Grupos sociais – Rodrigues

Transcrição

Grupos sociais – Rodrigues
10
Justi~o
nos relo~oes sociois
]uslic;a e verdade em ac;Cio.
Benjamin Disraeli
Olho por olho, denle por dente.
Exodo 21,24
1. A relevancia social da justiCja
0 estudo da justic;:a no ambito da filosofia moral remonta a Antiguidade, ou seja, as
proprias origens da construc;:ao consciente do saber, objeto que foi das preocupac;:oes
de Socrates, Platao e Aristoteles. Desde entao, a reflexao sobre a justic;:a acompanha a
propria his to ria do pensamento humano. Qual o verdadeiro significado da justic;:a? 0
que deve ser julgado como justo ou injusto, em termos absolutos de tempo e lugar? E
possivel avaliar a justic;:a como urn padrao idealizado, uma regra de conduta valida e
correta em si mesma? Quais sao as origens das ideias de justic;:a nos hom ens e nas sociedades? Como pensar em justic;:a social se a natureza humana e tao controvertidamente
pensada e discutida? E possivel atingir urn estado de justic;:a para individuos, grupos e
sociedades? Indagac;:oes dessa ordem constituem questoes centrais que a filosofia moral e politica, ao longo dos seculos, vern tentando responder.
A despeito da longa tradic;:ao filosofica, e recente o interesse das ciencias sociais
pelo assunto. Somente a partir de 1961, com George C. Homans e sua obra Social behavior: Its elementary forms, e que o tema da justic;:a adquiriu status proprio dentro da Psicologia Social, passando a constituir uma area aut6noma de estudo e urn campo teorico e empirico em franco desenvolvimento.
A relevancia que o estudo da justic;:a passou a ter dentro da psicologia e uma resultante da atenc;:ao que os psicologos sociais vern dedicando, desde o inicio da decada de
60, aos fen6menos de crescente e generalizada inquietac;:ao social, que marcam de
modo caracteristico a vida contemporanea. Nao obstante serem variadas as suas formas de manifestac;:ao, e surpreendente a sequencia, para nao dizer a simultaneidade,
com que ocorrem nas grandes metropoles. De fato, os fen6menos de violac;:ao da ordem social, de criminalidade em alto grau, de delinquencia e marginalidade, de elevada incidencia de desordens mentais e suicidios, de guerras civis e religiosas sinalizam,
em larga escala, a extensao da crise por que passam as instituic;:oes sociais basicas.
269
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l'.IIISalhl.ult• (' (' t'('II~:I S (' V:l llll'(''·
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S11pnlm· lit• E'ludos I' Pt•squisas Pslcossodais da Ftlltda~ao
t:t•lullu Va1wts. E professor do lk parlanwnlo <k l's lcolot~la da
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Aroldo Rodrigues
Eveline Maria Leal Assmar
Bernardo Jablonski
ISBN 978-85-326-0555-9
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9117 8 8 5 3 2 6 () 5 5 5 I)
EDITORA
VOZES
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de-, parn·l,,., da htunanlll.tdl· viVI'IH 1:1111 , hojr , un1 'il'llliiiH'IIIo gnal de inju.,ll<,.a "'" 1.11
cconOmica , culturale all· llll'"IIIO rcligio-;a. Na mcdida em que '>e pt)e em xequc .tlq•,lll
midacle de ccrtas normas e valores que regulam os processos de intera(,;ao social, I'IH
que se questiona ajusti(,;a na distribui(,;ao de recursos valiosos c cscassos entre"" v.u1.1
camadas e grupos sociais da sociedade e em que se discutc a validade de manter i11.d1c
radas certas institui(,;6es sociais, balizadoras dos comportamentos social mente dr-.q,,
dos, pode-se afirmar que o sistema social nao rna is esta cumprinclo sua run(,;ao na ~ali
fa(,;ao clas metas sociais.
Nessa breve analise, pocle-se nao s6 clepreencler como quest6es de justi(,;a estao p11·
sentes, clireta ou incliretamente, na clinamica clas rela(,;6es interpessoais e intergrup:ll.,,
como tambem constatar a pregnancia com que emergem no amago clas socieclacles.
Paralelamente a recente incorporar,.:ao do tema cia justir,.:a ao quaclro de refercn1 1.1
te6rico-conceitual cia Psicologia Social, renovou-se o interesse clas ciencias humana-. c·
sociais pela cliscussao clajustir,.:a. Na filosofia moral contemporanea, especialmente, n·
acencleu-se o debate acerca cia justi(,;a. Nesse senticlo, e bastante eluciclativa a anal i-.e·
inicial que john Rawls (1995) faz em sua celebre obra Teoria da]usti(a sobre o papel da
justir,.:a na vida social:
A justir,.:a e a primeira virtu de das instituir,.:oes sociais, assim como a verdaclc o
e dos sistemas de pensamento. Uma teoria, por mais atraente, eloquemc r
concisa que seja, tern que ser rechar,.:ada ou revisada se nao e verdadeira; dt·
igual modo, nao importa quao organizadas e eficientes sejam as leis e institui
r,.:oes: se sao injustas devem ser reformuladas ou abolidas (p. 17).
Sao incontestaveis, portanto, a presenr,.:a, a penetrar,.:ao eo impacto clas questoes de
justi(,;a nos inclivfcluos, grupos e socieclacles. Apesar de cliferenciaclas as respostas a essas quest6es, sao universais os apelos para urn "tratamento justo", para uma remunera(,;ao justa ao trabalho, para uma clistribui(,;ao equanime clos recursos, oportuniclacles c
clireitos sociais.
A Psicologia Social, provavelmente mais que a qualquer outra disciplina, interessa
ampliar o conhecimento sobre o assunto, por sua estreita rela(,;ao com urn amplo espectro de condutas sociais. 0 estudo dajustir,.:a, como urn fenomeno psicossocial, complexo e multifacetaclo, empresta significado a uma serie de manifesta(,;6es grupais ou
inclividuais, que marcam a vida clas pessoas em socieclacle. Pocle-se mesmo afirmar que
tanto os movimentos reivinclicat6rios organizaclos e os atos contestat6rios de natureza
puramente individual quanto os conflitos sociais e os atos de violencia grupal e pessoal
podem ser explicaclos, em certa meclicla, por urn elemento comum: a percep(,;ao de injusti(,;a subjacente a toclas essas instancias.
270
. Conslderac;oes gerais sobro o n•tudo du lustlc;a polo Pslcologlu Social
1,/llillltlrl \IP/11"1 11
I l11/lli11 , tin< o/111 lfiH' li111i11 \lc/11 jltl,l\lltiP 1 Ill Ill ill/ill
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£11<\< '11< 1<1, r tjlll" ltllll/11"111 wtlw
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ausc11cicl. 1\t eire
fizessem na minlw uusl'ncia.
Brendan Behan
Dcscle o seu surgimento, na clecada de 60, a chamada Psicologia Social daj u'il i<,.':l
\ 1' 111 se preocupanclo em demonstrar o papel crucial que os valores, crenr,.:as e ~e1111
llli'11LOS sobre 0 que e justa OU injusto tern sobre as a(,_:6es e as rela(,;6es humanas. 0~ l''-•
111dos sociopsicol6gicos vern revelando que os julgamentos sobre o que e jus to c nH'I ,.
'1do , sobre clireitos e deveres, sobre o certo eo errado, estao na base dos senti menlo., ,
.ttl tudes e comportamentos clas pessoas em suas intera(,;6es com os outros. 0 loco,. o
't lgnificado subjetivo de justi(,;a, sentimentos e ideias que nao se justificam ncces~:111.1
mente por referenda a padroes particulares de autoriclacle ou a fontes objetiva'> ( I '
I ER, BOECKMANN, SMITH&. HUO, 1997).
Diferentemente do fil6sofo, portanto, ao psic6logo social cum pre liclar com a 1r;1
lidade social tal como ela e percebida pelos indivfduos que a integram. Nao lhc imptu
Ia avaliar a justi(,;a como uma entidacle abstrata, uma regrade concluta valicla c c.:o11 r\.1
em si mesma, mas, sim, como as pessoas interpretam as situa(,;6es sociais em termo-. d11
que e justo ou injusto, atribuem-lhes significados cognitivos e afetivos e respondl'lll ,,
das , de forma socialmente apropriada ou nao.
Segundo Tyler et al. (1997), os julgamentos de justi(,;a sao de interesse especial pa1 .1
os psic6logos sociais porque os padroes de justi(,;a sao uma realidade socialmentc C.: I ind.l
c mantida por grupos, organiza(,;6es e sociedades. A justi(,;a e fundamental para as pc'-t'>ilil..,
dentro clos grupos sociais, nao s6 porque seus pensamentos, sentimentos e atos sao ba.,
tante afetaclos pelos julgamentos que fazem acerca cia justi(,;a ou injusti(,;a de suas prop11;'"
cxperiencias, como tambem porque eles constituem uma fonte importante de suas l"l'<l
c;:oes aos outros. Nesse senticlo, sao esses julgamentos que permitem aos grupos intcragt
rem, ou nao, produtivamente, sem conflito ou desintegra(,;ao social.
Do ponto de vista da Psicologia Social, prosseguem eles, o carater social da just i<,. a,
ressaltaclo por sua relevancia para os indivfduos em grupos organizaclos, pressuptli'
que as clelibera(,;6es e a(,;6es dos atores sociais -lfderes e seguiclores em cliferentes coil
textos, politicos, legais, religiosos e de neg6cios - sao tambem molcladas, pelo mcno-.
em parte, pela cren(,;a de que os ideais morais de clireitos e merecimentos sao distinto'i
cia mera luta por posse de recursos e de poder.
Embora formalmente iniciaclo em 1961, o clesenvolvimento da teoria e pesqui'-ta
sobre justi(,;a remonta tradicionalmente
a decada de 40. Nesse percurso ate os dias dl'
271
IHI!t , q11 .UH1 gl.Uillt·., l.t.;c., ptHlrlll '> t'l dt'lll:lll'ada.,, u p1111HII,, l:t•;t·, 11 l.u 1t111,1d:t ao con
tTIIo de p1 iv:u,;:to rdaliva, que co1 n·., pondc i\ pen: cp~:lo d.1 nl '> lfllt 1.1 dt· dl 'o l'l'l'!Xtncia
entre o que a pessoa tem co que cia scnte que devcria ter. 1: a parllr dc'osa pcrcep(:ao
que se busca explicar o grau de satisfa(:ao ou de insatisfa(:ao do indiv1duo com uma
distribui(:ao de hens ou servi(:os pela comparar;:ao entre o que ele obtem e o que julga
merecer. Sob essa perspectiva, os estudiosos tentavam entender e explicar os fenomenos de desordem social, como os motins, as revolur;:oes e as greves: privados dos recursos sociais, comparativamente aos ganhos excessivos dos demais, os grupos insurgem-se na tentativa de obter 0 que lhes e devido.
Na segunda fase, a enfase e na justir;:a das distribuir;:oes de recursos, entendidos
como hens, servir;:os, promo(:6es, salaries etc. E a chamada justi(:a distributiva, cujo
foco de analise se desdobra em duas grandes areas: a percepr;:ao de justir;:a e a rear;:ao a
injustir;:a. No primeiro caso, trata-se de investigar como as pessoas concebem a justir;:a
e como decidem o que e uma justa distribuir;:ao de recursos, seja para elas mesmas, seja
para os outros ou entre elas e os outros. No segundo caso, importa verificar como as
pessoas se comportam diante de situar;:oes em que se percebem como injustamente tratadas por outros. Sob esse enfoque, pontificam duas abordagens te6ricas principais da
justir;:a: a unidimensional e a multidimensional. De acordo com a primeira, representada pela Teoria da Equidade (ADAMS, 1965; HOMANS, 1961, 1976; WALSTER, BERSCHEID, WALSTER, 1973; WALSTER & WALSTER, 1975; WALSTER, WALSTER &
BERSCHEID, 1978), o justo e o proporcional. Em linhas gerais, far-se-a justir;:a se
aquele que mais contribuiu para uma tarefa, receber uma recompensa maior do que
aqueles que contribuiram menos. Nesse caso, por exemplo, se houver chance de dar
promor;:ao salarial a quatro funcionarios, sera justa a decisao sea escolha recair naqueles de melhor desempenho no setor. 0 principia formal de justir;:a e, en tao, nao dar a
cada urn o que deseja ou o que precisa, mas dar a cada urn na razao do que vale ou do
que faz por merecer, comparativamente aos demais.
A concepr;:ao multidimensional de justir;:a, por seu turno , aponta para a coexistencia de multiplas formas de se fazer justir;:a em uma dada distribuir;:ao de recursos, cada
uma das quais pode ser igualmente justa, dependendo do tipo de situar;:ao social envoivida. Dessa forma, uma distribuir;:ao qualquer de recursos (por exemplo, bolsas de estudo) pode ser vista como justa se for feita: na base de uma regra equitativa sese decide
dar a cada urn segundo sua contribuir;:ao ou desempenho (no caso, bolsas para as pesseas com notas mais altas em uma prova classificat6ria); de uma regra igualitaria sese
garantem parcelas iguais para todos (dividir a verba disponivel entre todos os alunos)
ou , ainda, recorrendo-se a regra da necessidade (as bolsas serao dadas aos mais necessitados financeiramente).
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0 tercl'im llltllllt'lliO relere -sc :\ jusli~· a pron•s.,ual , a juslu;a dn-, p1111 'ti111H IIIII'
adotados para o l''olabcleci men to de uma dada distribui (:ao de recu1 so., r 1111 r ,,., p:ull'l
Nesse caso, focaliza-se ajustir;:a dos meios de resolur;:ao dos conOitos ou do., proces~os
de tomada de decisao quanto a repartir;:ao de recursos (em geral, valiosos c/ou escilssos) entre os membros envolvidos. A crenr;:a subjacente e que uma situar;:ao e jusw~c
os procedimentos de decisao sao justos, independentemente dos seus resultados. 'l~i'>
procedimentos tern uma importancia positiva e decisiva nas relar;:oes entre panes cil1
conflito, sejam elas pessoas ou grupos.
A area de pesquisa mais recente, e por isso mesmo ainda pouco desenvolvida, co·
volve a chamada justir;:a retributiva, cuja preocupar;:ao central e estudar como as pes
soas reagem a violar;:ao de regras e normas sociais e como se processa a atribui(:<'to de
responsabilidades. Enfatizam-se basicamente as quest6es relacionadas ao sistema cri
minal, sanr;:oes, punir;:oes e salvaguardas. Estudiosos do tema da justir;:a, e que pcriodi
camente se lanr;:am em tentativas de sistematizar;:ao desse conhecimento (DEUTS( !I,
1985; MIKULA, 1980; VERMUNT & STEENSMA, 1991 ; TYLER et al. , 1997) , co1ll'
mam reunir as seguintes indagar;:oes como impulsionadoras da teoria e pesquisa ncs~l·
campo: (a) os julgamentos de justir;:a e injustir;:a moldam os sentimentos e atitudc~ dtl'>
pessoas? (b) que criterios as pessoas usam para avaliar uma situar;:ao como justa ou ill
justa? (c) como as pessoas reagem, comportamentalmente, a uma situar;:ao perccbida
como injusta: aceitam-na, resignam-se a ela, sentem-se impotentes para muda-la, bus
cam desafia-la individualmente, coletivamente? (d) como as pessoas reagem cogniliV<1
e emocionalmente diante da injustir;:a percebida? (e) quando as pessoas se preocup~1 11
com a justir;:a ou injustir;:a: a justir;:a e uma motivar;:ao basica, presente em todas ou c1n
algumas areas das interar;:oes humanas? CD por que as pessoas se preocupam com a'>
quest6es de justir;:a?
No que se refere, por exemplo, a essa ultima indagar;:ao, os psic6logos sociais cos
tumam discutir as raz6es do interesse pela justir;:a sob dois diferentes enfoques. 0 pri
meiro e a teo ria da troca social, segundo a qual as pessoas, ao fazerem seus julgamcniO~
e escolhas, interessam-se apenas por si mesmas. A preocupar;:ao com a justir;:a dcscn
volve-se, entao, de urn desejo de maximizar seus pr6prios ganhos em suas intera~ol'"
com os demais. 0 segundo refere-se aos modelos de identificar;:ao social, os quais de
fend em que as pessoas definem sua identidade pessoal a partir de suas experiencias so
cia is. A justir;:a, portanto, estaria associada aos sentimentos em relar;:ao ao status do sell
grupo e a sua posir;:ao social dentro do grupo.
Em linhas gerais, esse breve panorama permite verificar que o estudo da justi~a
pelos cientistas sociais pode se processar sob quatro diferentes niveis de analise: o in
dividual, o interpessoal, o grupal eo social. Nos dois primeiros niveis, os pesquisado
273
1(' <,
111\'l''>lig;llll !l llllHl11 pd11
qt~;d
!l'> IIHiiVItiiiO'> .ldljllll(lll !l '> ('lllldO da iliSII(.,l , 0'. pin
CC'.!-o O!-o r ogniiiVth u-.ado., p.11 .1il .qlll't'll s:lo do iellt)llll' IIO, "" C011lparac,;m·!-o illll'l pt''>'.lhll
que fazcm para avaliac,;tlo da justi <;a de uma situar;ao co modo como rcagcm <1!-o vud.1
~6es das normas dejusti r,: a por parte dos demais. No n1vcl grupal c intergupal , a ('111'.1 ;;;,
a.
Justlc.;a dlstrlbutlva: as abordagun• unldhnonslonal e
multidimensional
I A obordogem unidimensional: teoria do equidade
A verdadeira igualdade nao consiste senao em Lrawr drs iguu!lll t' lll f'
aos desiguais na medida em que se des igualam. [... / Tratw Will
desigualdade a iguais ou a desiguais com igualdade seria
desigualdade flagrante e nao igualdade real.
e direcionada ora para as rela~oes entre situa~oes de coopera~ao e competi ~ao c o dl'
senvolvimento de regras distributivas de justi~a . ora para a influencia das rclar,; ()l''> 111
tergrupais no desenvolvimento de normas de justi~a do grupo , ora para a interrace I'll
tre as rea~oes individuais e grupais a injusti~a . Ja no nivel social mais amplo, o in ten·.,.,,
se volta para a percep~ao das pessoas em rela~ao a distribui~ao global de recompen""
do sistema social, como por exemplo a distribui~ao de renda e de seguridade sor1.d
(beneficios trabalhistas em geral). Observados os tres niveis, poderiamos, entao , fal.u
de
microjusti~a. justi~a
grupal e macrojustir,;a.
Ate o momento, as principais contribuir,;oes te6ricas sobre justi~a situam-se em apt·
nas urn ou outro desses tres niveis, ressentindo-se esse campo de estudo de proposta-.
te6ricas que integrem do is ou mais niveis de explica~ao dos comportamentos de justir;a.
De urn modo geral, a posi~ao dominante entre os psic6logos sociais e focalizar o
tema da justi~a nos niveis individual e interpessoal de analise , compativel com a ten
dencia geral prevalente na chamada "Psicologia Social Psicol6gica" de dar prioridadt·
ao estudo do individuo em intera~ao com outros individuos e dos processos cogniti
vos , afetivos e comportamentais suscitados por essa interac;:ao . No caso especifico da
justi~a .
a enfase, entao, e na microjusti(a, isto e, na busca de entendimento e explica~ao
das condutas individuais reguladas por cren~as e valores de justi~a . consubstanciada
em algumas
formula~oes
te6ricas basicas.
Algumas dessas teorias psicossociais de justi~a serao examinadas a seguir. Destaquc
especial sera dado a teoria da equidade, nao por se tratar da concep~ao pioneira, mas,
sim, por constituir uma influencia te6rica importante e uma referenda obrigat6ria em
toda e qualquer discussao sobre justi~a . alem de sua grande aplicabilidade potencial a
Ruy Barbosa
A tcoria da equidade e reconhecida como uma abordagem unidimensional de ju..,
t 11:.1 porque se baseia em urn unico conceito de justi~a- a equidade- para expl icar o..,
11Hnportamentos so ciais de justi~a. E ainda, por pressupor urn unico tipo de res posta il
111 11a si tua~ao percebida como injusta: comportamentos direcionados para a res taura
~ ;lo da equidade da situa~ao, a unica norma capaz de fazer com que uma distribui C,'i\o
de rccursos qualquer seja feita de forma integralmente justa.
Nas duas decadas de proposi~ao e aperfei~oamentos da teoria da equidade (d ccada
de sessenta e setenta) , durante as quais se processam a sistematiza~ao gradual de sua..,
p ro p osi~oes basicas e intensa atividade experimental, pontificam os nomes de llo
111ans, Adams e Walster e seus associados. George Homans (1961) eo introdutor do
ronceito de justi~a distributiva na Psicologia Social, especificamente na teo ria cla trol a
social. Stacy Adams (1965) clesenvolveu e formalizou as concep~oes de Homans e deu
infcio a verifica~ao empirica das primeiras formula~oes te6ricas sobre o comporta
men to de justi~a. Elaine Walster e associados (WALSTER, BERSCHEID & WALSTER,
1973; WALSTER & WALSTER, 1975; WALSTER, WALSTER & BERSCHEID, 197H)
propoem uma versao ampliacla cla teoria da equidade, que, segundo eles, representaria
o esbo~o inicial de uma teoria geral de intera~ao social. Como prop6sito de acompa
nhar o desenvolvimento da "mais articulada das teorias de justi~a" (UTNE & KID I) ,
L980: 63), apresentaremos, a seguir, as principais contribui~oes de cada urn dos te6ri
cos da equidade.
varias areas da vida dos individuos em sociedade. Complementarmente, serao apresentadas vias alternativas da teo ria e pesquisa em justi~a, a partir das criticas dirigidas a teoria da equidade. Tais criticas culminaram seja na defesa de uma concep~ao multidimensional de justi~a. seja na proposta de se buscar en tender sua fenomenologia a partir das
experiencias de injusti~a vividas pelos individuos em sua vida diaria. Ao Iongo dessa
apresenta~ao - sempre que possivel referenciada a natureza distributiva ou processual
da j usti~a- serao trazidos exemplos, estudos e pesquisas, nacionais e internacionais, que
ilustrem a relevancia e atualidade desse fen6meno nas
274
rela~oes
sociais.
Homans
Ao formular a regra fundamental de justi~a distributiva, Homans (1961) retoma o
principio aristotelico de que "o justoe o proporcional" . As pessoas acreditam que uma clistribui~ao justa deve ser proporcional as contribui~oes de cada urn, e essa cren~a e universal. Assim, urn individuo, numa rela~ao de troca com outro, tern duas expectativas: a) as
recompensas de cada urn serao proporcionais aos custos de cada urn- quanto maior a recompensa, maior o custo; b) as recompensas liquidas, os lucros de cada urn serao proporcionais aos seus investimentos- quanto maior o investimento, maior o lucro.
275
Po1 i nll1111 nri.1 da P"ll ol1 tgl.t I H li.tvloll'>l.t , 110111.111., , a'>., I III t <IIIlO o-. dt'lll;li'> 1<'filii
da cquidade, ali1ma qur .1 III' IH,. I 11.1 pmporcionalidade dc1 iva de expnil•ncia-. p.
das e represcnta o rcsuhado de proccssos de aprcndizagcm social.
As ideias de Homans sobre justir;:a distributiva aparcccm rcsumidas nas cinco tu tl
posir;:oes abaixo, sistematizadas por Deutsch (1985):
1) A injustir;:a distributiva ocorre quando uma pessoa nao obtem a quantidadr tl
uma recompensa que espera em comparar;:ao com a do outro. Valendo-se de um ll'lllll
de Merton e Kidd, Homans designa essa situar;:ao de injustir;:a distributiva como tl
"privar;:ao relativa".
Analisando essa proposir;:ao, Deutsch comenta que a relar;:ao injustir;:a distribull\'
x privar;:ao relativa e confusa porquanto Homans, embora nao enfatize inicialmc1111
acaba por distinguir entre "vi:tima" e "beneficiario" da injustir;:a (HOMANS, 197·1)
Assim sendo, o termo "privar;:ao relativa" aplica-se apenas a vitima, configurando "
segundo Deutsch, o que se poderia chamar de "a forma desvantajosa de injustir;:a". I 111
contrapartida, Deutsch propoe o termo "vantagem relativa" para designar a "fo111111
vantajosa de injustir;:a", definindo-se, dessa forma, o "beneficia rio" da injustir;:a CO IIIII
aquele que recebe mais do que merece ou espera de uma distribuir;:ao de recompensa.
2) A pessoa espera que a recompensa seja distribuida de tal forma que a proporr;:ao en
tre a recompensa que cada urn recebe e a contribuir;:ao eo investimento que cada urn fa.,
em uma relar;:ao de troca, seja igual. Ainda segundo Deutsch, o uso desses termos por ll o
mans nao implica uma medida absoluta, mas uma valorizar;:ao socialmente percebida dt·
diferentes tipos e quantidades de recompensas, custos, contribuir;:oes e investimentos.
3) A pessoa que experiencia privar;:ao relativa, vendo-se, portanto, como uma vfli
rna de uma injustir;:a, sentira algum grau de hostilidade em relar;:ao aos causadores da
injustir;:a.
Como a rear;:ao de raiva e hostilidade e dirigida a fonte e/ou ao beneficiario da in
justir;:a, e conceitualmente procedente distinguir entre a situar;:ao em que a decisao dt•
repartir;:ao de recompensas e tomada por urn dentre dois atores de uma relar;:ao inter
pessoal (o alocador, que faz a distribuir;:ao entre ele eo outro, sendo, portanto, recebcdor) e a situar;:ao em que ela e tomada por uma terceira parte- o alocador- que nao
participa da relar;:ao. No primeiro caso, fonte e beneficiario coincidem; no segundo
caso, o alocador e a fonte da injustir;:a e o outro participante, o beneficiario.
4) A pessoa que experiencia vantagem relativa e seve, portanto, como beneficiario
da injustir;:a sentira culpae tendera a aumentar sua cota de contribuir;:ao numa troca social, e, dessa forma, aumentar o que o outro obtera.
1111 1111., pmvavl'l , liaja v1o.,1a a lcntkncw dt·IH' IH lici.IIIO., em buscar boa-. l.tz<h'o., pal<\ ju-.
!1111.11 o.,cus ganiHh c em convenccr-sc de que a des fazcm jus, por mcrecimcnto.
>) Se bcm que possa haver consenso quanto a regra justa de distribuir;:ao de recur,,., ( proporcionalidade), pode haver, ainda assim, divergencia quanto a que tipos de
"1 11111pcnsas, contribuir;:oes e investimentos devam ser considerados como relevantes
11 1 .1plicar;:ao da regra ou por nao haver consenso nas avaliar;:oes sobre o valor das re•1111pcnsas, contribuic;:oes ou investimentos relevantes.
llomans (1974) apresenta resultados de uma pesquisa em que demonstra o funcioIIUIIento da regrade justir;:a distributiva, mais especificamente, da situar;:ao de privar;:ao
11l.11iva. 0 estudo investiga dois grupos funcionais em urn mesmo departamento. Urn
,l11o., grupos via-se como injustamente tratado do ponto de vista salarial, comparativa111< 11te ao outro. Apesar de seu salario estar no nfvel do mercado, e, portanto, justo em
11 1mos absolutos, esse grupo passou a reivindicar aumento de remunerar;:ao porque o
•llllro grupo cujo trabalho era de menor complexidade (menor custo) e exigia menos exIll 1icncia (menor investimento) recebia igual remunerar;:ao. Esse e urn caso tipico de pri' .t~·ao relativa: o fa to de a recompensa de urn grupo estar em descompasso com a rele' ,\ncia percebida de seus investimentos e custos, comparativamente a outro grupo.
Einegavel o valor heuristico do trabalho de Homans, porquanto a partir dele o esllldo da justir;:a tornou-se urn dos focos de atenr;:ao da teo ria e pesquisa sociopsicol6gi.1'>. No entanto, e indiscutivel tambem que Homans apenas tangencia a discussao dos
lundamentos te6ricos da justir;:a: seus conceitos sao vagos e pouco articulados; suas
ldcias e proposir;:oes basicas nao foram de~envolvidas de modo sistematico e nem derivadas hip6teses passiveis de testagem empirica.
l
Ao tratar da justir;:a, Homans deteve-se mais na tentativa de definir o conceito de
lnjustir;:a distributiva, sem especificar as consequencias da injustir;:a na relar;:ao social
de troca. Na analise de suas proposir;:oes, verifica-se que aborda apenas de passagem os
'>Cntimentos provaveis que a percepr;:ao de injustir;:a gera nos participantes da relar;:ao
lnterpessoal, seja como vitimas, seja como beneficiarios da situar;:ao percebida como
mjusta, seja ainda como causadores da injustir;:a. Por outro lado, nao se refere as reat;oes que a injustir;:a desencadeia nas partes envolvidas na relar;:ao.
Adams
Nao obstante a pressuposir;:ao de que a percepr;:ao de injustir;:a gere esse tipo de rear;:ao por parte dos beneficiarios, Homans sugere que tal rear;:ao seja menos frequente e
Stacy Adams (1965), alem de desenvolver e formalizar as ideias de Homans sobre
o conceito e antecedentes da injustir;:a, ampliou o estudo da justir;:a distributiva ao enrocar tambem as consequencias da ausencia da equidade nas relar;:oes humanas de troca, admitindo, nesse aspecto, a influencia da teoria da dissonancia cognitiva de Festinger (1957). Analogamente, a percepr;:ao da inequidade gera tensao, proportional a
276
277
lll,lglltlll<k tk!>o.,:l illl ~ lllltd,ult 1 ~:;:;, 1 It 11..,,\ll 1111111\,ll 'l\ CIIIIIIHIII,IIll\'1\lll.., llljll nhjtl
dtlllill<l Ia 11111\'du"' i· la , t , ...,..,i, loii,..I IIIOIIV<Idora l' lilllllliii:IIOI quallllllll:IIOI a ll'll•.,hl
Adams introduz no va ll'IIIIIIIOiogia na litcratura sobrc a Psicologia Social d,1 111
c;a. Em primciro Iugar, adota o tcrmo incquidadc para razc r corrcspondcr a inju,l/~,11
tribuLiva de Homans. Por via de consequencia, a jusLi~;a disLribuLiva passou a '''11
ponder o termo equidade, e de seu uso corrente surgiu a expressao Leoria cia Clfllll
para designar a linha de ideias relacionadas a esse campo te6rico . Esse ponto, all,\
bastante discutido pelos criticos da teoria da equidade, em particular modo 111
adeptos da concepc;ao multidimensional de justic;a. De acordo com eles, a identi l11,
de justic;a com equidade veio trazer ambiguidade e confusao a terminologia sob1r 1
tic;a distributiva. Sob esse prisma, cumpre distinguir entre ambos: justic;a e um II' ll
generico e equidade e urn termo especifico, pois designa apenas uma das normas ,.
tentes de justic;a distributiva e que prescreve que a alocac;ao de recompensas seja ld
na base das contribuic;oes individuais dos recebedores a urn objeto ou produto so1 1
mente definido.
Adicionalmente, Adams adota os termos outcomes (resultados) e inputs (insu n1 1111
em substituic;ao a lucros/investimentos/contribuic;oes de Homans. Inputs refercm "'
ao que a pessoa "percebe como sendo suas contribuic;oes para a troca, em func;ao dtl
quais espera urn retorno justo" (ADAMS, 1965: 277) , incluindo entre eles, alem du
assinalados por Homans, o treinamento, a experiencia e o esforc;o. Outcomes rd r
rem-se ao que a pessoa obtem de uma troca, incluindo uma gama diferenciada de It'
cursos, desde pagamento ate satisfac;ao pessoal.
Tal como os demais te6ricos da equidade, Adams (1965) concebe suas ideias sohr
justic;a como aplicaveis a todos os tipos de troca social. Se o interesse pela justic;a sur~
sempre que uma distribuic;ao esta para ser feita, seja de que natureza for, e se todos o
eventos nas relac;oes interpessoais tern, de alguma forma, relac;ao com algum tipo d
distribuic;ao, segue-se naturalmente que a justic;a desempenha urn papel central em to
das as areas da interac;ao humana. Esse ponto de vista e tambem questionado pelos Crl
ticos da teo ria, que argumentam que a preocupac;ao com a justic;:a, embora importan tl',
nao se estende a todas as esferas do comportamento social, retirando-lhe, entao, a pri
mazia que lhe era atribuida entre as forc;as motivadoras do comportamento humano.
Para Adams, a inequidade ocorre entre dois individuos, A e B, numa relac;ao de troca
social, seas razoes entre os outcomes (0) e os inputs (I) de A e B nao sao iguais. De acordo
com esse principia, de uma situac;ao de injustic;a derivam-se as seguintes equac;oes:
OA
lA
>
OB
IB
ou
OA
lA
<
OB
IB
"l'P,IIIldo Ad.un..,, ·''·" .lrll·llo., l ira tll.lll.UIIl' do prmt·..,..,o social d1· 11 onll' que os 0111
, ""''' rcccbidoo., de uma di o., ll ibuic,;ao podcm o.,cr pcrccbidos co mo justos o u injustos
I" l11.., partidpantcs dcssa di stribui r;ao. A cnfasc que Adams atribui ao papel da percep, .111 11-va-o a distinguir entre os conceitos de reconhecimento e relevancia tanto para
lllf lllh quanto para outcomes. Em outras palavras, o indivfduo esta apto a perceber oreollll.ldo de uma distribuic;ao como justo ou injusto se, em primeiro lugar, reconhece de
l•11111 a inequfvoca os inputs que ele mesmo eo outro trazem para a relac;ao direta de trot 1, ,. o.,c, em segundo lugar, atribui a esses inputs uma dimensao social relevante. Atra' 1 '• da ponderac;ao valorativa entre seus pr6prios inputs e outcomes e os do outro, o in.ll vtduo e capaz de , mesmo auferindo menos do que espera, avaliar como justo esse est 11lo de coisas se, efetivamente, percebe que as contribuic;:oes do outro sao maiores que
"'..,uas e, portanto, o tornam merecedor de recompensa maior.
No entanto, as percepc;oes de A e B podem nao coincidir. Urn atributo considerado
nao ser reconhecido por B. E ainda, mesmo que B reconhe' 11al atributo em A, pode nao ser reconhecido por B. E ainda, mesmo que B reconhec;a
1 d atributo em A, pode nao julga-lo relevante para a relac;ao especifica de troca que
11 ·kvante por A pode assim
11t.u1tem com A.
No que concerne as consequencias psicol6gicas da percepc;ao de inequidade, Adams
( ll)65) concebe-as como analogas as preconizadas pela teoria da dissonancia cogniti' .1 , como ja mencionado anteriormente. A percepc;ao de inequidade por uma pessoa
1 11 a tensao, proporcional a magnitude dessa inequidade. Essa tensao motivara, necesariamente, comportamentos ou distorc;oes cognitivas cujo objetivo e elimina-la ou reduzi-la, e essa forc;a sera tanto maior quanto maior for a tensao. Em suma, para Adams,
,, unica resposta possivel a injustic;a e a restaurac;ao da justic;a.
Adams (1965) propoe diferentes modos de reduc;ao da tensao, que estariam polencialmente disponiveis a urn indivfduo em estado de inequidade. Sao varias as possibilidades psicol6gicas nesse sentido:
a) ac;ao para alterar o valor de qualquer dos quatro componentes da formula de
inequidade- os outcomes e inputs pr6prios ou os outcomes e inputs do outro;
b) distorc;ao cognitiva a fim de modificar o valor percebido de qualquer dos componentes;
c) abandono do campo por interrupc;ao da relac;ao;
d) substituic;ao do objeto de comparac;ao por outro , cuja proporc;ao entre outcomes
e inputs lhe seja mais similar.
Quando tratarmos adiante da versao final da teoria proposta por Walster e seus colaboradores, apresentaremos urn exemplo concreto que pode ilustrar melhor como se
da esse processo de passagem de uma situac;ao percebida de inequidade para uma outra de equidade.
278
279
On al dt•<;o.;; l.;, 1'-.lt ':tll' g t.h •11 1i.t .1 111,11 -. pt nv:1 vrl ! Ad .u11 -. apn·o.;l' lll:t .dglltll.l o; Pll'l
<;lW-. a e-.o.,l' '~' " IH' IIIl , -. l-.1!'111.111 .ul.1-. pot lkut o.,c h ( ll)H'> ) da "l').\ llllllt' lottll:l
Llina pr ~~ ~1 . 1 l''>l ollll·ta o tltotlo tl1· t l' du ~· ;to da IIH'qtutl atl l' qul'.
I) maxtmi ZI' M' US Olti WIItn positivos;
2) minimize a ncccssidad c de aumcnlar qualqucr de sc us pn1plio-. "'f'llh
lh e exija esfoq;o ou cuja muclan ~a Ihe seja cuslOsa;
3) minimize a necessidade de mud a n ~a s rea is ou cognilivas nos ill filii\ 1111
comes centrais em seu autoconceito ou autoestima;
4) capacite-o a mudar sua cogni\=aO sobre o outro ao invcs de sobrc si tllt ''•l
5) minimize a necessidade de deixar o campo ou mudar o obj eto de rontp•ll
\=aO social uma vez estabilizado (p. 14) .
Subjacente a todas essas proposi<;;6es esta a no<;;iio de "homem econ6mico": n h
mem procura sempre maximizar seus lucros (recompensas menos custos) e esco ll u
o modo de reduzir a inequidade que maximize os lucros esperados. A decisao po t 111
desses redutores de tensao e feita, entao, em fun<;;iio da rela<;;iio custo-beneficio, q11c·
leva a tentar mudar, prioritariamente, os outcomes e inputs do outro , e nao os seuo., p11
prios, e a evitar, pelos altos custos envolvidos, qualquer mudan<;;a pessoal ou inH' II III
ja que e sempre me nos custoso mudar o ponto de vista do outro do que o seu pr6p 1it 1
Adams (1965) , ao apresentar sua teoria de equidade, reconhece a existencia d
uma serie de lacunas em seu modelo e sugere a necessidade de investiga<;;6es que VI'
nham a complementa-la em alguns aspectos basicos, tais como a escolha do modo dr
redu<;;iio da inequidade, os fatores determinantes da escolha do objeto de compara<;:lll
social, alem da realiza<;;iio de pesquisa psicometrica para esclarecer melhor como ""
pessoas agrupam seus pr6prios inputs e outcomes e os do outro .
Esse primeiro modelo de justi<;;a distributiva foi originalmente aplicado no con lex
to das organiza<;;6es de trabalho, como intuito de explicar as rea<;;6es dos empregado!-> a
seus salarios. Os resultados de uma serie de pesquisas indicaram insatisfa<;;iio e desco n
tentamento com remunera<;;6es e promo<;;6es, os quais, segundo essa perspectiva, po
deriam ser reduzidos se pagamentos e perspectivas de ascensao pro fissional fossem co.,
tabelecidos de urn modo que os trabalhadores julgassem jus to . Em sfntese, a teoria da
equidade buscava identificar e articular urn modelo de justi<;;a na distribui<;;iio dos rccursos disponfveis nos contextos de trabalho baseado na cren<;;a de que o justa e sem pre o proporcional.
II d. t 11'1 111:1 tl·prr-.rii\ ,\Va '""'' ll' lllattva cit llllr gtil~. ltl d1 11111 tllll[llltln dt ltlllt\ltl.lt,< H'"
l11 !I' ti l 1.1 d.1 ll'lllll o., ol'ial , teo ria da d i-.o., oii:IIH 1:1 1 ogt lll!Va, teo ria p-. t l'~l u.tlllt l .l l' ll'Ot ta
tl liq unl .lllll' lll<\1 , razao pcl a qual podcria vir a con o., lituir-se numa lCOI ia geral do com
1 '""
1110 social.
r~. l ro ncc p<;ao de Walster e cols., a teoria da equidade se aplica a urn amplo espectro
tk
!1
IIOIIIt' nos da vida social, e nao apenas as rela<;;6es empregador/empregado, envol-
' tul t1 ' l'ro mpensas financeiras em troca de trabalho , as quais , ate en tao , a atividade de
'I"'""
I"
se restringia. Com essa extensao, a teoria da equidade passa tambem a tentar
, ' pl ll.tr as percep <;; 6es de justi<;; a e rea<;;6es a injusti<;;a nas rela<;;6es de explora<;;iio entre o
, ,ul ···'d o r de injusti<;; a e sua vitima, nas rela<;;6es de ajuda e nas rela<;;6es intimas de casais.
\ des peito d e seu maior alcance, a finalidade basica da teoria por eles proposta
c
lll r dt t l'r em que condi<;;6es os individuos se percebem como injustamente tratados e
l• llll ll reagem a essa p ercep<;;iio .
A 1coria de Walster e seus colegas conserva as caracterfsticas basicas do pensa111 1' 11 10
1
d e Adams , aduzindo , porem, explica<;;6es complementares a varios pontos es-
m wis, d eixados em aberto por seus predecessores.
0 nucleo da teoria pode ser representado por urn conjunto de quatro proposi<;; 6es
1111 1' 1 rclacionadas (WALSTER, WALSTER &: BERSCHEID , 1978):
I) Os individuos tentarao maximizar seus outcomes , considerados como as recom pensas menos os custos.
2) Os grupos podem maximizar a recompensa coletiva pelo desenvolvimento de
sistemas de equidade que regulem a distribui<;;iio de custos e recompensas no grupo e a aplica<;;iio de san<;;6es aos membros na base de regras socialmente definidas.
Assim, os grupos recompensarao os membros que tratam os demais de forma
equitativa e punirao (por aumento de custos) aqueles que nao o fizerem.
3) A inequidade conduz a uma tensao psicol6gica proporcional ao tamanho da
inequidade.
4) A tensao resultante da inequidade levara o individuo a tentar elimina-la e a res
taurar a equidade.
Analisando o trabalho de Walster et al. Deutsch (1985) argumenta que essas proposi<;;6es estao calcadas em uma visao particular da natureza e das sociedades humanas
e que podem ser resumidas nos seguintes termos:
Wa lster e colaboradores
A partir da decada de 70, com Walster e seus colaboradores (WALSTER, BERSCHEID &: WALSTER, 1973; WALSTER &: WALSTER, 1975; WALSTER, WALSTER &:
BERSCHEID, 1978), a teoria da equidade foi transformada em uma teoria geral de justi<;;a, usada para explicar todas as intera<;;6es sociais. De acordo com esses autores, suaver280
(... ] OS pressupostOS subjacentes as duas prirneiras propoSi\=OeS sao que O!>
hornens sao intrinsecamente associais, mas racionais e que eles usaram sua
racionalidade para eriar arranjos externos, urna sociedade com regras de equi
dade obrigat6rias, que controlarn a expressao de suas tendencias egoistas a
fim de rnaxirnizar o beneficio coletivo (p. 16) .
281
Co111i>,l<;r ''·'" i1npl1r,U,1H'-; '>lll>j.ll \'lilt'> .101 Olljlllllll d1 p11l(HI..,II,<)t'..,, I kith{ II .11
sa as condi<,;<ks t'lll qiH' 11111.t IIH'q111dadc podt'll.l tHOIII'I l'o1 lor1,·a da plllllt'ila (llll(
sic;:ao, se uma rcssoa espcra podcr tirar vantagem de UlliH ..,itua<,'<\o , comportando .,,
forma inequitativa ou injusta, ciao fan\ , dcsdc que acreditc que tera s uccsso , po l'>. 11
nal, o homem e amoral, mas racional. Da segunda proposic;:ao dcriva-sc que, 11
mesma situac;:ao, urn grande mimero de pessoas, por nao ter a convicc;:ao de suet'"'"
por receio da punic;,:ao do grupo, percebera que pode maximizar o total de intc •
pessoais ao final da rdac;:ao se resistir a tentac;;ao de receber mais do que merecc. II a rl
cunstancias, no entanto, em que as punic;,:6es potenciais nao sao suficientementc lo1
para evitar a tentac;:ao de obter vantagens; nessas condic;,:6es e que ocorre a inequ id,
Em outras circunstancias, a inequidade pode ser acidental e nao intencional.
As consequencias de uma inequidade (proposic;,:6es 3 e 4) sao as mesmas a
Adams se referira, sob a influencia da teoria da dissonancia cognitiva: a inequ id,
produz tensao, a qual, por sua vez , motivara atos voltados para a restaurac;,:ao da equ
dade anterior. A maior parte dos trabalhos de Walster e associados esta centrali
nas consequencias da inequidade.
Segundo esses autores, ha dois tipos de tensao experienciada pdo causado1
uma situac;,:ao inequitativa (vitimador): "tensao de retaliac;,:ao" (ou medo de retalia(
e "tensao do autoconceito" (perda da autoestima) . Quanto aos tipos de tensao sent
pda vitima, nao receberam urn nome especifico, mas constituem uma gama var
de emoc;,:6es, tais como raiva e ressentimento. As evidencias empfricas da tensao
sultante de uma injustic;:a (o chamado distress) sao bastante esparsas, lacuna essa
apontada anteriormente por Adams e Freedman (1976), na revisao crftica que
a teoria.
di '> I'III(H nllo {t\1)/\M "' •"-~ IH )'-t i ·N I\AlJM , I % 2; ADAM ~ & jA( Oll~ I ' N , 1964;
Hi l l MAN ,\I· I ·RII ·DMAN , I%H, 1969; WOOD &: LAWLER, 1970).
'11
t~o quest' rd ere ainda a res taurac;:ao da cquidade, Walster e cols. (1973) prop6em
1 '" 'l(lllllOs de tecni cas: rcslattra(ao da equidade real e restaura(ao da equidade psil,t.~ l ' " Ass im , o r crccbeclor da inequidade pode realmente mudar uma rdac;,:ao inejtlll itl iva para uma cquitativa , alterando , de fato, a distribuic;:ao percebida dos recurIll\ podc distorcer psicologicamente sua percepc;,:ao de uma situac;,:ao inequitativa
1. III IH io que passe a considera-la como justa. No primeiro caso, a mudanc;,:a na percep.' 1u ak sc r alcanc;:ada pda modificac;,:ao efetiva na qualidade ou quantidade dos inputs
" '' 1111/ w mes sendo avaliados, tanto os pr6prios quanto os do outro , com preferenl.t tl l>viamente, para esta ultima possibilidade. No segundo caso, a equidade e res1ltll ,ll l.t, dcixando intactos os inputs elou os outcomes, mas simplesmente mudando a
1\ dl. ti,.lOsobre o valor de cada urn, ou seja, "distorcendo" a realidade, com base em delilt tll tl'> cognitivos.
I '' pcc ificando as formas que essas varias alterac;,:oes podem assumir, os autores ali-
uli.ttll um a serie de tecnicas, quer da parte do causador da injustic;,:a, quer dos observal!ilt ., da injustic;,:a (do alocador ou de urn observador da situac;:ao), quer da propria vftitll .t d.t injustic;,:a.
I )o ponto de vista da vitima, sao descritas as tecnicas "pedido de compensac;,:ao" ao
'''""dor da injustic;,:a e a "retaliac;,:ao". 0 pedido de compensac;,:ao eo mais popular porI"' , .tl cm de restaurar a equidade, traz beneficios reais a vitima. E a retaliac;,:ao, alem de
llllljl rir o objetivo de reparar a injustic;,:a na, relac;:ao, permite que o causador possa se exi!itll de justificar sua atitude, pois a vitima, retaliando , se sente "quites" como vitimador.
\ ll'ntativas de restaurac;,:ao psicol6gica, segundo Greenberg e Cohen (1982) , sao consi,(, 1.tdas como "justificativas", tanto para o causador quanto para a vitima da injustic;,:a,
•ttthora as consequencias de utilizac;,:ao dessa tecnica difiram de urn para o outro.
Em contrapartida, a quarta proposic;,:ao, que postula a inevitabilidade da
c;,:ao da equidade, gerou urn grande numero de pesquisas, com alguns resultados
sistentes com as predic;,:6es te6ricas. As pesquisas classicas nessa area seguem
tendencias basicas (MAJOR & DEAUX, 1982) . A mais frequente constitui a Lmum1u1
rea(oes a um experimentador/empregador injusto, e consiste em fazer os sujeitos desc
penharem tarefas, sendo estes super-recompensados, sub-recompensados ou equital
vamente recompensados pdo experimentador em rdac;,:ao a outros nao identificados:
variavd dependente e a quantidade ou qualidade de trabalho posteriormente
do pdos sujeitos. De urn modo geral, a pesquisa em torno da sub-recompensa
mou que decrescimos no desempenho costumam seguir-se ao subpagamento ineq
tativo (ANDREWS, 1967; LAWLER & O'GARA, 1967; LORD & HOHENFELD, 1
PRITCHARD, DUNNETTE &JORGENSON, 1972) . De outro lado, a maioria dos
tudos sobre os efeitos da super-recompensa indevida no desempenho de tarefas
monstrou que os sujeitos nessa condic;:ao mdhoraram qualitativa ou quantitativamc
De outro lado, esse mesmo empregado, ainda que consciente de que recebe urn sal.llt o menor do que deveria, tambem tern convicc;:ao de que nada pode fazer , de fato,
282
283
Um exemplo extrafdo das rdac;:6es entre empregado/empregador ilustra clara'"' 11t c as duas faces da restaurac;:ao da justic;:a. Suponhamos o caso de urn empregado
•jill -.c ve recebendo urn salario injusto de seu patrao, comparativamente ao piso salarial
d,,,n crcado , e essa situac;:ao gera urn sentimento desagradavd , que o motiva a fazer alf,lltn a coisa para modifica-la. 0 que de poderia fazer, segundo a teoria da equidade?
Por urn lado, de poderia restaurar a equidade real de quatro formas diferentes: (a) dilllltluir seus pr6prios inputs, comec;,:ando, por exemplo, a "matar" o servic;,:o; (b) aumentar
• ll 'o pr6prios outcomes, roubando, por exemplo, algum dos equipamentos do patrao; (c)
llllncntar os inputs do patrao, cometendo erros no servic;:o que terao que ser corrigidos
l'"~ t c riormente; (d) reduzir os outcomes do patrao, danificando seus equipamentos.
p.u;l ;lllrr.u .t o.;ttll.l~.ltl 1 ~ 111 tiiii',I''IIII'IH 1.1, ck p11d1 11,1 lt~lll:tl rOIIVI'llll'l '>I' dr q111
rchu;ao tom o pat r.to 1 rq 111 t.It 1v,1, ll'l Olll'l Hlo a 11111.1 til' quat 1o po""' hi lrdade-. dt 11
ra~~lO da equidade p..,1n>logrra: (a) mini mizar M'll" 111p111\ ("alinal, eu mio tcnh11 1
preparo assim, min ha formac,;ao c insuricicnlc"); (b) supcrcsti mar scus outwutn (
te trabalho, eu tenho a chance de sair para ir ao banco, levar minha mulher ao nwdli
isso eo que mais importa"); (c) pode aumentar os inputs do patrao ("sem o co 11lr
mento e experiencia do meu patrao, a firma pode falir e eu perco o emprego"); (d)
minuir os outcomes do patrao ("a tensao que ele sofre com os neg6cios pode lev.1 h
ter uma ulcera").
