Ruminantes - edição nº10 / 2013

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Ruminantes - edição nº10 / 2013
A REVISTA DA AGROPECUÁRIA
Ano 3 - Nº 10 - 5,00€
julho | agosto | setembro 2013 (trimestral)
Diretora: Francisca Gusmão
www.revista-ruminantes.com
produção
uso do espermograma
em rebanho de ovinos
ECONOMIA
perspetivas LEITEIRAS
IFCN
ENTREVISTA
antónio estrela rego Aposta
na qualidade do maneio
EDITORIAL
edição nº10
Julho | Agosto | setembro 2013
DiretorA
Francisca Gusmão
| [email protected]
Acrescentar valor
Muito se fala sobre o futuro do leite nos Açores
quando acabarem as quotas leiteiras.
As opiniões são muitas e quase sempre relacionadas com a
necessidade de se aumentarem os subsídios como forma de
compensar o isolamento e de equilibrar os custos de produção com o
resto da Europa.
Sendo difícil adivinhar o impacto do fim das quotas, parece inevitável
concluir que os Açores estão “condenados” a produzir leite. Para
começar, porque as condições naturais são de facto atraentes. Logo,
porque a produção de leite é uma escola, um modo de vida que
tem teimado em passar de pais para filhos, como testemunham os
concursos de vacas leiteiras participados ativamente por uma maioria
de gente jovem. O apego às vacas é evidente e transparece em todas
as conversas com os produtores e nos grandes investimentos que se
fazem em genética.
Por outro lado, a dimensão atual da estrutura produtiva envolvida neste
negócio (produtores, genética, instalações, maneio, organizações de
produtores, indústria...) leva a pensar que este seja um barco difícil de
parar. O esforço e dedicação por parte de produtores e técnicos, a par
com o sucesso de venda dos produtos com a marca Açores, indicam
que voltar para trás não é o caminho.
Não desvalorizando a necessidade de continuar a procurar otimizar o
rendimento das explorações leiteiras, pensamos que é na transformação
do leite em produtos de valor acrescentado e também numa eficaz
promoção que reside o cerne da questão. Pois só assim se conseguirá
que a produção e o negócio de leite sejam mais interessantes e menos
dependentes de ajudas e de outros fatores.
Nuno Marques
Colaboraram nesta edição
Ana Aureliano; Ana Vieira; António Cannas; António E. Rego;
António Moitinho; Carlos Flecha; David Catita; Felipe de
Almeida; Francisco Marques; George Stilwell; IACA; Pedro
Castelo; Inês Ajuda; Isabel Santos; João Vidal; Jorge Rita;
José Bello; José Caiado; José Leal da Costa; L. Pissarra; Luís
Ponte; Luís Queirós; Luís Veiga; Marta Cruz; Martha d’Andrade;
Nuno Marques; Paulo Costa e Sousa; Pedro Castelo; R. d’Orey
Branco; Sofia de Menezes; Sónia Germano; Tereza Moreira.
Publicidade
Américo Rodrigues, Catarina Gusmão
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Design e PrÉ-impressão
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Assinaturas
João Correia
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Impressão
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Rua Quinta Conde de Mascarenhas,
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2825-259 Charneca da Caparica
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O editor não assume a responsabilidade por conceitos
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os mesmos da total responsabilidade dos seus autores e das
empresas que autorizam a sua publicação.
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Alguns autores nesta edição ainda não adotaram o novo
acordo ortográfico.
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Índice
Bem estar animal
58 Encefalite e artrite caprina, o que
convém saber
Conheça a lei
72 Contratos: Verbais ou por escrito?
Economia
38 Observatório de matérias primas
40 Observatório do leite
42 Perspetivas IFCN
entrevista
20 Melhorar a fertilidade. Entrevista a
Luís Ponte
14
forragem
uso do espermograma em
rebanho de ovinos
A rentabilidade económica de uma exploração de ovinos (carne/leite) está
condicionada pela eficiência reprodutiva do rebanho.
32 Acha que não é necessário inocular
a silagem de milho?
36 Acondicionamento da silagem de
milho
Mercado
08 A produção de carne de ovino no
mundo
Produção
16 Avaliação económica do maneio
reprodutivo de uma exploração
leiteira
24 A evidência dos resultados na
eficiência alimentar e produtividade
dos ruminantes
46 Stress térmico em vacas leiteiras
48 Uso de técnicas reprodutivas em
vacadas de carne
qualidade
28
64
FORRaGEM
ENTREVISTA
Silagem de sorgo. Uma alternativa
forrageira em ovelhas de leite
Exploração agro-pecuária, António
Estrela Rego
44 Qualidade da água de bebida para
ruminantes
saúde animal
60 Fotossensibilidade ou doença da pele
solos
50 Importância da matéria orgânica no solo
boletim de assinatura
1 ano, 4 exemplares
dados pessoais
Portugal: 20,00 €
Nome.............................................................................................................................................................................................
Europa: 60,00 €
Morada..........................................................................................................................................................................................
Pagamento
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ruminantes julho . agosto . setembro 2013 5
atualidades
Para mais informações
Sobre a Divisão de Zootecnia da Lucta: www.lucta.com
Sobre Blanca dos Pirineus - www.blancapyrenees.com
Agente em Portugal - Manuel Fialho - [email protected]
programa de investigação
para conciliar a ordenha
robotizada e a pastagem
Lucta investe em
investigação de bovinos
de leite
A Lucta assinou
recentemente um acordo de
longo prazo de investigação
em bovinos de leite com
a “Blanca from Pyrennes
(Blanca)”, em Espanha.
Com um historial de
investigação focada nos
suínos, a Lucta assume
um maior compromisso
com a investigação em
ruminantes através deste
relacionamento. A Blanca
é um centro inovador de
bovinos de leite, onde a
Lucta irá realizar ensaios
com o objectivo de melhorar
a saúde, o rendimento e
a eficiência produtiva das
vacas leiteiras.
A investigação realizada
pela Lucta avaliará, em
termos gerais, a relação
entre a ciência sensorial e
o comportamento animal,
a saúde intestinal e a
performance resultante.
O complexo Blanca é
também composto por
vários edifícios e espaços de
reunião com equipamentos
de última geração que
a Lucta utilizará para
formação e docência.
As instalações também
contam com uma moderna
exploração de vacas de
leite que irá permitir o início
imediato dos ensaios.
A Lucta é líder mundial
em ciências sensoriais
e soluções nutricionais
relacionadas com a indústria
da alimentação animal.
Financiado pela União
Europeia, no montante de
€ 3,1 milhões e envolvendo
seis países europeus, o
programa visa reabilitar a
compatibilidade do robô com
a competitividade garantida
da pastagem.
Introduzida em 1992,
a ordenha robotizada
conquistou as explorações
leiteiras europeias. Em
França, em cada três novos
sistemas de ordenha
instalados, um é robotizado.
A supressão da “prisão” é,
naturalmente, o principal
argumento do robot,
acompanhado por um
aumento na produção por
vaca, devido a um aumento
da frequência de ordenha. O
registo de dados permitem
uma maior monitorização de
determinados parâmetros
qualitativos (lavagem dos
tetos, lipólise), mas mais
importante ainda, uma
mudança no sistema de
alimentação. Se o robô
é incompatível com a
prática de pastoreio, reduz
significativamente o potencial
privando os agricultores da
componente mais económica
da dieta.
Programa a três anos
O programa de investigação
europeia Autograssmilk, tem
como objetivo desenvolver
sistemas para a produção
sustentável de leite,
combinando a ordenha
robotizada e a pastagem.
Financiado pela União
Europeia, é apoiado pela
Irlanda, a Dinamarca, a
Suécia, a Holanda, a Bélgica e
a França. Os diversos órgãos
envolvidos têm três anos
para inventariar soluções
práticas e torná-lo disponível
para os agricultores.
Vasos para plantas em estrume
Dois irmãos do Connecticut, nos EUA,
possuem uma exploração leiteira com
265 vacas. Em 1997 deram um passo na
modernização da atividade e instalaram
um digestor de metano que lhes permite
obter gás a partir do estrume. No final do
processo os líquidos eram incorporados no
solo como fertilizante, mas acumulavam
sempre um excesso de matéria sólida.
Foi procurando dar um novo uso a este
sobrante que tiveram a ideia de inventar
vasos a partir de estrume ressequido.
Surgiram assim os CowPots, vasos amigos
6 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
do ambiente que estão disponíveis em
diferentes formas e tamanhos. Estes
vasos conservam-se durante meses
numa estufa, mas 4 semanas após a
plantação decompõem-se e continuam
a fertilizar a planta por algum tempo.
Segundo os seus inventores os CowPots
têm as seguintes vantagens: constituem
uma nova aplicação para o estrume dos
animais, dispensam os vasos de plástico
descartáveis e por serem mais flexíveis
beneficiam o desenvolvimento das raízes
das plantas.
Fonte: cowpots.com
atualidades
Silagens e ácido
linoleico em vacas
de leite
A Tecadi, Nutrição e
Saúde Animal realizou
no passado dia 28 de
maio, no Évora Hotel, um
interessante simpósio
sobre “Silagens e ácido
linoleico na alimentação
da vaca leiteira” no qual
participaram 22 produtores
de leite das maiores
e mais conceituadas
explorações nacionais
que representavam 4100
vacas leiteiras. Participaram
também neste evento,
diferentes técnicos
assistentes das explorações
referidas.
Este simpósio mereceu,
da parte da assistência,
rasgados elogios pelo
elevado nível técnico das
comunicações, tendo sido
realçada a componente
prática das mesmas.
Para o êxito desta
realização, a Tecadi, Lda.
recebeu a colaboração
das suas representadas
Lallemand Animal Nutrition
e BASF, com as seguintes
comunicações:
- A importância da
fermentação controlada
na execução de silagens
de qualidade: 10 regras
de ouro. Por Luis Queirós,
Lallemand Animal Nutrition;
- Overview on the
application of conjugates
linoleic acid (CLA) in dairy
nutrition. Por Robert Ruhele,
BASF.
- Novos paradigmas da
nutrição de ruminantes. Por
Jerónimo Pinto, Eurocereal.
A sessão de trabalhos
foi concluida por Manuel
Ortigão, gestor da Tecadi na
zona norte, que apresentou
os excelentes resultados
da aplicação de Lutrell –
Combi-CLA, ao longo dos
dois últimos anos e meio
em explorações nacionais,
ficando claramente
demonstrado a contribuição
da Luttrel na melhoria de
resultados de exploração,
quer no incremento da
produção de leite, quer
a nível reprodutivo,
merecendo apreciável
interesse da parte da
assistência.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 7
MERCADO
A produção de carne de ovino
NO MUNDO
A produção e o mercado de carne de ovino são influenciados pela sazonalidade, pelas
pressões económicas dos mercados internos e internacionais, assim como pelos custos
de produção, alimentação e outros serviços, incluindo os serviços médico-veterinários.
276 273
54
203
11
64 64
101
2012
Abate UE - 837 000
Consumo UE - 982 000
123
98
Abate (1000 animais)
65
44
69 73
Consumo (1000 animais)
FIGURA 1 - Produção e consumo de carne de ovino na Europa em 2012.
É interessante ver como os grandes
produtores e mercados mundiais gerem os
seus efetivos e se adaptam às variações
das conjeturas económico-sociais. Neste
jogo temos três grandes intervenientes
esforçando-se para manter a sua
produtividade: a Europa, a Oceânia e a
América do Sul.
Europa
felipe de almeida
Médico veterinário
[email protected]
8 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
O mercado europeu tem sofrido grandes
flutuações devido à crise económica
generalizada e devido ao clima que não
tem sido favorável à produção. Entre os
grandes produtores de ovinos na Europa
encontram-se o Reino Unido e a Irlanda.
O ano de 2011 foi desfavorável para a
Irlanda devido a um clima húmido e frio,
sofrendo uma contração na produção.
Isso, associado à diminuição do consumo
e da exportação, fez com que a retenção
de animais aumentasse e o abate
diminuísse. Esse retraimento produtivo
permitiu um aumento no número de
reprodutores de um ano para o outro,
e essa “recapitalização” possibilitou
um maior número de nascimentos e,
consecutivamente, um aumento no
número de animais abatidos ao longo do
ano, aumentando a produção em 12%.
Isso permitiu à Irlanda tornar-se um
grande exportador europeu, tendo como
principais destinos a França e o Reino
Unido. No entanto, existe uma tendência
para o redireccionamento dos fluxos de
exportação para outros mercados mais
rentáveis, como a Alemanha e a Suécia, e
“Hong-Kong
absorveu 87% da
produção de carne
ovina irlandesa
em 2012”
MERCADO
também para mercados que, embora
menos remuneradores, têm um maior
potencial económico, a saber a Ásia.
Porém, a Irlanda foi uma exceção à regra,
verificando-se que no ano passado
a Europa 27 teve um decréscimo na
produção, diminuindo também o número
de abates. Os países do sul da Europa
foram os mais prejudicados, sendo que
a crise económica vivida em Espanha,
Grécia e Itália fizeram com que a produção,
a importação e os efetivos produtores
diminuíssem.
A Espanha, com 15% da produção ovina
europeia, viu sua produção cair. O aumento
dos custos de produção /alimentação e os
preços, longe dos preços competitivos dos
mercados internacionais, resultaram na
liquidação do efetivo reprodutor espanhol.
Diminuindo-se a importação e os abates,
houve um aumento para mais do dobro
da exportação de animais adultos. As
dificuldades do mercado interno também
resultaram numa retenção de animais
por mais tempo, logo em carcaças mais
pesadas.
Fora da zona Euro, o Reino Unido surge
numa posição intermédia. Embora
tenha-se verificado uma diminuição da
produção em 2012, a recapitalização
semelhante à da Irlanda permitiu um abate
contínuo de borregos durante Julho e
Novembro, fazendo com que possuísse
33% da produção total europeia. Porém,
o preço por kg de carcaça é superior
a de outros mercados competitivos
europeus, resultando numa diminuição da
exportação, fazendo com que países como
a Irlanda se beneficiem desse buraco
comercial. A salvaguarda da produção
ovina inglesa é a possibilidade de recorrer
aos mercados emergentes asiáticos que,
embora não tão rentáveis, consomem um
grande volume da produção ovina.
Para além do mercado asiático, outras
saídas para as exportações europeias
são países como a Jordânia, o Líbano,
a Líbia, a Tunísia e o Médio Oriente. As
alterações de legislação, diminuição de
proibições comerciais e, especificamente
os regulamentos de bem-estar animal
impostos na Austrália, fizeram com que
esses países passassem a ser mercados
de interesse para a exportação europeia.
Oceânia
Do outro lado do mundo, a Nova Zelândia
e a Austrália vão ditando algumas regras
do jogo económico.
A Nova Zelândia melhorando a
produtividade numérica de ovinos,
aumentou a disponibilidade de animais,
incrementando assim o seu papel
como grande exportador. O valor das
exportações neozelandesas é influenciado
pela diminuição do custo de produção
e pelo aumento da disponibilidade. Isso
associado ao maior preço por kg de
carcaça faz com que estes produtores
tirem vantagem e maximizem as suas
exportações para a Europa. Mesmo assim,
as importações europeias de carne de
ovino da Nova Zelândia têm vindo a
diminuir pelo terceiro ano consecutivo. Isto
acontece devido ao intervalo de semanas
entre a partida dos produtos até à sua
chegada ao país de destino. Assim, este
país tira vantagem do potencial económico
de novos mercados, a saber a Ásia e o
Médio Oriente.
A Austrália, no início desta década,
conseguiu reconstruir o seu efetivo
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 9
MERCADO
Fluxos em crescimento
Fluxos em declínio
FIGURA 2
Principais fluxos de ovinos no Mediterrâneo. A
vermelho estão os fluxos em crescimento e a azul
os fluxos em declínio.
Reino Unido
Irlanda
Holanda
França
Hungria
Roménia
Itália
Portugal
Bulgária
Espanha
Grêcia
Turquia
Austrália
Jordânia
Tunísia
Líbano
Líbia
Médio Oriente
reprodutor devido ao bom clima e aos
preços recordes da carne ovina. No
entanto, em 2012, a seca travou esse
crescimento. Consecutivamente, alterouse a política de produção, privilegiando-se
a exportação. Mas, tal qual como a Nova
Zelândia, a Europa não corresponde ao
poder exportador deste país, de modo que
ele recorre aos mercados emergentes,
principalmente exportando para a China,
que duplicou a importação de carne ovina
australiana.
o consumo interno. As suas exportações
diminuíram imenso no entanto, o abate e o
consumo continuam a aumentar ao longo
do ano.
O Chile por sua vez tem vindo a ver a sua
produção diminuir. Contudo, o preço final
continua alto fazendo com que a Europa
não tenha possibilidade de acompanhar
este mercado que se vira agora para a
Ásia.
América do Sul
Os custos de produção mantêm-se
elevados e os mercados não europeus
são cada vez mais competitivos e
esmagadores. A Europa cada vez mais vai
sentir a pressão dos grandes produtores
e exportadores mundiais. Até ao final do
ano prevê-se um aumento da importação
europeia de carne de ovino vinda
principalmente da Oceânia devido aos
baixos preços quando comparado com o
mercado europeu.
A Nova Zelândia e a Austrália assim
preveem um aumento do seu efetivo
produtor devido ao bom clima deste ano
e também às condições económicas
favoráveis.
Na Europa o cenário é variado. O Sul
europeu, nomeadamente a Espanha e a
Itália, irão sofrer um retraimento económico
e uma diminuição do seu efetivo
reprodutor devido à crise económica em
que vivem e aos elevados custos com a
Considerando a Mercosur, países como
o Uruguai, a Argentina e o Chile têm
relevância.
O Uruguai devido aos elevados preços
dos borregos realizou uma contenção
de animais, aumentando o seu efetivo
reprodutor em 10%. Com a diminuição
do preço da carne, a política económica
deste país foi diminuir os abates para
não correrem o risco de diminuírem
muito o número de reprodutores,
mas privilegiam a saída de borregos,
tentando tirar partido do grande número
de nascimentos observado. Assim, a
exportação aumenta e, embora a Europa
não tenha disponibilidade de absorver
estes produtos, países como o Brasil, a
Rússia e a Jordânia tornam-se mercados
promissores.
A Argentina é um caso à parte visto que
a política económica é direcionada para
A produção de carne de ovino
em 2013
10 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
alimentação animal. O consumo está a
diminuir o que de certo modo faz com que
a exportação seja uma via de escoamento
da produção.
Por outro lado, a Irlanda e o Reino Unido
deverão aumentar o seu efetivo reprodutor,
o número de abates e a exportação.
Devido ao aumento da produção e
ao consumo crescente por parte do
consumidor, os produtores podem centrarse em produzir para o país e exportar os
seus excedentes.
Neste cenário a França surge,
semelhantemente aos países do sul
europeu, em retração de efetivo reprodutor
e com carcaças com peso inferior ao
expectável devido, principalmente, aos
elevados custos de alimentação. Porém,
prevê-se que a produção numérica se
reponha consequente ao bom clima que
o país tem tido. Isso, com o consumo
crescente, pode de certo modo estabilizar
o mercado. Se o consumo interno
absorver a produção, prevê-se que esta se
mantenha estável, visto que a exportação
para a europa sul e de leste está limitada
pela disponibilidade económica dos
países.
Não temos dados da produção
portuguesa, contudo, prevê-se que a
situação nacional seja muito semelhante
à vivida em Espanha. Os custos de
produção /alimentação continuam
elevados, sendo que o consumo é
sazonal e decrescente. As variações de
preços e os mercados extremamente
competitivos dificultam as exportações,
principalmente tendo em conta que a
disponibilidade económica europeia é
débil. Os mercados asiáticos e do Médio
Oriente podem ser uma saída para o
escoamento da produção de carne ovina
portuguesa. Porém, é de salientar que não
é um mercado extremamente rentável
comparado com o mercado europeu.
Prescinde-se do valor em detrimento
do volume, ou seja, exporta-se maior
quantidade mas por um valor inferior.
O clima previsto para este ano pode
prejudicar a produção, fazendo com que
haja retenção de efetivo e diminuição do
abate, aumentando assim a necessidade
de recorrer-se à importação para responder
ao consumo interno do país.
atualidades
primeiro Fórum
Sustaurusvet
No dia 30 de maio de 2013 realizou-se o primeiro Fórum Sustaurusvet, com o marcante
slogan “Juntos somos carne, separados somos apenas produtores” que juntou em Lisboa
mais de uma centena de intervenientes da fileira bovina, proporcionando uma interessante
sessão de trabalho, na qual foram apresentadas várias experiências internacionais,
nomeadamente do Brasil, de Espanha e de França.
Por david catita
O ponto de situação mundial em termos
de matérias-primas foi apresentado por
vários intervenientes, referindo aspetos
interessantes associados à concentração
da produção, referindo-se a título de
exemplo o caso da soja, cuja produção
mundial está concentrada nos Estados
Unidos da América, Brasil e Argentina, os
quais são responsáveis por mais de 80%
da produção mundial. Do lado oposto
desta cadeia encontram-se também
os países importadores de soja, em
que a China se assume como o maior
importador mundial de soja, com mais de
60% do total, seguida da União Europeia,
com apenas 11%.
As apresentações mostraram, de
forma inequívoca, que o mercado das
matérias-primas e consequentemente
da carne, está fortemente condicionado
pelo número limitado de agentes no
contexto mundial, que são também
fortes exportadores de carne, aspeto
que deverá ser ponderado em resultado
da nossa quase total dependência
de importações de proteína para
alimentação do gado em Portugal.
Foi também referido que a apetência
pela carne de bovino tem vindo
a aumentar, em especial junto de
mercados emergentes, potenciada pelas
especificidades religiosas de alguns
países, nomeadamente do Médio Oriente
e norte de África, em que a carne de
suíno não é admitida, e nos quais o poder
TEXTURA
Cedula de Warner Bratzler
de compra da classe média aumenta
de forma constante há alguns anos,
arrastando consigo uma maior apetência
por carnes vermelhas.
Foram também bastante interessentes
as apresentações associadas à qualidade
da carne e às escolhas do consumidor,
tendo sido apresentados estudos em
que a raça dos animais não é um critério
facilmente detetável pelo consumidor,
sendo bastante mais detetável a tenrura
da carne, observando-se a preferência
por carnes geneticamente tenras.
É também demonstrada a elevada
valorização qualitativa da carne de
bovino com processos controlados
de maturação, aspeto que deverá ser
devidamente ponderado pela fileira
nacional da carne, uma vez que em
Portugal quase não se realiza maturação
da carne de bovino, o que se considerou
uma desvantagem competitiva
em relação a outros concorrentes
estrangeiros no mercado.
ACEITAÇÃO
Consumidores
7
4
6
3
5
4
2
3
2
1
1
0
0
Frisona
1 dia
7 dias
Parda
14 dias
Limousine
Blonde
Frisona
Parda
21 dias
Fonte: Apresentação Influências dos sistemas de produção na qualidade da carne de bovino - Dr. Octavio Catalán Rueda - INZAR
12 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
Limousine
Blonde
atualidades
Das diversas apresentações resultou a conclusão, já avançada
pelo próprio slogan do fórum, que apenas com a implicação de
todo o sector da carne será possível homogeneizar e manter
um produto de alta qualidade e alcançar as expectativas dos
consumidores.
Foi apresentada uma grande cooperativa de Espanha, de nome
COVAP, que se encontrava ligada inicialmente aos cereais e ao
gado ovino e suíno, passando depois a abranger outras áreas,
como as rações e a indústria leiteira, e que implementou mais
recentemente um modelo integrado de produção de carne de
bovino, em que os diversos agricultores afetos à cooperativa
entregam os seus bezerros, ao desmame, sendo a engorda
realizada pela cooperativa, numa unidade especificamente
destinada para o efeito, cujo pagamento ao agricultor é
realizado com base no valor da carcaça do animal, após
engorda, e não à chegada à unidade.
Esta abordagem integrada tem levado a que os diversos
agricultores melhorem a genética das suas vacadas,
nomeadamente através da utilização de touros de raças
melhoradoras como a Charolesa e a Limousine, uma vez que,
como se pode observar nos slides apresentados, apesar de
EXEMPLO DE LIQUIDAÇÃO AO SÓCIO
NOVILHO A
NOVILHO B
Peso entrada (Kg)
230
Peso entrada (Kg)
230
Peso Saída (KG)
480
Peso Saída (KG)
560
tempo engorda (dias)
193
tempo engorda (dias)
200
GMD
1,30
GMD
1,65
consumo ração (kg/dia)
8
consumo ração (kg/dia)
8,3
ic
6,2
ic
5,0
rto. carcaça
54%
rto. carcaça
59%
classificação matadouro
R
classificação matadouro
junho
receitas (€)
959,04 receitas (€)
1354,64
custo alimentação (€)
528,82 custo alimentação (€)
567,80
outros custos (€)
preço do animal (€)
117,55
313
data abate
U
data abate
novembro
outros custos (€)
120
preço do animal (€)
667
Fonte: Apresentação COVAP - Um Modelo Integral de Produção de Carne de Bovino - Raquel
Santos Alcudia
dois animais terem o mesmo peso à entrada, o animal B foi
valorizado em mais do dobro do animal A, o que demonstra, de
forma clara, a importância da genética certa.
A última apresentação, que antecedeu a mesa redonda, foi
apresentada pela representante da Interbev, a interprofissional
francesa dedicada à fileira da carne bovina, que descreveu em
detalhe o funcionamento desta entidade responsável pela
organização vertical de um sector, que assim se mantém forte
e transparente, resultando em valor acrescentado nos diversos
elos desta corrente, e que, como referido, bastaria um elo mais
fraco para que toda a fileira se quebrasse.
Esta interprofissional francesa, com mais de 30 anos de
experiência, na qual participam associação de produtores,
cooperativas, comerciantes de gado, grossistas e industriais,
matadouros, talhos, marcas de carne, sector da restauração,
entre outros, realiza diversas missões, destacando-se
a promoção da carne ou derivados, a nível nacional e
internacional, mas também a garantia da segurança alimentar,
gestão de qualidade dos produtos, bem-estar animal e redução
dos impactes ambientais.
