverá ser encaminhado clicando
no botão submit, até a data limite, 15 de outubro de 2012.
4.5.2. Atenção: o candidato só deverá finalizar a sua inscrição, clicando no botão submit, após
conferir todas as informações. Não será possível alterar a candidatura após o envio do
formulário.
4.5.3. Após encaminhar o formulário, será possível consultá-lo, mas não alterá-lo.
4.5.4. Ao submeter a candidatura, uma mensagem para o e-mail válido será enviada com o
código de confirmação da submissão.
4.5.5. Cada candidato poderá submeter apenas uma vez sua candidatura. No caso de submissão
de mais de uma candidatura, todas serão canceladas.
5. DA REALIZAÇÃO DO TESTE DE PROFICIÊNCIA
5.1. Nesta edição do programa, apenas o Test of English Language Proficiency (TELP) será
utilizado para avaliar o nível de proficiência em língua inglesa.
5.2. Durante o preenchimento do formulário de inscrição online, o candidato deverá indicar,
entre as opções disponíveis, o local de preferência para a realização do teste.
5.3. O TELP foi desenvolvido pelo Departamento de Estado dos EUA como instrumento de
avaliação de
proficiência em língua inglesa para candidatos em potencial a programas de intercâmbio
educacional. O teste é realizado em aproximadamente duas horas e consiste de três
sessões: compreensão oral, expressão e estrutura e compreensão de vocabulário e leitura.
5.4. O TELP será oferecido gratuitamente aos candidatos interessados que encaminharem
adequadamente o seu formulário de inscrição online.
5.5. O TELP será realizado em todos os Estados da Federação, no Distrito Federal e nos
municípios indicados no formulário de inscrição.
5.6. Importante: caso se aplique, todos os custos de deslocamento, alimentação e/ou
hospedagem para a realização do TELP serão de responsabilidade do candidato.
5.7. O candidato receberá o certificado de realização do TELP com a sua pontuação, por meio
eletrônico, em até 15 dias úteis após a realização do teste.
124
5.8. O teste TELP será aplicado entre os dias 16 de outubro e 01 de novembro de 2012. A
confirmação da data, o horário e o endereço do local de aplicação do teste serão encaminhados
para o e-mail do candidato.
5.9. No dia do teste, o candidato deverá apresentar documento de identificação oficial com foto,
preferencialmente o mesmo apresentado no ato de inscrição, conforme item 4.4.1.
6. DA SELEÇÃO
6.1. O programa prevê a seleção de até 540 (quinhentos e quarenta) participantes.
6.2. Nesta edição do programa, serão selecionados até 20 (vinte) professores por Unidade da
Federação (UF), sendo dez vagas em cada modalidade de curso, descritas no item 2.2.
6.2.1 Caso o número candidatos qualificados para o curso de desenvolvimento de metodologias,
descrito no
item 2.2.1, seja insuficiente, as vagas ociosas serão destinadas para o curso de aprimoramento
em inglês, descrito no item 2.2.2.
6.2.2. Caso não sejam preenchidas as 20 vagas da UF devido ao número insuficiente de
candidatos
qualificados para as modalidades de cursos oferecidas, as vagas ociosas serão redistribuídas
naquela mesma região geográfica, respeitada a classificação dos candidatos após a etapa de
priorização e independente da UF de origem. No caso de não preenchimento das vagas na
região, será considerada, como novo critério, a classificação dos candidatos após a etapa de
priorização, de acordo com a sua região de origem, na seguinte ordem: norte, nordeste, centrooeste, sul e sudeste.
6.2.3. Para efeitos deste edital, considerar-se-á para a definição da UF de origem do candidato o
endereço da escola em que leciona, e não o endereço residencial.
6.3. A escolha da modalidade do curso a ser realizado nos EUA e a definição da universidade
americana de
destino para cada candidato selecionado serão realizadas exclusivamente pelo comitê de
seleção, de acordo com a avaliação descrita em 6.4.
6.4. O candidato selecionado será informado sobre a modalidade de curso para a qual foi
selecionado e a universidade americana responsável pelo seu curso de aperfeiçoamento por
meio eletrônico.
6.5. Não será permitido que o candidato solicite alteração da modalidade de curso para a qual
foi selecionado,
e nem mesmo alteração em relação à universidade nos EUA onde será realizado o curso.