Alem dessas estrategias principais, restam ainda ao nosso trabalhador dua.., 11'
cas adicionais para restabelecer a equidade de sua situa(:ao: passar a comparar scu ···•
rio como de urn colega de outra categoria funcional, provavelmente inferior (m ud
(:a do objeto de compara(:ao social), pedir transferencia ou, na pior das hip6teses, pn
demissao do emprego (abandono de campo). Tatica nao muito recomendavel, c"l
almente diante de eventuais periodos de recessao economica.
A formula(:ao de respostas a tensao derivada de uma situa(:ao de injusti(:a,
das nas tecnicas acima descritas, foi alvo de muitas criticas por parte de alguns pc..,q
sadores, particularmente de Utne e Kidd (1980). Esses autores defendem o pon w
vista de que esses tipos de respostas nao esgotam as estrategias de redu(:ao da incq1
dade de que as pessoas pod em dispor. Para eles, as atribui(:6es causais, is to e, as i11
rencias que as pessoas fazem acerca das causas de uma situa(:ao de injusti(:a sao ex t
mamente importantes na determina(:ao do grau de tensao gerado por uma inequid
Essas atribui(:oes podem levar a redu(:ao ou elimina(:ao da tensao sem alterar a perCl
(:ao de inequidade inicial. Os individuos nao tern necessariamente que recorrer a alt
ra(:ao da equidade real ou psicol6gica para restaurar a justi(:a. Pelo contrario, a nPrrt·
(:ao da inequidade pode ser mantida intacta e a elimina(:ao da tensao ocorrer se o
viduo lan(:ar mao de atribui(:oes causais na forma de informa(:ao adicional sobre as in
ten(:6es, motiva(:6es, capacidades e condi~oes pessoais ou situacionais a que os partid
pantes da rela(:ao estao sujeitos em cada caso especifico. Assim, se sofremos uma inj us
ti(:a, tendemos a usar ou buscar informa(:6es para interpretar a situa(:ao, nao s6 em tcr
mos de suas causas provaveis, como tambem em termos dos responsaveis por elas
Cada uma dessas analises causais tern implica(:oes diferentes no modo como nos senti
mos a respeito da questao, como avaliamos a justi(:a ou injusti(:a da situa(:ao e ainda
como respondemos a ela.
Um exemplo concreto pode ser util para ilustrar como se da esse processo . Se eu
sofro uma injusti(:a, causada por uma amiga, e concluo, com base nas informa(:6es que
tenho ou busco para explicar por que ela agiu assim comigo, que ela foi for(:ada pelas
circunstancias ou nao teve a inten(:ao de me prejudicar, e bastante provavel que eu nao
284
itl•tiiH·-.rno c/1'/'n' 111'111 rl'aj.t i\ injusti1,,':t da rnt·~ma lotma que o !aria ..,c concluissc
!.1 lr.llltlll dl'hhnadamentc me causar tun mal.
J;ltl'ntativa de forn cccr uma base preditiva para a escolha da tecnica a ser seleciod 1I'' lo rau..,ador de injusti~a como objetivo de reduzir a inequidade, Walster et al.
II! ,to pro poem do is corolarios:
1) Uuanto mais adequada uma dessas tecnicas for percebida pelo individuo, mais
pr~tvavclmcnte ele a utilizara; o grau de adequa(:ao e definido como a extensao
• tllll que ela restaura exatamente a equidade, nem para mais nem para menos.
h) (~uanto menos custo o causador percebe que uma tecnica exige, mais provavelIIH'rllc cle a usara; esse corolario indica que as tecnicas que impliquem maiores cus'""· como por exemplo, autopuni(:ao e compensa(:ao a vitima, terao menos probabilldadc de serem usadas do que as tecnicas de justificativa, desde que essas ultimas
It nham credibilidade para ele; infere-se tambem que a vitima da injusti(:a tendera
' lllll maior probabilidade a exigir compensa(:ao do que o causador se dispora a gar.ulli-la, obviamente, pelas implica(:6es de custos que ai se fazem presentes.
\ testagem empirica dos postulados te6ricos da inequidade entre inputs e outcomes
111 .1qcitos brasileiros limitava-se ate ha bern pouco tempo a estudos esparsos. Shomer
l ~11drigues (1971) reportam trabalho sobre forma(:ao de coalizao cujos resultados
,,11l11maram as predi(:oes de Adams (1965). Ao experimentar a sensa(:ao de desequilihtllt l'ntre o que investiu e o quanto recebeu pela tarefa, o individuo tendeu a reagir,
llillll'ntando seus investimentos. Posteriormente, Dela Coleta e Siqueira (1986) rela11111 trabalho sobre a preferencia de sujeitos brasileiros por diferentes alternativas
''111portamentais e cognitivas na redu(:ao de sentimento de inequidade provocado por
1111.1~·6es de trabalho, das quais participam como atores ou como meros observadores,
• 11do super-recompensados ou sub-recompensados por seus desempenhos. Contra! t.uncnte a condi(:ao de sera tor ou observador, que nao provocou diferen(:as nos julgaiilrtltos dos sujeitos, foi demonstrado que o fato de receber mais ou menos do que meill tam provocou respostas comportamentais diferenciadas, alem de ficar evidenciada
1ll'l cvancia atribuida pelos sujeitos ao resultado obtido no trabalho (outcome): quan"" super-recompensados, os sujeitos consideravam que o parceiro e que deveria aullll'lltar seus resultados para restaurar a equidade da situac;;ao; quando sub-recom1'' n<;ados, optavam por aumentar seus pr6prios resultados. Quando, porem, nao existl.t a possibilidade de fazer algo concreto para restabelecer a equidade, os sujeitos tendt·ram a julgar que a melhor solu(:ao cognitiva para a injusti(:a sofrida e reavaliar seus
I" oprios esfor(:OS.
Assmar (l995a; l995b) relata duas pesquisas experimentais, baseadas na teoria da
t·quidade, cujos objetivos gerais foram estudar a percep(:ao e rea(:ao a injusti(:a em sul•·ttos brasileiros. A primeira delas investigou a influencia da intera(:ao social, tra(:OS de
285
d,.,,
iJl"l i.ull ttltdnil c ,, ''''iiHii•,n•• U !l' ~··" · '"
'"prnllo "'' pt tn p~;to ,. '~'"~· :to :ttnjtl'> ll ~
liCt' I''"' 11\",t d,t•i \'iltllt:l'i d.t ·. tltt.t~.tn I 01<1111 OI).~·IIII Z .tdoo., ltl'" gtttpoo., (tOIIl dttpl.t..,l
nttlttllll.t '> l p.tt.l .111 ;tit ,,~,In dt l.ttt•l.t.., que variavam de acordo como grau dt· 1111
<,.lot' llltt' oo., p.tlllltp.tttlt'" ,~;,.., dupla!'> (scm interac;ao , em semi intcra<,;ao e coni tt
<,; ao) . 0 mdhor dc-.empcnlw global entre os parcciros dava dircito ao rcccbinH' II IIi
um prcmio. A decisao in justa do cxperimentador violava o princtpio da equidadr 1
ava, assim, uma vftima e urn beneficiario da injusti<;a. Foram analisados o grau ell
justi<;a percebido pelas vftimas e o tipo de rea<;ao a situa<;ao teoricamentc dd tll
como injusta. Os resultados demonstraram que os sujeitos brasileiros nao vivem 1.11
a injusti<;a com a intensidade esperada pelos te6ricos da equidade e que o grau dr 111
ra<;ao social entre os participantes no setting experimental afetou o tipo de rea<;ao ,, 1
quidade. Quando sozinhos no setting experimental, na condi<;ao sem interw;;ao, a 111.
parte dos sujeitos exibiu comportamentos restauradores da equidade real para lnt
modificar a decisao do experimentador. Na condi<;ao de intera<;ao parcial prevakn•ll
rea<;ao de adiar a solu<;ao do problema para urn outro momento e, na condi<;ao de 111
ra<;ao plena, os sujeitos se dividiram entre adiar a solu<;ao ou resignar-se a situa<,
aceitando a decisao injusta e nada fazendo para altera-la.
A segunda pesquisa procurou responder as seguintes indaga<;oes: em que med
vftimas e beneficiarios se diferenciam no julgamento e na rea<;ao a uma mesma sit
<;ao em que foram, respectivamente, prejudicados ou favorecidos por uma decisao I
justa? Sera que na presen<;a de urn outro real as pessoas julgam e respondem a injust
da mesma forma que quando sozinhos? As predi<;oes da teoria da equidade acerca
comportamento de justi<;a seriam aplicaveis a sujeitos brasileiros? Foram organiza<
dois grupos experimentais para a realiza<;ao de tarefas de cujo desempenho dependia
recebimento de urn premio: em semi-intera<;ao (16 diades reais , e nao fictfcias, co
na pesquisa em equidade) e com intera<;ao plena (16 diades) . A decisao inequitativa
experimentador criava uma vftima e urn beneficiario. Os resultados mostraram que
brasileiros nao julgam a viola<;ao da proporcionalidade tao injusta quanto a teoria
diz e, ainda, que os beneficiarios julgam a injusti<;a como "menos injusta" do que as
timas; o grau de intera<;ao entre os sujeitos das diades nao provocou diferen<;as na
cep<;ao e rea<;ao a injusti<;a, mas revelou rea<;oes diferentes das enfatizadas pela teoria,
e, finalmente, a influencia conjunta de ambas as variaveis na percep<;ao de injusti<;a fol
empiricamente confirmada.
Revisao criti ca da teoria da equidade
Apesar de ser considerada como uma das mais articuladas teorias de justi<;a, a teoria
da equidade vern sofrendo uma serie de obje<;oes por parte dos estudiosos de justi<;a. As
crfticas envolven: multiplos aspectos, desde os pressupostos gerais em que se assenta,
286
li11l11 pot pltlhit-tll,\0., II'Otlroo., 1'111 o., tt , IIOtllllll.t~ao , ate l'l''> lli~·(>e'> dt• 1 ;II .Ill t 1111 ltid11111
!ih """"loo., l'lllptttnh tt'alt zado.., para a vet ili cac;ao de suas lon11ul.t<,tH ., lw.tt ,,..,
l lilttl.l ( I t>HO) s inteti za as c nti cas gerais dirigidas a teoria da equidadc em duas li
II• jlllrttrpais de argum cntac;ao . Em primeiro Iugar, ela superestima a extensao eo
., tl.t jtl'> ti<;a nas rclac;ocs sociais, is to e, a preocupa<;ao com a justi<;a nem sempre e a
11 tl.'lilltllantc c ncm se mpre se faz presente na intera<;ao social,ja que outros motivos
t!jiltl •o~ n rtam os individuos a a<;ao e explicam as intera<;oes com os demais (como, por
lltplo , ajudar os outros, obter aprova<;ao social, manter objetivos comuns). Em seltit tl'' lttga r, mes mo em situa<;6es sociais nas quais as questoes de justi<;a sao prevalen11 ll tll ma da equidade e apenas uma das normas possfveis que podem ser invocadas
I'•!! '''"llucnciar o comportamento das pessoas. Ao reduzir a justi<;a a equidade, essa te'"''''"Piifica demais urn fenomeno tao complexo e multifacetado como ajusti<;a. Mi1•,1!1-l -;, cnquadra entre os proponentes de uma visao multidimensional de justi<;a, conld t 1.t 11do que pelo menos tres normas principais operam em situa<;6es em que probleltll dc justi<;a estao em jogo: a equidade, a igualdade e a necessidade. Essas normas
l!'itt trquisitos situacionais peculiares que variam em sua conveniencia de aplica<;ao a
i i f1·' ,.tlles situa<;6es e implicam diferentes consequencias para os participantes de uma
l.t•l.t '> itua<;ao. Na se<;ao seguinte, exporemos com mais detalhes os fundamentos dessa
•itll l' p<;ao multidimensional, destacando especialmente as ideias de M. Deutsch, urn
tl• •• po., ic6logos sociais mais representativos dessa vertente te6rica.
1: esse mesmo Deutsch (1985) que, em analise crftica exaustiva, relaciona uma se"' de restri<;6es a teoria da equidade, ressaltando, porem, que algumas delas, de carat• 1 gcral, sao compartilhadas por outras teorias em Psicologia Social. Por urn lado, a teo1i.t da equidade e uma teoria quantitativa apenas na aparencia, e nao na realidade. De
••tllro lado, a evidencia experimental produzida pela teoria e mais ilustrativa do que
,j, tn onstrativa no sentido em que ela mostra o que pode acontecer e nao o que deve
11 nntecer. E ainda , seus conceitos basicos- inputs e outcomes- sao "deploravelmente
'.tgos", na medida em que nao especificam a perspectiva do percebedor que os esta
tvaliando: se da sua propria ou da perspectiva do outro.
No que se refere as criticas especificamente dirigidas a teoria da equidade, Deutsch
.tltnha as quatro seguintes:
a) A caracteriza<;ao nao-estrategica da rela<;ao entre as partes em uma rela<;ao de
troca, ou seja, a teoria ignora o carater interacional da intera<;ao interpessoal, focalizando a percep<;ao do problema por parte de urn ou de outro participante da rela<;ao; em consequencia, negligencia os aspectos de negocia<;ao e barganha envolvidos no processo de obten<;ao de uma defini<;ao mutua mente aceitavel de equidade.
b) Os pressupostos motivacionais implicitos na teoria da equidade- o homem e
egofsta e voltado para a maximiza<;ao de seus lucros, o homem e motivado essen-
287
ri.dnH' Illt po1 11'111111111 " '"'" t:.\ 1111\ o., l'l':l'.,, a ll'lll\< lo qualilali va l'lllll' a nalull'iil
motivo~ do 11\lllvhhlll I' d.t.., 1\' l on1pensas podc ~ er ignorada e a mol ivac,;<
h> 111d
duo para contrihui1 l' lunc;<IO do prin c1pi o da proporcionalidade - nao SilO :qu1
dos pelos resultados das pesqui sas qu e foram realizadas sobre o assunto .
c) Os pressupostos cognitivos implicitos na teoria da equidade- o modelo dr
mem racional e econ6mico- sao claramente deficientes, nao s6 porque a rat 1111
lidade humana e afetada por limitac;;oes da capacidade cognitiva do homem, 11
tambem porque ha evidencia consideravel de que a racionalidade e limitada l' tl
torcida por tendenciosidades caracteristicamente humanas nos processos dr 11
mada de decisao.
d) A concepc;;ao de justic;;a implicita na teoria da equidade- de que o valor uni\'t'f
sal subjacente aos sistemas de distribuic;;ao e a equidade- e recusada por urn g1.11
de numero de te6ricos, que defendem a muldimensionalidade do conceito; a c11 hl
se no principia de equidade, segundo eles, e produto de urn padrao hist6rico e rul
tural particular que predomina na civilizac;;ao ocidental e uma decorrencia do "'"
tema capitalista, que privilegia valores conducentes a equidade, tais como a com
petic;;ao e o individualismo.
3.2 A abordagem multidimensional de justit;a: a contribuit;ao de Morton Deutsch
]usti(a e a desejo firm e e continuo de entregar a cada um a que lhf
e devido.
Justiniano
A concepc;;ao multidimensional de justic;;a resultou do movimento critico surgidn
entre os psic6logos sociais diante da pressuposic;;ao de que a equidade seria o unicn
principia valido para a soluc;;ao dos problemas de justic;;a que permeiam a vida social.
Ao longo da decada de 70 foi intensa a reac;;ao aos postulados te6ricos e aos resultados
empiricos que ate entao prevaleciam na literatura especializada, sendo bastante signi·
ficativa a produc;;ao cientifica que essa abordagem passou a representar como uma via
te6rica alternativa para o estudo eo conhecimento das questoes de justic;;a que afetam o
comportamento social.
' '' d11 p111l l' lp1o dl' l'quidadl' , unta w z qll l' .1 1guald adc na distribuic;:lo potl e k var Lun
"'I 'll .111111a 111aior produtividad c
l'. u a Deutsc h ( 1975; L985), o co nceito de justic;;a refere-se a distribuic;;ao de condihens que afctam o bem-estar individual, estando ai incluidos os aspectos psico1. •1•11 o-.., fi siol6gicos, economicos e sociais. 0 conceito de justic;;a, assim concebido, esta
(llll ill '>t'Ca mente ligado , alem de ao bem-estar individual, ao pr6prio funcionamento
, jl •.llcicclade.
,.., , 1
'-, ubjacentes ao conceito de justic;;a estao diferentes valores que, a bern dizer, defi!11 111 a j ustic;;a e e na escolha de qual valor prevalece ou deve prevalecer na determina' 'II ' dos diferentes sistemas sociais de distribuic;;ao de recursos que se concentra a
111 uor atenc;;ao de Deutsch. Em que condic;;oes essa escolha e feita e quais as consequen, 1. 1.., dcssa escolha para os individuos, grupos e sociedades resumem, a grosso modo , a
. ,..,,•ncia do problema de justic;;a investigado por Deutsch.
Segundo esse au tor, "os valores naturais de justic;;a" sao aqueles que promovem a
oou1perac;;ao social efetiva, a qual , por sua vez, assegura o bem-estar individual.
0 conceito de cooperac;;ao, central no pensamento de Deutsch, e entendido como
111d uindo a elaborac;;ao de meios de nao-interferencia ou nao-importunac;;ao de urn ind1 v1duo por outro eo desenvolvimento de procedimentos aceitos para o engajamento
' 111 conflito e competic;;ao. A determinac;;ao desses meios e func;;ao das circunstancias
' xternas que confrontam o grupo e das caracteristicas peculiares de seus membros.
Partindo da "crenc;;a em urn mundo justo" de M. Lerner, Deutsch (1985) defende o
ponto de vista de que os valores distributivos que ai operam dependerao e devem depender de circunstancias, o que nao implica que a justic;;a seja completamente situacional. Ha, segundo ele, algumas condic;;oes minimas de bem-estar individual e de dignidade humana, necessarias para sustentar a participac;;ao cooperativa continuada nas
atividades do grupo e vice-versa.
Por outro lado, ao analisar o problema da cooperac;;ao social, Deutsch admite haver
tambem condic;;oes minimas na ordem social e na integridade grupal necessarias ao
bem-estar individual e a dignidade humana, e traz a tona problemas sociais para cuja
soluc;;ao urge a ampliac;;ao do conhecimento sabre justic;;a (p. 36) :
Fome, roubo , desordem civil e violencia sao geralmente prevalentes em sociedades caracterizadas por falta de planejamento, lide ran~;a ineficaz, organiza~;ao ca6tica, redes de comunica~;ao pobremente desenvolvidas e aloca~;ao insuficiente de recursos para o desenvolvimento e utiliza~;ao de suas capacidades produtivas (p. 36) .
Como ja foi mencionado, dessa abordagem sera destacada a contribuic;;ao de M.
Deutsch, que, na decada de 80, desenvolveu urn intenso programa de pesquisas sobrc
justic;;a com o objetivo de submeter a comprovac;;ao empirica uma serie de predic;;oes
acerca das bases de valor que regulam a distribuic;;ao dos recursos em diferentes tipos
de grupos sociais. Para citar apenas dois exemplos, Deutsch afirma que a motivac;;ao do
homem pode estar voltada para o bem-estar do outro, e nao necessariamente para o
seu pr6prio bem.-estar; que a produtividade de urn grupo nao e necessariamente fun-
Apoiando-se nesses pressupostos gerais, Deutsch formulou tres hip6teses basicas,
a partir das quais e possivel inferir as condic;;oes determinantes dos valores essenciais
de justic;;a que regulam os diferentes sistemas de distribuic;;ao de recursos:
288
289
I) t'lll td.u,tk-. n1opt't<1liva-. na., quat-. a pHuhttt\ ltl,ult '' tltH)tlltl'a co ohjr tt \'0
principal , a cquidadr l' lll ve z da igualdadc ou tl\:t t·•,.,~tl.ult o,na o princ1pio dt llll l
name de justic;a distributiva;
2) nas relac;:oes cooperativas nas quais a promoc;:ao o u manutenc;:ao de relac;:oc~ .,n
ciais agradaveis e o objetivo comum, a igualdade sera o principia domina nll' d
justic;:a distributiva;
3) nas relac;:oes cooperativas nas quais a promoc;:ao do desenvolvimento pessoal
do bem-estar pessoal e o objetivo comum, a necessidade sera o principia dotlll
nante de justic;:a distributiva.
As ideias de Deutsch contidas na primeira hip6tese alteram a formulac;:ao usual d tl
teoria da equidade (a cada urn segundo a sua contribuic;:ao). Para Deutsch, se urn sislt·
rna econ6mico visa maximizar a produc;:ao, a tendencia racional deveria sera de disltl
buir os recursos escassos de produc;:ao para os mais aptos a usa-los de forma efeti va
para o proprio sistema. Tal forma de distribuic;:ao seria:
[. .. ] socialmente equitativa no sentido de que aqueles que recebem as parrr
las maiores de recursos em urn sistema cooperativo devem ser aqueles qur
produzem mais para o sistema [... ], mas alocar suas recompensas (bens dl'
consumo) de acordo com a necessidade quando ha bens suficientes para !>a
tisfazer as necessidades legitimas; a igualdade deve ser empregada na distn
buic;:ao do que excede as necessidades . No en tanto, patologias inerentes a ex
tensao dos valores econ6micos por toda a sociedade e a tentac;:ao de acumular
poder pessoal podem dar origem a urn principia de equidade que aloca n·
compensas econ6micas e poder politico , assim como func;:oes e bens econt\
micos, aqueles que parecem contribuir mais para o grupo (p. 40).
Com relac;:ao a segunda hip6tese, Deutsch sustenta que o principia da igualdade t\
o rna is apropriado a promoc;:ao de relac;:oes pessoais agradaveis porque ele serve de bast·
para o respeito mutuo que esta subjacente a tais relac;:oes, e nao evoca emoc;:oes nocivas
que poderiam destrui-las.
Na defesa da importancia da perspectiva igualitaria, Deutsch ressalta que a igualdade nao implica tratamento identico a todas as pessoas, independentemente de qualquer circunstancia particular. Assim, reconhecer e gratificar o desempenho de alguem
nao diminui aqueles menos homenageados a nao ser que as pessoas se vejam como
parte de uma relac;:ao competitiva; ao contrario, seas pessoas se percebem como parte
de uma comunidade cooperativa, elas se sentem gratificadas quando algum membro
recebe uma honraria. Defendendo posic;:ao compativel com a de Rui Barbosa, indicada
a pagina 275, conclui:
A insistencia em tratar as pessoas de forma identica, sem levar em conta as
circunstancias, e urn pseudoigualitarismo, que, geralmente, mascara duvi-
290
d.l" h;l., ll <l" ou '' :unht v;dt' tlll:t ,, ll''o[ll' IIO docompromt'>'oll dt• algul' lll com va
lott'" 1gualit <l1io., (p. 42).
\ '' tn·ira hi pot esc de Deutsc h sugcre que ha circunstancias em que urge conside' ' tH' l'l'S~idadcs mtnimas basicas do individuo, de cuja satisfac;:ao depende sua so• '• '' rncia , dcscnvolvimento e bem-estar. Nessas ocasioes, e imperioso para o grupo
11 tndivtduo tenha acesso a recursos que preencham suas necessidades, indepenl,:illl' tllt'nte do fato de que fazer isso seja socialmente equitativo ou igualitario. Em
\:lit ontrario, isso vira em detrimento do interesse do grupo sobre seu bem-estar e
!II 1.\lllbetn prejudicial a capacidade futura do individuo em participar do grupo
@ I I 11111 membro apto e competente. Nesse sentido, Deutsch assinala que , a despeito
1-i- ;unbiguidades e problemas, ha situac;:oes em que nao e dificil identificar que algulill , p c~soas tern necessidades legitimas e urgentes que nao estao sendo satisfeitas. Em
II! I . ·. 11 uac;oes, a aplicac;:ao do valor distributive da necessidade nao seria problematica.
\ hip6tese geral que determina que urn tipo de orientac;:ao, e nao outro, tern mais
l''''h.tbilidade de predominar num grupo ou sistema social e designada por Deutsch
, ,,,,u, "a lei crua das relac;:oes sociais". Tal lei, desenvolvida por Deutsch para explicar
, .. dt·tcnninantes de processes construtivos e destrutivos de resoluc;:ao de conflito, esta
1•. , .r.1da na hip6tese de que "as consequencias tipicas de um dado tipo de relar;ao social
''"Inn a eliciar essa relar;ao" (p. 44) . Assim, por exemplo, as consequencias tipicas de
"'''·' orientac;:ao economica costumam ser impessoalidade, individualismo, competi''' c maximizac;:ao. Com base nessa lei, se uma situac;:ao social tern essas caracteristi' ,, .,, r de se esperar uma enfase na comparabilidade e na diferenciac;:ao entre as pessoas,
, 1.tndo-se relac;:oes impessoais e instrumentais, o que, por sua vez, acaba por reforc;:ar
1 llt;tnutenc;:ao de uma orientac;:ao economica e a predominancia do principia da equid.td c. De igual modo, o predominio da regra da igualdade em relac;:oes sociais salida' Lto., significa que aos membros nelas envolvidos e atribuido o mesmo valor como pes''·'"· o que acaba por gerar lac;:os pessoais, respeito mutuo, cooperac;:ao e igualdade en'"' cles. Com base nessa mesma lei, Deutsch afirma que a cooperac;:ao induz e e induzid.t por uma similaridade percebida nas crenc;:as e atitudes, uma prontidao para ser
uld , comunicac;:ao aberta , atitudes confiantes e amigaveis, sensibilidade e interesses
, lltlluns. E essa orientac;:ao funciona no sentido de aumentar o poder mutuo ao inves
,!1- gerar diferenc;:as no poder.
Em sintese, da lei crua das relac;:oes sociais de Deutsch deriva-se a ideia de que as
111 icntac;:oes interpessoais- cognitivas, motivacionais e morais- tambern resultam coe' ••ntes com as implicac;:oes da adoc;:ao de urn desses principios distributivos em urn
tl.tdo sistema social.
Cum pre assinalar que, embora fazendo prevalecer o carater situacional da justic;:a,
I lrutsch (1979) teorizou sobre a influencia de fa to res de personalidade na predisposi291
1,;.1o d1 '~'"!Hl.,l.t'i lltolivil< ioll.tto., ddl'll'llttada.., ,,o.., di.,ltii!IP.. •,1.;11 '"·'" de dio.,tnbui1,;iio de
n'COillj)l'llo.,a . ">cgundo lklll'>t'h , ncnhum !>i'>tcma d1· "'' 0111ptn..,,t l', por si so, intrinsc
camcntc motivantc para 0'> scus participantcs. Algun-. laiOil'" pod em prcdispor um in
divfduo para responder diferencialmente a competic;ao ou coopcrac;ao: valores culturais , caracteristicas de personalidade, requisitos da tarefa e determinantes situacionais.
As hip6teses gerais de Deutsch receberam apoio empirico em uma serie de investigac;oes experimentais (ASSMAR, 1988; ASSMAR & RODRIGUES, 1994; AUSTIN,
1980; MARUFFI, 1985) e em estudos de campo (LANSBERG, 1984) . Os criticos da teoria da equidade argumentam, com frequencia, que a equidade e um principio tipico de
sociedades capitalistas e de adeptos da Etica Protestante (WEBER, 1957). Sociedades
menos competitivas devem, portanto, atribuir enfase menor a equidade como um
principio de justic;a distributiva, e, em consequencia, valorizar outros princfpios. Em
outras palavras, o que esses criticos afirmam e que a cultura desempenha um importante papel na escolha da base de valor da justic;a distributiva. Nao obstante a valorizac;ao atribuida a equidade em uma variedade de culturas, que diferem consideravelmente em sua orientac;ao econ6mica e social (vera revisao apresentada por MARIN, 1985),
parece haver influencia de certas caracteristicas culturais (por exemplo, alocentrismo/idiocentrismo de seus membros) na preferencia por equidade ou outros valores
como determinantes da alocac;ao de recursos (MARIN, 1985). Estudos no Brasil (LOBEL & RODRIGUES, 1987; RODRIGUES, 1987) trouxeram indicios de que brasileiros sao mais alocentricos que idiocentricos, is to e, valorizam mais uma perspectiva coletivista de vida do que uma individualista. Tais estudos, contudo, nao sao conclusivos
sobre a materia. No entanto, a plausibilidade da hip6tese de que a cultura tem algum
impacto na preferencia por uma ou outra norma de justic;a distributiva nos levou a investigar o problema na cultura brasileira.
Nesse sentido, foi realizada uma serie de investigac;oes sobre justic;a distributiva
no Brasil (RODRIGUES & ASSMAR, 1988) - dentro da concepc;ao multidimensional
de justic;a- como objetivo de verificar a preferencia por equidade, igualdade ou necessidade e sua relac;ao com variaveis psicol6gicas e/ou situacionais. 0 planejamento foi
basicamente o mesmo para a maioria dos estudos, fundamentando-se no trabalho de
Lamm, Kayser e Schanz (1983). As principais variac;oes metodol6gicas introduzidas
nos estudos referem-se ao tipo de input considerado relevante para a tarefa (esforc;o,
habilidade ou necessidade dos participantes), o tipo de outcome a ser avaliado (ganhos
ou perdas financeiras, notas escolares ou balsas de estudo) e a posic;ao do alocador na
situac;ao interpessoal a ser julgada (urn mero observador ou um participante da relac;ao
interpessoal avaliada). Dois desses estudos serao discutidos em maiores detalhes para
ilustrar a linha de investigac;ao adotada e, ao final, sera apresentado urn breve resumo
dos resultados gerais obtidos com os sujeitos brasileiros.
292
U r'.ltulo lllicialcon-.tituiu a pl'i111c1ra tcntaliva, no Brasil, de invcstigar como as
lll'i'H I:I.., dt ..,ll iiHtcm rccursos limitaclos a tcrceiros, baseadas em certas caracteristicas
llidivid11.tto., dl' participantes de uma situac;ao que envolvia ganhos ou perdas financeilit'· I'.IIIH 1param da pcsquisa 656 estudantes universitarios, residentes na cidade do
Ill" d1 j.uwiro , sc ndo 36% do sexo masculino e 64% do sexo feminino, com idade metil·' 1 111 tmno de 24 anos.
..,, g\tlndo o procedimento utilizado por Lamn, Kayser e Schanz (1983), na Alemalil~ot Imam apresentados aos sujeitos diferentes cenarios, nos quais dois estudantes
l,tdlt.tdos, !\ c B, decidiram transformar em livro urn trabalho feito em conjunto para
\lilt 1 k '>l' US cursos. Nove condic;6es de lucro e nove condic;6es de perda foram criadas.
i 'ondi~·f>cs de lucro, a vinheta informava que, ap6s a venda da 1• edic;ao, os autores
llttlu111 obtido um lucro de Cr$ 600 mil cruzeiros (a moeda brasileira em vigor na epo1•I d11 ro.,tudo). Nas condic;6es de perda, dizia-se aos sujeitos que, ap6s um ano dolaniiill 1110 do livro, os autores verificaram que a venda fora bastante reduzida, incorrentlo ,,.., .tutorcs em urn prejuizo de Cr$ 600 mil cruzeiros de emprestimos a pagar. Ao filhil •.o licitava-se aos sujeitos que distribuissem, da forma que julgassem mais justa, o
!tl~t&t (o u a perda) entre os dois autores do livro.
l ';~ra
criar as nove situac;oes de lucro e as nove de perda, variou-se, em cada cenaquantidade de esforc;o, a capacidade e a necessidade financeira de cada particilhllllt' do empreendimento.
IIP
:t
( >s principais resultados do estudo demonstraram que:
A igualdade e a norma de justic;a distributiva que prevalece quando o prejuizo
t''>la em jogo, independentemente das caracteristicas de esforc;o, capacidade ou neressidade dos participantes da situac;ao.
(, t)
(b) A equidade constitui a norma de justic;a fundamentalmente utilizada na reparde ganhos, com a ressalva de que e estabelecida, de modo geral, quando a
1gualdade de atributos entre os atores envolvidos na relac;ao interpessoal (capacidade e esforc;o dispendido) permite a distribuic;ao proporcional igualitaria. Na
medida em que esses atributos sao desiguais, a equidade e substituida, na maioria
dos casos, pela norma de igualdade, e nao, como se poderia esperar, pela distribui<,;ao proporcional nao igualitaria.
1ic;ao
(c) As variaveis de personalidade estudadas- locus de controle, autoconceito eliberalismo/conservadorismo - nao desempenharam papel significativo na preferencia por qualquer uma das normas de justic;a consideradas.
/\inda tomando como base a concepc;ao multidimensional de justic;a, urn outro eslttdo foi desenvolvido com objetivos semelhantes aos do estudo anterior, quais sejam,
IIIVl'Stigar o comportamento social de justic;a em situac;ao de alocac;ao de recompensas
293
(no <,,..,o, p1 d n(•nc 1<1 1Hll l'll U1dade, 1gualdadr 1HI ••n
vcb situacionais c cJe per~o n a lidaclc.
~·-.-.HI.Idc)
e ~ ua re hu,;;1o CO Ill '
As variaveis situacionais referiam-se aos tres tipos de situa<;ao social (de conq
<;ao, coopera<;ao e de assistencia) propostos por Deutsch (1975; 1985) , para testa •
piricamente suas predi<;6es acerca das condi<;6es sociais que determinam a prefer(•
das pessoas por urn ou por outro valor de justi<;a, ja referidas anteriormente. Por <•
lado, os fatores de personalidade selecionados para o estudo foram racionalidadek
cionalidade, necessidade de realiza<;ao e necessidade de afilia<;ao.
Foi hipotetizado que prevaleceriam, nos diferentes tipos de situa<;ao, respen
mente, a equidade, a igualdade e a necessidade como a norma rna is justa para a d 1
bui<;ao das recompensas entre os membros do grupo, tal como preconizado por DeUI
Foi hipotetizado , ainda, que a escolha da norma dependeria das caracteristicas de
sonalidade, esperando-se que as pessoas predominantemente racionais, com alto
de necessidade de realiza<;ao ou com baixo grau de necessidade de afilia<;ao tendc 1
a ado tar a equidade como a regra mais justa de distribui<;ao de recursos , e as
predominantemente emocionais, com baixa necessidade de realiza<;ao ou com
necessidade de afilia<;ao , tenderiam a privilegiar a igualdade ou a necessidade.
Participaram dessa pesquisa 267 sujeitos universitarios (81,27% do sexo femi 11
e 18,73% do sexo masculino), com idade media de 24 anos, que responderam a qu
instrumentos, as tres escalas de personalidade e urn questionario compos to de nov
tua<;6es sociais hipoteticas, sendo tres de cada tipo, relacionadas a contextos de tra
lho , de familia, de escola e de institui<;6es de assistencia. Cada situa<;ao descrevia
midamente urn problema que os sujeitos deveriam solucionar da forma que cons
rassem a mais justa. Nesse sentido, era-lhes solicitado que graduassem da mais j
para a menos justa as alternativas de solu<;ao propostas para cada situa<;ao, que
pondiam as tres normas de justi<;a em estudo (alem de urn distrator) .
A principal conclusao desse estudo refere-se a comprova<;ao empirica das
ses de Deutsch, em sua primeira testagem com sujeitos brasileiros, segundo as qua l
comportamento de justi<;a e situacionalmente determinado. Assim, a escolha do p
cipio de justi<;a que rege a reparti<;ao de hens e condi<;6es sociais entre os membra~
urn grupo e fun<;ao da natureza das rela<;6es interpessoais que o caracterizam e dos
jetivos principais que procura atingir.
Secundariamente, p6de-se concluir que o papel das variaveis de personalidadc
escolha da norma de justi<;a distributiva nao foi tao claro. As hip6teses que preconi
vam que individuos mais racionais e com maior necessidade de realiza<;ao pri
riam a norma de equidade nao receberam apoio empirico; em contrapartida, foram
tidos apenas indicios de que sujeitos mais afiliativos tenderiam a preferir o
igualitario de dist~ibui<;ao e que individuos mais racionais valorizariam mais a
294
d.1 IH'et'ssidadc cJo que os llH.' llO~ radonai-.. l ; ~se achado podc sc r intl'l pretacJo co mo
Jllll.l possfvc l prcfcrcncia de pcssoas mais racionais por equidade, uma vez que a necesIJ I.Id c, nas rela<;6es cooperativas de tipo assistencial, poderia ser tomada como urn cri1• 110 de aloca<;ao proporcional de recursos.
Em sintese, algumas tendencias gerais relacionadas a justi<;a distributiva no Brasil
podcm ser apontadas com base nesses e nos demais estudos dessa linha de investiga\ .\o . A primeira revela uma preferencia por distribui<;6es igualitarias de recursos (espe' l.dmente quando se trata de puni<;6es). Por outro lado, a escolha da equidade e mais
l1 l'q uente quando essa regra prescreve reparti<;6es iguais de recompensas entre os parll l'ipantes das situa<;6es sociais. 0 ponto de vista de Deutsch (1985) de que o compor1.un ento de justi<;a e situacionalmente determinado tam bern obteve apoio empirico en11 e os sujeitos brasileiros, o que significa dizer que as pessoas nao aderem a uma norma
de justi<;a e a aplicam em todos os tipos de situa<;ao. Ao contrario, o modo de se fazer
justi<;a pode variar, dependendo das caracteristicas de uma situa<;ao social particular.
1·inalmente, apenas alguns indicios foram obtidos quanto a uma possivel rela<;ao entre
1ra<;os de personalidad.e e a escolha da base de valor que deve regular a distribui<;ao dos
rccursos entre os membros de urn grupo, carecendo-se, ate o momento, de resultados
mais consistentes a esse respeito. Novas pesquisas precisam ser realizadas para que se
possa concluir sobre a pertinencia ou nao dessa rela<;ao, considerando-se, em especial,
os tra<;os repetidamente apontados na literatura como potencialmente relacionados a
co mportamentos de justi<;a. Tal e o caso, por exemplo , do locus de controle (UTNE
& KIDD, 1980), autoconceito ou autoes.tima (MAJOR & DEAUX, 1982), motiva<;ao a
rcaliza<;ao (ASSMAR, 1988; URAY, citado por MIKULA, 1980), racionalidadelemotivicJade e motiva<;ao a afilia<;ao (ASS MAR, 1988).
4.
Justi~a
processual: o processo de tomada de decisoes
Sempre que fa~o uma nomea<;:ao, frequentemente, estou criando pelo
menos um in grato e vinte descontentes.
Luis XIV
Ao Iongo de toda a se<;ao anterior, detivemo-nos na exposi<;ao e discussao da teoria e pesquisa em justi<;a, partindo da pressuposi<;ao de que as pessoas preocupam-se
basicamente com os resultados e recompensas que recebem nas varias situa<;6es sociais
em que estao envolvidas, utilizando principios de justi<;a distributiva, ora entendida
como unidimensional (a justi<;a e equidade), ora como multidimensional (a justi<;a
pode ser feita de varias formas, dependendo da natureza da situa<;ao social).
Durante a decada de 70, estudiosos da justi<;a passaram a questionar a enfase exclusiva dos modelos te6ricos apenas nos resultados das distribui<;6es de recursos, de295
l't 'lldrlltlo ,, II Itt,\ dt qtu "" qllt''> ltk., dr l" '·lh, .t t 11\oh 1111 t.unhl'lll , :dt' lll das decisnr ..
llll ., , llll'" '"""· os 111 oc rc/1 111r 111m :lll av(' o., dos q wu o., 1 Lt.., s,lot•o., t:tl)l' lccidas. Nesse sen li do.
as conn·pc,.· ol'S Hlllt'rion·-. Sl'l iam in completao., em s ua pn·1cnsao de ex plicar o fen ome 1u1
dajusti ~·a , o que levou ao dcse nvolvim ento de novas abordagens te6 ri cas, que dem:u
caram o chamado campo de pesquisa em justic;a processual, ampliando-se o foco d1·
analise da justic;a.
Leventhal (1980) propos uma abordagem, na qual integra criterios distributivos I'
processuais, vistos como igualmente relevantes para a determinac;ao do que e entend1
do como justo. Thibaut e Walker (1975), por sua vez, diferenciaram os sentimen lo'l
associados a justic;a distributiva e a justic;a processual, buscando especificar crite rio'l
objetivos que distinguissem uma da outra. De acordo com esses autores, as pessoa"
consideram como igualmente relevante na avaliac;ao da justic;a a questao da justic;a do"
procedimentos utilizados para a repartic;ao dos recursos em jogo.
Em linhas gerais, as teorias de justic;a processual afirmam que as pessoas se prco
cupam tambem com o processo pelo qual os resultados sao distribuidos entre os gru
pos ou entre os membros de urn grupo. Assim, alem de avaliar a justic;a dos resultacl w•.
elas avaliam a justic;a dos procedimentos, is toe, dos processos de tomada de decisao
adotados para a determinac;ao desses resultados. Implicita nessa concepc;ao esta a idciu
de que as pessoas sao propensas a aceitar como justas situac;oes em que recebam res ul
tados que lhes sao desfavoraveis em func;ao do processo atraves do qual esses resuha
dos derivaram. Em sendo assim, e bastante provavel, por exemplo, que uma pessoa Sl'
sinta injustic;ada se perde uma disputa por urn bern material para alguem que usa d1•
meios ilicitos ou da forc;a, mas ela pode achar justa essa mesma perda se, por exemplo,
urn juiz de causas civis decidiu que esse bern, por direito, pertence a outra pessoa.
A semelhanc;a da teoria da equidade, a teoria da justic;a processual foi alvo de mui
tas objec;oes. Dada a orientac;ao instrumental predominante nos modelos psicol6gicos,
que veem o homem como exclusivamente motivado para, sempre que possfvel, max i
mizar seus ganhos, essa nova visao parece ser contraintuitiva. Os crfticos afirmam st·r
dificil acreditar que urn resultado negativo ou indesejavel seja visto como aceitavd
simplesmente pela forma ou processo com que se chegou a ele.
il ll'i.
il .\11
Po1 outm l.1do, nl\ulo-. p'> lcologo-. .td vt'lll'lll que as pcssoas, 11:1 111:1101 ia das vezcs,
r on-.d(' nd a da-. bases em que sc apoiam seus comportamentos.
1!' 111
A teo ri a do controlc da justi c;a processual de Thibaut e Walker (1975) baseia-se no
l'" ·s-. uposto de que as interac;oes sociais sao movidas por motivos instrumentais. Em
111111 a-. palavras, as pessoas sao motivadas pelo autointeresse quando interagem com
1' 1l'> o.,e mclh antes. No entanto, o atendimento desses interesses requer, em geral, co, 'I" I ilC,.' <.\0 mutua, porque, se assim nao fosse , haveria permanentemente "uma guerra
,1, 1odos contra todos". N esse sentido, a justic;a e importante porque ela "regulariza" as
i 11 111;u,;<les sociais: as pessoas desenvolvem sistemas mutuamente aceitos de distribui, ''' de recursos, cujas regras sao codificadas em termos de justic;a. A conformidade a
. .,,.., regras, no entanto , s6 se da se observa-las atende seu autointeresse. De tudo isso
1 dl'C iuz que , ainda que as pessoas se importem com a justic;a, essa preocupac;ao esta a
1 1vtc,;o de seus esforc;os para maximizar seus pr6prios ganhos na interac;ao, presenian'' " ,,.., relac;oes de troca mutuamente proveitosas.
De acordo com esses mesmos autores, as pessoas julgam a justic;a dos procediment•h , .tva liando o grau de controle direto (resultado) e indireto (processo) que tais prol ' dtm entos lhes propiciarao sobre a soluc;ao das disputas que mantem com uma outra
I'·'' II' . Sua preferencia e sempre pelo controle direto, mas admitem o indireto quando
l'k I' necessaria para solucionar os impasses.
l'hibaut e Walker (1975) apresentaram urn programa de pesquisa sistematica soIHt lllStic;a processual, partindo da hip6tese de que as pessoas fazem avaliac;oes distin1,1, quanto ajustic;a dos diferentes procedimentos de tomada de decisao. Tomando por
h,i'•t' o contexto de resoluc;ao de conflitos entre partes, no qual a decisao cabia a uma
lt.' Hl'i ra parte, esses autores abordaram tres questoes principais em relac;ao a justic;a
,,,., procedimentos disponfveis para p6r fim a disputa, as quais envolvem importantes
••Ih't'los psicol6gicos.
A prop6sito do ceticismo dessa posic;ao, Tyler et al. (1997) comentam que ela paren•
estar em consonancia com a opiniao de juizes e administradores, que julgam que as pes
soas se importam tao-somente com a favorabilidade de suas decis6es, e nao com os pro
cedimentos que usaram para chegar a elas. E mais, quando as pessoas sao entrevistadas r
co nsultadas sobre os procedimentos que desejariam fossem adotados nas resoluc;oes d..
ro nflito de que participam, elas declaram apenas que desejam veneer e avaliam suas ex
11eriencias apenas em termos do quanto ganharam ou perderam com as decisoes to rna
1:m primeiro lugar, quando e como as partes em conflito escolhem o tipo de interllll'diac;ao externa (mediador,juri, por exemplo) que preferem seja usada para resolver
1 .ltuac;ao. Os resultados revelaram que as pessoas relutam em recorrer a autoridades e
11 o lazem quando se sentem incapazes de resolver a disputa atraves de negociac;ao
1n ••pria. Segundo os autores, essa relutancia deve-se principalmente ao desejo de man'' 1 1 ontrole pessoal da situac;ao, que e a melhor maneira de maximizar os resultados
11111 podem obter. Contudo, quando a disputa precisa ser resolvida de forma rapida e
q11.llldo os interesses das partes sao muito divergentes, elas acabam transferindo o coni !I til' da situac;ao para uma terceira parte. Thibaut e Walker (1975) demonstraram aintl.t que os julgamentos de justic;a processual exercem importante influencia na escolha
th•., procedimentos. Segundo eles, as pessoas nao escolhem os procedimentos simples-
296
297
nlcil1t IHIHIIII .\ltnli1 :un ljlll ,1r., lltr., pt'lllli111.\0 \ltlrl!l, 111,1.,, """ · lllllqlll' os 111
ju.,1o.., ,. pot ""POll Ill qu• In .u ;Ill il ,,•..,ullado.., pto.,llh.
Em segundo lug:tt , .dHmhu.un o julgamen1o objctivo que a~ pcssoas fazem solu
justir;a dos varios procedimen1o~ de rcsoluc;ao de connitos, comparando a penT p\
das pessoas no que se rcfere a dois tipos basicos de sistemas legais (o sistema c n1
cada parte tem seu advogado eo juiz e neutro eo sistema em que ha apenas um ad
gado para ambas as partes, que investiga e relata toda a displlla, e um juiz que prot
aos interrogat6rios) . Com base nos resultados colhidos, Thibaut e Walker (1975) n
cluiram que o primeiro sistema e visto como objetivamente mais justo que o seg111
em varias dimensoes, incluindo o favorecimento da parte em desvantagem na cok1.11
evidencias (busca e transmissao de fatos) e a eliminac;ao das tendenciosidades pre 1
gamento (combate as tendenciosidades externas) .
A terceira questao diz respeito ao modo pelo qual as pessoas reagem subjc11
mente aos diferentes procedimentos de justic;a. De um modo geral, os achados ind H
ram que essas reac;oes sao influenciadas por seus julgamentos de justic;a proceso., t
Em pesquisa experimental, em que manipularam a culpa, o resultado do julgame n1 n
o tipo de procedimento nele usado, atraves de diversas combinac;oes, os resultados.,
geriram que as pessoas se sentirarn rnais satisfeitas quando avaliararn como ju~ 1 11
procedimento adotado, independentemente do resultado do julgamento.
As pesquisas por eles desenvolvidas forarn realizadas ern situac;oes reais de ju l
rnentos ern tribunais, corn as pessoas diretarnente envolvidas nas disputas judici.t
sendo-lhes perguntado , por exemplo , como avaliararn a justic;a do seu julgamento
enfase desses estudos era principalmente dirigida para a natureza reativa da justi(;a,
nao a natureza pr6-ativa, ou seja, buscava-se entender como as pessoas avaliava m u
procedimentos legais utilizados na resoluc;ao dos conflitos, e nao que procedimc n1 u
deveriam ser considerados. Em todos os casos estudados foi constatada a importa nd
dos julgamentos de justic;a processual sobre a avaliac;ao das decisoes e resultados al
canc;ados na resoluc;ao das disputas entre as partes.
Ap6s a publicac;ao dos trabalhos desses autores, muitas pesquisas foram realizada
como objetivo de avaliar as consequencias subjetivas envolvidas em graus variados d
justic;a dos procedimentos, tendo sido demonstrado que, alern de irnportantes ern v;l
rios contextos, ambos os tipos de justic;a- distributiva e processual- relacionararn -..,l'
significativamente com a satisfac;ao pessoal com os resultados recebidos a partir da in
tervenc;ao de uma terceira parte (LIND&: TYLER, 1988; TYLER&: LIND, 1992).
De acordo com Tyler e Smith (1998), ainda que o modelo de Thibaut e Walhr
(1975) tenha sido muito importante para o desenvolvimento da pesquisa nessa area,
ele tinha um carater relativamente restrito na medida em que se limitava a focalizar o'l
criterios de justic;a processual em questoes de controle entre as partes conflitantes c a
terceira parte. Assim e que esse modelo distinguia dois tipos de controle nessas situa
•tllltllll do ptlll ,...,.,11 , qttt' ..,,. ttlt•tt' ;, l' 'lt't\o.,;lo l' ;\ nalun·w do rutlltllk dao., par·
l oljlll "l' lll:tt;;\l) dao., l'VIdl' llt'laO.,, l' II l'Oilti"Oic da decisao , que di z rcspeitO a exlie 'I ll!t1tllt'2':1 do controlc das partes sobre as decisoes tomadas.
