vii enanse - Início - Universidade Federal de Uberlândia

Transcrição

vii enanse - Início - Universidade Federal de Uberlândia
VII Encontro sobre Animais
Selvagens
II Simpósio sobre Medicina e Conservação da Fauna do Cerrado
LIVRO DE RESUMOS
VII ENANSE
15 a 18 de maio
Universidade Federal de Uberlândia
Uberlândia – MG - Brasil
2014
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
VII ENANSE
Realização
APOIO
Agências
Institucional
Empresas
Universidade Federal de Uberlândia
2
VII ENANSE
3
De 15 a 18 de maio de 2014
Sumário
ANÁLISE PARASITOLÓGICA DE COCCÍDIOS E NEMATÓDEOS PELO MÉTODO DE GORDON
E WHITLOCK (OPG) EM RAMPHASTOS TOCO MANTIDOS EM CATIVEIRO .................................................. 6
ANATOMIA COMPARADA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DA FAMÍLIA ACCIPITRIDAE: BUTEO
ALBICAUDATUS (V IEILLOT, 1816), PARABUTEO UNICINCTUS (T EMMINCK , 1824) E RUPORNIS
MAGNIROSTRIS (GMELIN, 1788) ............................................................................................................................... 10
ANATOMIA DO APARELHO DIGESTÓRIO DE DENDROCYGNA VIDUATA (LINNAEUS , 1766) .................... 15
ANATOMIA DOS ÓRGÃOS GENITAIS MASCULINOS DE TATUS: DASYPUS NOVEMCINCTUS
LINNAEUS , 1758 (TATU-GALINHA) E EUPHRACTUS SEXCINCTUS LINNAEUS, 1758 (TATU-PEBA) ............. 20
ANATOMIA E MORFOMETRIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE CORUJAS DA ESPÉCIE T YTO
ALBA (SCOPOLI , 1769) .............................................................................................................................................. 27
ANATOMIA ÓSSEA E MUSCULAR DO CÍNGULO ESCAPULAR E BRAÇO DE T APIRUS
TERRESTRIS (PERISSODACTYLA: TAPIRIDAE) ................................................................................................ 32
ANORMALIDADES MORFOLÓGICAS DOS ESPERMATOZOIDES DE JACARÉ TINGA CAIMAN
CROCODILUS LINNAEUS, 1758 .......................................................................................................................... 39
ATENDIMENTO DE AVES DE RAPINA ENCAMINHADAS POR MOTIVO DE
ATROPELAMENTO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE UBERABA, MINAS GERAIS, BRASIL
ENTRE OUTUBRO DE 2010 E FEVEREIRO DE 2012 .......................................................................................... 44
AVALIAÇAO DO NÍVEL DE LACTATO SANGUÍNEO EM TUCANOS TOCO (RAMPHASTOS TOCO ) ....... 48
CARACTERIZAÇÃO PARASITOLÓGICA DOS ANIMAIS SILVESTRES E EXÓTICOS
ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE UBERABA DURANTE NOVEMBRO DE 2010 À
AGOSTO DE 2012 .................................................................................................................................................... 53
CASUÍSTICA DO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES DO MUNICÍPIO DE
CATALÃO, GO ........................................................................................................................................................ 58
CRIAÇÃO ARTIFICAL DE TAMANDUÁ-MIRIM (T AMANDUA TETRADACTYLA) NO HOSPITAL
VETERINÁRIO CAMPUS PALOTINA – RELATO DE CASO .......................................................................... 64
DESCRIÇÃO ANATÔMICA DA MUSCULATURA DO ANTEBRAÇO DO ALOUATTA GUARIBA
(HUMBOLDT, 1812) ................................................................................................................................................... 67
DESCRIÇÃO ANATOMORADIOGRÁFICA DA COLUNA VERTEBRAL DO GAMBÁ-DEORELHA-BRANCA (DIDELPHIS ALBIVENTRIS ).................................................................................................... 76
DESCRIÇÃO DAS ARTÉRIAS CORONÁRIAS DE JAVALI (SUS SCROFA LINNAEUS, 1758) ........................ 83
DIAGNÓSTICO DA FAUNA SILVESTRE APREENDIDA, RESGATADA OU RECOLHIDA NA
REGIÃO DE ITUIUTABA - MG ............................................................................................................................. 90
EFEITOS DA EXPOSIÇÃO À PARATIONA METÍLICA E À ATRAZINA NO
DESENVOLVIMENTO ÓSSEO DE PODOCNEMIS EXPANSA (TESTUDINES, PODOCNEMIDIDAE) ........... 95
EFEITOS DE ATRAZINA E GLIFOSATO NA ESPESSURA DE CASCAS DE OVOS DE
PODOCNEMIS EXPANSA (TESTUDINES, PODOCNEMIDIDAE) INCUBADOS ARTIFICIALMENTE ........ 101
Universidade Federal de Uberlândia
VII ENANSE
4
De 15 a 18 de maio de 2014
ESTUDO ANATOMO-RADIOGRÁFICO DOS OSSOS DO MEMBRO TORÁCICO DO M AZAMA
GOUAZOUBIRA ......................................................................................................................................................... 108
ESTUDO RETROSPECTIVO DA ENTRADA DE ANIMAIS SILVESTRES NO CENTRO DE
TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES DO TOCANTINS (CETAS – TO), ANO 2013, E
CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA ...................................................................................................................... 112
HELMINTOS GASTROINTESTINAIS NO VEADO CAMPEIRO (OZOTOCERUS BEZOARTICUS,
ARTIODACTYLA: CERVIDAE) DO PANTANAL SUL-MATOGROSSENSE ............................................. 116
HEMOPARASITOS EM SERPENTES DAS SUBSPÉCIES BOA CONSTRICTOR CONSTRICTOR E BOA
CONSTRICTOR AMARALI E GÊNERO EPICRATES , MANTIDAS EM CATIVEIRO NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS .............................................................................................. 121
INFESTAÇÃO DE NINHOS DE PHACELLODOMUS RUFIFRONS (PASSERIFORME, FURNARIIDAE)
POR PSAMMOLESTES COREODES (HEMIPTERA, REDUVIDAE) NO PANTANAL SULMATOGROSSENE ................................................................................................................................................. 126
INFLUÊNCIA DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL SOBRE O COMPORTAMENTO DE
ARARAS CATIVAS (ARA ARARAUNA) ............................................................................................................... 133
INGLUVOLITOS EM PERIQUITO AUSTRALIANO: RELATO DE CASO ................................................... 137
INVESTIGAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DAS REGIÕES SOB INFLUÊNCIA DAS UNIDADES DE
BIOENERGIA DA ODEBRECHT AGROINDUSTRIAL, NA REGIÃO DO PARQUE NACIONAL
DAS EMAS, GOIÁS .................................................................................................. Erro! Indicador não definido.
IRRIGAÇÃO, MORFOLOGIA E HISTOLOGIA DO TIMO DE JAVALI (SUS SCROFA LINNAEUS,
1758) ........................................................................................................................................................................ 150
LEVANTAMENTO AVIFAUNÍSTICO EM UMA LAVOURA DE SORGO NO MUNICÍPIO DE
PATOS DE MINAS – MG ...................................................................................................................................... 157
MUSEU DE CIÊNCIAS DO CERRADO NORDESTINO .................................................................................. 162
NEUROPATIA ISQUIÁTICA POR INJEÇÃO INTRAMUSCULAR: RELATO DE CASO EM LOBOGUARÁ, CHRYSOCYON BRACHYURUS (ILLIGER, 1815) (CARNIVORA, CANIDAE) .................................. 168
NÍVEL DE LACTATO SÉRICO EM CACHORRO DO MATO (CERDOCYON THOUS ) ................................... 173
OCORRÊNCIA DE DIOCTOPHYMA RENALE EM LOBO GUARÁ (CHRYSOCYON BRACHYURUS ) ILLIGER, 1815 - RELATO DE CASO .................................................................................................................. 178
OCORRÊNCIA DE HEMOPARASITOS EM AVES SILVESTRES DE FRAGMENTOS FLORESTAIS
DA MICRORREGIÃO DE UBERLÂNDIA, MG ................................................................................................. 181
ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DO NERVO SUPRA-ESCAPULAR EM TAMANDUÁ-BANDEIRA
(MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA LINNAEUS, 1758) .............................................................................................. 186
ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DO PLEXO BRAQUIAL DE JAVALI (SUS SCROFA LINNAEUS , 1758) .......... 191
ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DOS NERVOS SUBESCAPULARES EM TAMANDUÁ-BANDEIRA
(MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA LINNAEUS, 1758) ........................................................................................... 198
ORIGENS, INSERÇÕES E AÇÃO DOS MÚSCULOS DO MEMBRO TORÁCICO DO VEADOCATINGUEIRO - MAZAMA GOUAZOUBIRA ......................................................................................................... 204
OSTEOLOGIA E RADIOGRAFIA DO MEMBRO PÉLVICO DO M AZAMA GOUAZOUBIRA (FICHER,
1814) ........................................................................................................................................................................ 209
Universidade Federal de Uberlândia
VII ENANSE
5
De 15 a 18 de maio de 2014
PERFIL HEMATOLÓGICO, BIOQUÍMICO SÉRICO E ANÁLISES SALIVARES DO TAMANDUÁBANDEIRA (MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA) DE CATIVEIRO. ...................................................................... 214
PODODERMATITE EM UM FALCÃO-PEREGRINO (FALCO PEREGRINUS ) TUNSTALL, 1771 –
RELATO DE CASO ............................................................................................................................................... 218
PURIFICAÇÃO DE UMA NOVA METALOPROTEASE NÃO HEMORRÁGICA DA PEÇONHA DE
BOTHROPS PAULOENSIS .......................................................................................................................................... 222
RELATO DE CASO DOS ANIMAIS DO ZOOLOGICO DE UBERABA TAXIDERMIZADOS NO
HOSPITAL VETERINARIO DE UBERABA ...................................................................................................... 228
RELATO DE PATOLOGIA CAUDAL EM INDIVÍDUO SUB-ADULTO DE T UPINAMBIS MERIANAE
(LACERTILIA, TEIIDAE) EM UBERABA, MINAS GERAIS, BRASIL ......................................................... 232
USO DA SUPERFAMÍLIA TYRANNOIDEA NO BIOMONITORAMENTO DE FRAGMENTOS
FLORESTAIS DO CERRADO .............................................................................................................................. 236
ULTRA-ESTRUTURA DA CASCA DE OVOS DE PODOCNEMIS EXPANSA (TESTUDINES,
PODOCNEMIDIDAE) AO LONGO DA INCUBAÇÃO ARTIFICIAL ............................................................. 243
USO DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TEMÁTICA DE ECOLOGIA DE
ESTRADAS: PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS ........................................................................................ 249
USO DE MICRONÚCLEOS EM AVES NO BIOMONITORAMENTO DA QUALIDADE
AMBIENTAL EM AMBIENTES FLORESTAIS DO CERRADO ..................................................................... 255
USO DO ÍNDICE DE HIERARQUIZAÇÃO PARA DEFINIÇÃO DE PONTOS CRÍTICOS DE
ATROPELAMENTO DE FAUNA SILVESTRE: ESTUDO DE CASO DE DUAS RODOVIAS EM
MINAS GERAIS, BRASIL .................................................................................................................................... 261
Universidade Federal de Uberlândia
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ANÁLISE PARASITOLÓGICA DE COCCÍDIOS E NEMATÓDEOS PELO MÉTODO DE
GORDON E WHITLOCK (OPG) EM RAMPHASTOS TOCO MANTIDOS EM CATIVEIRO
CAETANO, M.O1, MACHADO, W. G. G2, CUNHA, G.N3, SANTOS, A. L. Q4, OLIVEIRA, M. P5.
Graduanda 4° período na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Uberlândia – UFU.
Uberlândia, MG
2
Graduando 5° período na Faculdade de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Patos
3
Prof. Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Patos de minas – UNIPAM Patos de Minas
– MG.de Minas-UNIPAM. Patos de Minas, MG.
4
Professor Titular da Universidade de Uberlândia – UFU Uberlândia – MG.
5
Médico Veterinário da Clínica Bicharada Patos de Minas – MG.
RESUMO
As enfermidades parasitárias estão entre os problemas sanitários mais frequentes que acometem
tanto animais domésticos quanto os animais silvestres, podendo causar desde infecções subclínicas até o
óbito. Nas aves silvestres, os gêneros de protozoários mais comuns são: Toxoplasma sp., Coccídios sp.,
Cryptosporidium sp., Trichomonas sp. e Giardia sp., destacando os coccídeos como uma das mais
importantes causas de enterite e morte em aves. Assim, esse trabalho teve como objetivo investigar a
prevalência de parasitos gastrointestinais dos gêneros citados há cima, foram coletadas amostras fecais de
maneira estéreis levadas para análise laboratorial. O método utilizado foi o de flutuação descrito por Gordon
e Whitlock (1939). Na investigação realizada por este trabalho foi encontrado endoparasitas em 47,62% das
amostras analisadas sendo estes do gênero Dispharynx sp. (28,57%)., Capillaria sp. (14,28%)
e Ascaridea sp (9,52%). Das amostras positivas para coccídeos, obteve-se o resultado de 30% de infecção
mista, ou seja, contendo mais de um gênero de parasitos.
Palavras-chaves: tucano, endoparasitos, cativeiro.
ABSTRACT
The parasitic diseases are among the most common health problems that affect both domestic
animals and wild animals, may cause long subclinical infections to death. In the wild birds the most common
genera of protozoa are: Toxoplasma sp, sp Coccidia, Cryptosporidium, Trichomonas sp. and Giardia sp . ,
highlighting the coccidia as one of the most important causes of enteritis and death in birds. So, this study
aimed to investigate the prevalence of gastrointestinal parasites of the genera mentioned above there, fecal
samples in a sterile manner taken for laboratory analysis were collected. The method used was that described
by Gordon fluctuation and Whitlock (1939). In research conducted for this work endoparasites found in
47.62 % of samples with those of the genus Dispharynx sp. (28.57%), Capillaria sp. (14.28 %) and Ascaridea
sp (9.52 %). Of samples positive for coccidia, gave the result of 30 % of mixed infection, ie containing
more than one kind of parasites.
Key words: toucan, endoparasites, captivity.
INTRODUÇÃO
O Parasitismo é uma condição em que dois organismos, um parasito e um hospedeiro, criam uma
relação estreita e direta, onde o agente parasitário depende de alguns elementos naturalmente produzidos
pelo indivíduo infectado para manter seu ciclo biológico (LEDERBERG, 1998).
Universidade Federal de Uberlândia
6
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Assim, de acordo com Carneiro, et al. (2011), as enfermidades parasitárias estão entre os problemas
sanitários mais frequentes que afetam as aves silvestres, podendo causar desde infecções subclínicas até o
óbito. Devido a uma nutrição inadequada e estresse, tanto pelo manejo quanto pelo fato destas estarem
confinadas, as infecções parasitárias e, em particular, as endoparasitoses, podem interferir no comportamento
e no desenvolvimento reprodutivo das aves em cativeiros, proporcionando o aparecimento de infecções
secundárias, como enterite hemorrágica, abcessos no tecido subcutâneo, hepático, pulmonar dentre outros.
Com isso poderá comprometer a conservação das aves, em especial, daquelas ameaçadas de extinção
(FREITAS, et al., 2002; COSTA, et al., 2010).
As infecções por parasitos incluem, dentre outros, protozoários e helmintos. Os gêneros de
protozoários mais comuns em aves são: Toxoplasma sp., Coccídios sp., Cryptosporidium sp, Trichomonas sp
e Giardia sp (JOSEPH, 2003). Dentre estes, os coccídeos são considerados uma importante causa de enterite
e morte em aves, sendo causada principalmente pelos do gênero Isospora sp. e Eimeria sp., decorrente de
serem parasitas tanto de animais domésticos como selvagens. (COELHO, et al., 2012; CARNEIRO et al.,
2011).
Segundo Mapeli (2003) as helmintoses tornam-se importantes para as criações cativas no Brasil, pois
possibilitam surtos epizoóticos com elevada mortalidade. Dos parasitos envolvidos encontra-se os
nematoides, que possuem uma grande diversidade em aves selvagens, sendo mais frequentes os gêneros
Ascaridis sp., Porrocecum sp., Capillaria sp. e Disphrynx sp.
Estas endoparasitoses de aves são consideradas de grande importância para a saúde pública, pois
podem significar o agravamento de problemas econômicos, sociais e ambientais. Isto ocorre devido às
dispersões resultantes de diferentes endoparasitos causadores de uma ampla diversidade de zoonoses, como
por exemplo, a Toxoplasmose (DASZAK, et al., 2001).
Mediante a estes fatos, o presente estudo tem como objetivo identificar endoparasitos nematódeos e
coccídeos presentes em Ramphastos toco criados em cativeiro e quantifica-los.
METODOLOGIA
As amostras analisadas eram provenientes de 21 Ramphastos toco, dos quais 10 se encontram no
Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS) em Uberlândia, sete no Criadouro Mandarim e
quatro na Clínica Bicharada, ambos no Município de Patos de Minas - MG.
Após as aves defecarem em plásticos estéreis previamente colocadas sob o piso do viveiro, as
amostras depositadas foram coletadas, com o auxílio de uma espátula esterilizada e armazenada em potes
estéreis, e posteriormente, foram mantidas em refrigeração por até 24 horas e enviadas para análise no
Laboratório de Microscopia e Parasitologia Animal do Centro Universitário de Patos de Minas-UNIPAM.
Para a análise das amostras utilizou-se o método de flutuação descrito por Gordon e Whitlock
(1939), o qual constitui em pesar quatro gramas de fezes e colocá-las em um copo de vidro, posteriormente,
diluí-las em 56 mL de solução saturada de NaCl. Estas foram trituradas e homogeneizadas com o auxilio de
um bastão de vidro e passadas por uma peneira. Após a homogeneização, com a amostra preencheu a câmara
de McMaster. Decorrendo dois a cinco minutos após o preenchimento, a câmara foi levada ao microscópio
ótico na objetiva de 10x e feita à identificação de acordo com Foreyt (2000) e Bowman (2010) e a contagem
direta dos ovos de nematódeos e coccídeos. Após, obter o número de ovos e multiplicar por 50, obteve-se a
quantidade de ovos por gramas de fezes. Os dados encontrados foram analisados utilizando-se estatística
descritiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados encontrados nas amostras estão representados na tabela 1:
Universidade Federal de Uberlândia
7
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Tabela 1-Resultados de exames fecais (OPG) em Ramphastus toco nos Munícipios de Patos de MinasMG e Uberlândia-MG.
Identificação da Ave
Nossa Id.
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
LAPAS-UFU
CRIADOURO MANDARIM
∆A
∆B
∆C
∆D
∆E
∆F
∆G
∆H
∆I
∆J
∆K
CRIADOURO MANDARIM
∆L
CRIADOURO MANDARIM
CRIADOURO MANDARIM
∆M
∆N
CRIADOURO MANDARIM
CRIADOURO MANDARIM
CRIADOURO MANDARIM
CLÍNICA BICHARADA
CLÍNICA BICHARADA
CLÍNICA BICHARADA
CLÍNICA BICHARADA
∆O
∆P
∆Q
∆R
∆S
∆T
∆U
Legenda: ∆-Animal
Resultado
Nº de Ovos/ Oocistos
por gramas de fezes
Dispharynx sp.
Dispharynx sp.
Capillaria sp.
Eimeria sp.
Dispharynx sp.
Capillaria sp.
Ascaridea sp.
Eimeria sp.
Ascaridea sp.
Capillaria sp.
Dispharynx sp.
Dispharynx sp.
Dispharynx sp.
600
150
150
350
300
50
150
1300
400
50
500
150
726
CONCLUSÃO
A partir do perfil coproparasitológico foi possível verificar uma alta frequência de parasitoses em
aves cativas, tendo como prevalência helmintos da classe nematódea. Estes dados preliminares reforçam a
necessidade do monitoramento continuo de endoparasitoses em aves de cativeiros, pois estas estão
constantemente em contato com animais de vida livre que podem estar infectados.
REFERÊNCIAS
BOWMAN, D. D, LYNN, R. C.; EBERHARD, M. L., ALCARAZ, A; Parasitologia Veterinária, Rio de
Janeiro: Elsevier, 9ª.ed, 2010.
CARNEIRO, M.B.; CALAIS JUNIOR, A.; MARTINS, I.V.F. Avaliação coproparasitológica e clínica de
aves silvestres e exóticas mantidas em criatórios particulares no município de Alegre-ES, Revista Ciências
Animais Brasileira, Goiânia, v. 12, n. 3, p.525-529, 2011
COELHO C. D. et al. Tratamento da coccidiose causada por espécies do gênero Isospora schneider, 1881 em
Curiós Sporophila angolensis linnaeus, 1766 e bicudos Sporophila maximiliani cabanis, 1851 mantidos em
regime de quarentena, Revista Brasileira de Medicina Veterinária, Rio de Janeiro, 34(Supl. 1):102-108,
2012.
Universidade Federal de Uberlândia
8
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
COSTA, I.A. et al. Ocorrência de parasitos gastrintestinais em aves silvestres no município de Seropédica,
Rio de Janeiro, Brasil. Revista Ciências Animais Brasileira, Goiânia, v. 11, n. 4, p.914-922, 2010.
DASZAK, P.; CUNNINGHAM, A. A.; HYATT, A. D. Emerging infectious diseases of wildlife threats to
biodiversity and human health. Science, v. 287, n. 1, p. 443-448, 2000.
FREITAS, M. F. L. et al. Parásitos gastrointestinales de aves silvestres em cautiverio en el estado de
Pernambuco, Brasil, Revista de Parasitologia Latino-americana, v.57, p. 50-54, 2002.
FOREYT, W. J. Parasitologia Veterinária. Manual de Referências. 5 ed. São Paulo: Roca,2005
GORDON, H. McL; WHITLOCK, A.V. A new technique for counting nematode eggs in sheep feces.
Journal Council Scientific Industry Research Australia, v. 12, p. 50-52, 1939.
JOSEPH, V. Infectious and parasitic diseases of captive passerines. Seminars in Avian and Exotic Pet
Medicine, v. 12, n. 1, p. 21-28, 2003.
LEDERBERG, J. Emerging infectious: an evolutionary perspective. Emerging infectious Diseases, v. 4, n.
3, p. 366-371, 1998.
MAPELI, E. B. et al. Infecções naturais por helmintos em perdizes (Rhynchotus rufescens temminck, 1815)
de cativeiro, no município de Jaboticabal, Estado de São Paulo, Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo,
v.70, n.4, p.415-418,2003.
MARIETTO-GONÇALVES, G.A.; MARTINS, T.F.; LIMA, E.T.; LOPES, R.S.; ANDREATTI FILHO,
R.L. Prevalência de endoparasitas em amostras fecais de aves selvagens e exóticas examinadas no
Laboratório de Ornitopatologia e no Laboratório de Enfermidades Parasitárias da FMVZ-UNESP/Botucatu,
SP. Ciência Animal Brasileira, v. 10, n. 1, p. 349-354, jan./mar. 2009.
SILVA, F.L. et al. Incidência de parasitas gastrintestinais de aves silvestres mantidas em cativeiro através
das técnicas de Faust e Mc Master em Ilha Solteira-SP, IX Simpósio de Ciências da Unesp – dracena, São
Paulo.
SINHORINI, J.A.; ROSSI, F.W.; SILVA, A.M.J.; GERONYMO, M.G.F.B. Ocorrência de parasitas em
passeriformes recebidos na Divisão Veterinária DEPAVE-3, em um período de 7 anos. In: CONGRESSO
DA SOCIEDADE DE ZOOLÓGICOS DO BRASIL, 31; CONGRESSO DE LA ASOCIACIÓN
LATINOAMERICANA DE PARQUES ZOOLÓGICOS Y ACUÁRIOS, 14.; ENCONTRO DA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE VETERINÁRIOS DE ANIMAIS SELVAGEM, 26., 2007, São Paulo.
Anais São Paulo, 2007.
Universidade Federal de Uberlândia
9
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ANATOMIA COMPARADA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DA FAMÍLIA ACCIPITRIDAE:
BUTEO ALBICAUDATUS (VIEILLOT, 1816), P ARABUTEO UNICINCTUS (TEMMINCK , 1824) E
RUPORNIS MAGNIROSTRIS (GMELIN, 1788)
Rocha, P.1; Silva, I.B.F.S. 2; Silva, R. M.2; Cabral, M. C. 2, Junior, A. T. 2
1Universidade Federal do Oeste da Bahia, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras – BA
([email protected], 77 8812-5360)
2Universidade Federal do Oeste da Bahia, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras – BA
RESUMO
A família Accipitridae apresenta aproximadamente 231 espécies classificadas em 65 gêneros. São
aves carnívoras de comportamento diurno ou noturno que possuem garras e bico fortes. Alimentam-se de
artrópodes invertebrados e pequenos vertebrados. O aparelho digestório das aves é constituído de orofaringe,
esôfago, estômago, duodeno, jejuno, íleo, cecos pares, e o cólon que termina na cloaca. Este trabalho tem
como objetivo comparar o sistema digestório de três espécies diferentes da família Accipitridae, sendo Buteo
albicaudatus, Rupornis magnirostris e Parabuteo unicinctus. Em virtude dessa meta, utilizou-se na pesquisa
três aves que foram pesadas e medidas: o comprimento total (extremidade da ranfoteca até a extremidade da
retriz), o comprimento da asa fechada e o comprimento da ranfoteca. Em seguida, realizou-se uma incisão no
vértice do rostro mandibular até a região da cloaca, para a retirada do aparelho digestório. Posteriormente, os
órgãos foram dissecados e medidos com o paquímetro digital. Constatou-se que as diferentes espécies
estudadas apresentam diferença na morfologia do aparelho digestório, tendo em comum o par de cecos bem
reduzido, e o proventrículo e ventrículo fundidos formando um único órgão: o estômago.
Palavras chave: aves de rapina, morfometria, gavião
ABSTRACT
The Accipitridae family has approximately 231 species classified in 65 genres. Are carnivorous birds
of diurnal or nocturnal behavior that have claws and beak strong. They feed on invertebrates arthropods and
small vertebrates. The digestive apparatus of birds consists on oropharynx, esophagus, stomach, duodenum,
jejunum, ileum, cecum pairs, colon, ending at cloaca. This study aims to compare the digestive system of
three different species of Accipitridae family, being Buteo albicaudatus, Rupornis magnirostris and
Parabuteo unicinctus. For this purpose three birds were weighed and measured: length (from the beak to the
end of rectrix), the length of the closed wing and the length of the beak. Next, was made an incision at the
apex of the mandibular region of the snout to cloaca, to remove the digestive apparatus. Afterwards, the
organs were dissected and measured with a digital caliper. It was observed that different species have
differences in the morphology of the digestive system, with a common pair of reduced cecum, and fused
proventriculus and ventricle forming a single body: the stomach.
Key-words: birds of prey, morphometry, hawk
INTRODUÇÃO
A região neotropical, incluindo o Brasil, possui a maior concentração de espécies de aves de rapina
do mundo. São chamadas aves de rapina aquelas que são carnívoras, de comportamento diurno ou noturno e
possuem garras e bico forte. No entanto, esse grupo não compõe um táxon monofilético, pois apresentam
espécies de linhagens distintas (SOARES et al., 2008).
A família Accipitridae apresenta aproximadamente 231 espécies classificadas em 65 gêneros.
Atualmente, essa família encontra-se na ordem Acciptriformes. De acordo com a taxonomia Sibley-Ahlquist,
a família Accipitridae deveria ser inclusa na ordem Ciconiformes, classificando inclusive, a espécie R.
magnirostris como Buteo magnirostris.
Universidade Federal de Uberlândia
10
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
As espécies brasileiras de accipitrídeos demostram preferência alimentar por artrópodes
invertebrados como gafanhotos, percevejos, formigas, vespas, cupins e aranhas, pequenos vertebrados como
répteis, anfíbios e roedores (SICK, 1986). Possuem ampla distribuição geográfica, sendo o maior número
encontrado em locais quentes de campo aberto (FRANÇÕES, 2002).
Segundo Dyce e colaboradores (1997), o aparelho digestório de aves constitui-se de orofaringe,
esôfago, pró-ventrículo, duodeno, jejuno, íleo, um par de cecos e cólon, terminando na cloaca, que também
participa do sistema urogenital. Ainda, Sick (1986) aponta que as aves de rapina, diferente das outras aves,
apresentam os dois ovários desenvolvidos.
Estudos sobre anatomia comparada de aves de rapina é escasso apesar de ser importante, não
somente visando a informação, mas de forma a contribuir com a conservação das espécies. Desse modo, esse
trabalho tem como objetivo comparar o sistema digestório de três espécies diferentes da família Accipitridae,
sendo Buteo albicaudatus, Rupornis magnirostris e Parabuteo unicinctus.
MATERIAIS E MÉTODOS
As aves utilizadas neste trabalho fazem parte do acervo biológico do Museu de Ciências do Cerrado
Nordestino da Universidade Federal do Oeste da Bahia, Barreiras - BA. Foram adquiridas pós mortem,
através de doações da comunidade do oeste da Bahia, do Centro de Triagem de Animais Silvestres – CETAS
e do Parque Lina Galvani, ambos localizados em Barreiras – BA. O recebimento é devidamente aprovado
pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO nº 20733-1).
Primeiramente, cada ave foi identificada segundo Sigrist (2009), e realizada a sua biometria
(MATTER et al., 2010), através do uso de uma régua e um paquímetro digital (paquímetro metálico 150mm
– 6” – VONDER), considerando o comprimento total (da extremidade do bico à extremidade da retriz mais
longa, ave em decúbito dorsal).
Realizou-se uma incisão na região ventral, partindo do vértice da mandíbula até o início da cloaca,
para a retirada do aparelho digestório. Os órgãos foram acondicionados em solução aquosa de formol a 10%
e posteriormente dissecados e medidos com o auxílio de um paquímetro digital.
Uma planilha foi produzida, contendo as medições de cada animal e de cada órgão, para a
compilação de dados. Para documentação do trabalho, algumas peças foram fotografadas e para
denominação das estruturas foi consultada a Nomina Anatomica Avium (Baumel, 1993).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Todos os aparelhos digestórios estudados apresentavam notavelmente um inglúvio, caracterizado por
Swenson (1996), em aves domésticas, como um divertículo do esôfago que recebe o alimento da cavidade
oral. O inglúvio (Fig. 1) ou também chamado de papo, é responsável por armazenar o alimento para que
sofra amolecimento, facilitando a digestão química no pró-ventrículo. Algumas aves que compartilham
características com os accipitrídeos, como por exemplo, as corujas, de acordo com o autor, não apresentam
presença de papo.
Fig. 1. Inglúvio, em destaque, de B. albicaudatus. (Foto:
Silva, I.B.F.S.). Barreiras – BA, 2014.
Universidade Federal de Uberlândia
11
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Segundo Dyce e colaboradores (1997), nas aves, o estômago é dividido por uma constrição em partes
glandular e muscular (proventrículo e moela). Porém, neste trabalho constatou-se que as aves da família
Accipitridae não possuem a referida constricção (Fig. 2 e Fig. 3), ou seja, o proventrículo e o ventrículo
diferenciados. Logo, considerou-se um único estômago, como já descrito em aves de rapina, por Duke (1986
apud Araújo, 2011).
Fig. 2. Estômago de B. albicaudatus (Foto: Silva, I.B.F.S.).
Barreiras – BA, 2014.
Fig.3. Estômago de P. unicinctus (Foto: Silva, I.B.F.S.).
Barreiras – BA, 2014.
O duodeno segue em formato de “U” para região caudal desde a superfície direita da moela (DYCE,
1997). Todavia, nenhum trabalho foi encontrado descrevendo detalhadamente a mensuração de cada
segmento do intestino, como descrito na TABELA 1.
A espécie B. magnirostris, apesar de ter menor porte (41,5 cm) que as outras espécies em questão,
possuem o maior cólon (60,48 mm), quando comparado com a espécie B. albicaudatus (48,94 mm), e P.
unicinctus (42,65 mm). Em contrapartida, todas as amostras apresentaram um par de cecos bem reduzidos
(Fig. 4) de comprimento apresentados na TABELA 1.
Universidade Federal de Uberlândia
12
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Fig. 4. Par de cecos, pontas da pinça, da espécie P.
unicinctus (Foto: Silva, I.B.F.S.). Barreiras – BA, 2014.
De acordo com Swenson (1996), o tamanho dos cecos está relacionado com dietas ricas em fibras e
apresentam-se em pares, assim como dissecado nas aves deste trabalho.
TABELA 1- Dados morfométricos dos segmentos do aparelho digestório das aves: B. albicaudatus, P.
unicinctus e B. magnirostris. Barreiras – BA, 2014.
Nome científico
Nome popular
Parabuteo unicinctus
Gavião-asa-de-telha
Buteo magnirostris
Gavião carijó
Tamanho
Buteo albicaudatus
Gavião-do-rabobranco
52,5 cm
68,5 cm
41,5 cm
Sexo
Esôfago
Estômago
Duodeno
Jejuno + íleo
Cólon
Ceco
Fêmea
112,47 mm
41,25 mm
134,84 mm
416,17 mm
48,94 mm
2,38 mm/ 3,03 mm
Fêmea
109,18 mm
47,47 mm
119,04 mm
489,14 mm
42,65 mm
3,04 mm/ 3,34 mm
Fêmea
89,71 mm
25,49 mm
110,95 mm
421,25 mm
60,48 mm
3,45 mm/ 2,80 mm
CONCLUSÃO
Pôde-se concluir que as diferentes espécies estudadas apresentam diferença na morfologia do
aparelho digestório, tendo em comum o par de cecos bem reduzido. Ainda, o proventrículo e o ventrículo são
fundidos formando um único órgão, o estômago.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, J. L. Avaliação de enterobactérias e suscetibilidade in vitro a antimicrobianos de isolados de
aves de rapina diurnas cativas no estado da Paraíba. Monografia (Medicina Veterinária) – Centro de Saúde
e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande - Campus de Patos – Paraíba, 2011.
Universidade Federal de Uberlândia
13
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
BAUMEL, J. Handbook of avian anatomy: Nomina Anatomica avium. 2nd Ed. Publications of the Nuttall
Ornithological Club, Harvard University, 1993, 637p. COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS
ORNITOLÓGICOS. Listas das aves do Brasil. 10ª Edição, 2011 Disponível em: <http://www.cbro.org.br>.
Acesso em: 15 de Maio de 2013.
DYCE K.M., SACK W.O. & WENSING C.J.C. Tratado de Anatomia Veterinária. 2ª ed. Guanabara
Koogan: Rio de Janeiro, 1997.
FRANÇÕES, VUILLEUMIER. Aves in: BURNIE, David. Grande Enciclopédia Animal. Dorling Kindersley
– Civilização, Editores: L. da Porto, 2002.
HILDEBRAND, M.; GOSLOW, G. Análise da estrutura dos vertebrados. 2ª ed. Atheneu: São Paulo, 2006.
MARINI-FILHO, O. J. Plano de ação nacional para a conservação de aves de rapina. Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade: Brasília, 2008.
MATTER, SANDRO VON et al. (organizadores). Ornintologia e conservação: ciência aplicada, técnicas de
pesquisa e levantamento. 1. Ed. – Rio de Janeiro: Technical Books. 516.: Il. Color.; 28 cm., 2010.
SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. 3° ed. Editora Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 2001.
SICK, Helmut. Ornitologia Brasileira. Vol.1. Nova Fronteira: Brasília.1986.
SIGRIST, Tomas. Guia de Campo Avis Brasilis – Avifauna Brasileira: Pranchas e Mapas , traduzido por
Bruna Lugli Straccine; ilustrado por Tomas Sigrist e Eduardo P. Brettas – São Paulo: Avis Brasilis, v.1.
2009.
SWENSON, M.J.; REECE, W.O.; Dukes Fisiologia dos Animais Domésticos. 11ª ed. Guanabara Koogan:
Rio de Janeiro - RJ, 1996, p.451-457
SOARES, E. S. et al... Plano de ação nacional para a conservação de aves de rapina / Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade, Coordenação-Geral de Espécies Ameaçadas. – Brasília:
ICMBio, 2008.
Universidade Federal de Uberlândia
14
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ANATOMIA DO APARELHO DIGESTÓRIO DE DENDROCYGNA VIDUATA (LINNAEUS , 1766)
Rocha, P.1 Silva, I.B.F.S.2; Cabral, M.C.2; Silva, R.M. 2; Junior, A.T. 2
1-Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras –
BA. ([email protected], 77 8812-5360)
2- Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras –
BA.
RESUMO
O irerê (Dendrocygna viduata) é uma ave da família Anatidae que apresenta distribuição pantropical
e é visto com frequência em grandes grupos, sendo mais ativo durante o crepúsculo. É caracterizado pela
presença de máscara branca, asas largas negras, bico e pés plúmbeos. Sua alimentação é baseada em
sementes, folhas de capins, plantas aquáticas e invertebrados. Três exemplares da espécie foram pesados
(média de peso de 0,368 kg) e medidos: o comprimento total (média de 41,700 cm), o comprimento da asa
(média de 21,133 cm) e o comprimento da ranfoteca (média de 4,644 cm). O seu aparelho digestório é
constituído de orofaringe, esôfago, estômago, duodeno, jejuno, íleo, cecos pares e cólon. Sendo que, os
aspectos anatômicos assemelham-se aos das demais aves domésticas, porém, a espécie não apresenta
inglúvio, o qual é comum na grande maioria das aves; além disso, possuem o proventrículo menor.
Palavras-chave: Dendrocygninae, morfologia, trato digestório.
ABSTRACT
The White-faced duck (Dendrocygna viduata) is a bird of Anatidae family, which presents
pantropical distribution and is frequently seen in large groups, being most active during dusk. Is
characterized by the white mask presence, wide black wings and beak and feet leaden. Their food based on
seeds, grasses, aquatic plants and invertebrates. Three individuals of this species were weighed (average
weight 0.368 kg) and mesured: the total length (average of 41.700 cm), the wing length (average of 21,133
cm) and the length of beak (mean 4.644 cm). Your digestive apparatus consists of the oropharynx,
esophagus, stomach, duodenum, jejunum, ileum, cecum pairs and colon. Whereas, the anatomical features
are resemble those of other domestics birds, however the species do not show ingluvies, which is common in
most birds; moreover, they possess lowest proventriculus.
Key words: Dendrocygninae, morphology, digestive tract.
INTRODUÇÃO
De acordo com Sigrist (2009), o irerê (Dendrocygna viduata) apresenta distribuição pantropical e
frequenta praias marítimas, rios, banhados, pantanais, lagos artificiais, taboais e brejos de todo Brasil. Mais
ativo durante o crepúsculo, sobrevoa cidades em seus deslocamentos noturnos. Nidifica em capinzais secos,
frequentemente longe da água.
Conforme Sick (2001), os irerês são conhecidos em diversos estados por nomes populares diferentes:
"Marreca-Piadeira" (Rio Grande do Sul), "Paturi", "Viuvinha" (Ceará) e ''Marreca-viúva'' (Paraíba). Estas
aves, de acordo com a Lista das Aves do Brasil, fazem parte da família Anatidae e estão incluídas na
subfamília Dendrocygninae. Esta é composta de três espécies: Dendrocygna autumnalis, apresentando um
porte de aproximadamente 48 cm, bicos e pés vermelhos, fronte cinzenta, ventre de coloração negra e grande
mancha branca na asa; Dendrocygna bicolor, de corpo curto semelhante à espécie anterior, cor pardaacanelada, pernas altas e asas largas sem manchas; e Dendrocygna viduata, de porte ereto (podendo chegar a
44 cm), máscara branca, flancos finamente listrados, asas largas e negras, sem manchas brancas e bico e pés
plúmbeos (SICK, 2001).
Universidade Federal de Uberlândia
15
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Segundo, Antas, Cavalcanti e Cruz (2009), o irerê é visto com frequência em grandes grupos. Busca seu
alimento filtrando a água e lama por meio do serrilhado do bico. Sua alimentação se baseia em sementes,
folhas de capins, plantas aquáticas e invertebrados.
O aparelho digestório das aves é constituído de orofaringe, esôfago, estômago, duodeno, jejuno, íleo, cecos
pares e cólon (DYCE, SACK e WENSING, 1997). De acordo com HICKMAN et. al. (2004) estes animais
processam seu alimento rapidamente, pois são dotados de um eficiente sistema digestivo e devido à ausência
de dentes, os alimentos são reduzidos na moela.
Ainda, conforme Hildebrand e Goslow Jr. (2006), o esôfago das aves é longo e seu revestimento
geralmente está cornificado. Pelo menos alguns membros de muitas famílias de aves possuem uma dilatação
permanente na parte caudal do esôfago e que funciona como um reservatório denominado de papo. O
estômago apresenta a parte cranial, chamada proventrículo - glandular e que produz enzimas digestivas - e a
parte caudal, denominada ventrículo ou moela, correspondendo à região pilórica.
Devido à escassez de dados anatômicos da espécie em questão, objetivou-se descrever o aparelho
digestório de D. viduata.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido no Museu de Ciências do Cerrado Nordestino da Universidade
Federal do Oeste da Bahia – UFOB, Barreiras – BA. Foram utilizados três exemplares de D. viduata (Fig. 1),
obtidos post mortem, através de doações do CETAS – Centro de Triagem de Animais Silvestres Lobo Guará
– Barreiras – BA. Estes animais foram destinados ao acervo do Museu, sendo o recebimento devidamente
autorizado pelo SISBIO - Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (autorização SISBIO
20733-1).
A mensuração utilizada foi baseada em Matter e colaboradores (2010), levando em consideração: 1- o
comprimento total (da ponta da ranfoteca até a ponta da retriz mais longa com a ave deitada em decúbito
dorsal); 2- o comprimento da asa (distância entre o encontro da asa até a extremidade da pena primária
maior, estando a asa fechada); 3- o comprimento da ranfoteca (ponta da ranfoteca até a cera). Para a
medição, utilizou-se uma régua e um paquímetro (paquímetro metálico 150 mm – 6” – VONDER).
Posteriormente, esses animais foram pesados em uma balança eletrônica (Balança de precisão kitchens cals
SF400) com capacidade de 10 kg e precisão de 1g.
Após, foi realizada uma incisão na região ventral, partindo do vértice da mandíbula até a base da cloaca,
para retirada dos órgãos do trato digestório. Na sequência, os órgãos: esôfago, proventrículo, ventrículo
(moela), duodeno, jejuno, íleo, cólon e ceco, foram medidos e dissecados. Em seguida, estes órgãos foram
fixados e acondicionados em solução aquosa de formol a 10%.
Uma planilha foi elaborada, contendo as medições e características de cada animal e de cada órgão, para
compilação de dados. Para documentação do trabalho, algumas peças foram fotografadas e para
denominação das estruturas, foi consultada a Nomina Anatomica Avium (BAUMEL, 1993).
Fig. 1. Fotografia de Dendrocygna viduata em decúbito dorsal. (Foto: Silva,
I.B.F.S.). Barreiras – BA, 2014.
Universidade Federal de Uberlândia
16
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O peso médio dos espécimes de D. viduata foi de 0,368 kg e o comprimento médio total equivalente a
41,7 cm. Os valores de comprimento da asa e do comprimento do bico foram, respectivamente, 21,13 cm e
4,64 cm, conforme referendados na TABELA 1.
De acordo com Dyce, Sack e Wensing (1997), a parede ventral do esôfago é bem dilatada e forma o
papo, porém em patos e gansos, como na maioria das aves, o papo é simplesmente uma dilatação fusiforme
do esôfago. Diferentemente do observado nos espécimes do estudo, onde há ausência do inglúvio (papo)
(Fig. 2).
a
b
c
Fig. 2. Fotografia dos órgãos do aparelho digestório de Dendrocygna viduata, onde: a – esôfago; b – proventrículo e c –
ventrículo (moela) (Foto: Silva, I.B.F.S.). Barreiras – BA, 2014.
Quanto ao proventrículo, Nickel, Schummer e Seiferle (1977) descreve que seu comprimento
corresponde a 4 cm em espécies de galinha, diferente dos espécimes de irerê que apresentaram uma média de
3,033 cm (TABELA 1), sendo assim, de menor extensão. O ventrículo (moela) por sua vez, obteve um valor
médio de comprimento de 2,788 cm (TABELA 1).
TABELA 1. Dados do peso e do comprimento obtidos pela mensuração dos espécimes em estudo, dos
órgãos do aparelho digestório e a média realizada dos três espécimes de D. viduata. Barreiras- BA, 2014.
Espécime 1
Espécime 2
Espécime 3
Média
Peso
0,317 kg
0,420 kg
0,367 kg
0,368 kg
Comprimento Total
42,500 cm
42,600 cm
40,000 cm
41,700 cm
Comprimento da asa
22,100 cm
20,800 cm
20,500 cm
21,133 cm
Comprimento do bico 4,925 cm
4,647 cm
4,360 cm
4,644 cm
Esôfago
20,697 cm
20,694 cm
20,404 cm
20,598 cm
Proventrículo
2,790 cm
3,113 cm
3,196 cm
3,033 cm
Ventrículo
3,078 cm
2,708 cm
2,578 cm
2,788 cm
Duodeno
13,662 cm
16,008 cm
13,704 cm
14,458 cm
Jejuno e íleo
62,775 cm
67,719 cm
64,785cm
65,093 cm
Cólon
5,959 cm
8,863 cm
6,953 cm
7,258 cm
Ceco
6,130 cm/6,240 cm 7,510 cm/7,630 cm 6,950 cm/7,220 cm 6,863 cm/7,030 cm
Dentre as outras estruturas analisadas, estão: duodeno, jejuno, íleo, cecos e cólon. O duodeno, assim
como em outras aves, forma uma curva fechada em formato de “U” (Fig. 3), com tamanho médio de 14,458
B
A
C
Universidade Federal de Uberlândia
17
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
cm. Segundo Dyce, Sack e Wensing (1997), o pâncreas localiza-se entre os ramos e desemboca na
extremidade distal do duodeno, assim como observado nos espécimes de D. viduata dissecados.
Fig. 3. Fotografia dos órgãos do aparelho digestório de Dendrocygna viduata Em destaque, por círculo vermelho, o
duodeno. (Foto: Silva, I.B.F.S.). Barreiras – BA, 2014.
O jejuno e íleo (Fig. 4) apresentaram comprimento médio de 65,093 cm. O jejuno exibiu coloração
esverdeada e formas espirais ao longo de sua estrutura. Seu prolongamento final é o que denomina de íleo.
Os cecos (Fig. 4) estão localizados logo depois do íleo, apresentando média de 6,863 cm/7,030 cm, direito e
esquerdo. E na porção final, encontra-se o cólon (Fig. 4), com comprimento médio de 7,258 cm,
desembocando na cloaca, tamanho semelhante aos patos, ou seja, entre 7 – 12 cm, como descrito por Nickel,
Schummer e Seiferle (1977).
A
C
B
B
Fig. 4. Fotografia dos órgãos do aparelho digestório de Dendrocygnaviduata, onde: A – Jejuno e íleo; B –
Cecos e C – Cólon. (Foto: Silva, I.B.F.S.). Barreiras – BA, 2014.
CONCLUSÃO
Os aspectos anatômicos e mensurais do aparelho digestório de D. viduata assemelham-se aos das demais
aves. Porém, a espécie apresenta um proventrículo menor e não apresenta a dilatação do esôfago em forma
de saco denominada de inglúvio (papo), a qual é comum na grande maioria das aves.
Universidade Federal de Uberlândia
18
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
REFERÊNCIAS
ANTAS, P.T.Z.; CAVALCANTI, R.B.; CRUZ, M.C.V. Aves comuns do Planalto Central. 3ª edição.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009.
BAUMEL, J. Handbook of avian anatomy: Nomina Anatomica avium. 2nd Ed. Publications of the Nuttall
Ornithological Club, Harvard University, 1993.
COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS (CBRO). Listas das Aves do Brasil 2014.
11ª Edição. Disponível em: http://www.cbro.org.br. Acessoem: 15 de Abril de 2014.
DYCE, K.M.; SACK, W.O.; WENSING, C.J.G. Tratado de Anatomia Veterinária. 2ª edição. Rio de Janeiro:
Editora Guanabara Koogan S.A., 1997.
HICKMAN Jr., C.P.; ROBERTS, L.S.; LARSON, A. Princípios Integrados de Zoologia. 11ª edição. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 2004.
HILDEBRAND, Milton; GOSLOW Jr., G.E. Análise da estrutura dos vertebrados. 2ª edição. São Paulo:
Atheneu Editora, 2006. MATTER, S.V. et al. Ornitologia e Conservação: ciência aplicada, técnicas de
pesquisa e levantamento. 1 Ed. – Rio de Janeiro: Technical Books, 2010.
NICKEL, R.; SCHUMMER, A.; SEIFERLE, E. Anatomyofthedomesticbirds.1. Aufl. Berlin, Hamburg:
Parey, 1977.
SICK, Helmut. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
SIGRIST, Tomas. Guia de Campo Avis Brasilis – Avifauna Brasileira: Descrição das Espécies. 1ª edição.
São Paulo: Avis Brasilis, 2009.
Universidade Federal de Uberlândia
19
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ANATOMIA DOS ÓRGÃOS GENITAIS MASCULINOS DE TATUS: DASYPUS NOVEMCINCTUS
LINNAEUS , 1758 (TATU-GALINHA) E EUPHRACTUS SEXCINCTUS LINNAEUS, 1758 (TATU-PEBA)
Silva, R. M.1; Rocha, P.2; Silva, I.B.F.S.2; Cabral, M. C. 2, Junior, A. T.2; Santos, A. Q.3
1Universidade Federal do Oeste da Bahia, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras – BA
([email protected] – 77-91156291)
2Universidade Federal do Oeste da Bahia, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras – BA
3Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia – MG.
RESUMO
Os tatus pertencem à classe Mammalia, família Dasypodidae e a ordem Xernarthra. Utilizou-se nesta
pesquisa duas espécies de tatus, sendo: dois exemplares de Dasypus novemcinctus e dois de Euphractus
sexcinctus para descrever a morfologia comparada dos órgãos genitais masculinos. Estes animais foram
obtidos, post mortem, através de doações do Centro de triagem de Animais Silvestres - Lobo Guará
(CETAS), Barreira – BA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia - MG e através de doações da
comunidade do oeste da Bahia. Os mesmos foram destinados ao acervo do Museu de Ciências do Cerrado
Nordestino, que está localizado na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), Barreiras – BA, sendo
o recebimento devidamente aprovado pelo SISBIO – Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade. Os animais foram medidos e pesados. Posteriormente, realizou-se uma incisão longitudinal
na região ventral das paredes abdominal e pélvica para a retirada dos órgãos genitais. Na sequência, foram
medidos o tamanho dorsal e ventral do pênis, o comprimento, a largura e a espessura dos testículos, das
glândulas bulbouretrais, das glândulas vesiculares e da glândula próstata. Os resultados mostram que o E.
sexcinctus possui o maior pênis, as glândulas vesiculares estão ausentes e a próstata não apresenta divisão em
lobos como no D. novemcinctus. Em todos os tatus estudados pôde-se observar que os testículos são intraabdominais.
Palavras-chave: Dasypodidae, morfologia, órgãos sexuais
ABSTRACT
Armadillos belong to the Mammalia class, Dasypodidae order and the Xenarthra family. Was used in
this research two species of armadillos, being: two samples of Dasypus novemcinctus - Nine-banded
armadillo - and two of Euphractus sexcinctus - Six-Banded armadillo - to describe the comparative
morphology of the male genitalia. These animals were obtained post mortem, through donations of the
Center Screening of Wild Animals - Lobo Guará (CETAS), Barreiras – BA, Brazilian Institute of
Environment and Renewable Natural Resources (IBAMA), of the Federal University of Uberlândia (UFU),
Uberlândia - MG and through donations from the community of western Bahia. They were intended for the
collection of the Museum of Ciências do Cerrado Nordestino, which is located at the Federal University of
Western of Bahia (UFOB), Barreiras - BA, and reception duly approved by SISBIO – Authorization and
Information System on Biodiversity. The animals were measured and weighed. Posteriorly, was performed a
longitudinal incision in the ventral abdominal and pelvic walls to remove the genitals. Afterwards were
measured dorsal and ventral penis size, length, width and thickness of the testicles, the bulbourethral glands,
vesicular glands and prostate gland. The results shows that: the E. sexcinctus has the largest penis, do not
possess vesicular glands and the prostate shows no division into lobes as in D. novemcinctus. In all studied
armadillo can be noted that the testicles are intra-abdominal.
Key words: Dasypodidae, morphology, sexual organs
Universidade Federal de Uberlândia
20
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INTRODUÇÃO
A ordem Xenarthra restringe-se aos mamíferos placentários representados pelos tamanduás, tatus e
preguiças arborícolas. É procedente da América Sul e tem como distribuição geográfica o centro sul da
América do Norte até o extremo sul da América do Sul. A ordem possui 31 espécies viventes e está dividida
em quatro famílias: Dasypodidae (tatus) com 21 espécies, Myrmecophagidae (tamanduás) com quatro
espécies, Bradypodidae (preguiças de três dedos) com quatro espécies e Megalonychidae (preguiças de dois
dedos) com duas espécies (PEREIRA JÚNIOR, 2007).
Segundo Soboll (2008), estes animais têm um parentesco muito grande, mas apresentam morfologia e
hábitos diferentes. O antigo nome da ordem, Edentata, que significa “animais sem dentes”, não menciona
uma característica geral, referindo-se aos animais que possuem uma arcada dentária reduzida e simplificada.
A denominação atual da ordem, Xenarthra, significa animais de “articulações estranhas”, sendo mais
aceitável.
A família Dasypodidae possui 21 espécies de tatus e destas, 11 se encontram no Brasil. A característica
mais marcante desta família é a carapaça, que fornece proteção contra os predadores e reduz os danos
causados pela vegetação. Em volta do corpo, a carapaça é arranjada em um número modificável de cintas,
separadas por uma pele macia, o que possibilita flexibilidade ao corpo do animal. Logo, esse número de
cintas é empregado para separar algumas espécies (MEDRI et al., 2006).
A maior parte dos tatus tem raro ou nenhum pelo, contudo, as espécies que habitam as montanhas
possuem uma pelagem pesada no ventre e nas pernas (EMMONS, 1990; NOWAK, 1999 apud MEDRI et al.,
2006, p.83).
De acordo com Pereira Júnior (2007), a família Dasypodidae é caracterizada pela presença de estruturas
osteodérmicas formadoras de bandas de proteção antipredação e por terem hábito fossorial. Os tatus habitam
desde o Centro-Oeste dos Estados Unidos até o sul da Patagônia. De acordo com os hábitos alimentares, os
tatus são classificados como onívoros. (MAMEDE e ALHO, 2008; PEREIRA JÚNIOR, 2007; BONATO,
2002).
O tatu-galinha (D. novemcinctus) é também conhecido como tatu-verdadeiro, tatu-veado, tatu-preto e
tatuetê, possui uma carapaça alta e curva, formada por oito a nove cintas móveis, localizadas na porção
mediana da carapaça. A cabeça é pequena, o focinho é estreito e comprido e as orelhas são grandes, finas e
próximas de si. A coloração é marrom-escura ou preta no dorso, diminuindo sua coloração para amarelo nas
porções laterais. Os membros são curtos com cinco dedos nos membros posteriores e quatro nos anteriores,
sendo os dois dedos médios grandes. A sua longa cauda também é envolvida por placas ósseas (MAMEDE e
ALHO, 2008).
O tatu-peba (E. sexcinctus) também é chamado de tatu-do-rabo-duro, tatu-peludo e tatu-papa-defunto.
Esta espécie tem o corpo achatado dorsoventralmente com seis cintas dorsais, medindo aproximadamente 70
cm e pesando cerca de 6 kg. Possui coloração pardo-amarelada a marrom claro com pelos de cor branca
distribuídos no corpo todo (FREITAS e SILVA, 2005).
Nos mamíferos os órgãos genitais masculinos são: testículos, epidídimos, ductos deferentes, glândulas
vesiculares (vesícula seminal), glândula próstata, glândulas bulbouretrais e pênis (ELLENPORT, 1986 apud
MARTUCCI et al., 2011, p.1025).
De acordo com Medri (2008) os tatus machos possuem um pênis que pode ser estendido acerca de 2/3 do
tamanho do seu corpo e são maiores que as fêmeas. As fêmeas apresentam um par de glândulas mamárias na
região peitoral, e um clitóris longo. Ainda, o tatu-peba não apresenta dimorfismo sexual evidente, mas o sexo
pode ser determinado pela observação das genitálias, assim como nas outras espécies de tatus.
As características dos órgãos genitais masculinos, nas espécies da família Dasypodidae, têm suas
particularidades, porém a literatura a respeito deste tema é genérica e pouco detalhista. Assim, este trabalho
pretende contribuir para o conhecimento da anatomia comparada de tatus das espécies: D. novemcinctus e E.
sexcinctus, bem como pretende colaborar com informações sobre a reprodução e consequentemente com a
preservação das espécies.
METODOLOGIA
Universidade Federal de Uberlândia
21
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Este trabalho foi desenvolvido no Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, da Universidade Federal
do Oeste da Bahia (UFOB). Foram utilizados quatro tatus machos, sendo dois D. novemcinctus e dois E.
sexcinctus obtidos post mortem, através de doações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA), Barreiras – BA, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia
– MG e através de doações da comunidade do oeste da Bahia. Estes animais foram destinados ao acervo do
museu, sendo o recebimento devidamente aprovado pelo SISBIO – Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade (autorização SISBIO 20733-1).
Procedeu-se com a mensuração do comprimento transversal e longitudinal da carapaça e do
comprimento total (extremidade do nariz até a raiz da cauda), de cada animal. Para a mensuração, utilizou-se
um barbante e uma fita métrica padrão. Posteriormente, esses animais foram pesados em uma balança
eletrônica (Balança de precisão kitchens cals SF400) com capacidade de 10 kg e precisão de 1g.
Realizou-se uma incisão longitudinal na face ventral das paredes abdominal e pélvica para a retirada dos
órgãos genitais. Posteriormente, os órgãos genitais foram fixados em solução aquosa de formol a 10%, por
no mínimo 72 horas. Em seguida, os mesmos foram dissecados através de materiais de dissecação
apropriados e medidos, assim: o tamanho dorsal e ventral do pênis, o comprimento, a largura e a espessura
dos testículos, das glândulas bulbouretrais, das glândulas vesiculares e da glândula próstata. A medição foi
realizada com o auxílio de um paquímetro (paquímetro metálico 150 mm – 6” – VONDER).
Uma planilha foi elaborada contendo as medições e características de cada animal e de cada órgão
genital para compilação dos dados. As peças foram fotografadas para documentação do trabalho. Para a
denominação das estruturas utilizou-se consulta a Nomina Anatômica Veterinária (Comitê Internacional de
Nomenclatura Anatômica Veterinária Gross, 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os pesos dos animais variaram entre 2,072 a 4,179 kg e o comprimento total de 38,0 a 52,5 cm
(TABELA 1). Observou-se neste trabalho que o E. sexcinctus possui o maior pênis entre as espécies
estudadas (TABELA 1), como já descrito por Medri (2008), que afirma que a espécie possui um pênis que
pode ser estendido acerca de 2/3 do tamanho do seu corpo. Ainda, no pênis de um E. sexcinctus foi
encontrada uma rugosidade em sua face dorsal, ainda não descrita na literatura (Fig. 1).
TABELA 1 – Peso e comprimento de D. novemcinctus e E. sexcinctus, em que: CLC – comprimento longitudinal
da carapaça; CTC – comprimento transversal da carapaça; CT – comprimento total (focinho à raiz da cauda); MVP
– medida ventral do pênis; MDP – medida dorsal do pênis de tatus. Barreiras- BA, 2013.
Espécie
D. novemcinctus
D. novemcinctus
E. sexcinctus
E. sexcinctus
Peso
(kg)
3,608
3,702
2,072
4,179
CLC
(cm)
34,5
35,0
25,5
33,5
CTC
(cm)
34,5
35,5
24,0
31,5
CT
(cm)
48,0
52,5
38,0
48,0
Fig. 1 – Fotografia da região ventral do pênis do
E.sexcinctus. Onde: círculo– pênis; seta – rugosidade.
(Foto: P. Rocha). Barreiras – BA, 2013.
Universidade Federal de Uberlândia
MVP
(cm)
2,6
6,8
10,0
15,0
MDP
(cm)
2,5
5,1
8,0
14,0
22
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
TABELA 2– Medidas dos testículos das espécies de tatus D. novemcinctus e E. sexcinctus. Em que:
(C) comprimento, (L) largura, (E) espessura, (–) ausente, Dasypus novemcinctus (DN) e Euphractus
sexcinctus (ES). Barreiras-BA, 2013.
Testículo
Direito
Esquerdo
Espécies
C
L
E
C
L
E
Cm
Cm
DN- 01
2,3
1,2
1,0
2,4
1,2
1,0
DN- 02
2,3
1,2
0,8
2,4
1,2
0,7
ES– 03
0,9
0,3
0,1
1,0
0,3
0,2
ES– 04
4,0
2,4
2,1
4,0
2,4
2,1
Conforme observado na TABELA 2, o comprimento dos testículos direito e esquerdo variaram de
0,9 a 4,0 cm, a largura de 0,3 a 2,4 cm e a espessura de 0,1 a 2,1 cm. Assim, pôde-se observar que a espécie
E. sexcinctus apresentou testículos maiores em termos de comprimento, largura e espessura, dados estes não
descritos na literatura.
Os testículos das duas espécies estudadas não eram visíveis externamente, localizando-se na
cavidade abdominal. Como já descrito por GRASSÉ (1955 apud MARTINS, 2003, p.44), nas famílias
Bradypodidae e Myrmecophagidae, os rins se localizam dentro da cavidade pélvica, na posição posterior, e
os testículos seguem os rins neste deslocamento. Ainda, Johnson (1999 apud MARTINS, 2003, p.43)
descreve que os Xenarthras possuem testículos intra-abdominais.
Em relação às glândulas acessórias aos genitais masculinos os valores estão referendados na
TABELA 3. Vale ressaltar que descrições desta natureza não são encontradas na literatura existente.
TABELA 3– Medidas dos órgãos genitais masculinos das espécies de tatus D.novemcinctus e E.
sexcinctus. Em que: (C) comprimento, (L) largura, (E) espessura,(–) ausente, Dasypus novemcinctus
(DN) e Euphractus sexcinctus (ES), Barreiras-BA, 2014.
Glândula bulbouretral
Glândula próstata
Glândula vesicular
Direita
Esquerda
Única
Direita
Esquerda
Direita
Esquerda
Espéc
ies
C L E C L E C L E C L E C L E C L E C L E
Cm
Cm
Cm
Cm
cm
Cm
Cm
DN0, 0, 0, 0, 0,
_ _ _ 1, 0, 0, 0, 0, 0,0 2, 0, 0, 2, 0, 0,
0,2
01
8 4 3 6 3
4 4 3 9 4
1
4 5 4 0 6 3
DN0, 0, 0, 0, 0,
_ _ _ 0, 0, 0, 1, 0, 0,0 2, 0, 0, 1, 0, 0,
0,3
02
8 4 2 8 5
9 5 1 0 5
1
0 5 3 9 4 4
ES–
0, 0, 0, 0, 0, 0,0 0, 0, 0,
_ _ _ _ _
_
_ _ _ _ _ _
03
5 3 2 5 4
1
8 5 3
ES–
1, 1, 0, 1, 1,
1, 1, 0,
0,7
_ _ _ _ _
_
_ _ _ _ _ _
04
6 4 8 6 4
6 8 4
Neste trabalho, observou-se que a próstata do E. sexcinctus não está dividida em lobos direito e
esquerdo (Fig. 2). Diferentemente da próstata do D. novemcinctus, que apresenta em formato de borboleta,
dividida em dois lobos, o esquerdo e o direito (Fig. 2). Assim, como já descrito no estudo de Cardoso et al.,
(1985) sobre o D. novemcinctus, em que relata a próstata sendo composta por duas massas compactas
alongadas, achatadas dorsoventralmente e em contato com a superfície ventromedial das vesículas seminais.
Universidade Federal de Uberlândia
23
VII ENANSE
24
De 15 a 18 de maio de 2014
A
Fig. 2 – Órgãos genitais masculinos das espécies E. sexcinctus (esquerda) e D. novemcinctus (direita). Em destaque, por
círculo vermelho, a glândula próstata.(Foto: P. Rocha)
Para Cardoso et al. (1985), a espécie D. novemcinctus apresenta as glândulas bulbouretrais ovóides,
localizadas a cada lado da extremidade caudal da uretra, superfície lisa e recoberta por conspícuos feixes
musculares. Características essas, observadas no presente trabalho para as duas espécies estudadas (Fig. 3).
Em relação ao seu tamanho o E. sexcinctus é a espécie que possui a glândula bulbouretral maior em
comprimento, largura e espessura (TABELA 2).
A
Fig. 3 - Órgãos Genitais das espécies D. novemcinctus (esquerda) e E. sexcinctus (direita).
Em destaque, por círculo vermelho, as glândulas bulbouretrais. (Foto: P. Rocha).
Barreiras – BA, 2013.
Cardoso et al. (1985) também observa que as glândulas seminais do D. novemcinctus são órgãos
saculares de superfície lisa e situam-se a cada lado da bexiga. Assim, como encontrado nas espécies
estudadas de D. novemcinctus (Fig. 4). Porém, estas glândulas estão ausentes em E. sexcinctus, o que
contradiz GRASSÉ (1955 apud MARTINS, 2003, p.44), ao afirmar estarem presentes em todos os
Xenarthras.
Universidade Federal de Uberlândia
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Fig. 4: Órgãos Genitais masculinos da espécie
Dasypus novemcinctus. Em destaque, por um
círculo vermelho, as glândulas vesiculares.
(Foto: P. Rocha). Barreiras-BA, 2013
CONCLUSÕES
Diante das análises anatômicas pôde-se concluir que a espécie D. novemcinctus tem o maior tamanho
corporal. Ainda, a espécie E. sexcinctus apresenta os maiores órgãos genitais masculinos, porém, não
apresenta as glândulas vesiculares. A espécie D. novemcinctus apresenta a glândula próstata dividida em
lobos direito e esquerdo, enquanto no E. sexcintus a glândula próstata não apresenta esta divisão. Ainda, nas
duas espécies estudadas os testículos são intra-abdominais.
REFERÊNCIAS
BONATO, Vinicius. Ecologia e História natural de Tatus do Cerrado de Itirapina, São Paulo (Xenarthra:
Dasypodidae). Dissertação de mestrado. Campinas, SP. 2002. 91p.
CARDOSO, Fábio M. et al.Variação Sazonal da Atividade Secretória das Glândulas Acessórias Masculinas
de Tatus Dasypus Novemcinctus Linnaeus, 1759. Rev. Brasil. Biol., 45(4): 507-514. Rio de Janeiro, RJ,
1985.
FREITAS, Marco Antonio de; SILVA, Thais Figueiredo Santos. Guia Ilustrado – Mamíferos da
Bahia:espécies continentais. Pelotas – RS.USEB, 2005, P. 56-65
INTERNATIONAL COMMITTE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL NOMECLATURE.
Nomina anatomica veterinaria. 5. ed. Hannover, 2005.
IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza.2006.
MAMEDE, Simone B; ALHO, Cleber J.R. Impressões do Cerrado & Pantanal: subsídios para observação
de mamíferos silvestres não voadores. 2ª Ed. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2008, p. 84-90.
MARTINS, Daniele dos Santos. et al.Análise estrutural das glândulas acessórias da preguiça de coleira
(Bradypustorquatus, Illiger, 1811).Biotemas, 20 (2).2007, p. 89-97.
Universidade Federal de Uberlândia
25
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
MARTINS, Daniele dos Santos. Morfologia do Sistema Reprodutor Masculino da Preguiça-de-coleira
(Bradypustorquatus, Illiger, 1811).Tese (Mestre em Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
MARTUCCI, M.F. et al. Estudo Morfológico dos órgãos genitais masculinos do guaxinim
(Procyoncancrivorus). Pesq. Vet. Bras. 31(11),2011, p. 1024-1030,
MEDRI, I.M. MOURÃO, G. de M. RODRIGUES, F.H.G. 2006. Capítulo 4 – Ordem Xenarthra.In.: REIS,
N.R.; PERACCHI, A.L.; PEDRO, W.A.; LIMA, I.P.; 2006. Mamíferos do Brasil. Londrina – Paraná, 2006.
MEDRI, ÍsisMeri. Ecologia e História Natural do Tatu-peba, Euphractussexcinctus (Linnaeus, 1758), no
Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul. Tese de Doutorado apresentado ao Programa de PósGraduação em Ecologia – UNB – Brasília, 2008.
PEREIRA JÚNIOR, Hélio Rubens Jacinto. Evolução cromossômica na Ordem Xenartha. Tese (Doutorado
em Ciências Biológicas). Botucatu. Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista,
2007.
SOBOLL, Deborah Scheidegger. Avaliação do ciclo reprodutivo em três fêmeas adultas de tamanduá-mirim
(Tamanduá tetradactyla) por meio de citologia vaginal. Coordenação de pós-graduação “lato sensu” em
clínica médica e cirúrgica em animais selvagens e exóticos. Universidade Castelo Branco. Brasília, DF,
2008.
Universidade Federal de Uberlândia
26
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ANATOMIA E MORFOMETRIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE CORUJAS DA ESPÉCIE
TYTO ALBA (SCOPOLI, 1769)
Rocha, P.1; Silva; R. M.2; Silva, I.B.F.S.2; Cabral, M. C.2; Junior, A. T.2
1. Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras BA, ([email protected], 77 8812-5360)
2. Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras –
BA.
RESUMO
A coruja da espécie Tyto alba pertence à família Tytonidae e à ordem Strigiformes. É caçadora
noturna, alimenta-se de roedores, insetos, aves e répteis, possui um disco facial em forma de coração, olhos
avantajados, garras e bicos fortes. O aparelho digestório das aves é constituído de orofaringe, esôfago,
estômago, duodeno, jejuno, íleo, cecos pares, e o cólon que termina na cloaca. O objetivo deste trabalho é
descrever a anatomia do aparelho digestório das corujas da espécie Tyto alba. Para alcançá-lo, três aves da
espécie foram pesadas e medidas: o comprimento total (extremidade da ranfoteca até a extremidade da
retriz), o comprimento da asa fechada e o comprimento da ranfoteca. Em seguida, realizou-se uma incisão no
vértice do rostro mandibular até a região da cloaca, para a retirada do aparelho digestório. Posteriormente, os
órgãos foram dissecados e medidos com o paquímetro digital. Constatou-se que as corujas não possuem o
inglúvio e o ventrículo, sendo que o proventrículo e o ventrículo são fundidos, formando um único estômago.
Palavras-chave: aves de rapina, morfologia, trato digestório
ABSTRACT
The Tyto alba owl species belongs to the Tytonidae family and Strigiformes order. Is a nocturnal
hunter that feeds on rodents, insects, birds and reptiles, has a face heart-shaped disc, stubby eyes, claws and
beaks strong. The digestive apparatus of birds consists on oropharynx, esophagus, stomach, duodenum,
jejunum, ileum, cecum pairs, colon, ending at cloaca. This study aim to describe the digestive system
anatomy of the owl Tyto alba species. For this purpose was used three birds weighed and measured: length
(from the begining of beak to end of rectrix), the length of the closed wing and the length of beak. Next, an
incision was made at the apex of the mandibular region of the snout to cloaca, to remove the digestive
apparatus. Afterwards, the organs were dissected and measured with a digital caliper. Were observed that
the owls do not have ingluvies and ventricle, and the proventriculus and ventricle are fused, forming a single
stomach.
Key words: birds of prey, morphology, digestive tract
INTRODUÇÃO
A denominação “aves de rapina” é muito utilizada para distinguir as aves carnívoras diurnas e
noturnas que exibem garras e bicos fortes (MARINI-FILHO, 2008). De acordo com Franções (2002), estas
aves variam quanto ao tamanho, algumas espécies possuem asas largas e corpo pesado, outras são leves e
aerodinâmicas. A cabeça é grande, o pescoço curto, o bico forte e em forma de gancho, de bordos afiados.
As patas são fortes, musculosas, com garras longas e aguçadas.
No Brasil, segundo o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2011), existem 98
espécies de aves de rapina, sendo 48 da Ordem Accipitriformes (águias e gaviões), 21 de Falconiformes
(falcões), 23 Strigiformes (corujas) e 6 Cathartiformes (urubus). Juntamente com outros países da região
neotropical, o Brasil, concentra o maior número de espécies de rapinantes do mundo. Quinalha (2011)
descreve que as espécies que compõem a Ordem Strigiformes são aves caçadoras noturnas, como as corujas
e os mochos, agrupadas em duas Famílias - Strigidae e Tytonidae. Possuem olhos avantajados, enxergam
bem no escuro, tem audição apurada, garras e bicos fortes. A dieta está entre artrópodes, roedores, aves e
Universidade Federal de Uberlândia
27
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
répteis. Como o trato digestório dos Strigiformes não digere ossos, penas, pêlos, bicos, unhas e carapaças,
esse material é regurgitado na forma de pelotas.
Entre as espécies da ordem Strigiformes, a família Tytonidae contém apenas um representante na
América do Sul, a Tyto alba. De acordo com Sick (2001), essa espécie se distingue pela presença de um
disco facial em forma de coração, ao contrário das outras corujas que o possui redondo.
A Tyto alba é uma ave silvestre cosmopolita conhecida popularmente como Suindara, Coruja de
Igreja, Rasga Mortalha ou Coruja das Torres. Quanto à sua ecologia, é uma das espécies mais estudadas
devido a sua importância no controle biológico de roedores danosos à agricultura e à saúde humana (SICK,
2001).
De acordo com Dyce, Sack e Wensing (1997), o aparelho digestório de aves é constituído de
orofaringe, esôfago, estômago, duodeno, jejuno, íleo, cecos pares e cólon; o último termina na cloaca, que
também compartilha o aparelho urogenital. Diversas partes, incluindo o bico, apresentam consideráveis
alterações e adaptações à dieta.
Segundo Hildebrand e Goslow Jr. (2006), o esôfago das aves é longo e seu revestimento geralmente
está cornificado. Alguns membros de muitas famílias de aves possuem uma dilatação permanente na parte
caudal do esôfago que funciona como um reservatório, o papo. O estômago apresenta a parte cranial,
nomeada proventrículo – região glandular que produz enzimas digestivas, já a parte caudal, denominada
ventrículo ou moela, corresponde à região pilórica.
Apesar da importância ecológica das corujas T. alba, informações sobre a sua anatomia e em
especial ao seu aparelho digestório, na literatura, são escassas. Assim, busca-se estabelecer relações
comparativas entre a sua estrutura anatômica, para contribuir com a anatomia comparada de gaviões, falcões
e outras espécies de corujas, fornecendo subsídios a outras pesquisas.
METODOLOGIA
O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório do Museu de Ciências do Cerrado Nordestino
da Universidade Federal do Oeste da Bahia - UFOB. As três corujas post mortem, utilizadas neste projeto,
pertencem ao referido museu e as doações (autorização SISBIO 20733-1) são oriundas do IBAMA, de
zoológicos, da comunidade do oeste da Bahia e de criadouros registrados e regularizados por órgão
competente.
As aves foram identificadas segundo Sigrist (2009). Na sequência, em cada ave, foi realizada a
biometria de acordo com Matter et al. (2010), através do uso de uma régua e um paquímetro digital
(paquímetro metálico 150mm – 6” – VONDER), considerando: 1- comprimento total (da extremidade do
bico à extremidade da retriz mais longa, ave em decúbito dorsal); 2- comprimento da asa (distância entre o
encontro da asa até a extremidade da pena primária maior, estando à asa fechada); 3- comprimento do bico
(extremidade do bico até a cera). Posteriormente, cada animal foi pesado (Fig.1) em uma balança eletrônica
(Balança de precisão kitchens cals SF400) com capacidade de 10 kg e precisão de 1g.
Fig. – 1: Fotografia da espécie Tyto alba sendo pesada. (Foto: P. Rocha). Barreiras –
BA, 2014.
Universidade Federal de Uberlândia
28
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Em seguida, realizou-se uma incisão na região ventral, partindo do vértice da mandíbula até a base
da cloaca, retirou-se o aparelho digestório, os órgãos foram dissecados e medidos com o auxílio de um
paquímetro digital. Uma planilha foi elaborada, contendo as medições de cada animal e de cada órgão, para a
compilação de dados. Para documentação do trabalho, algumas peças foram fotografadas e para
denominação das estruturas foi consultada a Nomina Anatomica Avium (BAUMEL, 1993).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com Duke (1986 apud ARAÚJO, 2011) ao contrário de um inglúvio bem definido, como
ocorre nos galliformes, os rapinantes diurnos possuem um papo pouco desenvolvido e bem elástico. Porém,
neste trabalho, observou-se que as corujas (T. alba) não o possuem.
Ainda, o autor supracitado, descreve em aves de rapina, a moela sendo composta por uma camada
fina de fibras musculares lisas, e, fundida ao proventrículo, dando origem a um órgão em formato de pêra.
Como observado neste trabalho (Fig. 2).
a
b
c
d
Fig. 2: Fotografia do aparelho digestório de T. alba, onde: a- esôfago, b- estômago, c- duodeno, d- jejuno e íleo.
(Foto: P. Rocha). Barreiras- BA, 2014.
O peso corporal das espécies de T. alba utilizadas neste projeto variou de 264 a 398 g. Já, o
comprimento total de 33,0 a 36,0 cm, o comprimento da asa de 30,0 a 31,5 cm e o comprimento da ranfoteca
de 2,01 a 2,13 cm. Ainda, os órgãos constituintes do aparelho digestório foram: esôfago, estômago, duodeno,
jejuno, íleo, cólon e os dois cecos (Fig. 2 e Fig. 3), com suas medidas referendadas na TABELA 1:
TABELA – 1- Peso das aves e medidas dos órgãos que compõem o aparelho digestório das três espécies de T.
alba. Barreiras- BA, 2014.
Peso
Comprimento da asa
Comprimento total
Comprimento Bico
Esôfago
Estômago
Duodeno
Jejuno e íleo
Cólon
Cecos
T. alba 1
264 g
31,0 cm
34,0 cm
2,09 cm
9,80 cm
5,09 cm
10,08 cm
19,25 cm
6,09 cm
4,28cm/4,22cm
Universidade Federal de Uberlândia
T. alba 2
398 g
30,0 cm
36,0 cm
2,01 cm
8,95 cm
5,85 cm
9,03 cm
19,07 cm
5,43 cm
3,63cm/3,57 cm
T. alba 3
252 g
31,5 cm
33,0 cm
2,13 cm
10,14 cm
8,92 cm
12,90 cm
16.17 cm
5,91 cm
2,952 cm/2,90 cm
29
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O comprimento do esôfago variou de 8,95 a 10,14 cm, do estômago de 5,09 a 8,92 cm, o duodeno de
9,03 a 12,90 cm, o jejuno juntamente com o íleo de 16,17 a 19,25 cm, os cecos de 2,90 a 4,28 cm e o cólon
de 5,43 a 6,09 cm.
b
a
c
a
Fig. 3: Fotografia do aparelho digestório de T. Alba, onde: a- cecos, bcólon, c- duodeno. (Foto: P. Rocha). Barreiras- BA, 2014.
CONCLUSÕES
Pôde-se concluir que o aparelho digestório das corujas da espécie Tyto alba não possuem o inglúvio,
o que as diferencia das outras aves de rapina. Ainda, o proventrículo e o ventrículo são fundidos formando
um único órgão, o estômago.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, J. L. Avaliação de enterobactérias e suscetibilidade in vitro a antimicrobianos de isolados de
aves de rapina diurnas cativas no estado da Paraíba. Monografia (Medicina Veterinária) – Centro de Saúde
e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande - Campus de Patos – Paraíba, 2011.
BAUMEL, J. Handbook of avian anatomy: Nomina Anatomica avium. 2nd Ed. Publications of the Nuttall
Ornithological Club, Harvard University, 1993.
COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS. Listas das aves do Brasil. 10ª Edição, 2011.
Disponível em: <http://www.cbro.org.br>. Acesso em: 15 de Maio de 2013.
DYCE K.M., SACK W.O. & WENSING C.J.C. Tratado de Anatomia Veterinária. 2ª ed.Guanabara Koogan,
Rio de Janeiro. 1997.
Universidade Federal de Uberlândia
30
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
FRANÇÕES, VUILLEUMIER. Aves in: BURNIE, David. Grande Enciclopédia Animal. Dorling Kindersley
– Civilização, Editores, L. da, Porto, 2002, p. 260-361.
HILDEBRAND, M.; GOSLOW, G. Análise da estrutura dos vertebrados. 2ª ed. Atheneu. 2006.
MARINI-FILHO, O. J. Plano de ação nacional para a conservação de aves de rapina. Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade. Brasília. 2008.
MATTER, S. V. et al. Ornintologia e conservação: ciência aplicada, técnicas de pesquisa e levantamento.
1. Ed. – Rio de Janeiro: Technical Books, 2010.
QUINALHA, M.M. et al.. Que bichos moram no Jardim Botânico do IB. Série: Aves. Projeto de Extensão
Universitária. UNESP-PROEX. Botucatu, 2011.
SICK, Helmut. Ornitologia brasileira. 3° ed. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 2001.
SIGRIST, T. Guia de Campo Avis Brasilis – Avifauna Brasileira: Pranchas e Mapas The Avis Brasilis Field
Guidde to the Birds of Brazil: Plates and Maps. São Paulo: Avis Brasilis, v.1. 2009.
Universidade Federal de Uberlândia
31
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ANATOMIA ÓSSEA E MUSCULAR DO CÍNGULO ESCAPULAR E BRAÇO DE TAPIRUS
TERRESTRIS (PERISSODACTYLA: TAPIRIDAE)
PEREIRA, S. G¹.; SANTOS, A. L. Q²; BORGES, D. C. S.³; RIBEIRO, P. R. Q4.
1. Me. Universidade Federal de Uberlândia – FAMEV – LAPAS. Uberlândia – MG, Doutorando do
programa. ([email protected] 34 99110730)
2. Médico Veterinário, Doutor, Professor Orientador pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU – MG
3. Ma. Universidade Federal de Uberlândia – FAMEV – LAPAS. Uberlândia – MG, Doutoranda do
programa.
4. Ma. Universidade Federal de Uberlândia – FAMEV – LAPAS. Uberlândia – MG, Doutoranda do
programa.
RESUMO
Tapirus terrestris (Linneaus, 1758) é um mamífero encontrado na América do Sul e em quase todos
os biomas brasileiros. O objetivo deste estudo foi descrever a anatomia óssea e muscular do cíngulo
escapular e braço de Tapirus terrestris e comparar com outras espécies de mamíferos, principalmente
equinos. Utilizaram-se quatro animais doados ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres da
Universidade Federal de Uberlândia, após óbito sem trauma. Os ossos foram minuciosamente analisados e
descritos e os músculos dissecados, analisados e descritos de acordo com as técnicas usuais em anatomia
macroscópica. O esqueleto do cíngulo escapular e braço de Tapirus terrestris é constituído pelos ossos:
escápula e úmero, os músculos da face lateral da escápula são o m. subclávio, m. deltóide, m. supraespinhal,
m. infraespinhal e m. redondo menor, m. subescapular, m. redondo maior, m. coracobraquial, m. articular do
ombro, m. bíceps do braço, m. braquial, m. tríceps do braço, m. tensor da fáscia do antebraço, m. ancôneo. O
padrão ósseo e muscular encontrado é similar ao cavalo (Equus caballus) e a outros animais silvestres e
domésticos, como: mão-pelada, ruminantes, veado, dentre outros.
Palavras-chave: Escápula. Mamíferos. Morfologia descritiva.
ABSTRACT
Tapirus terrestris (Linneaus, 1758) is a mammal found in South America and in almost all Brazilian
biomes. The aim of this study was to describe the anatomy of bone and muscle of the scapular cingulum and
arm of Tapirus terrestris and compare it with other species of mammals, especially equines. We used four
animals donated to the Laboratory of Education and Research of Wild Animals of the Federal University of
Uberlândia, after their death with no trauma. The bones were carefully analyzed, described and the muscles
were dissected, analyzed and described in accordance with the usual techniques of gross anatomy. The
skeleton of the scapular cingulum and arm of Tapirus terrestris is formed by scapula and humerus bones, the
lateral muscles of the scapula are subclavian m., deltoid m. supraspinatus m. and infraspinatus, teres minor
m., subscapularis m., teres major m., coracobrachialis m., shoulder joint m., biceps brachii m., brachial m.
triceps, forearm tensor fasciae m., anconeus m. The muscular and bone standard found is similar to the horse
(Equus caballus) and to other wild and domestic animals, as raccoon, ruminants, deer, among others.
Keywords: Scapula. Mammals. Descriptive morphology.
INTRODUÇÃO
A anta (Tapirus terrestris - Linnaeus 1758) é um mamífero ungulado que pertence a ordem
Perissodactyla (PADILLA; DOWLER, 1994). Esta ordem é composta por três famílias: Tapiridae (antas),
Equidae (cavalos, zebras e burros) e Rhinocerotoidea (rinocerontes) (RAMSAY; ZAINUDDIN, 1993). O
gênero Tapirus, atualmente, compreende cinco espécies Tapirus terrestris, Tapirus pinchaque, Tapirus
bairdii, Tapirus indicus e Tapirus kabomani (Cozzuol, et al., 2013). São encontrados na Terra desde o
Universidade Federal de Uberlândia
32
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
período Pleistoceno até os dias atuais (HOLANDA, 2007). Esses mamíferos tem um número ímpar de dedos
(um ou três), cada um com um casco (HICKMAN, ROBERTS, LARSON, 2001). T. terrestris,
diferentemente, tem quatro dedos na mão e três no pé. O quarto dedo do membro torácico é menos
desenvolvido e eventualmente toca o solo (HERNANDEZ-DIVERS, 2007; HUUBE, 2008).
T. terrestris é um dos maiores mamíferos das Américas, distribui-se desde o sul do Brasil, Chaco
da Argentina, Bolívia e Paraguai, ao norte até a região Amazônica, oeste da Venezuela e no norte da
Colômbia. No Brasil, as antas distribuem-se em quase todos os Biomas (HERSHKOVITZ, 1954 apud
PADILLA; DOWLER, 1994). São animais herbívoros, encontrados acompanhados apenas durante a época
de acasalamento ou durante a amamentação (MEDICI, 2011). A anatomia interna e fisiologia dos tapirídeos
são consideravelmente semelhantes às do cavalo doméstico e de outros Perissodactyla (GONDIM; JORIO,
2011).
Segundo Heleno et al. (2011) a descrição morfológica de espécies da fauna silvestre acrescenta um
enorme subsídio para o conhecimento destes, pois auxilia nas intervenções de ordem clínico-cirúrgica e
conservacionistas. Descrições anatômicas pormenorizadas contribuem para engrandecer o acervo teórico
sobre as espécies, colaborando, dessa maneira, para o enriquecimento das aplicações médicas, terapêuticas e
clínicas (LIMA, PEREIRA, PEREIRA, 2010; VARVRUK, 2012).
Visto a importância da anta para o meio ambiente, como dispersor de sementes e regulador
ambiental dentro das teias alimentares e considerando a importância do conhecimento anatômico sobre a
espécie para os apontamentos de ordem clínica, cirúrgica e conservacionista, objetivou-se descrever a
anatomia óssea e muscular do cíngulo escapular e braço de Tapirus terrestris e comparar com outros animais
domésticos e silvestres.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas peças anatômicas de quatro espécimes adultos doados por um criadouro, após
óbito natural sem trauma, ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres da Universidade
Federal de Uberlândia (LAPAS-UFU). A pesquisa foi autorizada pelo Conselho de Ética para Utilização de
Animais da UFU (CEUA) sob o parecer 069/12, e está de acordo com a Instrução Normativa 154/2007 do
IBAMA. As peças anatômicas foram fixadas em solução aquosa de formaldeído a 10% e conservadas em
cubas opacas contendo a mesma solução.
Para a preparação dos músculos, as peças anatômicas foram cuidadosamente dissecadas
preservando-se seus pontos de inserção e fixação, características e sintopia. Para tanto, foi feita a retirada da
pele e tecido adiposo para a exposição dos músculos e demais constituintes anatômicos relacionados ao
cíngulo escapular e braço. A nomenclatura adotada está de acordo com o International Committee on
Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2012). Para as descrições morfológicas, os dados foram
analisados de forma descritiva e comparada, principalmente com equídeos, que são taxonomicamente mais
próximos ao animal estudado, além de ruminantes e outros mamíferos selvagens. As imagens foram
registradas com câmera digital (Kodak Easy Shere C182, 12 mega pixel) e tratadas pelo software Adobe
Photoshop CC 14.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O esqueleto do cíngulo escapular e braço da anta é constituído pelos ossos escápula e úmero,
respectivamente. Esses ossos na espécie estudada são bastante protuberantes e desenvolvidos. T. terrestris
tem grande capacidade de deslocamento, desenvolvendo seu nicho em grandes áreas (FRAGOSO, 2007),
sendo assim, os ossos longos, fortes e protuberantes dão auxilio neste deslocamento, assim como nos equinos
(GETTY; SISSON; GROSSSMAN, 1986; DYCE, SACK, WENSING, 1997).
A escápula de T. terrestris (Figura 1) é um osso plano, ovalado e irregular, que se encontra preso
obliquamente à parte cranial da parede torácica e articula-se distalmente com a cabeça do úmero, através da
cavidade glenóide, sendo um conector. No equino (Equus caballus), segundo Getty; Sisson; Grossman,
1986; (1986) a escápula é um osso triangular. Em T. terrestris apresenta duas faces (medial e lateral), duas
margens (cranial e caudal) e dois ângulos (cranial, caudal). A mesma configuração é encontrada em equinos
(KÖNIG; LIEBICH, 2002), capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e leão (Panthera leo) (SOUZA et al.,
Universidade Federal de Uberlândia
33
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
2009). Segundo Varela (2010), a escápula tem a função de abrigar os músculos da área do membro torácico,
dando-lhes origem, estes músculos estão agrupados em torno dela.
O úmero (Figura 2) é o osso que está presente no braço de T. terrestris. É um osso longo típico e
como tal é constituído de corpo (diáfise) com extremidades distal e proximal (epífises). Apresenta quatro
faces, medial, lateral, caudal e cranial. Possui forma arredondada e articula-se proximalmente com a
escápula, através da cavidade glenóide, assim como nos equinos (GETTY; SISSON; GROSSMAN, 1986) e
distalmente com o rádio e a ulna. Segundo Varela (2010), nos quadrúpedes o úmero agrupa os músculos do
braço, dando inserção para os músculos originados na escápula.
Figura 1 – Fotografia da escápula de T. terrestris.
(Fonte: Acervo particular. Uberlândia, 2012).
Legenda: I: Vista lateral - (A) ângulo cranial; (B)
espinha da escápula; (C) tuberosidade da escápula; (D)
fossa supraespinhal; (E) fossa infraespinhal; (F)
margem cranial; (G) margem caudal; (H) forame
nutrício; (I) tuberosidade supraglenoidal; (J) cavidade
glenóide; (K) ângulo caudal.
II: Vista Medial - (A) ângulo caudal; (B) ângulo
cranial; (C) margem caudal; (D) margem cranial; (E)
colo da escápula; (F) cavidade glenóide; (G)
tuberosidade supraglenoidal; (H) processo coracóide;
(I) incisura na margem lateral distal; (J) fossa
subescapular.
Figura 2 – Fotografia do úmero de T. terrestris.
(Fonte: Acervo particular. Uberlândia, 2012).
Legenda: I: Vista Caudal - (A) tuberosidade
maior; (B) colo; (C) tuberosidade deltóidea; (D)
tuberosidade para o músculo redondo menor (E)
fossa do olecrano (F) cabeça do úmero.
II: Vista Cranial - (A) capítulo; (B) tróclea; (C)
fossa radial; (D) epidicôndilo medial; (E)
epicôndilo lateral; (F) crista do epicôndilo lateral;
(G) sulco para o músculo braquial; (H)
tuberosidade deltóidea; (I) tuberosidade maior; (J)
sulco intertuberal; (K) forame nutrício proximal;
(L) tuberosidade menor; (M) tuberosidade para o
músculo redondo maior; (N) forame nutrício
distal.
Os músculos do cíngulo escapular de T. terrestris se originam na escápula e se inserem no úmero;
dividem-se na face lateral e face medial da escápula. No ombro estão localizadas duas fáscias, superficial e
profunda. A fáscia superficial contém o músculo cutâneo. A fáscia profunda de T. terrestris é forte e
tendínea, está aderida aos músculos da face lateral da escápula assim como apresentado por Getty, Sisson,
Grossman (1986).
Universidade Federal de Uberlândia
34
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 3 – Fotografia dos músculos do cíngulo escapular e braço de T. terrestris, faces lateral e medial,
respectivamente. (Fonte: Acervo particular. Uberlândia, 2013).
Legenda: I: Face Lateral - (A) m. subclávio; (B) m. supraespinhal; (C) m. infraespinhal; (D) m. deltóide;
(E) m. redondo menor; (F) m. tríceps do braço cabeça lateral; (G) m. tríceps do braço cabeça longa; (H) m.
braquial; (I) m. tensor da fáscia do antebraço. II Face Medial - (A) m. subclávio; (B) m. supraespinhal; (C)
m. subescapular; (D) m. redondo maior [parcialmente rebatido]; (E) m. articular do ombro; (F) m.
coracobraquial; (G) m. bíceps do braço [parcialmente rebatido]; (H) m. tensor da fáscia do antebraço
[parcialmente rebatido]; (I) m. tríceps do braço cabeça medial; (J) m. braquial; (K). m. grande dorsal
[parcialmente rebatido]; olécrano.
O m. subclávio (Figura 3. I A) em T. terrestris é um músculo protuberante e volumoso, que se situa
cranialmente à articulação glenoumeral, com uma grande quantidade de tecido adiposo. Em equinos este
músculo é parte do membro torácico originando-se na parte cranial do esterno. Nos carnívoros está ausente e
em ruminantes tem inserção junto ao m. supraespinhal e sua função é fixar a escápula (DYCE, SACK,
WENSING, 1997).
O m. deltóide (Figura 3. I D) é um músculo arredondado em sua parte média, está localizado,
parcialmente, na face lateral da articulação do ombro. A parte caudal está fixada na escápula. Cabe ressaltar
que em T. terrestris não existe parte acromial como nos bovinos, sendo este músculo muito similar ao do
equino (GETTY; SISSON; GROSSMAN, 1986).
O m. supraespinhal (Figura 3. I B) tem formato alongado e espesso em toda sua extensão com
fibras verticais. Este músculo está envolvido por uma aponeurose fibrosa. Está divido em dois ramos de onde
se origina o tendão de origem do m. bíceps do braço, assim como nos equinos (DYCE, SACK, WENSING,
1997).
O m. infraespinhal de T. terrestris (Figura 3. I C) é semelhante ao do equino (GETTY; SISSON;
GROSSMAN, 1986), insere-se na escápula é dividido por dois estratos. Assim como em Nasua nasua exerce
a ação de estender e flexionar a articulação do ombro e girar o braço lateralmente (SANTOS et al., 2010a).
O m. redondo menor (Figura 3. I E) apesar de ser chamado de redondo, em T. terrestris tem forma
triangular plana, é coberto por uma aponeurose fibrosa. Segundo Dyce, Sack, Wensing (1997) em equinos é
um pequeno músculo de pouca importância, já Getty, Sisson, Grossman (1986) ressaltam que em equinos
fornece as fibras de origem para o m. infraespinhal e a cabeça longa do m. tríceps do braço e em sua parte
profunda articula-se com a tuberosidade maior do úmero, o que é percebido também em T. terrestris.
O m. subescapular (Figura 3. II C) ocupa toda a extensão da fossa subescapular, exceto as partes
dos ângulos cranial e caudal da escápula. É um músculo triangular plano e no ângulo cranial é arredondado,
seguindo o formato da escápula de T. terrestris.
O m. redondo maior (Figura 3. II D) é alongado e largo e inserido na face medial do m. tríceps do
braço (cabeça medial). Em canis spp., segundo St. Clair (1986 apud Santos et al., 2010a).
Universidade Federal de Uberlândia
35
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O m. coracobraquial (Figura 3. II F) está localizado na face medial da articulação do ombro e do
braço. Está situado caudalmente ao m. redondo maior, assim como descrito por Getty, Sisson, Grossman
(1986) em cavalos.
O m. articular do ombro (Figura 3. II E) é um pequeno músculo situado na superfície flexora da
cápsula da articulação do ombro. O m. bíceps do braço (Figura 3. II G) está localizado na parte cranial do
úmero de T. terrestris e está coberto pelo músculo peitoral. É um músculo forte, está envolto por uma fáscia
espessa e está dividido tendinalmente em duas partes (superficial e profunda), assim como nos equinos
(GETTY; SISSON; GROSSMAN, 1986).
O m. braquial (Figura 3. II J) é volumoso e ocupa o sulco do músculo braquial do úmero.
Inteiramente muscular ele cruza o m. bíceps do braço até se fixar no antebraço.
O m. tríceps do braço (Figura 3. I F e G e II I) em T. terrestris é o maior músculo desta região,
ocupa o ângulo entre a margem caudal da escápula e úmero e está dividido em três cabeças principais e uma
acessória, cabe ressaltar que a cabeça acessória está relacionada à cabeça medial, no entanto diferencia-se em
função da direção de suas fibras, assim como nos equinos, as origens e inserções coincidem (GETTY;
SISSON; GROSSMAN, 1986).
O m. tensor da fáscia do antebraço (Figura 3. II H) é uma faixa muscular estreita e triangular
localizada nas faces medial e caudal do braço. O m. ancôneo de T. terrestris é pequeno e alongado, se situa
na face lateral do braço profundamente e é coberto pela cabeça lateral do m. tríceps do braço.
Os músculos no extremo proximal do membro torácico servem para prover o braço de alavancas
com importantes músculos impulsores. Assim como nos equinos, a longa alavanca muscular de T. terrestris
fornece um passo maior por unidade de trabalho muscular. Estes fortes braços de alavanca, são bem
adaptados para o desenvolvimento de força (GETTY; SISSON; GROSSMAN, 1986; DYCE, SACK,
WENSING, 1997).
CONCLUSÃO
Os ossos do cíngulo escapular e braço de T. terrestris têm acidentes específicos em comparação
com outras espécies. A escápula apresenta algumas diferenças em relação aos animais comparados, não
possui acrômio e é ovalada, todavia, pode-se inferir que é mais similar à de Equus caballus. Os músculos
apresentam-se em mesma quantidade e disposição aos dos equinos, apresentando, também, similaridades
com outros animais silvestres e domésticos. As principais diferenças morfológicas de T. terrestris
corroboram para se inferir que a estrutura anatômica do cíngulo escapular e braço são adaptados
funcionalmente para esta espécie.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: informação e documentação:
trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro, 2011.
CONCHA, I.; ADARO, L.; BORRÓN, C.; ALTAMIRANO, C. 2004. Consideraciones anatómicas sobre la
musculatura intrínseca del miembro torácico del puma (Puma concolor). International Journal of
Morphology, 22 (2): 121-125.
COZZUOL, M. A.; CLOZATO, C. L.; HOLANDA, E. C.; RODRIGUES, F. H. G.; NIENOW, S.; THOISY.
B.; REDONDO, R. A. F; SANTOS, F. R. A new species of tapir from the Amazon. Journal of Mammalogy,
94(6):1331-1345. 2013.
DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. In: Tratado de Anatomia Veterinária. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 1997, 344 p.
FRAGOSO, J. M. Tapir generated seed shadows: scale sepdendeent pachiness in teha amazon rain Forest.
Journal of ecology, 85. 2007.
Universidade Federal de Uberlândia
36
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
GETTY, R.; SISSON, S.; GROSSMAN, J. D. Anatomia dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 5. Ed. v. 1. 1986. 1134 p.
GONDIM, M. F. N.; JORIO, M. R. V. Família Tapiridae: aspectos biológicos e veterinários. Curso de
Pós-Graduação Lato Sensu – Especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens e
Exóticos, Centro Universitário da Grande Dourados, Mato Grosso do Sul. 2011.
HELENO, A. R.; SANTOS, L. M.; MIGLINO, M. A.; PERES, J. A.; GUERRA, R. R. Biometria, histologia
e morfometria do sistema digestório do cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) de vida livre. Revista
Biotemas, v. 24, n. 4, 2011.
HERNANDEZ-DIVERS, S.; QUSE, V.; MAY JR, J. A.; DE THOISY, B.; VANSTREELS, R. E. T.;
MARQUES, P. A. B.; TORRES, I. L. Manual de medicina veterinária de antas em campo. IUCN/SSC
TAPIR SPECIALIST GROUP (TSG), 2007.
HICKMAN, C. ROBERTS, L; LARSON, A. Integrated principles of Zoology. 11 ed. Boston: McGramHill. 2001. 234 p.
HOLANDA, E. C. Os Tapiridae (Mammalia, Perissodactyla) do pleistoceno superior do estado de
Rondônia, Brasil. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de
Geociências. Programa de Pós-Graduação em Geociências. Porto Alegre, RS. 2007.
HUBBE, A. Contextualização Taxonômica e Morfométrica dos Remanescentes Ósseos da Megafauna
da Gruta Cuveri (MG), Um Sitio Paleontológico do Pleistoceno Tardio. Dissertação de Mestrado –
Instituto de biociências da USP. Departamento de genética e biologia evolutiva 2008.
INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL NOMENCLATURE.
Nomina anatomica veterinária. 5. ed. (rev.) Knoxville: World Association on Veterinary Anatomist, 2012.
177 p.
KÖNIG, H. E.; LIEBICH, H. G. Anatomia dos Animais Domésticos – Aparelho Locomotor. Porto
Alegre, Artmed, 2002. v. 1. 269 p.
LIMA, V. M.; PEREIRA, F. C.; PEREIRA, K. F. Estudo Morfológico dos Músculos do Antebraço de MãoPelada, Procyon cancrivorus CUVIER, 1798. Bioscience Journal, v. 26, n. 1, p. 109-114, 2010.
MEDICI, E. P. Family Tapiridae (Tapirs). In: Wilson, D. E. & Mittermeier, R. A. Handbook of the mammals
of the world – Volume 2: Hoofed Mammals. Lynx Edicions. 2011, 886p.
PADILLA, M.; DOWLER, R. C. Tapirus terrestris. Mammalian Species, New York, v.2, no. 481, p. 1-8, 3
figs., 1994.
PAGLIA, A. P., FONSECA, G. A. B. da, RYLANDS, A. B., HERRMANN, G., AGUIAR, L. M. S.,
CHIARELLO, A. G., Leite, Y. L. R., COSTA, L. P.; SICILIANO, S.; KIERULFF, M. C. M.; MENDES, S.
L.; TAVARES, V. da C.; MITTERMEIER, R. A. e PATTON, J. L. Lista Anotada dos Mamíferos do
Brasil / Annotated Checklist of Brazilian Mammals. 2ª Edição / 2nd Edition. Occasional Papers in
Conservation Biology, No. 6. Conservation International, Arlington, VA. 2012. 6pp.
RAMSAY, C. R.; ZAINUDDIN, Z. Z. Infectious diseases of the rhinoceros and tapir. In: FOWLER, M.
E.: Zoo and Wild Animal Medicine, 3. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, p.459-466, 1993.