125
6.6. Para avaliação das candidaturas, será constituído um comitê de seleção com membros
da CAPES (Diretoria de Relações Internacionais - DRI e Diretoria de Formação de Professores
de Educação Básica –
DEB), da Comissão Fulbright e da Embaixada dos EUA. A seleção se desenvolverá em cinco
etapas de caráter eliminatório, conforme descrito a seguir:
6.6.1. Verificação da consistência documental e análise técnica
Consiste no exame, por equipe técnica da Comissão Fulbright e da CAPES, da documentação
apresentada
para a inscrição, bem como do preenchimento integral e correto dos formulários. As inscrições
incompletas, enviadas de forma indevida, ou fora dos prazos estabelecidos serão canceladas.
6.6.2. Análise de Mérito
A análise de mérito será realizada por consultores especialistas indicados pela CAPES, pela
Embaixada dos EUA e pela Comissão Fulbright. Na análise de mérito, serão considerados
os seguintes aspectos do candidato: desempenho no teste de proficiência; avaliação da Carta
de Intenções, com a atribuição de nota de0 a 10; e informações declaradas no formulário de
inscrição.
6.6.3. Priorização das candidaturas
6.6.3.1. O comitê de seleção avaliará as candidaturas, com base nos pareceres dos consultores e
fará a priorização e classificação daquelas previamente aprovadas.
6.6.3.2. A priorização consiste na identificação com atribuição de notas, vide tabela abaixo, das
candidaturas que melhor atendam aos objetivos do programa.
Nota
Qualificação
4
Excelente
3
Muito Bom
2
Bom
1
Regular
0
Insuficiente
6.6.4. Reunião conjunta
A seleção final das candidaturas ocorrerá em reunião conjunta entre a Embaixada dos EUA, as
Diretorias de
126
Relações Internacionais (DRI) e de Formação de Professores de Educação Básica (DEB) da
CAPES e a
Diretoria Executiva da Comissão Fulbright, quando serão considerados o mérito das
candidaturas e o interesse
das agências financiadoras, que consiste em melhorar a qualidade do ensino da língua inglesa,
por meio da valorização e formação dos professores que atuam nas escolas da rede pública do
Brasil.
6.6.4.1. A aprovação final das candidaturas será feita com base na disponibilidade orçamentária
das agências.
6.6.4.2. Em caso de empate, será dada preferência, na ordem que se segue, aos candidatos que
tenham:
a) Obtido a maior nota na prova de proficiência em inglês – TELP;
b) Obtido a melhor avaliação na Carta de Intenções;
c) O menor tempo de experiência acadêmica prévia no exterior, em países de língua inglesa.
7.
DO APOIO FINANCEIRO
7.1. O programa prevê apoio financeiro para a participação dos professores de língua inglesa
da educação básica em efetivo exercício na rede pública de ensino em um curso intensivo, com
duração de seis semanas, em uma universidade dos Estados Unidos contemplando os seguintes
benefícios:
7.1.1. Ajuda de custo, no valor de U$ 500,00 (dólares americanos);
7.1.2. Alojamento no campus universitário;
7.1.3. Alimentação;
7.1.4. Deslocamento, nos EUA: aeroporto/universidade/aeroporto;
7.1.5. Seguro saúde;
7.1.6. Passagem aérea internacional de ida e volta em classe econômica promocional;
7.1.7. Auxílio deslocamento para o aeroporto mais próximo no Brasil, quando necessário. Neste
caso, o valor será restituído mediante apresentação do recibo de pagamento e comprovante de
embarque;
7.1.6. Taxas Escolares;
7.1.7. Materiais didáticos a serem utilizados nos cursos;
127
7.1.8. Atividades Culturais oferecidas, quando possível, pelas universidades; e
7.1.9. As universidades poderão oferecer acesso aos laboratórios e aulas de conversação de
acordo com o cronograma do curso e a estrutura de cada universidade;
7.2 Dependentes e familiares do candidato selecionado não poderão acompanhá-lo durante o
curso nos EUA,
uma vez que os mesmos estarão em processo de imersão para melhor aproveitamento do curso.
8. DAS OBRIGAÇÕES DOS CANDIDATOS SELECIONADOS
8.1. O candidato selecionado obriga-se a:
8.1.1. Providenciar o passaporte em prazo hábil para a participação no programa;
8.1.2. Dedicar-se integralmente ao cumprimento do cronograma de atividades de cada curso;
8.1.3. Na eventualidade de ocorrência de revogação da concessão, motivada por ação ou por
omissão dolosa ou culposa do candidato selecionado, ressarcir a CAPES, a Embaixada dos EUA
e a Comissão Fulbright de todo o investimento feito, com a incidência de juros de mora sobre o
valor a ser restituído;
8.1.4. Enviar projeto de trabalho, a ser implementado em escolas públicas no Brasil,
aplicando os conhecimentos adquiridos, no prazo de seis meses após o retorno dos EUA para
[email protected].