'' ""'"' lu de justi <,; a processual de Leventhal (1980), segundo esses mesmos auli"' -~·1111 ,1 o.,e como de maior alcance para a avaliac;ao dajustic;a dos procedimen1H it di •at11 g11tr scis regras basicas que operariam nesse contexto:
I ll , "" ' "tt·ncia entre pessoas e no tempo, o que faz com que os mesmos criterios
q .u11 11111.,idcrados quando sao decididas, por exemplo, promoc;oes para todos os
1 ilqtll
g.1dos de uma organizac;ao;
1
'
''l"cs
siw de tendenciosidades, que envolve o descarte de interesses pessoais e
1
It .•1.1qu e, por exemplo, jufzes retirem-se de casos em que seus interesses finan•' i '"" t•stejam envolvidos;
( I l I" !'I isiw no uso de informac;oes corretas e fidedignas e de opinioes hem funda-
itlllll.tdas;
t I l pm sibilidade de corre~;ao, que permite que outras autoridades tenham condic;ao
,1, 1110dificar decisoes ou tomar decisoes contrarias (recursos e apelac;oes sao um
lt~t llt
cxemplo);
1·;) 1cpresentatividade, que propicia que os interesses e valores de todos os envolvi"''" scjam considerados nas varias fases do processo (criterio semelhante a con' 1p~,· ao de controle de Thibaut e Walker, acima referida);
(ll ) ctica, que envolve a compatibilizac;ao com os valores morais e eticos fundatllt'ntais (o nao uso de tortura em qualquer julgamento ainda que ela possa levar a
t11lormac;oes valiosas) .
Ik urn modo geral, as evidencias empiricas trouxeram apoio aos pontos de vista
h I 1 vc nthal de que os julgamentos de justic;a sao multifacetados. As pessoas usam, de
ltll•• . tuna serie de criterios processuais para avaliar ajustic;a das decisoes de autorida•h"•, ll'gais ou empresariais, valendo-se da maioria dessas regras. Um estudo de Bar" 1 lloward e Tyler (1986), em que foram comparados diferentes criterios processuais,
.It tllonstrou que os julgamentos de controle de Thibaut e Walker foram vistos como
Htrttos importantes do que quatro dos criterios de Leventhal: consistencia entre as pes''·'"· precisao, etica e supressao de tendenciosidades (TYLER&: SMITH, 1998).
, A fenomenologia da iniusti~a na vida diaria
Niio e porque se teme comete-la, mas e porque se teme sofre-la, que
se condena a injustic;a.
Platao
299
298
'I rt" 1,1 do~ hplld , ult ho~j.t v'"'·' ,, 1
ll ' ll <; ;t olll\ld , ult t \JH 111111/ll ,d 'oldl '> t IJIIIIIII
lkttl '> ( 11 ( JI) H'>) H'> .,lll;doll Ulllt'l:ll /1 1' 11
que "pralil':llltl'llll' ll;lo h.t JH " IJIII '> dlda< io11ando a ll'llOIIll' llologi;l da inju'>tic;a :h "' I
ricncias rcai ., da'> Jll''>'>oa .. que llllltgl'm ou ~olrc111 inju., ti<,;a" (p. 132) . De igual1 nnt
poucos sao os cs tudos di~ pon1vcis para a comprecnsao da sc nsibilidadc difcrcn< 1,d
injustit;,: a por parte de vllimas e de vitimadores.
· -~ . m
nn '> lilnlt -'' 1111 g.IW
I \ ,tl, 11
l11 till S I it'n d.t
Em consequencia dessas lacunas, e ainda reduzido o conhecim ento sobrc as ~'' Jl
riencias subjetivas de injustit;:a. 0 que, de fato , as pessoas pensam e sentem quan do
confrontam com eventos injustos, e como essas cogni~;_:oes e sentimemos oric nt .llll
suas a~;_:oes?
A linha de estudos sobre a fenomenologia de injusti~;_:a na vida dhiria busca cxa ta
mente responder a essa indaga~;_:ao , partindo dos relatos das pr6prias pessoas sobrl' a
experiencias de injustit;,:a que sofreram ou de simula~;_:oes de situa~;_:oes de injustit;,:a vivl
das no cotidiano e solicitando-se aos sujeitos que descrevam os pensamentos, sc n11
memos e a~;_:oes por elas suscitados.
Aluz dos estudos de Deutsch (1985) acerca da fenomenologia da injustit;:a, atravt1;
de metodologias diferenciadas, torna-se mais facil emender o porque de sua crilica II
Psicologia Social dajusti~;_:a, tal como desenvolvida pelos te6ricos da equidade_Segun
do ele, a abordagem da justit;:a tern sido muito psicol6gica e insuficientemente sociop.'> t
col6gica. Is to e, ela focalizou o individuo, ao inves da imera~;_:ao social, na qual a justi~·;•
emerge. A justi~;_:a nasce do conflito: os valores e procedimentos que a definem desc n
volvem-se atraves do processo de barganha pelo qual ela e negociada.
Em estudo explorat6rio em que compara os significados subjetivos da injustit;,:a e da
frustra~;_:ao, Deutsch ressalta o carater social e moral da injusti~;_:a, na medida em que sao vi
oladas normas sociais (valores, regras, procedimentos) que definem o que e jus toe o que 1'
injusto_ Assim, a experiencia de injustit;,:a e mais do que pessoal, pois afeta o individuo
tambem como membro de urn grupo social e a tinge ate os demais membros desse grupo.
Com base em uma serie de outras pesquisas sobre o sentido da injustit;:a, esse mesmo au tor destaca dois aspectos principais: a maior sensibilidade a injusti~;_:a por parte das
viti mas do que dos beneficiarios, e que se pode tornar ainda maior se houver apoio social
para o reconhecimento da injustit;:a e opt;,:6es viaveis de mudan~;_:a; a importancia dos fa tores ideologicos na percep~;_:ao de desigualdades como injustas e na promidao para apoiar
mudan~;_:as sociais com o objetivo de eliminar tais desigualdades.
Para Mikula (1986), dificuldades de ordem metodol6gica e etica justificam, ate
certo pomo, o conhecimento restrito sobre o que pensam e sentem as pessoas quando
se percebem injustamente tratadas por outras. A fim de dar coma dos processos e contcudos cognitivos e afetivos subj acemes a percep~;_:ao e rea~;_:ao a injusti~;_:a, ha que se recorrcr aos autorrelatos das pessoas, seja atraves de relatos retrospectivos de experien-
300
~- Jl •I'>O.,,td.t '>
dt• IIIJII '> II ~ ;I , '> I' J•I .III,I VI' '> dt • In lli( ,l'> pa ...... lv a o., dl' 1()/r JIIII Y III ,~, ll' ltdo l' lll
llllpl'dinH' IltO'> l'tl l'O.,, ou o.,c uidado.,cx trcmos implicados na provo ca~ao dcli1" 1,u l.1 de s i1ua<;lk'> de inj u~ ti<,;a via mctodo experimentaL
,- ' ' ' ll'>
A analise comparaliva da pesquisa experimental em justi~a (teoria da equidade)
, 11111 .1 pc<>quisa nao-expcrimental sobre a fenomenologia da injustic;:a na vida diaria , em1'' '' ndida por Mikula e colaboradores (MIKULA & SCHLAMBERGER, 1985; MIKULA,
I' HH1 , MIKULA , PETRI & TANZER, 1990) , revela pontos de contato entre ambas, mas,
l111 11 1amentalmente, aponla para divergencias que merecem reflexao cuidadosa.
I omando como ponto de partida os pr6prios conteudos oferecidos pelos particil'·ll tl cs de suas pesquisas acerca de suas vivencias reais de injustic;:a, esses autores proJHII ' Il1 urn sistema de classifica~;_:ao dos tipos de injustit;,:a, analisando ainda as in11 1 rcla~;_:oes entre cogni~;_:oes , emoc;:oes e ac;:oes reportadas pelos sujeitos. A partir desse
'" "I ro nto, concluem pela discrepancia 6bvia entre os eventos reportados e as situa' t H''> de injustic;:a tipicamente consideradas nas pesquisas previas em equidade. Em prilll l'iro lugar, as pessoas usam o termo injustic;:a de forma mais livre e mais ampla do que
,,., psic6logos sociais, em geral, o fazem , ainda que alguns dos eventos descritos como
IIIJ UStos sejam consistentes com a compreensao cientifica do fen6meno. Em segundo
Ingar, o tipo de injustic;:a mais frequentemente relatado foi " acusa~;_:ao injustificada" ou
.11 r ibui~;_:ao indevida de responsabilidade", seguido de " avalia~;_:ao injusta" ou "nao rero nhecimento de performance e de esforc;:o", e como terceira categoria mais frequente,
,, "violac;:ao de promessas e acordos". Poucas vezes foram mencionadas questoes de paga mento injusto ou distribui~;_:ao de bens materiais, comumente usadas por pesquisadores da teoria da equidade_A grande variedade de eventos descritos como injustos
pclos sujeitos, ampliando consideravelmente o significado do termo injustic;:a, indica a
necessidade de aprofundarem-se os estudos da fenomenologia da injustic;:a para que se
possa alcan~;_:ar uma conceitualiza~;_:ao mais refinada dessas experiencias.
Por outro lado, as consequencias dos eventos injustos especificadas pelos estudos
de Mikula e colaboradores, bern como os dados referentes a mudanc;:a, ou nao, do julgamento do evento ao longo do tempo , parecem estar em desacordo com a pressuposi<;ao da teoria da equidade de que as pessoas injustamente tratadas restauram a justi~;_:a ,
comportamental ou cognitivamente. Apenas poucos sujeitos conseguiram restaurar
ativamente a justi~;_:a, mas a maioria deles nao mudou sua percepc;:ao do evento, continuando ainda a se sentir injustamente tratada, mesmo tendo decorrido algum tempo
do evento.
Os resultados obtidos com relac;:ao a impossibilidade ou inutilidade de agir contra
o tratamento injus to demonstraram que muitas pessoas tendem a se resignar dian te da
injustic;:a; elas nao negaram a ocorrencia da injustit;,:a e nem sua importancia, mas simplesmente nao consideraram a hip6tese de intervir diretamente contra ela. Esse achado e de vital importancia se comparado a inevitabilidade de se fazer algo, real ou ps ico301
ltlgh .ttlllllll , jl.ll':t" lt'l11illll.tt.ll1 d.trqllltl.llk , p1t'Vi'<l.l ptl.tlttlll,t A 1\'"o ignw,.to ,10 p111
p1111 dt"o\11111 p.tll I I! Sl ~ llllllot.tiiiiii,IIIV;t Vl,ivtltit: ll"ol.ll\1,11,;, 111 d.tlll"oll\,':l , alent dao., <1\,'IH •,
t'll lttpt' lhitiO II.I '> OU da..; dl'o(III(,.(H''> I 0).\lliliva~ .
Finalmcntc, a .. rc-.pll'>lao., l'lllOCionais a injusli\;a, indicada-. pclos panicipantes tl;h
pesquisas, coincidcm com as proposic;oes clos le6ricos da cquidade: raiva, 6clio e indig
nac;ao consliluiram, de falO, as emoc;6es mais frequentemenle mencionadas pelas v111
mas, ainda que muitas outras emoc;6es, fenomenologicamenle diferentes, tenham skin
reportadas, como por exemplo, surpresa, desamparo, tristeza.
Como objetivo de comparar os resultados obtidos por Mikula (1986) com sujci
tos austrfacos, Assmar (1997) reporta pesquisa realizada no Brasil sobre as experiencia'>
de injustic;a na vida diaria, baseando-se, porem, nos relatos de tres diferentes grupo~
sociais. A diversificac;ao dos grupos, segundo a autora, decorre da presunc;ao de que a
natureza e a tipicidade das experiencias poderiam variar de grupo para grupo e, assim,
afetar suas percepc;oes de injustic;;a. Tal procedimento vern ao encontro do ponto de
vista do proprio Mikula, que adverte sobre o possivel carater restritivo de suas conclu
s6es por estarem apoiadas apenas em relatos de estudantes universitarios.
Os dados colhidos com 297 sujeitos (99 adolescentes, 100 estudantes de psicologia e 98 funcionarios de uma organizac;;ao publica) foram analisados com base no sistema de codificac;;ao propos to por Mikula, adaptado e ampliado para dar conta das especificidade dos conteudos oferecidos pelos sujeitos brasileiros.
De urn modo geral, os principais resultados obtidos nesse estudo replicam os
achados de Mikula (1986) no que se referem a:
(a) Grande variedade de eventos descritos como injustos, com a maior incidencia
de associac;;oes entre injustic;;a e "acusac;ao injustificada ou atribuic;;ao indevida de
responsabilidade"; concluindo-se, portanto, pela nao exclusiva conexao entre injustic;;a e ausencia de equidade.
(b) A especificidade de certos eventos injustos em func;;ao do tipo de grupo social,
como por exemplo, "punic;;ao injustificada" entre os adolescentes, "avaliac;;ao injusta ou nao reconhecimento do desempenho" por parte dos dois grupos de estudantes e "traic;;ao de confianc;;a", enfatizada pelos adultos.
(c) Embora Mikula tambem tenha registrado tendencia similar em sujeitos austriacos (mas nao tao acentuada) , a passividade diante da injustic;;a constituiu o
dado mais significativo da pesquisa brasileira por sua extrema recorrencia no conjunto dos relatos; os dados brasileiros com relac;;ao a inutilidade de agir contra o
tratamento injusto demons tram que muitas pessoas tendem a se resignar diante da
injustic;;a; elas nao negam a ocorrencia da injustic;a, nem sua importancia, nem sequer as consequencias negativas que se seguem, mas, simplesmente, nao conside-
302
it ldt'l.l dt• lllli'IVII dtii'I.IIIH' IIII 11,\ "olltt,\(,.iiO,I''>'>I ollt,ttlll~ dt \ 11 1d 1111!1111(,\llli.t
'•t'IOttlrontado t"O IIl :1'> propO'ol\.iH''> da ll'OIIa da equ id , k , '>tJitlldtl ;h qtt,\1'-. ,,., pt ..,
o,oa-. .\ CIIIfJI<' huscam rcstabclcccr a justic.;a, real ou ps ·1)) ).\11~\llli'lllt 'lr11.1 l''>'>:t
pa-.s ividadc uma caractcnstica mais upica da cultura brasiltira? Mas '>t' M1kula
.dirma, por conta de resultados empiricos com estudantes auslriacos, que a rcsignac;ao ao pr6prio destino tambem pode ser vista como uma alternativa viavel de
IT'>Laurac;;ao da justic;;a, fica ai em aberto uma indagac;;ao, que somente estudos
1ranscuhurais poderiam responder.
1",1111
(d) A grande incidencia de resposlas emocionais de raiva e 6dio constituiu apoio
empfrico adicional a predic;;ao da Teoria da Equidade quanto ao distress da vftima.
No en tanto, a ocorrencia consistente de outras emoc;;oes (tristeza, magoa, surpreo.,a, perplexidade) sugere a necessidade de tambem considera-las na conceitualizac,;ao das experiencias de injustic;;a; conclui-se, entao, que a percepc;;ao de injustic;;a
pode tambem gerar emoc;;oes mais passivas, o que, de certo modo, permitiria explicar tantas reac;;oes de resignac;;ao a injustic;;a sofrida.
sumo
Abordamos neste capitulo o fenomeno do justic;a/injustic;a tal como vern sendo estudado pela chamada Psicologia Social do Justic;a, de origem recente, mas ja
constituindo urn campo autonomo de estudos no ambito das disciplines que tratam dos problemas do homem em sociedade.
Ap6s a apresentac;ao inicial do incontestavel relevancia do tema, trac;amos urn
panorama geral das principais formes que o estudo do justic;a vern assumindo no
Psicologia Social e que, de certo modo, representam uma sequencia evolutiva no
teoria e pesquisa sobre o fenomeno .
No discussao dos diferentes enfoques te6ricos sobre a justic;a, maior enfase foi
dada a justic;a distributive, particularmente a teoria do equidade, pioneira do estudo sistematizado do fenomeno e ainda hoje referencia obrigat6ria nos publicac;oes especializadas sobre o assunto.
De forma complementar, foram apreciadas as formulac;oes te6ricas do concepc;ao multidimensional de justic;a, que amplia as possibilidades de se fazer justic;a para alem do utilizac;ao do regra do equidade. Tal concepc;ao parte do pressuposto de que outras normas de justic;a, principalmente a igualdade e a necessidade, podem constituir a base de valor para a repartic;ao de bens e condic;oes sociais
(alem do propria equidade), dependendo do natureza das relac;oes sociais e dos
objetivos que OS varios grupos buscam atingir.
De forma menos extensive, foram abordadas as principais tendencies de estudo no campo do justic;a processual, procurando-se, inicialmente, distingui-la do
303
j11 \ l II., II dl .. tII hut lVI I flU! Cl . <II II '•"11111110 , ( O ll 'i ld OI Ul C..O ill O 0 lllbCl '> 'iO i llf O JI lCJ(II II Ill II lill.
u1tl11lud o oxpliwtivo du fon6 tiii11Hl du ju:.tic;o .
o., o<,lud o'> '>O bro o fon oiiHJilolog io do injustic;o no vida di6 rio constituh 11111
t01coiro por:.poctivo do Oll(Jii o;o consid erodo nesto capitulo.
)) ( ll lll O U\
(lbOr do {JO I\ ~ unicfiiiiOII'•IOIIUI 0 rn u ft idimOil'> iOilOI acJ dt 'IIIIIIJIIIII II IIU (Oil
copc;oo do ju sti c;o?
I) l.xponho brovomonto a s formul oc;oos do tcoria do equ ido do acorco do percepc.CJO o rooc;6o a injusti c;o, fozendo uma analise critica de seus pressupostos .
'•) lndiq uo o discuta as crfticas moi s importantes dirigidas
Sugestao de leituras complementares sobre justi~a
a teoria
do equidade.
f•) Quais as hip6teses gerais de Morton Deutsch sobre a escolha do bose de valor
quo re gula a distribuic,;ao dos recursos sociois nos varios tipos de relac,;oes coo-
ADAMS, J.S. {1965) . Inequity in social exchange. In : BERKOWITZ, L. (org .). Advanc
xpe rimental social psychology. Vol. 2. New York : Academic Press, p. 267 -299 .
porativas?
/) Qua l a diferenc,;o fundamental entre justic,;a distributive e justic,;a processual?
ASSMAR, E.M .L. (1997) . A experiencio de injustic,;a no vida diario : Umo analise pr olunl
nor em tres grupos sociois. Psicologia: reflexao e critica, 10, p. 335 -350 .
II) Quais as semelhanc,;as e diferenc,;as nos resultados obtidos pelas pesquisas empf-
_ _ (1995) . Percepc,;ao e reac,;ao a injustic,;a no perspective do vftimo : umo propo'IIU
do abordagem integrodo. Arquivos Brasileiros de Psicologia , 47, p. 59-80.
ricos sobre a fenomenologia do injustic,;o no vida diario relativamente aos obtidos pelo pesquisa previa em equidade?
DE UTSCH , M. {1985). Distributive justice : A social-psychological perspective. New Hn
von : Yale University Press.
HO MANS, G . (1961 ). Social behavior: Its elementary forms. Nova York : Harcourt, Bra
co and World .
MIKULA, G . (1986) . The experience of injustice: Toward a better understanding of itt
phe nomenology. In : BIERHOFF, H.W ., COHEN, R.L. & GREENBERG, J. (orgs.). Justice in
inte rpersonal relations. Nova York: Plenum Press.
MIKULA, G . & SCHLAMBERGER, K. (1985) . What people think about an unjust event:
Toward a better understanding of the phenomenology of experiences of injustice. Eu rop ean Journal of Social Psychology, 15, p. 37-49.
TYLER, T.R., BOECKMANN, R.J ., SMITH, H.J. & HUO, A.Y.J. {1997) . Social justice in a diverse society. Colorado : Westview Press [A Division of HarperCollins Publishers] .
TYLER, T.R. & SMITH, H.J. (1998). Social justice and social movements. In : GILBERT,
D.T., FISKE, S.T. & LINDZEY, G. (orgs.) . The handbook of social psychology. Boston : The
McGraw-Hill Companies, p. 595-629.
WALSTER, E., BERSCHEID, E. & WALSTER, G.W. (1973). New directions in equity research. Journal of Personality and Social Psychology, 25, p. 151-17 6.
WALSTER, E. & WALSTER, G.W. {1975). Equity and social justice. Journal of Social Issues, 31 , p. 21-43 .
Sugestao de questoes para trabalhos individuais e em grupo
1) Que diferenc,;as basicos voce ve no estudo do justic,;o pela Psicologia Social e pelo
filosofio moral?
2) Como voce resumiria os principais campos de estudo do justic,;a pelos psicologos
sociois e quais as carocterfsticos gerais do foco de analise de coda um deles?
304
305
lljt ~ iln~ tkvc :t i:1111
11
Atro~fio interpessool
A paixao e a primeira a surgir c a primcira a dcsapqrccct. L1
inlimidade necessita de mais tempo para se desenvolver, co
compromisso, mais ainda.
Robert]. Sternberg
Nos, pessoas human~, ~os "animais SQJ:iais". Necessitamos de. convfvio LL'
nossos semeih:ntes, nao obstante ~artre ter dito na pe~a Huis Clos (Entre quatro pat
( ~es) que o "inferno sao os ou~os''/l.O estado de isolamento nos provoca ansiedadr
~ndo ansiosos, procuramos no~roxin:ar de outras pess~s . ..s.tan.ky_Schacl!.!_c
~ conduziu estudos muito interessantes sobre este ponto. Em sua monografia~b o 111~
j I_? A psicologia da cifiliaf;iio.; Schachter (1959) relata varios estudos sobre o assuntQ. ()
ponto central da monografia e a resposta a pergunta "por que as pessoas se associa111
outras?" Ap6s rever alguns estudos que dizem respeito ao assunto, o au tor recorre at''
t udos acerca das experiencias de pessoas que passaram longos periodos em isolamcntu
total ou quase total (eremitas, prisioneiros de guerra, etc.). Jres conclus6es podem ~n
tiradas destes estudos: 1) 9..uanto mais ~ssoa fica isolada, mais aumenta a desagr~.da
bilidade eo drama do isolamento. Ap6s atingir urn maximo de intolerabilidade, e~h·
· estado desconfortavel decresce transformando-se, mais ou menos, em urn estado de•
apatia; 2) parece haver uma tendencia nas pessoas em isolamento a sonhar e pensar
de modo alucinat6rio acerca dos outros.;_ e 3) as pessoas em isolamento que consegucm
manter-se ocupadas de alguma forma parecem sofrer menos e tender menos ao estado
de apatia (SCHACHTER, 1959, condensado das p. 7 e 8).
-
-
Apesar de os estudos revistos por Schachter nao resolverem o problema do porqut'
da necessidade de associa~ao a outras pessoas (com exce~ao do trabalho de FESTINGER,
RIECKEN & SCHACHTER, 1956), tais estudos mostraram que as pessoas de fa to necessitam de outras e que, quando privadas do contato social, elas experimentam
\ uma situa~ao de grande descoi:lfoL~;o.;
\__ Continuando em seu estudo do problema, Schachter conseguiu alguns voluntarios
que desejassem submeter-se a urn experimento sobre as consequencias do isolamento
social, devendo para isto confinar-se num quarto totalmente fechado onde recebiam
com ida apenas (a alguns foi permitido levar alguns jogos para distra~ao), e eram pagos
a razao de lO do lares por dia durante os dias que conseguissem ficar nesta situa~ao. Os
-
Ita II' I 11,1 p.11 nit dP q11.t1IP qtt.tlldo .It h.t-.-.c 111 qm· :t 'l illt.u,.lll 1 1.1 p111
k111.ti., llttolnavc·l e qtll'>t'<,'>(' lllt' llt.lo -..u1 do quat to de i-.oh111111l1o . Nilo hiiVI:liiO quilt
lti dt l'.. olanH·nto nada que pudc:-.o.,e , de re•ta forma , substitu1r a prt:st:tH,;a de pcssoas,
HI • 'omo radio , livros, etc. Dos 5 sujcitos que participaram do cstudo, 1 LOicrou apcli,l • duas horas, 3 agucntaram dois elias co quinto manteve-se em isolamento durante
1llltt dias. A,? entrevistas conduzidas com estes cinco sujeitos ap6s o periodo de isolalilt 1110 mostraram a necessidade de controlarem-se muitas outras variaveis e Schachter
, lu gou a conclusao, ap6s este pequeno estudo piloto, que necessitaria de cerca de 11
11tno., para conduzir urn experimento realmente adequado para a investiga~ao das val Uvds que tern influencia no processo de associa~ao com outros . .lli:na informa.9<iO.J2,£,, IIl , foU:laramente revelada por este estudo piloto: todos os sujeitos experimcntaram
lt,t..,lante ansiedade d·~ante o peri~e i;ola~ent;. Schachter en.tao decicliu abandon.u a estrategia experimental que pensava utilizar e resolveu investigar o prohlcma de
tilt Ira forma. _Se o is~lamento co11duzia as pessoas a urn estado intenso de ansicdade,
,, ria razoavelleyantar.ahip6tese
de .ffile....diferentes
condi~6es de ansiedade lcvat iam ao.,
....
.
. 7
....__
Com grande satf..,ra<:nn
1le abandonou a estrategia experimental de colocar as pessoas em quartos isolado.., 11a..,
rondi~6es acima descritas e recorreu a outro processo bern mais satisfat6rio ao Cl\pt'tl
111cntador e aos sujeitos, tal como veremos a seguir.
Schachter (1959) manipulou, no primeirp experimento de uma serie que se ~l'glll
ria,dois niveis de ansiedade: ~lta e baixa. Fe-lo da seguinte forma: estudantes univct..,tl.t
rios do sexo feminino que nao se conheciam compareciam a uma sala onde urn ind1v1
c.luo com ar grave, vestido com jaleco branco, com urn estetosc6pio saindo de seu bol o.,t 1,
c tendo atras de si urn complexo aparato eletr6nico, apresentava-se as mo~as como o.,('ll
do Dr. Gregor Zilstein, do Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Escola de Mnlt
cina. 0 experimentador acrescentava que ele tinha solicitado as estudantes que vieso.,nt.•
) participar de uma experiencia que estava conduzindo acerca dos efeitos do choque t'lc·
trico. Em seguida, o Dr. Zilstein falava brevemente sobre as pesquisas conduzidas pa1.1
verificar os efeitos dos choques eletricos e conclufa desta forma:
0 que lhes pediremos para fazer e muito simples. Gostariamos de dar uma sc
rie de choques eletr!fos_em cada uma de voces. Bern, eu creio que devo ser totalmente honesto com voces e lhes dizer exatamente o que as espera. Esses
choques vao doer, eles sao dolorosos. Como voces podem imaginar, se pretendemos, numa pesquisa deste tipo, aprender alguma coisa que realmente
ajudara a humanidade, e necessario que nossos choques sejam intensos. N6s
colocaremos urn eletrodo em suas maos, o prenderemos a urn instrumento
como esse [Zilstein aponta para urn pseudoinstrumental eletrico atras de si I,
daremos uma serie de choques e tomaremos medidas tais como batidas de
pulso , pressao sanguinea, etc. Novamente, quero ser honesto com voces c
'
306
307
1111'~ dt zt•t qur 1•,11·~ ''""I"' '• ..,rt.tllli.t~t.lltl\· dlllwo~os, 111.1S , 1\ rl.uo,
11,\111
s:u.lo ncnln111l d.1110 pt•ttll;lllllllt'
Esta condir;ao constitufa a condir;ao de ansiedade aiLa. A condi~·<lo de an-.kd
.baixa era semelhante a esta, porem nao havia aparelhagem elctronica na sa la dn I
Zilstein, e este dizia, ap6s ter-se apresentado as mor;as, simplesmente o seguin \('
"Eu lhes pedi que viessem aqui hoje para servir como participantes num cxpt·
men to que diz respeito aos efeitos do choque eletrico. Eu me apresso em dizer-lhc-, qtl
nao se impressionem com a palavra "choque"; eu lhes asseguro que voces gostarao
experimento" (p. 13).
\
'
Ap6s esta introdur;ao, Dr. Zilstein falava da importancia das experiendas toll\
choque eletrico, tal como na condir;ao anterior, e concluia dizendo:
0 que lhes pediremos para fazer e muito simples. Gostariamos de dar uma"
rie de cheques muito !eves em cada uma de voces. Eu lhes asseguro de qui' 11
que voces sentirao nao sera de modo algum doloroso. Parecera mais com t 'l)
cegas do que com qualquer coisa desagradavel. N6s colocaremos urn eletrodo
em suas maos, daremos uma serie de cheques muito !eves e tomaremos mcd1
das tais como batidas de pulso e pressao sangufnea, medidas estas que, tenho
certeza, sao de seu conhecimento atraves de consultas medicas de rotina.
'
Como seve, ayrincipal caracterfstica do experimento, em termos da variavel.inik
pendente, era a tentativa de criar uma condir;ao em que os sujeitos deveriam ficar bas
~1 tante ansiosos pela perspectiva de uma experiencia desagradabilissima, e outra em qut·
a ansiedade deveria ser consideravelmente menor.
\__
0 unico ponto em que as duas condir;6es variavam era nas instrur;6es transcritas
acima. Daf por diante o experimento consistia dos mesmos passos para ambas as condir;oes, e eram os seguintes:
• solicitar;ao as S~ que indicassem como elas se sentiam em relar;ao a perspectiva
de terem que levar choque;
• pergunta asS~ se elas prefeririam esperar os 10 minutos que seriam necessarios
para a arrumar;ao da aparelhagem de choque a s6s, isto e, em quartos individuais
com poltronas, livros e revistas, ou numa sala maior onde mais de uma poderia esperar conjuntamente;
• solicitar;ao ass~ que indicassem 0 quanto elas preferiam esperar a s6s ou em conjunto, de vez que o numero de quartos individuais era limitado e todo o esforr;o seria feito no sentido de atender a todas de acordo com a intensidade de suas preferencias por uma ou outra alternativa.
11111 ft
d,.., It' 1 .t pllttlo , ott ..,, I· t, .tt 1111 l.t qt w :;t• 11:f't :11: ft p 11:It 11 111
'''' t ill
1.1
d:1~ ..,., dt ''"I" 1 .111' 111
nmjuuiO .
! h ll'" ttltados lllO!->Ir;u,unllllld.tllll'lllt' que a!> pessoas em cstado de ansicdade pretrllll '• jlnar em conjunto. l)a-, 32 ~~ na situar,.:ao de ansiedade alta, 20 escolheram esi oll 1 111 ronjunto, 9 disseram que nao faria diferenr;a, e apenas 3 preferiram esperar a
ll.ttlliH.lir;ao de ansiedade baixa, dentre 30 S~, 10 preferiram esperar em conjunto:..
Ill lllll..,ltaram-se indiferentes, e duas preferiram esperar a s6s. Estatisticas aplicadas
11 d.tdos indica ram sera diferenr;a entre as condir;oes significantes tanto no que :;ereh i, .1 d 1st ribuir;ao de preferencia por aguardar a hora da aplicar;ao do choque, como n..Q_
,,w: chz respeito a intensidade da preferencia (o_? mais ansiosos querendo mais intensalill.' llll' que os menos ansiosos aguardassem a hora do choque em conjunto).
Diante destes resultados, Schachter (1959) partiu para a i~stiga~ao das raz6esj
p.-l.ts quais.as pessoas preferiam associar-se a outras quando num estado de ansiedade.
1 1111..,iderou ele cinco raz6es plausiveis para os resulta<!os enco~trados2. a saber:
Possibilidade de ~ap.e: de fa to, as pessoas poderiam prefe_.tir e~perar com outras,
t'ltm de discutirem a situar;ao e verificar se poderiam, de alguma forma, escapar desta
lluar;ao provocadora de ansiedade. Convem esclarecer que, em experimento subseqttcnte ao descrito, Schachter verificou que havia uma direcionalidade especffica na
Jlrocura das pessoas com quem as S~ da experiencia gostavam de associar-se. Queriam
,t..,sociar-se com outras pessoas que estivessem na mesma condir;ao, e nao com quem
ll <io estivesse na situar;ao em que se encontravam.
9areza cog~ e razoavel contemplar-se a h~p6tese de que as pessoas em esta
do de ansiedade prefeririam esperar com outras a fim de, atraves de busca de esclareci
mentos, terem uma visao mais adequada da situar;ao e, quem sa be, tornarem-se meno..,
ansiosas devido aos esclarecimentos obtidos acerca da situar;ao a que iam submeter-se.
Redu.5ao direta da ansiedade: atraves do conforto prestado por uma pessoa a ou
tra, as pessoas na condir;ao de ansiedade alta poderiam preferir estar com outras mai..,
fQ!temente que as que estavam na situar;ao de ansiedade baixa, devido a sua maior ne
cessidade de reduzir diretamente a ansiedade atraves de apoio de outras pessoas.
Estas eram, pois, as variaveis dependentes do experimento, sendo que neste resumo s6 nos ocuparemos dos resultados concernentes a varia vel de maior interesse para
Redur;ao indireta da ansiedade: ~ando nos tiramos da caber;a aquilo que nos cau
sa ansiedade, consequentemente reduzimos esta ansiedade. Poder-se-ia admitir, pois,
~a 'razao pela qual as pessoas procuravam estar com outras mais frequentemente na
situar;ao de ansiedade alta 'que na situar;ao de ansiedade baixa era devido ao fato de a
distrar;ao obtida no contato com outras pessoas resultar no esquecimento da situar;a.9
ansiosa em que se encontravam.
308
309
,f,
t'
i\nlll;tV;tlla<;<IO: illl;dllH'lllt , .I lllll '>'>i d.tdl' dt• allllliiV;di;ll o.,(', 011 O.,l'l;l , a dt• l'o.,tahrl c
tTl 11111 padr:.\o de realicladc !>Onal q111' pnmitio.,sc a avaliac;:.lo correta da an-.icdadr c·x
pcrimcntada, poclcria sera razao pcla qual as pessoas mai s ansiosas procuraria m Ptl
tras, de vez que estas lhes forneceriam a base necessaria para uma autoavaliac;ao cl
sua ansiedade.
\
A fim de testar todas estas possiveis explica<;:6es para a busca de associa<;:ao a pc!>o.,l ,,,
semelhantes nos estados de ansiedade, Schachter repetiu o planejamento basico de !>I' ll
experimentos anteriores, manipulando apenas algurp.as variaveis especificas que pc 11111
tiriam eliminar ou confirmar uma ou mais das possiveis explica<;:6es acima enumerad.t"
Assim, por exemplo, num dos experimentos subsequentes ele informou aos partici pan
tes da experiencia que nao poderiam comunicar-se uns com os outros durante o penodu
de espera. Apesar dis to, foi confirrnada a preferencia dos que estavam na condi<;:ao de an
siedade elevada pela e~era em £Ol.!iunto. Ora, se eles nao poderiam comunicar-sr, 11
busca de associa<;:ao com outros no periodo de espera nao poderia ser devida a necc..,..,l
dade de reduzir ansiedade diretamente, nem a necessidade de buscar clareza cogni ti va,
nem a possibilidade de conseguir uma forma de escapar. Em outro experimento seguin
do o m~mo paradigma, Schachter permitia aos S~ que se comunicassem, mas apenas o.,u
bre assuntos nao relevantes a situa<;:ao em que se encontravam. Logicamente, se o moll
vo da pro~a de associa<;:ao com outros nos estados de ansiedade fosse a necessidadc dr
redu<;:ao indireta da ansiedads a preferencia por estar com pessoas com quem pudessc111
----- _.,.
falar sobre coisas irrelevantes deveria ser acentuada, de vez que nao se concel)trariam
naquilo que era gerador de ansiedade e, ao contrario, distrair-se-iam urn pouco tirando 11
pensamento daquela situa<;:ao desagradavel. Verificou-se, porem, que nao havia difercn
<;:a entre as condi<;:6es de ansiedade alta e baixa em rela<;:ao a esta situa<;:ao: arpbos esc.olhiaw
\ de forma identica estar com outros desde que s6 fosse permitido falar sobre materia im ·
'-·_ levante a situa<;:ao em que se encontravam.
.
~
Resta, pois, como unica explica<;:ao para o fenomeno verificado, aquela segundo a
as pessoas ansiosas procuram outras a fim de poderem autoaval~. Tal explica
<;:ao foi.{:onfirm_ada atraves de urn experimento realizado por ~!jshtsman (1959) ~~
que ficou patente a utiliza<;:ao do momento de espera para fins de equaliza<;:ao da ansic
dade. S~ muito ansiosos ficavam menos ansiosos a.2_6s o periodo de espera em conjun
to, e os menos ansiosos ficavam urn pouco mais ansiosos. Verificava-se, assim,
.-convergencia dos diferentes niveis de ansiedade numa indica<;:ao de urn denominador
\
comum que seria estabelecido pelas_atitudes dos individuos colocados numa mesma
/ ) ( situa<;:ao e consequentemente autoavalia<;:ao de suas pr6prias atitudes em fun<;:ao da
observa<;:ao mutua. 0 experimento de Wrightsman confirmou a explica<;:ao dos resul
tados obtidos por Schachter com base na teoria dos processos de compara<;:ao social de
Festinger (1954).
/'f t_~ual
310
i\ tiiPH'"·' p111va ,. xpt'llllll'll Ld
.1,
d1l'•
~'"tlllll,., 1 tl .tdo-. pe1nlit• q 111 •>~ 1.11~ .1;1ali 1n1.11, ,111
lllllil da-. razoeo., pelao., quaio., a-. IW.,'>Ilol., 1111 t'!>lUdo de <lllo.,inl.tcl< p1m 111 .1111 il'>'>llt'l
a outrao., t' a ncccss idadc de co.,tabekcer uma realidaclc o.,onal que o., il va tk critcrio
q11l'
11 .,,.
I'·"·' a avalia<,;ao de sc us pr6prios cstados de ansiedade.
Postcriormcnte, Sarnoff e Zimbardo (1961) contestaram esta afirma<;:ao. Segundo
-==-•:,,,.., autores, a busca de associa<;:ao com outros pelos motivos que acabamos de a pre
~
- '
,, ntar se da em situa<;:oes de medo e nao em situa<;:oes de ansiedade. 0 ponto merece
111 n<,;ao, porem e necessaria que, em primeiro lugar, se estabele<;:a nitidamente a diJc" nc:a entre medo e ansiedade. Sarnoff e Zimbardo (1961), utilizando conceitos psica!l.dlticos de ansiedade oral, repetiram o paradigma experimental de Schachter, varian d,, as condi<;:6es de alta e baixa ansiedade orale de alto e baixo medo.
- Verificaram que
,,., resultados obtidos confirmam os d!.,.~c..bacht~na sJtJ.la<;_ii.Q de. me_dQ. (QS ~~- eram
un ca<;:adqs de soirerem grandes ou minimas extra<;:6es de sangue), e m()~tram exataIIH'nte o oposto na situa<;:ao de ansiedade (asS~ eram solicitadas a chupar bicos de ma-
-
lll.tcleira, 5eios plasticos, etc., mais ou menos demoradamente) .
Confirmando os achados de Schachter (1959) , Kullik e Mahler (1989) verificaram
que pacientes pr~stes a serem operados do corac,;ao preferem ter como companheiros de
quarto pacientes que foram operados do que pacientes que ainda ser.ao operados. Su
pnc-se que tal preferencia, de acordo com os achados de Schachter, decorre da necessi
d.tcle de obter-se "cl~eza cognitiva" nyma situa<;:ao de ansiedade. Pacientes ja operados
poderao fQ_!Defer maiqres informa<;:_6g$ do que os que ainda serao operad...os. Em estudo
1>osterior (KULUK et al., 1996) o~inv~stigadores verificaram que os pacientes que in 1t'
ragiram com pacientes ja operados mostraram-se menos ansiosos e tiveram recuperac,;:.\o
mais rapida ap6s a cinp:gia. Kullik et al. (1994) verificaram que participantes que anted
pavam_sentir dor, ao serem instruidos a colocar suas maos em agua bern gelada, exibi
ramo mesmo comportamento obtido no estu<io de J).llllik e Mahler com pacientes car
tliacos. Diente da ansiedade 2roduz!da pela antecipa<;:ao da dor, eles preferiram espcrar
em companhia de outros que ja haviam se submetido ao experimento.
Fatores que afetam a
~
atra~ao inte,r.p.e.ssoal
Quem niia estd par perto de quem ama, acaba par amar a quem
C\l cl
par perta.
Stephen Stills, musico e compositor
a) Proximida~ica
lnumeros estudos tern demonstrado que o simples fa to de pessoas morarem pr6xi
mas umas das ou tras ou , por ou tra qualquer razao, mantiverem frequentes con tatoo.,
311
pn1 l''>l.lll'lll t'lll '>itua~·ao tk jllll\llllld.ttk l!'>lt,l, '>t' Ulllt'l.lt 1011,\ Jl!l'>IIIV<lllH'Illt' Ullll ol
lollll.U,'.lo de uma rclac;ao intc1 pcssoal d~ atrac;~lo entre da!'l 4 l·t''>lingcr, Schachtu 1
l3ack ( 1950) conduziram um estudo num projeto
rcsidcncial para estudantcs c:t.,,t.
"-"
d~ e veriricaram uma frequencia significantemente maior de amizades formada., I' ll
tre pessoas que residiam pr6ximas umas das outras. Estendendo o mesmo tipo de c-. t 11
do para uma cidade que, por suas caracteristicas, se ~onstituiu em excclente oport tll ll
dade para urn estudo de campo acerca da influencia do fator proximidade fisica 11.1
~trac;ao interpessoal, Whyte (1956) verificou mais uma vez a comprovac;ao da corrc l.t
c;ao existente entre estas duas variaveis. A pequena cidade estudada por Whyte era h .1
bitada por pessoas que se haviam mudado praticamente na mesma epoca; alem dis.,o,
nao havia nesta comunidade diferenc;as de tipos de residencia, no se~ de que tod:t.,
se situavam mais ou menos num mesmo nivel de conforto, evitando, desta maneira, ,,
formac;ao de zonas mais ou menos sofisticadas do ponto de vista socioeconomicu...A.,..
influencia do fator _proximidade fisica na formac;:ao das amizades, tal como indicada
- pel;frequencia a festas, numero de visitas reciprocas, formac;ao de grupos para_jogo.,,
etc., foi nitidamente observada. Na mesma linha estao os estudos de Gullahorn (1952):
Maisonneuve, Palmade e Fourment (1952), Byrne e Buehler (1964), Bornstein ,.
D'Agostino (1992), Moreland e Beach, (1992), entre outros. Moreland e Beac~, pt~l
exemplo, conduziram urn experimento simples e engenhoso: guatro mulheres frr
· quentaram as aulas de uma disciplina fazendo-se passar por alunas regularmente rna
triculadas, em numero variando de vezes (de 0 a 15). Para nao criar condic;oe~a'
alem da mera exposic;ao, elas nao interagiram com os colegas de sala. Posteriormentc,
quando foram exibidos aos 130 alunos da turma slides com fotos das "pseudocolega-.
~ sala", observou-se que as que m~equentaram as aulas tambem foram avaliada-.
como as mais atraentes. Alem disso, um.exame mesmo superficial dos dados do regis
tro civil, ao menos na regiao metropolitana do Rio dejane.iro, parece confirmar que, no
que diz respeito aos casamentos, a proximidade fisica tambem exerce urn papel signifi
cativo - algo que os soci6logos ja haviam detectado em meados do seculo passado
(BOSSARD, 1932; CLARK, 1952). Pesquisas mais substanciais devem ser realizadas
para determinar a veracidade e o alcance destes dados estatisticos (se os conj~ge~ mo ram no mesmo bairro, ou seem bairros diferentes, a distancia existent~, bern como os
meios de conduc;ao disponiveis, etc.), mas ao que tudo indica a geografia parece dc~J
sempenhar
forte papeltambem nas hist6rias de amor e nas relac;oes de amizade .. .
.
.
Qu~is sera~ as
razoes para o fato de verificar-se tao reiteradamente a correlac;ao.entre proximidade fisica e atrac;ao interpessoal? 0 sentido co mum sugere algumas, a saber;
• Conveniencia (e muito mais comodo fazer amizade com alguem que esta proximo. c); custos envolvidos na superac;ao do problema de distancia fisica entre pessoas
que se gostam desaparecem na situac;ao de proximidade, tornando a relac;ao interpessoal mais gratificante).
312
l
•. Palllill;ul(l.tdl'
(t> law tk \'lllOIIII.lllllll 1111'> l'rrqttl'lll\'1111"1111~ ll-111111111.1 JH .,.,11,1 CPII
.lw ;1uma procura de rcla<,;<W., llllll'>lO.,.t.., t 0111 a mcsma; setl<l tllllliP dt ·-.. tgl .ul,tvd l''> ta
In ltrercm sc rclac;Ocs inamistosas com pcssoas com quem l'lllntiiiOS con'>talltt•mcntc
1111 t ontato.
• Antecipac;ao de interac;ao (em consonancia como item aci.ma, a expectativa de
•'li a ~c reladonar com alguem parece igualmente favorecer a atratividade. Urn fen6 ltll 110 cminentemente adaptativo, uma vez que este gostar antecipado faci.lita a chance
d1 lormac;ao de uma relac;ao amistosa e recompensadora).
Entre os fatores nao tao 6bvios que explicam o papel desempenhado pela proxi.mitl.ulc na formac;ao de sentimentos positives entre as pessoas, podemos destacar os sclt111les:
Oportunid~e de maior c_onh~imento m~tuo, resultando em maior capacidade de preoil< ao do comportamento. De fa to, a proximidade faz com que os habitos, as manei.ras, os
1o.,tumes, os estados de espiri.to, etc., das pessoas que vivem pr6ximas se tornem co
11hecidos. A consequencia deste conhecimento e que as pessoas podem antecipar cus'"" c gratificac;oes resultantes de sua interac;ao, uma vez que tern mais conhecimento
d11 comportamento das pessoas com quem interatuam.
$imples.j.arniliaridade decqrrente dafrequencia de_ gn(:ontro~. Zajonc (1968) mostrou
que as_pessoas tendem a desenvolver sentimentos mais positives em relac;ao a objetos
que lhe sao apresentados mais vezes. Este investigador realizou seu experiment() utili
- e tambem retratos de pessoas. Ambos estes estfmulos eram
;tndo caracteres
chineses
.lpresentados em frequencias de 0, 1, 2, 5, 10 e 25 vezes. Q~nto maior a frequencia de
•·xposic;ao-;-mais positiva-a atitude dos sujeitos em relac;ao7os estimulos. Como vimo.,
.tdma, o estudo de Moreland e Beach (1992) veio se somar na confirmac;ao desta hip6tc
.,,·,ja agora fazendo uso de seres humanos. Rodrigues e Boschi (1971) replicaram o ex '
pcrimento de Zajonc com sujeitos brasileiros da Universidade Federal de Minas Gerais l'
.trrescentaram duas outras intensidades de frequencias: 40 e 60 vezes. Os resultadQ? c:on
ltrmaram os de Zajonc para as frequencias ate 2~. Tal como esperavam Rodrigues eBos
t hi., todavia, verifica-se uma saciac;ao quando a frequencia de exposic;oes aumenta dema
.,iadamente, resultando em diminuic;ao da atitude favoravel. Zajonc, Swap, Harrison e Ro
hcrts (1971) indicam algumas variaveis que limitam a generalizac;ao da relac;ao entre frc•
quencia de exposic;ao e positividade da atitude em relac;ao aos estimulos expostos.
Convem salientar, todavia, que~ ?ewre. o fator proximidade conduz a uma
mai.or atrac;ao interpessoal. 0 que foi. dito ate aqui neste capitulo em relac;ao a este po n
to supoe que outros fatores sejam mantidos constantes e num determinado estado. Sc,
por exemplo, existe uma ani.mosidade ja decididamente estabelecida entre duas p_essoas,
a proximidade podera agravar este estado de coisas. Pessoas de status diferentes qua n
do colocadas em situac;ao de proximidade podem tender a exacerbar as diferen c;as de313
nlllllllr., dt• .,,.11., n·., pcctivoo; \lcl/tl\ lt·va•Hio .tlll.ltll lt'" nllllliltl.., V,llto.; t··~ l tll l i
dt'llltllt .,trado , pon·m, que , conll,lliamcntc ao que Sl' l'"P~''·•••a ha..,e:ulo lltl ..,i
mum , pessoas com preconccito tornam -se mcnos prcconccituosa., quando r 11 1
c;ao de proximidade (por exemplo, DEUTSCH & COLLINS, 1951; I<EP II AH I , I
WORKS, 1961) .
b) Identidade de valores e atitudes e outras caractcristicas
Dize-me com quem andas ... e eu te direi se vou CO illip,ot
Barao de Itarare
\.
'
be uma maneira geral, parece-nos que poucas pessoas seriam capazcs dl' 111
papel catalisador da identidade de valores, atitudes e outras caracterislica.., I"
suscetiveis de valorac;ao, na formac;ao de urn senti men to positivo entre as pessoa., I)
do urn torcedor ve uma pessoa passar com a bandeira de seu club_e, imediata mr nt
.;nonstra simpatia; se numa reuniao social uma pessoa encontra -outra cujo ca111p11
atividade profissional e semelhante ao seu , e altamente provavel que urn SCII I 11
inicial de positividade se manifeste e provoque maior interac;:ao entre elas; e a..,., 1111
diante. In~eros exemplos de situac;oes da vida quotidiana podem ser enumcradu
defesa da afirmac;ao feita no inicio desta sec;ao, mesmo quando se considera o a-,~u
do ponto de vist'! de uma psicologia nah;e, nao cientffica, que todos os seres hu111
sao capazes de utilizar eo fazem constantemente.
!
\
Da mes.ma forma em que a percepc;ao de semelhanc;a conduz a urn sentimc nt o
sitivo, a existencia de atrac;ao interpessoalleva a distorc;oes perceptivas no se nti
"ver" semelhanc;:as de valores e atitudes no comportamento das pessoas .5!e quem
tamos. 0 leitor devera lembrar-se que o principio do equilibria de Heider co n.,
como constituindo uma estrutura harmoniosa a situac;:ao p gosta de o; p e a fav01
o e a favor de x. Como veremos mais adiante, tanto o principia de Heider como a
c;ao de Newcomb permitem a derivac;:ao de hip6teses relativas a atrac;ao inter pl'
partindo da ideia de que a co-orientac;ao de p e de o em relac;ao ax leva a urn sent 1111
to positivo entre p eo. No capitulo sobJ:Oe p-eYceP'2ao' social nos referimos as disto
perceptivas decorrentes de certos processos psicol6gicos, incluindo-se ai a tenden
sidade cognitiva no sentido de perceber o comportamento das pessoas de quem gt
mos como expressando valores e principios que nos sao caros._!:lovland,Janis e Kt'l
(1953) chamam assimilac;:ao ao fenomeno de distorc;ao de uma comunicac;ao no Sl'
do de faze~la mais coerente com os pontos de vista do recebedor da comunicac;ao. ()
nomeno oposto, ou seja, o de distorc;ao no sentido de tornar a comunicac;ao mais
tante dos valores e atitudes do recebedor, e chamado contraste. Varios exnerimc
=
tern demonstrado a ocorrencia de ambos os fenomenos (por exemplo, HOVLAN
-c=
314
•Sf ~111 · 1{11 ·, ll)')7, 1,1 ·1 MAN, I 1 H1 ' 1) lk ,\Ulrdo l'lllll.lt:\t..,li'llll.ltk "''1111
1u1~iitivo.., ounegativo.., entre dua.., pt·..,..,oas, as diston,:(ll'S pcn:cptiva.., na obscrIt '
11111 nllttpo• wmcnto ou na rcccpc;ao de uma comunicac;ao podcrao scr no sen.iln ilac,·llO ou de co ntraste, conforme o sentimento do percebedor seja positi-
1
11''' I',IIIVll t'lll rc\a<;aO a outra pessoa.