SANTOS, A. C dos; BERTASSOLI, B. M.; OLIVEIRA, V. C. de.; CARVALHO, A. F. de., ROSA, R. A.;
MANLANERES, C. A. F.; Morfologia dos músculos do ombro, braço e antebraço do quati (Nasua nasua
Linnaeus, 1758). Revista Biotemas, 23 (3), setembro de 2010a.
Universidade Federal de Uberlândia
37
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
SANTOS, A. C dos; BERTASSOLI, B. M.; ROSA, R. A. AL.; CARVALHO, A. F. de., ROSA, R.
A.;MANLANERES, C. A. F Miologia Comparada Do Membro Torácico Do Mão-pelada (Procyon
Cancrivorus, G. CUVIER, 1798). Revista da FZVA.Uruguaiana, v.17, n.2, p. 262-275. 2010b.
SOUZA, J. B. S. FILHO, J. A. C. L. CRUZ, J. A. L. O., SANTOS, R. M B. Estudo Da Anatomia Comparada
Entre As Escápulas Dos Esqueletos Do Museu De Anatomia Da UFRPE Como Complemento De Aulas De
Osteologia. XII Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFRPE, 2012. Disponível em:
<<http://www.eventosufrpe.com.br/eventosufrpe/jepex2009/cd/resumos/R1105-2.pdf>>. Acesso em 11 de
Novembro de 2012.
THOMASSIAN, A. Enfermidades dos cavalos. 4. ed. São Paulo: Livraria Varela, 2005. 573p.
VARELA, G. Osteología y miología de lós miembros anterior e posterior del venado de campo
(Ozotoceros bezoarticus). 2010. 51 f. Tesina (Licenciatura en Ciências Biológicas) – Universidad de La
República Uruguay, Uruguay, 2010.
VARVRUK, J. W. A importância do estudo da anatomia humana para o estudante da área de saúde.
Faculdade de Medicina, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Maringá. O anatomista.
Ano 3, Volume 2, Abril-Junho, 2012.
Universidade Federal de Uberlândia
38
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ANORMALIDADES MORFOLÓGICAS DOS ESPERMATOZOIDES DE JACARÉ TINGA
CAIMAN CROCODILUS LINNAEUS, 1758
Abnormal morphological in spectacled caiman spermatozoa Caiman crocodiles Linnaeus, 1758
Assumpção,T.I.1; Santos, A.L.Q.1; Santos, R.B.2; Souza, J.A.2*
1
Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres, 2 Graduandos de Medicina veterinária
Faculdade de Medicina Veterinária - Universidade Federal de Uberlândia – Uberlândia/ MG.
1
[email protected], (34) 3218-2248, *[email protected], (34) 9767-6777
RESUMO
A reprodução assistida de répteis ainda é muito pouco explorada, com poucas informações sobre as
características do sêmen destes animais. Esta pesquisa teve como objetivo conhecer as alterações
morfológicas dos espermatozoides no sêmen do jacaré tinga (Caiman crocodilus). Utilizou-se sêmen de seis
jacarés coletados pelo método de eletroejaculação e a morfologia espermática foi avaliada utilizando
microscopia óptica de contraste de fase (câmara úmida) e também lâminas coradas com May-GrunwaldGiemsa. A média dos defeitos totais dos espermatozoides foi de 19,9%, com a presença de seis tipos de
defeitos: cauda dobrada, cauda enrolada, contorno anormal da cabeça, gota citoplasmática proximal, cabeça
isolada normal e cauda enrolada na cabeça. Os espermatozoides de jacaré tinga apresentam uma pequena
taxa de anormalidades morfológicas, fornecendo indícios de elevada taxa de fertilidade. Há poucos relatos
sobre a morfologia espermática em répteis e novas pesquisas deverão ser desenvolvidas para classificar as
anormalidades espermáticas nestes animais, particularmente nos jacarés.
Palavras-chave: reprodução, répteis, sêmen
ABSTRACT
Assisted reproduction of reptiles is still little explored and there is also few information on the
semen characteristics of these animals. This research aimed to meet the morphological changes of the
spectacled caiman´s (Caiman crocodilus) sperm. We used six caiman´s semen collected by electroejaculation
method. The sperm morphology was evaluated using optical phase contrast microscopy (humid chamber)
and slides stained with May- Grunwald - Giemsa. The average total sperm defects was 19.9% and six types
of defects were identified: bent tail, coiled tail, abnormal head shape, proximal cytoplasmic droplet, head
isolated normal and tail wrapped around the head. This caiman´s sperm exhibit a small percentage of
morphological abnormalities, providing evidence of high fertility rate. There are few reports on sperm
morphology in reptiles and further research should be developed to classify and evaluate sperm
abnormalities in these animals, particularly in alligators.
Key words: reproduction, reptiles, semen
INTRODUÇÃO
Os jacarés tinga (Caiman crocodilus) são répteis pertencentes à subclasse Archosauria, a ordem
Crocodilia, a família Alligatoridae e a subfamília Alligatorinae (SBH, 2014).
A reprodução dos jacarés, tanto em condições naturais como em cativeiro, tem recebido considerável
atenção, particularmente devido a suas aplicações no manejo. As atividades das gônadas têm mostrado um
ciclo sazonal, relacionado com os fatores ambientais, como temperatura e nível d´água (GUILLETTE E
MILNES, 2000).
Atualmente um dos maiores obstáculos para o sucesso na reprodução de animais selvagens em
cativeiro é o desconhecimento de informações básicas sobre sua biologia reprodutiva. A reprodução assistida
de répteis ainda é muito pouco explorada, tendo-se ainda poucas informações sobre os métodos de coleta,
avaliação, congelação de sêmen e inseminação artificial. A análise das características do sêmen é de grande
Universidade Federal de Uberlândia
39
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
importância para avaliar o potencial reprodutivo do macho. Pesquisas de Larsen e Cardelhac (1984),
Zacariotti et al. (2007) e Johnston et al. (2014), entre outros, relatam sobre avaliação seminal de répteis,
porém não determinam um padrão para cada espécie.
Na avaliação seminal são analisadas as características físicas (volume, cor, aspecto, motilidade, vigor e
concentração) e morfológicas (anormalidades dos espermatozoides em sua cabeça, peça intermediária e de
cauda) (CBRA, 2013). Em répteis, há alguns relatos de análises físicas em serpentes (TOURMENTE et al,
2007; ZACARIOTTI E GUIMARÃES, 2010), em tartarugas (TANASANTI et al., 2007) e em crocodilos
(JOHNSTON et al., 2014), porém há poucos estudos da morfologia espermática, com relatos de Innocenti et
al. (2006) e Zacariotti e Guimarães (2010) em serpentes e Johnston et al.(2014) em crocodilos.
As anormalidades espermáticas estão associadas com infertilidade na maioria das espécies estudadas
devido a seu importante papel na fecundação. Em mamíferos, aves e peixes as alterações morfológicas já
foram classificadas pelo Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA, 2013) e também estudadas por
Miliorini et al. (2011) e Kavamoto et al. (1999) em peixes e por Johnston et al. (2014) em crocodilos de água
salgada (Crocodylus porosus), porém são escassas as informações em jacarés. Em jacarés tinga (Caiman
crocodilus), Assumpção e Santos (2013) verificaram a morfologia normal da célula espermática que
apresenta um contorno filiforme com extremidade pontiaguda com um formato em “S”, medindo 80.984 µm
de comprimento total.
Diante das poucas informações sobre as anormalidades espermáticas em jacarés, esta pesquisa
procurou conhecer as alterações morfológicas dos espermatozoides no sêmen do jacaré tinga (Caiman
crocodilus).
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa utilizou sêmen de seis jacarés tinga (Caiman crocodilus) coletado pelo método de
eletroejaculação (SANTOS et al., 2013) de animais de vida livre sob licença nº 13159-1/SISBIO, na Fazenda
Celeste, município de Araguaiana, Mato Grosso.
As análises foram realizadas no laboratório de Reprodução Animal da Universidade Federal de
Uberlândia (Uberlândia/MG), onde foram avaliadas a morfologia espermática normal e os defeitos
apresentados pelas células em sua cabeça, peça intermediária e cauda, utilizando microscopia óptica de
contraste de fase (câmara úmida) e também lâminas coradas com May-Grunwald-Giemsa. Foram avaliadas
em cada lâmina um total de 100 células. As características morfológicas das células foram registradas com a
utilização de lâmina corada em microscopia de luz com captura de imagem em aumento de 1000 X.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O valor médio da porcentagem de espermatozoides com anormalidades na cabeça, peça
intermediária e cauda apresentado no sêmen dos jacarés tinga foi de 19,9%.
Como ainda não há classificação de defeitos proposta para os répteis, particularmente para jacarés,
utilizou-se como referência a classificação já existente para mamíferos (CBRA, 2013) e de peixes
(KAVAMOTO et al.,1999 e MILIORINI et al., 2006). Verificou-se 80,1% de células morfologicamente
normais e a presença de seis tipos de defeitos, sendo eles: cauda dobrada (8,8%), cauda enrolada (4,0%),
contorno anormal da cabeça (2,6%), gota citoplasmática proximal (2,6%), cabeça isolada normal (1,4 %) e
cauda enrolada na cabeça (0,5%).
A Figura 1 apresenta a morfologia normal e os diferentes tipos de anormalidades morfológicas
observadas nos espermatozoides dos jacarés tinga.
Universidade Federal de Uberlândia
40
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A
B
C
D
E
F
G
Figura 1. Microscopia em lâmina corada com May-Grunwald-Giemsa (aumento de 1000 x), apresentando os
defeitos morfológicos nos espermatozoides dos jacarés tinga (Caiman crocodilus). A) Espermatozoide com
morfologia normal; B) cauda dobrada; C) cauda enrolada; D) contorno anormal da cabeça; E) cauda enrolada
na cabeça; F) gota citoplasmática proximal; G) cabeça isolada normal.
Nos espermatozoides de jacaré tinga verificou-se 19,9% de defeitos totais nas células espermáticas,
quantidade esta muito menor que a verificada por Johnston et al. (2014) em crocodilos de água salgada
(Crocodylus porosus) que foi de 48,8%, porém mais elevada que a encontrada em peixes por Kavamoto et al.
(1999) que foi de 9,54% de defeitos morfológicos totais e também por Miliorini et al. (2011). Já em
mamíferos, segundo o CBRA (2013), o nível aceitável de defeitos totais varia de 20 a 30% de acordo com a
espécie.
Trabalhos referentes às anormalidades dos espermatozoides de répteis são escassos. A determinação
destes defeitos poderá servir de parâmetro para mais pesquisas que irão subsidiar uma classificação própria
para répteis, em especial os jacarés. Verificando-se a reduzida porcentagem de defeitos nas células
espermáticas, pode-se presumir a alta qualidade do sêmen dos jacarés tinga (Caiman crocodilus) e espera-se
também que apresentem uma alta taxa de fertilidade.
CONCLUSÃO
A técnica de coloração com May-Grunwald-Giemsa mostrou-se eficiente para o estudo da
morfologia do sêmen em jacarés tinga.
Os espermatozoides de jacaré tinga apresentam uma pequena taxa de anormalidades morfológicas
(quantidade e qualidade), fornecendo indícios de elevada taxa de fertilidade.
Universidade Federal de Uberlândia
41
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
REFERÊNCIAS
ASSUMPÇÃO, T.I.; SANTOS, A.L.Q. Morfologia dos espermatozoides de jacaré tinga (Caiman crocodilus
Linnaeus, 1758). In: XX Congresso Brasileiro de Reprodução Animal, 2013, Uberlândia/MG. Anais... Belo
Horizonte: CBRA, 2013, v. 01, p. 215.
CBRA - COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL. Manual para exame andrológico e
avaliação de sêmen animal, 3ª ed., Belo Horizonte: CBRA, 104 p., 2013.
GUILLETTE, L., MILNES, M. Recent observations on the reproductive physiology and toxicology of
crocodilians. In: G. GRIGG, F. SEEBACKER E C. FRANKLIN (orgs). Crocodilian Biology and
Evolution. Surrey Beatty and Sons, chipping Norton, NSW, 2000.
INNOCENTI, M.C., ZACARIOTTI, R.L., BETKOWSKY, S.E., GUIMARÃES, M.A.B.V. Avaliação do
espermograma, validação da coloração simples do acrossoma e da atividade mitocondrial (citocromo C
oxidase) em espermatozoide normal de cascavel (Crotalus durissus terrificus). In: Congresso da Associação
Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens, 10, 2006, São Pedro, SP. Anais... São Pedro, SP:
ABRAVAS, 2006, p.166.
JOHNSTON, S.; LEVER, J.; MCLEOD, R.; OISHI, M.; COLLINS, S. Development of breeding
techniques in the crocodile industry. 1ª ed., Kingston: Rural Industries Research and Development
Corporation, 66p., 2014.
KAVAMOTO, E.T.; BARNABE, V.H.; CAMPOS, B.E.S.; ANDRADE-TALMELLI, E.F. Anormalidades
morfológicas nos espermatozoides do curimbatá, Prochilodus lineatus (Steindachner,1881). Boletim do
Instituto de Pesca, v.25, p.61-66, 1999.
LARSEN, R.E., CARDEILHAC, P.T. Artificial insemination, semen handling, and assessment of
reproductive status in alligators. In: Annual Meeting of American Association of Zoo Veterinarians, 1984.
Proceedings... Lawrence, KS: AAZV, 1984, p.159.
MILIORINI, A.B.; MURGAS, L.D.S.; ROSA, P.V.; OBERLENDER, G.; PEREIRA, G.J.M.; COSTA, D.V.
A morphological classification proposal for curimba (Prochilodus lineatus) sperm damages after
cryopreservation. Aquaculture Research, v.42, p.177-187, 2011.
SANTOS, A.L.Q.; ASSUMPÇÃO, T.I.; PIMENTA, C.C.; KAMINISHI, A.P.S. Coleta de sêmen em Jacaré
Tinga (Caiman crocodilus, Linnaeus, 1758). In: XX Congresso Brasileiro de Reprodução Animal, 2013,
Uberlândia/MG. Anais... Belo Horizonte: CBRA, 2013, v. 01, p. 213.
SBH - SOCIEDADE BRASILEIRA DE HERPETOLOGIA. 2014. Lista brasileira de répteis. Disponível
em: http://www.sbherpetologia.org.br. Acesso em: 16 de abril de 2014.
TANASANTI, M., SUJARITTHANYATRAKUL, C., DHANARUN, K., SAHATRAKUL, K.,
SAKORNCHAROUN, P., MANAWATTHANA, S., SANYATHITISEREE, P., SIRINARUMITR, K.
Electroejaculation and semen evaluation in olive ridley turtle (Lepidochelys olivacea) and hawksbill turtle
(Eretmochelys imbricata) in Thailand. In: 4th International Symposium on SEASTAR 2000 and Asian Biologging Science, 2007. Phuket, Thailand, p.29-32.
TOURMENTE, M.; CARDOZO,G.A; GUIDOBALDI, H.A.; GIOJALAS, L.C.; BERTONA, M.;
CHIARAVIGLIO, M. Sperm motility parameters to evaluate the seminal quality of Boa constrictor
occidentalis, a threatened snake species. Research in Veterinary Science, v.82, p. 93–98, 2007.
Universidade Federal de Uberlândia
42
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ZACARIOTTI, R.L., GREGO, K.F., FERNANDES, W., SANT‟ANNA, S.S., GUIMARÃES, M.A.B.V.
Semen collection and evaluation in free-ranging Brazilian rattlesnakes (Crotalus durissus terrificus). Zoo
Biol., v.26, p.155-160, 2007.
ZACARIOTTI, R.L.; GUIMARÃES, M.A.B.V. Aplicações da biotecnologia na reprodução de serpentes.
Rev. Bras. Rep. Anim., v.34 (2), p.98-104, 2010.
Universidade Federal de Uberlândia
43
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ATENDIMENTO DE AVES DE RAPINA ENCAMINHADAS POR MOTIVO DE
ATROPELAMENTO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE UBERABA, MINAS GERAIS, BRASIL
ENTRE OUTUBRO DE 2010 E FEVEREIRO DE 2012
Barros, R.F.¹; Nalla, S.F.¹; Gonçalves, K.A.M.¹; Castro, M.T.¹; Andrade, N.L.P.¹; Kanayama, C.Y.¹
1Membro do „Projeto Atropelados: monitoramento e conservação da fauna de estrada‟- Uberaba-MG
[email protected]; (34)96762056
RESUMO
As aves não são consideradas previamente afetadas pelos acidentes com veículos em rodovias,
embora diversos estudos demonstrarem que estão entre os grupos com maior número de indivíduos
contabilizados. Poucos são os estudos que apresentem dados sobre o efeito das estradas sobre o grupo das
aves de rapina. O objetivo do presente trabalho é apresentar dados sobre aves de rapina encaminhadas ao
setor clínico do Hospital Veterinário de Uberaba (HVU) (Minas Gerais, Brasil) por motivo de atropelamento
e compará-los com dados de monitoramento de rodovias da região. Foram avaliadas fichas de 169 animais
silvestres encaminhados ao HVU por motivo de atropelamento entre outubro de 2010 e fevereiro de 2012.
Durante o mesmo período, foram realizados monitoramentos quinzenais de duas importantes rodovias da
região (MG-427 e BR-050) com o intuito de catalogar as principais espécies de aves de rapina atropeladas,
bem como aquelas que usam os acostamentos como área de vida. Dos 169 animais silvestres atropelados no
período citado, 40,83% (69 animais) eram aves. Destas, 13,04% (9 indivíduos) eram aves de rapina,
distribuídas por 3 ordens, 3 famílias e 5 espécies. A ordem dos falconiformes foi aquela com maior número
de indivíduos atropelados (7). Do total de 203 carcaças catalogadas, 35,96% (73 animais) representam a
classe das aves. Destas 73 carcaças, 53,42% (39 animais) eram aves de rapina, distribuídas por 4 ordens, 5
famílias e 9 espécies. Ainda foi possível verificar que das 16 espécies levantadas nas saídas de campo, 08
(50%) já tiveram relatos de passagem pelo HVU. A expectativa é que o número de aves de rapina
atropeladas aumente, visto que espécies raras na região como o Leptodon cayanensis (Latham, 1790) e Asio
clamator (Vieillot, 1808) já passaram pelo setor, indicando a fragilidade deste grupo de animais.
Palavras-chave: ecologia de estradas; falconiformes; atropelamento de aves.
ABSTRACT
The birds are not considered previously affected by vehicle accidents on highways, although several
studies have shown that they are among the groups with the highest number of recorded individuals. There
are few studies that provide data on the effect of roads on the group of raptors. The goal of this study is to
present data on raptors forwarded to the Veterinary Hospital of Uberaba (HVU) (Minas Gerais, Brazil)
clinical sector due to trampling and compare them with data from monitoring of highways in the region.
Records of 169 wild animals submitted to the HVU due to trampling between October 2010 and February
2012 were evaluated. During the same period, biweekly monitoring of two important roads in the region
(MG - 427 and BR - 050) were performed in order to catalog the major species of birds of prey run over as
well as those that use the shoulders as living area. From 169 wild animals get hit in that period, 40.83 % (69
animals) were birds. Of these, 13.04 % (9 individuals) were raptors, spread over 3 orders , 3 families and 5
species. The falconiforms group was the one with the greatest number of individuals run over (7). From the
203 cataloged carcasses, 35.96 % (73 animals) represent the class of birds. Of these 73 carcasses, 53.42 %
(39 animals) were raptors, spread over 4 order, 5 families and 9 species. We found that, 08 (50 %) of the 16
cataloged species in field trips have had reports of passage through the HVU. The expectation is that the
number of raptors run over increase, whereas rare species in the region as Leptodon cayanensis (Latham ,
1790) and Asio clamator (Vieillot , 1808) have gone through the sector, indicating the fragility of this group
of animals.
Key-words: road ecology; falconiforms; bird roadkill.
Universidade Federal de Uberlândia
44
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INTRODUÇÃO
Entre as questões que envolvem a ameaça das espécies da fauna brasileira, a perda por atropelamento
é um problema pouco abordado. Apesar disso, a morte de animais silvestres por atropelamento é reconhecida
como uma das principais causas do declínio de populações de animais (SILVEIRA, 1999). De acordo com
Seiler & Heldin (2006), nas últimas décadas, os atropelamentos passaram a ser mais importantes que a caça
como causa direta de mortalidade de vertebrados terrestres, tendendo a tornar-se uma significativa ameaça a
biodiversidade em países com rápido desenvolvimento.
As aves, de forma subjetiva não são previamente consideradas afetadas, ainda que segundo Erickson
et al (2005) a mortalidade causada por automóveis, somente nos Estados Unidos, alcança 80 milhões de aves
por ano. Dessa forma, as principais contribuições científicas e tecnológicas na área de ecologia de estradas
dá maior atenção aos mamíferos, répteis e anfíbios. Jacobson (2005) destaca, com base na revisão de
trabalhos anteriores e estudos próprios, a necessidade de abordar tanto estudos do impacto das rodovias sobre
as aves como as consequentes medidas de mitigação visto que as medidas implementadas até então para este
grupo são modificações de ações realizadas com outros grupos. As aves de rapina, pela diversidade de
espécies e pelas características biológicas próprias que as permite viver próximo a centros urbanos e grandes
rodovias merecem especial atenção ZAPATA et al, 2006).
Porém, poucos são os trabalhos que buscam associar estes dados com as fichas de entrada de aves de
rapina vítimas de atropelamento nos Hospitais Veterinários do Brasil. O objetivo do presente trabalho é
apresentar dados sobre aves de rapina encaminhadas ao setor clínico do Hospital Veterinário de Uberaba
(HVU) (Minas Gerais, Brasil) e compará-los com dados de monitoramento de rodovias da região.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram avaliadas fichas de 169 animais silvestres encaminhados ao HVU por motivo de
atropelamento entre outubro de 2010 e fevereiro de 2012.
Durante o mesmo período, foram realizados monitoramentos quinzenais de duas importantes
rodovias da região (MG-427 e BR-050) com o intuito de catalogar as principais espécies de aves de rapina
atropeladas, bem como aquelas que usam os acostamentos como área de vida. Em veículo próprio, com
velocidade não superior a 50 km/, dois observadores percorriam os dois trechos (MG-427 possui 70 km de
extensão e BR-050, 95) durante o período da manhã. Ao avistar uma carcaça, o veículo era parado de forma
segura e dados sobre o indivíduo atropelado eram catalogados (foto 01). Da mesma forma, ao visualizar uma
ave pousada, em voo ou realizando outra ação, os observadores estacionavam o veículo próximo ao local
para identificar a ave.
Os dados foram dispostos em tabelas e gráficos, para melhor interpretação.
Foto 01 (esq.) – Observadores durante coleta de dados de ave de rapina atropelada na rodovia BR-050.
Foto 02 (dir.) – Observadores durante identificação de ave de rapina no acostamento da rodovia MG-427.
Fonte: Arquivo pessoal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
-Aves de rapina encaminhadas ao HVU
Universidade Federal de Uberlândia
45
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Dos 169 animais silvestres atropelados no período citado, 40,83% (69 animais) eram aves. Destas,
13,04% (9 indivíduos) eram aves de rapina, distribuídas por 3 ordens, 3 famílias e 5 espécies. A ordem dos
falconiformes foi aquela com maior número de indivíduos atropelados (7) (fotos 03 e 04), indicando que
estes animais são potenciais vítimas de atropelamento nas rodovias da região. Este número significativo de
aves de rapina encaminhadas por motivo de atropelamento remete ao fato destas possuírem uma ampla
variedade de hábitos alimentares e ao alto poder de adaptabilidade aos agroecossistemas, que as colocam em
contato direto com rodovias (JACOBSON, 2005).
Foto 03 – Indivíduo de Gavião-carijó (Rupornis magnirostris, Gmelin, 1788) encaminhado ao HVU em
2011.
Foto 04 – Aves de rapina no setor de internamento do HVU.
Fonte: Cláudio Yudi Kanayama (2011)
-Monitoramento das rodovias
Do total de 203 carcaças catalogadas nas duas rodovias estudadas, 35,96% (73 animais) representam
a classe das aves, com menos registros que a classe dos mamíferos (114 animais) e com números superiores
aos répteis (16 indivíduos) (fig. 01). Destas 73 carcaças, 53,42% (39 animais) eram aves de rapina,
distribuídas por 4 ordens, 5 famílias e 9 espécies (tab. 01).
Figura 01 – Atropelamento de animais silvestres na região de Uberaba, Minas Gerais.
Fonte: Projeto Atropelados (2013).
Fonte: Projeto Atropelados (2013).
Universidade Federal de Uberlândia
46
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Já quando analisamos o levantamento de aves nos acostamentos das rodovias, vemos que das 33
espécies catalogadas, 48,48% (16 espécies) são do grupo das aves de rapina, distribuídas em 4 ordens e 5
famílias. Ainda foi possível verificar que das 16 espécies levantadas nas saídas de campo, 08 (50%) já
tiveram relatos de passagem pelo HVU. A expectativa é que o número de aves de rapina atropeladas
aumente, visto que espécies raras na região como o Leptodon cayanensis (Latham, 1790) e Asio clamator
(Vieillot, 1808) já passaram pelo setor, indicando a fragilidade deste grupo de animais.
CONCLUSÃO
-As estradas possuem alto poder de impacto sobre as aves de rapina na região de Uberaba,
merecendo assim, especial atenção dos pesquisadores;
-A ordem dos falconiformes é aquela que requer maior atenção dos conservacionistas, por ser aquela
com maior número de espécies potencialmente afetadas na região;
-Os estudos em Ecologia das Estradas em associação com outras áreas como a Clínica Veterinária e
Ornitologia pode fornecer uma forte base de dados que permite que Méd. Veterinários estejam preparados
para atender as diversas espécies locais vítimas de atropelamento.
REFERÊNCIAS
ERICKSON, W., G. JOHNSON Y D. YOUNG JR. A summary and comparison of bird mortality from
anthropogenic causes with an emphasis on collisions. USDA Forest Service Gen. Tech. Rep .PSW-GTR191: 1029 – 1042. USA, 2005.
JACOBSON, S. Mitigation measures for highway caused impact to bird. USDA Forest Service Gen. Tech.
Rep. PSW-GTR-191: 1043 – 1050, USA, 2005.
SEILER, A.; HELLDIN, J. Mortality in wildlife due to transportation. In: DAVENPORT, J; DAVENPORT,
J. L. (eds.). The ecology of transportation: managing mobility for the environments. Ireland: University
College Cork, 2006. p. 165-190.
SILVEIRA, L. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque Nacional das Emas, Goiás.
1999. 117 f. dissertação (Mestrado em Biologia) – Curso de Pós-Graduação em Biologia, Universidade
Federal de Goiás, Goiás, 1999.
ZAPATA, P; ARROYAVE, M., C. GÓMEZ, M. GUTIÉRREZ, D. MÚNERA, I. VERGARA, L.
ANDRADE Y K. RAMOS. Impactos de las carreteras sobre la fauna silvestre y sus principales medidas de
manejo. Revista EIA (5): 45-57. Colombia, 2006.
Universidade Federal de Uberlândia
47
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
AVALIAÇAO DO NÍVEL DE LACTATO SANGUÍNEO EM TUCANOS TOCO (RAMPHASTOS
TOCO)
BARROSO, R.M.V.1, SANTOS, A.L.Q.2, RODRIGUES, T.C.S.3, SIQUEIRA, S. E.4, GUIMARAES, E. C.5
1-Doutorando em Ciências Veterinárias (PPGCV/UFU) e Coordenador do curso de Medicina Veterinária da
Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA), Santa Teresa – Espírito Santo. ([email protected] /
027-32593997)
2- Professor da Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV/UFU)
3- Mestranda em Ciências Veterinárias (PPGCV/UFU) ([email protected] / 034-88612836)
4- Médica veterinária
5- Professor da Faculdade de Matemática (FAMAT/UFU)
RESUMO
A mensuração da concentração sanguínea de lactato é utilizada na monitoração sistêmica e local da
hipoperfusão e como indicador prognostico em pacientes criticamente enfermos. Objetivou-se determinar os
valores de lactato sanguíneo de 17 tucanos toco (Ramphastos toco), utilizando lactímetro portátil. A
concentração média desse marcador foi de 5,45 mMol (±2,47) e observou-se grande variação de resultados
entre os indivíduos. A falta de estudos sobre a utilização do lactato sanguíneo em aves com objetivo de fator
prognóstico em doenças, demonstra a necessidade de mais estudos.
Palavras-Chave: Aves, Hipoperfusão, Marcador, Prognóstico, Sangue.
ABSTRACT
The measurement of lactate blood concentration is used to monitor systemic and local hypoperfusion
and forecasting as an indicator in critically ill patients. This study was performed aiming to recognize the
blood lactate values of 17 toco toucans (Ramphastos toco), using a portable lactometer. The average
concentration of this marker was 5.45 mMol (± 2.47) and we saw great variation in results between
individuals. The lack of studies on the use of blood lactate in birds with aim of prognostic factor in diseases,
demonstrates the need for further studies.
Key words: Birds, Blood, Hypoperfusion, Marker, Prognosis.
INTRODUÇÃO
O tucano toco (Ramphastos toco), é o maior representante da Família Ramphstidae (CUBAS, 2007;
FRANÇA et al, 2009) e sua distribuição se restringe às regiões neotropicais da América, do México até a
Argentina. Ocorre em todos os biomas brasileiros, mas principalmente no Cerrado, Pantanal e florestas do
interior do País (SICK, 1997). De maneira geral, os tucanos são aves notáveis pela beleza, formato e
coloração do bico (ALVARENGA, 2004). Possuem dieta baseada em frutos carnosos, ovos, pequenos
vertebrados e pássaros neonatos de outras espécies (RAGUSA-NETTO, 2006).
A espécie R. toco é citada no apêndice II da CITES (IUCN-WCMC, 2013) como espécie não
ameaçada de extinção, mas que pode tornar-se a menos que medidas de conservação e preservação sejam
tomadas. Os tucanos estão entre os animais brasileiros mais comercializados no tráfico de animais silvestres
(ROCHA, 1995) no país e no exterior. Apesar de não constar no Livro Vermelho da Fauna Brasileira
Ameaçada de Extinção (BRASIL, 2008), os danos causados pela captura ilegal às populações de tucano toco
ainda são desconhecidos, mas sabe-se que apresentam ameaça à sua conservação (SZB, 1996-2006).
A importância ecológica do tucano toco é indiscutível. Pizo et al (2008), apontam a espécie como
responsável por mais de 80% da dispersão de sementes da árvore utilizada como ninho por araras-azuis
(Anodorhynchus hyancinthinus), aves em extinção, e atuam como importantes dispersores de sementes de
várias outras espécies de árvores neotropicais (HOWE, 1993). Ainda assim, os tucanos permanecem pouco
estudados e as pesquisas têm se iniciado principalmente em animais de cativeiro, buscando esclarecer
Universidade Federal de Uberlândia
48
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
aspectos da biologia e hábitos de vida desses animais (CZIULIK, 2010), sendo o estudo de sua fisiologia
ainda muito escasso e infrequente. Estudos em animais de vida livre são ainda mais raros e quando ocorrem,
são geralmente relacionados aos hábitos alimentares da espécie (HOWE, 1993; GALETTI et al, 2000;
RAGUSA-NETTO, 2006).
Durante o período de internação de exemplares provenientes principalmente do tráfico, exames
semiológicos e clínicos são realizados para verificar o estado de saúde destes animais. A utilização de
marcadores mais eficientes podem demonstrar um status real de sua sanidade e, com isso, assegurar que eles
sejam soltos em condições de competir pela sobrevivência. Concentração de lactato sanguíneos é utilizada
freqüentemente em pacientes críticos para identificar hipóxia tecidual, e seus valores tem sido referenciados
como marcadores prognósticos em diversos cenários incluindo pacientes humanos com traumas, sepse ou
doenças cardíacas e cães com dilatação/vólvulo gástrico e babesiose. Concentração de lactato sanguíneo em
Tucanos Toco nunca foi descrita anteriormente (BURGDORF-MOISUK, et al, 2012).
Numerosos estudos tem demonstrado a relação entre o nível de lactato sérico e o equilíbrio entre a
disponibilidade (DO2) e o consumo (VO2) de oxigênio tecidual. O lactato sérico se relaciona também com a
capacidade de utilização do oxigênio por parte da mitocôndria, tanto em processos fisiológicos (exercício),
como em processos patológicos (choque, sepsis, etc) (CASTANGNINO, et al, 1998). A mensuração do
lactato é utilizada na detecção e monitoração sistêmica e local para hipoperfusão e como indicador
prognostico em pacientes criticamente enfermos. Esta hiperlactatemia tem sido associada com a morte deste
pacientes enfermos (CASTANGNINO, et al, 1998). O objetivo deste trabalho foi descrever os níveis de
lactato sérico em tucanos toco visando iniciar uma linha de pesquisa utilizando esta análise como marcador
biológico prognóstico nesta espécie.
MATERIAIS E MÉTODOS
Utilizou-se 17 Ramphastos toco de vida livre, mantidos temporariamente em cativeiro no
Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Selvagens (LAPAS) da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU). Todos foram capturados pela Polícia Ambiental ou IBAMA e encaminhados ao LAPAS para
tratamento, reabilitação e posterior soltura. A contenção física dos animais foi feita de acordo com o
recomendado por Fowler (2008). Segurou-se o bico fechado com uma mão e com a outra foi feita a
contenção das asas, corpo e pernas, de maneira que não restringisse os movimentos respiratórios.
A coleta de sangue foi feita utilizando a veia tarsometatársica medial, como sugerido por Mitchell e
Tully-Jr. (2009), com seringas estéreis descartáveis de 3 ml e agulhas 13 x 4,5, indicadas para coleta de
sangue de aves por Clark et al (2009). A análise do lactato plasmático foi realizada utilizando o aparelho
portátil Accutrend Plus da Roche que faz análise através de fotometria de reflectância. Foi realizada uma
análise descritiva dos dados obtidos e aplicado o teste de Kolmogorov-Smirnov com P=0,4258.
RESULTADOS E DISCUSSAO
A concentração sanguínea de lactato média dos animais desse estudo foi de 5,45 mMol (±2,47). O
coeficiente de variação foi de aproximadamente 45%, indicando que houve grande variação entre os
indivíduos. A validação do método de determinação para o lactato em aves ainda não foi feita e são
necessários mais estudos para determinar também os valores basais, pois o espectro de variação em aves
parece ser muito amplo (Vila, 2013). Pesquisas comparativas entre vários aparelhos mostraram diferenças
significativas nos resultados, porém possuindo correlação entre eles (BURGDORF-MOISUK et al., 2012).
A elevação do lactato tanto pode ocorrer pelo aumento da produção, como pela diminuição do
metabolismo pelo fígado, rins e coração. Também pode acontecer por taxa glicolítica elevada ou anomalias
nas mitocôndrias.
Vários estudos relacionam as elevações do lactato à resposta a estímulos estressantes, sobretudo
estresse agudo relacionada com a contenção e o transporte (HARMS & HARMS, 2012). Isto é mais
pronunciado em animais de vida livre, que não estão acostumados a tais manejos (BURGDORF-MOISUK et
al., 2012).
Em aves de rapina, observou-se que os valores de lactato atingiram o pico aos dois minutos pós
exercício e gradualmente decresciam até os valores iguais ou inferiores aferidos previamente ao vôo. Este
Universidade Federal de Uberlândia
49
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
processo demorava 10 minutos nas aves treinadas, enquanto que nas que não estavam acostumadas à prática
de exercício, o pico de lactato era maior e a recuperação dos valores basais, mais demorada. Estas medidas
eram utilizadas para controlar o momento de soltura, que só deve ser feita quando a ave apresenta uma boa
forma física (HARR, 2002; HARMS & HARMS 2012).
HARMS & HARMS (2012), pesquisaram o valor do lactato sanguíneo em Zenaida macroura,
Quiscalus major e Passer domesticus imediatamente coletado apos a captura. Foram encontradas as médias
de 7,72, 5,74 e 4,77 respectivamente. Comparativamente aos resultados encontrados em nosso trabalho com
valores entre 4,2 e 6,7 mMol/L, as diferenças podem estar ligadas ao estresse de captura, uma vez que os
tucanos utilizados estavam em cativeiro provisório com certo hábito de convivência com os tratadores,
reduzindo assim o estresse.
Em pingüins, foi realizado um estudo para avaliar a concentração apos o mergulho. Nestes animais,
os valores basais encontrados 1,2 – 2,7 mMol/L. Após 5 minutos de mergulho, os valores atingiam a media
entre 5 a 8 Mmol/L, necessitando de 7 a 12 minutos para reduzir a menos que 2,8 mMol/L (PONGANIS,
1997).
Em pinquins imperadores, após o mergulho o valor médio, relativamente maior que os encontrados
em tucanos, pode estar relacionado a sua adaptação evolutiva para manutenção de apnéia para deslocamentos
e caça, este valor pode sofrer intensa variação de acordo com a velocidade da natação associada ao maior
consumo de oxigênio.
Apresentando um valor basal médio após 5 minutos de retorno a superfície mais baixo que os
encontrados em nosso estudo, também, podemos concluir, considerando os achados de Ponganis, 1997, que a
evolução para ser uma ave aquática permite o metabolismo mais rápido do lactato e com a normalidade de
suprimento de oxigênio a condição de anaerobiose se altera rapidamente.
A falta de estudos sobre a utilização do lactato sanguíneo em aves com objetivo de fator prognóstico
em doenças, demonstra a necessidade de mais estudos nesta espécie. Atualmente, em animais domesticos
como cães e gatos o lactato já é utilizado de maneira rotineira como demonstrado por PAPP e colaboradores
em 1999, onde a taxa de sobrevivência em cães com uma concentração plasmática de lactato menor que 6
mmol/L (99%) foi significativamente maior que a de cães com lactato plasmático maior que 6 mmol/L
(58%), sugerindo que a concentração plasmática de lactato pode ser utilizada como indicador prognóstico
para cães com síndrome da dilatação/vólvulo gástrica e aqueles pacientes com níveis de lactato menores que
6 mmol/L tem um excelente prognóstico de sobrevivência (CASTANGNINO, et al, 1998).
Desta maneira, concluímos que em Tucanos Toco (Ramphastos toco), os valores do lactato
sanguíneo entre 4,2 e 6,7 mMol/L, porém, sendo ainda necessários mais estudos comparando estes resultados
com outros obtidos em animais portadores de patologias específicas, para caracterizar sua utilização como
indicador prognóstico e também de momento de soltura.
REFERÊNCIAS
ALVARENGA, H. Tucanos das Américas. São Paulo: M. Pontual Edições e Arte, 2004.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.
Secretaria de Biodiversidade e Florestas, Departamento de Conservação da Biodiversidade. Biodiversidade
19, Brasília, DF, 2008.
CLARK, P.; BOARDMAN, W.; RAIDAL, S. Atlas of Clinical Avian Hematology. Wiley-Blackwell, Iowa,
USA, 2009.
CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de Animais Selvagens. Rocca, 2007.
CZIULIK, M. Cuidado parental de Selenidera maculirostris, Pteroglossus castanotis e Ramphastos toco
(Piciformes – Ramphastidae), no interior de ninhos. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2010.
FOWLER, M. Restraint and Handling of Wild and Domestic Animals. 3 Ed. Blackwell Publishing, Iowa,
USA, 2008.
Universidade Federal de Uberlândia
50
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
FRANÇA, L. F.; RAGUSA-NETTO, J.; PAIVA, L. V. Consumo de frutos e abundância de Tucano Toco
(Ramphastos toco) em dois hábitats do Pantanal Sul. Biota Neotrop., 9(2), 2009.
GALETTI, M.; LAPS, R.; PIZO, M. A. Frugivory by toucans (Ramphastidae) at two altitudes in the Atlantic
Forest of Brazil. Biotropica, 32 (4b): 842-850, 2000.
HOWE, H. F. Specialized and generalized dispersal systems: where does „the paradigm‟ stand? In Frugivory
and seed dispersal: Ecological and Evolutionary aspects. Kluwer Academic Publishers, Belgium, p. 3-13.
1993.
IUCN-WCMC. UNEP-WCMC Species Database: CITES-Listed em: http://www.unep-wcmcapps.org/isdb/CITES/Taxonomy/tax-gs-search2.cfm/isdb/CITES/Taxonomy/tax-gssearch2.cfm?displaylanguage=eng&GenName=Ramphastos&SpcName=toco. Acessado em 22 de janeiro de
2013.
MICTHELL, M. A. e TULLY-JR, T. N. Manual of Exotic Pet Practice. Saunders Elsevier, Missouri, USA,
2009.
PIZO, M. A.; DONATTI, C. I.; GUEDES, N. M. R.; GALETTI, M. Conservation puzzle: Endangered
hyacinth macaw depends on its nest predator for reproduction. Biological Conservation, 141: 792-796.
2008.
RAGUSA-NETTO, J.; Abundance and frugivory of the Toco Toucan (Ramphastos toco) in a gallery forest
in Brazil‟s southern Pantanal (Brazil). Braz. J. Biol., 66(1A): 133-142, 2006.
ROCHA, F. M. Tráfico de Animais Silvestres. WWF Documento para Discussão, 1995.
SICK, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
SZB. Programa de Censo da Sociedade de Zoológicos do Brasil. 1996-2006. Disponível na internet
http://www.szb.org.br/Acessado em 22 de janeiro de 2013.
BURGDORF-MOISUK, A; WACK, R.; ZICCARDI, M.; SCOTT LARSEN, R.; HOPPER, K.. “Validation
of lactate measurement in american flamingo (Phoenicopterus ruber) plasma and correlation with duration
and difficulty of capture. Journal of Zoo and Wildlife Medicine, Lawrence, v. 43, n. 3, p. 450– 458, 2012
HARMS, C. A.; HARMS, R. V. Venous blood gas and lactate values of mourning doves (Zenaida
macroura), boat-tailed grackles (Quiscalus major), and house sparrows (Passer domesticus) after capture by
mist net, banding, and venipuncture. Journal of Zoo and Wildlife Medicine, Lawrence, v. 43, n. 1, p. 77–
84, 2012.
HARR, K. E. Clinical chemistry of companion avian species: a review. Veterinary Clinical Pathology,
Santa Barbara, v. 31, n. 3, p. 140–151, 2002.
VILA, L. G. Bioquímica em Aves: revisão de literatura. Seminário apresentado no Programa de Pós
Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de
Goias, 2013. Em <http://ppgca.vet.ufg.br/uploads/67/original_2013_Laura_Vila_2corrig.pdf> Acessado em
03 de marco de 2014.
PONGANIS, P.J., KOOYMAN, G. L., STARKE, L.N., KOOYMAN, C.A. AND KOOYMAN, T.G., POSTDIVE BLOOD LACTATE CONCENTRATIONS IN EMPEROR PENGUINS, APTENODYTES
FORSTERI, The Journal of Experimental Biology 200, 1623–1626 (1997)
Universidade Federal de Uberlândia
51
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Papp, E., Drobatz, K.J. e Hughes, D. Plasma lactate concentration as a predictor of gastric necrosis and
survival among dogs with gastric dilatation-volvulus: 102 cases (1995-1998), The American Veterinary
Medical Association, 1999 Jul 1;215(1):49-52
Universidade Federal de Uberlândia
52
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
CARACTERIZAÇÃO PARASITOLÓGICA DOS ANIMAIS SILVESTRES E EXÓTICOS
ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE UBERABA DURANTE NOVEMBRO DE 2010
À AGOSTO DE 2012
ANDRADE, R. L¹; KANAYAMA, C. Y. ² ; BITTAR, J. F. F. ²; NASCIMENTO, F. P. ³ ; OLIVEIRA, N. A.
S. ³; PENA, M. C. V. S.³; SANTOS, M. C. S. M. 4
1- Médica Veterinária, Residente do Hospital Veterinário de Uberaba (UNIUBE/FAZU/ABCZ).
e-mail: [email protected] (34- 9188-8254)
2- Docente do Curso de Medicina Veterinária, Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, MG.
3-Médico Veterinário, graduado pela Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, MG
4- Graduando em Medicina Veterinária, Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, MG.
RESUMO
A pesquisa de parasitas em animais selvagens é importante para uma avaliação do estado sanitário e
fisiológico em que animais de cativeiro são submetidos, com finalidade de prevenção e controle zoonótico
eficiente. Este trabalho tem por objetivo identificar, através de exames parasitológicos, os principais
endoparasitas que acometem os animais silvestres e não convencionais pertencentes à fauna local que foram
submetidos ao atendimento clínico no Hospital Veterinário de Uberaba (HVU) no período de novembro de
2010 à agosto de 2012. Os animais foram contidos fisicamente e, quando necessário, quimicamente para
proceder à coleta de fezes diretamente da ampola retal. Posteriormente, as amostras foram processadas e
submetidas às técnicas coproparasitológicas de Willis- Mollay para a pesquisa de ovos e oocistos; e de ZiehlNeelsen Modificado para a pesquisa de Criptosporidium. Foram examinadas 116 amostras fecais, sendo:
répteis (n=28), canídeos (n=8), felídeos (n=6), lagoformos (n=19), aves (n=40), roedores (n=13),
procionídeos (n=1), e primatas (n=1). Concluimos neste trabalho, a presença de endoparasitas e
Criptosporidium em 22,4 % das amostras analisadas, sendo três amostras positivas tanto para o Teste de
Willis quanto para o Teste de Ziehl- Neelsen Modificado
Palavras-chave: Parasitos, animais selvagens, exames de fezes
ABSTRACT
The Parasitological research of wild animals shows an important matter to evaluate sanitary, helth
and fisiological status of animals in captivity, making possible diseases prevention and efficient zoonotic
control. The present work approaches identification, through parasitological tests, of main wild animals
endoparasites that have been assisted at Uberaba Veterinarian Hospital (HVU) during november 2010 untill
august 2012. The animals were physically contained and sedated when necessary to collect faeces directly
from rectum. The samples were taken to coproparasitological procedures such as Willis- Mollay, for eggs and
oocists fidings, and Modified Ziehl-Neelsen for Criptosporidium research. There were 116 faeces samples,
where there were: repteils (n=28), canids (n=8), felids (n=6), lagomorphs (n=19), birds (n=40), rodents
(n=13), racoons (n=1), e primates (n=1). In conclusion, there were endoparasites and Criptosporidium into
22,4 % of analyzed samples, where three were positive for both Willis Test and Modified Ziehl- Neelsen
Test.
Key words: parasites, wild animals, faeces exams tests.
Universidade Federal de Uberlândia
53
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
1 INTRODUÇÃO
Na medicina de animais selvagens, os exames laboratoriais podem ser considerados métodos para
diagnosticar e prevenir doenças, inclusive como bioindicador de qualidade ambiental, uma vez que a saúde
do meio ambiente influencia na biologia e ecologia dos organismos que vivem nele (CRIZÓSTIMO, 2008).
A pesquisa de parasitas em animais silvestres é uma ferramenta para o estudo sanitário de uma
população e da qualidade do ambiente, podendo, assim, compreender determinadas relações entre os
parasito-hospedeiro e o meio ambiente em que vivem (CRIZÓSTIMO, 2008).
Este trabalho tem por finalidade identificar, caracterizar e quantificar utilizando exames
parasitológicos, os principais endoparasitas que acometem os animais silvestres e exóticos atendidos no
Hospital Veterinário de Uberaba, durante o período de novembro de 2010 a agosto de 2012.
2 METODOLOGIA
2.1 COLETA DA AMOSTRA
As amostragens de fezes foram procedidas de todos os animais silvestres e exóticos que foram
atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba, uma vez que é uma técnica não invasiva e fornece
informações importantes sobre a população parasitária do local e suas relações interespecíficas dentro do
ecossistema.
As fezes foram coletadas após contenção adequada dos animais e obtidas por meio de massagem da
região perineal, injetando solução fisiológica no reto do animal com o auxílio de uma sonda uretral
(numeração específica para cada indivíduo), com cuidado para evitar contaminação cruzada das amostras,
que foram, em seguida, acondicionadas em frascos coletores estéreis próprios para a amostragem,
identificadas, lacradas e mantidas sob refrigeração em caixa isotérmica até a chegada ao laboratório. No
laboratório as amostras ficaram sob refrigeração até o seu processamento.
2.2 EXAMES LABORATORIAIS
Para o processamento das amostras foram utilizadas as de técnicas de flutuação de Willis- Mollay
para a pesquisa de cistos de protozoários e ovos de helmintos (AMATO NETO; CORRÊA, 1991); e a
técnica de Ziehl-Neelsen modificada para a pesquisa de Criptosporidiose (HENRIKSEN; POHLENZ, 1981).
2.2.1 TÉCNICA DE WILLIS- MOLLAY
Essa técnica consiste na adição de uma solução hipersaturada de NaCl em uma quantidade estimada
de 2 g da amostra, que posteriormente é homogeneizada em um béquer. A solução após homogeneização é
colocada em um tubo de ensaio, o suficiente para preenchê-lo, e acomoda-se uma lâmina sobre o tubo em
contato direto com a solução por aproximadamente cinco minutos. Dessa forma, os possíveis ovos, oocistos
e cistos de parasitos, quando flutuarem, irão se aderir à lâmina (AMATO NETO; CORRÊA, 1991).
Logo em seguida, é feito o preparo da lâmina com a colocação de uma lamínula, e observada no
microscópio em aumento de 40 ou 100x.
2.2.2 TÉCNICA DE ZIEHL-NEELSEN MODIFICADA
Com o auxílio de um tubo Falcon® (urina), foi pesado um grama de fezes e posteriormente diluído
em 1 ml de formol. Após 10 minutos da diluição, foram acrescidos 1 ml de éter etílico. A seguir, foi
realizada a homogeneização e centrifugação da amostra (Centrífuga Celm ® a 1500 rpm por 5 minutos).
Retirou-se o excesso do sobrenadante com auxílio da pipeta de Pasteur.
O sobrenadante foi depositado em uma lâmina e com o auxilio de uma haste de vidro foi
confeccionado o esfregaço com movimentos circulares. Em seguida, o esfregaço fecal foi coberto com
metanol por 2 minutos. Procedeu-se a lavagem e acrescentou-se a solução de carbol-fucsina por 20 minutos.
Universidade Federal de Uberlândia
54
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Lavou-se com água corrente e a seguir a lâmina foi descorada com ácido sulfúrico a 5% por 30 segundos,
lavando em seguida a lâmina e corando-a com verde malaquita por 2 minutos. O esfregaço foi lavado em
água corrente até retirar o excesso de corante. Após a secagem completa da lâmina observou-se ao
microscópio óptico em objetiva no aumento de 100x.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram examinadas 116 amostras fecais, sendo: répteis (n=28), canídeos (n=8), felídeos (n=6),
lagoformos (n=19), aves (n=40), roedores (n=13), procionídeos (n=1), e primatas (n=1).
As amostras de répteis eram das seguintes espécies: tigre d‟água (Trachemys dorbygni), jacaré
(Caiman latirostris), jabuti (Geochelone carbonaria), jiboia (Boa constrictor). Das 28 amostras analisadas,
apenas 3 apresentaram resultados positivos (10,7 %), sendo de Trachemys dorbygni (n=1) e de Geochelone
carbonaria (n=2).
As oitos amostras de canídeos eram de duas espécies: Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), e
cachorro do mato (Cerdocyon thous), destas amostras, quatro apresentaram resultados positivos (50%),
sendo de Chrysocyon Brachyurus (n=2) e de Cerdocyon thous (n=2). Uma das amostras de Cerdocyon thous
apresentou resultado positivo para os dois testes (Teste de Willis e Ziehl-Neelsen).
As seis amostras de felídeos, pertenciam a duas espécies: Suçuarana ( Puma concolor), e Jaguatirica
(Leopardus pardalis). Apenas uma amostra delas apresentou resultado positivo (16,6%), sendo a da Puma
concolor .
Das 19 amostras de lagomorfos analisadas, todas pertenciam a apenas uma única espécie,
Oryctolagus cuniculus e apenas duas apresentaram resultados positivos (10,5 %), sendo que uma das
amostras apresentou resultado positivo para os dois testes (Teste de Willis e Ziehl-Neelsen).
As amostras de roedores pertenciam as seguintes espécies: Porquinho-da- Índia (Cavia porcellus),
Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), Camundongo (Mus musculus), Rato (Rattus norvegicus). Foram
observados resultados positivos em três amostras (23%), sendo de Hydrochoerus hydrochaeris (n=1), Mus
musculus (n=1), Rattus norvegicus (n=10).
As 40 amostras de aves dividem-se em: Carcará (Caracara plancus), Pomba-amargosa (Patagioenas
plumbea), Seriema (Cariama cristata), Canário-belga (Serinus canarius), Canário da terra (Sicalis flaveola),
Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), Curica (Amazona amazonica), Periquitão-maracanã (Psittacara
leucophthalmus), Suindara (Tyto furcata), Arara-canindé (Ara ararauna), Pavão azul (Pavo cristatus),
Tucano (Ramphastos toco), Mocho do diabo (Asio stigius), Periquito-de-encontro-amarelo (Brotogeris
Chiriri), Urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus), Saracura (Aramides cajaneus), Coruja-buraqueira
(Athene cunicularia), Gavião-carijó (Rupornis magnirostris). Das amostras analisadas 13 apresentaram
resultados positivos (32,5%), sendo de Caracara plancus (n=2), Patagioenas plumbea (n=2), Sicalis flaveola
(n=1), Psittacara leucophthalmus (n=1), Ara ararauna (n=1), Pavo cristatus (n=1), Ramphastos toco (n=2).
As amostras de primata e de procionídeo eram de Mico-tufo-preto (Callithrix penicillata), e Quati
(Nasua nasua), respectivamente, e ambas apresentaram resultados negativos para os dois exames.
Os endoparasitas identificados no Teste de Willis foram: Ancylostoma sp, em duas amostras de
Chrysocyon brachyurus, duas amostras de Cerdocyon thous, e em uma de Hidrochoerus hidrochoeris;
Eimeria sp em dois Oryctolagus cuniculus ; Hymenolepis sp em um Mus musculus, e um Rattus novergicus;
Coccídeos em dois exemplares de Ramphastos toco, uma Ara ararauna e um Pavo cristatus.
Presença de Cryptosporidium sp foi identificada nas amostras de uma Puma concolor, um
Cerdocyon thous, um Trachemys dorbygni, dois Geochelone carbonaria, um Sicalis flaveola,uma Asio
stygius, um Psittacara leucophthalmus, um Brotogeris chiriri, dois Caracara plancus, duas Patagioenas
plumbea, dois Oryctolagus cuniculus, um Rupornis magnirostris.
Segundo GOULART (2004), reptéis são frequentemente acometidos por uma variedade de
endoparasitos, porém neste presente estudo em apenas 10,7 % das amostras analisadas foram encontrados
oocisto de Cryptosporidium spp. CUBAS et al (2007) relata que Cryptosporidium é um dos protozoários de
maior interesse na criação de serpentes.
Esse resultado da presença de Cryptosporidium spp. em Cerdocyon thous (Cachorro do Mato) pode
ser relacionado com o descrito por CUBAS et al (2007), que relata que as infecções por protozoários em
Universidade Federal de Uberlândia
55
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
canídeos selvagens são descritos com frequência, embora muitas dessas sejam assintomáticas. Para
CRAWFORD; VERMUND (1988) apud LIMA; STAMFORD (2003) essas infecções podem ter ocorrência
na população humana e animal, notadamente devido pacientes imunocomprometidos pois uma vez
estabelecida a infecção, a severidade do quadro clínico resulta quase sempre em óbito.A positividade para
Ancylostoma sp. foi encontrado também em duas amostras de Chrysocyon brachyurus e em duas amostras de
Cerdocyon thous , o que representa 50% do total das amostras. A presença deste parasito em Lobo Guará
coincide com os descritos por SANTOS (2008), onde de lobo-guará·foram coletadas 33 amostras fecais e 31
delas (93,9%) estavam positivas para helmintos.
Em uma amostra de Puma concolor, observou-se a presença de oocistos de Cryptosporidium sp,
representando 16,6% de positividade para tal parasito. Os resultados obtidos da presença de oocistos de
Cryptosporidium sp em felídeos corroboram os de outros autores, como sendo um protozoário encontrado
com frequência em felídeos do gênero Puma (FANFA, et al. 2008, OLIVEIRA, et al. 2008). Cabral et al.
(2001) relatam uma taxa de infecção de 5,12% em felídeos (Puma concolor) mantido em cativeiro no
Parque do Sabiá, em Uberlândia, MG.
De acordo com CUBAS et al (2007) as eimérias são os endoparasitas mais comuns encontrados em
coelhos, porém neste presente trabalho até 10,5% das amostras, apresentaram resultados positivos.
As aves podem ser acometidas por uma variedade de endoparasitas. O dano causado ao hospedeiro e
sintomatologia dependem da patogenicidade e intensidade da infecção ou infestação e do estado geral do
animal (competência imunológica) (CUBAS, 2009).
.
4 CONCLUSÕES
Houve presença de endoparasitas e Criptosporidium em 22,4 % das amostras analisadas, sendo três
amostras positivas tanto para o Teste de Willis quanto para o Teste de Ziehl- Neelsen Modificado. A
presença de Cryptosporidium sp foi identificada pelo teste de Ziehl-Neelsen nas amostras de uma Puma
concolor, um Cerdocyon thous, um Trachemys dorbygni, dois Geochelone carbonaria, um Sicalis
flaveola,uma Asio stygius, um Psittacara leucophthalmus, um Brotogeris chiriri, dois Caracara plancus,
duas Patagioenas plumbea, dois Oryctolagus cuniculus, um Rupornis magnirostris.
Os endoparasitas identificados foram: Ancylostoma sp, em duas amostras de Chrysocyon
brachyurus, duas amostras de Cerdocyon thous, e em uma de Hidrochoerus hidrochoeris; Eimeria sp em
dois Oryctolagus cuniculus ; Hymenolepis sp em um Mus musculus, e um Rattus novergicus; Coccídeos em
dois exemplares de Ramphastos toco, uma Ara ararauna e um Pavo cristatus.
REFERÊNCIAS
AMATO NETO, V.; CORRÊA, L. L. Exame parasitológico das fezes. 5. ed. São Paulo: Sarvier. 1991. 92 p.
CABRAL, D. D. et.al. Exame de fezes de mamíferos silvestres para verificação de parasitismo por
Cryptosporidium sp. Biosci J., v. 17, n.1, p. 77-83, june 2001.
CRIZÓSTIMO, A. P. Prevalência de hemoparasitas na comunidade de aves e répteis na área de influência do
empreendimento hidroagrícola do rio Manuel Alves – Tocantins. 2008.55 f.. Monografia (Curso de
Especialização em Clínica Média e cirúrgica de animais selvagens e exóticos) – Universidade Castelo
Branco, Brasília, 2008.
CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais silvestres. São Paulo: Roca,
2007. 1354 p.
CUBAS, Z. S.; GODOY, S. N. Algumas Doenças de Aves Ornamentais. 2009
FANFA, V.; FARRET, M. H.; SILVA, A. S.; MONTEIRO, S. G. Endoparasitoses em puma (Puma
concolor) na região sul do Brasil. In: Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária. 35. 2008. GramadoRS. Anais... 2008. Disponível em: <http://www.sovergs.com.br/conbravet2008/anais/cd/resumos/R04782.pdf>, acesso em 05 agosto 2011.
Universidade Federal de Uberlândia
56
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
GOULART, C. E.S. Herpetologia, herpetocultura e medicina de répteis. Rio de Janeiro: L.F. Livros de
Veterinária Ltda, p. 333, 2004.
HENRIKSEN, A.; POHLENZ, J. F. L. Staining of Cryptosporidium by a modified Ziehl-Nielsen technique;
Acta Veterinaria Scandinavica, v.22, p. 594-596, 1981.
LIMA,E.C.; STAMFORD, T.L.M. Cryptosporidium spp. no ambiente aquático: aspectos relevantes da
disseminação e diagnóstico. Ciênc. Saúde coletiva, vol.8, no.3, 2003.
OLIVEIRA, Camila Belmonte et al. Ocorrência de Giardia sp. e Cryptosporidium sp. em Leopardus weidii
de vida livre. Cienc. Rural [online]. 2008, vol.38, n.2, pp. 546-547. ISSN 0103-8478.
SANTOS, J.L.C. Parasitos de Canídeos Domésticos e Silvestres da Região do Parque Nacional da Serra do
Cipó- Minas Gerais, Brasil. Belo Horizonte, Instituto de Ciências Biológicas- UFMG, 2008.
Universidade Federal de Uberlândia
57
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
CASUÍSTICA DO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES DO MUNICÍPIO DE
CATALÃO, GO
BARROSO, J.E.M.¹; BONFIM, A.L.2; MACHADO, A.R.3; MENDONÇA, M.R.4.
1
Médico Veterinário, Coordenador do CETAS; 2 Estagiária de Biologia do CETAS; 3 Biólogo do CETAS; 4
Secretário Municipal de Meio Ambiente de Catalão, GO
1Centro de Triagem de Animais Silvestres - CETAS, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de
Catalão, Catalão, GO,
1
[email protected], (64) 3441-1833
RESUMO
A perda e fragmentação de habitats pelas mais diversas atividades antrópicas, de fiscalização e de
combate ao tráfico de animais pelos órgãos ambientais gera um grande contingente de fauna apreendida.
Necessita-se de local adequado para a reabilitação do animal e outros procedimentos necessários, tal como o
Centro de Triagem de Animais Silvestres. Este trabalho baseia-se na revisão e análise dos registros de
entradas, procedimentos e destinações dos animais que chegaram ao CETAS de Catalão, GO, no período
compreendido entre os meses de novembro e dezembro de 2013 e janeiro a março de 2014. Foram recebidos
164 animais, sendo 110 aves (67,1%), 28 répteis (17,1%) e 26 mamíferos (15,8%). Quanto à destinação dos
animais recebidos, encontrou-se a seguinte distribuição: 46% de soltura (entre imediatas e brandas), 40%
encaminhado a outros CETAS, 13% de óbitos e 1% de fuga. Em relação à necessidade de tratamento, 16,1%
dos animais receberam tratamento que incluíam de realização de curativos a suturas, talas, e amputações.
Além de recuperar e devolver os animais a seu habitat natural o CETAS obtém informações sobre patologias
de interesse em saúde pública, auxilia no combate ao tráfico de animais silvestres, presta apoio aos órgãos de
fiscalização, viabiliza projetos de formação e capacitação técnica e de educação ambiental e subsidia
coleções e pesquisas científicas, ações importantes para a preservação do meio ambiente, dos recursos
naturais renováveis e para o desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: CETAS; soltura; reintrodução
ABSTRACT
The loss and fragmentation of habitat by various human activities, surveillance and combating traffic
of animals by environmental agencies generates a large number of seized wildlife. Appropriated place is
necessary for animal rehabilitation and other procedures required, such as the Screening Center of Wild
Animals. This work is based on review and analysis of records of inputs, procedures and destination of the
animals that came to CETAS Catalão, GO, in the period between the months of november and december
2013 and January to March 2014. Were received 164 animals, 110 birds (67,1%), 28 reptiles (17,1%) and 26
mammals (15,8%). Regarding the destination of animals received, was found the following distribution: 46
% of release (between immediate and soft), 40% referred to other CETAS, 13 % of deaths and 1% of escape.
Regarding the need for treatment, 16,1% of the animals, received treatment that included performing sutures,
dressings, splints, and amputations. Besides recovering and returning the animals to their natural habitat
CETAS obtains information about diseases of public health interest , assists in combating wildlife traffic,
provides support to surveillance agencies, enables formation projects and technical capabilities and
environmental education and subsidizes collections and scientific research , important actions to preserve the
environment, renewable natural resources and sustainable development.
Keywords: CETAS; release; reintroduction
INTRODUÇÃO
Universidade Federal de Uberlândia
58
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, importante para a conservação da biodiversidade
mundial. Encontra-se distribuído por 11 estados com diferentes áreas de abrangência, possui diferentes tipos
de fitofisionomias e uma grande diversidade de fauna, compreendendo cerca de 199 espécies de mamíferos,
mais de 830 espécies de aves, 180 espécies de répteis e 150 espécies de anfíbios (KLINK e MACHADO,
2005). Embora ocupe quase 25% do território nacional, o cerrado encontra-se extremamente ameaçado pela
expansão das atividades agropecuárias, com construções de rodovias, usinas hidrelétricas e outros
empreendimentos, ameaçando a riqueza e a biodiversidade da região (CÂMARA e MURTA, 2003; PRADO
et al., 2006; SILVA et al., 2013).
Diversas espécies da fauna e da flora se encontram ameaçadas de extinção, estima-se que 20% das
espécies ameaçadas ou endêmicas não ocorram nas áreas legalmente protegidas, que somam apenas 2,2%
das áreas do Cerrado. As atividades prejudiciais ao meio ambiente exigem que as espécies da fauna silvestre
da região do cerrado goiano saiam dos seus habitats naturais em busca dos diversos recursos vitais,
sujeitando-as aos riscos de contração e transmissão de novas doenças, de serem vistos por predadores e
caçadores ou atropelados em estradas e rodovias. A perda e fragmentação de habitats pelas mais diversas
atividades antrópicas e a atividade de fiscalização e combate ao tráfico de animais pelos órgãos ambientais
gera um grande contingente de fauna apreendida, cujo destino preferencial é a reintrodução no habitat
original, após a verificação das condições de adaptação à vida silvestre. No entanto, para que este objetivo
seja atingido, necessita-se de local adequado para a reabilitação do animal e outros procedimentos
necessários, obrigatórios por lei (MYERS, 1988; MYERS et al., 2000; RICKLEFS, 2003; KLINK e
MACHADO, 2005; IBAMA 2008).
O Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) é uma instituição que visa oferecer os recursos
necessários à sobrevivência e manutenção da fauna silvestre da região, considerando a possibilidade de
readaptação e reintrodução em seu habitat natural. A ações desenvolvidas tornam possíveis a recuperação de
um indivíduo ao se utilizar de um manejo adequado e um atendimento médico-veterinário especializado,
além de subsidiar projetos de formação, capacitação e de educação ambiental. O CETAS visa, portanto, o
recebimento, triagem, tratamento e destinação adequada da fauna silvestre da macrorregião, além de
subsidiar coleções e pesquisas científicas. Além dos animais apreendidos pelos órgãos de fiscalização,
recepciona espécimes recolhidos em meio urbano ou entregues espontaneamente por particulares.
O objetivo deste trabalho foi reunir as informações da casuística de animais recebidos pelo CETAS,
oriundo da macrorregião de Catalão, Goiás, como forma de sensibilização da população, empresas e demais
órgãos de áreas afins sobre a importância desta instituição, bem como para dar subsídio à convênios e
parcerias público-privadas para a ampliação da estrutura existente e serviços prestados, além da
implementação de outros centros como este pelo país.
MATERIAL E MÉTODOS
A unidade do CETAS está localizada no município de Catalão, na região sudeste do estado de Goiás
que possui uma área territorial de 3.821,463 km2 abrangendo os distritos de Pires Belo e Santo Antônio do
Rio Verde e uma população de 86.647,00 habitantes (IBGE, 2010). A localização deste CETAS é
estratégica, instalado na mesma área da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMAC), órgão que tem
como uma de suas funções a fiscalização e apreensão de animais silvestres ilegalmente mantidos em
cativeiro, e também é um ponto de entrega voluntária destes animais. Do mesmo modo, possui nas
adjacências o Batalhão do Corpo de Bombeiros, que realiza o resgate de uma quantidade considerável de
animais silvestres. O CETAS se localiza a poucos metros do campus da Universidade Federal de Goiás
(UFG) em Catalão, que conta, dentre outros, com o curso de Ciências Biológicas, podendo dar suporte a
realização de estágios e troca de experiências com o meio acadêmico de pesquisa.
No CETAS são realizadas atividades como avaliação e diagnóstico veterinário e biológico,
tratamentos, cirurgias, exames e necropsias visando a readaptação e reintrodução do animal ao seu habitat
natural ou encaminhamento a instituições adequadas, além de atividades de educação ambiental. Durante a
permanência no estabelecimento, os animais recebem alimentação balanceada e apropriada para sua fase de
desenvolvimento.
A metodologia utilizada na confecção deste trabalho se baseia na revisão e análise dos registros de
entradas, procedimentos e destinações dos animais que chegaram ao CETAS de Catalão, Goiás, no período
Universidade Federal de Uberlândia
59
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
compreendido entre os meses de novembro e dezembro de 2013 e janeiro a março de 2014. O presente
trabalho foi realizado com base no estudo e busca de informações através de consultas bibliográficas em
livros, Internet e periódicos. As informações obtidas sobre os animais encaminhados ao CETAS, segundo um
protocolo estabelecido foram: identificação taxonômica, quantidade de indivíduos por espécie, quando
possível identificação do sexo do animal, data de entrada por órgão ou pessoa responsável pela entrega, local
de apreensão, ponto de referência e suas coordenadas geográficas, e documentos de fiscalização lavrados
quando da apreensão e dados biométricos. Todas as informações foram computadas em planilha utilizandose o programa Microsoft Excel 2013.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período do levantamento foram recebidos 164 animais, sendo 110 aves (67,1%), 28 répteis
(17,1%) e 26 mamíferos (15,8%). A porcentagem de animais recebido, por espécie e por mês está
demonstrada na figura 1. O aumento gradativo dos animais recebidos é reflexo da divulgação das atividades
desenvolvidas e esta demanda tende a continuar em ascensão como relatado por outros CETAS. Essa
distribuição segue o encontrado em levantamento realizado pelo CETAS de Goiânia, nos últimos quatro
anos, onde a maioria dos animais apreendidos foram aves (95,05%), seguidos por répteis (3,24%), anfíbios
(1,15%) e mamíferos (0,56%) (IBAMA, 2014). Em estudo realizado por Pagano et al. em 2009, com aves
depositadas no Centro de Triagem de Animais Silvestres do IBAMA na Paraíba, chegou-se ao resultado de
que as aves corresponderam a 88% dos animais depositados durante o período de estudo, com um total de
2.282 espécimes. Além das aves, foram depositados 221 espécimes de mamíferos (9%) e 72 espécimes de
répteis (3%).
Figura 1 – Porcentagem de animais recebidos pelo CETAS/Catalão/GO, por mês e por espécie.
O maior número de aves recebidas pelo CETAS se justifica pelo maior interesse nesta espécie para
fins de tráfico e criação em cativeiro e por ser uma das espécies mais apreendidas pelos diversos órgãos de
fiscalização ambiental. As aves representam uma parcela significativa do tráfico de animais, dado a sua
abundância, variedade na natureza e preferência pela população, que tradicionalmente valoriza o canto e
beleza de suas plumagens, mantendo-as em cativeiro. No território brasileiro são encontradas cerca de 10%
de todas as espécies existentes no mundo. O Brasil possui 55,3% das aves residentes na América do Sul e
35% dos primatas e répteis do mundo. O tráfico de animais silvestres movimenta o suficiente para classificálo como terceiro mais rentável negócio ilícito do mundo, perdendo, somente para o tráfico de drogas e armas.
Considera-se que o Brasil responderia por 5 a 7% do total movimentado, com estimativas girando entre 38
milhões de indivíduos retirados da natureza anualmente, com comercialização de cerca de quatro milhões de
seres vivos ilegalmente por ano (ROCHA, 1995; SICK, 1997; PRIMACK, R. B. 1998; RENCTAS, 2001;
SOUZA e SOARES FILHO, 2005).
Dentre os animais que chegam ao CETAS estão àqueles oriundos da entrega voluntaria ou
espontânea, caracterizado quando o cidadão espontaneamente procura o órgão competente para entregar o
Universidade Federal de Uberlândia
60
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
espécime que era ilegalmente mantido sob sua guarda, sendo que a maioria destas entregas são de espécimes
de psitacídeo o que também foi encontrado em levantamento realizado por Gogliath et al., em 2010.
Quanto à destinação dos animais recebidos no CETAS de Catalão, encontrou-se a seguinte
distribuição: 46% de solturas (entre imediatas e brandas), 40% encaminhados a outros CETAS, 13% de
óbitos e 1% de fuga, conforme demonstrado na figura 2. Em comparação com levantamento realizado pelo
CETAS de Goiânia, o porcentual de animais soltos e reintroduzidos à natureza foi de 52%, a fuga 2% e o
óbito foi de 32% (IBAMA, 2014). A significativa taxa de óbitos pode decorrer do fato de que muitos animais
chegam aos CETAS em condições precárias de saúde, ou vítimas de acidentes ou ferimentos. Ainda, de
acordo com RENCTAS, 2001, animais traficados tem uma taxa de mortalidade em torno de 90%, desde a
captura do ninho até a chegada ao destinatário final devido às condições precárias de transporte e captura
(falta de alimentação, ar, água, sujeira etc.).
Em estudos anteriores denota-se a possível e importante participação de animais silvestres no
surgimento e na manutenção de enfermidades na natureza, pois os mesmos possuem agentes patógenos que
são nocivos para o homem. Devido o tempo que as aves se encontram em cativeiro, até seu resgate por
agentes fiscalizadores, essas aves são submetidas a um elevado nível de estresse. O tráfico de animais
silvestres se torna um fator agravante para a saúde populacional, em função da dispersão de patógenos,
devido à ausência de controle sanitário durante a movimentação desses animais e pela debilidade física e
imunológica, em virtude da falta de recursos alimentares, água e densidades elevadas em espaços
inadequados (RAMOS E ALMEIDA et al., 2010).
Figura 2- Porcentagem e valores absolutos de saída de animais por tipo de destinação.
Do total de animais recebidos no CETAS, 16,1% dos animais necessitaram de tratamentos incluindo
realização de curativos, suturas, talas, e amputações. A quase totalidade destes procedimentos ocorreram em
animais que haviam sido atropelados. O atropelamento de animais é um problema que está crescendo cada
vez mais, devido à falta de conscientização dos motoristas e desmatamento do seu habitat natural, com isso
muitas espécies utilizam as estradas em seus deslocamentos diários, estando sujeitas a serem mortas por
veículos. Nas estradas brasileiras, os levantamentos já realizados indicam que os efeitos de atropelamentos
sobre a fauna silvestre são representativos, demonstrando elevados índices de acidentes, podendo provocar a
diminuição da frequência de determinadas espécies nas áreas afetadas (MAGINA et al., 2007;
MENEGUETTl, MENEGUETTI e TREVISAN, 2010). No que se refere ao número de espécies atropeladas,
é possível observar que o maior registro é no grupo das aves, seguido por espécies de mamíferos, répteis e
anfíbios (GOMES e al, 2013).
CONCLUSÃO
As ações para a conservação do cerrado são urgentes, sendo necessárias medidas de conservação
como planejamento de expansão das áreas urbanas, licenciamento criterioso dos empreendimentos que
possam causar impactos ambientais, controle de desmatamentos e queimadas. As atividades desenvolvidas
pelo CETAS de Catalão representam um grande incentivo a outros municípios a criarem centros como este e
Universidade Federal de Uberlândia
61
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
suas ações têm repercussão na conscientização da problemática dos animais mantidos em cativeiro, em
tráficos e em acidentes. As atividades de resgate, tratamento e reintrodução de espécimes da fauna silvestre
são importantes para a preservação do meio ambiente, dos recursos naturais renováveis e para o
desenvolvimento sustentável.
REFERÊNCIAS
CÂMARA, T.; MURTA, R. Mamíferos da Serra do Cipó. Belo Horizonte: PUC-Minas/Museu de Ciências
Naturais, 2003. 129p.
GOGLIATH, M.; BISAGGIO, E. L.; RIBEIRO, L. B.; RESGALLA, A. E.; BORGES, R. C.; Avifauna
Apreendida e Entregue Voluntariamente ao Centro de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama de Juiz e Fora,
Minas Gerais. Atualidades Ornitológicas On-line Nº 154 - Março/Abril 2010 - www.ao.com.br. Acesso em
08/04/14
GOMES, D. C.; SILVA C. V.; FARIA, A. A.; MORAIS, M. A. V.; SANT‟ANA, C. E. R.; MENDONÇA, L.
G. A. Registro de Atropelamento de Animais Silvestres Entre as Cidades de Palmeiras de Goiás e Edealina –
GO. On-line http://revista.univar.edu.br Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2013) n.º10 Vol – 1
p. 19 – 34 ISSN 1984-431X.
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Instrução Normativa
Nº 169, de 20 de fevereiro de 2008. Disponível em: www.ibama.gov.br. Acessado em 05/04/14
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Projeto CETAS/GO.
Projeto Submetido ao MPU e MPE pleiteando conversão de multas. 2014
KLINK , C. A. ; MACHADO, R. B. A conservação do Cerrado brasileiro. Megadiversidade, v. 1, nº 1, p.
147 – 155, jul, 2005.
MAGINA, G.C.T. et al.. Levantamento da fauna silvestre atropelada no entorno do parque nacional da Serra
de Itabaiana-Sergipe. In: 8º Congresso de Ecologia do Brasil, Caxambu, 2007.
MENEGUETTI, D. U. de O.; MENEGUETTI, N. F. S. P.; TREVISAN, O. Georreferenciamento e
Reavaliação da Mortalidade por Atropelamento de Animais Silvestres na Linha 200 Entre Os Municípios de
Ouro Preto do Oeste e Vale do Paraíso – RO. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio
Ambiente, v. 1, n.1, p. 58-64, mai-out, 2010.
PRADO, T. R., FERREIRA, A. A. GUIMARÃES, Z. F. S. Efeito da Implantação de Rodovias no Cerrado
Brasileiro Sobre a Fauna de Vertebrados. Acta Sci. Biol. Sci. Maringá, v. 28, n. 3, p. 237-241, July/Sept.,
2006.
PAGANO, I. S. A.; SOUZA, A. E. B. A.; WAGNER, P. G. C.; RAMOS, R. T. C. Aves Depositadas no
Centro de Triagem de Animais Silvestres do IBAMA na Paraíba: uma amostra do tráfico de aves silvestres
no estado. Ornithologia 3 (2):132-144, dezembro 2009.
RAMOS, T. S.; SOUZA, K. M. C.; SANT´ANA, G. R. S.; SANT´ANA, E. R.; SILVA, L. C. F.; BRITO,
W.E. D.; GARCIA-ZAPATA, M. T. A.; MORAIS, D. F. ALMEIDA, L. R. Detecção de fungos patogênicos
para humanos em aves silvestres. Revista Processos Químicos. Jul/Dez de 2010.
ROCHA, M. F.(Coord.), Tráfico de Animais silvestres no Brasil, Documento para Discussão. WWF,
TRAFFIC. Brasília, 1995.p.
RENCTAS. 2001. 1 Relatório Nacional Sobre o Tráfico de Fauna Silvestre. Rede Nacional de Combate ao
Tráfico
de
Animais
Silvestres,
Brasília,
108p.
(Disponível
em:
Universidade Federal de Uberlândia
62
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
http://www.renctas.org.br/pt/trafico/rel_renctas.asp).
SICK, Helmut. Ornitologia Brasileira. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1997, 912 p.
SOUZA,G.M.; SOARES FILHO,A.O.;. O Comércio Ilegal de Aves Silvestres na Região do Paraguaçu e
Sudoeste da Bahia. Enciclopédia Biosfera, N.01, 2005 ISSN 1809-05831
Universidade Federal de Uberlândia
63
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
CRIAÇÃO ARTIFICAL DE TAMANDUÁ-MIRIM (TAMANDUA TETRADACTYLA ) NO HOSPITAL
VETERINÁRIO CAMPUS PALOTINA – RELATO DE CASO
Matteo, D. A. M.1; Silva, E. A. L.1; Grillo, L. R.1; Carvalho, A. L1.
1
Hospital Veterinário Campus Palotina, Universidade
([email protected], 44 99419839)
Federal do Paraná, Palotina
– Paraná
RESUMO
O presente relato refere-se ao acompanhamento da criação artificial de um tamanduá-mirim recebido
no Hospital Veterinário Campus Palotina (HV-Palotina), com o uso de dieta base composta por leite com
90% menos lactose e creme de leite integral que recebeu a adição de outros ingredientes ao longo do
tratamento. O uso da dieta permitiu o crescimento do paciente, que após 61 dias de internação foi enviado à
instituição de manutenção de animais no oeste do Paraná.
Palavras-chave: nutrição, reabilitação, conservação.
ABSTRACT
The present report refers to the monitoring of the artificial creation of an lesser anteater received at
Hospital Veterinário Campus Palotina (HV-Palotina), using the basic diet consisting of milk with 90% less
lactose and full cream milk received addition of other ingredients during the treatment. The use of diet
allowed the growth of the patient, that after 61 days of hospitalization was sent to the institution of keeping
animals in western Paraná.
Key-words: nutrition, reabilitation, conservation.
INTRODUÇÃO
O Tamandua tetradactyla, popularmente conhecido como tamanduá-mirim ou tamanduá-de-colete, é
um mamífero da Família Myrmecophagidae (ordem pilosa), com comportamento noturno/crepuscular, e
tamanho de até 105 cm. Possui coloração amarelada com uma mancha escura em formato de colete e,
segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), seu grau de ameaça é considerado
pouco preocupante. Contudo, com a alteração ambiental para formação ambiente agrícola, como no Oeste do
Paraná, é provável que o status “pouco preocupante” não seja o mais adequado para esta região.
MATERIAL E MÉTODOS
Um filhote macho de T. tetradactyla (Figura 1), com 0,662 Kg foi recebido no HV-Palotina, após o
atropelamento e óbito de uma fêmea adulta em uma estrada rural do município de Palotina. O paciente foi
avaliado no Setor de Medicina e Conservação da Fauna Silvestre do HV Palotina, que realizou exame clínico
completo, coleta de sangue, exame radiográfico e iniciou os procedimentos de aquecimento e alimentação.
Os exames iniciais revelaram leve anemia e também aumento de volume abdominal com retenção de
gases, que exigiu a realização de estímulo à expulsão de fezes e urina através de massagem abdominal.
Durante a permanência do paciente do HV Palotina, utilizaram-se cinco dietas, com a mesma formulação
básica (mistura de leite com teor de lactose reduzido em 90% e creme de leite integral) que recebeu
gradualmente a adição dos itens: a (gema de ovo cru e suplemento vitamínico), b (todos os anteriores, além
de banana, mamão e maça), c (todos os anteriores, além de carne bovina crua e sucedâneo de leite PetMilk®) e d (todos os anteriores, além da substituição da carne bovina crua por cozida e adição de cenoura
e beterraba). As dietas eram fornecidas após prévia pesagem do paciente, e no início do tratamento
estabelecidas com frequência de quatro a cinco vezes ao dia, com o uso de mamadeira, e posteriormente
disponibilizadas em bebedouro para aves. Aliado à alimentação foram realizadas atividades de
enriquecimento ambiental, que consistiram no acesso do paciente ao ambiente extra-hospitalar para contato
Universidade Federal de Uberlândia
64
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
com estratos terrestres e arbóreos, e consumo de cupins e formigas. Após o término de tratamento, solicitou
autorização de transporte ao IBAMA, para destinação do animal à instituição de manutenção de animais
silvestres no estado do Paraná.
Figura 1: Exemplar de T. tetradactyla atendido no HV – Palotina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observou-se que no inicio do tratamento, o paciente tinha alteração de volume abdominal com
retenção de gases, e as fezes apresentavam aspecto pastoso, e no decorrer do tratamento, o aspecto voltou ao
normal, sendo este, sólido e com coloração marrom escuro. As pesagens diárias revelaram variação de peso
ao longo do tratamento (Figura 2): dia 4 (0,622 Kg), dia 12 (0,664 Kg), dia 22 (0,680 Kg), dia 33 (0,750 Kg),
dia 38 (0,866 Kg), dia 44 (0,984 Kg), dia 54 (1,046 Kg) e dia 61 (1,260 Kg). Segundo CUARON et al.
(1987), ao nascimento, filhotes de T. mexicana (espécie semelhante ao T. tetradactyla) apresentam cerca de
300g, e este peso atinge 600g e 900 g com quatro e treze semanas de vida, respectivamente. Considerando
estes dados, estimou-se que o paciente recebido no HV Palotina chegou idade de seis semanas e, após o
término do tratamento atingiu o peso de 1,046 Kg em 15 semanas de vida, o que pode ser considerado
adequado em relação aos parâmetros observados no trabalho citado. É importante destacar que ocorreu perda
de peso nas duas semanas iniciais e acredita-se que estas podem estar relacionadas com a adaptação da
paciente à modificação do ambiente e dieta do paciente.
Universidade Federal de Uberlândia
65
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 2: Variação de peso corporal do exemplar de T. tetradactyla no decorrer do tratamento no HV –
Palotina.
CONCLUSÕES
Na avaliação dos autores, o tratamento utilizado foi satisfatório para estabilizar o paciente e promover seu
crescimento, contudo, a limitada informação disponível sobre taxas de crescimento ao longo de diferentes
tratamentos impede uma comparação mais apurada dos resultados encontrados. Neste sentido, sugere-se a
padronização do acompanhamento de crescimento destes animais para fins de comparação com outras dietas
utilizadas.
REFERÊNCIAS
Alexandrini, P.; Tavares L. H.; Uso de fibra vegetal alimentar na dieta de tamanduás bandeiras
(Myrmecophaga tridactyla) na Fundação Parque Zoológico de São Paulo – FPZSP, eixo temático: biologia,
2013.
Arruda, L. S.; Preferência de cupins por tamanduás nativos e cativos (pilosa, Myrmecophagidae), Trabalho
de Conclusão do Curso, Universidade Estadual de Goiás, 2011, p. 16.
Braga, F. G.; Ecologia e comportamento de tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 no
município de Jaguariaíva, Paraná, Abril. 2010, p. 16.
Costa, M. E. L. T.; Neonatologia de Mamíferos. In: Cubas, Zalmir S; DIAS, J. L. Catão; SILVA, Jean C. R.
Tratado de animais selvagens – Medicina Veterinária. São Paulo: Rocca, 2006, p.1149.
Cuaron, O. A. D Hand rearing a Mexican anteater (Tamandua mexicana) at Tuxtla Gutierrez Zoo. Internat.
Zoo Yearbook, v.26, p.255-260, 1987
Fischer, P. F.; Petrochi, D. L .; Santos, A. V.; Souza, J.; Pinzon; P. W.; Araldi, D. F.; Manejo nutricional da
subordem Xenartra, XVI mostra de iniciação cientifica, 2011
Miranda, F.; Costa, A. M.; Xenarthra (Tamanduá, Tatu, Preguiça). In: Cubas, Zalmir S; DIAS, J. L. Catão;
SILVA, Jean C. R. Tratado de animais selvagens – Medicina Veterinária. São Paulo: Rocca, 2006, p.405
Souza, Deivid Pereira de.; Enriquecimento ambiental aplicado a Tamanduás-mirim (Tamandua tetradactyla)
no zoológico de Brasília, 3º Congresso de Iniciação Científica do Centro Universitário do Distrito Federal –
UDF, Vol. 1 – Nº 1 / Nov. 2013, p. 100.
Tavares, S. V.; Koenemann, J. G.; Ocorrência de Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) (Xenarthra,
Myrmecophagidae) no município de Itaqui, fronteira oeste do Rio Grande do Sul, Brasil , Biodivers.
Pampeana, v. 6, n. 2, 2008
Universidade Federal de Uberlândia
66
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
DESCRIÇÃO ANATÔMICA DA MUSCULATURA DO ANTEBRAÇO DO ALOUATTA GUARIBA
(HUMBOLDT, 1812)
Döwich, G.¹; Dias, D.V.2; Souza Junior, P.¹
¹Laboratório de Anatomia Animal, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), campus Uruguaiana – RS
([email protected] 55 9902-3566).
Laboratório de Anatomia Humana, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), campus Uruguaiana –
RS.
2
RESUMO
Para fins de descrição anatômica comparativa, realizou-se a macrodissecação dos músculos do
antebraço de um espécime adulto, macho, de Alouatta guariba (bugio-ruivo), encontrado morto na rodovia
BR-290, em Cachoeira do Sul, RS. O grupo extensor foi formado pelos músculos braquiorradial, extensor
radial longo do carpo, extensor radial curto do carpo, extensor dos dedos, extensor do dedo mínimo, extensor
ulnar do carpo, extensor do dedo indicador, extensor do dedo III, supinador, extensor longo do polegar,
extensor curto do polegar e abdutor longo do polegar. Neste grupo verificou-se a presença de um músculo
específico para a extensão do dedo III não relatado em outras espécies de primatas. O grupo flexor foi
formado pelos músculos pronador redondo, palmar longo, flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo,
flexor superficial dos dedos, flexor do dedo V, flexor do dedo II, flexor profundo dos dedos, flexor longo do
polegar e pronador quadrado. Comparativamente, este grupo apresentou dois músculos distintos e não
relatdos para outros primatas: músculos flexor do dedo II e flexor do dedo V. Este maior número de
músculos no antebraço do A. guariba talvez possa ser explicado pelo hábito arborícola da espécie, o que
exige maior força para preensão e sustentação da massa corporal.
Palavras-chave: anatomia animal; bugio; primatas.
ABSTRACT
For purposes of comparative anatomical description, macrodissections were made in the forearm
muscles of an adult, male, Alouatta guariba specimen (howler-red), collected dead on the BR-290 highway,
in Cachoeira do Sul, RS. The extensor group was formed by the muscles brachioradialis, extensor carpi
radialis longus, extensor carpi radialis brevis, extensor digitorum, extensor digiti minimi, extensor carpi
ulnaris, extensor of the index finger, extensor digiti medium, supinator, extensor pollicis longus, extensor
pollicis brevis and abductor pollicis longus. In this group, it was verified a specific muscle for extension of
the finger III not reported in other primate species. The flexor group was formed by the muscles pronator
teres, palmaris longus, flexor carpi radialis, flexor carpi ulnaris, flexor digitorum sublimis, flexor digiti
minimi, flexor digiti index, flexor digitorum profundus, flexor pollicis longus and pronator quadratus.
Comparatively, this group presented two more muscles than those described in other primates: muscles
flexor digiti index and flexor digiti minimi. This larger number of muscles in the forearm of A. guariba
might be explained by the arboreal habits of this species, which requires greater strength to hold and support
the body mass.
Key words: animal anatomy; howler; primates.
INTRODUÇÃO
O Alouatta guariba (Humboldt, 1812), conhecido por macaco bugio-ruivo, guariba, gritador ou
uivador, vive em grupos de dois a dezenove indivíduos, sendo encontrado desde a região Amazônica,
distribuindo-se do leste do Brasil ao nordeste da Argentina, além da Bolívia (EMMONS, 1990;
AURICCHIO, 1995; DINIZ, 1997). É um dos maiores primatas neotropicais e alimenta-se de uma grande
Universidade Federal de Uberlândia
67
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
quantidade de folhas (DRUBBEL; GAUTIER, 1993). Com hábito arborícola, ocupa praticamente todos os
estratos da floresta, especialmente o dossel florestal e árvores emergentes (NEVILLE et al., 1988). Os
machos adultos de A. guariba pesam, em média, 6,7 kg e as fêmeas em torno de 4,4 kg (n=5) (SMITH;
JUNGERS, 1997).
A elevada densidade populacional humana das regiões sul e sudeste do Brasil e a consequente e
extensa destruição do seu hábitat, resultante do processo histórico de ocupação, reduziram a ampla
distribuição original do bugio-ruivo (Alouatta guariba) para algumas poucas populações remanescentes
restritas a fragmentos florestais isolados (SANTOS et al., 1987; NEVILLE et al., 1988; CHIARELLO &
GALETTI, 1994; CROCKETT, 1998). Segundo Marques (2003) a espécie é ameaçada de extinção no
Estado do Rio Grande do Sul, ainda que Mendes et al. (2008) considerem um risco pouco preocupante.
A literatura é escassa no tocante a estudos de miologia dos membros de bugios, ainda que
informações pontuais sobre os músculos dos membros pélvicos tenham sido publicadas por Grand (1968) e
Amado et al. (2011). Objetivou-se com este trabalho descrever a disposição anatômica comparativa da
musculatura do antebraço do A. guariba.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi utilizado um espécime macho de Alouatta guariba, encontrado morto na rodovia BR 290, Km
215, no município de Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul (autorização IBAMA/SISBIO no. 33667-1). Após
recolhido, o cadáver foi levado ao Laboratório de Anatomia Animal da UNIPAMPA, onde foi fixado com
injeções intramusculares e intracavitárias de solução de formaldeído a 50% e, em seguida, imerso em cuba
opaca de polietileno com tampa na mesma solução a 10%. Depois de dois meses de fixação foi realizada a
macrodissecação do membro torácico esquerdo. Foram removidas a pele e as fáscias superficiais e, assim,
exposta a musculatura do membro. Por meio da dissecação foi possível reconhecer os pontos de fixação
muscular bem como sua inervação. A primeira etapa consistiu na visualização dos músculos superficiais que,
em seguida, foram rebatidos nos seus pontos de origem para revelar a musculatura profunda. Os músculos
foram denominados de acordo com a Terminologia Anatômica (2001) para seres humanos e os termos de
direção descritivos de acordo com o adotado para mamíferos quadrúpedes. A fotodocumentação foi realizada
com câmera Samsung®, modelo PL20, 16 megapixels.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os pontos de origem e inserção, bem como a ação e inervação dos músculos dissecados encontramse resumidos nos quadros I, II, III e IV.
Quadro I. Músculos superficiais do grupo extensor e seus respectivos pontos de origem e inserção,
inervação e ação no Alouatta guariba.
Músculos superficiais do grupo extensor
Músculo
Origem
Inserção
Inervação
Movimento
predominante
Proximal a crista
Flexão ou supinação
Processo estiloide
supracondilar lateral
N. radial
da art. úmero-radioBraquiorradial
do rádio
do úmero
ulnar
Extensão do carpo;
Extensor
radial Crista supracondilar
Metacarpiano II
N. radial
flexão da art. úmerolateral
longo do carpo
radio-ulnar
Extensão do carpo;
Extensor
radial Crista supracondilar
Metacarpiano III
N. radial
flexão da art. úmerolateral
curto do carpo
radio-ulnar
Epicôndilo lateral do Falanges
dos
Extensão dos dedos II
N. radial
Extensor dos dedos
úmero
dedos II a IV
a IV
Extensor do dedo Epicôndilo lateral do Falanges do dedo
N. radial
Extensão do dedo V
úmero
V
mínimo
Universidade Federal de Uberlândia
68
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Extensor ulnar do Epicôndilo lateral do Face abaxial do
N. radial
úmero
metacarpiano V
carpo
Extensão e abdução da
art. da mão
Quadro II. Músculos profundos do grupo extensor e seus respectivos pontos de origem e inserção, inervação
e ação no Alouatta guariba.
Músculos profundos do grupo extensor
Músculo
Origem
Face lateral da ulna,
Extensor do dedo ao nível do terço
diafisário proximal, e
indicador
membrana interóssea
Face lateral da ulna,
ao nível do terço
Extensor do dedo III
diafisário
médioproximal.
Epicôndilo lateral do
úmero
Supinador
Inserção
Inervação
Face dorsal do N. radial
dedo II
Face dorsal do N. radial
dedo III
Face cranial do N. radial
terço diafisário
médio do rádio
Face lateral da ulna, Face abaxial do N. radial
Extensor longo do ao nível do terço metacarpiano I
proximal
e
polegar
membrana interossea
Dedo I
N. radial
Extensor curto do Cabeça do rádio
polegar
Face lateral do terço Dedo I
N. radial
Abdutor longo do
proximal da ulna e
polegar
rádio (cabeça)
Movimento
predominante
Extensão do dedo II
Extensão do dedo III
Supinação
Extensão do dedo I
Extensão do dedo I
Abdução e extensão do
dedo I
Quadro III. Músculos superficiais do grupo flexor e seus respectivos pontos de origem e inserção, inervação
e ação no Alouatta guariba.
Músculos superficiais do grupo flexor
Músculo
Origem
Pronador redondo
Palmar longo
Flexor
carpo
radial
Flexor
carpo
ulnar
Inserção
Inervação
Epicôndilo medial do Face cranial do N. mediano
úmero
terço diafisário
médio do rádio
Epicôndilo medial do Aponeurose
N. mediano
úmero
palmar
Movimento
predominante
Pronação; Flexão da art.
úmero-rádio-ulnar
Flexão
do
carpo;
tensionar a aponeurosa
palmar;
pronação;
flexão da art. úmeroradio-ulnar
Epicôndilo medial do Face palmar do N. mediano Flexão
do
carpo;
do
úmero
osso metacarpal
pronação; flexão da art.
II
úmero-radio-ulnar;
Cabeça
umeral: Metacarpiano V N.
ulnar Flexão do carpo;
epicôndilo medial
proximalm
do
Cabeça
ulnar:
ente e n.
olécrano
mediano
distalmente
Universidade Federal de Uberlândia
69
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Epicôndilo medial do Face palmar dos N. mediano
Flexor
superficial
úmero
dedos III a V
dos dedos
Flexão das articulações
metacarpofalangeanas e
interfalangeanas
Quadro IV. Músculos profundos do grupo flexor e seus respectivos pontos de origem e inserção,
inervação e ação no Alouatta guariba
Músculos profundos do grupo flexor
Músculo
Origem
“Flexor do dedo V”
“Flexor do dedo
II”
Flexor
profundo
dos dedos
Flexor longo
polegar
do
Pronador quadrado
Face caudal da ulna,
próximo ao olecrano
Epicôndilo medial do
úmero
Cabeça do rádio, face
medial
da
ulna,
membrana interóssea
e epicôndilo medial
do úmero
Face crânio do terço
diafisário médio do
rádio e membrana
interóssea
Face caudal da ulna
ao nível de seu
quarto distal
Universidade Federal de Uberlândia
Inserção
Inervação
Face palmar do N. ulnar
dedo V
Face palmar do N. mediano
dedo II
Face palmar do N. mediano
dedos I a IV
Movimento
predominante
Flexão do dedo V
Flexão do dedo II
Flexão das articulações
metacarpofalangeanas e
interfalangenas
Face palmar do N. ulnar
dedo I
Flexão das articulações
metecarpofalangeana I e
interfalangeana I
Face medial do N. mediano
rádio no seu
quarto distal
Pronação
70
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Universidade Federal de Uberlândia
71
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 1: Fotomacrografias da região antebraquial esquerda de um espécime macho adulto de Alouatta
guariba em vista lateral dos músculos extesores superficias (A), vista lateral da musculatura extensora
profunda, após rebatimento lateral dos mm. extensores radiais do carpo, extensor dos dedos, extensor do
dedo mínimo e extensor ulnar do carpo (B), vista lateral da musculatura extensora profunda após rebatimento
medial dos mm. extensores radiais do carpo, extensor dos dedos, extensor do dedo mínimo, extensor ulnar do
carpo e flexor ulnar do carpo (C), vista medial dos músculos flexores superficiais (D), vista medial da
musculatura flexora profunda após rebatimento dos mm. flexor ulnar do carpo, palmar longo, flexor
superficial dos dedos e flexor radial do carpo (E) e vista medial da musculatura profunda após secção e
rebatimento cranial da origem umeral do m. flexor profundo dos dedos para visualização das demais porções.
1- M. braquiorradial; 2- M. extensor radial longo do carpo e seu tendão de inserção (2´); 3- M. extensor
radial curto do carpo e seu tendão de inserção (3´); 4- M. extensor dos dedos e seu tendão de inserção (4’); 5M. extensor do dedo mínimo; 6- M. extensor ulnar do carpo; 7- Retináculo extensor; 8- M. extensor longo do
polegar; 9- M. flexor ulnar do carpo; 10- M. supinador; 11- Rádio; 12- M. abdutor longo do polegar; 13- M.
extensor curto do polegar; 14- M. extensor longo do polegar; 15- 1º compartimento tendíneo; 16- M.
extensor do dedo indicador; 17- M. extensor do dedo III; 18- M. flexor do dedo V; 19- M. pronador redondo;
20- M. flexor radial do carpo; 21- M. flexor superficial dos dedos e seu tendão de inserção (21’); 22- M.
palmar longo e seu ponto de inserção (22’); 23- M. flexor ulnar do carpo; 24- M. flexor longo do polegar;
25- M. flexor do dedo V e seu tendão de inserção (25’); 26- M. flexor do dedo II e seu tendão de inserção
(26’); 27- M. flexor profundo dos dedos (27 umeral; 27’radial; 27’’ulnar);* - Epicôndilo lateral do úmero; # Epicôndilo medial do úmero; seta cheia  - N. mediano;  - N. ulnar.
Os músculos extensores no antebraço do Alouatta guariba mostraram-se dispostos em duas camadas,
uma superficial e outra profunda. O grupo superficial foi formado pelos músculos braquiorradial, extensor
radial longo do carpo, extensor radial curto do carpo, extensor dos dedos, extensor do dedo mínimo e
extensor ulnar do carpo e o grupo profundo pelos músculos supinador, abdutor longo do polegar, extensor
curto do polegar, extensor longo do polegar, extensor do dedo indicador e extensor do dedo III. Todos estes
músculos receberam ramos do nervo radial, assim como nos seres humanos (MARTINI et al., 2009), Cebus
Universidade Federal de Uberlândia
72
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
libidinosus (AVERSI-FERREIRA et al., 2011) e também no grupo muscular homólogo dos mamíferos
domésticos (LIEBICH et al., 2011).
O m. braquiorradial apresentou origem na crista supracondilar lateral, à semelhança do descrito para
carnívoros domésticos (LIEBICH et al., 2011), seres humanos (AUMÜLLER et al., 2009) e para o C.
libidinousus (AVERSI-FERREIRA et al., 2006). De fato, a presença de um m. braquiorradial bem
desenvolvido é esperada em espécies com amplos movimentos de rotação do antebraço, visto que em
mamíferos essencialmente cursoriais costuma estar ausente ou rudimentar (LIEBICH et al., 2011). Quanto
aos mm. extensor radial longo do carpo e extensor radial curto do carpo, pode-se observar que seus tendões
de inserção passam sobre o retináculo extensor e profundamente aos tendões dos mm. abdutor longo do
polegar e extensores do polegar. Isto difere do descrito por Aumüller et al. (2009) para seres humanos, onde
o tendão passaria sob o primeiro compartimento tendíneo profundamente ao retináculo extensor.
O m. extensor dos dedos exibiu-se carnoso até o quarto distal do antebraço e enviou um tendão para
o dedo II, dois tendões para o dedo III, um tendão para os dedos III e IV, e finalmente dois tendões para o
dedo IV. Isto difere de outras espécies mamíferas que também têm cinco dedos (ex.: C. libidinosus e
carnívoros) onde o homólogo m. extensor comum dos dedos tem inserção também no dedo V (EVANS;
DELAHUNTA, 2001; AVERSI-FERREIRA et al., 2011). No bugio, o movimento de extensão do dedo V
pode ser atribuído ao m. extensor do dedo mínimo, assim como nos seres humanos (AUMÜLLER et al.,
2009). Este apresentou uma comunicação aponeurótica com o m. extensor dos dedos, fazendo supor que
ambos os músculos possam contrair simultaneamente. No C. libidinosus o m. extensor do dedo mínimo se
insere nos dedos IV e V, semelhante ao gênero Papio (AVERSI-FERREIRA et al., 2011).
Além disso, foi observado um músculo com origem no terço médio da face lateral da ulna, cujo
tendão transitou sob o quarto compartimento tendíneo, profundamente aos tendões do m. extensor dos dedos,
e se inseriu exclusivamente na face dorsal do dedo III. Este músculo relacionou-se cranialmente com o m.
extensor do dedo indicador. Não foi encontrada na anatomia humana nem na descrição para o C. libidinosus
menção a este, ao qual parece se tratar de um m. extensor do dedo III. O músculo extensor do dedo indicador
teve origem no terço diafisário proximal, na face lateral da ulna e membrana interóssea seguindo distal e
cranialmente até o dedo indicador passando sob o quarto compartimento. Estando localizado entre os m.m.
extensor ulnar do carpo (cranialmente) e extensor do dedo III (caudalmente). Segundo Aversi-Ferreira et al.
