Proposta de Lei que altera o Decreto Legislativo nº 10/93 de 29 de
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Proposta de Lei que altera o Decreto Legislativo nº 10/93 de 29 de
Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Presidente: - Agradecia que ocupassem os respectivos lugares na Sala. Passo a palavra ao Sr. Secretário da Mesa para proceder à verificação das presenças. Sr. Secretário da Mesa, Eduardo Monteiro: Afonso Silva Mendes da Fonseca Agostinho António Lopes Alberto Alves Alberto Josefá Barbosa Alexandre Ramos Lopes Antero Teixeira António Alberto Mendes Fernandes António Delgado Monteiro António Pascoal Silva dos Santos António Pedro Pereira Duarte Aristides Raimundo Lima Arlindo Tavares Silva Armindo Cipriano Maurício Austelino Tavares Correia Bartolomeu Ramos da Cruz Carlos Alberto Barbosa Clemente Delgado Garcia David Hopffer de Cordeiro Almada Domingos Mendes de Pina Eduardo Monteiro Emanuel Pereira Garcia Almeida Ernesto Che Guevarra Mendes Barbosa da Silva Eurico Correia Monteiro Eva Verona Teixeira Ortet Felisberto Henrique Carvalho Cardoso Fernanda Fidalgo de Pina Burgo Fernando Elísio Leboucher Freire de Andrade Fernando Lopes Vaz Robalo Felipe Baptista Gomes Furtado Filomena de Fátima Ribeiro Vieira Martins Filomena Maria Frederico Delgado Silva Francisco António Dias Hermes Silva dos Santos Hermínia Gomes da Cruz Curado Ferreira Humberto André Cardoso Duarte Ivete Helena Ramos Silves Ferreira Janine Tatiana Santos Lélis Jean Emanuel da Cruz Joana Gomes Rosa Joanilda Lúcia Silva Alves João Baptista Ferreira Medina João Carlos Cabral Varela Semedo João Lopes do Rosário Joel Amarante Ramos Silva Barros Jorge Arcanjo Livramento Nogueira Jorge Pedro Maurício dos Santos José Domingos António Lopes José Luís Lima Santos José Manuel Afonso Sanches José Manuel Gomes Andrade José Maria Vaz de Pina Joselito Monteiro Fonseca Júlio Lopes Correia Justiniano Jorge Lopes de Sena Justino Gomes Miranda Libéria das Dores Antunes Brito Lídio da Conceição Silva Manuel Amaro Rodrigues Monteiro Manuel Gomes Fernandes Maria da Ressurreição Lopes da Silva Mário Gomes Fernandes Mário Ramos Pereira Silva Miguel António Costa Miguel da Cruz Sousa Moisés Gomes Monteiro Nelson do Rosário Brito Orlando Pereira Dias Paulo da Cruz Guilherme Pedro Amante Ramiro Furtado Rui Alberto Figueiredo Soares Rui Mendes Semedo Vanusa Tatiana Fernandes Cardoso Sr. Presidente : - A Assembleia tem quórum. Estão 43 Deputados na Sala, 29 que faltam. [Eram 9 horas e 30 minutos.] Anuncio o Período de Antes da Ordem do Dia. Para uma intervenção tem a palavra o Sr. Deputado João do Rosário. 168 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado João do Rosário (PAICV): Sra. Ministra, Colegas Deputadas e Deputados: As alterações climáticas constituem presentemente o mais importante problema ambiental e um desafio a nível mundial. A mudança do clima, consequência do aquecimento global, deve-se, em grande parte, à intervenção do homem. Sabe-se que com a Revolução Industrial e o emprego de máquinas em larga escala, em substituição do trabalho manual, tem havido grande acumulação de gazes na atmosfera, produzindo o chamado efeito de estufa, o que tem resultado, sobretudo, da queima de combustíveis fósseis, como é o petróleo. O aumento actual da concentração de gazes com efeito de estufa e, por conseguinte, o aquecimento do Planeta acarreta consequências graves com a elevação do nível do mar, o desaparecimento de espécies de animais e vegetais e a desertificação. Em 1997 foi assinado, em Kyoto, o mais importante tratado sobre o ambiente, lançado até aos dias de hoje. Esse tratado internacional estabeleceu compromisso com os países signatários no sentido de reduzir a emissão de gazes na atmosfera, responsáveis pelo efeito de estufa, de entre os quais destacamos o mais importante, dióxido de carbono. São gazes quimicamente estáveis que podem permanecer na atmosfera por décadas ou séculos, com efeito a longo prazo sobre o clima. O dióxido de carbono tem um tempo de duração de 50 a 200 anos e entre os restantes gazes, com efeito de estufa, é o que mais contribui para o aquecimento, comparticipando com cerca de 64%. O protocolo de kyoto incentiva os países desenvolvidos a cortar… Sr. Presidente: - Há muito barulho na Sala. Sr. Deputado João do Rosário (PAICV): - … através de algumas acções entre as quais a protecção à floresta, considerada consumidor do dióxido de carbono, e ainda a promover a utilização de energias renováveis não poluentes. Em Cabo Verde a industrialização é ainda incipiente, havendo já, contudo, algumas unidades responsáveis pela emissão de dióxido de carbono. Sendo Cabo Verde um país de ecossistema frágil, está sujeito a problemas ambientais graves, pelo que a florestação e o uso de energia renováveis são da maior importância. As energias renováveis, tais como: os biocombustíveis, a energia eólica e solar constituem uma aposta clara que visa a preservação do ambiente, na medida em que a sua utilização traz uma redução de gazes com efeito de estufa. Mais ainda, contribuem para o crescimento da economia nacional e menor dependência externa e, consequentemente, para a melhoria da qualidade de vida das populações, o que impõe desafios no que respeita à distribuição de água, energia e a resolução do problema de saneamento básico das cidades de forma eficiente. 169 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Em São Vicente está a decorrer neste momento um projecto de extensão do sistema de distribuição de água corrente, produzida pela Electra, de drenagem de águas residuais e de recolha de resíduos sólidos do Mindelo num montante global de 900 mil contos: sistema de distribuição de água, 340 mil contos; sistema de drenagem de águas residuais, 430 mil contos; sistema de recolha e deposição de resíduos sólidos, no valor de 130 mil contos. As zonas contempladas na extensão das redes de distribuição de água serão: Lazareto, Chã de Alecrim, Fonte de Mestra, Monte Sossego, Trás de Cemitério, Ribeira de Julião, Bela Vista, Pedra Rolada, Passarão e São Pedro. Dentro deste quadro da terceira fase do saneamento do Mindelo, está contemplado a resolução dos resíduos sólidos que é responsabilidade exclusiva do município. O Governo, a título de solidariedade, vai oferecer à Câmara Municipal de São Vicente o seguinte: sete camiões de lixo, 350 contentores, um Bulldozer D6 e reabilitação da lixeira. O Governo também vai contemplar 6 mil famílias, com a ligação gratuita à rede de esgoto e água, através dos serviços do saneamento da câmara municipal. Infelizmente ainda não está clara a forma como a câmara e o Ministério de Infra-estruturas vão gerir este processo, de modo que os futuros beneficiários possam concorrer a esta ligação gratuita e, se possível, gostaríamos de ter um esclarecimento da parte do Governo sobre esta matéria. É sabido que esta equipa que governa a Câmara Municipal de São Vicente neste momento é pouco acolhedora perante os seus administrados e tenho algumas reservas sobre o tratamento digno desta questão gerida pelo município. Foi com alegria que soubemos que este projecto permite o aumento do volume de água na HETAR para 900 mil metros cúbicos de água em vez de 3 mil actualmente. Este aumento da quantidade de água em São Vicente pode contribuir para a recuperação de solos degradados, vai também aumentar o perímetro agrícola e, desta forma, a camada de matéria seca acumulada reduzirá a erosão e a perda de água por evaporação e enriquecerá o solo com matéria orgânica decomposta. Essa cultura contribui para a reflorestação, aspecto importante para um país onde as chuvas são escassas e a agricultura é débil, pois podemos afirmar que o futuro da agricultura depende da floresta, uma vez que a arborização é essencial para a condensação e, consequentemente, para a regularização do ciclo das chuvas. Na nossa opinião esta experiência do Mindelo, nomeadamente a utilização da água reciclada saída da HETAR para a agricultura e arboricultura deveria ser implementada em todo o País. Aplausos da Bancada do PAICV. Sr. Presidente: - Gostaria de pedir aos Srs. Deputados que se inscrevessem para que a Mesa possa proceder à alternância. Tem a palavra o Sr. Deputado Antero Teixeira. Não há nenhum Deputado de outra bancada. 170 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado Antero Teixeira (PAICV): Sr. Presidente da Assembleia Nacional, Sras. e Srs. Membros do Governo, Sras. e Srs. Deputados: Cabo Verde tem feito um percurso que a todos orgulha, pois neste ainda curto tempo de vida, enquanto Estado soberano, vem registando vitórias a todos os níveis, resultante do intenso labor dos seus filhos, sejam os residentes no País, sejam aqueles que labutam nas malhas da emigração. Este nosso percurso enquanto Estado independente e soberano encoraja-nos e alegra-nos, pois, apesar de um certo cepticismo inicial que punha em causa a nossa sobrevivência enquanto Estado, hoje somos um país de rendimento médio admirado por todos, por várias personalidades que interessam pelo nosso país. Naturalmente que para lá dos protagonistas cujo papel neste percurso é seguramente inquestionável, reconhecemos sem qualquer esforço que o principal vencedor e o patrono de todas as nossas conquistas é o povo de Cabo Verde. Neste rol de incontáveis vitórias do povo das ilhas há um elemento que ocupa a centralidade e que tem a ver com o empenho de todos na qualificação permanente da nossa democracia e uma das grandes vertentes do desenvolvimento dessa nossa democracia tem sido o reforço da cidadania local. A emergência de um poder local forte, o exercício da cidadania local e uma forte determinação de aproximar as políticas públicas dos cidadãos têm sido o apanágio deste Governo desde 2001. Quero, neste particular, Sr. Presidente e Srs. Deputados, manifestar aqui o quanto nós foguenses nos sentimos incomodados aquando da apresentação da declaração política feita pelo MPD. Incomodados por palavras que aqui foram produzidas e que não apenas tentaram denegrir a sociedade foguense, como constituíram um vil ataque aos cidadãos isoladamente considerados. Não existe, para além da estafada falácia do MPD, nenhum foguense fora da lei e à margem desta democracia que todos vimos construindo. Não há e nem pode existir, no Fogo, autoridades locais empenhadas em manter uma estratégia anti-democrática para perseguir outros cidadãos foguenses, como não há e nem pode haver autoridades públicas e independentes à mercê da vontade política dos líderes locais. Tais afirmações são obviamente graves e irresponsáveis. São graves porque ofendem o sentimento do povo foguense. Estamos a falar de um povo habituado às lutas, que preza seriedade, que não se verga e não se resigna. O foguense não aceita o rótulo de covarde e a sua história é disso prova mais do que evidente. Mas, tais palavras aqui proferidas foram também responsáveis, desde logo, porque ao invés de questionamentos, salutares em democracia, foram de suspensão e de acusação, estratégias que seguramente ultrapassam o âmbito de um debate político sadio que qualquer Parlamento reclama. Os Deputados não foram eleitos para acusar, para julgar ou para estarem permanentemente a lançar suspeições contra as pessoas ou instituições da República. 171 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Aquilo que nesta Plenária assistimos, durante a declaração política, foram tiradas insidiosas e avulsas suspeições contra instituições da República sedeadas no Fogo. Estou certo que as instituições atingidas não deixarão de exigir responsabilidade em sede própria, porque, com efeito, uma das exigências do Estado democrático é sermos capazes de provar as suspeições que atentam ao bom-nome e à dignidade das pessoas e das instituições. A anti-democracia no Fogo, relatada pelo MPD, tem uma causa profunda e vem de há muito. A verdade é a ilha nunca ler pela estafada, divisionista e revanchista cartilha do MPD e é sabido que lá onde o MPD não ganha a democracia falha. A verdade, porém, é que no Fogo se respira liberdade, não aquela liberdade que o MPD quer doar ou instalar na ilha, apenas para utilizar expressões aqui pronunciadas, mas aquela liberdade que rejeita os filhos de dentro e enteados, aquela que combateu o fecho das torneiras e aquela, ainda, que não faz guerras entre pedras e garrafas, cuja lógica é de afrontamento dos que, na perspectiva do MPD, eram os mais fracos. Esta intervenção, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, visou essencialmente deixar aqui expressa a rejeição categórica de um discurso que – partindo dos pressupostos enganosos – quis dar a imagem de uma ilha vivendo fora dos cânones da democracia e à margem da lei. Esta ilha existe apenas na imaginação daqueles que, esperando colher mais uns votos, deitam mão a todos os expedientes, inclusive os de aviltamento da dignidade de um povo. Tenho dito. Aplausos da Bancada do PAICV. Sr. Presidente: - O Sr. Deputado José Luís Santos tem a palavra. Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): Assistimos com muita atenção esta intervenção, Antes da Ordem do Dia, lida pelo colega Antero Teixeira, que é seguramente uma declaração conjunta dos Deputados do Fogo. Lida pelo colega, mas escrita essencialmente pelo Deputado Júlio Correia. Risos gerais. [Entretanto, o Sr. Deputado Júlio Correia (PAICV) nega, gestualmente, que o discurso tenha sido escrito por ele.] Aliás, podemos ouvir e apreciar o estilo de escrita do colega Deputado Júlio Correia. No entanto, isto é absolutamente normal, não estou a dizer que isto não pode ser feito. No entanto, tive o privilégio e o prazer de visitar a ilha do Fogo, de lés-alés, e, em todas as zonas, escutámos – com muita mágoa e com grande preocupação – desabafos de foguenses que… Sr. Presidente, estou a falar e um colega aqui do lado, sei quem é, está a me chamar de atrevido. Não é a forma de se dirigir a um colega que respeita todos os colegas. 172 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Agradecia ao Sr. Presidente que pedisse ao colega que não repetisse isso, porque ele me conhece muito bem e sabe que eu sei devolver os trokis da melhor forma. Portanto, eu não gostaria de ser deselegante o quanto ele foi. Sr. Presidente: - Sr. Deputado, desculpe! Está a dizer uma coisa que eu não ouvi. Só posso… Não ouvi, não posso… Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - Ouvi e muitos colegas ouviram. Percebo, Sr. Presidente. Sr. Presidente: - O que posso é apenas chamar a atenção para todos os Deputados se respeitarem. Faça o favor de continuar. Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - É precisamente isso que lhe pedi, que o Sr. Presidente pedisse aos colegas que respeitássemos uns aos outros. Mas eu dizia, estive no Fogo e em todas as zonas, foguenses, jovens foguenses, mas também pessoas com alguma idade, disseram-nos claramente o que o Líder parlamentar disse aqui na segunda-feira, na declaração política. Que vivem no Fogo num ambiente de perseguição por autoridades locais, alguns até presidentes de câmaras, por polícias, por comissários do PAICV, todos disseram isso publicamente. Nós, simplesmente, quisemos ser porta-vozes da população do Fogo para transmitir as suas angústias, não fizemos senão isso, ser porta-vozes e cumprimos com a nossa função. Portanto, trouxemos para a Casa parlamentar, o centro do sistema político cabo-verdiano, preocupações de foguenses, de jovens e de menos jovens. Parece que os Deputados do MPD cometeram algum crime. Não vi crime nenhum naquilo que fizemos, mas vamos a continuar atentos e a denunciar situações do tipo para que medidas sejam tomadas de modo a pôr cobro a essas práticas. Foi tão-somente isso que os Deputados do MPD fizeram e que por isso estão a ser criminalizados. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Júlio Correia, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado Júlio Correia (PAICV): - Para uma intervenção. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Antero Teixeira, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado Antero Teixeira (PAICV): - Para dar esclarecimento ao Deputado que me antecedeu. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Antero Teixeira. Sr. Deputado Antero Teixeira (PAICV): - Devo aqui dizer ao colega e Deputado José Luís que, com esta idade, passei a fase de ser menino de mandado. 173 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Devo dizê-lo também que sabe que passei pela porta da escola e que aquilo que digo, que trago aqui com os erros e as insuficiências que possam existir, é produto meu. Contrariamente daquilo que possa acontecer na sua bancada, eu não sirvo de porta-voz de ninguém. Primeiro, queria rectificar que não fiz declaração política. Até por facto de ser membro da Mesa, devia saber que declaração política tem outro procedimento e não é aceitável, nem o Período de Antes da Ordem do Dia é o local para o seu pronunciamento. No entanto, entendo o desespero, a angústia que vos vai na alma e essa angústia hão de levá-la para a cova. Sabe porquê? Nós jamais aceitaremos um partido que quis instalar o terror na nossa ilha e nós, aproveito aqui para lhe dizer, para a sua informação e para a da sua bancada, que nem sequer a invasão a que Portugal foi submetida nós, na ilha do Fogo, aceitámos dos espanhóis. Aplausos da Bancada do PAICV. Temos carácter, temos orgulho e temos dignidade – coisas que faltam a muita boa gente nesta Sala. Agradeço o Sr. Deputado que tenha mais respeito pelos colegas, aquele respeito que quis exigir do Sr. Presidente dos outros Deputados. Dê o exemplo, respeite os outros para que os outros possam respeitá-lo. Vou dar-lhe dois exemplos relativamente a essa anti-democracia de que houve tentativa de se instalar no Fogo: o nosso Presidente da Assembleia, enquanto Deputado e Secretário do PAICV, foi visitar o Fogo na década de 90, 94/95 mais concretamente. Houve uma senhora que, quando ele passava numa viatura, teve a desgraça de lhe levantar a mão. Segundos depois foi chamada à comissão instaladora e foi demitida. Uma mãe chefe de família, com cinco filhos para sustentar. Essa é a bela democracia que se quis instalar na ilha do Fogo. Um outro simples exemplo, talvez, Sr. Deputado, como fez um trajecto relâmpago no Fogo não teve a oportunidade de consultar as pessoas que podiam lhe dar informações, trouxe essa verborreia aqui para a declaração política, que é o seguinte: Na triste história da comissão instaladora, um simples cidadão foguense, para falar com o presidente, teria que falar português. Caso contrário, ele era mandado dar meia volta e ir para casa, sem poder colocar as suas questões. Espero, Sr. Deputado, que nunca mais – por respeito que tenho por si e por todos os Deputados nesta Casa parlamentar – me ofenda com este tipo de discurso porque não lhe aceito. Aplausos da Bancada do PAICV. Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Luís Santos quer a palavra para que efeito? Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - Para uma intervenção. Sr. Presidente: - Está inscrito. Tem a palavra o Sr. Deputado Júlio Correia. 174 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado Júlio Correia (PAICV): - Felizmente no Fogo todos fazemos os nossos discursos, cada um à sua maneira, quando se trata de defender o Fogo. Tenho um discurso que não li, mas que vou ter agora o prazer de aqui fazer o meu discurso sobre a declaração política proferida nesta Casa parlamentar. Sr. Presidente da Assembleia Nacional, Sras. e Srs. Deputados: Antes de ontem, a pretexto de uma declaração política, o Movimento para a Democracia proferiu graves acusações e estranhas insinuações a instituições da República, retratando o seu desempenho na ilha do Fogo como algo à margem da lei, da ética e dos fundamentos do Estado de Direito Democrático, algo jamais consolidado no nosso convívio e a vigorar em todos os cantos dessas ilhas. Tal declaração política, pecando pela perfídia e pela inverdade, constitui a mais grave ofensa à ilha do Fogo e aos foguenses, jamais feita no confronto político parlamentar, merecendo de todos nós vivo repúdio e inequívoca condenação, pois Cabo Verde é a tal linguagem bífida, não é a tal peçonha e vingança, na fala viperina do Grupo Parlamentar do Movimento para a Democracia. Antes de ontem foi um dia triste neste Parlamento na medida em que os Deputados da Minoria, tendo nesse grupo filhos da ilha do Fogo, se permitiram dizer coisas intoleráveis, tais como: a democracia ainda não chegou à ilha do Fogo, vive-se ali um clima de medo e de terror, e as autoridades judiciais e policiais estão ao serviço dos militantes do PAICV. Suposições que não se baseiam em factos e são, por isso mesmo, afirmações covardes porque se escusam da ética das provas. Os Deputados do Movimento para a Democracia, confundindo a árvore com a floresta, tentaram escamotear uma verdade que lhes é dura e dolorosa, de ser a psique elevada e o comportamento tenaz contra a força bruta da imposição, apanágio dos foguenses de continuar a ser o Fogo o honroso espaço do território nacional de resistência contra as intempéries políticas e sociais dos passado longínquo e recente, bem como das remotas probabilidades de estas serem nessa ilha em futuro próximo. Muitos não perdoam os foguenses e o espírito da liberdade e da cidadania, padroeiras cívicas das suas várias bandeiras, como aliás provou o nativista Pedro Cardoso que, em tempos idos, soube defender as suas convicções e as dos seus patrícios, deixando antever a todos os caboverdianos ser Djarfogo a luz cintilante da pátria crioula e não o breu da democracia como antes de ontem a perfídia declaração do MPD, com tristeza, pretendeu nesta Casa parlamentar. Durante os anos 90, contra tudo e todos, enquanto muitos embarcavam no ufanismo da maioria; exacerbada, o povo foguense disse não ao engodo geral de um poder que discriminava os cabo-verdianos e impunha às câmaras a pata autoritária, sobretudo aquelas que não tocavam pelo diapasão do então governo. 175 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Não muito longe da nossa memória, estão as investidas de um determinado Primeiro-Ministro em ofensas públicas aos foguenses, tentando, por um discurso musculado e pela asfixia governativa, mas sem sucesso, torcer a vontade cidadã da maioria dos foguenses. Todos estamos lembrados das frases infelizes desse senhor em relação à auto-determinação de pensamento e de acção das mulheres e homens da ilha do Fogo. Todos estamos lembrados que o lume diabólico das suas ameaças não pôde moldar o ferro inquebrantável dos foguenses e é isto que incomoda, é isto que faz com que, mais uma vez, a um ano das eleições, a pretexto de fazer um balanço da situação do Fogo, o MPD retoma a sua falta de lealdade contra tão valorosa gente e contra as instituições importantes do Estado nessa ilha, com a agravante desta deslealdade ressoar em pleno Parlamento, casa maior de todos os cabo-verdianos. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados: O Fogo, na cabeça do MPD, é uma intolerável irrupção de democracia e de cidadania. Povo que não se embarca em promessas falsas, nem no rabentolismo desmedido. A nossa gente só se aquiesce à força e não à razão da força. Aplausos da Bancada do PAICV. Vulcânica nossa gente, renitente em toda a linha, não será pela perfídia e pela validade da ofensa pública que ela deixará a sua guarda de povo invicto e inquebrantável. Antes de ontem foi um dia triste nesta Casa parlamentar, Casa do povo, Sr. Presidente. Hoje será um dia heróico para esta Casa. Pois, aqui e agora, bem como em todos os cantos do País e da diáspora, o cântico do Fogo, com a sua chama viva e impagável, clama em nossos corações. Ele é um cântico de liberdade, um verdadeiro e premente cântico da democracia, cujas letras se fossem inspirar num canto só de Cabo Verde, com certeza, fá-lo-iam na ilha do vulcão. Tenho dito. Aplausos da Bancada do PAICV. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Para uma intervenção. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Fernandes deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Para dar um esclarecimento. Sr. Presidente: - Faça o favor. 176 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - É o seguinte: ouvi a intervenção do Sr. Deputado Júlio, confesso que não li aquilo que disse na segunda-feira porque estava ausente. Mas, quando oiço o Sr. Deputado a fazer referência dos anos 90, quanto à qualidade da democracia aqui neste País, fico surpreso e justifico porquê. Porque em 2004 nas vésperas das eleições para o poder local, no meu concelho que me viu nascer, o que disse o actual Primeiro-Ministro? Que Tarrafal está na lista de espera. A verdade é que, passados seis anos, não tenho dúvidas de que o Sr. Primeiro-Ministro, o Sr. Ministro das Infra-estruturas e Transportes e o Sr. Ministro da Saúde estão a cumprir aquilo que foi afirmado pelo Sr. PrimeiroMinistro no concelho do Tarrafal. Porquê? Porque passados seis anos, desde essa altura, Tarrafal tem sido discriminado de uma forma vergonhosa e inaceitável num regime democrático como o nosso. Se não vejamos: temos lá um centro de saúde construído há quase quatro anos de portas fechadas. Temos neste momento, como já tive a oportunidade de dizer, o pior centro de saúde de Cabo Verde, disso não tenho dúvidas. Mais, temos condições para, em termos turísticos, sermos concelho por excelência, de certeza absoluta. Infelizmente, este Governo, por causa dessa afirmação do Sr. Primeiro-Ministro, nada tem feito nesta matéria. Vejamos as estradas. Gastam-se milhares de contos de uma forma pouco inteligente e até duvidoso, em detrimento do interesse de desenvolvimento da ilha de Santiago, porque tentar excluir Tarrafal do desenvolvimento, é prejudicar a própria ilha de Santiago. Mais ainda, a Mesa que o senhor pertence, de que faz parte, não estava cá, mas é a sua mesa, o que é que fez aos Deputados do MPD e também do PAICV, porque o PAICV não fala porque tem medo, nós falamos, reclamamos. Negaram-nos um direito fundamental, o direito ao vencimento, o direito de viver, já lá vão quase dez anos. Ganhámos na primeira instância, se houvesse dúvidas aí se poderia tirar a dúvida quando o tribunal se pronunciou. Mas, não. De uma forma maldosa, foi admitido para o Supremo Tribunal e estamos cá há três anos à espera. É esta a qualidade da democracia que temos em Cabo Verde, que os senhores dizem que são democratas. Aliás, já imaginou se o PAICV tivesse ganho em 91 com dois terços? Que tipo de constituição teríamos hoje? O quê que faria o PAICV se tivesse ganho com dois terços? Teríamos a democracia que temos hoje? É a pergunta que eu faço. Portanto, Sr. Deputado, vou ficar por aqui, amanhã também é dia, se necessário, conversaremos amanhã. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Pedro Furtado, quer a palavra para que efeito? Sr. Deputado Pedro Furtado (PAICV): - Para uma intervenção. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Júlio Correia, deseja a palavra para que efeito? 177 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado Júlio Correia (PAICV): - Trinta segundos, Sr. Presidente. Não vou responder ao Deputado Mário Fernandes por uma razão muito simples. Sr. Presidente: - É para esclarecimentos? Faça o favor. Sr. Deputado Júlio Correia (PAICV): - Falei de democracia e ele fala de dinheiro, quando assim é, penso que temos essa dificuldade. A democracia é uma coisa que todos devemos prezar e eu prezo-a muito. Quero, enquanto cidadão foguense, militante do PAICV, dar o meu contributo para o incremento e a qualificação da nossa democracia. Quero estar na linha de frente do combate às falhas e quaisquer prevenções em relação à nossa democracia. Não apenas faço um combate por combater, mas tento aquilo que estiver ao meu alcance para dar um contributo para o melhoramento da nossa democracia. Faria muito bem o Sr. Deputado Mário Fernandes em apoiar neste sentido, ao invés das insidiosas, permanentes, reincidentes acusações aos outros nesta Casa parlamentar. Ele poderia até responder em relação ao assunto que parece ser aquilo que queria dizer, que estava na centralidade do seu pensamento era a questão dos dinheiros. Fez aquele pequeno percurso, pequena incursão sobre os anos 90, depois caiu no assunto que queria cair efectivamente que era a questão dos dinheiros. Também tenho uma resposta para isso, porque como sabe tenho elevadas responsabilidades neste Parlamento enquanto Primeiro-Vice Presidente e enquanto Presidente do Conselho de Administração e conheço, felizmente, esse dossier, o senhor também conhece, mas reincidentemente, não se sabe por que traz essa questão para o Parlamento, mas penso que já ninguém consegue dar outra explicação que não aquela que também conheço. Aplausos da Bancada do PAICV. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Fernandes, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Usando o mesmo direito que ele usou ao dar esclarecimentos, também queria dar esclarecimento do esclarecimento, como fez em relação ao meu esclarecimento. Sr. Presidente: - Faça o favor. Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sr. Deputado, o senhor, para me responder, utilizou de uma forma indevida a figura dos esclarecimentos. Sejamos realistas! Também estou obrigado a utilizar de forma indevida este esclarecimento. O senhor, pura e simplesmente, tentou de uma forma pouco séria, porque se trata de um direito fundamental, Sr. Deputado. Está na Constituição 178 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 da República. Resulta naquilo que tenho direito, o meu vencimento, e foi-me negado. Qual é o problema? [Com o microfone fechado, uma Deputada do MPD disse alguma coisa ao Sr. Deputado Mário Fernandes.] Não me venham dizer aquilo que devo dizer, sei aquilo que digo. Não é por causa do Sr. Deputado Júlio Correia queira transformar aquilo em dinheiro que eu deixo de dizer que foi negado a mim e aos colegas um direito fundamental. Pode dar a volta que quiser, pode dizer nos termos que bem utilizar. A verdade é que esta Assembleia negou aos Deputados um direito fundamental, que seja o direito a voto, o direito a vencimento, não interessa, o que interessa é que negou um direito fundamental aos Deputados, o problema é este. E mais, vou-lhe dizer uma coisa: o problema que se coloca é que o senhor também já, neste caso, tinha direito, querendo, de resolver esse problema, mas não resolveu, só diz “está no tribunal”, porque sabe que o tribunal não funciona. Se o tribunal funcionasse, de certeza absoluta os senhores não teriam esta posição. E não me venham dizer para não dizer. Digo sim, senhor. É uma postura de ditador, de revanche, a postura que os senhores tiveram em 2001. Quer que eu lhe diga mais? De falta de respeito pela função de um Deputado. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Júlio Correia. Sr. Deputado Júlio Correia (PAICV): - Sr. Deputado Mário Fernandes, o Sr. Deputado sabe que eu tenho o maior respeito por si e por todos os Deputados. Não estou de acordo com nenhuma coisa que disse, porque não disse as coisas como elas devem ser ditas e depois diz que os outros é que faltam a verdade. O Sr. Deputado foi censurado na sua própria bancada e eu apercebi-me disto, aquando desta última intervenção. Sr. Deputado, o Parlamento cabo-verdiano não pode, nem deve negar direitos aos Deputados, não pode negar direitos a ninguém, mormente àqueles que representam o povo destas ilhas. No entanto, rapidamente a sua história conta-se da seguinte forma: alguns Deputados, que o senhor agora alvora ser porta-voz (não se sabe muito bem porquê) tiveram esse problema com o Parlamento. Não estava cá enquanto vice-presidente e presidente do conselho de administração, mas tomei o pulso, como é evidente, desta situação. Houve o recurso para o tribunal e o senhor está aqui a dizer que agora deve-se esquecer o recurso e à margem desse recurso o Parlamento decidir e queixa-se de morosidade do tribunal, podemos queixar todos, mas é aí que está o problema, lá onde deve ser resolvido. Portanto aqui, Srs. Deputados, estamos conversados. Quer dizer, quem nos ouve até parece que estamos a ter diálogo de surdos. Há um problema realmente que emergiu, o Parlamento tomou uma posição sobre esta matéria, os senhores recorreram para o tribunal e o recurso 179 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 tem que ser decidido. Não se consegue ver qual será o outro caminho para resolver este problema. Quando o tribunal decidir, o Parlamento, obviamente, agirá em conformidade. Esta história está contada. Não há outra questão. O resto é aquilo que está na sua cabeça, mas aqui a gente já não pode fazer mais nada. [Com o microfone fechado, o Sr. Deputado Pascoal Santos (MPD) disse: “Ka bo intervi más, Mário!”] Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Ka nhos txoma-m atenson. Nhos fla-l pa e ka interve tanbe. N ka sta pára! So si ka da-m palavra! Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Fernandes, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Também para reagir. Sr. Presidente: - Quer usar da palavra em que sentido, Sr. Deputado? Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sr. Presidente, vamos ver: dei esclarecimento, vou fundamentar apenas… Sr. Presidente: - Sr. Deputado, a Mesa está a perguntar ao Sr. Deputado para que fim quer usar da palavra, para que o uso da palavra seja enquadrado regimentalmente, porque os regimes são diferentes conforme o fim do uso da palavra. O Sr. Deputado sabe disso. É isso que eu quero do Sr. Deputado. Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - É isso que estou a fundamentar, Sr. Presidente. Sr. Presidente: - O Sr. Deputado fundamenta o quê? Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Não quer que eu fundamente, não fundamento. Não há problema. Sr. Presidente: - Tem de dizer o quê que quer e depois é que fundamenta. Para que fim é que quer usar da palavra? Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sr. Presidente, eu já disse. Em resposta ao Sr. Deputado Júlio Correia, que também reagiu em resposta àquilo que falei. Dá para perceber? Se não quer que eu fale, não falo. Não há problemas. Sr. Presidente: - Oh, Sr. Deputado, para mim é absolutamente igual se falar ou não. O Sr. Deputado tem o direito de falar. O Sr. Deputado deve, perante o Plenário, – porque isto aqui é uma assembleia que tem as suas regras, senão é o caos – dizer para que fim quer usar da palavra, para que o uso da palavra, por si, seja enquadrado regimentalmente. Se quer fazer uma pergunta, se quer um esclarecimento, se quer fazer uma intervenção, para 180 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 cada um destes fins há uma regra no Parlamento e o Sr. Deputado sabe disso. É só isto. Se o Sr. Deputado pedir para um fim que, por exemplo, não seja lícito, a Mesa pode também tomar uma determinada atitude. É isso que eu desejaria que o Sr. Deputado esclarecesse ao Plenário. Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sr. Presidente, vou prescindir do uso da palavra. Espero também que quando o Sr. Júlio pedir a palavra na sequência da minha intervenção, tenha a mesma medida para o caso. Prescindo da palavra. Sr. Presidente: - É o seu direito prescindir da palavra. No entanto, não insinuar em relação à condução dos trabalhos, isso é ofensivo. Penso que é importante dar-se um esclarecimento sobre esta matéria. O assunto que o Sr. Deputado trouxe agora, outra vez, sobre o conflito que existe entre alguns Deputados e o Estado é um assunto que envolveu Deputados do PAICV e Deputados do Movimento para a Democracia. Às vezes passa-se a ideia lá fora de que foi a Assembleia que tomou uma posição que visava pôr em causa os Deputados do Movimento para a Democracia. Não é isso que aconteceu. O que aconteceu é que tínhamos um Regimento que previa a profissionalização, exercício a tempo inteiro do mandato dos Deputados na próxima legislatura. Iniciou-se a legislatura, alguns Deputados entenderam que deviam, sem qualquer acto de organização interna do Parlamento, começar logo a receber as suas remunerações. Isto é um entendimento, pode-se estar de acordo ou não. No entanto, uns quiseram pôr a Assembleia perante um facto consumado, mas o que acontece é o seguinte: a Assembleia, como todo o Estado, funciona na base de orçamento, de decisões orçamentais. Para pagar tem de haver um orçamento. No início da legislatura não havia esse orçamento. Os Deputados podiam invocar esse direito, como até em legislaturas anteriores podiam ter invocado, com base no princípio da igualdade, o direito a obterem uma remuneração que não obtiveram durante todas as legislaturas anteriores. Então, a Assembleia só veio a decidir essa questão a partir do mês de Julho e há esse conflito. Se há esse conflito, os Deputados julgaram por bem ir ao tribunal depois de muito tempo. Penso que é legítimo que os Deputados tenham ido ao tribunal, que é o lugar próprio para decidir, num Estado de Direito, conflitos de entendimento quanto a direito. É isso. Há uma primeira instância, tomou-se uma decisão e depois quem representava o Estado ou o Parlamento entendeu que a sua posição estava correcta, entendeu recorrer e isso faz parte dos direitos que as pessoas têm e as pessoas colectivas também têm o direito de recorrer para a instância própria, para decidir o assunto, que é o tribunal. Compete, num Estado de Direito, aos tribunais decidirem o que é direito e o que não é. Não compete aos Deputados nem tomar decisões, nem isoladamente tomar decisões orçamentais, nem isoladamente dizer o que é o direito. Quem diz o que é o direito são os tribunais e é o que aconteceu. 181 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 De modo que, Srs. Deputados, penso que nós todos devemos confiar na justiça cabo-verdiana e esperar que a justiça tome uma decisão final, não se chegou a uma decisão final e a partir daí, obviamente, quem tem de agir; há-de agir. No entanto, não podemos, permanentemente, transformar este assunto numa questão de pressão política sobre a justiça, porque isso pode ser entendida como uma pressão sobre a justiça. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal Santos, deseja a palavra que efeito? Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Para uma intervenção. Sr. Presidente: - Sr. Deputado, fica inscrito para uma intervenção. Sr. Deputado Mário Fernandes quer a palavra para que efeito? Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Para interpelar a Mesa. Sr. Presidente: - Para interpelar a Mesa em relação à condução dos trabalhos. Faça o favor. Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sr. Presidente, com todo o respeito que tenho por Vossa Excelência, penso que na qualidade de presidente da Mesa, quando um Deputado intervém, reagindo contra a sua intervenção, mesmo que seja um assunto que diz respeito indirectamente à Mesa, penso eu, com todo o respeito, que o Sr. Presidente não deve usar da palavra para me dar resposta. Ao fim ao cabo o Sr. Presidente entra num debate comigo, depois cortame a palavra como bem entender. É esta situação que penso que não é correcta. Penso que esta não é a forma de conduzir um Plenário pluridemocrático. Se, de facto, o Sr. Presidente quer se colocar a nível do Deputado então que mude de posição, a gente aqui pede a palavra a quem conduz a Mesa. Nessa circunstância (não é a primeira vez) fico em desvantagem. O senhor diz como bem entender, depois não me dá a palavra. Penso que, com todo o respeito, não é assim que devemos conduzir uma Assembleia Nacional, a Plenária. Portanto, peço ao Sr. Presidente que quando nós temos aqui as nossas discussões, a nível do Plenário, que não intervenha para esclarecer e da forma como esclareceu, porque faltaram alguns elementos essenciais na sua intervenção. Não é bem assim como disse em relação ao processo. Eu tive a hombridade de dizer que não só os Deputados do MPD, como também os Deputados do PAICV… portanto não é… Vou ficar por aqui. Sr. Presidente: - Sr. Deputado, não está a fazer nenhuma interpelação à Mesa, está a fazer uma intervenção. 182 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Está certo. Estou a fundamentar para dizer porquê que não estou de acordo com a sua forma de conduzir a Mesa, com todo o respeito que eu tenho por si. Fico por aqui. Sr. Presidente: - Sr. Deputado é o seguinte: passei-lhe a palavra para fazer uma interpelação à Mesa. Normalmente interpelação à Mesa faz-se quando as pessoas têm dúvidas em relação à condução dos trabalhos, devem manifestar essa dúvida. O Sr. Deputado acusou a Mesa, acusou-me de intervir. Não fiz nenhuma intervenção. O Sr. Deputado é que veio aqui colocar uma questão e insinuar, no fundo, que a Mesa não estava a proceder de acordo com as regras da democracia. O Sr. Deputado veio também prestar informações que, do ponto de vista da administração da Assembleia, não são correctas e quem representa a Assembleia tem o direito a prestar informações às pessoas para evitar exactamente que se ponha em causa a imagem e a dignidade do Parlamento. Na verdade, comportando-se assim, está-se a pôr em causa a honorabilidade da própria Casa parlamentar e quem tomou aqui as decisões foi o próprio Plenário ao não aprovar o orçamento para a profissionalização num determinado momento. É claro que a Assembleia apresentou no lugar certo os seus argumentos jurídicos sólidos, pode ter razão ou não e aí caberá aos tribunais decidirem. No entanto, as pessoas não podem vir cá insultar a todos e depois pretenderem que as pessoas não podem dar sequer uma informação e nem podem defender-se. Sobre isso penso que está tudo dito. A Mesa não participa nos debates com os Deputados. O que a Mesa exige é o respeito por ela e pelo Parlamento e dá as informações necessárias aos Deputados. O povo de Cabo Verde tem direito a uma informação correcta e objectiva sobre os factos. Tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro para uma intervenção. Sr. Deputado António Monteiro (UCID): Sr. Presidente da Assembleia, Sra. Ministra e Sr. Ministro, Colegas Deputados: Vim cá fazer esta intervenção para esclarecer algumas situações que ouvimos hoje de manhã, para que não fiquem dúvidas quanto à Câmara Municipal de São Vicente. Primeiro, para dizer que temos de ter em linha de conta as informações que às vezes damos, porque uma informação mal dada, um número mal posicionado deturpa as informações e faz com que as pessoas não consigam, de facto, entender a mensagem. Ouvimos, aqui de manhã, que a nova ETAR de São Vicente vai conseguir processar cerca de 900 mil metros cúbicos de água, em relação a 3 mil metros cúbicos que temos neste momento. Ora, isto não corresponde à verdade porque São Vicente não tem capacidade e qualquer governo que cometesse um erro desta grandeza, era um governo que não tinha a visão daquilo que é o País. 183 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Para dizer que a verdade é que vai se duplicar a capacidade de tratamento da ETAR em São Vicente. Temos uma ETAR que processa 3 mil metros cúbicos de água por dia e a nova ETAR vai mais ou menos duplicar essa capacidade (não é nem ao dobro, mas vai um pouco mais além do dobro). Isto é, a ETAR de São Vicente vai estar à volta de 6 mil a 7 mil metros cúbicos. Quer dizer 900 metros cúbicos é um número extremamente exagerado para a ilha de São Vicente e para uma população de cerca de 80 mil habitantes. De forma que é preciso que os dados sejam transmitidos com alguma segurança. Dizer também que a Câmara Municipal de São Vicente é uma câmara que não consegue fazer a sua gestão … É uma câmara com pessoas sérias que estão a trabalhar para que São Vicente seja, de facto, um exemplo a nível nacional. Vir cá pôr em dúvida a capacidade das pessoas, dos políticos, dos trabalhadores, dos técnicos da câmara, pensamos que é muito exagerado. Nós (incluo-me nessa condição como vereador a meio tempo) estamos lá para servir da melhor forma a população de São Vicente. A Câmara de São Vicente, felizmente, nesta matéria, consegue aqui no Parlamento responder porque tem um vereador aqui como Deputado, mal grado as pessoas que não gostam disso. Queria dizer que nós na câmara não sabemos ainda qual o número de famílias que vão ser contempladas. O Governo assinou um contrato programa com uma associação em São Vicente para executar as ligações domiciliárias dos esgotos e nós desconhecemos este número que cai, que é de 6 mil famílias. Ora, devemos aqui dizer que em São Vicente não há – nas extensões que o Governo autorizou, posteriormente ao projecto da terceira fase do plano sem terras no Mindelo – tantas famílias para serem ligadas. De forma que, mais uma vez, estamos aqui perante números que não correspondem à realidade. Quero deixar aqui estes esclarecimentos e dizer que o que precisamos em São Vicente é o aumento da capacidade da produção de água, porque para os reservatórios que temos não há capacidade de água disponível para os encher. De forma que, nesta matéria, quero pedir ao Governo para ver se há esta possibilidade de aumentarmos a capacidade de produção de água potável, porque aí sim teríamos água suficiente para abastecer a população e encher os tanques que normalmente estão sempre vazios. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos, para uma intervenção. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Prescindo, porque a minha intervenção era sobre o Fogo. Era só isso, mas depois há uma outra intervenção. Prescindo. Só para pedir à Mesa e a todos os actores aqui presentes, voltemos ao Fogo, concluamos o Fogo, deixemos outras coisas e passemos adiante. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Santos. Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - Sr. Presidente, na intervensãu ke Antero faze e konsidera ku N falta-l respeite. 184 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Presidente: - Sr. Deputado, penso que o senhor Deputado é um homem elegante, está a falar para o Sr. Deputado Antero, penso que é de bom-tom e de fineza parlamentar a gente tratar-se por “Deputado”. Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - Claro, aliás se cometi esse erro peço desculpas, mais uma vez. É “Sr. Deputado”, ele merece todo o meu respeito. Sr. Deputado Antero, pesoa ku N konxe diazá y ke no konxe muito bem, pesoa ke senpri nu ruspeita kunpanhere. E konsidera ma N desrespeita-l na nha intervensãu, so purke N fla ke deklarasãu kel faze li na Periodo de Antes da Ordem do Dia foi un deklarasãu skritu konjuntamente pa Deputadus di Fogo y ki el sirvi di porta-voz, pelo menos foi isso ku N pretende fla. Mi N ta otxá kela ke é normal, mi N ta gustá ki na Boa Vista tivesse un grupe di Deputade pa, nun mumente ó ote ki Boa Vista o ke nha partide fosse akuzadu di un o ote koza, nu fazia un intervensãu konjunta, pa nu nomeaba un porta-voz ke é pa li na Parlamentu ben sirviba di porta-voz di grupe, koiza más natural. Unde ki sta ofensa, Sr. Deputade? Não vi ofensa nenhuma, pelo menos, ka foi nha intensãu ofende-l purke mi nunka N ta ben pa Parlamentu pa ofende ningen, aliás ka foi pa kela ku N foi ileitu, sobritude nhas kulega. N ten pa nha kulegas, nomeadamenti pa kulega Deputade Antero, maior respeite, y N sabe ku N ka falta-l respeite, má se-l sinti ofendide N ta pidi-l, solenente, dali di tribuna, e pa isso ku N ben li, nhas sinsera deskulpa. Má el fla mo e ka ben li faze deklarasãu pulítika, mi N ka fla tanbe mo el ben faze deklarasãu pulítika. N fla ma el faze un deklarasãu na Período de Antes da Ordem do Dia em nome de Deputade. Más isso foi evidente purke na segunda-fera, dipós di deklarasãu pulítika di MPD, todos os Deputados do Fogo reuniram-se imediatamente e produziram uma declaração, natural, normal, não vejo mal nisso. El fla tanbe kel ka ta sirvi de porta-voz de ningen. Nha funsãu li y funsãu di tude Deputade é sirvi di porta-voz de pove de Cabo Verde. N ta pensa ke é un funsãu nobri, mi N ta sinti mutu ben, N ta revê mutu ben nes funsãu di portavoz di populasãu y tanbe, já agora, di porta-voz di un grupe di Deputade, koiza absolutamente normal. E até, penso, bonito. Sr. Deputade Antero debia senti até engrandeside di ter sido ileitu porta-voz di un bunite grupe, di un grandi grupe di Deputade di Fogo. N ta pensa ki isso ta kontribui puzitivamente pa se perkursu enkuantu Deputade. Sr. Deputade terminá se intervensãu pa mi di pior forma, el fla ke pa dezesperu di MPD, pa angustia di MPD, es angustia de nós no ta leva-l pa kova, o seja, na Fogo ka ten ipótize di mudansa, di povo un dia disidi muda di opiniãu, di povu disidi da konfiansa pa ote partidu pulítiku. Es é un atitude poke demokrátiku, Sr. Deputade, es é un atitude tanbe di pasa kuazi ki un atestade di menoridade pa kel pove. Quer dizer, moda ta fladu jente de Fogo ta vota PAICV de abuzu. O fazedu dretu o nau, ka ten ipótize di muda. Quer dizer, es dezespere, es angustia no ta leva-l pa kova. Nãu, Sr. Deputade, N ta pensa ke keli ka é forma más kuretu di analiza konportamentu di un populasãu. Populasãu ta eleje determinadu poderes, es ta kunfia nes na bazi de un plataforma eleitoral, mas es deve faze ses trabadju di fiskalizasãu, di kunprimente de promesas. Nu ta akredita ma na prósimus eleison populasãu 185 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 de Fogo ta mostrá PAICV kes ka ta nada kontente ke ses dezenpenhe, purke no vizitá, nu ovi txeu koza y, unanememente, pesoas ta fla kes ka ta satisfeite ke dezenpenhe dês Guverne purke foram-lhes feita promessas e mais promessas, durante anos e mais anos e cumprimento é muito fraco. Ago, Sr. Deputade, no kre reafirma li y traze alguns informason ke no traze de Fogo, pa nu mostra ke na Fogo ten abuze, ta kumetide excesso na Fogo, determinados poderes ta kumete determinados excessos na Fogo. Por izenplu, é inaseitavel, nun Estado Demokrátiku, ke un prezidente di kâmara munisipal ta arma em kapatas, em cabo-chefe, em pulísia, ta manda prende pesoas arbitrariamente. Isso é inaceitável, isso foi nos dito pa jentes na Fogo… Aplausos de alguns Deputados do MPD. … de prezidentes de kâmara ke ta manda prende pesoas. Kel la é demokrátiku? Kel la ka ten un bukadinhu de konfuzãu de papeis? Srs. Prezidentes ka ta ta arma em kabo-xefe, em polísia pa manda prende pesoas? Ka ten konfuzãu de papeis y de funsoins? No ta pensa ma sin. Y nos nu ben li sirvi de porta-voz de angústia y de preokupasãu de kel populasãu. Nu kumete algun krimi? Penso que não. É normal ke nun kâmara munisipal 100% de funsionárius é militantes de PAICV? Y ke un dia deskubridu mo fulanu di tal ka era PAICV, kelote dia el tava dizenpregadu, é normal? Pa nos ka é normal, e kel la ke no ben li fla ma es fla-nu pa nu fla. Y nos é porta-voz de populasãu. Ma ten kozas inda más grave, ka ta da pa no fla li y N ka ta ben fla muito sinceramente, purke es Parlamentu ta merese nha respeitu, por isso no ka ta fla, má no kre so traze pekenus-grande izenplu di arbitrariedade ke ta kumetide na Fogo. Sr. Deputadu, ilustre kulega Deputade Júlio Correia fla ke PAICV ta fala de demokrasia, enkuante Deputades di MPD, nomeadamente Deputade Mário Fernandes ta fala di dinhere. Nos li no ta ta fala y na deklarasãu pulítika di há dias no ta fala di un koza inpurtante, no fala de abuzus di puder, de arbitrariedade ke ta kumetide na Fogo y ke, de nos ponto de vista, ta ta mantxá demokrasia cabo-verdianu. Aplausos da Bancada do MPD. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Antero Teixeira, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado Antero Teixeira (PAICV): - Para esclarecimento. Sr. Presidente: - Faça o favor. Sr. Deputado Antero Teixeira (PAICV): - Sr. Deputado, antis di N sklarese dos kestãu, N kre kontaba nho más un anedota relativamente a kel ke nho fla ma mudjer fla ma é ta vota na PAICV pa dizaforu. Ten un otu stória mutu más interesanti inda: un dia un militanti di MPD, na ses atitude di sabe ken é ken, e purgunta un senhor: “Ma bo go pamodi ki bo 186 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 é kontra MPD si e ka fazebu nada?” E fla, “bu sta inganadu, mi N ka kontra MPD, mi é kontrísimu”. Isso só pa mostra até undi kredibilidadi sta na Fogo. Voltando pa diskulpas, Sr. Deputado, N ta observa ku mutu atensãu kuandu tenta kuriji li me, fla ma nha intervensãu foi uma acção concertada entre os Deputados do PAICV da ilha do Fogo. Má inisialmente e fla Ma N bai le diskursu ki Júlio skrebe. N ta ripiti, más un vez, ami N ka ta le diskursu di ningen, N ta le di meu. Y N kre apruveita so pa N sklarese Sr. Deputadu dós kuza, pa N informa-l: di primária ti sétimu anu antigu, nunka N ka riprova na língua portugeza y N tevi nota razoável, má N pode tanbe apruveita pa N fla-l ma nhas profesores di portuges nunka ka koriji-m erros de ortografia, tais quais: skrebi “você” ku cecidilha etc. Isso pa N fla ma N ka ta poi di ladu, alguns bes, te ki N faze nha intervensãu, N ta pidi Júlio, N ta pidi Deputada Filomena y N ta pidi txeu Deputadu pa le pa odja si kualidadi, si ideia, sobritudu ka ten asãu di ofende ningen purke é un prinsípiu ki N ta salvaguarda nes kaza parlamentar. Más, kuandu e fla ma N debia senti orgulhu di porta-voz, N kria fla-l y pa ka diturpa nha intervensãu, pamodi N ka pirmiti-l di ningen, N fla-l ma N ka sirbi di porta-voz, isto é, N ka tumá diskursu di ningen pa N ba le na tribuna. É kela ki N kria flaba. Má N ten un kuza ki N ta fla-l, N ten orgulhu dimás di ser porta-voz y kriadu di populasãu di Fogo en partikular y di tudu Cabo Verde en jeral, enkuantu Deputadu. Má un kuza nhu fika sertu, Sr. Deputadu, ka so nho, tudu algen na kel bankada ki tenta dinigri imajen di gentis Fogo, N sta prontu pa N da-l konbati sen trégua, purke nos na Fogo dignidadi é pa nós kuza introkável, inegosiável, em favor di quem quer que seja, doa a quem doer, la undi dignidadi di gentis di Fogo for posto em causa nha voz sta senpri pa da konbati. Aplausos da Bancada do MPD. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Pedro Amante Furtado, o seu grupo já não tem tempo. Tem a palavra o Sr. Deputado Pascoal Santos. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Só para dizer, rapidamente: o Grupo Parlamentar do MPD fez jornadas parlamentares no Fogo e na ilha Brava. Mas, depois de um bom início de intervenção, assistimos aqui a várias coisas que não têm nada a ver com o Fogo, coisas também onde toda a gente parece que sai culpada nesse desvio. Bom, assistimos aqui a alguns namoros perversos, reconciliações, declarações de amor duvidosas e depois novas guerras, novas zangas, etc. É preciso voltar ao Fogo e digo, rapidamente, o seguinte, Sr. Deputado Antero Teixeira: ser contríssimo é anti-democrático e fascista ou totalitário. Risos de alguns Deputados do MPD. Ter orgulho demais é pecado. O senhor não recebeu qualquer procuração dos cidadãos e do povo do Fogo para representá-los. A dignidade 187 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 do povo, o senhor tem a sua dignidade na medida em que a tiver… e nós todos, não só o senhor. É isso. Quanto ao Fogo, Srs. Deputados, a população do Fogo não vota só PAICV, vota MPD e já demonstrou isso. Até num concelho, por diferença de um ou dois votos, o MPD não ganhou numa eleição municipal. Portanto, vejam bem. Mais, o MPD cresce cada vez mais no Fogo, mas deixemos a palavra agora com o povo nas próximas eleições. Não discutamos mais isso. No entanto, que o Fogo tem sido posto – sobretudo no concelho de São Filipe e não só – a ferro e fogo e isso é sentido pela população. Fogo está sob ferro e Fogo a braços com as ditaduras locais e com as intervenções centrais do PAICV. Sr. Presidente: - Para responder a perguntas dos Deputados ou a intervenções dos Deputados, tem a palavra a Sra. Ministra da prematura, isto é, da Presidência do Conselho de Ministros. Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Janira Hopffer Almada: Sr. Presidente, Srs. Deputados, Caros colegas do Governo: Eu gostaria de, fundamentalmente, comentar, respondendo a intervenção do Sr. Deputado António Monteiro. Sr. Deputado, efectivamente, como o senhor aqui afirmou, está a decorrer em São Vicente um projecto de extensão de um sistema de distribuição de água, produzida pela Electra, de drenagem de águas residuais e também de recolha de resíduos sólidos, que é no montante global de 900 mil contos. Para a terceira fase de saneamento do Mindelo, está contemplado esta resolução de resíduos sólidos que é um projecto do Governo. O Governo vai oferecer – a título de apoio, à Câmara Municipal de São Vicente, como já foi referido pelo Deputado João do Rosário – 7 camiões de lixo. Vai oferecer também à câmara municipal, com vista à melhoria da qualidade de vida da população, 350 contentores; vai oferecer um Bulldozer D-6 e vai oferecer também a reabilitação da lixeira. O Governo também vai contemplar – conforme tinha sido referido, pelo Sr. Deputado João do Rosário – seis mil famílias, em princípio, com a ligação gratuita à rede de esgotos e água. O Sr. Deputado disse que não tem conhecimento do número de famílias, portanto estou a dar-lhe, neste momento, conhecimento desse número. Penso que é um projecto muito oportuno e muito importante, ontem ainda assistimos na televisão a várias pessoas na zona de Monte Scalde, Monte Sossego, salvo erro da minha parte, que estavam a reclamar o facto de já se terem dirigido variadíssimas vezes à câmara municipal, solicitando a ligação das suas casas à rede de esgoto. Algumas pessoas até com as casas de banho construídas há mais de 2 anos e tal não foi feito ainda pela câmara. 188 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 O Governo tem este papel de promover o desenvolvimento nacional, com o necessário equilíbrio em todas as ilhas do País, em todos os concelhos e apoiar sempre que necessário. Portanto, mais uma vez, o Governo aqui está a pensar na população de São Vicente, vai proceder a essas ligações à rede de esgotos e água às famílias de São Vicente. Em princípio seis mil famílias em São Vicente serão beneficiadas com este projecto do Governo de Cabo Verde para uma melhoria na sua condição e qualidade de vida. Relativamente à HETAR e ao aumento do volume de água, aqui efectivamente haverá uma duplicação no volume de água, passará de 3 mil metros cúbicos por dia para 6 mil metros cúbicos, o que terá suas consequências positivas também na qualidade de vida dessas mesmas populações. Também, ontem, assistimos a essa reclamação da população de São Vicente, dessa zona, no que tange ao trabalho que a câmara tem feito ou não nessa questão. Portanto, o Governo está ciente, no âmbito das suas atribuições como poder central, em actuar, mas também para apoiar, mesmo não sendo as suas atribuições directas, para ir melhorando a vida da população de Cabo Verde, neste caso em particular da população de São Vicente. Penso que é o que me cumpre esclarecer, Sr. Presidente, por hora, sobre essa questão. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Para dar um esclarecimento. Sr. Presidente: - Sr. Deputado, estou a ser informado que já não dispõe de tempo. Consumiu os cinco minutos. Terminamos aqui o Período de Antes da Ordem do Dia e anuncio o Período da Ordem do Dia. Temos a Proposta de Lei que altera o Decreto Legislativo nº 10/93 de 29 de Junho, que regula o Exercício da Actividade de Radiodifusão em Cabo Verde. Tínhamos inscritos os Srs. Deputados António Monteiro, José Manuel Andrade, António Pascoal Santos, Humberto Cardoso e Vanusa Cardoso, e o Sr. Ministro ainda tinha alguns esclarecimentos para dar. Tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro. Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Presidente, prescindo. Sr. Presidente: - O Sr. Deputado José Manuel Andrade tem a palavra. Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Sr. Presidente, prescindo. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos. 189 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: É para retomar o sentido das preocupações ontem aqui expressas pela minha bancada a respeito desta proposta de lei de alteração do DecretoLegislativo nº10/93 que é a lei de radiodifusão. Ontem, na altura em que interrompemos, estávamos a discutir precisamente a questão de alteração do artigo 3º e a referência à concessão e voltamos a dizer. Esse número, ao dizer que o Estado assegura a existência e o funcionamento de um serviço público de radiodifusão, em regime de concessão, ao dizer só isso, está a desconfigurar o disposto na Constituição da República. Foi aqui respondido pela Sra. Ministra da Presidência de que isso não altera o artigo 59º, que não foi alterado na revisão etc., etc. Sra. Ministra, com o devido respeito pela sua opinião, neste momento a Constituição que está em vigor ainda em Cabo Verde é esta que temos neste momento e que estamos a olhar para ela. Enquanto a revisão não for publicada, não há lei de revisão. O que os cabo-verdianos estão a aferir neste momento e os actores políticos, judiciais e os jornalistas, actores de comunicação social, é a Constituição vigente. Quem garante ao povo de Cabo Verde o quê que está e o que não está revisto na Constituição? Só a publicação. Desde já peço ao Sr. Presidente da Assembleia que exerça toda a sua autoridade para promover e garantir que o Governo garanta a publicação, o mais urgente possível, da lei da constituição revista. O que está aqui em causa não é só a questão do artigo 59º. Neste momento não temos a nova Constituição. Estamos numa situação de pendência de publicação e não é politicamente ético estar-se a alterar um pacote de leis da comunicação social, quando ainda não foi publicada uma lei de revisão, quando essa lei contém o regime essencial do organismo responsável pela regulação na comunicação social. O quê que está escrito nesta lei? Neste momento o povo de Cabo Verde não sabe, porque não está publicado. Não é a Sra. Ministra a lembrar-se, nem eu, nem a João, nem Maria… A lei vincula quando está publicada. O quê que a Constituição garante no artigo 159º? Garante não só um serviço público de rádio e de televisão, mas também garante a existência necessária e incontornável do sector público da comunicação. A doutrina política é clara, mas também é na lei portuguesa, onde o PAICV se inspira, só quando lhe convém. As leis sobre a comunicação social portuguesa garantem a existência de um sector público de comunicação social e dizem que a concessão só pode ser feita a operadores ou empresas, entidades de capitais públicos, entidades públicas ou de capitais públicos ou maioritariamente públicos do Estado. Isto é uma garantia fundamental, ou seja, se não for garantido a existência de um sector público, sector antes de serviço, da comunicação social, fica em causa a prestação de um serviço público de comunicação social de forma a ser devidamente fiscalizado pelo Estado 190 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 através da regulação competente e não através da conveniência deste Governo do PAICV, do MPD ou seja lá de quem for. Portanto esta norma, ao dizer apenas concessão sem dizer mais, se dissesse concessão aos operadores públicos ou de capitais públicos ou maioritariamente público, aí já estaria conforme a Constituição e aí não há intenção, não é boa fé apenas, é o que está dito e escrito na lei e é isso que vincula a população, os destinatários, os intérpretes e julgadores. Esta norma, nesta medida é inconstitucional porque restringe o núcleo essencial de garantia dada pela Constituição… Sr. Presidente: - Sr. Deputado, pode concluir? Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - (Estou a concluir Sr. Presidente)…restringe esse núcleo fundamental de garantia dado pela Constituição que é a ligação do serviço público rádio e televisão em consonância necessária com a existência de um sector público da comunicação. Os privados, movidos por interesses privados, nunca vão cumprir e querer cumprir, até porque têm fins lucrativos, não podem cumprir como se fossem um sector público da comunicação. Também aqui não está dito nesta proposta de lei a questão da transparência, do conhecimento das entidades que detém os capitais, as empresas ou as instituições. É tudo isso que está em causa. E não se venha pedir ao MPD que vá às comissões especializadas ajudar o Governo do PAICV a violar a Constituição e a desconstruir a democracia cabo-verdiana. Esta proposta de lei, Sra. Ministra, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, traz um cheiro forte a fascismo misturado com estalinismo. Há um regresso da democracia cabo-verdiana. A democracia cabo-verdiana em matéria de comunicação social está seriamente em perigo. Sr. Presidente: - Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros, deseja a palavra para que efeito? Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Para dar um esclarecimento, Sr. Presidente. Sr. Presidente: - Tem a palavra. Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Deputado António Pascoal dos Santos, ouvi atentamente os fundamentos que dirimiu. Respeito profundamente a sua opinião. Há alguns aspectos que merecem o acordo do Governo, há outros que nem tanto. Primeiramente, no que tange aos fundamentos, o Sr. Deputado disse aqui que o texto da revisão da Constituição não está publicado. Como tal não existe, não tem eficácia jurídica. O que existe agora é o que está publicado. Estamos de acordo Sr. Deputado. Estamos completamente de acordo. No entanto, vamos nos recordar também que ontem, durante toda a tarde, o principal argumento de vários Deputados do MPD era: já há revisão constitucional, embora não esteja publicada tem que se levar em consideração. O Governo disse: sim, está a levar em consideração. Portanto, este argumento 191 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 tem que ser, se calhar, melhor trabalhado porque não podem valer às vezes e deixar de valer outras vezes. O Governo assumiu a posição e reitera aqui que na elaboração deste pacote teve em devida consideração as alterações que ocorreram com a revisão da Constituição recentemente promovida. Tanto é que em todos os diplomas que consubstanciam este pacote dos diplomas da comunicação social são feitas referências à entidade reguladora. E assumimos aqui também a posição de que pretendemos enquanto Governo, órgão com capacidade para legislar ou propor ao Parlamento a alteração de diplomas, a regulação dessa questão da entidade reguladora de forma especial e autónoma. No entanto, não poderei estar de acordo consigo, Sr. Deputado. Até aqui penso que estamos em sintonia. Não há nenhum ponto de desacordo. Mas eu não poderia estar de acordo consigo, Sr. Deputado, com o devido respeito, quando diz que esta norma constante do diploma que ora se pretende alterar restringe a Constituição da República de Cabo Verde. E aqui estou a falar da Constituição em vigor porque também não foi alterada nesta parte. Manteve-se exactamente igual no artigo 59º. Não houve uma única vírgula que tenha sido alterada. Porquê que não concordo consigo? Não concordo consigo porque entendo, aqui estou a falar, naturalmente, em nome do Governo, que a Constituição, como referi ontem, dá as linhas mestras, mas, naturalmente, cabe ao legislador ordinário, neste caso o Parlamento, regular. Não percebo como é que através do contrato de concessão, cujos termos estão, por lei, estabelecidos, como é que se faz a concessão. Poderíamos estar aqui a enveredar por essa via que o senhor referiu. Aí não percebo, isso do ponto de vista jurídico. Do ponto de vista político, tenho algumas dúvidas porque um dos principais argumentos que a vossa bancada tinha apresentado nesta Casa parlamentar e em sede de várias comissões especializadas, nas quais tenha participado, é de que o MPD era o principal promotor da iniciativa privada e da liberdade económica e este é um argumento que tem sido de forma reiterada, contínua e permanentemente usada nesta Casa. Entretanto, quando o Governo apresenta uma proposta ao Parlamento, falando na possibilidade de haver essa concessão, sendo certo que a concessão ou os seus termos estão devidamente regulados em diploma próprio, eu aqui tenho algumas dúvidas: fico sem perceber, no fundo, qual é a linha ideológica do próprio MPD. Tenho essa dúvida e penso que é legítima, salvo devido respeito. Por isso, gostaria de lhe dizer também, Sr. Deputado, que o Governo, como o Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro tinha afirmado ontem, tem toda a abertura para, em sede de comissão especializada, rever, analisar e absorver as sugestões que possam ser absorvidas e aqui é claro que… Eu não entendo a posição do Sr. Deputado quando diz que o Governo não espera que o MPD o ajude a violar a Constituição. Esta não é a pretensão do Governo, Sr. Deputado. Eu não parto do princípio que o Sr. Deputado queira violar a Constituição. Penso que tem o benefício da dúvida. O senhor saberia, como Deputado também, que se deve dar o benefício da dúvida a outra parte. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal dos Santos, deseja a palavra para que efeito? 192 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - Para um esclarecimento. Sr. Presidente: - Lamento informá-lo, Sr. Deputado, que já não dispõe de tempo para isso. Sra. Deputada Vanusa Cardoso, pede a palavra para que efeito? [Não se ouviu a resposta da referida Deputada.] Faça o favor. Sra. Deputada Vanusa Cardoso (PAICV): - Sr. Presidente, primeiramente para dizer que em matéria de fundo, respeito a contribuição dada pelo Sr. Deputado Pascoal Santos, mas penso que não trouxe nada de novo até porque retomou os discursos feitos ontem aquando da discussão da lei da comunicação social. E para dizer que, embora respeitando, também não concordo quando ele, interpretando a Constituição, – eu não sou jurista, posso pecar na interpretação – quase que diz que a Constituição obriga que a prestação do serviço público, o contrato de concessão, tenha que ser obrigatoriamente com uma estação estatal. Não tem que ser assim, Sr. Deputado. Para esclarecimentos, visto que a nossa Sessão está a ser transmitida, que fique claro que o texto constitucional diz, o artigo 9º [entende-se número 9] do artigo 59º e não 159º, como o Sr. Deputado disse na sua intervenção, diz: “O Estado assegura a existência e funcionamento de um serviço de radiodifusão e de televisão”. Em nenhum momento a Constituição caboverdiana diz que essa garantia tem que ser exclusivamente ou necessariamente através do serviço da estação estatal. No entanto, o que pode ser incluído é que a estação estatal, independentemente de ter ou não contrato de concessão de serviço público, deve prestar um serviço público. Penso que este princípio deve ficar salvaguardado porque uma estação pública, ou que tenha capitais maioritariamente públicos, tem que prestar um serviço público, independentemente do contrato de concessão. O contrato de concessão também está regulado através de um decreto regulamentar, como foi dito aqui ontem. Também é preciso chegarmos a um entendimento porque ontem uma das razões apontadas para não apoiar o diploma que estivemos a discutir, sobre a comunicação social, era que a proposta assim como ela veio ao Parlamento não alterava as alterações feitas à Constituição e hoje é inconstitucional a aceitação do princípio de conformar a proposta de lei com a Constituição e partindo do princípio de que à data da votação final global e da sua aplicação, a Constituição já estará em vigor, com as alterações feitas. Por isso, penso que é preciso nos entendermos. Penso que o Sr. Deputado ou qualquer outro Deputado não estará a dar ajuda ou a dar boleia ao Governo se contribuir para melhorar qualquer iniciativa legislativa. É uma obrigação porque a função primeira do Parlamento é de legislar e temos obrigação de legislar bem. 193 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Se há iniciativas legislativas em que é preciso melhorar e enriquecer… É a nossa obrigação sim, Sr. Deputado, fazer essas melhorias. Não é dar boleia a ninguém, até porque os Deputados podiam ter tido essa iniciativa de trazer ao Parlamento todo esse pacote. O Governo teve essa iniciativa. O mínimo que possamos fazer é contribuir para melhorar o diploma. Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos evitar o diálogo, sobretudo quando os Srs. Deputados não têm a palavra. Sr. Deputado António Monteiro, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Para uma intervenção. Sr. Presidente: - Tenha a bondade, Sr. Deputado. Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Ministro, nós de uma forma geral, entendemos que esta proposta de lei dá-nos satisfação. Colocámos ontem algumas questões que foram respondidas, de forma que, para podermos estar mais aptos a votar em consciência esta proposta, entendemos que no artigo 3º a), sobre a concessionária dos serviços públicos da radiodifusão, há uma linha que gostaríamos, dentro das possibilidades, que fosse revista porque a alínea g) diz o seguinte: “Emitir programas regulares vocacionadas para a difusão da língua e cultura cabo-verdiana”. Queríamos salvaguardar aqui o seguinte: o País tem diversas variantes do crioulo e para que se não venha no futuro a optimizar uma única variante da língua cabo-verdiana, gostaríamos que ficasse bem claro aqui nesta proposta de lei e mais concretamente neste artigo que, para a difusão das diversas variantes da língua cabo-verdiana, isto é… Estou a ver o Sr. Ministro a rir, mas é uma questão que queremos ver salvaguardada. Porque temos vários crioulos, várias variantes e queremos de facto que a difusão das nossas variantes seja feita em pé de igualdade. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Justino Gomes Miranda, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado Justino Miranda (PAICV): - Sr. Presidente é para uma intervenção. Sr. Presidente: - Faça o favor. Sr. Deputado Justino Miranda (PAICV): Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Queria também, neste ponto, deixar aqui o meu contributo para o debate nesta matéria. Primeiramente, queria dizer o seguinte: que não há nenhuma razão especial de foro legal ou constitucional nesta lei que possa impedir o MPD de votar favoravelmente a esta mesma lei. Creio que pode haver e certamente há, 194 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 interesses inconfessos nomeadamente, interesses de ordem político e económico que só o MPD saberá explicar. Mas, contudo, creio que é pertinente centrar-se na matéria em discussão. Esta proposta, creio que está em conformidade com a Constituição, com a lei de comunicação social e com as cláusulas gerais de concessão de serviço público de rádio e de televisão. Ao aprovar esta proposta de lei estaremos a criar condições para que os privados possam vir a prestar o serviço público de radiodifusão. Ao aprová-la estaremos a promover a livre e sã concorrência no mercado, estaremos em convergência normativa com tendência hoje discutida em toda a Europa sobre a matéria. Não podemos continuar a ter empresas estatais a competir dignamente com os privados por quanto recebem subsídios do Estado, logo numa área liberalizada. Por fim, estaremos a criar condições para no futuro o Estado repensar ou assinar a sua saída do mercado de radiodifusão, passando a assegurar o serviço público por via concessional. Por tudo isso, creio que esta proposta de lei merece o nosso apoio. Mas, Sr. Presidente, para terminar, ontem ouvi aqui um Deputado da Bancada do MPD, o meu colega, patrício e conterrâneo Miguel de Sousa que somos da mesma ribeira, a dizer que o Governo quer rever essa lei simplesmente para deixar a sua marca legislativa. Por isso, queria aqui dizer o seguinte: este Governo não precisa rever a lei para deixar a sua marca. Este Governo tem marcas por tudo quanto é canto de Cabo Verde e vai continuar a deixar a sua marca. Aplausos da Bancada do PAICV. Sr. Presidente: - Sra. Deputada Vanusa Cardoso, quer a palavra para que efeito? Sra. Deputada Vanusa Cardoso (PAICV): - Para um esclarecimento, Sr. Presidente. Sr. Presidente: - Faça o favor. Sra. Deputada Vanusa Cardoso (PAICV): - Ainda, retomando a questão da prestação do serviço público, talvez para tranquilizar os Deputados do MPD, gostaria de dizer que o nº 6 do artigo 3º de serviço público, referente a serviço público, diz que “a concessão de serviço público é atribuída a rádio nacional de Cabo Verde nos termos deste diploma, dos estatutos e em conformidade com o respectivo contrato”. Neste momento existe contrato de prestação de serviço público com a Rádio Nacional de Cabo Verde que é uma estação pública. O que se quis salvaguardar e que também outras estações no futuro possam ter a possibilidade de concorrer para ter contrato de prestação de serviço público e isto penso que ele não deveria opor a essa questão porque melhoraria a qualidade de serviço público que os órgãos de comunicação social, nomeadamente a rádio presta. Há país no mundo em que as empresas jornalísticas concorrem quase que anualmente para contratos de concessão de serviço público e durante o ano essas empresas jornalísticas promovem o serviço público na expectativa 195 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 de poderem ter o contrato e isso faz com que quase todas as estações tenham aquela componente que todos nós desejamos que é a componente de prestação de serviço público, independentemente do contrato que têm. Queria fazer uma pequena sugestão que tem a ver com a introdução, nesta proposta lei, de normas que fazem referência à organização e ao funcionamento da rádio porque a lei da televisão tem no capítulo 4, referente à organização, artigo 23º: normas de organização e funcionamento onde versa claramente sobre a forma como as televisões devem ser organizadas. E também a lei de imprensa escrita e de agência noticiosa tem no capítulo 2 referente às publicações, secção 2, organização das publicações e artigo 12º normas e funcionamento das publicações que também dá indicação da forma da organização e funcionamento das publicações. Penso que seria bom também introduzirmos essa norma na lei da rádio, já que temos a oportunidade de fazer essa alteração para harmonizar com as outras legislações referentes a outros meios. Sr. Presidente: - Sr. Ministro, deseja fazer as considerações finais antes da votação? Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas, Sidónio Monteiro: - Sim, Sr. Presidente. Gostaria de me pronunciar em relação a alguns aspectos aqui levantados. Relativamente à posição do Sr. Deputado António Monteiro, eu até gostaria, se tecnicamente fosse possível, de colocar essa questão. Mas penso que – e reportando-me ao que a Constituição diz, que fala sobre a língua caboverdiana – os exemplos que temos de Portugal, temos variantes do Porto, dos Açores, da Madeira, o Mirandês, entretanto não se explana em nenhuma lei que se deve difundir as variantes. Eu, sinceramente, compartilho com o Deputado, a ideia de que é bom que efectivamente todas as variantes de Cabo Verde, de todas as ilhas sejam devidamente divulgadas. Mas sendo certo também que entendo que a língua cabo-verdiana é uma só. Para mim há a língua cabo-verdiana, não obstante as diversas variantes. Creio que tecnicamente não será possível, se atendermos ao que diz a Constituição. Penso que poderá ser como uma recomendação que poderá ficar para os órgãos públicos poderem, digamos, utilizar as diversas variantes. Mas do ponto de vista legislativo não creio que seja correcto fazer-se isso a este ponto, que seria um preciosismo, no meu entender. Há uma outra questão que tinha levantado, mas como não insistiu, penso que está de acordo. Concordamos com a posição da comissão no sentido da queda do nº2 do artigo 35º como está, sendo certo que a comissão especializada, depois, na altura da discussão, irá fazer as adaptações necessárias relativamente ao que vier a ser a Constituição. Falando da Constituição, fico preocupado porque vejo que da Bancada do MPD talvez a preocupação fundamental tem a ver com encontrar uma forma de se opor a proposta porque em determinados momentos usam um determinado argumento que temos que ter em devida conta que há um novo texto da Constituição já aprovada pela Assembleia, mas ainda não publicado e que estamos a tentar legislar com base numa Constituição que supostamente já não vigora porque altera o pressuposto em relação à regulação. 196 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Entretanto, noutros momentos traz um argumento totalmente ao contrário ao inicial, que é esse argumento que o Deputado Pascoal acaba de esgrimir aqui. Ou seja, que, efectivamente, como já tínhamos dito, temos a noção de que ainda não temos em vigor porque para que uma Constituição esteja em vigor, terá que ser naturalmente promulgada pelo Presidente da República e publicada. Uma vez publicada em Boletim Oficial, sim, entrará em vigor, como todos sabemos. Portanto, temos essa noção. Daí termos também dito aqui que estamos abertos e tem que ser mesmo assim, a nível da comissão especializada, uma vez que estamos a fazer a aprovação da lei na generalidade. A nível das comissões especializadas iremos fazer as adaptações e no momento da votação global, aqui no plenário, iremos, naturalmente, verificar que, se na altura tivermos (espero que sim) já a nova Constituição em vigor, feitas as necessárias adaptações. Devo também dizer que fiquei perplexo com algumas das afirmações aqui feitas pela Bancada do MPD, relativamente a algo que tem sido discutida na sociedade cabo-verdiana, que tem a ver com a problemática da privatização em particular. Assistimos aqui a uma série de reivindicações e houve várias pessoas a dizerem – e quando a Deputada Vanusa fazia referência a essa questão, ouvi um comentário no mesmo sentido, da Bancada do MPD – que se deve ter em devida conta o princípio da competitividade, da igualdade entre a parte pública e a parte privada. Entretanto, depois de ouvir tantas reivindicações que não devíamos ficar única e exclusivamente com o serviço público voltado apenas para a rádio pública, não obstante não termos o princípio constitucional de ter uma rádio pública, mas depois de termos ouvido tantas reivindicações a nível da sociedade que é necessário também dar alguma possibilidade dos privados poderem ter acesso ao serviço público e, naturalmente, mediante contrato e com a regulação do órgão que deve regular, não do Governo porque há lei e há um órgão que vai regular, como devem também regular, como fazem em Portugal, por exemplo, onde a RTP tem um contrato, mas há um órgão que regula e há umas cláusulas e a RTP tem que obedecer a essas cláusulas e tem que responder ao que se contratualizou. No Brasil não há serviço público, não há rádio público. Entretanto, as televisões privadas concorrem para esse serviço público. No Reino Unido é a BBC que faz esse papel, também que não é um serviço público. Enfim, há várias modalidades. No nosso País temos, sim, a obrigatoriedade. Daí não estarmos a violar a Constituição porque mantivemos o princípio de que temos a rádio pública e que vai ser concessionária, não obstante termos proposto e aqui penso que o MPD deverá clarificar muito bem os seus princípios ideológicos junto à sociedade cabo-verdiana, se quer ou não que haja abertura ao privado, naturalmente não controlado pelo Governo, porque não é o que estamos a propor, mas sim mediante a lei que existe e que estabelece os princípios, os regulamentos e controlado pela autoridade reguladora. Portanto, é isto que estamos a propor. É uma questão de fundo que, sinceramente, tendo em conta tudo o que se ouve falar em termos de matriz ideológica dos partidos em Cabo Verde, fico perplexo ao ouvir da parte de um partido da direita, liberal ao extremo, estar a 197 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 trazer esses argumentos, digamos, a criticar o partido, também assumidamente de esquerda por tomar uma posição dessa. Eu, sinceramente, do ponto de vista político, estou perplexo. Também gostaria de dizer ao Sr. Deputado Miguel Sousa que penso que mesmo que tivéssemos que mudar uma vírgula ou uma frase num diploma qualquer, se for necessário, deve ser feito, não obstante… não se pode manter uma lei só porque marcou um determinado ministro ou um determinado governo ou uma determinada legislatura. Penso que se for necessário fazer uma alteração, deve-se fazer e neste caso estamos a propor uma alteração de fundo porque estamos a fazer uma abertura ao privado. De toda a forma, devo dizer que se no texto, no articulado dos artigos houver necessidade de alguma melhoria, temos dito desde o princípio que estamos abertos a melhorias em qualquer destas propostas do pacote. Portanto, a nível das comissões especializadas iremos lá discutir e ver quais são as propostas que existem para melhorar… Sr. Presidente: - Sr. Ministro pode concluir. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - (Já estou a concluir, Sr. Presidente). Espero que efectivamente os Deputados possam aprovar, na generalidade, esta proposta, sendo certo que iremos, a nível das comissões especializadas, aceitar as contribuições que forem necessárias para a melhoria do diploma. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro pediu a palavra? [Não se ouviu a resposta do referido Deputado.] Faça o favor. Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Ministro, ouvimos com atenção a explicação que deu, mas nós não vemos nenhuma dificuldade técnica em termos da introdução das várias variantes do crioulo, porque se formos ver a Rádio Nacional que neste momento tem correspondentes em quase todos os concelhos do País, às vezes essas intervenções são feitas no crioulo local. Entretanto, o problema que se coloca é que estamos a abrir um leque para empresas privadas de comunicação. Penso que nesta lei deveríamos salvaguardar também esta possibilidade destas empresas privadas em que o Estado vier a assinar o contrato de concessão, para prestação do serviço público que eles também tivessem em linha de conta esta prática que já é feita pela nossa Rádio Nacional. Não vejo dificuldades em questões técnicas porque é uma questão de ter jornalistas e graças a Deus temos jornalistas de quase todas as ilhas e de todos os concelhos do País. De forma que eu não vejo aqui nenhuma dificuldade sobre isso. Se formos ver Portugal, que deu como exemplo, o serviço público quando é prestado nas rádios privadas, sabemos que lá no lugar onde é prestado, é feito na língua ou então no sotaque regional da região onde é emitida. De forma que aqui não há nenhuma dificuldade. Não vejo aqui a questão técnica a se sobrepor àquilo que deveríamos colocar nesta proposta 198 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 de lei para que as coisas fiquem mais claras e evitemos assim outras situações. Sr. Presidente: - O Sr. Ministro já não tem tempo para responder. Vamos passar à votação. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem vota abstenção? A Proposta de Lei que altera o decreto legislativo nº 10/93 de 29 de Junho, que regula o exercício da actividade de radiodifusão em Cabo Verde foi aprovada com 41 votos a favor, sendo 39 do PAICV e dois dos Deputados da UCID; 15 votos contra, do MPD, e nenhuma abstenção. Tem a palavra a Sra. Deputada Vanusa Cardoso, para uma declaração de voto em nome da Bancada do PAICV. Sra. Deputada Vanusa Cardoso (PAICV): - O Grupo Parlamentar do PAICV votou a favor da proposta de lei que altera a lei da radiodifusão caboverdiana porque entende que com as alterações previstas, sobretudo a nível da prestação de serviço público, abre-se agora a possibilidade de operadores privados também poderem concorrer para a prestação de serviço público de radiodifusão. O Grupo Parlamentar do PAICV votou a favor deste diploma porque entende que volvido mais de dez anos em que o mercado da radiodifusão foi liberalizado e chegado a altura em que o Estado já não detém o monopólio da radiodifusão, é chegado a hora de fazer justiça também aos operadores privados, incentivando-os a prestarem o serviço público de radiodifusão, prestando serviço de interesse para a Nação, tirando assim a exclusividade ad eternun feita pela lei da radiodifusão, ainda em vigor, do serviço público ser prestado exclusivamente pela estação estatal de radiodifusão. Neste momento, ao abrir a possibilidade de também operadores privados poderem concorrer para prestação de serviço público, estaremos sim a fazer justiça ao desenvolvimento em que o mercado da radiodifusão sofreu nos últimos tempos. Aplausos de alguns Deputados do PAICV. Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos. Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): Sr. Presidente, Sr. Ministro e Sra. Ministra, Sras. Deputadas e Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do Movimento para a Democracia votou contra esta proposta de lei do Governo, apoiada pelo PAICV, pelas seguintes razões: primeira, esta proposta de lei é inoportuna porque surge precisamente quando se está pendente da publicação, pela imprensa nacional, da revisão da Constituição, quando estamos a menos de um ano das eleições legislativas. Em nenhuma democracia séria, digna deste nome, se mexe num pacote da comunicação social com essa antecedência tão curta em relação às eleições. 199 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Mais: diz o Governo que o artigo 59º não mudou. Como é que a população e os cidadãos sabem que não mudou se ainda não foi publicado? Não obstante saber se é subjectivo, é uma questão de evidência e conhecimento objectivo. As leis conhecem-se inclusive as constitucionais quando são publicadas e publicadas são vistas, entendidas, lidas, controladas questionadas, aplicadas pelos tribunais e pelos operadores. Não há outra forma. Devemos dizer mais: o MPD votou contra porque a Constituição é mais que o artigo 59º. O artigo 59º, para quem seja jurista e jurista em direito político e direito constitucional sabe – não para quem tenha pretensões em armar-se em jurista ou em tudo e mais alguma coisa – uma lei é mais que um artigo e a interpretação das leis e da constituição deve ser sistémica. A Constituição tem princípios fundamentais. O artigo 59º da Constituição liga-se a outros princípios fundamentais da igualdade, da democracia, da transparência, da controlabilidade da coisa pública, da res pública, pelos cidadãos e pelos actores políticos e sociais, económicos, institucionais etc. Isso é mais do que o artigo 59º. Mas, de todo o modo, o artigo 59º que se mantém, garante um sector público de comunicação social na área e garante, atenção, um serviço público da comunicação social somente na área da radiodifusão e da televisão. Não é por acaso. Não obriga a que não haja licença de televisão a cabo. Não obriga a que não haja outras rádios. O que obriga é que haja um serviço público prestado por uma entidade pública… [Entretanto, assumiu a presidência da Mesa o 1º Vice-Presidente, Júlio Correia.] I Vice Presidente, Júlio Correia: - Sr. Deputado tem de terminar. Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - Sr. Presidente, Penso que, para declaração voto, ainda não cheguei à metade. Risos. E continuando, dizer que há um contrato de concessão, digo, os contratos que subordinam as leis e as leis da Constituição, mas não há um contrato de concessão, há um regulamento de contrato de concessão e ainda neste momento não há um contrato de concessão. É falso. Não existe um contrato de concessão. Quais são os interesses inconfessos do MPD? Eu digo ao Sr. Deputado: os interesses do MPD são confessos e estão na Constituição de 1992, que o MPD promoveu e votou, o PAICV não votou… Sr. Presidente: - Sr. Deputado, já passou um minuto do seu tempo. Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - Sim. Então termino, Sr. Presidente. Para dizer que estão no pacote legislativo que o MPD aprovou e que o PAICV tende agora a destruir. 200 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado Justino Miranda, essa linguagem de interesses inconfessos, o senhor deve saber muito porque o senhor deve fazer parte de organizações de interesses inconfessos… Protestos de alguns Deputados. Sr. Presidente: - Sr. Deputado, tem de terminar. Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - … antidemocrática e intimidatória e o MPD não se intimida a esse respeito. Portanto, votámos contra. Não vamos colaborar na… Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal Santos, não quero cortar-lhe a palavra, como deve calcular… Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - … e portanto não viabilizar a manobra do PAICV e do Governo. Sr. Presidente: - Gostava de poder contar com a sua colaboração. Passou dois minutos em relação ao tempo que tinha para fazer a sua declaração de voto. Terminámos, assim, este ponto e anuncio o ponto 6 – Proposta de Lei que aprova o Estatuto do Jornalista e convido o Sr. Ministro para fazer a apresentação. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Atendendo às inúmeras alterações e inovações introduzidas, que tocam em alguns aspectos nos direitos fundamentais protegidos constitucionalmente, preconiza se não apenas a revogação pontual do Estatuto dos Jornalistas, mas sim a sua integral substituição por uma nova proposta, de forma a haver uma certa conformidade do diploma com as principais leis da República, actualizar e suprir deficiências existentes. Assim, os principais assuntos, objectos de alteração e revisão são: requisitos para se ser jornalista; a progressão na carreira que dependente da formação; a reclassificação dos jornalistas em exercício que não tenha formação específica; a especificação do direito ao acesso à informação. A reforma pretendida procura assegurar uma resposta actualizada dos complexos problemas colocados pelos agentes da informação e da comunicação face ao rápido crescimento do sector, bem como assegurar a ordem e garantir os direitos e liberdades já adquiridos pelos agentes do sector; estimular a autonomia, a independência e a solidez dos órgãos de comunicação e ao mesmo tempo estabelecer regras deontológicas e balizas de actuação para evitar situações de abuso ou descriminação. Nesta base, foi reformulado o conceito de jornalista profissional e quem pode ser jornalista, delimitando assim, o campo de exercício da actividade jornalística e as condições para o seu exercício, incumbindo a comissão da carteira profissional de jornalistas, a apreciação e a emissão da respectiva carteira profissional. Fica, assim, a exigência de formação superior que confira grau de licenciatura para ser-se jornalista profissional e não mera formação 201 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 específica na área do jornalismo, oficialmente reconhecida como está previsto actualmente. Outro ponto revisto tem a ver com o período de estágio, tendo em conta o grau académico e as especialidades das formações realizadas. Para o jornalista com licenciatura na área da Comunicação Social, o estágio que se propõe deve durar seis meses e doze meses nos restantes casos. Estabeleceu-se um elenco de funções incompatíveis com a actividade jornalística, entre as quais a actividade publicitária, procurando-se evitar a mescla das funções. Para além das incompatibilidades, introduziram-se no diploma circunstâncias em que o jornalista está inibido de utilizar informações que possua ou aceitar determinadas retribuições e as respectivas penalizações. Dispõe-se também que o jornalista não pode utilizar em benefício próprio ou de terceiros quaisquer informações obtidas no exercício das suas funções que possam traduzir-se em vantagens económicas e financeiras. Acrescentou-se ao diploma um artigo sobre a liberdade de expressão e criação como sendo um direito do jornalista, prevendo o direito de autor ao jornalista sobre as suas criações intelectuais. Os jornalistas deverão passar a identificar-se como tal mediante a exibição do cartão para o exercício dos seus direitos. Regulou-se o acesso dos jornalistas aos locais públicos para a obtenção das informações e o exercício desse direito, bem como a possibilidade de intervenção do Conselho de Comunicação Social, portanto o órgão regular para a efectivação do direito de acesso. Passou-se a identificar os órgãos da administração pública e as empresas de capitais totais ou maioritariamente públicos como sendo responsáveis para assegurar o direito de acesso às fontes de informação. Também enumeraram-se os processos que não são abrangidos pelo direito de acesso e indicaram-se os procedimentos para os casos de recusa de acesso às fontes de informação. Aprofundou-se a questão do sigilo profissional, estendendo-se o mesmo a qualquer pessoa que exerça funções nos órgãos de comunicação social. Previu-se ainda a possibilidade dos jornalistas solicitarem ao órgão regulador, a quebra do sigilo profissional nas situações em que tal se justifique ou quando a sua esfera jurídica for gravemente lesada. No entanto, o sigilo profissional não se confunde com o segredo da justiça, consistindo o primeiro no dever deontológico que deve ser observado sempre por todos os profissionais da comunicação social, enquanto o segundo só obriga ao seu respeito enquanto partes ou intervenientes nos processos judiciais. Consagrou-se o direito da participação dos jornalistas na orientação da linha editorial do órgão de comunicação social bem como, o de pronunciar-se sobre os aspectos da sua actividade profissional. Quanto às contraordenações, praticamente não teve alterações. Fica feita apenas uma pequena adaptação à moldura sancionatória. Finalmente, atribui-se ao órgão regulador a competência de instrução dos processos de contra-ordenações e aplicação de penas, que antes era da competência da Inspecção Geral do Trabalho. Antes de concluir, devo dizer que recebemos e temos em devida conta algumas propostas feitas, que são já do conhecimento do Parlamento, pela 202 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 classe profissional. No nosso entender, sobretudo no que diz respeito ao artigo 2º da lei da aprovação, penso que houve um erro de interpretação e estamos dispostos a clarificar o texto do artigo para que não haja equívocos. Não pretendemos pedir a nenhum jornalista que se auto-demita, mas na proposta feita estamos apenas a conceder um direito, caso assim o entender. Contudo, estamos também dispostos a encontrar uma nova redacção. Em relação a algumas outras propostas, estamos também abertos a melhorias, seja em relação às propostas que a classe profissional dos jornalistas fizeram, seja em relação às contribuições que os Srs. Deputados enquanto membros deste órgão legislativo estimarem serem necessárias para a melhoria da qualidade deste diploma. Ficamos satisfeitos por saber que globalmente também os jornalistas consideram que já era tempo de se fazer essas alterações e também que estimam de importância alguma introduções e melhorias feitas neste diploma. Sr. Presidente: - Julgo que o Parecer competente em relação a esta matéria foi lido ontem, pelo que não vamos fazê-lo de novo. Sei também que há um parecer da Associação dos Jornalistas que foi atribuído, de forma que estamos em condições de abrir um período de pedidos de esclarecimentos em relação a este ponto. As inscrições estão abertas. Tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Elísio. Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Queria perguntar ao Sr. Ministro se o Governo, quando fez a lei, ouviu tanto a entidade patronal, ou seja, os donos das empresas de comunicação social, como os sindicatos. Isso tendo em conta que praticamente esse Estatuto dos Jornalistas mexe com a relação de trabalho entre as empresas e o trabalhador. Neste caso, o trabalhador seria o jornalista e a empresa seria o dono ou a sociedade que gere a comunicação social. Portanto, queríamos saber se o Governo ouviu essas entidades, porque, de facto, o Estatuto dos Jornalistas mexe com essa relação laboral. É muito importante. Aliás é uma condição prévia da própria lei. Sr. Presidente: - Não sei se há mais pedidos de esclarecimentos. Não sendo este o caso, passo a palavra ao Sr. Ministro para responder. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Eu afirmei ontem, na apresentação global do pacote, que esta proposta se encontra no Parlamento desde 2008 e que já tinha sido amplamente discutida com os profissionais, com as entidades e a nível de várias reuniões. Fizemos baixar a proposta precisamente porque na altura essas entidades acabaram por sugerir outras alterações. E depois de termos feito as discussões e observado algumas propostas que foram introduzidas é que voltamos a agendar a proposta aqui no Parlamento. Daí que penso que não há nenhuma lacuna nesse aspecto. E como eu tinha dito ontem, se há pacote que foi amplamente discutido no seio da sociedade cabo-verdiana com todos os interessados, é precisamente este pacote da comunicação social. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Fernando Elísio Freire. 203 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Sr. Presidente, penso que por imperativo legal, se o Governo tivesse ouvido essas entidades, tanto patronato como sindicatos, haveria de certeza um parecer dessas entidades, porque a Lei 17/V/96 de 30 de Dezembro impõe isso, uma vez que mexe com as relações laborais. Sempre que veio para o Parlamento algo que mexa com as relações laborais, o parecer do sindicato é fundamental e da entidade patronal. Até ao momento não conhecemos esse parecer. A informação que temos – está aqui uma carta que eu recebi - é de um sindicato, neste caso é o SITTHUR, Sindicato de Transportes, Telecomunicações, Hotelaria e Turismo, assinado pelo seu secretário permanente, a dizer claramente que não foi ouvido, aliás que alertou o Governo para isso e que, portanto, não culpa este ministro, diz apenas que o então ministro que tutelava o sector (imperceptível) a pretensão sindical de opinar sobre o assunto. Portanto, queríamos saber se os sindicatos, também a entidade patronal foram ou não ouvidos neste processo de Estatuto dos Jornalistas e se foram ouvidos tem que haver um parecer que gostaríamos de ter acesso, tanto das sociedades que gerem as empresas de comunicação social – porque elas é que vão empregar os jornalistas e os trabalhadores que são jornalistas – como dos sindicatos que gerem as relações laborais entre os trabalhadores e a sociedade comercial. Sr. Presidente: - Antes de passar a palavra ao Sr. Ministro, devo dar aqui um esclarecimento e que vai no seguinte sentido: o Parlamento solicitou às estruturas sindicais um parecer que ainda não chegou e o entendimento é que o diploma deverá baixar à comissão competente especializada. Até lá, seguramente, este parecer solicitado pela Mesa do Parlamento deverá chegar. Só junto mais esta informação. Julgo que seria necessário dá-la aqui neste ponto. Passo a palavra ao Sr. Ministro. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Penso que há mais pedidos de esclarecimentos. Não sei se pudesse ficar para depois. Sr. Presidente: - O Sr. Deputado António Pascoal dos Santos quer pedir esclarecimentos ao Sr. Ministro? Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - Se o Sr. Ministro quer responder, posso colocar o meu pedido de esclarecimentos depois. Sr. Presidente: - Pode colocar o seu pedido de esclarecimentos, depois o Sr. Ministro responderá. Tenha a bondade. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Ministro é o seguinte: o Sr. Ministro disse que se há diploma que foi amplamente preparado e discutido e com os actores políticos, neste Parlamento e com a sociedade cabo-verdiana, foi este diploma. Sr. Ministro, com o devido respeito… bem não era ministro nessa altura, mas de todo o modo tem as informações que lhe foram passadas, não é bem assim. Porque veja bem: este diploma esteve cá, 204 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 eu até fazia parte dessa comissão nessa altura, discutimos, começamos a abordar o problema e muito cedo chegou-se à conclusão de que este diploma deveria, na verdade, voltar para ser aperfeiçoado. Esta é a verdade. Chegou-se praticamente a consenso sobre isso. Está bem? Portanto, isto é importante. Não houve introdução de melhorias, se tivesse baixado à comissão, como o Sr. Ministro disse, para introdução de melhorias, devia vir – desculpe Sr. Ministro, peço a sua atenção a esse Parlamento – como texto já aprovado, que passou pela comissão especializada. Não veio como texto que passou pela comissão especializada. Veio como texto originário. Em termos jurídicos e legislativos é texto originário. Portanto não é bem como diz. Quanto à sociedade cabo-verdiana, além do que já referiu o Líder Parlamentar da minha bancada, há uma coisa, Sr. Presidente … (prublema é ki no ta fika tude ta falá ma es, es ka ta prestá jenti atensãu)… há uma coisa importante, que é o seguinte: se houve solicitação de um parecer e eu não questiono, nem ponho em dúvida que houve solicitação de parecer, O que eu digo é que os pareceres devem vir antes ou devem ser apreciados antes da apreciação na generalidade do diploma. Mas isso é ABC por esse mundo fora porque há uma primeira apreciação que é decisiva. São os pareceres que vão nos permitir saber se votamos já na generalidade e em que sentido votamos. Portanto, não é já na comissão especializada e sobre isso não se discute sequer. É uma questão assente. Outra coisa, se foi ouvido todos os sectores e não foram ouvidos os sindicatos, e se foi amplamente discutido na sociedade com todos os sectores, como disse o Sr. Ministro… Sr. Ministro, todos os sectores não é a AJOC que representa todos os sectores da sociedade cabo-verdiana, representa os jornalistas na medida em que os representa, independente da AJOC, uns jornalistas têm um entendimento, há outros jornalistas que têm outro entendimento e se fosse discutido em fóruns, em seminários, workshops, etc. etc., teria recolhido outras contribuições. De todo o modo, os parceiros não estão com este diploma e eles deviam estar com este diploma. Este diploma não representa a absorção de melhorias. Este diploma é um texto novo trazido pelo Governo porque o Governo considerou que o devia trazer. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro, para fazer os comentários que entender. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Devo fazer aqui alguma precisão em relação ao que disse o Sr. Deputado Pascoal porque o que efectivamente aconteceu, eu não era na altura o ministro que tutelava a pasta, mas encontrava-me no Governo, numa outra pasta e pude informar-me dos motivos que levaram à suspensão da apresentação. Efectivamente, essa proposta deu entrada aqui no Parlamento, não se fez nenhuma apresentação e nem se baixou à comissão para discussão porque não se fez aqui no Parlamento a apresentação do diploma. Naturalmente que, não obstante não ser jurista como deve bem saber, estou nesta Casa Parlamentar desde 1985, conheço muito bem os procedimentos aqui desta Casa parlamentar. 205 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 De modo que, habitualmente, quando a Mesa recebe uma proposta ou um projecto remete aos Deputados e também encaminha às comissões para ir adiantando e depois em conferência de representantes faz-se o agendamento conforme o desejo dos Sujeitos Parlamentares em causa. Neste caso em concreto, o Governo não agendou na altura porque, precisamente, havia a noção de que devíamos adaptar a proposta ao novo código penal, mas também houve um pedido expresso dos jornalistas no sentido de consensualizarmos outros aspectos. Neste sentido consideramos de bom-tom não mandar agendar a proposta e, portanto, ir fazer o trabalho de casa junto dos jornalistas, dos interesses e ouvir o máximo número de opiniões para se poder melhorar o texto. É com este entendimento que voltamos a trazer, depois de termos feito exactamente aquilo que o Sr. Deputado diz que não foi feito, designadamente, workshops, reuniões aqui na Praia, em São Vicente. O Sr. Director Geral, que me acompanha aqui como assessor, participou (também vários juristas participaram) em vários encontros e fóruns que se fizeram, seja na Praia, seja em São Vicente. Fez-se vários encontros, mas, talvez, o senhor tenha estado um pouco distraído e não tenha percebido. Mas isso já agora é outra questão. Mas, de qualquer forma, garanto-lhe que discutimos bastante com os interessados. Naturalmente que não se pretende que nenhuma legislação obtenha o consenso absoluto e total de toda a gente, porque, normalmente, pode haver questões que beliscam com interesses particulares de um ou de outro. Mas, o que queremos é uma lei que vá ao encontro dos interesses globais do jornalismo em Cabo Verde e, neste sentido, penso que trazemos a proposta. Sabemos que a AJOC poderá não representar a unanimidade de todas as vontades dentro do jornalismo em Cabo Verde, nem temos a pretensão também que seja assim porque há vários interesses, posições díspares em vários aspectos, mas o certo é que temos o entendimento que a Associação dos Jornalistas deve representar, digamos, a classe porque, enfim, é o órgão com quem temos mantido relações, que tem transmitido ao Governo as opiniões e que acaba também de mandar a esta Assembleia uma posição, algumas delas com as quais concordamos e que pretendemos propor as alterações conforme o entendimento dos jornalistas e fazer as adaptações necessárias. Em relação ao processo legislativo, às questões que levanta o Deputado Elísio, que tem a ver com o sindicato em si, penso que pelo menos, pelos anos que tenho nesta Casa Parlamentar, a experiência mostra-me que há mecanismos que exige um parecer escrito de uma entidade sindical. A Assembleia e a Mesa acabaram por suprir e também tem sido esta a prática. Quando por qualquer motivo não haja um parecer escrito, porque não deu em tempo ou porque não se quis dar, enfim, por qualquer motivo não há esse parecer, normalmente a Mesa supre esta falha e o Presidente em exercício, neste momento Sr. Deputado Júlio Correia, acabou de explicar aqui que a Assembleia já solicitou ao sindicato esse parecer escrito. Naturalmente que, neste momento, não estamos a fazer a aprovação na globalidade deste diploma. Estamos a fazer a apresentação na generalidade, depois iremos às comissões especializadas para o debate na especialidade, para, finalmente, voltarmos aqui à Plenária para a aprovação final global. De modo que, em todo esse processo, se houver uma ou outra falha processual, 206 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 naturalmente que será corrigido, na certeza, porém, de que é nosso entendimento que é fundamental que façamos aprovar, na generalidade, este diploma porque vem ao encontro das aspirações dos jornalistas cabo-verdianos e tiveram a oportunidade de manifestar, em várias oportunidades, esta vontade porque consideram, não obstante poderem não estar de acordo com uma ou outra saída, mas também estamos aqui disponíveis para prosseguir um pouco mais esse diálogo e podermos encontrar os consensos necessários dentro do possível. Sr. Presidente: - Antes, queria juntar alguns esclarecimentos que penso que poderão ser de utilidade para tentarmos ultrapassar essa fase dos nossos trabalhos. Efectivamente, a lei pede um parecer. Estamos em processo de discussão dessa mesma lei na generalidade, mas também devo dizer que estamos em processo legislativo e normalmente os pareceres são muito importantes para as comissões que normalmente pedem os pareceres para as questões de detalhe e para as questões de especialidade. O pedido às centrais sindicais foi feito hoje para cumprir este preceito que exige um diploma desta natureza, mas, como digo, estamos em processo legislativo. Os pareceres são muito importantes para as comissões, o que não significa que se tivéssemos agora o parecer, este seria o momento de o conhecermos. Mas o que quero dizer é que também aquilo que importa, como os senhores sabem, num diploma é a sua votação final global. Também os pareceres são muito importantes para as comissões especializadas e no entanto para a discussão, vamos ter aqui na generalidade, onde estamos a discutir os grandes princípios deste diploma. É evidente que o parecer é para a generalidade e para a especialidade. Mas é evidente que estamos em processo legislativo e a nível de exigência superior de um parecer, acontece usualmente ao nível das comissões especializadas. Suponho que não havendo, até à data da discussão nas comissões especializadas, um parecer competente nos termos em que esta lei reclama, obviamente esta lei estaria impedida de ser votada, de obter a votação final global. É aquilo que queria aqui dizer, para ultrapassarmos esta fase dos nossos trabalhos. Sr. Deputado António Pascoal Santos, pede a palavra para que efeito? Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - Para uma intervenção. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Humberto Cardoso, pede a palavra para que efeito? Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD): - Para um pedido de informação. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro, pede a palavra para que efeito? [Não se ouviu a resposta do referido Deputado.] Há um pedido de informação que penso, devo considerar prioritário. 207 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Tem a palavra o Sr. Deputado Humberto Cardoso. Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD): - Um dos princípios fundamentais que na Constituição está clara, em relação ao direito de informação, é o direito de ser informado, de informar e de acesso à informação. Isso é um aspecto chave e naturalmente que é, para a prática do jornalismo, um direito fundamental a ser salvaguardado. Ora, no artigo 12º deste diploma há certas limitações em termos do acesso às fontes de informação. Há negação de acesso que se justificam quando há processos em segredo de justiça, documentos classificados naturalmente considerados como segredo de Estado, ou documentos nominativos relativos a terceiros ou documentos que revelem segredos comercial. Mas acrescentou-se a isso documentos, em forma genérica, que sirvam de suporte a acções preparatórias de decisões legislativas conseguindo a feitura, ao desenvolvimento político de leis na consequência dessas políticas depois definidas. Não compreendemos quais as razões do Governo em fazer esse acréscimo, em limitar o acesso ou possibilidade de ser transparente todo o processo, digamos assim, de decisão e de formulação de políticas por parte do Governo. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Parece que havia outro inscrito antes de mim. Sr. Presidente: - Não. A seguir é o Sr. Deputado. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Então prescindo. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro. Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Presidente, Sr. Ministro, gostaríamos de facto de aqui dizer que se não há um parecer - parecer esse que é obrigatório pela lei, que diz respeito aos sindicatos da classe - para tentarmos cumprir esta mesma lei, isto é, não havendo este parecer, os Deputados da UCID entendem que deveríamos suspender este debate até que o parecer esteja efectivamente aqui na Assembleia Nacional e nas mãos dos Deputados porque se abrirmos aqui este precedente, não sei se no futuro teremos a capacidade política suficiente para impedir outros desvios aqui nesta Assembleia em termos do que a lei impõe. De forma que esta é a nossa posição, para suspendermos o debate desta proposta de lei porque a lei não foi comprida. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António dos Santos tenha a bondade. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Presidente, percebi perfeitamente. Compreendo a explicação que deu sobre a questão da existência ou não de pareceres. Com o devido respeito, não posso estar de 208 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 acordo nem consigo, nem com o Sr. Ministro. Concordo plenamente com a intervenção do Deputado da UCID, António Monteiro, que vem precisamente nesse mesmo sentido em que defendemos. Os pareceres até devem ser solicitados antes de chegar à Assembleia. O Governo, no processo da aprovação das propostas, devia ter ouvido essas entidades. É a primeira etapa da audição e isto já aconteceu várias vezes sobre várias leis em muitos anos. Mais, daqui dessa Assembleia, o Sr. Presidente Aristides Raimundo Lima, a Mesa, decidiu suspender; mandar para trás para se ouvir os sindicatos, as entidades patronais e a associação de municípios sobre determinados diplomas. Isto até quase que fez jurisprudência, como costumamos dizer aqui. Portanto, não estamos nem sequer a inovar. O processo legislativo começa onde começa, se é uma proposta de lei, começa no Governo e é aí que deve começar. Se o Governo manda sem ouvir, a Assembleia até não pode admitir ou só pode admitir condicionalmente a proposta de lei. Ou deve distribuir a proposta já com os pareceres, ou se não o fizer imediatamente, deve fazer dentro de poucos dias para que os Deputados, já nos grupos parlamentares, quando estão a apreciar o diploma, tenham as informações. Assim, os Deputados da Nação vão saber o quê que pensam os sindicatos, a ANMCV, se for o caso, as entidades patronais, a AJOC etc., ou seja, já nos grupos parlamentares, seja o Grupo Parlamentar do próprio PAICV - você vai pedir ao seu grupo parlamentar sem parecer e com maioria de razão, os grupos parlamentares e os Deputados da Oposição. Portanto não posso concordar. Entretanto, para dizer o seguinte: essa questão da restrição do acesso ao processo vem contra corrente ao que é ABC por esse mundo fora. Vemos os jornalistas portugueses e de todo o lado dos países democráticos a comentar as propostas de lei, as iniciativas do Governo, dos Grupos Parlamentares, atitude do Presidente da República face a esses diplomas. E agora, precisamente quando queremos aprofundar a democracia, vamos impedir os jornalistas de ter acesso aos trabalhos preparatórios? Obviamente que eles não vão invadir o Palácio do Governo para ter acesso, mas têm de ter acesso e devem ter a possibilidade de ter acesso aos trabalhos preparatórios. Sr. Presidente, Srs. Ministro, Srs. Membros de Governo: Penso que estão reunidas aqui as condições para que o Governo que não tende fazer a proposta à pressa porque temos lei nessa matéria, não há um vazio legislativo, e temos leis democráticas nesta matéria. Se o Governo quer e o PAICV aperfeiçoar o que há, então que aperfeiçoe mesmo democraticamente, ouvindo e esperando pelos pareceres de todas as entidades que devem dar parecer e já na apreciação da generalidade na Assembleia Nacional. Temos de apreciar, ouvindo e pensando incondicional sobre esse parecer. Portanto, apoiamos a proposta de suspensão dessa iniciativa para se ouvir os parceiros e para que venhamos a apreciar de novo na generalidade. 209 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Presidente: - Tenho mais dois inscritos que queria ouvir para depois tomar uma posição em relação a esta matéria. Sr. Deputado Justino Miranda, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado Justino Miranda (PAICV): - Era um esclarecimento. Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Manuel Andrade, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Também para esclarecimentos. Sr. Presidente: - Sra. Ministra Sara Lopes, deseja a palavra para que efeito? [Não se ouviu a resposta da referida ministra.] Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Justino Miranda. Sr. Deputado Justino Miranda (PAICV): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo. Aqui ouvi, há pouco, o Sr. Deputado António Pascoal Santos a dizer que a questão de acesso às fontes de informação é ABC por este mundo fora. Citou o caso de Portugal. Queria precisamente aqui ler o nº 3 do artigo 8º do Estatuto dos Jornalistas de Portugal que diz o seguinte: “O direito de acesso às fontes de informação não abrange os processos em segredo de justiça, os documentos classificados ou protegidos ao abrigo de legislação específica, os dados pessoais que não sejam públicos dos documentos nominativos relativos a terceiros, os documentos que revelem segredo comercial, industrial ou relativo a propriedade literária, artística ou científica, bem como os documentos que sirvam de suporte a actos preparatórios de decisões legislativas ou de instrumentos de natureza contratual”. Sr. Presidente: - Para pedir ou dar esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Andrade. Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Há uma questão que está a ser subjacente a determinados posicionamentos. Gostaria de acentuar isso para podermos fazer o melhor debate nesta fase. É que na verdade não há propostas de lei perfeitas. Nunca houve, nem haverá e nem há leis perfeitas. Nunca houve e nem haverá. Nesse pressuposto, na qualidade de agentes do poder legislativo, estamos aqui com uma intenção de produzir um quadro normativo que tem de ter um pressuposto básico, se é necessário ou não, se é oportuno ou não neste momento. E estamos de facto num processo legislativo. Já vimos que da parte da Bancada do MPD, por tudo aquilo que tem dito até aqui, não vai votar nenhum desses diplomas desse pacote. Já votaram contra as duas e contra esta também já sabemos que vai ser o mesmo porque nós todos aqui somos inteligentes e o discurso vai ser sempre no sentido de bota-a-baixo, de não se fazer nada. 210 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 De modo que, penso que essa proposta retirada podendo aparentemente ser justificada, mas ela não é de todo justificada por causa do processo em que nos encontramos. Também entendo que no que tange ao artigo 12º, assim como em relação ao artigo 2º da lei de aprovação, pode sujeitar-se, de acordo com o parecer da AJOC, a alguma adequação. Mas estamos neste debate e em sede de comissão especializada, na especialidade, podemos aperfeiçoar e debater melhor esta questão. Por exemplo, no que tange ao artigo 12º, queria deixar bem claro que, de facto, apesar de em termos de direito comparado foi aqui citado expressamente a lei portuguesa sobre essa matéria, em relação ao qual pertencemos à mesma família democrática e as nossas constituições são muito similares, tem essa versão que está aqui nesta proposta, embora possa entender que não seja absolutamente necessário, que isto aqui pode nem sequer estar aqui. E defenderei isso. Mas, nenhum agente fica obrigado, também entendo, por exemplo, se estamos num processo legislativo, estou a produzir, eu sou Deputado, estou a produzir um diploma em relação ao qual não tenho posição, não tenho que dar isto a ninguém enquanto estou a fazê-lo. Estamos num processo legislativo. Isso não precisa estar aqui podendo acontecer naturalmente. Imagine-se que, por exemplo, em algum ministério se esteja a iniciar a elaboração de um diploma e ainda o ministério não tem posição nessa fase de elaboração, é obrigado a ter de dizer que está a laborar este diploma ou mostrar posicionamento que tem ainda na fase de tomada de posição? Não. Não é obrigatório. De modo que, estando aqui ou não estando aqui, do meu ponto de vista, tanto faz. Defendo até a retirada desta última parte porque pode até confundir com outros elementos do processo. Por exemplo, no processo legislativo, a aprovação de uma lei pode acontecer por iniciativa do Governo que pode até numa primeira fase ter termos de referência, contratar consultores de fora, mas o ministério ainda não tem posição sobre a matéria, mas pode existir, por exemplo, este draft de diploma e pode apresentar-se para o Conselho de Ministros para aprovação. Nesta fase preparatória, ainda porque é a Assembleia que vem decidir nesta fase, naturalmente que há direito à informação. O jornalista tem que ter acesso à essa informação, mas não em todos os momentos. Portanto, por mim tanto faz estar aqui como não estar. Defendo, para evitar confusões, que se retire esta última parte depois dos direitos do autor neste nº 12 do artigo 12º. Sr. Presidente: - Também para dar esclarecimentos, tem a palavra a Sra. Ministra Sara Lopes. Sra. Ministra da Descentralização, Habitação e Ordenamento do Território, Sara Lopes: - Também para juntar alguns argumentos à questão aqui colocada, veementemente, pelo Sr. Deputado António Pascoal Santos, pedindo o adiamento da iniciativa para se ouvir os sindicatos. É necessário aqui dizer que, em matéria de conteúdo de fundo e que poderá efectivamente alterar os direitos sindicais dos jornalistas, não há nada neste diploma. E não se está também a legislar sobre o direito laboral em geral. 211 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 São as situações em que efectivamente os sindicatos devem ser ouvidos. Estáse, sim, neste momento, a trabalhar no sentido de se dotar o País e a classe dos jornalistas de um novo estatuto. Este estatuto foi amplamente discutido com a associação de classe que representa todos os jornalistas de Cabo Verde. Essa associação emitiu um parecer claro. A associação reconhece que foi amplamente discutida esta iniciativa e todo o pacote e está há vários anos em processo de discussão. Para os vários encontros foram convidados os jornalistas e as suas organizações representativas, sempre, ao longo deste processo. Não há como justificar que não seja conhecido efectivamente as propostas, mas também não se está restringir aqui o direito laboral em geral dos jornalistas, a não ser que alguém tenha opinião fundamentada em contrário. Não se está a legislar sobre legislação laboral, nem também sobre legislação sindical. Penso que aqui não se aplica aquilo que o Sr. Deputado diz e aquilo que diz o próprio parecer do SITTUR, com todo o respeito discordo. Houve sempre a perspectiva de discussão de todas as matérias com as organizações representativas dos jornalistas ao longo destes anos na preparação desses projectos. Mas, mais do que isso Sr. Deputado. Há de convir que estando este diploma no Parlamento desde 2007, como é que se justifica que se venha pedir agora a suspensão do diploma para aguardar o parecer dos sindicatos. Alguém não terá feito o seu trabalho. É mais uma vez uma estratégia dilatória, aliás quando se pede o parecer não se dá pareceres. O que mais o Governo tem feito é pedir pareceres há várias instituições e os sindicatos, sim, estes tem procurado cumprir, mas o Sr. Deputado sabe muito bem do que estou a falar, há instituições que fazem tudo para não dar pareceres, muitas vezes nem por culpa própria, por culpa dos assessores jurídicos que têm. Mas, efectivamente não emitem os pareceres. E, muitas vezes quando o Governo traz o parecer, o Sr. Deputado António Pascoal já disse aqui este parecer não serve, o que serve é o parecer pedido pela Mesa da Assembleia Nacional. Deve ser a Mesa da Assembleia Nacional a solicitar. Já me disse isso aqui, dizendo que não tem valor. Não há razões justificadas do ponto de vista do Governo para se suspender a associação dessa iniciativa, sendo certo que será aprovada na generalidade, vai para especialidade e no decorrer da especialidade chegam todos os pareceres que sejam solicitados pela Mesa da Assembleia e este parecer terá tido em conta no processo de aprovação na especialidade. Aliás, desde ontem o Sr. Ministro está aqui a garantir que as preocupações levantadas pelos jornalistas através da sua associação e através de parecer remetido à Assembleia Nacional serão tidos em devida conta durante o processo de discussão na especialidade deste diploma. É preciso clarificar para a opinião que muitas vezes passa-se a ideia que a discussão que se faz nos diplomas na generalidade é o fim do processo. Não, é o início do processo. Discute-se a generalidade do diploma, o nome diz tudo. Na especialidade é possível até ouvir os interessados para colher as suas contribuições. É possível que o diploma se mantenha em discussão na especialidade por um, dois, três meses, até que reflicta a vontade do Parlamento. Este processo está apenas a iniciar, há todas as condições para se garantir as 212 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 preocupações manifestadas pelos jornalistas e até mesmo os pareceres que possam vir dar entrada no Parlamento. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro pede a palavra para que efeito? Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Para esclarecimentos. Sr. Presidente: - Sr. Deputado, nós estamos aqui no período de esclarecimentos. Tinha dito que na sequência da intervenção do Deputado Justino Miranda, para este período de manhã fica fechada as inscrições. Mas, esclarecimentos, não pode ser, fica inscrito para intervenção. Eu vou fechar com mais duas intervenções. Vou passar a palavra ao Sr. Deputado António Pascoal Santos, porque efectivamente foi ele que fez a intervenção que suscitou o pedido de esclarecimento, depois passarei a palavra ao Sr. Ministro para fazer algumas considerações finais e voltamos no período da tarde, porque este diploma não acaba aqui. Os Grupos parlamentares têm tempo, voltamos à conversa. Sr. Deputado António Pascoal Silva dos Santos. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - É para dizer ao Sr. Deputado Justino Miranda que ele disse que terminou a sua intervenção dizendo está dito. Eu digo que não foi dito. Não está dito nada Sr. Deputado, porque o que eu disse e desvirtuou é que em Portugal e por esse mundo fora a toda hora vemos jornalistas a comentar iniciativas legislativas, a intervir em iniciativas legislativas. A Sra. Ministra fala de direito laboral. Evidentemente não está em causa aqui todo o direito laboral, porque isto não é Código Laboral. A Sra. Ministra acha que as questões que podiam colocar para o sindicato dos jornalistas estão salvaguardadas. Sra. Ministra não estamos a discutir “os achasses”, o achar seu, o achar meu, o achar daquele… Estamos a discutir um processo legislativo onde há pareceres que devem ser ouvidos, o Sr. Presidente mostrou aqui que foi solicitado outros, não podia ser solicitado outros. A Sra. Ministra entendeu, com o devido respeito pelo seu entendimento, mal, que eu disse que os pareceres ouvidos pelo Governo não [imperceptível]. Eu jamais disse isso na minha vida. Não vamos teimar. Jamais disse isso, nego em absoluto e desafio alguém a apresentar nos registos das intervenções da Assembleia Nacional. O que eu disse é que o parecer feito pelo Governo e o Sr. Presidente da Assembleia, Aristides Lima e a Mesa e o colectivo chegou-se aqui a devolver diplomas que [imperceptível] tinha ouvido pareceres do Governo e não tinha sido ouvido parecer da Assembleia. Eu disse que os pareceres são ouvidos em duas etapas. Quanto a generalidade Sra. Ministra, Sr. Ministro com o devido respeito, os Deputados quando têm o primeiro contacto com a proposta, projecto de lei têm que vir com os pareceres. Porque aí é que você já vai decidir se pelo menos [imperceptível] por 2/3 – viabilizar-se na generalidade ou não. E, se 213 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 fosse um diploma que pedia 2/3? Como é que a gente se posicionava e viabilizava, ou não, sem os pareceres das entidades competentes. Portanto a única atitude razoável realmente consensualizadora, democrática é suspensão da iniciativa para se juntar todos os pareceres e se redistribuir. Sra. Ministra quanto a pareceres que não são dados eu os mostrei quantas vezes aqui perante a Sra. Ministra das Finanças, que ela tinha dito por exemplo, que tinha ouvido a Associação de Defesa dos Consumidores e provou-se que não se ouviu, mas as suas assessorias informaram-lhe que tinha ouvido. Não tinham ouvido nada. Quanto a outros pareceres que não são dados, Sra. Ministra eu posso vir a chamar atenção, por exemplo na Associação Nacional dos Municípios, com a curteza de tempo que esses pareceres são solicitados. Os sindicatos, as associações, as entidades não tem assessorias que o Governo e os vários ministérios têm. Os pareceres devem surgir pelo menos com o mínimo de 30 dias de antecedência razoável. O Ministro João Pereira Silva solicitava mais do que isso. Está a ver? Se não está a fingir solicitar para inglês ou criolo ver quando não tem tempo para dar o parecer, ou o parecer solicitado com um dia de antecedência, ou seis dias de antecedência. Um diploma de cento e tal artigos. Portanto a única solução razoável e democrática é isso. Se quiserem ir por esse caminho vão, se não quiserem cada um fará a sua. Sr. Presidente: - Vou ainda passar a palavra ao Sr. Deputado António Monteiro. Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Ministro, nós voltamos a esta questão do parecer porque entendemos que de facto ele é importante. É só termos aqui o artigo 2º que fala da disposição transitória. Repare, nós entendemos que o sindicato tem um papel muito importante nessa matéria, porque nós vamos mexer, se este artigo for aprovado, com a vida profissional da classe. Com aqueles que não tiveram oportunidade de fazer o curso superior e que estão há muitos anos a dar o seu contributo à nossa sociedade e para o melhoramento da comunicação social em Cabo Verde. De forma que se é uma lei que exige que se deve ouvir os sindicatos nesta matéria eu acho que é de bom-tom que a nossa Assembleia Nacional, os Deputados, o Governo e os partidos cumpram a lei. Quer dizer, nós não podemos ter leis e fazermos tábua rasa destas mesmas leis. De forma que, eu volto a propor que se faça a suspensão desta proposta de lei e que se peça aos sindicatos da classe para darem o seu parecer sobre esta matéria. Não podemos estar aqui a violar as leis porque há uma maioria que pode suportar essa mesma violação. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro para as alegações finais neste período de manhã. Sr. Ministro-adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Sobre este artigo 2º da lei em aprovação eu já me pronunciei e penso que não devíamos continuar a discutir algo que além de ser matéria de 214 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 especialidade eu também já me pronunciei no sentido da sua alteração. De modo que, bater na mesma tecla é querer reafirmar esse ponto. Penso que fui claro em relação a essa matéria. Parece-me que há uma má interpretação do que nós pretendemos e para que não haja interpretações díspares vamos tentar encontrar uma redacção que satisfaça o próprio articulado do diploma que já regula toda esta matéria sem nenhuma dificuldade. Se formos ver o artigo 4º e os diversos pontos acabam por clarificar muito bem e não cria nenhum problema aos jornalistas que eventualmente não tenham formação superior ou adequada em tempo que se exige. Por outro lado, eu pedia também aqui que voltemos à realidade prática. Uma coisa, sim, entende-se perfeitamente a necessidade de se ouvir sindicatos, a Sra. Ministra Sara Lopes acabou por clarificar aqui que temos entendimento que a maior parte da matéria tratada aqui não tem a ver com matéria laboral, nem a vida sindical. Portanto, para já um outro factor e um outro elemento muito importante. Se formos ver praticamente cerca de mais de 80% dos jornalistas estão associados a AJOC e será uma minoria muito considerável de jornalistas que poderão estar sindicalizados. O interlocutor que representa a maior parte dos jornalistas neste caso é a AJOC, sem desprimor do papel dos sindicatos que já receberam um pedido de parecer pela Mesa da Assembleia como eu disse inicialmente, que é o que se tem feito, porque o que eu gostaria também de clarificar é que efectivamente nós temos uma prática nesta Casa Parlamentar de anos e anos e estou em condições de poder dizer isso porque fui líder parlamentar e sou Deputado desta Casa Parlamentar desde 1985. Eu conheço todo este processo. De modo que a prática tem nos dado muitas lições. Normalmente nessas matérias faz-se a aprovação na generalidade aguarda-se o parecer, o parecer chega, inclusive podem ser chamadas as entidades a irem as comissões para se pronunciarem. Isso tem sido os mecanismos utilizados. De modo que, eu creio que não se trata de uma lacuna insanável e podemos perfeitamente avançar com o pressuposto de podermos, ou chamar os sindicatos e a própria AJOC às comissões para se pronunciarem de viva voz e aguardar na segunda parte do processo que enviem o competente parecer. Relativamente à questão do artigo 12º que levantam eu penso que estamos a exagerar um pouco quanto ao sentido do acréscimo que na lei inicial onde foi se foi beber existe. Está na lei portuguesa esse acréscimo. Mas, também gostaria de dizer que da parte do Governo não há nenhuma intenção em criar nenhum obstáculo possível a qualquer processo legislativo, sendo certo que nós temos situações em que, por exemplo, num ministério determinado se avance com uma ideia… Nós temos hoje variadíssimas fontes (Internet…) que nos permite ter acesso a uma data de informações e há técnicos que podem eventualmente ir buscar uma ideia a mais estapafúrdia possível que não interessa nem sequer ao ministério, ao próprio ministro, mas acaba por entrar no processo. E, esse documento, essa fonte ou algo que pode servir, mas que pode ser depois rechaçado ou rejeitado pelo ministério pode correr o risco de muitas vezes serem utilizados como se de posição do Governo ou do ministério tratasse. 215 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Talvez esse ponto possa responder a algumas dessas preocupações. Eu tenho experiência prática de uma proposta de um contrato que recebemos de uma empresa que queria elaborar a Carta Desportiva, enquanto Ministro do Desporto na altura. As posições que foram assumidas se tivessem chegado às mãos de um jornalista talvez tivessem sido feitos algumas especulações, mas imediatamente quando vi a proposta eu mandei rejeitar liminarmente porque eu não podia aceitar essas posições. Para ver que, às vezes há processos, mas de qualquer forma se tivessem chegado às mãos de um jornalista dizia como é que se vai aceitar uma coisa destas. Mas, eu estou aberto uma vez que esta cláusula, esta parte final não vinha na lei anterior e eu não vejo que venha alterar de fundo os preceitos. Estou até disponível para discutirmos para vermos se alteramos o texto, ou se o eliminamos, porque no fundo o que eu quero garantir é que da parte do Governo nós queremos que os jornalistas exerçam o seu papel na plenitude e que a sociedade cabo-verdiana de forma transparente possa controlar as acções de todos os órgãos públicos do País. NE, nós temos tomado medidas no País que são elogiadas a nível internacional no que diz respeito à transparência dos processos. De modo que, penso que não há nenhum perigo porque o nosso propósito é aprofundar cada vez mais esses princípios e se esta parte final que vem também no direito comparado causar algum problema estamos dispostos a discutir porque se a interpretação que é dada é noutro sentido preferimos até tirá-la para que não haja especulações e nem para que haja interpretações erradas, para que não se ponha na boca do Governo o que não queremos que haja em Cabo Verde. O que houve no passado não queremos que volte acontecer no futuro. Queremos efectivamente o aprofundar da democracia e da liberdade de expressão e que o papel dos jornalistas seja cada vez mais desempenhado com total dignidade que merecem. Sr. Presidente: - A Mesa agradece a sua intervenção. Sras. e Srs. Deputados, faltam neste momento cinco minutos para uma da tarde. Vou ser benevolente: vamos suspender os nossos trabalhos para voltarmos às 15 horas. [Eram 12 horas e 55 minutos.] ----------------------------------------------------------------- [Após a suspensão:] [Devido à falha técnica, o reinício da Reunião Plenária não ficou gravada, tendo continuidade como se segue:] Sr. Presidente: - … na Sala e vamos dar continuidade aos nossos trabalhos, com a análise da proposta de lei que aprova o estatuto do jornalista e passo a palavra ao Sr. Ministro-adjunto do Primeiro-ministro. 216 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades, Sidónio Monteiro: - Segui atentamente e participei também na discussão que tivemos há bocado, no período de manhã, relativamente a esta proposta que apresentamos e que se refere ao estatuto dos jornalistas. O nosso pacote tem quatro iniciativas legislativas que foram agendadas para esta sessão. Tínhamos o entendimento que por parte da Assembleia se ia proceder à audição dos sindicatos, como sempre se fez aqui na Casa Parlamentar. Temos uma quinta iniciativa que não foi possível agendar nesta sessão, que tem a ver com a lei da televisão e que será certamente agendada na próxima sessão. Considerando que se trata de um pacote e considerando que não há razão para criamos um problema do ponto de vista processual que poderá ser utilizado de forma incorrecta, decidimos suspender a discussão desta iniciativa, uma vez que Mesa da Assembleia já solicitou parecer aos sindicatos e esperando que em tempo oportuno os sindicatos se pronunciem e possamos, na próxima sessão, eventualmente, poder discutir esta e a Lei da Televisão que também está dentro do pacote. É esta a nossa posição, Sr. Presidente. Sr. Presidente: - É um direito que assiste ao Governo, nos termos do nº1 do artigo 145º, pelo que fica a iniciativa cancelada para a apresentação na próxima sessão. Anuncio o ponto 7 – Proposta de Lei que altera a Lei nº58/V/98, de 29 de Junho, sobre a Lei de Imprensa e de Agência de notícias. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades: - A Lei de Imprensa escrita e a agência de notícias é uma lei que teve o mérito de criar as bases para o surgimento de novos órgãos de informação, sobretudo no sector privado, engrandecendo, deste modo, por assim dizer, a família da comunicação social cabo-verdiana. O surgimento de jornais, revistas boletins e outras publicações gráficas testemunha de forma inequívoca o estímulo que tal lei representa para o livre exercício do direito de criar órgãos de informação e outras publicações. No entanto, volvidos mais de 10 anos da sua vigência, constata-se a criação, o desenvolvimento e a prevalência de um ambiente favorável ao exercício da liberdade de imprensa no País, onde o desenvolvimento determinou a emergência de novas realidades comunicacionais, como é o caso da imprensa electrónica. Este novo ambiente acarreta e exige também a responsabilização dos media e dos que o fazem. É nesta base que se decidiu avançar com a presente proposta de revisão do diploma em vigor e a aprovação de um novo diploma. O que no fundo se pretende, com a presente proposta de lei, é que ela seja restrita, salvaguardando o essencial da lei actual. A nova proposta centrase, principalmente, na responsabilização civil e criminal pelas ofensas cometidas pela e através da imprensa e no correspondente e competente processo judicial. Porém, outras alterações são também propostas com uma inclusão do princípio da liberdade de imprensa e os seus limites, nos mesmos termos que os constitucionalmente estipulados; a regulação da publicidade na imprensa escrita; a classificação das publicações, tornando-a um pouco mais 217 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 abrangente, e o posicionamento das previsões sobre o registo e depósito legal para uma melhor integração sistemática. Pretende-se também assegurar que não só os direitos, mas também os deveres da comunicação social em geral, da imprensa escrita em particular e das pessoas colectivas ou singulares, profissionais desta área, sejam absolutamente assegurados e regulados. A presente proposta de lei passa a garantir enquanto reforço e repetição do que já estipula a Constituição, a liberdade de imprensa que abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos, discriminações ou limitações por qualquer tipo de censura. Os limites à liberdade de imprensa são os que decorrem da lei fundamental e passam a constar da lei ordinária de forma a salvaguardar o rigor e a objectividade da informação, garantindo os direitos ao bom-nome, à reserva da intimidade da vida privada, à imagem e à palavra dos cidadãos e a defender o interesse público e a ordem democrática. Tendo presente o aparecimento e o desenvolvimento das publicações electrónicas no País, que até a presente proposta não estava consignado na designação das publicações, uma vez que há a tendência de as excluir dessas especialidades, com o fundamento na forma ou o meio da sua distribuição, introduziu-se a expressão ”independentemente dos meios empregues para a impressão ou reprodução e o modo de distribuição ou difusão”. Quanto á publicidade, por decorrência da previsão constitucional do direito de ser informado, introduziu-se a previsão e a obrigatoriedade de assinalação em qualquer escrito ou imagens incluídos na publicação, os termos de identificação e o local da respectiva inserção. Também se prevê a obrigatoriedade de informação sobre textos e reportagens patrocinados ou elaborados a título de promoção publicitária. Na prática do Jornalismo, deve haver responsabilidade pró parte das empresas e dos profissionais e que a ninguém deverá ser permitido quebrar, dolosa e intencionalmente a harmonia social ou o desonrar a vida a vida moral dos seus semelhantes. É justamente para manter este equilíbrio que se introduziu novo capítulo na presente lei e que versa sob responsabilidade civil e criminal e a definição dos crimes cometidos através da imprensa, a desobediência qualificada e o atentado à liberdade de imprensa. No que tange à determinação das formas de efectivação de responsabilidade civil emergente de factos cometidos pelo meio da imprensa, observam-se os princípios gerais e no caso de escrito ou imagem inseridos em publicação periódica com conhecimento e sem oposição do director ou do seu substituto legal, as empresas jornalísticas são solidariamente responsáveis com o seu autor pelos danos que tiverem causado. São assim previstos como crime de imprensa todas as publicações de textos e imagens que ofendam bens jurídicos penalmente protegidos, punindose os mesmos nos termos gerais. Inseriu-se ainda no diploma o crime de atentado á liberdade de imprensa, tendo em vista a dissuasão da prática de actos susceptíveis de impedir o exercício da liberdade de imprensa que é constitucionalmente garantido, fixando ao mesmo tempo sanções severas contra os seus autores. 