'l·"••••., ,, seguir possiveis explicac;oes para o fato de semelhanc;a gerar atrac;ao:
fln/11, do do' wstos no processo de intera(:dO social- De fa to , se uma pessoa tern ativi' ,dtllt'" scmelhantes aos de outra, e possivel que haja menos polemica, menos
11t.uor co nsenso de opiniao. Ora, todos esses fatores reduzem os custos da intei lltHIIll indo resultados mais satisfat6rios para ambos. A semelhanc;a percebida em
.\• pl·r..,onalidade como fator de atrac;ao foi igualmente comprovada em estudos
It• ,, '.tho por Aube e Koestner, (1995), Sprecher e Duck (1994) e por Caspi e Hart t I lllO) . Estes ultimos observaram, por exemplo, que quanto maior as semelhan1
ltt 11 111aridos e esposas, menor a probabilidade da ocorrencia de div6rcio.
\
''d" IC£ imento de realidade social. As teorias de Festinger de 1950 e de 1954 (res-
~
n'
1.,111H nlc, a relativa a comunicac;ao social informal e a concernente aos processos
tlii'l'·u ,1c;ao social) salientam a importancia do estabelecimento de urn consenso ou
IHI.~tlr ... ocial. Na
' ausencia de realidade objetiva capaz de dirimir uma controversia,·llllll ... apoio as nossas posic;oes corpo forma de estabelecer criterio de avaliac;ao das
., de Festin111 1, Um dos pontos centrais da teoria da comunicac;ao social informal
1 1 11 1k 4ue as pessoas de urn grupo procuram, atraves da comunicac;ao, estabelece:
1 l"1111 o de vista comum. Na avaliac;ao de nossas habilidades e opinioes (teoria dos
111 ,.,o., de comparac;ao social), tomamos como referenda o desempenho e as posi.11 outros para estimar o grau de nossa habilidade e a correc;ao de nossas opinio~s.
ltil•• 'k cntrarmos em contato com pessoas que conosco concordam fornece esta rea-
~~
,_
1, ... ocial que buscamos.
utth{a(:dO da necessidade de compara(:dO social- Segundo Festinger (1954), n6s sa' 11\0S a nossa necessidade de comparac;ao no que diz respeito as nossas habilidanpi nioes buscando pessoas que nos sao semelhantes. A associac;ao a pessoas .selrlh.tntcs (ornece, pois, esta base para comparac;ao de habilidades e opinioes.
t. · '
l'opcl refor(:ador da concordancia- Sullivan (194 7) indica que as pessoas validam
tt·• · .11itudes por meio de concordancia com os outr9s. Ele chama este fenomeno de
!llhl.u;ao consensual. Este conceito provem da outra noc;ao importante de seu sistema
'do outro significante (significant other) . Uma consequencia nitida do fato de que
11111 ,\., pessoas se tornam significantes para n6s , no desenvolvimento de nossa persou.tltd;lde, e essa procura de concordancia expressa na noc;ao de velidac;ao consensual.
315
"Ill
11 .d t.d Ito de
i 1h, 111 11111 1 1 Wit til' ( I<) '>()) o ..,1g11 tl 11 .11lo P" ilnlogll~ lt dli
d.ltH t.ll' saltclllildo quando o:-. ,1\lllll'e:-. explicam o que Cllll'tHicllt pot
cial como uma fun c,; ao a que scrvcm as nossas opini<)es. l)i zcm elcs: "a.., n pitlll
dem desempcnhar outro papel: ode facilitar, romper ou simplcsmentc llt.lll l• 1
\ c;oes de urn indivfduo com outros individuos" (p. 41) . Rcferindo sea IIO~;Ilt dt
\ de referenda os autores dizem que as pessoas tendem a manter opinitk.., qw , 1
dam com as expressas por seus grupos de referenda. Smith, Bruner c Whttt t iii Jil
o termo grupo de referenda para significa,r "[ ... ] aqueles grupos em lCttnn-; il•
padroes o individuo se julga a si mesmo e como qual ele se identifica ou "t'llll' .11
~· (p. 41). Vemos aqui a influencia do principia do equilibria nos auto res dr 1 't•l
and Personality. Sua discussao sobre o ajustamento social como uma das fllt iiJH
opinioes lembra a formulac;ao do principia do equilibria de acordo com o qt
e discord5.mt.l '''
\ procuramos concordancia com as pessoas de quem gostamos
...
,_ .
pessoas de quem nao gostamos. Nos termos de Smith, Bruner e White "1 ... 111 ith
manter certas opinioes e urn a to de filiac;ao a grupos de referencia. E um mcio tl• 1
sou como eles. Veremos que grupos de referencia podem tambem desempt· 111t:11
papel negative no funcionamento de opinioes. Ha grupos com os quais procu t,\11111
jeitar afinidade ou identificac;ao" (p. 42).
Nn
·'I""'·"''
[
1
--
A posic;ao de Smith, Bruner e White salienta o poder recompensat6rio 1. 111 11
concordancia como da discordancia, dependendo da opiniao da fonte com a qt
concorda ou discorda.
~
Newcomb (1953; 1959; 1960; 1961) baseia sua teoria de forc;a em direc;:ao a.,,
tria no poder recompensatorio da concordancia. Mostrou ele (NEWCOMB, 196 I
pessoas com atitudes semelhantes se tornam amigas. Em seu conceito de fort;:a ..,
ticas ele realc;a a importancia da concordancia no desenvolvimento da atrac;ao t
pessoal. Diz ele: "Forc;as autfsticas correspondem ao terceiro destes modos de ad
c;ao, isto e, ao modo de adaptac;:ao de outras pessoas. A necessidade disso decorre, I
camente, de nossa independencia em relac;ao aos outros como comunicadores soh
mundo de objetos comuns (incluindo nos mesmo~)". Frequentemente nao e
verificarmos atraves de experiencia sensorial direta nossa avaliac;ao das coisas; c, n
mo quando pudermos, estaremos nos sentindo Il}ais a vontade ao encontrarmos l
firmac;ao dessa avaliac;ao por parte de outros. "Tao dependentes tornamo-nos, cada
de nos, durante o processo de socializac;ao, da avaliac;:ao dos outros em relac;ao a c1
que nos interessam, queaprendemos a ser recompensados por isto e a ser
por sua ausen~" (NEWCOMB, 1960: 108). ~
Prova experimental (FESTINGER, SCHACHTER & BACK, 1950; SCHACHl l
1951) apoia a hipo'tese de Festinger (1954) de que "a cessac;ao de comparac;ao com
tros sera acompanhada por hostilidades ou depreciac;ao no caso de opinioes ... " (p. 176)
1 'IH ' IIIIII ' III.\1.., tHitlll\'tll dl'lllltll..,lt,\tatn a tll'llllll.ltlltd tb 1 omotd.llll 111
tlr'l !t111:1p1 ·.,.,o;ll .., /11nllardo ( 1\)()0) mostrou que amtgoo.,, quando em tliscorllil .lltt <;11,1., pno., tt;lws a lim de torna las mais semclhantcs. Rainio (1961) testou
lttlt 111 d~tllllll ,,.., pn·dit;ftcs de um modclo probabi.listico de aprendizagem de inte•lliHlltdn concordancia como recompensatoria e discordancia como punithttl••·· 1 ntllprovaram suas hip6tcses. Lerner e Becker (1962) mostraram que
rt';ltllrnnlrontados com pessoas semelhantes e dissemelhantes que discorltth k 'l tllt 11 ,, de a..,suntos relevantes, eles escolhiam comunicar-se mais com pesl' ilit' llt,lltll''o a lim de tentar mudar suas posic;oes e concordar com ele~.
K
tl .tt'l' 1' Wal..,tcr ( 1963) levantaram urn problema interessante acerca da relac;ao
ti!l'llt,IIH,;a c atrac,; ao interpessoal. Segundo esses autores a procura de pessoas
itt•'~ 11.1o l ' um fenomeno obvio, de vez que uma pessoa diferente e capaz de
111 '"''" tdl'ia..,, novas maneiras de encarar os problemas, enfim, apresentar neviIll' I .11 1,,.., capazes de tornar a relac;ao interessante e agradavel. Levantaram enlt1pi'1 1t~•;l dr que se fosse assegurado a uma pessoa que ela seria bern recebida tanto
p. l' i 0., 1 lltdhantes a ela como por pessoas que dela diferiam, ela preferiria asso' li 'l p, ..,.,nas diferentes. Alem disso, estes autores esperavam que as pessoas que
111 ·~'II"' •'" .1cerca de sua capacidade de serem bern recebidas por outrem, ou que
111 i111;1 .lo qualquer necessitam fortemente do afeto de outrem, procurariam claitt l' 111 ..,..,oas semelhante~O experimento levado a efeito para testar estas hipotelllllltlltJII ambas.
\Itt iP Lt1or que deve ser leva do em conta no estudo da relac;ao existente .entre s~lheU~~ ll ,. .11 ra<;ao interpessoal eo da relevanda do objeto da semelhanc;a entre duas
i ~ •,,~ tuna pessoa tern a mesma cor de olhos da outra e seguro afirmar que este fait :u a mcnor atrac;ao interpessoal do que, por exemplo, o fato de duas pessoas
I
111 ,, 1111 '" 1\la orientac;ao politica e religiosa.
:\ it' l.t~.IO positiva entre semelhanc;a e atrac;ao, no entanto, nao goza de unanimida11111 ' ,,.., pcsquisadores: Rosenbaum (1986), por exemplo, chegou a conclusao de
ill tli~ do que a atrac;ao por pessoas similares, a repulsa por "nao similares", e que
ttl11 ;I maior responsavel pelos achados de Newcomb, reportados adma.
'" ,,.., cstudos vern apontando tambern para o fa to de que a atrac;ao em si pode levar
1rcpc;ao de similaridade, no sentido de prover o outrode qualidades que julgal"'',.,llir (HOYLE, 1993; KENNY & ACITELU, 2001; MORRY, 2007) . A projec;ao
'""""'" c caracteristicas de personalidade, acurada ou nao, levaria a uma maier satisht 11,1 rclac;ao, ~m consonanda com as explicac;oes citadas anteriormente.
llii :.i 111
1 lt 1110
ponto a ser ressaltado no tratamento deste assunto e a existencia de uma po" dt,unetralmente oposta a defendida ate aqui nesta sec;ao, ou seja, a teoria das n et.l.uks complementares de Winch (1952). Segundo este autor, as pessoas procu317
316
...
Cl'>.liiH'tiiO t·ompanlu itll'> difl't l'lt11''i d\' '>I ttll''>lllll'> , 1'>10 ,~, rllllljlolltlWI
1t'llh;Ull caJaC1t'll'>1ica~ Capall''> dt ltllltplcltll'lllal' 0 tjlll' iall.t 110 Oll110 llt ,11 til
c~ta posi<;ao, pc~~oas dominan1l'S procuram pcssoas submi"""'l ,. vt11 '-'-'
como sadicos procuram masoquistas.. etc. Analisando as m·ccs-.idadl''> r.ll'llfl
pelas personalidades de 25 casais, Winch, Ktsanes c Ktsancs ( 195<1) al1 ' ''''"''
do confirmac;:ao para sua hip6tese. Varios outros estudos, entrctanw, 11:1n tlllllll
hip6tese de Winch (BOWERMAN&: DAY, 1956; HETllERINGl ON, IIHl 1. II
ROBINSON&: HUSTON, 1996). Alguns autores, como Dryer c llorowi1 z (I 'l11/I
ram a confirmar uma relac;:ao entre complementaridade e atrac;:ao, mas , 1 111111:•,,
observaram em seus experimentos que pessoas satisfeitas em uma rc lac,;:io t'lll tlj
tar (dominante~ versus submissos) julgaram seus parceiros, na verdadl', 11111111
res, e nao complementares. Ou seja, como se a atrac;:ao fosse capaz de pt n\'
distorc;:ao perceptiva transformando, aos olhos de um dos membros cia dt:ult,,
soa complementar em similar, no mesmo sentido das pesquisas que ci1attlll'l l11\
Sodre (1970) levantou a hip6tese segundo a qual as pessoas cujo ego real Sl' dt'illl
muito de seu ego ideal tenderiam a procurar pessoas diferentes. Estas pess11.1
tes seriam semelhantes a seu ego ideal. Ja aquelas cujo ego real fosse pro.\tlllit
ideal tenderiam a preferir pessoas semelhantes. Para testar esta hip6tesc St H Itt' 1
sujeitos que preenchessem o teste 16 PF de Catell de duas formas: a) prillllll•ll
respondendo como de fa to sao, ou seja, dando as respostas verdadeiras as IWIF·'"
teste; em seguida, b) respondendo como gostariam de ser, isto e, dando tTS jll
nao correspondiam a realidade, mas que indicavam como a pessoa desejava Jl"d
ponder. Numa terceira fase, a autora solicitou aos S~ que c) indicassem como gu .. t
que o seu c6njuge (atual ou futuro) respondesse. Quando a diferenc;:a de cs< ot
a) e b) era grande, a diferenc;:a entre a) e c) tendia a s~_r maior que quando a <!I
entre a) e b) era pequena. Consequentemente, pessoas cujas imagens se apro-.i
seu ego ideal procuram pessoas mais semelhantes enquanto aquelas cuja~ 1111.1
distanciam de seu ego ideal procuram pessoas mais diferentes.
1111111 1
1;1_111 1111
.
..
~
Ape11ar das poudera~Qe_s dos autores acima citados, o fato e que a maior101dl\
quisas aponta para a prevalencia do fa tor semelhanc;:a quando 0 foco e_Q g~l
peito de sua fama adquirida , o _proverbio q.JJ.e.diz..qu.e os opostos se atracm
comprovac;:ao empfrica ~ficaz_..f..ssim, podemos concluir_esta sec;:_ao dizendo"' q u~~
'vas e';Zperimentais e correlacionais colhidas ate agora sao no sentido de favorerc1
mac;:ao de que pessoas semelhantes tern mais atrac;:ao e que a existencia de sc ntt n
positivos entre as pessoas levam-nas a distorc;:oes perceptivas no sentido de V<'
. .mais semelhantes que de fato...s<lQ_. Nao resta duvida que esta formulac;:ao gera l
jeita a excec;:oes quando certas variaveis sao manipuladas. 0 assunto se presta,
qualWcac;:oes especfficas e ulteriores investigac;:oes para urn esclarecimento m a t ~
pleto do fen6meno em pauta.
318
h.uu.u i
1\
Jldi"' (III'!OIII('IICfclllic//i()l
1\1 i~llltl'k~ .
330 a .(
do
!I' ll cp11i/ip111 ccllfll
c/r
clflil'\l'llf!i{!IO
.
jll":qtt1 s.l'> 1:1 cvidcn<.:iaram o papel significativo da beleza em qucstocs
\1• II'''•LII (1\I ·RSCliEID &: RElS , 1998; BERSCHElD &: WALSTER,
lt l lf\ I"> I'Y, 1988; FEINGOLD, 1990; WALSTER &: WALSTER (Hatfi1 ii' 11111111 110 lup;ar have ria uma tend en cia em atribuir caracteristicas pes' p• ,-,o,1.., bonitas (EAGLY et al. 1991;JACKSON et al. 1995), ou seja,
11
lu• .\ 1'1'·" r 111 1<1-.criam detentoras de trac;:os de personalidade mais desejaveis. )
lll'i il 111 ' 11 tlll'>:l das vantagens de ser bonito foi pesquisad~ por Hamermesh e
I J, qtt•'. 1 111 l''>tudo longitudinal sobre beleza e salarios, o~servaram que o
h lt ,tlo,dlw ll't"O mpensa mais favoravelmente a~p.essoas bonitas do que as
1•1, 1111 ;11111 t'll1 profissoes nas quais a beleza, em tese, nao deveria provocar
.
<\il1• tlllltiH' nlc Roszell e cols. (1989) ja tinham chegado as mesmas conclu'1" "'" de o ditado pQpular afirmar que beleza nao poe mesa, aparentei it1111prado para ficar em cima da mesa parece depender, ao menos em
-
11tlll td.uk das pessoas.
1111 '> pl'<.:lfico da atrac;:ao interpessoal, a beleza tern se mostrado um c?altP, lit lttllc . Um dos primeiros experimentos a comprovar isto foi conduzileHI!t.:lil ( Walstcr) et al. (1966), no qual mais de 700 calouros de uma universiIIIII ' ,
111''1 '· ' It 111 -.ubmetidos a testes de personalidade e de aptidao- tiver~am...aQwr111' il illll,ilr c conversar com um(a) partner, escolhido(a) aleatoriamente pelos
I••• t , ">t·gundo os resultados encontrados, o desejo de voltar a sair uma outra
11IH ljl.llceiro(a) daquela noit~pao dep_~ndeu de~ atributo especi!ll ou
l11lh t d1 pcrsonalidade, e sim, da]Jeleza dayesso~ Curiosamente, os partici1
,llltlllliam a este fator as razoes de suas escolhas, o que pode se clever, em
6ll\ 1.1 d1 que a beleza e algo de superficial e nao merecedora da mesma considel' otll11llS atributOS pessoaiS. ,
" socialmente, na medida em que a beleza parece
111llllvalcncia ainda persiste
l1t1d.t p1·las pessoas de forma contradit6ri~ . De urn lado, vivemos· em um p~is
1.11111 oporcionalment~, o maig_r numero de operac;:oes esteticas ,_ o que..Jl,.comd.t plllliferac;:ao de academias de ginasticas, SPAs, desenvolvimento de tecnopn tl1ras e de cosmeticos em geral, a testa o valor que damos a questao estetica.
IIi .llllda parecemos viver sob a egidede 0 r.eq]!eno principe, de Saint E~upery,
1r •.thl·rcira de candidatas a miss de antigos concursos, que pregava que "o ,..es1' lnVt'ilvel para os olhos;·. Neste sentido, valonzar a beleza seria se deixar ver
IIIII·' pessoa futile superficial, in:Zapaz de apreciar valores realmente importantes
319
L
IIi\
\'icl.l ()-,dol'> oi'>IH'l'IO'> '"' tjllt doh Ill \'el_;_uuqtll' valoll l o\1110'> ;\ lll'lr.
de lonna ondta r -.delle loo.,.t
\
-l!:\''""·
,(, _1_~_1_:1'>, de 1110do.
, Outros cxpcrirnentos rrah zados postcriormente vieram confirmar a associa<;:to
entre bcleza e atrar;:ao (FEiNGOLD, L990; SPRECHER et al. , 1994; WlllTE, 1980).
inclusive entre homossexuais (SERGIOS &: CODY, 1985). Mas o leitor poden'i est:u
se questionando sobre a propria questao da beleza, ja que o que e belo para uns podi'
nao se-lo para outros, e que..a.b,iliza pode estar apena~ nos olhos de quem'!:IJerccill:_
Embora isso seja verdade, haja vista a possibilidade de variar;:oes ao longo do tempo,.
do espar;:o, ha uma forte concordancia sobre o que/quem e bonito em determinada
cultura em urn dado momento (Fg!TI-h.SHAW ~CHENG, 2005; LANGLOIS et al.
2000). Isso pode ser constatado atraves de urn simples teste: em sah deaul~ :i
algum(a) colega que cite algumas figuras publicas que ele(a) considere bonita. Vocl.'
pod era verific(lr que- a pard~ algumas diferenr;:as individuais- o consenso dent~o da
turma senLbem alto.
.--...
..
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Forma~ao, manuten~ao e termino da atra~ao interpessoal
a) 0 modelo de Newcomb
Segundo Newcomb (1960) "atrar;:ao interpessoal e acompanhada pela atribuir;:ao
de valor gratificante a outra pessoa". Salienta este autor que ha diversas formas pelas
quais uma pessoa pode achar outra gratificante, razao por que ele considera diversas
variedades de atrar;:ao interpessoal.
Basicamente, a posir;:ao de Newcomb em relar;:ao ao fenomeno de atrar;:ao interpessoal deriva de sua teoria relativa a forr;:a em direr;:ao a simetria. Quando A e B formam
urn sistema e se apercebem da maneira pela qual cada urn se orienta em direr;:ao a urn
objeto, X, a existencia de elo afetivo entre A e B provocara uma busca de simetria
(co-orientar;:ao de A e B em relar;:ao a X), assim como a co-orientar;:ao de A e B em relar;:ao a X conduzira a formar;:ao de urn elo afetivo entre A e B (NEWCOMB, 1961). Em
outras palavras, para Newcomb o fator semelhanr;:a discutido anteriormente e fundamental no fen6meno de atrar;:ao interpessoal. 0 sistema A-B-X tern, consequentemente, implicar;:oes 6bvias nao s6 para o fen6meno de atrar;:ao interpessoal, como tambem
para os fen6menos de percepr;:ao social, comunicar;:ao social e influencia social. Isto
porque a co-orientar;:ao de A e B em relar;:ao a X conduz a urn sentimento positivo entre
A e B; a existencia de atrar;:ao entre A e B leva ambos a distorcerem suas percepr;:oes de
forma a manter o equilibria do sistema A-B-X; a possibilidade de desequilibrio no sistema induz a comunicar;:ao entre os membros no sentido de restabelecer o equilibria
atraves de co-orientar;:ao, e a existencia de desequilibrio suscita o exercicio do poder de
A sobre B (ou vice-versa) no sentido de influencia-lo a restabelecer o equilibria.
320
Nf' w e om h ( ll)()()) d btlltgl\c' d i vn s ;1-. Villi\ cl.llko., de all,,~ .In i 111c 'I H o.,o.,o,d , L\1 '> 1 o 1110
diiillO\ (:'\o , an· lla~·flo , valoti zac,;:\o c.· 0\111.1'>, ,,...,nvando o ll' IIIHI ",\lnii,.IO ge1,d " para
1!•111111 .11 o rompos lO de LOdas estas lormas. Es tas vari.edades seriam identilicadas de
11111_11, com o papel gratiricante desernpenhado por uma pessoa em relar;:ao a outra.
t'lil' t'li l 111plo, se uma pessoa gratifica outra atraves de uma bonita voz ou habilidade de
ll lll ll ' t.tllll perfcir;:ao urn instrumento musical, esta gratificar;:ao provoca urn sentimento
d,· t!dlllll ,, ~·ao que e sem duvida urn sentimento positivo, mas que difere da situar;:ao expr i illltltlada entre companheiros de urn grupo coeso ou entre amigos sinceros.
tnodclo de Newcomb supoe uma visao sistemica da relar;:ao entre as pessoas e
1h It tllttnados objetos, exigindo, pois, para sua compreensao o reconhecimento da inIt 1tit pl' ndcncia destas variaveis. 0 modelo e capaz de explicar perfeitamente as situalh , 1 lc· al rar;:ao interpessoal por semelhanr;:a e as adir;:oes posteriores (como no caso da
1 tJ it ,iclnar;:ao das variedades de atrar;:ao interpessoal) nos permitem o entendimento de
!I iiii ,,., lormas de estabelecimento de elo afetivo entre as pessoas. Parece-nos, porem,
qiu- ,, '> tluar;:ao de semelhanr;:a e suas consequencias no sistema A-B-X constitui-se na
!H d1.1 angular do modelo de Newcomb no que concerne a atrac;:ao interpessoal tomada
11n '' ' ~ n1ido de atrac;:ao geral acima mencionado. 0 modelo nao explica, porem, outras
IPIIll.\'> de atrar;:ao interpessoal tomadas neste sentido, nem tampouco as excec;:oes areI to 111 -.c melhanr;:a-atrar;:ao interpessoal. Mas este modelo tern recebido forte apoio eml'tllt 11. alem de seu estudo classico relatado em seu livro The acquaitance process (NEWI 1 ll'vll\, L961), varias outras pesquisas, alem das ja citadas anteriormente, confirmam
1 1111portancia do fator semelhanc;:a como gerador de atrac;:ao interpessoal (por ex.:
11\ I{ NE, 1971; KUPERSMIDT, DeROSIER&: PATTERSON, 1995; AhYUN, 2002).
1l
h) 0 modelo proposto pela teoria de Thibaut e Kelley
De acordo com a teoria de Thibaut e Kelley (1959) uma relac;:ao diadica sera tanto
111 ,\l ., agradavel quanto mais acima do CL (nivel de comparac;:ao ou comparison level) de
f~ ll ., integrantes estiverem os resultados por eles experimentados. 0 CL e o padrao
'till Ira o qual avaliamos os resultados obtidos numa relac;:ao interpessoal: se esses reltllados se situam acima do CL, a relar;:ao e avaliada positivamente; caso estejam abai'"' do CL, ela e avaliada negativamente. A base, pois, para a formar;:ao e m<'mutenr;:ao da
11 l.u.:ao interpessoal e a obtenr;:ao, por parte de seus integrantes, de resultados satisfat6llll'> e a inexistencia de alternativas onde melhores resultados poderiam ser obtidos.
l .>uando a relac;:ao interpessoal produz resultados superiores ao CL de seus componenlt ' > cste CL esta abaixo do CLalt (nivel de comparac;:ao para alternativas ou comparison
/rvd for alternatives), a situar;:ao e satisfat6ria e seus integrantes sao pouco dependentes
dt'la , de vez que outras alternativas ha que tambem produzirao resultados acima de
.,,·us respectivos CLs. Se, entretanto, os CLs dos componentes da relac;:ao diadica esti321
\I IIIII ,11 i111,1 do ( I .dl, .1 H f,H,.III !' o;,!li'ol.tiOII;t, Ill:\'> o-. ~ OllljlOIH'IIIl''o -.;IO t'Xlll'lll~liiH'I lll '
dqw11d~· lltt''> dcla , poi'> a-. allltll.tll\,1'> .1-.ua di.,po.,ir;ao n<lo produ zirao rc.,ultados ""
pet iore-. aos scus CLs. Fi na lnH'IIIl', a 'ela!;ao sera insatisfatt)ria c c considerada por T l11
baut c Kelley como situac;:ao nao-vo luntaria, quando os resultados cia interac;:ao diad ira
sao infcriores ao CL de cada integrante, mas superiores a seus CLalts, fazendo com qtu·
a interac;:ao permanec;:a, embora seja nao gratificante.
Dentro deste enfoque poderiamos dizer que a atrac;:ao pessoal para Thibaut e Kcl
ley seria resultante da capacidade das pessoas de produzir resultados favoniveis uma~o
as outras. Quando isto se da, verificamos o desenvolvimento de atrac;:ao interpessoal e.
enquanto os resultados colhidos na interar;;ao permanecerem acima dos CLs de cada
membro, esta atrac;:ao sera mantida. A atrac;:ao diminuira e a relar;;ao podera romper-st·
quando seus membros passarem a produzir resultados abaixo de seus respectivos CLs.
A consequencia natural de uma tal situar;;ao e o abandono da relac;:ao e a busca de uma
alternativa onde os resultados auferidos sejam gratificantes.
.j, IIIII III;U,;tO po flliC:I .. IIIHfh.tllll pndtlll -. u'ocitar alta'> II l'lllll(H'II-,,1'> I 0111 (liHllllO.,
!IUdtlltll tli..,IO ao nwnlt' n'tll tulia tt'l;u,;ao '>Ocial; o fator prox11nidadc diminui o cus·
ill tl:• i111tt,u;:to quando comparado como fator dificu ldadc de contato por existencia
I' dt 1.1111 1:1 t•ntrc os mcmbros da intcrac;:ao. E possivel que no decorrer da interac;:ao
Ut j:llll u 1111portamcntos dos repert6rios dos membros integrantes da interac;:ao social
tl'"ill llem em diminuic;:ao da agradabilidade dos resultados por eles experimenta\ , OII'>Cqucncia de tal ocorrencia sera uma diminuic;:ao na atrac;:ao interpessoal
l11i iit.ul.t, ou mesmo o impedimento da formac;:ao do elo afetivo caso este ainda nao se
, iilt ll''>lahclccido firmemente. Como dizem Secord e Backman (1964), uma verdadei1111,1~ .to de barganha, on de os membros da interac;:ao procuram tornar maximos
il'.)',.utlws c minimos os seus custos, se estabelece, e se for encontrada uma situac;:ao
[; 11 IIIIIOdac;:ao onde os resultados obtidos pelos membros da relac;:ao se situem aci-
I!
''" .It '>l'liS CLs, verificar-se-a a atrar;;ao entre tais pessoas.
Digamos que duas pessoas se encontrem pela primeira vez numa reuniao social.
Segundo o modelo aqui considerado, o processo inicial de interac;:ao tera por finalidade
verificar, atraves de amostras de comportamentos, as possibilidades de gratificac;:oes
ou de custos que cada uma pode suscitar na outra. ]a vimos anteriormente que sem elhanr;;a de atitudes, valores, beleza, trac;:os de personalidade, etc., assim como o fa tor
proximidade, sao variaveis relevantes no estudo do fen6meno de atrac;:ao interpessoal.
Em termos do modelo de Thibaut e Kelley, tais fatores podem facilmente ser traduzidos em termos de resultados (gratificac;:oes menos custos) da seguinte forma: duas pes-
nlocado nestes termos o modelo derivado da teoria de Thibaut e Kelley pode pa•tl' 1 '\ccssivamente mecanicista, baseado simplesmente no poder reforc;:ador ou pullltt\'n da cmissao de comportamentos gratificantes ou onerosos. Nao obstante, a posi•lll 11.' ., hibaut e Kelley tern o grande merito de servir de ponte entre as concepc;:oes puHiilrllll' mecanicistas e moleculares e as concepr;;oes estruturalistas e molares. Como
lt•nt nlbervam Deutsche Krauss (1965), os gestaltistas salientaram a necessidade de
"" .1dnar as recompensas do ponto de vista relacional, mas negligenciaram as conse'1"' m1as comportamentais da percepc;:ao relacional das recompensas; por outro lado,
" .1, lt'nsores da teoria do reforc;:o puseram grande enfase nas consequencias compor1·.11 11' 111ais das recompensas e punic;:oes, porem negligenciaram os fatores que influen' Lull .1 maneira pela qual tais recompensas e punir;;oes sao percebidas. A teoria de Thih.llll I' Kelley leva em conta ambos estes aspectos. Nao se pode dizer que a formar;;ao da
111 ~~.to interpessoal seja uma consequencia mecanica e totalmente determinada por
'"''·' -.eqiiencia de contingencias conduccntes a reforc;:o e punic;:ao . Os comportamenlt•·· cl ;ts pessoas em interar;;ao sao percebidos e avaliados com base num padrao subjeti\11 proprio de cada pessoa (o CL), eo mesmo comportamento podera ter diferentes
, "'N'quencias para diferentes pessoas. E por isto que, dentro do modelo de Thibaut e
I·' lky, posic;:oes antag6nicas tais como as de Newcomb, por exemplo, segundo a qual a
, ntdhanc;:a de valores entre duas pessoas e capaz de funcionar como excelente predi'''' da formac;:ao de urn elo positivo entre elas, e a de Winch, de acordo com a qual pes''·'~ de caracteristicas diferentes mas complementares sao as que se atraem, pod em ser
, 1111ciliadas. As semelhanc;:as ou diferenc;:as vao ser percebidas por cada membro darel.u.. to diadica e, de acordo com esta percepr;;ao, elas terao urn valor especifico na di"" 11sao gratificac;:ao/custo que resultara numa experiencia subjetiva de satisfac;:ao ou
lih;ltisfac;:ao conforme a posic;:ao ocupada nesta dimensao for superior ou inferior ao ni' 1 I de comparar;;ao ( CL) individual.
322
323
E preciso ter-se em mente que o termo "resultado" tal como empregado na teoria
de Thibaut e Kelley significa gratificac;:oes menos custos. Se o resultado desta diminui r;;ao for positivo, sera satisfat6rio, caso contrario, sera insatisfat6rio. Isto nos leva a
considerac;:ao da situac;:ao de interac;:ao diadica sob o aspecto da produc;:ao de resultados
de maxima gratificac;:ao e minimo custo, o que produzira uma relac;:ao altamente satisfat6ria.
Resumindo o que foi dito ate aqui, o modelo derivado da teoria de Thibaut e Kelley
nos permite explicar a genese, a manutenc;:ao e a extinc;:ao de uma situar;;ao interpessoal
de atrac;:ao atraves do estudo dos resultados obtidos pelos membros da interac;:ao em relar;;ao aos seus respectivos CLs. A situac;:ao de atrac;:ao interpessoal aparecera se os
membros da relar;;ao diadica gratificarem-se mutuamente, e permanecera enquanto os
resultados por eles produzidos em termos de gratificar;;oes menos custos estiverem acima de seus CLs. A interac;:ao cessara, ou se mantera, mas sem a caracteristica de atrac;:ao
interpessoal, caso os resultados experimentados pelos seus membros estejam, respectivamente, abaixo de seus CLs e abaixo de seus CLalts, ou abaixo de seus CLs e acima
de seus CLalts.
1
\ Jlll'>tc,.to dt· ll11h.Htl 1 Vrllq• 1111 'I'" 1 olln'll\i' .u1 lt'll<lllll'llo P"Ho~o.,m 1.d d1· a11
<,..ltllllll'l pc~~oallolllt't'l' , ao""""" vn, tlllltnslntllH'IllO ll'tll ico ba..,tantt' rico para 1 ""
prccnsao c cstudo do fcn()llll'llO . Al,·m dis~o . divcrsos cstudos vcm comprovando q1
a avalia~ao de custos e beneffcios in(lucncia substancialmentc na qucstao da manu lr
~ao ou da ruptura de relacionamentos afetivos (ATTRIDGE & BERSCHELD, I
BECKER, 1981; SIMPSON, 1987; SOUTH & LLOYD, 1995).
u t_,11itLulo 11111 dl'"l'lll dt· .qwl.11 "o1111 o, de lazcr a.., n""·'" po1 ck , a confian~,;a c
ln\IIH llt.l'> ""·'"' lalta~. lmlo ,..,..,o ..,, 111 dt'''"r de lcvar em conta urn avassalador con' IIIIIIH'Iltos mais ou mcno~ de..,critfvcis como de embevecimento, adora~ao,
tbd• (tilt lnklicidadc, dcpcndcndo se o amor e correspondido ou nao), flutualt llllllltll , perda de apetite e, como dizem os poetas, a difusa sensa~ao de se estar
t\11 lu 111 ,. do mal. Continua Bystronski:
Dcpreende-se destes primeiros estudos que amor e algo complexo. Os estudos que se seguiram mostraram, por exemplo, que o cuidado desempenha
um papel mais importante nos julgamentos de amor do que o precisar, ou
que o am ore caracterizado mais por precisar por algumas pessoas e mais por
cuidar por outras. Estes estudos comec;aram entao a apontar na direc;ao do
amor como sendo varias coisas diferentes ao mesmo tempo , e atualmente a
tendencia e para que se considere o amor como sendo algo multidimensional,
Psicologia social e intimidade interpessoal
Estudos sobre o amor entre as pessoas tern sido a tecla dominante das invcsti).:ol
~6es psicossociais das rela~6es de intimidade. Rubin (1973) mostrou que amizadr
amor diferem em sua essencia, e nao apenas na intensidade do afeto. No livro Psic1
gia social para principiantes (RODRIGUES, 2007), a Dra. Brendali F. Reis (anterior
mente Brendali Bystronski) contribuiu com um capitulo intitulado "Teorias e protT"
sos psicossociais da intimidade interpessoal". Sua contribui~ao e tao atual e tao ht'lll
apresentada que, com a permissao da autora, reproduziremos a seguir o que di..,.,
Brendali Reis naquela ocasiao acerca dos recentes estudos sobre o amor: "Secularnwn
te relegado ao dominio de especula~ao de fil6sofos, poetas e compositores, hojc 11
amor se tornou tambem o objeto de investiga~ao cientifica".
Os estudos de Zick Rubin constituiram urn dos marcos iniciais na investiga~ao ~ ~ ..
tematica do amor, nao s6 porque demonstraram que conceitos tao intimamente liga
dos como o gostar eo amar podem ser independentes, e nao partes de um unico co ntt
nuo, como muitos pressupunham anteriormente, dando inicio ao escrutinio cientifiw
de fen6menos tao complexes, mas tambem porque ensejaram a discrimina~ao do'i
pensamentos, expectativas, comportamentos e sentimentos associados a este estado
chamado amor.
Amor foi inicialmente conceituado como uma "atitude mantida por uma pesso;r
em rela~ao a uma outra pessoa particular, a qual envolve predisposi~6es para pensar,
sentir e comportar-se de determinadas maneiras relativamente aquela pessoa". Sendo
esta uma defini~ao ainda muito proxima do que geralmente tern sido concebido corn
atra~ao/gostar, tentou-se determinar em que medida os dois conceitos se distingue m,
ou seja, em que medida os pensamentos e expectativas que derivam de atitudes dt•
amor diferem daqueles pensamentos e expectativas associados a esta outra atitude po
sitiva frente a outra pessoa que e o gostar. Atraves de uma pesquisa sobre as concep
~6es populares e te6ricas sobre amor e sobre atra~ao e de alguns procedimentos esta
tisticos, conseguiu-se distinguir os dois conceitos. A partir desta importante etapa no
estudo cientifico do amor, chegou-se a quatro possiveis componentes do fen6me no
amor: o precisar do outro- um forte desejo de estar em presen~a e ser cuidado pelo
324
ou seja, varias coisas distintas simultaneamente.
q~t.dquer
forma, os estudos de Zick Rubin deram origem a outros trabalhos,
111• i1k111 de ratificar os pensamentos relatives ao amor ja identificados, lograram de1.\1 , tliiiO ele se expressa em termos comportamentais- identificando comportaitl!l'•, omo "dar apoio emocional e moral ao outro", "sentir-se mais feliz, mais segutl ,,.., rdaxado quando o outro esta por perto", "revelar ao outro fatos intimos", "tolit'
' " dt 111andas e manter a rela~ao" ... ; e em termos dos sentimentos a ele associados1. ,, I•' de tocar, segurar e estar perto do outro", vontade de ser gentil, carinhoso com
t!ll\111, "sentimento de confian~a e apre~o pelo outro" ... Todos estes resultados nao
It' I .1111 sedimentar o amor enquantb uma area de saber cientifico, como exerceram
I• ti '' 111ll ucncia sobre os te6ricos do am or de maneira geral, a ponto de podermos iden1111· 11 , l'ntre o prolifero numero de teorias existentes sobre o t6pico, tres principais
1111 "It Ino., te6ricos, segundo a enfase dispensada a cada um dos quatro componentes
ti!• "' tonados acima. A seguir, passaremos a uma revisao destas principais vertentes
••Ill ,,..,
no estudo cientifico do amor.
,, ) Modelo do amor passional
I•o., tc modelo enfatiza o aspecto "precisar" do fenomeno amor. Algumas conceitua'·'' • tncluem, por exemplo, necessidades afiliativas e dependencia, sentimentos de extill .1vitlade, absor~ao, ao lado de atra~ao fisica, paixao e idealiza~ao do parceiro.
I''>Sencialmente, excita~ao sexual, hem como as condi~6es que levam e ela, eo curl' lrmporal do amor desempenham um papel fundamental neste modelo. Seu surgililt.lliO e subito, mas sua dura~ao e breve. A pessoa tern pouco controle sobre o proces,, 11a medida em que amor aqui e basicamente uma questao de emo~ao, mais do que
tl, ddibera~ao e escolha.
325
llilrll' llll' IIH' Iltl' dl' IIIUila<; lt) IIIOI !• q111 lOIIll'hl'lll 0 alltal l' 0 ).\O '> I,ll/aii,H,;; IO l'OIIIII
p.111l' de tun uni co conti'nuo I ' 1 ,pli1 .U11 ,, '> lla din<lmica atravc~ da~ tcoria~ do rclon;o r
da.., tcorias da troca social , como vimos antcriorm entc, cstc modclo conccbc o amo1
como fundamcntalmente passional , por onde se implica uma diferen ~,:a qualitativa im ·
portante entre os dois fenomenos, a qual esta afeta ao papel desempenhado pela fanta ·
sia, pela ambivalencia e pelo passar do tempo .
Esta
Ht;lnlll ,lltdo o ll' 'IO
formula~,:ao
te6rica coloca em duvida a medida na qual as recompensas e a.,
os custos e os beneficios, acrescentariamos- que duas pessoas numa rc
la~,:ao amorosa percebem estariam de fato tao vinculados a realidade objetiva, como
possivelmente pode ser sustentado relativamente ao gostar. A psicanalise nao tern st·
dedicado senao a evidenciar a importi'incia daquilo que sentimos como faltante na
ocorrencia do amor. Theodore Reik diz ate mesmo que e quando estamos mais insatis
feitos com nos mesmos que estamos mais vulneraveis ao amor. Ha evidencias na literatura empirica de que quanto maiores as necessidades de uma pessoa mais ela produzira fantasias sobre o objeto que poderia satisfaze-las. Por outro lado, sabe-se tambem
que a idealiza~,:ao e urn elemento essencial do amor romantico.
puni~,:6es- ou
Especificamente, no que diz respeito a idealiza~,:ao , S. Freud ja apontava para o fa to
de que no amor/paixao projetamos nossos ideais inatingidos na pele de outrem. Ou
seja, vestimos a pessoa que amamos com as roupas que gostariamos de ter. Mesmo que
nao levemos em conta considera~,:oes adicionais de Freud, como, por exemplo, as que
falam do amor como pulsao sexual inibida em seu alvo , entre outras, o elemento de
idealiza~,:ao aparece muito frequentemente nas diversas tentativas de defini~,:ao do
amor. Assim, apaixonar-se por alguem que nao se conhece- ou se conhece pouco- c
fruto desse mecanismo.
E Bystronski continua: "Assim, em se tratando de amor, as fantasias e as gratifica~,:oes
imaginadas podem ocorrer independentemente das recompensas de fa to recebidas".
A maxima "Ruim com ele, pior sem ele" e eloquente quanto a pregnancia da ambivalencia na rela~,:ao amorosa. 0 gostar de alguem esta consistentemente associado a coisas boas (refor~,:os positivos) , mas o amor romantico parece associado a emo~,:oes conflitivas , como, por exemplo, testemunha a frequente pergunta de jovens sobre a possibilidade de amar e odiar alguem ao mesmo tempo.
0 gostar e a amizade normalmente crescem como passar do tempo, porem o amor
romantico parece sofrer urn efeito contrario, compreensivelmente, alias, na medida
em que e urn fenomeno fortemente baseado na fantasia e na idealiza~,:ao. Segundo
Walster e Hatfield (1978), sua dura~,:ao maxima seria de 30 meses.ja Tennov (1979) e
mais otimista, ao estipular em torno de 2 anos a dura~,:ao media deste "sentimento magico". Impossivel deixar de citar a repisadissima frase do poeta Vinicius de Moraes:
"Que nao seja imortal posto que e chama . Mas que seja infinito enquanto dure".
326
dt· 1\y .,tiOihl~o l
lt·ndo (.'111 t'Olllll l'lllliO qul' 0 amor C rundallll'lll<llllll'llll.' lll\lll l'Xpni cncia
cmoc ional , tanto o corpo quanto a mente U! m urn impacLO crucial e m nossas
cmo<;ocs. Sob a pcrspcctiva da Teoria do Amor Passional, uma das principais
tcorias abrangidas por este modelo, pode-se compreender por que o amor e
um renomeno intrigante na sua irracionalidade e recorrente recusa a uma explicita<;iio definitiva e inapelavel.
om cfcito, amor- que, para esta teoria, e passional- e definido como urn "estado
th IIIII'II Sa a bsor~,:ao por outro ... urn estado de excita<;ao fisiol6gica intensa" . Consislll t' nte com a teoria da emo<;ao em que se baseia, as ideias, mais ou menos consci.,,,, '•, que temos sobre o que seja amor constituem parte das condi~,:oes causais do
iii 11 11 I·.s tas ideias seriam determinadas nao s6 por nossas experiencias amorosas como
1111I H· m pela cultura e pela vida familiar. Nossas manifesta~,:oes artisticas- filmes , pel•, k tcatro, musicas, livros de fic<;ao- giram repetidamente em torno da importancia
1 tl 1 va l o riza~,:ao do amor. Desde as remontagens de Romeu e Julieta ao filme Titanic,
p.t· '> illldo pelo fio condutor das novelas de TV as letras de musica popular, e do amor
li' tll t
flllt
.,c fala, primordialmente, em nossa cultura.
r a autora citada prossegue: A cultura ocidental moderna nao s6 enfatiza a import 1111 ta do amor enquanto fonte de satisfa~,:ao e realiza~,:ao como dissemina ideias a res1" llo do que possa constituir urn objeto de amor. Por exemplo, existe uma certa presiipos i ~,:ao de que somente os seres humanos atraentes podem inspirar fantasias passio11 d.,. "Se uma pessoa admite estar sexualmente atraida por urn corcunda, por urn octo'·' 11ario ou por alguem que nao tenha nariz, ela e logo rotulada como doente ou perver.1 ', diz Ellen Berscheid. Nosso Vinicius de Morais, por exemplo, pede desculpa as feias
111.,.., nao deixa de declarar que "beleza e fundamental" . As melhores evidencias apon1.1111 o fa to de que a atratividade fisica esta fortemente associada a paixao , sobrepujando
til' mesmo caracteristicas outras como inteligencia, tipo de personalidade ou similari' l.td c de atitudes.
Porem, mais importante do que difundir ideias deste ou daquele tipo, o fato e que
,, r ultura nao e consistente nas ideias que veicula sobre o que seja, afinal, o amor. Algulllas vezes associado a emo~,:oes prazerosas, autorrealiza~,:ao, extase e felicidade, outras,
tll otivo de desespero , loucura, sofrimento, frustra<;ao e tristeza, nao e de se estranhar
que amor resulte algo confuso e de certo modo indefinivel para n6s. Em compasso com
,, cultura, a familia, de modo mais particular, tambem desempenha seu papel neste
processo . Comportamentos e sentimentos correspondentes ao que nomeamos "alegri a", "raiva", "medo", " excita~,:ao " , "amola~,:ao " sao facilmente discriminados e comulli cados a crian<;a em sua significa<;ao. Ha, no entanto, uma exce~,:ao: nao recebemos
327
llt-.tru~<W -. dirt•ta-. -.ohre a nat tilt .t dtl .unor; a tltall~;t-.implc-.mcntt' ohM' IVa aquck..,
que a rodciam c, na rclativa tortlu -.;lo de -.t·u mundo infantil , ondc muitas vczes fanta
sia e realidade se confundem , vai formando de modo inconscicnte suas ideias a respei
to do que seja o amor. No entanto, estas ideias, par primitivas que sejam, influencia m
fortemente as expectativas de amor que na idade adulta a pessoa vern a ter.
\-. qn.ttlll p1111H'II ,,.., n11 '"'" tui ri.1111 11o-.-.a-. nt·n ·-.-.idadc-. dt dt I H·it·u< i.t , · Ill'<<'""ld.t
I l ·, 1 ""' ult 11na-., a-. m-c c-.~ idadc-. 1l'lallva-. ao scr, "nccc-.-.ld,ttk-. ~" . 0 "amor D" lion•·: , • l i. t ,, partir da rcali za<;~to das ncccss idadcs D". Quando algucm nos gralifica estas
, , ..,., IILtdcs, n(>s o amamos em retorno . Outro tipo de amor surge, no entanto, a parli• d,t g1.tt ili ca<;ao das "necessidades S" .
Mas emoc;oes constituem-se tambem par sentimentos (excitac;ao fisiol6gica, o
lado relativo ao corpo de que falamos acima) , os quais "apropriadamente" nomeamos.
0 que intriga, surpreende e talvez por isso mesmo apaixone aqueles que se dedicam a
dissecar e definir o amor eo fa to de que as experiencias emocionais que se revelam capazes de geni-lo e alimenta-lo sao muitas vezes tambem capazes de destrui-lo, alem de
serem contradit6rias, varias vezes surpreendentes e mesmo irracionais.
no casamento o "amor D" se referiria a todas as formas de amor autocentratl" 1111 qual duas pessoas se amam porque as necessidades de cada uma sao satisfeitas
I'' l.t II lli ra , podendo par isso ser urn amor fragmentado . Neste tipo de amor, uma espo' I" Hil' gostar de seu marido como urn parceiro sexual, porque ele satisfaz suas neces1·1 uIt ., biol6gicas e emocionais, porem reprova-lo em seus julgamentos de val ores,
P•" ' ' ''tnplo . Ja no "amor S" isso nao acontece, pais este e urn tipo de am or justamente
pr f,, Ifil l' ha de unico no outro, pelo seu ser. 0 impulso sexual e ancorado no amor pro1\lltdll pclas qualidades do outro. Neste tipo de amor, nenhum dos parceiros se sente
II' ,, guro ou ameac;ado, pais cada urn se sente aceito pelo outro. 0 amor nao esta con"' ll rnado pela medida em que urn satisfaz as necessidades do outro, nao sendo, porH•ttll , possessive nem egoista. Trata-se propriamente de uma forma de amor incondiJ IIi ll ,d , o nde se fundamenta uma relac;ao na qual cada pessoa pode desenvolver a sua
lii r lltnr autorrealizac;ao. Julgamos que o "amor D" se enquadra no modelo do amor
I'' .tonal, enquanto que o "amor S", movido pela satisfac;ao de necessidades menos
l!itlll,\1 ias e mais transcendentes, talvez seja mais satisfatoriamente vista como alga en" nt odelo pragmatico e o modelo altruista, como veremos a seguir.
