açúcar - JM Madeira

Transcrição

açúcar - JM Madeira
À CONVERSA COM...
Luísa Castel-Branco
P. 3 e 4
A VIAJANTE
5 locais a visitar
com crianças, na Madeira
Por Sofia Vasconcelos
P. 10
FELIZ COM MAIS
Comida e sexo
Por SideDish Moustache
açucar 17 | este suplemento não pode ser vendido separadamente do JM | ilustração capa - JM
P. 11
Entrevista
«As universidades estão
a formatar os alunos
de literatura»
José Rodrigues dos Santos
a
2 | açúcar | SÁB 28 MAIO 2016
do tempo íntimo
San Sebastian
– Donostia
O tempo desliza
para outras eras. CRÓNICA
Expande-se num Diogo Correia Pinto
vagar sereno, [email protected]
tomando o
espaço de memórias e imagens
oníricas.
A cidade inspira
uma outra época,
projeta-se, ou convidado a participar
suspende-se num filme antigo. Seduzipela minha
em frames do
fantasia,deambulo por
cinematográficos. San Sebastian - Donostia
s
em contínuo encantamento.Vagueio sem direcção,
como um realizador à deriva, ávido por encontrar
uma boa estória. Detenhome e escolho o melhor ângulo.O amarelado da película afaga o ar espesso da
maresia, diluindo-se pelas
ruas e na arquitectura
afrancesada. Observo o cenário perfeito para o meu
devaneio. Um elenco de
artistas, espiões e revolucionários ganha vida no
meu delírio. Na Belle Époque, a cidade tornou-se
uma das mais cosmopolitas da Mundo, sendo porto
de figuras míticas como
Ravel, Mata-Hari ou Trotsky. Crio para mim um argumento de amores exacerbados e traições, conspirações políticas, encontros e desencontros, uma
zona de passagem em que
se vive na vertigem do efémero.
Fujo da realidade que me
circunscreve. Deixo-me levar. A grande viagem
está dentro de nós, nessa
dádiva de nos evadirmos e
reinventarmo-nos numa
existência mais plena.
Sigo pela pela Kontxa Pasealekua ( Passeio da Concha) em direção à Parte
Vieja. À minha esquerda,
dois braços de terra, que
culminam nos montes
Igueldo e Urgull, estendem-se pelo mar adentro
abraçando-o. Acolhem as
águas crispadas do Cantábrico num doce embalo,
presenteando-o com um
momento de pausa e serenidade. Ao centro, a Ilha
de Santa Clara repousa so-
lene na paisagem. A Natureza, na sua expressão divina, criou a Bahia de la
Concha. Na Europa, não
me lembro de me banhar
em águas tão quentes e
calmas.
Chego à Parte Vieja, as
ruas estreitas enchem-se
do bulício. A música do
tilintar de pratos e garrafas de cerveja Gross acompanhadas por uma lingual
estranha, áspera, sai de
tabernas rústicas ecoando
por todo o bairro.Petiscam-se Pintxos. A sua
tradução literal é espigão.
São fatias de pão, onde se
amontoam as mais diversas iguarias ( patés, salmão fumado, presunto,
achovas, entre outras) seguradas por um palito.
Converso com um local,
evito mencionar que estou
em Espanha, com o medo
de acicatar fantasmas independentistas. Encontrome no País Basco, uma região com uma identidade
própria. O Euskara é o
idioma local, falado com
orgulho nacionalista, serve de bandeira de um
povo contra uma cultura
dominante, principalmente a espanhola, já que o
território basco também
se estende por terras francesas. Os meus receios são
infundados. O meu parceiro de conversa, elucidame que apesar de ser a favor do direito à autodeterminação do País Basco,
consegue debater ideias e
é absolutamente contra a
solução da luta armada.
Falamos também de Portugal, como o único estado na Península Ibérica,
que conseguiu traçar o
seu próprio destino, livrando-se por diversas vezes, ao longo da sua História, do jugo espanhol. Momentaneamente a minha
veia de Aljubarrota pulsa
mais intensamente. Sintome um privilegiado, parte
de um povo valente e especial, resquícios de ter
tido uma professora primária que me ensinou a
História do tempo da outra senhora. Mas penso na
actualidade e acalmo os
meus frémitos patrióticos.
Volto para o hotel com o
meu guião completo. Acalentado pelo som da
marejada, respiro fundo e
agradeço por ter conhecido esta terra: eskerrik
asko. a
a
SÁB 28 MAIO 2016 | açúcar | 3
à conversa com...
«Se tivesse uma varinha mágica
voltava ao tempo em que vivia
sozinha com os meus três filhos»
©Albino Encarnação
Luísa Castel-Branco (na 42.º Feira do Livro do Funchal)
ENTREVISTA
q
Susana de Figueiredo
[email protected]
ue olhos são estes através dos quais vê o mundo?
São os do meu neto, Simão, porque há um texto que eu escrevi para
ele, mas, na verdade, são
os olhos de qualquer um
dos meus netos. Quem
ler este livro vai perceber
que uma coisa é sermos
jovens e outra é sermos
avós. Quando vemos o
mundo através dos olhos
deles, é um espanto, é
como se ganhássemos
um novo ímpeto para viver. Para eles nada é impossível.
Como se os avós se tornassem heróis?
Exato. Para eles nada é
impossível, olham-nos
como se fossemos capazes de tudo… Tenho a
perfeita noção de que
nunca mais ninguém irá
olhar-me desta forma. E
isso é maravilhoso.
Esta é uma obra auto-biográfica. «Sou apenas isto
e nada mais». Aos 62
anos, sentiu necessidade
de mostrar a Luísa aos
leitores?
Vou confessar-lhe uma
coisa. Nunca pensei escrever um livro auto-biográfico, a minha ideia era
compilar várias histórias
curtas, porque eu tenho
imensas coisas escritas,
escrevo todos os dias,
desde os 11 anos. O registo auto-biográfico aconteceu por acidente, o livro
acabou por me desnudar.
Além de relatar momentos e sonhos, seus e de
outros, estas páginas são
também depositárias de
revelações íntimas, como
a doença auto-imune de
que sofre. Este desnudamento foi um processo
doloroso?
Foi, sem dúvida. E apesar de este não ser o livro
que, inicialmente, pensei
escrever, é um livro que
cumpre uma missão –
ajudar todas as pessoas
que, como eu, convivem
com a HS.
Esta narrativa funcionou
como uma catarse?