Foi com base neste exemplo que se partiu para a mesa
redonda, tendo sido unânime que a fileira portuguesa da carne
de bovino necessita urgentemente de uma interprofissional,
que promova a concertação e coordenação dos diversos atores
da fileira, uma vez que só assim se poderá ambicionar uma
verdadeira evolução positiva, num setor com elevado potencial
a nível nacional, mas cuja pressão das grandes potências
mundiais, a este nível, apenas poderá ser travada através da
união em redor de objetivos comuns, e cujo objetivo primordial
seja o reforço sustentado do setor bovino em Portugal, não
deixando para trás nenhum dos elos desta corrente.
Contudo, um processo deste tipo implica muito trabalho,
sendo favorável a existência de um elemento agregador que
equilibre as posições das diversas partes envolvidas, tendo
sido transmitido este repto ao representante do GPP, Dr. David
Gouveia, tendo ficado em aberto quem representaria este papel
de moderador e agregador, rumo ao grande objetivo da criação
de uma Interprofissional Portuguesa para o Sector Bovino.
Em suma, ficou clara a necessidade da criação de uma
interprofissional para o sector bovino, ficando porém por decidir
quem liderará este trabalhoso processo, de modo a que todos
os intervenientes se vejam representados.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 13
PRODUÇÃO
José Miguel
Leal da Costa
Sócio-Fundador
Hospital Veterinário
Muralha de Évora.
Clínica de Animais de
Produção. Núcleo
de Reprodução
e Fertilidade do
Hospital Veterinário
Muralha de Évora
Sónia Germano
Clínica de Animais de
Produção. Núcleo
de Reprodução
e Fertilidade do
Hospital Veterinário
Muralha de Évora
uso do espermograma em
rebanho de ovinos
A rentabilidade económica de uma exploração de
ovinos (carne/leite) está inteiramente dependente
da produção de borregos, ou seja, está condicionada
pela eficiência reprodutiva do rebanho. Desta
forma, a fertilidade é inquestionavelmente uma das
características mais importantes a ser considerada
nas explorações de ovinos, pelo que, para optimizar
os seus lucros é necessário melhorar os índices
de fertilidade, ou seja, aumentar a produção e a
produtividade da exploração, produzindo borregos
com o menor custo possível, em maior número
e de maior qualidade. No entanto, para se obter
esse sucesso reprodutivo é necessário ter atenção
à saúde reprodutiva, não só das fêmeas, como
também do macho reprodutor, ou seja, ter presente
nas explorações animais férteis.
Macho vs Fêmea
Quando se discute a componente “carneiro”
isoladamente, conclui-se que a importância da
capacidade reprodutiva do macho nos programas
14 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
de reprodução é muito maior do que a fertilidade
de qualquer fêmea individualmente, uma vez que
o macho:
• Cobre um número elevado de fêmeas, tanto
nos sistemas de monta natural como na
inseminação artificial, condicionando desta
forma, a fertilidade global da exploração;
• Aporta metade dos seus genes à
descendência;
• Permite aplicar maior diferencial de selecção
que nas fêmeas, tornando-se responsáveis por
70% ou mais do melhoramento genético que
se pode conseguir nas características de uma
população.
Para impedir que os índices de fertilidade da
exploração sejam comprometidos e ocasionem
perdas de produção com prejuízo para o
produtor, torna-se fundamental testar prévia e
anualmente os machos reprodutores quanto à
sua capacidade reprodutiva através dos exames
andrológicos (EA).
PRODUÇÃO
nos exames andrológicos são capazes
de suportar um número muito maior de
fêmeas durante a época de cobrição);
3º- Comercialização de machos
reprodutores. Somente o EA atesta a
sua qualidade no momento de compra.
Comprar animais para reprodução sem
essa avaliação traz um sério risco de
comprar um carneiro com baixa fertilidade.
“A Fertilidade
do carneiro é
imprescindível
para o sucesso
reprodutivo
do rebanho”
Quando devem realizar-se os EA?
• Na comercialização de animais, para que
se coloquem à venda somente animais
comprovadamente eficazes e com
certificação do seu potencial reprodutivo;
• Na aquisição de animais de preferência
1 mês antes, não só para se adaptarem
ao novo ambiente mas também
para passarem por um período de
quarentena;
• Na pré-época de cobrição para avaliar
o status reprodutivo dos carneiros, 30
a 45 dias antes, não só para haver mais
tempo para se organizar a compra ou
reposição de animais quando se faz o
refugo de um carneiro reprovado, como
também para repetir o exame de algum
animal que tenha obtido resultados
duvidosos, visto ser o período necessário
para a espermatogénese;
• Como diagnóstico quando suspeita de
algum problema de fertilidade quer no
carneiro quer no rebanho;
• Para seleção de animais para ingresso
em centros de inseminação para recolha
e congelamento de sémen;
• Determinação da precocidade sexual.
Qual a validade de um EA?
Quais os objectivos do Exame
Andrológico (EA)?
1º- Detecção e eliminação de carneiros
“sub-férteis” e inférteis, cuja presença vai
comprometer a fertilidade do rebanho,
quer pelo aumento considerável do
intervalo entre partos (IEP), quer pelo
alargamento da época de cobrição e
época de partos, que consequentemente
irá diminuir a fertilidade anual com um
menor número de borregos desmamados
por ovelha e por ano;
2º- Classificar e seleccionar
precocemente carneiros com maior
potencial reprodutivo (características
que são transmitidas à descendência)
com melhoras significativas nos ganhos
genéticos (malatas filhas destes carneiros
são mais precoces e mais férteis) e
nos índices zootécnicos do rebanho
(carneiros com excelentes resultados
O facto de um carneiro ser considerado
apto para reprodução no momento em
que este foi avaliado, na maioria das
vezes, não nos dá indicação sobre a
libido e a capacidade de monta do animal.
Os dados do EA deverão ser sempre
comparados com a história prévia do
carneiro nomeadamente fertilidade
em épocas de cobrição anterior e se o
carneiro for aprovado no EA teremos
então salvaguardada a sua fertilidade nos
próximos tempos. O resultado do exame
traduz a interpretação obtida à data da sua
realização e apenas pode ser indicativo
do desempenho do animal no futuro ou
contribuir para justificar a sua performance
no passado.
Qualquer lesão que venha a ocorrer no
sistema genital ou processo infeccioso
localizado ou generalizado, entre outras
causas, podem rapidamente alterar a
qualidade espermática de um carneiro.
É preciso ter consciência de que o EA
caracteriza o potencial reprodutivo de
um carneiro naquele momento. Na
ausência de ocorrência de qualquer
acidente, os reprodutores sexualmente
maduros têm toda a probabilidade de
preservar estas qualidades enquanto
não atingirem a senilidade (mais que 7
anos). Caso contrário, o exame realizado
anteriormente a uma situação que altere
o estado de saúde do sistema genital, não
pode ser usado para garantir a capacidade
fecundante de um reprodutor.
CONCLUSÃO
O rendimento económico nas explorações
de ovinos (carne/leite) está altamente
correlacionado com a reprodução. Desta
forma, pretende-se a maximização
do número de borregos produzidos
por ovelha e por ano, isto é, colocar a
fertilidade da exploração num valor que
permita a maior rentabilidade económica
da exploração. Para isso é importante
possuir animais com elevada capacidade
reprodutiva, ou seja, não só ter fêmeas
mas também machos férteis. A presença
de carneiros inférteis e sobretudo
de carneiros sub-férteis é altamente
prejudicial para o sistema produtivo na
medida em que estes animais são, na
maioria das vezes, apenas detectados
no final da época reprodutiva, quando
se verifica que um número elevado de
fêmeas não produziu borregos. Daí que a
identificação e eliminação precoce destes
animais assim como o rigor na escolha
dos reprodutores, através da realização
dos EA, seja um recurso importantíssimo
e indispensável para alcançar e garantir
a fertilidade do rebanho aliada ao
melhoramento genético do mesmo. Posto
isto, não há justificação para não fazer o
EA de um reprodutor. O custo de exame
é muito pequeno em relação ao preço
do animal e à extensão do prejuízo no
sistema de produção. Devendo ser um
componente de rotina na explorações que
tenham um plano reprodutivo definido, tal
como a colheita de sangue anual!
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 15
PRODUçÃO
Avaliação económica
do maneio reprodutivo de uma
exploração leiteira
Na realidade atual do setor leiteiro, a eficiência económica das explorações torna-se
cada vez mais importante e o desenvolvimento de ferramentas de cálculo, adaptadas à
realidade da exploração, que auxiliem a tomada de decisões, é essencial.
fatores Que contribuem para o
aumento da rentabilidade
Este trabalho teve como objetivo avaliar
economicamente o maneio reprodutivo
de uma exploração com 293 animais,
130 dos quais são vacas em produção
com média produtiva de 35.3L/dia.
Nesta exploração a deteção de cios é
realizada visualmente, registando-se
atualmente um intervalo entre partos
Isabel Santos
Médica Veterinária,
Cooperativa Agrícola de
Vila do Conde
[email protected]
16 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
Vitelos
2,03€
animal/dia
Novilhas
(5-11M)
1,43€
animal/dia
Novilhas
(>11M)
Vacas secas
0,87€
animal/dia
médio de 422 dias, correspondente
a um Intervalo Parto-Conceção (IPC)
médio de 142 dias.
Como base para o restante estudo,
foram determinados os custos
alimentares, por lote de animais, para
o ano de 2012, usando os preços de
aquisição e/ou os custos de produção.
Alta
Produção
5,62€
animal/dia
Baixa
Produção
4,28€
animal/dia
FIGURA 1
Custos alimentares no
ano de 2012.
PRODUÇÃO
CUSTO DE CADA DIA EXTRA NO
INTERVALO PARTO-CONCEÇÃO (IPC)
Não foram considerados custos extra
até aos 85 dias pós parto, estimando
depois uma perda diária que foi
calculada para os seguintes intervalos
de IPC: 85-115 dias; 116-145 dias; 146-175
dias; 176 a 205 dias; 206 a 235 dias e
mais de 235 dias pós parto.
Para este cálculo foi utilizado um
indicador designado por “Fertex” –
Fertility Economic Index (Esslemont,
2003; Neto, 2009). Este cálculo
considera o diferencial de produção
(perda de produção da lactação seguinte
e ganho na lactação atual), diferenças
nos custos alimentares e o atraso na
obtenção do vitelo.
Para calcular as perdas na produção
de leite foi gerada a curva de lactação
média do efetivo desta exploração,
usando um programa informático onde
foram introduzidos todos os contrastes
de 2012. Com estes dados e os dados
registados na exploração através do
programa ISALEITE, foi calculado o custo
do atraso no IPC, para os intervalos
citados anteriormente.
Os resultados obtidos foram os seguintes:
4,03
€/dia
1,61
€/dia
85
115
145
8,81
€/dia
8,16
€/dia
6,21
€/dia
175
205
8,54
€/dia
235
Dias após o parto
FIGURA 2
Custo diário do prolongamento do IPC, além dos 85
dias pós-parto.
CUSTO ACUMULADO DO PROLONGAMENTO
DO INTERVALO PARTO-CONCEÇÃO (IPC)
Foi calculado o custo acumulado do prolongamento do IPC após os 85 dias,
considerando o custo acrescido de uma inseminação (IA) extra a cada 21 dias (custo
médio de uma IA em 2012 nesta exploração = 26.21€).
107d
2,86€
37,86€
149d
104,37€
86d
198,95€
...d
330,51€
128d
FIGURA 3
Custo acumulado do prolongamento do IPC, além
dos 85 dias pós-parto.
...€
170d
PERDA POR REFUGO PRECOCE
CUSTO DO REFUGO PRECOCE
1785,65 € - VR
(A) CUSTO TOTAL DE REPOSIÇÃO (novilha 25M)
1461,89 €
Custo de alimentação até aos 25M
Custo médio de tratamentos/vitelo
Custo de vacinação + desparasitação até aos 25M
Custo médio atribuído à IA das novilhas*
Outros custos (palha e serrim das camas, mão de obra, …)
854,51 €
8,63 €
18,47 €
80,28 €
500,00 €
(B) PERDAS NA PRODUÇÃO DE LEITE
323,76 €
Produção média nas novilhas (L/dia)
Produção média nas multíparas (L/dia)
IPC médio (dias)
Duração da secagem (dias)
Duração da lactação (dias)
Preço médio do leite (jul-dez2012)
33,30 €
36,22 €
142,00 €
60,00 €
362,00 €
0,3084 €
(C) DIFERENÇAS NOS CUSTOS ALIMENTARES VACA-NOVILHA
0€
VARIÁVEL
(D) VALOR DE REFUGO DA VACA (VR)
* Custo médio de IA nas novilhas em 2012 (41,16€) x nº de IA/novilha gestante (1,8)
O custo do refugo precoce foi calculado
como a soma do custo de uma novilha
de reposição ao parto (A) com as perdas
na produção de leite (B), uma vez que a
média produtiva das novilhas é inferior.
A este resultado foi descontado o valor
das diferenças alimentares entre os dois
animais (C) e o valor de refugo da vaca (D).
Estimado o custo do refugo precoce
por infertilidade, desenvolveu-se uma
ferramenta que permite verificar quando
é que o custo de prolongamento do IPC
TABELA 1
Cálculo da perda por refugo precoce.
e das inseminações extra atinge o valor
estimado para o refugo. Desta forma, o
produtor pode estabelecer um limite a
partir do qual não é economicamente
compensatório estender o IPC, devendo
equacionar o refugo do animal. Esta
ferramenta está padronizada para os dados
desta exploração, tendo uma variável: o
valor a receber pelo animal de refugo.
Como se observa no gráfico seguinte,
considerando a variável valor de refugo
(VR) entre 500€ e 800€, o limite a
partir do qual ultrapassamos a perda por
refugo com o acumular de custos de
prolongamento do IPC varia entre os 248
e os 282 dias pós parto.
No entanto, a exploração em causa
vende novilhas e, ao utilizar uma novilha
para reposição da vaca, perde o valor
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 17
PRODUçÃO
1400
282 DEL
1200
GRÁFICO 1
Custo acumulado do
prolongamento do IPC
em relação à perda por
refugo precoce.
1000
248 DEL
Custo (€)
800
600
400
Custo acumulado de
prolongamento do IPC
200
Perda por refugo precoce
(VR 500€ )
0
86
96
106
116
126
136
146
156
166
176
186
196
206
216
226
236
246
256
266
276
286
296
306
do lucro que teria na venda da novilha
a terceiros. Portanto, foi considerada
uma segunda variável: a perda por não
vender a novilha de substituição. Se
considerarmos uma perda de
300-500€ por transferência da novilha
para a exploração, e para um VR de
800€, o limite passa a variar entre 282 e
os 306 dias pós parto.
É importante salientar que, se a
vaca não ficar gestante e a opção de
refugo ocorrer após este limite, temos
uma duplicação da perda estimada.
Estas ferramentas devem ser usadas
como auxílio à tomada de decisão
de forma ponderada, tendo em
conta fatores como o valor genético
do animal e a disponibilidade de
novilhas, entre outros.
Perda por refugo precoce
(VR 800€ )
Dias em leite (DEL)
LUCRO VS DURAÇÃO DA LACTAÇÃO (DL)
Considerando 4 anos, após o primeiro
parto, como a vida útil de uma vaca,
foram realizadas simulações de
diferentes lactações (305d, 326d, 368d,
etc.), considerando os ganhos e os
custos associados a cada uma delas,
para determinar qual a DL mais rentável
no final da vida útil dos animais. Os
custos considerados foram apenas os
custos acumulados dos dias extra no IPC
e as inseminações extra (a cada 21 dias)
e os ganhos refletem a produção obtida
paga ao preço médio do leite no período
em estudo (0.3084€).
Esta análise permitiu concluir que a DL
mais rentável, para esta exploração, é
GRÁFICO 2
Valor acumulado no final dos quatro
anos consoante a duração de lactação.
Valor acumulado (4 anos)
15000,00
14500,00
14000,00
13500,00
13000,00
12500,00
12000,00
11500,00
11000,00
10500,00
10000,00
305d
326d
347d
368d
431d
de 326d, podendo resultar num ganho
por animal, no final dos 4 anos, de
1125.81€ em relação à situação atual da
exploração (362d).
No sentido de verificar o impacto que
a redução da duração de lactação
poderia ter na exploração, foi analisada
a incidência de doenças e refugo pós
parto, de todos os partos ocorridos no
espaço de 4 anos (2009-2012). Estes
animais foram divididos em 3 grupos, de
acordo com o IPC da lactação anterior:
até 115 dias; 116-175 dias e mais de 176
dias pós parto.
Verificou-se que não existe diferença
estatisticamente significativa (p>0.05) na
taxa de refugo e na incidência de doenças,
entre animais com DL mais curta e os
restantes grupos. No entanto, sendo o
pós-parto uma altura crítica para a vaca
leiteira de alta produção, calculou-se um
custo a atribuir ao risco associado às
doenças e ao refugo pós parto, por termos
mais um parto na vida útil dos animais.
A estimativa deste custo foi obtida,
calculando o custo máximo das
complicações do pós-parto em 4 anos
nesta exploração, cujo valor foi 177,95€
(custo de medicamentos aplicados,
intervenção médico-veterinária e perdas
por rejeição de leite) e atribuindo um
valor de 2000€ à perda em caso de
refugo do animal no pós-parto. Se
multiplicarmos a soma destes valores
18 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
pelas taxas de refugo da exploração,
vamos estimar um custo associado ao
risco por haver mais um parto na vida útil
do animal. Este valor varia entre 87,93€
(considerando a taxa de refugo nos 90
dias pós-parto com causa relacionada
com o parto) e 242,08€ (considerando
a taxa de refugo total do efetivo nos 4
anos) ficando ainda longe do valor do
retorno estimado no final dos 4 anos.
conclusão
Numa exploração leiteira, fatores como o
valor genético, a alimentação e as boas
práticas de maneio contribuem para o
aumento da produtividade da exploração.
Atualmente, para garantir a sua viabilidade
económica é, cada vez mais necessário,
que a tomada de decisões técnicas na
exploração seja suportada por estudos
económicos. Para esta exploração, a
redução do IPC médio poderá aumentar
a eficiência produtiva e a rentabilidade da
exploração a médio prazo.
Agradecimentos:
Exploração agrícola em estudo. Pedro Reis (Associação
Agrícola de S. Miguel, CRL); Rita Cabrita (Faculdade
de Ciências da Universidade do Porto); Joana Correia,
Ana Gomes, Isabel Ramos, André Lopes (Cooperativa
Agrícola de Vila do Conde).
entrevista
Melhorar
A fertilidade
Sociedade Agro-pecuária Irmãos Italianos - Entrevista a Luís Ponte
por ruminantes
A Sociedade Agro-pecuária Irmãos
Italianos tem como sócios os irmãos
Luís, António e Gabriel. Exploram 137 ha
divididos em duas explorações, que se
localizam nas Capelas e S. Vicente – S.
Miguel - Açores, separadas por 8 km
e, com cerca de 270 vacas das quais
225 em produção. Como engordam os
vitelos, têm sempre mais de 600 animais
no total.
A produção de leite é um negócio que
vem de família, iniciado pelo pai há
44 anos. Luís é o gerente e trabalha
na exploração, enquanto o Gabriel e o
António trabalham noutras empresas
também dos 3 irmãos. Desde que ficou
com a exploração a seu cargo, Luís
sempre apostou em genética com vista
a construir uma vaca a seu gosto (média
para o grande, com boas pernas e bom
úbere). Os concursos são uma paixão,
já desde há 28 anos que participa e tem
conseguido alguns prémios, como o
de Vaca Campeã, Vaca Vice-Campeã,
Melhor úbere, Vitela Campeã, Jovem
Campeã, melhor apresentador, entre
outros.
Ruminantes - Quando e porque entrou
no Crossbreeding?
Luis Ponte - Entrei há 4 anos. Eu andava
à procura de um processo que me
ajudasse na fertilidade, uma vez que a
evolução genética da Holstein tem alguns
problemas nesta área da fertilidade.
Através da internet, os meus filhos
procuraram soluções utilizando outras
raças de leite, que era o que eu queria,
20 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
para poder usar as filhas para o leite. De
tudo o que leram, chegaram à conclusão
que a raça Montbeliard era a mais
adequada. Os franceses mandaram-nos
falar com o representante em Portugal,
o Carlos Serra, uma pessoa amiga. Foi
através dele e de visitas a explorações
no continente e nos Estados Unidos que
entrámos no programa.
Este programa permite-lhe manter a
Holstein?
Sim, comecei por fazer os cruzamentos
nas vacas que não ficam cheias, ou seja,
depois de inseminar duas ou três vezes
com Holstein e não pegarem, ponho
então o Montebeliard ou o Vermelho
Sueco, e tenho dado continuidade a este
processo. No início, mesmo sem saber o
entrevista
que iria nascer, já tinha a garantia
de que a vaca inseminada com
sémen de ProCross era mantida na
exploração. Hoje, passados alguns
anos, a percepção que eu tenho
é que comem menos, produzem
diariamente o mesmo ou mais que
as outras, têm melhor fertilidade,
raramente têm mamites e são fáceis
de tratar. São tratamentos mais
curtos e portanto existe menos risco
de perda de leite.
Quantos animais tem no
programa?
Não considerando os machos,
temos entre as vacas e a recria,
mais de 20% das fêmeas.
Qual é o grau de satisfação?
Estou satisfeito com as produções,
com a fertilidade, com a sanidade
(quase não têm doenças), mas
claro que quem é um homem
de concursos tem que olhar de
duas formas diferentes para esta
situação. Mas no final o que conta é
o contraste no fim do mês. Eu vejo
que as médias diárias das vacas
são iguais ou superiores e tenho
muito poucas razões de queixa, não
se chama o veterinário, não se dá
por elas no dia a dia. Adaptam-se
bem à nossa terra.
Tem vacas da segunda ou terceira
geração?
Tenho 5 vitelas/novilhas de
segunda geração. E a primeira que
vai parir é agora em julho. Já temos
muitos animais a serem cobertos
com Holstein.
Qual é o seu critério na escolha dos
reprodutores nas diferentes raças?
Tenho trabalhado com o que há cá
no mercado.
Tem utilizado sémen sexado nas
raças do programa Procross?
Não, nunca usei, mesmo sem ser
neste programa.
Acha que este programa pode
trazer vantagens para os produtores
açorianos que optem por esta
técnica? Porquê?
As vantagens são várias, como seja
o caso de ter vacas robustas, fortes,
boas produtoras e que também dão
para carne. Todos aqueles que usam
raças de carne nos cruzamentos
acabam por perder as fêmeas
como possíveis produtoras de leite.
Com este sistema aproveitamos
as fêmeas para produção de leite
e os machos são vendidos como
cruzados, todos os animais que
saíram foram vendidos como
cruzados e com boa carne.
Que desvantagens pode ter este
programa?
Até agora não conheço, mas ainda
falta ter os resultados da 2ª e 3ª
geração. Aquilo que vi lá fora gostei,
mas aqui ainda não posso falar por
experiência própria. Estou curioso de
ver a “nova” Frísia parida, mas isso
ainda vai levar bastante tempo.
Numa exploração, o factor
económico mais importante é a
reprodução?
Não é só a reprodução, mas nas
dados produtivos
da exploração
Vacas Puras:
Produção
de leite aos 388 dias: 11370 kg,
3.78% de gordura e 3.26% de proteína.
Média aos 305 dias: 9441 kg.
Produção média diária: 29,30 kgs.
Média de lactações do grupo 2.
Vacas Híbridas:
VISTA DA EXPLORAÇÃO
Capelas
Produção de leite aos 311 dias: 8364 kg,
3.85% de gordura e 3.42% de proteína.
Média aos 305 dias: 8021 kg.
Produção média diária: 26,90 Kgs
(36 Animais em produção com uma lactação
em média no grupo)
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 21
LUÍS PONTE
Um dos 3 sócios da
Sociedade Agro-pecuária
Irmãos Italianos
ESTÁBULO
Pormenor da alimentação
Holstein Frísias provavelmente será, pois
as melhores vacas, com melhor genética,
são aquelas que não ficam grávidas, e
são aquelas que refugo mais. Se não
conseguir manter o número de vacas
a produzir bem, não vou ter o leite que
quero. Mas isto é como uma pescadinha
da rabo na boca, preocupo-me com
a genética, com a reprodução, mas é
igualmente importante a alimentação, ter
as melhores forragens...
Qual o principal impacto do Vigor Híbrido
nas vacas leiteiras?
O primeiro foi a fertilidade, depois
também vejo vacas mais robustas, mais
fortes e com menos problemas. Nunca
emagrecem muito após o parto.
Quais são as três raças leiteiras que
utiliza?
Uso a Holstein, Montebeliard e a Sueca
Vermelha.
Quais os pontos fortes e fracos de cada
uma destas raças?
Embora não tenha uma opinião bem
formada, nas Suecas Vermelhas gosto
muito dos úberes, na Montebeliard vejo
animais mais fortes, boas produtoras,
com úberes bons (não todos, mas
sempre com o mesmo formato e
produzindo bem).
Verifica alguma alteração em termos de
reprodução?
Sim, ficam grávidas com muito maior
facilidade, não quer dizer que não possa
haver repetições, mas muito poucas,
e devemos considerar que estamos
a inseminar as vacas problemáticas
e normalmente elas acabam por ficar
gestantes. Posso dizer que fechei o ano
anterior com 388 dias de lactação nas
Holstein e as cruzadas com 311 dias de
lactação.
Que dados produtivos tem para
comparar as Holstein puras e o programa
Procross?
O pico de lactação das Holstein é mais
alto, mas a persistência das cruzadas
é melhor. A produção média diária é
praticamente igual. As cruzadas ficam
grávidas mais cedo enquanto as Holstein
ficam com demasiados dias de lactação,
ou seja, as Holstein estão a secar e as
cruzadas já estão na nova lactação. Com
mais partos no mesmo espaço de tempo,
a quantidade de leite no tanque não
baixou, até pelo contrário.
Nota diferença no campo da saúde
animal?