Excitac;ao e gratificac;ao sexuais e sentimentos de seguranc;a sao experiencias emocionais que parecem facilitar a paixao. Estes ultimos, no entanto, podem, como passar do
tempo, vir tambem a mina-la. Como ja foi observado com muita propriedade, vivemos
presos par urn dilema aparentemente insoluvel: ao mesmo tempo que precisamos de seguranc;a, previsibilidade, queremos tambem excitac;ao, novidade, risco; ao nos sentirmos seguros, imediatamente esquecemos o que temos - seguranc;a - e passamos a sonhar com o que nao temos- emoc;ao. 0 perigo e excitante. Muitas vezes e divertido ter
uma resposta emocional forte, com muitas pessoas valorizando suas relac;oes amorosas
pelo seu excitement. Assim, sob certas condic;oes, par serem fisiologicamente excitantes, sensac;oes ate mesmo como o medo, a rejeic;ao, a frustrac;ao, o desafio e a oposic;ao
podem conduzir elou au men tar sentimentos passionais, na medida em que puderem ser
associados a outros indicadores situacionais que gerem atribuic;oes de amor.
Segundo outra teoria baseada no aspecto "precisar" do fenomeno, o amor e basicamente dependencia e necessidade de realizac;ao. Porem faz-se uma distinc;ao importante entre dais tipos possiveis de amor, hierarquicamente dispostos conforme as necessidades cuja satisfac;ao uma pessoa vai buscar em outra.
A ideia e a de que as necessidades humanas se organizam como uma pin1mide, em
cuja base estao as necessidades mais primarias:
1) necessidades biol6gicas;
2) necessidade de seguranc;a;
3) necessidade de amor e pertenc;a;
4) necessidades relativas a autoestima;
5) necessidades intelectuais;
6) necessidades esteticas;
7) necessidade de autorrealizac;ao.
328
\ r,o; im ,
h) Modelo do amor pragmatico
htc modelo enfatiza os componentes "confianc;a" e "tolerancia" do amor. E do tipo
.li ollllor que ocorre entre adultos maduros, comum em relacionamentos duradouros,
, 111110 o casamento. E uma forma de amor que tern Iugar a partir de uma interac;ao que
1111lro-. os envolvidos consideram satisfat6ria e na qual esta presente a confianc;a mutua.
ll,t Hill aprendizado no sentido da tolerancia das idiossincrasias com vistas a manuteniol cl.t relac;ao e das gratificac;oes que ela proporciona. 0 "cuidado" aqui aparece como
p.tr .ucgia, par assim dizer, para obter e manter a reciproca par parte do outro.
Comparativamente ao amor passional, relacionamentos baseados em amor pragl\1.11 ll' O desenvolvem-se mais lentamente e sob maior controle por parte dos envolviikt'i 0 arrebatamento caracteristico dos relacionamentos passionais, em que a depentkllt ia e logo declarada, nao tern espac;o aqui; em Iugar disso, encontramos a forc;a da
tit llhcrac;ao. Em vez de "apaixonar-se", cada pessoa "se permite" tornar atraida pelo
ltlttr o, processo regulado pelos indicadores de que a crescente dependencia e mutua.
o'\ ·.. ,lm , relacionamentos pragmaticos sao, via de regra, relacionamentos equitativos,
1111 •,t•ja, cada urn sente que retira da relac;ao mais ou menos o mesmo que coloca. No
329
lOIIIIilll,tllH'Illt' iiO qttt illt-i.;;t p.tll l l'l , ;to., lll'got l.l~lH'o., .tlt.tVl'O., d;to., qu;11o., OO.,l'lf
IIH'IIt os q uc sc poem c que sc Itt .tttt d.t 1 c l ~u,;ao sito aj us1ados nao sao nem dcvcm scr ex
pltcitas, sob pcna de pcrdcrcm ·M ' oo., valorcs de rccompcnsa.
1111.11110 ,
Trata-sc de um lipo de amor onde a compatibilidade entre os envolvidos e funda
mental, como similaridade de atitudes e necessidades complementares. Entretanto, ma t-.
importantes sao as condi~oes causais que emergem da propria rela~ao, como uma con..,
ciencia compartilhada de que ha confian~a mutua, compreensao reciproca de que cada
urn e completamente conhecido pelo outro e totalmente apreciado e respeitado, e ceno..,
tratos a respeito de compartilhamento e lealdade. Em contraste com a enfase do amor
passional a "pessoa especial", o modelo pragmatico enfatiza urn "processo especial"'
atraves do qual estes componentes relacionais , que nascem a partir da rela~ao, surgem.
Dados que ap6iam a ideia de que conceitos introduzidos pelas Teorias da Troca So
cial, como o principia da equidade, e processos autorreguladores, realmente desempe
nham um papel fundamental no desenvolvimento deste tipo de relacionamento tc m
sido fornecidos pela pesquisa empirica. Espera-se que relacionamentos percebidos co
mo equitativos, por exemplo, sejam mais estaveis e mais provaveis de durar do que o'
que sao percebidos pelos envolvidos como nao equitativos. Aparentemente, as pessoao.,
nao se deixam apaixonar, por assim dizer, a nao ser que a dependencia ai implicada sc ja
acompanhada pela confian~a. Consistentemente, alguns autores demonstraram que pc..,
soas com locus de controle interno sao menos provaveis do que outras pessoas de ter ex
perienciado amor "romantico/passional" e de terem vivido suas liga~oes heterossexuaio.,
como "misteriosas" e "volateis", por exemplo. Enfim, as turbulencias do amor passiona l
estao de longe excluidas de qualquer concep~ao de amor pragmatico. Em vez disso, o
autocontrole e as delibera~oes intimas e que ditam o curso dos acontecimentos.
Incluiriamos ainda neste modelo o amor-companheiro, algumas vezes chamado
de amor conjugal, expressao que designa "a afei~ao que sentimos por aqueles com o..,
quais nossas vidas estao profundamente entrela~adas", que se contrapoe, por urn laclo ,
ao amor passional, ja descrito, e, por outro, ao gostar, definido entao como "a afeic;:ao
que sentimos por conhecimentos ocasionais. Amor-companheiro e urn estado mais eo.,
tavel do que o amor passional, onde a confian~a e a amizade sao elementos muito ma l'..
importantes. Os dois estilos de amor podem entao ser diferenciados basicame nt l'
quanto a intensidade emocional e a sexualidade e quanto a estabilidade no tempo.
0 amor passional e extremamente intenso e frequentemente constitui o intere~s~·
primario da vida da pessoa. 0 amor-companheiro ja e muito men~s intenso e m ai..,
tranquilo; apesar de os la~os tambem serem fortes, as emoc;:oes sao mais calmas e es ta
( OllllillliiiiH'IIII' ao
,111101
jlil..,._,ltlll,tl , OtHk l'.., l:l ptl''>t'llll' !t llll'lltt dt
ljlll ~ II ,1111111 ;1(',1
lllldt• 11~10 ..,,. itnplic:t, por excmplo, a'>si'>t(•ncia mutua""" ;tttvtd.tdeo.,lottdianao., ba
i(l t., dt• cada 11111 , o amor companheiro t ~cnticlo como muito mais cs tavcl , fundado
t'ttt pt inctpios de rcs pcito , admirac;:ao c confian<;a, o que concluz outros autores a defi!ti .111 wmo uma forma mais intensa de gostar, apesar da distin~ao evidenciada entre os
dtti s 1 ons trutos pelo trabalho de Zick Rubin e outros, como vimos anteriormente.
1.. • ,
l'ara muitos autores , ainda, o amor passional tende mesmo a se transformar- se
(111101 rclar,;ao permanece ou "vinga" - no amor-companheiro, no qual, como vimos, a
ii't11111a, a amizade, o companheirismo eo que e sedimentado atraves de vivencias em
'IIIIIIIITI- boas ou mas- e que passam a sobressair. Evidentemente nao se trataria de
11111 processo linear ou irreversivel: eventuais brigas, viagens, promoc;:oes e aconteci"" 111 0s fora da rotina podem vir a reacender "a velha chama", ainda que sem a sua in" 11.., idacle inicial. Como explicam Walster e Hatfield (1978)- os primeiros a formular
• '"' distinc;:ao -, "romances podem come~ar numa torrente de paixao, mas, sea relac;:ao
j llrl cncle sobreviver, deve haver uma evoluc;:ao no sentido do companheirismo, da intillttdad e e do compromisso". Posteriormente, Hatfield (1988) modificou um pouco sua
p11o, ic,;ao anterior ao observar que as pessoas tambem sao capazes de manter as duas
tllod alidades de amor de modo concomitante, ainda que isto nao seja facil e!ou colltttm . De qualquer forma, esta teoria dos dois estagios do amor e uma das mais classi• ,,., c aceitas neste campo de estudos.
c) Modelo do amor altruista
Este modelo enfatiza o componente "cuidado" do amor, porem este cuidado e inlttnsecamente motivado e nao possui o intuito de eliciar comportamentos similares
por parte do parceiro. Usualmente comparado como "amor de mae", a pressuposi~ao
' ,, de que em alguma medida este tipo de amor pode estar presente em relacionamenlo'> amorosos heterossexuais, paralelamente ao precisar e a dependencia, o que constillliria, segundo alguns, urn amor maduro ou, se nao, ao menos como urn ideal.
Uma distin~ao entre este tipo de amor (ou relacionamento) e aquele traduzido
pt·lo amor pragmatico foi tra~ada tambem em outros termos: relacionam entos de
lroca, que poderiam ser propriamente enquadrados no modelo descrito acima, ver\II S relacionamentos "comunais". Neste ultimo, cada pessoa tern uma preocupac;:ao
rom o bem-estar da outra, com as relac;:oes familiares constituindo urn de seus melltores exemplos.
0 principia geral e que beneficios altruistas oferecidos a urn parceiro sao guiados
veis. Em uma palavra, o amor-companheiro deixa espa~o para prazeres prevenient(''
de outras fontes. Assim, a experiencia sexual pode ser completamente diferente, tanto
em sua frequencia quanto em sua intensidade.
daquele que ora oferece o beneficia, sejam presentes, passadas ou futuras. E cu idand o
do outro e fazendo todo o possivel pela sua felicidade que o individu o motivado por
330
331
~omente pelas necessidades deste e nao envolve considerac;:oes sobre as necessidades
.S it 11po dt· .111101 l' llUllllt.t "' ttltdnr ·~.tlt .., l.t~ . IOl'lll ""'' ptoptta vtd.t. l ~ nt ll''o ttlllO, qu e
tet· o hem do out ro ~cria a pt•dt ;~ .tngttlat dl''o ta lotma de go~ tar.
I'.
d) A Teoria Triangu lar do Amor
Alem des tes modelos te6ricos, a literatura cienlffica sobre o amor tam bern tem no.,
fornecido algumas taxonomias. A Teoria Triangular do Amor, proposta por Robert J
Sternberg (1986) , da Universidade de Yale, e uma delas. Assim como no trabalho el l'
Zick Rubin, esta teoria preve alguns componentes essenciais ao fen6meno amor: in ti
midade, paixao e decisao/comprometimento.
Intimidade estaria relacionada aos sentimentos de proximidade numa relar;;ao de
amor, aqueles que criam a experiencia de "aconchego". Sao identificados como sinaio.,
de intimidade:
1) desejo de promover o bem-estar do objeto de amor;
2) experienciar felicidade ao estar com ele;
3) ter por ele alta considerar;;ao;
4) poder con tar com o ser amado em momentos de necessidade;
5) compreensao mutua;
"' 1111 llll' o ro tttl lll llt'llll' l'.th..lo .,, 11 ,1o qu e o au101 dntnt11i11 01 ",u11111 lnl.lltt.td o"
•tguda ); l' o "amor ;\ pt illH' II .1 vt'o la", ond c a ideal1 .u,,\o, a ob.,,...,..,, l0 l' a exc i
H• lt .,lt .t dl''ol' rnpenh am Lllll papcllundamcntal; pode surgir in::. Lantancam cntc c, da
111 t lot tll a, dcsa parccc r de rcpentc.
~ ~- , -, 11 1 1 1
•
o co mponente Decisao/Comprometimento: e o que o autor chama
pode ser carac terizado , por exemplo , por casamentos onde o envolvilllf ll itll II Hlcio nal mutua e a atrar;;ao fisicaja deixaram de existir, ou, ate mesmo, nunca
l ~ti t . UII .
• lui im idade +
Paixao: este seria o amor romantico. Aquele tipo de amor onde os
II ''" ldO'o pod em perceber que a permanencia da relar;;ao e improvavel, impossivel ou
!II • tt Ht um a questao a ser tratada em algum momento no futuro . Eo tipico "amor de
t l,llt (o u "amor de carnaval") , que pode ser altamente romantico , mas sem nenhuma
h_tt t•.' l tea l de durar alem de um determinado periodo . .E tambem o classico Romeu e
l1! 1i t 1:t, ou o caso de dois adolescentes que nao podem se comprometer em funr;;ao de
jill' n11 tras escolhas, tais como a profissional, desfrutam de um Iugar prioritario em
11 1 ~ vtd as.
1
• lntimidade + Comprometimento: "amor-companheiro", forma de amor que e
itt: talmente uma amizade comprometida e duradoura. Aquele tipo de casamento,
1 \l' mplo, onde nao ha mais atrar;;ao fisica. Este tipo de amor coincide com o
llillll ro mpanheiro mencionado ahteriormente. Pode ser considerado o modelo de
1111111 que surge quando o amor romantico (baseado somente na paixao) desaparece, se
j II l , t ~'<IO e mantida.
•
6) dividir tanto o seu eu quanto as posses com o objeto do amor;
7) receber dele apoio emocional;
8) prover-lhe apoio emocional;
9) comunicar-se intimamente com este objeto;
10) conceder-lhe urn valor importante.
0 componente paixao diz respeito ao lado instintual do amor, atrar;;ao fisica, contato sexual. Por ultimo, o fator decisao/comprometimento constitui-se em dois aspectos, um a curto e outro a Iongo prazo. 0 primeiro consiste na decisao de alguem de que
ama outrem. 0 segundo diz respeito ao comprometimento em manter o amor. Os dois
componentes nao estariam sempre necessariamente juntos.
A luz destes tres componentes classificam-se os tipos de amor, segundo as sete
possiveis combinar;;6es que deles se derivam, considerando-se os tres componentes
principais e as interar;;oes entre eles:
~ t llll t' lli C
fl lill '.t~ i o";
1
I''"'
• Paixao + Comprometimento: "amor fatuo ". Eo tipo de amor frequentemente as'" t.td o a Hollywood: um dia um casal se encontra, decide casar rapidamente ... e realIll ni t' o faz em seguida! Enfim, o comprometimento e feito com base na paixao, sem
11111 rstejam presentes os elementos estabilizantes pr6prios de um envolvimento inti''"' que requer tempo para se desenvolver; as relar;;oes fundadas neste tipo de amor
111 , assim, altamente suscetiveis ao estresse.
• lntimidade + Paixao + Comprometimento: "amor consumado" ou amor coml'lrt o, e o amor ideal, apesar de ser dificilmente atingido e mantido, alias, nem sempre
ltlt o.,rado em nossas relar;;oes amorosas.
• Somente o componente Intimidade: seria o gostar, porem sua definir;;ao diverge
da fornecida por outros te6ricos, no sentido de que nao descreve meramente os sentimentos em relar;;ao a conhecimentos casuais, mas sim o conjunto de sentimentos e experiencias de uma relar;;ao de verdadeira amizade, onde a pessoa se sente pr6xima ao
outro sem paixao intensa ou comprometimentos a Iongo prazo.
Posteriormente, Sternberg (1996; 2006) fez uma adir;;ao as suas pr6prias contribui~ 111 ., propondo uma teoria do desenvolvimento do amor, por ele denominada de hist6tl.t'> de amor, e que valoriza os ideais de amor que as pessoas aspiram para seus relaciott.un entos. Como esta implicito no nome, esta teoria fala das hist6rias pessoais prei'.l t•ssas (constituidas por influencia de cantos de fadas, observar;;ao da relar;;ao dos pais
1 parentes, televisao e cinema, leituras, conversas, etc.) que levariam os sujeitos a
• IIIIStituirem certos padroes e ideais de relacionamento.
332
333
llrtt.t 1 l,t.,.,iltt .H,.Io l' tlvohttld,, Ui 11111.1., lot dt'.,\' ll vol vtd.t pdo .tlllot 11:1 hii .,UI dr
roteiro., lipt co., que rcprcM'III.I.,.,,."' llllllT pt,;tk., de amor por parte da., pe.,.,oas un1.1
li sta, por clcfini<,;ao , se mprc parctal , uma vcz que nao sc ria poss fv cl fazc r Lllll rol fina l
que fosse capaz de capturar cacla poss fvcl hist6ria pessoal cxistcntc. Como os cnreclo.,
analisados foram de moradores nos Estados Unidos, e possivcl que a lis ta seja algo di
ferente em outros paises. Por outro lado, no entanto, dada a globaliza~ao e a pervasivi
dade de certos temas em letras de musicas, cantos de fadas, filmes e obras litenirias , cs
pera-se tambem que as futuras replicas em outros pafses e outras culturas venham a
confirmar boa parte dos enredos ja captados (STERNBERG, HO]]AT &: BARNES, 2001).
Assim , enquanto a teoria triangular sugere que as pessoas formem triangulos con gruentes, a teoria das hist6rias vai procurar dar conta dos porques das pessoas virem a
constituir (ou nao) triangulos congruentes. Desta forma, as hist6rias das pessoas,
combinadas com suas personalidades, as levarao a produzir determinados roteiros,
que por sua vez as conduzirao aos tipos de relacionamentos romanticos escolhidos.
Nas palavras do autor, a intera~ao entre atributos pessoais e o ambiente - incluindo
aquele em parte criado por n6s- leva ria ao desenvolvimento de enredos que procuramos preencher, dentro do possfvel, ao longo de nossas vidas. Parceiros em potencial
vao atender em maior ou menor grau esses anseios de completude e as rela~6es mais
bem-sucedidas seriam aquelas nas quais haveria maior compatibilidade entre os enredos de ambos os parceiros.
Outras diferen~as, alem de nuan~as relacionadas a esta nova perspectiva, tocam
em pontos diversos , tais como as causas de possiveis mudan~as nas rela~6es ao longo
do tempo e a influencia de heuristicas e tendenciosidades, entre outras. Alem disso , algumas hist6rias remetem a outras teorias em fun~ao de suas semelhan~as (ex. : hist6rias de amor baseadas no jogo e o ludus de Lee- v. abaixo -; hist6rias de fantasia e as
concep~6es de amor romantico de Walster e Walster) . 0 autor lembra tambem que
esta teoria se encaixa em uma tradi~ao contemporanea, a de tentar compreender o papel das narrativas na vida das pessoas (BRUNER, 1990; MURRAY&: HOLMES, 1994;
SARBIN, 1986).
Sternberg ainda adiciona urn pouco de tempera a discussao do papel da similaridade e da complementaridade na afetividade ao afirmar que elas nao sao incompativeis
a luz da teoria das hist6rias, uma vez que ao mesmo tempo em que procuramos pessoas
com hist6rias similares, tambem necessitamos de pessoas que exer~am papeis que poscomplementar para que as hist6rias sigam adiante de forma harmoniosa.
s cores do amor
---Em contraste com a concep~ao de que o amor e urn unico fen6meno constitui-
1!\r ntqlli ,t\.IH'., dt• q11.dq11t:t ''"IH'tll' Cottl l'l r llo , tun tq111 dt .1111111 11 ,to 1 \ t., to 1 lllllll
''I ''''"' 0 11 mai., verdadeiro do qu e o111ro . I odos os cs tilo., .,,\o k gtlitllo ... John Alan
I r•. ( I q 7 \) , ps tcologo can acl cn'>c au tor dcsta classificar;ao c cmpiri cament e tcstada e
ti.C t ll volvida por ll cndri ck c ll cnclri ck -, ressalta que, como s6 temos uma palavra
p,t t 1 dro., igna r as rc la~oes satis fat6rias que chamamos amor, tendemos a pensar que s6
l' li h l l um a coisa correspondente a esta palavra, em fun~ao do que tendemos a medir
tlil't tt lll,'<lS em exp erien cias de amor em termos de quantidade, definindo amor mutuo
•11110 aqucla situa ~ao em que A ama B tanto quanta este ama A, "como se vivessemos
1 111 11 111 mundo de amor P.reto e branco, com as variantes nas quantidades de amor fa' ttd o o quadro mais ou menos cinza". Estabelecendo uma analogia com as cores, seu
.d'I• I ivo e justamente mostrar que, ~ssim como faz mais sentido explicar as diferentes
. '""" do que definir a cor em si, faz mais sentido tentar distinguir os varios estilos de
lltll ll' do que perseguir uma defini~ao do amor que expresse a possivel essencia do que
,.,, ,, o "verdadeiro amor". Com efeito , assim como com a preferencia pelas cores, o estil •• de amor de uma pessoa pode variar durante a vida e de uma rela~ao para outra.
Estes diferentes estilos de amar corresponderiam as varias ideologias conflitantes
" " ;lm or que a produc;;ao cultural humana criou ao longo dos seculos. Diz Lee que "se
,.. uninarmos os escritos de fic~ao e nao fic~ao sabre amor nos ultimos vinte seculos,
li t Ma 6bvio que nossa civiliza~ao tern se constitufdo em campo de batalha para ideologt.l., de amor". A pressuposi~ao do au tore a de que todas estas ideologias participam na
'on s titui ~ao da subjetividade humana e e precisamente isso que garante a pluralidade
do amor.
Atualmente o conceito de amor parece terse tornado rigido, mas os gregos e romaII Os , sendo mais tolerantes as distintas ~anifes ta~6es de amor, possufam varias palavras para os diferentes e igualmente validos tipos de amor. 0 grego e o latim sao entao
,,., linguas onde o au tor vai buscar os termos para compor sua classifica~ao , a qual, ele
., ublinha, nao ignora ou nega as intersec~6es entre as categorias, mas localiza-se nos
.tglomerados de caracteristicas mais distintivas. Em sua tipologia, assim como o vermelho, o amarelo eo azul constituem as tres cores primarias, a partir das quais se formam todas as cores do arco-iris, os tres "estilos primaries de amor" sao Eros, Storge e
Ludus, sendo que todos os outros numerosos estilos de amor resultam de alguma
co mbina~ao destes tres. Os estilos de amor secundarios mais familiares sao Mania
(Eros+ Ludus), Pragma (Ludus + Storge) e Agape (Eros+ Storge). A seguir, uma desc ri~ao de cada urn deles.
do por diferentes componentes, encontramos na literatura uma outra taxonomia do
amor, baseada na pressuposi~ao de que o amor e urn fen6meno plural, que nao permite
Eros- Este estilo de amor e a busca por urn parceiro cuja apresenta~ao ffsica corresponda a imagem ideal que a pessoa tern em mente. Amantes er6ticos sabem exatamente o tipo fisico que e capaz de "mexer" com eles. A prioridade e a imagem do obje-
334
335
'
11<10 h,t in tell' ..,..,\ !'Ill I l':tV; II ' IIIII l'OIIhC\'IIIIl'lllO COIll candidHIO~ tJlll' 11<10 de
nwn ~ trc m boas chan ces de adrqtt.ll '> l' ,, t·~ ta image m. Lun estilo de amor que sc m pre
c om e~a com uma avassa ladora atra!,,' <lo ltsica, pois o amantc cr6ti co e um a pessoa cons
cieme de que scu parceiro ideal c um a raridade. Tfpicos amantes er6ticos estao semprc
prontos para os riscos do amor, apesar de nao o buscarem com ansiedade. Possuem a
volupia de conhecer seu objeto de amor o mais nipida e completamente possfvel- pre
ferencialmente despido. Mantem-se atentos, no entanto, a qualquer falha e potenciais
defeitos na pessoa amada; procuram expressar seu prazer com o ser amado verbal e tatilmente. Usualmente querem uma relac;;ao exclusiva, mas nao sao possessivos nem temem possfveis rivais. Amantes er6ticos consideram que ter encontrado e viver com
seu ideal de amor e a mais importante atividade em suas vidas.
to d1
,Oil() I, I'
t:
Storge- Esta era a palavra grega para o companheirismo afetuoso que se desenvolve a partir de urn conhecimento gradual, apropriado para o estilo de amor no qual urn
indivfduo "se acostuma" como parceiro, em vez de "apaixonar-se" por ele. E aquele
tipo de am or de duas pessoas que crescem juntas numa amizade e de repente se percebem "in love" - "Amor sem febre ou to lice". Cada parceiro desenvolve afeic;;ao e comprometimento como outro e finalmente eles decidem ficar juntos. "Amor amigo" eo
tipo de sentimento deste estilo de amor, onde os envolvidos nao passam muito tempo
se olhando nos olhos e onde a tranquilidade propria a relac;;ao faz com que seja ate mesmo urn pouco constrangedor dizer "eu te amo". 0 amante estorgico nao tern nenhum
tipo de ideal ffsico em mente nem seleciona conscientemente os parceiros, ele nao esta
"procurando amor"; em vez disso, ele seleciona atividades de sua preferencia e, atraves
delas , acontece de vir a conhecer outras pessoas que fazem as mesmas coisas- "entao
por que nao faze-las juntos?" Tfpicos amantes estorgicos tern expectativas a respeito
do amor como uma especie de amizade muito especial, na qual muito do tempo e das
atividades de cada urn serao divididas. Nao ha ansiedade, "o tempo ira dizer se eles foram feitos para ficar juntos". Estes amantes recuam diante de excessiva demonstrac;;ao
de emoc;;ao por parte do parceiro e preferem falar sobre interesses comuns do que sobre
seus sentimentos mutuos. Na medida em que o relacionamento progride, ha o desenvolvimento de uma possessividade silenciosa, que so sera demonstrada se uma ameac;;a
real ocorrer. Para os amantes deste estilo, e importante conhecer primeiro o parceiro
como amigo antes que tenham lugar relac;;oes sexuais. Uma vez assegurada uma amizade profunda, problemas sexuais podem ser manejados. A expectativa de comprometimento tambem e forte.
pn·ttll lv:t a IC'> pl'tt o do anwr t' de qll l'l' k "'l'l•' pmzcroso e 11 ~111 1otttptoiiH'II'dOI', duran
ti!l tlltt o quanto as partes "curtam " a rela<,;ilo, nao mais do que b~o. 0 ludi co c um crh\ tl lr , otttllll co lccionacl or de cxperi cncias de amor que serao rclembradas com prazer.
\11 ,lltt :llll l's pluralfs ti cos (uma palavra menos carregada que promfscuos), eo grau de
' 'i'·,, lvlnt cnto e cuidadosamente controlado. Eles sabem que "ha muitos peixes no
Ill' 111 0", motivo pelo qual ciume e para eles algo sem sentido e deploravel. Este estilo
dt 1111 0r pode ser praticado como se fosse urn jogo aberto, com a explicitac;;ao clara das
I' ' ""'• ou seja, de que outros eventualmente estarao envolvidos. A maioria considera
1 '' '" Piirado mentir: urn jogo justo oferece menos chance de que se produzam sentiii i' ttl o~ de culpa mais tarde. Alem disso, a reputac;;ao de ser alguem que joga aberto e
l~t t t ii' '> I O aumenta as chances de encontrar novos parceiros. As relac;;oes sao normal1111 .111 1' de vida curta. Tfpicos ludicos nao desejam se comprometer ("ainda nao estou
pi tt lii O para me acomodar"). Eles acham uma variedade de tipos ffsicos igualmente
ill lh'tllcs e podem mudar de urn para outro facilmente. Sentem-se como se nada hou,, ,.,,. ap6s urn "rompimento", pois certamente nao se "apaixonam". Ha relut'incia em
I'I .II H'jar atividades para o futuro na medida em que isso levante questoes a respeito da
I'' ' '>c nc;;a do parceiro . Amantes ludicos evitam ver o parceiro muito frequentemente,
, 1111 10 uma forma de impedir que este se "envolva demais". Parceiros ciumentos sao
, ' lt. tdos na medida em que estragam a diversao do amor. Nao veem contradic;:ao em
utt.tr varias pessoas igualmente ou ao mesmo tempo. Para eles, sexo e distrac;:ao, nao
, , prcssao de comprometimento, eo amor nao e a atividade mais importante da vida.
Enquanto consciente das diferenc;;as entre os corpos, ele considera sem sentido que as
chances de uma pessoa sejam restringidas pela "especializac;;ao" em urn so tipo. A ex-
Mania- "Theia mania", a loucura dos deuses. Neste estilo de amar, o amante e ob" .,-,ivamente preocupado como objeto amado, intep.samente ciumento e possessivo e
111 ressita continuamente de repetidas reafirmac;:oes de que e amado. Ao mesmo tempo
r lt- lrequentemente recua, temeroso de amar demais antes de que haja uma garantia de
optt' ha reciproca. Em muitos casos, ele nem mesmo gosta do objeto de seu amor, no
,, 111ido de que nao o escolheria para uma amizade duradoura. A busca ansiosa de amor
ltutciona como compensac;;ao para sua baixa autoestima. A inerente contradic;;ao deste
1•, I il o vern da peculiar mistura de do is estilos primarios de amor - eros e ludus. 0
.11nante manfaco (sem qualquer conotac;:ao pejorativa que o termo em portugues possa
1111plicar) tern o desejo pelo relacionamento intenso, fisicamente estimulante, tipico de
1ms, mas prescinde da estabilidade que permite ao amante erotico transitar entre as
pt·ssoas e identificar urn exemplar do seu tipo favorito . Assim, o indivfduo e capaz de
~" "colher parceiros completamente inapropriados e loucamente projetar neles aquelas
qualidades desejadas num objeto de amor, as quais qualquer pessoa pode constatar
, laramente que o escolhido nao possui. A habilidade de apaixonar-se por quase todo
111undo funciona hem num confiante amante ludico, eo desejo do amante maniaco de
manipular a relac;:ao de forma a nao ficar na posic;:ao mais fraca (mais amar do que ser
336
337
Ludus - 0 amante ludico possui urn estilo, como o proprio nome diz, ludico.
,(1\I.HIO) t' (1'1(,\11\(' lllt' l11dlt II , )IIIII Ill II ,\1\1 ,\llll' 111:11\l:lt ll I ' IH'l (' ... '-o il:ttlll dl'lll,\1., tlt• <I ll I
para jogar o jogo l1 iamente . I ·It podt· di Ll'l a si ntt·-.mo que e a vez do outrode l1 g,,
mas, se o outro demora algun .., IIIIIIUios, el c correra para o tel elonc e se ad ian tara . () 11
pico amantc mamaco sente forte neccssidade de "estar apaixonado", mas c tambcm It
meroso de que o amor va ser doloroso e dificil. Ele nao esta ce rto de que tipo o au·at.
frequentemente procura uma combinac;;ao de qualidades contradi.t6rias. Ele tcnta
seu parceiro todos os dias, comec;;a a imaginar seu futuro juntos e facilmente se i111
com atrasos ou adiamentos. As demonstrac;;oes de amor podem chegar a atos absurdn'l
mas estas demonstrac;;oes se alternam como momentos em que ele recua para retoma•
controle de si mesmo, no que normalmente nao tern sucesso. Amantes maniacos dt•
monstram excessivo ciume e demandam demonstrac;;oes de mai.s amor e compromt'll
mento. Raramente consideram o sexo como objeto de amor satisfat6rio ou reconforta n
te. Sao ainda incapazes de terminar a relac;;ao, sendo via de regra o outro que o faz (co mn
o leitor pode observar, a descric;;ao acima caberia como uma luva quando referido an
comportamento tipico de muitos adolescentes, quando apaixonados. 56 que, enqua nt n
a adolescencia passa, o estilo acima costuma permanecer para algumas pessoas) .
Pragma- 0 amante pragmatico tern urn "rol" mais ou menos consciente de qua h
clades praticas e relativas ao cotidiano que ele deseja no ser amado , as quais podem in
cluir caracteristicas fisicas , mas nao ha uma enfase especial a este detalhe, como em
eros. Seas normas soci.ais em que o amante pragmatico esta inserido incluem presc n
c;;oes relativas a aparencia fisica na escolha de parceiros, entao estas normas vao fazrt
parte da sua lista, mas de modo geral ele e indiferente a considerac;;oes sobre atrac;;ao It
sica. Ao inves disso , o amante pragmatico esta em busca de urn parceiro compativd ,
no sentido que soci6logos e agencias de "namoro por computador" usam o termo. 0
rol de caracteristicas buscadas pela pessoa neste estilo de amor pode incluir medidas
sociol6gicas tais como a que diz que pessoas de mesma religiao , opc;;ao politica e clasSl'
social, assim como interesses pessoais tais como hobby ou esporte favorito em comum ,
tern mais chances de serem compativeis uma com a outra. Pragma e uma combinac;;ao
de ludus e storge. 0 pragmatico escolhe o parceiro como se tivesse crescido com ele l'
atua de forma consciente para encontrar urn - primeiro pelas qualidades para p6r na
lista e, segundo, pelos candidates que possam ostentar tais qualidades. A procura e por
uma parceria sensata, nao por urn extasiante ou excitante romance, com cada candidato sendo pesado e avaliado cuidadosamente. Urn candidato plausivel sera convidado
para dividir algumas atividades com o sujeito ate que este esteja convencido de qut•
aquele faz urn parceiro compativel. Ele pode frequentemente discutir a adequac;;ao de
suas escolhas potenciais com amigos ou parentes. Sea relac;;ao nao funciona, o pragmatico vai em frente, ludicamente, em busca de outro. Lembra o "casamento arranjado"
de antigamente, com a diferenc;;a de que hoje os sujeitos fazem seus pr6prios arranj os,
338
tl tl!t it\'1::> dv agt' tH in'> l'"JH'tt.di .1d.1.,, ,,-,..,onando M ,, 11111 t l11ht , Itt q11t 11L11tdo
lf\tdtt, 11111 night dub tHI lll l'"o ttHl Lllll partido politico , l'"Jll'lillldo l' lllOIItrar pelo
tl!l'l 11111.t pr.,..,oa co mpauvcl que possa ser urn candidato para um rclad onamento
Hr,t• . l'o 11111 o pragmatico usa atividades sociais e programas como urn meio para
II iii , lid" ll lt vidades serao abandonadas se nao "der frutos", diferentemente do est6r;p1t- •;t l' ngaja em atividades que gosta e atraves delas acaba encontrando alguem
til hit .H JIIL'lr interesse. Para pragmaticos tipicos, encontrar urn par compativel e urn
ltl, 11 1.11u.11 ico a ser resolvido atraves de esfon;;o. Eles preferem ver o parceiro em situadr 1 tul vlvio social para checar como ele "realmente e" , prestando muita atenc;;ao em
i \'i I•, ... nwis de aviso e restringindo discussoes sobre compromisso e futuro ate que
llj l tll.lt" co nfiante de que conhece bern o parceiro. Eles geralmente desdenham deIt t1,u,ol'.., cmocionais excessivas, especialmente cenas de ciume, mas apreciam sinais
de atenc;;ao e de comprometimento crescente. Compatibilidade sexual e imi •II
tl .tttl l , ntas para eles esta e rna is uma questao de habilidades tecnicas- que podem ser
II" '' .u l.1s se necessaria- do que de alguma quimi.ca especial. Para o amante neste esti' "' '' "' rar urn par compativel e desejavel para uma vida feliz , mas nao essencial, e nao
H 1•1• 1.un que valha a pena grandes sacrificios por nenhum parceiro especial. No en"' '' o .un or pragmatico nao e tao frio quanto possa parecer. Uma vez que uma boa
1tlh.t l' feita, sentimentos mais intensos podem se desenvolver.
II""
\,1:apc- E a classi.ca visao crista do amor: altruista, uni.versalista, sempre gentil e
! 11. 111 1',
nunca ciumento, nunca demandante de reciprocidade. Quando Sao Paulo
,_,' \'I' ll aos corintios que o amor e urn clever de cuidar de outros, e que o amor deve
I' pi ttlundamente altruista e compadecido, ele usou a palavra agape. Eo estilo menos
hrq11111temente encontrado na pratica de relacionamentos amorosos adultos. Agape e
l1 l'"l·•mento, doac;;ao e altruismo. Amantes com este estilo consideram amar urn de'1' lll l'S mo quando nao estao presentes sentimentos de amor. Assim, e urn estilo de
,,,.~~," mai.s guiado pela cabec;;a do que pelo corac;;ao, mais expressao da vontade do que
j., 1 tlloc;;ao. Ironicamente, em nossa sociedade, as expressoes mais agapicas de amor
1"''\ t'm de pessoas que praticam o celibato, sem amantes nem companheiros. Agape e
\lllt.t co mbinac;;ao de eros com storge, o que foi reconhecido por Santo Agostinho , que
I'·' 1t•ve u sobre a necessidade de submeter os impulsos intensos de eros a crenc;;a crista
do qlle a (mica uniao que vale a pena e a uniao com Deus. 0 comportamento requerido
I"" t•ste amor despojado e aquele do born vizinho, do servidor fiel ou do amigo devotaohl , o que evoca urn estilo agapico, mas como uma forma generica de ser, mais do que
, 111 rclac;;ao a outra pessoa. Estes amantes sentem urn intenso clever de cuidar do ser
lllt.tdo, que e definido como alguem que precisa deste cuidado. Assim, e provavel que
, , ,,. seja visto como somen te mais uma entre as muitas pessoas necessitadas. Se o
1111:1nte agapico chega a conclusao de que o seu parceiro estaria melhor com outro, ele
339
t' r.tp.t • dr :dHil rn;lo l'lll prnl clr .;r11 ' rrval " Ap.lll'et' 11;1 cla..,.,rlrra<,;;lo mais nllllOlllll
ideal do que como uma lor111.t p11r" 1 rontreta de ocorr(•ncia de amor.
Alcm destcs , identificararn .,l' outros tres esti los qualificados como terciario-.
Eros Ludico, Eros Est6rgico c Ludus Est6rgico, compostos pela combina~ao de carar
teristicas tipicas dos tipos pritmirios e/ou secundarios de que se constituem.
E importante ressaltar que, assim como as cores do arco-iris, esta tipologia admi11·
que existem quase infinitos estilos de amor. Os estilos descritos acima sao aqueles en
contrados em pesquisa empirica como sendo os estilos mais basicos, a partir dos quar..,
os outros se comp6em. Deve-se lembrar ainda que estilos puros dificilmente sao en
contrados e, obviamente, ao caracterizar cada urn deles, esta taxonomia faz uma espc
cie de caricatura, ressaltando o que hade tipico em cada estilo e enfatizando as diferen
~as entre eles. Alem disso, como ja mencionamos, o estilo de amor de uma pessoa pock
variar como passar do tempo e com as experiencias, ou, ainda, num mesmo momento,
variar segundo o tipo de parceiro.
Em seus estudos sobre o amor, o autor partiu dos grandes romancistas de seculos
passados e observadores do amor, desde Platao e Ovidio ate Andreas Cappellanus t'
Castiglione, para entao chegar aos psic6logos da atualidade. Nesta trajet6ria, ele acumulou mais de quatro mil descri~6es relacionadas a aspectos ou caracteristicas do qut·
cada autor considerava distinguir o verdadeiro amor, para em seguida categoriza-las,
juntando, por exemplo, todas as que se referiam ao ciume, a reciprocidade, a fidelidade
ou ao altruismo. Desta analise resultaram os seis tipos de amor (ou as seis ideologias de
amor), que segundo o autor englobam todas as variedades de amor constantes da literatura.
Jldtllll '""" d.lda l' \jlll' ...... ;l() rdeologrca U)lll() <I verdadc l'lll .,, I k oil onlo ("()Ill 0 .lll(OI ,
'' pr ohll'lll:l podt• !'>er rt·..,olvido "a bordando-sc o amor como um problema de idcolo1.! ljlll' nHnpetem entre si accrca do arranjo 6timo das liga~6es adultas intimas. lsso
'" ,, 'on'>cguc, cu argumento, limitando-se a pesquisa a uma lista de afirma~6es atiltollll 01 I., ".
I kndrick e Hendrick (1992; 2000) relatam, por fim, uma diferen~a palpavel entre
1!111111 ,, ., l' mulheres , com os primeiros preferindo os modos Ludus e Agape, e com as
lindlll'rt·s mais inclinadas pelas formas Storge, Pragma, e Eros. Quanto a questao da
I''' tii~;IO da dura~ao das rela~6es afetivas, o modo positivo (combina~ao de Eros, Star' \gape) seria aquele mais satisfat6rio. Em contraposi~ao, o modo Ludus e o que
lll,lh kvaria a insatisfa~ao e ao termino das rela~6es.
( l·. xtraido do capitulo escrito em sua quase totalidade por Brendali F. Reis em Psico1"'''' \Ocial para principiantes, de autoria de Aroldo Rodrigues. Petr6polis: Vozes, 2007.)
••mprometimento
0 amor tem estado em luta perpetua com a monogamia.
Ellen Key
"Masse todos estes fenomenos (amor, atra~ao, satisfa~ao, etc.) podem responder
"' por que duas pessoas se unem para formar uma rela~ao, resta saber ainda por que al1•.11111as rela~6es duram e outras nao. Sera que a manuten~ao de urn relacionamento e
ol.ula somente pela presen~a de amor e satisfa~ao, por exemplo? Como se explicariam,
, lll ;lo , casos familiares a todos n6s, como aqueles em que, apesar da evidente ausencia
olo ·., tcs fatores, a rela~ao se man tern? Ou ainda situa~6es como no caso de jovens onde o
1111or, a paixao e a satisfa~ao como parceiro sao indiscutiveis, mas onde no entanto a
t .ubilidade da rela~ao e inapelavelmente precaria? Ou da epoca em que os casamen'""· apesar de serem arranjados, revelavam inumeros casais que viviam a born termo e
olt· modo satisfat6rio?
Atraves de urn procedimento metodol6gico que incluiu tanto esta revisao bibliografica da literatura cientifica e nao cientifica disponivel sobre o amor quanto o que
pode ser considerado urn tipo de entrevista semi-estruturada com 120 pessoas de diferentes idades e niveis socioecon6micos, esta taxonomia teve como urn de seus objetivos evitar o que o autor aponta como os dois principais problemas da pesquisa atual
sobre o amor: o etnocentrismo eo a-historicismo. A ideia e que urn estudo verdadeiramente cientifico do amor deve permitir aos respondentes reportarem relacionamentos
diferentes daqueles aprioristicamente definidos como "verdadeiro amor". Isso e naturalmente dificil, pois as pessoas sao muito suscetiveis a modas, especialmente neste
campo; portanto, urn metodo verdadeiramente cientifico deve encorajar os sujeitos a
reportarem o que quer que eles acreditem que seja uma experiencia de amor. Damesma forma, o investigador deve considerar a alternancia de ideologias de amor atraves
dos tempos, pois nao e preciso que uma ideologia em particular seja corrente nos dias
de hoje para que as pessoas acreditem nela. 0 autor argumenta que quando etnocentrismo e a-historicismo sao combinados, o resultado e frequentemente uma tendencia
0 conceito de comprometimento 'sumariza todos os fatores que atuam estavelIII Cnte para promover e manter a intera~ao entre individuos'; e 'urn prop6sito declarado ou inferido de uma pessoa em manter uma rela~ao'; e inversamente relacionado a
probabilidade de que uma pessoa vai deixar a rela~ao; diz respeito as instancias nas
quais a pessoa mantem sua adesao a uma rela~ao mesmo quando os fatores que favore-
340
341
Assim, comprometimento e urn fenomeno que se revela dificil de definir, porem,
.tpcsar da pouca uniformidade descritiva e conceitual que se pode observar nos traballtos sobre o tema, existe urn consenso de que, quando alguem fala de comprometilllento, esta falando na estabilidade da associa~ao.
t 1 111 l't'tO 't<lo l1aro..,, ou ,.,., i11 ~: 1(11u~ i.t ·.
11.1 ..,
qu.11.., 'tl' lllantt' nt a adt''tilo 11\l''>lllo quando
1
l'ahllo I' qu.uulo VIH I' 1"""·1 qtu '1, 1 " ' } ' 01110 11 l l1.1d 1'111 , illll'li gl'llll' como
AIilc 11 1'1 ll'> ll'lll , no ill I' 1 1111111 l'vl.111111 I l\ lllg, t'llgl,u,·ad o como o Wood y Allen
l ' ati ('II CO como Lllll Gllllill'<lo d, · pu jil '> u. Amor e qua nd o voce dcscobre que
d ec tao !.cxy co mo o Wood y All en, intcligcntc co mo o lutador de jiu-jitsu,
c n g ra~,:a do co mo Martin L. Kin g, atletico como Albert Einstein e nada parecido co m o Brad Pitt - mas voce fica co m ele mesmo assim .. . !
judith Viorst (devidamente adaptado)
latort'" contra ela sao lortes.
s tas sao algumas clas contTituac,; ocs de compromclimcnto, porcm todo cstudo rt
enlifico de algum fenomeno rclacional que pretenda ter o valor preclitivo c explicauvn
deve contar, alem de uma analise descritiva das atividades interconectadas clos panid
pantes da rela~ao e de uma identifica~ao dos seus efeitos nas atividades de cada urn iu
dividualmente, com uma analise causal que escrutinize as regularidades nos paclr<'lt'!'l
de atividades interconectadas e, eventualmente, as principais mudan~as nestes pa
droes. Esta analise deve ter em coma que as condi~oes causais se classificam segundo
tres grupos principais:
1) causas pessoais (caracteristicas relativamente duradouras de cada urn dos inch
viduos, como tra~os de personalidade, atitudes ou habilidades) ;
2) causas relacionais (quando uma regularidade na intera~ao reflete uma combi
na~ao particular de disposi~oes das duas pessoas, como no caso do marido dependen tt•
e da esposa "maezona") ;
3) causas ambientais (referentes as caracteristicas do ambiente fisico e/ou social
no qual a rela~ao esta inserida, como as normas sociais, problemas de dinheiro ou att'
de uma casa pequena demais) " (REIS, B.F. In: Psicologia social para principiantes cit•
RODRIGUES , A., 2007).
't uma, e a guisa de conclusao, tentamos neste capitulo mostrar ao leitor o inte1• · ·x qll l' os psic6logos sociais tern dedicado ao tema da atra~ao interpessoal. Como a
lil .tlll ll <l das contribui~oes ao estudo da intimidade interpessoal e bastante recente, e
o~ ulpl t' r n s ivel , pois, que se verifique urn certo carater de provisoriedade nas formula•. II , ll'llr icas apresentadas. Nao obstante, espera-se que o capitulo tenha revelado a
•illll dm i ~a o efetiva destes esfor~os te6ricos para urn melhor entendimento dos prot
oll'o psicossociais subjacentes a intimidade interpessoal.
I
111
0
, .., t ra nsforma~oes sociais da segunda metade do seculo XX salientaram a necessi·1111, dcstes estudos, ja que muitas das estruturas sociais que regulavam estes relacio'' III H'ntos foram profundamente abaladas. 0 leitor interessado encontrara emjablons11 ( 1998) urn estudo aprofundado da institui~ao do casamento em nossos dias , suas
• II o\l'leristicas e transforma~6es e OS fatores mais diretamente ligados a ela.
0 tema deste capitulo , contrariamente a maioria dos demais focalizados neste li-
Conclusao - Um campo em expansao
Novas contribui~oes vern sendo aduzidas a este campo de estudos em urn ritmo
bastante acelerado. Ora dentro de uma perspectiva evolucionistalbiol6gica (Buss, Fisher),
ora englobando urn vies culturalista (Schmitt, Lieberman e Hatfield,jankoviak, Dion c
Dion), ou ainda buscando enfocar o tema de forma a criar uma taxonomia valida, sao
muitos os estudos que vern sendo realizados na tentativa de se melhor compreender a
questao do amor.
Ainda esta Ionge, no entanto, o objetivo de se alcan~ar uma teoria global que abarque todas estas questoes de forma unificada e coerente. ]aha, no en tanto, urn minimo
de concordancia entre os pesquisadores de que existem varios tipos de amor e tambem
de quais seriam os seus elementos constituintes. Uma das dificuldades, no entanto,
seria a imprecisao dos conceitos que ainda nao permitem que haja urn discurso nao
ambiguo sobre o que seja o amor: nao ha, de fato, uma clareza nos termos utilizados
quando se fala de amor, faltando urn vocabulario inequivoco aceito consensualmente
(WEIS, 2006).
]a no ambito do debate sobre a influencia do fa tor cultural, a maioria dos pesquisa-
dores defende a tese de que o amor e, de fa to, urn fenomeno universal, ainda que sujeito a modifica~oes em fun~ao do ambiente cultural em que se esta inserido.
342
tn trodut6rio , nao permite ainda que se alcan ce o grau de consenso e generaliza~ao
' ' 1il icado , por exemplo, quando estao em foco fenomenos como atitude, percep~ao
•H 1al, comportamento grupal e assim por diante. Nem por isso deixa ele de ocupar em
1\ trologia Social urn Iugar de destaque e de capturar o interesse e a aten~ao de renomadll., psic6logos sociais contemporaneos.
' 111
Rcsumo
0 capitulo inicia com a descric;ao dos estudos classicos de Stanley Schachter
acerca do busca de associac;ao com outras pessoas quando nos encontramos em
estado de ansiedade. 0 isolamento provoca ansiedade e a ansiedade conduz ao
desejo de ester com outros. Em seguida, o fenomeno de atrac;ao interpessoal propriamente dito foi considerado. Fatores que facilitam o processo (proximidade,
identidade de valores, beleza e atitudes) foram descritos bem como algumas teorias
que procuram explicar por que nos nos aproximamos de outras pessoas. A posic;ao
te6rica de Newcomb, bem como a de Thibaut e Kelley, foram discutidas, mostrando-se sua aplicac;ao no entendimento de como a atrac;ao entre as pessoas se forma, permanece ou se desfaz. Final mente, as modernas descobertas sobre o amor
(caracteristicas, tipos e consequ€mcias) foram descritas e comentadas. As contribuic;oes de Rubin, lee e Sternberg receberam destaque especial. Elas constituem, se343
gundo os outoros dosto livr o, as po ~ic,Oos to6r icos rna is pr ornissoros o modomos no
quo diz rospoito oo ostudo do intimidodo intorpossool.
12
Sugestao de leituras complementares sobre atraCjao interpessoal
Grupos sociois
BLIESZNER, R. & ADAMS, R.G. {1992) . Adult friendship. Newbury, CA: Sage.
0 homem e, por natureza, um animal social. Qualquer um que nao
consegue viver com outros ou e tao autossuficiente para prescindir
disso e, portanto, nao participa da sociedade, ou e uma besta ou e
um deus.
Arist6teles. ln: Polflica, 328 a. C.
BREHM, S. {1992). Intimate relationships. Nova York: Random House.