(2011) no C. libidinosus este músculo se insere nos dedos II a IV tendo semelhança com os gêneros Pan e
Papio. Em seres humanos o m. extensor do dedo indicador possui um único tendão para o dedo II
(MARTINI et al. 2009) assim como observado no A. guariba.
O músculo extensor curto do polegar, ausente no gênero Papio, foi identificado no A. guariba com
disposição semelhante a dos seres humanos (AUMÜLLER et al., 2009), C. libidinosus e gênero Pan
(AVERSI-FERREIRA et al., 2011). Os demais músculos deste grupo apresentaram disposições semelhantes
às ilustradas por Aversi-Ferreira et al. (2006) para o C. libidinosus e por Martini et al. (2009) para seres
humanos.
Os músculos flexores no antebraço também apresentaram agrupamento superficial e outro profundo.
Os músculos superficiais foram pronador redondo, palmar longo, flexor radial do carpo, flexor ulnar do
carpo, flexor superficial dos dedos e os profundos o flexor profundo dos dedos, flexor longo do polegar,
flexor do dedo II, flexor do dedo V e pronador quadrado. A inervação deste grupo foi realizada por ramos
dos nervos mediano e ulnar assim como nos seres humanos (MARTINI et al., 2009) e assim como o grupo
muscular homólogo dos mamíferos domésticos (LIEBICH et al., 2011).
O m. pronador redondo apresentou o mesmo ponto de origem que no C. libidinosus (AVERSIFERREIRA et al., 2011), porém nos seres humanos este músculo é dividido em duas cabeças, uma ulnar e
outra umeral (AUMÜLLER et al. 2009) o que se assemelha com o verificado para o gênero Pan (AVERSIFERREIRA et al., 2011). O músculo palmar longo, de ocorrência em cerca de 90% dos seres humanos, teve
características semelhantes às do C. libidinosus e dos gêneros Pan e Papio (AVERSI-FERREIRA et al.
2011).
O músculo flexor radial do carpo no A. guariba se situou entre os músculos pronador redondo e
flexor superficial dos dedos, como ocorre nos cães (EVANS; de LAHUNTA, 2001). Sua inserção no A.
guariba, restrita ao metacarpiano II, foi semelhante à de seres humanos, gênero Papio, C. libidinosus e
diferente a do gênero Pan cuja inserção também ocorre no metacarpiano III (AVERSI-FERREIRA et al.
2011).
Universidade Federal de Uberlândia
73
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O músculo flexor superficial dos dedos se originou no epicôndilo medial do úmero, seguiu trajeto
sobre o retináculo flexor e distribuiu tendões para os dedos III a V. Nos seres humanos este músculo possui
uma cabeça úmero-ulnar e outra radial (AUMÜLLER et al., 2009) e no C. libidinosus apresentou duas
cabeças, uma umeral e outra radial (AVERSI-FERREIRA et al., 2011), diferentemente do evidenciado no
bugio. Também diferente do A. guariba, exibe inserção nos dedos II a V nos cães domésticos (EVANS; de
LAHUNTA, 2001). O músculo flexor ulnar do carpo apresentou semelhança anatômica com o descrito para
C. libidinosus, seres humanos e gêneros Pan e Papio (AVERSI-FERREIRA et. al., 2011).
Foi encontrado um músculo com origem na face caudal da ulna próximo ao olécrano, com trajeto sob
o músculo flexor ulnar do carpo, carnoso até o quarto distal do antebraço, passando sob o retináculo flexor e
se inserindo exclusivamente no dedo V, o qual se optou por denominar “M. flexor do dedo V”. Este músculo
não aparece descrito na anatomia humana (AUMÜLLER et al., 2009; MARTINI et al., 2009) e nem para o
C. libidinosus (AVERSI-FERREIRA et. al., 2011).
Outra diferença encontrada no A. guariba foi a presença de um músculo com origem no epicôndilo
medial do úmero, formado por dois ventres fusiformes intercalados por um forte tendão. Este músculo exibiu
uma comunicação aponeurótica com o m. flexor ulnar do carpo e seu tendão de inserção transitou sob o
retináculo flexor antes de se fixar exclusivamente na face palmar do dedo II. Sugeriu-se a denominação de
“M. flexor do dedo II”, uma vez que não foi encontrada menção a este para seres humanos e demais primatas
(AUMÜLLER et al., 2009; MARTINI et al., 2009; AVERSI-FERREIRA et al., 2006; AVERSI-FERREIRA
et. al., 2011).
O m. flexor profundo dos dedos teve origem ampla na cabeça do rádio, face medial da ulna,
membrana interóssea e epicôndilo medial do úmero, assim como nos seres humanos. Formou tendões que se
inseriram nos dedos I a IV. Esta divisão é observada em mamíferos domésticos, nos quais este músculo é
dividido em porções (umeral, ulnar e radial) (CLAIR, 1986). Nos seres humanos e no C. libidinosus este
músculo não apresenta divisões, mas no gênero Papio ele apresenta uma porção radial e outra ulnar,
distribuindo tendões para os dedos I a V, diferenciando-se do gênero Pan onde o m. flexor profundo dos
dedos não envia tendão para o dedo II (AVERSI-FERREIRA et al., 2011). No Cebus apella este músculo
apresenta uma parte carnosa fundida com o m. flexor longo do polegar (AVERSI-FERREIRA et al., 2005), o
que não foi evidenciado no A. guariba.
O músculo flexor longo do polegar tem origem na face crânio-medial do terço diafisário médio do
rádio e membrana interóssea, sob a extremidade distal do m. pronador redondo. Seguiu um trajeto caudomedial se juntando em um tendão do m. flexor profundo dos dedos para então seguir até o dedo I. Foi
carnoso e largo em toda sua extensão. No C. libidinosus e C. apella este músculo se insere na falange distal
do dedo I e envia um tendão ao dedo II, algo semelhante ao ser humano (AVERSI-FERREIRA et al. 2011;
AVERSI-FERREIRA et al., 2005) mas que não foi observado no bugio. Segundo Aversi-Ferreira (2011) no
gênero Papio também há comunicação entre os mm. flexor longo de polegar e flexor profundo dos dedos,
assim como observado no A. guariba. Os demais músculos do grupo flexor seguiram a mesma disposição
descrita para seres humanos e demais primatas (AUMÜLLER et al., 2009; MARTINI et al., 2009; AVERSIFERREIRA et al., 2006; AVERSI-FERREIRA et. al., 2011).
Comparativamente, os músculos flexores do A. guariba são mais numerosos do que nos seres
humanos e demais primatas com informações disponíveis na literatura consultada. Talvez o hábito arborícola
do bugio explique essa maior necessidade de força e capacidade de preensão para se sustentar nas árvores, o
que não ocorre nos seres humanos e gêneros Pan e Papio. Mesmo em relação aos cebídeos arborícolas com
musculatura antebraquial descrita, o bugio também parece necessitar de mais força visto que a utilização da
cauda é menor e seu porte maior.
Quanto aos compartimentos tendíneos, notou-se que o A. guariba tem um número reduzido quando
comparado ao descrito para seres humanos por Aumüller et al. (2009), não sendo possível identificar
macroscopicamente os segundo, terceiro, quinto e sexto compartimentos. Esta simplificação pode decorrer
de movimentos mais diversificados e precisos na mão humana que na do bugio.
Ao todo, o A. guariba exibiu 22 músculos na região antebraquial, número consideravelmente maior
que o dos mamíferos cursoriais (em geral doze). Isto se explica, pois o repertório de movimentos manuais do
bugio é mais complexo e variado, incluindo ampla capacidade de rotação, enquanto nos indivíduos cursoriais
privilegiam-se movimentos no plano sagital (flexão e extensão).
CONCLUSÃO
Universidade Federal de Uberlândia
74
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A musculatura do antebraço do A. guariba exibiu disposição adaptada para a complexidade de
movimentos dos primatas, especialmente para o hábito arborícola. Como principais diferenças, encontrou-se
no grupo extensor um músculo específico para o dedo III e no grupo flexor dois músculos bem destacados e
específicos para os dedos II e V, sem que houvesse descrição dos mesmos para seres humanos e demais
primatas. A inervação apresentou padrão comum aos primatas, sendo o n. radial responsável pelos músculos
extensores e os nn. mediano e ulnar pelos flexores.
REFERÊNCIAS
AVERSI-FERREIRA, T.A. et al. Anatomia comparativa entra os músculos extensores do antebraço de
Cebus libidinosus com humanos e outros primatas. Revista eletrônica de Farmácia, v. 3, p. 13-15, 2006;
AVERSI-FERREIRA, T.A. et al. Comparative Anatomical Analyses of the Forearm Muscles of Cebus
libidinosus (Rylands et al. 2000): Manipulatory Behavior and Tool Use. Plos One, v. 6, n. 7, p. 1-8, 2011;
AVERSI-FERREIRA, T.A. et al. Estudo anatômico de músculos profundos do antebraço de Cebus apela
(Linnaeus,1766). Acta Sci. Biol. Sci., Maringá, v. 27, n. 3, p. 297- 301, julho/set. 2005;
AUMÜLLER, G. et al. Sistema locomotor- Membro superior. In:______.(Org). Anatomia, Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2009. p.421-502;
BUSS, G. et al. O novo plano diretor e a conservação do bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans Cabrera,
1940) no município de Porto Alegre, RS. In: A primatologia no Brasil, Aracaju, Sociedade brasileira de
primatologia, Biologia geral e experimental- UFS. p. 169-178, 2008;
CLAIR, L.E. Músculos do carnívoro. In: GETTY, R. (Org.). Sisson/Grossman Anatomia dos animais
domésticos, 5. ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v. 2, p.1431-1436, 1986.
GRAND, T.I. The functional anatomy of the lower limb of the howler monkey (Alouatta caraya). American
Journal of Physical Anthropology, v. 28, n. 2, p.163-181, mar. 1968;
LIEBICH HG, MAIERL J AND KÖNIG HE. Membros Torácicos ou Anteriores (Membra Thoracica). In:
KÖNIG HE AND LIEBICH HG (Eds). Anatomia dos Animais Domésticos: Texto e Atlas Colorido, 4. ed.,
Porto Alegre: Artmed, p. 165-234;
MARTINI, F.H. et al. O sistema muscular- Musculatura apendicular. In:______.(Org.). Anatomia humana, 6
ed, Porto Alegre: Artmed, 2009. p.284-301;
MENDES, S.L., et al., 2008. Alouatta guariba. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species.
Version 2013.2..Disponível em : < http://www.iucnredlist.org/details/39916/0>. Acesso em: 8 abr. 2014;
NEVILLE et al. The howling monkeys, genus Alouatta. In: MITTERMEIER, R. A.; RYLANDS, A. B.;
COIMBRA-FILHO, A. F.; FONSECA, G. A. B et al (Orgs). The Ecology and Behavior of Neotropical
Primates, vol. 2, Washington - DC: World Wildlife Fund, 349-453 p, 1988.
Universidade Federal de Uberlândia
75
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
DESCRIÇÃO ANATOMORADIOGRÁFICA DA COLUNA VERTEBRAL DO GAMBÁ-DEORELHA-BRANCA (DIDELPHIS ALBIVENTRIS )
Lima, I. G.1; Junqueira, I. V. S. F.2; Guimarães, G. C.3; Salgueiro, N. B. M.3; Rosa, M. C. B.3; Lacreta Junior,
A. C. C.3
1. Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras, Lavras
([email protected], 32 9194-5698).
2. Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras, Lavras
([email protected], 35 9183-7183).
3. Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras, Lavras – MG.
– MG
– MG
RESUMO
O gambá-de-orelha-branca é membro do gênero Didelphis e uma das espécies de mamíferos
silvestres mais comuns no Brasil Central. Foram utilizadas colunas vertebrais provenientes de 4 cadáveres de
Didelphis albiventris, coletados em rodovias do estado de Minas Gerais. Para o preparo dos ossos, realizouse a técnica da maceração química preconizada. Além disso, radiografias foram realizadas para auxiliar na
descrição e identificação dos acidentes ósseos. O processo espinhoso da terceira vértebra cervical é bastante
largo e proeminente, apresentando espessura de 0,641 cm x 0,673 cm perto do arco e 0,695 x 0,808 cm
próximo ao ápice, assemelhando-se a um paralelepípedo e com altura de 1,16 cm, além de apresentar o ápice
dividido por um sulco. Os processos articulares craniais e caudais, bem como os processos costais da terceira
vértebra cervical são pouco desenvolvidos. O processo espinhoso da quarta vértebra cervical é bastante
proeminente, apresentando espessura de 0,605 cm x 0,718 cm, porém mais baixo do que aquele da terceira
vértebra cervical, apresentando altura de 1,181 cm. O processo espinhoso inclina-se caudalmente e a
superfície dorsal deste processo apresenta-se dividida por um sulco mais raso do que o da terceira vértebra.
A quinta vértebra cervical exibe um processo espinhoso menos proeminente do que o das vértebras
anteriores, apresentando espessura de 0,418 cm x 0,641 cm e altura de 1,075 cm. Sua superfície dorsal
apresenta-se espessa e com uma tuberosidade. O processo espinhoso da quinta vértebra cervical é inclinado
caudalmente. A quinta vértebra cervical apresenta os processos articulares craniais e caudais e os processos
costais bem desenvolvidos. Tanto o corpo da quinta quanto da sexta vértebras cervicais são largos
acompanhando o aumento na circunferência do forame vertebral, provavelmente pela presença da
intumescência cervical. A sétima vértebra cervical é a menor das cervicais. O forame transverso está
presente na sétima vértebra cervical. As bases dos processos espinhosos são mais largas (em relação ao
ápice) a partir da quarta vértebra torácica e os processos espinhosos são delgados até a nona vértebra
torácica. Da primeira à oitava vértebras torácicas a fóvea costal do processo transverso se comporta da
mesma maneira do que a observada em mamíferos domésticos, porém da nona à décima terceira esta fóvea
desloca-se para a lateral do corpo das vértebras próximo ao processo acessório. O sacro do D. albiventris é
constituído pela fusão de apenas duas vértebras sacrais, apresentando apenas um forame sacral ventral. Essa
espécie de gambá apresenta vinte e nove vértebras coccígeas. Radiograficamente há trabeculação óssea mais
aparente nos processos espinhosos do áxis à C5, T9 à T13 e lombares. Em comparação aos cães os espaços
articulares entre C2, C3, C4 e C5 apresentam-se estreitados. Todos os espaços articulares entre as vértebras
torácicas também são estreitos, porém em menor proporção. Nota-se ausência de vértebra anticlinal
separando o segmento torácico do lombar da coluna vertebral. O osso sacro é formado por duas vértebras
sacrais que não se apresentaram fusionadas à radiografia.
Palavras-chave: vértebras; morfologia; diagnóstico por imagem.
ABSTRACT
The white-eared opossum is a member of the genus Didelphis and one of the most common species
of wild mammals in central Brazil. Vertebral columns of 4 corpses of Didelphis albiventris, listed from
highways in the state of Minas Gerais were used. To prepare the bones, was used the advocate technique of
Universidade Federal de Uberlândia
76
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
chemical maceration. In addition, radiographs were taken to assist the description and identification of the
injuries of the bones. The spinous process of the third cervical vertebrae is very wide and prominent, with a
thickness of 0.641 cm x 0.673 cm near the bow and 0.695 x 0.808 cm near the apex, resembling a paving
with height of 1.16 cm, and presenting the apex divided by a groove. The cranial and caudal articular
processes, as well as the costal processes of the third cervical vertebrae are underdeveloped. The spinous
process of the fourth cervical vertebrae is quite prominent, with thickness of 0.605 cm x 0.718 cm, but lower
than that of the third cervical vertebrae, with height of 1.181 cm. The spinous process tilts and the dorsal
caudal surface of this process is divided by a shallower groove than the third vertebrae. The spinous process
of the fifth cervical vertebrae is less prominent than the preceding vertebrae, with a thickness of 0.418 cm x
0.641 cm and 1.075 cm in height. Its dorsal surface presents itself with a thick tuberosity. The spinous
process of the fifth cervical vertebra is inclined caudally. The fifth cervical vertebrae shows the cranial and
caudal articular processes and costal processes well developed. Both the body of the fifth as the sixth
cervical vertebrae are wide with an increase in the circumference of the vertebral foramen, probably by the
presence of cervical intumescence. The seventh cervical vertebrae is the small one, and presents a transverse
foramen. The bases of the spinous processes are wider (related to the apex) since the fourth thoracic
vertebrae and the spinous processes are slender until the ninth thoracic vertebrae. The costal fovea of the
transverse process from the first to the eighth thoracic vertebraes behaves in the same manner as observed in
domestic mammals, but the fovea moves to the side of the body of the vertebrae near the fitting process from
from the ninth to the thirteenth thoracic vertebraes. The D. albiventris sacrum is the result of the fusion of
only two sacral vertebraes, with only one ventral sacral foramen. This species of opossum presents twentynine coccygeal vertebraes. There are radiographically an apparent bone trabeculation in the spinous process
from the axis to the C5, from T9 to T13 and lumbar vertebraes. In contrast to dogs articular spaces between
C2, C3, C4 and C5 are presented narrowed. All joint spaces between the thoracic vertebrae are also narrow,
but to a lesser extent. It is noted no anticline separating the thoracic vertebra of the lumbar segment of the
spine. The sacrum is formed by two sacral vertebrae that had not fused radiography.
Key words: vertebrae; morphology; imaging diagnosis.
INTRODUÇÃO
O gambá-de-orelha-branca é membro do gênero Didelphis e conhecido popularmente como saruê,
gambá ou mucura. É uma das espécies de mamíferos silvestres mais comuns no Brasil Central (cerrado,
caatinga e pantanal) (FONSECA et al., 1996).
São animais de corpo relativamente robusto que pesam entre 500 e 2.750 gramas. A maioria dos
indivíduos tem a pele cinza com esparsos pelos brancos, no entanto, uma faixa mais escura também é vista
em alguns indivíduos (LEMOS; CERQUEIRA, 2002). Esta espécie normalmente possui orelhas com pelos
brancos, pele escura no entorno dos olhos e narinas rosadas (LEMOS, 2002).
Sua cauda preênsil é em grande parte glabra e escamosa, exceto a base da cauda. Esta espécie tem
uma crista sagital pronunciada e a seguinte fórmula dentária: 5/4, 1/1, 3/3, 4/4 (SMITH, 2007). As fêmeas
têm um marsúpio com 13 mamas. Houve alguma discordância quanto ao dimorfismo sexual nesta espécie,
porém aceita-se que os machos são um pouco maiores do que as fêmeas além de possuírem caninos maiores
(CERQUEIRA; TRIBO, 2008).
São geograficamente encontrados no norte, centro e leste da América do Sul, da Colômbia e da
Guiana francesa, até a região central da Argentina, sendo no Brasil encontrado em quase todo território, com
exceção da Bacia Amazônica (ALESSIO et al., 2005; COSTA et al., 2008). São animais que se adaptam
facilmente a maioria dos habitats. São encontrados em florestas de mata atlântica, cerrados, pântanos e até
mesmo em áreas com alteração antrópica como áreas agrícolas, desmatadas e ambientes suburbanos
(CÁCERES, 2002; COSTA et al., 2008; SMITH, 2007; DE ALMEIDA et al., 2008).
Assim como outras espécies do gênero, os gambás-de-orelhas-brancas têm uma longevidade curta, a
maioria dos indivíduos selvagens não vive mais que 20 meses (SMITH, 2007). São marsupiais solitários, de
hábitos principalmente terrestres e escansoriais (COSTA et al., 2008). São animais noturnos e crepusculares,
raramente vistos durante o dia. Permanecem a maior parte do tempo em abrigos como buracos no chão, em
árvores ou outros lugares escuros (SMITH, 2007). Em relação aos hábitos alimentares, são onívoros
oportunistas. Costumam se alimentar principalmente de invertebrados, mas são flexíveis quanto a sua dieta,
Universidade Federal de Uberlândia
77
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
sendo essa baseada na disponibilidade de alimentos, por exemplo, em épocas chuvosas costumam comer
frutas, répteis e insetos, enquanto que em épocas mais secas se alimentam de pássaros e centopéias
(TAMAMONDI; DIAS, 1999). Os gambás também possuem imunidade a venenos de cobras, fato que se
necessário fará delas seu alimento (OLIVEIRA; SANTORI, 1999). Na natureza seus predadores principais
são o lobo guará (Chrysocyon brachyurus) (JACOMO et al., 2004), felinos em geral (Felidae), gaviões
(Rupornis magnirostris), corujas (Tyto alba) e jiboias (Boa constrictor) (COSTA et al., 2008; SMITH,
2007).
Os gambás-de-orelhas-brancas são importantes dispersores de sementes de uma inúmera variedade
de plantas como as das famílias Solanacea, Piperaceae, Arecaceae e Rutaceae (CÁCERES, 2002).
Atualmente, estão sob baixo risco de extinção na lista da IUCN, devido ao fato de ainda terem uma grande
população e também pela sua facilidade em se adaptar a ambientes alterados pelo homem como as cidades
(COSTA et al., 2008; DE ALMEIDA et al., 2008).
MaterMATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho está devidamente registrado no SISBIO (Sistema de Autorização e Informação
em Biodiversidade) do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) sob o número
31887-1.
Foram utilizadas colunas vertebrais provenientes de 4 cadáveres de Didelphis albiventris, coletados
em rodovias do estado de Minas Gerais. Os cadáveres foram transportados ao Laboratório de Anatomia
Animal da Universidade Federal de Lavras. Para o preparo dos ossos, realizou-se a técnica da maceração
química preconizada por Rodrigues (2005). Além disso, radiografias foram realizadas para auxiliar na
descrição e identificação dos acidentes ósseos.
Os acidentes ósseos da coluna do gambá foram descritos de acordo com os termos recomendados
pelo International Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O gambá apresentou sete vértebras na região cervical da mesma forma que os mamíferos domésticos
(EVANS; DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010).
A primeira vértebra cervical denomina-se atlas que exibiu no tubérculo dorsal duas eminências voltadas
cranialmente. Os arcos ventral e dorsal possuem espessura semelhante, porém o dorsal é largo e o ventral
estreito. O atlas ainda apresenta o tubérculo ventral, a fóvea do dente, as fóveas articulares craniais e caudais,
a asa, a fossa e o forame vertebral lateral que se assemelham aos dos mamíferos domésticos (EVANS;
DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010). O atlas
do gambá exibe o forame transversal assim como equinos, suínos e carnívoros (GODINHO et al., 2001;
GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010), porém, o forame alar é substituído pela incisura alar
como descrito em cães e gatos (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING,
2010).
A segunda vértebra cervical, o áxis, exibe o dente com forma aproximada de um cilindro, os
processos articulares craniais apresentam-se convexos e os processos articulares caudais apresentam-se
pouco desenvolvidos assemelhando-se aos dos carnívoros (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GETTY, 2008;
DYCE; SACK; WENSING, 2010). A crista ventral do áxis é bastante saliente, como nos ruminantes,
apresentando um tubérculo pouco desenvolvido (GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK;
WENSING, 2010). O processo espinhoso do áxis apresenta-se dividido em duas lâminas dando origem a
dois tubérculos rugosos como descrito nos equinos (GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010). Os
processos transversos do áxis assemelham-se aos dos ruminantes e carnívoros, sendo pontiagudos e
encurvados caudalmente (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE;
SACK; WENSING, 2010). O forame vertebral lateral transforma-se na incisura vertebral cranial, assim
como nos carnívoros (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010), e
o forame transversal apresenta-se bem desenvolvido da mesma forma que nas espécies domésticas (EVANS;
DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010).
As demais vértebras cervicais não apresentam os mesmos caracteres morfológicos, seus corpos
diminuem de comprimento à medida que se distanciam na coluna vertebral. A terceira, quarta e quinta
Universidade Federal de Uberlândia
78
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
vértebras cervicais possuem crista ventral menos cortante do que aquela exibida pelo áxis, assim como
observado em ruminantes (GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010), que
exibem um tubérculo pouco proeminente e projetado caudalmente. As vértebras cervicais três, quatro e cinco
exibem processos transversos voltados caudalmente apresentando-se perfurados em sua base pelo forame
transversal, bem desenvolvido, como nos ruminantes (GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE;
SACK; WENSING, 2010).
O processo espinhoso da terceira vértebra cervical é bastante largo e proeminente, apresentando
espessura de 0,641 cm x 0,673 cm perto do arco e 0,695 x 0,808 cm próximo ao ápice, assemelhando-se a
um paralelepípedo e com altura de 1,16 cm, além de apresentar o ápice dividido por um sulco. Os processos
articulares craniais e caudais, bem como os processos costais da terceira vértebra cervical são pouco
desenvolvidos.
O processo espinhoso da quarta vértebra cervical é bastante proeminente, apresentando espessura de
0,605 cm x 0,718 cm, porém mais baixo do que aquele da terceira vértebra cervical, apresentando altura de
1,181 cm. O processo espinhoso inclina-se caudalmente e a superfície dorsal deste processo apresenta-se
dividida por um sulco mais raso do que o da terceira vértebra. A quarta vértebra cervical apresenta os
processos articulares craniais e caudais e os processos costais à semelhança dos mamíferos domésticos
(EVANS; DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010).
A quinta vértebra cervical exibe um processo espinhoso menos proeminente do que o das vértebras
anteriores, apresentando espessura de 0,418 cm x 0,641 cm e altura de 1,075 cm. Sua superfície dorsal
apresenta-se espessa e com uma tuberosidade. O processo espinhoso da quinta vértebra cervical é inclinado
caudalmente. A quinta vértebra cervical apresenta os processos articulares craniais e caudais e os processos
costais bem desenvolvidos.
Tanto o corpo da quinta quanto da sexta vértebras cervicais são largos acompanhando o aumento na
circunferência do forame vertebral, provavelmente pela presença da intumescência cervical (GODINHO et
al., 2001). Os processos costais da sexta vértebra cervical são caracteristicamente bem desenvolvidos,
apresentando-se como largas lâminas ósseas dispostas à semelhança de uma sela, assim como nos mamíferos
domésticos (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK;
WENSING, 2010).
A sétima vértebra cervical é a menor das cervicais. Diferentemente do encontrado nos mamíferos
domésticos (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK;
WENSING, 2010) esta vértebra não apresenta a fóvea costal para articulação com a cabeça da primeira
costela. Seu processo espinhoso é fino e curto, diferentemente dos mamíferos domésticos (EVANS;
DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010). O forame
transverso está presente, o que não ocorre em nenhum mamífero doméstico (EVANS; DELAHUNTA, 2001;
GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010).
O gambá-de-orelha-branca possui 13 vértebras torácicas com processos espinhosos
caracteristicamente bem desenvolvidos, sendo os da segunda e terceira vértebras torácicas os maiores, após a
terceira diminuem no sentido caudal. Todas as vértebras torácicas possuem incisuras bem desenvolvidas. A
primeira vértebra torácica apresenta o processo transverso mais desenvolvido que o das outras vértebras
torácicas.
Da primeira a nona vértebras torácicas observam-se a fóvea costal do processo transverso e as fóveas
costais, cranial e caudal, semelhantes às dos mamíferos domésticos (EVANS; DELAHUNTA, 2001;
GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010). Possuem facetas articulares
planas em seus processos articulares craniais e caudais que estão localizados no dorso do arco de cada
vértebra torácica. Assim como nos mamíferos domésticos (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GODINHO et
al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010). Os processos transversos são curtos e espessos,
conforme descrições em mamíferos domésticos (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001;
GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010). Os processos espinhosos são inclinados caudalmente até
a 12ª vértebra torácica, estando o processo espinhoso da última vértebra torácica disposto verticalmente,
vértebra anticlinal, assim como nos bovinos (GODINHO, 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING,
2010). As bases dos processos espinhosos são mais largas (em relação ao ápice) a partir da quarta vértebra
torácica e os processos espinhosos são delgados até a nona vértebra torácica, diferentemente do encontrado
nos mamíferos domésticos (GODINHO, 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010).
Universidade Federal de Uberlândia
79
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A partir da décima vértebra torácica o processo articular verticaliza-se e o processo acessório
desenvolve-se para possivelmente limitar a rotação destas vértebras.
Da primeira à oitava vértebras torácicas a fóvea costal do processo transverso se comporta da mesma
maneira do que a observada em mamíferos domésticos (GODINHO, 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK;
WENSING, 2010), porém da nona à décima terceira esta fóvea desloca-se para a lateral do corpo das
vértebras próximo ao processo acessório. .
Da décima a décima terceira vértebras torácicas os processos espinhosos diminuem de altura e
aumentam em comprimento (craniocaudal) gradativamente, assemelhando-se ao formato das vértebras
lombares.
O D. albiventris possui sete vértebras lombares, como carnívoros e suínos (EVANS; DELAHUNTA,
2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010). A primeira e a segunda
vértebras lombares possuem processo transverso pouco desenvolvido, á partir da terceira vértebra lombar
aumentam o seu tamanho gradativamente e estão voltados cranioventralmente. Os processos articulares
cranial e caudal apresentam superfícies articulares mais ou menos planas, o que as diferencia do comumente
observado em mamíferos domésticos, cujas superfícies se apresentam côncavas e convexas, respectivamente.
O processo articular cranial é verticalizado em todas as vértebras lombares. Em vista dorsal, as vértebras
lombares apresentam uma projeção laminar semelhante ao processo transverso, esta que vai do o processo
articular cranial ao processo articular caudal, e na extremidade cranial observa-se o processo mamilar bem
desenvolvido. O processo espinhoso aumenta gradativamente da primeira à sétima vértebras lombares
estando levemente inclinados caudalmente, exceto o da sétima vértebra lombar.
Nas vértebras lombares do gambá-de-orelha-branca o processo acessório está presente de L1 a L6.
Há um aumento na circunferência do forame vertebral da quinta e sexta vértebras lombares, provavelmente
pela presença da intumescência lombar, assim como nos bovinos e equinos (GODINHO, 2001; GETTY,
2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010) e diferentemente dos suínos cuja intumescência lombar está
localizada na região da sexta vértebra lombar e dos carnívoros cuja intumescência lombar localiza-se entre a
terceira e quarta vértebras lombares (GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010; EVANS;
DELAHUNTA, 2001).
O sacro do D. albiventris é constituído pela fusão de apenas duas vértebras sacrais, apresentando
apenas um forame sacral ventral, o que difere do normalmente descrito entre mamíferos domésticos. Os
processos articulares craniais e caudais assemelham-se aos presentes nas vértebras lombares. Os processos
espinhosos apresentam-se similares à L7, porém mais curtos e não fusionados, portanto não formando a
crista sacral mediana, como nos ruminantes e cães (GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010;
EVANS; DELAHUNTA, 2001). As asas encurvam-se ventrocranialmente como nos ruminantes e não
articulam-se com os processos transversos da última vértebra lombar, diferentemente dos equinos. A crista
sacral lateral é bem proeminente e não há crista sacral intermédia (EVANS; DELAHUNTA, 2001;
GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010).
Essa espécie de gambá apresenta vinte e nove vértebras coccígeas, diferentemente de todos os
mamíferos domésticos que possuem nesta região entre 17 e 20 vértebras nos equinos, 3 nos carneiros de
cauda curta, 18 e 20 nos bovinos, 11 e 13 nos caprinos, 16 e 24 nos ovinos, 20 e 22 em cães, 20 e 24 em
gatos e 20 e 23 em suínos (EVANS; DELAHUNTA, 2001; GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE;
SACK; WENSING, 2010). As vértebras coccígeas perdem suas características distintivas e diminuem de
tamanho à medida que progridem caudalmente. Apresentam arcos hemais na forma de V ou Y em todas as
vértebras caudais, diferentemente do cão que apresenta processos hemais somente até a quinta vértebra
coccígea, ruminantes que apresentam processos hemais que delimitam arcos hemais apenas cinco ou seis
primeiras coccígeas e de equinos e suínos que não possuem esses processos (EVANS; DELAHUNTA, 2001;
GODINHO et al., 2001; GETTY, 2008; DYCE; SACK; WENSING, 2010). Da primeira vértebra coccígea
até a quarta o processo transverso apresenta-se bem desenvolvido e os processos espinhosos se apresentam
como cristas discretas. A quinta vértebra difere das anteriores por apresentar-se mais comprida e estreita. A
partir da sexta vértebra coccígea os processos articulares cranial e caudal apresentam-se bem discretos e não
se articulam. A partir da quarta vértebra coccígea não há mais o canal vertebral.
Radiograficamente o atlas do gambá assemelha-se com o do cão. Os processos espinhosos do áxis,
C3, C4 e C5 são proeminentes em comparação com os do cão e gato (SCHEBITZ; WILKENS, 1978;
PENNINCK, 2011). Os processos espinhosos do áxis e de C3 são perpendiculares à coluna vertebral
cervical, mas da C4 à C7 são ligeiramente encurvados caudalmente. O processo transverso da C6 é mais
Universidade Federal de Uberlândia
80
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
proeminente e largo quando comparado ao do cão além de estar direcionado ventralmente. Os processos
transversos das demais vértebras cervicais estão dispostos à semelhança do cão, porém menos proeminentes
(SCHEBITZ; WILKENS, 1978; PENNINCK, 2011).
Há trabeculação óssea mais aparente nos processos espinhosos do áxis à C5, T9 à T13 e lombares.
Em comparação aos cães os espaços articulares entre C2, C3, C4 e C5 apresentam-se estreitados. Todos os
espaços articulares entre as vértebras torácicas também são estreitos, porém em menor proporção.
Da T9 à T13 os processos espinhosos são perpendiculares à coluna vertebral torácica e mais largos
em comparação aos de cães e gatos (SCHEBITZ; WILKENS, 1978; PENNINCK, 2011).
Nota-se ausência de vértebra anticlinal separando o segmento torácico do lombar da coluna
vertebral. Os corpos das vértebras lombares apresentam aspecto radiográfico semelhante ao dos gatos,
apresentando-se mais longos em relação ao dos cães (SCHEBITZ; WILKENS, 1978; PENNINCK, 2011).
O osso sacro é formado por duas vértebras sacrais que não se apresentaram fusionadas à radiografia,
provavelmente por se tratar de animais mais jovens do que o exemplar macerado. Os corpos das vértebras
coccígeas são mais longos em relação aos do cão, mas semelhantes aos do gato, e os espaços articulares entre
eles estreitos.
CONCLUSÃO
No estudo descritivo da coluna vertebral do gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) pode-se
notar que alguns acidentes ósseos se destacaram dos demais, o que lhes conferiu características próprias e
distintas da maioria dos mamíferos domésticos e silvestres, porém percebe-se grande semelhança quando
comparados aos de cães. Assim, conclui-se que a coluna vertebral do gambá-de-orelha-branca apresenta uma
morfologia que se assemelha mais à dos cães do que aquela exibida em outros animais. O número de
vértebras cervicais, torácicas, lombares são semelhantes aos dos mamíferos domésticos, porém o número de
vértebras sacrais e coccígeas diferem de todos os mamíferos domésticos. O sacro do D. albiventris é
constituído pela fusão de apenas duas vértebras sacrais, apresentando apenas um forame sacral ventral. Essa
espécie de gambá apresenta vinte e nove vértebras coccígeas.
A descrição da quinta e sexta vértebras cervicais e lombares do gambá-de-orelha-branca (Didelphis
albiventris) demonstra que existe alargamento do corpo acompanhando o aumento da circunferência do
forame vertebral, provavelmente pela presença das intumescências cervicais e lombares, respectivamente.
Radiograficamente há trabeculação óssea mais aparente nos processos espinhosos do áxis à C5, T9 à
T13 e lombares, além de estreitamento dos espaços articulares entre C2 e C5, T1 e T13. A vértebra anticlinal
está ausente separando nessa espécie. O osso sacro é formado por duas vértebras sacrais que não se
apresentaram fusionadas à radiografia, provavelmente pela idade dos exemplares radiografados..
Conclui-se então que as características anatômicas apresentadas pelos ossos da coluna vertebral do
gambá-de-orelha-branca podem estar relacionadas às funções desempenhadas pela cauda preênsil e aos
hábitos de vida desse animal
REFEÊNCIAS
ALESSIO, F. A.; PONTES, V. S. Feeding by Didelphis albiventris on tree gum in the notheaster Atlantic
Forest of Brazil. Mastozoologia Neotropical, v. 12, n. 1, p. 53-56, 2005.
CÁCERES, N. Food habits and seed dispersal by White-heared opossum Didelphis albiventris in southern
Brazil. Studies on Neotropical Fauna and the Environment, v. 37, p. 1-8, 2002.
CERQUEIRA, R.; TRIBE, C. Genus Didelphis. In: GARDNER, A. (Ed.). Mammals of South America:
Marsupials, Xenathrans, Shrews and Bats, v. 1, p. 17-25, 2008.
COSTA L.; ASTUA DE MORARES, D.; BRITO, D.; SORIANO, P.; LEW, D. ; DELGADO, C. “Didelphis
albiventris” (On-Line). IUCN Red List of Threatened Species, 2008. Disponível em: www.iucnredlist.org.
Acesso em: 6 abr. 2014.
Universidade Federal de Uberlândia
81
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
DE ALMEIDA, A.; TORQUETTI, C.; TALAMONDI, S. Use of space by the Neotropical marsupial
Didelphis albiventris in an urban Forest fragment. Revista Brasileira de Zoologia, v. 25, n. 2, p. 214-219,
2008.
DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. Tratado de anatomia veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2010. 834p.
EVANS, H. E.; DELAHUNTA, A. Sistemas esquelético e muscular. In: Guia para dissecação do cão. 5.
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 250p.
FONSECA, G. A. B.; HERRMANN, G.; LEITE, Y. L. R.; MITTERMEIER, R. A.; RYLANDS, A. B.;
PATTON, J. L. Lista anotada dos mamíferos do Brasil. Conservation International & Fundação
Biodiversitas, Occasional paper, n.4, 1996.
GETTY, R. Sisson/Grossman Anatomia dos animais domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008. 2048p.
GODINHO, H.P. et al. Esqueleto. In: ______. Anatomia dos ruminantes domésticos. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2001. Cap.2, p. 8-34.
JACOMO, A.; SILVEIRA, L.; DINIZ-FILHO, J. Niche separation between the maned wolf (Chrysocyon
brachyurus) in central Brazil. Journal of Zoology, v. 262, p. 99-106, 2004.
LEMOS, B.; CERQUEIRA, R. Morphological differentiation in the White-eared opossum group
(Didelphidae: Dipelphis). Journal of Mammology, v. 83, n. 2, p. 354-369, 2002.
OLIVEIRA-SANTOS, L.; TORTATO, M.; GRAIPEL, M. Activity pattern on Atlantic Forest small arboreal
mammals as revealed by câmera traps. Journal of Tropical Ecology, v. 24, p. 563-567, 2008.
OLIVEIRA, M.; SANTORI, R. Predatory behaviour of the opossum Didelphis albiventris the pitviper
Bothrops jararaca. Studies of Neotropical Fauna e Environment, v. 34, n. 2, p. 72-75, 1999.
PENNINCK, D. Atlas de ultrassonografia de pequenos animais. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan,
2011. 513 p.
SCHEBITZ, H.; WILKENS, H. Atlas of radiographic anatomy of the dog and cats. Berlin, Paulo Parey,
1978.
SMITH, P. White-eared opossum Didelphis albiventris. Fauna Paraguay Handbook of Mammals of
Paraguay, v. 1, p. 1-19, 2007. Disponível em: http://www.faunaparaguay.com/didelphisalbiventris.html.
Acesso em: 6 abr. 2014.
TALAMONDI, S.; DIAS, M. Population and community ecology of small mammals in sutheastern Brazil.
Mammalia, v. 63, n. 2, p. 167-181, 1999.
Universidade Federal de Uberlândia
82
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
DESCRIÇÃO DAS ARTÉRIAS CORONÁRIAS DE JAVALI (SUS SCROFA LINNAEUS , 1758)
RIBEIRO, L. A.1; BORGES, T. R. J.1; SANTOS, L. A.2; SILVA, F. O. C.1; SANTANA, A. A.²; SILVA, L.
K.²; RABELO, J. C. A.2; RIBEIRO, C. J.3
1. Setor de Anatomia Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), Rua Ceará s/n, Bloco 2D, Uberlândia, MG 38400-902, Brasil.
2. Discentes do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Presidente Antônio Carlos de UberlândiaMG,
Praça
Clarimundo
Carneiro,
nº256,
Centro.
Autor
para
correspondência:(email:[email protected] telefone: (34) 9658-6081).
3. Clínica Veterinária R&S Vet, Rua Joaquim Murtinho, nº508, Bairro: Amoreiras Paracatu-MG.
RESUMO
A anatomia comparativa é a ciência capaz de fornecer informações que nos permitem analisar as
relações entre forma e função de estruturas similares presentes em animais, proporcionando uma melhor
contextualização do homem no meio em que vive, bem como, das relações evolutivas que este apresenta com
os demais seres vivos vertebrados. O Javali é um suídeo que possui habilidade de sobreviver a diversos tipos
de habitats aliado a hábitos alimentares onívoros e generalistas, uma das principais razões para o sucesso
desta espécie em locais onde foram introduzidos fora de sua distribuição natural. Informações científicas
sobre o Javali se referem mais especificamente a aspectos comportamentais, zoológicos e reprodutivos. O
coração desperta interesse nos pesquisadores desde muito tempo, tornando-o um órgão de destaque para
diferentes tipos de estudos. O estudo morfológico das artérias coronárias sempre foi um assunto de interesse
na anatomia e na cardiologia, assim, objetivou-se descrever as artérias coronárias de Javali utilizando-se do
método tradicional de dissecação e da técnica de modelagem com acetato de vinil (vinilite) de modo a
fornecer informações pertinentes à anatomia comparativa e as áreas afins. Para realização do trabalho foram
utilizados 12 espécimes, sendo dez delas submetidas à técnica convencional de dissecação e duas delas à
técnica de modelagem e corrosão.
Palavras-chave: Vascularização, Coração, Molde por corrosão.
ABSTRACT
Comparative anatomy is the science that provides information that allow us to analyze the
relationships between form and function similar structures present in animals, providing a better
contextualization of man in the environment they live in, as well as the evolutionary relationships it presents
with other vertebrates living beings providing a better contextualization of man on the environment in which
he lives, as well as the evolutionary relationships with other living beings vertebrates. The Boar is a suide
that has the ability to survive in different habitats combined with omnivores and generalist habits, one of the
main reasons for the success of this species in places where they were introduced outside its natural
distribution. Scientific information on the Boar refer more specifically to behavioral, zoos and reproductive
aspects. The heart arouses interest among researchers for a long time, which become an organ prominent for
different studies.The morphological study of the coronary arteries has been subject of interest in anatomy
and cardiology, thus aimed to describe the coronary arteries Boar is using the traditional method of
dissection and modeling technique with vinyl acetate (vinylite) to provide information relevant to
comparative anatomy and related areas. In This study 12 specimens were used, ten of them being subjected
to conventional dissection technique and two of the modeling technique and corrosion
Keywords: Vascularization, Heart, Corrosion casting
INTRODUÇÃO
O Javali (Sus scrofa, Linnaeus 1758), ancestral do porco doméstico, tem sido introduzido em
diversas regiões do mundo desde o início da expansão europeia, a partir do século XV (CROSBY, 1993) até
Universidade Federal de Uberlândia
83
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
os dias atuais. Este suídeo de ocorrência natural da Europa, Ásia e norte da África, mas atualmente pode ser
encontrado em várias ilhas oceânicas e em todos os continentes, com exceção da Antártica (OLIVER, 1993).
Sua habilidade de sobreviver aos mais diversos tipos de habitats aliado a hábitos alimentares onívoros e
generalistas é uma das principais razões para o sucesso desta espécie em locais onde foram introduzidos fora
de sua distribuição natural (DITCHKO; MAYER, 2009).
Os prejuízos causados pela espécie são amplamente reconhecidos, tais como a destruição de culturas
agrícolas, predação de animais de criação (cordeiros, aves e cães), transmissão de doenças para animais e
humanos, dispersão de plantas daninhas, desencadeamento de processos erosivos e alterações em pequenos
cursos d‟água (CHOQUENOT et. al., 1996; OLIVER; BRISBIM, 1993; GISD, 2005). Algumas informações
científicas encontradas sobre Javali se referem mais especificamente a aspectos comportamentais, zoológicos
e reprodutivos. Porém, a literatura apresenta-se bastante escassa em termos morfológicos, sendo encontrados
trabalhos com outros animais da família suidae, como suíno (FAGUNDES, 1984; SOUZA et al., 1984;
COSTA et al., 1991; SOUZA, 1997) e cateto (MACHADO et al., 2000).
A anatomia comparativa é a ciência capaz de fornecer informações que nos permitem verificar as
relações entre forma e função de estruturas similares presentes em animais, proporcionando uma melhor
contextualização do homem no meio em que vive, bem como, das relações evolutivas que este apresenta com
os demais seres vivos vertebrados (OLIVEIRA; TEXEIRA; CONCHALO, 2010). O coração tem despertado
um interesse especial nos pesquisadores desde muito tempo, o que tem tornado um órgão de destaque para
diferentes tipos de estudos. Porém, divergências geradas a partir de informações sobre patologias cardíacas,
nos animais domésticos, tem requerido um retorno dos pesquisadores das áreas de informações básicas, tais
como a anatomia e a histologia (NOCETTI et al., 2002).
O estudo da anatomia vascular pode ser feito de várias maneiras: dissecção simples ou associada à
repleção dos vasos com resina de látex. Enchimento dos vasos com uma substância polimerizadora (vinilite,
acrílico), com posterior corrosão dos órgãos com soluções ácidas ou angiografias. A dissecção pode não
permitir a visibilidade dos vasos ou anastomoses de pequeno diâmetro, porém as relações anatômicas são
preservadas e determina-se com facilidade os ramos e seus destinos. As substâncias polimerizadoras e
angiografias podem evidenciar as anastomoses e pequenos ramos, entretanto as relações anatômicas não são
identificadas diretamente, sendo correlacionadas pela direção dos vasos e características de ramificação.
Dessa maneira, não há um método perfeito que analise todas as características (ABUCHAIM et al., 2009).
Assim, devido a grande variabilidade na distribuição das artérias no coração (JÚNIOR, 1993),
objetivou-se descrever as artérias coronárias de Javali utilizando-se do método tradicional de dissecação e da
técnica de modelagem com acetato de vinil (vinilite) de modo a fornecer o maior número de informações à
anatomia comparativa e para as áreas afins.
MATERIAL E MÉTODO
Foram utilizados 12 corações de Javalis, (6 fêmeas e 6 machos). O material utilizado foi obtido por
ocasião de mortes naturais ou abortos, junto a criadores diversos do município de Uberlândia-MG. O sistema
arterial de 10 animais foi marcado para identificação através da aorta torácica por meio de incisão no nono
espaço intercostal esquerdo. Após seu isolamento, o vaso foi canulado e preenchido com solução aquosa de
látex (Artecola® –Altamira Indústria e Comércio de Látex), a 50%, corada com pigmento específico
(Suvinil® Tintas e Pigmentos – corante para tinta látex). Os animais foram fixados com injeções
intramusculares, subcutâneas e intracavitárias de solução aquosa de formaldeído a 10% (Chemco® –
formaldeído solução GEIII), para em seguida serem imersos em recipientes contendo a mesma solução.
A sistematização da técnica de moldagem com acetato de vinil (vinilite) para aplicação em animais
vertebrados de diferentes espécies tem contribuído para os estudos evolutivos da anatomia das artérias
coronárias (RODRIGUES et al., 1999). Para a moldagem vascular das coronárias foram injetados em dois
corações, acetado de vinil, corante e acetona a 100%, segundo a técnica utilizada por Azevedo e
colaboradores (1980), normalmente utilizada para mamíferos domésticos. Na tentativa de evitar
extravasamentos do material, foram laqueadas as extremidades com fio de náilon. Em cubas de vidro foi
realizado o processo de semicorrosão, colocando-se as peças em contato com o ácido clorídrico (HCl; d =
1,186) a 26%, 20%, 10% e 5%, utilizando o critério de tamanho para escolher a concentração. Moldaram-se
peças com gaze e camada de algodão. A quantidade de ácido colocada foi suficiente para imersão total da
Universidade Federal de Uberlândia
84
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
peça. Após este período, as peças foram lavadas em fino jato de água, deixando somente o molde de acetato
de vinil e secas a temperatura ambiente.
A nomenclatura anatômica utilizada para a designação das estruturas anatômicas foi baseada na
International Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2012) e a documentação foi
realizada por meio de máquina fotográfica. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética na Utilização de
Animais da Universidade Federal de Uberlândia, protocolo nº 103/13.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As peças analisadas apresentaram duas artérias coronárias emergindo da aorta e, portanto em
nenhuma amostra foi observada a presença de coronária acessória ou ausência de um óstio coronariano
(Figura 1).
Figura1. Imagem do coração de Javali evidenciando a origem das artérias coronárias. A.A. Artéria aorta;
Ac.E.- Artéria coronária esquerda; Ac.D.- Artéria coronária direita; Ar.D.- Aurícula direita; A.Trp- Artéria
tronco-pulmonar; Ar.E.- Aurícula esquerda.
O ramo do cone arterioso teve sua origem a partir do ramo interventricular paraconal em todas as
peças. A artéria coronária esquerda apresentou trifurcação em todos os corações. Abaixo, encontram-se as
representações das configurações anatômicas das artérias coronárias e seus ramos mediante as técnicas de
dissecação (Figura 2- A e B) e moldes por corrosão (Figura 2- C e D).
Universidade Federal de Uberlândia
85
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 1. A e C. Face auricular do coração de Javali representando: Ar.D.- Aurícula direita; A.Trp- Artéria
tronco-pulmonar; Ar.E.- Aurícula esquerda; 1- Artéria coronária esquerda; 2- Ramo interventricular
paraconal; 3- Ramo circunflexo da artéria coronária esquerda; 4- Ramo proximal do ventrículo esquerdo; 5Ramo do cone arterioso; 6- Ramo colateral proximal; 7- Ramo colateral distal; 8- Ramo marginal do
ventrículo direito. B e D. Face atrial do coração de Javali representando: A.D.- Átrio Direito; V.E.Ventrículo Esquerdo; V.D.- Ventrículo Direito; 8- Ramo marginal do ventrículo direito; 9- Ramo proximal
do ventrículo direito; 10- Ramo circunflexo da artéria coronária direita ; 11- Ramo distal do ventrículo
direito; 12- Ramo interventricular subsinuoso.
O estudo morfológico das artérias coronárias sempre foi um assunto de grande interesse na anatomia
e na cardiologia (JÚNIOR, 1993), uma vez que, a regulação do fluxo coronário envolve diversos
mecanismos adaptativos que interagem simultaneamente e de forma dinâmica, com o propósito de fornecer
ao miocárdio um fluxo sanguíneo adequado às suas necessidades energéticas (CESENA, CHAGAS; 2001). É
sabido que nos suínos as artérias supridoras do coração são não só semelhantes às encontradas nos humanos,
como também apresentam a mesma configuração de distribuição (GETTY et al., 1986), de tal forma que,
estes animais vem sendo utilizados pelas escolas médicas para treinamentos de procedimentos cirúrgicos em
aulas práticas (SCHANAIDER; SILVA, 2004).
Nos humanos, a artéria coronária esquerda passa inferiormente à aurícula esquerda dividindo-se em
ramos circunflexo e interventricular anterior, de modo que, o ramo interventricular anterior encontra-se no
sulco interventricular anterior e fornece sangue oxigenado para as paredes dos dois ventrículos. O ramo
circunflexo situa-se no sulco coronário e distribui sangue oxigenado para as paredes do ventrículo esquerdo e
do átrio esquerdo (TORTORA, 2007). Segundo Getty, (1986) em suínos, as artérias coronárias, direita e
esquerda, são quase do mesmo tamanho, sendo que a artéria coronária esquerda supre a maior parte da
parede do ventrículo e aurícula esquerda, incluindo o septo interventricular, por meio de seu ramo
circunflexo e do ramo interventricular paraconal. No javali, a artéria coronária esquerda sofreu uma
trifurcação em ramo interventricular paraconal, ramo circunflexo da artéria coronária esquerda e ramo
proximal do ventrículo esquerdo, configuração observada nas 12 amostras analisadas. Ainda na face
Universidade Federal de Uberlândia
86
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
auricular ou esquerda, foi possível notar a presença dos ramos colaterais proximal e distal, e também do
ramo do cone arterioso como ressaltado Nickel, Schummer e Seiferle, (1981) em bovino, ovino e equino.
Quando analisado o comportamento das artérias coronárias esquerdas nos Javalis, tornou-se possível
observar a amplitude vascular da mesma, devido à trifurcação formada a partir da artéria coronária esquerda
e sua significativa distribuição e ramificação no coração. De acordo com Spada, Piccaluga e Schllch (1958),
a região do miocárdio mais propensa à insuficiência coronária e infarto é constituída pelo território
dependente do ramo interventricular anterior nos humanos que é derivada da artéria coronária esquerda,
sendo a artéria coronária esquerda denominada de artéria da morte súbita.
A artéria coronária direita fornece pequenos ramos (ramos atriais) para o átrio direito, continuando
inferiormente à aurícula direita e, finalmente, se dividindo em ramos marginal direito e interventricular
posterior. O ramo interventricular posterior acompanha o sulco interventricular posterior e irriga as paredes
dos dois ventrículos. O ramo marginal direito, no sulco coronário, leva o sangue para o ventrículo direito
(TORTORA, 2007). Nos suínos, o ramo circunflexo e o ramo interventricular subsinuoso da artéria coronária
direita suprem a parede do ventrículo e aurículas direita, incluindo o restante do septo interventricular
(SCHWARZE; SCHRODER, 1964 apud. GETTY, 1986). Mediante a técnica de dissecação e corrosão, foi
possível evidenciar na face atrial do Sus scrofa a formação da artéria coronária direita e sua bifurcação em
ramo circunflexo da artéria coronária direita e ramo marginal do ventrículo direito. Durante seu trajeto sobre
o sulco coronário a ramo circunflexo da artéria coronária direita emitiu os ramos proximal e distal do
ventrículo direito e continuou ocupando o sulco interventricular subsinuoso com o nome de ramo
interventricular subsinuoso.
A configuração anatômica das artérias coronárias de 12 corações de javalis torna possível estabelecer
um tipo de circulação baseada na constância da configuração dos ramos circunflexos da artéria coronária
esquerda, ao contrário do ressaltado em corações de humanos por Spada, Piccaluga e Schllch (1958), onde,
através do estudo da anatomia radiológica das artérias coronárias, foram identificados e definidos dois tipos
de circulação, baseadas na configuração e comprimento do ramo circunflexo. No primeiro grupo, o ramo
circunflexo é curto e o ramo interventricular posterior é ramo da artéria coronária direita; no segundo grupo,
o ramo circunflexo é longo e origina o ramo interventricular posterior.
CONCLUSÃO
Com base na configuração anatômica das artérias coronárias dos Javalis analisados, torna-se possível
inferir que há um tipo de circulação baseada na constância da configuração dos ramos circunflexos da artéria
coronária esquerda, ao contrário do ressaltado em corações de humanos, onde, através do estudo da anatomia
radiológica das artérias coronárias, foram identificados e definidos dois tipos de circulação, baseadas na
configuração e comprimento do ramo circunflexo.
REFERÊNCIAS
ABUCHAIM, D. C. S.; SPERA, C. A.; FARACO, D. L.; RIBAS-FILHO, J. M.; MALAFAIA, O.
Dominância coronariana em corações humanos em moldes por corrosão. Revista Brasileira de Cirurgia
Cardiovascular; 24(4): p. 514-518. 2009
AZEVEDO, P. P.; LEAL, J.; LIEGE, S. R.; RIELLA, A. C. M.; WOUK, A. F. P. F.; POPP, L. G. Estudo
comparativo das artérias coronárias cordis em Sus scrofa domesticus Linnaeus, 1758 (Artiodactyla-Suidae) e
Canis familiares Linnaeus, 1758 (Carnivora-Canidae). Arquivo de Biologia e Tecnologia, 23: p. 71-81,
1980.
CESENA, F. H. Y.; CHAGAS, A. C. P. A circulação coronária na hipertensão arterial sistêmica e na
insuficiência cardíaca consequente. Revista Brasileira de Hipertensão v(8): p.431-39, 2001.
CHOQUENOT, D.; MCILROY, J.; KORN, T. Managing Vertebrate Pests: Feral Pigs. Bureau of Resource
Sciences, Australian Government Publishing Service, Canberra. 163 p. 1996.
Universidade Federal de Uberlândia
87
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
COSTA, O. M.; PEREIRA, J. G. L.; RODRIGUES, C. A. Contribuição ao estudo dos elementos vasculares,
arteriais e venosos do hilo renal em suínos (Sus scrofa domestica – Linnaeus – 1758) da raça Large White.
Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science São Paulo, v. 28, nº 2, p. 155-69, 1991.
CROSBY, A. W. Imperialismo ecológico. São Paulo; Companhia das Letras 319 p. 1993.
DITCHKO, S. S.; MAYER, J. J. Wild Pig Food Habits. In: MAYER, J. J.; BRISBIN L. I. (eds). Wild pigs:
biology, damage, control techniques and management. South Carolina: SRNL, p.105-143, 2009.
FAGUNDES, G. M. Contribuição ao estudo da vascularização arterial do rim em suínos (Sus scrofa
domestica Linnaeus, 1758). 1984. 97 f. Tese (Doutorado em Anatomia dos Animais Domésticos).
Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, São Paulo, 1984.
GETTY, R. Anatomia dos animais domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, v. 2. 2000 p. 1986.
GISD-Global. Invasive Species Database, Disponível em: http://www.issg.org/database/species . Acesso
em 09/01/2007. 2005.
JÚNIOR, R. F.; CABRAL, R. H.; PRATES, N. E. V. B. Tipos de circulação e predominância das artérias
coronárias em corações de brasileiros. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. 8(2): p.152-162,
1993.
MACHADO, G. V. et al. Aspectos anatômicos das artérias renais em queixadas (Tayassu pecari Link, 1795).
Revista Brasileira de Ciências Veterinárias, v.7, n.1, p. 5–8, 2000.
NICKEL, R; SCHUMMER, A; SEIFERLE, E. The Anatomy of Domestic Animals Vol 3 – The Circulatory
Sistem the Skin and the Cutaneous Organs of the Mammals, p 69, 610 p. 1981.
NOCETTI, L. M.et al. Pontes de miocárdio em corações de javali. Brazilian Journal of Veterinary
Research and Animal Science, São Paulo, v. 39, n. 2, p. 66-73, 2002.
OLIVER, W. Introduced and feral pigs: problems, policy, and priorities. In: OLIVER, W. L. R. (ed.). Pigs,
Peccaries and Hippos. Switzerland, Gland: IUCN and Kelvyn Press, p. 179-191, 1993.
OLIVER, W. L. R.; BRISBIN, I. L. Introduced and Feral Pigs: Problems, Policy and Priorities. In: Status
Survey and Conservation Action Plan. Pigs, Peccaries and Hippos (OLIVER, W. L. R.) IUCN. p. 159-191.
1993.
OLIVEIRA, C.; TEXEIRA, R. A. P.; CONCHALO, W. L. Uma abordagem contextualizada da anatomia
humana
e
comparada.
Revisado
em
jan.
2004.
Disponível
em:
http://www.unesp.br/prograd/PDFNE2004/artigos/eixo3/umabordagemcontextualizada.pdf
Acesso em: 20 ago. 2010.
RODRIGUES, T. M. A.et al. Estudo evolutivo da anatomia das artérias coronárias em espécies de
vertebrados com técnica de moldagem em acetato de vinil (vinilite). Revista Brasileira de Cirurgia
Cardiovascular, 14 (4): p. 331-9. 1999.
SCHANAIDER, A.; SILVA, P. C. Uso de animais em cirurgia experimental. Acta Cir Bras. [S.L.], v. 19, n.
4, jul./ago., 2004.
SOUZA, A.; BORELLI, V.; FERREIRA, N. Contribuição ao estudo dos elementos vasculares arteriais e
venosos do hilo renal, em suínos da raça Landrace. Revista da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia. Universidade de São Paulo, v. 21, n.1, p. 27-35, 1984.
Universidade Federal de Uberlândia
88
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
SOUZA, N. T. M. Segmentos anatomocirúrgicos arteriais do rim em suínos (Sus scrofa domesticus
Linnaeus, 1758). 1997. 72 f. Dissertação (Mestrado em Anatomia dos Animais Domésticos) – Universidade
de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, São Paulo, 1997.
SPADA, D.; PICCALUGA, A.; SCHLlCH, G. - Studi di anatomia radiologica e di fisiopatologica dei
sistema arterioso coronarico. Arch. Ital. Istol. Pastol., 32: 381 -397,1958.
SCHWARZE, E.; SCHORDER, L. Kompendium der Veterinar-Anatomie, Band III. Jena, VEB Gustav
Fischer Verlag. In: GETTY, R. Anatomia dos animais domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, v.
2. 2000 p. 1986.
TORTORA, G. J. Princípios de Anatomia Humana. Ed. Guanabara Koogan, 10ª Edição, Rio de Janeiro,
2007.
WHITTEN, M. B. - The relation of the distribution and structure of the coronary arteries to myocardial
infarctation. Arch. Intern. Med., 45: 386-400, 1930.
Universidade Federal de Uberlândia
89
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
DIAGNÓSTICO DA FAUNA SILVESTRE APREENDIDA, RESGATADA OU RECOLHIDA NA
REGIÃO DE ITUIUTABA - MG
Nalla, S.F.¹; Facure, K.G.²
1- Laboratório de Pesquisas em Animais Selvagens, UFU, Uberlândia - MG
2- Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, UFU, Uberlândia - MG
[email protected] (34) 92248265
RESUMO
O conhecimento das espécies apreendidas, resgatadas ou recolhidas pode auxiliar no combate ao
tráfico, contribuir para atividades educativas e orientar o processo de soltura e reintrodução. Estudos sobre a
fauna resgatada são escassos no Brasil e ainda não existem informações sobre o resgate e a destinação de
animais silvestres no Triângulo Mineiro. O objetivo desse trabalho foi quantificar as espécies da fauna
silvestre registradas entre janeiro de 2009 e abril de 2013 pela Polícia Militar Ambiental (PMA) e Corpo de
Bombeiros (CB) do município de Ituiutaba, MG. Foram registrados 486 indivíduos pela PMA, sendo 419
(86,2%) aves, 44 (9,0%) mamíferos, 12 (2,5%) quelônios e 11 (2,3%) escamados, e 152 indivíduos pelo CB,
sendo 78 (51%) mamíferos, 59 (39%) escamados, 13 (9%) aves, um jacaré e um cágado. O grupo com maior
número de registros entre os mamíferos foi Xenarthra. Entre as aves, Passeriformes e Psittaciformes
apresentaram o maior numero de indivíduos. A maior parte dos escamados eram Serpentes. Espera-se que
esses resultados possam auxiliar na proteção e conservação da fauna nativa na região.
Palavras-chave: animais silvestres; resgate de fauna; triângulo mineiro.
ABSTRACT
The knowledge of seized, rescued or collected species may contribute to combating trafficking,
planning educational activities and guiding release and reintroduction processes. Studies on the rescued
fauna are scarce in Brazil and there is no information about the wildlife species collected in the Triângulo
Mineiro region. The aim of this study was to quantify the wildlife species recorded between January 2009
and April 2013 by the Environmental Police (PMA) and Fire Department (CB) of the municipality of
Ituiutaba, MG. In total, 486 individuals were recorded by PMA, being 419 (86.2 %) birds, 44 (9.0 %)
mammals, 12 (2.5 %) turtles and 11 (2.3%) squamates, and 152 individuals were recorded by CB, being 78
(51 %) mammals, 59 (39 %) squamates, 13 (9 %) birds, one alligator and one turtle. The group with the
highest number of records among mammals was Xenarthra. Among birds, Passeriformes and Psittaciformes
showed the greatest number of individuals. Most squamates were Serpentes (snakes). It is hoped that these
results can help in the protection and conservation of our native animals in the region.
Key-words: wild animals; fauna rescue; triângulo mineiro.
INTRODUÇÃO
As cidades são inóspitas para a maioria das espécies de vertebrados silvestres. Por não conseguirem
sobreviver nessas condições, os animais encontrados em área urbana precisam ser recolhidos pelos órgãos
competentes e destinados para zoológicos ou centros de triagem. Em outros casos, os indivíduos são soltos
em áreas naturais próximas ao local de captura.
O Triângulo Mineiro representa uma região do Bioma Cerrado muito impactada pelas atividades
antrópicas. Grande parte da área (>90%) foi modificada pela ação humana. No passado, a região abrigava
principalmente fazendas de gado e, mais recentemente, monoculturas de cana-de-açúcar. Essas atividades
resultam na perda de hábitats para muitas espécies silvestres. Com o rápido aumento da área antropizada e a
consequente redução dos locais propícios para viver, encontros de animais silvestres na área urbana
tornaram-se frequentes na região.
Universidade Federal de Uberlândia
90
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A região de Ituiutaba apresenta ainda algumas áreas de vegetação nativa, até mesmo na área urbana,
como o Parque do Goiabal, o que condiciona a ocorrência de ou atrai diversos animais silvestres. Com
frequência, alguns desses animais entram em contato com o homem, fazendo com que a Polícia Ambiental
ou o Corpo de Bombeiros sejam acionados. Esses órgãos são responsáveis pelo resgate e encaminhamento
dos animais silvestres no município. A Polícia Ambiental também é responsável pela apreensão dos animais
silvestres traficados na região.
Estudos sobre a fauna resgatada ainda são recentes e escassos no Brasil. Levantamentos quantitativos
estão disponíveis apenas para algumas localidades das regiões Centro-Oeste (Bastos et al., 2008), Nordeste
(Pimentel & Santos, 2009; Santos & Santos, 2009), Sudeste (Borges et al., 2006; Franco et al., 2012) e Sul
(Preuss & Schaedler, 2011; Vidolin et al., 2004). Ainda não existem informações sobre o resgate e
destinação dos animais silvestres na região do Triângulo Mineiro. O conhecimento das espécies mais
frequentemente apreendidas, resgatadas ou recolhidas pode auxiliar no combate ao tráfico, contribuir para
atividades educativas e orientar o processo de soltura e reintrodução.
Os principais objetivos desse trabalho são identificar, quantificar e caracterizar as espécies de
animais silvestres apreendidos, resgatados ou recolhidos na região de Ituiutaba, MG.
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi realizado no município de Ituiutaba, localizado no Pontal do Triângulo Mineiro, no
Planalto Central do Brasil. Sua população, de acordo com o Censo de 2010, é de 97.171 habitantes. A cidade
é um pólo regional, atendendo os municípios de Capinópolis, Santa Vitória, Gurinhatã, Canápolis, Cachoeira
Dourada de Minas e Ipiaçu. Tem no agronegócio (cultura da soja e milho e pecuária de corte e leite) sua
principal atividade econômica. O clima é classificado como de Tropical de Altitude. As maiores
precipitações ocorrem nos meses de Outubro a Março. O restante do ano é caracterizado pela seca. A
vegetação original e a fauna nativa são características do Bioma Cerrado.
Os dados foram obtidos junto à Polícia Ambiental e Corpo de Bombeiros, considerando os Boletins
de Ocorrência, Autos de Infração e Termos de Apreensão e Depósito dos anos de 2009 a 2013, totalizando
50 meses. Para cada animal foi anotada a espécie, o número de indivíduos, o local e a data. As identificações
foram baseadas nas informações contidas nos documentos citados acima e não foi possível nos casos em que
um mesmo nome popular pode ser atribuído a mais de uma espécie.
O termo apreensão refere-se aos espécimes traficados ilegalmente, o resgate ou recolhimento, à
captura por solicitação da população e a entrega voluntária é efetuada por um cidadão que encontrou ou
mantinha animais silvestres ilegalmente sob sua guarda.
RESULTADOS
Entre 2009 e 2012, o total de animais silvestres registrados pelo 3o Pelotão da Policia Militar
Ambiental de Ituiutaba, em termos de apreensões, resgates e entregas voluntárias, foi 486, sendo 419
(86,2%) aves, 44 (9,0%) mamíferos, 12 (2,5%) quelônios e 11 (2,3%) escamados (Tabela 1).
Entre as aves, os Passeriformes (pássaros) e Psittaciformes (periquitos, papagaios e araras)
apresentaram o maior numero de indivíduos, 331 (79%) e 55 (13%), respectivamente. A espécie com maior
ocorrência foi o canário-da-terra (Sicalis flaveola), com 327 indivíduos, seguido pelos papagaios (Amazona
aestiva), com 24 indivíduos e periquitos, com 17 indivíduos.
Entre os mamíferos, os tamanduás foram os mais frequentes, sendo sete tamanduás-bandeiras
(Myrmecophaga tridactyla) e cinco tamanduás-mirins (Tamandua tetradactyla). Outras espécies importantes
foram os gambás (Didelphis albiventris) com nove indivíduos e os quatis (Nasua nasua) com seis
indivíduos.
Ainda foram registrados 11 jabutis (Chelonoidis sp.), um cágado (Phrynops geoffroanus), nove
serpentes, sendo 4 jibóias (Boa constrictor), além de uma anfisbena (Amphisbaena sp.) e um teiú
(Tupinambis sp.).
De janeiro de 2009 ao presente, o total de animais silvestres recolhidos ou resgatados pelo 5 o
Batalhão do Bombeiro Militar do 7o Pelotão de Ituiutaba, foi 152, sendo 78 (51%) mamíferos, 59 (39%)
escamados, 13 (9%) aves, além de um jacaré e um cágado (Tabela 1).
Universidade Federal de Uberlândia
91
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Novamente, o grupo com maior número de registros entre os mamíferos foram os tamanduás, sendo
33 indivíduos da espécie tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e quatro tamanduás-mirins
(Tamandua tetradactyla). Os gambás (Didelphis albiventris) totalizaram 24 indivíduos e o ouriço-cacheiro,
nove indivíduos.
Das aves resgatadas, a ordem Psittaciformes apresentou o maior número de indivíduos (11). A
espécie com maior ocorrência foi arara-canindé (Ara ararauna), com 10 indivíduos. Entre os escamados, a
maior parte (92%) eram serpentes.
Tabela 1. Animais silvestres registrados pela Policia Militar Ambiental e Corpo de
Bombeiros de Ituiutaba, MG, no período de janeiro de 2009 a abril de 2013.
Polícia Ambiental
Corpo de Bombeiros
AVES
Caprimulgiformes
1
Cathartiformes
4
Columbiformes
1
Cuculiformes
1
Falconiformes
9
Passeriformes
331
Piciformes
12
1
Psittaciformes
55
11
Strigiformes
5
1
MAMÍFEROS
Artiodactyla
Carnivora
Chiroptera
Didelphimorphia
Lagomorpha
Primates
Rodentia
Xenarthra
3
11
9
1
3
2
15
2
2
2
24
1
10
37
QUELÔNIOS
Testudinata
12
1
ESCAMADOS
Squamata
11
59
CROCODILIANOS
Crocodylia
1
DISCUSSÃO
Uma das dificuldades encontradas neste trabalho foi não conseguir determinar a espécie para alguns
animais, tendo em vista que, em sua maioria, estavam identificados nos documentos oficiais (autos de
Universidade Federal de Uberlândia
92
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
infração e termos de apreensão) apenas por nomes populares. Esse problema é decorrente da ausência de
biólogos nas ações de recebimento e encaminhamento dos animais, conforme apontado por Borges et al.
(2006).
Os resultados mostram uma grande diferença entre a Polícia Ambiental e o Corpo de Bombeiros com
relação aos principais grupos de animais que são recolhidos. Por exemplo, os registros de aves representaram
86% e 9% dos indivíduos nos registros da Polícia Ambiental e do Corpo de Bombeiros, respectivamente.
Essa diferença pode ser explicada pela existência ainda na região de tráfico de animais, especialmente de
aves canoras. Por outro lado, os escamados, principalmente representados por serpentes, foram mais
frequentes nos registros do Corpo de Bombeiros (39%) do que da Polícia Ambiental (<3%). Nesse sentido,
os dados desses órgãos parece serem complementares e estudos futuros deveriam incluir informações de
ambos.
Apesar do grande número de animais que chegam aos centros de reabilitação e triagem diariamente
no Brasil (presente trabalho; Bastos et al., 2008; Borges et al., 2006; Franco et al., 2012; Pimentel & Santos,
2009; Preuss & Schaedler, 2011; Santos & Santos, 2009; Vidolin et al., 2004), ainda existe pouca
informação para orientar manejo e destinação desses. Para mamíferos silvestres, algumas recomendações de
recebimento, ambientação e enriquecimento de recintos, reabilitação, adequação alimentar, soltura,
reintrodução ou destinação para cativeiro foram apresentadas por Rocha-Mendes et al. (2006) a partir de
informações colhidas em visitas aos centros, pesquisa bibliográfica e consulta a especialistas.
No presente trabalho, não foi possível obter informações sobre a destinação da maioria dos
indivíduos recolhidos. No passado, Ituiutaba teve um zoológico que funcionava dentro do Parque do
Goiabal, mas foi fechado pelo IBAMA. Sendo assim, atualmente não existe no município um local para onde
os animais resgatados possam ser destinados. Espera-se que os dados levantados possam auxiliar na
implantação de um centro de triagem ou na reativação do zoológico.
CONCLUSÃO
Com base nas informações coletadas, em torno de 12 animais pertencentes à fauna silvestre brasileira
são recolhidos pela Polícia Ambiental e Corpo de Bombeiros em Ituiutaba mensalmente. Considerando a
inexistência de um local adequado para abrigar os indivíduos que eventualmente não possam retornar a
natureza, é urgente a necessidade de criação de um centro de triagem ou zoológico no município. Também
seria interessante que um biólogo participasse das ações de resgate, manejo e soltura dos animais recolhidos
para realizar a correta identificação da espécie.
REFERÊNCIAS
BASTOS, L. F.; LUZ, V. L. F.; REIS, I. J.; SOUZA, V. L. Apreensão de espécimes da fauna silvestre em
Goiás – situação e destinação. Rev. Biol. Neotrop. v. 5, n. 2, p. 51-63, 2008.
BORGES, R. C.; OLIVEIRA, A.; BERNARDO, N.; COSTA, R. M. M. C. Diagnóstico da fauna silvestre
apreendida e recolhida pela Polícia Militar de Meio Ambiente de Juiz de Fora, MG (1998 e 1999). Revista
Brasileira de Zoociências, v. 8, p.23-33, 2006.
FRANCO, M. R.; CÂMARA, F. M.; ROCHA, D. C. C.; SOUZA, R. M.; OLIVEIRA, N. J. F. Animais
silvestres apreendidos no período de 2002 a 2007 na macrorregião de Montes Claros, Minas Gerais.
Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer – Goiânia, v. 8, n. 14, p. 1007-1017, 2012.
PIMENTEL, P. C. B.; SANTOS J. M. Diagnóstico do tráfico de animais silvestres no estado da Bahia:
identificação, quantificação e caracterização das espécies-alvo. Diálogos e Ciência, Ano III, n. 8, p. 35-44,
2009.
PREUSS, J. F.; SCHAEDLER, P. F. Diagnóstico da fauna silvestre apreendida e resgatada pela polícia
militar ambiental de São Miguel do Oeste, Santa Catarina, Brasil. Unoesc & Ciência – ACBS, Joaçaba, v. 2,
n. 2, p. 141-150, 2011.
Universidade Federal de Uberlândia
93
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ROCHA-MENDES, F.; NAPOLI, R. P.; MIKICH, S. B. Manejo, reabilitação e soltura de mamíferos
selvagens. Arq. Ciênc. Vet. Zool. Unipar, Umuarama, v. 9, n. 2, p. 105-109, 2006.
SANTOS, V. M.; SANTOS, O. O. Diagnóstico da fauna silvestre recebida no Centro de Triagem de Animais
Silvestres de Alagoas – CETAS/IBAMA/AL. Anais do IX Congresso de Ecologia do Brasil, 13 a 17 de
Setembro de 2009, São Lourenço – MG.
VIDOLIN, G. P.; MANGINI, P. R.; MOURA-BRITTO, M.; MUCHAILH, M. C. Programa Estadual de
Manejo de Fauna Silvestre Apreendida - Estado do Paraná, Brasil. Cad. biodivers., v. 4, n. 2, p. 37-49, 2004.
Universidade Federal de Uberlândia
94
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
EFEITOS DA EXPOSIÇÃO À PARATIONA METÍLICA E À ATRAZINA NO
DESENVOLVIMENTO ÓSSEO DE P ODOCNEMIS EXPANSA (TESTUDINES,
PODOCNEMIDIDAE)
Mendonça, J. S.1; Ferreira, M. D. R.1; Menezes, F. R. S.1; Vieira, L. G.1; Valdes, S. A. C.1; Santos, A. L. Q.1
1
Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS), Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), Uberlândia, MG, Brasil. ([email protected], 34 9188-3867).
RESUMO
Agrotóxicos são amplamente utilizados na agricultura brasileira. Sua capacidade de dispersão é um
fator importante na contaminação do ambiente. A parationa metílica e a atrazina são utilizados mundialmente
na agricultura e têm seu uso permitido em diversas culturas no Brasil, podendo atingir indiretamente a fauna
silvestre. A distribuição e biologia dos Testudines brasileiros permite o contato de seus ovos com moléculas
de agrotóxicos capazes de produzir prejuízos a populações não-alvo. Para avaliar os possíveis efeitos da
exposição desses agrotóxicos na ontogenia óssea da tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa), ovos
foram incubados artificialmente em areia contaminada com uma de três concentrações para cada agrotóxico
(35, 350 e 3500 μg/L para parationa metílica e 2, 20 e 200 μg/L para atrazina). Como controle, utilizou-se
água destilada. Posteriormente, os embriões coletados ao longo do período de incubação foram submetidos à
técnica de diafanização de tecidos moles por hidróxido de potássio (KOH) e coloração dos ossos pela
Alizarina red S e das cartilagens pelo Alcian blue. Os embriões foram avaliados quanto à presença de
anormalidades durante os diferentes estágios de desenvolvimento pré-natal de seus elementos esqueléticos.
Não foram constatadas interferências dos agrotóxicos no desenvolvimento ósseo durante a fase embrionária
de indivíduos desta espécie.
Palavras-chave: Agrotóxicos, esqueleto, tartaruga-da-Amazônia.
ABSTRACT
Pesticides are widely used in Brazilian agriculture. Their ability to disperse is an important factor in
the contamination of the environment. The methyl parathion and atrazine are used worldwide in agriculture
and have their use allowed in diverse cultures in Brazil and could indirectly achieve wild animals. The
distribution and biology of Brazilian Testudines allows contact of your eggs with pesticide molecules
capable of producing damage to non-target populations. To evaluate the possible effects of these pesticides
exposure on bone ontogeny of Giant South American Turtle (Podocnemis expansa), eggs were artificially
incubated in sand contaminated with one of three concentrations of each pesticide (35, 350 and 3500 μg/L
for methyl parathion and 2, 20 and 200 μg/L for atrazine). As a control, distilled water was used.
Subsequently, the embryos collected throughout the incubation period were submitted to the technique of
soft tissue diaphanization with potassium hydroxide (KOH), staining of bone with alizarin red S and of
cartilage with Alcian blue. Embryos were evaluated for the presence of abnormalities during the different
stages of prenatal development of their skeletal elements. No interference of pesticides was found in bone
development during the embryonic stage of P. expansa.
Keywords: Pesticides, skeleton, giant Amazon river turtle.
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da atividade agrícola proporcionou maior eficiência nas práticas de cultivo
resultando em maior eficácia na exploração da terra e maior produtividade das culturas. Novas tecnologias
foram desenvolvidas e implementadas, sendo uma delas a utilização de agrotóxicos, que visa a diminuição de
perdas de produtividade por organismos biológicos (Hayes Jr. 1991).
Universidade Federal de Uberlândia
95
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Os agrotóxicos podem ser divididos em diferentes classes conforme o alvo a que se destinam. Os
inseticidas e herbicidas constituem as classes utilizadas em maior volume na agricultura (IBAMA 2010). A
aplicação destes produtos diretamente nos campos de cultivo não restringe sua distribuição apenas à área
determinada. Parcelas destas substâncias se dispersam pelo ambiente e são capazes de contaminar o solo, o
ar, a água, a vegetação e os animais (Fava et al. 1993; Larson et al. 1997; Johnston 2001).
A grande distribuição da Podocnemis expansa, popularmente conhecida como tartaruga-daAmazônia, permite o contato com moléculas comumente utilizadas como agrotóxicos e capazes de produzir
prejuízos a populações não-alvo. Esta espécie habita os leitos de grandes rios como os da bacias Amazônica,
do Araguaia e do Tocantins, nos estados de Goiás e Mato Grosso (Bataus 1998; Valenzuela 2001).
Reproduz-se entre os meses de agosto e outubro e desova uma média de 60 a 100 ovos em covas de
aproximadamente 60 cm de profundidade (Salera Junior 2005).
O esqueleto é um importante biomarcador na investigação dos efeitos de substâncias lançadas no
ambiente e também em estudos que avaliam o potencial de novas moléculas em produzir alterações no
desenvolvimento dos organismos (Bell et al. 2006). A literatura científica relata o aparecimento de alterações
estruturais induzidas pela exposição à atrazina em Testudines (Neuman-Lee e Janzen 2011) e mal-formações
ósseas induzidas por parationa metílica em aves (Meneely e Wynttenbach 1989; Garg et al. 2004) . No
entanto, são poucos os estudos que relatam os efeitos tóxicos destes agrotóxicos em répteis da fauna
brasileira.
O estudo dos efeitos de xenobióticos em P. expansa pode servir como modelo para a compreensão
dos efeitos em outras espécies de Testudines. Sendo assim, o propósito com o presente estudo foi avaliar os
efeitos teratogênicos da parationa metílica e atrazina no desenvolvimento ósseo de Podocnemis expansa,
administrada em diferentes concentrações durante o período de incubação artificial.
MATERIAL E MÉTODOS
- Coleta de ovos
Ovos de P. expansa foram coletados em outubro de 2012, em área de reprodução localizada em
praias do Rio Araguaia – GO protegidas pelo Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios
(RAN/ICMBio) (13º 20' 38" S e 50º 38' 05" W), com licença SISBIO/ICMBio 36957-1/2012. Foram
coletados 500 ovos de P. expansa, os quais foram acondicionados em sacos plásticos com vermiculita
umedecida com água na proporção de 2:1 e transportados em veículo oficial ao Laboratório de Ensino e
Pesquisa em Animais Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de
Uberlândia (LAPAS/FAMEV/UFU) para incubação artificial.
- Incubação artificial
A incubação artificial dos ovos foi realizada de acordo com as técnicas descritas por Molina e
Gomes (1998) com modificações descritas a seguir. Os ovos foram acondicionados em bandejas plásticas de
30 x 50 x 10 cm. Utilizou-se como substrato areia do local de coleta dos ovos, coberta com uma camada de 2
cm de vermiculita, visto a propriedade desta em reter a umidade. Estas bandejas foram colocadas no interior
de incubadoras feitas com caixas de isopor de 90L com temperatura interna controlada por termostato
acoplado a duas lâmpadas de 15 W. A temperatura e a umidade relativa foram avaliadas por
termohigrômetro digital e mantidas entre 28 e 31 °C e entre 80-100%, respectivamente.
- Exposição aos agrotóxicos
Foram utilizados os produtos técnicos parationa metílica e atrazina para a contaminação do substrato
de incubação dos ovos. Os agrotóxicos foram diluídos em água e as soluções obtidas foram incorporadas ao
substrato no dia 0 de incubação em volumes suficiente para umedecer todo o substrato. Utilizaram-se três
concentrações de parationa metílica (35, 350 e 3500 µg/L) e de atrazina (2, 20 e 200 µg/L), produzindo
assim seis grupos experimentais. No grupo controle o substrato foi umedecido com água destilada. Em cada
um dos tratamentos foram incubados 60 ovos de P. expansa.
Universidade Federal de Uberlândia
96
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
- Manipulação dos embriões
O dia de colocação dos ovos nas incubadoras foi considerado dia 0. Foram realizadas coletas de dois
ovos de cada incubadora a cada três dias até a data da eclosão, totalizando uma média de 40 ovos coletados
por tratamento. Posteriormente à coleta dos ovos, foi realizada eutanásia dos embriões de forma humanitária,
conforme determinação da resolução 714 de 20 de junho de 2002 do Conselho Federal de Medicina
Veterinária, e seguindo orientações técnicas específicas contidas em literatura científica para ovos incubados
de répteis. Todos os procedimentos que envolveram animais foram submetidos à Comissão de Ética na
Utilização Animal da Universidade Federal de Uberlândia e obtiveram parecer favorável sob o registro
CEUA/UFU 055/12.
- Diafanização de tecidos moles e coloração de cartilagens e ossos
Para análise do desenvolvimento do esqueleto, os embriões foram submetidos às técnicas de
diafanização de tecidos moles por hidróxido de potássio (KOH) e coloração dos ossos pela Alizarina red S e
das cartilagens por Alcian blue, segundo os métodos de Davis e Gore (1936) e Dingerkus e Uhler (1977)
modificado.
- Registro e análise dos dados
Os espécimes foram analisados com auxílio de lupa estereomicroscópica (Leica, DM 1000) equipada
com sistema de captura de imagens (Leica, Câmera Software DFU Twain 6.7.0). As características
morfológicas da cartilagem e dos ossos dos embriões coletados foram comparadas com resultados obtidos
por Vieira (2008) ao descrever a ontogenia dos ossos do esqueleto de embriões de Podocnemis expansa não
expostos a xenobióticos.
RESULTADOS
Foram coletados 40 embriões de cada grupo experimental e 40 do grupo controle, totalizando 280
embriões. Após o processo de diafanização e coloração dos ossos e cartilagens, estes foram avaliados quanto
às características correspondentes ao estágio esperado de desenvolvimento ósseo de acordo com estudo de
Vieira (2008). Não foram observadas anomalias na ontogenia óssea dos embriões de P. expansa expostos
artificialmente à parationa metílica ou à atrazina desde a fase de formação dos moldes de cartilagem até a
consolidação do tecido ósseo em nenhum grupo experimental.
DISCUSSÃO
Sabe-se que répteis podem apresentar sensibilidade aos contaminantes semelhante ao que já foi
relatado para aves e mamíferos (Hall e Clark 1982), bioacumulação a níveis iguais ou superiores (Olafsson
1983; Hall e Henry 1992) e maior incidência de deformidade e mortalidade embrionária em indivíduos
expostos a elevadas concentrações de substâncias químicas (Bishop et al. 1991). Podem apresentar ainda
anormalidades em seu sistema reprodutivo (Crain et al 1998; Guillette et al 1994) e mau desempenho em
natação (Winne e Hopkins, 2006) em resposta a determinados contaminantes.
Os resultados obtidos no presente estudo diferem das alterações descritas por Alvarez et al. (1995).
Em estudo destes autores, em que girinos de rãs foram expostos a duas concentrações diferentes (0,25 e 1
mg/L) de produto formulado a base de parationa metílica por 14 semanas, verificaram-se malformações
ósseas de coluna vertebral e dos membros dos animais. Estes autores observaram também que alterações na
composição do tecido conjuntivo da matriz óssea resultaram em defeitos observados na formação do
esqueleto.
Universidade Federal de Uberlândia
97
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Estudos com a utilização de inseticidas em ovos do cágado Trachemys scripta também constataram
alterações no desempenho destes animais, com influências em determinação sexual e taxa de crescimento
(Willingham 2001).
Os resultados do presente estudo são semelhantes aos encontrados por Neuman-Lee e Janzen (2011)
em duas espécies de cágados do gênero Graptemys expostos ao herbicida atrazina uma única vez no início da
incubação. Estes relataram ausência de interferência na ontogenia óssea destes embriões. No entanto, os
autores chamam atenção para o fato de que a exposição em período diferente ou mais prolongado poderia ter
gerado resultados diferentes, além de poder ter maior importância na toxicologia de vertebrados terrestres.
De acordo com os mesmos autores, os recém-eclodidos apresentaram menor aptidão física e dificuldade de
locomoção.
A casca do ovo de Testudines exerce papel fundamental para o embrião, visto que oferece proteção
contra a invasão de microoganismos e controla a troca de gases e água através dos poros, além de constituir
uma fonte de minerais para o embrião durante o desenvolvimento (Kitimasaki et al., 2003; Kusuda et al.,
2013). Constitui-se por duas partes: um invólucro de membrana fibrosa, flexível e adjacente à albumina, e
uma camada calcária, rígida, ligada à superfície externa da membrana fibrosa (Ar et al., 1974; Kern e
Ferguson, 1997; Kitimasak et al., 2003; Stoker et al., 2013). Assim, através dos resultados, é possível inferir
que a casca dos ovos de P. expansa tenha servido como uma barreira de proteção do embrião contra
possíveis efeitos teratogênicos causados pelos agrotóxicos.
Por outro lado, no experimento realizado foram utilizados como contaminantes as moléculas de
parationa metílica e atrazina livres de quaisquer outros compostos. Sabe-se que os agrotóxicos
comercializados são constituídos pelo princípio ativo, por compostos inertes e por substâncias que auxiliam
na sua dispersão e absorção, os surfactantes. Em estudos que utilizaram o herbicida glifosato associado ao
surfactante polioxietilenoamina foi relatado a redução na força de contração de tiras ventriculares de girinos
de rã-touro (Gamero et al. 2013). Desse modo, é possível inferir que os surfactantes podem ser tóxicos por si
só, além de aumentar a lipossolubilidade e assim a absorção de agrotóxicos. Além disso, a exposição de ovos
a agrotóxicos em ambiente natural pode ocorrer de forma prolongada em áreas agrícolas, e não de forma
pontual como foi feito no presente experimento. Assim, recomenda-se a realização de pesquisas com
exposição prolongada a formulações comerciais de parationa metílica e atrazina para verificar se estas
substâncias têm capacidade de induzir alterações na formação do esqueleto de Testudines.
CONCLUSÃO
A exposição aos produtos técnicos parationa metílica e atrazina, em concentrações até 100 vezes
superiores às permitidas pela legislação vigente, não resultaram em interferência na ontogenia óssea de
embriões de P. expansa, quando os produtos são incorporados ao substrato no primeiro dia de incubação
artificial dos ovos.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao professor Valdemar L. Tornisielo pela doação dos produtos técnicos parationa
metílica e atrazina. Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
pelo auxílio financeiro e incentivo ao estudo e à pesquisa.
REFERÊNCIAS
Alvarez R, Honrubia MP, Herráez MP (1995) Skeletal malformations induced by the inseticides ZZAPhox® and Folidol® during larval development of Rana perezi. Archives of Environmental Contamination
and Toxicology v. 28, p. 349-356.
Ar A, Paganelli CV, Reeves RB, Greene DG, Rahn H (1974) The avian egg: water vapor conductance, shell
thickness, and functional pore area. Condor 76: 153-158.
Universidade Federal de Uberlândia
98
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Bataus Y S L (1998) Estimativa de parâmetros populacionais de Podocnemis expansa (Schweigger, 1812) no
rio Crixás-açu (GO) a partir de dados biométricos. 1998. 58f. Dissertação (Mestrado em Ecologia) Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 1998.
Bell B, Spotila JR, Congdon J (2006) High incidence of deformity in aquatic turtles in the John Heinz
National Wildlife Refuge. Environmental pollution, Barking, v. 142, p. 457-465.
Bishop CA, Brooks RJ, Carey JHNGP, Norstroni RJ, Lean DRS (1991) The case for a causeeffect linkage
between environmental contamination and development in eggs of the common snapping turtle (Chelydra s.
serpentine) from Ontario, Canada. J Toxicol Environ Health 33:521-547.
Crain DA, Guillette JR LJ, Pickford DB, Percival HF, Woodward AR (1998) Sex-steroid and thyroid
hormone concentrations in juvenile alligators (Alligator mississippiensis) from contaminated and reference
lakes in Florida, USA. Environ.Tox. Chem. 17, 446-452.
Davis DD, Gore UR (1936) Clearing and staining skeleton of small vertebrates. Field Museum of Natural
History. v. 4, p. 3 - 15.
Dingerkus G, Uhler L (1977) Differential staining of bone and cartilage in cleared and stained fish using
alcian blue to stain cartilage and enzymes for clearing fish. Stain Technology, Baltimore, v. 52, p. 229-232.
Fava J, Gagne JA, Kendall RJ, Lacher JR TE, O‟Connor RJ, Orenstein S, Parrish R, Williams BA (1993)
Research and development needs. In: Wildlife toxicology and population modeling – integrated studies of
agroecosystems. Boca Raton: CRC Press, Inc., 1993, p.557-567.
Gamero FU et al. (2013) Impacto de diferentes concentrações de glifosato e da formulação comercial
Roundup® sobre a força de contração in vitro de girinos de rã-touro. In: IV Congresso Brasileiro de
Herpetologia, 2013, Salvador. Anais... Salvador.
Garg UK, Pal AK, Jha GJ, Jadhao SB (2004) Pathophysiological effects of chronic toxicity with synthetic
pyrethroid, organophosphate and chlorinated pesticides on bone health of broiler chicks. Toxicologic
Pathology. v. 32, p. 364-369.
Guillette JR LJ, Gross TS, Masson GR, Matter JM, Percival HF, Woodward AR (1994). Developmental
abnormalities of the gonad and abnormal sex hormone concentrations in juvenile alligators from
contaminated and control lakes in Florida. Environ. Health Perspect. 102, 680-688
Hayes JR WH, Laws JR ER (1991) Introduction. In:___. Handbook of pesticide toxicology. California:
Academic Press, Inc., 1, 1-37.
Hall RJ, Clark JR DR (1982) Responses of the iguanid lizard Anolis carolinensis to four organophosphorus
pesticides. Environ Pollut 28:45-52. 1982.
Hall RJ, Henry PFP (1992) Assessing effects of pesticides on amphibians and reptiles: status and needs.
Herpetol J 2:6571.
IBAMA - INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS. Produtos agrotóxicos e afins comercializados em 2009 no Brasil: uma abordagem
ambiental. Brasília, 2010. 84 p.
Johnston JJ (2001) Introduction to pesticides and wildlife. Pesticides and Wildlife. Washington: American
Chemical Society,. p. 1-5.
Universidade Federal de Uberlândia
99
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Kitimasak W, Thirakhupt K, Moll DL (2003) Eggshell structure of the Siamese Narrow-headed Softshell
Turtle Chitra chitra Nutphand, 1986 (Testudines: Trionychidae). Sci Asia 29: 95-98.
Kern MD, Ferguson MWJ (1997) Gas Permeability of American Alligator Eggs and Its Anatomical Basis.
Physiol Zool 70: 530-546.
Kusuda S, Yasukawa Y, Shibata H, Saito T, Yoshizaki N (2013) Diversity in the Matrix Structure of
Eggshells in the Testudines (Reptilia) Zool Sci 30: 366–374.
Larson S J, Capel PD, Majewski MS (1997) Pesticides in surface waters: distribution, trends, and governing
factors. U. S. Environmental Protection Agency, EPA/600/9-88/005, Washington, 1997.
Meneely GA, Wyttenbach CR (1989) Effects of the organophosphate insecticides diazinon and parathion on
bobwhite quail embryos: skeletal defects and acetylcholinesterase activity. Journal of Experimental Zoology.
v. 252, n.1, p. 60-70.
Molina FB, Gomes N (1998) Incubação artificial dos ovos e processo de eclosão em Trachemys dorbigny
(Dumétil& Bibron) (Reptilia, Testudines, Emydidae). Revista Bras. Zool. v. 15, n. 1, p. 135- 143.
Neuman-Lee LA, Janzen FJ (2011) Atrazine Exposure Impacts Behavior and Survivorship of Neonatal
Turtles. Herpetologica, v. 67:1, p. 23-3.
Olafsson PG, Bryan AM, Bush
Chemosphere 12:1525-1532.
B, Stone W (1983) Snapping turtles: a biological screen for PCBs.
Salera Junior G (2005) Avaliação da biologia reprodutiva, predação natural e importância social em
quelônios com ocorrência na bacia do Araguaia. 2005. 191f. Dissertação (Mestrado) – Fundação
Universidade Federal do Tocantins, Palmas, 2005.
Stoker C, Zayas MA, Ferreira MA, Durando M, Galoppo GH, Rodríguez HA, Repetti M R, Beldoménico
HR, Caldini EG, Luque EH, Muñoz-de-Toro M (2013)The eggshell features and clutch viability of the
broad-snouted caiman (Caiman latirostris) are associated with the egg burden of organochlorine compounds.
Ecotoxicol Environ Saf 98: 191–195.
Valenzuela N (2001) Maternal effects on life-history traits in the Amazonian giant river turtle Podocnemis
expansa. Journal of Herpetology, Athens, v. 35, n. 3, p. 368-378.
Vieira LG (2008) Ontogenia dos ossos do esqueleto da tartaruga-da-amazônia Podocnemis expansa
Schweigger, 1812 (Testudines, Podocnemididae). 2008. 152 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008.
Willingham E (2001) Embryonic exposure to low dose pesticides: effects on growth rate in the hatchling redeared slider turtle. Journal of Toxicology and Environmental Health, 64, 257–272.
Winne CT, Hopkins WA (2006) Influence of sex and reproductive condition on terrestrial and aquatic
locomotor performance in the semi-aquatic snake. Functional Ecology, v. 20, p. 1054-1061.
Apoio financeiro: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
Universidade Federal de Uberlândia
100
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
EFEITOS DE ATRAZINA E GLIFOSATO NA ESPESSURA DE CASCAS DE OVOS DE
P ODOCNEMIS EXPANSA (TESTUDINES, PODOCNEMIDIDAE) INCUBADOS
ARTIFICIALMENTE
Souza, L. C. G. M.1; Paz, B. F. 1; Mendonça, J. S. 1; Vieira, L. G. 1, Valdes, S. A. C. 1, Santos, A. L. Q. 1
1
Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS), Faculdade de Medicina Veterinária
(FAMEV),
Universidade
Federal
de
Uberlândia
(UFU),
Uberlândia
MG.
([email protected], 34 3227-0379)
RESUMO
No Brasil encontra-se a maior espécie do quelônio que habita a América do Sul, a tartaruga-daAmazônia (Podocnemis expansa), que pode alcançar até 90 cm. A P. expansa faz parte da ordem Testudines,
são ovíparas e se reproduzem no período de agosto a dezembro, podendo postar mais de 100 ovos por
desova. A utilização de pesticidas vem sendo cada vez mais intensa no mundo, e o Brasil encontra-se como o
maior consumidor de agrotóxicos atualmente. O glifosato é o herbicida mais vendido no mundo, tendo
registro em diversos países. A atrazina é um herbicida com grande potencial de contaminação e persistência
no solo, encontrado em diversas águas e solos. Este estudo objetivou descrever possíveis alterações na
espessura das cascas de ovos de P. expansa incubados artificialmente e expostas aos pesticidas atrazina e
glifosato. Os resultados apresentaram diferenças significativas, mas ainda é necessário mais estudos.
Palavras-chaves: pesticidas, tartaruga-da-Amazônia, espessura
ABSTRACT
In Brazil lives the largest chelonian species inhabiting South America, the giant South
American turtle (Podocnemis expansa), which can reach up to 90cm. The P. expansa is an reptiles of the
order Testudines, are oviparous and reproduce in the period from August to December, may post more than
100 eggs per spawn. Pesticide use has been increasingly intense in the world, and as Brazil is the largest
consumer of pesticides currently. Glyphosate is the best selling herbicide in the world, having registration in
several countries. Atrazine is a herbicide with great potential for contamination and persistence in soil, found
in various waters and soils. This study aimed to describe possible changes in the thickness of eggshells of P.
expansa artificially incubated and exposed to pesticides atrazine and glyphosate. The results showed
significant differences but more studies are still needed.
Keywords: pesticides, giant South American turtle, thickness
INTRODUÇÃO
Os quelônios são répteis da ordem Testudines e se diferenciam em torno de 330 espécies (BOUR,
2008), classificados em 13 famílias. (POUGH; JANIS; HEISER, 2008). De acordo com a Sociedade
Brasileira de Herpetologia (2012), o Brasil possui 36 espécies de quelônios, se tornando o segundo país com
maior diversidade de repteis, atrás apenas da Austrália. Encontrada nas bacias dos rios Amazonas, Araguaia,
Tocantins e Branco (IBAMA, 2014), a tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis expansa) é o maior quelônio de
água doce encontrada na América do Sul, sendo que as fêmeas podem alcançar até 90 cm. Durante os meses
de agosto a dezembro, inicia-se o período de reprodução das tartarugas-da-Amazônia que podem desovar até
mais de 100 ovos, com um período de incubação em torno de 60 dias (PANTOJA-LIMA, 2007).
A casca dos ovos é essencial durante o processo de incubação, oferecendo proteção e ajuda no
transporte de oxigênio e dióxido de carbono traves dos poros (PACKARD, et al.,1979). O ambiente externo
relaciona-se com a estrutura das cascas (KUSUDA, et al., 2013), podendo causar alterações em sua
espessura
e
comprometer
a
sua
funcionalidade.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
Universidade Federal de Uberlândia
101
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
No meio ambiente, os agrotóxicos se acumulam na biota e contaminam a água e o solo, contaminando outros
animais por interação natural (SOARES; PORTO, 2006). Já foi comprovado que alguns agrotóxicos, como
os organoclorados, são capazes de causar o afinamento de cascas ovos de aves, comprometendo o sucesso
reprodutivo das espécies (WIEMEYER et al., 1984).
No presente estudo, foram utilizados os herbicidas atrazina e glifosato como agentes contaminantes
pelos seus históricos de ampla utilização e contaminação. O glifosato é o ingrediente ativo do Roundup®,
um produto desenvolvido pela Monsanto em 1970 para o controle de plantas daninhas e tem registro em mais
de 130 países sendo o mais vendido no mundo.. (MONSANTO, 2014). De acordo com a ANVISA (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), o glifosato é classificado como pouco tóxico, enquanto a atrazina é
classificada como medianamente tóxica. No entanto, essa classificação não considera os possíveis efeitos
tóxicos em répteis. Pouco se sabe sobre os efeitos da exposição aos agrotóxicos em Testudines. Sendo assim,
este trabalho avaliou variações ao longo da incubação artificial na espessura de cascas de ovos de P. expansa
expostos a diferentes concentrações de atrazina e glifosato.
MATERIAL E MÉTODOS
- Coleta de ovos
Ovos de P. expansa foram coletados em outubro de 2013, em área de reprodução localizada em
praias do Rio Araguaia – GO protegidas pelo Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios
(RAN/ICMBio) (13º 20' 38" S e 50º 38' 05" W), com licença SISBIO/ICMBio 36957-1/2012. Foram
utilizados 63 ovos, os quais foram acondicionados em sacos plásticos com vermiculita umedecida com água
na proporção de 2:1 e transportados em veículo oficial ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais
Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia
(LAPAS/FAMEV/UFU) para incubação artificial.
- Incubação artificial
A incubação artificial dos ovos foi realizada de acordo com as técnicas descritas por Molina e
Gomes (1998) com modificações descritas a seguir. Os ovos foram acondicionados em sete bandejas
plásticas de 30 x 50 x 10 cm. Utilizou-se como substrato areia do local de coleta. Cada bandeja foi colocada
no interior de uma incubadora feita com caixa de isopor de 90L com temperatura interna controlada por
termostato acoplado a duas lâmpadas de 15 W. A temperatura e a umidade relativa foram avaliadas por
termohigrômetro digital e mantidas entre 28 e 31 °C e entre 80-100%, respectivamente.