É precisamente isso,
Jornalista,
apresentadora,
escritora e mãe de
três filhos, Luísa
Castel-Branco é
uma das figuras
mais acarinhadas
pelos portugueses. A maioria
tende a olhá-la
como uma
mulher-coragem,
mas ao JM a autora confidenciou
ter um lado frágil
que poucos lhe
conhecem.
Em “Nos Teus
Olhos Vejo o Mundo – A vida como
ela é”, os leitores
irão descobrir
uma Luísa diferente, uma «outra», que também
aqui se revela.
Aperaltámos o espírito para o curto
diálogo, que se fez
do alto, no palco
do Teatro
Baltazar Dias.
Luísa sorri,
empoleirando a
alma nos seus
profundíssimos
olhos verdes.
a
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É uma mulher diferente
depois de ter sofrido o
AVC?
Sim, sou uma mulher totalmente diferente, mudei
de personalidade, e às vezes tenho saudades da
pessoa que era antes. Eu
era muito repentista, discutia mais, tentava demover as pessoas relativamente a determinada opinião. Hoje, sou muito
mais introspetiva, reflito
imenso sobre tudo.
No entanto, não foi uma
atitude inteligente, não
tomei a decisão de mudar,
simplesmente mudei.
Sei que não acredita em
coincidências. Crê que, de
alguma maneira, essa
mudança a ajudou quando teve de enfrentar o
que viria depois, a doença auto-imune (HS - Hidrosadenite Supurativa)?
Sim, mas em relação à
doença, sinto uma enorme revolta, é uma doença
rara, que afeta apenas 1%
da população mundial…
O AVC já me havia trazido um sofrimento enorme e, como se não bastasse, sou acometida por
uma doença incurável
cuja única solução passa
por minorar os sintomas,
que são terríveis. Vivo à
base de cortisona.
Além da dor física, há a
dor emocional. Como lida
com algo tão violento,
que a afeta 24 horas por
dia?
Diagnosticaram-me a
doença há 10 anos, mas
eu já sofro com os sintomas há 20.
Durante muito tempo
não fui capaz de falar
com os meus filhos sobre
a HS.
E como é que se disfarça
uma doença como a HS?
Não é nada fácil… Mas durante muito tempo não
lhes disse o que tinha,
preferia que eles pensassem que eu era hipocondríaca ou que estava sempre doente, sem estar,
como a minha mãe, que
tem 90 anos [risos].
Até ao dia em que vê num
programa de televisão
uma jovem com HS a dar
o seu testemunho...
É verdade. Aquela jovem
podia ser minha filha... E
só quando a vi a falar
abertamente da sua doença, que era também a minha, arranjei coragem
para fazer o mesmo.
Recordo-me perfeitamente desse dia, faltavam dois
dias para a apresentação
do meu livro, foi quando,
pela primeira vez, fui capaz de dizer em voz alta o
nome Hidrosadenite Supurativa.
A partir daí, recebi imensas mensagens com testemunhos idênticos ao
meu.
Sentiu-se melhor depois
de dar esse passo?
Muito melhor. Percebi
que não estava sozinha e
que há sempre alguém
que está pior do que eu.
Por exemplo, recebi um
e-mail de uma mãe cujo
filho padecia de HS e lembro-me de pensar “Esta
mãe está a sofrer mil vezes mais que eu”.
Uma dor num filho nosso, seja ela qual for, dói-
nos infinitamente mais
do que qualquer dor que
possamos ter.
A imagem que temos de si
é a de uma mulher corajosa, porém, não deixo de
vislumbrar uma Luísa
mais frágil. No livro, diz
mesmo «Tanta gente
acredita conhecer-me. E
eu agradeço. Mas sou outra, não essa.»
A esse respeito, posso dizer-lhe o seguinte, há pessoas que são intrinsecamente felizes, não é o
meu caso, eu sempre
achei que a felicidade reside nalguns momentos
da vida.
Tem tido muitos momentos felizes?
Tive bons momentos e
©Albino Encarnação
uma catarse. Sabe, quando tive o AVC, aos 49
anos, deixei de conseguir
ler e escrever, as letras
dançavam à minha frente. Felizmente, foi uma situação passageira, mas
chorei muitas vezes por
não me imaginar a viver
sem escrever.
outros menos bons,
como toda a gente, mas a
minha vida nunca foi
um mar de rosas. Sempre vi o copo meio vazio.
Porém, em relação aos
meus filhos, dá-se a exceção, em tudo o que tem a
ver com eles, vejo o
copo sempre meio cheio.
É uma mãe orgulhosa.
Muitíssimo orgulhosa.
Sempre acreditei que
eles eram capazes de ser
o que quisessem.
A questão do copo meio
cheio prende-se com a
sua exigência ou com um
certo pessimismo?
Acho que tem mais a ver
com a minha exigência.
Sei que não tem uma visão muito romântica do
envelhecimento.
A verdade é que nunca
dei pelo envelhecimento,
porque a minha vida
sempre foi andar a trezentos à hora, tive de
sustentar 3 filhos sozinha, não parava para me
ver ao espelho, para me
deter naquela ruga [risos].
Toda a gente me dizia
que os 40 anos eram
uma idade horrível e eu
adorei, o mesmo me disseram em relação aos 50,
e não foi nada assim,
também adorei os 50.
Até que um dia acordei e
tinha 60 anos. Não foi
grave [risos], porque só
aos 61 me apercebi de
que era uma sexagenária. Bateu-me tão forte!
[risos]
Se, por magia, pudesse
retroceder no tempo e
escolher uma idade onde
ficar, qual escolheria?
Vou ser tão egoísta… Se
tivesse uma varinha mágica, voltava ao tempo
em que vivia sozinha
com os meus três filhos.
Porque...
Naquele tempo tudo era
possível para qualquer
um de nós. Sonhávamos
todos juntos. a
a
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feliz com menos
É só para ver o jeito…
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
V
ou levar o mano
para a minha
casa!” – Olho
para os olhos
dela, vejo-os encherem-se
de lágrimas numa aflição
desmedida e respondo
como quem não quer a
coisa: “Não vai não, que
eu não deixo, ele pertence à nossa família” e sorrio para ela. Ela rapidamente retribui o sorriso
e, visivelmente aliviada,
dá meia volta e regressa
à brincadeira. Situações
como esta acontecem
com as crianças pequenas frequentemente. Tiram um brinquedo pelo
qual a criança tem um visível apreço e dizem: “É
meu! Vou ficar com ele”
ou, por outro lado, “o teu
pai já foi embora e dei-
xou-te aqui!”, sem esquecer, claro, a preciosidade
“agora o mano, vai nascer, é tudo para ele e os
pais vão passar a gostar
mais do dele do que de
ti”. Todas estas afirmações têm apenas um resultado, criança aflita,
triste e incrivelmente insegura, uma insegurança
que transparece nos seus
pequenos olhos impotentes. Quando questiono
porque o fazem, a resposta vem quase que automática “é só para ver o
jeito dela”, mas, pergunto eu, que jeito? O que se
pretende? Tem algum
propósito minimamente
aceitável o de induzir sofrimento psicológico a
uma criança só porque
sim?