HATFIELD, E. & RAPSON, R.L. {1993). Love, sex, and intimacy. Nova York:
Collins.
HENDRICK, C. & HENDRICK, S. {1992) . Liking, loving, and relating. Newbury Park, CA
Sage.
NEWCOMB, T.M. (1961 ). The Acquaintance process. Novo York: Holt, Rinehart & Win
ton.
SCHACHTER, S. {1959) . The psychology of affiliation . Stanford: Stanford University
Press.
STERNBERG, R.J . (1986) . A triangular theory of love. Psychological Review, 102, p,
331-345 .
STERNBERG, R.J. & WE IS, K. (2006). The new psychology of love. New Hoven: Yale Uni·
versity Press.
~ lor ~·a das palavras da epfgrafe traduz o valor absolutamente inestimavel do con-
homem com seus semelhantes. Ter uma vida em comum com outras pessoas,
t~lt' 111gir com outros, participar de atividades coletivas, compartilhar objetivos, enfim,
i.-ru rr a grupos, identificar-se com grupos, influenciar e ser influenciado por eles
Ill '11111ponentes indissociaveis da existencia do homem e, por isso mesmo, consti1111111 ,,.., alicerces da constru~ao de sua identidade pessoal e social.
It• "''
1.1 11ascemos dentro de urn grupo, crescemos dentro de diferentes grupos e torna111" 11110., adultos participando de muitos outros grupos. Alguns se mantem ao longo de
Sugestoes para trabalhos individuais ou em grupo
1) Qual a reac;ao dos sujeitos nos experimentos de Schachter quando ansiosos?
2) Que se entende por "efeito de mera exposic;ao"?
3) lndique e comente dois fotores que conduzem
a atrac;ao interpessoal.
4) Segundo Thibout e Kelley, como se desenvolve a otrac;ao entre duos pessoas?
5) Quais as "cores do omor" segundo Lee?
6) Descreva dois tipos de amor encontrados no tipologia de Lee.
7) Quais os elementos essenciais do "teoria triangular do amor" de Sternberg?
8) Qual a ess€mcia do outra teoria de Sternberg que diz que o amor emana de histories?
9) Em sua opiniao, os sentimentos de amar e gestor diferem apenas em intensida de ou sao sentimentos distintos por natureza?
ti!!IJ ,, nossa vida, como a familia, os amigos; outros se fazem presentes em fases espe-
iil, ,,., de nosso desenvolvimento, como os colegas e professores da escola e da univerlol.lllt·, os pares da adolescencia; outros ainda se tornam relevantes em nossa vida
rdrd1.1 , como os grupos de trabalho. De tal forma estamos habituados a pertencer a
IIIJHIS que, muitas vezes, nao nos damos conta de sua importi'incia sobre n6s, de sua
lllllllt' ncia sobre nossas atitudes e comportamentos. 0 fato e que necessitamos das out 1.1, pessoas e dos grupos, assim como do ar que respiramos, para sermos o que somos
p.tra vivermos nossa vida cotidiana.
l)iante do papel fundamental que os grupos desempenham em nossas vidas, iml"""'nte se faz conhecer a fundo sua natureza, forma~ao e evolu~ao, sua composi~ao e
• ·.11 lllura, bern como sua dinamica interna e os processos grupais que caracterizam seu
l1111cionamento e que, em certos casos, podem ate mesmo leva-los a extin~ao. Assim,
1 r,l possfvel entender como e por que as pessoas agem de determinadas maneiras, e
ljlld a-las a buscar condi~6es que lhes sejam mais favoraveis em determinados contex111.., , gerando, consequentemente, padroes de comportamentos que atendam as normas
1
valores af predominantes.
As primeiras evidencias do forte interesse pelo estudo dos grupos na Psicologia
'IIH.:ial surgiram a epoca da Segunda Guerra Mundial com OS experimentos de laborat6344
345
rio , conduzidos por Sheri I ( 1936), sobrc o desenvolvimcnto da'> not llla'> de gt II) HI,
com os experimentos de campo de Lewin, Lippitt e White ( L939) sobrc como O'> gt 11
pos sao afetados por diferentes estilos de lideranr;:a e com os trabalhos de Newco 111h
(1943) sobre as experiencias e resultados da socializar;:ao entre estudantes no Ben 11 i 11 ,~
ton College. Pouco tempo depois o estudo dos grupos e do comportamento grupa l pa..
sou a receber a denominar;:ao de Dinamica de Grupo com a criar;:ao por Kurt Lewin, t'lll
1946, do Research Center for Group Dinamics no Massachusetts Institute of Technology
Nas duas decadas subsequentes a criar;:ao do Centro, foram extremamente intc11
sas e produtivas a teorizar;:ao e a pesquisa sobre o funcionamento dos grupos, destaca n
do-se as teorias sobre comunicar;:ao social informal (FESTlNGER, 1950), a teoria do'l
processes de comparar;:ao social de Festinger (1954), a teoria da troca social de Tht
baut e Kelley (1959) e as pesquisas sobre conflito intra e intergrupal (DEUTSC H,
1949), lideranr;:a (CHOWDRY & NEWCOMB, 1952 e conformidade (ASCH, 1951,
SCHACHTER, 1951). Um dos classicos estudos do assunto eo livro editado por Ca rl
wright e Zander (1968) e intitulado Dinamica de grupo .
Curiosamente, o interesse pela dinamica de grupo diminuiu muito nas ultimas d(·
cadas, a ponto de, ja em 1974, Ivan D. Steiner ter publicado o artigo "0 que acontecc u
com o grupo em psicologia social?" [Whatever happened to the group in social psycho
logy?] Como hem salienta Pepitone (1999), ao referir-se a ascensao e queda do interes
se dos psic6logos por varios t6picos, perguntar por que programas de teoria e pesqui
sa, movimentos, escolas etc. se tornam obsoletes e em si mesmo uma pergunta de inLt'
resse psicossocial. No caso especifico da Dinamica de Grupo, ha alguns fatores 6bvios,
incluindo-se a morte do lider (Kurt Lewin), mudanr;:a de interesses do lider da pesqui
sa experimental (Leon Festinger) e a dispersao de jovens doutores atraves de difere ntes contextos e sua necessidade de construir carreiras independentes. Ademais, as teo
rias relativas a Dinamica de Grupo tornaram-se estereis; elas nao eram suficientementt'
elaboradas para manter programas produtivos de pesquisa (cf. STEINER, 1974: 183).
As raz6es acima apontadas conviria acrescentar outras, igualmente importantes,
mencionadas por jesuino (2002). Paradoxalmente, foi a partir do proprio movimento
iniciado por Lewin e seus discipulos que a Psicologia Social norte-americana passou a sc
especializar, progressivamente, no estudo de fen6menos intrapsiquicos, interpessoais r
microgrupais, inicialmente com a teoria da dissonancia cognitiva e, em seguida, com as
teorias sobre atribuir;:ao de causalidade e sobre processamento da informar;:ao social,
constitutivas da cognir;:ao social, hoje seu paradigma dominante. Com isso, naturalmente, os psic6logos sociais dessa tradir;:ao de pesquisa diminuiram a enfase no estudo de
grandes grupos, que passou a ser continuado preferencialmente por outras tradir;:6es
de pesquisa, notadamente europeias, cujas preocupar;:6es, como vimos no capitulo 1, estao
346
1 ttlt;~da.., para O'> tll vt· t., gt 11p.d'i r r11lt 11rai., dl' cxplica<,.'<IO do l'Oill JH>t tattH'Iltn :-.ocial.
' .,, nt tdo , o c~tudo Jos ptOll'.,.,O.., de inllucncia ~ocial de minorias, de idcntidade sol:! I c tt l,u,:lll'S intergrupais, bem como de conOito e cooperar;:ao entre grupos, continua
!Hltt Ioro privilegiado de interesse da Psicologia Social europeia.
Iii til t
l'nt outro lado, o estudo dos grupos, se de alguma forma perdeu a centrahdade na
t'ttt l.t dos psic6logos sociais norte-americanos, tornou-se prioritario em outras areas
In (tllthccimento, mesmo nos Estados Unidos, como na Psicologia das Organizar;:6es,
It'" 1.1 dos Sistemas e Ciencias da Gestao 0ESUfNO, 2002). Nos estudos organizacio1 ~ !1 ~, p.lrticularmente, o interesse pela tematica revigorou-se, sendo hoje bastante proIn lll 'i ol leorizar;:ao e a pesquisa sobre as equipes de trabalho, OS "times"' OS quais, reltcln'> de feir;:6es e contornos mais atuais, vem dando nova vida ao estudo da dinami' ,, u ~;\I nas relar;:6es no trabalho.
I
\ prop6sito dessa amphar;:ao de focos e ap6s revisao empreendida nesse dominio,
I, • llll' c Moreland (1990), sensiveis as preocupar;:6es de psic6logos europeus e aos
tit
.dnbramentos operados em outros campos do saber, concluem- em resposta a peri_lltl.l de Steiner (1974) acima referida- que os grupos continuam vivos e gozando de
lit hi <;aude [alive and well], embora tenham emigrado para outras vertentes da Psicolo' 1.1 ...,ocial.
Fm suma, embora nao tao intensos quanto em seus prim6rdios, os trabalhos sobre
•illl.ltnica de grupo continuam a fazer parte integrante da Psicologia Social nortetlll!'t icana, sendo ate apontado por alguns autores um ressurgimento do interesse pelo
, .t11do dos grupos, na decada de 1990, especialmente estimulado por joseph McGrath
' 11)9 I, 1993). McGrath resgata a tradir;:ao lewiniana de conjugar rigor cientifico com
11 lt·vancia social e vem se dedicando nao s6 a estudar longitudinalmente grupos de la1" 11at6rios, na tentativa de reproduzir as condir;:6es dos grupos naturais, como tambem
1•111pos eletr6nicos, isto e, a interar;:ao mediada por computadores. Para fazer justir;:a ao
<I'll' ai se vem fazendo, de forma mais predominante nesse dominio, diriamos que os
p•.t c6logos sociais estudam predominantemente os pequenos grupos e a inOuencia que
11~ grupos, com variados graus de interar;:ao entre seus membros, exercem no comport.unento dos individuos que os comp6em. A indusao de capitulo intitulado Small
1 .toups [Pequenos grupos], de autoria de Levine e Moreland, na quarta edir;:ao do
llandbook of Social Psychology, publicado em 1998, atesta a veracidade dessas duas ultI mas informar;:6es.
Neste capitulo, abordaremos o estudo dos grupos pela Psicologia Social, procul.ltldo trar;:ar um panorama geral de suas principais tendencias. Discutiremos, em prilnciro lugar, sua conceituar;:ao e caracterizar;:ao geral; em seguida, trataremos das rela~· l)es de influencia entre individuos e grupos em situar;:6es sociais de interar;:ao minima,
tlctendo-nos na analise dos fen6menos de facilitar;:ao social, vadiagem social e desindi347
v1du.u,;:1o, que tlu ., lr:tlll e.,..,,, influt·nna ; Jl<l'oll'IIOII\\l'lllt', foctll z:tlt'IIIOo., "" p11111l
estruturas e processos que tcm origem na propria dinamica c funcionamcnto dt~•,
pos- coesao grupal, normas, status, papeis e lideranc;;a- responsaveis por sua 1,,,
<;:iio, desenvolvimento, mudanc;;a e/ou extinc;;ao; em seguida, examinarcmos tr(•o., 111
tantes fenomenos- polarizac;;ao, pensamento de grupo e influencia de minonao.,
traduzem efeitos tipicos de situac;oes de grupo com alto grau de interac;ao t'lllll'
membros e que ocorrem amiude no processo de tomada de decisao; por fim, ahn1
remos os conflitos dentro do grupo, suas principais fontes e algumas estratcgia-. dt
soluc;ao do conflito.
Defini~ao e tipos de grupo
0 beijo
uma.
e a maior prova de que duas cabe~as pensam mell1ot
1111
Revista Mad
Nem sempre duas cabe~as pensam melhor do que uma; ou, pc/o
menos, niio melhor que duas cabe~as pensando em separado.
Aronson, Wilken e Akert
0 que e urn grupo social? Ap6s muitas decadas de estudo e dezenas de defini~
os psic6logos sociais nao chegaram a urn consenso total quanto a qual seria a rnd
definic;ao de grupo. Ha, no entanto, urn nucleo comum a boa parte delas- interac,
interdependencia e consciencia mutua- que nos permite nao s6 entender, com razt
vel propriedade, o que e urn grupo e quais suas principais caracteristicas, como ta
bern distinguir grupos de nao-grupos ou grupos sociais de grupos nao-sociais. A
considerar esse nucleo, pessoas que correm juntas todos os dias, por exemplo, co
tuem urn grupo porque interagem umas com as outras, influenciam-se mutuamen tt•
se pe~cebem como "n6s" em contraste com "eles".
Aronson, Wilson e Akert (2007) adotam a expressao grupos nao-sociais para s
referir ao conjunto de pessoas que estao no mesmo lugar ao mesmo tempo, sem nect·~
sariamente haver interac;;ao entre elas, mas que, como tal, exerce influencia no com
portamento das pessoas. Parcela consideravel de psic6logos sociais, no entanto, prcft•
re reservar o conceito de grupo para definir algo mais do que esse aglomerado de pes
soas. Assim e que individuos reunidos em urn ponto de 6nibus ou passageiros de un1
voo comercial nao constituiriam urn grupo social porque nao interagem entre si, em
bora a mera presenc;a de uns possa afetar o comportamento de outros.
Uma definic;ao classica de grupo social, oferecida por Cartwright e Zander (1968),
apoiada em Kurt Lewin, pode ajudar-nos a demarcar com mais nitidez as fronteiras
que separam urn grupo social de urn grupo nao-social. Para eles, grupos sociais sao de-
348
In oiiiiHl duao., otlnl.ll.., P~'""o''" q11r lltlll;tgtlllllltll ..,i I' ..,;10 lllll'IUl'jH'Itdelllc:., no
hi•,• dt q111' o.,wh IH'rt'o.,o.,idadt·.., t' o.,euo., ohjl'ltvoo., ,to., kvam a dcpcndcr umas das ouPot ~ ttiiOIIllt'ntc,
Paulus ( 1989) aprcscn1a uma conceituac;ao mais abrangente,
,). 1 r11a lonna, sintctiza as caractcrtsticas de urn grupo apontadas pela maioria
llllhoo.,os: um grupo consiste de duas ou mais pessoas que interagem e partilham
I',,., 1omuns, possuem uma relac;ao estavel, sao mais ou menos interdependentes
t•' htm que fazem, de fato, parte de urn grupo.
1•111 lt'tllativa de buscar uma soluc;ao para as muitas definic;oes de grupo e para a di•lld,Hk de estabelecer limites conceituais entre o que e eo que nao e urn grupo,
! " 11 h ( 1984) pro poe uma definic;;ao de grupo em termos de grau, baseada na noc;;ao
I• llt.lllca de conjuntos vazios. Assim, urn agregado de pessoas sera tanto mais urn
!lptl (a) quanto menor foro numero de seus membros; (b) quanto maior for a inte' ' ' 1 111re seus membros; (c) quanto mais longa for a sua hist6ria; (d) quanto maior
1 1 pnspectiva de futuro compartilhada por seus membros. Em consequencia dessa
,,,, ll'ri zac;ao, nao se prescrevem limites minimos e maximos do numero de seus
il'llllllCntes, nao se estabelece que a interac;ao seja uma condic;ao absolutamente in11 ·1" n-;avel a identificac;;ao de uma pessoa com urn grupo (como eo caso do grupo mi1111111 , estudado por TAJFEL, BILLIG, BUNDY & FLAMENT, 1971), nem se excluem
o{tllpos sem hist6ria, como eo caso dos grupos ad hoc, formados especialmente para
1·1' ,pcrimentos de laborat6rio.
I omando por base essa definic;;ao de grupo, varias tipologias de grupo podem ser
I.,, nvolvidas, dependendo das dimensoes e criterios que se utilizem. Uma delas, por
'" 111plo, opoe a categoria social, em uma das extremidades de urn continuum, a orga111 ,,~·ao social, em outra. A categoria social, definida a partir da perspectiva de urn ob' 1vador externo, seria entendida como urn conjunto de duas ou mais pessoas, que
to 111 em comum urn atributo que as distingue de outras, como, por exemplo, a catego11.1 de homens e mulheres. Quando, porem, os pr6prios membros se percebem como
I'' 1tcncendo a uma mesma categoria social, tem-se urn grupo psicol6gico. ]a urn gru1'" sociol6gico seria visto como urn conjunto de pessoas classificadas de acordo com
1111butos sociol6gicos comuns, como, por exemplo, idade, profissao, etnia etc. 0 challl,tdo grupo minimo seria entendido como pessoas classificadas aleatoriamente como
pt•rtencentes a uma determinada categoria social, que passam a atuar em func;ao dessa
tdcntificac;;ao, sem, contudo, interagirem umas com as outras. Quando os grupos miniltt os adquirem consciencia de urn destino comum tornam-se grupos sociais, os quais,
por sua vez, se transformam em grupos compactos quando cooperam entre si, visando
.Ill alcance de objetivos interdependentes. Finalmente, quando os grupos sociais organi zam-se, definindo uma estrutura de poder, de papeis e normas, que passa a regular as
tnterac;;oes entre seus membros, transformam-se em uma organizac;ao social, entendi349
da, L'llttlo , l'O IIIO lllll !'>i!'> IL'IIIa ~ocia l hienuqui zado de g1upo-. que podvn1 (OIII jH'III 11
com os outros em busca de determinados objclivos ou rccur~os .
Uma tipologia mais simplificada considera tres tipos de grupo (Me
ARROW&: McGRATH, 1995): grupos naturais, grupos artificiais ou quase-grupo•.
grupos naturais ou intactos existem independentemente dos interesses dos c~tlll l
sos do assunto, e costumam ser subdivididos, nas organizac;:oes, ora em grupos fo1111
ou informais, dependendo do fato de serem constituidos ou m'io dentro da es t1111
formal de poder, ora em grupos permanentes ou temponirios, dependendo do l\'111
que se preve para sua atuac;:ao, ora ainda em grupos de trabalho ou forc;:as-tarefa, t'qlll
pes propriamente ditas e tripulac;:oes, dependendo da prioridade atribuida ao projr11
aos membros ou a tecnologia. Os grupos artificiais ou de laborat6rio sao organiz:u lt
pelo pesquisador, que visa a avaliar os efeitos da manipulac;:ao de variaveis sobrr ..,1.
membros ou a proceder a observac;:oes sistematicas de suas reac;:oes ou comporta n1
tos. Na medida em que eles passam a interagir na resoluc;:ao das situac;:oes que lhcs
pastas pelo experimento, esses grupos adquiririam algumas feic;:oes caracteristica-,
grupos naturais. Os quase-grupos sao definidos quando o pesquisador, por forc;:a dt
objetivos de seu experimento, impoe algumas restric;:oes a interac;:ao espontanea dos nw1
bros. Cumpre destacar que esses dois ultimos tipos de grupo nao constituem grupt
psicol6gicos na verdadeira acepc;:ao do conceito.
As rela~oes entre o individuo e o grupo
A mera present;:a dos outros produz um estimulo ao espirito que
aumenta a eficiencia de cada trabalhador, tornado individualmc111
Karl Marx. 0 capital, 1867
Feitas essas considerac;:oes preliminares com o intuito de permitir ao leitor uma com
preensao inicial sobre o que sao grupos, as controversias em tomo de sua conceituac;:ao
os tipos principais de grupo, examinaremos neste t6pico alguns fenomenos que
ocorrer em situac;:oes de grupo em que ha interac;:ao social minima, quais sejam facuuw,;mJ!
social, vadiagem social e desindividuac;:ao, mas que, mesmo assim, influenciam o compor
tamento dos individuos. Por essa razao, esses fenomenos costumam ser identificados co
mo efeitos da mera presenc;:a de outras pessoas ou, como preferem Aronson et al. (2007),
fenomenos resultantes da influencia de grupos nao-sociais sobre os individuos.
1•1 j\li lll(il dt• IHIIIIl" •' l ••;',, llll 1g11111,1 Iiiii .tll.tldll d 1111' 111,;:\o do-. jl'>ll'Oiogo.., t.,()('i: \1 <, de!'>
1111 d do "l'tll lo )\ I)\ qu.uHio 111phll ( IH117/IHI)H) ('OIIduziuuma scric de cstudos,
q11.11·11 dt·..,e mpcnho dt• pl·..,..,oa.., 1'1.1.\v:tllado quando clas estavam na presenc;:a de ou'"' 1'•""· tendo sido cons tatado que a prcsc nc;:a de observadores melhorava seu de11l1o Varios outros csLUdos se scguiram aos de Triplett nas decadas subsequentes
I! l\ll< I , 1924; CHEN, 1937; DASHIELL, 1930; HUSBAND, 1940; PESSIN, 1933;
11\ VI\ lll 2'5), em que o desempenho das pessoas era comparado nas situac;:oes em que
\V 11111 ".oz inhas, diante de outras pessoas ou, ainda, competindo com outras. Os resulj ,,~ 1111 ;\Ill co ntradit6rios. Alguns experimentos indicaram superioridade de desempelui !LI Jlll''>e nc;;a de outras pessoas ao passo que outros mostraram exatamente o oposto.
iii• 1111 na dccada de 1960, Zajonc (1965) conciliou os resultados conflitantes, inter1''' 1111d11 os a luz da teoria psicol6gica de Clark Hull. Segundo Hull, as respostas domi!'!1 ., ou scja, aquelas respostas bern aprendidas, sao facilitadas quando a pessoa seendill 11'111 estado de excitac;:ao;ja as respostas nao dominantes sao prejudicadas por esse
• .11111 t•stado. Para Zajonc, a presenc;:a de outras pessoas gera excitac;:ao emocional e,
'" 'qucntemente, deve prejudicar o desempenho de comportamentos nao dominantes
I·'' i111ar o desempenho dos comportamentos dominantes. Assim, sea ativac;:ao social
l,.i tllt .l as respostas dominantes, deve melhorar o desempenho em tarefas faceis, para as
jli.tl . ,\., rcspostas certas sao bern conhecidas e as mais provaveis, e prejudicar o desem1'' 111111 l'm tarefas mais complexas, para as quais as respostas corretas sao inicialmente as
1111 !Ill'> provaveis. Em urn de seus experimentos mais conhecidos (ZAJONC &: SALES,
lilt ill), loi solicitado as pessoas que repetissem uma lista de palavras sem sentido de 1 a
Ill '1 ' l'S, ap6s o que lhes foi informado que elas apareceriam sequencialmente em uma
11 h ra bendo-lhes adivinhar qual delas apareceria. Diante de linhas pretas mostradas
I• .11n1 iamente durante urn centesimo de segundo, as pessoas tendiam "aver" as pala1' ' que haviam pronunciado mais frequentemente, ou seja, as palavras haviam se toru,ttl•, as respostas dominantes.
liiji•
"lc procedermos a revisao dos resultados obtidos em cerca de 300 experimentos
ljltl sc realizaram a luz desses esclarecimentos, veremos que todos eles sao perfeita!111 111 c coerentes. Em reforc;:o a essa conclusao cite-se o interessante trabalho de Bond
1 Ill us (1983), que em metaanalise' de mais de 240 estudos realizados sobre o tema (e
!Jill' envolveram mais de 24 mil participantes) , chegaram a conclusao de que a presenc;:a
1 l•• ~ outros exerce, de fato, influencia sobre o desempenho, ainda que de pequena mon1!1 , ,. que varia em func;:ao da simplicidade ou da complexidade da tarefa executada.
Facilitac;ao social
Qual o efeito da presenc;:a de observadores sobre as atividades das pessoas? Melhor
dizendo, o desempenho das pessoas numa determinada tarefa e dificultado ou facilitado
I Meta-analise e uma tecnica estatistica de revisao de estudos de urn dado dominio de pesquisa que
l"'''ibilita uma sintese dos resultados quantitativos obtidos e conclusoes sabre o padrao de relat;;oes
"illicadas entre diversas variaveis investigadas.
350
351
< OIH lui ..,,., poro.,, que a preo.,r11r,;a dt• tltlll.to., IH'o.,o.,o;to., l.tVOI rn· o dt•o.,t'lllp('lllto qu.u
a pe~soa domina bern a respo~ta a ser emitida; em ca~o contrario, a presen~·a tk ou111
inibe o desempenho. 0 trabalho em grupo, ponanto, cleve ser inccntivado quandn
pessoas estao bern treinadas na tarefa a ser desempenhada.
Em suma, o conceito facilitat;ao social pode ser definido de duas formas: c111 ..,,
concept;ao original, facilitat;ao social seria a tendencia das pessoas a desempenha 1 1111
lhor as tarefas simples ou bem-aprendidas diante da present;a de outros; em sua t 1111
cept;ao atual, facilitat;ao social refere-se ao fortalecimento de reat;oes dominantes ( pr e
valentes, provavelmente), em decorrencia da present;a de outros (MYERS, 2005).
Vadiagem social
0 conceito de vadiagem social refere-se a tendencia de membros de urn gru pn 11
despender menos esfort;os quando trabalham em grupo do que quando trabalham ..,.,
zinhos. Tale o caso de muitas situat;6es da vida cotidiana- na escola, no trabalho, 1111
familia- em que as pessoas juntam seus esfort;os de forma cooperativa para alcan~a
objetivos comuns, sabendo que elas nao serao avaliadas individualmente. Pode111o11
pensar, por exemplo, no caso de uma orquestra, em que voce toea violino e o som d
seu instrumento se mistura nao s6 ao de outros violinos, como tambem ao dos denial•
instrumentos: aos olhos da plateia seus esfort;os nao se distinguem dos esfort;os de to
dos aqueles que o cercam, is to e, fundem-se nos esfort;os do grupo. Ou ainda nos 1ra
balhos escolares em grupo pelos quais todos os participantes de cada grupo recebe 111 11
mesma nota: quantos de n6s ja nao tivemos a experiencia de ver colegas, que [alta
ram a varios encontros para fazer o trabalho, sempre alegando problemas de ultim11
hora, ou mesmo que estiveram presentes, mas pouco se envolveram nas tarefas, rct·c·
herem a mesma nota que n6s, que nos empenhamos tanto para fazer o trabalho?
Contrariamente a facilitat;ao social, em que o esfort;o individual e observado e ava
liado e que a present;a de outros provoca excitat;ao emocional- como eo caso de vort'
fazer uma prova de psicologia individualmente, sem consulta, diante da fiscalizat;ao do
professor- nas situat;oes de vadiagem social, o medo da avaliat;ao e reduzido e ha tun
certo relaxamento. 0 que acontece nesse tipo de situat;ao? 0 esfort;o e maior ou mt·
nor? 0 desempenho melhora ou pi ora? Mais uma vez, segundo os psic6logos sociais, a
resposta depende da complexidade das tarefas.
Vejamos o caso de tarefas simples, como uma equipe puxar uma corda como ma
ximo de fort;a possfvel. A questao de se as pessoas dessa equipe influenciam ou nao o
desempenho de cada urn foi estudada, pela primeira vez, por Ringelmann (1913), h;l
quase cem anos. Ele descobriu que o esfort;o coletivo de equipes nessa situat;ao era
apenas a metade da soma dos esfort;os individuais, ou seja, "nem sempre a uniao faz a
352
\ ·. i'lill <;1 llllll
hll qut• ()0., 11\t'lllhloo., dt
111111\I ~ 'IIIIJII
podt'lll
O.,('
0.,('11(11 IIH'IIO'> IIHliiV;t
'I" u11l11 tko.,t'IIIJH'IIh:\111 tatdao., .tdlltvao.,, i..;lor , ,tqut'l.to., tarclao., em que a rcalizac,;ao
IIIJHl dqwntlc da !>oma dos eo.,fon,;oo., 111d1v1duai:-.. Uma outra exphcat;ao posslvel
illtl.tr'>lal· rrlacionada ao fato de que, por problemas de coordenat;ao, as pessoas pui;llll.lrortla em dircc,;oes ou momcntos difcrentes. Essa possibilidade foi testada exllill&'llt,dmentc : os participantes de urn experimento (INGHAM, 1974) foram leval lll :r('ditar que puxavam a corda junto com outros quando, na verdade, puxavam
ltiluh. Os resultados indicaram que a fort;a feita era 18% maior quando eles acredi!111 que puxavam sozinhos do que quando supunham que havia outras pessoas pu'"'' .trorda.
Nr!o.,sa mesma linha de investigat;ao, Latane e colaboradores (HARKINS, 1981;
I ~ 1'1\Nl :, WILLIAMS & HARKINS, 1979) conduziram uma serie de experimentos em
til•- ,,., participantes gritavam e batiam palmas "o mais alto que pudessem", tendo veriIt· ul11 que o ruido que faziam, quando pensavam que estavamjunto com outras pessoas,
1 IH 111 menor do que quando se julgavam a s6s. Analisando esse conjunto de resultadi ,.. ntnharam o termo social loafing- vadiagem, indolencia ou preguit;a social- para
tlr lgnar esse fenomeno, segundo o qual, na condit;ao de grupo, as pessoas "tendem a
ili'H·" carona" no esfort;o do grupo.
l'osteriormente, Latane (1981) desenvolveu uma teoria a qual ele denominou de
11 '" ra do impacto social". Segundo Latane, o impacto social de outras pessoas sobre o
ilrdtviduo depende: (a) numero de observadores do seu comportamento; (b) magnitu,J, das fort;as sociais (status, idade, nivel de conhecimento); e (c) proximidade fisica da
llldltncia. Nesse sentido, quanto maior foro numero de observadores e a magnitude
d" fort;as sociais, e menor a proximidade fisica, maior a probabilidade de ocorrencia
d.t vadiagem social.
0 que aconteceria nas tarefas mais complexas, em que o desempenho individual
., d ilui no grupo? Considerando-se, como vimos anteriormente, que, por nao ser facilllll'nte identificado nosso desempenho em uma situat;ao de grupo, ficamos mais rela,,tdos quanto a avaliat;ao, e considerando-se ainda que a excitat;ao provocada pela pre,,·nt;a de outras pessoas melhora o desempenho em tarefas simples e piora em tarefas
lornplexas, qual seria nossa tendencia na questao ora em foco? Uma possibilidade plaulvel seria a de fazer urn esfort;o extra em uma tarefa dificil e, por conseguinte, melhorar nosso desempenho, ja que nao estariamos apreensivos com a avaliat;ao. De fato,
r·ssa tendencia foi experimentalmente confirmada: quando os participantes trabalha' am com labirintos faceis no computador, aqueles que julgavam que nao seriam avaliados tiveram desempenho pior do que daqueles que supunham seriam avaliados; por
outro lado, quando trabalharam com labirintos dificeis, o desempenho dos que acreditavam que seriam avaliados foi superior ao dos que nao julgavam que isso iria ocorrer
UACKSON & WILLIAMS, 1985).
353
Comparando as caracLcrtsLicas do~ lenOmcno:, de vadiagcm ~ocial e de lat'iltt.l~
social, Myers (2005) exlrai algumas conclusoes interessantes acerca da fon,;a p:-.h u
gica da apreensao frente a avaliac;:ao: no primeiro tipo de experimento, as pessoa~ .tt 1
ditam que s6 serao avaliadas quando agem sozinhas; a situac;:ao de grupo (puxar 1111
corda, por exemplo) diminui essa apreensao; quando as pessoas nao tem que pn·•,l
comas e nao conseguem avaliar seus pr6prios esforc;:os, a responsabilidade se di lu1r1
tre os membros do grupo . No segundo caso, os experimentos aumentam a exposi<,..llt
avaliac;:ao; quando se veem como centro das atenc;:oes as pessoas monitoram de fo rr ll
deliberada seu comportamento. Em suma, o principia eo mesmo, mas com efeiLo:-. di
ferentes: o fenomeno da facilitac;:ao social ocorre quando ser observado aumc n1 .1 11
medo da avaliac;:ao; o fenomeno da vadiagem social ocorre quando o medo da avaku,.\11
diminui pelo fato de a pessoa se sentir "diluida" no grupo.
Em sintese, a luz da teoria de Latane (1981), podemos concluir que quando a pt''l
soa cujo desempenho estamos avaliando eo unico alvo das forc;:as sociais tem luga r 11
fen6meno de facilitac;:ao social; quando, todavia, a pessoa e apenas um de muitos alvo
dessas forc;:as tem lugar o fen6meno de vadiagem social.
Para completar, cabe um registro final. A vadiagem social nao constitui, co me1
pode parecer ao leitor, urn fenomeno inevitavel, podendo ser reduzido ou evitado d
varias formas, entre as quais se destacam as seguintes: (a) aumentar a identificac;:ao
a facilidade de avaliac;:ao das contribuic;:oes individuais; (b) aumentar o envolvime n1 11
e a responsabilidade dos membros; e (c) aumentar a atratividade das tarefas (KA
RAU & WILLIAMS, 1993).
Desindividua~ao
Quando as pessoas se sentem livres para jazer o que bern quiserem,
ai mesmo e que elas tendem a imitar umas as outras.
E. Hoffer
A influencia do grupo sobre o comportamento das pessoas ja deve estar sendo ava
liada pelo leitor como algo que se reveste de aspectos positivos, negativos, instigantcs,
ameac;:adores, contradit6rios, polemicos e assim por diante. Acabamos de discutir, por
exemplo, que os grupos podem ativar as pessoas, podem torna-las "preguic;:osas" e podem diluir a responsabilidade individual.
Ao tratarmos da desindividuac;:ao vamos urn pouco alem, pois veremos que a com binac;:ao da excitac;:ao com a responsabilidade difusa, aliada a diminuic;:ao das inibic;:oes
normais, pode trazer algumas consequencias surpreendentes, para nao dizer perigosas, para o comportamento das pessoas.
354
\l p,rtrh r·xerttplo:-. podttll '""' .tj111L11 ;1 .dH11d.u· o~ ptobkma:-. itnpl1c:1do~ no len
liH 1111 d.1dr.,individw.H,;ao . l'rn '> tiiiO'>, por cxcmplo , no massacre de Carandiru , ocorri-
j,, '· "' lll9 2, em que presos e niminosos foram massacrados por guardas dentro de
tliiit I" i-;ao em Sao Paulo; no comportamento violento de policiais que espancam ou
11' 11 1111 111cnores, bandidos ou nao, nas ruas de grandes metr6poles; nas reac;:oes de tor1•11• 1111ilormizadas que, sob "gritos de guerra", se hostilizam mutuamente, quebram
I Hitlll .1dos, invadem campos de futebol, provocando panico e pavor dentro e fora dos
t . ttllo~; nos gritos histericos e alucinantes de jovens plateias em shows de rock e funk.
lit tit casos, comumente comentados como folcl6ricos, mas que sao nao s6 inteira'"' lilt ' vc ridicos como ja ocorreram em varios lugares: suicidas em potencial observa1·' ~ t IIIStigados por uma multidao a apressar o ato que pora fim a sua morte, ou seja,
loiHu '>C do alto de um ediffcio aos gritos de "pula, pula ... " Um epis6dio ocorrido na
'·''11.1 do Iraque, em 2003, chocou a humanidade: uma tenente do exercito nori ' ,u11ericano, observada por militares e civis de ambos os lados, arrastando pelo chao
liill prisioneiro local, preso com uma coleira ao pescoc;:o, como se fosse urn cachorro.
I odos esses exemplos retratam uma realidade cruel, dura, inadmissivel em se tra-
It lid o de seres humanos. Em todos eles ha urn fator comum, que, em termos gerais,
1" 11lr• ser vis to como responsavel por sua emissao: o poder de urn grupo, que gera exci!,11.• to e leva as pessoas a agirem de forma diferente do que o fariam se estivessem sozii.tlt .l.... Mas, em termos especificos, que razoes ou que mecanismos sociais e psicol6gi, it •, poderiam explicar tais atos? Historicamente, urn soci6logo frances, Gustave Le111111 , tentou encontrar algumas respostas para o comportamento das multidoes, e sua
•tlll:t (1895) A psicologia das multidoes [La psychologic des Joules] ficou mundialmente
••tllhecida. Para esse autor, o anonimato, o contagia e a sugestao sao fenomenos que
•H orrem nas multidoes e fazem as pessoas perder a racionalidade e a propria identida.lr individual, criando uma especie de "mente grupal". Ainda que esse conceito ja este1·' o., uperado ha muito tempo, suas especulac;:oes sobre os efeitos do anonimato exerce1.1111 enorme influencia nas tentativas de explicac;:ao do comportamento coletivo na
1\icologia Social.
Originalmente, Festinger, Pepitone e Newcomb (1952) criaram o termo desindi' tduac;:ao para se referir ao fenomeno que, em determinadas situac;:oes de grupo, faz
1om as pessoas tenham mais probabilidade de perder suas inibic;:oes normais eo senso
de responsabilidade individual, tornando-as nao identificaveis. Mas foi Phillip Zimltardo quem formulou, em 1969, a teoria da desindividuac;:ao, segundo a qual tres varlaveis sao importantes para introduzir mudanc;:as psicol6gicas capazes de produzir
1omportamentos dessa natureza: o anonimato, a difusao da responsabilidade e a pre'>Cnc;:a ou tamanho do grupo. Para ele, esse estado psicol6gico conduz a uma perda da
ld entidade e uma reduc;:ao na preocupac;:ao quanta a avaliac;:ao social, o que resulta, en-
355
t~lo ,
em aw~ tmpul.,tvo ~. 11 racionai., t' "ll'j..',ll'lildo<., " porqut de., n:lo ,..,t.to .,oh n'>
droes usuais de controle pessoal e social. Ainda que Zimbardo tcnha po~lllladn t
esse estado psicol6gico possa levar a atos pr6-sociais, a tonica de suas formu l.t ~ 1
concentrou-se em seus efeitos antissociais.
Como intuito de buscar evidencias para sua teoria, Zimbardo (1970) descnvoln
experimentos de campo e de laborat6rio. Segundo esse autor, a imensidao das cid,u
grandes e suficiente para produzir o anonimato eo surgimento de normas que pr111
tam atos de vandalismo, sendo ja considerado classico seu experimento de campo ,
qual deixou dois carros abandonados, sem placa e como capo aberto , urn em u m.t d
dade pequena da California, Palo Alto, eo outro em Nova York. Ap6s tres dias , O'> r
sultados foram contundentes: na cidade grande o carro foi alvo de roubos e van d.tll
mo praticados por pessoas bem-vestidas, mas, na cidade pequena, apenas uma pe-."
tocou no carro, apenas para abaixar o capo quando comec;:ou a chover. Nos experi nlt'll
tos de laborat6rio , os participantes, sob o pretexto de estarem participando de C\ jll
riencias de aprendizagem, deveriam ministrar "choques" ficticios (mas aparentenw nl
reais) aos aprendizes. As condic;:6es de anonimato fisico foram experimentalmentc II HI
nipuladas, ora fazendo os participantes vestirem capuzes, ora fazendo-os agir em ~a l ~t
escuras. De urn modo geral, os resultados trouxeram evidencias em favor dos efcllu
antissociais da desindividuac;:ao sobre o comportamento dos individuos: quanto m:uu
o grupo e quanto maior o anonimato fisico , maior a desindividuac;:ao e mais inte rNI
seus efeitos negativos sobre o comportamento das pessoas. Tambem em seu expt'rl
mento sobre simulac;:ao de aprisionamento (ver cap. 1) , Zimbardo (1975) observou n
poder da desindividuac;:ao na genese de comportamentos antissociais, tais como frau
des , mentiras, vandalismo, ofensas e agress6es fisicas e verbais.
A despeito desses achados, contudo, nao podemos concluir apressadamente qu
fazer parte de urn grupo , mesmo de urn grupo primitivo como uma multidao, leva a!'l
pessoas necessariamente a agir de forma destrutiva. A exemplo do que mencionamo!'l
anteriormente, a prop6sito da facilitac;:ao social, tambem aqui podemos ser urn pourn
mais otimistas. De acordo com Diener (1980), o fator-chave do comportamento 1111
multidao eo nivel reduzido de autoconsciencia. Esse au tor argumenta que o anonima
to, a estimulac;:ao exacerbada e a coesao, presentes nas situac;:6es de multidao, induzcm
as pessoas a dirigir sua atenc;:ao mais para o ambiente do que para seus padroes inter
nos, o que torna seus comportamentos menos autorregulados e mais controlados pela!i
normas mais salientes na situac;:ao. Nessas circunstancias, portanto, as pessoas "des in
dividualizadas" ficam mais propensas a reagir as demandas do ambiente, sem pensar
em seus pr6prios valores e atitudes. Em suma, a autoconsciencia seria o oposto dade
sindividuac;:ao e, por consequencia, sendo criadas condic;:oes para o aumento dos nivcis
de autoconsciencia as pessoas tornam-se individualizadas e menos propensas a in
356
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Hlii PtUl• t.!-> 1udo'>, nos quais o~ pan 11 'pantl'" agiam na !rente de urn espelho ou diante
\till·t.t<; de IV ou aind a usavam crac ha~ de identifi cac;:ao, tendo sido verificado ou
lli ti i • dtl ~.lo nos d eitos negativos da desindividuac;:ao ou um au men to dos efeitos po111 \·r• 1!.1 ,tut oco nsciencia. Em urn desses estudos, por exemplo, Hutton e Bausmeister
I) to nclurram que as pessoas se tornaram mais ponderadas e menos vulneraveis a
I'' lp· , l(lll' fossem contrarios aos seus pr6prios valores.
lln6mica dos grupos sociais
\ p.utir de agora, trataremos dos grupos sociais por excelencia, aqueles grupos em
liil' ;1 11s membros interagem de fato , sao interdependentes e almejam objetivos cotill Ill '•. tslo e, grupos que tern vida e dinamica pr6prias, constroem uma hist6ria, desen;j . 1 111 uma identidade social, evoluem, transformam-se ou ate mesmo morrem. Nes(II IH'l'SSO, prescrevem formas de pensar, sentir e agir aos individuos que deles fazem
jh!lll ,. cstabelecem relac;:oes com outros grupos, compondo o tecido social e construli Hii l 11 legado cultural que atravessa as gerac;:oes.
que os grupos sociais tern em comum? Como se compoem? Que func;:oes eles
ltttlp rc m para seus membros? Como funcionam? Que estruturas, processos e fen6"'' II O'i sao tipicos de sua existencia? Por que surgem os conflitos e quais as formas de
• tilt t' nta-los? Essas sao as principais indagac;:oes a que procuraremos responder nas seI)
• 'u ~ -.
que se seguem.
uracteristicas dos grupos sociais
A' fum;6es do grupo
Nos muitos grupos de que fazemos parte , longe de sermos observadores passivos,
lltUtmos e participamos ativamente, influenciamos outras pessoas, somos influencia.lno, por elas e, nesse processo , preenchemos lacunas e alcanc;:amos objetivos. Por que
,,.., grupos sao tao importantes para n6s? Em primeiro lugar, precisamos do grupo para
ltl'nder muitas de nossas necessidades humanas basicas, desde as de mera sobreviven1 ''' ate as de afiliac;:ao social e de satisfac;:ao de aspirac;:6es e desejos mais profundos. Os
~~· upos sao tambem poderosas fontes de informac;:ao, que nos ajudam a tomar posic;:ao
till mundo social, especialmente em situac;:oes novas, confusas ou ambiguas, em que
usamos os comportamentos e opini6es dos outros para escolher cursos de ac;:ao mais
.tpropriados. Fazer parte de grupos ajuda-nos igualmente a saber quem somos, a definir nossa propria identidade. Experimente perguntar a alguem: "quem e voce? " Muito
357
Jllovavl'lllll'llll'l'll' lltl' d11a . "eu sou lul.tllo de l.d, p1olc-.-.o1 ou Jl"H ologo, l1ll1o dr1
grantcs, nordc~Lino ... " Ou scja, clc sc dcl11li1a romo pe-.soa l' sillll'lizara alg11 111 ,r
suas caracteristicas pessoais mais importantcs rcponando-sc a urn grupo ao qu:ilr
tence, na certeza de que essa informar;ao lbe sera ulil nao s6 para saber qul'nr d
como tambem para desenvolver suas expectalivas em rela<;:ao a elc c ao modo r n
vive, sente e age ao interagir com outros. Os grupos podem tambern nos Lrazer P ill
beneffcios diretos ou indiretos, pois estabelecem normas sociais que orientam adr q1
damente nossas condutas nas mais diferentes situar;oes sociais, proporcionam
compensas e ajudam-nos a atingir nossos objetivos pessoais e profissionais.
Composil;ao do grupo
Vimos na introdur;ao deste capitulo que a Psicologia Social contemporane;r 1
como foco o estudo dos padroes de intera<;:ao social entre as pessoas. Por conta d
enfase, interessa-lhe o estudo de grupos sociais pequenos, em que existe uma IT
face a face, as pessoas se conhecem umas as outras, compartilham objetivos COI111111
aderem as normas construidas pelo proprio grupo. Em grupos grandes, isso seria lllll l
to pouco provavel, entre outras razoes nao tao 6bvias quanto o seu tamanho, 1
sua heterogeneidade e porque seus membros dificilmente tern controle sobrc o qu
lhes acontece dentro deles. Em contraste, grupos pequenos tern uma atmos ll't
propria e sao mais homogeneos. Formam-se principalmente pela proximidacle 11 ,1
ca e tambem pela identidade de pontos de vista de seus constituintes e, a rncd1d
que a intera<;:ao continua, valores, objetivos, papeis e normas etc. vao se forrna ndt
progressivamente, o que, em certa medida, acaba por definir urn repert6rio de co ndu
tas bastante semelhantes.
r• ,rl ,t\'1 '1\S, rnuito., g r 11po., le·ndrrrr ~1111 1,ti1 pc •..,o:;cti l.; que )ii'><IO '>l'lltl'llt.utH''> ,lllll''o de
!'lll!'illllll, tomo l' o ca.,o, pot 1' \llltplo , de pe"""''" que vivcm no mt•s mo bairro,
I•IIIHcrrr rut 1\H''>mo Iugar ou panic ip.un de t·verHos rccrealivos, que scjuntam portr"'" rru·-. mo loco de alividadc (FEU), 1982). Quando os individuos sao difereni t.•' lrllrHlln dikrcnles, os conflilos surgem com mais frequencia, enfraquecendo a
111 d1r g1 upo c favorecendo a rotalividade (MORELAND, LEVINE & WINGERT,
i U1n.1 '>eguncla explica<;:ao da homogeneidade decorre do fato de que os grupos
rklilll luncionar de modo a estimular a semelhan<;:a entre seus membros atraves dos
'"" de socializa<;:ao grupal (LEVINE & MORELAND, 1998) . Por conta desses
'""• '>ito conlinuas as avalia<;:oes do grupo por seus membros e de seus membros
1Ill HI, o que produz sentimentos de compromisso entre todos os que estao envoibt l •,, ,, '>imilaridade funciona como uma fonte de compromisso, tres sao as possibilrule" ck cxplica<;:ao dessa similaridade: (a) dificilmente pessoas ingressam em urn
Ill"' • 11jos membros sao diferentes porque nem elas nem o grupo estao suficientelil• comprometidos para propiciar o ingresso; (b) quando, porem, novos membros
lllir• r11hros marginais sao diferentes dos membros plenos, processos de socializa<;:ao
1 , lc rc-.socializa<;:ao, respectivamente, en tram em a<;:ao para converte-los em memi • ph-nos; (c) se tais processos nao funcionam, essas pessoas dificilmente permane111 1111 grupo porque, mais uma vez, nao ha compromisso, nem delas nem do grupo,
ip.r de cvitar sua saida (LEVINE & MORELAND, 1998).
ll'uturas dos grupos sociais
Da discussao entre amigos e que jloresce a verdade.
David Hume
Em consequencia, a Psicologia Social dedica-se geralmente ao estudo de 1111
crogrupos, cujo tamanho varia de duas ou tres pessoas a no maximo 20 pessoas, sc ndn
o mais frequente, contudo, o estudo de grupos com ate seis ou oito membros. A pro pc)
sito dos limites minimos de urn grupo, alguns autores (BALES, 1950; HARE, 1976) de·
fendem que as diades (grupos de duas pessoas) ja assumem caracteristicas de grupo ,
outros autores (SIMMEL, 1950; CAPLOW, 1956), no entanto, advogam que somc n11
a partir de tres membros e que se pode falar de grupo, pois e esse limite minimo Cfllt
permite a forma<;:ao de coalizao.
A homogeneidade dos membros no que concerne a idade, sexo, crenr;as e opinioc·.,
e, portanto, uma outra caracteristica importante dentro dos grupos sociais pequeno.,
Tal homogeneidade pode ser explicada de duas formas. Em primeiro Iugar, pelos pro
cessos de forma<;:ao e dissolu<;:ao dos grupos: os grupos mais provavelmente se forma m
e menos provavelmente se dissolvem se os membros sao mais similares entre si. Em
'-le o leitor, interessado em aprofundar seus conhecimentos sobre a vida social,
• •lll'>llltar diferentes manuais de Psicologia Social vera que fen6menos importantes
1 '""o forma<;:ao de normas, diferencia<;:ao de status e de papeis, coesao e lideran<;:a sao
11 11.1dos pelos autores ora como processos grupais, ora como estruturas de grupo. Para
1 lttc idar de antemao essa aparente contradi<;:ao, de vez que, em geral, estruturas sao
, ••lllrastadas com processos, diremos que essa distin<;:ao e apenas conceitual,ja que es11111 uras e processos estao intimamente associados e implicam-se mutuamente, is toe,
l''ilruturas afetam os processos de intera<;:ao e vice-versa. Como sabemos, "proces,,., .. significam movimento e mudan<;:a ao Iongo do tempo, e as rela<;:oes dentro dos
1.
~~~
upos estao, em geral, em constante muta<;:ao. No enlanto, nao devemos ignorar o fa to
de· que ha eventos na vida do grupo que mostram certa estabilidade e refletem sua es11ulura de funcionamento. Assim, se, por urn !ado, as diferenr;as entre os membros criam
358
359
oportuntdade~
de conllito~ intet pc~~muo., q111' ntoVI'tll o gntpo l' lll hu..,l'.t dr .,nl11~
negociadas, por outro !ado, a estrutura de grupo , ao ddinir padrt)t'S de relanon.u111 'l
e restri~oes ao comportamento de seus membros, pode prevenir a ocorr(·n<:ia d1 · 1 1111
tos, e quanto mais coeso urn grupo for , mais improvavel a emergcncia de di~o.,tdt· t u t
internas. Em suma, processes inerentes a dinamica interna de urn grupo , que ptt·., .. t
nam por mudan~as , e estruturas balizadoras, que visam a manter seu equilfbrio r .1
gular as necessidades de ajuste, alimentam-se e controlam-se reciprocamentc.