- Exposição aos agrotóxicos
Foram utilizados os produtos RoundUp Origina®l e Proof Syngenta® para a contaminação do
substrato de incubação dos ovos com glifosato e atrazina, respectivamente. Os agrotóxicos foram diluídos
em água e as soluções obtidas foram incorporadas ao substrato ao longo de toda a incubação em volumes
suficiente para umedecer todo o substrato. Utilizaram-se três concentrações de glifosato (65, 650 e 6500
µg/L) e de atrazina (2, 20 e 200 µg/L), produzindo assim seis grupos experimentais. No grupo controle o
substrato foi umedecido com água destilada.
- Análise de espessura
As cascas dos ovos foram analisadas em três grupos que correspondem a cada terço do período de
incubação, sendo um de 1 a 20 dias, outro de 21 a 40 dias e outro de 41 até a eclosão, com aproximadamente
60 dias. . As cascas agrupadas em cada período pertenciam a ovos das mesmas mães. A espessura de cada
casca foi medida em três regiões aleatórias com paquímetro (Starrett 125 MEB), considerando-se a média
das três medições como a espessura individual da casca.
- Análise estatística
As análises dos dados foram feitas utilizando o programa Systat 10.2. Utilizou-se o Teste t para uma
amostra. Diferenças significantes foram inferidas em p < 0,05.
RESULTADOS
Universidade Federal de Uberlândia
102
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A espessura das cascas de cada grupo experimental exposto à atrazina e do grupo controle são
apresentadas na Tabela 1 e na Figura 1. As comparações estatísticas foram feitas apenas entre ovos da
mesma mãe, ou seja, entre grupo controle e grupos experimentais dentro do mesmo terço de incubação.
Foram encontradas diferenças significativas em relação ao controlentes nos grupos atrazina 200 µg/L com 20
dias, no grupo atrazina 2 e 20 µg/L com 40 dias e no grupo atrazina 200 µg/L com 60 dias.
Espessura da casca (média ± desvio padrão, mm)
Período de incubação artificial
1 - 20 dias
21 - 40 dias
41 - 60 dias
Concentração de
atrazina (µg/L)
0
0,26 ± 0,052
0,37 ± 0,08
0,3 ± 0,082
2
0,24 ± 0,058
0,3 ± 0,043*
0,28 ± 0,055
20
0,36 ± 0,194
0,32 ± 0,066*
0,28 ± 0,055
200
0,21 ± 0,060
0,32 ± 0,070
0,27 ± 0,026*
Tabela 1: Espessura das cascas de ovos de Podocnemis expansa nos grupos tratados com atrazina (2 ppb, 20
ppb e 200 ppb) e grupo controle; (*), diferença estatisticamente significativa em relação ao grupo controle (p
< 0.05).
Foram encontradas diferenças estatisticamente significantes no grupo atrazina 200 ppb com 20 dias,
no grupo atrazina 2 e 20 ppb com 40 dias e no grupo atrazina 200 ppb com 60 dias.
Figura 1: Espessura das cascas de ovos de Podocnemis expansa expostos à atrazina avaliados em diferentes
períodos de incubação artificial. (*),p < 0. 05 em relação ao grupo controle dentro de cada período.
A espessura das cascas de cada grupo experimental exposto ao glifosato e do grupo controle são
apresentadas na Tabela 2 e na Figura 2. As comparações estatísticas foram feitas apenas entre ovos da
mesma mãe, ou seja, entre grupo controle e grupos experimentais dentro do mesmo terço de incubação.
Universidade Federal de Uberlândia
103
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Diferenças significativas em relação ao controle foram encontradas nos grupos glifosato 65 µg/L 20 dias,
650 µg/L com 40 dias e 6500 µg/L com 60 dias.
Espessura da casca (média ± desvio padrão, mm)
Período de incubação artificial
Concentração de 1 - 20 dias
21 - 40 dias
41 - 60 dias
glifosato (µg/L)
0
0,26 ± 0,052
0,37 ± 0,08
0,3 ± 0,082
65
0,32 ± 0,079*
0,33 ± 0,055
0,27 ± 0,044
650
0,26 ± 0,060
0,31± 0,039*
0,27 ± 0,035
6500
0,27 ± 0,075
0,34 ± 0,088
0,26 ± 0,033*
Tabela 2: Espessura das cascas de ovos de Podocnemis expansa nos grupos tratados com glifosato (65 ppb,
650 ppb e 6500 ppb) e grupo controle; (*), diferença estatisticamente significativa em relação ao grupo
controle (p < 0.05).
Figura 2: Espessura das cascas de ovos de Podocnemis expansa expostos ao glifosato avaliados em
diferentes períodos de incubação artificial. (*),p < 0. 05 em relação ao grupo controle dentro de cada período.
DISCUSSÃO
A avaliação da espessura de cascas de ovos expostos a xenobióticos, historicamente, já evidenciou
efeitos negativos de pesticidas em avifauna (RATCLIFFE, 1967; RATCLIFFE, 1970; BLUS, WIEMEYER e
BUNCK., 1997). Estes estudos, aparentemente muito simples, serviram como indícios para a avaliação mais
detalhada dos efeitos ambientais dos inseticidas organoclorados, atualmente banidos em quase todo o mundo
pelos danos que causam (CHAMBERS e CARR, 1995; SMITH, 1991; VIEIRA, TORRES e MALM, 2001).
Deste modo, é altamente pertinente a avaliação da espessura de cascas de ovos de répteis expostos a
herbicidas que possam atingir organismos não-alvo.
A espessura média das cascas dos ovos de P. expansa encontrada no presente estudo foi 0,29 mm,
variando entre 0,21 mm a 0,37 mm. A exposição ao produto Proof Syngenta®, cujo princípio ativo é a
atrazina, produziu redução na espessura das cascas nos três terços de incubação, em diferentes doses. Já a
exposição ao RoundUp Original®, cujo princípio ativo é o glifosato, provocou aumento na espessura das
cascas na menor dose, no primeiro terço da incubação, enquanto as doses mais altas provocaram redução na
Universidade Federal de Uberlândia
104
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
espessura, nos dois terços seguintes. Em trabalho semelhante, Souza (2013) verificou que a exposição ao
produto técnico atrazina no início da incubação produziu aumento na espessura das cascas de ovos de P.
expansa.
A casca é necessária para reter água no ovo que é essencial para o embrião (KUSUDA et al., 2013).
Seus poros permitem o fluxo de água e de gases entre o interior do ovo e o meio externo (PACKARD, et al.,
1979). Assim, alterações na espessura das cascas, seja aumento ou redução, podem alterar as trocas hídricas
e gasosas, afetando o embrião, e consequentemente, prejudicando toda a espécie.
A composição química adequada das cascas dos ovos também é importante para que ela sirva como
fonte de nutrientes para o embrião (SAHOO et al., 1998). Assim, alterações na espessura das cascas também
podem alterar sua composição química, produzindo defeitos na embriogênese. Com os resultados aqui
apresentados, verifica-se que estudos sobre os possíveis efeitos dos agrotóxicos nas cascas de ovos de
Testudines podem fornecer bons subsídios para a utilização adequada de agrotóxicos e para a conservação
dos Testudines.
CONCLUSÃO
A exposição de ovos de P. expansa aos produtos Proof Syngenta® (princípio ativo atrazina) e
RoundUp Original® (princípio ativo glifosato) durante a incubação artificial altera a espessura da casca. O
estudo apontou que houve diferenças significativas na espessuras das cascas de P. expansa em relação ao
grupo controle, mas não é suficiente para afirmar que foram alterações da exposição aos pesticidas. É
necessário mais estudos para esclarecer os efeitos dos agrotóxicos.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Omar Teodoro da Silva Júnior pelos herbicidas utilizados neste estudo.
Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo auxílio
financeiro e incentivo ao estudo e à pesquisa.
REFERÊNCIAS
ANVISA - AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Monografias de agrotóxicos.
Atrazina; Glifosato. Disponível em: <portal.anvisa.gov.br/>. Acesso em: 2 dez. 2013.
BLUS, L. J.; WIEMEYER, S. N.; BUNCK, C. M. Clarification of effects of DDE on shell thickness, size,
mass, and shape of avian eggs. Environmental Pollution, v. 95, n. 1, p. 67-74, 1997.
BOUR, R. Global diversity of turtles (Chelonii; Reptilia) in freshwater. Hydrobiologia 595: 593-598. 2008.
CHAMBERS, J. E.; CARR, R. L. Biochemical mechanisms contributing to species differences in
insecticidal toxicity. Toxicology, v.105, p. 291-304, 1995.
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Programa Quelônios
da Amazônia – PQA. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/fauna-silvestre/especies-manejadas->.
Acesso em: 18 de abr. 2014.
KUSUDA, S. et at. Diversity in the M atrix Structure of Eggshells in the Testudines (Reptilia). Zoological
Science, v. 30, p. 366–374, 2013.
LUZ, V. L. F. et al. Rendimento e Composição Química de Carcaça da Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemis
expansa) em Sistema Comercial. R. Bras. Zootec., v.32, n.1, p.1-9, 2003.
MALVASIO, A. et al. Comportamento e preferência alimentar em Podocnemis expansa (Schweigger), P.
unifilis (Troschel) e P. sextuberculata (Cornalia) em cativeiro (Testudines, Pelomedusidae). Rev. Bras.
Universidade Federal de Uberlândia
105
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Zool., v. 20, n.1, pp. 161-168, 2003.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Agrotóxicos. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/segurancaquimica/agrotoxicos>. Acesso em: 21 abr. 2014.
MOLINA, F.B.; GOMES, N.; incubação artificial dos ovos e processo de eclosão em Trachemys dorbignyi
(Duméril & Bibron) (Reptilla, Restudines, Rmydidae). Revta bras. Zool., v.15, p.135 - 143, 1998
.
MONSANTO.
Roundup.
Disponível
<http://www.monsanto.com.br/produtos/herbicidas/roundup/roundup.asp>. Acesso em: 21 abr. 2014.
em:
NEUMAN-LEE, L. A.; Fredric J. JANZEN, F. J. Atrazine Exposure Impacts Behavior and Survivorship of
Neonatal Turtles. Herpetologica, v. 67, p. 23-31. 2011.
PACKARD, G. C. et. al. Changes in Mass of Softshell Turtle (Trionyx spiniferus) Eggs Incubated on
Substrates Differing in Water Potential. Herpetologica, vol. 35, No. 1, pp. 78-86, 1979.
PACKARD, G. C. Water Relations of Chelonian Eggs and Embryos: Is Wetter Better? AMER. ZOOL., v.
39, pp. 289-303, 1999.
PANTOJA-LIMA, J. Aspectos da ecologia reprodutiva de Podocnemis expansa, Podocnemis
sextuberculata e Podocnemis unifilis (Testudines, Podocnemididae) na Reserva Biologica do Abufari,
Amazonas, Brasil. 2007. 74 p. Dissertação de Mestrado - Área de Concentração Ecologia, Programa de PósGraduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais, Manaus, 2007.
POUGH, F. H.; JANIS, C. M.; HEISER, J.B. Testudines. In: A vida dos vertebrados. 4. ed. São Paulo:
Atheneu Editora, 2008. p. 304-305.
RATCLIFFE, D. A. Decrease in eggshell weight in certain birds of prey. Nature. v. 215, p. 208-210, 1967.
RATCLIFFE, D. A. Changes attributable to pesticides in egg breakage frequency and eggshell thickness in
some British birds. J. Appl. Ecol. v. 7, p. 67-115, 1970.
RODRIGUES, M. J. J.; MOURA. L. S. S.Análise Bromatológica da Carne de tartaruga-da-AMazônia,
Podocnemis expansa (Schweigger,1812) em Habitat Natural: Subsídios para Otimizar a Criação Racional.
Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 2, n. 4, 2007.
SAHOO, G.; SAHOO, R.K.; MOHANTY-HEJMADI, P. Calcium metabolism in olive ridley turtle eggs
during embryonic development. Comparative Biochemistry and Physiology, Part A, v. 121, p. 91–97,
1998.
SILYN-ROBERTS. H,; SHARP. R. M. Crystal Growth and the Role of the Organic Network in Eggshell
Biomineralization. Proc. R. Soc. Lond. v. 227, p. 303-324, 1986.
SMITH, A. G. Chlorinated hydrocarbon insecticides. In: HAYES JR., W. J.; LAWS JR., E. R. (Eds.).
Handbook of pesticide toxicology. California: Academic Press, Inc., 1991, v.2, p. 731-916.
SPARLING, D. W. et al. Toxicity of Glyphosate as Glypro and LI700 to red-eared slider (Trachemys scripta
elegans) embryos and early hatchlings Environmental Toxicology and Chemistry, Vol. 25, No. 10, pp.
2768–2774,
2006.
SOARES, W.L.; PORTO M. F.; Atividade agrícola e externalidade ambiental: uma análise a partir do uso de
agrotóxicos no cerrado brasileiro. Ciência & Saúde Coletiva, vol.12, no.1, 2007.
Universidade Federal de Uberlândia
106
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HERPETOLOGIA. Introdução à Lista Brasileira de Répteis. 2012.
Disponível em: <http://www.sbherpetologia.org.br/index.php/repteis>. Acesso em: 18 abr. 2014 .
SOUZA, R. R. Efeitos da Atrazina na Composição Química e Morfologia de Cascas de Ovos de
Podocnemis expansa (Testudines, Podocnemididae) Incubados Artificialmente. Dissertação de Mestrado
- Ciências Veterinárias (Saúde Animal), Uberlândia, 2013.
VIEIRA, E. D. R.; TORRES, J. P. M.; MALM, O. DDT environmental persistence from its use in a vector
control program: a case study. Environmental Research, Section A, v. 86, p.174-182, 2001.
WIEMEYER, S. N. et al. Organochlorine Pesticide, Polychlorobiphenyl, and Mercury Residues in Bald
Eagle Eggs – 1969 -79 - and Their Relationships to Shell Thinning and Reproduction. Arch. Environ.
Contam. Toxicol. v. 13, p. 529-549, 1984.
APOIO FINANCEIRO: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Universidade Federal de Uberlândia
107
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ESTUDO ANATOMO-RADIOGRÁFICO DOS OSSOS DO MEMBRO TORÁCICO DO MAZAMA
GOUAZOUBIRA
Peixoto,L.R.1; Mattos,B.V.R.R.1; Nunes,G.M.B.1; Santos,A.L.Q.2
1 Graduandos em Medicina Veterinária / Faculdade de Medicina Veterinária – UFU
2 Docente orientador / Faculdade de Medicina Veterinária – UFU Laboratório de Pesquisa em Animais
Silvestres (LAPAS), Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia. Av.
Amazonas, n 2245, Jardim Umuarama, Uberlândia – MG, CEP: 38405-302. Fone: 34- 9194-0732. E-mail:
[email protected]
RESUMO
O Mazama gouazoubira é um ruminante silvestre pertencente à família Cervidae (Walker, 1991). O
presente estudo teve como objetivo a descrição dos acidentes ósseos e a análise de raio-x do membro
torácico do veado-catingueiro. As peças ósseas foram maceradas em água fervente e posteriormente
colocadas a uma solução de peróxido de hidrogênio. Feito a análise dos ossos de três animais, foi observado
à ausência do túber da espinha da escápula e ainda do sesamóide distal. Segundo Getty (1986) essas
características não podem ser observadas nos ruminantes domésticos.
Palavras-chave: osteologia, veado-catingueiro, cervídeo.
ABSTRACT
The Mazama Gouazoubira is a wild ruminant belonging to the family Cervidae. The present study
aimed to describe the bone accidents and analysis of x-ray of the thoracic limb of brocket deer. The bones of
these specimens were macerated in boiling water and subsequently placed a solution of hydrogen peroxide.
Made the analysis of the bones of the 3 animals, the absence of the tuber of the scapular spine and the distal
sesamoid was still observed.
Key words: Osteology, brocket deer, cervid.
INTRODUÇÃO
O Mazama gouazoubira (Fisher,1814) pertence à família Cervidae e ordem Artiodactyla (Walker,
1991). Esta espécie é conhecida popularmente como veado-catingueiro, é um animal ungulado, ruminante e
possui ampla distribuição geográfica (Walker, 1991). O estudo da osteologia e da análise de radiografias do
M. gouazoubira é importante para o médico veterinário, uma vez que garante a compreensão clínica dos
acidentes ósseos. Este trabalho tem como objetivo descrever os principais acidentes ósseos do membro
torácico e à análise clínica de radiografias dessa espécie.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados três veados-catingueiros, de ambos os sexos. Os animais utilizados no estudo são
pertencentes ao acervo didático científico do Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres
(LAPAS) da Universidade Federal de Uberlândia. Os animais foram utilizados segundo a autorização para
utilização desse material biológico segundo acordo da cooperação técnico 002/2011-IBAMA/UFU. A pele
dos três veados-catingueiros foi retirada e o membro foi submetido ao diagnóstico por imagens-Raio X com
Kvp= 44, MA= 100 e Tcr=0.058 . Posteriormente realizou-se a retirada da musculatura e a desarticulação do
membro. Em seguida foi realizada a maceração dos ossos em água fervente e posteriormente colocados em
solução de peróxido de hidrogênio. Depois de limpos, os ossos secos foram submetidos a registros por
câmera fotográfica digital Sony 10.1 megapixels e à descrição de acordo com a Nomina Anatômica
Veterinária 2012.
Universidade Federal de Uberlândia
108
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O membro torácico dos cervídeos é constituído de quatro segmentos: cintura escapular, braço,
antebraço e mão. A cintura escapular está reduzida a um só osso, a escápula. A união entre o tronco e o
membro torácico é feita por intermédio de vários músculos. O braço tem por base óssea o úmero. No
antebraço estão localizados o rádio e a ulna. A mão engloba os ossos do carpo, do metacarpo e dos dedos.
Estes últimos são formados pelas falanges e ossos sesamóides. Essas características estão presentes também
nos ruminantes domésticos descritos por Getty (1986).
A escápula é um osso plano, triangular, está dividia pela espinha da escápula em fossa supraespinhal, cranialmente e infra-espinhal caudalmente. Na espécie de cervídeo estudada, o túber da espinha
está ausente, diferentemente do encontrado nos ruminantes doméstico de acordo com Getty (1986). Na
extremidade distal da espinha da escápula apresenta uma saliência pontiaguda, o acrômio. A face medial da
escápula é ocupada pela fossa subescapular.
O úmero é o osso longo do braço, sua extremidade proximal está formada pela cabeça, colo,
tubérculo maior, tubérculo menor e sulco intertubercular. A face medial apresenta próximo ao terço médio,
uma área rugosa, irregular, a tuberosidade redonda maior. A crista do úmero é pouco evidente e termina na
fossa radial. A extremidade distal é representada pelo côndilo, que é formado pelo capítulo, tróclea, fossa
radial e fossa do olécrano. Na face medial da extremidade distal e acima da tróclea existe uma depressão
rugosa, a fossa radial. Os epicôndilos, lateral e medial, são duas eminências não articulares situadas a cada
lado do côndilo. (Figura 1)
O rádio e a ulna são os dois ossos do antebraço, sendo o rádio o mais volumoso e o mais cranial dos
dois. O rádio é constituído de cabeça, colo, corpo e tróclea. As duas cavidades da cabeça do rádio estão
separadas por uma área não articular, a fóvea da cabeça do rádio. O corpo tem faces cranial e caudal,
separadas pelas bordas lateral e medial. Em duas regiões da face caudal não há, todavia, contato entre o rádio
e a ulna. Neste se formam os espaços interósseos, proximal e distal, que são bastante alongados. O forame
Universidade Federal de Uberlândia
109
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
nutrício situa-se ao nível da borda lateral, no espaço interósseo proximal e está voltado para a extremidade
distal (Figura 2).
A ulna é um osso longo, com a extremidade proximal mais desenvolvida que o restante. Ela
apresenta duas extremidades e um corpo. A extremidade proximal inclui o olécrano, a incisura troclear e a
incisura radial. O olécrano é a porção que se projeta para cima e sua superfície é tuberculada,
correspondendo o túber do olécrano. A incisura troclear, na extremidade proximal tem forma semilunar e se
articula com a tróclea do úmero. A incisura radial está em contato com a face caudal da extremidade
proximal do rádio e, geralmente, se encontram fundidas entre si. A extremidade distal da ulna é fundida ao
rádio e apresenta o processo estiloide que se projeta distalmente (Figura 2).
O carpo é o conjunto de seis ossos curtos dispostos em duas fileiras, proximal e distal. Quatro ossos
compõem a fileira proximal e recebem, no sentido médiolateral, respectivamente, a denominação de radial
do carpo, intermédio do carpo, ulnar do carpo e acessório do carpo. Dois ossos apenas formam a fileira distal
e são no sentido médiolateral o osso cárpico II e III e o cárpico IV (Figura 2). Essa característica também
pode ser observada nos ruminantes domésticos descrito por Getty (1986).
Apenas um osso metacárpico apresenta-se completamente desenvolvido, o metacárpico III e IV,
constituído pelos ossos metacárpico III e metacárpico IV que se fundiram durante a vida fetal. Vestígios
desta fusão são os sulcos longitudinais, dorsal e palmar. Sendo o palmar bem mais evidente que o dorsal.
Universidade Federal de Uberlândia
110
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Outros dois ossos presentes são o metacárpico II e metacárpico V,estes são pequenos ossos, rudimentares e
estilóides. Esses ossos apresentam-se parcialmente fundidos ao metacárpico III e IV.
O metacárpico III e IV é um osso longo apresentando base, corpo e cabeça e seus acidentes ósseos
são próximos ao observado nos ossos dos ruminantes domésticos exposto por Getty (1986).
Os cervídeos possuem quatro dedos. O terceiro e o quarto são completamente desenvolvidos e
possuem cada um, três falanges com dois ossos sesamóides, diferentemente do que ocorre nos ruminantes
domésticos, onde se verifica a presença de três ossos sesamóides para cada dedo principal Getty (1986). O
segundo e o quinto dedos são rudimentares e possuem três pequenos ossos: falanges proximal, média e
distal. A falange proximal se articula com o restante do esqueleto através dos ossos metacárpicos II e V,
respectivamente (Figura 3). A falange proximal é um osso longo, possuindo cavidade medular. Apresenta,
caudalmente, duas pequenas facetas planas para articulação com os dois sesamóides proximais e logo abaixo
daquelas, dois tubérculos separados por um largo sulco. (Figura 4)
A falange média é também um osso longo, porém com a cavidade medular bastante reduzida (Figura
3 e 4).
A falange distal difere das outras duas, apresentando quatro faces e três ângulos. A face solear apoiase no solo por meio do casco; é lisa, lanceolada com a extremidade aguda voltada para frente e ligeiramente
para dentro. A face parietal ou abaxial é convexa. Esta face apresenta alguns forames. A face axial é aquela
voltada para o espaço interdigital. A face articular apresenta-se dividida em duas partes por meio de uma
crista e se articula com a falange média (Figura 3 e 4).
Universidade Federal de Uberlândia
111
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Os sesamóides são pequenos ossos arredondados relacionados com a face palmar da articulação
metacarpofalângica. Existem quatro sesamóides proximais, dois para cada dedo, articulados com a cabeça do
metacárpico III e IV e com a base da falange proximal.
Os sesamóides distais, presente em outras espécies de ruminantes, estão ausentes no
Mazamagouazoubira (Figura 3e 4).
CONCLUSÕES
Foi observado que os ossos e os acidentes ósseos do veado-catingueiro são semelhantes à de outros
ruminantes. Contudo foi identificado a ausência do osso sesamóide distal. Essa observação é comprovada
através de imagem radiográfica e através da maceração, com posterior fotografia para comprovação. A
ausência do sesamóide distal foi observada nas três peças de veado-catingueiro estudadas (Figura 3 e 4). Nos
dedos rudimentares II e V foi observado a presença do osso metacárpico II e do metacárpico V parcialmente
fundidos ao matacárpico III e IV e a presença de três ossos, as falanges proximal, média e distal.
REFERÊNCIAS
Walker E. Mammals of the World. John HopkinsUniversty Press, Baltimore, 1991, 1398p.
Getty, R. Anatomia dos animais domésticos. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986, 2048p.
ESTUDO RETROSPECTIVO DA ENTRADA DE ANIMAIS SILVESTRES NO CENTRO DE
TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES DO TOCANTINS (CETAS – TO), ANO 2013, E
CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA
Universidade Federal de Uberlândia
112
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
MENEZES L. F.¹; VIANA, E. B.²; MONTEIRO, R. M.³; SILVA, J. B. de A.4;PACHECO, G. A.5;
¹Acadêmica de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Tocantins (UFT)
²Médico Veterinário, Professor Adjunto da Universidade Federal do Tocantins (UFT)
³Biólogo, CETAS – TO
4
Acadêmica do curso de Biologia na Universidade Federal do Tocantins (UFT)
5
Médica Veterinária, Chefe pelo Núcleo de Fauna do Instituto Natureza do Tocantins (NATURATINS)
RESUMO
Objetivou-se estabelecer o perfil qualitativo e quantitativo da fauna silvestre recebida pelo Cetas do
Tocantins a partir de um estudo retrospectivo dos registros de entrada de animais no período de janeiro a
dezembro de 2013. Constatou-se o recebimento de 586 animais, sendo 268 (45%) aves, 182 (31%) répteis e
136 (24%) mamíferos. As aves, tanto em número de indivíduos quanto em espécies, foram a classe de animal
silvestre mais recebida. No Tocantins, o desenvolvimento de grandes empreendimentos industriais,
construção de loteamentos, rodovias, hidrelétricas ou queimadas desencadeiam um comprometimento de
flora e fauna com sérios impactos aos vertebrados, podendo contribuir para a fragmentação de habitat e
elevando o índice de mortalidade, aumentando ainda mais o desafio para conservação. Nesse contexto, a
estatística dos dados apresentados fornece subsídios para a reintrodução de espécies silvestres, bem como
elaboração e adoção de condutas de fiscalização e educação ambiental voltados à conservação da fauna.
Palavras-chave: CETAS, tráfico, Fauna Silvestre
ABSTRACT
The aim of this study was establish the qualitative and quantitative profiles of wildlife received by
Cetas Tocantins through animals record files investigation from January to December 2013. It was verified
about 586 wild animals, being 268 (45%) birds, 182 (31%) and 136 reptiles (24%) mammals. The birds was
the class received greater in both number and species, were the class of wild animal received more. In
Tocantins, the development of large industrial enterprises, construction of settlements, roads, hydroelectric
or burned trigger an impairment of flora and fauna with serious impacts on vertebrates in the process of
displacement, increasing the mortality rate and further increasing the challenge for conservation. In this
context, the statistical data presented provides support for the reintroduction of wild species as well as
drafting and adoption of surpervisory and conducts environmental education focused on wildlife
conservation.
Key words: CETAS, TRAFIC, wildlife
INTRODUÇÃO
O estado do Tocantins está em pleno desenvolvimento econômico, político e social. Associado à tal
fato, observa-se também a expansão urbana em uma área anteriormente rural, na qual sua população
sobrevivera da agricultura de subsistência, extrativismo da floresta e pesca e, principalmente, atividade
agropecuária (SILVA JÚNIOR et al., 2005). Assim, sendo uma área que atualmente sofre esta transição do
meio rural ao urbano, os motivos que levam à apreensão de animais silvestres e espécies envolvidas também
vem se modificando; (OLMOS et. al., 2004). A frequencia com que espécies são retiradas da natureza para
criação ilegal ou caçadas se assemelha à frequência de apreensões de cunho urbano, como atropelamentos,
presença de animais em loteamentos e casas, queimadas e ataque por animais domésticos. As espécies
depositadas ou entregues voluntariamente no Centro de Triagem de Animais Silvestres - TO, sob
responsabilidade do Naturatins, são uma pequena amostra daquilo que é comercializado e mantido
ilegalmente em lares tocantinenses, mas principalmente estabelece um perfil de espécies que sofrem mais
com a expansão urbana. Neste contexto, a estatística destes dados poderá fornecer subsídios para a
reintrodução de espécies silvestres, bem como elaboração e adoção de condutas de fiscalização e educação
Universidade Federal de Uberlândia
113
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ambiental voltados à conservação da fauna e conscientização populacional sobre as consequencias da
fragmentação de habitat causada por ações antrópicas - queimadas, expansão rural e loteamentos.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada através de uma análise retrospectiva das fichas de entrada do CETAS, que
são preenchidas pelo corpo profissional assim que a espécie é entregue voluntariamente, capturada ou
recolhida. Em seguida, as fichas foram computadas e submetidas à análise estatística descritiva para
obtenção dos resultados, dentre eles: frequência de entrada, espécies envolvidas e causa de apreensão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O CETAS -TO recebeu no ano de 2013 um total de 586 animais silvestres de 82 espécies.
Apresentou maior numero de registros a classe das aves (45,8 %), seguida de répteis (31 %) e em menor
número, mamíferos (23%). Em estudo realizado por Moura et. al. (2012), as aves também foram o grupo
predominante. Tal perfil é representado no gráfico abaixo:
Fig. 1. Perfil de entrada dos animais ao CETAS, por classe.
Aves
23,20%
Répteis
45,75%
Mamíferos
31,05%
Sobre a classe das aves, o gráfico a seguir representa a relação das classes mais observadas: com
frequencia maior, foram identificadas as famílias Thraupidae (44 %) e Psittacidae (12,7%). Os rapinantes
compõem 9,32% do recebimento total de aves. Os mamíferos recebidos incluem indivíduos da superordem
Xenarthra (39,7%), que são predominantes na classe. As demais espécies são advindas de famílias e ordens
distintas, sem prevalência de grupos específicos. A classe dos répteis tem como principal família envolvida a
Testudinidae, compondo 62,6% do total de répteis recebidos.
Universidade Federal de Uberlândia
114
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
100
90
Thraupidae
Psittacidae
Rapinantes
Outros
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Aves
Fig. 2. Representação da relação de aves recebidas no CETAS, 2013.
Sobre os animais que dão entrada, 57% são animais recolhidos (em ambientes urbanos ou vítimas de
atropelamento), 28.5% chegam por entrega voluntária na população. Ainda, 14,16% vem ao CETAS
apresentando enfermidades, e destes, 38% possuem fraturas, em maior parte por atropelamento. Os índices
de chegada de neonatos e filhotes acompanham a época de reprodução das espécies envolvidas – Nasua
nasua (Quati), Chelonoidis carbonaria (Jabuti-Piranga), Turdus leucomelas (Sabiá-Barranco), Pecari tajacu
(Caititu), Dasypus septemcinctus (Tatu-China), e eles representam 16% das espécies recebidas.
CONCLUSÃO
A frequência de chegada maior da classe das aves apenas representa o maior grupo atingido pelo
tráfico e criação ilegal tanto pela facilidade de captura, quanto por apelo populacional, fato que também pode
ser observado na criação ilegal de C. carbonaria, que são muito comumente entregues ao CETAS a partir do
momento que atingem a idade adulta. A facilidade de criação dos animais também é um fator que contribui
para a popularização nos dois casos.
REFERÊNCIAS
MOURA, S. G.; PESSOA, F. B.; OLIVEIRA, F. F.; LUSTOSA, A. H. M.; SOARES, C. B. Animais
Silvestres Recebidos pelo Centro de Triagem do Ibama do Piauí no ano de 2011. ENCICLOPÉDIA
BIOSFERA, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.8, n.15, 2011.
OLMOS, F., ARBOCZ, G., PACHECO, J.F. & DIAS, R.R. Estudo da flora e Fauna do Norte do Estado do
Tocantins (R. R. Dias, org.). Secretaria do Planejamento e Meio Ambiente, Diretoria de Zoneamento
Ecológico-Econômico, Palmas. Projeto de Gestão Ambiental Integrada da Região do Bico do Papagaio.
Zoneamento Ecológico-Econômico, 2004.
SILVA JÚNIOR, N. J. da; SILVA, H. L. R.; RODRIGUES, M. T. U.; VALLE, N. C. do; COSTA, M. C.;
CASTRO, S. P. de; LINDER, E. T.; JOHANSSON, C.; SITES JR., J. W. A fauna de vertebrados do vale do
alto do rio Tocantins em áreas de usinas hidrelétricas. Estudos...Goiânia, v. 32, p. 57-101, 2005.
Universidade Federal de Uberlândia
115
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
HELMINTOS GASTROINTESTINAIS NO VEADO CAMPEIRO (OZOTOCERUS BEZOARTICUS,
ARTIODACTYLA: CERVIDAE) DO PANTANAL SUL-MATOGROSSENSE
Santos, F.M.1; Ferrreira, F.L.M.2; Perestrelo, D. M.2; Almeida, I.N.V.2; Santos, A.L.S.2.; Piovezan, U.3;
Duarte, J.M.B.4; Herrera, H. M.5
1
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, UCDB
([email protected] (67)96474647).
2
Acadêmico da Universidade Católica Dom Bosco, UCDB.
3
Centro Brasileiro de Pesquisa Agropecuária /EMBRAPA - Pantanal, Laboratório de Vida Selvagem
4
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.
5
Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, UCDB.
RESUMO
O estudo dos parasitas gastrointestinais de animais silvestres é de suma importância para
compreensão do ciclo de transmissão na natureza. No caso do Pantanal Sul-matogrossense, os herbívoros
silvestres compartilham os mesmos ambientes com os animais de criação, mantendo as parasitoses comuns
aos animais domésticos. O presente trabalho avaliou 632 amostras de fezes de Ozotocerus bezoarticus
(veado campeiro) que vivem em simpatria com bovinos no Pantanal Sul-matogrossene, através da técnica de
Willis modificado, coletadas no período compreendido de fevereiro a julho de 2007 e agosto 2009 a janeiro
de 2010. Das 632 amostras avaliadas, 229 (37,7%) foram positivas e 403 (63,3%) negativas. Das amostras
positivas, em 105 foram identificados ovos de Ascarididae, 40 de Trichuridae, 159 de Strongylidae, 16
amostras não foi possível à identificação e em 82 (35,8%) amostras observou-se co-infecção. A distribuição
temporal mostrou que as maiores infecções ocorreram nos meses de agosto a março, com um período de
maior liberação de ovos nas fezes com um maior número de animais positivos. Ao contrário dos meses de
Abril a Julho quando o número de ovos eliminados nas fezes e o número de animais parasitados foram
incipientes. Nossos resultados indicam que as parasitoses gastrointestinais dos veados campeiros no Pantanal
Sul-matogrossense ocorrem no inverno e verão, com uma pequena fração (3 a 5%) da população dos veados
campeiros responsável por grande eliminação de ovos no ambiente. Ainda, verificou-se a ocorrência de um
período pré-patente bem definido no outono (maio a julho).
Palavras chaves: Ozotocerus bezoarticus, Pantanal, veados campeiros, Helmintos gastrointestinais.
ABSTRACT
The study of gastrointestinal parasites of wild animals is of great importance for understanding the
transmission cycle in nature In the case of the Pantanal of Mato Grosso do Sul, wild herbivores share the
same environment with farmed animals, keeping the common parasitic diseases to domestic animals. The
present study evaluated 632 fecal samples Ozotocerus bezoarticus (pampas deer) living in sympatry with
cattle in the Pantanal of Mato Grosso do Sul, through the technique of modified Willis, collected in the
period February-July 2007 and August 2009 to January 2010. Of the 632 samples evaluated, 229 (37.7%)
were positive and 403 (63.3%) negative. Of the positive samples, 105 eggs Ascarididae, 40 Trichuridae, 159,
Strongylidae were identified 16 samples it was not possible to identify and in 82 (35.8%) samples was
observed co-infection. The temporal distribution showed that major infections occurred in the months from
August to March, with a longer period of liberation of eggs in the feces with a greater number of positive
animals. In contrast to months of April to July when the number of eggs eliminated in the feces and the
number of parasitized animals were incipient. Our results indicate that gastrointestinal parasites of pampas
deer in the Pantanal of Mato Grosso do Sul occur in winter and summer, with a small fraction (3-5%) of the
population of pampas deer responsible for disposal of large eggs in the environment.Still, there was the
occurrence of a pre-patent period and defined in autumn (May-July).
Key-words: Ozotocerus bezoarticus, Pantanal, Gastrointestinal Parasites, Pampas Deer
Universidade Federal de Uberlândia
116
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INTRODUÇÃO
O Pantanal é uma imensa planície sedimentar, com área de 140 mil km2, localizada no centro da
América do Sul. A maior distância no sentido oeste-leste, partindo-se da fronteira boliviana e progredindo-se
em direção ao planalto central, atinge cerca de 300 km. A região possui um caráter sazonal anual marcante
com período de chuvas intensas (verão) e de seca severa (inverno). Deste modo o ambiente é extremamente
favorável aos recursos forrageiros nativos no verão/outono e crítico no inverno/primavera (Franco et
al.,2013).
O veado-campeiro, Ozotocerus bezoarticus (Linnaeus, 1758) cervídeo de porte médio amplamente
distribuído na América do Sul. Estudos realizados por Mourão et al.(2000) estimaram aproximadamente
60000 indivíduos de veados campeiros no Pantanal, com uma densidade de 6,85 indivíduos/Km² na área de
estudo, sendo o maior registro de indivíduos para essa espécie (Tomás et al., 2001).
A pecuária é a principal atividade econômica da região, que caracteriza-se por apresentar grandes
propriedades, com um número de aproximadamente de 300 bovinos/Km². Os animais de produção
compartilham dos recursos forrageiros nativos com várias espécies de herbívoros silvestres. Neste sistema,
os animais domésticos são mantidos nas pastagens nativas das extensas planícies arenosas com poucas
subdivisões, de forma a permitir o pastejo seletivo e o uso das aguadas (Cadavid Garcia, 1986).
Desde meados dos anos 80, intensificou-se no Pantanal a economia agropecuária. Hoje, com cerca de
3,5 milhões de cabeças de gado, a região tornou-se importante produtora. De maneira geral, a cultura do
gado criado extensivamente não é considerada prejudicial ao ambiente, talvez por que a imprevisibilidade
das grandes enchentes venha limitar o tamanho dos rebanhos mantendo-os dentro dos limites de uma
economia ecologicamente sustentável. Na ausência de outros mamíferos pastadores, além dos cervídeos, o
gado não é competidor da fauna original. Eles se tornaram parte integral da paisagem pantaneira.
A alta diversidade da fauna oferece aos zoólogos, em geral, e aos parasitologistas, em particular,
enormes possibilidades de estudos taxonômicos e ecológicos sobre a relação hospedeiro-parasita em
ecossistemas naturais. Pelo fato da região do Pantanal ser explorada por um sistema extensivo de pecuária de
corte, o estudo do efeito dos agentes infeccioso-parasitárias comuns aos animais domésticos e silvestres é
condição exencial. O objetivo desse trabalho foi avaliar a parasitose por geo-helmintos em uma população de
veado campeiro (O. bezoartucus) residente no Pantanal sul mato-grossense através de exames
coprocológicos.
MATERIAL E MÉTODOS
As amostras foram coletadas em uma área de aproximadamente 10.000 ha, situada no Pantanal da
Nhecolândia (19°08‟30S e 56°47‟43), município de Corumbá, MS. O regime de criação de gado na região é
predominantemente extensivo e tradicional, onde os animais são criados soltos em pastagens nativas
existentes nas invernadas da fazenda.
Foram coletadas e analisadas 632 amostras de fezes de Ozotocerus bezoarticus (veado campeiro), no
período de fevereiro a julho de 2007 e de agosto de 2009 a janeiro de 2010. As amostras foram armazenadas
em tubos de 50 ml e identificadas de acordo com o numero do registro que cada animal possuía (colar com
radio monitoramento e brinco com numeração) e fixadas em solução de formalina 10% para posterior análise
no laboratório de parasitologia da UCDB. Os veados campeiros eram localizados por meio de radio colares
onde eram anotados: data, coordenada geográfica UTM (obtidas com GPS), sexo, número do colar, número
do tubo, peso da amostra.
Após coletadas as amostras elas foram submetidas à técnica de exame parasitológico Willis
modificado como descrita a seguir: as amostras foram homogeneizadas por cinco a dez minutos em um
agitador, após estarem bem homogeneizadas, as amostras foram centrifugadas por 10 minutos a uma
velocidade de 5.000 RPM. Depois de centrifugadas o sobrenadante (solução formalina) era descartado. Em
seguida uma quantidade de fezes de aproximadamente 1 a 2 g era colocada em um pequeno tubo com
capacidade aproximada de 20 ml. Uma solução hipersaturada de cloreto de sódio era então adicionada ao
tubo com a amostra de fezes, e após a amostra homogeneizada. Em seguida completado com solução
Universidade Federal de Uberlândia
117
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
hipersaturada até formar um menisco na extremidade superior do tubo. Uma lamínula era colocada em
contato com o menisco durante 10 a 15 minutos; não deverá haver formação de bolhas de ar entra a lamínula
e a superfície do líquido. A lamínula era invertida rapidamente a sua posição sobre uma lâmina, adicionado
lugol e examinado ao microscópio com objetiva de 10x.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 632 amostras de fezes examinadas pelo método de Willis modificado, 229 (37,7%) foram
positivas e 403 (63,3%) negativas. Das amostras positivas, em 105 foram identificados ovos de Ascarididae,
40 de Trichuridae, 159 de Strongylidae, 16 amostras não foi possível à identificação e em 82 (35,8%)
amostras observou-se co-infecção (Tabela 1).
Tabela 2. Grupos taxonômicos amostrados nas fezes de Ozotocerus bezoarticus (veado campeiro) coletas no
Pantanal da Nhecolândia, Corumbá - MS
Grupo
Amostras
Porcentagem / Positivas
Ascarididae
105
43,57
Trichuridae
40
16,60
Strongilidae
159
65,98
Outros
16
6,64
Ascarididae + Trichuridae
9
3,73
Ascarididae + Strongilidae
58
24,07
Strongilidae + Trichuridae
8
3,32
Strongilidae + Outros
3
1,24
Trichuridae + Outros
3
1,24
Ascarididae + Trichuridae + Strongilidae
1
0,41
A distribuição temporal das amostras evidenciou claramente que entre os meses de abril a julho a
grande maioria das amostras coletadas estavam negativas para a presença de ovos de helmintos nas fezes dos
cervídeos (Figura 1 e 2). Ao contrário, nos meses de agosto a março, foi notada a liberação no ambiente de
ovos de helmintos, intensamente por apenas pequena fração de indivíduos da população (Figura 3).
90
82
80
70
65
60
65
63
57
50
56
45
40
37
30
20
10
8
8
4
0
fev
mar
abr
mai
jun
2
jul
ago
set
out
nov
dez
jan
Figura 3. Porcentagem de amostras de fezes de Ozotocerus bezoarticus (veado campeiro), positivos para
ovos de helmintos coletas ao longo do ano no Pantanal da Nhecolândia, Corumbá – MS.
Universidade Federal de Uberlândia
118
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
250
216
200
150
202
151
117 118
100
73
72
50
7
0
fev mar abr mai jun
2
84
62
2
jul
ago set
out nov dez jan
Figura 4. Número de ovos detectados ao longo do ano em amostras de fezes de Ozotocerus bezoarticus
(veado campeiro), coletas no Pantanal da Nhecolândia, Corumbá – MS.
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
fev mar abr mai jun
jul
ago
set
out nov dez
jan
Figura 5. Porcentual de cervídeos positivos para ovos de helmintos em relação ao número total de amostras
de fezes de Ozotocerus bezoarticus (veado campeiro) ao longo do ano, coletas no Pantanal da Nhecolândia,
Corumbá – MS.
A liberação de ovos dos helmintos durante o período seco (agosto- novembro) não estaria
contribuindo para infestação das pastagens, haja visto que esse período representa uma época extremamente
seco e quente, condições desfavoráveis às larvas. Ao contrário, os ovos liberados no verão encontram
condições satisfatórias a eclosão e consequente desenvolvimento das larvas no ambiente, infectando os
animais no final do outono.
De fato, Catto & Furlong (1980) revelaram que a precipitação é o fator regulador da infestação das
pastagens. Realmente existem diversos fatores que influenciam na manutenção e sobrevivência das larvas no
meio ambiente: clima, temperaturas e umidade relativa do ar, influenciando diretamente no desenvolvimento
das formas de vida livre dos helmintos onde os índices de contaminação das pastagens ocorrem
principalmente em períodos de maior precipitação (maior disponibilidade de água) e menor contaminação
nos períodos de baixa precipitação pluviométrica. Podem essas larvas permanecer ativas durante meses nos
bolos fecais, que são depositados no início do período seco.
Outro fator ser levado em conta dos cervos campeiros no Pantanal Sul-matogrossense, apesar de
termos amostrados 403 indivíduos negativos não podemos assegurar que esses indivíduos estariam livres de
parasitas, haja vista que trabalhos realizados por Nascimento et al. (2000) determinaram que 100% de
cervídeos que foram necropsiados estavam parasitados por helmintos adultos, com um índice de infecção
Universidade Federal de Uberlândia
119
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
variando de um a 4.345 nematódeos. Fato pode ser explicado devido: amostras com baixo nível de infecção o
teste de Willis não detecta e altos níveis de helmintos no trato intestinal leva a obstrução do bolo fecal
impedindo a liberação de ovos dos parasitas ao ambiente.
CONCLUSÃO
Nossos resultados sugerem que as parasitoses gastrointestinais dos veados campeiros estariam sendo
eliminados no ambiento do Pantanal Sul-matogrossense entre os períodos de inverno e verão, com uma
pequena fração (3 a 5%) da população dos veados campeiros responsável por grande eliminação de ovos no
ambiente. Ainda, verificou-se a ocorrência de um período pré-patente bem definido no outono (maio a
julho), onde esses animais estariam se infetando com os helmintos e as larvas L3 estariam se desenvolvendo
no interior dos veados campeiros contaminando o ambiente posteriormente.
REFERÊNCIAS
CATTO, J.B.; FURLONG, J. Epidemiologia da helmintose bovina no Pantanal Sul mato-grossense.1.
subregião da Nhecolândia, 1976 –1978. Corumbá, Embrapa, UEPAE de Corumbá, 1980. p.1-3.
(Comunicado Técnico 1).
MOURÃO, G.; COUTINHO, M.; MAURO, R.; CAMPOS, Z.; TOMÁS, W.; MAGNUSSON, W. Aerial
surveys of caiman marsh deer and pampas deer in the Pantanal Wetland of Brazil. Biological
Caonservation. 92:175-183,2000.
TOMÁS, W.M.; MSSHEA, W.; MIRANDA, G.H.B; MOREIRA, J.R.; MOURÃO, G.; BORGES, P.A.L. A
survey of pampas deer, Ozotoceros bezoarticus leucogaster (Artiodactyla, cervidae), population in the
Pantanal wetland Brazil using the distance sampling technique. Animal Biodiversity and Conservation.
24:101-106, 2001
NASCIMENTO, A.A.; BONUTI, M.R.; MAPELI, E.B.; TEBALDI, J.H.; ARANTES, I.G.;
ZETTERMANN, C.D. Infecções naturais em cervídeos (Mammalia: Cervidae) procedentes dos Estados do
Mato Grosso do Sul e São Paulo, por nematódeos Trichostrongyloidea Cram, 1927. Braz. J. Vet. Res.
Anim. Sci. 37 (2), 2000.
CADAVID GARCIA, E.A. Aspectos da organizacao agraria do Pantanal Mato-Grossesse. Revista de
Economia Rural. 24(4):429-442, 1986.
FRANCO, J.L.A; DRUMMOND, J.A.; GENTILE, C.; AZEVEDO, A.I. Biodiversidade e ocupação
humana do Pantanal mato-grossense: conflitos e oportunidades. Rio de Janeiro: Garamond, 2013
Universidade Federal de Uberlândia
120
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
HEMOPARASITOS EM SERPENTES DAS SUBSPÉCIES BOA CONSTRICTOR CONSTRICTOR E
BOA CONSTRICTOR AMARALI E GÊNERO EPICRATES , MANTIDAS EM CATIVEIRO NA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS
Úngari, L. P.1; Fava, N. M. N.2; Rodrigues, T. C. S. 3; Santos, A. L. Q.3; Faria, E. S. M. 4; Cury, C. M.4
1
Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Biologia, Uberlândia,MG ([email protected] 16
98127-8677)
2
Programa de Pós-graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas,UFU ([email protected])
3
Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS) da Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV),
UFU ([email protected]; [email protected] )
4
Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Ciências Biomédicas, Uberlândia, MG
([email protected]; [email protected])
RESUMO
Dentre as parasitoses que acometem serpentes, as hemogregarinas estão presentes. Nesse grupo, os
gêneros pertencentes à subordem Adeleiina são Hepatozoon (Hepatozoidae), Haemogregarina
(Haemogregarinidae) e Karyolysus (Karyolysidae). Esses protozoários podem parasitar aves, mamíferos,
anfíbios e répteis (SMITH, 1996). Os vetores são dípteros hematófagos da família Culicidae (Culex, Aedes e
Anopheles) e Flebotomíneos. O objetivo desse estudo foi determinar a prevalência de hemoparasitos nas
subespécies Boa constrictor constrictor, Boa constrictor amarali e do gênero Epicrates procedentes de
cativeiro do Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS) e do Setor de Répteis da Universidade
Federal de Uberlândia. Foi colhido 0,5 ml de sangue de cada indivíduo por punção seio vertebral cervical.
Dessa proporção foram realizadas três extensões sanguíneas de cada indivíduo, as quais foram coradas pelo
método May-Grunwald-Giemsa e analisadas em microscópio óptico no aumento de 100X. Das 29 serpentes
analisadas, 5 eram do gênero Epicrates, 13 da subspécie Boa constrictor constrictor e 11 da subspécie Boa
constrictor amarali. Observou-se que dessas serpentes analisadas, 6 (20,69%) foram positivas para o gênero
Hepatozoon. Além disso, todas apresentaram baixo nível de parasitemia. A presença de animais cativos com
positividade e baixo nível de parasitemia pode estar relacionada a longevidade do parasito em seu hospedeiro
e não pela transmissão em cativeiro. Já que, todos os indivíduos analisados não nasceram em cativeiro e,
portanto, tiveram a oportunidade de entrar em contato com tal parasito.
Palavras-chave: Boidae, cativeiro, Hepatozoon sp.
ABSTRACT
Among the snakes parasites, hemogregarines are present . In this group of Hemogregarine, the
genera of the suborder Adeleiina are Hepatozoon ( Hepatozoidae ) , Haemogregarina ( Haemogregarinidae )
and Karyolysus ( Karyolysidae ) . These protozoa can parasitize birds, mammals, amphibians and reptiles
(Smith, 1996) . The vectors of this suborder are hematophagous invertebrate hosts of the family Culicidae
(Culex , Aedes and Anopheles) and Sandfly. The aim of this project was determine the prevalence of
hemoparasites of subspecies Boa constrictor constrictor, Boa constrictor amarali and Epicrates sp. captivity
coming from the Federal University of Uberlândia. The materials and methods were collected three bloods
extentions from each animal were collected, stained with May-Gruwald-Giemsa method and examineby a
optic microscope at 100X. The result of 29 snakes examined , 5 are of the genus Epicrates , 13 subspecies
of Boa constrictor constrictor and 11 subspecies of Boa constrictor amarali . Of these 29 ( 100 % ) snakes
analyzed, 6 ( 20.69% ) were positive for the genus Hepatozoon . In addition, all had mild level, low
parasitemia. The presence of captive animals with positivity and low parasitemia may be related to longevity
of the parasite in their host and not because of the transmission in captivity. Since all individuals analyzed
were not born in captivity and therefore had the opportunity to come into contact with this parasite.
Key-words: Boidae, captivity, Hepatozoon sp.
Universidade Federal de Uberlândia
121
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INTRODUÇÃO
Dentre as parasitoses que acometem serpentes, as hemogregarinas estão presentes. O termo
hemogregarina descreve hemoparasitos pertencentes âs subordens Eimeriina e Adeleiina, do Filo
Apicomplexa (LEVINE et al, 1980). Os gêneros pertencentes à subordem Adeleiina são: Hepatozoon
(Hepatozoidae), Haemogregarina (Haemogregarinidae) e Karyolysus (Karyolysidae). Estes protozoários
podem ser encontrados parasitando aves, mamíferos, anfíbios e répteis, dentre estes, lagartos, crocodilianos,
tartarugas e serpentes ( SMITH, 1996).
Todos os protozoários da subordem Adeleiina possuem ciclos de vidas heteroxenico, caracterizado por
reprodução sexuada, que inclui estágio gametogônico e esporogônico, em invertebrado hematófago e
reprodução assexuada, que inclui estágio merogônico, em vertebrado ( WOSNIAK et al., 1994).
Os vetores dessa subordem são hospedeiros invertebrados hematófagos da família Culicidae, dos gêneros
Culex, Aedes e Anopheles. Além de Flebotomíneos, carrapatos, barbeiros e ácaros.
As serpentes não possuem como fonte alimentar esses vetores e a transmissão direta desses hemoparasitos
do mosquito para a serpente é incomum na natureza (SMITH, 1996). Dessa forma, serpentes podem ser
infectadas indiretamente pela ingestão de hospedeiros transportes, como peixes e anfíbios, que tenham
ingerido vetores hematófagos infectados ou por outro artrópode.
Os hemoparasitos dos gêneros Hepatozoon e Haemogregarina, são extremamente adaptados, pois causam
pouca ou nenhuma alteração clínico-patológica em seus hospedeiros naturais (TELFORD, 1984).
A determinação do gênero/espécie e o levantamento da prevalência em serpentes é feito através de
esfregaços sanguíneos, histologia dos órgãos internos e por técnica de reação em cadeia de polimerase –
PCR.
Não é conhecido nenhum tipo de tratamento efetivo para doenças causadas por esse grupo de
hemogregarinas. Medidas como o manejo sanitário, controle de vetores, a alimentação de qualidade e
desinfecção de recintos, são necessárias para diminuir a contaminação por animais de cativeiro (WOZNIAK
et al, 1998). Além disso, caso não haja rígido controle parasitológico, há chances de disseminação
parasitária, justificando a necessidade de bom diagnóstico para evitar a disseminação de doenças no
cativeiro.
O objetivo desse projeto foi determinar a prevalência de hemoparasitos nas serpentes das subespécies Boa
constrictor constrictor e Boa constrictor amarali, mantidas em cativeiro pelo Universidade Federal de
Uberlândia.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética na Utilização Animal (CEUA) – número do
protocolo: 098/12.
A área de estudo foi no município de Uberlândia, localizada na região sudeste do estado de Minas Gerais.
O local de estudo foi o Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS), que é uma instituição
vinculada à Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV) da Universidade Federal de Uberlândia; e o Setor
de Répteis, que é vinculado com o Instituto de Biologia (INBIO) da Universidade Federal de Uberlândia.
Na população de estudo foram incluídas serpentes não peçonhentas que permaneciam no LAPAS e no
Setor de Répteis no período de coleta, de março de 2013 à junho de 2013 . A maioria dos animais em
cativeiro foram trazidos por variadas circunstâncias para o LAPAS e Setor de Répteis e, portanto, foram
considerados indivíduos cativos.
A contenção do animal foi feito por equipamentos apropriados, como o gancho para retirada do mesmo da
caixa. Logo em seguida, foi utilizado seringa hipodérmica descartável de 3 ml e agulha descartável de 26
g1/2” para a coleta de sanguínea, que foi efetuada por punção seio vertebral cervical.
Após a coleta, foi feito três extensões sanguíneas de cada espécime, sendo estas transportadas em caixas
de isopor até o Laboratório de Parasitologia da UFU. As lâminas foram secadas em temperatura ambiente e,
em seguida, foram coradas pelo Método May-Grunwald-Giemsa (MGG), segundo Ferreira Neto et al.
(1982).
A análise das lâminas em microscópio óptico no aumento de 100x, percorrendo toda extensão sanguínea.
Universidade Federal de Uberlândia
122
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A determinação da parasitemia foi segundo os critérios propostos por De Biasi et al. (1989), onde em um
aumento de 100x, as extensões sanguíneas que apresentavam até um parasito para cada três campos ópticos
foi considerada infecção leve (+); encontro entre o limite máximo da infecção leve até três parasitos por
campo óptico como infecção média (++) e acima desse índice máximo de infecção média como infecção
elevada (+++).
RESULTADOS
A tabela 1 mostra o número de indivíduos analisados nesse projeto, sendo esses das subspécies Boa
constrictor constrictor e Boa constrictor amarali, e do gênero Epicrates sp.. Foram coletadas amostras de 29
serpentes (13 fêmeas e 16 machos) as quais 5 (3 fêmeas e 2 machos) são pertencentes do gênero Epicrates
sp., 13 (7 fêmeas e 6 machos) da subspécie Boa constrictor constrictor e 11 (3 fêmeas e 8 machos) da
subspécie Boa constrictor amarali.
Tabela 1: Total de serpentes analisadas provenientes do Setor de Répteis e do LAPAS da Universidade
Federal de Uberlândia, Minas Gerais
Gênero
Epicrates sp.
Boa constrictor constrictor
Boa constrictor amarali
Sexo
3
7
3
Fêmea
2
6
8
Macho
5
13
11
Total
A tabela 2 mostra que do total de serpentes analisadas , 6 foram positivas e o hemoparasito observado foi
o gênero Hepatozoon. Nas serpentes do gênero Epicrates sp. houve presença de Hepatozoon sp. em 2
(40%) indivíduos de um total de 5 (100%) analisados. Nas subespécie Boa constrictor amarali houve
presença de Hepatozoon sp. em 4 (36.36%) indivíduos de um total de 11 (100%) analisados. Nas serpentes
da subspécie Boa constrictor constricor, não foi observado parasitismo.
Nas serpentes do gênero Epicrates, foram positivas 1 (50%) macho de um total de 2 (100%) e 1 (33,3%)
fêmea de um total de 3 (100%). Na subspécie Boa constrictor amarali, 2 (25%) machos de um total de 8
(100%) e 2 (66,6%) fêmeas de um total de 3 (100%). Há uma diferença estatisticamente significativa na
prevalência de Hepatozoon sp. entre machos e fêmeas da subespécie Boa constrictor amarali e também entre
machos e fêmeas do gênero Epicrates, mantidas em cativeiro pela Universidade Federal de Uberlândia,
Minas Gerais. Não observou diferença estatística significativa entre as duas espécies positivas.
A diferença estatisticamente significativa na prevalência de Hepatozoon sp. entre machos e fêmeas da
mesma espécie analisadas nesse projeto foi oposta ao observado por Oppliger et al. (1996), Salakij et al.
(2002) e Madsen et al. (2005). Entretanto, de acordo com O´Dwyer et al. (2003), na subespécie Boa
constrictor amarali, a infecção por Hepatozoon sp. é mais frequente nas fêmeas ( 57,1% versus 14,3%),
sendo essas porcentagens parecidas com as encontradas nesse trabalho (66,6% versus 25%).
Tabela 2: Porcentagem de serpentes fêmeas e machos de cada subspécie e Epicrates sp. parasitadas por
Hepatozoon sp. provenientes do Setor de Répteis e do LAPAS da Universidade Federal de Uberlândia,
Minas Gerais.
Sexo
Fêmea
Macho
Total
Epicrates sp.
33.3% (1)
50% (1)
40% (2)
Gênero
Boa constrictor constrictor
0% (0)
0% (0)
0% (0)
Boa constrictor amarali
66.6% (2)
25% (2)
36.36% (4)
De 29 serpentes analisadas, somente 6 (20,69%) foram positivas para Hepatozoon sp.. Além disso, todas
apresentaram nível baixo de parasitemia, ou seja, no máximo um hemoparasito para cada três campos ópticos
no aumento de 100X.
Universidade Federal de Uberlândia
123
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O grau de parasitemia analisado em cada espécime infectada foi leve. Biasi et al.(1972) citaram que o
Hepatozoon sp. pode estar presente no hospedeiro de forma latente ou com baixa porcentagem de
parasitemia. Além disso, de acordo com Smith (1996), a diminuição da prevalência e/ou baixa parasitemia
pode ser representada pela gradual eliminação desse parasito no hospedeiro, desde que a reinfecção seja
improvável no cativeiro.
Figura 1. Gametócito de Hepatozoon sp. em esfregaço sanguíneo de Epicrates sp.
CONCLUSÃO
De acordo com esse trabalho conclui-se que as serpentes apresentaram hemoparasito do gênero
Hepatozoon sp parasitemia baixa.
REFERÊNCIAS
ALTIZER, S. M. et al. Associations between host migration and the prevalence of a protozoan parasite in
natural populations of adult monarch butterflies. Ecological Entomology, v. 25, p. 125-139, 2000.
ARAÚJO, T. et al. Ocorrência de alguns endo e ectoparasitos no serpentário da UNIFENA- Universidade de
Alfenas - MG. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. São Paulo, v. 36, n. 1, 1991.
GLASER, V. et al. Ocorrência de Hepatozoon (Apicomplexa, Hepatozoidae) em serpentes do gênero
Bothrops de cativeiro. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. Belo Horizonte, v. 60, n. 5,
p. 1288-1290, 2008
GREGO, K. F. et al. Referências hematológicas para a jararaca de rabo branco (Bothrops leucurus) recém
capturadas na natureza. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 58, n. 6, p. 1240-1243,
2006.
LOPES, F. C. et al. Ocorrência de Hepatozoon ssp. (Apicomplexa, Hepatozoidae) em serpentes captive Boa
constrictor mantidas em cativeiro no semi-árido do estado de Rio Grande do Norte. Arquivo Brasileiro de
Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 62, n. 5, p. 1285-1287, 2010.
MOÇO, T. C. Prevalência de Hepatozoon spp. em serpentes e caracterização morfológica, morfométrica e
molecular de Hepatozoon (Apicomplexa, Hepatozoidae) de Crotalus durissus terrificus (Serpentes,
Viperidae) naturalmente infectadas. 2008. 67 f. (Dissertação de Mestrado em Biologia Geral e Aplicada) –
Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2008.
Universidade Federal de Uberlândia
124
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
MOÇO, T. C. et al. Morphological, morphometric, and molecular characterization of Hepatozoon
(Apicomplexa, Hepatozoidae) from naturally infected Caudisona durissa terrifica (Serpentes, Viperidae).
Botucatu, v. 110, p. 1393-1401, 2012.
Universidade Federal de Uberlândia
125
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INFESTAÇÃO DE NINHOS DE P HACELLODOMUS RUFIFRONS (PASSERIFORME,
FURNARIIDAE) POR PSAMMOLESTES COREODES (HEMIPTERA, REDUVIDAE) NO
PANTANAL SUL-MATOGROSSENE
Santos, F.M.1; Jansen, A.M.2; Nunes, A.P.3; Herrera, H. M.4
1
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, UCDB
([email protected] (67)96474647).
2
Instituto Oswaldo Cruz/RJ, Laboratório de Biologia de Tripanosomatídeos..
3
Centro Brasileiro de Pesquisa Agropecuária/EMBRAPA - Pantanal, Laboratório de Vida Selvagem..
4
Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, UCDB.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi relatar a presença de Psammolestes coreodes (Hemiptera, Reduvidae) em
ninhos de Phacellodomus rufifrons (Passeriforme, Furnariidae) no Pantanal Sul-matogrossene. Os ninhos de
Graveteiros (Phacellodomus rufifrons) foram coletados no do Pantanal Sul-matogrossense, sub-região
Nhecolândia, Corumbá/MS, nas estradas parques: MS-184 e MS-228 durante dezembro de 2013. Os ninhos
foram coletados com auxilio de escadas e armazenados em caixas para posterior triagem. Os triatomíneos
coletados foram analisados por meio de testes parasitológicos para determinara a infecção por T. cruzi.
Foram coletados 24 ninhos de P. rufifrons sendo que sendo que 11 (46%) estavam colonizados por
triatomíneos, foram coletados no total 59 P. coreodes. Não foi observada infecção por T. cruzi em nenhum
dos P. coreodes analisados. Durante as coletas foi observado a presença de um pequeno mamífero da espécie
Oecomys sp. Podemos concluir que os ninhos de Graveteiros (Phacellodomus rufifrons) no Pantanal Sulmatogrossense estariam servindo como possíveis habitat de Psammolestes coreodes, e por sua vez poderiam
estar atuando como local de convergência de pequenos mamíferos infectados com T. cruzi e P. coreodes.
Palavras chaves: Triatominae; Psammolestes coreodes; Trypanosoma cruzi; Phacellodomus
rufifrons; Pantanal.
ABSTRACT
The objective of this study was to report the presence of Psammolestes coreodes (Hemiptera,
Reduvidae) in nests of Phacellodomus rufifrons (passerine, Furnariidae) in the Pantanal of Mato Grosso do
Sul. Nests Graveteiros (Phacellodomus rufifrons) were collected in the Pantanal of Mato Grosso do Sul,
subregion Nhecolândia, Corumbá / MS, roads parks: MS-184 and MS-228 during December 2013. Nests
were collected with the aid of ladders and stored in boxes for later sorting. The assassin bugs collected were
analyzed using parasitological tests to determine the T. cruzi infection. 24 nests of P. rufifrons were collected
of which being that 11 (46%) were colonized by assassin bugs, were collected in total 59 P. coreodes. No
infection was observed in any of the T. cruzi analyzed coreodes. During data collection was observed the
presence of a small mammal species Oecomys sp. We can conclude that nests Graveteiros (Phacellodomus
rufifrons) in the Pantanal of Mato Grosso do Sul were serving as potential habitat Psammolestes coreodes,
and in turn could be acting as a place of convergence of small mammals infected with T. cruzi and P.
coreodes.
Key-words: Triatominae; Psammolestes coreodes; Trypanosoma cruzi; Phacellodomus rufifrons;
Pantanal.
INTRODUÇÃO
A distribuição espacial das diferentes espécies de triatomíneos esta diretamente associada com a
disponibilidade de fontes alimentares e abrigos presentes na natureza. Podendo se associar com diferentes
espécies de animais animais de sangue quente, como aves e mamíferos (Lent & Wygodzinsky, 1979). De
fato, é descrito que diferentes espécies de triatomíneos possuem uma associação íntima aos habitats de seus
Universidade Federal de Uberlândia
126
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
hospedeiros, como Carvenicola pilosa em arvores ocas, cavernas e refúgios de morcegos (Carvalho et al.,
1997b), Panstrongylus geniculatus em tocas de tatus (Lent & Wygodzinsky, 1979). Dentre os possíveis
habitats que podemos encontrar esses triatomíneos se tem destaque para os ninhos de aves, onde já foram
documentados: Rhodinus neglectus, Panstrongylus arthusi, Triatoma plantensis, T. sordida e Psammolestes
coreodes, P. tertius (Carvalho et al., 1997b);
Dos triatomíneos que possuem uma associação com aves, o P. coreodes vem sendo descrito em locais
da Argentina (Catamarca, Córdoba, Corrientes, Chaco, Entre Rios, Formosa, Santa Fé, Santiago Del Estero,
Salta, Jujuy e Tucumán), Bolívia (Santa Cruz), Paraguai (Central) e Brasil (Mato Grosso). A ocorrência de P.
coreodes é descrita em habitats silvestres e/ou ocasionalmente em árvores próximo as habitações, associados
com ninhos de Phacellodomus rufifrons, Phacellodomus sibilatrixi e Psedoseisura lophotes ou Myopsytta
monacha, (Carvalho et al., 1997a; Galvão et al., 2003; Silva et al., 2004; Silveira et al., 1984; Almeida et al.,
2009). A colonização de barbeiros da espécie P. coreodes em ninhos de graveteiros (Phacellodomus
rufifrons), foi descrita por autores pioneiros em estudos de triatomíneos no Brasil como Lent (1939),
Travassos (1941), Travassos & Freitas (1942) e Barretto (1971), porém estudos sobre P. coreodes ainda são
escassos, principalmente no Pantanal-sul.
Devido ao fato de que as aves são refratárias à infecção por Trypanosoma cruzi, o P. coreodes não
possui uma relevância na epidemiologia do T. cruzi, embora já tenha sido observada a infecção experimental
(Lent & Wygodzinsky, 1979). Entretanto, a alteração do ambiente natural e substituição de áreas florestadas
por gramíneas exóticas, turismo predatório e práticas agrícolas, podem induzir a algumas espécies de
triatomíneos a explorar novos nichos ecológicos em busca de abrigo e alimentos (Mittermeier et al. 1990;
Silva et al. 2010; Alho 2011). No sentido de compreender melhor a ecologia dos triatomíneos, este trabalho
tem como principio determinar a associação ecológica de Psammolestes coreodes em ninhos de
Phacellodomus ruffrons (graveteiro) no Pantanal Sul-matogrossense.
METODOLOGIA
O trabalho de campo foi conduzido na sub-região da Nhecolândia, Pantanal/Brasil nas estradas de
acesso as fazendas da região: MS-184 e MS-228 (Figura 1) durante dezembro de 2013. Os ninhos das aves
da espécie Phacellodomus ruffrons (graveteiro) foram coletados com auxilio de escadas e armazenados em
caixas para posterior triagem.
Figura 1. Locais das buscas ativas de ninhos de Phacellodomus ruffrons nas Estradas Parque (MS-184 e
MS-337), Pantanal da Nhecolândia, Corumbá – MS. Pontos Roxos representando ninhos de aves.
Universidade Federal de Uberlândia
127
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Todos os triatomíneos coletados dos ninhos foram armazenados em tubos Falcons/50ml, propriamente
identificados com local de captura e data. Os triatomíneos foram identificados através de caracteres
morfológicos externos, com auxilio do Doutor José Jurberg do Laboratório Nacional e Internacional de
Referencia em Taxonomia de Triatomíneos (Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ), com
auxilio de uma lupa binocular (SMZ800 Nikon, Tóquio, Japão), por meio da chave dicotômica elaborada por
Lent & Wygodzinsky, 1979.
Exames parasitológicos para a investigação a cerca da infecção por T. cruzi foram realizados com os
triatomíneos vivos no Laboratório de Biologia de Tripanossomatídeos, Instituto Oswaldo Cruz da Fundação
Oswaldo Cruz/Rio de Janeiro, sob a orientação da Doutora Ana Maria Jansen, de acordo com o protocolo do
laboratório.
As capturas foram feitas de acordo com a licença expedida pelo Sistema de Autorização e Informação
em Biodiversidade (SISBIO), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), licença
nª 37690-4/2013, no qual confere o direito temporário para a coleta de material zoológico (triatomíneos)
destinado a fins científicos. O presente trabalho foi devidamente aprovado pelo Comitê de Ética e Utilização
de Animais (CEUA) da Universidade Católica Dom Bosco/UCDB, Campo Grande, RJ (Licença nª12/2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados 24 ninhos de P. rufifrons (Figura 2) no perímetro das estradas MS-184 e MS-228,
sendo que 11 (46%) estavam colonizados por triatomíneos. Foram coletados no total 59 P. coreodes (Figura
3), distribuídos em 34 adultos (58%), três ninfas 5º estagio (5%), três ninfas 4º estagio (5%), dez ninfas 3º
estagio (17%), oito ninfas 2º estagio (13%) e uma ninfas 1º estagio (2%). Não foi observada infecção por T.
cruzi em nenhum dos P. coreodes analisados.
Figura 2. Ninhos de graveteiros - Phacellodomus rufifrons coletados para busca de Triatomíneos, estrada
parque MS-184 e MS-228, Pantanal da Nhecolândia, Corumbá – MS.
Universidade Federal de Uberlândia
128
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 3. Exemplar de Psammolestes coreodes coleta em ninhos de P. rufifrons, na estrada parque MS 184,
Pantanal da Nhecolândia, Corumbá – MS.
Estudos vêm demonstrando que os triatomíneos do gênero Psammolestes são especializados em
colonizar micro-habitas como ninhos de aves do gênero Phacellodomus (Lent & Jurberg 1965, Sherlock &
Guitton 1974, Silva & Lustosa 1993, Gurgel-Gonçalves & Cuba 2007). Essa associação ecológica esta
diretamente relacionada com as características biológicas dos pássaros desse gênero, que favorecem
alimentação e abrigo aos triatomíneos com (a) ninhos grandes, em media com duas a três câmaras de
incubação de filhotes; (b) formação de territórios com até dez indivíduos que usam os ninhos durante o ano
para dormir, incubar os ovos e criar seus filhotes; (c) permanência dos filhotes no território dos pais por até
16 meses, os quais ajudam na alimentação de outros filhotes e reutilização dos ninhos de reprodução (Sick
1997, Carrara & Rodrigues 2001)
A presença de um número maior de indivíduos adultos (58%) de P. coreodes, encontrado no presente
trabalho está em consonância com o reportado por Bar et al. (1999), onde observaram que 63% do
indivíduos presentes nos ninhos das aves eram adultos, característica que é observado em outras espécies do
mesmo gênero, como Gurgel-Gonçalves & Cuba (2011) que descreveram colônias de P. tertius composta
por 48% de indivíduos adultos. De fato, as características populacionais das colônias de triatomíneos do
gênero Psammolestes diferem acentuadamente de outros gêneros de triatomíneos, onde os estágios imaturos
são predominantes nas colônias e adultos em geral são responsáveis por menos de 5% (Oscherov et al . 2005
Bar et al. 1992, Diotaiuti et al . 1993).
A maior proporção de indivíduos adultos de triatomíneos do gênero Psammolestes em ninhos das aves
do gênero Phacellodomus pode ser explicado pela alta longevidade e baixa dispersão dos insetos adultos de
Psammolestes (Silva & Lustusa 1993), juntamente com a ocupação estável dos ninhos de Phacellodomus,
fornecendo alimento e abrigo para esses insetos durante o ano inteiro. Mesmo aqueles ninhos que não
apresentam aves, podem estar atuando como nicho para Psammolestes já que esses insetos também se
alimentam de hemolinfa de invertebrados (Noireau et al . 2005), os quais são comuns nos ninhos dos
graveteiros (Gurgel - Gonçalves et al. 2006 , Di Iorio & Turienzo 2009).
Durante a coleta dos ninhos de P. rufifrons foi observado à presença de um indivíduo do gênero
Oecomys no ninho. Como essa espécie possui hábito noturno, provavelmente poderia estar utilizando o ninho
do graveteiro como dormitório. Levando em vista que o estado da arte acerca da infecção natural por T. cruzi
em mamíferos silvestres é bem conhecido na região Pantanal Sul-matogrossense (Herrera et al. 2011; Alves
et al. 2011; Lisboa et al. 2009; Rademaker et al. 2009; Lisboa et al. 2008; Herrera et al. 2008a; Herrera et al.
2008b; Herrera et al. 2007), mostrando que várias espécies de pequenos mamíferos, inclusive Oecomys sp,
são encontrados naturalmente infectados por T. cruzi. Desta forma, triatomíneos que colonizam ninhos de
graveteiros podem ocasionalmente se infectar por T. cruzi, que apesar de não existirem relatos de infecção
natural de P. coreodes por T.cruzi (Almeida 2009), estudos experimentais mostraram sua capacidade de
transmitir o T. cruzi (Lent & Wygodzinsky, 1979).
Universidade Federal de Uberlândia
129
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
CONCLUSÃO
Desta forma, os ninhos de aves estariam atuando como local de convergência de pequenos mamíferos
infectados com T. cruzi e P. coreodes, que por sua vez deve servir como alerta como possível foco de
transmissão do T.cruzi na região do Pantanal Sul-matogrossense, juntamente com fortes impactos ambientais
que a região pantaneira vem sofrendo, podem influenciar esses triatomíneos, que possuem capacidade de
transmitir o T. cruzi, a se tornarem possíveis vetores da Doença de Chagas considerada como um dos
principais problemas de saúde na América Latina com 20.000 casos novos por ano na América do Sul
(Junior et al. 2008).
REFERÊNCIAS
ALHO, C.J.R. Biodiversity of the Pantanal: its magnitude, human occupation, environmental threats and
challenges for conservation. Braz. J. Biol. 71: 229-232, 2011.
ALMEIDA, A.S.; GONÇALVES, G.M.A.; MINZÃO, L.D.; LARSON, R.V.G.; CRISTALDO,L.C.M.;
JUNIOR, W.C.; OBARA, M.T.; BARATA, J.M.S. Ocorrência de Psammolestes coreodes Bergroth, 1911
(Hemiptera: Reduviidae: Triatominae) no Estado de Mato Grosso do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical 42:603-604, 2009.
ALVES, F.M.; OLIFIERS, N.; BIANCHI, R.D.E.C.; DUARTE, A.C.; COTIAS, P.M.; D'ANDREA, P.S.;
GOMPPER, M.E.; MOURÃO, G.deM.; HERRERA, H.M.; JANSEN, A.M. Modulating variables of
Trypanosoma cruzi and Trypanosoma evansi transmission in free-ranging Coati(Nasua nasua) from the
Brazilian Pantanal region. Vector Borne Zoonotic Dis. 11(7):835-41, 2011.
BAR, M.E.; E.B. OSCHEROV; M.P. DAMBORSKY; M.E. VARELA; G. MIZDRAJI & E. PORCEL.
1992. Triatomismo del Departamento San Luis del Palmar de la Provincia de Corrientes, Argentina.
Medicina (Buenos Aires) 52: 193-201.
BAR, M.E.; M.P. DAMBORSKY; B.M. ALVAREZ; E.B. OSCHEROV & S.M. MAZZA. 1999.
Triatominos silvestres detectados en nidos de aves de algunos departamentos de la provincia de Corrientes,
Argentina. Revista de la Sociedad Entomológica Argentina 58 (3/4): 43-50.
BARRETTO, M.P. Estudos sobre reservatórios do Trypanosoma cruzi. XLV – Inquérito preliminar sobre
triatomíneos silvestres no Sul do Estado de Mato Grosso, Brasil (Hemiptera, Reduviidae). Rev Bras Biol
1971; 31: 225-233.
CARCAVALLO, R.U.; GIRÓN, I.G.; JURBERG, J.; LENT, H. Bibliographic checklist of the American
Triatominae (Hemiptera: Reduviidae). In: Carcavallo RU, Girón IG, Jurberg J, Lent H (eds) Atlas dos
vetores da Doença de Chagas nas Américas. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, volume I, capítulo 4,
p.10-393, 1997a.
CARCAVALLO, R.U.; RODRÍGUEZ, M.E.F.; SALVATELLA, R.; CASAS, S.I.C.; SHERLOCK, I.S.;
GALVÃO, C.; ROCHA, D.S.; GIRÓN, I.G.; AROCHA, M.A.O.; MARTÍNEZ, A.; ROSA, J.Á.; CANALE,
D.M.; FARR, T.H.; BARATA, J.M.S. Habitats and related fauna In: Carcavallo RU, Girón IG, Jurberg J,
Lent H (eds) Atlas dos vetores da Doença de Chagas nas Américas. Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro,
volume 2, capítulo 14, p. 561-620, 1997b.
CARRARA, L.A.; RODRIGUES, M. Breedinbg biology of the rufous-fronted thornbird Phacellodomus
rufifrons, a Neotropical overbird. International Journal of Ornithology 4(3): 209-217, 2001.
DI IORIO, O. & P. TURIENZO. 2009. Insects found in birds‟ nests from the Neotropical Region (except
Argentina) and immigrant species of Neotropical origin in the Nearctic Region. Zootaxa 2187: 1-144.
Universidade Federal de Uberlândia
130
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
DIOTAIUTI, L.; C.F. LOIOLA; P.L. FALCÃO & J.C.P. DIAS. 1993. The ecology of Triatoma sordida in
natural environments in two different regions of the State of Minas Gerais, Brazil. Revista do Instituto de
Medicina Tropical de São Paulo 35: 237-245.
GALVÃO, C.; CARCAVALLO, R.U.; ROCHA, D.S.; JURBERG, J. A checklist of the current valid species
of the subfamily Triatominae Jeannel, 1919 (Hemiptera, Reduviidae) and their geographical distribution,
with nomenclatural and taxonomic notes. Zootaxa 202:1-36, 2003. Disponível em
www.mapress.com/zootaxa, 2003.
GURGEL-GONÇALVES, R.; CUBA, C.A.C. Infestation of thornbird nests (Passeriformes: Furnariidae) by
Psammolestes tertius (Hemiptera: Reduviidae) across Brazilian Cerrado and Caatinga ecoregions.
ZOOLOGIA 28 (3): 411–414, June, 2011
GURGEL-GONÇALVES, R. & C.A.C. CUBA. 2007. Estrutura de populações de Rhodnius neglectus (Lent)
e Psammolestes tertius (Lent & Jurberg) (Hemiptera, Reduviidae) em ninhos de pássaros (Furnariidae)
presentes na palmeira Mauritia flexuosa no Distrito Federal, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia 24: 157163.
GURGEL-GONÇALVES, R.; A.R.T. PALMA; P.C. MOTTA; M.E. BAR & C.A.C. CUBA. 2006.
Arthropods associated with the Crown of Mauritia flexuosa (Arecaceae) palm trees in three different
environments from Brazilian Cerrado. Neotropical Entomology 35 (3): 302-312..
HERRERA, H.M.; ABREU, U.G.; KEUROGHLIAN, A.; FREITAS, T.P.; JANSEN, A.M. The role played
by sympatric collared peccary (Tayassu tajacu), white-lipped peccary (Tayassu pecari), and feral pig (Sus
scrofa) as maintenance hosts for Trypanosoma evansi and Trypanosoma cruzi in a sylvatic area of Brazil.
Parasitol Res. 103(3):619-24, 2008b.
HERRERA, H.M.; LISBOA, C.V.; PINHO, A.P.; OLIFIERS, N.; BIANCHI, R.C.; ROCHA, F.L.;
MOURÃO, G.M.; JANSEN, A.M. The coati (Nasua nasua, Carnivora, Procyonidae) as a reservoir host for
the main lineages of Trypanosoma cruzi in the Pantanal region, Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg.
102(11):1133-9, 2008a.
HERRERA, H.M.; RADEMAKER, V.; ABREU, U.G.; D'ANDREA, P.S.; JANSEN, A.M. Variables that
modulate the spatial distribution of Trypanosoma cruzi and Trypanosoma evansi in the Brazilian Pantanal.
Acta Trop. 102(1):55-62, 2007.
HERRERA, H.M.; ROCHA, F.L.; LISBOA, C.V.; RADEMAKER, V.; MOURÃO, G.M.; JANSEN, A.M.
Food web connections and the transmission cycles of Trypanosoma cruzi and Trypanosoma evansi
(Kinetoplastida, Trypanosomatidae) in the Pantanal Region, Brazil. Trans R Soc Trop Med Hyg.
105(7):380-7, 2011.
JUNIOR, W.C.; VENDRMI, D.P.; GIL, J.M.; BARATA, J.M.S.; MARRELLI, M.T. Análise das relações
taxonômicas e sistemáticas entre espécies de triatomíneos (Hemiptera, Reduviidae) de colônias mantidas
pelo Serviço Especial de Saúde de Araraquara, inferida de seqüências do 16S Rdna mitocondrial. Revista
Brasileira de Entomologia. 52(3):455-462, 2008.
LENT, H; WYGODZINSKY, P. Revision of the Triatominae (Hemiptera, Reduviidae) and their significance
as vectors of Chagas‟ disease. Bulletin American Museum Natural History 163: 123-520, 1979.
LENT H. Observações sobre a fauna de alguns ninhos de aves. Bol Biológico 1939; 4: 258-260.
Universidade Federal de Uberlândia
131
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
LENT, H.; JURBERG, J. 1965. O gênero Psammolestes Bergroth, 1911, com um estudo sobre a genitália das
espécies. Revista Brasileira de Biologia 25: 349-376.
LISBOA C.V.; XAVIER, S.C.; HERRERA, H.M.; JANSEN, A.M. The ecology of the Trypanosoma cruzi
transmission cycle: Dispersion of zymodeme 3 (Z3) in wild hosts from Brazilian biomes. Vet Parasitol..
165(1-2):19-24, 2009. 29.
LISBOA, C.V.; PINHO, A.P.; HERRERA, H.M.; GERHARDT, M.; CUPOLILLO, E.; JANSEN, A.M.
Trypanosoma cruzi (kinetoplastida, Trypanosomatidae) genotypes in neotropical bats in Brazil. Veterinary
Parasitology. 156: 314-318, 2008.
MITTERMEIER, R. A.; CAMARA I. G.; PADUA, M. T. J.; BLANCK, J. Conservation in the Pantanal os
Brazil. Oryx. 24: 101-1012, 1990.
NOIREAU, F.; A.L. CARBAJAL DE LA FUENTE; C.M. LOPES & L. DIOTAIUTI. 2005. Some
considerations about ecology of Triatominae. Anais da Academia Brasileira de Ciências 77 (3): 431-463.
OSCHEROV, E.B.; M.E. BAR; M.P. DAMBORSKY & A.M.F. MILANO. 2005. Estadísticos poblacionales
de Triatoma rubrovaria en condiciones de laboratorio. Revista de Saúde Pública 39 (2): 211- 216.
RADEMAKER, V.; HERRERA, H. M.; RAFFEL, T. R.; D'ANDREA, P. S.; FREITAS, T. P.; ABREU, U.
G.; HUDSON, P. J.; JANSEN, A. M. What is the role of small rodents in the transmission cycle of
Trypanosoma cruzi and Trypanosoma evansi (Kinetoplastida Trypanosomatidae)? A study case in the
Brazilian Pantanal. Acta Trop. 111(2):102-7, 2009.
SHERLOCK, I.A.; GUITTON,N. 1974. Fauna Triatominae do estado da Bahia, Brasil. II notas sobre
ecótopos silvestres e o gênero Psammolestes. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 72: 91-101.
SICK H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 862p.
SILVA, A.M.; CRISTÓVÃO, E.C.; SILVA, V.O.; FILHO, J.L.; SANTOS, J.P.; SILVA, J.L.; BATATA,
J.M.S. Primeira ocorrência de Psammolestes tertius Lent & Jurberg, 1965 (Hemiptera: Reduviidae:
Triatominae) no Estado do Paraná, Brasil. In: Resumos do XX Congresso Brasileiro de Entomologia,
Gramado, RS, p.10, 2004.
SILVA, J. S. V.; ABDON, M. M.; MORAES, J. A. Desmatamento na bacia do Alto Paraguai no Brasil. In:
Anais do III Simpósio de Geotecnologias no Pantanal. Cáceres, MT. Embrapa Informática
Agropecuária/INPE, P.458-467, 2010.
SILVA. I.G.; LUSTOSA, E.S.. 1993. Biologia de Psammolestes tertius Lent & Jurgberg, 1965 (Hemiptera,
Reduviidae). Revista de Patologia Tropical 22: 29-42.
SILVEIRA, A.C.; FEITOSA, V.R.; BORGES, R. Distribuição de triatomíneos capturados no ambiente
domiciliar, no período de 1975/83, Brasil. Revista Brasileira de Malariologia de Doenças Tropicais 36:15312, 1984.
TRAVASSOS, L; FREITAS, J.F.T. Relatório da sétima excursão científica do Instituto Oswaldo Cruz,
realizada à zona da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em maio de 1942. Mem Inst Oswaldo Cruz 1943;
38: 385-412.
TRAVASSOS, L. Relatório da quinta excursão do Instituto Oswaldo Cruz, realizada à zona da Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil, em janeiro de 1941. Mem Inst Oswaldo Cruz 1941; 36: 263-300.
Universidade Federal de Uberlândia
132
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INFLUÊNCIA DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL SOBRE O COMPORTAMENTO DE
ARARAS CATIVAS (ARA ARARAUNA)
Cruz, P. F. F1.; Carvalho, N. F1.; Iannini-Custódio, A. E2.
1.
2.
Bióloga, Universidade Federal de Uberlândia, MG. ([email protected], 34 9105-8719).
Instituto de Biologia (INBIO), Universidade Federal de Uberlândia, MG.
RESUMO
As araras canindé (Ara ararauna) são aves pertencentes à família Psittacidae. São muito visadas por
contrabandistas da fauna que as retiram de seu habitat natural por apresentarem uma bela plumagem e
capacidade de imitar a fala humana. São frequentemente encontradas em zoológicos para a sua conservação,
porém vivendo sob condições do cativeiro, o qual impõe limites ao seu bem-estar. Por este motivo,
objetivou-se por meio deste estudo avaliar a aplicação de técnicas de Enriquecimento Ambiental (EA) para a
promoção do bem-estar de araras cativas. O estudo foi realizado no Zoológico Parque Municipal do Sabiá,
Uberlândia, MG no ano de 2011-2012 envolvendo um grupo de cinco psitaciformes. Foram realizadas
observações qualitativas para a composição do etograma (n= 30h) por meio do método ad libitum e animal
focal, seguido de observações quantitativas (n= 60h) de seu repertório comportamental antes e depois da
aplicação das técnicas de EA. Foram inseridos no recinto das aves itens alimentares como frutos do Cerrado
e itens físicos como corda de sisal e balanço de bambu. Observou-se que ocorreu um aumento na exibição de
condutas relacionadas à alimentação e locomoção, e um decréscimo na execução de comportamentos
relacionados à ociosidade e indicativos de estresse, ambos de forma significativa (p<0,05). Os resultados
apontam que a aplicação do EA repercutiu de forma positiva sobre o comportamento das araras canindé,
indicando sua continuação no manejo habitual para a manutenção do seu bem-estar.
Palavras-chave: arara-de-barriga-amarela, zoológico, etologia.
ABSTRACT
The Blue and Yellow macaws (Ara ararauna) are birds from the family Psittacidae. Hunting and
illegal trapping are causing these macaw to disappear due to their colorful plumage and ability to imitate
human speech. They are captive-bred at zoos all over the world wich compromises their welfare. For this
reason, this study aims to assess the implementation of Environmental Enrichment techniques (EA) to
promote captive parrots welfare. The study was conducted at the Municipal Zoological Park Sabia,
Uberlândia, MG in 2011-2012 involving a group of five Psittaciformes. Moreover, qualitative observations
were made for the composition of the ethogram (n = 30h) through the focal animal. In addition, quantitative
observations (n = 60h) of their behaviour were done before and after the application of the techniques of EA.
For this parrots were given fruits such as Cerrado fruits and physical items such as sisal rope and swing made
up bamboo. Basically, it was possible to notice an increase in feeding and locomotion, and a decrease in the
performance of behaviors related to idleness and stress, both significantly (p < 0,05) . The results indicate
that the application of EA reflected positively on Macaws behavior. Finally, indicating that it is relevant to
keep on maintaining this management for their well-being.
Key-words: Blue and Yellow Macaw, zoo, ethology.
INTRODUÇÃO
A arara canindé ou arara-de-barriga-amarela (Ara ararauna) é uma ave pertencente à ordem
Psittaciforme, sendo encontrada no Cerrado, Cerradão, e Mata Seca (ANTAS, 2004). A espécie apresenta a
barriga e o peito amarelos e a região dorsal e a cauda são azuis (ANDRADE, 1961). O fato de muitas
espécies possuírem a capacidade de imitar a fala humana, além de apresentar uma bela plumagem,
Universidade Federal de Uberlândia
133
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
contribuem para que essas aves sejam avidamente perseguidas na natureza por traficantes de animais
(SIGRIST, 2009), sendo sua ocorrência, dessa forma, limitada às Unidades de Conservação.
Os Zoológicos se caracterizam por ser um local de preservação da fauna silvestre ex situ, já que a
conservação de espécies ocorre fora de seu habitat natural. No entanto, grande parte dos recintos destes
ambientes acaba gerando condições de monotonia e frustração ao animal, podendo alterar os padrões
comportamentais naturais, além de gerar situações de estresse e estereotipias, nas quais o indivíduo não tem
controle sobre o seu ambiente (MANSON, 1991).
Uma das alternativas para contornar a limitação espacial e física de cativeiros é a aplicação de
técnicas de enriquecimento ambiental. Trata-se de um processo dinâmico, com o objetivo de aumentar ou
melhorar o ambiente dos animais de cativeiro dentro do contexto de comportamentos biológicos e história
natural da espécie (SHEPHERDSON, 2003). Dessa forma, objetivou-se por meio deste estudo avaliar a
influência de técnicas de enriquecimento ambiental sobre o comportamento de Ara ararauna em cativeiro,
para a promoção de seu bem-estar.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Zoológico do Parque Municipal do Sabiá, no município de Uberlândia,
MG, (48º14‟02”O, 18º54‟52”S), entre fevereiro de 2011 a setembro de 2012, envolvendo cinco araras
canindé cativas provenientes de regiões próximas à cidade. Os animais estão abrigados num recinto (5,80m x
3,10m x 4,20m), cuja metade superior é coberta por telha e o restante apenas por cerca quadrangular (Figura
1). O chão é cimentado e ao fundo encontra-se um bebedouro com água corrente. Os animais são
alimentados duas vezes ao dia, sendo que na parte da manhã recebem vasilhames com frutas e verduras e, à
tarde, recebem ração.
Figura 6- Recinto das araras canindé, no Zoológico
Parque Municipal do Sabiá, Uberlândia, MG.
Foi efetuado um esforço amostral de 100 horas de observações qualitativas e quantitativas. Para o
estudo do repertório comportamental (etograma, n= 40 horas) e quantificação dos comportamentos dos
indivíduos, utilizou-se o método ad libitum ou amostragem de todas as ocorrências e “animal focal”
respectivamente (ALTMANN, 1974). As observações comportamentais foram efetuadas três vezes por
semana tendo a duração de duas horas cada sessão no período entre 07h00min da manhã e 18h00min da
tarde a 2m de distância do recinto. A quantificação dos comportamentos ocorreu antes (Fase I) e durante
(Fase II) a aplicação das técnicas de enriquecimento ambiental, sendo que cada fase durou cerca de 30 horas.
Foram inseridos itens de enriquecimento ambiental do tipo alimentar (frutos de jerivá (Syagrus
romanzoffiana) dispostos em pinhas, flores de pata de vaca (Bauhinia forficata) arranjadas em bambu,
pedaços de frutas dentro de garrafa “Pet” e ração e amendoim dentro de cocos inteiros com uma abertura na
parte superior) e do tipo físico (balanço de corda de sisal, folhas de palmeira, troncos de madeira e balanços
Universidade Federal de Uberlândia
134
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
de bambu). Os itens foram colocados quatro vezes no interior do recinto e em diferentes períodos do dia para
que ocorresse a quebra da rotina comportamental dos animais.
Para verificar se ocorreu uma diferença significativa quanto à exibição dos comportamentos durante
as Fases I e II utilizou-se o teste de X2, sendo considerada uma significância de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi observada a exibição de 37 condutas distribuídas em nove categorias comportamentais. Quase
todas as categorias apresentaram mudanças significativas (p<0,05) durante a aplicação dos itens de
enriquecimento ambiental, com exceção das categorias socialização, sonora e reprodução (Figura 2).
Figura 2 - Análise comparativa das categorias comportamentais durante os períodos sem enriquecimento
(Fase I) e durante o enriquecimento (Fase II). Legenda: Mn.: manutenção, Rpu.: repouso, Loc.: locomoção,
Ali.: alimentação, Ale.: alerta, Sc.: socialização, Est.: estereotipia, Sn.: sonora e Rp.: reprodução.
Foi observado um aumento significativo (X2= 8,350; p= 0,039) na exibição de condutas relacionadas
à alimentação. Os itens do enriquecimento ambiental podem ter contribuído para esta mudança (Figura 3), já
que o consumo dos alimentos ofertados faz parte da dieta natural de psitacídeos, que na natureza já foram
observados predando cocos de palmeiras e itens florísticos de espécies arbóreas diversas (SIGRIST, 2009).
Figura 3- Indivíduos se alimentam dos itens florísticos do Enriquecimento Ambiental
no Zoológico Parque Municipal do Sabiá, Uberlândia, MG.
Universidade Federal de Uberlândia
135
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Notou-se que os animais se locomoveram mais pelo interior do recinto (X 2= 26,403; p<0,001)
durante a Fase II. Um dos objetivos do enriquecimento ambiental é tornar o recinto mais complexo e
dinâmico para os animais cativos, o que parece ter ocorrido neste estudo. Os objetos do Enriquecimento
Ambiental, a exemplo dos balanços e corda de sisal, representaram uma maior possibilidade de substrato
com que as aves pudessem interagir e se empoleirar. Houve uma redução significativa (X2= 12,160; p=
0,033), na expressão de comportamentos relacionados ao repouso, demonstrando dessa forma uma redução
na ociosidade.
Outro fator que corrobora a influência positiva do enriquecimento ambiental sobre o comportamento
das araras cativas, foi a diminuição da frequência de comportamentos estereotipados (X 2= 14,119; p= 0,001).
As estereotipias são estritamente relacionadas a situações de estresse e constituem-se em um claro indício de
baixo grau de bem-estar (BROOM; FRASER, 2010). Os objetos naturais (bambu, tronco, folhas de vegetais)
inseridos no interior do recinto podem ter colaborado para a redução destes comportamentos, visto que
representaram uma inovação ao cotidiano previsível dos animais, proporcionando-lhes momentos de
exploração, descoberta e interação.
CONCLUSÃO
Os itens de enriquecimento ambiental tiveram uma ampla aceitação por parte dos animais, que
interagiram e consumiram os recursos ofertados. Além disso, podem ter contribuído positivamente sobre o
comportamento dos animais que se tornaram mais ativos e menos estressados, indicando a sua continuação
de forma regular no manejo, para a promoção do bem-estar dos animais.
REFERÊNCIAS
ALTMANN, J. Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour, v. 49, p. 227-267, 1974.
ANDRADE, M. A. Aves silvestres: Minas Gerais. Belo Horizonte: Conselho Internacional para a
Preservação das Aves, 1961. 176 p.
ANTAS, P. T. Z. Pantanal: guia de aves. Rio de Janeiro: SESC, Departamento Nacional, 2004. 246 p.
BROOM, D. M.; FRASER, A. F. Comportamento e bem estar de animais domésticos. Barueri, SP:
Manole. 2010. 452 p.
MANSON, G. J. Stereotypies: a critical review. Animal Behaviour, n. 6, v. 41, p. 1015-1037, 1991.
SHEPHERDSON, D. Environmental enrichment: past present and future. International zoo yearbook, v.
38, p. 118–24, 2003.
SIGRIST, T. Guia de campo Avis Brasilis: Avifauna Brasileira. Descrição das espécies. São Paulo: Avis
Brasilis, 2009. 600 p.
Universidade Federal de Uberlândia
136
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INGLUVOLITOS EM PERIQUITO AUSTRALIANO: RELATO DE CASO
INGLUVOLITOS IN BUDGERIGAR: CASE REPORT
Nascimento, L. R.1; Rodrigues, L. L.2; Canelo, E. A.3; Siqueira, S. E.2; Nalla, S. F.4 ; Santos, A. L. Q.5
1 Doutoranda. Programa de Pós Graduação da Faculdade de Medicina Veterinária FAMEV/UFU;
Uberlândia; MG; Brasil ([email protected], (34) 32182696)
2 Medica Veterinária. Laboratório Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres LAPAS FAMEV/UFU;
Uberlândia; MG; Brasil
3 Medico veterinário. Residente da área de Medicina de Animais Selvagens do Programa de Residência
Uniprofissional em Medicina Veterinária FAMEV/UFU; Uberlândia; MG; Brasil
4 Bióloga. Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres LAPAS FAMEV/UFU; Uberlândia;
MG; Brasil
5 Professor Doutor e Coordenador do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres LAPAS
FAMEV/UFU; Uberlândia; MG; Brasil.([email protected])
RESUMO
O trato gastrointestinal das aves apresenta anatomia e fisiologia únicas, o inglúvio, ou papo, é uma
distensão do esôfago com função de armazenar alimento. Lesões e massas nesses locais podem ocorrer por
diversos motivos provocando dificuldades alimentares e emagrecimento da ave. O alimento ou material
estranho impactado no interior de trato gatrintestinal pode formar os bezoares. Assim, objetivou-se relatar a
ocorrência de massas em inglúvio de periquito australiano, atendido no Hospital Veterinário da Universidade
Federal de Uberlândia, e identificados como fitobezoar ou ingluvolitos após exame necroscópico e avaliação
das massas encontradas.
Palavras-chave: Ave, Bezoar, Inglúvio, Melopsittacus undulatus
ABSTRACT
The gastrointestinal tract of birds presents unique anatomy and physiology, crop or chat, is a
distension of the esophagus with function of storing food. Injuries and masses in these locations can occur
for various reasons causing feeding difficulties and thinning of bird. Food or foreign body impacted inside
tract gatrintestinal can form the bezoars. Thus, the objective was reporting the occurrence of masses in crop
in a budgerigar attended at the Veterinary Hospital of the Universidade Federal de Uberlândia, and
diagnosed as fitobezoar or ingluvolitos after necropsy examination and evaluation of the mass found.
Key-words: Bird, Bezoar, Crop, Melopsittacus undulates
INTRODUÇÃO
O trato gastrointestinal das aves passou por múltiplas mudanças evolutivas para se tornar uma
estrutura fisiológica e anatomicamente única quando comparada às outras classes animais. O sistema
desenvolveu-se para poder tirar proveito de características físicas e químicas de uma ampla variedade de
alimentos. Para este fato as aves desenvolveram um bico leve e um ventrículo muscular que substitui os
ossos pesados da maxila, mandíbula e estruturas dentárias comuns entre répteis e mamíferos (Harrison e
Lightfoot, 2006).
O sistema digestivo aviário é composto pelo bico, esôfago, inglúvio (papo), proventrículo, ventrículo
(moela), intestino, ceco, reto e cloaca (Harrison e Lightfoot, 2006). O inglúvio ou papo é uma distensão do
esôfago que tem como função armazenar o alimento e geralmente se mantém no lado direito do pescoço
(Harrison e Lightfoot, 2006).
Universidade Federal de Uberlândia
137
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Lesões e massas no inglúvio podem se formar quando as aves são acometidas por cândida (Candida
spp.) ou tricomonas (Trichomonas sp.), por presença de corpo estranho (Adamcak et al., 2000; Fischer et al.,
2006), estase no inglúvio com desidratação do conteúdo e, externamente, pela hipertrofia de tireoide
obstruindo a passagem para o inglúvio (Tully et al., 2010). Estas lesões podem levar a estenose do lúmen,
dificultando o transito normal do alimento pelo trato digestório e provocar regurgitação crônica (Fischer et
al., 2006).
O alimento ou material estranho impactado no interior de trato gastrintestinal pode formar os
bezoares que são classificados de acordo com a sua composição em: fitobezoar (matéria vegetal), tricobezoar
(cabelo e pelo), lactobezoar (fórmulas lácteas concentradas), farmacobezoar (fármacos), bezoar alimentar
(fórmulas entéricas enriquecidas) (Elzurumlu et al., 2005).
Para o diagnóstico de enfermidades em aves, é importante considerar o histórico e evolução dos
sinais clínicos. O exame físico deve ser criterioso já que a contenção é produz um estresse significativo
nestes animais. Os exames complementares como radiografias, cultura e teste de sensibilidade microbiana
são de grande relevância (Tully et al., 2010).
Assim, objetivou-se relatar o caso de um periquito australiano com presença de massas no inglúvio
atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (HV-UFU) em maio de 2013.
RELATO DE CASO
Em maio de 2013, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (HVUFU) um periquito australiano (Melopsittacus undulatus) fêmea, em idade reprodutiva, com massa corporal
de 0,03 kg. A anamnese revelou que o animal apresentava dispneia e taquipneia, cabeça abaixada, hiporexia
e polidipsia, em quadro semelhante a outro animal da residência que veio a óbito por retenção de ovo. A
alimentação fornecida ao animal era constituída de mistura de sementes.
O animal foi observado a distância e apresentava alteração na postura corporal, frequência
respiratória aumentada e dispneia. Após a contenção do animal e palpação, não foi percebido aumento de
volume na região cloacal, mas sim algumas massas bem delimitadas no inglúvio não aderidas ao epitélio da
parede do órgão. A ave estava magra com significativa perda de massa muscular peitoral.