Mamites não tenho nas cruzadas, e
nas Holstein tinha e tenho. No caso das
CCS, embora as explorações que temos
22 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
tenham valores baixos (200 e 300.000)
desde há 4 anos, as cruzadas têm valores
inferiores. Noto diferença na taxa de
refugo, repare que nas cruzadas só ainda
refuguei um animal e nas outras esse
número é muito superior.
Que expectativas tem afinal com este
programa?
Que as vacas durem mais anos na
exploração, menos dinheiro gasto com
farmácia e com inseminação. Repare,
um animal bom que fique na exploração
mais anos, deixa-me mais crias e deixa a
possibilidade de dentro de algum tempo
poder vender algumas delas.
Disse que engordava os vitelos
cruzados, tem resultados?
Sim, vendo todos como cruzados de
carne, tem boa carne e aos 8 a 9 meses
de vida, quase todos os animais dão mais
de 200 kg de carcaça.
Nota diferença na eficiência alimentar
destes animais?
Não tenho dados concretos, mas a ideia
que eu tenho é que são animais que
comem menos e produzem como já referi
atrás.
CONVITE
MONTBELIARDE / HOLSTEIN / VIKING RED
VIKING RED / HOLSTEIN / MONTBELIARDE
3º ENCONTRO EUROPEU DIAS ABERTOS PROCROSS
CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE CROSSBREEDING-PORTUGAL 25-26-27 e 30 JULHO 2013
Ugenes-Unipessoal, Lda, VikingGenectics e Coopex Montbliarde têm o prazer de convidar os produtores de leite,técnicos e outras entidades do
sector leiteiro nacional que estejam interessados em saber mais sobre o cruzamento de vacas leiteiras e o conceito do Programa ProCross a
realizar em Portugal. Este evento visa dar a conhecer as últimas noticias e mostrar os dados científicos em relação ao conceito do
programa ProCROSS e promover o encontro entre produtores de vários países para partilharem a sua experiência do conceito ProCROSS.
• O Programa da vaca ProCross foi criado para melhorar geneticamente a capacidade das explorações Leiteiras.
• As vacas ProCross trabalham mais,gastam menos e vivem mais = Maior Lucro na Vida Produtiva.
INFORMAÇÃO PRÁTICA
Este evento decorrerá entre os Hoteis na Ericeira, e diversas explorações Agricolas de produção Leiteira na Zona do Alentejo, Sabugo-Pero
Pinheiro e Açores.
O transporte para a visita as Explorações do dia 25 ( 5ªF) está assegurado e custeado pelas três organizações.
Inclui também uma refeição a bordo do autocarro. Participação na conferência = taxa de 20 €.
Hoteis disponíveis na Ericeira:
Opcção Principal: Vila Galé Ericeira, Largo dos Navegantes nº1 2655-320 Ericeira-Portugal, Telf:+351 261 869 900 . Email:[email protected]
2ª Opcção: Beach tour Apartamentos, Rua Mira parque, 2A-B 2665-213 Ericeira-Portugal, Telf:+351 261 860 230 . Email:[email protected]
PROGRAMA
25 JULHO : VISITA A EXPLORAÇÕES PROCROSS
7:00
9:30
14:30
Partida dos hotéis na Ericeira . Cerca de 2 horas de viagem até Fronteira.
Visita à Exploração Agro Pecuária da Tília, Lda em Fronteira.
Almoço no autocarro em viagem.
Visita à Exploração Agroleite de Canha, Lda - Canha,Pegões.
26 JULHO: CONFERÊNCIA PROCROSS E DIA ABERTO NO CASAL DE QUINTANELAS
8:30
10:15
13:00
Conferência ProCROSS no Hotel Vila Galé Ericeira
• Apresentação dos novos resultados do crossbreeding no Minnesota com a apresentação do Prof.Les Hansen, Universidade do Minnesota, USA.
• Apresentação técnica dos dados do casal de Quintanelas pelo Eng.António Castanheira.
Partida para a Quinta de Casal de Quintanelas, no Sabugo.
• Onde será apresentado um grupo de vacas ProCross de 1ª e 2ª geração.
Serviço de Almoço / Churrasco oferecido pelas empresas promotoras do evento.
27 JULHO: PONTA DELGADA - AÇORES - CONFERÊNCIA NAS INSTALAÇÕES DA AASM
11:30
13:00
Inicio dos trabalhos apresentados pelos Prof.Les Hansen, Universidade Minnesota-USA
• Será apresentado um grupo de vacas ProCross de 1ª Geração.
Serviço de Almoço / churrasco oferecido pelas empresas promotoras do evento.
30 JULHO: ILHA TERCEIRA - AÇORES - CONFERÊNCIA NAS INSTALAÇÕES DA UNIVERSIDADE DA ILHA TERCEIRA
11:30
Inicio dos trabalhos apresentados pelos Prof.Les Hansen, Universidade Minnesota-USA
• Participação do Prof. Estevam de Matos da Universidade dos Açores.
Agradecemos a confirmação até dia 15 de Julho para: Ugenes-Unipessoal,Lda • Telf: +351 917 534 617 • Email: [email protected]
José Nuno Carvalho • Telf:+351 914 751 386 • Email: [email protected] | Paulo Grave • Telf: +351 933 022 169 • Email:[email protected]
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 23
PRODUÇÃO
A EVIDÊNCIA
DOS RESULTADOS!
Luís veiga
engº zootécnico,
reagro sa.
[email protected]
pedro castelo
engº agrónomo,
reagro sa.
[email protected]
Como é do conhecimento geral, têm havido
uma preocupação crescente em aumentar
a eficiência alimentar e produtividade dos
ruminantes através da manipulação do
ecossistema microbiano do rúmen. Além
disto, a diminuição da degradação de
proteínas dos alimentos no rúmen, a fim
de reduzir a excreção de azoto pela urina e
emissões de metano tornaram-se importantes
alvos no que às preocupações ambientais diz
respeito.
Antibióticos e outros aditivos sintéticos
utilizados na alimentação de animais foram
proibidos pela União Europeia desde 2006
(Regulamento 1831/2003/EC). No entanto,
outros aditivos também têm a capacidade
de modificar o ecossistema microbiano
no rúmen. Outros compostos chamados
“compostos idênticos naturais” têm surgido
da biotecnologia para as mais diversas
utilizações. Numerosos compostos bioactivos
em produtos derivados de plantas são
metabólitos secundários tóxicos produzidos
pelas plantas como um mecanismo de defesa
contra herbívoros e micróbios invasores.
Entre eles, os óleos essenciais (OE), que
são conhecidos, entre outros modos de
acção, pela sua actividade anti-microbiana,
apresentam por isso nos últimos anos uma
evolução espectacular em trabalhos de cariz
científico publicados regularmente.
Um ruminante é um animal que tem a
capacidade de gerar uma fracção importante
das suas necessidades em vários nutrientes a
partir das fermentações realizadas no rúmen.
Uma das chaves de sucesso no futuro estará
em optimizar a produção endógena de proteína
verdadeira. A forte evolução demográfica mundial e a
diminuição da superfície arável são dois factores que
levam todos os especialistas a concordarem nos preços
altos da proteína de origem vegetal. Estes factos levam
cada vez a uma maior necessidade em conseguir uma
eficiência alimentar elevada.
Tendo como objectivo demonstrar a eficácia de um
produto desta natureza nas condições de produção em
Portugal, a Reagro, realizou um ensaio na exploração do
Vale da Lama (Chamusca). Aproveitando para salientar
a disponibilidade e profissionalismo do Sr. Garry que
nos concedeu a oportunidade de realizar um teste em
condições reais. A possibilidade de aceder a todas
as produções individuais com centenas de animais e
arraçoamentos fixos foi determinante.
Objectivo do ensaio
Este ensaio teve como objectivo verificar a eficiência de
um aditivo com capacidades de diminuir a degradação
da proteína alimentar no rúmen e de modular a
fermentação ruminal no sentido de aumentar a fracção
de proteína verdadeira de origem microbiana que
transita para o intestino delgado da vaca.
Um outro objectivo foi, desconhecendo o arraçoamento
em prática, verificar que o produto utilizado em “top
feeding”, ou seja por cima do arraçoamento contribuía
de forma esclarecedora para melhorar a produção.
O que é o Proteomax 50
O Proteomax 50, é composto por óleos essenciais,
sais de oligoelementos e outras matérias-primas
a combinação de OE e oligoelementos testados
em colaboração com o INRA (Institut National de la
Recherche Agronomique). Inicialmente (figura 1) foi
efectuado um estudo com o objectivo de verificar o
efeito de doses de 8 óleos essenciais no rúmen e
estimar padrões de fermentação num sistema, in vitro,
FIGURA 1
Estudo de diferentes doses de ingredientes.
Curvas Médias de 3 Repetições
1,2
1,0
Efeito
<< progressivo >>
0,8
Efeito
<< moderado >>
0,6
Efeito
<< forte >>
0,4
0,2
0,0
0
24 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
2
4
6
8
10
PRODUÇÃO
1. Modo de acção: controlo de protozoários
e modulação das fermentações.
bacterianas proteolíticas.
2.Redução significativa da produção de
amoníaco no rúmen.
3.Aumento do rácio azoto não amoniacal
/ azoto total.
4.Aumento das proteínas intestinais.
5.Não perturbação da produção de AGV.
8,0
1,2
7,0
1,0
Ingr. Activo de
Novatan Oleo
essencial 1
6,0
Produção de Ácido Acético
( teste vs control )
Produção de Amoníaco 12h
após a fermentação, mg
Efeito da Dose na Produção de Acído Acético
5,0
4,0
3,0
2,0
0
2
4
6
8
10
12
Ingr.Ingr.
Activo
de Novatan
Activo
de
OleoNovatan
essencial
1
Oleo
essencial 1
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0
2
4
6
Dose do ingrediente activo (nM)
OE2: Efeito na Produção de Amoníaco
1,2
1,2
1,0
Ingr. Activo de
Novatan Oleo
essencial 2
0,6
0,4
0,2
0,0
0
2
4
6
8
10
12
Efeito da Dose na Produção de Acído Acético
1,0
0,8
8
Dose
Produção de Ácido Acético
( teste vs controlo )
Como considerações gerais
sobre o produto podemos
concluir o seguinte:
OE1: Efeito na Produção de Amoníaco
Produção relativa de Amoníaco
( teste vs controlo )
após 16 horas com a utilização de um
substrato de elevada concentração. A
resposta do ecossistema microbiano foi
avaliada através da produção dos Ácidos
Gordos Voláteis (AGV) e amoníaco para
diferentes doses de óleos essenciais.
Através da observação dos resultados
sobre a produção de amoníaco (figura 2),
a sua diminuição de produção no rúmen
significa que houve uma redução da
degradabilidade das proteínas no rúmen.
Na figura 3 verifica-se a ausência de
alteração da produção de ácido acético,
ficando assim demonstrado que não há
nenhuma perturbação da actividade das
bactérias celulolíticas. Este ponto é de
extrema importância pois a modulação da
fermentação inicialmente proposta previa
não alterar a fermentação da fibra.
10
Ingr. Activo
de
Ingr. Activo
de Novatan
Oleo Novatan
essencialOleo
2
essencial 2
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0
2
4
Dose do ingrediente activo (mM)
6
8
10
Dose
FIGURA 3
Análise da produção de ácido acético.
FIGURA 2
Análise da produção de amoníaco no rúmen.
O Ensaio
Em relação ao parque 9, foram
efectuadas medições entre os 80 e os
120 dias de lactação. As vacas com o
proteomax 50 tiveram uma produção de
leite diária superior 1 litro, como se verifica
na figura 5.
Além da análise à produção verificámos
a qualidade do leite onde conferimos
FIGURA 5
Análise da produção de leite no parque 8.
FIGURA 4
Análise da produção de leite no parque 7.
Parque 8
Parque 7
42,5
42,5
41,5
41,0
40,6
40,5
Litros
42,0
Litros
O ensaio foi conduzido em dois lotes de
vacas multíparas (2 ou mais lactações)
que se encontravam em início de
lactação e que mantiveram a mesma
alimentação, pelo menos, 8 dias antes
da primeira medição até 45 dias após
o final do ensaio. O proteomax 50 foi
adicionado no uni-feed (50 gr/vaca/dia)
e, por isso, distribuído uniformemente
pela manjedoura. Durante o ensaio
foram efectuadas medições à produção
média diária assim como uma análise
química num laboratório acreditado à
qualidade do leite.
No parque 7, foram comparadas as
produções de vacas entre os 25 e os
35 dias de lactação (medição ao DL 25,
30 e 35).
Através da Observação da figura 4,
podemos verificar que a produção das
vacas com o aditivo foi superior 1,6 litros
em relação às que não tinham o aditivo
na mesma fase de lactação e com a
mesma alimentação.
48,0
47,8
47,5
47,0
40,0
46,8
46,5
39,5
46,0
Com
Proteomax 50
25<DL<35
Sem
Proteomax 50
Com
Proteomax 50
Sem
Proteomax 50
80<DL<120
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 25
PRODUÇÃO
FIGURA 6
Análise da produção segundo a equação de J. Wilmink para 2 grupos tendo em conta a
produção às 5 semanas
Produção estimada com Proteomax 50
Produção estimada sem Proteomax 50
50,0
45,0
40,0
35,0
Litros
que, tal como nos ensaios científicos
descritos anteriormente, apesar do
aumento da produção não existe
nenhuma variação significativa do TB do
leite pois não há nenhuma perturbação
na actividade das bactérias celulolíticas,
mas em relação ao TP (Teor Proteico)
do leite verificou-se um aumento deste
parâmetro (facto que fundamenta
os dados já conhecidos relativos ao
aumento da proteína by-pass, quadro 1).
30,0
25,0
20,0
15,0
QUADRO 1
Análise do leite durante o ensaio.
10,5
5,0
Sem Proteomax 50 Com Proteomax 50
3,69
3,66
TP (% m/m)
3,22
3,29
É sobejamente conhecido que a um pico
de lactação mais elevado corresponde
uma maior persistência produtiva, através
da equação de J. Wilmink (figura 6),
verificamos que a adição deste produto
em 250 dias tem um custo de 25 € por
vaca e o seu benefício é, tendo em conta
um preço por litro de 0,32 €, de pelo
menos, 103 € /vaca. No entanto, como
o leite é pago ao produtor também pela
qualidade, temos verificado no plano
prático que além deste aumento de
produção ocorre um aumento do preço
médio do leite pago na exploração.
Para observar o chamado efeito
de retirada do aditivo, conferimos
as produções 45 dias após o fim
da suplementação (com a mesma
alimentação) onde comparamos as
produções para a mesma fase de
lactação.
Como podemos verificar através da
observação da figura 7, vacas entre os
80 e 120 dias de lactação tiveram uma
produção média de 1,3 litros superior com
o aditivo. Para finalizar, foi efectuada uma
análise económica para determinar a
vantagem em termos monetários com a
utilização deste produto. Considerando
o leite pago a 0,32 €/litro e sabendo que
o custo do produto é de 0,10 €/vaca/dia,
o beneficio através da utilização deste
produto é de 0,32 € por animal e por dia
(quadro 2).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Mês de Lactação
Equação: J.B.MWilmink 1987, INRA, 2007
PLpot=PL max *n[(1.047-(0.69*EXP(-0.9*sem lact)-(0.0127*sem lact)-(0.50*EXP(-0.12*45-sem G)]
COM PTMX 50 - 9700 lts (305 dias)
SEM PTMX 50 - 9300 lts (305 dias)
DIFERENÇA lts = 400 lts
INVESTIMENTO = 250 dias * 50 grs * 0.002 € /gr = 25 €
BALANÇO (0,32 €/lt) = (400 lts* 0.32 €) - 25 € = 103 €/VL
QUADRO 2
Análise económica da utilização do Proteomax 50.
Grupo
Produção
Preço Leite (€)
Sem Proteomax 50
46,5
0,32
Com Proteomax 50
47,8
0,32
FIGURA 7
Análise de produções 45 dias após o ensaio.
Parque 9
48,0
Litros
TB (% m/m)
26 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
47,8
47,5
47,0
46,5
46,5
46,0
45,5
Com
Proteomax 50
80<DL<120
Sem
Proteomax 50
Custo Proteomax
50 (vaca/dia)
Retorno
(Vaca/dia)
0,1
15,20
BenefÍcio
Proteomax 50
14,88
0,32
conclusão
O ensaio do PROTEOMAX 50 na
exploração Vale da Lama permitiu
comparar animais nas mesmas
condições que foram estudados de
forma individual e nas mesmas fases de
produção, com alimentações estáveis.
Assim podemos concluir que:
1. O Proteomax 50, apesar de ter sido
utilizado em “top feeding”, permitiu
produções entre 1 e 1,6 litros superiores
em vacas até 120 DL.
2.Aumento do TP do leite.
3.Rentabilidade teórica acrescida a preço
do leite de 0,32 €/litro de, pelo menos,
103 €/vaca/lactação.
4.Curva de lactação com decréscimo
menos acentuado a partir dos 120 DL.
5.Diferencial de rentabilidade de menos
0,32 € por animal e por dia após a
retirada do produto.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 27
FORRAGEM
josé maría bello
Chefe de Produto Ovino e Caprino Nanta
[email protected]
SILAGEM DE SORGO
UMA ALTERNATIVA FORRAGEIRA
EM OVELHAS DE LEITE
A situação das matérias primas a nível mundial mudou substancialmente a configuração
da produção animal em geral e a do leite de ovelha em particular. Mais que nunca parece
ser necessário utilizar estratégias de inovação para poder rentabilizar as explorações
através do aumento da eficiência na produção.
SORGO
Gramínea anual de
origem africana.
O aumento da procura
de forragem no arco
mediterrânico juntamente
com o já mencionado
aumento dos custos
das forragens (ligada à
disponibilidade de água
cada vez mais escassa em
algumas latitudes) obrigam a
repensar a alimentação.
O sorgo forrageiro, e mais
concretamente a sua
silagem, pode ser uma
alternativa válida à silagem
de milho em algumas zonas,
resolvendo o cada vez mais
difícil aprovisionamento
de forragem de qualidade
ligado à produção de leite.
Características e
variedades de sorgo
O sorgo (Sorghum Bicolor
ou Sorgo forrageiro) é uma
gramínea anual de origem
africana, muito bem adaptada
às condições tropicais, de fácil
cultivo e adaptada à seca.
Esta planta atinge alturas
entre 1.75 e 2.50 metros e as
suas folhas têm de 60 a 100
centímetros de comprimento
e 3 a 5 cm de largura. Têm
caules grossos e sólidos.
É uma planta muito
semelhante à do milho, que
se adapta perfeitamente às
condições de verão de climas
atlânticos.
28 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
TABELA 1
Rendimentos de diferentes variedades e híbridos
de sorgo forrageiro.
VARIEDADE
HIBRIDAÇÃO
KgMS/Ha
KgMOD/Ha
ANETO
SxP
4,797
2,843
PPS DSM 9-315
SxS
5,215
3,031
NICOL
SxP
5,290
3,152
DIGESTIVO
SxP
5,946
3,530
TEIDE
3,388
SxS
5,988
NECTAR
S
6,041
3,549
PR 855-F
SxP
6,297
3,665
HAY DAY
SxP
6,588
3,884
GRAZER
SxP
6,972
4,114
S - Não híbrido; SxS - Híbrido de sorgo; SxP - Híbrido de sorgo e Erva do Sudão;
MS - Matéria Seca; MOD - Matéria Orgânica Digestível.
Fonte - ITG Navarra 2008
forragem
Apesar de mais exigente
que o milho em temperatura
(abaixo dos 10° C paralisa o
seu crescimento) e de precisar
de água para germinar
nas primeiras fases do
crescimento, posteriormente
o seu poderoso sistema
radicular permite-lhe extrair
água da reserva útil do solo
de forma mais eficiente
que o milho. Além disso, ao
contrário do milho, o sorgo
tem capacidade de rebrotar
depois de um corte sempre
que as condições climáticas
sejam adequadas.
Esta planta tem muitas
variedades e híbridos. É muito
interessante o estudo que
a este respeito realizou o
ITG de Navarra (Mangado &
Azpilicueta, 2008) sobre o
rendimento e idoneidade de
algumas variedades de sorgo
como alternativa a culturas de
produção forrageira em zonas
de clima atlântico. Na tabela
1 podemos ver os resultados
do estudo relativamente a
rendimentos por hectare e
produção de Matéria Orgânica
Digestível (MOD) de cada uma
das variedades e híbridos
estudados.
Valores nutricionais
da silagem de sorgo
O Sistema de Nutrição
Animal Espanhol
(FEDNA) considera várias
possibilidades quanto à
valorização do sorgo nas
Tabelas de Alimentos para
a alimentação animal,
dependendo do seu teor
de matéria seca (MS) o qual
está estreitamente ligado
ao momento do corte. Na
tabela 2 podemos ver o
valor nutricional do sorgo
que normalmente se utiliza
para a formulação de
rações.
Quanto aos seus conteúdos
minerais e ao seu perfil de
Ácidos Gordos, ver tabelas
3 e 4.
O elevado teor em Ácido
Linoleico produz por vezes
o cheiro a ranço nos grão
utilizados nas rações.
TABELA 2
Valores nutricionais de silagens de sorgo.
Silagem Sorgo
<20% MS
Silagem Sorgo
20-25% MS
Silagem Sorgo
25-30%MS
Silagem Sorgo
30-35% MS
Silagem Sorgo
>35%MS
20
22.5
27.5
32.5
35
MS (%)
HumIdade (%)
80
77.5
72.5
67.5
65
Cinzas (%MS)
10.41
8.56
8.66
8.49
8.99
PB (%MS)
11.26
10.17
9.87
9.34
9.63
NH4 (%MS)
0.09
0.03
0.02
0.02
0.02
EE (%MS)
3.41
3.49
3.38
3.3
3.51
FB (%MS)
32.39
31.17
30.13
29.1
29.72
FND (%MS)
60.28
58.32
56.88
55.43
55.78
FAD (%MS)
36.84
35.63
33.94
33.06
33.78
LAD (%MS)
4.17
4.87
5.67
4.6
4.67
Ca (%MS)
0.59
0.59
0.59
0.59
0.59
P (%MS)
0.61
0.61
0.61
0.61
0.61
Mg (%MS)
0.57
0.57
0.57
0.57
0.57
UFL /kg MS
0.66
0.67
0.67
0.65
0.64
UFC /kg MS
0.57
0.58
0.58
0.55
0.54
PDIA (%MS)
25
22
21
20
21
PDIE (%MS)
69
63
61
57
59
PDIN (%MS)
56
55
57
56
56
LYS (%PDIE)
7.32
7.32
7.32
7.32
7.32
MET (%PDIE)
1.75
1.75
1.75
1.75
1.75
Fonte - FEDNA 2004
Fabrico de uma
silagem de sorgo
O sorgo, geralmente, cresce
bem em quase todo o tipo
de solos, exceto em solos
argilosos com humidade
excessiva, pois estes
não toleram drenagens
deficientes.
O solo requer uma boa
preparação. Deve ter uma boa
reserva de humidade, uma
vez que é no momento da
germinação que a planta mais
precisa de água.
A quantidade de semente
depende do tipo de
sementeira. Normalmente
requer o adubo convencional
e azotado, inseticidas e
herbicidas.
Em climas atlânticos e
mediterrânicos é costume
semear em maio, o primeiro
corte é em agosto e o
segundo nos finais de
TABELA 3
Conteúdo em minerais da silagem
de sorgo.
MINERAL
por Kg/MS
Unidade
4.5
g
C12:0
0.1
2
g
C14:0
0.1
Na
0.2
g
C16:0
3.1
K
17.5
g
C16:1
0.1
Cl
5.5
g
C18:0
0.5
S
1.2
g
C18:1 Ac. oleico
7.3
Mg
2.5
g
C18:2
14.4
Cu
9
mg
C18:3
0.3
Zn
31
mg
Fe
390
mg
Mn
65
mg
Se
0.03
mg
Mo
1.9
mg
Ca
P
ÁCIDOS GORDOS
gr/Kg MS
TABELA 4
Perfil de ácidos gordos da silagem
de sorgo.
Fonte - RRC Nutreco
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 29
forragem
Utilização em
arraçoamentos de
ovelhas de leite
SEMENTE DE SORGO
setembro. Em alguns países
tropicais podem-se chegar a
fazer entre 4 a 8 cortes.
O momento do corte é muito
importante porque, quando
o estado vegetativo é muito
avançado, a digestibilidade
e o valor nutritivo diminuem
consideravelmente.
Black J. e cols. (Journal
of Animal Science, 1980)
realizaram um estudo sobre
a valorização energética
e a digestibilidade dos
nutrientes na variedade
Sorghum Dekalb FS24
em ovelhas em diversos
momentos do corte.
Os valores máximos de
Energia Bruta obtiveramse no momento vegetativo
“leitoso tardio” e a máxima
digestibilidade dos nutrientes
no princípio da floração.
Também não houve
diferenças significativas em
relação à utilização de alguns
aditivos.
O tamanho da planta no
momento do corte deve
ser de pelo menos 50 cm,
já que nas primeiras fases
do seu desenvolvimento
e nos brotos jovens, a
planta contém um glicósido
cianogénico chamado
“durrina” que pode ser
tóxico para o gado, seja
em pastoreio ou no
aproveitamento da planta em
corte. Com o comprimento
de 50 cm, não existe risco.
A planta, uma vez cortada a
15-20 cm do solo, (ideal com
35% de MS) “pica-se” com
comprimentos de partícula
de 2 a 5 cm e coloca-se em
solo seco, de preferência
com desnível para facilitar
a drenagem do silo. Devem
fazer-se camadas inferiores
a 30 cm antes de ser pisadas
para retirar o ar. Uma vez
compactada a forragem,
tapa-se com plástico e
coloca-se por cima uma
camada de areia de 5 cm de
espessura.
O silo pode ser aberto a
partir dos 30 dias após ter
sido coberto.
Um metro cúbico de solo
contém aproximadamente
600 kg de forragem.
São variados os critérios
para o uso de silagem de
sorgo em ovelhas de leite:
• Qualidade nutricional,
estreitamente ligada
ao momento do corte
(diferentes proporções de
caules e folhas). Na tabela
2 e na tabela 5 podem
observar essas proporções
segundo o momento do
corte (no sorgo Granífero).