Quando são pequenas, as
crianças não conseguem,
muitas vezes, discernir a
brincadeira da realidade
e, sabendo disso, as pessoas aproveitam para as
espicaçar e parecem obter
um alto grau de satisfação
em fazê-lo. No que diz respeito aos pequenos, naquele momento, aquela
informação é muito real,
quase palpável e extremamente assustadora. Vamos lá trocar a criança
por um adulto que acabamos de conhecer. Alguém
tiraria um computador a
um adulto e diria com seriedade algo como “é
meu, vou ficar com ele”
ou “vou levar a tua mulher para a minha casa!”?
Bem, se calhar até poderia acontecer, pois o adulto distingue, normalmente, com certa agilidade a
brincadeira dos assuntos
sérios, no entanto, a verdade é que não é frequen-
te situações como esta
ocorrerem com os adultos
e a razão é outra. Quando
se trata de adultos, sabemos de antemão que devemos demonstrar respeito e sentimo-nos mal se
não o fazemos.
É muito interessante o
facto de termos crescido
com a ideia de que o respeito é algo unilateral que
pende, claramente, a favor do adulto e quase que
esquecemos de olhar para
a criança como um ser
merecedor desse respeito.
Aproxima-se o Dia da
Criança que, ao contrário
do que se possa pensar,
não é marcante pelas
prendas ou pelas festas
animadas. É o relembrar
do respeito pelos direitos
dos mais pequenos que, a
bem dizer, nada mais é
que o respeito por todos
os seres, pela sua individualidade, pela sua forma
de ser e pelas suas escolhas. Uma semana feliz. a
saúde
Mosquitos – repelência e prevenção de picadas
Bruno Olim
Farmacêutico
[email protected]
A
existência do vetor preferencial
para uma miríade de vírus, Dengue, West Nile Vírus, Chikungunya e Zika, na Madeira, torna-nos um alvo
preferencial para a incidência destas patologias,
de tal forma que a OMS
estima que no final da
primavera e verão o vírus
Zika se dissemine com
maior facilidade na Europa (Madeira aparece na
avaliação de risco como
alvo principal).
Para prevenir picadas de
mosquito é necessário tomar em consideração algumas medidas, que passam por usar roupa de
manga comprida (camisas e calças) nas horas de
maior atividade do inseto
(nascer e por do sol), permanecer dentro de locais
com ar condicionado e
cujas portas e janelas estejam protegidas com redes mosquiteiras, eliminar todas as fontes de reprodução do inseto
(águas paradas).
Utilizar repelentes, sendo
os mais eficazes o DEET
(2 a 5h), Icaridina (3 a
8h), IR3535 e OLE (<2h) –
Oil lemon eucaliptos (estes repelentes estão aprovados para mulheres grávidas e a amamentar). Estes deverão ser sempre
utilizados de acordo com
as instruções, não devem
ser aplicados na pele coberta pela roupa (devem
ser utilizados na pele nua
e na roupa), respeitar os
intervalos de aplicação.
Sendo verão, utilizar em
primeiro lugar o protetor
solar e depois o repelente. Nas crianças: usar roupa que cubra pernas e
braços e redes mosquiteiras em todos os sistemas
de transporte, não se
aplicam repelentes em
idades inferiores a 2 meses, e estes não podem
ser aplicados nas mãos
nem próximo dos olhos e
boca.
As roupas podem e devem ser tratadas com inseticidas permitidos,
como a permetrina. a
6 | açúcar | SÁB 28 MAIO 2016
«Se não fosse jornalista
nunca teria sido escritor»
José Rodrigues dos Santos
Natural da Cidade
da Beira, iniciou-se
no jornalismo aos 17
anos, a Oriente,
na Rádio Macau,
e assume que só
é escritor porque
decidiu, um dia,
ser jornalista.
«Escrever é tão
natural como
respirar», diz,
e por isso tem
dificuldade
em entender
os escritores que
escrevem com
sofrimento.
Já publicou 15
romances e conta
com fiéis leitores
em vários países.
a
a
SÁB 28 MAIO 2016 | açúcar | 7
©Martim Leitão
ENTREVISTA
Susana de Figueiredo
[email protected]
José Rodrigues
dos Santos esteve
recentemente na
Madeira, a convite
da Feira do Livro
do Funchal, e a
Açúcar não perdeu
a oportunidade
de falar com o
jornalista da RTP,
que se tornou um
renomado ensaísta e romancista.
Os seus livros são
um fenómeno de
vendas em Portugal e no estrangeiro, e nesta entrevista o autor explica por que consegue chegar a tantos leitores. O seu
novo romance, O
Pavilhão Púrpura,
segundo tomo da
Trilogia de Lótus,
já está nas livrarias. A obra é uma
saga em torno da
emergência dos
totalitarismos do
século XX.
s
e não fosse jornalista teria sido escritor?
Acho que não, eu torneime escritor porque era
jornalista. É à custa desse
hábito de escrever diariamente que evoluo para a
escrita romanceada, por
isso, respondendo à sua
pergunta, se não fosse
jornalista nunca teria
sido escritor, teria sido
outra coisa.
E como acontece essa
evolução para o romance?
Acontece naturalmente, é
o próprio ato de escrever
que vai evoluindo, quanto mais escrevemos, melhor vamos escrevendo.
Temos de ter a inteligência de perceber os erros
que vamos cometendo ao
longo desse processo e
procurar não repeti-los.
Com o tempo, ganhamos
um total domínio da escrita.
Escreve sempre com prazer?
Sou jornalista desde os 17
anos, produzo muito texto todos os dias, por isso,
para mim, escrever é tão
natural como falar ou respirar. Mas entendo a sua
pergunta, de facto, há
muitos escritores que dizem que escrever é, às vezes, um suplício, ou que o
exercício da escrita é um
ato sofrido. Confesso que
tenho dificuldade em entender tal sentimento e
creio que os escritores
que sentem a escrita desta forma são pessoas que
não foram habituadas a
escrever desde cedo.