O animal foi encaminhado para exame radiográfico, pelo qual foi descartada a possibilidade de
retenção de ovo, e confirmada a presença de três massas de aspecto ovoide no inglúvio. Foi realizada
radiografia contrastada utilizando sulfato de bário, para avaliação da passagem do conteúdo do inglúvio para
o restante do trato gastrointestinal (Figura 1).
A
Universidade Federal de Uberlândia
B
138
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 1 – Radiografia nas posições latero-lateral (A) e ventro-dorsal (B) do periquito australiano
(Melopsittacus undulatus) após a administração de sulfato de bário. Notar o contorno de três massas (setas
em B) e a passagem do contraste (seta em A)
Como o tratamento para a retirada das massas é cirúrgico, optou-se pela estabilização do paciente.
Foi realizada alimentação com papa de filhote de psitacídeo na quantidade de um mililitro (mL), 1,5 mL de
fluido terapia (ringer lactato) subcutânea e aquecimento do ambiente. A cirurgia foi autorizada pela
proprietária para a manhã do dia seguinte, no entanto o animal foi a óbito durante a madrugada.
No exame necroscópico notou-se pronunciada emaciação da ave. A abertura do inglúvio foram
observadas três massas com formato ovoide, de coloração pardo amarelada e consistência firme com
comprimento próximo de 1,5 cm. (Figura 2) e com odor fétido. As massas, ao corte, apresentavam-se firmes
e formadas basicamente por fibras bem aderidas, sugerindo tratar-se de um fitobezoar (Figura 3). No restante
do aparelho digestório foi observada falta de conteúdo alimentar e congestão.
Figura 2 –Fotografia de massas encontradas em inglúvio de periquito australiano (Melopsittacus undulatus)
Após a comunicação dos achados de necropsia à proprietária, foi confirmada a suspeita de
fitobezoar, pois foi relatado que o animal estava ingerindo a tampa da caixa usada como ninho que é de fibra
de madeira prensada, elemento semelhante ao do bezoar.
Universidade Federal de Uberlândia
139
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 3 – Corte de ingluvolito com aspecto fibroso sugestivo de fitobezoar, encontrado em periquito
australiano (Melopsittacus undulatus)
DISCUSSÃO
Várias doenças podem provocar alterações gastrointestinais em aves, a formação de massas em
inglúvio pode estar associada à cândida (Candida spp.), a tricomonas (Trichomonas sp.), ao bócio devido a
hiperplasia da tireoide, a corpo estranho e a neoplasia. Em filhotes, pode estar associada a queimaduras
internas do inglúvio no caso de alimentação em temperatura inadequada (Jepson, 2010; Tully et al., 2010).
As massas encontradas no inglúvio do periquito australiano não se apresentavam aderidas a mucosa
interna e eram móveis quando manipuladas, descartando a possibilidade de bócio, neoplasia e tricomoníases.
Como se tratava de um animal adulto que se alimentava de mistura de sementes foi descartada a
possibilidade de queimaduras.
Fischer et al. (2006) encontraram em inglúvio de calopsita (Nymphicus hollandicus), após exame
radiográfico, uma massa de aproximadamente 1 a 2 cm. Ela foi removida cirurgicamente e era composta por
pelos. Este animal apresentava como sinal clínico regurgitação crônica. No entanto o periquito australiano,
segundo a proprietária, não apresentava regurgitação, e o sinal mais intenso era a dificuldade respiratória.
Segundo Vieira e Coutinho (2009) o papo é o órgão mais afetado por Candida spp. , em aves jovens.
Pode ser aparentemente a causa primária de infecções do inglúvio ou o patógeno secundário que tomou
vantagem a partir de uma lesão primária na mucosa do esôfago ou a partir de um atraso do tempo de
esvaziamento do papo (Bauck, 1994).
A lesão característica por Candida spp. é um exsudato catarral a mucoide abundante com placas
brancas na mucosa e muco esbranquiçado a claro que pode ou não estar associado a odor fétido (Bauck,
1994). Os sinais clínicos associados com ingluvite induzida por Candida spp. em neonatos incluem
regurgitação ou vômito, aumento do tempo de esvaziamento do papo, depressão, anorexia e impactação
ocasional do papo. Em outras aves, o papo pode estar distendido com muco e o esvaziamento do mesmo
pode ser dificultado por detritos da mucosa necrosada (Bauck, 1994).
Segundo Jepson (2010), a presença de material endurecido no inglúvio é chamada de ingluvolito.
Tully et al. (2010) sugerem que dietas ricas em fibras, ingestão de material estranho, consumo excessivo de
material mineral, alimento frio em filhotes e temperatura ambiental inadequada podem favorecem a
impactação de ingluvio. Esse material pode desidratar formando os bezoares ou ingluvolitos.
CONCLUSÕES
Após a necropsia e observação do material que formava as estruturas encontradas no inglúvio do
periquito australiano chegou-se a conclusão que eram fibras da caixa de ninho que foram ingeridas,
Universidade Federal de Uberlândia
140
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
impactadas e desidratadas dentro do inglúvio, formando os ingluvolitos, e estavam obstruindo a passagem do
alimento para o restante do trato gastrintestinal, provocando emaciação da ave.
A presença deste corpo estranho pode ter provocado aumento do tempo de esvaziamento do inglúvio
e ter facilitado a proliferação de Candida spp. e a formação de massas ocasionando o odor fétido e a
aderência das fibras com formação do bezoar.
REFERÊNCIAS
ADAMCAK, A.; HESS, H.E.; QUESENBERRY, K.E. Intestinal string foreign body in an adult Umbrella
Cackatoo (Cacatua alba). Journal of Avian Medicine and Surgery. v. 14. n. 4. p. 257-263. 2000
BAUCK, L. Mycoses. In: RITCHIE, B. W. et al (eds.) Avian Medicine: Principles and Application.
Wingers Publishing, Inc (Flórida). 1994. p. 997-1006.
ERZURUMLU, K; MALAZGIRT, Z.; BEKTAS, A.; DERVISOGLU, A.; POLAT, C.; SENYUREK, G.;
YETIM, I.; OZKAN, K. Gastrointestinal bezoar: a retrospective analysis of 34 cases. World Journal of
Gastroenterology, v.11, p.1813-1817, 2005
FISCHER, I.; CURD, S.; HATT.J.-M. Chronic regurgitation in a cockatiel (Nymphicus hollandicus) with a
trichobezoar. Schweizer Archiv für Tierheilkunde. v. 148. n. 6. p.309-311. 2006
HARRISON, G.; LIGHTFOOT, T. Clinical Avian Medicine. Florida: Spix Publishing, 2006. 450p.
JEPSON, L. Clinica de animais exóticos: referência rápida. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 592p.
TULLY, T. N., DORRESTEIN, G.M., JONES, A.K. Clinica de aves. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
344p.
VIEIRA, R.G., COUTINHO, S.D.A. Phenotypical characterization of Candida spp. isolated from crop of
parrots (Amazona spp.). Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 29, n. 6, p. 452-456. 2009.
Universidade Federal de Uberlândia
141
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INVESTIGAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DAS REGIÕES SOB INFLUÊNCIA DAS UNIDADES
DE BIOENERGIA DA ODEBRECHT AGROINDUSTRIAL, NA REGIÃO DO PARQUE
NACIONAL DAS EMAS, GOIÁS
Silveira, L.1; Jácomo, A. T. A.1; Barban, A. B.1; Neves, A. L. R. A.2; Tôrres, N. M1,3.
Universidade Federal de Uberlândia
E-mail: [email protected]
1. Instituto Onça-Pintada, Mineiros, Goiás
2. Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG.
3. Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG.
RESUMO
Foi feito um estudo por meio de armadilhas fotográficas nas áreas de influência das unidades de
Bioenergia da Odebrecht Agroindustrial nos municípios de Alto Taquari (MT) e Mineiros (GO) – Unidade
Morro vermelho, onde tem sido explorado o cultivo da cana-de-açúcar, com o objetivo de monitorar a
mastofauna presente nestes locais e investigar a abundância, a distribuição e a riqueza da mesma. A
finalidade do estudo é verificar o impacto da chegada da cana-de-açúcar nesta região e identificar refúgios
populacionais significativos na área, para subsidiar a elaboração de estratégias de conservação.
Palavras-chave: armadilha fotográfica; cana-de-açúcar, conservação.
INTRODUÇÃO
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca
de 24% do território nacional (IBGE, 2004). Por apresentar um enorme índice de espécies endêmicas e sofrer
uma degradação de hábitat colossal, o Cerrado é considerado um hotspot mundial de biodiversidade. Essa
grande diversidade de espécies que existem no bioma Cerrado é consequência dos diferentes tipos de
fitofisionomias agregados a ele, especialmente de formação Savânica, sendo considerada a mais rica do
mundo (Myers et al., 2000).
O território desse bioma foi invadido por pastagem, ocupação humana e agrícola, o que provoca
grande ameaça para a fauna e a flora da região de modo que muitos animais e plantas correm o risco de
extinção. Portanto, chega-se à conclusão de que os recursos naturais da região sofrem um progressivo
esgotamento. Além disso, é o bioma com o menor nível de proteção integral, onde apenas 8,21% do seu
território é protegido legalmente por unidades de conservação, que não são suficientes para manter
populações geneticamente viáveis das espécies de mamíferos de grande porte (Silveira & Jácomo, 2002).
O etanol brasileiro extraído da cana-de-açúcar tem sido uma alternativa como energia renovável,
atraindo rapidamente o interesse de grandes produtores rurais, aumentando significativamente a lavoura
sucroenergética (Ribeiro et al., 2009). Com o avanço de cultivo da monocultura canavieira, aumenta a
ameaça para as espécies do bioma, pois acarreta na substituição da vegetação nativa (Melo, 2010).
O Parque Nacional das Emas (PNE), patrimônio natural da humanidade, é uma unidade de
conservação de proteção integral, localizado no sudoeste do Estado de Goiás, possuindo uma área de
aproximadamente 132.000 hectares. Representa um dos pouquíssimos refúgios do bioma Cerrado, com
elevada diversidade e abundância de grandes mamíferos (Erize, 1977; Redford, 1983). Fica situado em uma
região com a maior produção agrícola do Brasil. Os primeiros cultivos a serem implantados no entorno do
PNE foram principalmente de milho e soja, causando fragmentação da vegetação nativa, e ao longo dos anos
as espécies nativas (emas, veados, antas, catetos e queixadas) foram se adaptando a esses recursos exóticos
(Silveira, L., comunicação pessoal). Mas com a chegada das unidades da Odebrecht Agroindustrial que
realizam o cultivo da cana-de-açúcar, as espécies nativas provavelmente irão passar por um processo de
adaptação diferenciado já que esse cultivo influenciará direta e indiretamente nos hábitos, na riqueza e
abundância, na distribuição e movimentação da fauna. O monitoramento da biodiversidade na região do
entorno do Parque Nacional das Emas onde a paisagem tem sido constantemente transformada pelo homem é
Universidade Federal de Uberlândia
142
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
fundamental para a identificação dos impactos positivos e negativos e elaboração de estratégias de
conservação para essa região.
Os mamíferos apresentam hábitos de vida muito variados, são considerados topos de cadeias
alimentares por serem predadores. São capazes de regular o tamanho das populações de suas presas e
também contribuírem na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas (EWER, 1973; EMMONS & FEER,
1997; EISENBERG E REDFORD, 199; NOWAK, 1999; TERBORGH et al. 1990). Em especial, os felinos
são animais que sofrem um alto índice de ameaça de várias formas, e uma delas é a destruição parcial ou
total de suas áreas de vida e consequentemente uma grande perda de suas presas. Portanto, merecem uma
atenção maior para que sejam devidamente protegidos.
Para a realização desse estudo, foram selecionadas espécies indicadoras que representam a
diversidade de hábitats e hábitos da região, uma vez que é impossível monitorar todas as espécies nativas. As
espécies indicadoras desse estudo são: onça-pintada (Panthera onca), lobo-guará (Chysocyon brachyurus),
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), anta (Tapirus terrestres), queixada (Tayassu pecari), ema
(Rhea americana) e tatu-canastra (Priodontes maximus). Estas foram selecionadas, pois suas exigências
ecológicas são bem elevadas e diversificadas além de abranger necessidades de todas as outras espécies da
região.
A área de estudo abrange o entorno do Parque Nacional das Emas, em especial a região das
nascentes do Rio Araguaia que têm sofrido influência das atividades realizadas pelas Unidades de Bioenergia
da Odebrecht Agroindustrial Morro Vermelho (em Goiás) e Alto Taquari (Mato Grosso).
Com o objetivo de investigar a abundância, a distribuição e a riqueza da fauna, utilizando armadilhas
fotográficas nas áreas de influência das unidades da Odebrecht Agroindustrial de Alto Taquari e Morro
Vermelho, e também do entorno do Parque Nacional das Emas. E identificar refúgios populacionais
significativos na área de estudo.
MATERIAL E MÉTODOS
A armadilha fotográfica tem sido uma ferramenta muito explorada em estudos da fauna em geral e
com mamíferos de médio e grande porte, principalmente felinos (Karanth & Nichols, 1998; Trolle 2003). É
muito eficiente para coleta de dados uma vez que é pouco impactante no ambiente com o mínimo possível de
distúrbio humano; capta a presença de espécies, mesmo as de difícil observação, sem precisar capturá-las;
permite a identificação dos indivíduos em termos de sexo, idade e estrutura populacional podendo então
calcular a densidade e tamanho da população, a abundância absoluta e relativa das espécies (Karanth &
Nichols, 1998; Silveira et al., 2003). Porém, apresenta algumas desvantagens: o instrumento de trabalho pode
ser roubado; a difícil manutenção desse material no campo; é inviável a coleta de dados biométricos e pode
ocorrer o registro parcial de alguns dos animais.
Cada armadilha é equipada com uma câmera fotográfica, sensor infravermelho, três baterias tipo “C”
alcalinas e um cartão de memória, arranjados em uma caixa acrílica impermeável com espumas para
acomodação do material. Há um “flash” embutido na câmera e um “timer” com diferentes opções para
programar o intervalo entre os disparos, sendo assim, neste estudo as armadilhas foram programadas para
acionar os disparos em intervalos de no mínimo 5 minutos, 24 horas por dia. Uma vez que ocorre variação de
temperatura ou movimentação captada pelo sensor, o disparo da máquina fotográfica é acionado e registrado
o animal que está passando em frente do equipamento. Também programado para registrar o dia e a hora de
cada fotografia obtida.
Foram instaladas 26 armadilhas fotográficas no período de julho a agosto e de setembro a novembro
de 2011, no limite norte do Parque Nacional das Emas, também em propriedades rurais onde a cana-deaçúcar é cultivada instalaram-se 19 armadilhas, totalizando 79.239 horas de esforço amostral (47.328 no
interior do PNE e 31.911 nas propriedades). Em seguida, entre dezembro de 2011 e outubro de 2012, foram
instaladas 141 armadilhas fotográficas distribuídas nas áreas de influência das atividades das Unidades de
Morro Vermelho e Alto Taquari. Cada uma destas câmeras ficaram em funcionamento por uma temporada
de três meses em média, durante 24 horas por dia.
Universidade Federal de Uberlândia
143
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 2: Localização das armadilhas fotográficas
instaladas no entorno do Parque Nacional das Emas
em fragmentos próximos aos plantios de cana-deaçúcar, entre dezembro de 2011 e outubro de 2012
(pontos
vermelhos).
Os registros de todas as espécies obtidos pelas armadilhas fotográficas foram armazenados para o
levantamento da riqueza de espécies.
Para evitar superestimativas, no caso daquelas espécies em que não é possível identificar indivíduos
pelas fotos, animais registrados por uma mesma câmera em intervalos inferiores a uma hora foram
considerados como sendo um mesmo indivíduo. (Silveira et al., 2003; Linkie & Ridout, 2011). Neste caso, se
registrado em um período de uma hora, dois aparecimentos consecutivos em uma mesma câmera por dois
indivíduos distintos, foram consideradas duas capturas independentes, caso contrário não. Para espécies em
que existe a possibilidade de individualizar os animais considerando seu padrão único de pelagem, foi feita a
identificação, quando possível. (Silveira et al. 2003, Linkie & Ridout, 2011).
O cálculo da taxa fotográfica ou freqüência (f) de registros da espécie (i) obtidos por dia é realizado
como fi = ni/N, sendo “i” o número de registros de espécie e “N” o total de horas que as câmeras ficaram
expostas em campo (Maffei et al., 2003; Silveira, 2004).
Cada captura com espécies que vivem em grupo (queixadas, catetos, quatis, emas, etc) foi
considerada como apenas um registro, e cada um destes registros foi multiplicado pelo valor médio do
número de indivíduos por grupo (Silveira, 2004). Uma unidade independente de esforço (período por ponto
de amostragem) com um valor próprio de fi, e a somatória das taxas fotográficas resultaram no valor final
para as espécies de cada amostragem, que possibilitou uma análise mais detalhada das espécies foco (onçapintada, lobo-guará, anta, queixada, tamanduá-bandeira, tatu-canastra e ema) ao longo dos anos amostrados
em cada área (PNE e seu entorno). O esforço total anual e a taxa fotográfica total anual no interior do PNE e
entorno também foram comparados.
Também foram mapeadas as ocorrências das espécies indicadoras registradas por meio de
armadilhas fotográficas nesta região. A sobreposição destas duas informações indica aqueles principais
refúgios durante esse período utilizados por estas espécies.
Figura 1: Localização de armadilhas fotográficas
instaladas no interior do Parque Nacional das Emas
e seu entorno, no período de 2001 a 2010 (pontos
amarelos) e no ano de 2011 (pontos vermelhos).
RESULTADOS
Através das armadilhas fotográficas, foram registradas durante as amostragens realizadas dentro e no
entorno do Parque entre os anos de 2001 e 2012, um total de 37 espécies de mamíferos divididas em nove
ordens.
Universidade Federal de Uberlândia
144
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Tabela: Lista de espécies registradas por meio de armadilhas fotográficas na região do Parque Nacional das
Emas e seu entorno, entre 2001 e 2012. VU = vulnerável; LC = baixa preocupação; NT = quase ameaçada;
DD = deficiente de dados; P = presença; A = ausência.
Situação de
Áreas
Ameaça
estudadas
Nome
Ordem
Família
Nome científico
popular
MMA IUCN
PNE Entorno
2003
2011
Atelidae
Alouatta caraya
Bugio
P
A
Primates
macacoCebidae
Cebus libidinosus
prego*
LC
P
A
Galictis sp
Furão
LC
P
A
Mustelidae
Eira barbara
Irara*
LC
P
P
Conepatus
Mephitidae
semistriatus
jaratataca*
LC
P
P
Chrysocyon
lobobrachyurus
guará*
VU
NT
P
P
cachorrodo-matoCanidae
Speothos venaticus
vinagre*
VU
NT
P
P
raposa-doLycalopex vetulus
campo*
LC
P
P
cachorroCerdocyon thous
do-mato*
LC
P
P
gatoCarnivora
Leopardus colocolo palheiro
VU
NT
P
P
onçaPanthera onca
pintada*
VU
NT
P
P
jaguatirica
Leopardus pardalis
*
VU
LC
P
P
Felidae
gatoPuma yagouaroundi mourisco*
LC
P
P
onçaPuma concolor
parda*
VU
LC
P
P
gatopintadoLeopardus tigrinus
menor
VU
P
P
Nasua nasua
quati*
LC
P
P
Procyonidae
mãoLC
Procyon cancrivorus pelada*
P
P
Blastocerus
cervo-dodichotomus
pantanal
VU
P
P
Mazama americana veadomateiro*
DD
P
P
Cervidae
Ozotoceros
veadobezoarticus
campeiro
NT
P
P
Cetartiodactyla
Mazama gouazoubira veadocatingueir
o
LC
P
P
Pecari tajacu
cateto*
LC
P
P
Tayassuidae
Tayassu pecari
queixada* NT
P
P
porcoLC
Suidae
Sus scrofa
monteiro
A
P
Cuniculus paca
paca*
LC
P
P
Rodentia
Caviidae
Hydrochaeris
capivara*
LC
P
P
Universidade Federal de Uberlândia
145
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Erethizontidae
Cingulata
Dasypodidae
Didelphimorphia
Didelphidae
Pilosa
Myrmecophagid
ae
Perissodactyla
Rheiformes
Tapiridae
Rheidae
hydrochaeris
Dasyprocta agouti
Coendou prehensilis
cutia*
ouriçocacheiro*
Cabassous unicinctus tatu-rabomole
Euphractus
tatu-peba*
sexcinctus
Priodontes maximus tatucanastra*
Dasypus
tatunovemcinctus
galinha
Didelphis albiventris gambá*
Myrmecophaga
tamanduátridactyla
bandeira*
Tamandua
tamanduátetradactyla
mirim*
Tapirus terrestris
anta*
Rhea americana
ema*
-
-
P
P
LC
P
P
LC
A
P
LC
P
P
VU
P
P
LC
LC
P
P
P
P
VU
P
P
LC
VU
NT
P
P
P
P
P
P
-
VU
VU
-
Na segunda amostragem, realizada no período de dezembro de 2011 a novembro de 2012, nas áreas
de influência das Unidades de Morro Vermelho e Alto Taquari, foi alcançado um esforço amostral total de
180.876 horas em um total de 12.956 dias de amostragem. Foram obtidos 3219 registros sendo de 27
espécies de mamíferos divididas em nove ordens.
Segundo a lista do Ministério do Meio Ambiente, das 37 espécies registradas durante este estudo,
oito (22%) são listadas como vulneráveis à extinção (MMA, 2003), enquanto que na lista global da
International Union for Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN, 2011), cinco espécies
(13,5%) são consideradas como vulneráveis, sete (19%) como quase ameaçadas. Somente o tatu-canastra e
tamanduá-bandeira são igualmente considerados vulneráveis à extinção em ambas as listas. Já o lobo-guará,
cachorro-do-mato-vinagre, gato-palheiro e onça-pintada são considerados como vulneráveis do MMA, mas
como quase ameaçados pela IUCN.
Observam-se variações nos valores encontrados para o interior e entorno do Parque a partir do total
das taxas fotográficas para todas as espécies ao longo dos anos, sendo que tanto em 2010 quanto em 2011 o
sucesso de captura no entorno foi maior do que no interior do PNE mesmo o esforço amostral sendo menor.
Em 2012 o sucesso de captura foi muito similar ao de 2011 mesmo o esforço sendo muito maior, esta menor
taxa de captura pode estar vinculada com a instalação de câmeras em locais pouco conhecidos até o
momento. Não foi realizada amostragem no interior do Parque devido ao alto esforço amostral focado na
região do entorno do Araguaia no ano de 2012.
Apesar da onça-pintada ter sempre taxas fotográficas maiores no interior do Parque, apresentou
diferenças significativas para todos os anos, sendo que os primeiros registros desta espécie foram fora do
Parque em 2001/2002, o que indicava que suas altas exigências ecológicas não poderiam ser atendidas na
paisagem do entorno do PNE. No entanto, no ano de 2012 foram realizados registros de onça pintada nos
arredores dos canaviais das Unidades de AT e MV através de rastros nas estradas encontrados durante os
trabalhos de instalação e revisão das câmeras e por meio dos registros das mesmas. Posteriormente, a espécie
foi registrada por armadilhas fotográficas, inclusive de fêmeas com filhotes utilizando as áreas das lavouras
de cana-de-açúcar.
DISCUSSÃO
A maioria das espécies foram registradas em ambas as áreas, com exceção do bugio (Alouatta
caraya), macaco-prego (Cebus libidinosus) e furão (Galictis sp) as quais não foram registradas no entorno do
parque e as espécies tatu-de-rabo-mole (Cabassous sp) e porco-monteiro (Sus scrofa), que não foram
registradas no interior do parque. Com base no Plano de Manejo do PNE (MMA, 2004), os resultados foram
similares à lista de espécies esperada para a região, onde apenas duas espécies desta lista não foram
Universidade Federal de Uberlândia
146
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
registradas ao longo das amostragens, sendo elas: tatu-folha (Dasypus septemcinctus), lontra (Lontra
longicaudis). O cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus), considerado com baixa abundância ao longo
de toda a sua distribuição e raro, sendo que há anos não se tinha registros de sua presença no PNE e região
(Silveira et al., 1998), foi registrado em janeiro de 2013 através de uma das armadilhas-fotográficas
instaladas na cana-de-açúcar.
Estudos têm relatado (ex. Melo, 2010) a ocorrência do trânsito de espécies de mamíferos de médio e
grande porte em lavoura de cana-de-açúcar e entre fragmentos próximos de vegetação nativa, tais como
lobo-guará, cachorro-do-mato, onça-parda, jaguatirica, anta, queixada, cateto e capivara. Observamos através
dos resultados obtidos, que a ocorrência é alta de anta, queixada e tamanduá bandeira nos fragmentos
próximos aos canaviais, e consequentemente ocorre a presença de onça-pintada, como foi registrada
posteriormente ao período das análises realizadas nesse trabalho.
O esforço amostral mensurado em número de horas sempre foi maior no interior do Parque Nacional
das Emas, desde 2001, quando foi iniciado o monitoramento de mamíferos no interior do Parque e seu
entorno por meio de armadilhas fotográficas, a diferença entre estes valores foi menor comparada com os
anos anteriores. Esta diferença foi minimizada com a realização da última amostragem realizada em 2012
nas áreas de influência das Unidades MV e AT. É importante salientar que também foi feita uma extensa
amostragem no interior do PNE, tanto em 2008 quanto em 2010, com um total de 119 de armadilhas
fotográficas instaladas em cada ano. Em cada ponto de armadilha, haviam duas câmeras, voltadas uma de
frente para a outra, a fim de se obter o registro de ambos os lados dos animais, o alto esforço amostral é
justificado ao estimar a densidade de onças-pintadas.
Apesar das taxas fotográficas não corresponderem a índices absolutos de quantidade de indivíduos
em uma população, já que as espécies apresentam diferentes probabilidades de serem capturadas, elas
comumente são utilizadas como indicativos deste parâmetro, em termos comparativos entre espécies e/ou
áreas.
Comparando os resultados para o lobo-guará, foram significativamente diferentes, exceto para o ano
de 2011, sendo que em 2010 as taxas obtidas no entorno foram maiores do que no PNE. Para 2012 no
entorno a taxa de captura para o lobo-guará foi similar ao ano de 2011. Já no caso da anta, apenas em 2011 a
diferença foi significativa, sendo também maior no entorno. Em 2012 a taxa de captura da anta foi maior
comparativamente a todos os anos, dentro do parque e no entorno, concluindo que a adaptabilidade desta
espécie é grande em habitats fragmentados. O tamanduá-bandeira e o tatu-canastra apresentaram taxas
significativamente maiores no PNE, para os anos 2010 e 2008 respectivamente, e no ano de 2012 as taxas
obtidas para ambas as espécies no entorno foram similares ao ano de 2010 no PNE, podendo ser justificado
pelo aumento do esforço amostral. Taxas significativamente maiores também foram observadas para ema e
queixada, nos anos 2001/2002 e em 2005/2007. Entretanto, em 2011, a taxa fotográfica média de queixadas
foi significativamente maior nas propriedades do que em Emas e em 2012 foi verificado um aumento na taxa
fotográfica desta espécie no entorno do Parque na região de influência das Unidades MV e AT da Odebrecht
Agroindustrial, demonstrando também a alta adaptabilidade desta espécie em habitats com mudança do
plantio de soja para o de cana-de-açúcar.
Para ser possível o estudo da movimentação da onça-pintada e para identificar se a mesma é uma
residente do local ou apenas é uma passageira, será necessário em um próximo trabalho, à instalação de radio
transmissor para monitoramento via satélite.
A partir da combinação do mapeamento de vegetação nativa da região de estudo, com os registros
obtidos por meio de armadilhas fotográficas para as espécies indicadoras, é possível observar que há
fragmentos das nascentes do Rio Araguaia próximos do limite do PNE e também fragmentos existentes ao
redor dos canaviais dentro dos limites das Unidades de Bioenergia MV e AT, desde os menores fragmentos
que são utilizados como “trampolim” para as outras áreas até os maiores, os quais são utilizados para
algumas espécies como áreas de vida constantes, são muito importantes, especialmente para anta, queixada e
tamanduá-bandeira.
CONCLUSÃO
Podemos evidenciar a região do Rio Araguaia como a mais importante para a definição de corredores
ecológicos para a fauna regional, em especial a região das nascentes desse rio.
Universidade Federal de Uberlândia
147
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Com essa avaliação da situação das possíveis conexões com todo o entorno do PNE, foi possível
perceber que tanto o interior do Parque como o seu entorno sustenta praticamente a mesma riqueza de
espécies de mamíferos de médio e grande porte.
Comparando especificamente os períodos antes e depois da inserção da cana-de-açúcar na região,
não foram observadas diferenças significativas entre as taxas fotográficas registradas dentro e fora do PNE,
exceto para o quati e furão que apresentaram maiores taxas dentro do parque, antes da cana.
De acordo com as taxas fotográficas, indicam que a abundância de algumas espécies indicadoras é
maior no interior do PNE do que em seu entorno, provavelmente por causa do processo de fragmentação e
perda de hábitat natural que a região sofre ao longo dos anos. Mas possível verificar que essa realidade está
mudando através da alta taxa de captura de espécies bioindicadoras nas áreas de plantio de cana-de-açúcar do
entorno do Parque.
Até o momento, os remanescentes de vegetação nativa ao longo do Rio Araguaia, em especial
próximo às suas nascentes, têm se mostrado como importantes refúgios populacionais para as espécies
analisadas.
REFERÊNCIAS
Eisenberd, J. F.; Redford, K. H. Mammals of the neotropics: the central neotopics (Ecuador, Peru, Bolivia,
Brazil). V. 3. Chicado and London: The University of Chicado Press, 1999, 609 p.
Emmons, L. H.; Feer, F. Neotropical rainforest mammals: A field guide. 2ª ed. Chicago: The University of
Chicago Press, 1997, 307p.
Erize, F. 1977. Brazil's finest National Park. Oryx, 13:457-462.
Ewer, R. F. The carnivores. Ithaca, New York, Cornell University Press, 1973.
IBGE. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
2004. Mapa de Biomas do Brasil – Primeira Aproximação. Brasília, DF.
IUCN. 2011. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2011.2. <http://www.iucnredlist.org>.
Downloaded on 10 November 2011.
Karanth, K.U. & Nichols, J.D. 1998. Estimation of tiger densities in India using protographic captures &
recaptures. Ecology, 79:2852-2862.
Melo, F.R. 2010. Programa de Monitoramento da Fauna em áreas de vegetação natural e plantio de cana-deaçúcar no entorno da usina de cana do grupo Cosan/Centro- Oeste, Unidade Jataí, Jataí, Goiás. Relatório
Final.
Ministério do Meio Ambiente. 2003. Instrução Normativa no. 3, de 27 de maio de 2003: Lista Nacional das
Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Diário Oficial da União, 28/05/2003, Seção 1, pp. 8897, 2003.
Myers, N., Mittermeier, R.A., Mittermeier, C.G., Fonseca, G.A.B., & Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for
conservation priorities. Nature, 403:853-858.
Nowak, R. M. Walker‟s mammals of the world. 6ª ed. v. 1 e 2. Baltimore: The John Hopkins University
Press, 1999.
Redford, K.H. 1983. Lista preliminar de mamíferos do Parque Nacional das Emas. Brasil Florestal, 55:29-33.
Ribeiro, N.V., Ferreira, L.G. & Ferreira, N.C. 2009. Expansão da Cana-de-Açúcar no Bioma Cerrado: Uma
analise a partir da modelagem perceptiva de dados cartográficos e orbitais. Anais XIV Simpósio Brasileiro
de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 abril 2009, INPE, p. 4287-4293.
Universidade Federal de Uberlândia
148
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Silveira, L. 2004. Ecologia Comparada da Onça-pintada (Panthera onca) e Onça-parda (Puma concolor) no
Cerrado e Pantanal. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, DF. 240p.
Terborgh, J. Réquien for nature. Covelo Califórnia and Washington, D. C.: Island Press, 1999.
Trolle, M. 2003. Mammal survey in the southeastern Pantanal, Brazil. Biodiversity & Conservation, 12:823836.
Silveira L., Jácomo A.T.A. & Diniz-Filho, J.A.F. 2003. Camera trap, line transect census & track surveys: a
comparative evaluation. Biological Conservation, 114(3):351-355.
Silveira, L., Jácomo, A.T.A. & Rodrigues, F.H.G. 1998. Ocorrência de cachorro do mato vinagre (Speothos
venaticus), no Parque Nacional das Emas, GO. In: XXII Congresso Brasileiro de Zoologia, Recife, 1998.
Silveira, L. & Jácomo, A.T.A., 2002. Jaguar conservation in the Cerrado of central Brazil. In: Medellin,
R.A., Chetkiewicz, C., Rabinowitz, A., Redford, K.H., Robinson, J.G., Sanderson, E., & Taber, A. Jaguars in
the new millennium. A status assessment, priority detection, & recommendations for the conservation of
jaguars in the Americas. UNAM/WCS, Mexico D.F.
Universidade Federal de Uberlândia
149
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
IRRIGAÇÃO, MORFOLOGIA E HISTOLOGIA DO TIMO DE JAVALI (SUS SCROFA LINNAEUS ,
1758)
RIBEIRO, L. A.1; BORGES, T. R. J.1; SANTOS, L. A.1; SILVA, F. O. C.1; PEREIRA, R. S.²; LUCIANO, P.
V. M.²; NOGUEIRA, P. A. S.3; SILVA, D. C. O.4
1. Setor de Anatomia Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), Rua Ceará s/n, Bloco 2D, Uberlândia, MG 38400-902, Brasil.
2. Discentes do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Presidente Antônio Carlos de UberlândiaMG, Praça Clarimundo Carneiro, nº256, Centro. Autor para correspondência:(e-mail:
[email protected] telefone: (34) 9671-0382).
3. Discente do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Uberlândia-MG.
4. Docente do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, nº 10720,
Umuarama, Uberlândia-MG.
RESUMO
A realização de pesquisas sobre a morfologia dos órgãos e seus sistemas vasculares nas diferentes
espécies animais, incluindo o homem, pode apontar semelhanças ou diferenças anatômicas importantes entre
estes grupos, contribuindo para o desenvolvimento de novas linhas de pesquisa. Objetivou-se estudar a
vascularização arterial da parte cervical e torácica do timo de Javali, bem como sua topografia e histologia,
de modo a fornecer informações referentes a este órgão, neste animal que demonstra uma grande plasticidade
adaptativa. Topograficamente os lobos cervicais do timo, de ambos os antímeros na fase fetal estenderam-se
das faces mediais das glândulas mandibulares até a margem cranial do primeiro par de costelas, mantendo-se
unidos ao timo torácico por um istmo. Quanto à vascularização tímica, observou-se as seguintes
características para cada antímero: os lobos cervicais tímicos dos antímeros esquerdo e direito foram
irrigados predominantemente pelas artérias carótidas comuns e cervicais superficiais. Do ponto de vista
histológico, o timo é formado por lóbulos divididos em uma zona medular (central) e uma zona cortical
(periférica). A concentração de linfócitos e macrófagos é maior na zona cortical ao passo que na região
medular foram identificados os corpúsculos de Hassal. Uma cápsula de tecido conjuntivo denso que é
característica do órgão também foi visualizada e demonstrando sua importância na manutenção da
continuidade do timo ao longo da região cervical.
Palavras-chave: Anatomia, Artérias, Suidae.
ABSTRACT
Researches of the morphology of the structures and their vascular systems in different animal species
can shows similarities or significant anatomical differences between these groups, contributing to the
development of new lines of research. The objective was to study the arterial vascularization of the cervical
and thoracic thymus of wild boar as well as its topography and histology, to provide information concerning
this structure in his animal which shows a large adaptive plasticity. Topographically cervical lobes of the
thymus of both antimeres in the fetal period extended up the medial side of the mandibular glands to the
cranial edge of the first pair of ribs, remaining attached to the thoracic thymus by an isthmus. Regarding
thymic vascularization, the following characteristics for each antimere be observed: the cervical thymus
lobes of the right and left sides were irrigated predominantly through the common carotid artery and
superficial cervical. From the viewpoint of the thymus is divided into lobes, formed of one medullary area
(central) and a cortical area (peripheral). The concentration of lymphocytes and macrophages is increased in
the cortical zone while in the spinal region Hassall been identified. One capsule of dense connective tissue
that is characteristic of the organ was also displayed and demonstrated their importance in maintaining the
continuity of the thymus along the cervical region.
Keywords: Anatomy, Arteries, Suidae
Universidade Federal de Uberlândia
150
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INTRODUÇÃO
A invasão de espécies exóticas é a segunda principal causa da perda de biodiversidade no mundo, e
ainda pode causar impactos sobre a economia, a saúde púbica e sobre os valores culturais de uma região
(VÁSQUEZ, 2002; PIMENTEL et al., 2005; ZILLER; ZALBA 2007). No Brasil, aproximadamente 543
espécies exóticas invasoras afetam os ambientes terrestres, aquáticos, sistemas de produção, e/ou a saúde
humana (MMA, 2006), e entre elas, o javali vem ganhando destaque nos últimos anos devido a sua rápida
expansão pelo território brasileiro e impactos ambientais e econômicos. O Javali (Sus scrofa, Linnaeus,
1758) é um suíno originário do norte da África e sudoeste da Ásia. Na América, este animal não é catalogado
na fauna nativa, por isso é considerado como exótico. Alimenta-se de frutos, tubérculos, raízes, cereais,
invertebrados e pequenos mamíferos, tendo preferência por vegetais e seu peso pode chegar a 350 Kg
(TIEPOLO; TOMAS, 2006).
Os primeiros registros da introdução dessa espécie na América do Sul datam do inicio do século XX
quando vários indivíduos foram trazidos para a província de La Pampa na Argentina por criadores Europeus.
No Brasil, acredita-se que a invasão ocorreu basicamente por dois mecanismos: em primeiro lugar através
das fronteiras com o Uruguai e Argentina, e em segundo lugar através do transporte clandestino de
exemplares por meio de caminhões para criação (TIEPOLO; TOMAS, 2006; DEBERDT; SCHERER, 2007;
FONSECA et. al., 2009). Recentemente o registro de exemplares de Javalis e Porcos domésticos (Sus scrofa
domestica) em estado selvagem foi registrada em nove estados, dentre estes o de maior abundância ocorre no
Rio Grande do Sul (DEBERDT & SCHERER, 2007; FONSECA et al., 2009).
A realização de pesquisas sobre a morfologia dos órgãos e seus sistemas vasculares nas diferentes
espécies animais, incluindo o homem, pode apontar evidências significantes para a confirmação de
semelhanças, ou relacionar diferenças anatômicas importantes entre estes grupos, contribuindo para o
desenvolvimento de novas linhas de pesquisa (GLENNY, 1945; BOMBONATO et al., 2001; SANTANA et
al., 2008). Com o avançar da ciência imunológica, torna-se necessário estudos que aprimorem o
conhecimento do sistema imunitário, buscando a elucidação de doenças e seus tratamentos, enfocando
estudos relativos aos diferentes mecanismos de defesas orgânicas (AGRESTE et al., 2007). De acordo com
Reece (2004), o timo mostrou ter grande relevância para os mamíferos nos quais atua através de ações
notórias na resposta imune e ainda sobre o sistema linfático, sendo primordial para o desenvolvimento pósnatal, respondendo ainda pela competência imunológica do indivíduo.
Desta forma objetivou-se avaliar a comportamento das artérias responsáveis pela irrigação dos lobos
cervicais e torácicos do timo de Javali, além de avaliar as características morfológicas e histológicas do
referente órgão a ponto de correlacioná-las com os demais representantes da família suidae.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 10 fetos de Javalis, (6 fêmeas e 4 machos) de idades variadas. O material utilizado
foi obtido por ocasião de mortes naturais ou abortos, de criadores diversos do município de Uberlândia-MG.
O sistema arterial de cada animal foi marcado para identificação através da aorta torácica, por meio de
incisão no nono espaço intercostal esquerdo. Após seu isolamento, o vaso foi canulado e preenchido com
solução aquosa de látex (Artecola® –Altamira Indústria e Comércio de Látex), a 50%, corada com pigmento
específico (Suvinil® Tintas e Pigmentos – corante para tinta látex).
Os animais foram fixados com injeções intramusculares, subcutâneas e intracavitárias de solução
aquosa de formaldeído a 10% (Chemco® – formaldeído solução GEIII), para em seguida serem imersos em
recipientes contendo a mesma solução. Para a dissecação dos animais, foi efetuada uma incisão mediana
ventral na pele da região cervical, seguida da divulsão do tecido conjuntivo subcutâneo e o afastamento dos
planos musculares, para imediata identificação dos lobos torácico e cervicais direito e esquerdo, bem como
suas respectivas artérias supridoras. A documentação foi realizada mediante um câmera Sony DSC-W510
(Cyber-shot 12.1 mega pixels).
As amostras fixadas em formol 10% foram inclusas em parafina, os cortes foram corados pelos
métodos hematoxilina-eosina e tricômico de Masson. As lâminas resultantes foram fotografadas em
microscópio de luz com menor aumento (4x) e as imagens obtidas foram analisadas e identificadas às regiões
características do tecido em questão.
Universidade Federal de Uberlândia
151
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A nomenclatura anatômica utilizada para a designação das estruturas anatômicas tratadas neste
trabalho esteve de acordo com a International Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomenclature
(2012). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais da Universidade Federal de
Uberlândia, protocolo nº 103/13.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os lobos cervicais (direito e esquerdo) apresentaram formato longilíneo, encontrados desde as faces
mediais das glândulas salivares mandibulares até as margens craniais do primeiro par de costelas,
acompanhando a traqueia e as artérias carótidas comuns, em ambos os antímeros. O lobo torácico mostrou-se
com formato piramidal, situando-se na parte crânio-ventral do mediastino cranial, com sua face dorsal
diretamente em contato com o pericárdio fibroso (Figura 1).
Figura 1. Macrofotografia dos lobos tímicos cervical esquerdo (LE), cervical direito (LD) e torácico (LT).
Observaram-se ramos provenientes da artéria cervical superficial esquerda (setas brancas) para o lobo tímico
cervical esquerdo, e ramos da artéria torácica interna para o loto tímico torácico (seta amarela).
Na região de junção da parte cervical com a parte torácica, o timo sofreu um estreitamento,
formando consequentemente um istmo, encontrado em 6 animais. Os lobos cervicais tímicos, em ambos os
antímeros, receberam ramos diretos oriundos das artérias ipsilaterais cervical superficial e carótida comum.
Também foi verificada que a irrigação do lobo cervical esquerdo esteve dependente de ramos indiretos
oriundos das artérias cervical superficial esquerda, carótida comum esquerda, enquanto o lobo cervical
direito foi irrigado por ramos indiretos das artérias cervical superficial direita e carótida comum direita.
Ramos inconstantes das artérias torácicas externas e subclávias de ambos os antímeros foram encontrados
Universidade Federal de Uberlândia
152
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
para os respectivos lobos cervicais ipsilaterais. Entre os sexos, quando confrontados os dados referentes à
irrigação dos lobos cervicais (direito e esquerdo) e torácico do timo nos fetos, bem como, quando
comparados o número de ramos destinados aos diferentes lobos do timo com seus respectivos, não foram
encontradas variações estatisticamente significantes.
Diversas descrições anatômicas do timo de suínos apresenta um grande número de relatos
comparativos quanto a irrigação e topografia dos lobos nas diversas linhagens selecionadas pelo homem
(MACHADO et al., 1999; SILVA et al., 2007; LIMA et al., 2009), bem como para animais SRD (SILVA et
al., 2001). Quanto à irrigação dos lobos cervicais, os Javalis mostraram variação individual pouco
significativa quanto à origem de seus vasos nutridores, por demonstrarem um menor elenco de artérias
participantes quando comparados às linhagens Hampshire, Duroc, Rezende, C40 e Camborough 25
(DRUMMOND, 1996; MACHADO et al., 1999; GONÇALEZ et al., 2007; SILVA et al., 2007; LIMA et al.,
2009) e,especialmente suínos SRD e Piau (SILVA et al., 2001), que apresentaram um maior número de
artérias envolvidas na irrigação destes lobos.
Esta menor variação pode ser comprovada pela majoritária participação das artérias cervicais
superficiais e carótidas comuns ipsilaterais. No que tange a participação predominante destas artérias na
irrigação dos lobos cervicais, pode-se inferir que o Javali por ser um ancestral do porco doméstico e
subsequentemente das diversas linhagens consideradas, serve como referência para compreensão das novas
configurações do sistema de vascularização apresentado nas diversas linhagens da família suidae mais
recentes filogeneticamente. É factível que as linhagens comparadas apresentaram um maior número de
artérias participantes na irrigação do timo parte cervical, entretanto, as artérias carótidas comuns e cervicais
superficiais presentes na irrigação deste órgão também foram predominantes, o que retrata uma característica
conservativa da configuração arterial que é evolutivamente denominada de sinapomorfia.
Já, quanto à irrigação do lobo torácico do timo de Javali nota-se uma semelhança entre este e os
suínos das linhagens Pietran, Duroc e Rezende (SILVA; GONÇALEZ, 1998; MACHADO et al., 1999;
GONÇALEZ et al., 2003), onde as artérias torácicas internas mostraram-se como os principais vasos
nutridores. Ainda, para os suínos comparados, verificou-se o tronco braquiocefálico participando
frequentemente da irrigação deste lobo o que não foi observado no Javali.
Foram analisadas e identificadas nas imagens histológicas, as zonas corticais, medulares e cápsula de
tecido conjuntivo denso como mostrado na figura 2.
Universidade Federal de Uberlândia
153
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Histológicamente o timo do Javali é formado por lóbulos divididos em parte central (zona medular,
sendo mais clara) e região periférica (zona cortical, mais fortemente corada pela hematoxilina e
consequentemente mais escura). A concentração de linfócitos e macrófagos é maior na zona cortical. A
presença de corpúsculos de Hassal (constituídos por células reticulares epiteliais achatadas) predomina na
região medular. O revestimento por uma cápsula de tecido conjuntivo é também característico deste tecido
conforme ressaltado por Junqueira e Carneiro, (2004). Logo, o timo de Javali na coloração HE, apresentou
estruturas definidas, delimitadas e evidentes o que reforçou a hipótese deste trabalho em caracterizar
Histológicamente o órgão linfoide. Com base na evidente característica do tecido, torna-se possível avaliar o
desenvolvimento do órgão que durante a vida do animal, sofre uma involução, dita fisiológica, que pode ser
acelerada por uma série de fatores, visto que os timócitos são extremamente sensíveis às variações
microambientais, ocorrendo rápida depleção dessa população mediante uma série de estímulos (NEZELOF,
1992).
A análise do tecido é fundamental para as ciências biológicas e médicas, uma vez que se situa na
intersecção entre a bioquímica, a biologia molecular e a fisiologia, de um lado, e os processos patológicos e
seus efeitos, de outro (STEVENS e LOWE, 2001). A coloração por H/E tem sido utilizada por pelo menos
há um século e ainda é essencial para o reconhecimento de diversos tipos de tecidos e as alterações
morfológicas que formam a base do diagnóstico contemporâneo de câncer. A técnica foi inalterada por
muitos anos porque responde bem a uma variedade de fixadores e revela aspectos do citoplasma e núcleo
celular e, também, da matriz extracelular (FISHER et al., 2006).
CONCLUSÃO
Diante dos resultados apresentados, a morfologia do timo do Javali não apresentou uma variação
significativa, ao passo que, os ramos arteriais, ou seja, ramos diretos e indiretos, que respondem pelo
suprimento sanguíneo dos lobos cervicais (artérias cervical superficial e carótida comum) e torácicos do timo
(artéria torácica interna) tiveram participação conservadora quanto às artérias participantes quando
comparados a maior parte dos suínos considerados. Quanto à histologia, o tecido linfoide analisado
apresentou características determinantes que poderão possibilitar futuras pesquisas referentes à comparação
entre diferentes faixas etárias, o que facilitaria a melhor compreensão do processo de desenvolvimento e
involução do timo.
REFERÊNCIAS
AGRESTE, F. R. Expressão espaço-temporal do sistema VEGF e do EG-VEGF no timo de cães. 165f.
Dissertação de Doutorado – Universidade de São Paulo/Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia.
2010.
BOMBONATO, P. P. Irrigação do timo de fetos caprinos da raça Saanen: estudo comparativo. Brazilian
Journal of Veterinary Research and Animal Science, 38 (5): 203-208. 2001.
CAMPOS, D. B.; REIS, F. A. C.; BENTO, L. R. T.; LIMA, E. M. M. Artérias dos lobos cervicais do timo
em fetos de suínos da raça Piau.Ars Veterinária, 19 (1): 8-12. 2003.
CROSBY, A. W. Imperialismo ecológico. São Paulo; Companhia das Letras 319 p. 1993.
DEBERDT, A. J.; SCHERER, S. B. O javali asselvajado: ocorrência e manejo da espécie no Brasil.
Natureza & Conservação, v. 5, n. 2, p. 31 - 44, 2007.
DRUMMOND, S. S. Aspectos morfométricos e de vascularização arterial do timo em suínos da raça
Hampshire. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Brasil, 57pp. 1996.
FONSECA, C.(Coord.) Monitoramento populacional de Sus scrofa (Mammalia, Suidae),no Parque
Estadual de Vila Velha, Paraná, Brasil,Instituto Ambiental do Paraná - IAP, 24 p. 2009.
Universidade Federal de Uberlândia
154
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
FISCHER, A. H.; JACOBSON, K. A.; ROSE, J.; ZELLER, R. Hematoxylin and eosin staining of tissue and
cell sections. In: Preparation of Cells and Tissues for Fluorescence Microscopy, Chapter 4, In Basic
Methods in Microscopy (eds. Spector and Goldman). Cold Spring Harbor Laboratory Press, Cold Spring
Harbor, NY, USA, 2006. (http://cshprotocols. cshlp.org/cgi/content/ abstract/2008/6/pdb.prot4986,>acesso
em 08/03/2014.
GONÇALEZ, P. O.; SILVA, F. O. C.; SEVERINO, R. S.; DRUMMOND, S. S. Suprimento arterial do
lobo torácico do timo em suínos da linhagem “Rezende”. Ciência Rural, Santa Maria, v. 33, n. 3, p. 501505, Maio/Junho 2003.
GONÇALEZ, P. O. et al. Artérias dos lobos do timo em suínos da linhagem Rezende. Veterinária Notícias,
Uberlândia, v. 13, n. 2, p. 23-29, 2007.
.JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 10.ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 488p.
2004.
INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL NOMENCLATURE.
Nomina Anatômica Veterinária. 5. ed. Hannover: WAVA, 166 p. 2012.
LIMA, E. M. M. et. al. Vascularização arterial dos lobos torácicos do timo em fetos de suínos da Linhagem
C40.Pesquisa Veterinária Brasileira. Rio de Janeiro, v. 29 , n. 10, p.863-867, Outubro 2009.
MACHADO, G. V.; SILVA, F. O. C.; SEVERINO, R. S.; DRUMMOND, S. S.; SANTOS, A. L. Q.;
BOMBONATO, P. P.; NASCIMENTO, K. N. Suprimento arterial do timo em suínos da raça Duroc.
Arquivos de Ciência Veterinária de Zoologia da Unipar, Umuarama, v. 2, n. 1, p. 17-22, Janeiro/Julho
1999.
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Espécies Exóticas Invasoras: Situação Brasileira. Brasília: Ministério
do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e Florestas, 24 p. 2006.
NEZELOF, C. Thymic pathology in primary and secondary immunodeficiencies.Histopathology. v. 21, p.
499-511, 1992.
PIMENTEL, D.; ZUNIGA, R.; MORRISON, D. Update on the environmental and economic costs
associated with alien-invasive species in the United States. Ecological Economics, v. 52, p. 273 - 288,
2005.
SANTANA, M. I. Irrigação do timo em aves da linhagem Paraíso Pedrês (Gallus gallus domesticus).
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 60, n. 2, p. 307-314, 2008.
SILVA, F. O. C.; SEVERINO, R. S.; DRUMMOND, S. S.; CAMPOS, A. B.; CAMPOS, D. B.; REIS, F. A.
C.; BENTO, L. R. T.; LIMA, E. M. M. Artérias dos lobos cervicais do timo em fetos de suínos da raça piau.
Anais do XXIV Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, Salvador, Brasil, p. 43. 2001.
SILVA, F. O. C.; GONÇALEZ, P. O. Suprimento arterial da parte torácica do timo de fetos de suínos da raça
Pietrain. In:ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 7, 1998, Uberlândia. Anais... Uberlândia:
Universidade Federal de Uberlândia, p. 161. 1998.
SILVA, F. O. C.; RAFAEL, E. L. S.; SEVERINO, R. S. Vascularização arterial dos lobos cervicais do timo
em fetos de suínos da linhagem C40. Pesquisa Veterinária Brasileira, 27 (6): 246-250. 2007.
STEVENS, A.; LOWE, J.Histologia Humana. 2ª edição. São Paulo: Editora Manole, 2001.
Universidade Federal de Uberlândia
155
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
TIEPOLO, L. M.; TOMAS, W. M. Ordem Artiodactyla. In: N.R. REIS; A.L. PERACCHI; W.A. PEDRO;
I.P. LIMA (eds.), Mamíferos do Brasil. Londrina, Editora da Universidade Estadual de Londrina, p. 283303. 2006.
VÁZQUEZ, D. P. Multiple effects of introduced mammalian herbivores in a temperate forest. Biological
Invasions, v. 4, p.175-191, 2002.
ZILLER, S. R.; ZALBA, S. Propostas de ação para prevenção e controle de espécies exóticas invasoras.
Natureza & Conservação, v. 5, n. 2, p. 8 - 15, 2007.
Universidade Federal de Uberlândia
156
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
LEVANTAMENTO AVIFAUNÍSTICO EM UMA LAVOURA DE SORGO NO MUNICÍPIO DE
PATOS DE MINAS – MG
LIMA, F. J. C.1; MONTEIRO, E. M.2; PEREIRA, S. G3.
1. FPM - Faculdade Patos de Minas/Graduando em Ciências Biológicas ([email protected] 034 9931-0454).
2. FPM – Faculdade Patos de Minas e Universidade Federal de Uberlândia – FAMEV – LAPAS. Uberlândia
– MG
3. Me. Universidade Federal de Uberlândia – FAMEV – LAPAS. Uberlândia – MG e FPM – Faculdade
Patos de Minas
RESUMO
A moderna planta de sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) é um produto da intervenção do homem,
que domesticou a espécie e, ao longo de gerações, vem transformando-a para satisfazer as necessidades
humanas. Sorgo é uma extraordinária fábrica de energia, de enorme utilidade em regiões muito quentes e
muito secas, onde o homem não consegue boas produtividades de grãos ou de forragem cultivando outras
espécies, como o milho. O objetivo deste estudo foi fazer um inventário da avifauna da região da Fazenda
Paraíso no município de Patos de Minas e verificar a dieta das aves consumidoras dos grãos e avaliar a
intensidade do prejuízo, em termos de produção de grãos, causado pelas aves. A maioria das aves, neste
estudo são essencialmente granívoras e a maioria das espécies observadas apresentaram um alta taxa de
visitação à plantação trazendo, assim impactos. Trabalhos como esse são importantes para demonstrar a
importância da avifauna.
Palavras-chave: sorgo, aves, comportamento alimentar, cerrado.
ABSTRACT
The modern plant sorghum ( Sorghum bicolor L. Moench ) ( Taxonomy ) is a product of human
intervention, which domesticated species and , over generations , has transformed it to meet human needs .
Sorghum is an extraordinary plant energy, extremely useful in very hot and very dry regions , where man
fails to yield good grain or fodder cultivating other species , such as maize. The aim of this study was to
determine the diet of the birds consuming the grains and evaluate the intensity of the injury in terms of grain
production , caused by the fact sorghum avesDevido not provide a protection for the seeds , such as in the
case of the straw corn, glumes for wheat and barley, sorghum plant produces several phenolic compounds
which serve as a chemical defense against birds , and other pathogens competidores.Toda sorghum plant has
approximately the same levels of protein , starch, lipids etc. . but several phenolic compounds may or may
not occur , and among these compounds highlights the condensed tannins that have anti-nutritional action
mainly for monogastric animals. Most birds in this study are primarily granivorous and most species showed
an observed high rate of visitation for planting bringing thus impacts. Jobs like this are important to
demonstrate the importance of the avifauna.
Keywords: sorghum , poultry , feeding behavior , cerrado
INTRODUÇÃO
O Brasil abriga uma das mais diversas avifaunas do mundo, com número de espécies estimado em
mais de 1800 (CBRO, 2009). Atividades antrópicas afetaram significativamente as espécies de aves que
habitam os ecossistemas naturais brasileiros. A resposta das aves às ações humanas varia desde aquelas que
se beneficiaram com as alterações do habitat e aumentaram suas populações até aquelas que foram extintas
da natureza (MARINI; GARCIA, 2005).
Universidade Federal de Uberlândia
157
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
As intervenções humanas afetaram as espécies de aves que habitam os ecossistemas naturais
brasileiros. Assim, as aves podem procurar alimento longe de seus habitats naturais ou em culturas próximas
a remanescentes florestais, podendo trazer prejuízos à agricultura. (MARINI, 2005)
Várias culturas de grãos sofrem o ataque por aves (IBAMA, 2006), como por exemplo, soja, milho e
sorgo. O sorgo (Sorghum bicolor) é o quinto cereal mais importante do mundo, sendo precedido pelo trigo,
arroz, milho e cevada. No Brasil, o maior uso de grãos de sorgo está na avicultura e suinocultura.
Atualmente, o cultivo de sorgo tem expandido principalmente no plantio de sucessão em São Paulo, Goiás,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Região do Triângulo, em Minas Gerais. Nesses Estados se concentram
aproximadamente 85% do sorgo granífero plantado no Brasil (EMBRAPA, 2006).O objetivo deste estudo foi
conhecer as espécies de aves que visitam e consomem o grão de sorgo; comparar a avifauna que explora o
sorgo entre as áreas observadas e em relação ao tipo de ambiente adjacente à cultura; verificar a dieta das
aves consumidoras dos grãos e avaliar a intensidade do prejuízo, em termos de produção de grãos, causado
pelas aves. Justifica-se pela alta densidade de aves no cultivo de sorgo para sementes, com isso
aprofundando no estudo detalhado das principais espécies que ali se encontram e fazendo também um
levantamento de prejuízos na produção que essas aves poder ocorrer na plantação.
O Sorgo produzido na Fazenda Paraíso em Patos de Minas (MG) é forrageiro para silagem,
possuindo um ciclo de 110 dias e sua cultura é utilizada somente para a alimentação animal.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado na Fazenda Paraiso localizada no município de Patos de Minas, nas
seguintes coordenadas: 18°35‟20.66”S, 46°35‟30.82” O. Onde se encontra uma área de 18 hectares com uma
área cultivada com sorgo para sementes. Para as amostragens em campo foram utilizadas duas metodologias,
a de Transectos, onde são percorridos caminhos enquanto são registradas as espécies detectadas por
visualização ou audição, e também a metodologia de Pontos fixos onde o pesquisador escolhe um ponto, ao
longo de um transecto ou não, e permanece parado por tempo determinado registrando todas as espécies
visualizadas ou ouvidas.
O horário das observações foi das 6h00 as 19h00, com ênfase aos horários entre 6:00h as 10:00h e
entre 16:00h às 17:00h que normalmente são os períodos de maior movimentação das aves (MENDES,
2000). As visitas foram iniciadas em julho de 2013 e as amostragens ocorreram entre os dias 14 e 19 de
julho.
Os equipamentos utilizados foram binóculos (Tasco 7X35WA), câmera fotográfica digital com zoom
óptico e caderneta para as anotações. As espécies identificadas foram registradas em uma planilha específica,
sendo anotados a data, o local, a espécie observada e o número de contatos em cada ponto, a fim de se
avaliar a riqueza, e o status da espécie (migratória/residente). Para os registros, foram anotados os indivíduos
observados em uma distância de até 50 metros, sendo também consideradas as aves em voo de acordo com
(SANTANA, 2010).
RESULTADOS E DISCURSÃO
Foram registradas um total de 12 espécies distribuídas em 8 famílias durante o período de estudo.
Foram encontradas tanto aves granívoras como frugivoras e insetívoras, e outras apenas oportunistas, já que
grãos não constituem um componente predominante em suas dietas (SICK, 1997).
Entre as espécies que consumiram o grão, aquelas que visitaram mais intensamente, sendo
consideradas as espécies mais importantes: Aratinga leucophtalma com 15 visitas/hora; Gnorimopsar chopi
com 16 visitas/hora; Dolospingus frigilloides com 14 visitas/hora; e Sicalis flaveola com 13 visitas/hora
Passer domesticus com 17 visitas/horas e Alipiopsitta xanthops com 15 visita/hora.O maior pico de atividade
destas aves se concentrou durante o período da manhã, das 6 horas e 45 minutos às 9 horas e 30 minutos,
sendo registrado neste período 94% das visitas de Gnorimopsar chopi, 82% das visitas da Dolospingus
frigilloides , 60%das visitas da Aratinga leucophtalma e 50% das visitas de Passear domesticus, no período
da tarde, das 16 horas e 30 minutos á 18horas sendo registrado nesse período 80% das visitas de Sicalis
flaveola e 55% das visitas de Alipiopsitta xanthops.
Universidade Federal de Uberlândia
158
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Tabela 1- Lista das Espécies de aves registradas na área de estudo localiza no município de Patos de Minas MG. Tipo de registro: (V) visual, (A) auditivo.
Espécie
Nome comum
Registro
Família
Gnorimopsar chopi
Pássaro preto
V,A
Icteridae
Andorinha domestica V
Hirundinidae Progne chalybea
Papa capim
V,A
Emberizidae Dolospingus frigilloides
Canário da terra
V,A
Emberizidae Sicalis flaveola
Columbina passerina
Rolinha cinzenta
V,A
Columbidae
Zenaida auriculata
Pomba do bando
V,A
Columbidae
Alipiopsitta xanthops
Papagaio galego
V
Psittacidae
Aratinga leucophthalma
Maritaca
V
Psittacidae
Passer domesticus
Pardal
V
Passeridae
V
Carfinalidae Cyanoloxia glaucocaerula Azulinho
Tico-tico
V,A
Emberizidae Zonotrichia capensis
Pitangus sulphuratus
Bem-te-vi
V,A
Tyrannidae
Gráfico 1- Frequência de visualização nas visitações por espécie
16
14
12
10
8
6
4
2
Gnorimopsar chopi
Dolospingus fringilloides
Sicalis flaveola
Alipiopsitta xanthops
Aratinga leucophthalma
Passer domesticus
0
Apenas duas espécies de visitantes (Pitangus sulphuratus, Passer domesticus) não consumiram
sementes de sorgo. Entre aqueles que consumiram, elas estão citadas na literatura, e incluem as sementes na
sua dieta regular ou ocasionalmente. Grãos de sorgo são médios-macio de textura média (Antunes et al.,
2007), permitindo a sua utilização por espécies não-especialista em grãos. Portanto, a inclusão deste na dieta
pode ser devido às vantagens que oferece, tais como abundância, qualidade nutricional, a facilidade de
remoção da panícula. E consumo, a concentração de recursos na cultura e aspectos morfológicos do pássaro
(tamanho do bico e capacidade de processar grãos externamente e internamente).
Apesar da sua capacidade de atração para as aves, em locais com alta concentração de grãos é difícil
de manter e defender territórios, o que pode promover a formação de grupos ou bandos (GRZYBOWSKI,
1983). Neste estudo, os maiores grupos foram Gnorimopsar chopi (28,72 ± 29,06 , N max » 100 indivíduos
), Aratinga leucophtalma ( 18,58 ± 26,07 , N max» 150 indivíduos) e Alipiopsitta xanthops ( 13,41 ± 29,28 ,
N max » 50,00 indivíduos ). A taxa de consumo do grão de sorgo foi 32,64%%, maior que a encontrada por
Manikovski e Camara- Smeets (1979), de 25 %.
Esse impacto pode ser considerável Baixo devido a grande área de 18 hectares, o que pode ter
diminuído o acesso das aves para panículas e cultura em geral. Para maximizar a produtividade de grãos e
reduzir os danos por pássaros, você pode configurar um tempo de colheita, a fim de minimizar os impactos
(VEREA, et al., 2010). Outra alternativa é usar as matrizes apropriadas, como a paisagem da floresta,
mantendo a diversidade de aves pode fornecer conectividade de ambientes naturais para permitir o
movimento de aves para áreas de melhor qualidade (ESTRADA et al. 1997) e minimizar o impacto sobre as
culturas adjacentes.
Universidade Federal de Uberlândia
159
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Acredita-se que essa proporção entre espécies de aves generalistas e especialistas florestais indica o
que já era esperado para áreas rurais antropizadas com pequenos fragmentos florestais. A maioria das
espécies é típica de campos, mas a quantidade de aves florestais é bastante significativa para fragmentos tão
pequenos, especialmente se considerarmos espécies maiores e mais exigentes em termos de área de vida
(VEREA, et al., 2010).
CONCLUSÃO
Conclui-se que a maioria das aves, neste estudo são essencialmente granívoras e a maioria das
espécies observadas apresentaram um alta taxa de visitação, houve um impacto baixo no cultivo de sorgo e
as espécies Aratinga leucophtalma, Gnorimopsar chopi, Passer domesticus, Sicalis flaveola Alipiopsitta
xanthops, foram consideradas as principais responsáveis pelo impacto na plantação. O maior pico de
atividade destas aves se concentrou durante o período da manhã, das 6 horas e 45 minutos às 9 horas e 30
minutos, e período da tarde, das 16 horas e 30 minutos á 18horas. Trabalhos como esse são importantes para
demonstrar a importância da avifauna presente em uma plantação de sorgo para o equilíbrio do ecossistema,
e a importância de se conhecer mais afundo a diversidade alimentar das aves, podendo, ainda, servir como
subsídio para melhorias no planejamento de controle de pragas nas plantações.
REFERENCIAS
ALVARENGA, C. D. Controle integrado do pulgão-verde, Schizaphis graninum(Rondani, 1852) em
sorgo através de genótipos resistentes e do predador Doru luteipes (Scudder, 1876). 1992. 113 f. Tese
(Mestrado) - Universidade São Paulo, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba.
ALVAREZ V., V.H.; NOVAIS, R. F.; BARROS, N. F.; CANTARUTTI, R. B.; LOPES, A. S. Interpretação
dos resultados das análises de solos. In: RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G.; ALVAREZ V., V. H.
(Ed.). Recomendação para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5. Aproximação. Viçosa:
Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. p.25-32.
ALVAREZ,V.H.V.,DIAS,L.E.,RIBEIRO, A. .C., SOUZA,R.B. Uso de Gesso Agrícola. In: RIBEIRO, A. C.;
GUIMARÃES, P. T. G.; ALVAREZ V., V. H. (Ed.). Recomendação para o uso de corretivos e
fertilizantes em Minas Gerais: 5. Aproximação. Viçosa: Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de
Minas Gerais, 1999. p.67-78.
CBRO - Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Listas das aves do Brasil. 8ª Edição, 09/8/2009,
Disponível em <http://www.cbro.org.br>. Acesso em: 27/08/2009.
COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC. Recomendações de adubação e de calagem para os
estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 3. ed. Passo Fundo: SBCS - Núcleo Regional Sul,
1994. 224p.
CORTEZ, M.G.R.; WAQUIL, J.M. Influência de cultivar e nível de infestação deSpodoptera
frugiperda (J.E. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae) no rendimento do sorgo. Anais da Sociedade
Entomologica do Brasil, Jaboticabal, v.26, n.2, p.407-410, 1997.
CRUZ, I. Resistência de genótipos de sorgo ao pulgão-verde, Schizaphis graminum (Rondani,1852)
(Homoptera: Aphididae). 1986. Tese (Doutorado) _ Universidade São Paulo, Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba.
EMBRAPA. Disponível em: http:www.embrapa.com.br. Acesso em: 03 jan. 2014.
POLETTO, F. et al. Caracterização do microhabitat e vulnerabilidade de cinco espécies de arapaçus (Aves:
Dendrocolaptidae) em um fragmento florestal do norte do estado do Paraná, sul do Brasil. Ararajuba 12
(2):89-96 Dezembro de 2004.
Koogan, 2003.
Universidade Federal de Uberlândia
160
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
REINERT, L. B.; BORNSCHEIN, M. R.; BELMONTE-LOPES, R.. Conhecendo Aves Silvestres
Brasileiras. 1ª ed. Cornélio Procópio: Vida Verde, 2004.
SANTANA, C.R. & ANJOS, L. On the association of birds to bamboo stands in
SICK, H. Ornitologia brasileira. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
SIGRIST, T. Aves do Brasil Oriental: Guia de Campo. São Paulo, Avis Brasilis. 448p. 2007.
southern brazilian Atlantic Forest: Biota Neotropica, 10(2), 2010.
Universidade Federal de Uberlândia
161
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
MUSEU DE CIÊNCIAS DO CERRADO NORDESTINO
Silva, R. M.1; Calado, D. C. 2; Rocha, P. 2; Silva, I.B.F.S. 2; Cabral, M. C. 2, Junior, A. T. 2
31 Universidade Federal do Oeste da Bahia, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras –
BA ([email protected], 77-91156291)
42 Universidade Federal do Oeste da Bahia, Museu de Ciências do Cerrado Nordestino, Barreiras –
BA
RESUMO
O Museu de Ciências do Cerrado Nordestino é um projeto de extensão desenvolvido pelo curso de
Ciências Biológicas da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). A UFOB é resultado do
desmembramento de um dos campi do interior da Universidade Federal da Bahia (UFBA) através do projeto
de lei (Lei nº 12.825) sancionado no dia 05 de junho de 2013. O Museu foi criado em 2009 e tem como
missão representar um centro de construção e disseminação de conhecimento na área de Ciências Naturais,
com espaço para abrigar coleções da fauna (animais vertebrados e invertebrados) e flora da região Oeste da
Bahia. O Museu possui as seguintes finalidades e ações: a) Treinamento de acadêmicos de cursos de
graduação para atuar na preparação e curadoria de coleções biológicas; b) Trabalho de educação informal
com estudantes da rede pública, da rede particular e de estudantes com necessidades especiais; c) Expansão
dos acervos de fauna e de flora da UFOB; d) Capacitação de professores e aperfeiçoamento de outros
profissionais; e) Incentivo ao estudo do ambiente natural da região de Cerrado e de temas relacionados às
Ciências Naturais; f) Utilização de computadores e softwares como forma de estimular o uso e o manejo de
informações sobre a biodiversidade do Cerrado.
Palavras chave: acervo, flora, fauna
ABSTRACT
The Science Museum of the Northeastern Cerrado is an extension project developed by the UFOB
course: Ciências Biológicas da Universidade Federal do Oeste da Bahia (transl: Federal University of
Biological Sciences of West Bahia). The UFOB– Universidade Federal do Oeste da Bahia is a result of the
dismemberment of one of the campuses (Port. campi) within UFBA – Universidade Federal da Bahia
(transl: The Federal University of Bahia) through the law (Law No. 12.825) sanctioned on June 05,2013.
The museum was established in 2009 and its mission is to represent a center of construction and
dissemination of knowledge in the field of Natural Sciences with a space to house collections of flora
(vertebrates and invertebrates animals) and the flora of the Western Bahia region. The museum has the
following objectives and actions: a) Training academics of graduate courses to perform in the preparation
and curation of the biological collections; b) Work in the informal education with students both in the public
and private networks, and students with special needs; c) Expansion of the collections of fauna and flora of
ICADS- Instituto de Ciências Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (transl: Institute of Environmental
Sciences and Sustainable Development); d) Capacity building teachers and the improvement of other
professionals; e) Incentivize the study of the natural environment of the Cerrado Region, and of themes
related to Natural Sciences; f) Use of computers and softwares a form to stimulate the use and the
management of information on the biodiversity of the Cerrado.
Key words: collection, flora, fauna
1. INTRODUÇÃO
O Museu de Ciências do Cerrado Nordestino é um projeto de extensão desenvolvido pelo curso de
Ciências Biológicas da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). A UFOB é resultado do
desmembramento de um dos campi do interior da Universidade Federal da Bahia (UFBA) através do projeto
de lei (Lei nº 12.825) sancionado no dia 05 de junho de 2013. Tem como objetivo aproximar a Sociedade e a
Universidade Federal da do Oeste da Bahia através da popularização do conhecimento da fauna e flora do
Universidade Federal de Uberlândia
162
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Cerrado. Através deste projeto, a Universidade abre as suas portas à comunidade para visitas de estudantes
do ensino fundamental, médio e superior, bem como para a população em geral.
O Museu pretende resgatar a identidade da região Oeste da Bahia, quanto ao seu aspecto natural.
Além disso, propõe-se a constituir-se num ponto de estada para pesquisa, informação e lazer, uma vez que
existe na região grande dificuldade de acesso aos centros mais próximos, como Brasília e Salvador. Esta
distância entre os municípios da região Oeste da Bahia e os centros mais próximos limita a ação dos museus
situados nas capitais enquanto espaços de popularização do conhecimento. Assim, o Museu de Ciências do
Cerrado Nordestino visa a divulgação da biodiversidade do Cerrado, baseado no alicerce proposto por uma
instituição pública de ensino, a qual é formada pelo Ensino, Pesquisa e Extensão.
O Cerrado exibe uma grande complexidade de ecossistemas locais, mas o conhecimento sobre a sua
composição, estrutura e dinâmica (sazonal e sucessional) é escasso (KLINK e outros, 2002). Esse bioma é
considerado a savana com a flora mais rica do mundo (KLINK & MACHADO, 2005), embora a flora
vascular do Brasil ainda não seja totalmente conhecida (GIULIETTI e outros, 2005). O Cerrado possui alto
grau de endemismo, dos quais mais de 44% são de plantas vasculares (MMA, 2007), anfisbenas (53%) e
lagartos (25%) (AGUIAR e outros, 2004). Dentre os mamíferos, o grupo mais diversificado é o dos
morcegos, com 81 espécies registradas até o momento (AGUIAR e outros, 2004). Ainda, segundo esses
autores, em relação ao Brasil, no Cerrado ocorre metade das espécies de aves, 45% dos peixes, 40% dos
mamíferos, 38% dos répteis e 23% das plantas vasculares, totalizando aproximadamente 33% da diversidade
biológica brasileira. Essa biodiversidade representa em torno de 5% da diversidade biológica do Planeta
(MMA, 2006). Os dados sobre a riqueza de invertebrados do Cerrado são praticamente inexistentes (DIAS &
MORAIS, 2007), mas estima-se que existam pelo menos 90 mil espécies.
As coleções biológicas são fontes de informações fundamentais para o conhecimento da
biodiversidade e, consequentemente, essenciais no planejamento e elaboração de políticas públicas voltadas
para a conservação. Segundo o documento organizado por Lewinsohn & Prado (2002), a biodiversidade
brasileira, embora seja uma das mais importantes do mundo, possui imensas lacunas quanto à existência de
coleções e especialistas nos diferentes grupos taxonômicos. Ainda, segundo esses autores, as coleções
biológicas presentes no Nordeste são pouco representativas, especialmente para microorganismos,
invertebrados e organismos de água doce. Neste contexto, a missão do Museu de Ciências do Cerrado
Nordestino representa um centro de construção e disseminação de conhecimento na área de Ciências
Naturais, com espaço para abrigar coleções da fauna (animais vertebrados e invertebrados) e flora da região
Oeste da Bahia. O Museu possui as seguintes finalidades e ações: a) Treinamento de acadêmicos de cursos
de graduação para atuar na preparação e curadoria de coleções biológicas. b) Trabalho de educação informal
com estudantes da rede pública, da rede particular e de estudantes com necessidades especiais. c) Expansão
dos acervos de fauna e de flora da UFOB. d) Capacitação de professores e aperfeiçoamento de outros
profissionais. e) Incentivo ao estudo do ambiente natural da região de Cerrado e de temas relacionados às
Ciências Naturais. f) Utilização de computadores e softwares como forma de estimular o uso e o manejo de
informações sobre a biodiversidade do Cerrado.
2. METODOLOGIA
O Museu de Ciências do Cerrado Nordestino é composto por uma sala onde as coleções da fauna e
da flora ficam expostas para receber a visitação e por um laboratório de preparação das amostras. Ainda,
conta com a estrutura do herbário e dos laboratórios de Zoologia. Vale ressaltar que, diariamente, novas
peças são preparadas e adicionadas ao acervo expositivo.
2.1 Técnicas de preparação
2.1.1. Maquetes Celulares
Este segmento do acervo conta com maquetes de células e de estruturas celulares. Destaque especial
é dado ao material genético e sua organização, tornando-se um elo entre todos os organismos presentes no
museu. Através de painéis, é destacada a importância do estudo dos genomas dos seres vivos para a definição
de suas relações filogenéticas. As maquetes de células são confeccionadas por estudantes, a partir de estudo
prévio da literatura. Os modelos tridimensionais de células animal, vegetal e bacteriana, e das estruturas
celulares (núcleo celular, cloroplasto e mitocôndria) são elaborados com diferentes materiais, tais como:
isopor, plástico, massa para biscuit, resina e caixas de vidro tipo aquário, entre outros.
Universidade Federal de Uberlândia
163
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
2.1.2. Animais Invertebrados
O acervo de invertebrados é resultado de atividades desenvolvidas nas disciplinas de Entomologia e
Zoologia I e II da UFOB, de doações por pesquisadores de outras instituições e de coletas realizadas pelos
estudantes e docentes vinculados ao Museu (autorização SISBIO 18970-2). As amostras de invertebrados são
preparadas de diferentes formas, a depender das características do grupo taxonômico.
A conservação em via líquida é realizada através da utilização de frascos de vidro contendo líquido
conservante (etanol 70%). Este procedimento é empregado para a manutenção de exemplares de poríferos,
cnidários, anelídeos, moluscos, crustáceos, quelicerados, e larvas e pupas de insetos. Animais inteiros de
médio e grande porte são previamente fixados em formalina e posteriormente transferidos para frascos com
etanol 70%.
A conservação de conchas, ninhos e esqueletos é realizada em via seca, sendo acondicionados em
caixas de vidro e placas de Petri, por exemplo. As conchas de moluscos são coletadas já separadas das partes
moles do animal, e em seguida são higienizadas com solução de hipoclorito de sódio, lavadas em água e
secas à temperatura ambiente. Esqueletos de equinodermos são obtidos através da retirada manual das partes
moles, limpeza com água e secagem em temperatura ambiente. Os insetos são montados em alfinete e
armazenados em caixas entomológicas conforme as técnicas descritas em Almeida et. al. (2012). Caixas de
vidro tipo aquário, também são utilizadas para exposição de insetos e quelicerados secos, de forma a simular
os microhabitats e hábitos apresentados por estes organismos.
2.1.3. Animais Vertebrados
O acervo é coletado, preparado, acumulado e enriquecido progressivamente e paralelamente às
atividades de ensino, pesquisa e extensão das disciplinas de Anatomia, Fisiologia e Zoologia do Curso de
Ciências Biológicas, bem como, através do recebimento de doações de animais silvestres, post mortem,
oriundas de apreensões feitas pelo IBAMA, de zoológicos, de particulares e de criadores registrados e
regularizados pelo órgão competente. Além das doações, o acervo configura-se por meio de capturas de
cadáveres de animais e/ou partes encontrados mortos em rodovias da região (autorização SISBIO 20733-1).
Todo o material recebido é identificado ao menor nível taxonômico possível, e uma carta é
preenchida informando o doador, o local e a situação onde o cadáver ou partes foram encontrados. As formas
de preparação utilizadas nos cadáveres ou partes, dentre elas: osteotécnicas, diafanização óssea, fixação e
conservação, parafinização, injeção de resinas, injeção de vinilite, taxidermia de pele esticada e taxidermia
pele cheia, seguem técnicas usuais de laboratórios de preparações anatômicas citadas por Rodrigues (1998) e
Auricchio e Salomão (2002).
Após a aplicação das técnicas supracitadas, as peças recebem uma etiqueta de identificação, são
catalogadas e, por meio de relatório, informadas ao SISBIO.
2.1.4. Setor da Flora
As plantas são coletadas na natureza, tratadas, herborizadas (prensagem, secagem e montagem),
seguindo metodologia descrita em Mori et. al. (1989) e incorporadas à coleção científica do Herbário da
Universidade Federal da Bahia, onde é investigado o nome científico de cada espécie a fim de subsidiar a
pesquisa sobre seus atributos biológicos e sociais (autorizações SISBIO 18520-1 e 21136-1). A identificação
segue a classificação proposta por APG III (2009).
Após identificação, os espécimes são destinados ao museu, de acordo com a sua importância para o
Cerrado e para as comunidades humanas da região Oeste da Bahia. As plantas são escolhidas a partir de seu
uso e manejo, endemismo, grau de ameaça e importância ecológica. São selecionadas também partes das
plantas que representem a diversidade morfológica presente em suas folhas, flores e frutos. Todo material
exposto no museu passa por uma adequação da linguagem técnico científica para uma linguagem popular, a
fim de viabilizar o maior acesso às informações apresentadas.
Como forma de apresentar os grandes grupos vegetais de plantas terrestres, foi elaborado um painel
que mostra “briófitas”, “pteridófitas”, gimnospermas e angiospermas em uma sequência evolutiva.
Para estimular a interatividade entre os visitantes e os objetos expostos no setor flora, está em
implantação “O cantinho dos sentidos”, que busca apresentar a diversidade de cheiros, formas e texturas de
folhas, flores, frutos e sementes das plantas do Cerrado. Esse espaço visa atingir também pessoas com
necessidades especiais.
Universidade Federal de Uberlândia
164
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A diversidade de formas de folhas e suas texturas serão apresentadas em um painel que
proporcionará ao visitante a experiência de tocá-las. Os frutos e sementes serão apresentados em caixas
abertas, também estimulando o contato visual e tátil. Já, o sentido olfativo será estimulado através de flores
do Cerrado in natura, coletadas no dia de exposição.
2.2. Exposição (fig. 1)
As peças preparadas são expostas em prateleiras, mesas expositivas e/ou estantes, com a finalidade
de serem observadas durante a visitação. Além do material biológico, informações impressas também são
disponibilizadas para garantir maior compreensão da importância da fauna e flora do Cerrado. Para cada
animal, são informados o nome científico e popular, habitat, alguns hábitos, forma de alimentação, forma de
reprodução e algumas curiosidades. As espécies vegetais têm seus frutos e sementes tratados e expostos
juntamente com uma ficha descritiva que contém informações sobre seu nome popular, científico,
morfologia e potencial de uso. Além disso, são apresentadas informações sobre o grau de ameaça,
endemismo e distribuição geográfica.
A exposição conta com um microscópio e um estereoscópico (lupa) que permite ao visitante a
visualização e o manuseio de partes das plantas e tecidos animais.
Pretende-se, futuramente, que os dados sobre o material exposto também sejam disponibilizados em
uma homepage do Museu, através de textos e fotografias. Isso permitirá que estudantes da rede pública de
ensino possam fazer consultas e que o público visitante possa antever as amostras e, assim, interagir de
forma mais participativa quando visitam o acervo.
2.3. Visitação
As visitas ao Museu são previamente agendadas e guiadas por monitores devidamente treinados para
cada setor do Museu. Os monitores são estudantes do curso de Ciências Biológicas, voluntários ou bolsistas,
que são acompanhados por docentes envolvidos no projeto. As visitações são de, no máximo, 30 alunos por
vez.
LT
Universidade Federal de Uberlândia
165
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
3. RESULTADOS E CONCLUSÃO
A participação de estudantes de graduação neste projeto permite aos mesmos a aquisição de
conhecimentos mais aprofundados, principalmente nas áreas de Anatomia, Fisiologia Animal, Zoologia e
Botânica, através da realização de coleta de amostras, montagem, identificação e estudos dos diferentes
táxons presentes no Cerrado. Além dos conhecimentos pertinentes à sistemática dos grupos, os estudantes
também podem compreender de forma mais clara as relações ecológicas e hábitos dos animais depositados
na coleção.
Os graduandos, igualmente, têm a oportunidade de interagir com estudantes de outros níveis
(fundamental e médio) durante as visitas ao acervo. Isto permite o desenvolvimento de habilidades para
comunicação e interação com o público, bem como atua como um incentivo à carreira docente. Até o
presente momento, o museu recebeu 462 visitantes de 12 instituições de ensino, bem como da população em
geral.
Cabe ainda ressaltar, que o envolvimento dos estudantes de graduação também tem despertado o
interesse em ingressar em cursos de pós-graduação, tendo em vista que a atividade diária de coleta,
preparação e identificação de materiais leva à busca de novos conhecimentos e, consequentemente, também
desperta o interesse pela pesquisa.
Além das atividades de extensão, no Museu também são desenvolvidas atividades de pesquisa.
Estudantes do curso de graduação em Ciências Biológicas têm oportunidade de estudar as amostras do
Museu para a realização de trabalhos na área de Zoologia, Anatomia Animal e Vegetal. Já foram gerados, no
Museu, trabalhos de conclusão de curso, estágios de iniciação científica, estágios extracurriculares, trabalhos
extensionistas e publicações de trabalhos em anais de congressos nacionais.
Quanto ao impacto social, o Museu dá oportunidade aos estudantes do Programa Permanecer para
desenvolverem seus planos de trabalho e, assim, incentiva a permanência destes na Universidade. Além
disso, os acadêmicos envolvidos no projeto são estimulados a ingressarem em cursos de Pós-graduação ou na
carreira docente nas escolas da região.
4. REFERÊNCIAS
AGUIAR, L.M.S.; MACHADO, R.B. & MARINHO-FILHO, J. A Diversidade Biológica do Cerrado. In:
AGUIAR, L.M.S. & CAMARGO, A.J.A. Cerrado: ecologia e caracterização. Planaltina/DF: Embrapa
Cerrados/Embrapa Informações Tecnológicas, 2004. 249p.
ANGIOSPERM PHYLOGENY GROUP III (APG III). An Update of the Angiosperm Phylogeny Group
Classification for the Orders and Families of Flowering Plants. Botanical Journal of the Linnean Society.
2009. v. 161: 105-121.
ALMEIDA, L. M.; RIBEIRO-COSTA, C. S.; MARINONI. L. Coleta, montagem, preservação e métodos
para estudo. In: RAFAEL, J. A.; MELO, G. A. R; CARVALHO, C. J. B. DE; CASARI, S. A.;
CONSTANTINO, R. (Ed.). Insetos do Brasil. Ribeirão Preto: Holos Editora, 2012. p. 176-190.
AURICCHIO, P.; SALOMÃO, M. G. Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos e
didáticos. São Paulo: Arujá: Instituto Pau Brasil de História, 2002. 348p.
DIAS, I.; MORAIS, H.C de (Orgs.). Invertebrados do Cerrado e Pantanal – diversidade e conservação. In:
Ministério do Meio Ambiente. Cerrado e Pantanal. Áreas e Ações Prioritárias para Conservação da
Biodiversidade. Ministério do Meio Ambiente: Brasília, 2007. p. 141-147.
GIULIETTI, A.M.; HARLEY, R.M.; QUEIROZ, L.P.; WANDERLEY, M.G.L. & van den BERG, C.
Biodiversidade e Conservação das Plantas no Brasil. Megadiversidade, 1(1): 52-61. 2005.
KLINK, C. A.; MIRANDA, H.; GONZALES, I.; VICENTINNI, K.. O BIOMA CERRADO - SITE 3. In: U.
SEELIGER; C. CORDAZZO; F. BARBOSA. (Org.). Os Sites e o Programa Brasileiro de Pesquisas
Ecológicas de Longa Duração. 1ª ed. Porto Alegre: Fundação da Universidade do Rio Grande do Sul;
Universidade Federal de Uberlândia
166
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Universidade Federal de Minas Gerais, v.1, 2002. p. 51-68.
KLINK, C. A.; MACHADO, R.B. A Conservação do Cerrado Brasileiro. Megadiversidade, 1(1): 1. 2005.
LEWINSOHN, T.M. & PRADO, P.I. Biodiversidade brasileira: síntese do estado atual do conhecimento.
São Paulo: Contexto, 2002. 176p.
MMA. Programa Nacional de Conservação e uso sustentável do Bioma Cerrado. Brasília: Ministério do
Meio
Ambiente.
2006.
Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/201/_arquivos/programa_cerrado_sustentvel_201.pdf>. Acessado
em: 09 set. 2013
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). 2007. Cerrado e Pantanal: áreas prioritárias para
Conservação da Biodiversidade. (Série Biodiversidade 17). Brasília: MMA, 540p.
MORI, S. A; MATTOS SILVA, L. A; LISBOA, G; CORADIN, L. Manual de manejo do herbário
fanerogâmico. CEPEC/CEPLAC, Ilhéus. 1989.104 p.
RODRIGUES, H. Técnicas Anatômicas. Vitória: Arte Visual.1998. 222p.
Universidade Federal de Uberlândia
167
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
NEUROPATIA ISQUIÁTICA POR INJEÇÃO INTRAMUSCULAR: RELATO DE CASO EM
LOBO-GUARÁ, CHRYSOCYON BRACHYURUS (ILLIGER, 1815) (CARNIVORA, CANIDAE)
Barros, R.F.¹; Nalla, S.F¹; Kanayama, C.Y.²; Nascimento, L.R.¹; Santos, A.L.Q.¹
12-
Laboratório de Pesquisas em Animais Selvagens-UFU, Uberlândia (MG) Cep 38400-902
Universidade de Uberaba, Uberaba (MG) Cep 38010-200
[email protected] (34) 96762056
RESUMO
O objetivo deste trabalho é relatar um caso de neuropatia isquiática em Lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus) (Carnivora, canidae) causada pela administração de sulfametoxazol e trimetropim, por via
intramuscular na região caudal da coxa. Foi atendido no ambulatório de animais selvagens da Universidade
Federal de Uberlândia um Lobo-guará com neuropatia isquiática grave, após aplicação intramuscular de
sufametoxazol e trimetropim. O animal apresentou claudicação dos membros pélvicos com ausência de
propriocepção consciente, reflexos segmentares ausentes, ausência de sensibilidade dolorosa profunda em
toda a região dorsolateral dos tarsos, além de automutilação de região de membro esquerdo. O paciente foi
tratado com protocolo fisioterápico associado à acupuntura. Após três semanas de tratamento, houve retorno
funcional dos membros afetados. A escolha pela terapia fisioterápica associada à acupuntura se mostrou
eficiente na resolução das sequelas causadas pela neuropatia isquiática causada pela injeção intramuscular.
Palavras-chave: lesão, ciático, lobo-guará
ABSTRACT
The goal of this study is to report a case of ischiatic neuropathy in a Maned-wolf (Chrysocyon
brachyurus) (Carnivora, canidae) after administrarion of sulfametoxazol and trimetropim through
intramuscular injection into the caudal region of the thigh. A Maned-wolf with severe ischiatic neuropathy
was assisted at the wild animals clinic of University of Uberlândia after intramuscular injection of
sulfametoxazol and trimetropim. The animal presented claudication of the pelvic limbs with no conscious
proprioception, absence of segmental reflexes, absence of deep pain sensivity throughout both dorlolateral
tarsus, and self-mutilation of the left pelvic limb. The pacient was treated with physiotherapy associated with
acupuncture. After three weeks of treatment, functional restoration of the affected limbs was achieved. The
treatment with physiotherapy associated with acupuncture was efficient in solving the sequelae caused by
sciatic neuropathy induced by intramuscular injection.
Key words: injury, sciatic, maned-wolf
INTRODUÇÃO
O nervo isquiático é considerado o maior nervo periférico das espécies carnívoras domésticas. Ele
deriva do tronco nervoso lombossacral, originado primariamente do sexto e sétimo nervos sacrais. O nervo
isquiático é responsável por formar a continuação extrapélvica do tronco lombossacral e passa dorsalmente
sobre a articulação coxofemoral, continuando distalmente o seu percurso, enviando ramos musculares para
os músculos bíceps femoral, semimembranoso e semitendinoso proximalmente (GHOSHAL, 1986). Trata-se
de um nervo relativamente bem protegido de lesões externas, devido à sua profunda localização próximo ao
osso e por estar coberto por uma massa muscular (bíceps femoral, semimembranoso e semitendinoso
(FORTERRE et al., 2007).
A síndrome de lesão do nervo isquiático possui etiologia múltipla, podendo decorrer de traumas
(fraturas de pelve e fêmur), fraturas/luxação sacroilíaca e sacrocaudal, ferimentos profundos por mordedura
ou arma de fogo; e ainda lesões iatrogênicas como injeções intramusculares, manobras cirúrgicas
inadvertidas e pinos intramedulares femorais deslocados (DEWEY, 2006; BRAUND, 2003). De acordo com
Universidade Federal de Uberlândia
168
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Severo et al. (2011) a neuropatia isquiática também pode desenvolver-se secundária à compressão
progressiva e/ou ao englobamento do nervo por tecido fibroso ou calo ósseo, decorrente de complicações de
displasia coxofemoral, após a realização de osteotomia tripla da pelve, excisão artroplástica da cabeça e do
colo femorais. Também pode ocorrer em correções de fraturas acetabulares, isquiáticas e ilíacas e após
deslocamentos de pinos intramedulares femorais (BARBOSA et al., 2000). Fraturas femorais e pélvicas
podem acarretar inflamação e edema acentuado nos tecidos traumatizados, acompanhados de aumento da
pressão e isquemia local, o que pode comprometer também o nervo isquiático. Assim, a lesão nervosa pode
resultar de compressão, esmagamento, estiramento, laceração ou transecção completa do nervo (FORTERRE
et al., 2007).
Os sinais clínicos associados à lesão incluem dor, déficit proprioceptivo, disfunção motora
característica do tipo neurônio motor inferior (paresia, paraplegia, hipotonia muscular, hiporreflexia,
arreflexia, atrofia muscular neurogênica) e hipoestesia ou anestesia. Assim como relatado por Anor et al.
(2004) pacientes com paralisia do nervo isquiático apresentam hiperflexão tarsal com apoio plantar, ou apoio
com a região dorsal dos dígitos; entretanto, o membro pode suportar peso por causa da ação do nervo
femoral do músculo quadríceps funcional. As superfícies lateral, dorsal e plantar do membro pélvico
apresentam analgesia sensorial. Os reflexos tibial cranial e do gastrocnêmio mostram-se diminuídos ou
ausentes, bem como o reflexo de retirada (BRAUND, 2003).
Injeções intramusculares na região caudal da coxa podem ser consideradas um risco potencial de
dano ao nervo isquiático (CASSIANI & RANGEL, 1999). Quando a administração é feita dentro desse
nervo ou próxima a ele, podem resultar numa variedade de sinais clínicos e o prognóstico de recuperação
depende da natureza do material injetado e do grau do dano axonal. Tanto o fármaco quanto o veículo podem
causar dano tecidual. Contundo, fármacos como os corticosteroides, parecem ser menos lesivos (RODKEY
& SHARP, 2007).
A ação de diversos fármacos sobre o nervo isquiático já foram relatados em animais. Gentili et al.
(1979) relata a alta toxicidade tecidual da penicilina, diazepam e clorpromazina em camundongos. Já Severo
et al. (2011) relata a indução de neuropatia isquiática em dois cães pela aplicação de diaceturato de
diminazene, composto utilizado no tratamento de babesiose em animais domésticos.
O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de neuropatia isquiática decorrente da
administração, pela via intramuscular, de sulfametoxazol associado à trimetropim (S+T) em Lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus, Illiger, 1815)
RELATO DE CASO
Um Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus, Illiger, 1815) fêmea com cerca de seis meses de idade,
pesando quatro quilos, foi encaminhado ao ambulatório do Laboratório de Pesquisas em Animais Selvagens
da Universidade Federal de Uberlândia (LAPAS/UFU) por apresentar um quadro de apatia, desidratação e
diarréia profusa. O animal recebeu fluidoterapia intravenosa com soro ringer lactato e aquecimento (dia 0).
Optou-se pela administração intramuscular de S+T na musculatura caudal da coxa do membro pélvico
esquerdo devido a suspeita de um quadro de Salmonelose. No dia seguinte (dia 01), observou-se claudicação
grau 4 do membro, com ausência de propriocepção consciente, de reflexos segmentares e de sensibilidade
dolorosa profunda em toda região dorsolateral do tarso esquerdo (DEWEY, 2006). Os demais parâmetros
fisiológicos (temperatura, frequência cardíaca e respiratória) apresentavam-se sem alterações pertinentes e o
quadro de apatia mostrava melhora aparente, apesar de alguns parâmetros hematológicos estarem abaixo dos
valores padrão (tab. 01). Ainda no dia 01, o animal recebeu uma segunda dose de S+T injetável, dessa vez
administrado no membro pélvico direito. No dia 02, constatou-se a mesma sintomatologia apresentada
anteriormente, desta vez no membro pélvico direito.
Tabela 1 - Valores hematológicos de Lobo-guará (C. brachyurus Illiger,1815) fêmea, seis meses de idade
com neuropatia de nervo isquiático.
Universidade Federal de Uberlândia
169
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Parâmetros
Hematológicos
C. brachyurus
06 meses,
fêmea
VALORES DE REFERÊNCIA*
Mattos (2003)
8,0
11,6 ± 2,5
Hemoglobina (g/dl)
67
65,9 ± 19,1
VCM (µm³)
20,1
18,7 ± 3,5
HCM (µµg)
63,1
474,8 ± 353,1
Plaquetas (x10³ /ml)
26,8
39,5 ± 3,9
Hematócrito (%)
19,9
12,8 ± 5,4
Leucócitos (x10³ /ml)
74
76,5±7,0
Segmentados (%)
03
1,0±1,5
Eosinófilos (%)
00
0±0
Basófilos (%)
04
4,5±1,8
Monócitos (%)
14
17,8±6,2
Linfócitos (%)
*Os valores de referência foram baseados em dados de animais adultos.
Dietz (1984)
12,2 ± 1,7
38,1±4,1
14,2±1,83
68,1±9,93
6,0±3,7
0,2±0,6
1,8±1,1
21,1±10,2
Barbiers
& Bush (1995)
14,6±2,6
80,2±5,9
43,1±6,9
11,2±4,6
-
Pela história e achados clínicos apresentados, a administração de S+T foi suspensa e diagnosticouse neuropatia inflamatória do nervo isquiático por injeção intramuscular (DEWEY, 2006; SEVERO et al.,
2011). O tratamento fisioterápico associado à acupuntura foi indicado, e seu início se deu no dia 07 (fig. 01).
Três dias após início do tratamento (dia 10), o animal apresentou um quadro de automutilação do membro
pélvico esquerdo, apresentando lesão dos tecidos musculares e ósseos das falanges e ossos do tarso. Foi feito
curativo local após lavagem com NaCl 0,9%. Por recomendação do clínico responsável pela realização das
sessões de acupuntura, não foi feita administração de anti-inflamatório, porém um tratamento com
metronidazole oral (20 mg/kg, via oral, BID) e vitamina B1 (Monovin B1®, 0,5 ml, via intramuscular, SID)
teve início no dia 11. Do dia 12 ao 25, o animal passou por sessões diárias de fisioterapia, limpeza da ferida e
sessões de muxabustão no local da lesão por automutilação. Neste período, foram feitas duas sessões
semanais de acupuntura. Depois de três semanas do início do tratamento observou-se melhora aparente na
sensibilidade dolorosa profunda e superficial, bem como da propriocepção consciente e dos reflexos
segmentares nos dois membros afetados, porém, no dia 27 o animal voltou a apresentar um quadro agudo de
diarréia e veio a óbito no dia seguinte (dia 28). Nenhuma alteração patológica digna de nota foi encontrada
durante a necrópsia.
Acupuntura
Baihui, BPG, Be54/E36 (eletro 50-100Hz, VB34)
por 15 minutos. Duas sessões semanais.
Fisioterapia
-Movimentação passiva das articulações dos
membros afetados em flexão/extensão e rotação
por dez minutos duas vezes ao dia durante duas
semanas.
-Caminhada de dez minutos duas vezes ao dia
durante três semanas.
Figura 1 – Exercícios fisioterápicos realizados e pontos de acupuntura estimulados em Lobo-guará (C.
brachyurus, Illiger,1815) fêmea, seis meses de idade, com neuropatia de nervo isquiático.
Os sinais específicos de neuropatia, tais como ausência de propriocepção consciente, arreflexia
isquiática, além da ausência de dor profunda no dígito lateral são também relatados em outros casos descritos
na literatura (SEVERO et al., 2011). Por não haver relatos de ocorrência de neuropatia isquiática após
aplicação de S+T na musculatura caudal da coxa em cães ou mesmo em humanos (CASSIANI & RANGEL,
1999), acredita-se que as lesões causadas na região tenham sido provocadas pela ação traumática da agulha.
Alguns autores indicam a musculatura do quadríceps ou lombodorsal (músculo ileocostal) para aplicação de
fármacos injetáveis pela via intramuscular em cães, relatando o menor risco de causar neuropatias
(DeLAHUNTA & GLASS, 2008).
A automutilação causada por neuropatia é uma patologia bem conhecida e se caracteriza pela
lambedura, mastigação, arranhadura e fricção de parte do corpo (LAGEDO et al., 1999). A lambedura
Universidade Federal de Uberlândia
170
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
excessiva pode causar a liberação de endorfinas, fazendo com que o animal se sinta melhor (eufórico) e ao
mesmo tempo produz um efeito analgésico que diminui a percepção de dor. Outras causas de automutilação
incluem: dermatopatias, epilepsias sensoriais, mielopatias, bem como a síndrome da cauda equina
(BRAUND, 2003). Como meio de diagnóstico diferencial para cauda equina, foram feitos exames
radiológicos simples (LAGEDO et al.,1999) durante o período de tratamento e nenhuma alteração digna de
nota foi encontrada. As outras patologias associadas à síndrome da automutilação foram descartadas através
do histórico e achados clínicos (DEWEY, 2006).
Apesar da morte do animal, a recuperação da sensibilidade e propriocepção após três semanas de
tratamento corrobora as recomendações clínicas do uso da fisioterapia associada à acupuntura para casos de
lesões de nervos periféricos (SEVERO et al., 2011; MILLIS et al., 2004; MIKAIL & PEDRO, 2005;
SCOGNAMILLO-SZABÓ, 2001).
CONCLUSÃO
As lesões nervosas periféricas causadas pela ação traumática de agulhas e química de fármacos em
animais domésticos e selvagens devem ser mais bem estudadas, visto a importância desta via de
administração na clínica veterinária. A escolha pela terapia fisioterápica associada à acupuntura se mostrou
eficiente na resolução do caso de neuropatia isquiática, devolvendo atividade funcional aos membros
afetados.
REFERÊNCIAS
ANOR, S. Monoparesis. In: PLATT, S.R.; OLBY,N. BSAVA Manual of canine and feline neurology. 3.
ed. Gloucester: British Small Animal Veterinary Association, 2004. p. 265-279.
BARBIERS, R.; BUSH, M. Medical management of maned wolves: Maned Wolf Husbandry Manual.
Philadelfia: University of Pennsylvania. 1995.
BARBOSA, A.L.H.; SCHÜTZ, P.C.; PAVAN, L. Tratamento cirúrgico das fraturas de acetábulo: estudo
retrospectivo de 48 casos. 2000. p. 140-143. Acta Ortopédica Brasileira, Red de Revistas Científicas de
América Latina y el Caribe, Espana y Portugal. Universidade Autônoma del Estado de México, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2000.
BRAUND, K.G. Traumatic disorders. In: VITE, C.H. Braund’s clinical neurology in small animals:
localization, diagnosis and treatment. New York: International Veterinary Information Service, 2003.
CASSIANI, S.H.B; RANGEL, S.M. Complicações locais pós-injeções intramusculares em adultos: revisão
bibliográfica. Medicina, Ribeirão Preto, 32, p. 444-450, 1999.