• O possível conteúdo em
taninos (variedade de
sorgo) ou em glicósidos
(momento do corte
precoce).
• A quantidade de terra
(no momento da colheita,
humidade no solo,
etc.) para uma possível
contaminação por Listéria.
• A fase de produção do
gado a que se fornece.
Assim, as nossas
recomendações para o
emprego desta silagem
em ovinos de leite vêm
resumidas na tabela 6.
TABELA 6
Valores máximos para a silagem de
sorgo em arroçoamentos de ovinos.
Kg silagem tal
qual /ovelha e dia
ORDENHA
2
AMAMENTAÇÃO
A silagem de sorgo é
uma alternativa forrageira
para os ovinos de leite
em zonas áridas, uma
vez que requer menos
água do que o milho e,
ainda que tenha menos
produção forrageira, os
seus valores nutricionais
são adequados.
Existem muitas
variedades e híbridos
do sorgo. Na Península
Ibérica as mais utilizadas
são as variedades
híbridas com a Erva do
Sudão.
O momento do corte
é fundamental na
manutenção dos níveis
nutricionais adequados.
Existem limitações por
cortes excessivamente
precoces, devido
à possibilidade do
conteúdo em glicósidos
tóxicos, e também por
cortes excessivamente
tardios com a
consequente perda de
valor nutricional. O
momento ótimo é no
estado leitoso-pastoso,
com um conteúdo em
matéria seca de 30 a 35%.
Ao incorporar-se em
dietas de ovelhas
leiteiras, devem levarse em conta diversos
critérios além do próprio
valor nutricional.
2.5
MANUTENÇÃO
1.5
GESTAÇÃO
0.5
RECRÍA
0.5
Fonte: Sº Técnicos NANTA S.A.
GRÃO PASTOSO
GRÃO DURO
% TALO
25.1%
23.2%
% FOLHA
19.9%
12.9%
% PANÍCULA
55.0%
63.9%
30 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
RESUMO E
conclusÕES
Fonte: Sorgo granífero
TABELA 5
Composição vegetal da
silagem de sorgo.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 31
FORRAGEM
Luís Queirós
Forage Additives Technical Support Manager
Lallemand Animal Nutrition
Acha que não é necessário inocular
a Silagem de Milho?
A realidade revela-nos o oposto – o problema da estabilidade aeróbica!
A utilização de um Inoculante na silagem de milho capaz de aumentar a
estabilidade aeróbica diminui significativamente as perdas de Matéria Seca.
De uma forma geral, podemos referir
que, no processo de ensilagem de
qualquer forragem, três parâmetros
exercem grande influência na qualidade
final da mesma, quer nutricional quer
fermentativa: teor de Matéria Seca da
FIGURA 1
Utilização de tecnologia infravermelha
(termografia) na detecção de problemas
de estabilidade aeróbica em silagens de
milho. A vermelho estão representados
os focos de maior temperatura.
forragem em verde, de Proteína Bruta
(PB) e de Açúcares Solúveis (HCS
– Hidratos de Carbono Solúveis). O
primeiro exerce influência direta nos
últimos dois, sendo que, geralmente,
uma fase mais avançada do ciclo de
maturação da planta de milho leva
a teores um pouco mais baixos de
Proteína Bruta e Açúcares Solúveis.
Essa influência é bastante mais notória
em forragens como erva e luzerna, por
exemplo, onde a fase de maturação da
planta e consequente teor de Matéria
Seca influencia dramaticamente o teor
de PB e HCS. É um facto que a cultura de
milho para silagem conjuga o melhor de
todos os factores:
• Matéria Seca geralmente equilibrada
(30-37%);
• PB em baixa percentagem (6-8%) –
este facto leva a uma baixa capacidade
tampão da forragem, isto é, uma baixa
capacidade da planta em manter o
pH inicial, sendo um factor benéfico,
pois queremos, durante o processo de
fermentação, uma descida rápida do
pH;
• Teor equilibrado em HCS (6-7%) –
o teor de HCS é o suficiente para
garantir, em condições ideais, uma
correta acidificação da forragem,
através da produção de Ácido Láctico,
inicialmente, e a posteriori, em caso de
aplicação de determinados inoculantes
(iremos ver mais à frente), Ácido
Acético e Propiónico.
32 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
No entanto, visto que nunca podemos
controlar a população epifítica de
bactérias, leveduras e fungos que
entram juntamente com a planta no
silo, a não ser que adicionemos um
Inoculante, a mesma apenas terá a
capacidade, e caso existam Bactérias
produtoras de Ácido Láctico, de
produzir este ácido. O Ácido Láctico
é realmente muito importante na
acidificação rápida da massa forrageira,
levando a pH baixo num curto espaço
de tempo, assim como um pH terminal
reduzido. O problema principal na
Silagem de Milho coloca-se, porém, a
posteriori, ou seja, após a abertura do
silo. A população epifítica não produz
Ácido Acético e Ácido Propiónico,
agentes anti-fúngicos essenciais para
impedirem que, após a abertura do silo,
a silagem aqueça, fruto da proliferação
microbiana. Torna-se decisivo então
a utilização de um inoculante que
contenha bactérias capazes de,
além de produzirem Ácido Láctico,
produzirem também Ácido Acético e
Ácido Propiónico. São estes ácidos
que permitirão aumentar a estabilidade
aeróbica, que é definida como o
número de horas que uma determinada
silagem se mantem estável após a
abertura, sem que aqueça. Quando a
temperatura se eleva mais do que dois
graus comparativamente à temperatura
ambiente, a estabilidade aeróbica
termina. Na silagem de milho, as
FORRAGEM
maiores perdas tendem a verificar-se na fase de abertura,
daí a importância da aplicação de um inoculante com
bactérias heterofermentativas, como é o caso do LALSIL
FRESH, que contém o Lactobacillus buchneri.
O aumento de temperatura no silo está diretamente
ligado às perdas elevadas de Matéria Seca que podem
ocorrer. Estas serão tão maiores quanto mais elevada for a
temperatura, dependendo também do teor de Matéria Seca
da planta.
Control
lb1
lactato, %
6,7d
6,0e
4,9f
Acetato, %
2,2c
3,6b
3,9a
recuperação ms.
95,2
95,1a
94,2b
est. aeróbica, h
24
33
468a
perdas diárias de matéria
seca (%)
20% M.S.
30% M.S.
50% M.S.
5
1,6
1,2
0,7
10
3,2
2,3
1,5
15
-
3,5
2,2
20
-
-
2,9
25
-
-
3,7
15ª Conferência Internacional de Silagem, 2009
As perdas de Matéria Seca dão-se, quase na sua
exclusividade, às expensas dos constituintes nutritivos mais
digestíveis, pelo que, além das perdas de Matéria Seca, a
Digestibilidade da Matéria Orgânica será também menor.
TABELA 4
Análise nutricional da silagem de milho, à abertura e fim do silo.
Análise de silagem
ph
alcool
propileno glicol
aumento de temperatura
DIG. MATÉRIA ORGÂNICA (%)
recuperação de EN-L (%)
Fresca
69
75
30-35
67
73
50-60
61
46
70-75
49
19
b
Foi efectuado em 2012/2013 um estudo bastante
interessante que revela claramente o efeito benéfico da
utilização do Inoculante Lallemand LALSIL FRESH na
diminuição das perdas de Matéria Seca. Este estudo foi
efectuado em França, numa vacaria de 75 animais, com 139
ha. A silagem de milho referente à campanha de 2012 foi
totalmente pesada à entrada dos silos, e à sua abertura e
posterior utilização, foi pesada toda a silagem retirada. A
renovação da frente do silo foi efectuada de forma adequada,
cerca de 15-20 cm por dia, em toda a frente. Mediu-se a
densidade da silagem de milho/m3, sendo o seu valor de 210
kg de MS/m3.
matéria seca
TABELA 2
Perdas na Digestibilidade da Matéria Orgânica e Recuperação de EN-L,
mediante o aumento de temperatura da silagem.
temp. na silagem (ºC)
b
lb2
29 ensaios publicados
LB1 ≤ 100,000 Cfu/g LB2 ≥ 100,000 Cfu/g
Fonte: Kleinschmit and Kung 2003
TABELA 1
Perdas de Matéria Seca diárias da Silagem, dependendo do teor de
Matéria Seca e aumento da temperatura da mesma.
Aumento de
temperatura na
Silagem, acima
da temperatura
ambiente (ºC)
TABELA 3
Estabilidade aeróbica da Silagem com diferentes concentrações de
L. buchneri.
A partir dos 35ºC o valor nutricional decresce.
Fonte: Kung et al., 2008
O Inoculante Lallemand LALSIL FRESH, específico
para silagem de milho, contém a bactéria patenteada
NCIMB 40788 Lactobacillus buchneri, e na concentração
de 300.000 CFU/g de forragem. É um facto que
a estirpe tem muita importância na escolha de um
inoculante, mas no caso desta espécie, a concentração
da mesma é também determinante, conforme revela
a tabela seguinte. A utilização de uma concentração
mais elevada de L. buchneri permite resultados mais
consistentes, acima de tudo em condições de ensilagem
exigentes.
unidades
abertura silo
(02/11/2013)
fim silo
(09/01/2013)
G/100G
35,9
33,5
-
4
3,6
G/KG
9,78
11,91
G/100G
2,2
2,4
Leveduras
1G
-
<10
fungos
1G
-
<10
Reduções importantes
de Perdas
As perdas de Matéria Seca
medidas em diversos
estudos referem o valor de
cerca de 16%, para densidades
de 210 kg MS/m3.
No entanto, as perdas reais
verificadas neste ensaio
foram bastante inferiores,
situando-se nos 5,9%,
revelando os efeitos claros do
Inoculante LALSIL FRESH.
Densidade, Kg
MS/m3
160
Perdas de MS aos
180 dias, da MS
colhida
20,2
192
18,2
210
15,7
255
15,1
285
13,4
340
10,0
Fonte: Ruppel, 1992
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 33
FORRAGEM
Recomendações finais
Perdas reais
vs Perdas
teóricas de
Matéria Seca
Entrada de oxigénio
No ensaio, o peso da silagem à colheita
foi de 203 tons de MS, e o peso à
saída do silo foi de 191 tons de MS,
perfazendo uma diferença de 12 tons.
A um valor médio de 120 euros/ton.
MS de silagem de milho, e com uma
diminuição das perdas de Matéria
Seca na ordem das 19 toneladas
(diferença entre 5,9 e 15,7% de perdas),
o agricultor recuperou mais de
2200 euros, sendo este o Retorno
do Investimento promovido pelo
Inoculante Lallemand LALSIL FRESH.
20
15
10
5
0
Perdas teóricas
de MS
Perdas reais
de MS
instabilidade
Este problema é causado
por uma entrada contínua
de oxigénio.
Este problema é causado pelo
processo de reaquecimento da
silagem, por exposição ao ar.
A curto prazo
A curto prazo
• Verifique a cobertura do silo (tape
orifícios e ajuste o plástico junto às
paredes do silo);
• Adicione peso acima do plástico;
• Renove diariamente a frente do silo.
• Acelere, se possível, a renovação diária do
silo;
• Não cubra a face do silo com o plástico;
• Mantenha peso no topo do silo,
principalmente junto à face de renovação.
A longo prazo (novo silo)
A longo prazo (novo silo)
• Melhore o processo de compactação
e cobertura do silo (mais peso, melhor
protecção lateral);
• Utilize uma barreira de oxigénio;
• Utilize um Inoculante específico para
a silagem de milho, e que contenha a
bactéria L. buchneri na concentração
ideal, como o LALSIL FRESH.
• Melhore o processo de compactação
e cobertura do silo (mais peso, melhor
protecção lateral);
• Utilize uma barreira de oxigénio;
• Utilize um Inoculante específico para
a silagem de milho, e que contenha a
bactéria L. buchneri na concentração
ideal, como o LALSIL FRESH.
Green Earth: o projeto para
um planeta mais verde
Muitos anos de experiência
e uma extensa pesquisa
ensinaram à Barenbrug quais as
culturas e misturas que podem
contribuir para o uso sustentável
e a gestão das gramíneas. A
Barenbrug tem feito esforços
para criar uma gestão das
gramíneas mais sustentável,
introduzindo o GreenEarth.
A Barenbrug formulou quatro
requisitos para as suas misturas
de gramíneas GreenEarth. Se
não cumprirem esses requisitos
não são elegíveis para receber
a marca de qualidade da
sustentabilidade GreenEarth.
Uma etiqueta GreenEarth
significa que a gramínea atinge
uma contagem muito elevada
em pelo menos um dos
seguintes aspectos:
• Reduzida utilização de água.
• Reduzida utilização de
fertilizantes.
• Reduzida utilização de
herbicidas e fungicidas.
• Reduzido corte.
Todas as culturas e misturas
com a marca de qualidade
GreenEarth foram testadas
de forma independente por
institutos de pesquisa em
todo o mundo. A Barenbrug
sabe como as suas variedades
crescem com menos água e
menos fertilizante, e exatamente
o quanto de biomassa que
essas variedades produzem.
Descobriu-se que entre
variedades, há uma diferença
significativa na produção de
folhas. Menor produção de
folhas resulta em menos cortes.
Os produtos Barenbrug com a
marca de qualidade GreenEarth
incluem Bar Fescue (Plus), Solide,
Bar Duo Bent e WaterSaver. No
desenvolvimento da GreenEarth,
a Barenbrug espera contribuir
positivamente para um planeta
verde em que as gerações
futuras possam ser capazes de
continuar a praticar desporto
e desfrutar de atividades
recreativas.
na Irlanda do Norte. A
produção desta gramínea
faz parte de um programa de
melhoramento que está em
curso atualmente a cargo da
AFBI e da Barenbrug.
No seu discurso, Johnston
diz: “Esta é a primeira
vez que uma variedade
de gramínea forrageira
A variedade Dromara
ganha pontos na Holanda
Foi adicionada uma nova
variedade de gramínea na
Lista de Recomendação
Holandesa de 2013. Esta
introdução foi anunciada
por David Jonhston, da AFBI,
referente à nova tetraploide
variedade de azevém perene
tardio chamada Dromara,
produzida em Loughgall,
34 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
atualidades
proveniente da Irlanda
do Norte foi adicionada
à Lista Holandesa. Isso
abre novos mercados para
os nossos programas
de melhoramento,
especialmente nos países
do Benelux.
Jonhston continua: “a
Dromara define um novo e
elevado nível de resistência
à ferrugem, a qual é um
atributo muito importante, na
Holanda. O crescimento de
primavera é excelente, com
altos rendimentos totais de
forragem de qualidade”.
David Johnston concluiu:
“Com os custos da
alimentação animal em
constante alteração, o valor
de gramíneas forrageiras
de alta qualidade é cada
vez mais apreciado pelos
agricultores holandeses e
isso irá conduzir uma forte
demanda comercial para
Dromara”.
forragens Barenbrug
dominam as Listas de
Recomendações oficiais
europeias
Sempre que uma lista oficial
de variedade é publicada,
as emoções ficam à flor
da pele. Embora se tenha
confiança de que as novas
variedades, exaustivamente
testadas, terão um bom
desempenho nos testes
oficiais, é importante obter a
“confirmação” dos institutos
de testes.
As variedades da Barenbrug
podem ser encontradas
na parte superior das listas
oficiais em cada segmento
importante. Nos últimos anos,
essas novas variedades
estabeleceram um novo
padrão na Europa.
O melhor exemplo é o
azevém perene, que domina
em países como a Alemanha,
a Irlanda e a Holanda.
A variedade Barpasto, um
azevém perene tetraploide
tardio, é o número 1 na
Alemanha para a produção
total e para o primeiro corte.
Já na Irlanda, duas variedades
diploides tardias, a Drumbo
e a Tyrella estão no topo da
Lista de Recomendação.
A posição da Barenbrug
na Holanda é ainda mais
esmagadora com a Dromara
sendo o azevém tetraploide
número 1 e a Barimero o
diplóide número 1.
O mesmo desenvolvimento
pode ser observado com
relação a outras espécies. A
nova variedade de festuca
alta folheada Bardoux é a que
exibe o maior rendimento
em França. A Adremo, uma
variedade de gramínea
forrageira das regiões
temperadas, extremamente
palatável, foi colocada no
topo da lista francesa. Em
luzerna, também a posição da
Barenbrug é tradicionalmente
forte, a nova variedade
Artemis supera toda a
concorrência.
A produção vegetal é um
processo a longo prazo, e
os primeiros resultados só
estão a começar a aparecer
agora, porém ainda há muito
mais por vir. A história por
trás deste sucesso é que os
estudos científicos feitos pela
Barenbrug implementam
novas técnicas e práticas
na produção vegetal há
longos anos. A Barenbrug
tem na sua mira o futuro
e tem projetados novos
lançamentos de listas
oficiais de variedades já nos
próximos meses.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 35
forragem
carlos flecha
Provimi Iberia - departamento de ruminantes
[email protected]
Acondicionamento
da SILAGEM de MILHO
Gestão e resolução de conflitos
escrito por Kurt Ruppel, Traduzido e adaptado por Carlos Flecha, Provimi Iberia
Conflito
Fazer a silagem de milho
antes que ela fique muito
seca e sem que chova pois
aí fica demasiado húmida.
O milho perde-se por
chuvadas fora de época
ou outros incidentes
meteorológicos.
Densidade
(lbs de MS/ft2)
MS perdida aos 180 dias
(% da MS ensilada)
10
20,2
14
16,8
16
15,1
18
13,4
22
10,0
Fonte: Ruppel, et al. JDS 78:141-153, 1995.
TABELA 1
Perda de matéria seca infuenciada pela
densidade da silagem.
É preciso tempo para embalar
corretamente a silagem, e o tempo
é um bem escasso nos dias de hoje.
Compreender tanto o que é necessário
para acondicionar corretamente e
as consequências de não o fazer é
fundamental para resolver o conflito.
A penalização para as bolas “frouxas”,
por baixa densidade da silagem de milho
é dupla:
1. Quebras de quantidade e valor
nutritivo;
2. Maior necessidade de espaço para o
armazenamento.
Quebras
Quando a silagem é feita, o oxigénio
é o inimigo. Silagem de milho picada
fresca é como um “bombom” de açúcar e
outros nutrientes valiosos, que bactérias
aeróbicas (os que requerem oxigénio)
rapidamente convertem em calor, dióxido
de carbono e água através de um
processo conhecido como respiração.
Conseguir a remoção do oxigénio, na
pilha da silagem de milho picada e fresca,
tão rápida e eficazmente quanto possível,
permite que as bactérias anaeróbicas
(que odeiam o oxigénio) da silagem
convertam o açúcar em “silagem ácida”
e assim permitam a preservação dos
restantes nutrientes.
Quando o oxigénio permanece na
silagem, possibilitamos que seja usado
na respiração, cuja consequência são
altas quebras do seu valor quantitativo e
qualitativo.
36 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
O valor destas quebras é muitas vezes
determinado pelas toneladas perdidas
vezes o valor da silagem.
No entanto, os nutrientes menos
valiosos são deixados para trás neste
processo. Aqueles que se perdem são
os mais valiosos, assim, o valor por
tonelada perdido é, na verdade, muito
maior do que o valor de todo o milho
para silagem.
Se tivermos 5.000 ton de silagem de
milho, valorizadas a 50 €/ton, uma
perda de 7% em MS corresponde a
um total de 17.500 €. No entanto, se
considerarmos esta perda, em termos
dos nutrientes perdidos, que podemos
valorizá-los em 200 €/ton, a perda é
ainda mais significativa, situa-se em
torno dos 70.000 €.
Necessidade de mais espaço
para armazenamento
O capital necessário para construir
blocos ou paredes para armazenar
silagem é um investimento
significativo. Se considerarmos o
valor do investimento por tonelada
de silagem armazenada facilmente
verificamos que aumenta quando a
densidade adequada não é obtida.
Continuando a usar, para efeito de
cálculo, as nossas 5.000 ton de
silagem de milho, se partirmos de um
silo com 20 pés (6 metros) de altura e
75 pés (22,8 metros) de largura, para
armazenar a nossa silagem com uma
forragem
densidade de Matéria Seca (MS) na ordem das:
a. 18 Libras (8,16 kg) por pé cúbico vamos precisar de 130 pés
de comprimento (40 metros);
b. 15 Libras (6,8 kg) por pé cúbico vamos precisar de 155 pés
de comprimento (47 metros);
c. 11 Libras (8,16 kg) por pé cúbico vamos precisar de 201 pés
de comprimento (61 metros).
NOTA: (1 pé cúbico = 0,028 metro cúbico)
Claro que subindo a pilha, ganhando o silo mais
em altura, não precisaremos de mais comprimento;
contudo estaremos simplesmente a aumentar as perdas
proporcionais. Fazer uma pilha sobre outra aumenta
as dificuldades, a exposição ao oxigénio, o tempo de
armazenamento e reduz a densidade.
Como resolver este conflito?
Resolução do conflito
Do acima exposto fica claro o interesse
em conseguirmos obter silagens com a
densidade adequada. Só assim poderemos
evitar as perdas provocadas pelas quebras de
quantidade, qualidade e pelas necessidades
acrescidas de capital para a construção.
São três os factores que mais afectam a densidade de silagem:
1. O tempo gasto na compactação e a relação entre o peso do
trator e a quantidade de silagem (trazida por carrada) para o
silo;
2. A espessura da camada solta de silagem sob as rodas do
trator;
3. A altura da pilha da silagem.
Na Tabela 2, estas relações bem conhecidas são calculadas
para um cenário de enchimento de silo na ordem das 70
ton/hora.
Profundidade
silo
camada
silagem
trator
capacidade de transporte
70K
50K
hr-lbs/ton
30K
429
1000
714
8’
6’’
16,3
13,9
11,5
12’
6’’
17,2
14,7
12,0
16’
6’’
18,2
15,5
12,8
8’
12’’
12,1
10,9
9,7
12’
12’’
12,8
11,5
10,2
16’
12’’
13,5
12,1
10,8
Quanto maior for o factor de enchimento, mais diminuto o
efeito da camada solta sob as rodas e mais alta a pilha, maior a
densidade da silagem alcançada.
O número utilizado para descrever o tempo de armazenamento
e o peso do trator em relação à velocidade de enchimento é o
da silagem hora-libras por tonelada.
Se estivermos a usar tratores que possibilitem adicionar carga
até 70.000 libras com uma velocidade de enchimento do silo
a uma taxa de 70 toneladas por hora, estaremos a conseguir
armazenar a silagem a 1.000 horas-libras por tonelada.
Na Tabela 2, poderemos ver que se conseguirmos atingir as
1.000 horas-libras por tonelada, poderemos alcançar silagens
com densidades de MS mais altas.
Com as taxas de enchimento de hoje, é mais viável e comum
atingir 800 horas quilos por tonelada no enchimento; sendo
razoável, constitui ainda um desafio em muitas situações.
Quando ficamos com taxas de enchimento de 100 a 200
ton/hora, é impossível colocar tratores suficiente na pilha
para chegar perto das 800 horas-libras por tonelada.
Coordenação dos tratores
Quando o ritmo de chegada dos camiões de silagem é de forma
a atingir as 700 horas-libras e, queremos evitar que o milho fique
em “espera” e exposto a qualquer perigo, pode ser necessário a
utilização de 3 a 5 tratores.
Tem que se espalhar cada carga finamente e rapidamente, a
fim de atingir as densidades de silagem necessárias para evitar
sérios custo adicionais à alimentação ao armazenamento.
Nas explorações de maior sucesso trabalha-se de modo
a espalhar cada carga finamente e rapidamente. Só assim,
conseguem atingir as densidades de silagem necessárias para
evitar o agravamento adicional dos custos com alimentação e o
armazenamento.
TABELA 2 - Densidade de matéria seca.
Fonte: Picado a 70 toneladas por hora; adaptado de Muck e Holmes (1999); por Ruppel.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 37
economia
entre a estabilização e a baixa
observatório
De momento, os cereais parecem atravessar um período
onde o que seria de esperar está a acontecer.
por paulo costa e sousa
A colheita de cereais praganosos está à
porta, não havendo por enquanto nenhum
motivo especial para preocupações sobre
o seu desenrolar. As previsões apontam
para uma boa colheita na generalidade
dos casos, tanto na Europa de Leste como
Ocidental, bem como nos EUA. Se bem que
as notícias de mau tempo tenham vindo a
ensombrar a Europa Central, tudo parece
ainda apontar para um pacífico início de
colheita.
Na vizinha Espanha, as perspetivas de uma
produção de cevada a rondar os 9 milhões
de toneladas (em 2012 situou-se abaixo
de 6 milhões), a par com uma produção
de trigo de 6.5 milhões de toneladas, farão
baixar drasticamente as importações de
cereais, afrouxando a procura na zona
Mediterrânica—, situação da qual Portugal
poderá beneficiar. Estamos assim numa
situação em que todo o mercado espera o
início das colheitas para que essa baixa se
possa materializar. Curiosamente, e apesar
de tão boas perspetivas, o mercado de
trigo forrageiro para a nova colheita parece
ter encontrado desde há algum tempo
um patamar, como que tivesse medo de
assumir essa boa perspetiva, possivelmente
porque a estes preços a procura asiática
parece dar um bom suporte.
Infelizmente, os padrões de chuva muito
perto da colheita podem fazer com que este
cenário mude drasticamente, não só em
quantidade, mas sobretudo em qualidade;
parece uma boa altura para acompanhar
muito de perto os boletins meteorológicos
das principais zonas de produção e tomar
as decisões de compra consoante o
desenvolvimento do padrão climático.
Quanto à outra estrela do mundo dos
cereais, o milho, este também não parece
para já afetado. As áreas semeadas, quer
nos Estados Unidos quer no resto do
mundo, se bem que atrasadas, não parecem
ter ficado drasticamente inferiores às
esperadas inicialmente, e com a ideia de
um Verão ameno, para já nada de particular
ameaça o seu bom desempenho. Mais uma
38 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
vez os mercados, apesar de terem tido em
consideração este fenómeno, não parecem
para já com muita vontade de baixar os
preços duma forma radical; a memória que,
por vezes é curta, parece desta vez reter
as imagens do ano passado; pelo que,
apesar de o milho já ter apresentado valores
interessantes para a nova colheita, estes
parecem de momento estacionados nos
mesmos níveis.