Na linguagem que usa nos
romances são notórias algumas caraterísticas do
discurso jornalístico, nomeadamente a clareza
com que procura contar a
história, a preocupação
que tem em fazer-se entender junto do leitor.
Nota-se uma atitude muito zelosa em relação a
quem o lê. Crê que esta é
uma obrigação do escritor?
Sim, um escritor com formação jornalística tem
sempre essa preocupação, porque se coloca
constantemente no lugar
do leitor.
Se o leitor tem de voltar
atrás na leitura, se não
percebeu à primeira aquilo que estou a tentar
transmitir-lhe, a culpa
não é dele, é minha. Se
queremos ser lidos, temos de ser muito claros
na forma como escrevemos, temos de ser interessantes.
Mas há escritores que assumem não ter essa preocupação, que escrevem
sem o foco apontado à expetativa do leitor.
Acho que esses escritores
nos vendem uma grande
“tanga”. Faz-me confusão
ouvir um escritor dizer
que escreve para si, que
quer lá saber dos outros.
Se está a escrever para si,
então para quê publicar?
Acha, então, que o escritor que faz uma afirmação dessas não está a ser
verdadeiro?
Obviamente está a mentir, caso contrário deixava
o livro na gaveta. É uma
afirmação hipócrita.
Os bons escritores são os
mais lidos?
O meu agente em Nova
Iorque disse-me uma vez
o seguinte: “Podem falar
bem ou mal dos escritores de sucesso, mas há de
reparar que todos eles
trouxeram um elemento
novo para a literatura, podemos gostar ou não, mas
o sucesso deles está intimamente ligado à novidade”. Ele tem razão, e isto
é válido para o Gunter
Grass e para a Danielle
Steel, não há preconceitos, um merece tanto respeito como o outro.
a
©Martim Leitão
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O que trouxe de novo o
José Rodrigues dos Santos?
Primeiro, acho que trouxe
algo que se prende com o
meu modo de escrever,
escrevo por imagens visuais, frequentemente as
pessoas dizem-me que
quando leem os meus livros constroem imagens
na sua cabeça, e este é um
elemento poderoso.
A linguagem cinematográfica...
Precisamente. A Filha do
Capitão, por exemplo, podia ser uma produção de
Hollywood. Tem todos os
ingredientes de uma
grande produção cinematográfica.
E a outra novidade, será a
forma como articula realidade e ficção?
Sim, julgo que tem, também, a ver com isso. Uma
vez, em França, disseramme que a dialética que eu
estabeleço entre ficção e
não-ficção é algo que não
se vê noutros romances.
Esse resvalar da realidade
para a ficção, essa intermitência entre os dois
mundos, conferem intensidade à narrativa.
Claro. Tornam a história
muito mais interessante e,
ao mesmo tempo, permitem aprofundar conhecimentos sobre economia,
história, religião, política.
Vários leitores me têm
dito que, com os meus livros, conseguem entender
melhor muitos dos fenómenos atuais, realidades
que os afetam, como a crise ou o desemprego.
Qual é a principal marca
de um bom escritor?
A capacidade de contar
uma história de maneira
interessante tem de ser a
marca do escritor, e também a do jornalista.
O que determina a qualidade de um romance é, então, uma boa história bem
contada…
Sem dúvida, uma boa história bem contada é o que
faz um bom romance.
E uma história mediana
muito bem contada, pode
dar uma grande história?
A sua pergunta toca num
aspeto fulcral do debate
sobre o que é a literatura.
Hoje em dia, há uma grande dificuldade em definir
o que é uma obra literária
e o que não é, e este é um
debate que se estende a todas as áreas artísticas. Du-
Quando publicamos o primeiro
livro tememos
que as pessoas
se riam de nós
[Todos temos
medo do ridículo].
É preciso uma
certa coragem
para começar
a publicar.
rante muito tempo pensou-se que a arte tinha de
ser sempre bela, até que,
a dada altura, percebe-se
que esta pode ser feia.
Ora, a literatura pode não
ter história e, neste sentido, ser feia.
Claro que isso repele o leitor, é por isso que quase
ninguém lê o “nouveau
roman”, aquilo não tem
história nenhuma, é apenas um exercício de linguagem, no entanto, é legítimo.
Mas esse exercício formal
não ajuda a contar melhor a história? Não enriquece o conteúdo?
Mais do que a forma, importa o ângulo que o autor escolhe para contar a
história. Há certas maté-
rias que, à priori, são desinteressantes, mas mediante a abordagem certa,
transformam-se. Por
exemplo, quando apresentei ao meu editor a proposta para o Codex 632, dizendo-lhe que o livro seria
sobre Cristóvão Colombo,
ele riu-se e perguntou-me
“Mas quem é que quer saber de Cristóvão Colombo?” Depende de como vamos contar a história –
respondi, e o livro foi um
sucesso.
Para si, o conteúdo prevalece sobre a forma?
Sim, é essa a minha corrente, mas acredito que
deve haver espaço para
outras. Para Saramago a
forma era o mais importante, já para Umberto
Eco era o conteúdo.
Sobre a forma, Isabel Allende disse algo curioso “o nouveau roman quase
matou a literatura”.
Concorda com a autora?
Sim, diante do “noveau roman” as pessoas sentiamse parvas, não entendiam
o que estavam a ler, tinham esses livros na estante só para os amigos
verem.
Era um gosto literário de
fachada.
Exato. Para parecer bem.
O ideal é haver um espaço
amplo para várias literaturas e leituras.
Concordo, um espaço para
diferentes vozes, que permita ao leitor escolher a
que mais lhe agradar.
Repare que se criou um
discurso quase fascista na
literatura, levado a cabo
pelos antifascistas [risos],
que defende que só a literatura que não conta histórias é que é legítima.
Este é nitidamente um discurso de intimidação à publicação de outros géneros.
A avaliação de uma obra
literária é eminentemente
subjetiva?
Sim, será sempre subjeti-
va. Não podemos afirmar
que uma obra é melhor
que outra.
No entanto, é preciso dizer
que as universidades portuguesas estão a formatar
os alunos de literatura
para modelos, quando a literatura tem de ser aberta,
tem de ter vitalidade e leitores. Há vários critérios
que definem uma boa
obra literária, e a opinião
do leitor, seja ela qual for,
é legítima.
Quer com isso dizer que a
literatura está a ser espartilhada, ensinada “a régua
e esquadro”?