DeLAHUNTA, A.; GLASS, E.N. Veterinary neuroanatomy and clinical neurology. 3. ed. Cornell
University: WB Saunders, 2008, 552 p.
DEWEY, C.W. Doenças do sistema nervosa periférico: mononeuropatias e polineuropatias. In:___.
Neurologia de cães e gatos. 1. ed. São Paulo: Roca, 2006. P. 215-239.
DIETZ, J.M. Ecology and social organization of the maned Wolf (Chrysocyon brachyurus). Smith. Contr.
Ecol. v. 292, p. 1-24, 1984.
FORTERRE, F.; TOMEK, A.; RYTZ, U.; BRUNNBERG, L.; JAGGY, A.; SPRENG, D. Iatrogenic sciatic
nerve injury in eigthteen dogs and nine cats (1997-2006). Veterinary Surgery, v. 36, n. 5, p. 464-471, 2007.
GENTILI, F.; HUDSON, A.; KLINE, D.G.; HUNTER, D. Peripheral nerve injection injury: an experimental
study. Neurosurgery, v.4, n. 3, p. 244-253, 1979.
GHOSHAL, N.G. Nervos espinhais. In: GETTY,R. Anatomia dos animais domésticos. 5. Ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. p. 1052-1077.
Universidade Federal de Uberlândia
171
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
LAGEDO, C.M.G.; TUDURY, E.A.; FARIA, M.L.R. Automutilação devido à compressão da cauda equina
em três cães e um gato. Ciência Rural, Santa Maria, v. 29, n. 1, p. 71-74, 1999.
MATTOS, P.S.R. Epidemiologia e genética populacional do Lobo-guará, Chrysocion brachyurus (Illiger,
1815) (Carnivora, Canidae) na região nordeste do estado de São Paulo. Tese de dissertação Pós Graduação
em Ecologia e Recursos Naturais do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade
Federal de São Carlos: São Carlos, 2003.
MIKAIL, S.; PEDRO, C.R. Fisioterapia veterinária. 1. ed. São Paulo: Manole, 2005. 242 p.
MILLIS, D.; LEVINE, D.; TAYLOR, R.A. Canine rehabilitation and physical therapy, 1. ed. Missouri:
Saunders, 2004. 544 p.
RODKEY, W.G.; SHARP, N.J.H. Cirurgia do sistema nervosa periférico. In: SLATTER, D. Manual de
cirurgia de pequenos animais. 3. ed. Barueri: Manole, 2007. p. 1218-1226.
SCOGNAMILLO-SZABÓ, M.V.R.; BECHARA, G.H. Acupuntura: bases científicas e aplicações. Ciênc.
Rural. Santa Maria: v. 31, n. 6, 2001.
SEVERO, M.S.; ARAÚJO, F.P.; ALMEIDA, A.C.M.; TUDURY, E.A. Neuropatia isquiática por injeção
intramuscular-revisão de literatura e relato de dois casos. Clínica Veterinária. n. 94, p. 90-94, 2011.
Universidade Federal de Uberlândia
172
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
NÍVEL DE LACTATO SÉRICO EM CACHORRO DO MATO (CERDOCYON THOUS )
BARROSO, R.M.V.1; SANTOS, A.L.Q.2; RODRIGUES, T.C.S.3; SIQUEIRA, S. E.4; NASCIMENTO, L.
R.5; GUIMARAES, E. C.6
1 - Doutorando em Ciências Veterinárias (PPGCV/UFU) e Coordenador do curso de Medicina Veterinária
da Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA), Santa Teresa – Espírito Santo.
([email protected] / 027-32593997)
2 - Professor da Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV/UFU)
3 - Mestranda em Ciências Veterinárias (PPGCV/UFU) ([email protected] / 034-88612836)
4 - Médica veterinária
5 - Doutoranda em Ciências Veterinárias (PPGCV/UFU)
6 - Professor da Faculdade de Matemática (FAMAT/UFU)
RESUMO
O presente estudo teve objetivo de avaliar os níveis de lactato sanguíneos em cachorro do mato
(Cerdocyon thous - Linnaeus, 1766). Foram utilizados 10 animais provenientes do Laboratório de Pesquisas
em Animais Silvestres (LAPAS) da Universidade Federal de Uberlândia. Os espécimes passaram por
contenção física sem apresentar resistência sendo realizada a tricotomia na região jugular, procedido a coleta
em seringa e repassado para tubo. Deste material, retirou-se uma gota para análise do lactato através do
aparelho Accutrend Plus® (Roche Brasil – São Paulo). O resultado de cada análise é obtido após 60
segundos e tabulado em planilha. Os dados foram analisados de maneira descritiva e com o teste de Lilliefors
usado para verificação de normalidade de um conjunto de dados e que testa esta normalidade a partir de
média e desvio fornecidos, além do intervalo de confiança. A conclusão é que os níveis de lactato sanguíneo
basal em cachorro do mato (Cerdocyon thous - Linnaeus, 1766) são entre 3,0 e 6,1 mMol/L demonstrando
grande diferença entre outras espécies como o homem, cão doméstico e porcos, sendo necessário portanto a
definição dos níveis normais de lactato nas mais diversas espécies.
Palavras-chave: Lactato.Glicose.Perfusão tecidual.hipóxia. Cerdocyon thous.
ABSTRACT
This study aimed to analyzer the levels blood lactate in the crab-eating-fox (Cerdocyon thous Linnaeus, 1766). There were used ten animals from the Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais
Silvestres (LAPAS), Federal University of Uberlânida. The specimens underwent physical restraint without
offering resistance and the jugular region was trichotomized. Blood collection proceeded using a syringe and
the material was transferred to tubes. A drop of blood was used to analyze lactate concentration through
Accutrend Plus ® (Roche Brazil - São Paulo). The result of each analysis is obtained after 60 seconds and
tabulated in a spreadsheet. Statistical analyses were performed using the Lilliefors test to check normality of
data set, based on its standard deviations and confidence range. It was concluded that the basal levels of
blood lactate in the crab-eating-fox is 3.0 and 6.1 mMol/L. It shows great difference between other species
such as humans, domestic dogs and pigs. This way, it is necessary to define the normal levels of lactate in
several other species.
Key words: Lactate.Glucose.Tissue Perfusion.Hypoxia. Cerdocyon thous.
INTRODUÇÃO
O cachorro do mato, Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766,) é um Canidae, ocorrendo em quase todo o
Brasil, esta espécie foi o primeiro canídeo sul americano descrito na literatura (Bisbal e Ojasti,
1980).excetuando-se em partes da Amazônia (Wilson e Reeder, 1993). Também é encontrado tanto em áreas
de floresta como em áreas de campo (Langguth, 1975; Berta, 1982; Nowak, 1999). Seu hábito é
preferencialmente noturno, tem seu deslocamento em bordas de mata, por trilhas e estradas procurando
alimentos (Brady, 1979; Berta, 1982, Peracchi et al., 2002).
Universidade Federal de Uberlândia
173
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
A estrutura social desta espécie se caracteriza por uma composição que pode ser de dois a cinco
indivíduos que buscam alimentação a uma distância de aproximadamente 100 metros entre si, mas
normalmente não existe colaboração durante as caçadas (Brady, 1979; Macdonald e Courtenay, 1996). Ainda
que Montgomery e Lubin (1978) citam que aos pares os C. thous podem apanhar alimentos maiores, tais
como tartarugas e iguanas, de forma geral, estes são animais generalistas, podendo variar a sua dieta de
acordo com a época do ano e a região habitada, isso permite a este canídeo uma ampla distribuição
geográfica, indo do norte da Venezuela até a Argentina e o Uruguai (Emmons e Feer, 1997).
Estes animais freqüentemente são vítimas de acidentes automobilísticos na tentativa de atravessarem
estradas que cortam seu habitat necessitando de atendimento médico veterinário e, em alguns casos,
internação em terapia intensiva devido à condição crítica (Barroso et al., 2006; Koenemann et al., 2005;
Turci e Bernarde, 2009).
Durante a internação, os achados clínicos e os resultados dos exames laboratoriais no momento da
admissão do paciente crítico refletem os eventos fisiológicos mais recentes. Os acontecimentos nas horas
seguintes à admissão geralmente são a seqüência daqueles eventos. Baseado nisso, as alterações destes
parâmetros no momento da admissão, bem como na evolução dos pacientes na terapia intensiva tem sido
utilizados para estabelecer a probabilidade do risco de óbito. O nível de lactato do sangue é um dos mais
empregados para esta finalidade. Este indicador de prognóstico é importante na escolha do tratamento
correto para a melhora do paciente (Koliski et al., 2005).
O lactato é um composto orgânico resultante do metabolismo de carboidratos, produzido em
anaerobiose para ser utilizado como fonte de energia adicional para o corpo (Albiero, 1998). Sendo definido
por Lopes (1999) como um produto final da glicólise anaeróbica que ocorre em tecidos hipóxicos.
A aferição dos níveis de lactato pode ser aplicada tanto em pacientes críticos, como indicador de
hipoperfusão de órgãos, guia terapêutico e indicador de prognóstico, quanto para medir a intensidade de um
treinamento esportivo. O valor sérico do lactato avaliado isoladamente tem pouca utilidade, mas o estudo de
sua evolução ao longo do tempo em que o paciente está internado tem maior utilidade clínica (Pittard,1999 ;
Albiero, 1998).
O objetivo deste trabalho é avaliar os níveis de lactato sérico em cachorros do mato Cerdocyon thous
(Linnaeus, 1766) conhecendo, portanto, o seu padrão para estudos do comportamento deste marcador
prognóstico em diversas situações patológicas.
MATERIAL E MÉTODOS
Para este experimento, foram utilizados 10 exemplares (9 machos e 1 fêmea) de cachorros do mato
Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) provenientes do Laboratório de Pesquisas em Animais Silvestres
(LAPAS) da Universidade Federal de Uberlândia. Os animais foram submetidos a exame clínico e sanguíneo
para atestar o estado de saúde.
Para a coleta das amostras, os animais passaram por contenção física sem apresentarem resistência.
Foi realizada a tricotomia na região jugular, procedido a coleta em seringa e repassado para tubo. Deste
material, retirou-se uma gota para análise do lactato através do aparelho Accutrend Plus® (Roche Brasil –
São Paulo). O resultado de cada análise é obtido após 60 segundos e tabulado em planilha.
Os dados foram analisados de maneira descritiva com a finalidade de conhecer o comportamento
geral da variável latctato. Em seguida foi utilizado o teste de Lilliefors para verificação de normalidade de
um conjunto de dados e que testa esta normalidade a partir de média e desvio fornecidos. Realizou-se a
estimativa da média populacional com base no intervalo de confiança de 95%. Todos os procedimentos da
análise estatística foram feitos no programa BIOESTAT (Ayres et al, 2007). Trabalho aprovado pelo Comitê
de Ética no Uso Animal (CEUA) da Escola Superior São Francisco de Assis - ESFA, sob o protocolo 20130001, estando de acordo com os Princípios Éticos de Experimentação Animal adotados pelo Colégio
Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) e com a Lei. n.º 11 794 de 08 de outubro de 2008.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os exemplares encontravam-se em excelente estado sanitário identificado pelo exame clínico,
resenha com tratadores sobre atividade diária, observação da equipe durante o dia e análises sanguíneas que
demonstraram resultados dentro da normalidade descritos por Novais et al (2005).
Universidade Federal de Uberlândia
174
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O Quadro 1 apresenta a análise descritiva do dados, o valor médio foi de 4,6 mMol/L com desvio
padrão de 2,16 mMol/L. Estes resultados mostram que a variabilidade encontrada foi relativamente grande
(aproximadamente 46%) notando-se ainda que 50% dos animais apresentaram níveis superiores a 3,90
mMol/L. Verifica-se ainda, pelo teste de Lilliefors, que a variável apresentou distribuição com tendência a
normalidade, com o teste estatístico apresentando valor de 0,18 e valor crítico para 5% de significância de
0,26. Com base na verificação de normalidade da variável Lactato, procedeu-se a estimativa da média para a
espécie, com confiança de 95%. Aos valores de lactato para os cachorros do mato está entre 3,0 e 6,1
mMol/L, ou seja, espera-se que a lactemia basal esteja entre esses limites.
Quadro 1 - Análise descritiva dos dados referentes ao Lactato em cachorro do
mato Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766):
LACTATO
Mínimo
2.0000
Máximo
8.3000
Mediana
3.9000
Média Aritmética
4.5700
Desvio Padrão
2.1623
Erro Padrão
0.6838
Valores basais de lactato em cães domésticos variam de acordo com diversos autores. para Allen e
Holm (2008), os valores normais de lactato sanguíneo para cães domésticos podem variar de 0,3 a
2,5mMol/L.
Outros autores descrevem que a lactatemia basal em cães adultos são de 1,57±0,47mmol/L
(HUGHES et al.,1999) ou de 1,1 a 2,5mMol/L (Lagutchik et al., 1998). Apesar das diferenças, a maioria dos
autores sugerem valores ideais como menores que 2,5 mMol/l, diferenciando dos resultados do presente
estudo que encontrou valores entre 3,0 e 6,1 mMol/L.
Na medicina humana, apesar de diversos autores considerarem normais níveis de lactato de 0,5 a 2,0
mMol/L, muitos intensivistas afirmam serem preocupantes níveis de 1,5 mMol/L. Parâmetros para
intervenção agressiva e imediata são os níveis “crítico” (3,0 a 4,0 mMol/L) e “super crítico” (4,0 a 8,0
mMol/L) (Bugedo, Hernández e Castillo, 2008).
Segundo Reniker et al. (2006), a concentração em humanos de lactato de até 2,5 mMol/L é normal
em pacientes sem estresse, e concentrações de 2,5 a 4,9 mMol/L são consideradas elevações suaves. Já
concentrações de 5,0 a 7,0 mMol/L são consideradas elevações moderadas e geralmente associadas com
acidemia, enquanto valores maiores que 7,0 mMol/L são considerados elevações severas, mas as
concentrações normais do lactato podem ser significativamente mais elevadas em pacientes neonatos e
pediátricos.
As diferenças encontradas nos resultados tanto em humanos como em cães domésticos podem estar
relacionadas aos processos adaptativos de sobrevivência onde a espécie silvestre luta em busca de caça e
foge de predadores, desta maneira, a adaptação muscular ao mecanismo de luta ou fuga sofreu menores
alterações e a produção de lactato muscular contribui para uma média mais alta deste marcador que nas
outras duas espécies.
CONCLUSÃO
Conhecer os valores do lactato sanguíneo nas diversas espécies é ponto crucial para que este exame
possa ser utilizado tanto em pacientes críticos, como indicador de hipoperfusão de órgãos, guia terapêutico e
indicador de prognóstico como já é feito em humanos e cães domésticos.
Desta maneira, conclui-se que o valor do lactato sanguíneo em cachorro do mato (Cerdocyon thous,
Linnaeus, 1766) deverá estar entre 3,0 e 6,1 mMol/L, entretanto, outros estudos devem ser conduzidos nesta
espécie avaliando esta marcador também em patologias específicas.
REFERÊNCIAS
Universidade Federal de Uberlândia
175
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ALBIERO, A. A Fisiologia do Lactato e o Treinamento Esportivo: São Paulo, Accusport: Analisador portátil
de lactato, 1998. Disponível em: http://www.lactate.com/ptlact1a.html#bottomline>. Acesso em: 17 de
março de 2013.
ALLEN, S.E.; HOLM, J.L. Lactate: physiology and clinical utility. Journal Veterinary Emergency and
Critical Care, v.18, n.2, p.123-132, 2008.
AYRES, Manuel; JÚNIOR AYRES, Manuel; AYRES, Daniel Lima; SANTOS, Alex de Assis Santos.
BioEstat 5.0: aplicações estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. Belém, Sociedade Civil
Mamirauá, 2007 364 p.
BARROSO, R. M. V. ; GALLEGO ; TALHATE, J. ; DENICOLLI, L. ; IDERIHA, N. M. ; RABELO, R. ;
BERTOLINI, M. M. ; SARMENTO, P. A utilização do lactato como marcador biológico prognóstico.
UNESC em Revista, v. 9, n.20, p. 157-172, 2006.
BERTA, A. Cerdocyon thous. In:_____. Mammalian Species, The American Society of Mammalogists.
Washington, n. 186 p. 1-4, 1992
BISBAL FJ e JD OJASTI. Nicho trofico del zorro Cerdocyon thous (Mammalia Carnivora). Acta Biologica
Venezolana, v.10, p. 469-496, 1980.
BRADY, C.A. Observations on the behavior and ecology of the crab-eating fox (Cerdocyon thous). In:
_______J.F. EISENBERG (Ed.). Vertebrate ecology in the Northern Neotropics. Washington, D.C.,
Smithsonian Institution Press, p.161-167, 1979
BUGEDO, G.; HERNÁNDEZ, G.; CASTILLO, L. Aspectos clinicos en la reanimacion del shock – Primera
parte:
clínica
y
fisiopatología.
Disponível
em:
<http://escuela.med.puc.cl/paginas/departamentos/intensivo/articles/papers/shock.1.html>. Acesso em: 25
mar. 2013
EMMONS L; F FEER.. Neotropical Rainforest Mammals: a field guide. 2º Ed. University Chicago Press,
Chicago, 1997. 307 p.
KOENEMANN, J.; LEPKOSKI, E.; OLIVEIRA, E.V.; CASTILHO, A.R. Estudo de mamíferos silvestres
atropelados na BR 290 e BR 472, região de fronteira oeste, Uruguaiana, Rio Grande do Sul. VII Congresso
de Ecologia do Brasil, 2005.
KOLISKI, A. et al. Lactato sérico como marcador prognóstico em crianças gravemente doentes. Jornal de
Pediatria, Rio de Janeiro, jul/ago. v. 81, n 4, p. 287-292, 2005.
LANGGUTH, A. Ecology and evolution in the South American canids, p. 192-206. In: _____M.W. FOX
(Ed.). The wild canids: their systematics, behavioral ecology, and evolution. New York, van Nostrand
Reinhold Co., p. 345-351, 1975
LOPES, V. Interpretação dos níveis de lactato no sangue. 1º Congresso Internacional de Medicina Crítica na
Internet, 1 de novembro á 15 de dezembro de 1999 [S.l]: Disponível em:
<http://www.uninet.edu/cimc99/seminarios/lopes/lactato.html>. Acesso em: 13 de fevereiro de 2013.
MACDONALD DW e O COURTENAY. Enduring social relationships in a population of crab-eating zorro,
Cerdocyon thous, in Amazonian Brazil. Journal of Zoology. London, v.239, p.329-355, 1996.
MOTGOMERY GG e YD LUBIN. Social structure and food habits of crab-eating fox (Cerdocyon thous) in
Venezuelan Llanos. Acta Científica Venezolana, v.29, p.382-383, 1978.
Universidade Federal de Uberlândia
176
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
NOVAIS, A.A, FAGLIARI, J.J., SANTANA, A. E. Valores sanguíneos de referência e investigação sobre a
presença de antígeno eritrocitário caninos em lobos guarás (Chrysocyon brachyurus) e cachorros do mato
(Cerdocyon thous). Veterinária Notícias, Uberlândia, v.11, n.1, p. 59-67, 2005.
NOWAK, Ronaldo .M. Walker‟s mammals of the world. Baltimore, The Johns Hopkins University Press,
vol. 1, 6th ed., 1999. 836p.
PERACCHI, A.L.; V.J. ROCHA & N.R. DOS REIS. 2002. Mamíferos não voadores da bacia do rio Tibagi.
P.225-249. In:_____ M.E. MEDRI; E. BIANCHINI; J.A. PIMENTA & O. SHIBATTA (Eds). A Bacia do
Rio Tibagi. Londrina, MC Gráfica, 593p.
PITTARD A. J. Does blood lactate measurement have a role in the managment of the critically ill patient?
American Clinical and Biochemistry, London, 1999. v. 36, p. 401-407
WILSON, D.E. & D.M. REEDER. Mammal species of the world. A taxonomic and geographic reference.
Washington, D.C., Smithsonian Institution Press, The American Society of Mammalogists. 1993, 2nd ed.,
1206p.
TURCI, L.C.B., BERNARDE, P.S. Vertebrados atropelados na Rodovia Estadual 383 em Rondônia , Brasil.
Biotemas. p. 121-127, 2009.
Universidade Federal de Uberlândia
177
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
OCORRÊNCIA DE DIOCTOPHYMA RENALE EM LOBO GUARÁ (CHRYSOCYON BRACHYURUS ) ILLIGER, 1815 - RELATO DE CASO
ANDRADE, R. L¹ ; COELHO, H. E. ² ; KANAYAMA, C. Y. ² ; BITTAR, J. F. F. ²; NASCIMENTO, F. P. ³
; ALBERTO, H. 4 ; BARRETO, L. C 5
1- Médica Veterinária, Residente do Hospital Veterinário de Uberaba (UNIUBE/FAZU/ABCZ).
e-mail: [email protected] (34- 9188-8254)
2- Docente do Curso de Medicina Veterinária, Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, MG.
3-Médico Veterinário, graduado pela Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, MG
4- Técnico de Patologia, Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, MG.
5- Graduando em Medicina Veterinária, Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, MG
RESUMO
O lobo-guará Chrysocyon brachyurus (Carnivora, Canidae), é um canídeo selvagem que ocorre,
sobretudo, em áreas de cerrado e de campos abertos no Brasil. Muitos animais oriundos da natureza abrigam
parasitos que podem levar a óbitos desencadeados por situações estressantes. É uma espécie que possui alto
valor biológico, em virtude de ser considerada vulnerável à extinção, principalmente, devido à destruição do
seu habitat natural. Com o aumento da urbanização e expansão agropecuária, cada vez mais os animais
selvagens entram em contato com os animais domésticos, aumentando os riscos de disseminação de doenças
infecciosas e parasitárias, inclusive zoonoses. Os lobos-guará também são mantidos em cativeiro, em centros
de preservação autorizados e zoológicos, dessa forma é de grande importância o estudo de enfermidades
nessa espécie. O objetivo desse trabalho é descrever o achado macroscópico do Dioctophyma renale durante
a necropsia de um lobo-guará adulto.
Palavras-chave: Carnivora, zoológicos, zoonoses, enfermidades.
ABSTRACT
The maned wolf Chrysocyon brachyurus (Carnivora, Canidae), is a wild canid that occurs mainly in
grassland areas and open fields in Brazil. Many animals from nature harbor parasites that can lead to deaths
triggered by stressful situations. This species has high biological value because it is considered vulnerable to
extinction, mainly due to destruction of their natural habitat. With increased urbanization and agricultural
expansion, ever more wild animals come into contact with domestic animals, increasing the risk of spreading
infectious and parasitic diseases including zoonoses. The maned wolves are also kept in captivity in
authorized maintenance centers and zoos, so it is very important the study of diseases in this species. The
aim of this paper is to describe the macroscopic findings of renale Dioctophyma during necropsy of an adult
maned wolf.
Keywords: Carnivora, zoos, zoonoses, diseases.
INTRODUÇÃO
O lobo-guará, Chrysocyon brachyurus (Illiger, 1815), é o maior representante da família Canidae na
América do Sul (Einsenberg & Redford, 1999). É um animal com características distintas, como orelhas e
pernas bem desenvolvidas e com uma coloração marrom avermelhada, características as quais são
adaptações para o hábito cursorial e período de atividade crepuscular e noturna (Dietz, 1984). Percorre
grandes distâncias diariamente e ocupam grandes áreas de vida, que variam de 21,7 a 132 km² (Dietz, 1984;
Carvalho & Vasconcellos, 1995; Rodrigues, 2002; Mantovani et al., 2007).
Na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de extinção, o lobo-guará é considerado “Vulnerável”
(Machado et al., 2008). Entre as principais ameaças estão perda e fragmentação de hábitat, perda de
variabilidade genética, invasão de espécies exóticas, caça, doenças (virais, bacterianas e parasitárias),
ecoturismo, falta de conhecimento da população, monocultura e atividades de mineração (Machado et al.,
Universidade Federal de Uberlândia
178
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
2005; Drummond et al., 2005). Outro fator preocupante, segundo Rodrigues (2002), é a alta taxa de
atropelamento nas malhas rodoviárias ao longo das áreas de ocorrência do lobo-guará.
Em estudos epidemiológicos de canídeos selvagens, as doenças parasitárias são citadas na literatura
como uma das principais causas de mortalidade de lobos-guará em cativeiro (Dinis et al., 1999; Maia;
Gouveia, 2002).
O nematóide parasita Dioctophyma renale (Goeze,1782) localiza-se preponderantemente no rim
direito, ou livre na cavidade abdominal de seus hospedeiros, causando destruição progressiva das camadas
cortical e medular, e reduzindo o órgão a uma cápsula fibrosa. No hospedeiro definitivo, as fêmeas adultas
de D. renale podem alcançar tamanhos que variam entre 15 cm a 1 m. de comprimento por 4 a 5 mm de
diâmetro , e os machos adultos entre 15 a 40 cm de tamanho por 5 a 10 mm de diâmetro (Leite et al., 2005).
O gênero D. renale possui alguns sinônimos como: Ascaris renalis, A. visceralis, Strongylus gigas,
Eustrongylus gigas (KOMMERS, 1996). É o maior nematódeo conhecido, chamado comumente de
estrôngilo gigante (FORTES, 2004).
Há descrição na literatura da presença desse helminto na pele e em rins de humanos ocasionando
cólicas renais e hematúria (Sujatha et al 1983; Vibe, 1985).
O objetivo deste presente trabalho é relatar a infecção por D. renale em um lobo-guará adulto.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi encaminhado pela polícia ambiental ao Laboratório de Patologia da Universidade de Uberaba,
um lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), adulto, encontrado morto por atropelamento no município de
Uberaba. Foi realizada a necropsia do animal, e encontrou-se entre os lobos do fígado um parasita nematoide
Dioctophyma renale.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
O parasitismo por Dioctophyma renale no lobo-guará foi um achado importante, sendo a única
alteração observada na necropsia.
O parasito foi encontrado na necropsia entre os lobos do fígado. A localização dos parasitas adultos
no hospedeiro definitivo está relacionada com o local de penetração das larvas infectantes no trato digestivo.
Se as larvas atravessam a parede gástrica na curvatura menor, elas irão se desenvolver entre os lobos do
fígado. Caso as larvas penetrem na curvatura maior, os parasitos se desenvolvem no rim esquerdo; e as larvas
que penetram na parede duodenal, irão se desenvolver no rim direito (OSBORNE, 1969).
Os animais e o homem adquirem o nematóide a partir da ingestão de carne de peixe pouco cozida e
de anelídeos aquáticos infectados com a forma larval (Osborne et al, 1969; Brown & Prestwood, 1988).
REFERÊNCIAS
BROWN, S.A.; PRESTWOOD, A.K. Parasitas do trato urinário. In: KIRK, R.W. Atualização terapêutica
veterinária pequenos animais. São Paulo: Manole, 1988. v 2, cap. 13: Distúrbios urinários, p. 1455-1457.
CARVALHO, C. T. & VASCONCELLOS, L. E. M. Disease, food and reproduction of the maned-wolf
Chrysocyon brachyurus (Illiger) (Carnivora, Canidae) in southeast Brazil. Revista Brasileira de Zoologia.
12(3): 627-640. 1995.
DIETZ, J.M. Ecology and Social Organization of the Maned Wolf. Smithsonian Contributions to Zoology.
392:1-51.1984.
DINIS, L. S. M.; LAZZARINI, S. M.; ANGELO, M. J. Problemas médico veterinários de lobo-guará
(Chrysocyon brachyurus) em cativeiro. Ver. Ed. Cont, vol. 2, n.2, 1999, p. 34-42.
FORTES, E. Parasitologia Veterinária.4 edição. São Paulo: Ícone Editora, 2004, p. 370-71.
Universidade Federal de Uberlândia
179
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
KOMMERS, G. D. ; ILHA, M. R. da SILVA; BARROS, C. S. L.; Dioctophymose em cães: 16 casos.
Ciência Rural, v.29, n. 3, 1999.
LEITE, L. C. et al. Lesões anatomo patológicas presentes na infecção por Dioctophyma renale (GOEZE,
1782) em cães domésticos (Canis familiaris, Linnaeus 1758). Archives of Veterinary Science, vol. 10, n.1,
2005, p. 95-101.
MAIA, O. B.; GOUVEIA, A. M. G. Birth and mortality of manned wolves Chrysocyon brachyurus (Illiger,
1815) in captivity. Braz. J. Biol. Vol. 62, n.1, 2002, p.25-32.
MACHADO, A.B.M. DRUMMOND, G.M. PAGILA, A.P. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada
de extinção. 1. Ed. Brasília, DF:MMA; Belo Horizonte, MG: Fundação Biodiversitas. 2008.1420p.
MANTOVANI,J.E., MATTOS, P.S.R., SANTOS, J.E., PIRES, J.S.R. Sensoriamento Remoto e
radiotelemetria no estudo de padrões de uso da paisagem pelo lobo-guará no interior do estado de São Paulo.
Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento remoto, Florianópolis, Brasil. INPE. 2007. p 40054012.
OSBORNE, C.A.; STEVENS, J.B.; HANLON, G.F.; ROSIN, E.; BEMRICK, W.J. Dioctophyma renale in
the dog. J. Amer. Vet. Med. Association., v. 155, n. 4, p. 605-619, 1969.
RODRIGUES, F.H.G. Biologia e Conservação do Lobo-Guará na Estação Ecológica de Águas Emendadas,
DF. Instituto de Biologia. Campinas. Universidade Estadual de Campinas. Tese de Doutorado. 2002. 105p.
SUJATHA, S.E.; FERNANDO, M.B.B.S. The Giant Kidney Worm (Dioctophyma renale) infection in man
in Australia. Am. J. Surg. Pathol., vol. 7, n. 3, p. 281 284, 1983.
VIBE, P.P. Dioctophyma infection in humans. Med. Parazitol.(Mosk), v. 1, p. 83-84, 1985.
Universidade Federal de Uberlândia
180
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
OCORRÊNCIA DE HEMOPARASITOS EM AVES SILVESTRES DE FRAGMENTOS
FLORESTAIS DA MICRORREGIÃO DE UBERLÂNDIA, MG
Ribeiro, P. V. A.1,5; Baesse, C. Q. 1,3; Tolentino, V. C. M.1,3; Silva, A. M. 1,3; Ferreira, G. A. 1,3; Paniago, L. P.
M. 1,3; Silva, A. A. 1; Cunha, M. J. R.2,4; Melo, C.1; Cury, M. C.2
1. Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Biologia, Uberlândia, MG.
2. Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Ciências Biomédicas, Uberlândia, MG.
3. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais, UFU.
4. Programa de Pós-Graduação em Imunologia e Parasitologia Aplicadas, UFU.
5. [email protected] (34 9252-1643)
RESUMO
Parasitos sanguíneos podem ser altamente impactantes em aves, gerando danos comportamentais,
sexuais e morfofisiológicos. O objetivo deste estudo foi determinar e documentar a ocorrência de
hemoparasitos em aves silvestres procedentes da microrregião de Uberlândia. Foram capturadas 92 aves de
várias espécies em dois fragmentos florestais da região, sendo 23 da Fazenda Experimental do Glória e 69 da
Fazenda Água Fria. Realizou-se 184 extensões sanguíneas, as quais foram coradas com Giemsa para detectar
os hemoparasitos pela microscopia óptica. Verificou-se que 14 (15,22 %) aves apresentaram positividade
para parasitos sanguíneos. Na Fazenda Experimental do Glória e na Fazenda Água Fria, respectivamente,
quatro (17,4%) e dez (14,5%) e indivíduos estavam infectados por hemoparasitos. Observou-se que dez
(71,4%) aves estavam infectadas por Plasmodium spp. e cinco (35,7%) por Haemoproteus spp. Ambas as
áreas apresentaram baixas prevalências de parasitos no sangue das aves, o que é comum nos padrões de
regiões tropicais.
Palavras-chave: aves silvestres, hemoparasitos, Plasmodium spp., Haemoproteus spp.
ABSTRACT
Parasites can be highly impactful in birds, with behavioral, sexual and morphophysiological
damages. The aim of this study was to determine and document the occurrence of hemoparasites in wild
birds in microregion of Uberlândia. In two forest fragments in the region, 92 birds of various species were
captured, which 23 from the Fazenda Experimental do Glória, and 69 from the Fazenda Água Fria. Were
performed 184 blood extensions, which were stained with Giemsa to detect hemoparasites by optical
microscopy. It was found that 14 (15.22%) birds were positive for blood parasites. In the Fazenda
Experimental do Glória and Fazenda Agua Fria, respectively, four (17.4%) and ten (14.5%) individuals were
infected by hemoparasites. We observed that ten (71.4%) birds were infected with Plasmodium spp. and five
(35.7%) with Haemoproteus spp. Both of these areas had low prevalence of parasites in the blood of birds,
which is common in the patterns of tropical regions.
Key words: wild birds, hemoparasites, Plasmodium spp., Haemoproteus spp.
INTRODUÇÃO
Aves domésticas e silvestres podem ser acometidas por infecções parasitárias que, em alguns casos,
tornam-se uma condição subclínica podendo levar à morte do hospedeiro (MARIETTO-GONÇALVES et
al., 2008). Entre os parasitos encontrados em várias espécies de aves, destacam-se os hemoparasitos,
representados pelos gêneros Plasmodium, Haemoproteus, Leucocytozoon e Trypanossoma. (VALKIUNAS,
2005). Estes comprometem a seleção sexual pela alteração da coloração das plumagens do hospedeiro, e
ocasionam redução do cuidado parental (HAMILTON; ZUK, 1982; MERINO et al., 2000). Além disso,
indivíduos infectados podem se tornar mais susceptíveis à predação e menos aptos para conquistar territórios
(ANDERSON; MAY, 1979).
Universidade Federal de Uberlândia
181
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Estes parasitos são protozoários que necessitam de hospedeiro intermediário para completarem as
formas evolutivas. Os hospedeiros são geralmente dípteros, nos quais as formas infectantes, esporozoítas, se
alojam nas glândulas salivares. A transmissão ocorre pelo repasto sanguíneo (REY, 2010).
No Brasil, estudos documentando a ocorrência de hemoparasitos na avifauna ainda são escassos.
Adriano e Cordeiro (2001) relataram a ocorrência de Haemoproteus em 90% de pombos no interior de São
Paulo. No estado de Minas Gerais, Belo (2007) relatou a ocorrência de 24,4% de Plasmodium em aves
silvestres da família Psittacidae, Sebaio et al. (2012) relataram a prevalência de 54,8% de Plasmodium,
23,3% de Trypanosoma, 23,3% de Haemoproteus em Passeriformes da Mata Atlântica.
Considerando a elevada diversidade da avifauna brasileira e a sua vasta atuação no ecossistema,
ainda pouco se sabe a respeito dos parasitos que as acometem. Assim, este estudo tem como objetivo
verificar a prevalência de parasitos sanguíneos em aves silvestres provenientes de dois fragmentos florestais
da microrregião de Uberlândia, Minas Gerais.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado em dois fragmentos florestais, sendo estes a mata da Fazenda Experimental do
Glória (18°57‟S,48°12‟O), localizada no município de Uberlândia – MG, com uma área de 30 hectares, e a
mata da Fazenda Água Fria (48°23‟O, 18°29‟S), localizada no município de Araguari – MG, com uma área
de 200 hectares. Ambas as áreas são de Florestas Estacionais Semideciduais do Triângulo Mineiro. A região
está sob o domínio do Cerrado, porém impactada pela agricultura e pecuária. O clima na região é do tipo
sazonal com estações chuvosas e secas bem marcadas. A pluviosidade anual é em torno de 1.500 mm e a
temperatura média é de 22°C (ROSA et al., 1991).
Em cada área foi realizada uma campanha de campo (coleta de dados) com duração de cinco dias.
Para a captura das aves, foram utilizadas no mínino 15 e no máximo 25 redes de neblina, expostas em trilhas
entre 06:30h e 16:00h. As redes foram checadas em intervalos de aproximadamente 30 minutos. As aves
capturadas foram identificadas e anilhadas com anilhas metálicas cedidas pelo CEMAVE/ICMBio. Os
indivíduos foram posicionados em decúbito lateral e, em seguida, utilizando-se seringas de insulina
descartáveis e agulhas estéreis, foi realizada punção venosa da veia tarsal, para obtenção de 0,5 μL de
sangue. A amostra sanguínea foi colocada sobre uma lâmina para a confecção da extensão sanguínea, sendo
realizadas duas extensões para cada ave.
Após a elaboração das extensões, as lâminas ficaram à temperatura ambiente para secagem e em
seguida foram fixadas com metanol. Posteriormente, foram coradas com solução Giemsa em água
tamponada (pH 7,2-7,4), diluída a 1:10. No Laboratório de Parasitologia da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU), as extensões sanguíneas foram analisadas em microscópio óptico Olympus CX40, e os
hemoparasitos foram identificados após a observação de 200 campos microscópicos (mínimo 150
eritrócitos/campo) em aumento de 100X usando óleo de imersão.
Foram realizados testes estatísticos qui-quadrado para verificar se existem diferenças significativas
nos números de indivíduos infectados e não infectados, além de comparar se há diferenças nas prevalências
de ambas as áreas do estudo. Os testes foram realizados pelo software Systat 10.2 e conduzidos a um nível de
significância de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisadas 184 extensões sanguíneas, provenientes das 92 aves capturadas, as quais
pertenciam a 23 espécies diferentes. Verificou-se que 14 aves estavam infectadas por parasitos sanguíneos,
totalizando prevalência de 15,22 %. Com relação às áreas, na Fazenda Experimental do Glória, apenas quatro
indivíduos estavam infectados, enquanto que na Fazenda Água Fria, foram dez, resultando numa prevalência
de 17,4% e 14,5%, respectivamente (Tabela 01). De acordo com os testes estatísticos realizados, verificou-se
que o número de indivíduos infectados foi menor que os não infectados (p < 0,05) e que não houve diferença
significativa (p > 0,05) entre as duas áreas em relação à prevalência (Tabela 01). Além disso, como mostra
na tabela 2, observou-se que das 14 aves infectadas, cinco (35,7%) indivíduos estavam infectados por
Haemoproteus spp. (Figura 01) e dez (71,4%) por Plasmodium spp. (Figura 02).
Tabela 01. Prevalência de aves infectadas de acordo com as áreas de estudo.
Universidade Federal de Uberlândia
182
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Áreas de Estudo
Fazenda Experimental do
Glória (Uberlândia –
MG)
Fazenda
Água
Fria
(Araguari – MG)
Total
Prevalência
Qui-quadrado
17,4%
X² = 19,565, p < 0,01
14,5%
X² = 69,594, p < 0,01
15,22%
X² = 0,225, p = 0,636
Tabela 02. Número total de aves infectadas de acordo as espécies de aves e com os gêneros de parasitos
sanguíneos.
Espécies
de aves
Arremon flavirostris
Lanio penicillatus
Monasa nigrifrons
Pipra fasciicauda
Saltator maximus
Saltator similis
Tangara cayana
Turdus rufiventris
Total
N° de aves Nº de aves N° de aves Nº de aves infectadas de acordo
examinadas infectadas não
com o gênero do parasito
infectadas Haemoproteus Plasmodium spp.
spp.
03
01
02
0
01
07
01
06
0
01
05
05
0
04
02
24
03
21
0
03
04
01
03
0
01
03
01
02
0
01
01
01
0
01
0
01
01
0
0
01
48
14
34
05
10
Figura 01. Haemoproteus spp. (apontado pela seta) em eritrócitos de ave – coloração de Giemsa.
Figura 02. Plasmodium spp. (apontado pela seta) em eritrócitos de ave – coloração de Giemsa.
Universidade Federal de Uberlândia
183
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Geralmente, aves provenientes de regiões tropicais apresentam baixas prevalências de parasitos
sanguíneos (FECCHIO; MARINI; BRAGA, 2007), e ambas as áreas deste trabalho apresentaram baixas
prevalências, entretanto houve um maior número de indivíduos infectados na Fazenda Água Fria, sendo que
o fragmento florestal desta área é considerado um fragmento em excelente estado de conservação, com
características de formações primárias (LOPES, 2010). Porém, apesar de não ter sido encontradas diferenças
significativas, é possível dizer que em áreas bem preservadas mantêm-se o ciclo biológico dos parasitos
sanguíneos, devido à presença de dípteros vetores, atuando como hospedeiros intermediários da infecção. Já
em áreas muito fragmentadas, com exposição à urbanização e à agropecuária, estima-se que o número de
insetos vetores seja menor, não havendo meios de dar continuidade ao ciclo.
Deve-se salientar que estes dados representam uma análise parcial, pois foram considerados somente
os indivíduos amostrados durante a estação seca. Entretanto, estudos posteriores (incluindo novos dados de
coletas realizadas durante a estação chuvosa) e incluindo outros fragmentos florestais da região podem
indicar se o hemoparasitismo pode ser utilizado como ferramenta de biomonitoramento da qualidade
ambiental em ambientes florestais da região.
CONCLUSÃO
Este trabalho mostrou-se eficiente em identificar e documentar gêneros de parasitos sanguíneos
presentes em aves silvestres de dois fragmentos florestais da microrregião de Uberlândia. Ambas as áreas
estudadas apresentaram baixas prevalências, entretanto o fragmento maior e mais preservado (Fazenda Água
Fria) apresentou tendência a ter maior número de indivíduos parasitados.
REFERÊNCIAS
ADRIANO, A. E.; CORDEIRO, N. S. Prevalence and intensity of Haemoproteus columbae in three species
of wild doves from Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 96, p. 175-178, 2001.
ANDERSON, R. M.; MAY, R. M. Population biology of infectious diseases. Part I. Nature, v. 280, p. 361367, 1979.
BELO, N. O. Ocorrência de Plasmodium spp. em aves silvestres da família Psittacidae mantidas em
cativeiro no Brasil. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Veterinária,
2007.
FECCHIO, A.; MARINI, M. Â.; BRAGA, É. M. Baixa prevalência de hemoparasitos em aves silvestres no
Cerrado do Brasil Central. Neotropical Biology and Conservation, v. 02, p.127-135, 2007.
HAMILTON, W. D.; ZUK, M. Heritable true fitness and bright birds: A role for parasites? Science, v. 218,
p. 384-387, 1982.
LOPES, S. F. Padrões florísticos e estruturais das Florestas Estacionais Semideciduais do Triângulo Mineiro,
MG. Tese (Doutorado em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais). Universidade Federal de
Uberlândia, 192p. 2010.
MARIETTO-GONÇALVES, G. A.; FERNADES, T. M.; SILVA, R. J. et al. Intestinal protozoan parasites
with zoonotic potential in birds. Parasitology Research, v. 103, p. 1237-1240, 2008.
MERINO, S.; MORENO, J. SANZ, J.J. et al. Are avian blood parasites pathogenic in the wild? A medication
experiment in blue tits (Paruscaeruleus).The Royal Society, v. 267, p. 2507-2510, 2000.
REY, L. Parasitologia. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
ROSA R.; LIMA, S. C.; ASSUNÇÃO, W. L. Abordagem preliminar das condições climáticas de Uberlândia
(MG). Sociedade & Natureza, v.3, p. 91-108, 1991.
Universidade Federal de Uberlândia
184
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
SEBAIO, F.; BRAGA, E. M.; BRANQUINHO, F. et al. Blood parasites in passerine birds from the Brazilian
Atlantic Forest. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 21, p. 7-15, 2012.
VALKIUNAS, G. Avian malaria parasites and other haemosporidia. Boca Raton, Florida: CRC Press,
2005.
AGRADECIMENTOS
Apoio Financeiro: FAPEMIG (CRA-APQ 01654-12 e pela bolsa de PIBIC – convênio UFU concedida a
Ribeiro, P. V. A.)
Universidade Federal de Uberlândia
185
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DO NERVO SUPRA-ESCAPULAR EM TAMANDUÁ-BANDEIRA
(MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA LINNAEUS, 1758)
SANTOS, L. A.¹; SILVA, F. O. C.¹; RIBEIRO, L. A¹; BORGES, T. R. J.¹; ALVARENGA, H. F. B.²;
SILVA, L. O.²; CARVALHO-BARROS R. A.³; SILVA, Z.³
1. Setor de Anatomia Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), Rua Ceará s/n,Bloco 2D, Uberlândia, MG 38400-902, Brasil.
2. Discentes do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Presidente Antônio Carlos de UberlândiaMG, Praça Clarimundo Carneiro, nº256, Centro. Autor para correspondência:(e-mail: [email protected]
telefone: (34) 9131-5288).
3. Laboratório de Anatomia Comparativa, Faculdade de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás,
Campus
Catalão (UFG), Av. Dr. Lamartine Pinto de Avelar 1120, Setor Universitário, Catalão, GO
75704-020, Brasil.
RESUMO
O Tamanduá-bandeira é um animal característico de clima quente, todavia, possui pele grossa e
pêlos longos e abundantes. Pertencem à superordem Xenarthra e a família Myrmecophagidae. Alimenta-se
exclusivamente de formigas e cupins, possuindo especializações anatômicas e fisiológicas como nariz
alongado e cilíndrico, língua longa e glândulas salivares bem desenvolvidas. Objetivou-se estudar a origem e
distribuição do nervo supra-escapular em tamanduás-bandeira, usando-se três espécimes, sendo dois machos
e uma fêmea, pertencentes ao Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres da Universidade
Federal de Uberlândia. O nervo supra-escapular originou-se nos antímeros esquerdos (100% dos casos), dos
ramos ventrais do sexto nervo espinhal cervical (C6), e nos antímeros direitos, formou-se a partir dos ramos
ventrais do sexto (C6) e sétimo (C7) nevos espinhais cervicais. Em curto trajeto na fossa subescapular,
penetrou entre os músculos subescapular e supra-espinhal em uma vista medial, alcançando através do
forame para o nervo supra-escapular, os músculos supra-espinhal e infra-espinhal. Os resultados obtidos em
relação à origem do nervo supra-escapular e sua configuração estão em consonância com os correspondentes
dados descritos na literatura, referente aos ruminantes domésticos e carnívoros, entretanto o seu trajeto
diferiu dos demais animais pesquisados devido a presença do forame para o nervo supra-escapular.
Palavras-chave: Nervos espinhais; Morfologia; Plexo braquial.
ABSTRACT
The giant anteater (Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758) is a typical animal of warm weather
places, however, has thick skin and a long and abundant fur. Belong to the Xenarthra order,
Myrmecophagidae family. It feeds exclusively of ants and termites, and presenting anatomical and
physiological specializations as cylindrical and elongated nose, long tongue and salivary glands welldeveloped. This study aimed to describe the origin and distribution of the suprascapularis nerve in giant
anteaters. Were used three specimens, two males and one female, belonging to the Laboratory of Education
and Research of Wild Animals of the Federal University of Uberlândia. The suprascapularis nerve
originated in all left antimeres (100%) from the ventral branches of the sixth cervical spinal nerve (C6), and
in antimeres rights antimeres from C6 and C7. In short path in the sub scapular fossa, it penetrated in the
subscapularus muscle belly reaching the supraspinal fossa and distributed to the supraspinatus and
infraspinatus muscles. The results regarding of the origin of the suprascapular nerve and its configuration are
consistent with the corresponding data in the literature, related to domestic ruminants and carnivores,
however your path differed from other animals used in this comparative study given the presence of the
foramen to suprascapular nerve.
Key words: Spinal nerve; Giant anteater; Brachial plexus.
INTRODUÇÃO
Universidade Federal de Uberlândia
186
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O Tamanduá-bandeira é um animal característico de clima quente, todavia, possui pele grossa e
pêlos longos e abundantes, alimenta exclusivamente de formigas e cupins e para isso possui especializações
anatômicas e fisiológicas como focinho longo e arredondado, língua longa e glândulas salivares bem
desenvolvidas (NOWAK 1991; CHEBEZ; CIRIGNOLI, 2008). Pode ser encontrado ao sul de Belize e
Guatemala, oeste dos Andes, a noroeste do Equador, Colômbia, sul da Venezuela, sudeste da Bolívia, oeste
do Paraguai, noroeste da Argentina, Brasil e leste do Uruguai (WILSON; REEDES‟S, 2005). Os nervos são
feixes de fibras nervosas reforçadas por tecido conjuntivo (MACHADO, 2002). Pertencem ao sistema
nervoso periférico, formados pela união das raízes ventrais dorsais, apresentam na região torácica uma
disposição metamérica ou segmentar, porém na altura dos brotos apendicular, os ramos ventrais dos nervos
espinhais entrecruzam-se e formam os plexos (ERHART, 1986).
Aspectos anatômicos, fisiológicos e principalmente posturais, são mais bem compreendidos por meio
de estudos de nervos plexos neurais destes animais, diante disto, é de suma importância conhecer a origem e
distribuição dos nervos espinhais componentes dos plexos, pois, permite um bloqueio eficaz de uma
determinada região, em procedimentos cirúrgicos e é determinante no diagnóstico clínico (DYCE; SACK;
WENSING, 2004).
Os nervos espinhais, principalmente aqueles formadores dos plexos braquial e lombossacral, possui
uma importância anátomo-cirúrgica (KONIG; LIEBICH; CERVENY, 2004). O conhecimento da localização
e distribuição dos nervos auxilia no diagnóstico clínico de paralisias ou ausência de sensibilidade, podendo
apontar a localização exata da lesão (DYCE; SACK; WENSING, 2004). De acordo com Godinho et al.
(1987), em ruminantes domésticos o nervo supra-escapular é um componente do plexo braquial, sendo
formado pelo ramos ventrais do sexto (C6) e sétimo (C7) nervos espinhais cervicais, enquanto que em
caprinos, as fibras podem ser inteiramente derivadas somente do ramo ventral do sexto nervo espinhal
cervical (C6) (GHOSHAL, 1986b).
Estudos sobre a anatomia do M. tridactyla abordando a anatomia do coração (PAREJA et al., 2008),
suprimento sanguíneo do intestino grosso (FERREIRA et al., 2010) e a origem e distribuição do nervo axilar
(ROSA et al., 2012) já foram realizados, entretanto, nota-se escassez na literatura sobre a morfologia do
sistema nervoso periférico, especialmente do nervo supra-escapular. Sabendo que o membro torácico destes
animais desempenha importantes funções como defesas e alimentação (YOUNG, 1980), objetivou-se
analisar a origem e distribuição do nervo supra-escapular em tamanduá-bandeira
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados três exemplares adultos, dois machos e uma fêmea, de tamanduá-bandeira
(Myrmecophaga tridactyla), provenientes do acervo didático-científico do Laboratório de Ensino e Pesquisa
em Animais Silvestres (LAPAS) da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU). A fixação dos animais, em solução aquosa de formaldeído a 10% ocorreu mediante
diferentes pontos de injeção subcutânea, intravenosas, intramuscular e intracavitária seguindo-se a imersão
dos espécimes em recipientes contendo a mesma solução, por um período no mínimo de 48 horas ante de se
iniciar a dessecação.
A dissecação iniciou-se com remoção da pele na região torácica e em seguida, com uma incisão
craniocaudal na linha mediana ventral e subsequentemente na região axilar, afastou-se o membro torácico e
para visualização das origens dos nervos do plexo braquial foram removidos, órgãos e os tecidos cutâneo,
muscular e adiposo da região cervical.
A documentação dos resultados foi realizada a partir fotografias das peças dissecadas. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética, protocolo n nº 039/11. A nomenclatura adotada para descrição dos resultados
está de acordo com o International Committee On Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O nervo supra-escapular originou-se em todos antímeros esquerdos somente do ramo ventral do
sexto nervo espinhal cervical (C6) e, nos direitos, dos ramos ventrais do sexto (C6) e sétimo (C7) nervos
espinhais cervicais (Figura 2). No tocante ao seu trajeto e distribuição, constatou-se que o nervo supraescapular emergiu do plexo braquial, penetrou entre o músculos subescapular e supra-espinhal em uma vista
medial, e em seguida atravessou o forame para o nervo supra-escapular existente na escápula e distribuiu-se
Universidade Federal de Uberlândia
187
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
para os músculos supra-espinal e infra-espinal em 100% dos animais. O nervo supra-escapular enviou em
média, de quatro a cinco ramos para músculo supra-espinal e dois a cinco ramos para o músculo infraespinhal (Figuras 2, 3 e 4).
Figura 2. Fotografia vista ventral da região cervical e torácica do M. tridactyla demonstrando as origens dos
ramos ventrais dos nervos espinhais cervicais e torácicos do plexo braquial (C6, C7, C8,e T1), sexta vértebra
cervical (VC6), sétima vértebra cervical (VC7), primeira vértebra torácica (VT1). Origem assimétrica do
nervo supra-escapular, antímero direito (sd) origem ramos ventrais dos nervos espinhais cervicais (C6) e
(C7), antímero esquerdo (se) origem (C6). O nervo frênico (fr) direto e esquerdo.
Figura 3. Fotografia de uma vista latero-dorsal do Tamanduá-bandeira, mostrando a escápula e o nervo
supra-escapular ( →) distribuindo-se (***) aos músculo supra-espinhal (mse) localizado na fossa supraespinhal (fse), e ( ─) ao músculo infra-espinhal (mie), entre a fossa infra-espinhal (fie) e espinha da
escápula (ees).
Figura 4. Fotografia da região axilar do M. tridactyla demonstrando ramos ventrais dos nervos constituintes
do plexo braquial (C6, C7, C8 e T1) e o nervo supra-escapular (*) penetrando no forame para o nervo supraescapular (→).
Universidade Federal de Uberlândia
188
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
De acordo com Evans e Delahunta (2001), em carnívoros, o nervo supra-escapular originou-se do
sexto (C6) e do sétimo (C7) nervos espinhais cervicais e penetrou entre os músculos subescapular e supraespinhal, passando pela incisura da escápula e alcançando a fossa infraespinhal. Nos Tamnaduás-bandeira,
foi observado disposição semelhante, entretanto, o trajeto ocorre através de um forame para o nervo supraescapular (figura 3).
Segundo Schwarze e Schröder (1970), para bovinos, Bruni e Zimmerl (1977), Ghoshal (1986b),
Godinho et al. (1987), Dyce et al, (2004), em ruminantes domésticos, Ghoshal (1986d), Evans e Delahunta
(2001), em carnívoros, relataram que o nervo supra-escapular é constituído por fibras que derivaram dos
ramos ventrais de C6 e C7, situação observada em três antímeros dos antímeros avaliados (50% das
amostras). Segundo, Ghoshal (1986d), em carnívoros, relatou que o nervo surgiu de C6 juntamente com
uma delgada contribuição de C7. Ainda nos achados de Schwarze e Schröder (1970) e Berg (1978), em
eqüinos, Bruni e Zimmerl (1977) em ruminantes domésticos e Santos et al. (2011), em fetos de bovinos
azebuados, afirmaram que, o referido nervo pode originar-se a partir dos ramos ventrais de C6, C7 e C8,
disposição não evidenciada em nenhum exemplar de Tamanduá-bandeira. Em ruminantes domésticos
(BRUNI; ZIMMERL, 1977), e em caprinos (GHOSHAL, 1986b), o nervo supra-escapular por vezes, surgiu
somente do ramo ventral de C7, fato não observado nas espécimes estudadas.
Na descrição de Cebus apella, Ribeiro et al. (2002), relataram que o nervo supra-escapular é
formado pelos ramos ventrais do quinto (C5) e sexto (C6) nervos espinhais cervicais e raramente recebe a
contribuição do quarto nervo cervical (C4). Conforme Scavone et al. (2008), em pacas (Agouti paca),
observaram que o nervo supra-escapular originou-se dos ramos ventrais de C5 e C6 e de C5 a C7 nos
antímeros direitos. Enquanto que no antímero esquerdo, o aludido nervo foi formado pelos ramos ventrais de
C5 a C7 em 100% de sua amostra. Nos espécimes estudados os ramos ventrais de C4 e C5 não estiveram
presentes na composição deste nervo.
No tocante a sua distribuição, constatou-se que, ao longo de seu trajeto, o nervo supra-escapular
cedeu ramos para os músculos supra-espinhal e infra-espinhal em 100% dos casos, corroborando com as
citações de Schwarze e Schroder (1970), em bovinos e Godinho et al.(1987) e Bruni e Zimmerl (1977),
Nickel et al (1986), König et al. (2004) para ruminantes domésticos, Berg (1978) e Dyce et al. (2004), em
eqüinos, Ghoshal (1986c), Evans e Delahunta, (2001) em carnívoros, Gamba et al. (2007), em chinchilas e
Scavone et al. (2008), em pacas (Agouti paca Linnaeus, 1766).
Ghoshal (1986d), em carnívoros, e Gamba et al. (2007), em chinchilas, relataram que o nervo supraescapular emitiu fibras para a parte lateral da cápsula articular da articulação do ombro e pode fornecer
ramos para os músculos redondo menor e deltóide, situações não evidenciadas neste trabalho. Ainda,
segundo Godinho et al. (1987), em ruminantes domésticos, o nervo supra-escapular emite fibras ao músculo
subescapular, fato não observado em nenhum animal da presente pesquisa.
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos em relação à origem do nervo supra-escapular e sua configuração estão em
consonância com os correspondentes dados descritos em ruminantes e carnívoros domésticos. Diferenças
significativas não foram observadas com relação à origem e distribuição quando comparadas aos animais
silvestres consultados, entretanto, houve uma diferença em relação ao trajeto do referido nervo o qual
estendia-se de medial para lateral na escápula através do forame para o nervo supra-escapular.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERG, R. Regiones Del miembro toracico. In: Anatomia topográfica y aplicada de los animales
domésticos. Madri: AC, Espanha, cap. 7, p. 295-346, 414p. 1978.
BRUNI, A. C.; ZIMMERL, U. Nervi spinali. In: Anatomia degli animali domestici. 2. ed. Milano: Casa
Editrice Dottor Francesco Vallardi, v. 2, p.535-564. 1977.
CHEBEZ, J. C; CIRIGNOLI, Y. S. In: CHEBEZ, J. C. Los que se van: Fauna argentina amenazada –
Tomo 3 (Mamíferos). Buenos Aires: Albatros, p. 31-40. 2008.
Universidade Federal de Uberlândia
189
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. Tratado de anatomia veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 872 p. 2004.
ERHART, E. A. Neuroanatomia simplificada. 6. ed. São Paulo: Roca, 400p. 1986.
EVANS, H. E.; DELAHUNTA, A. Abdome, pelve e membro pélvico. In: Guia para a dissecação do cão.
5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.163-169. 2001.
FERREIRA, J. R.; SOUZA, A. L. R.; REZENDE, L. C.; MORTOZA, A. R. Modelo de suprimento
sanguíneo do intestino grosso do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Ciência Rural, Santa
Maria, v. 40, n. 3 p.541-547, 2010.
GHOSHAL, N. G. Nervos espinhais. In: GETTY, R. Sisson/Grossman anatomia dos animais domésticos.
5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v. 1, cap. 35, p.1052-1077. 1986b.
GHOSHAL, N. G. Nervos espinhais. In: GETTY, R. Sisson/Grossman anatomia dos animais domésticos.
5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v. 2, cap. 57, p.1595-1617. 1986d.
GODINHO, H. P.; CARDOSO, F. M.; NASCIMENTO, J. F. Anatomia dos ruminantes domésticos. Belo
Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 416 p. 1987.
INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL NOMENCLATURE.
Nomina Anatômica Veterinária. 5 ed. Columbia: Committee Hannover, 166p. 2012.
KONIG, H. E.; LIEBICH, H. G.; CERVENY, C. Sistema Nervoso. In: KONIG, H. E.; LIEBICH, H. G.
Anatomia dos animais domésticos: texto e atlas colorido, órgãos e sistemas. Porto Alegre: Artmed, 2004.
v. 2, cap.14, p.203-275.
MACAHDO, A. B. M. Nervos Espinhais In: Neuroanatomia funcional 2. ed. São Pualo: Atheneu, cap. 11,
p.110-117. 2002.
NOWAK, K. Walker’s mammal of the world. Baltimore: The Hopkins University Press, v.6, 1991. 1101p.
PAREJA, C. N. et al. Aspecto anatômicos do coração do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga trydactyla,
Linaeus, 1758). In: Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária, 35,2008, Gramado. Anais Gramado:
Combravet, 2008. Versão eletrônica.
RIBEIRO, A. R.et al. Origin of the Brachial Plexus of the monkey Cebus apella. Brazilian Journal of
Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 42, n. 2, p.143-149, 2002.
SANTOS, L. A. et al. Origem e distribuição do nervo supra-escapular em fetos de bovinos azebuados,
Revista Biotemas, 24 (2011): 1.
SCAVONE, A. R. F.; MACHADO, M. R. F.; GUIMARÃES, G. C.; OLIVEIRA, F. S; GERBASI, S. H. B.
Análise da origem e distribuição dos nervos periféricos do plexo braquial da paca (Agouti paca, LINNAEUS,
1766). Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 9, n. 4, p.1046-1055, out./dez. 2008.
SCHWARZE, E.; SCHRODER, L. Nervios espinales. In: Compêndio de anatomia veterinária: sistema
nervoso y órganos de los sentidos. Zaragoza: Acríbia, v. 4, p.61-90. 1970.
WILSON, D. E.; REEDER´S, D. A. Mammal species of the world: a taxonomic and geographic
reference. 3.ed. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, v. 48, 2005. 2142p.
YOUNG, J. Z. La vida de los vertebrados. 2. ed. Barcelona: Omega. 718p. 1980.
Universidade Federal de Uberlândia
190
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DO PLEXO BRAQUIAL DE JAVALI (SUS SCROFA LINNAEUS,
1758)
SANTOS, L. A1.; SILVA, F. O. C1.; BORGES, T. R. J.1; SOUZA, T. C.2; MORAES, F. A.2; BORGES, R.
A. L.2; LIZARDO, F.B3; SOUSA, G. C.3
1. Setor de Anatomia Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), Rua Ceará s/n, Bloco 2D, Uberlândia, MG 38400-902, Brasil.
2. Discentes do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Presidente Antônio Carlos de UberlândiaMG, Praça Clarimundo Carneiro, nº256, Centro. Autor para correspondência: (e-mail:
[email protected] telefone: (34) 9658-6081).
3. Docente do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal de Uberlândia, Av. Pará, nº 10720,
Umuarama, Uberlândia-MG.
RESUMO
Estudou-se a origem e distribuição do plexo braquial de javali (Sus scrofa). Utilizaram-se 8
espécimes os quais foram fixados em solução aquosa de formaldeído a 10% mediante diferentes pontos de
injeção subcutânea, intravenosas, intramuscular e intracavitária, seguindo-se a imersão dos espécimes em
recipientes contendo a mesma solução, por um período no mínimo de 48 horas antes de se iniciar a
dissecação. O plexo braquial originou-se dos ramos ventrais do quinto, sexto, sétimo e oitavo nervo espinhal
cervical e do primeiro nervo espinhal torácico. Os nervos constituintes do mesmo foram: supra-escapular,
peitorais cranial e caudal, subescapulares cranial e caudal, axilar, musculocutâneo, mediano, radial, ulnar,
toracodorsal, torácico lateral, torácico longo e nervo para o músculo subclávio. Estes nervos distribuíram-se
para os músculos supra-espinhal, infra-espinhal, subclávio, subescapular, redondo maior, redondo menor,
deltóide, cleidobraquial, tensor da fáscia do antebraço, peitorais superficial e profundo, coracobraquial,
braquial, bíceps braquial, tríceps braquial, ancôneo, flexor profundo dos dedos, flexor superficial do carpo,
flexor radial do carpo, flexor ulnar do carpo, extensor radial do carpo, extensor ulnar carpo, pronador
redondo, extensor obliquo do carpo, latíssimo do dorso, serrátil ventral e cutâneo do tronco.
Palavras-chave: Sistema nervoso. Músculos. Nervos espinhais.
ABSTRACT
We studied the origin and distribution of the brachial plexus of the wild boar (Sus scrofa). Were used
8 fetuses these animals were fixation in formaldehyde aqueous solution of 10% different points
subcutaneous, intravenous, intramuscular or intracavitary injection followed by immersion of the specimens
in the wells containing the same solution for a period at least 48 hours before starting the drying. The
brachial plexus is resulted from the ventral rami of fifth, sixth, seventh and eighth cervical espinal nerves and
the first thoracic. Gave rise to the suprascapular nerve to.The subclavian nerve muscle, cranial and caudal
pectoral nerve, cranial and caudal, axillary subscapular, musculoctaneours nerve, median, radial, ulnar
thoracodorsa, lateral thoracic long thoracic and among the muscle that innervate the muscles are
supraspinatus, infraspinatus, subclavian, subespularis, teres, major, teres minor, deltoid, cleidobraquial,
tensor fascia of the forearm, chest, coracobrachalis, brachialis, biceps brachialis, triceps brachialis, anconeus,
flexor digitorum profundus, flexor digitorum superficialis, flexor radial carpal, flexor carpi ulnares, extensor
carpi radial, ulnar side, prontor teres, extensor oblique finger, latissimus dorsi, serratus anterior, cutaneous
trunk.
Keywords: Nervous system. Muscles. Spinal nerves.
INTRODUÇÃO
Universidade Federal de Uberlândia
191
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O plexo braquial é constituído por um conjunto de nervos com origens nos segmentos cervicais e
torácicos da medula espinhal, distribui-se nas estruturas do membro torácico, cíngulo escapular, na região do
tórax e abdome. Nos suínos, o plexo braquial e composto pelos ramos ventrais do quinto (C5), sexto (C6),
sétimo (C7) e oitavo (C8) nevos espinhais cervicais e pelo primeiro nervo espinhal torácico (T1) (GOSHAL,
1986b). Conhecer os nervos que compõem os plexos nervosos é as estruturas por eles inervadas é
importância para compreender os aspectos anatômicos e fisiológicos e posturais.
O javali é uma espécie de porco silvestre originário da Europa, Ásia e norte da África. Os primeiros
animais puros originários do Canadá e Europa foram destinados a criatória de São Paulo e do Rio Grande do
sul (IBAMA). Por ser uma alternativa no setor alimentício, houve nos últimos anos aumento na criação
destes animais em cativeiros. Entretanto, o escape de animais dos cativeiros para o ambiente natural tem
causado impactos ambientais, sociais e econômicos (IBAMA)
Embora existam vários trabalhos em javali, Nocetti et al. (2002) e Bombonato et al. (2014), porém,
estudos sobre nervos periféricos deste animal ainda são poucos explorados, diante disso, objetivou-se
analisar a origem e distribuição do plexo braquial de javali.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 08 exemplares de Sus scrofa, sendo 3 machos e 5 fêmeas, pertencentes ao
laboratório de anatomia animal da Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais. O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética, protocolo registro CEUA/UFU 103/13. A fixação dos animais, em solução aquosa de
formaldeído a 10% ocorreu mediante diferentes pontos de injeção subcutânea, intravenosa, intramuscular e
intracavitária seguindo-se a imersão dos espécimes em recipientes contendo a mesma solução, por um
período mínimo de 48 horas antes de iniciar a dissecação.
A dissecação iniciou-se com remoção da pele e tecido adiposo na região torácica e dorso ao nível do
cíngulo escapular, em seguida, com uma incisão craniocaudal desde a cartilagem tireóide até o processo
xifóide. Retirou-se órgãos desta região como traquéia esôfago para poder visualizar as vértebras,
principalmente o processo costal da sexta vértebra cervical e a primeira costela que são importantes pontos
de referencia, desta forma, foi possível evidenciar a formação do plexo braquial e todos os nervos que o
compõe. Para visualização a região da axila, os membros torácicos foram desarticulados, retirou-se fáscia
muscular e vasos para certificar a origem de todos os nervos. Para verificar a distribuição dos nervos, foi
realizada a dissecação nas regiões cíngulo escapular, braço, antebraço, tórax e abdome.
A documentação dos resultados foi realizada a partir de desenhos esquemáticos e fotografias do
perfil da composição do plexo e da disposição dos nervos espinais das peças dissecadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O plexo braquial do javali originou-se dos ramos ventrais do quinto, sexto, sétimo e oitavo nervo
espinhais cervicais e do primeiro nervo espinhais torácico em todos os animais (100%). (Figura 1).
Figura 1. Fotografia em uma vista ventral da região cervical do Sus scrofa evidenciando a origem do plexo
braquial dos ramos ventrais dos nervos espinhais cervicais cinco (C5), seis (C6), sete (C7) e oito (C8) e do
primeiro torácico (T1).
Universidade Federal de Uberlândia
192
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
As origens dos plexos braquiais em ambos os antímeros do javali foram semelhantes aos achados de
Ghoshal (1986b) em suínos, Vieira et al. (2013) em veados catingueiro (Mazama gouazoubira), e de
Pinheiro et al. (2013) em cachorro-do-mato de orelhas curtas (Atelocynus microtis). A participação dos
ramos ventrais do segundo nervo espinhal torácico na composição do plexo braquial, mencionado por
Ghoshal (1986c) em cães, Moura et al. (2007) em catetos (Tayassu tajacu) e Scavone et al. (2007) em paca
(Agout paca), não foi evidenciada nos espécimes.
Nos espécimes de javali, todos os plexos estudados (16) tiveram uma origem simétrica,
diferentemente dos achados em macacos Cebus appella onde a origem variou, ora dos ramos ventrais de C4
a T2, ora de C5 a T1, ou de C6 a T2, como também C5 a T2 e de C4 a T1 (RIBEIRO et al., 2003). Já catetos,
observaram-se variações de C4 a T2 (5%), C4 a T1, (11,67%), de C5 a T2 (13,3%), de C5 a T1 (20%), de C6
a T2 (40%) e C6 a T1 (10%) (MOURA et al., 2007), demonstrando que em catetos existe uma variação intraespecífica da origem do plexo braquial
Os nervos que originam do plexo braquial do Sus scrofa são: nervos supra-escapular, subsecapulares
cranial e caudal, peitorais cranial e caudal, axilar, nervo musculocutâneo, radial, ulnar, mediano,
toracodorsal, torácico longo, torácico lateral e nervo para o músculo subclávio os quais distribuíram-se para
os músculos da cintura escapular, braço, antebraço, parede do tórax (Figura 2).
Figura 2. Fotográfia da região cervical do javali vista ventral demonstra a origem dos nervos componente do
plexo braquial nervo para o músculo subclávio (a), supraescapular (b), peitoral cranial (c), subescapular
cranial (d) suescapular caudal (e) musculocutaneo (f), axialr (g), mediano (h) ulnar (j) radial (j), peitoral
caudal (l), toracodorsal (m), torácico lateral (n), torácico longo (o) e frênico (p).
Quanto à origem e distribuição individual dos nervos componente do plexo braquial, o nervo para o
músculo subclávio originou-se dos ramos ventrais de (C5) em todos os espécimes, diferente dos relatados
por Ghoshal (1986b) em suínos onde a origem do mesmo se deu por meio dos ramos ventrais do C6. A
distribuição para o músculo subclávio foi semelhante ao autor supracitado.
O nervo supra-escapular no javali originou-se em 87,5% da amostra dos ramos ventrais de C5, C6 e
C7, semelhante as descrito por Ghoshal (1986b) em suínos, Moura et al. (2007) em catetos e Scavone et al.
(2008) em A. paca. Em dois plexos do javali constatou-se a origem do nervo supra-escapular dos ramos de
C5 e C6, semelhante ao de Scavone et al. (2008) em A. paca em 12,5% de seu experimento. Porém, difere
dos relatos de Moura et al. (2007) em T. tajacu em 50% dos espécimes, Vieira et al. (2013) em M.
gouazoubira em toda sua amostra e Pinheiros et al. (2013) em A. microtis, os quais relataram que a origem
deste nervo ocorreu somente dos ramos ventrais dos nervos C6 e C7. No javali foi observado que o nervo
supra-escapular emitiu ramos para os músculos supra-espinhal e infra-espinhal, assim como descrito em
suínos (GOSHAL, 1986b) e em cães (EVANS; DELAHUNTA,2001). Ramos emitidos para o redondo maior
mencionado por Gamba et al. (2007) em C. lanígera, também foram visualizados.
O nervo subescapular do javali apresentou em número de dois, subescapular cranial o qual originouse essencialmente dos ramos ventrais de C6 e C7, em curto trajeto emitiu ramos somente para o músculo
Universidade Federal de Uberlândia
193
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
subescapular, como em C. lanígera (GAMBA et al., 2007). Já o nervo subescapular caudal resultou em 10
plexos dos ramos ventrais dos nervos cervicais C6 e C7, fato descrito por Evans e Delahunta (2001) em cães,
Gamba et al. (2007) em C. lanígera e Moura et al. (2007) em T. tajacu. Em seis espécimes analisadas, as
fibras do nervo subescapular caudal originaram-se dos ramos de C7 e C8, fato não descrito na literatura
consultada. Ainda sobre o nervo subescapular caudal, o mesmo distribuiu-se para os músculos subescapular
e redondo maior, diferente do descrito por Ghoshal (1986b) em suínos, o qual relata que este nervo ramificase somente para o músculo subescapular, assim como citado por Gamba et al., (2007), em C.lanígera, por
Souza et al., (2010) em A. australis e por Vieira et al., (2013) em M. gouazoubira. Ramos do nervo
subescapular caudal destinados para o músculo latíssimo do dorso, citado por Scavone et al. (2008) em A.
paca não foi observado no javali.
O nervo axilar originou-se dos ramos de C6 e C7 em 62,5% dos plexos analisados, em concordância
com Ghoshal (1986b) em suínos, Gamba et al. (2007) em C. lanigera, Scavone et al (2008) em Agouti paca,
Rosa et al (2012) em tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e Vieira et al. (2013) em M.
gouazoubira. Também observado que em 27,5% dos plexos as fibras nervo axilar derivaram dos ramos
ventrais dos nervos espinhais cervicais C7 e C8, conforme descrito por Ghoshal (1986c) em cães, Lizardo et
al (2013) em fetos de bovinos azebuados.
O nervo axilar ramificou-se nos músculos deltóide, redondo menor, braquiocefálico e finalmente
emitiu o nervo cutâneo cranial do antebraço, assim com nos relatos de Ghoshal, (1986b) em suínos. Não
foram identificados ramos para os músculos redondo maior e subescapular, o que difere dos relatos de
Ghoshal (1986b) em suínos, Evans e Delahunta (2001) em cães, Gamba et al. (2007) em C. lanígera,
Scavone et al. (2008) em A. paca, ( Souza et al. (2010) em A. australis e Lizardo et al. (2013) em fetos de
bovinos azebuados.
O nervo peitoral cranial resultou das fibras dos nervos cervicais C7 e C8 em todos os javalis, como
descrito por Ghoshal (1986b) em suínos, a origem de apenas C7 foi encontrado por Gambá et al. (2007) em
C. lanígera. Foi o constatado no javali que fibras do nervo peitoral cranial para o músculo subclávio, não
descrito na literatura consultada. Já Ghoshal (1986a) em bovinos descreve que as fibras dos nervos peitorais
vão para o músculo braquicefálico, não evidenciadas nos S. scrofa. O nervo peitoral caudal originou-se no
javali predominantemente dos ramos ventrais dos nervos C8 e T1, assim como mencionado por Scavone et
al. (2008) em A. pacas. Em alguns plexos o nervo peitoral caudal formou-se dos ramos ventrais dos nervos
espinhais cervicais C7 e C8, em concordância com Ghoshal (1986a) em bovinos. O nervo peitoral caudal
distribui-se nos músculos peitoral superficial e profundo, conforme relatado por Gamba et al. (2007) em C.
lanígera, Vieira et al. (2013) em M. gouazoubira.
O nervo musculocutâneo no javali em nove antímeros, resultou dos nervos espinhais cervicais C6, e
C7, também citado por Ghoshal (1986b) em suínos e Souza et al. (2010) em A. australis. Em cinco ocasiões
formou-se de C7, C8 descrito por Moura et al. (2007) em 80% dos catetos. Em dois plexos resultou-se de C7,
C8 e T1, o conforme observado em 20% dos catetos (MOURA et al., 2007). Em outros estudos evidenciaram
a origem nervo musculocutâneo de C6, C7 e C8, em M. gouazoubira (VIERA et al., 20013). de C8 e T1, em
A. pacas (SCAVONE et al., 2007).
O nervo musculocutâneo distribuiu-se para os músculos coracobraquial e bíceps braquial, assim
como mencionado por Ghoshal (1986b) em suinos, Scavone et al. (2008) em A. paca. O músculo braquial foi
inervado por fibras do ramo distal do nervo musculocutâneo, semelhante ao M. gouazoubira (VIEIRA et al.,
2013). O nervo musculocutâneo emitiu o nervo cutâneo medial do antebraço o qual distribuiu-se na fáscia e
pele do terço proximal do antebraço, em concordância com (GHOSHAL, 1986b) em suínos.
O nervo mediano resultou da união dos ramos ventrais dos nervos espinhais cervicais C7 e C8 e do
primeiro nervo espinhal torácico T1 em 50% dos animais, assim como relatado por Ghoshal (1986b) em
suínos e Moura et al. (2007) em cateto em aproximadamente 40% da amostra, Chagas et al. (2012) em
suínos e Vieira et al. (2013) em M. gouazoubira.
De acordo com Moura et al. (2007) em T. tajacu 58% dos amimais a origem do nervo mediano foi a
partir dos ramos de C7, C8, T1 e T2, também descrito por Souza et al (2010) em A.australis e Chagas et al.
(2012) em suínos. O javali ainda apresentou a origem do nervo mediano dos ramos de C8 e T1, em 50% dos
animais, semelhante aos estudos de Scavone et al. (2008) em pacas. A distribuição do nervo mediano em Sus
scrofa foi semelhante aos suínos, na região proximal do antebraço estendeu-se profundamente ao músculo
pronador redondo para o qual emite ramos e seguiu trajeto no sentido distal, distribuindo-se para os músculos
flexor radial do carpo, músculo flexor superficial dos dedos (parte superficial e profunda), ao músculo flexor
profundo dos dedos (cabeças umerais, ulnar e radial), em conformidade com Souza et al (2010) em lobosUniversidade Federal de Uberlândia
194
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
marinhos, Vieira et al. (20013) em M. gouazoubira. No javali as fibras do nervo mediano ainda distribuíramse para o músculo flexor ulnar do carpo, conforme descrito em Ghosal (1986b) em suínos.
No javali as fibras do nervo ulnar originaram-se predominantemente dos ramos ventrais de C8 e T1,
assim como Ghoshal (1986b) em suinos, Scavone et al. (2008) em A. paca, Veira et al. (2013) em M.
gouazoubira. Em dois plexos (12%) o nervo ulnar formou-se a partir dos ramos ventrais de C7, C8 e T1,
conforme descrito por Gamba et al. (2007) em C.lanígera. De modo que, o nervo ulnar pode apresentar
origens variadas nas diferentes espécies, assim como as encontradas em bovinos C7, C8 e T1 (GHOSAL,
1986a), C8, T1 e T2 ou C8 e T1 em T. tajacu (MOURA et al., 2007). Quanto à distribuição do nervo ulnar
em Sus scrofa, no terço proximal do braço emitiu o nervo cutâneo caudal do antebraço para suprir a fáscia e
pele, citado também por Ghoshl (1986b) em suínos, na região proximal do antebraço emite ramos para os
músculos flexor ulnar do carpo, flexor superficial dos dedos, para as cabeças umerais e ulnar do músculo
flexor profundo dos dedos, fato também mencionado por Vieira et al. (2013) em M. gouazoubira e Gamba et
al. (2007) em C. lanígera. O aludido nervo dividiu-se em ramo palmar e ramo dorsal. O ramo palmar emite
ramo profundo do ramo palmar do nervo ulnar para o músculo interrósseo III e IV, confirne Ghoshal (1986b)
em suínos.
No Sus scrofa nervo radial originou-se em todos os plexos (100%) dos ramos ventrais de C7, C8 e
T1, origem semelhante descrita por Ghoshal (1986b) em suínos, Gamba et al. (2007) em C. lanigera,
Guimarães et al. (2007) em gatos domésticos (Felis catus domesticus), Scavone et al. (2008) em A. paca e
Souza et al. (2010) em A. autralis. No entanto, origens diferentes deste nervo foram relatados por Moura et
al. (2007) em cateto o qual originou-se de (C8, T1 e T2) em 58,4% e de (C8 e T1) nos 41,6 % de seu
experimento e Vieira et al. (2013) em M. gouazoubira, derivaram-se suas fibras de (C7 e C8) em todos os
animais. O nervo radial emite ramos para as três cabeças do músculo tríceps braquial, no terço distal do
braço distribuiu-se para os músculo tensor da fáscia do antebraço e ancôneo, dividiu-se em um ramo
profundo e superficial, assim como nos suínos (GHOSHAL, 1986b). O ramo superficial do nervo radial
emitiu o nervo cutâneo lateral do antebraço que distribuiu na fáscia e pele. O ramo profundo distribuiu-se
nos músculos extensor radial do carpo, extensor comum dos dedos, extensor oblíquo do carpo, extensor
lateral do dedo e ulnar lateral, assim como nos suínos (GHOSHAL, 1986b). O nervo radial enviou ramos
para músculo braquial Ghoshal (1986a,b) em bovinos e suínos, fato observado em um dos plexos de javali.
Com origem predominantemente dos ramos de C8 e T1 em 69% da amostra, o nervo toracodorsal de
javali, foi semelhante aos relatos de Santos et al. (2010) em fetos de bovinos azebuados. As fibras do nervo
toracodorsal do Sus scrofa são destinadas essencialmente para o músculo latíssimo do dorso, em raras
exceções ao músculo redondo maior, mencionado por Ghoshal (1986b) em suínos, Tavares et al. (2012) em
suínos da linhagem Pen Ar Lan e Vieira et al. (2013) em M. gouazoubira. Porém, fibras ao músculo peitoral
profundo relatado por Ghoshal (1986a) em ovinos não foram evidenciadas nesta pesquisa.
A origem do nervo torácico longo resultou predominantemente das fibras dos nervos espinhais
cervicais C7 e C8, concordância com Ghoshal (1986b) em suínos, Moura et al. (2007) em T. tajacu, Gamba
et al. (2007) em C. lanígera, Scavone et al. (2008) em Ai paca, Veiera et al. (2013) em M. gouazoubira,
O nervo torácico longo distribui-se no músculo serrátil ventral fato relatado pelos autores
supracitado, exceto para Scavone et al. (2008) em A. paca que relatam que o nervo torácico longo emite
ramos somente ao músculo latíssimo do dorso.
Nervo torácico lateral deriva suas fibras dos ramos ventrais de C8 e T1 citado por Ghoshal (1986b)
em suínos e Moura et al. (2007) em T. tajacu descreveram que em 41% dos animais o nervo torácico lateral
resultou das fibras de (C8 e T1) e 58% de (C8, T1 e T2), semelhante aos de Scavone et al. (2008) em A.
paca. Emitiu ramos para o músculo cutâneo do tronco, e nos animais machos foi observado ramos para o
músculo prepucial cranial, descrito por Ghoshal (1986b) em suínos, porém fibras deste nervo para o músculo
latíssimo do dorso, peitoral profundo, oblíquo externo do abdome mencionado por Vieira et al. (2013) em M.
gouazoubira não foi observado no Sus scrofa.
CONCLUSÃO
O plexo braquial de Sus scrofa é o resultado dos ramos ventrais dos nervos espinhais cervicais C5,
C6, C7, C8 e dos ramos ventrais dos nervos espinhais torácico T1. Os nervos que originaram-se do plexo
braquial foram os nervos para o músculo subclávio, supra-escapular, subsecapulares cranial e caudal,
peitorais cranial e caudal, axilar, nervo musculocutaneo, radial, ulnar, mediano, toracodorsal, torácico longo
Universidade Federal de Uberlândia
195
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
e torácico lateral. Os referidos nervos foram responsáveis pela inervação dos músculos da parede do tórax,
cintura escapular, braço, antebraço.
REFERÊNCIAS
BOMBONATA, P. P. et al. Estudos esteriométrico da trabécula septomarginal em javali (Sus scrofa).
Biosciece journal, Uberlândia, v.30, n.3, p.830-833, maio, 2014.
CHAGAS, L. G. S da et al. Origem e distribuição do Nervo mediano em suinos (Sus scrofa domesticus
Linnaeus, 1758). Bioscience journal, Uberlândia, v.28, n. 6, p.978-984, Nov 2012.
EVANS, H, E.; DELAHUNTA, A. Pescoço, tórax e membro torácico. In: Guia pra a dissecação do cão. 5
ed. Rio Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 67-99.
GHOSHAL, N. G. Nervos espinhais, In: Getty (Ed). Sisson/Grossman antomia dos animais domésticos.
V,1.e ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986a. P1052-1077.
GHOSHAL, N. C. Nervos espinhais In: GETTY R.(Ed) Sisson/Grossmam Anatomia dos animais
domésticos. V,2.5. ed. Rio Janeiro: Guanabara Koogan,1986b. p.1294-1307. 5. ed. Guanabara Koogan,
1986. p.1595.1606.
GHOSHAL, N. C. Nervos espinhais In: GETTY R.(Ed) Sisson/Grossmam Anatomia dos animais
domésticos. V,2.5. ed. Rio Janeiro: Guanabara Koogan,1986c. p.1595-1617. 5. ed. Guanabara Koogan,
1986. p.1595.1606.
GUIMARÃES, G C et al. Origem, ramificação e distribuição do nervo radial no braço do gato doméstico
(Filis catus domesticus, Linnaeus 1758). Brazilin journal of Veterinary Research and animal Science,
São Paulo, v.44, n.4, p.261-267.
LIZARDO, F. B et al. Origem e distribuição do nervo axilar em fetos de bovinos azebuados. Bioscence
journal, Uberlândia, v. 29, n.4, p.946-955. Jul 2013.
MOURA, C. E. B. et al. Análise comparativa do plexo braquial de catetos (Tayassu tajacu), Pesquisa
veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 27, n.9, p. 357-362, set 2007.
NOCETTI, L. M. et al. Pontes de miocárdio em corações de javali. Brazilian journal of Veterinary
Research and Animal Science, São Paulo, v.39, n.2, p.66-73, 2002.
PINHEIRO, L. L. et al. Descrição do plexo braquial do cachorro-do-mato-de-orelas-curtas (Atelocynus
microtis- Slater, 1882). Revista biotemas, Florianópolis, v.29, n. 3, p.203-209. set 2013.
ROSA, L. A et al. Origem e distribuição do nervo axilar em tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla).
Revista biotemas, Florianópolis, v, 25. n. 3, p.249-255. set 2012..
SANTOS, L. A et al. Origem e distribuição do nervo toracodorsal em fetos de bovinos azebuados. Biosciece
journal, Uberlândia, v.26,n.6,p.948-955, nov 2010.
SCAVONE, A. R. F. et al. Análise da origem e distribuição dos nervos periféricos do plexo braquial da paca
(Agouti paca, Linnaeus, 1766). Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v.9, n.4, p. 1046-1055, out 2008.
SOUZA, D. A. S et al. Formação do plexo braquial e sistematização dos territórios nervosos em membros
torácicos de lobos marinhos Arctocephalus australis. Brazilian journal of veterinary research and amimal
Science, São Paulo, v.47, n. 2, p. 168-174, 2010.
Universidade Federal de Uberlândia
196
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
TAVARES, E. M. M et al. Origem e distribuição do nervo toracodorsal em fetos de suínos da linhagem Pen
Ar Lan. Revista biotemas, Florianópolis, v. 25, n. 1, p.111-117. mar 2012.
VIEIRA, L. G. et al. Origens e ramificações do plexo braquial do veado catingueiro Mazama gouazoubira
(Artiodactyla :Cervedae). Revista Biotemas, Florianópolis, v.26, n.1, p. 137-146, mar 20013.
IBAMA.
Medida
de
controle
O
javali
asselvajado.
Disponível
em:
https://www.ibama.gov.br/phocadownload/fauna_silvestre_2/texto_para_download/javali%20asselvajado.pd
f. Acessado em; 10 abr 2014.
Universidade Federal de Uberlândia
197
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ORIGEM E DISTRIBUIÇÃO DOS NERVOS SUBESCAPULARES EM TAMANDUÁBANDEIRA (MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA LINNAEUS, 1758)
SANTOS, L. A.¹; SILVA, F. O. C.¹; RIBEIRO, L. A¹; BORGES, T. R. J.¹; DRUMOND, K. L.2; CARDOSO,
T. B2.; CARVALHO-BARROS R. A.³; SILVA, Z.³
1.
Setor de Anatomia Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), Rua Ceará s/n,Bloco 2D, Uberlândia, MG 38400-902, Brasil.
2.
Discentes do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Presidente Antônio Carlos de
Uberlândia-MG, Praça Clarimundo Carneiro, nº256, Centro. Autor para correspondência:(e-mail:
[email protected] telefone: (34) 9131-5288).
3.
Laboratório de Anatomia Comparativa, Faculdade de Ciências Biológicas, Universidade Federal de
Goiás, Campus Catalão (UFG), Av. Dr. Lamartine Pinto de Avelar 1120, Setor Universitário, Catalão, GO
75704-020, Brasil.
RESUMO
Objetivou-se identificar a origem e distribuição dos nervos subescapulares craniais e caudais em três
Tamanduás-bandeira, sendo dois machos e uma fêmea. Os animais foram fixados em solução aquosa de
formaldeído a 10% e apesar de pertencerem à superordem Xenarthra apresentaram sete vértebras cervicais.
Os nervos subescapulares craniais nos antímeros direitos, (100% dos casos), demonstraram suas fibras
nervosas originando dos ramos ventrais do sexto (C6) e sétimo (C7) nervos espinhais cervicais e, nos
antímeros esquerdo (100% dos exemplares), estes nervos derivaram dos ramos ventrais do sexto (C6) nervo
espinhal cervical. Já os nervos subescapulares caudais tiveram suas fibras originando-se dos ramos ventrais
do sexto (C6) e do sétimo (C7) nervos espinhais cervicais em ambos os antímeros. Quanto à distribuição, os
nervos subescapulares craniais emitiram de dois a seis ramos para o músculo subescapular. Já o nervo
subescapular caudal emitiu, de maneira exclusiva, de dois a três espessos ramos para o músculo redondo
maior. Os resultados obtidos quanto à origem e distribuição dos nervos supracitados não diferiram
significativamente dos dados correspondentes à literatura descrita em ruminantes domésticos.
Palavras-chave: Nervos espinhais; Plexo braquial; Sistema neural
ABSTRACT
The goal of his study was to identify the origin and distribution of cranial and caudal subscapularis
nerves in three Giant anteaters, two male and one female. The animals were fixed in formaldehyde aqueous
solution at 10% and despite being a constituent of the superorder Xenarthra presented seven cervical
vertebrae. The cranial subscapularis nerve, in the right antimeres (100%) of the cases, showed their nerve
fibers originating from the ventral rami of the sixth (C6) and seventh (C7) cervical spinal nerves, and in all
left antimeres (100%) of the cases, these nerves derived of the ventral branches of (C6) cervical spinal nerve.
Regarding the caudal subscapularis nerves, in both antimeres, their fibers originated from the ventral
branches of C6 and C7 cervical spinal nerves. The cranial subscapularis nerve emitted two to six branches to
the subscapularis muscle. Innervation of the teres major muscle was exclusive of the caudal subscapularis
nerve which sent two to three thick branches to the muscle mentioned above. The results obtained in relation
to the origin and distribuition of the nerves in this study did not show disagreement with the corresponding
data in the literature related to domestic ruminants.
Keywords: Spinal nerves; Brachial plexus; Nerve system
INTRODUÇÃO
O Tamanduá-bandeira é um animal característico de clima quente, todavia, possui pele grossa e
pelos longos e abundantes, (ADM, 2010). Alimenta-se exclusivamente de formigas e cupins, apresenta uma
especialização anatômica e fisiológica para obtenção do alimento como focinhos longos redução do aparelho
Universidade Federal de Uberlândia
198
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
mastigatório e ausência de dentes, língua longa e glândula salivares bem desenvolvidas (NAPLES, 1999).
Este animal tem o corpo e os membros relativamente curtos. Ao deslocar-se o M. tridactyla, dobra as unhas
contra a palma das mãos de modo que encostam o dorso desta ao solo, apresentando disposição plantígrada.
Os membros torácicos bem desenvolvidos com poderosas garras, fato que é coerente, pois este utiliza-se das
mesmas para obtenção do alimento ao rasgar o cupinzeiros e formigueiros (NOWAK, 1999)
Aspectos anatômicos, fisiológicos e principalmente posturais, são mais bem compreendidos através
de estudos de nervos dos plexos neurais e desta forma, é de suma importância conhecer a origem e
distribuição dos nervos espinhais componentes dos plexos, pois, estes permitem um apontamento a cerca de
um bloqueio anestésico eficaz de uma determinada região para procedimentos cirúrgicos e ainda facilitam no
diagnostico clínicos (DYCE et al., 2004). Os Nervos são feixes de fibras nervosas reforçadas por tecido
conjuntivo (MACHADO, 2002), componentes do sistema nervoso periférico, sendo formados pela união das
raízes ventrais e dorsais, apresentam na região torácica uma disposição metamérica ou segmentar, porém na
altura dos brotos apendiculares, os ramos ventrais dos nervos espinhais entrecruzam-se e formam os plexos
(ERHART, 1986).
Foram elaborados vários trabalhos sobre o M. tridactyla abordando a anatomia do coração (PAREJA
et al., 2008), suprimento sanguíneo do intestino grosso (FERREIRA et al., 2010) e a origem e distribuição do
nervo axilar (ROSA et al., 2012), entretanto, nota-se escassez na literatura sobre a morfologia do sistema
nervo periférico, especialmente do nervo subescapular.
Assim, objetivou-se analisar as origens e as distribuições dos nervos subescapulares craniais e
caudais do Tamanduá-bandeira e compara-las aos ruminantes.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados três exemplares adultos, dois machos e uma fêmea de M. tridactyla provenientes do
acervo didático-científico do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS) da
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Os espécimes foram
doados pelo IBAMA-MG. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, protocolo nº 039/11.
Os animais foram fixados por meio de injeção de solução aquosa de formaldeído a 10% através de
perfusão via artéria femoral e conservados nesta mesma solução. A preparação de todos os espécimes seguiu
os procedimentos de rotina para dissecação macroscópica (Rodrigues 2005). Inicialmente foi realizada uma
incisão longitudinal ao longo da linha mediana ventral, desde o terço médio do pescoço até a cartilagem
xifoide do processo xifoide do osso esterno. Duas outras incisões transversais foram realizadas ao nível da
região axilar. Após, a parcial desarticulação do membro torácico, foram retiradas as vísceras torácicas assim
como o tecido adiposo da região, para subsequente visualização das origens, distribuições e ramificações dos
ramos ventrais dos nervos espinhais cervicais e torácicos de ambos os antímeros. Para certificar a origem
destes nervos, evidenciou-se o processo costal da sexta vértebra cervical, o qual normalmente é um
importante referencial, assim como o primeiro par de costelas, indicando a localização da primeira vértebra
torácica. Em seguida localizaram-se os ramos ventrais dos nervos espinhais, que compõem o plexo braquial,
os quais foram isolados, expondo-se assim com clareza a origem dos nervos componentes do plexo braquial.
A documentação dos resultados foi realizada a partir da fotodocumentação da disposição dos nervos
nas peças dissecadas. A nomenclatura adotada para descrição dos resultados está de acordo com o
International Committee On Veterinary Gross Anatomical Nomenclature (2012). O estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética na Utilização de Animais da Universidade Federal de Uberlândia, protocolo nº 039/11.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram constatadas sete vértebras cervicais nos três Tamanduás-bandeira (Figura 1).
Universidade Federal de Uberlândia
199
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Figura 1: Radioimagem ventral da região cervical do M. tridactyla, demonstrando o número vertebras
cervicais de C1 a C7.
Nos Tamanduás-bandeira, constatou-se a presença dos nervos subescapulares craniais e caudais em
100% dos casos, coincidindo com as informações de GHOSHAL (1986b), GODINHO et al. (1987) e
KÖNIG et al. (2004), para ruminantes domésticos e GHOSHAL (1986a), em equinos, os quais relataram que
o referido nervo normalmente são em número de dois. De outra forma, segundo RIBEIRO (2002), o nervo
subescapular no Cebus apella, esteve presente em número variável de um a três, sendo constituído pelos
nervos subescapulares cranial, médio e caudal. Ainda, segundo GHOSHAL (1986d), em carnívoros pode
ocorrer a presença de apenas um nervo subescapular, disposições não observadas.
Os nervos subescapulares craniais, nos antimeros direito (100% dos casos) demonstraram as suas
fibras originando dos ramos ventrais do sexto (C6) e sétimo (C7) nervos espinhais cervicais e, no esquerdo
(100% dos exemplares), estes nervos derivaram-se apenas dos ramos ventrais do sexto (C6) nervo espinhal
cervical. Para os nervos subescapulares caudais, foi evidenciado em seis antímeros (100% dos casos), que
suas fibras originaram-se dos ramos ventrais do sexto (C6) e do sétimo (C7) nervos espinhais cervicais, ou
seja, houve uma simetria na origem, em todos os antímeros estudados (Figura 2).
Figura 2. Fotografia da região axilar do Tamanduá-bandeira mostrando que o nervo subescapular cranial (a)
originou do ramo ventral do sexto (C6) nervo espinhal cervical e emite ramos ao músculo subescapular (e).
O nervo subescapular caudal (b) originou-se a partir dos ramos ventrais do sexto (C6) e sétimo (C7) nervos
espinhais cervicais e distribuiu-se para o músculo redondo maior (f). Para referenciamento da imagem
destacam-se também os nervos axilar (c) e músculo cutâneo (d).
Universidade Federal de Uberlândia
200
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
De acordo com Ghoshal (1986b) e Godinho et al. (1987), em ruminantes domésticos e Moura et. al.
(2007), em catetos (Tayassu tajacu), afirmaram que os nervos subescapulares normalmente derivam suas
fibras dos ramos ventais do sexto (C6) e do sétimo (C7) nervos espinhais cervicais. Nos espécimes
analisadas os nervos subescapulares craniais originaram-se de maneira independente dos subescapulares
caudais, sendo que o primeiro originou-se nos antimeros esquerdos dos ramos ventrais do sexto (C6) nervo
espinhal cervical. Já os antímeros direitos, derivaram suas fibras dos ramos ventrais do sexto (C6) e sétimo
(C7) nervos espinhais cervicais. Para o nervo subescapular caudal o resultado corrobora com os autores
supracitados.
Segundo Ribeiro (2002), os nervos subescapulares em macacos (Cebus apela), são constituídos pelos
ramos ventrais do quinto (C5) e sexto (C6) nervos espinhais cervicais, enquanto que Moura et al. (2007), em
catetos (Tayassu tajacu), relataram que a origem ocorre do ramo ventral do sexto (C6) nervo espinhal
cervical e em alguns casos pode ocorrer a participação do ramo ventral do quinto (C5) nervo espinhal
cervical. Os resultados obtidos demonstram que em nenhum dos espécimes foram encontradas as
contribuições dos ramos ventrais do quinto (C5) nervo espinhal cervical. No entanto, o ramo ventral do sexto
(C6) esteve presente em 100% dos casos.
No tocante as distribuições, os nervos subescapulares craniais nos antímeros direito, emitiram de
dois a quatro ramos para os músculos subescapulares. Já no antímero esquerdo, os ramos destinados aos
músculos subescapulares variaram de dois a seis. O nervo subescapular caudal emitiu três ramos espessos ao
músculo redondo maior nos antímeros direito, já no esquerdo, o número de ramos variou de dois a três,
porém, também espessos. A enervação do músculo redondo maior foi exclusiva do nervo subescapular
caudal, em todos os animais, em ambos antímeros. Contudo, este nervo também emitiu ramos para o
músculo subescapular em apenas três antimeros (Figura 3).
Figura 3: Fotografia da região axilar do Tamanduá-bandeira demonstrando o nervo subescapular cranial (a)
emitindo ramos (►) para o músculo subescapular (f), nervo subescapular caudal (b) distribuindo ramos (*)
aos músculos redondo maior (e) e subescapular (f), nervo toracodorsal (c), músculo grande dorsal (d) e nervo
supraescapular (g).
Constatou-se, que os nervos subescapulares craniais, emitiram ramos para os músculos
subescapulares, tal fato está em concordância com os informes de Sisson e Grossman (1975), em bovinos,
Schwarze e Schroder (1970), Ghoshal (1986b), Godinho et al. (1987) e König et al. (2004), em ruminantes
domésticos, Gamba et al. (2007), em chinchilas e Scavone et al. (2008), em pacas. Em se tratando da
inervação do músculo redondo maior, Ghoshal (1986d) para carnívoros e Gamba et al. (2007), para
chinchilas, mencionaram que este músculo é suprido por ramos do nervo subescapular. Entretanto, os relatos
destes autores não fazem a distinção de quais nervos subescapulares (craniais ou caudais) que emitiram
fibras para distribuição no músculo supracitado. No M. tridactyla, foi evidenciado que a inervação do
músculo redondo maior foi realizada pelo nervo subescapular caudal, o qual emitiu ramos para em três
antimeros, e nos demais antímeros, emitiram ramos aos músculos subescapular e redondo maior. Godinho et
al. (1987), em ruminantes domésticos, relataram que o nervo subescapular cranial deixa o plexo braquial
Universidade Federal de Uberlândia
201
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
acompanhado do nervo supra-escapular enquanto que o nervo subescapular caudal acompanha o nervo
toracodorsal. Fato observado nesta pesquisa em todos os espécimes.
CONCLUSÃO
Os dados obtidos em relação à origem dos nervos subescapulares e estruturas por ele envolvidas são
importantes para possível abordagem clínica cirúrgica ou quaisquer afecções que envolva e ou comprometa
as mesmas. Assim, no M. tridactyla foi constatado que o nervo subescapular apresentou-se em número de
dois, sendo um cranial e um caudal. Originando-se dos ramos ventrais do sexto (C6) e sétimo (C7) nervos
espinhais cervicais. O nervo subescapular cranial distribuiu-se para o músculo subescapular e nervo
subescapular caudal emitiu ramos exclusivamente para o músculo redondo maior (três antímeros) e também
para os músculos subescapular e redondo maior em outros três antímeros. Não houve uma significativa
diferença anatômica entre o Tamanduá-bandeira e os demais animais comparados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADM- Artigo de Divulgação de Mídia, Embrapa Pantanal, Corumbá, MS, n.140, p.1-4. Set.2010s.
Disponível em: < www.infoteca.cnptia.br/bitstream/doc/.../1/ADM140.pdf >. Acessado em: 29/05/2013
DYCE, K. M.; SACK, W. O.; WENSING, C. J. G. Tratado de anatomia veterinária. 3 ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 872 p. 2004.
EVANS, H. E.; DELAHUNTA, A. Abdome, pelve e membro pélvico. In: EVANS, H. E.; DELAHUNTA,
A. Guia para a dissecação do cão. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 163-169. 2001.
GAMBA, C. O.; et al, Sistematização dos territórios nervosos do plexo braquial em chinchilla (Chinchilla
lanigera). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 44, n. 4, p. 283289, 2007.
FERRAZ, R. H. S.; LOPES, G. R.; MELO, A. P. F.; PRADA, I. L. S. Estudo anatômico da porção
intrapélvica do nervo isquiático em fetos de bovinos azebuados. Brazilian Journal of Veterinary Research
and Animal Science, São Paulo, v. 43, n. 3, p. 302-308, 2006.
FERREIRA, J. R.; SOUZA, A. L. R.; REZENDE, L. C.; MORTOZA, A. R. Modelo de suprimento
sanguíneo do intestino grosso do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Ciência Rural, Santa
Maria, v. 40, n. 3, p. 541-547, março. 2010.
GHOSHAL, N. G. Nervos espinhais. In: GETTY, R. Sisson/Grossman Anatomia dos animais domésticos.
v. 1. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.620-642. 1986a.