Nas proteínas, o tão ambicionado preço
baixo parece nunca mais chegar. Os
embarques difíceis da América do Sul
e as excelentes margens de extração
pelas empresas locais fazem com que
o bagaço importado nunca chegue a
preços consonantes com as expetativas.
Possivelmente esse dia chegará, mas não
está para amanhã. Teremos possivelmente
que ver as colheitas do hemisfério Norte,
bem como a chegada de bagaços do
Leste da Europa, para podermos ver
alguma movimentação significativa nestes
produtos.
economia
Evolução do preço de matérias primas (em Euros/tonelada)
Preços semanais de 14 de março 2011 a 21 de junho 2013
milho
cevada
€/ton
€/ton
17 a 21 de junho
17 a 21 de junho
trigo
bagaço de soja
€/ton
€/ton
17 a 21 de junho
€/ton
bagaço de colza
17 a 21 de junho
€/ton
bagaço de girassol
17 a 21 de junho
17 a 21 de junho
Fonte: www.revista-ruminantes.com
Evolução do preço do preço médio de alimentos compostos
para animais (em Euros/tonelada)
vacas leiteiras em produção
novilhos de engorda
€/ton
€/ton
meses
meses
Fonte: IACA
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 39
economia
perspetivas
do mercado leiteiro
observatório
por felipe de almeida
Fontes: USDA, INE, CLAL
A produção de leite na Europa atingiu o
seu pico sazonal no mês de Maio. Porém,
verificou-se que esse valor máximo é mais
baixo quando comparado com o mesmo
período produtivo do ano passado.
Os motivos principais para esse declínio
produtivo observado são: as más
colheitas de forragens, quer em termos de
quantidade, quer em termos de qualidade
das culturas forrageiras, os custos elevados
com a alimentação animal no que diz
respeito ao preço das rações industriais,
e o preço do leite. Esses factores não são
impulsionantes da produção leiteira. Mais
ainda, as condições climáticas, a saber uma
primavera com temperaturas baixas e níveis
de pluviosidade elevados, atrasou a entrada
dos animais nas pastagens e a alimentação
com forragens frescas dos animais em
produções intensivas.
Embora este último trimestre de 2013
não tenha dado indícios de melhorias, é
possível uma recuperação da produção
leiteira durante o segundo semestre do
corrente ano. Pode ser que até ao início do
verão a produção de forragem aumente.
É expectável que o preço do concentrado
e seus componentes sofram uma ligeira
baixa. Todos esses factores em conjunto
reúnem as condições para que a produção
leiteira europeia cresça, principalmente
com o aumento do preço do leite. Ao
contrário do observado em anos passados,
no primeiro trimestre de 2013 não se
verificaram preços de leite reduzidos. Na
esperança de melhorias económicas e
de um clima favorável, confia-se que a
produção leiteira europeia possa aumentar
no próximo trimestre. Porém, não se espera
que o poder de exportação da Europa siga
esse aumento.
Os EUA surgem num cenário paralelo
ao observado na Europa. A produção de
leite americano tem estado estagnada,
porém, prevê-se que ocorra um pequeno
desenvolvimento, acompanhado sempre
pelo declínio sazonal.
A Nova Zelândia e a Austrália são grandes
exportadores e o declínio da sua produção
leiteira, que tem vindo a ocorrer ao longo
de vários anos sucessivos, não consegue
ser impedida pelo mercado internacional.
Muito pelo contrário, verifica-se a mesma
tendência em muitos outros grandes
mercados exportadores mundiais. Com
isso, não se prevê que a Oceânia consiga
40 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
produzir volumes para exportação
significativos antes do final de setembro,
principalmente devido ao grande impacto
das secas que assolam estes países,
principalmente a Nova Zelândia.
Tendo em conta que, na generalidade
mundial, a produção leiteira diminuiu, não
é difícil de compreender que apenas é
possível um pequeno aumento nas trocas
internacionais de produtos lácteos. Tendo
em conta que a conjuntura de produção
mundial está em declínio e a diminuição do
poder exportador dos grandes produtores é
de se esperar que os preços dos produtos
láteos mantenham-se em altos níveis, pelo
menos até ao final do outono.
Portugal
Acompanhando o cenário mundial, a
produção leiteira em Portugal apresentou
decréscimos no segundo trimestre do
presente ano. Os custos de produção
mantêm-se elevados e o mesmo se
passa com os custos relacionados com a
alimentação animal.
O clima vivido durante esta primavera é,
por um lado, preocupante. A pluviosidade
economia
Leite de vaca recolhido
ton
180 000
170 000
160 000
150 000
140 000
130 000
mar 11
abr 11
mai 11
jun 11
jul 11
ago 11
nov 11
dez 11
jan 12
fev 12
mar 12
abr 12
mai 12
jun 12
jul 12
ago 12
set 12
out 12
nov 12
dez 12
jan 13
fev 13
mar 13
excessiva foi acompanhada do aumento dos caudais descarregados
pelas barragens, provocando várias situações de cheias. Essas
ocorrências resultam em atrasos nos trabalhos de preparação
dos terrenos para as sementeiras e plantações das culturas de
primavera/verão, prevendo-se uma diminuição da área total
semeada face a 2012.
Por outro lado, essa disponibilidade hídrica e o aumento das
temperaturas favoreceu o crescimento de pastagens e de culturas
forrageiras. Isso faz com que a utilização de concentrados para a
alimentação animal esteja quase e exclusivamente restringidas
aos sistemas intensivos, fazendo com que a utilização de palhas,
silagens e fenos se encontre dentro da normalidade.
Infelizmente, as previsões meteorológicas para os próximos meses
não são muito favoráveis. Um tempo frio e húmido pode diminuir
a qualidade das forragens e consequentemente provocar um
aumento no preço do concentrado, aumentando os custos de
produção e travando os avanços produtivos esperados.
Leite de vaca para consumo
ton
180 000
170 000
preço do leite
standardizado (1)
média dos
ultimos 12
meses (4)
Milcobel
35,84
31,97
Alois Müller
33,94
31,53
Humana
Milchunion eG
33,11
31,5
Nordmilch
33,11
31,44
bélgica
alemanha
Dinamarca
Finlândia
França
Arla Foods
33,65
34,46
Hameenlinnan
Osuusmeijeri
40,79
44,31
Bongrain CLE
(Basse Normandie)
32,94
33,23
Danone
32,80
33,40
Lactalis (Pays de la
Loire)
30,59
32,42
Sodiaal
33,48
33,51
Dairy Crest
(Davidstow)
32,66
35,35
First Milk
30,72
32,10
Inglaterra
Glanbia
35,04
31,48
Kerry
34,98
31,02
Granarolo (North)
40,24
40,49
Irlanda
Itália
Holanda
DOC Kaas
Friesland Campina
Preço médio leite (2)
Suiça
Emmi A.G.
33,23
35,36
34,16
33,95
44,93
46,73
Nova
Zelândia
Fonterra
30,33
29,60
EUA
EUA (3)
33,33
34,18
(1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes empresas
leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2) Média aritmética
(3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de células
somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar mais recente
140 000
130 000
leite à produção
Preços médios mensais em 2013
meses
33,57
33,64
Fonte: LTO
150 000
mar 11
abr 11
mai 11
jun 11
jul 11
ago 11
nov 11
dez 11
jan 12
fev 12
mar 12
abr 12
mai 12
jun 12
jul 12
ago 12
set 12
out 12
nov 12
dez 12
jan 13
fev 13
mar 13
preço do leite
(€/100kg)
abril 2013
2012
companhia
2013
países
160 000
eur/kg
teor médio
de matéria
gorda (%)
teor proteico
(%)
Contin.
Açores
Contin.
Açores
Contin.
Açores
abril
0,318
0,296
3,75
3,61
3,24
3,20
maio
0,,312
0,299
3,71
3,65
3,21
3,19
junho
0,294
0,287
3,66
3,71
3,18
3,11
julho
0,293
0,285
3,65
3,70
3,18
3,09
agosto
0,294
0,290
3,66
3,8
3,19
3,09
setembro
0,288
0,317
3,69
3,87
3,23
3,13
outubro
0,292
0,320
3,78
3,94
3,30
3,17
novembro
0,312
0,324
3,91
3,98
3,37
3,23
dezembro
0,312
0,323
3,91
3,97
3,33
3,20
janeiro
0,320
0,319
3,86
3,88
3,32
3,13
fevereiro
0,321
0,318
3,86
3,78
3,31
3,14
março
0,322
0,316
3,79
3,84
3,32
3,17
abril
0,337
0,312
3,75
3,73
3,27
3,21
Fonte: SIMA
Gabinete de Planeamento e Políticas
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 41
economia
antónio moitinho rodrigues
Investigador do International
Farm Comparison Network (IFCN)
[email protected]
explorações
leiteiras
perspetivas pouco animadoras
International Farm Comparison Network – Dairy Report 2012
O IFCN (International Farm
Comparison Network) é
um consórcio internacional
criado em 1997, coordenado
pelo IFCN Dairy Research
Center, centro de investigação
ligado à Universidade de Kiel,
Alemanha. Inclui investigadores
e consultores que desenvolvem
a sua atividade na área da
produção e transformação
de leite. Desde 2000 que
publica um relatório anual que
caracteriza o setor leiteiro a nível
mundial. O IFCN Dairy Report
publicado em outubro de 2012
caracteriza a fileira do leite em
91 países representando 97,5%
da produção mundial de leite
de vaca e de búfala. Portugal
faz parte deste consórcio
internacional desde 2007 por
intermédio do intercâmbio
técnico e científico com a Escola
Superior Agrária do Instituto
Politécnico de Castelo Branco.
Países maiores
produtores de leite
No sentido de tornar
comparável a produção de
leite entre os diferentes países
o IFCN criou um indicador
padronizado, o leite corrigido
para a energia (ECM), utilizando
a fórmula ECM = produção de
leite X (0,383 X % de gordura
+ 0,242 X % de proteína +
0,7832) / 3,1138. O IFCN Dairy
Report 2012 estima que em
2011 apenas 62% da produção
mundial de leite terá sido
entregue aos processadores de
leite. Os restantes 38% foram
consumidos nas explorações
ou vendidos informalmente.
Os 20 países maiores
produtores e transformadores
de leite representam 77,7%
da produção mundial e 78,4%
da transformação mundial de
leite. Os 5 maiores produtores
de leite foram a Índia, os
EUA, o Paquistão, a China e
o Brasil representando 45,6%
da produção mundial de leite.
Os 5 países que mais leite
processaram em 2011 foram:
EUA, Alemanha, China, França
e Índia representando 42,7% da
transformação mundial de leite.
com implantação internacional
que processa 3,0% da produção
mundial de leite. Seguem-se a
Dairy Farmers of America dos
EUA (2,4%), o Groupe Lactalis
(Parmalat) de França (2,1%), a
Néstle da Suíça (2,1%) e a Dean
Foods dos EUA (1,7%).
Custo de produção
de leite em 2011
Desde 2000 que o IFCN tem
vindo a comparar explorações
tipo em todo o mundo. Em 2012
foram analisadas, em termos
Top 20 dos países maiores produtores e transformadores de leite
(milhões de toneladas) (IFCN, 2012)
Top
20
Empresas que
processam mais leite
O IFCN Dairy Report 2012
mostra as 20 maiores
empresas, em termos
de volume de negócios,
associadas à transformação do
leite. No seu conjunto, aquelas
empresas processaram 24%
da produção total de leites
de vaca e búfala. Verifica-se
que 50% das empresas têm
origem na Europa, 30% nos
EUA/Canadá e 20% noutras
regiões do mundo onde se
inclui a Nova Zelândia (Oceania).
Metade das organizações são
cooperativas e a outra metade
são empresas privadas. A maior
transformadora mundial é a
Fonterra Co-operative Group,
organização Neozelandesa
42 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
económicos, 171 explorações
tipo localizadas em 61 regiões
de 51 países. A recolha
dos resultados foi feita por
investigadores dos diferentes
países e por investigadores do
IFCN Center em Kiel e a sua
validação ocorreu durante a
Conferência da IFCN realizada
em junho de 2012. Os custos da
produção de leite variaram entre
5 USD/100 kg em sistemas
extensivos de produção de leite
nos Camarões e 100 USD/100
kg numa exploração de média
País
1
India
2
EUA
3
Paquistão
4
China
5
Brasil
6
Alemanha
7
Fed. Russa
8
França
9
N. Zelândia
10
Reino Unido
11
Holanda
12
Turquia
13
Polónia
14
Argentina
15
Itália
16
México
17
Ucrânia
18
Austrália
19
Irão
20
Canadá
Produção mundial
Produção
de leite
(ECM)
Produção
de leite
Leite entregue
à indústria
(ECM)
Leite
entregue à
indústria
137,5
84,3
41,6
33,9
32,0
31,1
30,1
25,2
21,3
14,1
12,7
12,2
12,0
11,4
11,3
11,1
10,2
9,8
9,8
8,9
721,4
121,2
89,0
35,6
37,4
33,0
30,3
31,7
25,3
18,9
14,1
12,0
12,8
12,1
12,0
11,6
11,1
11,1
9,6
9,7
9,2
708,7
23,0
83,8
1,3
29,2
21,8
30,1
15,5
24,6
21,3
13,8
12,4
6,7
8,9
10,2
10,5
7,7
4,3
9,5
7,2
8,6
447
20,5
88,5
1,1
32,8
22,5
29,3
16,4
24,7
18,9
13,8
11,6
7,1
9,0
10,7
10,8
7,7
4,6
9,3
7,3
8,8
453,2
ECM - leite corrigido para a energia (ECM = produção de leite X (0,383 X % de
gordura + 0,242 X % de proteína + 0,7832) / 3,1138).
economia
dimensão na Suíça. A média de custos
em todos os países analisados foi de 45
USD/100 kg leite.
Os 51 países analisados podem ser
agrupados em: 1 - países com custos de
produção de leite inferiores a 30 USD/100
kg, Argentina, Chile, Peru, Indonésia,
Paquistão e países da África Central;
2 - países com custos entre 30-40
USD/100kg, Oceania, África do Sul, India
e alguns países do Norte de África e da
Europa de Leste; 3 - países com custos
entre 40-50 USD/100 kg, EUA, Brasil, Reino
Unido, Irlanda, Marrocos e Tunísia; 4 - países
com custos de produção superiores a 50
USD/100 kg, a maior parte dos países
da Europa Ocidental também a Polónia,
México, Colômbia, Israel, Jordânia, Irão,
Turquia, China, Japão e Coreia do Sul. O
Dairy Report 2012 refere que em 2011,
os custos de produção aumentaram em
média 5 USD/100 kg de leite, influenciados
pelo aumento em 38% dos custos da
alimentação animal, pelos fortes aumentos
dos salários dos trabalhadores nos países
emergentes e pelos aumentos nos preços
da energia e dos fertilizantes. Prevê-se
que em 2012, os custos de produção
aumentem 5% em relação a 2011 como
consequência dos elevados preços dos
alimentos para animais e dos aumentos
dos custos da energia e da terra. Como
o preço médio mundial do leite caiu 24%
entre janeiro a agosto de 2012, em relação
ao mesmo período de 2011, perspetivase uma diminuição na rentabilidade das
explorações leiteiras durante o ano 2012.
obtido pelo quociente entre o preço do
leite e o preço do alimento for inferior a 1,5
significa que a rentabilidade da exploração
pode estar ameaçada e se for igual ou
inferior a 1 estamos perante um indicador
insustentável, altamente desfavorável para o
sucesso económico da exploração.
Conclusão
Índice IFCN para os preços do
leite e dos alimentos
O indicador IFCN para o preço da
alimentação é um indicador chave que
recorre aos preços de duas matériasprimas muito utilizadas em todo o mundo
para a produção de alimentos compostos
para vacas leiteiras. O cálculo do preço
da alimentação obtém-se para um
concentrado tipo com 30% de bagaço
de soja e 70% de milho grão. O indicador
IFCN para o preço do leite é obtido a partir
dos preços do leite em pó desnatado e da
manteiga (35%), do preço do queijo e do
soro do leite (45%) e do preço do leite em pó
(20%). Para o IFCN, o resultado do quociente
entre o preço do leite e o preço do alimento
deverá ser igual ou superior a 1,5. Se o valor
O Dairy Report 2012 refere que desde
julho de 2012 o preço do concentrado
foi superior ao preço do leite, originando
um índice inferior a 1. Isto significa
que, a nível mundial, a economia das
explorações leiteiras tem estado sujeitas
a uma intensa e insustentável pressão
económica, situação que resulta dos
elevados preços da soja e do milho
no mercado internacional. O mesmo
documento sugere que as explorações
que utilizam elevados níveis de alimentos
concentrados na produção de leite
são as mais sensíveis ao aumento dos
preços das matérias-primas propondo a
maior utilização de forragens produzidas
na própria exploração como forma de
reduzir os custos da produção de leite.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 43
QUALIDADE
José Caiado
médico veterinário, Dairy consulting
[email protected]
QUALIDADE DA ÁGUA DE BEBIDA
PARA RUMINANTES
Que parâmetros de análise
pedir ao laboratório ?
PARTE 1
A água é um dos nutrientes mais
críticos necessários à produção
de leite. A água pode limitar a
produtividade e a saúde das vacas
leiteiras seja porque o maneio do
abeberamento é incorreto, seja porque
as suas características físico-químicas
e bacteriológicas interfiram com o
metabolismo animal limitando a
performance produtiva.
Um estudo muito interessante e
recente da Universidade de PennState
(EUA) verificou que em 25% das
explorações leiteiras a água de bebida
tinha pelo menos um problema
de qualidade. Os mais frequentes
diziam respeito aos teores de sódio,
cloretos e sulfatos. E mais importante,
concluiu que a produção de leite nas
explorações-problema era cerca de
10% mais baixa do que no grupo das
explorações cuja água se confirmou
ser de boa qualidade. Apesar da sua
importância para a produção e para
o bem-estar animal a qualidade da
água é muitas vezes não equacionada,
sujeita a controlo regular, e mesmo
esquecida quando surgem problemas.
É comum apenas pensarmos na
água quando um problema de difícil
diagnóstico bate à porta.
Todas as explorações pecuárias devem,
por imperativo legal, e pelas razões
acima expostas, dispor de análises
44 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
atualizadas da água de bebida sempre
que esta é proveniente de captações
próprias e não da chamada água da
rede de distribuição pública destinada
ao consumo humano.
A atual DGAV ( Direção Geral de
Alimentação e Veterinária) editou
no final de 2011 um Guia de Boas
Práticas intitulado “Água de Qualidade
Adequada para Alimentação Animal”
e que se encontra disponível em
www.dgav.pt . Trata-se de um
documento esclarecedor e de
grande ajuda destinado a toda a
fileira da produção pecuária e cuja
consulta recomendamos. Apesar
disto verifica-se da nossa prática
diária com produtores pecuários
observar resultados de análises de
água cuja diversidade de parâmetros
analisados é grande e, questão mais
grave, parâmetros que nem sempre
acrescentam valor real a uma correta
avaliação da qualidade da água
adequada ao abeberamento dos
animais.
Consultando o referido Guia da DGAV
observa-se uma enorme diversidade
de parâmetros utilizáveis para o
controlo regular da qualidade da água.
O Guia não especifica obrigatoriedade
para nenhum parâmetro concreto.
Caso todos eles fossem solicitados ao
laboratório o seu resultado teria um
custo exorbitante e descabido face às
necessidades objectivas da produção
e nem por isso poderiam ajudar mais
que um pacote de parâmetros básicos
e focados na espécie animal e/ou
modo produtivo em concreto.
Coloca-se então em termos práticos a
questão de saber qual o conjunto de
parâmetros de análise que em termos
de custo-benefício melhor ilustram
o efetivo controlo da qualidade da
água destinada aos ruminantes em
geral e darão bom cumprimento ao
espirito do legislador. Qual seria por
conseguinte o que eu designaria por
pacote básico (PB) de parâmetros
de análise que nos garante uma
informação abrangente, objectiva e
fiável da qualidade da água usada
numa exploração pecuária de
ruminantes?
Na tabela ao lado detalha-se uma
resposta a esta questão estando
a azul os parâmetros incluídos no
chamado PB considerado adequado
para os ruminantes em geral. Apenas
como informação orientativa o PB
terá um custo aproximado de 60 €
nos laboratórios nacionais privados
consultados. O custo aproximado da
análise individual ao cálcio, sódio,
potássio, magnésio e ao cobre é de
cerca de 7€.
No caso das vacas leiteiras em
QUALIDADE
concreto e sempre que existam
problemas metabólicos de difícil
resolução no chamado período de
transição pode ser adequado medir
e controlar os iões envolvidos na
quantificação da chamada Diferença
Aniónica-Catiónica da Dieta (DCAD).
No caso das explorações de ovinos
é recomendável associar ao pedido
do PB a determinação do cobre pois
a espécie ovina é muito atreita a
intoxicações por este elemento.
NOTA
*CUSTO: Custo aproximado
**DCAD-Diferença Aniónica-Catiónica da Dieta
AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DA ÁGUA PARA RUMINANTES
PARAMETROS DE QUALIDADE
pH
EFEITOS E/OU PERIGOS PARA A SAÚDE ANIMAL
Perturbações digestivas e da Eficiencia Alimentar
CUSTO*
2
Coliformes Totais UFC/100 ml Não quantificados.Parametro importante para a higiene da ordenha,etc
5.25
E.Coli UFC/100ml
Não quantificados
5.25
Clost. Perfringens UFC/100ml Não quantificados
5.25
Nitratos, ppm
Riscos de Toxicidade e menor fertilidade
7.5
Sulfatos, ppm*
Impacto sobre DCAD** e saúde na vaca em transição.Efeito laxativo
7.15
Cloretos, ppm*
Fezes mais húmidas.Impacto sobre o DCAD e a ingestão de água
7.15
Solidos Dissolvidos TT, ppm
Afecta sabor
4.5
Manganésio ( Mn ), ppm
Afecta sabor podendo reduzir ingestão de água
7.5
Ferro ( Fe ), ppm
Afecta sabor.Bloqueia outros minerais úteis.Depósito em equipamentos
7.5
Cálcio ( Ca ), ppm
Imapcto sobre DCAD.Calcificação de equipamentos
7.15
Potássio ( K ), ppm
Impacto sobre DCAD e saúde na vaca em transição
7.15
Magnésio ( Mg ), ppm
Impacto sobre DCAD e saúde na vaca em transição
7.15
Sódio ( Na ), ppm
Impacto sobre o DCAD.Fezes mais húmidas
7.15
Cobre ( Cu ), ppm
Potencial toxicidade em ovinos e vitelos aleitantes
7.1
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 45
PRODUÇÃO
Stress térmico
em vacas leiteiras
Com a chegada do verão e o aumento da temperatura do ar, surgem problemas
associados ao stress térmico, que têm um impacto negativo nos parâmetros zootécnicos
das explorações, nomeadamente quebras na produção, problemas reprodutivos e
doenças metabólicas.
por departamento técnico-comercial vitas portugal
Uma das definições de stress térmico é
o momento a partir do qual os animais
não são capazes de dissipar o calor
corporal excessivo de forma a manter
a temperatura corporal em valores
normais e ocorre quando os animais são
expostos a condições ambientais de
elevada temperatura/humidade.
Os bovinos reagem a estas mudanças
através de alterações fisiológicas
e comportamentais, como se pode
verificar no quadro ao lado.
Consequências do stress
térmico
As alterações, quer fisiológicas quer
comportamentais, têm consequências
negativas a nível da performance
produtiva e da performance reprodutiva
e levam a uma diminuição da imunidade
dos animais.
A performance produtiva dos animais
fica comprometida essencialmente
pelo facto de haver uma diminuição da
ingestão de matéria seca de 10 a 20%.
•cios pouco evidentes
•cios mais curtos
↓ GnRH e LH
↓ Secreção
estradiol
↓ taxa fertilização
↓ qualidade embrião
B.E.N.
Ambiente
uterino
comprometido
Morte embriinária
↓ Ingestão
Stress
Consequências do stress
térmico
46 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
alterações fisiológicas e comportamentais NOS BOVINOS
Fisiológicas
Comportamentais
Maior fluxo sanguíneo para a pele
Mais tempo levantados
Menor fluxo sanguíneo para os órgãos internos
Procura de sombra e vento
Aumento da sudorese
Diminuição da ingestão de matéria seca
Aumento da temperatura rectal
Aumento da salivação
Aumento da frequência respiratória
Aumento da ingestão de água
Alteração da fermentação ruminal
Alteração da fermentação ruminal
Havendo produção de calor resultante
da fermentação ruminal, a diminuição
de ingestão é uma das formas que os
animais têm de combater o aumento de
temperatura corporal. No entanto este
processo leva a que haja diminuição
da ruminação e da actividade ruminal,
contribuindo assim para uma perca
de eficiência alimentar e aumento do
risco de acidose ruminal. Este conjunto
de factores é responsável por quebras
de produção na ordem dos 15 a 25%,
chegando a 45% em casos extremos.
As elevadas temperaturas também
trazem problemas a nível reprodutivo. A
diminuição da ingestão e consequente
balanço energético negativo, levam a
uma diminuição da actividade hormonal,
tendo como resultado a diminuição
da duração e intensidade dos cios.
Para além disso, a acidose metabólica
resultante do aumento da frequência
respiratória e o aumento do amoníaco
sanguíneo resultante da alteração da
fermentação ruminal, vão comprometer
o ambiente uterino, havendo assim, um
aumento de mortes embrionárias.
As elevadas temperaturas também
comprometem o bom funcionamento do
sistema imunitário. Esta diminuição de
imunidade leva ao aumento dos valores
da contagem de células somáticas,
mamites, metrites e problemas de patas.
O aumento destes problemas sanitários
é ainda potenciado pela utilização de
aspersores, que aumenta os valores
de humidade nas explorações, criando
assim o ambiente ideal para o aumento
da população bacteriana.
As soluções Vitas Portugal
De forma a minimizar os efeitos do
stress térmico, os investigadores
do Grupo Roullier desenvolveram
VITACALOR, um alimento mineral da
gama VITACOMPLEX.