8.1.5. Assinar o Termo de Compromisso conforme modelo em anexo.
9. DO CALENDÁRIO
Período Atividade prevista
De 11 de setembro a 15 de outubro de 2012
Apresentação de candidaturas
De 16 de outubro a 01 de novembro de 2012
Realização do TELP
Até 16 de novembro de 2012
Divulgação do resultado do processo de seleção
De 16 de novembro a 26 de novembro de
2012
Interposição de recursos
Até 30 de novembro de 2012
Divulgação do resultado final
Até 14 de dezembro de 2012
Envio da cópia do passaporte
128
09-10-11 de janeiro de 2013
Orientação pré-partida e concessão do visto
11, 12 ou 13 de janeiro 2013
Embarque para os EUA
14 de janeiro a 22 de fevereiro de 2013 Atividades acadêmicas nos EUA
22, 23 ou 24 de fevereiro de 2013
Retorno ao Brasil
10. DA OBTENÇÃO DO VISTO
10.1. A concessão do visto será realizada durante a etapa da orientação pré-partida do grupo,
conforme cronograma apresentado no item 9. A Embaixada dos EUA emitirá o visto de entrada
nos EUA, consoante a regulamentação do Serviço de Imigração dos EUA, na categoria J-1.
10.2. As taxas para a concessão do visto e os custos para emissão do passaporte são de
responsabilidade do candidato selecionado.
10.3. Ressalta-se que a obtenção do passaporte, em prazo hábil para a participação no
programa, é de exclusiva responsabilidade do candidato.
11. DOS RECURSOS ADMINISTRATIVOS
11.1. Caso o proponente queira contestar o resultado deste edital, a CAPES aceitará a
interposição de recurso, o qual deverá ser encaminhado no prazo de 10 (dez) dias, a contar da
divulgação do resultado do julgamento no Diário Oficial da União (DOU) e no sítio da CAPES,
conforme cronograma apresentado no item 9. Na contagem do prazo, excluir-se-á o dia de início
e incluir-se-á o do vencimento, e considerar-se-ão os dias consecutivos. O prazo só se inicia e
vence em dias úteis.
11.2. O recurso deverá ser encaminhado à CAPES, por meio de ofício assinado, digitalizado,
para o endereço eletrônico [email protected].
11.3. Os consultores ad hoc, indicados pela CAPES e pela Comissão Fulbright, após exame,
fundamentarão a apreciação do pedido de reconsideração e encaminharão o resultado para
deliberação final conjunta entre a CAPES, a Comissão Fulbright e a Embaixada dos EUA.
12.DOS CASOS OMISSOS E DAS INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
Eventuais situações não contempladas neste edital serão decididas conjuntamente pela
CAPES, pela Embaixada dos EUA e pela Comissão Fulbright, por intermédio de consulta
dirigida, exclusivamente, para os endereços listados a seguir, que também poderão ser utilizados
129
para o esclarecimento
[email protected]
Comissão Fulbright
de
dúvidas
e
para
obtenção
de
mais
informações:
CAPES
Ed. Casa Thomas Jefferson
SHIS QI 09, Conjunto 17, Lote L
71.625-170 Brasília – DF Telefone: (61) 3248-8614 [email protected]
• Coordenação-Geral de Programas – CGPR/DRI
• Coordenação-Geral de Programas de Valorização do
Magistério – CGV/DEB
Setor Bancário Norte, Quadra 2, Bloco L, Lote 06
70.040-020 Brasília – DF
Telefone: 0800 61 61 61 – Opção 7 [email protected]
Brasília, 10 de setembro de 2012
JORGE ALMEIDA GUIMARÃES
Presidente da CAPES/MEC
THOMAS SHANNON
Embaixador dos Estados Unidos da América no Brasil
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PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO
PARA PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA - EUA Edital nº. 44/2012/CAPES
Anexo I
Declaração do Diretor
(após preenchimento anexar este documento ao formulário on-line, conforme instruções no item
4.4)
Eu,______________________________________________________________________,
Diretor(a) do estabelecimento declaro para fins de participação no Programa de
Aperfeiçoamento
para
Professores
de
Língua
Inglesa
que
o(a)
Prof(a).
______________________________________________________________ é professor(a)
concursado(a) estável, com estágio probatório concluído, na rede pública de ensino da educação
básica, e atua no ensino de língua inglesa,em efetivo exercício em sala de aula neste
estabelecimento.
________________________________________________
Assinatura
Local do estabelecimento de ensino: Data:
Telefone de contato: (
E-mail:
)
-

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