A estrutura pode variar muito de grupo para grupo , tanto em forma quan iPt
for~a, mas, invariavelmente, todo grupo precisa criar sua propria estrutura , poio., dl'l
dependem , inclusive, os processes que ai tern lugar. Nesse sentido , a estrutu t,ttl
grupo , corporificada nos padroes de relacionamento entre seus membros, desemol
ve-se de forma rapida , mas muda de forma lenta . Em outras palavras, assim qur 111
grupo se forma muitos esfor~os sao feitos para organizar suas atividades de nuult
funcional; uma vez estabelecido urn modo proprio de funcionamento , tentativas po
teriores de reorganiza~ao encontram certa resistencia por parte dos membros do gtll
po. Isto porque e mais confortavel para eles saber exatamente o que se espera de l'iltl
urn , e processes de mudan~a , naturalmente, geram incertezas quanto ao func i01111
mento de uma nova estrutura. Alem disso , a estrutura de grupo , ao estabelecer rC'> III
~oes ao comportamento dos membros, previne a ocorrencia de uma serie de conn lt ll
dentro do grupo.
A estrutura de grupo caracteriza-se, pois, pela regularidade das rela~oes interpr.,
soais e das rela~oes pessoas-tarefas, que transcendem as personalidades e as relar,;m·111
idiossincraticas de urn determinado grupo (COLLINS&: RA YEN , 1969) , podendo ~l'f
definida como uma rede interdependente de papeis e de posi~oes hierarquizadas dr
status (SHERIF&: SHERIF, 1969). Papel e status referem-se ambos a padroes previ'> l
veis de comportamentos, associados nao tanto a individuos particulares dentro de um
grupo, mas a posi~oes ocupadas por esses individuos. A principal diferen~a entre eles ~
de valor: papeis distintos dentro de urn grupo podem ter o mesmo valor, ao passo qm•
posi~oes distintas de status sao , por defini~ao , valorizadas de forma diferente. U111
membro que detem mais status (e poder) dentro do grupo eo lider, razao pela qual o
estudo da lideran~a e tao enfatizado na literatura psicossocial, sendo examinada desdl·
diferentes perspectivas: como urn atributo pessoal, urn resultado de determinantes situacionais, uma intera~ao entre personalidade e situa~ao, ou, por fim, como urn processo de negocia~ao entre lideres e seguidores.
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pcu" \ llj!clllrll cr comt11111 c ove r sacJ e concle na~;ao cle seu pr6pr io
g r11po.
j o hn Locke
I 111 llttlt ao., ge rais, coesao grupal pode ser definida como a quantidade de pressao
nll l.t .,ohre os mcmbros de urn grupo a fim de que nele permane~am. Para Festin1 { I W,() 274) coesao e "a resultante de todas as for~as que atuam sobre os memlfi !i I"'' ,1 pcnnanecerem no grupo ". Urn ponto central na teoriza~ao de Festinger e
jil t 11 ~ f, ltlpos tend em a produzir "pressoes para a conformidade" entre os membros,
1111ip.dm cnte em questoes para as quais nao ha evidencias objetivas, ou seja, ques' q11 1 dcpendem de urn consenso intersubjetivo . Pode-se supor dai que as pres,, di rigiriam mais especificamente para os dissidentes no sentido de p ersua11 in, 1 , caso nao sejam bem-sucedidas, a tendencia do grupo sera marginalizar os
II!
i III I I OS
nao-conformistas.
li ,t va ri as razoes capazes de levar uma pessoa a pertencer a urn grupo. Atra~ao pelo
'''l"'ou por seus membros pode ser uma delas; forma de obter algum objetivo atraves
l1 ' ltll .1~·ao ao grupo pode ser uma outra razao. Apesar de serem varias as razoes condul' ltlt '., :1 a tra~ao despertada porum grupo em seus membros, Back (1951) demonstrou
li'' v.ui as formas de atra~ao grupal conduzem a resultados comportamentais semellt.tlll t's por parte de seus membros. Back criou experimentalmente tres fontes de atral1 1)',1llpal, a saber: atra~ao pessoal entre os componentes, atra~ao pela tarefa a ser exelll .ul a pelo grupo e atra~ao devida ao prestigio que pertencer ao grupo traria para seus
'"' 111hros. Foi verificado que as diversas bases de atra~ao pelo grupo influenciavam o
'I'" de comunica~ao prevalente, mas que nao influiam em aspectos como o poder do
tttpo em influenciar seus membros e a magnitude da coesao . Quanto maior a coesao,
l''"''m, maior a necessidade de os membros comunicarem-se entre si, principalmente
1111 .,entido de buscar uniformidade (FESTINGER, 1950) .
Segundo Thibaut e Kelley (1959), a tendencia de urn membro em permanecer no
t'.111po e fun~ao da positividade dos resultados por ele obtidos no grupo e tambem da
nt.!gnitude das recompensas oferecidas por outros grupos. Isto e, se os resultados obtiollt o., no grupo forem gratificantes e os antecipados na considera~ao das alternativas a
oll ..,posi~ao do individuo forem pouco satisfatorios, o individuo tera grande atra~ao por
·' 11 grupo atual. Se todos os membros encontrarem-se em tal situa~ao, a coesao do grupo sera elevada.
Desses fenomenos trataremos em seguida, procurando trazer, em cada caso, uma
visao geral sobre os principais aspectos conceituais e empiricos que os caracterizam, c
que nos ajudam a compreender urn pouco mais a vida dentro dos grupos sociais.
Os estudos experimentais classicos, em que a coesao grupal figura como variavel
lltdependente, tern revelado resultados bastante obvios, tais como:
360
361
a) quanto maior a cocsao do g1upo , 111.1101 a sati'.,I:H,;:lo e:-.IH'IIIIH' IIlad.t pot 'ol'\1
membros (EXLINE, 1957; MARQUIS, (,UE'I ZKOW & II FIN~ . 195 1); c qtt.lltltl
rna is os membros de urn grupo se sentem atraidos pelo grupo, maior scni a int lt n,,
~ao a acatar sua influencia (LOTT & LOTT, 1961; SAKURAl, 1975) ;
b) quanto maior a coesao grupal, maior a quantidade de comunica~ao cntH· ,,
membros (BACK, 1951; DITTES & KELLEY, 1956; LOTT & LOTT, 1961) ;
c) quanto maior a coesao grupal, maior a quantidade de influencia exercida prltl
grupo em seus membros (BACK, 1951; BERKOWITZ, 1954; CRANDALL, It)HH
SCHACHTER, ELLERSTON, McBRIDE & GREGORY, 1951);
d) quanto maior a coesao grupal, maior a produtividade do grupo (BJERST I·U I
1951; CHAPMAN & CAMPBELL, 1957).
Cumpre assinalar ainda que os estudos levados a cabo nas duas ultimas decad,, ..
tomaram duas dire<;;oes distintas. A primeira, coerente com o abordado acima, apon
tou para novos fatores envolvidos no processo de coesao, como por exemplo o l:ll u
tambem 6bvio, de que quanto mais tempo as pessoas de urn grupo permanecem jtt n
tas, maior sera a coesao resultante (GRIFFITH & GREENLEES, 1993). Da mesma lor
rna, quanto mais recompensadora a atividade grupal (atividades intrinsecamente p1 ''
zerosas, objetivos do grupo atendidos com sucesso etc.), maior sera a coesao cs·l ()
KES, 1983). Finalmente, a amea~a de perigos externos ao grupo (SHERIF, 1966), qu
possam atingir a todos os seus membros, eo papel exercido por suas lideran<;;as ta 111
bern se mostraram variaveis de peso no processo de fortalecimento da coesao gru p;tl
(HARRISON & CONNORS, I984; SMITH, I983) .
Alem disso, metodos especificamente destinados a medir a coesao grupal fo ram
desenvolvidos, alem daqueles relativos a mUtua demonstra~ao de apre~o (o metodo
sociometrico ou sociograma, idealizado por J.L. Moreno em 194 7) e a analise do pro
cesso de intera~ao entre os membros (o metodo de observa~ao de Bales, originalme nt c
proposto em I950 e modificado em 1970), que ja se tornaram classicos nessa area
Assim, medidas nao-verbais (sentarem-se mais pr6ximos, sinais nao-verbais de afeto ,
movimentos coordenados) somaram-se as medidas verbais (aumento do numero dt•
conversas, cria~ao de girias e jargoes pr6prios, narrativas pessoais de natureza mais fn
tima) para a aferi<;;ao mais precisa dos niveis de coesao de urn grupo (BUDMAN,
SOLDZ, DEMBY, DAVIS & MERRY, 1993; TICKLE-DEGEN & ROSENTHAL, 1987).
De outro lado, muitos pesquisadores vern alertando para o fa to de que o fen6me no
da coesao ainda esta bastante envolto em incertezas, no que diz respeito a sua natureza
conceitual (BRAWLEY, 1990) . Is to se daria tanto em fun~ao de muitos estudos defini rem coesao de formas distintas - ora como solidariedade, ora como moral, ora como
clima- quanto pela constata~ao de que o construto em si e, na verdade, bern mais com-
362
t•h' "do qllt' 'ot' IH'll'o;tV;I :tlllt'<;, <lht.tllgt' lldutlll.tltipl.t 'o dillH'll'otW<, oul:ttOit'" (II •VINI ;
1!11{ 1·1 AND , I99H) . llogg (I 99 \) , pot nttllplo , di.,tinguc a cocs~to bascada em
11II11H tliO"> de atra c;~to pcssoal entre o-. 11\t' tllhiOs da coesao baseada em sentimentos
!11 dii .H,. tn ">Ocial , definida pelo grau com que cada pessoa se aproxima da imagem
"i ''I'·" t d had a de u m membro tfpico de u m determinado grupo.
I\ t ttdos posteriores revelam rela~oes positivas entre coesao e desempenho do grupt· i f :\11 LEY , DEVINE & WHITNEY, 1995; MULLEN & COOPER, 1994). Em ampla
1 '''"de cs tudos realizados nessa area, Muller e Cooper verificaram que grupos mais
l!t
I' m urn desempenho melhor que grupos pouco coesos, especialmente quando
'~~" "' '" cnvolve mais comprometimento com a tarefa do que sentimentos de atra~ao
o,d ou de orgulho por pertencer ao grupo .
'""I
l'. tra finalizar, cabe ressaltar que a coesao nem sempre e funcional para a qualidade
It dccisoes tomadas em grupo, haja vista urn efeito perverso da coesao, identificado
hll j,tnis (I982), o chamado pensamento grupal, do qual falaremos adiante, ainda
IIP'i lt ca pitulo.
NoltlllOS
New desejo pertencer a nenhum tipo de clube que aceite como s6cio
lipos como eu.
Groucho Marx
I odo grupo social possui normas. Sem elas nao seria possivel sua sobrevivencia.
de simples observa~ao verificamos que todos os grupos, pequenos ou grandes,
lt~ttllais ou informais, possuem normas que governam as linhas gerais do comportattll 11to de seus membros. Cat6licos, protestantes, partidos politicos, associa~oes coiilt rciais, associa~oes de moradores, organiza~oes nao-governamentais, todos possuem
"·"' normas e sao regidos por elas e, quando seus membros as desobedecem, sofrem
1, nmsequencias dessa viola~ao. Normas se aplicam, portanto, a todos os tipos de
·tltpo, grandes ou pequenos, e ate mesmo a diades. Marido e mulher, por exemplo,
tt.lo raro estabelecem normas para evitar atritos e facilitar uma acomoda~ao mais
lt.u moniosa entre eles. Como exemplificam Thibaut e Kelley (1959), urn casal, em
•jill' o marido gosta de ir ao cinema e a mulher prefere ir dan~ar nos fins de semana,
podc estabelecer uma norma que concilie essas diferen~as, alternando o tipo de diver.. \o em cada fim de semana.
\11 .tvcs
As normas sao aprendidas e constituem urn dos mais importantes mecanismos de
, ttntrole social. Nesse sentido, os membros de urn grupo utilizam tais padroes para julp,.tr a propriedade ou adequa~ao de suas percep~oes, de seus sentimentos e de seus
• omportamentos.
363
lk manl'ira gcral , podcmo!'> ddi1111 nor"'·'" '> IHI.II '> ( orno '> l'IHio padnw-. Olll''\IH'I
tativas de comportamentos compartilhado!> pelo!> mcmhros de um gr upo ace rca tk ">r ll
desempenho e das formas como deverao funcionar para que o grupo al can ce sew, olw
tivos. As normas podem ser tanto formais ou explicitas quanto informais e inconscir n
tes , s6 perceptiveis quando violadas. Uma vez estabelecidas, as normas de um gru pu
tendem a institucionalizar-se e, mesmo quando informais, sao invocadas para corrig11
urn comportamento desviante. Varios sao , portanto, os tipos de normas subjacentes au
funcionamento de urn grupo, podendo regular as interac;:oes entre seus membros, o~
comportamentos, as recompensas, as distribuic;:oes dos recursos, como a equidade 0 11
igualdade, enfim, as crenc;:as, atitudes e valores sobre o que e valido , correto e verdadc r
ro (McGRATH, 1984) .
As normas formam-se no grupo de modo progressivo e silencioso, mas tendem ,,
se tornar estaveis ao longo do tempo , a despeito de mudanc;:as na propria composic;:ao
do grupo. Muitas teorias foram propostas para explicar como se da o desenvolvime nto
das normas. No capitulo 7, sobre influencia social, vimos o experimento de She nl
(1936) como efeito autocinetico. Este experimento mostra de forma bastante adequa
da como se formam as normas sociais. ja Thibaut e Kelley (1959) consideram a nece-.
sidade de o grupo locomover-se em direc;:ao aos seus objetivos, a de diminuir custos c a
de aumentar recompensas como os elementos principais no estabelecimento de nor
mas grupais. A posic;:ao desses autores e adequada no que tange a normas relativas ao!->
objetivos do grupo como urn todo e aos de seus integrantes em particular. Opp (1982),
por seu turno , argumenta que as normas se formam por processos institucionais, vo
luntarios ou evolucionistas: as normas institucionais sao estabelecidas pelo lider do
grupo ou por autoridades externas; as voluntarias resultam da negociac;:ao entre os
membros do grupo para a resoluc;:ao dos conflitos; por, fim , as evolucionistas surgem
quando os comportamentos que satisfazem urn membro sao imitados pelos demais.
Na medida em que tais comportamentos se disseminam no grupo, criam-se as expecta
tivas, primeiramente sobre como as pessoas irao comportar-se e, posteriormente, sobre como elas devem comportar-se.
Por que sera, todavia, que os membros de urn grupo sentem necessidade de ter
suas opinioes conforme as normas dominantes no grupo? As teorias de Festinger de
1950 e de 1954 permitem que se encontre a resposta a esta pergunta. A teoria da comunicac;:ao social informal trata dessa questao embora se refira principalmente aos objetivos do grupo, mas a teoria dos processos de comparac;:ao social refere-se diretamente
ao problema da busca de consenso. Festinger ressalta que a pressao em direc;:ao a uniformidade constitui uma das maiores fontes de forc;:as conducentes a comunicac;:ao nos
grupos e, nessa busca de uniformidade, desempenham papel primordial a necessidade
de estabelecimento de uma realidade social, que se traduz pelo consenso de opinioes, e
364
I(I ,Hk dr· () griiiHliJH !!IIlii \ I r··~·~~ (~ Ill dill ~. 1!1 ol tl'o '> 1"11'> ohl l' II VO'>, 111;\i .; 1.11 ilrllrllll'
rlill f',IVl' l!-> quanlO 111:11111 lor 11 g1.111 rk i11111dr I" lld l' ll ( 1a entre st u!> ml' lllhro-.. 1'111 am
!11 1'• ,,., tipos de procc-.so (k rorllltlllt .t\:lo ,. de comparac,;ao social - ri ca patcntc aim l"" t.ln cia das normas do grupo na rcgul a<,;<\o dos pensamentos, sentimentos e comporIl l'! , .....
de seus membros.
t ) cstabelecimento de normas grupais constitui-se num excelente substituto para
I! 11'>11 do poder que, muitas vezes, provoca tensao e onus aos membros do grupo . Ao
111 \1''> de o lider estar constantemente utilizando sua capacidade de influenciar seus lidl 1.rdos, a existencia de normas facilita seu trabalho e dispensa o constante exercicio e
d111Hli1Strac;:ao do poder. Em sua teoria da troca social, Thibaut e Kelley (1959) afirlll.llll que elas funcionam como mediadores das interac;:oes, evitando, assim, o recurso
t1t11Hili OS
poder pessoal.
Em grupos de pouca coesao ou muito amplos pode haver dificuldade no estabele' lrn cnto de normas devido a multiplicidade de interesses. Nestas circunstancias, para
se formem normas, e necessaria, via de regra, a seguinte sequencia de acontecilll t'ntos: (a) especificac;:ao das atitudes ou comportamentos desejados; (b) fiscalizac;:ao
111 lo grupo da obediencia as especificac;:oes; e (c) aplicac;:ao de sanc;:oes aos nao-conlurmistas. A primeira etapa pode ser explicita ou implicita. Por exemplo, urn professor
pmle determinar como sera conduzido seu curso (explicita) ; urn aluno , atraves de
1 \l' mplo do professor ou de urn outro aluno, ve qual a conduta que deve seguir quando
111
'I'"'
p.trte de urn determinado grupo (implicita) .
Embora dotadas de relativa estabilidade, as normas nao sao imutaveis. Devem-se a
t, urt Lewin (1948, 1951) os primeiros estudos sistematicos sobre o processo de mudan' a de normas. Foram identificadas tres fases nesse processo: descongelamento, mudanc,; a
,. recongelamento. Em sintese: existiria uma situac;:ao de desequilibrio que levaria as pes-.oas a tomar consciencia da necessidade de mudar, introduz-se a mudanc;:a desejada e, filt<llmente, consolida-se o processo. 0 experimento classico nesse campo foi realizado
durante a Segunda Guerra Mundial e teve por objetivo mudar os habitos alimentares dos
,unericanos diante da escassez de alimentos provocada pela guerra. Para Lewin, a mudanc;:a do comportamento de grupo pressupoe a mudanc;:a das normas.
A exemplo do que ocorre com a coesao, varios metodos sao propostos para a men-,urac;:ao das normas de urn grupo, desde os mais populares, que consistem simplesmente em pedir aos membros do grupo que as descrevam (MOORE & VIRGIL, 1987)
ou em perguntar-lhes sobre suas reac;:oes a uma serie de comportamentos exibidos
dentro do grupo, agrupando as respostas em indices estatisticos (GEORGE & BET[ENHAUSEN, 1990) ate aqueles que buscam inferi-las dos pr6prios comportamentos
dos membros do grupo (BARKER, 1993)- as regularidades comportamentais sao in-
365
ll'l jlll'lad.t., tOiliO t'OIII011111dadl' ;\., 1101111,1., do ).\1 11p0, l' a., llll').\lll:tl i(Ltdl'"
antes clessas normas.
lOIIIO
<kw
Em linhas gerais, a pesquisa sobre como as normas afetam o grupo e os scus 111r 11 t
bros focaliza basicamente a conformidade eo desvio, imponames fen6menos asso< i,t
dos a dinamica interna de urn grupo. Mas ha tambem interesse em explorar seus drt
tos sobre o desempenho de urn grupo. Nesse sentido, quando mais as normas n:s.,al
tern o esforc;:o, a eficiencia e o controle de qualidade, melhor sera o desempenho du
grupo, embora normas positivas relacionadas ao trabalho nao constituam necessa 11 ,1
mente garantia de sucesso (LEVINE&: MORELAND, 1998).
11 '1.1 ptliH .trl'kv;\rH i.t pa1.1 l'.,t.dH'It•t 11111 ntn dt ,,,,,, olatn dr 11111 drk ., '> t'l c:1pa
lr l"}\·" lutl'holn11111o hl'lll , 1:1 "~' 11111 ddt·., pn.,., ltl 11111 llliiiH'ro .,ubstancial de publica' dr q11alidadt', tal drntll.,tancia nao o.,o llw I ram dcvauo stutus subjelivo como tamlu' "' ·" t'lllu:tdo ~lalu .\ soc ial em sc u grupo. ~ua contribuic;:ao ao grupo sera significante,
jli!l . t.lt .,na visto co mo ca paz de mediar bcncffcios (satisfac;:ao intelectual) ao grupo a
I"~' pu tcncc (deixemos de lado natural mente os aspectos menos nobres da natureza hulilllltlt, lais como inveja, por exemplo, na considerac;:ao do exemplo aduzido).ja sese tra,,. dr 11111 clube de futebol, a qualidade de bomjogador de uma pessoa, sem duvida nellllltllt,t , st'ria de grande importancia na atribuic;:ao de seu status subjetivo e social.
riP
Status
0 mundo inteiro e urn palco. Todos os homens e mulheres sao
atores e nada mais. Cada qual cumpre suas entradas e satdas, c
desempenha vdrios papeis durante os atos de sua existencia.
W. Shakespeare. As You Like It. Ato II, cena VI (tradw;ao de
Geraldo Carneiro).
Pode ser que o mundo seja urn palco, mas, nesse caso, francame ntr.
o elenco da pet;a foi muito mal escalado!
Oscar Wilde
0 sistema de status de urn grupo reflete a distribuic;:ao de poder entre seus me m
bros, pois reflete a avaliac;:ao atribuida as diferentes posic;:oes ocupadas por eles dentro
do grupo, isto e, 0 prestigio relativo dessas posic;:oes.
Em qualquer grupo social e possivel estabelecer-se o status de cada membro eo pa
pel que lhe cabe desempenhar. Sociologicamente, status refere-se a posic;:ao de uma
pessoa no sistema social (por exemplo, LINTON, 1945, utiliza o termo com este signi ficado) . 0 sentido em que tomamos o termo status difere, portanto, deste, haja vista es
tarmos considerando status como sendo o prestigio desfrutado por urn membro do
grupo. Este prestigio pode ser tal como o individuo o percebe (status subjetivo) ou
pode ser resultado do consenso do grupo acerca desse individuo (status social) . 0 sta tus subjetivo pode ou nao corresponder ao status social. Se, em relac;:ao aos resultados
colhidos pelos outros membros do grupo, urn dos membros se considera recebedor de
resultados gratificantes, tal situac;:ao o levara a sensac;:ao de status subjetivo elevado. Se
os demais membros do grupo consideram este individuo como necessaria ao grupo e
capaz de mediar beneficios conducentes a satisfac;:ao do grupo, ele tera status social elevado neste grupo. Obviamente, o status subjetivo pode ou nao corresponder ao status
social. Dependendo da natureza do grupo, determinados atributos serao significantes
para a atribuic;:ao de status. Assim, por exemplo, num grupo de professores universita,
366
h11 linhas gerais, essa concepc;:ao de status deriva diretamente das teorias classicas
IIIH'a social de Thibaut e Kelley (1959) e de Homans (1961).
ll omans fala dejustic;:a distributiva (ver tambem o capitulo 10) e de congruencia
•latus. Ambas essas noc;:oes supoem a avaliac;:ao comparativa das recompensas, dos
• [t ill'> l' dos investimentos de uma pessoa num grupo. Diz ele: "justic;:a distributiva reh 11 '>\' a relac;:ao entre o que uma pessoa obtem em termos de recompensa e o que ela
th
IIi•. Ill It' em termos de custos, aqui e agora; congruencia de status refere-se a impressao
•I IIi; t•ht causa em outras, dos estimulos que ela apresenta a outras, o que podera afetar o
r11 1omportamento posterior em relac;:ao a estas outras pessoas e, consequentemente,
1rrompensas futuras que ela auferira por parte destas" (p. 250) . Os do is conceitos
dtl', 1em, pois, em sua base funcional. Para manter a congruencia de status duas pessoas
da posi<;6es diferentes numa organizac;:ao, por exemplo, quando engajadas numa mesttl.t t.trcfa, deverao exibir comportamentos diversos; a de status superior devera esfor~ 11 .,t' mais a fim de manter a congruencia entre a no~ao subjetiva de seu status eo seu
, o1111portamento exterior em rela~ao ao da pessoa de status inferior. Varios simbolos
111drradores de status (tipo de autom6vel, aparencia do escrit6rio de trabalho etc.) se
dt .t·nvolvem em coerencia com a no~ao de congruencia de status. Tais simbolos refor~ 1111 a no~ao de congruencia de status para os individuos que deles se utilizam, caractei 1 .tndo sua posi~ao superior no grupo.
)a Thibaut e Kelley salientam a importancia decorrente da compara~ao dos custos e
11 '1 ompensas recebidos por pessoas de mesmo status. Com dois irmaos, por exemplo,
q11.111do ambos "requerem e recebem relativamente o mesmo tipo de tratamento dos
p.ll '>, qualquer diferen~a na quantidade de recompensas sera facilmente notada. Se os
quiserem evitar rivalidade entre os irmaos e serem acusados de favoritismo, deverao
''" se comportar de maneira escrupulosamente equitativa ou criar alguma forma de
11.\o-comparabilidade entre os resultados colhidos pelos dois irmaos, fornecendo-lhes
dtll'rentes tipos de recompensas" (p. 226) . Em outras palavras, estabelecida a diferen~a
tit• \latus, cada urn julgara seus resultados de acordo como que e coerente como seu sta111\ . Urn irmao mais mo~o, por exemplo, nao se importara se urn irmao seu, 10 anos mais
I'·""
367
l'"''"
vclho, sair conr o autornovcl de <.,cu pat, l'llqll.llltn i.;to Ihe(' lll'g,rdo por ll,lo
.11111
em iclade de obtcr autoriza<;ao para dirigir. Nao ..,,. conformara mai<., com c<.,ta sitrrol(
todavia, quando alcan<;ar a iclacle de dirigir autom6vel. Neste caso, alguma acomod.r~
teni que ser feita para man ter-se a justi<;a distributiva e a congrucncia de slat.us .
h'ltl"·· ptloo., nrt·ntllllt<., qrH' dilc~t•nt c r1111 ~ :;i ck,·idll ;, :l llol poo.,u,;ao lt~r·r.uqull : a no gr upo
De acordo com as no<;oes vistas ate aqui, e facil anteciparem-se as desastrosa.., < nn
sequencias para o funcionamento de urn grupo sempre que se verifique uma n;.lo cnt
responclencia entre status subjetivo e resultados obtidos em termos de recompcno.,.t
custos, e sempre que ocorra uma perturba<;ao na congruencia de status causada pdt
fa to de membros de urn grupo nao proporcionarem resultados correspondentes a pc r~l
<;ao de urn indivfduo no grupo.
,,,, -I" o111:uncnte o que esperar umas das outras. Adicionalmente, os papeis podem tra-
Uma vez estabelecido, o sistema de status de urn grupo tende a mudar lentamc nt r
havenclo tres fatores principais para essa relativa estabilidade: ser membro do grupn
mais recompensador para aqueles de maior status, que, obviamente, sao os mais rrlu
tames em fazer mudan<;as; os membros com maier status sao avaliados mais posith··•
mente que os de menor status, mesmo quando se comportam de forma equivalentr
esses; por fim, os membros de menor status tern maiores dificuldades em mudar o ..,,..
tema de status por serem menos influentes e porque seus esfor<;os sao vistos, em gc ral
como autosservidores (LEVINE&: MORELAND, 1998).
Papeis
Normas sociais e tambem o status subjetivo e social influem no papel a ser descm
penhado pelos membros de urn grupo. 0 papel social e urn conceito sistemico, esc n·
fere as expectativas de intera<;ao entre a pessoa que ocupa uma posi<;ao em urn gru po
as outras que lhe sao complementares. Assim, por exemplo, nao pode haver urn papc•l
de supervisor se nao houver urn papel de subordinado. De urn modo geral, todos ll'i
grupos tern papeis hem definidos, que consistem em expectativas compartilhadas so
bre como determinados membros devem se comportar.
Enquanto as normas especificam como todas as pessoas devem comportar-se, O'l
papeis determinam como deve ser o comportamento das pessoas que ocupam determi
nadas posi<;oes dentro de urn grupo. Assim, urn supervisor e urn empregado desem p!'
nham papeis diferentes dentro da empresa, razao pela qual se espera que se compor
tern de forma diferente nesse contexte. Por outro lado, se urn mesmo conjunto de nor
mas governa o comportamento de duas pessoas, dizemos que estas pessoas desempe
nham o mesmo papel.
As normas sociais prescrevem papeis de uma forma muito mais determinada e cs
pecffica que o status dos membros de urn grupo. Entretanto, a no<;ao de congruencia
de status vista acima implica o reconhecimento de papeis diversos a serem desempc 368
i d .1 <!Ill' j)l'llt'lltl'lll .
\ rr.dogarncntc as nonnas so<:iah, os papers pmkm scr de grande utiliclade para os
'"I""" do grupo: facilitam a intcra<;ao social porque, a principia, as pessoas sabem
illllrrwros bcneffcios nao so para a propria dinamica do grupo como tambem para seu
• r11pr11ho. Quando os papeis sao claramente definiclos, os membros tendem a se senllt.th ... atisfeitos eater melhor desempenho (BARLEY&: BECHKY, 1994).
~l
pilpcl reservado a urn membro de urn grupo e de capital importancia, quer se
H.l.t' de 11111 grupo de duas pessoas, quer se trate de uma na<;ao ou de uma cultura que
II\'• the· rnais de uma na<;ao. Nenhum grupo humano pode funcionar adequadamente
lit " c·o.,tabelecimento de papeis para seus membros. A despeito dessa importancia,
rtrrrlo , boa parte da pesquisa sobre papeis envolve os conflitos que eles podem criar
ll•ii i ,,., grupos e seus membros. Alguns desses conflitos, por exemplo, surgem no pro1'' '" pmccsso de atribui<;ao de papeis, quando sao tomadas decisoes sobre quem deve
''I"" que papeis dentro do grupo (MORELAND&: LEVINE, 1982). Outros conflitos
irl11' m podem surgir quando alguem come<;a a desempenhar urn determinado papel.
c'i c xpcctativas dos outros membros do grupo nao sao claras, a propria pessoa pode
11 lll'>cgura sobre como deve desempenhar seu papel (ambiguidade de papel), poj, irdo tal estado de coisas resultar ate em abandono ou expulsao do membro do grupo.
ll'runas vezes, e a propria pessoa que sente lhe faltarem conhecimento, habilidade
1111 rnotiva<;ao para desempenhar o papel de forma eficaz (estresse de papel) ou
1111 .t.lla que 0 papel e inconsistente com outros que ja desempenha (conflito interpa111'1l t) conflito interpapel acontece, por exemplo, com pessoas que pertencem, simull.itll .11nente, a duas subculturas diversas (urn adolescente de uma familia estruturada
I"' o.,(' associa a urn grupo de delinquentes infratores) e difere do conflito intrapalh I, que se caracteriza pela existencia de expectativas opostas por parte de membros
h• tlln grupo em rela<;ao ao papel a ser desempenhado por urn de seus membros. Estul,llltr·s e diretores de uma escola, por exemplo, podem ter expectativas diversas a resjill to do papel a ser desempenhado pelo professor, o qual, no caso, estaria num conflilit lntrapapel. Em outras palavras, o papel que lhe cabe desempenhar em decorrencia
rlt .,,ta fun<;ao torna-se conflitivo em face da existencia de expectativas opostas.
1:m suma, assim como em rela<;ao ao status existe o que se chama status subjetivo,
1.t11rbcm no que concerne ao papel existe urn papel subjetivamente atribuido pelo indiltrluo a si mesmo. Para o funcionamento harmonioso do grupo faz-se necessaria que o
I'·'Pel atribuido a si pelo proprio individuo seja coerente como que dele esperam os dellt.tis membros. Com alguma frequencia, as pessoas se encontram em situa<;oes em que
,, papel desempenhado e fonte de conflito e tensao, seja para elas mesmas, seja para o
••.rupo, seja para as rela<;oes entre elas e os demais membros do grupo.
369
l':uno P'>irologo-. -.odat-. cot no .,,H to logo-. tlt-dtr.un t'Oil'>Hit•t .tVI'I ttliiHll Lltu:i:t
fcnomcno de dcscmpcnho de papcl em gtupo., humano-.. Vat io-. -.ao o'> lalott''> qttl' 1
fiuem no estabelecimento de papeis, tais como idadc, scxo , n1vcl cducacional , tllll t
culturais, status, tipo de grupo etc. Naturalmente, as expectativas dos papcb a •.n
desempenhados pelos integrantes de urn grupo variam a medida que o grupo t-.1' 111
trutura. Em outras palavras, a noc;:ao de papel nao implica urn conceito estatico, tilt II!
vel e perene. Os papeis sao desempenhados pelos membros de acordo com as ca t ;It; I
risticas sistemicas do grupo a que pertencem.
11
lll ,tdlt ltlll,tl de mac c de "cuidadora dolar", mcsmo que trabalhem fora e contribuam
o tttl .lllH'IliO dom estico. Dessa situac;:ao surgem a tensao, a ambivalencia, a ambilllllt' 1. " " ronflitos de papel que aludimos acima.
i 'tilh ntlt'mente dos papeis de genero, que nos sao designados pelo fa to de sermos
111
370
on tmdhcr ou de termos nascido em uma determinada cultura, a maioria dos
pi'! .tlt t.ti'> que desempenhamos representa, de uma forma ou de outra, uma esco-
0 desempenho de papeis sociais exerce efeitos poderosos sobre as pessoas, podrn
do envolver dois tipos de custo (ARONSON et al., 2007). 0 primeiro deles diz rc.,pt 1
as consequencias potencialmente negativas para as pessoas quando determinado., 1
peis sao por elas absorvidos, interiorizados, de forma intensa e desmedida, a po tliP
afetar sua identidade pessoal e sua propria personalidade. 0 melhor exemplo para lit
trar essa situac;:ao eo experimento classico de Zimbardo (1975), reportado no captlt do I
que simulou uma prisao no porao da Universidade de Stanford e designou 24 estuda nll
para desempenhar os papeis de guardas e de prisioneiros. Os participantes "encarnat. un
esses papeis de forma tiio real, ou ate mais do que real, que o experimento teve que se t ., II
penso antes do tempo estipulado pelo forte impacto negativo, absolutamente imprnt~l
vel, que teve no comportamento e nas reac;:oes dos universitarios.
0 segundo tipo de custo esta relacionado ao prec;:o que pagamos quando, no d
sempenho de urn determinado papel, agimos de forma a violar as expectativas a cit-,,
sociadas, principalmente quando elas sao injustas ou arbitrarias. As expectativa:-. dt
senvolvidas pela sociedade no que concerne aos papeis de genero constituem um honl
exemplo para ilustrar essa situac;:ao. Desde os anos 50, a estrutura familiar orga nl
zou-se em func;:ao de papeis claramente definidos e delimitados que conferiam ao lw
mem e a mulher posic;:oes e status igualmente diferenciados. Tradicionalmente, espt' lll
va-se que o hom em desempenhasse o papel de provedor das necessidades financc 11 a
da familiae de chefe da familia, cabendo-lhe resolver os problemas que envolvessc tll ll
patrimonio e tambem nortear as diretrizes basicas que deveriam regular o compo n a
mento dos membros do grupo familiar. As expectativas associadas ao papel da mullu·
-mae, esposa, companheira- reservavam-lhe, contudo, comportamentos bern dilt•
rentes, restringindo-lhe o poder de ac;:ao fora do ambito estritamente domestico. Nc ......
sentido, as mulheres "de vanguarda" e a frente de seu tempo, que agiam fora desses pa
droes e de forma incompativel como que delas se esperava, angariavam atitudes nega
tivas, sendo objeto de discriminac;:ao por parte dos demais. Em muitas culturas, co m o
aumento crescente de seu poder e as mudanc;:as ocorridas em seu papel na sociedack , :1
mulher passou a reivindicar para si as prerrogativas outrora reservadas aos homens ,.
a esperar outros tipos de resultados em suas interac;:oes no grupo familiar e fora ddt·.
i·:·:•• , '' ll 'tlltlht•t ttlH' Illo dl' '''"" dit rilo-. ,- tit """" opotlunidadt''> :unpltou '>l' t·on
f, 111\'t'lntrlllt', '"""' muito:-. honH.'Il" .tltHI.tt "P'' .1111 que suas mulhcrcs assumam o pa-
!t• h .at', como tal, e importante para nossa identidade pessoal e profissional. Contu :n• todos os papeis tern o mesmo peso, a mesma infiuencia no grupo ou sao
lt .lllllt' llll' acessiveis a todos. Tale o caso do papel de lider, talvez o papel mais imporiP '- de maior status em qualquer grupo social, pois de sua capacidade pessoal e de
t_IH.u;:\o c interac;:ao com os demais membros dependem o desempenho do grupo e,
iHI_., Vl'ZCS , sua propria sobrevivencia. Do lider e do processo de lideranc;:a tratarel;t ,
1 S t ~g uir.
ltl•u·anc;a
Liderant;:a nao pode ser ensinada. Mas pode ser aprendida.
H. Geneen
llt' o., dc o classico experimento sobre tipos de lideranc;:a de Lewin, Lippit e White,
11 I 'I 39 , muito se tern escrito e investigado sobre lideranc;:a em Psicologia Social, mui'" I" nvavelmente urn dos topicos mais infiuentes na literatura especializada pela aplitltllidade potencialmente fecunda das descobertas e conhecimentos ai produzidos ao
ottln:to organizacional e do trabalho, educacional, das relac;:oes sociais mais amplas e
li! . 1rlac;:oes internacionais.
l'aralelamente as controversias conceituais sobre o que e urn lider, o que ele faze
1 • ' " " ' faz, se uma pessoaja nasce lider ou se torna lider, see lider em todas as situac;:oes
"" .tpenas em algumas, enfim, sobre como surge urn lider, PEeffer (1998), ao analisar o
1 .1111po de estudos organizacionais, sublinha questoes de ordem mais pratica relacionatf., , .10 fenomeno da lideranc;:a, na tentativa de entender os mecanismos de controle so1d que ai se desenvolvem: (a) o lider, de fato, importa e, se importa, em que situac;:oes
1 lid cranc;:a e mais importante? (b) 0 que fazem os lideres realmente eficazes? (c) As
lt.thilidades e comportamentos de lideranc;:a podem ser aprendidos e, se sim, quais sao
•,., meios rna is eficazes de treinamento?
l
Embora nao se possa afirmar que os psicologos sociais tenham chegado a urn peracordo quanto a natureza do processo de lideranc;:a, nao ha como negar que, h oje
11110
371
em d ia, ha uma razoavcl incl inac,;<\o no sc 11 11( lo dr 1t' jt'lla r a'> 1eorias hascadil'> t'l 11 11 ,,~- ~~
de lideranc;;a e de aceitar a posic;;ao segundo a qual a I idcranc,;a c tun lcn(;mcno CIIH'rgt 11
te, fruto da interac;;ao entre os membros do grupo e de pendente da atmosfera e das l111.1
lidades do grupo- embora isso nao signifique deixar inteiramente de lado a inn utili'''
de algumas caracteristicas de personalidade presentes naqueles que exercem papci-. dt
lideranc;;a.
Remontando-nos as origens do estudo desse fen6meno- e, mais uma vez, tcn1n
que falar em Kurt Lewin - podemos dizer que a lideranc;;a e urn caso especial de 111
fluencia social, o do exercicio de poder, que se da a partir de uma posic;;ao de alto statu\
na estrutura do grupo. Sob o enfoque lewiniano de dinamica de grupo, cabe ainda d1··
tinguir o lider como uma posic;;ao estrutural eo processo de lideram;a. A posic;;ao pod1
ser formal ou informal, e, nesse ultimo caso, o lider emergiria da interac;;ao entre n
membros do grupo. Por outro lado, a lideranc;;a vista como urn processo de influent '''
social visa o alcance dos objetivos do grupo, sendo o lider, entao, aquele membra q111
mais contribui para a realizac;;ao desses objetivos QESUfNO, 1993). De acordo CO lli
essa concepc;;ao, portanto, a lideranc;;a e urn processo e, como tal, e uma propriedade dt
namica dos grupos, como lider eo estilo de lideranc;;a emergindo naturalmente da co11
figurac;;ao propria de cada grupo.
·li 1, ora'' rclac,;~locn1rc a o., tltt.ll,.ll, 1 oc'>tdo de lidenuH,;a, ora as rl'lac,·ot·-. dt• llot<t l'llll't'
lid1 II ''> e scguidorcs , ora a artJt ulac,;<hl c.le dircrentes perspectivas Le6ricas em modclos
11111 grad ores. Neste capitu lo abordaremos apenas algumas dessas teorias como prop6_ll11 de ilustrar como o fen6meno da lideranc;;a pode refletir, de uma forma ou de outra,
11 • .tracteristicas da dinamica interna de urn grupo.
Durante muito tempo acreditou-se na existencia do lider nato. Para essa abordagem
11 ullcional de lideranc;;a, conhecida como Teoria dos Trac;;os, Teoria do Grande Homem,
l" ".tniormente desdobrada na Teoria da Grande Mulher e, enfim, na Teoria da Grande
1 \~•,o,oa, OS lfderes possuem trac;;os de personalidade que OS distinguem dos nao-lfderes.
\ •'• 1111 , caracteristicas pessoais, tais como inteligencia, autoconfianc;;a, sociabilidade, peri .ti' ncia, dominancia, criatividade etc., eram consideradas atributos especiais de lideres
·jill ' os habilitariam a ser lideres em qualquer situac;;ao. Sob esse enfoque, por exemplo,
.•, ltdcres politicos, religiosos, esportistas, de todas as partes do mundo, em tempos pasulos ou presentes, teriam trac;;os em comum que os tornariam capazes de atingir posi•H ·o., de poder e de exercer controle e influencia sobre as pessoas.
Como prop6sito de avaliar os efeitos no grupo dos diferentes estilos de lideran~·'·
Lewin et al. (1939) criaram experimentalmente tres atmosferas grupais: uma autOC J;l
tica, uma democratica e uma por eles denominada de laissez-faire. Nesse experimen1o,
grupos compostos por cinco rapazes executavam atividades extracurriculares, co mo
feitura de mascaras. Em cada uma das atmosferas grupais havia urn tipo diferente de h
deranc;;a. No primeiro caso, o lider utilizava-se de poder coercitivo e decidia o que 11
grupo deveria fazer e como faze-lo; no segundo caso, as decisoes eram tomadas por
consenso da maioria, cabendo ao lider apenas a tarefa de orientar a atividade de form;1
democratica; o terceiro tipo de grupo nao dispunha realmente de lider, sendo perm i1i
do a todos fazer o que quisessem. Verificaram os investigadores que a lideranc;;a demo
cratica torna os liderados menos dependentes do lider. A atmosfera autocratica produ
ziu resultados urn pouco melhores que as demais em termos de eficiencia do trabalh o,
porem os liderados ficavam perdidos na ausencia do lider. Em sintese, os resultado'l
evidenciaram diferentes padroes de interac;;ao em func;;ao do estilo de lideranc;;a.
onvidamos o lei tor a pensar conosco: o que teriam em comum lideres como Gandltt , llitler, Fidel Castro, Nelson Mandela, Pinochet, Margarete Thatcher, Golda Meir,
1111111 Kennedy? Dada a enorme diversidade de caracteristicas, talvez tenhamos muitas
dllt culdades em identificar com precisao alguns trac;;os comuns a todos eles. Nao develllll s nos sentir incapazes, pois essa tambem foi a conclusao de uma serie de estudos
, 1111duzidos por Stogdill (1948), nos quais ficou patente que os trac;;os de personalida"' nao sao fortes preditores de lideranc;;a. Em outras palavras, nao ha duvida de que
111ttitas das caracteristicas acima mencionadas ajudam a pessoa a tornar-se lider, mas
11.\o se pode dizer que uma pessoa sera lider por apresentar tais caracteristicas. Faz-se
III'Cessario que essas qualidades (ou outras caracteristicas de personalidade, como o
dt·scjo de poder, a comunicabilidade, a flexibilidade eo carisma, que, nos estudos de
I louse, Spangler e Woycke, e de Zaccaro, Foti e Kenny, publicados em 1991, apresenI.U'am correlac;;ao, ainda que modesta, com uma lideranc;;a efetiva) se harmonizem com
h finalidades e a atmosfera prevalente no grupo. Os galas do cinema antigo, verdadei"'" idolos de milhares de pessoas, passam despercebidos pela gerac;;ao nova, cujos lidelt's nem sempre se destacam pelas caracteristicas fisicas consideradas, em certa epoca,
' omo identificadoras de individuos hem apessoados.
Tomando por base a distinc;;ao entre lider e lideranc;;a, podemos identificar na teo
ria e pesquisa que se desenvolveram a partir desse estudo pioneiro inumeras tendencias,
numa indicac;;ao clara de que o assunto e complexo e longe esta deter alcanc;;ado unan i
midade entre os estudiosos. Con vern esclarecer ao lei tor, desde ja, que, por conta dessa
diversidade, existem na literatura muitas tentativas de classificac;;ao das teorias de lidc
ranc;;a , nem sempre coincidentes, com base na enfase que concedem ora a figura do If
Os resultados, ate certo ponto decepcionantes, apresentados por esses estudos
dcsviaram a atenc;;ao dos pesquisadores para a conduta do lider, as chamadas teorias
IOtnportamentaiS de lideranc;;a. 0 que 0 lider faz, e nao mais 0 que 0 lfder e, paSSOU a
•,n, en tao, o novo foco da pesquisa na area. Surgem a partir dai os estudos classicos sohre estilos de lideranc;;a desenvolvidos nas universidades de Ohio e Michigan que, em
ltnhas gerais, propuseram duas categorias semelhantes de comportamentos relaciona-
372
373
do~
como dc~cmpcnho clicaz do~ Iiden·.., ''(·..,11\llllr;l de inici:u;:lo" 011 "lldt'l OIH'III.u
para as tarefas", com cnfase nos aspectos tccnicos c pnitico~ do trabal ho , l' "con.., II lr 11t
<;ao" ou "lider orientado para as pessoas", com en rase nas rclar;ocs intcrpcssoai .... ( l.., 11
sultados obtidos por essas teorias foram considerados modestos na identifica<;~IO dt I{
la<;oes consistentes entre o comportamento dos lideres eo desempenho do grupo, 1.•1
tando-lhes a considera<;ao dos fa to res situacionais envolvidos no sucesso ou frat .t•.;i
do grupo. Por exemplo, parece pouco provavel que Hitler pudesse ter sido o mC!> IIll t II
der em circunstancias diferentes daquelas vividas na Alemanha de sua epoca.
Dessas experiencias iniciais o que se deduz e que prever o sucesso ou eficacia d.1II
deran<;a e muito mais complexo do que simplesmente identificar alguns tra<;oo., 1111
comportamentos preferenciais. Surgem, entao, a partir da decada de 1960, as tCO IIII
situacionais ou de contingencia, que, em sintese, propuseram-se a identificar as 1rl 11
<;6es entre estilo de lideran<;a e eficacia do lider, levando em conta as condi<;oes si11 111
cionais. Sob esse enfoque, admite-se, entao, que urn estilo de lideran<;a pode ser cl 11 ,,
em uma situa<;ao, mas nao em outra. Destacam-se entre elas: (a) o modelo contin ~t' ll
cial de Fiedler (1967; 1978), da qual falaremos abaixo; (b) a teoria da lideran<;a s i1111t
cional de Hersey e Blanchard (1982), que leva em conta as variaveis pessoa X tare fa •·
eficacia da lideran<;a, que dependera dos requisites da situa<;ao e da capacidade do II
der em adequar seu estilo para atende-los ou buscar os meios para modifica-los; (t)
teoria da troca lider-membro de Dienesch e Liden (1986), de acordo com a qual a tlltl
dade de analise mais apropriada para a pesquisa em lideran<;a e a rela<;ao diadica II
der-membro, uma vez que os lideres desenvolvem tipos distintos de rela<;oes de trm at
com tipos distintos de seguidores; (d) a teoria do caminho-meta de House (197 1,
1977), segundo a qual o lider exerce urn papel essencialmente motivador, orientandu
as condutas de seus seguidores, indicando-lhes os criterios de rendimento mais apm
priados e removendo os obstaculos; (e) a teoria da lideran<;a participativa de Vroo111 r
Yetton (1973), que focaliza especificamente o processo de tomada de decisao e ek gr
como a forma mais eficaz de lideran<;a aquela que, em fun<;ao de uma serie de reg m~
que devem ser seguidas, estabelece a forma e a quantidade de participa<;ao no proce!>'>ll
decis6rio em diferentes situa<;oes.
Uma das mais conhecidas teorias de contingencia eo modelo de Fiedler (196t ;
1978), segundo o qual a eficacia do desempenho do lider depende da adequa<;ao emn·
o estilo do lider e o quanta de controle a situa<;ao lhe proporciona. Para a identifica<;ao
do estilo de lideran<;a, Fiedler elaborou o questionario do "colega menos querido" (/r
ast preferred co-worker) e, para avalia<;ao da situa<;ao, levou em conta tres dimens6t''>
contingenciais, quais sejam, a qualidade das rela<;oes entre lider e liderados (grau dt·
confian<;a, respeito e credibilidade que tern junto aos liderados), a estrutura da tarcfa
(tarefas estruturadas e nao-estruturadas) eo poder de posi<;ao do lider (poder forte ou
374
u ilr 111111<11 tkci'>tk'" denim do w11111') 1\ p.11111 da l ollll)ln~u, :lo l' lllll' o I'"' tlo dt• Ii
l1 J,tw:.••· o grau de controlc sohll' ,1 'otlu ~u,;ao, l'icdlcr define, cntao , em que contlic,;oc~
de I idcranr;a sera rna is eficaz que o outro. Em termos mais espeCtficos, para
utltll , os ltdcres pouco aceitos pelo grupo sao mais eficazes em situa<;oes em que
l.i"' 1.1., a serem realizadas pelo grupo sao muito favoraveis ou muito desfavoraveis
lltl• 1,1111;a orientada para a tarefa); seas tarefas sao em nivel intermediario de dificul11!11• .1l1dcran<;a mais eficaz sera exercida por lideres bern aceitos pelo grupo que lide111 I lukranc;a orientada para as rela<;oes interpessoais). De urn modo geral, muitos esl!id•l'• lt'm apoiado as hip6teses levantadas por Fiedler. Ha, contudo, algumas restrilnnicas a complexidade do modelo, com muitas variaveis e combina<;oes entre
!11' u que o torna de dificil avalia<;ao na pratica, alem de restri<;oes metodol6gicas ao
11 I' !IIi lo
!'