O VITACALOR tem como objectivo
combater a diminuição da ingestão de
matéria seca e fomentar a eficiência
ruminal, para que não haja diminuição
dos níveis produtivos e reprodutivos e
também para que o sistema imunitário
seja estimulado.
Na sua composição, o VITACALOR tem
um conjunto de substâncias tampão,
minerais, antioxidantes, protectores
hepáticos, óleos essenciais e extractos
de plantas.
De forma complementar, a administração
de um complexo de vitaminas é
fundamental neste período crítico. Assim,
o BETAVIT, um complexo de vitaminas,
aminoácidos e protectores hepáticos,
preenche as maiores necessidades que
os animais têm destes elementos quando
se encontram em situações de stress.
A Vitas Portugal continua a defender
uma busca permanente de novas e mais
adequadas soluções para os nossos
clientes. Para mais informações e
esclarecimentos, não hesite em contactar
o técnico Vitas mais próximo de si.
atualidades
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 47
PRODUÇÃO
Uso de técnicas reprodutivas
EM Vacadas de carne
Cada vez mais se fala do uso de técnicas reprodutivas em vacadas de carne e neste
momento muitos produtores questionam-se se vale a pena o investimento. Neste artigo,
para além de tentar responder a essa dúvida, vamos também apresentar algumas das
técnicas que temos ao nosso alcance, bem como expor um caso prático em que estas
foram aplicadas.
Exposição de um caso prático
O que é o que O produtor
tem a ganhar?
D’Orey Branco,R.
CIISA, Faculdade de Medicina
Veterinária de Lisboa, UTL.
Pissarra, L.
Sociedade Veterinária de Coruche
Stilwell, G.
CIISA, Faculdade de Medicina
Veterinária de Lisboa, UTL.
[email protected]
Portugal é um país altamente deficitário
na produção de carne de bovino, levando
a que se importe cerca de 48% da carne
que consumimos essencialmente de
Espanha, o que nos leva a pensar que há
um mercado com margem de progressão
por explorar. É portanto urgente produzir
mais, o que passa pelo melhoramento
das performances reprodutivas dos
nossos efectivos de carne. Tal só será
possível através de um controlo apertado
dos índices reprodutivos, aplicando
medidas de maneio reprodutivo, como
48 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
o diagnóstico de gestação precoce, o
diagnóstico e tratamento de casos de
subfertilidade, o refugo de animais inférteis
e a manutenção de registos fiáveis. Para
além disso estão hoje já disponíveis várias
técnicas reprodutivas, como por exemplo,
a sincronização de cios, a inseminação
artificial e a transferência de embriões ou a
fecundação in vitro, que são uma realidade
à disposição do produtor por preços muito
acessíveis e com resultados bastante
interessantes.
O produtor, ao aplicar este tipo de técnicas,
PRODUÇÃO
está a aumentar o número de partos por
ano, reduzir os intervalos entre partos,
criar sazonalidade de partos e melhorar
a genética dos efectivos. Conseguirá
também conciliar o início da lactação
com a altura de melhores pastagens e
descartar animais considerados inaptos
reprodutivamente, o que é uma mais-valia
para a exploração, pois estes animais
estarão a usufruir de um espaço, alimento
e água que poderiam ser usados por
outros efectivamente produtivos. Com
estas técnicas os produtores têm também
a possibilidade de trabalhar com lotes de
vitelos mais uniformes em idade e peso, o
que facilita o maneio e confere um maior
poder comercial. Todas estas vantagens
traduzem-se em maior ganho financeiro
porque passamos a ter mais vitelos por
ano, lotes de maior valor comercial e menor
número de animais não produtivos.
A sincronização de cios consiste na
manipulação da cascata de hormonas
reprodutivas com o propósito que fazer
com que um grupo de fêmeas entre em
cio simultaneamente e num momento
previsível. Assim, podemos gerir melhor o
rácio touro-vacas e até resolver algumas
das mais comum patologias reprodutivas,
como os quistos ováricos, ou fazer com
que vacas que se encontram paradas
reprodutivamente (em anestro) iniciem a
sua actividade.
A inseminação artificial é talvez a técnica
reprodutiva mais utilizada, sendo hoje
em dia uma actividade de rotina em
explorações de leite de bovino ou em
explorações de suínos. As suas vantagens
são diversas, mas devemos realçar o
melhoramento genético, a menor incidência
de doenças sexualmente transmissíveis e
uma mais fácil gestão da época reprodutiva.
No seguimento deste ideal foi
desenvolvido um projecto de investigação
para sincronização e inseminação artificial
a tempo definido, numa parceria entre a
Faculdade de Medicina Veterinária (UTL)
e a Associação de Criadores de Bovinos
de Raça Alentejana, com o propósito
de perceber a viabilidade económica da
aplicação destas técnicas nas vacadas
dos seus associados. Para este estudo,
que decorreu entre Setembro de 2012 e
Fevereiro de 2013, foram usadas 105 vacas
e 78 novilhas de idade superior a 15 meses
de Raça Alentejana, de 7 explorações dos
concelhos de Portalegre e Elvas. O número
de vacas por exploração oscilou entre os 10
e os 50 animais, com maneio e condições
da pastagem bastante diferentes, embora
todos esses parâmetros fossem sempre
considerados aceitáveis.
Numa primeira fase as vacas foram alvo de
um exame ginecológico ecográfico para
despiste de malformações/patologias, o
que conduziu à exclusão de alguns animais.
Os animais seleccionados para o estudo
foram classificados quanto à condição
corporal (bastante variável) e foi-lhes
administrado um composto vitamínico e
mineral (Vit. A,D,E + selénio). Ao produtor
foi pedido para iniciar uma suplementação
alimentar (flushing) com tacos de luzerna.
Após um período de 10-15 dias, foi iniciado
o protocolo (Dia 0) de sincronização com a
administração de GnRH (Receptal® - MSD) e
a introdução de um dispositivo intra-vaginal
(CIDR® - Zoetis ) Cerca de uma semana
(Dia 7) mais tarde, foi retirado o dispositivo e
administrado PGF2α (Dinolytic® - Zoetis ) e
ECG ( Intergonan® - MSD).
Quarenta e oito horas (no caso de novilhas)
ou 52 horas (no caso das vacas) após
retirada do dispositivo intravaginal, foi
administrada uma nova dose de GnRH
(Receptal® - MSD) e os animais foram
inseminados.
Decorridos 15 dias do dia da inseminação
foi introduzido nas respectivas manadas
um toiro de varrimento com o propósito
de cobrir as vacas que não ficaram
gestantes da I.A. Cerca do dia 60 após a
inseminação foi feito um exame ecográfico
para diagnóstico de gestação, podendo
ser confirmadas as vacas que ficaram
gestantes da I.A. ou do toiro.
Os valores do diagnóstico de gestação
global foram 70,5% (129 vacas gestantes),
sendo que 43,5% foram fruto da
inseminação e 27% do toiro de varrimento.
A taxa de gestação de 70,5% pode ser
considerado um excelente resultado
tendo em conta que só avaliámos as
gestações decorrentes de dois cios
(o da IA e o seguinte). Em contraste,
os valores de gestação por IA foram
bastante discrepantes entre explorações,
oscilando entre os 28% e 60%. A razão
para estas diferenças deve ser avaliada
com cuidado no sentido de perceber o que
pode influenciar a fertilidade em grupos
tão semelhantes. Interessantemente,
verificámos que os casos de menor
sucesso de IA apresentavam, à ecografia,
tempos de gestações que não coincidiam
com as datas de qualquer um dos
supostos estros, o que nos leva a suspeitar
da ocorrência de reabsorção embrionária.
Estas reabsorções embrionárias podem
ter múltiplas causas, mas cremos estarem
relacionadas com factores de stress, visto
estes animais terem sido sujeitos a uma
intervenção sanitária dentro de um período
crítico para a implantação do embrião
(antes dos 17 dia pós-IA).
Um dos maiores sucessos deste estudo
foi a eficácia do protocolo de sincronização,
já que de um total de 183 animais
sincronizados 178 apresentavam-se em cio
no momento da IA (97%). Dos cinco animais
que não estavam em estro, três estavam na
fase de pró-estro, um apresentava sinais de
vaginite e apenas um apresentava ováricos
atrésicos que não tinham respondido
ao tratamento hormonal. Foi possível
também confirmar que todos os animais
que apresentavam quistos ováricos, quer
luteínicos quer foliculares, responderam
ao tratamento hormonal tendo aqueles
regredido entre os dois exames.
Neste momento ainda não é possível
apresentar a taxa de gestação no final da
época reprodutiva, mas, considerando os
valores dos dois primeiros cios, julgamos
que aquela andará muito próximo dos 95%
de animais gestantes. Os animais que não
ficarem gestantes num prazo limitado serão
refugados, pois um dos objectivos deste
tipo de intervenção é garantir a melhor
gestão dos recursos e a manutenção
apenas das boas reprodutoras.
Concluí-mos, portanto, que é bastante
vantajoso para o produtor recorrer a este
tipo de programas por forma a extrair mais
rentabilidade da sua exploração, mas não
só, pois permite também ao produtor ter
consciência do real estado produtivo da
sua exploração bem como ter um maior
controle sobre esta. Foi notório que a
aplicação de técnicas reprodutivas em
explorações de carne, nomeadamente a
sincronização e a inseminação artificial
a tempo fixo, permite obter taxas de
gestação significativas. Um adequado
maneio alimentar, uma prévia avaliação
ginecológica e uma correta aplicação
do dispositivo permite antecipar boas
performances e garante uma quase total
ausência de complicações. Os nossos
trabalhos sugerem ainda que factores de
stress numa fase precoce da gestação
podem comprometer o sucesso do
protocolo.
Agradecimentos:
CIISA - Centro de Investigação Interdisciplinar em
Sanidade Animal
A.C.B.R.A. - Associação de Bovinos de raça Alentejana
Zoetis Portugal
MSD Portugal
SVC - Sociedade Veterinária de Coruche
Fotografia de:
Martha d’Andrade
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 49
SOLOS
importância da matéria
orgânica no solo
Parece um pouco desnecessário relembrar aos agricultores, que lidam no campo, dia a
dia, a importância da matéria orgânica no solo, mas infelizmente a fertilidade do solo é um
recurso escasso que tem vindo a ser silenciosamente delapidado, e que coloca em risco a
longevidade das explorações agrícolas.
david catita
criador limousine, serpa - portugal
[email protected]
Comemorou-se recentemente o dia
mundial de combate à desertificação, e
apesar deste termo ser usado para muitos
temas, importa refletir sobre o aspeto
que diz respeito à agricultura, a perda de
fertilidade que os terrenos agrícolas vão
sofrendo com a intensificação das práticas
agrícolas. A utilização dos nutrientes
do solo não tem sido sustentável, uma
vez que as culturas extraem dezenas
de nutrientes diferentes e os adubos
minerais apenas repõem dois ou três, ou
seja, em bom português, estamos a retirar
mais do que repomos, o que resulta num
desequilíbrio, reduzindo gradualmente
a capacidade da terra em responder
satisfatoriamente às exigências das
culturas. Isto é desertificação agronómica.
Comecemos pelo estrume produzido
pelos ruminantes, que representa um
valioso retorno de nutrientes ao solo.
Como se sabe hoje em dia, raras são
as vacadas ou os rebanhos que não
são desparasitados, e em resultado
50 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
da aplicação da generalidade dos
desparasitantes ficam no organismo
de cada animal, durante vários meses,
substâncias ativas que matam os
parasitas, e que são excretadas pelas
fezes durante esse período. Estas
substâncias, mesmo após a saída do
animal, mantêm a sua eficácia, e matam
os organismos que são responsáveis pela
reciclagem natural dessa matéria orgânica
para o interior do solo, entre os quais
escaravelhos e minhocas, desde sempre
associados à fertilidade, o que se revela
altamente negativo.
Sem o trabalho desses organismos do
solo as fezes ficam intactas á superfície
do solo, expostas ao sol, e acabam por
oxidar e perder toda a sua riqueza.
Se este é o seu caso aqui está a
primeira forma de evitar a perda de
fertilidade da sua terra. Já existem, hoje
em dia, desparasitantes à base de
moxidectina, tão ou mais eficazes que os
convencionais, mas que não matam os
organismos do solo, como escaravelhos e
minhocas, permitindo que a reciclagem da
matéria orgânica ocorra e que os prados
vão sendo adubados naturalmente.
Para além desta existem outros tipos
de matéria orgânica nas explorações
e que podem também ser utilizadas
como fertilizantes para promover a
produtividade das culturas, reduzindo
os custos de adubação. Para produção
de um composto orgânico apenas é
necessário que se equilibre a relação
carbono/azoto, misturando resíduos
de origem vegetal, como palhas velhas,
folhas de oliveira e restos de culturas, que
são ricos em carbono, com resíduos de
origem animal, como estrumes, chorumes
ou lamas de lagoas de decantação, que
são ricos em azoto, possibilitando assim
que ocorra a compostagem, em que toda
a mistura aquece e se degrada, para que
o material resultante esteja estabilizado e
SOLOS
pronto a ser aplicado no solo e
absorvido pelas raízes.
Com este processo reutilizamse nutrientes que de outra
forma se perderiam, poluindo
a água ou a atmosfera, e
devolvem-se ao solo muitos
elementos que não vêm na
composição dos adubos,
e que são essenciais,
como os micronutrientes.
A incorporação de matéria
orgânica no solo aumenta
também a retenção de água
e nutrientes, equilibra o pH
e a temperatura, facilita o
arejamento, aumenta a sua
plasticidade, evitando gretas
e acima de tudo alimenta a
vida do solo, possibilitando
a existência de uma
numerosa comunidade de
microorganismos, que mantêm
o solo fértil e aumentam a
taxa de reciclagem natural de
elementos orgânicos.
Por último, e apesar de
existirem muitas formas de
reciclar matéria orgânica, e de
promover a fixação de carbono
e azoto, não poderíamos
deixar de referir a instalação de
pastagens com leguminosas
inoculadas com rhizobium,
possibilitando elevadas taxas
de fixação de azoto, que é o
elemento maioritário do ar,
mas que é raro e valioso no
solo. Assim, estas leguminosas
promovem um aumento
considerável da produção de
erva e da proteína, uma vez
que produzem parte do seu
próprio adubo, permitindo
também, reduzir ou anular a
utilização de adubos azotados,
e fixando azoto no solo, que
possibilita a degradação
de carbono com criação de
matéria orgânica, resultando
em maior fertilidade.
É assim crucial a adoção
de estratégias dentro das
explorações que promovam a
Agro-indústria
alimentos
Resíduos
de culturas
Pecuária
fertilização
correctivo
orgânico
pilha de
compostagem
RECICLAGEM DE SUBPRODUTOS E REUTILIZAÇÃO
no processo produtivo
utilização eficiente dos seus
recursos naturais, reciclando
o que tem aproveitamento
e reduzindo o que tem de
comprar.
No futuro apenas existirá um
tipo de explorações pecuárias.
Serão aquelas que se
preocuparam atempadamente
em ser sustentáveis, quer
em termos económicos, quer
em termos ambientais. Cabe
agora a cada agricultor fazer a
escolha correta.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 51
atualidades
Concurso Nacional da
Raça Limousine
O 25º Concurso Nacional
da Raça Limousine terá
lugar, como habitualmente,
na FACECO, Feira das
Atividades Culturais e
Económicas do Concelho
de Odemira, que acontece
em S. Teotónio, perto da
Zambujeira do Mar, de 19 a 21
de julho.
O Concurso Nacional da
Raça Limousine é a maior
exposição monográfica
da raça a nível nacional e
decorrerá durante toda a feira
reunindo criadores de todo
o país, e contando com mais
de 160 animais.
Neste evento estão
organizadas secções de
fêmeas e de machos,
organizados por idades,
que decorrem na sexta e no
sábado, realizando-se no
domingo os campeonatos
gerais, com os dois melhores
animais de cada secção, para
definição dos campeões e
vice-campeões do concurso,
bem como o melhor animal
de inseminação e o prémio
29º Simpósio Alltech
O 29º Simpósio Internacional
Anual da Alltech realizou-se
no passado mês de Maio, em
Lexington, Kentucky, EUA. Sob
o tema “Vislumbre: o futuro
em 2020” foram apresentadas
muitas palestras interessantes
que tiveram como temática
central o agronegócio e
soluções possíveis para
superar o desafio de produzir
alimentos suficientes para
alimentar nove bilhões de
pessoas até 2050. Este
simpósio foi assistido por
2300 participantes de 72
países diferentes.
Um dos temas apresentados
referiu-se às mais recentes
aplicações de algas na
pecuária e nutrição humana,
apresentado por Rebecca
Timmons, Diretora Global
de Aplicações de Pesquisa
e de Qualidade da Alltech.
Outro palestrante, Patrick
Wall, University College
Dublin, na Irlanda, salientou
a importância da segurança
alimentar na alimentação
duma população mundial
em crescimento. Por sua vez,
Mark Lyons, Vice-Presidente
de Assuntos Corporativos
da Alltech também destacou
a importância da segurança
alimentar, partilhando a visão
da empresa em ajudar a
expandir a produção agrícola
na China, onde há muito a
52 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
de família, no qual concorrem
conjuntos de cinco animais
filhos do mesmo touro
Limousine.
Todos os animais vão
a ringue à arreata,
conduzidos por um tratador,
demonstrando a elevada
docilidade da raça Limousine.
Algumas das fêmeas
presentes encontram-se
paridas, possibilitando aos
visitantes confirmarem ao
vivo a forte capacidade
leiteira das fêmeas e o
pequeno tamanho das
crias, o que resulta na
elevada facilidade de parto
da raça Limousine e no
rápido crescimento destes
formidáveis animais ao longo
da sua vida.
Não perca o mais importante
concurso da raça Limousine
em Portugal, e aproveite
para disfrutar de uma região
fértil em riquezas naturais,
como as formidáveis áreas
agrícolas, as excecionais
praias e a notável
gastronomia.
REBECCA TIMMONS
fazer no tema da segurança
alimentar e em que a Alltech
pretende desempenhar um
papel ativo. O fundador e
presidente da Alltech, Dr.
Pearse Lyons desafiou os
delegados a ajudar o agricultor
do futuro a usar os recursos,
ideias e soluções fornecidos
durante o evento deste ano.
No total, 175 palestrantes no
Simpósio, 20 sessões e 22
jantares temáticos focaram
como o agronegócio pode
superar o desafio de produzir
alimentos suficientes para
alimentar três mil milhões de
novos moradores urbanos, ou
nove bilhões de pessoas no
total até 2050.
Para mais informações, incluindo
agenda completa com tópicos e
palestrantes, visite:
www.alltech.com/symposium
atualidades
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 53
atualidades
projeto
AnimalChange
por david catita
O aumento gradual da consciência
ambiental no mundo, em especial no
contexto das alterações climáticas e do
aquecimento global, tem criado alguma
resistência da opinião pública em relação
aos ruminantes, em resultado da produção
de gás metano, que apresenta um poder
potenciador do efeito estufa, vinte vezes
superior ao dióxido de carbono.
Apesar do metano ser produzido por
diversas atividades humanas, entre as
quais se incluem a decomposição de
lixos e esgotos, a exploração de carvão
e gás natural, a queima de biomassa, o
cultivo de arroz, entre outros, a produção
de metano pelos ruminantes, em especial
pelo gado bovino, tem sido usada como
arma de arremesso por diversas entidades,
importando analisar e desmistificar esta
temática, com profundidade.
A produção de metano pelos ruminantes
resulta do processo de ruminação, saindo
pela boca do animal, e não através de
flatulência do processo digestivo, como
erradamente se possa pensar. A sua
produção está naturalmente ligada à
tipologia de alimentação, e pode ser
minorada com o objetivo de tornar o
processo ambientalmente mais favorável.
É importante salientar que a atividade
pecuária representa um importante
sumidouro de carbono, através da
incorporação de matéria orgânica no
solo, que aumenta a fertilidade deste e
consequentemente o sequestro de carbono
através da vegetação, resultando num
balanço positivo em relação ao metano
produzido. É contudo importante aprofundar
estas temáticas para que a opinião pública
possa ser devidamente esclarecida,
evitando a criação de mitos que sejam
prejudiciais ao sector dos ruminantes.
Surge assim com bastante relevância
um Projeto Europeu denominado
AnimalChange, que pretende explorar
esta temática e proporcionar uma visão
esclarecida do futuro do setor da pecuária
em função das mudanças climáticas.
O projeto AnimalChange pretende assim
alcançar os seguintes objetivos:
• Reduzir as incertezas sobre as emissões
de gases com efeito estufa (GEE) de
sistemas pecuários;
• Incluir a variabilidade climática como parte
da avaliação de impacte ambiental;
• Desenvolver tecnologias de ponta para
a mitigação e adaptação às mudanças
climáticas;
• Avaliar os custos económicos e sociais
das atividades envolvidas e da adaptação
a cenários de mitigação;
• Avaliar a vulnerabilidade dos animais às
alterações climáticas e feedbacks sobre
as emissões de GEE;
• Fornecer apoio direto para a criação
de políticas de mitigação e adaptação
às mudanças climáticas para o setor
pecuário;
• Criar consensos entre as partes
interessadas, através da organização
de simpósios, formação de cientistas,
técnicos e decisores políticos e formando
uma rede para divulgação dos avanços
científicos obtidos com o AnimalChange.
No recente Fórum Sustaurusvet, realizado
em Lisboa no passado mês de maio,
dedicado a debater o setor bovino nacional,
um dos intervenientes brasileiros no evento
apresentou um gráfico relativo à diferença
na produção de metano por quilograma de
carne, entre 1988 e 2007.
Importa analisar a utilização falaciosa
deste argumento, uma vez que apenas
refere a diferença de produção, e não a
produção em quantidade absoluta, servindo
como forma de promoção da carne de
alguns países, junto de um público menos
esclarecido.
A formação de gases de ruminação no
organismo dos animais é menor se a
alimentação for mais rica em ração e menos
rica em erva e feno, uma vez que o metano
surge, sobretudo, através da digestão, por
bactérias archaea, da celulose originária
dos alimentos verdes. Assim, é natural que
a recente industrialização da produção de
bovinos em países como o Brasil, Uruguai,
Índia, entre outros, tenha resultado num
aumento da alimentação dos bovinos
com rações, importando, contudo, avaliar
em simultâneo o impacte ambiental das
enormes extensões de floresta substituídas
por campos de produção de milho e soja,
para produção dessas mesmas rações.
Em suma, muitos argumentos podem
ser levantados nesta importante e atual
discussão, importando sublinhar a
relevância da criação de um projeto europeu
dedicado exclusivamente a esta temática,
que deverá ser protegido e apoiado pelas
entidades dos diversos países europeus
com pecuária, de modo a evitar o aumento
da ideia errada de que os ruminantes são
prejudiciais para o ambiente, antes que seja
tarde de mais.
Por último, importa referir que entre as
diversas entidades envolvidas neste
projeto, apenas existe uma entidade
portuguesa, a empresa produtora de
sementes Fertiprado, sendo uma das duas
únicas empresas privadas a participar
neste importante projeto, demonstrando
o reconhecimento e o elevado contributo
técnico-científico e ambiental que a
Fertiprado tem dado, não só à agricultura
portuguesa, mas também à agricultura
europeia e mundial.
DIFERENÇA NA PRODUÇÃO DE METANO
por quilograma de carne (1988-2007)
7,65%
10%
0,31%
5%
0%
-5%
-10%
-8,87%
-15%
-20%
-7,23%
-14,82%
-25%
-30%
1,85%
-29,41%
-21,57%
-21,34%
Índia
Canadá
-26,79%
-35%
Brasil
Uruguai
Fonte - Mazza Meyer (2010) - adaptação de dados FAO
54 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
EUA
Argentina Austrália
Nova
União
Paraguai
Zelândia Europeia
atualidades
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 55
Atualidades
Sobre
a cetose
subclínica
Está demonstrado que a
cetose subclínica afeta
mais de 30% de vacas
leiteiras, com algum
grau de diferença entre
explorações.
As vacas com cetose
subclínica ou em risco do
seu desenvolvimento, têm
mais probabilidades de
sofrer de deslocamentos
do abomaso, retenção
de placenta, metrites,
quistos ováricos e
por conseguinte, mais
possibilidade de serem
refugadas.
As vacas com cetose
subclinica têm menor
índice de concepção,
intervalos entre partos
mais compridos e
produzem menos
quantidade de leite.
As perdas relacionadas
com a cetose subclinica
podem chegar aos 600€
por vaca afectada.
Inovação na prevenção
de cetoses
A Elanco lançou no dia 10 de Maio em
São Miguel Açores e no dia 24
de Maio no XV Congresso da
Associação Portuguesa de Buiatria
em Ílhavo uma solução para a
prevenção de cetoses em vacas
leiteiras.
No passado dia 10 de Maio,
a Elanco realizou, em São
Miguel, no Hotel Marina
Atlântico, um Simpósio de
Lançamento subordinado ao
tema “Cetoses em Vacas de
Leite”.
Este simpósio contou com
a colaboração de vários
palestrantes. Na abertura,
José Caiado (Médico
Veterinário, Nutricionista)
abordou o tema da nutrição
e saúde no período de
transição da vaca, debatendo
assuntos como a nutrição
versus alimentação,
alterações metabólicas
na altura do parto, cetose
primária e secundária entre
outros. Seguidamente, Tiago
Teixeira (Médico Veterinário
da Elanco) palestrou sobre
a problemática da cetose
subclínica em vacas leiteiras,
o custo da mesma numa
exploração e a necessidade
de monitorizar e prevenir esta
alteração metabólica. Por fim,
56 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
Vanessa Sousa
apresentou
o Kexxtone®,
a nova solução
da Elanco para prevenir as
cetoses em vacas de leite e
novilhas.
A cetose nas vacas leiteiras
pós-parto pode ser comum,
mas muitas vezes os casos
subclínicos não se detetam
e as consequências resultam
em custos dispendiosos. A
cetose tem consequências
negativas sobre a eficiência
reprodutiva, a produção de
leite e a saúde das vacas,
resultando num custo
elevado podendo alcançar os
600€ por vaca afetada.