Infelizmente, está.
E o jornalismo não vive
também nesse espartilho?
Creio que não. Com o advento dos órgãos de comunicação social privados,
começaram a aparecer vozes diferentes.
Eu recordo-me de, antigamente, na RTP, não se ouvir uma única voz do
povo, praticamente só os
políticos eram ouvidos,
mas houve uma evolução
enorme. Basta ver um noticiário antigo, as diferenças estão lá todas.
[Parêntesis] O José Rodrigues dos Santos é um pivô
“desformatado”, não tem
qualquer pudor em mostrar as suas emoções
quando está “no ar”.
Quando trabalhei na BBC,
uma das coisas que me
disseram é que o melhor
apresentador é aquele que
“no ar” é igual a si próprio.
Portanto, se um pivô é
emocional e expressivo,
deve sê-lo também na televisão, não devemos tentar
fingir aquilo que não somos, porque não vai funcionar.
Eu sigo essa regra, sou eu
próprio. Mas há muita
gente que prefere um
robô.
Refere-se aos políticos e à
recente polémica em torno do que disse num Telejornal?
Sim, um robô convém aos
a
políticos. O que é que um
político quer? Alguém
que exprima acriticamente todas as baboseiras que
ele diz. Ora, eu não faço
isso, o meu trabalho é
contar a verdade às pessoas, se a folha é azul não
vou dizer que é verde.
Claro que este “formato” é
muito mais exigente com
os políticos… Mas o meu
compromisso não é com
eles, é com a verdade e
com os telespetadores.
Voltemos aos livros.
Muito poucos escritores portugueses,
continentais, escreveram romances inspirados na
Madeira. Aliás,
assim de repente, apenas me
ocorre um, “A
Corte do Norte”, de Agustina Bessa-Luís.
A ilha poderá
vir a inspirar
um próximo
romance seu?
Nunca pensei nisso, porque não tenho um conhecimento aprofundado sobre a Madeira, mas não é
impossível, embora os desafios sejam peculiares.
A Madeira é um meio pequeno, tem uma elite pequena que funciona um
pouco em circuito fechado, mas é engraçado que
encontro aqui muitas das
coisas que encontrei em
Macau, e até muitas semelhanças com o Brasil
que Jorge Amado retrata
SÁB 28 MAIO 2016 | açúcar | 9
em Gabriela, Cravo e Canela. Se um madeirense
ler a obra irá encontrar
naquela atmosfera e nas
personagens muitos pontos em comum com a realidade do arquipélago.
Qual é o maior medo de
um escritor?
Acho que o maior medo é
aquele que surge no iní-
cio, quando escrevemos o
primeiro livro e tememos
que as pessoas se riam de
nós [Todos temos medo
do ridículo].
É preciso uma certa coragem para começar a publicar livros [não a escrever, mas a publicar].
Quando entrevistei o Philip Roth, ele disse-me que
o medo que tinha era o
de perder o talento de escrever, e é interessante
que ele me tenha dito
isso após publicar o último livro. [Semanas depois, anunciou que aquela seria a sua última
obra].
Partilha desse medo de
Roth?
Não. Tenho noção de que
os escritores, e os artistas
em geral, têm um momento de apogeu, e depois entram em declínio. Uns conseguem prolongar
esse apogeu,
mas na vida
tudo é um
momento. É
tudo temporário, por
isso me faz
tanta confusão
quando
ouço dizer
que só é
escritor
aquele
que cria
uma obra
imorredoura.
Esta afirmação é de uma
arrogância…
Alguém está convencido de que daqui a cinco milhões
de anos se falará de
Camões? Tudo no universo morrerá, inclusive o próprio
universo.
Falando de finitude, permita-me agarrar este
mote para questioná-lo
sobre a importância do final de um livro. A maneira como termina a história determina-a?
Todos os detalhes de um
livro são importantes. O
início é importante porque é aquilo que prende a
atenção do leitor, temos
de prender o leitor cedo.
E, tal como num filme [ou
no futebol], o final é aquilo de que mais nos lembramos, é o que nos faz
avaliar a história, de uma
maneira desproporcional,
até.
O final é o gostinho que
fica.
Na literatura, como no cinema [o mesmo não podemos dizer relativamente
ao futebol, nem à vida],
um bom final nem sempre é um final feliz.
Ainda bem que toca nesse
ponto, porque, há pouco
tempo, um crítico de um
semanário nacional resolveu criticar a minha obra,
fazendo referência às minhas “fórmulas de finais
felizes”.
Vê-se logo que este crítico
nunca leu a minha obra,
pois uma parte significativa dos meus livros não
tem finais felizes. O que
eu gosto é de finais ambíguos, que contemplam o
bom e o mau, imitando a
própria vida.
Quando termina um romance, pede a alguém
mais próximo que o leia?
À minha mulher, que me
lê com olhos femininos, e
isso é importante, porque
eu escrevo com mão
masculina, mas tenho de
ter em atenção que cinquenta por cento dos
meus leitores são mulheres.
Claro que não acolho todas as opiniões dela, mas
aceito cerca de quarenta
por cento [risos].
Parece-me uma boa média [risos]
[Risos] Sim... a
a
10 | açúcar | SÁB 28 MAIO 2016
a viajante
5 locais a visitar
com crianças, na Madeira
Sofia Vasconcelos
www.frommadeiratomars.com
[email protected]
https://www.facebook.com/
Frommadeiratomars
Instagram@frommadeiratomars
Aceite o desafio e passe
um fim-de-semana
divertido em família.
c
hega o fim de semana,
está cansado, as crianças
querem jogar no IPad e é
tentador deixar-se ficar
no conforto do sofá…
Mas, temos outros planos
para si! Para viver aventuras e criar memórias,
faça chuva ou faça sol,
aqui ficam 5 dos meus sítios preferidos para visitar com crianças, na Madeira:
1. BIBLIOTECA PÚBLICA
REGIONAL, FUNCHAL
Hora do Conto - Todos os
sábados, às 11h, e às
quintas-feiras, a partir
das 18h, decorre na Sala
Infantojuvenil a leitura
de uma história para
crianças num ambiente
descontraído. Segue-se a
realização de uma atividade relacionada com a
história. A entrada é livre, não é necessário inscrição e não há limite de
idade. A biblioteca disponibiliza também, a título
de empréstimo, livros,
quer para crianças quer
para adultos, basta para
tal fazer o cartão da bi-
blioteca e requisitar os
mesmos. Para mais informações consulte:
http://www.bprmadeira.o
rg/site/
2. MADEIRA STORY
CENTER, FUNCHAL
Há 14 milhões de anos de
história da Madeira num
museu, chama-se Madeira
Story Center. Dos vulcões
às lendas, para sentar-se a
bordo de um avião, andar
em cima da lava ou jogar
jogos com os piratas. O
terraço tem uma bela vista sobre o Funchal Para
mais informações consulte: http://www.storycentre.com/pt/bilhetes.html
3. MUSEU DA BALEIA,
CANICAL
O Museu da Baleia, é um
dos nossos preferidos.