111• .11onario usado para a mensura<;ao do estilo de lideran<;a.
~~; \O ha duvida, portanto, de que lideran<;a e urn processo interacional, com carac'' •i l) ll ra~ emergentistas, sendo impossivel estabelecer-se a priori, com absoluta seguw;,l, qual a pessoa mais indicada para liderar urn determinado grupo. 0 lider tera que
l!io' l g1r do grupo durante o processo de intera<;ao de seus membros: ou seja, uma pes1 'rrta no lugar certo e na hora certa. Entretanto, alguns estudos mais recentes
IW I'/\ TRICK & LOCKE, 1991) vern sugerindo que OS lideres, embora nao "nas<;am
It I Ill.,", diferem da maioria das pessoas. Eles possuem alga de peculiar que lhes faculta
1111 '1gir como lideres quando a situa<;ao adequada se apresenta.
Ncsse contexto, vern ganhando for<;a a ideia de que os lideres tern uma qualidade
lhllltndar, o carisma (HOUSE, 1977; HOUSE & SHAMIR, 1993). Assim, lideres carisiiLH icos possuem atributos especiais, tais como habilidades relevantes para a realiza~ '" de tarefas, expressividade emocional, forte desejo de influenciar os outros, auto••ntltan<;a, autodetermina<;ao e convic<;ao sobre a retidao de suas cren<;as e valores mo' ·''"· Por conta desses atributos, os lideres carismaticos tendem a produzir altos niveis
,1, k aldade, identifica<;ao, emula<;ao e confian<;a em seus seguidores, com urn conseqlll nte aumento de sua autoestima. No entanto, tais atributos, por si s6, nao sao consi' lo 1,tdos suficientes para o desenvolvimento desse tipo de rebcionamento, sen do in,fhpcnsavel tambem que os seguidores se identifiquem fortemente com seus lideres
111/\SS, 1985).
Estreitamente associadas com a lideran<;a carismatica estao as no<;oes de lideran<;a
inspirativa" e lideran<;a "transformacional" (LEVINE & MORELAND, 1998). Udell '" inspirativos aumentam o otimismo e a motiva<;ao de seus seguidores pelo estabef, 1 imento de objetivos desafiadores, mas exequiveis, recorrendo simultaneamente a
11111a serie de simbolos para representar suas ideias, atribuindo significados para as
.l~·<)es propostas e demonstrando confian<;a no sucesso de seus seguidores.]a os lideres
11 ansformacionais estimulam os seguidores a desenvolver uma nova visao de seu tra375
balho e a bu:.car a :.atbla<,;ao de rwn·'>sHI<~<k., 'olljll'rron·., como" ;~utorrealr 7 a~· :to , I''
movem uma consciencia da mi ssito do gmpo , bern como moLivam os seguidon•., ,, ,
primazia aos interesses do grupo em detrimento de seus intcresses pcssoais. 0:. ltdr r
carismaticos distinguem-se dos lideres inspirativos pela identificac;:ao emociona l d.
seguidores com seus lideres, presente no primeiro caso, mas nao no segundo. Os Ill
res transformacionais, por seu turno, dependem tanto da lideranc;:a carismatica q u.1111
da lideranc;:a inspirativa, assim como da estimulac;:ao intelectual dos seguidorcs ,.
considerac;:ao individualizada por cada um deles (BASS&: AVOLIO, 1993). Apesa r 1
muitas crfticas dirigidas a conceituac;:ao e mensurac;:ao desses tres tipos de lidera ll l.l
ao seu impacto sobre o desempenho do grupo, o interesse por essa abordagem U llll
nua sendo bastante grande, principalmente nos contextos organizacionais.
Em suma, tomando por base as principais concepc;:oes sobre lideranc;:a, podc 111
identificar atualmente duas categorias gerais de lideranc;:a: lideranc;:a transacional
postulada pela maioria das teorias que discutimos neste capitulo como, por exe mplu
as teorias contingenciais, de caminho-meta, troca lider-membro, lideranc;:a partic ip.lll
va- cujo foco sao as trocas que ocorrem entre lideres e seguidores e a atuac;:ao de lid
res que orientam e motivam seus seguidores na direc;;ao de metas estabelecida-. 1
meio do esclarecimento de papeis e das exigencias das tarefas; lideranc;:a transfonmu
nal, cujo foco eo processo pelo qual o lider se engaja com seus seguidores e cria 111
conexao que promove a motivac;;ao, a moral, o desenvolvimento do potencial e o d
sempenho do grupo, podendo af serem inclufdos o carisma, a visao, a inspirac;;ao, o 1
tfmulo intelectual e a atenc;:ao individualizada aos seguidores.
Ainda de acordo com Levine e Moreland (1998), existem na literatura especialI ~"
da duas outras abordagens que poem em xeque algumas pressuposic;:oes tradicio nat"
contemporaneas sobre a lideranc;:a, na medida em que retiram desse fen6meno a rd
vancia que lhe costuma ser atribufda. Uma posic;;ao (KERR &:JERMIER, 1978) ad11111
que as caracterfsticas dos subordinados, da tarefa e da organizac;:ao poderiam funu n
nar como "substitutes da lideranc;:a" na produc;:ao do desempenho adequado das tat
fas. A outra posic;;ao (MEINDL, EHRLICH&: DUKERICH, 1985) argumenta que a lui
ranc;;a e "romantizada" em nossa cultura, sendo-lhe dado urn peso excessivo na ex pll
cac;;ao de como as organizac;;oes funcionam.
Diante de tantas suposic;:oes acerca da lideranc;;a- desde sua absoluta prioridad
dentro de urn grupo ate o carater secundario ou acess6rio que af pode ter -, inn I
mos o lei tor a pensar sobre o assunto e a tomar posic;:ao nesse debate. De todo modn
posic;;oes mais sustentadas cientificamente precisam ainda ser desenvolvidas pdn
pesquisadores da area, pois ha ainda grandes lacunas a preencher, e questionanwn
tos fundamentais sobre a natureza e importancia da lideranc;;a, que nao pod em ser dl'l
xados em aberto.
376
nos g rupals asso cladoa u tomudtt do dcclsoo
( •1111111111, potll11 1111' 11i ·.· n , JWI .Javol , qual
cocw11i11110 paw ~ai1
claqui l
- l~>o clcpcllclc muiW do Iugar para onde voce quer ir- disse o
Gato.
- Nao imporla mt!ito onde, disse Alice.
- Nesse caso nao importa por onde voce vd- disse o Gato.
Alice no Pais das Maravilhas, de Lewis Carroll.
Nao adianta nada correr, quando se estd no caminho errado.
Proverbio ingles
Escolhe entrar no mar pelos pequenos riachos.
Santo Tomas de Aquino
t·~ l' s ta sec;;ao, estudaremos tres fen6menos grupais importantes: polarizac;;ao gru-
1' d IH'nsamento de grupo (groupthink) e influencia de minorias. Em todos eles, estao
111 'llll''>lao o poder do grupo sobre as opinioes de seus membros, a capacidade indivihl d dl' reagir ou nao a pressao da maioria e as contingencias inerentes a tomada de de! It 11' 111 grupo. Contrariamente as situac;;oes tratadas na sec;;ao sobre os efeitos dos grullli· 11.1o-sociais sobre o individuo, em que o foco era saber se os atos ou desempenhos
lr 11111 indivfduo sao "melhores ou piores" quando ele esta diante de outras pessoas ou
·• ~. aqui a discussao assume urn plano mais geral, qual seja, a relac;:ao entre as opiltlii• ., 1ndividuais e a visao consensual expressa pelo grupo, e diz respeito especificalli•' llll' a tomada de decisoes em grupo.
uluriza~ao
grupal
Imagine o leitor as inumeras ocasioes em que os membros de urn grupo tern que
lo'111.1r uma decisao importante, para a qual nao tern de antemao a certeza de qual das
'I" tWs possiveis sera a melhor. Tale o caso, por exemplo, de uma familia tendo que
1., ldir em que local deve passar as ferias anuais, urn juri tentando decidir qual o verello. lo a ser dado a urn reu, gestores tendo que escolher uma entre varias estrategias para
1 it.1r a falencia de sua empresa. Em todas essas situac;:oes, nao ha uma resposta objetilllll'nte verificavel e cada membro pode ter uma avaliac;;ao subjetiva de que sua opc;;ao
1111clhor.
l)urante muito tempo sup6s-se que a opiniao de urn grupo correspondia a meli.t das opinioes individuais de seus membros. Tal visao decorria da influencia do
111do dos processos de conformidade social, segundo os quais, em julgamentos
377
colctivos, have ria uma convergencia da..,
se nsual ou norma tiva.
dtlt : H~ Itll'...,
opinioes para uma posi c,;;\o ro 11
Obviamente, quando os primeiros resultados de pesquisa indiearam que podt' ll.l
ocorrer justamente o oposto, foi grande o impacto no campo cia dinamica de grupo. ( l
experimentos iniciais sobre dilemas sociais (STONER, 1961), nos quais era requeri d.t
uma escolha entre dois cursos de ac;;ao (urn envolvia maior grau de risco que o outrol.
evidenciaram que individuos organizados em grupos e solicitados a chegar a uma de1 1
sao unanime adotavam posic;;6es geralmente mais arriscadas que a media das decisor
individuais feitas anteriormente. Em suma, ap6s as discuss6es dentro dos grupos, ''
decis6es coletivas tendiam a assumir maiores riscos que as decis6es individuais r,
rna is, as opini6es individuais tambern sofriam alterac;;6es ap6s as discuss6es do grupo
Essa descoberta, naturalmente, abriu caminho para uma serie de outras invest iga
c;;6es, na tentativa de explicar que influencias internas ao grupo produziriam esses cf('l
tos e se esse principio seria universal. Tornados em conjunto, os resultados dessas iu
vestigac;;oes apontaram tres fatores importantes para urn melhor entendimento dcs-.t
fenomeno. 0 primeiro fa tor sugere que o deslocamento para o risco seria melhor ideu
tificado como urn "deslocamento para a extremidade" - razao pela qual o fenomc uo
passou a ser denominado polarizac;;ao grupal. Em outras palavras, o grupo tende a to
mar decis6es mais extremadas do que a inclinac;;ao inicial de seus membros, o que sig
nifica dizer que haveria uma tendencia de as discuss6es no grupo acentuarem ou fo rt a
lecerem as opini6es iniciais dos membros, sejam elas de risco, sejam elas de cautela. <l
segundo fator sugere que o tamanho do deslocamento correlaciona-se com a media dtl
posic;;ao inicial dos individuos, isto e, quanto mais extremo 0 grupo for inicialmenh·,
mais extremo ele se tornara. Por fim, os efeitos da polarizac;;ao grupal nao estao rest ri
tos aos dilemas sociais, tendo sido observados em uma ampla variedade de situac;;tk,.
de decisao, estudadas em laborat6rio, algumas das quais encontram paralelos na vid11
cotidiana (MYERS, 2005) . Urn deles refere-se ao que os estudiosos da area educacional
chamam de "fenomeno da acentuac;;ao", que faz com que as diferenc;;as iniciais entrr
grupos de universitarios com diferentes inclinac;;6es politicas, por exemplo, tornem -~
mais acentuadas como decorrer do tempo e com a intensidade das interac;;oes intragru
pais, devido em parte ao reforc;;o mutuo que obtem as suas posic;;6es. Urn outro paraldo
e com as organizac;;6es terroristas: atitudes terroristas nao afloram de repente, rna.,,
sim, em decorrencia da uniao de pessoas que compartilham ressentimentos e que, ao
estarem em contato permanente, tornam-se gradualmente mais radicais, principal
mente se nao houver influencias moderadoras (McCAULEY & SEGAL, 1987).
Duas interpretac;;6es principais foram oferecidas para explicar a polarizac;;ao grupal,
ambas empiricamente confirmadas (BARON & BYRNE, 2002; BRAUER, JUDD & GLINF R,
1995; HINZ, TINDALE & VOLLRATH, 1997; ZUBER, CROTT & WERNER, 1992):
378
(a) a inlht<' tH l.tlllfnlut:tth'll qwtlt ~ l'nl'll" d.t.llt' ll,ll;;\o de algttllll'lllo.., iH"""""IVIh
ou co nvintvlltro., o.,n h11 ,1 q111 •, 1.\ll 1111 lmo , trazidos <I di sc uss<\o por alguns mem hros do grupo c qtw pndr111 u;\o tn sido co nsidcrac.los pelos demais membros em
.tpo io a sua opini:lo 1111rial , alcm do que a pr6pria participac;;ao ativa na discussao
produz maior mudan <;a de atitude do que uma posic;;ao passiva de escuta;
(b) a influencia normativa, decorrente do desejo da pessoa de ser bern aceita ou
.tprovada pelo grupo, que a leva a apoiar os valores dominantes; aqui prevalecem
processos de comparac;;ao social, por meio dos quais as pessoas buscam verificar
qual a posic;;ao valorizada pelo grupo- cautela ou risco- e tendem a ado tar posic;;ao
~cmelhante.
Para finalizar, cabe observar que, a despeito de todas as evidencias em favor dare. 1111 (•ncia com que esse fenomeno costuma ocorrer em situac;;6es de tomada de decisao
1111 grupo, ha algumas excec;;6es a regra. Uma delas indica que, quando urn grupo seen. 11111 ra dividido quase que igualmente em torno de alguma posic;;ao, o efeito da polari~ ~.\o tende a nao se manifestar (BRAUER et al., 1995).
l'nnsomento grupol
/\te aqui tratamos dos processos decis6rios em grupo, especificamente da polarigrupal, discutindo os efeitos fortalecedores das discuss6es coletivas sobre as atillltks e posic;;6es individuais- de risco ou de cautela. No caso presente, abordaremos
11111 outro aspecto associado a tomada de decisao em grupo, qual seja, a qualidade do
jllllccsso de tomada de decisao em grupo. Em outras palavras, a decisao tomada foi a
lllt'lh or e seus resultados reverteram, de fato, em beneficio do grupo? Ou a experiencia
11 .thou por demonstrar que ela foi errada ou inapropriada para o grupo?
.1(:\0
Deve-se a Irvingjanis (1971; 1982) o interesse inicial da Psicologia Social pelo esltt!l o desse fenomeno. Analisando uma serie de decis6es tomadas pelo governo nor11 ;tmericano, em varias epocas do seculo XX, e que se revelaram desastrosas para os
1111nesses do pais (por exemplo, o ataque a Pearl Harbor durante a Segunda Guerra
l11ndial e a invasao do Vietna na decada de 1960),janis concluiu que, sob certas con,ll ~oes, surgem no grupo fortes press6es para a conformidade, uma tendencia para suJIIImir divergencia em prol da harmonia no grupo, fenomeno esse que ficou conhecido
. 111110 pensamento grupal (groupthink). As principais condic;;6es favorecedoras dessas
111as decis6es" seriam: alta coesao no grupo, isolamento do grupo de posic;;6es dissi.11 utes, urn lider altamente diretivo, tensao decorrente da necessidade de uma decisao
111 gente, tendencia a nao analisar o merito de alternativas concorrentes.
Em linhas gerais, o pensamento grupal e definido como urn tipo de pensamento,
1.1racterfstico de certos grupos, no qual manter a coesao e a harmonia do grupo tern
379
primazia sobrc o cxamc dos latos de modo tral' "'" 1:,,, outra.., palavt;to.,, ,...,..,,. lt•tttll
consiste na tendcncia de os mcmbros coc-.os sc dcixarcm kvar pclo l' lllll..,i.t.,lltn
grupo e passarem a agir mais emocionalmemc do que racionalmente.
Janis (1971) enumera urn conjunto de sintomas Lfpicos do pensam ento gt ltpoil
tendencia a superestimar o poder eo direito do grupo, que se tracluz por uma i/11''"'
invulnerabilidade (otimismo excessive que faz o grupo desprezar os sinais de prr 11(1
achar que nao pode errar) e pela cren(a inquestiondvel na moralidade do grupo (lhtln•
prezo por considera~;6es eticas ou morais); a tendencia a urn s6 Lipo de pensamcntn
decorre da racionaliza(ao exacerbada (descarte de criticas ou de opini6es contratl:l'•l
justificativa coletiva das decis6es) e da visao estereotipada dos oponentes (depreeia~.lt ,,
opositores); pressao para uniformidade, resultante de mecanismos que impedem ,,
nifesta~;ao de questionamentos, refor~;am o conformismo e aumentam a autocell.'>llltl
pessoas evitam pronunciar-se de forma contniria ao grupo para nao criarem cons tt ,t
mentes e por "nao haver muito espa~;o " para isso), de uma ilusao de unanimidade (p tnt
zida pela autocensura e pela pressao para o consenso) e da existencia de uma esp(·tu
guarda-costas mentais (membros que protegem o grupo de informa~;oes que podn
representar amea~;as a eficacia ou a moralidade de suas decis6es).
Ainda de acordo com Janis, essa "sintomatologia" e justamente o oposto do q
deveria caracterizar urn bam processo de tomada de decisao em grupo - isto c, 11
pondera~;ao racional de todas as op~;6es possiveis a luz de todas as evidencias dis po
veis -, razao pela qual, quando presente em urn dado grupo, acaba por levar a result
dos bern distantes do ideal.
Desde sua proposi~;ao a teoria de Janis (1971) foi objeto de imimeras criticas, prl
cipalmente as que se referem ao fato de estar apoiada em evidencias retrospectiva .. ,
que teria permitido ao seu proponente escolher os casos que a confirmavam. Na ll'J
tiva de par a prova suas principais formula~;6es, a teoria foi submetida a uma seril'
testes experimentais. Alguns deles trouxeram resultados decepcionantes, como,
exemplo, a constata~;ao de que a coesao grupal parece nao ter rela~;ao como fen6mt
(ALDAG &: FULLER, 1993; MOHAMED&: WIEBE, 1996) e que e a lideran~;a dirct
que esta associada com decis6es impr6prias (McCAULEY, 1998). No entanto, a teo
sugere que a coesao exerce efeitos no pensamento do grupo quando conjugada c
outras condi~;6es , como, por exemplo, a presen~;a de urn lider diretivo e de uma sit
~;ao bastante estressante, e isso foi comprovado. Urn exemplo classico nesse sentido
a decisao do Presidente Truman de invadir a Coreia do Norte em 1950, mesmo dia
das amea~;as claras e contundentes dos chineses de que revidariam os ataques (ARON
SON et al., 2007). Levando-se em coma esses aspectos, podemos concluir que tanto
analises sistematicas e minuciosas de epis6dios hist6ricos quanto experimentos de Ia
380
11111itt ilt'JII lOttdltztdth 111111\ll':tlll ,qutltt
ll.it Ill l )W , 1996) .
.t
e!\'it lltlldt'io tl'llltt"ll ("'( 11/\1 ·1·1{ l"-1
l) ltlllt.., cxcmplos dos efeito s dcsastrosos do pcnsamento grupal poderiam ser ci(a ) a dcsastrosa decisao da Nasa, em 1986, de prosseguir como lan~;amento da
r ' .. p.tl ial Challenger, a despeito das obje~;6es e alertas dos engenheiros para os
•' ' , pmbl cmas tecnicos na concep~;ao da nave, e que culminou com sua explosao
tl ,l!tl .llll l' nto e na morte de todos os tripulantes: (b) a invasao do lraque por tropas
lj 1(1 olllll'J"i ca nas em 2003, que mobilizaram protestos contundentes dentro e fora
1·1J/\, prejuizos financeiros incalculaveis, uma for~;a de resistencia inimaginavel,
1 tt.to Ialar na morte de milhares de soldados e, o que e ainda pior, na morte de ci111111 t• ntes de todas as idades. Convidamos o leitor a pensar na hist6ria brasileira,
ttl.! (' presente, em busca de decis6es "de rna qualidade" tomadas por grupos, goi 11 tttt cntais ou nao, que sofreram de muitos dos sintomas e das consequencias do
it ,,IItt en to grupal.
I H~
l', ua finalizar , seria esse fen6meno incapaz de qualquer controle? Afinal, o grupo
t; .tp.tlh a urn processo decis6rio de boa qualidade? Muito pelo contrario, apressa••· • Jilt'> a responder: e justamente a falha na dinamica de grupo por falta de uma lide''' ,t .td cquada e de urn verdadeiro espirito de equipe que pode levar a urn processo de
l n~.>. t o ineficaz e danoso ao proprio grupo. Na tentativa de prevenir as consequencias
HtiCivas do pensamento grupalJanis (1982) faz algumas recomenda~;6es que poem em
lo"vo a importancia fundamental do lider e a importancia relativa da coesao. Nesse
ttltd o, sugere que o lider deve: ser menos diretivo e mais imparcial, consultar opilllolt ' > de pessoas alheias ao grupo e menos interessadas em manter a coesao; dividir o
llljHl em subgrupos de discussao e, em seguida, reconstituir o grupo original para
llttl.t discussao conjunta; estimular e acolher as criticas; antes da tomada de decisao
•tlit 11 es pa~;o para que as duvidas sejam livremente expressas.
A partir dessas sugest6es e convencidos da recorrencia desse fen6meno em situa-
, .. .., importantes do ponto de vista estrategico- econ6micas, politicas, religiosas- os
l"'•quisadores da area tern buscado identificar modos efetivos para impedir que os grui''"' reduzam sua prematura adesao a uma dada posi~;ao, deixando de levar em coma all• tll:ttivas igualmente relevantes que poderiam contribuir para a tomada de decis6es
111.11 ., eficazes e produtivas (BARTUNEK&: MURNINHAN , 1984). Curiosamente, urn
.1 •.,.,es metodos, o festejado e famoso brainstorming- em que os membros do grupo sao
1 111 orajados a emitir suas opini6es e ideias sem se preocuparem antecipadamente com
1 .tvalia~;ao dos outros- encontra-se momentaneamente "em baixa": apesar de sua popttlaridade, as pesquisas nao tern atestado sua superioridade sobre outras tecnicas no
1 tttido de levar urn grupo a tomar decis6es mais acertadas elou produtivas (GALl I.I PE , COOPER, GRISE&: BASTIANUTTI, 1994; STROEBE &: DIEHL, 1994).
381
1nf/ucncio de minorios
I'·'
A infiuencia do grupo sobrc os indivtc.luos que o comp<)l'm dew tt•r It< ado
ao leitor quando examinamos os fen6menos de polarizac,;ao c pcnsamcnl<l gllljl.tl
no entanto, situac;oes especiais em que nao e a maioria, mas, sim, um ou pouto.., tt
duos que exercem influencia sobre o grupo, fen6meno que ficou conhecido 11.1 Itt
tura psicossocial como infiuencia de minorias. Esse conceito atribufdo origi11.illll
a Serge Moscovici (1976), de certa forma, revolucionou os estudos sobre influr111114
cial, ate entao concebida como uma "via de mao unica" em que a maioria inflttt'll\
minoria. Para esse autor, see verdade que os grupos promovem uniformidadl' dr'
niao, como, entao, explicar as mudanc;as nas normas e valores de uma socicdadr ,'
suas pr6prias palavras: "se o grupo fosse sempre bem-sucedido na tarefa de sile111 I.U
nao-conformistas, rejeitando os que pensam de forma diferente e persuadindo 1111lt
seguirem a voz da maioria, como se dariam as mudanc;as dentro do sistema? Sc tt.t
todos especies de robos, marchando em mon6tona sincronia, incapazes ate dt·
adaptarmos a uma realidade em mudanc;a" (MOSCOVICI, 1985: 380).
Duas respostas imediatas poderiam ser sugeridas. Em primeiro lugar, os gr 11
mudam para atender a novas circunstancias externas, como, por exemplo, part
politicos alteram suas plataformas para ir ao encontro da opiniao publica ou de tnt
c;oes econ6micas em mudanc;a. Uma outra possibilidade seria creditar a mudallt.rl
pessoas detentoras de maior poder e status dentro do proprio grupo.
Ainda que importantes tais fontes de mudanc;a, segundo Moscovici, nao sao ca1
de explicar, por si s6, uma serie de exemplos hist6ricos. 0 sucesso da psicanalise (• 1
do por esse au tor em apoio as suas ideias de que a influencia da minoria e possivd 1
que o grupo nao e perfeitamente homogeneo e contem dentro dele divisoes potcnr
Nesse sentido, sao os desviantes que, agindo de forma suficientemente consisH'lll
convincente, tomam explicitas essas divisoes, e do conflito dai resultante novas not
acabam por emergir no grupo. As proposic;oes de Freud, pelo menos inicialmentc,
tin ham uma relac;ao 6bvia com as circunstancias sociais e econ6micas em curso na I'
pa, que poderiam favorecer sua aceitac;ao, e Freud tampouco desfrutava de qualqucr
sic;ao de poder ou de prestfgio. Foi, entao, acrescenta Moscovici, a estrategia partie
de Freud em defender de forma veemente e persistente a validade de sua teoria, mt'
sendo violentamente criticado, o fator diretamente responsavel por sua aceitac;ao.
Urn exemplo hem mais atual pode ilustrar como a forc;a de uma minoria est;l
origem da maior parte dos movimentos sociais. Como hem afirmou Ralph
Emerson "toda a hist6ria e urn registro do poder das minorias, ate de minorias de
A afro-americana Rosa Parks, falecida em outubro de 2005, e creditada a
do movimento dos direitos civis norte-americanos quando ela se recusou a ceder
lugar a urn branco no 6nibus em que viajava, como obrigava a lei entao em vigor
Alabama.
382
1'111 t o.,(ltl' dl' pl'"tllll"il" rontluzid:h pot l'vloo.,covit 1 ( lliW>) dt'IIIOII..,li'Olll'111p111l'LI
11• 1p11 , dl' lato, a influentia tambcm potlr ..,,. dar no senticlo contrario, qual scja a
II•· It 1 11111o.., ou de minorias modificanclo a!> opiniocs e as atitudes cla maio ria dentro
'li"l',t !Ifill . Por mcio de urn procedimento padnio baseado na consistencia- exprestdli" llll'"lllo ponto de vista ao longo do tempo- membros minoritarios de urn grujliu_lo 111 t•xcrccr uma inOuencia significativa dentro dele, lanc;ando mao do poder
ildtlllll<IC,' <)CS. Apoiado nesses estudos, Moscovici identificou tres fatores determilit' tl p1tncipais da infiuencia das minorias: (a) a coerencia e persistencia na defesa
lt 'nt it Hade suas posic;oes tornam-nas capazes de desenvolver argumentos convinllli', ' persuasivos, que levam muitos membros a refietir mais profundamente sobre
tjlll ··ltH'S que propoem; (b) a coerencia e persistencia transmitem autoconfianc;a, o
!I fHHk fazer com que membros da maioria comecem a reconsiderar sua posic;ao,
li1~ip.tlmente se opinioes, e nao fatos, estiverem emjogo; (c) as defecc;oes da maioi•i ltl e, uma minoria persistente enfraquece a ilusao de unanimidade, levando as
,,,,.., ,, sc sentirem mais livres para pensar, a convencerem-se da pertinencia das
I""'"~"" contrarias as suas e ate a "passarem para o outro lado".
1111\il revisao relativamente recente de aproximadamente 100 estudos sobre inhun• t,t social (WOOD, LUNDGREN, OUELETTE, BUSCENNE & BLACKSTONE,
1J I l demonstrou que membros majoritarios podem fazer com que os demais memltl ' do grupo se conformem as ideias e regras do grupo por meio da infiuencia normal\·•' I ,tl conformidade pode ser meramente publica, is to e, "para uso extemo", sem
hi\ 1 1 , de fa to, uma aceitac;ao privada, tal como teria ocorrido nos classicos experimen''· olr i\sch sobre pressao social e conformidade (1956). Em contraste, os membros
'"''"'!larios dificilmente conseguem influenciar a maioria recorrendo a influencia
tttllll.ltiva, uma vez que os membros dessa maioria resistem fortemente a demonstrar
I'''' ..,ccncia publica as opinioes "estranhas e inusitadas" da minoria. Resta-lhes, por"'" · lanc;ar mao da influencia informativa, isto e, da informac;ao novae desconhecilol lorc,;ando o grupo a examinar com atenc;ao suas ideias e ponderac;oes e, possivelltl rrtt', a adota-las, caso conclua que ha merito e coerencia em seus posicionamentos.
hn suma, as maiorias geralmente induzem a complacencia publica por meio da
tullrtt'ncia social normativa, enquanto as minorias, principalmente se persistentes e
111 ll'ntes, produzem a aceitac;ao privada devido a infiuencia social informativa.
nflito e administra~ao do conflito
Eu adoro a humanidade. 0 que eu nao suporto, sao as pessoas.
Charles M. Schulz
Vimos ate o momento a forc;a unificadora do grupo sobre os individuos que dele
~ ~ m parte, seja sob a forma de normas que prescrevem comportamentos desejaveis e
383
cspcrados, ~cja ~ob a lo1ma de ~i~1ema de \lalu\ e de papei-, que rcgulam O'> d11 rit•
deveres de cada um, seja sob a rorma de prcssao para a conlormidade e coes<lo g111
seja sob a forma do exercicio do poder do lfder sobre se us scguidorcs, seja ai nd,t
meio de fenomenos tao instigantes como o pensamento de grupo e ate me~mo .1
fluencia de minorias. Apesar de todos esses elementos balizadores de crenc;:as, a111 111
expectativas e condutas de todos aqueles que participam do grupo, ha ainda ,..,,
para a emergencia de divergencias e conflitos?
Sem duvida alguma, a resposta afirmativa para essa pergunta indica que e ju~1:111
te ai que se encontram os movimentos que dao vida e dinamismo a urn grupo. N;lo 1
o leitor se surpreender se afirmarmos que urn grupo que nao conhece o conflito lr nd
estagnar-se e ate mesmo a extinguir-se. Urn grupo sem conflitos tende a serum g11
apatico, estatico. Urn grupo s6 cresce, mostra for<;:a e solidez quando suas estrutu 1;I-.
sistematicamente postas a prova por processes inerentes a sua propria existencia, <jill
manifestam mais claramente por meio de conflitos, disputas e dissidencias intC III,I
nessas ocasioes, demonstra capacidade de mudar, de inovar e de criar mecanismo'> 1
tivos de resolu<;:ao de conflitos. Longe de ser negativo , como a primeira vista pod(' 1111
cer, urn conflito significa envolvimento, comprometimento e dedica<;:ao.
Como na Psicologia Social o estudo dos conflitos e feito de modo mais inte11-.o
plano das relac;:oes intergrupais, que fogem ao escopo deste capitulo, trataremo~
brevemente desses fenomenos, enfocando apenas alguns dos aspectos que se circu lhl
vern mais diretamente ao ambito dos pequenos grupos. Para muitos autores, se o CO l
to surge sempre que ha incompatibilidade percebida entre ac;:oes e objetivos, seus in
dientes, de urn modo geral, sao comuns em todos os niveis de conflito social, interp1
ais, intergrupais ou internacionais. Nao ha como negar, contudo, que em niveis 11
amplos e complexes os conflitos podem assumir novas fei<;:6es , exigindo explical,"
mais abrangentes e aprofundadas, que nao caberiam nos limites desta breve sec;:ao.
Natureza do conflito
Ao definirmos o conceito de grupo, ressaltamos que seus membros perseguem
tivos comuns e interdependentes e trabalham juntos para concretizarem esses obje t
Muitas vezes, porem, as pessoas, individualmente, podem ter objetivos incompativl'i,.,
que as coloca em conflito umas com as outras. A tendencia a ocorrer conflito int"'"'"'''LW,..,
al parece ser ate mesmo incontrolavel, ja que as pessoas tern necessidades e interesse'>
ferentes. Freud (1930) ja dizia que o conflito e urn subproduto inevitavel da civilizac;fhl
Tradicionalmente, o conflito era visto como negativo, contraproducente, e
mode violencia e irracionalidade, por isso mesmo devendo ser evitado. Posteriornw
te, sob o ponto de vista das relac;:oes humanas, que prevaleceu no periodo de 1940
1970, o conflito passou a ser visto como uma resultante natural de grupos e organ
384
111111 podt·ndo ~ l'l' l"V II.tdo ,., por vcze~, ~c 11do all'IH·nelko para o tk'>empe11ho do
itt'" f,t.,ob o ponto de vista intcracionista, o conllito c considerado uma forc,;a positii"i!l q11.1iqucr grupo e de grande utilidade para um desempenho eficaz. Nas concep' ~ 111,11., aluais, portanto, dizer que os conflitos sao bons ou maus e inapropriado e
t~iplt•< t.l , 1udo depende de sua natureza e da forma com que e administrado.
sao as causas dos conflitos: a disputa por recursos escassos, dilemas sociais
il•i"' .1 satisfac;ao dos interesses individuais se choca com a satisfac;:ao dos interesses
k 11\w. ), as percep<;:oes de injusti<;:a, a busca de prestigio, as percep<;:oes distorcidas,
hii• 11111ras. Em contrapartida, muitas, e tambem poderosas, sao as forc;:as que atuam
'1111do de transformar a hostilidade em harmonia, como o contato, a cooperac;:ao, a
llllltll ntc;ao e a conciliac;:ao. Sendo assim, muitos conflitos podem ter soluc;:oes pacifi' 1111cdiatas, ao passo que outros tantos podem ser dificeis de resolver, prolonganlot ' por tempo ilimitado, o que acaba por acinar as divergencias e promover a escala11111.1.,
1.1 ,_l, ..,.,,·s conflitos.
\ natureza dos conflitos, suas causas e a identificac;:ao das tecnicas mais eficazes de
'' 'd lti, <IO de conflitos tern sido intensamente pesquisadas em Psicologia Social nas U.l11!111'• 1kcadas, na medida em que se supoe que os conhecimentos dai decorrentes pos1111 .,n aplicados na promoc;:ao de paz e harmonia entre as pessoas, grupos e povos.
1111\0S de conflito
i'lnbora sejam inumeras as causas do conflito, nesta sec;:ao trataremos basicamente
f,, , d ilcmas sociais. Outras causas igualmente importantes, como a competi<;:ao e a infthl H,;a, serao apenas brevemente referidas, uma vez que sao abordadas em outros capitul•t., deste livro.
Os dilemas sociais constituem uma das fontes de conflito que mais atraiu a atentot dos pesquisadores e psic6logos sociais. Engenhosos experimentos de laborat6rio
qur -;c valiam de uma serie variada de jogos e simulac;oes de problemas da vida real fo1.1111 desenvolvidos, principalmente na fase inicial do interesse pelo assunto. Nos dile111.1., sociais, como vimos anteriormente, os interesses individuais se opoem aos inte" .,.,cs coletivos. Assim, a a<;:ao mais benefica para o individuo, se adotada pela maioria
tf,,., pessoas, sera prejudicial para todos. A metafora classica para a natureza insidiosa
dn., dilemas sociais e conhecida como "a tragedia dos comuns", criada pelo ecologista
111glcs Garret Hardin, em 1968: quando urn grupo de pastores partilha uma pastagem
•ntnum, cada urn deles tern vantagens se aumentar seu rebanho, pois seus rendimen" 1., crescem e os custos decorrentes do esgotamento da pastagem sao divididos por tod•t<>; se todos os pastores, porem, agirem de acordo com seus interesses individuais, o
p.t<>lo esgota-se rapidamente e todos sairao prejudicados. Podemos aplicar esses prin-
385
clpios a uma mu lt ip licidade de !>itua<;lk'- da vtd:t ll'al : ut d iza<;~w do-. ll't'UI!>lh 11.11111
participac;:ao em grcvcs, limpeza c conscrva~,:ao das cidac.lcs, distribui<,;<-10 de ga nhn•.
produtividade baseada no desempenho, e assim por diante. Convidamos nosso h-11 11
pensar em como se daria o dilema social em cada uma dessas si.tuac;:oes.
Dois jogos de laborat6rio, o Dilema do Prisionei.ro, com diferentes moda lid,u
das quais apenas duas pessoas participam, e versoes variadas da Tragedia dos Co n111
que envolvem mais de duas pessoas, ilustram esse choque entre o bem-estar indivtd
eo bem-estar coletivo. A titulo de exemplo, apresentamos uma sintese de urn casoll
co do dilema do prisioneiro. A hist6ria relata o caso de dois prisioneiros sendo in1 r 11
gados separadamente por urn promotor; ambos sao culpados de varios crimes, nmo,
ha provas suficientes para condena-los por urn crime de menor gravidade. 0 pro mnll
resolve, entao, propor urn incentivo para cada urn deles: se urn confessar eo outro 1
o promotor concedera imunidade ao que confessar e usara a confissao para cond en,u
outro, que pegara uma pena maior. Se ambos confessarem, cada urn tera uma sentrr
moderada. 0 qu e voce acha qu e os suspeitos devem fazer? Confessar ou manter-sr
silencio? Lembre-se de que nenhum dos do is tern conhecimento do que o ou tro fm .1
A figura 1 abai.xo resume as alternativas do caso: se os dois prisioneiros conk
rem, ambos pegam cinco anos, se os dois ficarem calados, cada urn recebe urn ano
pena; se urn deles confessar, esse prisioneiro e libertado em troca das provas usat
para condenar o outro, que recebe uma pena de 10 anos. Em suma, para diminuu
propria pena o melhor seria confessar, mas ocorre que a confissao mutua gera co
quencias mais graves do que a nao-confissao mutua. Independentemente da dec
do outro, cada prisioneiro tera vantagem se confessar, pois se o outro tambem coni
sar ele recebe uma pena moderada, e se o outro nao confessar ele fica livre. 0 probkm•
e que o outro prisioneiro tera raciocinio igual, dai o dilema social. 0 que voce, lcit
fa ria em si.tuac;:ao analoga?
Prisioneiro A
!lilt'"',,, dr thkma-. !>Ol'l<ll'- l'llll'l' intli
grupos, podertamos concluir que a busca dcscnfrcada pcla satisfac;:ao
11111:1 t·-.-.c-. individuais c a ausencia de coopcrac;:ao podem resultar em prejuizo para
,h, ; A natureza c.la situac;:ao deixa, mui.tas vezes, pessoas e grupos em condic;:oes di.fip111 '- ainda que as partes compreendam que podem obter beneficios se coopera'' tnln' si, elas tendem a nao cooperar pela desconfianc;:a que tern uma da outra, o
"'" ultima analise, pode acabar levando ao agravamento do conflito e a consequenI 111 l.u ,. dl''-'-·'" qul'.,l!ll''- que envolvrm a 111
l111p. 1 t'IIIIT
lt'J '"·""graves para o grupo como urn todo.
l'.tr~t
a soluc;:ao dos dilemas sociais, e fundamental, portanto, que as pessoas coopeside modo a que os interesses coletivos tenham primazia sobre os i.nteresses
,,, lt1 tduais. Os resultados dos experimentos conduzidos nesse campo vern mostrando
111 i' IIIIT
1 1 ~"'"·'" possibilidades para que a cooperac;:ao ocorra: a elaborac;:ao de regras e regula•tll'lllll., visando o bern comum; a reduc;:ao do tamanho do grupo, que torna as pessoas
lilf\1 ~ 11''-ponsaveis e eficazes; o aumento da comunicac;:ao que tende a diminuir a desidt.tiH,;a mutua; a alterac;:ao das recompensas no senti.do de tamar a cooperac;:ao mai.s
itlt.qosa e a explorac;:ao ou competic;:ao menos vantajosa; eo apelo as normas altrufsquc implicam o foco no outro e no bern comum (MYERS, 2005).
\ competic;:ao por recursos valiosos e escassos e tambem uma fonte poderosa de
ottiiiiOS, nao raro levando a hostilidade desmedida e ao preconceito e discriminac;:ao.
I 111 '> II uac;:oes sociais de crise, como nas guerras por exemplo, quando os interesses se
"'" .un eo conflito assume proporc;:oes as vezes incontrolaveis, a distribuic;:ao de alitil• 11tns escassos, de servic;:os medicos e de apoio em geral as vitimas, e ate mesmo de
l'·'~· o no chao, por exemplo, tende a provocar conflitos frequentes entre as pr6prias
W... nas que de las participam, como medicos, missionaries etc. Os experimentos de
1111po de Muzafer Sherif e colaboradores (1961), igualmente descritos nesse capitulo,
11111hl'm demonstraram de forma clara como a competic;:ao desencadeia conflitos, autil!
Confesso
5 anos
Nao confesso
10 anos
Confess a
Prisioneiro B
Nao confesso
10 anos
Figura 1 - 0 Dilema do Prisioneiro (versao adaptada de MYERS, 2005)
386
nta a agressividade e provoca comportamentos destrutivos.
Conflitos interpessoais tambem costumam ser desencadeados por percepc;:oes
1l• injustic;:a. De acordo com a teoria da equidade (ver capitulo 10 para uma visao
tl• talhada desse assunto) quando as pessoas percebem que suas recompensas, comll·'' .1tivamente a outros, estao abaixo de suas contribuic;:oes e do que julgam mere• i 1, sentem-se injustic;:adas, vivenciam sentimentos de raiva e hostilidade e, para
dtviar esse estado emocional desagradavel, buscam reparar a injustic;:a, seja atraves
tit romportamentos efetivos, seja atraves de distorc;:oes ou justificativas psicol6gi' '" · As implicac;:oes dessas experiencias de injustic;:a para a emergencia de conflitos
p.uecem 6bvias.
387
Estra tegias de rcsolu~6o de conflito
Focalizaremos nesta sec;ao algumas das cstratcgias mais frequcnlt'mcnlc adnl,ul
na administrac;ao e resoluc;ao dos connitos: o contato, a coopcrar,;ao c a conuu11 1.u,
A hip6tese do contato, derivada dos estudos das relac;oes interpcssoais (lll ·l!'lf
1958) e da atrac;ao interpessoal (BYRNE, 1971), preve que se colocarmos em Will
dois indivfduos ou dois grupos em conflito criamos uma oportunidade para que d r
conhec;am melhor, identifiquem pontos em comum e passem a gostar urn do ou111t . 1
minuindo-se, assim, a hostilidade entre eles. Para Allport (1954), o contato, po r ~ ~ .,,
insuficiente ou ate mesmo contraprodutivo, devendo haver tres condic;oes ad iu o1
para que ele seja eficaz: igualdade de status entre as partes em conflito, objcti vo.., ,
muns e forte apoio institucional. 0 leitor deve consultar o t6pico de reduc;ao dt• p1
conceito no capitulo 6 para obter maiores informac;oes sobre essa estrategia, ht
como sobre os resultados dos estudos que testaram essa hip6tese.
Diante da constatac;ao de que mesmo o contato com igualdade de status entre a-. p11
tes nao e suficiente para solucionar conflitos, uma estrategia alternativa e induzir a-. 1
soas ou grupos a se engajarem em atividades de cooperac;ao. Nos experimentos de ~ lu
et al. (1961), ja citados anteriormente, esse procedimento produziu quedas ace n11
das e imediatas na tensao existente entre os dois grupos rivais em urn acampamen1o
verao, contrariamente as frustradas tentativas anteriores de colocar os grupos em n
tato mediante a utilizac;ao de estrategias competitivas. Resultados analogos foram 1.1
bern obtidos por Aronson, Stephan, Sikes, Blaney e Sanpp (1978) usando es tra l!'
as cooperativas de aprendizagem para a reduc;ao dos conflitos em escolas inter-ra(
norte-americanas. Varias exp licac;oes foram dadas para justificar tais resultados sal
fat6rios, entre as quais se destacam as seguintes: a cooperac;ao pode romper, ou Ill'
menos enfraquecer, as fronteiras en tre os "nos X eles" que se estabelecem entre as pa
tes em conflito e pode dissipar os estere6tipos negativos com a visao de que, afinal
"eles sao semelhantes a n6s" (BARON, KERR & MILLER, 1992).
Inumeros achados em psicologia social (cf. DEUTSCH, 1973;JOHNSON & JOliN
SON, 1979) demonstraram que a cooperac;ao tern consequencias muito mais benefin1
qu e a competic;ao. Os estudos destes autores, e tambem os conduzidos por Arons1
(1978) com a tecnica do quebra-cabec;a (jigsaw puzzle) mostraram que e melhor pa
os alunos quando as escolas estimulam a cooperac;ao entre eles e evitam a competic:lu
Uma atmosfera escolar cooperativa suscita maior atracao entre os colegas, menos
conceito, maior comunicac;ao, menos hostilidade e maior empatia. Deu tsch (19H'l)
postula que uma atitude cooperativa entre as superpo tencias e essencial para a manu
tenc;ao da paz. Conflitos internacionais tendem a tornar-se serios e ameac;adores quan
do as partes envolvidas se recusam a tomar medidas indicadoras de con ciliac;ao, a
quais se caracterizam por mostras de vontade de cooperar a fim de encon trar uma so
.
388
'' Jt,ll ':t o l'on ll llo Jl1hllll.l., uni latn.u-. 11g1d,,., 1 i1dkxfvei-. vi-.ando Vt'lllTr a outra
I!' !Ot:lll[liT conduzcm a escalada do Ul 11il 111l c n;1o a sua so luc;ao. 0 conflito arai ~ ~~~~~ knsc e um perfcito cxemplo do que acaba de ser dito.
1 I l"lllltalo
cooperative pode tambem ser fortalecido e tornar-se util para a reduc;ao
11 ll '> .lll quando os individuos ou grupos em conflito enfrentam ameac;as externas
1111111 '> ou tern objetivos superiores, isto e, s6 podem ser alcanc;ados mediante a unifi. 111 dos csforc;os de todos (MYERS, 2005). Ampliando essas descobertas, Gaertner et
I 1fl)l)l>) rcportam que o trabalho em cooperac;ao sob essas condic;oes favoniveis pode
I'~'""' 1r cfeitos bastante positivos, levando as pessoas a definirem urn grupo novo e
lp ,utgcntc, que dissolve subgrupos anteriores. E como se o "n6s X eles" se transforlill '' ~ r apcnas em "nos".
I )ltando
ha disc6rdias e desarmonia entre as pessoas e possivel tambem lanr,:ar mao
1. 11111 ras estrategias, alem do contato e da cooperac;ao. A comunicac;ao entre partes em
•111ll11o constitui urn meio tambem eficaz de resolver as diferenc;as. Nesse sentido, elas
I''" It 111 negociar diretamente uma com a outra, recorrer a uma terceira parte para medii! It ( onnito com sugest6es ou apoio as negociac;oes, ou ainda arbitrar, isto e, submeter
d1vcrgencias a uma outra pessoa, de preferencia qualificada, que, ap6s analisar todos
• t•,pcctos envolvidos nas questoes em litigio, estabelece o acordo a ser observado pelas
I' II II'" conflitantes ou seleciona uma das propostas postas em discussao.
I ·m suma, varias sao as modalidades de comunicac;ao ao alcance de pessoas ou
•11pos em conflito, mas, em todas elas, o que se busca essencialmente e estimular os
1111.1gonistas a substituirem sua visao competitiva- em que uma parte ganha e a outra
1" 11lc- por uma orientar,:ao mais cooperativa- em que ambas as partes pod em ganhar.
11 p;tpel dos mediadores consiste fundamentalmente em estruturar as comunicar,:oes
1l1 111odo a que sejam superadas as percepr,:oes distorcidas, que costurnam acompanhar
Lit' situar,:oes, e aumentados os sen timentos de confian r,:a e compreensao mutua.
Rosumo
Para urn grupa funcianar bern, ele niia deveria ser compasta par
mais de tres pessaas - com duas dela sempre ausentes, e clara.
R. Copeland
Neste capitulo, tecemos inicialmente algumas considera~_;oes gerais sobre o estudo dos grupos pela Psicologia Social. Em um segundo momento, definimos grupos
sociais, distinguimos varios tipos de grupo e apresentamos suas principais fun~_;oes e
caracteristicas. Em seguida, discutimos as rela~_;oes entre individuo e grupo, abordando os fenomenos de facilita~_;ao social , vadiagem social e influemcia de minorias.
Posteriormente, concentramos nossa aten~_;ao na dinamica e no funcionamento dos
389
grupos sociais, dotendo- nos no an61iso do suas principais ostruturas o procosso.. ,
como, por exemplo, coesao, formac;ao de normas e lidoranc;a, bem como alguns fo
nomenos associados a tomada de decisao em grupo, particularmente a polarizac;ao
grupal, o pensamento de grupo e a influ€mcia de minorias. Finalmente, focalizamos
os conflitos sociais, sua natureza e suas causes, encerrando o capitulo com uma
breve referencia a algumas das estratl~gias de resoluc;ao dos conflitos.
Sugestoes de leituras relatives ao assunto deste capitulo
BARON, R.S., KERR, N.L. & MILLER, N. {1992). Group process, group decision, group
action. Pacific Grove: Brooks/Cole Publishing Company.
BROWN, R. {1988). Group processes: Dynamics within and between groups. Oxford:
Blackwell Publishers.
CARTWRIGHT, D. & ZANDER, A. {1968). Group dynamics. Nova York: Harper and Row .
JESUiNO, J.C. {2002) . Estrutura e processos de grupo. In: VALA, J. & MONTEIRO, M .B.
{orgs.). Psicologio social. 5° ed. Lisboa: Fundac;ao Calouste Gulbenkian.
LEVINE, J.M. & MORELAND, R.L. {1998). Small groups. In: GILBERT, D.T., FISKE, S.F. &
LINDZEY, G. {orgs.). The handbook of social psychology. Vol. II. 4° ed. Boston:
McGraw-Hill, p. 415-469.
RAVEN, B.H. & RUBIN, Z. {1983). Social psychology. Nova York: Wiley.
THIBAUT, J.W. & KELLEY, H.H. {1959). The social psychology of groups. Nova York: Wiley.
Sugestoes para trabalhos individuais ou em grupos
1) Escolha um dos fenomenos grupais associados
a to modo de decisao, defina-o e
elabore um exemplo, recorrendo a um evento concreto ocorrido no Brasil, que
possa ilustror como se do esse fenomeno e suas consequencias para o grupo.
2) Discuta criticamente os fenomenos de facilitac;ao social, vadiagem social e desindividuac;ao, que ilustram as relac;6es entre individuos e grupos com interac;ao
social minima, analisando o peso do influencia de variaveis situacionais e pessoais sobre o comportamento.
3) Mostre como noc;6es estudadas anteriormente {percepc;ao social, atribuic;ao,
atrac;ao interpessoal, influencia social, tomada de decis6es, conformismo etc.)
podem ser relevantes no estudo dos grupos.
4) Levando em conta as diferentes concepc;6es de lideranc;a, o que voce pode concluir acerca do importancia do papel do lider, dos seguidores e do situac;ao no
funcionamento e desempenho de um grupo?
5) Demonstre a estreita conexao entre processos e estruturas grupais tomando
como base a formac;ao de normas, o conflito e a coesao grupal.
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