O Kexxtone® é a primeira
solução de prescrição
médico-veterinária para
reduzir a incidência de
cetoses nas vacas leiteiras
e novilhas, devendo ser
administrado como parte
do protocolo de maneio
das vacas no período de
transição, aproximadamente
3 semanas antes do parto.
O Kexxtone® é um bolo
intra-ruminal que contém 12
comprimidos de monensina
de libertação lenta. Um único
bolo atua durante 95 dias
protegendo a vaca durante
o período mais crítico ao
aparecimento de cetose.
O Kexxtone® é uma solução
que permite controlar
todo o período de balanço
energético negativo da vaca,
reduzindo assim o risco de
desenvolvimento de cetose.
Nos desafiantes tempos que
vivemos atualmente, tornamse estratégicas as decisões
que visam a melhoria
da competitividade das
explorações, nomeadamente
através da redução dos
custos de produção e
da maximização da sua
eficiência produtiva.
O que aconteceria se um terço
das vacas dos seus produtores
tivessem um s€gr€do?
A cetose oculta não se vê, mas existe. Estudos recentes indicam que pode afetar
aproximadamente 30% das vacas, inclusive em explorações com um adequado
maneio.
Enquanto não se manifesta com sintomas visíveis, provoca custos. A cetose oculta é prejudicial
para a saúde das vacas, para o rendimento reprodutivo, para a produção de leite e a sua qualidade.
Pode trazer custos, desde 250€ até 600 € por vaca.
O Keto-Test é uma prova de leite rápida e fácil que ajuda os produtores
a controlar esta ameaça oculta na sua exploração. E nós podemos
ajudá-lo, dando-lhe recomendações e proporcionando ferramentas
para o controlo integral da exploração.
Para obter informações acerca da possibilidade em oferecer
um serviço de mais valia aos seus produtores, entre em contacto
com um representante da Elanco.
A etiqueta de Keto-Test contém toda a informação sobre a sua utilização, incluindo as advertências.
Leia, compreenda e siga sempre as instruções de manuseamento e a etiqueta.
Prevalência de cetose: Macrae, A.I. y col. Prevalence of clinical and subclinical ketosis in UK dairy herds 2006-2011. Congreso Mundial de Buiatría, Lisboa, Portugal, 2012;
Auditoria numa exploração da Elanco, 2011, n.º GN4FR110006. Dados arquivados.
Redução na quantidade de leite: Ospina 2010. Association between the proportion of sampled transition cows with increased nonesterified fatty acids and ß-hydroxybutyrate and disease incidence, pregnancy rate and milk production at the herd level. J. Dairy Sci. 93:3595-3601.
Diminuição da ferilidade: Walsh 2007. The effect of subclinical ketosis in early lactation on reproductive performance of postpartum dairy cows. J. Dairy Sci. 90:2788-2796.
Qualidade do leite: Duffield 2000. Subclinical ketosis in lacating dairy cattle. Vet. Clin North Am. Food Anim. Pract. 16:231-253.
Risco de reposição: Leblanc 2010. Monitoring metabolic health of dairy cattle in the transition period. J. Reprod. Dev. 56:S29-S35.
Deslocamento do abomaso, metrites e cetose clínica: Duffield 2009. Impact of hyperketonemia in early lactation dairy cows on health and production. J. Dairy Sci. 92:571-580.
Ovários quísticos: Dohoo 1984. Subclinical ketosis prevalence and associations with production and disease. Can. J. Comp. Med. 48:1-5.
Retenção de placenta: Leblanc 2004. Peripartum serum vitamin E, retinol and beta-carotene in dairy cattle and their associations with disease.
J. Dairy Sci. 87:609-619.
Custos e prevalência: Esslemont, R.J. The Costs of Ketosis in Dairy Cows. Congresso Mundial de Buiatria, Lisboa, Portugal, 2012.
Elanco, Keto-Test e a barra diagonal são marcas registadas própias ou autorizadas por Eli Lilly and Company, suas filiais ou afiliados.
Keto-Test™ é uma marca registada de Elanco Animal Health. Fabricado por SKK, Japón.
© 2012 Elanco Animal Health. WECTLKTO00021
Elanco Lilly Portugal – Produtos Farmacêuticos, Lda. – Rua Cesário Verde, 5 - piso 4 – Linda-a-Pastora – 2790-326 QUEIJAS – Tel.: 21 412 66 40 – Fax: 21 410 99 44
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 57
bem estar animal
Encefalite e Artrite Caprina
o que convém saber
A Encefalite e Artrite Caprina, mais conhecida por CAE (Caprine Arthritis and Encephalitis)
é uma doença que se encontra presente numa grande parte das explorações de caprinos
do nosso país e que muitas vezes passa despercebida pelo seu perfil sub-clínico.
POR Inês Ajuda, Ana Vieira e George Stilwell
AWIN -Animal welfare indicators, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade técnica de lisboa
[email protected]
Neste artigo a equipa AWIN pretende
dar-vos a conhecer um pouco mais
sobre esta doença e sobre o impacto
potencial que pode vir a ter nas vossas
explorações.
O Vírus da Encefalite e Artrite
Caprina ou CAEV?
O CAEV é um tipo de vírus que dá pelo
nome de lentivírus que vem do latim
lente, que significa lento, devido ao seu
período prolongado de incubação. Para
além desta particularidade, o CAEV
caracteriza-se por uma alta prevalência
de infecção inaparente, o envolvimento
de vários órgãos e um carácter crónico
com vários episódios de agudização.
Estas características fazem com que
este vírus passe quase despercebido na
exploração. De facto, o produtor até pode
identificar sinais associados à doença,
mas como são esporádicos, variados e
isolados, não os associa imediatamente
ao CAEV.
Como se manifesta?
O CAEV pode ter cinco formas de
expressão clinica, para além da forma
subclínica:
1. Forma neurológica: Acontece mais
frequentemente em cabritos dos 2
aos 6 meses, mas pode ocorrer em
qualquer idade. Caracteriza-se por uma
disfunção nervosa que dá origem a
uma parésia posterior (animal deixa
de conseguir utilizar os membros
posteriores) e incoordenação, que
rapidamente evoluiem para paralisia.
2.Forma pulmonar: Pensa-se que surge
em sinergismo com um outro vírus
(Caprea visna) e dá origem a uma
pneumonia intersticial progressiva, que
muitas vezes se expressa por sinais
semelhantes à pneumonia associada
à linfadenite caseosa, com dispneia,
intolerância ao exercício e tosse após
esforço.
3.Forma mamária: Esta forma
está associada a uma síndrome
designada “síndrome do úbere duro”.
Caracteriza-se, tal como o nome
indica, por um úbere firme à palpação,
com a pele à volta solta, sem edema,
sem aumento de temperatura ou
outro tipo de lesão. A produção de
leite é muito baixa, mas o leite tem
um aspecto normal, apresentando
apenas um número de células
somáticas aumentado. Algumas cabras
recuperam gradualmente a produção
de leite, enquanto outras acabam por
secar, sendo possível a recorrência dos
sinais clínicos na lactação seguinte.
4.Forma articular: Esta é a forma mais
comum nas explorações caprinas, daí
ser o sinal mais vulgarmente associado
à doença. Ocorre em cabras a partir
da idade de cobrição, geralmente
no segundo ano de vida. O início da
doença pode ser agudo ou insidioso
e o curso clínico da doença apresenta
uma grande variação individual. Todas
as articulações dos membros podem
estar afectadas, bem como a articulação
atlanto-occipital, sendo a articulação
mais frequentemente atingida a
articulação do carpo. Esta forma da
doença pode manifestar-se através
de sinais subtis como diminuição
da frequência de alimentação e
dos movimentos, associada a uma
dificuldade motora, mas sem alteração
das articulações ou, pode manifestar-se
por um aparecimento agudo de edema
nas articulações, mas sem qualquer
sinal indicativo de dor ou restrição de
movimentos.
58 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
FIGURA 1
Cabra com dificuldade em movimentar-se.
5.Perda de condição corporal: Pode ser
o único sinal ou estar associado aos
anteriores. Normalmente corresponde
à primeira fase da doença à qual
depois se associa a forma pulmonar
ou articular. De destacar que a perda
de condição corporal é um sinal muito
pouco específico, pelo que deve ser
feito um bom diagnóstico diferencial
antes de se poder confirmar o CAEV
como causa da mesma.
Como podemos saber a
prevalência da CAE numa
exploração?
Para a avaliação da prevalência do vírus
na exploração, e como primeiro passo
num possível programa de erradicação
do vírus, há que efectuar um teste ELISA
ao tanque de leite da exploração. Após
este primeiro passo, e consoante o
bem estar animal
resultado, várias estratégias
podem ser adoptadas. No
entanto, é importante ter
presente durante qualquer
programa de erradicação
ou de controlo da doença
que, apesar da evolução
nos testes de diagnóstico,
ainda pode existir uma
percentagem significativa de
falsos negativos (resultados
negativos no teste laboratorial,
mas que pertencem a
animais infectados). Como
tal, é essencial a ajuda do
veterinário assistente da
exploração na criação de
um plano de controlo ou
erradicação, que possa ser
constantemente revisto e
adaptado às circunstâncias e
resultados.
Devemos erradicar o
vírus da exploração?
Esta é uma pergunta de
difícil resposta, sendo que
varia muito de caso para
caso. No entanto, tendo em
conta a conjuntura actual, o
custo de um programa para a
erradicação desta doença ou
mesmo para o seu controlo,
seria provavelmente o que
pesaria mais na balança na
altura de tomar a decisão
de avançar. Como tal, é de
extrema importância aferir
a prevalência do vírus na
exploração já que, no caso
de ser muito alta, é muito
provável que a erradicação
não compense o investimento.
Para uma tomada de decisão
racional é necessário fazer
uma análise custo-benefício
em termos de melhoria
na produção de leite (em
quantidade e qualidade), na
taxa de refugo/mortalidade,
eventual interesse na venda
de reprodutores e na imagem
da exploração em si. Existem
ainda poucos dados relativos
ao impacto desta doença
na produção leiteira, mas
num estudo com cabras da
raça Granadina-Murciana
que foi recentemente
publicado (Martinez-Navalón
et al, 2013) concluiu-se que
havia diferenças até 10%
na produção de leite entre
os animais que estavam
livres da doença e os
animais infectados, e na
Noruega (estudo ainda não
publicado), através de um
programa de erradicação
desta e outras duas doenças
com igual carácter crónico
(paratuberculose e linfadenite
caseosa) obtiveram-se
significativas melhorias na
curva de produção leiteira.
Como podemos
erradicar a CAE?
O programa de controlo
ou erradicação deve ser
desenhado por uma equipa
multidisciplinar liderada pelo
médico-veterinário assistente.
Após identificação do grau de
infecção através da análise
do leite do tanque, o plano
inclui medidas de maneio
TABELA 1
Medidas a tomar aquando do nascimento dos cabritos para
erradicação/controlo do CAEV.
Retirar os cabritos às mães assim que nascem, não permitindo que estes mamem nas mães.
Nos casos em que não se consegue garantir que tal não aconteceu a cabrita não deve ficar
na exploração como reprodutora.
Fornecer colostro pasteurizado, colostro de vaca ou colostro de substituição (em pó) a todos
os cabritos, prevenindo assim qualquer tipo de contacto com o colostro de fêmeas infectadas.
Criar os cabritos em instalações sem qualquer contacto com as instalações onde se
encontram os adultos e posteriormente, caso haja essa possibilidade, criá-los em parques/
pavilhões livres de vírus. Este último passo pode revelar-se um tanto ao quanto difícil pela
disponibilidade de espaço e capacidade financeira para construção de novas instalações.
FIGURA 2
Articulação com edema devido a infecção por
CAEV - C. François.
e identificação de animais
portadores através de análises
sanguíneas.
A infecção pelo CAEV dá-se
na sua grande maioria por
ingestão de leite de animais
infectados, havendo uma
menor possibilidade de
transmissão entre adultos.
Posto isto, é de grande
importância no controlo
desta doença actuar logo no
nascimento dos cabritos, não
permitindo que a transmissão
do vírus se perpetue na
exploração (Tabela 1).
Outra medida a adoptar,
principalmente quando
a prevalência é baixa, é
um programa de refugo
apertado, através do qual,
após o rastreio sanguíneo
referido anteriormente, se
elimina todos os animais
positivos. Devido à reduzida
sensibilidade dos testes
disponíveis, o que significa
que teremos sempre uma
percentagem relativamente
elevada de falsos negativos,
os animais deverão ser
testados periodicamente até
se atingir 100% de negativos.
Mesmo após atingir esta meta
só poderemos ter uma certeza
significativa de ter erradicado
a doença após duas colheitas
totalmente negativas.
De referir ainda a importância
de não se comprar animais ou,
pelo menos, garantir que estes
provenham de explorações
indemnes à doença.
A RETER
O CAEV é um vírus
presente nas explorações
de caprinos de Portugal,
merecendo atenção por
parte dos produtores.
O vírus tem impacto na
quantidade e qualidade de
leite, no crescimento e no
bem-estar das cabras.
Num programa de
erradicação ou controlo da
doença é muito importante
seguir as regras à risca,
caso contrário o vírus
continuará a circular
na exploração e todo o
investimento efectuado
será em vão.
Referências:
Martínez-Navalón, C., Peris, G.,
Gómez, E.A., Peris, B., Roche, M.L.,
Caballero, C., Goyena, E. & Berriatua,
E. (2013) Quantitative estimation
of the impact of caprine arthritis
encephalitis virus infection on milk
production by dairy goats. The
Veterinary Journal
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 59
saúde animal
João Vidal
Médico Veterinário exerce actividade clínica e
reprodutiva na Associação Agrícola de São Miguel (AASM)
[email protected]
Fotossensibilidade
ou doença da pele
A Fotossensibilidade caracteriza-se por um excesso de sensibilidade aos raios solares
causadas pela interação da luz solar com agentes fotodinâmicos em circulação, resultante
da ingestão de certos fármacos, plantas e essencialmente fungos.
É uma patologia que ocorre anualmente
em diversas explorações agropecuárias
nos Açores, com maior incidência no
Verão e início de Outono, atinge várias
espécies pecuárias com especial relevo
para os bovinos.
Como se pode classificar esta patologia?
Tendo em conta a sua patogénese
as fotossensibilizações podem ser
classificadas em primária sem lesão
hepática e secundária ou hepatogénea
em que ocorre lesão hepática.
A forma secundária ou hepatogénea
é a mais importante nas explorações
de bovinos nos Açores e resulta
essencialmente da ingestão de esporos
produzidos por um fungo saprófita
(Pithomyces chartarum), contendo uma
potente hepatotoxina (Esporodesmina).
Esta toxina provoca lesões hepáticas
consideráveis como pericolangite e
obstrução dos ductos biliares, reduzindo
a capacidade do fígado exercer o seu
efeito excretor da filoeritrina, principal
agente fotodinâmico. A filoeritrina resulta
60 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
da degradação da clorofila (pigmento
existente na forragens verdes) no rúmen.
Na sequência de disfunção hepática a
filoeritrina não é excretada, mantêmse em circulação e atinge a pele, onde
desencadeia reações fotoquímicas com
ação citotóxica nos tecidos cutâneos e
resposta inflamatória aguda da pele.
Sendo que a principal micotoxicose
é causada pelo fungo Pithomyces
chartarum esta patologia vai ser
designada como Pitomicotoxicose
(Eczema facial) ao longo do restante texto.
saúde animal
Quais são os fatores de risco?
O fungo desenvolve-se
principalmente na matéria
vegetal morta na base da
pastagem. Uma das condições
favoráveis para a ocorrência
da pitomicotoxicose é o
pastoreio intensivo e o facto
de os animais comerem as
forragens junto ao solo.
Em que época do ano ocorre
e porquê?
As condições ideais para o
desenvolvimento dos fungos
e produção de esporos,
incluem no mínimo três
dias consecutivos a uma
temperatura mínima no solo
de 16ºC e uma humidade
superior a 90%. Os meses
de Agosto e Setembro são
aqueles onde se verificam
maior incidência de casos de
fotossensibilidade, embora
também possam ocorrer em
Julho e Outubro dependendo
das condições climatéricas.
Verões quentes e húmidos
são particularmente
favoráveis ao aparecimento
de inúmeros casos, não
só por favorecerem a
produção de esporos mas
também uma exuberante
produção de forragem. Esta
maior disponibilidade de
forragem leva os agricultores
a fornecerem maiores
quantidades de produto
potencialmente tóxico aos
animais (recorrendo menos à
suplementação com alimentos
ensilados e concentrados),
colocando-os mais expostos a
ação do fungo.
Qual a localização
geográfica?
A fotossensibilidade
ocorre em muitos países,
por todos os continentes
sempre que existam
condições climatéricas
para o desenvolvimento do
fungo. No entanto, é preciso
destacar que em muitas
regiões do mundo existem
populações de Pithomyces
chartarum que não são
toxinogénicas enquanto que
nos Açores e Nova Zelândia
estas são maioritariamente
toxinogénicas.
Nos Açores a
Pitomicotoxicose não se
verifica em todos os locais.
Ocorre essencialmente
em pastagens de média e
elevada altitude e em locais
onde exista temperatura
e sobretudo humidade
elevadas. Em locais baixos e
pouco húmidos o fungo não
é capaz de se desenvolver.
No entanto, nestes locais
desenvolve-se outra forma de
fotossensibilidade provocada
pela ingestão uma planta
tóxica (Lantana câmara) que
não é mais que uma infestante
nestes locais, mas funciona
como uma planta ornamental
em Portugal e muitos
países do sul da Europa. Os
sintomas provocados pela
ingestão desta planta são
muito semelhantes aos da
pitomicotoxicose, mas o
desfecho é quase sempre
fatal.
Quais os sintomas?
O animal perde o apetite,
procura as sombras,
apresenta-se muito excitado
(escoiceia a barriga, lambe-se,
coça-se contra obstáculos),
apresenta grande prurido
(comichão), a pele nas zonas
mais claras e sob incidência
directa do sol apresenta-se
eritematosa (avermelhada).
As narinas, tetos sobretudo
a parte externa, o úbere, a
vulva, o períneo e a região do
dorso são as que apresentam
os primeiros sinais visíveis.
A zona da barbela por
vezes apresenta um edema
pronunciado. Numa fase
mais avançada as zonas
queimadas ficam escuras
com a pele ulcerada, muito
dura, desidratada, os animais
apresentam-se ictéricos
urinam muito (urina muito
escura), o aborto ocorre
frequentemente, numa
fase mais avançada a pele
solta-se, surgem úlceras nas
camadas mais profundas da
pele e por fim pode ocorrer a
morte.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 61
saúde animal
JOÃO VIDAL
Associação Agrícola de São Miguel.
detetado clinicamente numa exploração,
um número muito elevado ou a totalidade
dos animais desta exploração estão
afetados na forma subclínica.
Quais os grupos de animais mais
afectados?
Dentro de uma mesma exploração os
casos de fotossensibilização podem
verificar-se em qualquer animal. No
entanto é mais frequente nas vacas secas
e novilhas. Estes grupos, normalmente são
separados do grupo em produção. Quando
separadas, frequentemente deixam de ser
alimentadas com concentrados, sendo em
muitos casos alimentadas exclusivamente
com pastagens por vezes contaminadas.
Nestas circunstâncias, durante os períodos
críticos podem surgir simultaneamente, na
mesma exploração, um elevado número
de animais com sintomas de doença. Para
agravar a situação, como estes animais
não estão em produção, são alimentados
apenas uma vez por dia sendo-lhes dada
pouca atenção, daí que o diagnóstico
normalmente seja feito tardiamente e as
consequências sejam potencialmente mais
graves.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico é fácil se o agricultor ou o
clínico tiverem em consideração a época
do ano, as condições climatéricas e as
condições de maneio, dado que os sinais
clínicos são bastantes exuberantes.
Quanto mais cedo for diagnosticada a
doença e os animais tratados, melhores
são as possibilidades de evitar lesões
graves e de cura.
É preciso ter em atenção que pode ocorrer
um surto, sem sinais clínicos evidentes.
Neste caso deve considerar-se a existência
da doença na forma subclínica (sem
apresentar sinais visíveis).
Como já foi referido deve-se fazer o
diagnóstico diferencial da Pitomicotoxicose
com a intoxicação por Lantana camera.
Este torna-se fácil porque os locais onde
se desenvolvem não são coincidentes.
Enquanto a primeira ocorre em locais muito
húmidos durante um período limitado do
ano, a segunda ocorre em locais secos e
durante a maior parte do ano. É preciso
ainda ter presente que decorre um período
de cerca de 10 a 14 dias entre a ingestão
do material tóxico e o aparecimento dos
primeiros sintomas de fotossensibilidade,
ou seja quando o problema é detetado já
existem lesões no fígado e vias biliares.
Qual o tratamento aconselhado?
Consiste essencialmente em proporcionar
conforto aos animais, ou seja colocando-os
em locais sombrios sem incidência da luz
solar. Retirar o alimento potencialmente
tóxico, reduzir ou eliminar o consumo
de alimentos verdes ricos em clorofila,
hidratar o mais possível, administrar
anti-inflamatórios e/ou anti-histamínicos,
vitaminas lipo e hidrossolúveis. Caso ocorra
infeção de pele é necessário administrar
antibiótico. Numa fase posterior colocar
uma substância que amacie a pele rica em
Vit A (e.g. óleo de fígado de bacalhau).
Quais as consequências e impacto
económico?
A fotossensibilidade apresenta um enorme
impacto económico numa região como
os Açores, onde a atividade económica
principal é a produção de leite. É uma
patologia caracterizada por uma acentuada
perda de peso, atrasos no crescimento,
redução na produção de leite, abortos,
retenção placentária, doenças metabólicas,
deslocamento de abomaso, rejeição de
um número muito elevado de carcaças no
matadouro, e muitas mortes. No entanto,
é preciso ter presente, que por cada caso
62 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
Quais as medidas de prevenção a adotar?
Para reduzir a incidência da
Fotossensibilidade deve evitar-se a
utilização de fertilizantes azotados nas
pastagens durante os meses de maior
risco, porque uma pastagem azotada é
potencialmente mais tóxica.
Durante o período crítico deverá fornecer-se
silagem a todos os animais, isto é fazer a
alimentação depender o menos possível
do produto potencialmente tóxico (a erva
existente na pastagem). É necessário
prestar especial atenção às vacas secas,
uma vez que estas para além de possuírem
fígados mais suscetíveis, são também
submetidas a uma brusca mudança da
alimentação (em muitos casos passam a
ser alimentadas apenas com pastagem)
quando separadas do grupo de lactação.
Uma das medidas a tomar rapidamente
quando o problema for detetado, é retirar
imediatamente os animais desta pastagem.
As gramíneas (azevéns) são muito
suscetíveis à infestação pelo fungo, ao
contrário das leguminosas, pelo que se
aconselha, aos agricultores, consociações
(azevéns mais trevos), para obter pastos
menos perigosos.
Uma forma eficaz de proteger os
animais da Pitomicotoxicose consiste
na administração de zinco nos períodos
críticos. Pode ser feita quer através da
incorporação de sulfato de zinco na água
da bebida (apenas em animais que não
estão a produzir leite, visto que o produto
reduz a apetência pela água) ou de óxido de
zinco em cápsulas de libertação lenta com
ação protectora durante cinco semanas. Em
qualquer das situações o zinco disponível
deve andar à volta de 15-20mg/kg de peso
vivo.
O zinco atua ligando-se à toxina do fungo
Pithomyces chartarum (Esporodesmina),
formando quelatos no intestino impedindo
a entrada da toxina em circulação.
Ultimamente os agricultores, estão mais
conhecedores da patologia e das condições
em que esta se desenvolve, por isto,
recorrem cada vez em maior numero ás
medidas preventivas de proteção.
atualidades
contratos com base na
volatilidade do mercado
em indústrias lácteas
Até ao momento, apenas duas
empresas inglesas apresentaram
um modelo de contrato em que
o preço a pagar ao produtor está
definido por uma fórmula que
reflete a volatilidade do mercado.
O código de boas práticas que, no
setor lácteo, foi aprovado há alguns
meses, recomenda que haja um
contrato escrito entre as partes onde
venha explícito o preço de venda.
Contudo, como se trata de um código
de aplicação voluntária, poucas
empresas o aplicam.
A empresa Müller Wiseman propôs
um novo contrato, com inicio a 1 julho
e duração de 9 meses, em que o
preço do leite ao produtor se calcula
trimestralmente com base numa
fórmula em que o preço de mercado
do leite em pó e da manteiga terão
um peso de 50%. O preço do queijo
terá um peso de 25% e os restantes
25% vêm definidos pelo preço que
as empresas concorrentes pagam ao
produtor. O contrato também prevê
que os produtores sejam avisados
com um mês de antecedência sobre
qualquer variação do preço.
A Dairy Crest é a outra indústria
láctea que também propôs um
contrato de estabelecimento do
preço com base numa fórmula. O
preço é calculado mensalmente
tendo em conta cinco preços chave:
da nata, do leite na prateleira, dos
alimentos compostos para animais,
dos fertilizantes e do gasóleo agrícola.
O contrato tem a duração de 12
meses e o produtor pode optar por
escolher, com este sistema, 25, 50, 75
ou 100% da sua produção.
suavidade da
carne em animais e
carcaças
Atualmente não existem técnicas simples para
avaliar a suavidade da carne. No entanto, desde há
vários anos as investigações realizadas permitiram
identificar proteínas que são marcadores
biológicos da qualidade. Por conseguinte,
os investigadores do Instituto francês de
investigação agrária (INRA) desenvolveram, com
base nestas proteínas marcadoras, um dispositivo
que permite ao setor, medir a suavidade da carne
a partir duma amostra muscular dum animal vivo
ou duma carcaça.
Os primeiros resultados do protótipo desenvolvido
tem uma fiabilidade de cerca de 75%, de acordo
com os investigadores. O protótipo consiste em
fixar os anticorpos interessantes numa membrana
e hibridizar com os extratos proteicos. Foi
desenvolvido pela empresa Protneteomix (Nantes)
no âmbito do projeto Phenotend.