218 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 A questão de responsabilidade penal dos crimes de imprensa representada por um sistema de responsabilidade sucessiva e nalguns casos solidária a partir do autor. Adoptou-se o princípio da responsabilidade sucessiva, pelo qual, desconhecido autor ou com a falta de idoneidade do mesmo, responderão as pessoas arroladas. Nas publicações unitárias, são responsáveis por ordem sucessiva o autor do escrito ou imagem. Incluiu-se na proposta a obrigatoriedade da publicação das sentenças condenatórias de crimes cometidos através da imprensa, a pedido do interessado, gratuitamente. Quanto às contra-ordenações, mantendo-se o corpo do actual diploma, propõe-se também a punição da tentativa e da negligência. Também foram introduzidos alguns preceitos sobre o procedimento judicial pelos crimes de imprensa, remetendo-se para lei processual penal, estipulando-se sobre a competência jurisdicional relativamente aos crimes de imprensa. Sr. Presidente: - Já foi lido o parecer da comissão competente, em reunião anterior. Fica um aberto um período dedicado a pedidos de esclarecimento, caso haja interesse. Não havendo, passamos ao debate. Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Silva dos Santos. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Ministro e Sra. Ministra aqui presentes: Peço os seguintes esclarecimentos, antes do mais: O Sr. Ministro Sidónio Monteiro em sua exposição acaba de nos dizer que a comunicação social deve salvaguardar o direito ao bom-nome, à intimidade da vida privada, etc. nada não podíamos estar mais de acordo. Sr. Ministro, o senhor disse que se introduziu. Não se introduziu nada, já estava introduzido, Sr. Ministro. Está na Constituição e está na lei que estamos a pretender alterar. Esta introdução, Sr. Ministro, já está introduzida há muito tempo passe o pleonasmo. Mais, a obrigação de publicação, sentença condenatória, está no Código penal e também estão nas normas penais e processuais penais, em relação à legislação de imprensa existente, de 98, Sr. Ministro. No entanto, uma coisa pode parecer muito bela e até muito cândida, muito mobilizadora, quando diz que a comunicação social não pode pôr em causa a harmonia social. Sr. Ministro, essa harmonia social que soa mais a harmonia conjugal, é meio complicado. Se um jornalista vai atrás, por exemplo, de um escândalo político, económico ou outro, peço esclarecimento, estará a pôr em causa a harmonia social? Harmonia social, Sr. Ministro, o quê isso? Esse discurso, como sabe (eu sei que não é a sua intenção porque o senhor é um democrata genuíno) esse discurso parece próprio dos regimes fascistas, de partido único, totalitários. Isto é – nem no tempo do partido único 219 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 se falou dessa harmonia social em Cabo Verde – nos regimes de leste, onde se defende a harmonia social, pessoas que estão a protestar estão a pôr em causa a unidade da Nação, a harmonia social, o interesse do Estado, os altos interesses públicos… Sr. Ministro, penso que não estará a pensar nessas coisas porque o senhor eu sei que é… o senhor é de um partido eu sou de outro, mas temos a obrigação pelo menos de ser democratas e pressupostamente os ministros, em democracia, devem ser democratas. Com mais ou menos grau, mas devem ser democratas. Antes do mais, se pudesse esclarecer sobre estas questões. Quanto às introduções, o senhor fez várias introduções e introduziu várias vezes o que já estava introduzido, Sr. Ministro. De momento é isso. Sr. Presidente: - Mais algum Deputado… Por enquanto não, então tem a palavra o Sr. Ministro para responder. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades: - Vim aqui ao Parlamento para discutir princípios, para discutir uma proposta. Não vim aqui fazer discussão filosófica em relação a determinados conceitos. Referi-me, certamente, a harmonia social. Espero que o Sr. Deputado não esteja aqui a aconselhar-me a defender caos social. Eu não quero defender o caos social. Penso que todos nós devemos lutar para que haja em cabo Verde a harmonia social, o que não significa estarmos a compactuar-nos com mais práticas em qualquer domínio da vida do País. Portanto, ouvimos ontem, aqui, discursos que falavam na censura, quando nós dizíamos que devia haver uma certa censura contra más práticas na sociedade. Foi a própria Bancada do MPD a levantar a questão, que estávamos a falar, que sabiam, sim senhor, que não se tratava da censura à liberdade de expressão, mas que como já tivemos, no passado, questões de censura, que então não devíamos falar da censura social. Enfim, nós falamos na censura contra as más práticas, contra uma série de questões que podem pôr em causa a vida normal numa sociedade. Naturalmente que, a vida normal na sociedade, não me refiro ao que o senhor talvez tenha como sua referência, mas que não é a minha e que tem a ver com os regimes totalitários que acabou aqui de mencionar. Essa não é a minha referência. Mas, de qualquer forma, eu também registo aqui um facto: quando fiz a apresentação, eu me referia às introduções de uma série de matérias numa proposta de lei, no seu conjunto. Dissemos que íamos apresentar uma proposta global. Então tive a preocupação de, na minha apresentação, me referir aos vários aspectos que trata a lei. Se o senhor considera que todos esses aspectos já tinham sido introduzidos ou outros advêm da Constituição, com também eu sei, porque nós não vamos fugir ao que está na Constituição, então mais uma razão tem o senhor de aprovar e votar a lei porque, ao fim e ao cabo, vem ao encontro das suas expectativas e é coisa que o senhor defende perfeitamente e que nós estamos a copiar. E, se estamos a copiar gostaríamos então que o senhor nos apoiasse nesta empreitada e pudéssemos aprovar unanimemente toda esta lei, que, ao fim e ao cabo, o senhor considera que todas as matéria que foram introduzidas são matérias que o senhor e, eventualmente, o seu grupo já tinham introduzido antes. 220 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal dos Santos. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Ministro, vamos ver uma coisa, não vamos brigar sem necessidade. O senhor puxou-me para a guerra, está a arregaçar as mangas, mas ou sou fraco estive doente recentemente… Sr. Presidente: - Sr. Deputado, aqui um lugar de paz. Risos gerais. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Diga isso primeiro ao Sr. Ministro, Sr. Presidente. Sr. Presidente: - É válido para toda a gente. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Obrigado, porque eu respeito o princípio de igualdade. Sr. Ministro, veja, não vamos discutir acusações porque eu não lhe fiz nenhuma acusação. No entanto, na política, como sabe, nada é inocente. O senhor não é qualquer pessoa, o senhor é, com toda a honra, ministro do Governo da República de Cabo Verde num quadro de democracia, do contraditório do pluralismo político e social. A harmonia social é um conceito importante do ponto de vista sociológico, político ideológico, etc. Sr. Ministro, despessoalize a questão e veja a história política universal e veja que estes conceitos são empregues por um determinado tipo de regimes, sobretudo quando estão dirigidos, essa obrigação de harmonia social é dirigida a destinatários políticos, é dirigida à liberdade de imprensa que, como sabe é um dos pilares fundamentais da existência do funcionamento da democracia e na medida em que controla o próprio funcionamento da justiça; dos tribunais, dos actores políticos, judiciários, etc. Sr. Ministro, quando disse harmonia social, o senhor é que disse, não foi o Deputado António Pascoal. Ah, pode ser que não tinha intenção de dizer, mas disse. E se disse, o senhor é que tem de responder por isso e não vir a ficar chateado comigo e tirar-me para boxe porque não estou em condições de boxear consigo. Boxear politicamente falando, evidentemente. Sr. Ministro, veja uma coisa: as introduções. O senhor é que fez as introduções, não fui eu. Fez a introdução do diploma e disse que o Governo estava a introduzir isso, introduzir aquilo… Eu estou a lhe dizer que essa introdução já estava introduzida. Estamos a fazer política. Eu sou MPD e sou a Oposição. E é verdade e indesmentível, o que disse que está a introduzir já está introduzido. Isso é política. Isso é contraditório, Sr. Ministro! Quem nos está a ouvir vai verificar se é assim ou não. E no caso vão confirmar que é assim. Se o Sr. Ministro dissesse que nestas questões, que já existem, o Governo, aqui e agora, pretende trazer melhorias, a gente discute que são as 221 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 melhorias. Mas, não traga como novidade política, como mérito inovatório, o que não é novidade alguma. No entanto, veja a questão da harmonia. Já deu para ver que esta questão da harmonia é perigosa, o Sr. Ministro já está, ao fim e ao cabo, implicitamente, a acusar-me da falta de harmonia e caos social (neste caso é caos parlamentar). Sr. Ministro, não pode ter nem caos parlamentar, nem caos social por causa de opiniões diferentes. Sr. Ministro, o que é que é normal que o senhor disse “vida normal”. O que é que é normal e o que é que não é normal. Nos conceitos filosóficos, o senhor, todos somos filósofos, que eu saiba a nossa especialidade não é a filosofia. Mas, quando um político e um político que é um ministro dos pesados do PAICV e do Governo, … Risos gerais. … vem aqui dizer “vida normal”, está a dirigir esse comando a jornalistas; está a condicionar, já neste momento, o seu discurso para quem está a ouvir. Portanto, isso não é inocente, Sr. Ministro. E deixe que a Oposição funcione, sobretudo num quadro de fraquíssimo ou inexistente regulação. Se é que são as más práticas. O senhor trouxe aqui à baila a discussão de ontem. O que é que são as más práticas? Quem define as más práticas? O senhor está apor a comunicação social e os jornalistas sob as más práticas económicas. Agora os jornalistas é que vão controlar os operadores económicos, os empresários e outros para ver o que é que é a boa prática e o que é que é a má prática. Está a condicionar os jornalistas. E o Governo disse aqui, escreveu na proposta, que dá incentivos àqueles jornalistas que fizerem isso ou aos órgãos que fizerem isso. Em resumo, vai punir, implicitamente, não dando incentivos, os que não forem fiscalizadores das más práticas. Sr. Ministro, com o devido respeito, não será sua intenção e nem do Governo, acredito até, de boa fé, que não é, mas o resultado seria fascismo ou totalitarismo. Sr. Presidente: - Continuam abertas as inscrições, Srs. Deputados, para o debate na generalidade sobre a lei de imprensa escrita e de agência de notícias. Tem a palavra o Sr. Ministro. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades: Como eu disse, não estou interessado em desviar este debate do seu aspecto fundamental. O que queremos aqui é trazer a Cabo Verde uma nova lei de imprensa escrita e agências de notícias. Já anunciei aqui claramente os aspectos novos introduzidos. Reafirmei claramente aqueles que já constavam, com algumas melhorias. Isso ficou claro na minha exposição. Mas também devo dizer que eu não pretendo criar nenhuma animosidade com o Sr. Deputado nem, naturalmente, estou disposto a entrar nessa via de facto, seja político, seja corporal ou seja o que for. Não é meu timbre estar nesse tipo de problemas e nesse tipo de polémicas. Como me deve conhecer muito bem, nesse aspecto não sou homem para essas arruaças. 222 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 De qualquer forma, também reconheço que não estou lá muito elegante em termos de peso. Tenho neste momento um bocadinho mais de 100 quilos, de modo que eu possa até ser dos membros de Governo com um bocadinho mais de peso. Prometo-lhe que talvez dentro de meses, como estou fazendo ginástica, consiga reduzir o meu peso. Não sei se isso lhe trará alguma… Mas pelo menos nãos serei ameaça em relação ao meu peso corporal. Espero não ser. Mas, de qualquer forma, aquilo que eu pretendo é que, efectivamente, discutamos o fundamental desta proposta. Temos aqui uma série de introduções. Falei aqui da novidade que existe neste momento e que não estava regulado – o senhor não se referiu a isso – que é a realidade de uso online, por exemplo. Também falei do desregulamento. Falei sim, senhor, da necessidade de respeitarmos alguns princípios fundamentais em defesa… são princípios que estão na Constituição: a questão do bom-nome, a questão de vida íntima das pessoas, enfim, são direitos que nós temos e que se contrapõem ou que estão face a face com outros direitos e que temos que respeitar. Seja o direito de liberdade de imprensa, seja o direito também ao bom-nome. Enfim, são todas essas questões. Quando falo na harmonia social, falo na necessidade de, dentro das regras, podermos ter uma sã convivência num país. É o que se pretende. Não se falou aqui de regimes totalitários, nem de outro tipo de coisas. Por isso é que eu lhe disse que esse tipo de problema não é meu. Eu não tenho esse tipo de regimes como minhas referências. Portanto, o que eu quero é que a Assembleia Nacional de Cabo Verde, sob proposta do Governo, aprove uma proposta de lei que venha ao encontro das necessidades da nossa imprensa e das agências de notícia. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal Santos, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Para intervir, Sr. Presidente. Sr. Presidente: - Intervenção sobre a matéria em debate. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Nem podia ser outra coisa, não é, Sr. Presidente? Sr. Presidente: - Penso que não. Penso que deve ser sobre a matéria em debate. Só que o Deputado às vezes pode intervir ou usar da palavra para algumas derivações. Não é de certeza o seu caso. Faça o favor. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sem derivações e pedindo que não faça derivações, Sr. Presidente, sobre as possíveis derivações do Deputado, … Risos gerais. 223 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 … Vou dizer o seguinte e sobre a matéria em debate: Sr. Ministro, só me vejo forçado a, de novo, intervir sobre esta matéria. Sr. Ministro, volto a dizer que esta lei de novidade positiva, salvo um ou outro aspecto tecnológico das novas formas de comunicação, não tem nada. Não há um único artigo nesta lei (e isso pode-se provar até na especialidade) que seja propriamente novidade. E se o Sr. Ministro e o seu Governo virem aqui fazer vanglória de trazer uma nova lei, é uma nova velha. A virgindade dessas questões não existe, Sr. Ministro. E mais, essa lei, como aproveitou o Governo e não se pode aproveitar para legislar de qualquer forma, devia aproveitar para introduzir (aqui, sim, seria uma introdução nova) o que de melhor há por este mundo em matéria de estatuto de jornalista. Se for comparar com os países democráticos da Europa Ocidental onde o ordenamento jurídico-constitucional cabo-verdiano bebe e os valores fundamentais da democracia, como se sabe este estatuto de jornalista está muito aquém do que existe por este mundo fora. Sr. Presidente: - Sr. Deputado, estamos a discutir a lei de imprensa e da agência de notícias. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Desculpe, é a lei de imprensa. Foi um lapso. Sr. Presidente: - Foi por isso que chamei a atenção. Faça o favor. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Esta lei de imprensa, dizia, está muito aquém. Evidentemente que não é aqui, numa intervenção deste tipo, que eu vou demonstrar-lhe – até com outras legislações e com a legislação que já existe na República de Cabo Verde – em pormenor que não é novidade. Mas não há! E deixa a desejar naquilo que podia realmente introduzir nesta lei de imprensa. No entanto, Sr. Ministro pode ter passado aqui sem querer a mensagem de que eu estava a criticar o seu peso. Longe disso, Sr. Ministro! Eu não falei do seu peso físico. Não tenho nada a ver com o seu peso porque o seu peso não me afecta, pode afectar outras pessoas, mas a mim não… Risos de alguns Deputados. … a mim não me afecta e nem me pode afectar. Falei do peso político, evidentemente. Quando se diz que um ministro pesado ou uma ministra pesada, está-se a falar de um peso político. Quanto à sua opção por ginástica, olhe, estou plenamente de acordo consigo e pode contar comigo. Portanto, não vamos por aí. É isso, Sr. Ministro. Diz que não quer fazer filosofia mas traz conceitos filosóficos. Mas, atenção: são filosófico-políticos. Sr. Ministro, a questão é o seguinte: não se pode pedir aos jornalistas essa responsabilidade de manter a harmonia social. A paz social é a responsabilidade de cada cidadão; é a responsabilidade dos partidos políticos, dos actores sociais nas formas previstas na Constituição e na lei e dentro do 224 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 pluralismo da liberdade humana, com base na dignidade humana que tem de reinar nesta República de Cabo Verde. Não pode pedir ao jornalista para controlar o que é mau e o que é bom, para que sejam premiados ou não premiados, ou, passa a expressão, despremiados. Se fizermos isso nesta República de Cabo Verde, estamos a andar para trás; estamos a fazer a instrumentalização do jornalista; estamos a fazer o comissariarismo político do jornalista. Vou lhe dar exemplo de uma má prática jornalística: há um jornalista que de vez em quando está a somar naquela bancada aí na direita, a fazer sinal para baixo, a contactar Deputados e a mandar recados, através de uma senhora, a Deputados cá dentro. Isso é uma má prática jornalística, mas não é os jornalistas é que vão controlar isso. Estamos aqui a ver com esses olhos “grelidos”. Risos de alguns Deputados. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro, para uma intervenção. Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Queríamos dizer que esta proposta de lei vai dar o seu contributo, tendo em conta as novas plataformas tecnológicas de informação e no entanto há aqui uma questão que nós gostaríamos de colocar porque entendemos que se formos analisar os processos judiciais, a nossa justiça às vezes tem algumas lacunas em termos de celeridade. De forma que aqui o artigo 38º, quando fala de processamento judicial, é muito claro. Indica prazos e aqui tudo bem. Mas, quando se fala, no artigo 39º, da questão de recurso, sendo leigo, gostaríamos de perguntar ao Sr. Ministro se não seria também importante nesta lei que se fizesse valer os timings, isto é não deixarmos que no Supremo Tribunal de Justiça os processos que dizem respeito a esta matéria ficassem ali durante muito tempo. Os Deputados da UCID entendem que é importante também termos esta baliza para sabermos exactamente com quê que podemos contar em casos de necessidade, de uma forma geral, para a população. Sr. Presidente: - Não tenho mais nenhum inscrito no período de debate. Tem a palavra o Sr. Deputado Humberto Duarte Cardoso. Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD) – A primeira nota que eu queria fazer sobre este assunto é interessante ver que os Srs. Deputados do PAICV não fizeram qualquer intervenção até agora. Eles estão à espera que o tempo do MPD acabe para depois… Já nos habituaram a essa forma de debater. E depois vêm a dizer que o que o MPD diz é tudo de bota-a-baixo e vir com a história da década de noventa; o bota-a-baixo da década de noventa que andam constantemente a fazer. Sobre esta lei eu queria dizer que…, como disse o Sr. Ministro, vê-se que o Governo está realmente preocupado com uma coisa. Ao longo de todo esse pacote é por questão dos on-line. Penso que esse é algo que preocupa particularmente o Governo e queríamos ter a certeza… Penso que isso é claro, 225 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 apesar que não há referência explícita, pelo menos no ponto em termos de acesso à actividade, mas penso que no primeiro artigo, quando classifica as várias publicações, faz referência às plataformas electrónicas e queremos ter a certeza que as publicações on-line caem dentro da imprensa escrita, ou seja, o registo é livre. Ao entrar na actividade, toda a gente pode fazer essa actividade a partir do momento em que se registe e se cumpre os requisitos. Como eu tinha dito numa outra intervenção, na questão on-line não há recursos escassos, como se passa na rádio e na televisão, de maneira que não há esse problema. Claro que o Governo tem dificuldades porque sente-se (não é só cá; é também noutros sítios) por causa da velocidade desses networks; possibilidade do número de pessoas participarem nessa actividade, mas penso que, assim como aconteceu no passado com a invenção das printting fast (impressoras mais rápidas), dos offsets e não sei que mais e que tornou a possibilidade de publicação de vários jornais, penso que os poderes públicos não têm que entrar em stress com a questão de ir tentar regular ou ceder-se no controlo das opiniões nessa matéria. Isso acaba por regular-se, a liberdade das pessoas se exprimirem e de terem acesso, de poder fazer comunicações com a rapidez. Agora é electrónica. Anteriormente era com formas de impressão rápida. Só por uma lembrança, na União Soviética, por exemplo, os faxes eram considerados equipamentos estratégicos, precisamente porque era uma sociedade que não conseguia comunicar-se, os faxes tinham que ser controlados, tudo tinha que ser registado. No tempo da administração colonial portuguesa as máquinas de escrever quase que eram registadas para se saber de que tipo… Com a facilidade de comunicação e com outras tecnologias, é natural que os poderes públicos entrem um bocadinho em stress. Penso que o Governo está em stress por causa dos jornais on-line e é importante que se relaxe em relação a essa matéria e deixe que as coisas acabem por resolver. O Governo deve preocupar-se com os meios escassos; os meios do espectro. Isso é da rádio e da televisão. Por isso é que tem de ter o serviço público e os meios públicos como a Constituição diz e não com essa invenção supostamente liberal que os senhores estão a inventar a nível da rádio e da televisão que não trouxeram. Lembrem-se que não disseram que no decreto regulamentar se diz que quem tem uma concessão de um serviço público não tem do outro. Esse é um outro problema que os senhores ainda não explicaram. Mas, de qualquer forma, aí é que o Estado… porque na imprensa o Estado não há necessidade de intervenção, de controlar quem entra no serviço da publicação escrita porque, precisamente, não há nenhum bem do domínio público aí para ser controlado. Noutros domínios, como a Constituição exige meios públicos e serviço público, é que o Estado deve intervir. Fiquem os senhores descansados porque já aconteceu no passado esse stress em relação às novas tecnologias. Fiquem descansados, depois isso tudo acaba por se normalizar. Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Manuel Andrade, quer a palavra para que efeito? 226 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 [Não se ouviu a resposta do referido Deputado.] Sr. Deputado António Pascoal Santos, quer a palavra para que efeito? Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Para intervir nesta matéria. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Andrade. Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Esta proposta de lei vem na linha das outras que foram apresentadas e que vêm fazer adequações às demandas do tempo presente e às modificações ocorridas na sociedade cabo-verdiana e à evolução no sector da comunicação social, naturalmente. Por isso ela é bem vinda e vejo que se faz a adequação do normativo em relação à lei actualmente existente. De qualquer das formas também com este diploma se actualiza um conjunto de regras e princípios que devem balizar a actuação da comunicação social e neste caso concreto da imprensa escrita das agências de notícia. Inclui-se nesta linha as publicações on-line, designadamente utilizadas através de mecanismos da informática e das novas tecnologias de informação. Efectivamente não constava da lei anterior e aqui faz-se a integração. Evidentemente que os diversos órgãos da comunicação social devem balizar a sua actuação de acordo com os princípios da liberdade, sim senhor, mas de acordo com um conjunto de outros princípios deontológicos que devem orientar a sua actividade. Neste particular, penso que não deve haver nenhum stress porque a liberdade de imprensa é evidente em Cabo Verde; é estimulada em Cabo Verde, mas também tem os seus limites, que estão plasmados na Constituição e também na lei. É tão só isso que se quer balizar. No que tange às publicações on-line, de que se fez referência aqui quanto ao seu stress, aqui apenas se faz um enquadramento porque a realidade é evidente. Existe esta realidade, deve haver muitas, de forma mais alargada e cada vez mais jornais on-line, porque são uma via de comunicação e de informação. Hoje a informação é, de facto, mais chegada às populações e a todos os recantos do País. Isso significa que estamos a ter uma sociedade cada vez mais informada. Só que há de facto diversos episódios que se passam com os jornais online que carecem de alguma regulação, porque não vejo ninguém a defender que o que muitas vezes acontecem com os jornais on-line é de aplaudir. Portanto, é preciso passar esta mensagem que a lei é clara, a Constituição é clara, é preciso respeitar as normas e as regras estabelecidas. Tão só isso que se pretende também com este diploma, penso eu. Verifico que neste diploma pode de facto haver aspectos que careçam de aperfeiçoamento, como certamente poderá ser apreciada em sede da comissão especializada, sede apropriada para este efeito. Mas, vou adiantando um ou outro aspecto porque o Sr. Deputado António Monteiro referiu-se ao artigo 39º desta proposta. Falou na necessidade de estabelecer prazo. Não estou seguro disso neste momento, mas é uma questão a discutir. 227 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Mas, em relação a este diploma, tenho uma proposta de alteração a esse artigo porque fala de recurso para o Supremo Tribunal de Justiça e eu penso que deve ficar apenas “cabe o recurso nos termos da lei”. Isto porque introduzimos recentemente os tribunais de primeira instância que podem assumir competências de recurso nos processos. Daí que, é melhor deixar a regulação da competência de recurso à lei e não se indicar aqui directamente para o Supremo Tribunal de Justiça. De modo que este artigo teria uma redacção que pode até ser aperfeiçoada com outros elementos, eventualmente, mas que se retiraria a expressão “o Supremo Tribunal de Justiça”. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos. Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Ministro, eu tinha dito, há bocadinho, que esta lei, no aspecto positivo propriamente, quase não traz novidades. De novo eu vim percorrer artigo a artigo a legislação existente até este momento (a legislação de 98). Na questão dos jornais, na questão dos on-line e de outras inovações tecnológicas, esta lei pretende integrar… e tudo bem! No entanto, não se vai fazer uma nova lei (que o senhor está a chamar nova) só para isso. E isso há um ano de eleições e quando estamos com uma revisão constitucional pendente de publicação e há um ano de eleições. Vai trazer uma nova lei só para manter os on-line e deixar de fora algumas coisas. Vou dar-lhe um exemplo: Sr. Ministro a artigo 5º da lei existente – que pretendem mudar, não mudando quase nada (só mudando um bocadinho para pior) – fala do princípio de transparência e concorrência. Se não estou a ver mal, Sr. Ministro, por favor, logo que possível, quando tomar a palavra, mostra-me onde é que consagrou este princípio fundamental da transparência e concorrência na proposta do Governo. Pode ser que eu esteja a ver mal, Sr. Ministro. Errar é humano, mas parece-me que não. Portanto, vai trazer uma nova lei, o colega da minha Bancada, o Deputado Humberto Cardoso disse e bem que o Governo está um bocado preocupado com os on-line porque aí consegue controlar muito pouco. Assim como a Telecom está preocupada com skype e outras coisas stressada também. O Governo está stressado com os on-line. Mas, não é por aí, Sr. Ministro. Tenhamos calma! A calma democrática. Deixe, não vai trazer essa lei, vai checkar um por um. Na questão do procedimento judicial… quer dizer, não há nada de novo. Concordo com o Deputado José Manuel Andrade, sem dúvida tem de ser nos termos da lei. Não vamos aqui fazer pressa. Sr. Ministro, não há! Não há, colegas de todas as bancadas, não há! A questão da publicação, a obrigação de fazer isto ou aquilo… tudo aqui existe. E esta lei copiou grande parte do texto; 80% ou mais do texto está copiado. Vem introduzir a questão por causa dos on-line e vem retirar o princípio da transparência expressamente aqui consagrada na lei existente. Eu digo, para quem vai gastar dinheiro deste País, tomando este tempo da Assembleia, produzindo, ouvindo assessorias, etc., etc. para uma lei, que devia aproveitar para pôr a lei a par do que de melhor está a acontecer noutros 228 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 países democráticos onde estão a nossa base humana, filosófica, jurídica, política de inspiração. Não dizemos que somos um farol da democracia em África?! Então, devíamos pôr um pouco mais de lume e de luz neste farol! Risos de alguns Deputados. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades: Pelo que pude ouvir, concluo que a Bancada do MPD deve estar muito preocupada pelo facto de estarmos a querer regular nesta proposta de actividade da imprensa on-line. Penso que aqui quem revela stress não é o PAICV e nem o Governo. Deve ser a Bancada da Oposição que, ao fim e ao cabo, acaba também por perceber a teoria do caos de que fala o Sr. Deputado, ao não pretender que se regule uma matéria tão importante e que tem sido objecto de discussão a nível mundial. Há que regular essa matéria. O que pretendemos é adequar a actividade dos on-line, da mesma forma que fazemos com a imprensa escrita. É praticamente a mesma coisa. Praticamente tudo que se exige a uma imprensa escrita, considera-se que se deve adaptar à imprensa on-line. De modo que não vejo razão para tanta preocupação e para tanto stress. Daí estarem a tentar, de toda a forma, fazer com que não se aprove este pacote porque vai regular uma matéria que eventualmente estamos ao pé das eleições, vai se ter que mandar muitas bocas, vai se ter que ofender as pessoas, vai se ter que pôr em causa muitos direitos dos cidadãos e estamos em ano de eleições, portanto não vamos entrar nessa matéria, vamos deixar para depois. Penso que não. Penso que devemos, sim, ter regras de conduta em toda as facetas da nossa vida social e, neste caso em particular, relativamente à actividade da imprensa escrita, penso que se deve também regular. Penso que o Sr. Deputado não terá lido, como disse, o articulado da proposta. Nós não estamos aqui a discutir na especialidade mas, já neste momento, digo-lhe que esse princípio de que se refere, que tem a ver com a transparência da concorrência, não está no artigo 5º da lei actual mas está no artigo 7º. Como houve introduções, naturalmente que a numeração terá que mudar. Naturalmente não é o artigo 5º, neste caso é o artigo 7º onde se encontra “transparência e concorrência”. De modo que lhe convido a ler de melhor forma o texto para que possa ver os artigos e também dar a devida interpretação ao que se pretende dizer, não pondo na boca do Governo aquilo que não está dito e nem tentando levar as pessoas a perceberem coisas que não são a intenção do Governo, nem estão explanadas na proposta que nós fizemos. Daí que eu penso, Sr. Presidente, que há questões que foram levantadas que me parecem não merecer muitos comentários porque são questões que têm a ver com senso comum. Toda a gente conhece como se deve viver no seio de uma sociedade. Não quero entrar por aí de modo a evitar entrar nesse tipo de discussão. 229 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 De modo que fico por aqui, fazendo votos que realmente possamos aprovar, na generalidade, este projecto e ficando, naturalmente, aberto a propostas. No que diz respeito à proposta do Sr. Deputado António Monteiro, eu não sou jurista mas a nível da comissão especializada, se não houver nenhum objecção da comissão e se não entrar em contacto com outras leis, pode-se analisar se há ou não necessidade de algum prazo para a questão do recurso. Não me quero pronunciar definitivamente sobre esta matéria porque trata-se de algo da especialidade e também se trata de uma matéria sobre a qual não tenho domínio tão grande – porque não sou jurista, sou, como sabem, um simples médico – não obstante a abertura para, eventualmente, podermos mais tarde, junto de pessoas mais balizadas na matéria, ver se se pode ou não estabelecer estes limites. Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Humberto Cardoso. Tem um minuto. Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD) – Sr. Ministro, não é, normalmente, a Oposição que se preocupa muito com a questão dos on-line. São os poderes normalmente. São os on-line ou essas coisas. São os poderes. Eu estava simplesmente a dizer que é uma forma para o Governo relaxar. Todos esses projectos trazem essa preocupação. Para relaxar porque…repare, há os jornais on-line, já evoluiu para os blogs e agora está nos twitters e nos networks, facebook e não sei quê mais. Quer dizer, não se pode parar nesse tipo de coisas para o senhor se relaxar. É só isso. E é só para garantir também, naturalmente, em termos de jornais on-line que é a mesma legislação que é aplicada à imprensa escrita. Por isso, não é a Oposição que está a preocupar-se com isso; são os poderes públicos, aqui, no Irão, na China e noutros lados que podem estar a preocupar-se com essas publicações on-line. Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros. Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Presidente, é só porque já é a segunda ou terceira vez que o Sr. Deputado Humberto Cardoso pede ao Governo para estar mais relaxado. Sr. Deputado, quem tem sido acusado de stress é o MPD, não é o Governo. Vocês, é que estão em permanente stress. Há muito tempo até que estão em stress interno, externo, enfim, várias formas de stress. [voz imperceptível do Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD).] Sr. Deputado Mário Fernandes faço-lhe mesma solicitação que fiz ontem ao Deputado Jorge Santos. Quando quiserem falar, terei todo o gosto de, como membro do Governo, vos responder. Penso que podem falar para o microfone e responder-vos-ei com todo o respeito, dando-vos toda a informação que forem cabíveis. 230 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Relativamente ao stress, Sr. Deputado, aconselhar-lhe-ia a rever a sua posição. No entanto, no que tange à preocupação do Governo sobre a sua eventual preocupação com os on-line, Sr. Deputado, os Deputados do MPD muitas vezes demonstram que são os grandes conhecedores, defensores da Constituição. Se assim é, deveria saber, a esta altura do campeonato, que a Constituição salvaguarda vários direitos: o direito à liberdade de imprensa, mas o direito ao bom-nome, à intimidade da vida privada… Há outros direitos que têm de coabitar com o direito à liberdade de imprensa. É exactamente nesta perspectiva, pretendendo estabelecer o justo e ponderado equilíbrio entre esses vários direitos que devem coabitar, até por imposição constitucional, que o Governo tem de regular esta matéria no que tange aos jornais on-line. Como o senhor deve saber, está a me querer parecer que o senhor navega muito pelos jornais on-line, tem conhecimento aprofundado que já demonstrou cá, que várias ofensas são proferidas anonimamente, o que já não é o caso com o facebook, com o twitter, que o senhor aqui exemplificou. Porque já cada um está devidamente identificado e pode ser, eventualmente, demandado. Mas, com os comentários anónimos, podemos estabelecer quem é que se responsabiliza pelas declarações que se fazem. Aqui tenho também que manifestar a minha estranheza porque o senhor, enquanto figura pública que é, enquanto Deputado, acredito que assim seja, deveria também estar preocupado com as ofensas que também lhe são feitas. Mas, não está tanto porque quem tem sido, de facto, vítima dessas ofensas não tem sido os Deputados do MPD. E através desses jornais que vem sendo utilizados para, anonimamente, nos comentários, atacar o Primeiro-ministro, vários membros do Governo, vários presidentes de Câmara, de forma anónima, repito, e não se pode saber quem profere esses ataques, os desmentidos que efeito é que terão, o MPD vai fazendo a sua política. É desta forma. Todos os cidadãos que neste momento nos estão a ouvir neste momento sabem. Pessoalmente, vou lhe dizer quantos comentários difamatórios à minha pessoa eu já vi nesses on-line, assim como já vi de várias outras pessoas. Nunca têm nome! Portanto, eu, enquanto cidadã, se quiser fazer uso dos dispositivos que a lei dispõe nesta matéria para a pessoa provar as afirmações que fazem a meu respeito, porque eu tenho o direito também de cuidar da minha vida privada… Posso ser, de alguma forma, condicionada sim, tendo de conjugar com a liberdade de informação e de expressão, mas se eu quiser demandar para levar a pessoa a provar as declarações que fez, como é que eu faço? Portanto, penso que aqui há interesse conjuntamente de todos os cidadãos que efectivamente se garanta a liberdade de imprensa sim, é um valor fundamental, reforça a democracia e por isso o Governo tem todo o interesse de reforçar essa liberdade, o que está explanado nesses quatro diplomas trazidos à Casa Parlamentar, sem pôr em causa, porque respeitamos a Constituição, os outros direitos que têm de coabitar com o direito á liberdade de imprensa. 231 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Penso que é uma posição ponderada, razoável e só espelha a Constituição que os Deputados do MPD tanto defendem e com o qual tanto acedam. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Humberto Cardoso, quer a palavra para que efeito? [Não se ouviu a resposta do referido Deputado, mas presume-se ser para intervir ao abrigo do artigo 114º.] Sr. Deputado António Pascoal, deseja a palavra para que efeito? Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Presidente, não sei se terei tempo mas dou prioridade ao meu colega, Humberto Cardoso. De todo o modo inscrevo-me para uma intervenção mas dou prioridade ao meu colega a quem a Sra. Ministra estava a se dirigir. Sr. Presidente: - Sr. Deputado Humberto Cardoso faça o favor de identificar o agravo da Bancada. Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD) – Da Bancada, precisamente. O MPD é aqui acusado pela Sra. Ministra de estar a orquestrar na imprensa on-line ataques difamatórios aos membros do Governo. Isso é inaceitável! Sr. Presidente: - Faça o favor, Sr. Deputado. Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD) – O MPD tem que reagir porque não se pode, com base no que os senhores, sendo poder e sabem que são figuras públicas e que em todo lado é um dos custos de ser figuras públicas é sofrer o escrutino das pessoas e às vezes a pessoas fazem o que fazem, vir, porque são sujeitos a ataques, como muita gente é e naturalmente que todos nós somos figuras públicas, somos sujeitos e somos atacados nos comentários on-line, que atacam todas as pessoas públicas e nós todos estamos na política e ninguém vem aqui dizer que é o PAICV que está orquestrar um ataque específico à figura do Carlos Veiga, Presidente do MPD, ou está a orquestrar o ataque ao Presidente do PAICV, Dr. José Maria Neves. Ninguém fez este tipo de acusações, mas a Sra. Ministra escolhe este palco, que é o plenário da Assembleia e acusa o MPD de fazer esse tipo de coisas. É mais um exemplo do problema do PAICV com a Oposição. E rapidamente não consegue debater e depois criminaliza; chega ao ponto de criminalizar a Oposição. Não há nada mais antidemocrático do que em termos de debate político, do contraditório de pessoalmente o Governo do outro lado, de criminalizar a Oposição. É algo que nós não podemos aceitar. Condenamos e para dizer que eu reagi… de facto houve uma ofensa. O MPD é uma pessoa de bem, faz o seu papel. Ninguém nos tira de estar aqui a fazer o nosso papel em defesa da democracia de Cabo Verde. Nós dizemos qual é a nossa posição, com toda a firmeza, defendemos o sistema constitucional da república, defendemos o pluralismo desta democracia. Estamos sempre atentos ao PAICV. Sabemos qual é a história do PAICV, o País inteiro tem de estar atento em relação a esse partido que insiste 232 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 em criminalizar a Oposição, em instrumentalizar a comunicação social, em manter o País refém das suas ideias e da sua ideologia. E nós vamos ficar atentos. Os senhores podem estar nessa posição. Como eu disse uma vez aqui, os senhores parecem o James Bond. Têm licença para darem cabo de toda a gente e ficarem descansados. Têm essa licença, mas aqui, nesta democracia, não, nós vamos manter neste Parlamento, ao longo desses anos, temos de pôr limites a toda essa ofensiva permanente do PAICV em acabar com qualquer tipo de sinal de pluralismo neste País. Aplausos da Bancada do MPD. Sr. Presidente: - Sra. Ministra da Presidência tem a palavra. Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Sr. Deputado, a primeira questão, eu gostaria de lhe dizer que estamos a falar no presente e não no passado. Eu sou, como disse ontem o Sr. Deputado Justino Miranda, da geração pós-independência, como também muitos jovens deste País. Portanto, centralizando no presente, só para pontualizarmos o nosso debate, gostaria de lhe dizer aquilo que eu lhe disse ontem, Sr. Deputado, com todo o respeito: o senhor tem a capacidade de projectar no Governo aquilo que o MPD é. É incrível como o senhor tem essa capacidade! Aplausos da Bancada do PAICV. Vou lhe dizer porquê. O senhor acusou, neste momento, o Governo, na minha pessoa, acredito, de tentar criminalizar a Oposição e também acusoume de ter grande dificuldade de conviver com a Oposição. Sr. Deputado, salvo o devido respeito, não me parece, como o senhor aqui invocou o nome do Presidente do PAICV e do Presidente do MPD, que tenha sido o Presidente do PAICV, Dr. José Maria Neves, que foi acusado, entre os seus pares, de ser um ditador, de ser um Salazar. Não me recordo se foi isso. Risos e aplausos da Bancada do PAICV. A história não se apaga. E não me parece também que tenha sido o Presidente do PAICV, Dr. José Maria Neves, a ser acusado pelos seus pares, de querer acabar com a Oposição, que não sei se é a Oposição interna ou externa. Dos artigos que eu li, às tantas, fiquei confusa. Deveria dizer-lhe ainda mais, Sr. Deputado. O senhor fez todo um discurso… foi a terceira intervenção sua neste sentido e eu senti na obrigação de reagir enquanto Governo. Falando do Governo ditador, leninista, enfim, uma série de mimos com os quais o senhor entendeu brindar o Governo e, acredito, a maioria. Mas, nesta Casa Parlamentar, ainda aqueles que não tenham vivido a década de noventa, como eu não vivi da forma como os senhores menos jovens tenham vivido, eu leio, eu conheço a história do meu País. Portanto, sei tudo aquilo que muitos dos Deputados aqui disseram do regime na década de 233 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 noventa. Inclusive, já tive o prazer de ler aqui extracto de artigos escritos por vossos Deputados, acusando… Sr. Presidente: - Sra. Ministra pode concluir. Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - … do MPD de atitudes que agora vocês querem imputar ao partido que sustenta o Governo. A tentativa de projecção, eu não digo que não seja legítima da sua parte, mas com alguma razoabilidade. Portanto, aqui eu teria de reagir nesses termos. Aplausos da Bancada do PAICV. Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal, o seu grupo não dispõe de tempo. Vamos passar á votação. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém? A Proposta de Lei que Altera a Lei nº58/V/98 de 29 de Junho, sobre a Lei de Imprensa e de Agência de Notícias foi aprovada com 39 votos a favor, sendo 37 dos Deputados do PAICV, 2 dos Deputados da UCID; com 20 votos contra e nenhuma abstenção. Esta proposta desce para a comissão competente, para a sua apreciação e votação na especialidade e para, posteriormente, subir para a votação final global. Srs. Deputados, estão a faltar apenas 10 minutos para as cinco, terminamos aqui para retomarmos amanhã às nove horas em ponto. [Eram 16 horas e 50 minutos.] 234 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Lista de intervenientes Membros da Mesa Sr. Presidente, Aristides Raimundo Lima: 180-182, 189, 199, 201, 203-204, 207, 213. Grupo Parlamentar do PAICV (Partido Africano para a Independência de Cabo Verde) Srs. Deputados: Antero Teixeira: 171-174, 186-187. João Lopes do Rosário: 169-170. José Manuel Gomes Andrade: 210-211, 227-228. Júlio Lopes Correia: 175-176, 178-180. Justino Gomes Miranda: 194-195, 210. Vanusa Tatiana Fernandes Cardoso: 193-196, 199. Grupo Parlamentar do MPD (Movimento para Democracia) Srs. Deputados: António Pascoal Silva dos Santos: 184, 187-188, 190-191, 199-201, 204-205, 208209, 213-214, 219-220, 221-225, 228-229. Fernando Elísio Leboucher Freire de Andrade: 203-204. Humberto André Cardoso Duarte: 208, 225-226, 230, 232-233. José Luís Lima Santos: 172-173, 185-186. Mário Gomes Fernandes: 177-179, 180-183 UCID – União Caboverdeana Independente e Democrática Sr. Deputado: António Delgado Monteiro: 183-184, 194, 198-199, 208, 214, 225. Membros do Governo Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Janira Isabel Fonseca Hopffer Almada: 188-189, 191-192, 230-234. 235 Reunião Plenária de 24 de Março de 2010 Sra. Ministra da Descentralização, Habitação e Ordenamento do Território, Sara Maria Duarte Lopes: 211-213. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas; Sidónio Fontes Lima Monteiro: 196-198, 201-203, 205-207, 214-219, 220, 222-223, 229-230. 236