GHOSHAL, N. G. Nervos espinhais. In: GETTY, R. Sisson/Grossman Anatomia dos animais domésticos.
v. 1. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.1052-1077. 1986b.
GHOSHAL, N. G. Nervos espinhais. In: GETTY, R. Sisson/Grossman Anatomia dos animais domésticos.
v. 2. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.1294-1307. 1986c.
GHOSHAL, N. G. Nervos espinhais. In: GETTY, R. Sisson/Grossman Anatomia dos animais domésticos.
v. 2. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.1595-1617. 1986d.
GODINHO, H. P.; CARDOSO, F. M.; NASCIMENTO, J. F. Anatomia dos ruminantes domésticos. Belo
Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 416p. 1987.
GUIMARÃES, G. C.et al,. Origem e distribuição do nervo isquiático no gato doméstico (Feliscatus
domesticus, Linnaeus, 1758). Bioscience Journal, Uberlandia, v. 21, n. 1, p.189-195, 2005.
Universidade Federal de Uberlândia
202
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL NOMENCLATURE.
Nomina Anatômica Veterinária. 15 ed. Columbia: Committee Hannover, 166p. 2005.
KONIG, H. E.; LIEBICH, H. G.; CERVENY, C. Sistema Nervoso. In: KONIG, H. E.; LIEBICH, H.;
CERVENY, C. Anatomia dos animais domésticos: texto e atlas colorido, órgãos e sistemas. Porto
Alegre: Artmed, v. 2. cap.14, p.203-275. 2004
MACAHDO, A. B. M. Nervos Espinhais In: Neuroanatomia funcional 2 ed. São Pualo: Atheneu, cap.11,
p.110-117. 2002
MOURA, C. E. B.et. al. Análise comparativa da origem do plexo braquial de cateto (Tayassu tajacu).
Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v.27, n.9, p.357-362, setembro 2007.
NAPLES, V. L. Morphology, evolution and function of feeding in the giant anteater Myrmecophaga
tridactyla. Journal of Zoology, Londres. v.249, p.19-41, setembro, 1999.
NOWAK, R. M. Walker’s Mammals of the World. 6 ed. Baltimore and London: The Johns Hopkins
University Press,836p, 1999.
PAREJA, C, N.; ARENÁZIO, F.; CRUVINEL, C. A. T.; OLIVEIRA, J.C.; CÂNDIDO, R. F.; MELO, A. P.
F.; CENTENO, A. L. Aspecto anatômicos do coração do tamanduá-bandeira (Myrmecophaga trydactyla,
Linaeus, 1758). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 35,2008, Gramado.
Anais ... Gramado: Combravet, 2008. Versão eletrônica.
Universidade Federal de Uberlândia
203
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ORIGENS, INSERÇÕES E AÇÃO DOS MÚSCULOS DO MEMBRO TORÁCICO DO VEADOCATINGUEIRO - MAZAMA GOUAZOUBIRA
Mattos, B.V.R.R.1; Peixoto,L.R.1; Nunes,G.M.B.1; Santos, A. L.Q.2
1 Graduandos em Medicina Veterinária / Faculdade de Medicina Veterinária – UFU;
2 Docente Orientador / Faculdade de Medicina Veterinária – UFU
Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS), Faculdade de Medicina Veterinária da
Universidade Federal de Uberlândia. Av. Amazonas, n 2245, Jardim Umuarama, Uberlândia – MG, CEP:
38405-302. Fone: 34-9106-0032. E-mail: [email protected]
RESUMO
O Mazama gouazoubira é uma das oito espécies de cervídeos que vivem no Brasil. Este trabalho
teve como objetivo a descrição dos músculos do membro torácico do veado-catingueiro, esclarecendo suas
origens, inserções e ação. Para alcançar tal objetivo foi utilizado quatro peças deste cervídeo. Pode-se
constatar que os músculos são bem desenvolvidos com ausência significante de tecido adiposo, que difere do
observado em alguns ruminantes domésticos.
Palavras-chave: cervídeo; miologia; dinâmica.
ABSTRACT
The gouazoubira Mazama is one of eight species of deer that live in Brazil. This work is aimed at the
description of the forelimb muscles of brocket deer, explaining their origins, insertions and actions. To
achieve this goal four plays this deer was used. It can be seen that the muscles are well developed with a
significant absence of adipose tissue, which differs from that observed in some domestic ruminants.
Key-words: deer; miology; dynamics.
INTRODUÇÃO
O Mazama gouazoubira (Fischer, 1814) pertence à família dos Cervidae e a ordem Artiodactyla,
sendo característicos por apresentarem os pares de dedos recobertos pelo casco. Sabem-se da existência de
pelo menos 38 espécies pertencentes ao grupo dos cervídeos (Nowak; Paradiso, 1983). São conhecidas oito
espécies desse grupo no Brasil: Blastocerus dichotomus, Odocoileus virginianus, Ozotoceros bezoarticus,
Mazama americana, Mazama bororo, Mazama gouazoubira, Mazama nana e Mazama nemorivaga (Cubas;
Silva; Catão-Dias, 2007). A espécie Mazama gouazoubira apresenta tamanho médio de 50 cm e peso
aproximado de 18 kg, sendo frugívoras com habitat do sul do Uruguai ao norte do estado do Mato Grosso e
da Cordilheira dos Andes (Duarte, 2006; Abril; Carnelossi; González et al, 2010). A descrição dos músculos
do membro torácico do Mazama gouazoubira é importante para a compreensão do seu desempenho físico.
Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo verificar as origens, inserções e a ação dos músculos do
membro torácico do Mazama gouazoubira.
MATERIAL E METÓDOS
Foram utilizados quatro veados-catingueiros, de ambos os sexos. Os animais utilizados no estudo são
oriundos do acervo didático científico do Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres (LAPAS).
Os animais foram utilizados segundo a autorização para utilização desse material biológico segundo acordo
da cooperação técnico 002/2011-IBAMA/UFU. Estes animais foram fixados em formol a 10% e conservados
em tanque de igual solução. Posteriormente, realizou-se a dissecação dos espécimes com a retirada a pele
para análise precisa dos músculos com suas origens e inserções devidamente identificadas. Os músculos
foram registrados em câmera fotográfica digital (Sony, 10.1 megapixels) e nomeados segundo as
designações anatômicas, obedecendo a Nomina Anatômica Veterinária (2012).
Universidade Federal de Uberlândia
204
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A dissecação dos músculos do membro torácico do Mazama gouazoubira evidenciou a presença de
34 músculos. Estes fazem com que o membro torácico se mantenha preso ao tronco com eficiência, similar
ao que foi descrito por Getty (1986) em relação aos ruminantes domésticos.
O músculo cutâneo do tronco recobre o tronco desde o ombro até a pelve. A contração de suas fibras
provoca movimento brusco da pele adjacente. Getty (1986) também observou tal fato nos ruminantes
domésticos.
O músculo peitoral superficial possui duas porções distintas, sendo uma descendente e outra
transversa. A parte descendente apresenta dois ventres, sendo um superficial e outro profundo; ambas
originam-se no manúbrio do esterno por uma rafe fibrosa comum aos músculos dos dois lados. O ventre
superficial insere-se na fáscia do braço e na cabeça e colo do rádio. Já o ventre profundo insere-se apenas na
fáscia do braço. A parte transversa tem origem ventralmente no esterno e insere-se na fáscia do antebraço. O
músculo peitoral superficial é adutor do membro e, de acordo com a posição do tronco, leva o membro para
frente ou para trás; quando o membro está fixo, puxa o tronco para o lado.
O músculo peitoral profundo origina-se por uma rafe fibrosa na face ventral do esterno e na túnica
flava do abdome. Insere-se nos tubérculos maior e menor do úmero e no processo coracóide da escápula.
Este músculo é adutor do membro e, de acordo com a posição do tronco, leva o membro para frente ou para
trás. Quando o membro está fixo, puxa o tronco para o lado. Esse músculo é similar ao análogo encontrado
nos ruminantes domésticos, segundo exposto por Getty (1986).
O músculo braquiocefálico é dividido em porção cleidobraquial e cleidocefálica. Origina-se na
porção cranial do úmero e insere-se através de um curto tendão na cabeça do rádio, juntamente com a porção
superficial do músculo peitoral descendente. Quando o braço está apoiado no solo, este músculo faz com que
a cabeça e o pescoço sejam inclinados lateralmente. Quando a cabeça e o pescoço estão imóveis esse
músculo faz com que o membro seja deslocado cranialmente.
O músculo omotransversal é estreito e delgado. Origina-se na asa do atlas e insere-se na espinha da
escápula. Sua ação consiste em puxar o membro para frente e com o membro fixo é responsável por inclinar
a cabeça e o pescoço para o lado. Tais observações coincidem com as de Getty (1986).
O músculo trapézio é responsável por prender a escápula ao tórax e pescoço. Possui duas partes, a
cervical e a torácica, entretanto não há divisão nítida entre elas. A cervical origina-se por uma rafe fibrosa na
linha mediana dorsal e insere-se na espinha da escápula, através de uma curta aponeurose. A torácica é mais
extensa que a cervical; origina-se da 2ª a 12ª vértebra torácica e insere-se no túber da espinha da escápula. O
músculo age como elevador da escápula, sendo que a porção cervical puxa a escápula para cima e para frente
e a torácica leva a escápula para cima e para trás.
O músculo grande dorsal tem origem no terço médio das costelas IX à XII e por meio de uma
aponeurose, até a fáscia toracolombar. Similarmente ao encontrado nos ruminantes domésticos que Getty
(1986) descreveu. Insere-se por meio de um curto tendão na tuberosidade redonda maior do úmero,
juntamente com o músculo redondo maior. Sua ação, quando o membro está livre, é puxa-lo para trás e para
cima, auxiliando na sua adução; com o membro fixo, auxilia no deslocamento cranial do tronco.
O músculo supra-espinhal tem origem na fossa supra-espinhal da escápula. Insere-se no tubérculo
maior e menor do úmero, sendo a inserção no tubérculo maior mais espessa e evidente. Este músculo é
responsável por estender a articulação do ombro.
O músculo infra-espinhal origina-se na fossa infra-espinhal da escápula, na cartilagem e na espinha
da escápula. Insere-se na porção caudal do tubérculo maior do úmero e numa área imediatamente abaixo
desta, através de dois tendões. É responsável por estender a articulação do ombro.
O músculo deltoide possui uma parte cranial e outra caudal, sendo respectivamente a parte acromial
e a parte escapular. A parte acromial tem origem no acrômio e na espinha da escápula e insere-se na
tuberosidade deltoidea do úmero. A parte escapular tem origem na espinha da escápula, por meio de uma
aponeurose que cobre o músculo infra-espinhal, e no terço proximal da borda caudal da escápula. Insere-se
na fáscia braquial, superficialmente a cabeça lateral do tríceps. Este músculo é responsável por flexionar a
articulação do ombro e aduzir o braço.
O músculo tríceps é o maior músculo do braço, possuindo três cabeças principais e uma acessória. A
cabeça longa é a mais volumosa e origina-se na borda caudal da escápula e insere-se no olécrano e na fáscia
do antebraço. A cabeça lateral está parcialmente coberta pelo músculo deltoide, originando-se acima da
Universidade Federal de Uberlândia
205
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
tuberosidade deltoidea, numa área rugosa lateral, adjacente ao colo do úmero; insere-se no olécrano, em sua
face lateral. A cabeça medial origina-se, juntamente com a acessória na face medial do úmero, logo abaixo
da cabeça e do tubérculo menor; insere-se na face medial do olécrano. É responsável por flexionar a
articulação do ombro e estender a do cotovelo.
O músculo tensor da fáscia do antebraço tem origem no terço proximal da borda caudal da escápula e
insere-se na face medial do olécrano, juntamente com o tríceps. Sua ação consiste em flexionar a articulação
do ombro e estender a do cotovelo. Getty (1986) também constatou essa mesma ação nos ruminantes
domésticos.
O músculo braquial tem origem na borda cranial do úmero e na metade proximal do sulco. Sua
inserção ocorre na borda medial e na face caudal do rádio, um pouco baixo da tuberosidade do rádio e ainda
na borda medial da extremidade proximal da ulna. Este músculo flexiona a articulação do cotovelo.
O músculo ancôneo origina-se na face caudal e na borda lateral da metade proximal do úmero e
insere-se na face lateral do olécrano. Sua ação é estender a articulação do cotovelo.
O músculo redondo menor é origina-se na metade distal da borda caudal da escápula e insere-se na
face lateral da proximidade proximal do úmero, numa área situada logo abaixo da inserção do infra-espinhal.
Sua ação consiste em flexionar a articulação do ombro.
O músculo subclávio origina-se na cartilagem costal I, na região peitoral e insere-se na face profunda
do músculo braquiocefálico. Sua ação é reduzida e parece atuar mantendo o músculo braquicefálico junto à
face lateral do pescoço.
O músculo serrátil ventral prende a escápula ao tórax e ao pescoço, possui a porção cervical e a
porção torácica. Tem origem na face medial da escápula. Sua porção cervical insere-se nos processos costais
das vertebras cervicais III e VI e no processo transverso da vértebra cervical IV. Este músculo auxilia na
sustentação do tronco, quando atua em conjunto com o lado oposto. A contração simultânea dos dois eleva o
tronco, a porção cervical auxilia na elevação do pescoço e a porção torácica participa na inspiração.
O músculo romboide cervical e romboide torácico originam-se no ligamento da nuca e inserem-se na
face medial da cartilagem da escápula. O romboide cervical eleva cranialmente à escápula ou inclina a
cabeça e o pescoço lateralmente. O romboide torácico auxilia na elevação da escápula e fixação do membro
no tronco.
O músculo subescapular origina-se na fossa subescapular e insere-se no tubérculo menor do úmero e
área adjacente. Sua ação consiste em adução do braço.
O músculo redondo maior origina-se na borda caudal da escápula e insere-se na tuberosidade
redonda do úmero. É responsável por flexionar a articulação do ombro.
O músculo bíceps do braço origina-se por forte tendão no tubérculo supra-gleinoidal da escápula e
área adjacente. Nos ruminantes domésticos a origem ocorre apenas no tubérculo supra-gelinoidal da escápula
(GETTY, 1986). Insere-se por curto tendão na tuberosidade do rádio. Sua ação consiste em estender o ombro
e flexionar o cotovelo.
O músculo coracobraquial origina-se no processo coracóide da escápula e insere-se na face medial
do colo do úmero em grande extensão na face crâniomedial do mesmo. Este músculo é adutor do braço e
estende a articulação do ombro.
O músculo pronador redondo é pequeno e rudimentar. Origina-se no epicôndilo medial do úmero e
insere-se no terço proximal da borda medial do rádio. Sua ação é bastante reduzida.
O músculo flexor radial do carpo origina-se no epicôndilo medial do úmero e insere-se na face
palmar da base do osso metacárpico III e IV. É responsável por flexionar a articulação do carpo.
O músculo flexor ulnar do carpo origina-se no epicôndilo medial do úmero e insere-se no osso
acessório do carpo. Este músculo flexiona a articulação do carpo.
O músculo flexor superficial dos dedos possui o vente dividido em duas partes, uma superficial e
outra profunda. Sua origem está parcialmente fundida à do flexor ulnar do carpo e insere-se no epicôndilo
medial do úmero. É responsável por flexionar as articulações metacarpofalângica e interfalângica proximal,
auxiliando na sustentação do corpo do animal.
O músculo flexor profundo dos dedos possui de quatro a cinco cabeças: uma radial, duas ou três
umerais e uma ulnar. Estas cabeças unem-se na face palmar do carpo num tendão comum que se estende até
a extremidade distal da face palmar do metacárpico III e IV onde se divide em dois ramos, uma para cada
dedo principal. Insere-se na falange distal correspondente. A cabeça radial origina-se na face caudal do rádio
e continua-se por delgado tendão, que se une aos tendões das outras porções na altura do carpo. As cabeças
umerais originam-se numa área da extremidade distal do úmero, caudal ao epicôndilo medial; ao nível da
Universidade Federal de Uberlândia
206
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
face palmar do carpo unem-se num tendão comum. A cabeça ulnar origina-se na face medial, borda caudal e
face lateral da ulna, logo abaixo do olécrano. Seu longo tendão corre distalmente no antebraço entre as
cabeças umerais e o músculo ulnar lateral, unindo-se ao tendão comum ao nível da face palmar do carpo.
Este músculo é responsável por flexionar as falanges e, ligeiramente, o carpo.
O músculo interósseo III e IV é constituído de parte superficial e parte profunda. A parte superficial,
na extremidade distal do metacárpico III e IV, forma juntamente com os ramos do tendão do músculo flexor
superficial dos dedos, os canais que dão passagem aos tendões do músculo flexor profundo dos dedos. A
parte profunda divide-se, ao nível da extremidade distal do metacárpico III e IV, em partes lateral, intermédia
e medial. Este músculo é considerado como parte do sistema passivo de suporte do animal.
O músculo extensor radial do carpo origina-se na parede lateral da fossa do olécrano e na fossa radial
do úmero. Seu tendão de inserção passa no sulco medial da extremidade distal do rádio e na face dorsal da
articulação do carpo e insere-se na tuberosidade do metacárpico III e IV. É responsável por estender a
articulação do carpo e flexionar a do cotovelo. Sua origem, inserção e ação condizem com as do ruminante
domésticos descritas por Getty (1986).
O músculo abdutor longo do polegar origina-se na metade distal da face lateral do corpo da ulna e do
rádio e insere-se na borda medial da base do metacárpico III e IV. Este músculo estende a articulação do
carpo.
O músculo extensor do dedo III origina-se no epicôndilo lateral do úmero e área adjacente e inserese na face dorsal do dedo III. Foi observado por Getty (1986) que a origem ocorre apenas no epicôndilo
lateral do úmero. É responsável por estender as articulações interfalângicas, metacarpofalângicas e do carpo;
também atua na adução do dedo III.
O músculo extensor comum dos dedos é constituído de parte umeral e parte ulnar. A umeral originase no epicôndilo lateral do úmero e a ulnar na face lateral da metade proximal do corpo da ulna. O tendão
deste músculo corre caudalmente ao músculo extensor do dedo III e ao nível da articulação
metacarpofalângica se divide em dois ramos. Cada um destes ramos corre na face dorsal do respectivo dedo
e insere-se na falange distal. Atua na extensão do carpo e dos dedos.
O músculo extensor do dedo IV origina-se lateralmente na cabeça do rádio, no corpo da ulna e no
epicôndilo lateral do úmero. Sua origem ulnar estende-se apenas até a metade do corpo da ulna. Seu tendão
corre distalmente e ao nível da extremidade distal do metacarpo insere-se na face dorsal do dedo IV. É
responsável por estender as articulações do dedo IV e abduz o mesmo.
O músculo ulnar lateral origina-se numa área da face lateral da extremidade distal do úmero,
caudalmente ao epicôndilo lateral. Seu ventre continua com dois tendões que se inserem no osso acessório do
carpo e na base do metacárpico III e IV. É responsável por flexionar a articulação do carpo e estender a
articulação do cotovelo.
CONCLUSÕES
O presente trabalho possibilitou constatar as origens, inserções e ações dos músculos do membro
torácico do Mazama gouazoubira. Além disso, foi evidenciado que há músculos que são análogos tanto na
origem, inserção quanto na ação à de outros ruminantes domésticos.
REFERÊNCIAS
Nowak R.M., Paradiso J.L. Walker's Mammals of the World. 4. ed. The Johns Hopkins University Press,
Baltimore, 1983
Cubas Z.S., Silva J.C., Catão-Dias J.L. Tratado de Anatomia dos Animais Selvagens. São Paulo: Roca, 2007,
641p.
Duarte J.M. Artiodactyla-Cervidae (Veado-catingueiro, Veado-campeiro, Cervo-do-pantanal), p.643-649.
In: Cubas Z.S., Silva J.C.R.,Catão-Dias J.L. (Eds), Tratado de Animais Selvagens. Roca, São Paulo, 2006
Abril V.V., Carnelossi E.A.G., González S., Duarte J.M.B. Elucidating the evolution of the red brocket
deerMazama Americana complex (Artiodactyla; Cervidae). Cytogenetic and Genome Research v.128,
2010,177-187p.
Universidade Federal de Uberlândia
207
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Getty, R. Anatomia dos animais domésticos. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986, 2048p.
Universidade Federal de Uberlândia
208
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
OSTEOLOGIA E RADIOGRAFIA DO MEMBRO PÉLVICO DO MAZAMA GOUAZOUBIRA
(F ICHER, 1814)
Nunes,G.M.B1.; Mattos, B.V.R.R1.; Peixoto, L.R1.; Santos, A.L.Q2.
1 Graduandos em Medicina Veterinária / Faculdade de Medicina Veterinária – UFU; 2 Docente Orientador /
Faculdade de Medicina Veterinária – UFU. Laboratório de Pesquisa em Animais Silvestres (LAPAS),
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia. Av. Amazonas, n 2245, Jardim
Umuarama, Uberlândia – MG, CEP: 38405-302. Autor responsável: Nunes,G.M.B1.; Fone: 34-9662-6614.
E-mail: [email protected]
RESUMO
O Mazama gouazoubira é um pequeno ruminante selvagem da ordem Artiodactyla, que se
caracteriza pela presença de cascos que recobrem totalmente os pares de dedos. Foram utilizados ossos de
três animais, de ambos os sexos. Estes foram macerados com água fervente, posteriormente colocados em
solução de peróxido de hidrogênio e identificados. Após análise foi verificado que a pelve e a patela são bem
alongadas e estreitas e foi identificado a ausência de sesamóides distais sendo isto comprovado através de
raio-x.
Palavras-chave: Veado-catingueiro, osso, radiografia, cervídeos, membro pelvino.
ABSTRACT
The gouazoubira Mazama is a small wild ruminant of the order Artiodactyla, which are
characterized by the presence of hulls entirely overlying pairs of fingers. Were used bones of three animals
of both sexes. These were macerated with boiling water, subsequently placed in a solution of hydrogen
peroxide and fingered. After this analysis it was observed that the pelvis and patella are very long and
narrow. The absence of distal sesamoid this being confirmed by x-ray was identified.
Key words: Brocket-deer, bones, radiography, cervidae, pelvic member.
INTRODUÇÃO
O Mazama gouazoubira (veado-catingueiro) é um ruminante selvagem pertencente a família
Cervidae, ungulado, de pequeno á médio porte, de altura média de 0.50 m e que pesa de 12 a 25 quilos,
respectivamente (ROSSI, 2000). Sua coloração varia um pouco indo do marrom avermelhado até o cinza
escuro podendo ter áreas brancas na cauda, região ventral e no interior da orelha (PINDER;
LEEUWENBERG, 1997). O seu habtat é bem variado, podendo habitar diferentes biomas que abrangem
áreas desde o sul do Uruguai até o norte do Mato Grosso e da Cordilheira dos Andes até o Oceano Pacífico
(DUARTE, 2006). Este trabalho tem como objetivo a identificação e compreensão da osteologia do membro
pélvico do veado catingueiro visto que isso é de fundamental importância principalmente para o médico
veterinário, pois assim ele poderá estar ciente das características anatômicas desta espécie contribuindo para
a conservação da espécie, pois o profissional terá mais conhecimento, estrutura e poderá desenvolver novas
técnicas para o tratamento de animais fraturados, recuperando-os e fazendo com que os animais voltem ao
meio natural em período de tempo menor.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados três espécimes de veado catingueiro de ambos os sexos, provenientes do acervo
didático científico do LAPAS (Laboratório de Pesquisa de Animais Silvestres) e foram utilizados mediante o
acordo de cooperação técnico 002/2011-IBAMA/UFU. Após análise clínica dos médicos veterinários eles
foram submetidos a técnica de eutanásia seguindo a resolução n° 1000, de 11 de maio de 2012 do Conselho
Federal de Medicina Veterinária. Inicialmente foi retirada toda a pele e o membro foi submetido a técnica de
Universidade Federal de Uberlândia
209
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
diagnóstico por imagem- Raio X com Kvp: 44, MA 100 e Tcr :0.058. Posteriormente foi retirada toda a
musculatura dos membro pelvinos, e posteriormente os estes foram desarticulados. Em seguida os membros
foram macerados em água fervente e colocados em solução de peróxido de hidrogênio. Após a limpeza, os
ossos foram identificados, registrados utilizando câmera fotográfica (Sony, 10.1 Megapixel ) e descritos de
acordo com a Nomina Anatômica Veterinária (2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O membro pelvino dos cervídeos é constituído de quatro segmentos: cintura pelvina, coxa, perna e
pé, assim como foi descrito por Getty (1986). A cintura pelvina compreende o osso do quadril. A coxa é
constituída de apenas um osso, o fêmur. A perna tem como base óssea a tíbia, além da fíbula, que é
rudimentar. O pé compreende o tarso, o metatarso e os dedos que são formados pelas falanges proximais,
médias e distais e os sesamóides proximais.
O osso do quadril está formado por três ossos: ílio, ísquio e pube que juntos são irregularmente
triangulares, alongados e bem estreitos. A porção mais larga do ílio é chamada asa e a suas faces são
denominadas glútea e sacropelvina. A face glútea apresenta discreta elevação com rugosidade, disposta
longitudinalmente, denominada linha glútea. A face sacropelvina é convexa, voltada para baixo e para frente.
O eixo maior da asa do ílio orienta-se transversalmente e termina em duas extremidades angulares
denominadas túber sacral, situado medialmente e projeta-se caudomedialmente, e o túber coxal, lateralmente.
Unindo os dois túberes encontra-se a crista ilíaca. O túber sacral continua caudalmente com a incisura
isquiática maior, que se estende até a espinha isquiática, sendo esta pouco desenvolvida. O corpo do ílio é
estreito e termina caudalmente fundindo-se à pube e ao ísquio. Neste ponto de união os três ossos formam a
cavidade articular para o fêmur, denominada acetábulo.
Segundo (Getty, 1986) a pube é o menor dos três ossos e é constituída de ramo cranial, ramo caudal
e corpo. O ramo cranial dirige-se para frente e para fora e termina no acetábulo. O ramo caudal é menor e
mais delgado que o cranial e se continua com o ísquio. As duas pubes unem-se no plano mediano,
constituindo parte da sínfise pelvina. Entre esta sínfise e o acetábulo, o ramo cranial da pube apresenta a
discreta eminência iliopúbica.
O ísquio é um osso irregularmente achatado e apresenta para descrição: ramo, corpo, tábula, túber e
incisura. O ramo é a porção mais medial do osso e se une com o do lado oposto, constituindo a parte caudal
da sínfise pelvina. O corpo está unido, sem limites nítidos, com o ramo e se estende até o acetábulo. A tábula
é a porção mais larga do ísquio, sendo o túber bem desenvolvido. A incisura isquiádica menor é a reentrância
do ísquio que se estende da espinha isquiádica ao túberisquiádico. O contorno caudal formado pelos dois
ísquios constitui o arco isquiádico.
O acetábulo é a cavidade que aloja a cabeça do fêmur. A superfície da cavidade acetabular apresenta
uma área rugosa, profunda e não articular, a fossa do acetábulo, na qual está inserido o ligamento da cabeça
do fêmur. O restante da superfície é lisa e articula-se com a cabeça do fêmur. Em sua borda nota-se a
presença da incisura caudal (incisura do acetábulo).
O forame obturado é o espaço circunscrito pela pube e ísquio. O forame apresenta algumas
características ligadas ao sexo. Percebe-se uma depressão circular bem evidente na porção cranial da borda
deste forame que se estende até a fossa do acetábulo diferentemente como o apresentado em ruminantes
domésticos por Getty (1986).
O fêmur (figura 1) é o osso da coxa, sendo constituído de corpo e duas extremidades. A extremidade
proximal consiste de cabeça, colo e trocânteres maior e menor. A cabeça é uma proeminência arredondada
mais extensa dorsalmente que ventralmente. Está dirigida medialmente com sua face articular voltada para
dentro, para cima e ligeiramente para trás articulando-se com o acetábulo. O colo é o segmento ósseo que
prende a cabeça ao corpo apresentado uma área rugosa com alguns forames. O trocânter maior é uma
protuberância rugosa de aspecto arredondado que se destaca na face lateral da extremidade proximal do osso
e se projeta para cima. Sua face medial é côncava, perfurada por inúmeros forames e delimita a fossa
trocantérica. Já o trocânter menor situa-se na face caudal da extremidade próximal e se liga ao trocânter
maior por meio da crista intertrocantérica. O corpo é cilíndrico e curvado apresentando, na porção caudal,
uma rugosidade que se estende desde o trocânter menor até a extremidade distal. Ao nível da porção distal da
face lateral encontra-se a fossa supracondilar, que é bastante rasa. A face caudal (face áspera) apresenta
rugosidades bem evidenciadas, que correm longitudinalmente. A extremidade distal é formada pela tróclea e
côndilos. A tróclea é constituída por duas arestas, separadas por um sulco, que se dirigem para baixo e para
Universidade Federal de Uberlândia
210
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
trás. A aresta medial é arredondada, mais desenvolvida que a lateral e sua extremidade proximal alarga-se
consideravelmente. Os dois côndilos, lateral e medial, situam-se caudalmente à tróclea e são separados pela
fossa intercondilar. A face medial do côndilo medial é rugosa e apresenta o epicôndilo medial. O epicôndilo
lateral é uma saliência situada na face lateral do côndilo lateral e é menos desenvolvido que o medial.
A patela é um sesamóide articulado à tróclea do fêmur. Tem a forma triangular e bem alongada
diferentemente como como foi apresentado por Getty (1986). Sua face caudal apresenta duas faces
articulares para a tróclea do fêmur.
A tíbia é o osso longo da perna e que apresenta a extremidade proximal larga e aproximadamente
triangular. Apresenta os côndilos medial e lateral para articulação com os correspondentes côndilos do
fêmur. Entre os dois côndilos e aproximadamente no centro da extremidade proximal projeta-se a eminência
intercondilar. A incisura poplítea separa caudalmente, os côndilos. Apresenta também três faces: medial,
lateral e caudal, e três bordas: cranial, medial e lateral ou interóssea. A face medial é larga e rugosa até a
metade do osso, a face lateral é lisa e ligeiramente torcida e a face caudal é plana. O forame nutrício abre-se
nesta face, próximo a borda lateral. A borda cranial é proeminente no terço proximal do osso. Ela vai se
desfazendo gradativamente até constituir apenas uma linha rugosa. A borda medial é convexa
longitudinalmente. A borda lateral ou interóssea metade proximal do osso é côncava e forma com a fíbula o
espaço interósseo da perna.
Apresenta a face articular para articulação com os ossos do carpo e com o osso maleolar. A
superfície para articulação com o osso talos do tarso é denominada cóclea da tíbia e está formada por dois
sulcos, um lateral, largo e pouco profundo, e um medial, mais profundo e estreito. Estes sulcos estão
separados por uma crista que pode apresentar uma fossa sinovial. A fíbula é outro osso da perna e situa-se
lateralmente a tíbia. Na ossificação, porém, fica reduzido a duas extremidades, a proximal ou cabeça e a
distal ou osso maleolar, e a uma corda fibrosa que as une. A extremidade proximal apresenta duas facetas
articulares separadas por um processo pontiagudo. A face medial se articula com o tálus e a face distal se
articula com o calcâneo.
O tarso dos ruminantes é constituído de cinco ossos, dispostos em duas fileiras. A fileira proximal
compõe-se do tálus e do calcâneo, já a fileira distal é formada pelos ossos centroquarto, társico II e III e
társico I.
O tálus articula-se com a cóclea da tíbia por meio da tróclea proximal. Sua face distal apresenta a
tróclea distal que se articula com o osso centroquarto.
O calcâneo relaciona-se com a face lateroplantar do tálus, com o qual se articula. O espaço limitado
pela face lateral do tálus e a medial do calcâneo é denominada seio do tarso. Do corpo do calcâneo destacaUniversidade Federal de Uberlândia
211
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
se o túber do calcâneo. Já a face dorsal do calcâneo articula-se com o osso maleolar. O osso centroquarto é o
mais desenvolvido da fileira distal. É formado pela fusão do osso central do tarso com o társico IV. É um
osso largo que se estende de um lado ao outro e se articula com todos os ossos do tarso. O osso társico II e III
resulta da fusão do társico II e társico III. O osso társico I é pequeno e articula-se com o centroquarto e
metatársico III e IV.
No metatarso, assim como no metacarpo, apenas um osso está completamente desenvolvido: o
metatársico III e IV. Os outros ossos, o metatársico II e o metatársico V estão fundidos as bordas
plantomedial e plantolareral respectivamente, do metatársico III e IV.O metatársico I é pequeno e discóide e
se articula com a face caudal da base do metatársico III e IV.
O metatársico III e IV é bastante semelhante ao metacárpico III e IV, sendo, porém um pouco mais
largo e longo que este. A base ou extremidade articular proximal é larga e se articula com a fileira distal dos
ossos do tarso. A tuberosidade do osso metatársico III e IV ocupa uma posição crânio medial na base do
osso.
O corpo é de contorno aproximadamente quadrangular e mais largo nas epífises. A face dorsal é
percorrida longitudinalmente pelo sulco longitudinal dorsal, sendo este mais evidente e profundo nas
extremidades do osso e apresenta uma elevação ao lado do sulco longitudinal dorsal contrariando o descrito
por Getty (1986). A face plantar é percorrida pelo sulco longitudinal plantar, que é mais desenvolvido que o
dorsal.
Os cervídeos possuem quatro dedos. O terceiro e o quarto são completamente desenvolvidos e
possuem, cada um, três falanges com três ossos sesamóides. O segundo e o quinto são rudimentares e
possuem três pequenos ossos sendo eles as falanges proximais, falanges média e falanges distais que não se
articulam com o restante do esqueleto (figura 2).
A falange proximal é um osso longo cuja base é mais larga o que a cabeça e apresenta duas facetas
côncavas, separadas por um sulco, para articulação com a tróclea correspondente com o metacárpico III e IV.
Apresenta ainda, caudalmente, duas pequenas facetas planas para articulação com os dois sesamóides
proximais e logo abaixo daquelas, dois tubérculos separados por um largo sulco. A cabeça é formada por
uma tróclea, que se articula com a base da falange média. Ela representa duas pequenas facetas e um sulco
(figura 2).
A falange média é um osso longo cuja cavidade medular está bastante reduzida. A sua base apresenta
duas facetas côncavas para articulação com a tróclea da falange proximal. Na face palmar apresenta dois
Universidade Federal de Uberlândia
212
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
tubérculos. A cabeça é representada por uma tróclea para articulação com a falange distal, semelhante
aquela da falange proximal (figura 2).
A falange distal difere das outras duas, apresentando quatro faces e três ângulos. A face solear apoiase no solo por meio do casco; é lisa, lanceolada com a extremidade aguda voltada para frente e ligeiramente
para dentro. A face parietal ou abaxial é convexa. Esta face apresenta alguns forames sendo os dois maiores
localizados nos ângulos caudal e proximal, respectivamente, e conduzem a um canal no interior do osso. A
face axial é ligeiramente côncava e possui alguns forames; os dois maiores tem localização variável e
também se comunicam com um canal dentro do osso. A face articular apresenta-se dividida em duas partes
por meio de uma crista e se articula com a falange média (figura2).
Por fim os sesamóides são pequenos ossos arredondados relacionados com as faces palmares das
articulações metatarsofalângica . Existem quatro sesamóides proximais, dois para cada dedo, articulados com
a cabeça do metacárpico III e IV e com a base da falange proximal. Segundo (Getty, 1986) os ruminantes
domésticos apresentam em cada dedo um sesamóide distal que se articula com a cabeça da falange média e
com a falange distal, o que não foi encontrado no presente trabalho (figura 2). Contudo ressalta-se a presença
de uma cartilagem em forma de tróclea em formato semelhante aos dos sesamóides no mesmo local.
CONCLUSÃO
Os ossos do membro pelvino apresentaram conformações e acidentes ósseos praticamente iguais ao
dos demais ruminantes, mas apresentaram algumas diferenças de extrema importância para Medicina
Veterinária. A cintura pélvica é alongada triangular e estreita. O forame obturado apresenta depressão
circular bem evidente na porção cranial da borda que se estende até a fossa do acetábulo. A patela tem forma
triangular e bastante alongada e estreita. Não foi encontrada a presença de nenhum sesamóide distal, mas
uma espécie de cartilagem em forma de tróclea os substituindo.
REFERÊNCIAS
ROSSI, R. V. Taxonomia de Mazama Ranfinesque, 1817 do Brasil (Artyodactyla,
Cervidae). 2000. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Biociências, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2000.
PINDER, L.; LEEUWENBERG, F. VEADO-CATINGUEIRO ( Mazama gouazoubira, Fisher 1814). In:
DUARTE, J. M. B ( Ed.). Biologia e conservação de cervídeos Sul Americanos: Blastocerus, Ozotocerus e
Mazama. Jaboticabal: FUNEP, 1997. p.60-68.
DUARTE, J. M. 2006. Artiodactyla- Cervidae ( Veado- catingueiro, Veado- campeiro, Cervo-do-pantanal),
p.643-649. In: Cubas Z.S., Silva J.C.R.& Catão-Dias J. L. ( Eds), Tratado de animais Selvagens. Roca, São
Paulo.
KOKUBUN, H.S; ESPER, G.V.Z; E SILVA, F.M.O; FRANCIOLLI, A.L.R; MIGLINO, M.A; RICI,
R.E.G. Estudo histológico e comparativo das papilas linguais dos cervídeosMazama
americana e Mazama gouazoubira por microscopia de luz e eletrônica de varredura. Pesq. Vet Bras. Vol
32
nº10,
Rio
de
Janeiro
Oct,
2012.
Disponível
em:
<
http:\\scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-736X2012001000021>
Getty, R. Anatomia dos animais domésticos. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986, 2048p.
Universidade Federal de Uberlândia
213
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
PERFIL HEMATOLÓGICO, BIOQUÍMICO SÉRICO E ANÁLISES SALIVARES DO
TAMANDUÁ-BANDEIRA (MYRMECOPHAGA TRIDACTYLA) DE CATIVEIRO.
MIRANDA, N. C.1*; ROLAND, R. T.2, SANTOS, A. L. Q.³; ESPINDOLA, F. S.3
1.
Aluna mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural Aplicada – ICBIM
– LABIBI UFU, Uberlândia/MG, [email protected], 34 9211-4433.
2.
Técnica do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular (LABIBI) da Universidade Federal de
Uberlândia;
3.
Docentes da Universidade Federal de Uberlândia;
INTRODUÇÃO
Os tamanduás-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) são mamíferos que possuem uma articulação
adicional entre as vértebras lombares e pertencem à ordem Xenarthra (que incluem Tatus e os Bichos Preguiças) e família Myrmecophagidae. Esses mamíferos estão distribuídos em toda a América Central e
América do Sul, ocupando quase todos os biótipos de florestas tropicais e savanas (Moeller, 1988). Os
tamanduás-bandeira são endêmicos , principalmente no Cerrado, uma área que está sendo rapidamente
transformada em plantações (Bartmann, 1994), fazendo com que o número destes animais no estado
selvagem diminua, sendo assim considerada ameaçada de extinção. Os animais adultos pesam entre 20 e 60
kg e atingem 1,0 metro de comprimento corporal e 1,0 metro de cauda (DIVERS, 1986). Sua temperatura
corporal é relativamente baixa (27 – 33º C) e flutua por 4 – 6º C ao longo do dia (Wislocki e Enders, 1935;
Fernandes e Young, 2008), apresentando baixas taxas metabólicas (Enger de 1957; McNab, 1984; Bosque et
al., 1996) e prolongados períodos de descanso (em média 16.25 h por dia, Camilo-Alves e Moura, 2006).
Os estudos sobre tamanduás-bandeiras enfocam, principalmente, aspectos relacionados ao
comportamento (SHAW et al., 1987), parasitologia (FERREIRA, 1989), anatomia (MIGLINO, 1992),
reprodução (PATZL, 1998) e nutrição (NAPLES, 1999). A escassez de trabalhos sobre o perfil hematológico
e bioquímico sérico, muitas vezes dificulta o diagnóstico de enfermidades que acometem esses animais.
O biomaterial “saliva” é um fluido oral facilmente acessível através de uma abordagem totalmente
não-invasiva, de fácil coleta e com o mínimo de desconforto para o animal. Além disso, a descoberta de
biomarcadores salivares e o desenvolvimento contínuo de tecnologias de diagnósticos salivares fornecem
soluções promissoras para uma eficiente plataforma de detecção precoce de diferentes patologias, pois a
saliva é composta por várias moléculas que são filtradas e derivadas da corrente sanguínea, além de
moléculas produzidas pelas glândulas salivares. O tamanduá-bandeira possui uma grande glândula salivar,
que produz uma saliva viscosa. O objetivo do presente estudo foi avaliar o perfil hematológico e bioquímico
sanguíneo dos tamanduás-bandeira de cativeiro, assim como avaliar amostras de saliva desses animais em
relação à proteína total, nitrito, atividade antioxidante total e atividade da amilase salivar.
MATERIAIS E MÉTODOS
Animais
Os animais utilizados para este estudo foram animais capturados pelo IBAMA e levados para os
cuidados da equipe do Setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinária (HV) da UFU. Foram coletadas
amostras de saliva, plasma e soro dos cinco tamanduás-bandeira, sendo quatro fêmeas e um macho. A idade
destes animais estavam entre 1 à 7 meses, com peso corporal variando entre 1,3 à 8,6 kg.
Coleta das Amostras
A coleta da saliva foi realizada utilizando-se swabs. As residentes do Setor de Animais Silvestres do
HV da UFU imobilizaram os animais. Foi introduzido em suas cavidades orais o lado do swab com algodão.
Universidade Federal de Uberlândia
214
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Após observar que o algodão estava umedecido de saliva, este foi colocado no tubo de coleta da
salimetrics®.
Nas amostras salivares foram analisadas a concentração da proteína total pelo método de Bradford
(1976) adaptado para microplaca, a atividade da amilase salivar, realizada pelo método cinético-enzimático
GalG2CNP; atividade antioxidante total pelo método de FRAP e dosagem do nitrito salivar pelo método de
Griess.
A coleta do sangue foi realizada pelos residentes do Setor de Animais Silvestres do HV da UFU. Os
animais foram colocados sobre uma mesa e houve a imobilização física do animal, onde as pernas e os
braços foram imobilizados, segurando-os e a cabeça foi levemente esticada para facilitar a coleta. Foi
realizada assepsia do local com álcool 70% e foi retirada 5mL de amostra de sangue da veia jugular, sendo
que essa amostra foi dividida em dois frascos, sendo 2mL no frasco com EDTA para a obtenção do plasma
sanguíneo e 3 mL no frasco sem EDTA para a obtenção do soro sanguíneo.
O sangue com EDTA foi primeiro levado ao laboratório de analises clínicas do Hospital Veterinário
da UFU para a realização do hemograma completo e análises bioquímicas sérica de Ácido Úrico Liquiform
(Colorimétrico - Enzimático Trinder - Labtest), Albumina (Colorimétrico - Verde de Bromocresol - Labtest),
Cálcio Liquiform (Colorimétrico - CPC – cresolftaleína - Labtest), Fosfatase Alcalina (Colorimétrico - Roy
modificado - Labtest), Fósforo UV (Daly e Ertingshausen modificado - Labtest), Magnésio (Colorimétrica Magon sulfonado - Labtest), Proteínas Totais (Colorimétrica - Biureto - Labtest), TGO (Cinética UV-IFCC Labtest), TGP (Cinética UV-IFCC - Labtest), Uréia UV (Enzimático UV - Labtest).
Processamento das amostras
Os frascos contendo os algodões embebidos na saliva de cada animal foram centrifugados a 1500 g
por 10 minutos. Após a centrifugação, cada amostra de saliva foi aliquotada e armazenada em ultrafreezer a 80ºC. As amostras de sangue foram centrifugadas a 3000 rpm por 10 min. O soro e o plasma foram retirados
e armazenados em ultrafreezer a -80ºC. As células sanguíneas foram utilizadas para preparar o hemolisado.
RESULTADOS
V A
Unid
,
mm3
%
g%
L O R E S
Resultados
µ3
%
mm3
mm3
mm3
135,22
39,36
9,46 x 103
0
4,69 x 103
mm3
mm3
1,88 x 103
2,12 x 103
Monócitos
mm3
0,76 x 103
Basófilos
mm3
0
Plaquetas
mm3
93,4 x 103
Análises
Hemácias
VG
Hemoglobin
a
VCM
CHCM
Leuc. Totais
Bastonetes
Segmentado
s
Eosinófilos
Linfócitos
2,67 x 106
35,7
14,05
Universidade Federal de Uberlândia
Análises
Unid.
Resultados
TGO
TGP
Fosf.
Alcalina
Prot. Total
Albumina
Uréia UV
Ác. Úrico
Cálcio
U/L
U/L
U/L
57,6
33,75
215,4
g/dL
g/dL
mg/dL
mg/dL
mg/dL
8,2
1,5
28,75
0,068
8,82
Fósforo UV
Magnésio
Ativ.
Antioxid. Saliva
Nitrito
saliva
Amilase
salivar
mg/dL
mg/dL
32,3
2,3
mMEq/L
66,42
[µM]NaNO 70,9
3
Atividade
Não tem
215
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A literatura sobre dosagens hematológicas e bioquímicas para os tamanduás-bandeira
(Myrmecophaga tridactyla) são escassas. Entretanto, analisando a literatura existente foi verificado que os
valores da série vermelha foram semelhantes aos valores normais (NAKAGE, et al., 2004; NEVES et al.,
2006; ISIS,2002). Para o leucograma, os nossos achados apresentaram uma leucocitose, eosinofília,
monocitose e uma ligeira trombocitopenia (ISIS, 2002).
Em relação aos dados de bioquímica sanguínea, os valores de TGP, TGO, fosfatase alcalina,
proteína total e fósforo se apresentaram aumentados quando comparado com a literatura existente. A
concentração de albumina sérica está diminuída e as concentrações de uréia e cálcio foram similares à
literatura para tamanduás-bandeira (NAKAGE et al., 2004).
Não foram encontradas na literatura científica dados referentes a dosagens salivares em tamanduásbandeira. O uso da saliva para análises bioquímicas é uma abordagem relativamente nova, em especial para a
área da Veterinária. Dessa forma, outros estudos que realizem essa abordagem com animais domésticos ou
silvestres é muito interessante, já que a coleta de saliva é um método não invasivo, prático, indolor e que
pode refletir os aspectos de saúde dos animais.
REFERÊNCIAS
BARTMANN, W. Breeding Anteaters in captivity.. Report Scientific Session 49th Annual Conference
IUDZGrThe World Zoo Organisation in Sao Paulo, Brazil, p.1 – 6, 1994.
BOSQUE, C.; Hernandez, M.; Pannier, E.. Metabolic rate and food digestibility in free-living southern
tamanduas. Proceedings of the Comparative Nutrition Society, v.1, p.16 – 17, 1996.
CAMILO-ALVES, C. D. S. e. P.; MOURÃO, G. d. M.. Responses of a specialized insectivorous mammal
(Myrmecophaga tridactyla) to variation in ambient temperature. Biotropica, v.38, p.52 – 56, 2006.
ENGER, P. S.. Heat regulation and metabolism in some tropical mammals and birds. Acta Physiologica,
v.40, p. 161 – 166. , 1957.
FERNANDES, T. N.; YOUNG, R. J.. Fluctuations in the tympanic membrane temperatures of nonrestrained captive giant anteaters and southern tamanduas. Journal
of Zoology, v.274, p. 94 – 98.
FERREIRA, L. F. Acanthocefalan eggs in animal coprolites from archaeological sites from Brazil.
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.84, n.2, p.201-203, 1989.
GRIFFITHS, M.. Echidnas. Pergamon Press, Oxford, 1968.
GUERRA-NETO, G.; NAKAGE, A. P. M.;; KOPROSKY, L. P.; SALLES, R. C. Perfil Bioquímico de
Tamanduás-Bandeira (Myrmecophaga tridactyla) mantidos em cativeiro. Anais do VII Congresso e XII
Encontro ABRAVAS, Jabotical/SP, 2004.
ISIS 2002. International Species Information System, USA. (CD-ROM)
MIGLINO, M. A. The excretory system of the liver in wild animals: VI. Biliary ducts of the great anteater
(Myrmecophaga tridactyla). Brazilian Journal of Veterinary Research Animal Science, v.29, p.353-357,
1992.
MNCNAB, B. K.. Physiological convergence amongst ant-eating and termite-eating mammals. Journal of
Zoology (London), v.203, p. 485 – 510, 1984.
MOELLER, W., Heutige Nebengelenktiere. In: Grzimek’s Enzyklop¨adie, Bd. XI. Kindler Verlag
Zu¨rich, p. 583 – 597. 1988.
Universidade Federal de Uberlândia
216
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
NAKAGE, A. P. M.; GUERRA-NETO, G.; KOPROSKY, L. P.; SALLES, R. C. Avaliação hematológica de
Tamanduás-Bandeira (Myrmecophaga tridactyla) mantidos em cativeiro. Anais do VII Congresso e XII
Encontro ABRAVAS, 2004.
NAPLES, V. L. Morphology, evolution and function of feeding in the giant anteater (Myrmecophaga
tridactyla). J.ournal of Zoology, v.249, p.19-41, 1999.
NEVES JÚNIOR, J.M.; SANTOS JÚNIOR, T.S.; SILVA NETO, P.B.; VILAR, T.D. ABREU, A.P.M.;
LAURIGGIO, A.J. Hematological evaluation of wild life giant anteater (Myrmecophaga tridactyla) residents
at the Cisalpina Ecological Reserve, Brasilândia, MS. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ,
EDUR, v. 26, suplemento, 2006.
PATZL, M. Monitoring ovarian cycle and pregnancy in the giant anteater (Myrmecophaga tridactyla) by
faecal progestagen and oestrogen analysis. Animal Reprodution Science, v.53, p.209-219, 1998.
SHAW, J. H., MACHADO-NETO, J., CARTER, T. S. Behavior of free-living giant anteaters
(Myrmecophaga tridactyla). Biotropica, v.19, n.3, p.255-259, 1987.
WISLOCKI, B. G.; ENDERS, K. R. Body temperature of sloths, anteaters, and armadillos. Journal of
Mammalogy, v.16, p.328–329. 1935.
Universidade Federal de Uberlândia
217
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
PODODERMATITE EM UM FALCÃO-PEREGRINO (F ALCO PEREGRINUS ) TUNSTALL, 1771 –
RELATO DE CASO
ANDRADE, R. L. ¹; CUBAS, Z. S. ²; MORAES, W. ²; NASCIMENTO, F. P. ³
1- Médica Veterinária, Residente do Hospital Veterinário de Uberaba (UNIUBE/FAZU/ABCZ).
e-mail: [email protected] (34- 9188-8254)
2- Médico Veterinário do Zoológico Roberto Ribas Lange e do Criadouro de Animais Selvagens da Itaipu
Binacional, Foz do Iguaçu, PR
3-Médico Veterinário, Graduado pela Universidade de Uberaba (UNIUBE), Uberaba, MG
RESUMO
A pododermatite, ou calo de pé, é um tipo de dermatite de contato que acomete o coxim plantar das
aves, podendo também atingir o coxim digital. A evolução dessa lesão caracteriza-se, principalmente, por
descoloração da pele, hiperqueratose, acantose, hiperplasia da epiderme e nos casos graves, extensas áreas de
ulceração, geralmente, acompanhadas de exsudato contendo grumos bacterianos e restos de material vegetal
na superfície das úlceras. O prognóstico dessa enfermidade depende da severidade ou grau da lesão
correspondente causando graves danos à ave. Afecções que atingem os membros inferiores de aves de gaiola
são frequentes: fraturas, sarnas e pododermatites são alguns exemplos que, embora se restrinjam apenas ao
membro inferior da ave, podem provocar alterações sistêmicas se não forem devidamente tratadas.
Entretanto, também é importante destacar e relacionar, com a pododermatite aviária, circunstâncias ligadas à
nutrição, genética, sexo, densidade dentro dos aviários, assim como a faixa etária dos animais acometidos. O
presente trabalho visa a apresentar um relato de caso de pododermatite em um Falcão-peregrino (Falco
peregrinus).
Palavras-chave: pododermatite, ave de rapina, prognóstico.
ABSTRACT
The pododermatitis or callus foot, is a type of contact dermatitis that affects the footpad of birds, can
also reach the footpads. The evolution of this lesion is characterized mainly by skin discoloration,
hyperkeratosis, acanthosis, hyperplasia of the epidermis and in severe cases, large areas of ulceration, usually
accompanied by bacterial exudate containing lumps and debris from plant material on the surface of ulcers.
The prognosis of this disease depends on the severity or degree of the corresponding injury causing serious
damage to the bird. Conditions affecting the lower limbs of cage birds are frequent: fractures, foot pad
lesions and scabs are some examples, although it restricts only the leg of the bird, can cause systemic
changes if not properly treated. However, it is also important to highlight and relate with the pododermatitis
avian circumstances related to nutrition, genetics, sex, density inside the poultry houses, as well as the age of
the affected animals. This paper aims to present a case report of one pododermatitis Peregrine Falcon (Falco
peregrinus).
Keywords: pododermatitis, raptor, prognosis.
INTRODUÇÃO
A pododermatite, também conhecida como Bumblefoot, é o termo dado para descrever as condições
inflamatórias e/ou degenerativas que afetam os pés das aves, desde os tempos medievais, principalmente as
de cativeiro (COOPER, 2002).
De etiologia multifatorial (COOPER, 2002), ocorre quando há condições ambientais favoráveis,
como excesso de umidade, baixa higiene, poleiros apresentando sujidades; além de condições do paciente
que reduzam imunidade como estresse, má alimentação (RUPLEY, 1999). Fatores rotineiramente
encontrados nas aves cativas.
Universidade Federal de Uberlândia
218
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Pododermatites foram relatadas em muitas espécies de aves, sendo freqüentes em Galliformes,
Anseriformes, aves de rapina, pinguins e muitos Psittaciformes e Passeriformes. Nestes dois últimos grupos
acredita-se que sejam lesões decorrentes de má nutrição, levando a pele dos pés a se tornarem secas e
hiperqueratosas (COOPER & HARRISON, 1999).
Cooper (2002) classificou a doença em três tipos, de acordo com a gravidade e o prognóstico. O tipo
I é característico de uma lesão suave e localizada, e/ou degenerativa, dando um epitélio fino achatado,
podendo ocorrer hipertrofia, causando proliferação do epitélio de modo a formar um calo, frequentemente de
aspecto benigno e sem nenhum microrganismo presente. Geralmente é relacionado com poleiros de
tamanhos inadequados, superfícies abrasivas e excesso de peso. Pode ou não ter calor e inchaço local. O tipo
II sempre apresenta uma lesão mais extensa e bactérias desempenham um papel importante nessa fase. Há
também a presença de abcesso, contendo fibrina, células sanguíneas, calor, inchaço e dor
(HUCHZERMEYER & COOPER, 2000). Acredita-se que essa segunda fase pode ser causada por
ferimentos causados pela própria garra, corpo estranho, ou ainda degeneração de uma lesão do tipo I. Garras
podem causar indevida distribuição de peso sobre a superfície plantar do pé (especialmente em falcões) ou
auto infligindo feridas do metatarso (COOPER, 2002). Testes bacteriológicos geralmente indicam a presença
de Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Corynebacterium spp., Pseudomonas spp, e leveduras. É
interessante observar que, embora a impressão clínica é de que a condição seja aguda, histologicamente
parece haver uma reação crônica. O tipo III é caracterizado por lesão de longa data, infectada, degenerada e
de caráter crônico. A infecção, geralmente, é profunda o suficiente para envolver os ligamentos, tendões, e
até mesmo as articulações tarsometatársica e falangeana. Os pés se tornam intermitentemente quentes e
dolorosos. Na maioria dos casos de tipo III a ave não consegue usar o pé corretamente decorrente da dor
local.
O tratamento da doença consiste em reduzir a inflamação e inchaço, garantir uma adequada dieta,
estabelecer, se necessário, terapia antibacteriana para eliminar agentes patogênicos subjacentes, tratar a
ferida para promover a cicatrização rápida e corrigir as deficiências alimentares (COOPER, 2002).
O tipo I da doença na maioria das vezes não é notado nenhum sinal clínico e pode acontecer a cura
espontânea. As lesões devem ser tratadas com antissépticos ou antibióticos; o uso de curativo também é
eficaz na prevenção contra entrada de organismos indesejáveis (COOPER, 2002).
Já no tipo II, o tratamento é feito com o uso de antibiótico, sendo os mais utilizados cefalosporinas,
tetraciclinas ou gentamicina juntamente com um esteróide aplicado topicamente em dimetilsulfóxido
(DMSO). Vários autores têm sugerido que carência nutricional, principalmente hipovitaminose, pode estar
relacionada com casos de bumblefoot, sendo assim, a administração de vitamina A pode ser útil na
recuperação e prevenção (GRAHAM, 1970).
Em aves acometidas pelo tipo III da doença, dependendo do tamanho e estado da lesão, a única
forma de tratamento é através da cirurgia, que consiste, principalmente, no debridamento da ferida e lavagem
da lesão. Primeiramente devem ser realizadas radiografias para verificar se há comprometimento ósseo,
artrites ou osteítes, juntamente com hemograma. A cirurgia consiste na abertura da lesão e retirada do tecido
infectado ou necrótico, evitando assim uma nova infecção (COOPER, 2002). O mesmo autor indica a
utilização de uma seringa de 10 ml e uma agulha calibre 26 para a lavagem com solução fisiológica, devido à
força do liquido ajudar a desalojar o tecido morto e limpar a área. Após isso, a ferida é suturada e é realizado
o curativo da lesão.
São utilizadas bandagens do tipo “bota” para auxiliar na recuperação da ave. Estas bandagens devem
ser confeccionadas de maneira a evitar a pressão no centro do coxim plantar, principalmente se a ave for
pesada, interferindo negativamente no prognóstico. Deve-se atentar, também, para não garrotear o membro
da ave no momento que estiver realizando o curativo, gerando edema (COOPER, 2002).
Como principal forma de prevenção, tem-se o tratamento imediato de lesões leves para que não haja
a evolução do quadro clínico da ave. Redig & Ackermann (2000) apresentaram cinco elementos que
reduzem as chances de bumblefoot, e são eles: uma dieta apropriada, poleiros adequados, espaço adequado
para pouso, evitar obesidade e exercícios e observação dos pés.
O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso clínico de bumblefoot em um Falcãoperegrino (Falco peregrinus).
RELATO DE CASO
Universidade Federal de Uberlândia
219
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Foi atendido no Hospital Veterinário do Refúgio Biológico Bela Vista mantido pela Itaipu
Binacional em Foz do Iguaçu-PR, no dia 09/01/2012, um Falcão-peregrino (Falco peregrinus), pesando 810
g.
A queixa principal na presente data era de alguma alteração na asa direita que se encontrava caída,
impossibilitando o voo. Dessa forma a ave se encontrava o tempo todo empoleirada ou em contato com o
solo.
Ao exame físico, constatou-se que a ave estava bastante agitada, debatendo-se o tempo todo durante
a avaliação, e decorrente disso entrou em hipertermia, dessa forma não foi possível realizar o exame clínico
completo, de maneira a minimizar o estresse do animal.
A região rádio-ulnar direita se apresentava edemaciada e com crepitação, porém à palpação não foi
possível identificar nenhuma fratura. Foram realizados exames de triagem (hemograma e bioquímica) e
radiografia para avaliação do membro afetado, porém não foi diagnosticado nenhum tipo de fratura.
Foi realizado tratamento suporte a fim de estabilizar o quadro inflamatório do animal (MAXICAM®
2% - 0,5 mg/kg, SID, IM, 3 dias; FLOTRIL® 2,5% - 5 mg/kg, BID, IM, 7 dias), e fluidoterapia com Ringer
lactato, por via subcutânea.
No dia 01/11/2012 a ave foi trazida novamente para atendimento ambulatorial sob a queixa de que
estava apresentando lesões nas patas, dificultando sua locomoção. Ao exame físico verificou-se a presença
de um calo necrótico purulento recobrindo quase toda a totalidade do coxim plantar direito, e início de
formação de lesão parecida no membro contralateral. Apresentava membros edemaciados, eritematosos e
quentes, evidenciando um processo inflamatório.
Devido à gravidade e extensão da lesão o animal foi submetido à cirurgia para o debridamento da
ferida e retirada do tecido morto. O conteúdo retirado foi encaminhado para processamento no Laboratório
da Instituição, para que fosse realizado o isolamento bacteriológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Antes de iniciar o tratamento, foi realizada a coleta de swab das lesões para que fosse feita a cultura
para isolamento bacteriano. Na cultura bacteriana foram observadas colônias com características
macromorfológicas e micromorfológicas de bacilos gram-negativos que foram identificadas posteriormente
como Proteus mirabilis, dissemelhante ao estudo realizado por Remple e Al-Ashbal (1993) que realizaram
investigações bacteriológicas e histopatológicas nos pés de 15 aves de rapina com Bumblefoot, e
Staphylococcus aureus foi encontrada em todos os casos. Dessa forma, reforça-se que a higienização dos
recintos é de suma importância na prevenção e controle da enfermidade, pois sabe-se que tal bactéria
pertence ao grupo das enterobactérias e são habitantes comuns do trato grastrointestinal das aves.
O protocolo de tratamento se baseou em suplementação vitamínica com vitamina A (MONOVIN
A® - 50.000 UI/kg, IM, dose única); vitamina E (MONOVIN E® - 5 mg/kg, IM, dose única).
Antibioticoterapia sistêmica a base de Cloridrato de enrofloxacino (ENROPET® 50 mg) – 15 mg/kg, BID,
IM, 7 dias; Cloridrato de ceftiofur (CEF 50®) – 5 mg/kg, BID, IM, 7 dias. O antinflamatório instituído foi o
Meloxicam (MAXICAM® 2% - 0,5 mg/kg, SID, IM, 3 dias. Como tratamento tópico foi realizado o
debridamento de bordas e áreas necróticas e com presença de pus, seguido de antissepsia com solução
antisséptica (PVPI), e posteriormente realização do tratamento tópico com pomada a base de policresuleno
(ALBOCRESIL®) e açúcar, que também possui ação cicatrizante, até a cicatrização completa das lesões. A
confecção da bandagem de proteção do tipo “bota” foi realizada com fita elástica própria para tal
procedimento, e acolchoada com gaze e acetato vinil etileno (EVA).
As medidas de tratamento se encaixam no perfil descrito na literatura por Cooper (2002), que,
descreve o uso de antibióticos sistêmicos que devem ser alterados conforme indicado pelo teste de
sensibilidade a antimicrobianos, conseguindo dessa forma, um tratamento mais eficaz.
O animal permaneceu internado no hospital e a troca do curativo era realizada três vezes por semana,
sendo que em cada procedimento era avaliado o estado e evolução da cicatrização das lesões.
Após duas semanas de tratamento as lesões já apresentavam melhora significativa em seu aspecto,
ressaltando a eficácia da associação do tratamento tópico e sistêmico. Também foram realizadas alterações
no recinto onde a ave permanecia internada, como acolchoamento dos poleiros, limpeza diária do piso, e
colocação de sombrite na tela do recinto de forma a minimizar o estresse da ave decorrente da movimentação
de pessoas no setor.
Universidade Federal de Uberlândia
220
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
CONCLUSÃO
A pododermatite é considerada uma das enfermidades mais importantes no manejo de aves de rapina
mantidas em cativeiro. Mesmo não causando diretamente a morte dos animais, traz prejuízos devido à
incapacidade do animal para a caça e gastos com cuidados. Com o trabalho pode-se perceber que o correto
manejo dos animais junto com uma dieta adequada e higiene são as melhores formas de profilaxia. O rápido
diagnóstico da enfermidade também é muito importante, pois evita que a lesão torne-se crônica, evitando
assim a necessidade de intervenção cirúrgica.
REFERÊNCIAS
COOPER, J.E.; HARRISON, G.J. Dermatology. In RITCHIE, B. W.; HARRISON, G.J.; HARRISON, L.R.
Avian Medicine: Principles and Application. Flórida: Wingers Publishing, 1994. Cap 24, p. 607-632.
COOPER, J. E. (2002) Birds of prey : health & disease. Veterinary aspects of captive birds of prey. 3nd ed.
GRAHAM, D.L. (1970) Nutrition and nutritional diseases. In: Raptor Pathology and Nutrition. Hawk
Chalk, IX, 30–37.
HUCKZERMEYER, F.W. & COOPER, J.E. (2000) Fibriscess, not abscess, resulting from a localised
inflammatory response to infection in reptiles and birds. Veterinary Record, 147, 515–517.
REDIG PT, ACKERMANN J. (2000) Raptors. In: Tully TN, Lawton MP, Dorrestein GM, editors. Avian
medicine. Oxford: Butterworth Heinemann.
REMPLE, J. D. and AL-ASHBAL, A. A. (1993). Raptor bumblefoot: another look at histopathology and
pathogenesis. In: Raptor Biomedicine (P. T. Redig, J. E. Cooper, J. D. Remple, and D.B. Hunter, eds.),
Chapter 17: 92-98. Chiron Publications Keighley, W. Yorkshire.
RUPLEY, A.G. Manual de Clínica Aviária. São Paulo: Roca, 1999.
Universidade Federal de Uberlândia
221
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
PURIFICAÇÃO DE UMA NOVA METALOPROTEASE NÃO HEMORRÁGICA DA PEÇONHA
DE BOTHROPS PAULOENSIS
Almeida-Silva, M.1; Gimenes, S. N. C.1; Pelegrine, V. G. M1; Guimarães, D.O.1; Rodrigues S. R1;
Yoneyama, K, A1; Homsi-Brandeburgo, M. I.1 Lopes, D. S.¹, Rodrigues, V. M.1
1
Laboratório de Bioquímica e Toxinas Animais, Instituto de Genética e Bioquímica, Universidade Federal
de Uberlândia, UFU, Uberlândia-MG ([email protected], (34) 9632-3745)
RESUMO
As peçonhas de serpentes são verdadeiros arsenais proteicos, gerando vários efeitos patofisiológicos, tais como: edema, hemorragia, mionecrose, paralisia e morte. Os principais componentes
presentes nessas peçonhas são: L-aminoacido oxidases, serinoproteases, fosfolipases A2 e metaloproteases.
Este trabalho é um relato da purificação e caracterização parcial de uma metaloprotease isolada da peçonha
de Bothrops pauloensis conhecida popularmente como jararaca pintada. A metaloprotease foi isolada após
três passos cromatográficos. A proteína mostrou-se homogênea, não hemorrágica e capaz de degradar o
fibrinogênio plasmático em baixas concentrações.
Palavras chave: Bothrops pauloensis, metaloprotease, peçonha, purificação.
ABSTRACT
The snake venoms are true protein arsenals, generating various pathophysiological effects, such as
edema, hemorrhage, myonecrosis, paralysis and death. Their main components are: L-amino acid oxidases,
serine proteases, phospholipases A2 and metalloproteinases. This work reports the purification and partial
characterization of a metalloproteinase isolated from Bothrops pauloensis, popularly known as painted
jararaca. Metalloproteinase was isolated after three chromatographic steps. The protein was shown to be
homogeneous, non-haemorrhagic and able to degrade plasma fibrinogen at low concentration.
Keyworks: Snake Venom, Metalloprotein. Bothrops pauloensis, Purification.
INTRODUÇÃO
As serpentes são répteis ápodes, da ordem Squamata, subordem Ofidea da classe Reptilia. Existem
no mundo mais de 3.000 espécies de serpentes sendo que 14% são de espécies peçonhentas, estas pertencem
à superfamília Colubroidea e são classificadas, principalmente, de acordo com suas características
morfológicas, compreendendo quatro famílias: Viperidae, Elapidae, Hydrophiidae e Colubridae. As
serpentes venenosas presentes no Brasil são da família Viperidae, composta pelos gêneros Bothrops,
Crotalus e Lachesis (Resende et al., 1989; Junqueira, 2005).
O gênero Bothrops é composto por aproximadamente 36 espécies, sendo que destas 21 podem ser
encontradas no Brasil (Silva & Rodrigues, 2008). Destas, as espécies mais conhecidas são Bothrops atrox,
Bothrops erythromelas, Bothrops jararaca, Bothrops jararacussu, Bothrops alternatus e Bothrops neuwiedi
(Pinho & Pereira, 2001).
A espécie Bothrops pauloensis, cuja peçonha foi utilizada para isolar a proteína relatada neste trabalho, foi
descrita por Amaral em 1925 como Bothrops neuwiedi pauloensis constituinte das 12 subespécies presentes
no complexo Bothrops neuwiedi. Exemplares desta espécie têm sido encontrados no Brasil nos Estados de
Goiás, Mato Grosso, Mato do Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo (Bérnils, 2010; Borges & Araújo,
1998; Valle & Brites, 2008).
Em geral, as peçonhas de serpentes são constituídas principalmente por acetilcolinesterases, Laminoacido oxidases, serinoproteases, metaloproteases e fosfolipases A2. Dentre essas, as metaloproteases
representam cerca de 32% da peçonha (Fox & Serrano, 2008; Gutiérrez et al.,2009). As metaloproteases de
peçonhas de serpentes (SVMPs) são enzimas hidrolíticas do tipo endopeptidases (E.C.3.4.24) que dependem
da ligação a um metal, geralmente o zinco, em seu sítio catalítico para exercerem sua função enzimática
(Gomis-Rüth et. al, 2012). Essas, por sua abundancia e propriedades têm um papel importante durante o
processo de fisiopatologia nos acidentes ofídicos (Ramos & Selistre-De-Araújo, 2006). Além disso, essas
Universidade Federal de Uberlândia
222
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
enzimas são sintetizadas como pró-enzimas, podendo ser secretadas ou transmembranares, e tornam-se ativas
através da remoção do pró-peptídeo amino-terminal (Vu & Werb, 2000).
Inicialmente as SVMPs foram classificadas em quatro classes por Bjarnason & Fox (1994) com base
em sua massa molecular e domínios estruturais. Em uma reclassificação proposta por Fox e Serrano (2008)
essas proteínas foram agrupadas de acordo com as estruturas de seus domínios e presença ou ausência dos
domínios não catalíticos, sendo então classificadas em 3 classes e 11 subclasses que foram denominadas PIa, PII-a, PII-b, PII-c, PII –d, D-I, PII-e, PIII-a, PIII-b, PIII-c e PIII-d. A classe PI é composta por proteínas
com massa molecular entre 20 a 30 kDa, e possuem baixa ou nenhuma atividade hemorrágica e de inibição
de adesão celular e apresentam apenas o domínio proteolítico. A classe PII é composta por proteínas que
possuem além do domínio catalítico, um domínio desintegrina. Estas apresentam massa molecular de 30 a 60
kDa e uma capacidade hemorrágica e de inibição de adesão celular maior do que as SVMPs da classe PI, já
que possuem um domínio desintegrina que pode se ligar à integrinas de plaquetas impedindo a agregação
plaquetária, potencializando a hemorragia (Nikai, et al., 2000). SVMPs pertencentes à classe PIII são
caracterizadas por terem em sua estrutura além do domínio catalítico, apresentam domínio desintegrina-like e
rico em cisteína. A subclasse PIII-d apresenta a adição de dois domínios tipo Lectina na porção carboxiterminal da proteína. As metaloproteinases desta classe geralmente, apresentam massa molecular variando
entre 60 e 110 kDa e em geral alta atividade hemorrágica e grande potencial de inibição da adesão celular
(Markland & Swenson, 2013).
Neste trabalho relatamos a purificação e caracterização funcional de uma metaloprotease P-III não
hemorrágica isolada da peçonha de Bothrops pauloensis.
MATERIAL E MÉTODOS
1-Peçonha
A peçonha bruta (PB) da serpente Bothrops pauloensis foi obtida a partir de espécimes mantidas no
Serpentário Proteína Bioativas LTDA (registro IBAMA nº 471301). Estabelecido na Fazenda Boa Esperança
S/N – Zona Rural – Batatais/SP.
2- Animais
Os camundongos machos isogênicos da linhagem BALB/c foram mantidos no Centro de Bioterismo
e Experimentação Animal (CBEA) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com água e suplemento
alimentar “ad libitum”. Os cuidados com os animais foram aprovados pelo Comitê de Ética na Utilização de
Animais (CEUA, Protocolo 063/08 e 046/09) da Universidade Federal de Uberlândia.
3– Purificações da metaloprotease
O isolamento da proteína de interesse iniciou-se utilizando metodologias padronizadas por nosso
grupo de pesquisa (Naves de Souza et al., 2012e Ferreira et al., 2013). Cerca de 200 mg da peçonha de B.
pauloensis foram ressuspendidos em 2mL do tampão de bicarbonato de amônio (AMBIC) 0,05 M, pH 7,8.
Posteriormente, a amostra foi centrifugada a 152 g por 10 min, a 5º C e o sobrenadante límpido retirado e
aplicado em uma coluna contendo resina CM-sepharose Fast Flow, previamente equilibrada no mesmo
tampão. As amostras foram eluidas por um gradiente convexo de concentração usando o tampão bicarbonato
de amônio 0,05M a 0,5M (pH 7,8), em temperatura ambiente. As frações foram então coletadas em
1mL/tubo por um coletor de frações Redifrac (Amersham Biosciences do Brasil Ltda). Durante as coletas, as
frações foram monitoradas por absorbância a 280nm. Esse fracionamento resultou em 6 frações denominadas
(CM1-CM5b). A fração CM1, que apresentou atividade fibrinogenolítica e azocaseinolítica foi submetida a
uma cromatografia de filtração.
A fração CM1 foi ressuspendida em tampão AMBIC 0,05 M, pH 7,8 e aplicada em coluna HiPrep
Sephacryl S-300 26/60, previamente equilibrada com o mesmo tampão. Frações de 2,0mL/tubo foram
coletadas a um fluxo de 0,2mL/min e monitoradas a 280 nm. As frações foram analisadas em géis SDSPAGE a 12,5 %. Durante o fracionamento, as diferentes frações foram analisadas quanto a sua atividade
azocaseinolítica. A fração que teve maior atividade proteolítica foi submetida a um fracionamento em
cromatografia de troca iônica em coluna HiTrap Capto Q. Essa atividade foi realizada de acordo com Gomes
et. al. (2013) com modificações. A fração S1 foi ressuspendida em 1,5 mL de tampão AMBIC 0,05M, pH 7,8
e aplicada em três colunas acopladas (1mL cada) HiTrap Capto Q, que foram anteriormente equilibradas
com o mesmo tampão e eluídas utilizando um gradiente linear de AMBIC 0,05M a 0,5M, pH 7,8. Foram
Universidade Federal de Uberlândia
223
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
coletados frações de 1,0 mL/tubo, a um fluxo de 1 mL/min. A fração Q1, apresentou atividade
fribrinogenolítica e azocaseinolítica e corresponde a metoloprotease utilizada neste trabalho.
4- Caracterizações bioquímica
4.1- Eletroforeses em gel de poliacrilamida com agentes desnaturantes (SDS-PAGE)
As frações cromatográficas foram submetidas a análises em géis de poliacrilamida a 12.5% (m/v) em
condições desnaturantes e redutoras, na presença de SDS e β-mercaptoetanol, segundo a metodologia
descrita por Laemmli (1970). Foi utilizado um gel de empilhamento a 5% em pH 6,8 contendo 0,125M de
Tris-HCL e 0,1% de SDS e um gel de separação a 12,5% em pH 8,8 e 0,1% de SDS, mantendo a relação
acrilamida:bis-acrilamida de 30:0,8 (m/m). Amostras contendo 10 µg de proteínas foram dissolvidas em
tampão Tris-HCl 0,0625 M pH 6,8; glicerol a 10% (v/v); β-mercaptoetanol 5% (v/v); 2 % de SDS e 0,001 %
de azul de bromofenol como corante. As soluções foram aquecidas a 100ºC por 5 minutos e aplicados nos
poços do gel. Os géis foram corados com uma solução contendo 0,2 g de Comassie brilhante R-250, 50mL
de metanol, 40mL de água destilada e 10mL de ácido acético e posteriormente descorados com uma solução
contendo ácido acético 10% (v/v) e etanol 30% (v/v).
5 - Caracterização funcional
5.1 – Atividade Hemorrágica
A atividade hemorrágica foi realizada de acordo com Nikai et. al. (1984), com modificações. Foram
utilizados camundongos Balb-C machos de 18-20g. Os animais receberam injeções intradérmicas no dorso
contendo amostras de peçonha bruta de Bothrops pauloensis (10μg) ou da metaloprotease isolada (1μg, 5μg
e 10μg) dissolvidos em 50μL de PBS. Os grupos controle receberam 50μL de PBS. Após 3 horas de
inoculação os animais foram sacrificados pelo método de asfixia por metanol (Nikai, et. al. 1984), as peles da
região de inoculação forma retiradas e o halo hemorrágico foi avaliado e comparado com os grupos controle.
5.2 – Atividade Coagulante sobre o Plasma e Fibrinogênio
A atividade coagulante foi testada por meio de um analisador de coagulação micro-processador
Quick-Timer (DRAKE LTDA) que avalia a capacidade de coagulação por um tempo de até 120 segundo.
Para analisar a atividade coagulante da proteína sobre o Plasma bovino foram incubados 200μL de solução
de plasma bovino citratado a 37º C com concentrações de 5μg, 10μg e 15μg da proteína isolada. Para avaliar
esta atividade da proteína sobre o fibrinogênio foram utilizados 200μL de solução de fibrinogênio
(1,5mg/1mL) que foram incubadas a mesmas condições e concetnrações de proteína utilizadas com o plasma
bovino. Todos os testes foram realizados em n de 3.
5.3 – Atividade Azocaseínolítica
Para esta atividade foi utilizado o substrato sulfanilamida-azocaseína (Sigma-Aldrich). Amostras de
5µg das frações foram incubadas com 800 µL da solução de azocaseína (1 mg/mL). Após 30 minutos, a
reação foi interrompida com 200 µL de TCA (ácido tricloroacético) 20%. Após repouso de 20 minutos as
amostras foram centrifugadas a 1520 g e 200µL da solução foram transferidos para uma placa de 96 poços
para a leitura a 366nm. O teste também foi realizado na presença dos inibidores PMSF (10 mM) e
ortofenantrolina (10 mM). Para isso, 5 μL das soluções de inibidores foram incubadas com 5μg de proteína
por 30 minutos a temperatura ambiente, e depois seguiu-se o procedimento padrão do teste.
5.4 – Atividade Fibrinogenolítica
A atividade fibrinogenolítica foi testada incubando 10μg de proteína por uma hora a 37º C com 50μL
de solução de fibrinogênio (1,5 mg/mL). Os resultados foram avaliados em eletroforese em gel SDS-PAGE
12,5%.
6 - Determinação da concentração proteica
As dosagens de proteínas das frações dos passos cromatográficos foram feitas utilizado o método
estabelecido por Bradford (1976). As determinações das concentrações foram realizadas monitorando a
absorbância a 595nm. Previamente, foi estabelecida uma curva padrão de soroalbumina bovina (BSA) em
Universidade Federal de Uberlândia
224
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
concentrações decrescentes. A concentração de proteínas em µg/µL foi determinada a partir de cálculos de
regressão linear baseados nos valores obtidos na curva padrão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As SVMPs são as principais enzimas a causarem danos em tecidos durante acidentes ofídicos, sendo
responsáveis pelo rompimento da integridade da membrana basal dos tecidos atingidos. As SVMPs da classe
PIII, apresentam, geralmente, alta massa molecular (60 a 110 kDa) com uma grande complexidade estrutural
representada pelos domínios catalítico ligante ao zinco, desintegrina-like e rico em cisteína. (Foz & Serrano,
2008). Este grupo de enzimas, detém uma diversidade de funções relacionadas à degradação de proteínas da
matriz extracelular, inibição da agregação plaquetária, adesão celular, indução de apoptose, inibição da
angiogênese, dentre outras. (Gomis-Rüth et. Al, 2012; Vu & Werb, 2000; Markland & Swenson, 2013;
Ramos & Selistre-De-Araújo, 2006).
A enzima purificada neste trabalho representou aproximadamente 0,66% da peçonha de B.
pauloensis e apresentou atividade sobre a azocaseína, conforme tabela 1. Esta atividade foi inibida por 1,10
ortofenantrolina e mantida quando a proteína foi incubada com PMSF um inibidor específico para
serinoproteases. A massa molecular aparente da proteína estimada por SDS-PAGE foi de aproximadamente
45 kDa.
Tabela 1. Rendimento proteico e recuperação da atividade azocaseinolítica durante as etapas de purificação
de Q1 em relação a peçonha bruta de B. pauloensis.
Proteína total (mg)*
Peçonha bruta
CM1
S1
Q1
135,8
57, 86
10,22
2,191
Rendimento (%)
100
42,61
7, 53
1,61
Atividade
azocaseinolítica (U/mg)**
1639
526
230
480
As metaloproteases da classe P-III em geral, apresentam atividade fibrinogenolítica e são altamente
hemorrágicas (Moura-da-Silva & Baldo, 2012; Markland & Swenson, 2013). A proteína isolada neste
trabalho mostrou-se não hemorrágica com doses até 10µg. Também nesta dose foi capaz de degradar as
cadeias Aα e Bβ do fibrinogênio, entretanto, mostrou-se incapaz de coagular o plasma bovino e o
fibrinogênio bovino em até 120 segundos. Estes resultados sugerem que a proteína purificada pode interferir
na coagulação sanguínea por diminuir a concentração de fibrinogênio plasmático. De acordo com os
resultados apresentados, sugerimos que a enzima isolada pertence a classe das SVMPs - PIII, porém novos
testes de caracterização funcional, bem como e sequenciamento completo da proteína devem ser realizados a
fim de classifica-la corretamente.
CONCLUSÃO
A metaloprotease purificada no presente estudo possui atividade azocaseinolitica, fibrinogenolitica e
não coagulante e foi incapaz de provocar hemorragia local, porém novos estudos devem ser realizados para
melhor compreender a função dessa proteína sobre os efeitos locais e sistêmicos a fim de investigar uma
possível utilização da mesma como modelo terapêutico em doenças trombóticas e ou correlacionadas.
REFERÊNCIAS
BÉRNILS, R. S. (org.) Brazilian reptiles – List of species. Accessible at http://www.sbherpetologia.org.br/.
Sociedade Brasileira de Herpetologia. 2010.
Universidade Federal de Uberlândia
225
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
BORGES, C. R. & ARAÚJO, A. F. B. Seleção de Habitat em Duas Espécies de Jararaca (Bothrops moojeni
Hoge e B. neuwiedi Wagler) (Serpentes, Viperidae). Revista Brasileira de Biologia. v. 48, p. 591-601,
1998.
FERREIRA, F. B.; GOMES, M. S. R.; NAVES DE SOUZA, D. L.; GIMENES, S. G. C.; CASTANHEIRA,
L. E.; BORGES, M. H.; RODRIGUES, R. S.; YONEYAMA, K. A. G.; HOMSI-BRANDEBURGO, M. I.;
RODRIGUES, V. M. Molecular Cloning and Pharmacological Properties of an Acidic PLA2 from Bothrops
pauloensis Snake Venom. Toxins. v. 5, p. 2403-2419, 2013.
FOX. J.W.; SERRANO, S.M.T. Insing into and specuilations about snake venom matalloproteinases
(SVMPs) synthesis, folding and contribution to venom complexity. FEBS journal, v.275, p. 3016-3030,
2008.
GOMES, M.S.; QUEIROZ, M.R.; MAMEDE, C.C.N.; MENDES, M.M.; HAMAGUCHI, A.; HOMSIBRANDEBRUGO, M.L.; SOUZA, M.V.; AQUINO, E.N.; CASTRO, M.S.; DE OLIVEIRA, F.;
RODRIGUES, V.M. Purification and functional characterization of a new metalloproteinase (BleucMP)
from Bothrops leucurus snake venom. Comparative Biochemistry and Physiology. C. v. 153 p. 290-300.
2011.
GOMIS-RÜTH, F.X.; BOTELHO, T.O.; BODE, W. A Standart orientation for Matallo-endopeptidases.
Molecular Biotechnology. v. 24. p. 157-202. 2012.
GUTIÉRREZ, J.M.; RUCAVADO, A.; CHAVES, F.; DIAS, C.; ESCALANTE, T. Experimental pathology
of local tissue damage induced by Bothrops asper snake venom. Toxicon. v. 54, p. 958-975, 2009.
JUNQUEIRA, M. R. Aplicação de técnicas proteômicas na caracterização do veneno da serpente Bothrops
insularis (Viperidae). Tese de Mestrado. Instituto Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro; p. 63, 2005.
NAVES DE SOUZA, D. L.; GOMES, M. S. R.; RODRIGUES, R. S.; FERREIRA, F. B. ; ACHÊ, D. C. ;
RICHARDSON, M ; BORGES, M H. ; RODRIGUES, V. M. Biochemical and enzymatic characterization of
BpMP-I, a fibrinogenolytic metalloproteinase isolated from Bothropoides pauloensis snake venom.
Comparative Biochemistry and Physiology B, v. 161, p. 102-109, 2012.
MARKLAND, F.S.; SWENSON, S. Snake Venom Metalloproteinases. Toxicon. v. 62, p. 3-18, 2013.
NIKAI, T.; MORI, N.; KISHIDA, M.; SUGIHARA, H.; TU, A. T. Isolation and biochemical
characterization of homorrhagic toxin from the venom of Crotalus atrox (Western Diamondblack
Rattlenake). Arch. Biochem. Biophys. v. 321, p. 309-319, 1984.
PINHO, O. M. F. & PEREIRA, I. D. Ofidismo. Revista da Associação Médica Brasileira. v. 47, p. 24-29,
2001.
RAMOS, O.H.P.; SELISTER-DE-ARAUJO. H.S. Review: Snake venom metalloproteases – structure and
function of catalytic and disintegrin domains. Comp. Biochem. Physiol. Part C. v. 142. p. 328-346. 2006.
RESENDE, C. C.; ARAÚJO, F. A. A.; SALLENAVE, R. N. U. R. Análise epidemiológica dos acidentes
ofídicos. Ministério da Saúde. Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde. Brasília. 1989.
SILVA, V. X. & RODRIGUES, M. T. Taxonomic revision of the Bothrops neuwiedi complex (Serpentes,
Viperidae) with description of a new species. Phyllomedusa. v. 7, p. 45-90, 2008.
VALLE, L. A. & BRITES, C. L. V. Nomes populares e aspectos ecológicos de Bothrops pauloensis (Amaral
1925) em áreas antropizadas do Triângulo e Alto Paranaíba, Minas Gerais. Revista Brasileira de
Zoociências. v. 10, p. 155-161, 2008.
Universidade Federal de Uberlândia
226
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
VU, T.L.; WERB, Z. Matrix matalloproteinases: effectors of development and normal physiology. Genes &
Development. v. 14, p. 2123-2133, 2000.
Universidade Federal de Uberlândia
227
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
RELATO DE CASO DOS ANIMAIS DO ZOOLOGICO DE UBERABA TAXIDERMIZADOS NO
HOSPITAL VETERINARIO DE UBERABA
Castro, M. T5.; Andrade, N. L. P4.; Moreira, R³.; Silva, M. M4.; Alberto, H².; Kiozs, L³.; Stamoulis, V. J4.;
Machado, F. M. E¹.; Coelho, H. E¹.; Quadros, E. A4.; Prata, S. C4.; Oliveira, B4.; Sallun, A. C4.; Ernesto, P4.;
Sato, S4.
¹ - Professor orientador, Setor de patologia, UNIUBE, Uberaba-MG.
² - Técnico de Laboratório, Setor de patologia, UNIUBE, Uberaba-MG.
³ - Residente do Laboratório, Setor de patologia, UNIUBE, Uberaba-MG.
4
- Aluno de Graduação em Medicina Veterinária, UNIUBE, Uberaba-MG.
5
- Alunos de Graduação em Medicina Veterinária, UNIUBE, Uberaba-MG ([email protected], 34
9149-8088).
RESUMO
A taxidermia é uma técnica antiga iniciada pelos egípcios, utilizada na conservar corpos na forma
mais fiel possível. Foram utilizados 10 animais para execução da técnica com o objetivo de conservação de
espécie e utilização em educação ambiental em museus, feiras e palestras. Dentre vários métodos de executar
a técnica, utilizou-se formol e arame na conservação e formação respectivamente. Obtiveram-se bons
resultados quanto ao método utilizado e o objetivo proposto.
Palavra-chave: taxidermia, conservação, educação ambiental, animais zoológico.
ABSTRACT
Taxidermy is an ancient technique initiated by the Egyptians, used to preserve the bodies as closely
as possible. 10 animals were used for the execution of the technique with the aim of conserving species and
use in environmental education in museums, exhibitions and lectures. Among various methods of performing
the technique, we used formalin-in wire retention and formation respectively. Yielded good results as to the
method and the proposed objective.
Key-words: taxidermy, conservation, environmental education, zoo animals.
INTRODUÇÃO
A taxidermia é uma técnica muito antiga, iniciada pelos egípcios acerca de 2.500 a.C., segundo
Trophy Taxidermia (www.taxidermia.com.br). Apesar de ter registro na antiguidade, ela é nos dias atuais
uma moderna ferramenta no auxílio do ensino da educação ambiental (ROCHA, 2009).
A técnica retrata os animais, antes vistos somente na natureza, livros, mídias ou em zoológicos,
trazendo-os para dentro das salas de aula, permitindo com que os educandos tenham contato direto com o
meio ambiente (TAFFAREL, 2012). É uma técnica aplicada somente em animais vertebrados e a
mumificação foi a primeira tentativa de preservação conhecida antes da taxidermia (WILLIAMS, 2009).
O termo “empalhar” significava, exatamente, preencher de palhas o corpo do animal, mas atualmente
não se utiliza nem esse termo e nem a palha. Hoje, elaboradas etapas são realizadas para “taxidermizar”:
preparação de esqueleto, preparação de pele cheia, montagem em série, montagem para exposição,
preparação de pele em curtume, diafanização, infiltração em parafina, fixação e montagem de coleção de
insetos de várias espécies (ROCHA, 2008).
Após ser observado e colhido, o material para o procedimento deve, em seguida, ser conservado,
empregando-se, mais comumente, para esse fim, dois processos: conservação por via úmida ou meio líquido,
ou conservação por via seca. A conservação por via úmida ou meio liquido é, bastante empregada, nos
laboratórios dos institutos científicos. Na preparação por via úmida utilizam-se líquidos fixadores e
conservantes. O fixador prepara os tecidos do animal para a conservação permanente. O principal fixador
usado é o formol. Geralmente, utiliza-se o formol em diluições de 10%, ou seja, nove partes de água para
Universidade Federal de Uberlândia
228
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
uma de formol. Para a fixação do material biológico injeta-se o fixador nas cavidades gerais (abdome e
tórax) e, segundo as necessidades, nas massas musculares maiores e em todo o corpo do animal. Neste
processo, o formol enrijece os tecidos em seis a doze horas, sem torná-los demasiados duros ou quebradiços
(TAFFAREL, 2012).
A técnica utilizada no processo de embalsamamento dos animais disponibilizados pelo Parque
zoológico “Jacarandá” da cidade de Uberaba - Minas Gerais, pelos alunos do curso de Medicina Veterinária
da Universidade de Uberaba (UNIUBE) no Laboratório de anatomia patológica do Hospital Veterinário de
Uberaba (LAP-HVU), foram baseadas na conservação por via úmida ou meio liquido com algumas
variantes. Estes animais serão utilizados em exposições em museus, como material didático em palestras
sobre a fauna brasileira e principalmente em apresentações escolares com finalidade de educação ambiental.
RELATO DE CASO
No HVU a técnica de embalsamar consistiu em realizar uma laparatomia na região abdominal dos
animais utilizados descritos em um tópico especial. Retiraram-se as vísceras da cavidade torácica e
abdominal, utilizando-as para estudos anatômicos- patológico. Posteriormente, as cavidades foram
preenchidas com estopa encharcada de formaldeído na concentração de 10%. Com fio de nylon, suturou-se a
incisão.
Em seguida utilizou-se uma seringa de 50 ml e aplicou-se uma solução formaldeído 10%
intramuscular. Após esse procedimento, a fim de, moldar os animais na posição desejada, utilizou-se arame
de seis milímetros.
Para finalizar o procedimento foi feito a criopreservação por aproximadamente 50 horas, com o
intuito de conservar a musculatura ate que o formaldeído a desidratasse. E para melhorar a estética do animal
embalsamado, os olhos foram substituídos por peças de bijuteria ou bolas de gude a fim de proporcionar um
efeito mais real, uma vez que o formaldeído deforme e resseca o globo ocular.
Animais Taxidermizados
Foram taxidermizados os seguintes animais: uma suçuarana (Puma concolor), duas jiboias (Boa
constrictor), um tucano-toco ou tucanaçu (Ramphastos toco), um piriquitão-macaranã (Psittacara
leucophthalmus), um macaco-prego (Sapajus apela), um teiú (Tupinambis marianae), um cágado
(Mauremys leprosa) e duas iguanas (Iguana iguana) mostradas nas imagens abaixo:
Figura 7 - Suçuarana (fonte: Miriam Mendes)
Figura 8 - Tucano-Toco (fonte: Miriam Mendes)
Figura 9 - Jiboia (fonte: Miriam Mendes)
Figura 10 - Piriquitão-maracanã (fonte: Miriam
Universidade Federal de Uberlândia
229
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Mendes)
Figura 11 - Jiboia (fonte: Miriam Mendes)
Figura 7 - Macaco-prego (fonte: Miriam Mendes)
Figura 6 - Cágado (fonte: Miriam Mendes)
Figura 12 - Teiú (fonte: Miriam Mendes)
Figura 13 - Iguana com rabo cortado (fonte: Miriam Mendes)
Mendes)
Figura 14 - Iguana (fonte: Miriam
DISCUSSÃO
Os animais embalsamados foram expostos no museu do zoológico e em programas de educação
ambiental nas escolas, mostrando ao educando os principais animais presentes na fauna do Cerrado, além de
que podem ser vistos em mídias e afins (TAFFAREL, 2012).
Segundo Rocha (2008) a técnica empalhar dava-se pelo uso de palha no interior dos animais
taxidermizados, porem essa técnica esta em desuso devido a utilização de outros matérias que respondem
melhor a técnica e a preservação das peças, como o caso desses animais que foram preenchidos com estopa
encharcada com formol.
Dentre as varias etapas citadas por Rocha (2008) para taxidermizar, foram feitos apenas a parte da
preparação de esqueleto, preparação da pele cheia e montagem para exposição. Diferente do autor que
utilizou infiltração de parafina foi usada o formol como substituto de acordo com a técnica de conservação
por via úmida citada por Taffarel (2012). Todas as outras técnicas foram julgadas como desnecessária para a
finalidade destes animais.
Universidade Federal de Uberlândia
230
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
CONSIDERACÕES FINAIS
A educação ambiental julga-se muito importante nos dias de hoje para criar valores, principalmente
quando o assunto é a sustentabilidade, mostrando às pessoas a preservação dos recursos naturais de todos os
tipos.
Esta técnica tem como objetivo mostrar a todos os animais que antes eram vistos em documentários,
zoológicos, livros, internet e outros meios, agora em contato direito com uma forma criativa e mais
interessante, às vezes mostrando até mesmo alguns que já estão ameaçados de extinção.
Vale lembrar que todos os animais utilizados já estavam mortos e foram reaproveitados para esse
fim.
REFERÊNCIAS
ROCHA, E. V. O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM O AUXÍLIO DE
ANIMAISTAXIDERMIZADOS. Revista da Católica, Uberlândia- MG, v. 1, n. 1, p. 201-211, 2009.
ROCHA, Eduardo Venâncio. TAXIDERMIA
AMBIENTAL. Uberlândia- MG,2008.
COMO
FERRAMENTA
DE
EDUCAÇÃO
TAFFAREL, Carlos Domingos. MUSEUS ESCOLARES: A UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE
TAXIDERMIA COMO AUXÍLIO NO ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL, v(10), nº 10, p. 2128
– 2133,2012.
TROPHY TAXIDERMIA (Brasil). A taxidermia. Disponível em: <www.taxidermia.com.br>. Acessado
em: 31 de março de 2014.
WILLIAMS,A.R.. BICHOS ETERNOS. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/mumiasbichos >. Acessado em : 02 de abril de 2014.
Universidade Federal de Uberlândia
231
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
RELATO DE PATOLOGIA CAUDAL EM INDIVÍDUO SUB-ADULTO DE TUPINAMBIS
MERIANAE (LACERTILIA, TEIIDAE) EM UBERABA, MINAS GERAIS, BRASIL
Barros, R.F.¹; Nalla, S.F.¹; Kanayama, C.Y.²; Martinelli, A.G.³
1Laboratório de Pesquisas em Animais Selvagens-UFU, Uberlândia (MG), 38400-902
2Universidade de Uberaba, Uberaba (MG) Cep 38010-200
3 - Centro de Pesquisas Paleontológicas L. I. Price, Complexo Cultural e Científico Peirópolis, Uberaba
(MG), 38039-755 [email protected] (34) 96762056
RESUMO
Os casos de patologia caudal em lagartos são comuns e estão associados ao processo de regeneração
tecidual que ocorre após a autotomia. Não existem relatos de bi- ou poli-ramificações de cauda em lagartos
do gênero Tupinambis (Lacertilia, Teiidae). O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de
patologia caudal em um indivíduo de Tupinambis merianae. O animal foi encaminhado ao setor de animais
silvestres do Hospital Veterinário de Uberaba (Minas Gerais, Brasil) com suspeita de lesão vertebral e
apresentando duas ramificações na porção lateral da cauda. A lesão foi confirmada pelo exame de
tomografia. No mesmo exame verificou-se que a cauda acessória maior demonstrou a presença de vértebras
que faziam contato com o conjunto vertebral principal, enquanto a cauda acessória menor não evidenciou
este contato claro com outras vértebras, embora também possuísse tecido ósseo interno. Acredita-se que as
duas ramificações são eventos independentes, causados provavelmente por injúrias decorrentes de brigas ou
por anormalidades no processo normal de regeneração pós-autotomia.
Palavras-chave: autotomia de cauda; teiú; tomografia.
ABSTRACT
Pathologic tails in lizards are common and associated with the tissue regeneration process that occurs
after autotomy. There are no reports of bi- or multi–ramifications in lizards of the genus Tupinambis
(Lacertilia, Teiidae). This paper aims to report a case of pathologic tail in an Tupinambis merianae
individual. The animal was sent to the wildlife sector of the Veterinary Hospital of Uberaba (Minas Gerais,
Brazil) with spinal trauma suspect and having two branches in the lateral portion of the tail. The lesion was
confirmed by tomography. In the same evaluation it was found that the biggest accessory tail showed the
presence of vertebrae that had vertebral contact with the main portion, while the smaller tail accessory
showed no evidence of contact with other vertebrae. It is believed that the two branches are independent
events, probably caused by injuries resulted from fights or abnormalities in the normal healing process after
autotomy.
Key words: tail autotomy; tegu; tomography.
INTRODUÇÃO
As patologias de cauda em lagartos estão normalmente associadas ao processo de regeneração
tecidual que segue a autotomia. Quando ocorre uma quebra da linha principal de crescimento, pontas
adicionais podem ser geradas, afetando ou não o modo de vida dos indivíduos acometidos (GOGLIATH et
al, 2012). Diversos estudos têm relatado a presença de caudas bífidas em vários grupos de lagartos, como
Agamidae (BRINDLEY, 1898; CHANDRA & MUKHERJEE, 1980; ANAJEVA & DANOV, 1991),
Scincidae, Lacertidae, Iguanidae (BRINDLEY, 1898), Gekkonidae (WOODLAND, 1920; CHAN et al,
1984), Tropiduridae (MARTINS et al, 2013) e Teiidae (GOGLIATH et al., 2012). Não há relatos de
patologias caudais em lagartos do gênero Tupinambis, embora suas características de agressividade e
tamanho avantajado predisponham este tipo de situação.
A família Teiidae é amplamente distribuída nas Américas do Sul e Central. É composta por 09
gêneros, entre eles o Tupinambis, que incluem os maiores lagartos do Novo Mundo (T. merianae e T.
rufescens), alcançando até 130 cm de comprimento total (FITZGERALD et al, 1991). A taxonomia do
Universidade Federal de Uberlândia
232
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
gênero Tupinambis tem passado por alterações constantes, embora se saiba que T. merinae possua duas
escamas loreais, distinguindo-a de T. teguixin e T. nigropunctatus, que possuem apenas uma (ÁVILAPIRES, 1995). Tupinambis merianae possui uma ampla distribuição geográfica, ocorrendo desde o sul da
Amazônia até o norte da Patagônia e porção leste dos Andes, habitando Argentina, Bolívia, Paraguai e
Uruguai, além do Brasil (PÉRES, 2003).
O presente trabalho tem como objetivo relatar um caso de patologia caudal na espécie Tupinambis
merianae, conhecido vulgarmente por Teiú, Tegu ou Tejú.
Relato de caso
Um indivíduo sub-adulto de Tupinambis merianae, com comprimento total de 114 cm (sendo 63 de
cauda) foi encaminhado ao setor de animais selvagens do Hospital Veterinário de Uberaba, Uberaba (Minas
Gerais, Brasil) com limitações na mobilidade (foto 01). Após exame radiográfico, constatou-se uma fratura
na região vertebral dorsal, próxima a cintura pélvica. Ainda apresentava na porção distal da cauda uma
anormalidade, exibindo três ramificações terminais (foto 02). A maior delas constituía a cauda original,
apresentando mais duas ramificações na porção lateral esquerda.
Foto 01 (esq.) – Indivíduo de Tupinambis merianae encaminhado ao setor de animais selvagens do Hospital
Veterinário de Uberaba, Uberaba (Minas Gerais, Brasil).
Foto 02 (dir.) – Detalhe das ramificações presentes na porção lateral da cauda de Tupinambis merianae
encaminhado ao setor de animais selvagens do Hospital Veterinário de Uberaba, Uberaba (Minas Gerais,
Brasil).
Fonte: Cláudio Yudi Kanayama (2013).
Na avaliação feita em tomógrafo, ficou evidenciada a fratura vertebral na região lombar (foto 03). A
cauda acessória maior demonstrou a presença de vértebras que faziam contato com o conjunto vertebral
principal, enquanto a cauda acessória menor não evidenciou este contato claro com outras vértebras, embora
também possuísse tecido ósseo interno (foto 04). Supõe-se que os dois eventos relatados possam ser
independentes, causados por duas distintas situações de injúria, descartando qualquer possibilidade de
interferência ambiental ou genética.
Universidade Federal de Uberlândia
233
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Foto 03 (esq.) – Tomografia de indivíduo de Tupinambis merianae com patologia caudal encaminhado ao
Hospital Veterinário de Uberaba, Uberaba (Minas Gerais, Brasil): notar a lesão vertebral na região da cintura
pélvica.
Foto 04 (dir.) – Tomografia da porção final da cauda de Tupinambis merianae com patologia caudal
encaminhado ao Hospital Veterinário de Uberaba, Uberaba (Minas Gerais, Brasil).
Fonte: Cláudio Yudi Kanayama (2013).
A perda auto-seletiva da cauda é uma característica adaptativa presente em muitos grupos de
lagartos, usada como meio de defesa frente a predadores, como aves e mamíferos (GALDINO et al, 2006).
Após a perda da cauda, uma nova é regenerada, embora suas características e tamanho sejam diferentes da
original (SLUYS et al, 2002). Assim como descrito por Anajeva & Danov (1991), ocasionalmente os
lagartos podem sofrer injúrias na região caudal durante brigas inter ou intra-específicas, o que pode ativar o
processo de regeneração, gerando ramificações anormais (duplas ou diversas).