A ferramenta permite a análise simultânea de 60
amostras em 48 horas e um custo inferior a 20€
por amostra.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 63
entrevista
EXPLORAÇÃO AGRO-PECUÁRIA
ANTÓNIO ESTRELA REGO
Tudo começou em 1987 com um projeto
de 1ª instalação, que se caracterizava
por aumentar o efetivo de 36 para
60 vacas leiteiras, aquisição de uma
ordenha móvel de 4 unidades, 1 trator
e alfaias e, uma produção 300 000
litros (5000 litros vaca/ano). Em 2012,
com a necessidade de nos tornarmos
mais competitivos e melhorar a nossa
qualidade de vida, tomámos a decisão
de investir no negócio, com aquisição
de uma nova sala de ordenha, sistema
de alimentação balanceada, sistema de
gestão, cancela separadora, medidores
de actividade e sistema de lavagem
dos parques com onda de água, com o
objectivo de produzir aproximadamente
3000 000 litros.
Quando já passaram mais de 12
meses sobre a data dos investimentos
realizados, viemos entrevistar António
Estrela Rego, Médico Veterinário e
proprietário da exploração, sobre
os resultados que está a ter com a
implementação destes novos sistemas.
Ruminantes - Porque decidiu investir no
negócio da produção de leite em 2012?
64 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
António Estrela Rego - A alternativa seria
reduzir a dimensão da exploração de
leite e passar uma boa área dos meus
terrenos para a cultura da beterraba,
alternativa vantajosa apenas por um
periodo limitado, pelo que decidi não
abraçar esta hipótese e partir para
a alternativa do investimento, visto
existirem apoios bastante interessantes
ao investimento, que no meu caso foi de
60% mas poderia ter chegado aos 75%.
Gosto efetivamente muito desta atividade
e sempre tirei lucro dela. Tem sido desde
sempre esta a área na qual tenho vindo
entrevista
a investir em termos de
conhecimento e me sinto
confortável.
Um dos investimentos
que realizou foi numa sala
de ordenha rotativa HBR,
porque investiu numa sala
de ordenha? E porquê uma
rotativa?
Investi numa sala de
ordenha porque era o que
tinha mais necessidade, pois
estava a demorar 9 horas
por dia para ordenhar as
vacas e em consequência
disso, os animais
permaneciam muitas
horas no parque de espera,
insatisfeitos, com tendência
para queda dos valores
da produção e os próprios
ordenhadores saturados.
Escolhi uma rotativa por
várias razões, primeiro
porque a rotativa era o
único sistema que permitia
fazer uma administração
de concentrados durante a
ordenha. Tenho os animais
em pastoreio durante todo
o dia, e é precisamente
no momento da ordenha
que agora com esta
rotativa posso fazer uma
diferenciação na alimentação
em termos de concentrado.
A segunda razão foi o
facto de permitir ter uma
eficiência de mão de obra
máxima. De referir, que em
termos de eficiência de MO
a rotativa vem logo a seguir
ao robot. Considero ser este
um sistema muito pouco
stressante para os animais,
porque entra um animal
de cada vez, não existindo
aquela avalanche de animais
a entrar e a sair na ordenha,
momentos de muito stress
para os animais. E outra
razão ainda, foi o facto da
comparticipação nesse
investimento ser em
função da área, ou seja,
a comparticipação estar
limitada por metro quadrado,
e numa ordenha de
construção mais compacta,
como é o caso de uma
lado a lado ou em espinha,
os custos são superiores
por metro quadrado ao da
rotativa, o que levaria a
ultrapassar os montantes
máximos elegíveis. Como a
rotativa ocupa mais espaço,
este problema não ocorreu.
Como mede a rentabilidade
deste sistema de ordenha?
A ordenha passou a demorar
metade do tempo, e isso
poderia ter-me levado a
poupar mão de obra.
Tenho atualmente quatro
funcionários, dois deles
afetos à ordenha. Poderia
ter reduzido para três, mas
preferi aperfeiçoar o maneio
do restante efetivo, vitelas e
novilhas, assim como a parte
do maneio das forragens.
Ou seja, decidi investir na
qualidade do maneio geral
da exploração em vez
de diminuir o número de
empregados pelo tempo
poupado com este sistema
de ordenha. Repare, que com
o sistema antigo, o tempo era
tanto que se tornava muito
cansativo e por vezes, na
parte final da ordenha tinha
três empregados em vez dos
dois habituais.
Como permite este sistema
de ordenha identificar e
separar os animais com
menor produção?
Quando os animais são
ordenhados, se houver uma
quebra superior a 20% em
relação à media dos últimos
7 dias, há uma lâmpada que
acende de forma intermitente
para chamar a atenção do
ordenhador. Isto permite
que o ordenhador toque
num botão e dê ordem
de separação da vaca na
cancela separadora. Esta
informação também me
chega informaticamente
e normalmente o que eu
faço é atuar sempre que
tenho duas ordenhas
consecutivas com quebras
de 20% ou superiores. Caso
aconteça só numa ordenha,
a razão poderá ser pouco
importante, como seja o
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 65
entrevista
Caracterização da
exploração
Área: 190 ha.
Produção Forrageira: 55ha de silagem de
milho / 60ha de silagem de erva / 75ha de
pastoreio.
Regime Alimentar
Vitelas criadas em viteleiro até aos 4 meses.
4-9 meses – pastoreio e 3 kg concentrado
animal/dia.
Restantes novilhas e vacas secas até 15 dias
antes do parto, só pasto.
Vacas em produção: concentrado
na ordenha entre 2 e 14Kg vaca/dia,
dependendo da produção; mistura de
Unifeed com 5Kg de concentrado, 20Kg de
silagem de milho e 10Kg de feno silagem. O
restante é pastoreio.
Maneio Alimentar
Pelas 5h30m deslocam-se da pastagem
onde passaram a noite, para o parque de
alimentação que é contíguo à ordenha. Das
6h00m às 8h30m realiza-se a ordenha
e pelas 11h00m, as vacas voltam para a
pastagem. Às 16h00m voltam novamente
ao parque de alimentação começando a 2ª
ordenha do dia pelas 16h30m.
sala de ordenha rotativa HBR
Sistema muito pouco stressante para os animais.
Qualidade do leite
Média diária: 34l /vaca/dia, com 3,9% de
gordura e 3,3% de proteína / C.C.S.: 200
000/ml / bacteriologia: < 10 000 u.f.c/ml
António Estrela Rego
Médico Veterinário e proprietário da exploração.
caso de uma vaca ter sido ordenhada
no fim da ordenha da manhã e voltar
a ser no inicio da ordenha da tarde,
produzindo pouco leite nesta última,
mas na ordenha seguinte já deverá
produzir mais leite. No caso da
quebra se verificar em duas ordenhas
consecutivas, tenho que analizar os
gráficos e separar o animal, mas o que
é extraordinário é que tudo é feito sem
esforço fisico para nós e extremamente
natural para o animal, permitindo
uma gestão muito mais atempada
das patologias que possam existir no
efectivo.
Outro investimento que realizou foi
no sistema de alimentação RF400.
Este sistema permite otimizar o custo
alimentar? Como?
O sistema anterior era baseado
no pastoreio e na manjedoura,
onde comiam uma mistura feita no
unifeed, que era igual para todos
os animais. Em pastoreio não é
possível ter lotes de altas, médias e
baixa produção, e por isso todos os
animais comiam o mesmo, levando
a que no fim da lactação os animais
tivessem engordado, criando assim
66 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
uma despesa desnecessária. Este
novo sistema permite que os animais,
em cada ordenha, comam entre 1 a
7 kilogramas de ração, com degraus
de ajustamento de 50 gramas e
portanto o consumo de concentrado
na ordenha é em função da produção
de leite, ajustado automáticamente
pelo programa do computador. A vaca
aumenta a produção e o computador
acrescenta a dose correspondente
de ração, a menos que haja descidas
ou subidas muito rápidas, ou seja,
superiores em 20% à média dos
últimos 7 dias. Nestes casos, o
programa informático não aceita o
novo nivel de ração e sou eu que tenho
que registar novamente no sistema
a quantidade correta de ração por
animal. Normalmente faço isto 2 vezes
por semana para aqueles animais que
estão no inicio ou no fim da lactação
ou, para aqueles que tiveram qualquer
problema que os levou a ter variações
abruptas. Posso considerar que de
todos os investimentos, foi aquele
que me trouxe maior rendimento,
maior satisfação. Permitiu-me,
independentemente da época do ano,
ter sempre as vacas em inicio de
entrevista
lactação com produções altas, coisa
que não acontecia no regime anterior,
em que chegava o verão e pelas
condições climatéricas adversas e
forragens com menos qualidade não
retirava o máximo potencial destas
vacas.
Passou a ter menor consumo de ração
por mês?
Eu poderia ter optado por um menor
consumo de ração, mas não fui por
esse caminho. Decidi dar a mesma
quantidade de ração e ter mais leite.
Posso dizer que estou em média
com mais 3 a 4 litros de leite vaca/
dia. Claro que todo este aumento
de leite referido resulta dos vários
investimentos realizados, redução
do tempo de ordenha, sistema de
alimentação balanceado na ordenha
e de um parque de espera mais
higienizado (melhor estado de patas
dos animais) e todo um processo mais
tranquilo.
Investiu no sistema de gestão ALPRO.
Em que consiste?
Este sistema, possibilita a análise diária
no computador vaca a vaca. Existindo
alertas, terei que verificar cada um
desses animais. Permite-me também,
sentado à secretária, separar certos
animais, que depois de ordenhados,
quando chegam à cancela separadora,
são desviados para uma manga onde
eu faço a inseminação, o diagnóstico e
eventualmente o tratamento caso seja
“Com a necessidade de
nos tornarmos mais
competitivos tomámos
a decisão de investir
numa nova sala de
ordenha”
necessário. Este programa também
serve para fazer a gestão do efetivo,
estando tudo ligado de alguma forma
à produção de leite por vaca. Este
equipamento inclui o sistema medição
de actividade para detecção de cios, que
ainda não está completamente afinado
para as condições de pastoreio que
aqui tenho. Os animais vão todos os
dias à pastagem, localizada sempre a
uma distância diferente do dia anterior,
havendo sempre a possibilidade de
uma vaca sair da cerca ou por outro
motivo qualquer, aparecem alertas
no computador de falsos negativos e
falsos positivos.
Recomendaria estes investimentos a
colegas seus?
Sim, sem dúvida que recomendo pelas
razões já acima referidas. Posso dizer,
que no meu caso, prevejo conseguir
pagar este investimento em 5 a 6
anos.
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 67
equipamentos
os novos unifeeds Faresin
Durante a Feira de Santarém,
a Tractorave expôs os
reboques unifeeds da
sua representada Faresin.
A Tractorave é líder de
mercado neste segmento de
produto, com 74 unidades
horizontais/verticais
vendidas (17 das quais
automotrizes) desde 2008,
com uma taxa de penetração
de 85% do mercado nacional
nas versões automotrizes.
Os unifeeds automotrizes
das novas séries Ecomix
e Ecomode permitem
reduzir o consumo através
do aumento da rapidez
do ciclo de alimentação
da máquina, tanto na fase
de transferência como de
“desensilagem” e mistura.
Caraterísticas inovadoras
destas séries:
- a gestão eletrónica da
potência, quer para
o senfim, quer para a
deslocação da máquina
e para a fresa reduz o
consumo do motor e
aumenta a rapidez de
manobra;
- utilização de contracone;
- suspensão dos eixos com
regulação na cabina (só
para a EcoMode) ;
- posição mais avançada da
cabina para aumentar a
visibilidade do operador;
- equipadas com parachoques posteriores;
- tela Heavy Duty para
aumentar a visibilidade
operativa;
- canal de fresagem de 800
mm aumentado para maior
transporte de produto;
- aumento da altura livre
ao solo graças à maior
dimensão das rodas;
- bombas hidráulicas de
controlo elétrico;
- redutores de cócleas
e redutores com eixos
reforçados.
fresa:
- o diâmetro aumentou de
ø55 mm para ø75 mm;
- a potência aumentou de
130 cv para 150 cv;
- o diâmetro do canal da fresa
aumentou de 600 para
800 mm, aumentando a
velocidade de carga.
motor:
- o novo compartimento do
motor aumenta a visibilidade
lateral;
- melhor limpeza, melhor
distribuição de pesos e
maior estabilidade;
- menos ruído.
A séries Ecomode e Ecomix disponibilizam um total de 11
modelos, de 9 a 35m3.
tractorave entrega mais um ecomix
Unifeed Faresin Ecomix 220 entregue durante a Feira de Santarém à empresa
Pecfont, Lda., da Póvoa do Varzim. Este é o segundo reboque Ecomix que a
Tractorave entrega este ano.
Portas Abertas Lely
O LELY Center São Félix da
Marinha organizou mais uma
Jornada de Portas Abertas,
agora na Exploração Luis
Silva Unipessoal Lda. situada
em Lavra no concelho de
Matosinhos.
Estas jornadas permitem a
visita, a todos os interessados
e em especial aos produtores
de leite, a uma exploração
com equipamentos Lely
em pleno funcionamento,
facilitando o contacto com
os mesmos, bem como a
interação entre utilizadores
finais e troca de experiências.
Esta exploração foi alvo de
uma reestruturação completa,
com a construção de uma
nave nova para albergar 80
animais confortavelmente
instalados em cubículos
Lely Commodus e camas
Lely Compedes, sendo a
ordenha e gestão do efectivo
automatizada com um Lely
ASTRONAUT A4. Faz também
parte desta reestruturação
um tanque Lely NAUTILUS
de 5000L, bem como toda a
automatização do processo
de lavagem e descarga
do leite para permitir um
funcionamento ininterrupto
24 horas por dia do processo
de ordenha.
A presente exploração é um
espelho de outras que nos
tempos desafiantes que
temos vivido se destacam
pela vontade de um jovem
investir e lutar para assegurar
o perpetuar da agricultura e
em particular da produção
de leite em Portugal. A
68 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
aposta na automatização
da ordenha permite uma
melhor qualidade de vida bem
como níveis de rentabilidade
aumentados.
O evento contou com a
presença de cerca de 400
pessoas.
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Feira Agrocomercial em S. Miguel
XII Concurso Micaelense da raça Holstein Frísia
Decorreu em S. Miguel, entre
os dias 31 e 2 junho, o concurso
micaelense da raça Holstein
Frísia e o VII concurso Juvenil da
mesma raça.
Este concurso, que marca
sempre presença durante
a feira, foi criado para dar
um maior enfoque às vacas
leiteiras, servindo de montra
70 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
ao excelente trabalho que
os produtores micaelenses
têm feito em termos de
melhoramento genético.
“A preocupação da associação
é proporcionar a logística para
que o evento se realize, assim
como as ferramentas que estão
por detrás deste melhoramento,
como sejam os serviços
ATUALIDADES
técnicos para inseminação
artificial, transferência
embrionária, emparelhamentos...
A verdade é que hoje existe
toda uma mística à volta deste
concurso que o projeta para
além das ilhas, o que é bastante
importante para quem precisa
de rentabilizar SAU existente e
as explorações leiteiras. A venda
de genética para o continente
já foi e queremos que seja no
futuro uma fonte de receita
interessante, já hoje existem
campeões nacionais que
resultaram da transferências
embrionárias de animais
dos Açores”, disse Jorge Rita,
presidente da associação.
O concurso Juvenil tem
um papel muito importante
na manutenção e paixão
dos jovens pelo mundo
das vacas de leite, crianças
de 4 anos passam os seus
animais, criando o gosto pelos
concursos desde pequeninos.
Este concurso está aberto a
qualquer produtor que queira
apresentar os seus animais,
permitindo que os produtores
se envolvam mais neste setor.
A presença de juízes de topo,
como foi caso deste ano, em
que o juiz canadiano tinha no
seu curriculum dois concursos
de Madison (maior concurso
mundial) e também de Toronto
leva a que os melhores animais
apareçam a concurso.“ É
mesmo considerada por juízes
europeus uma das melhores
feiras da Europa depois de
Cremona, onde estão sempre
presentes 4 a 5 animais que
poderiam estar em concursos
de nível mundial”, diz Jorge
Rita. “Temos boa genética,
bons animais, bons criadores
e essencialmente muita gente
com a paixão e entusiasmo
pelas vacas.”
“Para o futuro próximo já se
pode contar com o parque
de exposições, infraestrutura
preparada para este tipo de
eventos, que permitirá até fazer
mais algum concurso de forma
diferenciada. Mas o grande
objetivo é a internacionalização
do concurso da raça Hosltein
Frísia, não por via dos animais
que vêm de fora, porque isso
é muito difícil, mas sim pelas
pessoas que iremos cada vez
mais atrair pela visibilidade que
teremos na Europa. Para além
de confirmar este concurso
como um dos melhores
concursos nacionais e poder
vir a realizar aqui alguns dos
concursos nacionais.”
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 71
conheça a lei
Contratos:
Verbais ou por escrito?
Drª Sofia Peixoto de Menezes, Advogada estagiária, www.fladvoga.com
No passado, a celebração de negócios
jurídicos ocorria usualmente em
cerimónias cheias de ritualismos, que
variavam de negócio para negócio mas
que se revestiam quase sempre de
grande complexidade e aparato. Com
o decorrer do tempo, com o crescente
aumento do número e da complexidade
das relações económicas e sociais, o
formalismo passou a ser exigido apenas
para certos negócios jurídicos e foi
reduzido praticamente à exigência de
documento escrito, elaborado pelas
partes ou por determinadas entidades ou
perante estas últimas.
Atualmente, a regra é que os negócios
jurídicos são válidos independentemente
da forma utilizada, isto é, de terem
sido ou não escritos. Esta matéria é
regulada pelo artigo 219º do Código Civil
que dispõe: “A validade da declaração
negocial não depende da observância
de forma especial, salvo quando a lei a
exigir”.
Os negócios jurídicos que podem ser
celebrados por qualquer meio que
exteriorize adequadamente a vontade
negocial, independentemente da
forma, denominam-se consensuais
ou não solenes. Por seu lado, aqueles
relativamente aos quais a lei prescreve
a necessidade de ser respeitada
determinada forma, o acatamento
de determinado formalismo ou de
determinadas solenidades, são
designados por formais ou solenes.
Vivemos assim numa era em que a regra
é a dos negócios consensuais ou não
solenes.
Todavia, isto não impede que as partes
possam celebrar por escrito negócios
jurídicos a que a lei não imponha a
forma escrita.
Para além disso, quando a lei
prescreve a necessidade de se
observar determinado formalismo,
designadamente a redução a escrito
do negócio e as partes não o fizerem,
a declaração negocial é nula, não
produzindo o efeito desejado pelos
contratantes.
Assim sendo, importa referir alguns
dos principais contratos formais ou
solenes, que, mais dia menos dia,
todos acabam por celebrar.
Comecemos pelos contratos de
arrendamento, rural e urbano, temas
já abordados em edições anteriores,
e que regulam a cedência e o uso
temporários de um bem imóvel,
mediante retribuição. O contrato
de arrendamento urbano deve ser
celebrado por escrito quando as
partes acordarem que a sua duração é
superior a seis meses. Já o contrato de
arrendamento rural é obrigatoriamente
reduzido a escrito, independentemente
da respetiva duração.
A inobservância da redução a escrito
destes contratos resulta na sua
nulidade.
No contrato de trabalho, pelo qual
uma pessoa singular se obriga,
mediante retribuição, a prestar a sua
72 Ruminantes julho . agosto . setembro 2013
atividade intelectual ou manual a
outrem, sob a orientação e autoridade
desta, as coisas já se passam de
modo diferente. Acertados estes
últimos aspetos e verificando-se, por
exemplo, uma prestação de trabalho
reiterada em local pertencente ao
beneficiário dessa prestação, com
utilização de equipamentos deste
último, num horário determinado e o
recebimento periódico de determinada
quantia, presume-se que entre as
partes vigora um contrato de trabalho
sem termo. E isto, mesmo que as
partes contratantes, empregador e
trabalhador, não tenham escrito o
que combinaram nem assinado tal
documento.
Se estes acordarem em limitar no
tempo a duração do contrato de
trabalho, colocando-lhe um prazo,
ou termo, na atual designação legal,
e pretenderem que tal limitação seja
legalmente aceite, então o contrato de
trabalho deve obedecer à forma escrita
e aos demais requisitos que o Código
do Trabalho impõe no seu artigo 141.º.
Por força da lei, a inobservância da
forma escrita num contrato de trabalho
a termo importa a sua conversão
em contrato de trabalho sem termo.
Assim, para termos um contrato de
trabalho “para vida” não é necessário
escrevê-lo e assiná-lo. Porém, é
imprescindível fazê-lo quando se
pretende um “contrato de trabalho a
prazo.”
conheça a lei
Ainda neste âmbito, valerá a pena
referir o regime da relação laboral
estabelecida sazonalmente entre
agricultores e trabalhadores agrícolas.
Neste caso, o vínculo existente entre
as partes não tem de obedecer a forma
escrita, sendo regulado expressamente
pela Convenção Coletiva em vigor
à qual ficam obrigados quer o
empregador quer o trabalhador.
O contrato de compra e venda, que
é dos contratos celebrados mais
frequentemente ainda que, muitas
vezes, as partes nem tenham presente
a relevância jurídica das respetivas
condutas, é o contrato pelo qual se
transmite a propriedade ou outro
direito sobre uma coisa mediante o
pagamento de um preço.
Importa ressalvar que o contrato de
compra e venda é legalmente regulado
em função do bem que se pretende
transmitir e na impossibilidade de
serem abordados “todos” os contratos
de compra e venda existentes,
referem-se os de maior interesse.
Comecemos pelo contrato de compra
e venda de imóveis. Percebe-se
bem que um simples acordo verbal
não seria adequado para assegurar
a transmissão da propriedade de
um prédio, quer pelos montantes
envolvidos, quer pela necessidade
de se assegurar que as respetivas
transações são devidamente
ponderadas por comprador e
vendedor, quer pela necessidade de se
saber a quem os imóveis pertencem
em cada momento, ou quem sobre
eles detém direitos. E, na verdade, o
Código Civil estatui que o contrato de
compra e venda de bens imóveis só
é válido se for celebrado por escritura
pública ou por documento particular
autenticado, o que, neste último
caso, poderá ser feito, por exemplo,
por Advogado, que fica obrigado a
promover o registo da transação.
A par dos formalismos exigidos para
a compra e venda, os imóveis são
bens sujeitos a registo predial, que
se destina “essencialmente a dar
publicidade à situação jurídica dos
prédios, tendo em vista a segurança
do comércio jurídico imobiliário.”
A falta de observância das
formalidades impostas por lei à
compra e venda de imóveis resulta
na nulidade do negócio e na
impossibilidade de registo do ato.
Uma vez que para viver para além de
“casa” e de “terra” também precisamos
de nos deslocar, menciona-se
também o contrato de compra e
venda automóvel. No rigor da lei, a
compra e venda de um automóvel fica
perfeita, concluída, com as declarações
das partes, não sendo necessário
reduzi-las a escrito. Porém, trata-se
da transmissão de um bem sujeito
a registo e para a realização deste
a lei determina o preenchimento
e assinatura do Requerimento de
Registo Automóvel no qual, para
além de requerem a emissão de novo
documento de registo, as partes
declaram que vendem e compram o
automóvel nela identificado.
Hoje em dia a Conservatória do
Registo Automóvel coloca à disposição
dos interessados o formulário de
registo que, depois de devidamente
preenchido e assinado, deve ser
entregue para regularização da situação
registral do veículo e consequente
emissão de novo Documento Único
Automóvel, vulgarmente designado
DUA, com a propriedade registada a
favor do comprador.
Há outras razões para além das
relativas ao registo que aconselham
que a compra e venda de automóveis
seja reduzida a escrito. Desde logo
porque existem diversos motivos
para que a determinação da data em
que a transação do automóvel se
concretizou seja muito importante.
Pensemos que ela é decisiva para
determinar a responsabilidade
pelo pagamento de impostos, pela
responsabilização por determinadas
infrações ou pelos danos causados em
determinados acidentes de viação. Para
salvaguarda do vendedor, para que este
possa com maior facilidade defenderse de situações da responsabilidade
de quem lhe comprou o automóvel e
não requereu de imediato o registo da
aquisição, o vendedor deve ficar com
cópia do modelo de compra e venda
utilizado na transação. Ou, então, elaborar
e assinar documento no qual se ateste
a data e hora da compra e venda e da
entrega do automóvel ao seu novo dono.
Nos demais contratos de compra e
venda, designadamente que tenham
por objeto bens não sujeitos a
registo, quando celebrados entre
sujeitos que não se dediquem ao
comércio dos mesmos, a lei não
obriga que obedeçam à forma escrita.
Contudo, é aconselhável que a
transmissão de alguns desses bens
seja acompanhada de documento
escrito atendendo ao valor dos
mesmos e à frequência com que são
transacionados. É o caso, por exemplo,
de alfaias, pulverizadores, caixas de
carga, corta-mato, entre outros, que
por vezes são adquiridas a um vizinho
amigo que tem mas não usa, não dá
nem empresta, mas está disposto a
vender. Ora, não sendo estes bens
sujeitos a registo, independentemente
da seriedade inquestionável das
partes, é importante não esquecer
que o documento escrito para além
de firmar a vontade dos sujeitos
sem réstia de dúvidas, permite que
o respetivo preço de aquisição seja
incluído nas despesas a ter em conta
no calculo dos impostos, quer sobre
o rendimento de pessoa colectiva ou
singular, enquanto sujeito passivo
em exercício de atividade agrícola ou
pecuária.
E temos assim casos em que a
obtenção de vantagens fiscais é mais
uma razão para se reduzir a escrito a
compra e venda realizada.
Vimos que há muitos contratos que
não precisam de ser escritos e que
a regra nesta matéria até é a da
consensualidade. Todavia, ao dar-lhes
forma escrita as partes podem retirar
inúmeras vantagens dos contratos
para além de ficar mais claro o que
as partes efetivamente esperam uma
da outra e de facilitar a prova do que
pretenderam contratar. Assim, sempre
que possível, contrate por escrito. Não
vá o diabo tecê-las!
ruminantes julho . agosto . setembro 2013 73
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Varzim, a X Feira Agrícola do
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