Gostamos de espreitar pelos binóculos, ouvir a história do lobo marinho,
viajar no submarino e ouvir os sons que as baleias
emitem. Localizado no
Caniçal, permite explorar
o mar e aprender mais sobre as baleias, golfinhos e
outros animais marinhos.
Para mais informações
consulte: http://www.museudabaleia.org
4. PARQUE TEMÁTICO,
SANTANA
O Parque Temático, em
Santana, é único em Portugal. O tema é a história
e tradições da nosso Arquipélago. O recinto, tem
4 pavilhões multimédia,
uma réplica do comboio
do Monte, dos carros de
bois, a típica Casa de Santana, o Moinho, um Labirinto e ainda um Lago
onde podemos flutuar
nos barquinhos a remos.
Os jardins, percursos pedestres, parques infantis e
restaurantes, são a receita
para um dia bem passado. O pavilhão “Viagem
Fantástica na Madeira“
apresenta um espetáculo
num simulador onde o visitante acompanha as peripécias de um casal em
lua-de-mel na ilha. Para
mais informações consulte: http://www.parquetematicodamadeira.pt/
5. CENTRO CIÊNCIA VIVA
E AQUÁRIO, P. MONIZ
Visita de lazer aliada à
ciência e ao conhecimento ou por outras palavras
juntar o útil ao agradável! Para aprender e conhecer melhor a nossa
Floresta Laurissilva,
para andar em cima de
um tapete interativo que
é uma levada madeirense ou aprender a fazer
pegamonstros!
Logo ao lado ficam as
piscinas naturais e o
Aquário onde há raias,
estrelas do mar e muitos
peixinhos a nadar…
Para mais informações
consulte:
http://www.portomoniz.c
ienciaviva.pt
Com votos de um bom
fim de semana, divirtamse! a
a
SÁB 28 MAIO 2016 | açúcar | 11
feliz com mais
Comida e sexo
SideDish Moustache
[email protected]
Sexo, sexo, sexo...
Sim, sexo!!!
Onde é que isto
está relacionado
com a crónica do
acompanhamento do bigode??
Bem, tentaremos
fazer isso, hoje
é simplesmente
uma desculpa,
se é que é necessário, para falar
das quatro letras
que mais fazem
tremer o corpo,
exceção feita,
talvez, a uma
diarreia tremenda de um
“comer” mal
confecionado.
Olhem, já fizemos
a ponte.
N
um episódio da
mítica série
Seinfeld, a personagem principal, Jerry, fala de um dos
sítios mais eróticos e propícios – atenção, não é
prepúcio, maldito corretor automático - para conhecer alguém. Sim, esse
local é exatamente aquele
em que está a pensar, a
frutaria, ou se preferirem, na secção de fruta
do supermercado. A razão é simples, e óbvia, estamos lá a apalpar maçãs
e mangos, a cheirar as laranjas e os limões, a apreciar as uvas e os tomates,
a fazer o nosso papel na
seleção natural desses ricos alimentos, fingindo
que sabemos a diferença
entre um limão que cheira a limão e uma laranja
que cheira à mesma, que
conhecemos todas as curvas daquelas uvas, que as
mesmas estão no ponto
para serem oferecidas às
nossas goelas, ou às goelas de outra pessoa, que
com aquela apalpadela
no mango, como fazemos
no rabo das nossas namoradas, mulheres, conseguimos ver que o mesmo
está pronto para ser devorado. Sim, é tudo muito
erótico e excitante, os
cheiros que por lá andam, os gestos, são, sem
sombra de dúvida, favoráveis ao conhecimento íntimo de uma pessoa. Ficamos a apreciar como esse
alguém apalpa, cheira e
observa a sua fruta, esses
gestos levam a uma sedução tal, que se não temos
cuidado, ficamos bananas.
A frutaria é só o primeiro
passo, depois levamos
quem nos chamou a
atenção na escolha da
fruta a um primeiro encontro. Esse, normalmente, passa por um café
ao final da tarde. Aqui, o
que conta mais é o sítio e
não o serviço, ou a qualidade dos ingredientes,
esses já ficaram em casa,
depois da frutaria. Se o
clima chegar ao ponto de
fervura, como fica para
escaldar os legumes, passamos ao próximo passo,
que envolve mais comida...
O jantar que esperamos
prolongar até à próxima
refeição, o pequeno-almoço. Este é o passo
mais importante, não
queremos levar quem estamos a tentar levar para
casa ao MacDonald’s ou à
Pizza Hut, queremos
levá-la a algum sitio intimista o suficiente, que
sirva boa comida, que dê
para saborear a comida e
a companhia de uma
maneira suave, ir conversando para depois começarmos a suar, como
as lagostas que ficam,
depois, no ponto para serem consumidas. E, com
o avançar do programa,
já estamos a pensar no
que fazer para o pequeno-almoço... a
a
12 | açúcar | SÁB 28 MAIO 2016
horas vagas
Sandra Sousa
http://estrelasnocolo.wordpress.com
U
m, dó, li, tá, é o
primeiro livro de
M. J. Arlidge e o
primeiro da série da detetive Helen Grace. Neste primeiro volume conhecemos Helen
que se vê confrontada
com uma série de assassínios macabros. São raptadas duas pessoas e estas
são forçadas a matarem o
Virgílio Jesus
[email protected]
N
o âmbito da estreia nas salas de
cinema de Alice
do Outro Lado
do Espelho recomendamos outra aventura Disney, O Aprendiz de Feiticeiro. A história começa
com os aprendizes de
Merlin, Balthazar (Nicolas
Cage), Maxim (Alfred Molina) e Veronica (Monica
E
já chegou o próximo filme de super-heróis. X-Men
Apocalipse termina uma excelente trilogia
do género, que soube reinventar e brincar consigo
mesma. Neste episódio, temos um vilão a sério que
coloca alguns debates
ideológicos, interpretado
com carisma por Oscar
Por E.V.