CONCLUSÃO
Inúmeros são os casos de patologias caudais em lagartos, porém o presente trabalho é o primeiro a
relatar um caso no gênero Tupinambis. O uso da tomografia é uma alternativa eficiente para avaliação
aprofundada de anormalidades caudais em lagartos.
REFERÊNCIAS
Universidade Federal de Uberlândia
234
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ANANJEVA, N.B., & DANOV, R.A. A rare case of bifurcated caudal regeneration in the Caucacian agama,
Stellio caucasius. Amphibia-Reptilia 12: 343-356, 1991.
ÁVILA-PIRES, T.C.S. Lizards of Brazilian Amazonia (Reptilia: Squamata). Zoologische Verhandelingen,
Leiden, n. 299, p. 1-706, 1995.
BRINDLEY, H.H. Some cases of caudal abnormality in Mabuya carinata and other lizards. Journal of the
Bombay Natural History Society 11: 680-689, 1898.
CHAN, J.G., YOUNG, L.L., CHANG, P.R.K., SHERO C.M., & WATTS, C. Morphological anomalies of
two geckos, Hemidactylus frenatus and Lepidodactylus lugubris, and the toad, Bufo marinus, on the island of
Hawaii. En: Proceedings of the Fifth Conference in Natural Sciences Hawaii Volcanoes National Park,
p. 41-50. Smith C.W. Ed., Manoa, 1984.
CHANDRA, M., MUKHERJEE, R. The occurrence of bifurcatedtail in agama lizard, Agama tuberculata,
from Simla Hills, Himachal Pradesh, India. Journal of the Bombay Natural History Society 77: 343, 1980.
FITZGERALD, L.A.; CHANI, J.M.; DONADIO, O.E. Tupinambis lizards in Argentina: implementing
management of a traditionaly exploited resourse. In: ROBINSON, J.H.; REDFORD, K. (ED.) Neotropical
wildlife use and conservation. Chicago: University of Chicago Press, p. 303-346, 1991.
GALDINO, C.A.B., PEREIRA, E.G., FONTES, A.F., & SLUYS, M.V. Defense behavior and tail loss in the
endemic lizard Eurolophosaurus nanuzae (Squamata, Tropiduridae) from southeastern Brazil.
Phyllomedusa 5: 25-30, 2006.
GOGLIATH, M., PEREIRA, L.C.M., NICOLA, P.A., & RIBEIRO, L.B. Ameiva ameiva (Giant Ameiva).
Bifurcation. Herpetological Review 43 (1): 129, 2012.
MARTINS, R.L., PEIXOTO, P.G., FONSECA, P.H., MARTINELLI, A.G., & SILVA, W.R. Abnormality
in the tail of the collated lizard Tropidurus gr. torquatus (Iguania, Tropiduridae) from Uberaba city, Minas
Gerais State, Brazil. Herpetology Notes 6: 369-371, 2013.
PÉRES, A.K.JR. Sistemática e conservação de lagartos do gênero Tupinambis (Squamata, Teiidae). Tese de
Doutorado – Instituto de Ciências Biológicas, Programa de Pós-graduação em Biologia Animal,
Universidade de Brasília, Brasília, 2003.
SLUYS, M.V., VRCIBRADIC, D., & ROCHA, C.F.D. Tail loss in the syntopic lizards Tropidurus itambere
(Tropiduridae) and Mabuya frenata (Scincidae) in Southeastern Brazil. Studies on Neotropical Fauna and
Environment 37: 227-231, 2002.
WOODLAND, W.N.F. Some observations on caudal autotomy and regeneration in the Gecko (Hemidactylus
flaviviridis, Riippel), with notes on the tails of Sphenodon and Fygopus. The Quarterly Journal of
Microscopical Science 65: 63-100, 1920.
Universidade Federal de Uberlândia
235
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
USO DA SUPERFAMÍLIA TYRANNOIDEA NO BIOMONITORAMENTO DE FRAGMENTOS
FLORESTAIS DO CERRADO
LIMA, A. B. L.¹; MARINI, M.²; SILVA, A. M. ¹; BAESSE, C. Q. ¹; FERREIRA, G.A.¹; TOLENTINO, V.
C. M. ¹; PANIAGO, L. P. M. ¹; GONÇALVES, V. F.³; MELO, C. ¹
¹– Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Biologia, Uberlândia – MG ([email protected], 34
9161 7722).
²– Universidade de Brasília, Departamento de Zoologia, Brasília - DF.
³- ESEBA – Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia - MG
RESUMO
Dentre os métodos de avaliação de impactos ambientais, estão a assimetria flutuante (AF), que
consiste em uma alteração morfológica em caracteres bilaterais e o índice de massa relativa (IMR), que
reflete a estimativa indireta da reserva nutricional das aves. O objetivo desse trabalho foi avaliar quais
representantes da superfamília Tyrannoidea podem ser utilizadas no biomonitoramento de fragmentos
florestais do Cerrado, comparando os valores de assimetria flutuante (AF) entre as espécies capturadas nos
diferentes fragmentos e avaliar se o IMR dessas aves variou temporalmente entre os períodos 2008-2013 e
1994-1996. Os resultados mostraram que as espécies Leptopogon amaurocephalus e Neopelma pallescens
são mais sensíveis às alterações ambientais e apresentaram valores maiores de AF de asa e/ou tarso. Além
disso, Platyrinchus mystaceus e Tolmomyias sulphurescens apresentaram diferença nos valores de IMR nas
comparações entre fragmentos e entre períodos, respectivamente. Os valores do IMR para a maioria dos
Tyrannoideas analisados não variou quando comparados os anos 2008-2013 e 1994-1996. No presente
estudo, o método da AF se mostrou mais eficiente no uso de representantes de Tyrannoidea em estudos de
biomonitoramento ambiental.
Palavras-chave: Tyrannoidea, assimetria flutuante, IMR.
ABSTRACT
Among the methods for assessing environmental impacts there are fluctuating asymmetry (FA),
which consists of a morphological change in bilateral characters and the relative mass index (IMR), which
reflects the indirect estimate of the nutritional reserves of birds. The aim of this study was to evaluate which
representatives of the Tyrannoidea superfamily can be used in monitoring of forest fragments in Cerrado,
comparing the values of fluctuating asymmetry (FA) between the species caught in the different fragments
and to assess whether these birds IMR varied temporally between periods 2008-2013 and 1994-1996. The
results showed that Leptopogon amaurocephalus and Neopelma pallescens species are more sensitive to
environmental changes and showed higher FA wing and/or tarsus. Moreover, Platyrinchus
mystaceus and Tolmomyias sulphurescens showed differences in the values of IMR in the comparisons
between fragments and between periods, respectively. The quantities of EPI for most Tyrannoideas analyzed
did not change when compared the years 2008-2013 and 1994-1996. In the present study, the FA method
was more efficient using representatives of Tyrannoidea in biomonitoring studies.
Key-words: Tyrannoidea, fluctuating asymmetry, IMR.
INTRODUÇÃO
Devido à forte ação antrópica e à redução das áreas naturais, decorrente da pastagem intensiva e
disseminação da agricultura mecanizada, a cobertura florestal do Cerrado está se reduzindo em pequenos
fragmentos, comprometendo a avifauna deste bioma e do Brasil (MACHADO et al., 2004). A fragmentação
de hábitat transforma vegetação contínua em “ilhas” que possuem, em seu entorno, paisagens diferentes da
original (WILCOVE et al., 1986). Como aves são extremamente sensíveis às mudanças locais, incluindo a
Universidade Federal de Uberlândia
236
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
fragmentação e a perda de habitat (MARINI, 2001), são considerados ótimos indicadores da qualidade
ambiental e podem ser utilizadas para avaliação, compreensão e monitoramento das alterações ambientais
(STOTZ et al., 1996). Uma das ferramentas para monitoramento e avaliação de impactos em habitats
fragmentados é a assimetria flutuante (AF), que reflete pequenas alterações entre os planos de simetria
bilateral dos organismos (PALMER; STROBECK, 1986; SUTHERLAND et al., 2005; GONÇALVES,
2012). Essas alterações entre os planos de simetria podem ser causadas tanto por fatores genéticos quanto por
fatores ambientais (ANCIÃES; MARINI, 2000; LOMÔNACO; GERMANOS, 2001). Outra ferramenta para
o monitoramento e avaliação da qualidade ambiental é a condição corporal que consiste em uma avaliação
qualitativa relacionada diretamente à aptidão da ave (SUTHERLAND et al., 2005; PEIG; GREEN, 2010) e
pode ser avaliada a partir do Índice de Massa Relativa (IMR) através de uma estimativa das reservas
nutricionais baseada na biomassa e no comprimento de uma estrutura rígida do corpo da ave
(SUTHERLAND et al., 2005). Dentre os diferentes táxons de aves, Tyrannoidea é uma superfamília mais
diversificada da Região Neotropical, com 5 famílias, 8 subfamílias e 220 espécies (CBRO, 2014). Os
tiranídeos possuem uma dieta predominantemente insetívora, mas existem algumas espécies frugívoras,
granívoras e carnívoras (GABRIEL; PIZO, 2005; HOFFMANN et al., 2007) o que possibilita a ocupação em
diferentes nichos ecológicos (GABRIEL; PIZO, 2005). Considerando a riqueza e os distintos nichos
ocupados por representantes desta superfamília no Cerrado, é possível que eles sejam utilizados em estudos
de biomonitoramento ambiental.
OBJETIVOS
Geral: Avaliar quais espécies de Tyrannoidea podem ser utilizadas no biomonitoramento de
fragmentos florestais do Cerrado. Específicos: Comparar a similaridade e diversidade entre os fragmentos de
estudo e os valores de assimetria flutuante (AF) entre as populações de determinadas espécies capturadas nos
diferentes fragmentos; avaliar se o IMR de Tyrannoidea variou entre fragmentos e temporalmente, entre
populações de espécies capturadas em cada fragmento nos períodos de 2008 - 2013 versus 1994 – 1996;
Avaliar qual o método mais eficiente, entre AF e IMR.
MATERIAL E MÉTODOS
Áreas de estudo: As áreas de estudo estão inseridas no Bioma Cerrado (sensu lato), que é composto
por formações florestais, savânicas e campestres. O clima da região é Aw, segundo a classificação de
Köppen (1931), possui sazonalidade evidente com verões chuvosos (de outubro a março) e inverno seco (de
abril a setembro) com temperatura média anual de 22°C e pluviosidade anual de aproximadamente 1500 mm
(ROSA et al., 1991). As áreas avaliadas foram: - Mata da Fazenda Água Fria (48°23’O, 18°29’S) –
“ÁGUA FRIA”: A Mata da Fazenda Água Fria está localizada no município de Araguari, MG, Possui uma
área com cerca de 200 hectares e é considerado um fragmento em excelente estado de conservação, com
características de formações primárias (VALE et al., 2009). - Mata da Fazenda Experimental do Glória
(48°12’O, 18°57’S) – “GLÓRIA”: A Fazenda Experimental do Glória está localizada no perímetro urbano
de Uberlândia, MG. O fragmento florestal possui 30 ha e é composto por uma mata estacional semidecidual
que faz transição com a mata de galeria inundável (LOPES, 2010).- Mata da Fazenda São José (48º13’W,
18º51’S) – “SÃO JOSÉ”: A Fazenda São José está localizada no perímetro urbano de Uberlândia, MG.
Possui um fragmento de 20 ha, composto por floresta estacional semidecidual e mata de galeria (LOPES,
2010).- Floresta do Pereira da Fazenda São Pedro – Itaú (48º03’O, 18º55’S) – “PEREIRA”: A Floresta
do Pereira está localizada na zona rural de Uberlândia, MG e possui um fragmento florestal de 35 ha,
composto de cerradão e floresta estacional semidecidual (LOPES, 2010). - Vegetação da Estação Ecológica
do Panga (48º23’O, 19º10’S) – “PANGA”: A Estação Ecológica do Panga está localizada a 30km ao sul de
Uberlândia, MG. A coleta dos dados foi realizada em um fragmento com cerca de 16 ha composto por
cerradão, floresta estacional semidecidual e mata de galeria (LOPES, 2010). - Floresta Cruzeiro dos
Peixotos (48°21'O,18°45'S) – “CRUZEIRO DOS PEIXOTOS A”: A Floresta Cruzeiro dos Peixotos A
está localizada às margens da Rodovia Municipal Neuza Resende e é composta por um fragmento de cerca
de 100 ha, circundado por pastagens (MELO, C. 2014 com. pess.). - Floresta Cruzeiro dos Peixotos
(48º24’O,18º40’S) – “CRUZEIRO DOS PEIXOTOS B”: A Floresta Cruzeiro dos Peixotos B está
localizada nas proximidades do distrito de Cruzeiro dos Peixotos no município de Uberlândia, MG. É
composta por um fragmento de estudo de 17,5 ha próximo de pastagens e culturas anuais e cortado por duas
Universidade Federal de Uberlândia
237
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
estradas e uma trilha em seu interior (LOPES, 2010). - Mata da Estação Ambiental Galheiro (47º08’O,
19º14’S) – “GALHEIRO”: A Estação Ambiental Galheiro está localizada no município de Perdizes, MG e
possui um fragmento com cerca de 16 hectares, onde os dados foram coletados. É composta por mata
mesófila semidecídua, mata de galeria, cerradão e formações savânicas (CASTRO 1995).
Captura das aves: Foram realizadas capturas de aves nos seguintes períodos: “Água Fria” (19941996 e 2010-2013), “Glória” (1994-1996 e 2008-2013), “São José” (2010-2013), “Pereira” (2010), “Panga”
(1994-1995 e 2010-2011), “Cruzeiro dos Peixotos A” (1994-1996), “Cruzeiro dos Peixotos B” (2010-2011) e
“Galheiro” (2013). Foram utilizadas redes de neblinas para a captura das aves, com autorização concedida
pelo IBAMA e CEMAVE/ICMBio (registro n. 2943). As redes foram colocadas em um número mínimo de
oito e máximo de dezesseis, no período entre 6h30 e 16h. Após a retirada das aves da rede, estas foram
colocadas em sacos de tecido para triagem e marcação com anilhas metálicas (padrão CEMAVE/ICMBio). O
protocolo de triagem foi similar entre os períodos de coleta (1994-1996 e 2008-2013) e as medidas foram
feitas na seguinte ordem: asa esquerda, tarso esquerdo, asa direita, tarso direito. As medidas de tarsos e asas
foram diferentes entre os períodos, sendo que entre 1994-1996 foram medidos somente o lado direito de
tarsos e asas, uma única vez, com paquímetro analógico e entre 2008-2013 as asas e os tarsos dos indivíduos
foram medidos três vezes com paquímetro digital Lotus®, precisão 0,01 cm. Os animais triados foram
liberados imediatamente após as medições. O esforço de captura foi calculado através do produto área das
redes (m²) * número total de redes * tempo de exposição das redes (horas) (STRAUBE; BIANCONI 2002).
Análises estatísticas: Índice de diversidade e Índice de similaridade: O teste de correlação de
Pearson foi usado para verificar se houve correlação entre o esforço total de captura e o número de espécies
capturadas e entre o esforço total de captura e o número de indivíduos capturados em cada fragmento através
do software BioEstat 5.0, e os valores do esforço total de captura e o número de indivíduos capturados de
cada espécie foram transformados em log 10. Foram calculados o Índice de Similaridade Jaccard (Sj) e o
Índice de Diversidade Shannon (H‟) para cada fragmento. Assimetria Flutuante (AF): Para padronizar a
análise de AF foram adotados os mesmos procedimentos que seguiram Palmer; Strobeck (1986). A AF foi
avaliada separadamente para a asa e o tarso de cada indivíduo: AF =∑│(D – E) . N -1│, sendo D a média
aritmética das medidas do lado direito, E a média aritmética das medidas do lado esquerdo e N o número de
indivíduos da amostra. Para verificar as dimensões do erro nas medidas dos lados, foi feita uma ANOVA
para dois fatores. Para diferenciar AF de assimetria direcional e antissimetria, foram realizados
respectivamente o teste t e o teste Kolmogorov-Smirnov. Para verificar se |AF| se correlaciona com a medida
original (lado esquerdo ou direito) foi feito uma Correlação de Pearson entre valor |AF| e a média da medida
do lado direito (PALMER; STROBECK, 1986). Para análise da AF foram utilizados apenas os fragmentos
“Glória” (2010-2013) e “Galheiro” (2013), que possuíam um N amostral de no mínimo cinco indivíduos dos
quais foram obtidas três medidas de cada lado do tarso e da asa e que não estavam em período de muda de
penas. Para comparar os valores de AF entre as espécies capturadas no Glória foi feita uma ANOVA de um
fator, separadamente, para cada caracter (asa e tarso). Para as espécies capturadas em Galheiro foi feito um
teste t para comparar a AF de asas. Índice de massa relativo (IMR): Os valores do IMR foram calculados
para os indivíduos de cada espécie considerando a biomassa e o comprimento do tarso, por meio de uma
regressão linear simples entre os valores logaritmizados na base dez da biomassa e comprimento do tarso
direito. Os valores residuais da regressão foram utilizados como IMR (SCHULTE-HOSTEDDE et al., 2005),
pois tais valores refletem as reservas de gordura das aves (GOSLER et al., 1998). Para comparar o IMR entre
os fragmentos, foram consideradas as amostras com mais de quatro indivíduos por espécie/fragmentos. Foi
utilizado o teste de Kruskal-Walis, considerando as espécies que ocorreram em pelo menos dois fragmentos
com amostras maiores que quatro indivíduos independentes do período de captura. Essas espécies foram:
Leptopogon amaurocephalus, Tolmomyias sulphurescens, Platyrinchus mystaceus, Neopelma pallescens e
Lathrotriccus euleri. Para a análise de variação temporal, foram utilizados os fragmentos que apresentassem
pelo menos cinco indivíduos capturados em cada período (1994-1996 e 2008-2013). Foi feito um teste não
paramétrico Kruskal-Wallis nos fragmentos “Água Fria” e “Glória”, que foram os únicos fragmentos que
apresentaram intervalo mínimo de três anos entre períodos de coleta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Índice de diversidade e Índice de similaridade: Durante os anos 1994-1996 e 2008–2013, foram
capturados 261 indivíduos de 16 espécies em 409.524,4 horas.m². O número de espécies capturadas de
Tyrannoidea em cada fragmento variou de 3 a 11, enquanto o número de indivíduos foi de 7 a 120. Houve
Universidade Federal de Uberlândia
238
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
correlação entre o esforço total de captura e o número de espécies capturadas (r = 0,878; g.l = 6; p = 0,0041)
e também entre o esforço total de captura e o número de indivíduos capturados (r = 0,853; g.l = 6; p =
0,0071). Tais correlações podem estar relacionadas com o tempo e área de exposição das redes. O uso das
redes de neblina é um método seletivo pelo fato de capturar espécies que realizam suas atividades no subbosque, mas eventualmente captura espécies de dossel que ocasionalmente utilizam os extratos mais baixos
dos ambientes florestais. O índice de diversidade Shannon (H‟) mostrou que o fragmento “Panga” possui
maior diversidade (H‟=0,851) enquanto o fragmento “São José” possui a menor diversidade (H‟= 0,410). O
tamanho do fragmento, a disponibilidade de recurso e a variedade de microhabitats podem ser fatores que
influenciam na diversidade de espécies presente no local (PIRATELLI, 1999). Houve maior similaridade
entre os fragmentos “Cruzeiro dos Peixotos A” e “Cruzeiro dos Peixotos B” (0,83) para as espécies de
Tyrannoidea, devido à ocorrência de cinco espécies em comum entre esses fragmentos. Tais espécies
possuem ocorrência ampla em sub-bosque de mata de galeria, bordas, capoeira e cerradão (GWYNNE et al.,
2010), o que pode ter favorecido a captura das espécies em comum. Além disso, estes fragmentos são mais
próximos entre si (ca. 8 km).
Assimetria Flutuante (AF): As espécies capturadas no “Glória” foram Tolmomyias sulphurescens
(N=14), Leptopogon amaurocephalus (N=5) e Lathrotriccus euleri (N=5), enquanto em “Galheiro” foram
capturadas as espécies Corythopis delalandi (N=6) e Neopelma pallescens (N=5). No “Glória” todas as
amostras apresentaram AF (Tabela 1) e as espécies Leptopogon amaurocephalus, Tolmomyias sulphurescens
e Lathrotriccus euleri não apresentaram entre si diferenças na AF da asa (F2,21 = 0,345; p = 0,712) e do tarso
(F2,21 = 2,814; p = 0,083).
Tabela 1 – Assimetria flutuante (média em mm ± desvio padrão) da asa e do tarso de cada espécie analisada
no fragmento florestal do “Glória”
Espécie
Asa
Tarso
Leptopogon amaurocephalus
0,027± 0,027
0,024±0,029
Tolmomyias sulphurescens
0,019± 0,017
0,016±0,009
Lathrotriccus euleri
0,018±0,012
0,011±0,018
Em “Galheiro” a espécie Neopelma pallescens possui AF para asa e Corythopis delalandi possui AF
para asa e tarso (Tabela 2) e essas duas espécies também não apresentaram diferenças estatísticas na AF das
asas (t0.05,6,5 = -1,488, p = 0,171). As cinco espécies são dependentes de habitat florestal (SICK 1997;
GWYNNE et al., 2010) e possivelmente são mais sensíveis às alterações ambientais por isso apresentam AF
como conseqüência das condições destes fragmentos (SILVA 1995; ANCIÃES; MARINI, 2000;
ANTUNES, 2005). Mesmo não tendo sido encontradas diferenças significativas nos valores de AF, a espécie
Leptopogon amaurocephalus no fragmento “Glória”, e a espécie Neopelma pallescens em “Galheiro”,
apresentaram valores maiores de AF para asa e/ou tarso. A AF na asa e tarso de Leptopogon amaurocephalus
pode ser devido ao hábito que essa espécie tem de pousar em galhos expostos e de forragear no estrato médio
do sub-bosque no qual voa para pegar insetos e volta ao poleiro (GWYNNE et al., 2010; GABRIEL; PIZZO,
2005). A espécie Neopelma pallescens vive em baixas e médias alturas no cerradão e mata de galeria e os
machos têm o hábito de fazer exibições com vocalização e saltos utilizando as “asas” como ferramenta
(GWYNNE et al., 2010).
Tabela 2 - Assimetria flutuante (média em mm ± desvio padrão) da asa e do tarso de cada espécie analisada
no fragmento florestal “Galheiro”.
Espécie
Asa
Tarso
Corythopis delalandi
0,046±0,046
0,02±0,009
Neopelma pallescens
0,076±0,045
-
Universidade Federal de Uberlândia
239
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Índice de massa relativo (IMR): A espécie Leptopogon amaurocephalus ocorreu em três fragmentos
e não houve diferença significativa entre os seus valores do IMR nos fragmentos comparados. Para as
espécies que ocorreram em dois fragmentos, somente Platyrinchus mystaceus apresentou diferença
significativa nos valores de IMR entre as áreas (t = -3,033; df = 8; p = 0,016). Os valores negativos do IMR
dessa espécie podem estar relacionados com o tamanho da espécie e a sua biomassa. Moyes et al. (2010),
mostram que os animais pequenos geralmente usam mais energia para se mover do que animais grandes. P.
mystaceus é a menor espécie em tamanho (9,8 cm) (SICK, 2001) e biomassa (9,3g ± 1,11) quando
comparada com as demais espécies capturadas. Dessa forma sua taxa metabólica é maior e provavelmente
somente os dois fragmentos onde essa espécie foi capturada (“Glória” e “Panga”) ofereceram condições
necessárias para que ela mantenha sua reserva energética, mesmo que baixa. No fragmento “Água Fria”,
somente a espécie Leptopogon amaurocephalus possuiu suficiência amostral para cada período (1994-1996 e
2008-2013) e o valor do seu IMR não variou temporalmente. Estudo realizado por Vale e colaboradores
(2009) mostrou que o fragmento “Água Fria” possui formação florestal em estágio primário de conservação,
caracterizado por grande diversidade biológica e com efeitos mínimos das ações antrópicas de forma a não
afetar expressivamente a estrutura e flora ali presentes. Essas características podem ter influenciado para que
os valores do IMR não variassem de forma significativa ao longo do tempo. No “Glória” não houve
diferença significativa temporal nos valores do IMR de Leptopogon amaurocephalus enquanto que os
valores do IMR de Tolmomyias sulphurescens apresentaram diferença significativa (U0.005,10,48 = 125,5; p =
0,018) sendo que a condição corporal foi melhor no segundo período (2008-2013) (Figura 1). Em um estudo
de dinâmica da comunidade arbórea do fragmento “Glória” (SILVA; ARAÚJO, 2009), foi detectado que
entre 1990 e 2004 a riqueza de espécies da vegetação se manteve. Porém, um estudo recente (LOPES et al.,
2011) mostra que esse fragmento está direcionando para um estágio de maturidade mais avançado da
vegetação, caracterizado por uma grande diversidade biológica devido à complexidade estrutural e
fisionomia semelhante à vegetação primária, podendo explicar a variação positiva no valor do IMR de
Tolmomyias sulphurescens.
Figura 1 – Box-plot dos valores de IMR de Tolmomyias sulphurescens entre os períodos no fragmento
“Glória”. Períodos: A- 1994-1996 B- 2008-2013.
CONCLUSÕES
As espécies Tolmomyias sulphurescens, Leptopogon amaurocephalus, Lathrotriccus euleri,
Corythopis delalandi e Neopelma pallescens apresentaram AF para asas e/ou tarsos e os valores não
variaram entre as espécies e entre fragmentos. Para estudos de biomonitoramento utilizando a análise de AF,
recomenda-se o uso das espécies Leptopogon amaurocephalus e Neopelma pallescens por serem mais
sensíveis as perturbações. Como o tarso é uma estrutura rígida e menos sujeita a variações, é interessante o
uso da AF em tarsos de L. amaurocephalus;A análise do IMR para a maioria das espécies de Tyrannoidea
Universidade Federal de Uberlândia
240
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
analisadas não variou quando comparados os anos 2008-2013 com dados de 1994-1996 indicando que os
fragmentos estudados não sofreram drásticas mudanças suficientes para diminuir o IMR; O IMR se mostrou
uma ferramenta eficiente para comparação temporal de fragmentos florestais do Cerrado (ex. Tolmomyias
sulphurescens) e para comparação entre fragmentos (ex. Platyrinchus mystaceus); Tanto AF quanto o IMR
podem ser usadas como ferramenta para estudos de biomonitoramento, sendo que a AF se mostrou mais
eficiente para a superfamília Tyrannoidea por refletir melhor as pequenas perturbações do ambiente.
REFERÊNCIAS
ANCIÃES, M.; MARINI, M. A. The effects of fragmentation on fluctuating asymmetry in passerine birds of
Brazilian tropical forests. Journal of Applied Ecology. v.37, p. 1013-1028, 2000.
ANTUNES, A. Z. Alterações na composição da comunidade de aves ao longo do tempo em um fragmento
florestal no sudeste do Brasil. Ararajuba. v.13, n.1, p. 47-61, 2005.
CASTRO, N. M. F. Projeto Executivo: Unidade de Conservação Galheiro - estudo de fauna e flora.
(Relatório final - Estudos ambientais). Belo Horizonte, v. 2, 1995.
CBRO - COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS. Listas das aves do Brasil (2014).
11ª Edição. Disponível em: <http://www.cbro.org.br>. Acesso em: 25 de Fevereiro de 2014.
GABRIEL, V. A.; PIZO, M. A. Foraging behavior of tyrant flycatchers (Aves, Tyrannidae) in Brazil.
Revista Brasileira de Zoologia. v.22, n.4, p. 1072-1077, 2005.
GONÇALVES, V. F. Assimetria flutuante em aves de ambiente florestais no cerrado mineiro. 2012.
74f. Dissertação (Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais) – Instituto
de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2012.
GWYNNE, J.; RIDGELY, R. S.; TUDOR, G.; ARGEL, M. Aves do Brasil – Pantanal e Cerrado. São
Paulo: Horizonte. 2010. 322p.
HOFFMANN, D; VASCONCELOS, M. F.; LOPES, L. E.; RODRIGUES, M. Comportamento de
forrageamento e dieta de Polystictus superciliaris (Aves, Tyrannidae) no sudeste do Brasil. Iheringia: Série
Zoologia. v.97, n.3, p. 296-300, 2007.
KÖPPEN,W. Climatologia. México. Fundo de Cultura Econômica. 1931.
LOMÔNACO, C.; GERMANOS, E. Variações fenotípicas em Musca domestica L. (Diptera: Muscidae) em
resposta à competição larval por alimento. Neotropical Entomology. v.30, p. 223-231, 2001.
LOPES, S. F. Padrões florísticos e estruturais das Florestas Estacionais Semideciduais do Triangulo
Mineiro, MG. 2010. Tese (Doutorado em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais) - Instituto de
Biologia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, 2010.
LOPES, S. F.; SCHIAVINI, I.; PRADO JÚNIOR, J. A.; GUSSON, A. E.; SOUZA NETO, A. R.; VALE, V.
A.; DIAS NETO, O. C. Caracterização ecológica e distribuição diamétrica da vegetação arbórea em um
remanescente de floresta estacional semidecidual, na Fazenda Experimental do Glória, Uberlândia, MG.
Bioscience Journal. v.27, n.2, p. 322-335, 2011.
MACHADO, R.B.; NETO, M.B.R.; PEREIRA, P.G.P.; CALDAS, E.F.; GONÇALVES, D.A.; SANTOS,
N.S;, TABOR, K.; STEININGER, M. Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro. Relatório
técnico não publicado. Conservação Internacional, Brasília, DF, 2004.
MARINI, A.M. Effects of forest fragmentation on birds of the cerrado region, Brazil. Bird Conservation
International. p. 13-25, 2001.
Universidade Federal de Uberlândia
241
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
MOYES, C.D.; SCHULTE, P.M. Princípios de fisiologia animal. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.792p.
PALMER, A. R.; STROBECK, C. Fluctuating asymmetry: measurement, analysis, patterns. Annual
Reviews of Ecology, Evolution and Systematics v. 45, p. 391-421, 1986.
PEIG, J.; GREEN, A. J. The paradigm of body condition: a critical reappraisal of current methods based on
mass and length. Functional Ecology. v.24, p. 1323-1332, 2010.
PIRATELLI, A. J. Comunidades de aves de sub-bosque na região Leste de Mato Grosso de Sul. 1999.
206f. Tese (Doutorado em Zoologia) – Instituto de Biologia, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, SP,
1999.
ROSA, R.; LIMA, S. C.; ASSUNÇÃO, W. L. Abordagem preliminar das condições climáticas de Uberlândia
(MG). Sociedade & Natureza, v. 3, p. 91-108, 1991.
SCHULTEDE-HOSTEDDE, A. I.; ZINNER, B.; MILLAR, J. S., HICKLING, G. J. Restitution of mass-size
residuals: validating body condition indices. Ecology. p.155- 163, 2005.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, 912 p.
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001, 862p.
SILVA, J.M.C. Birds of the Cerrado Region, South America. Steentrupia. v. 21, n. 2, p. 69-92, 1995.
SILVA, M. R.; ARAÚJO, G. M. Dinâmica da comunidade arbórea de uma floresta semidecidual em
Uberlândia, MG, Brasil. Acta Botanica Brasilica. v. 23, n.1, p. 49-56, 2009.
STOTZ, D.F. et al. Neotropical birds: ecology and conservation. Chicago: The University of Chicago
Press, 1996, 471 p.
STRAUBE, F. C.; BIANCONI, G. V. Sobre a grandeza e a unidade utilizada para estimar esforço e captura
com utilização de redes-de-neblina. Chiroptera Neotropical, v. 8, p. 150-152, 2002.
SUTHERLAND, W. J; NEWTON, I.; GREEN, R. E. Bird Ecology and Conservation. A Handbook of
Techniques. New York: Oxford University Press Inc, p. 408, 2005.
VALE, V.S; SCHIAVINI, I.; LOPES, S.F; NETO, O. C. D.; OLIVEIRA, A. P.; GUSSON, A. E.
Composição florística e estrutura do componente arbóreo em um remanescente primário de floresta
estacional semidecidual em Araguari, Minas Gerais, Brasil. Hoehnea v.36, n.3, p. 417-429, 2009.
WILCOVE, D.S.; MCCLELLAN C.H.; DOBSON A.P. Habitat fragmentation in the temperate zone. In:
SOULE, M.E (Org). Conservation biology: the science of scarcity and diversity. Ed. Sinauer Associates,
Sunderland, MA. p.237-256, 1986.
Apoio Financeiro: FAPEMIG (CRA-APQ 01654-12 e Bolsa de Iniciação Científica¹) e CNPq (PELD processo: 403733/2012-0)
Universidade Federal de Uberlândia
242
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ULTRA-ESTRUTURA DA CASCA DE OVOS DE PODOCNEMIS EXPANSA (TESTUDINES,
PODOCNEMIDIDAE) AO LONGO DA INCUBAÇÃO ARTIFICIAL
Paz, B. F. ¹; SOUZA, L. C. M.²; VIEIRA, L. G.²; VALDES, S. A. C.²; SANTOS, A. L. Q ².
1. Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres, FAMEV - UFU, Uberlândia - MG
([email protected], 34 3232.0643).
2. Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres, FAMEV - UFU, Uberlândia – MG.
RESUMO
A casca de ovo refere-se genericamente às estruturas de revestimento externas à albumina. Em
répteis esta casca tem como funções a proteção e isolamento do embrião do meio externo, bem como a
realização de trocas gasosas, umidade e calor com este meio. Os componentes principais da camada calcária
das cascas de ovos de Testudines são agregações cristalinas de carbonato de cálcio. Este mineral organiza-se
de modo estável em cristais de aragonita, formas longas que irradiam para o exterior e são responsáveis pela
natureza flexível da casca dos ovos de muitos Testudines. Podocnemis expansa é o maior exemplar da ordem
Testudines existente, sendo encontrada nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco e em períodos reprodutivos
chega a desovar até 100 ovos. Neste estudo, foram incubados artificialmente três ovos de P. expansa. Suas
cascas foram submetidas a análise por microscopia eletrônica de varredura em três tempos distintos de
incubação. Verificou-se que as cascas de ovos de P. expansa são formadas por três camadas distintas: a
camada interna, composta por fibras orgânicas colágenas dispostas longitudinalmente em várias direções;
camada intermediária, formada por agregações cristalinas, e a camada externa, formada por matéria mineral
calcária, organizada em núcleos de cristais de carbonato de cálcio na forma de aragonita. A camada externa
da casca apresentou alterações significativas durante o desenvolvimento embrionário.
Palavras-chave: tartaruga-da-Amazônia, microscopia eletrônica de varredura, répteis.
ABSTRACT
The eggshell designation refers generically to structures external to albumin. In reptiles the eggshell
functions are protect and isolate the embryo from the external environment, as well as perform gas, humidity
and heat exchanges. The main components of the calcareous layer of eggshells of turtles and tortoises are
crystal aggregations of calcium carbonate. This mineral is organized stably in crystals of aragonite, long
shapes radiating outwards being responsible for the flexible nature of Testudines eggs. Podocnemis expansa
is the largest specimen of the order Testudines. It is found in the basins of the Amazon and Orinoco rivers in
reproductive periods, depositing up to 100 eggs in oviposition period. In this study, three eggs of P. expansa
were artificially incubated. Their eggshells were submitted to analysis by scanning electron microscopy at
three different incubation times. It was found that eggshells of P. expansa comprise three distinct sections: a
shell membrane composed of organic fibers arranged longitudinally in different directions; an intermediary
layer formed of crystalline compressed, and the outermost section formed by calcareous mineral matter,
organized in shell core of calcium carbonate in the form of aragonite. The calcareous section of shell was the
most changed during embryonic development.
Key words: Giant South American Turtle, scanning electron microscopy, reptiles.
INTRODUÇÃO
A casca de ovo refere-se genericamente às estruturas de revestimento externas à albumina. De
acordo com a estrutura da casca, os ovos de répteis podem ser divididos em três grupos: ovos de casca
flexível com pouca ou nenhuma camada de calcário (grande parte dos Squamatas), ovos de casca flexível
Universidade Federal de Uberlândia
243
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
com camada calcária bem desenvolvida (alguns Testudines) e ovos de casca rígida, com camada calcária
espessa (alguns Testudines e Squamatas, e todos os Crocodylia) (PACKARD et al., 1982).
Em répteis, a casca do ovo tem como funções a proteção, isolamento do embrião do ambiente
externo, permite trocas gasosas, de umidade e de temperatura. A casca também protege o embrião contra
choques mecânicos e invasões microbianas, além de abrigar conteúdo que permite os movimentos
rotacionais do embrião e servir como fonte de minerais para o seu desenvolvimento (SAHOO et al., 1996;
PACKARD et al., 1977).
Majoritariamente, cascas de ovos de répteis são formadas por duas partes: uma camada de membrana
fibrosa (mais interna) e uma camada de calcário interligada à superfície externa (PACKARD et al., 1982).
Nos ovos de Testudines, os componentes principais da camada calcária são agregações cristalinas de
carbonato de cálcio. Este mineral se organiza de modo estável em cristais de aragonita, longos, que se
irradiam para o exterior, e são responsáveis pela natureza flexível da casca dos ovos de alguns Testudines
(SOLOMON, 1976).
A ordem Testudines é composta atualmente por cerca de 330 espécies, habitantes de ambientes
marinhos, terrestres e de água doce (BOUR, 2008). Da família Pleurodira, o gênero Podocnemidae é
formado por oito espécies de Testudines, dentre elas, a Podocnemis expansa, popularmente conhecida como
tartaruga da Amazônia. Esta espécie é a maior Pleurodira existente, encontrada nas bacias dos rios Amazonas
e Orinoco. A carapaça das fêmeas pode atingir até 90 cm de comprimento (POUGH et al., 2008). Nos rios da
bacia Araguaia, a estação reprodutiva para esta espécie estende-se de agosto a outubro, coincide com o
período de menor vazão das águas. As fêmeas desovam em média 100 ovos (JÚNIOR, 2005).
Diversos estudos têm sido realizados para a descrição de características ultra-estruturais presentes
nas cascas de ovos de répteis. Este conhecimento mostra-se importante para a estruturação de aspectos
filogenéticos, manejo e conservação de espécies (AL-BAHRY, 2009; KUSUDA et al., 2013; WINKLER,
2005). O presente estudo descreveu e classificou por microscopia eletrônica de varredura (MEV) as
características ultra-estruturais da casca de ovos de P. expansa durante o desenvolvimento do embrião.
MATERIAL E MÉTODOS
Ovos de P. expansa foram coletados em outubro de 2013, em área de reprodução localizada em
praias do Rio Araguaia – GO protegidas pelo Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios
(RAN/ICMBio) (13º 20' 38" S e 50º 38' 05" W), com licença SISBIO/ICMBio 36957-1/2012.
Foram coletados três ovos de P. expansa, os quais foram acondicionados em sacos plásticos com
vermiculita umedecida com água na proporção de 2:1 e transportados em veículo oficial ao Laboratório de
Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de
Uberlândia (LAPAS/FAMEV/UFU) para incubação artificial. Para análise ultra-estrutural utilizou-se três
cascas em três períodos de incubação (15, 35 e 51 dias). Os ovos foram delicadamente abertos com uma
tesoura e as cascas lavadas em água corrente para retirada de toda membrana corioalantóidea aderida a
superfície interna da camada interna da casca. Foram armazenadas em frascos identificados e congelados a 5ºC, para serem analisadas em conjunto no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília.
Para a MEV as cascas foram cortadas em fragmentos com menos de 3 mm de comprimento e 2 mm
de largura, posicionadas sobre fita adesiva dupla face em stubs de alumínio para visualização das superfícies
interna e externa e corte transversal da casca. Os stubs foram levados para metalizador LEICA EMSDC 500,
onde receberam fina película de carbono. As imagens foram produzidas em Microscópio Eletrônico de
Varredura JSM – 700IF.
RESULTADOS
Universidade Federal de Uberlândia
244
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Fig. 1: (A, B, C) Corte transversal da casca com destaque para camadas: externa (CE), intermediária (CIn) e
interna (CI). Cabeça da seta indica lacuna da camada externa em contato com a camada intermediária. (B, D,
F) Imagens da superfície interna da camada interna da casca, evidenciando fibras longitudinais. Os períodos
de incubação das cascas apresentadas são: A-B, 15 dias; C-D, 35 dias; E-F, 52 dias. A barra das imagens
equivale a 10 um. Os aumentos diferenciam-se em 300x (A, C e E), 900x (D), 1000x (F) e 1200x (B).
As imagens produzidas por MEV demonstraram que a casca dos ovos de P. expansa modificam-se
durante o período de incubação somente na camada externa da casca. Em cortes transversais, a casca
apresentou três camadas bem definidas: uma camada calcária mais externa e rígida; camada intermediária,
composta de metalinos compactos e internamente uma camada fibrosa e flexível. (Fig. 1 A, C e E). As
camadas intermediária e fibrosa não demonstraram alterações durante os três períodos de incubação
analisados.
A camada interna apresentou superfície heterogênea. As fibras, de natureza colágena estão dispostas
longitudinalmente, em diversas direções. Nesta camada da casca não há internamente a visualização de
aberturas indicativas de poros. Representa pequeno percentual diante das demais camadas da casca (Fig. 1 B,
D e F).
A camada intermediária é composta por material calcário organizado em cristais. Estes possuem
comprimento diferenciado e aproximadamente a mesma espessura. Para formarem esta camada da casca, os
cristais dispõem-se compactados. No entanto, não estão dispostos de modo definível, organizado,
apresentando irregularidades na localização dos cristais. Nos cortes transversais não foram evidenciadas
aberturas que colocassem em comunicação as três camadas da casca.
Universidade Federal de Uberlândia
245
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Fig. 2: Imagens da camada externa da casca. Pontas de seta indicam poros; setas, áreas lisas e La, lacunas.
Os períodos de incubação das cascas apresentadas são: 15 dias, A-B; 35 dias, C; e 52 dias, D. A barra das
imagens A, C e D equivale à 100um, enquanto B à 10 um. Os aumentos são 100x (A, C e D) e 300x (B).
A superfície da camada externa da casca, aos 15 dias de incubação, apresenta diversas estruturas
aproximadamente de mesma altura. Pequenas lacunas mostram-se distribuídas por toda superfície,
circundando áreas diferentes da casca. Em alguns pontos, evidencia-se a distribuição das lacunas ao redor
dos poros da casca. Os poros estão dispersos pela camada externa e neste momento, encontram-se áreas de
aspecto liso, próximas aos poros e por toda superfície da casca, onde os cristais não estão dispostos
verticalmente. Também são verificadas na superfície da camada externa diversas irradiações de cristais, sem
organização definida.
Quando as cascas dos ovos de P. expansa atingem 35 dias de incubação, as lacunas apresentam-se
mais regularmente distribuídas. Estas estão profundas e circundam organizações nucleares de material
cristalino. Os cristais formam diversos núcleos, com alturas parcialmente diferentes. Os poros encontram-se
sobretudo no centro dos núcleos cristalinos. Ainda há formações de cristais com aspecto liso, mas restritos ao
redor dos poros.
Ao final do período de incubação, os poros sofrem grande mudança conformacional. Não estão mais
distribuídos no centro dos núcleos cristalinos. Os núcleos, antes circulares, apresentam-se sem forma
definida, alguns fundidos parcialmente. As lacunas mostram-se profundas apenas em alguns pontos e na
maior parte da camada externa separam os núcleos superficialmente.
DISCUSSÃO
Universidade Federal de Uberlândia
246
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
De modo mais amplo a casca de ovos de Chelonia mydas descrita por Al-Bahry (2009), assemelhase com a de P. expansa por apresentar três camadas distintas: camada externa formada por cristais de
aragonita, intermediária multiestratificada e camada interna. As descrições apresentadas por Podocnemis
expansa aproximam-se de Podocnemis unifilis observadas em MEV por WINKLER (2005).
Kusuda (2013), descreve as cascas de ovos de Testudines em seis classes conforme a estrutura da
camada calcária presente. Podocnemis expansa encaixa-se no grupo III, pois apresenta núcleos organizados e
calcificados com divisões específicas, compostas por núcleos dispostos organizadamente e calcificados com
cristais de aragonita. Os cristais de carbonato de cálcio são organizados de modo parcialmente regular.
Segundo Bryan (2005), o estudo da casca de ovos em diferentes períodos de incubação paralelos
podem determinar comparativamente os constituintes relativos ao período em análise, como a mobilização
de minerais para o desenvolvimento do embrião, e as interferências de fatores ambientais na composição e
estrutura da casca. Dentre os fatores ambientais que podem influenciar nos parâmetros da casca estão os
bióticos e abióticos. Maiores estudos devem ser feitos para investigar as interferências entre os fatores
ambientais e contaminação por poluentes, como os xenobióticos, nas cascas de ovos de Testudines.
CONCLUSÃO
Cascas dos ovos de Podocnemis expansa correspondem às características dos ovos de répteis de
casca flexível. As camadas interna e intermediária não apresentam alterações durante o período embrionário,
enquanto a camada externa apresenta modificações.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao RAN/ICMBio e ao CEUA/UFU por permitir à realização da pesquisa. Ao
pesquisador Paulo Roberto de Jesus Filho pela ajuda na coleta dos ovos. Ao Instituto de Biologia Celular da
Universidade de Brasília (UnB) pelo suporte fornecido às análises, em especial à técnica Ingrind Gracielle
Matins da Silva. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo auxílio
financeiro e o incentivo ao estudo e à pesquisa.
REFERÊNCIAS
AL-BAHRY, S.N.; MAHMOUDA, I.Y.; AL-AMRI, I.S.; BA-OMAR, T. A.; MELGHEIT, K.O; AL-KINDI,
A.Y. Ultrastructural features and elemental distribution in eggshell during pre and post hatching periods in
the green turtle, Chelonia mydas at Ras Al-Hadd, Oman. Tissue and Cell 41, 2009, 214-221.
BRYAN, T. A. Morphological and constituent analyses of american alligator (alligator mississippiensis)
eggshells from contaminated and reference lakes. Florida, university of Florida. 2005. 45 f. Thesis (Graduate
of Master of Science), School of the University of Florida, Florida, 2005.
BOUR, R. Global diversity of turtles (Chelonii; Reptilia) in freshwater. Hydrobiologia 595: 593-598. 2008
Salera Junior G. Avaliação da biologia reprodutiva, predação natural e importância social em quelônios
com ocorrência na bacia do Araguaia. 2005. 191f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente) –
Fundação Universidade Federal do Tocantins, Palmas, 2005.
Packard MJ, Packard GC (1979) Structure of the shell and tertiary membranes of eggs of softshell turtles
(Trionyx spiniferus). J Morphol 159: 131–144.
Packard MJ, Packard GC, Boardman TJ (1982) Structure of eggshells and water relations of reptilian eggs.
Herpetologica 38: 136–155.
INVERSON, John B. Reproduction in Freshwater and Terrestrial Turtles of North Florida. Herpetologica,
Vol. 33, No. 2 (Jun. 1977), pp. 205-212.
Universidade Federal de Uberlândia
247
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
KUSUDA, Satoshi; YASUKAWA, Yuichirou; SHIBATA, Hiroki; SAITO, Tomomi; DOI, Osamu; OHYA,
Yutaka and YOSHIZAKI, Norio. Diversity in the Matrix Structure of Eggshells in the Testudines
(Reptilia).Zoological Science, 30 (5): 366-374.2013.
SOLOMON, Sarah E. and BAIRD, T. Studies on the egg shell (oviducal and oviposited) of Chelonia mydas.
J. exp. Mar. Biol. Ecol., 1976, Vol. 22, pp 145-160.
OSBORNE, Louise and THOMPSON, Michael B. Chemical Composition and Structure of the Eggshell of
Three Oviparous Lizards. Copeia, 2005 (3): 683-692.2005.
POUGH, F. H.; JANIS, C. M.; HEISER, J.B. Testudines. In: A vida dos vertebrados. 4. ed. São Paulo:
Atheneu Editora, 2008. p. 304-305
WINKLER, Jasmin D. Testing phylogenetic implications of eggshell characters in side-necked turtles
(Testudines: Pleurodira). Zoology 109 (2006) 127-136.
Universidade Federal de Uberlândia
248
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
USO DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TEMÁTICA DE ECOLOGIA DE
ESTRADAS: PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS
Barros,R.F.¹, Kanayama, C.Y.¹, Nalla, S.F.¹; Gonçalves, K.A.M.¹; Castro, M.T.¹; Andrade, N.L.P.¹
Membro do „Projeto Atropelados: monitoramento e conservação da fauna de estrada‟- Uberaba-MG
[email protected] (34) 96762056
1-
RESUMO
Dentre as problemáticas abordadas pelas ações de educação ambiental, o atropelamento de animais
silvestres é um problema grave, porém pouco evidenciado. Sabe-se que a perda de fauna por atropelamento
já é maior do que a perda causada por tráfico e a caça em números reais. Nesse sentido, o objetivo do
presente trabalho foi fazer um levantamento quantitativo e qualitativo das atividades de educação ambiental
realizadas pelo „Projeto Atropelados‟ nas cidades de Uberaba e Patos de Minas (Minas Gerais) entre 2012 e
2014, procurando discutir referências que possam auxiliar outros grupos na produção de materiais didáticos
de Educação Ambiental para trabalhar em escolas ou em suporte digital. Dentre as atividades realizadas,
destacam-se as atividades em escolas de forma continuada, que permitem trabalhar a temática de forma leve
e gradual; o uso das redes sociais para divulgação de conteúdos e; o acompanhamento de levantamentos de
animais silvestres atropelados por voluntários, visto a experiência prática adquirida pelos participantes. O
uso de atividades de educação ambiental na temática de ecologia de estradas pode funcionar como ótima
alternativa para conscientização de crianças, jovens e adultos. Os grupos de pesquisa devem optar por
aquelas ações que mais se adaptem ao grupo alvo, tamanho da equipe e recursos financeiros. Sugere-se
ainda o uso das redes sociais para divulgação de atividades e conteúdos diversos, visto a praticidade do uso e
alcance de grande público em períodos curtos de tempo.
Palavras-chave: atropelamento de animais silvestres; gestão ambiental; atividades educacionais.
ABSTRACT
Among the issues approached by environmental education, wild animals roadkill is a serious
problem, but little evidenced. It is known that the loss of wildlife by road accidents is already greater than the
loss caused by trafficking and hunting. Thus, the goal of this study was to make a quantitative and qualitative
list of environmental education activities conducted by the 'Project Atropelaos' in Uberaba and Patos de
Minas (Minas Gerais) between 2012 and 2014, trying to discuss referrals that may assist other groups in the
production of didatic materials for environmental education work in schools or digital plattaforms. Among
the actions, there are the activities in schools, which allows to work the theme in a simple way and gradually;
the use of social networks to disseminate content and; volunteers participation in road monitoring, giving the
participants a great experience. The use of environmental education activities on the theme of road ecology
can serve as great alternative for awareness of children, youth and adults. The research groups should choose
those actions that are suited to the target group, size of staff and financial resources. We suggest the use of
social networks to disseminate activities and diverse content, as the practicality of the use and reach of the
general public in short periods of time.
Key words: wild animals roadkill; ambiental management; educational activities.
INTRODUÇÃO
Conforme definido pela Lei Federal nº 9.795 (BRASIL, 1999), que instituiu a Política Nacional de
Educação Ambiental, a educação ambiental se caracteriza pelos processos por meio dos quais os indivíduos e
a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltados para
a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e à sua
sustentabilidade.
Universidade Federal de Uberlândia
249
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Os marcos fundamentais da educação ambiental são os seguintes: levar os indivíduos e a
coletividade a compreender o ambiente natural e o ambiente criado pelo homem (tecnológico, social,
econômico, político, histórico-cultural, moral e estético); adquirir conhecimentos, valores, comportamentos e
habilidades práticas para participar da prevenção e da solução da gestão ambiental (RIBEIRO et al., 2002).
Para tanto, a Educação Ambiental deve promover uma estreita vinculação entre os processos educativos e a
realidade, estruturando suas atividades em torno dos problemas concretos que causam alguma problemática à
sociedade, buscando amenizá-la (DIAS, 1992).
Dentre as problemáticas conhecidas, o atropelamento de animais silvestres é um problema grave,
porém pouco evidenciado (SILVEIRA, 1999; RODRIGUES et al., 2002; ROSA, 2004). Sabe-se que a perda
de fauna por atropelamento já é maior do que a perda causada por tráfico e a caça (SORENSEN, 1995).
Conforme Lima & Obara (2004), a grande incidência de animais mortos nas rodovias dá-se por dois motivos:
em primeiro lugar, as estradas de rodagem cortam habitats e interferem diretamente no deslocamento natural
das espécies; em segundo, há disponibilidade de alimentos ao longo da rodovia. Neste último, apresentam-se
o lixo, gerado pelo descaso dos motoristas, os frutos e as sementes das espécies arbustivas e arbóreas
próximas à via, e a própria carcaça de animais atropelados, que atrai espécies carnívoras, formando um ciclo
de atropelamentos.
Por ser uma área científica recente, poucos são os grupos de pesquisa que visam desenvolver
atividades e materiais didáticos específicos para a problemática de atropelamento de animais silvestres.
Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho foi fazer um levantamento quantitativo e qualitativo das
atividades de educação ambiental realizadas pelo „Projeto Atropelados‟ nas cidades de Uberaba e Patos de
Minas (Minas Gerais) entre 2012 e 2014, procurando discutir referências que possam auxiliar outros grupos
na produção de materiais didáticos de Educação Ambiental para trabalhar em escolas ou em suporte digital.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um levantamento quantitativo e qualitativo das atividades desenvolvidas pelo „Projeto
Atropelados‟ nos municípios de Uberaba e Patos de Minas, ambos localizados no estado de Minas Gerais
entre os anos 2012 e 2014, expondo as principais características, grupos afetados e efetividade de cada ação,
através da descrição de pontos positivos e negativos. O „Projeto Atropelados‟ é um grupo sem fins lucrativos
que aborda o tema de ecologia de estradas em três grandes esferas: científica, capacitação de pesquisadores e
educação ambiental, principal foco do presente trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
-Atividades em escolas
Durante o período citado, 05 escolas no município de Uberaba foram visitadas. Os 142 alunos
atendidos tinham idades entre 6 e 12 anos. A ação era composta por três atividades realizadas em semanas
consecutivas. Na primeira semana, os voluntários do projeto realizavam uma apresentação do projeto para os
alunos com auxílio de recursos visuais (apresentação em Microsoft Powerpoint®), abordando os principais
conceitos de ecologia de estradas e fauna silvestre atropelada (fotos 01 e 02). Na semana seguinte, era
realizada uma atividade lúdica, com uso de fantoches (foto 03). Nesta atividade eram abordados os seguintes
assuntos: como e porque ocorrem os atropelamentos de animais, o que pode ser feito para evitar os
atropelamentos, quais órgãos devem ser acionados após a ocorrência de um acidente com animal silvestre,
entre outros. Na última semana, era realizada uma oficina de pintura, com o objetivo de avaliar o
aprendizado dos alunos sobre o tema abordado. Os alunos eram instigados a desenhar e/ou pintar algo
relacionado à temática abordada (foto 04).
Universidade Federal de Uberlândia
250
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Foto 01 e 02 - Alunos atendidos pelas atividades de educação ambiental do Projeto Atropelados na cidade de
Uberaba.
Foto 03 - Atividade lúdica com uso de fantoches para passar conceitos de ecologia de estradas aos alunos.
Foto 04 - Alunos durante atividade de oficina de pintura.
Fonte: Arquivo pessoal.
Entre os pontos positivos destas atividades, incluem: interação direta com os alunos, permitindo o
tratamento individual e específico das principais dúvidas e dificuldades; flexibilidade para realização de
atividades lúdicas, como oficinas de pintura e teatro de fantoches que são alternativas de fácil elaboração e
confecção e que são bem aceitas pelos alunos e; a realização das atividades em três semanas consecutivas,
que permitiram a inclusão da temática de forma leve e gradual, evitando a sobrecarga de informação para os
alunos.
Já para os pontos negativos, destacam-se: a dificuldade em recrutar e treinar voluntários para exercer
este tipo de atividade e; resistência das escolas procuradas em viabilizar horários e salas para realização das
ações e.
-Palestras educativas
Foram realizadas 28 palestras educativas durante o período citado, sendo que 78,57% (22) foram
proferidas na cidade de Uberaba, enquanto que em Patos de Minas, apenas 21,43% (6). Cerca de 1400
ouvintes participaram destas ações, que consistiram da abordagem pontual da temática por meio de
apresentação em Powerpoint, apresentando as principais características dos atropelamentos de animais
silvestres (fotos 05 e 06). O público alvo era composto por estudantes de cursos de graduação em Ciências
Biológicas, Medicina Veterinária e Engenharia Ambiental de universidades privadas e públicas, corporações
militares e funcionários de empresas privadas que possuía em sua concepção o transporte de cargas pelas
rodovias da região.
Foto 05- Palestra educativa realizada na 5ª CIA de Polícia Militar de Meio Ambiente e Trânsito de Uberaba.
Foto 06- Palestra educativa realizada durante Semana de Biologia da Universidade de Patos de Minas.
Fonte: Arquivo pessoal.
Destacam-se como pontos positivos a possibilidade de se trabalhar um mesmo conceito para um
grupo maior de pessoas ao mesmo tempo; a troca de experiências com os ouvintes e; a facilidade na
realização de acordos com os grupos envolvidos (horários salas e recursos disponíveis). Porém, por se tratar
Universidade Federal de Uberlândia
251
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
de uma atividade pontual e rápida (a duração média das palestras é de 01 hora), o trabalho de conscientização
deve ser feito de forma mais concisa, impedindo o acompanhamento da evolução dos ouvintes sobre a
temática abordada. Ainda como ponto negativo, destaca-se a dificuldade em se trabalhar com funcionários de
empresas privadas, em especial motoristas com idades mais avançadas que são resistentes em aceitar certas
abordagens.
-Divulgação na mídia impressa, televisiva e digital
O Projeto participou de ações de divulgação e conscientização nos mais diversos tipos de mídias.
Durante o período avaliado, foram realizadas 06 reportagens para redes de televisão, 04 aparições em jornais
impressos e 07 reportagens publicadas em jornais e periódicos digitais (imagens 01 e 02). No ano de 2012, o
projeto criou uma página na rede social Facebook, com o intuito de aumentar o número de pessoas atingidas
pelos ideais propostos pelas suas ações. Entre 2012 e 2014, foram postadas 133 publicações, com alcance
total de 19.849 visualizações (média de 150 visualizações por postagem). Cerca de 90,89% dos leitores da
página possuem entre 18 e 24 anos de idade.
Imagem 01 e 02 - Reportagens publicadas em jornais da cidade de Uberaba sobre ecologia de estradas
desenvolvidas pelo Projeto Atropelados.
Fonte: Arquivo pessoal.
Entre as grandes vantagens destas ações estão o grande alcance de público em períodos curtos de
tempo. Além disso, a divulgação em meios eletrônicos ou impressos geram um grande impacto na sociedade,
dando credibilidade às atividades e ao grupo. O uso de redes sociais é cada vez mais necessário para manter
o contato com o público alvo, em especial os mais jovens.
-Participação nos monitoramentos
Esta atividade consiste do acompanhamento dos levantamentos de animais silvestres atropelados nas
rodovias monitoradas pelo projeto. Foram realizadas 12 saídas de campo, com a participação de 28
voluntários, oriundos dos cursos de graduação em Medicina Veterinária e Ciências Biológicas de
universidade públicas e privadas. Os participantes participaram da catalogação de animais, tabulação dos
dados e realização de estatísticas (fotos 07, 08 e 09). Durante o período acompanhado, os voluntários eram
capacitados para a elaboração de protocolos de monitoramento de fauna atropelada.
Universidade Federal de Uberlândia
252
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Fotos 07, 08 e 09 - Voluntários durante atividades de levantamento de animais silvestres em rodovias
monitoradas pelo Projeto Atropelados.
Fonte: Arquivo pessoal.
Além de ser uma atividade de grande procura pelos voluntários, trata-se de uma ação educativa
muito eficiente, visto que os participantes podem vivenciar na prática a realidade da temática abordada.
Além disso, devido a multidisciplinariedade da área de ecologia de estradas, os voluntários podem adquirir
conceitos variados. Como ponto negativo, destacam-se os gastos com materiais e equipamentos.
CONCLUSÃO
O uso de atividades de educação ambiental na temática de ecologia de estradas pode funcionar como
ótima alternativa para conscientização de crianças, jovens e adultos. Os grupos de pesquisa devem optar por
aquelas ações que mais se adaptem ao grupo alvo, tamanho da equipe e recursos financeiros. Sugere-se o
uso das redes sociais para divulgação de atividades e conteúdos diversos, visto a praticidade do uso e alcance
de grande público em períodos curtos de tempo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n.o 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental. Institui a Política
Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 abr
1999.
DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo, Editora Gaia, 4.a ed., 1992.
LIMA, S.F.; OBARA, A.T. Levantamento de animais silvestres atropelados na BR-277 às margens do
Parque Nacional do Iguaçu: subsídios ao programa multidisciplinar de proteção à fauna. VII Semana de
Artes da Universidade Estadual de Maringá, Universidade Estadual de Maringá. 2004. Disponível em
<http://www.pec.uem.br/dcu/VII_SAU/sau_trabalhos_6_laudas.htm>. Acessado em 22/04/2014.
RIBEIRO, H.; GUNTHER, W.M.R.; ARAUJO, J.M.. Avaliação qualitativa e participativa de projetos: uma
experiência a partir de pesquisa em educação ambiental e saneamento do meio. Saude soc., São Paulo , v.
11, n. 2, Dec. 2002 .
RODRIGUES, F.H.G.; HASS, A.; REZENDE, L.M. et al. Impacto de rodovias sobre a fauna da Estação
Ecológica de Água Emendadas-DF. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO, 3., 2002. Fortaleza, Anais...Fortaleza [s.n.] 2002.
Universidade Federal de Uberlândia
253
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ROSA, A.O.; MAUHS, J. Atropelamento de animais silvestres na rodovia RS-040. Caderno de Pesquisa
Ser. Bio., v.16, p.35-42, 2004.
SILVEIRA, L. Ecologia e conservação dos mamíferos carnívoros do Parque Nacional das Emas, Goiás.
1999. 177f. Dissertação, Universidade Federal de Goiás, GO.
SORENSEN, J.A. Road-Kills of badgers (Meles meles) in Denmark. Ann. Zool. Fennici, v.32, p.31-36,
1995.
Universidade Federal de Uberlândia
254
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
USO DE MICRONÚCLEOS EM AVES NO BIOMONITORAMENTO DA QUALIDADE
AMBIENTAL EM AMBIENTES FLORESTAIS DO CERRADO
Baesse, C. Q.¹,²; Tolentino, V. C. M.¹,²; Silva, A. M.¹,²; Ferreira, G. A.¹; Paniago, L. P. M.¹,²; Silva, A. A.¹;
Ribeiro, P. V. A.¹,³; Nepomuceno, J. C.¹; Melo, C.¹
¹Universidade Federal de Uberlândia, Instituto de Biologia, Uberlândia, MG
²Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais, UFU.
³[email protected], (34)92521643.
RESUMO
A detecção de danos no DNA, como a ocorrência de micronúcleos, causados por contaminantes é de
grande importância na conservação da diversidade das espécies e na preservação do processo evolutivo, além
de auxiliar em futuras avaliações dos impactos causados por poluentes ambientais, auxiliando em
formulações de planos de manejo para conservação, bem como o uso de espécies como biomonitoras. O
objetivo foi determinar a ocorrência de micronúcleos em aves e seu potencial uso como ferramenta de
biomonitoramento em áreas fragmentadas de ambientes florestais de Cerrado sensu lato com diferentes
níveis de perturbação devido à proximidade ao perímetro urbano. Foram selecionadas duas áreas próximas a
ambientes urbanos e duas distantes. Em cada uma das áreas foram realizadas duas campanha de campo, com
duração de cinco a sete dias cada. As aves foram capturadas com redes de neblina. Foram retiradas amostras
de sangue dos indivíduos através da veia tarsal com auxílio de seringas de insulina descartável, sendo
confeccionadas duas lâminas por indivíduo. Após realização da extensão sanguínea, as lâminas foram
fixadas em Metanol, coradas com uma mistura a 5% de Giemsa e tampão fosfato e identificadas com o
número da anilha do indivíduo. A análise das lâminas foi realizada em microscópio óptico, a um aumento de
100X. Em cada lâmina foram contados 5.000 eritrócitos por indivíduo, analisando-se a presença ou ausência
de micronúcleos. Foram confeccionadas 708 lâminas de extensão sanguínea de 362 indivíduos e um total de
49 espécies de aves. Foram realizadas 800 horas/redes de captura em cada um dos quatro fragmentos. A taxa
de micronúcleos a cada 5.000 eritrócitos contados por indivíduo, analisando-se todas as áreas em conjunto
foi de 1,03 neste estudo. A maior taxa de micronúcleos foi observada no fragmento de mata da Fazenda
Experimental do Glória, seguido por São José e Água Fria e a menor taxa foi observada na Estação de
Pesquisa e Desenvolvimento Galheiro. A taxa de micronúcleos por indivíduo nas áreas distantes de cidades
(Água Fria e Galheiro) foi de 0,57 enquanto que para as áreas próximas à cidades (São José e Glória) a taxa
foi de 1,75 micronúcleos a cada 5.000 eritrócitos por indivíduo. Este estudo permitiu a visualização de
micronúcleos em eritrócitos nas comunidades de aves estudadas. A técnica de frequência de micronúcleos
em aves se mostrou eficiente para a detecção de níveis de perturbação ambiental.
Palavras - chave: Genética, poluição, extensão sanguínea, eritrócito.
ABSTRACT
The detection of DNA damage, such as the occurrence of micronuclei caused by contaminants is of
great importance in the conservation of species diversity and the preservation of the evolutionary process,
and assist in future evaluations of the impacts caused by environmental pollutants, assisting in the
formulation of management plans for conservation, and the use of species as biomonitoras. The objective
was to determine the incidence of micronuclei in birds and its potential use as a biomonitoring tool in
fragmented areas of forest environments Cerrado sensu lato with different levels of disturbance due to the
proximity to the urban area. Was selected two next urban and two distant urban areas. In each area two field
campaign, lasting from five to seven days each were performed. The birds were captured with mist nets.
Blood samples from individuals through the tarsal vein with the aid of disposable insulin syringes, and made
two slides per individual were taken. Upon completion of the blood smear slides were fixed in methanol and
stained with a mixture at 5% of Giemsa and phosphate buffer and identified by the number of individual
ring. Slide analysis was conducted under an optical microscope at a 100X. In each slide 5,000 erythrocytes
Universidade Federal de Uberlândia
255
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
were counted per individual, analyzing the presence or absence of micronuclei. 708 slides of blood smears of
362 individuals and a total of 49 bird species were made. 800 hours/capture networks were performed on
each of the four fragments. The rate of micronuclei in 5,000 erythrocytes counted per individual , analyzing
all areas together was 1.03 in this study . The highest rate of micronuclei was observed in forest fragment of
the Fazenda Experimental do Glória, followed by São José and Água Fria and the lowest rate was observed
in the Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Galheiro. The rate of micronuclei per individual in remote
areas of cities (Água Fria e Galheiro) was 0.57 while for the upcoming cities areas (São José e Glória) the
rate was 1.75 micronuclei in 5,000 erythrocytes per individual. This study enabled visualization of
micronuclei in erythrocytes in bird communities studied. The technique of frequency of micronuclei in birds
proved efficient for detecting levels of environmental disturbance.
Key words: Genetics, pollution, blood extension, erythrocyte.
INTRODUÇÃO
Ações antrópicas provocam alterações drásticas na estrutura e composição das florestas (OliveiraFilho et al. 2001), o que reflete diretamente na fauna dependente desta vegetação para explorar seus recursos
alimentares. O grau de tolerância de cada espécie às modificações no ambiente varia conforme sua
capacidade de modificar ou ampliar seu nicho, ajustando-o às novas condições do habitat (Welty & Baptistal
1962). Dessa forma, são esperadas diferentes respostas dos distintos grupos taxonômicos ao processo de
fragmentação dos ambientes.
Devido à sensibilidade das aves às condições do ambiente, elas são consideradas excelentes
indicadores de qualidade ambiental, sendo ferramentas importantes para a compreensão e o monitoramento
das alterações ambientais, pois respondem rapidamente às drásticas mudanças que ocorrem em nível global
(Serrano 2008). Assim, estudos que avaliam as respostas desse grupo são relevantes para a avaliação de
ambientes em diversos graus de conservação.
Existem várias práticas de monitoramento de populações realizadas em ambientes naturais e
alterados, e uma delas é a análise da frequência de micronúcleos (Pinhatti et al. 2006).
A contaminação por substâncias químicas pode afetar a sobrevivência, a reprodução ou ainda o
patrimônio genético de organismos expostos, gerando mutações que podem iniciar o processo de
carcinogênese (Arnaiz 1997). A detecção de danos no DNA, como a ocorrência de micronúcleos, causados
por contaminantes é de grande importância na conservação da diversidade das espécies, bem como na
preservação do processo evolutivo (Spellerberg 1991). A determinação dos danos basais em DNA pode
auxiliar em futuras avaliações, em diferentes regiões, do impacto causado por poluentes ambientais,
auxiliando em formulações de planos de manejo para conservação, bem como o uso de espécies como
biomonitoras.
O teste de micronúcleo detecta o efeito de agentes mutagênicos nos cromossomos pela identificação
de fragmentos de cromossomos, menos desenvolvidos separados do restante do núcleo (Heddle 1978;
Schmid 1975). Organismos com valores de micronúcleos próximos de zero têm uma sistema muito eficiente
para os retirar de circulação, por isso, quando expostos a agentes micronucleogênicos, os níveis no sangue
periférico não são aumentados. Por outro lado, os organismos com um número elevado de micronúcleos, são
usados para testar agentes genotóxicos pela contagem destes em eritrócitos policromáticos e reticulócitos
(Ramırez-Muñoz et al. 1999; Zúñiga-González et al. 2000; Corazza 1990; Torres-Bugarín et al. 1999).
Desta forma, verificar o potencial uso de aves como biomonitores, através da análise de
micronúcleos, é importante para estudos de conservação e avaliação da qualidade ambiental de ambientes
naturais e alterados pelos processos de fragmentação e antropização.
O objetivo deste trabalho foi determinar a ocorrência de micronúcleos em aves e seu potencial uso
como ferramenta de biomonitoramento em áreas fragmentadas de ambientes florestais de Cerrado sensu lato
com diferentes níveis de perturbação devido à proximidade ao perímetro urbano.
MATERIAL E MÉTODOS
Áreas de estudo
Universidade Federal de Uberlândia
256
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
O estudo foi realizado em quatro áreas de florestas estacionais semideciduais no Triângulo Mineiro.
A região está sob o domínio do Cerrado, porém altamente impactada, com mais de 70% da área ocupada pela
agricultura e pecuária (Brito & Prudente 2005). O clima na região é do tipo Aw segundo a classificação
climática de Köppen (sazonal com estações chuvosa e seca bem marcadas). A pluviosidade anual gira em
torno de 1.500 mm e a temperatura média é de 22 ºC (Rosa et al. 1991). As áreas estudadas foram:
1Mata da Fazenda Água Fria: é considerada uma área distante de áreas urbanas, estando
localizada no município de Araguari, MG, com cerca de 200 hectares (Lopes 2010).
2Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental Galheiro: também considerada uma
área distante de áreas urbanas, está localizada no município de Perdizes, MG e possui uma área aproximada
de 2.800 hectares (Castro 1995).
3Mata da Fazenda Experimental do Glória: pertencente a Universidade Federal de
Uberlândia, a área é considerada próxima à áreas urbanas, sendo margeada pela BR 050 e pela área urbana
de Uberlândia, MG, município que se localiza e possui uma área de 30 hectares (Lopes 2010).
4Mata da Fazenda São José: também considerada próxima a áreas urbanas, está localizada
na zona rural do município de Uberlândia, MG e é margeada pelo Anel Viário Norte e pela área urbana de
Uberlândia e possui uma área de 20 hectares (Lopes 2010).
Coleta de dados
Em cada uma das áreas foram realizadas duas campanha de campo, com duração de cinco a sete dias
cada. Foram utilizadas redes de neblina, sendo no mínimo 15 e máximo 30 por campanha, expostas em
trilhas no interior dos fragmentos florestais entre 06:30h e 16:00h, sendo as redes checadas em intervalos de
aproximadamente 30 minutos. As aves capturadas eram retiradas e acomodadas em sacos de tecidos para
posterior coleta do material. A amostragem (esforço de campo) foi padronizada, contabilizando o número de
horas/rede abertas. Os indivíduos capturados foram identificados e anilhados com anilhas metálicas cedidas
pelo CEMAVE/ICMBio.
Para a realização do Teste de micronúcleos, foram retiradas amostras de sangue dos indivíduos
através da veia tarsal com auxílio de seringas de insulina descartável. Para cada indivíduo foram
confeccionadas duas lâminas. O sangue foi colocado diretamente sobre uma lâmina de microscopia, sendo
feita uma extensão sanguínea. Após as lâminas estarem secas estas foram fixadas em Metanol (Ácido
Metílico – CH4O) durante vinte minutos e coradas com uma mistura a 5% de Giemsa e tampão fosfato
(pH=5,8) também por vinte minutos. Em seguida foram enxaguadas em água, secas em temperatura
ambiente e identificadas com o número da anilha do indivíduo.
A análise das lâminas foi realizada em microscópio óptico Nikon Eclipse E200, a um aumento de
100X e com auxílio de óleo de imersão. Seguiu-se o modelo de zig-zag para evitar o cruzamento da mesma
área mais de uma vez, sendo que vários campos foram observados ao acaso. Em cada lâmina foram contados
2.500 eritrócitos, totalizando 5.000 eritrócitos por indivíduo, analisando-se a presença ou ausência de
micronúcleos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o período de amostragem, foram confeccionadas 708 lâminas de extensão sanguínea de 362
indivíduos, sendo que em alguns casos não foi possível a confecção de duas lâminas para cada indivíduo
capturado. Um total de 49 espécies de aves foram analisadas e houve padronização do esforço de captura
entre as áreas, sendo realizadas capturas de 800 horas/redes em cada um dos quatro fragmentos. A taxa de
micronúcleos a cada 1000 eritrócitos contados por indivíduo, analisando-se todas as áreas em conjunto foi de
0,21 neste estudo.
Para possibilitar a comparação entre as taxas de micronúcleos de diferentes trabalhos, todos os
valores foram recalculados em relação a 1000 eritrócitos por indivíduo. Em trabalho realizado com ararascanindé (Ara ararauna) foi encontrada uma taxa de 0,19 micronúcleos para cada 1.000 eritrócitos analisados
por ave (Pinhatti et al. 2006). Estudo realizado com 30 espécies de aves foi observada uma taxa de 0,12
micronúcleos para cada 1.000 eritrócitos contados por ave (Zúñiga-González et al. 2000). De acordo com o
trabalho anterior algumas espécies da ordem Strigiformes apresentam elevado número de micronúcleos.
O fragmento de floresta da Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental Galheiro foi o que
apresentou o maior número de espécies capturadas com lâminas confeccionadas, 30 espécies. No total foram
Universidade Federal de Uberlândia
257
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
capturados 103 indivíduos e produzidas 203 lâminas. Os indivíduos analisados apresentaram 56
micronúcleos, portanto uma taxa de 0,54 micronúcleos a cada 5.000 eritrócitos por indivíduo.
O fragmento de mata da Fazenda Água Fria foi o segundo mais rico, com um total de 26 espécies com
lâminas confeccionadas. Foi a área que apresentou o maior número de indivíduos (118) e lâminas
confeccionadas (229), com um total de 70 micronúcleos e uma taxa de 0,59 micronúcleos a cada 5.000
eritrócitos por indivíduo.
Já no fragmento de mata da Fazenda Experimental do Glória – UFU, foram confeccionadas lâminas
de 17 espécies, num total de 82 indivíduos e 155 lâminas. Foi a área com o maior número de micronúcleos
encontrados, totalizando 145 e com a maior taxa também, 1,76 micronúcleos a cada 5.000 eritrócitos por
indivíduo.
E na mata da Fazenda São José foram confeccionadas lâminas de 16 diferentes espécies, num total
de 121 lâminas e 59 indivíduos. Foram encontrados um total de 101 micronúcleos e a taxa de micronúcleos a
cada 5.000 eritrócitos foi a segunda maior, 1,71.
A taxa de micronúcleos por indivíduo nas áreas distantes de cidades (Água Fria e Galheiro) foi de 0,57
enquanto que para as áreas próximas à cidades (São José e Glória) a taxa foi de 1,75 micronúcleos a cada
5.000 eritrócitos por indivíduo. A diferença encontrada nas taxas de micronúcleos em relação a distância dos
fragmentos às cidades pode ser explicada pelas altas taxas de poluição encontradas nas cidades,
principalmente poluição do ar (Ortega-Álvarez & Macgregor-Fors 2009). Em relação aos fragmentos
distantes das cidades, a matriz de entorno caracterizada por atividades agropecuárias não casou aumento nas
taxas de micronúcleos (Wilson et al. 2009).
Nos últimos anos tem sido realizados vários estudos utilizando o teste de micronúcleo para avaliar a
condição ambiental e exposição a agente químicos (Poletta et al. 2008). Muitos trabalhos são realizados com
mamíferos (Zúñiga-González et al. 2000), principalmente os roedores (Heuser et al. 2002), e também com
peixes (Andrade et al. 2004a; 2004b), anfíbios (Békaert et al. 2002; Lajmanovich et al. 2005) e repteis
(Zúñiga-González et al. 2000; Poletta et al. 2008).
As aves são um dos melhores organismos utilizados para monitorar a qualidade do ar, por serem sensíveis a
vários poluentes (Peirce et al. 1990). Diferentes autores trazem relatos dos níveis de contaminação de aves
silvestres de regiões industrializadas e rurais, por metais pesados (Stansley & Roscoe 1999).
CONCLUSÃO
Este estudo permitiu a visualização de micronúcleos em eritrócitos nas comunidades de aves
estudadas. A técnica de frequência de micronúcleos em aves se mostrou eficiente para a detecção de níveis
de perturbação ambiental.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, V. M.; DA SILVA, J.; DA SILVA, F. R.; HEUSER, V, D.; DIAS, J. F.; YONEAMA, M. L.;
FREITAS, T. R. O. Fish as Bioindicators to Assess the Effects of Pollution in Two Southern Brazilian Rivers
Using the Comet Assay and Micronucleus Test. Environ. Mol. Mut., v. 44, p. 459–468, 2004.
ANDRADE, V. M.; FREITAS, T. R. O.; DA SILVA, J. Comet assay using mullet (Mugil sp.) and sea catfish
(Netuma sp.) erythrocytes for the detection of genotoxic pollutants in aquatic environment. Mutat. Res. v.
560, p. 57–67, 2004.
ARNAIZ, R. R. Las toxinas ambientales y sus efectos genéticos. La Ciência para Todos. 2.ed. México:
Fondo de Cultura Económica. p.95, 1997.
BÉKAERT, C.; FERRIER, V.; MARTY, J.; PFOHL-LESZKOWICZ, A.; BISPO, A.; JOURDAIN, M. J.;
JAUZEIN, M.; LAMBOLEZ-MICHEL, L.; BILLARD, H. Evaluation of toxic and genotoxic potential of
stabilized industrial waste and contaminated soils. Waste Manage, v. 22, p. 241–247, 2002.
Universidade Federal de Uberlândia
258
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
BRITO, J. L. S.; PRUDENTE, T. D. Análise temporal do uso do solo e cobertura vegetal do município de
Uberlândia-MG, utilizando imagens ETM+ / LANDSAT 7. Sociedade & Natureza, v. 17, n. 32, p. 37-46,
2005.
CASTRO, N. M. F. Projeto Executivo: Unidade de conservação Galheiro - estudo de fauna e flora. Belo
Horizonte: [s.n.], 1995. 2 v. (Relatório final - Estudos ambientais).
CORAZZA, G; GINALDI, L.; ZOLI, G.; FRISONI, M.; LALLI, G.; GASBARRINI, G.; QUAGLINO, D.
Howell–Jolly body counting as a measure of splenic function, a reassessment. Clin. Lab. Haematol. v. 12,
p. 269–275, 1990.
HEDDLE, J.; LUE, C.; SAUNDER, E.; BENZ, R. Sensitivity to five mutagens in Fanconi‟s anemia as a
measure by the micronucleus method. Cancer Res. v. 38, p. 2983-2988, 1978.
HEUSER, V. D.; DA SILVA, J.; MORISKE, H. J.; DIAS, J. F.; YONEAMA, M. L.; DE FREITAS, T. R.O.
Genotoxicity Biomonitoring in Regions Exposed to Vehicle Emissions Using the Comet Assay and the
Micronucleus Test in Native Rodent Ctenomys minutus, Environ. Mol. Mut. v. 40, p. 227– 235, 2002.
LAJMANOVICH, R. C.; CABAGNA, M.; PELTZER, P. M.; STRINGHINI, G. A.; ATTADEMO, A. M.
Micronucleus induction in erythrocytes of the Hyla pulchella tadpoles (Amphibia: Hylidae) exposed to
insecticide endosulfan. Mutat. Res. v. 587, p. 67–72, 2005.
LOPES, S. F. Padrões florísticos e estruturais das Florestas Estacionais Semideciduais do Triângulo
Mineiro, MG. Tese (Doutorado em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais). Instituto de Biologia,
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Minas Gerais, 2010.
OLIVEIRA-FILHO, A. T.; CURI, N.; VILELA, E. A.; CARVALHO, D. A. Variation in tree community
composition and struture with changes in soil properties within a fragment of semideciduous Forest in southeastern Brazil. Edinburgh Journal of Biology. v. 58, n. 1, p. 139-158, 2001.
ORTEGA-ÁLVAREZ, R.; MACGREGOR-FORS, I. Living in the big city: Effects of urban land-use on bird
community structure, diversity, and composition. Landscape and Urban Planning, v. 90, n. 3, p. 189-195,
2009.
PEIRCE J.J.; WEINER R.F.; VESILIND P.A. Environmental pollution and control. USA: ButterworthHeinemann Press. 392p. 1990.
PINHATTI, V. R.; ALLGAYER, M. C.; BREYER, A. S.; PEREIRA, R. A.; SILVA, J. Determinação de
danos basais no DNA de araras canindé (Ara ararauna) através do Teste de Micronúcleos: uma ferramenta na
avaliação da saúde animal e seu uso no biomonitoramento da poluição ambiental. Acta Scientiae
Veterinariae. v. 34, n. 3, p. 313-317, 2006.
POLETTA, G. L.; LARRIERA, A.; KLEINSORGE, E.; MUDRY, M. D. Caiman latirostris (broad-snouted
caiman) as a sentinel organism for genotoxic monitoring: Basal values determination of micronucleus and
comet assay. Mutation Research/Genetic Toxicology and Environmental Mutagenesis, v. 650, n. 2, p.
202-209, 2008.
RAMIREZ-MUÑOZ, M. P.; ZUNIGA, G.; TORRES-BUGARIN, O.; PORTILLA, E.; GARCIAMARTINEZ, D.; RAMOS-MORA, A.; CANTU, J. M.; SANCHEZ-CORONA, J. Evaluation of
micronucleus test in peripheral blood erythrocytes by means of the splenectomized model. Lab. Anim. Sci.
v. 49, p. 418-420, 1999.
ROSA, R.; LIMA, S. C.; ASSUNÇÃO, W. L. Abordagem preliminar das condições climáticas de Uberlândia
(MG). Sociedade & Natureza. p. 91-108, 1991.
Universidade Federal de Uberlândia
259
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
SCHMID, W. The micronucleus test, Mutation Research. v. 31, p. 9-15, 1975.
SERRANO, I. O anilhamento como ferramenta para o estudo de aves migratórias. In: Primer Taller para la
conservación de aves playeras miratorias en arroceras del Cono Sur. Wetlands Internacional. 2008.
Disponível em: <http://lac.wetlands.org>. Acesso em: 12 abr. 2014.
SPELLERBERG, I. F. Monitoring Ecological Change. Cambridge, 1991.
STANSLEY W.; ROSCOE D.E. Chlordane poisoning of birds in new jersey, USA. Environmental
Toxicology and Chemistry, v. 18, p. 2095-2009, 1999.
TORRES-BUGARIN, O.; ZAMORA-PEREZ, A. L.; ESPARZA-FLORES, A.; LOPEZ-GUIDO, B.;
FERIA-VELASCO, A.; CANTU, J. M.; ZUNIGA, G. Eritrocitos micronucleados en ninos
esplenectomizados con y sin quimioterapia, Bol. Med. Hosp. Infant Mex. v. 5, n. 6, p. 212-217, 1999.
WELTY, J. C.; BAPTISTAL, L. The life of birds. Orlando: Saunders, 1962.
WILSON, J. D.; EVANS, A. D.; GRICE, P. V. Bird conservation and agriculture. Cambridge: Cambridge
University Press, 2009.
ZÚÑIGA-GONZÁLEZ, G.; TORRES-BUGARIN, O.; LUNA-AGUIRRE, J.; GONZALEZ RODRIGUEZ,
A.; ZAMORA-PEREZ, A.; GOMEZ-MEDA, B. C.; VENTURA AGUILAR, A. J.; RAMOS-IBARRA, M.
R.; RAMOS-MORA, A.; ORTIZ, G. G.; GALLEGOS-ARREOLA, M. P. Spontaneous micronuclei in
peripheral blood erythrocytes from 54 animal species (mammals, reptiles and birds): Part two. Mutation
Research. v. 467, p. 99-103, 2000.
AGRADECIMENTOS
Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (FAPEMIG – APQ01654-12), CNPq
(PELD - processo: 403733/2012-0) e Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação de Recursos
Naturais – UFU.
Universidade Federal de Uberlândia
260
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
USO DO ÍNDICE DE HIERARQUIZAÇÃO PARA DEFINIÇÃO DE PONTOS CRÍTICOS DE
ATROPELAMENTO DE FAUNA SILVESTRE: ESTUDO DE CASO DE DUAS RODOVIAS EM
MINAS GERAIS, BRASIL
Barros,R.F.¹, Kanayama, C.Y.¹, Nalla, S.F.¹; Gonçalves, K.A.M.¹; Castro, M.T.¹; Andrade, N.L.P.¹
Membro do „Projeto Atropelados: monitoramento e conservação da fauna de estrada‟- Uberaba-MG,
(34) 96762056
[email protected]
2-
RESUMO
A definição dos pontos críticos de atropelamento de fauna é essencial para elaboração de medidas
mitigatórias apropriadas. O objetivo do presente estudo é demonstrar o estudo de caso de duas rodovias,
usando o índice de hierarquização (IH) como base para determinação destes pontos. Duas rodovias (A e B)
da região de Minas Gerais (Brasil) foram monitoradas entre setembro de 2010 e fevereiro de 2012. A rodovia
A tem uma extensão de 77 quilômetros e B, 95. Foram realizadas campanhas quinzenais e os trajetos foram
percorridos a uma velocidade de 50 km/h. Os animais encontrados foram devidamente identificados e
coordenadas geográficas dos pontos, coletadas. Para determinação dos quilômetros prioritários, usou‐se o IH,
que se baseia em quatro parâmetros: riqueza de espécies‐alvo, diversidade total de espécies atropeladas, taxa
de atropelamento de espécies‐alvo e presença de espécies ameaçadas. Para A foram definidas 06 espécies‐
alvo, enquanto para B, 10. Após 68 campanhas, foram registrados 110 animais atropelados em A (44,55%
mamíferos; 44,55% aves e; 10,90% répteis) e 93 em B (69,89% mamíferos; 25,81% aves e; 4,30% répteis).
Obtidos o IH para cada trecho, 06 trechos em A e 03 em B foram classificados como de impacto de
magnitude significante, sendo que dois destes trechos em A compreendiam os trechos com maior número de
atropelamentos geral. Isto se deve ao fato do IH priorizar o impacto sobre as espécies alvo e não apenas a
taxa geral de atropelamentos, mostrando-se mais eficaz na definição dos quilômetros prioritários à
conservação
Palavras-chave: ecologia de estradas; taxa de atropelamento; animais silvestres.
ABSTRACT
The definition of critical points of wildlife roadkill is essential for the good development of
mitigatory measures. The goal of this study was to identify critical points of wildlife roadkill, using the index
established by Bager & Rosa (2010). Two highways (A and B) from Minas Gerais (Brazil) were monitored
between September 2010 and February 2012. The highway A has a length of 77 km and B, 95. Campaigns
were carried out every two weeks and paths were traveled at a speed of 50 km / h. The animals were properly
identified and geographical coordinates points, collected. To determine the priority kilometers, we used the
Bager & Rosa (2010) index, which is based on four parameters: target species richness, roadkill rate, target
species roadkill rate and the presence of endangered species. For A, 06 target species were defined, while for
B, 10. After 68 campaigns, 110 animal roadkills were registered in A (44.55% mammals, 44.55% birds and
10.90% reptiles) and 93 in B (69.89% mammals, 25.81% birds and 4.30% reptiles). The analysis using the
index to rank priority identified 06 stretches in A and 3 in B. Two of the sections in A are also the ones with
highest roadkill rates. This happens due to the fact that the index prioritizes the impact on the target species,
and not just the roadkill overall rate. The index was more effective in defining critical points than other
parameters.
Key-words: road ecology; roadkill rate; wild animals.
INTRODUÇÃO
A perda direta de fauna silvestre por atropelamento já supera aquela causada pela caça,
especialmente em países desenvolvidos (Seiler & Heldin, 2006). Esse fato sugere que esta perspectiva possa
Universidade Federal de Uberlândia
261
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
ser estendida para países de grande biodiversidade e rápido desenvolvimento, como é o caso do Brasil, país
detentor de uma das maiores malhas rodoviárias do mundo. No Brasil, a cada ano, o número de animais
mortos por atropelamento aumenta significativamente e essas taxas são ainda mais alarmantes quando as
rodovias subdividem áreas bem preservadas, como por exemplo, Unidades de Conservação e/ou com elevada
riqueza faunística. Os atropelamentos ocorrem em função de a rodovia cortar o habitat de determinado táxon,
interferindo na faixa de deslocamento natural da espécie, resultado na colisão dos indivíduos (Lima & Obara,
2004; Rosa & Mauhs, 2004). Além da mortalidade direta, as rodovias também funcionam como barreiras
ecológicas ao inibir a dispersão e migração de espécies ou interromper completamente o fluxo de alguns
animais, comprometendo consequentemente a troca genética (Scoss, 2002; Tumeleiro et al., 2006;
Trombulak & Frissel, 2000). Essa fragmentação pode gerar alterações nas relações ecológicas irreversíveis
para a biodiversidade local (Forman & Alexander, 1998).
O estabelecimento de medidas mitigadoras a estes efeitos, tais como túneis, cercas e outros aparatos,
sempre estão condicionados ao contexto econômico. Assim, a priorização de trechos para a implantação
destas medidas deve ser realizada com cautela para que áreas importantes não sejam eliminadas durante o
processo de seleção. Neste sentido, Bager & Rosa (2010) propuseram um índice para a definição de trechos
prioritários à implantação destas medidas, em um estudo de caso em 34 km da Rodovia BR 392, no estado
do Rio Grande do Sul. O índice, denominado Índice de Hierarquização (IH), se baseia em quatro parâmetros:
riqueza de espécies alvo (definidas pelos autores), diversidade total de espécies atropeladas, taxa de
atropelamento de espécies alvo e presença de espécies ameaçadas. Os autores compararam a utilização
somente da taxa de atropelamento na definição de trechos prioritários com os resultados obtidos com o IH e
concluíram que a instalação de medidas de mitigação levando-se em consideração a primeira metodologia
protegeria especialmente répteis em detrimento dos mamíferos e das espécies ameaçadas.
O objetivo do presente trabalho é utilizar o IH como base para determinação dos pontos críticos de
atropelamento em duas rodovias em Minas Gerais, Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados utilizados para determinação dos pontos críticos de atropelamento foram baseados em
monitoramentos quinzenais feitos entre setembro de 2010 e fevereiro de 2012. O trecho A, com uma
extensão de 77 quilômetros liga os municípios de Uberaba e Nova Ponte, enquanto o trecho B possui 95
quilômetros na sua totalidade, ligando os municípios de Uberaba e Uberlândia (fig. 01). O trecho A é
caracterizado como rodovia de pista simples, enquanto B como pista dupla separada por guard rails e
canteiros. Todos os municípios envolvidos estão incluídos no bioma cerrado (fig. 2a), e fazem parte da
região de Minas Gerais, Brasil. As 68 campanhas foram realizadas a uma velocidade média de 50 km/h, para
facilitar a visualização das carcaças nos acostamentos (fig. 2b). Para cada animal encontrado, além da foto
técnica, os seguintes dados foram catalogados: espécie (ao nível de espécie e gênero, quando possível) (fig.
2c e 2d), data da coleta, estado de decomposição da carcaça, distância do acostamento e coordenadas
geográficas do ponto.
Fig. 01.(esq.): Localização dos trechos de estudo.
Universidade Federal de Uberlândia
262
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Fig. 02.(dir.): (a) Caracterização da área de estudo; (b) Equipe durante coleta de dados de animal atropelado;
(c) Indivíduo de Cerdocyon thous encontrado durante campanha e; (d) Individuo de Caracara plancus
encontrado durante campanha.
A definição das espécies-alvo foi feita de acordo com a particularidade de cada trecho. Para o trecho
A foram definidas 10 espécies-alvo (05 mamíferos, 04 aves e 01 réptil). O tamanduá-bandeira
(Myrmecophaga tridactyla) e o lobo-Guará (Chrysocyon brachyurus) foram escolhidos por serem espécies
ameaçadas de extinção. As demais espécies foram escolhidas devido à maior ocorrência de atropelamentos
de seus indivíduos: a) Mamíferos: cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), tatu-peba (Euphractus sexcinctus) e
jaratataca (Conepatus semistriatus); b) Aves: coruja-buraqueira (Athene cunicularia), siriema (Cariama
cristata), mocho-dos-banhados (Asio flammeus) e Urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus); c) Répteis:
jibóia (Boa constrictor). Já para o trecho B, 06 espécies foram selecionadas (04 mamíferos e 02 aves). Mais
uma vez o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) foi selecionado devido ao seu status de
conservação. As outras espécies selecionadas seguiram a mesma metodologia do trecho anterior: a)
Mamíferos: raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) e tatu-peba
(Euphractus sexcinctus); b) Aves: carcará (Caracara plancus) e siriema (Cariama cristata). Além disso,
foram definidas 02 espécies ameaçadas para cada trecho: mocho-dos-banhados (Asio flammeus) e tamanduábandeira (Myrmecophaga tridactyla) foram as espécies escolhidas para A e; raposinha-do-campo (Lycalopex
vetulus) e tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) para B.
Para determinação dos pontos críticos de atropelamento, usou-se o IH, que se baseia em quatro
parâmetros: riqueza de espécies-alvo, diversidade total de espécies atropeladas, taxa de atropelamento de
espécies-alvo e ocorrência de espécies ameaçadas. Para a definição dos coeficientes de avaliação dos
parâmetros do IH (exceto ocorrência de espécies ameaçadas), utilizou-se o 1º, o 2º e o 3º quartis dos dados
obtidos diferentes de zero como limites entre as faixas de avaliação (tab. 01). Obtidos os índices para cada
quilômetro, classificaram-se os mesmos da seguinte forma: a) Trechos de impacto de magnitude desprezível
– IH menor ou igual a 01; b) Trechos de impacto de magnitude baixa – IH entre 02 e 03; c) Trechos de
impacto de magnitude média – IH entre 04 e 06; e d) Trechos de impacto de magnitude significante ou
Pontos Críticos de Atropelamento – IH maior ou igual a 07.
Tab. 01.: Coeficientes estabelecidos para cada parâmetro do índice de hierarquização considerando os dois
trechos de estudo.
PONTOS PARÂMETROS
TAXA DE
DIVERSIDADE
RIQUEZA
ATROPELAMENTO
(ÍND.
DE OCORRÊNCIA DE SP.
(SP. ALVO)
(SP. ALVO)
SHANNON)
AMEAÇADA
AeB
A
B
AeB
AEB
sem sp. Ameaçada no
Km ou nos Km de
0
≤ 0,04
≤ 0,02 <0,08
entorno
0
entre
0,03 e
sp. Ameaçada no Km de
1
entre 0,05 e 0,09 0,08
entre 0,08 e 0,12
entorno
1
entre
0,09 e
2
entre 0,10 e 0,13 0,14
entre 0,13 e 0,19
sp. Ameaçada no Km
2
3
3 ou >
> 0,13
> 0,14
> 0,19
2 sp. Ameaçadas no Km
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após 68 campanhas e 5.848 quilômetros percorridos, foram catalogadas 203 carcaças de vertebrados
silvestres (110 em A e 93 em B). Em A, 75,45% dos atropelamentos ocorreram em retas, enquanto em B,
94,62, %.
Universidade Federal de Uberlândia
263
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
Enquanto em B observa-se a prevalência de atropelamentos de mamíferos (69,89%), o trecho A
demonstra um equilíbrio entre o número de aves e mamíferos atropelados (44,55% cada) (fig. 03). As
espécies com maior número de indivíduos atropelados foram: tatu-peba (Euphractus sexcinctus), com 21
indivíduos (08 em A e 13 em B), seguido pelo tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), com 17
atropelamentos (08 em A e 09 em B); a siriema (Cariama cristata) foi a ave mais atropelada, com 15
indivíduos (08 em A e 07 em B), seguida pelo urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) (11 indivíduos,
sendo 09 em A e 02 em B). Jaratataca (Conepatus semistriatus) e tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla)
tiveram 10 indivíduos atropelados cada, sendo que a primeira obteve 08 registros em A e 02 em B, enquanto
a segunda apresentou registros apenas em B.
Fig. 03.: Vertebrados silvestres atropelados em duas rodovias em Minas Gerais, Brasil entre set. 2010 e fev.
2012.
A partir do IH identificou-se 09 trechos (06 em A e 03 em B) prioritários ou pontos críticos de
atropelamento, com valores que variaram entre 07 e 10. A análise também revelou 23 trechos (16 em A e 07
em B) considerados de magnitude média com IH entre 04 e 06. Todos os trechos considerados como
prioritários são caracterizados por serem retas. Em A, dos quilômetros classificados como prioritários, 02
deles (27+100 até 29+100 km) correspondem aos quilômetros com maior número de indivíduos atropelados
(06 indivíduos atropelados em cada quilômetro).
O fato de dois dos seis trechos em A com maiores taxas de atropelamento continuaram presentes na
análise pelo IH vão de encontro aos resultados apresentados por Bager & Rosa (2010), que ressalvam que
trechos com altas taxas de atropelamento continuam entre os mais importantes para conservação. No
presente estudo, observou-se que tanto a taxa de atropelamento quanto o IH privilegiam a conservação de
mamíferos, assim como demonstrado por Santos et al. (2011), fato não verificado por Bager & Rosa (2010),
que observaram em seu estudo que a taxa de atropelamento privilegiava répteis em comparação aos
mamíferos. Tais diferenças são decorrentes das variantes entre as áreas de estudo, como: características das
estradas (fluxo de veículos, velocidade permitida, etc.), características ecológicas das espécies envolvidas e
paisagem de entorno. (Formam et al., 2003; Alexander et al., 2005).
Ressalta-se o fato de que 84,24% do total de atropelamentos ocorrerem em retas, sugerindo um
excesso de velocidade por parte dos motoristas nestas zonas, influenciando diretamente nos índices de
atropelamentos de animais, assim como proposto por Formam et al., (2003).
O presente estudo não teve o objetivo de relacionar as características da paisagem ou das estradas;
nem a velocidade e o fluxo de veículos; e tampouco o efeito da sazonalidade na fauna, com as taxas de
atropelamento. Novos estudos correlacionando os resultados apresentados com estas variantes podem
fornecer dados mais precisos sobre as características das rodovias em questão.
CONCLUSÃO
O IH se mostrou uma ferramenta simples, rápida e eficaz para priorização de trechos. Porém, outros
fatores devem ser levados em consideração na análise, como a paisagem do entorno das rodovias e o tráfego
de veículos. Dessa forma, o conjunto das informações poderá subsidiar estratégias mais eficientes para
redução dos atropelamentos de animais silvestres.
Universidade Federal de Uberlândia
264
VII ENANSE
De 15 a 18 de maio de 2014
AGRADECIMENTOS
À 5ª CIA Ind. de Polícia de Meio Ambiente e Trânsito de Uberaba (Minas Gerais, Brasil) pelo apoio
e aos inúmeros voluntários que colaboraram com as coletas de dados.
REFERÊNCIAS
Alexander SM; Waters NM; Paquet PC, 2005. Traffic volume and highway permeability for a mammalian
community in the Canadian Ricky Mountains. Can. Geogr. 49:321-331.
Bager, A; Rosa, CA; Hobus Q, 2010. Hierarquização de quilômetros prioritários a implantação de aparatos
de mitigação de atropelamentos de animais selvagens: estudo de caso da BR-392. Anais do IX Congresso de
Ecologia do Brasil, 13 a 17 de Setembro de 2009, São Lourenço, Brasil.
Forman RTT; Sperling D; Bissonette, JA; Clevenger AP; Custshall CD; Dale VH; Fahrig L; France R;
Goldman CR; Heanue K; Jones JA.; Swanson FJ.; Turrentine T; Winter T, 2003. Road ecology – Science
and solutions. Island Press, Washington, DC.
Forman TTR; Alexander LE, 1998. Roads and their major ecological effects. Annual Review of Ecology and
Systematics, 29: 207 - 231.
Lima SF; Obara AT, 2004. Levantamento de animais silvestres atropelados na BR - 277 as margens do
Parque Nacional do Iguaçu: subsídios ao programa multidisciplinar de proteção à fauna. In: II Mostra
Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão, Maringá, Paraná.
Rosa AO; Mauhs J, 2004. Atropelamento de animais silvestres na rodovia RS-040. Caderno de Pesquisa Sér.
Bio.,16(1): 35 - 42.
Santos RAL; Figueiredo AP; Guilam CM, 2011. Definição dos pontos críticos de atropelamento de fauna
silvestre em cinco unidades de conservação no distrito federal. Anais do Road Ecology Brazil 2011, LavrasMinas Gerais, Brasil.
Scoss LM, 2002. Impacto de estradas sobre mamíferos terrestres: o caso do parque estadual do Rio Doce,
Minas Gerais. Universidade Federal de Viçosa. (Mestrado) Viçosa, 97p.
Seiler A & Helldin JO, 2006. Mortality in wildlife due to transportation. In: Davenport, J. & Davenport, J. L.
(eds.) The ecology of transportation: managing mobility for the environment. Ireland: University College
Cork. p. 165 – 190.
Trobulak SC; Frissellt CA, 1999. Review of Ecological Effects of Roads on Terrestrial and Aquatic
Communities. Conservation Biology, 14: 19 - 29.
Trombulak SC & Frissell CA, 2000. Review of ecological effects of roads on terrestrial and aquatic
communities. Conserv. Bio., 14: 18-30.
Tumeleiro LK; Koenemann J; Avila MCN; Pandolfo FR; Oliveira EV, 2006. Notas sobre mamíferos da
região de Uruguaiana: Estudo de indivíduos atropelados com informações sobre a dieta e conservação.
Biodiversidade Pampeana, 4: 38 - 41.
Universidade Federal de Uberlândia
265