C
música
ar Seat Headrest
nasceram no estado de Virginia,
nos Estados Unidos, mudando-se, posteriormente, para a capital
do rock alternativo mundial, Seattle, Washington.
A banda, fruto da imaginação de Will Toledo, começou em 2010 quando o
mentor do projeto tinha
apenas 18 anos. O talento
[livro, filme, música]
livro
Um, dó, li, tá
outro de forma a poderem sobreviver. Inicialmente ninguém queria
acreditar que fosse possível haver um assassino
tão cruel e desumano à
solta… Mas a verdade é
que existe. As buscas continuam, contudo, os assassínios continuam e a
detetive vê-se completamente desorientada por
M. J. Arlidge
não conseguir avançar
com o caso. Aos poucos
vão surgindo pistas, migalhas que vão brotando
ao longo do caminho, e
Helen sente que está cada
vez mais perto de desvendar o caso. Este livro poderá ser descrito como
um policial macabro, já
que vários pormenores
vão sendo descritos ao
leitor durante o aprisionamento dos reféns. Não
é um livro para pessoas
fracas de
estômago…Além de muito gráfico, é revoltante e
claustrofóbico, porque o
leitor sente-se impotente.
Mas devido a estas características é que se torna
um policial fantástico e
muito viciante. a
televisão & cinema
Bellucci) até chegar aos
dias de hoje e a um nerd
incurável que não sabe
como se aproximar da rapariga por quem está
apaixonado. Protagonizado por Jay Baruchel, que
apesar da gaguez constante nunca soou tão natural
e simpático, esta aventura
para toda a família serve
para avaliar como os efei-
tos em CGI evoluíram
tanto em tão pouco tempo. Apesar de Nicolas
Cage, um pouco rezingão, valem as referências
aos filmes Star Wars ou a
Chinatown, de Roman
Polanski. Não falta também um vilão, com Alfred Molina a mergulhar
no universo de forma
eloquente. a
Isaac, um ator tão camaleónico, cujo nome vai
querer decorar. Depois
das viagens no tempo e de
um trabalho sobre a memória coletiva, Bryan Singer torna-se um perito na
memória cultural, ao explorar questões mitológicas que estão na Terra
desde as suas origens, passando pelas imagens tele-
visivas mais mediatizadas
dos anos 80. Destaque inclusive para Sophie Turner, Tye Sheridan e Kodi
Smit-McPhee, os miúdos
mais cativantes do ano, e
para Evan Peters, com
dote inquestionável para
a comédia, com ritmo.
Confirma-se, é o filme de
super-heróis mais interessante do ano, até agora. a
O Aprendiz
do Feiticeiro
Hollywood
Sábado, 28 de abril - 15h45
Realizado por: Jon Turteltaub
Elenco: Jay Baruchel, Nicolas Cage, Alfred Molina
e Monica Bellucci
Género: Aventura/ Fantasia
X-Men:
Apocalipse
(já nos cinemas)
Realizado por: Bryan Singer
Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender,
Jennifer Lawrence e Oscar Isaac
Género: Ação/ Aventura/ Ficção Científica
Car Seat Headrest – Teens of Denial, a negação de um adolescente
do prodigioso Toledo foi
sendo divulgado por essa
fantástica ferramenta intitulada Internet, via
Bandcamp – onde muitos
dos seus trabalhos passados podem ser consultados, chegando até aos ouvidos da Matador Records
que, em 2015, assinou
com a banda, lançando
no mesmo ano Teens of
Style. Esta é a breve histó-
ria de Car Seat Headrest.
Chegando aos dias de
hoje, o adolescente borbulhento cresceu e o som
amadureceu. O lo-fi dos
primórdios está a ser lentamente colocado de parte, embora ainda esteja
presente, entrando para o
seu lugar o rock digno de
uma adolescência que
está em negação, que
quer soar a Pixies, mas
que ao mesmo tempo tem
a elegância e a decência
de continuar ligado a Virginia. Teens of Denial é
isso, um adolescente em
negação, que consegue
criar músicas para um
longo verão em que ele,
Toledo, estará no centro
dos atenções e que daqui
a uns dias não será mais
um adolescente, mas sim
uma estrela. a
a
SÁB 28 MAIO 2016 | açúcar | 13
na moda
Casamentos…
O que vestir?
Laura Capontes
lauracapontes@[email protected]
look total: mythe
look total: modaop
resa.com
vestido: bcbg.com;
theoutnet.com
stilletos e clutch:
erandi.com
foto © Laura Capontes
e
stamos em maio, e com
ele começou a época dos
casamentos e consequentemente as dúvidas
e hesitações na hora de
escolher o que vestir. É
certo que como convidadas temos um papel secundário no casamento,
mas isso não é desculpa
para descuidarmos o
nosso look, pelo contrário, antes de fazer a sua
escolha, é importante ter
em mente algumas dicas
para estar elegante e de
acordo com a ocasião:
não use branco, se há
uma cor proibida é esta,
pode usar cores claras,
mas deixe o branco para
a noiva que, por norma,
é a sua cor. Tente fugir
mrack.com;
vestido: nordstro
om
tch: net-a-porter.c
clu
ra;
za
s:
sandália
look total: nordstro
mrack.com
om
s: nordstromrack.c
vestido e sandália
m
.co
clutch: accessorize
ao preto, aproveite este
dia para usar cores mais
alegres, se usar preto
aposte em acessórios
com cor. Não se preocupe em conseguir o mesmo tom para a bolsa e sapatos, já não se usa, desde que haja uma harmonização de tons no look
total, pode usar tons diferentes. Os padrões podem ser usados, tendo
em atenção o tipo de te-
Festas que se
realizam durante
a tarde pedem
sempre cores
mais claras do
que as festas
que se realizam
à noite.
cido e do coordenado
para não dar um ar demasiado informal. Tenha
em consideração a hora
da festa, se for durante o
dia aposte em vestidos
curtos, jumpsuits, calça e
top, não convém exagerar nos brilhos e deixe os
vestidos compridos, demasiado elaborados e
formais para festas que
se realizem à noite. E
lembre-se, festas que se
realizam durante a tarde
pedem sempre cores
mais claras do que as festas que se realizam à noite. Numa festa queremos
estar bem, confortáveis,
sofisticadas, e não ofuscar quem realmente tem
de brilhar nesse dia, por
isso, não use decotes,
roupas justas e demasiado curtas. Os sapatos têm
de ser confortáveis.
Inspire-se nos looks! a
a
14 | açúcar | SÁB 28 MAIO 2016
mais açúcar
Panna Cotta de Iogurte Grego
Joana Gonçalves
ingredientes
modo de preparação
2 folhas de gelatina
150gr de leite
150gr de natas
500gr de iogurte grego /
30gr de açúcar
Ferver as natas com o leite e o açúcar. Adicionar a gelatina previamente hidratada. Deixar arrefecer. Juntar o iogurte grego, verter em taças e refrigerar.
Para o gel de morango, ferver a água, o sumo de morango
e açúcar. Juntar o agar agar e deixar ferver 2 minutos,
mexendo sempre com as varas. Refrigerar.
Assim que estiver completamente solidificado, triturar
com a varinha mágica até obter uma textura de gel. Com
um biberão colocar pontos de gel sobre a panna cotta. \
Finalizar com morangos.
gel de morango
100g de sumo de morango
100g de água
100g de açúcar
3g de agar agar
a
Chef Pasteleira - Eleven, Lisboa
[email protected]
Brownie de Frutos Silvestres
ingredientes
modo de preparação
225gr de chocolate
180gr de manteiga
200gr de açúcar
3 ovos
100gr de farinha
40gr de cacau em pó
150gr de frutos silvestres
Derreter o chocolate com a manteiga e o açúcar em banho-maria. Adicionar os ovos um a um à mistura de
chocolate. Adicionar a farinha e cacau e mexer bem.
Envolver metade da fruta.
Colocar a mistura numa forma e cobrir com a restante
fruta. Levar a formo pré-aquecido a 170º durante 30
minutos.
a
Restaurante Apolo – um clássico reinventado
B
em no centro do
Funchal, a olhar
de esgueira para a
Sé Catedral mora
um clássico da restauração
regional, o famoso Apolo,
agora café, restaurante e
espumantaria.
Este espaço, outrora de referência, não resistiu ao
passar dos anos e foi decaindo não só na qualidade da sua cozinha mas,
também, no obscurantismo da sua decoração, muito anos oitenta. Chegou-se
a temer o pior, ou seja, o
seu encerramento.
Mas, tal como a famosa
afirmação de Mark Twain
“as noticias da minha morte foram manifestamente
exageradas” sobre o jornalista que escreveu o seu
obituário prematuro, a história do Apolo foi reescrita.
Em boa hora, acrescento
eu.
O Apolo reinventou-se,
com uma decoração baseada na simplicidade dos
materiais novos e reutilizados, tornou-se num espaço
despojado, simpático e
com bom gosto. Já no que
diz respeito à sua cozinha
tudo é novo já que apresenta um conceito gastronómico conjugando os
seus famosos pratos tradicionais com uma apresentação moderna e atrativa e
com mais qualidade nas
matérias primas utilizadas
o que garante uma melhor
resultado final. Neste particular não há milagres,
quanto melhor forem as
matérias primas melhor
será o resultado final. Para
esta autêntica revolução
na cozinha não é alheia a
mão do Chefe Otávio Freitas, pela idealização dos
pratos e por todo o conceito. Destaco as sugestões
diárias ao almoço onde há
sempre pratos tradicionais
madeirenses como milho
por
António Janela
cozido ou o atum com sugestões para saladas e uma
boa carta oferta em bifes.
As sugestões são sempre
variadas, sem serem em
grande número, e equilibradas.
Para além da cozinha, não
me canso de afirmar, muito melhor do que do antigo Apolo, pelo menos nos
últimos anos, é justo de
realçar novas apostas em
pastelaria, com as clássicas
bolas de Berlim à Apolo.
No caso do Apolo, até o serviço melhorou, apesar de
serem os mesmos empregados de mesa e sala a servir. Penso que até eles acreditam que com este conceito os clientes ficam mais
satisfeitos e … voltam, logo
também eles andam mais
sorridentes e bem dispostos.
Para terminar chamo a
atenção para a APP Apolocard, programa de fidelização lançado recentemente,
onde facilmente os clientes acumulam pontos que
poderão ser convertidos
em refeições neste restaurante. a
a
SÁB 28 MAIO 2016 | açúcar | 15
boca doce
Vítor Abreu
Vocalista/guitarrista Coolfeel Band
1
2
A crítica mais
construtiva que já
lhe fizeram?
E a mais injusta
ou absurda?
Não importa se é
construtiva ou absurda. Uma crítica significa uma oportunidade
para “melhorar”
e é nisso que penso
sempre.
3
A decisão mais
importante que teve
de tomar?
Aos 17 anos tive de
decidir entre os estudos
e a música.
4
A sua dúvida mais
persistente?
Dúvidas com a música.
Como estamos sempre
a aprender, passamos
por várias situações
na nossa vida musical
e as dúvidas/soluções
estão constantemente
a aparecer.
13
Que opinião tem dos
madeirenses que
escondem o sotaque?
O sotaque é algo
natural e inato,
ao escondê-lo acabam
muitas vezes por
piorar a situação.
Três características
da sua personalidade
que melhor o definem?
Teimosia, amizade
e educação.
14
5
Um arrependimento?
Deixar os estudos.
Neste momento, tenho
consciência de que
nada invalidava que
fizesse os dois: estudar
e tocar. Hoje seria
uma mais-valia.
6
Um ato de coragem?
Conseguir lavar a
louça sempre que
acabo de comer.
7
Uma atitude
imperdoável?
Os meus amigos
não serem todos
do Benfica.
10
8
A companhia ideal
para uma conversa
metafísica?
Todos os meus
amigos músicos.
9
Qual é a sua maior
extravagância?
Ter uma Boss RC – 50
e levá-la para
trabalhar uma vez
por ano.
Quem são os seus
heróis na vida real?
Todos aqueles que
conseguem vencer na
vida de maneira justa
e saudável.
11
Uma doce memória
da infância?
Quando me sentava
nos palcos, onde o
meu pai atuava. Ficava horas a vê-lo tocar
guitarra.
12
O que distingue um
madeirense de um
continental
(além do sotaque)?
Sinceramente, não
me ocorre nenhuma
no momento.
Que expressões
madeirenses usa com
maior frequência?
Talvez seja melhor
quem convive comigo
responder a essa
pergunta [risos].
15
A quem gostaria
de pagar uma poncha?
Aos meus atores
preferidos: S. L. Jackson, Christoph Waltz
(…) São muitos!
16
Segredos da Ilha…
Local: Palco
Hotel: Quinta do Furão
Restaurante: Petiscos
Atividade ao ar livre:
Levadas
Loja: Estúdio 21

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